História dos projetos especiais publicada no Almanaque Disney número 38, de 1974.
Com pesquisa e texto de Ivan Saidenberg e desenhos de Ignácio Justo, esta história infelizmente não está listada no Inducks. Eu sei que hoje é Dia do Exército, e coisa e tal, (é também Dia do Índio e dia de Santo Expedito) mas eu juro que não planejei comentar isto hoje. Simplesmente calhou de ser assim.
A ditadura militar estava completando 10 anos, e os nossos governantes ilegítimos, depois de muito torturar e matar gente inocente cujo único “crime” era não concordar com a existência de um regime político não democrático no Brasil, resolveram fazer uma campanha de “relações públicas”. Assim nasceu a série de histórias sobre as Forças Armadas e a História do Brasil do ponto de vista dos militares.
A parte de papai nesta história toda é simplesmente a de ser o melhor argumentista da Editora Abril na época, e por isso ter sido escolhido para escrever o roteiro para esses trambolhos encomendados. Dada a complexidade da tarefa, realmente, somente um gênio como ele poderia fazer essas histórias “funcionarem” como quadrinhos. Foi uma tarefa difícil, e nem tanto pelos quadrinhos em si, mas simplesmente porque papai não tinha simpatia nenhuma pelos militares, muito perlo contrário. Mas, naqueles tempos, dizer “não” a eles era algo muito perigoso de se fazer.
Assim, não sobrava muita alternativa a não ser fazer o trabalho da maneira mais profissional possível. Afinal, a História do Brasil pertence ao povo brasileiro. As Forças Armadas também pertencem ao povo brasileiro e existem para servi-lo, e papai sabia que os militares não conseguiriam subverter a ordem natural das coisas por muito tempo. A própria História não permitiria. Além do mais, alguns anos mais tarde ele teria a oportunidade de se expressar mais livremente e baixar o malho nos militares e em seu desgoverno pelos jornais com um pouco mais de segurança.
Nesta história papai consegue atenuar um pouco a monotonia do desfile de bonequinhos uniformizados (acompanhados das longas explicações, mapas e diagramas de costume) dando à trama a característica de uma exibição de slides. Isso era uma atividade comum nas casas de famílias de classe média daquele tempo, e familiares e amigos eram rotineiramente convidados (e às vezes praticamente intimados) para sessões mais ou menos longas, constrangedoras e monótonas de projeção de slides da mais recente viagem de férias de alguém, por exemplo. De qualquer maneira, isso era algo com que qualquer criança podia se identificar.
Pelo menos parte da pesquisa para este trabalho foi feita com base em um antigo álbum de figurinhas, o “Álbum de Figurinhas com Soldados e Uniformes”, publicado em 1962 pela Editora Brasil-América e do qual temos uma cópia em nossa biblioteca até hoje.
****************
Já leste o meu livro? Quem ainda não leu está convidado a conhecer minha biografia de papai, à sua espera nas melhores livrarias: Marsupial – Comix – Cultura – Monkix
***************
Tenho o prazer de anunciar um novo livro, que não é sobre quadrinhos, mas sim uma breve história do Rock and Roll. Chama-se “A História do Mundo Segundo o Rock and Roll”, e está à venda nos sites do Clube de Autores e agBook