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maxwell alexandre

MAXWELL ALEXANDRE

Nascido no Rio de Janeiro, em 1990, Maxwell Alexandre vive e trabalha na Favela da Rocinha, uma das mais populosas do Brasil. O artista desistiu da carreira de patinador profissional, que manteve dos 14 aos 20 anos, para tentar uma bolsa no curso de design na PUC RJ, onde se formou em 2016. Em contato com a matéria de plástica, com o artista Eduardo Berliner, passou a conhecer a arte contemporânea e a pintura.

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Após um distanciamento da comunidade, por razão da faculdade em que se dedicou durante anos, resolveu se reconectar com os amigos no intuito de pertencer novamente àqueles círculos, segundo entrevista concedida ao jornal O Globo em 2018. Desse retorno, surgiu o combustível para sua criação. Seu trabalho sugere um lugar afirmativo do negro retratado por meio das confluências entre a rotina dos desafios da contemporaneidade, como a marginalização e o enfrentamento policial, às influências nas letras do rap. Em entrevista ao site Vice Brasil, Alexandre cita que sua produção é pautada por poetas negros que têm vivências congruentes à sua. No depoimento, ele afirma que: “isso é forte. É uma quebra de paradigmas dentro da história da arte, uma vez que os artistas se alimentam majoritariamente de uma poesia branca e europeia pra produzir”.

Essa aproximação com a música e com a comunidade contribuiu para a concepção da série Pardo é papel. Sobre folhas e folhas de papel pardo instaladas em seu estúdio, o artista pincela o cotidiano ao seu redor. Desse olhar, obras em grande escala são concebidas como um reflexo da autoidentificação da população negra – algo que o artista vê como um fenômeno positivo.

Pardo é papel reflete uma inquietação com a utilização de um termo usado para velar a negritude do povo brasileiro. Alexandre explicita a problemática em torno do termo cunhado pelos dados de autodeclaração reunidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que designam parte da população negra no Brasil. Ao afirmar que pardo é uma denotação

unicamente empregada para se referir a um tipo de papel, o artista articula com os jogos semânticos que podem ser desvendados dessa análise na série que apresenta personagens negros/as/es dos mais diversos e em diferentes situações. Assim, sua obra rompe com qualquer paradigma imposto negativamente à população negra brasileira, ou com a própria história da arte, quando subverte a prática da pintura ao experienciar com o material.

Os trabalhos dessa série deram notoriedade ao artista. Em 2017, a Galeria Carpintaria, uma das mais importantes do circuito carioca, promoveu a exposição coletiva Carpintaria para todos. Desde então, ele tem participado de diferentes exposições em museus, galerias e feiras de arte. A mostra homônima, por exemplo, percorreu lugares como o Musée d’art contemporain de Lyon, na cidade de Lyon, França, e o Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, ambas em 2019; além da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, e o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, em 2021.

Diante da produção de Maxwell Alexandre, (re)descobrimos novas histórias. Seus trabalhos em grandes dimensões funcionam como uma alegoria do nosso tempo, na busca por significados que se vale de aspectos centrais por uma outra inscrição da presença negra na arte, seja ela local ou global. Ao inserir tal aspecto em um trabalho pautado nos temas contemporâneos a que estamos sujeitados, o artista reconta essa mesma história em arranjos estéticos concebidos em uma dinâmica crítica, na qual essas construções narrativas são vetores de resistência e visibilidade da negritude.

Deri Andrade é pesquisador, jornalista e curador independente. Desenvolveu a plataforma Projeto Afro (projetoafro.com), resultado de um mapeamento de artistas negros/as/es brasileiros.

Deri Andrade

Texto adaptado do artigo Éramos a cinza e agora somos o fogo: a estética na obra de Maxwell Alexandre (2019) do autor

SEM TÍTULO, DA SÉRIE FESTA DE 500 ANOS (DETAIL) . Maxwell Alexandre 140x214 cm., óleo sobre tela, 2019 Coleção do artista . Crédito: Cortesia A Gentil Carioca

NICOLA (DETAIL) . Andrea Bizzotto 40x30 cm., acquerello, matita e olio, 2021

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