Terra da Gente

Por Giulia Bucheroni, Terra da Gente


Ilustração de araras, tucanos e macacos-prego na Amazônia — Foto: Rogério Lupo/Arquivo Pessoal

Biólogo especialista em botânica, Rogério Lupo se dedica à ilustração científica há pelo menos 20 anos. A paixão pela reprodução realista das espécies surgiu durante a graduação, quando percebeu na prática a importância dos desenhos para as pesquisas.

Hoje, além de ilustrar artigos científicos, ele ensina estudantes e especialistas de várias áreas que desejam investir na ilustração. De modo geral, as ilustrações são desafiadoras, e a dificuldade varia de acordo com a espécie e a situação registrada. “O primeiro passo é ter um material testemunho daquele desenho. Não existe uma ilustração científica sem um material documentado, seja um animal, um osso, uma pele, uma planta, tem que ser um material de museu, com referência na ilustração”, conta.

Ilustrador científico explica porque ilustrações são insubstituíveis

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Com a referência para a ilustração, começam as etapas de reprodução. “O material precisa ser reproduzido fielmente. No caso das plantas, por exemplo, precisamos reproduzir o comprimento correto das folhas, os formatos e as texturas. Em alguns casos, além do material guardado em herbário, fotos podem ajudar o ilustrador a entender como é a espécie viva, como é o posicionamento das folhas e das flores. O mesmo vale para fotos de comportamento de animais, referências que – quando documentadas, ajudam em alguns casos”.

As referências podem ser fotos, a espécie viva (documentando o local e data da observação), material fixado (coletado e preservado em substâncias químicas) assim como descrições, referências bibliográficas e informações documentadas

Cambessedesia candolleana: ilustração a bico de pena e nanquim com detalhes da flor — Foto: Rogério Lupo/Arquivo Pessoal

Um diferencial interessante da ilustração científica é a possibilidade infinita de materiais e técnicas utilizadas. “Parece até um laboratório vivo. Os ilustradores usam de tudo: aquarela, lápis de cor, giz pastel, nanquim com bico de pena, assim como recursos digitais”, aponta Rogério, que destaca a criatividade como ‘trunfo’ dos profissionais. “A gente tem desafios para representar determinadas texturas, ângulos e detalhes de forma fiel, sem interpretações, e isso nos exige criatividade. Precisamos encontrar o material perfeito para determinada representação e, muitas vezes, desenvolvemos as próprias técnicas”, diz.

Além do aperfeiçoamento de técnicas e de materiais, a ilustração científica tem se tornado cada vez mais popular entre leigos e pesquisadores científicos – uma grande conquista para a evolução da prática. “Hoje os jovens que ingressam na biologia já percebem essa área como uma profissão. Na minha época nem se falava sobre isso, ninguém sabia da existência de profissionais da ilustração científica. Agora vemos pessoas interessadas em seguir essa área, enxergando como carreira a ser seguida”, comemora o ilustrador, que reforça o poder das ilustrações fora das publicações teóricas.

Hoffmannseggella angereri: ilustração desta orquídea e seus detalhes feita em lápis de cor sobre papel tonal (colorido) — Foto: Rogério Lupo/Arquivo Pessoal

“O principal objetivo desse trabalho de tantos anos é divulgar a arte, expandir, ampliar o escopo. Muitas ilustrações – que são verdadeiras obras de arte, ficam restritas às bibliotecas e são acessadas por duas ou três pessoas. Quando os desenhos passam a servir como decoração, por exemplo, atingimos o objetivo de levar as pessoas de volta à natureza. A ideia é que, ao contemplar a ilustração, elas entrem em contato com as matas e quem sabe até passem a ilustrar as espécies: se todo mundo ilustrasse, teríamos mais gente consciente em preservar a vida, mais pessoas respeitando o ambiente”, finaliza.

Desenho a grafite ilustrando a planta e todos seus detalhes para essa espécie que foi publicada há alguns anos — Foto: Rogério Lupo/Arquivo Pessoal

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