André Cajaíba como o Papai Noel no Teatro Municipal de Santos (Foto: Mariane Rossi/G1)A grande atração do Natal em Santos, no litoral de São Paulo, fica nos bastidores do Teatro Municipal. O técnico de iluminação André Cajaíba, de 27 anos, deixa de lado os cabos de luz e holofotes da sala de iluminação para dar vida ao ‘bom velhinho’ no fim do ano. Ele diz que ser Papai Noel lhe permitiu conhecer histórias e passar por emoções que não teria dentro de uma cabine de iluminação.
A jornada dupla no período do Natal surgiu por acaso. Em 2009, o funcionário da Prefeitura de Santos que atuava como Papai Noel, não pôde incorporar o personagem. A responsável pelo espetáculo natalino na cidade teve que arranjar outro voluntário. Ela encontrou o técnico de iluminação no estacionamento do Teatro Municipal e quis que ele assumisse o cargo do velhinho mais querido das crianças. O jovem, formado em Artes Cênicas, gostou da ideia e passou a desfilar em todos os eventos natalinos da prefeitura de Santos como o Papai Noel.
André Cajaíba é o técnico de iluminação no TeatroMunicipal (Foto: Mariane Rossi/G1)
No ano seguinte, o jovem se deparou com a uma realidade diferente quando esteve em contato com as crianças da Ilha Diana e do bairro Monte Cabrão, na Área Continental de Santos. Cajaíba se espantou com os pedidos de Natal daqueles meninos e meninas. “Foi um choque. As crianças me pediam coisas básicas como um caderno. É triste”, diz.
Como Papai Noel, ele conta que sempre foi sincero com as crianças e teve que trabalhar com uma linha muito tênue entre a fantasia e a realidade. Ele não pode dizer que a criança não terá a oportunidade de receber aquele presente. “A gente tem que desviar da certeza de que ela vai ganhar o presente. Você não pode quebrar a ilusão da criança”, fala ele. A situação daquelas crianças o fez refletir na noite de Natal que considera ter sido uma das mais tristes de sua vida. Enquanto sua filha de cinco anos abria os presentes, ele lembrou que outras crianças não teriam a mesma sorte que ele. “Foi um Natal péssimo. Tive a sensação de impotência”, revela.
André Cajaíba se maquiando para ser o Papai Noel(Foto: Mariane Rossi/G1)
Para seguir com o personagem nos anos seguintes, ele teve que driblar os próprios sentimentos. “Tento abstrair, mas tem pedidos que machucam um pouco”, diz. Além disso, ele gosta de sentir a transformação do André para o Papai Noel. Por isso, ele começa pela maquiagem. O rosto fica mais claro e as bochechas mais rosadas. Em seguida, vem a roupa vermelha, o cinto e botas pretas. Por último, a peruca e os óculos completam a fantasia de Papai Noel. “A montagem é muito gostosa. Me sinto um bom velhinho”, brinca ele.
Quando está de Papai Noel, Cajaíba acaba resgatando o seu lado ator, que ficou um pouco de lado após começar a trabalhar nos bastidores do teatro. Mas, nas apresentações natalinas, ele se sente o protagonista do espetáculo e não apenas mais um figurante. “A atenção é toda sua. Várias crianças ficam olhando para você, esperando por você”, fala.
Para ele, ter sensibilidade é uma característica fundamental tanto para o Papai Noel como para um técnico de iluminação. Cajaíba entende que como Papai Noel é preciso doar o tempo e também se doar para receber e ouvir o outro. Tudo muito diferente da sua real profissão, que une técnica e conhecimento. “Existe a magia da luz no palco e a magia do Natal é o Papai Noel. A iluminação eu escolhi como profissão e o Papai Noel caiu para mim de repente. Sou muito feliz com as duas”, afirma ele.
Papai Noel no bonde durante um evento natalino em Santos, SP (Foto: Raimundo Rosa/Prefeitura de Santos)
Papai Noel no palco do Teatro Municipal de Santos (Foto: Mariane Rossi/G1)
