Amplitude - Arte - 9

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Maria Helena Webster (Coord.)

Auber Bettinelli

Camila Carrascoza Bomfim

Dafne Sense Michellepis

Stella Ramos

Tiago Luz de Oliveira

Ensino Fundamental – Anos Finais

Componente curricular: Arte

ARTE MATERIALDEDIVULGAÇÃO •VERSÃOSUBMETIDAÀAVALIAÇÃO PNLD2024•OBJETO1CÓDIGODACOLEÇÃO 0062P240100200060

Maria Helena Webster (Coordenação)

• Especialista em História da Arte pela Universidade de Caxias do Sul (UCS)

• Graduada em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

• Coordenadora de livros didáticos de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio

• Formadora de coordenadores e professores em Arte

• Autora de livros dirigidos aos professores de Educação Infantil

• Idealizadora e autora de conteúdo de site de Educação Infantil

Auber Bettinelli

• Formado em Desenho Industrial com habilitação em Programação Visual pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

• Ator e criador de ações artísticas que mesclam teatro, performance, literatura e educação em trabalhos coletivos

• Arte-educador que pesquisa mediação em espaços de educação não formal

• Autor, pesquisador, formador e coordenador de projetos em Educação e Arte-Cultura

• Autor de livro didático para o Ensino Fundamental (Anos Finais) e Ensino Médio

• Desenvolvedor de materiais e jogos educativos

Camila Carrascoza Bomfim

• Mestre e doutora em Música pela Universidade Estadual Paulista (Unesp)

• Formada em Contrabaixo pela Faculdade de Artes Alcântara Machado (Faam)

• Professora de História da Música e Teoria Musical

• Autora de livro didático para o Ensino Fundamental (Anos Finais)

• Autora de artigos e capítulos de livros de Educação Musical e Musicologia

• Pesquisadora da área de Musicologia

• Contrabaixista

Dafne Sense Michellepis

• Formada em Dança pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

• Licenciada em Pedagogia pela Faculdade Alfa América

• Certificada pelo San Francisco International Orff Course (SFORFF)

• Artista de dança, pesquisadora e arte-educadora

• Professora especialista de dança no ensino formal

• Mediadora em cursos de extensão sobre corpo e movimento na educação

Stella Ramos

• Formada em Educação Artística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

• Pesquisadora, formadora, mediadora e coordenadora de projetos em Educação e Arte/Cultura

• Desenvolvedora de materiais e jogos educativos para instituições culturais

• Autora e coautora de ações artísticas que mesclam poesia e artes visuais

• Pesquisadora e arte-educadora em artes visuais

• Autora de livros didáticos para o Ensino Fundamental (Anos Finais) e o Ensino Médio

• Autora de disciplina sobre artes híbridas e escola contemporânea em curso de formação a distância para professores de Arte

Tiago

Luz

de Oliveira

• Formado em Direção Teatral pela Escola de Comunicações e Artes da USP

• Mestre em Artes Cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da USP

• Criador, mediador e performer de ações artísticas que mesclam teatro, literatura e educação em espaços expositivos

• Autor de livro didático para o Ensino Fundamental (Anos Finais)

• Pesquisador e arte-educador em teatro em espaços culturais

ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS

COMPONENTE CURRICULAR ARTE

MANUAL DO PROFESSOR

1a edição São Paulo, 2022

9

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Amplitude : arte, 9 : ensino fundamental : anos finais / Auber Bettinelli...[et al.] ; Maria Helena Webster (coordenação). -- 1. ed. -São Paulo : Editora do Brasil, 2022. -(Amplitude arte)

Outros autores: Camila Carrascoza Bomfim, Dafne Sense Michellepis, Stella Ramos, Tiago Luz de Oliveira

ISBN 978-85-10-09351-4 (aluno)

ISBN 978-85-10-09349-1 (professor)

1. Arte (Ensino fundamental) I. Bettinelli, Auber.

II. Bomfim, Camila Carrascoza. III. Michellepis, Dafne Sense. IV. Ramos, Stella. V. Oliveira, Tiago Luz de. VI. Webster, Maria Helena. VII. Série.

22-113220

CDD-372.5

Índices para catálogo sistemático:

1. Arte : Ensino fundamental 372.5 Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

© Editora do Brasil S.A., 2022

Todos os direitos reservados

Direção-geral: Vicente Tortamano Avanso

Diretoria editorial: Felipe Ramos Poletti

Gerência editorial de conteúdo didático: Erika Caldin

Gerência editorial de produção e design: Ulisses Pires

Supervisão de design: Dea Melo

Supervisão de arte: Abdonildo José de Lima Santos

Supervisão de revisão: Elaine Silva

Supervisão de iconografia: Léo Burgos

Supervisão de digital: Priscila Hernandez

Supervisão de controle de processos editoriais: Roseli Said

Supervisão de direitos autorais: Marilisa Bertolone Mendes

Apoio editorial: Ana Paula Fernandes

Leitura crítica: Gustavo Motta

Edição: Bruno Freitas, Karen Suguira e Mariana Tomadossi

Assistência editorial: Nathália Senne

Revisão: Amanda Cabral, Andréia Andrade, Fernanda Sanchez, Gabriel Ornelas, Giovana Sanches, Jonathan Busato, Júlia Castello Branco, Luiza Luchini, Maisa Akazawa, Mariana Paixão, Martin Gonçalves, Rita Costa, Rosani Andreani e Sandra Fernandes

Pesquisa iconográfica: Daniel Andrade e Marcia Sato

Tratamento de imagens: Robson Mereu

Projeto gráfico: APIS design e Talita Lima

Capa: Estúdio Siamo

Imagem de capa: Vitalii Gulenok/iStockphoto.com e Zyabich/Shutterstock.com

Edição de arte: Josiane Batista

Ilustrações: Caio Boracini, Luciano Tasso e Reinaldo Vignati

Editoração eletrônica: Ab Aeterno

Licenciamentos de textos: Cinthya Utiyama, Jennifer Xavier, Paula Harue Tozaki e Renata Garbellini

Controle de processos editoriais: Bruna Alves, Julia do Nascimento, Rita Poliane, Terezinha de Fátima Oliveira e Valeria Alves

1a edição, 2022

Rua Conselheiro Nébias, 887

São Paulo/SP – CEP 01203-001

Fone: +55 11 3226-0211

www.editoradobrasil.com.br

Olá professor, olá professora!

Bem-vindo a uma jornada de múltiplos caminhos pelas linguagens artísticas.

Partindo do conceito de Educação Integral, convidamos você a um percurso educativo vinculado ao amplo conjunto de ações que considera a singularidade dos sujeitos e o desenvolvimento da autonomia por meio de construções na escola, na família e na sociedade.

Queremos caminhar juntos, construindo sentidos coletivamente e criando possibilidades de conexão entre as linguagens de diferentes épocas e matrizes culturais. Os percursos não estão determinados por uma cronologia linear, mas por temas. Dessa forma, o estudante pode, aos poucos, amadurecer como vai relacionar sua realidade com diferentes contextos históricos.

Nos quatro volumes são trabalhados os elementos das linguagens. No 6o ano o foco está no corpo, já no 7o ano o trabalho se desenvolve a partir dos signos e símbolos. Conceitos relacionados ao território são enfatizados no 8o ano, e no 9o ano, por fim, as questões sobre as técnicas e tecnologias ganham ainda mais espaço.

Buscamos, ainda, manter um diálogo constante com você, pontuando a coleção com orientações que auxiliam na compreensão das propostas apresentadas. Assim, procuramos também fortalecer seu papel de mediador e articulador para fomentar nos estudantes a experimentação e a busca da expressividade artística.

Ao sugerir caminhos que podem ser livremente percorridos, acreditamos contribuir para a ampliação do ambiente dialógico entre professores e estudantes.

Boa caminhada!

Os autores

IV Caminhos da arte: aprendizagem e ampliação V Sentidos em construção VI Construindo caminhos pedagógicos VIII O papel do professor na criação conjunta IX A cultura de paz e o combate ao bullying XI Saúde mental XI Formação de repertório XII Um processo constante XII Conexões e interdisciplinaridade XIV O processo avaliativo XV Avaliação diagnóstica XV Avaliação formativa ou processual XV Avaliação de resultados XVI Percursos em transformação XVI Pressupostos teórico-metodológicos XVII Estrutura e organização da coleção XXI A coleção e sua metodologia XXII A coleção e sua progressão XXIII As competências e habilidades da BNCC XXVII Práticas de pesquisa .............................................................................................................................................................................. XXXI Pensar digital XXXIII Os desafios digitais XXXIII E na sala de aula? XXXIV Temas Contemporâneos Transversais XXXVI Plano de desenvolvimento anual XXXVII Quadro de conteúdos XXXVIII Referências comentadas XLVI

Caminhos da arte: aprendizagem e ampliação

Uma das transições mais significativas na vida de uma pessoa é a da infância para a adolescência, momento em que, na escola, os estudantes vivenciam diversos desafios, desde os individuais, como o desenvolvimento da própria cognição, aos coletivos, envolvendo questões comportamentais e até mesmo organizacionais, quando passam a ter contato com maior número de professores, por exemplo.

No Ensino Fundamental – Anos Iniciais, o estudante vivenciou o estudo da Arte por meio de diferentes experimentações em processos criativos, que permitiram a apropriação dos elementos constitutivos das linguagens das artes em diferentes materialidades. Naquele percurso, ele foi convidado a observar diversas manifestações culturais e incentivado a pensar criticamente sobre elas, para sensibilizar-se na apreciação de seu próprio caminho em direção ao processo de criação. A curiosidade, presente desde a primeira infância, ganhou mais autonomia, tornando-se elemento motivador para investigações e pesquisas cotidianas, com o principal intuito de descobrir sobre si mesmo, sobre o outro e sobre o espaço que ocupa.

A chegada no Ensino Fundamental – Anos Finais, por sua vez, representa a consolidação dessa autonomia que, além de promover descobertas, passa a fazer com que o estudante seja capaz de propor, criar e transformar habilidades fundamentais para o seu desenvolvimento no estudo de Arte.

É importante considerar, como professor, que as fases de desenvolvimento se diferenciam dentro da mesma etapa. A chegada do estudante ao 6o ano representa a entrada em um universo ainda mais plural, no qual o reconhecimento do espaço, das linguagens e do comportamento do grupo é fundamental para a construção da identidade e da sensibilidade.

Nos anos seguintes, as vivências se intensificam, assim como a atuação no contexto em que se vive, ao mesmo tempo em que ocorre o estabelecimento dos papéis individuais dentro dos grupos de pertencimento. A apropriação das linguagens artísticas já indica preferências, gostos e estilos que impactarão, por sua vez, suas interações com o espaço.

A progressão no desenvolvimento das linguagens artísticas – que terão continuidade no Ensino Médio, quando as expectativas estarão centradas no estudante protagonista, tanto na criação quanto na apreciação da Arte – está intimamente relacionada à forma como elas são apresentadas, propostas e desenvolvidas nos Anos Finais. Assim, olhar para o planejamento, à luz da realidade e interesse de cada estudante, poderá favorecer seu envolvimento com a arte na atualidade e a continuidade desse envolvimento em diferentes momentos da vida.

Diante disso, os livros desta coleção estão organizados com o objetivo de contemplar todas as mudanças pelas quais os estudantes passam, além de permitir que desenvolvam a compreensão dos pontos significativos da arte em suas quatro linguagens – Artes Visuais, Dança, Música e Teatro – e de seu desenvolvimento como forma de expressão em diferentes épocas.

O foco principal de abordagem está nos novos percursos e conexões na arte contemporânea, pois a partir dessa perspectiva é possível ampliar as possibilidades de expressão dos estudantes como criadores em potencial, exercitando a crítica, a autonomia e o protagonismo. A abordagem de tópicos, conceitos e outros se dá em espiral, buscando que todos possam vivenciar esses aspectos em diferentes momentos, oportunizando uma progressiva maturidade dos estudantes.

Com isso, a organização da coleção possibilita, nos livros do 6º e 7º anos, o contato com os elementos básicos constitutivos de cada uma das quatro linguagens da Arte, abordando a importância do corpo como meio expressivo nas diferentes camadas simbólicas das obras de artes visuais e de espetáculos de teatro, dança e música. No 8º ano, o estudante pode experimentar os inúmeros espaços nos quais a arte se expressa – tanto os físicos quanto os simbólicos –, compreendendo que a arte pode estar presente em todos os lugares. Por fim, no 9º ano, já se preparando para o Ensino Médio, ele amplia suas possibilidades de expressão por meio da tecnologia e do diálogo que ela propicia entre as linguagens artísticas. Neste livro, o estudante também vai conhecer as profissões e os profissionais envolvidos nas produções artísticas e audiovisuais, incluindo as quatro linguagens, suas fusões e os resultados da transdisciplinaridade.

V

Sentidos em construção

VI
Renata Lucas. Sala de aula I (onda). Cinco fotografias, dimensões variadas. São Paulo, 2005. Fotografias: Galeria Luisa Strina

A sequência de fotos que configura a obra Sala de aula, da artista Renata Lucas, pode ser interpretada como uma metáfora para as próprias situações de ensino-aprendizagem que se deseja produzir em sala de aula. Observe as imagens com atenção e verifique de que forma o seu repertório como docente é uma bagagem importante para ativar a percepção desse trabalho. A leitura dessas imagens nesse início de jornada é uma proposta prática de investigação sobre como nos relacionamos com os conteúdos das aulas de arte ou como podemos agir em relação às proposições que as manifestações artísticas podem mover em estudantes de diversas idades. Podemos iniciar essa aproximação pensando no suporte desse trabalho. O formato em que é apresentado nos instiga a questionar se a obra é a própria série de fotografias que mostra uma ideia poética ou se as imagens fotográficas são apenas registros de uma proposição artística que acontece em cinco momentos distintos. Qual das duas abordagens você acredita que seja a mais acertada para entender essa sequência de imagens?

A Arte é um campo de conhecimento que se refere a uma linguagem subjetiva e é também expressão e reflexão, pois suas criações mobilizam sensibilidades, ativam nossos sentidos e integram diferentes percepções. Sendo assim, as duas abordagens podem ser consideradas pertinentes para esse trabalho. Ao analisarmos a situação imagética apresentada na sequência de imagens, podemos atribuir à obra significados que se relacionam ao desenvolvimento de atividades com estudantes. O modo como essa onda se forma até quebrar e se espalhar nos remete às dinâmicas que pretendemos explorar ao longo do ano letivo. Renata interfere graficamente sobre a imagem, movendo as carteiras de lugar enquanto altera os desenhos dos tampos das carteiras e da lousa. Ao realizar essa ação, a artista usa uma imagem bastante conhecida na história da Arte (A grande onda de Kanagawa, do artista japonês Katsushika Hokusai, elaborada em 1831), dividindo a representação da onda em várias partes e distribuindo-a sobre a superfície das carteiras. O movimento que percebemos entre uma e outra fotografia também sugere o movimento do mar e, somado aos elementos comuns às salas de aula, nos provoca a refletir.

Ao observar atentamente, podemos perceber que tudo o que acontece na lousa não está isolado nem começa apenas nela. A grande onda que se destaca nessa área – para onde geralmente convertemos nossa atenção – é também formada na superfície das carteiras distribuídas pela sala. Seu ápice acontece, justamente, com a aproximação de todos os elementos que ocupam esse espaço. Ao se desmanchar, a mesma onda se dilui por entre as carteiras que novamente se dispersam e abrem espaços entre si. Você acrescentaria algum detalhe a essa descrição? Como ela espelha uma visão sobre educação? Por uma perspectiva contemporânea, como educadores em prática de ensino de arte, podemos compreender essa imagem para além de seu sentido poético, mas também como uma representação de como podemos abordar temas e experimentos com as linguagens da Arte em sala de aula. Ao possibilitar que os conhecimentos sejam construídos em conjunto da turma, a docência deixa de ser uma ação de exposição e explicação de conteúdo. Levando-se em conta os repertórios de seus estudantes, a sala de aula se transforma em um local de participação e protagonismo, que vai refletir e amplificar tais experiências para além da escola, em aprendizagens que repercutem pela vida, como as águas que se espalham na última imagem da sequência, para em seguida formarem uma nova onda em movimentos cíclicos contínuos.

VII

Construindo caminhos pedagógicos

O título que Renata Lucas dá para as cinco imagens é revelador e possibilita uma leitura que reflete a dinâmica em sala de aula. No contexto dessa coleção, essa imagem proporciona pensar a intrínseca relação entre o planejamento pedagógico do professor, o desenvolvimento em conjunto dos estudantes e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento singular e a busca de novos caminhos a partir da proposta de imersão em temas e conteúdos da Arte.

Criar essa relação é o desafio das escolas. A transmissão tradicional e hierárquica do desenvolvimento da arte não mais corresponde às expectativas do estudante. Propomos, assim, um caminho que pode ser realizado em conjunto, mas resguardando as singularidades presentes na sala de aula. Em outras palavras, estamos falando do ensino por projeto.

Se buscarmos a palavra “projeto” nos dicionários, encontraremos um significado relativo tanto ao que se projeta, ou seja, o que é proposto (ou planejado para ser realizado), quanto aos caminhos possíveis de serem percorridos para concretizar um objetivo. Esse movimento abre novos caminhos com muitas possibilidades de construção a partir de um tema comum, que desperta diferentes interesses e preocupações.

A mudança aqui está na transformação de um planejamento metodológico, que antes seguia um método preestabelecido para chegar a um objetivo (com acordos rígidos que apontavam apenas um caminho), em uma proposta com potencial de pesquisa e investigação por diferentes abordagens.

Esse processo é iniciado com a escuta de como os estudantes percebem e se posicionam em relação ao que é proposto. Essa primeira ação rompe com a “velha” proposta de o professor chegar com os conteúdos planejados definidos, sem propostas de diálogo sobre eles.

Possibilitar ao estudante que perceba o significado de um conteúdo pressupõe um momento inicial para escuta e diálogo, com tempo apropriado para a elaboração de processos de investigação e pesquisa a partir de um ponto de vista, além do desenvolvimento propriamente dito. Essas são ações de um percurso que proporcionam aprendizagens novas e valorizam o protagonismo do estudante por meio de descobertas coletivas, experimentações, produções e criações em arte, gerando novos conhecimentos.

Mas onde está o espaço para o desenvolvimento de uma proposta em projeto? No desenvolvimento de um projeto existem diferentes macroações: a discussão e a troca; o diálogo e a criação; e as investigações e as pesquisas. Assim, a sala de aula se transforma no lugar onde o compartilhar e o construir coletivamente acontecem. Com isso, as investigações e as pesquisas são desenvolvidas a partir do envolvimento dos estudantes e seus planos de investigação e testagem.

Projetos em Arte são propostas que partem de uma questão ou situação-problema e sempre têm dois objetivos: primeiro, obter uma produção final; segundo, permitir o expressar-se e revelar a aprendizagem desenvolvida a partir de uma ideia, um tema que vai orientar e dar sentido às ações desencadeadas, abrindo possibilidades para expressões singulares. Esses dois resultados ocorrem por contar com “a cumplicidade e o espaço” construído entre os estudantes e entre os estudantes e o professor, provocando o surgimento de um ambiente de trabalho que permite o desenvolvimento das competências gerais 2 – relacionada ao pensamento científico, crítico e criativo – e 3 – relacionada ao repertório cultural, a partir do qual o estudante tem a oportunidade de resgatar sua trajetória construída na formação cultural da família, no contexto onde vive e em sua formação escolar. A soma dessas competências, em cada estudante, contribui para a identificação de habilidades e percepção de uma aprendizagem nova.

Para efetivar a aprendizagem, é necessária sinergia entre o desenrolar do trabalho e a ação da escuta inicial, quando todos se colocaram. Nesse modelo, as decisões de cada etapa devem ser partilhadas entre professor e estudantes, registrando caminhos percorridos, incertezas e experiências, bem como o que foi realizado no projeto inicial.

VIII
Monkey Business Images/Shutterstock.com

O papel do professor na criação conjunta

O convite ao estudante, para passar de observador à protagonista, encontra eco em muitas formas de expressão da arte contemporânea. Viver os acontecimentos de sua época permite estabelecer elos que vão reforçar a aprendizagem e trazer mais sentido para o que está sendo vivenciado. Diferentemente dos movimentos anteriores de Arte, a arte contemporânea está ancorada na singularidade de investigações e questionamentos, o que permite ampliar a reflexão propiciada pela experimentação na produção do artista e na participação do público. Refletir sobre o processo de ensinar e aprender Arte nesse novo contexto abre a possibilidade para que o professor possa atuar como mediador, não no sentido passivo de acalmar uma ou outra situação de conflito, mas no seu oposto, como provocador e questionador, promovendo investigações e reflexões entre o estudante e seu aprendizado. O estudante, ao ser incentivado a aprender como investigador autônomo, numa dinâmica rica e complementar, pode desenvolver:

• sua base, construída pelos inúmeros diálogos e processos de criação propiciados pelo acesso a diferentes linguagens da Arte;

• a construção de um repertório próprio, criado pela apreciação e fruição de manifestações artísticas e pelo estímulo à participação, afastando-o da posição de observador passivo. Para contribuir efetivamente, no entanto, é preciso lembrar de vetores que sempre estiveram presentes e atravessam a relação com os estudantes – portanto, não podem ser desconsiderados: a força da comunidade onde a escola está inserida e sua diversidade sociocultural; os desafios da faixa etária em relação ao perfil singular de cada estudante; as demandas de percepção e posicionamento diante das questões geopolíticas do mundo atual, encontradas em todos os cotidianos; a presença da imaterialidade nas formas de buscar informação e conhecimento, além dos meios de filtrá-los; os avanços tecnológicos, que tornam os estudantes do século XXI atuantes na esfera digital e virtual; e a necessidade de consolidar e criar conexões com os aprendizados dos Anos Iniciais dentro das novas propostas educacionais, visando ao desenvolvimento de competências e habilidades.

Esses vetores foram ampliados com a pandemia de covid-19, o que impôs aos estudantes a vivência de um aprendizado importante para a formação deles: a capacidade de enfrentar situações com as quais não estavam acostumados. Os desafios do futuro vão demandar pessoas que saibam reagir ao inusitado e usar a criatividade na busca de soluções.

O ensino vertical, tradicionalmente, atribuía a responsabilidade do processo educacional exclusivamente ao professor, uma construção centralizada do conhecimento. Metaforicamente, podemos associar esse processo –cuja lógica linear pressupõe um vetor no qual o conhecimento parte do professor e é transmitido aos estudantes –à imagem de uma árvore, que, além do tronco, tem a raiz como elemento central de sua estrutura: pela raiz os nutrientes são absorvidos e, posteriormente, distribuídos para os galhos e folhas. Nessa visão linear, simbolicamente, a aprendizagem se dá sempre a partir da raiz, percorrendo um caminho conhecido em direção às folhas, sem possibilidade de idas e vindas, desvios ou caminhos diversos.

As demandas da atualidade têm cobrado a ampliação do planejamento docente no sentido de mudar esse cenário de via de mão única, com a proposta de um posicionamento mais horizontalizado no diálogo com os estudantes. Deleuze e Guattari descrevem essa ampliação no livro Mil platôs, no qual, ao resumir as principais características de um rizoma, explicam que

[...] diferentemente das árvores ou de suas raízes, o rizoma conecta um ponto qualquer com outro ponto qualquer e cada um de seus traços não remete necessariamente de uma mesma natureza; [...] Ele não tem começo, nem fim, mas sempre um meio pelo qual ele cresce e transborda.

(DELEUZE; GUATTARI, 2011, p. 43).

Com base na proposta desses filósofos, a educação e a elaboração de saberes foram se reconstruindo de modo aberto, possibilitando ligações entre diferentes conteúdos, que devem ser considerados de forma não centralizada e não hierárquica para garantir as múltiplas possibilidades de transitar entre vários pontos. É possível afirmar que os dois filósofos prenunciaram o trabalho em rede, hoje tão comum nas conexões do universo digital. Esse “novo pensar”, fortalecido pela internet, foi decisivo para a alteração de muitos processos no ensinar e aprender.

IX

Assim, cada vez mais, a aprendizagem tem sido um território demarcado por encontros entre pessoas, entre pessoas e ações formativas, entre pessoas e experiências vivenciadas e compartilhadas – e esses são apenas alguns exemplos. Tais encontros geram situações de entrosamento e participação, nos quais todos têm seu espaço de contribuição, reflexão, trocas e descobertas, de maneira similar às propostas de muitas obras de arte contemporâneas.

Desse modo, trabalhar o conhecimento por meio dessas relações é fomentar o protagonismo do estudante para que, imerso no mundo de informações infinitas disponíveis na rede, ele exerça um olhar panorâmico para reconhecer um foco e “navegar” por diversos territórios.

Em outras palavras, é fundamental você ter como ponto de partida a escuta dos estudantes e as propostas desenvolvidas para manter o foco no contexto da turma, além de observar como ampliar os sentidos, os processos e os impactos de suas proposições, provocando os estudantes a serem protagonistas de suas investigações e a participarem em todas as etapas. A relação é de construção conjunta, com espaço para o protagonismo do jovem nesse processo.

A BNCC coloca a importância de promover aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea. O documento enfatiza a necessidade de considerar as diferentes infâncias e juventudes, as diversas culturas juvenis e seu potencial de criar novas formas de existir.

Em um sentido mais amplo, a juventude é um momento na vida do estudante de descobertas, questionamentos e desafios em relação ao que acontece em seu entorno. Nesse contexto, ele busca se agrupar em movimentos diversificados, de modo que se sinta representado em um coletivo e com possibilidade de se localizar na sociedade. É comum escutar a expressão em relação a esses grupos e suas manifestações como “tribos” – no sentido de tribos urbanas, expressão utilizada pelo sociólogo francês Michel Maffesoli a partir de 1985, para designar microgrupos que têm como objetivo principal estabelecer redes de amigos com interesses comuns.

A pesquisadora Paula Sibilia, no livro Redes ou paredes: a escola em tempo de dispersão (2012), coloca a necessidade de uma nova forma de estabelecer acordos entre escola e estudantes, enfatizando que normas rígidas preestabelecidas não são mais eficazes:

O que se verifica nos ambientes escolares e familiares da atualidade, entretanto, é que neles já não é evidente o pleno vigor dessa norma: tornou-se necessário negociar constantemente as regras que devem imperar em cada situação. (SIBILIA, 2012, p. 96).

Essa situação expõe mais uma vez a necessidade de escutar o estudante, de dar a ele a possibilidade de se expressar, considerando, muitas vezes, esse conhecimento como o ponto de partida para a abordagem dos conteúdos presentes nos planejamentos pedagógicos, como apresentado anteriormente. O estudante traz em seu “drive” os aprendizados dos anos anteriores, as percepções do cotidiano e sua forma coletiva de desenvolver pesquisas e investigações. Trabalhar em grupos nas investigações, como no desenvolvimento dos trabalhos, no sentido coletivo, mas principalmente colaborativo, torna-se uma opção, principalmente para as turmas mais numerosas.

Uma vez que os indivíduos não aprendem da mesma forma nem desenvolvem habilidades no mesmo período de tempo, quanto maior for a turma, mais estratégias diferenciadas precisarão ser mobilizadas para atender todos estudantes e suas especificidades. Nesse sentido, é preciso propor atividades que se constituam como desafios alcançáveis e, ainda, pensar e utilizar estratégias que permitam a superação de obstáculos e o avanço nas aprendizagens. Além disso, possibilitar e incentivar a realização de atividades em sala de aula com os estudantes organizados de formas variadas (ora individualmente, ora em pequenos grupos, ora em grupos maiores) pode ser uma possibilidade interessante para dinamizar e personalizar as práticas pedagógicas de acordo com as necessidades de cada um.

Um ponto importante nessa proposta de abordagem está na provocação e no questionamento, com perguntas orientadoras, para que cada grupo de estudantes, em sala de aula, amplie suas reflexões, buscando entender o porquê das decisões e como elas serão desenvolvidas. Muitas vezes, esse diálogo, que não tem formato avaliativo, mas de estímulo, propicia descobertas de novos caminhos.

X

A cultura de paz e o combate ao bullying

Um cuidado necessário para a convivência respeitosa no ambiente escolar está em evitar situações de violência psicológica ou física, como o bullying. O bullying é um ato contrário aos princípios éticos, solidários e democráticos, o que o coloca como inadmissível no espaço escolar. Nesse sentido, a Lei no 13.185/2015 respalda esse tema, classificando o bullying como um ato de intimidação sistemática: [...] todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas. (BRASIL, 2015, p. [1]).

Por ser essencialmente violento e contrário à paz, é fundamental promover debates e reflexões junto aos estudantes, a fim de garantir um espaço seguro e propício para a educação.

Nos modos de interação e comunicação do grupo, a prática de bullying pode acabar sendo exercida por um ou mais estudantes contra um ou mais colegas. Nessas situações, abre-se a oportunidade de observar se estudantes que são silenciosos, que ficam retraídos, distantes física e intelectualmente do grupo, estão sendo alvo de bullying de modo explícito ou velado. Caso isso aconteça, o indicado não é ignorar ou apenas repreender o(s) autor(es) do bullying ou, ainda, fazê-lo(s) pedir desculpas à(s) vítima(s). Isso não é suficiente ou adequado. Na situação de grupo operativo, a intervenção tem de ser imediata, para quebrar a dinâmica do bullying: autor-alvo-espectadores. Portanto, você deve intervir imediatamente, trazendo a conversa para as ações do projeto, estimulando e valorizando a(s) fala(s) do(s) estudante(s) vítima(s) do bullying para elevar sua autoestima. Além do bullying presencial, é importante destacar que existem também práticas de cyberbullying, realizadas nas mídias digitais. Ainda que seja mais difícil de identificar essa prática, segundo a Unicef Brasil ([2020]), o presencial e o digital caminham quase sempre lado a lado. Assim, é provável que, caso algum estudante esteja sofrendo esse tipo de abuso em sala de aula, isso pode se estender ao meio digital. Dessa forma, é pela cultura da não violência que a escola se estabelece como um lugar de diálogo e compartilhamento, com práticas para a paz refletidas nas ações, nas regras para utilização dos espaços, no fazer pedagógico. De acordo com a Unesco Brasil ([201-]), vista pelo ângulo da não violência, por meio da educação é possível:

• aprender as nossas responsabilidades e obrigações, bem como os nossos direitos;

• aprender a viver juntos, respeitando as nossas diferenças e similaridades;

• desenvolver o aprendizado com base na cooperação, no diálogo e na compreensão intercultural;

• ajudar as crianças a encontrarem soluções não violentas para resolverem seus conflitos e a experimentarem conflitos utilizando maneiras construtivas de mediação e estratégias de resolução;

• promover valores e atitudes de não violência – autonomia, responsabilidade, cooperação, criatividade e solidariedade;

• capacitar estudantes a construírem juntos, com seus colegas, os seus próprios ideais de paz.

A cultura da paz deve ser considerada como caminho e destino, isto é, como estratégia e objetivo da educação. Por meio dela, a escola pode ser reconhecida pelos estudantes como um espaço seguro e respeitoso para sua formação, onde podem expor e construir suas identidades e projetos de vida.

Saúde mental

Além das competências gerais e específicas, a BNCC aborda também o desenvolvimento das competências socioemocionais, as quais estão ligadas à importância de uma educação que entenda o ser humano na sua integralidade. Atualmente, observa-se um aumento nos relatos de crianças e jovens sobre suas dificuldades para reconhecer e lidar com as formas de sentir, pensar e agir em relação a si e aos outros. Diante disso, é imprescindível que a escola promova ações que permitam o desenvolvimento de competências de autogestão (foco, responsabilidade, organização, persistência, autoestima) e a amabilidade (empatia, respeito e confiança).

XI

Formação de repertório

Como formar um repertório no dia a dia? Um filme, uma música, um livro, uma peça de teatro, um espetáculo de dança, uma vivência em uma apresentação na rua, uma situação vivenciada no cotidiano ou até mesmo observar a publicidade de um produto que se utiliza das linguagens artísticas pode nos fornecer novos dados sobre um assunto. Assim, o que lemos, presenciamos e participamos torna-se significativo se nos permitirmos envolver, compreender e sentir o que foi vivenciado. Tudo que nos acompanha desde a infância, como as brincadeiras, a cultura familiar e do contexto em que vivemos e as narrativas que construímos a partir dos livros de histórias que foram lidos, constituem a bagagem que construímos ao longo dos anos.

Esse conjunto de elementos forma o repertório de cada um e tem similaridades com uma “pasta de arquivos digitais”, na qual as experiências, vivências e aprendizados são arquivados de forma dinâmica, pois ficam, ao mesmo tempo, armazenados e disponíveis para novas conexões individuais ou simbólicas, o que permite novos acessos, edições, transformações e ressignificações em novas experiências.

Um desses “arquivos” é o que traz as referências familiares, principalmente no que diz respeito aos costumes e saberes transmitidos e potencializados de geração a geração. Esses saberes incluem as matrizes étnicas e culturais, formando uma rede de conhecimento. Uma vez que as famílias vivem em comunidade, elas são também transmissoras e receptoras de novas referências – que se tornarão novos repertórios.

Outro “arquivo” que dialoga com o “arquivo familiar” é o formado pelas experiências do dia a dia, delimitando um contexto local. Ele é formado por tudo que é investigado, assistido, lido, ouvido e presenciado. Todo esse conjunto deixa marcas significativas na maneira de ser e pensar do indivíduo e traz detalhes expressos nas alegrias e tristezas, nos medos, nos desejos e expectativas – são as particularidades de cada momento vivido.

Nos dias atuais, há uma avalanche de informações e conceitos trazidos pela globalização. Acessá-los amplia o conteúdo da “pasta” e, ao mesmo tempo que derruba fronteiras culturais no acesso a tecnologia por diversas mídias, também pode ampliar o sentido de desorientação num momento delicado da vida dos jovens estudantes, diante de uma sociedade que depara com a urgência por soluções que envolvem novas visões de mundo.

Essas três matrizes – familiar, local e global – compõem um verdadeiro caleidoscópio de influências que reforçam a necessidade da busca por uma identidade por meio da qual seja possível exercer cidadania. Esses três olhares, por meio dos quais devemos considerar o panorama de vida dos jovens, são abordados nessa coleção.

Mas por que o repertório é tão importante? Bem, porque é a partir dele que começamos a elaborar nossas próprias associações!

Se a “pasta” permite armazenar e, ao mesmo tempo, disponibilizar, significa que é necessário praticar sempre essas duas funções, de modo similar à prática de exercícios físicos – é na continuidade que se ganha massa muscular. Assim, é na continuidade de abastecimento do repertório que se ganha conhecimento. E é fundamentalmente por meio da continuidade e da constância na ação de mediar a construção do repertório dos estudantes que você os levará, individual e coletivamente, a serem protagonistas do processo de aprendizagem. As atividades de campo propostas nas trilhas contribuem e ampliam as possibilidades de construção do repertório do estudante.

Um processo constante

Como educadores, sabemos que o fazer do estudante é um processo. Mas por que focar o processo?

O fazer da arte é naturalmente investigativo e nasce em propostas de projetos cujo resultado são novas descobertas, ou seja, é um caminho singular que nasce na proposta acordada, segue pela investigação e pesquisa e chega a um maior número de possibilidades de expressão – e não um método confortável, sem desafios para a confirmação de um resultado muitas vezes já conhecido.

Sobre a criação, e em relação aos diferentes percursos a serem percorridos, a pesquisadora Cecilia Almeida Salles coloca que

[...] a continuidade do processo, aliada à sua natureza de busca e de descoberta, leva-nos a encontrar formulações novas, trazidas por este elemento sensorial do pensamento, ao longo de todo o processo.

[...] A obra não é fruto de uma grande ideia localizada em momentos iniciais do processo, mas está espalhada pelo percurso. (SALLES, 2006, p. 30).

XII

No texto crítico De onde vêm as ideias, a artista

Leda Catunda afirma que

As ideias vêm de uma camada fininha e transparente que paira por sobre as cabeças, não só dos artistas, cientistas e filósofos como também de todas as pessoas do planeta. Como um vasto mar onde, oscilando em intensidade e qualidade, misturam-se as ideias boas com as ruins e as neutras também. (CATUNDA, 2018, p. [1]).

Para ela, essa camada seria formada pela união do senso comum, do inconsciente coletivo e de subjetividades, pontuando que o desejo é a base da criação. A artista também coloca que compartilhamento e consulta são as vias de acesso, explicando que o compartilhamento acontece

[...] quando há identificação com o que as outras pessoas pensam. E consulta, em momentos nos quais é preciso solução que se nos apresente na forma de uma nova ideia. É necessário alcançar um determinado estado de espírito e sintonizar a mente para estabelecer uma conexão. Não há uma fórmula única, mas todas levam consigo doses variadas de angústia, necessidade e vontade. Como bem ilustram casos científicos como o da maçã que caiu na cabeça de Isaac Newton ou da descoberta do princípio de Arquimedes, que encontrou solução ao reparar no deslocamento d’água provocado por seu próprio corpo na banheira. Saiu nu pelas ruas aos gritos de Eureka!; “encontrei”, em grego, até hoje expressão comumente utilizada para um achado fabuloso. (CATUNDA, 2018, p. [1]).

Essas questões significam desafios? Sim, e muitas vezes vêm acompanhados do receio de se expressar, do medo do julgamento em relação à própria produção e de outras emoções que podem inviabilizar o processo de criação. Esses obstáculos devem ser superados por meio do diálogo entre o professor e o estudante e somados à experimentação, que possibilita a união dos diversos elementos da linguagem em materialidades e outros processos. Em síntese, um caminho construído coletivamente pode superar essas questões.

Assim, o diálogo entre as investigações realizadas e o repertório do estudante, abordado no item anterior, é inerente à proporção em que os projetos

são desenvolvidos. A ampliação do repertório nasce e se fortalece nas pesquisas, ao observar soluções encontradas pelos artistas. Não se trata de copiar produções, mas de criar inspirações e possibilidades de caminhos que fortaleçam a imaginação e ampliem as referências visuais, teatrais, musicais ou de dança dos estudantes.

Buscando unir os tópicos colocados até agora, e nos valendo das colocações de Martins, Picosque e Guerra, acreditamos que o estudo da criação e investigação em arte a partir de projetos e práticas

[...] pode oferecer a compreensão sobre o percurso criador que envolve projetos, esboços, estudos, protótipos, diálogos com a matéria, tempo de devaneio, de vigília criativa, do fazer sem parar, de ficar em silêncio e distante, de viver o caos criador. (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 2009, p. 192).

De acordo com as autoras, a criação artística envolve aprendizagem e, dessa forma,

[...] todo fazedor de arte se forma trabalhando em processos de criação, com as informações, deformações e formações que os atos de criação propõem durante a procura incansável de uma poética pessoal de tal forma que, enquanto a obra se faz, se inventa o seu próprio modo de fazer. (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 2009, p. 192).

Para que todas essas colocações sejam materializadas, será interessante que diversos recursos sejam utilizados no acesso a produções artísticas, como a exibição de vídeos, de imagens em slides, o acesso a livros e catálogos de arte, a pesquisa com o celular, computador, tablet, entre outras possibilidades de ampliação de repertório cultural. Essa fruição permite ao estudante a percepção de como, na arte, foram encontrados caminhos para processos não estereotipados.

Nesse percurso, você pode orientar diferentes possibilidades na pesquisa, estimular a ampliação e a investigação, incentivar a experimentação de formas e materiais diferenciados e propor várias testagens amplas ou pontuais no decorrer do processo de criação, participando assim do processo – com interferências que não dificultam o desenvolvimento do estudante mas buscam contornar as dificuldades, que muitas vezes travam o processo de pesquisa e experimentação.

XIII

Conexões e interdisciplinaridade

Compreendendo cada etapa do ensino como um aprendizado específico e, ao mesmo tempo, como “anfitrião” dos aprendizados anteriores, além de um preparador para os próximos, os dois últimos anos do Ensino Fundamental têm a missão de preparar o estudante para o novo Ensino Médio, um ensino por área. Abordar nos planejamentos pedagógicos a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade já propõe unir conhecimentos de mais um componente curricular, consistindo em uma das ferramentas para esse olhar plural sobre cada um dos conteúdos.

Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade são termos que têm sido bastante utilizados no cenário educacional. Sua necessidade, na produção e na socialização do conhecimento, vem sendo discutida por vários autores. Há muitas concepções do que seja interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, não parecendo apresentar um sentido único e preciso entre os teóricos.

De modo geral, a literatura sobre esse tema mostra que há pelo menos uma posição consensual quanto ao sentido e à finalidade da interdisciplinaridade: ela busca responder à necessidade de superação da visão fragmentada nos processos de produção e socialização do conhecimento. No percurso que estamos trilhando, a construção de repertório estimula os processos criativos, e estes a interdisciplinaridade – que se refere ao diálogo entre duas ou mais disciplinas, a partir de algo que é comum entre elas. Essa ação amplia as possibilidades de conexões e propõe a capacidade de entender o conhecimento como um todo – e a transdisciplinaridade, que ultrapassa essas barreiras, considera o pensamento não dividido por disciplinas. Ela contempla a pluralidade de aproximações em torno de um conteúdo, o que configura conhecimento global, com aberturas para a prática do olhar crítico sobre qualquer tema abordado. É importante observar que, em ambas as abordagens, não há hierarquia entre conceitos ou linguagens.

Assim, estabelecer conexões entre os conteúdos propicia que um mesmo tema seja abordado de diferentes formas, por meio de diferentes olhares, o que fomenta a construção do pensamento em rede, composto pela pluralidade das contribuições da turma e de áreas de conhecimento acessadas em cada abordagem. Essa estrutura é capaz de abarcar as diversas realidades do ambiente escolar, além de ampliar o repertório do

estudante, que pode transitar por múltiplas percepções e encadeamentos.

As conexões que cada estudante estabelece entre as informações surgem segundo seu conhecimento e leitura de mundo, ou seja, de um olhar singular que ele cria conexões com vários campos de conhecimento. Os múltiplos conhecimentos são similares aos múltiplos sons de uma orquestra, cada um emitido por um instrumentista, com alguns momentos solo, outros em conjunto.

Pensando nessa comparação, surge a pergunta: O que os une? A resposta poderia ser “o maestro”. Porém, no período de isolamento social ocasionado pela pandemia de covid-19, muitas orquestras apresentaram, em diversas mídias, músicas gravadas por instrumentistas que estavam, cada um, em sua residência – ou seja, muito distantes do maestro. Voltando à pergunta “O que os une?”, a resposta é: a música a ser tocada, que foi acordada previamente.

Em um trabalho coletivo, a proposta começa com um “tema ou assunto” acordado previamente, sobre o qual todas as áreas envolvidas expressam conhecimento. Para ser como “uma orquestra”, na qual os instrumentistas tocam juntos, mas cada um executa a sua parte, todos têm de participar de forma igualitária, percebendo e respeitando o momento no qual os outros tocam. Na educação, o pensamento transdisciplinar é necessário, da mesma forma que, em uma apresentação de orquestra, é preciso ter pensamento musical.

Perceba que não é a união de dois componentes curriculares que gera a interdisciplinaridade, mas sim a forma como cada um contribuirá, com sua área de conhecimento, para a resolução de problemas ou desafios. Uma não está a serviço da outra, mas em igualdade – e assim como os músicos, cada uma tem sua importância e contribuirá com ações diferentes.

Nessa coleção, o diálogo e as conexões entre as linguagens da Arte e entre os componentes que compreendem a área de Linguagens, destacando Língua Portuguesa, estão nas propostas práticas e na contextualização de alguns conteúdos. Da mesma forma, os componentes de Ciências Humanas são intrínsecos a muitos conteúdos, principalmente na abordagem das diferentes culturas encontradas no território brasileiro. É impossível separar esses conteúdos de sua contextualização histórica e geográfica – ao contrário, cada tema trabalhado complementa outro e dialoga com ele. Cada abordagem começa pelas fundamentações, mas dialoga com outros aspectos para compor um todo.

XIV

O processo avaliativo

Os processos avaliativos compreendem a avaliação permanente do que foi vivenciado e fazem parte da vida pedagógica do professor. Em Arte, esses processos também são um estímulo. Acompanhar o processo de criação de cada estudante envolve a percepção de suas investigações e pesquisas nas múltiplas possibilidades que as artes hoje oferecem como desenvolvimento de uma proposta. A quebra na utilização apenas de “materiais tradicionais em arte” amplia as possibilidades de descoberta. Ter um olhar nesse sentido permite a percepção do estudante na construção do seu protagonismo. Em Arte, o percurso investigativo percorrido, as experiências realizadas em diferentes materialidades, os processos de criação distintos, o fazer e refazer e o pesquisar são muito similares aos processos artísticos, e atores, dançarinos e músicos experimentam a mesma atividade muitas vezes para encontrar uma forma singular de expressão.

Ao consultarmos o significado da palavra percurso, vemos que, entre vários sentidos, ela indica o espaço percorrido por um corpo em movimento. Nessa proposta, o corpo em movimento é o do estudante em seu processo criativo, operando os elementos e as materialidades das linguagens em seu próprio contexto, e o do professor, observando o processo por vários lados e reunindo as diferentes informações que constituem a diversidade dos estudantes. Dessa forma, é essencial compreender que um ponto importante de constar na sua avaliação do desenvolvimento do trabalho está na não linearidade dos processos de criação. Uma ação está intrinsecamente relacionada a outras de igual importância para o estudante poder pensar no processo como um todo.

Assim, é essencial que os processos avaliativos sejam formativos, e não classificatórios, uma vez que cada um tem uma origem e uma trajetória distintas, além de características individuais e maneiras singulares de se expressar. A avaliação formativa é para a aprendizagem e não da aprendizagem. O importante é ter como ponto de partida o conhecimento prévio do estudante, que é um dos princípios básicos comprometidos com a aprendizagem ativa, conforme documento da BNCC intitulado Métodos de diagnóstico inicial e processos de avaliação diversificados (BRASIL, [2019]).

O processo avaliativo proposto nesta coleção traz três recursos distintos – avaliação diagnóstica, avaliação formativa ou processual e avaliação de resultado –, permitindo o acompanhamento da construção do conhecimento do estudante.

Avaliação diagnóstica

A avaliação diagnóstica pode integrar o planejamento pedagógico do professor como a primeira escuta dos estudantes. Ao fazer um levantamento do conhecimento deles sobre o conteúdo de sua proposta, você está possibilitando que se posicionem sobre o que fizeram e assimilem o significado que tiveram para eles.

Isso significa romper com a proposta de trabalhar conteúdos predeterminados. É preciso, ao contrário, construir e adequar os conteúdos e temas conforme os interesses e as necessidades dos estudantes. O processo de escuta está diretamente associado à concepção de educação que valoriza o protagonismo do estudante, solicitada pela BNCC, e à descoberta coletiva do grupo – expressa nos exercícios, nas investigações, nas produções e na criação do conhecimento.

Avaliação formativa ou processual

Essa avaliação deve integrar as demais e ser contínua e formativa ao longo do ano, de modo que você seja levado a refletir sobre o seu próprio fazer pedagógico, observando as conquistas e os avanços dos estudantes; e, para eles, a avaliação deve constituir uma revisão do que foi realizado, consolidando o que foi aprendido no passado.

As diferentes avaliações necessitam ser compreendidas como um recorte isolado dentro de um processo, ou seja, devem ser um olhar para uma ação que tem um antes e um depois na mesma experimentação ou em mais de uma experimentação na construção de um percurso criativo.

As possibilidades de avaliações são múltiplas ao longo do processo. A autoavaliação é um exemplo de avaliação formativa e pode partir de uma pergunta provocativa, acompanhada de “por quê”, propiciando ao estudante ampliar sua reflexão, organizar seu pensamento, formar opinião e argumentar na resposta. A autoavaliação pode estar incluída na etapa diagnóstica, no processo ou no resultado.

Essa é uma ação que leva à reflexão e à formação de pensamento próprio acerca de aspectos significativos da atividade desenvolvida. O estudante exerce, assim, o papel de coautor no desenvolvimento de sua aprendizagem, um dos principais focos da avaliação formativa.

Para conhecer o estudante, as avaliações de processo permitem, inúmeras vezes ao longo do ano letivo, a observação de sua evolução. Variá-las possibilita

XV

a você ter múltiplas percepções da aprendizagem do estudante e do desenvolvimento de suas competências. Outra possibilidade é proporcionar momentos de apresentação do trabalho realizado, estabelecendo um tempo para cada estudante apresentar e contar como foi seu processo investigativo. A soma das apresentações permitirá que você avalie se os objetivos da proposta foram alcançados. Seu mapa diagnóstico estará nos próprios relatos dos estudantes.

A devolutiva da avaliação em cada etapa tem o objetivo de direcionar o estudante em seu desenvolvimento e avaliar sua atuação, ao experienciar os códigos das linguagens em seus trabalhos, individuais ou em grupo.

Avaliação de resultados

Ao término de cada experiência, é necessário entender a avaliação de resultados na área de Arte – não como um instrumento para medir o que o estudante aprendeu com a prática (no sentido linear), mas o quanto ele percorreu, investigou, pesquisou e construiu no processo criativo. O protagonismo do estudante está no quanto ele faz investigações criativas, de acordo com seu perfil.

A avaliação de resultados dessa coleção consiste em propostas que partem dos objetivos de aprendizagem estabelecidos anteriormente e das suas reflexões baseadas nas observações ao longo do ano, ao mapear o que foi significativo para cada estudante.

A proposta de mapear a progressão dos aprendizados contribui para relembrar o percurso percorrido, refletir sobre a processualidade e compreender como cada um expressou as múltiplas camadas de significados. Para isso, novamente, a autoavaliação é um dos principais instrumentos.

Porém, visto que a avaliação é um instrumento pedagógico, assim como as práticas propostas para os estudantes, ela requer planejamento que não vise classificá-los, mas levá-los a uma nova relação com a aprendizagem.

Assim, os diálogos avaliativos entre professor e estudante – sem prejulgamento, mas que aborde como o percurso foi percebido por cada um, seu processo criativo e as possibilidades das experimentações – possibilitam a formação para o estudante encontrar sua singularidade expressiva, levando-o a refletir sobre sua trajetória.

As avaliações diagnóstica, processual e de resultado, contemplando a autoavaliação e a devolutiva da avaliação pelo professor, são registros que levam o estudante a se conscientizar sobre seu desempenho e seu protagonismo.

Percursos em transformação

Se observarmos com atenção, veremos que os percursos metodológicos são construídos como rizomas, nos quais o cruzamento entre os elementos trabalhados é contínuo e está sempre em crescimento. Assim, são criadas infindáveis possibilidades de reflexões.

A construção de um percurso metodológico autoral, sobre o qual você vai embasar o trabalho com as turmas atuais e futuras, é sinônimo de um permanente processo de criação. E cada vez mais o trabalho lado a lado com os estudantes propicia que eles edifiquem o próprio caminho (observando sempre a singularidade sociocultural de cada um).

Essa construção é contínua, e a cada ano (e a cada turma), você encontrará novas pessoas, com perfis socioculturais e econômicos diferentes, constituindo novos desafios e novas inseguranças sobre as diversas questões a serem abordadas – não somente pelo fato da dinâmica mundial ser muito complexa, mas pelas transformações geracionais, mudanças tecnológicas e muitas outras razões.

Sobre essa questão, Cecilia Almeida Salles (2006, p. 13) diz que

[...] esse percurso contínuo em permanente mobilidade nos leva ao conceito de inacabamento, que sustenta nossa reflexão. Não se trata do não acabamento provocado por restrições externas, [...] ou opção estética. [...]. Estamos falando do inacabamento intrínseco a todos os processos, em outras palavras, o inacabamento que olha para todos os objetos de nosso interesse [...] como uma possível versão daquilo que pode vir a ser ainda modificado. Tornando a continuidade do processo e a incompletude que lhe é inerente, há sempre uma diferença entre aquilo que se concretiza e o projeto do artista que está para ser realizado.

O percurso metodológico que embasou a elaboração dessa coleção é aberto e dinâmico, buscando propiciar novas descobertas e investigações que levem a novos caminhos. Para isso, são incentivadas conexões entre as diversas linguagens da Arte e dos demais componentes curriculares, o que resulta em provocações e questionamentos. As reflexões a partir desses processos auxiliam o estudante em seu autoconhecimento, ampliando suas potencialidades e reforçando a importância de um caminho investigativo em sua aprendizagem.

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Pressupostos teórico-metodológicos

Nesta coleção, as quatro linguagens artísticas são trabalhadas em constante diálogo. Buscam trazer conteúdos que, entrelaçados nas diversas unidades, constroem caminhos diversos para o desenvolvimento integral do estudante. Paralelamente, dentro de cada especificidade, tanto na fruição quanto na criação artística, elas realizam construções com seus códigos, práticas e conteúdos particulares.

A pluralidade de suportes, materiais, linguagens, conceitos e visões para todo o espectro do que chamamos de Artes Visuais, Artes Plásticas ou simplesmente Arte, por exemplo, é constantemente revista e revisitada a cada nova proposta artística. Buscamos, ao longo dos livros, garantir uma visão panorâmica capaz de oferecer instrumentos com os quais o professor possa transitar por tantas variantes. Do mesmo modo, apresentamos diversas expressões de forma não cronológica, relacionando-as por meio de conexões que possam favorecer a reflexão e o senso crítico do estudante. Alternadamente, abordamos elementos básicos da construção visual, diferentes linguagens dentro do campo visual, além de produções de épocas variadas.

Com o intuito de convidar estudantes e professores a se aproximarem dessas produções de forma leve e nítida, apresentamos obras e artistas de diferentes suportes e linguagens lado a lado. Nosso foco é, mais do que criar uma cronologia, estabelecer diálogos entre os diversos modos de ler e entender arte, e de ler e repensar o mundo. Buscamos apresentar diferentes possibilidades de produção e fruição nesse campo, assim como incluir os repertórios imagéticos de estudantes e professores como agentes participantes dos processos de leitura dessas imagens.

Por meio do diálogo criado entre imagens colocadas lado a lado, convidamos os estudantes para uma série de práticas que busca fomentar a leitura comparativa de imagens, a investigação, a criatividade e a busca de soluções próprias para cada um dos desafios. Nesse sentido, as práticas investigativas e autorais reforçam a característica polissêmica da arte, ou seja, a partir de uma mesma ideia abrem-se diferentes leituras, interpretações e aproximações, assim como se incentiva a capacidade de perceber e fazer escolhas dentro do processo de criação. Em outros momentos, essas práticas exigem soluções coletivas, como forma de o estudante vivenciar ativamente a pluralidade de ideias e experiências de cocriação. Desse modo, ao longo dos livros, construímos parâmetros para que as discussões e produções relacionadas às obras abordadas sejam pautadas pela pertinência em relação às leituras dessas imagens.

Isso significa que é possível – por meio de perguntas, informações contextuais, observações atentas e diálogos – ir além daquilo que se considera erro ou acerto, ampliar a capacidade de observação, de interpretação e articulação de ideias e, consequentemente, o senso crítico e a sensibilidade dos estudantes, uma vez que esse olhar é inerente ao campo das artes.

Buscamos apresentar a diversidade da produção de artistas brasileiros para colocá-los em diálogo com produções de outros lugares do mundo. Essas escolhas propiciam discutir identidade, sem perder a oportunidade de conhecer e aguçar o olhar para o que se produz em outras culturas. Em todas as unidades, caminhamos por conceitos e formas de abordagem que se complementam na construção e ampliação do olhar e do pensar sobre arte. Os agrupamentos de trabalhos apresentados ao longo dos capítulos oferecem chaves de acesso a temas, conceitos e contextos que permeiam produções artísticas do passado e do presente. Abre-se a possibilidade de o estudante construir sua autonomia no contato com expressões da arte em seu contexto de vida, reconhecendo e valorizando patrimônios artísticos presentes tanto na sua comunidade como em outras culturas.

O Teatro dialoga com o ambiente escolar em diferentes níveis, convidando o estudante a conhecer-se, reconhecendo no seu próprio corpo uma série de potências criativas relacionadas aos gestos, expressões e vocalizações, elementos centrais em grande parte das artes da cena. Sendo uma prática coletiva, sua aprendizagem se dá em conexão com outras pessoas, a partir das potências criativas de cada um, em movimentos coletivos que exigem o constante exercício de alteridade.

O teatro é também uma linguagem que acontece em espaços físicos e virtuais, e em determinado tempo. Trabalhar a partir desses dois elementos abre um campo de explorações importante para que professores e estudantes realizem experimentos práticos e se apropriem das particularidades dessa linguagem a cada exercício.

A capacidade das artes da cena para agrupar pessoas é amplamente reconhecida e discutida ao longo dos quatro livros, por meio da apresentação de diversos grupos de teatro nacionais e estrangeiros, suas práticas e

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modos de produção. Procuramos trazer grupos e coletivos de todas as regiões do país, como reflexo de nossa diversidade territorial e cultural. Além disso, os estudantes de todo o Brasil podem se identificar com práticas e questões de sua região e estabelecer relações com outras, diferentes da sua. Com a análise de espetáculos desses grupos e de práticas relacionadas, oferecemos referências e inspiração aos estudantes para que se permitam trilhar o caminho de seu próprio protagonismo.

Esse caminho foi pensado em diálogo com os temas das unidades ao longo dos quatro anos: a corporalidade nas manifestações da cena (6o ano), as possibilidades de criações simbólicas e os códigos dessa linguagem (7o ano) que se encontram nos territórios da arte (8o ano) e suas tecnologias (9o ano). Todos os percursos têm como ponto de partida e inspiração a realidade dos próprios estudantes, assim como a potencialidade transformadora que as proposições da arte podem mobilizar.

O Teatro, como linguagem das artes cênicas, ocorre por meio da ação, do fazer e, sobretudo, da presença: é um acordo entre quem está em cena e quem assiste a essa cena. O teatro, como um lugar físico, é um edifício construído para esse fim, e também é qualquer espaço onde o evento cênico aconteça. A elaboração e a vivência desses espaços e desses acordos, no contexto da sala de aula, acontecem por meio de jogos teatrais. A ideia de jogo teatral foi sistematizada por Viola Spolin e é uma ferramenta amplamente utilizada de forma artística e pedagógica, colocando o foco na ação, no aprendizado pela experiência, que “nasce do contato direto com o ambiente, por meio de envolvimento orgânico com ele. Isto significa envolvimento em todos os níveis: intelectual, físico e intuitivo” (SPOLIN, 2012, p. 31).

A escolha pela estrutura dos jogos teatrais pretende oferecer um ambiente de imersão aos estudantes desenvolvendo as habilidades e a disponibilidade necessárias para o fazer teatral e o trabalho coletivo. Ainda de acordo com Viola Spolin (2012, p. 27), “os jogos teatrais vão além do aprendizado teatral de habilidades e atitudes, sendo úteis em todos os aspectos da aprendizagem e da vida”.

Nesse contexto de jogo, estimulamos os estudantes a perceberem a necessidade das regras enquanto parâmetros para o desenvolvimento de uma criação cênica em grupo e a desenvolverem um olhar sobre como cada um lida com essas regras. Tudo isso dentro de um ambiente lúdico, experimentando a cena, de dentro (como eu jogo) e de fora (como o outro joga) para a construção de um olhar crítico sobre a linguagem e a própria prática. A lógica do ensaio, fundamental para essas práticas, é o espaço para tentativas, repetições, explorações e até erros que devem ser considerados como parte importante da construção de conhecimentos. A cena se faz e se resolve em tentativas, desvios e descobertas que podem se delinear como experiências prazerosas, em processos criativos contínuos que não têm como foco o resultado final.

É desejo nosso, ainda, que os estudantes possam experimentar diferentes funções dentro da criação teatral. Uma cena, por mais simples que seja, constitui-se a partir da colaboração entre diferentes artistas. O ator ou a atriz em cena são responsáveis por compartilhar com o público o pensamento elaborado em um coletivo de práticas: interpretação, direção, iluminação, sonoplastia, dramaturgia, maquiagem, cenografia, contrarregragem e produção.

O conhecimento e a experimentação das diversas funções teatrais tornam-se relevantes no sentido de permitir aos estudantes desenvolver a percepção da importância do trabalho coletivo e do diálogo entre as partes na construção de um todo que é a cena ou o espetáculo que será oferecido a um público não apenas como entretenimento, mas também como um possível disparador de discussão sobre assuntos de interesse comum.

Nessa mesma lógica, apresentamos diferentes tipos de teatro, que acontecem dentro da caixa-preta ou no espaço público, passando pelo teatro de sombra e o teatro de objetos. Visitamos também diferentes épocas, do teatro grego ao contemporâneo, como forma de oferecer aos estudantes uma ampliação de repertório teatral, um leque de possibilidades e inspiração para que descubram, busquem inspiração e pratiquem o teatro da forma que mais se identifiquem e em outras que possam inventar e explorar.

Ao longo dos quatro livros, eles são convidados a desenvolver um pensamento e uma prática teatral que parte do reconhecimento das potencialidades de seu próprio corpo-voz e história de vida, colocando-os em relação aos parceiros e parceiras de turma, nas diversas funções do fazer teatral, construindo uma expressão comum, a cena. Buscamos, desta forma, incentivá-los para que possam refletir, por meio da linguagem teatral, sobre questões de interesse sobre si, sobre a comunidade onde vivem e sobre o mundo que os cerca.

XVIII

Antes de se aprofundar nas propostas de corpo por intermédio da Dança nessa coleção, convém afirmar que a dança no contexto escolar não é a mesma dança ensinada de forma acadêmica. Pensar a dança na educação é um convite para compreender essa linguagem artística sob diferentes pontos de vista, fazendo-a ganhar uma nova perspectiva, afinal a dança é uma atividade que se relaciona à necessidade fundamental e intrínseca a todo ser humano: a experiência do movimento.

A educação em dança tem como objetivo proporcionar uma melhor percepção de si e do entorno, favorecendo a aquisição de princípios do movimento por exercícios e práticas capazes de ampliar a consciência corporal e o repertório estético, além de estimular a compreensão do corpo pela via sensível e expressiva.

A dança educativa inclui o professor e todos os estudantes. O professor de Arte que atua na Educação Básica não precisa, necessariamente, ser um especialista em Dança para trabalhar os conteúdos específicos da unidade temática, mas deve se interessar por buscar em si e nos saberes da área as respostas de que necessita para complementar seus conhecimentos e sua prática pedagógica.

Ao longo das trilhas, o contato progressivo com diferentes contextos e práticas da dança indicará possíveis modos de exercer o ofício de professor, ajudando-o a montar sequências didáticas que facilitem processos autorais de dança. Ressoando o pensamento de Jorge Larrosa que diz que ofício é o que faz com que alguém se comporte de um modo coerente com aquilo que é (LARROSA, 2018), as propostas de dança foram elaboradas para que o professor explore seus pontos de conexão com os temas apresentados neste livro e crie sua forma de dar aulas de dança.

Apreciação, contextualização e práticas de criação embasam a Dança nesta coleção. A proposta central foi elaborada a partir da Metodologia Triangular concebida por Ana Mae Barbosa (2007; BARBOSA; CUNHA, 2012) para o ensino de Artes Visuais e adaptadas ao ensino da Dança. A metodologia encoraja o professor a não ficar preso ao modelo da cópia, no sentido de apenas fazer a reprodução mecânica de uma obra. Apresenta também a criatividade como fruto do contato com a arte, não sendo um dote ou um talento que se manifesta de forma espontânea.

Não existe um sistema único válido para se fazer o planejamento de aulas e desenvolver temas de movimento com enfoque nas linguagens artísticas nas escolas, mas, de modo geral, a preparação dos planos de aula será mais próxima das expectativas de ensino se permitir a experimentação cinética vinculada aos aspectos subjetivos dos estudantes e dos grupos em questão. A possibilidade de incorporar ideias e sugestões dadas pelos estudantes deve ser levada em conta, mesmo sabendo que em certas circunstâncias o plano inicial será alterado, o que não representa problema algum desde que gere vínculo e conhecimento. A capacidade de o professor ser flexível e autêntico é de extrema importância e essa capacidade deve ser treinada!

O principal suporte teórico específico aos elementos da linguagem baseia-se nos estudos de movimento sistematizados a partir da Coreologia de Rudolf von Laban (1879-1958), que, em linhas gerais, é composta de duas categorias integradas entre si: a Corêutica, que aborda o espaço na dança, e a Eucinética, que aborda as qualidades expressivas do movimento. Laban valoriza a relação entre o espaço e a expressão corporal.

Adaptados para fins didáticos e mantendo a intenção de redimensionar o lugar do corpo na cultura e na sociedade, tais elementos permitem analisar o movimento de danças conhecidas e desconhecidas, incentivando a dança livre. Para Laban (1990), a dança livre possibilita vivenciar a gama total do movimento. Por meio da combinação dos elementos da linguagem, ou seja, dos estudos das formas corporais e dos fatores do movimento (espaço, tempo, peso e fluxo), surge uma variedade quase ilimitada de passos e gestos que estão à disposição de todos.

Junto às fotos de espetáculos, ilustrações para exercícios ou tópicos de anatomia e suas respectivas contextualizações, apresentamos sugestões para incentivar os processos de criação em dança. Na seção Práticas de criação são propostas atividades que buscam experimentar pelo corpo em movimento diferentes objetos e espaços acessíveis na escola para dançar. Apresenta práticas de dança de diferentes origens estéticas e culturais para ajudar o estudante a criar um vocabulário de movimento e poder argumentar e refletir sobre as ações e as percepções. Em cada proposta das Práticas de criação, enfocamos o caráter exploratório, incluindo registros visuais ou textuais e técnicas de coreografia e de improvisação em dança.

A dança tem significados distintos para povos e culturas diferentes. Por isso, trabalharemos danças brasileiras e danças de outras partes do mundo, ressaltando a riqueza das manifestações de matrizes indígena, africana e

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europeia, em complemento à experiência de se dançar outros estilos e ritmos. Todas as danças devem ser entendidas como a manifestação de um pensamento sobre o corpo e o mundo. Elas materializam e dão visibilidade a uma significativa base de transmissão oral e gestual.

Para ensinar a dança de hoje considerando a influência da internet e das novas tecnologias na vida contemporânea, é importante atentar para a profusão de estilos e ritmos que atraem os jovens. A apresentação do corpo desprovido de intenções artísticas é de fácil acesso e, pelo viés do entretenimento, é estimulado pelas mídias. Grande parte das referências em dança na atualidade chegam por intermédio das redes sociais e pelos meios de comunicação de massa.

Por um lado, a globalização possibilita a pesquisa de grupos de dança aos quais antes não se tinha acesso. Por outro, parece moldar os interesses da sociedade de modo geral. As pessoas se percebem conectadas por aplicativos ou artifícios efêmeros que ilustram tendências do momento, mas não garantem a qualidade de encontros presenciais nem sustentam a educação em dança.

É preciso fornecer as bases de conhecimento do próprio corpo e dos princípios do movimento para ajudar os estudantes a construírem noções de pertencimento e apropriação, convocando o autoconhecimento e o desenvolvimento do pensamento crítico ligado à singularidade de cada corpo e ao respeito à diversidade cultural. Acreditamos que a aprendizagem da dança é fundamental para lidar melhor com as dinâmicas de humor e emoções no dia a dia escolar e construir noções sobre qualidade de vida e saúde.

Por isso, buscamos , em cada um dos livros, mostrar a dança em contextos interdisciplinares, transdisciplinares e no diálogo com as novas tecnologias, para que cada professor possa construir posicionamentos e adequações no desenvolvimento dos desenhos curriculares para o ensino da dança na sua escola e ajudar seus estudantes a desenvolver competências socioemocionais.

A linguagem do movimento também é fundamental para o aprendizado em Música, e o domínio do gesto é essencial para o fazer musical.

O aprendizado da música na atualidade não pode ser distanciado da ideia do que é música, e esse foi o norte para a construção do trabalho pedagógico nessa linguagem. Assim, buscamos, durante todo o percurso, trazer a realidade sonora do estudante para a sala de aula, além de trabalharmos sons diversos e conceitos de paisagem sonora. Ainda, as práticas musicais e auditivas têm a função de cultivar múltiplas escutas, nas quais a diversidade musical é intensa, com o objetivo de ampliar os horizontes dos estudantes.

Embora a preocupação com o criar não seja nova, o ensino de música ainda se baseia grandemente em procedimentos técnico/musicais e, em geral, não enfatiza as possibilidades abertas pela vertente surgida em meados do século XX, que se alinha às tendências composicionais do período e incentiva a prática criativa e a capacidade de organização de materiais pelos próprios estudantes. (FONTERRADA, 2012, p. 97).

A repetição dos cânones da música clássica não reflete a realidade do mundo atual. Se, por um lado, não podemos ignorar séculos de produção teórica e musical europeia, por outro, é fundamental que o estudante se reconheça nas práticas musicais feitas na escola e na tecnologia, constantemente presentes em suas vidas, uma vez que ele é um nativo digital.

É possível unir esses aspectos de modo que o fazer musical reflita a realidade e a visão de mundo do estudante e da época atual. Para isso, é importante que não se hierarquize nenhuma manifestação em detrimento de outra. Assim, é importante que possamos ampliar não só a visão de mundo dos estudantes, mas também a nossa própria.

Nesta coleção, buscamos também fomentar o questionamento sobre a questão sonora na atualidade, uma vez que a audição tem sido sistematicamente modificada na contemporaneidade.

A paisagem sonora do mundo está mudando. O homem moderno começa a habitar um mundo que tem um ambiente acústico radicalmente diverso de qualquer outro que tenha conhecido até aqui. Esses novos sons, que diferem em qualidade e intensidade daqueles do passado, têm alertado muitos pesquisadores quanto aos perigos de uma difusão indiscriminada e imperialista de sons, em maior quantidade e volume, em cada reduto da vida humana. A poluição sonora é hoje um problema mundial. (SCHAFER, 1991, p. 17).

XX

Estrutura e organização da coleção

A coleção está dividida em quatro livros, um para cada ano do Ensino Fundamental – Anos Finais. A experiência com a Arte acontece individualmente, por isso, optamos por não oferecer conteúdos segmentados, com formatos já esgotados e, muitas vezes, distante das experiências dos estudantes. Ao contrário, abordamos as quatro linguagens da Arte em diálogo entre si e com temas relacionados ao cotidiano deles, oportunizando um desenvolvimento integral.

9º ano – Ar te e tecnologia Pesquisar, investigar e transformar Discutir, criar e inspirar

8º ano – Espaços na ar te Reconhecer, relacionar e analisar Construir, desenvolver e criar

7º ano – Signos e símbolos na ar te Experimentar, aprender e comunicar Imaginar, conhecer e expressar

6º ano – O corpo e a ar te Perceber, experimentar e par ticipar Conhecer, transformar e mover

Esta coleção trabalha o componente curricular Arte proposto pela BNCC, homologada em 2018. Tem como proposta trabalhar lado a lado com os estudantes (como já foi abordado no início deste manual) e preocupa-se em apoiá-los em sua autonomia e na construção do conhecimento. Essa proposta permeia os quatro anos que compõem a coleção, seguindo os eixos norteadores descritos a seguir.

• Os objetos de conhecimento “Elementos da linguagem”, “Processos de criação” e “Contextos e práticas” como norteadores das ações de investigação e pesquisa, experimentadas e vivenciadas, fruir e refletir no processo de construção de uma forma de expressão singular. Esse processo demanda a utilização de inúmeras materialidades e a necessidade de entender a presença da imaterialidade em algumas linguagens.

• O protagonismo do estudante, que em continuidade à construção de sua autonomia, necessita de apoio para começar a elaborar outros conhecimentos pela interdisciplinaridade.

XXI
Reinaldo Vignati

• A necessidade de compreender o próprio corpo como suporte e forma de expressão, cada vez mais presente nas criações.

• O reconhecimento dos signos e dos símbolos presentes em todas as linguagens da Arte.

• A descoberta de espaços não físicos, mas simbólicos e identitários, nos quais ocorre a expressão de grupos e comunidades, fazendo com que o estudante perceba a força e as possibilidades dos espaços formados pela cultura e pelo meio digital.

• A tecnologia, que exige uma nova forma de pensar e se comunicar, envolvendo novas maneiras de expressão, muitas vezes propiciadas pelas novas mídias e sua influência na educação.

• A interdisciplinaridade, em diálogo permanente com os componentes de Língua Portuguesa, História e Geografia, e em interação com conteúdos dos demais componentes curriculares.

Um destaque se faz necessário: na progressão da coleção, cada livro, de forma diferenciada, traz o universo digital e suas tecnologias para o âmbito educacional, conforme as possibilidades do ano escolar, por meio de práticas e da identificação de seus usos, a fim de que o estudante possa construir sua forma de se expressar e registrar sua investigação e pesquisa.

A coleção e sua metodologia

Sendo a base para o novo Ensino Médio, a proposta do Ensino Fundamental nos estimulou a propor um texto dialogado entre os estudantes; os estudantes e o professor; e os estudantes e sua comunidade familiar, o que incentiva a produção de imagens e símbolos e amplia o vocabulário e repertório.

A presença de provocações e questionamentos, no decorrer do texto de todas as unidades, busca desafiar o estudante a organizar seu pensamento, formular sua argumentação e identificar uma forma de comunicação. Esse caminho propicia “costurar” o conhecimento e percorrer um trânsito mais fluido entre as fronteiras da teoria e da prática. Essa proposta abre possibilidades para que você, também com base em seu repertório, vocabulário e partindo da realidade da turma e da comunidade escolar, empreenda propostas, conexões e ressignificações com os estudantes. Abra espaço para escutá-los e perceba que as construções em Arte não são lineares, mas fluidas e maleáveis, de modo que a elaboração do conhecimento seja composta da soma de experiências, reflexões, conceitos e conteúdos.

XXII
SpeedKingz/Shutterstock.com

A coleção e sua progressão

Toda caminhada tem um ponto de partida e uma linha de chegada. A coleção propõe essa jornada passando, entre cada um desses marcos, por duas unidades, e em cada unidade, por duas trilhas.

O Ponto de partida introduz o estudante ao tema que será abordado, trazendo sempre reflexões em relação às quatro linguagens da Arte, por meio de práticas e questionamentos relacionados ao tema do livro.

As unidades são compostas de duas trilhas, e cada trilha tem como foco principal uma linguagem que, em vários momentos, dialoga com as demais linguagens da Arte. As trilhas propõem caminhos. Cabe a você, professor, com base em seu contexto escolar e planejamento pedagógico, definir como se dará a caminhada. Na coleção, os textos das trilhas dialogam com o estudante, e as seções aprofundam as questões relacionadas com o tema trabalhado no livro. Além disso, também são destacadas possibilidades de ações interdisciplinares com os outros componentes curriculares, em diversos conteúdos e por meio do diálogo com a arte em diferentes períodos no passado, embasando a evolução das linguagens artísticas na contemporaneidade.

As unidades se desenvolvem em progressão e conexão com o tema proposto em cada livro. Um destaque se faz necessário: a progressão da coleção, e de cada livro de forma diferenciada, traz nos títulos das unidades os verbos cognitivos propostos na BNCC de Arte. O objetivo é incentivar o estudante a percorrer uma caminhada que passa pela experimentação, investigação e pesquisa e pelo desenvolvimento e análise desse percurso, instigando sua curiosidade, autonomia e protagonismo e enfatizando ações de experimentação, investigação, criação e reflexão. A progressão, presente na BNCC de Arte e indicada nos focos de cada unidade, auxiliará o estudante na construção de seu conhecimento e no desenvolvimento de suas competências.

O Bate-papo com o artista busca trazer para o universo do estudante a trajetória de profissionais das artes, apresentando as experiências e as descobertas realizadas no decorrer de sua carreira. O objetivo é desmistificar a ideia de genialidade e valorizar as habilidades desenvolvidas e os conceitos apreendidos, abrindo espaço para um novo olhar sobre as profissões nas linguagens da Arte, além de ampliar o repertório em relação aos assuntos tratados em cada um dos livros.

A Linha de chegada, última prática após o estudante percorrer o Ponto de partida e as duas unidades (compostas, cada uma, de duas trilhas), consiste em uma ação que soma todas as propostas anteriores e busca ajudá-lo a revisar e refletir, de forma mais ampla, sobre os aprendizados percorridos e, com isso, destacar os mais significativos na construção de uma forma de expressão mais autoral. As unidades se desenvolvem em progressão e conexão com o tema proposto em cada livro.

XXIII

Seções

A caminhada em cada uma das trilhas apresentadas nas unidades é alimentada por diferentes seções, as quais propiciam a abertura da percepção e a construção de um novo olhar e de uma escuta atenta à descoberta das múltiplas possibilidades de se relacionar com as artes.

A seção Coordenada possibilita que o estudante conheça e aprofunde conceitos e outros elementos específicos relacionados ao tema tratado.

Conexão

A seção Conexão expressa os múltiplos diálogos e interações entre as linguagens da Arte, contribuindo para construção de um olhar amplo com relação aos processos de criação e a ampliação de repertório do estudante.

A seção Contraponto aborda o assunto por um novo olhar, permitindo que esse seja compreendido de forma ampla.

A seção Caminhando pela História embasa processos artísticos atuais, apresentando momentos anteriores que integraram a história da arte.

A seção Práticas de criação traz a possibilidade de o estudante experimentar e colocar em prática todas as questões que estão sendo abordadas. Dessa forma, ele é estimulado a criar não somente arte, mas também seus próprios caminhos de expressão e de compreensão.

Referências

A última Trilha termina com a seção Mapeando a caminhada, na qual o estudante é convidado a observar o seu próprio caminho, sanando possíveis dúvidas e produzindo novos questionamentos, de modo que possa vivenciar integralmente o processo de aprendizagem, que é contínuo.

As Referências trazem uma listagem de todas as obras consultadas e justificativas teóricas de sua utilização. Além de embasar cientificamente essa publicação, buscamos também fornecer, com essa seção, tanto ao estudante quanto ao professor, caminhos para o aprofundamento de diversas questões e conceitos abordados na coleção.

Boxes Apresenta os temas principais que serão desenvolvidos no decorrer da unidade, buscando aproximar o estudante a partir de reflexões.

Ícones

Tem o objetivo de alertar o estudante para questões importantes relativas às práticas e aos conceitos abordados.

Este selo indica o trabalho sobre um Tema Contemporâneo Transversal.

1 Escala musical

Traz diferentes possibilidades de aprofundamento para as questões colocadas no texto principal.

Este selo indica que há áudios ou músicas a serem escutados.

XXIV
logico, é logica!
Viagem no tempo

Transcrição dos áudios

O objetivo da coletânea de áudios e músicas é possibilitar experiências sonoras que ampliem o repertório do estudante, com elementos muitas vezes contrastantes, incentivando o olhar crítico e a reflexão. Os momentos propícios para uso das faixas de música estão indicados no Livro do Estudante com o selo correspondente, mas as possibilidades não se esgotam. As faixas a seguir estão distribuídas na coleção e identificadas nas orientações específicas deste Manual do Professor no momento em que é mais propício utilizá-las. Além disso, ao final de todos os volumes há a transcrição de áudios e músicas que foram trabalhadas no material.

1 p. 72

2 p. 72

3 p. 72

4 p. 72

5 p. 73

6 p. 77

7 p. 102

8 p. 102

Faixa Localização

1 p. 36

2 p. 37

3 p. 37

4 p. 43

5 p. 56

6 p. 65

7 p. 68

Sons: diferentes intensidades. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2018.

Sons: diferentes durações. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2018.

Sons: diferentes alturas. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2022.

Sons: diferentes timbres. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2018.

Percussão corporal. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2022.

Monofonia – Ave Maria de Hildegard Von Bingen.

Eu só tenho agradecer (Capoeira Angola). Compositor: Jefferson Cauê da Silva, 2020.

Mestre Bimba maioral (Capoeira regional). Compositor: Jefferson Cauê da Silva, 2020.

7o ano

Descrição

Com que roupa, Noel Rosa. Arranjo de Marcos Pantaleoni, gravado especialmente para esta obra, 2018.

Depois das palavras, Neymar Dias. Caminho de casa. Gravadora: Voo Livre, 2007.

Campo ternário – Valsa nordestina. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2022.

Som de notas musicais. Produção de Marcos Pantaleoni, especialmente para esta obra, 2018.

Ladainha em ré maior, de autor anônimo do século XVIII.

Música programática. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2022.

Prelúdio para a tarde de um fauno, Claude Debussy [Debussy: Prélude à l’après-midi d’un faune ∙ hr-Sinfonieorchester] Andrés Orozco-Estrada.

XXV
6o ano Faixa Localização Descrição

Faixa Localização

1 p. 114

2 p. 115

3 p. 115

4 p. 116

5 p. 120

6 p. 128

7 p. 128

8 p. 135

9 p. 135

10 p. 137

8o ano

Descrição

Som de tambores de bloco de carnaval de Salvador – Saudação à cachoeira. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2022.

Marcha de banda de rua. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2022.

Semper Fidelis, de John Philip Souza. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2018.

De caneta em caneta. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2022.

Na mão direita, de Newton Carneiro. CD Jazz Sinfônica 25 anos. Gravadora Tratore, 2016.

Corta-jaca, de Chiquinha Gonzaga, gravada pelo grupo Cello Choro, especialmente para esta obra, 2018.

Samba de Roda, com percussão de André Ricardo, gravado especialmente para esta obra, 2018.

Som de aerofone marubo, gravado por André Ricardo, especialmente para esta obra, 2018.

Som de uruá, de André Ricardo, gravado especialmente para esta obra, 2018.

Som de biwa. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2022.

9o ano Faixa Localização Descrição

1 p. 149

2 p. 149

3 p. 154

4 p. 155

5 p. 159

6 p. 168

Som da marimba de orquestra, de Marcos Pantaleoni, gravado especialmente para esta obra, 2018.

Som de balafon, gravado por André Ricardo especialmente para esta obra, 2018.

Som de teremim, gravado por Marcos Pantaleoni especialmente para esta obra, 2018.

Exemplos de uma mesma nota tocada por piano, violino e voz. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2022.

Som de Lumatone. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2022.

Se liga na mulher. Produção de Marcos Pantaleoni, gravada especialmente para esta obra, 2022.

XXVI Singleline/Shutterstock.com

As competências e habilidades da BNCC

Na abertura de cada unidade e de cada trilha, você encontra nos boxes “A BNCC nesta unidade” e “A BNCC nesta trilha”, respectivamente, as competências gerais, as competências de área e específicas, os objetos do conhecimento e as habilidades. Além disso, os objetivos definidos para as unidades e para as trilhas também são elencados no início de cada uma, permitindo ao professor identificar de que maneira as ações voltadas para o trabalho com as temáticas, as propostas, as atividades e as reflexões permitirão o desenvolvimento das habilidades relacionadas. As habilidades identificadas na abertura de cada unidade e de cada trilha também aparecem na página de cada item com os quais se correlacionam. As habilidades que compõem as Artes Integradas, por sua abrangência, estão presentes ao longo das unidades em consonância com o tema abordado.

As dez competências gerais da Educação Básica são trabalhadas nos livros da coleção por meio de provocações, questionamentos, reflexões, práticas, experiências, compartilhamentos e possíveis desdobramentos. Mas a ênfase em determinadas competências está propiciada nos livros, conforme proposta editorial, enfatizando que trabalhar uma competência implica defini-la previamente, como um objetivo de seu planejamento. Assim você, em seu planejamento, terá condições de trabalhar essas competências, mas a ênfase (definindo uma ou mais escolhas) está diretamente relacionada à intenção pedagógica de um determinado projeto, de uma aula, de uma pesquisa e/ou de uma prática proposta aos estudantes. Principalmente em um projeto que envolva o levantamento do conhecimento da turma, tenha a experimentação como foco de trabalho e promova a reflexão posterior sobre o que foi experimentado e o compartilhamento dos resultados.

O componente curricular Arte propicia, de forma igualitária, trabalhar as dez competências gerais, incluindo sua ludicidade, sua ampla forma de expressão nas quatro linguagens da Arte e nas conexões com outras formas de expressão em outros componentes. Ele possibilita, além de um maior autoconhecimento e autocuidado, a compreensão e organização de pensamento e a formulação de uma argumentação que será compartilhada por uma forma de comunicação, propiciando trabalhar de forma mais contundente as competências socioemocionais, que vão permitir a formulação de seu protagonismo.

A presença de verbos cognitivos nos títulos das unidades busca estimular a curiosidade, a autonomia e o protagonismo do estudante, enfatizando ações de experimentação, investigação, criação e reflexão. A progressão, presente na BNCC de Arte, está indicada nessas ações cognitivas que vão auxiliá-lo na construção do próprio conhecimento e no desenvolvimento de competências.

A presença de diversos questionamentos, ao longo dos conteúdos abordados nos quatro livros, propicia também situações para o estudante se perguntar, perguntar para os outros, elaborar hipóteses, discordar, propor interpretações alternativas, criticar fatos, conceitos, ideias, entre outras ações. Essa linha de diálogo permanente com o estudante é ampliada e instrumentalizada nas propostas práticas de pesquisas apresentadas nas seções Práticas de criação e Mapeando a caminhada, que aparece no encerramento de cada trilha elaborada. A Linha de chegada, ao final de cada volume, amplia essa proposta e possibilita ao estudante revisar os aprendizados e perceber a ressignificação construída com as novas informações.

Ao propiciar essa caminhada para a aprendizagem de novos conteúdos, a coleção propõe ao estudante vivenciar intrinsecamente as dimensões do conhecimento nas linguagens da Arte: criação, crítica, estesia, expressão, fruição e reflexão.

XXVII
Maria Petrish/Shutterstock.com

Competências

gerais da Educação Básica

1 Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

2 Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.

3 Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.

4 Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.

5 Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

6 Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

7 Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.

8 Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

9 Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10 Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Competências específicas de Linguagens para o Ensino Fundamental

1 Compreender as linguagens como construção humana, histórica, social e cultural, de natureza dinâmica, reconhecendo-as e valorizando-as como formas de significação da realidade e expressão de subjetividades e identidades sociais e culturais.

2 Conhecer e explorar diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e linguísticas) em diferentes campos da atividade humana para continuar aprendendo, ampliar suas possibilidades de participação na vida social e colaborar para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva.

3 Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao diálogo, à resolução de conflitos e à cooperação.

4 Utilizar diferentes linguagens para defender pontos de vista que respeitem o outro e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, atuando criticamente frente a questões do mundo contemporâneo.

5 Desenvolver o senso estético para reconhecer, fruir e respeitar as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, inclusive aquelas pertencentes ao patrimônio cultural da humanidade, bem como participar de práticas diversificadas, individuais e coletivas, da produção artístico-cultural, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas.

6 Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimentos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos.

XXVIII

Competências específicas de Arte para o Ensino Fundamental

1 Explorar, conhecer, fruir e analisar criticamente práticas e produções artísticas e culturais do seu entorno social, dos povos indígenas, das comunidades tradicionais brasileiras e de diversas sociedades, em distintos tempos e espaços, para reconhecer a arte como um fenômeno cultural, histórico, social e sensível a diferentes contextos e dialogar com as diversidades.

2 Compreender as relações entre as linguagens da Arte e suas práticas integradas, inclusive aquelas possibilitadas pelo uso das novas tecnologias de informação e comunicação, pelo cinema e pelo audiovisual, nas condições particulares de produção, na prática de cada linguagem e nas suas articulações.

3 Pesquisar e conhecer distintas matrizes estéticas e culturais – especialmente aquelas manifestas na arte e nas culturas que constituem a identidade brasileira –, sua tradição e manifestações contemporâneas, reelaborando-as nas criações em Arte.

4 Experienciar a ludicidade, a percepção, a expressividade e a imaginação, ressignificando espaços da escola e de fora dela no âmbito da Arte.

5 Mobilizar recursos tecnológicos como formas de registro, pesquisa e criação artística.

6 Estabelecer relações entre arte, mídia, mercado e consumo, compreendendo, de forma crítica e problematizadora, modos de produção e de circulação da arte na sociedade.

7 Problematizar questões políticas, sociais, econômicas, científicas, tecnológicas e culturais, por meio de exercícios, produções, intervenções e apresentações artísticas.

8 Desenvolver a autonomia, a crítica, a autoria e o trabalho coletivo e colaborativo nas artes.

9 Analisar e valorizar o patrimônio artístico nacional e internacional, material e imaterial, com suas histórias e diferentes visões de mundo.

Habilidades da BNCC

EF69AR01

Pesquisar, apreciar e analisar formas distintas das artes visuais tradicionais e contemporâneas, em obras de artistas brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas e em diferentes matrizes estéticas e culturais, de modo a ampliar a experiência com diferentes contextos e práticas artístico-visuais e cultivar a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético.

EF69AR02 Pesquisar e analisar diferentes estilos visuais, contextualizando-os no tempo e no espaço.

EF69AR03 Analisar situações nas quais as linguagens das artes visuais se integram às linguagens audiovisuais (cinema, animações, vídeos etc.), gráficas (capas de livros, ilustrações de textos diversos etc.), cenográficas, coreográficas, musicais etc.

EF69AR04 Analisar os elementos constitutivos das artes visuais (ponto, linha, forma, direção, cor, tom, escala, dimensão, espaço, movimento etc.) na apreciação de diferentes produções artísticas.

EF69AR05 Experimentar e analisar diferentes formas de expressão artística (desenho, pintura, colagem, quadrinhos, dobradura, escultura, modelagem, instalação, vídeo, fotografia, performance etc.).

EF69AR06

EF69AR07

EF69AR08

EF69AR09

EF69AR10

EF69AR11

Desenvolver processos de criação em artes visuais, com base em temas ou interesses artísticos, de modo individual, coletivo e colaborativo, fazendo uso de materiais, instrumentos e recursos convencionais, alternativos e digitais.

Dialogar com princípios conceituais, proposições temáticas, repertórios imagéticos e processos de criação nas suas produções visuais.

Diferenciar as categorias de artista, artesão, produtor cultural, curador, designer, entre outras, estabelecendo relações entre os profissionais do sistema das artes visuais.

Pesquisar e analisar diferentes formas de expressão, representação e encenação da dança, reconhecendo e apreciando composições de dança de artistas e grupos brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas.

Explorar elementos constitutivos do movimento cotidiano e do movimento dançado, abordando, criticamente, o desenvolvimento das formas da dança em sua história tradicional e contemporânea.

Experimentar e analisar os fatores de movimento (tempo, peso, fluência e espaço) como elementos que, combinados, geram as ações corporais e o movimento dançado.

XXIX

Habilidades da BNCC

EF69AR12 Investigar e experimentar procedimentos de improvisação e criação do movimento como fonte para a construção de vocabulários e repertórios próprios.

EF69AR13 Investigar brincadeiras, jogos, danças coletivas e outras práticas de dança de diferentes matrizes estéticas e culturais como referência para a criação e a composição de danças autorais, individualmente e em grupo.

EF69AR14 Analisar e experimentar diferentes elementos (figurino, iluminação, cenário, trilha sonora etc.) e espaços (convencionais e não convencionais) para composição cênica e apresentação coreográfica.

EF69AR15 Discutir as experiências pessoais e coletivas em dança vivenciadas na escola e em outros contextos, problematizando estereótipos e preconceitos.

EF69AR16 Analisar criticamente, por meio da apreciação musical, usos e funções da música em seus contextos de produção e circulação, relacionando as práticas musicais às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

EF69AR17 Explorar e analisar, criticamente, diferentes meios e equipamentos culturais de circulação da música e do conhecimento musical.

EF69AR18 Reconhecer e apreciar o papel de músicos e grupos de música brasileiros e estrangeiros que contribuíram para o desenvolvimento de formas e gêneros musicais.

EF69AR19 Identificar e analisar diferentes estilos musicais, contextualizando-os no tempo e no espaço, de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética musical.

EF69AR20 Explorar e analisar elementos constitutivos da música (altura, intensidade, timbre, melodia, ritmo etc.), por meio de recursos tecnológicos (games e plataformas digitais), jogos, canções e práticas diversas de composição/criação, execução e apreciação musicais.

EF69AR21 Explorar e analisar fontes e materiais sonoros em práticas de composição/criação, execução e apreciação musical, reconhecendo timbres e características de instrumentos musicais diversos.

EF69AR22 Explorar e identificar diferentes formas de registro musical (notação musical tradicional, partituras criativas e procedimentos da música contemporânea), bem como procedimentos e técnicas de registro em áudio e audiovisual.

EF69AR23 Explorar e criar improvisações, composições, arranjos, jingles, trilhas sonoras, entre outros, utilizando vozes, sons corporais e/ou instrumentos acústicos ou eletrônicos, convencionais ou não convencionais, expressando ideias musicais de maneira individual, coletiva e colaborativa.

EF69AR24 Reconhecer e apreciar artistas e grupos de teatro brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas, investigando os modos de criação, produção, divulgação, circulação e organização da atuação profissional em teatro.

EF69AR25 Identificar e analisar diferentes estilos cênicos, contextualizando-os no tempo e no espaço de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética teatral.

EF69AR26 Explorar diferentes elementos envolvidos na composição dos acontecimentos cênicos (figurinos, adereços, cenário, iluminação e sonoplastia) e reconhecer seus vocabulários.

EF69AR27 Pesquisar e criar formas de dramaturgias e espaços cênicos para o acontecimento teatral, em diálogo com o teatro contemporâneo.

EF69AR28 Investigar e experimentar diferentes funções teatrais e discutir os limites e desafios do trabalho artístico coletivo e colaborativo.

EF69AR29 Experimentar a gestualidade e as construções corporais e vocais de maneira imaginativa na improvisação teatral e no jogo cênico.

EF69AR30 Compor improvisações e acontecimentos cênicos com base em textos dramáticos ou outros estímulos (música, imagens, objetos etc.), caracterizando personagens (com figurinos e adereços), cenário, iluminação e sonoplastia e considerando a relação com o espectador.

EF69AR31 Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

EF69AR32 Analisar e explorar, em projetos temáticos, as relações processuais entre diversas linguagens artísticas.

EF69AR33 Analisar aspectos históricos, sociais e políticos da produção artística, problematizando as narrativas eurocêntricas e as diversas categorizações da arte (arte, artesanato, folclore, design etc.).

EF69AR34 Analisar e valorizar o patrimônio cultural, material e imaterial, de culturas diversas, em especial a brasileira, incluindo suas matrizes indígenas, africanas e europeias, de diferentes épocas, e favorecendo a construção de vocabulário e repertório relativos às diferentes linguagens artísticas.

EF69AR35 Identificar e manipular diferentes tecnologias e recursos digitais para acessar, apreciar, produzir, registrar e compartilhar práticas e repertórios artísticos, de modo reflexivo, ético e responsável.

XXX

Práticas de pesquisa

A abordagem das metodologias ativas, também uma das bases desta coleção, aproxima as práticas formativas dos estudantes daquelas que têm sido usadas para construir o conhecimento e a análise crítica das fontes. A escolha de metodologias de trabalho e de exposição permeiam as práticas e capacitam os estudantes a formular problemas – fazendo com que busquem informações em fontes apropriadas, usando métodos que incluem o diálogo e a construção coletiva de soluções.

Nesse sentido, para que os estudantes estejam preparados para atuar e se preparar para o Ensino Médio, momento no qual se inicia a definição profissional, é preciso que sejam capazes de problematizar a própria realidade, desenvolvendo alguns procedimentos que constituem a produção do conhecimento científico no mundo contemporâneo. As ações indicadas pela competência 2, que envolvem a investigação científica, crítica e criativa, devem ser um dos eixos estruturantes do itinerário formativo do estudante também na competência de Arte, por se tratar de uma atitude de investigação e pesquisa, condição essencial da aprendizagem, conforme colocação na BNCC. Nos termos das diretrizes curriculares brasileiras, a investigação científica na educação básica supõe o aprofundamento de conceitos fundantes das ciências para a interpretação de ideias, fenômenos e processos que devem ser utilizados em procedimentos de investigação voltados ao enfrentamento de situações cotidianas e demandas locais e coletivas, e à proposição de intervenções que considerem o desenvolvimento local e a melhoria da qualidade de vida da comunidade. (BRASIL, 2018, p. 7).

Em todos os livros, o estudante poderá desenvolver diversas práticas de pesquisa, como o estudo de recepção (de obras de arte e de produtos da indústria cultural) mais explicitada no livro do 6o ano; a construção e o uso de questionários e a elaboração e realização de entrevistas como prática de criação no livro do 7o ano; a análise documental, focando a sensibilização para análise de discurso e todo o processo que permeia a observação, tomada de nota e construção de relatórios no livro do 8o ano; a revisão bibliográfica e a análise de mídias sociais, envolvendo a análise das métricas das mídias e sensibilização para análise de discurso multimodal no livro do 9o ano. Cada metodologia é explicada no Livro do Estudante e detalhada nas orientações do Manual do Professor, a fim de capacitar os estudantes para construir conhecimentos e elaborar argumentos de maneira crítica, complexa e científica. No entanto, segue um resumo do que trata cada uma.

XXXI
Rido/Shutterstock.com

• Revisão bibliográfica (Estado da Arte): trata-se de um levantamento de determinado tema, no qual se procura identificar o que os pesquisadores estão discutindo sobre ele. Essa prática de pesquisa ajuda a entender as linhas de pesquisa existentes e reconhecer a evolução do estudo de um determinado assunto.

• Análise documental (sensibilização para análise de discurso): trata-se de uma pesquisa científica qualitativa sobre determinado assunto. Ela pode ser feita de maneira complementar a outras técnicas, aprofundando informações coletadas, ou de forma independente, trazendo aspectos novos para o tema em questão.

• Construção e uso de questionários: apesar de parecer simples, a elaboração de um questionário tem alguns pilares principais para que ele possa cumprir sua meta de pesquisa, como levantamento de hipóteses, objetivo principal que se espera alcançar com o resultado e os métodos para analisar os dados coletados. Além disso, todas as questões devem ser escritas.

• Estudo de recepção (de obras de arte e de produtos da indústria cultural): trata-se de um detalhamento dos aspectos midiáticos (especificamente de seus conteúdos) de uma obra, a partir da análise de consumo do público sobre ela.

• Observação, tomada de nota e construção de relatórios: assim como a análise documental, essa prática também pode ser feita ou não de forma complementar a outras. Ela consiste em realizar observações sobre determinado tema ou aspecto, fazer anotações em tempo real e, por fim, construir um relatório apresentando tudo o que foi observado, como o próprio nome diz.

• Entrevistas: diferentemente dos questionários, as entrevistas podem ser realizadas de forma oral ou escrita. As respostas podem ser abertas e abrangentes, e o entrevistador pode aprofundar algum assunto que venha a surgir durante a entrevista, porém sem perder o foco e o objetivo principal.

• Análise de mídias sociais (análise das métricas das mídias e sensibilização para análise de discurso multimodal): esse método de pesquisa propõe a análise dos indicadores de alcance das mídias sociais sobre determinado tema entre um público-alvo, atuando também como primeiro contato da análise do discurso em plataformas multissemióticas.

As práticas de pesquisa estão presentes no Manual do Professor, como pode ser observado a seguir.

Práticas de

XXXII
6o ano Estudo de recepção 7o ano Entrevista Construção e uso de questionário 8o ano Análise documental Construção de relatório, observação e tomada de notas 9o ano Análise de mídias sociais Revisão bibliográfica Ilustrações: Ifaicon/Shutterstock.com
pesquisa

Pensar digital

As transformações tecnológicas têm ocorrido, especialmente nos últimos 20 anos, a uma velocidade jamais experimentada pelos seres humanos. Elas impactam a sociedade, a economia, os sujeitos, a cognição, as emoções. Por um lado, a vertigem parece inevitável. Onde e como buscar referências para enfrentar esse cenário no campo da Educação?

Ao investigarmos a história da relação humana com as tecnologias de uma perspectiva cultural, como proposto nesta coleção, vemos direções que podem orientar as ações de uma escola conectada com seu tempo. A BNCC corrobora a ideia de que o acúmulo de informações não dá conta dos desafios contemporâneos em contextos locais e globais. Nesse sentido, o desenvolvimento de competências passa a ser norteador dos processos formais de educação, nos quais aprender a aprender ou aprender pela pesquisa assumem protagonismo entre gestores, professores e estudantes.

Nesse cenário, os professores precisam passar cada vez mais a atuar como pesquisadores e investigadores das próprias práticas. Você também enfrenta, em suas próprias experiências de mundo, com maior ou menor engajamento, as transformações relacionadas à emergência das tecnologias digitais da informação e comunicação. Assim, surgem interessantes provocações, que constituem desafios para toda escola neste começo de século XXI: compreender as características da cultura digital emergente, situar-se em relação a ela, conhecer seus instrumentos e vivenciar as potencialidades e adversidades experimentadas também pelos estudantes, em suas mais variadas apropriações da tecnologia como ferramenta, cultura e linguagem. É também a mudança de um paradigma temporal e cognitivo, como vemos na leitura de Pierre Lévy (2001) com o estudo dos polos da inteligência humana: um certo retorno à circularidade da oralidade. A educação baseada em um tempo linear, em acúmulo e transmissão, não responde mais, sozinha, às demandas sociais, econômicas, éticas e ambientais que surgem dia após dia.

Os desafios digitais

A cultura digital se apresenta de diversas formas; suas conexões (globais) tendem a ser efêmeras, pautadas pela atualidade e pelo consumo, mobilizadas pelas emoções, efetivadas por audiências cada vez mais ativas, medidas pela visibilidade em diferentes mídias digitais. Emergem, nesse sentido, novas experimentações

em relação ao conhecimento, pautadas pela colaboração, pelo “faça você mesmo”, pela experimentação, pelo desenvolvimento de modelos, pela simulação. Quantos desses elementos já apareceram em suas aulas?

O ensino contemporâneo traz o desafio de construir as aulas em um contexto de ampliação das possibilidades de comunicação e de informação sem precedentes nas sociedades. As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) fazem parte do cotidiano das pessoas e assumiram, para a maioria delas, status de complemento e companhia. Vivemos uma nova cultura e, com ela, um novo modelo de sociedade surge. Jenkins (2009) fala em cultura da convergência, ou seja, uma cultura em que novas mídias não simplesmente substituem as anteriores, mas interagem de formas cada vez mais complexas. A proposta desta coleção é auxiliar a comunidade escolar nessa travessia, possibilitando discussões e práticas que se integrem às múltiplas realidades nas quais as escolas se situam.

Somado a isso, a pandemia de covid-19 exigiu de maneira emergencial e imprescindível repensar as práticas educacionais advindas do distanciamento social causado pelo fechamento das escolas e levá-las para o ensino remoto. Essa modalidade de ensino demandou que docentes e discentes migrassem para a modalidade on-line, transferindo e adaptando práticas pedagógicas típicas dos territórios físicos de aprendizagem para essa nova realidade. Nesse cenário, de acordo com Oliveira, Corrêa e Morés (2020, p. 6), a tecnologia digital

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Rido/Shutterstock.com

ganhou espaço, exigindo que a escola tivesse que se adaptar aos modos de ensinar e de aprender, com vistas a ressignificar seus processos pedagógicos, principalmente, em relação à transição da modalidade presencial, substituída mesmo que, temporariamente, pela online. Essa substituição prevê, dependendo do tipo de rede de ensino, privada ou pública, que a continuidade das aulas ocorra, remotamente, de modo online, mediadas por computadores desktop ou dispositivo móvel (notebooks, tablets e smartphones) [...].

O estudante de qualquer ano escolar na segunda década de 2020 é um “nativo digital”, e compreendê-lo é um dos maiores desafios do momento. Diante disso, lançamos uma pergunta que sintetiza a preocupação de todo o universo escolar: Qual é o papel da escola em um mundo midiático? É preciso entender que essa questão não se refere ao espaço físico, delimitado por paredes, mas a todo o processo de ensino.

Podemos refletir sobre essa pergunta ao compararmos a interação de um estudante com um manual escolar, que apresenta um conteúdo organizado, hierarquizado e ordenado num esquema conceitual, e um video game, cujo conteúdo se apresenta na forma de um jogo estimulante e cheio de desafios, no qual o jogador – o estudante – é o condutor da ação. No segundo caso, o estudante se sente vitorioso ao passar de fases com destreza em ações simultâneas. Esse sentimento surge não somente pela versatilidade de acesso em qualquer horário e lugar, mas, possivelmente, porque ele interage com outros participantes, sentindo-se membro de uma comunidade com perfil semelhante ao seu. Além disso, ele atua em um campo simbólico e se identifica com personagens, o que pode proporcionar a experiência de vivenciar outras realidades e identidades.

Essa reflexão, entretanto, não responde à pergunta; pelo contrário, a amplia, dando-lhe mais relevância e levando a uma nova pergunta: Existe diferença entre o estudante-leitor e o estudante-midiático? A imagem exerce força maior com os jovens, e a contemporaneidade tem sido marcada por um modo performático de ser e estar no mundo; o jovem não se expressa apenas por palavras, mas sobretudo por imagens. O corpo se comunica por selfies e vídeos; o vocabulário próprio dessa linguagem é mais comum do que o adquirido em leituras silenciosas. A percepção passou a ser a primeira leitura.

Atualmente, o estudante tem a seu dispor e é usuário de enorme oferta eletrônica, com inúmeros recursos e mecanismos que são transformados a todo

momento. A tecnologia do século XXI impulsionou o surgimento de um estudante com perfil multifacetado, acostumado a estar conectado em redes e ter sua “agilidade” reconhecida e premiada, o que gerou baixa tolerância a propostas que não dialogam com os hábitos de seu cotidiano. É certo que esses estudantes adquiriram novas capacidades, e elas não se resumem apenas à agilidade no manuseio de dispositivos, mas a uma nova forma de ler, produzir informação e interagir no mundo digital.

E na sala de aula?

O mundo midiático e informacional funciona multiplicando as conexões, e seu usuário se torna hiperconectado em diversas interfaces desarticuladas entre si, conforme Paula Sibilia explica em Redes ou paredes: a escola em tempo de dispersão (2012, p. 118). A autora também cita que “esse é um traço imprescindível para o estilo de vida contemporâneo, não um distúrbio patológico, ainda que seja incongruente com o ensino pedagógico”.

A insegurança diante das habilidades adquiridas pelo estudante “nativo digital” gera a necessidade de negociação entre professores e estudantes, que extrapolam a discussão sobre o uso de celular na sala de aula e envolvem a criação de um espaço propositor, onde as fileiras de cadeiras sejam alteradas para gerar interação na própria sala, de modo que o sentimento de estar com amigos, propiciado pelas comunicações digitais, faça parte do dia a dia da escola, em uma busca de propostas híbridas para uma nova forma de ensinar. A proposta é entender a sala de aula como um espaço de encontros, diálogos, produção de pensamento e compartilhamento de experiências com foco em aprender, e não em ser aprovado.

Você já se perguntou o que significa ler e escrever no século XXI? Esse questionamento precisa ser feito quando vamos trabalhar as diferentes linguagens com o jovem que vive entre o digital e o analógico. Se partirmos do pressuposto de que língua e linguagem estão em constante transformação na sociedade, é necessário considerar o uso da linguagem no universo digital e compreender que a ação didática do professor precisa alcançar esse território para que o trabalho com a linguagem seja significativo na vida dos estudantes. É importante compreender como eles se valem da comunicação digital para interagir socialmente. Sem dúvidas, a leitura e a escrita foram atingidas fortemente pelas transformações tecnológicas na sociedade digital.

XXXIV

O ato de ler no contexto digital da internet é dinâmico, interativo e muito criativo, possibilitando ao leitor fazer muitas inferências durante a leitura de um texto multissemiótico. Poderíamos citar inúmeros casos; observe, por exemplo, que uma reportagem em um jornal on-line permite uma leitura multissemiótica: texto escrito, imagens, infográficos, vídeos, links, hipertextos, hipermídias, gráficos, entre outros recursos. Todos esses recursos multissemióticos estão carregados de signos e informações que produzem diferentes significados tanto para quem lê quanto para quem produz o texto. Essa coesão multissemiótica ou multimodal transforma o ato de ler e de produzir qualquer texto no ambiente digital, exigindo do leitor e do produtor novas habilidades e competências digitais e de leitura. As transformações digitais extrapolam o conceito de letramento, pois ele não dá conta das novas demandas sociais da comunicação digital. No entanto, é por meio do próprio conceito-base de letramento que compreendemos a leitura e a escrita como práticas sociais inseparáveis do contexto em que ocorrem. Nesta coleção, valemo-nos desse conceito de letramento também, mas incorporamos as novas demandas sociais e digitais para trabalhar a leitura e a escrita do jovem do século XXI. Entendemos que a linguagem perpassa as diferentes áreas do conhecimento pautada no conceito dos novos letramentos (LANKSHEAR; KNOBEL, 2003, 2008) e valoriza o desenvolvimento de projetos que partem de metodologias ativas para colocar o estudante no centro

da própria aprendizagem híbrida, na produção ou na leitura de discursos de diferentes linguagens ligadas ao contexto social, cultural e digital. Coadunamos nosso discurso com as competências específicas de Linguagens, propondo ações didáticas que promovem o desenvolvimento da cultura digital em diferentes campos de atuação e estimulam o estudante a usar os novos letramentos na Educação Básica.

No trabalho dos diferentes componentes de Arte, os multiletramentos ganham força na ação didática do professor e no protagonismo do estudante, preparando-o para o Ensino Médio. O foco de trabalho encontra-se na busca pela compreensão de contextos culturais, sociais e comunicacionais imersos na multimodalidade de diferentes linguagens da Arte. Assim, os novos letramentos citados na BNCC partem de um processo de apropriação do conceito para o processo de criação e interação da cultura digital (LANKSHEAR; KNOBEL, 2003). Compreendem as novas práticas no uso da linguagem em uma rede de comunicação digital que exige um “novo ethos” dos usuários, que passam a ser mais participativos e colaborativos na produção de informação.

Nesse sentido, as práticas propostas na coleção promovem ações didáticas para que os estudantes investiguem diferentes linguagens da Arte e se apropriem delas, desenvolvam valores e compartilhem novas ideias para construir e enriquecer o patrimônio cultural e informacional na sociedade contemporânea.

TeeStocker/Shutterstock.com XXXV

Temas Contemporâneos Transversais

Com vistas à educação integral dos estudantes, a BNCC traz a proposta da inclusão de temáticas contemporâneas relevantes à vida, fundamentais para a formação de cidadãos atuantes na sociedade, que prezem pelo respeito, justiça e sustentabilidade. Orienta-se que elas estejam nos currículos de forma transversal e integradora. São sugeridos os seguintes temas, que, por sua vez, estão divididos em seis macrotemas (BRASIL, 2018, p. 19-20), como evidencia o esquema a seguir.

Multiculturalismo

Diversidade cultural Educação das relações étnicos-raciais e ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena

Ciência e Tecnologia

Ciência e Tecnologia

Economia

Trabalho

Educação Financeira e Fiscal

Meio Ambiente

Educação ambiental Educação para o consumo

Cidadania e Civismo

Vida familiar e social Educação para o trânsito Educação em Direitos Humanos Direitos da Criança e do Adolescente Processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso

Saúde

Saúde

Educação Alimentar e Nutricional

Nesta coleção, você encontrará o selo que indica os assuntos que exploram os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) e mostra quais conteúdos ou atividades abarcam esses temas, relacionando-os com a diversidade da realidade dos estudantes e contribuindo para o exercício da cidadania, da democracia e do projeto de vida.

A coleção trabalha diferentes Temas Contemporâneos Transversais em cada um dos quatro livro. Veja.

Temas Contemporâneos Transversais

6o ano Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras

Saúde

7o ano Educação ambiental Diversidade cultural

8o ano Educação para o consumo Educação em Direitos Humanos

9o ano Ciência e Tecnologia

Trabalho

XXXVI
TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS
Reinaldo Vignati

Plano de desenvolvimento anual

Apresentamos a seguir uma proposta de distribuição dos conteúdos da coleção no decorrer do ano letivo. Ela foi elaborada com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que preconiza a carga horária mínima anual de 800 horas para o Ensino Fundamental, distribuídas por um mínimo de 200 dias de efetivo trabalho escolar (BRASIL, 1996, p. [1]).

Assim, o plano de desenvolvimento anual considera o mínimo de 40 semanas letivas para o desenvolvimento de todo o conteúdo proposto, porém valoriza também a autonomia do professor e pode ser adaptado à realidade escolar e à quantidade de aulas destinadas à disciplina de Arte em seu estado ou município.

1o bimestre Ponto de partida e Unidade 1

2o bimestre Unidade 2

Planejamento bimestral

3o bimestre Unidade 3

4o bimestre Unidade 4 e Linha de chegada

Planejamento trimestral

1o trimestre Ponto de partida e Unidade 1

2o trimestre Unidades 2 e 3

3o trimestre Unidade 4 e Linha de chegada

Planejamento semestral

1o semestre Ponto de partida e Unidades 1 e 2

2o semestre Unidades 3 e 4 e Linha de chegada

XXXVII
Julia Lazebnaya/Shutterstock.com

Quadro de conteúdos

Em consonância com a organização dos conteúdos, os quatro volumes da coleção estão divididos de forma progressiva. A seguir, você encontra uma breve descrição de cada unidade. As informações detalhadas estão disponíveis na parte específica de cada Manual do Professor.

VOLUME 6

Ponto de partida Conteúdos Competências e habilidades da BNCC

Competências gerais: 1, 3, 4, 5, 7, 8, 9 e 10

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

• Elementos que caracterizam as linguagens da Arte: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro.

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8 e 9

Jornada que se inicia!

• O “corpo” na Arte.

• Interação entre as linguagens da Arte.

• Processos de criação em Arte.

Habilidades: EF69AR01, EF69AR02, EF69AR03, EF69AR04, EF69AR05, EF69AR06, EF69AR07, EF69AR09, EF69AR10, EF69AR11 EF69AR12

EF69AR13, EF69AR14, EF69AR20, EF69AR21, EF69AR24, EF69AR25, EF69AR26, EF69AR29, EF69AR31 e EF69AR35

Trilha Conteúdos Competências e habilidades da BNCC

Unidade 1 - Perceber, experimentar e participar!

Competências gerais: 1 2 3 4 5, 6, 7, 8, 9 e 10

Temas Contemporâneos Transversais

(TCTs)

• Introdução da linguagem teatral.

• O Teatro como encontro de pessoas.

1

Meu corpo e minhas histórias presentes

• Narração de histórias em comunidades.

• Significados dos elementos expressivos da linguagem teatral em conexão com o corpo.

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 7, 6, 7, 8 e 9

Habilidades: EF69AR03, EF69AR05, EF69AR24, EF69AR25, EF69AR26, EF69AR27, EF69AR28, EF69AR29, EF69AR30, EF69AR31, EF69AR32, EF69AR33, EF69AR34 e EF69AR35

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 7, 8, 9 e 10

Cidadania e Civismo Vida familiar e social

Multiculturalismo

Diversidade cultural e Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras

• A Música e os sons do cotidiano.

• Qualidades dos sons.

• Audição e comparação de sons.

• Processos de criação na linguagem da Música.

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4 e 5

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 8 e 9

Habilidades: EF69AR09, EF69AR16, EF69AR17, EF69AR18, EF69AR19, EF69AR20, EF69AR21, EF69AR22 EF69AR23

EF69AR32, EF69AR33 e EF69AR34

Multiculturalismo

Diversidade cultural e Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras

Meio ambiente

Educação ambiental

XXXVIII
2
Corpo e música

• Elementos da linguagem das Artes Visuais.

• Bidimensionalidade e tridimensionalidade nas representações.

• O corpo nas Artes Visuais: o corpo criador e o corpo que é representado.

• Diálogo Artes Visuais, Música e Teatro.

• O desenho e a inclusão de pessoas com deficiência visual.

• Representação visual na Pré-História.

• O “corpo” no cotidiano e as expressões da Dança na sociedade.

• Elementos constitutivos da Dança.

• Consciência corporal, inteligência espacial e imaginação em danças autorais.

• Saúde e diversidade de movimentos do corpo.

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10 Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 8 e 9 Habilidades: EF69AR01, EF69AR02, EF69AR03, EF69AR04, EF69AR05, EF69AR06, EF69AR07, EF69AR08, EF69AR18, EF69AR21, EF69AR24, EF69AR25, EF69AR31, EF69AR32, EF69AR34 e EF69AR35

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 7, 8, 9 e 10

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4 e 5

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 8 e 9

Habilidades: EF69AR06, EF69AR09, EF69AR10, EF69AR11, EF69AR12, EF69AR13, EF69AR14, EF69AR15, EF69AR21, EF69AR32, EF69AR33 e EF69AR34

Bate-papo com a artista Conteúdo Competências e habilidades da BNCC

Competências gerais: 3, 4, 7 e 8

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4 e 5

Saúde Saúde

Multiculturalismo Diversidade cultural

Cidadania e Civismo Educação em Direitos Humanos

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Cristiane Paoli Quito

• Entrevista com uma profissional das artes.

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 8 e 9

Habilidades: EF69AR09, EF69AR31 e EF69AR32

Linha de chegada Conteúdos Competências e habilidades da BNCC

• Experiências vivenciadas nas diferentes linguagens da Arte.

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Caminhos trilhados

• Aprendizados adquiridos por meio do corpo e suas formas de expressão.

• Curadoria e mapeamento do aprendizado adquirido.

Competências gerais: 3, 4, 7, 8, 9 e 10

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4 e 5

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 8 e 9

Habilidades: EF69AR04, EF69AR10, EF69AR11, EF69AR20, EF69AR26 e EF69AR32

XXXIX
Temas Contemporâneos Transversais
Unidade 2 – Conhecer, transformar, mover
VOLUME 6 Trilha Conteúdos Competências e habilidades da BNCC
(TCTs)
3
Corpo que é visto, corpo que vê 4 Representações do corpo na dança

Ponto de partida Conteúdos

• Análise e interpretação de imagens.

Competências e habilidades da BNCC

Competências gerais: 1, 3, 4, 7, 8 e 9

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4 e 5

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Olhar, sentir, criar: signos, símbolos e a imaginação

• A comunicação na linguagem visual em manifestações artísticas ou cotidianas.

• Signos e significados em manifestações artísticas.

Trilha Conteúdos

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4 e 8

Habilidades: EF69AR01, EF69AR02, EF69AR03, EF69AR04, EF69AR05, EF69AR06, EF69AR07, EF69AR16, EF69AR17, EF69AR19, EF69AR23 e EF69AR29

Competências e habilidades da BNCC

Unidade 1 - Experimentar, aprender e comunicar

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

• Música como manifestação simbólica nas artes e na sociedade.

• Manifestações e gêneros diferenciados da Música.

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4 e 5

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 8 e 9

1 Música: a gente cria

• Elementos constitutivos da Música.

• Conceitos e possibilidades de notação musical.

• O papel da música na sociedade.

• Práticas de criação sonoras.

Habilidades: EF69AR01, EF69AR02, EF69AR04, EF69AR06, EF69AR09, EF69AR11, EF69AR12, EF69AR13, EF69AR16, EF69AR17, EF69AR18, EF69AR19, EF69AR20, EF69AR21, EF69AR22, EF69AR23, EF69AR33, EF69AR34 e EF69AR35

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10

Meio ambiente Educação ambiental

Arte: criar e recriar camadas simbólicas

• Artes Visuais e manifestações em Arte.

• Camadas simbólicas de obras artísticas.

• Função comunicativa dos códigos na linguagem e no cotidiano.

• Signos e símbolos.

• Expressões em Arte Visuais e sua relação com outras linguagens da Arte.

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9

Habilidades: EF69AR01, EF69AR02, EF69AR03, EF69AR04, EF69AR05, EF69AR06, EF69AR07, EF69AR08, EF69AR09, EF69AR11, EF69AR24, EF69AR25, EF69AR26, EF69AR27, EF69AR29, EF69AR31, EF69AR32, EF69AR33, EF69AR34 e EF69AR35

XL
VOLUME 7
2

Trilha Conteúdos Competências e habilidades da BNCC

• Expressões em Dança e seus elementos constitutivos.

• Práticas de criação em Dança.

3

Dança que expressa ideias

• Signos e símbolos nas linguagens das artes.

• Matrizes culturais e africanas na Dança.

• Dança moderna e sua influência na contemporaneidade.

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4 e 5

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 8 e 9

Habilidades: EF69AR09, EF69AR10, EF69AR11, EF69AR12, EF69AR13, EF69AR14, EF69AR15, EF69AR16, EF69AR19, EF69AR31, EF69AR33, EF69AR34 e EF69AR35

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4 e 5

Multiculturalismo

Diversidade cultural e Educação para a valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras

4 Teatro: produzir cenas e criar sentidos

• Recursos cênicos na contação de histórias.

• Elementos cênicos e sentidos específicos.

• Teatro dramatúrgico na composição cênica.

• Linguagem teatral e o debate de assuntos cotidianos.

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 8 e 9

Habilidades: EF69AR01, EF69AR02, EF69AR03, EF69AR04, EF69AR09, EF69AR14, EF69AR16, EF69AR17, EF69AR20, EF69AR21, EF69AR24, EF69AR25, EF69AR26, EF69AR27 EF69AR28

EF69AR29, EF69AR30,

EF69AR31, EF69AR32, EF69AR33 e EF69AR34

Bate-papo com o artista Conteúdo Competências e habilidades da BNCC

Competências gerais: 1, 3, 4, 7 e 9

Competências específicas de Linguagens: 1, 2 e 5

Multiculturalismo

Diversidade cultural

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Binário Armada

• Entrevista com um profissional das artes.

Competências específicas de Arte: 1, 3, 7 e 9

Habilidades: EF69AR01, EF69AR02, EF69AR03, EF69AR07 e EF69AR34

Linha de chegada Conteúdos Competências e habilidades da BNCC

Competências gerais: 3, 4, 7, 8 e 9

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

• Reflexão sobre a trilha de aprendizagem.

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4 e 5

Signos para sentir, pensar e criar

• Mapeamento das experiências nas diferentes linguagens da Arte.

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4 e 8

Habilidades: EF69AR01, EF69AR02, EF69AR04, EF69AR05, EF69AR06, EF69AR07, EF69AR21 e EF69AR23

XLI VOLUME
7
Unidade 2 – Imaginar, conhecer e expressar

Ponto de partida Conteúdos

Arte em todos os lugares

VOLUME 8

Competências e habilidades da BNCC

Competências gerais: 1, 3, 4, 5, 7, 8, 9 e 10

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

• Percepção dos elementos das linguagens da Arte: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro.

• Territórios e espaços na Arte.

• Integração entre as linguagens artísticas.

• Processos de criação em Arte.

Trilha Conteúdos

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 8 e 9

Habilidades: EF69AR01, EF69AR02, EF69AR05, EF69AR07, EF69AR09, EF69AR17, EF69AR18, EF69AR19, EF69AR20, EF69AR23, EF69AR24, EF69AR31, EF69AR32, EF69AR34 e EF69AR35

Competências e habilidades da BNCC

Unidade 1 - Reconhecer, relacionar e criar

• Expressões em danças no Brasil e no mundo.

• Concepções de Dança no tempo e no espaço.

1

Arte no espaço e tempo da dança

• Modos de relação com a Dança.

• Processos de criação na linguagem da Dança.

• Integração da Dança com outras linguagens da Arte.

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10 Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9

Habilidades: EF69AR01, EF69AR02, EF69AR03, EF69AR04, EF69AR09, EF69AR10, EF69AR11, EF69AR12, EF69AR13, EF69AR14, EF69AR15, EF69AR16, EF69AR19, EF69AR31, EF69AR32, EF69AR33, EF69AR34 e EF69AR35

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10

Meio ambiente Educação ambiental

Multiculturalismo Diversidade cultural

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Meio Ambiente Educação ambiental Saúde Saúde

Cidadania e Civismo Educação para o trânsito

Ciência e Tecnologia Ciência e Tecnologia

2 Teatro e espaço

• Elementos da linguagem teatral.

• Formas de criação em diferentes espaços cênicos.

• Dramaturgia e espaço cênico.

• Imaginação e criação na linguagem do Teatro.

• Processos de criação cênica: improvisação e composição.

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9

Habilidades: EF69AR01, EF69AR02, EF69AR03, EF69AR04, EF69AR06, EF69AR17, EF69AR19, EF69AR24, EF69AR25, EF69AR26, EF69AR27, EF69AR28, EF69AR29, EF69AR30, EF69AR32, EF69AR34 e EF69AR35

Meio Ambiente Educação para o consumo Multiculturalismo Diversidade cultural

XLII

Trilha Conteúdos Competências e habilidades da BNCC

Unidade 2 – Identificar, desenvolver e criar

• Interações musicais em seu contexto de produção.

• Paisagem sonora.

3

A música nos conta quem somos

• Transformações sonoras ao longo do tempo.

• Sonoridades e música na vida cotidiana.

• Discussões sobre as diferentes manifestações musicais.

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9

Habilidades: EF69AR03, EF69AR09, EF69AR16, EF69AR17, EF69AR18, EF69AR19, EF69AR20, EF69AR21, EF69AR22, EF69AR23, EF69AR31, EF69AR34 e EF69AR35

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5 6 7 8 9 e 10

• Sentidos criados por meio de recursos e da relação com o espaço.

• Construção e transformação de territórios.

Meio Ambiente Educação ambiental

Multiculturalismo

Diversidade cultural

Cidadania e Civismo

Direitos da criança e do adolescente

4 Habitar uma coletividade

• Práticas de criação: pesquisa e experimentação.

• Manifestações culturais nacionais e estrangeiras.

• Expressões artísticas no tempo e no espaço.

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9

Habilidades: EF69AR01, EF69AR02 EF69AR03

EF69AR04, EF69AR05, EF69AR06, EF69AR07, EF69AR11, EF69AR24, EF69AR31, EF69AR32, EF69AR33, EF69AR34 e EF69AR35

Meio Ambiente

Educação para o consumo

Cidadania e Civismo

Educação em Direitos Humanos

Multiculturalismo

Diversidade cultural

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Lilian Nakahodo

• Entrevista com uma profissional das artes.

Competências gerais: 1, 3, 4, 8 e 9

Competências específicas de Linguagens: 1, 3 e 5

Competências específicas de Arte: 3 e 8

Habilidades: EF69AR18 e EF69AR21

Linha de chegada Conteúdos Competências e habilidades da BNCC

• Retomada e discussão do conhecimento adquirido.

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Construindo territórios

• Reflexão final sobre os territórios da Arte.

• Prática coletiva sobre o conteúdo aprendido durante o ano.

Competências gerais: 3, 4, 7, 8, 9 e 10

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3 e 5

Competências específicas de Arte: 1, 3, 8 e 9

Habilidades: EF69AR01, EF69AR09, EF69AR16, EF69AR24 e EF69AR34

XLIII
VOLUME 8
Bate-papo com a artista Conteúdo Competências e habilidades da BNCC

Ponto de partida Conteúdos Competências e habilidades da BNCC

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9 e 10

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Técnicas e tecnologias

• Técnica e tecnologia em manifestações artísticas.

• Interação entre as linguagens da Arte.

Trilha Conteúdos

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8 e 9

Habilidades: EF69AR31, EF69AR32, EF69AR34 e EF69AR35

Competências e habilidades da BNCC

Ciência e Tecnologia Ciência e Tecnologia

Cidadania e Civismo Vida familiar e social

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Unidade 1 – Técnicas e tecnologias nas produções da arte

• Relação entre Arte e tecnologia.

• Artistas e conceitos de Arte em diálogo com as tecnologias.

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9

1 Inovar, crescer e permanecer

• Códigos comunicacionais em criações de Arte.

• Processos de criação nas Artes Visuais por meio de técnicas analógicas e digitais.

• Processos e técnicas das produções de Arte.

• O corpo no cotidiano.

• Fruição e expressão dos elementos da Dança.

2

Transformações da dança pela tecnologia

• Processos de criação em danças autorais.

• Técnica e tecnologia no movimento e nas manifestações de Dança.

Habilidades: EF69AR01, EF69AR02, EF69AR03, EF69AR04, EF69AR05, EF69AR06, EF69AR07, EF69AR08, EF69AR24, EF69AR25, EF69AR31, EF69AR32, EF69AR33, EF69AR34 e EF69AR35

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10 Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9 Habilidades: EF69AR03, EF69AR09, EF69AR10, EF69AR11, EF69AR12, EF69AR13, EF69AR14, EF69AR15, EF69AR19, EF69AR25, EF69AR31, EF69AR32 e EF69AR35

Cidadania e Civismo Educação em Direitos Humanos

Economia Trabalho

Ciência e Tecnologia Ciência e Tecnologia

Cidadania e Civismo Educação em Direitos Humanos e Direitos da criança e do adolescente

Meio Ambiente Educação ambiental

XLIV
VOLUME 9

VOLUME 9

Trilha Conteúdos Competências e habilidades da BNCC

Unidade 2 – Saber, inventar e inspirar

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10

• Iluminação cênica na criação de sentidos.

3

Teatro: linguagem em ação

• Iluminação teatral e seus equipamentos no decorrer no tempo.

• Teatro de sombras e teatro lambe-lambe.

• Tecnologias e a construção de efeitos e significados.

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9 Habilidades: EF69AR03, EF69AR24, EF69AR25, EF69AR26, EF69AR27, EF69AR28, EF69AR29, EF69AR30, EF69AR31 e EF69AR35

Cidadania e Civismo Educação em Direitos Humanos

Economia

Trabalho

4 Os caminhos da música

• Conceitos de musicologia e etnomusicologia.

• Música e artes como partes da sociedade.

• Transformação e humanização por meio da música.

• Profissões na música.

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5 e 6

Habilidades: EF69AR02, EF69AR16, EF69AR17, EF69AR18, EF69AR19, EF69AR20, EF69AR21, EF69AR22, EF69AR23 e EF69AR35

Bate-papo com a artista Conteúdo Competências e habilidades da BNCC

Competências gerais: 1, 3, 4, 5, 7, 8 e 9

Ciência e Tecnologia

Ciência e Tecnologia

Saúde Saúde

Meio Ambiente

Educação ambiental

Cidadania e Civismo

Direitos da criança e do adolescente

Multiculturalismo

Diversidade cultural

Economia

Trabalho

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Ivani Santana

• Entrevista com uma profissional das artes.

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 1, 2, 4, 5, 6, 7 e 8

Habilidades: EF69AR09 e EF69AR35

Linha de chegada Conteúdo Competências e habilidades da BNCC

Competências gerais: 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9

Competências específicas de Linguagens: 2, 3, 5 e 6

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

Tecnologia na arte

• Retoma dos conhecimentos adquiridos e da relação entre arte e tecnologia.

Competências específicas de Arte: 2, 4, 5 e 8

Habilidades: EF69AR03, EF69AR08, EF69AR20, EF69AR27, EF69AR29, EF69AR30 EF69AR32 e EF69AR34

XLV

Referências comentadas

BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino de arte: anos oitenta e novos tempos. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2007.

A autora, referência no ensino das artes, ao questionar o antigo modelo de ensino e aprendizado de arte baseado na linha do tempo histórico, enfatizou a necessidade da contextualização cultural, econômica, política e social.

BARBOSA, Ana Mae; CUNHA, Fernanda Pereira da (org.). Abordagem triangular no ensino das artes e culturas visuais. São Paulo: Cortez, 2012.

A obra traz as principais pesquisas, discussões e teorias em torno deste tripé: ver, fazer e contextualizar arte, no panorama da educação brasileira. A Proposta Triangular, que surgiu em 2007, foi revista ao longo dos anos e polida até ser divulgada como Metodologia Triangular.

BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Presidência da República, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l9394.htm.

A LDB, como é conhecida essa lei, amplia o acesso ao ensino público, tornando-o obrigatório a partir dos 4 anos de idade. Por meio dela, municípios, estados e a União são responsabilizados por diferentes segmentos da Educação Básica. A legislação também estabelece o acesso ao ensino público de qualidade como direito, preconizando, entre outros aspectos, a carga horária anual mínima para o Ensino Fundamental, distribuída pelos dias de efetivo trabalho escolar. Além disso, a LDB visa garantir a valorização dos profissionais da educação.

BRASIL. Lei no 13.185, de 6 de novembro de 2015. Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). Brasília, DF: Presidência da República, 2015. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13185.htm.

Acesso em: 20 jun. 2022.

Lei que define o bullying como ato de violência física ou psicológica, sendo intencional e repetitivo, além de ser praticado sem motivação evidente por um indivíduo ou grupo contra uma ou mais pessoas. A lei tem oito artigos e visa desencorajar atos de violência no âmbito escolar instituindo o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (conceituação que a lei dá ao termo bullying).

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/ BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf.

Acesso em: 20 jun. 2022.

A BNCC é o documento do Ministério da Educação que define as aprendizagens, competências e habilidades que todos os estudantes do Brasil devem desenvolver em cada etapa da Educação Básica.

BRASIL. Ministério da Educação. Métodos de diagnóstico inicial e processos de avaliação diversificados. In: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, [2019]. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec. gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/ aprofundamentos/194-metodos-de-diagnostico -inicial-e-processos-de-avaliacao-diversificados. Acesso em: 20 jun. 2022.

Esse documento enfatiza a importância de verificar o que os estudantes sabem para favorecer a escolha de estratégias didáticas que possibilitem ao professor desafiá-los na construção de conhecimentos novos.

CATUNDA, Leda. Leia “De onde vêm as ideias”, texto crítico de Leda Catunda. In: PRÊMIO PIPA . [Rio de Janeiro], 20 jul. 2018. Disponível em: https://www.premiopipa.com/2018/07/leia-de-onde -vem-as-ideias-texto-critico-de-leda-catunda/. Acesso em: 20 jun. 2022.

A artista plástica Leda Catunda, nesse texto escrito por ocasião da premiação do Prêmio Pipa em 2018, enaltece a imaginação e a construção das ideias nos processos de criação.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 2011. v. 1.

Esse volume trabalha a ideia de rizoma abordando os princípios de conexão, heterogeneidade, multiplicidade, ruptura assignificante, cartografia e decalcomania.

FONTERRADA, Educação musical: propostas criativas. In: JORDÃO, Gisele et al A música na escola

São Paulo: Alluci & Associados, 2012. p. 97. Essa obra traz diversas propostas de utilização da música na sala de aula. O texto de Marisa Fonterrada trata das diversas propostas de educação musical criativa a partir da música contemporânea.

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2009.

O autor explora o conceito de convergência, que tem grande relevância no debate contemporâneo sobre as novas tecnologias. Ele defende a ideia de que novas e velhas mídias passam a coexistir e interagir, em um cenário em que as audiências são cada vez mais ativas e criativas.

LABAN, R. Dança educativa moderna. Tradução: Maria da Conceição Parahyba Campos.

São Paulo: Ícone, 1990.

XLVI

Partindo dos elementos da dança, a obra reforça que a função da dança na escola não é formar artistas, mas abordar a expressão em atitudes livres, criativas e conscientes, revelando a gama de movimentos que todo ser humano pode explorar.

LABAN, R. O domínio do movimento. Tradução: Anna Maria Barros De Vecchi e Maria Sílvia Mourão Netto. São Paulo: Summus, 1978.

Os estudos de Rudolf Laban são a principal referência para a construção do movimento dançado na educação. Essa obra, organizada por Lisa Ullmann, explora o relacionamento entre as intenções do movimento e o funcionamento do corpo.

LANKSHEAR, Colin; KNOBEL, Michele. Digital literacies: concepts, policies and practices. Nova York: Peter Lang, 2008.

Discute a pluralidade conceitual acerca do letramento digital na educação de uma perspectiva sociocultural, explorando os processos de ensino e aprendizagem em práticas de letramentos e de novos letramentos na cultura digital.

LANKSHEAR, Colin; KNOBEL, Michele. New literacies: changing knowledge in the classroom. Buckingham: Open University Press, 2003.

Os autores abordam o papel dos novos letramentos na Educação, colocando no centro da discussão a cultura digital, os novos letramentos e as práticas docentes no contexto escolar. Eles propõem ainda reflexões e apontamentos sobre o trabalho com tecnologias digitais no ensino, incorporadas a práticas sociais que dialogam com a sociedade atual e digital.

LARROSA, J. Esperando não se sabe o quê: sobre o ofício de professor. Tradução: Cristina Antunes. Belo Horizonte: Autêntica, 2018.

O autor fala com profundidade sobre a prática pedagógica enquanto ofício de professor. Ele trata também do envolvimento no exercício docente, seja no diálogo com os estudantes, seja no preparo de aulas, cursos, entre outros.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. São Paulo: Editora 34, 2001.

O autor aborda a escrita, a informática e a construção da inteligência humana pela oralidade, além de expressar os novos rumos com essa mudança de paradigma temporal e cognitivo.

MADUREIRA, José Rafael. A coreologia de Rudolf Laban e o ensino de artes corporais: uma síntese de conceitos-chave. Revista Pensar a Prática, Goiânia, ano 22, n. 33, p. 137-157, 2019.

Nesse texto o autor apresenta a ideia central dos estudos de Rudolf Laban e se aprofunda em possibilidades de suas aplicações no despertar do movimento corporal nos dias de hoje.

MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. São Paulo: Forense, 2010.

Nesse livro o autor faz uma análise da mudança de enfoque da sociedade pós-moderna em relação à importância que a formação de grupos assume no lugar da individualidade.

MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias. Arte, só na aula de arte? Educação, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 311-316, set./dez. 2011. Disponível em: http:// revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/ view/9516/6779. Acesso em: 20 jun. 2022.

A pergunta que dá título ao artigo é o mote da conversa que o texto deseja compartilhar. Um convite para dialogar sobre a potencialidade da arte contemporânea, com o “olhar de missão francesa” que teima em considerar a arte como expressão da beleza. Busca instigar o pensamento rizomático.

MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, Maria Terezinha Telles. Didática no ensino da arte: a língua no mundo – Poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 2009.

As três autoras abordam a Arte de forma dialogada, propiciando ao leitor uma aprendizagem singular e significativa. Os relatos que instigam cada assunto abordado trazem conceitos, procedimentos e atitudes.

OLIVEIRA, Raquel Mignoni; CORRÊA, Ygor; MORÉS, Andréia. Ensino remoto emergencial em tempos de covid-19: formação docente e tecnologias digitais. Revista Internacional de Formação de Professores, Itapetininga, v. 5, e020028, p. 1-18, 2020. Disponível em: https://periodicoscientificos.itp. ifsp.edu.br/index.php/rifp/article/view/179/110.

Acesso em: 20 jun. 2022.

Artigo científico sobre o ensino a distância na pandemia de covid-19 e os desafios enfrentados por professores e estudantes nesse processo.

ROJO, Roxane (org.). Escol@ conectada: os multiletramentos e as TICs. São Paulo: Parábola, 2013.

O livro traz uma coletânea de atividades de multiletramentos e novos letramentos, projetos que exploram novas práticas de linguagem no contexto escolar e digital, considerando o estudante um nativo digital que também colabora na construção de significados por meio da linguagem em ambientes digitais.

XLVII

SALLES, Cecilia Almeida. Redes da criação: construção da obra de arte. Vinhedo: Horizonte, 2006.

A autora apresenta parte de sua pesquisa sobre o processo de criação e os documentos do processo dos artistas. A leitura desse material abre novos caminhos para o professor de Arte compreender o fazer artístico.

SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. São Paulo: Unesp, 1991.

Traz relatos das experiências práticas, reflexivas e criativas do autor com estudantes em sala de aula. Nas aulas, ele buscou trabalhar os conceitos de paisagem sonora, música contemporânea, criatividade, entre outros.

SIBILIA, Paula. Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão. Tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.

Nesse livro a autora discute os desafios, os problemas e as expectativas da instituição escolar em tempos de dispersão, a partir de movimentos sociais, históricos, políticos, econômicos, tecnológicos e ideológicos.

SPOLIN, Viola. Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin. São Paulo: Perspectiva, 2012.

A autora destaca-se na linguagem do Teatro. A improvisação presente nessa linguagem por meio de jogos foi e é um marco na construção da expressão singular de cada estudante.

UNESCO BRASIL. Cultura de paz no Brasil. Brasília, DF: Unesco, [201-]. Disponível em: https://pt.unesco. org/fieldoffice/brasilia/expertise/culture-peace. Acesso em: 20 jun. 2022.

Texto que trata sobre combate ao bullying e valorização da cultura de paz.

UNICEF BRASIL. Cyberbullying: o que é e como pará-lo. [Brasília, DF]: Unicef Brasil, [2020]. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/cyberbullying-o-que-eh -e-como-para-lo. Acesso em: 20 jun. 2022.

Texto que traz explicações do cyberbullying, relacionando-o ao bullying presencial, e maneiras de combatê-los.

XLVIII

Maria Helena Webster (Coordenação)

• Especialista em História da Arte pela Universidade de Caxias do Sul (UCS)

• Graduada em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

• Coordenadora de livros didáticos de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio

• Formadora de coordenadores e professores em Arte

• Autora de livros dirigidos aos professores de Educação Infantil

• Idealizadora e autora de conteúdo de site de Educação Infantil

Auber Bettinelli

• Formado em Desenho Industrial com habilitação em Programação Visual pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

• Ator e criador de ações artísticas que mesclam teatro, performance, literatura e educação em trabalhos coletivos

• Arte-educador que pesquisa mediação em espaços de educação não formal

• Autor, pesquisador, formador e coordenador de projetos em Educação e Arte-Cultura

• Autor de livro didático para o Ensino Fundamental (Anos Finais) e Ensino Médio

• Desenvolvedor de materiais e jogos educativos

Camila Carrascoza Bomfim

• Mestre e doutora em Música pela Universidade Estadual Paulista (Unesp)

• Formada em Contrabaixo pela Faculdade de Artes Alcântara Machado (Faam)

• Professora de História da Música e Teoria Musical

• Autora de livro didático para o Ensino Fundamental (Anos Finais)

• Autora de artigos e capítulos de livros de Educação Musical e Musicologia

• Pesquisadora da área de Musicologia

• Contrabaixista

Dafne Sense Michellepis

• Formada em Dança pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

• Licenciada em Pedagogia pela Faculdade Alfa América

• Certificada pelo San Francisco International Orff Course (SFORFF)

• Artista de dança, pesquisadora e arte-educadora

• Professora especialista de dança no ensino formal

• Mediadora em cursos de extensão sobre corpo e movimento na educação

Stella Ramos

• Formada em Educação Artística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

• Pesquisadora, formadora, mediadora e coordenadora de projetos em Educação e Arte/Cultura

• Desenvolvedora de materiais e jogos educativos para instituições culturais

• Autora e coautora de ações artísticas que mesclam poesia e artes visuais

• Pesquisadora e arte-educadora em artes visuais

• Autora de livros didáticos para o Ensino Fundamental (Anos Finais) e o Ensino Médio

• Autora de disciplina sobre artes híbridas e escola contemporânea em curso de formação a distância para professores de Arte

Tiago Luz de Oliveira

• Formado em Direção Teatral pela Escola de Comunicações e Artes da USP

• Mestre em Artes Cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da USP

• Criador, mediador e performer de ações artísticas que mesclam teatro, literatura e educação em espaços expositivos

• Autor de livro didático para o Ensino Fundamental (Anos Finais)

• Pesquisador e arte-educador em teatro em espaços culturais

ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS

COMPONENTE CURRICULAR ARTE

1a edição São Paulo, 2022

1 9

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Amplitude : arte, 9 : ensino fundamental : anos finais / Auber Bettinelli...[et al.] ; Maria Helena Webster (coordenação). -- 1. ed. -São Paulo : Editora do Brasil, 2022. -(Amplitude arte)

Outros autores: Camila Carrascoza Bomfim, Dafne Sense Michellepis, Stella Ramos, Tiago Luz de Oliveira

ISBN 978-85-10-09351-4 (aluno)

ISBN 978-85-10-09349-1 (professor)

1. Arte (Ensino fundamental) I. Bettinelli, Auber.

II. Bomfim, Camila Carrascoza. III. Michellepis, Dafne Sense. IV. Ramos, Stella. V. Oliveira, Tiago Luz de. VI. Webster, Maria Helena. VII. Série.

22-113220

CDD-372.5

Índices para catálogo sistemático:

1. Arte : Ensino fundamental 372.5 Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

© Editora do Brasil S.A., 2022 Todos os direitos reservados

Direção-geral: Vicente Tortamano Avanso

Diretoria editorial: Felipe Ramos Poletti

Gerência editorial de conteúdo didático: Erika Caldin

Gerência editorial de produção e design: Ulisses Pires

Supervisão de design: Dea Melo

Supervisão de arte: Abdonildo José de Lima Santos

Supervisão de revisão: Elaine Silva

Supervisão de iconografia: Léo Burgos

Supervisão de digital: Priscila Hernandez

Supervisão de controle de processos editoriais: Roseli Said

Supervisão de direitos autorais: Marilisa Bertolone Mendes

Apoio editorial: Ana Paula Fernandes

Leitura crítica: Gustavo Motta

Edição: Bruno Freitas, Karen Suguira e Mariana Tomadossi

Assistência editorial: Nathália Senne

Revisão: Amanda Cabral, Andréia Andrade, Fernanda Sanchez, Gabriel Ornelas, Giovana Sanches, Jonathan Busato, Júlia Castello Branco, Luiza Luchini, Maisa Akazawa, Mariana Paixão, Martin Gonçalves, Rita Costa, Rosani Andreani e Sandra Fernandes

Pesquisa iconográfica: Daniel Andrade e Marcia Sato

Tratamento de imagens: Robson Mereu

Projeto gráfico: APIS design e Talita Lima

Capa: Estúdio Siamo Imagem de capa: Vitalii Gulenok/iStockphoto.com e Zyabich/Shutterstock.com

Edição de arte: Josiane Batista

Ilustrações: Caio Boracini, Luciano Tasso e Reinaldo Vignati

Editoração eletrônica: Ab Aeterno

Licenciamentos de textos: Cinthya Utiyama, Jennifer Xavier, Paula Harue Tozaki e Renata Garbellini Controle de processos editoriais: Bruna Alves, Julia do Nascimento, Rita Poliane, Terezinha de Fátima Oliveira e Valeria Alves

1a edição, 2022

Rua Conselheiro Nébias, 887

São Paulo/SP – CEP 01203-001

Fone: +55 11 3226-0211

www.editoradobrasil.com.br

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Caro aluno e cara aluna,

Este livro é um convite para uma caminhada por trilhas que permitirão a você refletir, criar, expressar-se e, assim, dialogar de formas diversas e prazerosas com a arte e a tecnologia Você convive com a arte e com a tecnologia no seu cotidiano. O corpo se ajusta à sua maneira para se relacionar com uma série de recursos técnicos que são fruto de pesquisa e experimentação. Esses recursos estão presentes tanto nos aparelhos eletrônicos e digitais quanto em ferramentas que precederam a descoberta da eletricidade pelo homem. Vamos conhecer alguns desses recursos para, dentro de seu contexto, explorar possibilidades artísticas e criativas de expressões pessoais e coletivas.

O nosso convite é para que você seja o personagem principal nesse cenário, deixando de ser apenas um observador para participar intensamente dos processos que propomos no livro. Quando você começa a investigar, faz descobertas a partir das próprias experiências, ideias e valores, o que proporciona um novo olhar para o que está próximo e parece familiar, e o que está distante e pode gerar estranhamento. Nos diálogos entre você e as manifestações da arte, é possível dar novos significados ao que está ao seu redor e até mesmo olhar o mundo como um grande campo de possibilidades.

Umas das formas de estabelecer essa relação é pelos caminhos da arte. A construção desses significados se inicia quando paramos, refletimos e formulamos um aprendizado.

Para que isso ocorra, você será convidado a observar e refletir sobre suas percepções. O livro busca estabelecer diálogos: você consigo mesmo, você com seus colegas, com o professor, com a família, com o que está ao seu redor e com o que está acontecendo no mundo.

Você é o protagonista e está construindo sua história!

Um abraço, Os autores

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Técnicas e tecnologias

como acessar, apreciar, produzir, registrar e compartilhar fazem parte das práticas artísticas e culturais de muitas sociedades e estão relacionados a verbos que fazem parte dos recursos tecnológicos e digitais que nos cercam, como baixar, curtir, disparar e viralizar, entre outros. Observe as imagens: elas fazem referência ao menor ponto na composição das imagens digitais, o

Ponto de partida

Introduz os temas principais do volume, instigando a reflexão, a curiosidade e a investigação.

Abertura de unidade

Aqui você se situará e antecipará o assunto da unidade, com imagens e perguntas para começarmos nossa conversa.

Abertura de trilha

As trilhas exploram diversas abordagens possíveis relacionadas ao tema estudado.

Inovar, crescer e permanecer

A palavra “tecnologia” geralmente usada para se referir a aparelhos eletrônicos, computadores, robôs, inteligência artificial, objetos conectados a redes digitais etc. A arte apropria-se dessas ferramentas e as subverte, inventando novas linguagens.

Tecnologia: que assunto é esse?

Impressora 3-D: máquina que produz objetos com alta precisão utilizando materiais maleáveis que se solidificam. A partir de cálculos prévios, funciona imprimindo camadas sobrepostas que tridimensionais.

O conjunto de dispositivos tecnológicos que fazem parte do nosso cotidiano, de celulares e satélites até novos materiais desenvolvidos e comercializados pela indústria, muda nossa percepção de mundo, produzindo uma cultura que deseja consumir tecnologia. Essa tendência da sociedade resultado direto de uma longa história de conhecimentos transmitidos de geração a geração. Esses saberes permitiram à humanidade manipular e transformar o mundo material à sua volta, durante milhares de anos, utilizando técnicas manuais instrumentos sempre presentes nas suas criações. As roupas que usamos todos os dias são exemplos dos avanços técnicos e tecnológicos que permitiram sua produção em grande escala com materiais sintéticos ou naturais. No filme Pantera Negra a tecnologia tem papel central para o desenvolvimento do roteiro. A configuração visual do mundo fictício de Wakanda mistura referências étnicas tradicionais de vários países da África com elementos futuristas. Observe com atenção o figurino da personagem Rainha Ramonda, que foi criado por meio de uma impressora 3-D Olhando com atenção a imagem a seguir, podemos perceber que suas tramas delicadas formam desenhos complexos, criados por computador e fabricados pela impressora.

Selo Este selo indica o trabalho sobre um Tema Contemporâneo Transversal.

Você já parou para pensar sobre como as tecnologias podem influenciar as criações artísticas?

Saber, inventar e inspirar

O teatro como vivência segue acontecendo em diferentes regiões do país e do mundo, seja em um edifício teatral, seja em um espaço público. Para quem está em cena para quem está na plateia, essa vivência é uma oportunidade de diversão, de contar e ouvir histórias, de refletir sobre a vida e o mundo que nos cerca.

1. Para você, como tecnologia está presente no teatro e na música?

2. De que maneiras o teatro e as artes da cena podem trabalhar em conjunto com tecnologias antigas e atuais?

3. Quais profissões das artes cênicas estão presentes na imagem ao lado?

Nesta unidade, você vai: refletir sobre diferentes modos de operar com a linguagem das artes cênicas suas tecnologias; • compreender teatro como instrumento capaz de impulsionar mudanças, sejam elas pessoais, sejam coletivas.

Na imagem acima, possível observar texturas bastante elaboradas, que agregam qualidades à vestimenta e contribuem para comunicar a importância social da personagem Ramonda no mundo retratado pelo filme, vencedor do Oscar de melhor figurino. As tramas que vemos na imagem fazem referência técnicas tradicionais, como arte da renda e da cestaria. No caso desta personagem, materiais sintéticos foram trabalhados com inspiração em materiais naturais, criando texturas que se assemelham a delicados trabalhos manuais, sobrepondo passado e presente em uma peça de vestuário carregada de significados.

Conexão

Traz as relações entre as linguagens da arte, ampliando o olhar em relação ao fazer artístico.

Processos de criação contemporâneos As técnicas manuais para a produção de objetos utilitários ou decorativos podem conectar épocas distintas, uma vez que são criações humanas que se apropriam de conhecimentos antigos ao mesmo tempo que os ressignificam, por meio de novas estéticas, materiais e utilizações desses saberes. Por serem abertas a diversas adaptações e transformações, as técnicas tradicionais são constantemente revisitadas nas produções de arte contemporânea. De um ponto de vista mais amplo, podemos classificar as técnicas tradicionais que lidam com variadas materialidades como habilidades de manipular materiais usando-os para criar instrumentos, objetos, engrenagens, construções: um sapato, um vestido, uma cadeira, uma casa, uma ponte, por exemplo. Em contraposição, tecnologia seria um conjunto de técnicas que produz artefatos, materiais, máquinas e construções de modo automatizado ou por meio de inteligência artificial. Os dois modos de produção são frutos do conhecimento das épocas e dos lugares em que surgiram, desempenhando funções que ajudam o homem a perpetuar seu estilo de vida.

Dança-teatro

Pina Bausch (1940-2009) foi uma bailarina e coreógrafa alemã cujo trabalho é reconhecido mundialmente. Ela foi a diretora artística da companhia Tanztheater Wuppertal. Wuppertal, além de integrar o nome da companhia, é também a cidade alemã onde ela está localizada. Após sua morte, o grupo passou a se chamar Tanztheater Wuppertal Pina Bausch (em português, Dança-Teatro Pina Bausch de Wuppertal). Observando a imagem a seguir, o que chama mais sua atenção? Por quê?

David Baltzer/Zenit/Laif/Imageplus

Cena de Café Müller da Companhia Tanztheater Wuppertal Pina Bausch.

Café Müller marcou o início da chamada dança-teatro. Nesse tipo de espetáculo, as coreografias são construídas não apenas com músicas, solos e momentos em grupo mas também com cenas mais teatrais e com o uso da palavra pelos bailarinos. Em Café Müller o espaço cênico é um elemento de destaque. O cenário representa que seria o salão de um café preenchido com cadeiras e mesas pretas de madeira, espalhadas de maneira aleatória. Em silêncio, uma mulher entra nesse espaço. Aos poucos, fica nítido que ela caminha de olhos fechados, e assim permanecerá durante todo o espetáculo. Em seguida, novas personagens entram em cena. Outra mulher entra e só então começa uma música. Essa segunda mulher, que também fica de olhos fechados, começa a dançar entre as mesas e cadeiras. Rapidamente, aparece um homem que vai abrindo espaço para que ela possa dançar sem bater nos móveis. Assim, vai se desenhando o jogo cênico com o espaço, que, de certa forma, passa a ser quase um personagem: torna-se um lugar vivo, transformado o tempo todo pela ação de um dos bailarinos. Outras personagens estão em cena, mas não existe uma relação definida entre elas. Pequenas cenas mais teatrais acontecem em alguns momentos do espetáculo e, às vezes, em diferentes pontos do espaço de forma simultânea. A trilha sonora não está presente tempo todo. Trechos de óperas são intercalados com momentos de silêncio, criando um jogo sonoro. A soma de tudo isso forma um tipo de espetáculo fragmentado, cuja unidade se dá por causa do espaço criado pela cenografia onde ele acontece, nesse caso, o salão de um café.

Essa fragmentação é uma característica da dança-teatro, pela coreógrafa alemã. Em Café Müller ela mistura dança, mesmo cenografia, além das memórias, sensações histórias próprios bailarinos na elaboração da coreografia do espetáculo A relação entre arte e vida foi uma constante no trabalho desenvolveu uma série de espetáculos inspirados em lugares do. Foi assim, por exemplo, com Masurca Fogo (1998), inspirado Água (2001), inspirado no Brasil; Ten Chi (em português, “Céu inspirado no Japão; e Bamboo Blues (2007), inspirado na Índia. Todos esses trabalhos são apresentados no formato o desafio para cenografia é traduzir, em imagens e elementos, lugar que inspirou cada um deles. Na foto abaixo, temos uma cena do espetáculo Água como inspiração. Ao optar por um espaço em branco, a coreógrafa criou grande tela em que são projetados, em muitos momentos deos de elementos brasileiros, como paisagens, rios, cidades As imagens projetadas ocupam o espaço todo, do chão até atmosfera de sonho, em que os bailarinos dançam e compõem Elas funcionam de maneira similar aos telões pintados do palco, mas, como são vídeos, possuem movimento e, dessa teragir com a cena. Jogando com diversos elementos cênicos, forma a criar novos significados na relação entre eles em cena, realizados pela companhia de Pina Bausch se tornam uma lante para quem os assiste, pois, em cada cena, em cada múltiplas possibilidades de leitura. Observando a imagem do espetáculo Água que foi responda: Como você descreveria essa cena? De que maneira a bailarinos se conecta com a projeção de folhas de palmeiras do espaço cênico?

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Cena do filme Pantera Negra dirigido por Ryan Coogler. Estados Unidos, 2018. Marvel Studios/ Walt Disney Studios Motion Pictures/ Collection ChristopheL/AFP Negra dirigido por Ryan Coogler. Estados Unidos, 2018.
100 101 Cristina Maranhão Cena do espetáculo BlackBrecht:eseBrechtfossenegro? Legítima Defesa. Direção: Eugênio Lima. São Paulo (SP), 2019.
Fernando Lemos Agência Globo 10 11 Fernando Lemos Agência O Globo Artistas Maria Carol Luca Bastolla dando corpo às suas criações art pixel Rio de Janeiro (RJ), 2015. Artistas Maria Carol e Luca Bastolla em uma intervenção em art pixel de nuvem em um espaço urbano. São Paulo (SP), 2017. 8-bitch project Artistas Maria Carol e intervenção em art pixel inspirada em um personagem de espaço urbano. Rio de Janeiro (RJ), 2015. Hortaliças em pixels no muro da linha de um trem. Intervenção em art pixel do projeto dos artistas Maria Carol e Luca Bastolla. Vinhedo (SP), 2017. 1. Quais elementos das imagens fazem parte do vocabulário digital? 2. O que as intervenções de Luca Bastolla e Maria Carol fazem você sentir em relação ao seu corpo? 3. O que elas fazem você pensar em relação ao espaço urbano e à tecnologia? Nesta unidade, você vai: • perceber que a técnica e a tecnologia fazem parte da história da humanidade desde sempre; valorizar questões teóricas reflexivas como componentes do conceito de tecnologia; • cultivar o senso crítico e consciente para desenvolver recursos criativos expressivos; contribuir para conhecimento de si, da comunidade e do contexto maior no qual se está inserido. Verbos
pixel Os artistas Luca Bastolla e Maria Carol fizeram pequenos mosaicos seguindo a estética quadrada dos pixelse os distribuíram pelas cidades, criando pontos de conexão entre a linguagem analógica e a digital. Neste livro, vamos investigar obras de artistas das artes visuais, da dança, do teatro e da música, refletindo sobre temas e percursos criativos e discutindo, de modo reflexivo, ético e responsável, manifestações da arte e da tecnologia nos dias atuais.

PerformanceOdatilógrafo do artista Fernando Ribeiro. São Paulo (SP), 2015.

Registrando memórias

Práticas de criação

É o momento de você conhecer cada linguagem da arte por meio de experimentações e criações.

Fitas cassete, 2016.

PerformanceOdatilógrafo São Paulo (SP), 2015.

Outro modelo de aparelho antigo de toca-fita gravador, 2015.

Você conhece esses dispositivos e aparelhos? Já usou algum deles?

Nas imagens, vemos fitas cassete, dispositivos que armazenam informações sonoras, e dois gravadores, usados para registrar e reproduzir vozes, sons e músicas. Esses objetos foram muito populares entre pessoas que viveram em uma época anterior aos celulares e à internet. Quando são tirados do cenário do tempo em que eram utilizados, tais objetos podem ser vistos como símbolos de uma época. Se algum desses aparelhos está presente em sua casa, então você já teve contato com os significados que eles possuem para as pessoas. • Que memórias são associadas a eles? Se você não conhece nenhum de perto, que imagens e significados pode atribuir a eles?

Nessa prática, continuaremos seguindo os rastros de formas de expressão que remetem ao passado como suporte de uma ação poética. Para isso, convidamos você a encontrar maneiras de registrar algumas memórias pessoais e ligadas ao meio escolar. Se possível, use um aparato mecânico ou eletrônico que remeta a um tempo passado, como máquina de escrever e gravador de fita cassete. Ainda é possível usar gravador de som do celular. Se você não tem acesso a nenhum desses dispositivos, será que poderia conseguir com alguém que trabalhe na escola, solicitando à coordenação, ou mesmo pedindo emprestado a um professor ou pai de algum colega? Tome cuidado ao manusear os dispositivos devolva-os nas mesmas condições em que os recebeu.

Muitas marimbas Você á experimentou bater com a mão fechada em diferentes superf cies de madeira? Tente se lembrar dos sons que esse tipo de material produz, por exemplo, ao se bater em uma porta, esperando que alguém abra. Tente se lembrar de diferentes sons que á ouviu, batendo em diferentes portas: cada porta tem o seu som, que varia de acordo com diversos fatores, como as dimensões, o tipo de madeira de que é feita, o revestimento etc. O mesmo se dá com os instrumentos: forma, textura e densidade dos materiais influenciam diretamente sua sonoridade. Vejamos o exemplo da marimba, ouvindo o som da marimba de orquestra.

sintetizadores e teremim. Essas classificações fazem parte da Organologia, área da música que estuda a descriçã e classificação dos instrumentos musicais. Assim como em todas as áreas de pesquisa, as categorias da Organologia estão em constante ampliação transformaçã

Até o momento, exercitamos diferentes possibilidades de refletir, estranhar ou buscar novas formas de compreender as imagens do mundo. Vamos seguir adiante conhecer melhor um movimento artís tico que revolucionou o modo de transportar o mundo visível para as telas das pinturas o Costuma-se determinar o ano de 1907 como marco de seu início, quando o artista Pablo Picasso pintou LeDemoisellesd'Avingon e um pouco antes da Primeira Guerra Mundial, em 1914, como o fim das pesquisas como um movimento integrado. Observe novamente todas as imagens desta Trilha e preste atenção em cada uma delas, reparando nas legendas e no ano em que foram criadas. Muitas delas foram feitas depois desse movimento artístico, que transformou o olhar para a arte de um jeito tão marcante que até hoje podemos perceber ecos das suas proposições. Antes de falar do movimento propriamente dito, vale reforçar: a arte nem sempre foi pensada da mesma forma. Artistas de diferentes épocas lugares propuseram seus olhares e concepções sobre a arte. Podemos concluir facilmente que a vida mudou muito ao longo dos diferentes séculos, desde a maneira como se curam os doentes e como as famílias se constituem até como nos locomovemos pelo mundo, por exemplo. Então por que a arte não se transformaria também? Para que possamos compreender as origens e importância do Cubismo, vale relembrar que tudo o que nos cerca faz parte do modo como percebemos o mundo. Algumas vezes, entramos em contato com algo que é totalmente diferente do que estamos acostumados a ver, e isso pode causar um impacto em nossa percepção sobre o mundo. Hoje em dia, é comum entrarmos em contato com imagens de grupos com referências muito diferentes das nossas, já que a internet traz muito conteúdo visual. No início do século XX, porém, a troca de informações e referências não era tão simples, especialmente entre pessoas de regiões distantes do globo. Nessa época, Georges Braque (1882-1963) e Pablo Picasso (1881-1973), dois dos artistas que estavam investigando novas formas de criar representações visuais, tiveram contato com várias imagens de máscaras de diversos grupos africanos. Observe a imagem abaixo, de uma coleção de máscaras africanas, e, na página seguinte, a obra Cabeça de mulher dormindo de Pablo Picasso. Que relações você vê entre elas?

Contraponto

Que tal olhar esse assunto sob outro ponto de vista?

Caminhando pela História

Coleção de máscaras africanas. Itália, 2018.

Amplia os conhecimentos sobre um período histórico, proporcionando a contextualização de fatos e fenômenos.

Por exemplo, pode-se projetar a cena de uma pessoa discursando sobre o corpo de um ator que gesticula realiza seu discurso.

3 Pensem nas relações entre os audiovisuais os elementos da cena: Que tipo de iluminação é necessária para as explorações com o audiovisual? Como os recursos disponíveis podem ser usados em cena? Tapumes, cortinas, tecidos e espelhos podem oferecer soluções para limitar a entrada da luz natural ou criar focos específicos de iluminação. Também são úteis para estabelecer divisões no espaço da cena, o que vai influenciar movimentação dos atores. São elementos de fácil acesso que podem ampliar as possibilidades estéticas e os sentidos metafóricos do conjunto formado por cena + projeção. Para ajudar, pesquisem na internet referências de outras peças, buscando verbetes como “teatro vídeo”, “videocenário”, “videodança” etc. 4 Mostrem o projeto aos colegas, ouçam as opiniões deles e conheçam os trabalhos que fizeram também.

Dá para ser artista de teatro? Depois de atravessar esta Trilha expandir o nosso olhar sobre prática teatral, é hora de descobrir:

Como eu posso trabalhar em teatro?

compositores; na cenografia, que podem ser arquitetos e também marceneiros, pedreiros; na contrarregragem; no figurino, com estilistas e costureiras; além da produção teatral, incluindo bilheteria.

Tente se lembrar de grupos e espetáculos que você conheceu, seja presencialmente no teatro, nos livros de Arte ou pesquisando na internet. Cada espetáculo produzido por um desses grupos, ou por qualquer grupo de teatro, é uma ação pensada organizada para reunir pessoas interessadas em debater, por meio da linguagem teatral, assuntos de interesse comum. Quem decide seguir a carreira teatral pode escolher e se especializar nas diversas áreas que a profissão oferece, tanto em nível técnico como em nível superior. De modo geral, os estudos teatrais podem se iniciar ainda na escola ou em cursos livres oferecidos por espaços culturais. A história do Fábrica das Artes, em Americana (SP), nos mostra como parceria entre grupos de teatro que surgiram no contexto escolar é capaz de gerar espaços para que as artes cênicas possam existir servir à comunidade.

Espaço cultural Fábrica das Artes. Americana (SP), 2016.

Diversas profissões envolvidas no fazer teatral.

Quando escolhemos fazer teatro, estamos escolhendo não apenas uma maneira de olhar para o mundo mas também um modo de agir no papel de cidadãos diante de questões que nos instigam no dia dia. E quando dizemos “fazer teatro”, devemos nos lembrar de que não se trata apenas de estar em cena como atores atrizes. Ainda que, de modo geral, essa seja uma das portas de entrada para esse universo, o fazer teatral se relaciona com diferentes profissionais de muitas áreas. A experiência de estar em cena pode ser interessante para auxiliar nas suas percepções quando você estiver em outras funções, como direção ou dramaturgia, por exemplo. Nas demais áreas, diversos profissionais também podem ser chamados de artistas de teatro, tanto na Iluminação quanto na sonoplastia, que também inclui músicos e

Coordenada

Fábrica de Artes

Contextualiza elementos da linguagem, movimentos artísticos e pessoas importantes na temática trabalhada.

Da união dos grupos TAJ Arte e Expressão e Grupo de Teatro Pé Preto –, formados por estudantes de escola pública, surgiu o Grupo Teatral Ta’lento, conhecido como GTT. O grupo utilizava o anfiteatro da escola, uma vez por semana, para fazer exercícios teatrais e arriscar a criação de cenas. Logo o GTT convidou o diretor Carlos Justi para ajudá-los a se aprofundar nas práticas teatrais, conduzir os ensaios e montar um espetáculo. Assim, com a montagem do espetáculo O julgamento inspirado no texto Mauser do dramaturgo alemão Heiner Müller (1929-1995), o grupo tornou-se conhecido não somente na cidade de Americana mas em diversas cidades do estado de São Paulo, sendo convidado a participar de alguns festivais de teatro. Enquanto preparavam o próximo espetáculo, o grupo soube que não poderia mais usar espaço da escola para os ensaios e criações. E agora? Novamente, a união de dois grupos trouxe a solução. O GTT se juntou ao grupo Macamã Arte Cultura, também de Americana, e juntos alugaram o galpão de uma fábrica desativada no centro da cidade. Assim nasceu o espaço cultural Fábrica das Artes.

Selo

Este

5 44 45 Cubismo e suas imagens simultâneas Albert Gleizes. Cabeça emumapaisagem 1912-1913. Óleo sobre tela, 37,6 cm 50,4 cm. Cabeçade homem(Autorretrato), 1916. Óleo sobre tela, 63 cm × 48,5 cm.
Solomon
Guggenheim Museum, New York, USA/The Hilla Rebay Collection/© Gleizes, Albert/AUTVIS, Brasil, 2018.
148 149 Como já vimos, marimba é um idiofone. Ela é composta geralmente de teclas de madeira que são percutidas por baquetas – mas que podem, também, ser percutidas pelas mãos. Ouça o som do balafon, tocado também com baquetas. Tabla elétrica, eletrofone utilizado pelo grupo Uakti. Belo Horizonte (MG), Marimba de orquestra tocada com baquetas. Rússia, 2018. furtseff/Shutterstock.com o os instrumentos nos quais o som é produzido com a vibração de uma membrana (que pode ser de pele de animais ou sint tica). o membranofones: tambores, caixas, tímpano cu produzido partir de meios el tricos (que podem ou não São também eletrofones: piano elétrico,
Marimba de orquestra 2 Balafon Balafon
africano. Burquina Faso, África Ocidental. Charles O. Cecil/Alamy/Fotoarena Aqualung, água utilizado pelo grupo Uakti. Belo Horizonte (MG), 2008.
sendo tocado por homem
objetos que remetem a um Gavetas, luminárias, máquina computadores, pequenas mesas, televidispostos no espaço cênico próprios atores, de acordo espaços, um lado do palco tempo, o outro lado é a casa. escritório. Apenas o jogo dos atores com eles é capaz peça se passa. e a combinação deles em uma atmosfera que faz refedeslocarmos um dos objeoutras camadas simbólicas na performanceO datilógrafo do artista Fernando Ribeiro, que vive imagem ao lado? desenvolvida em São Paulo (SP) durante Exposição Terra Comunal: Marina dois meses de duração da sua performance Fernando passava de seis com sua máquina de escrever por todos os espaços do centro cultural vezes, escolhia um lugar ali começava a registrar o que estava vendo Tudo isso acontecia com Fernando em silêncio, mesmo estando em maioria das pessoas que passeavam pelo espaço cultural, a presença despercebida. Mas quando ele começava a datilografar, o som característico quem passava por perto ou mesmo de quem ouvia o barulho, que escrever? Já teve a oportunidade de usar uma? É muito comum, hoje desconheçam a máquina de escrever. Esse fato, inclusive, foi aproveitado pela curiosidade das pessoas. Isso criou outro jogo temporal dentro do trabalho, duração que se apoia por meio de um mais nos tempos conseguia chamar a mexendo com a datilografia e que nunca viram dela. exercício diário da ganhando novos signicotidiano, Fernando questão da intenção, relação com qualda performanmesmo que o objeto para essa finalidade. A figura do datilógrafo, com sua máquina e seu reflexões sobre o tempo, a prática da presença, da percepção e da escuta organização do conteúdo e do registro em si. Africa Studio/Shutterstock.com Renphoto/iStockphoto.com Nirad/iStockphoto.com
selo indica que há áudios ou músicas a serem escutados. 1 Escala musical
Modelo de aparelho antigo de toca-fita e gravador, 2009.

a artista Bate-papo com

Ivani Santana é artista, professora e pesquisadora na área de Estudos Contemporâneos do Corpo Dança Contemporânea, Estética das Mídias e Dança com Mediação Tecnológica. Suas principais linhas de pesquisa são: estudos do corpo contemporâneo, percepção, cognição arte-tecnologia. Em uma conversa com artista, pesquisadora professora de dança, foi possível conhecer um pouco da sua relação com a profissão a tecnologia nos dias de hoje. Ao perguntarmos para Ivani sobre sua experiência, ela nos contou como seus estudos dialogam com a tecnologia. Ela, assim, falou um pouco de sua trajetória.  Como você vivenciava dança quando criança? A dança entrou na minha vida muito cedo. Com 8 anos comecei a fazer aulas de dança porque algumas amigas próximas também faziam. Eu não iniciei pelo balé nem pelo jazz Eu comecei na dança moderna, que naquela época era um estilo meio desconhecido. Ter entrado na dança moderna foi significativo, pois logo de início construí um entendimento de corpo que não era fixado e estruturado pelo vocabulário do balé, mas sim pelas técnicas de Limón (1908-1972) Graham (1894-1991). Com 11 anos, entrei na Escola Municipal de Bailado, onde balé sempre predominou, mas, na ocasião, começou ter uma abertura para técnicas modernas de musicais. Comecei fazer aulas à noite com outras professoras, como Célia Gouvêa (1949-) Ruth Rachou (1927-), para aprofundar os conhecimentos do moderno, e logo percebi as diferenças entre as técnicas. Alguns elementos da dança moderna não “funcionavam” nas aulas de balé, e fui da primeira para a última aluna da fila, pois meu corpo não expressava mais “forma pura” do balé. Vale dizer que desde criança eu sempre fui muito curiosa, e por isso me tornei pesquisadora: porque gosto de articular conhecimentos de campos distintos. Quando se profissionalizou e o que essa etapa representou para você?  Por conta da Escola Municipal de Bailados, o caminho foi simples. Tenho o DRT desde os 18 anos, idade em que entrei na Faculdade de Educação Física em Santo André (Fefisa) e na primeira companhia profissional da qual participei. Essa companhia viajava muito para dançar em cidades dos estados de Minas Gerais, São Paulo Rio de Janeiro. Mas o mais significativo para mim foi trabalhar durante dois anos (1998 e 1999) com coreógrafa Célia Gouvêa no projeto Identidade da Dança Nacional. Por abordagens multidisciplinares de música e artes plásticas, Célia incentivava o pesquisador intérprete construir sua dança autoral. Ali aprendi a fazer a pesquisa tanto conceitual como de corpo. Outro projeto importante foi o Master Dança, do qual primeiro fui aluna e depois assistente. Esse e outros cursos de dança tinham como proposta apresentar aos estudantes a junção entre teoria e prática, que me ajudou na profissionalização.

Corpoaberto São Paulo (SP), 2001. Limón: dançarino e coreógrafo de dança moderna, nasceu no México fez carreira Sua técnica trabalha com respiração em relação ao peso das partes do corpo, e enfatiza os gestos de braços e uso das mãos com organicidade em movimentos característicos de sua técnica. Martha Graham: dançarina coreógrafa que causou grande ruptura com a soberania do balé. Usando respiração na execução dos movimentos, com ênfase na contração e relaxamento do tronco e na exploração de movimentos no chão. Sua técnica influenciou discípulos como Alvin Ailey, Trilha 2 pela trajetória do brasileiro Ismael Ivo, que foi um discípulo

Bate-papo com o artista

Permite conhecer melhor um artista relacionado aos estudos trilhados.

Das técnicas da Antiguidade às tecnologias atuais Ao longo do tempo, diversas técnicas foram sendo criadas e aperfeiçoadas de acordo com as necessidades dos seres humanos: caçar, sobreviver, registrar informações, contar a passagem do tempo melhorar o trabalho. Entre as máquinas que se destacam na história, estão os moinhos e as máquinas de costura. O desenvolvimento técnico dos moinhos é parte do que agora chamamos de engenharia mecânica, engenharia civil e de aerodinâmica.

Moinho

Nagaiets/Shutterstock.com

Membros do grupo Doutores do Riso da Ciudad Juárez entretendo uma criança no hospital. Chihuahua, México, 2015.

mais sobre o conceito de cognição situada a relação com a dança e a tecnologia? As ciências cognitivas são aquelas que estudam mente, a inteligência, que está diretamente relacionada com o corpo. Existem diversas linhas interdisciplinares para esses estudos. Entre essas linhas, há dois extremos: a do pensamento dualista, que se baseia na metáfora de que o corpo apenas uma carcaça, um hardware e a nossa mente um software e do outro lado, a cognição situada, que compreende que conhecemos o mundo por meio das nossas ações e interações com o meio; logo, de forma situada. Eu percebo o mundo porque eu estou agindo no mundo, ou seja, a experiência gera conhecimento. O mundo é ativo, dinâmico, e eu tenho de estar ativa e dinâmica para conhecê-lo. A tecnologia não algo que está para além ou para fora de nós. Todos somos implicados com as tecnologias por muitas razões. Eu acho interessante pensar na mediação tecnológica na dança como ferramenta teórica e de compreensão de mundo, e não apenas como um enfeite cenográfico. O que me interessa é a implicação do corpo que dança com a tecnologia; por isso uso o termo “dança com mediação tecnológica”. Entre as práticas de criação das quais você já participou, qual foi mais marcante e por quê? É difícil responder, porque são trabalhos de uma vida inteira, e em cada momento da vida eu estou investigando um tipo de mediação. Então talvez seja melhor eu falar em fases. A fase do mestrado ao fim do doutorado marcou minha vida. Foi a fase de discutir que corpo físico é esse que eu possuo pensar nas possibilidades perceptivas que uma obra pode ativar. Comecei então a pensar no corpo digital, e depois no corpo da telemática, com pessoas dançando juntas mesmo estando separadas geograficamente. Nessa fase comecei pesquisando no Brasil e, seguir, convidei pessoas da Espanha para participar dos meus projetos de pesquisa. Elas nunca tinham trabalhado com a telemática, seria importante a transmissão do conhecimento de uma pesquisa tecnológica e artística brasileira feita por nós. Depois, entrei na fase de pensar no corpo sonoro, junto com ele veio o corpo da mídia locativa, esse corpo que ocupa espaços urbanos e com o qual se vai para vários lugares na própria cidade. A fase que estou iniciando agora a do mergulho na realidade virtual, que, com certeza, será meu foco de trabalho por vários anos. Que conselho você daria para aqueles que gostam de dança e de novas tecnologias? Acredito que trabalhar artisticamente com as tecnologias não significa trabalhar só com a tecnologia de ponta, ou seja, você não tem de estar com o aparelho celular de última geração. O interessante é explorar a tecnologia como um lugar de criação e usando aquilo que se tem. O valor está em pensar no próprio processo de investigação, na sua percepção em relação aos objetos. Você pode se perguntar: O que determinado objeto é em termos de conceito e de dispositivo técnico? Como eu exploro a imagem que é tirada pela câmera do celular? Como eu me coloco para esta câmera? Com a pandemia, vimos um aumento significativo na quantidade de propostas que foram criadas com dispositivos domésticos. A palavra para quem gosta de tecnologia é explorar! Primeiro procure compreender o que cada uma das tecnologias realmente significa e quais as possibilidades que ela oferece, e daí explore. É preciso explorar, investigar a tecnologia disponível para, a partir de experiências, entender conceitual e corporalmente o lugar o contexto. Lembrando que meu primeiro trabalho foi com retroprojetor, meu conselho é: explore aquilo de que você sente necessidade, sem ficar esperando pelo melhor dispositivo. Realizamos muita coisa quando passamos a perceber que somos nós que fazemos mediação tecnológica.

André Bitencourtt

Intrafone, instrumento terapêutico criado e construído pelo musicoterapeuta André Lindenberg que promove escuta do próprio corpo, 2018. Outra ação bastante efetiva, que também usa a música como ferramenta terapêutica, é levá-la para os hospitais. Existem diversos projetos que trabalham com essa atividade. Algumas iniciativas levam concertos de música clássica outras apresentações para dentro das áreas comuns dos hospitais, viabilizando que pessoas em tratamento (em estado estável que consigam se deslocar de seus quartos) possam participar dessa forma de tratamento. Outros projetos levam música para dentro dos quartos dos pacientes de grandes hospitais, proporcionando que pessoas em tratamento de saúde possam ouvir música. Tais projetos têm sido, comprovadamente, auxiliares nos tratamentos clínicos das pessoas que se encontram hospitalizadas, pois promovem, além de bem-estar, momentos agradáveis, durante os quais os doentes podem se afastar emocionalmente de suas condições, aliviando suas cargas emocionais.

Após a roca, foram inventadas outras máquinas manuais de tecer, como o tear. Mas uma mudança crucial para a história ocorreu entre o meio e o fim do século XVIII, com a invenção do tear mecânico, inicialmente movido por moinhos hidráulicos, e sua combinação com o motor a vapor, aperfeiçoado na mesma época. O acionamento dos teares pela força das máquinas a vapor diminuiu enormemente a quantidade de pessoas necessárias para fabricar os tecidos –que passaram então a ser produzidos em larga escala. Esse desenvolvimento da indústria têxtil é considerado o principal marco da Revolução Industrial. Assim como os moinhos, as rocas e as máquinas de costura fizeram parte da vida das pessoas, transformando seu cotidiano, temos hoje diversos outros recursos que nos impactam diariamente, entre eles os computadores e smart-phones a proteção por criptografia e a conexão 5G. De acordo com a época, podem surgir distintas percepções sobre a técnica e a tecnologia. Inicialmente, as técnicas facilitaram sobrevivência dos seres humanos e formaram comunidades. Hoje em dia, técnica e tecnologia estão imbricadas, por exemplo, no uso de computadores, cujos benefícios para a produção artística são incontestáveis. Os computadores tornaram-se fundamentais em vários processos de criação, produção e difusão de obras de arte, bem como na constituição no armazenamento de dados ligados à arte digital às obras multilinguagens. Assista, por exemplo, a um vídeo que mostre os processos de produção de um show da sua banda favorita e note como a tecnologia faz parte do que vemos no palco.

Repensando as tecnologias em música

Este é o último ano do Ensino Fundamental, e estamos no final de nossa caminhada musical. Nesta Trilha, você conheceu diversos instrumentos e refletiu sobre sons digitais, eletrônicos e analógicos, além de conhecer algumas manifestações musicais e profissões na área de música.

Esta jornada foi construída buscando ampliar as suas concepções de tecnologia e música, mas também estabelecendo um diálogo sobre como a música pode ser uma ferramenta de engajamento e transformação. Avaliando tudo o que aconteceu desde começo desta Trilha, o que mais você destacaria? Observe a imagem.

Para saber mais sobre as principais etapas do desenvolvimento técnico dos moinhos de vento e algumas histórias curiosas sobre essa invenção, assista a este vídeo: https://youtu.be/Lx4k2yZnloM. Acesso em: 7 jun. 2022.

Quais as suas reflexões sobre mãos robóticas tocando um instrumento analógico como o piano?

Que tal um último exercício para estimular o pensamento, revisar e fixar conceitos e práticas?

Individualmente, relembre todas as atividades que fizemos juntos: Quais foram mais fáceis as mais difíceis? Pense sobre a sua ideia do que é música: Algo mudou? Se sim, o quê? Aconteceram transformações na forma como você pensava o uso das tecnologias na música? 2 Formem grupos de três ou quatro pessoas. Você e seu grupo deverão, em uma roda de conversa, refletir sobresuas experiência individuais, compartilhando vivências e buscando discutir o que mudou para cada um. 3 Criem uma lista de todos os conceitos, palavras e situações em que vocês tenham alguma

dúvida. Pesquisem juntos sobre cada uma dessas questões, buscando preencher as lacunas. Caso julguem importante, refaçam as práticas que considerarem necessárias. 4 A partir dessa lista, formulem um glossário no qual vocês explicarão cada termo usando as palavras. Vocês podem, também, formular um pequeno texto no qual tragam todos os aspectos vivenciados nesta Trilha. O resultado de cada grupo poderá ser partilhado com todos da turma em uma grande roda de conversa, de acordo com as indicações do professor.

Mapeando a caminhada

Ao final de cada trilha, essa seção sintetiza os aprendizados e propõe um momento de autoavaliação.

Recursos tecnológicos fazem parte de todo processo cênico. Ucrânia, 2019.

Assim também se aprende

Dicas para expandir o aprendizado com filmes, músicas, livros, sites etc.

Linha de chegada

Encerra o percurso realizado ao retomar os temas mais relevantes e arrematar as discussões levantadas nas trilhas.

6
182 183 O personagem Phastos, mestre em tecnologia, no filme Eternos (2021), dirigido por Chloé Zhao, e na capa da revista de HQ (1985). Marvel Studios/Collection ChristopheL/AFP Nesta Linha de chegada, você irá: encerrar este ciclo com uma atividade prática e reflexiva para firmar as capacidades expressivas nas linguagens artísticas com o apoio da tecnologia para ampliar suas percepções; utilizar os estímulos oferecidos a sua criatividade para ser autor da própria história na construção da rede de conhecimento. 1. Olhando para as imagens, quais elementos das linguagens artísticas você observa? 2. Como são os enquadramentos nas duas imagens? 3. O que mais chama a sua atenção nas imagens? Estamos terminando o 9 ano, o que significa concluir o ciclo do Ensino Fundamental. Tudo o que foi aprendido será base para você seguir um caminho de descobertas no Ensino Médio. Ao longo do Ensino Fundamental, realizamos diversas experiências relacionadas a etapas de processos de criação artística e que aprofundaram as ideias sobre conceitos e aplicações da tecnologia, principalmente no que diz respeito às linguagens da música, teatro, dança artes visuais. Agora, vamos refazer o caminho percorrido neste ano, buscando examinar o que mais ressoa em nós dessas vivências.
Tecnologia na arte
180 No final dos anos 1990, quando a internet estava chegando, eu já gostava de trabalhar com a mistura da dança com elementos de outras linguagens. Assim, minha primeira mediação tecnológica foi utilizando um retroprojetor para propor a outras pessoas uma cena improvisada. A ideia era criar imagens no retroprojetor e dançar utilizando o dispositivo. Foram as práticas de criaçãoque formaram meu gosto pela pesquisa, pela criação autoral e pela relação com a tecnologia. “Cognitivo” é uma palavra que se refere ao que é relativo ao conhecimento. Você poderia nos falar
179 Mãos robóticas tocando piano. Países Baixos, 2017.
Menno van Dijk/iStockphoto.com
20 21
de vento medieval. Araisi, Letônia, 2016. Galway, Irlanda, 1890-1900. Indústria têxtil em São Paulo (SP), 1963. Arquivo
natural em fios.
Detroit Publishing Co./Wikimedia.org
A roca ou roda de fiar esteve significativamente presente na história da humanidade. Utilizada na produção de roupas, a roca transformava fibras vegetais ou lã
Uma pessoa acionava com seus pés o pedal que fazia girar uma roda. Oleksandr

Ponto de partida Técnicas e tecnologias

7 7
11 Um novo ciclo 12 O olhar, as janelas, os sentimentos e as nuvens 13 Meios e modos 15 Técnica na Pré-História e na Idade Antiga 18 Das técnicas da Antiguidade às tecnologias atuais 20 Mas o que é tecnologia? 22 Práticas de criação – Classificando técnica e tecnologia para uma rede 23 Concluindo com fios soltos 24 UNIDADE 1 Técnicas e tecnologias nas produções da arte 27 Trilha 1 - Inovar, crescer e permanecer 28 Tecnologia: que assunto é esse? 28 Processos de criação contemporâneos 29 Renda de bilros, encontro de gerações 31 Contraponto – Tempo e tecnologia 33 Avanços tecnológicos criam novas linguagens 35 Práticas de criação – A mão que transforma o material 35 Tecnologia para ganhar o mundo 37 Contraponto – Julio Le Parc: arte cinética para os olhos e o corpo 40 Práticas de criação – Roteiro: histórias sobre tempo e espaço em movimento 41 Caminhando pela História – Cubismo e suas imagens simultâneas 44 Contraponto – Tempo e movimento no espaço ........................................................................................................................................................ 48 Práticas de criação – Reconstruindo imagens 48 Arte e tecnologia hoje 49 A obra que te olha de volta 51 Práticas de criação – Objetos e invenções 52 Ver o que não se vê: tecnologia como espelho ficcional 53 Conexão – As mídias como suporte para ideias artísticas 54 Minha comunidade pelas lentes da câmera 56 Coordenada – Elementos da linguagem do cinema 57 Práticas de criação – A linguagem que constrói a narrativa – Documentário 60 Mapeando a caminhada – Avatar: interagir com um mundo inventado 61 Trilha 2 - Transformações da dança pela tecnologia 62 Vídeo e arte nas obras de Analivia Cordeiro 63 Coordenada – Profissão dança: ingresso na vida acadêmica 65 Práticas de criação – Plano fixo de uma dança 66 Videodança: o que é isso? 67 Cinema, dança e música 68 Eu danço, eu filmo, nós criamos 70 Práticas de criação – Planos móveis de uma dança 71 Conexão – Dança-teatro 72 Sítio específico: uma dança para um local 74 Chão transparente, plateia diferente 76 Por que não dançar aqui? 78 Práticas de criação – Uma dança para um espaço específico 79 Dança e luz 80
8 8 O LED na dança 82 Iluminando temas antes apagados: a valorização do corpo negro na dança 83 Desafio revelado 85 Práticas de criação – Registros de um desafio: formar, apoiar e impulsionar 86 Dança de favela no cenário iluminado 87 Contraponto – Modos tradicionais e contemporâneos de dançar 88 A dança telemática 93 Caminhando pela História – Tecnologia e mudanças na captura de imagens 94 Investigar o gesto para entender o movimento 96 Práticas de criação – Pesquisa e fichamento 97 Mapeando a caminhada – Dança e tecnologia 99 UNIDADE 2 Saber, inventar e inspirar ................................................................ 101 Trilha 3 - Teatro: linguagem em ação 102 Espaço cênico e tecnologia 103 Cenografia e iluminação 103 Práticas de criação – Investigando silhuetas 105 Teatro de sombras 106 Práticas de criação – Sombras em cena 110 Caminhando pela História – A iluminação teatral 111 Manipulação, tecnologia e teatralidade 116 Teatro lambe-lambe ............................................................................................................................................................................................................. 116 Bunraku 120 Práticas de criação – Jogo teatral: manipular e ser manipulado 121 Práticas de criação – Atores como bonecos construindo a cena 124 Contraponto – Tecnologias de um passado recente 125 Práticas de criação – Registrando memórias 127 Conectados em cena 129 Conexão – Tecnologia do movimento 130 Teatro virtual 132 Magiluth – Tudo o que coube numa VHS 132 Conexão – Videocriaturas: linguagem híbrida 134 Continentes conectados em cena 136 Práticas de criação – Uma história transmídia 137 Coordenada – Dá para ser artista de teatro? 138 Mapeando a caminhada – A travessia em cena 141 Trilha 4 - Os caminhos da música 142 Tecnologia e música 143 A tecnologia da transformação .................................................................................................................................................................................. 144 Coordenada – Uma classificação dos instrumentos musicais 146 Contraponto – Muitas marimbas 149 Práticas de criação – Unindo matemática e música 151 Conexão – Esculturas sonoras 152 Os caminhos da música eletrônica 154 Coordenada – Ondas sonoras e manipulação do som 155 Conexão – Grãos de areia que dançam 157 O som visível pela Cimática 158 Recursos musicais digitais 159 Caminhando pela História – Um século de novos sons 162
9 9 BATE-PAPO COM A ARTISTA .............................................................................................. 180 Criar e ouvir música na atualidade 165 Transformando sons 166 Práticas de criação – Construindo lugares com os sons 167 Um pouco da cultura hip-hop 168 Na terra e no espaço sideral 170 Ações da música no cotidiano 172 Música como ação e transformação 173 Música e saúde 177 Mapeando a caminhada – Repensando as tecnologias em música 179 LINHA DE CHEGADA Tecnologia na arte ................................................................ 183 Tecnologia com seres humanos e fantásticos 184 Produções menores e não menos trabalhosas 185 O mundo na telona 186 Práticas de criação – Da pesquisa à criação de um audiovisual 187 Alinhavo final 189 Referências 190 Transcrição dos áudios 192

A BNCC neste Ponto de partida

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9 e 10

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8 e 9.

Objetos e habilidades:

Contextos e práticas

EF69AR31

Processos de criação

EF69AR32

Patrimônio cultural

EF69AR34

Arte e tecnologia

EF69AR35

Objetivos deste

Ponto de partida

• Incentivar a aprendizagem dos conteúdos de Arte a partir do tema: técnica e tecnologia.

• Promover a compreensão de como as linguagens da Arte podem interagir entre si.

• Contribuir para o conhecimento de si, da comunidade e do contexto no qual está inserido.

Justificativa

Com a proposição do tema “Técnicas e tecnologia nas artes”, são abordados os espaços nos quais as linguagens se expressam, referindo-se às relações entre as questões tecnológicas na sociedade e nas artes. É importante esclarecer que esse tema inclui aspectos físicos e operacionais, além de dispositivos simbólicos acionados por recursos tecnológicos com os quais as pessoas interagem e pelos quais se expressam.

Este Ponto de partida busca oferecer diferentes oportunidades de atingir os objetivos propostos, adaptando as estratégias com base nas características da turma e nas suas escolhas como professor. Nesta etapa inicial do trajeto, é importante abrir os olhos e a mente para novas perspectivas e descobertas.

10 Fernando Lemos /
O Globo 10
Agência
Artistas Maria Carol e Luca Bastolla dando corpo às suas criações em art pixel. Rio de Janeiro (RJ), 2015.
Life is a Bit
Artistas Maria Carol e Luca Bastolla em uma intervenção em art pixel de nuvem em um espaço urbano. São Paulo (SP), 2017. Artistas Maria Carol e Luca Bastolla em uma intervenção em art pixel inspirada em um personagem de game no espaço urbano. Rio de Janeiro (RJ), 2015.

Orientações

Técnicas e tecnologias

Verbos como acessar, apreciar, produzir, registrar e compartilhar fazem parte das práticas artísticas e culturais de muitas sociedades e estão relacionados a verbos que fazem parte dos recursos tecnológicos e digitais que nos cercam, como baixar, curtir, disparar e viralizar, entre outros. Observe as imagens: elas fazem referência ao menor ponto na composição das imagens digitais, o pixel. Os artistas Luca Bastolla e Maria Carol fizeram pequenos mosaicos seguindo a estética quadrada dos pixelse os distribuíram pelas cidades, criando pontos de conexão entre a linguagem analógica e a digital. Neste livro, vamos investigar obras de artistas das artes visuais, da dança, do teatro e da música, refletindo sobre temas e percursos criativos e discutindo, de modo reflexivo, ético e responsável, manifestações da arte e da tecnologia nos dias atuais.

1. Quais elementos das imagens fazem parte do vocabulário digital?

2. O que as intervenções de Luca Bastolla e Maria Carol fazem você sentir em relação ao seu corpo?

3. O que elas fazem você pensar em relação ao espaço urbano e à tecnologia?

Nesta unidade, você vai:

• perceber que a técnica e a tecnologia fazem parte da história da humanidade desde sempre;

• valorizar questões teóricas e reflexivas como componentes do conceito de tecnologia;

• cultivar o senso crítico e consciente para desenvolver recursos criativos e expressivos;

• contribuir para o conhecimento de si, da comunidade e do contexto maior no qual se está inserido.

Pré-requisitos

Para o cumprimento dos objetivos, é esperado que os estudantes:

• conheçam os elementos básicos do movimento para que possam ampliá-lo para os elementos constitutivos das linguagens artísticas e audiovisual;

• percebam e busquem identificar as relações entre técnica e tecnologia para criar formas de expressão em arte;

• investiguem os conteúdos de forma coletiva e colaborativa.

Atitudes e valores

• Exercitar a percepção de si e do grupo com empatia, ampliando a atenção sobre temas diversos e ouvindo com respeito os colegas.

• Não emitir comentários depreciativos contra as opiniões diferentes.

• Desenvolver uma postura ética com todas as pessoas e com as manifestações culturais da comunidade, da região e de outros lugares.

As perguntas que aparecem na abertura do Ponto de partida podem gerar boas discussões sobre as técnicas e as tecnologias na arte. O foco não é respondê-las de modo certo ou errado, mas iniciar uma reflexão que possa indicar como você e sua turma relacionam-se com as artes e a tecnologia. Na primeira pergunta, espera-se que os estudantes apontem o pixel e o armazenamento em nuvem. Para as demais questões, a resposta é pessoal.

Faça um diagnóstico inicial para verificar o que a turma sabe sobre o tema, destacando que a arte não faz parte apenas do conteúdo das exposições organizadas em galerias ou de espetáculos apresentados em teatros, e que não necessariamente tudo que se vê compartilhado nas redes digitais é arte. Elementos de manifestações que envolvem a cultura e os processos de criação, tais como o artesanato, as estampas e as rendas, podem eventualmente ser considerados expressões artísticas, mesmo sem jamais terem sido compartilhadas.

Sugira uma pesquisa sobre pixel e armazenamento de dados em nuvem, buscando destacar a forte presença dos recursos digitais no nosso cotidiano. Como isso impacta a cultura e os modos de vida das pessoas da sua comunidade?

Começo de conversa

Neste volume, aprofundaremos o tema “arte e tecnologia”, procurando desenvolver referenciais para identificar o que está por trás dos recursos tecnológicos atuais. Reconhecendo a presença de elementos técnicos na linha do tempo, espera-se colaborar com o desenvolvimento de um pensamento crítico e consciente sobre as diferentes tecnologias e recursos digitais que existem para que os estudantes possam, com responsabilidade, interagir e compartilhar práticas artísticas que venham a formar o repertório e o vocabulário deles.

11
11 Fernando Lemos Agência O Globo
Crédito
8-bitch project Hortaliças em pixels no muro da linha de um trem. Intervenção em art pixel do projeto dos artistas Maria Carol e Luca Bastolla. Vinhedo (SP), 2017.

Preparação

Reflita com os estudantes sobre a conclusão dos Anos Finais do Ensino Fundamental e, em uma roda de conversa, peça a todos que falem um pouco sobre suas experiências individuais nestes quatro anos de estudos, práticas e reflexões sobre arte.

Observe se, individualmente, os estudantes conseguem refletir sobre seus processos e avaliar como construíram caminhos em direção ao autoconhecimento e à compreensão de que a capacidade de criação é algo que pertence a todos.

Verifique se eles apontam vivências mais profundas em uma ou outra linguagem da Arte, ou se têm algum questionamento sobre processos que ocorreram no aprendizado das linguagens artísticas abordadas.

Atividade complementar

Sugira uma conversa sobre as sensações de medo e insegurança que as mudanças podem gerar, bem como sobre a importância de ter coragem para dar os primeiros passos na construção do próprio caminho. Aproveite para mencionar os elementos que compõem a cultura de um povo: culinária, vestimentas, língua, crenças, festividades e valores.

Foco na BNCC

Ao relacionar as práticas artísticas a aspectos da vida cotidiana e ao compreender a presença da tecnologia em manifestações de arte são trabalhadas as habilidades EF69AR31 e EF69AR35.

Além disso, desenvolve-se o objetivo de contribuir para o conhecimento de si, da comunidade e do contexto no qual está inserido.

Um novo ciclo

Iniciar o 9o ano, o último do Ensino Fundamental, é uma conquista muito importante na sua trajetória. Neste momento, podemos refletir como vemos e interpretamos a vida tanto pelas lentes da realidade como da imaginação, entendendo que estamos sempre em movimento e iniciando novos ciclos em busca de conhecimento. Você se lembra de como se sentiu quando ingressou no 6o ano? Quais eram para você as maiores mudanças daquele momento? O que lhe fez sentir medo ou insegurança e o que lhe causou entusiasmo?

A abordagem mais profunda dos diferentes componentes, com professores especialistas, e o ritmo de estudo intenso provavelmente são normais hoje na sua vida de estudante, mas três anos atrás devem ter sido uma grande novidade, assim como as mudanças que estavam por acontecer. Diante de uma nova etapa da vida, cada pessoa sente, reage e se expressa de forma singular. Respeitar as diferenças, os pontos de vista, as reações e modos de expressão possíveis a partir de um estímulo, seja ele agradável ou não, faz parte do convívio humano, assim como do exercício artístico. Em todas as suas manifestações, a arte nos lembra que as percepções e expressões não precisam – nem devem –ser iguais para todos.

Pessoa sentindo no corpo a imensidão do espaço. África do Sul, 2018.

Ao construir novos saberes por meio do encontro com as artes, pode-se descobrir, a cada passo, que todos somos seres criativos e temos capacidade de expressão. São diversas camadas de autoconhecimento que podem fazer sentido imediatamente, ou alimentar ideias no futuro. Criar, explorar e aprender são ações muito importantes para o desenvolvimento da humanidade. Mas, como as artes contribuíram – e ainda contribuem – para que isso aconteça? E como as tecnologias entraram nessa história, mantendo a ideia de que cada novo ciclo apresenta seus desafios e encantos?

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jacoblund/iStockphoto.com

O olhar, as janelas, os sentimentos e as nuvens

Vamos fazer um exercício de reflexão. Observe, em algum momento do seu dia, se existem nuvens no céu – sabia que as nuvens que você vê podem ter se originado do vapor d’água da cidade vizinha? Então, observe esta imagem:

Orientações

Explore com os estudantes as perguntas apresentadas após a imagem do livro, elas têm respostas pessoais. Na segunda pergunta, contudo, espera-se que eles reconheçam que as nuvens parecem formar o mapa do continente americano.

Explore as reflexões sugeridas sobre a capacidade de interpretar o mundo a partir dos nossos sentidos, promovendo uma conversa sobre o que são os sentidos e como utilizamos cada um deles para as diversas situações que vivenciamos no dia a dia.

Promova uma discussão sobre as obras Skylight e Swimming Pool e sobre e o equilíbrio entre os extremos opostos, como alto e baixo, explorados nessas criações.

Depois, analise esses aspectos quanto às hierarquias sociais, à criação e à fruição da arte, relacionando essa reflexão com a ideia de técnica e tecnologia presente na sociedade e nos meios de comunicação.

• Para você, os vidros parecem estar na parede, no teto ou no chão? Você consegue imaginar por que tem essa sensação?

• Para você, as nuvens parecem formar alguma imagem?

Entre os elementos comuns a todas as linguagens artísticas, podemos destacar o fato de termos a capacidade de entender o mundo por meio dos sentidos. O que caracteriza a experiência humana, além da capacidade de apreender o mundo pelos sentidos, é, ao mesmo tempo, processarmos reflexivamente essa percepção, utilizando a memória e o intelecto. O conjunto dos sentidos também contribui para um mecanismo que nos permite interpretar uma obra de arte e nos surpreender com aquilo que a obra parece contar a todo o nosso corpo. Com mais ou menos 14 anos de experiência, vocês certamente já perceberam como podem descobrir o mundo ao seu redor. Utilizando os sentidos, associados com nossa capacidade de raciocínio e interpretação, nos apropriamos e nos engajamos no mundo que nos cerca.

Aos poucos, vamos descobrindo do que trata determinada matéria, tema ou assunto, e o que inicialmente era desconhecido torna-se conhecido. À medida que conhecemos melhor algo, é comum que busquemos por novidades. No entanto, ampliar nosso campo de conhecimentos não se limita a lidar somente com o que é novo. Também aprendemos revisitando o que já é conhecido e questionando o que já sabemos.

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Leandro Erlich. Skylight (Claraboia), 2009.
Leandro Erlich

Orientações

Considerando a foto da instalação

Swimming Pool, de Leandro Erlich, a resposta para a primeira pergunta do livro pode se dar no sentido visual, devido aos reflexos que aparecem em formas de desenhos de luz, ou do gesto que conecta quem está dentro com quem está fora. A relação possível entre o “dentro” e o “fora” da instalação baseia-se no sentido de que, normalmente, o espaço de dentro deveria estar preenchido com água, mas está seco, e quem está fora enxerga a superfície ondulada da água e as imagens distorcidas, como se vê em uma piscina cheia d’água.

Quanto aos recursos técnicos utilizados na instalação, as respostas dos estudantes dependerão do repertório pessoal de cada um. Não é preciso procurar uma resposta correta. De qualquer modo, ela provavelmente envolverá a escavação do espaço da piscina, um vidro e a água.

Comente que a tecnologia disponibiliza, por meio de aplicativos digitais, a possibilidade de manipular registros audiovisuais, ou seja, fotos, vídeos e áudios, criando ou alterando suas formas.

Instalação: modalidade de obra de arte que utiliza materiais variados na construção de uma cena ou de um ambiente, estimulando relações entre a proposta do artista e os diversos pontos de vista do público.

Observe detalhadamente a imagem abaixo.

• O que chama sua atenção nesta imagem? Que relação é possível estabelecer entre o “dentro” e o “fora” nessa instalação?

• Quais processos técnicos você imagina que foram utilizados para criar essa instalação?

Claraboia e Piscina são duas obras de um mesmo artista, o argentino Leandro Erlich (1973-). Em seus trabalhos, ele utiliza elementos simples e conhecidos, como água, vidro e espelhos, que já foram usados em processos artísticos em diversas épocas e que aqui estão dispostos de formas inusitadas, incentivando-nos a pensar no movimento de equilíbrio entre os extremos. As obras apresentadas nas imagens nos convidam a ver o mundo de uma forma diferente da usual. Como a tecnologia pode se relacionar com a arte para criar novas formas de ver o mundo?

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Instalação Swimming Pool (Piscina), de Leandro Erlich, no Museu de Arte Contemporânea do Século 21. Kanazawa, Japão, 2009.
©
Suzuki Ryo

Meios e modos

Você sabia que técnica diz respeito ao conjunto de métodos e processos próprios de uma arte, ciência ou profissão? O termo original tékhne vem do grego e, de modo geral, refere-se à habilidade de inventar meios para vencer um obstáculo. De modo específico, tékhne está relacionado ao aprendizado e à prática de um ofício com regras, procedimentos e instrumentos próprios.

Com base nessas informações, reflita e responda:

• No que você vê a presença de técnicas no seu dia a dia?

• Qual tipo de resultado elas apresentam?

• Você relaciona técnica com alguma linguagem artística, especificamente?

Observe a pintura de Edgar Degas. As bailarinas são um tema recorrente em sua obra. Ele as retratava em cenas diversas, inclusive em situações de ensaio e preparação, como nessa imagem. O balé valoriza a habilidade de expressar suavidade nos gestos e nos movimentos: as barras são instrumentos que ajudam a aprimorar essa técnica. Já o frevo valoriza a habilidade de expressar o vigor dos movimentos no ritmo acelerado da música; logo, os dançarinos desenvolvem técnicas para fazer os passos diretos e pontuados da dança. A definição de arte transformou-se ao longo do tempo e muda de acordo com a cultura, o contexto e o espaço onde ocorrem.

O conceito de arte pode estar ligado a aspectos como a manifestação de alguma habilidade e a expressão da realidade interior do criador, ao senso de prazer ou beleza e ao exercício da imaginação, entre outros. Observe as imagens.

A barra é um suporte importante para desenvolver a técnica da dança clássica. Edgar Degas. Bailarinas praticando na barra balé dança, 1877. Óleo sobre tela, 75,6 cm × 81,3 cm.

Preparação

Para abordar os meios e modos de se fazer arte, você pode apresentar aos estudantes ideias de representação do corpo, de arte e de técnica. Comente que Edgar Degas retrata bailarinas como um pretexto para pintar texturas e expressar o movimento. Ele pinta fazendo gestos com seu corpo, utilizando técnicas e habilidades desenvolvidas ao longo do tempo. As bailarinas utilizam as barras em aulas de balé como suporte para aperfeiçoar a técnica da dança clássica. As barras ajudam a apoiar as mãos e as pernas para facilitar o equilíbrio do corpo e fortalecer a musculatura requisitada na execução dos passos de dança. A instalação Bionic Bloom consiste em 90 flores mecânicas que podem ser controladas individualmente por gestos manuais. Para desenvolver o projeto foram utilizados diferentes recursos, como otimização de fabricação computacional, impressão 3-D, visão computacional e interface com eletrônica/microcontroladores.

Por isso, o objetivo é reforçar a importância de se pensar em técnica e tecnologia como procedimentos que potencializam as práticas de criação de arte. A arte está relacionada à atividade humana, que comunica (por diversas formas de expressão) as escolhas estéticas e as matrizes culturais de grupos e de sociedades. Nas diversas linguagens, o desenvolvimento das técnicas geralmente ocorre durante o ato criativo, simultaneamente aos processos de criação. É no fazer artístico que se percebe o melhor modo de atuar no mundo. Isso é bastante intencional e diz respeito a criar soluções para as questões que surgem. Esse aspecto também está relacionado à autonomia, que é fundamental para o processo de criação. As respostas às perguntas do livro são pessoais.

Foco na BNCC

Ao relacionar as práticas artísticas a aspectos da vida cotidiana e ao compreender a presença da tecnologia em manifestações de arte são trabalhadas as habilidades EF69AR31 e EF69AR35.

Também é possível contemplar o objetivo de promover a compreensão de como as linguagens da Arte podem interagir entre si.

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Jaya Lakshmi/Crescent School of Architecture
Metropolitan Museum of Art, New York, NY
Bionic Bloom, instalação interativa desenvolvida por uma equipe multidisciplinar da Crescent School of Architecture. Chennai, Índia, 2021.

Orientações

A instalação Bionic Bloom propõe uma interatividade poética. Compare-a com situações da vida contemporânea nas quais o corpo interage com mecanismos utilizados para finalidades não artísticas, por exemplo, para fins comerciais, sem envolver a intenção criativa do sujeito. Sensores de presença estão espalhados por toda parte nas grandes cidades: nas portas automáticas, nos áudios de boas-vindas que são acionados ao passarmos por portas de estabelecimentos comerciais, entre outros mecanismos de reconhecimento de imagem e voz. Promova uma discussão sobre como processos artísticos e técnicos podem estar intimamente ligados e como os estudantes percebem isso na vida deles. Converse sobre quais são as ações tecnológicas que eles mais praticam e como podem integrá-las em uma criação artística. Observe que, a partir dessa conversa, você perceberá quem tem acesso ou não às ferramentas das tecnologias atuais e quais são elas.

Atividade complementar

Se possível, assista com os estudantes a um vídeo que mostra imagens do processo de construção da parede artística interativa Bionic Bloom. Você pode chamar atenção para os movimentos que as pessoas fazem quando acionam o mecanismo técnico. Disponível em: https:// youtu.be/PLwSGFsTzUQ. Acesso em: 15 maio 2022.

Foco nos TCTs

Assim como na pintura de Edgar Degas, essa obra nos provoca a criar relações entre corpo e arte. Na pintura de Degas, o corpo das bailarinas, suas posturas, seus figurinos, a presença da barra, entre outros aspectos, são retratados em uma cena de ensaio, logo, fazem menção às questões de aprendizado e desenvolvimento da técnica do balé. No conjunto de imagens acima e na página anterior, vemos a instalação interativa Bionic Bloom (que pode ser traduzido como Floração biônica), uma obra contemporânea, desenvolvida por uma equipe multidisciplinar em uma escola de arquitetura na Índia. Nesse caso, entretanto, a pesquisa não é apenas visual, ela inclui a relação com o corpo e seu movimento. Sensores instalados em cada uma das “flores” criadas no painel percebem e reagem a movimentos de aproximação, causando a abertura e o fechamento delas . Logo, é o modo de se mover de quem interage com o painel que aciona o mecanismo da obra.

Processos artísticos e processos técnicos podem estar intimamente ligados, em uma diversidade de resultados tão diferente quanto essas duas obras que apresentamos aqui.

A arte pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações estéticas e comunicativas, e realizada pela combinação de diversas linguagens: artes visuais, dança, música, teatro, arquitetura, literatura, entre outros. Nas artes, o desenvolvimento das técnicas geralmente ocorre simultaneamente aos processos de criação. Ao experimentar criar, vai-se percebendo qual o melhor modo de atuar.

Este conteúdo trabalha o Tema Contemporâneo Transversal Ciência e Tecnologia ao abordar uma criação artística produzida com recursos tecnológicos para interagir com o público.

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Público interagindo com a instalação Bionic Bloom, desenvolvida por uma equipe multidisciplinar da Crescent School of Architecture. Chennai, Índia, 2021. Detalhe do mecanismo de funcionamento da instalação interativa Bionic Bloom desenvolvida por uma equipe multidisciplinar da Crescent School of Architecture. Chennai, Índia, 2021. Jaya Lakshmi/Crescent School of Architecture Jaya Lakshmi/Crescent School of Architecture Jaya Lakshmi/Crescent School of Architecture

Um dos grandes diferenciais do ser humano em relação aos outros animais é o fato de sermos capazes de projetar nosso pensamento, ou seja, de pensar antecipadamente sobre o que iremos fazer, e, ao mesmo tempo, de improvisar, criando sempre caminhos para ressignificar nossas ações. Essa habilidade intelectual está relacionada à natureza humana, que considera o passado e projeta o futuro.

• Você já parou para pensar sobre como a cultura se relaciona com a natureza?

Muitas vezes, observamos a natureza para transformar o que vemos em cultura e arte. As construções das teias de aranha podem ter inspirado as tramas dos tecidos de nossas roupas, mas elas em si não são obras de arte. A arte é feita pelas pessoas.

Kaká Werá, escritor de origem tapuia, é o autor da peça Os filhos de Iauaretê, a onça-rei, que narra uma lenda indígena. Os figurinos do espetáculo são de Marichilene Artisevskis, que pesquisou as linhas das pinturas corporais indígenas e optou por trabalhar com a laicra, um tecido sintético que adere ao corpo, em vez de usar fibras naturais. O autor, a direção, as atrizes e toda a equipe técnica (cenário, desenho e operação de luz, projeção e som, entre outros), trabalharam em conjunto para levar para o público mensagens de respeito entre os indivíduos e a sociedade. Para Marichilene, pesquisar tecidos para criar figurinos é equivalente a construir toda a movimentação e a interpretação dos personagens de uma peça.

Você já sentiu que usar determinadas roupas pode alterar suas formas de expressão?

Orientações

Peça aos estudantes que exemplifiquem como a arte e as manifestações culturais podem ser associadas a eventos da natureza, a exemplo da trama dos tecidos, que pode ser relacionada aos fios da teia de aranha, ou a fatos mais abstratos, como uma iluminação cênica ligada à beleza do arco-íris, causando uma sensação de magia no espectador. O que mais os estudantes podem imaginar? Discuta os exemplos fornecidos por eles, reforçando que só podemos realmente denominar como arte aquilo que provém das ações humanas. Essa é uma reflexão madura e objetiva, e será excelente você promovê-la em sala de aula neste momento da vida dos estudantes.

Entre as profissões relacionadas às artes cênicas, temos a do figurinista, responsável por manipular a materialidade dos tecidos para ajudar os artistas a incorporar seus personagens. A figurinista Marichilene Artisevskis trabalhou na peça teatral Os filhos de Iauaretê, a onça-rei, uma adaptação  do livro As fabulosas fábulas de Iauaretê, do escritor indígena Kaká Werá. A fábula encenada convida o público a refletir sobre a necessidade de encontrar outra maneira de se relacionar com a Terra, mas, apesar disso, Marichilene não criou os figurinos com fibras naturais. Ela optou por usar a laicra, uma fibra composta de elastano, de natureza sintética. O fio elástico foi inventado em 1958 por uma equipe de cientistas, originalmente como um substituto para a borracha utilizada em espartilhos. Pergunte aos estudantes se eles já notaram a diferença entre tecidos flexíveis e tecidos planos ou sem elasticidade.

Para aprofundar

Kaká Werá é autor de livros que abordam a temática da sabedoria ancestral da cultura tupi como percursos possíveis para o autoconhecimento. Dos seus oito livros publicados, três foram traduzidos para o alemão, francês e inglês: Todas as vezes que dissemos adeus; Origem do mundo segundo os Guaranis; Kuaracy-korá: o poder do trovão. É também ambientalista, terapeuta e especialista em saberes tradicionais.

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YES BRASIL/iStockphoto.com Sawara Silva Santos
Teia de aranha na natureza. Urubici (SC), 2018. Cena do espetáculo Os filhos de Iauaretê, a onça-rei, da Cia. Pé do Ouvido. Direção: Thaís Medeiros. São Paulo (SP), 2021.

Orientações

Este tópico faz parte do título “Meios e modos” e tem como objetivo aprofundar a ideia de técnica e tecnologia em arte.

Nele será feita uma imersão em alguns períodos históricos, buscando refletir sobre a utilização de técnicas e tecnologias por diversas sociedades humanas.

Pergunte aos estudantes quais referências eles têm de objetos e técnicas da Pré-História, como o machado, o fogo e a cerâmica.

Proponha uma pesquisa sobre a maquiagem feita em períodos remotos com pigmentos na turais. Você pode indicar sites que tragam curiosidades acerca do tema, desde a Antiguidade até os dias atuais. Uma sugestão é o texto “Fatos da história da maquiagem que você nem imaginava!”, disponível em: https://institutodivas.com.br/historia -da-maquiagem/#:~:text=A%20 Maquiagem%20surgiu%20no%20 Egito,dos%20olhos%20e%20das%20 sobrancelhas. Acesso em: 15 maio 2022.

Atividade complementar

Solicite uma pesquisa sobre como o tempo começou a ser medido e como funcionam os diversos calendários no mundo. Promova uma roda de conversa na qual vocês possam explorar as informações encontradas. Caso seja possível, assistam em aula ao documentário História dos calendários, que traz diversas questões sobre o tempo. Disponível em: https:// youtu.be/l4hAKoWv9Vk. Acesso em: 15 maio 2022.

Técnica na Pré-História e na Idade Antiga

Na Pré-História, o modo como as pessoas se organizavam em comunidade era muito diferente do que conhecemos e vivemos hoje. Não existiam cidades nem estados, e os seres humanos viviam em pequenos grupos, clãs ou tribos. As informações dessa época vêm de hipóteses construídas por pesquisadores a partir de objetos desse período, encontrados ou descobertos em escavações. Para estudar e levantar dados sobre as primeiras sociedades, arqueólogos criaram divisões e subdivisões de períodos da Pré-História, levando em conta a matéria-prima com que os seres humanos faziam suas ferramentas e seus instrumentos. Entre as técnicas que marcaram a evolução da nossa espécie durante a Pré-História, podemos mencionar as utilizadas para confecção de ferramentas práticas como o machado, a descoberta e o domínio do fogo e a queima da argila para fazer vasos mais resistentes e duradouros.

Foco na BNCC

Além dos utensílios destinados a fins funcionais, vem desse período a fabricação de pigmentos naturais, feitos a partir da pulverização de minerais, utilizados para pintar panelas de barro, roupas e para enfeitar o corpo. Na busca de minerais para produzir os pigmentos, os primeiros homens também descobriram o cobre, que foi importante para o desenvolvimento da metalurgia. A invenção da roda permitiu melhorar os processos relativos ao cultivo da terra, possibilitando a mudança de um estilo de vida nômade para o estabelecimento em um determinado local.

A escrita também é uma técnica, e a Sociologia moderna a qualifica como uma das invenções mais importantes das civilizações. De acordo com o mesmo princípio, a invenção do calendário também foi revolucionária, pois permitiu a medição do tempo de forma regular e recorrente, dando ensejo para a marcação dos meses, das estações do ano e o registro de eventos históricos.

Ao estudar artefatos diversos e ter contato com o patrimônio histórico material de diferentes culturas é desenvolvida a habilidade EF69AR34

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Lâmina de machado do acervo do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville (MASJ). Joinville (SC), 2016. Ricardo Azoury/Pulsar Imagens

A pedra também permitiu que a história de povos antigos chegasse até nós. A Pedra do Sol, por exemplo, é um calendário da civilização asteca. Pesquisas modernas sugerem que a grande pedra, que pesa cerca de 21,8 toneladas, tenha sido esculpida entre 1502 e 1521. Durante a colonização espanhola da América (1519-1521), para proteger a Pedra do Sol evitando que ela fosse destruída pelos colonizadores, ela foi enterrada na principal praça de Tenochtitlán, atual Cidade do México. A Pedra do Sol só foi redescoberta mais de dois séculos depois, em 1790, durante os reparos na Catedral da Cidade do México. Na ocasião, foi colocada em uma parede externa da catedral, onde ficou até 1885. Atualmente, ela se encontra no Museu Nacional de Arqueologia do México e segue contando como os astecas organizavam seus calendários.

• Como você organiza seu tempo?

• Você anota seus compromissos em uma agenda? Acompanha o calendário?

• Sua agenda é de papel ou digital?

Interdisciplinaridade

A interdisciplinaridade entre os conteúdos de Arte e de História pode ser reforçada ampliando as análises sobre as questões que mobilizaram os conflitos causados por colonizadores europeus na América do Sul e sobre como os povos lutaram (e ainda lutam) para preservar sua cultura no tempo e no espaço. É possível ainda fazer uma quantificação e descrição dos diferentes tipos de calendários e seu valor simbólico para diferentes épocas, analisando, em seguida, o que esses objetos podem significar em uma análise histórica.

Orientações

Oriente os estudantes a observar com atenção os sulcos esculpidos na placa do calendário asteca, conhecida como Pedra do Sol. Pergunte a eles se conhecem outros processos de gravação semelhantes, como a xilogravura. As perguntas propostas na página preveem respostas pessoais e têm a intenção de suscitar uma reflexão sobre formas de acompanhar a passagem do tempo, o que favorece o desenvolvimento da competência socioemocional relativa ao autoconhecimento.

Nessas perguntas não há julgamento sobre um modo melhor ou pior. Elas foram elaboradas para ajudar o estudante a identificar como administra seu planejamento rotineiro e ter, assim, uma referência pessoal para melhor compreender os diferentes elementos apresentados no livro. Reforce o aspecto móvel, ágil e colaborativo trazido pelo universo digital, mencionando os aplicativos que ajudam a organizar os compromissos agendados.

Atividade complementar

Leve para a aula outras representações de calendários, em formatos diferentes, músicas sobre as estações do ano ou ainda movimentos coreográficos inspirados na contagem do tempo. No formato circular, a Pedagogia Waldorf, de Rudolf Steiner, apresenta modelos de calendário anual que permitem ao usuário marcar os dias da semana e os meses, identificar as estações do ano e anotar eventos importantes, como datas comemorativas.

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Album/Easypix Brasil Panther Media GmbH/Alamy/Fotoarena
Calendário digital em um tablet. Alemanha, 2021. Pedra do Sol, artefato com função de calendário, originário de Tenochtitlán (atual Cidade do México), século XVI, Reinado de Montezuma.

Preparação

Para esta aula, é interessante convidar o professor de História, para que os estudantes possam ampliar as questões trabalhadas.

O objetivo é fazer com que eles levantem hipóteses sobre as mudanças ocorridas no século XVIII, identificando o que permaneceu ao longo do tempo e o que representou inovações e crescimento. Lembre-se de que, antes da Revolução Industrial, a técnica era usada para a vida prática e objetivava um determinado resultado, movimentando a economia pelo artesanato. Após a Revolução Industrial, a tecnologia se utiliza de um conjunto de saberes relativos à técnica, formando as áreas específicas do conhecimento e movimentando a economia para fins industriais.

Orientações

Apresente em sala de aula o vídeo indicado no boxe Assim também se aprende, da página seguinte, explorando seus aspectos técnicos. Pergunte se algum estudante tem contato com alguma técnica antiga de artes marciais, de artesanato com madeira ou de bordado, tricô ou crochê, entre outros.

Sugira outros dois temas para aprofundar as investigações: Revolução Industrial e produção de espetáculo. Os estudantes devem pesquisar em casa vídeos e textos sobre esses assuntos. Essa atividade pode ser feita individualmente ou em grupos definidos pela afinidade com o tópico.

Os resultados devem ser compartilhados com a turma na semana seguinte. Caso seja possível, assistam juntos aos vídeos que considerarem mais interessantes, promovendo uma roda de conversa ao final da atividade.

Das técnicas da Antiguidade às tecnologias atuais

Ao longo do tempo, diversas técnicas foram sendo criadas e aperfeiçoadas de acordo com as necessidades dos seres humanos: caçar, sobreviver, registrar informações, contar a passagem do tempo e melhorar o trabalho. Entre as máquinas que se destacam na história, estão os moinhos e as máquinas de costura. O desenvolvimento técnico dos moinhos é parte do que agora chamamos de engenharia mecânica, engenharia civil e de aerodinâmica.

Foco na BNCC

A roca ou roda de fiar esteve significativamente presente na história da humanidade. Utilizada na produção de roupas, a roca transformava fibras vegetais ou lã natural em fios. Uma pessoa acionava com seus pés o pedal que fazia girar uma roda.

Ao conhecer instrumentos que fazem parte do patrimônio histórico e cultural e ao reconhecer a presença da tecnologia em práticas artísticas são mobilizadas as habilidades EF69AR34 e EF69AR35.

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Moinho de vento medieval. Araisi, Letônia, 2016. Roda de fiar. Condado de Galway, Irlanda, 1890-1900. Indústria têxtil em São Paulo (SP), 1963. Arquivo Nacional. Fundo Correio da Manhã.
StanislavBeloglazov/Shutterstock.com Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional, Rio de Janeiro Detroit Publishing Co./Wikimedia.org

Após a roca, foram inventadas outras máquinas manuais de tecer, como o tear. Mas uma mudança crucial para a história ocorreu entre o meio e o fim do século XVIII, com a invenção do tear mecânico, inicialmente movido por moinhos hidráulicos, e sua combinação com o motor a vapor, aperfeiçoado na mesma época. O acionamento dos teares pela força das máquinas a vapor diminuiu enormemente a quantidade de pessoas necessárias para fabricar os tecidos –que passaram então a ser produzidos em larga escala. Esse desenvolvimento da indústria têxtil é considerado o principal marco da Revolução Industrial.

Assim como os moinhos, as rocas e as máquinas de costura fizeram parte da vida das pessoas, transformando seu cotidiano, e temos hoje diversos outros recursos que nos impactam diariamente, entre eles os computadores e smart-phones, a proteção por criptografia e a conexão 5G.

De acordo com a época, podem surgir distintas percepções sobre a técnica e a tecnologia. Inicialmente, as técnicas facilitaram a sobrevivência dos seres humanos e formaram comunidades. Hoje em dia, técnica e tecnologia estão imbricadas, por exemplo, no uso de computadores, cujos benefícios para a produção artística são incontestáveis. Os computadores tornaram-se fundamentais em vários processos de criação, produção e difusão de obras de arte, bem como na constituição e no armazenamento de dados ligados à arte digital e às obras multilinguagens. Assista, por exemplo, a um vídeo que mostre os processos de produção de um show da sua banda favorita e note como a tecnologia faz parte do que vemos no palco.

Orientações

Pergunte se algum estudante tem contato com a tecnologia que utiliza aplicativos para criar formas de expressão, no formato textual ou no audiovisual, relacionadas ao modo como a indústria de entretenimento usufrui da tecnologia.

Para saber mais sobre as principais etapas do desenvolvimento técnico dos moinhos de vento e algumas histórias curiosas sobre essa invenção, assista a este vídeo: https://youtu.be/Lx4k2yZnloM. Acesso em: 7 jun. 2022.

Recursos tecnológicos fazem parte de todo o processo cênico. Ucrânia, 2019.

Direcione a melhor forma de compartilhar com a turma as pesquisas que os estudantes farão sobre a tecnologia em shows da atualidade. Eles podem ser agrupados por temas em comum e, em grupo, elencarem um aspecto para mencionarem, como os desenhos de luz, os figurinos, as projeções, a mesa de som, entre outros. Os grupos usaram computadores na pesquisa? Os estudantes repararam quais aplicativos simulam recursos utilizados nos processos de produção e apresentação de shows?

Bate-papo com o professor

Faça uma roda de conversa e peça a cada estudante que fale uma frase relacionada ao que aprendeu das técnicas de outros tempos. Avalie se, de modo geral, houve engajamento com o tema, ampliação de vocabulário e percepção de relações entre técnicas e avanços tecnológicos. Por fim, verifique se houve relação entre as inovações da tecnologia e a cena cultural da atualidade.

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Oleksandr
Nagaiets/Shutterstock.com

Preparação

Observe com os estudantes a ideia futurista trazida pelos elementos da imagem. Pergunte se conhecem tecnologias como a realidade virtual ou o metaverso. Em caso afirmativo, peça que compartilhem suas percepções com a turma.

Orientações

Procure explorar as perguntas propostas, cujas respostas são pessoais, promovendo uma discussão com foco na ideia de que a tecnologia ultrapassa a associação com a indústria de eletrônicos.

Aprofunde e amplie a concepção que os estudantes têm sobre tecnologia, pedindo que eles deem exemplos de recursos tecnológicos atuais.

Após essa discussão, aproxime tecnologia e arte. Para isso, você pode transmitir, em sala de aula, alguns vídeos sobre instalações artísticas, como a “Arte e tecnologia – Instalações artísticas para as cidades”, que mostra como as obras ganham sentido a partir da interação com o público, principalmente pelo corpo. Nesses trabalhos, os artistas geram uma relação entre o usuário e a criação. Disponível em: https://youtu.be/588gXfujz

zA. Acesso em: 15 maio 2022.

As respostas às perguntas são pessoais; no entanto, para responder à primeira espera-se que o estudante observe a tecnologia presente nos óculos, nas telas dos computadores, mouses, joysticks, teclados, fios e nos números 0 e 1 que aparecem na imagem.

Mas o que é tecnologia?

Vamos repetir o exercício sugerido anteriormente em relação à técnica, pensando agora na palavra tecnologia. Analise com atenção esta imagem, converse com seus colegas e responda:

Tecnologias vistas apenas na ficção estão se tornando cada vez mais possíveis e parte do nosso cotidiano. Rússia, 2019.

• Onde você vê a presença da tecnologia na imagem acima?

• Onde você vê a presença da tecnologia no seu dia a dia?

• Para você, ao que a palavra “tecnologia” costuma estar associada?

Caso você tenha associado tecnologia a computadores e aparelhos celulares de última geração, canais de TV a cabo com várias opções de filmes e séries, drones ou mecanismos de busca na internet, que supostamente têm respostas para quase tudo, você está certo. Mas o significado da palavra tecnologia é anterior a tudo isso e ultrapassa a associação com a indústria de eletrônicos. Vamos aprofundar nossa reflexão sobre o termo tecnologia. Veja a definição que o dicionário on-line Priberam apresenta:

substantivo feminino

1. Ciência cujo objeto é a aplicação do conhecimento técnico e científico para fins industriais e comerciais.

2. Conjunto dos termos técnicos de uma arte ou de uma ciência.

3. Tratado das artes em geral.

TECNOLOGIA. In: PRIBERAM. Lisboa: Priberam Informática, c2022. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/tecnologia. Acesso em: 5 abr. 2022.

A raiz da palavra tecnologia vem do grego: “tecno” significa técnica, arte ou habilidade, e “logia” significa estudo ou ciência. Tecnologia, então, seria a ciência da técnica, ou a valorização de um conjunto de habilidades. Entretanto, essa é apenas uma entre as múltiplas formas de refletir sobre um assunto bem complexo.

Foco na BNCC

Ao refletir sobre a presença da tecnologia em práticas artísticas é trabalhada a habilidade EF69AR35

Assim, é contemplado o objetivo de incentivar a aprendizagem dos conteúdos de Arte a partir do tema: técnica e tecnologia.

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tec·no·lo·gi·a
RazoomGames/iStockphoto.com

Classificando técnica e tecnologia para uma rede

Observe como as diferentes técnicas e tecnologias ao seu redor impactam sua vida. Considere utensílios, instrumentos ou dispositivos que fizeram parte da sua infância e fazem parte do seu cotidiano. Eles são analógicos ou digitais? Esses objetos dependiam de energia elétrica ou de pilhas e baterias para funcionar? Eles exigiam gestos, movimentos ou se relacionavam com a apreciação visual ou sonora? Como seu corpo agia para se relacionar tecnicamente com eles?

Para essa atividade, você precisará de papel, tesoura, caneta, lápis de cor e barbante, para criar uma rede e experimentar um jogo.

1 Procure classificar alguns objetos ou máquinas em suas respectivas categorias.

2 Em uma folha de papel, faça uma tabela conforme o exemplo abaixo para descrever as características mais marcantes de cada item. O ideal é que você se recorde de quatro exemplos diferentes. Guarde essa tabela, ela deverá ser vista apenas por você.

NomeClassificaçãoAnalógicoDigital Função

VelaUtensílio X Iluminar.

TamborInstrumentoX Tirar som.

LiquidificadorUtensílio XMisturar conteúdos.

Aparelho celular Dispositivo X Múltiplas funções.

3 Formem grupos de cinco integrantes. Vocês precisarão de cinco tiras de papel por grupo: cada pessoa deverá recortar, a seu critério, uma tira de sua tabela e escolher uma cor para pintar o verso do papel.

4 Sentados em círculo no chão, embaralhem e disponham as tiras no centro da roda, com a parte colorida para cima e as descrições viradas para baixo.

5 Cada estudante retirará uma tira e lerá a descrição em silêncio. Pela cor do verso do papel, você saberá qual é a sua tira e não irá pegá-la. Quando todos tiverem lido, uma pessoa por vez produzirá uma cena curta, com base no que está descrito na tira. Os demais deverão observar e tentar adivinhar do que se trata.

6 Assim que a última pessoa se apresentar, todos voltam aos seus lugares na roda. Furem as tiras e passem o barbante por cada uma delas. O primeiro estudante que se apresentou deve, então, segurar a ponta e passar o restante do barbante para quem estiver à sua frente na roda. Essa pessoa repetirá o procedimento até que se forme uma rede de fios, papéis e memórias do grupo. Após a prática, os integrantes do grupo podem decidir como registrar a atividade e a rede que se formou: por desenhos, fotos ou montando um painel. Conversem sobre as próprias descrições e sobre as escolhas de cada um. Houve exemplos parecidos? Se sim, suas representações foram distintas ou não? O que essas descrições contam sobre a presença da tecnologia no meio de onde vocês vieram e na sua geração como um todo?

Preparação

Separe os materiais solicitados, garantindo que todos os estudantes possam realizar a atividade. A primeira parte, da montagem da tabela, é individual, e a segunda é coletiva.

Orientações

Se necessário, auxilie os estudantes com menos autonomia a montarem suas tabelas. A orientação geral é inserir na primeira coluna o nome do objeto. Na segunda, eles devem classificar os objetos em utensílio, instrumento ou dispositivo. Na terceira e na quarta, entra a diferenciação entre analógico e eletrônico, ou seja, que depende de uma fonte de energia para funcionar. Na quinta e última coluna, o estudante acrescentará uma descrição, conforme exemplificado no livro.

Essa descrição pode ser da seguinte forma: vela – acender com um fósforo ou um isqueiro; tambor – bater com a palma da mão ou uma vareta sobre a superfície; liquidificador – misturar conteúdos no interior de um copo, que tem hélices e lâminas que giram pelo acionamento de um botão. Na descrição das múltiplas funções de um aparelho celular, pode-se indicar que é um objeto que cabe na mão e que é capaz de realizar ligações, fotografar, filmar, funcionar como relógio e lanterna. O objetivo é que eles construam uma tabela o mais detalhada possível.

Depois, leia com eles as etapas propostas pela atividade, dizendo que cada integrante terá uma cor e deverá escolher uma linha da sua tabela para cortar no formato de uma tira. Convém evitar a repetição de objetos dentro do grupo. A seguir, a proposta é interpretar a descrição de outra pessoa de uma forma criativa e, ao final, confeccionar uma rede de barbante com as tiras penduradas nele.

Bate-papo com o professor

A avaliação dessa atividade pode ser feita a partir do envolvimento de cada um dos estudantes. Após o jogo, é importante que você promova uma reflexão sobre como eles observam esses utensílios e como foram feitas suas descrições.

Foco na BNCC

Ao experimentar processos criativos que envolvem diferentes linguagens artísticas é desenvolvida a habilidade EF69AR32.

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Preparação

Este Ponto de partida tem, como objetivo principal, trazer reflexões sobre como a arte e a tecnologia se conectam, mas também como a tecnologia pode nos impactar, tanto de forma positiva quanto negativa. Leve os estudantes a refletirem sobre essas questões.

Orientações

Fale sobre a rede que os estudantes criaram na prática anterior e compare-a com as redes de pesca artesanal e industrial. Da mesma forma, procure mencionar a diferença entre guardar objetos em locais específicos, tais como livros na estante ou roupas na gaveta, e a possibilidade de usar a internet para guardar arquivos fora do computador, na nuvem − termo utilizado na área da computação para indicar o espaço de armazenamento de dados digitais.

É também importante que você abra caminho para todas as atividades que virão nas aulas seguintes, que abordarão a tecnologia e suas relações com as linguagens da Arte.

Foco na BNCC

Ao refletir sobre a presença da tecnologia no cotidiano e, consequentemente, em práticas artísticas é trabalhada a habilidade EF69AR35

Além disso, desenvolve-se o objetivo de contribuir para o conhecimento de si, da comunidade e do contexto no qual está inserido.

Concluindo com fios soltos

Você participou de uma prática com fios e criou uma rede exclusiva do seu grupo com o qual compartilhará experiências e descobertas ao longo deste ano. Você resgatou suas memórias e investiu um tempo para criar, com os colegas, uma forma de expressar suas vivências. Os fios que se entrecruzaram podem remeter tanto à rede de pesca quanto à rede da internet, que sustenta as telecomunicações no mundo globalizado. A palavra “nuvem” pode ser usada para indicar o que vemos no céu ou corresponder a um espaço para armazenar dados digitais fora do computador.

Pelos exemplos que vimos até aqui, percebemos que a tecnologia atualmente é parte fundamental da vida do ser humano. No entanto, sabemos que a mesma tecnologia que aproxima pessoas e melhora a qualidade de vida na sociedade pode ser usada para fins escusos e ter efeitos nocivos. Por isso, é preciso manter o pensamento crítico e as ações equilibradas no dia a dia, usufruindo dos benefícios e combatendo os malefícios. Durante a pandemia, por exemplo, escolas, museus, artistas, médicos e estabelecimentos comerciais, entre outros, se reinventaram e sobreviveram graças à tecnologia – que também ajudou pessoas a se conectar e a descobrir outras pessoas com gostos similares aos seus.

Bate-papo com o professor

Para estimular o pensamento crítico, você pode pedir aos estudantes que reflitam sobre o estímulo ao consumo desenfreado promovido pelo mercado de eletrônicos, que tende a aumentar a desigualdade social e deteriorar os recursos naturais. Outras consequências negativas geradas pela dependência da tecnologia estão relacionadas à saúde, criatividade, concentração e socialização, impactando também a produtividade. Por termos acesso a

dispositivos como computadores e celulares, que são relativamente fáceis de usar e apresentam rápida capacidade de processamento, a tendência é gerar um desequilíbrio entre a vida real e a digital, o que pode causar depressão e ansiedade nos indivíduos. Há, ainda, o problema da falta de acessibilidade, muito impactante nos meios educacionais, uma vez que grande parcela dos brasileiros não tem acesso à internet.

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adamkaz/iStockphoto.com FilippoBacci/iStockphoto.com
O estudo a distância passou a fazer parte do cotidiano com o avanço da tecnologia. Estados Unidos, 2019. O comércio on-line expandiu sua atividade durante a pandemia de covid-19. Itália, 2021.

Se, por um lado, a facilidade e a velocidade de compartilhamento aproximam amigos e familiares, por outro, podem acarretar sérios problemas ao veicular discursos de ódio e notícias falsas, além de causar transtornos na autoestima, como depressão e ansiedade. Trata-se de dois extremos que coexistem, fazendo com que tenhamos de lidar com nossas decisões e suas consequências a todo instante.

Atividade complementar

Se considerar apropriado, organize a turma em dois grandes grupos. Então, peça a cada um que elabore um cartaz representando os lados positivos ou os lados negativos do uso da tecnologia na atualidade. Oriente-os a fazer desenhos e buscar imagens que descrevem cada um dos aspectos apontados. Por fim, promova um momento para compartilhamento e discussão dos resultados finais.

Avaliação formativa

Antes de seguir em frente, verifique se os estudantes compreenderam bem os principais conteúdos deste Ponto de partida, pois eles servirão de base e porta de acesso para a jornada que se inicia na próxima unidade.

É possível promover uma roda de conversa para a solução de eventuais dúvidas e para o compartilhamento de impressões, opiniões e descobertas de cada um. Organize a discussão para que todos possam se expressar e ressalte a importância de manter uma postura ética e respeitosa em relação às pessoas e aos assuntos ao se pronunciar.

Os lados negativo e positivo do convívio digital.

Sem dúvida, buscar trilhar um caminho equilibrado é o grande desafio de nossa era: usufruir dos benefícios do mundo digital e criar com ele, sem nos deixar levar a ponto de confundir os limites entre realidade e ficção.

Para resumir tudo o que vimos até aqui, podemos afirmar que a tecnologia é um conjunto de saberes relativos a técnicas que vão da reflexão à ação, cujos resultados podem ser negativos e positivos.

Vamos olhar para a tecnologia ao nosso redor filtrando o fascínio que ela exerce sobre nós e focando no modo como ela nos convida a olhar o mundo por novos pontos de vista. A partir de agora, vocês iniciam um novo ciclo com atividades práticas e reflexivas que mostrarão como a tecnologia contribui para ampliar as capacidades expressivas das pessoas por meio das linguagens da arte. Aproveite todos os estímulos oferecidos à sua criatividade e seja autor da própria história na construção da rede de conhecimento, respeitando o espaço social e coletivo, contribuindo para preservar o passado e projetar o futuro.

Boas trilhas!

Foco nos TCTs

Este conteúdo trabalha o Tema Contemporâneo Transversal Vida familiar e social ao abordar os temas da saúde mental, da segurança e do respeito ao próximo na convivência digital.

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Caio Boracini Caio Boracini

A BNCC nesta unidade

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9

Objetos e habilidades:

Contextos e práticas

EF69AR01, EF69AR02,

EF69AR03, EF69AR09,

EF69AR24, EF69AR25,

EF69AR31

Elementos da linguagem

EF69AR04, EF69AR10, EF69AR11

Materialidades

EF69AR05

Processos de criação

EF69AR06, EF69AR07,

EF69AR12, EF69AR13,

EF69AR14, EF69AR15,

EF69AR32

Sistemas da linguagem

EF69AR08

Matrizes estéticas e culturais

EF69AR33

Patrimônio cultural

EF69AR34

Arte e tecnologia

EF69AR35

Objetivos desta unidade

• Promover a reflexão sobre as relações entre a tecnologia e as criações das Artes Visuais, das artes audiovisuais e das expressões da Dança.

• Analisar estratégias e recursos por meio dos quais conceitos, signos e símbolos podem ser explorados em diferentes mídias e aparatos tecnológicos.

• Investigar as diferentes camadas de interpretação presentes em trabalhos artísticos concebidos a partir de técnicas manuais e/ou tecnologias digitais.

• Fomentar o olhar crítico sobre os modos de criação em arte por meio de materialidades, apropriações de produtos e técnicas que dialogam diretamente com o tempo e a sociedade em que são produzidas.

• Investigar e experimentar as funções comunicativas das linguagens das redes digitais e analógicas empregadas em propostas artísticas.

Justificativa

Esta unidade tem como foco a percepção de que as materialidades, os saberes e fazeres, os processos técnicos e os recursos tecnológicos articulam-se nas criações de Arte. Espera-se que os estudantes se apropriem dos diferentes códigos expressivos dos modos de produção analógicos e das mídias digitais, desenvolvendo competências comunicacionais e ampliando seu repertório expressivo, além de

exercitarem as capacidades de manipular sentidos simbólicos ligados à presença da tecnologia na sociedade. Nessa etapa, é importante que a turma possa debater, apreender e vivenciar diversas maneiras de expressão que compreendem os diferentes modos de criar (manuais, analógicos e industriais) e as redes sociais, tanto das comunidades locais quanto dos ambientes virtuais.

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Dançarinos da companhia Pilobolus Dance Theatre em apresentação na IFA, uma feira internacional de tecnologia. Berlim, Alemanha, 2016. John MacDougall/AFP

Avaliação diagnóstica

Técnicas e tecnologias nas produções da arte

Nesta unidade, nos aproximaremos de técnicas e experimentos que se relacionam com os aparatos tecnológicos e as redes virtuais. As manifestações das artes visuais e da dança criadas a partir da interação com essas mídias exploram significados, estéticas e modos de produção que podem fazer surgir novas linguagens.

1. Como você interpreta o diálogo entre os movimentos de dança e a projeção de imagens na foto?

2. Você conhece uma manifestação da arte que dialoga com a tecnologia?

3. Onde a tecnologia está presente em seu cotidiano?

Nesta unidade, você vai:

• reconhecer como técnicas tradicionais e tecnologias de produção industrial relacionam-se com arte e se misturam em criações diversas;

• entender como as tecnologias participam das criações de arte como suporte ou como tema de proposições artísticas.

Pré-requisitos

Para o cumprimento dos objetivos, é esperado que os estudantes:

• identifiquem diferentes produções artísticas e percebam os sentidos criados pelos recursos utilizados e pela relação com o espaço;

• percebam os diferentes territórios em que as linguagens das Artes Visuais e da Dança se expressam;

• contextualizem expressões em Artes Visuais e Dança no tempo e no espaço, entendendo melhor sua relação com as pessoas;

• experimentem processos de criação em diferentes territórios e temáticas;

• conheçam expressões de Artes Visuais e Dança do Brasil e do mundo construindo o respeito à diversidade.

Atitudes e valores

• Perceber e identificar as dimensões social, cultural, histórica, econômica, política, estética e ética da Arte.

• Compreender e respeitar as expressões em diferentes territórios e espaços de expressão cultural.

• Ter uma postura ética diante das diferentes formas de expressão cultural.

Nesta unidade, o foco será a relação da tecnologia com a criação e o desenvolvimento dos processos artísticos, em Artes Visuais e em Dança. Serão estabelecidas ligações entre as pesquisas tecnológicas e os materiais, assuntos muito próximos quando se trata de criação. Nesse trajeto, vamos dar visibilidade a alguns aspectos, como a forma que a tecnologia transforma e propõe novas criações, ou ainda um olhar contemporâneo sobre processos tecnológicos antigos ou tradicionais. Embora a tecnologia seja comumente associada ao universo digital e virtual, acompanha a humanidade desde sempre. O desenvolvimento dos modos de fazer permitiram grandes saltos e mudanças significativas na maneira como as pessoas vivem, em diferentes épocas. Busque ter sempre em mente que as relações com os processos variam conforme o tempo e o lugar. Essa relação com o contexto auxilia a aprofundar o olhar e criar relações entre as linguagens artísticas e seu tempo, mas, especialmente, permite a aproximação com a vida dos estudantes, tornando o conteúdo e as vivências muito mais significativas. Busque sempre adaptar as propostas à sua realidade, incluindo os estudantes no processo e criando conexões com seu repertório cultural e de vida. Ao criar pontes entre o que está sendo apresentado e os elementos artísticos e culturais da sua região, você torna o processo mais significativo e mais profundo, uma vez que isso amplia o diálogo com a vivência da sua comunidade e, portanto, dos estudantes da sua turma.

Faça a leitura da imagem, partindo da primeira pergunta indicada na página. Peça a eles que explorem as relações entre os movimentos dos dançarinos e o cenário, aproveitando o momento para começar a recolher o repertório que possuem sobre essas relações. A segunda e a terceira pergunta exploram os repertórios pessoais dos estudantes; em um primeiro momento, na relação entre arte e tecnologia, e depois, na identificação da presença da tecnologia em seu cotidiano. Colete as respostas da turma para seguir relacionando-as ao conteúdo trabalhado ao longo da unidade.

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A BNCC nesta Trilha

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9

Objetos e habilidades:

Contextos e práticas

EF69AR01, EF69AR02, EF69AR03, EF69AR24, EF69AR25, EF69AR31

Elementos da linguagem

EF69AR04

Materialidade

EF69AR05

Processos de criação

EF69AR06, EF69AR07,

EF69AR32

Sistemas da linguagem

EF69AR08

Matrizes estéticas e culturais

EF69AR33

Patrimônio cultural

EF69AR34

Arte e tecnologia

EF69AR35

Objetivos desta

Trilha

• Refletir sobre a relação entre Arte e tecnologia de modo crítico.

• Apresentar artistas e conceitos de Arte que dialogam com as tecnologias por meio de obras híbridas, diluindo as fronteiras entre as linguagens da Arte.

• Ampliar o repertório dos estudantes em relação aos códigos comunicacionais presentes em criações de Arte que utilizam a tecnologia.

• Explorar processos de criação que envolvam técnicas analógicas e digitais nas Artes Visuais.

• Propor práticas que explorem as relações entre processos e técnicas constituintes das produções de arte no que diz respeito às redes sociais e às tecnologias.

Inovar, crescer e permanecer

A palavra “tecnologia” geralmente é usada para se referir a aparelhos eletrônicos, computadores, robôs, inteligência artificial, objetos conectados a redes digitais etc. A arte apropria-se dessas ferramentas e as subverte, inventando novas linguagens.

Tecnologia: que assunto é esse?

Impressora 3-D: máquina que produz objetos com alta precisão utilizando materiais maleáveis que se solidificam. A partir de cálculos prévios, funciona como se estivesse imprimindo camadas sobrepostas que constroem formas tridimensionais.

O conjunto de dispositivos tecnológicos que fazem parte do nosso cotidiano, de celulares e satélites até novos materiais desenvolvidos e comercializados pela indústria, muda nossa percepção de mundo, produzindo uma cultura que deseja consumir tecnologia. Essa tendência da sociedade é resultado direto de uma longa história de conhecimentos transmitidos de geração a geração. Esses saberes permitiram à humanidade manipular e transformar o mundo material à sua volta, durante milhares de anos, utilizando técnicas manuais e instrumentos sempre presentes nas suas criações.

As roupas que usamos todos os dias são exemplos dos avanços técnicos e tecnológicos que permitiram sua produção em grande escala com materiais sintéticos ou naturais. No filme Pantera Negra, a tecnologia tem papel central para o desenvolvimento do roteiro. A configuração visual do mundo fictício de Wakanda mistura referências étnicas tradicionais de vários países da África com elementos futuristas. Observe com atenção o figurino da personagem Rainha Ramonda, que foi criado por meio de uma impressora 3-D. Olhando com atenção a imagem a seguir, podemos perceber que suas tramas delicadas formam desenhos complexos, criados por computador e fabricados pela impressora.

Bate-papo com o professor

Esta Trilha abordará o tema da tecnologia na linguagem das Artes Visuais. Ao conhecer diferentes obras e expressões, os estudantes poderão refletir sobre sentidos diversos que os recursos tecnológicos podem evocar quando utilizados a favor da Arte.

Vamos partir do filme Pantera Negra para começar a conversa. Mesmo que você não o tenha visto, vale pesquisar um pouco sobre várias questões que são levantadas por ele. Essa

superprodução propõe a reflexão sobre diversos assuntos, como a mistura entre tradição e tecnologia. Há, por vezes, um senso comum que aponta o campo da tecnologia como antagônico ao que é mais tradicional. O filme, entretanto, defende uma convivência harmônica entre as duas esferas, já que os habitantes de Wakanda, lugar fictício da história, cultivam suas tradições e desenvolvem produtos tecnológicos de alto nível, evidenciando os dois pilares dessa sociedade.

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Cena do filme Pantera Negra, dirigido por Ryan Coogler. Estados Unidos, 2018. Matt Kennedy/Marvel/ Walt Disney Studios Motion Pictures/ Everett Collection/Fotoarena

Você já parou para pensar sobre como as tecnologias podem influenciar as criações artísticas?

Orientações

Na imagem acima, é possível observar texturas bastante elaboradas, que agregam qualidades à vestimenta e contribuem para comunicar a importância social da personagem Ramonda no mundo retratado pelo filme, vencedor do Oscar de melhor figurino. As tramas que vemos na imagem fazem referência a técnicas tradicionais, como a arte da renda e da cestaria. No caso desta personagem, materiais sintéticos foram trabalhados com inspiração em materiais naturais, criando texturas que se assemelham a delicados trabalhos manuais, sobrepondo passado e presente em uma peça de vestuário carregada de significados.

Processos de criação contemporâneos

As técnicas manuais para a produção de objetos utilitários ou decorativos podem conectar épocas distintas, uma vez que são criações humanas que se apropriam de conhecimentos antigos ao mesmo tempo que os ressignificam, por meio de novas estéticas, materiais e utilizações desses saberes. Por serem abertas a diversas adaptações e transformações, as técnicas tradicionais são constantemente revisitadas nas produções de arte contemporânea.

De um ponto de vista mais amplo, podemos classificar as técnicas tradicionais que lidam com variadas materialidades como habilidades de manipular materiais usando-os para criar instrumentos, objetos, engrenagens, construções: um sapato, um vestido, uma cadeira, uma casa, uma ponte, por exemplo. Em contraposição, a tecnologia seria um conjunto de técnicas que produz artefatos, materiais, máquinas e construções de modo automatizado ou por meio de inteligência artificial. Os dois modos de produção são frutos do conhecimento das épocas e dos lugares em que surgiram, desempenhando funções que ajudam o homem a perpetuar seu estilo de vida.

Para aprofundar

Vamos começar a “trançar” épocas diferentes. Como o texto diz, a arte contemporânea frequentemente se apropria das técnicas tradicionais em seus procedimentos. Um objeto utilitário é sempre resultado de uma construção social e coletiva, fruto dos conhecimentos adquiridos ou acumulados por determinado grupo. A roupa que usamos, como ela foi criada, os materiais que foram empregados, o desenho da produção, as pessoas e o maquinário envolvidos, as pesquisas realizadas, o gerenciamento de transporte, enfim, tudo o que envolve a existência de uma peça de roupa se relaciona diretamente

com habilidades, técnicas e ações que refletem uma sociedade de determinada época. Quando falamos de objetos artísticos, acrescentamos uma camada de subjetividade, um olhar específico do artista sobre algo, uma camada de criação. Ainda assim, a marca dos processos de um tempo também fica refletida nesses objetos. O que é interessante, entretanto, é que, frequentemente, na contramão do que acontece com os objetos produzidos para fins utilitários e com aspirações comerciais, em processos de criação artística as tecnologias antigas podem ser revisitadas e ressignificadas.

Aborde a dicotomia entre tecnologia e tradição: Como a Arte, nosso assunto principal, se relaciona com a tecnologia? Nosso percurso buscará investigar diferentes momentos da história da arte e da cultura, e como a tecnologia influencia, naturalmente, as criações em diversas épocas. Ainda falando sobre o filme Pantera Negra, não é apenas o roteiro que traz essas reflexões. O modo como o figurino foi criado, com rendas, texturas e tramas produzidas por impressoras 3-D, coloca-o no centro dessa mesma discussão: Como a tradição e a tecnologia convivem nesse campo? Ainda há espaço para técnicas tradicionais na arte produzida nos dias de hoje? Essas são algumas das perguntas que podem ser feitas nesse percurso investigativo. Promova uma conversa com os estudantes a respeito do que pensam sobre isso e registre, em um cartaz ou no caderno, as hipóteses e os pensamentos iniciais que eles possam ter nesse momento. Ao longo da Trilha, em alguns momentos-chave que considerar relevantes, ou no final do ano, você pode voltar a esse registro para que percebam, juntos, se os pensamentos continuaram os mesmos ou se foram se transformando. Não se trata, de modo algum, de atribuir valor a quem “acertou ou errou” nas suas formulações iniciais, pois não é esse o tipo de avaliação que nos interessará. Seja qual for a relação construída ao longo desse período, garanta que haja reflexão, reconstrução de pensamento, investigação, criação e espaço para a imaginação. O registro, feito em diversos momentos, apontará os caminhos que foram traçados especificamente pela sua turma. O seu contexto é único, valorize essa particularidade, combinando os temas trazidos no livro às histórias de vida dos estudantes e do seu lugar.

Foco na BNCC

Ao analisar estilos visuais e formas de expressão artística, são desenvolvidas as habilidades EF69AR02, EF69AR05 e EF69AR34

Além disso, é contemplado o objetivo de investigar as diferentes camadas de interpretação presentes em trabalhos artísticos concebidos a partir de técnicas manuais e/ou tecnologias digitais.

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Walt
Studios Motion Pictures/ Collection ChristopheL/AFP
Marvel Studios/
Disney
Outra cena do filme Pantera Negra, dirigido por Ryan Coogler. Estados Unidos, 2018.

Orientações

O trabalho da artista Jucélia Silva é um exemplo de apropriação feita com um novo olhar. Ela usa um procedimento muito tradicional, a renda de bilros, como a ação central de sua performance. Com a participação de outras mulheres, Jucélia propõe que essa técnica tradicional seja empregada em seu próprio corpo, criando uma espécie de “máscara” rendada muito particular. O fato de ser um conhecimento passado de geração a geração dialoga com temas como “ancestralidade e comunidade”, muito presentes na obra da artista. É uma escolha bastante consciente que nos põe a refletir a respeito de como a tecnologia pode adquirir significados distintos de acordo com o modo como a abordamos. O pensamento crítico e reflexivo é parte fundamental de sua potência e do seu papel na nossa sociedade. A arte não serve apenas ao entretenimento, como também pode nos trazer outros olhares para o mundo e para nós mesmos. Neste sentido, a primeira pergunta do livro propõe aos estudantes um aprofundamento da relação que se estabelece num primeiro momento com a obra, tendo como base saberes tradicionais, escolhas artísticas e processos que envolvem técnicas específicas. Busque também obter dos estudantes a resposta para a segunda pergunta, a respeito da interpretação que realizam da sequência de imagens, e parta daí para levantar mais questões ligadas à obra de Jucélia.

Ação performática Pelo Bilro e pelo Espinho, de Jucélia Silva, 2022.

Renda de bilros: técnica de tramar linhas para elaborar desenhos com fios de algodão que envolve a manipulação ágil de vários pinos, chamados de bilros, produzindo o entrelaçamento dos fios e criando peças de decoração e vestuário.

No exemplo abaixo, vemos um trabalho da artista brasileira Jucélia Silva, que se vale de um conhecimento tradicional de algumas regiões do país para realizar uma ação performática. Você conhece a técnica mostrada nestas imagens?

• Como podemos discutir tecnologia analisando uma performance que envolve a tradição da renda de bilros?

• Sabendo que a renda é uma arte manual, muitas vezes transmitida de geração a geração, que tipo de interpretação você faria dessa sequência de imagens?

A arte da rendaria pode ser compreendida como uma técnica manual sofisticada, que permite tramar fios e criar diversas peças de vestuário, adereços e toalhas de mesa, por exemplo. De modo geral, com a renda são produzidos objetos que têm função prática e estética, ao mesmo tempo. É um conhecimento ancestral que aparece em muitas culturas antigas, e seus modos de produção empregam materiais e visualidades variadas. Essa técnica manual difundiu-se por diversas regiões do planeta e segue atravessando gerações. O motivo de a renda ser usada com tanta frequência é o fato de que esse “saber-fazer” não depende exclusivamente de uma escola para ser aprendido. Além disso, suas expressões se adaptam a materiais e finalidades diversos.

Bate-papo com o professor

A história de vida, tanto familiar quanto regional, e portanto identitária, pode ser um bom gancho para refletir sobre os estereótipos de que a arte sempre deve trazer uma “novidade” ou “algo nunca visto”. Olhar para a própria trajetória é um procedimento ao qual muitos artistas recorrem e que compreende a profundidade da formação cultural e a vivência de cada um deles. Essa percepção pode ser preciosa para que se estimule tanto a produção dos estudantes quanto um olhar mais amplo para as atividades artísticas, buscando diminuir qualquer preconceito com a arte popular, por exemplo.

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Fotografias: Daniel Argieri

Sendo assim, podemos olhar para a rendaria sob dois pontos de vista que se sobrepõem: como uma técnica bastante eficiente para a humanidade ao longo de sua história, que pode ou não estar conectada a um tipo de tecnologia; e como uma arte que expressa valores estéticos de lugares e épocas, assumindo qualidades distintas de acordo com o contexto em que foi produzida. Você conhece pessoas que sabem fazer algum tipo de renda? Peça a elas que contem sobre a técnica e suas vivências relacionadas a ela.

Renda de bilros, encontro de gerações

Jucélia Silva tem uma trajetória singular como artista. Ao percorrer o universo da moda e do desenho para se manter em contato com atividades que despertavam seu interesse desde criança, conheceu pessoas, lugares, trabalhos e cursos que permitiram expandir seu olhar sobre a arte. Quando decidiu cursar uma faculdade de Artes Visuais, já se sentia próxima do desenho e das artes têxteis, bem como da costura. À medida que seus conhecimentos sobre arte se aprofundaram, seu interesse pelos fazeres manuais, como a renda, que observou e aprendeu em casa, também se ampliou. Ao buscar entender a história sobre como sua mãe recebeu esse conhecimento de sua avó, Jucélia estudou essa tradição que está ligada a locais onde sua produção acontece até hoje. A artista passou então a experimentar diversos tipos de renda como manifestação de sua poética pessoal.

A renda de bilros tradicional – ou seja, a mais próxima do modo como se fazia logo que essa prática (e os conhecimentos que a acompanham) chegou ao Brasil, vinda da Europa – é feita com espinhos do mandacaru, um tipo de cacto comum na paisagem do Nordeste brasileiro, como mostra a imagem desta página. Atualmente, esses espinhos muitas vezes são substituídos por alfinetes industrializados convencionais.

Você conhece de perto os materiais vistos na foto ao lado? Conhece outros modos de fazer renda? Em sua casa ou na vizinhança, existem pessoas com alguma habilidade manual parecida? Qual?

Orientações

Almofada,

São Luís (MA), 2008.

Atividade complementar

Proponha aos estudantes que pesquisem ou entrevistem parentes ou conhecidos a respeito dos diversos tipos de rendas, suas origens e sua relação com a comunidade. Vale também investigar como as rendas são feitas hoje em dia, na indústria, e comparar os dois processos. Caso haja alguém na comunidade escolar ou algum familiar que se dedica a essa atividade, de modo artesanal ou industrializado, pode ser

interessante organizar uma atividade de campo envolvendo um bate-papo com os estudantes, para que ela possa compartilhar sua experiência, ou até propor uma oficina para ensinar um pouco dessa técnica. Dessa forma, eles podem ver os instrumentos de trabalho, as peças produzidas e o processo de criação dessa pessoa.

Quando trazemos um pouco do percurso da artista Jucélia Silva, ligando seu conhecimento em arte adquirido na universidade ao conhecimento adquirido por meio da família, dentro do universo dos saberes populares, estamos convidando os estudantes a refletir sobre essas relações. A formação em arte é importante e relevante, mas a prática artística pode estar em todos os lugares. Esse é um bom momento para confrontar uma ideia muito difundida, que divide o campo das artes em duas esferas, uma mais legitimada e consagrada e outra muitas vezes desvalorizada por sua facilidade de acesso. É muito importante abandonar esse olhar e estar aberto para ver a cultura e a arte popular como manifestações tão legítimas e importantes quanto as que estão na galeria. No caso específico da renda, há uma grande sofisticação nos processos e no resultado produzido. Mas, mais do que isso, há muita história do pensamento artístico e prática manual de gerações. Em muitos lugares, a renda era feita com o auxílio de espinhos de mandacaru, como vimos no texto e nas imagens. Essa informação é essencial para o aprofundamento da leitura das fotos da performance da artista. Retome com os estudantes a questão do uso invertido desses espinhos, que fazem parte do processo de produção da renda, mas em vez de serem retirados, são mantidos, compondo a máscara que vemos no final. Investigue esses símbolos com os estudantes: o espinho, o trabalho feito por muitas pessoas e a renda. Eles dialogam com a ancestralidade e com um tecido comunitário que vai se formando na presença de espinhos.

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Rita Barreto/Fotoarena espinhos de mandacaru, fios e bilros usados na produção da renda de bilros.
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Interdisciplinaridade

Neste momento, cabe pensar em uma aula em parceria com os professores de Geografia e Ciências para falar sobre alguns elementos presentes na performance. Uma ideia é abordar o mandacaru, os cactos e outras plantas típicas da vegetação da caatinga, explicando as adaptações biológicas que tornaram essas espécies tão resistentes ao clima semiárido. Traçando um paralelo com a arte, pode-se discutir como essas características de resistência e sobrevivência também podem ser atribuídas à população da região, além de verificar quais sentidos podem ser explorados em obras de arte que usam elementos como os espinhos, a exemplo da performance estudada, buscando elementos científicos e simbólicos e relacionando-os às realidades e à sua apreensão cultural na região.

Para saber mais

Assista ao documentário Versos da ilha, que mostra um pouco da tradição da renda de bilros em Florianópolis, Santa Catarina. Além de abordar a tradição passada de mãe para filha, o vídeo retrata o processo de feitura da renda. Se possível, mostre-o aos estudantes. Disponível em: https:// youtu.be/pqlfgwVfJpU. Acesso em: 14 jul. 2022.

Na ação performática Pelo Bilro e pelo Espinho, Jucélia se apropria dessa técnica para transformá-la em procedimento artístico. Para remeter à tradição da renda nordestina, a artista optou por manter o material original usado pelas rendeiras, o espinho do mandacaru. Na ação, duas mulheres tecem fios com bilros, criando uma trama que envolve completamente a cabeça da artista. Você imagina quanto tempo esse processo levou? O resultado final, como vemos na imagem, é obtido quando as tecedoras invertem a função do espinho. Originalmente, esse elemento teria a função de uma agulha grossa, que fixa o tecido sobre a almofada onde normalmente se faz essa renda. Na performance, os espinhos são colocados com as pontas voltadas para cima. Na sua opinião, que efeito essa “subversão” da técnica tradicional pode produzir em quem vê o resultado dessa ação?

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Ação performática Pelo Bilro e pelo Espinho, de Jucélia Silva. São Paulo (SP), 2020. Ana Luiza de Oliveira Pigosso

Tempo e tecnologia

Toda a história da arte acompanha os avanços tecnológicos de cada época e cultura. A seguir, vemos a imagem de uma impressora 3-D em ação. Esse aparato propiciou o desenvolvimento de peças e objetos que não poderiam ser fabricados antes, contribuindo para o avanço de muitas áreas do conhecimento, como a Engenharia e a Medicina, na construção de casas e na confecção de próteses personalizadas para pessoas que não têm ou perderam algum membro do corpo.

Preparação

Embora esteja se popularizando, não é em todo lugar que encontramos uma impressora 3-D. Para falar sobre esse assunto, solicite aos estudantes que façam uma pesquisa a respeito do seu funcionamento e das suas diversas modalidades. Prepare você também uma pesquisa, de modo a complementar o que eles trouxerem.

Orientações

Muitas vezes, quando há um salto tecnológico em determinado processo ou dispositivo, ou mesmo a invenção de algo novo, não conseguimos ter a dimensão de todas as suas possibilidades. Esse é o caso da impressora 3-D, invenção surgida na década de 1980 e, desde então, vem sendo aprimorada. Seus usos também foram sendo diversificados, e a ideia de criar praticamente qualquer objeto em três dimensões é uma inovação realmente impressionante, que mexe com a imaginação de quem tem contato com ela. Essa abertura criativa permitiu um desenvolvimento ainda maior no que diz respeito aos materiais utilizados e aos projetos que a empregam.

na BNCC

Ao refletir sobre possibilidades de uso da tecnologia em práticas artísticas é trabalhada a habilidade EF69AR35

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Tinxi/Shutterstock.com asharkyu/Shutterstock.com Modelo de impressora 3-D. Milão, Itália, 2015. Impressora 3-D comum em ação. China, 2016. Foco

Atividade complementar

Peça aos estudantes que caminhem um pouco mais na pesquisa sobre a tecnologia e os diversos usos da impressora 3-D. Ajude-os, sugerindo elementos a serem pesquisados, como dimensões, tempo de produção e tipos de materiais possíveis para uso. A seguir, sugira um trabalho em que eles devem imaginar como esses recursos poderiam ser usados em prol da sociedade, da comunidade onde vivem ou de outros locais com fortes questões de vulnerabilidade social. Você pode citar o exemplo do uso para confecção de estruturas personalizadas, que contribuem para a conclusão mais rápida de projetos na construção civil, diminuindo custos e tempo de trabalho e permitindo acesso à moradia para pessoas sem casa própria.

Para aprofundar

Peça aos estudantes que façam uma pesquisa sobre obras de linguagens diversas (cinema, literatura, quadrinhos, animações, entre outras), buscando levantar narrativas que retrataram aparatos tecnológicos que não existiam na época em que essas formas de manifestação foram produzidas. As “invenções” da ficção se realizaram ou ainda hoje são apenas fruto da imaginação?

No primeiro exemplo abaixo, vemos uma luminária cuja peça externa foi impressa em 3-D. Sua textura vazada foi desenhada e produzida com bastante precisão. Tecnologias como essa ampliam as possibilidades de manipular determinados materiais e abrem caminho para explorações diversas, muitas vezes com resultados inéditos. Você já havia imaginado que uma casa pode ser impressa? Pois é o que vemos na segunda imagem abaixo, um exemplo da exploração dessa tecnologia empregada na arquitetura. A casa impressa em argila, uma construção com reduzido impacto ambiental, demonstra como uma tecnologia pode se apropriar de técnicas antigas e reinventar seu uso. Isto ocorre porque as construções em argila existem há muito tempo, sendo transmitida de geração em geração a partir de saberes ancestrais. São técnicas que ressurgem como inspiração para novos projetos, integrando o passado e o presente por meio da tecnologia.

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Luminária produzida com impressão 3-D. Romênia, 2017. Primeira casa impressa em argila. Itália, 2021.
Alfredo Milano Drone/Italdron/3D WASP/Wikimedia.org
Laurentiu Raicu/Shutterstock.com

Avanços tecnológicos criam novas linguagens

Muitos materiais e instrumentos foram desenvolvidos especialmente para solucionar questões técnicas da arte, como é o caso da tinta a óleo, que substituiu a têmpera na pintura de quadros no século XIV. A têmpera, por ser uma tinta feita com clara de ovo e outros materiais perecíveis, tinha pouca resistência ao tempo, perdendo a coloração ao longo dos anos. Além disso, sua secagem rápida eliminava a possibilidade de retoques nas imagens enquanto eram pintadas. A tinta a óleo foi uma revolução que apresentou diversas vantagens aos pintores da época, pois sua secagem não acontecia sem o contato com o selante, permitindo ao artista continuar misturando tintas e fazendo alterações no trabalho por muito tempo, às vezes, anos. A coloração da tinta a óleo, inclusive, é mais resistente ao tempo, sem grandes alterações de tom.

Isso não significa que a tinta a óleo é melhor do que a têmpera, mas que propiciou novas possibilidades de realização em pintura. Cada técnica tem suas qualidades expressivas únicas, e elas se adaptam a diferentes produções. Os artistas contemporâneos têm liberdade para escolher qualquer técnica existente, do passado ou do presente, de acordo com suas intenções estéticas e com suas possibilidades materiais. Podem até mesmo criar uma nova técnica, como costuma acontecer, para concretizar uma ideia.

Foi pensando em novas soluções visuais que a figurinista do filme Pantera Negra, Ruth E. Carter, convidou a designer Julia Koerner, que tem experiência interdisciplinar em arquitetura e design de moda, especialista em vestuário impresso em 3-D, para caracterizar um personagem que representasse a força da ancestralidade de uma sociedade conectada às suas raízes e ao mundo da alta tecnologia.

A mão que transforma o material

Inspirados pelos exemplos que abrem a Trilha 1 e pelo tema do livro, vamos experimentar uma proposição artística que lida com a manipulação de um material para transformar sua aparência. Toda a história da arte é também a história dos seres humanos manipulando, transformando e ressignificando os elementos materiais do mundo para criar uma linguagem que remeta a mundos subjetivos, imateriais. Por essa perspectiva, convidamos você a se apropriar de um tipo de material que seja de fácil acesso na escola ou na sua casa. Vamos trabalhar com materiais lineares que possam sofrer amarrações e outras formas de manipulação, como cordas, barbantes, fios, arames, cordas de varal, fitas ou similares.

1 Como ponto de partida, existem duas opções: você pode coletar uma grande quantidade de um mesmo material ou selecionar um conjunto de materiais diferentes entre si, desde que atendam ao critério de permitir traçar linhas no espaço, tramar, amarrar ou entrelaçar. Formem equipes de aproximadamente dez pessoas. Quanto mais pessoas envolvidas, melhor, pois trata-se de uma criação coletiva focada na repetição e no acúmulo, na modalidade de site-specific, ou seja, uma obra projetada especialmente para um local, ou que tem como resultado as características únicas do lugar em que é construída. Junto com seu grupo e em cooperação com as outras equipes, escolham onde cada agrupamento vai realizar sua instalação. Caso duas equipes queiram usar um mesmo espaço, escolham dias diferentes para as respectivas montagens.

Preparação

Para essa prática, separe materiais que possam ser usados como linhas. Verifique o que há disponível na escola ou faça um mutirão para recolher o material com os próprios estudantes. Podem ser usados barbante, linha de bordado, fios diversos, linha de costura, cordão de varal, fitas, entre outros materiais. Se possível, invista na variedade, de modo a ampliar a experimentação e a diversidade nos resultados.

Orientações

Converse com os estudantes, propondo um olhar que vá além de um caminho num só sentido. Novas tecnologias são desenvolvidas, muitas vezes para sanar um problema ou necessidade, e a partir desse novo modo de operar surgem também outras possibilidades do seu uso, que não podiam ser pensadas antes, sem que o material ou a técnica existisse.

Orientações

O caso da tinta a óleo, relatado no texto, é exemplar nesse sentido. A mudança no tempo de secagem, assim como a diferença na fixação do pigmento, por exemplo, são elementos que possibilitaram novas experimentações estéticas. Uma tinta que demora mais tempo para secar permite a mistura mais amalgamada entre as suas camadas, trazendo um resultado diferente e característico. Do mesmo modo que a artista Jucélia Silva se aproxima da renda de bilros, muitos artistas contemporâneos se interessam por técnicas e tecnologias de outras épocas para criar seus trabalhos. Essa é a beleza do desenvolvimento tecnológico: em muitos casos, ele pode ser acessado em tempos diferentes, de maneira similar ou ressignificada, pois o conhecimento que levou ao seu desenvolvimento não se perde.

Atividade complementar

Peça aos estudantes que pesquisem sobre as duas tintas citadas no texto: têmpera e tinta a óleo. A pesquisa deve contemplar sua história, um panorama de sua composição, de modo geral, e alguns exemplos de pinturas criadas com cada uma delas. Eles podem buscar na internet, numa biblioteca ou pedir ajuda aos familiares. Converse sobre as imagens encontradas e pergunte se eles veem diferenças no resultado que as duas tintas produzem nas pinturas.

Foco na BNCC

Esta prática aborda a integração entre linguagens artísticas e o contato com diferentes formas de expressão e criação, trabalhando as habilidades EF69AR03, EF69AR05 e EF69AR35. Ao propor experimentações criativas em artes visuais são desenvolvidas as habilidades EF69AR06 e EF69AR07. Assim, contempla o objetivo de explorar processos de criação que envolvam técnicas analógicas e digitais nas artes visuais.

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Orientações

Nessa prática, vamos trabalhar a criação coletiva por meio de uma instalação em um lugar determinado, na modalidade chamada site specific . Por esse motivo, é importante que o diálogo entre a ideia, os materiais escolhidos e o lugar seja o ponto de partida para essa criação. Converse sobre isso com os estudantes, explicando a relação entre esses elementos.

Com o lugar e os materiais escolhidos, é hora de partir para a ação. A primeira etapa com as linhas é de pura experimentação. Eles podem eleger quatro palavras da lista apresentada, para testar, sem receio, e começar a conhecer o material. Numa criação artística, a etapa de contato direto com o material é essencial, pois é preciso ganhar intimidade com ele para compreender suas possibilidades. Separe uma aula apenas para essa experimentação.

Esteja atento à natureza de cada palavra e busque ser rigoroso com elas. A limitação a partir de um enfoque é uma poderosa estratégia para ampliar descobertas. Esteja atento às perguntas indicadas no livro. Elas foram pensadas com objetivos específicos, que se relacionam com as questões apresentadas aqui. A repetição ou criação de módulos com pequenas variações é um procedimento muito usado nas artes visuais, entre outros motivos, porque proporciona unidade ao conjunto, além de fazer refletir sobre as escolhas formais e possibilidades diversas de agrupamento. As perguntas também propõem a reflexão e a investigação sobre a relação entre material e espaço, e sobre as camadas simbólicas que podem surgir nessa combinação, transformando o modo como vemos um lugar.

Oriente a etapa da escolha e do planejamento, assim como a definição do título que será dado à obra e que, nesse caso, se relaciona às camadas simbólicas que o grupo decidiu dar ao conjunto.

2 Antes de imaginar uma forma para a criação coletiva, seu grupo deverá explorar os materiais que tem em mãos, manipulando-os de diversas maneiras, para que você e seus colegas descubram juntos, na prática, como desejam lidar com os fios, cordas ou fitas que recolheram. Abaixo temos uma lista de aç õ es exploratórias que podem ser realizadas. Escolham quatro delas para experimentar em grupo.

Esta etapa consiste em praticar as quatro ações escolhidas, uma de cada vez, ou combinadas, usando o material de modos diversos. É importante atentar para o fato de que alguns dos verbos listados podem ser parecidos se forem lidos de modo genérico. Sejam rigorosos com essa leitura, delimitando com clareza a diferença entre as ações que escolherem realizar. Assim, poderão ampliar as percepções e expandir as maneiras de lidar com essa materialidade. Se possível, façam pesquisas na internet sobre técnicas manuais para trabalhar com esses materiais e aprendam um novo modo de manuseá-los. O grupo deve aproveitar as possibilidades do espaço escolhido e tirar proveito da versatilidade dos materiais, tentando responder a perguntas do tipo:

• Como podemos ocupar esse espaço com esses materiais e produzir novos significados para o mesmo?

• Como a repetição de procedimentos manuais pode transformar a aparência do material escolhido?

• Como podemos construir um espaço a partir do material reunido e manipulado?

• Que descobertas sobre os materiais ou sobre o espaço podem afetar o resultado final?

3 Finalizadas as etapas de preparação, é hora de seu grupo mapear as vontades que foram despertadas no coletivo. O que aprenderam com as vivências? Que tipo de ocupação espacial poderia manifestar uma ideia que contemplasse todo o grupo? Vocês podem criar um ambiente imersivo, que convide o público a participar da obra, ou optar por uma intervenção que altere a função do espaço escolhido. Podem também inventar uma manifestação plástica que tenha um sentido simbólico, a ser interpretado por quem a observa. Todas essas alternativas serão concretizadas com base no espaço escolhido e no material manipulado. Definidos os projetos, é o momento de partir para sua execução. Planejem os passos necessários e as atribuições de cada um para que todos participem e possam opinar.

4 Depois de prontas, as obras construídas serão visitadas e apreciadas pelo público. Deem um nome para o trabalho concluído e escolham um tema geral para nomear também a mostra de toda a turma. Conversem com os colegas dos outros grupos sobre como percebem os trabalhos e que reflexões e sensações eles produzem. Como as etapas desse processo de criação contribuíram para que os trabalhos se desenvolvessem? Quais foram as dificuldades encontradas? O que descobriram sobre os materiais e espaços escolhidos? Que seja uma boa experiência!

Avaliação formativa

A avaliação não deve considerar apenas o resultado. Todas as etapas são igualmente importantes para o processo, por isso a avaliação deve ser feita pensando no todo. Errar e descobrir outro modo de fazer pode ser mais importante do que chegar rapidamente a um resultado satisfatório. Esteja atento não apenas para considerar o percurso dos estudantes nesse sentido, mas também para estimulá-los na sua investigação.

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Entrelaçar Tramar Amarrar Delimitar Transpassar Emaranhar Pendurar Enrolar Contornar Enredar Esticar Prender

Tecnologia para ganhar o mundo

Ao longo da história da arte, bem como da humanidade, o desenvolvimento tecnológico gerou rupturas no modo de pensar, viver e ocupar o mundo. Nesta unidade, vamos conhecer alguns desses momentos importantes para perceber as diferentes formas de pensar e criar arte, buscando, a partir dessas reflexões, o diálogo com nosso olhar e a sociedade contemporânea.

Orientações

As mudanças no uso e na comercialização de tintas é um exemplo claro, e muito conhecido, de como uma mudança tecnológica pode impactar diretamente a criação e o pensamento de arte de uma época. Você pode partir disso para levantar com os estudantes outras mudanças que podem ter impactado uma época, no campo das artes, além das que estão descritas no texto.

Outra questão que merece atenção é a do excesso de registro fotográfico nos nossos dias. Os estudantes dessa geração já nasceram lidando com a facilidade de registro de quase tudo via celular. Ainda que não possuam o aparelho, convivem com o fato de essa tecnologia existir. Hoje em dia, muitas pessoas não acessam a internet pelo computador, mas sim pelo celular, uma das interfaces de comunicação mais difundidas. Você pode propor uma roda de conversa sobre o tema “Registro: por que fotografamos?”. Levante os questionamentos: O que esperamos reter? Será que as pessoas sentem que deixam de viver algo se isso não for registrado?

Como já vimos, o grupo de artistas que ficaram conhecidos como Impressionistas renovaram olhares em relação ao modo de observar e representar a luz e de lidar com temas simples e cotidianos, e inseriram a técnica de pinceladas rápidas, capazes de captar aquele instante. Quando falamos desse momento, também nos chama a atenção um importante avanço tecnológico que fez parte das investigações desses artistas: a tinta em bisnaga, produzida industrialmente. Hoje, para nós, parece tão natural quanto abrir uma embalagem de picolé, mas, antes dessa invenção, não havia outro modo de pintar senão preparando as próprias tintas. Esse processo era demorado e o trabalho do artista precisava ser realizado nos ateliês. Os esboços podiam ser feitos ao ar livre, mas a pintura propriamente dita tinha de acontecer nesses espaços fechados. Por volta de 1850, uma indústria francesa começou a produzir as tintas em bisnagas, que tinham sido desenvolvidas, inicialmente, uma década antes, mas na época não se popularizaram entre os artistas. Sem essa inovação, dificilmente o grupo dos impressionistas teria sido capaz de pensar a pintura de uma maneira rápida e ligada às luzes e suas variações em ambientes externos e naturais.

Para aprofundar

O Impressionismo é um movimento artístico com características bastante conhecidas, sobretudo nas obras de Claude Monet. Peça aos estudantes que pesquisem outros pintores impressionistas, com destaque para a escolha de pinturas que dialoguem com a ideia da representação da luz ou com a percepção de tempo que podemos ter a partir dessas obras, evitando, portanto, que esse levantamento fique centrado na biografia desses artistas. O interessante, neste

momento, é buscar formas diversas de lidar com a pintura a partir desse olhar em comum.

Para concluir, incentive os estudantes a mostrar para toda a turma uma ou duas pinturas escolhidas, compartilhando seus olhares e impressões a respeito de cada uma delas. Aproveite esse momento para observar, com o grupo, o que há de semelhante ou de particular no modo como os diferentes artistas trabalharam temas comuns.

Atividade complementar

Peça aos estudantes que pesquisem sobre a fabricação de tintas, em diversas épocas e, especialmente, na atualidade. Depois, vocês podem compartilhar os resultados e refletir sobre o impacto que os diferentes tipos de pigmentos podem ter na construção de imagens de uma época, lembrando que o campo simbólico, imagético, age diretamente sobre a forma como uma determinada sociedade se vê.

Foco na BNCC

Ao ter contato com variadas formas de expressão em artes visuais, ao conhecer estilos visuais específicos e ao analisar os elementos que formam as obras de arte são trabalhadas as habilidades EF69AR01, EF69AR02 e EF69AR04

Além disso, cumpre-se o objetivo de refletir sobre a relação entre Arte e tecnologia de modo crítico.

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Claude Monet. The Bodmer Oak, Fontainebleau Forest (O carvalho de Bodmer, floresta de Fontainebleau), 1865. Tinta a óleo, 96 cm × 129 cm. Museu Metropolitano de Arte, Nova York

Orientações

Os artistas que se utilizam de video mapping criam animações exclusivas para serem projetadas em fachadas. A precisão das projeções sobre as formas e divisões da arquitetura causa a sensação de que algumas partes dessas fachadas estariam se movendo. É um tipo de composição visual que explora as dimensões da arquitetura para gerar a ilusão de movimento. Se possível, mostre aos estudantes artistas que trabalham com o video mapping. A proposta da exposição imersiva de Monet se utiliza desse mesmo aparato técnico para criar um ambiente no qual o público pode “entrar” na obra do pintor.

Você pode explorar com a turma composições visuais a partir da projeção de luzes e cores sobre uma superfície. Caso seja possível, faça experimentos visuais com os estudantes, utilizando-se de lanternas (e materiais coloridos translúcidos como celofane) ou reflexos de espelhos e sombras. Explore formas abstratas para que as interações entre formas e cores fiquem mais evidentes.

Exposição Claude Monet: The Immersive Experience. Nápoles, Itália, 2021.

Essa relação entre desenvolvimento tecnológico e produção artística permeia muitos momentos da história da arte e da vida de uma sociedade. Algumas mudanças interferem diretamente no modo como atuamos em determinadas atividades, e, por consequência, nos fazem olhar para o mundo a partir de outros ângulos. Podemos pensar em um exemplo bem contemporâneo: como a relação com a fotografia mudou graças a um desenvolvimento tecnológico que popularizou intensamente o acesso a câmeras, que hoje ficam acopladas aos smartphones. Como vimos em nossa trajetória até aqui, o desenvolvimento da fotografia está intimamente ligado a esses saltos tecnológicos, mas vale pensar sobre como isso impacta diretamente nossas vidas. Hoje, muitas vezes, registrar algo está muito próximo de vivenciar algo. O hábito do registro como legitimação de uma experiência muda intensamente a nossa relação com as imagens, em especial com a imagem fotográfica, que se aproxima muito mais de uma anotação do que de uma criação.

Recentemente, a experiência com a própria pintura passou também a contar com outra possibilidade, advinda do desenvolvimento de tecnologias digitais e audiovisuais. São as exposições conhecidas como imersivas, que propõem um contato com as obras por meio de registros fotográficos e audiovisuais, preparados para essa espécie de experiência de realidade aumentada Nesses casos, a própria pintura não está presente, mas sim um registro dela, preparado e ampliado para nos proporcionar sensações de proximidade e imersão. Embora possam ser interessantes, estar diante de uma pintura e visitar uma exposição digital imersiva são experiências bem diferentes.

A imagem abaixo é um exemplo de uma experiência imersiva proporcionada por uma exposição que já percorreu várias cidades do mundo. Se, por um lado, há motivações comerciais envolvidas nos objetivos da montagem, por outro, ela permite um tipo de experiência que concretiza algo que podemos sentir no contato com uma pintura: um desejo de entrar nesse universo pictórico, de adentrar um ambiente criado pelo artista. Com projeções nas paredes, no teto e no chão, e, em alguns momentos, com imagens em movimento, a exposição propicia um olhar e uma percepção bem diferente das obras, com aproximações que revelam pinceladas em detalhes ou com a criação de ambientes nos quais podemos nos sentir dentro da imagem, como se estivéssemos, de fato, adentrado cada uma dessas obras. A experiência proposta com as obras de Monet faz parte de uma tendência de exposição tecnológica, e não é a única desse tipo. Muitos artistas e temas já foram foco de ambientações assim.

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KONTROLAB/LightRocket/Getty Images
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Entre as linguagens híbridas, ou seja, entre manifestações das artes que surgiram com a fusão de duas ou mais linguagens, o cinema talvez seja uma das mais efetivas ao nos transportar para cenários e paisagens fantásticos. No filme Sonhos, o diretor Akira Kurosawa cria oito narrativas baseadas na relação entre o sonho e a realidade. Em um deles, um homem se vê transportado para o mundo e para o olhar do artista holandês Van Gogh, inicialmente em conversas sobre arte e, mais tarde, atravessando uma de suas pinturas, como se pudesse estar realmente ali. No filme, o cineasta não fala apenas da trajetória do personagem, mas acaba por dar visibilidade a um desejo que pode ser o de qualquer pessoa: ser capaz de entrar em uma pintura que nos emociona intensamente. Para que essa fábula pudesse se concretizar, o diretor contou com uma grande equipe e criou uma obra que toca essa possibilidade que existia apenas na imaginação. O filme é de 1990 e, naquela época, as exposições imersivas não eram comuns. Embora a arte digital exista há muito tempo, esse tipo de experiência começou a se popularizar apenas há alguns anos. Como vimos, em várias outras situações a concretização do desenvolvimento tecnológico muda o modo como povoamos nossa imaginação. Agora imagine: Se houvesse uma vivência muito motivadora ligada às artes, mas ainda sem recursos tecnológicos para ser realizada, o que você gostaria que fosse?

Orientações

Como já vimos, um dos impactos do desenvolvimento tecnológico nas artes é a fusão ou criação de novas linguagens a partir dos recursos disponíveis e de sua combinação. O cinema é fruto desse desenvolvimento e pode criar novas visões sobre a nossa realidade de maneira bem contundente, já que usa imagem, som, música, encenação, movimento e texto. É tão potente que há muitas críticas sobre o seu uso para propagar de ideias a produtos, papel que hoje compartilha com a televisão. Além disso, ele é capaz de criar cenas fantásticas e de materializar desejos e situações impossíveis de viver na vida real. Uma delas é a descrita no livro, em que um homem entra em uma pintura e tem a experiência de vê-la “por dentro”. Como estudamos, hoje essa situação é possível graças ao desenvolvimento tecnológico. Aproveite a provocação para investigar com os estudantes que tipo de situação imaginária eles gostariam de viver se o desenvolvimento tecnológico permitisse.

Atividade complementar

Proponha aos estudantes uma pesquisa a respeito de recursos tecnológicos que foram imaginados antes de serem inventados de fato. Eles podem partir, por exemplo, de invenções que aparecem nos livros de Júlio Verne e de aparatos tecnológicos apresentados em filmes de ficção científica, como Jornada nas estrelas, ou mesmo na animação Os Jetsons, que alimentavam o imaginário de diferentes gerações a respeito de como o mundo poderia ser se tivéssemos tais dispositivos.

39 39 Arte e imaginação − cinema, pintura e imersão
Inc./ Warner Bro/Collection ChristopheL/AFP
Akira Kurosawa
Cena do filme Sonhos dirigido por Akira Kurosawa. Japão, 1990.

Preparação

Antes de apresentar o trabalho de Julio Le Parc, faça uma pesquisa breve sobre arte cinética, de modo a alimentar, em um primeiro momento, seu próprio repertório com referências, para, em seguida, compartilhar com os estudantes outros exemplos que dialogam com Le Parc.

Orientações

O trabalho do artista argentino

Julio Le Parc é um ótimo exemplo de como arte e investigação de processos se encontram. O artista se debruçou durante toda sua vida sobre diversos fenômenos científicos e seu uso na criação artística. Seu trabalho é impactante e pode ser uma boa oportunidade para discutir e compreender, de forma inequívoca, que nem sempre a ideia de arte e tecnologia se refere ao uso de ferramentas digitais. Pesquise outros trabalhos do artista, seja nas séries em que lida com cores e seu efeito no olho, seja com luzes ou espelhos, e mostre-os para a turma.

Como Julio Le Parc tem uma trajetória longa, com muitos trabalhos realizados, experimente um exercício com a turma para observar a quantidade de vezes que ele repete um mesmo procedimento, gerando resultados que, embora possam parecer próximos, são variações de um mesmo efeito. Ele também tem séries bem distintas, em que investiga elementos visuais ou materiais diversos. O olhar sobre sua obra pode ajudar a refletir a respeito de como um processo de criação artística se desenvolve entre a experimentação, a repetição e a diversidade, aspectos fundamentais para que o artista possa se aprofundar na sua linguagem e criar um vocabulário próprio.

Julio Le Parc: arte cinética para os olhos e o corpo

Julio Le Parc (1928-) é um artista argentino considerado uma referência na arte cinética e na arte óptica. Sua produção passa por diversas materialidades, indo da relação entre as cores e o efeito que alguns contrastes e formas provocam no nosso olho até instalações que se valem da projeção de luz, espelhos e movimento. Seja qual for a forma que seu processo artístico tome, a investigação sobre os fenômenos óticos e o movimento, real ou sugerido, são marcas constantes. Trata-se de um trabalho com intenso aspecto tecnológico, embora não se trate de arte digital. Seus processos são analógicos, ou seja, partem de parâmetros físicos como base para as experimentações. Em vários momentos, arte e ciência se aproximam, especialmente a partir de pesquisas de alguns artistas e seu interesse por fenômenos físicos, ópticos ou químicos. As obras de Julio Le Parc estimulam nossos sentidos e nos provocam a pensar sobre ritmo e construção visual, dialogando com nosso corpo e propondo outro tipo de experiência imersiva, bem distinta das megaexposições digitais, mas intensamente potente em seu trabalho de base criativa e tecnológica.

Foco na BNCC

Ao compreender a presença da tecnologia em práticas artísticas é mobilizada a habilidade EF69AR35

Assim, cumpre-se o objetivo de ampliar o repertório dos estudantes em relação aos códigos comunicacionais presentes em criações de arte que utilizam a tecnologia.

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Obra Continuel Lumière (Luz contínua), de Julio Le Parc, na exposição The Ilusion of Light. Veneza, Itália, 2014.
PHOTO/© Le Parc, Julio/ AUTVIS, Brasil, 2022.
GIUSEPPE CACACE/AFP

Roteiro: histórias sobre tempo e espaço em movimento

Vamos seguir aprofundando as reflexões sobre imagem e movimento, dessa vez pelo viés da linguagem audiovisual, cada vez mais presente em nossas vidas, seja como espectadores, seja como produtores de registros ou criações, como filmes de ficção, séries, animações e documentários, além de vídeos nas redes sociais. Muito provavelmente você já teve contato com produções audiovisuais em diferentes plataformas: na televisão, no celular ou no cinema, entre outras possibilidades. Mesmo nas redes sociais, vídeos são cada vez mais usados e muitas vezes chegam a substituir um conteúdo textual, por seu dinamismo e objetividade.

Nem sempre nos damos conta, mas uma produção audiovisual precisa de dezenas de profissionais para que possa acontecer. Além dos que aparecem na frente das câmeras, há muitos outros envolvidos por trás delas. O processo se inicia, geralmente, muito antes das filmagens e exige planejamento, criação e resolução de problemas técnicos de diversos tipos. Podemos citar os seguintes profissionais: diretor, produtor executivo, produtor, editor de áudio e vídeo, maquiador, cabeleireiro, contrarregra, maquinista, eletricista, motorista, ator, compositor, além de assistente para várias dessas funções. Há também ocupações bem técnicas, como iluminador, técnico de som, operador de câmera, entre outros. Você conhecia essas profissões? Faça uma pesquisa para descobrir as atribuições de cada uma delas no campo profissional do audiovisual.

Um dos profissionais mais importantes em uma equipe de criação e produção audiovisual é o roteirista. Ele é responsável por definir a sequência da narrativa e organizar o modo como a história será contada, seja ela uma adaptação da história de outra pessoa, no caso de uma obra literária, ou uma história original. Há muitos modos de contar uma história. Ela pode ser apresentada de maneira linear, por exemplo, ou ainda ir se desdobrando em cenas com narrativas múltiplas, com enfoque em diferentes personagens e cenários que aos poucos vão se conectando. Você consegue se lembrar de filmes ou animações com essas características?

Vamos vivenciar essa experiência. Organizem-se em quatro grupos para criar narrativas que usem apenas imagens, sem falas. Ainda assim, a etapa de roteiro é fundamental para que o conjunto transmita uma narrativa. Esta prática será desenvolvida ao longo da Trilha e dará origem a um documentário.

1 Antes de mais nada, vocês devem escolher um tema. Todo o desenvolvimento parte dessa escolha. Para ajudar na organização das ideias e iniciar o processo de criação, reúnam palavras, imagens e textos curtos que se relacionem com o tema. Pesquisem, em casa e na escola, até selecionarem um repertório razoável.

2 Com as imagens e as palavras em mãos, é hora de pensar no modo de apresentar o tema: se querem usar todas ou apenas algumas, se haverá alguma repetição…

3 Após o planejamento, iniciem a elaboração do roteiro, descrevendo, etapa a etapa, o que será visto no vídeo.

Para ajudar, observem se o roteiro contempla os seguintes itens:

• título que mostre o enfoque escolhido;

• discussão sobre possibilidades apresentadas pelo tema;

• sinopse que deixe claro do que se trata a história;

• organização, em ordem cronológica, do que será visto no vídeo;

• créditos da equipe e as funções que desempenharam.

Interdisciplinaridade

Nesta prática, é possível propor um trabalho interdisciplinar com Língua Portuguesa, para aprofundar e ampliar o assunto. É importante, entretanto, salientar que vamos criar um roteiro, pensando numa narrativa, mas com uma demanda específica: é uma narrativa formada por imagens.

Preparação

Antes de iniciar a prática, converse com os estudantes a respeito das extensas equipes que costumam estar envolvidas numa produção audiovisual. Um bom modo de chamar a atenção para esse aspecto é perguntar se alguém já permaneceu no cinema até acabarem os créditos que passam no final de um filme. Será que eles já repararam na quantidade de nomes que aparecem, com suas funções discriminadas? É claro que uma superprodução de Hollywood é diferente de uma produção mais modesta, mas as obras audiovisuais em geral são realizadas por grandes equipes. Vamos destacar nessa prática a figura do roteirista. Aproveite a oportunidade para ressaltar mais uma vez que, quando pensamos em profissionais da área de arte e cultura, nem sempre estamos falando de nomes que têm fama ou estão na frente dos holofotes. Há muitas profissões e funções em cada uma das áreas que são indispensáveis para o processo de criação de uma obra. A área da cultura movimenta a economia e contrata muitos profissionais, gerando empregos e ocupações que nem sempre são conhecidas do público, mas que sem dúvida são parte fundamental de qualquer projeto cultural e artístico.

Orientações

Guarde seu roteiro, pois ele será usado posteriormente, em outra prática.

Foco na BNCC

Ao experimentar processos de criação em artes visuais que envolvem a integração com a linguagem audiovisual são desenvolvidas as habilidades EF69AR03, EF69AR06 e EF69AR07. Assim, cumpre-se o objetivo de explorar processos de criação que envolvam técnicas analógicas e digitais nas artes visuais.

Os estudantes precisam compreender que escreverão um roteiro pensando no modo como podem apresentar essa narrativa de maneiras diferentes. O tema os levará a uma busca de imagens mais focada no que desejam. Os textos podem auxiliá-los na criação do roteiro, mas não aparecem diretamente no resultado. Estimule-os a não usar a mesma palavra do tema escolhido no título, mas a pensar num desdobramento que instigue o pensamento de quem vai assistir ao filme. Um bom uso do título pode complementar a obra, guiar nosso pensamento para alguma ideia, ampliar significados ou mesmo aguçar a curiosidade. A sinopse também é importante e vai ajudá-los a compreender melhor a totalidade do que imaginaram.

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Orientações

Neste tópico, é proposta a reflexão sobre a relação entre desenvolvimento tecnológico e artístico, a partir da tridimensionalidade presente em fotografias que simulam as três dimensões ou mesmo permitem que naveguemos por elas, proporcionando uma sensação de movimento e proximidade, como se pudéssemos estar imersos naquele lugar ou paisagem. Como já vimos, algumas experiências visuais da contemporaneidade permitem um processo imersivo, que busca trazer uma experiência que simula a ampliação das imagens por meio de diversos recursos.

Vamos explorar o modo como podemos construir uma imagem ou perceber sua construção. Estamos, também, falando do que chamamos de composição, ou seja, do modo como as imagens são organizadas dentro do campo visual que a compõe.

Na sequência, vamos falar sobre como artistas de outra época lidaram com essa questão, culminando no surgimento do Cubismo. Antes de entrar nesse assunto, vale lembrar os estudantes de que estamos olhando para resoluções formais com mais de cem anos, que foram inovadoras para a época. Talvez hoje não nos chamem tanto a atenção, mas vale compreender por que as razões dessas rupturas foram tão importantes. Peça aos estudantes que observem as duas imagens desta página e falem sobre como foram construídas, do ponto de vista da composição. Esse assunto será importante para o que virá a seguir e pode preparar o olhar para se aprofundar nos elementos visuais trazidos pelo Cubismo. Você pode explorar as soluções apresentadas nas duas imagens para abranger um campo maior do que as margens sugerem.

É possível que você já tenha se deparado com uma imagem com o símbolo de um círculo com a indicação de 360 graus. Ele sinaliza que uma imagem é capaz de mostrar uma paisagem ou um ambiente de modo ampliado, pois podemos “circular” pelo espaço arrastando a imagem para os lados. Do mesmo modo, alguns drones e filtros de smartphones são capazes de transformar paisagens em imagens circulares, como a segunda foto acima.

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Imagem de ponte sobre o rio Wensum em 360 graus. Norfolk, Inglaterra, 2021.
Yackers1/iStockphoto.com voyata/Shutterstock.com
Fotografia de área urbana feita em 360 graus. Tóquio, Japão, 2018.

Esse é mais um desdobramento de como os avanços nas técnicas de fotografia também geram mudanças no nosso olhar. A imagem fotográfica, nos dois casos, tenta abarcar um espaço maior do que uma foto com um enquadramento convencional poderia mostrar normalmente. As distorções, no caso da imagem circular da cidade, e a reorganização dos ambientes que permite que possamos “percorrer” um espaço em 360 graus por meio de uma ilusão de tridimensionalidade que é construída por um aplicativo nos oferecem visões nada convencionais de um registro fotográfico. Percebemos que a imagem pode concentrar muita informação de uma vez, nos dando a sensação de completude. A construção da imagem, entretanto, parte de distorções, necessárias para que possamos sentir que tudo coube ali. Já estudamos, nos volumes anteriores, como o desenvolvimento da perspectiva linear foi crucial para estabelecer um olhar até hoje consolidado na representação de uma cena ou paisagem. De maneiras diferentes, a questão da transposição tridimensional, de um lugar que o nosso corpo é capaz de perceber pelos sentidos para uma superfície limitada e bidimensional, tem sido objeto de constantes investigações e experimentações.

Veja as duas imagens a seguir.

Orientações

Vista panorâmica da cidade de Tóquio, no Japão, 2018.

A foto à direita mostra o efeito de agrupamento de uma cidade, em modo 360 graus, na mesma linha das fotos de aplicativos que criam imagens de uma extensão grande de paisagens de modo sintético, como se pudéssemos concentrar algo maior num espaço restrito. A imagem à esquerda é do artista Jean Metzinger (1883-1956) e foi criada no início do século XX, quando um movimento artístico novo (que ficou conhecido como Cubismo e do qual falaremos detidamente mais adiante) provocou artistas e espectadores a pensar o espaço e suas representações. Nos dois casos, vemos a representação de uma cidade que parece maior do que o espaço que ocupa na imagem.

Há alguns conteúdos sobrepostos nestas páginas. Para além da questão da composição que transita entre o bidimensional e o tridimensional, como já vimos, há também o elemento da tecnologia interferindo no modo como vemos e realizamos representações diversas – no livro, isso é apresentado por meio da linguagem da fotografia e retomado na comparação com a pintura de Jean Metzinger. A proposta de comparação entre duas imagens, geralmente, oferece bons elementos para desenvolver e aprofundar a leitura de ambas. Proponha aos estudantes que comentem as relações que eles veem entre as duas imagens, considerando também a diferença do contexto histórico de produção de cada uma. Fale sobre a atualidade do pensamento que transita entre como vemos o mundo e como o representamos de maneira bidimensional. Esse assunto segue gerando interesse e tem apresentado soluções diferentes em diversos momentos da história. O Livro do Estudante, por exemplo, permite a reprodução de imagens bidimensionais, assim como qualquer outro livro comum. A fotografia em 360 graus busca transpor essa investigação para um contexto que, apesar de digital, lida com uma tela plana. Sabemos que há outros recursos que simulam a tridimensionalidade, como a realidade aumentada, mas não invalidam a investigação e o interesse nesse tipo de representação.

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voyata/Shutterstock.com crédito Jean Metzinger. Aldeia, 1912. Óleo sobre tela, 91,8 cm × 65 cm. Acervo do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo –SP. © Metzinger, Jean/AUTVIS, Brasil, 2022.

Preparação

Peça aos estudantes que observem novamente todas as imagens desta Trilha, reparando nas legendas e no ano em que foram criadas. A maioria foi feita muito depois desse movimento artístico, mas ele transformou o olhar para a arte de um jeito tão marcante que até hoje podemos perceber ecos das suas proposições.

Antes de falar do movimento propriamente dito, reforce: a arte nem sempre foi pensada da mesma forma. Artistas de diferentes épocas e lugares propuseram seus olhares e concepções sobre a arte. Podemos concluir facilmente que a vida mudou muito ao longo dos séculos, desde a maneira como se curam os doentes e como as famílias se constituem até como nos locomovemos pelo mundo, por exemplo. Então, por que a arte não se transformaria também? Retome essa questão com os estudantes, na medida em que relembram as imagens que já foram vistas até aqui.

Orientações

Antes de entrar no assunto, faça a leitura das imagens que abrem esta seção. São dois retratos, então esse pode ser um bom ponto de partida: Como os artistas escolheram representar cada uma das pessoas? O que as imagens têm em comum? Busque recolher as impressões dos estudantes para retomá-las mais tarde, a partir do que eles verão sobre o Cubismo.

Cubismo e suas imagens simultâneas

Foco na BNCC

Ao conhecer diferentes formas e estilos de artes virtuais, ao analisar os elementos históricos em produções artísticas e ao identificar a presença da tecnologia em práticas de arte são trabalhadas as habilidades EF69AR01, EF69AR02, EF69AR33 e EF69AR35

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Albert Gleizes. Cabeça em uma paisagem, 1912-1913. Óleo sobre tela, 37,6 cm × 50,4 cm. Juan Gris. Cabeça de homem (Autorretrato), 1916. Óleo sobre tela, 63 cm × 48,5 cm. Solomon R. Guggenheim Museum, New York, USA/The Hilla Rebay Collection/© Gleizes, Albert/AUTVIS, Brasil, 2018. Barney Burstein/Corbis/VCG/Getty Images

Até o momento, exercitamos diferentes possibilidades de refletir, estranhar ou buscar novas formas de compreender as imagens do mundo. Vamos seguir adiante e conhecer melhor um movimento artístico que revolucionou o modo de transportar o mundo visível para as telas das pinturas – o Cubismo. Costuma-se determinar o ano de 1907 como marco de seu início, quando o artista Pablo Picasso pintou a famosa obra Le Demoiselles d'Avingon, e um pouco antes da Primeira Guerra Mundial, em 1914, como o fim das pesquisas como um movimento integrado. Observe novamente todas as imagens desta Trilha e preste atenção em cada uma delas, reparando nas legendas e no ano em que foram criadas. Muitas delas foram feitas depois desse movimento artístico, que transformou o olhar para a arte de um jeito tão marcante que até hoje podemos perceber ecos das suas proposições.

Antes de falar do movimento propriamente dito, vale reforçar: a arte nem sempre foi pensada da mesma forma. Artistas de diferentes épocas e lugares propuseram seus olhares e concepções sobre a arte. Podemos concluir facilmente que a vida mudou muito ao longo dos diferentes séculos, desde a maneira como se curam os doentes e como as famílias se constituem até como nos locomovemos pelo mundo, por exemplo. Então por que a arte não se transformaria também?

Para que possamos compreender as origens e a importância do Cubismo, vale relembrar que tudo o que nos cerca faz parte do modo como percebemos o mundo. Algumas vezes, entramos em contato com algo que é totalmente diferente do que estamos acostumados a ver, e isso pode causar um impacto em nossa percepção sobre o mundo. Hoje em dia, é comum entrarmos em contato com imagens de grupos com referências muito diferentes das nossas, já que a internet traz muito conteúdo visual. No início do século XX, porém, a troca de informações e referências não era tão simples, especialmente entre pessoas de regiões distantes do globo. Nessa época, Georges Braque (1882-1963) e Pablo Picasso (1881-1973), dois dos artistas que estavam investigando novas formas de criar representações visuais, tiveram contato com várias imagens de máscaras de diversos grupos africanos.

Observe a imagem abaixo, de uma coleção de máscaras africanas, e, na página seguinte, a obra Cabeça de mulher dormindo, de Pablo Picasso. Que relações você vê entre elas?

Orientações

O texto faz referência a um ponto importante: a circulação de imagens, no final do século XIX e início do século XX, era muito diferente do que é hoje. Por isso, quando uma imagem era trazida de um lugar distante, por meio de livros ou fotografias de viagem, ela tinha um impacto grande sobre quem as via. Dentro dessa lógica, fica fácil entender que as máscaras africanas, extremamente interessantes e diferentes das referências europeias, foram recebidas com entusiasmo. Os artistas que integraram esse movimento estavam interessados em diversos aspectos da representação e da forma. O modo de representar a realidade, por outro prisma, estava na ordem do dia. A pesquisa dos cubistas sobre a relação entre bidimensionalidade e tridimensionalidade ecoa até hoje. Do mesmo modo, havia um grande interesse em representar o movimento em superfícies bidimensionais. O trabalho com a colagem dos cubistas, desenvolvido em paralelo à pintura, alimentou e foi alimentado por ela, em uma pesquisa que ampliou os modos como diversas dimensões podem ser representadas simultaneamente, em uma imagem plana e estática.

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Stefania Valvola/Alamy/Fotoarena Coleção de máscaras africanas. Itália, 2018.

O Cubismo, na época em que surgiu, dialogava com o desejo de vários artistas de romper com o modo como a arte era feita até então: representando o mundo de maneira ilusionista, como se o quadro fosse uma “janela” para uma realidade visualmente semelhante à realidade tridimensional. Como qualquer mudança intensa no modo de ver e representar o mundo, o movimento sofreu muitas críticas e estranhamentos. Sua importância, entretanto, é tão grande que até hoje há muitos artistas que se inspiram nesse pensamento para compor suas obras. As produções abaixo são bons exemplos de como as ideias cubistas ainda ecoam, em épocas e lugares diferentes, nas escolhas visuais feitas por artistas ao representarem algo ou alguém.

Orientações

Peça à turma que volte a atenção aos retratos. Agora é a hora de retomar o que foi visto, à luz do pensamento dos cubistas. Pode ser que os estudantes tentem recriar a imagem como um quebra-cabeça literal, onde tudo se encaixa perfeitamente. Se isso acontecer, converse com eles, dizendo que não se trata de um enigma a ser decifrado, onde tudo se encaixa em uma lógica perfeita. A experimentação e a ousadia desses artistas consistiam justamente em reconstruir com propósito e consciência de suas pesquisas, mas também com certa liberdade para inventar e experimentar. Vemos muitas imagens nas redes sociais e na mídia, de modo geral, que nos levam a uma relação unívoca, ou seja, de um único significado ou interpretação. Aproveite para conversar com eles sobre essa diferença da arte em relação às imagens publicitárias ou anedotas visuais. É muito importante observar uma imagem artística sem a pressa de decifrá-la rapidamente. Essa é uma das características mais interessantes das artes visuais: sua capacidade de conter várias camadas de significados e ampliar nosso olhar sobre ela mesma e sobre o mundo.

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Loui Jover. Frida desconstruída, 2015. Colagem e pintura em papel, 16 cm × 21 cm × 0,3 cm. Jeremy Olson. [Sem título], 2010. Óleo sobre painel, 30,48 cm × 22,86 cm. Jeremy Olson. [Sem título], 2009. Óleo sobre painel, 20,32 cm × 15,24 cm. Brno Del Zou. Latyr, 2013. Sobreposição de fotografias, 1 m × 8,5 m × 1,6 m. Loui Jover © DEL ZOU, BRNO/ AUTVIS, Brasil, 2022. ©Jeremy Olson ©Jeremy Olson

Preparação

Pensar em imagens em movimento nos dias de hoje é corriqueiro e nem faz muito sentido como reflexão, de tão incorporada que essa ação está em nossas vidas. Cinema, televisão, celular, vídeos no computador ou filmes já são parte do modo como percebemos a representação do mundo e das histórias.

Orientações

Houve uma época em que era impensável produzir ou mesmo fruir uma imagem dessa natureza. Viajar de trem acabava por dar essa impressão ao viajante, que via a paisagem passando, se movimentando, pelo recorte de uma janela. O cinema é fruto das investigações sobre sobreposições de imagens, à busca do movimento. Funciona pelo encadeamento de imagens com pequenas mudanças e pelo modo como nosso olho funciona. Ele é capaz de compreender apenas um determinado número de imagens por segundo, e quando esse número é superado nosso cérebro compreende a sequência como uma imagem contínua.

Foco na BNCC

Ao estudar a integração das linguagens das artes visuais com outras linguagens é trabalhada a habilidade EF69AR03. Ao experimentar processos de criação em artes visuais é mobilizada a habilidade EF69AR06.

Assim, esta prática contempla o objetivo de explorar processos de criação que envolvam técnicas analógicas e digitais nas artes visuais.

Tempo e movimento no espaço

Representar o movimento, a simultaneidade ou o próprio tempo é uma investigação recorrente nas artes visuais, com soluções diferentes para épocas diversas. No Cubismo, entretanto, esse interesse foi intensificado. Suas propostas eram ousadas para o período em que foram criadas. Imagine a reação de uma pessoa acostumada com pinturas que buscam semelhança com o que o olho vê diante de uma obra cubista? Outro modo de unir tempo e movimento é o cinema. Antes de sua popularização, as imagens em movimento não eram algo comum. Um passageiro que olhasse pela janela do trem, por exemplo, via imagens em movimento com uma rapidez muito maior do que a percebida no cotidiano. O próprio cinema se desenvolveu a partir de um encadeamento de quadros, ou imagens fotográficas, colocados em sequência. Pequenas mudanças entre as imagens, que se sobrepõem uma a uma com certa velocidade, acabam criando a ilusão de movimento.

Reconstruindo imagens

Certamente você já ouviu o termo “manipulação de imagem”. Geralmente o associamos a um processo digital, mas isso não é uma condição necessária. Quando pensamos em transformar uma imagem já existente, há outro caminho possível: podemos fazer interferências em imagens com recortes, colagens ou sobreposições, procedimentos artísticos frequentes e usados desde muito antes do desenvolvimento digital. Mesmo em alguns processos cinematográficos bem antigos, os quadros das películas eram colados fisicamente para emendas ou edições.

Que tal recriar imagens e significados?

Vamos partir de um repertório de imagens que podem ser obtidas a partir de recortes de jornais, revistas, fotos pessoais ou mesmo da internet, de forma impressa. Os temas podem ser diversos e variados, sem uma direção predefinida: pessoas, lugares, objetos etc.

1 Deixe todas as imagens expostas com clareza, organizadas numa mesa.

2 Escolha uma imagem de onde partir. Pode ser uma que tenha chamado a sua atenção por qualquer motivo. Partindo dela, busque outras imagens que possam ser encaixadas nela, alterando seu sentido original e dando outros significados. É possível que a imagem inicial seja completamente modificada ou só mude em algumas partes. As duas escolhas são válidas.

3 Depois de selecionar as imagens, é hora da edição propriamente dita. Realize as intervenções necessárias, como recortar pedaços das imagens que serão sobrepostas, para que o conjunto faça sentido e fique como você imaginou. Depois que tudo for planejado e testado, é hora de colar.

4 Escolha um título para sua composição.

5 É hora de apresentar sua criação e conhecer as dos seus colegas. Contem sobre o processo e, principalmente, sobre as escolhas simbólicas e plásticas que vocês fizeram.

Preparação

Editar imagens é um procedimento muito usado atualmente e pode ser feito por meio dos aplicativos mais simples aos softwares mais sofisticados. Esta prática de criação, entretanto, busca propor uma edição feita de maneira analógica, para aproximar o estudante do processo a partir da experimentação. As associações que ele pode construir entre o repertório de imagens escolhidas podem ocorrer de maneira intuitiva e inusitada ou de maneira bem planejada e organizada.

Orientações

Deixe que cada um construa seu processo e esteja disponível para auxiliá-los quando necessário, chamando atenção para possíveis repetições, toques de humor ou reconstruções intensas. O principal objetivo é desenvolver o olhar e a prática a partir de um processo analógico do que já é muito realizado em plataformas digitais. As dificuldades e mudanças de planos são parte natural desse processo, e devem ser vistas como oportunidades para encontrar novas soluções plásticas.

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Deni Williams/Shutterstock.com
Vista das janelas do trem que chega a São João Del Rei partindo de Tiradentes. Minas Gerais, 2016.

Arte e tecnologia hoje

Falamos bastante sobre a tecnologia nos processos criativos da arte, mas ainda podemos ampliar nosso olhar, incorporando a ideia de que, às vezes, aparelhos eletrônicos, presentes no nosso dia a dia com usos específicos, podem ser subvertidos e usados para a criação artística.

A tecnologia digital pode ser vista como uma linguagem que cria novas possibilidades, diluindo fronteiras e participando de processos híbridos. Além dos processos criativos em si, é muito comum que esse tipo de obra conte com uma participação muito intensa do público, podendo até mesmo inseri-lo como parte ativadora da obra.

Observe a imagem do trabalho criado pela dupla de artistas Rejane Cantoni (1959-) e Leonardo Crescenti (1954-2018).

Preparação

O trabalho de Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti utiliza aparatos tecnológicos capazes de responder a estímulos em tempo real. Isso significa que os dispositivos usados pelos artistas recebem informações do ambiente, no caso, da sala onde estão instalados, e processam os dados recebidos, como os movimentos das pessoas dentro desse espaço, elaborando uma resposta a eles. Essa resposta do sistema se reflete em padrões e cores que se desdobram nas telas, como um tipo de caleidoscópio de cores. A obra está exposta ao olhar de quem está na sala, ao mesmo tempo que é alterada por quem se aproxima para vê-la.

Orientações

Essa situação criada pela dupla de artistas pode ser vista como uma metáfora da relação entre público e obra, além de ser uma referência direta à linguagem da pintura. Agora o suporte não é mais a tela de tecido, mas a parede na qual o aparelho projeta imagens. Outro diálogo com a pintura é a relação da cor com o campo visual da tela. A pintura, historicamente, sempre apresentou questões que envolvem os elementos cor e ritmo. Uma estratégia para que os estudantes olhem com mais atenção para essas questões é solicitar que pensem em uma trilha sonora para essas obras, imaginando relações rítmicas entre a composição visual e seu movimento.

Nesse trabalho, percebemos uma relação muito próxima entre arte e ciência, numa abordagem diferente da que vimos no trabalho de Julio Le Parc, porém, também partindo dessa relação intensa e intrincada. Embora ambos se baseiem em um princípio científico e imersivo, divergem a partir das suas pesquisas, especialmente na relação entre o digital e o analógico.

Ao conhecer diferentes formas de expressão em artes visuais e ao entender como a tecnologia foi utilizada em sua produção são desenvolvidas as habilidades EF69AR01 e EF69AR35.

Assim, cumpre-se o objetivo de apresentar artistas e conceitos de Arte que dialogam com as tecnologias por meio de obras híbridas, diluindo as fronteiras entre as linguagens da arte.

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Foco na BNCC
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Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti. Auto-Íris Exposição Consciência Cibernética, Itaú Cultural, São Paulo (SP), 2017. Leonardo Crescenti

Orientações

Elabore, com a turma, uma situação lúdica de interação entre pessoas que simule os mecanismos tecnológicos, experimentando uma situação de ação e reação em tempo real que produza um resultado estético. Separe a turma em duplas: um faz e um reage. Coloque todos os estudantes que “fazem” de um lado da sala e todos os que “reagem” do outro lado. O desafio é que parte dos estudantes deve estar atenta e responder aos movimentos da outra parte da turma.

Atividade complementar

Experimente produzir situações de interação entre grupos de estudantes a partir de elementos visuais a serem manipulados por eles. Uma sugestão é dividir a turma em quatro grupos diferentes, e os integrantes de cada grupo devem ter em mãos um elemento com uma mesma cor. Se possível, faça essa dinâmica com materiais que oferecem superfícies de cor, como na seguinte situação hipotética: os estudantes do primeiro grupo seguram pedaços de papel azul; os do segundo grupo, pedaços de pano vermelho; os do terceiro, folhas brancas; e os do quarto grupo, cadernos com capa verde. Peça a um dos estudantes que fique no centro da sala e, então, distribua os demais pelo espaço disponível, de modo que todos consigam ver a pessoa no centro. Combine com a turma que cada cor será “conduzida” pelo movimento de uma parte do corpo do estudante ao centro, por exemplo: azul – mão esquerda; vermelho – mão direita; branco – pé esquerdo; verde – pé direito.

Feito isso, ative a instalação, solicitando ao estudante ao centro que comece a se mover e aos demais integrantes, a sua volta, que movimentem ou não as cores que estão segurando, sem sair do lugar, tendo como referência apenas os movimentos de cada parte do corpo do estudante que está no meio da sala. Desse modo, todo o espaço é transformado pelo movimento de uma pessoa. Explore as variações possíveis no modo de distribuir a turma pela sala e crie regras novas para que todos se movimentem em conexão com uma ou mais pessoas. Peça ainda a alguns estudantes que fiquem na plateia, apenas assistindo, e realize um rodízio entre os que seguram as cores, o que fica no centro e os que assistem.

Ainda que uma foto não seja capaz de nos dar a dimensão da experiência, podemos perceber como as cores dominam o espaço. Essa é também uma instalação imersiva, mas que parte de uma pesquisa artística bem próxima à pesquisa tecnológica. Uma está a serviço da outra e, nesse sentido, as diferenças entre uma experiência imersiva de uma megaexposição, como a de Monet, e um trabalho que parte de questões poéticas ficam bem evidentes.

Na exposição Consciência Cibernética, câmeras foram acopladas a dispositivos que se moviam, capturando informações do ambiente ao mesmo tempo em que criavam projeções nas paredes. Essas imagens dividiam-se, multiplicavam-se e recebiam uma camada de cor. O que controlava essas mudanças era a luminosidade das próprias imagens e das sombras projetadas a partir da presença de pessoas na sala. Os equipamentos responsáveis por essa função possuíam uma espécie de “íris” robótica, criada para perceber e reagir a estímulos.

As combinações entre informações captadas pelos equipamentos óticos, as projeções criadas no ambiente e a movimentação das pessoas geravam uma série de diferentes composições visuais, padrões e cores que podiam ser vistos nas paredes. O modo como as projeções aconteciam criava um diálogo bem direto entre pintura, vídeo e cinema. Conseguimos identificar alguns elementos comuns a eles, como ritmo, repetição, movimento, contraste, direção, cores e oposição entre claro e escuro. À mistura dessas linguagens, como já vimos, damos o nome de hibridismo, indicando a combinação e a criação de um conjunto de pensamentos e procedimentos artísticos a partir de dois ou mais já existentes.

No caso dos artistas criadores dessa obra, há ainda algo que nos chama a atenção: diferentemente da maioria dos artistas que vimos nesta unidade, eles assinam em dupla (Cantoni-Crescenti), num formato que não chega a se configurar como um coletivo de artistas, mas que é desenvolvido num processo diferente do que seria se a autoria fosse apenas de um artista. A contemporaneidade na arte abriu espaço para criações que se desenvolvem de maneiras próprias. Uma delas diz respeito a uma pesquisa pensada e compartilhada por uma unidade formada por duas pessoas.

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Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti. Auto-Íris. Exposição Consciência Cibernética, Itaú Cultural, São Paulo (SP), 2017. Rejane Cantoni

A obra que te olha de volta

Orientações

Observe bem esse trabalho de Raquel Kogan, artista multimídia, gravadora e pintora. Você consegue identificar uma sequência de olhos revelados por câmeras? Além dos olhos, entre outras coisas, podemos ver algumas bocas. Por que será que elas estão ali?

Na montagem dessa obra, o público encontrou uma parede cheia de diferentes buracos pequenos e distribuídos. A presença desses lugares, “para que se possa espiar o outro lado”, instigou as pessoas a se aproximar para tentar ver o que havia lá dentro. O que surpreende é que não há nada do outro lado para ser visto, mas câmeras que capturaram a imagem dos olhos ávidos por desvendar aquele mistério. Todas as imagens foram transmitidas em tempo real para uma tela, um grande painel que reuniu todos os olhos capturados. Segundo o depoimento da própria artista, é um trabalho que não existe. Sua existência passa a acontecer no momento em que o visitante olha pelo visor e, embora não veja nada, é visto pela obra, em tempo real, e lançado para uma projeção.

A ação artística envolvida nesse trabalho está dividida entre público e máquina. Essa criação conjunta permite algumas subversões por parte das pessoas, como colocar bocas em vez de olhos, como vemos na imagem. Essa dinâmica não pode ser prevista, assim como a imagem exata que surge e se modifica a todo momento.

A ideia desse trabalho é simples, mas bastante ousada: brincar com a inversão de ver e ser visto na relação dos diferentes públicos com a obra de arte. A obra parece nos convidar a nos expor, tirando o foco de si mesma e dividindo a criação com quem participa de maneira bem direta. Essa relação só é possível pela escolha de trabalhar com aparatos tecnológicos, deslocando-os de seu uso comum para criar combinações inusitadas, situações em que a funcionalidade desses dispositivos está a serviço de criações simbólicas.

Para saber mais

Se possível, pesquise e mostre aos estudantes os trabalhos de Geraldo de Barros que exploram a linguagem fotográfica. Esse artista brasileiro já tinha uma trajetória como designer e artista visual quando iniciou explorações com as máquinas fotográficas portáteis que começavam a se popularizar na época. Essas câmeras, que utilizavam filmes analógicos, precisavam de manipulação específica, indicada nos manuais de instruções, para que as fotos fossem bem-sucedidas. Geraldo decidiu “desobedecer” às regras de como fotografar com essas câmeras para experimentar os resultados estéticos

das imagens que poderia obter com seus “erros”. Tais experimentos, muitas vezes, geraram imagens abstratas. Devido a seu experimentalismo, Geraldo se tornou um dos principais nomes da fotografia de arte do Brasil.

Foco na BNCC

Este conteúdo desenvolve a habilidade EF69AR35 e cumpre-se o objetivo de investigar e experimentar as funções comunicativas das linguagens das redes digitais e analógicas empregadas em propostas artísticas.

O trabalho de Raquel Kogan produz outro tipo de interação entre público e obra, utilizando um aparato que também “olha” para o público enquanto é visto por ele. O mecanismo usado realiza uma tarefa automática, que capta e transmite imagens dos olhos do público para compor o painel. Conforme o texto aponta, a artista considera que a obra de arte não é o painel resultante, mas essa ação do público de olhar e ser visto pelo mecanismo. Existe uma versão desse mesmo trabalho, que acontece nas plataformas virtuais. Em Olhar, o público pode realizar um cadastro para autorizar a captação e exibição de seus olhos em um painel composto dentro de uma mídia virtual. O resultado é similar à primeira versão do trabalho, no entanto seu processo de construção junto ao público, por meio das redes, ressignifica a proposta, aproximando pessoas que não se conhecem, para literalmente compartilhar seus olhares pela internet.

Para aprofundar

As propostas artísticas que utilizam mídias digitais envolvem conhecimentos bastante específicos sobre programas de computação, sistemas de transmissão de dados e redes digitais. Para desenvolver obras dessa natureza, os artistas comumente contam com a parceria de profissionais especializados em tecnologias digitais, que utilizam seus conhecimentos para fazer com que as ideias artísticas se tornem viáveis. Muitas vezes, acontecem mudanças e adaptações nas ideias originais dos artistas para se chegar aos resultados desejados, sem que se percam os conceitos que mobilizaram essa criação. Por outro lado, artistas que trabalham com tais mídias também adquirem conhecimentos específicos sobre o universo digital ao longo de suas experimentações e podem, inclusive, influenciar a própria indústria tecnológica a desenvolver novos aparatos. Não são raros os exemplos de artistas que se apropriam de tecnologias para utilizá-las de modo diferente do planejado, investigando as possibilidades expressivas que essas explorações podem gerar.

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Tela do projeto Olhar, arte interativa da brasileira Raquel Kogan exibida na Creators Project. São Paulo, (SP), 2012. Raquel Kogan

Preparação

Esta prática provocará a imaginação dos estudantes a partir de objetos de uso cotidiano. Prepare previamente uma lista de objetos diversos que utilizam tecnologias diferentes para poder alimentar e estimular a imaginação da turma.

Orientações

Mesmo com sua pesquisa em mãos, permita que os estudantes tragam para a sala de aula todo tipo de aparato tecnológico que for possível, de modo que reconheçam quando uma tecnologia é desenvolvida e empregada, ampliando o olhar sobre seu uso para diferentes finalidades da vida cotidiana.

A partir da segunda etapa, realizada em trios, há dois aspectos importantes que devem ser estimulados: a relação entre os objetos e a compreensão de como uma criação artística pode atravessar essas relações. Lembre-os de que os objetos serão reunidos numa instalação artística, por isso é importante que eles pensem em como apresentar esses aspectos do ponto de vista da forma e da experiência que poderão proporcionar. Embora seja um exercício apenas de imaginação, pois a instalação não será realizada concretamente, os projetos devem ser apresentados como se fossem ser de fato executados. Desenhos, plantas e representações visuais podem ser bastante úteis e importantes nesse processo.

Bate-papo com o professor

Aproveite o momento da apresentação para chamar a atenção dos estudantes acerca da complexidade de determinados processos artísticos, que podem envolver equipes multidisciplinares com profissionais de diferentes linguagens expressivas das artes e mesmo de outras áreas. Também vale conversar com a turma sobre a importância de criar peças voltadas ao planejamento e ao projeto que possam comunicar suas ideias, de modo que sejam compreendidas por toda a turma.

Objetos e invenções

Vimos, até aqui, diferentes obras que possibilitaram diferentes olhares sobre a tecnologia. Analógica ou digital, ela é sempre um estímulo e uma ferramenta para a pesquisa artística em diferentes épocas. Vamos fazer um exercício de imaginação?

Os artistas vistos nesta Trilha conceberam obras muito diferentes usando recursos técnicos e tecnológicos diversos. Vamos tentar inventar ideias e possibilidades diferentes também.

1 Para começar, faça uma lista de diferentes aparatos tecnológicos dos quais consegue se lembrar. Aqui cabe todo tipo de possibilidade, seja digital ou analógica, antiga ou recente. Cabem equipamentos de todo tipo, de eletrodomésticos a itens de vestuário, como o zíper, ou até mesmo um instrumento musical.

2 Depois desse levantamento, troque impressões sobre como cada um deles pode ser usado de uma maneira diferente na criação de uma obra artística atravessada pela tecnologia. Para isso, reúna-se com seus colegas em grupos de três a cinco integrantes. Levantem algumas ideias e possibilidades.

3 A seguir, é hora de imaginar cruzamentos entre os aparatos. Por exemplo: Como uma câmera fotográfica dialoga com um espelho? Como uma chave de fenda pode ter relação com um lápis?

4 Depois dessa rodada de imaginação livre, é hora de juntar alguns desses aparatos. A partir do conjunto que reuniram, selecionem em torno de sete ou oito objetos e criem um projeto para uma instalação que faça com que as pessoas reflitam sobre o uso da tecnologia em seu cotidiano. Que questões aqueles objetos específicos despertam em vocês?

5 Registrem o processo de como realizariam a instalação, prestando atenção ao maior número possível de detalhes, indo do lugar ideal para sua realização até o espaço previsto para o público e a quantidade de cada um dos objetos escolhidos para a interação, por exemplo. Vocês podem fazer desenhos para mostrar como a instalação deveria ficar.

6 Depois de finalizar todo o planejamento da instalação, apresentem o projeto para a turma, explicando a escolha dos objetos e como desejam impactar o público. Aproveitem para trocar ideias e comentar os trabalhos das outras equipes.

Foco na BNCC

Ao experimentar processos de criação em artes visuais é desenvolvida a habilidade EF69AR06 Assim, é possível atingir o objetivo de explorar processos de criação que envolvam técnicas analógicas e digitais nas artes visuais.

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New York Public Library/Science Source/Fotoarena
Gravura de máquina movida a vapor idealizada por Zadoc Dederick e Isaac Grass de Newark. Nova Jersey, Estados Unidos, século 19.

Ver o que não se vê: tecnologia como espelho ficcional

Ainda pensando as obras criadas a partir de aparatos tecnológicos, vamos olhar para a imagem da obra da artista Camille Utterback. Esse trabalho também é interativo e captura a imagem de quem participa, mas de um jeito diferente do que vimos na obra de Raquel Kogan.

Nesse caso, o público se vê como se estivesse na frente de um espelho. Ele, entretanto, parece mostrar uma realidade que não se vê “deste lado”: uma chuva de letras coloridas cai suavemente. O movimento das pessoas projetadas, que estão à frente da tela, é refletido em tempo real e causa reações nas letras, que parecem pousar nos braços e na cabeça das pessoas. As letras não caem aleatoriamente, mas formam versos de poemas que falam sobre corpo e linguagem. O espírito da brincadeira, do jogo, está também presente aqui, e se manifesta de modo mais leve e poético.

Você já pensou sobre como o corpo se comporta e se movimenta de maneira diferente quando tentamos segurar algo para evitar que caia? Essa obra provoca esse mesmo tipo de reação, mas com uma diferença: tentamos segurar algo que não é real, mas uma imagem de uma criação, impalpável.

Orientações

O trabalho de Camille Utterback propõe uma verdadeira brincadeira entre as letras que caem e a imagem do espectador projetada. Essa situação lúdica provoca o público a se mover de modo pouco usual para interagir com a chuva de letras vista na tela. Mesmo sem dispositivos tecnológicos como o utilizado por Camille, é possível trabalhar algumas questões suscitadas pela obra de outras formas em sala de aula. Procure estimular os estudantes a produzir trabalhos artísticos que provoquem movimento nos espectadores. Por exemplo, é possível propor a criação de composições visuais no chão que instiguem as pessoas a pisar ou não pisar em determinadas áreas, ou realizar uma instalação com panos pendurados ao longo de um corredor, de modo que as pessoas precisem desviar ou abaixar para passar por eles. Essas intervenções podem também ter um fundo musical, o que poderia estimular o público a realizar interações a partir dos ritmos oferecidos pela trilha sonora.

Ao conhecer diferentes estilos visuais e ao reconhecer a presença da tecnologia na produção de arte, são trabalhadas as habilidades EF69AR02 e EF69AR35.

Assim, cumpre-se o objetivo de analisar estratégias e recursos por meio dos quais conceitos, signos e símbolos podem ser explorados em diferentes mídias e aparatos tecnológicos.

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Foco na BNCC
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Camille Utterback. Textrain (Chuva de texto). 21C Museum Hotel. Louisville, Kentucky, Estados Unidos, 2004. Camille Utterback

Preparação

Reconhecer a conjunção de mídias e linguagens da Arte que compõem o espetáculo Os um e os outros é uma forma de apreender a questão do hibridismo nas artes contemporâneas. Nessa criação, que se deu de modo colaborativo, iluminadores, figurinistas, músicos indígenas e não indígenas, atores e bailarinos estão presentes e atuantes para a realização do evento artístico. Não há hierarquia entre as linguagens e os recursos audiovisuais se fazem presentes em vídeos, cenários e projeções de imagens que apresentam informações reais em referências diretas ao que está acontecendo em cena e na sociedade brasileira. As composições originais também se misturam às canções indígenas da tradição guarani, executadas por uma família indígena real, que interage com atores em cenas específicas. Nessas interações, os indígenas não estão representando. A opção da diretora foi realizar o diálogo direto entre a manifestação cultural tradicional de uma sociedade originária e a manifestação cultural ocidental, que divide a arte em linguagens e a separa da vida cotidiana. Converse com a turma sobre as diferenças culturais e como a abordagem intercultural do espetáculo pode refletir relações que vivenciamos em sociedade, mas que nem sempre acontecem de modo respeitoso, celebrativo e crítico como em um evento artístico como esse.

As mídias como suporte para ideias artísticas

As obras e pesquisas que estudamos envolviam diferentes ferramentas tecnológicas, computadores, vídeos, projeções, softwares e exemplificavam algumas das relações possíveis entre imersão, interatividade, participação e cooperação, levando-nos a pensar na relação entre público e obra. É o caso também do trabalho Os um e os outros, espetáculo criado por um grupo de teatro em parceria com um grupo de dança. Ao incluir diversas mídias em sua encenação, o evento teatral se abriu para um mundo de informações visuais e sonoras que podem interferir profundamente no conjunto da obra, diluindo as fronteiras entre as artes da cena e a linguagem audiovisual. Além de contar com uma banda e músicos que executavam ao vivo composições criadas para o espetáculo, as cenas eram permeadas por vídeos, cenários e recortes de luz que alteravam constantemente a relação dos artistas com o espaço da cena.

de Teatro e da Cia. Oito Nova Dança. São Paulo (SP), 2019.

Foco na BNCC

A peça foi inspirada em outra, o texto Os Horácios e os Curiácios, de 1933, do dramaturgo e diretor alemão Bertolt Brecht (1898-1956). A história se passa na Roma Antiga (670 a.C.) e narra conflitos entre um povo que respeita a diversidade de culturas e uma nação que deseja uniformizar todas as culturas, eliminando as alheias. A encenação adaptou os personagens romanos ao imaginário indígena do Brasil e criou um jogo entre nossa atualidade e referências a épocas e culturas diferentes, que se misturavam numa única história.

Ao conhecer e valorizar o trabalho de artistas e grupos de teatro brasileiros, ao verificar os diferentes elementos cênicos e ao analisar a integração entre as diferentes linguagens da Arte são mobilizadas as habilidades EF69AR24, EF69AR25 e EF69AR32.

Assim, cumpre-se o objetivo de analisar estratégias e recursos por meio dos quais conceitos, signos e símbolos podem ser explorados em diferentes mídias e aparatos tecnológicos.

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logico, logica!
Cena do espetáculo Os um e os outros, da Cia. Livre Bruta Flor Filmes

• Do ponto de vista do videocenário e da iluminação, podemos notar dois momentos distintos da peça nos registros anteriores. Como você lê esses dois espaços cênicos construídos, isto é, o que esses espaços comunicam a você?

• Do ponto de vista temático, você percebe alguma relação com questões da atualidade?

Ao longo do processo criativo, foram utilizados trechos de telejornais, dados estatísticos e imagens de populações indígenas e paisagens que foram projetados em telões durante o espetáculo e até sobre os atores, passando a integrar a composição das cenas.

Durante a peça, o público via, no palco, atores que se alternavam entre personagens indígenas e não indígenas e, ocupando uma das laterais do espaço cênico, uma família guarani autêntica, moradora da terra indígena Tenondé Porã, no bairro de Parelheiros, em São Paulo. Pai, mãe e dois filhos tocavam e cantavam músicas originais de sua comunidade. Que repercussão esse tipo de ação artística pode provocar no público?

Orientações

As perguntas desta seção fomentam as leituras das imagens. As três fotos do espetáculo Os um e os outros oferecem uma visão bastante nítida de como o cenário contribui para um evento teatral que mistura linguagens da Arte. Na primeira foto, podemos ver projeções de imagens diretamente sobre os corpos dos artistas em cena. Na segunda, as imagens projetadas no chão criam uma textura visual que apresenta uma paisagem por onde atrizes e atores se deslocam, enquanto uma projeção na parede indica o nome desse lugar. Na terceira imagem, um foco de luz intensa sobrepõe parte da projeção sobre o chão, delimitando uma área em que alguns personagens se concentram.

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Bruta Flor Filmes
Cenas de Os um e os outros, espetáculo da Cia. Livre de Teatro e da Cia. Oito Nova Dança. São Paulo (SP), 2019.
Bruta Flor Filmes

Orientações

É possível estabelecer uma relação entre a ação de levar indígenas para participar de um espetáculo e o projeto Vídeo na aldeias. Essa relação se dá pelo viés do lugar de fala, conceito que atesta que não há ninguém mais indicado para falar sobre uma questão que envolve um grupo social do que alguém que pertence a esse grupo. Essa mesma lógica é aplicada à ideia desse projeto. O indígena não é mais retratado, filmado, entrevistado como tema ou personagem de um documentário feito por uma pessoa não indígena. Os indígenas, agora, são os propositores e diretores dos documentários, atuando como criadores de seus próprios conteúdos, registrando sua cultura do lado de dentro e apresentando suas próprias vozes e visões de mundo. Não são mais os não indígenas que se apropriam das imagens e temas indígenas para suas criações, mas são os próprios indígenas que se apropriam da linguagem audiovisual para criarem suas próprias narrativas e se comunicarem com o mundo.

Foco na BNCC

Ao examinar situações que envolvem a integração das linguagens das artes visuais com a linguagem audiovisual, ao associar as práticas artísticas a diferentes aspectos da vida cotidiana e ao analisar os aspectos sociais e históricos em produções de arte são trabalhadas as habilidades EF69AR03, EF69AR31 e EF69AR33

Foco nos TCTs

O antropólogo e cineasta francês Vincent Carelli (1953-) criou o projeto Vídeo nas aldeias em 1986, uma iniciativa com o objetivo de fortalecer a identidade dos povos indígenas, assim como seu patrimônio cultural e territorial. Ao realizar oficinas de formação audiovisual para as comunidades e apoiar a realização de filmes, o projeto garante que elas possam mostrar seu cotidiano, sua cultura, suas reivindicações e sonhos usando a própria voz e o próprio olhar. Jovens são convidados a conhecer e experimentar os elementos que compõem a linguagem audiovisual, com o acompanhamento de profissionais da área. Desse modo, são incentivados a se apropriar dessa mídia para criar seus próprios conteúdos.

A representação de uma comunidade pode afirmar ou apagar seus valores de base, a depender de como acontece. É muito comum que encontremos uma série de estereótipos que retratam indígenas como participantes de uma imensa comunidade que compartilha das mesmas referências, idiomas e costumes. Isso é uma imagem distorcida e irreal. Há muitas etnias indígenas diferentes no Brasil. Segundo o Censo de 2010, são 305 etnias e 274 línguas indígenas. Muita gente não imagina que essa diversidade seja tão grande.

Uma das razões para que isso aconteça é a reprodução de uma imagem muito estereotipada dos indígenas. Representar a diversidade dos povos originários é fundamental para transformar o olhar que a sociedade tem sobre eles. Nesse sentido, nada melhor do que os próprios integrantes dessas comunidades para apresentar seu pensamento, seu olhar e suas particularidades. Os projetos que envolvem os indígenas na produção audiovisual, convidando-os a mostrar seu cotidiano e seu modo de viver, são duplamente importantes: os indígenas são protagonistas e roteiristas de seu pensamento, e as escolhas todas partem de seu modo de ver o mundo na produção de documentários.

Este conteúdo trabalha o Tema Contemporâneo Transversal Educação em Direitos Humanos

O respeito aos povos indígenas inclui considerá-los como protagonistas de suas próprias narrativas e produtores de conteúdos audiovisuais e de arte.

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Minha comunidade pelas lentes da câmera
Projeto Vídeo nas aldeias, de Vincent Carelli. Aldeia Hunikui, Acre, 2017. Vincent Carelli/Vídeo nas Aldeias

Preparação

Elementos da linguagem do cinema

O desenvolvimento da linguagem do cinema foi incorporando as mudanças de equipamento e diversificando seus processos ao longo do tempo. A imagem mostra um estúdio no qual acontece a filmagem de um filme de ficção científica. Observe como a cena envolve, além dos atores, a equipe de técnicos empenhada na captação da imagem e dos sons. Embora os recursos tecnológicos para a construção de um filme se desenvolvam com rapidez, os códigos que compõem a linguagem do cinema continuam sendo fundamentais para entender e pensar essa arte. Vamos explorar um pouco alguns deles.

Os elementos básicos do cinema são enquadramento, plano, movimentos de câmera e montagem Enquadramento: definir o enquadramento significa pensar e decidir qual área física aparecerá na imagem, ou seja, no quadro, e qual é o ponto de vista mais indicado para conseguir os efeitos pensados na proposta. O enquadramento pode enfatizar a intenção da cena.

Plano cinematográfico: diz respeito à proporção em que os objetos ou pessoas serão enquadrados. Os planos são definidos em função do que será ressaltado. Além disso, um plano também se define por ser uma sequência filmada – um plano-sequência, por exemplo, envolve cenas filmadas sem corte, sem interrupção.

Para revisar alguns conceitos básicos da linguagem cinematográfica e ampliar seus conhecimentos sobre posição e movimentos de câmera, planos de filmagem e enquadramento, assista ao vídeo “Conceitos básicos da linguagem cinematográfica”, do canal AvMakers, disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=jxqNwqu0s8c. Acesso em: 7 jun. 2022.

Ele traz diversos exemplos de filmes e séries para demonstrar os conceitos abordados.

Foco na BNCC

Ao relacionar as linguagens das artes visuais com a linguagem audiovisual, ao conhecer as variadas formas de expressão em arte e ao conhecer os profissionais envolvidos em produções de artes visuais são desenvolvidas as habilidades

EF69AR03, EF69AR05 e EF69AR08

Assim, cumpre-se o objetivo de promover a reflexão sobre as relações entre a tecnologia e as criações das artes visuais e das artes audiovisuais.

Reconhecer e analisar os elementos que compõem a linguagem cinematográfica é importante em vários sentidos. Promover o olhar crítico dos estudantes para detectar as formas de construção da narrativa dos filmes que assistem é um modo de expandir seu repertório sobre arte e fomentar a apropriação desses códigos de linguagem. Desse modo, a turma pode entender com mais nitidez os processos de comunicação aos quais estão expostos. Afinal, a estética cinematográfica está presente também em campanhas publicitárias e programas televisivos. Com o advento da tecnologia de imagens em alta definição, o surgimento de televisores de tela plana, a ampliação da capacidade de transmissão de dados pelas redes e a pandemia de covid-19, as fronteiras entre televisão e cinema tornaram-se difusas. Desde o período de pandemia, até mesmo as manifestações presenciais da música e das artes cênicas também passaram a ser transmitidas pela internet. Essas tendências, que nos impelem para uma vida cada vez mais imersa em tecnologias digitais em redes, devem ser vistas como oportunidades para aprendizagens e até mesmo como a abertura de novos campos de trabalho. Pela perspectiva dos avanços tecnológicos, esse fenômeno pode ser visto como reflexo do desenvolvimento da sociedade. Entretanto, do ponto de vista da inclusão social, é preciso ter uma perspectiva crítica. Tais processos não podem ser vistos sem reflexão, uma vez que grande parte dessas mídias tem como foco estimular o consumo e a padronização de comportamentos. Além disso, a tecnologia não é igualmente acessível a todas as pessoas. Como bem de consumo, fica restrita a determinados grupos. Nesse contexto, as tecnologias também podem se configurar como meio de exclusão para quem não tem acesso a elas.

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Imagens do set de filmagem do filme Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones. Direção: George Lucas. Estados Unidos, 2002. Lucasfilm/Alamy/Fotoarena

Orientações

Converse com a turma sobre suas possibilidades de acesso às tecnologias e quais benefícios podem ser associados ao seu uso. Promova o entendimento do fenômeno midiático, que muitas vezes coloca a tecnologia como o eixo central de nossa sociedade, privilegiando discursos, produtos e comportamentos que nos distanciam da nossa identidade e substituem o sentimento de pertencimento a uma comunidade. Essa padronização pode promover o apagamento de saberes e fazeres tradicionais e expressões regionais que acontecem em diversas localidades. Por outro lado, essa mesma tecnologia pode ser usada como prática afirmativa de grupos que manifestam suas ideias e visões de mundo, e exigem seus direitos por meio das redes, defendendo suas próprias narrativas em programas, lives, mostras e eventos culturais.

Há cinco tipos de plano de enquadramento normalmente utilizados:

• Plano geral: com um ângulo visual bem aberto, a câmera revela todos os elementos da cena.

• Plano médio: apresenta a figura principal enquadrada por inteiro.

• Plano americano: reduz o plano médio para a figura retratada da cabeça até a altura dos joelhos.

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Cena do filme Pantera Negra em plano americano. Direção: Ryan Coogler. Estados Unidos, 2018. Marvel Studios/ Walt Disney Stud Walt Disney Studios Motion Pictures/Photofest/Easypix Brasil Cena do filme Pantera Negra em plano geral. Direção: Ryan Coogler. Estados Unidos, 2018. Marvel/Walt Disney Studios Motion Pictures /Everett Collection/Fotoarena Cena do filme Pantera Negra em plano médio. Direção: Ryan Coogler. Estados Unidos, 2018.

• Primeiro plano: coloca o foco sobre um personagem, dando ênfase à sua expressão, como no exemplo. Pode focar também objetos, mostran-

Bate-papo com o professor

A linguagem do cinema pode proporcionar aprendizagens e percepções sobre as diversas camadas de interpretação das imagens. Além do diálogo direto com as linguagens da animação, do vídeo e da fotografia, o cinema tem como eixo central os recursos disponíveis para a construção de narrativas. O processo de criação cinematográfica envolve uma série de elementos das linguagens visual, cênica e sonora que converge para a linguagem audiovisual. Para além dos enquadramentos indicados nesta dupla de páginas, o cinema dispõe de muitos recursos para compor um filme, tais como cortes, edições, inserções e sobreposições sonoras, efeitos em computação gráfica, entre outros. Essa diversidade de elementos garante um vasto campo de explorações que busca conduzir, envolver ou provocar sensações e reflexões em quem assiste. Converse com a turma sobre sua relação com o cinema, buscando fomentar o olhar crítico dos estudantes. Se eles tiverem o hábito de assistir a filmes, você pode propor uma conversa para que possam se apropriar do repertório que já possuem, explorando suas percepções sobre essa linguagem com base nos filmes com os quais já tiveram contato.

Movimentos da câmera: as pessoas que mais se movimentam no set de gravação são os operadores de câmera (cameramen). Existem muitos tipos de movimento, mas os básicos são

• pan: (panorâmica ou panning) movimento efetuado com a câmera horizontalmente, em geral em velocidade lenta, de um lado para outro;

• tilt: movimento efetuado com a câmera verticalmente, em geral em velocidade lenta, de cima para baixo ou vice-versa;

• tracking: movimentação da câmera quando apoiada em um carrinho, geralmente em um trilho ou qualquer outro objeto semelhante que possibilite que ela se movimente. Montagem: é a junção de vários planos (ou seja, filmagens), gerando as sequências que compõem um filme. É na montagem que se decide quais cenas serão excluídas e em que ordem entrarão as cenas que ficaram.

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Cena do filme Pantera Negra em primeiro plano. Direção: Ryan Coogler. Estados Unidos, 2018.
Motion Pictures/Everett Collection/Fotoarena
do detalhes. Marvel/Walt Disney Studios Cena do filme Pantera Negra em detalhe. Direção: Ryan Coogler. Estados Unidos, 2018. Marvel Studios/Walt Disney Pic/Collection Christophel/AFP • Detalhe (ou close): enfatiza o enquadramento de uma parte do rosto ou do corpo, um objeto pequeno ou detalhe de uma cena.

Preparação

Esta prática coloca em ação o roteiro criado anteriormente. Após todas as reflexões geradas pelos experimentos e pelas conversas em torno do eixo tecnológico da arte, conduza uma revisão dos roteiros com a turma. Essa dinâmica permite que novas percepções sobre a linguagem do vídeo, ou mesmo novas reflexões sobre o argumento desenvolvido, possam ser incluídas no roteiro. Explique que esse processo de reaproximação com o material elaborado faz parte do processo de criação e pode aprimorar o projeto como um todo, por meio do exercício do olhar crítico e amadurecimento das ideias.

Orientações

A transposição do roteiro para o formato de storyboard permite que o grupo possa aguçar o olhar cinematográfico. Converse com os estudantes sobre como os códigos dessa linguagem, vistos na Coordenada, podem fazer com que a comunicação do roteiro seja efetiva. Não basta ter um bom roteiro se ele não for filmado de modo eficiente. Essa eficiência está diretamente ligada às escolhas de enquadramento, às condições de iluminação, à edição etc. que compõem um filme. Portanto, o storyboard ainda é o modo mais eficiente de tornar ideias visíveis e comunicáveis a muitas pessoas. Se possível, pesquise imagens de sets de filmagem e mostre aos estudantes a quantidade de pessoas e aparelhos necessários para a produção de uma cena de filme. Qual seria a melhor forma de fazer com que todas as pessoas idealizem, planejem e produzam a visualidade de uma cena pensada pelo diretor?

O storyboard!

A linguagem que constrói a narrativa – Documentário

Vamos colocar em prática os fundamentos da linguagem do cinema estudados na seção Coordenada? Nessa prática, retomaremos os roteiros que foram produzidos anteriormente e elaboraremos um documentário. O roteiro será o documento norteador para a execução da filmagem. Você e seus colegas já escreveram a proposta, agora é o momento de complementar essa elaboração.

1 Reúna-se novamente com seu grupo de trabalho e desenvolvam uma série de storyboards (desenhos que apresentam as opções de enquadramento para cada cena). Os storyboards são fundamentais para que toda a equipe envolvida numa produção cinematográfica visualize as ideias da direção e possa concretizá-las durante as filmagens. O grupo deve realizar uma sequência de imagens para que se compreenda visualmente a organização da filmagem na ordem em que cada cena aparece no filme.

2 O seu projeto de filme está pronto! Caso vocês tenham acesso a uma câmera e a possibilidade de gravar e editar o material, os grupos podem avançar na produção até a concretização do documentário. Nesse caso, realizem pesquisas sobre o que define cada uma dessas etapas. Assistam a lives com especialistas ou consultem livros em bibliotecas, conversem com professores e façam experimentos de linguagem para entender como obter os resultados que visualizaram na etapa anterior.

3 Depois de apresentarem o que foi elaborado para a turma, conversem sobre as diferenças que detectaram entre os dois processos de preparação: o roteiro textual e o storyboard. Compartilhem também suas impressões sobre o processo, tanto as descobertas quanto as dificuldades.

Foco na BNCC

Ao experimentar processos de criação em artes visuais são trabalhadas as habilidades EF69AR06 e EF69AR07

Assim, é contemplado o objetivo de propor práticas que explorem as relações entre processos e técnicas constituintes das produções de arte no que diz respeito às redes sociais e às tecnologias.

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Claquete e storyboard com planejamento de cenas para um filme. Ucrânia, 2021. Tutatamafilm/Shutterstock.com

Avatar: interagir com um mundo inventado

Muitos jogos de video game nos oferecem a possibilidade de percorrer, virtualmente, um território inteiramente inventado, que conta com paisagens e lugares que são fruto da imaginação de seus criadores. Podemos subir ou descer montanhas, mergulhar em rios, atravessar florestas, passar por cidades, construções antigas, desertos ou mesmo paisagens com ligação menos evidente com o mundo em que vivemos. Em muitos jogos, há também a possibilidade de escolha sobre qual caminho tomar, dentro desse espaço virtual, envolvendo lugares que são descobertos e assimilados na própria experiência de jogar. Há ainda outro tipo de vivência, quando o jogo está em rede: a de encontrar o avatar de outros jogadores, que parecem frequentar o mesmo espaço virtual, em tempo real. De algum modo, podemos ser transportados através do tempo e do espaço usando nossa imaginação.

Vamos imaginar que pudéssemos percorrer o caminho que fizemos nesta Trilha usando a mesma lógica. Vamos criar paisagens que revelarão como alguns dos assuntos que vimos aqui ficaram gravados em sua memória. Nosso exercício vai acontecer apenas na imaginação, mas vai criar imagens que podem ser muito potentes.

Imagine como seriam os lugares que representam cada um dos assuntos abaixo e o percurso percorrido em cada um deles:

• imersão numa visualidade;

• pesquisa sobre procedimentos tecnológicos e sua aplicação de maneira lúdica e poética;

• relação entre os públicos e as obras;

• provocação de diferentes movimentos do corpo, buscando reagir com artefatos presentes na construção deste espaço coletivo.

A seguir, escolha um dos itens para fazer um registro da nossa caminhada até aqui. Você pode escrever um texto ou criar desenhos que se relacionem com as suas impressões sobre o tema.

Você notou que todos esses aspectos também estão contemplados na estrutura de um video game?

A arte é capaz de representar nossas inquietações, desejos e histórias de vida, trazendo múltiplas possibilidades de leitura por meio de signos e de um universo simbólico.

Converse com seu professor e debatam sobre como a imaginação e a concretização a partir das escolhas técnicas e tecnológicas podem dialogar em processos de criação artística.

Avaliação formativa

Chegamos ao final da Trilha 1, que nos permitiu refletir sobre a relação entre artes visuais, audiovisual e tecnologia. O universo dos games pode ser uma metáfora para compreendermos os caminhos percorridos. Do mesmo modo que algumas das obras apresentadas propuseram imaginar realidades diferentes, por meio de experiências imersivas ou realidades inventadas, vamos fazer um exercício de imaginação. Os estudantes devem imaginar um lugar, fictício, real ou recriado, como uma síntese de cada um dos itens apresentados. Em outras palavras, em vez de buscar uma síntese com uma palavra, vamos buscar criá-la na forma de uma paisagem inventada. Você pode conduzir esse exercício de síntese da seguinte maneira: Se pudesse viver uma experiência de imersão em uma imagem, como ela seria? Se pudesse fazer uma pesquisa que conjuga tecnologia e arte para criar uma paisagem, como ela seria? Que tipo de imagem pode representar uma relação próxima entre público e obra?

Deixe que os estudantes decidam se querem descrever essas imagens por meio de texto ou pela criação imagética. A seguir, peça que apresentem sua síntese, refletindo sobre seus aprendizados, descobertas e dificuldades vividas ao longo da Trilha.

Foco na BNCC

Este conteúdo mobiliza a habilidade EF69AR03 ao retomar os processos de criação da Trilha, que contemplaram temas ou interesses artísticos, fazendo uso de materiais, instrumentos e recursos convencionais, alternativos e digitais.

Avaliação formativa

Será importante que os estudantes retomem as descobertas feitas ao longo desta Trilha e mobilizem seus conhecimentos neste último exercício. Assim, as vivências mais significativas virão à tona e as experiências que tiveram menos impacto poderão ser revistas.

Aproveite este momento para avaliar seu percurso pessoal. É válido refletir sobre os pontos que você gostaria de mudar e as descobertas que o surpreenderam. Assim, será possível ampliar o planejamento das aulas e experimentar novas propostas visando a um vínculo maior entre você, a turma e as linguagens da Arte.

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Alguns jogos de video game podem nos transportar para paisagens criadas pela imaginação.
bennyb/iStockphoto.com

A BNCC nesta Trilha

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9.

Objetos e habilidades:

Contextos e práticas

EF69AR03, EF69AR09, EF69AR25, EF69AR31

Elementos da linguagem

EF69AR10, EF69AR11

Processos de criação

EF69AR12, EF69AR13, EF69AR14, EF69AR15, EF69AR32

Arte e tecnologia

EF69AR35

Objetivos desta

Trilha

• Identificar a presença e a importância do corpo no cotidiano, fora das telas, pelos elementos constitutivos da Dança.

• Experimentar os elementos da Dança em suas possibilidades de fruição e expressão, investigando os saberes do corpo e o pensamento crítico.

• Ampliar conceitos e possibilidades cinéticas a partir das Práticas de criação, transformando consciência corporal, inteligência espacial e imaginação em danças autorais.

• Refletir sobre o conceito de técnicas e tecnologias relacionado ao movimento e à diversidade de manifestações e registros de movimento.

Bate-papo com o professor

Nesta Trilha, você verá diversos exemplos de artistas que desenvolveram técnicas próprias para trabalhar com a Dança e se relacionar com as novas tecnologias. A partir de suas vivências e em diálogo com as experiências dos estudantes, siga o roteiro do livro e, sempre que necessário, faça ajustes nas propostas apresentadas para atingir melhor engajamento em suas aulas, aproveitando os diferentes saberes que as artes do corpo podem proporcionar.

Transformações da dança pela tecnologia

A arte acompanha as transformações das sociedades nas quais está inserida, por isso, nesta Trilha, vamos ver como os artistas da dança utilizaram em seus processos criativos estratégias e ferramentas proporcionadas pelos recursos tecnológicos, seguindo os avanços do tempo e se reinventando.

Observe as imagens e reflita:

• Quais elementos da arte e da tecnologia podem ser reconhecidos nas fotos?

• Qual é a relação entre as pessoas e as máquinas no contexto do espetáculo?

• Se você estivesse presente nas cenas capturadas pelas imagens, que papel gostaria de desempenhar?

Orientações

A dança pós-moderna e contemporânea surgiu no século XX e causou importantes rupturas nos modos de conceber os processos e as apresentações artísticas que marcam o século XXI. Para entender as rupturas e os novos cenários que se consolidaram, vamos ver como artistas da dança lidaram com as questões cênicas a partir do surgimento de novas tecnologias. E também como, na atualidade, esses artistas trabalham com reflexões sobre conceitos relacionados ao indivíduo e à sociedade, e sobre como a arte e a ciência interferem na vida das pessoas e nas dinâmicas coletivas, lembrando sempre que a dança é a arte do movimento, um conceito indissociável das noções de tempo e espaço.

As expectativas de resposta das perguntas da página são:

• Os elementos da arte estão representados na dançarina e no palco. A tecnologia é reconhecida em primeira instância pelo drone e pela câmera, mas também está presente no desenvolvimento e na fabricação de cada objeto, material ou aparelho, entre outros.

• A dançarina está interagindo com uma máquina, o que pode ser notado pelos seus gestos e pela direção do seu olhar. Há também uma pessoa filmando os movimentos dela. Podemos supor que há ainda outra pessoa contro-

lando o drone, interagindo assim indiretamente com a dança em cena.

• Resposta pessoal.

Foco nos TCTs

Este conteúdo trabalha o Tema Contemporâneo Transversal Ciência e Tecnologia ao propor uma reflexão sobre as relações entre arte e tecnologia e entre a ciência e as pessoas.

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EIT European Institute of Innovation and Technology Dançarina Ayumi Tobaye e drone em apresentação durante evento do Instituto Europeu de Inovação (EIT), em Budapeste, na Hungria, em 2019. EIT European Institute of Innovation and Technology

Vídeo e arte nas obras de Analivia Cordeiro

Observe a imagem abaixo, prestando atenção às posições das pessoas, ou seja, às formas corporais nas quais elas estavam no momento do registro.

• Além das formas, o que mais chama sua atenção na imagem?

A imagem abaixo é da primeira videoarte brasileira, feita por Analivia Cordeiro, intitulada M3x3. A videoarte pode promover a integração de diversas linguagens com as artes visuais. Com interesse em investigar possibilidades do corpo em movimento interagindo com sons e cenários abstratos, Analivia Cordeiro compôs uma complexa mistura dos elementos de cada uma dessas linguagens.

Você reparou nos figurinos usados nesse trabalho? As peças de roupa ora se fundem, ora se destacam do fundo da cena. Isso foi feito a partir de estudos da Gestalt, teoria da Psicologia que estuda como o cérebro humano completa as imagens que parecem inacabadas, ou, ainda, como preenche os espaços vazios das imagens. Estudiosos da Gestalt que pesquisaram a Lei do Fechamento comprovam que, quando vemos silhuetas ou formas inacabadas, nosso cérebro “fecha” a formação das imagens.

Preparação

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o eixo da aula. Sugestões: formas, vídeo, arte.

Para aprofundar

A teoria da Gestalt considera os fenômenos psicológicos como configurações que são totalidades organizadas e percebidas por meio de fenômenos físicos, mentais e emocionais indivisíveis e articulados. Para a área das artes visuais, a teoria da Gestalt diz que uma obra de arte possui seus conceitos estéticos e contém uma carga emocional; logo, esses não são atributos apenas do seu espectador. Em relação ao sujeito, a teoria também estuda a percepção e a sensação do movimento, os processos psicológicos envolvidos diante de um estímulo e como este é percebido pelo sujeito.

Videoarte: forma de expressão surgida no final da década de 1960 que passou a utilizar a tecnologia do vídeo para obras artísticas, que até então se restringia a fins comerciais (televisão ou treinamento em empresas).

Foco na BNCC

Este conteúdo abrange as habilidades EF69AR03, EF69AR09, EF69AR10 e EF69AR14 ao propor a análise de uma produção audiovisual de uma artista brasileira, explorando os elementos da composição cênica, o espaço e o movimento dançado.

Além disso, abrange o objetivo de refletir sobre o conceito de técnicas e tecnologias relacionado ao movimento e à diversidade de manifestações e registros de movimento.

Neste tópico, será trabalhada a compreensão histórica da dança no formato audiovisual por meio da obra de Analivia Cordeiro, pioneira na área.

Ao observar a imagem, os estudantes podem ter a atenção atraída pela pintura facial, pelo cabelo preso na touca ou pelas roupas pretas justas com faixas brancas, além do cenário branco. Complemente a análise perguntando se os estudantes identificam situações cotidianas nas quais o corpo fica em posturas semelhantes.

Orientações

Elabore questões para que os estudantes argumentem sobre a dança feita em palcos e em vídeos. Peça a cada um que explique quais as diferenças entre um e outro. O objetivo é promover uma conversa sobre o repertório de dança que eles conhecem e identificar qual é o nível de contato que eles têm com a dança contemporânea apresentada em diferentes mídias.

A obra inaugural M3x3 traz a temática da automatização dos gestos e da relação mecânica entre as pessoas, problematizando o fato de as mídias poderem reduzir as expressões individuais. Assim, converse com a turma sobre os movimentos do cotidiano, observando as características gestuais específicas de sua região – se as pessoas colocam-se em posturas recorrentes, quais gestos fazem ao se comunicar, como se movem em certas situações, entre outros exemplos.

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Videoarte M3x3, de Analivia Cordeiro, durante a sessão de gravação do vídeo. São Paulo (SP), 1973. Analívia
Cordeiro

Orientações

Os exemplos da página ilustram como funciona uma das abordagens da Gestalt, a Lei do Fechamento, e como a dançarina Analivia apostou nesses princípios da Gestalt para compor suas videoartes.

Como os estudantes reagem diante do convite de identificar as imagens das figuras geométricas? Como o figurino se relaciona com o cenário nas obras de Analivia Cordeiro? Quais outras percepções são despertadas a partir de suas propostas?

Espera-se que eles identifiquem um triângulo, um quadrado e um cubo. As respostas ao segundo item são pessoais, mas eles devem indicar que o processo é rápido.

Se possível, apresente os trechos das obras de Analivia, contextualizando que, na época em que foram realizadas, não havia trabalhos de dança contemporânea criados em linguagem híbrida com o audiovisual. Portanto, se tiverem uma sensação de estranhamento, será normal.

Para aprofundar

A formação de Analivia Cordeiro em artes começou dentro de sua casa. Ela é filha do artista plástico Waldemar Cordeiro (1925-1973) e da geógrafa e pianista Helena Kohn Cordeiro (1928-1994). Em 1962, começou seus estudos de dança com Maria Duschenes (1922-2014), pioneira das abordagens de Rudolf von Laban (1879-1958) no Brasil. Além de dançarina, coreógrafa, videoartista e pesquisadora corporal, é também arquiteta.

Atividade complementar

Assista à obra M3x3, realizada em 1973, e converse sobre as impressões da turma com base no contexto estudado. O vídeo está disponível em: https://vimeo.com/506487031. Acesso em: 3 jul. 2022.

Para complementar seu conhecimento, leia o texto:

• GONÇALO JÚNIOR. Dança da máquina, do corpo e da mente.

Pesquisa Fapesp, São Paulo, v. 130, p. 91-93, dez. 2006. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/ danca-da-maquina-do-corpo-e -da-mente/. Acesso em: 24 maio 2022.

Sabendo desse princípio de fechamento, experimente observar as imagens abaixo.

• Que figuras se formaram?

• Como você acha que seu cérebro reagiu a essas imagens? O processo foi rápido ou lento?

Na videoarte M3x3, Analivia se inspirou na Lei do Fechamento da Gestalt para mostrar o movimento humano. Em uma proposta de dança inovadora para os padrões da época, a mensagem da obra chamava a atenção para o risco de a tecnologia diminuir a expressividade do gesto humano.

Em 0=45, Analivia usa um figurino similar ao de M3x3 para fazer uma dança que foi finalizada no computador. Nessa obra, o corpo é visto de perto, por partes como fragmentos. Devido às roupas brancas e pretas no cenário também branco e preto, 0=45 convida o público a assistir à videoarte com uma postura ativa, a fim de perceber que a compreensão de algo se dá pelo “todo”, e não por “pontos isolados”.

Na imagem abaixo, vemos como Analivia seguiu a linha de investigação na qual o cérebro humano completa as imagens que parecem inacabadas ou preenche os espaços vazios.

Quando Analivia fala sobre sua obra, ela chama esse trabalho de “Zero graus, quarenta e cinco graus”. Além da versão em vídeo, Analivia também apresentou esse trabalho ao vivo, em uma performance no Paço das Artes, em São Paulo (SP), em 2010. Com a presença de um percussionista, ela dançou na frente de uma tela que projetava bonecos de palito, como aqueles que desenhamos para representar o corpo de forma sintética ou aqueles vistos em sistemas de notação de movimento. Os bonecos faziam os mesmos movimentos que a dançarina, com apenas alguns segundos de diferença entre eles. Quem assistia não sabia se quem propunha os movimentos era a dançarina ou as imagens dos bonecos de palito projetadas na tela.

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Figuras geométricas formadas a partir da Lei do Fechamento da Gestalt. Ilustrações: Caio Boracini Analivia Cordeiro em 0=45 version. São Paulo (SP), 1974. Analívia Cordeiro

Preparação

Escreva na lousa palavras-chave como: dança e trabalho.

Profissão dança: ingresso na vida acadêmica

Analivia Cordeiro realizou parte de sua obra na Universidade de Campinas (Unicamp), em São Paulo. Ela é uma dançarina profissional com DRT, nome dado ao registro de trabalho de artistas. Para dançar não é obrigatório frequentar uma faculdade, mas, para se profissionalizar, os cursos superiores são um caminho. Você já pensou como se faz para prestar o vestibular e se candidatar para ingressar em um curso superior de dança? Cada curso tem autonomia para aplicar as provas a seu modo, mas, como exemplo, vamos observar os métodos utilizados pela Unicamp.

DRT: sigla para Delegacia Regional do Trabalho. Ter DRT significa que há registro profissional e regulamentado na carteira de trabalho.

Para ingressar no curso de graduação em Dança no Departamento de Artes Corporais (Daco) do Instituto de Artes da Unicamp, por exemplo, os estudantes devem fazer, além das provas teóricas, provas práticas de habilidades específicas. As provas práticas acontecem em três dias, com focos distintos:

1 prova de apresentação coreográfica;

2 exercícios técnicos de dança;

3 improvisação em dança.

A seleção procura avaliar o potencial artístico, a compreensão corporal dos princípios básicos da dança e a performance em dança do candidato.

Na prova de apresentação coreográfica, o candidato deve apresentar, ao vivo, uma coreografia de, no máximo, 3 minutos. A prova é individual e apresentada apenas para a banca avaliadora, sem presença de público nem de auxiliares. Como critérios de avaliação, a banca considera a capacidade de comunicar-se por meio do movimento, a escolha pela linguagem de movimento compatível com as habilidades do candidato e com o tema proposto e a coerência do uso do espaço e do tempo na coreografia.

A prova de técnica acontece como uma aula e oferece, ao candidato, a oportunidade de aquecer o seu corpo gradativamente, trabalhando suas articulações, a respiração e outros fatores envolvidos no movimento. Os critérios de avaliação para a prova de técnica são: alinhamento postural dinâmico, orientação espacial, ritmo, percepção e memória do movimento, domínio corporal e prontidão corporal.

Na prova de improvisação, espera-se que o candidato apresente uma resposta corporal criativa. Os critérios de avaliação para a prova de improvisação são: atitude, capacidade de concentração, integração, capacidade de se relacionar com o outro em movimento, inventividade e versatilidade.

• Caso você fosse um candidato para o curso de Dança no vestibular da Unicamp neste ano, em qual etapa das provas práticas acha que teria mais facilidade? E em qual teria mais dificuldade? Por quê?

• O que você acha que significa cada um desses critérios? Você os identifica em suas atitudes corporais?

Além do curso de Dança, os cursos de Artes Cênicas, Artes Visuais e Música no Instituto de Artes da Unicamp também exigem provas de habilidades específicas.

Foco nos TCTs

Este conteúdo trabalha o Tema Contemporâneo Transversal Trabalho ao discutir a profissionalização na área de Dança por meio do curso de graduação.

Foco na BNCC

Ao relacionar a prática da dança a aspectos da vida cotidiana é trabalhada a habilidade EF69AR31

Conforme visto no Ponto de partida, desde a Revolução Industrial (técnico-científico-informacional), ocorreu uma série de mudanças nas diferentes sociedades, que passaram a ter a economia regida pelo comércio e pela indústria, tornando menos evidente outras possibilidades de desenvolvimento profissional. Por isso, esta Coordenada traz aspectos de um curso de ensino superior gratuito, oferecido pelo Departamento de Artes Corporais (Daco) do Instituto de Artes da Unicamp.

Orientações

Comente com os estudantes que, no vestibular desse curso de Dança, é preciso fazer primeiro a prova teórica, como a aplicada para os demais cursos oferecidos pela universidade, e depois realizar a fase dos testes de aptidão. Os candidatos que passam para essa fase disputam 25 vagas de ampla concorrência, sendo garantidas quatro por cotas. Nesse sentido, ajude os estudantes a compreender as mudanças que ocorreram nos processos históricos, sociais e étnico-raciais, valorizando o espaço assegurado na educação pública para essa parcela da sociedade.

As respostas às perguntas da página são pessoais.

Pergunte quais são as atividades de trabalho relacionadas com o dia a dia da sua comunidade. Os estudantes já pensaram sobre isso? Eles têm expectativas para uma formação acadêmica em artes? Alguém da turma demonstra interesse pelas artes, em especial pela dança, como possibilidade de trabalho?

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Candidatos durante etapa de improvisação da prova de habilidade de dança na Unicamp. Campinas (SP), 2018. Antonio ScarpinettiSEC Unicamp

Preparação

Promova um diálogo sobre as danças apreciadas pelos estudantes, questionando se eles gostam mais de ver os outros dançando ou de dançar.

Orientações

Para esta prática, é interessante separar a turma em grupos de acordo com a disponibilidade de equipamentos para filmar, considerando no mínimo um celular para registrar as apresentações. Se esse for o caso, oriente-os para que façam todas as etapas da prática simulando o local onde estará o celular que será usado na filmagem.

1. A função é, inicialmente, ajudar o estudante a identificar as próprias tendências, tanto em relação à dança quanto ao vídeo. Os estudantes que preferem dançar devem fazer uma curta exploração de movimentos, e os que preferem filmar devem observar o espaço que a movimentação dos colegas ocupa, para depois registrar esse momento.

2. Nesse passo, quem estiver responsável pelo vídeo deve ajudar quem for dançar a entender o enquadramento, ou seja, a área que será visível no vídeo. Ele pode considerar, além do espaço para a dança, os demais elementos que aparecerão no quadro. Esse é também o momento de observar a dança ao vivo, a fim de depois comparar com o registro feito pela lente da câmera.

3. Quem for dançar pode ensaiar passos e coreografias já conhecidas ou improvisar e desenvolver uma movimentação a partir de um tema pertinente aos estudos escolares ou à vida na comunidade. É interessante estimular os estudantes a desempenhar ambos os papéis, o de quem filma e o de quem dança. Cada grupo deve chegar a pelo menos uma pequena coreografia para ser filmada.

4. A turma deve escrever um parágrafo relatando suas percepções. Registros em formato de desenhos, como storyboards de cinema ou HQ, são ótimos para ajudar a ampliar a noção de dança em relação à câmera.

Plano fixo de uma dança

Em uma roda de conversa, discuta com os colegas se há danças com as quais vocês se identificam e, se houver, em quais se sentem representados. É interessante registrar a conversa como for possível: com anotações, desenhos, fotografias, áudios e vídeos. Essa etapa é o início de um processo criativo da construção de um audiovisual, um projeto prático artístico que ajudará você a fazer conexões entre a dança e a tecnologia. Para começar, vocês podem refletir sobre as perguntas abaixo e responder de acordo com sua singularidade:

• Em que ocasiões você gosta de dançar? Em festas, com grupos de amigos ou em casa, quando não tem ninguém olhando?

• O que você gosta de dançar? Já imitou a coreografia de algum vídeo da internet ou participou de um desafio?

• Você já dançou para a câmera? Já filmou outra pessoa dançando ou se filmou dançando?

1 Dividam a turma em grupos com a mesma quantidade de integrantes. Reflitam sobre as perguntas e anotem as respostas e outros detalhes relacionados a elas. Vocês estão mapeando as preferências em dança e as referências em vídeo. Amplie essas perguntas de acordo com as respostas. A experiência de relacionar a dança ao vídeo propõe uma mudança de perspectiva acerca da movimentação do dançarino e do “olhar” da câmera que está filmando. Vamos tentar perceber a diferença entre ver uma pessoa dançando ao vivo e, depois, observar as imagens capturadas pela câmera.

2 Como o objetivo é fazer um plano fixo, escolham um lugar para deixar a câmera bem apoiada, de forma que ela não faça nenhum movimento. Marquem qual a área que aparece no visor da câmera, ou seja, qual o campo de visão que a lente proporciona.

3 Escolham uma coreografia curta de que gostem e que estejam acostumados a fazer, seja em festas ou sozinhos. Uma pessoa acionará a gravação e as outras dançarão. Façam uma filmagem por vez. Não é preciso que todos dancem na frente da câmera, é possível gravar apenas os que se sentirem confortáveis com a ação.

4 Assistam e registrem por escrito quais foram as mudanças de percepções em relação a ver a dança ao vivo e ver a mesma dança na tela. Reservem esse material, pois será usado, posteriormente, em um processo de criação de audiovisual.

Foco na BNCC

Ao experimentar processos de criação em dança é trabalhada a habilidade EF69AR12. Assim, é contemplado o objetivo de ampliar conceitos e possibilidades cinéticas a partir das Práticas de criação, transformando consciência corporal, inteligência espacial e imaginação em danças autorais.

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Rawpixel/Shutterstock.com
Jovens dançando em frente à câmera fixa na posição vertical. Los Angeles, Estados Unidos, 2021.

Videodança: o que é isso?

Videodança é a linguagem híbrida que une a dança e o vídeo desde sua concepção. Isso pode parecer o mesmo que dançar e filmar uma dança, mas não é. O que difere a videodança do registro filmado de uma coreografia é que a videodança não é feita para ser reproduzida no palco. Os movimentos são pensados levando-se em conta os recursos visuais possíveis ao vídeo.

O vídeo permite alternar os ângulos pelos quais uma dança pode ser vista, ou mesmo explorar um ângulo que não seria possível de ser observado numa apresentação ao vivo. Um movimento pode aparecer de trás para a frente e cenas podem ser aceleradas ou postas em câmera lenta pela edição digital. Com isso, a coreografia para essa linguagem é sempre pensada a partir da união dos movimentos do corpo e da câmera.

Na etapa de captação de imagens, um recurso muito utilizado é a aproximação ou o distanciamento da câmera em relação ao que está sendo filmado. Ela pode ocorrer de forma física, colocando a câmera perto ou longe do dançarino, ou pelo acionamento do zoom do aparelho. Esse recurso dialoga com o enquadramento que se deseja atingir. Quem opera a câmera escolhe como mostrar o que é central na ação.

Um exemplo pode ser visto na videodança de Carolina Maria, intitulada Pílulas. A dançarina carioca, responsável pela concepção, interpretação e filmagem, fez esse trabalho em meio às medidas de isolamento social implementadas para controlar o avanço da pandemia de covid-19. Ela utilizou um aparelho celular para gravar partes do corpo, principalmente os braços, os pés e seu rosto. No trabalho, a interação com a luz e as sombras do ambiente e a presença das cores são muito importantes para a narrativa que questiona como é possível se manter conectado em momentos de crise.

No processo de edição do material filmado, ou seja, na etapa em que é possível cortar o vídeo em pedaços e juntá-los conforme as intenções do montador (ou editor), é que se determina e pontua o ritmo da obra como um todo. Isso pode acontecer tanto pela passagem rápida ou lenta de uma cena para outra quanto pelo acréscimo de sons ou de trilha sonora.

Preparação

Serão aprofundados os aspectos do audiovisual pela abordagem dos enquadramentos e do zoom. Retome com os estudantes as noções necessárias para essa prática, tirando eventuais dúvidas.

Orientações

Para aprofundar a prática feita anteriormente, proponha uma discussão: Vocês gostariam de transformar o exercício de filmar uma dança com a câmera parada em uma coreografia para ser vista ao vivo ou prefeririam fazer uma videodança?

Pensar no movimento para ser visto em determinado espaço, como o de um palco, de um palanque, da escola ou da rua, solicita qualidades do movimento planejadas para a tela. Se a escolha for uma videodança, todas as questões de luz e enquadramento tornam-se centrais. A tecnologia de filmagem permite experimentar a linguagem das artes visuais e o olhar de quem dirigirá a câmera também como proponente da cena.

O período de isolamento social fez com que muitas pessoas que não tinham contato com os recursos digitais passassem a utilizá-los como ferramenta de trabalho e de diversão. Isso aconteceu em alguma instância com você? E com os estudantes?

Sabendo que o Brasil é um dos países com os mais altos índices de consumo de conteúdo em vídeo, na TV, redes sociais, plataformas de streaming, lives ou videochamadas, pergunte se os estudantes têm familiaridade com as manipulações digitais que os aplicativos de celulares e os programas de edição proporcionam e estimule-os a se aproximar das tecnologias por meios criativos.

Foco na BNCC

Ao ter contato com práticas que integram a linguagem da dança à linguagem audiovisual e ao conhecer diferentes formas de expressão são mobilizadas as habilidades EF69AR03 e EF69AR09. Assim, cumpre-se o objetivo de promover a reflexão sobre as relações entre a tecnologia e as criações das Artes Visuais, das artes audiovisuais e das expressões da Dança.

Atividade complementar

Visite o site da dançarina Carolina Maria e assista à videodança Pílulas. Em seguida, converse sobre as impressões dos estudantes de acordo com o contexto da aula. O site está disponível em: https://carolmpc.wixsite.com/carolinamaria e a videodança está disponível em: https://youtu.be/X3MIO 39-Nfw (acessos em: 3 jul. 2022).

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Carolina Maria
Enquadramento dos pés na videodança Pílulas, de Carolina Maria. Rio de Janeiro (RJ), 2020.

Preparação

Escreva na lousa os assuntos da aula: cinema, vídeo, dança e música. Nestas aulas, a integração entre as linguagens será apresentada por meio de videoclipes nos quais os protagonistas são músicos que dançam. Será preciso assistir ao vídeo sugerido no livro; logo, se a escola não possuir recursos de audiovisual necessários, busque maneiras de contornar a situação.

Orientações

Reserve um tempo da aula para assistir ao videoclipe Bad, do cantor Michael Jackson, mas, antes de apresentá-lo à turma, contextualize que os videoclipes se tornaram populares no Brasil em virtude dos canais de televisão, que dedicaram toda ou parte de sua programação à transmissão de videoclipes de músicas que faziam sucesso entre os jovens dos anos 1990. Na época, a internet e os aparelhos celulares não estavam presentes no dia a dia da sociedade como estão atualmente, o que representa também uma mudança de paradigma nos veículos de comunicação.

O enredo de Bad levanta a discussão sobre questionamentos que ocorrem na adolescência. Oriente uma conversa entre os estudantes sobre o fato de agir em concordância ou discordância com as normas da sociedade, associando essa discussão à perspectiva que há de bom ou de mau na realidade da turma. Feito isso, assista ao videoclipe de Michael Jackson para tirarem suas conclusões sobre o tema.

Peça a eles que observem o ritmo da música marcado pelos movimentos dos intérpretes e a forma de ocupação do espaço nas cenas. Instigue os estudantes a imaginar em que lugar a câmera estava posicionada em cada uma das cenas, analisando os momentos em que ela está fixa e aqueles em que ela se desloca.

Cinema, dança e música

Videoclipe: produção no formato audiovisual que utiliza a relação entre música e imagens.

Você já assistiu ao videoclipe Bad, de Michael Jackson? Nele, vemos os dançarinos passar pelas catracas de uma estação de metrô e, logo depois, iniciar uma coreografia de ritmo bem marcado e empolgante. Entre as décadas de 1980 e 2000, os videoclipes exibidos na TV eram muito populares porque ainda não havia aplicativos para assistir a vídeos ou ouvir músicas a qualquer momento. Esse videoclipe foi um dos sucessos do astro da música pop estadunidense, que sempre gostou de dançar. Michael demonstrava esse gosto desde criança em The Jackson 5, banda que formava com seus irmãos. Filmado com a linguagem do cinema, Bad mostra o enredo teatral em branco e preto e a dança em cores, ocupando um espaço público enquanto representa a letra da música.

Mais de 30 anos depois de Bad, outro artista lança uma obra que se tornou referência em termos de videoclipe. Em Anima, curta-metragem produzido e estrelado por Thom Yorke, a linguagem da dança, da música e do cinema estão em perfeito equilíbrio. Apesar de ser conhecido por seu trabalho como guitarrista e vocalista da banda Radiohead, Thom Yorke é também um músico que dança. Ele começou a dançar no palco em 2000, quando se viu em cena sem a guitarra, seu instrumento de trabalho, e, dali em diante, seguiu investigando conexões entre a música e a dança.

Anima tem apenas 15 minutos de duração, mas leva o espectador a uma longa jornada narrada pelo movimento. No vídeo, um homem, ao dirigir-se para o trabalho, percorre ambientes improváveis, com rampas e passagens que remetem a lugares que só existem nos sonhos, e termina pelas ruas ao amanhecer.

A dança, nesse filme, representa a liberdade de sair e se divertir mas também retrata a sociedade e o modo como, muitas vezes, acabamos por nos mover passivamente por ela. Ao fazer as coisas de forma automática, a tendência é permanecermos focados em nosso próprio mundo, sem perceber com atenção e afeto as pessoas e tudo que está ao redor.

Por meio dessa obra, o músico e dançarino Thom Yorke, que passava por dificuldades na vida pessoal, transmite ao público a mensagem de superação dos desafios que a vida apresenta. Pela arte, o artista mostra como conseguiu solucionar o problema: em vez de se isolar e desistir de seus planos, ele transformou seus medos em força e ânimo para recomeçar.

Você pode assitir ao videoclipe Bad na íntegra no canal oficial do artista no YouTube e fazer suas anotações pessoais a respeito dele. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=Sd4SJVsTulc&t=727s. Acesso em: 3 jun. 2022.

Interdisciplinaridade

Converse com o professor de Língua Inglesa sobre a realização de uma atividade que tenha como foco os diálogos iniciais do videoclipe Bad, dirigido por Martin Scorsese. Além dos elementos da dança e da música, ao entender as falas do prólogo do videoclipe, os estudantes terão repertório para analisar o roteiro de forma mais contextualizada. O videoclipe oficial está indicado no boxe Assim também se aprende

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Cena do videoclipe Bad, de Michael Jackson, 1987. Quincy Jones Productions/Michael Jackson for MJJ Productions, Inc.

Orientações

Retome o que foi mais marcante em relação ao trabalho com o videoclipe Bad para seguir abordando a temática de músicos que também são dançarinos. Agora, o foco será o curta-metragem Anima, disponível em: https://vimeo.com/353437800 (acesso em: 14 jul. 2022). Novamente, será preciso assistir ao vídeo antes de iniciar a abordagem com os estudantes.

O enredo de Anima levanta a discussão sobre temas como a mobilidade nos centros urbanos e o padrão de atitudes aceitas como normais quando se circula de um lugar a outro em diferentes locais públicos. O curta-metragem aborda também o equilíbrio entre liberdade e controle na sociedade, a atitude ativa ou passiva diante de situações problemáticas e as sensações de insegurança que podem ocorrer no trânsito entre o mundo interno, subjetivo, e o mundo externo, objetivo. Oriente uma conversa sobre as experiências que os estudantes já tiveram acerca de tais assuntos. Em seguida, assista ao vídeo para tirarem suas conclusões sobre o tema.

Peça que ouçam a música com atenção e a comparem com o estilo musical adotado por Analivia Cordeiro em suas videoartes, conforme exemplificado nas páginas 63 e 64 deste livro. Quais movimentos os intérpretes fazem no metrô? Os estudantes identificam alguns movimentos que costumam fazer rotineiramente? Que sensações as mudanças de eixo na obra causam no espectador? Como o espaço é ocupado nas cenas? Qual posicionamento de câmera pareceu inusitado?

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Cenas do curta-metragem Anima, de Thom Yorke, dirigido por Paul Thomas Anderson, 2019. ©Netflix/Courtesy Everett Collection Easypix Brasil ©Netflix/Courtesy Everett Collection / Easypix Brasil

Preparação

O conteúdo da página chama a atenção para o que no cinema é chamado de travelling, nome dado a uma das possibilidades de movimento de câmera. Prepare os estudantes para que imaginem que seus olhos são câmeras que estão filmando tudo ao redor.

Orientações

Primeiro, determine um tempo, que pode ser de alguns minutos, para que os estudantes explorem movimentos nos quais os pés permaneçam no lugar, mas o tronco e a cabeça se movam para as direções, vivenciando a noção de câmera subjetiva, isto é, aquela que compartilha o olhar de quem filma de forma pessoal.

Depois, com o grupo em pé ou sentado, peça que passem um objeto de mão em mão, por exemplo, um estojo, simulando uma câmera. Oriente-os para sempre manter o mesmo nível. A seguir, repita o experimento com todos os estudantes se movendo pelo espaço e, se possível, substitua o estojo por um celular. Investiguem como seria filmar um plano-sequência, conforme a foto ao lado, passando a câmera de uma pessoa para outra.

Bate-papo com o professor

Durante sua infância ou adolescência, como foi sua relação com as rodas? Bicicleta, skate ou patins fizeram ou fazem parte da sua formação cinética? Verifique quais experiências os estudantes têm com esses equipamentos que são utilizados, inclusive, como alternativas não poluentes para mobilidade urbana nas grandes cidades.

Eu danço, eu filmo, nós criamos

O espetáculo Plano-Sequência/Take 2, da Jorge Garcia Companhia de Dança, é inteiramente imerso na interação com o cinema. Sua coreografia é realizada por seis bailarinos que filmam enquanto dançam. As filmagens não são um mero registro do ensaio, pois a dança é transmitida ao vivo, em um único plano-sequência.

O espetáculo foi apresentado em 2017 na Casa das Caldeiras, prédio construído na década de 1920 e tombado em 1986, em São Paulo (SP). Durante a apresentação, o público teve a opção de assistir à coreografia pela TV ou seguir os bailarinos pelos 2 mil metros quadrados da casa que servia de cenário.

A trilha sonora do espetáculo era responsabilidade do baterista Eder "O" Rocha, ex-músico da Banda Mestre Ambrósio, de Recife, que fez parte do movimento manguebeat. Enquanto Eder criava a trilha ao vivo, os seis bailarinos, incluindo Jorge Garcia, alternavam-se entre filmar e serem filmados, durante mais de uma hora sem interrupção, em um único take

Nessa performance, a companhia ruma para o que Jorge Garcia chama de coreocinegrafia. Trata-se de um desafio para o ato de dançar, pois envolve pegar a câmera, enquadrar a cena e ter o apoio mútuo de todos os dançarinos na construção do espetáculo – já que eles também filmam sobre patins ou arrastados no chão uns pelos outros.

Bailarinos Giuli Lacorte e Rafaela Sahyoun no espetáculo Plano-Sequência/Take 2, na Casa das Caldeiras.

Direção: Jorge Garcia. São Paulo (SP), 2016.

Interdisciplinaridade

Para a realização do espetáculo – que une as linguagens da dança e do audiovisual – os bailarinos tiveram de passar por vários aprendizados, entre eles os que propiciavam evitar imagens tremidas ou passagens bruscas de cenas dançantes. Assim, fizeram workshops de fotografia, dramaturgia e luz (o cenário se restringe a lâmpadas de LED).

Atividade complementar

Para promover a interdisciplinaridade entre Educação Física e Dança, marque um dia e reserve a quadra da escola para que os estudantes possam dançar e, se possível, se deslocar sobre rodas por todo o espaço.

Incentive os estudantes a realizar pesquisas sobre pessoas com deficiência física que desempenham atividades esportivas, bem como sobre atletas que dançam sobre rodas, eliminando as fronteiras entre arte e esporte. Para ampliar seu repertório, assista à reportagem Dançar sobre o skate: a arte do longboard dancing, disponível em: https://youtu.be/ KNHbYc1_7fM (acesso em: 4 jul. 2022).

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Silvia Machado/Acervo Jorge Garcia Companhia de Dança
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Planos móveis de uma dança

Em duplas, vamos avançar para a próxima etapa da criação de uma videodança. Para filmar, você poderá usar um celular, um aparelho que traga de casa ou uma câmera disponibilizada pela escola. Na prática anterior, você executou ou gravou uma coreografia com a câmera parada, captando um plano fixo. Com isso, pôde observar como os movimentos se apresentaram ao vivo e no vídeo.

1 Agora, enquanto uma pessoa dança, a outra filma, mas não apenas com a câmera fixa. O responsável por operar a câmera também deve se movimentar. Depois, invertam os papéis.

2 De acordo com o número de participantes, o professor vai combinar com vocês o tempo de cada dupla, marcando o início e o fim. Escolham uma coreografia que estão acostumados a dançar ou um tema para improvisar. Criem uma sequência pequena de movimentos que pode se repetir sempre de forma idêntica ou se adaptar de acordo com a posição da câmera. Primeiro, procurem definir a sequência e memorizar os movimentos ou ter bem mapeados para si os gestos e as ações que fazem parte do tema da dança. Explorem os contrastes dos níveis, dançando com o corpo todo bem próximo ao chão, utilizando saltos ou em locais acima de onde estará a câmera. Vocês podem também explorar os contrastes de velocidade com movimentos rápidos e lentos.

3 Quando estiver filmando, procure acompanhar os movimentos de quem está dançando escolhendo o melhor ângulo, a fim de registrar a visão ampla e panorâmica da cena ou os detalhes do movimento corporal e das expressões do dançarino. Todos os ajustes devem estar de acordo com os níveis e as velocidades, podendo ser semelhantes, ou seja, a câmera pode estar no chão quando o dançarino ocupa o nível baixo, ou diferentes, com a câmera gravando de cima os movimentos próximos ao chão.

4 Durante a execução, fiquem atentos às conexões que surgirem entre vocês, considerando as pessoas envolvidas, o equipamento e o espaço ao redor.

5 Após a finalização da filmagem, observem os movimentos de cada um no vídeo e analisem se houve um diálogo entre a dança e o resultado gravado. Quando todas as duplas terminarem, formem uma roda de conversa, sentados em círculo, e procurem responder:

• O que mudou na dança quando você passou a considerar a câmera móvel como se fosse uma plateia?

• Para cada movimento, qual plano de filmagem foi a melhor solução? Por quê?

• Pensando nas mídias sociais, sobretudo nas redes sociais que você conhece, quais delas você acredita que seriam ideais para a postagem de uma videodança? Por quê? Registrem, por meio de anotações, desenhos ou, caso seja possível, fotos, todo o processo. Reservem seus registros e suas percepções.

Jovens integrando as linguagens artísticas e filmando com o celular. Sérvia, 2017.

Foco na BNCC

Ao experimentar processos de criação e apropriar-se de elementos da dança, utilizando a tecnologia na produção e divulgação de práticas artísticas, são trabalhadas as habilidades EF69AR12, EF69AR13 e EF69AR35.

Assim, é contemplado o objetivo de ampliar conceitos e possibilidades cinéticas a partir das Práticas de criação, transformando consciência corporal, inteligência espacial e imaginação em danças autorais.

Preparação

Peça aos estudantes que expliquem, com suas próprias palavras, o que é videodança e que apontem também qual rede social eles consideram a melhor para compartilhar danças. Depois, retome as noções de plano fixo e plano móvel.

Orientações

Tendo como referência a prática “Plano fixo de uma dança” e o exercício proposto na página anterior, de mover a câmera sem sair do lugar, o objetivo, agora, é conciliar os movimentos da câmera e da dança.

Chame a atenção para a importância de explorar o enquadramento da câmera, verificando a melhor forma de filmar, o que garante um bom resultado. Primeiro, reserve 5 minutos para que as duplas explorem, livremente, suas respectivas funções. A seguir, elas devem realizar todo o planejamento antes de começar a gravar.

A atividade também desenvolverá a prática de pesquisa análise de mídias sociais. Com base nas respostas dos estudantes sobre as redes sociais mais adequadas para o compartilhamento de videodanças, proponha a eles que publiquem seus trabalhos nas redes escolhidas, compondo uma legenda significativa que sintetize suas ideias.

Os estudantes devem se sentir à vontade para participar da atividade, de modo que aqueles que preferirem não fazer a postagem sejam respeitados. Considere também a possibilidade de postar os trabalhos apenas nas redes sociais da escola. Explique que o intuito não é escolher a melhor videodança nem avaliar qual deles tem o maior número de curtidas, mas identificar como os seguidores reagirão aos trabalhos e em qual rede social a videodança atingirá maior número de visualizações.

Avaliação formativa

Avalie se os estudantes ampliaram seus conhecimentos sobre as relações artísticas que podem ser potencializadas pelos recursos audiovisuais. Verifique se eles identificam quando a câmera está parada, em planos fixos, e quando se movimenta. Os estudantes conhecem outras produções de videodança? Peça a eles que comentem suas impressões sobre os assuntos estudados até este momento da unidade.

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Geber86/iStockphoto.com

Preparação

O espetáculo Café Müller é um marco da história da dança e, ao mesmo tempo, uma obra que se aprofunda na diluição das fronteiras entre dança e teatro. O cenário do espetáculo, por si só, propõe uma narrativa. O café por onde entram e saem personagens reforça essa sensação, uma vez que os bailarinos usam figurinos que sugerem quem seriam as pessoas que frequentam o lugar. Pequenas cenas acontecem de modo fragmentado, e não há diálogos que indiquem um trajeto narrativo. Todas essas características compõem uma atmosfera que nos permite imaginar possíveis histórias.

O público, ao ver apenas fragmentos de uma narrativa, é convidado a acessar seu imaginário e completar as lacunas com as próprias sensações, memórias e impressões. Essa possibilidade de projetar significados para o que acontece no palco acaba por contagiar o modo como vemos a própria coreografia, que, pelos movimentos ensaiados que se repetem, também acaba sugerindo o clima da cena. Por fim, a situação da bailarina que dança e corre de olhos fechados no palco repleto de cadeiras acentua a dramaticidade do espetáculo. O esforço do bailarino em retirar as cadeiras do caminho para que a bailarina não bata em nenhuma delas oferece um componente de risco para a cena, pois qualquer erro pode resultar em um acidente. A precisão dos movimentos e o rigor com que os bailarinos encaram esse jogo chama a atenção do público e cria momentos de grande concentração. Se possível, assista a um trecho desse espetáculo com os estudantes para que percebam como a situação das cadeiras pode captar e prender a atenção de quem assiste.

As respostas às perguntas desta página e da próxima são pessoais.

Dança-teatro

Pina Bausch (1940-2009) foi uma bailarina e coreógrafa alemã cujo trabalho é reconhecido mundialmente. Ela foi a diretora artística da companhia Tanztheater Wuppertal. Wuppertal, além de integrar o nome da companhia, é também a cidade alemã onde ela está localizada. Após sua morte, o grupo passou a se chamar Tanztheater Wuppertal Pina Bausch (em português, Dança-Teatro Pina Bausch de Wuppertal).

• Observando a imagem a seguir, o que chama mais sua atenção? Por quê?

Foco na BNCC

Café Müller marcou o início da chamada dança-teatro. Nesse tipo de espetáculo, as coreografias são construídas não apenas com músicas, solos e momentos em grupo mas também com cenas mais teatrais e com o uso da palavra pelos bailarinos. Em Café Müller, o espaço cênico é um elemento de destaque. O cenário representa o que seria o salão de um café preenchido com cadeiras e mesas pretas de madeira, espalhadas de maneira aleatória.

Em silêncio, uma mulher entra nesse espaço. Aos poucos, fica nítido que ela caminha de olhos fechados, e assim permanecerá durante todo o espetáculo. Em seguida, novas personagens entram em cena. Outra mulher entra e só então começa uma música. Essa segunda mulher, que também fica de olhos fechados, começa a dançar entre as mesas e cadeiras. Rapidamente, aparece um homem que vai abrindo espaço para que ela possa dançar sem bater nos móveis. Assim, vai se desenhando o jogo cênico com o espaço, que, de certa forma, passa a ser quase um personagem: torna-se um lugar vivo, transformado o tempo todo pela ação de um dos bailarinos.

Outras personagens estão em cena, mas não existe uma relação definida entre elas. Pequenas cenas mais teatrais acontecem em alguns momentos do espetáculo e, às vezes, em diferentes pontos do espaço de forma simultânea. A trilha sonora não está presente o tempo todo. Trechos de óperas são intercalados com momentos de silêncio, criando um jogo sonoro. A soma de tudo isso forma um tipo de espetáculo fragmentado, cuja unidade se dá por causa do espaço criado pela cenografia onde ele acontece, nesse caso, o salão de um café.

Ao conhecer diferentes formas de representação e encenação da dança, ao identificar estilos cênicos e ao analisar práticas artísticas que integram linguagens, são desenvolvidas as habilidades EF69AR09, EF69AR25 e EF69AR35

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Cena de Café Müller, da Companhia Tanztheater Wuppertal Pina Bausch. Berlim, Alemanha, 1999. David Baltzer/Zenit/Laif/Imageplus
logico, logica!

Essa fragmentação é uma característica da dança-teatro, muito explorada pela coreógrafa alemã. Em Café Müller, ela mistura dança, teatro, ópera e até mesmo cenografia, além das memórias, sensações e histórias trazidas pelos próprios bailarinos na elaboração da coreografia do espetáculo como um todo.

A relação entre arte e vida foi uma constante no trabalho dessa diretora. Ela desenvolveu uma série de espetáculos inspirados em lugares ao redor do mundo. Foi assim, por exemplo, com Masurca Fogo (1998), inspirado em Portugal; Água (2001), inspirado no Brasil; Ten Chi (em português, “Céu e terra”, 2004), inspirado no Japão; e Bamboo Blues (2007), inspirado na Índia.

Todos esses trabalhos são apresentados no formato de palco italiano, e o desafio para a cenografia é traduzir, em imagens e elementos, um pouco do lugar que inspirou cada um deles.

Na foto abaixo, temos uma cena do espetáculo Água, que teve o Brasil como inspiração.

Orientações

Ao optar por um espaço em branco, a coreógrafa criou uma espécie de grande tela em que são projetados, em muitos momentos do espetáculo, vídeos de elementos brasileiros, como paisagens, rios, cidades e o próprio povo. As imagens projetadas ocupam o espaço todo, do chão até o teto, criando uma atmosfera de sonho, em que os bailarinos dançam e compõem cenas.

Elas funcionam de maneira similar aos telões pintados que ficam no fundo do palco, mas, como são vídeos, possuem movimento e, dessa forma, podem interagir com a cena. Jogando com diversos elementos cênicos, explorando-os de forma a criar novos significados na relação entre eles em cena, os espetáculos realizados pela companhia de Pina Bausch se tornam uma experiência estimulante para quem os assiste, pois, em cada cena, em cada coreografia, surgem múltiplas possibilidades de leitura.

Observando a imagem do espetáculo Água, que foi inspirado no Brasil, responda:

• Como você descreveria essa cena? De que maneira a movimentação dos bailarinos se conecta com a projeção de folhas de palmeiras nas paredes do espaço cênico?

Cena

Desempenhar uma ação física de modo que cumpra um desafio corporal pode ser uma forma de criação de cenas de teatro e dança. No espetáculo de Pina Bausch, o desafio corporal está bem evidente e acaba por criar a própria estética da coreografia. Para experimentar esse tipo de criação que envolve o corpo em desafios para produzir movimentos, organize na sala de aula um espaço para que os estudantes realizem uma dança de olhos fechados com segurança. Libere espaço para circulação, mantendo apenas cerca de cinco cadeiras espalhadas aleatoriamente. Os estudantes, em pequenos grupos, devem observar, memorizar e se locomover, sem derrubar as cadeiras. Você pode adicionar uma música ao exercício. Os gestos e os movimentos podem ser improvisados, sem necessariamente seguir o ritmo da música, que, inclusive, pode ser interrompida durante o experimento. Para evitar qualquer queda ou esbarrão, crie um procedimento de segurança. Peça que cinco estudantes se posicionem, cada um ao lado de uma das cadeiras. Eles serão os guardiões desses espaços e deverão estar atentos durante a experimentação de quem estiver com os olhos fechados, usando as mãos sempre que necessário, para impedir que o colega vendado esbarre na cadeira que está sendo vigiada. Também é preciso manter a atenção para sair do caminho do colega que estiver passando por perto.

Peça à turma que observe como essa situação dos guardiões em torno das cadeiras também é repleta de teatralidade, ao mesmo tempo que se configura como um tipo de dança. Alterne os guardiões das cadeiras e as pessoas vendadas até que todos tenham experimentado cada uma das posições: pessoa vendada, guardião e plateia. Converse sobre a experiência de assistir às ações e realizá-las. Chame a atenção da turma para o fato de que uma coreografia não se resume a dançar uma música e uma cena não se resume a representar uma narrativa. Os limites se diluem, e as linguagens do teatro e da dança ganham mais expressividade em uma proposta artística dessa natureza.

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UPPA/ZUMApress/Fotoarena
de Água, da Companhia Tanztheater Wuppertal Pina Bausch. Festival Internacional de Edimburgo, Reino Unido, 2010.

Preparação

O espaço é um dos elementos centrais na teoria de Rudolf Laban, reconhecido artista e pesquisador que organizou os fatores de movimento, facilitando as relações de ensino e aprendizagem em dança e em outras abordagens corporais. Nessa aula, você pode fazer a chamada de presença pedindo que, ao ouvir seu nome, o estudante se direcione até a lousa e escreva nela o nome de um local que ele aprecie ou gosta de visitar. Pode ser um lugar da escola, da rua, da casa, da cidade ou ainda da imaginação.

Após todos terem escrito, observem como foi a ocupação do espaço da lousa. Houve uma concentração maior nos cantos ou no centro? Quais as dimensões das escritas? Os estudantes escreveram com letras grandes ou com letras pequenas? A anotação de um estudante interferiu na de outro? Todas essas observações podem servir de indícios para o conteúdo apresentado a seguir.

Foco na BNCC

Ao conhecer diferentes formas de expressão em dança e valorizar o trabalho de artistas nacionais é mobilizada a habilidade EF69AR09.

Além disso, cumpre-se o objetivo de investigar as diferentes camadas de interpretação presentes em trabalhos artísticos concebidos a partir de técnicas manuais e/ou tecnologias digitais.

Sítio específico: uma dança para um local

Site specific: obra artística idealizada de modo que dialogue com as características do local onde ela será realizada ao vivo ou exibida.

Sítio específico é a tradução literal do termo em inglês site specific, que significa “lugar específico” e, de modo geral, representa trabalhos que são planejados para locais cujo contexto será determinante para a obra. A ideia de uma obra criada para um lugar específico segue uma tendência das artes visuais contemporâneas. Ela teve início quando alguns artistas, a partir da década de 1960, começaram a deslocar a obra do interior dos espaços de arte fechados (tais como museus, galerias, entre outros), para lugares abertos. Os elementos da linguagem de artes visuais, seja escultura, instalação ou outro tipo de intervenção, devem dialogar com o meio circundante para o qual a obra é elaborada. Quando há interesse em se desenvolver uma dança para um determinado lugar, também dizemos que se trata de criar uma obra para um sítio específico. A coreografia ou o improviso são pensadas para acontecer naquele local e o espaço será escolhido se fornecer um contexto que se relacione com os interesses de quem atuará ali. As danças podem ou não ser interativas, aquelas nas quais o público também atua, desenvolvendo uma movimentação especial para o local. Esses lugares podem ser uma galeria, um museu ou outro espaço cultural ou até ruas e outros espaços urbanos nos quais normalmente não ocorrem intervenções artísticas. De todo modo, o objetivo é fazer a dança e as pessoas dialogarem com o meio para o qual a obra foi idealizada.

A noção de lugar ou sítio específico tem relação direta com a ideia de arte ambiente, que mostra a importância do espaço à medida que incorpora a obra e tem suas características transformadas por ela.

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Plongée: dança nas bibliotecas do Brasil, de Joana Ferraz e Ilana Elkis. São Paulo (SP), 2011. Juliana Gennari

A coreografia criada para um lugar específico torna mais visível a arquitetura e o movimento desse local, que inclui o fluxo de pessoas com as histórias e memórias que carregam no corpo.

Analisando as imagens desta página e da anterior, responda:

• Quais elementos mais chamam a sua atenção?

• Qual é o ponto de vista da câmera em relação à intervenção artística?

• Como os móveis desse lugar são utilizados pelas dançarinas?

As dançarinas Joana Ferraz e Ilana Elkis criaram um site specific para proporcionar ao público a possibilidade de contemplar a dança e, ao mesmo tempo, desenvolver diferentes pontos de vista sobre o espaço, sobre a dança e sobre si mesmo. Plongée, em francês, significa “mergulho”, e o nome completo desse trabalho é Plongée: dança nas bibliotecas do Brasil

Para compor o repertório de movimentos da obra, Joana e Ilana observaram os gestos realizados pelos frequentadores das bibliotecas. Como se sentavam, qual postura adotavam ao ler um livro, como moviam os móveis, se escolhiam sentar-se perto ou longe do ventilador e, quando estavam imersos na leitura, como os corpos se expressavam. Elas observaram também as relações dos frequentadores das bibliotecas com a manutenção do silêncio que o estabelecimento requer. Esse foi um fator determinante na construção da trilha sonora do site specific. Essa trilha foi composta a partir da captação dos pequenos sons que ocorriam no interior das bibliotecas, tais como sons de objetos sendo postos sobre os móveis, sussurros e outros cujo volume era baixo devido à necessidade de manter o silêncio. Durante as apresentações, no entanto, os quase inaudíveis sons foram amplificados, imprimindo novos sentidos ao movimento e ao espaço, fazendo alterar, momentaneamente, a percepção da arte da dança pelo público.

Joana e Ilana foram contempladas com o prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2014, e o espetáculo Plongée: dança nas bibliotecas do Brasil, em 2016, pôde circular pelas bibliotecas de Minas Gerais, Amazonas, Piauí e Pernambuco, integrando, nesse percurso, o Festival Mova-se e o Festival Cena Cumplicidade.

Orientações

Peça aos estudantes que se dediquem por alguns instantes à observação minuciosa da foto. Fazendo uma leitura dessa imagem, o que mais chama a atenção deles?

As respostas esperadas para as perguntas da página são:

• Na primeira imagem, podem ser citadas as barras de ferro, as mesas, as cadeiras e as duas pessoas deitadas sobre as mesas. Na segunda, eles podem mencionar a escada de ferro, a plateia localizada nessa escada, a dançarina, entre outros.

• Nas duas imagens, a câmera registrou do nível alto uma ação que acontecia no nível baixo.

• De modo não convencional, uma vez que se costuma utilizar a mesa como apoio de braços, e não para se deitar. O mesmo vale para o espaço da biblioteca, que geralmente não é utilizado para esse tipo de intervenção.

Além das perguntas apresentadas no livro, outras curiosidades podem ser despertadas a partir do tema e das imagens. Pergunte se eles já frequentaram alguma biblioteca e qual é a postura que esse espaço exige de seus usuários.

Para aprofundar

Para ampliar seus conhecimentos sobre o tema site specific em artes visuais, acesse o verbete da Enciclopédia Itaú Cultural.

• SITE specific. In: ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: https://enciclopedia.itaucultu ral.org.br/termo5419/site-specific. Acesso em: 1 jun. 2022.

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Plongée: dança nas bibliotecas do Brasil, de Joana Ferraz e Ilana Elkis. Manaus (AM), 2011. Ricardo Vicenzo

Preparação

No Ponto de partida foi apresentada a instalação Swimming Pool, de Leandro Erlich. Agora, novamente o elemento água e a dureza e transparência do vidro entram na composição de uma obra artística. Pergunte aos estudantes qual contato eles têm com piscina, mar, rio ou lagos. Questione também sobre as sensações corporais vividas nesses ambientes e a memória visual mais marcante para cada um.

Orientações

A maneira como os estudantes farão a leitura dessa imagem mostrará elementos de seu repertório. Organize a sala em grupos para que observem e discutam mais a fundo essas percepções. Peça que registrem por meio de palavras-chave os elementos mais expressivos. A seguir, eles podem explorar movimentos ou gestos que os representem.

Foco na BNCC

Ao conhecer diferentes formas de expressão em dança, valorizando o trabalho de artistas nacionais, e ao analisar os diferentes elementos da composição cênica e coreográfica são trabalhadas as habilidades EF69AR09 e EF69AR14.

Assim, é possível desenvolver o objetivo de fomentar o olhar crítico sobre os modos de criação em arte por meio de materialidades, apropriações de produtos e técnicas que dialogam diretamente com o tempo e a sociedade em que são produzidas.

Chão transparente, plateia diferente

Claraboia: parte decorativa envidraçada de um telhado cuja função é deixar entrar claridade. Pode ser também uma fresta numa parede para passagem da claridade ou do ar, ou, ainda, um espaço de ventilação em mina ou túnel.

Linóleo: piso impermeável, levemente emborrachado, muito utilizado como revestimentos de pisos em espetáculos de dança, geralmente nas cores preto ou branco.

Plateia no site specific Estudos para claraboia, de Morena Nascimento e Andreia Yonashiro. Sesc Belenzinho, São Paulo (SP), 2013.

A imagem abaixo mostra alguns dançarinos durante a apresentação de outro site specific de dança. Note que, em vez de o chão ser de madeira, ou coberto com linóleo, a performance está acontecendo sobre uma superfície de vidro. Imagine como seria assistir a uma coreografia como se estivesse embaixo de um palco transparente, enxergando por baixo tudo o que acontece na cena e que normalmente seria visto de frente. Essa foi a proposta do trabalho Estudos para claraboia, das diretoras Morena Nascimento e Andreia Yonashiro. Nessas imagens vemos um dos locais escolhidos pelas diretoras para realizar a obra: a piscina do Sesc Belenzinho, em São Paulo. A piscina, na qual são praticadas aulas de natação e hidroginástica e que fica aberta à recreação, situa-se embaixo de um piso de vidro. Transformada em plateia que, em vez de cadeiras, contou com boias infláveis, o público presente pôde assistir à apresentação de dança exercitando uma nova postura, um novo ponto de vista.

Dançarinos no site specific Estudos para claraboia, de Morena Nascimento e Andreia Yonashiro.

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Sandro Miano Sesc Belenzinho, São Paulo (SP), 2013. Sandro Miano

Quando mudamos o ponto de vista sobre uma dança, é como se ajustássemos todo o nosso corpo para receber os estímulos visuais e, consequentemente, podemos perceber os movimentos da dança de formas inusitadas, reparando em detalhes que normalmente não notaríamos. Temos também maior chance de sermos capturados por sensações que, contempladas pelo ponto de vista convencional, não iriam despertar nossa atenção. Imagine, por exemplo, como se torna diferente um salto visto de baixo para cima: em vez de vermos o corpo do bailarino subir, em uma perspectiva horizontal, teremos a sensação de diminuição do corpo do dançarino em um efeito visual de afastamento.

Orientações

O título da obra de Morena Nascimento e Andreia Yonashiro, Estudos para claraboia, revela como a dança realiza suas pesquisas ao lidar com os procedimentos desse objeto de conhecimento. Para a realização desse espetáculo, os artistas tiveram de ajustar suas formas de expressão a um contexto específico, utilizar os elementos da linguagem e realizar uma série de ensaios com improvisações e coreografias, para, nos processos de criação, conseguirem identificar a melhor forma de levar a proposta ao público. Além do estudo prático, o suporte de embasamento teórico é fundamental na profissão de dançarinos. A resposta para a pergunta da página é pessoal.

Para aprofundar

Procure ler o livro Breve cartografia de uma dança de desterro, de Talita Vinagre. São Paulo: Baleia Livros, 2021.

Detalhe de Estudos para claraboia, de Morena Nascimento e Andreia Yonashiro. Sesc Belenzinho, São Paulo (SP), 2013.

Na imagem acima, podemos notar o efeito causado por esse ponto de vista inusitado, que promove diferentes sensações no público.

• Como você dançaria se estivesse se apresentando para uma plateia abaixo do chão?

Existem inúmeras obras feitas para lugares específicos que poderiam ilustrar como essas abordagens são pensadas pelos artistas. Como escolher as melhores? Talita Vinagre, artista-educadora na área de Dança e Reeducação do Movimento, foi quem iniciou o processo de pesquisa para apresentar aqui as obras Plongée: dança nas bibliotecas do Brasil e Estudos para claraboia, ambos exemplos de site specific feitos no Brasil.

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Sandro Miano

Preparação

Vamos, novamente, realizar a leitura de imagem, pois essa é uma prática eficiente para estimular a imaginação dos estudantes e garantir espaço de fala e escuta a diferentes pontos de vista.

Orientações

Oriente-os para que observem e reflitam sobre os detalhes de cada uma das imagens. No cartaz, eles podem notar o enquadramento central das duas mulheres e os reflexos nos vidros. Na fotografia do jardim, eles podem citar os gestos e as formas do corpo das pessoas em relação às esculturas expostas nesse espaço. Qual terá sido o estado desses indivíduos no momento das fotos?

O objetivo é observar com quais aspectos cada estudante se identifica e quais não dizem respeito a seu universo. Procure estimular a turma a imaginar como utilizariam o método site specific na escola. Na prática apresentada a seguir, eles poderão testar suas ideias.

Por que não dançar aqui?

Você já realizou a experiência de dançar livremente, fazendo qualquer movimento que lhe viesse à mente, sem se preocupar se está sendo julgado pelos outros? Pode ser um exercício bastante agradável.

Outro exemplo de site specific aconteceu com um grupo de 15 pessoas que se inscreveu em um projeto para experimentar dançar sem se preocupar com nada além de estar engajado nas experimentações dos movimentos. Why not here? A state of mind, a place in mind (traduzido como “Por que não aqui? Um estado de mente, um lugar em mente’’) foi o nome da oficina de movimento que aconteceu na Galeria Ilham, na Malásia, um país do continente asiático. O convite foi feito a pessoas da comunidade local que se interessavam em experimentar dançar a partir de proposições que surgiriam daquele espaço específico. Na ocasião, a galeria acolhia a exposição Bayangnya Itu Timbul Tenggelam, que significa “A sombra sobe e desce”.

A proposta dos organizadores e produtores do evento foi investigar a dança a partir da Arquitetura, das esculturas e das obras expostas. O grupo foi orientado a ler o local por novos pontos de vista e percebê-lo de formas pessoais, como se o espaço ganhasse vida e atuasse como um professor de dança. Assim, os espaços vazios, o chão e o teto de cada sala, as escadas, os corredores, o pátio e as esculturas funcionaram como estímulos para os participantes se movimentarem, conectando suas impressões sobre o espaço com suas ações e expressões corporais.

O que as obras ali expostas comunicavam para cada um deles? Por meio de uma série de práticas de movimento e exercícios que ajudavam as pessoas a se relacionar entre si, elas puderam também se relacionar com o espaço da exposição.

Site specific Por que não aqui? Um estado de mente, um lugar em mente, na Galeria Ilham. Kuala Lumpur, Malásia, 2020..

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Galeria ILHAM. Kuala Lumpur, Malásia Imagem de divulgação do site specific Por que não aqui? Um estado de mente um lugar em mente realizado na Galeria ILHAM. Kuala Lumpur, Malásia, 2020. Galeria ILHAM. Kuala Lumpur, Malásia

Durante os encontros para produzir essa performance, discussões sobre como os participantes estavam pensando e sentindo o caminho de construção de suas danças foram acontecendo. Dessa forma, eles puderam contar com a colaboração uns dos outros e tornar o ambiente seguro para tais explorações.

Nessa proposta artística, não se buscava uma resposta única para as perguntas feitas no início do processo, tampouco atingir determinado padrão de movimento. O objetivo era buscar contrastar o poder de permanência da arte visual ali exposta com o estado transitório da performance ao vivo, que aconteceu como um jogo criativo no qual as pessoas puderam se envolver com o ambiente de forma diferenciada.

Uma dança para um espaço específico

Você já criou danças para o registro em plano fixo e com a câmera em movimento. Além dos próprios vídeos, recupere anotações, desenhos ou fotos do percurso da criação até aqui. Agora, vamos elencar os momentos mais interessantes das descobertas de cada grupo para escolher um lugar específico e fazer mais uma etapa de dança. O desafio será relacionar a movimentação a um lugar ou objeto determinado. Parte da prática será feita individualmente e parte será desenvolvida em grupo.

1 Sozinho, pense em um lugar na escola ou em sua comunidade. Um lugar familiar a todos ou, ao menos, bem significativo para as questões que fazem parte dos seus temas de interesse.

2 Escolha movimentos que dialoguem com as características do lugar escolhido. O espaço pode já existir em ambiente aberto ou fechado; por exemplo, pode ser utilizada uma escada de alvenaria construída em local descoberto ou as cadeiras da sala de aula. Você também pode criar um espaço na escola ou em casa, de acordo com seus interesses. O importante é que sua criação seja específica para as características dele.

3 Experimente esse espaço que você escolheu ou criou para explorar alguns movimentos. Quais os movimentos possíveis de serem feitos em um espaço pequeno? Quais movimentos exploram bem um grande espaço? Cada espaço irá influenciar também o ritmo de sua dança. Observe se o melhor é fazer movimentos rápidos ou lentos.

4 Considerando as características do espaço, por exemplo, se ele é redondo, estreito, largo, alto, baixo, se apresenta cantos, quinas, observe se é possível encaixar alguma parte de seu corpo nele ou ainda se moldar com todo o corpo para ocupar tal espaço, tomando cuidado para não ficar preso ou se machucar. A estrutura oferece sustentação para você experimentar, gradualmente, se apoiar ou se pendurar? Quais partes do corpo são mais utilizadas na movimentação nesse espaço específico?

5 Verifique quem da turma escolheu espaços semelhantes ao seu e explorem juntos o local. Como você já sabe a diferença entre manter a câmera fixa e dialogar com ela em movimento, escolha a melhor forma de registrar esse experimento e assistam uns aos outros. Compartilhe com a turma os resultados e as descobertas dessa etapa.

Como foi essa experiência? Você considera que as características do espaço foram bem exploradas? Você teve vontade de mudar de lugar em algum momento? Alguma outra dança da turma o inspirou, mostrou novas possibilidades de espaço para dançar? Se você tivesse de apresentar a dança nesse lugar específico que escolheu ou criou para um público maior, de onde você imagina que o público assistiria? Registre os aspectos mais relevantes desta etapa, sabendo que a criação de espaços pode originar novos pontos de vista para a dança.

Preparação

Esta prática iniciará de forma individual e, depois, poderá ser feita pelas duplas formadas nas práticas anteriores ou com novos agrupamentos a partir das reflexões sobre site specific.

Orientações

1. A primeira escolha deve ser pessoal, com cada estudante investigando um lugar representativo para si. Se o local imaginado não for na escola, não tem problema. Basta encontrar no espaço escolar um lugar que efetivamente o faça se lembrar do local imaginado.

2. Quais movimentos combinam com esse lugar? Movimentos expansivos ou intimistas? Enérgicos ou suaves? Ritmados em uma cadência constante ou entrecortados?

3. Peça aos estudantes que experimentem se mover no local que pensaram, adequando o que for necessário. É importante reforçar que um projeto nasce no âmbito mental e que ele não só pode, como deve, ter ajustes para se tornar real. O espaço mostrará as possibilidades e os limites que devem ser respeitados.

4. Nessa etapa, após exper imentar as possíveis formas de usar o espaço, peça aos estudantes que separem os movimentos em partes, repetindo-os várias vezes até se sentirem familiarizados.

5. O agrupamento pode ser feito a partir das afinidades com os locais para se trabalhar. Nesse momento, proponha um registro de acordo com o que for mais acessível para a realidade da turma.

Ao vivenciar processos de criação em dança, experimentando seus elementos e procedimentos, e ao compartilhar as experiências nessa linguagem da Arte são desenvolvidas as habilidades EF69AR10, EF69AR11, EF69AR12 e EF69AR15.

A reflexão deve ser realizada logo após a prática. Reserve em torno de três minutos para os grupos conversarem entre si e depois promova uma roda com toda a turma. Procure finalizar pedindo a cada um que se manifeste sobre seus próprios processos, suas interpretações sobre o tema com enfoque nos processos de criações artísticas e sua forma de observar e fazer parte do universo artístico como possível protagonista e criador. No momento da troca de ideias, atente para que não haja comentários preconceituosos de nenhuma natureza.

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Foco na BNCC
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Preparação

Escreva no meio da lousa a palavra “luz” e pergunte aos estudantes quais referências eles têm do seu significado pragmático e simbólico. Conforme eles forem falando, vá escrevendo palavras-chave em volta de “luz”.

Orientações

No Brasil, a maior parte da energia elétrica consumida pela população é proveniente das usinas hidrelétricas. Observando o abastecimento de água que chega até a escola e as instalações elétricas, promova uma reflexão sobre as fontes de energia e os caminhos dos fios e condutores que não estão visíveis (dos interruptores da sala até a luz no teto). Fale sobre a sensação instantânea causada pela velocidade da luz. Esses são fatores de tempo e espaço trabalhados nos movimentos da dança. Relacione-os com os sistemas corpóreos que também geram energia e nos permitem movimentos. Caso queira ampliar, faça uma breve pesquisa na internet sobre o tema “ritmo circadiano”, que relaciona nosso ritmo biológico à luz externa, entre outros fatores. Há um vídeo interessante disponível em: https:// youtu.be/yxC9tA44axE. E também um artigo, disponível em: https://www. scielo.br/j/jbpneu/a/wq7bRVdv6yPw j7GQg9gptxM/?format=pdf&lang=pt (acessos em: 24 maio 2022).

Foco na BNCC

Ao conhecer diferentes formas de expressão em dança, ao analisar processos de criação para construção de repertório, ao identificar os elementos da composição cênica e ao perceber a presença da tecnologia em produções de arte são trabalhadas as habilidades EF69AR09, EF69AR12, EF69AR14 e EF69AR35

Dança e luz

Imagine uma dança na qual as sombras têm cor, a paisagem é pintada com luz e as leis da natureza são transformadas em uma brilhante realidade. Você gostaria de participar dela? O que tantas cores poderiam expressar?

A companhia de dança italiana eVolution dance theater veio ao Brasil e apresentou o espetáculo Night Garden (Jardim Noturno) nesses moldes, convidando o público a viajar pelas cores pintadas pelas luzes.

Bate-papo com o professor

Em casa, faça um breve exercício de dosar a energia conforme a descrição a seguir. Caso julgue apropriado, apresente-o para os estudantes. Procure se movimentar repetindo uma mesma ação de forma convicta, entusiasmada ou extrovertida, atuando como um protagonista que chama a atenção para si. Depois, faça movimentos semelhantes co-

locando neles uma energia diferente, mais discreta e menos expansiva, como a dos coadjuvantes nas filmagens. Foi possível sentir a diferença de um estado para outro? Como você poderia ajustar essa orientação para proporcionar aos estudantes uma vivência relacionada à dança e à energia sutil que todos emanamos?

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Espetáculo Night Garden. Grande Teatro do Sesc Palladium, Belo Horizonte (MG), 2017. Espetáculo Night Garden. Grande Teatro do Sesc Palladium, Belo Horizonte (MG), 2017. Ivan Sansoni Ivan Sansoni

O diretor e coreógrafo estadunidense Anthony Heinl, que em sua formação buscou conhecimento em ciências como Química e Tecnologia, desenvolveu sua curiosidade ao experimentar novos materiais e a combinação dos elementos que resultam no palco em um efeito espetacular. A união de vários recursos tecnológicos ampliou o movimento dançante no palco com o uso de luzes e efeitos especiais ao vivo.

O espetáculo Night Garden leva a plateia a um universo mágico que desvenda o que acontece sob o luar em um jardim, onde criaturas bioluminescentes brincam em um mundo novo, com muitas cores, sombras, gerando paisagens pintadas com luz.

Assim, o diretor apresenta um mundo de visualidade surrealista ao propiciar momentos em que os dançarinos, numa combinação entre os elementos cênicos e soluções tecnológicas, geram diálogos singulares com o público. Esse diálogo está embasado na união de ciência, arte e poesia, ampliando o vocabulário artístico que mescla dança e teatro a outras formas de arte, como acrobacia e ilusionismo, acompanhadas pelo projeto de iluminação.

Para aprofundar

O universo dos seres bioluminescentes pode ser intrigante e encantador ao mesmo tempo. Peça aos estudantes que busquem mais informações sobre esses seres, além de exemplos de lugares no Brasil e no mundo em que estão presentes.

Foco nos TCTs

Este conteúdo trabalha o Tema Contemporâneo Transversal Ciência e Tecnologia ao integrar a arte com o elemento luz, traçando um paralelo com o fenômeno da bioluminescência na natureza.

Bioluminescente: que produz luz. Alguns organismos vivos, como vagalumes e algumas águas-vivas, possuem a capacidade de emitir luminosidade por meio de reações bioquímicas.

Interdisciplinaridade

O fenômeno da bioluminescência pode ser estudado em parceria com o professor de Ciências. Esse fenômeno tende a causar nas pessoas a sensação de encantamento, o mesmo tipo de estado de abstração da realidade que também pode ser gerado pelas manifestações artísticas. Incentive pesquisas sobre a ocorrência desse fenômeno em alguns seres que voam, como os vagalumes, e em outros que vivem em alguns mares, como ocorre nos estados do Rio Grande do Sul (Imbé e Tramandaí), Paraná (Ilha do Mel) e São Paulo (Ilha do Cardoso e praia do Embaré), entre outros.

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Espetáculo Night Garden Grande Teatro do Sesc Palladium, Belo Horizonte (MG), 2017. Ivan Sansoni
Andre Dib/Pulsar
O fenômeno da bioluminescência em um cupinzeiro no Parque Nacional das Emas ao anoitecer. Mineiros (GO), 2021.
Imagens

Preparação

Os LEDs são emissores de luz. As lâmpadas de LED são bivolts e funcionam tanto em instalações elétricas de 110v quanto de 220v. Elas são utilizadas em exposições de obras de arte, como pode ser notado em galerias e museus, porque não emitem luz ultravioleta, apresentando a melhor opção para aplicações em que esse tipo de radiação é indesejado. As lâmpadas de LED também não emitem radiação infravermelha, fazendo, por isso, com que o feixe luminoso seja frio. Resistência a impactos e vibrações: como as lâmpadas de LED utilizam tecnologia de estado sólido, ou seja, não apresentam filamentos nem vidro, elas são mais robustas e menos frágeis que as incandescentes.

Orientações

Observe como os artistas da dança utilizaram o LED para iluminar o cenários e os figurinos.

Incentive uma pesquisa sobre o assunto para que os estudantes se aprofundem nos métodos de produção e no suporte tecnológico utilizado por seus artistas preferidos.

Para aprofundar

Sobre lâmpadas e sistema de iluminação, veja o documento elaborado por Lucínio Preza de Araújo, disponível em: https://hosting.iar. unicamp.br/lab/luz/ld/L%E2mpadas/ tipos_e_caracteristicas_de_lampadas. pdf (acesso em: 24 maio 2022).

O LED na dança

O LED é um dispositivo que se torna capaz de emitir luz própria e visível quando energizado. Seu nome vem da sigla em inglês para light-emitting diode, que significa “diodo emissor de luz”. Ele pode ser encontrado em pequenos produtos de microeletrônica ou, em tamanhos maiores, na iluminação pública. Sabe os números que vemos no painel de relógios digitais? Eles são de LED. Os antigos televisores de tubo apresentavam as imagens em uma tela arredondada. Hoje, cederam lugar aos televisores flat, ou seja, com tela plana de LCD ou LED. Com o avanço da tecnologia, os aparelhos modernos passaram a ter, atrás da tela de cristal líquido, um painel de diodos emissores de luz.

Assim, podemos dizer que LEDs são pequenas lâmpadas com cores variadas que, entre outras funcionalidades, integram-se com facilidade a circuitos elétricos.

Considerando que essas luzes podem ter formato pequeno e portátil, pulseiras de LED funcionam como um divertido brinquedo na composição de danças no escuro. Existem tubos parecidos com canudos finos e preenchidos por LED que podem ser ativados pelo movimento. Se tiver a oportunidade, experimente colocar nas roupas, ao longo do corpo, e procure dançar em um ambiente escuro com os LEDs ativados.

vladee/Shutterstock.com

Dançarinos

Utilize fita adesiva transparente para fixar os tubinhos no corpo, principalmente perto das articulações. Lanternas ou outros objetos que emitem luz podem ser uma opção para obter um efeito similar. Ao dançar com objetos diferentes, o movimento também se modificará. Experimente!

Atividade complementar

Mostre aos estudantes as danças cujos desenhos coreográficos são feitos com luzes de LED nos figurinos dos dançarinos. Existem muitos shows que trazem esse recurso à cena. Um exemplo de dança que imita o cantor Michael Jackson está disponível em: https://youtu.be/y9Yp2EemGqg, e de bailarinas acompanhadas por instrumentos, como harpa, violino ou violoncelo, está disponível em: https://youtu.be/ L2pqdHEa018 (acessos em: 4 jul. 2022).

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com figurinos pretos de LED durante show Ucrânia, 2016. Lâmpadas de LED de formato tubular em várias cores, 2012.
Alhovik/Shutterstock.com

Iluminando temas antes apagados: a valorização do corpo negro na dança

O coreógrafo e bailarino Ismael Ivo (1955-2021) começou a dançar em São Paulo e na Bahia até ganhar projeção internacional por meio do encontro com o coreógrafo estadunidense Alvin Ailey (1931-1989). O fato de a companhia de Alvin Ailey ser formada por dançarinos negros iluminava questões raciais importantes de serem levadas à cena.

Ativista e engajado nas questões culturais e sociais que envolvem a representatividade da cultura afrodiaspórica, Ismael Ivo foi convidado por Alvin Ailey a viajar para Nova York, em 1983. Lá ele pôde aprofundar sua pesquisa como dançarino e coreógrafo negro, afirmando suas raízes e identidade pela arte do movimento. Um ano depois, Ismael, junto com Karl Regensburger, fundou em Viena um importante festival internacional de dança contemporânea e performance: o ImPulsTanz.

Preparação

Nestas páginas, são mostrados artistas que levaram à cena questões que envolvem a temática racial, partindo do exemplo de Ismael Ivo e seu encontro com Alvin Ailey. No lugar de fala de quem sempre precisou lidar com problemas do racismo estrutural nas sociedades, esses dois dançarinos negros buscaram ressignificar a história por meio da arte, levando ao público questões que não devem ser silenciadas.

Orientações

Levante as origens das danças e manifestações tradicionais da sua região. Quais são suas matrizes e como elas se relacionam com a temática racial contemporânea? Promova uma discussão e, se possível, uma pesquisa sobre os ritmos originários dos povos africanos e como o encontro com outras culturas forma nossa identidade nacional.

Bate-papo com o professor

Para ter mais referências sobre dançarinos negros, procure ouvir os episódios #8, com o bailarino Milton Kennedy, e #9, com a dançarina Paula Salles, do podcast Ladeira a Baush. Em conversas descontraídas, eles falam sobre espiritualidade, gesto e tradição na vida e na dança.

• E#8 – Dança e negritude – Milton Kennedy

• E#9 – Relações humanas – Paula Salles

Procure no seu streaming preferido ou no site do programa Ladeira a Baush esses e outros bate-papos sobre a dança na atualidade (disponível em: https://ladeiraabauschpodcastso bredanca.wordpress.com/episodes/; acesso em: 15 maio 2022).

Atividade complementar

O documentário Ismael vivo, feito pela TV Cultura, revela a trajetória desse artista na dança e mostra que ele via a arte como um documento, além de retratar sua atuação artística, seu lado político e seu poder de inspirar pessoas. A produção está disponível em: https://youtu.be/ou9Hlk4oJMM (acesso em: 6 jul. 2022).

Foco nos TCTs

Este conteúdo trabalha o Tema Contemporâneo Transversal Educação em Direitos Humanos ao discutir o racismo estrutural no âmbito da dança e apresentar o trabalho de artistas negros do Brasil e do mundo.

Foco na BNCC

Ao conhecer diferentes formas de expressão em dança e valorizar o trabalho de artistas nacionais e internacionais é mobilizada a habilidade EF69AR09

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Outdoor de divulgação do Festival ImPulsTanz. Viena, Áustria, 2012. Alexander Klein/AFP Photo Ismael Ivo encenando Apolo e Jacinto, ópera de Mozart. Berlim, Alemanha, 2006. Axel Schmidt/DDP/AFP Photo

Orientações

Entre as diversas possibilidades de atuação que a profissão de dançarino oferece, a função de curador é uma delas.

Destaque aos estudantes que o objetivo de Ismael como curador do Festival ImPulsTanz, realizado em 2012, em Viena, na Áustria, era a de promover o intercâmbio de conhecimento entre os profissionais da área. Na dança, é comum que artistas e companhias desenvolvam procedimentos e técnicas próprios para explorar possibilidades corporais e lapidar o movimento com a finalidade de passar a mensagem das obras.

Buscando encorajar as pessoas a não terem medo de se expressar pelo corpo em movimento, Ismael foi um profissional marcante na dança do Brasil e do mundo. A companhia Balé da Cidade de São Paulo formou mais do que dançarinos, pois educou indivíduos e também contribuiu para a sociedade, sendo uma forte referência quando o assunto é dança no Brasil.

Ao pensar previamente na programação do Festival e ao promover o encontro entre milhares de dançarinos, coreógrafos e artistas do mundo todo, Ismael despontou também como curador de dança, proporcionando trocas e parcerias por meio de diferentes técnicas, estilos e pensamentos, entre as pessoas que se dedicam à linguagem da dança.

No Brasil, Ismael foi também diretor do Balé da Cidade de São Paulo e atuou de forma contundente na aproximação de jovens da periferia ao universo da dança acadêmica. Para além da cena artística, seguiu como militante da luta contra a discriminação racial e a favor da valorização da cultura negra.

Ismael Ivo foi vítima de covid-19 e faleceu em 2021, aos 66 anos, mas deixou um legado que contribui para que a América Latina se tornasse um local potente na atuação constante pela renovação da linguagem do corpo na sociedade.

De tempos em tempos, o Balé da Cidade de São Paulo abre inscrições para a seleção de novos bailarinos. Assim como nos testes de habilidades do curso superior de Dança da Unicamp, apresentado anteriormente, os candidatos que pretendem ingressar na companhia precisam ser avaliados por meio de aula técnica de dança clássica, trechos de coreografias do repertório do balé e práticas de improvisação.

Bate-papo com o professor

Se for possível, considerando a realidade e a localização da escola, você pode organizar uma visita educativa com os estudantes ao Theatro Municipal de São Paulo. Para ter mais informações sobre essa possibilidade de passeio, acesse o site: https://theatromunicipal.org.br/pt-br/visita-educativa (acesso em: 6 jul. 2022).

Para saber mais

Para ter mais informações sobre o balé e as outras atividades realizadas no Theatro Municipal de São Paulo, como corais, orquestras e quarteto de cordas, visite o site: https:// theatromunicipal.org.br/pt-br/ (acesso em: 6 jul. 2022).

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Ismael Ivo e Yui Kawaguchi dançando Apolo e Jacinto Berlim, Alemanha, 2006.
picture-alliance/ dpa/Getty Images
Bailarinos em apresentação do Balé da Cidade de São Paulo, no Theatro Municipal. São Paulo (SP), 2017. Marcell Roncon/Futura Press

Desafio revelado

O challenge que circula em redes sociais é um tipo de desafio, em que as pessoas participam produzindo vídeos ou fotos de alguma situação específica. Esta tem sido uma prática feita há bastante tempo por meio do uso de hashtag nas mídias sociais. Quando a companhia de Alvin Ailey lançou um challenge de fotos convidando o público em geral a reproduzir a imagem do espetáculo Revelações, ela também levava as pessoas a refletir sobre o tema da obra.

Veja o exemplo e reflita sobre o que a expressão “revelação” significa para você. A seguir, reúna os colegas para recriar a imagem.

Orientações

O espetáculo Revelações, do coreógrafo Alvin Ailey, que abriu caminhos para o coreógrafo brasileiro Ismael Ivo, tornou-se um clássico do repertório de sua companhia por homenagear a herança africana. Inspirada nas tradições, a obra leva ao palco tanto as passagens tristes da história quanto as maiores alegrias.

Como é a relação dos estudantes com as interfaces digitais? Elas os aproximam de pessoas que admiram? Eles costumam utilizar plataformas ou aplicativos para assistir a encontros on-line ou participar deles? Algum desses encontros favoreceram as investigações e os contatos com a dança ou outra arte? Os processos criativos foram estimulados? Pergunte como os estudantes observaram artistas e público em relação às críticas. Eles já passaram por alguma situação gerada pelas mídias sociais que os incentivou ou desmotivou?

Abra espaço para que os estudantes se expressem e reflitam sobre questões pertinentes à contemporaneidade.

Aula de dança oferecida pela companhia de Alvin Ailey no centro Hope Boykin. Na foto, os estudantes tentam reproduzir o famoso movimento de Revelações Flórida, Estados Unidos, 2016.

As tecnologias relacionadas à comunicação, no caso, relacionadas especificamente às redes sociais, possibilitaram uma aproximação maior das pessoas com os espetáculos e até mesmo com os dançarinos, atores, diretores e equipes técnicas. Por meio de plataformas e aplicativos que oferecem serviços de conferência remota, surgiram espaços para se discutir sobre as artes e seus processos criativos. Os artistas também têm maior contato com o público e podem receber uma resposta mais imediata e direta. Isto abre precedentes para que recebam críticas construtivas e também reações negativas ao seu trabalho, e, por isso, precisem lidar com ambos os lados.

Foco nos TCTs

Este conteúdo trabalha o Tema Contemporâneo Transversal Direitos da Criança e do Adolescente ao apoiar o contato maior das pessoas com a arte e a cultura, especialmente as crianças e os adolescentes.

Foco na BNCC

Ao reconhecer a presença da tecnologia em práticas de arte é trabalhada a habilidade EF69AR35

Além disso, cumpre-se o objetivo de experimentar os elementos da dança em suas possibilidades de fruição e expressão, investigando os saberes do corpo e o pensamento crítico.

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Bailarinos da companhia de Alvin Ailey no espetáculo Revelações. Califórnia, Estados Unidos, 2013. Ringo Chiu/ ZUMA Press, Inc. Alamy Fotoarena

Preparação

A imagem do espetáculo Revelações, vista na página anterior, tem características específicas, entre elas uma forma simétrica em que a posição do tronco, dos braços e das pernas marca o coletivo no qual o grupo se encontra, assim como a imagem desta página. Outro aspecto explorado nessa prática é o apoio que os colegas e parceiros oferecem uns aos outros e como isso pode impulsionar a vida de alguém.

Aqui, procura-se trazer a corporalidade para termos utilizados na indústria do entretenimento, que promovem e impulsionam, por meio de algoritmos (de forma impessoal), os influenciadores digitais, sem atingir, de fato, o teor humano e artístico que eles poderiam oferecer para o grande público.

Ajude os estudantes a rememorar o que foi mais significativo para eles nos processos de descoberta com a dança propostos nesta Trilha, para que utilizem e expandam esse conhecimento nessa prática. Os recursos tecnológicos podem ser explorados à medida que estiverem disponíveis para a escola. Independentemente do uso de equipamentos externos, é importante que os estudantes estejam conectados com suas percepções corporais e que pratiquem a diversidade do olhar para os processos criativos.

Orientações

1. Oriente os grupos na composição do agrupamento inicial, que pode ser inspirado em uma foto pesquisada por eles.

2. A escolha para iniciar a movimentação pode partir do pulso comum do ritmo de uma música ou da respiração. Os integrantes podem seguir se movendo juntos até terminar, ou podem iniciar juntos e manter o ritmo, mas movendo-se em direções diferentes ou em ritmos e direções distintas.

3. A movimentação ajudará a revelar momentos de apoios e impulsos entre os integrantes do grupo.

4. Para finalizar, é importante voltar para a forma do começo, visto que os integrantes podem ter mudado de lugar no agrupamento. Pausar por instantes antes de sair da forma ajuda a decantar a experiência vivida. Ao final, reflitam juntos sobre o que foi revelado nessa prática. Atente-se para que não haja comentários preconceituosos, de modo que todas as opiniões sejam respeitadas.

Registros de um desafio: formar, apoiar e impulsionar

Como seria a experiência de “dançar uma foto”? Vamos usar como exemplo a imagem do espetáculo Revelações para orientar esta prática, mas você e seu grupo podem escolher outra imagem para servir de inspiração. Lembrem-se de usar as informações e as experiências anteriores para enriquecer esta atividade, considerando, inclusive, o uso de diferentes possibilidades de registro, além dos recursos audiovisuais. Decidindo por manter a câmera fixa, qual é o melhor ângulo para enquadrar a dança? Caso ela seja movimentada, será por uma pessoa que não está dançando ou por integrantes da dança? Pratiquem os combinados sem música para identificar os pontos problemáticos e procurar solucioná-los. No final, se houver consenso, acrescentem uma música.

1 Em grupos de seis integrantes, componham uma forma inicial de agrupamento, inspirados na imagem dos jovens da página anterior, ou em outra referência de dança comum aos integrantes do seu grupo. Tirem a foto inicial.

2 Pela foto inicial, o grupo pode definir se todos irão se mover juntos a partir de um comando combinado ou se irão trabalhar com formações em solos, duetos e trios, nos quais cada um sairá da forma inicial em um tempo diferente.

3 Ao sair da formação inicial para explorar os movimentos no espaço, procurem mostrar corporalmente gestos de apoio e situações que tragam, para você, o sentido de “revelação”. Faça o mesmo com a ação de pegar impulso ou impulsionar alguém.

4 Ao final, retornem à formação inicial, procurando sustentar a pausa por alguns instantes. Conversem sobre como foi a experiência de improvisar a partir de uma forma e da coordenada de apoios e impulsos. Você utilizou alguma das práticas anteriores? Como isso aconteceu, de modo predeterminado ou como improviso? Registre sempre!

Foco na BNCC

Ao reconhecer os fatores do movimento, ao analisar processos de criação em dança e ao discutir as experiências vivenciadas em práticas artísticas são trabalhadas as habilidades EF69AR11, EF69AR12 e EF69AR15.

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Master1305/Shutterstock.com
Jovens dançando em forma simétrica de grupo. Ucrânia, 2016.

Dança de favela no cenário iluminado

Não se sabe ao certo como o Passinho surgiu, mas, em 2001, foi organizada no Sesc Tijuca (RJ) a primeira Batalha do Passinho legitimando a movimentação característica como um estilo de dança. Na cerimônia de abertura das Olimpíadas, em 5 de agosto de 2016, uma polêmica apresentação levantou a questão: as belas apresentações produzidas para eventos internacionais disfarçam ou reforçam estereótipos relativos à realidade social e cultural brasileira? O cenário iluminado e colorido das caixas empilhadas indicava o lugar onde o Passinho nasceu, as favelas do Rio de Janeiro, mas disfarçavam o fato de terem ocorrido muitas desapropriações por causa da chegada das Olimpíadas.

De fato, o Passinho surgiu na obscuridade, foi estigmatizado como foram em outros tempos as manifestações afro diaspóricas e chegou a alcançar fama internacional de forma rápida. Ter participado da abertura das Olimpíadas com a música “Rap da felicidade” representou o fortalecimento de mais um estilo de dança que compõe a identidade cultural brasileira.

Você sabe como se faz essa dança? O Passinho mistura movimentos de danças da cultura hip-hop com movimentos das danças populares brasileiras. Assim, é possível identificar elementos do break e funk misturados com elementos do samba, do frevo e da capoeira. Os dançarinos, geralmente, interpretam movimentos improvisando conforme a música, e, eventualmente, são realizadas coreografias. O Passinho é caracterizado por sequências de rápidos movimentos com os pés conectados aos rápidos movimentos com a cintura. Diferentemente dos dançarinos clássicos, os dançarinos do Passinho olham bastante para os seus pés como quem segue por essa parte do corpo os próprios movimentos. A do Passinho olham bastante para os seus pés como quem segue por essa parte do corpo os próprios movimentos.

Foco nos TCTs

Este conteúdo trabalha o Tema Contemporâneo Transversal Educação em Direitos Humanos ao defender o direito de todas as pessoas de se expressar por meio de manifestações artísticas e culturais.

Preparação

Insira na lousa palavras-chave para sinalizar o tema da seção. Sugestões: passinho, funk, eventos, cenários, realidades.

Orientações

Inicialmente, peça aos estudantes que observem a imagem da cerimônia de abertura das Olimpíadas Rio 2016 e, então, promova um debate sobre a iluminação nesse evento de grande porte e sobre a montagem do palco com vários níveis diferentes. A seguir, comente as diferenças entre dançar nos bailes das comunidades e participar de um show. Peça a eles também que se inspirem na movimentação rápida dos pés na dança do Passinho, de modo que possam participar de uma atividade em que poderão reproduzir a dança na escola.

Atividade complementar

Assista ao trailer do documentário A batalha do Passinho, de Emílio Domingos, produzido pela Osmose Filmes. Nele, é possível ter uma ideia inicial do contexto no qual esse estilo de dança se estabeleceu. O vídeo está disponível em: https://youtu.be/XC NWK_gErJo (acesso em: 4 jul. 2022).

Ouça também o podcast, uma produção do jornalismo comunitário, que fala sobre ações antirracistas nas favelas do Rio de Janeiro, inspiradas pelo conceito africano sankofa. Disponível em: https://rioonwatch.org.br/?pa ge_id=57426 (acesso em: 4 jul. 2022).

Foco na BNCC

Ao conhecer diferentes formas de representação e encenação em dança e ao analisar processos de criação são desenvolvidas as habilidades

EF69AR09 e EF69AR12

Assim, é possível atingir o objetivo de analisar estratégias e recursos por meio dos quais conceitos, signos e símbolos podem ser explorados em diferentes mídias e aparatos tecnológicos.

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Dança do Passinho na cerimônia de abertura das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro (RJ). Mike Egerton /PA Images/Fotoarena

Preparação

Neste Contraponto, veremos três formatos de dança diferentes nos quais a colombiana Martha Hincapié Charry atuou e levou suas mensagens por meio da dança. Primeiro em um solo, depois em um dueto e, por último, com um grupo maior de pessoas. Para alinhar essa sequência, insira na lousa palavras-chave, sinalizando o tema das aulas. Sugestões: corpo, dança, atuação, configurações.

Orientações

As informações sobre o filme Ama-me, Tema-me, que são apresentadas mais adiante, nas páginas 130 e 131, concentram-se na preocupação da diretora do curta-metragem, que utiliza recursos tecnológicos para animar personagens e falar da solidão que o mundo digital tende a gerar na sociedade. O trabalho de Martha ajudou a concretizar essa argumentação. No entanto, neste momento, vamos nos concentrar em outros temas que mobilizaram os estudos da dançarina.

As imagens desta página são do seu trabalho solo – este nome é utilizado para se referir quando, no palco, há apenas uma pessoa atuando, mas que nem por isso deixou de contar com uma equipe técnica para realizar o trabalho cênico.

A arte tem mecanismos para, por meio de suas linguagens, passar mensagens e posicionamentos sobre diferentes questões. Assim, o tema da Amazônia ganhou espaço cênico por meio do trabalho de Martha, que também tem a Amazônia como sua terra natal. Ela utiliza a tecnologia no cenário para reforçar as questões que traz na memória de seu corpo e que, ao mesmo tempo, dizem respeito à saúde de todos os habitantes do planeta.

Martha também usa projeções para reforçar questões políticas e o fato de a identidade dos povos originários estar diretamente associada ao corpo em harmonia com a natureza e ao local onde nasceram e cresceram. Em virtude dessa cultura imbricada e em contato íntimo com os territórios, os povos originários são os verdadeiros guardiões do planeta. Quando questões econômicas interferem no ecossistema, elas afetam a vida dos povos indígenas e, consequentemente, atingem esferas mais amplas.

Modos tradicionais e contemporâneos de dançar

Contrapor-se a algo é mostrar o contraste entre duas possibilidades. Considerando que esse contraponto pode ser harmonioso ou complementar, vamos conhecer o trabalho da dançarina colombiana Martha Hincapié Charry. Ela atuou em um filme de animação produzido com a técnica de stop-motion chamado Ama-me, Tema-me, que será descrito com mais detalhes na Trilha 3. No filme, é impossível reconhecer a identidade da dançarina. No seu processo criativo, ela “emprestou” seus movimentos no espaço real para serem transformados pela tecnologia no corpo do boneco de massinha animado visto nas telas. Em contrapartida, Martha fez outros projetos de dança nos quais aparece e reafirma sua personalidade de forma pessoal, colocando em cena questões que dizem respeito à sociedade por meio da linguagem da dança. Veja alguns exemplos.

AMAZONÍA 2040

As perguntas que dispararam o processo criativo de sua obra Amazonía 2040 foram as seguintes: Qual será o estado da Floresta Amazônica em 2040? Como as paisagens políticas influenciam nossa relação com a natureza? O que podemos aprender com as culturas ancestrais para pensar nossa relação com o planeta Terra?

Martha desenvolveu a performance solo Amazonía 2040 durante a pandemia, para refletir sobre o presente, o passado e o futuro da Floresta Amazônica e explorar inquietações sobre os conceitos de lar, hábitat e habitantes em tempos de crise climática, ativismo e desaparecimento da biodiversidade. As raízes indígenas quimbaya da coreógrafa colombiana tornam sua narrativa sobre a condição da Amazônia mais procedente.

Interdisciplinaridade

Se possível, convide o professor de Geografia para explicar aos estudantes o que é a Amazônia Legal, esclarecendo por quais países ela se estende. Além disso, peça ao professor de História para ajudar a turma a compreender que outros povos indígenas do território brasileiro lutam em defesa da Amazônia e de sua existência. Proponha que ele também apresente quem são as lideranças indígenas e religiosas da tríplice fronteira Colômbia, Peru e Brasil.

Foco nos TCTs

Este conteúdo trabalha o Tema Contemporâneo Transversal Educação ambiental ao discutir as possibilidades da arte de provocar reflexões e questionamentos a respeito do meio ambiente.

Foco na BNCC

Ao compreender os fatores do movimento como responsáveis pelas ações corporais e ao identificar a presença das tecnologias em práticas de artes são mobilizadas as habilidades EF69AR11 e EF69AR35

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Cartaz de Amazonía 2040, solo da coreógrafa colombiana Martha Hincapié Charry. Berlim, Alemanha, 2020. Martha Hincapié Charry Amazonía 2040, solo da coreógrafa colombiana Martha Hincapié Charry. Berlim, Alemanha, 2020. Martha Hincapié Charry

A tecnologia de uma videoinstalação de 16 metros disposta no palco fornecia informações sobre as condições da região amazônica e sobre algumas de suas tribos indígenas que estão seriamente ameaçadas pela destruição ambiental. Os retratos de povos indígenas, as imagens da floresta tropical, a contextualização de lugares como o Parque Nacional Chiribiquete, na Colômbia, e o uso de contação de histórias pessoais são as camadas, as linhas que tecem a trama da performance da artista.

Amazonía 2040 é uma celebração da região e suas comunidades, tanto as contatadas quanto as que vivem isoladas. Em cena, inúmeras imagens confrontam o espectador com a deterioração do hábitat natural, sagrado para os povos nativos na região. A obra conta ainda com projeções de vídeo que mostram extensas áreas cobertas por plástico e lixo, em contraste com um grande panorama de mata da região, criando um efeito perturbador.

OneTableTwoChairs (Uma mesa. Duas cadeiras)

Martha também desenvolveu o trabalho OneTableTwoChairs, um dueto com o dançarino refugiado sírio-palestino Fadi Wacked em Berlim e Potsdam, na Alemanha. A dupla abordou questões relativas às cidades que fazem parte do Cinturão e Rota, que são como reservas de histórias ancestrais. Ao mesmo tempo que a modernização global e a cultura popular trazem renovação e transformação para essas cidades, ameaçam enfraquecer as sabedorias milenares. Por isso, em 2017, os mestres artesãos e jovens artistas das cidades integrantes do Cinturão e da Rota se reuniram em Hong Kong (China) para realizar intercâmbios por meio de seus trabalhos criativos, incluindo teatro e dança.

Martha e Fadi realizaram a performance em um teatro revestido de espelhos nos quatro lados, criando imagens repetidas para refletir sobre valores tradicionais e contemporâneos. O teatro acolheu a performance da dupla e outras demonstrações feitas com estudantes do Zuni Icosaedro, um programa educacional da Companhia Internacional de Teatro Experimental de Hong Kong.

Orientações

O ponto central abordado por Martha, tanto neste dueto quanto em trabalhos com grupos maiores, é o questionamento sobre como a globalização promove um fortalecimento econômico ao mesmo tempo que ameaça enfraquecer as culturas locais.

Bate-papo com o professor

Converse com os estudantes sobre quais temas atuais seriam pertinentes para ser representados em ações artísticas. Procure escolher um deles para pautar rodas de conversa em formas de assembleia. Após discutir e argumentar em termos conceituais, você pode escolher uma forma de expressão que combine com as questões suscitadas e fazer, por exemplo, uma performance ou uma coreografia curta para ser filmada.

Cinturão e Rota: nome dado a uma estratégia de desenvolvimento adotada pelo governo chinês envolvendo investimentos em países da Europa, Ásia e África. “Cinturão” faz referência às rotas terrestres ou ao Cinturão Econômico da Seda feito por terra; enquanto “Rota” faz referência às rotas marítimas, ou à Rota da Seda Marítima do Século XXI.

Com base nas experiências em seu contexto social e cultural, em suas memórias e em sua interação com as diversas tecnologias de informação e comunicação, Martha formulou perguntas e mobilizou sua curiosidade ao pesquisar modos de representar artisticamente seus processos criativos.

A partir da imagem e das informações desta página, escolha alguns aspectos que podem ativar o pensamento criativo dos estudantes, fortalecendo a capacidade de fazer perguntas, avaliar respostas, argumentar sobre seu ponto de vista e interagir entre eles e em grupos maiores. Reforce o potencial do uso de tecnologias para fins artísticos. Esses estímulos ajudam os estudantes a ampliarem a compreensão de si mesmos, do mundo natural e social e das relações entre pessoas e natureza, ferramenta essencial para a criatividade humana.

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OneTableTwoChairs, dueto de Martha Hincapié Charry e Fadi Wacked no Centro Cultural Hong Kong. China, 2017. Martha Hincapié Charry

Orientações

Dando sequência aos estudos sobre os trabalhos e as ações de Martha, veremos agora uma atuação realizada no mesmo palco do dueto da página anterior, mas, desta vez, com a presença dos estudantes do programa educacional do Zuni Icosaedro, em Hong Kong, na China.

Oriente os estudantes a observar que o reflexo do espelho foi utilizado para retratar, de forma simbólica, a repetição e a ampliação dos problemas gerados pelo estabelecimento de rotas de comércio internacional. Visando apenas ao lucro financeiro, as culturas locais tendem a perder forças no embate entre o tradicional e o contemporâneo.

Chame a atenção para a forma como os objetos cênicos foram utilizados: mesas, cadeiras, espelhos, lanternas e luzes. Com base nesses mesmos elementos, como os estudantes poderiam propor uma ação artística pertinente às questões da sua comunidade?

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Martha Hincapié Charry Martha Hincapié Charry Martha Hincapié Charry
Propostas de Martha Hincapié Charry para os estudantes do programa educacional do Zuni Icosaedro, no Centro Cultural Hong Kong. China, 2017.

Disco music e música eletrônica

Música e dança são práticas artísticas e criativas que caminham juntas desde muito tempo, e, em diversos momentos, formam um binômio no qual é difícil dizer qual linguagem influencia a outra, ou qual é a mais importante para determinada expressão.

A música eletrônica, por exemplo, é comumente associada à dança e chamada de dance music, englobando diversos gêneros musicais. Essa manifestação começou a se tornar popular no fim da década de 1970, com a disco music – uma música extremamente ritmada, influenciada não só pela linguagem do pop mas também pelas manifestações da cultura negra estadunidense representadas pelo rhythm and blues, ou R&B

Orientações

Peça aos estudantes que observem a imagem do livro e promova uma discussão sobre as diferenças entre um show realizado na década de 1970 e um organizado na atualidade. Proponha que observem atentamente os detalhes da foto e comente com eles que muitos dos símbolos utilizados nessa época são, atualmente, reutilizados para marcar pertencimento e identidade – um exemplo disso são cabelos black power dos cantores, entre outros detalhes.

Será interessante você comentar com os estudantes que essas manifestações são fruto da hibridização das linguagens de Música e Dança –assim como muitas outras. Considere propor uma pesquisa sobre outras expressões híbridas entre essas duas linguagens, promovendo uma conversa sobre essa questão.

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The Jackson 5, expoente do R&B, 1971. Michael Ochs Archives/Getty Images No decorrer das décadas, a dance music deu origem a diversos outros gêneros e foi adquirindo cada vez mais a característica rítmica de fortes batidas marcando o tempo da música.

Orientações

Depois de observarem a imagem desta página, pergunte aos estudantes se eles conhecem as manifestações citadas no texto e proponha uma discussão sobre como eles enxergam a interferência da tecnologia nesses ambientes.

Será interessante também que você promova um debate sobre os volumes extremamente altos, característicos dos festivais de música eletrônica, das baladas e de outras festas e eventos. Explique que ouvir música com o volume muito alto pode causar danos à audição, sugerindo, caso considere pertinente, uma pesquisa sobre o tema.

Essa característica é fácil de observar nos festivais de música eletrônica, que são grandes eventos nos quais as pessoas se reúnem para dançar.

Música e dança são partes quase que inseparáveis nesses festivais, e a mistura de dança, batidas rítmicas intensas, volume alto e diversos recursos visuais de luz e projeção fazem com que esses eventos favoreçam experiências sensoriais e imersivas, motivo pelo qual são considerados um ritual contemporâneo, praticados não somente por comunidades urbanas mas também por diversos outros grupos humanos.

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Tomorrowland, festival de música eletrônica. Bélgica, 2019. Ilan Deutsch/Paris Match/Getty Image

A dança telemática

Quando existe uma relação próxima entre a dança e a tecnologia, o processo e o resultado estético podem ser chamados de dança híbrida ou dança tecnológica. Quando a proposta da dança é trabalhar com os recursos utilizados nas telecomunicações, ela passa a ser nomeada dança telemática. A palavra “telemática” foi justamente composta da aproximação dos termos “telecomunicação” e “informática”. Na área de telecomunicações, o antigo sistema de telefonia era feito via cabos e, atualmente, conta com alternativas digitais, percorrendo por satélites e fibras ópticas longas distâncias em um curto intervalo de tempo. A área da informática diz respeito ao que é relativo ao uso de computadores e demais dispositivos de processamento de dados, incluindo os softwares e os sistemas de rede, capazes de transmitir dados em formato de som, texto e imagem.

A dança telemática utiliza os recursos tecnológicos de forma criativa e artística, explorando situações que surgem no presente e que, sem a tecnologia, seriam impossíveis de ser viabilizadas. Um exemplo são as performances que, via satélite ou pela internet, conectam e aproximam em tempo real dançarinos que se encontram em lugares diferentes um do outro. Assim, pela dança telemática, contornam-se as limitações do tempo e do espaço por imagens e pela presença em múltiplas relações: real e virtual.

Preparação

Conforme visto anteriormente, os recursos tecnológicos associados às manifestações artísticas e à indústria do entretenimento podem promover grandes experiências imersivas coletivas. Nesse momento, será abordado o exemplo das pesquisas cujo enfoque principal é o desenvolvimento artístico e a possibilidade de aproximar pessoas.

Orientações

Converse com os estudantes sobre as diferenças entre se relacionar com outras pessoas por aplicativos e de modo presencial.

A partir das perguntas feitas no livro, cujas respostas são pessoais, identifique se há alguma manifestação local ou tendência das artes contemporâneas que despertam o interesse dos estudantes.

A artista Ivani Santana foi a convidada para uma entrevista apresentada na seção Bate-papo com a artista (página 180). A partir de suas colocações, veja como atuar com ações artísticas e tecnológicas na escola e fora dela.

As respostas para as perguntas do livro são:

• Resposta pessoal, referente aos temas de interesse do estudante.

• Resposta pessoal. Avalie se as cores, luzes e sombra, as projeções, o uso de redes digitais, a ação e reação em tempo real e os estados de atenção a partir dos sentidos significam algo em termos de movimento para os estudantes.

• Se você fosse dançar com alguém que está em outro estado do Brasil, que tema escolheria?

• Como essas imagens e a possibilidade de uso da tecnologia poderiam inspirar seus processos criativos em dança?

Foco na BNCC

Ao identificar a presença da tecnologia em práticas de dança é desenvolvida a habilidade EF69AR35.

Além disso, cumpre-se o objetivo de investigar e experimentar as funções comunicativas das linguagens das redes digitais e analógicas empregadas em propostas artísticas.

Foco nos TCTs

Este conteúdo trabalha o Tema Contemporâneo Transversal Ciência e Tecnologia ao explorar as relações de sentido entre real e virtual propiciadas pela dança telemática.

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Interação de artistas em apresentações em Salvador (BA), Brasília (DF) e João Pessoa (PA), que faziam parte do espetáculo Versus, de Ivani Santana, 2005. Ivani Santana

Orientações

Peça aos estudantes que observem que a pesquisa em danças e tecnologia feita por Ivani Santana aconteceu em 2007, muito antes dos principais aplicativos de reuniões on-line (Skype, Zoom, Google Meet, Microsoft Teams, por exemplo) serem conhecidos como são atualmente.

A pesquisa buscava estabelecer uma relação entre pessoas pelo movimento, em tempo real e em espaços distintos. O projeto parece ter acontecido por meio de uma fusão de telas, com a projeção da imagem de uma pessoa se sobrepondo à de outra. Cabe destacar que o Programa de Pós-graduação em Dança da Universidade Federal da Bahia tem um laboratório que utiliza a tecnologia para capturar movimentos de danças brasileiras.

A seção Caminhando pela História fala do sistema de “capturar movimentos”, também conhecido como mocap. Esse recurso surgiu de uma técnica chamada rotoscopia, que envolve desenhar contornos do corpo em cima de fotos para facilitar a animação. A rotoscopia existe desde o começo do século XX e já foi muito usada pelo cinema, principalmente pelos grandes estúdios de animação, como o Walt Disney Animation Studios.

Para saber mais

Assista aos vídeos sobre animação

3-D feitos com a técnica de captura de movimento (mocap) para dança brasileira:

• Lab Mocap PPGDança UFBA −

Dança Samba de Roda/Chula.

Salvador: UFBA, 2017. 1 vídeo (ca. 2 min). Publicado pelo canal Posthuman Corporealities. Dispo nív el em: https://youtu.be/ PXkro0p4bWI. Acesso em: 24 maio 2022.

• Lab Mocap PPGDança UFBA −

Dança Afro-Brasileira Dança Desobediente. Salvador: UFBA, 2017. 1 vídeo (ca. 2 min). Publicado pelo canal Posthuman Corporealities. Disponível em: https://youtu.be/ qwP9lbWcVbY. Acesso em: 24 maio 2022.

Pesquisadores de dança interessados em abordar movimentos que se completam e dialogam a milhares de quilômetros de distância um do outro podem, com a ajuda de redes avançadas de telecomunicações – que permitem conexões com boa qualidade de imagem e som como não tínhamos poucos anos atrás –, realizar práticas de criação e improvisação com bailarinos que não dividem o mesmo espaço físico. Ao se comunicarem em tempo real, é possível criar espetáculos de dança telemática nos quais artistas de países diferentes interagem com seus parceiros virtuais simultaneamente.

o princípio da

ligação

Tecnologia e mudanças na captura de imagens

Muitas mudanças ocorreram em relação à dança e à tecnologia na virada do milênio. Desde o tipo de técnica que, como visto no Ponto de partida, surgiu durante a Pré-História até os dispositivos eletrônicos e digitais que são constantemente atualizados, modificados, desenvolvidos e capacitados de maneira muito rápida.

Antigamente, era trabalhoso conseguir fazer bons registros de movimento. As câmeras utilizadas no cinema eram máquinas robustas que dependiam de um motor para girar os rolos do filme e tirar 24 fotos por segundo. Com a evolução dos smartphones, muitos recursos de filmagem tornaram-se acessíveis e fáceis de usar e levar por aí. Aos poucos, as câmeras foram diminuindo de peso e tamanho até poderem ser transportadas em uma mão apenas, caberem na ponta de um dedo ou dentro de uma caneta.

Sistemas de captura de movimento viabilizaram a inserção do corpo em vídeos, filmes e games. A captura é feita por sensores que emitem uma luz e funcionam como marcadores ativos de alta resolução. Esses sensores ficam fixados bem próximos ao corpo e fornecem ao computador as posições milimétricas do corpo no espaço em tempo real.

Foco na BNCC

Ao refletir sobre produções em artes que integram diferentes linguagens e ao identificar a presença da tecnologia na produção artística são desenvolvidas as habilidades EF69AR03 e EF69AR35

Além disso, este conteúdo abrange o objetivo de refletir sobre o conceito de técnicas e tecnologias relacionado ao movimento e à diversidade de manifestações e registros de movimento.

Foco nos TCTs

Captura de movimento: ou mocap, do termo em inglês motion capture, é o processo de gravação de movimento e sua inserção em um modelo digital.

Este conteúdo trabalha o Tema Contemporâneo Transversal Ciência e Tecnologia ao explorar o recurso de captura de movimento em produções audiovisuais.

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Viagem no tempo
Ivani Santana
Apresentação mostrando telemática: entre nichos de atuação. Le Moi, le Cristal et L’Eau (Eu, Cristal e Água), de Ivani Santana, apresentado no Centre Choregraphique National. Provença, França, 2007.

Os sistemas que utilizam uma grande estrutura para capturar o movimento ainda existem. No entanto, hoje, com aparelhos que têm sensores de movimento conectados a uma câmera de detecção 3-D, é viável capturar movimentos com precisão, utilizando estruturas bem menores.

As tecnologias que proporcionaram tais novidades representam a possibilidade de interface entre as máquinas e as pessoas, além de tornar viável a aproximação entre pessoas, conforme vimos no caso da dança telemática. No entanto, a mesma tecnologia que deveria unir as pessoas acabou causando também o afastamento, uma vez que as interações virtuais têm substituído o contato presencial. É preciso buscar sempre o equilíbrio com o senso crítico ativado.

Orientações

As luzes e os pequenos dispositivos colocados no corpo das pessoas, conforme vemos nas fotos desta página, são fundamentais na composição eletrônica digital do sistema de “capturar movimentos”. O mocap, é um sistema tecnológico de captura digital de movimentos e pode ser utilizado para intervenções artísticas, produções comerciais publicitárias e para entretenimento, como visto nos games, nos shows e nas festas com DJs O processo consiste basicamente em gravar as ações dos atores, esportistas, lutadores e animais para transpor, de maneira digital, os movimentos de um corpo real para um corpo digital, ficando, assim, passível de manipulação.

Isso é realizado marcando pontos de referência, presos em locais estratégicos do corpo humano. Por meio de roupas especiais, tiara e bandana ou presos com fita adesiva em pontos da face, os sensores registram como o corpo movimenta as articulações principais e como expressa certas sutilezas em pequenos gestos. As informações são processadas em computadores que convergem o sinal em ambientes virtuais, possibilitando, com outras ferramentas, criar tudo o que cobrirá a estrutura capturada.

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Gamma-Rapho/Getty Images
Tecnologia de captura de movimento do artista japonês Shota Yamauchi. Tóquio, Japão, 2021.
©20th Century Fox Films/Everett Collection/Easypix Brasil
Tecnologia de captura de movimento utilizada no filme Planeta dos Macacos: a guerra (2017). Nas fotos, o ator Andy Serkis e o personagem Caesar.

Preparação

Escreva na lousa os três conceitos principais desta e da próxima aula: gesto, pesquisa e estado da arte.

Existem muitas formas de realizar pesquisas práticas e teóricas que ajudam a organizar e embasar argumentos. Assim, escute as associações que os estudantes fazem a partir dessas palavras-chave para introduzir o exemplo de fichamento bibliográfico.

Orientações

Ao desenvolver o conteúdo e as perguntas desta página, reflita com os estudantes sobre seus próprios gestos e a relação que eles têm com o contexto histórico atual.

Verifique com os professores de outros componentes, principalmente o de Língua Portuguesa, se a turma já realizou procedimentos de pesquisa e fichamento para outros temas.

Atividade complementar

Para aprofundar o entendimento dos estudantes a respeito do conteúdo desta página e prepará-los para as próximas propostas, organize uma atividade de campo. O objetivo é promover uma investigação de gestos a partir de um recorte específico. Combine com a turma um passeio externo a algum lugar propício ao estudo que desejam realizar. Podem escolher, por exemplo, um parque e analisar os gestos das pessoas que estão se dedicando a atividades de esporte, cultura ou lazer. As possibilidades são bastante amplas, e é possível dirigir a observação a diferentes objetivos de análise. Outro exemplo seria investigar a relação das pessoas com as tecnologias atuais e comparar gerações diferentes. O importante é traçar a estratégia para a coleta de dados (tomar notas, fazer descrições pertinentes) e para a elaboração de um resultado, que pode ser discutido posteriormente em sala de aula.

Investigar o gesto para entender o movimento

O corpo conta a história de seu tempo, e os gestos podem transformar as formas de ser e atuar no mundo. Em contrapartida, todos os indivíduos são um produto do contexto histórico e social de cada época. Desde a Era Industrial até a contemporaneidade, marcada pelo avanço das tecnologias digitais, nossos gestos são, muitas vezes, repetitivos. Nas linhas de produção das fábricas, os movimentos feitos de forma mecânica faziam mal para a saúde dos operários. Será que agora, mesmo não trabalhando em fábricas, estamos agindo diferente?

Pense nos gestos e nas posturas que seu corpo habitualmente adota no dia a dia. Você costuma ficar mais curvado quando usa a televisão ou o computador? Anda olhando para o celular ou está sempre com ele na mão?

• Observe os gestos e as ações que você mais faz.

• O que essas observações dizem sobre você ou sobre o lugar onde você vive?

• Como você enxerga seu corpo? Como ele manifesta suas vivências?

A artista e pesquisadora de dança Dani Lima se interessa por investigar formas de expressão do corpo na construção da própria identidade. Por isso, para criar suas obras, ela propõe práticas de consciência corporal e de alteridade, ou seja, de relacionamento com o outro e com o espaço. O processo de produção de sentido a partir das sensações, das percepções e dos gestos do corpo são fundamentais em suas pesquisas.

A Cia. Dani Lima iniciou, em 2011, o projeto “100 gestos que marcaram o século XX” em 2011-2012, uma longa pesquisa sobre os gestos e a formação das subjetividades, com o intuito de mapear os movimentos corporais emblemáticos do século XX. Com ações cotidianas, intenções, posturas e trejeitos, os dançarinos praticaram uma série de gestos: o requebrar de quadris do rock dos anos 1950, os saltos nos festivais de música eletrônica, o repertório de gestos dos personagens de video games, entre outros, que fazem parte da visão fragmentada e multiétnica do repertório de movimentos do século. O projeto apostou na heterogeneidade do grupo, apoiou-se na memória e nos sonhos e conferiu visibilidade à dança, às atitudes e aos comportamentos que nos marcaram nos últimos 100 anos.

Foco na BNCC

Ao ter contato com diferentes formas de expressão em dança e ao investigar os processos de criação dos movimentos são mobilizadas as habilidades EF69AR09 e EF69AR12

Assim, este conteúdo contempla o objetivo de identificar a presença e a importância do corpo no cotidiano, fora das telas, pelos elementos constitutivos da dança.

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Bruce Lee, ator e lutador de kung fu, referência em gestos de artes marciais no século XX, presente na pesquisa pela Cia. Dani Lima.
Dani Lima Concord Productions Inc./Golden Harvest Company/Sunset Boulevard/Corbis/Getty Images
Dani Lima, autora do livro Gesto: práticas e discursos, 2016.

Pesquisa e fichamento

Como vimos, a artista, coreógrafa e pesquisadora de dança Dani Lima investiga formas de expressão presentes no corpo que interferem na construção da própria identidade.

Como você está no último ano do Ensino Fundamental e estudou várias propostas de dança, provavelmente percebeu que algumas pareciam ser novidade e outras já eram de seu conhecimento. Nesse contexto, os conteúdos de dança com os quais você sentiu afinidade podem ter despertado sua curiosidade no sentido de investigar mais a fundo para entender como os artistas fazem seus estudos e processos criativos para realizar suas obras.

Para organizar uma pesquisa, existe um formato específico usado na metodologia científica: o fichamento. Ele serve para destacar as informações principais contidas em uma obra, ou em um artigo científico, e segue determinado padrão. Usando o exemplo da obra de Dani Lima sobre os gestos, vamos aprender a fazer um fichamento das pesquisas.

Observe, a seguir, o exemplo de fichamento de um livro de Dani Lima, para refletir sobre seu significado.

Arte – 9º Ano Cabeçalho Informações sucintas sobre a área para a qual o estudo foi feito.

Preparação

Vamos, agora, nos aprofundar nas ideias de pesquisa e estado da arte.

Orientações

LIMA, Daniella. Gesto: práticas e discursos. Rio de Janeiro: Cobogó, 2013. p. 10.

“Sem ignorar que o gesto atravessa todos os domínios da comunicação humana, da política à moda, da filosofia à arquitetura, do cinema à psicanálise, o foco principal de nossa pesquisa sempre foi o corpo. Tentar decifrar, na gênese do movimento, o que se expressa como gesto. Buscar dar visibilidade ao complexo emaranhado de memórias pessoais, aprendizado social e contaminações que tecem a expressão de cada sujeito desde a mais tenra infância e que são uma forma de ser-corpo no mundo. Procurar desvendar universos gestuais particulares a partir das relações que o corpo tece com o peso, com o espaço, com o tempo, com o movimento, com os outros corpos, com o público, com a representação etc., revelando o movimento dançado com um discurso. (...) Nenhum gesto é inocente, nenhuma dança é só estética. Cada vez que colocamos um corpo dançando em cena afinamos um projeto de mundo, dizemos com gestos o que é importante e o que não é, o que merece ser apreciado, em que valores acreditamos, quais bandeiras defendemos, mesmo que inconscientemente.”

Comentário: Trecho que revela a posição da autora na defesa de que não há separação entre corpo e mente, que o sujeito é seu próprio corpo e com ele tem seu lugar de fala para atuar na sociedade e no mundo.

Biblioteca Mário de Andrade. Avenida São Luís, nº 235. São Paulo (SP). Também disponível em: https://www.ciadanilima.com.br/portfolio/ 2013-gesto-praticas-e-discursos

Esquema de um fichamento.

Tente responder às perguntas a seguir trocando ideias com os colegas.

Referência As informações sobre a obra devem seguir um padrão. SOBRENOME, Nome. Título da obra. Local: Editora, ano. Página.

Para a dança, o fichamento é um importante suporte teórico para estudos cuja natureza é tridimensional. Assim, organizar em palavras as reflexões de autores que escrevem sobre essa linguagem da arte é um exercício de abstração de conceitos. Comente que esse formato é padrão. Os estudantes podem analisá-lo e perceber se esse padrão se aproxima da forma como eles anotaram e registraram apontamentos relevantes em leituras feitas anteriormente. A partir do exemplo citado, reflita a respeito das conexões de engajamento que a dança pode representar na sociedade.

Citação Transcrever um trecho importante da obra As citações devem ser sempre inseridas entre aspas. Resumo Resumo ou comentário feito por você

Local Onde o livro está, para que possa ser encontrado por outras pessoas

• Ao observar a estrutura do fichamento, de que maneira você poderia utilizá-lo em seus próximos estudos?

• Como o resumo pode ajudá-lo e colaborar com outras pessoas que estão pesquisando sobre o assunto?

Imagine que você e seu grupo de pesquisa estão investigando o tema “Gestos, movimento e dança”. Vocês estão estudando e aprendendo tudo o que consideram importante sobre ele para construir uma visão geral e reunir as informações mais relevantes, relacionando-as. Como podem fazer isso? Que cuidados devem tomar? Como podem organizar os estudos e as pesquisas?

Foco na BNCC

Ao experimentar práticas de criação em dança e ao verificar as relações entre diferentes

linguagens da Arte são trabalhadas as habilidades

EF69AR12 e EF69AR32

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Reinaldo Vignati 1 2 3 4 5

Orientações

1. Procure obras que abordem o gesto.

2. O modelo-padrão pode ser seguido à risca, ou servir como inspiração para outras formas de organizar o mesmo conteúdo.

3. Incentive a curiosidade dos estudantes falando sobre possíveis buscas de PDFs ou publicações disponíveis em bibliotecas reais e virtuais. Alguns temas podem ser o gesto na dança clássica indiana, no flamenco, no balé. Se possível, busque outras obras, como o livro História dos nossos gestos (1976), escrito pelo historiador e antropólogo Câmara Cascudo.

4. Esse é o momento de ter uma visão geral do que foi levantado como conteúdo e do que foi escolhido como tópicos principais. É o momento de conectar o pensamento geral dos autores com aquilo que foi escolhido como representativo pelos estudantes.

5. Escolham a mídia para compartilhar e refletir sobre os fichamentos.

É importante haver uma metodologia de pesquisa. Em pesquisas científicas, seguir uma metodologia clara e confiável pode ajudar a garantir a credibilidade dos resultados e, em alguns casos, a segurança e eficiência das descobertas.

Imaginem que o ponto de partida é uma obra sobre o tema indicado anteriormente; a partir dela, vocês ampliarão seus conhecimentos. Um critério importante é procurar fontes confiáveis, buscando referências que possam, por exemplo, ajudá-los a compreender melhor o trabalho do pesquisador ou artista escolhido. Para compor o grande conjunto das principais referências que explicarão o tema, cada integrante do grupo fará um fichamento.

1 Formem grupos de cinco integrantes. Façam uma pesquisa sobre o tema “Gestos, movimento e dança”, procurando descobrir quais são as principais obras relacionadas a ele, os estudos mais recentes e antigos, pesquisas que o abordem sob diferentes perspectivas etc. Esse procedimento é conhecido como “fazer o estado da arte”. Vocês podem pedir o auxílio do professor ou, caso conheçam, de algum pesquisador da área de dança. Cada um ficará responsável por realizar o fichamento de uma referência bibliográfica.

2 Procurem seguir o modelo de fichamento anterior, mas, se sentirem necessidade, adaptem-no a seu trabalho, principalmente nos itens citação e resumo. Vocês podem anotar todas as informações encontradas no caderno e fazer um rascunho. E também realizar os registros em uma mídia on-line compartilhada com a turma para armazenar os estudos e as pesquisas de todos.

3 Procurem fazer a pesquisa em diferentes fontes e mídias, contemplando vários autores, para reunir o maior número possível de informações. A internet permite pesquisas acadêmicas, nos veículos de comunicação, em artigos não científicos e em diferentes formatos, com variados focos de informação. E sempre é uma boa possibilidade consultar uma biblioteca.

4 Os fichamentos do grupo podem ser reunidos em papel ou armazenados em ambiente virtual, em uma pasta compartilhada. Após a finalização, reúna-se, novamente, com seu grupo para conversarem sobre esse processo de investigação e catalogação. Procurem conversar sobre as questões a seguir: Os fichamentos compõem um conjunto coeso e informativo sobre o tema geral? O trabalho do grupo pode ajudar outras pessoas que desejam aprender o assunto? O fichamento pode ser usado como estratégia e orientação de estudo? De que forma? Como as pesquisas atuais se relacionam a pesquisas futuras?

5 Compartilhem os fichamentos com os colegas, outras turmas, família e com quem mais quiser. Afinal, o objetivo é ampliar o alcance das informações, e o fichamento permite o registro, independentemente do tema pesquisado. Boa pesquisa e bons registros!

O procedimento de pesquisa de Dani Lima no projeto "Conversação à mesa" mostra como existem diferentes métodos de organização de informações. Esse processo de criação deu origem ao livro Gesto: práticas e discursos. São Paulo (SP), 2011.

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Dani Lima

Preparação

Dança e tecnologia

Neste momento, vamos fazer a associação do conteúdo, dos dados e das informações proporcionados por esta Trilha com as experiências das práticas de criação, ou seja, vamos conectar o conhecimento adquirido pela realidade vivida na escola e em seu entorno ao contexto da contemporaneidade, a fim de desenvolver uma visão crítica social.

A partir das perguntas a seguir, procure relacionar os tópicos levantados aos debates atuais acerca de questões mais profundas que envolvem a tecnologia: questões sociais de acesso e consumo, questões políticas e econômicas da dinâmica entre países e empresas, a interferência e geração de distúrbios na saúde física e emocional como consequência do uso excessivo da tecnologia, entre outros.

Alguns desses tópicos o inspiram a projetar sua trajetória de formação para o trabalho? Algum aspecto foi mais relevante para pensar em temas como cidadania e democracia? Como as características da cultura e da economia regional e local da sua escola se situam no quadro global?

Vamos olhar para o percurso que realizamos até aqui, desde o começo da unidade até agora. Procure lembrar as principais ideias sobre os assuntos tratados e tudo o que você descobriu. Houve modificações no modo como você pensava o uso das tecnologias na dança? Releia seus registros de quando estava investigando as Práticas de criação e observe qual mudança mais significativa ocorreu no seu entendimento do movimento e dos conceitos de tecnologia nas artes.

Você passou a olhar de modo diferente para algum recurso ao qual tem acesso ou reparou como outras pessoas fizeram uso de tais recursos para a criação e difusão da dança? Faça um registro das suas descobertas no campo físico e afetivo, criando meios de representar o que foi marcante para você.

Em grupos de quatro ou cinco pessoas, vocês podem conversar sobre as impressões e ver se identificam novas formas de pensar a relação entre pessoas, movimento e tecnologia, em casa e na escola. Cada grupo pode organizar uma relação dos elementos que apareceram nos apontamentos individuais para fazer uma síntese por grupo e compartilhar com toda a turma.

Ao compartilhar, observem a escolha dos demais grupos, notando o que mais marcou cada um deles. Foram apontamentos parecidos ou distintos daqueles sintetizados pelo seu grupo? Vejam também se questões sobre a diversidade cultural aparecem ou não nessas escolhas. Note que as diferentes possibilidades de ver, fazer e refletir sobre o uso da tecnologia podem se transformar em dança na escola. Vamos prosseguir, pois ainda há um belo presente e um futuro promissor para serem explorados. Boas invenções e descobertas!

Avaliação formativa

Verifique se houve situações em que o uso da tecnologia e dos recursos digitais durante os processos de pesquisas, de práticas de criação ou das produções de danças foi adequado aos temas abordados em sala de aula e à proposta pedagógica da escola.

Avalie se os estudantes ampliaram o vocabulário acerca dos recursos e conceitos audiovisuais, como plano fixo, plano móvel e enquadramento. Eles desenvolveram técnicas para

solucionar eventuais problemas que podem ter surgido durante a Trilha? Enalteça as conquistas do grupo e descreva os pontos que ainda podem ser melhorados, afinal, a educação é um processo contínuo.

Foco na BNCC

Ao compartilhar as experiências adquiridas no decorrer dos estudos e das práticas é desenvolvida a habilidade EF69AR14

Para mapear as relações entre dança e tecnologia na sua prática didática, faça uma autoavaliação verificando como foi para você, professor, orientar a exploração e descoberta do corpo nas aulas de dança, relacionando-o com a educação tecnológica e digital. Eram linguagens com as quais você já trabalhava? Se sim, em que pôde evoluir? A questão do uso de aparelhos celulares ou computadores foi um problema? Se não, quais foram seus desafios e suas descobertas em relação a mover-se de forma consciente no contexto contemporâneo? Como você se sentiu ao orientar a pesquisa e as composições coreográficas da turma?

Orientações

A seguir, faça um levantamento dos tópicos marcantes para os estudantes. Como em um jogo de memória, oriente-os a se lembrarem das Práticas de criação e escreva as palavras-chave relacionadas com as ideias mais importantes na lousa. Propicie um ambiente agradável para que os estudantes conversem em grupos, de quatro ou cinco integrantes, sobre suas experiências a partir da pergunta: Qual das práticas sugeridas na Trilha adicionou algo à sua formação? Oriente os grupos para que façam uma autoavaliação revisando as ações e os conteúdos a partir de suas anotações. Essa revisão será compartilhada com os outros grupos. Instrua-os a mencionar as vivências de criação, valorizando a dimensão da estesia, da fruição, da reflexão e da crítica diante da expressão e da criação em dança. Quais verbos foram frequentes no processo desenvolvido: agir, repetir, reformar, transformar, imaginar, investigar, pesquisar ou testar?

Espera-se que, ao refletir sobre o próprio percurso, os estudantes possam valorizar o pensamento crítico para seguir contando com os saberes da área de dança no Ensino Médio.

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HighwayStarz/iStockphoto.com
Jovens conversando em grupo e fazendo anotações. Reino Unido, 2017.

A BNCC nesta unidade

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9

Objetos e habilidades:

Contextos e práticas

EF69AR02, EF69AR03,

EF69AR16, EF69AR17,

EF69AR18, EF69AR19,

EF69AR24, EF69AR25,

EF69AR31

Elementos da linguagem

EF69AR20, EF69AR26

Materialidades

EF69AR21

Notação e registro musical

EF69AR22

Processos de criação

EF69AR23, EF69AR27, EF69AR28, EF69AR29,

EF69AR30

Arte e tecnologia

EF69AR35

Objetivos desta unidade

• Reconhecer a presença das tecnologias na sociedade e seus reflexos nas diferentes formas de expressão da Música e do Teatro.

• Ampliar conceitos e possibilidades que ajudam no entendimento das produções de Música e de Teatro em diferentes épocas como criações em constante diálogo com os adventos tecnológicos.

• Experimentar as linguagens da Música e do Teatro pela perspectiva da transformação dos materiais do cotidiano e da utilização de aparatos tecnológicos.

• Apresentar artistas e conceitos de Arte que se apropriam de tecnologias para a produção de obras híbridas que criam diálogos entre o passado e o presente.

• Refletir sobre o conceito de tecnologia como um campo de intersecções entre as linguagens da Arte.

Justificativa

No 9o ano, espera-se que os estudantes tenham proximidade com a comunicação e expressão pelas redes sociais e se apropriem de conceitos e recursos técnicos ligados à presença crescente da tecnologia na vida cotidiana. Os modos de abordagem e construção de expressividade pela

perspectiva da transformação dos materiais, das produções industriais e das inovações técnicas são fundamentais para o desenvolvimento do senso crítico e da capacidade de elaborar soluções na sociedade da informação.

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Cristina Maranhão Cena do espetáculo Black Brecht: e se Brecht fosse negro?, do Coletivo Legítima Defesa. Direção: Eugênio Lima. São Paulo (SP), 2019.

Avaliação diagnóstica

Ao longo das Trilhas 3 e 4, de Teatro e Música, conheceremos trabalhos que partem de materialidades e modos de criar conectados às tecnologias analógicas e digitais.

Saber, inventar e inspirar

O teatro como vivência segue acontecendo em diferentes regiões do país e do mundo, seja em um edifício teatral, seja em um espaço público. Para quem está em cena e para quem está na plateia, essa vivência é uma oportunidade de diversão, de contar e ouvir histórias, de refletir sobre a vida e o mundo que nos cerca.

1. Para você, como a tecnologia está presente no teatro e na música?

2. De que maneiras o teatro e as artes da cena podem trabalhar em conjunto com tecnologias antigas e atuais?

3. Quais profissões das artes cênicas estão presentes na imagem ao lado?

Nesta unidade, você vai:

• refletir sobre diferentes modos de operar com a linguagem das artes cênicas e suas tecnologias;

• compreender o teatro como instrumento capaz de impulsionar mudanças, sejam elas pessoais, sejam coletivas.

Pré-requisitos

Para o cumprimento dos objetivos, é esperado que os estudantes:

• reconheçam a presença da tecnologia no cotidiano e em obras artísticas;

• identifiquem os elementos constitutivos básicos da Música e do Teatro em suas possibilidades de fruição e expressão em diferentes territórios;

• utilizem a imaginação em diferentes propostas de práticas de criação;

• reflitam sobre diferentes manifestações culturais, respeitando-as e valorizando-as.

Atitudes e valores

• Ter postura colaborativa e investigativa.

• Vivenciar manifestações de diferentes matrizes culturais, com postura ética, refletindo sobre elas.

• Não ter e não aceitar comentários estereotipados sobre expressões em Arte.

• Escutar e respeitar a opinião de outras pessoas em relação a vivências culturais.

• Exercitar o senso crítico para refletir sobre as linguagens da Arte e a comunicação em diversos âmbitos da vida.

Faça uma leitura da imagem da abertura desta unidade, tendo como referência as perguntas indicadas. É importante que todos os estudantes falem sobre suas impressões. Peça que comentem as relações entre os gestos e as posições que os artistas ocupam no palco, avaliando que tipo de ambiente é sugerido pelos movimentos deles. Incentive-os a imaginar quais sonoridades estão presentes na cena.

As perguntas que abrem a Unidade 2 buscam despertar o olhar da turma para os dispositivos tecnológicos presentes no espetáculo teatral integrado à música. Na primeira pergunta, espera-se que os estudantes percebam que a iluminação marcante, delimitando espaços, as projeções sobre superfícies recortadas, os microfones e as caixas de som evidenciam a presença da tecnologia na composição da cena.

A segunda pergunta chama a atenção para o fato de que o desenvolvimento tecnológico não impede os artistas de usarem recursos mais antigos em suas criações. Assim, usar ou não microfones e amplificadores para tocar e cantar, ou utilizar iluminação elétrica ou luz de velas são opções que diretores, músicos, atores, iluminadores e cenógrafos fazem com base em suas ideias e nos efeitos que desejam criar e até mesmo considerando adaptações que precisam ser feitas por questões orçamentárias.

Na terceira pergunta, além dos profissionais em evidência na cena, pode-se deduzir que um marceneiro trabalhou para construir a mesa no centro do palco e as placas com silhuetas de árvores, nas laterais. Há também técnicos de som, responsáveis pelos microfones e amplificadores; figurinistas e profissionais de costura; pessoas que trabalham na limpeza do palco, nos camarins, na bilheteria, na divulgação da peça e até mesmo na realização de registros fotográficos, como o que vemos na página. Portanto, há um conjunto de profissionais que trabalha intensamente para a realização de um evento artístico.

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A BNCC nesta Trilha

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9

Objetos e habilidades:

Contextos e práticas

EF69AR03, EF69AR24, EF69AR25, EF69AR31

Elementos da linguagem

EF69AR26

Processos de criação

EF69AR27, EF69AR28, EF69AR29, EF69AR30

Arte e tecnologia

EF69AR35

Objetivos desta

Trilha

• Analisar como diferentes recursos de iluminação criam sentidos nas cenas.

• Investigar as possibilidades oferecidas pelo teatro de sombras em propostas contemporâneas.

• Conhecer o teatro lambe-lambe e explorar suas potencialidades cênicas.

• Compreender, pelo viés da iluminação teatral, como cada época desenvolveu as suas tecnologias e as utilizou como recurso de cena.

• Explorar a presença de recursos tecnológicos em diferentes expressões do teatro e a construção de efeitos e significados.

Foco nos TCTs

Este conteúdo desenvolve o Tema Contemporâneo Transversal

Educação em Direitos Humanos ao abordar a questão racial por meio do teatro, discutindo a representatividade de pessoas negras e seu espaço nas artes.

Teatro: linguagem em ação

Como arte da ação e do fazer, o teatro nos convida a uma participação crítica e ativa nos espaços por onde passamos. Uma linguagem com muitas tecnologias, todas a serviço de uma experiência de encontro.

O projeto Black Brecht: e se Brecht fosse negro? foi realizado em várias etapas. Primeiramente houve um encontro de artistas que buscavam refletir sobre a representatividade das pessoas negras no Brasil. Essa ação inicial acabou por se desdobrar em um processo de criação que durou nove meses. O agrupamento contou com uma dramaturga, responsável pela versão do texto que foi encenada. Tudo partiu de uma pergunta: E se o diretor e dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956), conhecido por seu teatro engajado em questões sociais, fosse negro?

Livremente inspirada no texto de O julgamento de Lucullus, de Brecht, o espetáculo buscou explorar como sua obra e pensamento poderiam ser afetados por mais essa camada de sentido e perspectiva: ser um artista negro. Os artistas do Coletivo Legítima Defesa, de São Paulo (SP), trabalharam com partituras sonoras, exercícios de escrita coletiva, imersões de estudos e práticas e intervenções urbanas para chegar a um espetáculo híbrido, permeado de videocenários e sonoridades.

• Observando os registros do espetáculo nas fotos de abertura da Trilha e da Unidade, o que a postura e os gestos das pessoas nas projeções comunicam a você?

• Considerando o que você descobriu analisando as imagens, que questões acha que a peça poderia abordar sobre arte e resistência negra?

Bate-papo com o professor

Converse com a turma sobre a experiência de encontro proporcionada pelo teatro. Mostre as fotos do espetáculo, destacando os elementos e os usos de tecnologias nessa montagem teatral. As projeções sobre a cenografia criam diálogos imagéticos, integrando-se à ação dos atores, cujos corpos estão enquadrados e ampliados no cenário.

As respostas às perguntas são pessoais. Na primeira, espera-se que os estudantes percebam que todo o elenco é negro e que os artistas em cena estão sérios. Seus gestos e suas posturas não são naturais e eles estão de frente para o público, or-

ganizados como se participassem de um debate – na verdade, um julgamento. Nessa imagem, há uma diferença entre a projeção e a cena ao vivo: os atores estão com figurinos diferentes. Na segunda pergunta, amplie a discussão com os estudantes: Como eles têm percebido a representatividade e a ocupação de cargos importantes por pessoas negras? Os estudantes estão conectados com o debate racial? Já presenciaram ou vivenciaram situações de racismo? Como esses assuntos se apresentam nas mídias e no dia a dia?

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Cena do espetáculo Black Brecht: e se Brecht fosse negro?, do Coletivo Legítima Defesa. Direção: Eugênio Lima. São Paulo (SP), 2019. Cristina Maranhão

Espaço cênico e tecnologia

Como vimos no Ponto de partida, a noção de tecnologia é ampla e existem inúmeras maneiras de se criar e usar tecnologia de acordo com as nossas necessidades, em todas as áreas de nossa vida. Também nas artes, a tecnologia e suas transformações foram e seguem sendo exploradas com o objetivo de produzir diferentes experiências. Quando pensamos em teatro, mais especificamente, temos espaço, luz, som, figurino e texto, ou seja, diferentes elementos que são agrupados e trabalhados cenicamente. Cada um desses elementos, que foram se transformando ao longo da história das Artes Cênicas, corresponde a um tipo de tecnologia. Isso significa que diversas tecnologias podem se juntar e nos ajudar a contar uma história, a propor uma experiência.

Cenografia e iluminação

O palco de uma peça pode ser percebido como um grande laboratório, no qual diretores e encenadores lançam mão dos recursos cênicos, buscando ampliar suas possibilidades. A visualidade da cena ou de uma peça é um elemento que, no teatro contemporâneo (aquele que é feito em nosso tempo), recebe muita atenção por parte dos encenadores. Nesse sentido, podemos pensar que, além do figurino, a cenografia e a iluminação são os elementos cênicos que compõem o visual de um espetáculo.

Robert Wilson (1941-) é um multiartista estadunidense; ele ganhou destaque por suas experiências que utilizam de diferentes formas os elementos cênicos. Em seu teatro, cenografia e iluminação são trabalhadas de modo a gerar impacto visual. Esse impacto, muitas vezes, é amplificado por meio do trabalho de direção de atores e atrizes em cena.

• Observando a imagem, que características você associa à linguagem do diretor desse espetáculo?

• Que qualidades você atribuiria às figuras dos atores em cena?

Encenador: termo bastante difundido para definir a figura do diretor no teatro contemporâneo. Profissional que cria o evento cênico trabalhando todos os elementos da linguagem.

Preparação

Estabeleça um paralelo entre a sala de aula e uma sala de espetáculos. Convide a turma a apontar elementos tecnológicos comuns aos dois ambientes.

Pesquise imagens de outros espetáculos de Bob Wilson. Quanto mais imagens, melhor. Se possível, imprima essas imagens e as distribua entre trios ou quartetos, convidando os estudantes a observar essas imagens e seus detalhes. Cada grupo pode mostrar e descrever para a turma a sua imagem. Observe quais elementos os grupos destacam e como eles os descrevem. Depois que todos apresentarem suas imagens, reúna-as na lousa para que a turma visualize todas as imagens ao mesmo tempo. Auxilie os estudantes a perceber o que as imagens possuem de semelhante: o uso das mesmas cores nos figurinos e na iluminação, a exploração do espaço cênico e de elementos da caixa preta. Garanta que eles percebam como se apresenta a estética de Bob Wilson, quase como uma assinatura do artista, no trabalho com os elementos teatrais.

Orientações

Peça aos estudantes que revisitem as imagens do Ponto de partida e observem como a tecnologia se manifesta nas diferentes materialidades mostradas. De modo semelhante, convide-os a elencar as materialidades presentes na arte teatral, estabelecendo um recorte sobre o espaço cênico, onde tudo acontece, como uma vitrine na qual podemos visualizar como as diferentes tecnologias foram usadas para a criação de determinado espetáculo.

Foco na BNCC

Ao conhecer diferentes estilos cênicos e ao analisar os elementos da composição cênica, são trabalhadas as habilidades EF69AR25 e EF69AR26.

Assim, este conteúdo permite o desenvolvimento do objetivo de analisar como diferentes recursos de iluminação criam sentidos nas cenas.

Converse com a turma sobre a ideia de visualidade e de impacto visual como elementos importantes na experiência teatral contemporânea. Vamos ao teatro para ver algo, por isso é importante ativar o sentido da visão. O teatro de Bob Wilson apoia-se nessa relação visual que o público estabelece com a cena.

As respostas para as perguntas do livro são:

• Espera-se que os estudantes mencionem o uso expressivo das cores, a iluminação e os gestos dos atores, que geram um forte impacto visual.

• Resposta pessoal. Podem ser citadas a expressividade e a precisão gestual, entre outras.

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© Imago via ZUMA Press/Imageplus
Cena do espetáculo Fim de partida, baseado na obra de Samuel Beckett. Direção: Bob Wilson. Berlim, Alemanha, 2016.

Orientações

As respostas às perguntas do Livro do Estudante são:

• Resposta pessoal. Ajude os estudantes a identificar que as varas de luz e de cenografia estão localizadas em diferentes alturas, compondo o espaço cênico.

• Resposta pessoal. Qualquer objeto colorido pode ganhar destaque nesse contexto que retrata uma cena em preto e branco.

Atividade complementar

Proponha aos estudantes uma pesquisa de imagens de artistas visuais que fazem composições que poderiam ser vistas como uma cena de Bob Wilson. Os resultados podem ser compartilhados e discutidos com a turma.

Bob Wilson, como é chamado no Brasil, é reconhecido por espetáculos em que o palco é preenchido por cores intensas, projetadas em painéis que se encontram atrás da cena. O encenador utiliza vivamente toda a maquinaria que compõe a caixa preta do teatro. Seus atores empregam gestos largos e bem marcados, explorando ritmos e pausas em suas movimentações, muitas vezes lembrando bonecos em cena. Além disso, os atores jogam com as possibilidades de entrar e sair de áreas recortadas pela iluminação.

Repare no rosto do ator, do lado direito da foto da página anterior, e na forma como faz um gesto expressivo com as mãos, destacando-se num foco de luz branca em meio ao vermelho da cena. Perceba, também, a outra figura na foto: trata-se de um ator coberto com figurino preto que, pelo fato de estar sem um foco, pode dar a impressão de ser uma sombra. Bob Wilson costuma criar um jogo milimétrico de luz e sombras, com poucos elementos cenográficos que aparecem no palco, produzindo contrastes visuais que captam a atenção do público. Com cuidado, ele escolhe as cores dos figurinos e das luzes para gerar sensações e sentidos para a plateia.

Observe agora um momento do espetáculo Lulu. Perceba como outros mecanismos presentes na caixa preta podem ser reconhecidos.

• De que modo esses mecanismos participam da cena?

Passeando os olhos pela imagem, novamente notamos poucos elementos distribuídos à frente de uma grande área de cor que ocupa todo o fundo da cena. Repare como essa forma de composição visual destaca cada um dos elementos no palco. As luminárias não estão ali para iluminar, mas para compor um ambiente junto às varas. As varas, estruturas móveis que servem geralmente de suporte para refletores de luz e cenários, foram baixadas, deixando a estrutura da cena exposta. A escada não leva a lugar nenhum, mas permite que a atriz se destaque em um plano mais alto, iluminada por um refletor operado por outro ator na boca de cena. Algumas luzes também foram instaladas nas dobras de alguns degraus.

• Olhando para a cena como um grande campo visual a ser preenchido, imagine um objeto colorido inserido nesse contexto. Que cor você escolheria para ele?

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Cena do espetáculo Lulu dirigido por Bob Wilson. Berlim, Alemanha, 2011.
© Imago/ZUMAPRESS.com/Imageplus

As peças de Bob Wilson apontam para um tipo de encenação que realça a importância do diretor, alguém que olha a cena de fora, manipulando seus elementos. Perceba como os atores fazem parte dessa composição. Abaixo, vemos elementos da caixa preta, tecnologias da cena que Bob Wilson usa para criar a atmosfera de seus espetáculos. A partir do que foi visto até aqui, exercite seu olhar de encenador.

• Como você faria uso desses recursos para criar uma cena com forte impacto visual?

Investigando silhuetas

Como você viu nos trabalhos de Bob Wilson, o jogo entre luz e sombra permite criar imagens e personagens que se apresentam para o público por meio da forma da silhueta. Esse recurso pode ser explorado usando diferentes materialidades: desde objetos até o próprio corpo humano.

Vamos dividir a turma em três grupos para realizar uma investigação prática de sombras e silhuetas. Cada grupo precisará providenciar um tecido grande e liso, sem estampa, no qual irá projetar as sombras, além de uma ou mais lanternas, se possível.

1 Primeiro, vamos explorar a silhueta dos corpos. Para isso, vocês podem fazer uma lista de gestos e posturas feitas com o corpo, de acordo com as emoções e os sentimentos que querem expressar. Individualmente, uma pessoa por vez, deve escolher e fazer uma pose da lista para que todos do grupo observem a silhueta criada.

Investiguem como é possível detalhar melhor cada pose, de acordo com o significado que ela quer apresentar.

Depois, em duplas, façam uma sequência de poses e observem como elas criam relações para quem as assiste.

2 Agora, vamos fazer uma investigação de silhuetas criadas por objetos e outros elementos inanimados. Usem elementos disponíveis dentro e fora da sala de aula, e tragam objetos de casa. Pesquisem como as silhuetas desses objetos se comportam quando vocês mexem com a fonte de luz. É possível aproximar, afastar, piscar, enfim, encontrar possibilidades e diferentes ângulos de iluminação. Os objetos podem ser explorados individualmente ou em grupo.

Mesmo que a finalidade dessa prática não seja criar uma cena, percebam como a movimentação da fonte de luz pode gerar ação nas silhuetas.

Ao final, cada grupo pode fazer uma seleção de imagens que queira compartilhar com toda a turma. Depois, façam uma roda e conversem sobre os processos de cada grupo e suas experimentações.

Preparação

Caso sua escola não disponha de tecidos lisos e grandes o suficiente para a prática, verifique entre os estudantes quem pode levar esse material para a aula e emprestar para a turma. Vocês também precisarão de lanternas (uma para cada grupo, pelo menos). Se houver mais, é bom, pois amplia as possibilidades de jogo e de criação.

Orientações

A resposta para a pergunta que aparece no início da página é pessoal. Explique à turma que os refletores podem ter luz branca ou colorida e podem ser posicionados de diferentes formas, em várias alturas e direções, o que permite a criação de focos de luz. As alturas das varas de luz e a intensidade de cada refletor também podem ajudar na composição cênica.

Antes de dividir os grupos para o início da prática, organize um breve aquecimento corporal. O foco são as articulações do corpo. Vocês podem girar as articulações, oito vezes para cada lado, dos dois lados do corpo: pés, joelhos, articulação coxofemoral, cintura, ombros, cotovelos, punhos, dedos, pescoço.

Na primeira parte do exercício, estimule os grupos a explorar posturas corporais expressivas, com poses realistas e não realistas. Depois, individualmente, eles devem refinar as poses. Durante a etapa do trabalho em duplas, as demais pessoas do grupo estarão no papel de público. Enfatize essa relação. Para quem está “em cena”, o que muda ao saber que está sendo observado? Para quem assiste, que impressões as poses e silhuetas provocam?

Foco na BNCC

Ao vivenciar práticas que envolvem diferentes formas de dramaturgia e espaços cênicos e experimentar a gestualidade na realização teatral, são desenvolvidas as habilidades EF69AR27 e EF69AR29.

Na etapa de explorar a silhueta de objetos, o manuseio das lanternas deve ser feito de modo que crie efeitos com as sombras de acordo com a distância, o ângulo etc. Após as etapas de exploração, peça aos grupos que selecionem momentos que queiram compartilhar com a turma toda. Depois das apresentações, estimule os grupos a explicar os motivos das escolhas das imagens apresentadas e abra espaço para quem estava no público expor as sensações a respeito do que viu. Incentive-os a identificar, também, as poses semelhantes e os detalhes que foram percebidos tanto nas posturas quanto no uso das lanternas.

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lapandr/Shutterstock.com
Oleksandr Nagaiets/Shutterstock.com Os recursos de iluminação, com diferentes tipos de refletores e cores, permitem criar inúmeros efeitos cênicos. Rússia, 2017. Mesmo numa peça sem cenário, é possível criar ambientes e efeitos usando a iluminação cênica. Ucrânia, 2016.

Preparação

Destaque algumas silhuetas da prática anterior, uma de cada grupo, por exemplo, e proponha que a turma crie uma breve narrativa juntando essas imagens.

Orientações

A preparação para esta aula foi pensada para introduzir a construção de narrativas por meio do teatro de sombras. Depois de terem explorado a criação de sombras com o corpo e os objetos, agora é o momento de entender as sombras como elemento de narrativas. Ajude a turma a perceber que o teatro de sombras pode ser uma prática muito elaborada e eficaz, e não se trata apenas de um teatro mais infantil ou algo do tipo. O modo como Bob Wilson e outros artistas fazem uso das sombras em cena é prova disso. No repertório do grupo Sobrevento, é possível perceber diferentes pesquisas sobre o teatro de sombras: desde usar as mãos para criar formas de bichos até sombras mais elaboradas e controladas por mais de um ator-manipulador. Além disso, o uso de fontes de luz diversificadas e a combinação de materialidades para criar sombras tornam-se um convite para conhecer melhor essa linguagem. Você pode pedir à turma uma pesquisa sobre o teatro de sombras chinesas. Isso ampliará o entendimento das tecnologias envolvidas nesse tipo de teatro, passando pelo processo de confecção dos bonecos até os modos de manipulação e exibição das histórias.

Teatro de sombras

Vimos no teatro de Bob Wilson que a iluminação é um elemento amplamente explorado pelo encenador. Apesar do uso de diferentes tipos de refletores, intensidades e cores, a luz também oferece seu contraponto: as sombras que cria. Ao aproveitar esse elemento em suas encenações, o artista dialoga com uma das formas mais simples de se contar uma história: o teatro de sombras. Essa manifestação da linguagem cênica presente em culturas antigas segue sendo recriada por artistas contemporâneos, mantendo-se em diálogo com seu tempo. Uma de suas principais premissas é a de que não é necessário ter muitos refletores ou aparatos à disposição para que se possa produzir uma boa peça de teatro de sombras. Seu espaço cênico pode ser simples, com o mínimo de tecnologia.

Todos sabemos que, ao interpor uma das mãos, ou as duas, na frente de uma fonte de luz, é possível projetar sombras sobre uma superfície e contar uma história. O teatro de sombras é isso, uma das formas mais antigas de contação de histórias – bastante tradicional na Ásia, em países como Tailândia, Camboja e Índia. Hoje em dia, o teatro de sombras é feito no mundo todo, com diferentes técnicas e possibilidades.

Surgido em 1986, o grupo Sobrevento, de São Paulo (SP), mantém uma pesquisa constante da linguagem do teatro de formas animadas, de bonecos e de sombras. A cortina da babá é um dos seus espetáculos infantis e foi desenvolvido em parceria com Liang Jun, diretor da Cia. de Arte Popular de Shaanxi (China), especialista na técnica de sombras, que veio para o Brasil atuar com o grupo.

Foco na BNCC

Ao analisar criações em que a linguagem teatral se integra a outras linguagens, ao conhecer e valorizar o trabalho de artistas e grupos de teatro e ao verificar as variadas funções teatrais e seus desafios, são mobilizadas as habilidades EF69AR03, EF69AR24 e EF69AR28. Assim, cumpre-se o objetivo de investigar as possibilidades oferecidas pelo teatro de sombras em propostas contemporâneas.

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Cena do espetáculo L’uccello di fuoco (O pássaro de fogo) no Teatro Gioco Vita. Direção: Fabrizio Montecchi. Piacenza, Itália, 2004. Teatro Gioco Vita Fondazione Nazionale della Danza “L’uccello di fuoco” (2004), © Raffaella CavalieriIguanapress

É provável que você já tenha experimentado brincar com as formas das mãos e outros objetos para criar sombras.

A história que a peça nos conta é sobre uma babá que costura uma cortina nova para o quarto da criança e acaba cochilando. Então, os animais e elementos de uma pequena aldeia que estão bordados nessa cortina ganham vida. Quando a babá desperta, incomodada pelo voo de um inseto em torno da lâmpada que ilumina seu trabalho de costura, tudo volta ao normal. Imagine de quantas formas diferentes você poderia encenar essa história. Ela pode parecer simples, mas a encenação que o grupo organizou exigiu muita pesquisa e técnica.

Nesse espetáculo, o grupo Sobrevento mistura diferentes tipos de teatro de sombras. Na primeira foto, temos sombras criadas com as mãos. Na segunda, as sombras são criadas por formas e bonecos articulados.

Na imagem da página a seguir, podemos ter uma noção da configuração do espaço cênico. As paredes do quarto são telas onde as sombras são projetadas, tanto na frente quanto atrás dependendo de onde vem a fonte de luz. Detalhe: o grupo explora ângulos diferentes para as fontes de luz e, dessa forma, consegue criar sobreposições de imagens e sombras, trazendo mais dinamismo à encenação.

Atividade complementar

Se possível, assistam ao filme (ou a trechos dele) As aventuras de Azur e Asmar (2006), dirigido pelo francês Michel Ocelot. Esse diretor tornou-se mundialmente conhecido por seus trabalhos de animação no cinema. Kiriku e a feiticeira (1998) e As aventuras de Azur e Asmar são dois de seus filmes mais conhecidos. O longa-metragem Contos da noite (2011), por sua vez, é inspirado na linguagem do teatro de sombras.

107 107 Observe as imagens.
Cena do espetáculo A cortina da babá, do grupo Sobrevento. Ator Marcelo Paixão projetando a forma de um coelho com as mãos. Direção: Sandra Vargas e Luiz André Cherubini. São Paulo (SP), 2011. Marco Aurélio Olimpio Marco Aurélio Olimpio Cena do espetáculo A cortina da babá, do grupo Sobrevento. Ator Marcelo Paixão interagindo com a forma de uma árvore. Direção: Sandra Vargas e Luiz André Cherubini. São Paulo (SP), 2011.

Orientações

Se os estudantes demonstrarem interesse pela linguagem do teatro de sombras, proponha uma pesquisa na internet sobre outros grupos e suas maneiras de desenvolver os espetáculos.

A resposta à pergunta dessa página é pessoal. Destaque que atores e atrizes com figurinos semelhantes ocupam focos criados pela iluminação e manipulam objetos e adereços cênicos. Todos estão em um espaço cênico delimitado por uma espécie de tapete e por uma tela que recebe as projeções das sombras dos objetos.

Para saber mais

Para ampliar seu repertório sobre o teatro de sombras, consulte as indicações a seguir. A história do teatro de sombras chinesas é contada em forma de poesia no livro A lenda do teatro de sombras (Paulinas, 2019), escrito por Marco Aurélio, com ilustrações de Fernando Vilela. Já a coletânea Teatro de sombras, técnicas e linguagem: à guisa de interpretação (Udesc, 2018), organizada pelo professor Valmor Beltrame, traz diversos textos produzidos pelos estudantes do curso de Artes Cênicas da Universidade do Estado de Santa Catarina sobre esse tipo de teatro.

Outra cena do espetáculo A cortina da babá, do grupo Sobrevento. Nesta imagem, o ator Marcelo Paixão interage com as sombras projetadas na parede. São Paulo (SP), 2011.

A manipulação das figuras que criam sombras coloridas, também conhecidas como sombras chinesas, e toda sua movimentação é feita por varas, o que requer habilidade, ensaio e sincronia entre os manipuladores. Nesse espetáculo, vemos em cena as figuras da babá e do menino, e as sombras são controladas por quatro atores-manipuladores.

Ao juntar o teatro de sombras, feito com as mãos, e as sombras chinesas, o espetáculo nos apresenta modos distintos de trabalhar as sombras e de colocá-las em cena na relação com um ator que, além de personagem, é manipulador e sombreiro. Esse conjunto de elementos articulados em cena nos convida a perceber o teatro de sombras como um campo de estudo e criação, e essa tem sido uma das linhas de atuação do grupo. Encontrar novas e diferentes fontes de luz e elementos para composição e manipulação das sombras levou o Sobrevento à outra abordagem do teatro de sombras.

• Como você descreveria a imagem a seguir do ponto de vista dos elementos cênicos?

Espetáculo O amigo fiel, do grupo Sobrevento. Em cena, as atrizes Giuliana Pellegrini e Liana Yuri e os atores Daniel Viana e Agnaldo Souza. Direção: Sandra Vargas. São Paulo (SP), 2019.

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Arô Ribeiro Marco Aurélio Olimpio

Em 2019, o grupo Sobrevento estreou outro espetáculo infantil, dessa vez, misturando o teatro de sombras e a manipulação de objetos. O espetáculo O amigo fiel conta a história de João, que cuida de um jardim, e seu amigo, que é dono de um moinho. A relação entre eles coloca em cena, entre outros temas, um debate sobre amizade, individualismo e falta de solidariedade. Esses assuntos podem parecer áridos para o público infantil, mas a encenação optou por utilizar galhos de madeira para criar os bonecos e demais personagens da história, propondo um jogo de imaginação a partir de uma situação simples.

Novamente, a iluminação desempenha um papel importante no espetáculo. Repare, na imagem, como a luz é utilizada para estabelecer focos, dividindo o espaço cênico, e também como ela cria uma sombra na tela colocada ao fundo do espaço.

Na imagem a seguir, os galhos de árvore são organizados de modo a projetar uma figura, de acordo com o ângulo de incidência da luz.

Bate-papo com o professor

Para conhecer outros trabalhos do grupo Sobrevento, nos quais são utilizadas diferentes técnicas do teatro de animação, navegue pelo site www. sobrevento.com.br (acesso em: 16 jul. 2022). Além do teatro de sombras, é possível conhecer trabalhos com o teatro de objetos e o teatro de bonecos, que será tratado mais adiante nesta unidade.

Para aprofundar

No site Ver o teatro, você encontra um projeto de artistas sombristas que faz um apanhado sobre o teatro de sombras no Brasil. É possív el conhecer grupos, dramaturgias, artistas, textos e livros sobre essa linguagem teatral. Disponível em: http://veroteatro. com/teatrodesombras/ (acesso em: 16 jul. 2022).

Nesse espetáculo, quatro atores-manipuladores se revezam em cena para dar vida aos personagens e para manipular as sombras. Os atores transitam entre a narração da história e o manuseio dos elementos, e também comentam sobre a história e o comportamento dos personagens. Esse jogo cria camadas de significados e amplia as possibilidades de leitura para o público.

Os trabalhos do grupo Sobrevento evidenciam um contínuo processo de pesquisa sobre a teatralidade de gestos, objetos, bonecos e elementos cênicos, como luz e sombra. Cada proposta de encenação torna-se um exercício de exploração das possibilidades do teatro de sombras em relação à materialidade do espaço cênico e dos elementos que serão manipulados.

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Cenário do espetáculo O amigo fiel, do grupo Sobrevento. O elenco contou com as atrizes Giuliana Pellegrini e Liana Yuri e os atores Daniel Viana e Agnaldo Souza. Direção: Sandra Vargas. São Paulo (SP), 2019. Arô Ribeiro

Preparação

O objetivo desta prática é criar uma história breve para ser encenada por meio do teatro de sombras. Para isso, é preciso que os grupos elaborem um roteiro simples que lhes permita explorar as sombras, que poderão ser feitas com objetos, com bonecos, com o próprio corpo e também pela interação entre atores e atrizes em cena. Organize uma roda de conversa com os estudantes e peça que identifiquem situações simples do dia a dia, na escola ou na comunidade, que possam despertar o interesse dos grupos para compor o roteiro. É importante lembrá-los de que a história que vão escrever e contar deve ter começo, meio e fim bem definidos. Você pode sugerir que o roteiro tenha quatro momentos: 1) apresentação da situação inicial, do lugar e dos personagens; 2) algo acontece e as sombras tomam parte na cena; 3) interações entre sombras e atores, se for o caso; 4) resolução e finalização da cena, que pode contar ou não com a presença de sombras.

Orientações

Toda a experimentação e as descobertas feitas na prática anterior serão aplicadas nesta. Os grupos podem até ser os mesmos, de modo que retomem o material produzido, dando sentido à história que contarão. Estimule a interação entre o ator ou a atriz e as sombras produzidas. Assim, as narrativas podem ser mais complexas e apresentar camadas de interação e de leitura por parte da plateia. Se possível, registrem as apresentações em fotos e vídeos. Esse material pode ser compartilhado entre as turmas. Na roda de conversa, ao final da atividade, procure destacar as questões relativas às tecnologias envolvidas em cada etapa da prática e o modo como cada grupo lidou com elas: escrever uma história, criar as sombras, as manipulações, as interações entre ator/atriz e sombras, a recepção por parte da plateia.

Sombras em cena

Vimos como o trabalho do grupo Sobrevento se conecta com o de Bob Wilson e como ambos se conectam com o teatro de sombras tradicional: por meio da investigação da luz e do espaço, elementos básicos do evento teatral.

Então, vamos embarcar nesse movimento e pesquisar, de maneira prática, modos de contar uma história no teatro de sombras.

Dividam-se novamente em três grupos. Vocês podem manter os três grupos da prática anterior ou reorganizar a turma.

1 A primeira coisa a fazer é criar a sinopse de uma história breve – algo simples, nos moldes de A cortina da babá –, mas que abra espaço para diferentes usos das sombras. Vocês podem partir de uma situação do dia a dia, da escola ou do bairro, que possa ser desdobrada em diferentes tipos de sombras e relações entre elas. Façam uma lista da ordem das cenas que vocês vão criar para contar a história que pensaram.

2 Na sequência, o grupo pode retomar a exploração da prática anterior e encontrar as opções que fizerem mais sentido para a criação e o uso de sombras e silhuetas para compor as cenas. Vocês podem usar diferentes tipos de sombras e fontes de luz.

Vale experimentar a projeção de luz na frente ou atrás do pano. Também pesquisem os ângulos de incidência e os efeitos possíveis, caso possuam mais de uma fonte de luz ao mesmo tempo.

A cena de vocês pode conter uma ou mais pessoas interagindo com as sombras e silhuetas criadas e manipuladas pelos colegas do grupo.

3 Ensaiem a cena e apresentem para toda a turma. Se for possível, vocês podem filmar as apresentações. Reúnam-se em uma roda de conversa no final, com toda a turma, para partilhar os processos de cada grupo, as descobertas, dificuldades, percepções sobre manipulação e sobre as histórias.

Foco na BNCC

Ao experimentar processos de criação teatral que compreendem diferentes dramaturgias e espaços cênicos, vivenciando os desafios envolvidos em sua composição, são trabalhadas as habilidades EF69AR27 e EF69R28.

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K.Decha/Shutterstock.com
Performance com sombras humanas em palco com fundo iluminado, 2017.

A iluminação teatral

Como vimos, ter em mãos apenas uma lanterna já seria suficiente para contar uma história, criar uma cena e fazer teatro. A luz é um elemento que nos permite muitas experiências cênicas, mas sua presença nos palcos e espetáculos passou por diversas etapas e segue em transformação.

Na origem do teatro ocidental, na Grécia antiga, por volta do século V a.C., as encenações eram realizadas nos teatros que ficavam nas encostas das montanhas e a luz natural era a única disponível para iluminar as tragédias e comédias.

Preparação

Todo avanço tecnológico acaba por ser apropriado pelas linguagens da Arte, oferecendo novas possibilidades de criação. O desenvolvimento dos recursos de iluminação para a cena pode ser visto como um exemplo das transformações profundas pelas quais o teatro passou ao longo de sua história. As inovações técnicas que chegam às artes da cena ampliam suas possibilidades expressivas e se abrem para o surgimento de novas linguagens. O fato de um evento teatral deixar de depender da luz natural, por exemplo, implica o surgimento de novos formatos e de novas explorações espaciais. Destaque-se, ainda, que um recurso tecnológico novo não elimina o uso de outro mais antigo, já que qualquer tipo de iluminação pode ser utilizado atualmente. Não existem recursos melhores ou piores, e seus usos se relacionam com a estética que se deseja explorar em cena.

Orientações

As apresentações começavam com o nascer do sol e seguiam até a noite. Havia uma preocupação de que a construção dos teatros seguisse a orientação do Sol para que se obtivesse o máximo de aproveitamento da luz.

Mais tarde, na Idade Média (476-1492 d.C.), a igreja era o local que abrigava certo tipo de expressão teatral, os dramas litúrgicos, e a iluminação fazia uso dos vitrais dessas construções para criar algum efeito cênico.

Foco na BNCC

Ao identificar a função da iluminação na realização cênica, é desenvolvida a habilidade EF69AR26.

Ou seja, cumpre-se o objetivo de compreender, pelo viés da iluminação teatral, como cada época desenvolveu as suas tecnologias e as utilizou como recurso de cena.

A proposta é perceber um elemento teatral, a iluminação, como uma tecnologia em constante transformação ao longo da história. Você pode convidar o professor de História para um breve resgate histórico de cada período contemplado no texto. Outra possibilidade é explorar a noção de tecnologia presente em cada momento em estudo, de modo que amplie a visão da turma para esse conceito. Ajude os estudantes a perceber como cada época lidou com o que havia disponível para resolver as questões de iluminação cênica. Essa conversa pode ajudar a diminuir ou reposicionar a ideia de evolução no sentido de uma técnica ser melhor que outra. É interessante perceber a transformação de algo, na medida em que as condições para que isso ocorra também seguem esse movimento.

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Vitral.
Representação de um teatro da Grécia Antiga. Caio Boracini Caio Boracini

Para saber mais

O livro Função estética da luz (Perspectiva, 2012), escrito por Roberto Gill Camargo, complementa o percurso exposto nesta Trilha e permite uma ampliação do entendimento a respeito do papel da iluminação teatral.

Quando o teatro volta a ser apresentado nas ruas e arredores das igrejas ou praças, a luz natural novamente passa a ser a principal fonte. Algumas apresentações eram realizadas nos castelos e em tavernas. Nesses casos, a iluminação era feita com tochas e archotes.

Passando pelo Renascimento, por volta do século XVI, o teatro volta a ser feito em ambientes fechados. Nesse período, e por muito tempo, as velas eram a única opção de sistema de iluminação disponível. Os teatros possuíam grandes janelas que eram abertas para a entrada de luz nas apresentações vespertinas. À noite, um grande número de velas garantia visibilidade precária para as apresentações. Grandes candelabros ficavam suspensos e iluminavam tanto o palco quanto a plateia. Havia uma equipe responsável por trocar as velas entre um ato e outro da peça. Esse sistema, utilizado durante os séculos XVII e XVIII, trazia riscos para as pessoas, em razão do cheiro, do derretimento da cera e da possibilidade de incêndio. Ainda durante o século XVIII, lampiões eram usados para iluminar a cena e a plateia. Os riscos para o público e artistas se mantinham, já que gotas de azeite quente podiam cair sobre a cabeça das pessoas. Mesmo o uso de querosene, mais tarde, produzia fuligem e queimava bastante combustível.

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Candelabro com velas. Lampião. Archotes. Caio Boracini Ilustrações: Caio Boracini

Ainda que esse tipo de iluminação fosse instável, de difícil controle e sem foco, nesse período começaram a ser pensadas formas de ocultar a luz. Surgiram as ideias de ribalta, arandela, contraluz e luz lateral. Existem descrições de experimentos com garrafas de vidro com líquido colorido para tentar criar efeitos e do uso de objetos de metal, como bacias e bandejas, usados como superfícies refletoras.

O surgimento da iluminação a gás e seu uso dentro da sala de espetáculos, por volta de 1850, trouxe algumas conveniências para o evento teatral: mais intensidade de luz, possibilidade de regulá-la, fachos mais estáveis, controle centralizado da iluminação e efeitos individualizados, que viabilizavam isolar cenas.

Ao mesmo tempo, ainda não era o sistema de iluminação ideal, pois o cheiro era forte dentro da sala de espetáculo, podendo causar intoxicação. Também se produzia muita fuligem e ainda havia o perigo de incêndios e explosões. Nesse período, era obrigatória a presença de um funcionário chamado fiscal de fogo para garantir a segurança.

No final do século XIX, com o advento da luz elétrica, a iluminação teatral começou a ser pensada como elemento artístico. As luzes usadas na parte de baixo do palco eram chamadas de ribalta, e as gambiarras eram as luzes que ficavam suspensas acima e lateralmente.

Atualmente, a palavra “gambiarra” apresenta diversos significados. Um deles tem o sentido de improviso, de algo malfeito ou precário. Mas, no sentido teatral, trata-se de uma extensão com diversas lâmpadas, algo parecido com aquelas usadas na decoração de Natal e em outras cerimônias. Essa extensão pode ser feita com luzes coloridas ou todas da mesma cor.

Orientações

A busca pelo uso de cor na iluminação é antiga. Você pode propor uma pesquisa sobre a teoria das cores de acordo com Leonardo da Vinci, Isaac Newton e Goethe, além de outros estudiosos que se dedicaram a esse tema. É possível pesquisar, também, a diferença das cores quando são usadas na iluminação ou na forma de tintas e pigmentos. As duas situações são maneiras diferentes de compor algo com o uso das cores.

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Mecanismo rudimentar para gerar luz colorida. Caio Boracini Ribalta de velas. Caio Boracini

Bate-papo com o professor

Converse com a turma sobre como a iluminação cênica se transforma com o uso de recursos aparentemente simples, como a ideia dos líquidos coloridos para inserir cores em cena. Cada época inventa sua tecnologia. Com a chegada da iluminação elétrica aos teatros, multiplicaram-se as possibilidades de criação e de composição cênica por meio da luz. Para colocar cor em refletores elétricos, foram desenvolvidos filtros coloridos resistentes ao calor, chamados gelatina. A manipulação de refletores por atores e atrizes em cena é um recurso explorado por muitos artistas e iluminadores, estabelecendo um jogo com a teatralidade desse elemento.

Somente a partir de 1879, começou-se a apagar a luz da plateia, colocando o foco no que acontecia no palco. A partir daí, a iluminação deveria estar a serviço da cena.

As descobertas e transformações tecnológicas do século XX beneficiaram e ajudaram a expandir os elementos da iluminação cênica. O surgimento do ciclorama alterou a estrutura do palco e, com a luz, ajudou a criar o efeito de infinito. Outros elementos cênicos, como cenário e figurinos, também sofreram alterações, já que a luz elétrica revelava de maneira mais nítida a tridimensionalidade das coisas. Aos poucos, refletores coloridos também passaram a compor o sistema de luz da caixa preta.

O aperfeiçoamento tecnológico dos equipamentos de iluminação contribuiu e continua contribuindo para as possibilidades de encenação no teatro e demais artes da cena. Existem diversos tipos de refletores que propiciam diferentes efeitos, cores e intensidades de luz. Mais recentemente, refletores de LED passaram a ocupar os sistemas de iluminação, permitindo novas experiências para os iluminadores.

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Caio Boracini Canhão refletor de LED. Refletor. Caio Boracini

Outro elemento que permite um controle mais apurado da iluminação de uma peça é a mesa de controle. Essas mesas de luz foram se aprimorando e funcionam por meio de comandos que permitem acender e apagar, regular a intensidade e, em alguns casos, mudar a cor dos refletores em uso durante a cena.

Bate-papo com o professor

Depois de percorrer a história da iluminação, incentive os estudantes a investigar a história de outros elementos cênicos, estabelecendo, se possível, uma conexão interdisciplinar com o professor de História. Essa pesquisa pode ser feita individualmente ou em grupos, de acordo com o elemento de interesse de cada estudante.

Atividade complementar

Para cada espetáculo, o iluminador cria um mapa de luz de acordo com sua perspectiva estética e com as possibilidades técnicas, distribuindo os tipos de refletores disponíveis no espaço onde a peça será apresentada.

Proponha à turma uma atividade de campo virtual com o objetivo de conhecer melhor um sistema de iluminação teatral contemporâneo e sua composição na caixa preta. Organize uma visita interativa ao Theatro Municipal, localizado em São Paulo (SP), para a observação e tomada de notas. O recurso encontra-se disponível em: https://theatromunicipal.org. br/pt-br/visita-interativa/ (acesso em: 22 jul. 2022). Oriente os estudantes para prestarem atenção à parte do passeio que mostra a iluminação do palco e a estrutura da caixa preta. Eles podem elaborar um relatório sobre o que viram e, posteriormente, discutir com a turma suas descobertas e impressões.

Agora que você conhece um pouco da história da iluminação teatral, que tal pesquisar o surgimento e a transformação de outros elementos cênicos? Caso precise de dicas ou mais orientação, peça a ajuda do professor de História. Ele pode recomendar fontes de pesquisa e compartilhar curiosidades sobre o tema.

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Exemplo de mapa de luz. Caio Boracini Mesa de controle. Caio Boracini

Preparação

A partir deste momento, a abordagem da tecnologia, embora continue presente nos elementos do espaço cênico, passa a ser focada na ideia de manipulação, ou seja, torna-se uma ação. Para introduzir esse tema com a turma, faça uma breve análise do que foi visto e vivenciado até aqui. Monte uma coleção de imagens de fotógrafos lambe-lambe e de retratos em preto e branco. Apresente esse material à turma e perceba como lidam com ele, que questões surgem, que histórias se relacionam com ele etc. Ao final, coloque a questão: O que essa prática tem a ver com teatro? É provável que as respostas se relacionem mais com o aspecto da imagem do que com o artefato em si. Aproveite para expandir a discussão.

Orientações

O interessante a ser percebido e discutido é como os elementos de determinada linguagem, no caso a fotografia, inspiram soluções em outras linguagens ou áreas. Novamente, entra em pauta o debate acerca da necessidade ou do desejo de algo que traga uma solução criativa, de acordo com os recursos disponíveis. A ideia de um teatro em miniatura, com todos os elementos possíveis (luz, som, figurino, cenografia, personagens e dramaturgia), está baseada no aparato fotográfico usado pelos fotógrafos de jardim de meados do século XX. Proponha um debate sobre o resgate e a transformação de tecnologias consideradas antigas em soluções para questões atuais, do nosso tempo. Esse teatro em miniatura e seus elementos precisam ser trabalhados manualmente pelos artistas. Além da manipulação dos bonecos personagens das histórias, há a manipulação da linguagem teatral em uma escala menor, em termos de proporção espacial e física. Perceba quantos temas se abrem para discussão com a turma.

Manipulação, tecnologia e teatralidade

Agora, vamos pensar sobre a ideia de tecnologia relacionada à manipulação dos elementos cênicos para o planejamento de uma encenação. Uma peça de teatro vai se desenvolvendo ao longo de um tempo no qual a sala de ensaio torna-se um verdadeiro laboratório. Cada cena, personagem, figurino, maquiagem, luz, cenografia, trilha sonora e objetos de cena podem ser inventados, testados e transformados durante a etapa de elaboração de um espetáculo. A imaginação pode ser exercitada como ferramenta tecnológica de criação, não apenas artística, mas de modo geral em nosso dia a dia. E quando não dispomos de meios tecnológicos para realizar determinado projeto, podemos inventar dispositivos com materiais alternativos que estão ao nosso alcance. De modo criativo, solucionamos as necessidades de expressão de um evento cênico.

Teatro lambe-lambe

A cearense Denise Di Santos e a baiana Ismine Lima são duas artistas, educadoras e bonequeiras que apresentam seus trabalhos nas escolas, ruas e praças de Salvador (BA).

[Histórias encaixotadas]

Teatro Lambe-Lambe é um projeto do Grupo Varanda Teatro composto por quatro espetáculos inspirados nos artistas Oswaldo Goeldi, René Magritte, Pablo Picasso e Tarsila do Amaral. São Paulo (SP), 2020.

Foco na BNCC

Ao conhecer e valorizar o trabalho de artistas e de grupos de teatro, é mobilizada a habilidade

EF69AR24

Além disso, este conteúdo promove o objetivo de conhecer o teatro lambe-lambe e explorar suas potencialidades cênicas.

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José Victor Gomes Denise Di Santos e Ismine Lima ao lado da caixa do espetáculo A dança do parto Salvador (BA), 2017. Festival de lambe-lambe Salvador 2020

Em 1989, elas precisaram criar um trabalho que as ajudasse a desmistificar a história da cegonha que trazia os bebês. Para isso, criaram uma boneca de espuma para uma peça que teria a cena de um parto natural. A dupla de bonequeiras logo percebeu que, por se tratar de um tema íntimo, o ideal seria apresentar a história em um lugar com mais privacidade. Foi então que se lembraram dos fotógrafos lambe-lambe, também conhecidos como fotógrafos de jardim. Tal qual a iluminação cênica, a fotografia foi criada e realizada de diferentes formas ao longo da história. Os fotógrafos lambe-lambe trabalhavam em espaços públicos utilizando uma câmera que parecia um caixote, contendo um laboratório agregado e um pano preto onde se posicionavam para tirar a foto e depois revelá-la.

Não existe uma versão única para explicar o nome desse tipo de fotografia. Ela não está associada à colagem de imagens em paredes, que também se chama lambe-lambe, pois nesse caso o nome refere-se ao uso de um tipo de cola típica dessa técnica.

Uma versão diz que o nome fotografia lambe-lambe é devido ao fato de que os fotógrafos precisavam lamber a placa de vidro que era usada como negativo para escolher o lado em que iriam colocar a emulsão fotográfica. Pode ser, também, que o nome venha da ação dos fotógrafos de lamber os envelopes que continham as fotos produzidas para fechá-los antes de entregar aos clientes. Dizem, ainda, que o nome era lambe-lambe porque os clientes lambiam as mãos para depois arrumar os cabelos antes de tirar as fotos.

Mas voltando às necessidades teatrais da dupla de artistas, o desafio foi reduzir tudo o que acontece em um teatro para caber dentro de uma caixa. Cenografia, iluminação, personagens, tudo foi desenvolvido em escala menor, transpondo cada elemento e suas tecnologias para possibilitar a realização da cena. Assim, estava criado o teatro lambe-lambe!

Atividade complementar

Convide os estudantes a pesquisar a história da fotografia, desde o daguerreótipo, passando pelas máquinas portáteis, analógicas e digitais e pelos processos de revelação e impressão de imagens, podendo chegar até a linguagem cinematográfica. Organizem uma linha do tempo que pode ficar exposta na escola para todas as turmas, despertando o interesse pelo assunto.

Os fotógrafos lambe-lambe surgiram no começo do século XX e tiveram seu ápice nas décadas de 1940 e 1950. Roma, Itália, 2015.

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Stefano Carocci/ Alamy/ Fotoarena

Para saber mais

A Cia Andante, de Canelinhas (SC), também se dedica ao teatro lambe-lambe e desenvolveu um projeto que produz revistas especializadas no assunto. Você pode acessar e baixar os exemplares disponíveis em: https://www.cia-andante.com. br/revista-lambe-lambe (acesso em: 16 jul. 2022).

De um lado da caixa fica o manipulador, ou lambeiro, e do outro, o público que assiste ao espetáculo por um buraco ou fresta. De modo geral, os espetáculos são apresentados para uma pessoa de cada vez, por isso, cada espetáculo dura, em média, entre três e cinco minutos. A dramaturgia e a sonoplastia são ouvidas por meio de fones de ouvido. Manipulador e público escutam a mesma trilha, simultaneamente, para que a manipulação aconteça no tempo certo, de acordo com o que a pessoa está assistindo.

A experiência do teatro lambe-lambe é de compartilhar um momento de intimidade, como se um segredo estivesse sendo contado. A brevidade desse encontro coloca o foco do espetáculo naquilo que ele tem de essencial. Não há espaço para divagações. É um teatro de síntese, com histórias simples e diretas, mas que demandam pesquisa, desenvolvimento e aplicação de técnicas e estratégias para se contar uma história. Nesse sentido, diversas técnicas podem ser utilizadas dentro de uma caixa de teatro lambe-lambe.

No espetáculo A dança do parto, realizado pela dupla de criadoras, os personagens eram manipulados de forma direta, ou seja, as mãos do manipulador estavam em contato direto com o boneco. Algo muito parecido com o bunraku, teatro japonês de manipulação de bonecos – vamos falar sobre ele em breve. A manipulação por varas e fios é outra possibilidade, além do teatro de sombras e até o uso de vídeos. Tudo isso, não vamos esquecer, em miniatura.

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Observe a imagem.
Zé Paiva/Pulsar Imagens
Espetáculo de teatro lambe-lambe. Canelinha (SC), 2017.

Nas fotos abaixo, vemos que o formato da caixa não segue um padrão e vai se adequando de acordo com a necessidade e com a história que a caixa conta. Como a experiência é sintética, é comum que o formato e o lado de fora de uma caixa de lambe-lambe tragam informações do universo e da história que ela carrega. Formatos diferentes pedem soluções diferentes por parte dos criadores e manipuladores, que se dedicam a pesquisar elementos e técnicas que os ajude a contar determinada história. Isso faz com que o teatro lambe-lambe tenha um formato democrático de elaboração e apresentação teatral. As caixas podem ser feitas de modo simples ou mais elaborado. Tudo depende do repertório e da intenção de cada artista no momento de criar sua caixa.

Para aprofundar

O grupo Girino é uma companhia de teatro de Belo Horizonte com muitos anos de pesquisa no teatro de bonecos e no teatro de animação. O Girino também é responsável pela realização do Festival de Teatro em Miniatura (Festim), que reúne espetáculos de teatro em miniatura e de teatro lambe-lambe. Confira o site do festival: http://www.festim.art.br (acesso em: 16 jul. 2022) e conheça variadas possibilidades de espetáculos lambe-lambe, diversos artistas e grupos e outras atividades formativas.

As caixas de lambe-lambe podem ter formatos variados, conforme a história que contam. Apresentação da Cia. Mala Caixeta no Parque do Carmo. São Paulo (SP), 2014.

Festival Internacional de Lambe-Lambe, evento difundido por Denise Di Santos, entre outros artistas. Salvador (BA), 2020.

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Davi Ribeiro/Folhapress Festival Internacional do Teatro de Lambe-Lambe de Salvador

Preparação

Antes de iniciar o desenvolvimento do tópico “Bunraku”, pode ser interessante pesquisar e retomar com os estudantes outros tipos de teatro de bonecos, destacando o modo como eles são construídos e manipulados.

Orientações

O bunraku é uma forma japonesa de teatro na qual são usados bonecos, misturando música e narração. Levando em conta os outros tipos de manipulação usados em diferentes teatros de boneco, provoque a turma a refletir sobre a teatralidade gerada pela presença do manipulador em cena.

Atividade complementar

Convide a turma a pesquisar outras formas de teatro oriental e a presença de tecnologias nessas expressões artísticas. Se possível, estabeleçam paralelos entre as tecnologias nos teatros ocidental e oriental. Importante lembrar que não existe um jeito melhor ou mais correto de fazer teatro nem uma tecnologia melhor que outra. É mais rico perceber os diferentes modos de criação e de utilização de acordo com as necessidades.

Foco na BNCC

Ao conhecer e valorizar o trabalho de artistas e de grupos de teatro internacionais, é mobilizada a habilidade EF69AR24

Cena do espetáculo 80 000 000. Criado pelo artista francês Bruno Rudolf, tem como tema pessoas em condição de refugiados. Festim 2021 –Festival de Teatro em Miniatura organizado pelo grupo Girino. Belo Horizonte (MG), 2021.

Assim, o teatro lambe-lambe conquistou espaço também fora do Brasil e hoje está presente nas ruas e nos espaços públicos de mais de trinta países das Américas, da Europa, da África e da Ásia.

Bunraku

A presença de bonecos no teatro é bastante antiga e se manifesta em diversas partes do mundo.

Observe a imagem da página seguinte. Ela mostra uma cena de bunraku, uma forma de teatro de bonecos que é herança da cultura popular no Japão. São bonecos com articulações e de manipulação direta. São necessários três manipuladores – chamados de titereiros – para cada boneco: o titereiro-chefe é responsável pelos movimentos da cabeça, olhos, sobrancelhas, boca e braço direito do boneco; o primeiro titereiro auxiliar é chamado de titereiro-da-esquerda e é o responsável pelo braço esquerdo do boneco; por fim, e não menos importante, existe o titereiro-das-pernas, que cuida da movimentação das pernas do boneco.

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A caixa “Gato negro”, da artista argentina Gabriela Cespedes, por exemplo, mistura manipulação por varas com manipulação direta e projeção de vídeo. Na imagem abaixo, temos o ponto de vista do espectador que assiste ao espetáculo. Peça Gato negro, da artista argentina Gabriela Céspedes, do grupo Gabriela Clavo y Canela, apresentada no MINI – Festival de Teatro Lambe-Lambe. São José do Rio Preto (SP), 2019. Juanjo Saldivar/Acervo Gabriela Cespedes
Bruno Rudolf

Observe que, em relação ao boneco, os titereiros ficam no mesmo nível, ou seja, ficam visíveis para o público. Mas apenas o titereiro-chefe pode aparecer com o rosto descoberto. Os outros dois usam um figurino todo preto, inclusive uma espécie de máscara para esconder o rosto.

• Na sua opinião, como esse modo de manipulação, em que a presença do manipulador fica evidente no palco, interfere em nossa percepção da cena?

A sintonia entre os três titereiros é o que garante a beleza do bunraku e o realismo na movimentação dos bonecos. Eles precisam estar muito conectados e ensaiar bastante, pois nesse tipo de teatro não há muito espaço para improvisar.

Jogo teatral: manipular e ser manipulado

Vamos utilizar a técnica de manipulação direta do teatro de bonecos para experimentar uma forma de expressão cênica, jogando com a linguagem dos bonecos a partir de movimentos do corpo.

1 Formem grupos de seis integrantes. Dois farão o papel de bonecos. Quatro serão seus manipuladores, dois para cada boneco. Um comanda o lado direito, braço e mão, e o outro, os mesmos membros do lado esquerdo. A cabeça e o tronco podem ser comandados pelos dois manipuladores, revezando-se entre si. Quem estiver no papel do boneco deve confiar nos manipuladores e experimentar deixar cabeça, tronco e membros serem, de fato, manipulados. Um dos manipuladores também fará a voz do boneco.

2 Cada manipulador deve explorar um pouco o membro que vai manipular, movimentando-o com cuidado e estudando como funcionam as articulações pelas quais será responsável.

3 Depois, sempre com cuidado e respeito, os manipuladores podem explorar situações simples como sentar, levantar, caminhar, escrever uma carta, tirar uma foto etc.

4 Todos os integrantes do grupo devem se revezar nos papéis de boneco, manipulador e voz. No final, vocês podem conversar sobre as sensações de quando manipularam, de quando foram manipulados e de terem feito as vozes dos bonecos. Depois, escrevam um pequeno texto relatando a experiência.

Avaliação formativa

Durante toda a Trilha, é importante averiguar o progresso dos estudantes na apropriação de conhecimentos e competências, considerando também seu engajamento nas práticas, postura adotada em trabalhos colaborativos e capacidade de comunicação, entre outros aspectos. Esse levantamento e análise pode ajudar no planejamento das próximas aulas e na adaptação das propostas para o perfil da sua turma e dos seus estudantes. Perceba, ainda, se foi possível expandir a noção da tecnologia para além dos dispositivos desenvolvidos pela indústria.

Preparação

Repita o aquecimento corporal já feito anteriormente com a turma. O foco são as articulações do corpo. Vocês podem girar as articulações, oito vezes para cada lado, e os dois lados do corpo: pé direito e pé esquerdo, joelhos, articulação coxofemoral, cintura, ombros, cotovelos, punhos, dedos e pescoço. Uma breve conversa sobre respeitar o corpo do colega e também os próprios limites pode ser um bom momento para definir acordos entre todos da turma.

Orientações

A resposta para a pergunta dessa página é pessoal, mas espera-se que os estudantes reconheçam que a presença dos manipuladores em cena evidencia, a todo momento, que estamos diante de uma apresentação. Quanto à prática, após definir os grupos e o papel de cada estudante, reserve um tempo para que cada manipulador possa explorar seu lado. Isso é importante também para quem está no papel de boneco, para que entenda o toque e os comandos de cada lado do corpo. Você deve acompanhar cada grupo para que os estudantes tenham cuidado entre si na manipulação. Deixe nítido que se trata também de um exercício de confiança. Todos devem experimentar as duas funções.

Dependendo do andamento da turma, é possível sugerir pequenas ações a partir de uma música de fundo. Na roda de conversa, estimule os estudantes a registrar o que lhes chama a atenção e que pode ser usado em algum trecho do relato da experiência, que deve ser feito por escrito. Essa proposta de escrita pode ser destacada por você como uma ação de manipulação do lápis ou da caneta pelos estudantes. Além disso, é possível conversar sobre toda a tecnologia envolvida nessa ação: desde a fabricação do papel, da caneta ou do lápis até a tecnologia corporal, muscular, óssea e cognitiva presente no ato de escrever.

Foco na BNCC

Ao experimentar processos de criação que possibilitam vivenciar um tipo específico de dramaturgia, é trabalhada a habilidade EF69AR27.

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Werner Forman/Universal Images Group/Getty Images
Cena de um bunraku. Osaka, Japão, 1980.

Orientações

Como forma de introduzir o assunto desta página, você pode convidar dois estudantes para manipularem-no enquanto você apresenta as informações iniciais. Movimentos de braços, ombros, cabeça e mãos podem acompanhar a sua explicação.

A partir do exemplo do espetáculo da companhia Théâtre du Soleil, estimule a turma a pensar e conversar sobre a ideia de pesquisa artística, que enxerga o teatro como laboratório prático de experiências cênicas. O exemplo mostra-nos o resultado de uma pesquisa de linguagem que resgata uma expressão teatral para ser explorada, criando outros sentidos mais conectados com o nosso tempo. Novamente, o tema da teatralidade se evidencia tanto no sentido de sua construção quanto no da sua manipulação. Uma pesquisa em artes cênicas pode se dar em cada um dos elementos da cena, separadamente ou em conjunto. O resgate de práticas e técnicas tradicionais e seu tensionamento com os contextos atuais podem gerar experiências cênicas interessantes, capazes de instaurar debates sobre forma e conteúdo, linguagem e teatralidade. Tudo isso amplia a nossa percepção acerca das possibilidades do teatro e da sua relação com a realidade em que estamos inseridos e escolhemos discutir artisticamente por meio de uma cena ou peça.

A resposta para a pergunta da página é pessoal. Observe se os estudantes apontam que um ator e uma atriz, com trajes orientais, estão contracenando em um palco. Atrás deles, há duas pessoas com o figurino todo preto, atuando como manipuladores e trazendo para a cena a influência do teatro bunraku.

Manipulação como código do teatro contemporâneo

A manipulação de bonecos em cena é um elemento de teatralidade explorado de diferentes maneiras pelos encenadores. Um exemplo dessa apropriação da técnica pode ser visto no espetáculo Tambores sobre o dique (no original, Tambours sur la digue), da companhia francesa Théâtre du Soleil (Teatro do Sol).

• Como você descreveria a imagem abaixo?

A história da peça foi baseada em fatos reais e nos conta que uma grande inundação ameaça os moradores de uma pequena cidade, destruindo os diques que a protegem. A encenação se apropria de diferentes elementos do teatro oriental e a manipulação dos bonecos do bunraku é utilizada como jogo cênico. Na peça, atores e atrizes em cena atuam como se fossem bonecos, sendo manipulados o tempo todo por outros atores e atrizes que usam um traje preto, sempre com muito treino técnico e ensaio, realizando toda movimentação e gestualidade com precisão. O trabalho corporal se estende à ação dos atores manipuladores que desenvolvem uma espécie de coreografia com os personagens que manipulam, como podemos notar na foto abaixo.

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Cena do espetáculo Tambores sobre o dique, da companhia francesa Théâtre du Soleil. Direção: Ariane Mnouchkine. Paris, França, 1999. © Martine Franck/Magnum Photos/Fotoarena

O efeito cênico alcançado com essa escolha da encenação é ampliado pelos trajes e pelas cenografias usados durante a peça, criando uma atmosfera oriental. Desse modo, vemos uma técnica tradicional do teatro de bonecos ser apropriada pelo teatro contemporâneo como um procedimento artístico. Nas propostas atuais, esse tipo de apropriação é comum e não envolve apenas conhecimentos ligados à arte.

A pesquisa de linguagem é um traço marcante do Théâtre du Soleil e esse trabalho rendeu prêmios importantes para a companhia. Criada em 1999, a peça foi transformada em filme em 2002. O processo de filmagem do espetáculo foi registrado em um documentário, adicionando mais um ponto de vista a ser trabalhado pelo elenco, que deveria fazer a cena para as câmeras.

Como temos visto, o teatro atual, em conexão com a cultura mundial globalizada, tem liberdade para utilizar técnicas tradicionais das artes da cena e ressignificar seus procedimentos. Quando o Théâtre du Soleil apresenta uma criação com atores inspirada no bunraku, lança um novo ponto de vista sobre essa tradição. Essa opção estética provoca o público a refletir sobre a própria essência do teatro, uma linguagem que se dá por convenção, isto é, toda apresentação teatral ocorre por meio de um acordo entre público e artistas. Explicando melhor: quando um ator sob um foco de luz diz que está tomando sol, ninguém da plateia questiona que aquela luz não é um raio de sol – o público aceita o jogo cênico dos atores.

• Se você fosse produzir um espetáculo com manipulação de bonecos, como ele seria?

Orientações

A resposta para a pergunta do livro é pessoal. Permita que os estudantes imaginem um espetáculo apenas com bonecos, ou também com atores atuando como bonecos. Se possível, promova uma roda de conversa para compartilhamento das obervações.

Para aprofundar

Assista a um trecho do making of do documentário sobre a filmagem da peça Tambores sobre o dique, de 2002. No vídeo, disponível em https:// youtu.be/uwG7jukHEHM (acesso em: 16 jul. 2022), é possível observar detalhes da filmagem e do trabalho dos artistas, tanto em cena quanto nos bastidores, além de conferir o processo de ensaiar uma cena repetidas vezes e o jogo entre personagens e manipuladores em cena. Os elementos da cenografia, da iluminação, da trilha sonora e dos figurinos também são destacados no making of

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© Michèle laurent
Outra cena do espetáculo Tambores sobre o dique, da companhia francesa Théâtre du Soleil. Direção: Ariane Mnouchkine. Paris, França, 1999.

Preparação

Convide a turma a experimentar, de forma prática, uma pesquisa cênica. Retomando a prática anterior, caso seja possível e haja interesse, leve vídeos com trechos de apresentações de bunraku. Esse recurso pode aproximar os estudantes desse universo teatral e inspirar pontos de pesquisa para além da manipulação: a sonoridade da música e do texto recitado, por exemplo.

Orientações

Esta prática retoma a anterior e propõe um desdobramento. Auxilie na divisão dos grupos para que seja possível o exercício com dois bonecos, seus manipuladores e uma ou duas pessoas para cuidar da dramaturgia. A pesquisa prática tem como objetivo a criação da cena. Cada etapa da cena (a escolha das ações que melhor possibilitam a exploração dos movimentos e da manipulação, o registro das ações e as decisões que gerarão a dramaturgia) faz parte da pesquisa prática. É interessante que você reforce essa característica de tempos em tempos para os grupos. Depois de criadas e ensaiadas as cenas, caso tenha exibido os exemplos de bunraku, em vídeo, você pode retomar a questão das sonoridades e propor que pesquisem modos de colocar o texto em cena a partir do que assistiram. Atenção: por se tratar de uma sonoridade distante da nossa realidade, pode ser que cause estranhamento, em um primeiro momento, gerando reações negativas. Cuide para que a turma perceba e respeite as diferenças artísticas e temporais. Coloque o foco no modo como as sonoridades se expressam e desafie os grupos a produzir algo que se comunique com a nossa realidade. O viés da pesquisa deve ser mantido. Na etapa das apresentações, oriente o registro de cada cena. Esses registros podem ser socializados no momento da discussão final do processo, assim como as reações do público para cada cena.

Atores como bonecos construindo a cena

A partir do treinamento realizado na prática anterior, é hora de experimentar como essa opção estética – dos atores como bonecos – pode produzir significados para quem a assiste. Formem grupos e sigam os passos abaixo.

1 Quantas pessoas do seu grupo se dispõem a atuar como boneco? Quem se disponibiliza para o papel de manipulador? Após definirem a função de cada um, criem uma cena curta, que mostre uma situação de relação entre dois bonecos. É importante que alguém registre a dramaturgia da cena, colocando as falas e as ações de cada boneco. A cena não deve conter apenas diálogo, mas incluir ações físicas ou até objetos a serem manipulados.

2 Para ensaiar e obter um resultado convincente, é importante entender com bastante clareza cada uma das partes da cena escolhida. Como ela começa, se desenvolve e termina? Vejam, a seguir, um exemplo do início de uma cena dividido por ações.

• A cena começa quando o personagem X entra no palco e senta-se em uma cadeira.

• O personagem Y surge do outro lado, acena para X e começa a caminhar em sua direção.

• Começa um diálogo: Texto do diálogo

• X se levanta e começa a gesticular enquanto caminha. E assim por diante... De acordo com o exemplo, podemos entender que cada um desses momentos requer ações de manipulação do corpo da atriz ou do ator que estará em cena.

3 Feita essa separação da cena em forma de lista de ações, é necessário que o grupo crie coletivamente movimentos específicos de manipular e ser manipulado para cada item descrito.

4 Definidas as movimentações de cada uma das partes, é hora de realizar ensaios, ou seja, treinar os movimentos até que adquiram ritmo e precisão.

5 Terminada a etapa de ensaios, organizem a sequência de apresentações dessas cenas para toda a turma. Se possível, registrem as apresentações em fotos e vídeos.

Ao final, é importante que cada grupo entenda como sua cena foi recebida pela plateia. Como a movimentação dos bonecos-atores interferiu nos significados da cena? Como uma ação simples em que dois personagens conversam, por exemplo, ganha novos sentidos a partir da presença dos “manipuladores” em cena?

Foco na BNCC

Esta prática permite a investigação da gestualidade e de construções corporais, desenvolvendo a habilidade EF69AR29.

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A movimentação dos bonecos-atores deve ser feita com cuidado e gentileza. Japão, 2015.

Tecnologias de um passado recente

Conforme pudemos perceber, é bastante comum que espetáculos teatrais da atualidade utilizem tecnologias que já existem há certo tempo e que chegam até nós por diferentes vias.

Experimente um breve exercício: faça uma lista de objetos que você tem na sua casa e que, no seu entendimento, reconhece a presença da tecnologia. Entre esses objetos, quantos e quais são de outra época? Quantos e quais objetos pertencem aos seus pais ou avós e não são mais usados porque foram substituídos por objetos mais modernos? Tente imaginar quantas histórias esses objetos possuem (ou peça a seus familiares que as relatem). E quantas outras histórias eles podem ajudar a contar?

Muitas de nossas memórias estão relacionadas a objetos que fizeram parte de algum evento de nossa vida. Um brinquedo que era o preferido na infância, mas logo veio outro brinquedo, mais moderno, que se tornou o novo brinquedo favorito, e assim por diante. O ser humano, suas memórias e relações são temas recorrentes no teatro, colocados e discutidos em cena de diversas maneiras. Não importa se a encenação é grandiosa ou simples. O teatro é feito por pessoas e para pessoas, ou seja, independentemente da dimensão, o teatro é um encontro de humanidades.

A Cia. Luna Lunera, de Belo Horizonte (MG), é fruto de um curso profissionalizante de teatro – falaremos das profissões na área de teatro mais adiante. Trabalhando a partir de notícias de jornal e textos em prosa, em 2007, o grupo criou o espetáculo Aqueles dois. O ponto de partida foi o conto de mesmo nome do escritor brasileiro Caio Fernando Abreu (1948-1996), além de depoimentos dos atores. Observe a imagem a seguir.

Preparação

O Contraponto convida-nos a perceber como a nossa convivência com artefatos tecnológicos vai além da função que eles desempenham. Os aparelhos e demais objetos que mantemos conservados, mesmo depois de serem substituídos por outros mais recentes, fazem parte da memória individual e coletiva. As tecnologias são formas de comunicação e carregam símbolos de uma época. A máquina de escrever, por exemplo, tornou-se um signo para uma série de sentidos, um objeto que se abre para diversas interpretações, dependendo do contexto em que está. Os estudantes, nativos digitais, provavelmente não convivem com esse objeto. Converse com a turma para mapear como eles percebem objetos dessa natureza, como a televisão de tubo ou o telefone com disco. Tecnologia também é linguagem e pode ser uma porta de entrada para o mundo da arte.

Orientações

Cena do espetáculo Aqueles dois, da Cia. Luna Lunera, com os atores (da esquerda para a direita) Cláudio

Dias e Rômulo Braga. Belo Horizonte (MG), 2007.

• Que elementos do cenário você identifica? Algum desses objetos aparece na lista que você fez anteriormente?

A peça conta a história da relação entre Raul e Saul, dois funcionários de uma repartição pública. Como a história tem apenas dois personagens, os quatro atores se alternam nesses papéis e também sugerem outros personagens que eventualmente aparecem na história.

Em alguns momentos, dois atores fazem o personagem Raul ao mesmo tempo, e o personagem Saul também é interpretado simultaneamente pelos outros dois atores. Essa multiplicação dos personagens possibilita um jogo com cenas concomitantes, organizadas de forma a revelar diferentes traços das personalidades desses personagens. Esse jogo permite, ainda, uma sobreposição de tempos e espaços: uma dupla de atores pode mostrar uma cena do passado dessas figuras, enquanto a outra mostra uma cena do futuro.

Foco na BNCC

Ao identificar os diferentes elementos envolvidos na composição cênica e ao ter contato com diferentes dramaturgias e espaços cênicos, são mobilizadas as habilidades EF69AR26 e EF69AR27.

Um dos objetivos desse conteúdo é apresentar artistas e conceitos de Arte que se apropriam de tecnologias para a produção de obras híbridas que criam diálogos entre o passado e o presente.

A resposta para as perguntas do livro são pessoais. Na primeira pergunta, os estudantes podem citar as luminárias, as máquinas de escrever, o telefone com fio e o monitor de computador.

Atividade complementar

Peça aos estudantes que criem uma cena curta de uma situação em que a tecnologia seja um elemento determinante da dramaturgia. Peça também que pensem como a tecnologia pode interferir em uma situação entre os personagens, por exemplo.

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Diego Pisante

Orientações

Pergunte à turma: Quais são as tecnologias presentes em seu cotidiano? Como essas tecnologias podem influenciar em seu sentido de identidade? Essas perguntas podem revelar se os estudantes têm acesso aos recursos tecnológicos disponíveis e como se apropriam deles. Tente conversar sobre quais significados atribuímos às tecnologias, ou mesmo à falta de acesso a elas, e sobre como nosso comportamento e nossas ideias são influenciados por essa presença em nossa vida.

Quanto à pergunta que pede aos estudantes que mencionem como descreveriam a imagem da performance O datilógrafo, espera-se que eles apontem que o artista está sentado em frente a uma construção que parece ser antiga, veste roupa social e suspensórios e faz uso de uma máquina de escrever. Aproveite as perguntas do trecho “Você conhece a máquina de escrever? Já teve a oportunidade de usar uma?” para pedir aos estudantes que contem suas experiências e que estabeleçam relações entre a máquina de escrever e o computador, que é um aparelho bastante comum na atualidade.

O espaço cênico é formado por objetos que remetem a um escritório e também a uma casa. Gavetas, luminárias, máquina de escrever, telefones, computadores, pequenas mesas, televisão, violão e outros elementos são dispostos no espaço cênico e vão sendo reorganizados pelos próprios atores, de acordo com a necessidade das cenas.

Com esse jogo de tempos e espaços, um lado do palco pode ser o escritório e, ao mesmo tempo, o outro lado é a casa. Não é preciso um cenário de casa ou escritório. Apenas o jogo com alguns elementos e a relação dos atores com eles é capaz de sugerir todos os lugares onde a peça se passa.

Perceba que o uso dos objetos e a combinação deles em cena contribuem para estabelecer uma atmosfera que faz referência a determinada época. Basta deslocarmos um dos objetos desse cenário e podemos criar outras camadas simbólicas de significação.

A mesma dinâmica é utilizada na performance O datilógrafo, do artista Fernando Ribeiro, que vive e trabalha em Curitiba (PR).

• Como você descreveria a imagem ao lado?

Essa performance foi desenvolvida em São Paulo (SP) durante a Exposição Terra Comunal: Marina Abramovic + Mais, em 2015. Nos dois meses de duração da sua performance, Fernando passava de seis a oito horas por dia transitando com sua máquina de escrever por todos os espaços do centro cultural onde acontecia a exposição. Por vezes, escolhia um lugar e ali começava a registrar o que estava vendo e suas sensações a respeito daquilo. Tudo isso acontecia com Fernando em silêncio, mesmo estando em contato direto com o público. Para a maioria das pessoas que passeavam pelo espaço cultural, a presença de Fernando poderia passar despercebida. Mas quando ele começava a datilografar, o som característico da máquina chamava a atenção de quem passava por perto ou mesmo de quem ouvia o barulho, que procurava sua fonte.

Você conhece a máquina de escrever? Já teve a oportunidade de usar uma? É muito comum, hoje em dia, que as pessoas desconheçam a máquina de escrever. Esse fato, inclusive, foi aproveitado pela performance para despertar a curiosidade das pessoas. Isso criou outro jogo temporal dentro do trabalho, uma performance de longa duração que se apoia na ideia do registro, e que acontece por meio de um aparato mecânico quase não visto mais nos tempos atuais. Dessa forma, o artista conseguia chamar a atenção para o ato do registro em si, mexendo com a memória de quem conhece e viveu a datilografia e despertando o interesse daqueles que nunca viram essa tecnologia ou ouviram falar dela.

Com essa performance, o exercício diário da observação e da escrita vai ganhando novos significados. Partindo de um objeto cotidiano, Fernando nos convida a refletir sobre a questão da intenção, pois ela pode mudar toda a nossa relação com qualquer ação que realizamos. O objetivo da performance não era produzir um livro, mesmo que o objeto usado pelo artista pudesse ser usado para essa finalidade. A figura do datilógrafo, com sua máquina e seu figurino, provocava no público reflexões sobre o tempo, a prática da presença, da percepção e da escuta de si e do entorno, das escolhas, da organização do conteúdo e do registro em si.

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Fernando Ribeiro
Performance O datilógrafo, do artista Fernando Ribeiro. São Paulo (SP), 2015.
Fernando
Performance O datilógrafo, do artista Fernando Ribeiro. São Paulo (SP), 2015.
Ribeiro

Registrando memórias

• Você conhece esses dispositivos e aparelhos? Já usou algum deles?

Nas imagens, vemos fitas cassete, dispositivos que armazenam informações sonoras, e dois gravadores, usados para registrar e reproduzir vozes, sons e músicas. Esses objetos foram muito populares entre pessoas que viveram em uma época anterior aos celulares e à internet. Quando são tirados do cenário e do tempo em que eram utilizados, tais objetos podem ser vistos como símbolos de uma época. Se algum desses aparelhos está presente em sua casa, então você já teve contato com os significados que eles possuem para as pessoas.

• Que memórias são associadas a eles? Se você não conhece nenhum de perto, que imagens e significados pode atribuir a eles?

Nessa prática, continuaremos seguindo os rastros de formas de expressão que remetem ao passado como suporte de uma ação poética. Para isso, convidamos você a encontrar maneiras de registrar algumas memórias pessoais e ligadas ao meio escolar. Se possível, use um aparato mecânico ou eletrônico que remeta a um tempo passado, como máquina de escrever e gravador de fita cassete. Ainda é possível usar o gravador de som do celular. Se você não tem acesso a nenhum desses dispositivos, será que poderia conseguir com alguém que trabalhe na escola, solicitando à coordenação, ou mesmo pedindo emprestado a um professor ou pai de algum colega? Tome cuidado ao manusear os dispositivos e devolva-os nas mesmas condições em que os recebeu.

Preparação

Os meios eletrônicos e digitais que utilizamos para registrar acontecimentos da vida são uma forma de preservar as memórias de algo que merece ser guardado. Muitas vezes, atribuímos valores afetivos a esses registros, que se transformam em testemunhos de pessoas, lugares e experiências vividas. Converse com a turma sobre as relações entre memória e subjetividade, um tema bastante recorrente na arte. Quando nos lembramos de algo, naturalmente editamos essa memória de acordo com o que foi mais marcante naquela vivência e com o valor e o significado que atribuímos a ela.

Orientações

Tente conversar com os estudantes sobre que tipos de experiência podem mobilizar as emoções em uma pessoa. Como eles se relacionam com suas lembranças? Mapeie quais possibilidades de registro podem ser exercitadas em sua turma. Se possível, ofereça mais de uma opção para que cada estudante escolha aquela com a qual se sente mais à vontade. As respostas para as perguntas dessa seção são pessoais e levam em conta as experiências e as memórias de cada estudante.

Foco na BNCC

Ao participar de processos de criação que envolvem aspectos da vida cotidiana e ao identificar a presença da tecnologia na realização de manifestações artísticas, são trabalhadas as habilidades EF69AR25, EF69AR31 e EF69AR35

Além disso, é desenvolvido o objetivo de experimentar a linguagem do teatro pela perspectiva da transformação dos materiais do cotidiano e da utilização de aparatos tecnológicos.

127 127 Africa Studio/Shutterstock.com
Renphoto/iStockphoto.com Nirad/iStockphoto.com Outro modelo de aparelho antigo de toca-fita e gravador, 2015. Fitas cassete, 2016. Modelo de aparelho antigo de toca-fita e gravador, 2009.

Bate-papo com o professor

Ao propor a produção de um registro poético, é importante afastar a ideia de que toda criação poética deve ter uma elaboração complexa. Realizar esse registro poético é dar vazão aos conteúdos subjetivos que uma memória pode despertar, é focar os aspectos sensíveis e os sentidos poéticos que nos conectam a essa memória. Lembre os estudantes de que são protagonistas de suas histórias. Narrar algo sob o ponto de vista das emoções que os fatos produzem é uma ação poética. Adjetivos, cores, imagens simbólicas, jogos de palavras, experimentações de formatos inusitados, tudo pode ser recurso expressivo para expor algo que só existe na interioridade de quem está se comunicando.

Independentemente das questões levantadas anteriormente, você também pode optar pelo formato de um diário escrito – um instrumento igualmente simbólico, permeado de imagens poéticas em torno de seu uso. Personagens de filmes, peças de teatro e da literatura nos contaram histórias envolventes ligadas aos seus diários, como Anne Frank (O diário de Anne Frank), Helena Morley (Minha vida de menina) e Amyr Klink (Cem dias entre o céu e o mar).

1 Após escolher ou arranjar o suporte de seu registro, você deve escolher também o que será registrado. Momentos marcantes podem ser gravados de modos singulares, em formatos menos usuais, ou até na forma de poemas ou músicas. E mesmo o jeito como você manuseia seu suporte comunica algo sobre sua história de vida. Lembre-se de que o foco é produzir um material que expresse uma linguagem poética. De qual tema gostaria de tratar? Em qual linguagem? E de que modo isso poderia ser compartilhado com as outras pessoas?

2 Realize e revise seus registros, garantindo que eles se encontram em um formato aberto a interpretações poéticas. Depois disso, é hora de compartilhá-los com uma plateia. Organizem a sala para que todos possam expor e escutar o acervo de memórias que se formou. Como você gostaria de compartilhar essas narrativas, ou trechos de narrativas, que envolvem sua história de vida, pessoas próximas, sentimentos? Como essa atmosfera íntima pode ser traduzida em cena? Qual iluminação combina com o que será escutado? Há uma mesa ou uma cadeira no espaço da cena? Você vai se valer de algum adereço, ou vai realizar gestos que ajudam a compor o clima confessional? Ajuste com cuidado cada um dos elementos, afinal, você estará em cena! Sentindo-se pronto para se apresentar, convide sua plateia.

Você já tinha ouvido falar sobre Anne Frank? Sabia que existem diários de outras crianças judias que sofreram a perseguição e a violência do regime nazista no período do Holocausto? Na Enciclopédia do Holocausto, você pode ler um artigo sobre os diários escritos por essas crianças e adolescentes, aprender mais sobre o que foi o Holocausto e acessar conteúdos relacionados ao assunto. Esses registros pessoais, mesmo tendo sido feitos por pessoas tão jovens e que não eram escritores, representam importantes e ricos documentos históricos, que preservam a memória, as emoções e os pensamentos de quem viveu uma situação tão crítica.

DIÁRIOS escritos por crianças durante o Holocausto. Enciclopédia do Holocausto, [s. l.], [20--]. Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/ content/pt-br/article/childrens-diaries-during-the-holocaust. Acesso em: 2 jun. 2022.

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Cristiano Casonati/Shutterstock.com Máquina de escrever de 1955. Itália, 2021.

Conectados em cena

Agora vamos ver um exemplo de como o teatro pode chegar mais longe na sua capacidade de promover encontros, seja entre pessoas, seja entre linguagens, e como isso pode ser materializado em cena. A relação entre as pessoas foi tema e ponto de partida para a criação do espetáculo Eu é outro: ensaio sobre fronteiras, realizado pelo Coletivo Coato, grupo residente do Teatro Vila Velha em Salvador (BA). O uso da performance e de dispositivos tecnológicos também faz parte dos trabalhos do grupo.

• Como você identifica o uso de tecnologia na cena a seguir? Que sensações isso gera em você?

Esse espetáculo foi criado a partir da parceria entre o grupo baiano e o grupo paulistano Phila7. O Coletivo Coato se dividiu, e uma parte do grupo ficou dois meses trabalhando com o grupo de São Paulo. Durante esse período, a comunicação entre o grupo de artistas reunidos em São Paulo e os demais membros do Coletivo Coato, que ficaram na Bahia, deu-se por meio virtual. Ao fim, essa estratégia foi transposta para a cena e está presente em diversos elementos usados pelo elenco. A cenografia recebe projeções de vídeo, transformando o espaço concreto da cena em um território simbólico de encontros por meio de imagens e paisagens de outros tempos e lugares. Microfones e refletores portáteis também são usados pelo elenco, que ainda toca instrumentos e dança em determinadas cenas.

A ideia de ensaio, presente no título da peça, é assumida como proposta de encenação. Normalmente, um ensaio faz parte do período em que a peça ainda está sendo construída, pensada e ensaiada. É um período vivo de tentativas e erros, de construção e desconstrução. Quando o grupo escolhe manter esse clima de exploração dos materiais e temas da peça no que diz respeito ao resultado cênico, abre-se um espaço de diálogo com o público no sentido de compartilhar o processo de criação de uma peça, convidando a plateia a criar junto, cada um com sua interpretação dos estímulos produzidos em cena.

Além da mistura de tecnologia e de outros elementos de cena e da combinação de linguagens – teatro, dança e vídeo –, em determinados momentos da peça o elenco dialoga diretamente com o público, revelando e transpondo mais uma fronteira: a da quarta parede, que separa palco e plateia. Perceba como, nesse espetáculo, as fronteiras entre as linguagens e também entre as pessoas acabam se misturando, diluindo-se. O teatro, mais uma vez, mostra-se como um lugar de encontro consigo mesmo e com o outro. Um espaço para a experimentação e a criação de outros significados e olhares para questões relevantes de nosso dia a dia e do lugar onde vivemos.

Atividade complementar

Provoque a turma a criar uma dramaturgia baseada em trocas de mensagens de texto e imagens via celular. Pode ser uma conversa com alguém que more em outra cidade, estado ou mesmo outro país. As imagens da conversa podem inspirar cenários que seriam projetados na cena, enquanto as mensagens de texto serviriam de base para a dramaturgia.

Preparação

Estabeleça uma conversa com a turma sobre a tecnologia e o mundo globalizado, discutindo como as distâncias parecem ter diminuído por conta dos meios de comunicação em tempo real e como a tecnologia pode influenciar nossa noção de presença.

Orientações

Partindo do princípio de que, em geral, qualquer espetáculo de teatro faz uso de diferentes tecnologias, como a iluminação que já foi feita com velas, o uso de espelhos para refletir a luz do sol, o som, que pode ser gravado ou feito ao vivo, pode-se estimular uma discussão sobre nossa relação atual com a tecnologia dos computadores e celulares, ou seja, uma tecnologia que antes não estava presente no meio das artes cênicas. Com base no tema do espetáculo Eu é outro: ensaio sobre fronteiras, você pode propor um debate sobre como esse tipo de tecnologia pode afetar as relações interpessoais, em contraponto com a questão presencial que está na essência do teatro. Destaque o uso da tecnologia de comunicação como parte do processo de criação da peça e, depois, como elemento colocado em cena. Mais adiante, essa perspectiva da presença em relação com a tecnologia será desdobrada em outro tipo de experiência cênica. Quanto às perguntas sugeridas no livro, espera-se que, na primeira, os estudantes indiquem a projeção de imagem que compõe a cenografia ao mesmo tempo que é projetada sobre os atores que estão em cena; a resposta à segunda pergunta é pessoal.

Deixe nítido que a proposta não visa expor ninguém, mas transpor um mecanismo de contato interpessoal para o formato cênico. Quem se sentir à vontade, pode compartilhar a sua dramaturgia para que outras pessoas da turma experimentem encená-la.

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Cena do espetáculo Eu é outro: ensaio sobre fronteiras, do Coletivo Coato. Festival Cena Contemporânea. Rio de Janeiro (RJ), 2018. Giovani Rufino

Preparação

Vamos continuar promovendo reflexões e práticas sobre as influências da tecnologia na nossa noção de presença. Prepare um ambiente para mostrar aos estudantes a animação Ama-me, Tema-me, de Veronica Solomon, disponível em: https://vimeo.com/448617702 (acesso em: 4 julho 2022). A seguir, escute as impressões deles sobre as atitudes dos personagens. O que mais lhes chamou atenção? Com qual personagem ou situação eles se identificam? Como será que a diretora teve essa ideia e como fez para realizá-la?

Orientações

Comente com a turma o conceito de criatividade, perguntando o que cada um gosta de criar. Reforce que criar é uma prática diária que não tem relação com talento. Trabalhar a criatividade é dar presença a ideias, ou seja, realizar ações para materializar a manifestação de um conceito ou pensamento.

Toda ideia nasce de um lugar e, geralmente, nossas inquietações nos levam a buscar soluções para as situações paradoxais da vida. Paradoxo é algo que pode ser bom e ruim ao mesmo tempo; por exemplo, estar feliz por poder se conectar com todo mundo e ficar triste por se sentir solitário sem a presença de outras pessoas. Pergunte aos estudantes se eles se identificam com esses sentimentos.

Em uma roda de conversa, reflita sobre situações em que as pessoas fizeram algo para chamar a atenção de alguém ou de um grupo e sobre como elas se sentiram quando não obtiveram sucesso em suas tentativas.

Foco na BNCC

Ao analisar práticas em que as linguagens da Arte se integram à linguagem audiovisual, é mobilizada a habilidade EF69AR03.

Assim, este conteúdo abrange o objetivo de explorar a presença de recursos tecnológicos em diferentes expressões do teatro e a construção de efeitos e significados.

Tecnologia do movimento

Graças aos recursos audiovisuais, artistas de outras linguagens – como a do cinema de animação – podem contar com a ajuda de atores e dançarinos profissionais para pesquisar tipos de movimentos para os personagens que desejam criar. A pergunta que foi o tema gerador do curta-metragem de animação Ama-me, Tema-me (título original Love me, Fear me) era: O que você estaria disposto a fazer para que as pessoas lhe amassem? A animação é uma reflexão sobre os papéis que desempenhamos na sociedade e as formas que tomamos, comparando os palcos do filme com os espaços ou as mídias que escolhemos para atingir e tentar impressionar determinado público.

A necessidade de ser aceito e amado na sociedade e a vontade de mudar e se adaptar para conseguir isso é um fenômeno psicológico que pode representar o perigo de se perder nas questões essenciais da vida ao tentar demais ser outra pessoa; afinal, nossa identidade dentro da sociedade pode se tornar uma ilusão cuidadosamente construída e uma sombra de nosso verdadeiro eu.

Medir a autoestima pela quantidade de curtidas que se recebe em uma postagem nas redes sociais, pelo número de seguidores que se tem ou pelos compartilhamentos que se conquista pode parecer um assunto banal e inofensivo,

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Cena da animação Ama-me, Tema-me, dirigida por Veronica Solomon, 2018. Veronica Solomon Cartaz da animação Ama-me, Tema-me, dirigida por Veronica Solomon, 2018. Veronica Solomon
logico, logica!

mas, de modo geral, estamos suficientemente inseridos na era da mídia social para reconhecer e identificar que, em alguma instância, todos estamos suscetíveis a isso. A diretora do filme Ama-me, Tema-me, Veronica Solomon, traz à tela uma versão dessa vontade de aprovação e aceitação social a qualquer custo. O curta-metragem tem seis minutos de duração, nenhuma fala, muito movimento, e nos faz refletir sobre a profundidade das relações humanas na sociedade atual.

O filme animado conta a história de um personagem sem nome, metamórfico, que anseia desesperadamente pela validação do público. Nas cenas, ele persegue os holofotes e se reinventa por meio da cor, da forma e do estilo de movimento.

A ajuda dos dançarinos foi fundamental para que a diretora tivesse boas referências de movimento para o processo de modelagem das figuras. Após filmar a dança, ela pôde transferir para o personagem formas de um artista circense, de uma pessoa sensual, de um lutador, entre outras imagens que se misturam, até que a transformação para algo irreconhecível acontecesse.

A animação em stop motion é um processo meticulosamente longo. A parte da dança teve a cobertura dos coreógrafos e dançarinos Gabriel Galindez Cruz e Martha Hincapié Charry (citada na Trilha 2).

Orientações

Após terem refletido sobre as questões audiovisuais, exiba novamente a animação Ama-me, Tema-me, agora com foco na relação entre o trabalho dos dançarinos e a técnica de animação com massinha.

Stop motion: técnica que trabalha com o registro de fotos sequenciais de um mesmo objeto ou pessoa com uma pequena alteração entre uma e outra para simular movimento.

Cenas do making off de Ama-me, Tema-me para captação dos movimentos dos dançarinos Martha Hincapié Charry e Gabriel Galindez Cruz, 2018.

Peça aos estudantes que imaginem como os artistas dançaram no estúdio quando atuaram como modelos de movimento para a animação.

A diretora Veronica Solomon escolheu como técnica de animação o stop motion. Assim, os coreógrafos e dançarinos Martha Hincapié Charry e Gabriel Galindez Cruz fizeram várias sequências de movimentos que foram gravadas em vídeo. Seus gestos, saltos, rolamentos e torções ajudaram os animadores a inventar os corpos e criar a movimentação dos bonecos com mais veracidade. Esses bonecos eram feitos de massinha e, com a câmera fixa, foi tirada uma foto para cada pequeno movimento deles. Pergunte aos estudantes como se movimentariam caso fossem convidados a criar mais um personagem para esse filme de animação.

Interdisciplinaridade

Procure destacar mais uma vez o uso de técnicas e da tecnologia em produções de filmes de animação. Convide o professor de Língua Inglesa para assistir aos bastidores da animação Ame-me, Tema-me, de modo que ele ajude a turma a entender as explicações das etapas de criação do stop motion. O vídeo está disponível em: https://vimeo.com/454693987 (acesso em: 5 de jul. 2022).

Na modelagem, os movimentos dos dançarinos ganham forma nos personagens da animação Ama-me, Tema-me, 2018.

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Veronica Solomon Veronica Solomon

Preparação

O formato de um evento cênico mediado pela tecnologia acaba por se configurar como linguagem híbrida, que surge da necessidade de experimentar o teatro, mesmo quando plateia e artistas estão impedidos de se encontrar pessoalmente. Dessa situação de restrição, surgiram inúmeras experiências de artes cênicas, testando os limites do vídeo como expressão e modo de interação em encontros virtuais. Faça uma recapitulação da noção de tecnologia trabalhada até aqui, buscando reforçar a amplitude desse conceito. A partir deste ponto, a tecnologia será vista de modo mais ligado à internet, por exemplo.

Orientações

Se os estudantes tiverem acesso à internet em seu cotidiano, conversem sobre quais são os pontos positivos e negativos desse recurso. Que atividades coletivas podem ser realizadas por meio da internet? E como os encontros remotos alteram as dinâmicas em grupo?

A resposta para a pergunta da página é pessoal. Leve os estudantes a perceber que, apesar de o ator estar em sua casa, ele está em cena virtualmente, enviando mensagens que conduzem o público na experiência proposta pelo grupo.

Para aprofundar

A comunicação, os afazeres domésticos, o aprendizado, o mundo do trabalho, do lazer e as interações em redes sociais estão permeados de tecnologias. O espetáculo Tudo que coube numa VHS, do grupo recifense Magiluth, apropriou-se dos meios de registro de imagens e voz que usamos para guardar nossas memórias como ponto de partida para criar esse espetáculo durante a pandemia de covid-19. Ele é virtual e, para participar, o público recebeu mensagens de texto, ligações e links que deram acesso a imagens e músicas.

Teatro virtual

Seguindo com o nosso percurso sobre tecnologia, o ano de 2020 nos colocou em contato maior com alguns aparatos tecnológicos, como computadores e celulares. Em razão da pandemia de covid-19, o mundo todo, de uma forma ou de outra, foi obrigado a se reorganizar para lidar com as questões impostas pelo novo vírus. O isolamento social foi uma das estratégias mais recomendadas para o combate à doença. Sendo a arte da presença e do encontro, o teatro descobriu maneiras de continuar juntando pessoas e gerar experiências de troca e afeto. E se o encontro possível, nesse momento, era o virtual, por meio das telas dos computadores e celulares, então os artistas começaram a explorar mais esses meios e suas possibilidades.

Magiluth – TudooquecoubenumaVHS

Conforme vimos, durante a pandemia, os grupos de teatro tiveram de se organizar e criar diferentes experiências de apresentações virtuais. Ter uma peça filmada e disponibilizada on-line não era suficiente. E mesmo que fosse possível, também não se tratava mais apenas de filmar uma cena ou peça e transmiti-la ao vivo. Observe a imagem a seguir.

• Você diria que se trata de um ator em cena?

Foco na BNCC

Ao conhecer práticas artísticas que incluem a tecnologia em sua produção e em seu compartilhamento, é desenvolvida a habilidade EF69AR35.

Assim, cumpre-se o objetivo de ampliar conceitos e possibilidades que ajudam no entendimento das produções de teatro de diferentes épocas como criações em constante diálogo com os adventos tecnológicos.

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Cena do espetáculo Tudo o que coube numa VHS, do Grupo Magiluth. Direção: Giordano Castro. Fortaleza (CE), 2020. Levy Mota

Tudo o que coube numa VHS é um trabalho do Grupo Magiluth, de Recife (PE), que foi desenvolvido e executado de maneira totalmente remota. Antes de mais nada, você sabe o que é uma VHS? Essas três letras vêm do inglês Video Home System e significam “Sistema de Vídeo Caseiro”, ou seja, um sistema para assistir a vídeos em casa. Para isso, era preciso ter um aparelho de videocassete conectado em uma televisão, como na imagem a seguir.

Orientações

Usando uma câmera filmadora, era possível gravar vídeos em uma fita VHS para depois serem assistidos em uma TV. Não era simples editar esses vídeos sem equipamentos profissionais, e, por isso, era comum que essas fitas reunissem muitos fragmentos de acontecimentos. Esse dado é relevante porque a ideia de uma história em fragmentos é usada pelo Grupo Magiluth nesse trabalho. Com ele, o grupo dá prosseguimento à pesquisa contínua sobre a relação entre ator e espectador. Cada pessoa interessada em participar deveria agendar seu horário e preencher um formulário com seus dados e as redes sociais que costuma utilizar. No dia e hora marcados, durante trinta minutos, aproximadamente, o público acompanhava a história de dois homens, seus encontros e desencontros. Usando o celular e algumas redes sociais, os atores do grupo conduziam, cada um, uma pessoa do público por vez. Como dito, essa história era contada de forma fragmentada e ia sendo construída a partir de mensagens de textos e fotos recebidas, vídeos que deveriam ser assistidos, músicas enviadas para serem ouvidas enquanto se lê um e-mail, que também traz pedaços dessa história. Perceba o uso que é feito das redes sociais como peças de um quebra-cabeça que se completa na imaginação de cada pessoa que participa desse “experimento sensorial”, como é chamado pelo grupo. Trabalhando a ideia do fragmento, a estrutura da peça se apresenta e funciona como uma gravação de fita VHS e também como a nossa memória, juntando partes, trazendo sensações, em um contínuo convite à criação compartilhada dessa história. E o fato de ser um experimento realizado totalmente no ambiente virtual fez com que o trabalho do grupo alcançasse um público que talvez nunca pudesse ver seus espetáculos ao vivo, já que são pessoas que vivem em outros países.

Nesse experimento, o Grupo Magiluth se lançou ao desafio de contar uma história por meio de fragmentos de histórias. Textos, fotos e imagens foram enviados ao público como pistas que revelavam o percurso dramático da peça. Você e sua turma podem experimentar esse tipo de criação de modo coletivo. Como aquecimento para esse processo de criação, em uma roda de conversa, peça a um estudante que dê início a uma narrativa; após um sinal sonoro disparado por você, a história deve passar a ser contada por outro narrador, no caso, o estudante que está à direita de quem começou a narração. Sem nada combinado previamente, esse novo narrador deve continuar a história a partir do trecho em que o colega parou, prosseguindo o improviso até que o sinal sonoro toque novamente, para outro narrador assumir. Esse procedimento simples pode fomentar a criatividade dos estudantes. Você deve estimulá-los a não se censurar, investindo na imaginação, mesmo que a história se torne absurda. Esta prática deve envolver a escuta atenta e a possibilidade de errar.

Para aprofundar

Você pode dividir a turma em grupos e solicitar que criem uma história com começo, meio e fim e adaptem essa narrativa a uma estrutura fragmentária. Isso significa pedir aos estudantes que elaborem um modo de contar essa história por partes, revelando pouco a pouco quem são os personagens e o que acontece, deixando lacunas na narração para que sejam preenchidas pela imaginação do público.

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LIAL/Shutterstock.com
Aparelho de videocassete conectado a uma televisão de tubo, 2020.

Preparação

O trabalho de Donasci exemplifica de modo nítido como as tecnologias podem se integrar a linguagens artísticas, de forma que interfiram em seus códigos de maneira impactante. Ao acoplar monitores e telas de vídeo ao corpo de atores, o artista coloca em questão a lógica do evento cênico, transformando os recursos utilizados e fazendo surgir uma nova linguagem, híbrida, que não é puramente teatro nem performance nem audiovisual, mas algo que nasce do encontro entre estes. A partir disso, o desenvolvimento tecnológico passa a delinear os caminhos dessa linguagem. Quando Otávio, após as inovações da indústria, deixa de usar os monitores de tubo e passa a criar figuras com as telas planas da tecnologia digital, suas videocriaturas ganham mais mobilidade. Além disso, as expressões e falas de seus personagens, que antes eram gravadas previamente, passam a ser responsivas, ou seja, as informações passam a ser processadas com rapidez, a ponto de poderem ser retransmitidas simultaneamente. Isso significa que antes suas videocriaturas só manifestavam palavras e expressões que haviam sido previamente gravadas. Depois, essas expressões e falas passaram a ocorrer em tempo real, tornando possível o diálogo entre as videocriaturas e o público.

A resposta para a pergunta dessa página é pessoal. A imagem do rosto dos personagens ampliada pelas telas coloca as expressões faciais em evidência. Essa simples operação ressalta a expressividade de cada ator e de cada atriz que tem seu rosto filmado e projetado na tela.

Para aprofundar

Esta pode ser uma boa oportunidade para debater com a turma intervenções estéticas no corpo, como piercings e tatuagens. O que esses elementos podem comunicar, expressar, para quem tem e para quem olha um corpo com essas marcas? Valores simbólicos, ações afirmativas de uma identidade, desejo de pertencer a um grupo ou de se destacar em meio à multidão? Tente mediar uma conversa, de modo que essas ações não sejam julgadas; cuide para que o grupo não defenda apenas uma posição contrária ou a favor dessas ações, mas que possa debater o tema de forma respeitosa com a diversidade de pontos de vista.

Videocriaturas: linguagem híbrida

Otávio Donasci (1952-) é um artista multimídia reconhecido por ter criado uma linguagem que mescla teatro, performance e tecnologia. Suas videocriaturas são seres híbridos compostos por atores cobertos de preto que “vestem” monitores de televisão sobre a região da cabeça. Os monitores eram fixados, inicialmente, em canos de PVC modelados e acoplados ao corpo dos intérpretes. Atualmente, existem próteses especialmente desenvolvidas para isso. Assim, as telas ocupam o lugar do rosto e exibem expressões previamente gravadas de atores falando ou cantando.

Foco na BNCC

• Olhando para as imagens, que efeitos expressivos essas figuras provocam na sua percepção?

As primeiras videoperfomances, como foram chamadas por Donasci, surgiram na década de 1980 e seguiram se desenvolvendo em formatos diversos, ampliando-se para proposições teatrais e participações em eventos televisivos. Do ponto de vista técnico, as primeiras videocriaturas eram inteiramente experimentais, valiam-se de conhecimentos que o artista foi adquirindo enquanto realizava suas experiências. De modo geral, tratava-se de uma ideia aparentemente simples, mas sua concretização apresentou vários desafios, como o peso dos aparelhos sobre os ombros dos atores, os movimentos corporais em relação a este suporte e até o modo como o fio que conectava os aparelhos à rede elétrica deveria ficar oculto.

O ponto de partida de Donasci era o desejo de mesclar tecnologia às artes da cena, criando personagens que pudessem expandir a expressividade dos atores por meio de dispositivos audiovisuais. E isso realmente aconteceu: os diversos formatos de telas e corpos de atores conferiram singularidades a cada um desses seres, somando-se às imagens dos rostos filmados em close e projetados nos visores. Sendo assim, uma combinação infinita de características poderia ser agregada às videocriaturas.

Ao explorar práticas que integram as linguagens da Arte à linguagem audiovisual, ao conhecer diferentes estilos cênicos e ao identificar a presença da tecnologia na produção de manifestações artísticas, são trabalhadas as habilidades EF69AR03, E69AR25 e EF69AR35 Além disso, é cumprido o objetivo de reconhecer a presença das tecnologias na sociedade e seus reflexos nas diferentes formas de expressão do teatro.

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VideoCriaturas, videoperformance de Otávio Donasci. São Paulo (SP), 1985. Acervo Otávio Donasci
logico, logica!

Olhando para as personagens criadas nessa junção de corpos humanos com aparelhos eletrônicos, que impressões você tem? Como você imagina que sejam suas vozes e os jeitos de se moverem? Que características você atribui a elas?

Procedimentos dessa natureza demarcam experimentos tecnológicos que surgem a partir de aparelhos eletrodomésticos deslocados de sua função original para serem utilizados como suportes de ideias artísticas. Após mais de 30 anos de experimentações e da grande evolução das tecnologias de transmissão de imagens, as videocriaturas também ganharam inovações, como a possibilidade da imagem do rosto projetado na tela ser captada e retransmitida simultaneamente, o que possibilita a interação da criatura com a plateia em tempo real. Otávio também criou trabalhos chamados de performances multimídias, em que explora as projeções de vídeo e a presença de atores em um mesmo espaço, em ações marcadas pelo hibridismo entre a linguagem da cena e do audiovisual.

As criações de Donasci são exemplos de como os limites entre as linguagens da arte podem se misturar na perspectiva contemporânea. Podemos considerar que seu trabalho é teatro? É audiovisual? É performance? A resposta pode ser sim para todas as perguntas, porque se relacionam com o ponto de vista pelo qual escolhemos nos aproximar das obras. Seus experimentos seguem se transformando em diálogo com as mídias, materiais, aparatos técnicos que se encontram disponíveis na atualidade. Esse caminho também acontece com suas ideias sobre arte, que se desdobram em novas investigações em constante desenvolvimento.

Orientações

As respostas para as perguntas apresentadas no primeiro parágrafo da página são pessoais. As diferentes fisionomias, assim como os corpos em tamanhos e formatos variados, abrem-se à interpretação dos estudantes sobre o que caracteriza cada personagem. O efeito de humor é evidente, uma vez que as figuras estão com as cabeças aumentadas, exagero típico das caricaturas. Seriam pessoas que estão se tornando máquinas? Seriam robôs que se parecem com pessoas? Seriam personagens de animação? Espera-se que eles façam suas próprias associações sobre a personalidade e os modos de falar e gesticular de cada figura.

Atividade complementar

Do ponto de vista teatral, trabalhe com modos de produzir expressividade por meio do acoplamento de materiais no corpo. Se possível, faça uma seleção de objetos e materiais, com a colaboração da turma. O conjunto não deve conter peças pontiagudas nem pesadas, nada que possa causar ferimentos. Pensem em materiais que possam aderir ao corpo com facilidade, com ajuda de fios, fitas ou prendedores. A partir do acervo reunido, a turma pode experimentar modos diferentes de aplicação. O foco é testar, ensaiar e criar movimentos, jeitos de caminhar e gesticular que sejam resultantes das interações com os materiais. Em uma segunda etapa, pode-se criar cenas em que os personagens que surgiram interajam entre si.

Interdisciplinaridade

Convide o professor de Ciências para participar da aula. Converse com a turma sobre as possíveis interações entre corpo humano e materiais desenvolvidos pela indústria. Desde o gesso que imobiliza o braço quebrado até o marcapasso implantado para ajudar no funcionamento do coração, todos esses materiais e métodos de interferência no corpo são frutos de desenvolvimentos tecnológicos somados a conhecimentos sobre o corpo e a natureza.

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Acervo Otávio Donasci
Artistas na videoperformance VideoCriaturas, de Otávio Donasci. São Paulo (SP), 1985. Artista da videoperformance VideoCriaturas, de Otávio Donasci, interagindo com uma pessoa do público também caracterizada como os personagens. Festival File, São Paulo (SP), 2014.
Acervo Otávio Donasci

Para aprofundar

O espetáculo Play on Earth (Teatro na Terra) mostra-nos como as artes da cena se reinventam e se adaptam às realidades e aos contextos de cada época, alargando as fronteiras das manifestações da arte sem perder o vínculo com aquilo que define uma linguagem. Teatro é encontro, e é isto que vemos no palco: atores presentes fisicamente contracenando com atores que se encontram em outras partes do mundo. A essência da linguagem teatral é mantida e transposta para a realidade das redes em tempos de pandemia. Um dos modos de apreender esse tipo de evento artístico é tentar imaginar como ele foi produzido. Mesmo sem ter acesso a esses detalhes, é possível concluir que um trabalho dessa natureza requer muito planejamento, reuniões virtuais com o elenco e os produtores de cada local, testes de som e de conexão, além de ensaios, muitos ensaios, porque, além da atuação, o elenco deve estar afinado com os tempos de transmissão e recepção próprios das mídias digitais. Mais uma vez, estamos diante de um trabalho híbrido, construído na relação direta com as possibilidades que a internet oferece.

Orientações

O modo como a peça foi construída é, por si só, a demonstração de um pensamento sobre arte. Ao optar por reunir atores que se encontram em lugares tão distintos, o espetáculo torna-se uma iniciativa multicultural, que coloca em foco a universalidade da arte e as possibilidades de vivenciar conexões humanas no mundo globalizado. Pergunte aos estudantes se eles conhecem pessoas que moram em lugares muito distantes. Que diferenças existem entre essa outra localidade e o lugar onde vivem? Os modos de trabalhar, a alimentação, as brincadeiras e a língua são diferentes?

O que essas diferenças contam sobre a identidade desses locais? Converse com os estudantes sobre quais fatores nos fazem sentir próximos ou distantes de pessoas que vivem em outra cultura. Discutam também como essas sensações, impressões e ideias podem ser materiais para a criação cênica.

Continentes conectados em cena

Além de ampliar o acesso de pessoas distantes à nossa realidade e, como vimos, aos trabalhos que produzimos, outra característica do uso da internet é a possibilidade de conhecer lugares ao redor do globo terrestre sem precisar sair do local onde estamos. Essa sensação de superar fronteiras nos permite explorar outras paisagens e realidades e, para o teatro, a internet torna viável que um ator em cena no Brasil possa interagir, em tempo real, com uma atriz que esteja em qualquer país do mundo, por exemplo.

Este é o caso da peça Play on Earth (Teatro na Terra), um projeto que reúne atores e atrizes do Brasil, do Reino Unido e de Singapura. A reunião desse elenco acontece em cena por meio da interação via vídeo e internet, e o público acompanha a história pelas telas sobre o palco, como podemos observar na imagem abaixo.

• Se você estivesse na plateia desse espetáculo, diria que está assistindo a uma peça ou a um filme? Ou às duas coisas?

• Que nome você daria para o que está assistindo?

O teatro, como lugar de encontro, amplia essa característica por meio de recursos técnico-digitais. Isso traz novas possibilidades para todos os profissionais envolvidos na criação de um trabalho como esse.

Três cenas em três palcos em lugares diferentes do mundo reunidas no espetáculo Play on Earth, dos grupos Phila7 (Brasil) e Station House Opera (Inglaterra). São Paulo (SP), 2011.

Além de poder ser assistida ao vivo, a peça é transmitida em tempo real pela internet, podendo ser vista na tela de um celular ou computador.

• O que você acha de todo esse alargamento de perspectivas pelo qual passou e passa a linguagem teatral?

As respostas para as perguntas da página são:

• Resposta pessoal. Teatro e filme acontecem ao mesmo tempo.

• Resposta pessoal.

• Resposta pessoal. A partir dessa pergunta, é possível propor um debate sobre a presença como fundamento da linguagem teatral.

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Acervo Phila 7

Uma história transmídia

Partindo do ponto de vista da linguagem teatral, vamos explorar a conexão com a linguagem audiovisual. Primeiro, reflita sobre a questão a seguir.

• Na foto da peça Play on Earth, é possível observar a interação entre vídeo e atores em cena. Agora, imagine-se como um diretor de teatro. Que outras possibilidades de interação entre vídeo, espaço cênico, objetos e atores você poderia criar?

Nessa prática, a ideia é buscar uma história que se relacione com sua identidade e criar uma proposta cênica para ela, o que na linguagem do teatro contemporâneo costuma ser chamado de dramaturgia. A ideia é descobrir maneiras de contá-la por meio da interação entre textos lidos em voz alta, cenas e imagens em um procedimento de criação coletiva.

Buscando histórias que queremos contar

Todas as histórias, inclusive as factuais, sofrem a interferência de quem as conta, seja no roteiro, seja no modo de contar do narrador, seja na ambiência criada para a realização do espetáculo. Quando você conta algo a alguém, consciente ou inconscientemente, faz escolhas sobre como começar, que palavras usar, se fará gestos ou não, se vai expressar sua opinião sobre o tema ou parecer neutro, adaptar, encurtar, mudar a ordem dos acontecimentos, ou pode se esquecer de detalhes importantes.

1 Escolha situações do seu cotidiano e pense como, a partir delas, você pode criar uma cena curta que provoque a reflexão sobre questões ligadas a um tema. Como uma cena extraída da vida pode ser traduzida para o teatro? Como ampliar os sentidos dessa cena para simbolizar um modo de olhar para o tema escolhido? Com humor, poesia, perguntas?

2 A cena pode ser elaborada por meio de uma improvisação dos atores a partir do acontecimento escolhido, criando variações desse acontecimento, até encontrar um formato que o grupo ache interessante. A cena pode ser escrita criando os diálogos a serem memorizados e ensaiados.

3 Organize com a turma uma exibição dos resultados. Vocês podem também propor um debate sobre as cenas representadas e os temas abordados.

A câmera altera a ação e a ação altera a filmagem

Após finalizar a primeira etapa, reflita sobre as questões a seguir.

• Como você transformaria a cena curta criada na etapa anterior para estabelecer uma relação entre o teatro e a linguagem audiovisual?

• Quais recursos audiovisuais e midiáticos poderiam se relacionar com a proposta cênica? Vídeos, fotografias atuais ou antigas para serem projetadas, materiais da internet, gravações de diálogos, cenas da televisão, publicidade, telejornais ou imagens de jornais impressos e revistas captadas em fotos?

• As imagens e/ou vídeos seriam projetados de que maneira? Em uma parede, no chão, no teto, em uma tela, no corpo dos atores, em uma televisão?

1 Nesta etapa, vocês escreverão um projeto a partir da cena criada. Planejem os elementos cênicos de acordo com os sentidos que pretendem criar: Como será o espaço da cena? Objetos serão utilizados no cenário ou pelos atores? Como será a iluminação? E a trilha sonora? E como será a interação entre a cena, os atores e os recursos audiovisuais que vocês escolherem?

2 Selecionem os recursos audiovisuais e façam testes com cada um deles para observar como essa interação entre a linguagem da cena teatral e a do audiovisual cria camadas de sentidos sobrepostas.

Foco na BNCC

Ao experimentar diferentes formas de dramaturgia e espaços cênicos e ao vivenciar improvisações a partir de estímulos variados, são trabalhadas as habilidades EF69AR27 e EF69AR30. Assim, cumpre-se o objetivo de refletir sobre o conceito de tecnologia como um campo de intersecções entre as linguagens da Arte.

Preparação

As perguntas que orientam esta prática dão a dimensão das opções e adaptações que podem ocorrer em sua realização. Será preciso fazer um investimento em sua organização por meio de anotações que incluam as ideias dos estudantes, as possibilidades de suportes a serem usados para contar essa história, assim como as etapas de criação e produção desse experimento cênico. O começo de tudo é inventar uma história, e você pode estabelecer os parâmetros dessa criação, de acordo com o contexto da sua turma. Se for possível partir de um exercício de escrita, seguido da leitura coletiva dos textos, peça auxílio ao professor de Língua Portuguesa. Caso opte pelas improvisações, estabeleça os critérios, os temas, um tempo para que cada grupo pense no que vai fazer e a duração desses improvisos. Em ambos os casos, a repetição das práticas é necessária para ajustes e maturação dos materiais levantados.

Orientações

Após realizar dinâmicas de criação para encontrar as narrativas que os grupos pretendem contar, é hora de solicitar a divisão dessas narrativas, de modo que cada fragmento de história seja representado por meio de uma linguagem; por exemplo, uma história que acontece como cena de teatro pode ter continuidade em vídeo e terminar como um texto escrito em cartazes. Mais do que definir esses diferentes formatos para comunicar a narrativa, é imprescindível escolher como as transições entre mídias devem acontecer. Daí a importância de um bom planejamento.

Cada fragmento de história deve conter uma cena completa no mesmo formato para depois migrar para outra plataforma. Essa conexão entre uma cena e outra merece ser bem cuidada, pois fará parte da encenação, por exemplo: Se uma cena acontece no palco e a cena seguinte é uma gravação com as vozes dos personagens, como acontece essa transição? Alguém entra em cena com um gravador e aperta o play? Os atores terminam a cena e ouvem a gravação? Ou saem do palco antes da transição? Todos esses modos de lidar com essas transições também são cenas.

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Preparação

Se for possível, convide um profissional de teatro, seja de nível técnico, seja universitário, para conversar com os estudantes. Depois, promova uma roda de conversa com eles para descobrir quais impressões o bate-papo causou e quais possíveis curiosidades o assunto suscitou. Se for de interesse dos estudantes, busque outros profissionais da área para participarem de outras interações.

Orientações

Converse com a turma sobre as profissões ligadas ao fazer teatral. É interessante reforçar a amplitude de profissões, isto é, mostrar que é possível fazer parte desse universo sem necessariamente estar em cena, atuando. Peça à turma que relacione as profissões citadas no texto com a ilustração da Coordenada. Teatro é coletivo, é estar, pensar, experimentar e criar junto. Se na sua cidade ou região existir algum curso livre ou de nível técnico ou superior em Artes Cênicas, convide a turma a pesquisar ou mesmo a visitar esses espaços para conhecer de perto essa realidade.

Por exemplo, pode-se projetar a cena de uma pessoa discursando sobre o corpo de um ator que gesticula e realiza seu discurso.

3 Pensem nas relações entre os audiovisuais e os elementos da cena: Que tipo de iluminação é necessária para as explorações com o audiovisual? Como os recursos disponíveis podem ser usados em cena?

Tapumes, cortinas, tecidos e espelhos podem oferecer soluções para limitar a entrada da luz natural ou criar focos específicos de iluminação. Também são úteis para estabelecer divisões no espaço da cena, o que vai influenciar a movimentação dos atores. São elementos de fácil acesso que podem ampliar as possibilidades estéticas e os sentidos metafóricos do conjunto formado por cena + projeção.

Para ajudar, pesquisem na internet referências de outras peças, buscando verbetes como “teatro e vídeo”, “videocenário”, “videodança” etc.

4 Mostrem o projeto aos colegas, ouçam as opiniões deles e conheçam os trabalhos que fizeram também.

Dá para ser artista de teatro?

Depois de atravessar esta Trilha e expandir o nosso olhar sobre a prática teatral, é hora de descobrir: Como eu posso trabalhar em teatro?

Diversas profissões envolvidas no fazer teatral.

Quando escolhemos fazer teatro, estamos escolhendo não apenas uma maneira de olhar para o mundo mas também um modo de agir no papel de cidadãos diante de questões que nos instigam no dia a dia.

E quando dizemos “fazer teatro”, devemos nos lembrar de que não se trata apenas de estar em cena como atores e atrizes. Ainda que, de modo geral, essa seja uma das portas de entrada para esse universo, o fazer teatral se relaciona com diferentes profissionais de muitas áreas. A experiência de estar em cena pode ser interessante para auxiliar nas suas percepções quando você estiver em outras funções, como direção ou dramaturgia, por exemplo. Nas demais áreas, diversos profissionais também podem ser chamados de artistas de teatro, tanto na Iluminação quanto na sonoplastia, que também inclui músicos e

Foco na BNCC

Ao conhecer e valorizar o trabalho de artistas e grupos de teatros brasileiros, é mobilizada a habilidade EF69AR24

Foco nos TCTs

Este conteúdo desenvolve o Tema Contemporâneo Transversal Trabalho ao abordar a carreira teatral em suas diversas possibilidades.

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Luciano Tasso

compositores; na cenografia, que podem ser arquitetos e também marceneiros, pedreiros; na contrarregragem; no figurino, com estilistas e costureiras; além da produção teatral, incluindo a bilheteria.

Tente se lembrar de grupos e espetáculos que você conheceu, seja presencialmente no teatro, nos livros de Arte ou pesquisando na internet. Cada espetáculo produzido por um desses grupos, ou por qualquer grupo de teatro, é uma ação pensada e organizada para reunir pessoas interessadas em debater, por meio da linguagem teatral, assuntos de interesse comum.

Quem decide seguir a carreira teatral pode escolher e se especializar nas diversas áreas que a profissão oferece, tanto em nível técnico como em nível superior. De modo geral, os estudos teatrais podem se iniciar ainda na escola ou em cursos livres oferecidos por espaços culturais.

A história do Fábrica das Artes, em Americana (SP), nos mostra como a parceria entre grupos de teatro que surgiram no contexto escolar é capaz de gerar espaços para que as artes cênicas possam existir e servir à comunidade.

Orientações

Por meio do exemplo dos grupos que formaram o espaço Fábrica das Artes, estimule os estudantes interessados a criar um grupo de teatro na escola, caso ainda não haja. Esse grupo não precisa ter como foco a montagem de um espetáculo de final de ano, por exemplo, mas pode ser um espaço de experiência coletiva para criação e estudos teóricos e práticos, tendo como base leituras de textos dramatúrgicos, textos técnicos e biografias de artistas da área, além da realização de exercícios físicos e jogos teatrais. A prática da improvisação também é uma opção de proposta de estudo para o grupo, além de considerarem realizar uma montagem de um texto que já existe ou que pode ser desenvolvido coletivamente. Se na escola já existir um grupo de teatro, verifique se na turma há estudantes que fazem ou já fizeram parte dele e peça que relatem suas experiências. Além disso, você pode incentivar a integração de novos membros não apenas da turma, mas de toda a escola.

Da união dos grupos TAJ – Arte e Expressão e Grupo de Teatro Pé Preto –, formados por estudantes de escola pública, surgiu o Grupo Teatral Ta’lento, conhecido como GTT. O grupo utilizava o anfiteatro da escola, uma vez por semana, para fazer exercícios teatrais e arriscar a criação de cenas. Logo o GTT convidou o diretor Carlos Justi para ajudá-los a se aprofundar nas práticas teatrais, conduzir os ensaios e montar um espetáculo.

Assim, com a montagem do espetáculo O julgamento, inspirado no texto Mauser, do dramaturgo alemão Heiner Müller (1929-1995), o grupo tornou-se conhecido não somente na cidade de Americana mas em diversas cidades do estado de São Paulo, sendo convidado a participar de alguns festivais de teatro. Enquanto preparavam o próximo espetáculo, o grupo soube que não poderia mais usar o espaço da escola para os ensaios e criações. E agora? Novamente, a união de dois grupos trouxe a solução. O GTT se juntou ao grupo Macamã Arte e Cultura, também de Americana, e juntos alugaram o galpão de uma fábrica desativada no centro da cidade. Assim nasceu o espaço cultural Fábrica das Artes.

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Espaço cultural Fábrica das Artes. Americana (SP), 2016. Fábrica de Artes

Orientações

Este conteúdo também possibilita o desenvolvimento da prática de pesquisa revisão bibliográfica. Para isso, organize os estudantes em grupos, definidos por áreas de interesse do Teatro, como cenografia, figurino, dramaturgia, tipos de teatro, e, então, proponha que realizem uma pesquisa sobre o assunto, levantando autores, artigos, textos, entre outras publicações. Cada grupo pode elaborar um documento, em um editor de textos digital compartilhado, no qual os integrantes indicarão suas contribuições após a pesquisa. Para cada item indicado é necessária a inserção da fonte detalhada, com autoria, nome da publicação, local e data, endereço eletrônico, entre outras informações que considerar importantes. Junto à indicação, os estudantes deverão inserir uma breve descrição do que a publicação contempla. Estabeleça um mínimo de publicações para que cada grupo componha sua revisão bibliográfica.

Sugestões de sites de pesquisa (acessos em: 16 jul. 2022):

• Foco in cena : http://www. focoincena.com.br/;

• Pecinha é a vovozinha!: http://www. pecinhaeavovozinha.com.br/;

• Enciclopédia Itaú Cultural: https:// enciclopedia.itaucultural.org.br/;

• Horizonte da cena: https://www. horizontedacena.com/;

• Augusto Boal: http://augustoboal. com.br/;

• Primeiro sinal: https://primeirosinal. com.br/sites/;

• Satisfeita, Yolanda?: https://www. satisfeitayolanda.com.br/blog/.

Na resposta à pergunta da página, os estudantes podem mencionar a plateia e um espaço que parece ser o palco.

Na imagem a seguir, vemos parte da estrutura interna do teatro, que conta com arquibancadas de madeira e capacidade para cem pessoas.

• Ao observar a foto, quais são os elementos de um espaço teatral que você reconhece?

No começo, o palco era o chão da antiga fábrica. Depois, eles construíram um tablado de madeira. Todo o sistema de luz e som foi adquirido aos poucos, por meio do trabalho dos grupos e de doações. Além desses lugares que vemos na foto, há ainda camarim, sala de ensaio e depósito para cenários, figurinos e adereços. Tudo foi construído e adaptado de acordo com o espaço da fábrica e as necessidades dos grupos que o mantinham.

Com o fim da parceria entre os dois grupos que usavam o Fábrica das Artes, veio a dúvida se o espaço continuaria. O GTT decidiu levar adiante a iniciativa que já se firmava como um lugar capaz de reunir pessoas interessadas na arte do teatro. Assim, desde 2018 o GTT habita o Fábrica das Artes, que, além de ser a casa do grupo, oferece eventos teatrais, musicais, sessões de cinema e um curso livre de teatro com turmas infantil, adolescente e adulto. Integrantes do GTT e artistas convidados são os professores e toda a renda é revertida para a manutenção do próprio espaço.

Mesmo que o foco do curso seja o trabalho de ator e de atriz, os alunos vivenciam todas as etapas e funções de uma montagem teatral. Dessa forma, ampliam seu olhar para a prática e ficam à vontade para fazer parte atuando em outras áreas do evento cênico. Muitos estudantes que passaram pelo Fábrica das Artes vislumbraram caminhos dentro da produção teatral e seguiram seus estudos em cursos profissionalizantes e até graduação em Artes Cênicas.

Durante a pandemia de covid-19, o espaço ficou fechado e as aulas passaram para o ambiente virtual, gerando novas perspectivas para professores e alunos. O aluguel do espaço foi saldado com o apoio de editais e leis de incentivo.

O Fábrica das Artes é uma referência para grupos da cidade e região e segue seu caminho como espaço de cultura e de formação para a comunidade por meio da arte teatral.

Portanto, se você tem interesse em descobrir se trabalhar em teatro é seu caminho, procure por cursos na sua cidade, comece a ler sobre a formação na área e pesquise sobre o assunto, buscando textos de dramaturgia, livros e artigos, entre outras bibliografias, que possam lhe auxiliar nessa descoberta. Você também pode acompanhar atores, atrizes, diretores e outros profissionais nas redes sociais e conhecer a atuação de grupos de teatro com os quais se identifique.

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Carlos Justi/ Fábrica de Artes
Interior do Fábrica das Artes. Americana (SP), 2016.

Preparação

A travessia em cena

Quantas aventuras até chegarmos aqui. Chegou o momento de repassar o percurso que você fez, rever paisagens que chamaram sua atenção e organizar o pensamento sobre o fazer teatral e as tecnologias.

Individualmente, revisite os momentos da Trilha que despertaram seu interesse. Observe e anote como esses momentos o afetaram: pela imagem, pelo texto, pela prática etc. Escreva um pequeno parágrafo sobre cada uma de suas escolhas.

Agora, vamos retomar o material que você produziu na prática “Registrando memórias”.

Leia, escute ou assista, ou seja, acesse o material que você produziu. Faça uma pausa para perceber como essas memórias reverberam em você neste momento. Em seguida, permita-se lembrar de quem era você e como você pensava o teatro no dia em que registrou essas memórias. Depois, escreva um pequeno texto sobre as mudanças que percebe em si mesmo e no seu processo com o teatro.

Agora, formem trios. Conversem sobre os materiais que possuem em mãos: os parágrafos sobre os destaques, as memórias e o pequeno texto sobre as mudanças pessoais.

Percebam quais ligações existem entre os materiais de vocês. Discutam as semelhanças e as diferenças das escolhas, memórias e percepções.

Por fim, vamos usar todo esse material para organizar uma dramaturgia da memória. Misturando o material do trio, vocês podem criar e ensaiar uma cena em que os personagens encontram um livro de memórias de um artista de teatro. Esse livro traz anotações pessoais e artísticas.

Quem são esses personagens? Onde e como eles encontram o livro? O que vão descobrindo por meio dele?

Trabalhando a ideia de fragmento, a proposta é que vocês possam oferecer aos colegas de turma uma reflexão cênica e coletiva da travessia feita ao longo desta Trilha.

Quando todos tiverem apresentado sua cena, conversem sobre o processo.

Ao retomar o conhecimento adquirido para uma criação teatral coletiva e colaborativa, é trabalhada a habilidade EF69AR28.

Peça aos estudantes que falem sobre suas trajetórias nesta Trilha, comentando, por exemplo, quais foram suas dificuldades, o que mudou em sua forma de pensar e o que aprenderam sobre si e sua relação com a tecnologia, não apenas no fazer teatral. Esta conversa inicial não precisa se alongar, pois trata-se apenas de uma forma de introduzir a proposta final.

Orientações

A proposta para que cada estudante se aproxime de suas memórias na relação com o teatro é uma forma de trazer à tona o que ainda reverbera e compreender melhor como cada um construiu a sua visão dessa arte. É importante frisar que esse exercício não é uma checagem do que foi aprendido, mas uma oportunidade de se perceber como alguém que viveu experiências com a cena. O foco é convocar lembranças pelo viés das sensações e da memória afetiva.

Avaliação formativa

A perspectiva poética das memórias dos estudantes será o material inspirador desta última criação. Ao serem partilhados com os colegas de trabalho, esses registros do trabalho teatral podem se misturar entre si, transformando-se em uma espécie de ficção. A cena criada não deve ser uma transposição precisa das experiências vividas, mas uma tradução que mescla os escritos do trio e oferece um tratamento poético ao material agrupado. Afinal, não se trata mais de memórias pessoais, mas das memórias do personagem criado para essa dramaturgia. A figura desse personagem-artista agregará não só os conhecimentos adquiridos pelos estudantes sobre teatro, mas suas ideias, sínteses e projeções a respeito do que é arte.

A prática de criar uma dramaturgia a partir das próprias vivências pode incluir experiências outros componentes curriculares e linguagens da Arte, desde que o eixo desse exercício seja propor uma situação teatral. Esse tipo de atividade integra os conhecimentos de modo prazeroso e dinâmico e possibilita aos estudantes realizar conexões entre as diferentes áreas do conhecimento. Trata-se de um exercício integrativo, focado na qualidade das aprendizagens e seus desdobramentos como protagonistas.

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na BNCC
Foco
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Atriz com um livro na mão em uma apresentação teatral. Estados Unidos, 2017. Edwin Remsberg/Alamy/Fotoarena

A BNCC nesta Trilha

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.

Competências específicas de Linguagens: 1, 2 ,3, 4, 5 e 6.

Competências específicas de Arte: 1, 2, 3, 4, 5 e 6

Objetos e habilidades:

Contextos e práticas

EF69AR02, EF69AR16, EF69AR17, EF69AR18, EF69AR19

Elementos da linguagem

EF69AR20

Materialidades

EF69AR21

Notação e registro musical

EF69AR22

Processos de criação

EF69AR23

Arte e tecnologia

EF69AR35

Objetivos desta

Trilha

• Apresentar alguns conceitos da musicologia e da etnomusicologia, estimulando a reflexão sobre o papel da Música nas diversas sociedades.

• Compreender a Música e as artes como parte integrante da sociedade.

• Construir o conceito de Música como uma ferramenta de transformação e humanização.

• Refletir sobre as mudanças tecnológicas no âmbito musical.

• Comparar diversas profissões relativas à Música.

• Fomentar discussões críticas sobre o fazer musical e suas possibilidades na sociedade.

Bate-papo com o professor

Nesta Trilha, trabalharemos com técnicas e tecnologias importantes para a compreensão e fruição da Música. Esses temas estão interligados desde os primórdios da história do ser humano, e cada vez mais fazem parte do cotidiano das pessoas – como é o caso da música Spem in Alium nunquam habui, de Thomas Tallis, composta em cerca de 1570 e ressignificada, muitos séculos depois, na instalação de Janet Cardiff. Reflita sobre essas questões, buscando, no decorrer da Trilha, conhecer previamente todas as ações propostas, além de buscar aprofundar e ampliar seu conhecimento.

Os caminhos da música

O que é tecnologia para você? O que você considera tecnologia em música?

Observe a imagem. Trata-se de uma instalação sonora de Janet Cardiff (1957-) exposta desde 2001 no Instituto Inhotim, museu a céu aberto localizado em Brumadinho, Minas Gerais.

min. de intervalo). Instituto Inhotim, Brumadinho (MG), 2001.

Se você estivesse caminhando entre essas 40 caixas de som dispostas em círculo, ouviria o canto de vozes separadas, cada uma cantando uma melodia diferente – como se andasse no meio dos cantores de um coral. Entretanto, ao se sentar em um dos bancos dispostos no centro da obra, você ouviria todas essas vozes cantando juntas, como em uma apresentação desse mesmo coral em um teatro.

Polifonia: textura musical na qual duas ou mais melodias são cantadas sobrepostas.

Orientações

A instalação de Cardiff traz gravações de cada uma das vozes de uma música chamada Spem in Alium nunquam habui, do compositor inglês Thomas Tallis (c.1505-1585). Ela foi composta a partir de um texto sacro, e é uma polifonia para ser executada por 40 cantores.

Imagine agora se o próprio compositor Thomas Tallis, vindo do passado por meio de uma máquina do tempo, pudesse caminhar entre essas caixas de som. O que ele pensaria sobre isso? Será que ele reconheceria essa reprodução sonora como a sua própria composição?

• Na sua opinião, de que modo a tecnologia transformou essa música?

A instalação The Forty Part Motet utilizou uma gravação do Coro da Catedral de Salisbury, editada por George Bures Miller e produzida pela Field Art Projects em parceria com Arts Council of England, Canada House, Salisbury Festival e Salisbury Cathedral Choir, BALTIC Gateshead, The New Art Gallery Walsall e NOW Festival Nottingham.

Inicialmente, leia o texto de abertura desta Trilha, observando a imagem e sanando possíveis dúvidas.

Caso seja possível, assistam em sala a vídeos de visitantes caminhando entre as caixas de som da instalação. Existem diversas opções disponíveis na internet que podem ajudar a conhecer a obra, permitindo ainda que os estudantes vivenciem um pouco dessa experiência.

Dialogue com eles, promovendo uma reflexão sobre como essa instalação nos permite pensar a respeito das mudanças profundas que a tecnologia trouxe para a Música e para as manifestações musicais.

Promova uma roda de conversa na qual os estudantes possam expressar suas próprias impressões sobre essas transformações, explorando as respostas à pergunta, e peça que citem situações nas quais observam que a tecnologia modificou a audição de Música na vida deles.

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Janet Cardiff. The Forty Part Motet (A reworking of "Spem in Alium" by Thomas Tallis 1556/1557), 2001. Instalação sonora com 40 alto-falantes, amplificadores e computador de reprodução. Duração: 14 min. (loop com 11 min. de música e 3
©Janet Cardiff. Foto: Antonio Salaverry/Shutterstock.com

Tecnologia e música

Leia um trecho da letra da música Pela internet, de Gilberto Gil. O que ela comunica a você?

Com quantos gigabytes

PELA INTERNET. Compositor e intérprete: Gilberto Gil. In: QUANTA. [S. l.]: Warner Music, 1997. 1 CD, faixa 11 (4min44s). Disponível em: https://gilbertogil.com.br/producoes/detalhes/quanta/. Acesso em: 7 abr. 2022.

Essa composição, de 1997, foi a primeira música brasileira a ser lançada e transmitida ao vivo pela internet – que, naquela época, era uma rede de computadores ainda incipiente e muito diferente do que é na atualidade. Esse lançamento contou com a parceria de empresas de tecnologia, veículos de comunicação e uma ampla divulgação, o que o tornou um evento memorável.

• Pense na sua relação com a internet. O que ela significa para você?

Mais de 20 anos depois, em 2018, Gil lançou uma versão que ele considerou uma atualização dessa música, Pela internet 2, na qual ele cita redes sociais e aplicativos, mas também critica a forma como a internet está presente nas nossas vidas. Isso pode ser observado neste trecho da letra:

Estou preso na rede

PELA INTERNET 2. Compositor e intérprete: Gilberto Gil. [S l.]: Gege Produções, 2018. 1 música (4min20s). Disponível em: https://gilbertogil.com.br/conteudo/musicas/?letra=P. Acesso em: 7 abr. 2022.

A internet é um mecanismo tecnológico que está, a todo tempo, interagindo com diversos setores das nossas vidas – e a música é um deles.

Preparação

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o tema da aula. Sugestões: música, internet, redes sociais.

Orientações

Converse com os estudantes sobre as transformações tecnológicas e as possíveis relações com a música e o fazer musical, buscando trazer as reflexões colocadas no Ponto de partida para esta linguagem da Arte. Observe que a relação da música com a tecnologia é antiga e permeia diversas manifestações musicais. Explique que refletiremos sobre isso no decorrer desta Trilha.

O título da música “Pela Internet”, de Gilberto Gil, é uma homenagem ao samba “Pelo telefone”, lançado em 1916 e considerado um dos primeiros sambas da história.

Se possível, ouçam as músicas “Pela Internet” e “Pela Internet 2” em sala de aula. Elas estão disponíveis em: https://www.youtube. c om/watch?v=v2QvAaBNc9A e https://www.youtube.com/ watch?v=X6BA_9cYhpA (acessos em: 15 maio 2022).

Peça aos estudantes que analisem o caráter de cada uma das músicas e promova uma roda de conversa sobre isso. Observe que a segunda música, “Pela Internet 2” (versão mais recente, lançada em 2018), traz uma visão já bastante crítica do compositor sobre a internet e a forma como as pessoas se relacionam com as redes sociais.

• Você usa a internet para ouvir música? Como a tecnologia colabora para que isso ocorra?

Se pensarmos bem, num certo sentido, veremos que a tecnologia sempre esteve integrada à música, pois, para tirar som de um objeto, foi preciso um pensamento elaborado, capaz de unir conhecimento e técnica.

Foco na BNCC

Ao compreender a finalidade e o papel da música, ao reconhecer e valorizar o trabalho de artistas, ao analisar estilos musicais e ao identificar a presença da tecnologia em práticas artísticas são desenvolvidas as habilidades EF69AR16, EF69AR18, EF69AR19 e EF69AR35.

Assim, este conteúdo contempla o objetivo de reconhecer a presença das tecnologias na sociedade e seus reflexos nas diferentes formas de expressão da música.

Por meio da internet nos conectamos a todo momento, compartilhando diversos interesses, inclusive música. Estados Unidos, 2020.

Foco nos TCTs

Este conteúdo desenvolve o Tema Contemporâneo Transversal Ciência e Tecnologia ao abordar a relação da tecnologia com a música.

Já a música “Pela Internet” (lançada em 1997), disponível no primeiro link, tem um caráter mais alegre e traz, em sua letra, uma relação de esperança e liberdade. Essas são questões complexas, mas bastante importantes, para que os estudantes entendam que as relações com a tecnologia, com a internet e, principalmente, com as redes sociais demandam amadurecimento e capacidade de observação individual, para que saibamos quais relações estamos construindo com esses recursos. Explore as respostas individuais às perguntas “Você usa a internet para ouvir música? Como a tecnologia colabora para que isso ocorra?” para aprofundar essas questões.

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imaginima/iStockphoto.com
Se
Um
faz uma jangada
barco que veleje
Que nem peixe pescado É zapzap, é like

Preparação

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o tema da aula. Sugestões: tecnologia, técnica, música, transformação.

O objetivo deste tópico é possibilitar aos estudantes que compreendam que as transformações ocorridas nos diversos materiais, até se tornarem instrumentos musicais, são fruto do pensamento humano.

Orientações

Leia o texto, pedindo à turma que observe a imagem da flauta, atentando para o fato de que se trata de um pedaço de osso perfurado. Caso seja possível, assistam em sala de aula ao vídeo “Flauta de osso de cisne paleolítico”, que traz o som de uma flauta de osso reconstruída (disponível em: https://youtu.be/9I5xsXmBeBo; acesso em: 19 maio 2022).

Considere se é o caso de assistirem a uma cena do documentário A caverna dos sonhos esquecidos (2010), de Werner Herzog. O vídeo mostra o arqueólogo Wulf Heim tocando uma réplica de uma flauta de osso pré -histórica (disponível em: https:// youtu.be/yUCBBDV2Tzk; acesso em: 19 maio 2022).

Depois, organize a turma para a breve prática indicada no texto, buscando saber se existe um instrumento tradicional de sua comunidade ou região. É importante que eles conversem com pessoas mais velhas e que você os auxilie nesse sentido.

Leia o texto e converse com eles sobre dúvidas e questionamentos, propondo que pesquisem sobre as invenções de Walter Smetak.

A tecnologia da transformação

Das muitas transformações que ocorreram na música, uma das mais significativas foi o desenvolvimento de mecanismos para a criação de músicas: um deles é a transformação de objetos diversos em instrumentos musicais. Processos como esse fazem parte da vida humana há muitos e muitos séculos. Veja a imagem a seguir.

Arqueológico: referente à Arqueologia, ciência que estuda os vestígios das sociedades pré-históricas ou antigas. Inscrição rupestre: a palavra “rupestre” indica o que é relativo a rochas. Pinturas e inscrições rupestres são aquelas que, na Pré-História, foram feitas em rochas e que ainda estão visíveis, permitindo conhecer um pouco dos hábitos humanos desse período.

Para aprofundar

Se observarmos bem a história, temos inúmeros indícios da utilização de instrumentos musicais, e a prova disso são os diversos artefatos descobertos em escavações arqueológicas. Um exemplo é a flauta feita a partir do osso de um pássaro encontrada na Alemanha, no fim da primeira década do século XXI. Também há registros em diversas inscrições rupestres

A descoberta desses instrumentos e registros revela como as sociedades ao redor do mundo transformaram, de diferentes maneiras e cada uma em seu respectivo período, objetos em instrumentos musicais – e esse é um processo que ocorre até hoje.

Você já pensou que na sua região pode ter algum instrumento de origem antiga (Não precisa ser tão antiga quanto esta flauta, claro!) e que seja significativo para a história do local?

Vamos fazer uma breve prática.

1 Inicialmente, você deve perguntar a pessoas mais velhas (seus avós, por exemplo, e outras pessoas da mesma faixa etária deles) qual é o instrumento mais antigo que elas se lembram de ter visto alguém tocar na região e se já tocaram ou ainda tocam esse instrumento. Pergunte para, no mínimo, dez pessoas.

Será importante que você se informe sobre os construtores de instrumentos citados no texto. Leia os textos disponíveis em: https://www.waltersmetak.com.br/biografia.html e https://www.scielo.br/j/pm/a/P885yf9PSJDp6kSyS9vWr3b/? lang=pt (acessos em: 19 maio 2022).

O segundo link refere-se ao grupo Uakti, e a leitura desse texto é fundamental para entender a importância do grupo e da criação dos instrumentos.

É interessante observar que Marco Antônio Guimarães, fundador do grupo, foi o único construtor de instrumentos do Uakti. Com o final do grupo, esses instrumentos foram comprados por um colecionador e estão guardados em um acervo particular na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais.

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Sascha Shuermann/DDP Photo/AFP
Flauta de 35 mil anos descoberta durante escavações na Alemanha, 2008.

2 Observe se algum instrumento é mais citado que outro.

3 Agora, pesquise na internet as origens do instrumento mais citado, ouça exemplos musicais (se possível) e prepare um breve texto sobre sua impressão a respeito desse instrumento e sua história.

Você e os colegas deverão discutir em sala os resultados obtidos, observando quais os instrumentos mapeados.

O século XX, em especial, foi um momento no qual ocorreram muitas transformações na ideia do que era música. Isso trouxe a necessidade de buscar novos timbres, novas texturas musicais, novos sons – e também novas formas. Diversos artistas, músicos e compositores buscaram unir a linguagem das artes visuais e a da música, e essas pesquisas originaram instrumentos musicais, que também foram concebidos como esculturas. Esse é o caso dos instrumentos idealizados e construídos por Walter Smetak (1913-1984), músico e pesquisador suíço radicado no Brasil.

Para construí-los, Smetak usou cabaças, madeira, canos de plástico, tubos de PVC, isopor e outros materiais, buscando sonoridades que eram bastante originais para a época. Ele chamou esses instrumentos de “plásticas-sonoras”. • Tente imaginar o som desses instrumentos. Como cada um deles soaria? Observe abaixo um instrumento de Walter Smetak.

Orientações

Explique para os estudantes que a busca por novos timbres, novas texturas musicais e novos sons ocorreu, em grande parte, a partir da Revolução Industrial e da urbanização das grandes cidades. Essas transformações se deram em todos as instâncias da vida humana.

É interessante pedir a eles que reflitam sobre as mudanças de intensidade sonora que aconteceram entre a época na qual seus avós tinham a idade deles e os dias atuais. Oriente-os para que apontem as sonoridades que não existiam há duas gerações, como ao mencionar, por exemplo, a grande quantidade de carros que trafega pelas ruas e avenidas das cidades, gerando uma sonoridade intensa e constante, comparando com o que a realidade desse mesmo lugar na época da adolescência de seus avós.

Para saber mais

Esse processo é estudado por Murray Schafer na obra A afinação do mundo (Editora Unesp; 2a edição, 2012).

Bate-papo com o professor

Smetak buscava explorar a sonoridade específica de cada um dos materiais utilizados. Contudo, além de pesquisar e construir instrumentos inovadores, procurava desenvolver a partir deles um conceito coletivo de criação, idealizando muitos instrumentos para serem tocados por mais de uma pessoa, tentando, de acordo com o próprio artista, ultrapassar a individualidade e proporcionar a união de músicos.

O compositor era professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e sua oficina de pesquisa e criação era um ponto de encontro para vários músicos da época. Um deles, Marco Antônio Guimarães, deu continuidade a essa pesquisa e fundou, em 1978, o grupo Uakti.

No documentário A caverna dos sonhos esquecidos, o diretor teve acesso exclusivo à Caverna de Chauvet, localizada no sul da França, onde foram descobertas, em 1994, pinturas rupestres que estão entre as mais antigas já encontradas. Além de assistir ao documentário, você pode ler a crítica disponível em: https://www.planoaberto.com.br/a -caverna-dos-sonhos-esquecidos/ (acesso em: 19 maio 2022).

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Acervo da Família Smetak Walter Smetak. Tímpanos grandes, potes d’água, 1970. Instrumento musical de percussão, composto de tampas de panelas de alumínio, pele de animal, corda, cordão, mangueira de plástico e potes de madeira, 1,50 m × 1,12 m.

Preparação

Insira na lousa palavras-chave, sinalizando o tema da aula. Sugestões: organização, classificação, instrumentos musicais.

A seção Coordenada tem o objetivo de apresentar uma das mais científicas formas de classificação dos instrumentos, possibilitando ao estudante não somente conhecer instrumentos musicais possivelmente desconhecidos, mas também compreender que a área de música trabalha muito próxima da ciência e desenvolveu, no decorrer dos séculos, formas de organização extremamente precisas com relação ao material e às sonoridades desses instrumentos.

Orientações

Caso seja possível, assista em sala de aula aos vídeos listados abaixo. Essa será uma ação bastante interessante e que propiciará aos estudantes a experiência de conhecer sonoridades e instrumentos diferenciados. Explique que as imagens se referem a instrumentos musicais idealizados e construídos pelo fundador do grupo Uakti, Marco Antônio Guimarães.

Neste primeiro link, a música começa com o instrumento Grande Pan e a marimba de vidro, seguido por outros instrumentos (disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=MPYgs_c-3nQ; acesso em: 19 maio 2022).

Já no link a seguir, a música começa com o instrumento Aqualung, seguido novamente pela marimba de vidro (com outros instrumentos entrando em seguida). Peça aos estudantes que observem como a qualidade do som altura é modificada pela instrumentista ao tocar o Aqualung, que faz sons graves e agudos ao ser movimentado (disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=y3Bik s6dooo; acesso em: 19 maio 2022).

O próximo link mostra o instrumento Torre, tocado por duas pessoas, produzindo um som rico em timbres e sonoridades diferenciadas. No decorrer da música, o instrumento passa a ser acompanhado por uma flauta transversal (disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=5yZijDmnLuY; acesso em: 19 maio 2022).

Música experimental: música que pesquisa sonoridades não usuais nos diversos gêneros musicais.

O grupo, que existiu entre 1978 e 2015, especializou-se em tocar instrumentos não convencionais e compor música experimental; com isso levou, tanto para a música popular brasileira quanto para a internacional, inúmeras sonoridades incomuns, popularizando sons produzidos pelos instrumentos idealizados e construídos por seu fundador, Marco Antônio Guimarães.

Uma classificação dos instrumentos musicais

Os instrumentos musicais podem ser organizados em grupos de acordo com diversos parâmetros. Os instrumentos utilizados pelo grupo Uakti são divididos em cinco categorias, criadas pelos etnomusicólogos (termo sobre o qual falaremos mais adiante) Erich von Hornbostel e Curt Sachs, que propuseram uma classificação feita a partir do modo como os instrumentos emitem som.

Essa forma de classificar foi chamada de Sistema Hornbostel-Sachs e divide os instrumentos da seguinte maneira:

• Cordofones: são instrumentos de cordas que, ao serem vibradas, emitem som.

Também fazem parte dessa categoria: violão, berimbau, viola, bandolim, violino e violoncelo.

Depois de ouvir os exemplos e observar os instrumentos sendo tocados, peça aos estudantes que comentem essas audições, buscando discutir os diversos aspectos que envolvem essas apresentações musicais – como timbres diferentes, materiais inusitados, maneiras de tocar o instrumento, entre outros aspectos.

Foco na BNCC

Ao conhecer e classificar diferentes instrumentos musicais é trabalhada a habilidade EF69AR21

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Grupo Uakti na apresentação de lançamento do CD Oiapok Xui, no Sesc Pinheiros. São Paulo (SP), 2005. Cristiano Quintino Gig, cordofone utilizado pelo grupo Uakti. Belo Horizonte (MG), 2008.
José Patrício/Estadão Conteúdo/AE

• Aerofones: instrumentos cujo som é produzido pelo ar que passa por dentro do corpo deles. O ar pode ser soprado por um instrumentista ou deslocado por um instrumento de percussão (como é o caso do Grande Pan, na imagem ao lado).

Orientações

Também fazem parte dessa categoria os instrumentos de sopro de metal e madeiras, como: trompete, trombone, tuba, flauta, saxofone e clarinete.

• Idiofones: nome dado aos instrumentos musicais cujo som é produzido no próprio corpo do instrumento, como a marimba de vidro. A origem da palavra “idiofone” vem do grego idios, que significa “privado” ou “pessoal”, e fono, que significa “som”.

Proponha aos estudantes que observem atentamente os materiais dos quais são feitos todos os instrumentos apresentados na Coordenada Explique que se trata de materiais baratos e facilmente encontrados (com exceção da marimba de vidro), e que o responsável pela criação deles, o músico Marco Antônio Guimarães, realizou uma importante pesquisa em busca das sonoridades que desejava para cada um dos instrumentos. Explique também que o instrumento Aqualung é considerado um membranofone porque utiliza a superfície da água como membrana. Peça a eles que reflitam sobre como funciona a propagação do som desses instrumentos, e comente que o instrumento Grande Pan possui uma caixa feita de madeira, que amplifica acusticamente as notas tocadas quando o instrumentista percute os tubos de PVC verticalmente.

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Também fazem parte dessa categoria: vibrafone, xilofone, agogô, berimbau de boca e triângulo. Marimba de vidro utilizada pelo grupo Uakti. Belo Horizonte (MG), 2008. Cristiano Quintino Grande Pan, aerofone utilizado pelo grupo Uakti. Belo Horizonte (MG), 2008. Cristiano Quintino

Atividade complementar

Será interessante que você proponha a construção de dois tipos de amplificadores acústicos, tendo como referência dois vídeos publicados no canal Manual do Mundo, no YouTube.

O primeiro vídeo mostra a confecção de três amplificadores acústicos muito simples, feitos com materiais fáceis de serem encontrados, e que não utilizam eletricidade. Além de construir os amplificadores, o apresentador Iberê Tenório explica o funcionamento deles. O vídeo está disponível em: https://youtu.be/ZH6RdN7PoFk (acesso em: 19 jul. 2022).

O segundo explica como construir, também de forma muito simples, um microfone que utiliza energia elétrica para amplificação do som a partir de uma bateria e de outros materiais não tão simples de serem encontrados, mas ainda assim sua construção é bastante factível. O vídeo está disponível em: https://youtu.be/ wU2JuRphDRg (acesso em: 19 jul. 2022).

Caso seja possível, assistam aos vídeos indicados em sala de aula. Do contrário, estude pormenorizadamente as construções dos amplificadores e leve essas práticas para a sala de aula. Lembre-se de sempre cuidar da segurança dos estudantes no decorrer de toda a atividade.

• Membranofones: são os instrumentos nos quais o som é produzido com a vibração de uma membrana (que pode ser de pele de animais ou sintética).

Também são membranofones: tambores, caixas, tímpano e cuíca.

• Eletrofones: são instrumentos cujo som é produzido a partir de meios elétricos (que podem ou não ter manipulação humana).

São também eletrofones: piano elétrico, sintetizadores e teremim.

Essas classificações fazem parte da Organologia, a área da música que estuda a descrição e classificação dos instrumentos musicais. Assim como em todas as áreas de pesquisa, as categorias da Organologia estão em constante ampliação e transformação.

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Tabla elétrica, eletrofone utilizado pelo grupo Uakti. Belo Horizonte (MG), 2008. Cristiano Quintino Trilobita, membranofone construído com tubos de PVC. Instrumento utilizado pelo grupo Uakti. Belo Horizonte (MG), 2008. Cristiano Quintino
Cristiano Quintino
Aqualung, membranofone de água utilizado pelo grupo Uakti. Belo Horizonte (MG), 2008.

Muitas marimbas

Você já experimentou bater com a mão fechada em diferentes superfícies de madeira? Tente se lembrar dos sons que esse tipo de material produz, por exemplo, ao se bater em uma porta, esperando que alguém abra. Tente se lembrar de diferentes sons que já ouviu, batendo em diferentes portas: cada porta tem o seu som, que varia de acordo com diversos fatores, como as dimensões, o tipo de madeira de que é feita, o revestimento etc.

O mesmo se dá com os instrumentos: forma, textura e densidade dos materiais influenciam diretamente sua sonoridade. Vejamos o exemplo da marimba, ouvindo o som da marimba de orquestra.

Preparação

No Contraponto, o objetivo é trabalhar a ideia de que o mesmo instrumento tem características iguais e diferentes, dependendo do lugar e da cultura no qual ele está inserido.

Orientações

Como já vimos, marimba é um idiofone. Ela é composta geralmente de teclas de madeira que são percutidas por baquetas – mas que podem, também, ser percutidas pelas mãos. Ouça o som do balafon, tocado também com baquetas.

Peça aos estudantes que observem, inicialmente, as diversas marimbas exemplificadas nas fotos. Depois, leia o texto, reproduza os exemplos musicais (áudios 1 e 2, referentes à marimba de orquestra e ao balafon) e proponha uma discussão sobre os diferentes materiais e como eles podem influenciar no som. Relembre que essa questão está vinculada com a qualidade do som timbre. Se possível, assista com a turma a um trecho do documentário Sobre a congada de Ilhabela: formas de olhar, produzido pela TV USP, que traz muitas informações e reflexões sobre a congada praticada em Ilhabela, litoral norte do Estado de São Paulo, e faz muitas referências à marimba de Ilhabela, instrumento muito particular dessa manifestação. O documentário está disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=CpCuk441ZCw&t=931s; acesso em: 19 maio 2022).

Foco na BNCC

Ao conhecer e classificar diferentes instrumentos musicais é mobilizada a habilidade EF69AR21

Assim, cumpre-se o objetivo de apresentar alguns conceitos da musicologia e da etnomusicologia, estimulando a reflexão sobre o papel da música nas diversas sociedades.

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Marimba de orquestra tocada com baquetas. Rússia, 2018. furtseff/Shutterstock.com 1 Marimba de orquestra 2 Balafon Balafon sendo tocado por homem africano. Burquina Faso, África Ocidental. Charles O. Cecil/Alamy/Fotoarena

Orientações

Retome a reflexão sobre amplificação, feita na Coordenada “Uma classificação dos instrumentos musicais”, da página 146, e, agora, peça aos estudantes que observem as cabaças que aparecem debaixo das teclas de madeira das marimbas, conforme ilustram as fotos dessa seção. Então explique que essas cabaças amplificam o som – da mesma forma como visto anteriormente.

Explore a pergunta do livro, cuja resposta pode citar instrumentos como violão, tambores e outros que tenham caixa acústica. Compare esses instrumentos a outros como guitarra e contrabaixo elétricos, que não têm esse recurso.

Experimente trabalhar outros instrumentos mais próximos da realidade dos estudantes. Vocês podem escolher, por meio de um sorteio, outro instrumento que será o tema da pesquisa, por exemplo, a flauta ou o violão.

Solicite que façam uma pesquisa sobre instrumentos iguais em diferentes lugares do mundo. Também peça a eles que pesquisem o som de cada um.

Existem marimbas em diversos lugares do mundo, e não há um consenso sobre a origem do instrumento – existe uma linha de pesquisa que afirma que sua origem é africana.

Outras pesquisas, no entanto, consideram que instrumentos semelhantes se desenvolveram paralelamente tanto nas américas quanto no continente africano, uma vez que é possível observar a presença de diversas marimbas de uso tradicional nas américas.

Observe, nas duas últimas imagens, que, embaixo das teclas, existem cabaças de diversas formas e tamanhos. Elas servem para fazer com que o som da tecla, ao ser percutida, ressoe com mais intensidade. Perceba como a utilização desse recurso é eficiente e cumpre a função de amplificar o som! A ideia é a mesma da cabaça do berimbau, que ressoa o som produzido ao se percutir a corda.

Homem maia tocando marimba em Chichicastenango. Guatemala, 2011.

• Você conhece outros instrumentos que utilizam esse recurso? Qual/Quais?

A marimba é feita geralmente de madeira, mas existem instrumentos feitos de outros materiais, como a marimba de vidro, citada anteriormente.

Observe os diversos formatos das marimbas que aparecem nas imagens. Apesar de muito diferentes entre si, são o mesmo instrumento – pois têm as mesmas características de material usado e forma de construção. Porém, o som de cada marimba é muito particular.

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Priscila Del Cid/Alamy/Fotoarena Marimba de arco: instrumento feito de madeira e cabaça. Tribo Koma, Camarões, 2015. Jorge Fernandez/LightRocket/Getty Images

Unindo matemática e música

Construir instrumentos, muitas vezes, é algo que exige muita reflexão e planejamento e, dependendo do resultado que se quer, o domínio de complexas noções de matemática. Agora, vamos experimentar a sonoridade do vidro, mas construindo um instrumento com a altura definida, isto é, com notas o mais próximo possível de uma escala diatônica tradicional.

Os seguintes materiais serão necessários:

• oito garrafas de vidro iguais (podem ser de qualquer tamanho, desde que sejam iguais e não muito pesadas);

• barbante;

• baquetas ou varetas de madeira (podem ser colheres de pau);

• um cabo de vassoura (que possa ser usado para pendurar as garrafas amarradas pelos barbantes);

• água;

• um medidor de água – quanto mais detalhado, melhor!

1 Formem grupos de seis pessoas – vocês farão todas as etapas juntos.

2 Preencham a primeira garrafa com água e meçam a quantidade de líquido que coube. Acertem a quantidade para o total ser um valor inteiro (200 mL ou 300 mL, por exemplo). Essa garrafa será a primeira nota da escala de vocês.

3 Para preencher as próximas garrafas, vocês precisarão da matemática e deverão obedecer às seguintes proporções:

Segunda garrafa: 8/9

Terceira garrafa: 4/5

Quarta garrafa: 3/4

Quinta garrafa: 2/3

Sexta garrafa: 3/5

Sétima garrafa: 8/15

Oitava garrafa: 1/2

Escala diatônica: composta de sete notas de diferentes alturas, obedece a um padrão de afinação que é repetido a cada grupo seguinte de sete notas.

Preparação

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o tema da prática. Sugestões: construção de instrumento musical, noções de matemática.

Orientações

Leia, atentamente, em sala de aula, todas as etapas dessa prática de criação, procurando organizar e proporcionar os materiais necessários para a construção.

Ressalte aos estudantes que o manuseio das garrafas de vidro precisa ser feito com muito cuidado, para que não ocorra nenhum acidente. Se considerar que é o caso, divida a turma em grupos maiores e considere a possibilidade de você e outros adultos executarem a montagem do instrumento (você pode convidar pais e mães para participar dessa ação). Porém, o ideal é que os próprios estudantes produzam, em grupos, seus instrumentos.

Garrafas de 300 mL ou menores são as ideais para essa prática, pois não pesarão muito quando forem preenchidas com água.

Essas proporções são relativas à primeira garrafa, então, para saber exatamente o volume de água de cada uma, vocês deverão fazer a seguinte operação matemática (pensando em uma garrafa preenchida por 300 mL de água):

Segunda garrafa: 300 × 8/9

Terceira garrafa: 300 × 4/5 e assim por diante.

4 Quando todas as garrafas estiverem preenchidas com água, vocês deverão escolher um lugar seguro para pendurar horizontalmente o cabo de vassoura. Lembrem-se: ele deverá suportar o peso das oito garrafas. Vocês podem pendurá-lo entre duas carteiras ou entre duas mesas.

5 Amarrem o barbante firmemente em cada um dos gargalos das garrafas. Vocês podem, também, reforçar a amarração com fita-crepe.

Bate-papo com o professor

Esse exercício foi inspirado no Manual Didático para Projetos Envolvendo Matemática e Música, de Chrisley Bruno Ribeiro Camargos, e no artigo Pitágoras e a escala musical, de Paulo de Tarso Salles, disponível em: https://edisciplinas. usp.br/pluginfile.php/2985185/mod_resource/content/1/ Pitágoras%20e%20a%20escala%20musical.pdf (acessos em: 19 maio 2022).

Foco na BNCC

Ao experimentar a criação de um instrumento musical de modo colaborativo e coletivo é desenvolvida a habilidade EF69AR23.

Auxilie a turma em todas as etapas. Depois de finalizado o processo de construção, proponha que busquem ouvir músicas conhecidas na Internet, para que possam experimentar reproduzir as melodias no novo instrumento.

Interdisciplinaridade

Esta atividade trabalha a interdisciplinaridade entre a Música e a Matemática, pois requer a aplicação de conceitos e noções de matemática específicos. Se possível, considere convidar o professor de Matemática para participar dessa atividade e auxiliar os estudantes nos cálculos.

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Você pode usar um medidor semelhante a esse (2011). Fernando Favoretto/Criar Imagem

Preparação

As obras apresentadas na Conexão não se encaixam apenas em uma das linguagens da Arte. Por serem produções híbridas, elas colocam em debate as divisões entre essas linguagens e ampliam a possibilidade de nos relacionarmos com uma obra sem nos apoiarmos em rótulos. Converse com a turma sobre como as linguagens da Arte se evidenciam nessas criações, buscando fazer com que os estudantes percebam como forma e função estão associadas em tais obras. É interessante que eles saibam, por exemplo, que os materiais escolhidos alteram o timbre dos sons emitidos pelas peças – essa é a mesma lógica que orienta a construção de um instrumento musical.

Orientações

Peça aos estudantes que explorem a sonoridade presente nos objetos e materiais de seu entorno, tendo como foco a perspectiva dos timbres. Além de reconhecerem o universo de sons que podem ser extraídos de canetas, carteiras, mochilas, gizes, lousa, chão etc., eles podem pesquisar também as nuances que ocorrem em cada um desses sons. O foco não é criar uma melodia, mas explorar como de um mesmo material podem ser extraídos sons diferentes, seja pelo modo como é manipulado, seja pelo contato com outros materiais. Essa é uma forma de ativar a escuta atenta da turma; portanto, foque os detalhes e as mínimas diferenças e permita-se fazer descobertas com os estudantes.

6 Pendurem com cuidado cada uma das garrafas, na ordem estabelecida anteriormente, com espaço suficiente para que elas não encostem umas nas outras quando vocês tocarem. O resultado será semelhante à imagem abaixo:

7 Experimentem o som do instrumento, percutindo com as baquetas (ou colheres de pau) com suavidade ou com mais força, tomando cuidado para não quebrar as garrafas.

8 Agora que o instrumento está pronto, vocês deverão criar uma composição curta, que será apresentada para toda a classe. Para isso, escolham (ou sorteiem) quem tocará – mas observem que mais de uma pessoa pode tocar o instrumento ao mesmo tempo.

9 Quando todos os grupos tiverem se apresentado, conversem a respeito do processo, refletindo sobre o quanto a matemática – uma ciência espetacular desenvolvida pelo ser humano – relaciona-se com a música.

Esculturas sonoras

Observe a imagem a seguir.

Para aprofundar

Estes vídeos podem ajudar a conhecer melhor a obra The singing, ringing tree

• The singing, ringing tree, disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=JpAhRxqibT0 (acesso em: 15 maio 2022).

• Singing ringing tree of Texas, disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=wE47T7utujI (acesso em: 15 maio 2022).

Foco na BNCC

Ao conhecer exemplos de esculturas sonoras é trabalhada a habilidade EF69AR02

Este conteúdo também cumpre o objetivo de refletir sobre o conceito de tecnologia como um campo de intersecções entre as linguagens da Arte.

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Modelo de como o experimento pode ser montado. Reinaldo Vignati The singing, ringing tree (A árvore que canta e ressoa), escultura em metal. Lancashire, Inglaterra, 2010. Brenda Kean/Alamy/Fotoarena
logico, logica!

A escultura foi projetada pelos arquitetos Mike Tobin e Anna Liu e está na Inglaterra. Concluída em 2006, ela é formada por tubos de aço dispostos de forma que o vento passa por dentro deles produzindo vários sons ao mesmo tempo. Os sons gerados por cada tubo formam uma textura musical muito especial, pois se combinam de diferentes maneiras, dependendo da direção em que o vento sopra.

• Repare que a forma dessa escultura faz referência ao vento, como se tivesse sido esculpida por ele. Se você fosse criar uma escultura musical, como ela seria?

Além da escultura The singing, ringing tree, há vários escultores que realizam obras com esse encontro de linguagens entre artes visuais e música. É possível que você as encontre com o nome de esculturas sonoras ou de instalações sonoras. Para facilitar, vamos ter em mente a seguinte diferenciação: instalação sonora envolve o tipo de obra que foi pensada especificamente para um lugar ou que dialoga diretamente com ele, ou seja, seu entorno específico é parte fundamental da experiência com a obra; por outro lado, a escultura sonora seria o tipo de obra que pode ser colocada em qualquer local, sem perdas para a experiência do público. Seja qual for o caso, ambas as modalidades tratam desse encontro entre a obra tridimensional e o som, ou seja, esculturas nas quais o som é parte essencial da criação.

Observe as imagens ao lado. Vamos olhar para as obras e imaginar o seu funcionamento. Já que o livro não nos permite ouvir, vamos observar alguns aspectos. De que material elas são feitas? Tanto na construção de um instrumento musical quanto na de uma escultura sonora, o material escolhido é parte fundamental do resultado da criação e interfere sonora e visualmente. O tipo de material pode alterar completamente o timbre que soará ao final. Outra pergunta que podemos nos fazer é: Como o som é acionado nessas obras? As pessoas devem fazer algo ou as esculturas têm algum mecanismo automático? Outra possibilidade muito utilizada é a de que o som seja fruto da ação de elementos naturais, como o vento e a chuva, por exemplo. Esse é o caso das esculturas Aeolus, o pavilhão do vento e The singing, ringing tree

• Faça uma breve pesquisa na internet para tentar ouvir essas obras em funcionamento. O som que elas emitem era o que você imaginava ou foi surpreendido?

Atividade complementar

Explore com os estudantes a possibilidade de eles criarem pequenas intervenções sonoras, em grupos com cinco ou seis integrantes, utilizando para isso materiais acessíveis e outros que podem ser coletados. Partam da pergunta: Que sons podemos produzir no ambiente em que estamos e com os materiais que temos disponíveis? Peça aos grupos que estipulem critérios para manipular esses materiais de maneira coordenada, criando um tipo de coreografia a ser realizada com explorações de ritmos, com entradas e saídas dos sons e com as pessoas que ocupam esse espaço. Gestos bem-marcados conferem teatralidade à ação coletiva.

A partir desses experimentos e acordos firmados entre o grupo, surgirá uma obra sonora, performática e plástica. Para o caso de as sonoridades acontecerem a partir de improvisações, é interessante orientar os performers para que combinem antecipadamente quais sinais devem transmitir entre si para indicar mudanças e movimentos ou mesmo o término de uma ação coletiva. Explique que os grupos devem se apresentar de modo alternado, e permita que a plateia diga como recebeu cada ação e faça perguntas aos criadores, estabelecendo um processo de ação e reflexão contínua e dinâmica. As respostas às perguntas da página são pessoais.

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Órgão, de Gisele Mota e Leandro Lima, escultura sonora realizada em São Paulo (SP), 2017. Leandro Lima Aeolus, o pavilhão do vento, escultura sonora criada pelo artista Luke Jerram. Londres, 2011. Luke Jerram

Preparação

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o eixo da aula. Sugestões: música eletrônica, tecnologia.

A música eletrônica é o tema deste trecho e pode estar vinculada com os processos de Física e Matemática. Caso seja possível, peça ao professor de Matemática que prepare uma conversa com a turma sobre questões relacionadas a esse tópico. Caso isso aconteça, será interessante você incluir nessa aula a seção Coordenada seguinte, que trata de ondas sonoras.

Orientações

Peça aos estudantes que observem atentamente o instrumento teremim e convide-os a falar sobre como imaginam seu som. Depois, mostre a eles o som do teremim, disponível no áudio 3, e conduza uma discussão sobre o timbre do instrumento, comparando-o com o de outros timbres. Explique que o teremim é um instrumento que funciona de forma eletrônica e não é tocado fisicamente, isto é, o instrumentista não encosta no instrumento para produzir som. Em seguida, peça que pesquisem sobre o instrumento e tragam suas impressões para serem discutidas em sala de aula.

Caso seja possível, assistam ao vídeo de Carolina Eyck, acompanhada por um contrabaixo elétrico, tocando um trecho da composição Quarteto pelo fim dos tempos, do compositor francês Olivier Messiaen (1908-1922). Essa obra foi feita durante a Segunda Guerra Mundial, ocasião em que o compositor foi preso em um campo de concentração nazista. Originalmente escrita para ser tocada por violino, violoncelo, piano e clarinete, a música tem uma característica melancólica que explicita a tristeza da guerra. O vídeo está disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=C2BcPnL0_nA; acesso em: 19 maio 2022).

Explique que são diversos os instrumentos elétricos ou eletrônicos, tanto os usados na atualidade quanto os que não fazem mais parte do cotidiano dos músicos. Promova uma pesquisa sobre essa questão, estimulando os estudantes a ouvirem, na medida do possível, exemplos musicais.

As respostas à pergunta da página seguinte são pessoais.

Os caminhos da música eletrônica

Como já vimos, na música são muitos os exemplos do uso da técnica e da tecnologia, desde as transformações na construção de objetos musicais até o desenvolvimento de instrumentos completamente eletrônicos – como são chamados os que não precisam de uma pessoa para tocá-los.

Esse é o caso do teremim, instrumento musical criado pelo russo Léon Theremin (1896-1993) em 1920. Ouça o som dele.

Tereminista:

instrumentista que toca o teremim.

Esse instrumento é controlado pelas mãos, mas sem que ocorra um contato físico. Para que o teremim emita sons musicais, é preciso posicionar as mãos ao seu lado e movimentá-las perto das duas antenas de metal que fazem parte do instrumento. Essas antenas são sensores que emitem sons das frequências de rádio: a antena direita do instrumento musical é responsável por mudar a frequência e a esquerda altera o volume. Você já ouviu o som de um rádio antigo, no qual tem de sintonizar a emissora mecanicamente? Um som chiado, com notas que alternam entre sons agudos e graves, que sobem e descem? Pois bem, o som do teremim é produzido da mesma forma – mas, por ser controlado, emite uma só nota musical.

Atividade complementar

Existem diversos tutoriais de construção de um teremim simples na Internet. Considere a possibilidade de construir um com a sua turma.

Foco na BNCC

Ao conhecer e valorizar o trabalho de artistas do cenário musical e ao identificar a presença da tecnologia em práticas artísticas são desenvolvidas as habilidades EF69AR18 e EF69AR35.

Além disso, este conteúdo cumpre o objetivo de ampliar conceitos e possibilidades que ajudam no entendimento das produções de música de diferentes épocas como criações em constante diálogo com os adventos tecnológicos.

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DAP Picture Alliance Archive/Alamy/Fotoarena
Tereminista alemã Carolina Eyck tocando teremim. Fredersdorf, Alemanha, 2008.
3 Teremim

No decorrer do século XX, diversos instrumentos eletrônicos foram inventados, como a guitarra elétrica, o contrabaixo elétrico e os pianos elétricos, além dos sintetizadores de som. Esses instrumentos transformaram a concepção de som e audição de música, principalmente no que diz respeito à qualidade do som relativa à intensidade, uma vez que a potência sonora desses instrumentos elétricos é muito maior que de seus similares acústicos – por exemplo, o contrabaixo acústico.

Preparação

Acústico: o que não precisa ser amplificado para que ocorra a emissão do som.

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o tema da Coordenada Sugestões: ondas sonoras, qualidades do som.

Orientações

Peça aos estudantes que observem a imagem das ondas sonoras, atentando para as diferenças entre elas. Depois, reproduza o áudio 4, explicando que se trata de uma mesma melodia tocada por instrumentos diferentes (violino e piano) e pela voz de uma pessoa.

• Você conhece outros instrumentos elétricos ou digitais? Quais?

Ondas sonoras e manipulação do som

Ondas sonoras são as vibrações propagadas em diversos meios, como o ar, a água ou mesmo objetos sólidos. A audição humana só é capaz de perceber parte delas – os chamados sons audíveis –, que se encontram dentro de uma faixa específica de frequência sonora.

A onda sonora pode ser determinada por alguns aparelhos, como o osciloscópio, um dispositivo elétrico que permite dimensionar o som. Porém, atualmente, são inúmeros os programas de computador que, quando ligados a um microfone, podem realizar essa função.

Observe a imagem a seguir. São ondas sonoras produzidas por diferentes fontes, mas tocando uma mesma nota. Ouça o som dessa nota produzido por instrumentos diferentes.

• O que você lembra da qualidade do som chamada timbre?

de “Tzigane”, de Maurice Ravel

Relembre que essa questão já foi abordada brevemente no Contraponto “Muitas marimbas” e peça a eles que expliquem como a qualidade do som timbre influencia na sonoridade de um instrumento. Espera-se que eles respondam que é a partir dos diferentes materiais dos quais os instrumentos são feitos.

Caso não seja possível a presença de um professor de Física na aula, busque vídeos que tragam o assunto e que você considere adequados para a sua turma. Um dos exemplos está disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=kR5FSlOPrhI; (acesso em: 19 maio 2022). Nesse vídeo são explicadas as qualidades do som a partir da Física.

Foco na BNCC

Ao identificar e estudar os elementos do som e ao explorar as variadas fontes e materiais sonoros são desenvolvidas as habilidades EF69AR17, EF69AR20 e EF69AR21.

Exemplos de ondas sonoras produzidas por diferentes fontes, 2018.

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horiyan/iStockphoto.com
Contrabaixo elétrico, 2009.
RapidEye/iStockphoto.com
Contrabaixo acústico, 2011.
Boxyray/Shutterstock.com Ilustrações: Reinaldo Vignati Deanora/Shutterstock.com 4 Trecho
vitec/Shutterstock.com

Orientações

Explore com os estudantes a questão da saudabilidade auditiva na sociedade moderna, retomando novamente as questões apresentadas no subtítulo “A tecnologia da transformação”, quando foram discutidos os impactos sonoros produzidos a partir da Revolução Industrial. Peça aos estudantes que observem e relatem situações do seu próprio cotidiano nas quais a sua saúde auditiva corre perigo. As respostas às perguntas do livro são pessoais, mas podem gerar ganchos para ampliação dessa discussão, sobretudo se sua comunidade estiver localizada em um grande centro urbano.

Interdisciplinaridade

A Coordenada trabalha a interdisciplinaridade entre Música (aspectos relativos à sonoridade e qualidades do som) e Ciências, uma vez que o tema saúde auditiva é comum aos dois componentes. Portanto, considere convidar o professor desse componente para uma conversa com os estudantes sobre esse assunto.

Foco nos TCTs

Este conteúdo desenvolve o Tema Contemporâneo Transversal Saúde ao abordar os limites dos sons audíveis e os riscos para a audição.

Uma mesma nota musical, cantada ou tocada por instrumentos diversificados, terá um som diferente, porque as ondas sonoras produzidas por cada instrumento são únicas – e a percepção humana das diferentes ondas sonoras faz com que percebamos o timbre particular de cada um deles.

Estamos expostos a diversos sons a todo momento. Assim, é também a percepção humana, que define quais sons são ou não saudáveis para a nossa audição. Veja a imagem a seguir.

Intensidade de alguns sons audíveis pelos seres humanos

Observe, na tabela, que existem desde sons que não causam risco à nossa audição até aqueles que machucam o aparelho auditivo e lhe causam danos (sinalizados pela cor vermelha).

Pense em como você e seus colegas se relacionam com os diversos sons elencados na tabela e em como esses sons podem impactar não somente você, mas todos ao seu redor.

• Como são os sons do seu cotidiano e das pessoas com quem convive?

• Você se expõe com frequência a sons da faixa vermelha da tabela? Em quais situações?

As ondas sonoras nos impactam a todo momento e, desde que o som ouvido esteja dentro dos limites saudáveis de audição, elas afetam cada um de forma diferente, podendo causar reações tanto de estímulo quanto de repulsa.

156 156 140 Intensidade do ruído em dB
Explosão Sirene, alarme 90-120 dB Discoteca Bar lotado Show 85-115 dB Reprodutor de áudio 70-100 dB Tráfego em cidades 50-90 dB Sala de aula 40-80 dB Sussurro Conversa Grito 30-80 dB Avião decolando Tiro, buzina Mar telo pneumático Furadeira Recreio Máquina de lavar roupa Biblioteca Cabine de isolamento acústico 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 Limite da dorPerigo: risco de dano auditivo Limite de risco à saúde Sem risco 0 Reinaldo Vignati

Grãos de areia que dançam

O termo “trilha” indica um caminho. São pistas seguidas quando se percorre uma trajetória. É nesse mesmo sentido que podemos pensar sobre a noção de trilha sonora. Você já pensou que, durante quase todo o século XX, a principal mídia para ouvir músicas eram os discos de vinil? Eles registravam as trilhas sonoras de filmes e eram os responsáveis por embalar a apreciação musical e as danças de várias gerações.

Quando se queria ouvir música em casa e ainda não havia sido inventada a tecnologia do MP3, as pessoas faziam o uso de vitrolas para tocar discos de vinil.

Preparação

MP3: formato digital de arquivos musicais e áudio em geral, acessível por computador ou celular.

Vinil: tipo de plástico derivado de petróleo, conhecido popularmente como PVC.

Continuaremos estudando a música eletrônica, agora por meio de suas mídias, ou seja, de seus meios de execução. Antes de prosseguir, é sempre bom saber o que veio antes. Por isso relembre os principais tópicos vistos anteriormente sobre as ondas sonoras e, então, pergunte se algum estudante já viu um toca-discos em funcionamento. Caso seja possível, apresente discos e vitrolas antigos para que eles entendam, pela materialidade, como as músicas soavam décadas atrás.

Orientações

Pergunte aos estudantes se eles têm playlists em aplicativos de música e questione também se já editaram alguma música. Como eles nasceram em uma época em que as tecnologias digitais já estavam instauradas, não tiveram contato com as formas de produção de som nas quais era possível ver parte de seus processos, uma vez que o som digital propõe outro tipo de manipulação e interação com a mídia.

Antes de termos os arquivos digitais sonoros – aqueles que compartilhamos e armazenamos nos aplicativos de áudio favoritos –, as músicas eram tocadas em discos chamados de long-play (gravação de longa duração), ou LP. Os LPs tinham uma estrutura fina e rígida, mas podiam sofrer arranhões ou quebrar. Quando a vitrola era ligada, o movimento contínuo circular já remetia aos giros de uma dança. O disco de vinil possui pistas esculpidas, que atuam como canaletas, ou ranhuras em forma de espiral. Com o disco apoiado sobre a bandeja da vitrola em funcionamento, a agulha do aparelho era conduzida para dentro dessas canaletas, da borda externa até o centro no sentido horário. Esses sulcos microscópicos faziam a agulha vibrar. Essa vibração era transformada em sinal elétrico, posteriormente amplificado e se transformava em música. Entender o funcionamento digital do MP3 talvez não seja simples, mas podemos ter em mente que tudo ocorre a partir de vibrações causadas por ondas sonoras. Foi esse fenômeno que estudiosos de uma ciência que conheceremos a seguir descobriram há muitos anos.

Atividade complementar

Caso ainda não tenha um projeto de uma rádio em sua escola, proponha a criação de uma, ou reserve espaços para realização de intervalos culturais. Assim, grupos de estudantes podem se responsabilizar por promover, em dias determinados, uma programação de música para ser tocada nos horários dos intervalos.

Interdisciplinaridade

O tema da Conexão se apropria de conceitos de Ciências e Matemática ao abordar os estudos de ondas sonoras e suas propagações em diversos meios. Se considerar pertinente, promova uma atividade interdisciplinar que envolva os professores desses componentes, ampliando a compreensão do assunto por parte da turma.

Por isso, oriente uma pesquisa sobre o termo “mídia” e as principais plataformas de música disponíveis na internet. Em relação à palavra “mídia”, eles provavelmente encontrarão termos como “mídias digitais e sociais”, verificando que ela está diretamente relacionada aos meios de comunicação social de massa, como o rádio, o cinema, a televisão, as revistas e jornais impressos, os satélites de comunicação e os meios eletrônicos e telemáticos de comunicação.

Destaque que “mídia” é todo suporte utilizado na divulgação de informação, ou seja, é um meio de expressão localizado entre o criador e o público, é por onde se transmite os sons, as imagens ou qualquer outro tipo de mensagem.

Foco na BNCC

Ao explorar os meios e os equipamentos utilizados na circulação de músicas é trabalhada a habilidade EF69AR17

Além disso, este conteúdo contempla o objetivo de experimentar a linguagem da música pela perspectiva da transformação dos materiais do cotidiano e da utilização de aparatos tecnológicos.

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Agulha de um toca-discos sobre um disco de vinil. Rússia, 2018.
kot63/iStock.com
logico, é logica!

Preparação

Neste subtítulo, o assunto continua sendo as mídias e a propagação de ondas sonoras, abordados agora por meio dos estudos da Cimática.

Orientações

Reserve cinco minutos da aula para que os estudantes experimentem o oposto do que ocorre com o teremim, que não é tocado fisicamente. Peça a eles que, com uma caneta que será usada como baqueta, escolham um lugar da escola para percutir a fim de perceber a reverberação do som pela audição e pelo tato. Uma opção para essa proposta é pedir que eles toquem o próprio pescoço enquanto falam a vogal “a” de forma grave, lenta e contínua. O objetivo é que eles possam sentir a vibração das cordas vocais reverberando pelo corpo. Comente que, quando o badalo bate na cúpula do sino, o princípio é o mesmo. Em seguida, peça que tragam suas impressões, para que sejam discutidas em sala de aula. Pergunte se essa experimentação poderia gerar um improviso em dança, por exemplo, ampliando a percepção da vibração de uma parte para todo o corpo. Comente que diversas técnicas da educação somática – arte e ciência que relacionam fatores da consciência, da biologia e do ambiente agindo em sinergia – fazem isso.

O som visível pela Cimática

As ondas sonoras podem ser produzidas por diferentes instrumentos e pela voz. Aparelhos eletrônicos, como microfones, são capazes de captar as ondas sonoras emitidas perto deles. Porém, você sabia que algumas ondas e frequências sonoras têm padrões que se repetem e podem ser vistos?

Existe um ramo da ciência que estuda o movimento dos corpos, observando conceitos como posição, deslocamento, referencial, trajetória, entre outros, sem levar em conta a origem do movimento. Comparando com a dança, é como se este ramo se dedicasse a analisar o movimento, independentemente dos motivos subjetivos que fazem o dançarino se mover. Ele é chamado de Cimática: a ciência que estuda os fenômenos vibratórios das ondas sonoras, sejam elas audíveis ou não, por suas ações sobre a matéria – por exemplo, em grãos de areia. Dessa forma, quando se altera a vibração, altera-se também a organização da matéria, o que permite tornar visível o fenômeno acústico pela geração de movimentos.

O pioneiro da Cimática foi o físico e músico alemão Ernst Chladni (17561827), que desenvolveu diversas pesquisas sobre o fenômeno, observando como o som pode modificar a organização da matéria. Em uma de suas experiências, ele friccionou um arco de violino na borda de uma superfície com grãos finos e viu as figuras geométricas apresentadas abaixo se formarem.

Representação do sistema criado por Chladni e figuras obtidas em suas experiências. Gravura em madeira, 1893.

Em 1885, a cantora de ópera Margareth Watts-Hughes criou um instrumento que tornou possível ver os padrões da tabela de Chladni e chamou-o de idiofone

Foto publicada na revista Scientific American de 1897, trazendo a demonstração do funcionamento de um tonógrafo, instrumento similar ao idiofone.

Para aprofundar

Caso seja possível, assista com os estudantes ao vídeo de música eletrônica de Nigel Stanford (disponível em: https:// youtu.be/Q3oItpVa9fs; acesso em: 19 maio 2022) e repitam a experiência, procurando agora deixar o corpo agir por uma reverberação em um fluxo livre de movimentos. Não é preciso fazer coreografia nem mostrar os movimentos a ninguém, é apenas para sentir e desfrutar. Peça que imaginem que, ao se mover, organizarão seus padrões internos como os desenhos da Cimática.

No instrumento, composto de um tubo conectado a uma caixa de ressonância tampada com uma película de borracha, era depositada a areia. Quando ela cantava pelo tubo, criava, pela vibração da voz, figuras semelhantes às da tabela de Chladni.

Foco nos TCTs Este conteúdo desenvolve o Tema Contemporâneo Transversal Ciência e Tecnologia ao explorar os fenômenos vibratórios das ondas sonoras.

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Fotografias: Digital Vision Vectors/Getty Images
Munn & Co./Survivor Library

Recursos musicais digitais

Atualmente, convivemos cada vez mais com recursos digitais em nosso dia a dia. O mesmo ocorre quando se trata de música, e isso é perceptível no desenvolvimento de diversos instrumentos musicais nos quais esses recursos digitais viabilizam a emissão do som.

Instrumentos musicais digitais, conhecidos também pela sigla IMD, são aqueles nos quais o som é criado digitalmente a partir da utilização e manipulação da própria onda sonora, executada por um computador. Ouça um som produzido digitalmente.

São comuns instrumentos que possuem a forma de um piano tradicional, com teclados compostos de teclas brancas e pretas, como na imagem a seguir.

Preparação

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o tema da aula. Sugestões: instrumentos digitais, sons digitais. Nesta página, retomamos a questão dos instrumentos eletrônicos, aprofundando essa tecnologia que possibilitou a construção de instrumentos totalmente digitais.

Orientações

Porém, existem teclados nos quais as notas soam a partir de teclados isomórficos – ou seja, suas teclas têm formato igual. Essa característica torna esses instrumentos de fácil compreensão e faz com que tocá-los seja algo bastante acessível.

Bate-papo com o professor

Caso queira ampliar as informações sobre instrumentos digitais, leia o artigo “Os instrumentos musicais da era digital”, disponível em: https://www.tecmundo.com.br/ musica/3492-os-instrumentos-musicais-da-era-digital.htm

(acesso em: 19 maio 2022).

Foco na BNCC

Este conteúdo desenvolve as habilidades EF69AR21 e EF69AR35 ao explorar as características de instrumentos musicais e a tecnologia envolvida nos equipamentos digitais.

Ouça com os estudantes, em sala de aula, o áudio 5 e, na sequência, proponha uma discussão sobre a sonoridade desse trecho musical, cujos sons foram criados de forma digital. Peça a eles que expliquem como definiriam as características desse exemplo a partir das qualidades do som. Converse com a turma sobre o significado da palavra “isomórfico” e sobre a existência de instrumentos cujos sons são completamente digitais. Explique também que existem diversos teclados isomórficos, e, se possível, assistam aos seguintes vídeos (acessos em: 19 maio 2022):

• https://www.youtube.com/ watch?v=uIYg8b2p8JY;

• https://www.youtube.com/ watch?v=aRw9fCQIn6Q;

• https://www.youtube.com/ watch?v=occ7aYelC1k.

Depois da audição, solicite que todos comentem as diversas sonoridades percebidas.

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SSPL/Getty Images
Bosanquet’s enharmonic harmonium, instrumento de 1876 com teclas isomórficas. Londres, Inglaterra, 2001.
FrabrikaSimf/Shutterstock.com
Teclas de um piano, 2017.
5 Sons digitais

Orientações

Comente com os estudantes que a invenção dos instrumentos digitais foi responsável, em grande parte, por uma relativa democratização dos instrumentos de teclado, pois atualmente encontramos desde os mais simples até os modelos extremamente elaborados a preços acessíveis. Pergunte se na sala de aula há alguém que saiba tocar algum tipo de teclado e, em caso afirmativo, considere promover apresentações e oficinas nas quais vocês possam pesquisar juntos os diferentes timbres que um teclado é capaz de produzir.

Atividade complementar

Existem teclados digitais disponíveis na Internet, como o Terpstra, um programa gratuito no qual as notas soam a partir do teclado de letras do computador. Considere a possibilidade de testar o programa e, quem sabe, ensinar os estudantes (disponível em: http://terpstrakeyboard.com/ play-it-now/; acesso em: 19 maio 2022).

Por serem instrumentos que funcionam de forma digital, ou seja, em que as notas são criadas a partir de computadores, eles trazem possibilidades de afinação diferentes. Mas o que isso significa? Observe a imagem.

Representação de teclado isomórfico digital.

Essa é uma representação de um teclado isomórfico: as letras e os símbolos representam as notas musicais que soam quando as teclas são apertadas. Conforme a programação, a afinação do teclado pode ser mais aguda ou mais grave – quem decidirá isso será o compositor ou o intérprete ao manipular os comandos do teclado.

160 160 C C B B B E E E A A A A E E E E E E E E E E E F F F G G G G G G D D D F F F F F F F F F D D D D D C D C C C C C C B B B B B B B B B B B E E E E E A A A A A A A A A A A A A A A A A A A C C C C C C C C C F F F F F F G G G G G G G G G G G G G G G G G B B B B B B B B B D D D D D D D D D D D D D D D D D D C C C C C C C D D -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 -1 # # x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 2 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1
Reinaldo Vignati
Instrumento digital com teclado isomórfico. Toronto, Canadá, 2015.
lumatone.io

O computador pode ser um potente recurso para a composição musical, pois ele é capaz de gerar sons chamados eletroacústicos (sons que são gravados de forma acústica e depois modificados em computador). O computador não é exatamente um instrumento musical, mas uma ferramenta para a criação de música que transforma as ondas sonoras dos sons gravados, podendo gerar outros sons completamente diferentes dos originais. Muitas vezes é com o conjunto de novos sons que o compositor criará sua música.

• Você conhece algum artista ou banda que utiliza a música eletrônica ou digital como recurso? Como eles utilizam essa tecnologia?

Tanto na música nacional quanto na internacional temos diversos exemplos da utilização de recursos digitais, muitas vezes ao mesmo tempo que são usados recursos analógicos. Observe a imagem a seguir.

Orientações

Analógico: que não utiliza recursos digitais.

Peça aos estudantes que observem as imagens do show Cornucópia e reflitam sobre como as tecnologias utilizadas possibilitaram sua realização, permitindo a imersão do público não somente quanto à música, mas também em relação aos temas tratados. Diversos momentos do show estão disponibilizados nas redes sociais, caso tenha possibilidade, escolha alguns trechos para apresentá-los à sua turma.

As respostas à pergunta do livro são pessoais e podem ser um caminho para ampliar a discussão. Oriente-os para que pesquisem outros shows e artistas que utilizam a tecnologia computadorizada em suas apresentações, e, se possível, assistam em sala de aula a alguns exemplos nos quais isso acontece.

A imagem é do show Cornucópia, da cantora islandesa Björk, que estreou em 2019. No espetáculo, a cantora traz as linguagens da música, das artes visuais e do teatro, utilizando tanto a tecnologia digital quanto a presença de cantores e músicos no palco.

Para o evento, foram construídos instrumentos musicais sob medida e foi desenvolvido um software específico, com objetivo de ampliar um efeito de som surround de 360 graus, preenchendo todo o espaço. Também foram criados diversos vídeos para serem projetados sobre uma cortina de fios, causando uma ilusão de transparência nas imagens.

Som surround: recurso tecnológico em que o som é reproduzido em diversas direções no ambiente.

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Show Cornucópia, da cantora Björk. Nova York, Estados Unidos, 2019. Santiago Felipe/Getty Images

Preparação

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o tema da aula. Sugestões: século XX, novos sons.

Na seção Caminhando pela História, trazemos as informações históricas básicas de invenções e transformações que promoveram o desenvolvimento da música eletrônica, que também é base da música feita a partir de instrumentos digitais.

Orientações

Para que todos compreendam a importância desses processos, inicialmente reflita com os estudantes, pedindo que eles imaginem quantas vezes cada um teria assistido a uma apresentação musical, caso o fonógrafo não tivesse sido inventado – e amplie essa questão para outras reflexões semelhantes, trazendo o tema da fotografia ou do cinema.

Conversem sobre a transformação que o fonógrafo promoveu a partir do momento em que possibilitou que músicas praticadas em lugares distantes fossem ouvidas por populações completamente diferentes, instigando, mesmo que de forma sutil e lenta, questionamentos sobre a diversidade musical existente.

Reflitam também sobre o desenvolvimento da música eletrônica e explique que as técnicas concebidas a partir dela são, na atualidade, um poderoso recurso para a composição musical. Uma delas é a música eletroacústica, na qual a tecnologia é utilizada para manipular, a partir de computadores, sons gravados acusticamente.

Explique que o Brasil tem grandes expoentes da composição eletroacústica, entre os quais o compositor Flo Menezes, que mantém um laboratório de composição na Universidade Estadual Paulista (Unesp), chamado Estúdio PANaroma, onde é professor.

Alguns resultados de suas pesquisas podem ser vistos em postagens e vídeos da internet, como os publicados no canal do Estúdio PANorama, no YouTube, disponível em: https://www.youtube.com/channel/ UC7HTYsWQ30mQGXBY4X67f-w; acesso em: 19 maio 2022).

Uma das imagens projetadas em Cornucópia foi a da jovem ativista Greta Thunberg, reforçando o contexto ambiental trazido pelo show. Nova York, Estados Unidos, 2019.

Em Cornucópia, a tecnologia é usada, entre outras coisas, para levar o espectador a ter uma experiência imersiva. Esse recurso também foi explorado para que o público entrasse em contato com diversas questões relacionadas à necessidade de ações ambientais e conscientização, uma das propostas do show

Um século de novos sons

O século XX foi um momento de grande ruptura para a música. De fato, o que se pensava como música no século XIX se tornou, no decorrer dos séculos XX e XXI, algo completamente diferente – em especial no que se refere aos conceitos de som, de notas musicais, de ruídos etc.

Muitos elementos sonoros que eram considerados não musicais passaram a ser usados cada vez mais nas músicas. Um exemplo: em 1948, o compositor francês Pierre Schaeffer (1910-1995) gravou ruídos, como apitos em estações de trem, o som da maquinaria e da passagem de trens pelos trilhos e diversos outros sons, em rolos de fita magnética que foram cortados e colados novamente, de forma aleatória. Depois de colar os pedaços de fita e produzir uma sequência original de sons gravados, o resultado foi posteriormente reproduzido e ouvido.

• Como você imagina que ficou a música produzida por Schaeffer?

A composição, chamada de Estudo sobre a estrada de ferro (em francês, Étude aux chemins de fer), foi uma das primeiras a usar ruídos gravados como matéria-prima para a construção de uma obra musical – ou seja, ele usou esses pedaços de fita como se fossem notas musicais.

A técnica de usar ruídos e outros sons gravados e posteriormente modificados foi chamada de música concreta e refere-se à música feita a partir da junção de elementos denominados “objetos sonoros”, que incluem desde sons e ruídos dos ambientes até o som de instrumentos musicais.

Esse foi um dos muitos movimentos que se valeram do desenvolvimento da tecnologia como ferramenta musical e fazem parte do gênero musical chamado música eletrônica. A música concreta está presente em diversas composições da música popular, nacional e internacional.

Essa técnica somente foi aprimorada a partir do impacto que o desenvolvimento científico e tecnológico advindos da Revolução Industrial teve sobre a música – desde a invenção da gravação sonora, do rádio até, posteriormente, da televisão. A invenção do fonógrafo, em especial, transformou a maneira de todos se relacionarem com a música.

Bate-papo com o professor

Para conhecer um pouco sobre música eletroacústica, leia o artigo “Música eletroacústica”, de Daniel Luís Barreiro, disponível em: http://www.numut.iarte.ufu.br/node/73 (acesso em: 19 maio 2022).

Foco nos TCTs

Este conteúdo desenvolve o Tema Contemporâneo Transversal Educação ambiental ao abordar a promoção de ações de conscientização em shows

Ao analisar a música em seu contexto de produção e circulação, ao ter contato com estilos musicais e ao conhecer diferentes modos de registro musical são trabalhadas as habilidades EF69AR16, EF69AR19 e EF69AR22.

Além disso, é contemplado o objetivo de refletir sobre as mudanças tecnológicas no âmbito musical.

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Santiago Felipe/Getty Images
Viagem no tempo
Foco na BNCC

Inventado por Thomas Edison em 1877, o fonógrafo possibilitou que, pela primeira vez, uma música tivesse um registro que pudesse ser reproduzido como no momento da gravação. Essa é uma grande transformação, pois, antes disso, qualquer vestígio sonoro de uma apresentação musical desaparecia assim que ela chegava ao fim (e, mesmo que a obra tocada fosse apresentada outras vezes, não seria exatamente igual).

• Como seria a sua relação com a música se o fonógrafo não tivesse sido inventado?

A invenção do fonógrafo impulsionou uma progressiva facilidade de acesso à música e, no decorrer das décadas, novos aparelhos, tanto de gravação quanto de reprodução, foram inventados.

Orientações

As perguntas da seção têm respostas pessoais. Aproveite as respostas à pergunta “Como seria sua relação com a música se o fonógrafo não tivesse sido inventado?” para fomentar uma discussão sobre as mudanças que ocorreram a partir dos processos tecnológicos que levaram à construção do fonógrafo – e como esse fato mudou completamente a forma de as diversas sociedades se relacionar com a música, transformando, inclusive, a própria ideia de música, que antes era algo que acontecia somente ao vivo. Considere a possibilidade de ampliar essa discussão, trazendo também a questão da fotografia e do cinema, e pergunte aos estudantes quantas vezes eles assistiram a uma apresentação musical ao vivo, incentivando-os a compartilhar suas experiências. Outro ponto que pode ser abordado é relativo à notação musical: da mesma forma que a ideia de música mudou no decorrer do tempo, a forma de escrever música também foi transformada. Oriente uma pesquisa sobre as diferentes formas de notação musical propostas no século XX, de modo que os estudantes possam refletir sobre o impacto dessas transformações no fazer musical e acerca de como elas ampliaram o sentido de música.

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Fonógrafo, 1901. Kirn Vintage Stock/Corbis/Getty Images Pierre Schaeffer trabalhando em seu estúdio, 1955.
Maurice Lecardent/INA/Getty Images

Orientações

Explique aos estudantes que, no Brasil, o escritor e pesquisador Mário de Andrade foi responsável por inúmeros registros em áudio de manifestações da cultura popular tradicional brasileira, na primeira metade do século XX, idealizando e empreendendo viagens a territórios pouco conhecidos pelas pessoas que habitavam as grandes metrópoles na época. Para conhecer mais sobre o assunto, leia o artigo da historiadora Carla Delgado de Souza, Mário de Andrade: turista aprendiz da musicalidade brasileira, disponível em: https://revistas.ufpr. br/campos/article/view/15616 (acesso em: 20 jul. 2022).

Para aprofundar

Considere promover uma pesquisa sobre os aparelhos de gravação e reprodução musical, compreendendo o período desde a invenção do fonógrafo até os dias atuais. Para isso, você pode organizar a turma em grupos de cinco ou seis estudantes, orientando-os para realizar uma pesquisa que compreenda os aparelhos inventados no decorrer de uma ou duas décadas. No final do processo, reúna os resultados e, em parceria com os estudantes, construa uma linha do tempo sobre o tema.

Foi também graças à invenção do fonógrafo que os primeiros registros musicais foram feitos pelos compositores Béla Bártok (1881-1945) e Zoltán Kodály (1882-1967) no início do século XX, em diversas regiões rurais do Leste Europeu. As viagens de coleta de culturas musicais foram feitas por cerca de trinta anos, resultando em registros que possibilitaram que músicas e gêneros musicais desconhecidos fossem apresentados a músicos e a pessoas que habitavam as grandes cidades. Além disso, essa interação também estimulou o desenvolvimento de uma área de estudos na música chamada de Etnomusicologia, que pesquisa as manifestações musicais sob a ótica cultural das comunidades que as praticam.

A partir da década de 1950, a ideia de trabalhar sons eletrônicos como material musical ganhou força. Um dos artistas que se dedicou a essa técnica foi o compositor Karlheinz Stockhausen (1928-2007), um dos mais importantes desenvolvedores da linguagem da música eletrônica.

Uma das principais obras de Stockhausen é a composição eletroacústica Kontacte (Contato), criada entre 1958 e 1960 e escrita para sons eletrônicos gravados em fita magnética e transformados no computador, além de um piano e um instrumento de percussão. Na apresentação, quatro amplificadores de som são colocados nos cantos de uma sala, em torno do público, soando de tal maneira que a plateia ouve a música “se movimentando” ao redor – prenunciando o som surround citado anteriormente.

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Béla Bartók gravando manifestações musicais na zona rural da Romênia, século XX. A. Dagli Orti/DEA/Album/Fotoarena Compositor Karlheinz Stockhausen. Alemanha, 1971. Erich Auerbach/Hulton Archive/Getty Images

Criar e ouvir música na atualidade

Durante a pandemia de covid-19, em diversos lugares do mundo, as pessoas tiveram de se adaptar de muitas maneiras à situação de isolamento social. Com os profissionais, estudantes e praticantes de música aconteceu o mesmo, e as atividades coletivas da área tiveram de ser adaptadas ou mesmo recriadas.

Um dos fenômenos que se repetiu foi a gravação individual de músicas que seriam, originalmente, coletivas – cada cantor ou músico gravava sua parte em casa, que era unida posteriormente às partes das outras pessoas. Essas gravações foram feitas, em sua maioria, a partir de câmeras e gravadores de celular para depois serem coladas por um aplicativo específico que, ao final do processo, unia e reproduzia todas as partes como se tivessem sido gravadas juntas. Observe a imagem.

Preparação

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o eixo da aula. Sugestões: música, internet, redes sociais.

Orientações

Peça aos estudantes que observem a imagem e pergunte se algum deles já participou de alguma montagem desse tipo. Se sim, solicite que conte como foi essa experiência – e, se possível, assistam em classe a essa produção.

Converse com a turma sobre o período de pandemia de covid-19, no qual essas gravações se tornaram uma forma factível e divertida de fazer música em conjunto. Se possível, assistam juntos ao vídeo indicado no boxe Assim também se aprende Essa gravação envolve uma interpretação de “ Spem in Alium nunquam habui”, do compositor inglês Thomas Tallis (c.1505-1585), composição citada na abertura desta Trilha.

Essa gravação é excelente para trabalhar a percepção da qualidade do som intensidade, pois é possível observar que, com a entrada das diversas vozes, a música se torna mais forte, e, com poucas pessoas cantando, mais fraca.

A tecnologia envolvida permitiu que as pessoas pudessem se expressar musicalmente. Gravações como essas ocuparam massivamente as redes sociais e os meios de comunicação, fazendo com que músicos, profissionais ou amadores, pudessem criar, por meio de apresentações digitais, novas formas de se expressar.

Que tal conferir uma versão de Spem in Alium, música utilizada na instalação

The Forty Part Motet, vista na abertura desta Trilha?

A música, composta por Thomas Tallis, foi executada e gravada individualmente pelos estudantes do Departamento de Música do King's School, em Canterbury (Reino Unido), durante a pandemia, e depois reunida em uma apresentação em vídeo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZQ_XuNPiNmM.

Acesso em: 11 jun. 2022.

Foco na BNCC

Ao conhecer os diferentes meios utilizados para circulação de música, ao valorizar o trabalho de músicos e ao identificar a presença da tecnologia em práticas artísticas são mobilizadas as habilidades EF69AR17, EF69AR18 e EF69AR35.

Além disso, é desenvolvido o objetivo de compreender a música e as artes como parte integrante da sociedade.

Depois, ouça a gravação da música “Girassol” com o Grupo Arrebol. Observem que são músicos bem jovens que buscaram fazer uma gravação na qual as pessoas tivessem bastante liberdade de criar suas próprias participações (disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=AylKsnmaGpg; acesso em: 19 maio 2022).

Promova uma discussão sobre essa forma de expressão que cresceu no decorrer da pandemia.

Peça também aos estudantes que comentem as diferenças entre os gêneros musicais e as interpretações das duas gravações. Promova uma discussão sobre essa ferramenta, observando que é uma forma bastante democrática de expressão, na qual todos podem contribuir, mesmo que não sejam músicos.

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Girassol, de Gabriela Capassi, gravada pelo Grupo Arrebol, formado por estudantes da Escola de Música do Estado de São Paulo – Emesp, 2020. Grupo Arrebo

Preparação

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o tema da aula. Sugestões: transformações, tecnologia, diferentes sonoridades.

O objetivo desta aula é permitir aos estudantes que formulem um pensamento crítico sobre o que significa desenvolvimento tecnológico, e como ele é diferente nas diversas gerações.

Orientações

Comente com a turma, após a leitura do texto, que não só a tecnologia muda, mas também o nosso olhar sobre ela. Essa questão pode ser observada ao refletirmos sobre como hoje, nas casas, nos carros e nos diversos ambientes, a tecnologia de amplificação do som é muito mais desenvolvida, porém não necessariamente satisfaz a vontade das pessoas que a utilizam.

Converse também sobre os Beatles e o grupo Pink Floyd, e instigue-os a fazer uma pesquisa auditiva, com o objetivo de conhecer um pouco melhor a sonoridade da música desses grupos. Depois, se possível, organize uma audição em sala de aula da música “Breathe in the air”, por meio de uma dinâmica imersiva, na qual os estudantes devem ouvir a música de olhos fechados, buscando analisar e apreciar as diversas sonoridades presentes na composição. A música está disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=6DVu9vF5J3Y (acesso em: 19 maio 2022).

Por fim, promova uma roda de conversa, propondo que discutam as possíveis tecnologias utilizadas na música para a criação dessas sonoridades. Explique que alguns sons foram gravados anteriormente e usados na música, como vozes, sons de caixa registradora (peça que pesquisem esse objeto), gritos e sons da hélice de um helicóptero. Explique que essa utilização é uma técnica da música concreta, assunto já abordado nesta coleção, e solicite uma breve pesquisa sobre o tema.

As respostas à pergunta da página seguinte são pessoais e podem gerar excelentes discussões.

Sampler: equipamento capaz de guardar sons diversos, que podem ser gravados ou criados pela manipulação de ondas sonoras. O computador atual pode substituir os antigos samplers, mas eles ainda são usados em diversas ocasiões.

Transformando sons

Os desenvolvimentos tecnológicos estão constantemente presentes nas manifestações musicais ligadas às novas gerações, e, além da possibilidade de gravar a distância, com uma edição posterior, hoje é possível criar músicas sem tocar nenhum instrumento.

Observando os diversos movimentos musicais, podemos entender um pouco da transformação progressiva na utilização dos recursos tecnológicos. Um exemplo é a banda The Beatles, que, na década de 1960, dispunha de recursos muito modestos em comparação aos utilizados atualmente nos grandes shows – os alto-falantes dos amplificadores utilizados tinham uma potência de som parecida com a que ouvimos em uma narração em um campo de futebol, ou seja, um som bastante ruidoso. Porém, para aquele momento, essa era a tecnologia mais desenvolvida e cumpria todas as funções esperadas para a realização de shows e gravações.

Também podemos ver como a utilização de samplers e distorções do rock progressivo transformaram a ideia de música e som para os jovens da época. Grupos como Pink Floyd são, até hoje, exemplos na utilização das técnicas de música contemporânea em suas obras.

Atividade complementar

No decorrer das décadas, os grupos de rock estiveram vinculados à tecnologia de diversas formas. Promova uma pesquisa conjunta sobre esse gênero musical, privilegiando a escuta.

Para iniciar esse trabalho, organize grupos na sala de aula e distribua entre eles temas como o rock das décadas de 1960, 1970 e 1980, contrapostos com a produção de rock das décadas de 1990, 2000 e 2010 até o presente. Será in-

teressante que eles tragam exemplos para serem ouvidos em sala de aula.

Após essa etapa, em uma roda de conversa, discutam as impressões e as sonoridades ouvidas. Mencione que diversos grupos, no decorrer das muitas gravações, fizeram uso constante das tecnologias desenvolvidas pela música erudita no século XX.

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Show do Pink Floyd, que reuniu os integrantes depois de 24 anos sem tocar juntos para pressionar os líderes mundiais a perdoar a dívida externa das nações mais pobres do mundo. Reino Unido, 2005. Mick Hutson/Redferns/Getty Images

De lá para cá, muita coisa mudou na forma de amplificar e gravar espetáculos e músicas – aliás, muitas das caixas de som que usamos em casa, no carro ou em apresentações nas ruas são mais potentes do que as utilizadas em grandes shows antigamente.

• Onde mais, no seu cotidiano de escuta musical, voc ê observa essa transformação?

Outra mudança significativa foi, como já vimos, a progressiva manipulação digital por meio de computadores. Essa transformação possibilitou também trabalhar as entradas e saídas de som, ou seja, trabalhar o som de instrumentos, vozes e ruídos separadamente, aprimorando cada um deles antes de mixar e transformar em um todo musical. Isso já ocorria de forma manual com equipamentos analógicos, mas as plataformas digitais tornaram o processo muito mais centralizado, facilitando o acompanhamento e controle de todas as etapas

Construindo lugares com os sons

Você sabe como são feitas as gravações musicais?

Mixar: processo de unir e equilibrar diversos sons.

Preparação

Insira na lousa palavras-chave para sinalizar o eixo da prática. Sugestões: gravação musical, mixagem de sons, DJ.

Essa atividade, além do aprendizado técnico, possibilita aos estudantes observar o entorno, podendo, a partir daí, estabelecer processos críticos sobre sua própria realidade.

Orientações

O ideal é que cada grupo tenha dois ou mais integrantes que possuam celulares, para que as gravações e mixagens possam ser feitas.

Nesta prática, vocês irão experimentar recursos tecnológicos para criar novas sonoridades mixando sons, com o objetivo de descrever simbolicamente alguns lugares pelos quais vocês passam ou vivem.

1 Em grupos de seis pessoas, vocês irão pesquisar e escolher um lugar que irão descrever. O primeiro passo é observar as sonoridades de lugares pelos quais vocês passam no dia a dia e que sejam significativos para vocês. Individualmente, anote esses sons, pensando quais são os que descrevem melhor cada lugar. Depois, decidam em grupo qual local será descrito. Caso não haja consenso, vocês podem decidir por votação.

Oriente os grupos para que possam produzir gravações que mesclem bem os ambientes, procurando se afastar de sonoridades semelhantes a músicas conhecidas e ouvidas por eles, ampliando assim os sentidos de música e sonoridade.

Discuta com eles questões de segurança e, caso considere importante e seja possível, acompanhe os grupos nos lugares escolhidos.

2 No local escolhido, vocês deverão gravar pequenos trechos de diversos sons utilizando o gravador do celular. Busquem sons diferentes, explorem as possibilidades. Eles serão a base para a criação do seu grupo e, para organizar, criem arquivos nomeados e façam um banco de sons – o ideal é que sejam, no mínimo, cinco gravações diferentes.

3 Escolham uma gravação que será a base da criação de vocês. É interessante que seja um som curto e marcante. Com esse som será criada uma base repetitiva, com um ritmo constante.

4 Agora, vocês deverão sobrepor os sons e, para isso, existem diversos aplicativos disponíveis para celular. Busquem aplicativos para DJs, há opções oferecidas gratuitamente em várias plataformas.

5 Façam diversas experiências, sobrepondo os sons gravados à base escolhida: repitam o processo algumas vezes, mudando a sobreposição dos sons, até chegarem a um resultado que vocês considerem a melhor mixagem.

6 Nomeiem essa composição, destacando o lugar escolhido para ser descrito. Os grupos podem apresentar os resultados para toda a turma. Posteriormente, conversem sobre o processo de escolha e produção, destacando quais foram as dificuldades e as descobertas dessa ação.

Foco na BNCC

Ao participar de práticas de criação que instigam a composição de sonoridades é trabalhada a habilidade EF69AR23

Finalize a atividade com uma roda de conversa, discutindo não somente temas que abordam a produção, mas que também reflitam sobre o que essas gravações trazem sobre a realidade de sua comunidade.

Avaliação formativa

Neste momento, é esperado que os estudantes já tenham domínio dos termos e das técnicas de criação musical. Diante disso, é interessante que você observe essas questões, não com o objetivo de delimitar o processo individual de cada um, mas buscando observar como eles caminharam até aqui, sanando possíveis dúvidas e aprofundando questionamentos e reflexões.

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É importante que vocês escolham um lugar ao qual seja possível todos do grupo irem juntos, pois esse é um trabalho coletivo.

Preparação

Insira na lousa palavras-chave, indicando o tema da aula. Sugestões: cultura negra, hip-hop, rap

Orientações

Inicialmente, peça à turma que compartilhe o que conhece sobre o hip-hop e o rap, e promova uma pesquisa sobre as origens dessas manifestações.

Depois, explique que, entre as muitas linguagens da música na atualidade, o hip-hop é uma das que mais se aproxima da música contemporânea, pois traz em suas composições e interpretações a presença de diversos sons não tradicionais, como as batidas eletrônicas e outros tantos sons e sonoridades.

Explore com eles a importância social dessa manifestação e, caso seja possível, promova uma pesquisa em sala de aula sobre projetos sociais que envolvem o hip-hop, o rap e outras expressões, como o grafite, por exemplo.

Foco na BNCC

Ao conhecer a importância e a contribuição de diferentes estilos musicais é trabalhada a habilidade EF69AR19

Assim, cumpre-se o objetivo de fomentar discussões críticas sobre o fazer musical e suas possibilidades na sociedade.

Um pouco da cultura hip-hop

Você conhece o hip-hop?

O hip-hop é uma cultura surgida entre as comunidades negras nos Estados Unidos que envolve música (rap e DJing), dança (breakdance) e artes visuais (grafite).

No Brasil, o hip-hop ganhou força a partir do final dos anos 1980, especialmente com o rap, e as músicas se tornaram uma forte expressão da juventude das periferias, transformando-se em um elemento de mobilização e conscientização desses jovens e uma ferramenta de visibilidade para essa população. Assim, roupas, cabelos, acessórios, gestos, modos de andar, de falar e de cantar do universo do rap contribuíram muito para o fortalecimento da cultura negra da periferia.

O hip-hop tem uma representatividade tão forte que, na atualidade, essas expressões ultrapassaram as fronteiras da periferia e estão presentes em diversos outros espaços sociais e também na mídia, cotidianamente.

Alguns dos primeiros rappers que se destacaram no Brasil foram Thayde, Racionais MC’s, Sabotage e outros. Apesar de muito masculina no início, hoje a cultura do rap tem uma forte representação feminina, com nomes como Negra Li, Cynthia Luz e Preta Rara. Ouça um rap 6 Se liga na mulher

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Wakil Kohsar/AFP
Apresentação de hip-hop Afeganistão, 2019.

• Você tem o hábito de ouvir música? Gosta de ouvir diversos gêneros musicais ou prefere alguns específicos?

O termo DJing é usado para descrever outro músico que é parte do universo hip-hop, o DJ. Pelas características de sua profissão, o DJ tem conhecimento extenso sobre os diversos gêneros musicais e, assim, conhece muitas músicas, tanto atuais quanto antigas. Isso faz dele um especialista em repertórios variados para diversas ocasiões, sempre ampliados pelos novos gêneros musicais que surgem no decorrer dos anos.

Manifestações como o rap e o DJing, pela utilização massiva de aparelhos eletrônicos, batidas ritmadas e repetições, valem-se muito de ideias e conceitos de objeto sonoro originados na música eletrônica, estando profundamente alinhadas com os desenvolvimentos tecnológicos da música atual.

Além disso, o fortalecimento da identidade desses grupos a partir das manifestações do hip-hop promove o reconhecimento dessas manifestações, que têm sido cada vez mais consideradas importantes não só para essas comunidades, mas também para a música em geral, como uma expressão musical significativa.

Um dos resultados desse processo são os projetos sociais que envolvem o hip-hop e suas linguagens, como o Elas no Beat, ação que ocorreu em 2019 e ofereceu oficinas de criação de batidas de rap no estado do Espírito Santo. Esse e outros projetos buscam conscientizar os jovens sobre direitos e cidadania, além de abordarem outros assuntos que envolvem toda a sociedade.

Foco nos TCTs

Este conteúdo desenvolve o Tema Contemporâneo

Transversal Direitos da Criança e do Adolescente ao abordar a conscientização dos jovens acerca de seus direitos, em especial o acesso à cultura e à produção de arte.

Orientações

Reproduza para a turma o áudio 6 indicado na página anterior. Explique que a presença de mulheres no rap – e em outras manifestações musicais – tem sido fortalecida nos últimos anos, assim como ocorre com os projetos de rap que envolvem ações sociais e de cidadania. Isso acontece devido à consolidação de grupos a partir de processos de fortalecimento identitário, por meio dos quais as pessoas se reconhecem como parte de um grupo e passam a pleitear direitos igualitários aos de outros grupos. Será interessante que você promova uma roda de conversa sobre essa questão, buscando conhecer sua turma com mais profundidade.

As respostas para as perguntas são pessoais e podem trazer muitas reflexões interessantes, não somente sobre música como também a respeito das manifestações musicais que são identitárias para eles.

Mais informações sobre o projeto Elas no Beat estão disponíveis em: https://secult.es.gov.br/ Not%C3%AD cia/projetos-de-hip -hop-levam-conhecimento-beats -e-inclusao-social (acesso em: 20 jul. 2022).

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Preta Rara, nome feminino no rap. São Paulo (SP), 2019. Van Campos/Fotoarena

Preparação

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o eixo da aula. Sugestões: espaço sideral, planeta Terra, sons, sonoridades.

Orientações

Leia o texto com os estudantes e observe que, nesse momento, tratamos tanto do planeta Terra quanto do espaço sideral. Pergunte a eles o que consideram mais importante na instalação Sonic Pavilion (Pavilhão Sônico), em Inhotim, e questione o porquê de essa instalação estar em um museu de arte, e não em um museu de ciências. Promova uma discussão sobre essa questão e explique que apesar de essa instalação ter forte vínculo com a ciência, o artista buscou trazer a sonoridade das camadas profundas do solo como um som que dialoga com as pessoas que estão visitando a instalação também no que diz respeito a questões estéticas e criativas.

Já as iniciativas de simular sons a partir de dados matemáticos envolvem uma simbolização e não algo concreto. Essa ação caminha entre a imaginação e a ciência, pois para cada dado matemático foi atribuído um som. Diga aos estudantes que muitos outros sons poderiam ter sido atribuídos a um mesmo dado matemático, e caso isso acontecesse o resultado sonoro seria completamente diferente.

Na terra e no espaço sideral

• Imagine quais seriam os sons produzidos nas partes mais profundas da superfície terrestre? Como você acha que eles soariam?

Essa foi a proposta do artista norte-americano Doug Aitken para a instalação artística Sonic Pavilion (Pavilhão Sônico), construída em Inhotim.

Foco nos TCTs

A partir de um buraco de 202 metros cavado no alto de uma montanha, foram instalados oito microfones, que captam sons diversos produzidos pela movimentação dos lençóis freáticos e das rochas e sons subterrâneos. Dentro do pavilhão, os sons são reproduzidos, permitindo que as pessoas ouçam uma transmissão contínua dos barulhos captados nas camadas profundas do solo.

Da mesma forma que podemos captar sons produzidos em camadas interiores da terra, é possível ouvir simulações de sons do espaço (uma vez que ondas sonoras necessitam de matéria para se propagar, não há como ouvir sons no vácuo do espaço).

Foco na BNCC

Este conteúdo desenvolve o Tema Contemporâneo Transversal Ciência e Tecnologia ao abordar a captação de sons das profundezas do solo, o processo de sonificação e os golden records enviados ao espaço.

Ao verificar a presença de diferentes elementos na produção de sons é desenvolvida a habilidade EF69AR20.

Além disso, é contemplado o objetivo de apresentar artistas e conceitos de arte que se apropriam de tecnologias para a produção de obras híbridas que criam diálogos entre o passado e o presente.

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Doug Aitken. Sonic Pavilion, 2009. Vista interna do pavilhão, onde encontra-se o poço tubular de 202 m de profundidade. © Doug Aitken, courtesy 303 Gallery, New York; Victoria Miro, London; Galerie Presenhuber, Zürich; Regen Projects, Los Angeles Doug Aitken. Sonic Pavilion 2009. Pavilhão de vidro e aço revestido de película plástica, composto por poço tubular de 202 m de profundidade, microfones e equipamentos de amplificação sonora, 3,35 m × 14 m. © Doug Aitken, courtesy 303 Gallery, New York; Victoria Miro, London; Galerie Presenhuber, Zürich; Regen Projects, Los Angeles

Em 2020, equipamentos da National Aeronautics and Space Administration (Nasa) – sigla que, em português, significa Administração Nacional do Espaço e da Aeronáutica – transformaram dados de imagens astronômicas em áudio utilizando um processo chamado sonificação, no qual, a partir da posição e do brilho das fontes de luz, são produzidos sons. O resultado foi uma representação sonora dos movimentos celestes, que foram convertidos em sons de pianos, harpas, sinos e outros.

Ouvir essas simulações têm sido cada vez mais comum, mas e o contrário?

Em 1977, a Nasa lançou no espaço duas cápsulas espaciais com o objetivo de investigar o espaço sideral em uma viagem apenas de ida. Essas cápsulas permitiram observar, pela primeira vez, inúmeras características dos planetas mais distantes do nosso sistema, como vulcões ativos na lua de Júpiter e detalhes dos anéis de Saturno.

Dentro dessas cápsulas, foram colocadas diversas informações sobre nosso planeta, gravadas em dois discos de cobre banhado a ouro, que foram chamados de golden records. O idealizador desse projeto foi Carl Sagan (1934-1996), cientista e astrônomo estadunidense.

Entre as informações gravadas nos discos, estão diversos sons da natureza (como os barulhos do vento, da chuva caindo e os sons feitos por diversos animais) e da vida cotidiana das sociedades modernas (como o apito de trens), com o objetivo de exemplificar – caso as cápsulas fossem interceptadas por civilizações distantes – como é a vida na Terra. Além desses sons, foram gravadas saudações em 55 línguas diferentes, incluindo português.

Com o objetivo de registrar a cultura sonora humana, foram incluídas 27 músicas de compositores de diversas épocas, músicas populares tradicionais de vários países e jazz americano.

As cápsulas espaciais talvez jamais sejam encontradas por outras civilizações, mas são interessantes cápsulas do tempo, isto é, trazem informações de uma época, especialmente escolhidas para serem encontradas no futuro.

• Se você fosse selecionar sons e músicas para representar o seu mundo, quais você escolheria?

Orientações

Sobre as sondas espaciais Voyager, explique aos estudantes que a localização das cápsulas em tempo real pode ser vista diretamente no site da Nasa, disponível em: https://voyager. jpl.nasa.gov/mission/status/ (acesso em: 20 jul. 2022). Se possível, acesse o link em aula – pode ser uma experiência interessante para os estudantes visualizarem essas duas cápsulas, que ainda estão viajando no espaço. Peça que pesquisem todos os sons e músicas que foram enviados como exemplos da produção musical e sonora humana nas cápsulas e, se possível, escolham alguns para ouvirem juntos.

A resposta à pergunta do Livro do Estudante é pessoal.

Interdisciplinaridade

Este conteúdo trabalha a interdisciplinaridade entre Música (sons) e Ciências, abordando conceitos de ambas. Considere chamar o professor de Ciências para essa aula, que pode o auxiliar a explicar para turma que o som não se propaga no espaço sideral, por isso foi usado o processo de sonificação.

Para aprofundar

A íntegra das obras gravadas nos Golden Records pode ser acessada livremente na internet, basta buscar por “Voyager’s Golden Records”. A lista das músicas está disponível em: https://voyager.jpl.nasa.gov/golden -record/whats-on-the-record/music/ (acesso em: 19 maio 2022).

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Imagem aproximada de Saturno. Nasa, 1999. JPL/NASA Capa e disco dos golden records, levados a bordo das naves espaciais Voyager 1 e 2. Composição aprimorada de imagens da Nasa, 2017. NASA/digitaleye/ Alamy/ Fotoarena

Preparação

Insira na lousa palavras-chave, sinalizando o eixo da aula. Sugestões: cantos de trabalho, manifestação cultural tradicional popular.

Orientações

Depois de ler o texto, explore com os estudantes a questão dos cantos de trabalho e pergunte se alguém conhece ou pratica alguma manifestação assim – a pergunta também pode abranger os familiares dos estudantes.

Explique que os cantos de trabalho são muito funcionais, pois ajudam os trabalhadores a organizar um ritmo próprio para que a tarefa seja feita, e que também são bens culturais para as diversas comunidades que os praticam.

Peça que imaginem que estão realizando algum trabalho em conjunto e como essa atividade poderia ser otimizada se todos estivessem cantando uma mesma música (em um mesmo ritmo). Promova um exercício prático nesse sentido, usando uma música conhecida, que possam cantar com facilidade, unida a uma sequência de movimentos cadenciados para a execução de uma ação, por exemplo, trocar rapidamente as cadeiras de lugar. Depois, se possível, assistam ao vídeo “Bata de feijão na fazenda Massapê”, uma prática comum no município de Ichu, na Bahia (disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=z_8vi_F1L6g; acesso em: 19 maio 2022).

Depois, reserve um tempo para assistir a outros vídeos – todos são exemplos de cantos de trabalho.

• “Som da Rua - Fiandeiras”, disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=oVeEFMer6us; acesso em: 19 maio 2022.

• “Mulheres do Vale do Jequitinhonha transformam algodão em tecidos e música”, disponível em: https://www.youtube.com/wat ch?v=ChmwXNMMmQw; acesso em: 19 maio 2022.

Este último traz a colheita do algodão no Vale do Jequitinhonha e, além de mostrar como os cantos foram ressignificados, destaca muitos aspectos da vida dessas mulheres.

Foco nos TCTs

Este conteúdo desenvolve o Tema Contemporâneo Transversal Diversidade cultural ao abordar manifestações relacionadas ao canto.

Ações da música no cotidiano

Muitas vezes nos valemos de técnicas repletas de significados e tradições no cotidiano sem nem ao menos percebermos – mas, se observarmos com atenção, veremos que muitas delas facilitam a nossa vida. Esse é o caso dos cantos de trabalho.

Esses cantos costumam ocorrer em diversas situações que envolvem trabalho coletivo, como a bata do feijão e do milho (o nome se refere ao ato de bater para separar os grãos de milho e os feijões das favas).

O canto da bata permite estabelecer um ritmo para o trabalho, além de fornecer alguma segurança para que os trabalhadores não se machuquem. Mas não é somente o ritmo que facilita o cotidiano de trabalho dessas comunidades: o canto coletivo motiva a construção de uma identidade de grupo, gerando uma sensação de pertencimento.

O Vale do Rio Jequitinhonha é uma região do estado de Minas Gerais cheia de diversidades e contrastes. Se, por um lado, uma grande parte da população vive em condições socioeconômicas muito difíceis, por outro, o patrimônio cultural e as belezas naturais da região fazem com que exista ali um potencial muito grande para o desenvolvimento do turismo e para a manutenção das culturas tradicionais locais.

Nessa região, a tradição de cantar para lavar a roupa no rio é muito antiga e foi preservada pelas mulheres – que passam esse ensinamento para suas filhas e netas por meio da oralidade. Mesmo que a roupa não seja mais lavada no rio, as lavadeiras (como são chamadas as mulheres que lavam roupa) mantêm a tradição do canto.

Atividade complementar

Peça aos estudantes que pesquisem manifestações da cultura que fazem parte do patrimônio imaterial da região onde residem e sejam relacionadas a cantos de trabalho. Podem ser expressões vinculadas a danças, culinária, vestuário etc.

Ao final, promova uma roda de conversa que aborde o contexto social de muitos desses grupos de trabalho.

Bate-papo com o professor

A fonte de pesquisa desse tópico é o artigo “Cantos de trabalho: modos e modas na atualidade”, de

Edilberto José de Macedo Fonseca, publicado no volume S onoros ofícios: cantos de trabalho, editado pelo Sesc Nacional (2015), disponível em: https://www2. sesc.com.br/wps/wcm/connect/798489b5-ac11-483a -9e90-0b8e2a269968/catalogo%2BSonora%2BBrasil_ C antos%2BOficios.pdf?MOD=AJPERES&CONVERT_ TO=href&CACHEID=798489b5-ac11-483a-9e900b8e2a269968; acesso em: 19 jul. 2022.

Foco na BNCC

Ao estudar a música em seu contexto de circulação é trabalhada a habilidade EF69AR16

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Bata do feijão, no município de Ichu, na Bahia, 2018. Valdir Carneiro/Ichu Notícias

A música cantada no rio faz com que, tradicionalmente, o ato de lavar a roupa seja ritmado, facilitando os movimentos e compondo uma verdadeira coreografia, como se as lavadeiras estivessem dançando. Mesmo em lavanderias comunitárias, o ritmo da música comanda e organiza a movimentação das mulheres, como se fosse ainda a lavagem da roupa no rio. Essa tradição é mantida, e as lavadeiras, quando se apresentam, dançam – fazendo alusão aos movimentos usados para lavar as roupas.

Esses cantos de trabalho, que têm origens indígena, africana e portuguesa, chamaram a atenção dos administradores da cidade de Almenara, em Minas Gerais, que montaram uma lavanderia comunitária em 1991 e incentivaram a criação de um coral. Ele foi chamado de Coral das Lavadeiras e hoje é parte do patrimônio imaterial da região.

Música como ação e transformação

Observe as imagens desta página e da seguinte e reflita: O que é ser músico?

Preparação

Insira palavras-chave para sinalizar o eixo temático da aula. Sugestões: música, ação social, trabalho em música.

O objetivo deste tópico é que os estudantes tenham uma ideia mais clara das diversas possibilidades profissionais na área de música e, principalmente, que observem que ela pode ser um caminho para ações objetivas que colaborem para a construção da cidadania.

Foco nos

TCTs

Este conteúdo desenvolve o Tema Contemporâneo Transversal Trabalho ao apresentar e discutir variadas profissões ligadas ao universo da música.

Foco

na BNCC

Ao conhecer e valorizar o trabalho de músicos e outros profissionais ligados à área é mobilizada a habilidade EF69AR18.

Assim, este conteúdo abrange o objetivo de comparar diversas profissões relativas à música.

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Show do grupo Racionais MC’s. São Paulo (SP), 2016. Jales Valquer/Fotoarena A tradição do canto ainda pode ser observada em diferentes regiões do Brasil. Lavadeiras trabalhando na Chapada Diamantina. Lençóis (BA), 2012. Mauricio Simonetti/Pulsar Imagens

Orientações

As respostas possíveis para a pergunta “Para que serve um músico na sociedade?” são pessoais, mas é esperado que os estudantes tragam reflexões decorrentes do trabalho efetuado nos últimos anos. Mesmo assim, promova uma roda de conversa e peça a eles que reflitam sobre a ideia das artes como uma ferramenta de transformação social.

Solicite que comentem quais são os músicos e intérpretes que eles conhecem. Observe que os cantores são, também, músicos intérpretes, mas, além deles, existem muitos outros, como os instrumentistas.

Promova uma roda de conversa com a turma, perguntando quem conhece profissionais de música, quem são eles e quais outras possíveis atividades em música que não foram citadas no texto.

Comente que no dia a dia ouvimos muitos arranjos de músicas conhecidas nas rádios, emissoras de televisão e outras mídias.

Estudantes do projeto Ópera na UFRGS apresentando o espetáculo Tempos de solidão no 7º Festival Internacional Sesc de Música. Pelotas (RS), 2017.

• Como você imagina que um músico constrói sua vida profissional?

• Para que serve um músico na sociedade?

Como já estudamos, a música faz parte da cultura da humanidade desde que o ser humano se reconhece como tal. No decorrer desse tempo, ela ocupou diversos lugares nas sociedades humanas, sendo muitas vezes vinculada a questões utilitárias, outras a questões artísticas, e muitas vezes às duas. Porém, em todos os momentos, foi preciso que alguém executasse a música. Hoje, existem inúmeros músicos profissionais que atuam em diversas áreas. Mas será que vale a pena ser músico?

Para tentar responder a essa pergunta, vamos conhecer algumas profissões relacionadas à música.

O músico intérprete, por exemplo, vivencia a sua profissão tocando, diariamente, expressões musicais (criadas por ele ou por um músico especialista em criação, o compositor). Os músicos intérpretes são aqueles que estudam profundamente durante muitos anos (pode ser um estudo formal em uma universidade ou não) a prática de tocar um instrumento e que, quando profissionais, continuam a estudar para manter a capacidade de performance. Músicos intérpretes são como atletas: se pararem de praticar, não conseguem mais tocar tão bem. Esses são os instrumentistas e cantores tanto da música popular quanto da música clássica – e eles podem tocar em grupos ou como solistas.

Muitas vezes, o intérprete e o compositor são a mesma pessoa. O compositor é um profissional que cria obras dentro das mais diversas linguagens musicais. Ele pode ter ou não estudado formalmente música em uma universidade e saber ou não escrever música na linguagem formal da partitura. O compositor pode, ainda, trabalhar como arranjador, isto é, transformar uma música original para uma determinada interpretação –por exemplo, um compositor pode fazer um arranjo para dois violões de uma música escrita originalmente para uma pequena orquestra do século XVIII.

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Adriana Marchiori
Cantora amapaense Patrícia Bastos. Salvador (BA), 2019. Eudes Vinicius

Esse profissional pode também trabalhar como compositor de trilhas publicitárias (também chamados jingles), música para teatro, para novelas ou para cinema, ampliando suas possibilidades de trabalho.

O local de trabalho dessas atividades é, normalmente, o estúdio de gravação, e, nesse ambiente, um músico que atua muito próximo ao compositor que faz jingles e trilhas sonoras é o produtor musical. Sua função é dirigir (como o diretor de teatro faz) a gravação.

No estúdio – e também no palco – trabalha o engenheiro (ou técnico) de som, profissional responsável pela qualidade sonora (ou sonorização) de algum evento ou gravação. É esse profissional quem decide e resolve, por exemplo, quais equipamentos serão levados para sonorizar o show de um artista, seja em um teatro, seja ao ar livre.

Como já vimos, outro profissional da música é o DJ, que cuida das músicas que serão tocadas tanto nas rádios quanto em festas (nas casas ou nas ruas).

Sobre a área de composição: comente com os estudantes que são muitos os intérpretes e compositores que também constroem instrumentos, como já visto no subtítulo “A tecnologia da transformação”, e que existem construtores muito tradicionais em diversos lugares do país. Um exemplo é o construtor de rabecas Agostinho Gomes, que vive em Cananeia (SP).

Pergunte se eles conhecem algum construtor de instrumentos na região onde moram, retomando a breve prática feita anteriormente, e peça que pesquisem sobre a existência de construtores dos instrumentos mapeados anteriormente. Caso exista alguma tradição assim na sua região, considere a possibilidade de agendar um encontro com esse profissional, trazendo-o para uma roda de conversa com a turma.

Além disso, se possível, assista a algum vídeo de construção de instrumentos tipicamente brasileiros, como esse exemplo da construção da viola de cocho, instrumento tradicional das regiões do Pantanal, disponível em: https://youtu.be/8WqxtyEh2t8. E sobre a construção de pife, instrumento tradicional em diversas regiões do Brasil, especialmente no Nordeste, disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=ydJzlMvtaUo (acessos em: 19 maio 2022).

Retome a conversa sobre possíveis contribuições da área de música para a sociedade e promova uma discussão sobre trabalho voluntário, fraternidade e outras possibilidades de ações transformadoras.

Peça que façam o exercício de imaginar ações musicais que possam beneficiar a sua comunidade, incentivando-os a compartilhar as ideias com os colegas.

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Peça Suassuna: O Auto do Reino do Sol, encenada pela Cia. Barca dos Corações Partidos, com música de Chico César, Beto Lemos e Alfredo Del Penho. São Paulo (SP), 2018.
DJ preparando o equipamento para um show. Ucrânia, 2020. Dmitriy/Shutterstock.com
Kovtun Jonatas Marques Orientações

Atividade complementar

Promova uma roda de conversa com todos os estudantes, buscando mapear quem escuta música e quem não escuta – procure entender os motivos pelos quais alguns estudantes não o fazem.

Divida a turma em grupos de cinco ou seis integrantes e sorteie um gênero de música para cada um:

1. música clássica;

2. jazz;

3. música popular brasileira.

Cada grupo deve escolher uma composição pertencente a um desses gêneros e trazê-la para os demais colegas ouvirem, além de fazer uma pesquisa sobre ela – que deve abarcar o nome dos compositores, em qual época ela foi escrita, o que estava acontecendo no mundo nesse momento, entre outras informações.

Depois de ouvir todas as músicas, promova uma roda de conversa sobre a experiência, enfatizando que os movimentos e as práticas musicais estão sempre vinculados com o contexto geral da época nos quais acontecem – e o mesmo ocorre com as composições musicais.

Bate-papo com o professor

É importante que você tenha domínio das questões colocadas nesse tópico, compreendendo que a cultura, as artes e, especificamente, a música, no caso, são poderosas ferramentas de reflexão sobre a vida e a sociedade.

Se possível, leia a obra Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade, de Néstor Garcia Canclini (São Paulo: Edusp, 1997). Na obra, o autor trabalha o conceito de cultura como um caminho dinâmico para a construção das identidades, e não somente como um patrimônio a ser preservado.

Gang do Eletro, grupo de tecnobrega paraense. Belém (PA), 2013.

Existem também profissionais de música que desenvolvem pesquisas: o musicólogo e o etnomusicólogo. O musicólogo é o profissional que estuda diversos aspectos teóricos da música, como história, estética e filosofia da música, entre outros. É trabalho do musicólogo, por exemplo, compreender como a música se transforma no decorrer do tempo e quais são as influências desse processo na forma como as pessoas fazem e escutam música.

Como já foi dito anteriormente, o etnomusicólogo é aquele que pesquisa grupos específicos de pessoas que desenvolvem uma prática musical – que podem ser tanto rurais ou urbanos. O etnomusicólogo pode estudar grupos bastante diversos, por exemplo, brincantes de maracatu, um grupo vinculado à linguagem punk, o tecnobrega das festas de aparelhagem ou uma comunidade que pratica o funk

As duas profissões (musicólogo e etnomusicólogo) são muito semelhantes no que diz respeito ao resultado de seus trabalhos, que ajudam a compreender as funções e os objetivos da música na sociedade.

Quando se trata de partituras, o profissional dedicado a elas é, com maior frequência, o arquivista musical, que pode trabalhar tanto em acervos históricos de música quanto em orquestras. Na orquestra, o arquivista é aquele que organiza as partituras, separando o que é o acervo corrente (aquele que é usado no dia a dia) do histórico, que deve ser preservado porque é um patrimônio cultural.

Uma pessoa que quer se tornar um músico (seja de qual área for) geralmente precisa passar por uma experiência de aprendizado formal de música – e essa experiência é inicialmente proporcionada pelo educador musical

O educador musical é uma pessoa que se formou em Música, mas fez um curso voltado para a educação, isto é, ele também estuda pedagogia – no caso, pedagogia musical –, para entender as diversas formas de aprendizado de cada um e poder encontrar caminhos para que as pessoas tenham acesso à linguagem da música.

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Deck Disc

Um profissional que transita entre a música e as artes cênicas é o sonoplasta Esse profissional atua no cinema, mas, principalmente, no teatro, sendo o responsável por dar som a diversas ações que se desenvolvem na cena, como o som da chuva, os passos das pessoas ou um apito de trem.

Portanto, se você gostaria de seguir uma carreira na área da música, um dos primeiros passos é tentar descobrir que linha de trabalho mais lhe interessa. Você pode pesquisar os profissionais apresentados que mais chamaram a sua atenção para conhecer melhor a atuação deles. Você também pode procurar se informar se em sua região existem cursos livres de música (que são cursos anteriores a uma graduação em Música) ou cursos profissionalizantes. Outra opção é buscar cursos e aulas específicas de acordo com suas inclinações e afinidades, aprendendo a tocar algum instrumento musical ou desenvolvendo outras habilidades.

Música e saúde

• Você já ouviu falar em musicoterapia? O que sabe sobre ela?

Trata-se de uma área da música que, unida a conceitos da área médica, usa a música em um contexto terapêutico, de apoio à saúde – tanto mental quanto corporal. O profissional que trabalha na área é o musicoterapeuta, que se vale da linguagem musical e suas ferramentas (como o canto, a música instrumental, os ritmos variados e os instrumentos) para criar condições que promovam uma melhora no estado clínico do paciente.

O objetivo da musicoterapia não é a performance musical, mas sim o aumento da qualidade de vida das pessoas por meio da ampliação da expressão pessoal e do aprendizado; por isso, cada tratamento é específico para determinada situação.

Preparação

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o tema da página. Sugestões: música e saúde, musicoterapia, ação social.

Orientações

Explique que a musicoterapia se desenvolveu durante a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de auxiliar na recuperação dos soldados acometidos por diversas moléstias decorrentes da guerra, de ferimentos a danos psicológicos. Desenvolvida a partir de 1944 nos Estados Unidos, a musicoterapia começou a ser utilizada clinicamente no Brasil somente na década de 1980.

A musicoterapia pode ser uma importante ferramenta de apoio na educação de crianças com Síndrome de Down. Tailândia, 2020.

Pergunte se alguém conhece ou já usufruiu de um trabalho de musicoterapia e explique que atualmente, no Brasil, são muitas as Organizações da Sociedade Civil (OSCs), grupos estatais da área de saúde e outros que desenvolvem esse trabalho em hospitais públicos, asilos e instituições comunitárias.

Caso seja possível, assistam ao vídeo disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=Wf0pIlZ6FiU; (acesso em: 19 maio 2022), que trata da importância da educação musical para crianças, e considere propor aos estudantes que organizem uma oficina de vivência em educação musical na sua comunidade.

Foco nos TCTs

Este conteúdo desenvolve o Tema Contemporâneo Transversal Saúde ao discutir possibilidades de integrar a música à área da saúde.

Foco na BNCC

O conteúdo apresenta um uso específico da música, relacionando as práticas musicais à dimensão social. Por isso, contempla a habilidade EF69AR16.

Além disso, promove o objetivo de construir o conceito de música como uma ferramenta de transformação e humanização.

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Passakorn Prothien/iStockphoto.com

Orientações

Explique que a música tem sido uma ferramenta terapêutica importante no tratamento de diversas enfermidades, não sendo apenas um fator de entretenimento para as pessoas doentes.

Proponha uma pesquisa sobre os diversos trabalhos da área de Música que possam estar relacionados com a área de saúde, incluindo também a saúde mental e observando se existem tratamentos dessa natureza em sua região ou comunidade.

Promova uma roda de conversa sobre o tema para discutir não somente as ações que envolvem a musicoterapia, mas também as ações sociais que incluem a música em sua realização.

Atividade complementar

Organize uma atividade de campo com a turma inspirada no tema “Música e saúde”. Procure, na região, hospitais, casas de repouso, ONGs ou outros locais que aceitem visitas de grupos. Planeje, com os estudantes, atividades que possam ser levadas a esses locais, como apresentações de música instrumental, canto, ou, ainda, algo que una humor e música, por exemplo. O objetivo é alegrar e levar bem-estar a pessoas que precisem de companhia. Oriente os estudantes para respeitar as regras do local e se comportar de maneira adequada. Eles podem ensaiar previamente a apresentação e preparar um figurino, caso desejem.

Posteriormente, em sala de aula, promova uma discussão sobre a vivência para que os estudantes manifestem suas impressões e conclusões a respeito dos usos que a música pode ter.

Outra ação bastante efetiva, que também usa a música como ferramenta terapêutica, é levá-la para os hospitais. Existem diversos projetos que trabalham com essa atividade. Algumas iniciativas levam concertos de música clássica e outras apresentações para dentro das áreas comuns dos hospitais, viabilizando que pessoas em tratamento (em estado estável e que consigam se deslocar de seus quartos) possam participar dessa forma de tratamento.

Outros projetos levam a música para dentro dos quartos dos pacientes de grandes hospitais, proporcionando que pessoas em tratamento de saúde possam ouvir música. Tais projetos têm sido, comprovadamente, auxiliares nos tratamentos clínicos das pessoas que se encontram hospitalizadas, pois promovem, além de bem-estar, momentos agradáveis, durante os quais os doentes podem se afastar emocionalmente de suas condições, aliviando suas cargas emocionais.

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Intrafone, instrumento terapêutico criado e construído pelo musicoterapeuta André Lindenberg que promove a escuta do próprio corpo, 2018. Membros do grupo Doutores do Riso da Ciudad Juárez entretendo uma criança no hospital. Chihuahua, México, 2015.
André
Jose Luis Gonzalez / Reuters Fotoarena
Bitencourtt

Repensando as tecnologias em música

Este é o último ano do Ensino Fundamental, e estamos no final de nossa caminhada musical. Nesta Trilha, você conheceu diversos instrumentos e refletiu sobre sons digitais, eletrônicos e analógicos, além de conhecer algumas manifestações musicais e profissões na área de música.

Esta jornada foi construída buscando ampliar as suas concepções de tecnologia e música, mas também estabelecendo um diálogo sobre como a música pode ser uma ferramenta de engajamento e transformação.

Avaliando tudo o que aconteceu desde o começo desta Trilha, o que mais você destacaria? Observe a imagem.

Preparação

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o tema da seção. Sugestões: avaliação, fechamento.

Orientações

Converse com a turma sobre como foi refletir a respeito da tecnologia em música e vivenciá-la no decorrer deste ano. Procure conversar sobre as dúvidas de todos, mas também sobre as descobertas de cada um.

Você também pode propor um jogo para finalizar este ciclo, levantando palavras relativas ao tema da Trilha.

Organize cartões com palavras que possam ser sorteados entre grupos de estudantes. Cada um pode pegar um cartão e falar um pouco sobre ideias relacionadas à palavra que há nele.

Bate-papo com o professor

Além da caminhada dos estudantes, é muito importante finalizar sua própria caminhada. Faça uma autoavaliação, buscando rever possíveis pontos falhos e os lugares que você conquistou.

Avaliação formativa

• Quais as suas reflexões sobre mãos robóticas tocando um instrumento analógico como o piano?

• Que tal um último exercício para estimular o pensamento, revisar e fixar conceitos e práticas?

1 Individualmente, relembre todas as atividades que fizemos juntos: Quais foram mais fáceis e as mais difíceis? Pense sobre a sua ideia do que é música: Algo mudou? Se sim, o quê? Aconteceram transformações na forma como você pensava o uso das tecnologias na música?

2 Formem grupos de três ou quatro pessoas. Você e seu grupo deverão, em uma roda de conversa, refletir sobre suas experiência individuais, compartilhando vivências e buscando discutir o que mudou para cada um.

3 Criem uma lista de todos os conceitos, palavras e situações em que vocês tenham alguma

Foco na BNCC

Ao reconhecer a conexão existente entre tecnologia e música é mobilizada a habilidade

EF69AR35

dúvida. Pesquisem juntos sobre cada uma dessas questões, buscando preencher as lacunas. Caso julguem importante, refaçam as práticas que considerarem necessárias.

4 A partir dessa lista, formulem um glossário no qual vocês explicarão cada termo usando as palavras. Vocês podem, também, formular um pequeno texto no qual tragam todos os aspectos vivenciados nesta Trilha.

5 O resultado de cada grupo poderá ser partilhado com todos da turma em uma grande roda de conversa, de acordo com as indicações do professor.

Esta é a última avaliação da Trilha e não deve ser utilizada com o intuito de pontuar erros e acertos dos estudantes, mas para observar as possíveis transformações e o amadurecimento com relação aos temas tratados. Promova uma roda de conversa final sobre essas questões, verificando ainda se houve disponibilidade e interesse por parte da turma em ampliar suas próprias ideias sobre a relação entre música e tecnologia.

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Mãos robóticas tocando piano. Países Baixos, 2017. Menno van Dijk/iStockphoto.com

A BNCC neste Bate-papo com a artista

Competências gerais: 1, 3, 4, 5, 7, 8 e 9.

Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 1, 2, 4, 5, 6, 7 e 8

Objetos e habilidades:

Contextos e práticas

EF69AR09

Arte e tecnologia

EF69AR35

Objetivos deste

Bate-papo com a artista

O objetivo principal desta seção é possibilitar que o estudante tenha um contato maior com uma artista que lida diretamente com a tecnologia, buscando aproximações entre a trajetória desta profissional da dança que trabalha com práticas de criação e o ensino da Arte no Ensino Fundamental.

A intenção é desmistificar a ideia de genialidade e favorecer o pensamento de que o exercício criativo é acessível a todos. Por meio dos depoimentos fornecidos na entrevista, os estudantes podem observar sua trajetória e ampliar seu repertório em relação aos assuntos tratados no livro.

Ivani Santana é artista, professora e pesquisadora na área de Estudos Contemporâneos do Corpo e Dança Contemporânea, Estética das Mídias e Dan ça com Mediação Tecnológica. Suas principais linhas de pesquisa são: estudos do corpo contemporâneo, percepção, cognição e arte-tecnologia.

Em uma conversa com a artista, pesquisadora e professora de dança, foi possível conhecer um pouco da sua relação com a profissão e a tecnologia nos dias de hoje. Ao perguntarmos para Ivani sobre sua experiência, ela nos contou como seus estudos dialogam com a tecnologia. Ela, assim, falou um pouco de sua trajetória.  Como você vivenciava a dança quando criança?

A dança entrou na minha vida muito cedo. Com 8 anos comecei a fazer aulas de dança porque algumas amigas próximas também faziam. Eu não iniciei pelo balé nem pelo jazz. Eu comecei na dança moderna, que naquela época era um estilo meio desconhecido. Ter entrado na dança moderna foi significativo, pois logo de início construí um entendimento de corpo que não era fixado e estruturado pelo vocabulário do balé, mas sim pelas técnicas de Limón (1908-1972) e Graham (1894-1991). Com 11 anos, entrei na Escola Municipal de Bailado, onde o balé sempre predominou, mas, na ocasião, começou a ter uma abertura para técnicas modernas e de musicais. Comecei a fazer aulas à noite com outras professoras, como Célia Gouvêa (1949-) e Ruth Rachou (1927-), para aprofundar os conhecimentos do moderno, e logo percebi as diferenças entre as técnicas. Alguns elementos da dança moderna não “funcionavam” nas aulas de balé, e fui da primeira para a última aluna da fila, pois meu corpo não expressava mais a “forma pura” do balé. Vale dizer que desde criança eu sempre fui muito curiosa, e por isso me tornei pesquisadora: porque gosto de articular conhecimentos de campos distintos. Quando se profissionalizou e o que essa etapa representou para você?

Por conta da Escola Municipal de Bailados, o caminho foi simples. Tenho o DRT desde os 18 anos, idade em que entrei na Faculdade de Educação Física em Santo André (Fefisa) e na primeira companhia profissional da qual participei. Essa companhia viajava muito para dançar em cidades dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Mas o mais significativo para mim foi trabalhar durante dois anos (1998 e 1999) com a coreógrafa Célia Gouvêa no projeto Identidade da Dança Nacional. Por abordagens multidisciplinares de música e artes plásticas, Célia incentivava o pesquisador intérprete a construir sua dança autoral. Ali aprendi a fazer a pesquisa tanto conceitual como de corpo. Outro projeto importante foi o Master Dança, do qual primeiro fui aluna e depois assistente. Esse e outros cursos de dança tinham como proposta apresentar aos estudantes a junção entre teoria e a prática, o que me ajudou na profissionalização.

Justificativa

Ao conhecer melhor processos de criação de artistas contemporâneos, compreende-se a importância de trabalhar com procedimentos autorais e criativos durante as aulas. Tais processos envolvem projetos, esboços, estudos, protótipos, experiências em materialidades, investigações em diversos elementos da linguagem, entre outros aspectos. A criação em Arte requer um planejamento organizado em etapas, que ajudam na construção de estéticas e poéticas artísticas. Além disso, cada artista desenvolve

Limón: dançarino e coreógrafo de dança moderna, nasceu no México e fez carreira nos Estados Unidos. Sua técnica trabalha a respiração em relação ao peso das partes do corpo, enfatiza os gestos de braços e o uso das mãos com organicidade em movimentos característicos de sua técnica.

Martha Graham: dançarina e coreógrafa que causou a grande ruptura com a soberania do balé. Usando a respiração na execução dos movimentos, com ênfase na contração e relaxamento do tronco e na exploração de movimentos no chão. Sua técnica influenciou discípulos como Alvin Ailey, citado na Trilha 2 pela trajetória do brasileiro Ismael Ivo, que foi um discípulo de Martha Graham.

seu próprio processo de criação conforme suas possibilidades e necessidades. Um processo de criação que passa pelo pensar, pela escuta e pelo diálogo, em especial com profissionais de conhecimentos específicos, gera aprendizagem. Dessa forma, esses processos podem despertar a vontade de investigar, de pesquisar e de experimentar, experimentar e experimentar novamente. Tais etapas são essenciais para construir informações dentro da sua poética pessoal.

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a
João Caldas
artista Bate-papo com
Ivani Santana em Corpo aberto São Paulo (SP), 2001. José Arcadio

No final dos anos 1990, quando a internet estava chegando, eu já gostava de trabalhar com a mistura da dança com elementos de outras linguagens. Assim, minha primeira mediação tecnológica foi utilizando um retroprojetor para propor a outras pessoas uma cena improvisada. A ideia era criar imagens no retroprojetor e dançar utilizando o dispositivo. Foram as práticas de criação que formaram meu gosto pela pesquisa, pela criação autoral e pela relação com a tecnologia.

“Cognitivo” é uma palavra que se refere ao que é relativo ao conhecimento. Você poderia nos falar mais sobre o conceito de cognição situada e a relação com a dança e a tecnologia?

As ciências cognitivas são aquelas que estudam a mente, a inteligência, que está diretamente relacionada com o corpo. Existem diversas linhas interdisciplinares para esses estudos. Entre essas linhas, há dois extremos: a do pensamento dualista, que se baseia na metáfora de que o corpo é apenas uma carcaça, um hardware, e a nossa mente é um software; e do outro lado, a cognição situada, que compreende que conhecemos o mundo por meio das nossas ações e interações com o meio; logo, de forma situada. Eu percebo o mundo porque eu estou agindo no mundo, ou seja, a experiência gera conhecimento. O mundo é ativo, dinâmico, e eu tenho de estar ativa e dinâmica para conhecê-lo. A tecnologia não é algo que está para além ou para fora de nós. Todos somos implicados com as tecnologias por muitas razões. Eu acho interessante pensar na mediação tecnológica na dança como ferramenta teórica e de compreensão de mundo, e não apenas como um enfeite cenográfico. O que me interessa é a implicação do corpo que dança com a tecnologia; por isso uso o termo “dança com mediação tecnológica”.

Entre as práticas de criação das quais você já participou, qual foi mais marcante e por quê?

É difícil responder, porque são trabalhos de uma vida inteira, e em cada momento da vida eu estou investigando um tipo de mediação. Então talvez seja melhor eu falar em fases. A fase do mestrado ao fim do doutorado marcou minha vida. Foi a fase de discutir que corpo físico é esse que eu possuo e pensar nas possibilidades perceptivas que uma obra pode ativar.

Comecei então a pensar no corpo digital, e depois no corpo da telemática, com pessoas dançando juntas mesmo estando separadas geograficamente. Nessa fase comecei pesquisando no Brasil e, a seguir, convidei pessoas da Espanha para participar dos meus projetos de pesquisa. Elas nunca tinham trabalhado com a telemática, e seria importante a transmissão do conhecimento de uma pesquisa tecnológica e artística brasileira feita por nós. Depois, entrei na fase de pensar no corpo sonoro, e junto com ele veio o corpo da mídia locativa, esse corpo que ocupa espaços urbanos e com o qual se vai para vários lugares na própria cidade. A fase que estou iniciando agora é a do mergulho na realidade virtual, que, com certeza, será meu foco de trabalho por vários anos.

Que conselho você daria para aqueles que gostam de dança e de novas tecnologias?

Acredito que trabalhar artisticamente com as tecnologias não significa trabalhar só com a tecnologia de ponta, ou seja, você não tem de estar com o aparelho celular de última geração. O interessante é explorar a tecnologia como um lugar de criação e usando aquilo que se tem. O valor está em pensar no próprio processo de investigação, na sua percepção em relação aos objetos. Você pode se perguntar: O que determinado objeto é em termos de conceito e de dispositivo técnico? Como eu exploro a imagem que é tirada pela câmera do celular? Como eu me coloco para esta câmera? Com a pandemia, vimos um aumento significativo na quantidade de propostas que foram criadas com dispositivos domésticos.

A palavra para quem gosta de tecnologia é explorar! Primeiro procure compreender o que cada uma das tecnologias realmente significa e quais as possibilidades que ela oferece, e daí explore. É preciso explorar, investigar a tecnologia disponível para, a partir de experiências, entender conceitual e corporalmente o lugar e o contexto.

Lembrando que meu primeiro trabalho foi com o retroprojetor, meu conselho é: explore aquilo de que você sente necessidade, sem ficar esperando pelo melhor dispositivo. Realizamos muita coisa quando passamos a perceber que somos nós que fazemos a mediação tecnológica.

Preparação

Insira palavras-chave na lousa, sinalizando o eixo da aula. Sugestões: estilos de dança, formação em dança, dança, tecnologia. Para maior foco e interação entre os estudantes, considere organizar as carteiras em forma de U.

Orientações

Peça aos estudantes que realizem uma leitura silenciosa da entrevista. Em seguida, promova uma roda de conversa sobre as questões tratadas no texto, solicitando que todos se manifestem.

Proponha uma dinâmica na qual a turma possa organizar um registro sobre sua própria história com o movimento e os meios de interação que envolvam a tecnologia. Para isso, oriente-os para escolher uma frase citada por Ivani e uma criada por eles. Procure dividir a turma em três grupos: o primeiro gravará a frase do texto de Ivani; o segundo gravará o depoimento de um dos estudantes; e o terceiro realizará uma pequena performance não literal do conteúdo escolhido.

Instrua-os a realizar uma análise do material produzido e a conversar tanto sobre o processo de gravação quanto a respeito do resultado. Essa prática permite que os estudantes aprofundem os conceitos de corpo, movimento e performance, além de exercitarem a percepção de movimentos com significados subjetivos.

Bate-papo com o professor

Será interessante que você amplie discussões que permeiam esse tema, trazendo, por exemplo, um debate sobre outras tecnologias utilizadas para promover encontros entre pessoas. Elas realmente se encontram?

Também será importante que você avalie se o tema proposto aqui é o melhor para sua turma, sabendo que ele é uma sugestão, passível de mudança ou adaptação de acordo com seus interesses e necessidades.

Por fim em uma roda de conversa, reflitam sobre como a tecnologia pode contribuir para as expressões em Dança na sua comunidade. tanto o processo de gravação quanto o resultado. Essa prática permite que os estudantes aprofundem a percepção de corpo e movimento ao observar e discutir o repertório de gestos e ações utilizados nessa reflexão prática e teórica. Além disso, essa observação possibilita que eles exercitem a percepção de movimentos dissociados do contexto objetivo, mas inseridos em contextos subjetivos significativos.

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A BNCC nesta Linha de chegada

Competências gerais: 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9

Competências específicas de Linguagens: 2, 3, 5 e 6

Competências específicas de Arte: 2, 4, 5 e 8.

Objetos e habilidades:

Contextos e práticas

EF69AR03

Sistemas da linguagem

EF69AR08

Elementos da linguagem

EF69AR20

Processos de criação

EF69AR27, EF69AR29, EF69AR30, EF69AR32

Patrimônio cultural

EF69AR34

Objetivos desta

Linha de chegada

• Refletir sobre todos os processos anteriores relacionados à arte e à tecnologia.

• Realizar uma última prática de criação, aplicando as habilidades e os conhecimentos adquiridos no decorrer do ano.

• Aprofundar a discussão sobre as composições audiovisuais, conectando-as a pontos de interesse dos estudantes.

Justificativa

Estamos finalizando o 9o ano, o último do Ensino Fundamental. Neste momento, tanto você quanto os estudantes devem estar mais próximos dos conceitos de tecnologia presentes nas artes, e com mais intimidade com as diversas práticas e criações artísticas. No entanto, a tecnologia nas linguagens da Arte constitui uma das partes integrantes de uma obra e, não necessariamente, substitui a presença. Vamos dialogar sobre essas relações para finalizar as discussões deste ano com os estudantes.

Avaliação de resultados

Em cada atividade do livro, os resultados foram avaliados por meio das produções, interações, momentos de reflexão e compartilhamento de ideias dos estudantes. Ainda assim, neste momento, é fundamental rever os conteúdos, de forma individual e coletiva, para possibilitar o exercício de um olhar crítico e da competência para ouvir opiniões diversas com respeito. Para isso, explique aos estudantes a importância de mapear o que foi significativo, instigando-os a realizar

novas pesquisas e fomentando a percepção acerca de qual linguagem lhes forneceu os instrumentos mais adequados para suas expressões. Nesse sentido, toda a Linha de chegada constitui uma avaliação de resultados. Refletir sobre as experiências, criar conexões entre os conhecimentos e rever percursos mapeados reforçam toda a aprendizagem que ocorreu nesse período.

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O personagem Phastos, mestre em tecnologia, no filme Eternos (2021), dirigido por Chloé Zhao, e na capa da revista de HQ (1985).

Tecnologia na arte

Estamos terminando o 9º ano, o que significa concluir o ciclo do Ensino Fundamental. Tudo o que foi aprendido será base para você seguir um caminho de descobertas no Ensino Médio. Ao longo do Ensino Fundamental, realizamos diversas experiências relacionadas a etapas de processos de criação artística e que aprofundaram as ideias sobre conceitos e aplicações da tecnologia, principalmente no que diz respeito às linguagens da música, teatro, dança e artes visuais. Agora, vamos refazer o caminho percorrido neste ano, buscando examinar o que mais ressoa em nós dessas vivências.

1. Olhando para as imagens, quais elementos das linguagens artísticas você observa?

2. Como são os enquadramentos nas duas imagens?

3. O que mais chama a sua atenção nas imagens?

Orientações

As respostas para as perguntas da abertura da Linha de chegada são:

1. A expressão do ator pode ser associada à linguagem do Teatro; o traço e as cores da ilustração são elementos das Artes Visuais; o movimento do corpo do personagem desenhado compreende os elementos da Dança; além disso, é possível imaginar o som de uma explosão, que pode ser ligada à sonoplastia, que faz parte dos elementos da Música.

2. Na imagem do ator que interpretou o personagem Phastos no filme Eternos, o plano de enquadramento é fechado e só vemos seu rosto em um close. Na capa da revista, o desenho do personagem está enquadrado de forma centralizada em um plano geral, de modo que vemos seu corpo inteiro.

3. Resposta pessoal. Ao nomear os elementos das linguagens artísticas, espera-se que os estudantes se apropriem dos respectivos vocabulários para gradativamente construir sentidos próprios e, nas práticas, usufruir desse repertório para criar composições.

Nesta Linha de chegada, você irá:

• encerrar este ciclo com uma atividade prática e reflexiva para firmar as capacidades expressivas nas linguagens artísticas com o apoio da tecnologia para ampliar suas percepções;

• utilizar os estímulos oferecidos a sua criatividade para ser autor da própria história na construção da rede de conhecimento.

183 183 Marvel Studios/Collection ChristopheL/AFP

Preparação

Observe e discuta com os estudantes se, após terem tido contato com todas as propostas das Trilhas, as ideias relativas aos termos “rede” e “conexão” foram ampliadas. Para iniciar o tema da aula, pergunte se eles já notaram a ordem de aparição dos créditos finais de filmes de cinema.

Orientações

Em uma roda de conversa, traga a reflexão promovida pela imagem do herói de HQ e do cinema, para a equipe que trabalha nas produções literárias e audiovisuais. Retome também os questionamentos feitos no início deste ano, quando observaram as representações de pixel, nuvem e piscina, vista no Ponto de partida deste livro.

Será importante conversar previamente com os estudantes sobre o que é puramente mercadológico e sobre as práticas e expressões artísticas, reforçando que todos temos potencial criativo e podemos atuar com originalidade, bem como compor coletivos e contribuir com trabalhos de equipe.

Reflita e discuta com eles o que são atuações individuais e suas inserções nos trabalhos colaborativos em grupo. Como exemplo você pode citar a ficha técnica deste livro. Mencione quantas pessoas estavam envolvidas em fazeres técnicos e criativos e quanta tecnologia esteve envolvida para que o livro chegasse até eles.

O produtor geralmente deve providenciar as autorizações de imagens quando necessário, elaborar o cronograma e acompanhar os processos de criação, gerenciar a execução dos projetos, verificar os lugares onde a gravação acontecerá, checar se os equipamentos necessários para a gravação estão em ordem e agendar a gravação ou reuniões para acertar detalhes de conteúdo.

Vamos também focar o trabalho de equipe e a necessidade de improvisar para criar soluções técnicas e criativas em processos de filmagem.

Tecnologia com seres humanos e fantásticos

Neste livro, vimos que fios de todas as espécies podem criar tramas e redes analógicas e digitais. Da teia da aranha à roupa que vestimos, do fio da crina de cavalo que faz o arco para tocar instrumentos de corda aos fios elétricos que carregam a bateria do celular, redes nos ligam de forma concreta e abstrata. A trama, sinônimo de tecido, rede e teia, pode também significar “conspiração”, sendo, por vezes, utilizada para resumir enredos dos audiovisuais.

A trama do filme Eternos (2021) apresenta personagens fictícios que desde a Idade Antiga batalhavam contra seres malignos, moldando os acontecimentos das respectivas civilizações. Os personagens fictícios migraram das histórias em quadrinhos para as telas e representam seres imortais e heroicos com diferentes características.

O personagem Phastos, da imagem da abertura, tem habilidades tecnológicas. Ele é o responsável por criar armas para o grupo. Em contraponto com essa habilidade, “Cessar-fogo” é seu lema.

Ao ver um personagem na tela do cinema, não temos noção da grande equipe que atua junto e por trás das câmeras nos sets de filmagem, nem da quantidade de pessoas que trabalham antes e depois do período de filmagem para produzir um filme. Para verificar o número de pessoas e instituições envolvidas na criação e execução de uma obra audiovisual deste porte, basta ler a ficha técnica da produção. Nela constam nomes de todos os envolvidos na produção da obra.

Operadora de câmera trabalhando em ambiente externo. San Diego, Estados Unidos, 2018.

Foco na BNCC

Tudo isso é supervisionado pelo profissional que ocupa o cargo de produtor, que trabalha junto aos artistas e técnicos do audiovisual. Ao conhecer mais sobre a função de um produtor, podemos ter uma ideia geral do trabalho coletivo necessário para fazer um filme.

Ao analisar a integração entre as linguagens da Arte e a linguagem audiovisual e ao identificar a presença da tecnologia na produção e compartilhamento de criações artísticas são trabalhadas as habilidades EF69AR03 e EF69AR35.

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Simone Hogan/Shutterstock.com 184

No cinema, o responsável por captar as imagens é o diretor ou a diretora de fotografia. Além da câmera, é comum vermos entre os equipamentos de filmagem os tripés, que ajudam a posicionar as filmadoras de forma estável, e a claquete, que marca os dados que auxiliam na edição.

Na imagem da página anterior, vemos um set de filmagem externa. Set de filmagem, set de gravação, locação ou estúdio são nomes dados aos lugares onde ocorrem as gravações dos audiovisuais. Qualquer espaço pode ser preparado para servir como um set de filmagem.

Apesar de existirem diferenças consideráveis quanto ao tamanho das equipes e às infraestruturas para os equipamentos de filmagem, todos eles têm dinâmicas muito parecidas entre si: exceto pelo fato de que, em ambientes internos, é possível controlar melhor as condições de som e luz. Filmagens externas dependem das condições meteorológicas e da quantidade de ruídos sonoros que interferem nas gravações.

O áudio é tão importante quanto as imagens; daí o nome audiovisual. Tanto em filmagens realizadas em ambientes fechados quanto em ambientes abertos, o elemento comum é o diálogo entre as pessoas que exercem funções específicas. A conversa tem como objetivo direcionar a atenção de todos os envolvidos nas respectivas etapas do trabalho. O entendimento e o foco naquilo que se pretende fazer são pontos fundamentais em todas as produções audiovisuais. É preciso que a equipe saiba as possibilidades e as limitações de suas atuações, bem como as dos equipamentos e do local onde a filmagem irá acontecer. Utilizar a reflexão e a comunicação sobre os procedimentos ajuda a otimizar o tempo de pré-produção e pós-produção.

Produções menores e não menos trabalhosas

Sabendo do grande trabalho de equipe para a criação e execução dos filmes de longa-metragem, vamos refletir sobre as pequenas produções, que envolvem igualmente o trabalho em equipe.

Preparação

No decorrer deste tópico, aprofundaremos os estudos sobre o papel do produtor, que lida com os núcleos artísticos e com os técnicos.

Orientações

Em todas as funções profissionais na área do audiovisual, há uma execução técnica e a possibilidade de uma ampliação artística. Na produção de longas-metragens, os fotógrafos (diretores e assistentes de fotografia) lidam com equipamentos técnicos, mas seu olhar e escuta estão direcionados para a forma como o elenco está interpretando o roteiro, pois cabe a eles ajudar a compor cenas que tenham um conceito coerente com o projeto no qual estão trabalhando.

Tanto nos sets de filmagem montados em estúdios quanto nos construídos em áreas externas, há demandas por habilidades específicas da equipe audiovisual. Quando um estúdio reproduz determinado local, o diretor de arte e o cenógrafo devem ambientar o espaço de acordo com a referência que se deseja simular. Por outro lado, quando a filmagem é em um espaço externo e os atores e as atrizes têm falas, os equipamentos de captação de áudio devem ser bem-posicionados para gravar as vozes do elenco, de modo que o texto fique claro ao espectador.

• Que tipos de audiovisual fazem parte do seu dia a dia?

• Como você acessa conteúdos de entretenimento?

• Em qual tipo de produção audiovisual você gostaria de atuar, aparecendo na frente das câmeras?

• Que tipo de audiovisual você gostaria de produzir, mas sem aparecer na gravação?

Diversos audiovisuais permeiam nosso cotidiano: vídeos da família e de amigos, tutoriais, conteúdos de redes sociais, propagandas e notícias, entre outros, 2014.

Destaca-se que é o conjunto de saberes técnicos e o diálogo entre as equipes que favorece o bom andamento de uma filmagem. As produções menores também precisam de planejamento e articulação entre os envolvidos. As respostas para as perguntas do livro são todas pessoais, mas a expectativa é que os estudantes reflitam sobre as questões colocadas no material e a função audiovisual que mais desperta seu interesse.

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Vertigo3d/iStockphoto.com

Preparação

Por meio da fotografia, podemos congelar imagens e interpretar os sentidos para o que vemos diante dos nossos olhos.

Orientações

Peça aos estudantes que descrevam as duas imagens da página do ponto de vista objetivo, dizendo o que veem e relacionando os diferentes elementos apresentados ao universo artístico. Depois, oriente para que realizem uma interpretação de sentidos que conectem as duas fotos. A prática de ler, entender, interpretar e relacionar faz parte dos processos artísticos, que, ao contrário do que se imagina, não nascem do nada, pois são frutos de uma série de etapas, ou seja, o fazer artístico depende de processos.

Fazendo uma analogia com os processos cinematográficos, que contam com a pré-produção e a pós-produção, incentive os estudantes a comentar o que conseguem relacionar com as palavras em destaque no texto (madeira, pigmentos, fogo, roupas, comunicação, terrestre, digitais), e como elas se relacionam ao conteúdo do livro: maquiagem, roupas, cena e enquadramento. Que outras palavras foram marcantes ao longo do ano? Qual desses assuntos nos convida a ações e ao fazer criativo?

As respostas às perguntas da página seguinte são pessoais.

Bate-papo com o professor

Você já assistiu a algum making of de produções cinematográficas? Pergunte aos estudantes se já viram como funciona um set de filmagem e se já haviam pensado nas etapas anteriores e posteriores aos momentos de gravação.

O mundo na telona

No cinema, o produtor também coordena os profissionais especialistas na parte artística e técnica – cenógrafos, figurinistas, aderecistas, maquiadores, maquinistas, fotógrafos, técnicos de som e de luz – que trabalham antes e durante as filmagens. Quando termina a parte de gravação, vem a etapa chamada de pós-produção, na qual o produtor coordena a equipe responsável pela edição e finalização das imagens e do áudio, e verifica a inserção do material na mídia em que será divulgado.

Por acompanhar o processo do filme do início ao fim, o produtor deve ser ágil na tomada de decisões e lidar com imprevistos que ocorrem a todo momento.

Assim como o produtor, a atuação de todos os envolvidos é fundamental, e de alguma forma todos manipulam tecnologias que estão conosco desde sempre: do marceneiro que lida com a madeira na construção do cenário ao maquiador que trabalha com o pó dos pigmentos; dos cozinheiros que lidam com o fogo aos figurinistas que separam as roupas para os personagens, considerando suas cores e texturas; do motorista que faz a comunicação terrestre para todas as equipes ao finalizador que cria efeitos especiais digitais Maquiagens ajudam a compor personagens, 2018.

Foco na BNCC

Ao estudar a integração das linguagens da Arte à linguagem audiovisual e ao conhecer a função de produtor cultural são desenvolvidas as habilidades EF69AR03 e EF69AR08

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Dançarino e coreógrafo japonês Ushio Amagatsu, da companhia Sankai Juku, apresentando-se em Sedimentation and erosion, ad infinitum (Sedimentação e erosão, ao infinito). Nova York, Estados Unidos, 2017. Jack Vartoogian/Getty Images nantonov/iStockphoto.com

Agora que você chegou ao fim do 9º ano e já vivenciou processos de criação nas quatro linguagens artísticas, reflita e identifique:

• Com qual perfil de especialista que trabalha com recursos audiovisuais você sente maior afinidade?

• Qual pessoa da classe tem um perfil que mais corresponde às características de um produtor?

Espetáculo The Egg Stands Out of Curiosity (O ovo se destaca por curiosidade), de Ushio Amagatsu, apresentado pelo grupo de dança japonesa butô Sankai Juku. Paris, França, 1986.

Da pesquisa à criação de um audiovisual

Etapa 1: Do som à dança e vice-versa

Em todas as profissões, os sujeitos lidam com a própria presença, com a própria existência. Por isso, divididos em grupos de cinco pessoas, vamos aquecer nossas percepções e exercitar como se colocar em atividades coletivas por elementos técnicos e artísticos.

Com foco nos elementos da música e da dança, vamos experimentar fazer o caminho do som ao movimento e do movimento ao som, para perceber o que ocorre nessa conexão entre as duas linguagens.

1 Primeiro, procure fazer sons graves para perceber as vibrações em partes do seu corpo, como a garganta e a testa. Você pode tocar suavemente com a palma da mão nessas regiões enquanto emite o som. Após sentir a vibração, procure explorar pequenos movimentos enquanto sonoriza a própria ação. Repita o procedimento de perceber as vibrações no corpo a partir de frequências agudas, para, a seguir, explorar movimentos que partam do som.

2 Vamos inverter o sentido. Experimente realizar com o corpo todo movimentos de chacoalhar, sem fazer som nenhum. Use como inspiração situações nas quais você sentiu o corpo chacoalhar. Mude o tipo de movimento: trabalhe com a ação de ondular o corpo. Use como inspiração situações nas quais você sentiu movimentos parecidos com as ondas do mar. Compare as diferenças entre as qualidades do chacoalhar e do ondular.

3 Procure emitir sons a partir do movimento do corpo. Não precisam ter fonemas, formar palavras, nem fazer sentido. Eles são o som do movimento.

Etapa 2: Da interpretação à caracterização

Com foco nos elementos do teatro e das artes visuais, escolha agora um personagem de que você goste para criar uma cena e seu contexto.

1 Pesquise e estude um trecho onde o personagem escolhido atua revelando seu perfil. Tenha definido se ele é um vilão, uma heroína, uma figura das lendas brasileiras, um avatar ou outro tipo de personagem.

2 Selecione ou crie um texto curto que reforce as intenções e características do personagem. Ensaie gestos, expressões faciais e corporais, perguntando-se: Como ele anda? Como é sua postura? Para onde ele olha quando fala? Considere as percepções de corpo e voz aquecidas na etapa anterior.

Foco na BNCC

Ao experimentar uma prática de criação que mobiliza os conhecimentos adquiridos nas linguagens de Música, Dança, Teatro e Artes Visuais, investigando as relações entre essas linguagens e valorizando elementos da cultura regional, são desenvolvidas as habilidades

EF69AR12, EF69AR20, EF69AR27, EF69AR29, EF69AR30, EF69AR32 e EF69AR34.

Preparação

A prática propõe, em quatro etapas, ações relativas à presença em um trabalho audiovisual. Prepare cada etapa da forma que julgar mais apropriado de acordo com a realidade da turma.

Orientações

½ Etapa 1

Crie um ambiente propício no qual os estudantes sintam-se à vontade para experimentar sons e movimentos. Faça um breve aquecimento coporal, com alguns alongamentos básicos. Depois, peça que fiquem por alguns segundos de olhos fechados para sentirem as reverberações do movimento.

A garganta e a testa são os lugares onde a vibração do som grave fica mais em evidência. Você pode começar por eles e depois perguntar se é possível notar a vibração de notas baixas em outra parte do corpo, por exemplo, nas costas. Como é se mover sutilmente enquanto se faz notas baixas?

O chacoalhar pode vir de uma situação real, como a trepidação que se sente dentro de um veículo que transita por uma rua esburacada, ou imaginária, como quem simula um terremoto. Peça que, em silêncio, identifiquem o movimento causado pelo chacoalhar.

O ondular pode vir de uma situação real, conforme citado no caso do mar, ou figurativa, por exemplo, ao se mover como uma minhoca. Procure orientar os estudantes a sentir a coluna vertebral ondulando. Quais sons “o corpo” tem vontade de exprimir?

½ Etapa 2

No início da Linha de chegada foi exemplificado um personagem de história em quadrinhos e sua versão em um filme, mas o personagem que inspirará os estudantes pode ser um ente da família, um músico local, um comerciante da região ou um funcionário da escola.

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Thierry Orban/Sygma via Getty Images

Orientações

Na preparação para as etapas 3 e 4, o mais importante é observar se os estudantes estão conseguindo exercitar o trânsito entre imaginação e realização das propostas. Em caso negativo, altere alguns elementos e verifique que tipo de suporte você pode oferecer para engajar a turma.

½ Etapa 3

Vamos fazer uma pesquisa para inspirar a criação do roteiro do audiovisual. Caberia fazer uma entrevista com pessoas que inspiraram o personagem ou com pessoas que trabalham na função que o estudante demonstrou interesse? Como essas pessoas lidam com a tecnologia? Em qual medida a tecnologia interfere em suas expressões? A partir dos verbetes, seria possível ampliar o embasamento das palavras por meio de uma obra literária, indicando um roteiro?

½ Etapa 4

O objetivo é criar um vídeo para a turma, mas a forma de organização interna para chegar a isso pode ser múltipla. Esse formato sugerido é uma guia, mas pode ser transformado à medida que os estudantes se engajem. Em um exemplo oposto, vamos supor que um verbete foi representativo e gerou assembleia em seu entorno. Não há por que minimizar sua potência. Assim, esse pode ser o tema central, e as participações para serem filmadas em 15 segundos são interpretações desse tema.

Os estudantes podem realizar uma performance pela escola. Nesse caso, o vídeo seria um registro documental ou um proponente da intervenção?

3 Volte a atenção para os figurinos e observe: Ele usaria sapatos? De qual tipo? Seu traje seria social, esportivo ou informal? Haveria adereços a ser acrescentados?

4 Finalmente, imagine qual seria o cenário ideal para a atuação acontecer: Seria no cômodo de uma casa, em uma floresta, nas ruas de uma cidade ou no espaço intergaláctico? Como seria a iluminação nesse lugar? Em grupos de cinco pessoas, verifiquem quem prefere colaborar na produção da cena e quem gostaria de atuar interpretando o personagem escolhido. Vocês podem usar os recursos técnicos disponíveis e a criatividade para encontrar soluções acessíveis para alcançar aquilo que foi idealizado. O objetivo não é gastar nem consumir, é praticar e colaborar com as criações.

Etapa 3: Levantamento de verbetes

Para se apropriar de aspectos culturais da sua região e considerá-la como fonte de inspiração e conteúdo expressivo, artístico e compartilhável no seu audiovisual, vamos misturar o repertório praticado nas etapas anteriores com uma investigação na comunidade. Procure conversar com pessoas de diferentes idades para levantar dados sobre as experiências que elas têm com as linguagens artísticas e a tecnologia. Considerem as práticas de hoje e as de antigamente.

A partir das descobertas, nos mesmos grupos de cinco pessoas, vocês irão elaborar uma lista de verbetes como os de uma enciclopédia, inspirados pelos levantamentos do repertório de cada grupo. O ideal é que, ao final, a classe atinja uma lista completa com ao menos 20 palavras, e que tais palavras se relacionem com os elementos das linguagens artísticas e do audiovisual.

Etapa 4: Formatando o audiovisual

Verbete: palavra acompanhada de texto de caráter informativo e impessoal, normalmente contida em glossários, dicionários e enciclopédias.

Escolham a forma mais sintética e direta de representar o verbete. Para formatar o audiovisual da sua classe, conversem para decidir se o melhor é trabalhar em grupos ou elencar os verbetes mais significativos para fazer uma lista da classe. Se a opção escolhida for trabalhar em grupos, cada um deverá ficar responsável por uma parte da lista. Cada verbete, então, deverá ser apresentado e registrado em vídeo, no formato curto de 15 segundos. Assim, é importante ter definidos a ação e o enquadramento, para ficar evidente o que se deseja expressar.

Ao final, estudem como juntar os verbetes e os vídeos, criando um material de aproximadamente 6 minutos e meio de duração. O material finalizado do vídeo deve ter capa de abertura e ficha técnica com o nome de todos os envolvidos. O resultado pode ser postado em um ambiente virtual seguro, como nas redes sociais da escola.

Para aprofundar

Você pode assistir à entrevista com Eleonora Fabião, autora do livro Ações, concedida ao programa Arte do Artista, da TV Brasil. Nessa conversa, ela fala a respeito de seus processos criativos e sobre sua concepção de performance. A entrevista está disponível em: https://youtu.be/TjbXCc8j5r0; (acesso em: 19 maio 2022).

Bate-papo com o professor

Nem todos os estudantes precisam atuar diante das câmeras. Se for o caso, incentive alguns deles a atuar como figurinista ou cenógrafo. Peça que se comuniquem e se ajudem durante todo o processo.

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Páginas da Enciclopédia Barsa. São Paulo (SP), 2022. William Furtado/Fotoarena

Alinhavo final

Você sabia que para trabalhar com arte é preciso aprender a desenvolver e participar de projetos culturais? Com um projeto cultural é possível concorrer nos editais de cultura oferecidos pelas secretarias municipais e estaduais. O projeto é apresentado em formato de um documento contendo o planejamento integral de um evento ou de uma série de apresentações artísticas, que incluem exposições de artes visuais, espetáculos de dança, shows musicais, peças de teatro, intervenções para formação de público em artes, performances, entre outras.

Projetos culturais seguem etapas obrigatórias de elaboração. Em geral, são solicitados itens como a apresentação da ideia central, objetivo e justificativa do projeto, a definição da equipe que participará do projeto, incluindo técnicos e artistas, o cronograma (desde a pré-produção, passando pela produção, até a pós-produção), o orçamento, a divulgação, as contrapartidas e a conclusão do projeto.

O Prêmio Zé Renato é um edital de cultura, cujo objetivo é apoiar a produção e o desenvolvimento da atividade teatral para a cidade de São Paulo. Um dos projetos contemplados em 2020 foi o curta-metragem Technikós, apresentado por profissionais da área técnica da cena. Eles nem sempre aparecem, mas são igualmente responsáveis pelo que acontece nos palcos.

As linguagens artísticas permitem expressões plurais e diversas, feitas por pessoas igualmente plurais e diversas. São compostas de elementos técnicos e estilos específicos desenvolvidos em determinadas épocas, e estão em constante atualização.

Iniciamos este livro com um questionamento, pedindo a você que observasse o seu entorno – e perguntamos, naquele momento, onde você observava a tecnologia. Para finalizar, faça novamente esse questionamento a si mesmo:

• A sua percepção do que é tecnologia mudou de lá para cá?

• A partir do repertório criado coletivamente por vocês nas trilhas percorridas, qual legado ficará na sua memória?

Bate-papo com o professor

Siga atento a seus caminhos criativos didáticos, artísticos e pedagógicos e incentive os estudantes a valorizar a arte pelos princípios da diversidade e da democracia, ampliando os estudos sobre as artes durante o Ensino Médio. Após o percurso por todas as Trilhas, verifique se os estudantes modificaram seus pontos de vista em relação a produções, como eventos, shows, videodanças, curtas-metragens, peças teatrais, musicais, entre outros.

Preparação

Pergunte aos estudantes quantas pessoas eles imaginam que estariam envolvidas na realização de um evento como o da foto da página. Neste alinhavo final, espera-se mostrar a relação de editais que fomentam a cultura com os diversos profissionais envolvidos em suas produções.

Orientações

Sentir e agir por meio da arte aumenta a capacidade empática do ser humano e contribui para a formação da sociedade.

Sabendo disso, os órgãos municipais, estaduais e federais são obrigados a lançar editais públicos que fomentem a cultura.

Quando pensamos em trabalhadores da área de arte e cultura, nem sempre estamos falando de nomes que têm fama, por isso o filme Technikós é citado como exemplo no encerramento deste livro. Ele foi contemplado por um dos editais de cultura, viabilizando sua produção e trazendo para o lugar de protagonista da cena profissionais que nunca são vistos pelo público; logo, não fazem sucesso com a audiência. No entanto, sem o trabalho técnico e artístico desses profissionais, a arte não chegaria como chega para o público. Tekhnikós traz em seu roteiro depoimentos de profissionais das equipes técnicas do teatro, que tornam possíveis as artes da cena. Eles também comentam as dificuldades pelas quais todos passamos durante o período de isolamento social. Vocês podem assistir ao vídeo, que está disponível em: https://brasil-cenaaberta.org/cursos_oficinas/ tekhnikos/ (acesso em: 19 maio 2022). As respostas às perguntas da página são pessoais.

Foco na BNCC

Este conteúdo desenvolve a habilidade EF69AR32 ao propor uma reflexão sobre projetos culturais voltados às artes.

Espera-se que as ações propostas ao longo do livro tenham ajudado os estudantes e você a se conectar consigo e com o entorno, considerando a tecnologia como uma aliada para produzir estados de fruição e presença em uma relação dialógica e horizontal.

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Projetos culturais ajudam a promover as artes e aumentar o acesso das pessoas a elas. Duplas dançando em evento. Lisboa, Portugal, 2017.
Ardian Lumi/Unsplash.com

AMARAL, Ana Maria. Teatro de formas animadas: máscaras, bonecos, objetos. São Paulo: Edusp, 1991. Essa obra apresenta um amplo painel da história e das técnicas do teatro de formas animadas, contando como se usavam máscaras, bonecos e objetos em toda a história do teatro, de Bali à Grécia Antiga, do teatro nô ao grupo paulista XPTO, passando por Java, Índia, Japão e Europa ocidental.

ARAÚJO, Antonio. A gênese da vertigem: o processo de criação de O paraíso perdido. São Paulo: Perspectiva, 2011.

Dissertação cujo eixo reside na investigação dos elementos e das dinâmicas que compuseram o processo de construção cênica do espetáculo O paraíso perdido (1992), primeira parte da Trilogia Bíblica do Teatro da Vertigem.

BALL, David. Para trás e para frente: um guia para leitura de peças teatrais. São Paulo: Perspectiva, 1999. (Coleção Debates – Teatro).

Esse guia para a leitura de roteiros teatrais complementa e retifica os métodos tradicionais de análise literária de scripts. O autor utiliza em seu método excertos de Hamlet, de Shakespeare, explorando seus elementos para a abordagem analítica.

BEIGUELMAN, Giselle. Políticas da imagem: vigilância e resistência na dadosfera. São Paulo: Ubu, 2021. A autora problematiza as plataformas de mídias sociais, alertando leitores e usuários das redes a manterem o senso crítico no ambiente virtual, uma vez que este capta de forma sistemática os dados pessoais disponibilizados pela população.

DELALANDE, François. A música é um jogo de criança. Colaboração de Jack Vidal e Guy Reibel. Tradução de Alessandro Cintra. São Paulo: Peirópolis, 2019.

Na obra, o autor trata dos modos de escutar, pensar e criar música a partir dos novos conceitos da música contemporânea.

EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial: princípios e práticas do lendário cartunista. Tradução de Luís Carlos Borges. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

O livro apresenta elementos técnicos das HQs que podem auxiliar nas práticas de criação que lidam com enquadramentos para danças em audiovisual.

FÉRAL, Josette. Encontros com Ariane Mnouchkine: erguendo um monumento ao efêmero. Tradução de Marcelo Gomes. São Paulo: SescSP, 2010. Essa obra, centrada em Ariane e em seu trabalho com atores, investiga suas convicções sobre questões

fundamentais do teatro. Ariane Mnouchkine fundou em 1964 o Théâtre du Soleil, que, já na década de 1970, tornava-se uma das maiores companhias teatrais da França e do mundo.

FRANK, Anne. Diário de Anne Frank. São Paulo: Pé da Letra, 2019.

O livro é conhecido por relatar, do ponto de vista de uma menina, momentos vividos por um grupo de judeus confinados em um esconderijo durante o regime nazista nos Países Baixos. As anotações de Anne Frank foram declaradas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como patrimônio da humanidade.

GRIFFITHS, Paul. A música moderna: uma história concisa e ilustrada de Debussy a Boulez. Rio de Janeiro: Zahar, 1988.

O livro aborda a música moderna e os diversos movimentos musicais do século XX, discutindo as novas tecnologias e as transformações.

KLINK, Amyr. Cem dias entre o céu e o mar. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005.

Esse livro relata os cem dias de travessia do próprio autor, que saiu do sul da África e foi até o litoral da Bahia, em um minúsculo barco, transportando o leitor para diversos acontecimentos que têm como cenário o Oceano Atlântico.

KOUDELA, Ingrid D. Texto e jogo. São Paulo: Perspectiva, 1996. (Coleção Debates – Teatro).

Ingrid Koudela discorre sobre a prática do jogo teatral a partir das peças didáticas de Brecht e sobre o que conceitua como “método para investigação das relações dos homens entre os homens”, destacando não só a grande importância do educador como também a renovação da própria função teatral.

LOBO, Lenora; NAVAS, Cássia. Teatro do movimento: um método para o intérprete criador. Brasília, DF: Libri Editorial, 2019.

As autoras apresentam métodos de consciência corporal em investigações do movimento que contribuem para o trabalho dos dançarinos e dos atores. MENDES, Miriam Garcia. O negro e o teatro brasileiro. São Paulo: Hucitec, 1993.

Esse livro busca analisar, da forma mais abrangente possível, o problema do personagem negro no teatro brasileiro, do século XIX aos dias atuais.

MORLEY, Helena. Minha vida de menina. São Paulo: Companhia de Bolso, 2016.

A obra, escrita em formato de diário, tem como cenário o Brasil pós-abolição, em que a adolescente descreve suas vivências e pensamentos.

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PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. São Paulo: Perspectiva, 1999.

Instrumento que pode ser usado no ensino e no conhecimento do teatro, com 560 verbetes traduzidos por professores e pesquisadores do campo.

PELA INTERNET. Compositor e intérprete: Gilberto Gil. In: QUANTA. [S. l.]: Warner Music, 1997. 1 CD, faixa 11 (4min44s). Disponível em: https://gilbertogil. com.br/producoes/detalhes/quanta/. Acesso em: 7 abr. 2022.

Essa música, do intérprete e compositor Gilberto Gil, foi a primeira canção a ser transmitida ao vivo em um show pela internet. Foi batizada em homenagem à canção Pelo telefone, lançada em 1916 e considerada por muitos o primeiro samba da história.

PELA INTERNET 2. Compositor e intérprete: Gilberto Gil. [S l.]: Gege Produções, 2018. 1 música (4min20s). Disponível em: https://gilbertogil.com.br/ conteudo/musicas/?letra=P. Acesso em: 7 abr. 2022. Essa música foi lançada com mesma melodia de Pela Internet e traz temas atuais do mundo virtual, como as redes sociais, aplicativos de navegação e outros recursos digitais.

PRIMEIROS ensaios: publicação educativa da 34ª Bienal de São Paulo. Organização da Fundação Bienal de São Paulo. Curadoria de Jacopo Crivelli Visconti. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2020. Disponível em: http://imgs.fbsp.org.br/ files/85713b059e43c7d73ad7d4597a75dbb0.pdf. Acesso em: 11 abr. 2022.

Publicação educativa da 34ª Bienal de São Paulo que apresenta conteúdos referentes ao meteorito do Bendegó, ao sino de Ouro Preto e a um conjunto de reproduções de retratos do jornalista e abolicionista estadunidense Frederick Douglass.

ROSENFELD, Anatol. O teatro épico. São Paulo: Perspectiva, 1985. (Coleção Debates – Teatro). Essa obra de referência aborda o estudo do teatro, a teoria dos gêneros, as tendências épicas no teatro europeu do passado, a assimilação da temática narrativa, a cena e a dramaturgia épicas e o teatro épico de Brecht.

SALLES, Cecilia Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. 6. ed. São Paulo: Intermeios, 2013. A autora estudou os processos de criação artística considerando os rascunhos como importantes ferramentas nas etapas criativas de todas as artes.

SANTANA, Ivani Lúcia Oliveira de. Corpo aberto: mídia de silício, mídia de carbono – A dança em interação com as novas tecnologias. 2000. Dissertação (Mestrado em Comunicação) –Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São

Paulo, 2000. Disponível em: https://sapientia.pucsp. br/bitstream/handle/5193/1/Ivani%20Lucia%20 Oliveira%20de%20Santana.pdf.

Acesso em: 11 abr. 2022.

A autora revela, por meio de pensamentos, rascunhos e fotos do início de sua carreira artística, pistas acerca de seu processo criativo.

SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade São Paulo: Companhia das Letras, 2010. O autor trata das diversas formas de desenvolvimento como ferramentas para a liberdade do ser humano.

SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva, 2010.

A obra fornece informações detalhadas sobre os jogos dramáticos e a arte do teatro. Promove, ainda, uma discussão sobre oficinas de trabalho na educação, na dança, na psiquiatria, na convivência social e na criação artística.

TECNOLOGIA. In: PRIBERAM. Lisboa: Priberam Informática, c2022. Disponível em: https://dicionario. priberam.org/tecnologia. Acesso em: 5 abr. 2022. Significado literal do termo “tecnologia”, que se refere aos avanços criados pela humanidade ao longo das eras.

TV UFBA especial (2014) – Ivani Santana e a dança telemática. Salvador: TV UFBA, 9 jan. 2014. 1 vídeo (ca. 6 min). Publicado pelo canal TV UFBA. Disponível em: https://youtu.be/yNEE4nnliFU. Acesso em: 11 abr. 2022.

No documentário, Ivani Santana explica como concebeu obras de dança telemática.

VIDEODANÇA. In: ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL.

São Paulo: Itaú Cultural, c2001-2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/ termo14324/videodanca. Acesso em: 24 mar. 2022.

Verbete da Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. A enciclopédia digital fornece uma base de dados para pesquisar a história da videoarte e da videodança no Brasil e no mundo.

VINAGRE, Talita. Breve cartografia de uma dança de desterro. São Paulo: Baleia Livros; Bragança Paulista: A Casa Tombada, 2021.

A autora trabalha a escrita dessa obra de forma semelhante à postura do dançarino e improvisador, que, com técnica e sensibilidade, apresenta uma postura aberta de pesquisa em dança como substrato de práticas criativas.

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Transcrição dos áudios

Trilha 3

Página 168 – Áudio 6: Rap

Se liga na mulher

Ei, menino

Você acha que a virtude da mulher é te cuidar, chinelar ou ter beleza?

Que é só delicadeza, servidão e gentileza?

Ou então brabeza pra fazer e acontecer?

Se liga que a mulher é muito mais

Se liga que a mulher não é só quem faz

Ela é humana que nem tu, ela quer tudo também

Ei, menina

Você acha que mulher bem-sucedida é aquela que se casa?

Que sabe fazer comida?

Ou então que tem corpão de violão pra conquistar o marmanjão?

Se liga que a mulher é muito mais

Se liga que a mulher não é só quem faz

Ela sonha que nem tu, e batalha que nem tu E não é na televisão, nem no insta nem no face que se vê cara lavada, sua realização É todo dia, na real, na vera, na prática

No pensamento e na criatividade

Na ginga e no jogo, na aula e em casa Junto com a turma, é na sororidade!

Se liga que sororidade é união, é estar com a mão na mão, é ouvir todos irmãos, sem essa de competição Quer saber de uma pá de mulher que arrasou?

Que arrasa ainda hoje? Ela pode ser você ou sua mãe ou sua amiga ou sua irmã?

Então… saca só

Frida Kahlo, Fernanda Montenegro, Marielle Franco, Luiza Erundina Chica da Silva, Nise da Silveira, Rosa Parks, Miriam Makeba Marie Curie, Madre Teresa, Kate Sheppard, Maria da Penha Leila Diniz, Rosa Luxemburgo, Angela Davis, Anne Frank Malala Yousafzai, Greta Thunberg, Tia Ciata, Amélia Earhart Joana D’Arc, Simone de Beauvoir, Dandara, Preta Rara Já conhece todo mundo? Já conhece lá no fundo as que tão perto de você?

Se liga que a mulher vai te mostrar

Se liga, Vai atrás pra saber mais

Mano, todas tem o seu papel, Mina, todas te chamam pra roda Mulherada faz história, vai crescendo na memória

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ISBN 978-85-10-09349-1

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