Por Desirèe Assis*, g1 Bauru e Marília


Sambódromo de Bauru, carnaval — Foto: Prefeitura de Bauru/Divulgação

O Dia do Samba é comemorado nesta sexta-feira (2), data que faz jus ao estilo musical e de dança pelo qual o Brasil é conhecido internacionalmente. Essa manifestação cultural do país movimentou a criação de diversos sambódromos, entre eles um em Bauru (SP), por onde passam os desfiles que brilham os olhos dos apaixonados pelo ritmo.

A palavra “sambódromo” se refere a um conjunto arquitetônico destinado aos desfiles de escola de samba. É um neologismo criado por Darcy Ribeiro pela junção da palavra “samba” e do termo grego “drómos”, que significa “caminho”.

Foi em 1991 que Bauru inaugurou o seu sambódromo, um dos mais antigos do país, com um investimento de R$ 50 milhões. Nesses 31 anos, o espaço, intitulado “Guilberto Duarte Carrijo”, foi o responsável pela transição do carnaval de rua para um local que acolheu sambistas, escolas e o público.

Há três anos interditado, sambódromo de Bauru é um dos mais antigo do país — Foto: Arquivo/ Departamento de Proteção ao Patrimônio Cultural/ Sec. de Cultura

José Ricardo Carrijo, filho de Guilberto, lembrou ao g1 a história da inauguração. Bauru fica na história do samba como sede do primeiro sambódromo construído em um cidade do interior.

Na festa de inauguração, em 8 de fevereiro de 1991, o que não faltou foi samba. Já em 10 de fevereiro daquele ano, ocorreu o primeiro desfile das escolas. Mesmo com chuva, o público compareceu para a estreia da passarela bauruense.

O sambódromo do Anhembi, na capital paulista, havia sido inaugurado 7 dias antes, porém, a obra do arquiteto Oscar Niemayer foi entregue ainda incompleta e somente teve os primeiros desfiles no ano seguinte. Antes, o país só tinha o sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro.

Há três anos interditado, sambódromo de Bauru é um dos mais antigo do país — Foto: Arquivo/ Departamento de Proteção ao Patrimônio Cultural/ Sec. de Cultura

Ricardo acompanha o carnaval de Bauru desde a década de 1970, junto ao pai, figura conhecida na cidade. Guilberto mantinha uma relação íntima com as celebrações anuais desde as décadas de 1950 e 1960, tanto que foi o responsável por, também, fundar escolas de samba bauruenses.

“À época, foi dado o nome do meu pai, Guilberto, ao sambódromo. A transição do carnaval de rua para a passarela foi tranquila e bem positiva, por conta do crescimento da festa em Bauru. A estrutura é simples, mas é muito mais adequada”, conta.

Construção do sambódromo de Bauru, inaugurado em 1991 — Foto: Arquivo/ Departamento de Proteção ao Patrimônio Cultural/ Sec. de Cultura

A herança da paixão pelo samba de Guilberto, falecido em 1990, um ano antes da inauguração, segue na família. Tanto que Ricardo comenta sobre o sentimento de gratidão em disputar e conquistar vitórias pela escola de samba em que faz parte da diretoria.

“Espantoso o crescimento ao longo dos anos. Quero sempre continuar desfilando, pretendo continuar até quando minhas pernas aguentarem. É tradição que vem de gerações a gerações. Esse momento é de entretenimento e lazer”, celebra.

Carnaval em Bauru como referência

Desfile de escola de samba no sambódromo de Bauru encanta foliões — Foto: Ricardo Carrijo /Arquivo pessoal

Para entender melhor a história de inauguração, o g1 conversou com o diretor do Departamento de Cultura da época, Elson Reis, de 55 anos. Conforme ele explicou, o carnaval de rua de Bauru é referência na região e no país.

Avenidas e ruas, como a Rodrigues Alves, a Nações Unidas e a Batista de Carvalho, já foram passarelas de escolas de samba que debutavam nos carnavais. À época, todos os anos, a Prefeitura investia em camarotes e interditava o trânsito para as comemorações.

Bauru era um sonho distante, mas podia ter o sambódromo já que a principal manifestação cultural era os desfiles das escolas de samba e os bloquinhos. O Izzo era prefeito na época e ficou consignado que naquele ano não haveria investimento na montagem das arquibancadas na avenida Nações. Com esse dinheiro economizado, a prefeitura investiu no local definitivo”, lembra.

As escolas de samba concordaram com a criação da estrutura fixa do sambódromo e a suspensão do desfile na avenida Nações Unidas em 1990. O ano seguinte foi marcado pelo retorno dos sambistas, mas, dessa vez, em um local estruturado e exclusivo.

Carnaval de Bauru reúne foliões e sambistas — Foto: Ricardo Carrijo /Arquivo pessoal

Elson lembra que a inauguração do sambódromo foi uma verdadeira apoteose. O local é conhecido por ser o segundo completo no país, mas, para ele, é o segundo no mundo, já que não se recorda de outras estruturas parecidas nos outros continentes feitas com esse único objetivo.

“Pode se dizer que os sambódromos daqui do Brasil são os únicos do mundo, na época principalmente. Tenho muito orgulho de ter participado desse momento, de manifestação cultural de Bauru”, recorda.

Pela dinâmica de preparação do evento, Elson afirma que, assim que a última escola entra e passa pelo sambódromo, na última noite de desfile, é um momento de adrenalina e emoção. Segundo ele, o carnaval da cidade recebe cerca de 20 mil pessoas por dia, desde trabalhadores até os foliões.

Escola de samba desfila em Bauru durante carnaval — Foto: Ricardo Carrijo /Arquivo pessoal

O investimento na festa é recompensado com o retorno para a economia e cultura. Isso porque, a paixão dos moradores pelo carnaval e pelos desfiles é o "gás" que alavanca as manifestações artísticas e, por conseguinte, atrai ambulantes e empreendedores locais.

Em relação a melhorias, Elson reforça que esse dinheiro arrecadado pela prefeitura poderia ser revertido para eventos "fora da época", a serem realizados durante à noite no sambódromo, para potencializar o uso. De acordo com ele, a estrutura também deveria ser revitalizada, principalmente após a cratera que surgiu em 2019 e que, desde então, interrompeu a tradição dos desfiles.

Interdição do sambódromo

Cratera ‘engole’ poste e parte do camarote do Sambódromo de Bauru — Foto: TV TEM/Reprodução

A cantora Alcione foi assertiva ao gravar, em 1975, a canção “Não deixe o samba morrer”. No início do ano seguinte, foi estrela de paradas de sucesso com a música, faixa de seu primeiro álbum de estúdio.

A letra da canção, “não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar; o morro foi feito de samba; de samba pra gente sambar”, traduz o sentimento de muitas bauruenses que lidam há três anos com a notícia de que os desfiles de carnaval não serão realizados no sambódromo por conta de uma interdição.

Em 2019, uma cratera com seis metros de profundidade e 40 metros de largura se abriu na pista lateral do espaço, ao lado da passarela do samba, e “engoliu” um poste de energia elétrica e parte de um dos camarotes.

Cratera ‘engole’ poste e parte do camarote do Sambódromo de Bauru — Foto: TV TEM/Reprodução

O buraco foi provocado por uma forte chuva que atingiu a cidade em março daquele ano. Por conta do risco de novos deslizamentos, o sambódromo foi interditado pela Defesa Civil. Em 2021, em virtude disso, a prefeitura havia anunciado que aconteceria de forma itinerante.

Por conta do surgimento da Ômicron, variante da Covid-19, os planos foram cancelados menos de um mês depois. Assim como deveria ocorrer em 2021, esse ano a prefeitura promoveu o carnaval com os desfiles nos bairros da cidade.

Em nota enviada nesta quarta-feira (30), a Prefeitura de Bauru informou que, após concluir a licitação, já contratou empresa especializada, faltando apenas dar a ordem de serviço para que seja iniciada a sondagem no sambódromo.

Este estudo irá definir se há necessidade de realizar obras e que tipo de intervenções seriam necessárias para garantir a segurança do local, porém a administração municipal informou que, para 2023, a previsão é que o carnaval aconteça na avenida Jorge Zaiden.

"A empresa que venceu a licitação para a sondagem de solo do Sambódromo está realizando o serviço, e apenas quando este laudo estiver concluído será possível conhecer a situação do espaço, se terá alguma necessidade de obras", diz a nota.

Ministério Público pede laudo para vistoriar erosão no sambódromo de Bauru — Foto: Reprodução/TV TEM

*Sob a supervisão de Mariana Bonora

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