Memórias e ações dos Salões de Arte Contemporânea de Santo André

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Memórias e ações dos Salões de Arte Contemporânea de Santo André

Curador

Douglas Negrisolli


Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Cultura e a Prefeitura de Santo André apresentam a exposição

Memórias e ações dos Salões de Arte Contemporânea de Santo André

apoio

Ana Teixeira Carla Chaim Cristina Suzuki Estela Sokol Filipe Berndt Geórgia Kyriakakis Guilherme Callegari Guilherme Augusto – GAFI Marcela Tiboni Norberto Stori Percival Tirapeli Peter de Brito Sergio Niculicheff Sérgio Romagnolo Sheila Oliveira Vitor Mizael Walter Miranda

realização



NEGRISOLLI, Douglas Memórias e ações dos Salões de Arte Contemporânea de Santo André São Paulo, 2015 ISBN: 978-85-69520-00-9 tiragem: 2.000 exemplares


Norberto Stori Série “Crepúsculos” Detalhe



Um breve histórico dos Salões de Arte Contemporânea de Santo André


Os preparativos para o I Salão de Arte de Santo André iniciaramse em 26 de agosto de 1968 em um momento em que a cidade era revitalizada e reorganizada com a construção do Centro Cívico, onde até atualmente abriga o complexo dos prédios administrativos da Prefeitura Municipal. Os Salões já ocorriam nas cidades vizinhas, em São Bernardo do Campo e em São Caetano (1967), também promovidos pelo poder municipal. A época era a mais complexa para este tipo de evento, o Brasil vivia o auge da Ditadura Militar, que impulsionou o crescimento e a implementação das indústrias automobilísticas na região do ABC e em 1969 entrou nos “Anos de Chumbo”, auge da tentativa de silenciar algumas vozes. Os Salões de Santo André passam a ser remodelados e deixam de ser destinados apenas para artistas regionais, para se tornarem nacionais - uma cópia das cidades vizinhas. A estrutura do Salão, único na região até o momento, era as instalações providas pela construção do Paço Municipal, onde o Salão de exposições antecedia a entrada do Teatro Municipal equipado com o melhor maquinário do momento e um foyer com um enorme mural permanente de concreto desenhado por Burle Marx. O Salão por sua vez, é circundado por uma série de vidros que permitem que o público transite e possa ver o que está sendo exposto. Na primeira edição do Salão, houveram Salas Especiais com João Suzuki, Luiz Sacilotto e Paulo Chaves e a apresentação da maior tapeçaria do país, a Burle Marx. Durante os anos seguintes, na década de 1970, os Prêmios Aquisição foram compondo o que é o Acervo da Cidade de Santo André, hoje parte na Pinacoteca da cidade e na Casa do Olhar Luiz Sacilotto. Entre os premiados há Antonio Henrique Amaral, Hermelindo Fiaminghi, Lothar Charoux e muitos outros. Os prêmios privilegiaram o que havia de mais atual nas artes,

tendo uma série de artistas nacionais agraciados como Alex Vallauri, Sinval Correia Soares, Fernando Duval, Niobe Xandó. De 1978 a 1985 os Salões passam a se chamar “Salão Jovem de Arte Contemporânea de Santo André”e não possuem novidades na formação do Salão, mantendo quase os mesmos críticos. Em 1979 há um fato interessante no Salão, os artistas por conta própria promovem um happening com pichações, conectados com o momento político e os ares que as novas formações traziam ao país. São os ecos da redemocratização. Os artistas Sergio Niculitcheff, Hudinilson Junior, Alex Flemming, Percival Tirapelli, Sergio Romagnolo, Renato Brancatelli, Alex Ceverny, Yara Guasque, Walter Miranda, Constança Lucas, Maria dos Anjos, Francisco Maringelli e Valdo Rechelo são exemplos de artistas que transitaram nesses anos durante as várias edições dos Salões. Os novos materiais e novos meios trouxeram certo cuidado aos críticos que, em sua maioria, preferiram adquirir peças tradicionais. O acervo de obras de arte de Santo André possui algumas instalações, um ou outro exemplar de vídeo e poucas obras públicas. Além do acervo que tem importância e relevância histórica para nosso país e para a microrregião, os acontecimentos do Salão foram e são importantes eventos de arte e fomento aos artistas. Os anos 1990 são reveladores de artistas jovens que hoje estão com suas carreiras consolidadas e produzem no Brasil e no mundo. Artistas como Sandra Cinto, Albano Afonso, Geórgia Kyriakakis, James Kudo, Beth Moysés, Vânia Mignone e Tatiana Blass são alguns dos que aqui passaram no início de suas carreiras, destacando importância e relevância que o Salão pode proporcionar ao artista, bem como de poder experimentar com


o público suas ações. É um tempo de experimentos, tanto de novas linguagens quanto poéticas e principalmente filosóficas. As obras de arte variam de suportes e sente-se um frescor de ideias novas e pesquisas experimentais, com maior acúmulo de conhecimento pelo advento da globalização e a abertura da economia brasileira principalmente com a estabilização da inflação. Em um pequeno passo, a transição para os anos 2000 não é uma ruptura e sim uma continuidade. O advento da internet e os celulares provendo comunicação instantânea incentiva os jovens artistas da nova geração a criar. Nesta década temos uma série de artistas que hoje estão produzindo coisas novas e alguns que se foram muito cedo. Preciso chamar a atenção para um item muito importante dos Salões: para quê se premia um artista e sua obra? Simples, o artista que se inscreve e é selecionado pelos jurados tem sua obra de arte comprada pela Prefeitura Municipal de Santo André e passa a integrar o Acervo de obras de arte da cidade. Para quê? As obras de arte falam da nossa memória e da nossa história, e a importância de um acervo municipal como o de Santo André é tanta que tudo o que foi adquirido nestes mais de 40 anos não fala apenas dos aspectos da memória da região do ABC, mas fala de artistas de todo o país que transitaram por aqui e deixaram suas marcas. Um relevante exemplo de jovem artista que nos deixou é Rogério Degaki (1974 - 2013). Degaki possui quatro obras adquiridas através dos Salões e nos brinda com quatro pinturas que levam em consideração a história da arte e seu apagamento, sua fetichização como objeto. Com uma superior qualidade técnica, essas pinturas não tem preço, são únicas. Rogério Degaki é conhecido por suas esculturas pop feitas com pinturas automotivas que tem uma íntima relação com os desenhos japoneses que ele tanto gostava. A importância dos

prêmios é a permanência que gera sobre esses artistas e que é uma forma do Estado (em todas as suas instâncias) perpetuar e conservar além do mercado de artes e dos colecionadores privados. O colecionismo público é de fundamental importância para a sociedade, uma vez que proporciona que as obras dos artistas fiquem e sejam mostradas ao público constantemente. A geração do pós-2000 está representada nesta exposição pelos artistas: Carla Chaim, Vitor Mizael, Guilherme Callegari, Cristina Suzuki, Guilherme Augusto GAFI, Marcela Tiboni, Peter de Brito, Sheila Oliveira e Filipe Berndt. Aqui percebemos uma enorme variação de temas e de valores que estes artistas trazem a partir de suas pesquisas. Há os artistas que estão relacionados com memórias pessoais e a partir delas constroem meios de se comunicar com o outro, como Carla Chaim, Sheila Oliveira, Peter de Brito e Cristina Suzuki. Filipe Berndt, Marcela Tiboni. Guilherme Callegari e GAFI propõem construções novas a partir da história ou de indícios da produção humana, seja ela um detrito ou um elemento novo. Vitor Mizael parte de uma memória coletiva para chamar a atenção inclusive sobre como guardamos nossas memórias e como olhamos para elas. A exposição como um todo tem o caráter de relevar o acervo dos Salões de Arte Contemporânea de Santo André, bem como os artistas que participam e participaram, deixando suas obras para que nós, como sociedade, possamos conservar, exibir e contemplar o que constrói a nossa história e colabora com a memória de sermos brasileiros.

douglas negrisolli historiador de arte - curador independente


Ana Teixeira

De perto ninguém é normal - Tristan Lápis de cor e aquarela sobre papel 100 x 70 cm 2013


De perto ninguém é normal - Claudia Lápis de cor e aquarela sobre papel 100 x 70 cm 2013

De perto ninguém é normal - Ana Lápis de cor e aquarela sobre papel 100 x 70 cm 2013


Carla Chaim

Entre Formas II BastĂŁo oleoso sobre papel japonĂŞs dobrado 105 x 120 x 5 cm 2015


Pesar do Peso I Fotografia, Impress達o fine art 109 x 83 cm 2014

Pesar do Peso II Fotografia, Impress達o fine art 109 x 68 cm 2014


Cristina Suzuki

da SĂŠrie Imprinting - Figura 1 virada 90 graus deslocada 10 cm na vertical e Figura 1 espelhada virada -90 graus deslocada 10 cm na vertical e na horizontal. Carimbo sobre papel 3500 x 1600 cm 2015


da SĂŠrie Imprinting - Figura 1 e espelhada alternadas, viradas 90 graus deslocadas 5 cm na vertical e a mesma sequĂŞncia virada -90 graus deslocada 15 cm na horizontal. Carimbo sobre papel 3500 x 1600 cm 2015


Estela Sokol

Sem título (da série eau de’toilette) PVC sobre chassi 18 x 24 cm 2014


Sem título (da série GELATINA) PVC sobre chassi 1200 x 1200 cm 2015


Filipe Berndt

Sem tĂ­tulo 2695 - Bergamo Fotografia, ImpressĂŁo fine art 110 x 165 x 5 cm 2011


Sem tĂ­tulo 1722 - Roma Fotografia, ImpressĂŁo fine art 110 x 165 x 5 cm 2011


Guilherme Augusto - GAFI

Agentes Concretos Aquarela e fita adesiva sobre papel 71cm x 136 cm 2015


Agentes Concretos Aquarela e fita adesiva sobre papel 71x 101 cm x 7 cm 2015


Geórgia Kyriakakis

ZONA DE CONTROLE I Fotografia e corrente metálica flexível 170 x 75 cm 2012


OESTE I Fotografia e prateleira de madeira 53 x 120 x 10 cm 2014


Guilherme Callegari

dente (Estudos sobre separáveis e juntáveis) Acrílica, esmalte sintético, carvão e giz oleoso sobre tela 56 x 80 cm (tríptico) 2015


Bagliafledy Acrílica, esmalte sintético, carvão e giz oleoso sobre tela 200 x 300 cm (díptico) 2015


Marcela Tiboni

Esconderijo n1 Livro de artista 25 x 15 x 2 cm 2015


Esconderijo n2 Livro de artista 25 x 15 x 3 cm 2015


Norberto Stori

Série “Crepúsculos” Aquarela 70 x 100 cm 2015


Série “Crepúsculos” Aquarela 70 x 100 cm 2015


Percival Tirapeli

O artista operário Homenagem a Sacilotto Série São Paulo Artes e Etnias Acrílica sobre tela 150 x 100 cm 2014


Os transeuntes Homenagem a Lygia Clark Série São Paulo Artes e Etnias Acrílica sobre tela 150 x 100 cm 2014


Peter de Brito

Eugenia 3 Solvente sobre papel impresso 72 x 57 cm 2014 pรกgina ao lado Eugenia 4 Solvente sobre papel impresso 80 x 68 cm 2014



Sergio Niculicheff

(Fumaça) Sem Titulo Tinta acrílica sobre tela 125 x 75 cm 2008 página ao lado (Casa) Sem Titulo Tinta acrílica sobre tela 160 x 200 cm 2008



Sérgio Romagnolo

Samantha com Roupa de Bruxa Acrílica sobre tela 170 x 200 cm 2008 página ao lado James Endora Lerry e Cliente no Escritório Acrílica sobre tela 169 x203 cm 2008



Sheila Oliveira

Lembranças do Mar II 94 x 94 x 4 cm Fotografia, Impressão fine art 2013


Lembranças do Mar I 94 x 94 x 4 cm Fotografia, Impressão fine art 2013


Vitor Mizael

Sem tĂ­tulo LĂĄpis e giz oleoso sobre madeira 200 x 250 x 20 cm 2014



Walter Miranda

RÉQUIEM A GAIA – MUNDI 1 Técnica mista 162 x 100 x 2 cm 2014


RÉQUIEM A GAIA – MUNDI 2 Técnica mista 162 x 100 x 2 cm 2014



Artistas com premiação nos Salões que expõem com obras recentes

Artistas que expõem com obras do acervo

ARTISTA ANO DE PREMIAÇÃO

ARTISTA ANO DE PREMIAÇÃO

Ana Teixeira 2004

Alex Vallauri 1970

Carla Chaim 2010

Alice Ricci 2013

Cristina Suzuki 2011

André Ricardo Almeida

Estela Sokol 2006

Andrea Cabrini 2000

Filipe Berndt 2009

Lucio Yutaka Kume 1979

Geórgia Kyriakakis 1993

Madu Almeida 2008

Guilherme Augusto – GAFI

2014

Paulo Angerami 2000

Guilherme Callegari

2010, 2012

Paulo Nenflídio 2006

Marcela Tiboni 2005, 2011

Renato Brancatelli 1981

Norberto Stori 1985

Rogério Canella 2006

Percival Tirapeli 1984

Rogério Degaki 2000

Peter de Brito

Sandra Cinto 1994

2000, 2001

2010

Sergio Niculicheff 1978

Sergio Guerini 1988

Sérgio Romagnolo 1983

Simone Rebelo 1995, 2000

Sheila Oliveira 2011, 2014

Sofia Borges 2008

Vitor Mizael 2012, 2013 Walter Miranda 1983, 1984


Ficha Técnica Curador Douglas Negrisolli Produção executiva Ligia Cristina de Andrade Diagramação Cristina Suzuki Textos Douglas Negrisolli Créditos das fotos Artistas participantes da exposição Filipe Berndt – fotos de Norberto Stori e GAFI Gui Gomes - fotos de Estela Sokol Montagem OMA Galeria Assessoria de imprensa TRIVIA Comunicação Transporte de arte MAC Transportes Impressão do Catálogo RUSH

Agradecimentos Agradecemos a toda a equipe da Prefeitura de Santo André, todos os funcionários da Secretaria de Cultura e Casa do Olhar, em especial Nilo Mattos de Almeida | a todos da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e os funcionários do ProAC | a todos os artistas que colaboraram e nos receberam para a realização dessa exposição | Douglas Negrisolli agradece em especial a família e amigos pelo apoio incondicional para a pesquisa de Doutorado. www.douglasnegrisolli.com



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