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Por Rafael Tartaglia, para o ge


Já imaginou alcançar seus objetivos em apenas um ano? Quantas pessoas, no Brasil, antes dos 20 anos de idade realizaram seus sonhos? Matheus Henrique, o Modestia, como é conhecido, conseguiu os dois. Aos 19, o jovem natural de São Paulo e que teve ascensão meteórica no Free Fire em 2020, trabalhava como vendedor de milho com o padrasto quando atingiu a maioridade. Atualmente defendendo o Flamengo B4 na Liga Brasileira de Free Fire (LBFF), ele vê nos jogos mobile a chance de melhorar a qualidade de vida da família e realizar um sonho de infância: ganhar a vida como jogador profissional de esports.

Modestia foi a cara escolhida para anunciar a chegada do Flamengo no Free Fire — Foto: Reprodução/Instagram

- Trabalhava das 10h até as 22h com meu padrasto em um carrinho de milho em um campo de várzea na época, eu nem tinha mais tempo para jogar. Um amigo meu que via muito potencial em mim, porque eu chegava do trabalho de noite e ainda disputava campeonato, me convidou para meu primeiro time profissional - relembrou o jogador em entrevista ao ge.

- Hoje eu me sinto muito bem. Sinto que amadureci muito com o tempo e hoje vivo bem. Consigo ajudar algumas pessoas da minha família, não com muito; quero ajudar com muito mais. Quero crescer muito mais, focar em lives para interagir mais com o público e fazer tudo que tiver ao meu alcance para ajudar minha família - completou.

O Flamengo é um dos finalistas da LBFF 2020 - as finais serão realizadas nos dias 31 de outubro e 1º de novembro, a partir das 13h (horário de Brasília), com transmissão ao vivo do SporTV 3.

O início da jornada no competitivo

Com “base” em jogos de FPS no computador, Matheus Henrique Rodrigues Amaral da Silva, com 19 anos hoje, faz parte da nova geração de brasileiros que apostou, desde cedo, no sonho de ser jogador profissional de esportes eletrônicos. No início de 2020, ainda com 18 anos, o jovem recebeu sua primeira chance no cenário profissional junto a SKS.

A vida de Modestia, que nasceu com o pai já falecido, pode ser considerada uma eterna mudança – desde a troca entre o PC e o celular até suas casas. Até os nove anos de idade, Modestia morava com sua avó paterna. Foi nesse período, inclusive, que o “Matheuszinho”, com seis anos, teve seu primeiro contato com jogos competitivos no PC.

Modestia em ação pelo Flamengo — Foto: Divulgação/LBFF

- Meu primeiro jogo competitivo foi o Universe Games Gunz, comecei a jogar em 2007, com seis anos, e só parei de jogar ele mesmo em 2018. Às vezes, quando estou querendo relaxar, ainda entro no jogo para dar risada com meus amigos – comentou Modestia.

A primeira porta aberta nos esports, no entanto, veio através da inclusão proporcionada pelo Free Fire, um jogo mobile, bem diferente de suas “origens” nos games. Sem condição de ter um computador a nível competitivo, Modestia enxergou no celular a chance de realizar seus sonhos.

- Sempre foi meu sonho viver dos jogos. Sempre tive muito talento e muita noção de jogo no PC. Eu jogava CS, Point Blank, Cross Fire... Nunca joguei nenhum jogo de celular, o único foi o Free Fire. Queria me tornar jogador profissional de esports, mas não tinha condição de ter um bom computador para jogar profissionalmente - lembrou.

Até os 13 anos, Modestia morou com sua mãe e sua avó materna. Dos 13 aos 17 anos, se mudou para morar somente com sua mãe e seu padrasto, com quem começou a trabalhar em um carrinho de milho, em um campo de várzea do bairro, na mesma época em que conheceu o Free Fire. Com o apoio da família, Modestia deu início a sua jornada com apenas 18 anos.

- Minha família se preocupava muito com a minha saúde, nunca foram de falar que não ia dar futuro. Eles sempre me falaram para seguir meu sonho, mas sempre falaram que eu deveria saber das possíveis frustrações, das coisas que poderiam vir por trás e que eu tinha que cuidar da minha saúde, mas sempre apoiaram meu sonho – contou.

Recusa pelos jogos mobile e entrada no Free Fire

Acostumado com jogos de computador, mouses e teclados desde os seis anos de idade, Modestia, aos 16 anos, viu seu sonho renascer através de uma tela de um Moto G2 dado pelos seus pais.

- Quando eu estava para terminar a escola, no final de 2017, um amigo meu me mostrou o Free Fire e pediu para que eu jogasse com ele. Eu reclamei dizendo que não jogava jogos de celular, que era acostumado com o computador e que não conseguia jogar em uma tela tão pequena, mas fui lá e baixei o jogo. Comecei a jogar com ele e em menos de uma semana eu desenvolvi o dobro dos meus amigos que jogavam há muito tempo - explicou.

O que antes era tratado como diversão entre uma aula vaga e outra na Escola Estadual Major Telmo Coelho Filho, em Osasco, ganhou força e forma com o passar dos anos. Cada vez mais focado, Modestia dividia suas 24h da seguinte forma: dormir, trabalhar, estudar para o ENEM e disputar campeonatos amadores.

Escola Estadual Major Telmo Coelho Filho, em Osasco — Foto: Divulgação

Revelado pela Bounce, equipe que hoje disputa a Série B da LBFF, Modestia não tinha contrato com a organização e chegou a recusar um convite para o projeto de GH da equipe, que ficaria na Bahia – essa seria sua primeira experiência em GH, porém, o jovem estava em meio a realização do ENEM.

A persistência e a continuidade na Bounce, mesmo sem contrato, renderam bons frutos ao jogador, que foi convidado por um companheiro de time para jogar profissionalmente pela SKS logo depois.

Realização de um sonho ou início de um pesadelo?

Enfim o primeiro contrato profissional assinado, estrutura disponível em GH e vaga na primeira divisão da LBFF. Modestia conquistara tudo que mais queria aos 18 anos de idade. O sonho, no entanto, poderia ter se tornado pesadelo se não fosse sua força mental para lidar com o eminente rebaixamento da equipe para a série B.

Modestia chegou na reta final do torneio, com a SKS em crise e sem ter vencido nenhuma partida durante toda a LBFF. Com apenas um final de semana para mostrar seu jogo, o atleta fez seu nome em apenas 18 quedas e garantiu o primeiro booyah da equipe já rebaixada. Aplaudidos por todos os times no estúdio da LBFF na ocasião, Modestia tinha dado seu cartão de visitas ao cenário competitivo de Free Fire.

- Lembro disso até hoje e, por incrível que pareça, foi uma das melhores sensações que já senti. Quando eu cheguei na SKS o time estava praticamente rebaixado. Joguei uma sexta, um sábado e um domingo. Foram 18 quedas e os três dias que eu joguei pela SKS foram os três melhores dias da equipe. [...] Aquele booyah, que não tinha acontecido antes e aconteceu quando eu cheguei, foi uma coisa extraordinária para mim. As pessoas aplaudindo, não sei descrever... - contou Modestia.

- Na minha cabeça eu pensei: “a gente caiu, mas eu joguei bem. Vou ficar e fazer de tudo para subir”. Não imaginava, de forma alguma, que em três dias chegaria uma proposta para mim. Chegou até mim, pelo dono da SKS, que tinham várias propostas. Eu fiquei maluco. O time que mais me interessou (dos convites) foi a B4. Foi a melhor decisão - completou.

Reei (esq) e Modestia (dir) são conhecidos como a dupla "ReiDéstia" pela parceria na B4 — Foto: Reprodução/Twitter/B4

Amadurecimento pessoal e a busca pelos objetivos

Hoje defendendo o Flamengo, parceiro da B4 no Free Fire, Modestia está mais perto de alcançar seu principal objetivo dentro dos esports: ser campeão nacional e, posteriormente, defender o Brasil em um torneio internacional. Do “outro lado”, Matheus Henrique, a pessoa por trás do jogador Modestia, pretende retribuir todo o apoio e carinho da sua família através dessas conquistas.

- Acho que estou mais próximo do que nunca. Nosso time está muito bom. Temos total chance de ganhar o título desse ano. A ideia é chegar com sangue nos olhos. Depois da LBFF ainda tem o FFCS e quero chegar bem. Sou muito competitivo, por mais que eu ganhe e ganhe, eu quero continuar no topo. Em todos os jogos que eu joguei sempre tinha na minha cabeça de ser o melhor ou não jogar. Ou eu jogava para ser o melhor, ou não jogava - declarou o jogador.

Modestia - Flamengo B4 — Foto: Reprodução/Twitter/Flamengo

Com foco em dar uma casa própria para tirar sua mãe, seu padrasto e sua irmã pequena do aluguel, Matheus faz de sua glória individual no Free Fire um combustível para fazer tudo que tiver ao seu alcance para ajudar a família. Mais do que isso, o jogador faz de sua vida um exemplo, para que seus iguais jamais desistam de seus sonhos.

- Por mais que pareça difícil, não desistam dos seus sonhos. Eu mesmo não tinha tempo para jogar o jogo, não tinha um bom celular para jogar. Se você focar, tiver persistência, talento para aquilo... Não para. As coisas acontecem conforme você faz. Eu não tinha tempo para nada e hoje estou aqui - declarou Modestia.

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