Por Kleber Tomaz, g1 SP — São Paulo


Pintor Jorge Luiz Morais de Oliveira — Foto: Marcelo Gonçalves/SigmaPress/Estadão Conteúdo

Após dois dias de julgamento, o serial killer conhecido como “Monstro da Favela Alba” foi condenado nesta quinta-feira (17) a pena de 103 anos de prisão por matar cinco pessoas (quatro mulheres por asfixia e um homem esfaqueado) e enterrar os corpos na sua casa, em 2015, na Zona Sul de São Paulo.

Antes o pintor de paredes Jorge Luiz Morais de Oliveira já havia sido condenado a 17 anos e 9 meses de prisão de por matar dois homens nos anos 1990. Acabou solto em 2013, quando cumpriu a pena. Mas em 2015 voltou a cometer crime: estuprou uma mulher, que sobreviveu. Ela o reconheceu e ele foi condenado em 2020 a 6 anos de prisão pela violência sexual (saiba mais abaixo).

Jorge está preso desde 2015. Pela lei, ninguém pode ficar mais de 40 anos preso no Brasil.

O júri popular que o condenou a mais de 100 anos começou na quarta-feira (16) no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo. O caso repercutiu à época depois que corpos e ossadas foram encontrados pela polícia.

Jorge foi condenado pelos assassinatos de Renata Christina Pedroza Moreira, Paloma Aparecida Paula dos Santos, Andrea Gonçalves Leão, Natasha Silva Santos e Carlos Neto Alves de Matos (sabia mais abaixo quem era cada uma das vítimas).

“Todas as vidas valem muito. No caso, lutaremos por um julgamento justo e pela responsabilização do acusado na exata medida do que provarmos em relação aos cinco homicídios”, falou o promotor Paulo Henrique Arantes ao g1, antes do julgamento.

Os primeiros crimes: 2 homicídios e 1 estupro

Polícia encontra corpos e ossos enterrados na casa de pintor, na Favela Alba, em 2015

Polícia encontra corpos e ossos enterrados na casa de pintor, na Favela Alba, em 2015

Em 1996, Jorge já havia sido condenado na Justiça por dois outros assassinatos, cometidos na região do Jabaquara em 1994 e 1995 (quando, respectivamente, atirou num homem e usou um taco de sinuca e um bloco de concreto contra outro). Ele recebeu penas somadas de 17 anos e 9 meses de prisão pelos assassinatos. Acabou solto em 2013 após cumprir a pena.

Em liberdade, Jorge voltou a ser acusado de outro crime: o estuprar uma mulher em 2015 dentro da residência dele, que ficava na Rua Professor Francisco Emydio da Fonseca Teles, perto da Rua Alba, que dá nome à comunidade do Jabaquara. Neste último caso, a mulher sobreviveu e o denunciou às autoridades. Ela contou que viu cadáveres enterrados numa espécie de cemitério clandestino dentro do imóvel de 20 metros quadrados.

Polícia continua as buscas por vítimas do pintor Jorge Luiz Morais de Oliveira em local próximo à sua residência na Favela Alba, em São Paulo. O local era utilizado como ponto de encontro para usuários de drogas. Oliveira foi preso na sexta-feira (25) — Foto: Chello Fotógrafo/Futura Press/Estadão Conteúdo

Depois disso, a polícia, que procurava pessoas desaparecidas na região, foi ao local e desenterrou vários restos mortais. Também foram encontradas roupas e objetos das vítimas na residência. Jorge foi preso ainda em 2015 pelos assassinatos. À época, ele confessou inicialmente ter matado seis pessoas. Mas exames de DNA só identificaram cinco dessas vítimas. Os testes não encontraram o material genético da sexta vítima nos ossos (veja abaixo quais são).

Polícia procura outras vítimas do pintor de paredes, na favela Alba

Polícia procura outras vítimas do pintor de paredes, na favela Alba

Depois, em audiência judicial, Jorge negou quatro desses assassinatos e admitiu apenas um homicídio, alegando que esfaqueou um homem em legítima defesa.

Segundo o Ministério Público, as cinco vítimas do serial killer eram homossexuais ou usuárias de drogas. De acordo com a acusação, Jorge as matava por esses motivos. Ele as convidava para sua casa, algumas com o pretexto de que iriam consumir entorpecentes, depois as matava, de acordo com a acusação.

Em 2020, Jorge foi julgado e condenado a seis anos de prisão pelo estupro cometido em 2015 contra a mulher que sobreviveu ao seu ataque. Atualmente, ele está detido na Penitenciária de Lucélia, no interior paulista, segundo a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP).

Número de vítimas pode aumentar

Funcionários da Sabesp encontraram ossada humana em muro de casa no Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo — Foto: Divulgação/Polícia Civil

O Ministério Público acusa Jorge de ter atacado 8 pessoas. Desse total, ele é acusado de ter matado sete pessoas e de ter violentado outra sexualmente. Mas o número de vítimas pode aumentar.

Isso porque, desde novembro de 2021, ele passou a ser investigado novamente pela Polícia Civil. Desta vez, pela suspeita de ter emparedado uma ossada humana (um maxilar e fragmentos ósseos). Ela foi encontrada no muro de uma casa que Jorge ajudou a construir, também na Zona Sul de São Paulo.

A descoberta dos restos mortais foi feita por funcionários da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) durante obras na calçada próxima a uma residência na Rua Celina Barros Silveira, no Jabaquara.

Maxilar e fragmentos ósseos encontrados em muro de casa na Zona Sul de São Paulo passarão por exames de DNA para tentar comparar com banco de dados de pessoas desaparecidas — Foto: Divulgação/Polícia Civil

A sexta vítima desaparecida que foi descartada pela Justiça em 2015 é o prestador de serviços Kelvin Dondoni Cabral da Silva. Ele tinha 23 anos quando sumiu na Favela Alba. De acordo com a investigação, o jovem foi consumir drogas na comunidade e não apareceu mais.

Até a última atualização desta reportagem, Kelvin não havia sido localizado pela polícia. A suspeita é a de que ele tenha sido morto por Jorge, que chegou a confessar que matou o rapaz em 2015. Mas para confirmar isso oficialmente, a investigação precisa encontrar o corpo ou algum vestígio de que ele foi assassinado, o que ainda não ocorreu.

Parente de Kelvin Dondoni procura pelo filho desaparecido em 2015 — Foto: TV Globo/Reprodução/Arquivo

É por esse motivo que as ossadas encontradas em 16 de novembro do ano passado no muro se tornaram importantes para os policiais que apuram o sumiço de Kelvin. Eles querem saber se os ossos são do rapaz desaparecido.

A ossada foi levada para testes de DNA no Instituto Médico Legal (IML), mas os resultados dos exames ainda não ficaram prontos. Eles poderão confirmar se a ossada é de Kelvin ou ainda se pertence a alguma das outras cinco vítimas identificadas anteriormente. A maior parte dos restos mortais encontrados está incompleta.

Outra possibilidade é a de que os ossos achados no muro sejam de alguma outra vítima.

Polícia quer interrogar preso

Serial killer da Favela Alba será interrogado novamente após ossada ser encontrada concretada em muro em SP

Serial killer da Favela Alba será interrogado novamente após ossada ser encontrada concretada em muro em SP

O 35º Distrito Policial (DP), no Jabaquara, que já havia indiciado Jorge pelas cinco mortes em 2015, quer interrogar o serial killer novamente. Desta vez os investigadores vão perguntar se ele diz de quem são os ossos encontrados no muro em 2021.

“Tivemos mais uma testemunha confirmando que ele trabalhou e dormiu no imóvel onde foi encontrada a ossada, mas ainda não o interrogamos”, disse ao g1 o delegado Glaucus Vinicius Silva, titular do 35º DP.

Enquanto aguarda os resultados dos testes de DNA dos ossos encontrados no muro, o delegado informou que está tentando traçar o perfil psicológico do criminoso para entender os motivos que o levavam a matar as vítimas.

Corpo é retirado da casa do pintor Jorge de Oliveira na região do Jabaquara, Zona Sul de São Paulo — Foto: Amauri Nehz/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo

Por enquanto, a investigação trabalha com a hipótese de que Jorge tenha predileção por matar homossexuais e usuários de drogas.

“Estou analisando os depoimentos de testemunhas e interrogatórios de Jorge, prestados nos processos anteriores, para entender o perfil dele, visando montar uma linha para o novo interrogatório”, falou Glaucus.

Defesa do acusado

Polícia continua o trabalho de buscas por possíveis novas vítimas do pintor da Favela Alba

Polícia continua o trabalho de buscas por possíveis novas vítimas do pintor da Favela Alba

A defesa de Jorge não foi encontrada pelo g1 para comentar o assunto até a última atualização desta reportagem.

Em abril de 2021, o teste de insanidade mental realizado pelo Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (Imesc) no serial killer detectou que ele é imputável, ou seja, tinha consciência da gravidade dos crimes quando os cometeu.

O teste foi feito por determinação da Justiça a pedido pela defesa, que levantou a suspeita de que o "Monstro da Favela Alba" seria inimputável, ou seja, teria alguma doença mental que o impedia de discernir que havia cometido crimes ao matar suas vítimas. Mas o exame feito mostrou justamente o contrário.

Amigas de uma das vítimas observam roupas encontradas na casa do pintor Jorge Luiz Morais de Oliveira em 2015 — Foto: Carolina Dantas/G1

Imputáveis são julgados como criminosos comuns. Inimputáveis são tratados como portadores de doença mental e, em vez de serem julgados, são internados para tratamento em hospitais judiciários.

A defesa chegou a pedir outro exame para Jorge, o chamado de teste de Rorschach. Popularmente conhecido como "teste do borrão de tinta", ele serve para revelar a personalidade e as emoções. O exame, porém, ainda não foi autorizado pela Justiça porque ele seria feito pelo Imesc, que já havia concluído que Jorge não possui transtornos mentais.

‘Wolly’

Pintor suspeito de matar e ocultar cadáveres em casa no Jabaquara — Foto: Reprodução/TV Globo

Antes de ser chamado por policiais de "Monstro da Favela Alba", Jorge era conhecido na comunidade pelo apelido de Wolly. Desempregado após ser demitido de uma transportadora, ele fazia bicos como pintor. Era conhecido na região por fazer pequenos reparos em imóveis.

Além das prisões e condenações por homicídios e estupro, o homem chegou a ser investigado por suspeita de sequestro, cárcere privado e formação de quadrilha. Quando ficou atrás das grades, se envolveu numa rebelião de presos.

Veja quais são as vítimas do serial killer conhecido como 'Monstro da Favela Alba' — Foto: Elcio Horiuchi /g1 Arte

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