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Médico da Família: maioria dos profissionais já deu orientação para parentes e amigos

Saiba aqui quais são os prejuízos de o médico atender às necessidades da própria família e dos amigos e quais são as regras impostas pelo Conselho.

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Tornar-se amigo de um paciente, às vezes, pode ser inevitável pela afinidade que se tem e pela convivência em momentos de fragilidade. No entanto, se dispor a atender seus amigos e parentes é uma escolha. E colocar esse limite pode ser ainda mais difícil ao médico da família e comunidade (MFC), mas existem bons motivos para não misturar as coisas.

Isso porque os MFC são basicamente especializados na atenção primária à saúde, sendo capazes de prestar serviço a qualquer pessoa, independentemente de gênero e idade. Além disso, eles também têm conhecimentos da área de Ginecologia e Obstetrícia.

De acordo com uma pesquisa publicada em 2023, 99% dos profissionais entrevistados já haviam prescrevido orientações a entes queridos. Destes, 21% sentiam-se desconfortáveis ao fazer isso. Porém, somente 6% admitiram que a proximidade com a pessoa os impediu de dar um diagnóstico assertivo.

A seguir, vamos falar sobre outros possíveis prejuízos dessa prática, assim como algumas particularidades que são até proibidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Confira e fique por dentro!

Por que não é recomendado orientar familiares e amigos

Sabe quando você está fazendo algo muito específico, tem uma dúvida e recorre a um amigo? É disso que nós estamos falando. Essas orientações expressas em Medicina são um problema porque removem o acompanhamento ético da equação. Sabe por quê?

Comecemos pelo início. Ao responder uma questão sobre dor, lesão ou seja qual for a queixa de alguém por ligação ou mensagem, você pula a etapa da análise de histórico. Ela é fundamental para a exclusão de várias potenciais causas para uma enfermidade.

Em alguns casos, você também já começa deixando para trás o exame físico. Dermatologia, Otorrinolaringologia e Ortopedia são especialidades para as quais o atendimento presencial é essencial para um diagnóstico assertivo.

Por fim, você dificilmente fará o acompanhamento do paciente. Depois que deu sua sugestão, ele vai embora sem trazer notícias sobre a evolução do seu caso, se melhorou ou piorou. Isso é o exato contrário da forma como o médico da família e comunidade trabalha.

Na prática, o Código de Ética Médica não proíbe o atendimento a pessoas da própria família ou de amigos. Muito provavelmente por conta das pequenas cidades em que há falta de profissionais.

Entretanto, o mais correto a se fazer é prestar a consulta quando houver tempo e em um ambiente propício a uma anamnese completa. Outra boa atitude é: sugerir a consulta com um especialista por garantia. Falaremos mais sobre este caso específico no próximo tópico.


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Quando outro especialista é necessário 

No Blog da Ipemed, nós já falamos uma vez sobre isso. Houve um caso de um médico que prescreveu remédios para a mãe, pois ela estava se queixando de dores no estômago.

Com a medicação, o desconforto estomacal passou eventualmente. Porém, esse efeito serviu apenas como uma máscara sobre o problema: havia um pequeno tumor no órgão dela.

Essa detecção aconteceu somente graças à avaliação de um médico especialista do caso dela. Embora pudesse receitar remédios para a dor que ela sentia, o médico não tinha nem a expertise para suspeitar de uma doença mais grave nem seria possível fazer uma endoscopia em casa, por exemplo.

O caso especial da psiquiatria

Tecnicamente, não é impossível, e também não é proibido pelo CFM. Todavia, não é recomendável que os psiquiatras sejam o médico dos seus amigos e muito menos da sua família. 

Por tratar de questões da mente, esse especialista precisa ouvir relatos íntimos de seus pacientes, que envolvem emoções, para conseguir analisar os seus comportamentos. Só que esse processo será enviesado pela sua proximidade com a pessoa caso você conheça seu contexto ou esteja até envolvido na situação.

Assim, o diagnóstico pode ser mal feito e causar mais problemas do que a suposta facilidade de buscar a ajuda de alguém conhecido. Um quadro de depressão pode ser menosprezado, bipolaridade pode ser confundida com déficit de atenção e por aí vai.

Outro motivo importante refere-se à sua própria integridade mental. Como ouvir traumas e questões tão sensíveis que estão acontecendo aos seus entes queridos sem se entristecer? 

É praticamente impossível não absorver isso e encarar tais questões, buscando interferir e resolver, quando na posição de médico. Então, melhor recolher-se à posição de amigo e prestar apenas apoio emocional.

Remédios controlados 

Um detalhe importante da questão psiquiátrica é que o diagnóstico de um transtorno leva em sua maioria à prescrição de remédios controlados, como Zolpidem, Rivotril, Prozac, entre outros. Mas nenhum médico pode prescrevê-los a amigos e familiares. 

Essa regra está presente no Código de Ética Médica. Mesmo que como especialista em psiquiatria, você saiba qual é o medicamento ideal para a pessoa, a atitude correta é indicar a consulta com outro profissional da área.

Isso contribui para que as pessoas não deixem de fazer o devido acompanhamento de seus quadros. Pois sem receita não conseguem comprar os remédios controlados dos quais podem nem precisar com o passar do tempo. Mas só o médico responsável pelo seu tratamento é capaz de identificar tal possibilidade com segurança.

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Como lidar com os pedidos de forma saudável

Aprender a dizer “não” sem sentir culpa foi o grande desafio dos Millennials em relação aos seus pais, mas muitas pessoas da Geração Z também têm esse obstáculo em suas vidas. Afinal, muitas expectativas sociais ainda são as mesmas.

Logo, nossa primeira dica é falar com um profissional capacitado a auxiliá-lo nesse processo comportamental. Ou seja, buscar um psicólogo ou um psiquiatra para conversar sobre o assunto, expondo sua dificuldade em lidar com a situação.

Outras sugestões são:

  • Afirmar que essa não é a sua especialidade;
  • Expressar seu desconforto com argumentos;
  • Indicar a procura de um especialista;
  • Evitar o contato;
  • Mudar de assunto quando sentir um pedido chegando.

Lembre-se: o seu bem-estar por agir de acordo com os seus princípios e de forma ética é tão importante quanto a dor da pessoa querida. Sem falar que, no fim das contas, a sua “contribuição” pode ser pior à saúde dela no longo prazo, como vimos aqui.

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