Fotógrafos < ver todos


Nair Benedicto


Uma vida dedicada às minorias



<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> Cel. Pombo dividindo dinheiro para a Aldeia Kaiapó Kikretum, 1985<br/> Amazônia<br/> Acervo do Autor<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> Índio Kayapó, Aldeia Kubenkrankren,1982<br/> Pará<br/> Acervo do Autor<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> Índios Kayapó, Aldeia Gorotire, 1986<br/> Pará<br/> Acervo do Autor<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> Aldeia Kikretum, 1985<br/> Amazônia<br/> Acervo do Autor<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> Índio em garimpo na área Kaiapó-Kikretum, 1985<br/> Amazônia<br/> Acervo do Autor<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> Índios Kayapó, Aldeia Kubenkrankren, 1982<br/> Pará<br/> Acervo do Autor<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> Índios Kayapó - Aldeia Aukre, 1992<br/> Pará<br/> Acervo do Autor<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> Índios Kayapó – Aldeia Aukre - antena parabólica, anos 90<br/> Pará<br/> Acervo do Autor<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> Índios Kayapó que trabalham com castanha-do-pará, 1986 <br/> Pará<br/> Acervo do Autor<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> Índios Kayapó que trabalham com castanha-do-pará, 1991 <br/> Pará<br/> Acervo do Autor<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> Índia Kayapó, anos 90<br/> Pará<br/> Acervo do Autor<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> I Encontro dos Povos Indígenas - o cantor e músico Sting e o cacique Kayapó Paiakã, 1989<br/> Altamira, PA<br/> Acervo do Autor<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> I Encontro dos Povos Indígenas - o cantor e músico Sting, 1989<br/> Altamira – Pará<br/> Acervo do Autor <br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> Kayapó filmando encontro de Altamira, 1989<br/> Altamira, PA<br/> Acervo do Autor<br/> <br/> NAIR BENEDICTO<br/> Kayapó com borboletas - Aldeia Aukre, 1986<br/> Pará<br/> Acervo do Autor

Nascida em São Paulo, em 1940, Nair Benedicto faz parte da geração de fotojornalistas que se consolidou nos anos 1970, como Marcos Santilli, Milton Guran, Pedro Martinelli e tantos outros. Seu trabalho é marcado pelo foco nas questões sociais que permeavam a época – o movimento sindical, os direitos da mulher, a situação da criança, a reforma agrária e a questão indígena. Chegou a ser presa política durante o regime militar.

Em 1979, Nair foi uma das sócio-fundadoras da Agência F4, ao lado de Ricardo Malta e dos irmãos Juca e Delfim Martins. A intenção era adquirir certa autonomia em relação às redações dos jornais e revistas. Em vez de patrões, estes meios passariam a ser clientes da agência e, dessa forma, os fotógrafos poderiam ter maior chance de propor e produzir suas próprias histórias, sem perder o direito de revender suas obras.

A F4 encerrou suas atividades em 1991. Neste mesmo ano, Nair participou da criação do Núcleo dos Amigos da Fotografia (NAfoto), juntamente com Stefania Brll, Marcos Santilli, Rubens Fernandes Jr., Roseli Nakagawa, Fausto Chermont, Juvenal Pereira, Bel Amado e Eduardo Castanho. Durante 20 anos, esta associação promoveu o Mês Internacional da Fotografia, em São Paulo, alem de inúmeras exposições.

Dentre elas, deve-se destacar a mostra Contatos e Confrontos – o índio e o branco, com curadoria de Marcos Santilli, Patricia de Felippi e Nair, que ocorreu no Museu da Imagem e do Som de São Paulo em 1995. No catálogo desta exposição, os organizadores defendem que:

…os fotógrafos são sucessores diretos da linhagem que passa pelos escrivães de bordo das caravelas, pelos viajantes, numa sucessão de cronistas que atua desde o tempo das ‘descobertas’. Neste fim de milênio, cabe ao fotógrafo a narrativa dos últimos capítulos deste processo que constitui o tronco étnico/cultural das Américas (…) ‘Contatos e confrontos’ espelha uma estranha mistura de dor, assombro e humor, desejando contribuir para um maior entendimento diante do drama que se desenrola paradoxalmente tão longe… e tão perto. (NAFOTO:1995:8)

Esta importante retrospectiva sobre o índio na fotografia brasileira contou com nomes como Claudia Andujar, Jean Manzon, Jesco Von Puttkamer, José Medeiros, Pedro Martinelli, dentre outros.

Segundo Maria Beatriz Coelho, o olhar de Nair “não busca imagens estereotipadas ou românticas, antes mostra o prazer, a dor, as vicissitudes cotidianas nos gestos reveladores que a vida real comporta. Trata-se de uma feminista com um olhar muito perspicaz sobre a condição da mulher e da criança.” (2012, p.137).

Atualmente, Nair gestiona seu acervo por meio de sua própria agencia, a N-Imagens, e se dedica às suas próprias exposições, curadoria, cursos e palestras.

Em 1980, lançou os livros A Greve do ABC e A Questão do Menor, junto com Juca Martins. Uma coletânia de seu trabalho foi publicado em 1988, sob o nome de As Melhores Fotos de Nair Benedicto. Em 2012, saiu a compilação mais completa de sua carreira, Vi Ver.

 

ENTREVISTA – 30/08/2013

Você começou sua carreira no fotojornalismo, nos anos 70, assim como a Claudia Andujar e o Marcos Santilli. Foi aí que você tomou contato pela primeira vez com a questão indígena?

Meu primeiro contato com os índios foi em 1979, talvez 80. Eu estava muito ligada à questão da mulher e do movimento operário, e cheguei à Amazônia nessa época. Eu sempre tive vontade de ir até as aldeias, mas eu já tinha 3 filhos pequenos, não havia celular e a locomoção era muito precária. Então eu só pude ir numa hora em que as crianças já tinham um mínimo de autonomia, e eu poderia ficar um período sem me preocupar.

Eu tinha um projeto, que afinal não realizei, sobre as religiões evangélicas chegando nessas comunidades. Em todos os cantos, inclusive nas aldeias, havia missionários, que eram de todos os tipos e origens as mais diversas. Eu já tinha andado muito pela Amazônia trabalhando com a questão agrária, e me chamava muito a atenção o fato de se estar no fim de mundo e haver tantas igrejas assim.

Mas enfim, meu primeiro contato foi com os Kayapó, que naquela época já tinham pelo menos uns 40 anos de contato com o branco. Eu queria visitar as aldeias que estivessem mais afastadas da cidade, onde a cultura deveria estar mais preservada.

A partir daí, o que te levou a buscar outras etnias?

Depois de muita pesquisa, cheguei até os Arara, também no Pará. As aldeias deles eram relativamente acessíveis, e só tinham um ano de contato com o branco. Eu me perguntava o que acontece com o índio que está no meio do mato, e que de repente vê a sua terra sendo cortada por uma rodovia.

Já em relação aos Kaxinawá, no Acre, eu fui motivada pelo trabalho deles com o couro vegetal. Havia uma estilista carioca que foi para a Amazônia, e que começou a perceber que o saco de chita onde os índios punham a borracha (látex) ia ficando impermeabilizado. Então ela desenvolveu um trabalho de pesquisa sobre esse material, uma espécie de couro vegetal, e eu fui acompanhar este projeto.

Eu fui também nos Tembé, quando eles estavam assinando com a Funai a demarcação. Ou seja, ao longo da minha carreira eu presenciei momentos muito diversificados na vivência desses índios.

Qual era a sua intenção com este trabalho com os índios?

Eu queria documentar a realidade da Amazônia naquele momento, o modo como grandes projetos interferiam na vida das aldeias, como, por exemplo, a usina de Tucuruí. Naquela época eu não achava que o caminho certo para difundir esse trabalho seria o livro. O audiovisual funcionava muito melhor para promover a discussão. Uma coisa era ter o livro pronto, outra coisa era mostrar isso diretamente para as pessoas.

Eu sempre me interessei muito pela relação da fotografia com a educação. Eu publiquei muita coisa, tanto no Brasil como no exterior, mas nunca achei que uma revista faria a matéria que eu queria. Então encontrei no audiovisual um modo bastante eficiente de fazer essa junção. Dávamos muitas palestras em escolas, por exemplo.

É claro que naquela época não tínhamos os recursos de vídeo de hoje. Mas eram feitos super profissionalmente, gravados em estúdio, com boas trilhas sonoras. O áudio sobre a Amazônia teve trilha sonora do Hermeto Paschoal. Fiz audiovisuais de outros assuntos importantes também: “O Prazer é nosso”, “Não Quero ser a Próxima”, “E agora, Maria”, todos ligados diretamente à questão da mulher. Também fiz outros focados na questão da terra e na ecologia.

O que te atraiu na questão indígena?

Eu me envolvi muito com os Arara pela alegria deles, por serem tão eles mesmos. Os Kayapó foi por admirar o orgulho deles pela própria identidade, esse estilo briguento que, afinal, é o que os salva. Já os Kaxinawá foi pela procura constante desse povo, pelo envolvimento deles em projetos. A diversificação de interesses dos índios é tão grande como a nossa. É bonito ver a briga dessas comunidades para se viabilizarem, tanto de índios como de quilombolas. São coisas muito ligadas à dignidade, ao sentimento do ser humano como ator da sua historia.

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LIVROS PUBLICADOS

A questão do menor [com Juca Martins]. São Paulo: Editora Caragua,1980
As melhores fotos de Nair Benedicto. São Paulo: Sver e Boccato Editores, 1988
Vi Ver – fotografias de Nair Benedicto. Porto Alegre: Brasil Imagem, 2012

REFERÊNCIAS

COELHO, Maria Beatriz. Imagens da Nação – brasileiros na fotodocumentação de 1940 até o final do século XX. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Edusp, 2012

FERNANDES JÚNIOR, Rubens. Labirinto e identidades: panorama da fotografia no Brasil [1946-1998]. São Paulo: Cosac & Naify, 2003

MAGALHÃES, Ângela & PEREGRINO, Nadja. Fotografia no Brasil: um olhar das origens ao contemporâneo. Rio de Janeiro: Funarte, 2004

NAFOTO. “Identidade – II Mês Internacional da Fotografia”. São Paulo: Núcleo dos Amigos da Fotografia, 1995

PERSICHETTI, Simonetta. Imagens da fotografia brasileira. São Paulo: Estação Liberdade/ Senac, 2000

WEBGRAFIA

– Agência f4 (acesso aqui)

– Agencia f4. Entrevista, 6 min. Olhar Imagem, 2012 (acesso aqui)

– Agência N Imagens (acesso aqui)

– Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais. (acesso aqui)

– Nair Benedicto. Entrevista, 15 min. Galeria Olido, 2008 (parte 1, parte 2 e parte 3)

ACERVO DE ORIGINAIS

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