Fluxo Preto Horror

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO DAV DEPARTAMENTO DE ARTES VISUAIS. CARLOS AUGUSTO RIBEIRO FRAGA.

FLUXO PRETO: HORROR

VITÓRIA 2017/2


CARLOS AUGUSTO RIBEIRO FRAGA

FLUXO PRETO: HORROR

Monografia apresentada como requisito parcial à graduação em Artes Plásticas, Departamento de Artes Visuais,.orientação do Prof. Dr. Valdelino Gonçalves dos Santos Filho.

VITÓRIA 2017


CARLOS AUGUSTO RIBEIRO FRAGA

FLUXO PRETO: HORROR

Monografia apresentada como requisito parcial à graduação em Artes Plásticas, Departamento de Artes Visuais. Aprovado em de Janeiro de 2018.

Comissão examinadora:

_____________________________ Prof. Dr. Valdelino Gonçalves dos Santos Filho (orientador DAV-UFES) _____________________________ Profª Drª Rosana Lucia Paste (membro interno DAV-UFES) _____________________________ Prof. Julio Cesar da Silva (membro externo – convidado)


À Maria de Fátima Ribeiro e a Carlos Alberto Fraga que me fizeram seu filho. A Washington Luís Ribeiro e a Ana Letícia Ribeiro de Castro, que me fizeram pai. Aos meus avós Oswaldo Luís Ribeiro e D. Carmélia da Conceição Ribeiro, in memorian. E a toda família Ribeiro que mesmo cada um (a) diante de suas atividades me deram forças para dar continuidade.


AGRADECIMENTOS

Minha família por ter me dado força nos momentos mais difíceis durante o curso, Maria de Fátima Ribeiro, Ana Leticia de Castro Ribeiro. Carlos Alberto Fraga. Aos amigos e professores do curso de Artes.


Recuse a letargia que invade o seu peito: VocĂŞ pode assistir ou VocĂŞ pode reagir.


RESUMO Esse trabalho de pesquisa Trata-se da descrição do processo Criativo do projeto Horror, do Artista Phill Ribeiro por meio de construções com desenhos, fotografias, performaces e Multimeios. As obras são vestígios da história Expressionismo de 1960/1970. Referencias Como

Jackson Pollock, Anselm Kiefer, Jean Michel

Basquiat, Yves Klein ,Chris Burden, Banksy, Gina Pane, Alexandre Farto aKa Vhils. Processos de técnicas variadas, experimentações, desenhos em variados suportes físicos e digitais, divide-se em sete etapas intermidiáticas: Horror, Autoflagelo, Autonomia do Conteúdo e Autor do Fato. Palavras-chave: desenho, Multimeios, Arte contemporânea, contracultura.


SUMÁRIO

Dedicatória

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Agradecimentos

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05

Epígrafe

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06

RESUMO

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07

SUMÁRIO

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Lista de Imagens

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Introdução

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1. Capitulo .Fluxo Preto Horror.

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1.1.

Cartazes

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1.2.

Antecedentes

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1.3.

Agilidade

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1.4.

Destroços

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18

1.5.

Autoflagelo

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18

1.6.

Autonomia do Conteúdo

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1.7.

O Autor do Fato

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2. Capitulo Processo Criativo.

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2.1.

Mensagem e meio, meio a meio

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2.2.

O uso de múltiplos meios

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2.3.

Por que fanzine?

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3. Performances: Outros Atos

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3.1.

Aquário Baldio (2014)

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3.2.

Impenetrabilidade do Ser (2014)

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3.3.

Malditomal (2015)

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3.4.

Abolição (2016)

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4. Considerações Finais 5. Anexos 6. Referências


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Lista de imagens Figura 1: A Infográfica do duo, unida pelas novas tecnologias contendo

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desenho, palavra, fotografia, 2016. Figura 2: Vermine Fasciste Action Civique, École Nationale Supérieure

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des Beaux-Arts, 1968. Figura 3: Letras, Phill Ribeiro, 2016.

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Figura 4: Detalhe de Atanor, Anselm Kiefer, materiais sobre tela, 2007.

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Figura 5: Capa do vinil light from a dead star, da banda Catharsis, Refuse

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Records, 2013. Figura 6: O Incendiário, Phill Ribeiro, nanquim sobre papel vegetal, 2016,

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21 x 29,7cm. Figura 7: Círculos, Phill Ribeiro, 2016, nanquim sobre papel.

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Figura 8: Boxe, Phill Ribeiro, 2015.

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Figura 9: Jazz, Phill Ribeiro, 2016.

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Figura 10, Figura 11 e Figura 12: Autor do Fato, Phill Ribeiro, collage,

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2017. Figura 13 e Figura 14: Da intervenção Aquário Baldio

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Figura 15, Figura 16: Da intervenção Malditomal.

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Figura 17: Parangolé P4 capa 1, Hélio Oiticica, 1964

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Figura 18, Figura 19, 20: Foto da intervenção Abolição, 2017.

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Introdução Necessidades têm sido frutos de necessidade urbanas, das cidades mundiais. Grafite e cidades por mais que queremos não falar é fácil de achar. As cidades, as esculturas, esses espaços ocupados, os meios urbanos. Muito antes lembro que havia um toque mais de designer e envolver-me com a comunicação e veiculação com o espaço, uma ideia, uma utopia, a ser passada, questão de um novo desenvolvimento de bens de consumo, mais tarde essa publicidade, a forma que encontrei foram nos cartazes, pôsteres, e a maneira que eu via como meio possível de comunicar. O consumismo que existia e as tendências que vão acelerando a cada dia e o quanto refletiam sobre este ser, O Phill. E antes de entrar pintava , brincava, flexionava de maneira afetar muitas vezes na formação, com series de intervenções que foram para além de ideias e influências. Fiz uma série de pôsteres os quais foram perdidos com o passar do tempo e cuidado, por estarem nas ruas e espaços públicos, desprovidos de quaisquer cuidados como nos moldes dos museus e galerias atuais. Ao desenvolvimento a entrar na Universidade, veio às imagens, a interdisciplina, a imersão nas fotografias e dar continuação às crises que tanto se fala, sejam elas em criações quanto à ordem mundial que nos regem, organizações mundiais dotadas de imperialismo: OTAN, FMI, Anistia Internacional... Bem, comecei muito novo morando em lugares, habitando as cidades, não perdidas, mas esquecidas e acredito que o espaço que artistas de ruas, como aqui no Brasil ou marginais por outros são conhecidos. Com todo o conceito maneira que me relaciono com espaço, lanço o Programa Phil, onde em escultura viva, impacto como sendo uma obra em processo desdobrando em um foco: politico, para além da cidade, mas sim das esculturas, os prédios, edifícios, construções que modificam nosso dia a dia, assim como outras esculturas urbanas que se pode utilizar. Intervenho e venho, com desempenho, com ação combativa, para além das dimensões das surpresas, acontecimentos e abrangências que a figura imagética


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expõe: os custos são enormes. A sociedade cobra, a colaboração que não vem, mas as culturas e esculturas que podem oferecer o grafite ou skate ou as esculturas e culturas urbanas, não são problemas, mas sim o que se faz pela cidade e como a de mostrar as cidades em seus meios: do feirante que ocupa, que constrói e desconstrói, ocupa ao corpo visto como escárnio e ainda devorado pela instancia temporal, não deixa de resistir e evidenciar, um corpo revestido de preto sobre preto, uma escultura viva. O projeto Horror tem início com a produção de som. Foi formada uma banda Horror em 2015 com a participação de vários colegas, passando por várias formações até o formato duo e a pausa das atividades em 2017. Material gráfico foi produzido a fim de trazer tais ideias à tona, com a pretensão de montar uma iconografia a transmitir estas mensagens sensíveis compartilhadas. Compreendi que a mensagem seria melhor espalhada com o uso de todos os meios disponíveis e realizei trabalhos de modo de dar cabo a este meu desejo de semear. De então desenvolvi conceitos em outros meios de trabalhar o Horror. Através da colaboração, consegui estender dadas questões de modo caótico desse mundo em que vivemos. O projeto musical permanece nas plataformas digitais: Facebook: fb.com/horror.colapso; Bandcamp (https://horrorcolapso.bandcamp.com/); Instagram (instagram.com/horror.colapso) e Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCvoQvdCzaNqQBzFvqFMcDfA).

Figura 1: A Infográfica do duo, unida pelas novas tecnologias contendo desenho, palavra, fotografia, 2016.

A cada passo, percebo, ajo, lido intensamente com perdas e ganhos em diferentes suportes. As obras são vestígios do encontro das histórias e funcionam como pequenos momentos de catarse que se dão através do diálogo entre multimeios:


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cartazes, produção fonográfica, produção de fanzine1, desenhos em variados suportes físicos e digitais. O programa divide-se em sete multimídias: Horror, Antecedentes, Agilidade, Destroços, Autoflagelo, Autonomia do Conteúdo e Autor do Fato. Verso então sobre minha poética e seus percursos materiais e imateriais, sobre por quais conceitos divaga e age, preferindo pela complexidade de fazer e dizer o simples com potência. Por fim, teço a considerações pessoais sobre os rumos do trabalho até aqui. Ainda elaboro uma breve descrição de trabalhos desenvolvidos durante a graduação.

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Fanzine é uma publicação autoral de baixo custo e com alto poder de alcance. Mais adiante falo do uso que tenho feito desta linguagem. 2 infografia (info- + -grafia): trata-se da

aplicação da informática à representação gráfica e ao tratamento da imagem.Conjunto de recursos gr áficos (desenhos, diagramas, fotografias, mapas) utilizado na apresentação de informação. = INFOG RÁFICO.


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1. O Horror O Horror trata-se de uma série de cartazes que dialogam tecnologia, comunicação e imagens. Das formas de interagir e comunicar o rabisco com as músicas brasileiras sem perder a força do punho fechado e coração prestes a agir. Estes cartazes transitam entre discussões políticas: poder, prisões, classes e Estado. Partindo da transição entre o artesanal e o digital, as reproduções vão para além do desenho, símbolos ligados às letras elaboradas dentro do meio dominante e de contracultura2. O processo de criação envolveu tintas, noites e gotas negras de suor em variados tamanhos e tipos de papéis passando por uma mesa de digitalização que por fim resultou em uma pré-fabricação em série. Por conta do processo que termina resultante das maquinas operando o que o artesão deu inicio, o pensamento, o questionamento, a repulsa que expulsa em vias musicais buscando alimentar a dose de desespero sobre os ossos com a cor por dentro e por fora: o preto. Atreladas à obediência e servidão, nossa vida tem poucos momentos de puro gozo, entretemo-nos com livros, filmes e produções mediadas por valores dominantes. A sociedade do controle e a sociedade do consumo se encontram a fim de fornecer soluções mútuas e de amplificação. A sociedade disciplinar das escolas, prisões, igrejas, enfim o que todos esses lugares acima têm em comum? A perspectiva de serem panóptico3, com a capacidade de deixar todos à mercê de vigilância e punição. Algumas narrativas falam da ideia que tento cunhar. Em O Sétimo Selo (Det Sjunde Inseglet, Dir.: Ingmar Bergman, 1956), o cavaleiro retorna de sua cruzada e encontra sua cidade devastada pela peste negra e a morte, vê sua fé abalada. Logo inicia um diálogo com a morte e um jogo no tabuleiro de xadrez. Temos 1984 (Nineteen Eighty-Four, Dir.: Michael Radford, 1984), filme adaptado do livro de Orwell, demonstrando que injustiças sociais não são acidentais e servem como controle, 2

Uso o termo contracultura como herdeiro de grupos que faziam oposição aos bens culturais produzidos com valores da elite dominante. 3

Panóptico é uma disposição espacial circular idealizada por Jeremy Bentham, em 1785. Permitia a vigilância de internos com o uso de apenas um vigilante, causando-lhes a eterna desconfiança se estaria sendo observados ou não, causando paranoia. Fornece a visão total dos outros e oculta o estado do vigilante. É usada como metáfora por autores como Foucault, em Vigiar e Punir e Deleuze, que nos lega o conceito de “sociedade de controle”. Tal sociedade se dá pela vigilância e pelo controle dos indivíduos da Sociedade, pelo Estado, detentor da “violência legítima”, de acordo com o termo weberiano.


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travando-se uma intensa oposição ao totalitarismo. Neste épico clássico, é proibido refletir e pensar. Até recordei-me da era não tão diferente e o lugar onde me encontro, do caminho de casa ao trabalho, escolas, das ruas, vielas, cheio de angústias e podridão. 1.1.

Cartazes

Continuando a tratar da série, comecei a fazer cartazes com a intenção de buscar a interação de pessoas fora dos espaços engessados controlados pelas instituições onde o objeto só atinge sua função em um determinado lugar, seja galeria, seja museu, seja espaço físico determinado para tais apresentações de objetos produzidos pelos ditames do cânon da arte moderna ocidental. Fazer cartazes tem inspiração na junção entre elementos gráficos e mensagens de texto, elaborados ao longo da história. Como referência marcante, trago os cartazes do Maio de 1968 que conclamavam a multidão a trazer a tona insatisfações e anseios de mudança, como vemos neste cartaz:

Figura 2: Vermine Fasciste Action Civique, École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, 1968

As inspirações não viriam diferentes do cotidiano, conversas tidas e lembradas, das mais estúpidas a mal resolvidas situações. Até o dia em que sentiu algum rugido e nada tinha para comer ora quando levou aqueles reveses da vida e não mais esqueceu e o corpo se rebelou, das noites em que custei para dormir até das carícias não esquecidas de amores perdidos, mas não esquecidos. Tudo isso


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colabora e devora e logo escarro e ponho pra fora quanto a desenhar, escrever, ora tocar. Produzir, expressar.

Figura 3: Letras, Phill Ribeiro, 2016.

1.2.

Antecedentes

Usar a baixa luminosidade e trazer a tona o demônio que adormece debaixo de cada confinamento e holocausto, o preço não é mais a minha esperança, mas caminhar como os últimos dias e me levantar e cravar o último prego do meu próprio sepulcro nesses desenhos com cada gota negra. Trago os gotejamentos do Jackson Pollock em um gesto libertador e inicial para compor a maioria dos desenhos em nanquim, sem negar o direito e respeito a sugar da fonte do expressionismo abstrato para iniciar cada desejo e convertê-lo em grafias, desenhos, textos, formas, linhas e sem medo, sem dependência levar até o limite do que o próprio suporte impõe. Trago a potência das grafias do Jean Michel Basquiat, em tentar potencializar o alcance desses desenhos carregados de carga simbólica e o preto carregado de energia, a minha raiz que fora julgada pela cor e destruída pelas colônias imperialistas em busca de poder, prestígio e riqueza. A reação é libertar toda essa energia e deixar-me ir, como nas levadas e dançar aos sons dos guetos, favelas e subúrbios, a cantar e a esbravejar, como os negros nas senzalas.


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Falo também do Bansky, o direito a cortar o vínculo com essa religiosidade que tanto nos usurpou de nós mesmos com a energia exposta em grandes murais, à história está sendo feita e estamos sem arrependimentos. Ponho o dedo na ferida para remoer esse sistema que implora pela vida e rasteja e, a cada tinta, cria-se uma vitalidade ou um incômodo a quem está tanto acostumado com a vanglória do abençoado imperialismo, vim sem redenção e preparado às cegas, espreitar e atacar a quem me confronta. Para quem não sabe o que é imperialismo é o modelo que dita à constituição da sociedade em uma hierarquia onde as metrópoles se põem no topo às custas de submeter pela força os subalternos4.A batalha continua, não mais com Yves Klein e suas modelos contratadas com seus corpos retos, agora é tinta preta sobre a pele preta, incendiando toda a fortaleza e aqueles que se apoiam nela, que a senzala se faça ser ouvida, que cada estalar dos ossos do meu corpo soe como o bater do tambor, como um soco do Muhammad Ali a cada vitória do avanço do Capital. Estou pronto a dizer que Anselm Kiefer em suas obras contextualiza com a herança da Segunda Guerra Mundial e recordo-me bem ao tratar desse que opera grandes esculturas as quais não deixando de lado longas escalas e proporções e iconográficas, chegando a ser até utilizadas como arte de bandas as quais tenho como referência, este último dado sobre uma de suas obras, a exemplo da obra Atanor inspirando a capa de um dos discos da banda Catharsis:

Figura 4: Detalhe de Atanor, Anselm Kiefer, materiais sobre tela, 2007. 4

Subalternos são os indivíduos das populações submetidas pelo capitalismo imperialista. Em busca de continuar seus processos de acumulação e concentração de riquezas, os colonizadores dizimam, escravizam e precarizam a vida destes sujeitos, retirando-lhe meios materiais e imateriais de existência.


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Figura 5: Capa do vinil light from a dead star, da banda Catharsis, Refuse Records, 2013.

A pintura levanta questões fundamentais sobre o lugar do homem no universo, além de explorar as noções de espaço, tempo e memória, bem como o poder transcendente da arte. O título remete ao forno usado por alquimistas medievais para transformar metais comuns em ouro5. Em outro momento encontra-se a mesma imagem ou com alguns detalhes alterados no encarte da banda chamada Catharsis intitulado com o título light from a dead star. Adiante temos o Chris Bürden, artista performático. Sua obra mais conhecida é o registro feito dentro da galeria de arte em que pediu para seu amigo atirar em seu braço, a performance Shoot (1971). Elejo este porque o uso de seu corpo para desenvolver uma serie de ações a fim de questionar práticas sociais, culturais e políticas como Guerra do Vietnã. Cito ORLAN e suas fotografias onde podemos ver o processo de modificações que sucedem em seu corpo. Ela escolhe modificar-se durante a vida a fim de aproximarse da imperfeição, a monstruosidade, outras faces do humano. A Gina Pane, artista italiana que joga com relações ambíguas de homem entre a violência e a ternura, as neuroses dos adultos, a violência política e o mundo privado, com gesto radical e as formas sedutoras, exemplo: aziones sentimentales, 1973, vestida de branco, leva varias rosas na mão e se machuca com os espinhos. O sangue torna a escorrer e o branco passa a ser vermelho. Neste ponto, a artista corta-se com a lâmina de barbear. 5

Como visto em http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/07/11/949896/conheca-atanoranselm-kiefer.html


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Não posso deixar escapar Stelarc, o qual a maioria dos modified bodies6 tem como referência pelas suas amplas intervenções no corpo com uso de componentes da área da robótica, poderíamos dizer um ciborgue7, por que não? Hoje temos tamanha informação que não sabemos como usá-la e tampouco como agir. Já vejo meio humanos e meio máquinas maioria dos bípedes que habita esta terra, por quê? Olhe ao redor e verás quantos estão consumindo acordados e dormindo algum pulso eletrônico, desde um relógio no pulso até mesmo um celular e já não vive mais sem tais insumos, até os aparelhos mais simples como medidor eletrônico de pressão e medidor a laser para auxiliar nos afazeres cotidianos. Stelarc revoluciona com as suas performáticas aparições: O primeiro e único a cultivar uma prótese de orelha humana através de cultura celular e depois implanta em seu braço esquerdo com técnica cirúrgica. Ainda, Alexandre Farto vulgo Vhils, português, eis o que tenho acompanhado seus trabalhos mais recentes de perto. Antes estuda o lugar, os que habitam e passa a registrar com a fotografia para que em seu processo mais a frente possa constituir a obra, efetuando registros dos moradores das cidades que vão ser demolidas e o registro da ação utilizando o vídeo. Acaba por encontrar diversas formas de usar ferramentas como spray, britadeira, tinta e até mesmo explosivos. Lida com questões sociais, sempre com a pergunta o que posso fazer para poder alterar o lugar onde me encontro, pesquisando meios e fazendo ações.

Figura 6: O Incendiário, Phill Ribeiro, nanquim sobre papel vegetal, 2016, 21 x 29,7cm.

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termo utilizado para designar, pessoas com o corpo modificado ou em modificação. Ciborgue (cyborg) é a junção entre porção humana e máquinas, de diversos modos.


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1.3.

Destroços

Imageticamente esta fase é representada por corpos partidos e alternância de velocidade motora.

Figura 7: Vida, Phill Ribeiro

1.4.

Agilidade

Agitado e tomado, a fase da Agilidade compreende uma série de desenhos realizados com violência, velocidade e urgência. Criar uma antítese ao que está posto é uma necessidade, expressar o atrito é uma vontade nítida nos traços rápidos e contundentes.

Figura 8: Círculos, Phill Ribeiro, 2016, nanquim sobre papel.


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1.5.

Autoflagelo

O uso de mensagens compreendidas no decorrer do processo criativo, com a apuração de responsabilidade sobre fatos e acasos ocorridos, esta fase é marcada pela preponderância dos resultados do estágio analítico que a precede. Expiar impõe o uso de autoflagelo. As imagens com predominância desta etapa são marcadas pelo sentimento de perda, de ausência de conforto.

Figura 9, Figura 10 e Figura 11: Boxe, Phill Ribeiro, 2015.

1.6.

Autonomia do Conteúdo

Aqui, as mensagens sensíveis ganham forma de síntese. O conteúdo começa a produzir novos significados pela abstração.

Figura 12: Jazz, Phill Ribeiro, 2016.

1.7.

O Autor do Fato

A autoria emerge, assim como as consequências ao ator social. Em atuando na esfera social, submete-se a regras impostas à Sociedade pelo Estado, sofrendo


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penalização. Aqui é expressa a opressão dita através da mensagem que passo e um convite estridente à subversão. Esta série conta com o uso de retratos modificados digitalmente com interferências, trazendo questões sociais latentes na sociedade do controle, que age sobre as minorias a fim de manter uma hierarquia política, econômica e social.

Figura 13, Figura 14 e Figura 15: Autor do Fato, Phill Ribeiro, collage, 2017.


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2. Processo Criativo Os processos descritos anteriormente dão conta da extensão da obra que produzo no programa Horror. Aqui falo sobre o processo criativo no que tange a técnicas, métodos e conceitos adotados na construção desta obra, realizando breves discussões acerca de alguns pontos expressivos. 2.1.

Eu e a inovação das tecnologias

Inicio o contato com a fotografia ainda na era analógica, quando pequeno, e seleciono cada movimento e paisagem específica a fim de aproveitar o rolo de 12 poses e se apaixonar por cada esquina, ruela, monumento, explorar os lugares, com energia infantil de quer tirar foto de tudo, mas com a restrição das 12 fotogramas, tornando-se algo memorável e de suma importância para seu portador, experiências compartilhadas de quem viveram nos anos 1980 e 1990. Trago também na lembrança que em 1990 quando passamos a interagir com novas mídias e com a continuidade das máquinas analógicas, com a ampliação da rede de lojas de revelação e até mesmo o numero de poses para 36, logo a possibilidade de queimar o filme. A duração da bateria, a inexistência de luz direcional (flash) para foto noturna, entre outras ausências técnicas passaram a ser solucionadas parcialmente. Bem, minhas melhores fotos posso dizer aqui foram justamente as analógicas deste período. A década de 2000 até hoje avança com o maior acesso a tecnologias integradas como, celulares com câmera, computadores com configurações mais robustas com modo de operação mais complexo, câmeras digitais, globalização, mp3, tecnologia tornando o processo de reprodução cada vez mais veloz, porém a seleção já não mais cabia com essa nova possibilidade de registrar muito mais coisa do que era possível, de realizar modificações com muito mais facilidade, de receber e enviar registros em tempo real de modo global em meios digitais. O que se fazia aqui há 10 anos atrás já estava ocorrendo em outro país, de uma outra forma, em uma outra cultura, processos culturais, cada ser. Limites e padrões ainda continuam adotados, a informação que não mais é filtrada, o próprio McLuhan já dizia que o meio é a mensagem, logo o filtro é a mensagem, digo mais: a instabilidade do ser, de tanta informação as pessoas passaram a se encontrar pela internet, passaram a ocorrer


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revoluções digitais o processo de criação alterou, juntamente com os modelos de produção, entramos na era da imediata ação contemplativa e letárgica, os meios, as ferramentas, as aparelhagens, perderam o significado icônico e tornaram-se objetos de valores, decorativos e cada vez mais alegóricos. E o fazer do Phill sofre um upgrade (avanço) em 2012 quando recebe um telefone móvel que ganha amplitude não só de comunicação instantânea, mas de tirar fotos e editá-las e enviar quase instantaneamente com o auxílio de planos de internet cada vez mais disponíveis de operadoras de telefonia, a internet recebe um boom. As rádios, os vinis, CD’s, agora mp3, mp4, mp5, celulares, cada vez menores, portáteis, o walkman, a fita, o VHS, tudo contido em um só aparelho o dito: o smartphone. Eis o progresso ou regresso à solidão. Digo para assistirem o filme Ela (Her, Dir.: Spike Jonze, 2013), diretor e roteirista Spike Jonze. Onde remota a história para uma discussão onde novas configurações de relacionamentos amorosos. Explora os ciúmes, a distância, os afetos, o sexo e as relações contemporâneas. Questiono aqui, a tecnologia, a comunicação, o presente, ora o futuro, fluxo, o horror. O espaço onde há diversidade e não geram pertencimento, herança da dita globalização onde deixam todos e todas e até espaços físicos com aspectos estilizados, aparências iguais. A tecnologia que oferta meios de encontrar pessoas, amizades, amores, namoro, sexo virtual, a interagir com o outro sem a presença do mesmo no local, a interatividade do sistema virtual como mediador central das relações humanas, bem vinda a esta doce e melancólica pós-modernidade... Aqui e agora. Indaga-se uma plena reflexão em todos os aspectos em nós seres humanos ligados à máquina, e à projeção do que é este mundo construído em cima de outro mundo e do meio virtual a projeção dos amores, escolhas, lugares, pessoas. 2.2.

Mensagem e meio, meio a meio

Acredito na possibilidade de sair da apatia e conclamo. O Capital nos separa e a pobreza nos iguala. No vale inerte, caminho contendo a última chance para cavar as trincheiras contra o opressor, usando o caminho do passado, sem derramar uma lágrima. Sangro através das próprias engrenagens da máquina moderna que o homem criou desde o nascimento, lentamente nossos direitos terminaram, não são mais


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respeitados. Almejo por este tempo de anos e anos de desigualdade e miséria, sem escapismo do que nos foi negado e sem negar o meu nascimento, meu corpo pode ser podre, mas ainda é digno e ele sofre, agoniza, às vezes é separado pelo capital o mesmo que nos maltrata, mas a luta é diária a frente do opressor e como a resistência, e do resgate face a face do respeito contra o inimigo, trata-se do ato libertador e não mais opressor. Esse é o preço de quem poderá ser a próxima vitima e a reação de quem nada mais tem a perder, é sangue entre minhas veias de quem espera por justiça. Não mais tolerar julgamentos, humilhações pelas nossas origens, não deixar barato, morte à opressão. Com base no conjunto de situações características de tempos neoliberais, marcados pelo progressivo desemprego e agravamento de problemas sociais. Escolho dar voz ao meu interior e destruir tudo que estiver à frente evidenciando um protesto social que se exprime de múltiplas formas. Seja dar voz aos descontentes com um Estado que nos oprimem, nos massacra, nos mata a cada dia. Opto pela realidade dos problemas sociais, os quais vivencio diariamente, sem negar minha singularidade. A múltipla forma de produzir torna-me mais potente: poesia, instrumentos, tecnologias, performance (o qual chamo de ação), gravura e quaisquer outros meios amplificam mensagens sensíveis que ouso transmitir. 2.3.

O uso de múltiplos suportes

O uso de som e imagem, pintura e desenho, arte editada digitalmente e litogravura, uso múltiplos suportes na produção. A pesquisa artística que estabeleço em meu caminho de aprendizagem, pretende passar mensagens em diversos meios a fim de alcançar diversos momentos de interação com o público. Pretendo sempre ampliar a minha voz em face de sua supressão, pensa que devo falar ainda mais alto de forma tão clara que chegue a ser explícita, através de poesias, letras, entonações, ruídos e sons; técnica eletrônica, como exemplo os samplers, pós- produção, performance, expressões, conflitos, gestos, olhares. Em sentido oposto à construção moderna da crescente autonomização dos meios, integro-os de modo orgânico.


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Figura 16: Meu casulo, 2015; Figura 17: didi.com, 2015.

2.4.

Por que fanzine8?

Passei a manusear mais os editores de texto e imagens. Antigamente, década de 2000 utilizava-se um computador para edição e outros para publicações. Já cheguei a trabalhar com softwares de diagramação como Indesign e Corel Draw, bem como a edição de CD, estampas que futuramente iriam para serigrafia. Com o computador, após o término do desenho, passo no scanner para digitalizar as imagens e corrijo se necessário ou crio mais sujeiras ou clarezas para as páginas do fanzine. Desse modo o corpo do texto é esculpido, trabalhado fontes de títulos que possam adequar ao conteúdo proposto. Geralmente se faz uma boneca (maquete geral), do que virar a vim ser uma matriz de cópias. Depois fazendo a impressão em preto e branco mais as fotocópias. O papel pode variar de fotocópia em papel ofício, papel couchê de 300 g., dependerá da proposta e ao meio como difusor da mensagem. Decidi pelo fanzine por ser um meio de exercício da autonomia. O deboche, até as paixões e ideais e reproduzo com Xerox, um meio acessível e de baixo custo, com poder de alcançar um público mais amplo, a depender da proposta apresentada, da tiragem... Fazer fanzine é uma forma de resgaste das obras quase esquecidas, uma forma de pesquisa e de resistência ao descaso do mercado e aos trabalhos menos

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Zines são publicações que seguem a lógica do faça-você-mesmo (do it yourself), com técnicas simples e acessíveis para produzir um livreto ou publicação de textos, desenhos, poesias, entrevistas, enfim, compartilhar ideias e produções.


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comerciais. De um meio de se comunicar a um objeto cultuado de arte, pela oportunidade e possibilidade de troca de informações e opiniões sobre bandas, artes, cenárias sociais e pela expressão estética e política. Conversar com as pessoas sobre o fazer, sobre o teor, sobre novos projetos, usar o meio autônomo como mensagem de autonomia e troca de afetos. Escolho dar amplitude a isto e fazer a minha própria criação ao lado de tantos outros autores que admiro. Venho de uma geração do impresso, dos anos 1990, desde aquele processo mais primitivo, como o estêncil, passando pela fotocópia, passando pelo offset até a impressão a laser. Criaram-se vínculos, afeições. O apego ao material como forma de apropriação e o hábito de colecionar durante minha adolescência. O novo sempre vem e novas ferramentas são experimentadas e as infinitas possibilidades do trabalho em meio digital. A maior parte de minha produção se deu sobre o suporte impresso e começa a partir para o digital com algumas experimentações como na série O Autor do Fato (2017).


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3. Performances: Outros Atos Segue uma breve descrição de trabalhos desenvolvidos durante o período da graduação. 3.1.

Aquário Baldio (2014)

Figura 18: Da intervenção Aquário Baldio, 2014.

Figura 19: Da intervenção Aquário Baldio, 2014.

Aconteceu uma única vez através de uma conversa e horário agendado. É o ato performático, intervindo no espaço, dando sequência pelo elemento de causa e efeito: tudo pode acontecer, mas nem tudo pode acontecer ou pode ficar tão bom quanto esperado. Através da tecnologia digital, a câmera serve como base para capturar e registrar toda a ação e após uma seleção dessas capturas uma passa ser escolhida e impressa como uma espécie de adesivo onde permanece a imagem central figurativa da ação e ao seu redor retira-se o fundo, assim transparente. A imagem fica colada no vidro de dentro da GAP (Galeria de Arte e Pesquisa), UFES por um período até que outra pessoa queira interagir com o local. 3.2.

Impenetrabilidade do Ser (2014)

Na metafísica, impenetrabilidade é o nome dado à qualidade da matéria pela qual dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Tem como


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característica

figurativa

que

não

pode

ser

penetrado

pelo

espírito;

incompreensibilidade. Pisando na mesma terra e compartilhando da mesma dor, lutamos contra os mesmos demônios. Estamos todos acorrentados a esta terra e o que nos mantém nela senão a mãe gravidade. Acorrentado estamos e lutamos ferozmente, cada qual na sua peculiaridade, mas ainda assim remamos e de encontro vamos para o mesmo lugar, a terra. Outros não têm a mesma oportunidade e devaneiam. Somos todos um pouco de caos e de luz. O Programa apresentou-se em um acontecimento dentro do Galpão localizado atrás da CAr (Centro de Artes) no evento chamado Polissoma, mostra dos projetos finais das turmas de artes da disciplina Plásticas. A ação foi colidir com um objeto e o ato de ir e vir. O fato de estar colidindo diariamente com as pessoas não quer dizer nada. Pois você não sabe o que o outro está passando somente esbarrando, tocando, entrando em contato.

Figura 20: frames de impenetrabilidade do Ser (2014), instalação performática, Galpão do CAr.

3.3.

Malditomal (2015)

Malditomal nome da performance ocorrida em 2015 se deu dentro do Galpão como projeto final para a disciplina Escultura I, no mesmo ano estava acontecendo a convocatória para expor dentro da Galeria e Arte e Pesquisa. Enviei o projeto e tive que confeccionar novamente o suporte. Constatei que estava utilizando elementos naturais e de fácil acesso, tenho os projetos. O Programa inseriu em seu diretório o artista (pintor, escultor, artista plástico e performático de aspirações anarquistas) Hélio Oiticica e sua estadia no morro da Mangueira. Lugar do qual se apropriou de elementos que da favela, berço de cultura popular brasileira.


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Essas ligações trouxeram forte influência em os seus trabalhos, a exemplo dos Parangolés, com o uso da música, poesia e dança.

Figura 21: Parangolé P4 capa 1, Hélio Oiticica, 1964.

O uso dos elementos no cotidiano possibilitaram o inicio de outra ação do Programa, passando mais tarde por melhorias significativas nos materiais a serem usados e com passar sofreram fortemente influências tanto no uso diário, quanto nas novas possibilidades que cada forma encontrada no suporte com base de bambu, encontrado pela UFES, serviu como grande apoiador e suporte para sustentar sete velas pretas de parafinas. Inicialmente era com arames, que o Sandrim (Prof. Ms. Sandro Novaes, grande amigo e músico), me deu para dar continuidade ao projeto, posterior as dificuldades de acesso, Sandrim me ensinou a amarrar com um arame mais fino, porém não dava conta, precisava de algo a mais... Andando ao redor do centro de vivência avistei uns pedaços de bambu jogados, perguntei para alguns alunos se poderia utilizá-lo e responderam positivamente. Dei início ao projeto com outro material com a ajuda do artista e Prof. Julio Tigre, o qual passei a reportar algumas dúvidas sobre suporte e como pendurar as velas, o mesmo me ajudou na resolução de alguns problemas, como o modo de encaixe dessas e de como suportariam o peso. Solucionadas em partes e outras dei o processo inicial com a ajuda do aluno Guilherme, grande amigo nessa caminhada, meses passaram e o protótipo estava pronto. Depois guardei, desfiz, não tenho costume de ficar com as coisas que produzo, talvez seja um bem ou um mal, pois


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tempos mais tarde me inscrevi para expor na Galeria de Arte e pesquisa e para minha surpresa, passei. Logo tive que construir outro suporte.

Figura 22: frames de Malditomal (2015), instalação performática, Galpão do CAr.

3.3.1. Malditomal (reedição) – exposição na GAP (2015) Ainda em 2015, exposição na Galeria de Arte e Pesquisa. Em outro espaço reeditei o projeto Agora outra imagem. O sabor da morte em meus sentidos, julgando a cada instante. Vamos guardar esses dias? Viver e encontrar maneiras diferentes de não morrer - e morrer também é aceitar as condições que não nos deixam viver. Agora? Revejo meus atos. E agora o que existe além do acaso, se chama vontade. Diferentes opiniões, paixões distintas. .

Figura 23, Figura 24: Malditomal.

3.4.

Abolição (2017)

Ocupações podem abranger uma vasta gama de ações, desde duas pessoas mantendo um jardim no gramado atrás da galeria comercial até cinquenta guerreiros de rostos tatuados defendendo-se em plataformas sobre os galhos de árvores em uma reserva florestal, mas a ideia por trás é sempre a mesma: a terra deve


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pertencer a quem a utiliza, e todo temos o direito básico a comida, moradia e segurança. É claro, não existe uma receita simples e eficiente sobre como fazer uma ocupa: tudo depende das suas circunstâncias, e que objetivos que um coletivo almeja. Continuo uma série de intervenções feitas, com a tinta preta sobre o corpo. Ocupo o espaço e, para ratificar a minha vivência dentro da cultura punk dos anos 1990 ate os tempos atuais, manifestar a ação no dia da abertura da Exposição Coletiva dos Alunos de Artes que passaram por um processo seletivo. A ação consiste nos dados referentes ao número de mortos dado pela travessia pelo mar dos irmãos africanos. Estima-se que cerca de 950 pessoas foram mortas durante esta fuga por um sonho de uma vida melhor. Cobri o corpo, e, ajoelhado, como os cristãos e sua fé, corpo e espírito linha vertical e horizontal e acionarei passando tinta preta sobre o corpo ajoelhado e dando inicio a ação e a cada andar vou carimbar o espaço, com a manifestação, com a ocupação do meu corpo. Com tinta preta pelo corpo vou bater no chão com as duas mãos e espaçar as mãos levando meu rosto até o chão e a cada carimbo, uma cruz imagética, sendo formada com o meu próprio corpo. Sinal de potencial, paixão e resistência diante das atuais dificuldades não tão longínquas que o capitalismo impõe. Cada carimbo marca um lado com esquerdo e outro direito, alternadamente. Acorrentados estamos, presos sempre estivemos Resistindo, corpos putrefatos, Alma morta, renascendo Nosso povo esquecido, oprimido e fuzilado! Sobrevivendo ao ciclo da morte! Irmãos e irmãs, humanos e não humanos! Destroçados e aniquilados pelo Estado!

Corpos no chão, despedaçados. Sempre estivemos presentes!


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Senzalas, Chiapas, Sem Terras, Negros, Índios e Pobres. Indústria da morte, do sangue nos abatedouros. Morte dos terráqueos que habitam a terra!

Interligados e relacionados ao processo matador. Planeta morto! Senzalas, Chiapas, Sem Terras Negros, Índios e Pobres, Indústria da morte, do sangue nos abatedouros Morte dos "terráqueos" que habitam a terra!

Mercadorias que alimentam o ciclo da escravidão. Correntes abertas, jaulas vazias Terras ocupadas. Abolição! (Abolição, Confronto)

Figura 25, Figura 26: Fotos da intervenção Abolição (2017)


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Figura 20: Foto da intervenção finalizada Abolição, 2017.


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4. Considerações Finais São estes que recordo, a água vai e o rio ficará, já não me vejo nessas águas que este rio reflete já não me vejo mais, que me transformou que me mudou, mas continuo ouvindo as mesmas músicas da minha adolescência, tais como: Confronto, Noção de Nada, Carnaval, Escolaclassicadepiano, Ternura, Morto pela Escola, Nerds Attack!, xamorx, gayohazard, teu pai já sabe?, Dominatrix, Team Dreasch, Bambix, Colligere, Fun People, Of Lage, Nofx, Constrito, Carahter, xVitaminex, xacto, Sons of Hate, Blind Guardian, Sonata Artica, Evanescence, Papa Roach, Silverchair, Street Bulldogs, Dead Fish, Mukeka di Rato, Tristania, Threatre of Tragedy, Theatre des Vampires, Blutengel, The Crüxshadows, The Cure, Metallica, Misery Signals, NWA, The Police, Jon Bon Jovi, Bryan Adams, Andrea Bocelli, Art Blakey, Miles Davis, John Coltrane, Kenny G, Portishead, Massive Attack!, Saetia, Mineral, The Smiths, Joy Division, New Order, A Silver Mount Zion, A Godspeed You! Black Emperor, Max Roach, Sepultura, Point of no return, Are you god? e Test... As bandas antes e depois que entrei e assim não permaneci mais o mesmo e tão pouco quis permanecer ouvindo como nas noites de domingo, não escrevi música clássica por não ter paciência tampouco para apreciar quanto tive oportunidade para apreciá-la enquanto deveria, então que tal curtir em meu leito supremo a sete palmos de terra onde como um sultão que aqui jaz não será enterrado, logo não escutarei essas músicas clássicas, eruditas, ou escutarei e mudarei a opinião. Muita água tem a se passar debaixo dessa ponte, já dizia Dona Maria, minha amada e querida detentora dos meus mais prazerosos e longínquos sonhos, rainha do meu céu, sua prole sobreviveu só resta a te agradecer. “AS

MESMAS

PALAVRAS

APRISIONAM!” – Phill Ribeiro.

QUE

LIBERTAM,

SÃO

AS

MESMAS

QUE


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5. Referências BANSKY. Wall and Piece. London: The Random House Group Limited, 2005. BENJAMIN, W. A obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica, pp. 165 196. BEY, H. Terrorismo poético e outros crimes exemplares. São Paulo: Conrad, 2003. BOURRIAD, N. Pós-produção: como a arte reprograma o mundo contemporâneo. São Paulo: Martins Fontes, 2009. FLUSSER, V. Filosofia da caixa preta. São Paulo: Hucitec, 1984. GLUSBERG, J. A arte da performance. São Paulo: Perspectiva, 1987. GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 2001. GULLAR, F. Teoria do Não-Objeto. In: Experiência Neoconcreta: momento-limite da arte. São Paulo: Cosac Naify, 2007. KRAUSS, R. E. A Escultura no Campo Ampliado. Revista Gávea, n.1, Rio de Janeiro,1984. MACHADO, A. Arte e mídia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010. MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 2007. PASTE, R. L. Eu Museu. 1. ed. Vitória: EDUFES, 2014. v. 1. PLAZA, J. Arte e interatividade - autor-obra-recepção. ARS (São Paulo), n.2, pp. 829. SANTOS FILHO, V. G. Negro de fumo: pó de sapato. Vitória: EDUFES, 2011. TIGRE, J. Algum lugar algum. Vitória: Lei Rubem Braga, 2005.


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