O que é Psiquiatria Intervencionista?

Técnicas que podem ser aplicadas por psiquiatras constituem a Psiquiatria Intervencionista, não mais baseada apenas na prescrição de medicamentos. Entenda!
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Atualmente, o senso comum entende a psiquiatria como um ramo da medicina que diagnostica e trata os transtornos mentais por meio da prescrição de medicamentos como antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos.

No entanto, a psiquiatria não está limitada à prescrição de medicamentos. As chamadas técnicas de neuromodulação, por exemplo, têm se tornado alternativas cada vez mais acessíveis, rompendo com a ideia de que o psiquiatra é só mais um médico que receita remédios.

O uso destas e outras técnicas compõem o que chamamos de psiquiatria intervencionista, uma forma de fazer psiquiatria menos passiva e com um maior contato com pacientes.

A psiquiatria intervencionista pode ser definida como uma área da psiquiatria na qual são realizados procedimentos em ambiente hospitalar com finalidade terapêutica. Tais procedimentos geralmente requerem uma técnica específica para garantir sua segurança e eficácia.

Quais procedimentos fazem parte da psiquiatria intervencionista?

Existem diversos procedimentos que fazem parte desta área de atuação. Dentre os mais conhecidos estão:

Eletroconvulsoterapia (ECT)

A eletroconvulsoterapia, popularmente chamada de “eletrochoque”, é uma técnica de neuromodulação que consiste na aplicação de correntes elétricas a fim de causar uma convulsão controlada no paciente. Essa convulsão ajuda a restabelecer o fluxo de neurotransmissores no cérebro.

Esta técnica ganhou má fama durante as décadas de 50 e 60 pelo seu mau uso nos antigos manicômios. No entanto, atualmente, é feita de forma humanizada e o paciente fica sedado durante a aplicação, evitando os riscos associados ao procedimento.

Em geral, a ECT é usada para o tratamento da depressão refratária (depressão resistente ao tratamento), depressão bipolar, esquizofrenia, catatonia, entre outros.

Estimulação Magnética Transcraniana (EMTr)

Na EMTr, a neuroestimulação é feita por meio da aplicação de pulsos magnéticos que agem no córtex cerebral a fim de auxiliar nas conexões neurais.

É uma técnica não invasiva e indolor e, ao contrário da ECT, pode ser feita com o paciente acordado. Ou seja, o paciente não precisa ser sedado para fazer esse tratamento.

Estimulação Cerebral por Corrente Elétrica Contínua (tDCS)

Na tDCS, também abreviada para ETCC, o tratamento consiste em aplicar uma corrente elétrica contínua de baixa intensidade (de 1 a 3 mA) ao córtex cerebral, tendo como objetivo facilitar ou dificultar as sinapses, a depender do resultado desejado.

Trata-se de uma técnica que ainda está sendo estudada e o número de evidências científicas é insuficiente até o momento. Por isso, é uma técnica que não é acessível a grande parte da população, sendo usada em estudos ou off label (fora de prescrição) por não ser uma técnica regulamentada.

Infusão de quetamina

A quetamina é uma substância anestésica que pode ser usada no tratamento da depressão. Pesquisadores perceberam que, em doses subanestéticas, ou seja, doses que não causam o efeito de anestesia, os sintomas de depressão apresentam melhora.

Se você já ouviu falar na quetamina, provavelmente ouviu falar do seu uso como droga recreativa, que leva a um uso abusivo. Contudo, a infusão de quetamina em um ambiente controlado proporciona efeitos terapêuticos eficazes no combate aos sintomas depressivos.

Por que a psiquiatria intervencionista existe?

Por mais que o tratamento medicamentoso seja eficaz e bastante prático, ele não funciona para todas as pessoas. Nos casos de depressão, por exemplo, o tratamento com antidepressivos é eficaz em cerca de 70% das pessoas. Os outros 30% precisam, então, de uma alternativa.

É para essa população que são feitas pesquisas diariamente a fim de encontrar novas metodologias que permitam aumentar a qualidade de vida desses pacientes, especialmente nos casos bastante debilitantes.

Em outras palavras, não se trata de uma área que pretende tomar a frente da psiquiatria, sendo mais um recurso alternativo do que uma primeira linha.

Psiquiatria intervencionista é para todo mundo?

Não, as técnicas de psiquiatria intervencionista não são para todos. Isso porque, para grande parte das pessoas, o tratamento medicamentoso de primeira linha é o suficiente para aliviar os sintomas de grande parte dos transtornos mentais. Além disso, a associação da medicação com psicoterapia também traz bons resultados para muitos.

Embora nem todos os procedimentos de psiquiatria intervencionista sejam necessariamente caros, grande parte dos procedimentos tem uma duração relativamente comprida, o que pode não ser viável para muitas pessoas.

As sessões das intervenções podem ter duração que varia de minutos até algumas horas, sendo necessário que o paciente tenha essa disponibilidade pelo menos uma vez por semana, o que não é realista para uma grande parte da população.

Em outras palavras, os tratamentos disponibilizados pela psiquiatria intervencionista são tratamentos de última instância, que são tentados quando os tratamentos de primeira linha realmente não são eficazes.

Alternativas à medicação e à psiquiatria intervencionista

Embora o tratamento e acompanhamento de um psiquiatra seja indispensável, é importante ressaltar que há ainda mais aliados nessa luta contra os sintomas de transtornos mentais. São eles:

Psicoterapia

A psicoterapia é um processo terapêutico que busca melhorar a relação do paciente com os sintomas apresentados, através da fala, discussão e ressignificação dos acontecimentos.

Dependendo da abordagem utilizada, o psicoterapeuta poderá ensinar técnicas para lidar com os sentimentos, pensamentos e comportamentos que trazem sofrimento ao paciente.

Pessoas que sofrem de ansiedade, por exemplo, podem aprender técnicas para o manejo dos sintomas em momentos de crise, e pessoas com depressão podem aprender a questionar seus pensamentos e crenças negativas a fim de diminuir o impacto destes em sua saúde mental.

Vale ressaltar que existem diversas abordagens de psicoterapia e só o próprio paciente pode escolher qual é a melhor para ele. No entanto, existem algumas abordagens com um maior número de evidências científicas. Dentre elas estão a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e terapias comportamentais como a terapia comportamental-dialética (DBT) e a terapia de aceitação e compromisso (ACT).

Exercícios e alimentação saudável

Por fim, levar um estilo de vida saudável também é um grande ajudante na manutenção da saúde mental.

Isso porque uma boa alimentação ajuda a produzir as substâncias necessárias para manter o organismo em pleno funcionamento, o que inclui neurotransmissores que auxiliam na saúde mental.

Já a prática de exercícios físicos auxilia na liberação de endorfina e outros neurotransmissores que ajudam no combate dos sintomas de transtornos.

Redução dos níveis de estresse

O estresse é um dos fatores mais associados ao surgimento de transtornos mentais. Portanto, reduzir os níveis de estresse no dia-a-dia pode ajudar muito a combater sintomas.

Dentre as alternativas para reduzir o estresse, pode-se pensar em técnicas como meditação, exercícios de mindfulness, separar um tempo adequado para lazer, cultivar hobbies, ter uma vida social saudável, cultivar boas relações, entre outros.

Apesar da psiquiatria ser popularmente vista como uma medicina baseada na prescrição de medicamentos, existem outras formas de atuação que podem ajudar muitas pessoas que não respondem bem aos tratamentos convencionais.

Se você sente que está precisando de ajuda psicológica e/ou psiquiátrica, não hesite em contatar um profissional!

Referências

https://www.psiqintervencionista.org.br/
https://eephcfmusp.org.br/portal/online/psiquiatria-intervencionista/

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