Desenho: a cada olhar novas possibilidades

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL- ULBRA CANOAS/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS Fernanda Nonnemacher Brenner

Desenho: A cada olhar, muitas possibilidades.

Canoas, 19 de dezembro de 2011.


Fernanda Nonnemacher Brenner

Desenho: A cada olhar, muitas possibilidades.

Trabalho de curso apresentado como prérequisito parcial para a obtenção de título acadêmico de Licenciada em Artes Visuais, da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação dos professores Dr. Celso Vitelli, Me. José Giuliano e Me. Ana Lúcia Beck.

Canoas, 19 de dezembro de 2011.


Dedico este trabalho a todos que me apoiaram incondicionalmente nesta caminhada...


Agradecimentos A Deus por me permitir chegar até aqui. Aos meus pais Marly e Flávio (in memorian) pelo amor que sempre me dedicaram. Ao meu esposo Jeferson, pela compreensão e carinho. Ao meu filho Vicente que iluminou meus dias, trazendo alegria e motivação. Ao meu irmão Eduardo, que sempre torceu pelo meu sucesso. Aos colegas e amigos, pela ajuda recebida nos momentos difíceis. Aos meus orientadores Dr. Celso Vitelli, Me. José Giuliano, Me. Ana Lúcia Beck, pela sensibilidade e sabedoria em compartilhar comigo seus conhecimentos.


“Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio. Que a música que ouço ao longe seja linda, ainda que triste. Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada, mesmo que distante. Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade. Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor. Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos. Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é quem cala. Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço. Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que eu penso, mas a outra metade é um vulcão. Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância. Por que metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei. Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito. E que o teu silêncio me fale cada vez mais. Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço. Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer. Porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção. E que a minha loucura seja perdoada. Porque metade de mim é amor e a outra metade... Também.” Oswaldo Montenegro - Metade


RESUMO O presente Trabalho de Curso reúne a trajetória dos meus Estágios Curriculares I, II, III e IV, em Artes Visuais, apresentando uma pesquisa, que tem o desenho como tema central. O ato de desenhar no entendimento de Derdyk (1989, pg.19), “impulsiona outras manifestações, que acontecem juntas, numa unidade indissolúvel, possibilitando uma grande caminhada pelo quintal do imaginário”. Foi pensando, principalmente, nas palavras dessa autora que procurei, juntamente com desenho, retratar outras questões importantes, a fim de obter um melhor entendimento da sua dimensão. Com base nisso, pesquisei artistas que pudessem contribuir para que tais questões fossem desenvolvidas. Dentre eles, destaco dois como sendo fundamentais: o artista Escher, pois suas obras são exemplos de que desenhar é muito mais do que representar objetos e ideias por meio de linhas. Suas obras aguçam a percepção para um maior entendimento de um todo, além de trabalhar com a questão da tridimensionalidade do desenho. Outro artista pesquisado foi Ben Heine. Esse artista integra o desenho e a imagem, levando o leitor a perceber que o desenho é criação, enfim, é liberdade. Concluída a pesquisa, elaborei o projeto de ensino com o objetivo de desenvolver nos alunos um novo olhar sobre o ato de desenhar, possibilitando aulas práticas, em que o desenho pudesse ser manifestado de várias maneiras. O referido projeto justifica-se por desenvolver nos alunos o olhar observador e crítico, a autoconfiança, a criação e, principalmente, o entendimento do desenho na sua totalidade. O projeto de ensino “Desenho: a cada olhar, muitas possibilidades” foi aplicado no Colégio Estadual A. J. Renner, com a 7ª série do Ensino Fundamental, desenvolvido em sete encontros semanais (14 aulas), e com a turma do 2º ano do Ensino Médio, em 12 encontros semanais (12 aulas), da mesma escola. A prática de ensino escolhida para fazer parte deste Trabalho de Curso foi a do Ensino Médio, uma vez que, durante essa prática, aconteceram imprevistos que me fizeram crescer como docente, mostrando-me novos caminhos a serem percorridos. Durante a execução do projeto, os alunos realizaram atividades diversificadas, como leitura de imagens, gravura em isopor, ditado de imagens, desenho de observação, desenho da figura humana e criação tridimensional. Os resultados dos trabalhos da turma revelaram o empenho, a criatividade e o envolvimento de todo o grupo com o projeto. Após a prática de ensino, ocorreram reflexões nas quais foram abordadas quatro questões muito importantes. Num primeiro momento, procurei analisar a relação de afetividade no ensinoaprendizagem. Já numa segunda etapa, considerei importante relacionar os objetivos planejados com os objetivos alcançados. Também, analisei a maneira como os alunos se apropriam dos conhecimentos. E, na sequência, procurei pensar sobre a importância do processo de avaliação, ao longo da prática de ensino. Enfim, neste trabalho, estão registrados os momentos importantes, vividos durante a minha trajetória como estagiária, os quais se traduzem em momentos de inquietude, de medo, de receio, de encantamento, de satisfação e, principalmente, de plena convicção dos meus erros e acertos que, certamente, servirão como base para a minha futura docência. Palavras-chave: Desenho. Olhar. Criação.


SUMÁRIO INTRODUÇÃO ____________________________________________________________ 9 1. RECONHECIMENTO DO ESPAÇO DE ENSINO _____________________________ 14 1.1. DADOS GERAIS DA ESCOLA ___________________________________________ 1.1.1. Histórico ____________________________________________________________ 1.1.2. Caracterização _______________________________________________________ 1.1.3. Avaliação ___________________________________________________________ 1.1.4. Ensino de Artes_______________________________________________________ 1.2. OBERVAÇÕES SILENCIOSAS DO ENSINO MÉDIO ________________________ 1.2.1. Primeira e Segunda Observações Silenciosas _______________________________ 1.2.2. Terceira e Quarta Observações Silenciosas _________________________________ 1.2.3. Quinta e Sexta Observações Silenciosas ___________________________________ 1.3. ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES SILENCIOSAS DO ENSINO MÉDIO _________ 1.4. ANÁLISE DA ENTREVISTA COM A PROFESSORA DO ENSINO MÉDIO ______ 1.5. ANÁLISE DA ENTREVISTA DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO _____________

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2. DESENHO: A CADA OLHAR, MUITAS POSSIBILIDADES. ___________________ 29 2.1. EDUCANDO O OLHAR ________________________________________________ 2.2. O DESENHO COMO REGISTRO VISUAL DAS IMAGENS ___________________ 2.2.1. Ponto _______________________________________________________________ 2.2.2. Linha _______________________________________________________________ 2.2.3. Proporção ___________________________________________________________ 2.2.4. Perspectiva __________________________________________________________ 2.3. O DESENHO COMO UMA FORMA DE EXPRESSÃO INDEPENDENTE________ 2.4. PORQUE EDUCARMOS NOSSO OLHAR PARA DESENHAR E CRIAR NAS AULAS DE ARTES VISUAIS? ___________________________________________

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3. PROJETO E PRÁTICA DE ENSINO EM ARTES VISUAIS. _____________________ 45 3.1. DADOS GERAIS DA ESCOLA E TURMA EM QUE FOI REALIZADA A PRÁTICA DO ENSINO MÉDIO __________________________________________ 46 3.2. DADOS GERAIS DO PROJETO DE ENSINO _______________________________ 46 3.2.1. Tema _______________________________________________________________ 46 3.2.2. Justificativa __________________________________________________________ 46 3.2.3. Conteúdos ___________________________________________________________ 47 3.2.4. Objetivos gerais ______________________________________________________ 48 3.3. PRÁTICA DE ENSINO _________________________________________________ 48 3.3.1. Primeiro encontro _____________________________________________________ 48 3.3.2. Segundo encontro _____________________________________________________ 53 3.3.3. Terceiro encontro _____________________________________________________ 62 3.3.4. Quarto encontro ______________________________________________________ 68 3.3.5. Quinto encontro ______________________________________________________ 73 3.3.6. Sexto encontro _______________________________________________________ 81 3.3.7. Sétimo encontro ______________________________________________________ 85 3.3.8. Oitavo encontro ______________________________________________________ 90 3.3.9. Nono encontro _______________________________________________________ 96 3.3.10. Décimo encontro____________________________________________________ 100 3.3.11. Décimo primeiro encontro ____________________________________________ 105


3.3.12. Décimo segundo encontro ____________________________________________ 112 CONCLUSÃO ___________________________________________________________ 120 REFERÊNCIAS __________________________________________________________ 131 APÊNDICE 1 - Cópia da avaliação do Aluno Estagiário realizada pela professora da escola de Estágio do Ensino Médio. ______________________________ APÊNDICE 2 - Cópia do questionário respondido pela diretora da escola de Estágio do Ensino Médio. _______________________________________________ APÊNDICE 3 - Cópia do questionário respondido pela professora da escola de Estágio do Ensino Médio. ____________________________________________ APÊNDICE 4 - Cópias dos cinco questionários (mais significativos) respondidos pelos alunos da escola de Estágio do Ensino Médio. ______________________

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INTRODUÇÃO “Andarilhar no caminho da docência em arte é fazer da arte a nossa outra “metade”, é tê-la como pesquisa diária, como o tema gerador de uma vida, que nos move (ou pelo menos deveria) pela paixão.” Fernando Hernández Este Trabalho de Curso (TC) contempla todos os passos percorridos, durante os meus estágios em Artes Visuais, que vão desde as observações silenciosas, os questionários, com suas respectivas análises, a pesquisa em Artes Visuais, a elaboração do projeto de ensino, até a prática de ensino realizada com a 7ª série do Ensino Fundamental e com o 2° ano do Ensino Médio. Tais práticas de ensino foram realizadas no Colégio Estadual A. J. Renner, situado na cidade de Montenegro. O estágio I, realizado no segundo semestre do ano de 2010, foi orientado pelo Prof. Dr. Celso Vitelli, e os estágios II e III, realizados no primeiro semestre do ano de 2011, foram orientados pelos Professores Dr. Celso Vitelli e Me. José Giuliano. O estágio IV, realizado no segundo semestre do ano de 2011, orientado pela Profª. Me. Ana Lúcia Beck, tratou da elaboração do presente Trabalho de Curso, e foi motivo de diversas leituras, juntamente com a análise da minha experiência docente em sala de aula. Nos dias de hoje, existe uma grande necessidade de reavivar, nos alunos, a pureza da imaginação, o dom da criação, e as suas qualidades, geralmente inutilizadas devido à orientação defeituosa do ensino do desenho. Assim também ocorre com os adolescentes que, devido à crise da idade, atormentados, muitas vezes, por críticas inoportunas, já perderam a confiança neles mesmos e naquele seu mundo imaginário. Vem à tona, então, o fato de se sentirem inseguros, de acharem seus desenhos ridículos e de terem medo de “errar”, nas suas produções. Neste sentido, trabalhar com o desenho, nas aulas de Artes Visuais, torna-se extremamente desafiador, pois é preciso despertar, incentivar e estimular os alunos a algo que, muitas vezes, se perdeu ao longo do processo escolar. Se considerarmos o desenho enquanto linguagem que melhor permite a representação das coisas concretas e abstratas que compõem o mundo, torna-se extremamente importante encará-lo como meio de uma prática educativa, que leva o aluno à construção de uma realidade de leitura e expressão do mundo em que vive. Considerando a reflexão acima, e com base nas palavras de Derdyk (1989, pg.19) que afirma: “O Ato de desenhar impulsiona outras manifestações, que acontecem juntas, numa unidade indissolúvel, possibilitando uma grande caminhada pelo quintal do


10 imaginário”, é de fundamental importância oportunizar aos alunos vivências e experiências em situações prazerosas, mostrando que o desenho, além de uma marca expressiva construída pelo seu autor, apresenta meios e procedimentos capazes de caracterizar a diversidade, através da memorização, da imaginação e da criação, possibilitando, assim, novos olhares. Neste sentido, procurei trabalhar estas questões, durante todo o percurso do estágio, com o propósito de que as aulas desenvolvessem um novo olhar sobre a prática do desenho. O processo de pesquisa teve início no estágio I. Durante este período, foram realizadas as observações silenciosas. Esse foi o meu primeiro contato com as turmas nas quais realizaria as práticas de ensino. Ao final das observações, apliquei um questionário com os alunos, professores, diretor e supervisor do Colégio Estadual A. J. Renner, com o objetivo de sondar a maneira como a Arte é vista na escola, em relação à valorização, aprendizagem, metodologias e, principalmente, ao reconhecimento, considerando as respostas atribuídas pelos alunos sobre o que gostariam de aprender durante as aulas de Artes. Analisando as informações obtidas a partir das observações e dos questionários escolhi o “Desenho” como tema do projeto de ensino. Esse tema foi escolhido não somente por um gosto pessoal pelo assunto, mas também pela constatação de que os alunos almejavam aprender coisas novas, conhecer novos artistas, trabalhar com diferentes materiais, demonstrando grande preocupação com o ato de desenhar. Foi durante esse primeiro contato com os alunos que senti a necessidade de desenvolver um projeto no qual os alunos pudessem ter um novo olhar sobre a prática do desenho, conhecendo suas diferentes manifestações e também reconhecendo o desenho como meio expressivo de pura criação. Após ter escolhido o tema, realizei uma importante pesquisa bibliográfica sobre o desenho. Serviram como principais suportes para a elaboração, entendimento e enriquecimento da pesquisa sobre o desenho, os livros “Formas de Pensar o desenho”, da autora Edith Derdyk, que mostra alternativas para se pensar o desenho como meio expressivo e criador. Também retrata a importância da observação, da educação do olhar dentro do ensino do desenho. Outro livro que foi extremamente importante para a pesquisa foi “Didática do ensino de arte”, das autoras Miriam Celeste Martins, Gisa Picosque e M. Terezinha Telles Guerra, pois apontam caminhos para o trabalho do professor sobre o quê e como ensinar e de que maneira se pode estruturar esse caminho. Outra obra utilizada foi “Metodologia do Ensino de Arte”, das autoras Maria Heloísa Ferraz e Maria de Rezende e Fusari, pois consideram que o professor deve criar oportunidades que despertem o interesse pelo desenho nos seus alunos, instrumentalizando-os para a percepção e para a criatividade.


11 Ainda durante o estágio I, planejei as aulas que seriam aplicadas com as turmas do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. As atividades foram planejadas, tendo o desenho como eixo central, objetivando desenvolver nos alunos um olhar mais crítico, possibilitando aulas práticas, de modo que o desenho pudesse ser manifestado de várias maneiras. Pensando nisso, elaborei atividades variadas, como: ditado de imagens, gravura em isopor, desenho de observação, criação tridimensional, entre outras. Além do desenho, o projeto de ensino previa estimular a educação do olhar, a partir de uma observação mais aprofundada de imagens de artistas. Optei em trabalhar com Ben Heine, porque esse artista integra o desenho e a imagem, levando a pensar neles como ferramentas de criação. Também procurei trabalhar com Escher, por ser um artista que ousa em suas obras, cria, leva o leitor a ter um olhar mais atento, investigativo, para uma melhor compreensão do que ele apresenta, como a questão da tridimensionalidade do desenho, mais um fator importante no ensino dessa prática. Para mostrar as diferentes manifestações e as diferentes ferramentas para se fazer um desenho, além de mencionar as obras de Escher, com a litografia, procurei mostrar obras do artista Oswaldo Goeldi, que faz xilogravuras com detalhes extremamente ricos e que, uma vez descobertas as ferramentas de uso, despertam nos alunos curiosidades que favorecem o gosto pelas atividades práticas. Concluído o estágio I, chegou o momento de colocar em prática o projeto de ensino. Foi durante os estágios II e III que isso aconteceu. O projeto “Desenho: a cada olhar, muitas possibilidades”, foi desenvolvido com 35 alunos da turma de 7ª série do Ensino Fundamental no turno da tarde e com 34 alunos da turma do 3º ano do Ensino Médio no turno da noite, ambas as práticas aconteceram no Colégio Estadual A. J. Renner. Apliquei as mesmas atividades para os dois níveis, procurando levar em conta o tempo destinado para a realização das atividades, o ritmo de trabalho das turmas e também o interesse pelas atividades, o que, conseqüentemente, obteve trabalhos diferenciados, porém com os mesmos objetivos. Os alunos do Ensino Fundamental demonstraram interesse pelo projeto desde os primeiros encontros, traziam os materiais e foram bastante acolhedores. Diferentemente, os alunos do Ensino Médio nas primeiras aulas, mostravam-se receosos, intimidados, demonstrando certa resistência durante as atividades e também na relação afetiva comigo. Porém aos poucos os alunos foram adquirindo confiança e isso fez a diferença para que a concretização do projeto acontecesse de forma significativa. Em ambos os níveis, desde o início da prática de ensino, acreditava que as aulas poderiam e deveriam ser planejadas tendo um diferencial que envolvesse os alunos no projeto.


12 Foi pensando nisso que procurei oferecer a eles um espaço criativo, de modo que pudessem interagir na sala de aula, trabalhar com diferentes materiais, descobrindo suas habilidades e seus potenciais artísticos. No estágio IV, foi preciso escolher uma das turmas para abordar no TC. Analisando criteriosamente todos os passos percorridos até o momento, achei mais significativo falar da prática com o 2° ano do Ensino Médio. A escolha foi feita pensando desde os primeiros encontros, em que os alunos se mostravam resistentes, tinham medo de críticas, de serem ridicularizados diante dos colegas. Enfim, reflexos que representavam bem essa preocupação com o “errar”, com o fazer “feio”, o que, de certa forma, os impedia de se expressarem livremente. Aos poucos, os alunos foram criando gosto pelas atividades, demonstrando grande interesse pelo desenho. Para mim, a superação maior com essa turma foi muito além da compreensão do projeto, dos objetivos alcançados, foi uma maneira de reconhecimento dos seus próprios fazeres artísticos, bem como de suas habilidades, capacidades que talvez não soubessem possuir. Além disso, a prática com o Ensino Médio foi mais desafiadora, me fez tomar decisões imediatas, para não prejudicar o andamento das aulas. Aconteceram imprevistos, tais como a gradativa redução no número de alunos, falta de material por parte da maioria e desinteresse, por parte de alguns. Acredito que estes imprevistos me fizeram crescer como docente, pois me mostraram que nem tudo o que planejamos é possível pôr em prática, ou talvez, que é preciso modificar alguma coisa para que a aula seja significativa para todos. Além disso, tive que ser maleável e compreensível com a turma o tempo todo, criando, assim, um vínculo afetivo muito grande com aqueles que foram até o fim comigo. Também durante o estágio IV, organizei todo o percurso do TC. Assim, o trabalho foi estruturado em 3 capítulos. O primeiro capítulo apresenta questões de reconhecimento do espaço de ensino, análises das observações, dos questionários, tais como a escolha do tema de pesquisa. O segundo capítulo contempla uma importante pesquisa bibliográfica sobre o desenho. O terceiro capítulo apresenta os dados gerais da escola e da turma onde ocorreu a prática de ensino, bem como dados gerais do projeto, como tema, justificativa e os objetivos gerais. Também, contempla o planejado e o realizado de cada aula desenvolvida e a conclusão do projeto. Na conclusão do TC, abordo quatro questões muito importantes, observadas após a prática do estágio com a turma do 2º ano do Ensino Médio. Num primeiro momento, procurei analisar a relação afetiva entre o professor e o aluno, fator que contribuiu fortemente para o bom andamento das aulas. Já numa segunda etapa, considerei importante relacionar os


13 objetivos planejados com os objetivos alcançados, constatando a importância dessa relação para uma aprendizagem significativa. Também, procurei analisar a maneira como os alunos se apropriam dos conhecimentos, o que pôde ser percebido através das suas contribuições, durante as aulas. Na sequência, procurei pensar sobre a importância do processo de avaliação, ao longo do processo ensino-aprendizagem. Enfim, neste trabalho, estão registrados os momentos importantes, vividos durante a minha trajetória como estagiária, os quais se traduzem em momentos de inquietude, de medo, de receio, de encantamento, de satisfação e principalmente, de plena convicção dos meus erros e acertos, e que certamente servirão como base para a minha futura docência.


CAPÍTULO 1 1. RECONHECIMENTO DO ESPAÇO DE ENSINO


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1.1. DADOS GERAIS DA ESCOLA 1.1.1. Histórico O Colégio Estadual A. J. Renner foi o primeiro Ginásio Público Estadual do Município de Montenegro, que inicialmente instalou-se nas dependências do Grupo Escolar Delfina Dias Ferraz, no centro da cidade.

Colégio Estadual A. J. Renner (Fonte: BRENNER, 2010).

Conforme o Histórico da Escola (2007), aos 28 dias do mês de março de 1962, de acordo com o Decreto n° 13.360 (Decreto publicado no D. O. 02.04.62) é criado o Ginásio Industrial de Montenegro, que iniciou suas atividades em 21 de março de 1964. A Escola possuía apenas duas salas de aula, uma pequena oficina, duas serventes, um diretor, uma secretária, seis professores e sessenta e oito alunos, distribuídos em duas turmas de 1ª série Ginasial. No dia 31 de janeiro de 1967, um novo Decreto altera o nome da Escola para Ginásio Industrial A. J. Renner. Neste mesmo ano, porém no dia 31 de maio, cria-se a Associação de Pais e Mestres do educandário.


16 O nome A. J. Renner foi escolhido em homenagem a Antônio Jacob Renner, triunfador pelo trabalho e pelo estudo, que contribuiu muito para a educação com doações de terrenos ao Governo do estado para a construção de muitas escolas públicas. Em 17 de abril de 1972, inaugura-se o 1° bloco do projeto, situado a Rua Simões Lopes Neto, s/n°, no Bairro Rui Barbosa, dentro de uma área de terras de cinco hectares. Pela portaria 12.300, de 06 de março de 1980, nos termos da Resolução n° 111/74 do Conselho Estadual de Educação, o Ginásio passa a ser designado Escola Estadual A. J. Renner – 5ª a 8ª séries. E, em 18 de junho de 1991, pela Portaria 00.712, o nome da escola sofre nova alteração, agora para Escola Estadual de 1° Grau A. J. Renner. Mas, em 1997, o Decreto de Transformação nº. 38.069, intitula o estabelecimento de ensino como Escola Estadual de 1º e 2º Graus A. J. Renner. E, a autorização de 2º Grau é datada de 30 de janeiro de 1998, sob o parecer nº. 211/98. Porém, no dia 17 de abril de 2000 a escola altera novamente a designação para Colégio A. J. Renner, mantendo as turmas de séries finais do Ensino Fundamental e o Ensino Médio. No decorrer desses quarenta e quatro anos, suas dependências foram ampliadas, mas não consta em registros quando foram feitos esses aumentos. Apenas o ginásio poliesportivo, de acordo com informação da diretora, foi inaugurado no ano de 1996, quase vinte anos após sua obra ser iniciada.

1.1.2. Caracterização O colégio está situado na Rua Simões Lopes Neto, s/n°, no Bairro Rui Barbosa, na cidade de Montenegro. Conforme a supervisora Viviane Aparecida da Silva, que me passou os dados a seguir, por dizer que o PPP está muito desatualizado, dentro das dependências do colégio existe cinco blocos. Em um, o maior, há dez salas de aula, dois banheiros masculinos e dois femininos com quatro sanitários cada um, uma biblioteca, uma sala de vice-direção, uma sala destinada ao apoio e orientação e outra para informática e vídeo. Neste mesmo prédio, há quatro salas de aula em construção, com previsão para estarem prontas ainda este ano. No outro bloco, está instalada a secretaria, a direção, a supervisão, a sala dos professores e um banheiro para os docentes. No terceiro, há uma sala para uso com laboratório de Ciências e Matemática e outra com laboratório de Física e Química. E, além dos dois laboratórios, neste mesmo prédio


17 está situado o refeitório, que serve lanche apenas para o Ensino Fundamental, a cozinha, um depósito e dois banheiros, um para uso dos estudantes e outro para os funcionários do refeitório. O quarto bloco possui uma sala de Artes Visuais e outra de Artes Cênicas, um banheiro masculino e um feminino. A sala de Artes é equipada com mesas, cadeiras, quadro, uma pequena estante contendo alguns livros de artes, uma pia, televisão e um aparelho de DVD. Segundo a supervisora, estes dois blocos onde se encontram os laboratórios, são usados apenas pelas turmas do diurno, pois são isolados demais, e o acesso até os mesmos sofre com a falta de iluminação e segurança, o que não recomenda o uso à noite. E, o último, é o prédio da Educação Física, ou seja, um ginásio fechado com uma quadra que serve para prática de vôlei, futsal e basquete. Além do ginásio, também existe um campo de futebol de areia, uma quadra de vôlei e outra de basquete no pátio. O colégio funciona nos turnos da manhã, com o Ensino Fundamental e Médio, no horário das 07h30min às 11h55min, na parte da tarde, somente com o Ensino Fundamental, das 13h10min às 17h35min e à noite, apenas com o Ensino Médio, das 18h45min às 23h05min. E, em todos os turnos os períodos têm duração de cinqüenta minutos. O quadro docente é formado por 35 professores e o discente por 878 alunos. A escola também tem uma bibliotecária e cinco funcionários sendo dois da cozinha e três da limpeza. E, contam também com o CPM (Círculo de Pais e Mestres), CE (Conselho Escolar) e Grêmio estudantil. A escola tem como filosofia: Propomo-nos a atuar em educação, visando formar uma sociedade justa, democrática com valores humanistas, buscando a transformação social apoiada no crescimento científico, na justiça, na liberdade, no respeito, na honestidade, na responsabilidade, na criticidade e autenticidade de forma a possibilitar o desenvolvimento das múltiplas inteligências, a descoberta, a criatividade e a expressão para a socialização do saber. O colégio terá como princípio uma educação libertadora, formada de sujeitos críticos e transformadores da realidade, na perspectiva da construção de uma sociedade justa, preocupada com o meio ambiente e com o crescimento científico, com a capacidade de promover o desenvolvimento sadio, coletivo e individual com condições de dominar o conteúdo elaborado, recriando o seu saber, dentro do exército da cidadania com visão clara e crítica, articulada e coerente sobre sua ação (PPP, 2000, p.4).

Os objetivos do Ensino Fundamental são:


18 A Escola propõe-se a desenvolver: I – a capacidade de aprendizagem do aluno, possibilitando-lhe a livre expressão, clareza de pensamento, aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamentam a sociedade, para que o aluno possa inserir-se, de forma participativa, na comunidade em que vive (PPP, 2000, p. 4).

Os objetivos do Ensino Médio são: A Escola propõe-se, através do ensino Médio: I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental; II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania dando ao educando condições de adaptar-se a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento; III – o aprimoramento do educando como pessoa humana; IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos (PPP, 2000, p.4).

A Escola procura utilizar a metodologia Libertadora, visando buscar a interatividade entre professor-aluno, e apresenta uma proposta pedagógica em que os conteúdos sejam desenvolvidos de maneira interdisciplinar, sob forma de componentes curriculares.

1.1.3. Avaliação No Colégio A. J. Renner, a avaliação é parte do processo da prática pedagógica, e cabe ao professor acompanhar e respeitar a linha de pensamento, as habilidades e o conhecimento que o aluno traz consigo, a fim de avaliar justamente. A avaliação se dá por meio de somatória de notas. Segundo a supervisora Viviane, a escola usa a avaliação trimestral, onde o 1° e o 2° trimestre vale no máximo trinta pontos cada um, e o 3° vale quarenta no máximo. E, para que o aluno seja aprovado é necessário que no final do ano letivo ele atinja na soma dos três trimestres, no mínimo sessenta. O conselho de classe, realizado trimestralmente, é formado pelos professores, alunos representantes e pela direção.

1.1.4. Ensino de Artes A professora de Artes, Aparecida Altair Ferreira de Oliveira, Pós-graduada em Arte-educação e Metodologia de Ensino, na Uni Montes, em Montes Claros, Minas Gerais, fala que: “A disciplina de Artes na escola A.J. Renner é muito trabalhada e procura-se integrá-la em projetos. Temos ainda algumas dificuldades no sentido de que muitos alunos


19 ainda não reconhecem a importância da disciplina. Os colegas da direção e professores nos apóiam bastante e nos ajudam quando necessário. É possível fazer bons trabalhos. Uma dificuldade é que os alunos não trazem materiais e às vezes é preciso pressionar um pouco.” Em relação às suas aulas, ela tenta trabalhar interdisciplinarmente com a História e diz que o objetivo geral da sua disciplina é desenvolver o conhecimento do aluno para que ele possa se expressar artisticamente. Quanto à avaliação, ela explica que antes da realização das atividades, sempre coloca claramente os objetivos para os alunos, e após os trabalhos concluídos, que podem levar várias aulas, ela faz a avaliação em conjunto com a turma. Nesta conversa com o grupo, eles verificam se os objetivos foram ou não cumpridos, o que os faz pensar nos critérios préestabelecidos. A partir dessa reflexão a nota é formulada.

1.2. OBERVAÇÕES SILENCIOSAS DO ENSINO MÉDIO 1.2.1. Primeira e Segunda Observações Silenciosas Data: 12/08/2010 Série: 1° ano do Ensino Médio Duração: Dois períodos de 50 min. Número de alunos: 30 alunos Alunos presentes: 10 Antes de iniciar a observação fiquei alguns instantes na sala de professores conversando com a professora Aparecida. A professora comentou que, quando pretende fazer um trabalho diferente com os alunos, ela traz o material, porque somente dois ou três alunos costumam trazer o que foi solicitado. Segundo a professora, isso ocorre porque a maioria de seus alunos trabalham durante o dia e estudam à noite. Muitos saem do serviço e vão direto para a escola, ficando assim praticamente inviável levar os materiais solicitados para a aula. Isso me despertou curiosidade para saber quais seriam os materiais utilizados nestas aulas de artes com a turma em questão. Comentou também que fazia cerca de três aulas que ela não estava mais trabalhando com projetos. O último que havia desenvolvido com a turma seria sobre a Copa do Mundo. A professora disse que acha necessário também trabalhar outros assuntos mais


20 livres para os alunos não enjoarem as aulas. A conversa estava muito boa, mas o sinal soou e então fomos para a sala. Neste dia iniciei as minhas observações com a turma do 1° ano do Ensino Médio. A professora, muito gentil, me apresentou para turma, explicando que eu observaria algumas aulas e que, no ano seguinte, desenvolveria um trabalho com a turma. A professora pediu para que cada aluno dissesse seu nome, assim eu poderia ir conhecendo a turma. Uma das alunas disse: “Por que não faz a chamada, daí ela vai vendo como nos chamamos”. Senti naquele momento que não estava sendo muito bem vinda. Mas o restante da turma concordou, então foram feitas as apresentações e a professora anotou os nomes dos alunos que estavam presentes na aula. Quando todos haviam se acalmado, a professora iniciou as atividades. As aulas de artes são realizadas nos dois últimos períodos da noite, segundo a professora, o horário não interfere nas suas aulas. Os alunos, em geral, são bem participativos. A professora explicou para a turma que cada um tem seu o jeito de desenhar, seus traços e que nas artes não existe uma verdade absoluta para as coisas. Segundo ela é necessário que os alunos conheçam algumas técnicas para futuramente criarem livremente. A professora distribuiu uma folha fotocopiada com exercícios sobre textura para desenvolver o traço, linha e a sombra. Nessa folha há várias coisas desenhadas como árvores, nuvens, capins, coqueiros etc. Ao lado de cada desenho há o mesmo desenho sem as linhas, sem sombras, ou seja, sem os traços principais. A proposta da professora é que os alunos completem o que falta seguindo o exemplo que está na folha. Nesse momento, a professora deixou bem claro que devem soltar o traço com caneta ou lápis, mas que devem fazer de sua maneira, pois o que está propondo não é uma cópia perfeita do desenho que deu como exemplo. Nesse momento percebi que os alunos só traziam o estojo com caneta, lápis, borracha e o caderno da disciplina que iriam estudar naquela noite. A professora perguntou se alguém tem lápis de cor e todos se calam. Quando me deparei com isso fiquei extremamente preocupada, percebi que estes alunos precisavam trabalhar com outros materiais mesmo que isso me custasse caro. A atividade foi realizada com o material que cada um tinha. A professora auxiliava cada aluno individualmente. Os alunos conversavam entre si durante a atividade. Os resultados do exercício foram surpreendentes: cada um conseguiu desenvolver seu próprio traço. Conforme terminaram o trabalho, mostraram à professora e a mim também. Eles estavam satisfeitos com os resultados. Isso era perceptível pelos seus entusiasmos: mostravam seus trabalhos aos colegas, fazendo comparações entre os exercícios.


21 A professora pediu então que eles identificassem os trabalhos e os entregassem. Solicitou também para que, se possível, exercitassem o traço em casa. O sinal soou, os alunos organizaram seus lugares e saíram calmamente da sala.

1.2.2. Terceira e Quarta Observações Silenciosas Data: 19/08/2010 Série: 1° ano do Ensino Médio Duração: Dois períodos de 50 min. Número de alunos: 30 alunos Alunos presentes: 16 Ao chegarmos à sala de aula, a professora me apresentou novamente aos alunos, porque alguns alunos ainda não me conheciam. Estavam bem tranqüilos, receberam-me muito bem. Logo no início, a professora distribuiu aos alunos uma folha fotocopiada com o desenho de dois barcos, alguns dispostos no centro da folha, outros no lado, ou seja, em lugares alternados. A proposta da atividade era aplicar os traços que foram exercitados na semana passada. Além disso, cada aluno deveria continuar o desenho conforme a sua criatividade. A professora comentou com a turma que deveria utilizar traços variados para terem um resultado bem bonito. Uma das alunas mostrou seu trabalho para a professora questionando-a, pois encontrara dificuldades na realização da atividade. A professora, sempre muito atenciosa, argumentou sobre alguns erros que a aluna poderia solucionar. A professora disse para a aluna que ela deveria soltar a mão, que seus traços poderiam ser mais livres, assim conseguiria chegar a outro resultado. Em seguida, a professora pediu para a aula pegar uma folha e treinar os traços de maneira bem livre sem pensar no desenho em si. Percebi que os alunos, em geral, têm medo de “fazer feio”, como dizem o tempo todo. A maioria ainda tem em mente o desenho estereotipado e não se sentem a vontade em criar da sua própria maneira. O medo da criação da inovação faz com se travem na hora das atividades.


22 Quando a professora percebe que os alunos estão com medo de arriscar, contou uma história de sua infância a eles. “Quando eu era pequena, deveria ter uns oito anos, subi em uma goiabeira para colher uma goiaba. Porém, percebi que a goiaba mais bonita estava em um galho que nunca tinha ido antes, mas arrisquei e fui apanhar a goiaba. Ao descer, me deu um medo tão grande que não consegui mais sair do lugar. Foi quando, em prantos, gritei para minha mãe: Por favor, estou com medo de voltar, me dê uma escada para eu descer daqui. Minha mãe calmamente me falou: Assim como não tivestes medo de ir até aí, não deverás ter medo de sair daí. O obstáculo é o mesmo, não deves ter medo e não colocarei escada nenhuma para você descer. Pense em uma maneira de sair daí sozinha. Naquele momento bateu um desespero tão grande, que fiquei horas chorando em cima daquele galho. Foi então que percebi que deveria descer e que minha mãe estava certa. Se tinha dado certo ir sozinha até o galho, daria certo descer dele. Então desci”. Após contar essa história, a professora comentou que não devemos que ter medo das coisas. Devemos enfrentá-las. Assim é na escola; não podemos ter medo do novo, de arriscar, de fazer diferente. “Quero que ousem como eu ousei, pois não colocarei a escada para vocês descerem.” A professora comentou que depois daquele dia nunca mais teve medo de nada, que arrisca tudo e que não vê mais obstáculos em seu caminho. Adorei a história que a professora contou para os alunos. Isso, com certeza, mexeu com a turma em geral. Depois disso, a turma ficou mais empolgada. Então a professora, aproveitando a empolgação da turma, pediu que perdessem o medo e que fizessem um desenho utilizando os traços trabalhados em aula. Deu o sinal e os alunos não tinham acabado. A professora pediu que eles acabassem a atividade em casa e que trouxessem na próxima aula. Nessa aula os alunos usaram caneta preta para realizar todas as atividades.


23

1.2.3. Quinta e Sexta Observações Silenciosas Data: 26/08/2010 Série: 1º ano do Ensino Médio Duração: Dois períodos de 50 min. Número de alunos: 30 alunos Alunos presentes: 12 Os alunos entram na sala bem agitados. A professora pediu silêncio para poder iniciar a aula. Eles então prestaram atenção no que a professora disse. A professora pediu para entregarem o desenho que ficou pendente (para ser terminado em casa). Apenas sete alunos haviam terminado o desenho, os demais não tinham trazido. Notei que a professora ficou um pouco chateada, comentando que deveriam levar mais a sério as aulas. Após recolher os trabalhos dos alunos e dar uma olhada nos resultados, a professora comentou que irão fazer uma atividade em que deverão ter uma noção espacial dentro da paisagem a ser criada. Então aplicou a técnica da paisagem por sorteio, onde cada aluno deverá pegar uma folha, caneta preta ou lápis e também todos os exercícios que fizeram utilizando traços variados. A professora escreveu o nome de quinze elementos como: árvore, pedra, montanha, coqueiro, água, nuvem, casa entre outros. A professora sorteou um elemento para cada aluno. Deverão desenhar na folha, utilizando os traços, textura, enfim tudo que haviam aprendido até a aula de hoje. A professora deixou claro que os alunos não deveriam se prender a detalhes, pois o tempo para desenharem é de apenas um minuto por elemento. Assim foi, até que os alunos tinham quinze elementos desenhados na folha. Os alunos ficaram inicialmente apavorados, mas, aos poucos, foram pegando gosto pela atividade. Foi uma atividade que gerou vários questionamentos, como: “Como vou relacionar pedra com mar? Como fazer duas árvores no mesmo desenho? Como vou conseguir desenhar em tão pouco tempo?” A professora, nesse momento, dizia para eles tentarem resolver as situações como sabiam. Após o término da atividade, a professora colocou todos os trabalhos sobre a sua mesa e juntos foram debatendo sobre os erros cometidos, os acertos, como resolver as


24 questões de espaço, perto e longe, textura, traços e, principalmente, a perspectiva dos elementos no desenho. Foi um momento bastante importante, pois ao verem os desenhos prontos começaram a perceber que poderiam ter feito de outra maneira, como o do colega ou então com as dicas que a professora ia dando. Após essa atividade, a professora disse para turma que eu havia trazido algumas perguntas sobre as aulas de Artes e que deveriam ser respondidas e entregues até o final da aula. Os alunos responderam o questionário e foram me entregando. Uma aluna perguntou se eu iria voltar para dar aula para turma. Então aproveitei a pergunta e agradeci à turma pelos momentos de observação e comentei que faria meu estágio no início do ano com eles. Eles aparentemente gostaram. Agradeci também a professora por ter me dado espaço para observar suas aulas. Deu o sinal e então fomos embora.

1.3. ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES SILENCIOSAS DO ENSINO MÉDIO As observações silenciosas no Ensino Médio ocorreram em uma turma de 1º ano. A professora titular se chama Aparecida Altair Ferreira de Oliveira e é formada em Licenciatura Plena em Artes Plásticas e pós em Metodologia do Ensino e Arte Educação. Desde a primeira aula em que observei a turma, fiquei um pouco decepcionada com a quantidade de alunos que freqüentavam a aula. A turma era composta por 30 alunos e, em todas as observações compareceram em média a metade deles. A professora comentou que muitos realizam a matrícula no início do ano porque são cobrados a estudar pela empresa onde estão a serviço, após, não comparecem mais nas aulas. Isso não preocupava muito a professora, percebi que ela estava acostumada com essa situação e não deixava que isso atrapalhasse suas aulas. Segundo ela, é melhor ter 15 alunos com vontade de aprender, do que uma sala cheia de alunos sem interesse algum. A professora costuma trabalhar partindo de técnicas, ela diz que o aluno deve partir das mesmas para depois produzir da sua própria maneira.


25 A professora, através de exercícios, faz com que os alunos, aos poucos, descubram a melhor maneira de resolver determinadas atividades. Ela estimula seus alunos a se expressarem livremente, sem medo de errar. A turma, em geral, embora muito participativa precisa perder esse medo. Tal medo faz com que eles se travem na hora de produzir, que copiem uns dos outros e que muitas vezes, não se sintam capazes de realizar determinadas atividades. A professora reconhece essa insegurança dos alunos em relação à liberdade de expressão, tanto que questiona com eles o tempo todo: devem soltar o traço, deixar a mão livre, mais solta. Não devem copiar as técnicas e sim tentar produzir da sua própria maneira. Muitas vezes o aprendiz ainda não viveu situações positivas de aprendizagem em arte, e talvez tenha dificuldades em explorar e comunicar idéias de pensamentos/ sentimentos, pode ter aprendido apenas a seguir a lição de outros. Silenciado de seu próprio pensar/ sentir, repetidor do pensamento de outro, esse aprendiz terá de ser envolvido na rede da linguagem da arte por outros caminhos. É preciso abrir espaço para que possa desvelar o que pensa, sente e sabe, ampliando sua percepção para uma compreensão do mundo mais rica e significativa. Desvelar/ ampliar e propor desafios estéticos são como porção mágica, pó de pirlim-pimpim, na possível experimentação lúdica e cognitiva, sensível e afetiva do poetizar, do fruir e do conhecer arte (MARTINS, PICOSQUE, GUERRA, 1998, p. 130).

A professora, com certeza, propõe desafios que levam seus alunos a pensarem e refletirem sobre suas atitudes e práticas nas aulas de Artes. A meu ver, o que faltou com os alunos desta turma, foi um reconhecimento da disciplina de Artes desde os primeiros anos na escola. O que, conseqüentemente, causa estranhamento em relação ao novo e a liberdade de expressão nas aulas dadas pela professora Aparecida. Outro aspecto que me chamou atenção foi em relação aos materiais. Em todas as atividades desenvolvidas durante as observações, usaram somente lápis e caneta preta. Segundo a professora, os alunos não trazem os materiais solicitados, então produzem com os que têm. Isso fez com que eu pensasse sobre meu estágio com a turma, onde devo trabalhar com materiais diversos, com variações de desenhos, para então criarem gosto por outros elementos da Arte.


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1.4. ANÁLISE DA ENTREVISTA COM A PROFESSORA DO ENSINO MÉDIO A professora Aparecida é formada em Artes Plásticas e pós graduada em Metodologia do Ensino e Arte Educação. É uma professora muito dedicada e procura além da sua formação buscar novos conhecimentos, através de cursos, seminários, visitas a museus e viagens. Ela respondeu um questionário com nove perguntas, com as quais procurei investigar um pouco mais sobre as metodologias usadas e também a forma como ela entende o ensino das Artes e como ele se dá na escola. As respostas da professora foram bem claras, utiliza-se de todos os recursos que a escola disponibiliza, trabalha com projetos de forma interdisciplinar. Segundo ela, a variedade de conteúdos entre as disciplinas pode enriquecer um projeto, construindo assim, um trabalho prazeroso para todos que fazem parte do contexto escolar. É vista na escola como a professora das inovações, pois, faz exposições dos trabalhos dos alunos, instalações artísticas, o que não era muito comum na escola antes da sua chegada. Acredita na importância das imagens nas aulas de Artes. Os alunos mantêm contato com elas, através de pesquisas na internet, vídeo, apreciações estéticas. Utiliza data show e retroprojetor como recursos para mostrar obras de artistas e outras imagens que acredita ser importante para o conteúdo trabalhado. Na pergunta sobre as experiências positivas e negativas em sua prática docente, ela comenta sobre o sucesso que foi o projeto de Arte Contemporânea realizada com a turma do 3° ano do Ensino Médio. Quanto às experiências negativas, cita a grande preocupação em relação aos alunos não trazer os materiais solicitados para as aulas de Artes. A professora comenta, em uma de nossas conversas, sobre a importância de avaliar as produções dos alunos nas aulas de Artes. Segundo ela, apesar da Arte ser “livre” existem alguns elementos que o aluno deve conhecer e desenvolver, para assim conseguir um resultado significativo tanto para ele, quanto para professor. Para Martins (1998, p.178) “É importante criar momentos para a avaliação, como forma de retomar o que acabamos de fazer. Através deles, conversaremos sobre o que aprendemos, avaliando o que foi ou não significativo, sintetizando a nossa apropriação do conhecimento”. Com base no que afirma o autor acima, podemos pensar na nossa prática pedagógica, tornando as aulas de Artes mais significativas, dando importância as descobertas


27 e conquistas de cada aluno, pois é valorizando, muitas vezes, pequenos aspectos, que conseguimos a confiança e a valorização da disciplina de Artes no meio escolar.

1.5. ANÁLISE DA ENTREVISTA DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO Analisando as entrevistas dos alunos do Ensino Médio pude perceber que a maioria deles está satisfeitos com as aulas dadas pela professora Aparecida. Isso fica claro com a resposta de uma das alunas: “Agora o que estou aprendendo e fazendo, me deixa satisfeita, gosto disso, talvez mais para frente queira aprender algo novo”. Outro aspecto que me chamou atenção foi que 10 entre 12 alunos, preferem aulas práticas. Achei um número bem grande, já que não trazem os materiais solicitados para as aulas práticas. Percebi que muitos alunos têm a preocupação em saber desenhar e aprender novas técnicas de desenhos. Essa visão no mundo das Artes é bem comum. Para muitos, para ser um artista ou um professor de Artes, têm que saber desenhar. Um dos alunos me questionou quando estava recolhendo os questionários: “Ô professora, a senhora deve desenhar super bem” então perguntei a ele: “Porque acha que devo desenho bem?” Ele disse: “Ué, a senhora não vai ser professora de Artes, daí tem que saber desenhar”. A professora titular pediu licença para responder essa pergunta, questionando o aluno sobre essa questão: a Arte não é só desenho, nem todos temos as mesmas habilidades. Muitas vezes temos facilidades com determinadas coisas e dificuldades com outras. A Arte é uma liberdade que temos de nos expressar e cada um de nós é livre para se expressar como quiser. Arte e seu ensino não é apenas uma questão, mas muitas questões; não um problema, mas inúmeros desafios, tensão instalando estados de tensividade entre olhares, buscas e encontros aprofundados, pois Arte é conhecimento a ser construído incessantemente (BARBOSA, 2007, p.47).

Com base na autora e na resposta dada pela professora, nota-se ainda a necessidade de se construir outra idéia sobre Arte. A meu ver, os alunos, em geral, não tiveram antecedentes positivos sobre a importância da disciplina de Artes. Recebiam muitos trabalhos prontos, apenas para pintar e, na maioria das vezes, faziam desenho livre. Percebi também um grande interesse em trabalharem com outros materiais como: lápis de cor, tintas, canetinhas. Acredito que a falta de materiais, faz com que não trabalhem


28 muito com cores nas aulas de Artes. E essa será a minha grande missão com a turma durante o meu estágio. Fazer a diferença é algo muito simples: é resgatar idéias, é buscar novas alternativas para resolver problemas antigos, basta que sejamos verdadeiros com nós mesmos e criar um plano de ensino no qual acreditamos verdadeiramente que pode e vai dar certo!


Capítulo 2 2. DESENHO: A CADA OLHAR, MUITAS POSSIBILIDADES.


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2.1. EDUCANDO O OLHAR As imagens estão em nossas vidas, fazendo parte do nosso dia-a-dia. É uma forma de reconhecimento do mundo que nos cerca. Elas fazem parte da nossa história e, muitas vezes, de maneira tão mecânica que passam despercebidas aos nossos olhos, deixando de atingir o objetivo pela qual ela foi criada. Vista dessa maneira, freqüentemente as pessoas e, em especial os jovens, refletem pouco sobre o que vêem, pois são tantas imagens convidando a serem olhadas que são vistas rapidamente e sem compromisso. Para Violet Oaklander (apud FUSARI e FERRAZ, 1999, p. 58): [...] nós olhamos muito; olhamos através de lentes, telescópios, tubos de televisão... O nosso olhar torna-se aperfeiçoado dia a dia, mas nós vemos cada vez menos. Nunca foi tão urgente falar sobre ver. Cada vez mais os aparelhos e objetos, de câmeras a computadores, de livros de arte e vídeos-teipe, conspiram para assumir o controle de o nosso pensar, do nosso sentir, do nosso experimentar, do nosso ver. Nós simplesmente assistimos, somos espectadores... Somos “sujeitos” que olham “objetos”. Rapidamente colocamos rótulos em tudo que existe, rótulos que são grudados uma vez para sempre. Através destes rótulos reconhecemos tudo, mas não vemos mais nada. Conhecemos os rótulos em todas as garrafas, mas não provamos nunca o vinho. Milhões de pessoas, sem o prazer de ver, zunem pela vida em seu semi-sono, batendo, chutando e matando o que mal conseguiram perceber. Eles jamais aprenderam a ver, ou esqueceram que o homem tem olhos para ver, para experimentar.

A interpretação da realidade é sempre modificada pelo ponto de vista do observador. Cada pessoa vê o que realmente lhe é pertinente. Muitas vezes passamos uma vida inteira pelo mesmo caminho e não percebemos as coisas que nele estão. Rotulamos as coisas e não as observamos mais, como se elas tivessem um único e imutável significado. Vivemos cercados de imagens como as de outdoor, placas de sinalização, jornais, revistas etc. Todas as imagens foram construídas para dizer algo. Através de um desenho ali representado por diferentes pessoas, podemos perceber que a imagem pode falar por si própria e com um olhar mais atento, com certeza, conseguimos decifrar o que cada uma quer dizer. Os diferentes modos de ver são construídos na relação do homem com o meio natural e social. Envolvem as diferentes potencialidades do ser humano de percepção, imaginação, observação e sensibilidade que contribuem para a construção de conhecimentos. Garcez e Oliveira (2006, p.26) ressaltam que um fator que freqüentemente dirige a observação é o nosso interesse especial, o nosso ponto de vista às vezes determinado pela profissão.


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Fonte: OLIVEIRA, Jô; GARCEZ, Lucília. Explicando a arte: uma iniciação para entender e apreciar as artes visuais, 2006, p.26.

Existe uma necessidade de educarmos nossos olhares, de modo que as imagens não sejam apenas imagens, mas uma narrativa do mundo, onde somos capazes de expressar nossos sentimentos e refletir sobre elas. A educação do olhar deve acontecer de forma natural e instintiva, mas deve também ser instigada, estimulada e intensa. As imagens aparecem frente aos olhos muitas vezes despertando o olhar, causando inquietações, levando o indivíduo a buscar respostas sobre códigos visuais. Com base nisso, podemos desenvolver a capacidade de compreensão, diante deste universo de imagens através da disciplina de Artes. Com a leitura de imagens, podemos desenvolver a capacidade de ver, sentir, olhar, aguçar a percepção, a descoberta, enfim, podemos encontrar na leitura de imagens elementos que ampliem nosso repertório visual, trazendo sentido e significado as nossas aprendizagens. Todas as imagens são importantes, independente se são obras de Arte ou não, é importante realizarmos leituras de imagens que sejam significativas, tendo como objetivo


32 principal a ampliação dos olhares sobre outras culturas, outros valores e sobre os elementos da própria natureza. Barbosa diz que o mundo cotidiano esta sendo dominado pela imagem e que: Temos que alfabetizar para a leitura da imagem. Através da leitura das obras de artes plásticas estaremos preparando a criança para a decodificação da gramática visual, da imagem fixa e, através da leitura do cinema e da televisão, a prepararemos para aprender à gramática da imagem em movimento (2005, p. 34).

As obras de Maurits Cornelis Escher (1898-1972) ajudam a trabalhar com a educação do olhar de forma lúdica.

Outro mundo I, gravura à maneira negra, 1946. Fonte: ERNST, Bruno, O espelho mágico de M.C. Escher, 1998, p.46.

Na figura apresentada, Escher mostra de diferentes ângulos, em um mesmo desenho, uma espécie de pássaro com cabeça de homem. Por meio desse desenho, podemos entender que há várias formas de olhar esse pássaro-homem, e que, a cada vez que é lançado um olhar diferente, o vemos de outro ângulo: ora por cima, ora por baixo, ora da direita para a esquerda, ora da esquerda para a direita. De qualquer forma, ele nos mostra que não há uma


33 única forma de olhar esse pássaro-homem, pois vários podem ser os pontos de vista. O mesmo ocorre com um fato ou um acontecimento, pode-se observá-lo de diferentes ângulos. As obras do artista Escher são exemplos de que desenhar é muito mais do que representar objetos e idéias por meio de linhas. É imaginar um mundo todo nosso e ao mesmo tempo fazer com que outras pessoas participem dele. Seus desenhos aguçam a nossa percepção para um maior entendimento de um todo. No seu trabalho, é nítida a sua observação afiada do mundo que nos rodeia e as expressões de suas próprias fantasias. Escher foi um dos artistas gráficos mais famosos do mundo. É reconhecido pelos seus traços inconfundíveis e pelas suas chamadas estruturas impossíveis contidas nas impressões de seus desenhos. Escher dedicou sua vida à gravura desenhando composições cheias de surpresas visuais.

2.2. O DESENHO COMO REGISTRO VISUAL DAS IMAGENS O desenho foi a primeira manifestação do ser humano para comunicar-se, pois, antes mesmo da escrita, já existiam desenhos. O desenho é o registro visual das imagens que vemos e imaginamos. O desenho nasce de uma visão e, conforme o ponto de vista de cada um transforma-se em um pensamento revelando um conceito. Para Derdyk (1989), o desenho possui uma natureza específica, comunicando-se por meio de suas formas e expressando a idéia transmitida. Para que isso aconteça devemos usar mais alguns aliados que servem de suporte como: papel, cartolina, lousa, muro etc., e, ao mesmo tempo, determinados instrumentos: lápis, giz, pincel, caneta etc. Existem muitos elementos pelos quais o desenho nos mostra inúmeras possibilidades. Podemos ressaltar como exemplo, o ponto, a linha, textura etc, mas também devemos ressaltar suas manifestações através de riscos, pegadas, impressões digitais etc. Os desenhos podem ser criados ou projetados. Mas desenhar não é somente copiar formas, figuras, devem-se estudar o seu total para revelarmos o seu conteúdo. Desenhar envolve conhecimento. O desenho nos leva a explorar diferentes caminhos e outras aventuras. É por isso que um desenho não pode ser visto como cópia ou imitação da realidade. Na pedagogia tradicional a cópia era muito valorizada. O professor apresentava modelos e a criança deveria copiar, exercitando a técnica, adaptando-se a regras e cânones presentes. "Nas aulas de Arte das escolas brasileiras, a tendência tradicional está presente desde o século XIX, quando predominava uma teoria estética mimética, isto é, mais ligada às


34 cópias do natural e com a apresentação de modelos para os alunos imitarem" (FERRAZ e FUSARI, 1993, p. 23). As práticas tradicionais de aprendizagem de desenho através de reprodução mecânica de imagens, ou seja, de memorização de modelos através de repetição mecânica, produzem desenhistas medíocres, dependentes de esquemas estereotipados, heterônomos e reprodutores de modelos alheios (CAVALCANTI, 1995, p. 8).

Com o passar dos anos o ensino de arte passou a ser direcionado para a livre expressão. Assim o professor deveria criar situações para que os alunos pudessem expressarse de forma espontânea, valorizando a sua criatividade. A criatividade tem reflexo no próprio desenho através da liberdade de expressão. Com base nisso, desde criança devemos ser incentivados e estimulados a criar livremente, desenvolvendo potencialidades, para que consigamos expor nossos próprios conceitos e sentimentos sobre o que foi observado. Através do desenho podemos retratar um sentimento ou, até mesmo, um código para registrar um determinado conceito. Abaixo segue os elementos que compõem a linguagem gráfica:

2.2.1. Ponto O ponto é o início de qualquer desenho. Para Jô Oliveira e Lucília Garcez, (2006, p. 49), Um ponto numa página em branco parece pouco, mas é muito diferenciador de uma página em branco. A utilização do ponto como marca gráfica é infinita. É o sinal gráfico mínimo e elementar. Caracteriza-se por uma localização em um espaço. Quando os pontos são multiplicados, seu poder de expressão e de comunicação amplia-se. Disposição, distanciamento, quantidade e cor também influem no efeito dos pontos sobre a superfície. Eles podem criar idéias, comunicar sensações, dar idéia de movimento, ritmo, luz, sombra, volume, atmosfera. Quando colocados em fila, por exemplo, criam a idéia de linha.


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Fonte: OLIVEIRA, Jô; GARCEZ, Lucília. Explicando a arte: uma iniciação para entender e apreciar as Artes Visuais, 2006, p.49.

2.2.2. Linha A linha é considerada o elemento básico de todo grafismo e também a mais usada. Para Derdyk (1989), quando o ponto sai do repouso, passeia pelo papel vislumbrando, dele mesmo, uma memória do trajeto: eis a linha. Com base nisso podemos dizer que a linha é formada pela união de vários pontos em sucessão, como a trajetória seguida de um ponto em movimento. Ainda para Derdyk, a linha é o depósito gráfico da pulsão, do ritmo, do movimento, da ação motora, revelando no papel pontos, traços, manchas, resultantes da interação mão/gesto/instrumento. Em seu livro Formas de Pensar o Desenho, Derdyk comenta que nos desenhos de Paul Klee, a linha assume total autonomia, a linha não se esforça em representar, referenciar o mundo visível e material figurando seres, animais, objetos. A linha simplesmente é.

Paul Klee, 1938. Fonte: DERDYK, Edith, Formas de Pensar o Desenho, 1989, p.148


36 Já nos desenhos de Steinberg, também citado por Derdyk, o uso das linhas é feito para dar idéias, conceitos, pensamentos, transformando os desenhos em verdadeiros enigmas visuais. A linha assume inusitadas funções, estilos e significados e os desenhos são ficções que acabam se tornado realidade. Assim a linha acaba tornando-se porta-voz do desenho. Steinberg trabalha em seus desenhos a troca entre o verbal e o visual e as palavras se comportam como personagem dentro dos seus desenhos.

Steinberg, 1965. Fonte: DERDYK, Edith, Formas de Pensar o Desenho, 1989, p.158.

2.2.3. Proporção A proporção tem a ver com o tamanho de um elemento no desenho em relação com outro elemento do mesmo desenho. Betty Edwards (2003) explica em seu livro Desenhando com o lado direito do cérebro, que todo desenho envolve proporção, para ela a proporção é importante mesmo que o estilo da obra seja realista, abstrato ou não-identificável. O desenho realista faz com que treinamos nosso olhar para ver as coisas como elas são em proporções relacionais. Betty mostra uma vista completa da proporção da cabeça humana.


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Fonte: EDWARDS, Betty, Desenhando com o lado direito do cérebro, 2003, p.232.

2.2.4. Perspectiva Enquadramento no papel O tamanho do desenho em relação ao papel deve ser apropriado. Escolha o formato “paisagem ou retrato” que melhor se ajuste ao modelo a ser desenhado (vertical ou horizontal?). A centralização do desenho no papel também é muito importante.

Linha do Horizonte - LH Todo desenho deve ter uma linha do horizonte pensada ou aparente. A linha do horizonte define o ponto de vista do observador (altura dos olhos). Em desenho de perspectiva, a LH é fundamental. Pontos de Fuga - PF O desenho em perspectiva pode ter 1 ponto, 2 pontos, 3 pontos (sendo um vertical) ou múltiplos pontos. Estes pontos devem estar localizados na linha do horizonte, na grande maioria das vezes. Linhas paralelas no mundo real devem concorrer para o mesmo ponto de fuga no seu desenho. Luz e Sombra O nosso olho percebe fundamentalmente a luz (e por conseqüência as sombras que a luz projeta). A luz e sombra (ou claroescuro) são fundamentais para a beleza e volumetria desejada no desenho.


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Textura O mundo real é feito de texturas. O desenho a lápis exige um tratamento gráfico de superfície e planos. A textura deve ser trabalhada para tornar o desenho mais elegante e pode enfatizar a perspectiva.

Verticalidade As linhas verticais do mundo real devem ser verticais no seu desenho. Use a margem vertical do papel como referência (com exceção dos desenhos com ponto de fuga vertical.

Proporção Aspecto essencial no desenho, saber observar as proporções daquilo que se desenha. Um cubo, por exemplo, tem a proporção de 1; 1; 1. Ou seja, ao desenhar o cubo, ele deveria parecer ter as faces iguais (respeitando logicamente a ilusão da profundidade, que faz com que arestas mais afastadas parecerem menores do que as que estão mais perto de você)

Profundidade O desenho deve apresentar profundidade de campo na perspectiva. Pontos de fuga, textura, luz e sombra são formas de se obter profundidade no desenho. Lembre-se de que objetos idênticos parecem diminuir de tamanho à medida que se afastam do seu olho de observador.

REGRAS IMPORTANTES NO DESENHO DE OBSERVAÇÃO - INTRODUÇÃO A PERPECTIVA Fonte: http://www.pedagogiaespirita.org/escola_virtual/artesplasticas/desenho_ observacao.htm


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2.3. O DESENHO COMO UMA FORMA DE EXPRESSÃO INDEPENDENTE A preocupação com o “aprender a desenhar” caminha por todas as fases da vida. Muitos dizem serem incapazes de desenhar. Isso acontece porque não fomos educados a observar, a memorizar e a criar. Com base nisso podemos então citar três maneiras de desenhar: Desenho de observação - que é a representação que fazemos do que vemos à nossa volta, onde exercitamos o nosso olhar. Um olhar mais atento para o que desejamos desenhar. É o desenho que possui características semelhantes ao objeto real, com textura, linha, cor etc. O desenho de observação faz com que o indivíduo observe detalhes e coisas que antes não eram percebidas. Ao desenhar por observação, somos obrigados a fazer escolhas, desde a escolha do próprio assunto, até o tamanho da imagem e a maneira de interpretar. Isso desenvolve a capacidade crítica e reflexiva do ser humano. Se nos primeiros desenhos fossemos instigados a observar um objeto antes de desenharmos, com certeza a nossa percepção das imagens visuais seriam outras. Não seria difícil perceber que uma árvore, por exemplo, tem galhos, tem folhas, tem caule, e que cada um desses elementos possui características particulares como: linhas, textura, volume, entre outros. Desenho da memória - se dá através da representação dos elementos que estão armazenados na memória e que já foram visualizados em outro momento. Esse desenho já possui traços pessoais dados pela pessoa que o desenha, pois nem tudo que visualizamos fica guardado na memória, então se cria elementos no desenho que são característicos de cada pessoa. Abaixo um exemplo de como Magritte utilizou sua memória para representar a partir da observação de um ovo.


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Perspicácia (1936) – René Magritte Fonte: http://renemagritte.com.br/obras-de-rene-magritte-2/

René Magritte nessa obra transmite a idéia do processo mental. Nesse caso o ovo que seria o elemento observado, serviu apenas como estímulo para a criação do artista que utilizou da memória para fazer o pássaro. Desenho da criação - é aquele que usamos a imaginação, a criatividade. É o desenho que se liberta que faz com que a pessoa consiga transpor no papel a sua própria identidade. É a criação própria de quem desenha. Refletir sobre a função da imaginação criadora na vida do homem é captar uma das funções centrais das produções da Arte e da Ciência. É também remeter-se a importantes questões dos processos mentais humanos provocadores de ações, produto da relação direta do homem com o mundo. É buscar compreender como os processos criativos transformam a humanidade (BOURO, 2003, pg. 80).

Criação a partir do desenho Fonte: http://brogui.mtv.uol.com.br/tag/desenhos/page/2/


41 Esse trabalho de Ben Heine integra o desenho e a imagem fazendo a gente pensar no desenho e na imagem como ferramentas de criação. Aqui o desenho é imaginação pura, espaço em branco onde tudo é possível, onde existem outras realidades, belezas e significações. Com base no exemplo acima, podemos perceber que o desenho vai além de sua compreensão como um trabalho bidimensional. Conforme a obra e a presença dos elementos que são próprios dele, um objeto tridimensional pode ser concebido na perspectiva de desenho. Portanto, o desenho deixa o espaço bidimensional da folha de papel e surge de inúmeras outras maneiras. Para Escher, desenho é ilusão. O desenho procura mostrar na superfície bidimensional, algo que é tridimensional. Escher, em suas obras cria gravuras que fazem com que um determinado ser assuma, simultaneamente, a forma bidimensional e tridimensional. Abaixo segue uma de suas obras que exemplificará bem essa mistura.

“Desenhar”, litografia, 1948. Fonte: ERNST, Bruno, O espelho mágico de M.C. Escher, p.26, 1998. Quando uma mão desenha outra mão e quando esta segunda mão se ocupa, ao mesmo tempo, a desenhar zelosamente a primeira mão e quando tudo isto é representado num bocado de papel preso com tachas a uma prancha... e então quando tudo isto, ainda por cima, é desenhado, podemos com certeza falar de uma espécie de super ilusão. O desenho é, na verdade, ilusão: Estávamos convencidos de que olhávamos um mundo em três dimensões, enquanto um papel de desenho só é bidimensional. Escher viu isto como uma situação de conflito e procurou mostrá-lo exatamente num número de gravuras, como por exemplo na litografia desenhandose (ERNST, 1991, p. 26).


42 Mas o que deve acontecer para que um desenho bidimensional pareça tridimensional? O desenho, para parecer tridimensional, deve possuir altura, largura e profundidade, fazendo assim com que o desenho crie volume. Se o desenho possuir apenas altura e largura é bidimensional. Abaixo segue um exemplo simples que dará conta dessa explicação:

Bidimensionais

Tridimensional

Os desenhos bidimensionais são mais simples de serem feitos. Usam-se poucos traços e servem para comunicar algo simples, é aquele que simplifica a imagem e no primeiro olhar já se sabe o que é. Isso acontece nos dois triângulos à esquerda, onde com apenas três traços já pode ser identificado o desenho. Para o desenho parecer tridimensional, precisa-se de um estudo mais aprofundado, o número de linhas aumenta e geralmente o desenho torna-se mais rico por possuir muito mais elementos. Vemos na imagem à direita uma pirâmide. Podemos observar que é necessária cinco linhas e seis ângulos para caracterizar uma pirâmide, quase o dobro das informações necessárias para caracterizar um triângulo. O desenho também pode ser manifestado com o uso de outros suportes e outras ferramentas. Com a xilogravura, por exemplo, uma técnica da gravura, usa-se goivas para substituir o grafite e madeira para substituir a folha. A gravura difere o desenho na medida em que é produzida pensando na sua impressão e reprodução. Porém no que se trata do desenho, tem-se a liberdade de criar e ousar. Oswaldo Goeldi é um exemplo de artista que usa a técnica da gravura. Ele ampliou os seus recursos gráficos, tornando o seu desenho mais simples e mais plástico ao mesmo tempo, sem perder a densidade. Abaixo um exemplo de xilogravura feita pelo artista.


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GOELDI “Luar”, 1950, xilogravura, 21 x 27 cm. Fonte: NAVES, Goeldi, 1999, p. 64.

Com base nos exemplos citados acima, podemos perceber que o desenho hoje é muito mais do que um simples traço e um papel. Moraes nos mostra um parâmetro acerca de tantas

dimensões/concepções/definições/

possibilidades

para

o

desenho

na

contemporaneidade: O que é desenho, hoje? É tudo. Ou quase tudo. Qualquer coisa – linha, traço, rabisco, pincelada, borrão, corte, recorte, dobra, ponto, retícula, signos lingüísticos e matemáticos, logotipos, assinaturas, datas, dedicatórias, cartas, costura, bordado, rasgaduras, colagens, decalques, frotagens, formas carimbadas. Conquistadas a duras penas sua autonomia, caminha, agora, pelo inespecífico, absorvendo qualidades e características pictóricas, escultóricas, ambientais, performáticas. É madeira, pedra, ferro, plástico, xerox, fotografia, vídeo, projeto, design. É sulco, incisão, impressão, emulsão, cor e massa. É qualquer coisa feita com não importa que materiais, técnicas, instrumentos ou suportes (MORAES, 1995, p.2).

Então, não sejamos tolos em dizer que não sabemos desenhar. Se o desenho é tudo isso, é impossível que não saibamos desenvolver a nossa criatividade em algum desses conceitos. Basta tentar.

2.4. PORQUE EDUCARMOS NOSSO OLHAR PARA DESENHAR E CRIAR NAS AULAS DE ARTES VISUAIS? Iavelberg (1993) diz que a escola através de suas estruturas precisa favorecer o exercício da prática do desenho, quando promove uma visão de criança e de professor como sujeitos criadores de suas práticas, interpretes e autores dos objetivos sociais do conhecimento e de seus “objetos” de trabalho.


44 É de extrema importância criar situações que levem os alunos a terem um olhar mais atento, mais observador para as imagens que o cercam. Isso fará com que o aluno tenha maior facilidade em desenvolver sua criatividade, pois possuirá um repertório rico, mesmo que na memória, das imagens observadas. Para Jô Oliveira e Lucília Garcez (2006) “À medida que vamos educando a atenção e a observação, nossa capacidade de discriminar diferenças vai ficando mais refinada”. Quando o aluno passa a observar com maior intensidade as imagens, todo seu conhecimento gráfico vai enriquecendo. O desenho vai se modificando e aos poucos, vai adquirindo maior segurança frente à realização de seu trabalho. Tornado-se mais investigativo mais crítico e libertando-se do medo de errar ou de fazer feio que muitas vezes o acompanha. O papel principal do educador de Artes é: [...] seqüenciar atividades pedagógicas que ajudem o aluno a aprender a ver, olhar, ouvir, pegar, sentir, comparar os elementos da natureza e as diferentes obras artísticas e estéticas do mundo cultural, deve contribuir para o aperfeiçoamento do aluno (FERRAZ e FUSARI, 1999, p.21).

O aluno precisa conhecer formas alternativas para representar suas idéias e fazer uso de seu potencial criativo. O professor deve criar oportunidades que despertem em seus alunos o interesse pelo desenho, instrumentalizando para a percepção e para a criatividade. Com base nisso podemos dizer que o aluno, muitas vezes, não descobriu o seu potencial e suas habilidades artísticas porque não foi dado a ele oportunidades para se expor livremente. A Arte é uma arte de descobertas, de desafios e de novidades. Cabe a cada um de nós valorizarmos e usufruirmos dessa liberdade que ela nos proporciona. O professor e o aluno devem caminhar juntos para as descobertas. Quando o professor valoriza o conhecimento e a experiência dos seus alunos cria-se um vínculo de amizade e de confiança, e, a partir daí, o professor pode em seus planejamentos criar situações em que as aulas serão prazerosas tanto para ele quanto para os alunos, de modo que consigam no final resultados satisfatórios. Para Derdyk (1989), o desenho também é manifestação de inteligência e, enquanto houver crianças desenhando, construindo, inventando, haverá crianças inteligentes, sensíveis e indagadoras. Então é de extrema importância trabalhar o desenho na escola, não só nas aulas de Artes, mas em todas as disciplinas que compõe o currículo escolar.


Capítulo 3 3. PROJETO E PRÁTICA DE ENSINO EM ARTES VISUAIS.


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3.1. DADOS GERAIS DA ESCOLA E TURMA EM QUE FOI REALIZADA A PRÁTICA DO ENSINO MÉDIO Titulo do Projeto: Desenho:a cada olhar, muitas possibilidades. Curso: Artes Visuais – Licenciatura Professor Orientador: Dr. Celso Vitelli e Me. José Giuliano Acadêmica: Fernanda Nonnemacher Brenner Escola de Estágio: Colégio Estadual A. J. Renner Professora Titular: Aparecida Altair Ferreira de Oliveira Série de Atuação: 2º ano Número de Alunos: 34 Duração: hora/aula, um período de 50 minutos semanal. Turno: Noite

3.2. DADOS GERAIS DO PROJETO DE ENSINO 3.2.1. Tema O Projeto “Desenho: a cada olhar, muitas possibilidades” tem como tema central o desenho. Foi elaborado, levando em consideração as etapas de sondagem realizadas, através das observações e dos questionários aplicados com as turmas, onde o referido Projeto se desenvolveu, no Colégio Estadual A. J. Renner, no Município de Montenegro. O presente Projeto desenvolve questões importantes e que complementam o tema, tais como a educação do olhar, o desenho como registro visual das imagens e o desenho como forma de expressão independente. Com vistas a desenvolver tais questões, por meio da arte, pretende-se mostrar aos alunos as novas possibilidades do desenho, através da leitura das imagens de artistas, como Escher e Ben Heine, a partir de dinâmicas, metodologias diferenciadas e práticas desafiadoras.

3.2.2. Justificativa Durante todo o processo de observações, percebi que os alunos eram participativos e, principalmente, mostravam grande interesse pelas aulas de Artes. Esse entusiasmo e essa euforia que a turma, em geral, demonstrava por atividades “comuns”, me


47 fez pensar no quanto poderiam ir além, superando medos e derrubando barreiras que, muitas vezes, lhes impediam de ir adiante. Através dos questionários respondidos pela turma, pude perceber que havia um interesse grandioso em trabalhar com materiais e conteúdos diversificados. Em relação ao que gostariam de explorar mais nas aulas de Artes, surgiram respostas variadas, como artistas, pinturas, desenhos, dobraduras, gravuras, trabalhos com tinta, ou seja, estavam dispostos a aprender de tudo. Foi pensando em suprir essas necessidades, que optei em trabalhar com desenho no meu TC. Para Derdyk (1989, pg.19), “O Ato de desenhar impulsiona outras manifestações, que acontecem juntas, numa unidade indissolúvel, possibilitando uma grande caminhada pelo quintal do imaginário”, portanto é de fundamental importância oportunizar, aos alunos, vivências e experiências em situações prazerosas, mostrando que o desenho, além da sua marca expressiva, construída pelo seu autor, apresenta meios e procedimentos capazes de caracterizar a diversidade, possibilitando assim novos olhares. Diante desta perspectiva, acredito que um projeto que caminhe nesse sentido, que proporcione um ambiente de relacionamento significativo, em que as atividades não acontecem de forma inflexível, mas com o intuito de envolver os alunos, com práticas variadas, com certeza, fará toda a diferença. Diante do exposto, então, criei o projeto “Desenho: a cada olhar, muitas possibilidades”.

3.2.3. Conteúdos  Projeto educativo;  Desenho;  Linha, cor, textura, forma e volume.  Desenho de observação;  Artistas: Escher, Oswaldo Goeldi e Ben Heine;  Apreciação e leitura de obras de arte;  Xilogravura;  Gravura em isopor;  Figura humana;  Desenho bidimensional;  Criação tridimensional;  Exposição de Artes;


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3.2.4. Objetivos gerais  Possibilitar aulas em que o desenho possa ser manifestado de várias maneiras, desenvolvendo assim um novo olhar sobre a sua prática;  Compreender e utilizar o desenho como linguagem e modo de expressão, articulando a observação, a imaginação, a memória, a sensibilização e a reflexão para criar;  Construir uma relação de autoconfiança com a própria produção artística, aprendendo assim a respeitar seu trabalho e o de seus colegas, bem como saber receber e elaborar críticas;  Observar e construir um posicionamento crítico a respeito das obras de arte;

3.3. PRÁTICA DE ENSINO 3.3.1. Primeiro encontro Data: 14/03/2011. Conteúdos:  Projeto educativo;  Desenho; Objetivos:  Conhecer e integrar o grupo;  Verificar o conhecimento gráfico da turma a partir da dinâmica;  Sondar os diferentes tipos de materiais que os alunos trazem para as aulas;  Perceber as variações de intensidade da música AQUARELA para a construção do desenho;  Construir um olhar sobre o desenho, a partir da interpretação e sensibilização da música. Metodologias:  Aula expositiva e prática.  Interpretação e desenho após ouvir a música AQUARELA.


49 Desenvolvimento:  A aula será iniciada com a apresentação da turma e da professora;  Conversaremos sobre o tema do projeto que será desenvolvido durante as minhas aulas;  Distribuirei uma folha de desenho A4 para cada aluno e pedirei que coloquem sobre a mesa todos os materiais que têm para desenhar. Neste momento analisarei que tipos de materiais os alunos trazem para as aulas de Artes;  Pedirei para os alunos prestarem atenção na música que irei colocar;  Conversaremos então sobre a música Aquarela e sobre os elementos que a letra compõe;  Pedirei então que desenhem o que estão sentindo ao escutar a música.  Explicarei que não precisam desenhar somente os elementos que a letra da música apresenta, mas podem criar outros elementos próprios da imaginação e da sensibilidade de cada um.  Terminada essa etapa da atividade, pedirei para os alunos darem cor e volume aos elementos desenhados;  Nesse momento prático da aula, devem utilizar todos os materiais que trouxeram, mas cada um deve usar o seu próprio material, sem emprestar ou pedir emprestado ao colega;  No final da aula recolherei os desenhos para poder analisá-los melhor em casa;  Pedirei aos alunos que pesquisem para a próxima aula sobre desenho e suas sobre diferentes manifestações. Nesse momento deixarei bem claro que podem fazer também anotações sobre seus próprios conhecimentos em relação ao desenho Recursos:  Aparelho de som com CD player;  CD com a música AQUARELA do autor Toquinho;  Folha de desenho A4;  Material para desenho como: (lápis, canetinha, giz de cera, lápis de cor ou tinta guache). Avaliação:  Os alunos serão avaliados pelo desempenho durante a atividade prática e pela participação durante as discussões em grupo.


50 Realizado: No dia 14 de março iniciei o meu estágio com o Ensino Médio no terceiro período, das 20h25 as 21h15. Cheguei minutos mais cedo e aguardei a professora titular na sala dos professores. Assim que deu o sinal a professora Aparecida me buscou para irmos até a sala de aula. Chegando à sala, a professora pediu que os alunos fizessem silêncio e me apresentou a turma. Em seguida ela pediu licença e me deixou sozinha com os alunos. Como havia alunos novos pedi que se apresentassem. Em seguida, pedi a colaboração do grupo para que em tão pouco tempo pudéssemos render e desenvolver um ótimo trabalho. Expliquei que meu projeto teria como palavra chave o desenho. Perguntei então se gostavam de desenhar? A maioria respondeu que gostava, mas que tinham dificuldades e vergonha dos resultados. Expliquei então que iríamos fazer uma atividade em que eles deveriam interpretar e refletir após escutar uma música e depois desenhar os elementos que a letra compõe. Coloquei a música para que primeiramente eles escutassem. Após pedi que pegassem e colocassem somente os materiais de pintura e desenho sobre a mesa, juntamente com uma folha A4. Expliquei para os alunos que não deveriam se apegar a detalhes dos elementos e sim soltar a mão. Esta atividade seria um exercício de sondagem para eu ter uma idéia de como a turma está em relação ao desenho. No início da proposta percebi que alguns alunos estavam achando estranho partir da música para um desenho. Tanto que tive que repetir a música quatro vezes enquanto desenhavam. Enquanto alguns estavam terminando outros estavam iniciando a atividade e criando coragem para soltar a mão. Sobre o tempo de assimilação de cada um, Martins, Picosque e Guerra argumentam: Teremos de ser cuidadosos com a diversidade de ritmos dos alunos, especialmente porque as idéias germinais de um projeto podem não ser de interesse maior de todos os alunos de uma classe. Alguns mergulham logo no trabalho, outros vão aos poucos tomando contato com ele e se motivando. Se desistirmos antes de obter algum resultado, não permitiremos que os alunos mais arredios, resistentes ou mais lentos, tenham a oportunidade de serem envolvidos e iniciar o projeto de fato (1998, p. 161).

Embora empolgados com a proposta, percebi que alguns alunos ficaram descontentes com seus resultados. Um dos alunos argumentou: “Professora, eu já desenho feio usando régua e tendo tempo para desenhar imagina agora que horror”. Novamente expliquei que era apenas um exercício e que certamente no final do nosso projeto eles


51 mudariam seus conceitos sobre seus próprios desenhos. Preocupei-me em explicar que era normal, nesta disciplina, poder “ousar” nas atividades e ter a liberdade de se expressar de muitas maneiras No final da aula recolhi os trabalhos e pedi que pesquisassem para a próxima aula sobre o desenho e suas diferentes manifestações. Com esta sondagem pude perceber que a maioria dos alunos não traz os materiais básicos para as aulas de Artes, tais como lápis de cor, canetinha e até mesmo folha. Observando o desenho dos alunos pude constatar que embora existam imagens estereotipadas, por outro lado, surge tratamento das formas como: proporção, textura e riqueza de detalhes que surpreendem, levando em consideração o tempo em que atividade foi desenvolvida.

Trabalho do aluno Tiago (Fonte: BRENNER, 2011)


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Trabalho do aluno Maicon (Fonte: BRENNER, 2011)

Esta primeira aula transcorreu de forma tranqüila e a estranheza inicial da turma, em relação à liberdade de expressão com a prática do desenho, acabou dando lugar a uma curiosidade sobre como perder esse medo de desenhar e fazer diferente. Enfim, foi uma aula bastante desafiadora tanto para os alunos quanto para mim.


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3.3.2. Segundo encontro Data: 21/03/2011. Conteúdos:  Técnicas de observação;  Desenho. Objetivos:  Explorar a percepção do olhar através de uma dinâmica;  Despertar o interesse pelas obras de Escher;  Observar imagens;  Discutir em grupos;  Produzir um desenho a partir da observação e criatividade. Metodologias:  Aula expositiva;  Análise de imagens;  Discussão em grupo;  Atividade prática. Desenvolvimento:  Iniciaremos a aula conversando a respeito da pesquisa que trouxeram sobre o desenho e suas manifestações;  Explicarei que em nossas aulas iremos descobrir a riqueza que um desenho pode ter e que isso acontecerá através de experiências que eles desenvolverão no decorrer do projeto;  Darei uma breve explicação sobre a gravura, a xilogravura e a litografia;  Colocarei sobre uma mesa cinco quebra-cabeças diferentes desmontados;  Pedirei para cada aluno pegar uma peça aleatoriamente;  Em cada quebra-cabeça terá uma obra diferente do artista Escher. Os alunos deverão


54 procurar com quem estão as peças que completam o jogo e então se agruparem, formando um grupo;  Formados os grupos deverão então observar a obra e fazer anotações sobre o que vêem nela;  Pedirei que cada grupo fale sobre o que viram na obra;  Atrás de cada quebra-cabeça terá uma atividade diferente, onde cada grupo deverá realizar, utilizando folha de desenho e lápis;  As obras dos quebra-cabeças serão: “O olho”, 1946; “Gota de orvalho”, 1948; “Mão com esfera refletora”, 1935; “Desenhar”, 1948; “Répteis”, 1943:

“Olho”, gravura à maneira negra, 1946. Fonte: ERNST, Bruno, O espelho mágico de M.C. Escher, p.15, 1998.

“Gota de orvalho”, Maneira Negra, 1948. Fonte: ERNST, Bruno, O espelho mágico de M.C. Escher, p.74, 1998.


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“Mão com esfera refletora”, litografia, 1935. Fonte: ERNST, Bruno, O espelho mágico de M.C. Escher, p.74, 1998.

“Desenhar”, litografia, 1948. Fonte: ERNST, Bruno, O espelho mágico de M.C. Escher, p.26, 1998.


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“Répteis”, litografia, 1943. Fonte: ERNST, Bruno, O espelho mágico de M.C. Escher, p.28, 1998.

 Atrás da obra “O olho” haverá a seguinte atividade: desenhe o que seu olho gostaria de ver nesse momento;  Na obra “Gota de orvalho”: desenhe outro elemento sobre a folha;  Na obra mão com esfera refletora: desenhe o que sua mão poderia estar segurando nesse momento;  Na obra “Desenhar”: desenhe a sua mão;  Na obra “Répteis”: desenhe um animal para substituir o réptil;  Terminada a atividade pedirei para cada grupo falar um pouco sobre o que acharam da proposta;  Por fim recolherei os trabalhos;  Solicitarei que tragam para a próxima aula um rolinho de esponja, tesoura, um palito de churrasco ou de dente, prendedores de roupa, tinta guache, uma bandeja de isopor, folhas A4 e uma colher de pau. Recursos:  Cinco quebra-cabeças com imagens fotocopiadas;  Folha de desenho A4;  Lápis.


57 Avaliação: A avaliação será feita a partir da observação do comprometimento e envolvimento dos alunos com a atividade proposta, respeitando as diferenças individuais de cada um. Realizado: Nesse dia recebi um telefonema da professora titular que o horário da aula de Artes teria mudado para a 2° período das 19h 35min às 20h 25min. Cheguei à sala de aula e os alunos estavam sentados conversando. Cumprimentei-os e em seguida fiz a chamada. Perguntei sobre a pesquisa que eu havia pedido na última aula. Os alunos ficaram olhando e rindo “Que pesquisa, professora? A senhora não nos pedia nada.” Disse um dos alunos. Como o professor deve ser flexível e saber lidar com o imprevisto, pedi para cada aluno falar um pouco sobre o que sabiam a respeito do desenho. Nesse momento percebi que seis alunos tinham trazido a pesquisa e estavam com vergonha de falar para colegas. Um dos alunos trouxe a seguinte pesquisa:

Pesquisa do aluno Maurício. (Fonte: BRENNER, 2011).

Após o aluno fazer a leitura do que tinha pesquisado na internet sobre o desenho, seus colegas foram dando suas contribuições e aula iniciou como eu gostaria cheia de comentários e de perguntas sobre o assunto.


58 Quando a aluno fala, escreve sobre arte ou faz seus trabalhos artísticos, realiza atos de autoria, com marca pessoal. Geralmente, é o professor quem valida as produções atribuindo-lhes qualidades na orientação das discussões coletivas ou na recepção das produções individuais, valorizando e incentivando os esforços dos aprendizes nos processos de construção de saberes cognitivos, procedimentais ou atitudinais e nas combinações desses tipos de saberes (IAVELBERG, 2003, p.11-12).

Percebi que a turma era pouco estimulada a realizar esse tipo de pesquisa e que o meu papel nesse momento seria aproveitar a iniciativa do aluno e fazer com que o grupo perdesse o medo de falar sobre seus próprios conhecimentos. Surgiram perguntas como: “Que cursos podemos fazer para aprendermos a desenhar?”. “A gravura é um desenho?” “Que relação tem o desenho com a pintura e a gravura?” A partir dessas perguntas pude fazer várias explicações sobre o desenho. Expliquei que na história da humanidade, antes de representar a realidade pela escrita, os homens faziam desenhos para se comunicarem O desenho pode ser representado e manifestado de várias maneiras e que a nossa imaginação é a grande responsável pela nossa criação. Através de um olhar mais atento e investigativo sobre as coisas que nos cercam, teremos um repertório muito rico em nossa mente o que facilitará na hora de desenhar. Expliquei que a gravura é uma imagem que possui uma matriz, podendo ser reproduzida várias vezes. Existe uma impressão de gravura em madeira chamada xilogravura, é uma impressão em relevo. Tem esse nome, porque as partes elevadas da matriz são entintadas enquanto as demais partes estão rebaixadas, o que possibilita a impressão da imagem sobre o papel, sendo esse prensado sobre a mesma. É a técnica de gravura mais antiga e conhecida de impressão em relevo. Na litografia utiliza-se como matriz pedra e para desenhar um lápis gorduroso, assim, o desenho é feito através do acúmulo de gordura sobre a superfície da matriz e não através de fendas na matriz como acontece na xilogravura. Expliquei também que muitos artistas antes de pintar suas obras fazem desenhos, esboços, o acontece geralmente nas aulas. Dificilmente alguém pega o material de pintura e pinta sem ter feito pelo menos um esboço do que iria pintar. Após o debate coloquei sobre uma mesa cinco quebra-cabeças do artista Escher. As peças estavam todas misturadas. Pedi para cada aluno pegar uma peça aleatoriamente. Depois de todos terem pego as peças, pedi que formassem grupos com as cores que tinha atrás de cada peça. Formaram-se cinco grupos. Pedi para cada grupo montar o seu quebra-cabeça. Depois de montados solicitei que falassem sobre a imagem. Cada grupo falou sobre o que viu na imagem e os comentários


59 que mais se repetiram foram: “Esse artista desenha muito bem, parece não ser um desenho, parece que podemos tocar na imagem”, “Ele dá volume aos elementos que parecem estarem vivos”, “Gostaria de saber desenhar assim”. Após todos terem falado sobre a imagem do jogo dei uma breve explicação sobre o artista Escher. Mostrei as três imagens do jogo de quebracabeça do artista Escher: Répteis, Mão com esfera refletora e Desenhar que foram feitas através da técnica da litografia. Escher, em suas obras, misturava objetos, dando a impressão que alguns elementos do desenho estavam saindo da folha como nas obras “Répteis” e “Desenhar”. Além disso, Escher utiliza a sobreposição de vários espaços sobre uma mesma imagem, e por isso temos que observar mais atentamente suas obras para entendê-las. Ainda tinha tempo os alunos estavam ansiosos para saber qual seria a atividade prática. Pedi que olhassem atrás de cada quebra-cabeça, pois estava escrito o que deveriam fazer. Como tínhamos apenas 20 minutos de aula e os alunos queriam realizar a atividade ainda nessa aula. Pedi que fizessem apenas um desenho por grupo. E mesmo com pouco tempo os resultados foram satisfatórios, percebi que a leitura de imagens do artista Escher contribuiu nas suas produções. Os desenhos foram feitos com mais detalhes, com textura e sombras. No desenho da mão feita pelo grupo um, os alunos procuraram fazer com que a mão parecesse a mais real possível, usando a observação como recurso principal para a realização da atividade. Embora ainda se apropriassem de recursos mecânicos para trabalhar com a textura, conseguiram manter a proporção e enriquecer o desenho com detalhes. O grupo dois utilizou a memória e a imaginação para realizar a atividade. A proposta era substituir a gota de orvalho do artista Escher por outro elemento. O grupo de alunos precisou debater sobre um elemento comum a ser desenhado e também usar a memória para lembrar os detalhes que a borboleta tem. O resultado deu certo, e o grupo conseguiu trabalhar com texturas, proporção, enriquecendo o desenho com pequenos detalhes. A proposta do grupo três era substituir a esfera do artista Escher por outro elemento. O grupo através da imaginação e criatividade utilizou a técnica da frotagem que consiste em: colocar uma folha de papel sobre uma superfície que contém alguma textura e esfregá-la, pressionando-a com giz, grafite. Aqui o grupo utilizou moedas e grafite. Embora o desenho possua poucos detalhes, achei interessante o grupo se apropriar de outros recursos para reproduzir o desenho. No ato de desenhar está implícita uma conversa entre o pensar e o fazer, entre o que está dentro e o que está fora. Recebemos inúmeros estímulos a todo instante. Relacionamos alguns, selecionamos outros, valorizamos, negamos... e desse


60 movimento interno vão surgindo as configurações e constelações de significados que irão se transformar em futuros antes gráficos (DERDYK, 1989, pag. 121).

Trabalho grupo 1. (Fonte: BRENNER, 2011).

Trabalho grupo 2. (Fonte: BRENNER, 2011).


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Trabalho do grupo 3. (Fonte: BRENNER, 2011).

Por fim, recolhi os desenhos e minutos antes de dar o sinal solicitei que trouxessem para a pr贸xima aula: tinta guache, rolinho de esponja, bandeja de isopor, palito de dente ou de churrasco, tesoura, folha, colher de pau, prendedores de roupa e folhas.


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3.3.3. Terceiro encontro Data: 28/03/2011. Conteúdos:  Xilogravura;  Desenho;  Linha.  Artista Oswaldo Goeldi; Objetivos:  Promover a reflexão e a discussão sobre a prática da gravura como linguagem artística;  Analisar algumas imagens do artista Oswaldo Goeldi;  Dialogar sobre a forma de expressão através da xilogravura;  Observar a temática de cada obra;  Construir um trabalho artístico tendo como tema algum fato que marcou sua vida;  Trabalhar as linhas do desenho. Metodologias:  Análise de imagens;  Discussão em grupo;  Aula expositiva. Desenvolvimento:  A aula será iniciada com a exposição das imagens do artista Oswaldo Goeldi “Rua Molhada”, “Silêncio”, “Homem com Guarda-chuva” e “Luar”;


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Rua Molhada, Goeldi, sem data, xilogravura, 21 x 27,5 cm. Fonte: NAVES, Goeldi, 1999, p. 35.

GOELDI, “Silêncio”, 1957, xilogravura. Fonte: NAVES, Goeldi, 1999, p. 9.


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GOLEDI, “Homem com guarda-chuva”, sem data, xilogravura, 21 x 24 cm. Fonte: NAVES, Goeldi, 1999, p.55.

GOELDI “Luar”, 1950, xilogravura, 21 x 27 cm. Fonte: NAVES, Goeldi, 1999, p. 64.

 Em cada imagem os alunos serão questionados sobre a temática da obra, a composição das figuras, a variedades de linhas que compõe a obra, o nome da imagem;  Depois das análises das obras, cada aluno deverá pegar as placas de isopor e desenhar alguma cena que marcou sua vida , representar algo que não esqueceram, seja bom ou ruim.


65  Por fim recolherei as bandejas e solicitarei que tragam o material novamente na próxima aula, para o término da atividade; Recursos:  Retroprojetor;  Lâminas com imagens de xilogravura;  Placas de isopor;  Ponta fina (palito, agulha);  Lápis. Avaliação: A avaliação ocorrerá durante toda a aula, levando em considerarão a participação dos aprendizes nas discussões sobre as imagens e o interesse em desenvolver seu trabalho. Realizado: Na sexta-feira a orientadora da escola me ligou dizendo que o horário permaneceria o mesmo da última aula que foi no 2º período das 19h35 as 20h25. Ao chegar à escola, havia dois alunos me esperando. Disseram-me que apenas 5 dos 21 alunos presentes haviam trazido o material solicitado. Entrei na sala, cumprimentei os alunos e fiz a chamada. Perguntei aos alunos se eles lembraram o que era gravura, xilogravura e litografia. E qual artista tínhamos feito os quebra-cabeças na última aula? Os alunos foram aos poucos se lembrando e respondendo as perguntas. Através das respostas dadas por eles pude perceber que a aula anterior tinha sido bem importante, pois os alunos tinham aprendido sobre as técnicas de gravura e lembraram o nome do artista mencionado na última aula, Escher que utilizou principalmente a técnica da litografia em suas obras. Falei ao grupo que iríamos conhecer um pouco das obras de Osvaldo Goeldi, que era um artista brasileiro, nascido no Rio de Janeiro em 1895. Liguei o retroprojetor e mostrei ao grupo a obra “Rua Molhada”. Perguntei ao grupo: O que estão vendo nessa obra?


66 Surgiram vários comentários como: “É muito estranha, parece que deu um dilúvio e terminou com tudo” Da até medo de olhar para ela, aquele lixo virado e aquele ratão da nojo” “Aquela bandeira vermelha é um pedido de socorro”. Perguntei se imaginavam qual seria o nome da obra. Os alunos então disseram: “Dilúvio”, “Vendaval” “Lixo”, entre outros. falei então que o nome da obra é “Rua Molhada”. Nesse momento uma das alunas disse: “Que nome óbvio, achei que os artistas eram mais criativos nas escolhas dos nomes de suas obras.” Expliquei que o artista não está muito preocupado em criar grandes nomes as suas obras e sim, da sua maneira criar um desenho pelo qual se identifique e possa aplicar a técnica da gravura, nesse caso a xilogravura. Outra aluna comentou: “Professora olha a riqueza de detalhes que tem essa obra, as linhas as texturas são surpreendentes”. Nesse momento da aula, peguei as goivas e um pedaço de madeira que havia levado e pedi para cada aluno experimentar um pouco como era feita a técnica. Alguns alunos acharam fácil, outros comentaram que fácil era fazer um risco qualquer, mas que um desenho seria muito difícil. Foi muito bom ter levado o material para os alunos experimentarem, assim, cada aluno pode ter uma idéia da técnica da xilogravura. Coloquei a obra “Silêncio” e os alunos começaram a falar todos juntos. Nesse momento, tive que chamar a atenção dos alunos e pedi para falar um de cada vez. Um dos alunos mencionou que o nome da obra deveria ser “Solidão”, já que havia apenas duas pessoas no lugar. Outro aluno comentou que a obra era feita de pequenos entalhes na madeira, que parecia fácil de fazer. Falei que o nome da obra tinha a ver com que estavam pensando, é “Silêncio”. Uma aluna comentou: “Professora, essa obra pode ter detalhes mais simples, mas se torna mais complicada de se fazer porque possui profundidade”. Nesse momento gerou novamente muita conversa, alguns comentavam que não era difícil de fazer, pois a professora Aparecida já havia trabalhado os pontos de fuga com eles. Tive que pedir silêncio novamente. Comentei com o grupo que a idéia de fazermos essa leitura de imagens era justamente identificar os elementos presentes nos desenho de Goeldi e que cada um era livre para expor o que vê e o que pensa sobre as obras, mas que deveríamos nos organizar para não dar tanto tumulto. Os alunos concordaram e fomos para a seguinte obra “Luar”. Surgiram vários comentários quando mostrei essa obra como: “O nome dela só pode ser „Os Homens de Preto‟”, “Essa parte branca é onde tiramos a madeira”, “Parece um ovo frito”, “Olha como o artista conseguia fazer os ternos com apenas alguns entalhes na madeira”, “Achei linda essa obra”, “Possui profundidade e está em proporção”.


67 Questionei os alunos que o nome da obra tinha a ver com um dos elementos presentes no desenho, mas que não eram os homens. Os alunos descobriram que era a lua. Falei que o nome da obra é “Luar”, e que quando fizemos os entalhes na madeira, o que retiramos ficará da cor da folha que iremos imprimir nesse caso o branco. E que na hora de fazermos o desenho, temos que saber que tudo que fizermos ficará ao contrário na hora da impressão. Percebi que os alunos estavam ansiosos e queriam saber o que iríamos fazer com o material solicitado. Coloquei a última imagem, os alunos começaram a rir, uma aluna comentou; “Parece uma vizinha minha quando briga com o marido e sai em disparada atrás dele com a vassoura”. Foi um momento de descontração e todos começaram a dar risada. Pedi então que acalmassem um pouco, que era a última imagem e depois começaríamos a atividade. Um aluno falou: “As obras desse artista, assim com os do Escher, vista na semana passada, são riquíssimas em detalhes e mostram que é preciso usar os elementos do desenho que a professora tanto fala como proporção, textura, profundidade e luz. “Olhando essas obras parece que estamos vivendo essa cena, é muito legal”. Percebendo que os alunos já estavam se dispersando muito da proposta inicial. Falei que o nome da obra também tinha a ver com dois elementos presentes no desenho e, os alunos descobriram que é “Homem de guarda- chuva”. Faltando apenas 15 minutos para o término da aula, distribuí as bandejas de isopor para os alunos que não tinham trazido. Pedi que pegassem os palitos, expliquei que deveriam retirar a rebarba do isopor de maneira que ficasse bem reta, pois, isso iria interferir no resultado final da atividade. Expliquei que qualquer detalhe que já tivesse no isopor também apareceria depois e, que poderiam criar algo sobre esse detalhe para não perder o isopor. Pedi que desenhassem uma cena marcante em sua vida, seja ela boa ou ruim. Os alunos começaram a desenhar. Para Fusari e Ferraz (1999, p. 21), [...] seqüenciar atividades pedagógicas que ajudem o aluno a aprender a ver, olhar, ouvir, pegar, sentir, comparar os elementos da natureza e as diferentes obras artísticas e estéticas do mundo cultural, deve contribuir para o aperfeiçoamento do aluno.

Deu o sinal, recolhi as bandejas para que pudessem terminar na próxima aula e pedi que não esquecessem o material solicitado para a próxima aula.


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3.3.4. Quarto encontro Data: 04/04/2011. Conteúdos:  Desenho;  Linhas;  Gravura em isopor; Objetivos:  Entender o processo de criação e confecção de uma gravura;  Imprimir os trabalhos feitos no isopor;  Discutir em grupo. Metodologias:  Atividade prática;  Aula expositiva;  Discussão em grupo. Desenvolvimento:  Iniciarei a aula retomando a atividade da aula passada, na qual os alunos fizeram seus trabalhos com o propósito de expor algo já vivenciado, que tivesse algum significado na sua vida;  Darei um tempo para os alunos terminarem os desenhos feitos no isopor;  Organizarei a sala para que os alunos possam imprimir seus trabalhos já criados na placa de isopor;  Farei uma explicação sobre como será feito o trabalho, como serão utilizados os materiais e como é feita a impressão;  Cada aluno deverá imprimir seus trabalhos em folha A4;  Terminadas as impressões, cada aluno deverá pegar sua imagem impressa e falar um pouco sobre o que quis expressar naquela imagem e o que achou da atividade;


69  Por fim, os trabalhos serão pendurados para secarem. Recursos:  Tinta guache;  Rolinho;  Colher de pau;  Folha de desenho A4 ;  Prendedor de roupa;  Bandeja de isopor. Avaliação: Os alunos serão avaliados através do interesse, participação e desenvolvimento da atividade. Realizado: Cheguei à escola mais cedo, perguntei para a professora titular se eu poderia utilizar a sala de Artes, porque iríamos imprimir os desenhos e precisávamos de um lugar adequado para pendurá-los para a secagem. A professora me deu a chave e pediu que eu deixasse a sala limpa e com as cadeiras no lugar. Nesse momento, percebi o porquê das professoras não usarem muito esta sala de aula. Mas tudo bem! Segui até a sala da turma 224 e falei que teríamos aula na sala de Artes. Quando chegamos à sala de aula, alguns alunos riram dizendo que a sala estava com cheiro de mofo, pois ninguém usava e nem abria a sala. Comentei que de tarde a professora sempre usava a sala e perguntei se já haviam tido aula nessa sala. Os alunos responderam que não, pois como era apenas um período semanal a professora não gostava de sair da sala para vir para a sala de Artes. Pedi então que os alunos se acomodassem, e pegassem o material solicitado para a aula. Entreguei as bandejas de isopor e pedi para os alunos darem continuidade nos desenhos. Alguns comentaram que já haviam terminado, mesmo assim entreguei um palito para cada aluno e pedi que dessem uma analisada se faltava algum detalhe para finalizar o desenho.


70 Nesse momento, percebi que muitos olharam os seus desenhos e a maioria deu uma retocada em seu trabalho. Os alunos estavam curiosos para saber como ficaria a impressão. Arrumamos uma mesa com tinta (preta) escolhida pelos alunos, e rolinho. Expliquei como seria feita a impressão e deixei que os alunos trabalhassem livremente. Enquanto eu observava os alunos trabalhando, ia percebendo que eles estavam gostando da atividade. Os alunos iam conversando entre si sobre os resultados e esse momento foi bem significativo para a aula. Como já estavam comentando entre si sobre as impressões. Pedi que cada aluno falasse um pouco sobre o seu desenho, dizendo o que desenharam o que acharam da atividade, o que ficou bom e o que poderia ter ficado melhor. É importante criar momentos para avaliação, como forma de retomar o que acabamos de fazer. Através deles, conversaremos sobre o que aprendemos, avaliando o que foi significativo, sintetizando a nossa apropriação do conhecimento (MARTINS, PICOSQUE E GUERRA, 1998, p. 178).

A maioria dos trabalhos das meninas estava ligada aos namorados, encontros que tiveram e passeios. Os meninos fizeram imagens relacionadas os times de futebol, carros, motos. Quando questionados sobre aquelas imagens, disseram que estão sempre mexendo nos carros dos pais, nas motos e, é claro, sempre torcendo pelo “timão” (Internacional ou Grêmio). Na hora de expor seus trabalhos, notei certa timidez mais por parte das meninas, pois além da vergonha em falar em público deveriam falar sobre algum tipo de sentimento já vivido por elas. Mas aos poucos foram se soltando. Faltando 10 minutos para terminar a nossa aula, pedi que falassem mais rápido, pois havia alguns alunos que ainda estavam esperando para falar. Apenas um dos 30 alunos que realizaram a atividade, fez figura humana. Questionei a turma sobre o porquê apenas um aluno havia feito um desenho de figura humana. Alguns me disseram que nem lembraram nada especial envolvendo alguma pessoa, outros me disseram que desenhar figura humana é difícil, principalmente em um isopor. Quanto os alunos viram o desenho do colega Tiago, percebi que acharam muito bonito, um dos colegas comentou: “Só poderia ter sido o Tiagão mesmo”. O aluno comentou que resolveu desenhar sua namorada e que utilizou a foto de seu celular e por isso não achou muito difícil desenhar, pois, observou todos os detalhes que o rosto dela tinha.


71 Para Derdyk (1989, p.118) “o observador é aquele que olha atentamente, examina, considera, reflete, guarda, contém, especula. Segundo ela, as imagens nascem da observação, da memória e da imaginação”. O aluno Tiago conseguiu trabalhar com os elementos fundamentais do desenho, porque, segundo ele, utilizou a observação, o que facilitou bastante o seu desenho.

Tiago, técnica de gravura, gravura em isopor, turma 224. (Fonte: BRENNER, 2011).

A colocação do aluno sobre o seu trabalho foi muito importante, pois tratou de um dos temas ligado ao projeto de ensino, a observação. Nessa aula não dei muita ênfase a esse tema, pois retomarei nos próximos encontros quando trataremos diretamente desse assunto. O aluno Robson fez uma paisagem, tema que mais se repetiu entre os trabalhos dos alunos. Embora existam ainda elementos que se repete de forma estereotipada, nesse caso o “Sol”, o aluno trabalhou com texturas, traços finos, grossos. Enfim, utilizou todo espaço da folha de maneira bem organizada. O aluno comentou que viu o pôr do sol na praia e por isso resolveu desenhá-lo.


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Robson, tĂŠcnica da gravura, gravura em isopor, turma 224. (Fonte: BRENNER, 2011).

Faltando 5 minutos para o tĂŠrmino da aula, penduramos os trabalhos, limpamos a sala e os alunos foram para o recreio.


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3.3.5. Quinto encontro Data: 11/04/2011. Conteúdos:  Desenho;  Artista Ben Heine; Objetivos:  Estabelecer uma ligação entre as expressões verbais e plásticas;  Desenvolver o espírito crítico e investigativo;  Utilizar a imagem mental;  Estimular o imaginário. Metodologias:  Aula expositiva;  Ditado das imagens do artista Ben Heine;  Aula prática. Desenvolvimento:  Recolherei e entregarei aos alunos os trabalhos feitos na última aula;  Farei um breve comentário sobre o artista Ben Heine, pois usarei suas imagens para realizar a atividade da aula de hoje;  Pedirei para os alunos formarem cinco grupos;  Em cada grupo deverá ser escolhido um representante;  Explicarei que esse representante não poderá mostrar a imagem a nenhum de seus colegas;  Após solicitarei aos alunos (não representantes) que peguem uma folha, um lápis e lápis de cor para realizar a atividade;  Pedirei para cada representante buscar uma imagem;  Os representantes deverão ditar a imagem aos colegas de grupo, descrevendo os


74 elementos que fazem parte da imagem, linhas, cores etc.  Os alunos deverão desenhar o que o colega está ditando, tendo liberdade de fazer perguntas sobre a imagem;  Explicarei que gostaria que tivessem liberdade para criar, não se prendendo tanto a detalhes, pois cada um terá uma interpretação diferente do que está ouvindo;  Ao término da atividade pedirei que cada representante junto com o grupo fale sobre a atividade expondo os desenhos para todos visualizarem;  As imagens usadas para a realização da atividade serão:

Ben Heine http://colunistas.ig.com.br/obutecodanet/files/2010/11/lapisfoto1.jpg

Ben Heine http://colunistas.ig.com.br/obutecodanet/files/2010/11/lapisfoto3.jpg


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Ben Heine http://colunistas.ig.com.br/obutecodanet/files/2010/11/lapisfoto10.jpg

Ben Heine http://colunistas.ig.com.br/obutecodanet/files/2010/11/lapisfoto11.jpg


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Ben Heine http://colunistas.ig.com.br/obutecodanet/files/ 2010/11/lapisfoto5.jpg

Recursos:  Cinco imagens do artista Ben Heine;  Folha de desenho A4;  Lápis para desenhar;  Lápis de cor. Avaliação: A avaliação ocorrerá durante a aula levando em consideração a participação dos aprendizes nas discussões e o interesse em interpretar as imagens. Realizado: Entrei na sala de aula e os alunos estavam sentados conversando. Cumprimenteios e fiz a chamada.


77 Perguntei se alguém tinha escutado ou visto alguma coisa a respeito do artista Ben Heine. Os alunos ficaram me olhando espantados. Percebi que não o conheciam. Falei para os alunos que Ben Heine é um artista visual nascido na Costa do Marfim. Que com 27 anos, estudou jornalismo e descobriu a importância da escrita e do lápis, mas também o impacto de uma fotografia. Depois de dez anos tirando fotografias e desenhando, o artista teve uma grande idéia. A idéia de juntar as duas técnicas surgiu no início de 2010, enquanto via televisão ao mesmo tempo em que escrevia uma carta. Ao reler o texto, antes de pôr a carta no envelope, reparou na transparência do papel, que lhe permitia ver as imagens que passavam atrás, na televisão. Apercebeu-se rapidamente que poderia fazer algo similar, juntando duas ações diferentes e aí começou a trabalhar na sua idéia. O primeiro trabalho desta série surgiu no mesmo dia. Juntou duas cadeiras e uma pequena mesa no jardim para o cenário e começou a desenhar no papel a imagem que via à sua frente. Depois, foi só tirar uma fotografia com o enquadramento correto. Após ter tido uma breve conversa sobre o artista com os alunos, comentei que iríamos trabalhar nessa aula, com suas imagens. Pedi que formassem cinco grupos. Solicitei que escolhessem um representante para cada grupo. Logo os grupos se organizaram e as escolhas foram feitas. Expliquei que a função de cada representante seria ditar uma imagem aos colegas do grupo, tendo o cuidado e o compromisso de não mostrar tal imagem. Falei que os representantes deveriam ditar todos os elementos presentes nas imagens, não se esquecendo de comentar sobre os elementos do desenho como proporção, profundidade, textura, linha etc. Os representantes decidiram esconder as imagens dentro do caderno e após começaram a atividade. Um dos representantes comentou: “Professora isso é muito fácil, pode pegar aqui eu já disse tudo que têm na imagem”. Comentei com o aluno que não era tão fácil assim, pois os colegas não estavam visualizando a imagem, e por isso, iriam perguntar muito durante o desenho. E foi o que aconteceu, o aluno ficou com a imagem e logo os colegas começaram a questioná-lo sobre os elementos nela presentes. Ele olhou para mim e disse: “Bem, a senhora me disse, eles não param de me perguntar”. Enquanto eu caminhava na sala de aula e observava os grupos, esclarecia dúvidas como: “Tenho que fazer igual?”, “São muitos elementos posso desenhar os que eu achar mais legais?”, “Tenho que pintar?” etc.


78 A ênfase da ação docente é a observação. O olhar do educador deve estar centrado em vários aspectos e no grupo. Em grupos maiores é preciso planejar ainda mais essa observação, pois é quase impossível olhar todos ao mesmo tempo. Estar atento principalmente a um número menor de alunos, em rodízios de observação, pode facilitar a percepção das individualidades (PICOSQUE; GISA; GUERRA, 1998, p.167)

Como citam as autoras, nós educadores temos que estar sempre atentos aos comentários e as produções dos alunos, pois, a partir de uma observação mais atenta ao grupo, conseguimos reconhecer e respeitar as individualidades de cada um deles. Essa atividade mostra bem como cada aluno imagina e cria elementos de maneira muito particular, levando muito em conta a vivência de cada um. Saber reconhecer essas individualidades, na hora de avaliar, é fundamental para que o aluno não se sinta incapaz de desenhar, passando a comparar as suas produções a de seus colegas, podendo verificar a existência de diferentes identidades.

Trabalho do aluno José, ditado de imagens do artista Ben Heine (Fonte: BRENNER, 2011).

O aluno José criou elementos que não estavam na imagem ditada, usando a imaginação e a criatividade. Não fez o uso da cor, mas trabalhou com linhas, texturas, soltando o traço sem medo de errar.


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Trabalho do aluno Jeovane, ditado de imagens do artista Ben Heine (Fonte: BRENNER, 2011).

Enquanto a representante desse grupo ia ditando as imagens, percebi que o aluno Jeovane, ia desenhando sem fazer comentários. Muitos dos elementos ditados foram sendo desconsiderados. Quando o aluno foi falar sobre o seu desenho, comentou com os colegas, que não havia desenhado alguns elementos por ter maiores dificuldades em imaginar e desenhar. Nesse caso comentou sobre o cavalo, disse não ter conseguido naquele momento, de maneira espontânea, reproduzir um cavalo, por isso deixou-o de lado. Comentei em seguida que o objetivo daquela atividade era, principalmente, estimular o imaginário através da utilização de imagens mentais. Assim, conforme afirma Derdyk (1989, p. 121), No ato de desenhar está implícita uma conversa entre o pensar e o fazer, entre o que está dentro e o que está fora. Recebemos inúmeros estímulos a todo instante. Relacionamos alguns, selecionamos outros, negamos... e desse movimento interno vão surgindo as configurações e constelações de significados que irão se transformar em futuros entes gráficos.

Após todos terem terminado os desenhos, pedi para que os representantes, um de cada vez fossem até a frente falar sobre a imagem que ditou aos colegas. Depois o grupo deveria ir até a frente com os resultados da atividade e mostrar para todo o grupo. Nesse momento deveriam dizer o que acharam da atividade, se foi fácil reproduzir os elementos ditados ou não.


80 O resultado dos desenhos foi surpreendente, a maioria dos alunos conseguiu em pouco tempo, criar um desenho através da reprodução da imagem ditada, que tivesse características particulares. Percebi que os alunos não ficaram preocupados em desenhar o que foi ditado o mais semelhante possível, e sim, desenhar o que para eles realmente tinha algum significado. Os desenhos, em geral, possuem características surrealistas os alunos usaram o imaginário e criaram cenas que não são comuns à realidade. Eles conseguiram manter as características originais do trabalho do artista, que teve como influência o surrealismo. Os alunos não tinham mais aula, devido à falta de um professor e, por isso, conseguimos concluir os comentários, utilizando 10 minutos a mais de aula. Pedi para os alunos trazerem cola, tesoura e revistas para a próxima aula.


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3.3.6. Sexto encontro Data: 18/04/2011. Conteúdo:  Desenho de observação; Objetivos:  Utilizar o tato como instrumento de percepção;  Observar nos objetos as cores, linha, formas, volume, textura;  Realizar um desenho através da observação. Metodologias:  Observação;  Atividade prática de desenho;  Aula expositiva. Desenvolvimento:  Pedirei aos alunos fazerem um grande círculo;  Passarei um saco com vários objetos dentro;  Solicitarei que sintam os objetos dentro do saco e escolham apenas um;  Pedirei que observem tanto visualmente como através do tato os mínimos detalhes que possui aquele objeto escolhido;  Solicitarei que deixem em cima da mesa, lápis, folha, lápis de cor e o objeto que será desenhado.  Pedirei que passem para o papel o objeto com o máximo de detalhes possível, tentando passar à forma, texturas, linhas e cor.


82 Recursos:  Objetos variados;  Saco;  Folha de desenho A4;  Lápis.  Lápis de cor; Avaliação: Observar se os alunos identificaram as linhas, texturas, formas, volume, nos objetos passando para o papel essas características. Realizado: Cheguei à escola e fui diretamente à sala de aula. Quando entrei me deparei com apenas cinco alunos. Perguntei a eles onde estariam seus colegas. Eles me disseram que o professor da aula anterior não tinha vindo e que os colegas deveriam estar no pátio. Um dos alunos me falou que iria chamá-los. Quando todos estavam na sala de aula, cumprimente-os e fiz a chamada. Expliquei que a aula de Artes era apenas um período por semana e, que, gostaria que me esperassem na sala de aula para que não atrasassem as nossas atividades. Os alunos logo perguntaram o que iríamos fazer na aula. Pedi que fizessem um círculo e pegassem lápis e folha. Expliquei que eu irei passar um saco contendo vários objetos dentro e, que, cada aluno irá retirar um objeto do saco. Após cada aluno deverá observar detalhadamente o objeto e desenhá-lo na folha, observando texturas, formas, linhas, cor etc. Os alunos foram retirando os objetos e logo começaram os desenhos. Nesse momento surgiram algumas perguntas como: “Vou desenhar na horizontal ou na vertical?”, “Que tamanho faço o objeto?”, “Tenho que pintar?”, “O que vamos fazer com esse desenho?”. Expliquei aos alunos que deveriam nesse momento se preocupar em observar o objeto e desenhar. Depois eu explicaria qual seria o próximo passo.


83 Para desenvolver bem as aulas, o professor que está trabalhando com arte precisa conhecer as noções e os fazeres artísticos e estéticos dos estudantes e verificar em que medida pode auxiliar na diversificação sensível e cognitiva dos mesmos. Nessa concepção, seqüenciar atividades pedagógicas que ajudem o aluno a aprender a ver, olhar, ouvir, pegar, sentir, comparar os elementos da natureza e as diferentes obras artísticas e estéticas do mundo cultural, deve contribuir para o aperfeiçoamento do aluno (FUSARI e FERRAZ, 1999, P.21)

Enquanto eu caminhava pela sala observando os desenhos dos alunos, fui percebendo algumas coisas que se repetiam nos desenhos como falta de observação, detalhes criados pelos próprios alunos, o uso de pouca cor, pouca texturas. Percebi que a maioria dos alunos, mesmo com tempo suficiente para observar bem o objeto, ainda procura realizar a atividade rapidamente, sem grande preocupação com o resultado. Apesar de a imagem estar fisicamente presente, apresentando de maneira incontestável a sua materialidade concretizada, a relação entre os elementos percebidos não se dá de maneira estática, mas dinâmica, tal como o olhar, tal como a percepção (DERDYK, 1989, p. 195).

Por outro lado, houve alguns alunos que realmente observaram o objeto, isso se torna claro na maneira como utilizaram texturas, detalhes, diferentes linhas, enfim desenhos bem elaborados.

Trabalho dos alunos Marcos e Eduardo. Desenho de observação dos objetos. (Fonte: BRENNER, 2011).


84 Após todos terem terminado seus desenhos, pedi que os recortassem da folha. Expliquei que o próximo passo seria formarem grupos de no máximo quatro componentes. Expliquei que a proposta seguinte seria criar um cenário que englobasse os desenhos e imagens recortadas de revistas. Nesse momento, os alunos me questionaram que tínhamos apenas 15 minutos de aula e que não daria mais tempo de realizar a atividade. Consciente disso pedi que não recortassem as imagens das revistas, mas que fossem pensando como poderiam montar o cenário na próxima aula.


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3.3.7. Sétimo encontro Data: 25/04/2011. Conteúdos:  Recorte;  Colagem;  Construção de um cenário; Objetivos:  Criar a partir do desenho de observação;  Utilizar técnicas variadas em um único trabalho;  Oportunizar um espaço criador para o aluno;  Comentar sobre os resultados obtidos. Metodologias:  Criação a partir do desenho;  Observação e discussão em grupo. Desenvolvimento:  Pedirei para cada aluno pegar o desenho feito na última aula;  Pedirei para formarem grupos de no máximo quatro componentes;  Solicitarei que peguem, revistas, tesoura e cola;  Distribuirei folhas A3 para cada grupo;  Explicarei aos alunos que eles deverão criar um cenário utilizando todos os desenhos, juntamente com recortes das revistas.  Terminada a atividade faremos uma exposição dos trabalhos e comentaremos sobre a atividade.


86 Recursos:  Desenhos feitos na última aula;  Revistas;  Cola;  Tesoura;  Folha A3; Avaliação: Os alunos serão avaliados durante todo processo de construção, levando em conta a participação e o envolvimento com a atividade proposta; Realizado: Nesse dia, assim que deu o sinal, entrei na sala de aula, cumprimentei os alunos e fiz a chamada. Os alunos estavam um pouco agitados, pois tinham ficado sabendo que não teriam mais aula depois da minha. Pedi então que se acalmassem para que eu pudesse começar a aula. Entreguei os desenhos feitos por eles na última aula e pedi que formassem os grupos novamente. Expliquei que a próxima etapa da atividade seria criar um cenário com os desenhos de cada componente juntamente com recortes de revistas. Distribuí revistas e uma folha A3 para cada grupo. Um dos alunos comentou: “A professora foi esperta, pegou uma folha maior para ralar a gente”. Expliquei que a idéia de fazer em uma folha maior seria para facilitar o trabalho e não dificultar, pois, como teriam quatro desenhos para colar na folha, se fizessem em uma folha A4, não caberia nenhum recorte de revista. Para Martins, Picosque e Guerra (1998, p. 173), Há muitas possibilidades de intervenção que podem ser oferecidas como situações de aprendizagem instigante a criação, a percepção e o contato com a arte. Mudar o espaço físico; entrar na sala trazendo uma “surpresa”; oferecer aos aprendizes suportes diferentes em cor, tamanho, textura; variar a postura corporal para o fazer, ficando em pé, deitados ou sentados no chão; propor subgrupos de acordo com algum critério diferente são alguns modos de intervir possíveis. Tudo isso pode renovar a criação e a ousadia de pensar, sentir e imaginar por outras perspectivas.


87 Enquanto os alunos estavam realizando a atividade, eu ia conversando e tirando as dúvidas que surgiam. A grande preocupação dos alunos era de não conseguirem fazer a relação entre os objetos. Expliquei a eles, que deveriam tentar sim fazer essa ligação, mas que usando a criatividade poderiam também construir cenários imaginários e incomuns. De acordo com Martins (1998, p.146) “Para pensar e aprender tem-se que perguntar. E para perguntar é necessário existir espaço de liberdade e abertura para o prazer e sofrimento inerentes a todo processo de construção do conhecimento”. Após as minhas colocações, percebi que o andamento da atividade rendeu mais. Os alunos começaram a comentar a atividade entre si, recortar imagens e simular possíveis cenários, enfim, foi um momento de muita troca entre os alunos.

Grupo fazendo a montagem do cenário. (Fonte: BRENNER, 2011).


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Trabalho do grupo 1. (Fonte: BRENNER, 2011)

O grupo um, enquanto faziam a seleção das imagens, discutia muito entre si. Quando cheguei até o grupo para perguntar como estava o andamento do trabalho, percebi que havia dificuldades, pois estavam realizando a atividade com seis componentes. Argumentei que a dificuldade estava maior, pelo fato de terem um número maior de desenhos, que não havia sido o combinado. Pedi que se organizassem de modo que todos participassem da atividade. Embora com muita discussão, o grupo conseguiu criar três cenários onde os elementos tinham relações entre si. A ideia principal da atividade, de criar um único cenário não foi realizada, mas o grupo usou a criatividade e, de outra maneiram, conseguiram realizar a atividade com capricho e organização, utilizando muito bem todo o espaço da folha. A escolha de cada ação será determinada pela avaliação dos resultados que vêm sendo obtidos, pelo aproveitamento dos acasos, dos interesses e faltas que vão sendo instigadas, não perdendo de vista as metas a serem alcançadas. Em síntese, nesse momento encaminhamos ações, isto é, desenvolvemos o projeto, ampliando suas possibilidades (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, p.171).

Como citam as autoras, temos que estar preparadas para qualquer eventualidade dentro do nosso planejamento, pois nem sempre as coisas acontecem como gostaríamos que elas acontecessem. Temos que respeitar as ideias e os interesses dos alunos, mas não podemos permitir que haja mudanças tão radicais na atividade desenvolvida, a ponto de modificar o objetivo principal da aula.


89 Embora surgissem algumas alterações, por interesse dos alunos ou talvez por falta dele, essas mudanças não prejudicaram o andamento da aula, fazendo com que os trabalhos “diferentes” alcançassem também os objetivos da atividade. O grupo dois, diferente do grupo um, conseguiu realizar a atividade seguindo as minhas solicitações. Eles comentaram que tiveram mais facilidade em criar um único cenário porque tinham apenas três objetos desenhados. Ao comentarem sobre o trabalho, o grupo falou que haviam relacionado a caneta à árvore, pensando na fabricação do papel e também o objeto de beleza, ao cabelo, sinônimo de vaidade feminina. Esse grupo conseguiu, de maneira bem clara, desenvolver a atividade proposta. Eles montaram um cenário bem elaborado, utilizando outros conhecimentos para relacionar as imagens aos objetos, utilizando bem o espaço da folha.

Trabalho do grupo 2. (Fonte: BRENNER, 2011)

Após todos terem falado sobre os seus trabalhos, comentei aos grupos que achei surpreendente a maneira como conseguiram relacionar coisas tão distintas em um único espaço. Um aluno comentou: “No início achei que não iríamos conseguir realizar essa atividade, mas os trabalhos ficaram bem diferentes.” Nestes trabalhos, repetiram-se muitas características do surrealismo, tais como: cenários imaginários com montagens baseadas na fantasia (sonhos, inconsciente). Por fim recolhi os trabalhos, deu o sinal e fomos embora.


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3.3.8. Oitavo encontro Data: 02/05/2011. Conteúdos:  Características do surrealismo;  Desenho de observação;  Figura humana;  Desenho bidimensional; Objetivos:  Reconhecer algumas características do surrealismo em suas produções;  Despertar novos olhares sobre a figura humana;  Desenvolver observação;  Reconhecer as diferentes características de cada pessoa;  Criar um desenho bidimensional a partir da observação do rosto do colega; Metodologias:  Atividade prática de desenho;  Observação;  Discussão em grupos; Desenvolvimento:  Iniciarei a aula mostrando algumas obras já vistas pelos alunos em aula;  Farei questionamentos sobre as características comuns daquelas obras;  Mostrarei alguns trabalhos feitos pelos alunos, levando-os a perceber que algumas características aparecem em suas produções;  Farei uma breve explicação sobre o surrealismo e suas principais características;  Citarei alguns artistas desse movimento como: Salvador Dali, Joan Miró, René Magritte entre outros.  Após finalizar estas colocações que acredito ser importante para os alunos, pedirei para


91 eles formarem duplas;  Nesse momento devem pegar folha de desenho e lápis;  Observando o colega sentado a sua frente, cada aluno deverá desenhar o rosto do colega.  Pedirei para os alunos se organizarem de modo que um será o observado e o outro o que irá desenhar.  Depois de um tempo os alunos trocarão as funções;  Ao terminarem conversaremos sobre os resultados dos desenhos; Recursos:  Folha de desenho A4;  Lápis; Avaliação: Os alunos serão avaliados durante o decorrer da aula observando a execução da atividade com o entendimento, interesse e alcance dos objetivos. Realizado: Nesse dia, logo que cheguei à sala de aula, a professora titular entrou e disse que iria assistir a minha aula. Fiquei feliz, porque, a final de contas, é importante que ela esteja por dentro de como as coisas estão procedendo nas aulas. Fiz a chamada e dei início à aula. Nesse dia levei algumas obras de artistas e alguns trabalhos realizados pelos alunos nas aulas anteriores. Mostrei uma obra do artista Escher, “Mão com esfera refletora”, uma imagem do artista Ben Heine, já vista por eles na atividade, ditado de imagens e alguns trabalhos feitos por eles a partir das minhas propostas. Após mostrar os trabalhos e as obras aos alunos, perguntei a eles se aqueles desenhos e trabalhos eram comuns. Um dos alunos comentou: “Professora, são obras e trabalhos bem diferentes do que estamos acostumados a ver, são desenhos incomuns.” A colocação do aluno a respeito do que ele percebeu nas obras e nos trabalhos foi extremamente importante para que eu pudesse comentar sobre o surrealismo com eles. Expliquei para os alunos que existia um movimento artístico moderno onde os artistas


92 deixavam de lado o mundo real, para penetrarem no surreal. Como características os artistas buscavam sempre o subconsciente, os sonhos, o imaginário, enfim, a fantasia. Existem muitos artistas conhecidos que faziam parte desse movimento, como Salvador Dali, Joan Miró, René Magritte entre outros.Comentei com os alunos que Escher é reconhecido pelo seu incrível talento artístico em misturar elementos de surrealismo e que em suas obras gostava de trabalhar desenhos com ilusões de espaço e formas e prédios impossíveis. Também influenciado por esse movimento Ben Heine cria imagens surreais misturando ilustração e fotografia. Ele consegue atribuir a uma simples imagem do cotidiano um clima surreal. Falei para os alunos que achei interessante fazer um breve comentário sobre esse movimento artístico, já que havíamos realizado atividades sobre artistas que possuem características surreais em suas obras. Além disso, pedi que observassem o trabalho realizado por eles, onde criaram um cenário, misturando os desenhos dos objetos observados, com imagens de revistas. Uma aluna comentou: “Professora, sem nos darmos conta, criamos um cenário surreal, foi muito legal conhecermos um pouco sobre esse movimento.” Nas atividades expressivas e apreciativas, as conversações são de grande valia quando, por meio delas, desperta-se na memória das crianças as imagens, sentimentos e sensações que foram anteriormente percebidos; servem para explicar procedimentos técnicos em arte, relembrar as habilidades já conhecidas e aspectos das histórias das obras e da vida de artistas brasileiros ou não (FERRAZ e FUSARI, 1999, p.114 ).

Falei para os alunos, que quem tivesse interesse em conhecer mais sobre o surrealismo, deveria pesquisar, pois com certeza ficarão encantados com as obras desse movimento artístico. Em seguida, pedi para os alunos formarem duplas, devendo ficar de frente para o colega. Solicitei que pegassem lápis e folha. Expliquei a eles, que deveriam desenhar o rosto de seu colega, sendo que no primeiro momento um ficaria sem desenhar para ser observado. Após deveriam trocar as funções. Pedi que observassem a proporção do rosto, detalhes como: olhos, boca, nariz, enfim, que tivessem um olhar mais atento sobre as particularidades do colega. Para Ferraz e Fusari (1999), o maior compromisso do professor é adequar o seu trabalho para o desenvolvimento das expressões e percepções dos alunos, e isso se dá quando eles são orientados para observar, ver, ouvir, tocar, enfim perceber as coisas, a natureza e os objetos a sua volta.


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Aluna observando o rosto da colega e desenhando. (Fonte: BRENNER, 2011).

Percebi que o fato de ter que desenhar o rosto do colega contribuiu bastante para a realização da atividade, pois, o medo de desenhar “feio” o colega, como eles dizem, fez com que a maioria dos alunos observasse muito mais o rosto do colega, conseguindo retratar as suas próprias particularidades como formato do rosto, bigode, sinais de nascença, cabelo, traços e linhas que marcam o rosto, entre outros.

Trabalho do aluno Douglas. Rosto do colega. (Fonte: BRENNER, 2011).


94 O aluno Douglas, manteve-se concentrado durante toda atividade, percebe-se que realmente observou o rosto do colega, usou muito bem os elementos do desenho como proporção, linha, texturas, retratando com clareza as particularidades do colega observado. Quando o aluno foi comentar com o grupo sobre o seu desenho, disse que sempre gostou de desenhar, e que o desenho era um de seus passatempos preferidos quando criança. Segundo ele, esse gosto pelo desenho, facilita muito nas suas produções artísticas. Quando o desenho é desenvolvido na Educação Infantil, não ocorre o empobrecimento do grafismo, que, de acordo com alguns autores, se dá a partir dos 9 anos. O “cultivo” envolve informações e intervenções do professor e a interação do aluno com a produção dos colegas, com o meio natural e cultural e com a prática de artistas (NOVA ESCOLA, Maio de 2006, pg. 37 e 38).

Trabalho do aluno Robson. Rosto da colega. (Fonte: BRENNER, 2011).

O aluno Robson trabalhou bem com a linha e a proporção. Percebe-se em seu desenho que a observação não foi bem desenvolvida, isso ocorre muitas vezes porque o aluno mecaniza elementos, retratando-os sempre da mesma maneira. Em conseqüência disso, deixa de lado as particularidades de cada pessoa, ou elemento desenhado.


95 Ao comentar sobre o seu desenho, o aluno disse que não teve dificuldade em realizar a atividade, mas que não consegue ficar concentrado muito tempo na mesma atividade, tendo consciência de que a atividade exigia isso. As aulas devem ser significativas, o professor deve incentivar as produções dos alunos, questionar sobre seus resultados, propondo situações problemas para que os eles busquem diferentes respostas, novas formas de se expressar, colocando em prática seu potencial. No final, pedi para os alunos trazerem fios, arames, cordões e linhas para a próxima aula.


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3.3.9. Nono encontro Data: 09/05/2011. Conteúdos:  Desenho bidimensional;  Criação tridimensional. Objetivos:  Manusear diferentes materiais;  Oportunizar um espaço criador para os alunos;  Transformar idéias, concretizando-as na prática. Metodologia:  Atividade prática em grupo;  Aula expositiva. Desenvolvimento:  Pedirei para os alunos formarem três grupos;  Nesse momento devem pegar os materiais solicitados para a aula;  Cada grupo deverá criar um rosto tridimensional, utilizando fios, arames cordões etc.  Nesse momento darei uma breve explicação sobre o que é um elemento tridimensional;  No final recolherei as criações de cada grupo para finalizarem na próxima aula; Recursos:  Arames;  Fios coloridos;  Cordão;  Alicate de corte;


97 Avaliação: Os alunos serão avaliados durante o decorrer da aula observando a execução da atividade com o entendimento, interesse e alcance dos objetivos. Realizado: Cheguei à escola carregada de materiais e dirigi-me para a sala de aula. Para minha surpresa quando deu o sinal, o professor que estava com a turma, abriu a porta e disseme que estava aplicando prova com a turma e que precisaria ocupar uns 10 minutos da minha aula. Como sei que imprevistos acontecem, concordei e aguardei do lado de fora. Aos poucos os alunos foram terminando a prova e saindo da sala, pedi então, que esperassem comigo para que não atrasássemos a nossa aula. Realmente foram precisos 10 minutos da nossa aula para que todos pudessem fazer a prova. Quando todos haviam terminado a prova, entrei na sala, fiz a chamada e pedi que formassem quatro grupos. Havia apenas 16 alunos na aula. Uma aluna comentou: “Professora, no início tem muitos alunos, aos poucos, vai diminuindo, acho que estamos com no máximo 20 agora”. Os alunos optaram em fazer apenas três grupos pelo fato de não terem trazido os materiais solicitados e também pela quantidade de alunos presentes. Confesso que nesse momento fiquei muito chateada, comentei com o grupo que deveriam levar mais a sério as nossas aulas. Deveriam trazer os materiais solicitados, pois o objetivo dessa aula seria trabalhar com a criação tridimensional, usando os materiais solicitados. Nesse momento, os alunos formaram os três grupos e ficaram em silêncio me olhando. Distribuí arames, fios, linhas, cordões, alicate de corte e fita para cada grupo. Um aluno comentou: “A professora sempre vem preparada, sempre traz os materiais.” Como estávamos atrasados, não dei muita ênfase sobre o comentário do aluno e dei início a minha aula. Perguntei a eles, o que havíamos feito na última aula. Os alunos comentaram que haviam desenhado o rosto do colega. Expliquei que a atividade de hoje seria, fazer aquele rosto bidimensional desenhado por eles, criar volume, profundidade, altura e largura, transformando-se em uma


98 criação tridimensional. E para isso acontecer, deverão utilizar os materiais que eu havia distribuído. O aluno pode fazer exercícios práticos de assimilação de conteúdos de arte, como releituras, desenhos de observação, pesquisa de cores, trabalhando com luz e sombra, transposição estilística de imagens (transformar uma imagem impressionista em cubista), passagem de um trabalho bidimensional para tridimensional ou viceversa, exercícios que também podem ser avaliados (IAVELBERG; ARSLAN, 2006 p.88).

Percebi que os alunos ficaram empolgados com a proposta. Eu estava ciente que a falta de comprometimento com os materiais solicitados não poderia atrapalhar a minha aula. Senti que precisava prestar atenção no envolvimento de cada aluno com o trabalho prático, acompanhando o processo de criação de cada grupo para conseguir avaliar a atividade como um todo. Os alunos foram aos poucos se soltando, medindo a cabeça do colega, moldando o nariz, a boca, cortando os fios, montando com fita e até mesmo dobrando com o próprio material, enfim, foram criando gosto pela atividade na medida em que foram produzindo.

Grupo de alunos criando o rosto tridimensional. (Fonte: BRENNER: 2011).

No decorrer da aula, surgiram muitas dúvidas e as mais comuns foram: “Como vamos conseguir fazer um rosto com esse material?”, “Podemos unir os fios com fita?”, “Temos que fazer o rosto no tamanho real?”, “Podemos usar um colega como modelo?”


99 Na medida em que as dúvidas surgiam, eu ia esclarecendo e auxiliando os grupos. Um aluno comentou: “Nunca tinha trabalhado com materiais diferentes nas minhas aulas de Artes, talvez por isso não gostasse muito. Estou achando muito legal essa aula, embora difícil”. Percebi, pela colocação do aluno e pelo envolvimento do grupo com a atividade, que o estímulo de se trabalhar com diferentes materiais nas aulas de Artes foi pouco trabalhado com o grupo e que, embora muitas vezes, os alunos reclamem das atividades que eu os proponho, os resultados e o envolvimento mostram o quanto são capazes de produzir. Isso faz com que cada aluno crie gosto pelo seu próprio trabalho artístico. E é por isso que as aulas de Artes devem ser significativas, o professor deve incentivar as produções dos alunos, questionar sobre seus resultados, propondo situações problemas para que os alunos busquem diferentes respostas, novas formas de se expressar, colocando em prática assim, o seu potencial. Desde a infância, tanto as crianças como nós, professores, interagimos com as manifestações culturais de nossa ambiência e vamos aprendendo a demonstrar nosso prazer e gosto, por imagens, objetos, músicas, falas, movimentos, histórias, jogos e informações com os quais nos comunicamos na vida cotidiana ( por meio de conversas, livros ilustrados, feiras, exposições, rádio, televisão, discos, vídeos, revistas, cartazes, vitrines, ruas etc.). Gradativamente, vamos dando forma as nossas maneiras de admirar, gostar, de julgar, de apreciar e também de fazer as diferentes manifestações culturais do nosso grupo social e, dentre elas, as obras de arte. É por isso que mesmo sem o saber vamos nos educando esteticamente, no convívio com as pessoas e as coisas (FERRAZ e FUSARI; 1999 p.16-17).

Faltavam alguns minutos para acabar a aula, comentei que devido o atraso para iniciarmos a nossa aula, terminaríamos a criação na próxima aula. Pedi que trouxessem na próxima aula os materiais para que pudéssemos terminar a atividade. A professora titular havia comentado comigo sobre a exposição dos trabalhos dos alunos, disse-me que como tínhamos apenas um período semanal, seria interessante expor os trabalhos no decorrer das aulas. Esta mudança no planejamento, me fez pensar em organizar a exposição, já que os alunos estariam terminando a atividade da aula anterior. Comentei com o grupo que, além de finalizarmos o rosto tridimensional, faríamos a exposição dos trabalhos realizados até o momento no saguão da escola. Por fim, recolhi os trabalhos e fui embora.


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3.3.10. Décimo encontro Data: 16/05/2011. Conteúdos:  Criação tridimensional;  Exposição de Artes; Objetivos:  Finalizar as criações tridimensionais;  Organizar uma exposição com os trabalhos feitos até o momento; Metodologias:  Atividade prática;  Exposição dos trabalhos feitos pelos alunos; Desenvolvimento:  Pedirei para os grupos, darem continuidade a criação do rosto tridimensional;  Em seguida, organizaremos a exposição dos trabalhos dos alunos; Recursos:  Todos os trabalhos feitos pelos alunos;  Papel pardo;  Tesoura;  Fita adesiva; Avaliação:  A avaliação será a partir da observação do envolvimento dos alunos no desenvolvimento da exposição, bem como suas explicações a respeito de suas produções.


101 Realizado: Cheguei à escola e fui diretamente para a sala de aula. Cumprimentei os alunos e fiz a chamada. Pedi que fizessem os mesmos grupos da aula anterior para que pudessem terminar a atividade. Distribuí o trabalho para cada grupo e coloquei sobre uma mesa arames, fios, linhas e alicate de corte. Falei para os alunos que eles deveriam finalizar o trabalho nessa aula e que, depois de concluídos iríamos expor. Comentei que iríamos expor também os trabalhos feitos até a aula de hoje. No trabalho tridimensional faltavam apenas alguns acabamentos e detalhes como os olhos, as orelhas e alguns preenchimentos para dar mais volume ao rosto. Para Arslan e Iavelberg (2006, p.88), Acompanhar o processo de criação dos alunos é mais importante que exigir resultados em produções isoladas. Acompanhar os projetos de pesquisa, os conjuntos de trabalhos individuais e grupais e os textos escritos falam mais de cada estudante do que avaliações produzidas para verificação de fazeres e saberes definidos a priori como certos pelos professores.

Após todos terem acabado o trabalho, pedi para cada grupo comentar sobre a atividade.

Produção tridimensional de dois grupos. (Fonte: BRENNER, 2011)


102 Os comentários sobre a proposta foram bastante significativos. Percebi que mesmo com algumas dificuldades, os alunos mostraram-se envolvidos pela proposta. As colocações dos grupos que mais se repetiram foram: “Nunca tínhamos feito nada igual. Trabalhar com esses materiais foi muito divertido”. “Conseguimos dar conta da atividade. Tivemos muita dificuldade para imaginar como dar volume ao rosto”. “Foi muito interessante sair do papel.” Um aluno comentou: “Professora, nunca tinha me interessado por Arte antes. Às vezes me pego pesquisando sobre desenho, escultura e até sobre obras surreais. Acho que as suas aulas me fizeram refletir sobre o conceito de Arte.” Confesso que nesse momento fiquei extremamente feliz. Os alunos no início costumavam reclamar muito antes de realizar as atividades, alguns chegavam até pedir desenho livre. Aos poucos, foram criando gosto pelas atividades e toda vez que eu entro na sala de aula, percebo que a maioria deles fica curioso para saber o que vamos fazer. A colocação desse aluno, juntamente como os comentários sobre o trabalho realizado, me fez pensar que eu estou no caminho certo, e que, de certa forma o meu projeto está contribuindo para o crescimento gráfico dos alunos e para o gosto pela Arte. Com olhar de viajante que tudo registra e guarda, o educador vê a paisagem pedagógica com sua beleza e com sua agrura sem perder de vista aonde quer chegar. Leva com ele seus aprendizes, curiosos pesquisadores e também aqueles que apenas “entram no trem‟. Juntos poderão trocar idéias ao final de cada dia, no diálogo sensível que aos poucos envolverá a todos, ou quase todos. A expedição ao mundo da arte, desejada e enriquecida pelos investimentos sensíveis de cada aventureiro, certamente deixará marcas. E desejo de novas aventuras, atravessando outros territórios, que para o ser humano não deveria haver fronteiras, mas apenas horizontes ( MARTINS; PICOSQUE e GUERRA; 1998, p.186).

Depois dos comentários, organizamos a sala para começarmos a exposição. Coloquei um enorme papel pardo sobre algumas mesas. Expliquei que eu iria distribuir os trabalhos e que gostaria que depois que olhassem, entregassem para expormos. Conforme eu ia entregando os trabalhos, os alunos comentavam sobre as atividades, sobre a produção dos colegas, fazendo comparações entre eles. Foi mais um momento riquíssimo dessa aula. Pude perceber o quanto estavam satisfeitos com os resultados. Uma aluna comentou: “Professora, estamos parecendo crianças que recebem um monte de trabalhinhos e ficam procurando as estrelinhas da professora.” Falei para os alunos que eu estava feliz pela empolgação em receberem seus trabalhos, sinal que estes foram significativos e não passaram despercebidos. Aos poucos os


103 alunos foram entregando os trabalhos. Alguns ajudavam a selecionar, outros a colar e a exposição foi acontecendo. Uma exposição possibilita olhar o conjunto dos trabalhos produzidos e, retomando os objetivos da proposta do professor, muitas perguntas podem ser formuladas: quais trabalhos parecem responder melhor aos objetivos da proposta? Quais demonstram soluções mais inusitadas? Existem características comuns a todos? Como o aluno destacou determinadas idéias? Transformando as figuras? As cores? Modificando o tema? Existem semelhanças com a obra de algum artista? O que acharam das técnicas e dos materiais utilizados? Quais os recursos que as técnicas ofereceram? Que tipo de dificuldades e facilidades tiveram no manuseio do material? Os alunos poderão comentar o que julgarem importantes (IAVELBERG; ARSLAN, 2006 p.93)

Mosaico da organização da exposição. (Fonte: BRENNER, 2011).

Os alunos comentavam sobre os trabalhos durante toda a organização da exposição, elogiavam os trabalhos dos colegas, recordavam-se das propostas, enfim, foi um momento retrô das atividades realizadas. Depois de termos organizado a exposição, fomos procurar um lugar para colocála. Quando estávamos descendo as escadas, encontramos o vice-diretor que deu a idéia de colocarmos no corredor da sala dos professores para que todos pudessem visualizar a exposição, inclusive os colegas professores. Foi o que fizemos.


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Mosaico da exposição dos trabalhos dos alunos realizados até o dia 16/05/2011. (Fonte: BRENNER, 2011).

Deu o sinal, os alunos foram para o ginásio na aula de Educação Física e eu fui embora.


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3.3.11. Décimo primeiro encontro Data: 23/05/2011. Conteúdos:  Desenho;  Linha;  Colagem; Objetivos:  Utilizar técnicas variadas em um único trabalho;  Oportunizar um espaço criador para o aluno. Metodologias:  Atividade prática do desenho;  Aula expositiva. Desenvolvimento:  Pedirei para os alunos fazerem um grande círculo;  Distribuirei para cada aluno uma folha de desenho A4 e quatro pedaços de obras de artistas já vistos em aula;  Pedirei que colem esses pedaços aleatoriamente na folha;  Cada aluno deverá colocar o seu nome nessa folha;  Explicarei que a proposta será criar um desenho, partindo das colagens que fizeram, sendo que todos irão participar da criação desses desenhos;  Pedirei, de tempo em tempo, que os alunos troquem os desenhos, de modo que todos consigam contribuir um pouco no desenho do colega;  Esse rodízio acontecerá até que todos recebam seus desenhos de volta;  Após pedirei para cada aluno comentar um pouco sobre a realização da atividade;  No final da aula recolherei os trabalhos para que os alunos possam continuar atividade na próxima aula;


106 Recursos:  Recortes de obras de artistas trabalhados nas aulas anteriores (Escher; Ben Heine, Oswaldo Goeldi;)  Folhas de desenho A4;  Lápis;  Cola. Avaliação Os alunos serão avaliados durante o decorrer da aula observando a execução da atividade com o entendimento, interesse e realização dos objetivos. Realizado: Nesse dia a professora titular entrou comigo na sala de aula. Parabenizou os alunos pela exposição dos trabalhos e disse-lhes que estava bastante contente com os seus resultados. Em seguida, saiu da sala e me deixou com os alunos. Fiz a chamada e falei aos alunos que finalizaríamos nossas aulas na próxima semana. Uma aluna comentou: “Professora, gostaria que você continuasse dando aula para nós. Acho a professora titular muito parada. Não dá para fazer um abaixo assinado para você ficar”. Expliquei a turma que teríamos muito a aprender e desenvolver nas aulas de Artes, mas que o estágio tem um período. Além disso, expliquei que eu não era funcionária da escola e, por isso, não poderia continuar dando aula. Em seguida, pedi aos alunos que fizessem um grande círculo. Distribuí para cada um uma folha de desenho A4 e quatro pedaços de imagens já vistas nas aulas anteriores. O papel do educador não é provocar ampliações ou mudanças somente durante o fazer do aluno. Sua intervenção já ocorre antes, no sentido de organizar a ação, na escolha de materiais adequados para a sondagem e na preparação do espaço externo, do ambiente (MARTINS; PICOSQUE e GUERRA,1998 p.167)

Pedi que colassem aleatoriamente na folha os quatro recortes que eu havia dado. Após expliquei que na aula de hoje iriam desenvolver várias coisas como a criatividade no momento da colagem; os elementos básicos do desenho textura, linha, traço, volume; a liberdade de expressão; o respeito pelo trabalho dos colegas.


107 Falei para os alunos que depois dos pedaços das imagens serem coladas, deveriam criar um desenho, tentando fazer alguma relação entre os recortes. Disse-lhes que poderiam usar a imaginação, criando um desenho com características surreais, como fizeram os artistas que havíamos estudado nas aulas anteriores como Escher e Ben Heine. Para Martins, Picosque e Guerra (1998, p.117): “O caráter experimental instiga o adolescente a procurar seu estilo pessoal, como também o leva a outras formas mais livres de expressão”. Pedi para cada aluno colocar o nome na folha em que realizaram a colagem. Expliquei que faríamos um rodízio dos desenhos e que essa etapa da atividade só terminaria no momento em que cada um tivesse o seu trabalho de volta. Disse-lhes que eu daria um tempo para que pudessem contribuir em todos os desenhos. Depois de ter explicado qual seria a proposta, um aluno comentou: “Não gosto muito dessas atividades. “Os colegas podem „avacalhar‟ com o trabalho da gente”. Após a colocação do aluno, comentei novamente sobre o respeito ao trabalho coletivo, pedi que fizessem a atividade sempre pensando como agiriam se o trabalho fosse seu. Coloquei sobre uma mesa alguns materiais como: lápis 6B, canetas preta, canetas de nanquim, hidrocores preta ponta fina e grossa e lápis de cor preto. Comentei com os alunos que poderiam trocar de materiais no momento em que fossem desenhar, pois assim conseguiriam trabalhar melhor os traços, texturas, enfim enriqueceria o trabalho. Se pretendemos que os estudantes encontrem suas expressões próprias, devemos ficar atentos para que o convívio co materiais se faça de forma diversificada. Por exemplo, instrumentos que servem para traçar (lápis, Lápis de era, carvão, rolha queimada, giz, canetas esferográficas, hidrocores etc.) podem também ser experimentados e direcionados para deixar marcas mais extensas, aproximando-se da pintura (FERRAZ e FUSARI, 1999, p.113).

Durante a realização da atividade, eu caminhava pela sala esclarecendo dúvidas e incentivando os alunos em suas produções. Os alunos pediam para eu alcançar os materiais e assim a atividade foi transcorrendo calmamente e com muita participação por parte de todos.


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Alunos desenhando a partir da montagem dos recortes. (Fonte: BRENNER, 2011).

O aluno que havia comentado sobre não gostar desse tipo de atividade disse estar gostando da proposta da aula. Um de seus colegas comentou: “Me admiro ele estar dando o braço a torcer. Ele sempre reclama de tudo em todas as aulas.” Nesse momento todos riram e até mesmo o aluno. Comentei que estava feliz em saber que havia gostado da aula. Percebi durante a atividade que os alunos em geral, estavam mais confiantes em suas produções, soltando mais o traço e procurando resolver situações/problemas sem muita reclamação. Quando finalizou o rodízio dos trabalhos, comentei com alunos que na próxima aula faríamos a finalização dos desenhos, onde cada aluno no seu desenho irá trabalhar com texturas, volumes, linhas e cor, dando a sua própria identidade ao trabalho final. Observando o resultado parcial dos trabalhos, que para mim serviu como uma sondagem do que haviam aprendido em aula comigo, pude perceber o quanto minhas aulas contribuíram para o repertório imaginético dos alunos. Percebi também que os alunos, em geral, gostam das atividades propostas e o mais importante aprendem com elas.


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Colagem de recortes de obras. (Fonte: BRENNER, 2011).

Desenho coletivo. (Fonte: BRENNER, 2011).


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Colagem de recortes de obras. (Fonte: BRENNER, 2011).

Desenho coletivo. (Fonte: BRENNER, 2011).


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Colagem de recortes de obras. (Fonte: BRENNER, 2011).

Desenho coletivo. (Fonte: BRENNER, 2011).

No final da aula, recolhi os trabalhos e solicitei aos alunos que trouxessem l谩pis de cor para a pr贸xima aula, para finalizarmos a atividade e comentarmos sobre ela.


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3.3.12. Décimo segundo encontro Data: 30/05/2011. Conteúdos:  Linhas;  Cores;  Formas;  Texturas; Objetivos:  Desenvolver o espírito criativo através da finalização da atividade;  Fazer uma avaliação das aulas de Artes;  Refletir sobre os conteúdos estudados até momento e sobre a contribuição de tais conteúdos para o crescimento gráfico de cada aluno; Metodologias:  Atividade prática de desenho;  Discussão em grupos;  Aula expositiva. Desenvolvimento:  Iniciarei a aula pedindo aos alunos que façam um grande círculo;  Distribuirei os desenhos feitos na última aula;  Pedirei que peguem os lápis de cor solicitado para essa aula;  Explicarei para os alunos que para finalizar a atividade, deverão destacar alguns elementos que acharam importantes no desenho, criando novas texturas e dando volume, usando o lápis de cor;  Após todos terem terminado a segunda etapa da atividade, faremos uma exposição dos desenhos na própria sala, para que todos possam visualizar e comentar sobre o resultado final;


113  Distribuirei uma folha para cada aluno e pedirei que façam uma avaliação das aulas de Artes;  Faremos uma discussão em grupo sobre o que mudou na visão deles em relação às aulas de Artes e principalmente em relação ao desenho;  No final entregarei uma lembrança de despedida; Recursos:  Desenhos feitos na aula anterior;  Lápis de cor;  Folha A4; Avaliação: Os alunos serão avaliados durante o decorrer da aula observando a execução das atividades com o entendimento, interesse e realização dos objetivos. Realizado: Neste último dia de aula, saí de casa um pouco nervosa, parecia ser a minha primeira aula. Não conseguia explicar o que eu estava sentindo, era uma mistura de alegria com tristeza. Cheguei à sala de aula carregada de materiais. Cumprimentei os alunos, fiz a chamada e dei início à aula. Em seguida, entreguei os desenhos para os alunos finalizarem. Quando os alunos receberam seus desenhos, percebi que ficaram surpresos com o resultado. Um aluno comentou: “Que loucura esse desenho, ficou muito legal”. Surgiram muitos comentários positivos a respeito da proposta, porém, todos com o mesmo sentido. Expliquei para os alunos que eles deveriam destacar alguns elementos do desenho, usando lápis de cor ou qualquer outro material de pintura. Disse-lhes que este seria o último trabalho que faríamos e que gostaria que colocassem em prática o que haviam aprendido durante as aulas, fazendo o uso dos elementos principais do desenho como: volume, texturas, linha, traço, entre outros. Distribuí lápis de cor para os alunos que não tinham. Após deixei que trabalhassem livremente, pois era proposta simples e de sondagem.


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Alunos finalizando a atividade. (Fonte: BRENNER, 2011.)

Enquanto os alunos terminavam a atividade eu entreguei para a professora titular, a chamada, as avaliações, a listagem de atividades e conteúdos desenvolvidos durante o meu projeto. A professora comentou comigo que a turma em geral, era considerada um problema para a maioria dos professores, disse-me que eles têm muita dificuldade em se concentrar durante as aulas. Disse-me que eu estava de parabéns por conseguir manter a ordem e fazer com que todos participassem das atividades. Nesse momento, fiquei feliz e ao mesmo tempo surpresa. Durante todas as minhas aulas, eu acreditava que o desinteresse por parte de alguns alunos seria pelo pouco valor que atribuem às aulas de Artes, ou talvez, pelo fato de terem aula com uma estagiária, enfim, isso me preocupava muito. Porém, de maneira alguma deixei de cobrar, de exigir, de incentivar, e acredito que isso fez a diferença. Depois de concluídos os trabalhos, colamos todos no quadro para que todos pudessem visualizar e comentar sobre os resultados. Durante a apreciação dos trabalhos surgiram comentários surpreendentes como: “Nunca pensei que algum dia eu iria gostar de ver um desenho meu”, “Essa atividade juntou quase tudo o que vimos em aula”, “Achei extremamente interessante continuar o desenho do colega”, “Olhem como a cor deu vida”, “Os desenhos ficaram lindos. Eu não acreditava que iriam ficar tão bons.”


115 Muitas vezes, a interpretação verbal efetuada pela criança é mais rica e criativa que o próprio desenho, sendo este o suporte da fala, da narração verbal. De qualquer forma, a criança exerce um juízo a respeito de seu próprio trabalho, manifestando índices de uma intenção inicial, de um projeto, de um pensamento em exercício, que pode ou não corresponder ao resultado: o confronto da imagem interna com a externa (DERDYK, 1989, p.95).

Enquanto os alunos faziam seus comentários, eu e a professora Aparecida também fazíamos nossa apreciação o que deixava os alunos ainda mais empolgados. Depois de concluída essa etapa última etapa da atividade, pedi que todos sentassem e recolhi os trabalhos. Em seguida, distribuí uma folha A4 para cada aluno. Pedi que fizessem uma avaliação sobre as nossas aulas de Artes, falando sobre o que aprenderam, sobre as atividades e se quisessem sobre a professora. Mais uma vez fiquei surpresa com a turma, pois, acreditei que os alunos não iriam gostar desse momento, já que, deveriam relatar algo tão pessoal. Na medida em que foram terminando, foram me entregando. Depois de todos terem me entregue as avaliações, pedi que escutassem o que eu tinha a dizer. Nesse momento, todos ficaram me olhando, inclusive a professora titular. Disse aos alunos, que eu estava muito satisfeita com o resultado de seus trabalhos, que eu só tinha a agradecer pelo carinho, pela participação, pelo respeito que tiveram por mim e pelo meu trabalho em nossas aulas. Após o meu comentário, a professora titular, também fez a sua colocação; “Eu falo em nome de todos nós, pois, somos nós que temos que te agradecer, pela tua competência, seriedade, capricho e principalmente pelo carinho que tivestes por todos durante o teu estágio.” Confesso que fiquei emocionada, aproveitei esse momento para entregar a lembrancinha aos alunos e descontrair um pouco. Uma aluna me entregou uma carta e disse que era para eu ler em casa. Observando os trabalhos dos alunos, pude concluir que os objetivos da proposta de trabalho foram evidentemente alcançados por eles. Os alunos conseguiram desde a primeira etapa da atividade, desenvolver a criatividade com a variação de técnicas, respeitar o trabalho coletivo, desenvolvendo os principais elementos do desenho. Além disso, pude perceber o crescimento gráfico da turma em geral, os alunos soltaram mais o traço, mostrando-se mais confiante em suas produções. Acredito que essa atividade contribuiu também para que os alunos percebessem a importância da cor, o


116 resultado que ela pode trazer e também o quão importante ela se faz no desenho. Isso ficou claro no momento em que um dos alunos comentou: “A cor deu vida ao desenho”. Nota-se que de um modo geral, os alunos, em suas produções, fizeram desenhos com características surreais, mas não deixaram de lado o desenho figurativo e os elementos característicos da própria adolescência, como: desenhos de corações, anéis no dedo, tatuagem na mão, aparelho nos dentes, misturando entre o desenho pequenas frases como I Love, entre outras. Enfim, foi uma atividade em que os alunos puderam ousar e se libertar do medo de fazer “feio”, como costumam dizer. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 49), Embora o jovem tenha sempre grande interesse por aprender a fazer formas presentes no entorno mantém o desenvolvimento de seu percurso de criação individual, que não pode se perder. O aluno pode e quer criar suas próprias imagens partindo de uma experiência pessoal particular, de algo que viveu ou apreendeu, da escolha de um tema, ou de uma influência, ou de um contato com a natureza assim por diante.

Desenho coletivo e posteriormente finalizado pelo aluno Geison. (Fonte: BRENNER, 2011).


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Desenho coletivo e posteriormente finalizado pelo aluno Douglas. (Fonte: BRENNER, 2011).

Desenho coletivo e posteriormente finalizado pelo aluno Robson. (Fonte: BRENNER, 2011).

Antes de finalizarmos a aula, pedi para a professora titular tirar algumas fotos minha com a turma. Nesse momento os alunos não concordaram em tirar a foto todos juntos de pé, decidi então ir até os pequenos grupos e tirar a foto entre eles.


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Foto com um grupo de alunos. (Fonte: BRENNER, 2011.)

Foto com um grupo de alunos. (Fonte: BRENNER, 2011.)

Deu o sinal e um dos alunos ficou na sala, chegou até mim, deu-me um abraço e disse-me: “Que pena que precisas ir, nunca tinha gostado tanto das aulas de Artes. Continue assim, você é uma ótima professora”.


119 Mais uma vez fui pega de surpresa e fiquei sem palavras. Esse aluno sempre foi muito quieto, realizava as atividades sempre sem dificuldades e eu não imaginava que estava gostando tanto das minhas aulas. Após ler as avaliações feitas pelos alunos, sobre as aulas de Artes, percebi que a satisfação das aulas aconteceu de um modo geral, os alunos gostaram das atividades e principalmente aprenderam muito com elas. Os relatos das avaliações que foram mais significativos e que mais me emocionaram foram: “Com certeza aprendi muito sobre desenho e também aprendi a gostar de desenhar, pois, basta gostarmos daquilo que estamos fazendo que fica muito legal” , “ As aulas foram ótimas, aprendi muito, as aulas foram muito divertidas, foram diferentes e não foram aulas chatas”, “ Professora está de parabéns, além de ensinar bem é simpática e compreensiva com os alunos. Que você seja muito feliz nessa jornada que à espera e volte quando quiser”, “ Estou a mais de dez anos nesse colégio, e essa foi a melhor aula de Artes que eu tive. És uma professora muito querida e dá atenção aos alunos. Gostei muito, todas as professoras deveriam ser assim.” Fiquei extremamente feliz com o resultado final do meu projeto. Toda a ansiedade e angústia inicial desapareceram quando percebi que atingi os objetivos iniciais, mesmo que trilhando caminhos em que precisei ultrapassar limites e transpor dificuldades. Quando perseguimos objetivos e acreditamos neles, superamos tudo e temos uma sensação de dever cumprido.


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CONCLUSÃO Tendo em vista todos os aspectos observados, durante os meus estágios, em Artes Visuais, hoje, vejo que é preciso encarar os conflitos, os imprevistos, os medos e as inquietações como possibilidades de reflexão. Também, vejo a importância de se construir um espaço de convivência afetiva, em que ambos, professor e alunos, podem e devem buscar as melhores alternativas para alcançar os objetivos planejados. Assim, será possível uma abertura para que novas aprendizagens possam vir a acontecer, de maneira intencional e produtiva para todos. Para elaborar essa conclusão, foram analisados os dados coletados, durante os estágios anteriores, bem como as aulas práticas, procurando destacar questões que, de certa forma, não foram reconhecidas, ao longo dos relatos realizados. Nesse sentido, foi fundamental realizar uma análise mais crítica das aulas, de modo que se tornou essencial falar nas escolhas de suas adequações, de suas colaborações, bem como no reconhecimento dos aspectos que não foram bem sucedidos. Através das observações dos aspectos analisados, destaquei algumas questões observadas, essencialmente, após a aplicação do projeto. Num primeiro momento, procurei analisar a relação afetiva entre o professor e o aluno, fator que contribuiu fortemente para o bom andamento das aulas. Em um segundo momento, considerei importante relacionar os objetivos planejados com os objetivos alcançados, constatando a importância dessa relação para uma aprendizagem significativa. Também, procurei analisar a maneira como os alunos se apropriam dos conhecimentos, o que pôde ser percebido nas suas contribuições, durante as aulas. Na sequência, procurei pensar sobre a importância do processo de avaliação, ao longo das aulas. O relacionamento afetivo entre professor e aluno é extremamente importante para o desenvolvimento e para a construção do conhecimento. É por meio dessa relação que o aluno se desenvolve, de forma mais completa. Existe uma carência afetiva muito grande, por parte dos alunos. Isso acontece porque, muitas vezes, não recebem atenção suficiente, necessitando, em alguns momentos, de um tratamento individualizado, de modo que suas experiências pessoais e seu ritmo de trabalho sejam reconhecidos e valorizados pelo professor. Acredito que não existam tecnologias que possam competir com essa relação, por isso, vejo que a relação afetiva positiva entre mim e os alunos foi o fator que mais contribuiu para que a trajetória das aulas fosse bem sucedida. No início, havia um receio muito grande,


121 não só da minha parte, mas também por parte dos alunos. Afinal de contas, tudo era novo, tudo era conquista, e, consequentemente, tudo gerava medo, angústia e receio. Nas primeiras aulas, senti que eu estava sendo testada por alguns alunos, que faziam comentários desagradáveis, como: “O que ela veio inventar aqui?”, “Os professores acham que todos têm internet em casa, aí ficam pedindo pesquisa.” Porém, percebi que esses comentários era uma maneira de chamar minha atenção. Nossa relação afetiva não aconteceu de forma mecânica. Existiram fatores que contribuíram intensamente para que ela acontecesse. Posso dizer que a maneira sutil com que eu lidava com os imprevistos, resolvendo-os, sem mudar minha postura perante os alunos, contribuiu para isso. Outra situação diz respeito ao modo como eu costumava lançar os desafios, sem impor, com arrogância, as atividades, bem como a maneira como os repreendia, sem utilizar expressões que lhes rotulassem como incapazes. Ainda, preciso destacar que a forma como eu demonstrava satisfação pelas produções dos alunos, elogiando-os e incentivando-os a descobrir os seus potenciais, repercutiu positivamente para a nossa relação. No primeiro dia de aula, percebi que alguns alunos tentavam esconder os desenhos de mim. Isso porque não se sentiam à vontade, tinham medo de críticas e indagações a respeito de suas produções. Eles criavam situações para verificar o meu comportamento diante de tais colocações e acontecimentos. Porém, desde o início, procurei incentivá-los a produzir, respeitando o ritmo de cada um e deixando claro que poderiam ousar nas nossas aulas. Na segunda aula, os alunos deveriam trazer uma pesquisa sobre o desenho e suas diferentes manifestações. Porém, apenas seis alunos trouxeram a pesquisa. Mesmo assim, não deixei que isso prejudicasse a aula. Afinal de contas, os alunos que haviam realizado a pesquisa deveriam ser valorizados. Nessa aula, lancei o desafio para todos e, de maneira bem livre, fui questionando e estimulando os alunos a participarem do debate, valorizando as colocações dos colegas, partindo delas para dar andamento à aula. Outro imprevisto, que exigiu minha flexibilidade, ocorreu na terceira aula, quando os alunos deveriam trazer material para realizarmos a gravura no isopor. Sabendo da falta de comprometimento, por parte de alguns alunos, levei material suficiente para a turma. Percebi que os alunos começaram, nessa aula, a se dar conta da importância que eu estava atribuindo às atividades, o que ficou demonstrado no grande interesse que tiveram na proposta. A sétima aula foi extremamente turbulenta, houve falta de materiais, dúvidas sobre a atividade proposta. Apesar disso, hoje, refletindo sobre este fato, vejo que foi a aula em que os alunos se mostraram diferentes, empolgados, assim como eu, pelo projeto,


122 perguntando sem timidez e interagindo mais. Também, procurei encorajá-los, incentivandoos, durante toda a atividade e, por fim, elogiei suas produções, percebendo que os alunos estavam se sentindo mais seguros comigo. Essa aula provou que, ainda que, em algumas vezes, os objetivos previstos não tivessem sido alcançados, por um motivo ou outro, houve a contribuição para que outros fatores viessem a ser fortalecidos e, nesse caso, quero ressaltar os sentimentos de confiança e de empatia, entre ambas as partes. A partir da sétima aula, então, percebi que a relação de confiança já estava estabelecida, e, nas aulas posteriores, vi o quanto essa relação contribuiu para avanços na aprendizagem dos alunos. Eles passaram a interagir mais entre si, ajudando uns aos outros, esclarecendo dúvidas sem timidez, demonstrando satisfação pelo seu próprio trabalho, enfim, houve um envolvimento com o projeto, que, no início, não existia, e que, certamente, passou a existir, através dessa boa relação. Durante as aulas, procurei aplicar métodos que despertassem nos alunos olhares mais sensíveis, mais observadores e mais críticos, principalmente, diante das obras de arte. Acreditava que, despertando novos olhares, através da leitura de imagens de artistas, que mostram em suas obras que desenhar é muito mais do que representar objetos e ideias, por meio de linhas, podendo ousar, criar e até misturar elementos, como Ben Heine fez, eu conseguiria despertar na turma uma nova visão sobre o desenho. Foi pensando na dimensão do desenho, e na sua importância nas aulas de Artes, que procurei mostrar, através de atividades práticas, que o desenho pode ser manifestado de várias maneiras, podendo até mesmo sair do papel, assim como, que um desenho em plano bidimensional, dependendo da maneira como é feito, não deixa de ser tridimensional, como exemplifiquei, através das gravuras de Escher. Na primeira aula, os objetivos principais eram os de conhecer mais o grupo de alunos, fazer uma sondagem sobre os materiais que traziam para as aulas de Artes e também verificar como estava o conhecimento gráfico da turma. Vejo que a necessidade de querer saber muito, já no primeiro encontro, me levou a fugir de alguns objetivos, logo de início. Os alunos, através da dinâmica, mostraram muito os seus potenciais para desenhar, através da memorização, buscando mais criar alternativas para relacionar os elementos da música, do que mostrar, com liberdade, o seu próprio desenho. Um erro que o professor comete é acreditar que todas as aulas devem ser bem diferentes, com metodologias não convencionais, esquecendo que, em algumas vezes, é preciso um debate mais longo, uma atividade mais livre, para realmente realizar uma sondagem significativa. Sobre essa questão, Martins, Picosque e Guerra comentam:


123 Como poderíamos saber mais sobre nossos alunos? A observação de suas produções realizadas sem nossas intervenções pode revelar alguns interesses, mas é vital criar situações para sondar seu repertório, seu arquivo dinâmico de experiências reais ou simbólicas, para que possamos olhar melhor e mais cuidadosamente nossos aprendizes. Com essa avaliação iniciante pretendemos investigar o que já sabem e o que ainda não sabem, do que mais gostam e o que não os atrai, como agem no grupo, suas dificuldades no uso dos materiais etc (1998, p.166).

Pensando nessa aula e, com base no que as autoras comentam a respeito de como saber mais sobre os alunos, confesso que desperdicei esse momento inicial do projeto. Hoje, consigo reconhecer que isso fez a diferença. Se os alunos, no primeiro dia de aula, tivessem realizado uma atividade prática, sem a minha intervenção, eu teria percebido as suas maiores dificuldades, que era criar livremente. Portanto, se eu tivesse reconhecido isso logo no início, não teria apresentado uma direção tão específica, nas minhas aulas, muito pelo contrário, teria mostrado diferentes caminhos para que os alunos escolhessem qual deles seguir. Na quinta aula, embora tenha utilizado a mesma metodologia da primeira aula, ditado de imagens, mesmo fugindo um pouco da liberdade de expressão e criação, por parte dos alunos, consegui desenvolver e estimular o imaginário, utilizando imagens mentais, o que não estava previsto. Os alunos, de forma descontraída, começaram a soltar mais o traço, permitindo-se perguntar, imaginar e desenhar. Na sexta aula, surgiu outra questão a ser repensada. Queria dar conta da atividade e acabei atropelando o objetivo principal da aula, que era o de realizar um desenho de observação. Embora a atividade tenha sido realizada, acredito que não dei a importância necessária a ela. Percebi que os alunos ficaram esperando mais, porque não dei o embasamento teórico necessário para a prática ser aplicada. Porém, vejo essa aula também como uma das mais importantes do meu projeto, pois foi quando a turma sentiu que era livre e que também poderia me “ensinar” algo. Percebi que a prioridade não era conseguir aplicar tudo que havia planejado, mas, sim, criar situações para que, juntos, pudéssemos alcançar objetivos significativos. No sétimo encontro, reconheço que me perdi um pouco. Se os objetivos estavam voltados à criação, por que direcionei tanto a atividade? Sei que muitos fatores contribuíram para que eu caísse nessa “armadilha”, como ansiedade de aplicar a atividade, falta de materiais, e, o que é mais forte, as perguntas dos alunos: “E agora, o que vamos fazer?” Os alunos, embora já se posicionassem diante das atividades, ainda eram imaturos para criar, sem serem orientados sobre os passos a seguir. Acredito que o professor deve despertar neles essa liberdade, e ter a consciência de que é preciso arriscar o seu planejamento, por várias vezes, para, no final, poder reconhecer essa liberdade nas produções do grupo.


124 No decorrer dos encontros, os alunos foram criando gosto pelas atividades, e, sem perceber a dimensão que as aulas foram tomando, muitas vezes, por querer alcançar os objetivos planejados, não enxerguei muitos objetivos que foram sendo atingidos por eles, de maneira não intencional, tais como o envolvimento nas produções coletivas e individuais, a manipulação e o gosto por diferentes materiais, o desenvolvimento da relação de autoconfiança com a própria produção artística, a ampliação do repertório imagético, a valorização da relação afetiva entre professor e aluno, bem como os novos conceitos de Arte. Na décima aula, quando um aluno comentou: “Professora, nunca tinha me interessado por Artes antes. Às vezes, me pego pesquisando sobre desenho, escultura e, até mesmo, sobre obras surreais. Acho que as suas aulas me fizeram refletir sobre o conceito de Arte”, foi quando realmente percebi a dimensão que o projeto alcançou. Acredito que houve muito mais do que um simples gosto pela arte e um crescimento gráfico reconhecido nos trabalhos dos alunos. As aulas criaram inquietações, curiosidades, que levaram os alunos a terem um novo olhar, porém, não apenas para o desenho, mas para a Arte, de um modo geral. Hoje, vejo que os novos objetivos alcançados pelos alunos, juntamente com os que eu havia planejado, tornaram o projeto muito mais significativo, muito mais completo, e, se por algum motivo, alguns ficaram para trás, que sirvam para que, no futuro, despertem em mim a consciência de um planejamento flexível, sob todos os aspectos, seja nos conteúdos, nos objetivos, nas metodologias, no desenvolvimento das aulas e também nas avaliações. Aos poucos, os alunos foram sendo envolvidos pelas novidades, pelos diferentes materiais, pelas diferentes metodologias, demonstrando satisfação, principalmente, pelas atividades práticas, fazendo relação, o tempo todo, com a própria vida, assim como relatando acontecimentos, experiências, que, nesse momento, traduziam o que estavam abstraindo, aquilo que realmente era significativo para eles. Com relação ao terceiro ponto observado, a questão sobre como os alunos se apropriam dos conhecimentos, vejo que subestimei o interesse e a capacidade da turma, pelo fato de, inicialmente, não ter me dado conta de que teriam suas próprias conclusões, com a necessidade de expô-las ao grupo. Ao planejar as aulas, minha grande preocupação sempre foi com a dimensão simbólica (aquilo que os alunos iriam abstrair de significativo para eles próprios), oriunda da atividade prática realizada. No decorrer das aulas, no entanto, essas questões foram, algumas vezes, deixadas de lado, sendo que passei a me preocupar mais com as questões técnicas do desenho, como, por exemplo, a proporção, volume, forma, fugindo do meu propósito inicial (dimensão simbólica) e dos objetivos do projeto. Penso que foi o fato de querer dar conta de mostrar essa dimensão do desenho, e aplicar as atividades práticas


125 planejadas, que acabei atropelando e não reconhecendo essa absorção de conhecimentos adquiridos, a cada encontro, pelos alunos. Durante a atividade prática, já na segunda aula, imaginei que os alunos iriam observar as imagens novamente e, mesmo tendo que criar algo novo, se inspirariam nas próprias imagens para criar. Entretanto, isso não aconteceu, pois, na medida em que os grupos foram desenhando, foram transferindo seus próprios desejos, anseios e preferências para o desenho. Enfim, estavam tentando me mostrar que embora tivessem compreendido a proposta da aula, queriam dar sua própria identidade ao trabalho. Lembro-me do grupo três, que deveria substituir a esfera do artista Escher por outro elemento, e decidiu por utilizar a técnica da frotagem, colocando várias moedas na palma da mão. Isso me mostrou a relação que o grupo estabelecia com a própria vida. Os alunos fizeram comentários, ao longo da atividade, também, na terceira aula, como: “Professora, essa obra pode ter detalhes mais simples, mas se torna mais complicada de ser fazer porque possui profundidade.” Surgiram comentários do que já haviam aprendido com a professora Aparecida, sobre os pontos de fuga, e que não era difícil de fazer. Esse momento mostrou como uma leitura de imagens tem o poder de retomar aprendizagens, de perceber dificuldades que, de certa forma, não foram bem desenvolvidas, entre outras. Outro comentário extremamente importante foi: “As obras desse artista, assim como as de Escher, vistas na semana passada, são riquíssimas em detalhes e mostram que é preciso usar os elementos que a professora tanto fala, como proporção, textura, profundidade e luz”. Os próprios alunos estavam conduzindo as aulas para um sentido de apropriação do conhecimento. Ao longo da quarta aula, quando pedi para os alunos desenharem, na bandeja de isopor, alguma cena marcante da sua vida, me dei conta de que eles não reclamaram para desenhar, porque eu havia pedido para fazer algo relacionado com a própria vida, o que para eles tinha sentido. Durante os comentários dos resultados práticos, percebi que apenas um dos trinta alunos havia desenhado a figura humana. Um dos colegas comentou: “Só podia ter sido o Tiagão mesmo”. Esse aluno era considerado, pelos colegas, o que melhor sabia desenhar. O aluno comentou que precisou observar a foto da namorada no celular e que essa observação facilitou no momento de desenhar. Mais uma vez, surgiram comentários e colocações, que estavam levando o projeto adiante, e nessa aula foram lançados dois conteúdos a serem trabalhados nos próximos encontros: a figura humana e o desenho de observação. Já na quinta aula, quando trabalhei com o ditado de imagens do artista Ben Heine, surgiram as seguintes perguntas: “Tenho que fazer igual?”, “São muitos elementos, posso


126 desenhar os que eu achar mais legais?” Estes comentários me dão a certeza de que os alunos estavam muito mais envolvidos com o simbolismo do que propriamente com as questões técnicas. Simbolismo implícito nas atividades, mas abstraído pelos alunos, e que remete a uma aprendizagem muito mais significativa para eles. Na sexta aula, mais uma vez, me preocupei com as questões técnicas, atropelando o planejamento. No entanto, os alunos deram um sinal de alerta, me questionando a respeito do fato de não conseguirem terminar a atividade, nesta aula. Aos poucos, fui me dando conta de que as questões técnicas possuíam um valor secundário para eles. Tais questões passaram, então, a fazer parte do meu planejamento, ou seja, comecei a ir para a aula ciente de que diversas questões pertinentes às atividades seriam levantadas e discutidas pelo grupo, o que, evidentemente, tornou as aulas muito mais interessantes e desafiadoras. Interessantes, porque toda a turma interagia de maneira construtiva, com grande preferência pelas atividades práticas. E desafiadoras, porque as aulas não se limitavam ao que estava descrito nos planejamentos, mas, sim, a diferentes maneiras, a vários pontos de vista sobre uma mesma questão. Isso ocorre porque a Arte possui uma amplitude de conhecimentos muito grande. Devido a isso, é fundamental que o professor tenha consciência de que seu planejamento pode e deve ir muito além do que espera, podendo alcançar novos objetivos, despertando curiosidades que levam os alunos a descobrirem novos caminhos, novos conceitos e novas possibilidades de se fazer Arte. Pensando nisso, o ensino de Artes, na escola, deve contemplar aspectos teóricos, uma vez que esses embasam práticas. Entretanto, são as práticas, realizadas na sala de aula, que desafiam e desacomodam os alunos. Surge aqui, a quarta questão considerada importante ao longo do desenvolvimento da prática. A prefêrencia dos alunos pelas atividades práticas. Ao proporcionarmos aulas desafiadoras, aprendemos que os resultados são conquistas adquiridas, não só pelos alunos, mas, também, pelo professor, que está ali auxilando, vibrando pelos acertos, mostrando caminhos para aqueles que ainda não estavam satisfeitos com os resultados. É nessas aulas, nas quais há mistura de imprevistos, receios, e que o professor, muitas vezes, sem perceber, media a aula de forma tão natural, suprindo as reais necessidades do grupo, que os objetivos são alançados. O professor, na maioria das vezes, não se dá conta de que uma aula “turbulenta” foi uma maneira dos alunos demonstrarem a satisfação e o interesse pela atividade. É preciso repensar quando a aula foi tranquila e os alunos não perguntaram nada. Isso pode significar que os alunos não entenderam nada, ou que a aula foi tão mecânica, a ponto de não gerar comentários e provocar inquietações.


127 Na terceira e na quarta aulas, procurei trabalhar um pouco sobre a gravura. A intenção era a de mostrar aos alunos que existem outros suportes e outras ferramentas para se fazer um desenho. Percebi o quanto essas duas aulas contribuíram para a compreensão da dimensão do desenho. Além disso, os alunos, embora intimidados a trabalharem com outros materiais, nesse caso, bandeja, palito, rolinho e tinta, demonstraram grande interesse pela atividade. Na oitava e nona aulas, procurei mostrar para os alunos que, a partir do plano bidimensional, tão utilizado, é possível criar possibilidades de novas experimentações, voltadas ao tridimensional, gerando uma aula bastante envolvente, por parte de todos. Os alunos partiram do desenho de observação do rosto do colega, e, posteriormente, criaram um rosto tridimensional, com o uso de arame, fios, linhas, entre outros. Mais uma vez, eles se mostraram empolgados, demonstrando grande interesse pela atividade prática. É preciso oferecer a manipulação de materiais diferenciados, que permita aos alunos a exploração de novas soluções, despertando a criatividade, não reduzindo as aulas sempre com as mesmas atividades, que não revelam o verdadeiro potencial do educando. Para que essas revelações sejam realmente significativas, existe uma necessidade muito grande de fazer com que a avaliação dos resultados práticos faça parte do processo de aprendizagem. É necessário refletir sobre a importância do processo de avaliação, durante a prática de ensino. Na maioria das vezes, a avaliação é feita, obedecendo a critérios estabelecidos pelo professor, como participação, assiduidade, interesse pelas atividades, argumentação sobre os resultados obtidos, entre outros. Porém, é preciso reconhecer que a avaliação deve assumir novas funções, pois é o momento em que se pode diagnosticar de que forma os objetivos propostos estão sendo atingidos. É o momento em que os próprios alunos vão tomando consciência de seus avanços e de suas escolhas. Durante esse processo de avaliação, o professor consegue analisar o seu próprio planejamento, observando se os comentários feitos pelos alunos, sobre os resultados, possuem coerência, se eles percebem crescimento em suas produções, se possuem uma nova visão do que foi ensinado, se conseguem ter um olhar crítico sobre o conteúdo. Enfim, pensando na avaliação, dessa maneira, confesso que, algumas vezes, me perdi um pouco, por acreditar que a avaliação seria um momento importante apenas para mim. No final de cada aula, eu recolhia os trabalhos dos alunos, pensando no dia da exposição. Em algumas aulas, não criei esse momento de avaliação, que deveria levar em conta as opiniões e reflexões dos alunos sobre os seus resultados. Admito que, em algumas


128 aulas, direcionei o meu olhar mais para os debates sobre as imagens que mostrava, do que para as próprias produções dos alunos, sendo que, em casa, eu analisava os resultados. Na segunda aula, os alunos formaram grupos, montaram os quebra-cabeças de Escher, falaram sobre as imagens, e, nesse momento, eu procurei observar, refletir e entender o pensamento de cada aluno, a respeito do que viam e sentiam, procurando despertar neles um olhar crítico e mais observador, perante as imagens. Porém, embora eu tenha percebido a contribuição dos questionamentos das imagens de Escher, nas suas produções, deixei de dar oportunidade em aula para os alunos falarem de que maneira as imagens contribuíram ou não para realização da atividade prática. Na sexta aula, aconteceu outra questão a ser repensada. Dessa vez, a avaliação dos resultados não foi realizada por dois motivos principais: o primeiro foi por acreditar que a avaliação deve ser realizada somente quando a atividade prática está totalmente concluída. Porém, a primeira etapa da atividade fazia parte de um dos principais conteúdos da prática de ensino, o desenho de observação, nesse caso, do objeto. O segundo motivo foi que eu queria dar conta da atividade prevista para aquele encontro, ao invés de analisar junto com os alunos os resultados dos desenhos, e, por isso, propus a eles a próxima etapa da atividade. Acredito que essa aula ficou um pouco sem sentido para eles, pois faltou finalização. Outro aspecto a ser repensado, foi acreditar que a avaliação poderia ser feita apenas com a observação dos alunos produzindo, de seu envolvimento com a proposta e de seus comentários, durante a realização da atividade. Acredito que o tempo destinado à avaliação foi muito curto. Algumas vezes, tinha que interferir nas colocações dos alunos, pedindo para falarem mais rápido, pois sabia que não daria tempo para todos falarem. Hoje, me faço as seguintes perguntas: “Por que não continuarmos as colocações na próxima aula? Por que atropelar algo que me ajudaria a perceber como os alunos estavam abstraindo os conteúdos? Por que não criar uma metodologia diferenciada para falar nos resultados? Por que me preocupei tanto com o dia da exposição?”. Embora tenha me dado conta de que os alunos precisavam participar do processo de avaliação, proporcionando momentos de reflexões, ainda que curtos, sobre os resultados, na maioria das aulas, eu continuava recolhendo os trabalhos, ao final de cada aula, para organizarmos a exposição. Analisando e refletindo sobre o dia da exposição, percebi o entusiasmo dos alunos ao receberem seus trabalhos de volta. Uma aluna fez o seguinte comentário: “Professora, estamos parecendo crianças que recebem um monte de trabalhinhos e ficam procurando as estrelinhas da professora.” Percebi, naquele dia, a importância que os alunos estavam atribuindo aos seus trabalhos, fazendo relações entre uma produção e outra,


129 mostrando aos colegas, refletindo sobre os próprios avanços. Enfim, foi despertado, nessa aula, algo que deveria ter surgido logo no início: o gosto pela própria produção e o entendimento das atividades como um conjunto que faz parte de um projeto. Reconheço que pequei em relação à importância que atribuí ao dia da exposição. No entanto, vejo que ela não passou despercebida. Ainda que tenha sido bem no final do projeto, acredito que os alunos conseguiram reconhecer o que eu queria desenvolver com o projeto e, juntos, conseguimos resultados satisfatórios. Algumas vezes as aulas se tornam envolventes pela maneira como o professor conduz suas aulas, outras vezes, pela utilização de materiais, com que alunos não estão acostumados a trabalhar. Assim cabe refletir que na prática de ensino tive a felicidade de conseguir unir essas questões o que de certa forma contribuiu para que os alunos participassem das atividades e continuassem na grande maioria até o fim do projeto comigo . Ressalto a importância do material diversificado nas aulas de Artes e também tenho consciência de que isso facilitou o bom andamento das aulas. Sei que a minha contribuição foi muito grande em relação aos materiais utilizados durante as aulas, pois queria que as aulas fossem bem sucedidas e com um bom aproveitamento. Portanto, é preciso conscientizar os alunos de que a aula se torna envolvente quando se tem a coloboração de ambos os envolvidos, professor e aluno, trazendo os materias solicitados, as pesquisas, as contribuições a respeito do conteúdo desenvolvido, enfim é uma soma de responsabilidades que dão significado as aulas. Refletindo sobre a prática de ensino, na sua totalidade, posso dizer que existiram fatores que, certamente, foram fundamentais, tanto para os acertos, quanto para os erros, na prática de ensino. Penso que, para os acertos, tive a felicidade de escolher um tema que foi bem aceito pelos alunos, podendo trabalhar com materiais diversificados, utilizando diferentes metodologias que, de certa forma, despertaram, nos alunos, o gosto pelo projeto. Além disso, a relação de amizade que conseguimos estabelecer fez a diferença. Para os erros, acredito que a minha falta de experiência, como docente, me levou a percorrer caminhos que não tiveram bons resultados, como metodologias não apropriadas, para alcançar objetivos planejados, e a ansiedade em aplicar a atividade prática prevista para aula, atropelando, muitas vezes, o momento importante da avaliação dos resultados. Para Oliveira e Hernández (2005), “O estágio é o período em que nos damos conta de várias coisas”. É o momento em que testamos nossa formação, nosso conhecimento. É o período que nos leva a situações inesperadas, que consistem em erros, sendo preciso reconhecê-los para romper limites. Hoje, tenho consciência de que a prática de ensino não me


130 garantiu uma preparação docente completa, mas me possibilitou noções básicas do que é ser professor, de como é a realidade em sala de aula, da importância da relação afetiva entre professor e aluno. O estágio é a nossa primeira experiência concreta, quando acontecemos como professores, nascemos literalmente, fizemos escolhas, que consistem em nossas mudanças, mudanças que são marcadas para a vida toda em forma de lembranças, lembranças queridas que devem ser amadas como trajetória. Essas são as nossas metades, o que fomos, o que somos, e o que seremos (OLIVEIRA e HERNÁNDEZ, 2006, p.156).

Refletindo sobre o que dizem as autoras e também sobre tudo o que eu vivi, durante o estágio, posso comprovar a importância desta vivência para a minha formação. Cada etapa vivenciada, durante este período, apresentou especial significado para meu aperfeiçoamento profissional e oportunizou reflexões muito importantes para a continuidade do meu trabalho como educadora, no futuro.


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REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana Mãe. Inquietações e mudanças no ensino da Arte. Ana Mãe Barbosa (org.). 3ª Ed- São Paulo: Cortez, 2007. BECK, Ana Lúcia (org). Artes Visuais. Manual para a Prática de Ensino. Canoas: Ed. ULBRA, 2011. BHABHA, Homi K.. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 1998. BOURO, Anamelia. O olhar em construção: uma experiência de ensino e aprendizagem da arte na escola. São Paulo: Cortez, 2003. CAVALCANTI, Zélia. (coord.). Arte Na Sala de Aula. Porto Alegre, Artmed, 1995. DERDYK, Edith. Formas de Pensar o Desenho. São Paulo: Scipione, 1989. EDWARDS, Betty. Exercícios para desenhar com o lado direito do cérebro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. ERNST, Bruno. O espelho mágico de M. C. Escher. Colônia- Alemanha. Editora Taschen, 1978. FELDAMAN, E. In: BARBOSA, Ana Mãe. A Imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 1991. FERRAZ, M. H. C. de T; FUSARI, M. F. de R. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1993. _______Metodologia do Ensino de Arte. 2ª edição. São Paulo: Cortez, 1999. GARCEZ, Lucília; OLIVEIRA, Jô. Explicando a Arte: Uma iniciação para entender e apreciar as Artes Visuais. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. IAVELBERG, Rosa; ARSLAN, Luciana. Ensino de arte. São Paulo: Thomson Learning, 2006. IAVELBERG, Rosa. Para Gostar de Aprender arte: sala de aula e formação de professores. Porto alegre: Artmed, 2003. KELLY, Celso. Arte e Comunicação. Rio de Janeiro: Agir, 1978. MARTINS, Mirian Celeste F Dias; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, Maria T. Didática do ensino da arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998. MORAES, Frederico. Doze notas sobre o desenho. In: Jornal da Galera Nara Roesler. São Paulo; Galeria Nara Roesler, n° 1, 1995, S/P.


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apĂŞndices


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APÊNDICE 1

- Cópia d a avaliação do Alu no Es tagiário realizada pela pro fes s ora da es cola de Es tágio do Ens ino Médio.


135

APÊNDICE 2

- Cópia d o ques tio nário res pondi do pela diretora da es cola de Es tágio do Ens ino Médi o.


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137

APÊNDICE 3

- Cópia d o ques tio nário res pondi do pela profes s ora da es cola de Es tágio do Ens ino Méd io.


138

APÊNDICE 4

- Cópias dos cinco q ues tionários ( mais s ignif icativos ) res pon didos pelos al unos da es cola de Es tágio d o Ens ino Mé dio.


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