Por Rayane Lima*, g1 RR — Boa Vista


Grafite em homenagem a Jaider Esbell em Boa Vista, tem efeito de foto negativa especial — Foto: Rayane Lima/g1 RR

"Jaider Vive", foi assim que Fredixon Escobar e Luis Hernandez , ambos artistas venezuelanos, eternizaram o legado do artista e ativista macuxi Jaider Esbell em um mural grafitado na avenida Benjamin Costant, no Centro de Boa Vista. Jaider, que morreu em 2021, completaria 44 anos na última segunda-feira (27).

O grafite foi feito com uma característica especial: o rosto de Jaider foi pintado em um efeito de cores negativas, que é a inversão das cores naturais de uma imagem. A ideia surgiu após os artistas perceberem a ausência de homenagens a Esbell na própria terra de origem.

"Nós percebemos que tinham várias homenagens ao artista em outros estados, e achamos inadmissível ele não ter uma homenagem em Boa Vista, sendo aqui a sua terra", explicou Luis.

Ao g1, Fredixon que também é tatuador, relatou que não chegou a conheceu Jaider pessoalmente, mas conhecia a arte e se inspirava no seu trabalho. Jaider foi uma das figuras centrais do movimento de afirmação da arte indígena contemporânea no Brasil.

"Para mim foi uma grande honra, homenagear desta forma, através da minha arte, e inspirado pela arte ancestral que ele executava. Espero que brevemente, consigam abrir novos espaços, com exposições e para ter o reconhecimento local que ele merece", disse.

Jaider Esbell foi um dos artistas macuxis mais renomados de Roraima por trazer retratar à vivência indígena por meio da arte. Além de artista plástico, era escritor e ativista da causa indígena. Por isso, Luis define a experiência como algo enriquecedor também para os artistas.

"Fazer essa homenagem também é homenagear nós que somos artistas, porque é isso que ele representa, a luta indígena, que é muito apagada em Boa Vista, sendo uma terra indígena e possui um monumento ao garimpeiro na principal praça da cidade, que é o pior câncer dessa terra."

O mural foi feito próximo ao monumento ao garimpeiro e a praça do Centro Cívico, junto aos governantes é algo que representa a luta indígena, migrante e pobre, e evidencia a toda a bagagem histórica de Jaider, segundo os artistas.

Mural em efeito negativo

A ideia do efeito negativo veio da necessidade de não fazer as coisas tão simples, segundo Luis Hernandez. A arte só é apresentada com as cores usuais quando são invertidas em edição de imagem.

"Mesmo sendo um retrato, tem uma visão diferente, uma perspectiva diferente de olhar, de entender. Pra conseguir entender precisa enxergar ao contrário, e trabalhar um pouco mais a vista e a mente, e entender o que estamos vendo", disse.

Imagem Rayane Lima/g1 RR Imagem Rayane Lima/g1 RR
— Foto 1: Rayane Lima/g1 RR — Foto 2: Rayane Lima/g1 RR

Escobar conta que o grafite demorou em torno de quatro a cinco horas para ficar pronto e o objetivo principal era que o painel ficasse visível para todos que passassem na frente. Os materiais usados foram tinta acrílica semibrilho e spray especial para arte urbana.

"A gente conseguiu fazer em um final de tarde. Antes nós já tínhamos observado o local e vimos que era um local propício, por ficar mais visível, e próximo ao Palácio da Cultura", completou.

Jaider Esbell

Jaider Esbell — Foto: Reprodução/Instagram

Jaider era um artista plástico roraimense, que morreu no dia 2 de Novembro de 2021 aos 41 anos de idade. Além de artísta plástico, Jaider era escritor e ativista da causa Macuxi.

O artista nasceu em 1979, no município de Normandia, região Norte de Roraima, onde atualmente está a Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

O artista macuxi foi destaque na 34° bienal de São Paulo, que aconteceu um 2021, na mostra "Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea".

*Estagiária sob supervisão de Samantha Rufino

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