Terra da Gente

Por Nicolle Januzzi, Terra da Gente


As flores da margem são conhecidas como "flores de raio" e as flores do miolo são as "flores do disco". — Foto: Roberto Cardillo

Se você sempre pensou que o girassol (Helianthus annuus L.) é uma única flor, prepare-se para se surpreender. Na verdade, ele é capaz de conter de 100 a oito mil flores, todas inseridas num caule longo, achatado e robusto.

“O que parecem ser ‘pétalas amarelas’, na verdade são flores femininas periféricas, enquanto o centro mais escuro do girassol é composto por muitas flores bissexuais (popularmente conhecidas como hermafroditas) e que tem um formato diferente das periféricas” explica a professora Nádia Roque, botânica taxonomista da Universidade Federal da Bahia.

Originários da América do Norte, os girassóis podem chegar a alcançar até três metros de altura e atualmente são cultivados em cerca de dezoito milhões de hectares divididos por todos os continentes. É uma planta com uma inflorescência especial denominada "capítulo", que é característica da família Asteraceae.

O girassol destaca-se como a quarta oleaginosa em produção de grãos e a quinta em área cultivada no mundo, segundo levantamento da Embrapa. — Foto: Roberto Cardillo.

A família Asteraceae é uma das maiores famílias de angiospermas (plantas com flores) e conta com mais de 24 mil espécies espalhadas pelo mundo. Além do girassol, estão inclusas na família várias espécies com importância ornamental, medicinal e alimentícia, como a margarida, a camomila, a alface, o dente-de-leão, a chicória e até a alcachofra.

No Brasil, as últimas safras estimadas pela Campanha Nacional de Abastecimento para a cultura do girassol, apontaram uma área de 70 mil hectares, sendo os estados do Mato Grosso, Goiás e Rio Grande do Sul os maiores produtores.

Essa planta possui uma enorme importância econômica, já que além do valor ornamental, quase todas as partes conseguem ser aproveitadas. Por exemplo, o óleo extraído das sementes do girassol destaca-se por suas excelentes características nutricionais, além de ter aplicação também na produção de biodiesel. Outra vantagem é a possibilidade de associação do cultivo do girassol com a apicultura, sendo possível a produção de 20 a 30 quilos de mel de excelente qualidade por hectare de girassol.

O girassol vem se destacando internacionalmente por ser uma planta de múltiplos usos. — Foto: Roberto Cardillo

Segundo dados da Embrapa, para cada tonelada de grão de girassol são produzidos cerca de 400 quilos de óleo, 250 quilos de casca e 350 quilos de torta, sendo esses dois últimos usados na produção de ração e em misturas com outras fontes de proteína.

Além de tudo isso as hastes da planta podem ser usadas na fabricação de material para isolamento acústico e adubo de ótima qualidade é produzido com a junção das próprias hastes com as folhas do girassol.

O fototropismo não é exclusivo do girassol e ocorre com outras plantas como com a tulipa. — Foto: Roberto Cardillo

Girar atrás do sol?

Como falar sobre girassol e não citar o movimento dos seus "capítulos" em direção ao sol? Esse fenômeno, que originou o nome comum da planta, é chamado de heliotropismo e ocorre durante o período de floração.

“Tropismo é todo movimento das plantas em direção a um estímulo que, neste caso, é a luz do sol. Este estímulo é uma resposta fisiológica de um hormônio vegetal chamado auxina que regula o fototropismo, que são os movimentos que têm a principal função de otimizar a absorção de luz para a fotossíntese”, explica a pesquisadora.

No girassol, o caule começa a girar e chega a realizar uma volta de mais de 90 graus em direção ao oeste. Os capítulos e as folhas superiores também passam de caídas no início do dia para eretas no meio-dia, até retornar para a posição inicial ao entardecer.

Revoada de maritacas em uma plantação de girassol de Sumaré (SP)

Revoada de maritacas em uma plantação de girassol de Sumaré (SP)

Os girassóis e as maritacas

Desde 2019, o engenheiro Roberto Barbosa Cardillo, de 36 anos, registra as maravilhosas plantações de girassóis que florescem essa época do ano na cidade de Sumaré, no interior paulista.

“Todo ano desde então eu começo a procurar as plantações aqui na região, mas de primeira não havia notado a presença das maritacas. Ano passado comecei a fotografar algumas delas, mas este ano a quantidade que vi foi impressionante”, conta.

O vídeo feito por ele “fala” por si só. Segundo o observador, o intuito era fotografar o nascer do sol, mas o cenário acabou surpreendendo ainda mais. “Conforme o dia foi clareando as maritacas passaram por cima de onde eu estava fazendo muito barulho, então notei várias se aglomerando em um ponto, quando cheguei perto elas deram um show em uma revoada sobre minha cabeça. Acredito que elas chegam com fome e dão um espetáculo a parte”.

As maritacas, assim como outros psitacídeos, se alimentam de girassol. — Foto: Roberto Cardillo

O ornitólogo Luciano Lima afirma que esse é um comportamento comum da espécie. “Os psitacídeos no geral, papagaios, periquitos e maritacas comem girassol. Eles vão em bandos para se alimentar e acabam atacando a plantação, o que pode vir a ser um problema no caso de plantios para fins econômicos”.

Além de registrar os girassóis, Cardillo, que começou a fotografar em 2014 levando a câmera para viagens de trabalho, também registra as estrelas (astrofotografia). Hoje em dia, o engenheiro considera a atividade como um evento de família, já que programa passeios fotográficos com os parentes quando todos conseguem aproveitar um tempo de qualidade juntos.

Atualmente Roberto também utiliza as fotografias para fazer quadros decorativos. — Foto: Roberto Cardillo

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