08/06/2012 15h54 - Atualizado em 08/06/2012 15h54

'Arte é pouco reconhecida', diz artista sobre grafites em Araraquara, SP

Grafiteiro há 15 anos, Renato Bonifácio descreve episódios de preconceito.
Para ele, falta de reconhecimento está ligada a ideia de marginalização.

Do G1 Araraquara e Região

Surgido no fim da década de 1960 durante o período da contracultura, o grafite é considerado a expressão dos mais variados sentimentos por meio do desenho. A arte das ruas tornou conhecidos artistas no mundo inteiro, como os brasileiros Gustavo e Otávio Pandolfo, famosos como Os Gêmeos. Em Araraquara (SP), o grafitti está presente em pontos como a Praça da Independência e a Rua Carlos Gomes, onde dá vida aos muros brancos ou cobertos pela pichação. Mas, o objetivo de divulgar pessoas interessadas em colorir os ambientes sem fins lucrativos, ainda não é reconhecido por grande parte da população, segundo os próprios artistas.

Grafite na Rua Carlos Gomes em Araraquara (Foto: Laís Françoso/G1)Grafite na Rua Carlos Gomes em Araraquara (Foto: Laís Françoso/G1)



Para Renato Bonifácio, grafiteiro há 15 anos, a visibilidade para o trabalho é buscada em lugares onde o grafite possa chamar a atenção, mas que tudo precisa ser feitos dentro dos conformes. “Pedimos autorização para desenhar nas paredes. Não chegamos grafitando em tudo quanto é parede, porque do contrário acaba sendo crime, como a pichação”, explica. De acordo com a lei federal nº 9605, de 1998, a pichação é considerada um crime contra o patrimônio, com detenção de três meses a um ano, mais multa. O grafite, por sua vez, não se enquadra mais na lei depois de uma alteração ao artigo 65, em 2011, descriminalizando o ato de grafitar, tornando a prática lícita.

Segundo Bonifácio, cidades como São José do Rio Preto (SP), respiram grafite. “Aqui em Araraquara é bem mais difícil se sustentar da arte e alcançar o reconhecimento que tanto desejamos. É difícil encontrar alguém que admire nosso trabalho”, afirma. “Quando alguém se interessa e pergunta se fazemos grafitti em ambientes particulares é claro que não recusamos”, completa.

Para o grafiteiro Renato Nascimento, é complicado sustentar a arte sem uma remuneração todo mês. “A lata mais barata de tinta custa em torno de R$ 11. Dependendo do muro e do desenho, vão 10 latas facilmente”, ressalta Nascimento.

Preconceito
A dupla de Renatos lembra episódios vividos em Araraquara no auge do grafite. O preconceito, segundo eles, impera e a maioria acredita que o que eles fazem é um ato de vandalismo. “Uma vez, mesmo com a autorização do dono da casa para grafitar o muro, a polícia nos obrigou a parar. O dono, inclusive, saiu e confirmou aos policiais que ele estava pagando para fazermos a arte”, comenta Bonifácio.

Além do preconceito que sofrem, os rapazes contam que também não são reconhecidos. No calendário oficial do município, no dia 27 de março é comemorado o Dia do Grafite. Os grafiteiros lamentam o fato de não haver uma atividade para lembrar a data. “No mesmo dia é celebrado o Dia do Teatro e do Circo, com programação especial definida pela Secretaria Municipal de Cultura, mas o grafite é esquecido”, diz Nascimento.

Banca de oportunidade
Uma banca de jornal localizada na Avenida XV de Novembro, no centro de Araraquara, foi o local onde os dois Renatos conseguiram expressar sua arte sem passar por constrangimentos. O dono do estabelecimento, Guilherme Quito, foi consultado e autorizou o trabalho.

“Fizemos o desenho em 2010. Éramos nós dois e mais um colega. Demoramos cerca de três horas para terminar todo o trabalho e nos sentimos satisfeitos com o resultado porque deu mais vida ao ambiente, que tem como fundo uma praça com árvores grandes e com a copa bastante fechada”, conta Nascimento.

Quito concorda que o desenho trouxe vida ao local. “Muitos até param para tirar foto. Mas também existem aqueles que falam: ‘você viu o que fizeram atrás da sua banca?’. É inacreditável como ainda têm pessoas que não sabem diferenciar pichação de arte”.

Desenho feito atrás da banca de revistas (Foto: Laís Françoso/G1)Desenho feito atrás da banca de revistas (Foto: Laís Françoso/G1)


 

tópicos:
Shopping
    busca de produtoscompare preços de