Desafios de leitura. Os “maiores” leitores  do mundo

Desafios de leitura. Os “maiores” leitores do mundo


É verdade que nem todos partilham a paixão pela leitura. Contudo, existem aqueles que “compensam as palavras que outros não lêem”: Agatha Christie lia 200 livros por ano; o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, termina um em cada duas semanas, enquanto o ex-presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt, batia o recorde: um livro por dia,…


O ser humano passa grande parte da sua vida em busca de uma verdade coletiva, absoluta. Como se tivesse de moldar-se a um universo padronizado onde temos de ser o mesmo, fazer o mesmo e gostar do mesmo. Contudo, talvez a beleza de fazer parte da civilização esteja precisamente na capacidade de compreender que não corremos todos na mesma direção, não somos todos feitos do mesmo, nem temos todos os mesmos interesses.

Com a leitura passa-se exatamente a mesma coisa: apesar de nem todos mergulharmos de cabeça nas histórias imortalizadas num pequeno conjunto de folhas que cabe numa mão, há aqueles que fazem disso uma prioridade, ou até mesmo uma forma de estar na vida. Quase como se compensassem a falta que os livros sentem em ser lidos, quase como se quisessem compensar todas as outras pessoas que não o fazem e beber o máximo conhecimento possível.

O poeta brasileiro Mário Quintana dizia que o livro “traz a vantagem de estarmos sozinhos e acompanhados ao mesmo tempo”, enquanto para André Maurois a leitura de um bom livro criava um diálogo incessante: “o livro fala e a alma responde”. Já o filósofo René Descartes defendia que este nos transportava até uma conversa com “os espíritos dos séculos passados” e Jorge Luís Borges acreditava que “o paraíso é uma espécie de livraria”.

Talvez essas premissas justifiquem a enorme quantidade de livros lidos por determinadas pessoas que, ao contrário do “comum mortal”, desafiam-se, vivem no meio de livros e planeiam as suas leituras como quem planeia um futuro inteiro.

RECORDES DE LEITURAS Harriet Klausner, uma bibliotecária e jornalista, ficou conhecida por ter feito críticas de mais de 31 mil livros para a Amazon e foi uma das leitoras mais rápidas do mundo. A mulher de 63 anos, que morreu em outubro de 2015, fazia avaliações de dois ou três livros por dia, na plataforma digital. No seu perfil, Klausner escreveu: “Sou uma leitora rápida (um dom com que nasci) e leio dois livros por dia”. Contudo, nem todos aceitavam neste número e um grupo de críticos chegou a tentar desacreditá-la.

Na altura, Klausner defendeu-se dizendo que alguns dos romances que lia eram tão curtos e fáceis que lhe ocupavam apenas uma hora. Ao mesmo tempo, “se um livro não me interessa até chegar à página 50, deixo de lê-lo”, revelou ao jornal americano Wall Street Journal.

Quando estava na escola, o escritor britânico Tony Buzan fez um teste de velocidade de leitura, que detetou a sua capacidade de ler 213 palavras por minuto: “Pensei que era um leitor muito rápido, mas ao perguntar a uma rapariga da minha turma que me disse que lia 300, fiquei a sentir-me péssimo!”, afirmou à BBC, em 2016.

Decidido a melhorar as suas habilidades, Buzan praticou a leitura rápida em casa e pesquisou sobre a anatomia dos olhos e a maneira como o cérebro processa informações. Além disso, o jovem aprendeu sobre a focalização ocular e o agrupamento de palavras para poder lê-las como um só fragmento.

Descobriu então que era possível ler mais rápido depois de fazer exercícios físicos, por exemplo. E em pouco tempo, conseguiu o seu objetivo tornando-se mais tarde consultor de leitura rápida e memorização: “Em vez de me ficar pelos mil livros ao longo da vida, agora talvez possa apostar nos dois mil e isso pode mudar a minha existência”, afirmou. Foi exatamente isso que aconteceu, antes do seu falecimento, em 2019.

Considerando a velocidade média com a qual alguém diz 300 palavras por minuto, um leitor leva cerca de um minuto a terminar uma página. Portanto, para ler um livro de 300 páginas por dia, o leitor deveria reservar pelo menos 35 horas semanais.

O LEITOR MAIS RÁPIDO DO MUNDO Howard “Speedy” Berg ultrapassa facilmente esse número. Reconhecido por estabelecer o recorde mundial de leitura dinâmica, Berg tem o seu nome no Guinness Book of World Records de 1990 tanto por ler mais de 25 mil palavras por minuto, como por escrever mais de 100 palavras por minuto. É licenciado pela SUNY, Binghamton, onde se formou em Biologia e, em seguida, completou um programa de Psicologia de quatro anos apenas num. Os seus estudos pós-graduação também eles se focaram na Psicologia, desta vez relacionada precisamente com a leitura. Atualmente ensina pessoas a melhorar a sua rapidez e eficácia, para que “caminhem na sua direção”.

A IMPORTÂNCIA DA SELEÇÃO “Há uma quantidade de livros limitada que eu consigo ler ao longo da minha vida e não quero perder tempo com lixo”, afirmou a colunista do jornal britânico Sunday Times e crítica de livros Jenni Russell. Além de acreditar que a quantidade de livros que lemos é importante, a crítica literária frisa que, com a idade “nos devemos tornar mais seletivos”. Quando era criança, Russell lia até 20 livros por semana. Agora, lê três por mês. Para a colunista do Times, a fascinação pela leitura prende-se com facto de “nas nossas vidas, só vemos a superfície das pessoas. A ficção leva-nos a mergulhar nas suas mentes, pensamentos e motivações. Os romances levam-nos a lugares que de outra forma nunca veríamos. A leitura pode ter um efeito surpreendente sobre nós”, sublinhou à BBC.