Hoje, 80 das mais de 800 espécies de répteis conhecidas para o Brasil são consideradas ameaçadas de extinção. Uma dessas espécies é Leposternon octostegum, uma anfisbênia rara, descrita pela primeira vez em 1851 pelo cientista francês André Duméril, a partir de um único exemplar, preservado no Museu de História Natural de Paris (França). Em 1881, o cientista russo Alexander Strauch encontrou no Museu de Bonn (Alemanha) mais um exemplar preservado da espécie, que havia sido capturado na Bahia pelo também pesquisador Otto Wucherer, que morou por anos em Salvador. Exemplar de Leposternon octostegum. Foto: Clodoaldo L. Assis. Em 2011, um grupo de pesquisadores brasileiros citou a ocorrência de Leposternon octostegum na Reserva de Imbassaí, no município baiano de Mata de São João, durante um inventário de répteis. Em 2013, vários exemplares foram encontrados por biólogos durante a supressão da vegetação em algumas localidades da região metropolitana de Salvador. Por ser encontrada em uma área geograficamente pequena e sob intensa pressão de atividades humanas, L. octostegum foi considerada em perigo de extinção pelo Ministério do Meio Ambiente, em 2014. Devido a raridade e grau de ameaça de Leposternon octostegum, a divulgação de novos registros da espécie é importante para compreendermos melhor a sua biologia e para que medidas de conservação mais adequadas possam ser tomadas. É exatamente isso que Clodoaldo Assis (doutorando em Biologia Animal na UFV) e eu acabamos de fazer em uma publicação na revista científica Herpetologia Brasileira. Em outubro de 2014, Clodoaldo acompanhou a derrubada de uma antiga plantação de Pinus em uma área da Fazenda Várzea de Baixo, em Mata de São João, Bahia. Na ocasião, ele encontrou quatro exemplares de Leposternon octostegum mortos no chão, após a passagem dos tratores que removeram a vegetação e a camada superior do solo. E viu outros dois serem devorados rapidamente por carcarás -- o primeiro registro de predação envolvendo L. octostegum. Detalhe da cabeça de Leposternon octostegum. Repare o formato do focinho, bem adaptado para cavar o solo, e o olho bastante reduzido. Foto: Clodoaldo L. Assis. A Fazenda Várzea de Baixo fica a apenas 15 km da Reserva de Imbassaí, mas é só a sexta localidade com registro confirmado de Leposternon octostegum. Todos os registros da espécie estão uma área de apenas 780 km². Originalmente, a região era coberta pela Mata Atlântica, bioma que já teve mais de 80% vegetação nativa desmatada. Apesar disso, havia pistas de que L. octostegum sobrevive em áreas de vegetação secundária, ou seja, onde a Mata Atlântica está em regeneração. Sua presença agora reportada em uma plantação de pinheiros abandonada reforça essas pistas, e pode ser uma boa notícia. Se populações de L. octostegum forem capazes de se manter nesses ambientes secundários, sua conservação talvez seja menos difícil. Registros de ocorrência conhecida de Leposternon octostegum. O novo registro é indicado em vermelho.
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AutorHenrique C. Costa Histórico
January 2024
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