Ana Mel Grimath- Acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da Unama.

É fato que, em algum momento da vida, já vimos em algum filme, série, rede social, livros, ou em qualquer meio de entretenimento, o dia 4 de julho sendo celebrado com muita festa, fogos de artifício e com as cores azul, branco e vermelho por todos os lados. Essa é uma data de suma importância para os estadunidenses, marcando o dia da independência do país. Mas, além dos Estados Unidos, outros Estados do mundo também a conhecem e a consideram um marco importante. A partir dessa perspectiva é válido questionar: como e por que essa influência cultural é tão forte no mundo?

Para iniciar a análise é importante destacar brevemente o processo de independência desse país. Uma série de acontecimentos causaram o fim do sistema de colonização inglês nos Estados Unidos, dentre eles destaca-se o aumento dos impostos  aos colonos em virtude dos grandes gastos da Guerra dos Sete Anos e das importações de produtos ingleses. Com certa autonomia, as 13 colônias não aceitaram essa imposição, e com ajuda dos franceses e seus ideais de liberdade, somados aos ideias iluministas, foram em busca de uma independência completa da metrópole. No dia 4 de julho de 1776, foi redigida a Declaração de Independência dando início a Guerra de Independência; no entanto, somente em 1783, através do Tratado de Versalhes, foi quando a Inglaterra reconheceu a independência do Estado norte-americano. 

Sendo assim, como o 4 de Julho ganhou tanto reconhecimento no mundo? É estranho pensar que lembramos dessa data, mas não fazemos ideia do dia da independência de qualquer outro país que também passou por um processo de colonização em que sua independência foi concretizada através da luta dos colonizados. No estudos das Teorias de Relações Internacionais encontra-se na vertente positivista o neoliberalismo de Joseph Nye e Robert Keohane (1989) que sustentam esse pensamento estadunidense baseado na liberdade e democracia desde o início de sua independência -como já foi citado anteriormente-, através do soft power, que é o exercício do poder por meio de “mecanismos brandos”, como a influência cultural. Assim, a influência do 4 de julho no mundo se deu através dessa perspectiva e é uma das formas dos Estados Unidos de manter seu poder de dominância no mundo e continuar sustentando a ideia, no sistema internacional, de hegemonia.

Contudo, na vertente Pós-Positivista encontra-se a crítica da teoria Pós-Colonial que questiona a teoria anterior, destacando a discrepância da organização do sistema internacional entre os países do Norte e do Sul global. Aníbal Quijano (2005) é um dos autores dessa teoria que fala sobre a colonialidade do poder e a formação de Estados desenvolvidos e subdesenvolvidos. A importância e a lembrança do 4 de julho está diretamente ligada com essa construção, uma vez que, apesar de colônia, os Estados Unidos foram uma colônia de ocupação e não de exploração, tornando assim o caminho propício para a continuidade de um país dominante. Dessa forma, a teoria questiona esses paradigmas ocidentais nórdicos ao apresentar também perspectivas de outros lugares do mundo, principalmente de países subdesenvolvidos.

Portanto, o 4 de julho é uma data de muita importância, aliás, os Estados Unidos foi o primeiro país a se tornar vitorioso nessa revolução anticolonial e o primeiro país a adotar o sistema presidencialista. Todavia, é importante questionar o tamanho da influência cultural que essa data tem no mundo, pois questões como essa levam ao entendimento da organização do cenário internacional que se tem hoje.

REFERÊNCIAS :

KEOHANE, Robert. NYE, Joseph. Power and Interdependence. 2° edição. Estados Unidos: Harper Collins Publishers, 1989.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. Conselho Latino-americano de Ciências Sociais. Disponível em: <https://www.clacso.org/&gt;

 VISENTINI, Paulo. PEREIRA, Analúcia. Manual do Candidato: História Mundial Contemporânea (1776-1991). 3° edição. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012.