Por Renan Tolentino, Volta Redonda, RJ


Greve da CSN — Foto: Reprodução/TV Rio Sul

Em novembro de 1988, cerca de 10 mil operários da Companhia Siderúrgica Nacional fizeram parte de um dos movimentos grevistas mais emblemáticos do Brasil. Durante 17 dias, eles paralisaram a usina, fazendo reivindicações que iam desde reposição salarial a melhorias nas condições de trabalho. A greve também ficou marcada pela morte dos operários William, Valmir e Barroso, durante uma tentativa de retomada da companhia por parte das forças de segurança. Eles ficaram conhecidos como símbolos daquele movimento. Hoje, 30 anos depois, a memória da greve tenta ser preservada através do Monumento 9 de Novembro (data da morte dos três metalúrgicos) e de produções culturais, como música e documentários (confira ao longo da matéria).

A greve teve início em 7 de novembro de 1988, em Volta Redonda, no Sul do Rio de Janeiro, no momento em que o país ainda fazia a transição do regime militar para o democrático, com o então presidente José Sarney. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) ainda era uma empresa estatal na época.

Segundo relatório da Comissão da Verdade de Volta Redonda, feito em 2015, o movimento grevista começou por volta das 6 horas, com piquete em um dos acessos à Usina Presidente Vargas, contendo e concentrando os operários na entrada.

A ocupação nas dependências da Companhia Siderúrgica Nacional começou por volta de 8h30, "com a entrada de uma multidão de 5 mil operários" na siderúrgica. Eles reivindicavam o pagamento da URP (Unidade de Referência de Preços) de julho, com correção, uma reposição salarial de 26% e a implantação do turno de trabalho de seis horas.

“A greve já estava consolidada com arrastões dentro da usina e assembleia no pátio da SOM (Superintendência de Oficinas Mecânicas). O carro de som do Sindicato foi levado para porta do Escritório Central para reforçar o piquete”, descreve o documento.

Desde o primeiro dia, o movimento de 1988 foi marcado por confrontos entre os trabalhadores e a Polícia Militar. Por isso, o reforço do Exército foi solicitado. Um comboio do 1º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada de Valença chegou à cidade para reforçar a tropa e tentar acabar com a greve (como havia acontecido nas outras cinco ocupações anteriores).

Por conta disso, os grevistas decidiram em assembleia sair do pátio da SOM e seguir para a aciaria, “transformada numa espécie de trincheira da greve de ocupação, onde seria mais difícil para as tropas do Exército desalojá-los”. Além da segurança, foi também uma estratégia para dar mais força ao movimento, já que afetaria a produção da companhia.

“Ao mesmo tempo, a aciaria, por ser o coração da produção siderúrgica, não haveria possibilidade de iniciar a cadeia produtiva. Paralisada a produção na aciaria, tudo o mais tinha de parar. A aciaria tornava-se então o coração da greve. Naquela noite, foi que os grevistas se revezaram para dormir e vigiar a chegada de tropas do Exército a qualquer momento”, descreve o relatório da Comissão da Verdade.

Tropa do exército de 1988 — Foto: Reprodução/TV Rio Sul

Durante toda a greve, as assembleias eram realizadas pelo menos duas vezes por dia para que os grevistas mantivessem a unidade com a liderança do movimento, que, por sua vez, aproveitava o momento para atualizá-los sobre os “rumos das negociações ou da repressão”.

Foi o que aconteceu no dia 8. Por volta de 8h30, o movimento grevista realizou nova assembleia, desta vez, com a presença de 10 mil operários, o dobro do que havia no primeiro dia. Ficou decidido que a greve iria continuar, além de reforçar os piquetes nas três entradas da Usina Presidente Vargas “para impedir a saída de operários e não esvaziar o movimento”.

Durante a noite, a tensão começou a aumentar. Tropas do Exército de Barra Mansa e Valença invadiram a usina e ocuparam pontos estratégicos para “demonstrar força bélica [...] e tentar dissuadir os grevistas e pôr fim ao movimento”, segundo conta a Comissão da Verdade. Com a entrada dos militares nas dependências da companhia, parte dos grevistas saiu do pátio da SOM e se abrigou na aciaria.

O terceiro dia, 9 de novembro, foi um dos mais marcantes da greve de 1988, por conta da morte de três operários, que mais tarde se tornariam um dos símbolos daquele movimento, além de outros 40 que ficaram feridos. As tensões se agravaram durante a noite, quando o exército entrou nas instalações da siderúrgica para tentar retirar os 10 mil grevistas que estavam lá dentro. O relatório da Comissão da Verdade de Volta Redonda detalha um pouco do que se passou naquelas horas.

“O ataque dos militares à população nas ruas e aos operários dentro da Usina começou às 21h, com a tropa de choque avançando rapidamente sobre a aglomeração nas mediações da Passagem Superior, atirando bombas de gás e de efeito moral para dispersar os manifestantes e ocupar o espaço para a operação do Exército que iria começar logo a seguir com a invasão da Usina e o ataque aos operários grevistas que ocupavam a aciaria e o pátio da Superintendência de Oficinas Mecânicas (SOM). A PM começou atirando bombas de gás lacrimogênio no pátio da SOM e os soldados do Exército, iniciando a fuzilaria com balas de festim e de munição real que furavam o teto de zinco e ricocheteavam nas estruturas de metal. Os grevistas revidaram com pedras e pedaços de ferro que encontravam no caminho e corriam para aciaria onde se uniriam aos companheiros que já estavam abrigados”.

O confronto entre as forças de segurança e os metalúrgicos, que aconteceu naquela noite e continuou pela madrugada do dia seguinte acabaria de uma forma trágica. Durante a noite, soldados do Exército entraram nas áreas da usina que estavam ocupadas pelos grevistas, e três trabalhadores foram mortos: Carlos Augusto Barroso, com 19 anos na época, Valmir Freitas Monteiro, que tinha 27, e William Fernandes Leite, de 22 anos.

Além deles, outros dois personagens também se tornaram (por motivos diferentes) símbolos daquela greve de 1988.

Juarez Antunes foi o líder sindical que comandou a primeira greve na CSN, estando também à frente das negociações entre o sindicato e a empresa para o fim da paralisação. Nesta época, ele ocupava o cargo de deputado federal em Brasília e era candidato a prefeito de Volta Redonda.

Já bispo Dom Waldyr Calheiros ficou conhecido pelo engajamento em movimentos sociais a favor dos menos favorecidos. Ele apoiou perseguidos políticos, lutou pelo direito dos trabalhadores e teve uma importante atuação nas negociações para o fim da greve dos trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1988. 

A memória da greve através do tempo

Praça Juarez Antunes, em Volta Redonda, onde fica o Momunmento 9 de Novembro; hoje em dia, a praça costuma ser ponto de concentração para mamifestações, sobretudo de cunho sindical — Foto: Renan Tolentino/G1

Trinta anos depois, a memória da greve e de seus personagens centrais segue presente em Volta Redonda. Especialmente, através de um monumento histórico. Ele foi colocado em uma praça, bem em frente a uma das entradas da Usina Presidente Vargas. O local reúne elementos que homenageiam de uma só vez o movimento e seus personagens. Batizada de Juarez Antunes, que morreu em 1989, a praça recebeu naquele ano uma escultura de concreto.

O Memorial 9 de Novembro foi concebido justamente para guardar a lembrança dos três metalúrgicos mortos no segundo dia da greve. Ele foi colocada na praça no dia 1° de maio, Dia dos Trabalhadores, cinco meses após o fim da greve. A obra foi feita por ninguém menos que Oscar Niemeyer, um dos maiores arquitetos brasileiros e dos mais premiados e influentes do mundo, que morreu em 2012 aos 104 anos.

“No dia 1º de maio de 1989, o 'Monumento 9 de Novembro' foi inaugurado com a presença de milhares de pessoas. Havia caravanas de sindicalistas vindos de vários lugares do Rio, São Paulo, Minas Gerais. A grande maioria dos milhares de presentes no ato era de famílias de metalúrgicos, operários, mulheres e crianças que estavam ali para homenagear, com um minuto de silêncio. Além dos três operários mortos na greve dos metalúrgicos da CSN em 9 de novembro de 1989, simbolizados no monumento (Valmir, Willian e Barroso), foram lembrados também, Juarez Antunes (líder sindical e ex-prefeito morto em acidente suspeito no dia 21 de fevereiro de 1989) e Chico Mendes (líder seringueiro assassinado no Acre)”, conta o relatório da Comissão da Verdade.

Horas depois, mas já no dia seguinte à inauguração, o monumento foi alvo de um atentado. Durante a madrugada, por volta de 3h20, houve uma grande explosão, causada por bombas, que derrubou toda a estrutura do monumento, feita de concreto armado e ferragens, que pesava 15 toneladas. O impacto da explosão foi tão forte que também destruiu vidraças do prédio do Escritório Central e de outros imóveis nas redondezas, um deles foi o Edifício Gacemss, localizado a cerca de 300 m de distância do monumento.

“As três bombas foram colocadas na base do monumento que ficou totalmente destruído. Foi um trabalho feito por profissional em explosivo. As bombas foram detonadas ao mesmo tempo e, por isso, deram a impressão de ter sido apenas uma explosão que foi ouvida a 3 km de distância. [...] Os moradores de um prédio [próximo] de 121 apartamentos saíram correndo e desceram para rua com medo dele desabar”, descreve a Comissão da Verdade.

Morte dos funcionários da CSN — Foto: Reprodução/TV Rio Sul

Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli da Secretaria de Polícia Civil constataram depois que havia ainda uma quarta bomba, que acabou não sendo detonada. Ela foi achada dentro de uma mochila de tecido camuflado, na base da parte frontal. Era a carga mais potente e seria usada para estilhaçar as placas de concreto.

“Os autores do atentado terrorista de 2 de maio de 1989, segundo testemunhas, foram três homens. Um homem estava de vigia no Posto 9 de Abril (posto de gasolina próximo à praça), o segundo homem estaria varrendo a praça (às 3 horas da madrugada) e o terceiro homem estava agachado, de bermudas e sem camisa, dentro do lago artificial perto do monumento. Essa cena foi vista por um casal que passava de carro na hora, vindo de uma viagem. Outra testemunha, um operário que não se apresentou à polícia com medo de ser morto, fez contato com o Sindicato dos Metalúrgicos e afirmou ter visto dois homens na praça Juarez Antunes e ter visto um Fiat Uno estacionado ao lado da praça”.

Memorial 9 de novembro de Volta Redonda em homenagem aos três operários mortos na greve de 1988 — Foto: Divulgação/PMVR

O memorial 9 de Novembro foi reconstruído por metalúrgicos a partir de um novo projeto de Oscar Niemeyer. Com uma diferença, na concepção do arquiteto, o "novo" monumento deveria “registrar a marca da violência sofrida, por isso foram mantidos vestígios da explosão”, que permanecem nele até hoje.

"O fiz tão contestador que o explodiram, no mesmo dia da sua inauguração [...] Apesar das ameaças e cartas recebidas, propus que o pusessem de pé outra vez, com as fraturas à mostra e esta frase que redigi: 'Nada, nem a bomba que destruiu este monumento, poderá deter os que lutam pela justiça e liberdade'. E o monumento lá permanece, depois de guardado durante três dias pelos operários da metalúrgica", diz uma citação no site oficial do arquiteto.

Como escreveu Niemeyer, o atentado não foi o suficiente para derrubar o monumento e apagar a história da greve, mas o tempo pode ser um adversário nessa luta. Ainda que a estrutura tenha passado por uma restauração em 2014, o mesmo relatório da Comissão da Verdade faz algumas ressalvas com relação à preservação da memória do movimento grevista de 1988 e de seus personagens centrais.

“Apesar do monumento ter recebido uma remodelagem urbanística nos últimos anos, a luta simbólica continuava sendo travada contra o apagamento da memória. [...] os bancos da Praça Juarez Antunes ficaram de costas para o Monumento 9 de Novembro. Além disso, foi construída uma passarela que impede que as pessoas que passam na Avenida Independência vejam o monumento de Oscar Niemayer”, pontua o documento.

Cerca de 26 anos depois, a praça recebeu também a estátua de Dom Waldyr Calheiros. O bispo, que comandou a diocese de Volta Redonda-Barra do Piraí entre 1966 e 2000, morreu em 2013. De tamanho natural, ela foi colocada lá em 2014, quase um ano depois de sua morte. O local não foi escolhido à toa, já que era na praça que ele fazia seus discursos em prol das causas sociais.

Documentário "Uma Greve, Corações e Mentes"

Documentário recupera memória da greve da CSN em 1988

Documentário recupera memória da greve da CSN em 1988

Além do Monumento 9 de Novembro, produções culturais também tentam perpetuar a memória daquela grande paralisação. Uma delas é o documentário "1988 - Uma Greve, Corações e Mentes", dirigido pelo professor, historiador e documentarista Erasmo José da Silva. Ele foi lançado neste mês de novembro, justamente para marcar os 30 anos do movimento.

"Uma das principais características, o sentimento, e daí o nome do filme '1988 - Uma Greve, Corações e Mentes', é exatamente retratar esse sentimento de pertença, não somente do operariado da CSN, mas do conjunto da população e da cidade para com a CSN", explicou Erasmo em entrevista ao RJTV (confira a reportagem acima).

Em pouco mais de 90 minutos, a obra tenta resgatar a história e retratar a emoção de um período que deixou marcas na memória de quem viu a transformação e também a dor na vida de tantas pessoas. Foram três anos de pesquisas, reunindo fotos, filmes e depoimentos de personagens dessa história. O objetivo é manter viva a memória do movimento.

Música "Aos Fuzilados da CSN"

"Aos que habitam cortiços e favelas. E, mesmo que acordados pelas sirenes das fábricas, não deixam de sonhar, de ter esperanças, pois o futuro vos pertence", diz o começo da canção "Aos Fuzilados da CSN", da banda paulista de punk rock Garotos Podres.

Como já revela o título da música, ela foi composta em homenagem aos três operários mortos durante a paralisação de 1988 e à própria greve. Segundo Mao, vocalista da banda, a repressão ao movimento, que culminou com a morte de William, Valmir e Barroso, demonstra que a democracia no Brasil (recém-saído do regime militar) vivia "um mero intervalo entre uma e outra ditadura". Para ele, é importante salientar o quanto os acontecimentos [daquela greve] "são impactantes e merecem ser lembrados".

"Em 1988, quando houve o massacre na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), eu e mais dois colegas do movimento estudantil nos reunimos no Centro Acadêmico da Fatec de São Paulo e, com um violãozinho quebrado, faltando duas cordas, começamos a compor os primeiros versos da música. Essa música, depois, foi gravada para o nosso terceiro álbum, em 1993, e no dia 1º de maio de 2018 [Dia do Trabalhador] nós lançamos um clipe. Para nós, a música que gravamos é uma homenagem não apenas aos três trabalhadores que foram assassinados em Volta Redonda, mas homenageia de uma certa forma todos os mártires da classe operária. Em outras palavras, a partir da homenagem a esses três companheiros, nós homenageamos os mártires de toda a classe trabalhadora", explicou o músico.

Os personagens que marcaram a greve

Valmir Freitas Monteiro

Valmir Freitas Monteiro foi a primeira vítima entre os três operários que foram assassinados na greve. Ele tinha 27 anos na época, era casado e tinha um casal de filhos (uma menina, na época de 1 ano e meio, e um menino, então com três anos). O rapaz trabalhava na Superintendência de Alto Forno, mas na greve foi escalado pelo Sindicato dos Metalúrgicos para auxiliar na manutenção daquela área.

"Naquele dia 9, começou a trabalhar às 8h30 e terminou seu turno às 16h30. Mas não pode sair da Usina pois o Exército bloqueou todas as saídas e entradas. Foi jantar e, por volta das 19h30, quando saía do refeitório com um grupo de colegas, uma bala de fuzil (numa sequência de 5 tiros) atingiu as costas de Valmir, e perfurou seu pulmão direito. Valmir ferido, desmaiado, foi carregado pelos colegas à enfermaria sob controle do Exército. Entretanto, o Exército somente entregou Valmir aos cuidados do Hospital da CSN, às 23 horas, alegando que ainda estava com vida, mas que estava com hemorragia aguda, segundo relatório da CSN, vindo a 'falecer' às 23h15", detalha a Comissão da Verdade de Volta Redonda.

Adriana de Freitas Monteiro, irmã de Valmir, um dos operários mortos na greve da CSN de 1988 — Foto: Reprodução/TV Rio Sul

A família até hoje sente a dor da ausência de Valmir. O mais velho de cinco irmãos, ele é descrito por familiares como "brincalhão, trabalhador e um homem que gostava muito de futebol. Adriana de Freitas Monteiro, uma das irmãs dele, conta que a "mãe morreu de desgosto", após a morte do operário, e que o pai lembra dele "todos os dias".

"Pra gente é muito triste, muito triste mesmo. Ele deixou saudades. Não tem como você passar uma borracha e achar que apagou. No dia, a gente, abalado, não tinha noção da dimensão do que era, mas foi uma coisa muito grave mesmo. Foram três crimes políticos muito graves. Nunca teve um respaldo da parte do poder público. Nos devem um pedido de perdão", contou Adriana.

William Fernandes Leite

A segunda vítima foi o operário metalúrgico Willian Fernandes Leite, que tinha 22 anos de idade, e trabalhava na Fábrica de Estruturas Metálicas (FEM) dentro da Usina. Ele estava na aciaria, onde o movimento grevista havia se concentrado dentro da siderúrgica e foi atingido por um disparo de fuzil no pescoço. Assim como Valmir, o jovem chegou a ser socorrido por companheiros, mas não resistiu.

"Por volta das 20 horas, na torre de resfriamento, quando Willian atirava um pedaço de ferro nos soldados que tentavam entrar no galpão, foi atingido no pescoço com um tiro de fuzil e atravessou a cabeça e logo desmaiou. Foi carregado pelos companheiros até um grupo de soldados. Consta em relatório oficial nos arquivos da CSN que Willian foi levado ao Hospital da CSN às 23 horas, ainda com vida e também com hemorragia aguda, onde faleceu cinco minutos depois", descreve o relatório da Comissão.

Carlos Augusto Barroso

Mais jovem entre os três, Carlos Augusto Barroso foi o terceiro a ser morto naquele terceiro dia de greve. Mais conhecido pelo sobrenome Barroso, ele tinha apenas 19 anos na época e ainda servia ao Tiro de Guerra, onde trabalhava de 6h às 8h da manhã, antes de entrar para o turno na usina. Na siderúrgica, fazia estágio como mecânico de manutenção na sinterização, consertando as esteiras que transportavam minério para o alto-forno.

"Barroso estava dentro da Usina na greve. Foi visto com vida pelos companheiros às 21h30, quando corria do refeitório para a aciaria. O operário havia sido assassinado brutalmente com golpes, semelhantes a coronhadas de fuzil, na cabeça pela parte de trás, que arrancaram toda a massa encefálica. Seu corpo só foi reconhecido na tarde de quinta-feira, dia 11 de novembro, no necrotério (IML), pelo cunhado e sua irmã", relatou a Comissão da Verdade.

Juarez Antunes

Juarez Antunes na greve da CSN — Foto: Reprodução/TV Rio Sul

Nascido em Estrela Dalva (MG), Juarez presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda entre 1983 e 1989. Em 1986, se elegeu deputado federal pelo PDT. A greve de 1988 ocorreu em um momento em que o país ainda fazia a transição do regime militar para o democrático. No mesmo ano, Juarez se elegeu prefeito de Volta Redonda com cerca de 50 mil votos. Porém, seu tempo à frente do executivo municipal durou pouco. Já que 51 dias após a posse do mandato, ele morreu em um acidente de carro quando seguia para Brasília para devolver as chaves do apartamento funcional em que ficava, quando ainda ocupava uma cadeira na Câmara dos Deputados.

"A Paraty branca da Prefeitura de Volta Redonda chocou-se contra três árvores no Km 360 da BR-040. Juarez morreu na hora [...] A Paraty ficou completamente destruída [...] A notícia da morte de Juarez gerou uma comoção geral na cidade de Volta Redonda, com populares se aglomerando em frente à Prefeitura Municipal. O enterro de Juarez Antunes no dia 22 de fevereiro de 1989 foi a maior manifestação de massa que a cidade já viu, com mais de 100 mil pessoas acompanhando o trajeto do caixão sobre o carro de som do Sindicato dos Metalúrgicos".

Morte dos funcionários da CSN — Foto: Reprodução/TV Rio Sul

Pessoas próximas a ele diziam que Juarez tinha medo de voar de avião, por isso decidiu viajar até a capital federal de carro. O acidente aconteceu em uma estrada perto da cidade mineira de Felixlândia. Na época, muitas pessoas acreditavam que ele tinha sido vítima de uma "sabotagem".

Mas a questão não foi totalmente esclarecida. O relatório da Comissão da Verdade de Volta Redonda aponta que "as pesquisas no Arquivo Nacional, Arquivo Público do Rio de Janeiro e Arquivo da CSN não revelaram nenhum documento que provasse a existência de um plano especificamente para eliminar Juarez Antunes".

"Desse modo, não há provas cabais para a Comissão concluir de forma definitiva que a morte de Juarez foi decorrente de uma operação secreta de agentes especiais. Por outro lado, há evidências concretas de que a morte de Juarez deve ser mantida sob suspeita de acidente simulado", conclui o relatório.

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