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Tag Archives: Hipólito Colomb

Ilustração Portugueza, No. 486, June 14 1915 - 4

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“O Intruso”, conto ilustrado por Hipólito Colomb.

Ilustração Portugueza, No. 486, June 14 1915 - 5

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“Passaram quatro mezes.

Em princípio de dezembro as duas mulheres que se tinham escondido nas galerias das minas onde a industria hulheira interrompera a sua laboração, levavam uma existencia miseravel, obtendo com dificuldade os alimentos de que necessitavam, minadas pelo desgosto da terrivel evidencia que o tempo e os sofrimentos de Alice se incumbiram de demonstrar.

O crime execravel de que a infeliz fôra vitima, tivera como consequencia uma gravidez. Alice gerara no seu ventre um inimigo, o filho de um opressor da sua patria, de um destruidor do seu lar, da bêsta abjeta que a violentara. (…)

– Meu pai prefere vêr a sua filha morta a vê-la amamentar esse intruso que ela traz no ventre. Pois bem: ninguem sabe onde eu estou, vista o meu luto, todos pódem julgar que morri. Abandone-me ao meu triste destino. Quem perde mais sou eu, no melhor dos pais. Mas darei á luz a criança que a minha maternidade tem o dever de proteger. O filho tem direitos sobre a mãe. Será desprezivel para todos menos para mim. Um crime não justifica outro crime. (…)

Armando apoiando-se ao braço de Ernesto Lamote pousou a mão sobre o hombro de Alice dizendo-lhe piedoso.

– Não chores, mulher. O teu filho será o meu.”

Ilustração Portugueza, No. 486, June 14 1915 - 3

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“O Intruso”, conto ilustrado por Hipólito Colomb.

“Ha pouco mais de oito meses, Alice, pelos fins de julho, era a rapariga mais feliz do mundo inteiro.

Filha unica, estremecida da mais carinhosa mãe que d’ela fizera todo o seu enlevo, muito amada de seu pae, austero varão de nunca desmentida firmeza mas dedicado e bondoso, idolatrado pelo noivo, moço, inteligente, são e trabalhador, correspondendo-lhe com egual afeto, Alice vira tudo sorrir-lhe na vida. (…)

A 2 de agosto os alemães, tomadas rapidamente Limburgo e Ververs, batiam-lhe nas pontes do Mosa, onde encontravam porfiada resistencia na sua marcha sobre liége, antes da qual encontrariam Visé; aí chegava a noticia assustadora das proclamações afixadas pelos invasores em Verviers, anunciando a anexação da cidade, á hora em que Alice saía da egreja pelo braço de Armando, envolvida no seu véu branco de noiva.”

Ilustração Portugueza, No. 484, May 31 1915 - 33

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Na crítica do teatro, passa a “Viúva Alegre”, com Palmira Bastos, no Éden Teatro; no Teatro Nacional, a comédia “Puebla de las Mujeres”, “Pão de Cada Dia”, e “Quem Deus Levou”; e a enigmática cantora Duquesa X, que actuava com uma máscara, no teatro da Rua dos Condes (ilustração presumivelmente de Hipólito Colomb).

Ilustração Portugueza, No. 484, May 31 1915 - 33a

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“Palmira Bastos é hoje de todas as atrizes portuguezas a que tem mais publico – a preferida das nossas plateias, sobretudo no genero a que se tem ultimamente dedicado. Concorrem para isso muitas circumstancias – desde a linha impecavel da sua conduta, a distinção e gentileza da sua figura, até á complexidade encantadora das suas aptidões. (…)

Lucinda do Carmo realisou a sua festa – e realisou, representando pela primeira vez a comedia dos irmãos Quintero. Grande atriz, das maiores que tem atualmente o teatro portuguez, a sua interpretação do papel de Concha, creado em Lisboa pela graça de Rosario Pino, foi admiravel de naturalidade, de variedade, de observação e leveza.”

Ilustração Portugueza, No. 484, May 31 1915 - 4

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“Dona Urraca”, conto de Francisco Lages, ilustrado por Hipólito Colomb.

“Dona Urraca estava cada vez mais velha. Encurralada na sua córte só um dia por outro saia até ao pasto.

Os ossos ameaçavam romper-lhe a pele, outr’ora lustrosa e cheia de vida.

Volvia dificultosamente o olhar amortecido, fixando as pessoas e as cousas n’um pasmo de muita saudade.

Ai! Bem sabia que não estava longe o seu apartamento!

Aninhada n’um montão de fêno, beiço muito caido, franqueando os dentes desmesuradamente compridos e abalados, parecia cismar na sua propria ruina.

Até já lhe tinham caido as crinas sedosas e a brilhante cauda, naturaes enfeites de uma mocidade remota!”

Ilustração Portugueza, No. 484, May 31 1915 - 3

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“Dona Urraca”, conto de Francisco Lages, ilustrado por Hipólito Colomb.

“O senhor Morgado de Gondiães era a mais adoravel velhice de toda aquela terra em redor.

Já lá ia bem longe a mocidade, o tempo aventuroso e lindo!…

Então, montava ele o seu ruão de otima picaria, batendo de espora fita caminhos e devezas, estrupindo forte á vista de um solar, curveteando com ligeireza e garbo diante das raparigas, que só vê-lo córavam como um cerejal maduro.”

Ilustração Portugueza, No. 476, April 5 1915 -34

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O teatro.

Nas fotos: as actrizes Henriqueta Fernandes, Isilda de Vasconcelos, Zulmira Bettencourt, Helena Guichard, Inês Garcia, e Velasco.

Nas ilustrações de Hipólito Colomb: os dramaturgos Ernesto Rodrigues e Acácio de Paiva, e o actor Ferreira da Silva.

Ilustração Portugueza, No. 476, April 5 1915 -34a

Ilustração Portugueza, No. 476, April 5 1915 -34b

“‘O Diabo’ no Teatro de S. Carlos

É uma peça hungara – peça de filosofia e de ironia, peça de paradoxo e de intriga, peça de humour e de intenções. Aquele Diabo da peça é, não só o comentador subtil dos homens e dos factos, mas o seu condutor irresistivel e amavel. A fatalidade demoniaca, o genio do mal, encontram n’esse Mefistofeles moderno a sua expressão alegre e o seu figurino elegante.”

Ilustração Portugueza, No. 476, April 5 1915 -3

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O conto “O Mutilado”, de João Grave, ilustrado por Hipólito Colomb.

“Quando partiu para a Africa a combater contra os que ameaçavam a integridade do solo nacional, Francisco tinha apenas vinte anos de edade, era uma existencia humana em plena primavera. (…) Por ele, repelira Luiza outras adorações, que se lhe confessavam pesarosamente e lhe ofereciam uma fortuna material que a pobreza de Francisco nunca poderia dar-lhe (…) E agora, eis que ele a abandonava para defender – longe da aldeia, dos lares repousados onde ao baixar da noite se acendem luzes espertas derramando á volta um fulgor dourado e onde, ao luar, soluçam as melancólicas, elegiacas violas – a terra da Pátria ameaçada!”