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Com 2,5 metros de comprimento, a caninana é considerada uma das maiores serpentes da Mata Atlântica — Foto: Willianilson Pessoa/VC no TG

Dos 795 répteis que vivem no Brasil, 50% são serpentes. O número, que já ultrapassa 400 espécies, continua crescendo com as descobertas científicas, um dos trabalhos desenvolvidos pelo biólogo Willianilson Pessoa da Silva.

A paixão pelos animais começou cedo, durante expedições em zoológicos de São Paulo, mas a admiração ficou por conta das cobras. “Sempre fui fascinado por elas. Quando chegou a vez do vestibular optei pela biologia e me tornei pesquisador referência nas serpentes. Amo e vivo isso”, conta.

Nome popular da cobra-cipó é inspirado no hábito arborícola e coloração amarronzada da serpente — Foto: Willianilson Pessoa/VC no TG

Para tamanho aprofundamento, o especialista mantém uma rotina de expedições e trilhas, onde pode observar o comportamento de espécies como a jararaca-da-seca, tema da pesquisa de mestrado de Silva. “Além da dieta durante as estações do ano, período de atividade, período reprodutivo e escolha de habitat, pretendo descrever os aspectos da história natural dessa jararaca, que é endêmica da Caatinga, e averiguar a real distribuição dela no Bioma”, diz.

A biologia da jararaca-da-seca é pouco conhecida pela ciência — Foto: Willianilson Pessoa/VC no TG

O estudo detalhado se faz necessário, já que a falta de conhecimento técnico, científico e popular pode levar muitas espécies à extinção, antes mesmo de serem descobertas. “A jararaca-da-seca merece destaque por ser endêmica e com poucas informações sobre a sua biologia”, comenta o especialista, que, através das pesquisas, busca desfazer a má fama das cobras.

“Seria bom mostrar que o bicho não é um monstro e que, apesar de peçonhento, se você souber lidar com ele, não corre tanto risco”, completa.

Cobra-preta apresenta coloração vermelha quando jovem — Foto: Willianilson Pessoa/VC no TG

É importante orientar as pessoas sobre o que fazer em casos de acidente, assim como ensinar a evitá-los. Também é preciso mostrar a elas porque os acidentes acontecem
— Willianilson Pessoa, biólogo

Além do conhecimento que viabiliza a conservação das espécies, Silva ressalta a importância médica que muitas delas representam. “Essas informações servem não só para a jararaca-da-seca, mas para outras espécies de jararacas do Brasil”, diz.

Destruição do habitat e captura ilegal ameaçam a jararaca-de-murici — Foto: Willianilson Pessoa/VC no TG

Outra serpente destacada pelo especialista é a jararaca-de-muricí, rara e ameaçada de extinção. “Ela só existe em uma estação ecológica na cidade de Murici, em Alagoas. Talvez seja uma das serpentes mais raras do mundo”, explica o biólogo, que comemora a observação do animal. “Desde que foi descrita, em 2000, poucos indivíduos foram avistados, mas na primeira noite que procurei pela espécie encontrei uma fêmea enorme”, lembra.

É uma ótima espécie para se mostrar e, assim, sugerir estratégias de conservação para ela
— Willianilson Pessoa, biólogo

Lagartos

Além das serpentes, o grupo Squamata inclui 72 anfisbenas (répteis escamados popularmente chamados de cobras-cegas) e 276 lagartos comuns no Brasil. Tamanha diversidade também encanta Silva, que fotografa as mais diferentes espécies encontradas durante o trabalho em campo.

Lagarto é confundido com serpente por não possuir pernas e pés — Foto: Willianilson Pessoa/VC no TG

Parecido com uma serpente, o lagarto cobra-de-vidro ganha destaque no acervo do especialista. “Por ser ápode, ou seja, sem membros, ele parece bastante uma cobra. Apesar de ser abundante nos locais que ocorre, é raramente observado”, conta.

Cauda curta e escamada é característica da espécie — Foto: Willianilson Pessoa/VC no TG

Outro registro que chama atenção é do Hoplocercus spinosus, conhecido popularmente por lagarto-rabo-de-abacaxi.

Comum no Cerrado e em áreas de transição com outros biomas, a espécie se esconde em pequenas tocas durante o dia, mas não passa despercebida: a cauda curta, estreita e com escamas espinhosas, característica do animal, fica para fora do esconderijo.

Comportamentos das serpentes são registrados e estudados pelo biólogo — Foto: Willianilson Pessoa/VC no TG

Homenagem na ciência

A bagagem do jovem biólogo paulista é enriquecida a cada expedição. Além das descobertas, pesquisas e projetos desenvolvidos, o nome do especialista também é compartilhado em livros de ciência por outro motivo: Silva compõe o nome científico de uma espécie de aranha recém-descoberta.

“Durante meu trabalho com pesquisadores do Instituto Butantan indiquei um local específico para coleta de novas espécies. Fiquei surpreso por encontrarem e mais ainda com essa homenagem”, completa.

Endêmica de uma caverna no Rio Grande do Norte, a aranha-marrom é conhecida por Loxosceles willianilsoni.

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