&Design Magazine - Edição 1

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Foto: Victor Af faro

FILE: 121109_CP_210X280_OK_115G | DATA: 20 June, 2022 10:35 | HORA HORA:: 10:35 | VIENA FILE: 121109_CP_210X280_OK | DATA: 17 June, 2022 13:18 | HORA HORA:: 13:18 | VIENA

São Paulo: Haddock Lobo - 3087 7000 • D&D Shopping - 5105 7777 • Rio de Janeiro - 96605 5492 • Curitiba - 3111 2300 • Santa Catarina: Balneário Camboriú - 3062 7000 São José, Continente Shopping - 3380 9640 • Brasília - 2196 4250 • Goiânia - 3101 9900 • Salvador - 3034 0502 • João Pessoa - 3035 1637 • Cuiabá - 3027 6639 • Belém - 3120 9010 Manaus - 3342 8631 • Artefacto B&C: São Paulo: Avenida Brasil - 3894 7000 • D&D Shopping - 5105 7760 • Artefacto Outlet: São Paulo: Rua Henrique Schaumann - 3897 7001 USA: Coral Gables - 305.774.0004 • Aventura - 305.931.9484 • Doral - 305.639.9969 • artefacto.com.br • @artefactooficialbrasil


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deca.com.br /DecaOficial

// C u b a S l i m O va l

50cm

60cm

T e c n o l o g i a

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S m a r t

B l o c k

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Design para ver e viver.

QUE TAL UM NOVO VISUAL? CORTAR A FRANJA SEM SE PREOCUPAR COM ENTUPIR A CUBA PARECE UM DETALHE, MAS NA VERDADE É DETALHISMO.

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B o r d a

f i n a

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E s c o a m e n t o

i d e a l

Cubas Slim. Criadas para surpreender em cada detalhe. Tudo pensado para transformar a sua experiência de ver e viver o design no dia a dia.

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E s m a l t e

P r o t e k t o

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round kitchen organized by

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RICARDO BELLO DIAS + STUDIO ORNARE

promotion by

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Presente em

Eurocucina | Salone del Mobile eD_00_00_Anuncios.indd 7

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SUMÁRIO 17

PERFIL

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Editorial

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O que é Design

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Novos Talentos

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Paixão pela Tapeçaria Solange em Foco

criação da capa HANS DONNER _ ANO 1 NÚMERO 1 © 2022

p.32

63 TEMPO

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Para Celebrar a Diversidade Brasileira

72

Formas de Morar na Cidade

74

Brasil Sobre Águas

76

Corpos Preciosos

32

O Mundo do Papel

78

Era Virtual

40

A Arquitetura da Delicadeza

82

Ciao São Paulo!

O Papel da Caligrafia Artística

88

O Designer Filósofo que

TÉCNICA 42

44

Patrimônio a Céu Aberto

48

Profissão: Luthier

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Beleza em Cena

50

A Estampa Digital Transformando a Moda

92

Metaverso, do Virtual ao Cotidiano

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A Inteligência que se Vê

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De volta às Origens

nos Convida a Pensar

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p.78

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p.116

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Brasil Adentro

100 Expedição Rosembaum

ESPAÇO 102

Arquipélago Criativo

108 O Espírito do Tempo

p.130

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VARIEDADES

130 Tiago Amorim 138 A Artista que Cria Realidades

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Criado por "Nós"

140 A Encantadora de Corpos

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Verde Perto

144 Cena em Cartaz

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Sabor e Arte

148 O Retorno da Relíquia

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Parece Pizza, mas é Pinsa

150 Alegria, Alegria

122 Arte com Sotaque Carioca

154 Memória do Design 158 Tecelão da Natureza 160 Sebastião Salgado

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A Modalle esteve presente em Nova Iorque, entre os dias 15 e 17 de maio de 2022, na maior feira de design internacional, o ICFF – International Contemporary Furniture, por meio do projeto Brazilian Furniture, em parceria com a Abimóvel e ApexBrasil. A poltrona Farm, do designer Ibanez Razzera, foi a escolha de Victor Moreira Leite + @chair.tag como a melhor da ICFF 2022, entre grandes nomes do setor presentes no evento.

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Poltrona Farm

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EXPEDIENTE & DESIGN MAGAZINE IDEALIZADORA HEAD DE CONTEÚDO

Ângela Leal Rosangela Moura

EDIÇÃO

Bruna Galvão

REDATORA

Eliana Castro

REVISÃO RELACIONAMENTOS FOTOGRAFIA COLABORADORES

Paulo Kaiser Joice Joppert Leal Bruno Lemos e fotos divulgação Ângela Villarrubia, Edson Valente Lara Bezzecchi (em Milão), Livia Pedreira, Lúcia Gurovitz, Marcelo Lopes, Patrícia Travassos, Regina Galvão, Rodrigo Ambrósio, Simone Raitzik, Uiara Castro, Zizi Carderari

COORDENAÇÃO DO DESIGN GRÁFICO DIREÇÃO DE ARTE E PROJETO GRÁFICO DESIGN TEAM - IED SP

Eliane Weizmann Fabio Silveira Aline Bernardes, Bruna Cardoso Piteri, Giorgia Marconi, Giulia Maestrini, Heloísa Guimarães, João Vitor Gonçalves, Julia Spilborghs, Luana Assef, Lucca Morote, Luísa Grigoletto Baldissin, Luiza Jansen Ferrari, Mariana Leal, Milena Yuki Watanabe, Paula Rocha Jorge, Rafael Gallucci, Renan Corazza, Sofia Remmondi, Walter Corbari

MAKING OF DO PROJETO GRÁFICO CRIAÇÃO GRÁFICA DA CAPA PRODUÇÃO, ARTES E EDIÇÃO DE VÍDEOS VERSÃO ONLINE E MÍDIAS DIGITAIS RELAÇÕES PÚBLICAS ESTRATÉGIA COMERCIAL EQUIPE COMERCIAL

Fabio Ranzani Hans Donner John Christian Gonçalves Mário Bentes Joel Reis Magali Perucci Alexandre Duarte Gomes, Christina Lambert, Izildinha Mana, Wanderley Klinger

REDAÇÃO

Rua Havaí 166, Sumaré, São Paulo, SP, CEP: 01269-000

GRÁFICA

ATENDIMENTO AO LEITOR ASSINATURA ANÚNCIO

Viena Gráfica & Editora Ltda. (11) 3530-3580/atendimento@edesignmagazine.com assine@edesignmagazine.com comercial@edesignmagazine.com

PARCEIROS DA &DESIGN MAGAZINE

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EDITORIAL

BEM-VINDOS À PRIMEIRA EDIÇÃO IMPRESSA DA &DESIGN. Ela é o resultado mais palpável, literalmente, de um projeto editorial com foco no universo criativo do design. E que se estende também para o universo digital, como uma plataforma omnichannel de conteúdo que pode ser acessada online e pelas principais mídias digitais. Por esses meios, muitas das reportagens da revista, resultado de entrevistas, fotografias e abordagem plural, são acompanhadas de vídeos com perfis e informações relevantes do próprio entrevistado e do seu processo criativo. A &design chega para ampliar a cultura do design a milhares de pessoas, para discutir o design contemporâneo sem esquecer de reverenciar a sua história e, ainda, para contar histórias, dialogar e criar pontes e conversas com diferentes públicos. Passa também a ser fonte internacional de referência e informações focadas no design brasileiro, com o objetivo de suprir a necessidade de conteúdos especializados para os estudantes, os profissionais de criação e os especificadores sobre o tema. A proposta da &design é reunir a cada edição conteúdos associados às diversas áreas do design, apresentar e dar destaques a designers e estúdios nacionais e internacionais, revelar novos talentos, valorizar os artesãos espalhados pelas cinco regiões do país através de suas criações, trazer inspiração, proporcionar a inclusão, influenciar positivamente o planeta, a sociedade a buscar novas ideias e soluções criativas para os problemas comuns do dia a dia. Nesta edição, desafiamo-nos a colocar o papel no papel para juntar aspectos da história desse material que redefiniu a estética da comunicação humana. E mostramos como suas tantas possibilidades são trabalhadas criativamente para transmitir legados e provocar reflexões. A capa da revista, criada pelo designer gráfico Hans Donner, busca sintetizar a abrangência dos temas tratados, facetas de um todo que se multiplica e se renova em tantas direções. Entre os destaques deste número, um artigo assinado pelo arquiteto e designer Rodrigo Ambrósio sobre a região alagoana conhecida como Ilha do Ferro e o contraponto sobre o metaverso na arquitetura, da jornalista Patrícia Travassos. Boa leitura e até a próxima edição. POR ROSANGELA MOURA

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&DESIGN :: DESIGN

POLTRONA CANOA DA SÉRIE MAR POR GUILHERME WENTZ

Inspirada no mar, revestida com tecido de pet reciclado.

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acesse o QR CODE e veja a inspiração do designer e arquiteto

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&PERFIL + Prêmio Adriana Adams Solange Pessoa O que é Design?

Sonhíferas Solange Pessoa transforma seus questionamentos em peças de arte

PRÊMIO ADRIANA ADAMS p.20

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TAPEÇARIA ALEX ROCCA p.24

PERFIL: SOLANGE PESSOA p.26

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&DESIGN :: O QUE É DESIGN

DESIGN É DAR FORMA SENSÍVEL AO QUE SE TEM DE INTANGÍVEL. POR MARCELO LOPES

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Por ocasião da edição do livro “Krystallos”, em 2001, elaborei minha própria definição de design. A partir desse momento pensei que poderia existir uma maneira de continuar explorando essa definição. Assim começou uma história que surgiu em 2009, quando fui convidado pela extinta revista impressa Desktop para escrever uma coluna sobre design e passei a convidar designers para expressarem suas visões sobre o tema de forma bem sucinta. A inspiração veio das antigas figurinhas “Amar é...”. Desde então, pensei que isso poderia se tornar um livro. Essa ideia começou a germinar em 2016, em comemoração aos cinco anos do DW! (Design Weekend), quando abri o convite para outras personalidades do design brasileiro que ajudaram a construir a história do maior festival da América Latina dedicado ao tema. O projeto cresceu. Não foi apenas o livro. Primeiro, ele veio com uma instalação no IED que era uma explosão de 200 cubos suspensos. O cubo foi escolhido como elemento-base da montagem, por exibir diversas faces, assim como o design, e o colorido simbolizando as infinitas possibilidades da criação. Uma experiência impactante. Passamos tanto tempo olhando para baixo, em nossas telas de celular, que quis criar um momento para olharmos para cima. Foi como se estivéssemos buscando cada estrela de uma constelação. Cada uma tem seu brilho próprio, mas juntas compõem um universo inteiro a ser explorado. Já o livro, edição limitada e numerada, teve a dimensão espacial dos cubos da mostra, materializado no formato quadrado. Assim como o cubo tem várias faces, o livro convida a interagir e girar cada conjunto de páginas, reafirmando que o design é eterno movimento! ©ILUSTRAÇÃO: LUISA GRIGOLETTO E LUIZA JANSEN

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O QUE É DESIGN? O planeta Terra por si só é a maior obra de design já concebida. Nele, encontramos ícones do design divino. Em se tratando do Brasil, podemos listar a beleza natural da cidade do Rio de Janeiro, a magnificência das Cataratas do Iguaçu, o esplendor da Mata Atlântica e a fluidez dos Lençóis Maranhenses. O criador não poupou esforços para encantar os olhos de todos nós! Anos atrás, a única maneira de se ver os Lençóis Maranhenses, por cima, era com ajuda de dois projetos de design: avião ou helicóptero. Hoje, podemos ter essas imagens capturadas através de outro produto de design, o drone. Além de uma ferramenta poderosa da inovação, o design agrega valor. Nos anos 1900, o perfumista François Coty, pai da indústria de perfume moderna, impressionado as joias e objetos de vidro de René Lalique, o convidou para desenhar o frasco para o perfume L’Effleurt. Isso era novidade, porque perfume e frasco eram vendidos separadamente, já que a maioria das fragrâncias eram feitas de essências naturais, ao contrário das produzidas por Coty, precursor das essências sintéticas. Um belíssimo clássico frasco Art Nouveau, então, foi criado por Lalique para o perfume L’Effleurt. A partir daí, ele começou a ser convidado por outras casas perfumistas para desenvolver frascos dos perfumes, agregando valor. Tornar os produtos mais atraentes e mais funcionais se espalha por todos os segmentos da indústria por meio do design. Isso vem acontecendo há séculos. E assim será eternamente. O design, sempre em movimento, criando infinitas possibilidades, onde a linha do tempo será cada vez mais surpreendente com suas criações! Passado, presente e futuro, em total sinergia.

Marcelo Lopes, com mais de 30 anos de carreira e mais de 50 prêmios nacionais e intrenacionais em Design, atua no segumento gráfico, joias e mobiliário

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&DESIGN :: PRÊMIO

ADRIANA ADAM

NOVOS TALENTOS

Criado por Gaetano Pesce, o Prêmio Adriana Adam de Design contribui para a evolução do design com sotaque brasileiro. POR BRUNA GALVÃO

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Simplicidade, inteligência, curiosidade e visão de futuro são algumas das qualidades que Gaetano Pesce confere a Adriana Adam [veja boxe ao lado]. O arquiteto e designer italiano, que compartilhou décadas de amizade com a designer romena radicada brasileira, esteve em São Paulo, em março deste ano, para a cerimônia do 1º Prêmio Adriana Adam de Design. Idealizado por Pesce, um dos maiores nomes da cena internacional ainda em atuação, o prêmio é uma forma de descobrir e inserir novos talentos nos mercados nacional e internacional, tal como fez Adriana Adam em seus mais de 40 anos de atividade profissional, finalizada em 2014, com o seu falecimento. “O prêmio de hoje é o início de uma série que ajudará o design a evoluir e ajudar os jovens designers a se expressar”, afirmou Pesce à &Design. “Design é cultura. Talvez até mais que a arte.” Voltado para estudantes e recém-formados, o 1º Prêmio Adriana Adam de Design teve mais de 400 inscritos. O primeiro lugar ficou com o Espelho Guilhotine, criado pelo designer gaúcho Ricardo Lanfredi Peruzzolo. Em segundo ficou a Luminária Auris, da mineira Manoela de Assumpção Gazze e das paulistanas Victória Munhoz e Verônica Ribeiro, estudantes de design da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. O terceiro lugar coube à Mesa Anita, desenvolvida pelo designer Welison Barbosa dos Santos, de Curitiba.

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ADRIANA ADAM, UMA VIDA DEDICADA À INOVAÇÃO Romena naturalizada brasileira, ela revolucionou o design no país com projetos de vanguarda e revelações de grandes nomes. Iniciou sua carreira na Móveis Forma, empresa paulistana que nos anos 1970, foi a primeira a produzir mobiliário colorido para escritórios. Sempre conectada com as novidades, Adriana Adam revolucionou o design brasileiro ao colaborar com o desenvolvimento e a implantação da primeira linha de móveis com tecnologia 100% nacional. Também participou ativamente da produção da linha I Maestri, da italiana Cassina, que reeditou no Brasil, em escala industrial, mobílias assinadas por grandes nomes do modernismo internacional. Essas experiências despertaram em Adriana a vontade de pesquisar a produção do design brasileiro de 1910 a 1950. Disso, veio a ideia de fundar a Nucleon 8, nos anos 1980, em uma casa modernista projetada por Flávio de Carvalho em São Paulo. Trata-se de uma editora de mobiliário brasileiro. Seus sócios eram a arquiteta Consuelo Cornelsen, o designer Paulo Milani e o empresário Zeco Beraldin. Entre os móveis da marca, inéditos de Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha e Flávio de Carvalho. Além disso, por meio da Nucleon 8, Adriana lançou muitos outros talentos, como os irmãos Campana. A Arquitetura da Luz, também um empreendimento da designer, uniu a estética às tecnologias, como o sistema de alimentação de baixa voltagem e a fibra óptica, para iluminar casas, hotéis e jardins. Admiradora do mestre Gaetano Pesce, ela trabalhou em um conjunto de casas na Bahia em que os pisos eram feitos de resina: uma inovação à qual ela se dedicou até os últimos anos de sua vida. © ILUSTRAÇÃO: JOÃO VÍTOR GONÇALVES © ILUSTRAÇÃO ABERTURA: LUISA GRIGOLETTO

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&DESIGN :: PRÊMIO

Além do prêmio em dinheiro (1º colocado, 5 mil dólares, 2º colocado, 2.500 dólares e 3º colocado, 1.500 dólares), os ganhadores participaram com suas obras da 61ª edição do Salone del Mobile 2022, em Milão, Itália, entre 7 e 12 de junho. Devido à alta qualidade dos projetos recebidos, a organização do evento, a curadoria e o criador do prêmio ainda decidiram estabelecer duas importantes menções honrosas. A primeira foi para a Poltrona Emile, de autoria do gaúcho Fabrício Reguelin Auler, aluno do curso de desenho industrial da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Outra menção honrosa foi destinada ao Banco Tuiuiú, criado pelo curitibano Patrick Afornali, aluno do curso de design da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Curitiba. “Um dia, o design do Brasil será diferente do design de outros países”, afirmou Pesce durante a cerimônia. Uma forma de dizer que o design brasileiro está cada vez mais ganhando o seu próprio sotaque.

IRREVERÊNCIA, BOM HUMOR E SUSTENTABILIDADE MARCAM AS PEÇAS VENCEDORAS O frescor do olhar fica nítido nos trabalhos premiados.

1º LUGAR

Espelho Guilhotine, de Ricardo Lanfredi Peruzzolo Irreverente, este espelho de piso é inspirado nos aparelhos de decapitação mecânica do século 18. A ideia desse objeto decorativo é fazer um alerta sobre os perigos da obsessão pelo “corpo perfeito”. De MDF, o espelho também pode ser desenvolvido em ferro ou madeira serrada, e ainda ganhar acabamento em laca.

© FOTOS: DIVULGAÇÃO

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2º LUGAR

Luminária Auris, de Manoela de Assumpção Gazze, Victória Munhoz e Verônica Ribeiro

As designers se inspiraram nos urupês, cogumelos conhecidos como orelhas-de-pau. A luminária é feita com hastes de alumínio, papel vergê e materiais recicláveis e usa LED, que consome pouca energia, o que a torna sustentável.

Assista o depoimento de Gaetano Pesce sobre Adriana Adams

3º LUGAR

Mesa Anita, de Welison Barbosa dos Santos Para produzir a mesa na inusitada forma de cogumelo, o designer trabalhou com diferentes técnicas, da tapeçaria à tornearia. O resultado é uma mesa divertida, que pode ser usada para reforçar um ambiente lúdico ou dar um toque bem-humorado quando incorporada a uma decoração neutra.

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&DESIGN :: TÊXTIL

PAIXÃO PELA TAPEÇARIA Artista em ascensão da nova geração de tapeceiros, Alex Rocca é síntese, cor, luz e sombra POR: REGINA GALVÃO

O curitibano Alex Rocca, 37 anos, integra a nova geração de artistas tapeceiros que investem na produção autoral. Em abril deste ano, Rocca foi destaque na SP-Arte 2022, na capital paulista, ao apresentar uma tapeçaria de grandes proporções, toda colorida e feita à mão com materiais diversos. Com 3,70 x 4,40 m, a peça levou quase três meses para ficar pronta e foi tramada em três partes. “É minha maior obra até agora”, afirma Rocca, que, além da tapeçaria, trabalha com direção de arte e cenografia. Em busca de novos significados e potências para as suas peças, Rocca se define mais como artista do que como designer. Sua arte é o resultado de suas vivências como homem preto e gay e de suas pesquisas.

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"Meu processo de criação é quase arqueológico, com três variáveis: volume, textura e cor"

&D: Como pintou o convite para a Feira na Rosenbaum? AR: A Lola Muller, que é designer têxtil e parti-

cipa da feira, foi quem me descobriu. Ela sugeriu meu nome a Cris Rosenbaum. Participei do evento de Natal em 2019, e foi surpreendente o interesse que minhas peças despertaram. &D: Quem o inspirou a seguir em frente? AR: Acompanhei de perto as obras de artistas

como Eva Soban, Renato Dib e Sonia Gomes. A tapeçaria surgiu como um meio para extravasar a criatividade e, de repente, por causa dela, minha vida virou de ponta-cabeça. &D: O que isso significa? AR: Sou mais artista do que designer. No início, &DESIGN: Qual a relação entre a sua formação e a tapeçaria? ALEX ROCCA: Sou formado em cinema e design

de interiores e há 15 anos trabalho com direção de arte e cenografia. Foi assim que desenvolvi meu senso estético. Minha cabeça funciona de maneira tridimensional, e vejo a tapeçaria como uma escultura. &D: Como é o seu processo de criação? AR: É quase arqueológico. Tenho três variáveis:

volume, textura e cor. Pesquiso fibras naturais e sintéticas, aplico tingimentos naturais ou não. &D: Como se deu o contato com a tapeçaria? AR: Pesquisando arquitetura, eu me apaixonei

pelas tapeçarias modernistas de Burle Marx, Norberto Nicola, Jaques Douchez. Em 2019, senti vontade de praticar atividades manuais. Com bastidor, linha e agulha, fiz meu primeiro bordado. Isso passou a me fascinar. © FOTOS: BRENDA PONTES / @BRENDAPONTES

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pensava só na estética, mas hoje busco outros significados para o trabalho. O resultado sai do que sou, um homem preto e gay, das minhas vivências e do que pesquiso. São essas questões que levaram à evolução da minha tapeçaria. &D: Você fez duas coleções exclusivas para a Dpot Objeto, não? AR: Sim. A coleção Simbiose, inspirada nos

movimentos orgânicos do paisagismo e da arquitetura urbana, e a Jardins, com referências de paisagistas como Burle Marx, Rosa Kliass e Alex Hanazaki, do americano Charles Jencks e de Shunmyo Masuno, o principal designer do Japão. &D: E a recente tapeçaria para a SP-Arte? AR: Ela representa o resumo do meu trabalho:

síntese, cor, luz e sombra. Foi uma realização pessoal dar mais profundidade à peça e poder detalhar melhor a superfície têxtil, misturar mais cores e fibras. 25

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&DESIGN :: ARTE

SOLANGE EM FOCO Artista mineira representada pela galeria Mendes Wood apresenta seu trabalho na Bienal de Veneza até novembro POR ELIANA CASTRO

“Para além das claras referências vindas da observação da organicidade ou das experimentações estéticas rupestres, o que salta na obra de Solange Pessoa é a pulsão de uma vitalidade singular, que se manifesta por meio de contornos peculiares, assoprando figuras, formas e coisas em que reconhecemos o movimento primordial da gênese.” Alex Bacon A artista mineira representada pela galeria Mendes Wood apresenta seu trabalho na Bienal de Veneza The Milk of Dreams até novembro deste ano, em especial, no Arsenale, estaleiro e base naval que tornou-se um dos locais de exposições da Bienal por ocasião da 1ª Exposição Internacional de Arquitetura em 1980. Lá encontramos obras monumentais em seus extensos salões junto a outros artistas, na sua maioria mulheres ou não binários. A curadora

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Conjunto de 55 esculturas de pedra-sabão que estão expostas no Giardino Delle Vergine. Dentro da galeria, conjunto de 14 desenhos de óleo sobre tela intitulado Sonhíferas.

Cecilia Alemani disse que a mostra se concentra em três áreas: “a representação dos corpos e suas metamorfoses; a relação entre indivíduos e tecnologias; a conexão entre os corpos e a Terra”. A mostra inclui mais de 1.000 obras de 213 artistas; 180 nunca foram exibidos na Bienal de Veneza. “Uma exposição transhistórica, criando um diálogo entre o presente e o passado e criando um diálogo entre histórias de exclusão”. Solange faz sua estreia junto a outros 5 artistas brasileiros, compartilhando seu universo permeado por uma linguagem particular que dilui a ideia de tempo cronológico. Suas pinturas incorporam aspectos mitológicos em suas formas primordiais. Seu trabalho tem amplo diálogo com o tema escolhido por Alemani, o livro O Leite dos Sonhos, da surrealista Leonora Carrington, uma britânica radicada no México que gostava de dizer às pessoas que ela não havia nascido; ela tinha sido feita. “Dessa comunhão de humano, animal e máquina, Leonora foi concebida. Quando ela emergiu, em 6 de abril de 1917, a Inglaterra tremeu”, escreveu Merve Emre em matéria para o The New Yorker em 2020. Solange Pessoa criou instalações, desenhos, pinturas e esculturas que colocam o observador num espaço para viver uma experiência sensorial sublime. Desde a década de 1980, Pessoa reúne materiais orgânicos na sua enigmática e fantástica ópera, criando formas que pulsam com vida e, ao mesmo tempo, aparecem silenciadas pelo espectro da morte. Os intensos projetos em branco e nero, que compõem a série Dreamers (2020-2021), retratam criatura sinuosa e inserida durante a metamorfose. A série de esculturas esculpidas em esteatite (pedra-sabão) mostra a ductilidade dos materiais como metáfora do riso que conhece os genes do processo e da construção, da natureza e da cultura.

“Uma exposição transhistórica, criando um diálogo entre o presente e o passado e criando um diálogo entre histórias de exclusão”.

©FOTOS: ARQUIVO PESSOAL SOLANGE PESSOA

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&DESIGN :: DESIGN

BANCO DE GRANDE PORTE Design futurista em madeira maciça do designer mineiro Leonardo Vanetti.

veja detalhes da peça do designer

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&TÉCNICA + Hans Donner Universidade do Papel Caligrafia Fabio Maca Projeto Gráfico da &Design – IED

Inspiração em Cores Obra da artista Maud Vantours. 2021

O MUNDO DO PAPEL p.32

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EDUARDO KOBRA p.48

MÚSICA: VIOLINO p.53

MODA: ESTAMPARIA p.50

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&DESIGN :: PAPEL

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PA PEL

O MUNDO NO

Há quase 2 mil anos, a escrita da história da civilização humana passa por esse material POR: EDSON VALENTE

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&DESIGN :: PAPEL

Um ditado popular afirma que “o papel aceita tudo”. A conotação desse provérbio não é positiva, uma vez que ele sugere que, entre os conteúdos a preencher uma folha em branco, estão também os de finalidades não tão nobres. Mas é assim com tudo, ou quase tudo, que tem contribuído para erigir a civilização humana ao longo dos séculos, estabelecendo infinidades de traços constitutivos que fogem à lógica maniqueísta de um conflito entre bem e mal absolutos. No território entre os extremos, sobretudo, é que se faz a história. E as margens que delimitam esse caminho se ampliam a perder de vista. O que cabe em uma folha de papel vai muito além da pigmentação que venha a ocupá-lo. Desde que surgiu nos moldes que o conhecemos hoje, há quase 2 mil anos, o papel assumiu um protagonismo no registro de nossas conquistas, aspirações, devaneios e confabulações, unindo o que há de mais sagrado e mundano na concepção da espécie.

Foi em 105 d.C. que T’sai Lun, funcionário da corte imperial chinesa, aperfeiçoou tentativas anteriores de fabricação do material usado para a escrita de documentos e alcançou o feito que faz ecoar seu nome até os dias de hoje. Lun é conhecido como o inventor do papel. Sua fórmula constava de uma mistura umedecida de cânhamo, casca de amoreira e restos de roupas, entre outras fontes de fibras vegetais. Essa massa era batida, peneirada e deixada ao sol até se transformar na seca e fina camada que chamamos de folha. Aparentemente frágil, mas que alicerça impérios. Lembremo-nos, por exemplo, do impacto provocado pela destruição de 500 e 700 mil rolos de papiro – um ancestral do papel, por assim dizer – da Biblioteca de Alexandria, no ano de 48 a.C. Permanece ainda algum mistério sobre as circunstâncias que deram cabo do maior acervo de história e ciência antigas, dizimado em embates na busca pelo poder. Afinal, é disso que estamos falando: de um domínio que passa pela detenção do conhecimento que se espalha pela combinação de fibras e no entrelaçamento das possibilidades oferecidas pelo substrato papeleiro. São inúmeros os seus usos. E seus tipos. Embora vivamos atualmente a era da transformação digital, em meio a tantas inovações o papel também se reinventa – e se recicla, reforçando o círculo virtuoso da preservação ambiental. “No Brasil, 70% do papel é reciclado”, dimensio-

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na Fabio Mortara, presidente da Two Sides Brasil & América Latina, organização que reúne empresas da cadeia de suprimentos da comunicação gráfica e de embalagens celulósicas. Na opinião de Mortara, o futuro do papel se define principalmente a partir de duas vertentes de utilização: na manufatura de livros e na de embalagens. Este segundo fim é potencializado pela necessidade de minimizar a quantidade de resíduos plásticos no planeta e substitui-los por materiais biodegradáveis. “O mercado de papel gráfico tem se transformado desde a popularização dos meios digitais, sendo que a pandemia contribuiu para acelerar algumas das tendências anteriormente existentes, como a da digitalização”, afirma Guilherme da Cruz Monteiro, gerente-executivo de Estratégia e Marketing da Unidade de Papel e Embalagens da Suzano Papel e Celulose. “Por outro lado, outras macrotendências resultaram no aumento de consumo e fabricação de outros produtos que também podem ser desenvolvidos a partir de máquinas de papel”, complementa o executivo. “Isso, somado a alguns ajustes de capacidade de produção, levou o © CAPITULAR DE ORIGAMI: MILENA YUKI WATANABE

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Espiral de Criação Na série "Papel Vortex", Maud nos faz lembrar do turbilhão de possibilidades de uso do papel na arquitetura do conhecimento humano

ciclo de oferta e demanda a patamares históricos mais saudáveis ao longo de 2021.” Em relação ao segmento livreiro, o presidente da Two Sides chama a atenção para características do volumes físicos que não são encontradas nos meios digitais. “O livro em papel mexe com sentidos como o tato e o olfato”, argumenta. “Estudos mostram que a aprendizagem da escrita em um caderno é brutalmente mais relevante sob o ponto de vista cerebral.” Sob esse prisma, Guilherme Monteiro, da Suzano, destaca que “o papel atua como um produto democrático de inclusão” no aprendizado para quem “não tem acesso à tecnologia de celulares, computadores e smartphones”. 35

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&DESIGN :: PAPEL

“Eu gosto de usar o papel em meu trabalho por conta da simplicidade do material e de todas as técnicas.” eD_032_039_materiapapel_RevF_v4_ok (1).indd 36

ESCULTURAS DE PAPEL A amplitude de alcance do papel se desdobra em múltiplas possibilidades de aplicação também no campo do design. A começar pelos próprios livros que se transformam em sofisticadas peças tridimensionais, originando o conceito de livro-objeto. A criatividade não encontra limites quando examinamos o leque de artefatos de arte e decoração feitos do material. Para chegar a essa conclusão, basta olhar para a produção da artista e designer parisiense Maud Vantours, de 37 anos. Suas esculturas de papel têm ocupado galerias de arte não só da França como também do exterior, e marcas e organizações importantes a procuram para trabalhar em seus projetos. Foi assim com a Philharmonie de Paris, complexo de salas de concerto na capital francesa para o qual Maud confeccionou em papel uma série de violinos azuis. “Eu gosto de usar o papel em meu trabalho por conta da simplicidade do material e de todas as técnicas que ele permite ao ser transformado em uma peça de arte”, afirma a designer francesa. “Temos utilizado o papel por séculos e acredito que continuaremos a usá-lo mais e mais devido à sua sustentabilidade, às possibilidades de reciclagem e sua composição natural, que é de celulose em sua maioria extraída do manejo florestal sustentável.”

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LANTERNAS JAPONESAS A flexibilidade de meios e de fins a que se presta o papel é também um dos pontos de partida da arquiteta Mel Kawahara ao adotá-lo para produzir delicadas luminárias de forma manual, como quem faz dobraduras ou origamis, à semelhança das lanternas japonesas. Ela conta que, sendo formada em arquitetura e urbanismo pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), o desenho sempre lhe foi um modo de pensar, e “o papel tinha esse lugar de espaço em branco para esboçar e desenvolver ideias”, confabula. “Para mim o papel tem um significado de liberdade para o traço, uma folha em branco. Gosto de pensar nele dessa forma, como se ali pudesse caber um mundo de desenhos, planos, projetos.” Dessa maneira, no decorrer da faculdade, foi descobrindo outras formas de pensar com papel, através de maquetes e com as dobraduras. “A produção do material permite que ele tenha muitos formatos, desde um A4 até rolos enormes”, diz. “Sua densidade é leve, possibilitando que seja trabalhado sem a necessidade de uma ferramenta, e essa relação direta com ele é muito

Maud Vantours nasceu em 1985 na França. Designer e artista, vive e trabalha em Paris. Formada pela escola parisiense Duperré, Maud segue uma formação em Design com especialização em pesquisa têxtil e de materiais. @maudvantours

significativa. A grande vantagem é poder manuseá-lo, o que facilita para testar algumas ideias, inventar, errar, de maneira mais próxima da execução do produto. A imagem etérea propiciada pela leveza do papel, tanto na parte simbólica quanto na concreta, me agrada muito. Além disso, ele é permeável à luz, o que é bem importante para a confecção de luminárias.” Em seu processo produtivo, Mel Kawahara costuma aplicar um filme de polipropileno e polietileno na execução final das peças, para dar-lhes maior resistência e durabilidade. “Mas, de qualquer maneira, são materiais em forma de folha semelhante à do papel nos grandes formatos”, explica. COSTURA DO CONHECIMENTO No que concerne à maleabilidade e adaptabilidade do papel a circunstâncias das mais diversas, o designer Jum Nakao escreve um capítulo à parte. Um de seus trabalhos mais impactantes como estilista foi “A costura do invisível”, um desfile de roupas confeccionadas em papel vegetal de diversas gramaturas, totalizando meia tonelada do material na produção das peças. A apresentação foi realizada na SPFW (São Paulo Fashion Week) de 2004.

Violinos de Paris A artista francesa Maud Vantours produziu, para uma campanha da Philharmonie de Paris, uma orquestra de violinos azuis

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Na ocasião, Jum propôs reflexões. E rupturas. Levantou questões não apenas sobre o funcionamento do mundo da moda, colocando em xeque o que se sustentaria para além do verniz e do glamour, mas da construção social como um todo. Para compor tal cenário de provocações, o designer contrapôs aspectos da transitoriedade do papel ao que ele institui de perpétuo. Ao final do desfile, as modelos rasgaram as delicadas peças que vestiam. No entanto, apesar de sua destruição física, toda a simbologia que elas carregavam permaneceria. Ao tomar nossos sentidos com suas texturas, o papel costura de fato algo invisível: o conhecimento através dos tempos, ou o próprio caráter do que se tem por humanidade. Invisível porque se perde de vista tamanha a sua extensão, que não cabe em espaços restritos.

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CONTEXTO AMBIENTAL Porém, quando consideramos a materialidade do papel, é necessário situar sua fabricação no contexto ambiental da atualidade. Essa é uma preocupação constante de governos, organizações não governamentais, consumidores e também de empresas. Segundo o último relatório anual da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), publicado em 2021, a área total de árvores plantadas no Brasil em 2020 para fins industriais totalizou 9,55 milhões de hectares, um recuo de 1,4% em relação ao número de 2019, de 9,69 milhões de hectares. O eucalipto é a espécie cultivada em 78% do referido território. O país está entre os dez maiores produtores de papel do mundo, e as exportações do material somaram 2,1 milhões de toneladas. A indústria de papel e celulose, por sinal, busca acompanhar as necessidades do mercado quando o assunto é sustentabilidade. “Por meio de inovações e desenvolvimento, trabalhamos a ampliação do portfólio de produtos em consonância com os anseios da sociedade por soluções sustentáveis”, frisa Guilherme Monteiro, da Suzano. © FOTOS: MAUD VANTOURS

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Geometria Maud fez uma sobreposição de triângulos de papel formando um tecido multicor que se estendeu em uma galeria de Paris

A empresa aposta em itens como um papel flexível para embalagens de absorventes e amostras de flaconetes e outro para sacolas de entrega de refeições e alimentos comprados por aplicativo. “Um dos nossos compromissos é oferecer 10 milhões de toneladas de produtos de origem renovável, desenvolvidos a partir de biomassa, em substituição a materiais de origem fóssil até 2030”, diz Monteiro. Se o mundo muda, o papel acompanha essas transformações. É nesse sentido, na verdade, que ele aceita tudo, adaptando-se ao que o meio lhe demanda. Tem sido assim há séculos e deve continuar a ser por muito tempo ainda. 39

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&DESIGN :: UNIVERSIDADE DO PAPEL

A ARQUITETURA DA

DELICADEZA Material proveniente da celulose é a paixão do artista plástico Enrique Rodriguez, fundador da Universidade do Papel. POR ÂNGELA VILLARRUBIA

Há uma delicadeza nos trabalhos do artista plástico Enrique Rodriguez, criador da técnica Arquitetura do Papel. Em seus quadros e painéis tridimensionais, ele utiliza diferentes tipos de papéis e, com recortes e sobreposições, constrói mosaicos em que há uma série de detalhes que precisam ser arquitetados com precisão e engenhosidade, para que cores, texturas e profundidades se harmonizem. Rodriguez utiliza papéis artísticos importados, livres de ácido em sua composição e, por isso, com longa durabilidade, já que são resistentes aos fungos e à proliferação de bactérias. “Podem durar 300 anos, pois as cores são apli-

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cadas na massa”, ensina, observando que no Brasil não há a produção industrial desse tipo de material. Ele também tem uma queda pelo papel artesanal, particularmente pelo nipônico washi, confeccionado por meio de técnicas milenares. Além disso, trabalha apenas com tingimento natural. Cada obra realizada por Rodriguez é envelopada em acrílico, de efeito leve, para preservar o material ao longo dos anos. O procedimento é empregado em esculturas e quadros personalizados retroiluminados, divisórias, encostos de cadeira, cabeceiras de cama, entre outros itens produzidos por ele. A inspiração de Rodriguez para desenvolver sua técnica veio da ópera. “Montei um projeto chamado Ópera de Papel, com cenários, adereços e figurinos de cantores feitos com o material. Até hoje minhas criações têm caráter cenográfico: trabalho com diferentes camadas, com profundidade, com luz”, explica. Paralelamente a seu trabalho artístico, que já foi apresentado em mostras como Maison et Objet, em Paris, e Macef, em Milão, ele compartilha seus conhecimentos na Universidade de Papel, fundada em 2015. Trata-se de uma escola e hub para empresas, artistas e fãs do material

com o intuito de conectar a cadeia produtiva, abrir novos caminhos por meio da formação de mão de obra e geração de renda e revelar talentos. O projeto deu um novo passo em 2016, quando o artista foi parar na favela de Paraisópolis, em São Paulo, para ministrar aulas de Arquitetura do Papel a um grupo de 20 moças em situação de vulnerabilidade social. A experiência foi ampliada por Rodriguez para outros Estados e países. Desde 2021, em parceria com a ONG Alquimia, na capital paulista, ele dá aulas com atividades lúdicas e recreativas para crianças de 5 a 14 anos. Após a pandemia, Rodriguez tem novos planos para sua universidade. Deseja realizar pesquisas e experimentação com papel e celulose em substituições ao plástico, gerando produtos simples e econômicos. Esse é o caso das construções feitas com tubos de papelão, projetadas pelo arquiteto japonês Shigeru Ban para acolher desabrigados de desastres naturais. “O futuro do papel passa pela questão da sustentabilidade – e não é marketing. Se a ideia é eliminar o uso do plástico, o papel será fundamental porque é renovável”, finaliza.

1- Enrique Rodriguez com alguns de seus trabalhos feitos com papel. 2- O artista plástico durante aula da Arquitetura do Papel.

© FOTO: BRUNO LEMOS / @BMLEMOS

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&DESIGN :: FABIO MACA

O PAPEL DA CALIGRAFIA ARTÍSTICA Muito mais do que a técnica, Fabio Maca defende uma linguagem mais pessoal na composição das letras. POR: ELIANA CASTRO

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A forma da letra, sua espessura e a intensidade que ela é pressionada sobre o papel traduz emoções.

No papel, as palavras, as frases e os textos podem ganhar significados que vão muito além do que se pretende comunicar. A espessura dos traços, bem como o desenho e a intensidade com que se pressiona a letra contra o papel, também pode traduzir – ou esconder – sentimentos que estão naquilo que se escreve, sendo uma expressão artística. E é por isso que a caligrafia, antes muito associada a convites de casamento, vem se tornando cada vez mais reconhecida como uma profissão que trabalha com o design das letras. “Apesar de o aprendizado técnico ser o mesmo, cada calígrafo vai desenvolver seu estilo, porque é uma linguagem de muitas interpretações. Não se trata de técnica pura. A gente aprende a técnica para depois subvertê-la e criar a nossa própria estética”, explica Fabio Maca, calígrafo designer, com trabalhos feitos para marcas e empresas e com uma produção mais pessoal, como a criação de quadros, além de desenvolver a caligrafia para pessoas que desejam tatuar nomes, frases e palavras. © FOTOS: BRUNO LEMOS / @BMLEMOS

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Como é de esperar, o papel é o principal suporte do calígrafo. Um dos aspectos mais importantes para Maca é que ele não enrugue nem durante nem depois do processo de escrita. Por isso, assim como o artista plástico examina a tela, ele procura estudar qual será a base que vai receber o trabalho. “Eu prefiro papéis com pelo menos 300 g, que é mais resistente, aguenta melhor a tinta e dá um resultado mais importante”, conta. “Tem ainda os papéis caríssimos, feitos de fibra de algodão, que são macios e recebem melhor a tinta, que fica mais concentrada. Esses, eu adoro!” Apesar dessas preferências, Maca explica que um papel rugoso, em que a caneta vai empacar – ou um acetinado, que não vai chupar tanto a tinta, ou ainda um mais permeável, em que a tinta vai se espalhar pelos poros, dando o aspecto de manchado –, pode ser interessante, dependendo do que se espera obter. Além do papel, a escolha entre usar penas e pincéis, bem como guache, nanquim, acrílica ou outro tipo de tinta, é essencial para que a caligrafia consiga expressar exatamente o que é desejado. “Eu uso com muita frequência canetas esferográficas e de ponta porosa”, afirma. “Sou um defensor de uma caligrafia menos técnica, que se baseia em uma linguagem à qual tivemos acesso quando fomos alfabetizados. Todos nós temos uma estética particular, mas depois a gente esquece a nossa letra. Com o meu trabalho, eu pretendo fazer o resgate dessa caligrafia mais pessoal e menos técnica, porque acredito que ela fale muito sobre nossa essência. E está aí a sua beleza.”

Veja o depoimento sobre seu trabalho acessando o QRCode.

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CATADOR

&DESIGN :: EDUARDO KOBRA

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PATRIMÔNIO A CÉU ABERTO O muralista Kobra, com trabalhos espalhados pelos cinco continentes, dá mais um passo na carreira ao ter um trabalho tombado pela prefeitura de Sorocaba, no interior paulista. POR ÂNGELA VILLARRUBIA

“Sagarana”, “Vidas Secas”, “Dom Casmurro”, “O Cortiço”, “Os Sertões” e “A Estrela Sobe” são alguns dos livros retratados no enorme mural realizado na empena de uma escola e que agora passa a ser Patrimônio Cultural Imaterial do município de Sorocaba (interior de SP). Seu autor, Carlos Eduardo Fernandes, o Kobra, se emociona com a conquista inédita. Ele acredita que o tombamento abre uma porta para a conservação do grafite, para que as próximas gerações tenham acesso à atual produção. “Este é o movimento artístico mais importante da nossa era”, enfatiza. Sensível, se diz uma pessoa desprendida dos bens materiais, porém, o mesmo não acontece em relação às suas criações: para ele, é doloroso constatar a remoção de um trabalho. “Quando vejo um dos murais apagados, é como um filho que se perdeu”, observa. “Imagine se todas as obras que estão nos museus fossem apagadas. Ou os murais do Diego Rivera”, exemplifica, ao citar o muralista mexicano. Ele não comenta casos, mas é famoso – e polêmico – o desapareci-

mento de seu gigantesco grafite, de mil m2, que retratava a cidade de São Paulo nas décadas de 1920 e 1930. Situado na Av. 23 de Maio, no começo de 2017 terminou coberto pela tinta cinza da Prefeitura, dentro do programa Cidade Linda. Outro episódio, um ano depois, foi o desaparecimento de seu Albert Einstein andando de bicicleta, na rua Oscar Freire, também na capital paulista.Dono de um amplo e conhecido currículo, o muralista tem uma série de trabalhos em vista. Entre eles, um painel com cerca de 2 mil m2, em San Marino, que contará a história dessa pequena nação europeia. Também estuda diversas outras ações espalhadas pelo Velho Continente, em pelo menos dez países, além de diversas nos Estados Unidos. Antes da pandemia, somava 40 convites no exterior. “Agora estou me organizando, com fôlego total para fazer essa nova série”, afiança. Entre suas últimas entregas estão dois murais dentro do Hospital das Clínicas de São Paulo, denominados “Metamorfoses” e “Ciência e Fé”, ambos doados pelo artista, como uma for-

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&DESIGN :: GRAFITE

CONSTRUÇÃO CIVIL

ma de reconhecimento pelos serviços prestados pela instituição a milhares de pessoas todos os dias, inclusive durante a pandemia. Para ele, a arte pode aplacar o sofrimento e levar esperança. Recentemente, o artista também apresentou trinta painéis para uma exposição feita a convite da União Geral dos Trabalhadores (UGT): ele homenageou profissionais como professores, catadores, domésticas, enfermeiras e motoboys, entre outros, ao retratar pessoas reais em interação com famosas obras de arte. “O que me inspira são as vidas, as verdades, pessoas que fazem o bem, que nos influenciam a transformar o mundo em um lugar melhor”, observa, ao dizer que já retratou mais anônimos do que famosos. A exibição, ao ar livre, foi bem no meio da icônica Av. Paulista, ao longo de um trecho de um quilômetro da sua ciclovia. Arte democráti-

COZINHEIRO

ca e de fácil acesso, seja na rua ou dentro do complexo hospitalar. A veia empática e engajada sempre está aí, plasmada em seu trabalho, muitas vezes com temáticas tão contemporâneas, como no mundialmente famoso mural “Coexistência” – que retrata crianças de cinco religiões, usando máscaras –, um tributo às vítimas da Covid-19. Uma serigrafia desta obra foi sorteada entre os doadores de uma campanha para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade – ainda por cima agravada pela pandemia –, que arrecadou R$ 450 mil. Kobra, que começou como pichador durante a adolescência, é autodidata e revela que passou a maior parte da vida dentro de livrarias, museus, galerias e bibliotecas, em constante pesquisa. “Sigo estudando intensamente, não só sobre como vou pintar, que é algo técnico, mas

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EMPREGADA DOMÉSTICA

Acima, alguns dos painéis em que Kobra retrata profissionais do cotidiano para uma de suas exposições

sobre o tema, a mensagem, a história envolvida, o país. Há milhares de assuntos que desconheço e preciso buscar informação. Tenho que aprender antes de criar algo. A pintura final é o resultado de um longo processo de pensamento”, assinala. A sua arte, de traços tão característicos, também é resultado de muita labuta sob a intempérie, e não está isenta da exposição a diversos riscos. Ele conta que sobreviveu a dois acidentes de trabalho. Em Roma, tombou de uma escada alta, bateu as costas em uma quina e ficou algum tempo imobilizado. Sentia muita dor. Em outra ocasião, caiu e a escada ficou presa num vidro. Se não fosse por isso, teria despencado de © FOTO: DIVULGAÇÃO, CYRILLO / @DRONE.CYRILLO

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FERROVIÁRIO

peito sobre outro vidro, “o que seria fatal”, relata, embora não acredite que essas ocorrências tenham sido o pior em sua trajetória. A falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), ou o uso de apetrechos incorretos, o fizeram ter uma intoxicação por metais pesados que o segue pela vida e se desdobra em intolerância à lactose e ao glúten, o que também é um problema para um artista que viaja tanto para trabalhar. “Os desafios estão em vários níveis. A dificuldade está em pintar algo que estudei por anos e anos e me deparar com pessoas que não entendem de arte, mas querem dar palpite. Querem bloquear o trabalho, interferir na criação”, desabafa. “Mas o desafio pertence à conquista. Se não há desafio, não há mérito, linha de chegada, prêmio, troféu, honra”, conclui, já com vistas às próximas façanhas. 47

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&DESIGN :: MÚSICA

PROFISSÃO: LUTHIER

Referência do setor no Brasil, Rogério Fagundes Neto é “artesão e artista” na hora de fabricar instrumentos musicais. POR ELIANA CASTRO

O design está presente no dia a dia de Rogério Fagundes Neto. Luthier desde os 16 anos (hoje ele está com 35), ele diz que na sua profissão é preciso conjugar a beleza estética com a parte funcional dos instrumentos. O mais importante para ele, assim como no trabalho dos designers, é saber interpretar o material. “É preciso ser artesão e artista para construir um bom instrumento musical. Conhecer a resistência do material e a espessura ideal do instrumento para ter uma boa acústica e atender às exigências dos músicos”, afirma o profissional, que viaja à Europa para escolher as melhores madeiras, geralmente vindas do norte da Itália.

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Rogério, que também toca violino desde a adolescência, explica que não há a necessidade de ser músico para se tornar um bom luthier. “Mas ajuda bastante porque o profissional pode ir experimentando à medida que o trabalho evolui. Quem não toca precisa chamar um músico para fazer os testes”, completa. O encontro de Rogério com a luteria não foi algo exatamente planejado. Quando garoto, via seu tio, o artista Antonio Nóbrega, tocando rabeca nos palcos e sonhava em ter uma, até que surgiu a oportunidade de fazer um curso de construção do instrumento. Nóbrega se empolgou com o sobrinho e o apresentou ao luthier Saulo Dantas, que havia feito um curso em Cremona, Itália. Rapidamente, Rogério se matriculou em aulas de italiano e foi pesquisar sobre a escola de Cremona, na Italia, onde nasceu Antonio Stradivari e que criou os perfeitos Stradivarius. Fez a viagem e, de volta ao Brasil, abriu a Rogério Fagundes Luteria. Com o trabalho aumentando, chamou o irmão caçula, Fernando, para ajudar nos restauros e na construção dos instrumentos. No início, o irmão teve as primeiras lições com Rogério, mas depois seguiu o mesmo curso na Itália. O último a se juntar à dupla foi o irmão mais velho, Luciano, que é o responsável pelo setor especializado em arcos. Atualmente Rogério é um dos mais conceituados luthiers brasileiros. Entre os clientes da Luteria Fagundes estão os spallas Pablo de León, da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, e Ricardo Amado, da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. “O encontro com o Saulo foi o encontro com a minha profissão. Na hora, senti que um portal havia sido aberto para mim”, lembra. “Decidi que era o que desejava fazer pelo resto da vida.”

© FOTOS: DIVULGAÇÃO

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“É preciso conhecer a resistência do material, a espessura ideal do instrumento para ter uma boa acústica e atender às exigências dos músicos.”

Confira o trabalho minucioso dos irmãos Fagundes acessando o QRCode.

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&DESIGN :: ESTAMPARIA

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A ESTAMPA DIGITAL

TRANSFORMANDO A MODA Maior liberdade criativa e sustentabilidade são os principais pontos positivos da técnica. POR BRUNA GALVÃO

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&DESIGN :: ESTAMPARIA

A estamparia digital tem uma rainha: Mary Katrantzou. Aos 39 anos, a designer grega encabeça, atualmente, as estampas de estilo trompe l’oeil, em que a ilusão de ótica e o abuso de cores são os pontos fortes. Aliás, a liberdade criativa e a utilização de uma infinita gama de cores são apenas duas das vantagens da estamparia digital, cujo mercado está em expansão mundialmente. Conhecida como “jato de tinta”, essa técnica é produzida por uma máquina semelhante à impressora, que utiliza cartuchos com tintas especiais para transferir a imagem do computador para a base têxtil. A alta qualidade de definição da imagem lembra uma fotografia, o que possibilita a construção de estampas muito contemporâneas – daí o sucesso de Katrantzou. “Também não há limite para a quantidade a ser estampada, o que abre possibilidades para pequenas produções e projetos extremamente personalizados”, comenta a designer, educadora e artista visual Camilla Bologna, especializada na área. A estamparia digital é altamente sustentável: não gera resíduos. No processo artesanal, os potes de tinta que sobram e acabam secando com o tempo são jogados no lixo e os produtos químicos usados no processo, muitas vezes descartados inadequadamente, contaminam o meio ambiente. Além disso, no processo digital a quantidade de água utilizada é bem menor.

Débora e Lilian Kavalieris, designers da DLKG Studio, em São Paulo, que trazem a brasilidade para suas estampas com desenhos à mão livre feitos com tintas, canetas, carvão, grafite e lápis de cor, cuja finalização se dá no Photoshop. O resultado é aplicado em tecidos corridos de peças da marca, como pareôs, quimonos e lenços. Optar por processos manuais na estamparia digital é uma forma de agregar valor ao produto. “Lembro que cada técnica tem vantagens e qualidades já estabelecidas no mercado. Então, conhecer os diversos métodos de estamparia e escolher qual o mais indicado para determinado projeto ou produto faz parte do dia a dia do designer de padrões”, explica Camilla Bologna. Porém a especialista frisa que o designer de padrões precisa dominar a técnica de construção do Rapport, um efeito que possibilita a repetição, a continuidade e o preenchimento da imagem ao longo da superfície têxtil.

1- Modelo posa com quimono com estampas da DLKG Studio

COMPOSIÇÃO Como os recursos são inúmeros no momento de criar uma estampa digital, além dos programas usados para o desenvolvimento de ilustração vetorial, como o Ilustrator e o CorelDraw, e para a edição de imagens, caso do Photoshop, o designer de estampas pode mesclar a técnica digital com alguma técnica artesanal no momento da composição. É o caso das irmãs

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© FOTOS: DÉBORA E LILIAN KAVALIERIS / @DLKGSTUDIO, ALESSANDRA LEVTCHENKO / @ALEVT,

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CAETANA SANTOS / @CAETANNASANTOS, KIKO DELIMA / @KIKODELIMA

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QUER APRENDER A TÉCNICA? De 20 a 23 de julho, São Paulo recebe a FuturePrint, a feira mais importante da América Latina para os mercados de serigrafia, sign e impressão têxtil. O evento, que ocorre na Expo Center Norte, é gratuito.

2- A designer e artista visual Camilla Bologna 3- Processo de criação de estampa: ilustração à mão e desenho aplicado em tecido

Essa edição conta com palestras sobre tendência, tecnologia e criatividade têxtil. Entre os embaixadores está Camilla Bologna, que abordará a temática do designer de superfícies e estampas exclusivas. Saiba mais sobre o evento em @feirafutureprint.

© FOTOS: DIEGO MAFFEI / @DMP.JEWELRY, CAMILLA BOLOGNA / @BOLOGNA_CAMILLA

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&DESIGN :: EDUCAÇÃO

A INTELIGÊNCIA QUE SE VÊ

Jovens talentos do design gráfico e digital apresentam o desenvolvimento da &Design Magazine POR FABIO SILVEIRA E ELIANE WEIZMANN

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Despertar a essência de jovens designers sempre foi nossa aposta para transformar o mundo em um lugar melhor. E com este projeto não foi diferente. Selecionamos uma equipe de alunos do curso de Design Gráfico e Digital do Istituto Europeo di Design São Paulo para materializar a revista que está em suas mãos agora. Em uma sociedade tão digital e conectada com seus celulares, gadgets e afins, muitos desses jovens nem sequer tinham o hábito de ler revistas. Ainda mais impressas! É um fato! Nasceram abraçados pelas redes sociais e, moldados, em seus comportamentos, pelos algoritmos. Mas, e se aparecesse uma oportunidade de criar uma revista valorizando o suporte impresso e que trouxesse como proposta central resgatar o valor do bom conteúdo com soluções visualmente atraentes? E se, para além disso, o assunto da revista fosse o design?! Pois esta oportunidade apareceu! O IED SP foi procurado pelos idealizadores da &design com o desafio de criar uma publicação abordando as múltiplas facetas do design e de seus realizadores. Uma proposta instigante e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade de promover aos nossos alunos uma experiência em um meio de comunicação pouco explorado por eles. Esta foi a grande chance de unir o pensamento do mundo digital conectado e o conteúdo impresso no papel com toda a potência que isso traz. Desafio aceito, hora de começar a trabalhar. E muito!

© FOTO: SARAH FERREIRA / @SAHFERREIRA

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Eliane Weizmann. Coordenadora do curso de Design Gráfico e Digital do Istituto Europeo di Design – IED SP. Fabio Silveira. Professor do IED SP. Designer editorial. Orientou ow time de design na construção desta publicação.

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&DESIGN :: EDUCAÇÃO

“TUDO É RELATIVO. DESIGN É RELAÇÃO.” PAUL RAND

Fazer uma revista é um processo complexo e cheio de etapas que não pretendemos detalhar por aqui. Mas você já pensou que tudo que existe em nosso mundo pode ser projetado? Deixando a natureza de lado, pois ela já é perfeita como está, os demais objetos do nosso dia a dia podem — e devem — ser desenhados pensando nos usuários (pessoas). Isso é a essência de um bom design. Criar futuros possíveis com forma, função, sentido e especialmente, valor centrado no humano. No caso de uma revista impressa, existem muitas decisões de design que tomamos para que o conteúdo seja honrado, decisões estas que envolvem o formato, as cores, as fotos, as ilustrações e a tipografia. Esta última tem uma importância singular que o historiador Robert Bringhurst define “A tipografia é uma estátua invisível. Ela está ali, presente para comunicar de forma clara mas, ao mesmo tempo, sem chamar a atenção.” Como você pôde perceber, muitos aspectos são considerados ao desenvolver um objeto de design e ao longo da revista você já entrou em contato com vários deles. Cada decisão tomada foi pensada no leitor e na sua experiência de leitura. Afinal, o design é um grande aliado na busca de um mundo melhor, mais justo e que considere todas as pessoas, ainda que sua contribuição seja uma “estátua invisível” para a maioria de nós. Algumas dessas decisões vamos compartilhar aqui, assim, você também pode participar desta construção: use sua imaginação, invente seus próprios mundos, e dê espaço para sua mente criativa. Assim como nós fazemos!

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Paul Rand. Desiner americano, responsável pela criação de diversas identidades visuais famosas, como: IBM,UPS, ABC, Next e por aí vai. É considerado o pai do design gráfico moderno.

VEJA AS PRINCIPAIS DECISÕES DE DESIGN PARA A CRIAÇÃO DESTA REVISTA A criação do design de uma revista passa por diversas etapas e decisões gráficas para que ela chegue até você. Confira algumas delas:

Veja mais sobre o making of do projeto gráfico do IED

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CONTEÚDO A primeira etapa é criar os conteúdos da publicação. Esta etapa é feita pelos editores e jornalistas da revista que buscam contar as melhores histórias com as personagens mais interessantes.

FORMA E FUNÇÃO Aqui entra a equipe do design na construção da forma da revista. Nesta hora, são definidas as estruturas que vão sustentar tudo o que você está vendo nas páginas da publicação. Definições como escolha de papel e como será impressa também entram na discussão.

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CORES A poesia na escolha das cores que ajude a traduzir o imaginário dos conteúdos é uma etapa muito prazerosa e complexa também. Ter uma gama de cores contribui na elaboração de fotos e ilustrações para a revista.

TIPOGRAFIA

Uma etapa importantíssima é a escolha tipográfica. São elas que trazem força à identidade da revista e materializam as palavras dos conteúdos. Uma boa escolha tipográfica ajuda na leitura e no acesso ao conteúdo de um material.

©1 PAULRAND.DESIGN

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TUDO JUNTO E MISTURADO

Começa aqui um longo processo de juntar todos esses elementos: fotos, textos, cores, imagens, ilustrações e fazer com que as páginas fiquem atraentes, bonitas e que dialoguem com o conteúdo das reportagens. Tudo é feito com bastante atenção e cuidado para que a revista chegue em suas mãos perfeita para ser devorada com os olhos!

Esta tipografia foi criada pela typedesigner de Barcelona, Pilar Cano. Uma entendida no Ela é Mestra assunto. ​ em Typeface Design na University of Reading e cria letras para grandes empresas em projetos pelo mundo afora. A força do design feminino presente nas páginas da &Design.

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&DESIGN :: HANS DONNER

DE VOLTA ÀS

ORIGENS

Hans Donner, o “mago das telas”, assina a capa da &Design e conta sobre seus novos projetos. POR ELIANA CASTRO

Durante décadas, Hans Donner provocou espanto em milhares de pessoas sentadas em frente à TV, que viam acontecer, nas vinhetas dos programas da Globo, suas “mágicas”. Uma delas é a inesquecível imagem de um macaco descascando uma banana, de onde saía uma mulher. Hoje, isso pode ser algo banal. Mas nos anos 1980, em um mundo no qual a tecnologia ainda engatinhava, era preciso reunir criatividade e conhecimento gráfico para conseguir elaborar efeitos especiais com as poucas e insipientes ferramentas tecnológicas disponíveis. Não por acaso, Hans Donner ficou conhecido como “o mago das telas”. Não por acaso, a revista &Design decidiu convidá-lo para criar a capa desta edição inaugural. “Nos últimos 46 anos, o público se habituou a ver diariamente imagens que eu criava para a TV, mas grande parte delas não permaneceu na cabeça das pessoas. No entanto, em uma revista impressa as imagens têm permanência”, diz. “Então, para mim, que sou designer gráfico de formação, é uma experiência incrível.”

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Donner em dois tempos:Ao lado, o esboço da capa feito em um guardanapo e a capa finalizada. Abaixo, o Flow One.

Aos 25 anos, recém-formado em design gráfico na Áustria, Hans decidiu tentar a sorte no Brasil. Com o portfólio debaixo do braço, visitou várias agências de publicidade à procura de emprego. Já estava desistindo quando, ao entrar em um elevador, encontrou um moço que puxou prosa em inglês. Na rápida conversa, Hans contou seus planos e comentou que não havia tido sucesso e estava voltando para seu país. “O rapaz, então, disse que eu deveria conversar com o Boni, diretor da Globo. Contou que tinha contato e prometeu marcar uma reunião”, lembra. Importante ressaltar que é muito difícil conseguir que Hans dê detalhes e datas de suas histórias. Ele atribui todas elas à sorte, à providência divina. E, sendo um “mago”, seria até desrespeito cobrar precisão dele, que prefere deixar tudo o que vive e viveu com toques mágicos. Enfim... O fato é que a tal reunião com o José Bonifácio Sobrinho ocorreu sem que ele tivesse a menor ideia do poder da Globo. Saiu de lá sabendo que a emissora queria um novo logo para a empresa. Com o visto de turista expirando, pegou o avião de volta ao seu país e, ainda no céu, desenhou em um guardanapo o esboço da logomarca. Foi contratado durante décadas pela empresa, onde ganhou notoriedade. Atualmente, Hans trilha outros caminhos. Tem trabalhado em projetos que trazem outro modo de olhar sobre o tempo. Seu relógio Flow Onne usa a luz como marcador. Nele, tons de degradê vão deslizando em círculos para marcar a passagem dos segundos, dos minutos e © FOTOS: RENATO NETO

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das horas. “Queria que a peça chamasse a atenção não apenas pelo diferente e pela beleza, mas trouxesse a ideia de fluidez. E o principal: conseguisse acalmar as pessoas, porque seu design foi concebido com a função máxima de alertá-las sobre o valor do tempo em nossa vida”, explica. Este mês, ele assina o Loft do Designer, um espaço na CasaCor de Curitiba. O Flow Onne aparece em computadores, embutidos em espelhos, e o espaço traz móveis e outras peças inspiradas no design do relógio. O designer também assina a Timepixel, uma linha de tapetes em que a imagem principal é formada por pontos (pixels) com o desenho do relógio. Recentemente, fez também sua estreia na arquitetura: lançou o primeiro edifício em Goiânia com sua assinatura.

Veja o depoimento do designer sobre o tempo acessando o QRCode.

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Acesse o site: ied.edu.br ou pelo QRcode

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isso também é

design.

Design de Produto e Serviço Design Gráfico e Digital Design de Moda

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&DESIGN :: DESIGN

COSTELA DE ADÃO Criado pelo designer Hans Donner, tem imagens formatadas por TimePixels, pequenos marcadores de tempo, que trazem o contraste em entre claro e escuro. 62

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veja como são confeccionados os tapetes de timepixels

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&TEMPO + Museu da Imigração Inovação & tecnologia Novidades do Salão de Milão

joias e móveis na contramão da joalheria tradicional, Paola opta por peças surrealistas

ROSENWOOD. LUXO EM SAMPA p.64

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PAOLA VILAS. PURA JOIA p.76

ROUPAS DIGITAIS. MODA HIGH TECH p.78

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&DESIGN :: CIDADE MATARAZZO

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PARA CELEBRAR A

DIVERSIDADE BRASILEIRA Com projeto de arquitetura de Jean Nouvel e interiores de Philippe Starck, o Hotel Rosewood São Paulo se torna uma referência global da marca hoteleira de luxo e uma inspiração de como renovar com excelência um patrimônio histórico. POR REGINA GALVÃO

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&DESIGN :: CIDADE MATARAZZO

T Tapetes feitos à mão e estampados com insetos brasileiros, em desenho assinado por Regina Silveira, uma das mais importantes artistas contemporâneas do país, marcam a entrada do Hotel Rosewood, o recém-inaugurado seis estrelas da capital paulista. Junto da obra têxtil estão outras peças de renomados designers nacionais, como Sergio Rodrigues (1927-2014), Jorge Zalszupin (19222020), Zanine Caldas (1919-2001), Claudia Moreira Salles e Alfio Lisi, além de 450 telas, gravuras e fotografias de 57 artistas brasileiros. Uma seleção apurada de criações, que passou pelo crivo do poderoso francês do design mundial: Philippe Starck. Com uma equipe instalada em São Paulo, Starck definiu, durante visitas à capital paulista e também em sua casa no litoral francês, os revestimentos, os móveis e os acessórios que compõem o design de interiores do megaempreendimento, projetado por Jean Nouvel, ganhador do Prêmio Pritzker, em 2008, que contou com o apoio do escritório Triptyque no Brasil. “Tudo o que tem aqui é 100% brasileiro”, diz, com orgulho, o também francês Alexandre Allard, o empresário responsável por transformar o Hospital e Maternidade Condessa Filomena Matarazzo – patrimônio de 1943, tombado pelo Condephatt, que esteve abandonado por 20 anos – em um dos principais complexos culturais e paisagísticos do país, com 27 mil m2. Previsto para ser inaugurado em sua totalidade em 66

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O luxo está presente tanto na arquitetura, assinada por Jean Nouvel, como nas obras de designers brasileiros, escolhidos por Philippe Starck para compor os ambientes

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&DESIGN :: CIDADE MATARAZZO

“Na Avenida Paulista, havia uma rocha de energia telúrica. Era uma área sagrada para os indígenas.”

2023, o Cidade Matarazzo estreia com o hotel da rede de luxo Rosewood, abrigando 160 quartos e 100 suítes residenciais, além de seis restaurantes e bares exclusivos. Antes de contratar Philippe Starck e Jean Nouvel para a empreitada, Allard achou por bem pesquisar a fundo a história do lugar. “Perto daqui, na Avenida Paulista, havia uma rocha de energia telúrica. Era uma área sagrada para os indígenas. Antes de reformular esse espaço, quis saber de sua origem, suas raízes, a energia que ele transmitia. E para esse trabalho, que ajuda a projetar a cidade do futuro, eu escolhi dois gênios da arquitetura e do design.” Starck, por sua vez, na rápida visita que fez a São Paulo, em abril, para a inauguração da primeira etapa do projeto, explicou a jornalistas e estudantes de arquitetura que seus interesses para realizar os interiores foram outros. “Me interesso por pessoas, pela vida que elas levam. Não fui estudar as origens de São Paulo, mas seus habitantes, e vocês são especiais. São pessoas apaixonadas, amantes dos excessos, amorosos, criativos. Isso basta para a minha compreensão do que fazer. Eu preciso sentir essa vibração e, quando isso acontece, nunca me engano com as escolhas.” Com luxo, magia e criatividade brasileira, o que Starck pretende mesmo é tocar o coração de quem circular por ali. 68

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Gastronomia, arquitetura e design de interiores ajudam a compor a aura mágica do hotel da rede Rosenwood

©FOTOS: RUY TEIXEIRA

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&DESIGN :: INTERIORES

FORMAS DE MORAR NA CIDADE Como o retrofit tem ajudado a reabilitar prédios históricos e a devolver a vida social a lugares em decadência em São Paulo. POR UIARA ANDRADE

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Recuperar, retrofitar e restaurar prédios históricos são soluções de baixo impacto ambiental e uma demanda contemporânea. Afinal, o retrofit tem como objetivo modernizar edificações antigas para atender novas necessidades de quem vai ocupar o espaço. Além disso, o retrofit também tem foco em repovoar o entorno de edifícios e áreas históricas donde está localizado. Isso implica dinamizar econômica e socialmente uma área, aumentar a sua densidade demográfica e melhorar a mobilidade, os serviços e a qualidade de vida. Os benefícios variam de cidade para cidade. E parece claro que, antes de “rasgar um desenho urbano”, deve-se olhar para as possibilidades de redesenhá-lo no papel. Esse foi o princípio que norteou a Brise Arquitetura + Interiores, empresa que garimpa, reforma e vende imóveis antigos, quando Alex Limpo de Abreu e Arnaldo Borensztajn decidiram, em setembro de 2019, comprar o primeiro apartamento em um prédio histórico na Rua General Jardim, centro de São Paulo. Assim, consolidou-se um modelo de negócio que visa imóveis pouco procurados no mercado imobiliário mais tradicional. Os apartamentos construídos antes da década de 1960, em áreas consideradas decadentes da zona central da cidade, ganharam novas perspectivas. A empresa se concentra na permeabilidade e integridade de espaços construídos. Abraçando equilíbrio entre funcionalidade e a poética do design, os projetos incluem as multirresidências.

São apartamentos de 60 a 150 m2, restaurados para novos usos, em que se valorizam espaços abertos, estruturas aparentes e elementos originais da arquitetura. Nesse caso, as reformulações podem se dar no piso, na iluminação indireta, em aspectos do paisagismo e de uma marcenaria aprimorada, onde, por exemplo, a localização da cozinha é estrategicamente repensada. Ela é deslocada do seu lugar original para outro canto a fim de atender ao atual conceito de morar e viver nas grandes cidades. “Desbloqueamos o design ao entrelaçar o antigo e o novo”, afirma Arnaldo Borensztajn, sócio da Brise, que atua na visão arquitetônica das reformas juntamente com os engenheiros. “Reciclamos apartamentos e agregamos o lifestyle em torno do centro. A região está ganhando novos restaurantes, lojas, cafés, livrarias e outros pontos de comércio e cultura. Com isso, tem atraído cada vez mais pessoas que curtem esse tipo de agitação”, declara Alex Limpo de Abreu, outro sócio da empresa. A companhia acaba de finalizar o retrofit de um apartamento no icônico Edifício Piauí, projetado pelo arquiteto moderno Artacho Jurado. O resultado é um espaço em estilo minimalista e industrial, que flerta com o vintage.

Apartamento do Edifício Piauí, de Artacho Jurado: minimalista com toques vintage após retrofit

© FOTOS: DIVULGAÇÃO

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&DESIGN :: CASAS RIBEIRINHAS

BRASIL SOBRE Singelas nas formas e de diferentes tonalidades, as casas da população ribeirinha do Pará remetem à pureza dos desenhos traçados na infância. POR REGINA GALVÃO

Vivendo conforme o ritmo da natureza, os ribeirinhos do Pará constroem suas casas sobre pilares de madeira para se proteger das oscilações da água dos rios. A cultura desse povo é retratada pelo designer Carlos Alcantarino na exposição itinerante Caboclos da Amazônia, com imagens de moradias e barcos da região. Singelas nas formas e de diferentes tonalidades, as casas da população ribeirinha do Pará remetem à pureza dos desenhos traçados na infância. Erguidas sobre palafitas para resistir às variações das enchentes de rios e igarapés, as construções inspiraram um ensaio fotográfico de Carlos Alcantarino, designer paraense radicado no Rio de Janeiro. Em viagens a seu estado de origem, Carlos registrou diversas dessas moradas em cidades e vilas de pescadores, como as da maior ilha fluviomarítima do mundo. “Em Marajó, elas são feitas de madeira, encontrada no entorno. Os

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guarda-corpos, de linhas geométricas, lembram os grafismos das cerâmicas marajoaras, arte da civilização pré-colombiana que viveu nessa região e resiste até hoje”, diz Alcantarino. Outro elemento que se destaca na arquitetura local é o trapiche, de onde partem as embarcações. Mas não só: essas estruturas são usadas ainda para secar roupas e sementes e até como espaço de lazer para reunir amigos. Na cidade de Afuá, conhecida como a Veneza paraense, as casas coloridas também convivem com bicicletas e barcos, os principais transportes da comunidade. “As casas ribeirinhas precisam ter cores para serem identificadas à distância. Na falta de ruas, esquinas, calçadas e placas de sinalização, a cor tem a função de comunicação visual, além de estética”, afirma Samia Batista, do Letras que Flutuam, um projeto que pesquisa e divulga o saber dos artistas conhecidos como “abridores de letras”.

Pintar embarcações é um ofício passado de pai para filho – gerações que aprenderam a nomear os barcos com letras repletas de detalhes, códigos cromáticos e tridimensionalidade. “O que se sabe é que os artistas ribeirinhos se apropriaram da tipografia do século 19, também chamada de letra vitoriana, que aportou por aqui com a economia da borracha, e a partir desses modelos desenvolveram a pintura de letras, compondo a diversidade que atualmente colore nossos rios”, diz a designer gráfica Fernanda Martins, coordenadora, como Samia, do mesmo projeto. Em Caboclos da Amazônia, entre as várias salas, a das Letras está dedicada ao assunto, cuja curadoria é assinada por Fernanda. Ritmos musicais e artesanato completam a mostra de Alcantarino, inaugurada em maio, em Belém, e que pretende revelar para o país os encantos desse Brasil distante.

©LETTERING: RENAN CORAZZA / FOTOS: DIVULGAÇÃO / FOTO BARCOS: AQUIVO LETRAS QUE FLUTUAM

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&DESIGN :: JOIAS

PAOLA VILAS

CORPOS PRECIOSOS A designer carioca Paola Vilas expõe a força da mulher na criação de joias e peças de decoração. POR LÚCIA GUROVITZ

Na contramão da joalheira tradicional brasileira, que privilegia a pedraria, Paola Vilas prefere os metais, moldados no formato de figuras humanas de inspiração surrealista. Com lojas no Rio de Janeiro e em São Paulo, suas peças fazem sucesso internacionalmente. E agora ela está expandindo suas fronteiras em direção ao design de mobiliário e objetos de decoração. A ideia inicial não era virar designer de joias. Paola Vilas vislumbrava trabalhar com artes plásticas e estava em busca de um modo de expressão para chamar de seu. “Eu havia me aproximado do pensamento escultórico e vi na joalheria uma forma de esculpir sem precisar de uma grande estrutura. Poderia soldar, serrar e lixar sozinha, numa pequena bancada”, conta. Aos 20 anos, depois de um curso de ourivesaria no ateliê Lívia Canuto, no Rio de Janeiro, ela começou a confeccionar suas primeiras peças e a sair pelas ruas paramentada com miniescul-

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“A feminilidade é potência e não tem nada de frágil. Procuro honrar essa força.” turas de olhos, mãos, bocas e rostos. “Devido ao visual inusitado, minhas joias sempre funcionaram como iniciadoras de conversa. As pessoas me paravam para perguntar de onde eram. Logo comecei a aceitar encomendas e assim, organicamente, a marca nasceu”, lembra. Hoje, seis anos após a fundação da empresa Paola Vilas, foi montado um time de ourives experientes para cuidar da manufatura. As principais atividades da designer estão relacionadas à criação: conceber e prototipar as peças e garantir que todos os aspectos da marca (dos posts nas redes sociais à cenografia das lojas) estejam afinados com sua linguagem artística. “Trabalho com questões contemporâneas relevantes para mim”, afirma. Uma delas é a energia feminina, mas vista de forma não estereotipada, frisa. “A feminilidade é potência e não tem nada de frágil. Procuro honrar essa força.” O surrealismo – outro tema recorrente – faz com que as joias ganhem um caráter onírico. “Essa estética desconstrói a realidade para que um novo modelo mental, mais livre, possa surgir. Diversas obras do movimento propõem sair do próprio corpo e se observar de fora, o que está ligado à psicanálise e ao mundo dos sonhos.” As duas temáticas compõem uma espécie de núcleo de referências para Paola e estão na origem também dos móveis e objetos lançados por ela no ano passado. “Quis experimentar escalas maiores e imaginar algo para a casa”, diz. Feitos de ferro, latão e pedra, os novos itens seguem processos de fabricação similares aos da joalheria, exibindo linhas curvas e fragmentos de figuras humanas. “Meu maior desejo é que as pessoas desenvolvam um vínculo com minhas criações.” Para isso, no interior das lojas ela deixa tudo em mostruários abertos, algo raro em joalherias. Também tem feito peças de prata porque o material é mais acessível do que o ouro. “Gosto da ideia de produzir joias que possam circular em diferentes ambientes. Ir da feira ao baile.” ©FOTOS: BARBARA BRASIL, GABRIELA TENENBAUM

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O surrelismo é bastante presente na joalheria e nos objetos de casa assinados por Paola.

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&DESIGN :: MODA

ERA

VIRTUAL

Fenômeno recente, a moda digital levanta dúvidas sobre questões como o consumismo e mesmo a sustentabilidade. POR BRUNA GALVÃO

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“Como faço para entrar no metaverso?”, escuta com frequência Je Kos. “As pessoas perguntam como se houvesse uma porta para entrar”, diz ela, que é coordenadora criativa da Brazil Immersive Fashion Week (BRIFW), uma plataforma latino-americana dedicada a conexões entre moda, música, arte, cultura e novas mídias digitais imersivas, que chega à terceira edição em 2022. Em plena Era Digital, nem tudo o que é digital tem facilidade de ingresso e acesso ao mercado e ao consumidor final. Uma delas é a moda digital, em que todo o processo de confecção de roupas e acessórios é feito de maneira virtual, para ser provado também no virtual – no metaverso, o cliente pode se vestir e compartilhar o seu look em alguma rede social. Nesse admirável mundo novíssimo, os desfiles virtuais e o showroom 3D são apenas mais algumas das possibilidades que o setor tem implementado. A BRIFW reúne o trabalho de diversos colaboradores do Brasil e do mundo. Ali, estão desde criadores autodidatas, codesigners, artistas 3D e estilistas digitais até grandes empresas. No processo de comercialização de peças de uma das coleções digitais lançadas na plataforma, assinada pelo estilista Lucas Leão, o consumidor enviava uma foto com roupa e o tom de sua pele, ou com uma roupa de banho, e a equipe colocava a peça digital em cima dela, sob medida. Outro ROUPA DO STUDIO PAKCHA

processo de aquisição da peça escolhida é por meio da RA (realidade aumentada), na qual se veste o look escolhido com ajuda de um filtro a ser aplicado no corpo do consumidor. “A maior dificuldade do mercado (de moda digital) é a compreensão. As pessoas não entendem o conceito de metaverso, de web 3”, afirma Je, que há dois anos,com a BRIFW, também educou profissionais sobre os conceitos básicos de tecnologia que envolvem o projeto. Como o segmento da moda digital ainda é algo que engatinha no Brasil, Kátia Lamarca, coordenadora e professora do Istituto Europeu di Design, destaca o surgimento desse mercado como o “braço tecnológico” que faltava no setor até então, dados os avanços da área digital. “A moda reflete muito o contexto da sociedade e estava carente da imagem de vestuários, o que se acentuou com a pandemia”, explica. IMPACTOS A moda digital atinge de imediato a indústria 4.0 ao produzir todo o look de modo virtual, antes de confeccioná-lo de forma física. Por meio do processo em 3D, é possível projetar caimento, quantidade de tecido, custo, modelagem, estamparia e tingimento, evitando desperdício de material. A utilização de tecidos biodegradáveis também é outra vantagem. Je aponta o fast fashion como um ponto a favor da moda digital devido à sua versatilidade. “É a necessidade de ter um look diferente, sem repetir roupas nas redes sociais”, diz. Por outro lado, Kátia questiona se a consciência sobre o consumo entre o físico e o virtual será mesmo solucionada. “É apenas trocar a plataforma de compra”, conclui. Ela ainda aponta os abismos entre grandes e pequenas empresas na atuação do setor de moda digital como um possível problema, já que cerca de 90% das empresas brasileiras de moda são microempresas. “O alto custo com a tecnologia é algo proibitivo a muitos empresários”. Ela também tem dúvida se a energia empregada no processo virtual é sustentável. Faltam mais estudos, pois é algo novo. Só o tempo vai dizer”, finaliza Kátia.

© STUDIO ACCI – @STUDIO.ACCI / SONNI – @SONNIGRAPHICS / MARINA FALCÃO – @HAWKTHEMARY

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DE INTERIORES

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&DESIGN :: HISTÓRIA

CIAO

SÃO PAULO!

Primeira casa dos estrangeiros no Brasil, a Hospedaria de Imigrantes do Brás, o atual Museu do Imigrante, mantém a arquitetura eclética do século 19. POR BRUNA GALVÃO

O prédio que hoje abriga o Museu da Imigração do Estado de São Paulo é parte do complexo de edifícios em que funcionava a Hospedaria de Imigrantes do Brás. Projetada pelo arquiteto alemão Mateus Haüssler, que também construiu o Palácio dos Campos Elíseos, na capital paulista, a instalação possui linha eclética, que em meados do século 19 havia se tornado moda na Europa. Os arquitetos da época buscavam referências em estilos do passado, como o clássico, o medieval e o barroco, para novos projetos. Dessa forma, a simetria e a grandiosidade foram marcas da fase eclética das construções entre o final do século 19 e início do século 20.

Muito mais do que seguir uma tendência estética, a hospedaria precisava ser funcional. “Era necessário acomodar muita gente em pouco tempo”, explica Henrique Trindade, pesquisador do Museu da Imigração do Estado de São Paulo, em referência ao espaço criado pelo arquiteto. A Hospedaria de Imigrantes do Brás foi ainda ornamentada com estátuas de caráter renascentista encomendadas pelo governo do estado à empresa franco-suíça Villeroy & Boch, que tem no portfólio trabalhos como o navio Titanic e o túnel de Nova York. Como a principal função da hospedaria, em seus primeiros anos, era o encaminhamento de imigrantes para a lavoura cafeeira, as estátuas

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&DESIGN :: HISTÓRIA

postas no jardim caracterizavam Deméter (a deusa grega da agricultura) e suas filhas. “Uma forma de representar a riqueza do estado produzida pelo café e, ao mesmo tempo, conduzir simbolicamente os imigrantes ao interior”, diz Trindade. Hoje no Museu da Imigração, tombado pelo Congresp e pelo Condephaat, resta somente uma das filhas da deusa.

PRIMEIRA MORADA DE ESTRANGEIROS

Com o aumento do fluxo migratório em direção ao interior paulista, incentivado pelo governo de São Paulo, os primeiros estrangeiros chegaram à Hospedaria de Imigrantes do Brás já em 1887, um ano antes da sua inauguração oficial. Os imigrantes desembarcam em território paulista com boa parte do trâmite já acertada pelo governo, que custeava as passagens de navio e de trem, o alojamento e a alimentação na hospedaria, onde permaneciam três ou quatro dias, até serem encaminhados para alguma fazenda de café no interior.

Diversas épocas da antiga Hospedaria de Imigrantes do Brás.

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Em substituição à Hospedaria do Bom Retiro, que tinha capacidade para receber até 500 migrantes, o governo financiou a construção da Hospedaria de Imigrantes do Brás para acomodar 3 mil pessoas. No entanto, antes da virada do século, o local chegou a abrigar cerca de 9 mil hóspedes em um único dia. A escolha do lugar da nova hospedaria foi estratégica: entre os bairros Brás e Mooca, no entroncamento das duas principais ferrovias do estado, a São Paulo Railway, que liga Santos a Jundiaí, e a Estrada de Ferro Central do Brasil, que conecta o Rio de Janeiro a São Paulo, facilitando a chegada e a partida dos estrangeiros. “Além disso, o bairro, afastado da região central, evitava que imigrantes doentes recém-chegados pudessem contagiar a população”, acrescenta Trindade.

CURIOSIDADES SOBRE A HOSPEDARIA DE IMIGRANTES DO BRÁS • 3,5 milhões de pessoas, de mais de 70 nacionalidades, foram recebidas no local de 1888 a 1978. Entre elas, a grande maioria era formada por italianos, portugueses, alemães, espanhóis e japoneses. • A hospedaria também abrigou muitos brasileiros, pois uma grande migração de mineiros e nordestinos ganhou força a partir da década de 1930.

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&DESIGN :: HISTÓRIA

FUNCIONALIDADE

Na planta original, o prédio principal da Hospedaria de Imigrantes era reservado a três grandes funções: acolhida, refeitório e administração. Ele foi se expandindo e novos edifícios foram acoplados para oferecer outros serviços. Em 1907, em uma de suas laterais, foi construída a agência oficial de colocação de trabalho, um espaço específico para os imigrantes negociarem seus contratos, que até então eram feitos no jardim da hospedaria. Na lateral oposta, surgiu o prédio para correio, telégrafo e posto policial. Ao longo do século 20, a hospedaria se modernizou juntamente com o processo de industrialização da cidade e com a chegada de novas tecnologias. Em 1936, ela se amplia com um novo hospital, na parte de trás, e uma nova enfermaria. Na década de 1950, ampliaram-se os espaços destinados às bagagens e à inspeção sanitária. Após 91 anos de funcionamento, em 1978 o Governo do Estado de São Paulo encerrou as atividades da Hospedaria de Imigrantes do Brás por não haver mais a necessidade de uma construção de tal porte receber imigrantes, já que a responsabilidade de acolher as pessoas passou a ser de outras instituições não governamentais.

Resquícios de aviso em italiano da antiga Hospedaria, parede com sobrenomes de imigrantes no atual Museu e acervo de objetos de época.

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Imigrantes de origens diversas na Hospedaria de Imigrantes do Brás.

©FOTOS: ARQUIVO MUSEU DA IMIGRAÇÃO / BRUNO LEMOS – @BMLEMOS

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&DESIGN :: DESIGN & REFLEXÃO

O DESIGNERFILÓSOFO QUE NOS CONVIDA A PENSAR Com dois livros recém-lançados, Pedro Franco acredita que seus produtos oferecem uma estética provocadora aos clientes. POR: ELIANA CASTRO

Durante as muitas viagens que o designer Pedro Franco fez para conhecer mestres artesãos do país, várias trouxeram aprendizados. Uma das mais simbólicas se passou no sertão do Cariri, no Ceará, quando um artesão local estava fazendo uma peça que Pedro havia encomendado. “Fiquei observando e comecei a dar palpites. E ele me disse: ’Incomoda. Temos ali couro, tesoura e, dessa forma, pode pegar tudo e fazer você mesmo’”, lembra. “Entendi que não há hierarquia de saber, apenas saberes diferentes. E a riqueza está em encontrar a intersecção em cada um deles”, afirma ele, que está completando 22 anos de carreira. Para celebrar, o designer lança este ano o livro Pedro Franco, 20 Anos de Experimentalismo + Alotof Brasil, a História Utópica de uma Indús-

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tria Brasileira, que será composto de dois volumes. A ideia era que o lançamento ocorresse em 2020, mas, com a pandemia, ele preferiu adiá-lo. Além do livro, Pedro publicou sua mais nova coleção, Perfeita Imperfeição, que foi exibida recentemente na Feira de Milão e é inspirada na filosofia oriental do wabi-sabi, que realça o desprendimento da perfeição e é a tradução de seu pensamento. O kintsugi (ouro + junção) é outra arte de referência. Nessa técnica, partes quebradas são juntadas uma a uma, em um processo trabalhoso que dura semanas, e fixadas com laca dourada. Sobre esse recente trabalho, Pedro conta que é a primeira coleção inspirada em reflexões filosóficas – o designer concluiu recentemente a pós-graduação em filosofia, o que impactou sua produção e sua própria vida. “Digo que passei da fase do ponto final para a das reticências. Porque a filosofia trouxe um realce maior para a ênfase na reflexão às perguntas, sem que elas precisem, necessariamente, ter respostas. Parece um pouco vago, mas é de fundamental importância na concepção de um produto ou de uma coleção. O fato de trazer uma estética

baseada apenas na convicção de um pensamento é restritivo por si só”, afirma. Por isso, Pedro acredita que seus produtos passaram a ser mais uma plataforma estética de um pensamento aberto, provocador, capaz de levar as pessoas a pensar. “O valor expresso como pensamento é de fundamental importância para o design com um papel mais relevante. Todos os designers devem ser ativistas nos dias de hoje. Cada produto deve ter um porquê de existir, registrar saberes e gerar incomodo e reflexões”, diz. Por isso, os novos produtos nascem de uma necessária reflexão que a sociedade necessita fazer a partir da pandemia, que deixou cicatrizes. “As coleções passadas tinham inúmeras cores, mas, em tempo de tanta tecnologia, instagrams, instagramáveis, facebooks, barulhos, rumores, excesso da informação desinformada, resolvi usar o branco. Não aleatoriamente, mas no sentido de reação a tudo que estamos vivendo”, explica. “E também no sentido da paz, da folha em branco sobre a qual a história se reinicia. Claro que a história não se reinicia do zero, mas a partir da oportunidade dos aprendizados históricos que tivemos. E traz um lindo futuro do presente.”

Veja o depoimento de Pedro Franco sobre a sua tragetória acessando o QRCode.

Design de Pedro Franco mistura filosofia e kintsugi

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&DESIGN :: SALÃO DE DESIGN

SEMANA INTERNACIONAL DO DESIGN DE MILÃO

BELEZA EM CENA Ética, responsabilidade e sustentabilidade desenham o viver de amanhã POR: LARA BEZECCHI DE MILÃO

A Milan Design Week (MDW), que ocorreu de 7 a 12 de junho, deve ficar na memória. Não só porque o evento coincidiu com a celebração da 60ª edição do Salone del Mobile, mas porque foi a primeira e grande oportunidade para o setor se reunir após a pandemia - e assim, discutir sobre as interpretações e respostas que o mundo do design pode dar a novos temas do viver. Dentre eles, a ética e a sustentabilidade. Nesta perspectiva, Maria Porro, presidente do Salone del Mobile, propôs um caminho de reflexão em nome da reciclagem e de upcycling em um dos pavilhões da feira, o “Design with Nature”, com curadoria do arquiteto Mario Cucinella. A temática do meio ambiente se deu também pelo uso de materiais naturais ou de alta tecnologia. Houve ainda tentativas de respostas às novas necessidades da fluidez da vida contemporânea com produtos já concebidos.O evento recebeu propostas de reinterpretação de alguns projetos icônicos de empresas com um grande patrimônio cultural. Confira alguns projetos de destaque deste 60º Salone del Mobile:

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1.LE BAMBOLE, design Mario Bellini, B&B Italia Uma versão renovada para celebrar os 50 anos de "Le Bambole". Houve uma reinterpretação que oferece ainda mais conforto e sustentabilidade graças aos materiais de última geração e novos tecidos.

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2.AERO D, design Studio Shibulero, Living Divani Com alma minimalista, é o novo escritório para o homeoffice. Aero D reinterpreta as novas necessidades do viver contemporâneo: móveis essenciais, onde a estrutura e os alinhamentos sugerem usos e possibilidades diferentes e personalizáveis.

3.YELLOW BOX, Design

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Knindustrie, Knindustrie Coleção versátil de caixas de madeira de acácia, objetos elegantes para uma nova mise en place. Podem ser utilizadas como tigelas de queijo ou porta-temperos, a depender do número de recipientes em seu interior.

4.LIVING BOX, 4.

©FOTOS: DIVULGAÇÃO

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design Vincent Van Duysen, Molteni&C Homenagem a Gio Ponti, Living Box é um produto que valoriza a tradição italiana com a combinação de materiais nobres, detalhes refinados e uso integrado da iluminação. Adequado para toda a casa, especialmente para a área de estar.

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&DESIGN :: INOVAÇÃO E TECNOLOGIA

ARQUITETURA NO METAVERSO POR PATRÍCIA TRAVASSOS

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Que a gente já passa boa parte do nosso tempo no ambiente virtual, não resta dúvida. De frente para as telas, a nossa atenção se concentra tanto no online que, os ambientes reais têm sido vistos meio de canto de olho ou a serviço das demandas digitais. Basta observar a febre na criação de espaços “Instagramáveis” em pontos turísticos visando atrair mais visitantes e em restaurantes ávidos por clientes novos. Aliás, quem nunca comeu um prato frio porque inventou de postar uma foto antes da primeira garfada? Também já virou rotina tropeçar na rua por distração do celular. Tem cidade na Europa, testando instalar semáforos de LED nas calçadas para alertar os pedestres mais conectados…ou seriam desconectados da realidade? Bom, o fato é que não dá para negar o impacto das novas tecnologias no nosso comportamento e na forma como ocupamos o mundo real. E isso não é de hoje. Antes de olhar para o futuro, vamos relembrar o passado: antigamente, as casas tinham cozinhas grandes e tudo girava em torno da mesa de jantar. A partir dos anos 50, a TV passou a reinar nas salas de estar, transferindo a reunião familiar para o sofá. Todos de frente para a tela. Sim, o olho no olho diminuiu, mas só virou artigo raro mesmo na era das multitelas. Cada um com as suas. Se o casal prefere gêneros diferentes de filmes, cada um vê o seu. Os dois podem até permanecer lado a lado, mas mergulhados em telas, fones de ouvido e mundos individuais. E o que mais pode vir pela frente?

Na Casa Cor 2022, no Rio de Janeiro, a arquiteta Gisele Taranto convida o visitante para uma experiência híbrida. Ela espalhou 20 Códigos QR pelo lindo bambuzal imperial que recepciona quem chega ao casarão Brando Barbosa, localizado no Jardim Botânico. É só apontar o celular e obras do artista plástico Carlos Vergara surgem em movimento na tela, como se estivessem instaladas entre as hastes do bambu. Em mais de 50 anos de carreira, Vergara já explorou diversos suportes: da cerâmica à fotografia, passando pela pintura, escultura... Ver a obra dele em holografia ou em NFT é mais uma prova do olhar incansável de um artista, atento à potência que a tecnologia pode emprestar à sua obra. “A arte não tem tempo. Eu não faço retrospectiva, eu faço prospectiva. Eu olho pra frente, porra!”, diz Vergara esbanjando energia, aos 82 anos. A realidade aumentada, que mistura o ambiente físico com o digital, tem sido a porta de entrada do tão falado metaverso. O mercado de NFTs não para de crescer, inclusive no Brasil. “Estamos construindo a história em tempo real. Sabemos que as pessoas só se conectam de

A realidade aumentada, que mistura o ambiente físico com o digital, tem sido a porta de entrada do tão falado metaverso.

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&DESIGN :: INOVAÇÃO E TECNOLOGIA

forma emocional com qualquer ambiente (físico ou digital). Então, estamos levando arte e experiências de entretenimento marcantes para o metaverso”, afirma o fundador dvva Meta Agency, Byron Mendes. Ele representa dezenas de artistas que, assim como o Carlos Vergara, estão criando e até comercializando suas obras certificadas em tecnologia blockchain. Agora, a primeira pergunta que vem à cabeça é: quem compra NFT? Atualmente, os maiores compradores desse tipo de arte são investidores que apostam na valorização do metaverso e começam a criar suas coleções de objetos digitais autênticos. Ok, mas e onde essas pessoas podem expor suas obras? É aí que entra um novo ambiente proposto pela arquiteta Gisele Taranto. Ela acredita que nossas residências tendem a se preparar para acolher toda essa novidade. Hoje, é possível exibir NFTs em telas e pendurá-las na parede como quadros eletrônicos. Mas a ideia não é essa e, por isto, a arquiteta propõe que as pessoas construam, como mais um cômodo da casa, uma espécie de galeria virtual (no metaverso) para convidar os amigos a visitar e a conhecer

A arquiteta propõe que as pessoas construam, como mais um cômodo da casa, uma espécie de galeria virtual (no metaverso) para convidar os amigos a visitar e a conhecer suas coleções de NFT.

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suas coleções de NFT. “Não me interessa replicar ambientes que já temos no mundo real. E sim aproveitar as infinitas possibilidades que o metaverso oferece. Lá os objetos não estão sujeitos às leis da física. Eles podem flutuar e nós mesmos podemos voar. Então, vamos explorar esse potencial com criatividade”, provoca Taranto. Quando entrarmos de vez nesse universo paralelo, teremos trocado a interface das telas pelos óculos de realidade virtual. Nessa outra dimensão, somos avatares para os quais escolhemos a aparência que quisermos. Nessa fronteira vvvque eu costumo chamar de “all line” exige da gente, mais do que adaptação, muita atenção para que possamos tirar o melhor proveito do futuro. E isso serve também para os ambientes onde escolhemos viver e transitar, aqui ou ali. Que nunca falte autenticidade, personalidade e, por que não, memória.

Patrícia Travassos jornalista, diretora do filme Inspira e colunista de tecnologia e inovação da CNN Brasil.

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&DESIGN :: DESIGN

BICA DOS CAMPANA POR IRMÃOS CAMPANA

Linha Conexões Espontâneas idealizada com ousadia e bom humor por Humberto e Fernando Campana, para a Docol

Os irmãos se inspiraram na natureza

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&ESPAÇO + Ilha do Ferro 35 anos Casa Cor Sabor & Design: Evvai Guto Requena Rio de Janeiro

Borboletas Comestíveis O chef Filipe Sousa do Evvai cria verdadeiras obras de arte para servir à mesa.

ROSEMBAUM. FEIRA EM SAMPA. p.100

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BENEDITO ABBUD. VERDE PERTO. p.114

PINSA ROMANA. COR E SABOR. p.118

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&DESIGN :: HANS EXPEDIÇÃO DONNER

RENATO IMBRIOSI

BRASIL

ADENTRO Há décadas, Renato Imbroisi pesquisa e faz expedições pelo Brasil para resgatar, revitalizar e divulgar o artesanato POR ELIANA CASTRO

A Escola de Artesanato do Muquém – onde serão oferecidos cursos de bordado, costura e tecelagem, entre outros – tem um significado muito especial para o artesão Renato Imbroisi. Foi a partir de lá, do Distrito de Muquém de São Lázaro, parte do município de Carvalhos, no sul de Minas Gerais, que ele iniciou seu projeto de revitalizar, transformar e divulgar a história do artesanato brasileiro. Também foi a partir desse ponto que ele começou sua expedição, que já dura mais de 40 anos, em um Brasil que não era muito valorizado. Desde garoto, quando passava férias na casa de sua família no sul mineiro, ele se apaixonou por um país de gente muito simples, que, com as mãos, produzia outro tipo de riqueza, feita de linhas, fibras, barro e vários materiais,

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Sede da Escola de Artesanato de Muquém

a que a maioria das pessoas da cidade não dava valor. Foi graças ao olhar de gente curiosa como Renato que o artesanato brasileiro passou a ser reconhecido não apenas por estrangeiros, mas pelos próprios brasileiros que se interessam por arte e por design. PESQUISA E IDENTIDADE LOCAIS Carioca, criado na Urca, Renato se interessou por tecidos, encantado com o trabalho de uma avó, que modelava no corpo as roupas das artistas do Cassino da Urca. Aos 15 anos, montou seu próprio tear e passou a produzir pulseiras e tiras de tecidos, que, nos anos 1970, viram tangas e biquínis que desfilavam nas areias de Ipanema e nos bailes de Carnaval. Cinco anos depois, Renato mergulhou fundo na pesquisa em Muquém. “Era algo muito novo. Ninguém costumava chegar em uma comunidade para desenvolver um trabalho coletivo. Já nessa experiência, minha ideia não era desenvolver uma produção que não tivesse conexão com o lugar”, conta ele, que se fixou ali por cerca de dez anos. “Sempre achei importante olhar o que faziam, entender suas histórias, tecnologias e heranças para manter a identidade local, essencial na produção do artesanato.” ARTESANATO X TURISMO BRASIL ADENTRO Essa experiência em Muquém deu a base necessária para que Renato continuasse sua expedição para outras partes do país. Primeiro, veio um convite do Sebrae para desenvolver um projeto piloto em Brasília. Outras oportunidades apareceram e o artesão e pesquisador não parou mais. Hoje ele pode dizer, sem exagero, que conhece o artesanato de 27 estados do Brasil – e de outros países, como Moçambique. ©FOTOS: HELENA WOLFENSON

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Entender suas histórias para manter a identidade local, essencial na produção do artesanato. São viagens em que acontece uma enorme troca com os artesãos locais. “Nos anos 1990, estive em Tocantins e fiquei emocionado ao conhecer uma matéria-prima que nunca havia visto antes: o capim-dourado. Na hora, entendi a riqueza do material, ainda desconhecido para muita gente”, diz. Atualmente, ele está apaixonado pelo artesanato da Ilha do Ferro, em Alagoas. “Ali há pessoas produzindo coisas incríveis.” Para Renato, um ponto que vale a reflexão quando se pensa em artesanato é sobre como ele pode andar juntamente com o turismo. “Mas é preciso tomar cuidado, porque há lugares em que o turismo cresce muito e as mulheres abandonam o artesanato e vão trabalhar como faxineiras ou se mudam para outras áreas, abandonando o artesanato. Além disso, começa a miscigenação dessa arte, perdendo-se a identidade local. Quando isso acontece, é uma pena”, diz. Mas nem sempre é assim. “Tiradentes (MG) é uma cidade turística há anos, no entanto ainda tem muita produção de mestres e artesãos.” 99

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&DESIGN :: EXPEDIÇÃO

IDENTIDADE

LOCAL

A Feira Rosenbaum ganha espaço fixo e continua divulgando arte e artensanatos brasileiros POR ELIANA CASTRO

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1. LUMINÁRIA DE COQUEIRO. 2. CERÂMICAS DA ETINIA TUCANO. 3. CESTOS DE BANANEIRA

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A incursão da curadora Cristiane Rosenbaum pelo mundo do artesanato brasileiro começou há cerca de dez anos, quando, informalmente, decidiu fazer bazares no escritório do seu então marido, o arquiteto Marcelo Rosenbaum. “Juntei umas dez pessoas da moda de maneira bem despretensiosa. Elas gostaram. Quando me dei conta, estava com um grupo formado de 40 pessoas, e começamos a atrapalhar o dia a dia do escritório”, relembra. Foi por isso que, em 2016, ela e Marcelo decidiram alugar um espaço maior. “Isso me permitiu ampliar a curadoria, expandindo-a para várias regiões do Brasil”, conta. Em fevereiro, a Feira Rosenbaum, que até então acontecia exclusivamente em centros culturais, museus e galerias de vários cantos do Brasil, ganhou uma sede fixa, em Pinheiros, bairro de São Paulo. O projeto arquitetônico é dividido em três ambientes: loja, galeria e área para mostras.Apesar do endereço fixo, Cris afirma que a essência da curadoria não se perdeu. Ela segue com suas viagens pelo Brasil para conhecer novos talentos e selecionar o que eles produzem de melhor. “Cada região tem um tipo de artesanato que é mais forte”, explica. REGIONALISMOS De Minas Gerais, ela destaca tecelagem, renda e, sobretudo, cerâmica e pedra-sabão. “O ©FOTOS: DANILO KOSH

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mais interessante é que tem uma nova geração que está misturando o design à linguagem local”, ressalta. “Isso eu não encontro, no Recife, onde os trabalhos são de artesãos que fazem peças de madeira e barro, mas sem a pegada do design.” No sul, o couro e a madeira são matérias-primas muito utilizadas e, segundo Cris, a nova geração está integrando o design à sua produção. Além do artesanato regional, a curadora mantém um forte vínculo com os índios. “Os caiapós trabalham muito bem com pintura em tecido. Então, transformamos as peças em quadros”, explica a curadora. REVELAÇÃO DE NOVOS TALENTOS Cris está animada com a sede na capital paulista. Por meio de exposições, ela pretende revelar artistas e trazer a produção atualizada de outros 70 nomes, que já fazem parte da história da Feira Rosenbaum. O responsável pelas mostras será Marcelo Rosenbaum, cofundador da Feira. Oferecer um novo sopro de criação de artesãos, artistas e designers possibilita surpreender com experiências inéditas quem visita a loja. Apesar do novo espaço fixo, a Feira Rosenbaum itinerante não vai deixar de existir, pois Cris pretende manter o evento em vários cantos do Brasil.

Veja o depoimento da curadora sobre a escolha das peças.

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&DESIGN :: ILHA DO FERRO

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ILHA DO FERRO

ARQUIPÉLAGO CRIATIVO Situada em Alagoas, local tem na poesia e na beleza do artesanato sua maior riqueza. POR RODRIGO AMBROSIO

Aderaldo Sandes Costa Lima conta que a arte é uma herança de família

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&DESIGN :: ILHA DO FERRO

A A Ilha do Ferro não é geograficamente uma ilha e também não tem minério de ferro. A origem do nome Ilha é incerta – alguns falam que remete a uma ilhota logo à sua frente, e outros da situação ilhada do povoado quando a chuvas são intensas. Já Ferro pode ser o sobrenome de uma família que habitou o lugar e até mesmo um barco ferroso naufragado por lá. Não há um consenso. O fato é que o nome do local se tornou uma marca muito mais rica e forte do que qualquer suposição de origem etimológica e, poeticamente, muito mais interessante. A Ilha do Ferro, situada em Jaciobá (o atual município de Pão de Açúcar, em Alagoas), é uma aldeia contemporânea ribeirinha, com pouco mais de 500 habitantes nativos e inúmeras raízes culturais e étnicas. Formou-se nas franjas alagoanas da margem esquerda do grande Rio Opará (o atual São Francisco), que deságua adiante, no imenso Atlântico. O Boa Noite é um bordado que nasceu e cresceu por lá, tão belo e delicado quanto a flor que o batiza. Um saber transmitido por gerações de mulheres que, indiretamente, fez florescer as peças de mobília-arte do mestre Fernando Rodrigues. Pois foi numa expedição para fotografar o bordado, no início da década de 1980, que o professor Celso Brandão conheceu o seu Fernando e suas primeiras peças de madeira e, generoso que é, apresentou-as para o mundo.

“Eu sou a Ilha do Ferro, a ilha da imaginação, eu sou as raízes da vida, pássaros, rio e sertão.”

Forno e peça da oficina de olaria. Edvan Alves Lima, o Vanvan, dono do ateliê que recebe pedidos de todo país. E Valmir Lessa Lima, usa raizes e galhos retorcidos nas cadeiras e bancos

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“Dos olhos de Iati brota Opará, cercado de fé, eis o rio, as águas, a foz, a maré.” ©FOTOS: CARLOS DOS ANJOS / FELIPE BRASIL / RODRIGO AMBROSIO

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&DESIGN :: ILHA DO FERRO

“Quando o céu toca o espelho da Lua, Jaciobá ainda é noite, ainda é sombra, ainda é sua.” Acima, Girleno Alvez Amorim, mais conhecido como Leno. Com seus animais esculpidos em madeira pintados a mão. Abaixo, Dona Morena Teixeira, conhecida por suas bonecas de pano, com nomes e personalidades próprias. 106

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“Do alto, em silêncio, o guardião cria, a Boca do Vento grita — sou daqui, sou pra mim, sou pra ti, sou pro mundo.” O tempo e vários outros olhares se encarregaram de transformar a singela Ilha em um arquipélago criativo. Do cotidiano tradicional, conectado ao rio e à natureza sertaneja, surgem obras que mimetizam a fauna e a flora. Seres mitológicos e humanos também são representados pelo vasto repertório do imaginário local. Mestre Aberaldo diz com sabedoria que a natureza entrega a obra pronta e o artista dá só um retoque para finalizar. Mulungu, umburana, aroeira, mororó, pereiro, craibeira, imburana-de-cheiro, cedro, braúna, jaqueira, pau-ferro… De raízes, troncos e galhos caídos brotam Aberaldo, Bedeu, Boioio, Boró, Camille, Carol, Cicinho, Clemilton, Dedé, Eraldo, Fabrício, Faguinho, Gedson, Guilherme, Jordânia, Leno, Lucas, Neto, Petrônio, Rejania, Salvinho, Samuel, Toinho, Urânia, Valmir, Vandinho, Vavan, Vieira, Yang, Zé Crente e um dicionário completo de criadores. Uma infinidade única no Brasil. Em 2020, durante as pesquisas para o documentário Ilha do Ferro: Bom Dia, Boa Tarde, Boa Noite, nos deparamos com narrativas de antigas olarias locais e causos sobre a lida diária com uma tipologia extinta até então, a cerâmica. Em meio à queima dos tijolos, das telhas e das la-

jotas que abasteciam o povoado e seus arredores, há relatos de pequenas peças figurativas e utilitárias que habitavam o universo lúdico dos jovens que participavam das caieiras. Para reviver a história e resgatar uma tradição, construímos um primeiro forno com os mesmos tijolos de um antigo, em ruínas, e com a técnica do mestre Poeta, um ancião referência nesse ofício, que já havia construído dezenas deles na região. Em seguida, convidamos o mestre-artesão Genilson, um oleiro experiente, para transmitir por meio de oficinas os seus saberes para crianças e jovens interessados na argila. E, finalmente, no dia 16 de março de 2022 realizamos a primeira queima – um novo momento para um velho costume. A semente da Olaria Comunitária Ilha do Ferro está plantada, regada com ancestralidade e sob o fértil Sol contemporâneo. O ímpeto de alguns artistas já molda belos contornos na plasticidade do barro. É o caso do jovem artista Tundum e seu novo capítulo. O barco da vida navega e assim nascem novas tradições, da mesma forma que o Boa Noite variou do franco-ibérico bordado Redendê. E que também o diga o saudoso mestre Fernando, que, de tanto fazer com o pai tamancos (uma herança holandesa, como conta a museóloga Cármen Lúcia Dantas), se inquietou para fazer bancos, cadeiras e um sem-fim de esculturas que inspiram todo o arquipélago formado.

Documentário produzido p ara o projeto Alagoas Feito à Mão.

Os versos entre aspas integram as composições criadas por Rodrigo Ambrosio para o documentário Ilha do Ferro: Bom Dia, Boa Tarde, Boa Noite, de sua autoria.

"Minha arte tem uma inteligência que só artistas da natureza podem compreender" Mestre Fernando Rodrigues dos Santos ©FOTO PRETO E BRANCO: DOAÇÃO CELSO BRANDÃO ©FOTOS: FELIPE BRASIL / THIAGO SAMPAIO

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&DESIGN :: CASACOR – 35 ANOS

Ao longo dos seus 35 anos, a CasaCor, a mais completa mostra de arquitetura, design de interiores e paisagismo das Américas, provocou mudanças profundas no nosso jeito de morar.

O ESPÍRITO DO TEMPO POR LIVIA PEDREIRA

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Quando a CasaCor surgiu, há 35 anos, pouquíssimos brasileiros tinham acesso a profissionais como arquitetos e, principalmente, aos decoradores, nome pelo qual passaram a ser reconhecidos aqueles que se dedicavam a transformar os interiores das casas. A profissão de designer de interiores só seria reconhecida em 2016. A arquitetura moderna brasileira, apesar de tão celebrada em todo o mundo entre as décadas de 1940 e 50 do século passado, era conhecida e cultuada apenas por um restrito grupo de intelectuais do país. O olhar de boa parte da elite brasileira se espichava para além-mar. Para ela, importar estilos europeus, que, diga-se de passagem, já havia muito estavam fora de moda, ainda era considerado o suprassumo do bom gosto. Quatro décadas atrás, o único evento de importância para quem se importava com o bem-morar era a UD, Feira de Utilidades Domésticas, que exibia as maravilhas da indústria e suas promessas de revolucionar o dia a dia doméstico. No início dos anos 1980, alguns showrooms passaram a exibir seu mobiliário em composições que simulavam ambientes domésticos. No entanto, eventos e showrooms pecavam por não incorporar a suas composições a riqueza da diversidade de que o design brasileiro era capaz de entregar. ENGENHOSA SIMPLICIDADE Foi nesse cenário que surgiu a CasaCor – uma iniciativa de duas mulheres visionárias (a argentina Angélica Rueda e a paulistana Yolanda Figueiredo) e seus dois sócios argentinos (Javier Malbran e Ernesto del Castillo). A ideia era de uma engenhosa simplicidade: selecionar e convidar os melhores profissionais do mercado para montar ambientes com toda a liberdade. A adesão foi imediata. Afinal, onde mais eles poderiam mostrar o seu trabalho para os eventuais clientes, que pouco conheciam da sua arte? Junto com eles, embarcaram na iniciativa a indústria e o varejo de revestimentos, móveis, objetos de decoração. Com o sucesso da CacaCor, os visitantes passaram a contratar talentos revelados pelo evento, requisitando a indústria nacional voltada para o segmento. ©ILUSTRAÇÕES: PAULA DA ROCHA

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&DESIGN :: CASACOR – 35 ANOS

Ao mostrar um loft pela primeira vez, há mais de duas décadas, o evento ditou moda e ampliou a carteira de ofertas do tradicional mercado imobiliário. E trouxe ideias avançadas para seu tempo, como o bar contêiner. Pouco a pouco, o mobiliário assinado por nossos clássicos modernos, Oscar Niemeyer, Joaquim Tenreiro, Jean Gillon e Jorge Zalszupin, surgia em alguns projetos. A arte popular também ganhava destaque e encontrava na jornalista e editora Olga Krell, parceira de primeira hora da CasaCor, uma aliada de peso. Esse viés de brasilidade produziu momentos memoráveis, como o resgate da tradicional parede de taipa de mão (agora inserida e em perfeita sintonia com ambientes sofisticadíssimos) e a presença, quase exclusiva, do mobiliário e do design made in Brazil nos ambientes de suas mostras. Abriu-se, assim, outro capítulo para que novíssimos arquitetos e designers passassem a criar produtos para a indústria. Desse modo, a CasaCor conquistou o posto de plataforma reveladora de tendências e mostrou ser um excelente laboratório para testar e validar produtos e serviços. Hoje estamos em 18 capitais brasileiras, três cidades latino-americanas e em Miami.

HUB DO MORAR Nas últimas duas décadas e meia, a CasaCor cresceu e se consolidou como um potente hub da indústria do morar. E, ano a ano, vem revelando talentos, e muitos deles se tornaram profissionais de projeção internacional. Como um sensível radar que capta o espírito do tempo, a CasaCor, a partir de 2015, passou a refletir sobre a complexidade dos novos tempos e voltou nosso olhar para a sustentabilidade – uma bandeira de peso, implementada ao longo desses últimos sete anos. Em 2020, conquistamos a certificação Lixo Zero. Além disso, fomentamos a economia circular. Ou seja, vidro, gesso e chapas de madeira, entre outros materiais, foram reciclados e reutilizados por suas indústrias de origem. Também promovemos projetos em parceria com ONGs. Em 2016, erguemos a primeira casa construída de forma totalmente sustentável e autossuficiente em energia e continuamos a fazer ações pontuais e consistentes.

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A INOVAÇÃO É A RESPOSTA Há dois anos, a pandemia nos trancou em casa e tivemos que cancelar os eventos. Reagimos a esse desafio criando um inédito projeto, que unia o universo físico ao digital: o Janelas CasaCor. Profissionais do país foram convidados a refletir sobre a casa pós-pandemia e criar projetos para serem exibidos em vitrines, instaladas em contêineres vedados e apreciadas por quem passava por elas. Já os ambientes internos só eram acessados por meio de um tour virtual, disponível em nosso site. A exposição, segura, inclusiva e gratuita, foi realizada em dez cidades do país. E ganhou uma versão totalmente digital em Miami. Mesmo com o retorno dos eventos presenciais, o formato Janelas se mantém, para que a CasaCor possa estar em lugares que ainda não comportam o evento físico. Nunca tivemos tanta intimidade com a nossa casa como nesse período pandêmico, nem tanta consciência de suas deficiências. Mais do que nosso refúgio, a casa assumiu o papel principal em nossa vida. Sempre dialogando com seu tempo, a CasaCor permanece sendo um campo fértil para responder a mais esse desafio.

1. 1987 - Primeira casacor, ambiente assinado por Rosa May sampaio e maria isabel alves de lima. Foto: Rosa May 2. 1994 - Carolina Szabó, destaque para a chaise rio, de Oscar Niemeyer. Foto: Carolina Szsbó 3. 2000 - CASACOR apresenta um novo conceito de morar, os lofts, como este projetado por clarice reade, para uma jornalista. Foto: Clarice 4. 2011 - O contêiner ganha uso nobre no projeto de um bar, assinado por Brunete Fraccaroli. Foto: Arquivo Pessoal 5. 2015 - Casa de pau a pique, uma ode a brasilidade, no projeto de Roberto Migotto. Fotos: Alain Brugier 6. 2020 - Janelas casacor, projeto de suite arquitetos. Janela Suite Arquitetos, Foto: Salvador Cordaro.

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&DESIGN :: ARQUITETURA

GUTO REQUENA

CRIADO

POR “NÓS” Falando no plural, designer cria projetos que vão desde um memorial às vítimas da covid até um mobiliário cardíaco. POR ELIANA CASTRO

Arquiteto e designer é uma definição muito reducionista para falar sobre Guto Requena. Seu estúdio, que leva seu nome, foi fundado em 2008 e, desde então, ele está envolvido em uma série de projetos que extrapolam a máxima de que “a forma segue a função”. Porque Guto faz ativismo com um design em que usa a tecnologia para causar empatia e emoção. Uma curiosidade: ele não costuma empregar o pronome “eu”. Prefere “a gente” e “nós”, como se fizesse questão de pontuar que tudo é criado de forma colaborativa. “A gente acredita muito no uso de novas tecnologias digitais para trazer mais poesia à superfície urbana das cidades”, diz. Atualmente, Guto está envolvido em dois projetos. Um deles

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“A ideia é que, mesmo sem saber qual idade, cor da pele, religião ou tipo físico, todos possam iniciar um diálogo apenas pelo coração.” é o Memorial Covid-19, em homenagem às vítimas da doença. Nele, as pessoas se sentam em um dos dois bancos esculpidos em mármore em forma semicircular e, por meio do celular ou de óculos especiais, conseguem visualizar um conjunto de borboletas voando. Ao clicar em uma, descobrem que elas prestam homenagem a quem faleceu de covid. Esse ainda é um projeto conceito, que mistura analógico e digital. “Ainda queremos viabilizá-lo para levar para as ruas de mais de uma cidade”, explica o arquiteto e designer. Outro projeto do estúdio que está em fase de desenvolvimento se chama Banco Tramas, um conjunto de mobiliário urbano que pode ser espalhado pelos bairros de uma cidade. Quando uma pessoa se senta no banco e coloca o dedo em um sensor, seu batimento cardíaco é distribuído, em tempo real, via speaker, para outros bancos em diferentes pontos. Ainda há a opção de apertar outro botão para, além de enviar as vibrações cardíacas, abrir um canal de comunicação com outras pessoas. “A ideia é que, mesmo sem saber qual idade, cor da pele, religião ou tipo físico, todos possam iniciar um diálogo apenas pelo coração”, explica.

Veja o depoimento do arquiteto e designer Guto Requena.

Na última edição da CasaCor, o Estúdio Guto Requena apresentou a Casa Conectada. O projeto foi todo feito de modo colaborativo e compartilhado na internet para as pessoas copiarem, aprimorarem ou criarem novos projetos com base nessa matriz. Agora, a casa está sendo remontada na Marginal Pinheiros, em São Paulo, como sede de uma empresa que faz gestão da Marginal e de diversas praças. “Este case mostra a viabilidade técnica e a possibilidade de olhar para a arquitetura, que, no futuro, poderá ser muito mais sustentável, negando o jeito tradicional de fazer projetos.” Além disso, o estúdio continua apostando no design paramétrico, que usa algoritmos e, posteriormente, a produção digital. Entre as novidades, estão o Buffet Paramétrico e o edifício Torre, este um projeto conceito que não será executado, mas que permitiu o exercício do uso de algoritmos e parametria para criar um edifício de mais de 20 andares. “Nossos projetos buscam destacar o que não é comum, mostrar o que é diferente é bom, pois é o lugar de conflito”, afirma. “Buscamos dar suporte ao não habitual para que as pessoas possam abrir um canal de diálogo e empatia.” ©FOTOS: DIVULGAÇÃO

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&DESIGN ::

PAISAGISMO

VERDE PERTO

BENEDITO ABBUD

Levar a natureza para ambientes construídos define o “paisagismo biofílico”. No entanto, muito antes de virar tendência, Benedito Abbud já assinava projetos com esse conceito. “A gente precisa entender que faz jardim para as pessoas. Então sempre procurei criar lugares que abraçassem, que tivessem um poder restaurador”, conta o paisagista, que está há mais 40 anos assinando projetos residenciais e corporativos. O projeto mais atual de Abbud é o ultraluxuoso Cidade Matarazzo, o antigo Hospital Matarazzo, que reúne hotéis, restaurantes e lojas sofisticados, além de uma enorme área verde. “Começamos o plantio há cerca de um ano e agora conseguimos ver os resultados. Hoje, já temos uma biodiversidade incrível: levamos a Serra do Mar para a Avenida Paulista”, comemora.

O paisagismo biofílico leva natureza para ambientes construídos, para restaurar a mente. POR: ELIANA CASTRO

O paisagista explica que em uma cidade pequena, em que há muito campo em volta, não existe a necessidade de trazer o verde para a zona urbana porque as pessoas convivem com ele em seu entorno. No entanto, quando se pensa em municípios grandes, criar espaços verdes é fundamental para trazer a sensação de bem-estar. O paisagismo biofílico foi inspirado nos healing gardens, jardins de cura, criados há alguns anos em hospitais de vários lugares do mundo. Com o tempo, ficou claro que, ao manter contato com a natureza, os pacientes e seus familiares se acalmavam e isso ajudava na recuperação. Com a pandemia da covid-19, a importância do jardim ficou ainda mais forte. “E as pessoas não querem apenas a vegetação. Elas querem lazer. Então, é fundamental qualificar o espaço

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e oferecer bancos e mesas, brinquedos para as crianças. A ideia é fazer um jardim que seja curtido, e não apenas admirado”, conclui Abbud. Para o paisagista, essa foi a grande mudança nos últimos tempos. Ele recorda que, na infância, as pessoas tinham jardins em frente de casa, com mureta baixa e plantas e flores que davam trabalho para cuidar. “Minha avó tinha dálias, boca-de-leão e outras flores que chamavam a atenção da vizinhança. E ela se orgulhava muito disso”, diz. “Hoje, o jardim saiu da frente da casa e foi para os fundos. A garagem, que antigamente ocupava esse espaço fora da vista, é por onde a maioria das pessoas entra. Mas é quando se chega à sala que vemos lá, no quintal, o jardim: um lugar de plantas, flores e com espaço para receber amigos e familiares. Esse jardim também é uma área contemplativa, mais resguardada, para se refazer do dia a dia. O modo como projetamos a paisagem de casas e edifícios também mudou.” Para Abbud, o movimento biofílico é algo que não tem volta porque todo mundo entendeu que precisa ser tocado pela natureza. “Sou muito otimista. Acredito que a tecnologia facilitou e vai continuar facilitando muito o movimento de trazer o verde para perto. Hoje, há adubo na água e controle remoto de drenagem e irrigação. O que importa é estar perto do verde, pois as grandes cidades ficaram mais agressivas e o paisagismo virou um contraponto para amenizar o concreto.” ©FOTOS: LEONARDO FINOTTI

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"Jardins biofílicos são feitos para serem curtidos", Benedito Abbud

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&DESIGN :: SABOR & DESIGN

CHEF LUIZ FILIPE SOUZA

SABOR E ARTE Chef do Evvai cria obras de arte com pratos inspirados na tradicional culinária italiana. POR ELIANA CASTRO

O design gastronômico do chef Luiz Filipe Souza, que comanda o restaurante Evvai, é parte do sabor de seu menu, que traz uma versão moderna e bem pessoal da culinária italiana. “Claro que o gosto é fundamental. Mas, se um prato chama a atenção pela visão, fico mais curioso e começo a ficar mais conectado com a comida”, conta. “Por isso, desde sempre sou aficionado em trabalhar na apresentação dele.” Não por acaso, todas as delícias servidas no Evvai são obras de arte. Apesar de o chef optar pela mudança frequente no menu – até o fechamento desta edição, ele ainda não havia fechado o novo cardápio –, vale a pena destacar sucessos que seduziram os habitués do restaurante não apenas pelo paladar, mas também pela criatividade. Nessa seleção, não pode faltar o trio de snacks que tem como ingrediente a truta, do menu

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Oriundi, que faz jus ao porta-joias em que é servido: wagyu e ovas de truta curadas em prosecco, seguidas de truta defumada e ouriço-do-mar fresco e, o grand finale, a terrine de foie-gras e pururuca de pele de truta. O minestrone, parte do menu Oriundi, se tornou um dos sucessos assinados por Luiz Filipe por dar uma leitura inesperada à tradicional sopa italiana. Na versão dele, surpreende o efeito plástico do caldo de sopa, feito com leite de amêndoas, combinado com as cores de legumes orgânicos e crocantes, de pedacinhos de lagostim e do centro brilhante do caviar. Outro destaque dessa coleção de obras-primas é o gnocco (no singular mesmo) inspirado na culinária caseira e afetiva italiana. Em sua criação livre do tradicional guisado de rabo de boi com polenta e agrião, o toque de mestre é que a massa vem encapsulada no queijo do Marajó e é servida com consommé de rabo bovino e óleo de

agrião. Microflores e algumas folhas estrategicamente dispostas sobre a iguaria formam um visual extremamente delicado, quase romântico. Esse mesmo ar romântico aparece no design do tortelli artesanal, com flores lilás decorando a massa caseira. Na versão do Evvai, ela é recheada com cubinhos de coração de pato em brodo de ervas e gordura de pato, purê de mandioquinha, jus de cebola assada e espuma de queijo Cuesta. “Eu me inspiro na arte, na música, na história e em muitas outras coisas para elaborar os pratos. Às vezes, decido criar uma receita só porque me apaixonei por determinado ingrediente. Há momentos em que fico com vontade de usar uma nova técnica”, revela. “Quem vê tudo pronto não faz ideia do trabalho. O fato é que, para conseguir aprovar um prato, testo muito. E, claro, muita coisa dá errado, mas as pessoas não sabem”, diz, se divertindo.

“Eu me inspiro na arte, na música, na história e em muitas outras coisas para elaborar os pratos.

Veja como o chef Filipe Souza cria seu menu acessando o QR Code.

©FOTOS: TADEU BRUNELLI

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&DESIGN :: PITTORESCA

PARECE PIZZA, MAS É PINSA POR BRUNA GALVÃO

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À primeira vista, a pizza e a pinsa romana até se parecem, pois ambas têm origem na Itália e são estruturadas em uma massa com cobertura. Mas não se engane: são produtos completamente diferentes na base, no sabor e mesmo na forma como o nosso organismo irá digeri-los. A pinsa é uma ancestral da pizza. Sua origem remonta ao antigo Império Romano, quando os camponeses preparavam uma focaccia muito hidratada, feita com água e cereais. Eles ofereciam essa massa aos deuses para pedir prosperidade e riqueza. O nome pinsa vem do latim pinsere, que, em bom português, significa “amaciar”. Isso porque uma das características principais da pinsa é a artesanalidade em todas as etapas de sua produção. Por sorte, a receita da pinsa romana foi redescoberta nos anos 2000 por um panificador italiano e hoje podemos saborear a delícia! Com a expansão das pinserias em Roma, em 2010, não tardou para que a novidade se tornasse um grande sucesso comercial e se espalhasse mundo afora, chegando até aqui. VERSÃO BRASILEIRA As pinsas comercializadas no Brasil são feitas com farinhas nacionais, mais especificamente, do Paraná. Foi uma forma que os sócios da Italian Bakery House (os italianos Riccardo Bianchi e Massimiliano Bianchi e o brasileiro Frederico Tomé) encontraram para valorizar nossa matéria-prima com um ótimo resultado no produto final. © FOTOS E VÍDEO: BRUNO LEMOS / @BMLEMOS © ILUSTRAÇÃO: SOFIA REMONDI/ @SOFIAREMONDI

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No momento, a Italian Bakery House é a única empresa na América do Sul a fornecer as pinsas romanas, que são comercializadas pré-cozidas nas principais redes de supermercado ou prontinhas em restaurantes (acesse o site e veja onde encontrar www.italianbakeryhouse. com.br). DESIGN DA PINSA Para criar o design tradicional da pinsa romana é importante pensar em como fazer uma cobertura ideal, que deve trazer o contraste de cores, sem, claro, descuidar do sabor e da temperatura. Fundamental é fugir de exageros, em especial nos condimentos, que podem encobrir a qualidade da massa e dos produtos utilizados no preparo. DO QUE ELA É FEITA A pinsa romana é o resultado da mistura das farinhas de trigo, arroz e soja, com um processo de fermentação de 72 horas. Por ser composta de 80% de água, a massa é leve e jamais irá pesar em seu estômago.

Quer saber o que eu achei da pinsa? Assista a matéria em vídeo!

BENEFÍCIOS DA PINSA ROMANA massa leve e de fácil digestão 90% menos gordura saturada que a pizza baixo teor de glúten baixíssimo colesterol, beirando a zero zero açúcares keto friendly

Bruna Galvão é jornalista especializada em Itália. Escreve sobre curiosidades relacionadas a países na coluna Pittoresca. @bruna.cerne

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&DESIGN :: DESTINO

RIO DE JANEIRO

ARTE COM SOTAQUE

CARIOCA Como Cristo Redentor, Copacabana Palace, Confeitaria Colombo, Parque Lage e Museu do Amanhã se ligam à arquitetura mundial.

POR ELIANA CASTRO

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É certo que uma capital como o Rio de Janeiro, com belezas naturais tão exuberantes, acaba ofuscando a vista para o que não é mar,floresta, morro, cachoeira nem aquele tremendo pôr do sol que merece aplausos não apenas nas areias do Arpoador. Como se não bastasse, a beleza do Rio vai muito além de sua natureza de cartão-postal: prova de que a cidade deve mesmo ser abençoada pelo Cristo Redentor, seu garoto-propaganda, que acolhe de braços abertos no Corcovado cariocas e turistas. A estátua, em estilo art déco e uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, foi idealizada em meados do século 19 pelo padre francês Pierre Marie Boss. Somente em 1921, a ideia de um monumento religioso no Corcovado foi retomada. O projeto do Cristo foi feito pelo arquiteto brasileiro Heitor da Silva Costa, com base na pintura de outro brasileiro, Carlos Oswald. Mas a estátua foi construída na França. Para isso, contratou-se o escultor Maximilian Paul Landowski, na época o maior especialista em art déco. No ano passado, ficou pronta a reforma emergencial do ©1

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&DESIGN :: DESTINO

Cristo, que completou 90 anos, para mitigar os desgastes provocados pelas intempéries, especialmente no manto, no dedo direito e na parte frontal da cabeça, além de ganhar para-raios reforçado e equipamento para medir os ventos. Além do próprio Cristo, considerada a maior escultura art déco do mundo, com a altura equivalente a um prédio de 13 andares, o Rio se destaca como capital desse estilo na América Latina, com cerca de 400 imóveis dessa escola. Um deles é o célebre Copacabana Palace, de 1923, projeto do arquiteto francês Joseph Gire, que também criou outros prédios art déco, como o Palácio das Laranjeiras, o Hotel Glória e a antiga sede do jornal A Noite. Outro ótimo exemplo da arquitetura desse estilo, e que tem resistido bem ao tempo, é o Edifício Biarritz, de 1940, assinado pelo francês Henri Paul Pierre Sajous. Localizado na Praia do Flamengo, é o queridinho de muitos cariocas que curtem arquitetura. Sua fachada principal, formada por uma malha regular de sacadas curvas, intercaladas por pilares contínuos, e sua porta de entrada monumental dão o ar elegante à construção. 124

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ART NOVEAU A Confeitaria Colombo, eleita um dos dez cafés mais bonitos do mundo, tem como marca registrada o estilo art noveau, que faz com que seus clientes se deliciem com cada detalhe do espaço, enquanto saboreiam os quitutes da loja com um cafezinho. Fundada em 1894 por imigrantes portugueses, os salões da Colombo possuem enormes espelhos com molduras de jacarandá, estilo Luís XV, fabricados em Antuérpia, Bélgica, bem como paredes e tetos adornados com delicados frisos. Uma claraboia, com lindos vitrais no teto superior da grande abertura, que conecta o café do térreo com o restaurante, no segundo pavimento, traz o luxo da época. Cada detalhe, como os ladrilhos portugueses, as cristaleiras e as mesas de pé de ferro fundido, com tampos de mármore, remonta aos tempos da Belle Époque, quando ali circulavam nomes como Olavo Bilac, Villa-Lobos, Chiquinha Gonzaga e um sem-número de políticos e artistas.

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ECLETISMO O Parque Lage, nos pés do Corcovado, bairro do Jardim Botânico, é um dos lugares do Rio em que o ecletismo estético está presente, apesar da forte influência da arquitetura italiana. Inaugurado em 1957, sua história começa muito antes de se tornar um parque. No século 16, era um engenho de açúcar, o Del Rey. Em 1660, a área passou para a família Rodrigo de Freitas Mello. No século 19, parte da propriedade foi comprada por um nobre inglês, que contratou o paisagista John Tyndale para criar um jardim romântico. Depois, um pedaço da fazenda se tornou propriedade de Antonio Martins Lage, até que, em 1920, foi comprada por seu neto, o empre-

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&DESIGN :: DESTINO

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sário Henrique Neto. Para agradar sua esposa, a cantora lírica Gabriela Besanzoni, ele encomendou sua remodelação. O casarão, projetado em 1927 pelo arquiteto italiano Mario Vodret – há pesquisadores que atribuem a autoria a seu compatriota Riccardo Buff –, foi construído em torno da piscina, com inspiração em um pallazo romano, uma reformulação de parte do projeto paisagístico. No casarão, ainda podem ser vistos os ornamentos de mármore, os azulejos e ladrilhos italianos e as pinturas decorativas do artista paulista Salvador Paylos Sabaté. Emoldurando a área externa, além do Corcovado e dos jardins de estilo romântico, com uma ala de palmeiras-imperiais, há um aquário, pequenos lagos, grutas e um castelinho, que transporta os visitantes a um mundo mágico. MODERNISMO Durante a Segunda Guerra Mundial (19391945), os arquitetos modernistas encontraram na capital fluminense um lugar para exercer sua

profissão, já que os países estavam devastados. O Palácio Capanema (atual Edifício Capanema), no centro da cidade, foi construído por um grupo de arquitetos formado por Lúcio Costa, Carlos Leão, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcellos e Jorge Machado Moreira, com a consultoria de ninguém menos que o franco-suíço Le Corbusier – um dos maiores arquitetos do século 20. A obra começou em 1936 e foi entregue em 1947. O edifício é um marco da arquitetura moderna no Brasil. Os 16 andares são sustentados por pilotis, que ajudam a criar um vão livre, valorizando a amplitude. Sua fachada é revestida de azulejos de Cândido Portinari. A edificação abriga esculturas de Bruno Giorgi, Celso Antônio e Alfredo Ceschiatti. Já as telas são de Alberto Guignard e José Pancetti. Os jardins do térreo, do mezanino e do 16o pavimento foram projetados por Roberto Burle Marx. Não por acaso, em 1948, ele foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

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DESIGN BRASILEIRO Para quem se interessa por design, uma boa opção é visitar o Fairmont Rio de Janeiro Copacabana, que reúne uma série de móveis e obras do design brasileiro. Entre as peças, estão o cobogó Mãos, dos irmãos Campana, e as poltronas Diz e Stella, de Sergio Rodrigues. Há ainda obras de Hugo França e outros artistas brasileiros na decoração do hotel, recentemente retrofitado pela arquiteta Patricia Anastassiadis, preservando aspectos arquitetônicos de época e a atmosfera da construção carioca. O Museu do Amanhã, inaugurado em 2015 no Píer Mauá, também tem inspiração carioca, embora seu projeto seja assinado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava. A ideia era fazer com que o edifício parecesse flutuar sobre

o mar. E conseguiu. A estrutura em balanço dá a ideia de asas, que se expandem por quase todo o cais da Baía da Guanabara. E o espelho d’água, no entorno da edificação, ajuda a criar o efeito de flutuação. Já que esse é um museu voltado para o amanhã, obviamente, sua construção traz um DNA sustentável. Por isso, o espelho d’água é usado para filtrar a água bombeada da baía, que retorna ao mar. A água da Guanabara também é utilizada para regular a temperatura no interior do edifício. Há também painéis fotovoltaicos, que podem ser ajustados para aproveitar melhor os ângulos dos raios solares durante todo o dia e gerar energia. Seja pelas exposições, seja pela arquitetura, é impossível sair do Museu do Amanhã sem a sensação de esperança em relação ao futuro.

Veja mais sobre o Rio de Janeiro Design acessando o QRCode.

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DESIGN

LEVEZA DE UMA FOLHA Mesa de apoio Leaf com tampo de vidro que lembra veios de uma folha

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Pa Isa co via acesse o QR CODE para ouvir a história do designer

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&VARIEDADES PADRONAGEM DE CERÂMICA

Para coleção criada por Isabela Capeto para Ceusa com inspiração em suas viagens pelo Cariri.

MARIANA PALMA. NOVAS REALIDADES p.138

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+ Mestres do Artesanato Lia Rodrigues Pôster do Cinema Isabela Capeto Memória do Design

LIN BRASIL SÉRGIO RODRIGUES p.148

CRÔNICA. TECELÃO DA NATUREZA p.158

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TIAGO

AMORIM

Artista multifacetado e culto, o pernambucano pinta telas, cria esculturas de barro esmaltado e faz moda também. Conheça sua história. POR ZIZI CALDERARI FOTOS SALVADOR CORDARO

Não lembro exatamente o ano, mas sinto até hoje a sensação de encantamento ao chegar ao Hotel 7 Colinas, em Olinda (PE), e encontrar os animais de Tiago. A partir da recepção, vacas, touros, pássaros e figuras gigantes de barro, praticamente em tamanho real, ficavam espalhados pelo jardim. Uma vaca se transformava fácil em um banco de dois lugares. Era madrugada, ainda escuro, então aumentava a sensação do inusitado, absurdo, surreal. Mal clareou o dia eu já estava no jardim, entre aquelas figuras incríveis, e fui logo investigando o artista. No mesmo dia, liguei para Tiago e fui até sua casa-ateliê, em Olinda, onde ele molda e assa essas esculturas num forno que já é uma obra de arte. Tiago Amorim é surpreendente. Homem culto, artista multifacetado... Pinta telas e também tem esculturas de barro esmaltado, e já fez moda também. Nos áureos tempos da Rhodia Têxtil, ele trabalhou com Livio Rangan e, na companhia de outros artistas, desenhou lindos vestidos. Em 2019, durante a Expedição Pernambuco, minha equipe e eu tivemos o privilégio de fazer o registro de Tracunhaém (PE) em sua companhia, onde ele participou de vários movimentos de arte entre 1970 e 1980.

Veja essa viagem: Projeto Sertões Pernambucano.

Tiago Amorim tem 79 anos e nasceu em Limoeiro, Pernambuco. Atualmente mora e trabalha em Olinda.

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&DESIGN :: MESTRE ARTESÃO

Animais em barro esmaltado dominam o ateliê de Tiago.

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&DESIGN :: MESTRE ARTESÃO

Obras em processo de trabalho com o barro ainda molhado. A seguir, objeto pronto usado em decoração.

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&DESIGN :: MESTRE ARTESÃO

A arte é uma ação que tem de ter expressão como um complemento da sabedoria, da filosofia. Porque eu faço, para quem eu faço e com que material eu faço. A técnica? A técnica é importante demais, mas o mais importante é o silêncio e a espera do genial que existe em você, para que ele possa cumprir seu processo. TIAGO AMORIM – ARTISTA

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TIAGO AMORIM NA PORTA DE SUA CASA EM OLINDA.

© FOTO: SALVADOR CORDADO / @SALVADORCORDADOFOTOGRAFIA

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&DESIGN :: ARTE

MARIANA PALMA

A ARTISTA QUE CRIA

REALIDADES Em busca de excessos, Mariana Palma usa camadas para gerar novas imagens. POR: ELIANA CASTRO

O estilo barroco sempre esteve presente nas obras de Mariana Palma. No entanto, ela confessa não saber explicar exatamente o porquê. “Talvez seja mais um impulso. Eu me identifico com o drama, o excesso. Ou talvez porque meu trabalho seja uma colagem, em que somos referências. Acrescento camadas, uma a uma”, diz a artista plástica. Atualmente, Mariana está trabalhando em uma nova série, ainda sem título, que entrou na fase do bordado. São fotos de naturezas-mortas – bastante presentes em suas obras – sobre gelo triturado, impressas em cetins de 2 m e, depois, bordadas com pedraria e linhas, que encobrem as imagens, gerando certa confusão visual.

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No ano passado, a artista já havia apresentado um grupo de trabalhos, sem título, na SP Arte, em que sobrepunha camadas de fotografias impressas sobre voal, que depois recebiam pontos de linha largos, os alinhavos. A ideia é, ainda este ano, montar uma instalação em um parque com essas obras interagindo com o jardim. Algo que ela havia tentado fazer na SP Arte, mas não conseguiu em função da burocracia com a Prefeitura. “Apesar disso, as enormes janelas de vidro de certa forma permitiram a interação com a paisagem externa do pavilhão”, diz, conformada. “Se der certo apresentar em um parque, vai ser ainda melhor”, diz. O tecido, bem como flores, folhas, coquinhos e conchas, se mantém na obra da artista, que, quando mais jovem, sonhava em ser cenógrafa. Essa tendência teatral aparece nas obras, especialmente nas mais recentes, apresentadas, em janeiro deste ano, na instalação "A_Fluir", na Casa de Ópera, de Ouro Preto (MG), que ela também pretende trazer, ainda este ano, para um espaço em São Paulo.

Muito do que vem produzindo tem como maior fonte de referência o Instagram. “Pesquiso bastante e noto que estamos acostumados a imagens feitas pelos celulares, que muitas vezes parecem ser mais reais do que os registros de qualidade”, acredita. “No meu trabalho, venho somando, por meio de camadas de tecido, realidades da própria realidade. São imagens que se somam e se desfazem. Minha ideia é criar uma imagem flutuante, porque não se configura real e é feita de filtros. Busco, pelo excesso, criar essa confusão, com muitos significados”, afirma Mariana. Natureza morta sobre gelo, nova obra de Palma, em fase de produção. Abaixo, sua mostra na SP Arte

Mariana Palma conta sobre sua arte.

© FOTOS: DIVULGAÇÃO

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&DESIGN :: DANÇA

A ENCANTADORA DE

CORPOS

Coreógrafa Lia Rodrigues exibe pelo mundo a potência de sua companhia sediada na Favela da Maré, no Rio POR SIMONE RAITZIK

No início são fagulhas – cenas e fragmentos do dia a dia, das ruas, de obras de arte ou das páginas de um livro – que disparam o longo e intenso processo criativo da coreógrafa paulista Lia Rodrigues, radicada no Rio. Depois vem a gestação, coletiva, com os bailarinos e a equipe, desenhando um bordado de ideias que vão se avolumando sem roteiro definido e acabam costuradas por Lia, artista das mais renomadas no universo da dança contemporânea – no Brasil e no mundo. Sua carreira, de mais de dez anos à frente da Escola de Dança Livre da Maré, soma-se a mais de uma década dirigindo o Panorama, um festival que criou em 1992 (e do qual esteve no comando até 2005) e acontece até hoje como uma referência de programação de qualidade e excelência. Como criadora, Lia é pura vanguarda.

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Muitos de seus espetáculos não têm som, mas repercutem como um grito agudo num silêncio ensurdecedor. Cada nova coreografia – atualmente está em cartaz com Encantado, em turnê até setembro na Europa, quando volta para temporada no Rio, no galpão onde fica sediada a companhia, na comunidade da Maré – tem relação com o universo em que vivemos, com o que nos aflige e com o que nos move. De uma forma profunda e intensa. A seguir, você confere o processo de criação de Lia. & DESIGN: Em geral, você leva de dez meses a um ano para elaborar um novo espetáculo e há um hiato de dois a três anos entre eles, com turnês pelo Brasil e pelo mundo. Como funciona essa rotina? LIA RODRIGUES: Nunca paro de pensar sobre

o trabalho, sobre o que acontece no mundo e sobre a realidade da sede da minha companhia, que fica na Favela da Maré. Isso é muito marcante em todo o meu processo criativo. O ponto de partida é uma sequela do projeto anterior, e daí começo a montar uma bibliografia com temas que me interessam e falam do que pretendo abordar na montagem. Vou colecionando palavras que me tocam e formo com elas um dossiê. Guardo também imagens que garimpo na internet, cenas cotidianas publicadas na mídia, reproduções de obras de arte que me impactam. E vou apresentando esse material para a companhia e, juntos, tecemos um fio condutor. Com isso, os bailarinos vão propondo movimentos, cenas, e eu vou costurando as ideias. A minha autoria está justamente quando finalizo esse arsenal, desenvolvido em grupo.

&D: Conte como foi especificamente o processo do Encantado, seu espetáculo atual, que fala da crise com o desmantelamento da cultura no Brasil e traz corpos “mágicos”, que dançam como viventes, enrolados em cobertores. LR: Para esse espetáculo, li muito. De Torto

Arado, de Itamar Vieira Júnior, a Ciclos Selvagens, de Ailton Krenak, passando por O Corpo Encantado das Ruas, de Luiz Antonio Simas, autores que muito me inspiraram. Há um enorme investimento intelectual, um mergulho profundo. Mas a imagem que marcou o início do processo foi a de uma pessoa enrolada em um cobertor, na rua, como um embrulho. Estando sediada no Centro de Artes da Maré, o espaço também contribuiu para dar forma a esses seres “encantados”, uma constelação de vozes muitas vezes invisíveis à sociedade, mas que precisam ser ouvidas, ganhando assim corpo e rosto. Em resumo, Encantado reúne 11 bailarinos e 140 cobertores e repercute um comprometimento com a democratização da arte em um país tão carente de incentivo.

Dançarinos em cena de espetáculo Encantado, em turnê na Europa.

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até 28 de agosto

O MCB e a Casa Zalszupin se unem para celebrar o centenário de nascimento de Jorge Zalszupin, um dos mais bem-sucedidos representantes da geração de arquitetos que atuou, entre os anos 1950 e 1960, de forma pioneira no campo do design brasileiro.

Museu da Casa Brasileira Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705 Jardim Paulistano, São Paulo - SP Casa Zalszupin Jardim Europa, São Paulo - SP Agendamento através do site www.casazalszupin.com

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&DESIGN :: POSTER DE CINEMA

CENA EM

CARTAZ Como o design e o cinema se misturam na composição dos pôsteres de filme. POR BRUNA GALVÃO

Os cartazes de cinema são tão atrativos quanto os trailers. Alguns têm um projeto gráfico rico, chegando a ser verdadeiras obras de arte – e não é à toa que muitos cinéfilos (ou até quem não chegue a tanto) mantêm o hábito de decorar a parede de casa com eles. Para falar sobre o design no cinema como forma de atração para os filmes, &Design convidou Maya Guizzo, professora de história do cinema do Istituto Europeo di Design de São Paulo (IED) para uma entrevista. Nela Maya fala sobre as mudanças da linguagem gráfica ao longo dos anos e comenta especificamente sobre o trabalho das designers. “Sempre houve mulheres cumprindo funções criativas e executivas na história da arte, do cinema e do design, mas elas foram pouco lembradas ou mesmo apagadas dos livros”, afirma.

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O ENCOURAÇADO POTEMKIN. SERGUEI EISENSTEIN, 1925. DESIGNER: RODCHENKO

Resultado do movimento construtivista russo, que teve no cinema sua maior repercussão por meio das obras de Dziga Vertov e Sergei Eisenstein. A orientação espacial do cartaz está na horizontal, como a tela do cinema. E há um espelhamento, que simula o navio e um tanque de guerra. &DESIGN: Quais as principais mudanças de linguagem gráfica que os cartazes de cinema sofreram ao longo dos anos? MAYA GUIZZO: Desde as primeiras sessões em

sala de cinema, na Paris de 1895, os cartazes para os filmes exibidos no cinematógrafo dos irmãos Lumière eram produzidos por meio da técnica de impressão litográfica. Na década de 1920, eram ilustrações pintadas à mão sobre fotos de cenas de filmes. Nesse caso, havia mais gestualidade e a assinatura de um “artista-artesão”. A partir dos anos 1930 e do movimento art déco, foram introduzidos elementos geométricos e cores fortes. Ocorre também a eliminação de fundos detalhados para fundos brancos ou em cores sólidas, além de mais rostos de personagens, em detrimento da representação de cenas. Passa-se a usar técnicas de serigrafia. Outro marco dessa época é a experimentação de tipografias diferentes, mais ousadas, como o uso do desenho, do contorno à mão, de uma nova forma de pensar os alinhamentos. As composições são mais arejadas, com camadas metafóricas que tentam revelar o sentido do filme. &D: No Brasil, como foi o processo do design nos cartazes de cinema? Quais são as características e peculiaridades? MG: O movimento do Cinema Novo, nos anos

1960, propôs uma nova representação da identidade nacional na produção cinematográfica. Como exemplo, temos em 1964 o lançamento do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, com cartaz de Rogério Duarte, escritor, poeta, músico e designer baiano. O cartaz traz o close do personagem Corisco. Ele aparece encarando o espectador, segurando um punhal, que divide o seu rosto e é envolvido pelo círculo, que o “santifica”, como uma auréola ou coroa, que

© FOTOS: REPRODUÇÕES

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representa o sol da paisagem típica do sertão brasileiro. Isso é diferente de um cenário fotografado com luz controlada em estúdios, como o das produções comerciais, influenciadas pelos musicais estadunidenses. Na mesma época, Helio Oiticica fez uma bandeira com a frase “Seja marginal, seja herói”. O design gráfico no Brasil, nessa época, é influenciado pelas escolas europeias, como a Bauhaus, e pelo movimento do Neoconcretismo. &D: Ainda que vistas à margem desse processo, algumas designers produziram trabalhos marcantes no cinema nacional... MG:: Sempre houve mulheres cumprindo fun-

ções criativas e executivas na história da arte, do cinema e do design, mas elas foram pouco lembradas ou mesmo apagadas dos livros. No design, podemos nos recordar de mulheres como Hannah Hoch, do movimento dadaísta, e Anni Albers, formada na Bauhaus e especializada em design têxtil. Enquanto Jacqueline Casey, Rosmarie Tissi e Paula Scher foram de suma importância para o design de cartazes para escolas, centros culturais e empresas. &D: Ainda que vistas à margem desse processo, algumas designers produziram trabalhos marcantes no cinema nacional... MG: Sempre houve mulheres cumprindo fun-

ções criativas e executivas na história da arte, do cinema e do design, mas elas foram pouco lem-

Mulheres sempre existiram cumprindo funções criativas e executivas na história, mas sempre foram pouco lembradas ou mesmo apagadas dos livros. 147

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&DESIGN :: POSTER DE CINEMA

bradas ou mesmo apagadas dos livros. No design, podemos nos recordar de mulheres como Hannah Hoch, do movimento dadaísta, e Anni Albers, formada na Bauhaus e especializada em design têxtil. Enquanto Jacqueline Casey, Rosmarie Tissi e Paula Scher foram de suma importância para o design de cartazes para escolas, centros culturais e empresas. Lygia Pape teve trabalhos em colaboração com Geraldo de Barros. Ela criou imagens para os filmes do Cinema Novo em xilogravura. Atualmente, no Brasil, a pernambucana Clara Moreira é a artista que realiza cartazes para os filmes de Kleber Mendonça, como Bacurau, O Som ao Redor e Recife Frio. Outros trabalhos de destaque dela, com outros cineastas, são Como Punhos Cerrados, de Pretti e Parente, e Ela Volta na Quinta, de André Novais Oliveira.

DESIGN COMENTADO

&Design selecionou cinco cartazes, de diferentes artistas e épocas, para a professora Maya Guizzo analisar.

BACURAU KLEBER MENDONÇA FILHO E JULIANO DORNELLES, 2019. DESIGNER: CLARA MOREIRA

Linguagem digital, pós-produção presente nos cartazes da atualidade, mas de forma minimalista. Usa foto no fundo neutro, escuro, para dar destaque a um elemento em primeiro plano. O pássaro no ar parece prestes a atacar um inseto. Há algo que vai atacar ou que resiste, que aparenta terror e beleza ao mesmo tempo.

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL GLAUBER ROCHA, 1964. DESIGNER: ROGÉRIO DUARTE

Reflete um período de experimentações nas artes gráficas, com a sobreposição de mesmos elementos (o sol) com transparência, uso de cores inusitadas (amarelo e magenta), raios que rotacionam, com sobreposição tipográfica.

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Panteras Negras: originalmente denominado Partido Pantera Negra para Auto-defesa foi uma organização urbana socialista revolucionária fundada por Bobby Seale e Huey Newton em outubro de 1966.

UM CORPO QUE CAI ALFRED HITCHCOCK, 1958. DESIGNER: SAUL BASS

Tipografias vernaculares, feitas à mão. Há uma síntese gráfica, que não se apoia literalmente na cena do filme, mas traduz de forma simbólica a vertigem do protagonista. O círculo que o envolve na queda tem forma hipnótica: é um túnel e, ao mesmo tempo, um olho.

DESTACAMENTO BLOOD SPIKE LEE, 2020. DESIGNER: EMORY DOUGLAS

Maior designer, diretor criativo e ilustrador negro, Douglas foi fundamental para a propaganda do partido dos Panteras Negras nos anos 1960. Sua estética se tornou uma ferramenta política ao criar os cartazes e os periódicos do movimento. Lee o convidou a recriar um de seus cartazes como o pôster do filme.

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&DESIGN :: ARTE

O RETORNO DA

RELÍQUIA De bailarina a empresária de sucesso: Gisele Schwartsbund redescobriu a obra de Sergio Rodrigues e apresentou seu nome ao mundo – e ao Brasil! POR SIMONE RAITZIK

Até os 36 anos, Gisele Schwartsbund definia sua ocupação como “dançarina”. Articulada e comunicativa, flanava pela cena cultural entre Rio e São Paulo, criando coreografias para o teatro, em parcerias de sucesso com dramaturgos e atores de peso. “Essa experiência intensa nos palcos me fez ter uma cabeça aberta e pouco convencional. O problema é que esse universo é instável financeiramente. Quando veio o governo Collor, no início da década de 1990, fiquei um longo período sem trabalhar. Foi bem complicado e percebi que precisava de opções”, lembra.

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O plano B se materializou quando se viu como representante de móveis, ramo que conhecia bem, já que o pai era dono da Decormade, uma loja de mobiliário, em Curitiba, sua cidade natal. Apesar de mais “concreto”, como ela definia seu novo trabalho, nem tudo foi fácil: muitos clientes atrasavam pagamentos, e as cobranças frequentes eram um desgaste. “Pelo menos percebi que gostava de design. Era curiosa, intuitiva, e isso me fazia seguir em frente”, afirma. A oportunidade da virada apareceu há exatos 23 anos (Gisele tinha 43), quando visitou uma exposição sobre a história das cadeiras brasileiras em um shopping carioca e se deparou com uma Poltrona Mole, de Sergio Rodrigues – na época, fora do mercado e considerada uma relíquia. “Olhei para aquele móvel lindo e pensei: ‘Por que ele não está sendo produzido agora?’.” Sem perder tempo, foi procurá-lo e propôs colocar a peça em linha. Um revival do design modernista. Ele, sempre simpático e bonachão, achou a ideia ótima, mas admitiu que quem fechava qualquer negócio na família era sua esposa, Vera Beatriz. “Não é que caímos nas graças uma da outra? Propus fazer um protótipo sem mudar a técnica, mantendo a forma original, o que ninguém antes achava viável porque os encaixes são artesanais e trabalhosos. Ela aprovou, confiou no meu comprometimento e fui à luta”, revela Gisele, que vendeu o apartamento que tinha no Vidigal, no Rio, para dar início à empreitada.

A parceria com o arquiteto e a criação da LinBrasil – sua fábrica, sediada em Curitiba – nascem nesse exato momento, com a proposta de produzir e comercializar, nacional e internacionalmente, 34 modelos com a assinatura de Sergio Rodrigues, até 2033. “No início, enfrentei vários desafios e certo preconceito, porque muitos arquitetos diziam que a Mole tinha ‘teia de aranha e cara de museu’. Vendia pouco e somente para lojas bacanas. Não tinha uma produção significativa”, revela. Em 2007, Gisele, sempre intuitiva e corajosa, investiu tudo o que tinha e levou as cadeiras para a Feira de Design de Milão. “Ali fomos descobertos pela imprensa e pelo mercado internacionais.” Na volta, viu sua produção crescer para cerca de 4 mil peças por ano e ganhar o mundo, com vendas para Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália e Japão, entre outros países. “Só aí o Brasil voltou a descobrir e valorizar o traço moderno e genial de Sergio”, comenta. Hoje, com a LinBrasil dando certo, Gisele leva uma vida mais tranquila. “Moro em Curitiba. Aqui a vida é simples, o que me faz bem. Estou perto dos produtores, tem mão de obra especializada e a logística é perfeita”, conta a empresária, adepta do “slow marketing”. “Não forço a barra, não fico atrás de arquitetos, não faço lobby. Tive a paciência de esperar que o mercado reconhecesse o quanto Sergio era maravilhoso. Não é que deu certo?”, arremata ela, que infelizmente não dança mais por causa de três hérnias de disco.

©FOTOS: LETÍCIA AKEMI PARA GP HAUS

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Gisele em seu apartamento em Curitiba, onde leva uma vida leve.

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&DESIGN ::

DECORAÇÃO

ALEGRIA, ALEGRIA Com um estilo que celebra o artesanal, a cor e a valorização do produto brasileiro, a designer Isabela Capeto é dona de uma personalidade forte e alegre. Suas peças são como obras de arte feitas à mão, com bordados e aplicações que tornam cada criação exclusiva. POR SIMONE RAITZIK

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&DESIGN :: DECORAÇÃO

Isabela Capeto fala rápido, gesticulando, e transmite uma vibração contagiante quando revela seu processo criativo, nada convencional. A paisagem e as construções típicas do Cariri, no Ceará, os personagens das ruas do Rio, a paisagem estonteante da Baía de Guanabara emoldurada na janela e, acima de tudo, as artes plásticas são referências frequentes em suas coleções, que, assim como ela, não seguem moda ou tendência. São peças carregadas de brasilidade, de uma profunda pesquisa estética e da valorização do artesanal, do bordado, das estampas exclusivas. “Sigo na contramão da linguagem sexy. Minha praia é a mulher romântica, mas nem por isso menos sensual”, avisa ela. “Não paro. Entro de cabeça em tudo o que me envolvo”, admite. Essa não-acomodação a levou longe: desde o curso de moda, em Florença, Itália, nos anos 1990, até as prateleiras de dezenas de lojas badaladas mundo afora. Hoje, depois de vender e recomprar sua marca (do grupo InBrands), abrir e fechar lojas no Rio de Janeiro e em São Paulo e ter enfrentado um incêndio de grandes proporções no antigo ateliê, ela se diz mais madura, feliz de conquistar a independência criativa, mas sem perder o frescor e a energia de antigamente. “Sou fascinada pelo processo de me reinventar. Isso traz um prazer enorme, como um desafio que sacode a vida e não deixa nada no lugar”, diz ela, que atualmente aten-

de clientes e desenvolve suas coleções em um showroom em Botafogo, na capital fluminense, e comercializa as peças em multimarcas (Pinga Store) e online para todo o Brasil. “Ainda não voltei para o mercado internacional desde que recuperei a marca, em 2011, mas aguardem. Vai chegar a hora”, pontua. Quase tudo que cerca Isabela reflete esse seu estilo irreverente e inquieto de ser. A começar pela arrumação de sua casa, cujos móveis e objetos ganham sempre novas roupagens e cores fortes. Parte desse seu interesse pelo universo de decoração deságua nas parcerias que desenvolve com várias marcas. Recentemente, ela criou padronagens para uma coleção de porcelanatos da Ceusa – são três linhas e em todas o mix de tons vibrantes se destaca. “A inspiração veio de imagens que eu trouxe de uma viagem recente ao Cariri, no Ceará. Pesquisei também antigos desenhos de azulejos hidráulicos e acrescentei recordações de ambientes da minha infância, permeadas de memória afetiva”, explica ela, admitindo que produzir em collabs é um exercício que a desafia. “Sou adepta do design democrático Decoradora buscou inspiração em viagem ao Ceará e em recordações de sua infância para produzir coleção de porcelanato para a Ceusa

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e acessível. A pessoa pode não comprar uma roupa Isabela Capeto, mas consegue uma sandália de plástico assinada por mim ou até uma sacola de supermercado estampada com o meu traço. Essa versatilidade de universos me encanta”, revela. O mesmo dom da criação e a paixão pela moda, Isabela transmitiu para a filha de 23 anos, Francisca, a Chica Capeto, formada em design. Em sintonia, mãe e filha apostam no artesanal, no bordado, nas estampas exclusivas, na irreverência com pitadas de romantismo. “Brinco que, para usar uma roupa da Isabela Capeto, tem que ter atitude. São criações que não somem na multidão. Minha última coleção foi inspirada nas PANCs, plantas comestíveis, com muitos modelos e uma paleta bem colorida. Agora estou desenvolvendo a que traz estampas que revelam o que chamo de Meu Rio, com personagens e paisagens marcantes da cidade em que vivo e amo”, conta ela. ©FOTOS: ANDRE NAZARETH

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Porcelanato da Ceusa com mix de cores vibrantes desenvolvido por Isabela.

Em geral, Isabela lança novidades para sua marca apenas uma vez por ano porque o envolvimento e o processo são intensos. “A sorte é que minhas roupas são atemporais, não perdem o frescor”, comemora a estilista, que acaba de completar meio século de vida com um recado: “Não virei careta. Sinto uma força e uma potência que me posicionam no mundo. E a liberdade de fazer o que eu bem entender”.

Veja mais sobre o trabalho da designer acessando o QRCode.

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&DESIGN :: MEMÓRIA DO DESIGN BRASILEIRO

MEMÓRIA DO DESIGN Pioneira no universo do design e da arquitetura de interiores no Brasil, a revista Design & Interiores marcou época com profissionais que usavam o design como ferramenta na criação da identidade de marca. POR JOICE JOPPERT LEAL

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Muito antes do surgimento das redes sociais e dos influencers, e a consequente pulverização da informação em todas as áreas na atualidade, o design ganhou uma publicação pioneira: a revista Design & Interiores. O magazine surgiu em junho de 1987, como um suplemento mensal encartado na edição 100 da revista Projeto. O cenário brasileiro dessa época era marcado pelos 25 anos da fundação da Esdi (Escola Superior de Design Industrial), o novato Prêmio Museu da Casa Brasileira, que estava em sua segunda edição, e a atuação pioneira do Núcleo de Desenho Industrial (NDI), que, desde a criação pelo empresário José Mindlin, me convidou para ser curadora e, posteriormente, diretora executiva do então Departamento de Tecnologia da Fiesp, mantendo parcerias e convênios com instituições importantes que tinham como objetivo estimular e melhorar a qualidade do design nacional. À frente da empreitada da D&I estava o jornalista Vicente Wissenbach, o precursor de publicações especializadas em arquitetura. Primeiro com o Jornal Arquiteto e depois com a revista Projeto, periódico que se mantém até hoje como um dos mais importantes na América Latina, ao se firmar como registro histórico e de divulgação da produção arquitetônica nacional. “Como jornalista, sempre tive um contato muito grande com o IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil). No início dos anos 1970, as entidades de classe expressavam o pensamento da sociedade civil e desempenharam um papel político muito importante na luta pela redemocratização do país. Defendiam também a maior participação dos arquitetos no planejamento urbano. Além disso, por ser cunhado do arquiteto Alfredo Paesani, sempre convivi com muitos arquitetos, entre os quais João Batista Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha”, lembra Wissenbach. ©ILUSTRAÇÕES: LUISA GRIGOLETTO

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Com essa bagagem, o jornalista fundou a Design & Interiores: a primeira revista brasileira especializada em design de produto e arquitetura de interiores, seguindo o modelo americano e europeu. “Na época, pretendíamos mostrar o que se faz de melhor aqui e no exterior na área do design industrial. De maneira sempre atualizada, acompanhando os avanços tecnológicos, as novas tendências e com o propósito firme de valorizar os profissionais do setor, mostrando como o design ajuda as empresas a vender e vencer. E também revelando a contribuição do design para o bem-estar das pessoas, livrando-se do estigma de mera maquiagem e coisa de elite. A revista D&I apoiou o design na conquista de seu espaço definitivo na cultura brasileira”, recorda-se. Wissenbach convidou o jornalista Júlio Moreno para o posto de editor-executivo. “Na época, dividia meu tempo entre as redações da revista e do Jornal da Tarde. Como editor da revista, tenho orgulho da entrevista que fiz, no Rio de Janeiro, com o designer Sergio Rodrigues. Estava acompanhado pela jornalista Lenita Outsuka, redatora da D&I. Mesmo experientes, mas sabendo da importância dele, estávamos receosos, com certo nervosismo. Ele foi fantástico com sua acolhida e logo nos conquistou”, conta o jornalista. Depois que Júlio Moreno, a revista teve como editoras Lenita Outsuka e Adélia Borges, que ficou no cargo até 1994, quando a publicação foi descontinuada. Ao longo de sua trajetória de pioneirismo, a D&I contou com a colaboração de outros nomes importantes em sua redação, como João Carrascosa, Claudia Ribeiro Ferraz e Marili Brandão, além de colaboradores de peso, como Lêda Brandão de Oliveira, Alessandro Ventura, Güinter Parschalk, Alexandre Wolner e Luiz Cruz. Em suas páginas, os brasileiros descobriam nomes de designers surgidos no cenário nacional, como Fulvio Nanni, Carlos Motta, Osvaldo Mellone, Paulo Segal, Denise Milan, Márcio Colaferro, Adriana Adams, Gilberto Franco, Esther Stiller, Luciano Devià, Gilberto Pacheco, Ari Beraldin e Rodolfo Scarpa, entre outros talentos.

Joyce Joppert Leal fundadora e diretora executiva da Associação Objeto Brasil e do Instituto Brasil Criativo.

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PONTO DE ENCONTRO

Banco Trianon de Nadezhda e Paulo Mendes da Rocha, inspirado na avenida Paulista. Feito de aço carbono com dez assentos articulados. FOTO ROMULO FIALDINI

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&DESIGN :: CRÔNICA

TECELÃO DA NATUREZA POR B. GAUVAIN

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Faz alguns anos, cientistas concluíram que os pássaros não constroem ninhos por instinto, mas por aprendizado. Significa que, se a construção fosse baseada apenas na herança genética das aves, todas construiriam seu ninho da mesma forma, o que não ocorre: algumas começam a fabricação do ninho pelo lado direito, enquanto outras pelo lado esquerdo. As menos experientes derrubam muitas folhas na confecção, ao contrário das “seniores”, cujo desperdício de material tende a não ocorrer. O estudo, que foi publicado no periódico Behavioural Processes em 2016, teve como base a observação de um dos maiores “designers” da natureza, o tecelão – no caso, o tecelão-mascarado-do-sul, nativo da Botsuana. Existem várias famílias desses pássaros espalhadas pelo mundo, mas a forma como eles “tecem” os ninhos (daí o nome da espécie) é sempre surpreendente. Na pesquisa, a espécie analisada, Euplectes afer, constrói ninhos com fibras vegetais bem verdinhas. A ave trança o material de modo impecável até formar uma bolsa, que protegerá os seus ovos. Olhando com meus olhos humanos para esse feito da natureza, lembro-me de um objeto habitual do nosso cotidiano: a deliciosa cadeira de balanço suspensa, que, como um ninho, acolherá quem precisa de repouso. Já os ninhos dos tecelões brasileiros, da espécie Cacicus chrysopterus, são uma bolsa tal qual a entendemos: com uma grande alça sus© ILUSTRAÇÃO: LUISA GRIGOLETTO

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pensa em um galho isolado de uma árvore, cujo caimento varia de acordo com a experiência do tecelão. O material usado é uma crina vegetal muito fina, geralmente, de cor escura, que ao ser entrelaçada ganha o aspecto de rede, pela delicadeza e graciosidade de como se sustenta. Se os tecelões tecem, há aves que costuram, colam, esculpem e escavam seus ninhos. O joão-de-barro, por exemplo, esculpe sua casa com barro e palha em lugares altos, como árvores e postes. Feito pelo casal, o ninho, em formato esférico, tem dois cômodos: um “hall” de entrada e um “quarto”, onde há um “leito”, com penas, pelos e musgos para acomodar os ovos e os filhotes. Grandes engenheiros, não é mesmo? Mestre do design de interiores, o pássaro-cetim cria um cenário espetacular para o acasalamento com galhos, sementes, folhas e qualquer outro objeto interessante. Prezando pelo bom gosto, o bichinho monta o palco, onde se exibirá para a fêmea, e ao seu lado constrói a “cama” do casal – que lembra muito uma cama dossel. Se a fêmea aprovar a decoração, ponto para o macho! A conclusão da pesquisa científica sobre o ninho das aves me traz satisfação. Ter a certeza de que nenhum ninho é igual a outro, ainda que feito por pássaros da mesma espécie, que estão a aperfeiçoar suas habilidades de acordo com a experiência, é algo valioso para a vida: a prova de que estamos sempre a aprender e a evoluir. 161

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&DESIGN :: FOTOLEGENDA

Exposição "Amazônia" idealizada pela curadora Lélia Wanick Salgado no Sesc Pompéia até 31 de Julho.

SEBASTIÃO SALGADO Monte Roraima. Fronteira Brasil e Guiana. Parque Nacional do Monte Roraima. Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Estado de Roraima, 2018.

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Foto: Victor Af faro

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