Arte do Extremo Sul Catarinense: transitoriedade, poética e resistência

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Arte do Extremo Sul Catarinense

transitoriedade, poética e resistência

Apresentação
EDI BALOD
Autores
Referências
GORINI EDI BALOD GILBERTO PEGORARO JUSSARA GUIMARÃES BERENICE GORINI JUSSARA GUIMARÃES Fichas GILBERTO PEGORARO 4 6 14 24 32 40 42 44 46 48
Sobre os
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BERENICE

Arte do Extremo Sul Catarinense transitoriedade, poética e resistência

Caro(a) professor(a):

Este material foi elaborado para contribuir e enriquecer a prática docente com referências de conteúdos das Artes Visuais e do patrimônio cultural da região do Extremo Sul Catarinense. A intenção desta produção é disponibilizar uma coletânea composta por imagens e conteúdos sobre artistas que viveram nesta – e desta – região e que, em suas pesquisas e produções, trazem características dos lugares, acontecimentos, saberes e fazeres locais. Trata-se de um convite ao olhar atento para o cotidiano e as realidades em que estamos inseridos.

É importante destacar que, embora seja uma proposta produzida e distribuída em âmbito regional, toda a pesquisa realizada, desde a concepção do projeto, está alinhada com os conteúdos, competências e habilidades relacionadas ao grande campo da Arte, em específico, as Artes Visuais, deliberadas pelo documento normativo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ministério da Educação (BRASIL, 2018). Também foram consideradas, na fundamentação e elaboração das propostas, as seis dimensões do conhecimento – criação, crítica, estesia, expressão, fruição, reflexão – descritas no documento como norteadoras, para que a experiência artística, com suas características e singularidades, se efetive.

A referência a essas dimensões busca facilitar o processo de ensino e aprendizagem em Arte, integrando os conhecimentos do componente curricular. Uma vez que os conhecimentos e as experiências artísticas são constituídos por materialidades verbais e não verbais, sensíveis, corporais, visuais, plásticas e sonoras, é importante levar em conta sua natureza vivencial, experiencial e subjetiva (BRASIL, 2018, p. 195).

Temos o processo de aprendizagem em arte pelo ato criativo que, somado aos conteúdos da arte e da educação, alcança outros territórios deste universo e também das necessidades humanas. Nesta perspectiva, problematiza-se a ideia de Arte como uma disciplina isolada em um currículo, no intuito de se abrir à Arte como conhecimento integrado, interdisciplinar, transversal e como experiência de vida.

Com o objetivo de difundir a produção artística local nos diferentes espaços que ela ocupa, esta pesquisa acrescenta parágrafos à história da Arte do estado de Santa Catarina, como também a transitoriedade, a poética e a resistência de artistas que, mesmo distantes do circuito cultural dos grandes centros, foram importantes no contexto e no desenvolvimento do pensamento artístico catarinense. Esta escrita traz uma perspectiva da história da arte estadual para além da capital Florianópolis, identificando atuações relevantes para o nosso contexto e registrando fatos que, infelizmente, não estão nos livros didáticos que chegam às escolas. Para facilitar o processo de ensino e aprendizagem em Arte, recomenda-se que as abordagens aos artistas e seus trabalhos sejam feitas de uma forma que rompam com estereótipos, releitura de imagem enquanto cópia e/ou pesquisa meramente biográfica. A Abordagem Triangular do Ensino de Arte, por exemplo, é uma proposição de Ana Mae Barbosa (1987) amplamente reconhecida e difundida no território brasileiro, que divide as ações educativas em três eixos: ler/apreciar, fazer artístico e contextualizar (não necessariamente nesta ordem). Essas ações, que investigam significados, discutem e exploram o potencial artístico, ampliam o repertório cultural dos alunos e preconizam a criação artística.

Nesta perspectiva, sugerimos algumas abordagens às obras que possibilitem conhecer, pesquisar, refletir e vivenciar alguns registros poéticos e técnicos sobre a arte do extremo sul catarinense, a partir de um recorte temporal presente no trabalho de quatro artistas: Berenice Gorini, Edi Balod, Jussara Guimarães e Gilberto Pegoraro.

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Com grande atuação entre as décadas de 1970 e início dos anos 2000, esses artistas são apontados como as primeiras referências de arte na região do extremo sul catarinense por produtores culturais, artistas, pesquisadores e educadores locais. Eram contemporâneos, amigos, colegas de trabalho, parceiros de projetos culturais, confidentes, críticos e curadores dos trabalhos uns dos outros. O ofício e a vida pessoal se misturavam com naturalidade, à medida que a intimidade permitia a interferência poética, técnica e estética nas pesquisas assinadas individualmente, mas ao mesmo tempo provindas de ideias coletivas. É pertinente ressaltar que cada um dos quatro artistas foram professores universitários e formaram inúmeros profissionais no campo das artes na região. Trata-se da primeira geração de artistas desta região.

O conteúdo deste material está organizado da seguinte maneira:

BIOGRAFIA

CONTEXTO POÉTICA

GLOSSÁRIO

COM QUEM DIALOGA?

FICHA

Pequeno texto que conta sobre a trajetória e experiências da vida dos artistas selecionados.

Conjunto de circunstâncias em que os artistas estavam inseridos.

Estudo sobre as obras dos artistas visando estabelecer suas características gerais, procedimentais e conceituais para o entendimento da criação artística.

Lista de palavras e expressões que aparecem na pesquisa de cada artista.

Referência de outros artistas que têm, em suas produções artísticas, aproximações contextual e poética com os quatro artistas pesquisados.

Reflexões e sugestões de abordagens em uma obra escolhida para cada artista, com foco nos processos de criação, procedimentos e conceitos. As propostas não têm indicativo de idade, cabendo aqui ao(à) professor(a) escolher e, também, adequá-las para o grupo em que irá trabalhar.

Alinhado com estudos sobre professor(a) como mediador(a), convidamos você a assumir uma conduta que seja a de incentivar, motivar e facilitar o processo de aprendizagem do(a) aluno(a), possibilitando a experiência em arte com análise crítica e contextualizada. Ademais, esta iniciativa pode contribuir para decrescer os processos de silenciamento e esquecimento a que são submetidos alguns desses percursos artísticos regionais ao longo das respectivas histórias dos municípios componentes. Trata-se de um convite à experiência com arte que visa à formação de cidadãos críticos e atuantes na sociedade em que vivemos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF, 2018.

HELGUERA, Pablo. Introdução. In: HELGUERA, Pablo; HOFF, Mônica. Pedagogia no campo expandido. Porto Alegre: Fundação Bienal do Mercosul, 2011. p. 5-7.

HOFF, Mônica. Mediação (da arte) e curadoria (educativa) na Bienal do Mercosul, ou a arte onde ela “aparentemente” não está. Trama interdisciplinar, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 69-87, 2013. Disponível em: http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/tint/article/ view/5543. Acesso em: 20 nov. 2022.

HONORATO, Cayo. A arte como atitude − Entrevista com Luis Camnitzer. Revista Concinnitas, Rio de Janeiro, ano 9, v. 1, n. 12, jul. 2008. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/concinnitas/ article/view/22817/16278. Acesso em: 21 nov. 2022

MARTINS, Mirian C.; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, Maria T. T. A. A língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. Didática do ensino de arte. São Paulo: FTD, 1998.

VERGARA, Luiz Guilherme. Curadoria educativa: percepção imaginativa/consciência do olhar. In: Anais do 8º Encontro Nacional da ANPAP. São Paulo: ECA USP, 1996. (Republicado em: CERVETTO, Renata; LÓPEZ, Miguel A. (eds.) Agite antes de usar: deslocamentos educativos, sociais e artísticos na América Latina. São Paulo: Edições Sesc – São Paulo, 2018, p. 39-46).

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BERENICE GORINI

BIOGRAFIA

Berenice Valéria Gorini Rodrigues nasceu em Nova Veneza/SC em 1941, e atualmente reside em Florianópolis/SC. Graduou-se em Artes Plásticas em 1959 pelo Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e, em 1960, em Licenciatura em Desenho pela Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul –PUC/RS. Foi professora titular do Departamento de Artes da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM/RS entre os anos de 1968 e 1990, lecionando nas disciplinas de desenho, pintura, fundamentos da linguagem visual, cenografia, estamparia, entre outras.

Em 1963, Berenice recebeu três medalhas em mostras internacionais na Itália. Em 1967 e 1972, fez suas primeiras exposições individuais no Museu de Arte Moderna de Florianópolis (atual MASC). Em dezembro de 1979, Berenice foi a única mulher entre os dez artistas-destaque que melhor representaram a década de 1970 no Brasil, ao participar da 15ª Bienal Internacional de São Paulo. É considerada uma das primeiras artistas da tapeçaria a pesquisar a tridimensionalidade no Brasil, atraindo interesse de importantes museus nacionais e internacionais.

CONTEXTO

A região do extremo sul catarinense constitui sua “história oficial” a partir de retóricas fundamentadas com a imigração europeia. Nessa lógica, filha de imigrantes ítalo-brasileiros, Berenice cresceu em um ambiente que evidenciava a vida do colono, a relação com a terra e a perspectiva das manualidades do trabalho com a lavoura. Suas referências de artesanias na infância estão vinculadas às ferramentas e aos objetos cotidianos de uma casa em seu contexto rural. O pai de Berenice, Dino Gorini, foi um dos primeiros médicos da região e fazia atendimentos

POÉTICA

A poética artística de Berenice Gorini perpassa pelas linguagens da pintura, desenho, colagem, gravura, escultura, instalação artística e tapeçaria. Entre seus principais temas, estão os mineiros de Criciúma, as formas, as cores, os cenários, as indumentárias, a artesania e a materialidade. As manualidades e artesanias, como uma

em situações adaptadas a partir da realidade local, utilizando o cavalo para se deslocar de uma cidade à outra.

Foi em uma dessas emergências médicas que a artista teve contato com a fibra natural no bairro Ilhas em Araranguá, sendo uma experiência catalisadora em sua pesquisa poética. Além dos saberes vinculados à força do trabalho, é importante ressaltar que o acesso à arte e à cultura, naquela época, também estava vinculado às experiências com a religião nas igrejas, capelas, conventos e cerimônias atreladas a esses espaços.

valoração ao trabalho manual, fizeram parte do convívio da artista desde a infância em Nova Veneza.

Descendente de colonos italianos imigrantes, Berenice aprendeu com seus pais a importância de trabalhar intensamente. Viu, nas fibras e palhas do artesanato do litoral araranguaense, potencialidades estéticas para

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produções artísticas dignas de grandes exposições de arte. O material que antes servia para compor balaios, chapéus e cestos pelos ribeirinhos de Ilhas, Barranca e Morro dos Conventos é utilizado como suporte para grandiosas formas e volumes, que ganham corpo e agrupamentos nas propostas de Gorini. Os trançados em papel de festas juninas locais migram para composições com fibras em vestidos compridos e adornados. Cadeiras de palha compõem silhuetas humanas com pés, cabeças e braços. Esteiras de palha se transformam em totens, chapas de madeira em guerreiros com lanças, e linhas de costura são anexadas a desenhos sobre papel. De uma forma geral, seus trabalhos revelam o interesse que a artista tinha em explorar a materialidade, os processos de manufaturas, a tridimensionalidade e a ressignificação desse saber-fazer.

CONCEITOS

Artesania

O termo está vinculado diretamente às manualidades provindas dos saberes culturais com suportes e materiais diversos, que são atribuídos ao artesão e à sua apropriação dos elementos disponíveis no seu entorno, seja para produzir com finalidade estética, seja para a composição de produtos funcionais do cotidiano e suas necessidades. No caso de Berenice Gorini, as técnicas do artesanato local, portanto as artesanias, foram percebidas e apropriadas pela artista em seu percurso criativo e poético, evidenciando-se em estudos com as tramas e múltiplas possibilidades que a fibra natural poderia lhe propor.

Instalação

Termo empregado para descrever um tipo de linguagem artística que utiliza o espaço como elemento fundamental. Berenice se apropriou da instalação artística muito antes do termo ser amplamente difundido nos museus gaúchos e catarinenses. Inclusive, as instituições da época apresentavam certa dificuldade de classificar a produção de Gorini, anexando-as em um lugar que transitava em uma espécie de diálogo entre tapeçaria e escultura.

Espacialidade

É o espaço real onde as obras de arte tridimensionais estão situadas. As formas compostas por altura, largura e profundidade ocupam lugar no espaço. As esculturas e instalações artísticas de Berenice foram concebidas para ocuparem espaços estratégicos nas exposições e, consequentemente, na história da arte catarinense e brasileira. É nesses espaços que Gorini amplifica sua artesania para envolver, preencher e apoderar-se do espaço, oportunizando ao expectador experienciar a obra como um todo enquanto se desloca pelo lugar.

GLOSSÁRIO

Aliança Francesa - Associação sem fins lucrativos que atua em diversas cidades do Brasil, a destacar Porto Alegre, onde são promovidos cursos, formação pedagógica, apresentações teatrais, mostras de cinema, espetáculos de dança, exposições de artes visuais, concertos de música, entre outras atividades.

Bienal - Exposição artística que ocorre de dois em dois anos. No caso de Gorini, trata-se da Bienal Internacional de Arte de São Paulo, que acontece na cidade homônima desde 1951. É considerada um dos principais eventos de arte do circuito internacional.

Cenografia - Composição, estudo e concepção de cenários para espetáculos artísticos, em especial os teatrais.

CIC - Centro Integrado de Cultura localizado em Florianópolis.

Abrange o MASC – Museu de Arte de Santa Catarina, o Teatro Ademir Rosa, a Sala de Cinema Gilberto Gerlach, o MIS – Museu da Imagem e do Som, a Biblioteca de Arte & Cultura e as Salas Lindolf Bell.

Efêmero - Característica do que é temporário, momentâneo, breve.

Fibras - As fibras vegetais são o conjunto de células compridas e pontiagudas que constituem normalmente o corpo vegetal.

Macramê - Técnica artesanal de tecelagem que se apropria de nós para compor espécies de franjas e barras em tecidos e tapetes.

Mantra - Hinos, orações e ritos religiosos executados de maneira repetitiva. Manualidade - Aquilo que se faz com as mãos: trabalhos manuais.

Música erudita - Popularmente conhecida como música clássica, é uma manifestação artística ocidental surgida na Europa por volta de 1500. Há diversas categorias na música erudita, a destacar: ópera, sinfonia, concerto, entre outros.

Paiol - Casebre, depósito ou local específico do cotidiano rural onde se armazenam ferramentas, materiais e matérias-primas.

Perene - Duradouro, eterno.

Revista Ícaro - Criada em 1983 pela extinta companhia aérea Varig, era uma revista de bordo que circulava entre os passageiros nos voos promovidos pela empresa, até meados de 2006. Há registros de algumas edições que chegaram às bancas de jornal no Brasil.

Tapeçaria - Antiga linguagem artística composta por criações de tecidos, costuras, cruzamento de linhas e demais técnicas manuais com auxílio de ferramentas, como teares, agulhas, etc.

Totem - Formas escultóricas com símbolos sagrados, geralmente atrelados à cultura indígena e adorados de forma coletiva.

Tridimensionalidade - Relativo ao que possui três dimensões: altura, largura e comprimento.

Vime - Vara de madeira flexível atrelada a uma árvore denominada vimeiro, em que, depois de seca e descascada, é utilizada para compor cestarias, móveis e outros objetos artesanais.

Com quem se relaciona?

· Doris Salcedo

· Ernesto Neto

· Elke Hülse

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Imagem I

Berenice Gorini. Manequim veste ritual, c.1977. Escultura (fibra natural), 350 x 110 x 110 cm. Museu de Arte de Santa Catarina – Florianópolis/SC. Foto: Aionara Preis.

Imagem II

Berenice Gorini. Da semente e da Terra, s/d. Instalação (fibra natural), dimensões variadas. Prefeitura Municipal de Criciúma/SC. Foto: Aionara Preis

Imagem III

Berenice Gorini. Guerreiros, c.1980. Instalação (madeira), 191 x 191 x 100 cm. Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC - Criciúma/SC. Foto: Aionara Preis.

Imagem IV

Berenice Gorini. Rainha Tótem, c. 1986. Instalação (fibra natural), 268 x 98 x 67 cm. Museu de Arte de Santa Catarina –Florianópolis/SC.

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EDI BALOD

GLOSSÁRIO

Antropologia - Ciência que tem por objeto o estudo e a classificação dos caracteres físicos do homem e dos agrupamentos humanos (origem, evolução, desenvolvimento físico e material), bem como seu comportamento, costumes, crenças sociais etc.

Arte de Rua - Também conhecida como Street Art, trata-se de um conjunto de manifestações artísticas que se apropriam de espaços públicos, desconstruindo a ideia de que a arte necessita da legitimidade das instituições como museus, galerias ou da própria academia para ser consumida pelas pessoas. Destacase o grafite, o hip hop, o lambe-lambe, o stencil, a instalação e as intervenções artísticas, entre outros.

Entalhe - Técnica de corte, incisão e/ou ranhura na madeira.

Esboço - Estudo, rascunho ou ideia inicial de uma produção artística.

Etnografia - Ramo da antropologia que trata da origem, das características antropológicas e sociais das diferentes etnias.

BIOGRAFIA

Edison Paegle Balod nasceu no município de Orleans/SC, em 1943, mas foi em Criciúma/SC que o artista constituiu residência.

Em 1972, ingressou no curso de Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC/RS, onde passou a frequentar os ateliês de arte na cidade de Porto Alegre/RS. As experiências e conhecimentos adquiridos em paralelo à sua graduação possibilitaram o amadurecimento de seu pensamento poético.

Ainda, antes de se formar, Edi Balod começou a lecionar a disciplina de Cultura Regional e Antropologia Cultural na Fundação Educacional de Criciúma – FUCRI, atual mantenedora da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Em 1987, iniciou especialização em Arte Educação na UNIFACRI – Criciúma/SC e, em 1990, uma especialização em História do Brasil na mesma instituição. Coordenou inúmeros estudos e projetos de extensão voltados ao patrimônio cultural local, bem como dedicou boa parte de sua carreira ao grupo Boi de Mamão da UNESC e à presidência da Fundação Cultural de Criciúma.

Em sua trajetória, além de atuar como docente em curso superior, trabalhou como produtor cultural e pesquisador no campo da literatura e das artes plásticas. Atualmente reside, cria e expõe no Atelier Casa Arte Ana Frida Antiques em Criciúma/SC, local que abriga praticamente todas as suas produções.

Com quem se relaciona?

· Kurt Schwitters

· Janor Vasconcelos

· Helene Sacco

Falésia - Escarpas íngremes formadas a partir da ação erosiva da água do mar, das chuvas, dos ventos e outros eventos climáticos.

Harmônio - Instrumento musical de teclados e foles que substitui o órgão, no qual os tubos são trocados por palhetas livres ou acionados de forma elétrica.

Jogral - Declamação de poemas ou canções feitas por um coro, que altera entre o canto e a fala. São bastante comuns como um gênero de peça teatral.

Materialidade na arte - Qualidade daquilo que é material e que dá consistência física a uma obra de arte.

Meandro - Caminho tortuoso do percurso do rio. Memorabilia - Agrupamento de diferentes objetos dispostos de forma organizada, capazes de desencadear memórias e lembranças de um passado nostálgico.

Pacas - Gíria utilizada para indicar exagero, excesso, intensidade.

Pictórico - Elementos que são representados visualmente; o que diz respeito à pintura.

Pneumoconiose - Doença pulmonar causada principalmente pela inalação de poeira e/ou substâncias agressivas ao corpo humano.

Veraneio - Período de férias ou recesso que acontece no verão; geralmente é atrelado ao período ou temporada em que se passa no litoral para descanso.

Visagem - Visão de fenômeno sobrenatural.

Xilogravura - Técnica de gravura na qual se utiliza madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre o papel ou outro suporte adequado.

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CONTEXTO

A região de Criciúma, também conhecida como região carbonífera, se desenvolveu principalmente pela extração do carvão mineral no início do século XX. O crescimento econômico e urbano eclodiu entre as décadas de 1940 e 1960. À medida que o carvão se tornava símbolo de desenvolvimento, também começou a trazer inúmeros problemas ambientais, a destacar a degradação do solo e a poluição do ar e da água, além dos desabamentos das minas, as péssimas condições de trabalho dos mineiros, a reivindicação de direitos trabalhistas, entre outros.

O movimento sindical ganhou evidência e, durante o período de ditadura militar, o prédio do Centro Cultural Jorge Zanatta, que antes pertenceu ao Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM e ao Conselho Nacional do Petróleo - CNP, onde hoje está sediada a Fundação Cultural de Criciúma, serviu como cárcere na década de 1960. Muitos desses fatos influenciaram a poética da maioria dos artistas contemporâneos criciumenses, como é o caso de Edi Balod.

Além da extração do carvão mineral, Edi tem como referência o litoral araranguaense. Araranguá é um município do extremo sul catarinense, localizado a aproximadamente 42 km de Criciúma. Popularmente conhecida como “cidade das avenidas”, é cortada por um rio homônimo. Suas águas percorrem boa parte do território local, até chegar ao bairro Ilhas – ao lado da praia do Morro dos Conventos – e desembocar no mar. A barra do rio Araranguá, além de ser um atrativo turístico, faz parte do imaginário, da história e da realidade dos pescadores locais e habitantes da cidade. Em Ilhas, também encontramos a balsa que, durante anos, é um dos meios de transporte mais acessados pelos moradores e que liga o resto da cidade com o bairro.

Morro dos Conventos é, de longe, o ponto turístico mais importante de Araranguá, uma praia de águas limpas, com uma montanha rochosa que abriga um farol e um hotel sobre ela. O artista, desde criança, frequenta esses espaços e foi amplamente inspirado em sua trajetória artística por cada falésia citada.

POÉTICA

Balod transitou pela escultura, música, desenho, poesia, pintura, cerâmica, instalação artística, assemblage, apropriação, [xilo]gravura, artes cênicas, performance, cinema, contação de histórias, entre outras linguagens, além de atuações técnicas como curador e avaliador de editais de Arte e Cultura. Muitas dessas produções são resultados de anos de coleta [i]material provinda da extração do carvão mineral na região carbonífera sul catarinense, da Ferrovia Tereza Cristina, dos movimentos sindicais, dos mineiros e das minas, além dos pescado-

res, do imaginário litorâneo, das artesanias e dos saberes culturais dos moradores dos bairros Morro dos Conventos, Barranca e Ilhas em Araranguá/SC, e nos municípios de Balneário Rincão/SC, Jaguaruna/SC e Laguna/SC.

Pregos, dormentes, picaretas, madeiras, capacetes, vagonetas, carvão mineral e vegetal, canoas, fragmentos de tarrafas e redes de pesca, cordames, fibras, cestarias, material lítico, tecidos, palhas, peças religiosas, lampiões, entre outros, deslocam-se do seu contexto inicial e assumem-se como arte na poética de Balod. Objetos que constituem as tramas pessoais do artista e se findam em propostas desenvolvidas como parte de uma autocuradoria e que ainda envolvem registros textuais, imagéticos e orais.

O Atelier Casa Arte Ana Frida Antiques, local onde reside e ficam expostos os trabalhos de Balod em Criciúma/SC, é uma espécie de ateliê-galeria que miscigena a história da arte sob um viés, muitas vezes, problematizador e, ao mesmo tempo, expressivo. Suas instalações se compõem de peças com ou sem nenhuma alteração, que foram produzidas e utilizadas em outra época com outras funções, escolhidas a partir da intencionalidade do artista.

CONCEITOS

Palimpsesto contemporâneo

Termo atrelado aos papiros e pergaminhos que tinham seu conteúdo textual primitivo raspado, sendo reutilizados durante a Idade Média na Europa. No caso de Edi Balod, na contemporaneidade, relacionamos – em sentido figurado – o conceito com as produções e apropriações que o artista faz, refaz e/ou reorganiza em um mesmo suporte com ou sem nenhuma alteração. Trata-se de uma provocação conceitual que dialoga com a intencionalidade e o desprendimento do artista perante a reutilização de determinados suportes para mais que uma proposta.

Assemblage

O termo assemblage, incorporado às artes em 1953, foi concebido pelo pintor e gravador francês Jean Dubuffet (1901-1985), para fazer referência a trabalhos que, segundo ele, “vão além das colagens”. O princípio que orienta a feitura de assemblages é a “estética da acumulação”: todo e qualquer tipo de material pode ser incorporado à obra de arte (ASSEMBLAGE, Itaú Cultural, 2023).

Artista-coletor

Termo atrelado ao processo de criação e seleção de Edi Balod perante seu percurso poético. Além da coleta intrínseca aos objetos, materiais e suportes encontrados, doados e percebidos ao longo de sua trajetória, percebemos a coleta de histórias, registros de imaterialidades e artesanias locais.

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Imagem I

Lua azul, 2018. Edi Balod e Gilberto Pegoraro. Acrílico s/ tela, 78 x 60 cm. Acervo particular. Foto: Aionara Preis.

Imagem II

Morro por ti de amores, s/d. Edi Balod. Acrílico s/ tela, 120 x 90 cm. Acervo particular. Foto: Aionara Preis

Imagem III

Canoa de Ilhas, s/d. Edi Balod. Assemblage, 120 x 90 cm. Acervo particular. Foto: Aionara Preis.

Imagem IV

Trilhos, s/d. Edi Balod. Instalação, 220 x 27 cm. Acervo particular. Foto: Aionara Preis

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GILBERTO PEGORARO

BIOGRAFIA

Gilberto Thomé Pegoraro (1941-2007) nasceu em Porto Alegre/RS, mas foi em Criciúma/SC que constituiu boa parte de sua trajetória artística. Em âmbito acadêmico, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, conheceu a sua amiga e futura colega de trabalho Jussara Guimarães, sendo ela a responsável por trazê-lo à Santa Catarina no final dos anos de 1970. Foi professor universitário, apresentador de TV, carnavalesco, cenógrafo, locutor de rádio, designer e produtor cultural. É apontado por amigos e colegas como um artista performático, múltiplo e irreverente. Dois anos depois, aos 65 anos de idade, no dia 5 de junho de 2007, Gilberto Pegoraro faleceu na capital gaúcha, deixando um legado importante para a região do extremo sul catarinense. Atendendo seu pedido, as cinzas do artista foram despejadas na Praça Nereu Ramos, no centro de Criciúma, por amigos próximos, familiares e alunos.

CONTEXTO

Muito interessado nos aspectos culturais da região, teve forte influência no carnaval de Criciúma, nos projetos do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de Criciúma, na década de 1980, na constituição das quermesses, na organização das feiras e em exposições ao longo de sua carreira.

Embebido de traços modernos, Pegoraro propôs uma ruptura entre o tecnicismo industrial e a estética expressiva, não os separando, mas dialogando os dois

POÉTICA

Com um grande domínio do desenho, pintura e escultura, Gilberto promoveu ao lado de Jussara muitas pesquisas técnicas, poéticas e teóricas, que podem ser percebidas em vários monumentos públicos na região, a destacar: os painéis cerâmicos do Memorial Dino Gorini, no Parque Municipal Prefeito Altair Guidi, e do Terminal Central, na Cruz São Paulo Apóstolo, no bairro Michel, e nas esculturas espalhadas pelo campus da UNESC.

Percebemos, em suas criações, um estudo específico da forma e da cor. As curvas e sinuosidades pre-

entre si. Essa conversa fundou uma nova proposta de fazer arte, de cessar com as separações e uni-los em prol de uma intenção conceitual. Isso se dá em um período em que tanto Jussara Guimarães quanto Gilberto transitavam em atuações vinculadas à indústria cerâmica local e ao ensino da arte. Ambos foram responsáveis em conectar arte e cultura com a sociedade local em uma perspectiva de profissionalização do ofício do artista, produtor cultural e arte-educador.

sentes nas silhuetas e bustos femininos materializam o olhar sensível de Pegoraro perante o corpo, o sentir e os desvios dele. O Monumento ao Centenário da Imigração Italiana, em Urussanga/SC, talvez seja uma das principais representações dessa intencionalidade. Na linguagem pictórica, Gilberto se permitia entender a pintura como parte de seu corpo. Dessa forma, esse equilíbrio estético, expressivo e técnico propõe ao espectador uma imersão cultural, potencializada a partir das relações com as referências teórico-práticas. Isso se materializa na série de 27

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telas em acrílico intitulada “Orixás”, por exemplo. Trata-se de pinturas performáticas, transitantes e eletrizantes; portanto, um retrato do próprio ser de Pegoraro.

GLOSSÁRIO

Aquarela - Técnica de pintura artística que se funda a partir da dissolução de pigmentos com água, geralmente pintados em papéis com alta gramatura.

Busto - Trata-se da forma de representação artística pictórica ou escultórica de alguém, geralmente limitando-se às estruturas da cabeça, pescoço, partes do torso e ombros.

Carnavalesco - Profissional que atua na organização, escolha dos enredos, composição de carros alegóricos e fantasias, e que assume funções logísticas adversas, todas vinculadas ao carnaval.

Cenógrafo/Cenografia - Profissional que atua com composição, estudo e concepção de cenários para espetáculos artísticos, em especial os teatrais.

Designer/Design - “A atividade do Design, essencialmente relacionada ao ato de projetar, não pode ser pensada como uma área estática, com fronteiras definidas. [...] O Design é utilizado para informar, identificar, sinalizar, estimular, persuadir, conscientizar. Os meios para esses objetivos são variados [...] e interdisciplinares. Sob essa perspectiva, a atuação dos designers supõe uma transformação contínua na elaboração do próprio conhecimento” (NICOLAU, 2013, p. 11-12).

Escultura - Linguagem das artes visuais que se estrutura a partir de formas espaciais compostas geralmente por três dimensões: altura, comprimento e largura. Essas produções podem ser criadas a partir de matérias-primas adversas, como madeira, mármore, gesso, argila, metal, fibra, plástico, entre outras.

Orixás - Trata-se de divindades da mitologia iorubá, cultuadas por religiões de matrizes africanas, a destacar: Umbanda e Candomblé.

Performance - Linguagem artística híbrida, isto é, pode envolver artes visuais, dança, teatro, música, poesia, audiovisual, etc., difundida principalmente a partir da década de 1960. A performance também transita pela efemeridade, na qual as experiências e experimentações artísticas carecem geralmente de registro através da foto ou vídeo, de acordo com a intencionalidade do artista-propositor.

O corpo é um dos protagonistas dessa linguagem.

Produção Cultural/Produtor Cultural - É o profissional que atua diretamente com a organização, planejamento, coordenação, proposição e logística de projetos artístico-culturais, comunicação, moda, design, entre outros, bem como em eventos, exposições, cerimoniais, feiras, desfiles, sites, blogs, redes sociais, etc.

Quermesse - São festas populares que se apropriam de apresentações de música, dança e teatro, recital de poesia, exposições artísticas, feiras de artesanato, barracas de produtos coloniais, gastronomia local, entre outros. Em Criciúma, aconteceu durante muitos anos a “Quermesse de Tradição e Cultura”, em que Gilberto desenhava anualmente os cartazes de divulgação do evento.

CONCEITOS

A representação da figura humana já passou por diversos padrões estéticos dentro da história da arte. Pegoraro foi um grande estudioso das estruturas e construções estéticas do corpo. A harmonia da pintura e da escultura modernista brasileira conseguia lhe propor um referencial teórico potente para traduzir as formas e as linhas corporais percebidas em sua pesquisa poética. Na linguagem escultórica, observamos traços que traduzem a morfologia da essência do corpo, seja este exposto de forma realística em seus aspectos técnicos, ou a partir das sensações, fantasias e suas inconstâncias. Esse corpo apresenta-se na obra de Pegoraro personificado, desde figuras aladas até representações imagéticas a partir de retratos e referências de outros artistas.

A teoria das cores é um conceito que estuda as cores sob diferentes perspectivas, analisando desde a maneira como as tonalidades são interpretadas pelo cérebro e como influenciam o observador, até as formas de aplicação e utilização em trabalhos de arte e comunicação visual, por exemplo. Gilberto fez uma grande pesquisa sobre a cor enquanto elemento expressivo e simbólico em sua trajetória. Essencialmente nas pinturas em painéis, telas e papéis, percebemos a apresentação de estudos técnicos de textura, sombra, luz, proporção, perspectiva e forma, mas também a construção de uma estética que traduz temáticas seriadas específicas.

A iconografia da infância recebeu tratamentos diferenciados, decorrentes do espírito de cada época. A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Gilberto Pegoraro, em sua essência, era um ser brincalhão, engraçado e que adorava estar rodeado de crianças. Tamanho fascínio de Pegoraro pela imaginação infantil pode ser percebido nas inúmeras pinturas em tela sobre a infância. Nessa série, há um aglomerado de brincadeiras e brinquedos folclóricos amplamente vivenciados pelo próprio artista como um registro de experiências e exaltação da liberdade presente no ato de brincar. Em seus últimos anos de vida, Gilberto chegou a dedicar-se à composição de materiais didáticos para crianças – não lançados oficialmente – e à criação de personagens lúdicos.

Com quem se relaciona? · Iberê Camargo · Hector Julio Páride Bernabó – Carybé · Victor Brecheret

material didático
Corpo Cor Infância
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Imagem I

Gilberto Pegoraro. Série “Orixás”: Oxaguian, c.2004. Acrílico s/ tela, 130 x 60 cm. Acervo Particular - Porto Alegre/RS.

Imagem II

Gilberto Pegoraro. Sem título, s/d. Pintura s/ parede, 54 x 32 cm. Ateliê de Gravura e Pesquisa - UNESC, Criciúma/SC. Foto: Aionara Preis.

Imagem III

Gilberto Pegoraro. Busto masculino, s/d. Escultura, 31 x 10 x 10 cm. Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, Criciúma/SC. Foto: Aionara Preis

Imagem IV

Gilberto Pegoraro. Monumento ao Centenário da Imigração Italiana, 1978. Concreto, argila e ferro, 675 x 10 x 195 cm [total] e 165 x 16 x 215 cm [escultura] – Urussanga/SC. Foto: Aionara Preis.

Arte do Extremo Sul Catarinense 26
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JUSSARA GUIMARAES

BIOGRAFIA

Nascida em Porto Alegre/RS, Jussara Miranda Guimarães (1948-2011) é considerada uma importante referência artística do extremo sul catarinense. Seu primeiro contato com a cerâmica foi aos 14 anos de idade, no ateliê de cerâmica do artista Walter Scarpelli, italiano natural de Florença e radicado em Porto Alegre.

Em 1967, ingressou no curso de Artes Plásticas da UFRGS e, em 1975, um ano após se graduar, Jussara foi convidada a vir para Criciúma/SC para trabalhar enquanto professora no curso de Desenho e Plástica da FUCRI –atual UNESC. Com atuação principalmente entre as décadas de 1980, 1990 e início dos anos 2000, Jussara Guimarães produziu incansavelmente.

Em 1977, conheceu Vilmar Kestering, que se tornou seu parceiro profissional e seu marido. No ateliê do casal, chegavam a produzir 1.400 peças mensais, com 12 funcionários e mais de 40 modelos em catálogo, atendendo às necessidades de clientes dos três estados sulistas e participando de feiras nacionais e internacionais. Produziu monumentos públicos e privados, a destacar: a Cruz São Paulo Apóstolo no bairro Michel – o único patrimônio artístico tombado na região do extremo sul catarinense; os painéis do Memorial Dino Gorini, no Parque Municipal Prefeito Altair Guidi e em prédios particulares; e as esculturas para a UNESC. De forma repentina, no dia 19 de maio de 2011, Jussara faleceu aos 63 anos em Criciúma.

CONTEXTO

Em meados de 1970, a indústria cerâmica, em crescente desenvolvimento econômico na região de Criciúma, contratou inúmeros artistas e designers, que migraram de outros estados e regiões do Brasil na busca de compor o setor criativo de suas empresas. A falta de mão de obra local nesse campo era um dos problemas enfrentados pela industrialização de pisos, azulejos, porcelanatos e revestimentos cerâmicos. Jussara e Gilberto Pegoraro fizeram parte do primeiro grupo desses artistas e designers migrantes.

Posteriormente, o curso de Desenho e Plástica na FUCRI, atual UNESC, apropriou-se desses artistas na tentativa de formar novos integrantes locais para o setor criativo industrial e para o ensino da arte. Partindo de uma intencionalidade mais tecnicista, esses professores foram contratados para lecionarem disciplinas voltadas à escultura, ao design cerâmico, ao desenho técnico, etc. Jussara foi a primeira artista do grupo a ser efetivada na FUCRI, sendo, por muitos anos, coordenadora do curso e idealizadora das primeiras grades curriculares deste.

Com quem se relaciona?

~ Arte do Extremo Sul Catarinense
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POÉTICA

É possível identificar o quanto a artista mediava a experimentação e a pesquisa em si com a argila e os materiais a que tinha acesso, além de sua produção industrial, modular, em série e mais comercial. Com forte influência do design, Jussara conversava com os aspectos decorativos, tradicionais e contemporâneos no desenvolvimento de suas cerâmicas. Utilizava, frequentemente, os pisos e azulejos disponíveis na indústria cerâmica como suporte para seus painéis, e também na construção de mosaicos. A temática da natureza, dos bichos e das etnias é facilmente percebida em sua poética. Dedicou muitos anos de sua vida às pesquisas com a queima da cerâmica pela técnica do Raku, queima coque e queima primitiva, utilizando serragem e materiais orgânicos.

CONCEITOS

Etnologia

Estudo comparativo e analítico das culturas a partir do levantamento de fatos e documentos de aspecto cultural e social. Jussara dedicou anos de sua carreira a pesquisar a história e a cultura de Criciúma a partir da linguagem da cerâmica, tanto pelo viés artístico quanto pela intencionalidade comercial e industrial. A imaterialidade e a materialidade do patrimônio cultural da região foram parte de estudos detalhados para a composição dos painéis cerâmicos. As etnias e sua diversidade cultural, a natureza, a cultura indígena e africana, a gastronomia, a religiosidade e as manifestações musicais foram questões de referência para o ato criativo da artista.

Reprodutibilidade

Conceito elaborado por Walter Benjamin, que visava argumentar a perda da “aura” da obra artística pela ausência de qualquer valor ritual tradicional em sua feitura, perdendo seu caráter único e autêntico pela reprodução mecânica. Por essa perspectiva, a produção com moldes e peças seriadas de Jussara, influenciada diretamente por sua atuação na indústria cerâmica local, pode ser analisada pela reprodução de cópias e pela perda da singularidade da obra de arte. O pensamento criativo vinculado à dinâmica seriada da indústria propôs, inclusive, produções que permitiam a terceirização na composição com os colegas e assistentes, supervisionado e mediado pela artista e executado em grupo.

Materialidade

Qualidades perceptíveis do material que compõe a obra. A materialidade da arte deve ser vista a partir de uma visão processual ligada às propriedades do material e dissociada da ideia de que a arte seja apenas um produto final, ou dividida entre questões materiais e imateriais. Na produção de Jussara destaca-se, pela materialidade da cerâmica, a presença dos quatro elementos: a densidade da terra; a plasticidade e maleabilidade da água; o envolvimento do ar como agente de ligação do meio; a transformação e criação relacionada ao fogo. Em âmbito acadêmico, dedicou-se a estudar os suportes, as técnicas e as potencialidades presentes nos elementos naturais e químicos para a criação em arte. Ao longo de sua trajetória, Jussara acrescentou o vidro, o plástico, o ferro e a madeira em alguns de seus trabalhos, bem como pesquisou argilas provindas de diferentes lugares do extremo sul catarinense.

GLOSSÁRIO

Acordelado - Técnica de modelagem em cerâmica em que se utilizam tiras cilíndricas, também conhecidas como cobrinhas, para a construção de peças.

Barbotina - Argila em forma líquida.

Coque - Tipo de combustível derivado da hulha (carvão betuminoso). É obtido pelo processo de “coqueificação”, que consiste no aquecimento do carvão mineral a altas temperaturas.

Decalque - Transferência de imagem em um papel para outra superfície.

Esmaltes - Mistura de materiais em pó que formam a camada vítrea na peça cerâmica e que é aderida à argila por meio de queima.

Ofício - Atividade ligada à determinada profissão.

Raku - Queima cerâmica de origem oriental, que consiste na retirada da peça incandescente do forno para submetê-la em recipientes com

serragem e material orgânico, conferindo efeitos de craquelado, manchas negras e metálicas na superfície da peça.

Serigrafia - Impressão manual de imagens utilizando uma tela específica para a técnica.

Torno - Equipamento que gira em seu próprio eixo para a construção de peças em cerâmica de formato geralmente cilíndrico e arredondado. Pode ser acionado por força manual ou elétrica.

material didático 33

Imagem I

Jussara Guimarães. Cruz São Paulo Apóstolo, c.1994. Cerâmica, madeira, ferro e vidro, 800 cm x 400 cm. Paróquia

São Paulo Apóstolo - Criciúma/SC. Foto: Aionara Preis.

Imagem II

Jussara Guimarães, Gilberto Pegoraro e Vilmar Kestering. Painéis Cerâmicos do Memorial Dino Gorini: etnia lusa, 1995. Cerâmica, 25 m². Parque Municipal Prefeito Altair Guidi - Criciúma/SC. Foto: Aionara Preis.

Imagem III

Jussara Guimarães. Sem título, s/d. Cerâmica, 38 x 38 cm. Acervo de Edi Balod - Criciúma/SC. Foto: Aionara Preis.

Imagem IV

Jussara Guimarães. Monumento aos 20 anos da FUCRI, c.1988. Escultura, 122 x 70 x 68 cm. Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, Criciúma/SC. Foto: Aionara Preis.

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SOBRE OS AUTORES

Aionara Preis

Artista, professora e pesquisadora. Possui curso técnico em Cerâmica Artística Artesanal (SATC), Bacharelado e Licenciatura em Artes Visuais (UDESC), mestrado em Ensino das Artes Visuais (UDESC) e atualmente cursa doutorado em Ensino das Artes Visuais pela mesma instituição. Tem experiência com cerâmica, restauração de patrimônio histórico, projetos culturais e, em 2021, publicou o livro “Lugar de Passagem: uma história contada por Manoel Alves”.

Mikael Miziescki

Mestre em Patrimônio Cultural e Sociedade (UNIVILLE), especialista em Teoria e História da Arte (UNESC) e graduado em Artes Visuais - Licenciatura (UNESC). Atua como professor universitário no Curso de Artes Visuais - Licenciatura da UNESC, e professor de Arte no Colégio UNESC e EEB Ana Machado Dal Toé. É Coordenador de Cultura do Geoparque Mundial da UNESCO Caminhos dos Cânions do Sul. Possui experiência com ensino, pesquisa e extensão nas áreas de Patrimônio Cultural, Educação, Arte, Artes Visuais e Teoria, História e Crítica da Arte.

Arte do Extremo Sul Catarinense © 2023

Aionara Preis, Mikael Miziescki

Idealização e execução do projeto: Aionara Preis e Mikael Miziescki

Pesquisa, produção textual e registros: Aionara Preis e Mikael Miziescki

Revisão ortográfica e gramatical: Nirio de Jesus Moraes

Projeto gráfico e diagramação: Tina Merz

Impressão: As tipografias utilizadas são Freight Text Pro e Elza. A impressão foi realizada na Editora Elbert. 1ª edição, Meleiro/SC, fevereiro de 2023.

REFERÊNCIAS

ASSEMBLAGE In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Disponível em: http://enciclopedia. itaucultural.org.br/termo325/assemblage. Acesso em: 22 fev. 2023.

BARDI, Pietro Maria. Berenice Gorini [convite de exposição]. Museu de Arte de São Paulo/MASP: São Paulo, 1986.

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 2012. p. 165-196.

CANTON, Kátia. Temas da Arte Contemporânea. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. (Coleção – 6 volumes.)

CHAVARRIA, Joaquim. A cerâmica. Lisboa: Editorial Estampa, 2004.

CORRÊA, Carlos Humberto Pederneiras. Pinturas e colagens: Berenice Gorini [convite de exposição]. Museu de Arte Moderna de Florianópolis: Florianópolis, 1967.

GORINI, Berenice; VEIGA, Semiramis Gorini. Memória trançada: litoral sul de Santa Catarina. 1987-1988. Florianópolis: Edeme, 2001.

HOLM, Anna Marie. Fazer e Pensar Arte. Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2005.

LACAD (Porto Alegre/RS). Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Laboratório de Cerâmica Artística à Distância. 2022. Disponível em: http://www.ufrgs.br/lacad/index.htm. Acesso em: 26 dez. 2022.

MACHINSKI, Aline Selinger. O acervo de arte da Prefeitura Municipal de Criciúma: uma reflexão sobre as obras de Berenice Gorini. 2011. 185 f. Monografia (Especialização) - Curso de Educação Estética: A Arte e As Perspectivas Contemporâneas, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma/SC, 2011.

MIZIESCKI, Mikael. A arte contemporânea do extremo sul catarinense: poéticas, movimentação e desafios patrimoniais. Pesquisa de mestrado apresentada no Programa de Pós-Graduação em Patrimônio Cultural e Sociedade da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE, 2021. Disponível em: https://www.univille.edu.br/account/mpcs/VirtualDisk. html/downloadDirect/2689309/MIKAEL_MIZIESCKI.pdf. Acesso em: 14 set. 2022.

NICOLAU, Raquel Rebouças A. (org.). Zoom: design, teoria e prática. João Pessoa/PB: Ideia, 2013.

PEGORARO, Gilberto Thomé. Correlação entre o acervo artístico privado e o acervo artístico público. 1988. Monografia (Especialização) - Curso de Especialização em Arte Educação, Fundação Educacional de Criciúma, Criciúma - FUCRI, 1988.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Miziescki, Mikael

Arte do Extremo Sul Catarinense : transitoriedade, poética e resistência / Aionara Preis Gabriel, Mikael Miziescki. -- 1. ed. -- Meleiro, SC : Ed. dos Autores, 2023.

PDF

Bibliografia.

ISBN 978-65-00-60717-8

1. Artes visuais 2. Material educativo 3. Arte Catarinense I. Gabriel, Aionara Preis; Miziescki, Mikael. II. Título.

23-142163

Índices para catálogo sistemático:

1. Educação artística 370.1

CDD-370.1

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

RONCONI, Rita de Cássia Vieira. Arte e docência: a artista ceramista Jussara Guimarães. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, 2020. Disponível em: http://repositorio.unesc.net/ bitstream/1/9133/1/Rita%20de%20C%c3%a1ssia%20Vieira%20Ronconi. pdf. Acesso em: 21 out. 2022.

TREVISAN, Armindo. Os “totens” de Berenice [convite de exposição]. Museu de Arte de Santa Catarina/MASC: Florianópolis, 1986.

Projeto selecionado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Apoio à Cultura – Edição 2021, executado com recursos do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura. Processo FCC 841/2021.

BERENICE GORINI

SOBRE A OBRA

Entre as décadas de 1970 e 1980, Berenice Gorini passou a integrar as cadeiras de palha à sua pesquisa artística com o volume das tramas de palha e outros objetos. Após assumir um cargo administrativo dentro da universidade, o trabalho burocrático e solitário do escritório lhe propôs momentos de reflexão e observação às cenas cotidianas do seu entorno. Ao perceber que as cadeiras que ficavam à frente de sua mesa sugeriam a ausência de pessoas, ela passou a idealizar uma nova série de esculturas e instalações que transitam na criação de novos seres, formas e silhuetas. Cabeça, braços e pés de madeira, palhas e fibras

foram anexados a esses suportes, em que, agrupados ou não, passaram a ser distribuídos estrategicamente nos espaços expositivos ao lado das vestimentas, totens e as figuras em cestarias.

Dados Técnicos

Sem título, s/d. Berenice Gorini. Escultura (fibra e madeira), 139 x 35 x 69 cm. Acervo: Museu de Arte de Santa Catarina (MASC) – Florianópolis/SC.

Foto: Aionara Preis.

DESDOBRAMENTOS POÉTICOS

O olhar sensível de Berenice Gorini ao enredo cotidiano a fez identificar nos materiais, como palhas e fibras naturais e objetos disponíveis ao seu redor, as potencialidades de conferir um novo discurso ao seu trabalho. Essas observações e referências do acaso foram apropriadas em suas instalações artísticas e pensadas sob uma nova perspectiva, apropriando-se dos espaços nas mostras, nas pesquisas e na história da arte catarinense. Os Desdobramentos Poéticos a seguir partem da obra “Sem título” (escultura que faz parte do acervo do MASC), os quais se apresentam como propostas de ações a serem realizadas coletivamente como uma forma de mobilização, ação e reflexão do pensamento artístico.

Artesanias As cadeiras

Quais artesanias você conhece?

Quais desses trabalhos manuais você já teve a oportunidade de vivenciar em sua família, comunidade ou cidade?

Você aprendeu com alguém alguma técnica de artesanato? Saberia ensinar algum processo manual? O termo artesania consiste nos processos de investigação, experimentação e conhecimento técnico que envolvem o trabalho manual. Estas e outras questões introdutórias poderiam motivar um momento de “começo de conversa” com seus alunos. Pergunte aos alunos(as) quais são os trabalhos manuais que eles conhecem e vivenciam. Cada um poderia descrever, narrar ou demonstrar o que conhecem.

À medida que as respostas vão surgindo, filtre e alimente uma espécie de diagnóstico inicial. É relevante mapear o quão próximo ou distante esses saberes estão de seus alunos. Aproveite estes momentos para investigar se existe no contexto familiar dos alunos, ou na própria comunidade, alguma prática artesanal como bordados, cestaria, crochê, bonecas de pano, brinquedos de madeira, cerâmicas, pinturas, biscuit, rede de pesca, entre outros. Será que esses trabalhos manuais são feitos por mulheres, homens ou crianças? As respostas para esta questão podem ser o gatilho para problematizações acerca da divisão cultural e social das tarefas dentro do contexto familiar. E será que algumas das respostas não podem desencadear ideias de propostas para novos conteúdos?

Quem sabe estes assuntos sejam uma grande oportunidade de ampliar a discussão. Apresente a obra de Berenice Gorini contida no verso desta ficha para promover um diálogo divertido em grande grupo e facilitar a leitura de imagem. A figura do(a) professor(a) é crucial na mediação deste bate-papo. O curta-metragem de Berenice Gorini pode fundamentar a discussão (você pode acessá-lo via QR code).

Esses processos manuais fazem parte de um conjunto de tradições passadas de geração em geração, e podem estar relacionadas à constituição da identidade cultural e coletiva do círculo social do qual seus alunos(as) fazem parte.

Feitas as discussões, que tal convidar uma pessoa da comunidade para

contar sobre sua história e propor uma oficina de trabalhos manuais? Tal experiência pode ser ainda mais interessante se os alunos(as) puderem experimentar o processo. Registre com seu celular estes momentos – eles podem servir para divulgar os saberes culturais e também como documentos para sua avaliação descritiva.

Arte x artesanato 02.

O que foi possível compreender com a pesquisa sobre as artesanias? Existe alguma diferença social, algum problema ambiental ou econômico envolvendo esta prática? E as matérias-primas são fáceis de encontrar? Quais adaptações precisam ser feitas? Convide seus alunos(as) a pensarem sobre o contexto em que os trabalhos manuais estão inseridos, e que procurem juntos pelas problematizações e os conceitos em que eles podem ser abordados. Este exercício também contribui para pensar sobre a diferença entre arte e artesanato. Que tal fazer esta pergunta aos seus alunos e conversar sobre no que difere a arte que está em museus e galerias, sendo reconhecidas como tal, com aquelas que são comercializadas nas ruas, feiras, lojinhas de souvenir, etc., como é o caso do artesanato? Vale salientar que a arte passou por grandes transformações conceituais ao longo dos anos, e hoje ela é reconhecida pela sua função social por expor e problematizar as características históricas e culturais de uma determinada sociedade. Tais debates podem desencadear escritas individuais e/ou coletivas, produções artísticas, podcasts, mapas mentais, diários de bordo, entre outras possibilidades.

Em sequência, traga a trajetória biográfica e poética da artista Berenice Gorini, utilizando as informações contidas no caderno, na ficha e no curta-metragem. Identifique e aproxime os debates feitos anteriormente com as produções da artista e com as opiniões dos alunos. De acordo com Gorini, quando ela viu as tiras de palha em um pequeno paiol na comunidade de Ilhas em Araranguá, vislumbrou que aquela matéria-prima parecia por si só instalações “dignas de bienal”. Ali teve início a pesquisa com fibras naturais na poética artística de Berenice. Portanto, refletimos: quanto de artesanato tem a arte de Berenice Gorini?

Quantos tipos de cadeira existem em sua casa? Quais são os momentos em que cada uma é utilizada? E como são utilizadas? Existem variações de modelo e materiais na composição de cada uma? Com o passar do tempo, mudanças de hábitos e de trabalho, o ser humano tem passado horas do seu dia sentado em uma cadeira e, além dessa utilidade, cada cadeira reserva um lugar em específico, seja ele público ou particular. Normalmente, sentamos em diferentes cadeiras, desde em nossa casa até nos locais públicos e privados. Podemos sentar na cadeira usada na cozinha, sala de estar, varanda, escritório, sala de espera, sala de aula, refeitório, entre outras. Mais quantos tipos de cadeira é possível indicar?

Professor(a), você pode iniciar a conversa com seus alunos(as) utilizando as perguntas acima e, em seguida, fazerem juntos no quadro uma lista com as variedades de cadeiras que eles identificam e quais as suas utilidades. O design e materiais desses objetos também são indicadores da atividade que uma pessoa pode desempenhar ao ocupar a cadeira, seja em funções políticas, pessoais ou sociais. Peça aos alunos(as) que observem a cadeira em que estão sentados neste momento. São todas iguais? São separadas da carteira ou têm apoio acoplado para o caderno? É igual à cadeira do professor(a)?

Para facilitar o diálogo, apresente a imagem da obra de Berenice Gorini contida no verso desta ficha e, caso ainda não tenha feito, exiba o documentário para que seus alunos(as) conheçam a trajetória da artista e como iniciou sua produção com as cadeiras. Neste momento, pode ser utilizado como recurso técnico o desenho de observação para exercitar a percepção da luz e sombra e do volume tridimensional (a cadeira) com o bidimensional (o desenho da cadeira). É na interação com as cores, formas, volume e na relação direta com a visualidade do objeto que se trabalha a percepção.

As reflexões apresentadas até o momento derivam das relações que um objeto utilitário, neste caso, a cadeira, pode estabelecer com o sujeito. Os objetos do cotidiano, quando apresentados em outros contextos e trazidos para o campo das Artes Visuais, perdem total ou parcialmente sua função utilitária

para se relacionarem com o conteúdo ao qual estão se referindo. Tal aspecto evidencia o percurso técnico e poético que o(a) artista fez para chegar até o resultado final. Todo esse conjunto que abarca o fazer poético, a pesquisa, o processo de criação e conhecimentos envoltos dos saberes e fazeres está relacionado aos conceitos da obra de arte.

No caso de Berenice, a cadeira é utilizada como suporte para sustentar corpos construídos com materiais distintos. E se as cadeiras estivessem vazias, sem nenhuma interferência, teria o mesmo sentido? Na construção de uma narrativa poética, é o pensamento que se faz valer. Para auxiliar neste momento, pode ser feita uma busca por outros artistas que utilizam o mesmo objeto de maneira diferente. Como no caso da artista Doris Salcedo (veja no caderno “Com quem dialoga”), que empilha muitas cadeiras em lugares inusitados. Aqui vale provocar seus alunos(as) sobre o que a artista quer comunicar com essas instalações, uma vez que a cadeira não passou por nenhum procedimento técnico das Artes Visuais.

Professor(a), estes momentos de pesquisa e conversa sobre a produção artística são essenciais para que seus alunos sejam capazes de analisar uma obra de arte contemporânea. E, após a conversa, proponha que pensem o objeto/ função/formato da cadeira sobre outras perspectivas. Exercícios assim são melhores de desenvolver e mediar quando trabalhados coletivamente. Peça para se reunirem em um grupo pequeno e possibilite meios para que escolham qual o recurso técnico que melhor se adequa às ideias que surgirem. Podem utilizar desenho, pintura, colagem, fotografia, instalação, intervenção, enfim, o que mais acharem interessante. Lembre-se que a construção de uma narrativa poética é fundamental neste momento! Boa aula.

BNCC - Objetos de Conhecimento e Habilidades (6º ao 9º Ano)

· Contextos e Práticas (Artes Visuais): (EF69AR01);

· Processos de Criação (Artes Visuais): (EF69AR07); Sistemas de linguagem (Artes Visuais): (EF69AR08).

Acesse o curta-metragem sobre a artista:

01. 03.

EDI BALOD

SOBRE A OBRA

Memorabilia significa um conjunto de objetos e coisas dignas de serem guardadas por estarem relacionadas com pessoas importantes, acontecimentos e fatos memoráveis, ou até que sejam representativas perante a época a que estão vinculadas. Trazem à tona memórias afetivas e lembranças de lugares, situações e indivíduos. Os objetos que compõem uma memorabilia geralmente estão atrelados a uma interpretação que está para além de suas utilidades originais e características visíveis, adquirindo assim uma outra força simbólica e discursiva.

Para o artista Edi Balod, a memorabilia é uma relação explícita entre o material e o imaterial, um processo de objetificação de saberes, fatos e histórias. Nessa instalação, o artista reuniu fotos, documentos, escritas, louças, esculturas, chaveiros, adesivos, trechos de poesias, santos, crucifixos, artesanatos, estrela-do-mar, conchas, pingentes e demais objetos variados que lhe representam, os quais são modificados constantemente como uma espécie de palimpsesto contemporâneo. Trata-se de um conjunto de memórias físicas, como explica Balod em sua fala. Uma

estante cheia de simbolismos, relações e significados.

Ali estão objetos que são partes estruturantes da vida do artista. Edi Balod se autorretrata por intermédio de memórias, pessoas e momentos.

Naquela estante, há um percurso pessoal, os desvios e as inconstâncias do ser do artista. Os pedaços que se costuram, rasgam, tramam e se opõem apresentam um ser inacabado e incompleto que, ao mesmo tempo, constitui um trajeto com etapas sendo concluídas. Assim como uma colcha de retalhos, tais fragmentos de histórias materia-

DESDOBRAMENTOS POÉTICOS

lizadas nesses objetos se agrupam em um só suporte; existem por se conectarem de alguma forma, e fazem sentido justamente por serem assim.

Dados Técnicos

Memorabilia, datação variada. Edi Balod. Instalação, 84 x 77 x 10 cm. Acervo particular do artista. Criciúma/SC. Foto: Aionara Preis.

Em sua vida cotidiana, Edi Balod sente-se provocado por diferentes situações que mobilizam seu processo de criação. A materialidade, o apego estético a objetos, os costumes, a burocracia, os saberes ocultos, a religião, etc., tudo pode constituir algum elemento a ser questionado e apropriado pelo artista. Os Desdobramentos Poéticos a seguir partem da obra “Memorabilia”: são propostas de ações a serem realizadas coletivamente como forma de mobilização, ação e reflexão do pensamento artístico.

Coleta

O que há ao seu redor? Quais são os objetos que estão mais presentes no seu dia a dia? Quais lugares eles ocupam? Em sua vida cotidiana, como você vê e utiliza estes objetos? Percebemos, na produção “Memorabilia”, que Edi Balod seleciona objetos variados para compor uma instalação artística que representa a sua história, as relações com as pessoas importantes, fatos e vínculos diversos sobre a sua trajetória. A observação, o olhar seletivo e a sensibilidade são exemplos de atos de coleta que podem ser um ponto de partida para mobilizar intencionalidades artísticas aos seus alunos.

Você pode iniciar um momento significativo de introdução mostrando a imagem contida no verso desta ficha e incitar uma conversa, para que os seus alunos(as) possam contar e descrever oralmente o que estão vendo (você decide se é com ou sem as informações técnicas da produção). A figura do(a) professor(a) é crucial na mediação deste bate-papo; inclusive, fique à vontade para usar as perguntas norteadoras contidas na introdução desta atividade.

Após esta leitura de imagem inicial, identifique com os envolvidos os objetos e suas significâncias presentes na obra e suas relações com o cotidiano de cada um. Que tal fazer uma lista coletiva dos objetos e, posteriormente, uma lista individual para facilitar este processo? Uma possível estratégia de organizar o momento de conversa seria planejar um semicírculo de cadeiras, ou até de almofadas, ou colchonetes. (O que a sua escola tem?) Ao final, seria muito interessante trazer as informações sobre o artista e a obra em questão. Assim, eles perceberão a importância da coleta no percurso poético de Edi Balod.

Com estas informações debatidas, que tal solicitar para seus alunos que cada um colete objetos que lhe sejam cotidianos nos espaços que frequentam

diariamente? O ideal seria orientar os mesmos para serem objetos carregáveis e que não ameacem a integridade física deles e dos demais colegas. Defina o mínimo e o máximo de quantidade a ser trazida por pessoa. Professor(a), com esta tarefa, você conseguirá identificar a realidade de cada aluno(a), o olhar sensível deles perante o cotidiano e as relações com o que estão estudando.

Depois desse momento, vamos à criação? Você pode propor à sua turma a criação de colagens, pinturas, esculturas, instalações ou até intervenções com aqueles objetos! Inclusive, você pode escolher se eles podem compor individualmente, em duplas ou em grupos. Registre com seu celular esses momentos. Após, vamos “balodizar”? O que você acha de agrupar essas produções e procurar na escola um local para expô-las? Convide seus alunos para compartilharem com você a curadoria!

Autorretrato

Se estes objetos pudessem contar sua história de vida, quais objetos você escolheria? E se, em vez de fazer o mapeamento de um objeto de desejo, você pudesse mapear um sentimento: qual sentimento seria? Vamos pensar a “Memorabilia” como autorretrato?

Professor(a), que tal iniciar sua aula contando um pouco da trajetória do artista e a pesquisa poética em torno da obra “Memorabilia”? Utilize as informações contidas no vídeo (você pode acessá-lo pelo QR code), no caderno e na própria ficha. Posteriormente, organize uma roda de conversa e traga questões provocadoras referentes ao protagonismo de cada um em sua própria história. Traga questões como: Quantas pessoas habitam em sua história? Quantos momentos cruciais constituem o seu álbum de fotografias da vida? O que você gostaria de gritar para todo mundo ouvir? Pensar em nossa história pode causar o surgi-

mento de muitas emoções; por isso, é preciso ter empatia com seu aluno(a). Ao final do momento, solicite que cada um selecione objetos que contem suas biografias e que apresentem quem você é (pode usar as perguntas contidas na introdução desta atividade). Faça-os perceber que essas memórias estão nos objetos do cotidiano, como uma xícara usada todos os dias pela mesma pessoa, um porta-joias de alguém próximo, um pente de cabelo, um rádio antigo, entre outros.

Vamos “balodizar”? Com a coleta dos objetos feita, que tal criar uma estante com seus alunos(as) para que cada um anexe seus objetos? Pode ser de papelão ou de outros materiais que estiverem disponíveis. Professor(a), você pode decidir junto com seus alunos(as) se esta organização será feita de forma individual ou coletiva. Uma forma de enriquecer tais momentos é apresentar outros artistas que dialogam com a “Memorabilia” de Balod; por exemplo, a artista Helene Sacco, que inventa lugares a partir da materialização de desenhos de objetos. Como desdobramento possível, você pode sugerir que façam desenhos a partir dos objetos, assim como Helene Sacco; ou criem poesias, assim como Edi Balod, para contar a relação de cada um com aquele objeto. Boa aula!

Narrativas

Quais situações da vida cotidiana te inquietam? E, se estas reações viessem em forma de arte, como seriam? Quais narrativas estão contidas na sua relação com determinados fatos e a complexidade das pessoas no dia a dia?

Professor(a), inicie a conversa solicitando que seus alunos(as) descrevam o trajeto que fazem de casa até a escola, como uma cartografia afetiva. Distribua papéis variados e solicite que cada pessoa desenhe o que sempre vê. Após, reflita com eles(as): Quais situ-

ações desconfortáveis e/ou agradáveis vocês já vivenciaram ou presenciaram nos espaços em que transitam? A partir desta questão, que tal pedir que cada um escreva sobre isso no verso do desenho? Talvez, surjam relatos não tão bacanas, e você precise mediar com cuidado tais situações. Com estas informações, seria legal apresentar sobre a “Memorabilia” e o artista. O que acha? Use as informações contidas no caderno, na ficha e no vídeo (que pode ser acessado via QR code). Edi Balod observa as situações cotidianas a partir de um olhar cuidadoso e seletivo, em que cada marca (positiva ou não), deixada por situações adversas em sua trajetória, materializa-se a partir de uma estante com objetos que lhe apresentam. Trata-se de um conjunto de memórias constituídas a partir de narrativas que colocam o próprio ser inconstante e incompleto do artista em evidência (e está tudo certo em ser assim). Que tal propor um momento de socialização para que cada um apresente suas inquietações? Vamos “balodizar”? Existe a possibilidade de unir estes registros e criar uma instalação artística na sala de aula!

BNCC - Objetos de Conhecimento e Habilidades (6º ao 9º Ano)

Contextos e Práticas (Artes Visuais): EF69AR01 e EF69AR02; Materialidades (Artes Visuais): EF69AR05.

Acesse o curta-metragem sobre o artista:

01. 03. 02.

GILBERTO PEGORARO

SOBRE A OBRA

Uma das séries mais icônicas de Gilberto Pegoraro são as pinturas vinculadas à infância. Acrílicos sobre tela, aquarelas e giz sobre papel remontam às brincadeiras folclóricas e às crianças em seu estado puro de estesia. O brincar é traduzido a partir do olhar sensível do artista perante o fascínio pela imaginação e pelo espaço ocupado pelas crian-

ças na sociedade em que estão imersas. Embebido de traços modernistas, percebemos a influência de Brecheret (18941955), Giorgi (1905-1993), de Fiori (18841945) e Rodin (1840-1917), mas também Jussara, Balod e Gorini em sua obra. Soldados e seus chapéus de papel, instrumentos musicais, telefone sem fio, carrinhos, bonecos, pular corda, entre outras

cenas, foram pintadas e/ou esculpidas por Gilberto ao longo de sua carreira. De acordo com seus familiares, o artista, influenciado pelo contato direto com os sobrinhos em seu ateliê, idealizou vários trabalhos dessa série. Fotos pessoais revelam brincadeiras sendo organizadas, brinquedos sendo montados e muitas risadas promovidas por Gilberto.

DESDOBRAMENTOS POÉTICOS

Gilberto Pegoraro é um artista múltiplo, o qual experimentou a arte em suas mais diversas formas: dança, teatro, cenografia, design, performance, pintura, escultura, carnaval, folclore, TV, rádio, etc. A infância, as cores e o corpo são temáticas recorrentes em sua pesquisa poética.

Os Desdobramentos Poéticos a seguir partem da obra “Sem título” (pintu-

Infância

Você gosta de brincar? O que é brincadeira, e o que é brinquedo? O que é ser criança? Quanto de infância tem na sua história de vida? Mostre a imagem contida nesta ficha para seus alunos e inicie uma conversa com eles (fique à vontade para utilizar as perguntas anteriores para mediar este bate-papo). Introduza fragmentos da história e da poética do artista Gilberto Pegoraro que estão no caderno. Enquanto as respostas são compartilhadas, faça um mapa mental no quadro. Utilize elementos que remetem à infância, aos brinquedos e às brincadeiras, de modo que se conectem entre si. Se você achar pertinente, convide cada aluno a escrever sua resposta e anexar sua contribuição ao mapa mental em vez de você fazer isso. Pode ser uma estratégia interessante!

Posteriormente, sorteie na sala uma palavra/frase contida no mapa mental para cada aluno; ou você pode propor que cada um escolha a que achar mais interessante (mas que não seja a que este escreveu ou disse). A partir disso, converse sobre as características técnicas presentes na obra, como o uso predominante das cores quentes, a translucidez da aquarela, as linhas principais e secundárias e o movimento sugerido pela posição dos personagens. Provoque-os a pensarem sobre os elementos que compõem uma pintura, e peça para que escolham como gostariam de produzir suas pinturas.

Se Pegoraro tivesse usado cores frias na pintura, isso mudaria alguma coisa? O sentido de infância poderia ser outro se Gilberto tivesse usado cores frias, deixado os personagens estáticos e sem os brinquedos. É importante fazer estas suposições para que seus alunos(as) percebam que todos esses elementos comunicam algo em uma obra de arte.

Agora, utilizando estes elementos construtivos da imagem, solicite aos alunos(as) que pensem em uma pintura servindo-se da aquarela (ou o material que tiver disponível), sobre o significado afetivo de ser criança. Quais

elementos visuais podem representar a infância? Registre estes momentos! Solicite que cada um anexe as palavras ou frases sorteadas nesta composição visual. Talvez, um dos desdobramentos possíveis seja criar uma curadoria coletiva com os alunos, expondo os trabalhos conectados uns aos outros, como no mapa mental, em um espaço bem bacana da escola. Tais conexões podem ser conceituais ou até explícitas com linhas de barbante, esquemas visuais e outros elementos. 02.

Brinquedos e brincadeiras

Vamos brincar? Na obra de Gilberto Pegoraro, existem dois meninos com objetos na mão insinuando uma brincadeira, um momento de descontração. Quais são esses objetos, e qual a brincadeira que estão realizando? Sabemos que os tipos de brincadeiras, jogos e entretenimento modificam-se conforme a sociedade se altera. Investigue com seus alunos as brincadeiras e formas de lazer que eles praticam, e proponha que façam a mesma investigação com seus responsáveis. Peça para que anotem a idade da pessoa mais velha e também mais nova e como era o divertimento durante sua infância. As brincadeiras eram competitivas? Os brinquedos eram comprados ou feitos em casa? Quais os materiais desses brinquedos?

Oportunize que o conteúdo desta pesquisa seja compartilhado posteriormente em sala de aula por cada aluno(a), para observarem se há repetição ou não. Muitas brincadeiras se diferenciam de acordo com a região, seja no nome, nas regras ou em toda sua natureza. E será que existe idade para brincar? No programa Território do Brincar* você pode encontrar muitas informações, variedades e filmes sobre as potencialidades, belezas e inventividade da brincadeira.

Após esta contextualização, que tal propor que construam seus próprios brinquedos? Divida a turma em grupos

ra que faz parte do acervo da Universidade do Extremo Sul Catarinense e integra a série intitulada “Infância” do artista); e se apresentam como propostas de ações a serem realizadas coletivamente como uma forma de mobilização, ação e reflexão do pensamento artístico.

e oriente na construção do brinquedo com os materiais que tenham disponibilidade. É possível inventar uma nova brincadeira ou fazer uma das que foram pesquisadas para experimentá-la posteriormente. Deixe um tempo reservado para que seus alunos(as) possam experimentar, se divertir e compartilhar as brincadeiras pesquisadas. Procure na escola ou no ambiente em que estiverem um local adequado para este momento. Todo o processo já faz parte da produção artística e da experiência em arte. Para finalizar este desdobramento, oriente seus alunos para registrarem os momentos de diversão. Pode ser utilizado o recurso da fotografia, do desenho de observação e até dos barulhos e ruídos que cada brincadeira ocasiona. A escolha desses recursos pode ser feita por você, professor(a), pois será preciso orientar e organizar a atividade previamente. E que tal organizar coletivamente uma exposição com todos os registros? Convide seus alunos(as) a selecionarem as imagens produzidas, organizá-las de forma individual e coletiva, e pensar na distribuição dos trabalhos no ambiente.

* https://territoriodobrincar.com.br/

Luz, câmera, ação!

Sabemos que Gilberto Pegoraro trabalhou com diferentes manifestações artísticas que iam da pintura, desenho, xilogravura, escultura e cerâmica, até a cenografia, carnaval, produção cultural, rádio, design e TV. Exiba para seus alunos(as) o documentário sobre o artista (ele pode ser acessado via QR code aqui na ficha); nele há muitas imagens e informações sobre a pluralidade de Gilberto. Encontre um espaço apropriado para a exibição do vídeo, onde o som e a luz sejam favoráveis, e os alunos(as) estejam confortáveis. É importante que você contextualize o artista, a época em que produziu e as técnicas utilizadas. Observe as reações, comentários e opiniões.

Converse com seus alunos(as) sobre os lugares que uma pessoa com for-

mação em Artes Visuais pode trabalhar. A cenografia, por exemplo, responsável pelos elementos que compõem uma cena ou ambiente, é um lugar possível para a atuação profissional de um artista. Na extinta TV Eldorado de Criciúma, entre o final da década de 1980 e o início da década de 1990, Gilberto trabalhou como apresentador de TV. O cenário, o enredo, a fantasia, a maquiagem, enfim, praticamente toda a ambientação era criada por ele. Investigue junto a seus alunos(as) quais as profissões que envolvem um programa de televisão.

Que tal criar um canal de comunicação com as notícias sobre a escola? Podem ser abordados diversos temas, como avisos importantes, entrevistas, curiosidades, canal do aluno, entre outros. Peça para que os alunos criem os temas de acordo com o interesse deles. Após este momento, divida a turma em grupos para que cada um se responsabilize por alguma tarefa. Aqui é possível dividir cenógrafos, figurinistas, roteiristas, repórteres, apresentadores e cinegrafistas. Pesquise sobre a função de cada profissão e oriente os alunos(as) na escolha de cada atividade. Podem ser utilizados, para as filmagens, celulares com câmera.

É importante que o local para a divulgação desses vídeos já esteja definido; pode ser por aplicativo ou redes sociais, como WhatsApp, YouTube, Instagram, Facebook, o site da escola e até um blog para divulgação do projeto.

BNCC - Objetos de Conhecimento e Habilidades (6º ao 9º Ano)

Contextos e Práticas (Artes Visuais): EF69AR03; Processos de Criação (Artes Visuais): EF69AR06; Materialidades (Artes Visuais): EF69AR05.

Acesse o curta-metragem sobre o artista:

01.
03.
Sem título (Série Infância), s/d. Gilberto Pegoraro. Aquarela s/ papel, 60 x 68 cm. Acervo da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) – Criciúma/SC. Foto: Aionara Preis. Dados Técnicos

JUSSARA GUIMARÃES

SOBRE A OBRA

Entre o final da década de 1990 e o início dos anos 2000, Jussara produziu o painel do Terminal Central de Criciúma/SC. Em paralelo à composição das obras ao Memorial Dino Gorini, a artista teve o apoio do marido Vilmar Kestering e do amigo Gilberto Pegoraro na execução desses grandes murais. Remetendo-se diretamente à origem da cidade, Jussara apresenta o capim “Cresciúma” entre formas circulares, linhas e texturas orgânicas. Na outra extremidade do painel, encontra-se

menção às cinco etnias colonizadoras da cidade: portuguesa, italiana, alemã, polonesa e africana.

Entre círculos, estão símbolos religiosos, grafismos, decalques de fotos antigas, brasões, personagens históricos, arquitetura rural, elementos alusivos à gastronomia, música, dança e manifestações culturais características de cada etnia. Ao fundo, percebemos uma paisagem composta por um céu com tons azulados, nuvens e pássaros, bem como tons ocres e verdes. Parece-nos simbóli-

DESDOBRAMENTOS POÉTICOS

co que esse painel se encontre em uma galeria no subsolo do coração da cidade, levando-se em consideração o contexto da extração do carvão mineral.

Dados Técnicos

Painel do Terminal Central de Criciúma, 1990. Jussara Guimarães. Painel cerâmico, 935 x 235 cm. Acervo da Fundação Cultural de Criciúma –Criciúma/SC. Foto: Aionara Preis.

constitutivos da paisagem são recorrentes em suas obras. No painel do Terminal Central de Criciúma/SC – imagem do verso desta ficha –, é possível observarmos nuvens, pássaros, areia, formas orgânicas e o famoso capim “Cresciúma”, o qual dá nome à cidade. Trata-se de uma pesquisa que se apropriou de elementos da natureza presentes no cotidiano e na história das cidades da região do extremo sul catarinense.

Esse percurso poético influenciou outros artistas, como é o caso da criciumense Simone Milak, que decalca plantas e folhas que remetem a momentos significativos de sua vida na argila, criando desde azulejos, vasos, potes, canecas e outros utilitários, até quadros, difusores e instalações artísticas. Simone trabalhou como assistente de Jussara em seu ateliê no início dos anos 2000. Pássaros, por exemplo, estão presentes nas produções de ambas as artistas.

Jussara Guimarães fez um extenso trabalho de pesquisa histórica no extremo sul catarinense. Identificou elementos simbólicos da identidade cultural dos moradores da região e se apropriou de matérias-primas locais em seu fazer artístico. A partir da linguagem da cerâmica, aproximou a produção comercial/industrial da produção artística e técnica, tendo como fio condutor a cultura, a natureza e o percurso histórico local. Os Desdobramentos Poéticos a seguir partem do painel cerâmico produzido pela artista, localizado no Terminal Central de Criciúma/SC, e se apresentam como propostas de ações a serem realizadas coletivamente como uma forma de mobilização, ação e reflexão do pensamento artístico.

As cores da terra no caderno referentes à artista Jussara Guimarães. Uma de suas pesquisas consistia na investigação sobre a diversidade de cores e classes de argila da região em que morava e também dos lugares por onde transitou. Peça para seus alunos(as) observarem as tonalidades de terra que existem nas suas casas ou nos lugares que frequentam, para posteriormente coletarem um punhado desse material para levar à sala de aula. Essas terras têm cores diferentes? Armazenem os materiais coletados em potes de vidro ou plásticos transparentes, para que seja possível ver as diferenças de tonalidades, e identifique-os pelo nome do(a) aluno(a) e o lugar em que o material foi retirado.

Você sabe o que é cerâmica? Já mexeu com argila antes? Onde você mora tem argila? O que há de cerâmica no seu dia a dia? Você já viu uma olaria? Quais objetos cerâmicos você ou alguém da sua família tem? Cidades do extremo sul catarinense e região, como Criciúma, Morro da Fumaça, Içara, Maracajá, Urussanga, Araranguá e Cocal do Sul, tradicionalmente estiveram no cenário industrial cerâmico catarinense, seja pela composição seriada de pisos, azulejos, tijolos, telhas, porcelanatos e revestimentos cerâmicos, seja no fornecimento de matéria-prima para o setor. Olarias, empresas e jazidas de argila fazem parte do convívio diário de muitos moradores locais. Que tal começar uma roda de conversa com os seus alunos acerca do referido contexto?

Em seguida, você pode apresentar as informações contidas na ficha e

03. Painel coletivo

Vamos colocar a mão na massa? Professor(a), neste desdobramento, serão abordadas as questões que envolvem o processo do fazer cerâmico, da manipulação da argila até a queima final. Após assistir ao documentário sobre Jussara Guimarães, constatamos que a artista experimentava alguns tipos de queimas como o Raku, queima coque e queima primitiva. E, por utilizar materiais de fácil acesso, esta última pode ser realizada no próprio pátio da escola, mas antes vamos à produção das peças.

Você sabia que é possível transformar terra em tinta? Para isso, primeiro você precisa orientar seus alunos(as) a passar as terras, já bem secas, em peneiras para dissolver os grupos e retirar as pedrinhas. Em seguida, hidratar com água na proporção de duas partes de

terra para duas partes de água e acrescentar uma parte de cola branca para dar consistência.

Após estas etapas de conversa, coleta e preparação da tinta, proponha aos alunos(as) que façam uma pintura utilizando apenas os pigmentos de terra preparados por eles. Professor(a), escolha junto à classe um dos temas que a artista Jussara Guimarães pesquisava, para desenvolver as pinturas e não se submeter aos riscos do desenho livre. Vocês decidem qual suporte utilizar para realizar a pintura, que pode ser papel ou até um mural coletivo! Boa aula!

Quais elementos da natureza contam a sua história? Quais memórias afetivas estão vinculadas ao barro? Cheiros? Gostos? Sons? Cores? Quais cantos de pássaros? Quais plantas? Quais frutas? Sombras de árvores? Balanço no galho da figueira? Professor(a), você pode provocar seus alunos a pensarem a sua própria história de vida a partir da natureza. Cada aluno(a) pode coletar itens naturais que melhor representam suas biografias, por exemplo, gravetos, folhas, flores e penas.

Posteriormente, utilize esses elementos para fazer impressões em uma superfície, que pode ser papel, tecido ou parede. Para realizar essas impressões, é preciso passar uma camada fina de tinta no lado do graveto ou de uma fruta, por exemplo, para pressionar sobre o suporte como se fosse um carimbo. Esta atividade proporciona a repetição de padrões. É extremamente importante observar a distribuição dos elementos no suporte.

Os painéis modulares, de grandes dimensões e feitos coletivamente, são produções notáveis deixadas pela artista na cidade de Criciúma/SC e região. Que tal propor a construção de um painel coletivo contendo os elementos naturais e culturais da cidade em que moram? Professor(a), se achar necessário, você pode evidenciar como Jussara Guimarães interpretava esses elementos e os trazia para a cerâmica.

Após a pesquisa dos elementos, oriente os alunos(as) para que façam croquis de como trazer esta interpretação visual para o papel e, posteriormente, para a argila. A mesma é uma matéria-prima de fácil acesso; no entanto, é bom se certificar antes de comprá-la, se tem plasticidade para modelagem, pois algumas argilas têm outras finalidades.

O olhar cuidadoso de Jussara perante a natureza está presente em muitas produções cerâmicas. Animais, plantas, flores e demais elementos

Como o resultado desta pesquisa sobre os elementos da natureza pode ser apresentado? Professor(a), você pode pensar junto com seus alunos(as) um modo de apresentar este trabalho e distribuí-lo pelos espaços da escola. Boa aula!

Distribua pouca quantidade de argila para que cada aluno possa fazer suas placas. Defina a espessura de 2 cm e o tamanho da placa com 10 a 15 cm (maior que isso aumentam as chances da peça quebrar). Cuide com o processo de amassar a argila para retirar as bolhas de ar, bem como esticar as placas sobre um tecido para não grudar na mesa. Encontre as ferramentas para os alunos(as) trabalharem: pode ser palito de picolé, de churrasco, garfo, fio de nylon e régua para cortar as placas. É sobre essas placas que os estudos sobre os elementos naturais e culturais deverão estar. Professor(a), encontre um local seguro para deixar as peças secando, pois elas ficam extremamente frágeis quando secas.

Com as placas prontas e secas, vamos à queima. Os materiais necessários

são

tijolos e serragem para a queima, e também sal grosso, papel alumínio, fio de cobre e sulfato de cobre para a decoração (opcional). Há, na Internet, muitos vídeos disponíveis que demonstram o passo a passo de uma queima cerâmica primitiva. Sugerimos, no e-book, um link* de um vídeo com todas as orientações de montagem do forno e preparo das peças.

Por fazer um pouco de fumaça, é importante comunicar a direção da escola e encontrar um local afastado das salas de aula. A queima leva em torno de 6 a 8 horas para finalizar e atinge de 600 a 800 0C; portanto, você pode abrir o forno no dia seguinte. O processo todo de produzir as peças, esperar secar, prepará-las para a queima, montar o forno e acompanhar a ação do fogo sobre as mesmas, é uma experiência que possibilita ao aluno(a) entender e respeitar o tempo que envolve a cerâmica. Ao abrir o forno, o resultado das peças costuma provocar grandes surpresas, pois a argila apresenta muitas tonalidades diferentes após queimada. Após a análise e conversa sobre os resultados da queima, chegou a hora de montar o painel. Por ser uma cerâmica de baixa temperatura, o painel deverá ser fixado em um local coberto, podendo este ser um lugar definitivo, como uma parede, ou um lugar provisório, como um painel de MDF, por exemplo. Para fixar as placas de cerâmica na parede, utilize a massa de cimento-cola; porém, se as placas forem fixadas sobre madeira ou material similar, pode-se usar cola branca. Boa aula!

* Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=ygvkkN86hHA

BNCC - Objetos de Conhecimento e Habilidades (6º ao 9º Ano)

· Contextos e Práticas (Artes Visuais): EF69AR02;

· Materialidades (Artes Visuais): EF69AR05;

· Processos de criação (Artes Visuais): EF69AR06.

Acesse o curta-metragem sobre a artista:

Impressões da paisagem
01.
02.
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