Por Gustavo Luiz*, g1 Campinas e Região


Conceito de Colorismo é um subproduto do Racismo que promove a disputa entre diversos grupos negros. — Foto: Getty Images via BBC

A definição de colorismo, apesar de antiga e discutida em esferas da sociedade, ainda causa dúvidas em muitas pessoas. Nesta sexta-feira (13), quando se completam 134 anos da assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, o g1 esmiúça o conceito, que trata basicamente da determinação de que a cor da pele define como a pessoa negra é tratada.

Por meio de consultas a bibliografias e entrevista com Guilherme Oliveira, mestrando em história social da África pela Unicamp, a reportagem detalha, em quatro perguntas e respostas, o significado de colorismo, os impactos que ele causa atualmente e referências históricas que originaram o tema.

Nesta reportagem você vai ver:

1. O que é colorismo?

Colorismo é uma forma de diferenciar a cor de pele da pessoa negra e, por meio desta separação, determinar como ela deve ser tratada. O termo aparece em referências bibliográficas desde a década de 1980, como no texto "Se o presente parece com o passado, como será o futuro?", da escritora Alice Walker.

Na publicação, a autora afirma que diferenças de traços e tons de pele entre a população negra interfere na forma como cada pessoa será vista pela sociedade. Além disso, em livros como "Colorismo", de Alessandra Devulsky, o conceito é tratado inclusive como um "subproduto do racismo".

De acordo com Guilherme Oliveira, ser negro no Brasil é não estar representado em nenhum espaço e, dependendo dos traços atribuídos à negritude de uma pessoa, ela vai vivenciar formas diferentes de racismo ao longo da vida.

Leia mais:

Pessoa segura um cartaz com os dizeres 'Black lives matter' ("vidas negras importam", em português). — Foto: Seth Herald/AFP

2. Como o colorismo surgiu?

De acordo com o livro Colorismo, a prática começou quando os donos de escravos, antes da abolição, estimulavam uma espécie de competição entre negros claros e negros de pele escura com a finalidade de evitar a cooperação entre as diversas etnias que foram capturadas e escravizadas.

" Mesmo após a abolição, com a persistência de uma certa vantagem de negros oriundos da mestiçagem, ela perseverou", trecho da publicação.

3. Como o colorismo afeta o Brasil?

Segundo o livro da advogada, o processo da mestiçagem foi violento no Brasil, e as pessoas que nasceram destes encontros tinham status sociais diferentes.

No texto, a autora trata da associação feitas à pessoas negras de pele clara e as consideradas retintas, e o quanto isso limita a percepção sobre diversidades negras.

"Nós aqui no século 21, temos uma visão muito homogênea da população negra (...) naquele período da escravidão. Quando pensamos na população negra escravizada, estamos falando da população afro-brasileira e africana no Brasil, como se não existisse ali, grandes diferenças", disse Guilherme Oliveira.

O historiador ainda afirmou que o sistema racial estabelecido no período colonial no Brasil criou uma hierarquia social de privilégios: primeiro vinham pessoas brancas ricas, depois brancos pobres, seguido de pessoas escravizadas nascidas no Brasil e por fim pessoas escravizadas trazidas do continente africano.

4. Como abordar o tema ?

O mestrando da Unicamp, Guilherme Oliveira — Foto: Arquivo Pessoal

Oliveira avalia que o impacto desta separação e competição histórica chega até os dias de hoje. Segundo ele, para a sociedade evitar reproduzir este problema é primordial considerar a diversidade das pessoas negras.

"Nós precisamos ter uma perspectiva mais ampla dessa conjuntura histórica e social envolvendo a população negra no Brasil. Nós nunca seremos todos iguais, não tem como nós termos uma unidade, uma unificação, senão por meio de caminhos em que a gente precise trabalhar a partir dessas diferenças”, completou.

*Sob a supervisão de Marcello Carvalho

VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!