Chamou a atenção nos últimos dias o nascimento de um bezerra com duas cabeças, em Cotegipe, na Bahia. Casos como este são raros. Mas, segundo especialistas, quando ocorrem, são severos. De forma geral, estão associados a mutações genéticas ocorridas ainda na fase embrionária, que geralmente levam à morte do filhote nos primeiros dias de vida. Veja Mais “É uma condição incompatível com a vida”, explica a médica veterinária e pesquisadora Júlia Carvalho, de Belo Horizonte, Minas Gerais. “As duas cabeças costumam ser o defeito visível que o pessoal da fazenda consegue perceber. Mas pode vir acompanhada de outras deformidades congênitas que só se consegue saber com certeza por meio de exames de imagem ou necrópsia”, completa. A médica veterinária Bárbara Magalhães, de Seropédica, no Rio de Janeiro, faz análise semelhante: “Casos de malformações são relativamente comuns. Estatísticas estimam algo entre 0,5% a 3%. Mas não são casos, assim, tão severos, de bezerros nascendo com duas cabeças. Os casos mais comuns vistos a campo são: fenda palatina, escoliose e artrogripose”, explica. + GR Responde: O que fazer quando suínos nascem sem ânus? Desta forma, não há muito o que fazer, afirmam as especialistas. Se a condição acaba por vitimar o animal ainda nos primeiros dias de vida, o recurso da eutanásia pode ser alternativa para abreviar a dor do animal. É possível evitar? Casos em que um animal nasce com duas cabeças podem ser classificados tecnicamente como diprosopia e dicefalia. Na primeira, a região cefálica fica duplicada, porém, sem separação das cabeças. Já na segunda, a região cefálica é duplicada com separação total das estruturas faciais, formando duas cabeças com dois eixos vertebrais em um único animal. “E esses defeitos congênitos ocorrem por defeitos nos genes na divisão das células do embrião, por influência do ambiente ou de fatores hereditários”, explica Júlia Carvalho. Segundo Bárbara, as falhas genéticas são multifatoriais. Podem ocorrer por ingestão de plantas tóxicas, agentes químicos, metais pesados ou por questões genéticas relacionadas à consanguinidade. Por isso, é preciso investigar de maneira criteriosa cada caso, para proteger o restante do rebanho. “É interessante realizar uma necrópsia para compreender as alterações que vêm associadas a esse tipo de mutação. E se isso acontece com uma frequência maior em uma fazenda, aí precisa investigar: há algum fator ambiental interferindo?”, explica Júlia. A indicação é realizar um levantamento do manejo utilizado no rebanho: que cruzamentos são feitos, medicamentos utilizados no período de gestação das matrizes, avaliação e reconhecimento das áreas onde os rebanhos são mantidos, entre outras ações. “Precisamos entender a origem do problema para que, de preferência, não volte a ocorrer”, completa Bárbara. Mais recente Próxima Criação de búfalos ganha espaço nos campos do Rio Grande do Sul