Coleção 10V - 1º Ano - Artes - Professor

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Andréia Leite Márcio Menezes Décio Gorini


FRENTE

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Pavel L / Shutterstock.com

ARTES Por falar nisso Arte? Sons, cores e gestos inventam a arte. Podemos estar em um show de música, ouvindo instrumentos feitos com os mais inusitados materiais, andar por uma instalação cheia de cores, sons e formas, assistir a uma peça de teatro, interpretá-la na escola ou simplesmente estar em um terminal de ônibus, em uma estação ferroviária, no metrô, e depararmos com uma bailarina que, de repente, começa a dançar. Também podemos estar em casa em no nosso banho, mesmo sem qualquer conhecimento, começamos a cantar, atender ao telefone, durante a conversa com um amigo, fazemos garatujas em um papel, ou ainda organizando nosso quarto, ouvimos uma música e começamos a dançar. A arte é assim: pode estar aqui, ali, acolá. É preciso estar atento para perceber as muitas linguagens que nos convidam a pensar, sentir e criar. Estudar arte é conhecer diferentes linguagens e compreender como construímos conhecimento por meio de sons, gestos, movimentos e imagens. No estudo de Arte aprendemos a entender a natureza estética e criatividade da humanidade em diversos tempos e lugares, a reconhecer as várias maneiras de expressar pensamentos, ideologias, crenças, estilos, formas, sonhos... A arte proporciona uma reflexão sensível, necessária para a compreensão de como reagimos diante de acontecimentos da vida e de como nos expressamos. O estudo e a criação da arte englobam muitas razões e emoções. Mergulhar no universo de artistas, de obras, de processos de criação e de linguagens da arte pode ser instigante, incômodo, prazeroso ou dasafiador. Para iniciar, convidamos você para conversarmos sobre o conceito da palavra “Arte”. Ferrari, Solange. Por Toda pArte. São Paulo: FTD, 2013, pág. 03.

Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A01 A02 A03 A04

Períodos de estudo: conceito e função da Arte..............................8 A Arte na Pré-História: paleolítico e neolítico...............................13 A Arte Pré- Histórica no Brasil.......................................................19 A Arte egípcia.................................................................................23


FRENTE

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ARTES

MÓDULO A01

ASSUNTOS ABORDADOS nn Períodos de estudo: conceito e

função da Arte

nn Períodos de estudo nn Conceito de Arte

PERÍODOS DE ESTUDO: CONCEITO E FUNÇÃO DA ARTE Períodos de estudo Pré-História – antes da escrita. nn Paleolítico Inferior – 600 000 → 100 000 a.C. Não existe manifestação artística datada. nn Paleolítico Superior – 100 000 → 30 000 a.C. Primeiras manifestações artísticas

datadas - “Mãos em negativo”. – 30 000 → 15 000 a.C.. nn Neolítico – 15 000 → 5 000 a.C.. nn Idade dos Metais → 5 000 a.C. em diante. nn Pré-História no Brasil. nn Mesolítico

Surgimento da escrita - aproximadamente em 3 500 a.C. com os Sumérios – escrita cuneiforme. Idade Antiga - do surgimento da escrita → 476 d.C.. nn Civilizações Antigas - Egito, Mesopotâmia, Grécia, Roma e Arte Primitiva Cristã.

Idade Média - 476 d.C. → 1453 d.C.. nn Oficialização

do Cristianismo 391 d.C.. nn Arte Bizantina, Arte Românica e Arte Gótica. nn Arte Pré-Cabralina – Cultura dos Sambaquis, Santarém e Marajoara. Idade Moderna - 1453 d.C. → 1789 d.C.. nn Renascimento,

Maneirismo, Barroco, Rococó e Neoclássico. nn Etnias Indígenas no Brasil. nn Século XVI e XVII no Brasil – Descobrimento e Expedições. nn O Barroco brasileiro. Idade Contemporânea - 1789 d.C. → atualidade. nn Movimentos do séc. XIX – Romantismo, Realismo, Impressionismo e Pós-Impressionismo. nn Século XIX no Brasil – Missão Artística Francesa e Superação do academicismo. nn Movimentos do séc. XX - Expressionismo, Cubismo, Fauvismo, Surrealismo,Dadaísmo, Futurismo, Orfismo, Raionismo, Suprematismo, Construtivismo, Abstracionismo, Neoplasticismo, Cinetismo, Expressionismo Abstrato, Minimalismo, Pop Art, OpArt, Arte Conceitual, Instalação, Land Art, Performance, Hiper-Realismo, Arte Urbana e Artistas Contemporâneos. nn Século XX no Brasil – Antes da Semana de Arte Moderna, Semana de Arte Moderna de 1922, após a Semana de Arte Moderna, Artistas Primitivos e Artistas contemporâneos.

Conceito de arte Exatamente como o respirar, o caminhar, o amar e o trabalhar, a criação artística é inerente ao ser humano e é tão velha como a própria humanidade. Os primeiros rabiscos que uma criança faz em um papel ou em uma parede do seu quarto, não são resultantes de nenhuma educação específica, mas, sim, de uma necessidade de expressão absolutamente natural à criança e que se materializa por meio dos materiais que o seu meio ambiente lhe proporciona: um lápis, um pedaço de giz ou uma rolha queimada. 8


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Ao longo da história, nenhuma sociedade, por mais exíguo que tenha sido seu nível de existência material, deixou de produzir arte. Representações, decorações, assim como a narração da história e a música, são tão naturais para o ser humano quanto a construção de ninhos é para os pássaros. Ainda assim, as formas de arte variam radicalmente em épocas e lugares diversos, sob a influência de diferentes circunstâncias culturais e sociais. (FARTHING, Stephen. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro, 1950, Pg. 8).

Figura 03 - Expressão artística infantil – 2012.

A01  Períodos de estudo: conceito e função da Arte

Fonte: wikimedia.commons / Micha L. Rieser

Figura 02 - Mona Lisa, Graffiti em St.Petersburg, Russia - 2016.

Fonte: Poznyakov / Shutterstock.com

Figura 01 - Monalisa, Leonardo da Vinci (1503/1506)

Fonte: Akimov Igor / Shutterstock.com

Fonte: Wikimedia Commons / Leonardo da Vinci (1452–1519)

Você já viu alguma imagem e ficou em dúvida se ela era ou não obra de arte? Quais foram as imagens? Como você faria para distinguir a imagem de um cartaz de filme e uma tela pintada, como sendo arte? Você sabe se existe diferença entre arte e obra de arte e qual a sua utilidade? Observe as imagens e aponte quais são consideradas “arte”?

Figura 04 - A Fonte, Marcel Duchamp – 1917

O termo arte procede etimologicamente do termo latino “ars”, que por sua vez se relaciona com o termo grego “techné”. “Techné” designava, para os gregos, a habilidade ou capacidade de produzir algo. Durante muito tempo considerou-se que a arte consistia em habilidade e técnica na produção de um determinado objeto. Para os gregos e para os romanos, um carpinteiro era um artista: seguindo certos conhecimentos e regras, revelavam habilidade e técnica e por isso o que produzia era arte. 9


Artes

Durante a Idade Média, efetuou-se a distinção entre artes liberais e artes mecânicas. As primeiras exigiam esforço mental – artes liberais (a gramática, a retórica, a lógica, a aritmética, a geometria, a astronomia e a música). A segunda, exigia esforço físico – artes mecânicas (a arquitetura, a medicina, a arte militar, o teatro, a pintura e a escultura). Com o Renascimento, começa a impor-se a distinção entre artista e artesão, entre produção artística e produção técnica, melhor dizendo, entre arte e artesanato. O nome de artista passou a ser exclusivamente aplicado aos pintores, escultores, arquitetos, poetas e músicos. O artista, embora se reconhecendo que devia ter habilidade e conhecimento de preceitos técnicos, era um indivíduo excepcional, com capacidades especiais, o criador de obras únicas, inconfundíveis e irrepetíveis (“as obras de arte”). A partir do século XVII, aconteceu a divisão kantiana, as artes passaram pela distinção de “belas artes” e “artes agradáveis”. E quais são as “belas artes”? (A pintura, a escultura, a música, a literatura, a dança, a arquitetura e mais tarde o cinema). E as “artes agradáveis”? (Os jogos, a gastronomia e as conversas). A produção mecânica e a intervenção de tecnologia puramente mecânica na produção artística alteraram, no século XX, o estatuto da arte. Com efeito, o carácter único da obra de arte foi substituído pela repetição em série. (Disponível em: www.brasil.gov.br. Acesso em: 24/02/2017, com adaptações).

Fonte: wikimedia.commons / Edvard Munch (1863-1944)

Figura 06 - Cesto de Capim dourado, Tocantins-Brasil.

Fonte: Vangelis Vassalakis / Shutterstock.com

A01  Períodos de estudo: conceito e função da Arte

Figura 05 - Mural ‘Etnias’, do artista Kobra, no Boulevard Olímpico, Rio 2016

Fonte: Horus2017 / Shutterstock.com

Fonte: ricardo cohen - rcview / Shutterstock.com

Logo, as imagens abaixo serão “arte” ou “obra de arte”?

Figura 07 - Caneta esferográfica Bic Cristal, Inventada em 1950 por László Bíró.

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Figura 08 - O Grito, Edvard Munch – 1893.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Quem faz arte? Resposta: o ser humano. Por que o ser humano faz arte? Resposta: para se expressar.

Fonte: wikimedia.commons / Bjørn Christian Tørrissen

Música

Fonte: wikimedia.commons / Barry Goyette

Teatro

Fonte: pixabay / geralt

Fonte: wikimedia.commons / Leonela Castillo Zamora

Quais as linguagens artísticas?

Dança

Visuais

Então o conceito de arte é tudo o que o ser humano produz, para se expressar, por meio de uma das linguagens artísticas: visual, cênicas, dança ou música. Em diferentes livros, sites e artigos científicos encontram-se diferentes abordagens e conceitos não só para “arte”, mas também, para “obra de arte, artista e artesão”, que destacamos abaixo:

A01  Períodos de estudo: conceito e função da Arte

Obra de Arte – uma obra de arte se difere de um objeto comum. O objeto comum geralmente é produzido em série por indústrias. A partir do momento em que o objeto comum passa a ser único ou com poucos exemplares, se perpetuar no tempo, no tempo, e em alguns momentos ajudar a contar a história de um local e um determinado período, ele passa a ser “obra de arte”. Artista – a palavra deriva do latim: artífice (o que pratica uma arte). Então, o artista é um criador que inova. Alguém que procura fazer algo único e pessoal, um criador, independente da linguagem artística. Artesão - é aquele que trabalha em série, manualmente. Seu ofício foi desenvolvido (ensinado e aprendido) no processo familiar ou por cooperativas, muitas vezes com ajuda de ferramentas e mecanismos rudimentares, produzindo dezenas de peças, com caráter funcional ou decorativo, conhecidos como artesanato, a partir do qual ele obtém a sua renda. Verificamos que atualmente, independente da produção artística artesanal ou industrial, todas assumem várias funções, seja positiva seja negativa, ao longo de sua história, como: utilizar, enfeitar, iludir, informar, ensinar, registrar, criticar, alienar, decorar, entreter, divertir, criar, entre outras funções. 11


Artes

Exercícios de Fixação Leia o texto, observe as imagens e julgue os itens em (C) Certo ou (E) Errado. Brasília recebe mostra de artista Cai Guo-Qiang, expoente da China.

A01  Períodos de estudo: conceito e função da Arte

Os chineses inventaram a pólvora e, Cai Guo-Qiang inventou, para ela, uma utilidade carregada de significados metafóricos, lúdicos e abstratos. A guerra não entra no trabalho de Guo-Qiang. Sua pólvora exalta a intensidade de uma cultura e a delicadeza de um olhar. Ao longo das últimas duas semanas, o artista transformou o pavilhão aberto do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em ateliê para fazer os desenhos com pólvora. Todas as tardes, Guo-Qiang traça formas que lembram o carnaval brasileiro antes de acender o pavio para uma plateia curiosa. O momento da explosão durou apenas 40 segundos, quase nada para as 24 horas de preparação exigidas pelo desenho. As obras fazem parte da exposição “Da Vincis do Povo”, que abre nesta terça-feira (5/2) para o público no CCBB e faz um panorama da produção recente de Guo-Qiang, um dos artistas de maior destaque no cenário chinês contemporâneo. Além dos desenhos, a exposição conta com uma série de objetos encomendados pelo artista a camponeses chineses, é o caso dos robôs que pintam telas com respingos típicos da obra de Jackson Pollock (1912-1956), parodiando artistas ocidentais em ação. Essas telas “originais chinesas” estarão à venda por R$ 50. São engenhocas construídas por inventores amadores para realizarem sonhos malucos. Tem avião, barco e carro, tudo montado com materiais reciclados e restos descartáveis da indústria do consumo. É uma maneira de falar do povo chinês, do improviso necessário à vida contemporânea e da criatividade imposta pela falta de certos bens em situações cotidianas. São temas nos quais o curador Marcello Dantas enxerga uma proximidade entre China e Brasil. Disponível em: www.divirta-se.correioweb.com.br Acesso em 05/02/2012.

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01. ( ) A exposição apresenta-se com o nome “Da Vincis do Povo”, explicando a produção feita por camponeses e pessoas abaixo da linha da pobreza na China, contratadas por Cai Guo-Qiang para aumentar-lhes a renda familiar. E 02. ( ) A utilização de materiais reciclados e restos descartáveis da indústria do consumo, foi a maneira encontrada pelo artista para diminuir os custos da produção artística. E 03. ( ) O robô da figura II apresenta-se sem acabamento, inclusive com formas claras de ferrugem, corrosão, restos de solda e falta de verniz e tinta. C 04. ( ) As obras desenvolvidas pelos robôs e vendidas por R$ 50,00 na própria exposição são de autoria do artista Cai Guo-Qiang. C 05. ( ) As obras desenvolvidas pelos robôs e vendidas por R$ 50,00 na própria exposição são de autoria dos robôs. E 06. ( ) As obras desenvolvidas pelos robôs e vendidas por R$ 50,00 na própria exposição são de autoria dos camponeses chineses. E 07. ( ) As obras desenvolvidas pelos robôs e vendidas por R$ 50,00 na própria exposição são de autoria do artista Jackson Pollock, citado no texto, já que os robôs pintam as telas com respingos típicos da obra do mesmo. E 08. ( ) As obras apresentadas são consideradas obras de arte, pois são únicas. C 09. ( ) As obras são consideradas apenas arte, e os robôs são considerados artesãos. E 10. ( ) Apenas o chinês é considerado o artista, pois o mesmo é o criador da obra. C


FRENTE

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ARTES

MÓDULO A02

A ARTE DA PRÉ-HISTÓRIA A Arte da Pré-História corresponderia ao período anterior às primeiras civilizações, na arte desenvolvida por povos antigos antes da escrita, ou seja, escrita pictográfica, mas que apresenta elementos e aspectos que, de uma forma ou de outra, prepararam o terreno para o advento pré-civilizacional do homem. O termo “arte rupestre” é usado para descrever a prática que os povos antigos tinham de pintar e entalhar pedras, para formar grandes desenhos no chão ou nas paredes. A arte desse período é dividida em Paleolítica e Neolítica, representadas, por produções artísticas específicas para cada período.

ASSUNTOS ABORDADOS nn A Arte da Pré-História nn Período- paleolítico superior (idade da pedra lascada) nn Período - neolítico (idade da pedra polida)

Período - paleolítico superior (idade da pedra lascada) nn As

primeiras manifestações eram muito simples.

nn Para

Stephen Farthing cerca de 75 000 a.C. na caverna de Blombos, na África do Sul, bastões ocres foram entalhados.

nn O

homem é nômade.

Característica das manifestações pictográficas nn As

imagens datadas entre 30 000 e 16 000 a.C. são as “mãos em negativo”

Características do desenho das mãos: nn Encontradas

na Europa em cavernas como: Altamira, Lascaux e Castilho.

nn O

motivo era o “naturalismo”, pois reproduzia a natureza tal qual sua vista a captava, inclusive utilizando a mão como molde.

nn Mão como molde, monocromática, pigmentos externos, sem contorno, materiais

como: pigmentos rochosos triturados e gordura. nn Explicação

mais aceita: marcar território.

Fonte: Wikimedia Commons

nn Cerca de 25 000 a.C. as pinturas rupestres eram desenvolvidas com pigmentos

ocres e brancos. Figura 01 - Mãos em Negativo, Caverna de Lascaux na França – Entre 30.000 e 16.000 a.C

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Figura 02 - Touro, Caverna de Lascaux na França - 16 000 a.C.

A02  A Arte da Pré-História

ESCULTURA NA PRÉ-HISTÓRIA A escultura foi responsável pela elaboração tanto de objetos religiosos quanto de utensílios domésticos, nos quais encontramos a temática predominante em toda a arte do período. Animais e figuras humanas, principalmente figuras femininas, conhecidas como Vênus, caracterizadas pelos grandes seios e ancas largas, são associadas ao culto da fertilidade. Entre as mais famosas estão a Vênus de Lespugne, encontrada na França, e a Vênus de Willendorf, encontrada na Áustria. Elas foram criadas principalmente em pedras calcárias, utilizando-se ferramentas de pedra pontiaguda. Durante o período neolítico europeu (5 000 a.C.– 30 00 d.C.) os grupos humanos já dominavam o fogo e passaram a produzir peças de cerâmica, normalmente vasos, decorados com motivos geométricos em sua superfície. Somente na idade do bronze a produção da cerâmica alcançou grande desenvolvimento, em virtude da sua utilização na armazenagem de água e alimentos. Disponível em: www.historianet.com. br. Acesso em 22/03/2017.

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Figura 03 - Cavalos de Circo, França - 18 000 a.C.

Características do desenho dos animais: nn O motivo era o “naturalismo”, pois reproduzia a natureza tal qual sua vista a captava, inclusive com o tamanho, muito próximo do animal real. nn Traços que revelam força (bisontes e outras feras). nn Explicação mais aceita: representavam os seres para treinar estratégias de captura. nn Traços que revelam beleza e fragilidade (renas e cavalos). nn Pigmentação interna, policromáticos, contornados ou não, pintados de forma divertida. nn Explicação

mais aceita: Representavam os seres possivelmente domesticados.

Característica das esculturas

Fonte: wikimedia.commons / User:MatthiasKabel

SAIBA MAIS

Fonte: wikimedia.commons

Fonte: wikimedia.commons

Artes

Figura 04 - Vênus de Willendorf, Áustria- Entre 24 000 e 22 000 a.C.. nn Cabeça

como prolongamento do pescoço. volumosos. nn Ventre saltado. nn Grandes nádegas. nn Representavam o ideal de beleza pré-histórico – mulheres grávidas, fertilizadas. nn Ausência de figuras masculinas no paleolítico. nn Produzidas em pedra raspada ou barro. nn Seios


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Período - neolítico (idade da pedra polida) nn Nesse momento, o homem substitui a vida nômade por uma vida mais estabilizada. nn Dominação

e produção do fogo por meio do atrito. nn Início dos objetos em metal. nn Técnica de tecer. nn Fabricação de cerâmica. nn Abandono das cavernas e construção de moradias. nn Vida coletiva. Característica das esculturas

Fonte: wikimedia.commons

Técnica da forma de barro ou técnica da cera perdida: 1) Faz o molde em cera. 2) Reveste o molde de cera com barro molhado.

Figura 05 - Escultura Neolítica em Bronze, Museu Pigorini – Roma.

3) 4) 5) 6)

Aquece, a cera derrete, o barro passa a ser oco. Dentro da forma de barro era despejado o metal já derretido. Depois do esfriamento do metal, a forma de barro era quebrada. Obtém-se assim, uma escultura em metal maciço, com o formato desenvolvido na cera.

Característica das manifestações pictográficas nn Escrita

pictográfica.

nn O poder de observação é substituído pela abstração e racionalidade, desenvol-

A02  A Arte da Pré-História

vendo imagens estilizadas. nn Linhas paralelas, formas geométricas não exatas e desenhos não figurativos – são denominados de grafismos geométricos. nn Substituição dos motivos naturalistas por motivos geométricos. nn Representação da vida coletiva. nn Figuras leves, ágeis, pequenas e de pouca cor. nn Dinamismo. nn Contorno nítido. nn Duas ou mais cores, policromadas. nn Riqueza de detalhes. nn As figuras mais sugerem do que representam. 15


Fonte: wikimedia.commons

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Fonte: wikimedia.commons / Gruban

Fonte: wikimedia.commons / Gruban

Artes

Figura 06 - Imagem 1 e 2 pintura rupestre encontrada em Tassili, região do Saara. 4 000 a.C. Imagem – 3 e 4 Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, no Piauí. 6 000 a.C.

Característica da Arquitetura As construções pré-históricas que chegaram aos nossos dias, são monumentos megalíticos em pedras e foram inseridas no período neolítico.Os primeiros complexos arquitetônicos erguidos pelo homem são manifestações, que apresentam a necessidade das sociedades que as criaram e se organizaram. – edificações feitas sem nenhuma argamassa em forma de cone truncado. nn Explicação mais aceita: moradia.

A02  A Arte da Pré-História

Fonte: wikimedia.commons

nn NURAGUES

Figura 07 - Nuragues, Aldeia de Barumiri, na Sardenha – Itália nn MENIR

ou PERAFITA – bloco de pedra com formato pontiagudo cravado verticalmente no chão. nn Explicação mais aceita: marcação de um túmulo ou lápide. 16


nn ALIENAÇÕES ou ALINHAMENTOS – fileiras de menires. nn Explicação

mais aceita: túmulos, cemitérios.

nn DOLMENS– dois ou mais menires grandes fincados ver-

Fonte: Patryk Kosmider / Shutterstock.com

ticalmente no chão, como se fossem paredes e mais um menir colocado horizontalmente sobre os dois menires anteriores, parecendo um teto, são chamados de Dolmens. nn Explicação mais aceita: moradia, ritualizar.

Figura 09 - Dolmens na Irlanda. nn CROMELEQUE

ou CROMLECHS dolmens em uma formação circular. nn Explicação mais aceita: ritualizar, cemitérios, sacrifícios, relógio, observatório astronômico. nn Vários

Figura 10 - Planta baixa do Santuário de Stonehenge, Inglaterra.

Figura 11 - Dolmens e Cromlechs Ruínas do Santuário de Stonehenge.

#TÁ NA MÍDIA

Faz séculos que essas ruínas misteriosas, a 137 quilômetros de Londres, intrigam arqueólogos, místicos e curiosos em geral. Os responsáveis pelo monumento, que começou a ser erguido por volta de 3000 a.C., foram homens pré-históricos do período neolítico – o que quer dizer que conseguiam fazer várias ferramentas e construções à base de pedras polidas, mas não ainda conheciam a metalurgia. Além de decifrar essa identidade dos criadores do Stonehenge, os estudiosos descobriram também a maneira como os blocos pesadíssimos eram transportados até lá e como era a obra antes de virar ruína. Difícil mesmo é entender o sentido de tudo aquilo. No livro From Stonehenge to Modern Cosmology (“De Stonehenge à Cosmologia Moderna”, inédito no Brasil), o astrônomo inglês Fred Hoyle, um dos maiores especialistas do século XX em teorias sobre a origem do universo, defendeu a tese de que o monumento foi erguido como uma espécie de computador capaz de prever eclipses e outros fenômenos celestiais, concluindo que “o conhecimento astronômico desse povo deve ter nascido de muitos séculos de observação”. Outros especialistas enxergam as ruínas como vestígios de um grande templo religioso – e é bem provável que as duas teorias sejam complementares. Isso porque a construção foi feita em três fases distintas, com aproximadamente dois mil anos de distância entre elas, além de haver indícios de que o enigmático círculo de pedras passou por longos períodos de abandono – dois dos aspectos mais intrigantes de Stonehenge. Pode ser, portanto, que os homens que iniciaram o monumento tivessem em mente um projeto – um calendário astronômico, por exemplo -, que acabou modificado pelas gerações seguintes. Sem encontrar interpretações astronômicas para as construções posteriores, Hoyle levanta a hipótese de que houve um declínio intelectual entre as primeiras e as últimas civilizações de construtores, talvez pela invasão das ilhas britânicas por outros povos. A falta de registros escritos e o longo tempo que Stonehenge ficou esquecida tornam mais difícil decifrá-la. No século XX, iniciou-se uma batalha para preservar o que restou de Stonehenge, mas até isso criou polêmica – como algumas pedras tombadas foram reerguidas e estabilizadas, a interferência gerou acusações de que as atuais formações seriam falsas. Mas os restauradores garantem que todo seu trabalho respeitou a posição original das pedras. Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/cultura/como-e-para-que-foi-construida-stonehenge/>. Acesso em 10 maio 2017.

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A02  A Arte da Pré-História

Figura 08 - Menir Neolítico, Península Ibérica em território Português.

Fonte: wikimedia.commons

Fonte: StockPhotosArt / Shutterstock.com

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias


Artes

Exercícios de Fixação 01. “O caráter simbólico das imagens nas civilizações pré-his-

ras: Festas Juninas, Folia de Reis, Festa do Divino. Folgue-

tóricas, principalmente antes da Revolução Neolítica, é de

dos brasileiros: Congada, Marujada, Fandango, Cavalhada,

grande força e estão presentes até hoje em nossas mentes

Bumba meu boi, chula, entre outras. As manifestações em

compondo nossa percepção visual”.

muitos momentos apresentam uma formação circular con-

Wendy Beckett, História da Pintura, Ática, 1997.

forme os rituais pré-históricos”. (CAMPOS, Flávio. Oficina de Arte. São Paulo. Ed. Moderna, 1997, p. 41-42.)

Sobre a pré-história, julgue os itens: C-E-C-E a) As imagens para os povos pré-históricos do Paleolítico Superior não tinham um caráterrepresentativo, pois elas não representavam, elas “eram”.

Marque uma imagem que apresenta um ritual pré-histórico com formação circular.

b) O uso de vermelho e preto como pigmentos nesse período está relacionado ao valor de mercado dessas cores. c) As formas abundantes das estátuas denominadas Vênus fazem referências à fertilidade. d) O homem do Paleolítico era criador dos animais que ele caçava. 02. Período Neolítico, também era chamado de Idade da Pedra Polida (por causa de alguns instrumentos, feitos de pedra). A partir dos conhecimentos sobre o período, marque a alternativa correta. a) Os desenhos simplificados, com conteúdo extremamente abstrato, eram chamados de escrita pictográfica. b) Grandes construções foram erguidas e abandonadas devido ao caráter seminômade do homem do Neolítico. c) A pintura do período Neolítico também tinha referência à cena de caça, tão comum e importante no período paleolítico e apresentava-se sem nenhum tipo de diferenciação. d) Com uma vida fixa e produtiva, o homem produz cerâmicas, utilizando seus conhecimentos com o fogo, com finalidade de criar recipientes e objetos decorativos. e) As imagens do período neolítico eram naturalistas. 03. “A Manifestação por meio da Cultura Popular pode ser definida como qualquer manifestação cultural (dança, música, festas, literatura, lendas e as artes em geral) em que

A02  A Arte da Pré-História

o povo produz e participa de forma ativa. Ao contrário da

geométricos em cavernas da Europa e África, objetos de adorno e armas em ossos, surgiram nos últimos 30 000 anos, aproximadamente. Seus autores foram: a) Homo sapiens b) Australopithecusafricanus c) Homo erectus d) Australopithecusafarensis e) Homo habilis 05. A vida nas cavernas, o nomadismo e a exclusiva retirada dos meios de subsistência da natureza, por meio da caça, da co-

cultura de elite, a cultura popular surge das tradições e

leta e da pesca, caracterizaram o homem,

costumes e é transmitida de geração para geração, prin-

a) do Período Neolítico.

cipalmente, de forma oral. Exemplos de manifestações da

b) da Idade dos Metais.

cultura popular: carnaval, danças, festas típicas, literatura

c) da Antiguidade Oriental.

de cordel, provérbios, samba, frevo, capoeira, artesanato,

d) do Período Medieval.

cantigas de roda, contos, fábulas, lendas urbanas, supers-

e) do Período Paleolítico Superior.

tições, entre outras. Exemplos de festas populares brasilei-

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04. As primeiras obras de arte, tais como pinturas e grafismos


FRENTE

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ARTES

MÓDULO A03

A ARTE DA PRÉ-HISTÓRIA NO BRASIL

ASSUNTOS ABORDADOS

O estudo da arte na história brasileira antes de 1500 é feito, sobretudo, por meio da arqueologia, uma vez que os povos que ocuparam o território onde hoje se encontra o Brasil não possuíam, até onde sabemos – a escrita. Estudos linguísticos, etnológicos e históricos têm auxiliado as pesquisas arqueológicas na medida do possível. As tentativas dos arqueólogos de estabelecer uma visão geral da história Pré-Cabralina (antes da chegada de Pedro Álvares Cabral), não tiveram provas satisfatórias. Para complicar mais a situação, ainda falta muito a ser feito em vários níveis de pesquisa – registros de línguas e comparações, análise de materiais escavados, relações entre sítios diversos da antiguidade e outros do período colonial.

nn A Arte da Pré-História no Brasil nn Período pré-cabralino = Pré-História e etnias índigenas nn Característica das manifestações pictográficas

As pinturas rupestres em paredes de cavernas mais antigas do Brasil foram encontradas em 1970, em um sítio arqueológico na Serra da Capivara, no sudeste do Estado do Piauí, município de São Raimundo Nonato. Diversos pesquisadores que vêm trabalhando, no estado do Piauí, dataram as manifestações artísticas entre 5 000 a.C. e 1 100 d.C.. Encontramos também, além de vestígios pré-históricos na Serra da Capivara no Piauí e no litoral brasileiro, povos da Amazônia que fabricaram objetos de enfeites e de cerâmica. Entre eles se destacam os vasos de cerâmica da ilha de Marajó e do rio Tapajós. A arte plumária, com penas de pássaros, feitas por índios e a pintura corporal, usando tintas derivadas da natureza, representam importantes exemplos da arte indígena. Em 1978, uma missão francobrasileira coletou uma grande quantidade de dados e vestígios arqueológicos. Esses estudiosos chegaram a conclusões esclarecedoras a respeito de grupos humanos que habitaram a região por volta do ano 6 000 a.C.., ou talvez em uma época mais remota ainda. Segundo as pesquisas, os primeiros habitantes da área de São Raimundo Nonato – provavelmente caçadores coletores, nômades e seminômades – utilizavam as grutas da região como abrigos ocasionais. A hipótese mais aceita, portanto, é a de que, esses homens foram os autores das obras pintadas e gravadas nas grutas da região.

Fonte: wikimedia.commons

SAIBA MAIS

Figura 01 - Lapa da Cerca Grande foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan, o que atesta sua importância e aumenta suas chances de preservação.

A ARTE NA PRÉ-HISTÓRIA BRASILEIRA O estado de Minas Gerais possui um bom patrimônio arqueológico. Embora nem sempre saibamos preservá-lo, ainda temos grutas e cavernas em que se podem encontrar pinturas rupestres que datam a Pré-História. Por exemplo, no sítio arqueológico de Lapa da Cerca Grande, localizado no município de Matozinhos, a aproximadamente 50 km de Belo Horizonte, temos representações de animais terrestres, peixes e aves, além de representações antropomórficas. A cor predominante nas figuras de Lapa da Cerca Grande é a vermelha, mas observam-se também a amarela, a branca e a preta. Disponível em: http://giscreatio.blogspot.com. br/2010/06/arte-na-pre-historia-brasileira.html. Acesso em 07/04/2017

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Artes

Fonte: wikimedia.commons

Período pré-cabralino: Pré-História e etnias índigenas nn Europa: nn Outros

Paleolítico Superior - 30 000 a.C. e Neolítico – 5 000 a.C..

termos aceitos tanto na Europa como no Brasil:

nn Pleistoceno nn Holoceno

caçadores e coletores 12 000 a.C..

– Arcaico Antigo – 9 000 a.C..

nn Arcaico

Médio – 4 500 a.C..

nn Arcaico

Recente a partir de 4 000 a.C. até 1 500 d.C..

nn Observe

as imagens:

Figura 02 - Sítio arqueológico Serra da Capivara, no Piauí.

Os pesquisadores classificaram essas pinturas em três grandes grupos: obras com motivos de cena de caça, obras com motivos estilizados e obras com motivos geométricos. Entre as primeiras, predominam as representações de figuras humanas que aparecem ora isoladas, ora participando de um grupo, em movimentadas cenas de caça, guerra e trabalhos coletivos. No grupo dos motivos estilizados, encontramse também figuras que lembram animais e o homem, cujas representações mais frequentes não podem ser definidas com exatidão, apresentam apenas características no estilo de quem fez na época. Já linhas paralelas, grupos de pontos, círculos, círculos concêntrico, cruzes, espirais, triângulos ou formas geométricas não exatas e desenhos não figurativos, são denominados de grafismos geométricos.

Característica das manifestações pictográficas nn Escrita

pictográfica.

nn O poder de observação é substituído pela abstração e racionalidade, desenvol-

Figura 03 - Pintura rupestre no sítio arqueológico Serra da Capivara, Piauí.

20

Fonte: wikimedia.commons

Fonte: wikimedia.commons

A03  A Arte da Pré-História no Brasil

vendo imagens estilizadas. nn Linhas paralelas, formas geométricas não exatas e desenhos não figurativos – são denominados de grafismos geométricos. nn Substituição dos motivos naturalistas por motivos geométricos. nn Representação da vida coletiva. nn Figuras leves, ágeis, pequenas e de pouca cor. nn Dinamismo. nn Contorno nítido. nn Duas ou mais cores, policromadas. nn Riqueza de detalhes. nn As figuras mais sugerem do que representam. nn Sobreposição de imagens com diferentes datações.

Figura 04 - Desenhos com motivos geométricos em São Raimundo Nonato, Piauí.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Um dos achados mais importantes da arqueologia que ajudaram a compor a pré-história no Brasil foi um crânio. Esse fato aconteceu no início da década de 1970, mais precisamente, em 1974, em um sítio arqueológico denominado de Lapa Vermelha, localizado na cidade mineira de Pedro Leopoldo. A responsável pela escavação e pesquisa foi a equipe da arqueóloga, Annete Laming-Emperaire. Nas escavações foi encontrado um crânio humano. Logo, foi comprovado que se tratava de uma pessoa do sexo feminino, chamada pela equipe de Luzia. Após análises do crânio, foi constatado que ela teria morrido há aproximadamente onze mil anos. O mais intrigante não era a idade do crânio, e sim sua origem. O Dr. Richard Neave, da Universidade inglesa de Manchester, desenvolveu um trabalho de reconstrução do crânio de Luzia e constatou uma enorme semelhança com os traços negroides. Esse achado levou a verificar que o continente americano foi ocupado por homens com aspectos extremamente parecidos com os africanos e os aborígines da Austrália.

Fonte: wikimedia.commons

Disponível em: www.brasilescola.uol.com.br/brasil/prehistoria-no-brasil. Acesso em 25/02/2017.

Fonte: wikimedia.commons

A03  A Arte da Pré-História no Brasil

Figura 05 - Crânio de Luzia, encontrado em 1974 em M.G. – 11 000 a.C.

Figura 06 - Reconstituição computadorizada do rosto de Luzia. Algumas características como a cor da pele e o cabelo crespo são apenas suposições.

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Artes

Exercícios de Fixação 01. Faça uma análise comparativa entre as pinturas rupestre da Europa período Neolítico e as pinturas rupestres do Brasil. 02. O Parque Nacional da Serra da Capivara no Piauí foi criado por meio do decreto de nº 83.548, emitido pela Presidência da República em 5 de junho de 1979, com a finalidade de proteger um dos mais importantes exemplares do patrimônio pré-histórico do país. É um local com vários atrativos, monumental museu a céu aberto, entre belíssimas formações rochosas, onde encontram sítios arqueológicos e paleontológicos espetaculares, que testemunham a presença de humanos e animais pré-históricos. Observando as imagens apresentadas, é possível reconhecer elementos da pintura rupestres do Brasil, tais como:

Observe a imagem e responda às questões 04 e 05.

Inscrições rupestres na Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, no Piauí. 6 000 a.C.

04. As figuras foram encontradas no maior santuário de pinturas rupestre brasileira, localizado no município de São Raimundo Nonato, no interior do Piauí, o Parque Nacional da Serra da Capivara que abriga uma das maiores concentrações de pinturas rupestres do mundo, espalhadas em mais de 400 sítios arqueológicos. As linhas nessa imagem é um elemento: a) Decorativo. b) Preciso para definir as formas. c) Descontínuo devido à rapidez de sua execução. d) Simplificado para sintetizar as formas. e) Detalhado e minucioso para explicitar a textura e as formas. 05. As figuras humanas representadas nas superfícies rochosas da imagem da questão anterior, apresentam forma, cor, material e período característicos do: a) período paleolítico superior, com tamanhos naturalistas e traços que revelam beleza e fragilidade do ser humano. b) período paleolítico, com figuras estilizadas em ações individualizadas, coletivas, ritualísticas e de caça. c) período pré-histórico com cabeça sendo representada como prolongamento do pescoço, seios volumosos, ven-

A03  A Arte da Pré-História no Brasil

tre saltado e grandes nádegas. d) período arcaico com figuras rígidas, leves, pequenas e 03. As figuras humanas do período Neolítico tanto na Europa como no Brasil são: a) Estilizadas b) Idealizadas c) Naturalistas d) Realistas

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de pouca cor lembrando cenas de caça, jogos e mitologia grega.


FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A04

A ARTE EGÍPCIA A Arte no Egito foi um período compreendido entre os anos de 2649 a.C. e 1070 a.C., durante 18 dinastias que chegaram ao poder. Uma arte que testemunhou a produção de uma notável variedade de pinturas, esculturas, arquitetura, joalheria, produtos têxteis, cerâmica, paisagismo e vestimentas. Não havia a distinção entre a “arte” e o “artesanato”, divisão que surgiu durante a primeira fase do Renascimento. Tudo no Egito era orientado pela religião, dinastia ou cultura. O estudo da arte do antigo Egito deve partir forçosamente da consideração da organização social e das crenças religiosas, levando em consideração as práticas rituais que asseguravam a felicidade nesta vida e a existência depois da morte. Portanto, acreditavam na vida após a morte.

ASSUNTOS ABORDADOS nn A arte egípcia nn Características do processo de mumificação nn Características do sarcófago nn Características arquitetônicas nn Características da pintura nn Características das ssculturas

Terra das tumbas e dos templos, todos desejavam ressuscitar depois da morte, em um Além que seria uma reprodução da vida na Terra. Por isso deram atenção ao culto de seus defuntos e aos seus deuses, em que grande parte de suas manifestações artísticas eram dedicadas ao triunfo da vida após a morte.

Figura 01 - Ramsés II, no templo de Abu Simbel – 1284 a.C.

Fonte: Marcin Sylwia Ciesielski / Shutterstock.com

Fonte: Nº de identificação da foto: 78911218

A religião, portanto, permeava toda a vida egípcia, interpretando o Universo, justificando a organização social e política, determinando o papel das classes sociais e, consequentemente, orientando toda a produção artística. Por esse motivo, temos uma vasta produção artística e a máxima preocupação com os corpos e seus pertences, originando: mumificação, produção de vasos e sarcófagos, mastabas e pirâmides como túmulos, pinturas e esculturas que registravam a vida do faraó, seus pertences e riquezas e consequentemente a história do próprio Egito.

23


Artes

Características do processo de mumificação nn Extração

do cérebro e vísceras pelas narinas com um gancho de metal.

nn O

restante do corpo ficava imerso em salmoura durante um mês, depois o cadáver era envolto em várias camadas de ataduras.

Figura 02 - Cabeça de Ramsés II, Múmia. Museu do Egito, Cairo.

Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 03 - Múmia do Tutancâmon – morte 1337a.C, achada em 1922 d.C.

Características do sarcófago nn A

múmia era confinada em um caixão (Sarcófago).

nn Poderia

ser de pedra, madeira ou ouro.

nn O clima seco do Egito e a ausência de bactéria nas areias e no ar, provavelmente

A04  A arte egípcia

Fonte: Jose Ignacio Soto / Shutterstock.com

contribuíam para a preservação do corpo tanto quanto o tratamento químico.

Figura 04 - Sarcófago de ouro de Tutancâmon

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Características arquitetônicas nn Tipos nn As

SAIBA MAIS

tumbas, mastabas e pirâmides (construções mortuárias).

A ARTE NO PERÍODO PRÉ-DINÁSTICO

tumbas dos primeiros faraós eram réplicas da casa em que moravam.

nn A

pessoa com poder aquisitivo menor era sepultada em construções retangulares muito simples, as mastabas.

nn Mastabas -

túmulo egípcio que deu origem às pirâmides.

nn Em geral, a câmara mortuária de uma mastaba localiza-se bem abaixo da base. nn A base é ligada à câmara mortuária por meio de uma passagem em forma de poço.

primeiras pirâmides apresentam formato em degraus.

Fonte: wikimedia.commons / Francesco Gasparetti

nn As

Figura 05 - Pirâmide de Djoser, Saqqara - Século XVIII a.C.

A série de novas investigações no Egito, o sítio da antiga Hierakonpolis – do grego polis (cidade) e hierakon (falcão) – tem se mostrado como um dos mais importantes. Chamado pelos egípcios de Nekhen, o local sempre foi associado pelos especialistas ao nascimento da monarquia e do Estado faraônico. Diversos objetos de arte foram prospectados. Dentre eles, os chamados jarros ou vasos de cerâmica vermelha e bordas pretas, descobertos pelo arqueólogo Michael Hoffman, no começo dos anos 1980 e considerada uma das mais belas cerâmicas já produzidas pela civilização egípcia. Os fornos para a sua produção ficam relativamente afastados da cidade. Acredita-se que esse afastamento era proposital para a manutenção do segredo de produção de tais objetos. De espessura muito fina, os potes exigiam técnica e muito cuidado durante a fabricação.

Fonte: wikimedia.commons

Fonte: wikimedia.commons

Figura 07 - Potes núbios de 4 500 - 4 000 a.C. estão entre as peças de cerâmica feitas a mão, mais antigas do Egito.

Figura 06 - Mastaba de Chepseskaf ou Mastabat al-Fir’aun, Saqqara - IV Dinastia. nn Pirâmides nn 52 nn 2

– A grande pirâmide de Quéops, em Gizé.

quilômetros quadrados.

300 000 blocos de calcário, cada um pesando em média 2 ½ toneladas.

de madeira, rampas temporárias de tijolos, pranchas de madeira para levantar as pedras no local de construção.

A04  A arte egípcia

nn Rolos nn 4

000 operários para mover blocos de até 15 toneladas, sem ajuda de animais de tração, roda ou talhadeira.

nn Tempo

estimado de construção 23 anos.

nn Esquema

interno da pirâmide de Quéops. 25


Fonte: wikimedia.commons

Artes

Fonte: CPQ / Shutterstock.com

Fonte: WitR / Shutterstock.com

Duas câmaras mortuárias (3 e 2) inacabadas. Câmara definitiva (1) só é acessível por meio da grande galeria(7) e recebe ventilação por fendas estreitas (8). Depois que o corredor ascendente (6) era selado por dentro com tampões de pedra, os operários saíam da galeria por um túnel (5) e subiam pelo corredor descendente (4).

Figura 08 - Pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, no deserto de Gizé, no Egito – Século XVII – XVI a.C.

Figura 09 - Esfinge que representa o faraó Quéfren, no deserto de Gizé, no Egito – Século XVII a.C.

Características da pintura nn Os

egípcios estabeleceram várias regras.

nn As

primeiras pinturas aparecem em tumbas, pouco depois nas pirâmides no deserto de Gizé. pintura tem uma tendência ao realismo, necessário para assegurar a identidade entre a imagem real e a representação.

A04  A arte egípcia

nn A

nn Pintura

com caráter conservador, hierarquizado e compartimentado da sociedade egípcia.

nn Pintura nn Arte

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dominada pelo culto a tradição.

codificada ao convencional e aos elementos representativos.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

nn As

cores aplicadas tinham regras: o amarelo que lembra o ouro, aparecia em imagens dos faraós e suas respectivas esposas. Cores mais claras nos tons de pele das representações das mulheres e tons mais escuros na representação da pele dos homens.

nn O

tamanho dos representados demonstrava mais poder. O faraó sempre era representado maior na composição.

nn Os hieróglifos (escrita egípcia desenvolvida por sacerdotes, membros da realeza,

altos cargos e principalmente no Egito antigo os escribas que conheciam a arte de ler e escrever), aparecem nos papiros (papel egípcio obtido do cruzamento do caule do papiro), nas paredes dos templos e túmulos, nos obeliscos (pilar de pedra com forma quadrangular alongada e afunilada, terminado com uma ponta piramidal) e adornando vasos. nn Lei da frontalidade – eram representados de frente, enquanto cabeça, pés e as

Fonte: wikimedia.commons

pernas deviam estar de perfil.

Figura 10 - Representação de Osíris, Ísis, Neftis e quatro deusas na provação do juízo (morte) nn A

lei da frontalidade e outras convenções são elementos representativos e aparecem também nos relevos, objetos e joias. trono de Tutancâmon foi feito em madeira esculpida, recoberto com lâmina de ouro e ornamentado com incrustações multicoloridas em vidro, cerâmica esmaltada, prata e pedras.

A04  A arte egípcia

Fonte: Jaroslav Moravcik / Shutterstock.com

nn O

Figura 11 - Trono de Tutancâmon, museu Egípcio- Cairo – Século XIV a.C.

27


Artes

Características das esculturas nn Também

seguiam regras rígidas.

nn Deviam

revelar as características do retratado, como a fisionomia, os traços raciais e a condição social, por meio de convenções determinadas.

nn Imagens

rígidas ou com pouco movimento.

nn Algumas

esculturas estão acopladas à arquitetura.

nn Olhar

fixo.

nn Nas

esculturas eretas geralmente os braços estão ao longo do corpo e uma perna na frente da outra. esculturas que aparecem sentadas, geralmente os braços são pousados sobre as pernas.

Fonte: wikimedia.commons

Fonte: wikimedia.commons / Hedwig Storch

nn Nas

Figura 12 - Ajnatón e Nefertiti, Egito – 1350-1334 a.C.

Figura 13 - Templo de Abul-Simbel, na Baixa Núbia – Século XII a.C.

Sugestão de Estudo nn Período

Arcaico nas Américas entre 3 500 a.C. e 1 800 a.C.. – centro do México até Honduras e Nicarágua entre 1 800 a.C. e 200 d.C.. nn Olmecas – 1 400 a.C. a 400 a.C.. nn Obras: Cabeça Colossal, no México – 850 a.C. e 700 a.C.. nn Teotihuacán – 292 a.C. e 900 d.C.. nn Obras: Máscara de Teotihuacán, México – 300 a.C. e 600 a.C.. nn Arte Mesopotâmica e Persa. nn Reino Babilônico 1 894 a.C. a 1 595 a.C.. nn Reino de Hamurabi 1 792 a.C. a 1 750 a.C.. nn Obras: Serpente – dragão de Marduk, do caminho da procissão, Babilônia – 605 a.C.. nn A Arte da China Antiga entre 2 100 a.C. a 100 a.C.. nn Obras: Mortalha, dinastia Han – 180 a.C.. nn Exército de Terracota, província de Shaanxi China – 210 a.C..

A04  A arte egípcia

nn Mesoamérica

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação 01. (UnB) Observe a imagem, leia o texto e responda aos itens.

Considerando as imagens acima, que representam a máscara do faraó Tutancâmon e o colar de Neferuptah, artefatos do Egito confeccionados em ouro, julgue os itens a seguir. Com o processo de mumificação, ilustrado na figura I acima, visava-se preservar os corpos após a morte. Primeiramente, eram retiradas as vísceras e o cérebro, que se decompunham mais facilmente. Em seguida, o corpo era colocado, por cerca de 40 dias, em um recipiente com natrão, para ser desidratado, o que impedia a ação das enzimas e a existência de bactérias. Após ser desidratado, o corpo era lavado com água do rio Nilo e preenchido, por exemplo, com serragem, sendo aplicados sobre ele não só essências aromáticas, mas também camadas de resinas e óleos de plantas, cuja ação

a) A sofisticação estética e o requintado uso de cores nas coroas e nos colares que adornavam rainhas e princesas do Egito e nas máscaras dos faraós evidenciam a grande habilidade dos ourives e joalheiros na tradição da arte faraónica. C b) A ornamentação utilizada pelos egípcios no corpo humano, suporte físico para autorrepresentações e construção de aparências, expressa as escolhas individuais e reflete características da cultura do Egito e da história específica de cada indivíduo. E 03. (UnB) Observe as imagens:

bactericida e anticéptica evitava a ação de micro-organismos. Finalmente, o corpo era envolvido em faixas de linho branco e colocado em um sarcófago. O natrão, primeiro recurso utilizado nesse processo, é um minério constituído por sais de sódio, principalmente carbonato. Pesquisas recentes revelam, que além de atuar como desidratante, o natrão catalisa a transformação de gorduras do corpo em sais de ácidos graxos e glicerol, os quais são solúveis em água, e, portanto, no processo utilizado pelos egípcios, supostamente, eram dissolvidos quando o corpo era lavado. Essa perda também removia uma fonte de energia vital para bactérias, o que favorecia a preservação de corpos. E. Chemello. In: Química Virtual, nov/2006 (com adaptações).

a) A figura I ilustra uma pintura naturalista, a qual representa fielmente a realidade, como evidencia o emprego da perspectiva no desenho do corpo humano apresentado. E b) Entre os elementos marcantes da pintura ilustrada na figura I, destaca-se o movimento. E 02. (UnB) Observe a imagem, leia o texto e responda aos itens.

No Antigo Egito, grande parte das pinturas adornava as paredes das pirâmides e retratava a vida dos faraós, os feitos dos deuses e a vida após a morte. Considerando a arte no Antigo Egito e os aspectos estéticos apresentados nas figuras acima, julgue os itens que se seguem. a) O desejo de perfeição e o de transfiguração está presente na beleza peculiar à arte do Egito, enfatizada, nas inscrições em relevo nos afrescos e pelos efeitos de luz e sombra. E b) Na representação da figura humana nas pinturas e nos baixos-relevos do Antigo Egito, realçava-se a cabeça dos retratado, de perfil, e os olhos, os braços e o tronco eram

A04  A arte egípcia

de gordura contribuía para a forma encolhida da múmia e

representados em posição frontal. E

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FRENTE

B


Igor Bulgarin / Shutterstock.com

ARTES Por falar nisso Nesta aula você vai conhecer as múltiplas linguagens artísticas e seus respectivos elementos que, juntos, compõem a linguagem da encenação teatral. Você perceberá como o teatro é uma arte que mescla inúmeras técnicas e poéticas e assim você, compreenderá melhor a noção de encenação, de espetáculo, do papel do diretor e da literatura dramática. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

B01 Elementos da encenação...............................................................32 B02 Elementos da encenação − caracterização da personagem.........38


FRENTE

B

ARTES

MÓDULO B01

ASSUNTOS ABORDADOS nn Elementos da encenação nn Direção / encenação nn Literatura e dramaturgia

ELEMENTOS DA ENCENAÇÃO Considera-se como elementos da linguagem teatral todas as linguagens que interagem com o processo criativo da linguagem cênica. A linguagem teatral é de natureza híbrida e agrega no seu fazer diversas linguagens, desde as artes visuais, passando pela arquitetura, moda, música, literatura, cinema, fotografia, entre outras. As artes visuais e a arquitetura colaboram na elaboração dos cenários, adereços e objetos de acordo com critérios estéticos e de funcionalidade. Para favorecer a caracterização das personagens, a linguagem teatral se apoia nas artes visuais e nos profissionais de moda para a elaboração dos figurinos, acessórios e adereços, além da maquiagem e dos cabeleireiros. Nesse processo, conta-se ainda com as máscaras - desde a menor máscara, como o nariz vermelho dos palhaços; a meia máscara da CommediaDell’arte e mesmo as máscaras corporais. No século XIX, a descoberta da eletricidade permitiu grande avanço na iluminação. Hoje se assiste a um avanço vertiginoso da iluminação eletrônica e dos sistemas digitais, que controlam e alteram as cores, as formas, os planos, os ângulos - tudo em tempo real, e oferecem ainda um grande leque de possibilidades para o jogo das luzes. A iluminação acabou por permitir maior exploração do palco e transformou toda a noção de cenografia, interpretação e direção, entre outras mudanças.

Fonte: ravipat / Shutterstock.com

Figura 01 - Teatro de Bonecos.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

A música é uma arte aliada à arte teatral desde o seu nascedouro. Quem nasceu primeiro? A música, o teatro ou a dança? Para entender essa questão vamos enumerar as linguagens da arte segundo Ricciotto Canudo e debater essa ordem. 1) Música (som) 2) Dança (movimento) 3) Pintura (cor) 4) Escultura (volume) 5) Teatro (re-presente-ação) 6) Literatura (palavra) 7) Cinema 8) Fotografia (imagem) 9) Histórias em quadrinhos (cor, palavra, imagem) 10) Jogos eletrônicos 11) Arte digital Fato é que a música e a dança são linguagens utilizadas no fazer teatral desde o seu nascimento, e além da música e da dança, somam-se ainda as outras linguagens, tais como: a pintura, a escultura e a literatura, que garantem juntas, a peculiaridade da linguagem teatral para espelhar a grande aventura humana. Enfim, pode-se entender como elementos da encenação a própria forma de encenar de um determinado diretor ou encenador. Outra noção é aquela determinada pela soma dos elementos que emprestam sua linguagem, tais como a literatura e a dramaturgia, a interpretação, a cenografia, a iluminação, a sonoplastia, o audiovisual, o tipo de palco.

Figura 02 - Dança contemporânea.

Direção / Encenação A encenação (ato de transformar uma peça em um espetáculo) é responsabilidade do diretor ou do encenador. Atualmente - para a condução de um espetáculo -é cada vez mais comum esse processo de direcionamento ser discutido por toda a equipe, principalmente quando se trata de um processo colaborativo ou de uma construção coletiva. A encenação é a maneira como a obra será colocada em cena a partir das deliberações e conceitos estéticos adotados. O encenador/diretor deve conduzir o processo criativo visando à harmonia e o diálogo entre os profissionais envolvidos e estimular o trabalho da equipe na consecução dos objetivos estabelecidos para a montagem da obra. As funções do diretor podem variar de processo para processo, sendo as mais recorrentes: nn Analisar e contextualizar a peça conferindo a validade

e viabilidade da montagem; nn Dirigir os ensaios com o elenco; nn Desenhar as cenas, ou seja, a movimentação ou coreografia dos atores; nn Dialogar e conceber conjuntamente com os profissionais responsáveis pela linguagem: a cenografia, a iluminação, os figurinos, a música, enfim articular a harmonia entre todos os elementos da encenação; nn Elaborar o discurso cênico; nn Estabelecer cronograma entre o processo criativo e o processo de produção da peça.

Literatura e Dramaturgia Quando se trata de montagem de uma peça literária, é importante que o diretor, ou o grupo de artistas, analisem e contextualizem a obra teatral. É importante saber em que época e em que contexto foi escrita a peça e verificar se tal peça ainda tem validade e vigor para uma montagem nesse momento. Nesse caso, um dos fundamentos para verificação é compreender se o argumento, o enredo ou a história têm ressonância com o tempo presente. 33

B01  Elementos da encenação

No início do século XX, a literatura foi um elemento muito questionado pelos artistas. Vale frisar que a literatura reinou soberana como principal elemento teatral durante largo tempo. Para muitos, o texto literário ainda é o principal meio de comunicação entre atores e plateia. No entanto, é necessário considerar que, na contemporaneidade, os atores têm à sua disposição outros recursos além da palavra e da sua voz. Hoje, um corpo no palco é explorado a partir de vários aspectos: ele é capaz de transmitir mensagens por meio de olhares, gestos, movimentos, é um corpo plástico e político.

Fonte: wikimedia.commons / Fábio Pinheiro

O iluminador agora pode aprofundar o desenho de luz com um número de variações e recursos cada vez mais extenso. Inclusive, tem sido comum o uso de projetores de imagem e leds pelos iluminadores nos diversos espetáculos vistos nos palcos pelo Brasil afora. Vale lembrar, que essa referência estética – audiovisual - está em sintonia com o dia a dia do público que consome material dramático via celular, tablet, computador.


Artes

SAIBA MAIS A. VEINSTEIN propõe duas definições de encenação, segundo o ponto de vista do grande público e aquele dos especialistas: “Em uma ampla acepção, o termo encenação designa o conjunto dos meios de interpretação cênica: cenário, iluminação, música e atuação [...]. Numa acepção estreita, o termo encenação designa a atividade que consiste no arranjo, num certo tempo e num certo espaço de atuação, dos diferentes elementos de interpretação cênica de uma obra dramática” (1955: 7). Deixamos de lados as razões históricas do surgimento da encenação, no final do século XIX, sem menosprezar sua importância. Seria fácil mostrar a revolução técnica da cena, entre 1880 e 1900, principalmente a mecanização do palco e o aperfeiçoamento da iluminação elétrica. A istose acrescenta a crise do drama, assim como o desmoronamento da dramaturgia clássica e do diálogo (SZONDI, 1956).

Exemplo: É difícil conferir validade a uma obra que atesta a paternidade única e exclusivamente a palavra da mulher, restando ao homem a confiança ou não da sua paternidade. Hoje, temos o exame de DNA para acabar com a dúvida. Normalmente, uma peça dramática tem um problema dramático em que se espera, no final, a resolução desse problema, passando pelo desenvolvimento do conflito até a chegada ao clímax, ponto de maior tensão, para logo em seguida ocorrer o desenlace e o desfecho. Todo o texto é teatralizável, a partir do momento em que o usam em cena. O que até o século XX passava pela marca do dramático – diálogos, conflito e situação dramática, noção de personagem – não é mais condição sinequa non do texto destinado à cena ou nela usado. PAVIS, Patrice Dicionário de Teatro, p. 405

No entanto, acontece na dramaturgia contemporânea uma diferença entre o texto literário (escrito) e o texto cênico (encenação).Na dramaturgia contemporânea a valorização dos outros elementos da cena e o esvaziamento da literatura orienta e estabelece os nortes para a elaboração cênica. Em um primeiro momento, era comum partir da obra literária como uma semente que continha todas as potências do espetáculo, com a consequente valorização dos fundamentos literários que determinavam a montagem da peça. Em momento posterior, todos os elementos da encenação teatral passaram a ser explorados de modo mais efetivo e a literatura dramática passa a ser mais um dentre todos os elementos. Hoje, ao contrário, o texto é um convite a buscar seus inúmeros significados, até mesmo suas contradições; ele se presta a novas interpretações.(...) Sua significação deve ser buscado tanto em sua forma e na estrutura dramatúrgica e cênica quanto no ou nos sentidos do texto. Torna-se o elemento fundamental da representação teatral: a mediação necessária entre um texto e um espetáculo. [...] Texto e espetáculo se condicionam mutuamente; um expressa o outro (DORT, 1972: 55-56). PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro, p. 125

PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro, pp. 122 e 123 Fonte: wikimedia.commons

B01  Elementos da encenação

Figura 03 - Teatro de animação - Objetos.

Texto Principal

Texto secundário

Divisão do texto dramático

As falas dos personagens constroem a história

Constitui-se de rubricas e indicações cênicas

Atos: são partes do texto dramático; ocorrem quando acontece mudança de cenário

Predomina o discurso direto

Tem por finalidade dar informações a respeito de cenário, caracterização de personagens, indicação de gestos, movimentos e atitudes das personagens

Cenas: são divisões do ato, determinadas pela entrada ou saída de personagem

http://naveliteratura.blogspot.com.br/2011/03/texto-literario-e-nao-literario.html

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Foco narrativo

nn 1ª Pessoa (EU) Narrador-personagem nn 3ª Pessoa (ELE) Narrador observador/Onisciente nn Planas x esféricas nn Protagonista x Antagonista

Personagens

nn Principal x secundária nn Caricatural nn Cronológico nn Histórico

Tempo

nn Psicológico nn Mítico nn Geográfico nn Sociocultural

Espaço

nn Psicológico nn Mítico http://naveliteratura.blogspot.com.br/2011/03/texto-literario-e-nao-literario.html

Exercícios de Fixação

http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=969&Itemid=2

01. A encenação teatral é um termo relativamente moderno que passou a ser utilizado a partir do final do século XIX. Nesse sentido a encenação teatral a) conta com um cenógrafo, único responsável pela organização de todos os elementos da linguagem teatral. b) é complexa porque as artes cênicas tem como materialidade e fonte para a sua expressão o ser humano.

c) moderna só leva em conta os caracteres físicos dos atores para a composição psicológica das personagens. d) estrutura-se a partir do texto escrito para posterior aplicação no palco direcionada ao olhar atento da plateia. e) utiliza indumentária, maquiagem ou máscaras para a caracterização de atores e conta ainda com adereços e objetos. 02. A partir da leitura do texto acima marque a alternativa correta. a) A encenação teatral é complexa porque as artes cênicas têm como natureza a variedade artística e a soma de inúmeros recursos. Vale lembrar que o teatro, por ser um espelho, pode nos ajudar a compreender uma determinada sociedade. b) O autor caracteriza seu personagem a partir da utilização de indumentária, maquiagem ou máscaras e conta ainda com a possibilidade de usar adereços e objetos. Outros recursos de caracterização são os cabelos, bigodes e perucas. c) O diretor, de formasemelhante ao encenador, é o responsável pela organização de todas as demandas de criação, produção e logística para a montagem teatral, desde a ideia inicial, a negociação com os direitos autorais até a bilheteria. d) O texto literário (escrito) é fundamental para a realização cênica e confirma a validade da tríade essencial, que determina que para acontecer uma peça énecessário e fundamental a presença da plateia, dos atores e do texto escrito. e) Para a escolha dos atores e suas correspondentes personagens, o diretor só leva em conta os caracteres físicos dos atores, não levando em conta as suas características psicológicas ou as suas habilidades e competências.

B01  Elementos da encenação

Texto para a questão 01 e 02 A encenação consiste numa apresentação, numa leitura possível entre outras, num ponto de vista particular, neste caso do encenador, não negando, mas participando da multiplicidade do sentido. É uma arte complexa e difícil porque trabalha com os homens e as coisas (coletiva ou isoladamente), evocando tanto o aspecto ou os caracteres físicos dos seus variados elementos, como o seu papel moral, o seu toque pessoal e especial no conjunto definido e harmonioso da ação. Nesta perspectiva, esta arte deve prolongar-se até às relações mútuas e recíprocas dos homens e das coisas nos variadíssimos domínios arqueológico, histórico, geográfico e episódico. Por outro lado, ao transformar em espetáculo um texto escrito, a encenação transpõe todo um mundo de imagens conceituais para recrear forma, movimento, som e cor. Nas palavras de António Pedro, a encenação vai “valorizar o verbo e corporizá-lo na carne das personagens e compor o seu agir” (Pequeno Tratado de Encenação, Confluência, Porto, 1962, p. 16).

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Artes

03. (Enem) Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a representação. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada à apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre si. O texto dramático é complementado pela atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à unidade do efeito e segundo uma ordem composta de exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio da representação. COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973 (adaptado).

Considerando o texto acima que descreve o que é gênero dramático pode-se afirmar que para a criação de um espetáculo teatral é

B01  Elementos da encenação

a) necessário partir de um conto ou romance assim se assegura a exposição de motivos, conflito, complicação, clímax e desfecho da peça. b) necessário que a criação do projeto de cenário desenvolvido pelo cenógrafo leve em conta a situação dramática e o ambiente onde transcorre a cena. c) preciso elaborar um texto cênico e para isso não se deve utilizar o texto literário, pois este apresenta apenas o papel dramático. d) preciso utilizar o corpo e a voz do ator porque só assim é possível criar o texto literário. e) necessário que a iluminação, a sonoplastia e os figurinos completem o sentido da cenografia. 04. O teatro, longe de ser apenas veículo da peça, instrumento a serviço do autor e da literatura, é uma arte de próprio direito, em função da qual é escrita a peça. Esta, em vez de servir-se do teatro, é ao contrário material dele. O teatro a incorpora como um dos seus elementos. O teatro, portanto, não é literatura, nem veículo dela. É uma arte diversa da literatura. O texto, a peça, literatura enquanto meramente declamados, tornam-se teatro no momento em que são representados, no momento, portanto, em que os declamadores, através da metamorfose, se transformam em personagens. A base do teatro é a fusão do ator com a personagem, a identificação de um eu com outro eu - fato que marca a passagem de uma arte puramente temporal e auditiva (literatura) ao domínio de uma arte espaço-temporal ou audiovisual. O status da palavra modifica-se radicalmente. Na literatura são as palavras que medeiam o mundo imaginário. No teatro são os atores/personagens (seres imaginários) que medeiam apalavra. Na literatura a palavra é a fonte do homem (das persona36

gens). No teatro o homem é a fonte da palavra. ROSENFELD, Anatol. A Essência do Teatro.

A partir da leitura do texto acima marque a alternativa correta. a) o espectador do teatro vê em cena a alteridade do interprete que se transforma em personagem. b) a palavra é o principal elemento teatral que se materializa na interpretação do ator ou da atriz. c) a literatura é, entre os elementos do teatro, aquele, que necessariamente, antecede a cena. d) a literatura, a partir do século XX, foi considerado como um elemento secundário no fazer cênico. e) no teatro e na literatura não há presença de espaço dramático, pois a obra não pode ser alterada. 05. Um espaço, um homem que ocupa este espaço, outro homem que o observa. Entre ambos, a consciência de uma cumplicidade, que os instantes seguintes poderão até atenuar, fazer esquecer, talvez acentuar: o primeiro, sozinho ou acompanhado, mostra um personagem e um comportamento deste personagem numa determinada situação, através de palavras ou gestos, talvez através da imobilidade e do silêncio, enquanto o segundo, sozinho ou acompanhado, sabe que tem diante de si uma reprodução, falsa ou fiel, improvisada ou previamente ensaiada, de acontecimentos que imitam ou reconstituem imagens da fantasia ou da realidade. O primeiro, ou os primeiros, são movidos por um impulso criativo que incorpora emoção e razão num ato de desenfreada ou controlada entrega, celebrando um ritual quase místico de epidérmica necessidade, ou exercendo a rigorosa tarefa de uma profissão complexa e densa. Enquanto o segundo, ou os segundos, assistem passiva ou ativamente, entorpecidos por uma magia que os envolve numa cerimônia que faz fugir da própria realidade para o mergulho num universo de encantamento ou mentira ou ilusão, ou, ao contrário, aprofundam o conhecimento lúcido e crítico da própria realidade que os cerca, engravidando-os de um prazer capaz de torná-los mais conscientes e mais vigorosos enquanto homens racionais, dotados da possibilidade de agir e dominar as forças da natureza e da sociedade, transformando as relações entre os homens na necessária urgência de construir democracia e liberdade. PEIXOTO, Fernando. O que é Teatro?

A partir do texto acima e do seu conhecimento sobre o trabalho de interpretação escolha a alternativa correta: a) O ator ou a atriz, necessariamente, deve apresentar um personagem histórico e psicológico. b) A plateiae o espectador sempre participampassivamente da ação por meio da magia e da ilusão. c) O ator para desempenhar seu papel não precisa observar o público, apenas ser observado. d) Somente o ator precisa acreditar na verossimilhança, o público não precisa acreditar na ação. e) O ator precisa contar com seu lado racional e emocional, além de um bom preparo psicofísico.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios Complementares

NORA- Se você quer mesmo me dar alguma coisa, você podia... podia... HELMER- E então? Diga duma vez. NORA- (Rápido.) Podia me dar dinheiro, Torvald. Só o que você puder. Assim eu compro alguma coisa para mim qualquer dia desses. HELMER- Mas, Nora... NORA- Ah, sim, faça isso por mim, meu querido Torvald, eu peço, suplico. Faço um embrulho com um lindo papel dourado, para pendurar na árvore de Natal. Não vai ser divertido? HELMER- Nem cotovia, nem esquilo, qual é o pássaro que mais desperdiça...? NORA- Ah, Torvald, aí vou ter tempo para pensar e escolher o que mais preciso. Não acha melhor assim? Não acha? HELMER- (Sorrindo.) Pode ser. Isto é, se você realmente guardar o dinheiro que estou dando e realmente comprar alguma coisa para você. Mas você acaba gastando na casa e em coisas inúteis. E depois eu tenho que dar de novo mais dinheiro. NORA- Ah, Torvald, mas... HELMER- Não adianta negar, minha menina que gosta de gastar dinheiro. É impressionante como fica caro para um homem manter... um passarinho que gasta tanto. NORA- Não diga isso, Torvald. Eu economizo tudo que posso. HELMER- (Rindo.) É verdade. Tudo o que pode. Mas não pode muito. NORA- (Sorrindo.) Se você soubesse, Torvald, as despesas que nós, cotovias e esquilinhos, temos. HELMER- Você é engraçada. Igual a seu pai. Faz tudo para arranjar dinheiro, mas assim que consegue, parece que o dinheiro se evapora nas suas mãos. Nunca sabe o que faz com ele. Bom, tenho que lhe aceitar como você é. Está no seu sangue. Sim, sim, sim... essas coisas são herdadas. NORA- Bem que eu gostaria de ter herdado as qualidades do meu papai. HELMER- E eu não queria que fosse diferente do que é, minha doce cotovia. Mas olhando bem, você parece que... como eu posso dizer... tem um jeito... de quem fez alguma coisa que não devia... NORA- Eu tenho? HELMER- Tem. Olhe nos meus olhos, será que minha menina gulosa fez alguma travessura na cidade? NORA- Não, como você pode pensar uma coisa dessas? HELMER- A minha gulosa não deu mesmo uma passadinha na confeitaria? NORA- Não, juro que não, Torvald. HELMER- Não deu uma lambidinha num pote de geleia? NORA- De jeito nenhum. Henrik Ibsen - Casa de Bonecas

A partir da leitura do trecho da peça Casa de Bonecas de Henrik Ibsen julgue os itens abaixo como certo ou errado.

01. A independência financeira da personagem Nora Helmer era uma das formas de controle exercida pela personagem TorvaldHelmer. E 02. A peça retrata o ambiente familiar, um dos temas preferidos dos poetas realistas. C 03. Por meio da linguagem adotada por Torvald nota-se a conotação infantil conferida à personagem Nora. C 04. Percebe-se na obra Casa de Bonecas a influência dasciências naturais. Isto é verificável por meio do diálogo sobre herança genética. C Texto para as questões de 05 a 07 Pois, no Panorama do Teatro Brasileiro está sintetizado, por assim dizer, o esboço de todo esse programa de revisão e fundamentação de nossa herança dramatúrgica e cênica. Não apenas como exposição de concepções e problemas gerais sobre o tema, mas principalmente como estudo sistemático das peças e montagens, dos autores e atores, no seu quadro estético-histórico. Iniciando pelo teatro como instrumento de catequese (...) os quatro séculos assim focalizados emergem dos bastidores verdadeiramente sob nova luz teatral. Trata-se, até certo ponto, de uma “revelação”, não de fatos sensacionais, porém de relações até agora mal vislumbradas, da intimidade estrutural dos eventos cênicos, de suas articulações sociais e de suas motivações artísticas. J. Guinsburg em Panorama do Teatro Brasileiro de Sábato Magaldi

Artur Azevedo reagiu contra a bambochata e a paródia que invadiam o palco, em várias comédias de ambição literária, mas talvez deixou de mais significativo duas burletas – a capital federal e o mambembe – nas quais deu categoria ao gênero. Sábato Magaldi, Panorama do Teatro Brasileiro, p.153

A partir desses textos, julgue os itens que se seguem como certo ou errado: 05. A opereta, o cancã, a ópera-bufa – tudo o que se fazia na vida noturna parisiense – nacionalizou-se de imediato num Rio de Janeiro ávido de alegria e boemia, que abandonava os costumes provincianos. C 06. No teatro de revista os fatos são levemente alinhavados por um enredo de comédia. A música, elemento fundamental e grande ponto de sustentação desse tipo de espetáculo, é sempre alegre, graciosa e espirituosa, utiliza estribilhos jocosos e árias risonhas e brejeiras. C

B01  Elementos da encenação

Texto para as questões de 01 a 04

07. Sem perder seu espaço junto ao público, a encenação burlesca permaneceu em diversas manifestações sociais: no carnaval, nas festas rurais, pastoris, jogos e rituais religiosos. C

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FRENTE

B

ARTES

MÓDULO B02

ASSUNTOS ABORDADOS nn Elementos da encenação -

caracterização da personagem nn O ator e seus elementos

ELEMENTOS DA ENCENAÇÃO CARACTERIZAÇÃO DA PERSONAGEM A caracterização de personagem é largamente utilizada nas artes dramáticas, seja no teatro, televisão, cinema ou na internet. Para a devida caracterização da personagem é necessário definir, os traços físicos, psíquicos, sociais, culturais e do ambiente. Entre as informações de caracterização física é fundamental representar a idade, o peso, a altura, a cor do cabelo, cor dos olhos e da pele, entre outras características. Importa ainda saber a classe social, o gênero, a profissão da personagem. Como é a natureza emocional da personagem, ele é corajoso, destemido, tímido, omisso, agressivo, amável. Complementa ainda a caracterização da personagem o ambiente onde ele vive, sendo necessário precisar a época, a estação do ano, a hora do dia, o local etc.

O ator e seus elementos Para a devida caracterização das personagens, o ator dispõe de uma série de elementos, além do seu trabalho de interpretação. O ator se utilizar esses elementos para caracterizar a personagem e simultaneamente despersonificar a si mesmo. nn Figurino

(indumentária, costumes, vestuário, roupa, moda)

nn Maquiagem

Fonte: Dreamer4787 / Shutterstock.com

nn Adereços

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e máscaras

e objetos


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Interpretação A interpretação é a arte de atuar e jogar. Assim, o ator utiliza todos os seus recursos físicos, vocais, emocionais. O ator pode ainda contar com uma série de objetos para a atuação, tais como bonecos e adereços. A interpretação mais frequente é aquela que parte de uma peça literária criada pelo autor, dispondo de algumas técnicas específicas para essa atuação. Pode se partir também de outros recursos, tais como acontece nos jogos improvisacionais, utilizando, nesses casos, outras técnicas de construção e elaboração. Um ator pode ainda atuar a partir de estímulos visuais e sonoros. Ele pode criar a partir de um sonho, de uma matéria de jornal, um diálogo, da interação com a plateia, de um modelo de ação, etc. Atualmente, percebemos três grandes formas de atuação: – trabalha a partir da construção e incorporação de personagens por meio de um processo imitativo, sendo essa a mais comum e mais conhecida técnica de interpretação; nn segunda – foi desenvolvida por Bertolt Brecht e está mais associada ao trabalho do ator por meio do distanciamento da personagem, quando o ator não deve incorporar o seu personagem e sim ‘a certa distância’, mantendo sua própria integridade. nn terceira – é mais recente e cada vez mais presente. O ator representa a si mesmo e não há incorporação de personagens. Linha de Interpretação

Ator

Personagem

Imitação Aristóteles Constantin Stanislavski

O ator não deve ser visível. Devem-se apagar os traços da sua personalidade.

Devem ser visíveis apenas os traços das características física e psíquica da personagem.

Distanciamento Bertolt Brecht

Devem ser visíveis os traços das características física e psíquica do ator. O intérprete não deixa de ser ele mesmo durante a ação.

Devem ser visíveis os traços das características física e psíquica da personagem. No entanto, o ator evita incorporar o personagem na sua totalidade.

Si mesmo Sem papel Não representacional

Devem ser visíveis os traços das características física e psíquica do ator. É o intérprete que desenvolve a cena.

Não existe necessidade de construir a imagem da personagem.

B02  Elementos da encenação − caracterização da personagem

nn primeira

Em todas essas formas precisamos contar com um trabalho de interpretação pautado na sensibilidade e inteligência do ator, na sua imaginação e na sua capacidade de emocionar e estimular o senso crítico e afetivo da plateia. A interpretação do ator varia de um jogo regrado e previsto pelo autor e pelo encenador a uma transposição pessoal da obra, uma recriação total pelo ator, a partir dos materiais à sua disposição. No primeiro caso, a interpretação tende a apagar-se a si mesma para fazer com que apareçam as intenções de um autor ou de um realizador; o ator não assume seu papel de utilizador e de transformador da mensagem a ser transmitida: ele não passa de uma marionete. No segundo caso, ao contrário, a interpretação torna-se o local onde se fabrica inteiramente a significação, onde os signos são produzidos não como consequência de um sistema preexistente, mas como estruturação e produção desse sistema. Desde o advento da encenação que se recusa a ser subjugada por um texto onipotente e congelado num único significado, a interpretação não é mais uma linguagem secundária – ela é a própria matéria do espetáculo. PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro, pp. 213 e 214

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Artes

Figurino Conjunto de roupas e acessórios produzidos para o uso dos atores de teatro, cinema, vídeo, publicidade e televisão. O objetivo é caracterizar as personagens da fábula, informar e sugerir o estado emocional, o perfil psíquico e a classe social das personagens, a época (passado, presente, futuro, atemporal, estações, manhã, tarde, noite) e o local (mar, terra, deserto, lua, floresta, dentro de uma casa, rua, dentro de uma mente) onde se passam a cena ou a situação. Às vezes, pode ocorrer da peça não estabelecer tempo e espaço para a ação, mas mesmo assim, podemos conceber os figurinos e adereços. O figurino- do mesmo modo que outros elementos– pode alinhar se com a peça de modo sincrônico ou diacrônico. Na encenação contemporânea, o figurino tem papel cada vez mais importante e variado, tornando-se verdadeiramente a ‘segunda pelo do ator’ de que falava Tairov, no começo do século (XX). O fato é que o figurino, sempre presente no ato teatral como signo da personagem e do disfarce, contentou-se por muito tempo com o simples papel de caracterizador encarregado de vestir o ator de acordo com a verossimilhança de uma condição ou de uma situação. Hoje, na representação, o figurino conquista um lugar muito mais ambicioso; multiplica suas funções e se integra ao trabalho de conjunto em cima dos significantes cênicos. Desde que aparece em cena, a vestimenta converte-se em figurino de teatro: põe-se a serviço de efeitos de amplificação, de simplificação, de abstração e de legibilidade.

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Fonte: wikimedia.commons

Fonte: wikimedia.commons

Fonte: wikimedia.commons

B02  Elementos da encenação − caracterização da personagem

Fonte: wikimedia.commons

PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro, p. 168


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Acessórios, adereços e objetos de figurinos e de cenografia São objetos de cena que servem como suporte para a caracterização da personagem e da situação; servem ainda para o desenvolvimento do trabalho do ator durante as apresentações. São objetos que permitem ao ator expandir sua atuação e amplificar as possibilidades de leituras dos espectadores. É bom entender que, às vezes, algumas montagens colocam objetos apenas com função decorativa, mas no teatro contemporâneo os adereços têm como função dilatar os significados possíveis. Uma tipologia dos objetos cênicos estabelecida de acordo com sua forma, seus materiais ou seu grau de realismo faria pouco sentido, pois o objeto varia em função da dramaturgia empregada e ele se integra – se for bem utilizado – ao espetáculo do qual é o suporte visual e um dos significantes essenciais. PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro, p. 265.

Maquiagem e Máscaras A maquiagem e as máscaras são elementos bem antigos, pode-se dizer que são elementos originários do teatro. A maquiagem consiste na aplicação de ingrediente de pinturas com efeito cosmético sobre a pele e cabelos. A maquiagem, da mesma forma que as máscaras, eram recursos presente nos rituais de celebração que deram origem ao teatro. Pode-se maquiar, ou utilizar uma máscara, apenas para o rosto, o que é bem comum no teatro, mas pode-se também fazer maquiagem/máscara corporal. A pintura do rosto e do corpo tem como principais funções o embelezamento, a codificação e caracterização das personagens e a despersonificação do ator. Pode, no entanto, reforçar ou minimizar algumas expressões, envelhecer ou rejuvenescer, pode distanciar ou aproximar a personagem do espectador.

Fonte: wikimedia.commons

B02  Elementos da encenação − caracterização da personagem

Fonte: wikimedia.commons

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Artes

Exercícios de Fixação Texto para as questões de 01 a 03 CARACTERIZAÇÃO - Técnica literária ou teatral utilizada para fornecer informações sobre uma personagem ou uma situação. A caracterização das personagens é uma das principais tarefas do dramaturgo. Ela consiste em fornecer ao espectador os meios para ver e/ou imaginar o universo dramático, portanto para recriar um efeito do real que prepara a credibilidade e a verossimilhança da personagem e de suas aventuras. PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro, p. 38

LIMITES DO FIGURINO – Não é tão fácil dizer onde começa a roupa, e tampouco é simples distinguir o figurino de conjuntos mais localizados como as máscaras, as perucas, os postiços, as jóias, os acessórios ou a maquiagem. É uma operação delicada extrair o figurino do conjunto do ator em seu meio. O que ganhamos então na precisão das análises das roupas, arriscamos perdê-lo na avaliação de seu impacto sobre o resto da representação. Na medida que o figurino constitui muitas vezes o primeiro contato, e a primeira impressão, do espectador do ator e sua personagem, é por ele que poderíamos começar a descrição. PAVIS, Patrice. A Análise dos Espetáculos, p. 163

A partir do texto acima, defina o conceito, a importância e a função dos elementos da encenação que auxiliam na caracterização e construção do personagem. 01. Figurino: 02. Máscaras e Maquiagem: 03. Adereços e Objetos:

Matteo Bonfitto. O Ator Compositor.

A partir dos textos acima, julgue a opção correta: a) No teatro contemporâneo a utilização do corpo como instrumento expressivo é cada vez menos recorrente. b) Os condicionamentos culturais exercem poucaopressão sobre o ator e não altera a estrutura do seu corpo. c) O talento é algo que é nato e, portanto não pode ser desenvolvido e elaborado em sala de treinamentoe ensaio. d) Para apropriar-se do trabalho do ator é necessário compreendê-lo no seu contexto e como um objeto histórico. e) Para realizar uma ação, um ator escolhe necessariamente um tipo de movimento que seja literalmente idêntico à ação. 05. Deixemos de lado as razões históricas do surgimento da encenação, no final do século XIX, sem menosprezar sua importância. Seria fácil mostrar a revolução técnica da cena, entre 1880 e 1900, principalmente a mecanização do palco e o aperfeiçoamento da iluminação elétrica. A isto se acrescentam a crise do drama, assim como o desmoronamento da dramaturgia clássica e do diálogo. PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro, pp. 122 e 123.

01, 02 e 03 – Os figurinos, máscaras, maquiagem, adereços e objetos são os elementos responsáveis por conferir a caracterização da personagem. Ajuda na composição do mesmo ao definir status, classe social, profissão, sexo, gênero, idade,época do ano, local,entre outros.

04. Texto 1 Compreender a produção teatral como pesquisa e a pesquisa como prática do teatro é, sem dúvida, uma forma eficaz de apropriar-se do trabalho do ator para entendê-lo como composição inteligente, que transforma materiais e mentalidades ao produzir sensibilização e ação (...) como um músico ou um pintor, o ator é um compositor que sistematiza procedimentos quando planeja, combina, constrói e executa sua partitura de ações.

B02  Elementos da encenação − caracterização da personagem

Arte-fato, em que as conexões entre dimensão interior e exterior, entre ética e percepção e a importância do ritmo fornecem instrumentos que contribuem para o surgimento de sistemas e teorias, essenciais à construção de um ator mais consciente dos elementos e da complexidade de seu ofício.

Silvia Fernandes. O Ator Compositor.

Texto 2 A composição. A construção de um novo olhar sobre o trabalho do ator: Não mais o olhar que reforça o culto à personalidade ou “os mistérios” ligados à performance dos grandes atores, mas um olhar que vê o trabalho do ator e a expressão humana como “objeto de conhecimento” como

O trabalho do ator foi alterado de maneira substancial a partir do uso da iluminação elétrica por causa a) da ambígua relaçãocom o espectador. b) da ampliação do uso do espaço cênico. c) da redução de técnicas representacionais. d) da separação entre o palco e a plateia. e) do uso da quarta parede naturalista. 06. A ação cênica é o movimento da alma para o corpo, do centro para a periferia, do interno para o externo, da coisa que o ator sente para a sua forma física. A ação exterior em cena, quando não é inspirada, justificada, convocada pela atividade interior, só poderá entreter os olhos e os ouvidos. Não penetrará o coração, não terá importância para a vida de um espírito humano em um papel. STANISLAVSKI, Constantin, A criação de um papel. p. 63

O fragmento acima do mestre Constantin Stanislavski está associado a uma das três grandes tendências do trabalho de interpretação dos séculos XX e XXI. Identifique qual é a linha de Stanislavski e depois descreva as principais diferenças entre esta linha e asoutras duas linhas de interpretação. Imitativa. Nesta linha o ator não precisa incorporar o personagem. Ele entra em cena com a sua própria personalidade. Si mesmo.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 01. O ator deve caracterizar a personagem de modo mais fidedigno possível, ao assimilar a classe social, época do ano, sexo, idade, local, entre outros aspectos da personagem. O grande mérito desta técnica é espelhar a realidade.

Exercícios Complementares 01. MIMESE – A mimese é a imitação ou a representação de uma coisa. Na origem, mimese era a imitação de uma pessoa por meios físicos e linguísticos, porém esta “pessoa” podia ser uma coisa, uma idéia, um herói ou um deus. Na Poética de Aristóteles, a produção artística é definida como imitação da ação.

Identifique algumas características da forma de interpretação distanciada. Texto para as questões de 07 a 09 Texto 1 O corpo humano não é naturalmente teatral. Ele precisa aprender a movimentar-se, e mesmo a estar no espaço artificial que é o palco. É necessário tomar consciência de todos os parâmetros, como o espaço da representação, a posição dos outros atores, a cenografia, o figurino, as luzes, etc.

PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. p. 241

A partir do texto acima: Escreva sobre a importância da forma de interpretação stanislavskiana (mimética).

PAS/1996, com modificações.

Texto 2 O expressionismo alemão – o teatro de vanguarda mais significativo da época – partilhava com o futurismo, o surrealismo e o dadaísmo uma rejeição tanto donaturalismo, com sua fidelidade à realidade superficial e seu interesse nas questões sociais, quanto do simbolismo, com sua adoração da beleza e das visões de paraísos etéreos. Os novos movimentos exaltavam a subjetividade e o vitalismo e favoreciam a abstração, a distorção e o excesso lírico sobre a mimese e a beleza formal. Inimigos comuns e certas preocupações compartidas permitiam certa fertilização cruzada entre esses movimentos contemporâneos, mas não obstante diferenças significativas os dividiam.

Texto para a questão 02 a 03 Tudo é signo na representação teatral. Uma coluna de papelão significa que a cena se desenrola diante de um palácio. A luz do projetor destaca um trono e eis-nos no interior do palácio. A coroa sobre a cabeça do ator é o signo de realeza, enquanto que as rugas e a brancura de seu rosto, obtidos graças à maquilagem, e sua caminhada arrastada, são signos de velhice. Enfim, o galope de cavalos intensificando-se nos bastidores é o signo de que um viajante se aproxima. Disponível em: http://lionel-fischer.blogspot.com.br/2010/01/ os-signos-no-teatro-introducao.html 28/fev/2017

A partir do texto acima, descreva os conceitos dos ELEMEN-

Marvin Carlson, Teorias do Teatro, p. 335

TOS DE ENCENAÇÃO TEATRAL: A direção é responsável pela elaboração do discurso cênico e para isso con-

02. Direção ta com uma série de profissionais que coletivamente criam a obra. O dire-

tor escolhe a linha estética que seguirá conduz toda a equipe para alcançar a unidade, conduz ainda os ensaios para alcançar o objetivo geral da peça.

Com o auxílio dos textos1 e 2, julgue os itens de 07 a 10 como certo ou errado:

06. Um ator ou dançarino, mesmo em uma pausa de movimento, pode irradiar tal intensidade expressiva, que nem o fluxo 03. Interpretação A interpretação teatral é o trabalho do ator. Na atualidade existem muitas linhas de de sua ação, nem as qualidades de seu movimento são ininterpretação. Destacam-se três: a imitativa, a distanciada e a não representacional. terrompidos; isso acontece porque o movimento é um propode-se considerar a escola estética que solicita uma determinada linha de in04. Ainda cesso ligado não apenas às ações externas, mas também ao terpretação, entre elas: realista, naturalista, expressionista, contemporânea, grega etc. pensamento e ao sentimento. C MÁSCARA – A máscara é também um corpo em movimento

GUINSBURG, J. Dicionário do Teatro Brasileiro, p. 195

Com base no texto acima responda: Quais as duas funções da máscara expressa no texto? Despersonificar o ator e caracterizar a personagem / esconder e revelar / ego e alteridade

05. O ator, desempenhando um papel ou encarnando um personagem, situa-se no próprio cerce do acontecimento teatral. Ele é o vínculo vivo entre o texto do autor, as diretivas da atuação do encenador e o olhar e a audição do espectador. PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro, p. 30

07. O figurino é um instrumento de transformação do físico. Uma coroa e um pesado manto real darão ao ator, que anda, na rua, como qualquer pessoa, um porte majestoso. Porém, isso não basta. O que transforma o ator, de fato, são, simultaneamente, a roupa e a consciência de representar um personagem. C

B02  Elementos da encenação − caracterização da personagem

em que objeto e atuante formam um duplo-uno. É a visita de um “estranho” que revela as nossas faces. A máscara cênica “constitui-se num território da alteridade e num poder de alteração, uma vez que ela (trans)forma e põe em relevo o sujeito que deve ceder lugar a um outro. No teatro, diferentemente de outras manifestações mascaradas, (in)vestir-se de uma máscara é ocultar-se e, simultaneamente, dar-se a conhecer.

08. A atuação proposta na segunda tendência foi sistematizada pelo dramaturgo e encenador alemão Bertolt Brecht, que tinha como um de seus objetivos possibilitar ao espectador adquirir uma visão crítica e transformadora diante não só do espetáculo cênico, mas também de sua realidade. C 09. A atuação que se vê de forma mais recorrente nas telenovelas brasileiras assemelha-se à proposição da segunda tendência, onde a interpretação do ator pretende ser o mais natural possível. E

Questão 05. A interpretação teatral distanciada é caracterizada pela incorporação da personagem (de modo relativo) e também pela separação da incorporação. Ou seja, o ator deve incorporar e ao mesmo tempo separar-se da incorporação. O ator deve manter sua identidade e ao mesmo tempo a da personagem. Não existe a ideia de transformação completa como no caso da interpretação imitativa.

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FRENTE

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Martin Good / Shutterstock.com

ARTES Por falar nisso Vivemos em um mundo sonoramente abundante. Onde quer que estejamos, existe um rico ambiente acústico. Em uma floresta tropical, há o som do vento nas folhas, o canto dos pássaros... No centro de uma cidade, os ruídos de automóveis e as vozes de pessoas. De uma forma ou de outra, nosso cérebro está constantemente buscando sentido para aquilo que conseguimos captar com nossos ouvidos. Embora seja apenas uma hipótese, a música provavelmente surgiu ainda antes que o ser humano pudesse se comunicar por meio de um vocabulário constituído por palavras. Nesse ponto de vista, os hominídeos se comunicaram, primeiramente, a partir de sons, variando alturas e ritmos. Vamos conhecer um pouco mais dessa linguagem tão antiga e tão importante para as sociedades modernas. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

C01 Parâmetros sonoros.......................................................................46 C02 Escalas e texturas...........................................................................49


FRENTE

C

ARTES

MÓDULO C01

ASSUNTOS ABORDADOS nn Parâmetros sonoros nn Sons, notas e ruídos

PARÂMETROS SONOROS Sons, notas e ruídos O fenômeno acústico Sempre que ouvimos qualquer som, percebemos simultaneamente quatro propriedades: altura, duração, timbre e intensidade. A altura corresponde à frequência sonora. O que chamamos de som é o resultado de nossa percepção de distúrbios oscilatórios em meios elásticos. Dito de uma forma simples: quando percebemos sons, ouvimos a vibração das moléculas do ar em movimentos oscilatórios. Essa energia cinética é transmitida umas às outras criando, assim, frentes de onda que acabam chegando às nossas orelhas e atingindo as microestruturas de nosso ouvido interno, que, por sua vez, estão conectadas ao nervo auditivo. O resto desse processo ocorre em nível cerebral com o processamento do que foi fisiologicamente captado.

Opirus/Arte

Fonte: wikimedia.commons

Figura 03 - Localizado em Atlantic City, EUA, o maior órgão do mundo possui 33 mil tubos e abrange mais frequências do que o espectro audível aos seres humanos.

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Opirus/Arte

Figura 01 - Som produzido em um tambor e sua propagação no ar.

Figura 02 - Espectro de frequências audíveis em diferentes espécies.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Opirus/Arte

De todas as vibrações que ocorrem continuamente à nossa volta, apenas conseguimos captar uma pequena parte das frequências disponíveis: de 20 Hertz a 20 000 Hertz. A unidade Hertz é utilizada para a medição de frequências e corresponde a ciclos por segundo. Para se ter uma ideia do quão limitada é a nossa percepção das frequências, enquanto percebemos um intervalo de cerca de 20 000 Hertz, o espectro auditivo dos golfinhos vai de 150 Hertz a 150 000 Hertz. Definitivamente, nosso trunfo não foi o ouvido. Mas sim o processamento cerebral dessas informações. A partir delas desenvolvemos a linguagem verbal e a música, conquistas que nenhum outro animal atingiu. Então vamos conhecer um pouco mais sobre a linguagem musical. Notas e ruídos

Figura 04 - Análise de espectro do timbre de um violão.

Figura 05 - O guitarrista norte-americano Jimi Hendrix (1942-1970) revolucionou a linguagem da guitarra elétrica ao incrementar as sonoridades do instrumento com variados ruídos.

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Fonte: wikimedia.commons / Original photographer unknown

C01  Parâmetros sonoros: Altura

Quando pensamos em música, pensamos automaticamente em notas. Notas são frequências às quais damos nomes mais fáceis para cantarmos e registrarmos em partituras e outros documentos escritos. Embora pássaros, cigarras, grilos, sapos comuniquem-se em um misto de notas e ruídos, notas são bastante raras nos ambientes acústicos naturais. Os ruídos, por sua vez, são muito mais comuns. O som do vento, das águas do mar, dos rios, da chuva. Do mais relaxante ao mais tenso, nosso mundo é povoado por ruídos. Mesmo na música, muitos sons são definidos acusticamente como ruídos. Os sons dos pratos de uma bateria, por exemplo, são, via de regra, ruídos. Muitas vezes ocorre também uma mistura de ambos. O som de uma guitarra elétrica tocada com efeitos de distorção (muito comum na linguagem do rock) incorpora ruídos às notas musicais. Perceba que muitas vezes os ruídos são tão importantes quanto as notas em certos gêneros musicais.


Artes Questão 01. Uma banda de rock com a tradicional instrumentação bateria, baixo, guitarra e vocal é um bom exemplo de combinação de ruídos e notas. A bateria, por meio dos tambores e pratos, geralmente produz ruídos. A guitarra elétrica, por sua vez, combina, quando há a utilização de pedais de efeitos de distorção, notas e ruídos. Baixo e vocal, na maior parte das vezes, produzem apenas notas.

Mas então o que diferencia, em termos físicos, as notas dos ruídos? Para responder a essa questão, devemos entender que praticamente todo som que escutamos é um complexo de frequências percebidas simultaneamente dentro de dois parâmetros de percepção: altura e timbre. Parte das frequências (na física chamadas de parciais harmônicos) que ouvimos em qualquer som audível são percebidas como timbre, o que nos permite diferenciar, por exemplo, um som de flauta de um som de violão. A outra

parte dessas frequências podemos ou não identificar com clareza. Quando ouvimos algo que permite a distinção de frequências fundamentais (o que nos possibilita cantá-las ainda que em diferentes oitavas), trata-se de notas. Quando as frequências estão tão “emaranhadas” que não conseguimos distingui-las individualmente, chamamos estes sons de ruídos. Deve-se ter em mente que a distinção entre ruídos e notas é psicoacústica e não é definida a priori por elementos físicos, mas perceptivos.

Exercícios de Fixação 01. O ruído é formado por várias frequências sem padrão. O efeito é um sinal complexo, sem frequência fixa, ou seja, o ruído é um sinal não periódico. Esses sinais são imprevisíveis. Dessa forma, é difícil de os caracterizar com exatidão. Fonte: https://anasoares1.wordpress.com/2011/01/31/tipos-de-som-ruido-fala-musica-e-silencio/

Fonte: http://www.filomusica.com/filo49/ruido.jpg

Analise uma situação musical em que, simultaneamente, são utilizados notas e ruídos. 02. Imagine uma situação musical em que uma banda de rock com baixo, guitarra base, guitarra solo, bateria e vocalista executa uma canção ao vivo.

03. Na música ocidental atualmente é utilizado um repertório de: a) 12 notas. b) 7 notas. c) 8 notas. d) 10 notas. 04. Durante a Idade Média o sistema musical europeu foi estruturado no modalismo. Atualmente, entretanto, utilizamos um sistema musical baseado principalmente na oposição entre duas escalas ou tonalidades: a) pentatônica/hexatônica b) ritmos/melodias c) notas/ruídos d) maior/menor 05. Se um distúrbio é gerado em algum ponto do meio, as partes que se movimentam atuam sobre as partes vizinhas, transmitindo parte desse movimento e fazendo com que essas partes se afastem temporariamente de sua posição de equilíbrio. Dessa maneira, o distúrbio é transmitido para novas porções do meio, gerando uma propagação do movimento. As ondas sonoras se propagam em um meio material: sólido, líquido ou gasoso. Esse meio pode ser unidimensional, como uma corda esticada; bidimensional, como a membrana de um tambor; ou tridimensional como a atmosfera. É importante notar que o que se propaga é o movimento e não as partículas do meio, já que estas apenas oscilam próximas às suas posições de repouso. Uma das propriedades interessantes de uma onda é que ela pode transportar energia ou informação de um lugar a outro do meio, sem que o meio seja transportado.

C01  Parâmetros sonoros: Altura

Fonte: http://www2.eca.usp.br/prof/iazzetta/tutor/propagacao/propaga.html

A banda inglesa Rolling Stones em uma apresentação na década de 1960. Fonte: http://img.wennermedia.com/social/rolling-stones-mono-box-set-release.jpg

Em relação aos integrantes da banda, indique se cada um executa melodia, harmonia ou ruídos. a) Vocalista c) Guitarra solo b) Guitarra base d) Bateria

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Fonte: http://i.stack.imgur.com/2fZ0S.gif

A partir das informações e da figura acima, explique a diferença entre nota e ruído na acústica musical. Denominamos nota aquele som que permite a percepção de uma ou mais frequências fundamentais. Ruído é um tipo de som mais complexo em que há tantas frequências sobrepostas que não é possível ao ser humano identificar frequências fundamentais de forma individual.


FRENTE

C

ARTES

MÓDULO C02

ESCALAS E TEXTURAS

ASSUNTOS ABORDADOS

Fonte: wikimedia.commons

Atualmente utilizamos 12 notas na música ocidental. Nosso sistema musical derivou-se da tradição grega e evoluiu no sentido de permitir maiores variações de tonalidades, chegando ao que chamamos hoje de sistema tonal ou tonalismo. Tudo começou na Antiguidade quando conhecíamos apenas as famosas sete notas: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si. De fato, os nomes das notas ainda não eram esses, que foram criados pelo monge italiano Guido d’Arezzo séculos mais tarde, na Idade Média, a partir das sílabas iniciais de um salmo da bíblia cristã. Mas o que importa é que durante muito tempo, usamos apenas sete notas. Daí veio a compreensão de um conceito primordial no campo das alturas musicais que até hoje chamamos de oitava. Quando cantamos a sequência de notas de dó a dó, cantamos uma oitava. Porque, depois da nota si, virá de novo o dó em uma oitava mais aguda. Ou seja, tudo se repetirá, mais agudo ou mais grave. Embora tenham sido acrescentadas mais cinco notas nas escalas ocidentais, permaneceu o nome oitava, reminiscência de quando só havia sete notas. E por que surgiram essas outras cinco a mais? Isso tem a ver com a formulação das escalas e tonalidades.

Mi

Sol

nn Escalas e texturas

Si

Figura 01 - Teclado de piano.

Figura 02 - A citarista Anoushka Shankar. Na música indiana, são utilizadas mais notas do que no sistema ocidental. Perceba que os instrumentos indianos são diferentes dos nossos na maneira de cantar, já que fundamentam-se em outras técnicas. Isso está relacionado com as peculiares escalas musicais indianas, conhecidas como ragas.

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Artes

Escalas Escalas são, simplesmente, sequências de notas. Cada cultura formulou, ao longo da história, suas próprias escalas, de modo que as singularidades da música de diferentes povos se manifestam, sobretudo, na especificidade de suas escalas. No Ocidente atualmente predominam dois tipos de escalas que estabelecem certo tipo de contraste entre si. São as escalas maiores, geralmente associadas em, nossa cultura, a sentimentos alegres, eufóricos, e, as mais comumente relacionadas a atmosferas melancólicas. Mas o que as diferencia, além dos sentimentos que tradicionalmente expressam? Elas se diferenciam pela singular distribuição de tons e semitons que cada uma apresenta. Precisamos entender, portanto, o que são tons e semitons.

Figura 03 - Os tons e semitons naturais no intervalo de uma oitava.

O menor intervalo entre duas notas na música ocidental é chamado de semitom. Isso significa que, se entre duas notas há o intervalo de semitom. Não há “espaço” (considerando os parâmetros atuais da música ocidental) para que exista outra nota entre elas. É o que acontece, no âmbito das notas naturais (aquelas localizadas nas teclas brancas do teclado), entre as notas mi, fá e si, dó. Não há nenhuma tecla preta entre elas, pois entre essas notas já há o menor intervalo possível: o semitom. Já entre dó e ré, ré e mi, fá e sol, sol e lá, lá e si existe um intervalo de tom (ou de dois semitons). Por isso, se você visualizar o teclado, perceberá que entre essas notas existe sempre uma tecla preta, isto é, existe uma nota entre dó e ré, outra entre ré e mi e assim por diante. Essas teclas pretas, também chamadas de acidentes, são aquelas que chegaram por último na música ocidental para facilitar construções musicais mais ousadas e variadas. Cada uma delas pode ter dois nomes. Entre fá e sol, por exemplo, temos ou o fá sustenido ou o sol bemol. Se chamarmos de fá sustenido, significa que o fá foi sustenizado, isto é, foi elevado (ficou mais agudo) em um semitom. No outro caso, o sol foi bemolizado. Isso equivale a dizer que o sol foi abaixado (ficou mais agudo) em um semitom. Contudo, entender detalhes de teoria musical não é o mais importante agora. Vamos entender mais alguns conceitos. Melodia, acorde, harmonia e textura musical

C02  Escalas e texturas

Quase sempre quando ouvimos músicas, testemunhamos combinações de melodias e acordes, o que também chamamos de texturas musicais. Essas são as formas de articular notas e ruídos em padrões expressivos. Vamos definir, portanto, melodia, acorde e harmonia, antes de entender o que são texturas em música. Quando cantamos uma canção, cantamos sua melodia. Melodia é uma sucessão de notas, uma de cada vez, ao longo do tempo. Podemos comparar a importância e função das melodias na tradição ocidental com as palavras na literatura. Um texto é o conjunto de todas as palavras tal como encadeadas nele. O significado dele depende daquela disposição das palavras. Essa analogia se aplica plenamente à música. As notas são organizadas em diferentes alturas e durações (que resultam na sensação do ritmo) e conferem sentido emocional, cultural, entre outros. Mas, em um texto musical, as notas podem aparecer simultaneamente, diferente de um texto escrito. Geralmente quando duas ou mais notas soam 50


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Fonte: wikimedia.commons / Leonardo da Vinci

juntas dizemos que há harmonia. Harmonia aqui não tem o mesmo sentido que no dia a dia quando dizemos que “queremos um mundo com mais harmonia”, por exemplo. Harmonia significa, em música, simultaneidade. Quer dizer apenas que existem sons soando ao mesmo tempo. Harmonia tem também um outro sentido em música. Refere-se a um conjunto de acordes. Acordes são grupos de notas organizados geralmente com a finalidade de acompanhar uma melodia. A relação entre melodia e harmonia (conjunto de acordes) pode ser comparada com a figura e o fundo na pintura. Em um retrato, a interpretação que fazemos da imagem da figura humana representada, dependerá, dentre vários fatores, decisivamente do fundo, que, dependendo de sua representação, realçará mais ou menos determinadas cores, formas ou padrões. Da mesma forma, quando ouvimos uma música, concentramo-nos geralmente na melodia (se houver), mas damos sentido a ela a partir da harmonia, levando em conta o efeito dos acordes que estiverem soando de forma secundária na textura. Enfim, textura significa a análise de como melodias, acordes e ruídos se entrelaçam para criar sentido musical. Cada música apresenta uma singular forma de textura, resultante da combinação de três texturas básicas: monofonia, polifonia e homofonia ou melodia acompanhada.

Fonte: wikimedia commons

Figura 04 - La Gioconda, de Leonardo da Vinci. Perceba que, por mais que nossa atenção seja focada no retrato da Mona Lisa, a percepção que temos dela é influenciada pelo fundo, por mais sutil que ele seja.

C02  Escalas e texturas

Figura 05 - Um acorde sendo executado ao piano.

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Artes

Monofonia, polifonia e homofonia

C02  Escalas e texturas

Figura 06 - Monges cantam o canto gregoriano.

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Fonte: wikimedia.commons

A música ocidental começou sua fase histórica (isto é, com documentação escrita) no século nove depois de Cristo. Nessa época a Igreja, diante da necessidade de normatização das práticas litúrgicas, buscou uma forma de registro para que em todas as missas, não importa onde fossem rezadas, a parte musical fosse idêntica. Data, portanto da Alta Idade Média os primeiros registros mais ou menos precisos da música europeia. Essas primeiras partituras foram criadas por monges para escrever obras religiosas que, em um primeiro momento, ficaram conhecidas como cantochão ou canto gregoriano. Eram canções singelas que deveriam ser cantadas a uma só voz, isto é, com uma única melodia, uma única sequência de notas cantada igualmente por todos. Essa textura musical veio a ser conhecida como monofonia. A partir do século X, começaram a aparecer registros em que duas ou mais melodias soavam simultaneamente. Foi o começo da polifonia, em que duas ou mais melodias eram combinadas simultaneamente. Foi uma técnica que foi se tornando cada vez mais complexa, agregando mais e mais melodias. O auge do desenvolvimento polifônico se deu no Renascimento, no século XVI. A partir do final do Barroco (século XVIII em diante) as práticas musicais foram, de modo geral, simplificando-se, tendendo a uma textura mais clara e direta. Formulou-se, assim, a homofonia, ou melodia acompanhada. Uma ou mais melodias principais eram acompanhadas pelo restante das fontes sonoras, que poderiam exercer esse papel coadjuvante por meio da execução de outras melodias (como em uma polifonia tradicional) ou sustentando acordes para o acompanhamento (o que acabou se tornando muito mais comum). A ideia principal nessa forma de textura é que existe uma divisão de papéis nas fontes sonoras. Algumas se incubem do elemento principal (a melodia), outras assumem da função secundária do acompanhamento.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação 01. Escala Musical é uma sequência de notas organizadas de acordo com suas frequências. É como um menu de notas dispostas em ordem crescente, da mais grave para a mais aguda. As escalas têm a função de organizar os sons musicais, assim fica mais fácil de tocar essas notas e usar da forma que quisermos.

notas musicais constituem uma espécie de recorte das variadas frequências disponíveis no ambiente sonoro.

Fonte: <endereço da internet> Acesso em: 27. jun. 2017.

Fonte: <endereço da internet> Acesso em: 27. jun. 2010.

Na imagem acima podemos visualizar o repertório de notas disponíveis no sistema musical ocidental. A partir da imagem acima: a) Cite os dois tipos de escalas mais utilizados no Ocidente. b) Explique uma diferença entre estas duas escalas. 02. O Alaúde árabe ou simplesmente Ud é um instrumento de cordas pinçadas que deu origem ao alaúde ocidental e que, muitos séculos mais tarde, originou o violão. Muito utilizado na música árabe, não apresenta trastes, assemelhando-o, desta forma, aos instrumentos de cordas friccionadas como o violino. De forma geral, a música árabe utiliza escalas diferentes daquelas utilizadas no Ocidente.

Diante das informações apresentadas, diferencie melodia de acorde. 04. O ruído é formado por várias frequências sem padrão. O efeito é um sinal complexo, sem frequência fixa, ou seja, o ruído é um sinal não periódico. Esses sinais são imprevisíveis e dessa forma, é difícil de caracterizá-los com exatidão. Fonte: <endereço da internet> Acesso em: 27. jun. 2017.

03. Todo som que ouvimos resulta da percepção de um distúrbio em determinado meio elástico. Em termos gerais, o ser humano pode perceber frequências de 20 hertz a 20 000 hertz. Outros animais apresentam, entretanto, percepções diferenciadas do fenômeno sonoro. Golfinhos, por exemplo, podem captar sons de até 150 000 hertz. Por sua vez, as

C02  Escalas e texturas

Em termos do uso das notas, explique uma importante diferença entre as tradições ocidental e oriental.

Fonte: <endereço da internet> Acesso em: 27. jun. 2017.

Analise uma situação musical em que, simultaneamente, são utilizados notas e ruídos.

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FRENTE

A


ARTES Por falar nisso A Antiguidade O surgimento das primeiras civilizações demarca a existência de uma série de características específicas. Em geral, uma civilização se forma quando apontamos a existência de instituições políticas complexas, o desenvolvimento e assimilação de algum tipo de escrita, uma hierarquia social diversificada, leis, sistemas e convenções que se aplicam largamente a uma população. Não podemos apontar uma localidade específica para formação das primeiras civilizações da história. O processo de fixação e desenvolvimento das relações sociais aconteceu simultaneamente em várias regiões e foi marcado pelo contato entre civilizações, bem como a incorporação de duas ou mais culturas na formação de outra civilização. Reportando-se ao Mundo Oriental, podemos assinalar, mais a Oeste, a formação da civilização egípcia e dos vários povos que dominaram a região Mesopotâmica, localizada nas proximidades dos rios Tigre e Eufrates. Também conhecidas como civilizações hidráulicas, essas culturas agruparam largas populações que sobreviviam da exploração das águas e terras férteis presentes na beira dos rios, sem contar com as civilizações milenares dos indianos e dos chineses. Na parte ocidental do planeta, destacamos a civilização grecoromana. O prestígio dado aos gregos e romanos justifica-se pela forte e visível influência que esses povos tiveram na formação dos vários conceitos, instituições e costumes que permeiam o Ocidente. É importante destacar os maias, astecas, incas e olmecas que surgem no continente americano. Sem dúvida, o estudo das civilizações antigas mostra-se importante para que possamos entender melhor as várias modalidades que a nossa cultura assume atualmente. Sob outro ponto de vista, o estudo da Antiguidade também abre caminho para que possamos contrapor os valores e parâmetros que um dia foram comuns a alguns homens e hoje se mostram tão distantes do que vivemos. São infinitos os saberes que se aplicam a esses períodos históricos. Disponível em: http://www.museudapessoa.net. Acesso em 26/05/2017 com adaptações.

Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A05 A06 A07 A08

Arte na Mesopotâmia....................................................................56 Arte grega......................................................................................62 Período clássico.............................................................................66 Período helenístico........................................................................70


FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A05

ASSUNTOS ABORDADOS nn Arte na Mesopotâmia nn Arquitetura nn Escultura e relevos

ARTE NA MESOPOTÂMIA A Mesopotâmia é delimitada entre os vales dos rios Tigre e Eufrates e, ocupada pelo atual território do Iraque e terras próximas. A palavra Mesopotâmia [do grego meso (no meio de) e potamos (rio)] corresponde a uma região situada na Ásia Menor ao sul da Anatólia, entre os rios Tigre e Eufrates que desembocam no Golfo Pérsico cuja região é rodeada por desertos. Os sumérios ocuparam o sul da Mesopotâmia e construíram as primeiras cidades de que a humanidade tem conhecimento: as cidades de Ur e Uruk em 5 000 a.C. Além dos sumérios, também os acádios, os babilônicos, os assírios, os elamitas e os neobabilônicos, fizeram parte desse primeiro momento mesopotâmico. A partir de 3 000 a.C. as cidades como Ur, Uruk e Nippur desenvolveram, entre si, atividades comerciais. Os templos passam a gerir a economia e muitos zigurates foram construídos. Essa região conta história de conflitos permanentes entre populações que se alternaram no domínio sobre a região, e cujas cidades foram, ao longo dos séculos, focos difusores de uma cultura cada vez mais elaborada. O acervo artístico dessa região é comprometido, devido aos constantes conflitos internos e externos. Obras se perderam por terem sido executadas em argila. Estátuas de pedra ou outros materiais mais resistentes são raros e a arquitetura mantém-se em ruínas.

Arquitetura A arquitetura mesopotâmica é composta de construções grandiosas e fartamente ornamentadas com pinturas murais e relevos escultóricos. As portas ladeadas por esculturas gigantescas de pedra e aposentos decorados com relevos que predominam a construção do Zigurate em pequenas plataformas ou cidades muradas, com acesso entre rampas. Esse era o centro religioso, cultural e político das cidades. Os grandes zigurates ressaltam o interesse pela segurança, a religião, a política e a grandeza dos sacerdotes. Características dos Zigurates nn Torre

piramidal, de base retangular;

nn Vários pisos sobrepostos, formados por suces-

Fonte: Wikimedia Commons

sivos andares, cada um menor que o anterior, com várias entradas e saídas. nn Construção característica das cidades-estados dos sumérios. nn Nas construções, empregavam argilas, ladrilhos e tijolos. nn Provavelmente só os sacerdotes tinham acesso à torre, que tanto podia ser um santuário, como um local de observações astronômicas. nn Tinham como prováveis funções: local para ritualização, observatório para segurança da cidade, observatório astronômico e moradia do sacerdote.

Figura 01 - Representação artística de um Zigurate e Cidadela do Rei Sargão II, destruído em 600 a.C.

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Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Figura 02 - Representação artística do Zigurate de Ur, construído em 2113-2096 a.C. e suas ruínas atuais.

Curiosidades

A Torre de Babel é um dos contos mais intrigantes da história da humanidade. A decisão era fazê-la tão alta para alcançar os céus. . Entretanto os deuses não gostaram da soberba dos homens e derrubaram-na. Além dessa explicação mítica, o conto serviria para esclarecer a razão de existir tantas línguas no mundo. Os indicativos da Torre de Babel começam na bíblia, especialmente no Antigo Testamento, livro do Gênese. De acordo com este, a torre teria sido construída pelos descendentes de Noé na época em que o mundo inteiro falava apenas uma língua. Supostamente, a localização da Torre de Babel seria entre os rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia. A soberba dos homens em se empenharem na empreitada de alcançar o mundo dos deuses teria causado a fúria de Deus, que, em forma de castigo, teria causado uma grande ventania para derrubar a torre e espalhado as pessoas sobre a Terra com idiomas diferentes, para confundi-los. Por esse motivo, o mito é entendido hoje como uma tentativa dos antepassados de se explicar a existência de tantas línguas no mundo. No entanto, há vários estudos que tentam provar, de alguma forma, a existência da torre. O mito provavelmente é inspirado na torre do templo de Marduk, que em hebraico é Babel e significa “porta de Deus”. No sul da Mesopotâmia há realmente restos de torres que fazem alusão à Torre de Babel da bíblia. Babel era a capital do Império Babilônico e foi muito rica e poderosa, pois representava um centro político, militar, cultural e econômico do mundo antigo, recebendo imigrantes de todas as partes. Grande parte dos arqueólogos faz a conexão da Torre de Babel com a queda do templo-torre de Etemananki, na Babilônia, que mais tarde seria reconstruído por Nabopolosar e Nabucodonosor II. Esta seria uma construção piramidal escalonada que integraria a construção de grandes torres-templo na Suméria, chamadas de zigurates. Disponível em: http://www.infoescola.com/civilizacao-da-babilonia/torre-de-babel/ Acesso em 01/04/2017

A05  Arte na Mesopotâmia

Fonte: jorisvo / Shutterstock.com

Figura 03 - Torre de Babel, pintada por Pieter Bruegel em 1563 no Renascimento.

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Artes

Escultura e relevos Os assírios foram um povo guerreiro que dedicaram sua arte a glorificar os seus reis, sacerdotes, líderes religiosos e o exército. O tipo de trabalho mais importante nesse sentido foram as sequências de painéis de pedra esculpidas com baixo-relevo, que representavam cenas militares, religiosas e de caça. Esse tipo de relevo narrativo, disposto à volta de salões governamentais e pátios, foi uma das grandes produções assírias que contribuíram para o mundo da arte. O trabalho mais característico da escultura assíria são os portais de palácios impressionantes, com magníficas figuras de guardiões, como touros e leões com cabeça humana, colocadas em ambos os lados de portais arqueados. Características Escultura de figuras humanas nn Geralmente nn Da

pedra raspada.

cintura para baixo formato cônico.

nn Olhos

grandes com pupilas dilatadas.

nn Barba

relevada.

nn Algumas

partes vazadas.

nn Representação

de diferentes classes sociais, inclusive crianças.

nn Rigidez.

A05  Arte na Mesopotâmia

Figura 04 - Artefatos sumérios no museu do Reino Unido

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Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons

nn Simetria.

Figura 05 - Esculturas mesopotâmicas de diferentes períodos.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Relevos nn Geralmente nn Touros

pedra raspada.

e leões, com cabeça humana, que significavam sabedoria e força.

nn Touros e leões, com cabeça humana, colocados na frente de templos e palácios,

como protetores. sutil de sentimento em algumas representações de animais.

Fonte: Wikimedia Commons

nn Representação

A05  Arte na Mesopotâmia

Fonte: Kamira / Shutterstock.com

Figura 06 - Museu de British. Um Shedu - Assíria, do século VIII a.C., Museu do Louvre.

Figura 07 - Representação do animal ferido. Assíria.

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Artes

Fonte: Wikimedia Commons

A escrita cuneiforme é uma das mais antigas do mundo e apareceu mais ou menos na mesma época dos hieróglifos e foi criada por volta de 3 500 a.C. pelos sumérios. Sua definição pode ser dada como uma escrita que é produzida com o auxílio de objetos em formato de cunha. Eles utilizavam a argila para escrever, e quando queria que seus registros fossem permanentes, as tabuletas cuneiformes eram colocadas em um forno. Usaram também a superfície de pedras, juntamente com baixos-relevos.

A05  Arte na Mesopotâmia

Figura 09 - Escrita cuneiforme, de origem suméria, encontrada no Iraque e a associação com nosso alfabeto.

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Fonte: Kotomiti Okuma / Shutterstock

Figura 08 - Artefatos sumérios com relevos e escrita cuneiforme no museu do Reino Unido


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação Complete o quadro abaixo fazendo uma análise comparativa entre as diferentes arquiteturas.

Zigurate Mesopotâmica

Pirâmide Maia

Pirâmide Asteca

Teatro Nacional de Brasília

Curiosidades especificações

A05  Arte na Mesopotâmia

Função

Quantidade de entradas e saídas

Civilização

Formato

Material utilizado

Pirâmide Egípcia

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FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A06

ASSUNTOS ABORDADOS nn Arte Grega nn Período Arcaico

ARTE GREGA Por volta do século X a.C., os habitantes da Grécia eram formados por pequenas comunidades chamadas de cidades-Estado. Com o aumento do comércio, essas cidades-estados entraram em contato com as culturas do Egito e do Oriente Próximo. Os gregos nos deixaram um vasto legado cultural nas mais variadas áreas, dando origem a uma das mais geniais civilizações do mundo antigo, formada por uma mistura de diversos povos nômades de origem indo-europeia que tinham em comum a língua e as crenças religiosas, dentre as quais encontramos como principais grupos os que habitaram a Península Balcânica, no sul da Europa. Entre eles estão os micenenses, os dóricos, os jônicos e os eólios. Os gregos nunca chamaram a si mesmos de “gregos”, denominavam seu país de Hélade e, portanto se autodenominavam heleno. Os antigos gregos se sobressaíram especialmente nas artes. A pintura, a escultura e a arquitetura impressionam na busca pela perfeição, embora, a princípio, os artistas gregos tenham imitado os egípcios, depois passaram a criar sua arte, movidos por ideias próprias em relação à vida, à morte e às divindades. Considerada livre, pois valorizava o homem como o ser mais importante do universo, a inteligência humana era superior à fé, mesmo apresentando-se politeísta. Os gregos criaram várias obras de arte para enfeitar templos e prédios públicos, para celebrar vitórias nas batalhas, mostrar pessoas famosas e os mortos e fazer oferendas aos deuses. O realismo idealizado da arte grega foi redescoberto durante a Renascença Italiana e tornou-se o padrão que a maioria dos artistas ocidentais almejou alcançar até o século XIX. A arte grega manifestou-se em três períodos: nn Período

Arcaico (século VIII a VI a.C.); nn Período Clássico (século V a IV a.C.); nn Período Helenístico (século III a II a.C).

Período Arcaico O Período Arcaico da Grécia Antiga é referente a um momento de desenvolvimento cultural, político e social, situado entre os anos 700 e 500 a.C. e as essa fase caminha para a democracia grega. Até 750 a.C., o comércio caracterizava-se por ser uma atividade econômica própria do território grego, mas as dificuldades enfrentadas pela população que não recebia o amparo necessário das polis fizeram com que a dispersão das pessoas favorecesse à economia que era baseada na agricultura. As pólis transformaram-se em grandes centros comerciais e núcleos urbanos, responsáveis pelas decisões políticas e trânsito de mercadorias. O comércio além de interno passa a ser externo, fazendo um intercambio econômico e artístico entre a Grécia Arcaica, o Egito e o Oriente Próximo. Escultura A arte grega é marcada pela sua escultura, no final do século VII a.C. e as primeiras esculturas gregas eram ligadas ao estilo arcaico com notável influência das estátuas egípcias, especialmente no que diz respeito à forma cúbica, simétrica e a rigidez do corpo. Inicialmente, o material era mármore e intituladas “Kouros”, que significa o jovem. O escultor fazia com que a estátua fosse um objeto belo. As esculturas masculinas eram nuas, na posição frontal e ereta. Já as esculturas femininas, intituladas “Kore”, que significa a jovem também eram esculpidas em mármores e vestidas com drapeado raso, posição frontal, ereta e se mantinham rígidas e simétricas. 62


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Fonte: Wikimedia Commons

No entanto, mesmo tendo influência egípcia, é na arte estatuária grega que se percebeu, pela primeira vez na história, a ousadia de um artista em produzir uma escultura grandiosa sem que ela estivesse presa a um bloco de pedra, ou seja, fazer com que a figura ficasse de pé, separando a estátua da matéria bruta e ao mesmo tempo sendo independente.

Figura 01 - Kouros - Kleobis e Biton, Delfos – Século VI a.C.

Fonte: image description

Características nn Simétrica. nn Rígida. nn Frontal. nn Algumas partes vazadas. nn Ereta. nn Olhar fixo. nn Uso do mármore. nn Estátua separada do bloco bruto de pedra inicial, independente. nn Figura masculina nua. nn Figura feminina vestida com drapeado raso. nn Homem – Kouros (jovem nu em pé, e seu equivalente feminino, a Kore, uma jovem em pé vestida).

Figura 02 - Diversas estátuas Kore. Museus diversos entre 570-560 a.C.

Arquitetura

A06  Arte grega

A arquitetura grega tinha um único objetivo: proteger as estátuas dos deuses das ações do tempo. Em seus templos, uma das características era a simetria entre a frente e os fundos (pronau e opistódomo, respectivamente), e foi a partir deles que se iniciaram as colunas, cujo modelo inicial de capitel era de ordem dórica. Ordem dórica: simples e maciça. Nascida do sentir do povo grego, nela se expressa o pensamento. A mais antiga das ordens arquitetônicas gregas, a ordem dórica, por sua simplicidade e severidade empresta uma ideia de solidez e imponência.

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Artes

Templo Grego Havia um espaço chamado frontão, um telhado grego ornamentado por esculturas e ficava tanto na parte da frente quanto na de trás do templo. A ordem dórica pode ser considerada a ordem básica, pois é a mais antiga. Dentre as características dessa ordem estão a rigidez e simplicidade. Os templos gregos são as referências mais lembradas quando falamos em arquitetura grega. Os templos gregos eram as casas, que abrigavam as esculturas gregas que eram representações dos deuses. Assim, esses templos tinham na religião sua principal finalidade. A principal característica arquitetônica dos templos era a simetria entre a entrada e os fundos.

Figura 03 - Coluna com capitel de ordem dórica;

Características nn Os templos gregos surgem com a finalidade de proteger as esculturas de deuses e deusas. nn Construído com uma base de três degraus. nn Colunas com capitel dórico no período arcaico, com capitel jônico no período clássico e com capitel coríntio no período helênico. nn Frontão ornamentado com relevos e esculturas. nn Friso horizontal.

Disponível em: www.cultura.culturamix.com Acesso em 26/04/2016.

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Fonte: Wikimedia Commons

Os templos são muito marcantes na cultura grega antiga bem como no segmento de edificações. Para os gregos, essas construções eram essenciais para fazer o culto dos seus deuses, porém, é interessante compreender que inicialmente tudo o que eles precisavam para fazer o culto era um altar ao ar livre. Com o passar do tempo, os gregos começaram a fazer as estátuas dos seus deuses e se viram obrigados a proteger as imagens da ação das intempéries do tempo. Dessa forma, eles criaram os templos como se fosse um lugar que pudesse proteger as estátuas da ação do tempo. Os templos não tinham como função inicial servir para acomodar os fiéis. Os rituais e cerimônias religiosas eram realizados diante de uma das fachadas do templo, em geral a fachada leste. Poucas pessoas podiam entrar nos templos.

Figura 04 - Ilustração com identificação de um templo grego com diferentes capitéis

Fonte: Wikimedia Commons

A06  Arte grega

SAIBA MAIS

Figura 05 - Parthenon, um dos templos mais importantes de Atenas.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Fonte: Wikimedia Commons

Teatro Grego Se houve um povo atento à análise de si próprio, à sua própria representação, foi o povo grego cujas tragédias e comédias foram as primeiras expressões daquilo a que chamamos de teatro. Era necessários para tal, um lugar adequado que, conforme a concepção grega, não fosse um espaço fechado, mas a encosta aberta de uma colina e composto por três partes: palco, fosso e a arquibancada. Um exemplo típico é o Teatro de Epidauro, construído, no séc. IV a.C., ao ar livre, composto por 55 degraus divididos em duas ordens e calculados de acordo com uma inclinação perfeita. Chegava a acomodar cerca de 14 000 espectadores e tornou-se famoso por sua acústica perfeita.

Figura 06 - Teatro de Epidauro, Grécia – IV a.C.

Características nn Arena (palco) circular. nn Fosso entre a plateia e o palco. nn Arquibancada em escadarias construída na encosta da montanha. Não utilizava pilastras para sustentação da arquibancada. nn Revestimento das escadarias com pedra. nn Formato em 180°. nn Afastado da cidade grega.

Exercícios de Fixação c) arte etrusca, oriunda do norte da península itálica e desenvolvida no Mediterrâneo durante o período de hegemonia romana. d) arquitetura dórica, levada à ilha pelos gregos na expansão e colonização mediterrânea da chamada Magna Grécia. e) arte gótica, marcada pela verticalização das construções e pela sugestão de acesso dos homens ao reino dos céus. 02. “Uma das principais expressões da arte grega, o teatro, tem suas origens ligadas às Dionisíacas, festas em homenagem a Dionísio, deus do vinho.”

01. O Templo da Concórdia foi construído no sul da Sicília, no século V a.C., e é um marco da a) arte românica, caracterizada pelos arcos de meia volta e pela inspiração religiosa politeísta. b) arquitetura clássica, imposta pelos macedônios à ilha no processo de helenização empreendido por Alexandre, o Grande.

(Myriam Mota e Patrícia Braick, História das Cavernas ao Terceiro Milênio, 2002, p. 65)

Dois gêneros clássicos do teatro grego originaram-se destes festivais, são eles: a) melodrama e tragédia b) drama e pantomima c) tragédia e drama d) vaudeville e comédia e) tragédia e comédia

A06  Arte grega

(Templo da Concórdia, Agrigento, Itália.)

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FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A07

ASSUNTOS ABORDADOS nn Período Clássico nn Escultura nn Arquitetura

PERÍODO CLÁSSICO O período histórico dos séculos V e VI a.C., na região grega, foi denominado pelos historiadores como Período Clássico por conter as principais características da civilização grega. Esse período foi marcado por várias guerras travadas contra inimigos externos e entre os próprios gregos. É também conhecido como Período das Hegemonias, por ter sido uma fase em que a soberania das cidades-estados Atenas e Esparta se revezaram entre si. Mas foi também nesse período histórico que a civilização grega conseguiu alcançar o ponto mais alto de seu desenvolvimento econômico e também artístico, cuja principal cidade era Atenas. A produção e as características da arte clássica grega foram as mais difundidas posteriormente na renascença e no neoclassicismo.

Escultura O escultor clássico começa a deixar de lado a simetria natural, a posição frontal, ereta. Como não havia regras rígidas para sua produção, a escultura se desdobra: a escultura possuía a cabeça mais levantada e lateralizada, o corpo passa a descansar sobre uma das pernas, e o quadril era um pouco mais alto que o outro. Além disso, os escultores buscavam a máxima aproximação com a perfeição da natureza, especialmente nas figuras humanas, salientando os músculos, os nervos, veias e tudo o mais que pudesse conferir perfeição às obras. Os temas das esculturas gregas, frequentemente, envolviam representações de deuses e deusas esculpidos em mármore, mas como o mármore se quebrava facilmente, por ser pesado, foi substituído pelo bronze, que era mais leve, e permitia dar mais movimento, perfeição e idealização à escultura. Um exemplo é a escultura do Zeus Artemísio, em que braços e pernas traduzem movimentos, porém, seu tronco era imóvel, com músculos salientados. Fonte: Wikimedia Commons

Características nn Assimetria. nn Movimento. nn Cabeça nn Peso

lateralizada.

em uma das pernas.

nn Busca

pela perfeição.

nn Corpos

idealizados.

nn Dramaticidade n n Músculos,

e expressão.

veias e nervos sa-

lientados. nn Deuses e deusas representados. nn Uso do mármore e do bronze. Figura 01 - Imagem I - Efebo de Krítios, Atenas – 480 a.C. Imagem II – Cópia Romana do Doríforo de Policleto, Nápoles - Original grego datado de 440 a.C. Imagem III – Versão romana do lançador de discos Discóbolo de Míron, Roma – Original grego datado de 480 a.C. – 440 a.C. Imagem IV – Zeus de Artemísio, Atenas – 470 a.C.

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nn Nu

masculino e feminino.

nn Proporção.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons

O nu feminino, característico do período clássico presente na imagem Vênus de Cnido 330 a.C. demonstra a deusa nua antes de entrar em seu banho, e em uma atitude de recato esconde seu sexo com a mão. Infelizmente a escultura original não foi encontrada. Conhecemos a obra por escritos e pelas cópias realizadas pelos romanos.

Figura 02 - Vênus de Cnido, Praxiteles, Roma - original grego de 370 a.C.

SAIBA MAIS JOGOS OLÍMPICOS

A07  Período clássico

Um exemplo de atividade cultural comum entre os gregos foram os Jogos Olímpicos. A partir de 776 a.C., de quatro em quatro anos, os gregos das mais diversas cidades reuniam-se em Olímpia para a realização de um festival de competições. Esse festival ficou conhecido como Jogos Olímpicos. Os Jogos Olímpicos eram realizados em honra a Zeus (o mais importante deus grego) e incluíam provas de diversas modalidades esportivas: corridas, saltos, arremessos de disco e lutas corporais. Além do esporte havia também competições musicais e poéticas. Os Jogos Olímpicos eram anunciados por todo o mundo grego dez meses antes de sua realização. Os gregos atribuíam tamanha importância a essas competições que chegavam a interromper guerras entre cidades (trégua sagrada) para não prejudicar a realização dos jogos. Pessoas dos lugares mais distantes iam a Olímpia a fim de assistir aos jogos. Havia, entretanto, proibição à participação das mulheres, seja como esportistas, seja como espectadoras. Os atletas que participavam das competições eram respeitados pelos gregos em geral. O prêmio para os vencedores era apenas uma coroa feita com ramos de loureiro colhidos num bosque consagrado a Zeus. Mas a sua glória era imensa. As cidades recepcionavam os vitoriosos com festas e homenagens. Poetas, como Píndaro, faziam poemas em sua homenagem, e o governo erguia-lhes estátuas. Os Jogos Olímpicos da Antiguidade foram celebrados até 393 d.C., quando o imperador romano Teodósio, que era cristão, mandou fechar o templo de Zeus em Olímpia, para combater cultos não cristãos. Quinze séculos depois o educador francês Pierre de Fredy, o barão de Coubertin (1836-1937), empreendeu esforços para restaurar os Jogos Olímpicos. Sua “causa” obteve simpatia e adesão internacionais. Em 1896, foram realizados em Atenas os primeiros Jogos Olímpicos da época contemporânea. As atuais Olimpíadas, realizadas de quatro em quatro anos, reunindo atletas de diversos países do mundo, procuram preservar o ideal de unir os povos por meio do esporte. Disponível em: www.trilhaseaventuras.com.br Acesso em 26/04/2017.

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Artes

Arquitetura A arquitetura grega tinha um único objetivo: proteger as estátuas dos deuses das ações do tempo. Em seus templos, uma das características era a simetria entre a frente e os fundos (pronau e opistódomo, respectivamente), e foi a partir deles que se desenvolveram além das colunas com capitel de ordem dórica, os capiteis de ordem Jônica. nn Ordem

A ordem jônica representa a graça e o feminino em contraste com a austeridade e a masculinidade da ordem dórica. A coluna jônica apresenta fuste mais delgado e não se firma diretamente sobre o estilóbata, mas sobre uma base decorada. O capitel torna-se muito mais complicado. As suas faces não são todas iguais, mas apenas de duas em duas. As paralelas à fachada do templo, e por isso destinadas a verem-se melhor, apresentam duas volutas ou espirais unidas por linhas curvas: exatamente como um rolo de papel que se tivesse estendido pelo meio, enquanto as extremidades se enrolavam. As fachadas secundárias expõem a parte exterior do rolo, isto é, praticamente lisas. Na fachada, as colunas jônicas são mais esbeltas do que as dóricas, têm uma ênfase muito maior e são colocadas à distância uma das outras. Ao longo da evolução da arquitetura, os elementos que compunham as colunas, junto com o entablamento poderiam variar. Tanto é que foi criado um capitel coríntio para ser colocado no lugar de um capitel da ordem jônica, para enriquecê-la, por exemplo, no próximo período grego – o helênico.

Fonte: Shutterstock.com

A07  Período clássico

Figura 03 - Coluna com capitel de ordem jônica.

Jônica: mais detalhada e com mais leveza.

Figura 04 - Ilustração com identificação de um templo grego com capitel jônico.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação 01. (UnB) Observe a imagem e responda aos itens.

01. O caráter estritamente pessoal, particular e subjetivo do realismo socialista soviético é uma das características que diferencia a arte soviética do regime stalinista da arte do período nazista. 02. Os tipos humanos utilizados como modelos das estátuas nazistas eram pessoas comuns, legítimas representantes da raça ariana, retratadas de maneira não idealizada. 03. As figuras evidenciam influência da arte grega e romana na arte do período nazista.

E-E-C

02. De acordo com as produções das esculturas gregas julgue os itens: E-C-C-E-E

Fonte: Wikimedia Commons

I. II.

III. IV. V.

Na Grécia, assim como no Egito, a escultura desenvolve livremente. O escultor grego emprega em suas obras o desenvolvimento intelectual, valorizando o ritmo, assimetria e a harmonia. A estatuária grega no Período Arcaico representa uma influência das estátuas egípcias. No Período Helenístico as figuras femininas representavam sentimentos ligados à moral humana. As esculturas mais importantes eram feitas em ouro e pedras preciosas no Período Clássico.

03. Considerando a arte egípcia e grega, na Antiguidade, especialmente a escultura, podemos afirmar corretamente: a) O Mediterrâneo, situado entre a Europa e a Ásia, impediu qualquer influência artística entre essas sociedades. b) A escultura egípcia configurava uma visão idealizada do homem. c) Os egípcios, assim como os gregos, rejeitaram associar a arte às concepções religiosas e ao poder. d) Os egípcios influenciaram o escultor grego na arte da escultura, fornecendo-lhes a inspiração e, mais importante, a técnica.

Figura I − Ilustração do interior monumental do estúdio estatal de Josef Thorak, em Munique, no período nazista. Figura II − Arno Brecker: O exército (alto à esquerda) e Partido (alto à direita) e o pátio interno da Chancelaria nazista em Berlim.

a) Clássica, Arcaica e Dórica. b) Dórica, Coríntia e Arcaica. c) Dórica, Jônica e Coríntia. d) Jônica, Helenística e Dórica. 05. São períodos gregos:

A07  Período clássico

Fonte: Wikimedia Commons

04. Na arquitetura grega as ordens eram:

a) Dórico, Jônico e Coríntio. b) Arcaico, Clássico e Helenístico. c) Arcaico, Clássico e Dórico. d) Dórico, Clássico e Helenístico.

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FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A08

ASSUNTOS ABORDADOS nn Período Helenístico nn Escultura nn Arquitetura nn Pintura

PERÍODO HELENÍSTICO Você sabe qual a diferença entre helênico e helenístico? Helênico é um adjetivo que os gregos da Antiguidade usavam para se referirem a eles mesmos. Eles se autodenominavam helenos, assim como a Grécia era chamada Hélade. Helenístico é um adjetivo moderno utilizado para descrever o período que vai da morte de Alexandre Magno (323 a.C.) à conquista final do mundo helênico por Roma (30 a.C). Merece destaque o século V a.C., chamado - século de Péricles -, época em que a atividade intelectual, artística e política refletiram o esplendor da cultura helênica. Floresceram, nesse período, as mais significativas edificações culturais: o Museu, que englobava o Jardim Botânico, o Zoológico e o Observatório Astronômico; e a famosa biblioteca de Alexandria, que abrigava pelo menos 200 000 livros, salas nas quais os copistas trabalhavam ativamente com oficinas direcionadas para a confecção de papiros. A era helenística conheceu o incrível progresso da história, ascensão da matemática e da física, campos nos quais surgem Euclides e Arquimedes, o desenvolvimento da astronomia, da medicina, da geografia e da gramática. A literatura conhece o apogeu com o poeta Teócritus, que prepondera especialmente na poesia idílica e bucólica.

Escultura As esculturas com estilo helenístico passam a ser em conjunto, desafiando pontos em diagonalidade, assim como um exagero muscular na busca pela perfeição para representar corpos, cada vez mais idealizados. A expressão e a dramaticidade ganham mais movimento. Os corpos passam a apresentar mais exagero, atribuindo às estátuas mais vivacidade e emoção. Naturalismo, realismo, idealização de beleza, dramaticidade exagerada (os gestos levam ao dramático emocional), movimento exagerado, concentração diagonal, grupo de figuras em mesma composição e algumas esculturas são presas à arquitetura. Fonte: Wikimedia Commons

Características nn Assimetria. nn Movimento

exagerado. nn Composição em diagonal. nn Composição ou cena em conjunto. nn Transparências. nn Vários pontos de apoio salientando a diagonalidade e o movimento. nn Corpos idealizados. nn Dramaticidade e expressão exageradas. nn Músculos, veias e nervos mais salientes. nn Cenas mitológicas, deuses e deusas. nn Uso do mármore e do bronze. Figura 01 - Laocoonte e seus filhos, Vaticano original grego de 40 a.C. – 20 a.C.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Arquitetura

Fonte: Wikimedia Commons

A arquitetura grega tinha um único objetivo: proteger as estátuas dos deuses das ações do tempo. Em seus templos, uma das características era a simetria entre a frente e os fundos (pronau e opistódomo, respectivamente), e foi a partir deles que se desenvolveram além das colunas com capitel de ordem dórica, os capiteis de ordem Jônica e os capitéis de ordem coríntia. Ordem Coríntia: muitos detalhes de volutas, folhas, flores. A terceira ordem grega, depois da dórica e da jônica, é a coríntia, variante decorativa da jônica. De fato, muitos pormenores são quase idênticos, exceto as proporções. Em contrapartida, é diferente a base da coluna, muito mais trabalhadas, e principalmente o capitel, em que aparecem as volutas da ordem jônica, aplicadas nas quatro faces. Elas são agora um elemento menor, em forma de sino invertido, envolvido por duas filas de folhas de acanto – uma planta herbácea de folhas grandes e muito decorativas com formas florais. É mais decorativa do que funcional, sugerindo luxo e ostentação. Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 02 - Vitória de Samotrácia, pedaços descobertos em 1863, hoje no Louvre.

Figura 03 - Coluna e capitel de ordem Coríntia. Figura 04 - Ruínas de um templo grego com capitel coríntio.

Pintura

A08  Período helenístico

Como em outras civilizações, a pintura apareceu na Grécia como um elemento de decoração da arquitetura. As paredes das construções eram, muitas vezes, ornamentadas por vários painéis pintados. O acervo da pintura grega hoje é limitado praticamente em algumas pinturas murais em afresco e nos vasos que chegaram aos nossos dias. A arte na cerâmica proporcionou uma forma de realização da pintura grega. Os vasos gregos não eram conhecidos apenas pelo equilíbrio e forma, eles também eram conhecidos pela harmonia entre o desenho, as cores e o espaço utilizado para a ornamentação. Eles serviam para os rituais religiosos e para armazenar, entre outras coisas, água, vinho, azeite e mantimentos. Os vasos tornaram-se objetos artísticos a partir do momento em que passaram a revelar uma forma equilibrada em um trabalho de pintura harmonioso. Frequentemente encontramos vasos com figuras geométricas – triângulos, círculos e formas em xadrez. Mais tarde, após o amadurecimento da técnica, apareceram figuras humanas em meio aos elementos abstratos e figuras humanas e animais em composições mais elaboradas. Para dar início ao processo, o artista pintava, em negro, a silhueta das figuras. Dando continuidade, ele gravava o contorno e as marcas interiores dos corpos com um instrumento pontiagudo. As diferenças estilísticas da escultura grega arcaica, clássica e helenística são claras. Na pintura teremos grande comprometimento devido ao acervo grego reduzido, mesmo assim em algumas análises conseguimos deduzir e diferenciar. 71


Artes

Características para aumentar a beleza da arquitetura. nn Desenvolvimento da pintura mural que infelizmente, restaram pouquíssimas obras. nn Podemos conhecer os detalhes realísticos da pintura grega pelas figuras que adornam os objetos domésticos de cerâmica. nn As cerâmicas apresentavam mitologia grega e a vida da época, como ritos funerários, competições esportivas e feitos heroicos no campo de batalha. nn Forte decoração linear ou geometrização – barrado grego. nn Ausência de paisagem. nn Uso da técnica do afesco – aplicação de tinta em cima do gesso ainda úmido direto na parede. nn Desenhos decorativos e dinâmicos.

nn Vasos

com pinturas em preto retratam cenas da mitologia grega, assim como aspectos da vida da época, como ritos funerários, competições esportivas e feitos heroicos no campo de batalha. nn As cerâmicas foram exportadas para todo o Mediterrâneo. nn Na cerâmica de pintura vermelha, as formas e os desenhos surgem como argila não esmaltada vermelha, contra um fundo preto esmaltado. nn Na cerâmica de pintura vermelha, os desenhos são mais detalhados e realistas, pois os contornos facilitavam o desenho de figuras humanas. nn A técnica da pintura de figuras negras nos vasos teve origem em Corinto em 700 a.C. nn A técnica de pinturas de figuras vermelhas foi por volta de 530 a.C. nn A técnica de pintar figuras negras e figuras vermelhas revolucionou a Grécia Antiga, que só conhecia o estilo geométrico.

A08  Período helenístico

Fonte: Wikimedia Commons

nn Usada

Cerâmica

Figura 05 - Imagens I e II - Hidra Grega, Imagens III, IV e V - Ânfora Grega, Imagens VI - Cratera Grega

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação 01. Os escultores da época helenística julgavam-se na obrigação de exprimir ação e movimento em composições em que predominavam um realismo exagerado e sensacionalista. Observando o Laocoonte e seus filhos (imagem da questão 2) e o fragmento de texto, assinale a alternativa correta. a) A obra apresenta dramaticidade exagerada, dinamismo de composição e forma. b) Nota-se que a obra não perde a serenidade e o equilíbrio da composição clássica. c) Há na obra um virtuosismo expressionista que tende ao dramático e teatral do período clássico. d) O caráter teatral que a obra apresenta não desperta a atenção ao espectador. e) A obra mostra-se extravagante, sentimental e contida. 02.

d) renascentista, momento em que a tradição e a herança do passado são sistematicamente negados, em prol de uma renovação da arte e da cultura. e) nazista, regime defensor da utilização da força como mecanismo de sustentação da superioridade da cultura hebraico-cristã, em relação aos afro indígenas. 03. “Dos povos da Antiguidade, os que apresentaram uma produção cultural mais livre foram os gregos.” PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Ática, 2007.

Com base na afirmação acima, assinale a alternativa incorreta em relação à arte da Grécia Antiga. a) Na arquitetura grega até o século V a. C., eram empregadas duas ordens: a dórica e a jônica. b) A escultura grega, considerando os exemplares remanescentes, era autóctone, não tendo sofrido influência alguma de civilizações vizinhas. c) A influência da arte da Grécia Antiga no Mundo Ocidental perdurou por muitos séculos. d) Na construção dos templos, os arquitetos gregos não utilizavam arcos, abóbadas e cúpulas.

As manifestações culturais se expressam em um contexto histórico que o refletem e que, dialeticamente, produzem esse próprio contexto. A análise da escultura representada acima e os conhecimentos sobre as manifestações da arte, nas várias culturas, permitem inferir que essa escultura é representativa do período a) grego henenístico , em que a arte refletia a valorização do homem e o racionalismo que surgiu como instrumento de análise epistemológica. b) romano imperial, quando a mitologia se sobrepôs ao conhecimento empírico, inibindo a pouca expressividade da cultura latina. c) medieval, que, por meio da filosofia tomista, buscava exaltar a fé a partir de provas materiais da existência de Deus.

a) O período clássico foi aquele em que a arte atingiu a máxima perfeição e harmonia. b) O período arcaico corresponde ao momento em que a arte recebeu influência de outros povos. c) O período helenístico marca o início da produção artística de grande porte. d) O período helenístico representa o início das construções artísticas gregas. e) O período arcaico é marcado pela perfeição, é o apogeu da arte grega. 05. Em relação à arte grega, julgue os itens:

C-E-E-C

01. Os escultores gregos do período arcaico tinham uma predileção por representar o corpo humano em posição simétrica. 02. A escultura grega, tanto do período arcaico quanto dos períodos posteriores, prezava pela simetria estática, eliminando qualquer tipo de dinamismo ou ideia de movimento. 03. Os escultores gregos tiveram predileção pelo mármore como matéria-prima principal, sendo muito difícil encontrar esculturas em outros materiais como o bronze. 04. Diferentemente da arte egípcia, que tinha uma conotação religiosa, a arte grega não estava submetida a fortes convenções, o que permitiu sua evolução mais livremente.

A08  Período helenístico

Fonte: Wikimedia Commons

04. Os períodos mais importantes da arte grega são: arcaico, clássico e helenístico. Assinale a alternativa correta em relação a esses períodos:

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FRENTE

B


Wikimedia Commons

ARTES Por falar nisso É importantes conhecer alguns elementos que compõem a linguagem da encenação teatral, o modo como os elementos sonoros, luminosos e imagéticos são trabalhados em um espetáculo e os tipos de palco e arquitetura teatral. Vai ainda, compreender como ocorreu a transformação dos rituais e das experiências religiosas em acontecimento teatral, como também perceber como a capacidade humana de imitar e de se transformar em outro ser permitiu o surgimento do teatro. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

B03 Elementos da encenação - Composição da cena e do ambiente......76 B04 Rituais.............................................................................................85


FRENTE

B

ARTES

MÓDULO B03

ASSUNTOS ABORDADOS nn Elementos da encenação – com-

posição da cena e do ambiente

nn Elementos de composição da cena e do ambiente nn Teatro Grego nn Teatro Romano nn Palco Medieval nn Palco Elisabetano nn Palco Corrales nn Palco Italiano

ELEMENTOS DA ENCENAÇÃO – COMPOSIÇÃO DA CENA E DO AMBIENTE Elementos de composição da cena e do ambiente Para a composição da cena e do ambiente teatral levam-se em conta diversos aspectos. Um dos pontos decisivos é saber o tamanho do espetáculo: pequeno, médio ou de grande porte e, consequentemente, qual o tipo de palco que será adequado para a apresentação. Assim, após a definição desses aspectos podem-se escolher os recursos de cenografia, de iluminação, de sonoplastia e de audiovisual com o objetivo de demonstrar o ambiente onde a ação dramática acontecerá, quais os tempos e os espaços/locais dos acontecimentos dramáticos. Outro aspecto decisivo para a composição da cena é a adoção de determinada corrente estética. A peça será montada de acordo com a estética grega, elisabetana, futurista, abstrata, realista, pós-dramática. Cada corrente tem uma determinada forma que mais se adapta aos seus postulados estéticos. Para a composição da cena ainda se leva em conta o trabalho dos atores, incluindo toda a movimentação e a caracterização. Desse modo, o conjunto de todos esses elementos desenha a moldura do que será visto e ouvido pelo espectador. nn Cenografia

(imagem)+ tipos de palco / arquitetura nn Sonoplastia (som) nn Iluminação (luz) nn Audiovisual (imagem, som e luz em ambiente virtual) Cenografia + tipos de palco / arquitetura Ao longo da história teatral, tivemos a utilização de vários tipos de palco, escolhidos de acordo com a estética e a funcionalidade de cada época. Na Grécia e em Roma, predominou o espaço cênico do tipo arena e semiarena. No teatro medieval, tivemos o espaço cênico dentro da igreja, depois no adro, nas escadarias e praças, que foram as mais reconhecidas no final do período. O uso de mansões em palcos móveis e fixos permitiu o surgimento de cenas simultâneas. O palco elisabetano contava com grande ampliação do proscênio e com mais dois níveis: o palco íntimo e o balcão. No século de ouro espanhol tivemos os currales, semelhantes ao elisabetano, porém, com apenas dois níveis. Atualmente, o palco italiano é o mais utilizado, pois é o tipo de palco/ arquitetura que mais privilegia a visão e a audição da plateia, além de garantir melhores condições técnicas para realização da cena e do espetáculo. A cenografia é a arte de organizar o espaço cênico (palco) com o objetivo de transmitir à audiência a percepção espacial de onde transcorre a cena, revelando o tempo e o espaço. Segundo Pavis, o espaço cênico É o espaço concretamente perceptível pelo público na ou nas cenas, ou ainda os fragmentos de cenas de todas as cenografias imagináveis. É quase aquilo que entendemos por “a cena” de teatro. O espaço cênico é dado aqui e agora pelo espetáculo, graças aos atores cujas evoluções gestuais circunscrevem este espaço cênico. PAVIS, Patrice Dicionário de Teatro, p. 133

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

A cenografia pode ainda estabelecer o conjunto de elementos móveis e imóveis organizados no espaço cenográfico (palco e plateia). Na produção contemporânea, é bem comum ter o cenário estabelecido por um elemento sonoro, audiovisual ou mesmo por meio do trabalho de ator. CENÁRIO - Aquilo que, no palco, figura o quadro ou moldura da ação através de meios pictóricos, plásticos e arquitetônicos.

PAVIS, Patrice Dicionário de Teatro, p. 42

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Exemplos de elementos móveis de cenografia: o periaktoi e o deus ex-machina do teatro grego e os telões pintados bidimensionais e tridimensionais da renascença, a sala de estar do teatro realista e a utilização de videocenografia no teatro contemporâneo.

Veja abaixo as imagens de alguns tipos de palco:

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B03  Elementos da encenação − composição da cena e do ambiente

Teatro Grego

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Teatro Romano

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Artes

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Palco Medieval

Figura 02 - Representação contemporânea de um ambiente medieval

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Figura 01 - Dupla de atores em frente a um palco medieval

Figura 03 - Auto da Barca do Inferno

B03  Elementos da encenação − composição da cena e do ambiente

1) Sala de figurinos 2) Sala de maquiagem 3) Depósito de material 4) Bandeiras 5) Arquibancadas e camarotes populares 6) Arquibancadas e camarotes populares 7) Lugares afortunados 8) Alçapão 9) Porta entrada e saída de atores 10) Palco 11) Porão 12) Fundo superior 13) Pátio 14) Lugares afortunados 15) Casinha 16) Céu – duas pilastras 17) Fundo superior Figura 04 - Teatro Elizabetano

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Palco Elisabetano


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Palco Corrales

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Artes

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Palco Italiano Iluminação A iluminação no teatro teve um processo inicial ligado à luz natural cujo sol foi utilizado, desde a Grécia até o século XVII, como fonte que garantia a visibilidade da cena. Por meio do uso de materiais inflamáveis as apresentações com velas e tochas passaram a ser possíveis também. Depois veio a lamparina a gás que possibilitou maior utilização do espaço cênico e consequente exploração do cenário tridimensional. No final do século XIX, com o advento da eletricidade e dos recentes recursos tecnológicos, a iluminação passou a ser elemento decisivo no processo teatral. Ela é cada vez mais presente e de grande utilidade e valor estético na linguagem cênica contemporânea. Podemos simplesmente iluminar para conferir visibilidade à cena, ou para amplificar os significados poéticos por meio da luz, dependendo do caso. Podemos usar a luz para criar os volumes, ou podemos preferir uma luz específica para uma personagem, com uma determinada cor, ou para definir um espaço para atuação, ou para definir planos psicológicos como no caso da montagem de Vestido de Noiva, em 1943. Podemos fazer efeitos especiais, definir o tempo, o espaço e o clima. A iluminação também permitiu ao teatro ampliar o seu poder de iludir e criar magia, muitas vezes utilizando materiais, como a fumaça para acrescentar alguns climas. É uma técnica que está evoluindo muito graças à variedade dos tipos de refletores e das mesas de luz que se modernizam cada vez mais e que estão sendo integrados às novas mídias digitais que facilitam e ampliam o universo de uso da luz nos espetáculos cênicos e musicais. A luz é de uma flexibilidade quase milagrosa. Ela possui todos os graus de claridade, todas as possibilidades de cores, como uma paleta, todas as mobilidades; pode criar sombras, irradiar no espaço a harmonia de suas vibrações exatamente como o faria a música. Possuímos nela todo o poder expressivo do espaço, se este espaço é colocado a serviço do

B03  Elementos da encenação − composição da cena e do ambiente

ator (Appia, 1954: 39). PAVIS, Patrice Dicionário de Teatro, p. 202

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

A iluminação elétrica possibilitou um eficaz controle da luz, criando os planos de iluminação frontal, lateral, contraluz, ribalta, pino (superior) e ainda os ângulos de abertura das lâmpadas e de afinação dos refletores. Outro ganho conferido à luz, desde o gás, foi o uso de cores para amplificar a densidade dramática. Na atualidade, a iluminação eletrônica ou digital confere um dinamismo à luz que garante a esse elemento um uso cada vez mais recorrente e mais importante. Sonoplastia É a arte de se comunicar por meio do som, incluindo música, ruídos, silêncios e falas, que podem ser executadas mecanicamente ou ao vivo. Pode-se organizar um conjunto de sons com o objetivo de pontuar a ação, amplificando a sensação dramática como ocorre nos filmes de suspense. Experimente ver Psicose ou Tubarão sem a sonoplastia/trilha sonora. Chega-se a provocar o efeito contrário: em vez de provocar medo, provoca riso. Às vezes acontece a utilização de uma canção, como uma espécie de leitmotiv, reproduzindo-a sempre que uma personagem aparece, recurso muito comum nas telenovelas. B03  Elementos da encenação − composição da cena e do ambiente

Afinal quem não conhece a música-tema das vitórias de Airton Senna na fórmula 1? Pode-se também verificar a utilização de sonoplastia como pano de fundo de diversas cenas com o objetivo de preencher o ambiente. A sonoplastia pode estar dentro ou fora da cena, pode reforçar ou mesmo contrapor a ação em curso. A contraposição sonora foi um recurso largamente utilizado no Teatro Épico de Bertolt Brecht. Há uma infinidade de situações cujo som é utilizado para temperar dramaticamente as cenas. O fato é que a utilização de sonoplastia é cada vez mais comum e ainda mais frequente o uso de sonoplastia mecanizada, por ter um preço mais acessível e por oferecer possibilidades sonoras mais extensas do que a música ao vivo. A sonoplastia ao vivo ganha na interação e sinergia com o público, porém, é mais dispendiosa. A sonoplastia informa, dentre inúmeros acontecimentos, o estado emocional, psíquico, a classe social da personagem, a época, a situação e o local onde se passa a cena. Informa ainda sobre as condições do tempo: se chove, se neva, se está trovejando, se há uma freada brusca, se uma sirene ou telefone tocam, se um alarme dispara ou um celular toca sem cessar. Enfim, podemos, por meio do som, informar uma gama de situações, confirmando ou até contrariando a narração da cena. Stricto Sensu, a sonoplastia ora é produzida pela cena e motivada pela fábula, ora é produzida nos bastidores ou na cabine de som e como que “colada” no espetáculo: ela é, portanto, diegética e extradiegética. PAVIS, Patrice Dicionário de Teatro, p. 367

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Artes

Audiovisual Podemos perceber dois caminhos para o audiovisual no teatro. nn O primeiro está mais atrelado ao registro das obras. Afinal, o teatro, como arte

Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons

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efêmera, sempre teve dificuldades de garantir posteridade às apresentações. O registro acontecia, quase sempre, de forma escrita e na forma de literatura. Hoje temos condições de registrar o processo criativo e as apresentações do fazer cênico. Claro que o registro audiovisual é mais completo que o escrito, mas ainda não conseguimos registrar as sensações táteis, olfativas e do paladar. nn O outro caminho é assegurado com a inserção desse elemento dentro da prática e estética teatrais. Com o acesso garantido por meio de um barateamento dos equipamentos e com a facilidade de processamento de imagens, esse recurso começou, gradativamente, a ser mais uma linguagem a serviço do teatro. Podemos dizer que é uma junção da sétima arte com as artes cênicas.

‘Trans-Hamlet Formation’ amplia o horizonte da Dinamarca à América Latina (Foto: Divulgação)

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 06. A música contribui de modo decisivo para a tensão dramática e o envolvimento ou distanciamento emocional. Para comprovar, basta assistir a um filme de terror sem áudio e verificar que o efeito será completamente diferente.

Exercícios de Fixação 01. É a iluminação que cria a cor, deve haver então uma combinação mínima entre o cenógrafo, o figurinista e o iluminador para que as escolhas cromáticas não se aniquilem. O espectador estará atento aos tons utilizados: quentes para uma sensação agradável; frios para suscitar a tristeza; médios para uma impressão neutra e calma. As colorações escolhidas suscitam emoções e sensações por obra da luz (clareza) e da cor (tom). Uma observação rigorosa das colorações relatará o efeito produzido sobre o espectador e a construção emocional do espetáculo. PAVIS, Patrice. A Análise dos espetáculos. P. 180.

A iluminação é um dos elementos de maior utilização na encenação contemporânea porque a) a qualidade e a quantidade de recursos luminosos presentes no palco facilitam o trabalho de iluminadores. b) interfere profundamente nos tons utilizados nos cenários e nos figurinos, pois a luz muda a cor dos elementos plásticos. c) os tons produzidos pela iluminação eletrônica são fundamentais para se alcançar diversos estados emocionais. d) o uso da luz facilita a compreensão do espectador, pois o contraste entre claro e escuro é suficiente para o entendimento. e) possui uma dramaturgia própria e original que independe dos demais elementos da encenação teatral. 02.

Texto comum às questões 03 a 05 Porém, invertendo o foco, cabe perguntar: de que forma o cinema contribuiu para o revigoramento do teatro? Para entender melhor essa contribuição, primeiramente, é preciso não esquecer que a narrativa cinematográfica inseriu-se entre as narrativas do romance moderno, que propiciaram a experiência da simultaneidade. Esta “consiste, sobretudo, numa consciência do momento em que nos encontramos: numa consciência do presente. [...] O fascínio da ‘simultaneidade’, a descoberta de que, por um lado, o mesmo homem vivencia tantas coisas diferentes, desconexas, e homens em diferentes lugares experimentam frequentemente as mesmas coisas, de que as mesmas coisas estão acontecendo ao mesmo tempo em lugares completamente isolados uns dos outros. J. Guinsburg. Dicionário do Teatro Brasileiro – Temas, Formas e Conceitos. p. 314

A partir do texto acima marque os itens abaixo como certo ou errado. 03. O audiovisual estabelece um novo paradigma teatral: a telepresença em contato com a presença. C 04. A simultaneidade foi uma característica do teatro medieval e do teatro elizabetano. Pode-se inclusive identificar o traço da linguagem cinematográfica no teatro de William Shakespeare. C 05. A telepresença, desde o século XX, é uma das grandes influências que o cinema provocou nas artes cênicas. C

A partir da análise da imagem acima e do seu conhecimento sobre elementos da encenação escolha a alternativa correta: a) Esse palco é do tipo arena e o mais utilizado atualmente. b) Na iluminação da cena é utilizado apenas o plano lateral. c) Observamos que o ator está no proscênio e a atriz está na coxia. d) O elenco não está usando indumentária e não há telão no cenário. e) Vemos na cenografia o uso de escultura, pintura e mobiliário.

B03  Elementos da encenação − composição da cena e do ambiente

Cenografia de um espetáculo http://www.flickr.com/photos/vm-vitrines-artes/3772324848/in

06. SONOPLASTIA - A sonoplastia é uma reconstituição artificial de ruídos, sejam eles naturais ou não. A sonoplastia deve ser distinta, ainda que nem sempre isso seja tarefa fácil, da palavra (em sua materialidade vocal), da música, dos resmungos e sobretudo, do ruído gerado pela cena. Trata-se do “conjunto dos acontecimentos sonoros que entra na composição musical”. PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro, p. 367

Qual a importância da música para a tensão dramática? 07. ATOR - O ator, desempenhando um papel ou encarnando um personagem, situa-se no próprio cerce do acontecimento teatral. Ele é o vínculo vivo entre o texto do autor, as diretivas da atuação do encenador e o olhar e a audição do espectador. O ator interpreta o personagem no palco. O autor escreve e constrói o personagem do ponto de vista literário.

PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro, p. 30

Qual a diferença entre o trabalho do ator e do autor?

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Artes

Exercícios Complementares Texto comum às questões 01 a 03 PLATEIA – A plateia de teatro toma corpo; o corpo de cada espectador repercute nos corpos que o cercam, e além disso, no palco e na escuta dos atores cuja atuação será infalivelmente afetada, positiva ou negativamente. A análise do espetáculo deve ressaltar as reações da plateia, avaliar-se ao impacto no desenvolvimento do espetáculo. Não são momentos isolados, mas toda uma estrutura de sentido que se coloca e organiza o conjunto da recepção. PAVIS, Patrice. A Análise dos Espetáculos, p. 227

01. A plateia do teatro contemporâneo é extremamente passiva, principalmente, por conta dos recursos tecnológicos. E 02. Podemos afirmar que o papel do público no fenômeno teatral é de extrema importância. C 03. A relação do público com o espetáculo teatral pode estabelecer-se de diversas maneiras, por exemplo: em sintonia com intérpretes e texto; no desejo de participar da ação; como testemunha dos acontecimentos; ou mesmo, mantendo-se emocionalmente distante para garantir o juízo crítico. C

B03  Elementos da encenação − composição da cena e do ambiente

04. ILUMINAÇÃO – Considerações técnicas – Nenhum outro sistema cênico fez tantos progressos técnicos ao longo dos últimos anos quanto a iluminação, por isso a profissão de iluminador de impôs depois da experiência do teatro popular de Vilar, e os iluminadores assistem o encenador já na primeira leitura do ensaio da obra. Para um espectador “médio” é impossível se manter informado das proezas tecnológicas: já seria muito se ele ao menos estivesse sensibilizado pela dramaturgia da luz. Mais do que ter acesso a um conhecimento técnico dos projetores utilizados, seria útil observar o lugar das iluminações e a distribuição das fontes luminosas, localizar onde os projetores estão colocados: de frente; lateralmente; em contraluz; em contraplano; horizontalmente; a pino. PAVIS, Patrice. A Análise dos Espetáculos, p. 179

No século XIX assistimos a evolução da iluminação, de simples elemento responsável pela visibilidade da cena, emprestando ao jogo cênico apenas a função utilitária, para um importante elemento que amplifica os significados da encenação. Quais foram as duas grandes contribuições da iluminação elétrica para a arte do espetáculo? a) policromatistmo b) uso de planos e ângulos

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Texto comum às questões 05 a 08 “Fantasmas de Guerra e Paz” Beleza e ambiguidade Lionel Fischer Ao lado de Dostoiévski, Gorki e Tchecov, Leon Tolstoi (18281910) foi um dos grandes mestres da literatura russa do século XIX. Deixou uma obra vasta e diversificada, na qual se incluem contos, ensaios, crônicas e romances, dentre estes duas monumentais obras-primas: “Anna Karenina” (onde denuncia o ambiente hipócrita da época e realiza um dos retratos mais profundos da alma feminina) e “Guerra e Paz”, que tem como tema as campanhas de Napoleão na Rússia. E é justamente este último- ou, melhor dizendo, recortes do mesmo, segundo consta do release que me foi enviado- que deu origem ao presente espetáculo, em cartaz na sede do Studio Stanislavski, que ora completa 21 anos de atividade. Com dramaturgia assinada por Henrique Gusmão e direção a cargo de Celina Sodré, “Fantasmas de Guerra e Paz” chega à cena com elenco formado por Branca Temer, Carlos Tonelli, Carol Caju, Clara Choveaux, Dandara Vital, Douglas Resende, Evelin Reginaldo, Henrique Gusmão, Joana dos Santos, Juan Carlos, Ketlen Cajueiro, Marcus Fritsch, Mauricio Fuziyama, Mel Brígida, Michael Sodré e Tuini Bitencourt. Também contendo citações do filme “Guerra e Paz”, de Sergei Bondarchuk, a montagem acontece nos dois espaços do Studio Stanislavski. Inicialmente, no primeiro deles, ficam os espectadores, diante de um elenco masculino; no segundo, as espectadoras, diante de atrizes. Como as ações acontecem simultaneamente e pertencendo ao sexo masculino, não posso avaliar o que aconteceu no segundo andar enquanto estava no primeiro. E neste espaço o que pude apreender é que estava diante de oficiais que teciam, dentre outras, conjecturas sobre a vida e a guerra, eventualmente interrompidos pela soturna aparição de uma figura misteriosa que, mais tarde, já no segundo andar, revelou-se um maçom. Fonte: <http://lionel-fischer.blogspot.com.br>.

05. Stanislavski foi um dos maiores nomes do teatro realista russo. Ele elaborou o primeiro método de trabalho de ator. C 06. Podemos considerar a montagem do Studio Stanislavski, dirigida por Celina Sodré, como um espetáculo realista, feito nos mesmo moldes da época de Stanislavski. E 07. A utilização de audiovisual nas peças teatrais é uma tendência no teatro contemporâneo. C 08. A divisão do espaço de representação e da plateia é um recurso cada vez mais explorado pelo teatro contemporâneo. C


FRENTE

B

ARTES

MÓDULO B03

NASCIMENTO DO TEATRO OCIDENTAL Rituais pré-teatrais

ASSUNTOS ABORDADOS nn Nascimento do teatro ocidental nn Rituais pré-teatrais

O ser humano, desde os primórdios, desenvolveu o hábito de realizar rituais e festividades para celebração da vida e da sobrevivência da espécie. Em muitos rituais era comum chegar a um estado de transe, arrebatados, cheios de êxtase (como se estivesse fora de si) e entusiasmo (como se estivesse com o deus dentro de si). Nessa situação-limite, os homens brincavam, dançavam, cantavam, muitas vezes utilizando pinturas corporais, máscaras e ‘vestimentas’ de animais simulando situações reais. Os rituais estavam ligados aos ciclos de fertilidade e das estações, aos deuses do fogo, da chuva, das florestas e matas, dos rios, aos períodos de guerra, de coleta, de caça, de casamento. Os rituais são fenômenos ligados à natureza e à sobrevivência do homem. A fé estimulada durante os rituais tinha como resultado um processo de comunicação pautado na crença e na confiança de que as forças superiores, forças divinas, forças misteriosas, estavam ao lado do homem oferecendo proteção contra toda a sorte de infortúnio entre todos os incompreensíveis fenômenos da natureza. Caso o ritual não ocorresse e não fosse prestada a devida oferenda, isso poderia provocar a ira dos deuses e seu respectivo castigo. É bem provável que o ser humano da era primitiva, desenvolvera a partir da incorporação, da alteridade, da imitação e da representação, uma forma peculiar de religiosidade que foi amadurecida e aperfeiçoada ao longo do tempo. Nessas manifestações, podemos observar também a utilização desses princípios como pressupostos para essa prática ritualística, o que será depois fundamental para o surgimento e desenvolvimento do teatro. Com o passar do tempo, o ser humano começa a apropriar e abstrair esse conhecimento e transformar essa prática, agregando novas finalidades políticas, lúdicas e pedagógicas. Vale ressaltar que a imitação, a representação, a incorporação e a alteridade servem como forma de diversão. Na Grécia, esses são elementos utilizados como excelente recurso didático, espelhando os valores morais, éticos, jurídicos e simbólicos dos seres humanos e consequentemente da pólis em formação. A fonte material para o relato era a mitologia grega e as lendas sobre seus deuses, semideuses e seus heróis. O homem grego desenvolveu, ao longo de muitos anos, uma cultura oral, na qual era comum a tradição de narrar belas histórias dos fatos e feitos dos habitantes do panteão helênico e dos heróis. Em uma das versões de Dioníso, ele é filho do grande Zeus com a deusa Perséfone. Ainda bebê foi sequestrado e devorado pelos titãs, sobrando apenas o seu coração que foi transformado em suco. A mortal Sêmele, que bebe o suco, se relaciona com Zeus, fica grávida e gera nova vida para Dioníso. Agora Dionísio é filho de Zeus e uma mortal, mas a gestação não chega até o final, pois Hera, esposa de Zeus, pede para Sêmele chamar Zeus em sua imagem divina (raio) e, ao convocá-lo, ela morre com a descarga. Finalmente com a morte dela, Dionísio é transplantado do útero da mãe e nascido da coxa do grande Zeus.

Fonte: Wikimedia Commons

Dionísio era conhecido como um deus vital, ligado aos instintos, aos ciclos vitais, ao delírio, à loucura, ao vinho, à alegria, à transformação e à ressurreição. Foi criado como uma menina e talvez por isso seja identificado como um ser andrógino. É um Espírito da Primavera, o Deus do Renascimento, o Deus Touro, o Deus Bode, o Deus do Teatro aliado ao caráter trágico e cômico: a morte e a ressurreição. 85


Fonte: Wikimedia Commons

Artes

Figura 01 - Zé Celso e seu famoso espetáculo BACANTES.

Por volta do século VII a.C, na Grécia, aconteciam as festividades religiosas em honra ao deus Dionísio. Nesses festivais um coro com um número variável entre quarenta a cinquenta pessoas movia-se entoando cantos litúrgicos em versos iâmbicos ou cantos fálicos. Esses eventos também eram conhecidos como ditirambos ou ditirâmbicos, nos quais uma procissão percorria as ‘ruas’. Era comum no coro ter o corifeu, que desempenhava o papel do solista ou chefe do coro, que normalmente tinha destaque na procissão celebrando, cantando, dançando e narrando os fatos do deus Dionísio.

Fonte: Wikimedia Commons

Porém aconteceu no século VI a.C. o grande passo rumo à invenção teatral. Esse passo foi dado pelo corifeu Téspis com um ato aparentemente bem simples. Ele se destacou do coro e pronunciou: Eu sou Dionísio. Esse ato possibilitou o surgimento de um contraponto que permitiu o surgimento do diálogo. Afinal, agora era possível ‘Dionísio’ dialogar com o coro. Assim, Dionísio passou a ser ‘vivenciado’. A partir desse momento, o ser humano tomou consciência da sua capacidade de metamorfose e estava estabelecido o marco do nascimento do teatro ocidental.

B04  Nascimento do teatro ocidental

O diálogo e a interação com os deuses é uma forma de o público grego compreender as ações humanas a partir de uma relação divina. O público se reconhece por meio do processo de identificação do personagem que enfrenta os deuses, o destino e as fiadeiras, as Moiras (Parcas), e justamente por isso tem uma dimensão superior. Os deuses agem de vários modos com os homens, oferecem a profecia, a orientação e a advertência, e quando isso não resulta suficiente, vem a punição. Nesse mesmo século VI a.C., após fases de tensões políticas e de amadurecimento da sociedade grega, o ritual acompanhando esse processo de transformações se consolida no teatro. O Estado grego instituiu os concursos públicos enquanto se estabilizava como uma democracia em Atenas.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Depois de Dionísio, outros personagens entraram na arena grega para celebrar seus feitos e organizar um mundo cheio de mistérios e incompreensões religando o mundo dos homens, da natureza e do divino. Outro dado interessante de se observar no teatro grego é a evolução da sociedade ao longo desse período. Podem-se notar as mudanças na maneira de agir e pensar do homem grego, a alteração da crença absoluta do destino determinado pelo poder divino para o fortalecimento do livre arbítrio do homem. Isso tudo sem esquecer que a sociedade grega ganha consistência, fortalece a democracia e a ideia de justiça por meio da prática teatral. No início, o teatro não tinha as dimensões espaciais que hoje nós conhecemos, das acomodações preliminares para a realização dos ditirambos e das peças primitivas. Até a construção dos suntuosos teatros foi um processo de cerca de 200 anos, finalizado por volta do século IV a.C. Exercícios de Fixação 01. Para muitos historiadores, o teatro grego teria começado nos rituais celebrados em homenagem ao deus Dioniso (...), que era o deus da vida, da fertilidade, do sexo, do vinho, da embriaguez, da luxúria. Em suas celebrações, todo o inconsciente coletivo aflorava (...).

grego, tendo surgido no contexto dessa passagem, pode ser assim usado como o símbolo de uma transformação na estrutura religiosa que até então havia sido o fundamento comum de todas as civilizações.

Ana Maria Amaral, Teatro de Formas Animadas.

A partir do texto julgue os itens abaixo como certo ou errado:

O teatro grego nasce a partir da sua relação com o divino e depois se estrutura em função do processo civilizatório, por isso a) o teatro grego foi a primeira manifestação teatral registrada na história. b) os heróis constituíram a ligação direta entre o mundo humano e o mundo divino. c) o corpo do ator perdeu a capacidade de atrair o espírito dos seres e das coisas. d) as expressões faciais eram relevantes por conta do caráter intimista da cena. e) a comédia grega é o marco da transformação do ritual em teatro.

02. A origem do teatro grego está associada ao ritual religioso em homenagem ao deus Dionísio. C

O fato é que houve uma revolução radical na Grécia por volta do final do século VI e início do V a.C., com reflexos na arte, na política e, finalmente, no pensamento filosófico. Um dos símbolos mais plásticos dessa transformação vamos encontra-lo na metamorfose do culto agrário em espetáculo teatral e teórico da pólis. Entre o culto e o “ritual teatral”, entre a pura e simples imersão no ritual e a contemplação de uma grande plateia, há uma diferença qualitativa de postura humana. E não é difícil perceber um verdadeiro antagonismo entre o sentido de ritual e o de espetáculo. A passagem da postura de um crente para a de um espectador simboliza uma revolução no conceito de mundo. Em última instância, podemos interpretar as mudanças sofridas no teatro grego como uma gradual passagem de um ato de fé para um ato contemplativo, teórico. Basicamente conhecemos o que acarretou, em termos de pensamento, a mudança do mito para o logos. O teatro

03. Pode-se afirmar que o homem grego que participava do ritual religioso, passa a partir do fenômeno teatral a se dividir em duas funções: aquele que vê a ação e aquele que faz a ação. C 04. O espelhamento oferecido pela cena teatral ajuda o espectador a contemplar o mundo e a partir dele elaborar uma visão de mundo. C 05. O teatro na Grécia ajudou no processo de civilização do mundo helênico. Um dos marcos desse processo foi a mudança de pensamento, a saída de um mundo mitológico para entrada em um mundo racional, carregado de logos. Nesse sentido pode-se afirmar que a tragédia grega Antígona ajudou neste processo, pois a) O conflito está estruturado entre a lei dos deuses e a lei humana imposta por Creonte. b) O arrependimento de Creonte no final da tragédia reafirma o valor da lei divina. c) O ritual teatral é estruturado da mesma forma que o ritual religioso e assim facilita o acesso simbólico ao mundo mitológico e racional. d) O conflito é finalizado com a morte de Antígona, Hémon e Eurídice, assim fica decretada a vitória de Creonte e consequentemente a supremacia do mundo racional sobre o mitológico. e) Tirésias representa o homem superior e completamente envolvido com o mundo racional.

B04  Nascimento do teatro ocidental

Texto comum às questões 02 a 04

VEIGA, Guilherme. Teatro e teoria na Grécia Antiga, pp. 13 e 14

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Artes

Exercícios Complementares Gab. 1–C 2–E 3–C 4–E 5–E 6–C 7–C 8–C 9–E 10 – E

Texto comum às questões 01 a 03 Sabemos do ritual mágico-mítico do “casamento sagrado” dos mesopotâmios e temos fragmentos descobertos das disputas divinas dos sumérios; somos agora capazes de reconstruir a origem do diálogo na dança egípcia de Hator e a organização da paixão de Osíris em Abidos. Sabemos que o mimo e a farsa, também, tinham seu lugar reservado. Havia o anão do Faraó, que lançava seus trocadilhos diante do trono e também representava o deus/gnomo Bes nas cerimônias religiosas. Havia os atores mascarados que divertiam as cortes principescas do Oriente Próximo antigo, parodiando os generais inimigos e, mais tarde, na época do crepúsculo dos deuses, zombavam até mesmo dos seres sobrenaturais. BERTHOLD, Margot, História Mundial do Teatro, p.8

01. A máscara foi um elemento muito utilizado no teatro primitivo. 02. O mimo e a farsa foram os gêneros responsáveis pelo surgimento do teatro na Grécia. 03. O teatro grego, do mesmo modo que o teatro na mesopotâmia, nasce da necessidade humana de se reconectar com o divino.

06. O teatro contemporâneo, de algum modo, procura reestabelecer conexões com o teatro primitivo. Texto comum às questões 07 a 10 Para muitos historiadores, o teatro grego teria começado nos rituais celebrados em homenagem ao deus Dionísio (...), que era o deus da vida, da fertilidade, do sexo, do vinho, da embriaguez, da luxúria. Em suas celebrações, todo o inconsciente coletivo aflorava (...). Ana Maria Amaral, Teatro de Formas Animadas.

O teatro grego nasce a partir da sua relação com o divino e depois se estrutura em função do processo civilizatório. A partir do texto coloque certo ou errado nos itens abaixo. 07. O teatro grego foi a primeira manifestação teatral registrada na história do ocidente. 08. As histórias dos deuses e dos heróis constituíram a ligação direta entre o mundo humano e o mundo divino. 09. As expressões faciais eram relevantes por conta do caráter intimista da cena. 10. A comédia grega é o marco da transformação do ritual em teatro.

Texto comum às questões 04 a 06

B04  Nascimento do teatro ocidental

A máscara mais altiva e a mais impressionante pompa não podem salva o Imperador Jones, de Eugene O’Neill, do pesadelo da autodestruição. Os antigos poderes xamânicos esmagando numa lúgubre noite de luar ao som de tambores africanos. Nesta peça expressionista, O’Neill exalta “os pequenos medos sem forma”, transformando-os no ameaçador frenesi do curandeiro do Congo, cujo chocalho de ossos marca o tempo para ribombar selvagem dos tambores. Um eco estridente de ritos primitivos de sacrifício ronda o palco do século XX. Como se aflorasse do tronco da árvore, o curandeiro, de acordo com as instruções de O’Neill, bate os pés e inicia uma canção monótona.

Texto comum às questões 11 a 15 O que Dioniso vem ensinar é o mesmo que os poetas sempre transmitiram, e os pintores sempre pintaram e, com maior fidedignidade, os músicos sempre cantaram. Dioniso vem ensinar que a vida é um jogo em que os pares de opostos são parte de uma unidade permanente. É verdade que todos os povos exprimiram esta mesma sabedoria por meio de seus mitos e poetas, mas nenhum usou o teatro como os gregos o fizeram, e nenhum tinha em Dioniso seu patriarca e estandarte. A tragédia grega fala de Dioniso.

BERTHOLD, Margot, História Mundial do Teatro, p.6

A tragédia trata do imponderável. 04. A máscara é o elemento principal do teatro Nô Africano. 05. Os xamãs são lideranças espirituais que cantam, dançam e dialogam com os deuses, porém esta experiência não foi vivenciada no teatro africano.

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O povo grego do século V, que lidava com o mundo a partir de uma mitologia própria, encontrou na tragédia a forma de expressar sua impotência. Desde o nível individual, em que ações pessoais violavam códigos estabelecidos (no Agamenon, de Ésquilo), passando pelo social, com o poder do Estado fazendo as leis dos homens vencer a própria justiça


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(Antígone, de Sófocles), até alcançar a inexorabilidade das leis divinas (Prometeu, de Ésquilo; Édipo rei, de Sófocles). Em todas essas peças (e nas outras poucas que sobreviveram ao tempo) o protagonista se depara com a impossibilidade de realizar uma ação ou um desejo. Há uma muralha, às vezes tangível, outras simbólicas, que lhe veda o caminho. Nesse sentido do inexorável, às vezes é a morte que tomou para o Orco o ser amado, que não retornará jamais. Albor Vives Reñones. O riso doído, p. 149

Com base no texto acima, julgue os itens 11 a 15: 11. C; 12. C; 13. C. 14. C; 15. C.

11. A clareza e a ambiguidade eram constantes na representação das aventuras de Dionísio. 12. O povo grego através do teatro poderia redimensionar a função religiosa e também a função da moral e da política.

gatória da carteira de identidade”. A nota destaca ainda que “tomou cuidado em não divulgar qualquer imagem do espetáculo, por entender que pessoas fora da faixa etária indicada não devem ter acesso a tais conteúdos e não apoia a sua divulgação e, portanto repudia a postagem de cenas do referido espetáculo nas redes sociais”. A apresentação No palco, um grupo de nove atores tocam nos ânus uns dos outros em uma roda. Segundo o grupo, a apresentação tem três pilares, todos relativos a essa parte do corpo. A iniciativa ocorreu pela primeira vez em 2011, se repetiu em 2013 e 2014 e já havia causado celeuma nos outros locais onde foi apresentada, como na edição do ano passado do Fextival Mix Brasil, em São Paulo. Ela foi concebida pelos artistas Caio, Mavi Velos e Yang Dallas durante uma residência artística no Núcleo de Dirceu, em Teresina, no Piauí.

13. O teatro antigo grego foi uma experiência estética, pedagógica e terapêutica derivada da experiência religiosa.

Larissa Rodrigues - Correio Braziliense. Publicação:21/11/2015. Disponível em: http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/arte-e-livros/2015/11/21/noticia_arte_e_livros,174359/sesc-do-ceara-divulga-nota-de-esclarecimento-apos-polemica-peca-com-e.shtml 05/mar/2016

14. Pode-se inferir que nos rituais os participantes utilizavam vestimentas, máscaras e calçados e que esse figurino, de certa forma, foi utilizado no teatro grego.

A performance Macaquinhos - a arte de explorar o c… alheio apresenta e redimensiona o poder de um discurso cênico a partir da sua ‘viralização’. A partir das imagens e do texto acima, coloque Certo ou Errado nos itens abaixo.

15. Dionísio é a representação do teatro porque uma de suas características é a metamorfose. Texto comum às questões 16 a 21

16. E; 17. E; 18. C; 19. C; 20. C. 21. C.

16. A classificação etária regula e determina o conteúdo que vai ser divulgado para o público, assim a censura prévia é utilizada para proteger as crianças e os adolescentes. 17. A julgar pelo fragmento pode-se inferir que a performance Macaquinhos, de certa forma, apresenta uma encenação que se aproxima de rituais demoníacos.

Sesc do Ceará divulga nota de esclarecimento após peça polêmica com ‘exploração anal’. Assessoria da mostra destacou que “tomou cuidado em não divulgar qualquer imagem do espetáculo, por entender que pessoas fora da faixa etária indicada não devem ter acesso a tais conteúdos”. Performance polêmica viralizou na internet. Após a polêmica performance, intitulada Macaquinhos, e apresentada como parte da programação da 17ª Mostra Sesc Cariri de Culturas, em Juazeiro do Norte, no Ceará, viralizar na internet nesta quinta-feira (19/11), a assessoria da mostra divulgou uma nota de esclarecimento por meio da página oficial no Facebook. O Sesc Cariri argumentou que a apresentação tem “classificação de 18 anos e apresentação às 23 horas, com exibição obri-

18. A origem do teatro na Grécia Antiga está relacionada aos rituais fálicos e aos ciclos de fertilidade, assim pode-se inferir que há, de certa forma, um frenesi dionisíaco na performance Macaquinhos. 19. Houve diversas reações a proposta cênica, desde as que alegaram que essa performance não é arte até as mais preconceituosas que afirmaram que a performance era apologia à homossexualidade. 20. O conservadorismo e o pudor de grande parte da sociedade em relação ao ânus justifica a polêmica alcançada pela performance. 21. O uso de dinheiro público para incentivar a cultura deve, dentro de uma sociedade livre e democrática, assegurar a liberdade e a responsabilidade de expressão.

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B04  Nascimento do teatro ocidental

http://www.mariapreta.org/2014/09/arte-de-explorar-o-cu-alheio-conheca.html


FRENTE

C Tocadoras de Odaiko, tradição percussiva japonesa.


Fonte: Wikimedia Commons

ARTES Por falar nisso... A música sempre foi usada como forma de expressar pensamentos, emoções e sentimentos. O homem da caverna criava objetos sonoros com ossos, conchas, madeiras e sementes, agrupando diferentes tipos de sons, formando uma harmonia. As primeiras manifestações musicais ocorreram há cerca de 50 000 anos com o homem pré-histórico. Embora não haja nenhum tipo de registro do que se cantava ou tocava nesse passado distante, provavelmente o ritmo era um elemento importante. Ao emitir qualquer som com nossas vozes, pés ou mãos nós conseguimos, mesmo sem conteúdo melódico, produzir estruturas rítmicas. Herança primitiva e vital, o ritmo nada mais é que a manipulação das durações em música. Todo som soa por um determinado tempo e, quando fazemos música, organizamos essas durações de modo a criar sentido. Vamos entender agora os fundamentos da estruturação do ritmo na linguagem musical ocidental. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

C03 Duração..........................................................................................92 C04 Timbre............................................................................................98


FRENTE

C

ARTES

MÓDULO C03

ASSUNTOS ABORDADOS nn Duração nn A evolução da notação musical

DURAÇÃO A evolução da notação musical

nn Divisão binária dos valores rítmicos e os elementos básicos da grafia musical nn Pulso, acento e compasso nn Compassos mais comuns na música ocidental nn Compasso binário nn Compasso ternário

Fonte: Wikimedia Comme

nn Compasso quaternário

Figura 01 - Iluminura de um canto litúrgico (conhecido também como cantochão ou canto gregoriano) registrado na escrita neumática.

Durante milênios, os seres humanos produziram música sem deixar registro algum de suas práticas. Tudo que se cantava ou tocava era improvisado e não havia como garantir que seria executada alguma outra vez da mesma forma. Primeiramente veio 92


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a escrita das alturas, desenvolvida entre os séculos V a IX da Era Cristã. Essa primeira forma de escrita, denominada neumática, permitia a representação das alturas. A notação do ritmo nas partituras demorou muito tempo até que fosse desenvolvida uma sistematização das durações. Elas não apresentavam símbolos relativos à duração. O ritmo era algo a ser combinado (e de certo modo improvisado) durante a execução e se baseava no texto que estava sendo lido. Com o tempo, principalmente em razão do desenvolvimento da polifonia, fez-se necessário um registro mais preciso. Surgiram, assim, os valores rítmicos.

Fonte: Wikimedia Comme

Divisão binária dos valores rítmicos e os elementos básicos da grafia musical

Figura 02 - Divisão binária dos valores rítmicos

Os símbolos que mais vemos nas partituras (e que, muitas vezes, são chamados de notas) foram criados a partir da divisão de um valor inteiro, a semibreve, que, sucessivamente fracionada, deu origem aos seguintes valores:

Mínima: sua duração equivale à metade do valor da semibreve.

Semínima: sua duração equivale a um quarto da semibreve.

Colcheia: sua duração equivale a um oitavo da semibreve.

Semicolcheia: sua duração equivale a um dezesseis avos da semibreve.

C03  Duração

Fusa: sua duração equivale a um trinta e dois avos da semibreve.

Semifusa: sua duração equivale a um trinta e dois avos da semibreve.

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Artes

Esses símbolos, uma vez localizados nas linhas ou espaços de um pentagrama, representam, além de durações, as notas. Observe atentamente a partitura de “Für Elise”, de L. V. Beethoven. Entenda que se trata de uma partitura para piano, por isso existem dois pentagramas unidos por uma chave. A parte de baixo, iniciada por uma clave de fá , em geral é utilizada para o registro da mão esquerda, que, via de regra, executa as notas mais graves. A parte de cima, iniciada por uma clave de sol , representa a parte da mão direita, geralmente a mais aguda. A clave serve para definir o nome das notas no pentagrama. A clave de sol define a nota sol na segunda linha (de baixo para cima). A clave de fá define a nota fá na quinta linha (de baixo para cima). Diferentes claves existem para que as cinco linhas do pentagrama sejam suficientes para o registro em diferentes tessituras ou extensões. Por exemplo: na maior parte das notas tocadas pelo contrabaixo encontram-se várias oitavas mais graves do que aquelas tocadas pela flauta. Por isso, escrevemos para contrabaixo na clave de fá e para flauta na clave de sol. Em seguida, aparece na partitura a fração 3/4. Ela indica o compasso da música, nesse caso o compasso ternário. Mais precisamente essa fração define que cada compasso vai comportar a duração de três quartos da semibreve. Como já foi dito anteriormente, o valor da semínima equivale a três quartos da semibreve. Portanto, escrever 3/4 no começo da partitura significa dizer que cada compasso vai comportar a duração de três semínimas. A expressão “poco moto” significa pouco movimento e se refere ao andamento e à interpretação da peça.

Für Elise

Ludwing van Beethoven Fonte: Wikimedia Comme

Poco moto

Figura 03 - Os primeiros quatro compassos de “Für Elise”, de L. V. Beethoven.

Pulso, acento e compasso Nosso objetivo aqui não é entrar nos detalhes da teoria musical, mas compreendê-la de forma panorâmica. O que realmente precisamos entender, em termos de ritmo, requer o estudo de três conceitos básicos: pulso, acento e compasso. n n Pulso:

unidade básica de divisão rítmica. Quando pensamos em pulsação, lembramos do coração ou do relógio. Em ambos os casos é desejável que a pulsação seja regular, estável, constante. O mesmo se aplica em música. Para conseguir tocar em grupo, é fundamental que todos estejam na mesma pulsação, no mesmo ritmo.

nn Acento: marcação tônica dos pulsos. Quase sempre ao cantar ou tocar criamos

referenciais rítmicos para nos guiar e definir a regularidade rítmica. O que chamamos de acento pode ser traduzido em música como tempo forte. sequência de pulsos acentuados regularmente. Examine mais uma vez a partitura de “Für Elise”, de L. V. Beethoven. Nela, como em qualquer outra partitura, os compassos são delimitados por linhas verticais, denominadas barras de compasso. A separação em compassos facilita a visualização das notas. Mas o principal é a acentuação padronizada.

C03  Duração

nn Compasso:

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Fonte: Wikimedia Comme

Compassos mais comuns na música ocidental

Figura 04 - O tango é uma dança quaternária. Como qualquer dança, a coreografia do tango é influenciada pelas acentuações rítmicas.

Embora existam inumeráveis formas de combinação de acentuações e, consequentemente, inumeráveis tipos de compasso, predominam na história da música ocidental três fórmulas de compasso: binária, ternária e quaternária.

Marchas, marchinhas, marchas-frevo, choros, sambas, bossas e baiões têm em comum o compasso binário. O choro, em especial, é um gênero amplo que não Fonte: Wikimedia Comme se limita a esse compasso. Mesmo assim, a maior parte dos choros já compostos foram criados no padrão binário. No caso do samba é diferente. O samba tem uma marcação tipicamente binária. O samba é, ao mesmo tempo, um ritmo, uma dança e um gênero. O baião, ritmo desenvolvido por Luiz Gonzaga a partir da cantoria nordestina, tem também um ritmo claramente binário. De forma geral, as tradições musicais brasileiras tenderam historicamente às fórmulas binárias. Isso não quer dizer que o compasso binário seja exclusivo da música brasileira. As marchas, muito populares em todo o mundo, são sempre binárias, por exemplo. Figura 05 - As marchinhas tocadas no carnaval brasileiro são exemplos de músicas em compasso binário. 95

C03  Duração

Compasso binário


Artes

Fonte: Wikimedia Comme

Compasso ternário Pode-se afirmar que, historicamente, as tradições musicais de danças na Europa alicerçaram-se nos padrões ternários. Incluem-se aí a valsa, o minueto, a courante, a mazurca, a sarabanda, a polonaise, entre outras. Todas elas tradicionalmente ternárias. No século XIX, com a máxima influência colonialista europeia, as danças de matriz ternária se globalizaram. Entretanto, atualmente é raro ouvir músicas ternárias nas paradas de sucesso de música popular. É como se o compasso ternário tivesse caído em desuso, dando lugar a outras influências. Na música popular brasileira dos séculos XVIII e XIX, as valsas foram muito apreciadas. Mais tarde, no início do século XX, desenvolveu-se a guarânia, importante ritmo da música sertaneja de raiz. Mas, de modo geral, as estruturas ternárias não perseveraram nas tradições musicais brasileiras.

Compasso quaternário Figura 06 - Um casal dança uma valsa.

Vivemos hoje em um mundo globalizado, em que, cada vez mais, as modernas tecnologias de transporte e comunicação tornam possível a sensação de uma “aldeia global”. Existe, assim, uma cultura musical mundial sendo difundida e massificada em uma escala nunca antes imaginada. No centro dessa difusão cultural, encontram-se os países mais desenvolvidos, em particular, os EUA. Desse modo, não é exagerado afirmar que a globalização é, em certa medida, uma americanização cultural do mundo. E, como as tradições musicais norte-americanas são predominantemente quaternárias, esse compasso se alastrou de forma homogeneizante em todo o Ocidente. Atualmente é raro ouvir alguma música de grande circulação, em qualquer lugar do planeta, que não esteja estruturada em um compasso quaternário. Alguns gêneros e ritmos quaternários mais relevantes são: ragtime, twist, charleston, rock’n roll, salsa, reggae, xote, tango, entre outros.

Fonte: Wikimedia Comme

C03  Duração

Figura 07 - Casais dançam o twist.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação 01.

03. Na notação musical, um compasso é uma forma de dividir quantitativamente em grupos os sons de uma composição musical, com base em pulsos e repousos. Os compassos facilitam a execução musical, ao definir a unidade de tempo, o pulso e o ritmo da composição ou de partes dela. Os compassos são divididos na partitura a partir de linhas verticais desenhadas sobre a pauta. A soma dos valores temporais das notas e pausas dentro de um compasso deve ser igual à duração definida pela fórmula de compasso. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Compasso_(música)

Considere os conhecimentos acerca de compasso e suas variedades para responder ao que se segue: a) Qual é o compasso utilizado no estilo de dança denominado minueto? b) Esse compasso desfruta de ampla popularidade na música popular contemporânea? Por quê?

Legenda: Divisão binária dos valores rítmicos Tendo em vista a representação acima, denominada divisão binária dos valores rítmicos, determine quantas colcheias podem ser inseridas no tempo de duas semibreves. 02.

04. 1

2

3 Disponível na web em: http://www.culturaalternativa.com.br/geral/materias/2467-sao-paulo-tera-espaco-dedicado-ao-choro

Tendo como referência as imagens acima, relacione cada uma delas com um estilo musical e seu respectivo compasso.

C03  Duração

4

O ritmo é o elemento fundamental da prática musical. Todo som e toda nota possuem certa duração. As notas executadas ao longo do tempo constituem, assim, uma melodia. As melodias são registradas nas partituras por meio de símbolos convencionados internacionalmente. A organização das durações em música foi definida a partir da divisão binária dos valores rítmicos, que permitiu uma grande evolução na notação musical. Considerando a organização dos valores rítmicos na música ocidental e a sua forma de notação, marque a alternativa em que os valores representados correspondam a um compasso 4/4. a) Duas colcheias e uma semibreve b) Duas semibreves c) Duas semínimas d) Duas semínimas e uma mínima

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FRENTE

C

ARTES

MÓDULO C04

ASSUNTOS ABORDADOS

TIMBRE

nn Timbre nn A percepção do timbre na música

Fonte: Wikimedia Commons

nn Classificação dos instrumentos musicais

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 01 - Família do Alaúde. Para se ter uma noção da imensa diversidade de timbres criados pelos seres humanos ao longo dos últimos milênios, perceba que apenas um instrumento, o alaúde, em menos de cinco séculos deu origem a todos os instrumentos na imagem acima.

A percepção do timbre na música

Figura 02 - Esta pequena flauta feita a partir de osso de ave foi datada em 35 000 anos e foi encontrada em Tuebingen no sul da Alemanha em 2009.

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Ao ouvir uma mesma nota tocada em um violão, em uma flauta ou em um piano, perceberemos três sons ou timbres diferentes. Essa percepção humana, chamada de timbre, é especialmente responsável pelo prazer de ouvir música, mas também pelo desconforto dos ruídos incômodos. A experiência auditiva é biológica e cultural, ou seja, o que é prazer para uns, pode ser incômodo para outros. Ela é aprendida, mas é também fisiológica e, até certo ponto, inconsciente e involuntária. Desde muito jovens, aprendemos a escutar o mundo. Nascemos e enriquecemos o repertório de informações enviadas ao nosso cérebro com os inúmeros sons da natureza. A percepção dos timbres é o primeiro passo para a interpretação do mundo sonoro. Ao longo dos anos, vamos percebendo o papel fundamental da linguagem verbal. Destrinchar os sons das


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

palavras é entender diferentes timbres produzidos pela língua e pelos dentes na emissão vocal. Por isso, o timbre é tão importante em música, pois é uma das primeiras percepções do mundo sonoro. O que percebemos como timbre são aglomerados de “frequências”, denominadas parciais harmônicos, que, evidentemente, não percebemos como notas, mas nosso cérebro usa essa “impressão digital sonora” para que possamos identificar as diferentes fontes sonoras. 0

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Existem diferentes formas de classificação dos instrumentos musicais, como: o princípio de produção sonora, o material empregado na construção do instrumento, seu aspecto formal, o modo de tocá-lo ou, por exemplo, o uso a ele dado em determinada cultura musical. De todas as sistematizações, uma se consagrou no mundo ocidental: a classificação desenvolvida pelos musicólogos Erich Von Hornbostel e Curt Sachs. Esses estudiosos criaram uma divisão em cinco grandes grupos: aerofones, cordofones, membranofones, idiofones e eletrofones. Embora não sigamos aqui estritamente a classificação Hornbostel-Sachs, partiremos dela para melhor compreender a complexa variedade dos instrumentos musicais. Aerofones

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Figura 03 - Representação da série harmônica considerando os diferentes comprimentos de uma corda colocada em vibração em comparação com a frequência produzida (representada pela fração).

A série harmônica é a sequência natural de sons que ressoam sempre que é produzido um distúrbio em meio elástico. A proporção dos diferentes parciais harmônicos determina o timbre.

Fonte: Wikimedia Commons

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Figura 05 - Os berrantes, instrumentos de sopro produzidos a partir de chifres de animais, são exemplos de aerofones primitivos.

Aerofones são aqueles instrumentos em que o som é produzido pela vibração de coluna de ar por meio de tubo aberto ou fechado. Podemos dividi-los em duas subcategorias: madeiras e metais.

Classificação dos instrumentos musicais

Figura 04 - Produzidas a partir de ossos de aves, as flautas chinesas foram datadas de nove mil anos. Diante dos conhecimentos arqueológicos atuais, as flautas são os instrumentos mais antigos concebidos pelo ser humano.

Nem todos os instrumentos que fazem parte desse grupo são feitos atualmente de madeira. Alguns podem ter sido elaborados com esse material no passado, como no caso da flauta. Outros têm seu mecanismo de produção sonora centrado em um aparato de madeira, embora seu corpo seja construído com outra matéria-prima, como é o caso das palhetas dos saxofones. Apresentamos, em seguida, os mais relevantes instrumentos das madeiras.

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C04  Timbre

Fonte: Wikimedia Commons

Como exemplo de aerofones de madeiras temos: flautas, clarinetas, oboés, fagotes, saxofones, gaitas de foles, harmônicas ou gaitas de boca e acordeons. Para os aerofones de metais, podemos citar: trompetes, cornets, trompas, trombones e tubas.


Artes

Fonte: Wikimedia Commons

Flautas Nem todas as flautas são produzidas a partir de madeira. As flautas transversais utilizadas nas orquestras são construídas com ligas metálicas. Muitas flautas doces, que originalmente eram feitas de madeira, hoje são feitas de ligas plásticas. Entretanto, as flautas mais antigas e tradicionais foram ou são ainda fabricadas em madeira. Por exemplo: o shakuhachi japonês; a flauta pan, comum em diversas culturas de diferentes continentes; o nai árabe; a kena andina e o di chinês. O ancestral europeu que deu origem à flauta transversal atual foi o pífano, que ainda hoje é muito utilizado na cultura popular nordestina. de

flautas

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 06 - Alguns modelos ocidentais recentes.

Clarinetas Oriunda do chalumeau antigo, a clarineta tem princípio sonoro semelhante ao do saxofone que consiste na vibração de uma palheta situada no bocal do instrumento. Outras versões do instrumento são encontradas fora do ocidente, como o pungi indiano, conhecido como o instrumento dos encantadores de serpentes; a zummara, comum em todo o mundo islâmico, da África do Norte à Indonésia. Oboés Oriundo do Shawm medieval, o oboé é um instrumento constituído de tubo cônico por meio do qual o som, produzido pela vibração de palheta dupla, reverbera. Existem vários tipos de oboés ao redor do mundo. No Japão, existe o hichiriki; na Turquia, a zurna; na Índia, o sahnai. Fagotes

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 07 - Da esquerda para a direita: clarinetas em mi bemol, si bemol, alto, baixo e contrabaixo.

Figura 08 - Um oboé.

O fagote é um dos instrumentos que, na orquestra, funciona como baixo dos acordes sustentando as notas mais graves. Assim como o oboé, o fagote utiliza palheta dupla. O contrafogote, a versão mais grave do fagote, é também o instrumento mais grave da família das madeiras. Saxofones Apesar do corpo de metal, a família dos saxofones pertence ao grupo das madeiras devido ao mecanismo de produção do som nesses instrumentos - utiliza a palheta simples - um artefato de madeira. É um dos instrumentos mais recentes da música ocidental. Dentre os seis integrantes dessa família, os mais comuns são: o sax soprano, que apresenta som mais agudo e timbre mais brilhante; o sax alto, que conta com uma extensão bastante versátil e também talvez o tipo mais popular; o sax tenor, que tem uma tessitura um pouco mais grave do que o sax alto; e o sax barítono, o mais grave desses quatro, porém, muito grande e pesado.

Soprano

Soprano Figura 09 - Um fagote.

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Alto

Tenor

Barítono

Figura 10 - A família dos saxofones, do soprano ao baixo.

Fonte: Wikimedia Commons

C04  Timbre

Fonte: Wikimedia Commons

Baixo


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Fonte: Highland bagpiper in kilt

Gaitas de foles As gaitas de foles são caracterizadas pelo uso do fole (uma bolsa de couro), que, uma vez inflado, produz vazão de ar em diversos tubos simultaneamente. Por isso, as gaitas são dos poucos aerofones caracterizados por sons polifônicos. Embora usualmente associadas a tradições escocesas, elas aparecem em diversas culturas com variados nomes: no norte da África, a zukra, que utiliza tubos com palhetas simples; na Hungria, a duda, também de palheta simples; na Itália, a zampogna, de palhetas duplas; e, finalmente, na Escócia, as gaitas highland bagpipe e northumbrian small-pipe. Harmônicas ou gaitas de boca As harmônicas são instrumentos de palheta livre que se desenvolveram a partir do sheng chinês. As gaitas mais comuns são: a gaita diatônica, mais limitada em relação à extensão de notas, mas, por outro lado, mais popular e muito utilizada no blues, no rock e no folk; e a gaita cromática, que permite a execução das doze notas da escala ocidental. Figura 11 - Musicista tocando a gaita de foles escocesa.

Acordeons O acordeom utiliza a mesma lógica de produção sonora das harmônicas, mas com o auxílio do fole, para produzir ar comprimido, e dos teclados. Existem diversos tipos de acordeons. O bandoneon, por exemplo, é um tipo de acordeom utilizado na Argentina para se tocar, entre outros estilos, o tango. O acordeom, muito associado atualmente às tradições musicais nordestinas, é um dos instrumentos mais importantes no contexto da história da música brasileira. Metais

Figura 12 - Uma harmônica.

Fonte:Wikimedia C04 TimbreCommons

Fonte: Wikimedia Commons

A exemplo do que foi dito em relação às madeiras, nem todos os instrumentos da família dos metais são feitos de metal. De fato, o aspecto que mais une esse grupo é a produção do som, que nesses instrumentos não é feito por nenhum aparato (como as palhetas, por exemplo, no caso das clarinetas, oboés, fagotes e saxofones). Nos metais, os sons são criados pela vibração dos lábios do músico no bocal do instrumento. Os mais representativos instrumentos da família dos metais são:

Figura 13 - Um bandoneon argentino.

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Artes

Trompetes

Figura 14 - Um trompete.

Os instrumentos musicais de sopro talvez venha dos ossos e das conchas. O trompete de concha, embora bastante rudimentar, já apresenta o princípio fundamental dos metais, que é a produção sonora por meio da embocadura. Instrumentos como o didjeridoo, dos aborígenes australianos, também partilha a mesma técnica de embocadura. O trompete é o instrumento mais popular dos metais, muito utilizado na música erudita e no jazz. Uma característica importante desse, e de quase todos os metais, é a campana, resultado de uma expansão do tubo cônico no final do instrumento. Existem efeitos bem peculiares aos metais proporcionados pelas surdinas, que são objetos que, uma vez acoplados às campanas, proporcionam um abafamento ou uma alteração no timbre do instrumento. Cornets

Figura 15 - Um cornet.

Os cornets ou cornetas são muito parecidos com os trompetes e apesar de parecerem menores do que estes, têm um tubo maior e alcançam, portanto, maior extensão de notas. O flugelhorn tem um som mais suave e aveludado do que o trompete e, em geral, é o segundo instrumento dos trompetistas.

Fonte: Wikimedia Commons

Trompas

Figura 16 - Uma trompa.

Em inglês, a trompa é chamada de horn, que quer dizer chifre. Isso explica a origem do instrumento, que foi, ao longo de milênios, fabricado com os cornos de animais. No Brasil, o berrante é um exemplo de trompa primitiva. Existem instrumentos semelhantes à trompa ocidental em outras culturas musicais ao redor do planeta. No Tibet e em algumas culturas budistas, existe o rkang-gling, curiosamente elaborado a partir do fêmur humano; na tradição judaica, o shofar é feito de chifre de carneiro. Trombones

Figura 17 - Um trombone.

A maioria dos trombones tem o diferencial da vara, que é uma válvula móvel que substitui os pistões e ainda possibilita o emprego de efeitos peculiares como o glissando. O ancestral do trombone foi a sacabuxa ou sacabuche, instrumento que não tem grandes diferenças em relação ao trombone moderno, exceto pela técnica construtiva e pelo desenho da campana.

Tubas

C04  Timbre

A tuba é o instrumento mais grave dos metais. Seu tubo, praticamente cilíndrico, é abruptamente cônico no final e bastante longo: se esticado, pode chegar a quase seis metros de comprimento. Muito comum também em fanfarras e bandas marciais é o uso do eufônio ou bombardino, uma tuba um pouco menor, que conta com extensão de notas semelhante ao trombone.

Figura 18 - Uma tuba.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Fonte: Wikimedia Commons

Cordofones Cordofones são aqueles instrumentos cujo som é produzido pela vibração de corda a partir de estímulo realizado por palhetas (também chamadas de plectros), unhas ou dedos do instrumentista, por fricção de arco ou por percussão. Analisemos, portanto, cada uma das possibilidades de produção de som nas cordas. Saltérios ou cítaras A evolução inevitável das harpas foram os saltérios ou cítaras (não confundir com o sitar indiano), que incorporaram, ao invés da caixa de ressonância arqueada, um corpo plano e a facilidade maior de visualização das cordas ao tocar. A cítara mais comum no Japão é chamada de koto; na China, temos o quin; na Índia, há a vina; na Finlândia, o kantele; nos Estados Unidos, o saltério dos Apalaches.

Figura 19 - Instrumentos de cordas friccionadas. Do menor para o maior: violino, viola, violoncelo e contrabaixo.

Harpas

Figura 20 - Um saltério.

C04  Timbre

Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons

As harpas existem em todo o mundo, embora variem bastante em termos de sonoridade e técnica construtiva. Talvez uma das harpas mais simples seja o berimbau brasileiro, que conta com apenas uma corda. A harpa saùng-gauk, típica de Burma, assemelha-se à antiga harpa egípcia e sua concepção, enquanto instrumento, aproxima-se mais da escultura e da religião do que das questões absolutamente sonoras e musicais. Trazida pelos jesuítas ainda na fase inicial da colonização, a harpa se tornou um importante instrumento na América Latina. Dentre as várias harpas do continente americano, destacam-se a harpa paraguaia, a harpa llanera venezuelana e a harpa jarocha mexicana.

Figura 21 - Uma harpa clássica ou sinfônica. Repare nos pedais, que permitem a execução dos acidentes, e nas diferentes cores das cordas, que facilitam a execução do instrumento.

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Artes

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Alaúdes

Figura 22 - Um alaúde.

Os alaúdes representam a continuidade da evolução das cítaras. Neles, as mãos do executante assumem funções distintas: enquanto uma altera o comprimento das cordas, a outra as pinça. Trazem como novidade, portanto, as cordas sobrepostas a um braço e não mais posicionadas sobre a caixa de ressonância. A caixa de ressonância , nos alaúdes, sofreu ainda um redimensionamento em benefício de maior portabilidade do instrumento. O alaúde ocidental, que se desenvolveu a partir do ud ou alaúde árabe, apresenta de 13 a 24 cordas organizadas ao pares. Entretanto, existem vários instrumentos de funcionamento correlato ao do alaúde. O sitar indiano; na China, o yueqin; no Japão, o shamisen; na Rússia, a balalaika; na América Andina, o charango; na Grécia, o bouzouki; nos Estados Unidos, o ukulele e o banjo. No Brasil, o cavaquinho. Um importante instrumento de cordas beliscadas na música popular e erudita ocidental, o bandolim, também faz parte dessa grande família. No Brasil, desenvolveu-se, ainda, a viola caipira, viola de dez cordas ou viola brasileira que, criada a partir das violas portuguesas, estabeleceu-se como o instrumento mais importante da música rural brasileira. Violões Derivado das antigas cítaras gregas e dos alaúdes orientais, o violão clássico assumiu a forma que hoje conhecemos. O violão clássico também é chamado, no Brasil, de violão de cordas de náilon. Na Espanha, por exemplo, o violão se estabeleceu como o instrumento fundamental do flamenco. No Brasil, manifesta-se uma importante tradição violonística. A escola do violão brasileiro teve suas raízes no samba e no choro. Nos Estados Unidos, surgiu uma importante escola do violão de cordas de aço, associada ao blues e ao country, dois estilos que deram origem a vários outros, como o rock e o jazz. Guitarras elétricas

Figura 23 - Um violão clássico. Figura 24 - Alguns modelos mais comuns de guitarras elétricas.

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As guitarras elétricas, além de cordofones, encaixam-se também na categoria de eletrofones. Nelas, as cordas, uma vez pinçadas, produzem vibração, que, entretanto, não é amplificada acusticamente por uma caixa de ressonância, como ocorre no violão. Por meio do princípio de indução eletromagnética, essa vibração produz variação de campo eletromagnético entre as cordas de metal e os captadores magnéticos que são nada mais que ímãs revestidos por uma bobina de cobre. No início, as guitarras semiacústicas apresentavam caixa de ressonância. Atualmente são ainda utilizadas por músicos de jazz e blues. Entretanto, desde a década de 1960, as guitarras sólidas passaram a ser mais comuns. Basicamente, existem dois modelos: a Fender e a Gibson. O som das guitarras elétricas no rock mudou a estética da música popular a partir da década de 1960. Isso ocorreu graças ao uso de equipamentos de amplificação e distorção sonora, sobretudo os pedais de efeito. Ainda há outros modelos mais raros, como a guitarra havaiana, que é tocada usualmente com a técnica de slide, em que o músico utiliza um tubo nos dedos da mão esquerda.


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Contrabaixos elétricos

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O contrabaixo elétrico é bastante diferente, em termos construtivos, do contrabaixo acústico, que é incomparavelmente maior. Um tipo de contrabaixo elétrico muito utilizado no jazz é chamado de baixo fretless, isto é, fret (traste) e less (sem): sem trastes. Seu som se parece bastante com o contrabaixo acústico, com a grande vantagem de ser produzido por um instrumento com quase a metade do tamanho e elétrico, o que facilita a sua amplificação para execução em apresentações. Cordofones Friccionados Embora qualquer instrumento de corda possa ser tocado com uso de um arco friccionado transversalmente sobre as cordas, alguns foram desenvolvidos especialmente para serem tocados dessa forma. A intensidade alcançada por meio da fricção é, em geral, bem maior do que na corda beliscada. O timbre obtido tende também a ser bem diferente. Por isso, instrumentos como o violino têm uma identidade sonora bem peculiar. Uma característica também importante refere-se à duração do som nesses instrumentos, pois podem-se sustentar as notas durante um período muito maior do que é possível nas outras técnicas. Outro dado interessante é que todos os principais instrumentos de cordas friccionadas em uso atualmente nas orquestras (violino, viola, violoncelo e contrabaixo) têm quatro cordas. Conheçamos, portanto, alguns instrumentos de cordas friccionadas:

Figura 25 - Um contrabaixo elétrico.

Violinos

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Figura 26 - A família da viola da gamba, ancestral de boa parte da família das cordas friccionadas.

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O violino surgiu, tal como o conhecemos, entre os séculos XV e XVI na Europa, sobretudo na Itália. Ele representa uma importante tradição de cordas friccionadas que é muito mais antiga e que começou no mundo oriental. Conheçamos alguns ancestrais orientais do violino: na música indiana, o sarangi; na tradição persa, o kamanche; na música chinesa, o erhu; na tradição árabe, o rebab. Provavelmente desenvolvido a partir deste último, o rebec foi o elo final entre o violino atual e esses outros antepassados. No Brasil, o rebec se tornou a rabeca, instrumento popular, mais rústico do que o violino europeu, presente em diversas manifestações folclóricas de norte a sul do país.

Figura 27 - Um violino feito no século XVII pelo famoso luthier italiano Antonio Stradivari, capaz de valer milhões de dólares.

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Violas Semelhante ao violino em termos de construção, a viola tem, entretanto, tessitura mais baixa e timbre mais aveludado, menos brilhante. Sua origem remonta à família da viola da gamba, que tinha cinco instrumentos em diferentes extensões. Violoncelo O violoncelo, até o século XVII, fazia parte da família das violas. Posteriormente ele substituiu a viola da gamba nas formações instrumentais tradicionais. Sua afinação também é em quintas e sua extensão localiza-se entre a da viola e a do contrabaixo acústico. Atualmente o consideramos membro da família do violino assim como a viola e o contrabaixo, apesar de alguns parentescos diferentes entre esses instrumentos. Desse modo, considerando a tessitura dos instrumentos, da mais aguda à mais grave, temos o violino, a viola, o violoncelo e o contrabaixo. Contrabaixo acústico O contrabaixo é o instrumento com extensão mais grave das cordas friccionadas. No jazz, em vez de as cordas serem tocadas com arco, elas são tocadas com os dedos, como no violão. Essa técnica, de pinçar as cordas com os dedos ou unhas, é chamada de pizzicato.

Figura 28 - Uma viola.

Cordofones percutidos

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Uma terceira forma de produzir som nas cordas é percuti-las de alguma forma, seja com baquetas ou martelos especificamente concebidos para este fim. Conheçamos alguns tipos de cordofones percutidos:

Figura 29 - Um violoncelo.

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Figura 30 - O contrabaixo acústico.

Figura 31 - Um saltério de percussão.


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Pianos Pela sua importância como instrumento solista e como instrumento preferido dos compositores, capaz de permitir a realização de reduções de grandes texturas orquestrais, o piano de cauda ou grande piano é provavelmente um dos instrumentos de maior importância na história da música. O instrumento que se situa na transição entre o piano e o cravo é chamado de pianoforte, pelo fato de ser o primeiro instrumento de teclado de cordas percutidas e, por isso, tornar possível a execução de notas em intensidade fraca (piano, em italiano) ou forte. O piano elétrico é, a exemplo do clavinete, um cordofone eletrofone que apresenta um timbre muito apreciado no jazz e na música popular em geral. Membranofones Os membranofones são instrumentos musicais nos quais o som é produzido por meio de vibração de membrana ou pele esticada. Na maioria dos casos são os tambores que ocupam essa classificação. Dentre os inúmeros membranofones existentes, podemos dividi-los em, pelo menos, dois grupos: Membranofones de percussão

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Figura 33 - Percussionistas de uma escola de samba.

Figura 32 - Um piano de cauda.

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São membranofones que são percutidos (batidos) por meio de algum utensílio ou pelas mãos do instrumentista. Alguns exemplos desses instrumentos:

Figura 34 - O grupo baiano Olodum.

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Congas Originárias da África, as congas se estabeleceram na América Latina, a partir da migração forçada dos escravos africanos. São normalmente tocadas com as mãos em sofisticadas técnicas de execução. Atabaques Também de origem africana são os tambores utilizados no Brasil na prática da capoeira e nas religiões afro-brasileiras, sobretudo na umbanda e no candomblé. Neste último, são usados três diferentes tamanhos: rum, rumpi e lê, considerados sagrados na tradição religiosa afro-brasileira.

Figura 35 - Congas.

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Djembe O djembe é um tipo de tambor geralmente produzido a partir de troncos esculpidos, amarrações com cordas de sisal e pele de animais comum na África Ocidental. Odaiko O odaiko é o maior tambor da tradição do Taiko (“tambor” em japonês) e talvez o maior de todo o planeta. Tabla A tabla é um instrumento indiano composto de dois tambores de complexa execução: daya, o menor e mais agudo; baya, o maior e mais grave. Em especial na baya, o executante varia, mediante diferentes níveis de pressão na pele do instrumento, as alturas e, muitas vezes, cria notas, fato bastante incomum nos tambores. O instrumentista deve utilizar os dez dedos assim como as palmas das mãos, criando, como é tradicional na música clássica indiana, improvisações ritmicamente complexas e virtuosísticas.

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Figura 36 - Atabaques do candomblé.

Figura 37 - Djembe.

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Figura 38 - O odaiko.

Figura 39 - A tabla.


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Tímpanos Os tímpanos são os tambores mais importantes da orquestra sinfônica, pois são capazes de executar diferentes notas da escala. Por meio dos pedais, responsáveis pela regulagem da tensão das peles, o timpanista consegue controlar as notas que estão soando em seus tambores e assim executa pequenas melodias. Normalmente, os tímpanos são tocados em grupos de, no mínimo, quatro peças. Figura 40 - Tímpanos de orquestra.

Zabumba

A zabumba é um tambor brasileiro muito utilizado no nordeste brasileiro, principalmente no forró. A técnica de execução na zabumba é caracterizada pelo uso de duas baquetas: uma normalmente de plástico, outra de feltro. Isso resulta em dois sons diferentes: um grave e surdo, que marca a pulsação da música; o outro, agudo, brilhante e estalado, que realiza contrapontos rítmicos. Membranofones de fricção Embora a técnica de quase todos os tambores envolva a percussão, membranofones de fricção são muito raros, pois são aqueles em que o som é obtido unicamente por fricção. Entretanto, pelo menos um instrumento pode ser citado: Cuíca

Figura 41 - Uma zabumba.

Figura 42 - Uma “onça”.

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A cuíca é um tambor brasileiro em que o som é produzido por meio da fricção de uma haste madeira na parte interna da pele do instrumento. Muito utilizada no samba carioca, mas também encontrada em outras versões ao redor do país, como a onça, instrumento principal da dança sussa ou súcia, típica de Goiás e Tocantins.

Figura 43 - Osvaldinho da Cuíca.

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Idiofones Anteriormente denominados autofones, os idiofones são instrumentos musicais nos quais o som é produzido pela própria vibração do corpo do instrumento sem a necessidade de corda, membrana ou estímulo sobre uma coluna de ar. Podemos classificá-los em quatro tipos: Idiofones de percussão São idiofones cujo estímulo para a produção sonora ocorre por choque mecânico sobre a superfície do instrumento. Pratos

Figura 44 - Percussionistas de uma banda marcial tocam os pratos.

Os pratos existem em centenas de culturas musicais, geralmente apresentam uso ritual ou religioso.

Gongos Os gongos e os tantãs são grandes pratos de origem oriental. Na tradição do Gamelão de Java na Indonésia existe um tipo interessante de gongos chamados de bonangs: trata-se de pequenos gongos pousados horizontalmente sobre uma linha. Esses instrumentos compõem as orquestras do gamelão javanês. Sinos

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Desde os sinos de mão, utilizados em coros, até o carrilhão de orquestra, existem vários tipos de sinos e, embora alguns não tenham uso artístico, não deixam de ser instrumentos musicais. O agogô é um sino de origem Yorubá importante na música afro-brasileira. O triângulo, muito utilizado na instrumentação do forró, também é um tipo de sino.

Figura 45 - Monges budistas nepaleses tocam pratos em uma cerimônia religiosa.

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Figura 46 - Um gongo.

Figura 47 - Sinos orquestrais.


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Castanholas e afins As castanholas espanholas, assim como a matraca e as claves são instrumentos simples em que peças de madeira se chocam produzindo som. Xilofones e metalofones O xilofone, o vibrafone, a marimba e a celesta são instrumentos afins que utilizam barras de madeira ou metal afinadas em uma organização semelhante ao teclado de um piano. Idiofones de fricção São idiofones em que o estímulo para a produção sonora ocorre por meio do atrito entre duas ou mais superfícies.

Figura 48 - Dançarina de flamenco toca castanholas.

Reco-reco O reco-reco produz o som por meio da fricção entre uma baqueta e uma superfície rugosa.

Figura 49 - Um vibrafone.

Figura 50 - O reco-reco.

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A harmônica de vidro é um idiofone de fricção criado pelo político e inventor norte-americano Benjamim Franklin que se utiliza da mesma lógica sonora da fricção da borda de uma taça da cristal. Nesse instrumento, existem dezenas de semiesferas de cristal umas sobre as outras, orientadas sobre um eixo, formando uma escala musical. Já na harpa de cristal, são utilizadas apenas taças de cristal, de diferentes formas e tamanhos, afinadas por meio de diferentes medidas de água.

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Harmônica de vidro e afins

Figura 51 - Uma harmônica de vidro.

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Serrote musical Ao se lançar mão de um objeto do cotidiano, o serrote, cria-se, com o auxílio de um arco, um instrumento musical com um timbre muito peculiar e sutil. Idiofones beliscados Existem alguns idiofones em que o som é produzido pelo pinçar de hastes de metal e por isso também são chamados de lamelofones. Conheça alguns idiofones beliscados: Kalimba Também conhecida como sanza ou mbira, a kalimba é um instrumento em que diversas hastes de metal são fixas a uma base de madeira, que pode, em alguns casos, ser oca e funcionar, portanto, como caixa de ressonância. Harpa de boca A harpa de boca é um instrumento de origem asiática que utiliza o crânio do instrumentista como caixa de ressonância. A haste de metal deve ser mordida pelo executante para transmitir a vibração para seus dentes e ossos. Todavia, é por meio da modelagem do seu próprio palato que o executante cria as diferentes notas no instrumento. Idiofones de agitamento

Figura 52 - Músico tocando um “serrote musical”.

Idiofones de agitação são aqueles em que existe uma redoma, que pode ou não funcionar como caixa de ressonância, em que dentro ou sobre ela ocorre o choque ou fricção de pequenas partículas. Em outras palavras, estes são instrumentos que operam tais como chocalhos. Alguns tipos de idiofones de agitamento: Chocalhos

Figura 53 - Uma kalimba.

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Figura 54 - Duas harpas de boca.

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No Brasil existem dezenas de tipos diferentes de chocalhos como o ganzá, o caxixi, o maracá e o afoxé. Na África, também existem inúmeros tipos, entre os quais pode-se citar o xequerê, instrumento de origem Yorubá atualmente utilizado mundialmente.

Figura 55 - Um xequerê.


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Eletrofones A categoria mais recente de instrumentos musicais, os eletrofones, é especialmente complexa e interessante, pois envolve desde seu surgimento, no começo do século vinte, até hoje, a criação de novas tecnologias para a prática musical. Podemos sistematizar os eletrofones da seguinte forma: Instrumentos eletroacústicos São aqueles instrumentos na intersecção entre os instrumentos acústicos e os eletrofones propriamente ditos, pois usam a eletricidade apenas para captar e amplificar o som acústico do instrumento. Um exemplo: nn Os violões eletroacústicos: produzem som acústico que é captado eletricamente

por meio de captadores piezo-elétricos. Instrumentos eletromecânicos São aqueles em que a eletricidade é utilizada para produzir mecanicamente o som, captá-lo e amplificá-lo. Um exemplo: Órgão Hammond: nesse instrumento existem discos girando mecanicamente a partir dos quais, mediante captação eletromagnética, ocorre a conversão da energia mecânica em energia acústica.

Eletrofones analógicos São aqueles cujo som é produzido exclusivamente pela manipulação dos parâmetros da corrente elétrica. Exemplos: nn Sintetizadores analógicos: são instrumentos cujo som é produzido por meio da

manipulação direta de corrente elétrica. O grande trunfo dessa classe de instrumentos é que eles são capazes de produzir timbres novos. Por isso, inspiraram, em meados do século XX, uma nova corrente musical que buscava a inovação por meio de timbres artificialmente criados pelos recursos eletrônicos, a música eletrônica. Um dos primeiros sintetizadores da história foi o theremim, criado pelo físico russo Léon Theremim na década de 1920. Assim como a harpa laser,o theremim é um dos raríssimos instrumentos musicais que não requerem o contato físico para ser tocado, pois seu acionamento faz uso do princípio heteródino. Toca-se o instrumento por meio da aproximação e do afastamento das mãos em relação a duas antenas laterais: uma controlando a altura e outra, a intensidade do som. Outro importante sintetizador, este mais vinculado à música erudita, foi o ondas martenot, criado em 1928 por Maurice Martenot. Mas foi apenas na década de 1960 que Robert Moog desenvolveu o modelo de sintetizador analógico que se popularizou mundialmente, o sintetizador moog. Eletrofones digitais C04  Timbre

São os eletrofones em que não há produção, mas reprodução de som armazenado digitalmente em um dispositivo ou memória. Nesses instrumentos existem bancos de dados com inúmeros sons armazenados que podem ser acessados por meio de uma interface, seja musical, como um teclado de piano, ou não, como um teclado de computador. Exemplos: 113


Artes

n n Teclados digitais: às vezes também chamados de sintetizadores digitais (deno-

minação equivocada, pois nem todos têm a capacidade de produzir timbres), esses são instrumentos difíceis de serem categorizados, pois apresentam vários tipos com pequenas diferenças: sintetizadores, arranjadores, wokstations, controladores. Todos, entretanto, têm algo em comum: dependem de memórias digitais, dentro ou fora deles, para produzir som. O som de outros instrumentos, como cordas, sopros, percussões é, portanto, facilmente emulado de um teclado digital. nn Samplers: não são instrumentos, mas reprodutores de amostras sonoras. (Sample, em inglês, significa amostra). São muito utilizados por DJs e produtores de música eletrônica devido à sua operação intuitiva, fácil interatividade com computadores e portabilidade. nn Baterias eletrônicas: seja em pads semelhantes aos samplers, ou em kits como os da bateria. As bateiras eletrônicas funcionam como os samplers, acionando sons armazenados digitalmente por meio de interfaces na maioria das vezes parecidas com os tambores e pratos de uma bateria.

Exercícios de Fixação UnB

Tendo como referência as figuras anteriores, que mostram dois instrumentos musicais egípcios, bem como o instrumental usado pelos grupos musicais brasileiros, julgue o item a seguir. C

01. O instrumento derbak assemelha-se ao atabaque utilizado nas cerimônias religiosas do candomblé, e o mijwiz, aos instrumentos de sopro da Banda de Pífanos de Caruaru. Tendo em vista a classificação dos instrumentos musicais, julgue os itens a seguir:

C

02. Alguns eletrofones como o theremim produzem sons musicais sem nenhum recurso acústico como vibração de corda

Derbak

ou coluna de ar em tubo ou, ainda, fricção ou percussão em alguma superfície. Entretanto, instrumentos como a guitarra elétrica também podem ser considerados eletrofones, pois, apesar da vibração da corda, esta é captada por meio eletromagnético. C

03. Atualmente boa parte da música popular produzida no mundo ocidental utiliza além de instrumentos acústicos, eletroacústicos e eletrônicos, samplers, que são reprodu-

C04  Timbre

tores digitais de amostras pré-gravadas. Um exemplo deste novo tipo de instrumentos são os teclados digitais. Mijwiz

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

O timbre é uma das percepções mais complexas da audição

Ajustou, na medida, umas talas de cálamo exatas,

humana. Por um lado, fisicamente, o timbre diz respeito às

E, do dorso através e da pele, enfiou no quelônio

frequências ou mais precisamente aos harmônicos. Por outro,

E, conforme pensava, uma pele de boi esticou

em termos psicoacústicos, permite a identificação das fontes

E dois braços extremos dispôs, por travessa ajuntados.

sonoras. Na linguagem musical, o exercício do timbre está as-

Sete cordas de tripa de ovelha estendeu harmoniosas.

sociado às variações nas instrumentações das obras e também

Ao depois de fazê-lo, tomou do amorável brinquedo

às possibilidades narrativo-descritivas da orquestração. A partir

E co’um plectro uma a uma provou cada corda, aos seus dedos

do conceito de timbre e da classificação dos instrumentos mu-

Ressoava tremenda.

sicais, julgue os itens a seguir.

Homero. Hinos homéricos. Hino a Hermes, v. 44-53. Introdução e tradução de Jair Gramacho. Brasília: UnB, 2003. C

04. Um exemplo de cordofone extremamente primitivo é o berim-

Com referência ao texto acima e a conhecimentos relativos à

bau, um instrumento de cordas pinçadas ou beliscadas. C

05. As madeiras e metais fazem parte da categoria maior dos aerofones. Um exemplo de madeira é a flauta e de metal é o trompete.

E

propagação de ondas sonoras, julgue os itens a seguir. E 11.

Considerando-se que uma flauta e um piano estejam emitindo sons de mesma altura, sendo a amplitude do som do piano

06. Cordas friccionadas são aquelas em que o som é produzido

maior que a do som da flauta, é correto afirmar que uma pes-

normalmente pela fricção de arco sobre corda. São cordas fric-

soa situada à mesma distância desses dois instrumentos perce-

cionadas os violinos, os violoncelos, os banjos e bandolins.

berá sons de mesmo timbre.

E

07. O piano ocupa sozinho a categoria das cordas percutidas.

E

08. A sanfona e o órgão não são considerados aerofones, pois não

12. Com relação ao instrumento musical descrito no trecho do poema, assinale a opção correta.

se encaixam na categoria de instrumentos de sopro.

a) O instrumento é um membranófono e tem caixa de resso-

O sistema de classificação de instrumentos musicais criado

b) O instrumento poderia ser considerado precursor dos atuais

nância e cordas de tripas. por Erich von Hornbostel e Curt Sachs em 1914 é utilizado até

instrumentos de percussão.

hoje. Segundo esse sistema, as fontes sonoras classificam-se

c) No instrumento descrito, as notas musicais são emitidas por

em cinco grandes grupos, considerando-se a forma como o

cordas, sendo as ondas sonoras amplificadas por um resso-

som é produzido: cordofones — através da vibração de uma

nador côncavo.

ou mais cordas tensionadas; membranofones — através da vi-

d) No instrumento descrito, as talas de cálamo têm função si-

bração de uma membrana estendida e tensionada; aerofones

milar à do braço da guitarra moderna, que permite a modi-

— através da vibração do ar ou de sua passagem pelo instru-

ficação do comprimento das cordas e, portanto, a variação

mento; idiofones — através da vibração do corpo do instru-

da altura das notas musicais emitidas pela corda fricciona-

mento, ou alguma de suas partes, decorrente da própria elas-

da pelo plectro.

ticidade do material, sem necessidade de tensão adicional,

Na Grécia Antiga, o poema épico era declamado com acompa-

cordas, membranas ou colunas de ar; eletrofones — através

nhamento musical, a lira. A respeito da utilização de instrumen-

da passagem de corrente elétrica.

utilizados na música popular e folclórica brasileira, julgue os itens a seguir. E 09.

C 10.

O trio de forró é formado por sanfona, zabumba e triângulo,

tos musicais, julgue o item a seguir. E 13.

A literatura de cordel, a banda de pífanos e a poesia lírica clássica adotam procedimento musical semelhante.

14. A lira está para a poesia da Grécia Antiga assim como:

que correspondem, respectivamente, aos grupos de idiofones,

a) o violão está para a orquestra clássica.

cordofones e membranofones.

b) a alfaia está para a bossa nova.

Considerados os múltiplos sons que produz, o pandeiro pode

c) o berimbau está para o cordel.

ser, corretamente, classificado como membranofone e tam-

d) o atabaque está para o jongo. C04  Timbre

Com relação ao texto acima e aos instrumentos musicais

bém como idiofone.

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FRENTE

A


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ARTES Por falar nisso Fundação de Roma Roma, atual capital da Itália, fixada na porção central da Península Itálica, criada no século VIII a.C., contou com diferentes influências culturais e étnicas com povos que contribuíram para a sua origem. Entre eles, destacamos os etruscos, úmbrios, latinos, sabinos, samnitas e gregos. A criação de Roma é conhecidamente marcada pela lenda envolvendo os irmãos Rômulo e Remo. Segundo a história descrita na obra Eneida, do poeta Virgílio, o povo romano é descendente do herói troiano Eneias. Sua fuga para a Península Itálica se deu em função da destruição da cidade de Troia, invadida pelos gregos em 1400 a.C.. Após sua chegada, criou uma nova cidade chamada Lavínio. Tempos depois, seu filho Ascânio criou o reino de Alba Longa. Nesse reino, ocorreu o enlace entre o Deus Marte e a princesa Rea Sílvia, filha do rei Numitor. O envolvimento da princesa com a divindade deu origem aos gêmeos: Rômulo e Remo, que deveriam ter direito de reinar sobre Alba Longa. No entanto, o ambicioso Amúlio arquitetou um plano para tomar o governo e, por isso, decidiu lançar as duas crianças às margens do rio Tibre. Rômulo e Remo sobreviveram graças aos cuidados de uma loba que os amamentou e os entregou à proteção de uma família camponesa. Quando chegaram à idade adulta, os irmãos retornaram para Alba Longa e destituíram Amúlio, e criaram a cidade de Roma. Rômulo, que tinha o favor dos deuses, traçou o local onde seriam feitas as primeiras obras da cidade. Inconformado com a decisão do irmão, Remo saltou sobre a marca feita por Rômulo. Em resposta, Rômulo acabou assassinando Remo, tornando-se o primeiro monarca da história de Roma. Essa explicação mítica é contraposta às pesquisas históricas e arqueológicas que apontam uma hipótese menos heroica sobre as origens de Roma. Segundo especialistas, a fundação de Roma ocorreu a partir da construção de uma fortificação criada pelos latinos e sabinos. Esses dois povos tomaram tal iniciativa, pois resistiam às incursões militares feitas pelos etruscos. No entanto, os mesmos etruscos vieram a dominar a região no século VII a.C.. A partir da fixação desses povos, compreende-se historicamente o início da civilização romana. Disponível em: http://brasilescola.uol.com.br/historiag/roma-antiga.htm. Acesso em 28/05/2017

Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A09 A10 A11 A12

Arte Romana.................................................................................. 118 Arte Romana.................................................................................. 123 Arte Primitiva Cristã....................................................................... 127 Idade Média – Período Bizantino.................................................. 131


FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A09

ASSUNTOS ABORDADOS nn Arte romana nn Características principais nn Pintura nn Características nn Mosaicos

ARTE ROMANA A arte romana sofreu duas fortes influências, a da arte etrusca presente desde o início, no século VII a.C., que era voltada para a expressão da realidade vivida, e a da arte grega que se tornou intensa a partir do século IV a.C. e se traduziu em todos os âmbitos da arte romana: na escultura, na arquitetura, na literatura e, inclusive, na religião e na língua, tudo orientado para a expressão de um ideal de beleza. O desenvolvimento da arte romana começou a partir do século II a.C., época em que Roma já dominava a totalidade do Mediterrâneo e avançava com passos firmes sobre o norte da Europa e da Ásia. Quanto à influência grega, o processo desenvolveu-se quando os romanos mandavam trazer da Grécia esculturas, colunas e objetos de todo tipo, ou se faziam cópias dos originais nas oficinas da cidade. O espírito romano, mais prático e menos lírico, não demorou muito a oferecer sua própria versão do estilo. Desde a instauração do império, no século I a.C., a arte foi utilizada em Roma como demonstração de grandeza. Não apenas mudou totalmente a imagem da capital como também a do resto das cidades do império. Palácios, casas de veraneio, arcos de triunfo, colunas com estelas comemorativas (que significa “pedra erguida” ou “alçada”), aquedutos, estátuas, templos, termas e teatros foram erguidos ao longo e ao largo dos vastos e variados domínios do império romano.

Características principais em 753 a.C. nn Eram politeístas. nn É extremamente complicado definir qualquer arte como romana principalmente pela duração e abrangência da antiga civilização romana. nn Praticamente mil anos de história, da República (509 a.C. – 27 a.C.) ao Império (27 a.C. – 476 d.C). nn Influência dos gregos (ideal de beleza) e dos etruscos (realismo). nn Até o século XVIII havia pouca distinção entre as artes romana e grega. nn Apesar da reprodução da arte grega em alguns aspectos, os romanos deram contribuições importantes e originais à arquitetura, à pintura, ao mosaico e à escultura. nn Os arcos e as abóbadas semicilíndricas sem sustentação central são criações que provam a criatividade e a originalidade dos romanos. Fonte: shutterstock.com/ Por ariy

nn Fundada

Figura 01 - Falso quadro em Pompeia, séc. I a.C..

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Pintura Nosso conhecimento da pintura da Roma Antiga repousa grandemente nos artefatos preservados em Pompeia, Vetti e Herculano após a erupção do Vesúvio no ano 79 da Era Cristã. Quase nada restou das pinturas importadas da Grécia durante quatro ou cinco séculos, ou das pinturas feitas sobre madeira no atual território italiano durante aquele período. No século XVIII, foram encontrados vestígios dessas três cidades romanas, em bom estado de preservação devido cinzas vulcânicas, que as cobriram por completo. Entre as entusiasmantes descobertas pictóricas encontram-se os fabulosos afrescos que cobriam as paredes interiores da maior parte das habitações privadas e até de alguns edifícios públicos. A partir dessas pinturas, foi possível distinguir quatro estilos nos desdobramentos das pinturas em Pompeia:


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Características nn Primeiro

estilo – incrustação. nn Segundo estilo – arquitetônico. nn Terceiro estilo - perspectiva por meio da pintura. nn Quarto estilo - cenográfico. nn Mosaicos.

Fonte: Wikimedia Commons

1) Estilo de incrustação ou primeiro estilo séc. II a.C. – Estilo importado da Grécia e do Mediterrâneo Oriental. As paredes eram divididas em setores horizontais ou verticais, pintadas com cores vivas, falsos envasamentos de mármore (camada de gesso pintado para dar impressão de placas de mármore), batentes imitando madeira e até elementos arquitetônicos falsos.

Figura 02 - Falso mármore, falsa pilastra, falsos frisos.

Fonte: Wikimedia Commons

A09  Arte Romana

2) Estilo arquitetônico ou segundo estilo por volta de 80 a.C., até o início da Era Cristã – Possui influências helenísticas e está na sequência do estilo de incrustação, mantendo as faixas horizontais de ordenação da parede. É caracterizado pela presença de elementos arquitetônicos pintados a partir do chão, que emolduram painéis com cenas cotidianas, mitológicas com fundo em uma única cor. No nível superior e inferior, simulam-se frisos com barrado greco-romano (figuras geométricas que se repetem). Introduz ainda um efeito ilusório ou aparente recuo ou desfundamento da parede com linhas de profundidade.

Figura 03 - Ruínas de Pompeia e o vulcão Vesúvio ao fundo

Pintura na Vila dos Remédios, Pompeia – Século I a.C.

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Fonte: Wikimedia Commons

Artes

Figura 04 - Pormenores do afresco do triclinium da Villa dos Mistérios, em Pompeia, séc. I a.C.

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3) Perspectiva por meio da pintura pouco antes do início da Era Cristã – Desdobramento do estilo anterior. Representação de elementos arquitetônicos, decorados com grinaldas e outros ornamentos vegetalistas e/ou naturalistas que se encontram pintados com ilusão de janelas abertas e retratos centralizados na parede. Os painéis com cenas descritivas adaptam um menor tamanho. O efeito ilusório tende a suprimir a parede, por cenas pintadas que parecem quadros pendurados em perspectiva.

Figura 05 - Ilustração da pintura mural e pintura mural no interior da casa dos Vettii, Pompeia – Século I a.C.

A09  Arte Romana

4) Estilo cenográfico ou quarto estilo por volta de 60 a.C. – Combina os dois estilos anteriores e reforça o aspecto teatral da decoração. Enquadram cenas figurativas e descritivas, de temática mitológica e paisagens em estruturas arquitetônicas complexas e fantasiosas, organizadas em perspectiva. A decoração quase luxuriante envolve espirais, formas circulares, ornamentos e também cores vivas e contrastantes. 120


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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Figura 06 - Afrescos da Casa dos Vetti, Pompeia.

Mosaicos

Fonte: Wikimedia Commons

O mosaico consiste na colocação, lado a lado, de pequenos pedaços de pedras de cores diferentes sobre uma superfície de gesso ou barro, de acordo com um desenho previamente escolhido.

A09  Arte Romana

Figura 07 - Mosaico em Pompeia e piso de uma das casas do sítio arqueológico de Volubilis, nas ruínas romanas do Marrocos.

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Artes

Exercícios de Fixação 01. A cultura romana incorporou vários elementos de outras culturas, inclusive, na esfera religiosa. Sobre a religião e a

romana do:

cultura na Roma Antiga, considere as afirmativas a seguir:

a) 1° estilo

I.

Os romanos, apesar de monoteístas, aceitavam facilmente o culto de deuses de outros povos. Essa interação cultural pode ser explicada pelo fato do Estado romano, envolvido apenas com questões políticas, não ter se importado com assuntos religiosos.

II.

III.

c) 3° estilo d) 4° estilo 04. A técnica de pintura utilizada pelos romanos recebia seu nome em relação ao processo que era usado na sua composição. Que técnica era essa?

ficava-se com outros povos que cultuavam um único

a) Pintura a Óleo

Deus. Tais características estão expressas na pintura

b) Técnica em gesso

do segundo e terceiro estilos, assim como nos mo-

c) Encáustica

saicos que foram fundamentais para a expansão do

d) Afresco

povo romano.

e) Técnica do ocre

A religião romana, politeísta, foi se diversificando à

05. O Mosaico é uma das técnicas mais peculiares desse perío-

econômica. Assim como os exércitos incorporavam

do. Quanto ao mosaico assinale a alternativa correta:

novos territórios, a religião romana foi absorvendo

a) Eram produzidos com diminutas pedras uma do lado da

deuses e cultos de outros povos, presentes nas manifestações artísticas.

outra em uma superfície de gesso ou barro. b) As figuras humanas eram apresentadas em perspectiva.

Está correto apenas:

c) As pessoas são representadas com a face ovalada.

a) I.

d) A altura com a qual as pessoas são representadas era um

b) II. c) III. d) Todas estão corretas. 02. Os estudiosos da pintura existente em Pompeia (Roma) clas-

fator preponderante nos mosaicos romanos. 06. Na Roma do século II, cerca de quatro meses do ano eram dedicados aos espetáculos e jogos, que costumavam durar do amanhecer ao pôr do sol.

sificam a decoração das paredes internas dos edifícios em

Nos anfiteatros ou no circo o povo se acomodava seguin-

quatro estilos. Qual dos estilos abaixo é INCORRETO.

do certa hierarquia. A sociedade romana inteira estava

a) Paredes de uma sala recoberta com uma camada de gesso

representada por pessoas de todas as categorias sociais.

pintado; que dava impressão de placas de mármore.

Além de integrar o corpo cívico, os espetáculos também

b) Os artistas começaram a pintar painéis que criavam a ilu-

eram ocasião para a multidão expressar sua opinião sobre

são de janelas abertas por onde eram vistas paisagens com

os acontecimentos da cidade e as personagens políticas.

animais, aves e pessoas, formando um grande mural.

Era uma obrigação das autoridades participar, presidindo

c) Os artistas pintavam representações abstratas da realidade e valorizavam detalhes. d) Representações fiéis da realidade e valorização a delicadeza dos pequenos detalhes. e) Um painel de fundo vermelho, tendo ao centro uma pintura, geralmente cópia de obra grega, imitando um cenáA09  Arte Romana

b) 2° estilo

A civilização romana praticava a tolerância e identi-

medida que Roma ganhava importância política e

rio teatral. 03. As paredes eram divididas em setores horizontais, ou verticais pintadas, com cores vivas, falsos envasamentos de mármore, batentes imitando madeira e até elementos ar-

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quitetônicos fingidos. Esse estilo se enquadra na pintura

a apresentação. (Maria Luiza Corassin. Sociedade e política na Roma antiga, 2001. Adaptado.)

De acordo com o texto, é correto afirmar que, na Roma antiga, os espetáculos e jogos a) mostravam o dinamismo da economia. b) eram espaço de tomada de decisões políticas. c) reforçavam o caráter democrático do governo. d) provocaram o fim da hierarquia social. e) tinham uma função cívica e política.


FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A10

ARTE ROMANA

ASSUNTOS ABORDADOS nn Arte Romana

Escultura

nn Escultura

Os romanos receberam forte influência da escultura grega. Eles trazer da Grécia: esculturas, colunas e objetos de todo tipo e faziam cópias dos originais nas oficinas da cidade. Com o passar do tempo e depois de assimilar e empregar o formato e as características gregas, o espírito romano, mais prático e menos lírico, fez com que desenvolvessem sua própria versão, assim como o estilo peculiar, conforme as necessidades dos romanos e seus governantes.

nn Arquitetura

As esculturas, os bustos, os monumentos e os relevos arquitetônicos romanos são os que mais se sobressaem nos espaços públicos e privados, devido à necessidade de estabelecer uma relação de reconhecimento por parte do povo com relação aos governantes representados. O povo romano identificava o imperador conforme a sua representação. Dessa foram, a produção escultórica apresentava-se com um caráter realista. Os escultores romanos buscavam a reprodução mais fiel possível da realidade em suas obras e centravam-se nos aspectos psicológicos, ou seja, a obra evidenciava o caráter, a honra e a glória do retratado. Características nn 1º momento cópias das obras gregas, mais tarde imagens realistas (as principais

representações eram dos imperadores romanos). nn Uso

de relevos.

nn Grande

produção em bronze.

nn Grande

produção de bustos.

nn Relevos

para ornamentar e narrar histórias.

nn Embora copiassem as esculturas dos gregos, as estátuas romanas destacavam-se

pelos detalhes realísticos (características do representado, deixando de lado a idealização). nn Em

temas mitológicos permanece o uso do ideal de beleza.

nn Dobras

da pele são acentuadas principalmente em relevos.

nn Na

obra Augusto de Prima Porta, os detalhes realísticos foram em geral atenuados e elementos simbólicos foram acrescentados a fim de idealizar partes específicas da imagem.

nn Sucesso na guerra, frutos da paz,

retratos e bustos de imperadores e seus feitos eram retratados e celebrados em altares e arcos de triunfo, que se transformaram em peças eficientes de propaganda.

Figura 1

Figura 2

Figura 3

Figura 01 - Augusto de Prima Porta e detalhe, Vaticano – 20 a.C. Figura 02 - Busto do Imperador Antoninus Pius – 138-161 a.C. Figura 03 - Retrato de um Romano – Séc. I d.C.

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Artes

Arquitetura Os romanos preocuparam-se com o caráter funcional e prático de sua arquitetura e necessitavam de espaço. Para tal, desenvolveram-se o uso do arco e da abóbada, influência etrusca. Por meio do uso do arco e das abóbadas nas construções, as estruturas diminuíram a utilização das colunas gregas e aumentaram os espaços internos. Antes, se as colunas não fossem usadas, o peso do teto poderia causar tensões nas estruturas. O arco ampliou o vão entre uma coluna e outra e a tensão do centro do teto era concentrada de forma homogênea. Houve com isso uma combinação harmônica entre a beleza e a utilidade nas mais variadas edificações romanas, como: teatros, templos religiosos, palácios, estradas, aquedutos, anfiteatros, termas, residências e pontes que interligaram as mais diversas regiões do império, facilitando o trânsito de pessoas e o tráfego de mercadorias para outras regiões. Foram criados os anfiteatros, com o uso das abóbadas e arcos. O espaço era amplo e suportava muitas pessoas, além de oferecer fácil acesso. Era possível construir os edifícios em qualquer lugar. O evento mais apreciado eram as lutas dos gladiadores e não era necessário um palco para assistir ao espetáculo era usado espaço central elíptico circundado pela arquibancada, com grande número de fileiras onde podemos salientar o Coliseu, em Roma, uma das sete maravilhas do mundo moderno. No final do século I d.C., Roma havia superado as influências desenvolvendo criações e construções próprias. Nas moradias romanas, as plantas eram rigorosas e eram desenhadas sob um retângulo. As estruturas gregas eram admiradas pela elegância, flexibilidade e funcionalidade. Características nn Enquanto o templo grego servia para abrigar escultura de Deuses, as principais

construções romanas eram destinadas para abrigar o domínio do imperador (construções administrativas). nn Necessidade de espaços amplos. nn Utilização do arco acima das pilastras para ampliar os espaços internos, assim como abóbada cilíndrica. Frontão

Diagonal Sima Diagonal Geison

Cornija Geison

Mútulo Entablamento

Ábaco

Tríglifo

Métope

Filete Regula

Gutae

Frisa Arquitrave Capitel

Equino

Fuste

Coluna

Base Es lóbato Estereóbata Eu nteria A10  Arte Romana

Dórico nn Com

Corín o

Jônico

os arcos, os romanos diminuem o número de pilastras e aumentam os espaços internos. Afinal, as construções eram administrativas (amplos espaços para colocar pessoas para trabalhar e mostrar o domínio do imperador). nn Os romanos contraíram templos religiosos, espaços comerciais e governamentais, termas (casas de banhos coletivos), teatros, aquedutos e moradias. 124


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

SAIBA MAIS

e abóbadas cilíndricas e semicilíndricas.

A10  Arte Romana

Fonte: shutterstock.com

QUANTO MAIS INSTRUÍDO O POVO, TANTO MAIS DIFÍCIL DE GOVERNÁ-LO. A política do “pão e circo” (panis et circenses, no original em latim) como ficou conhecida, era o modo com o qual os líderes romanos lidavam com a população em geral, para mantê-la fiel à ordem estabelecida e conquistar o seu apoio. Com a sua gradual expansão, o Império Romano tornou-se um estado rico, cosmopoliFigura 04 - Arco Pleno ou Arco Romano Aqueduto construído para levar água das fontes. ta, e sua capital, Roma, tornou-se o centro Arco Arco Pilar e Dintel Pilar e Dintel de praticamente todos os acontecimentos sociais, políticos e culturais na época de seu auge. Isso fez naturalmente com que a cidade se expandisse e se tornasse um Império. Com gente vinda das mais diferentes regiões em busca de uma vida melhor, como acontece até hoje em qualquer parte do mundo, pessoas humildes e de poucas condições financeiras iam se acotovelando nas periferias de Roma, em habitações com ArcoAbóbada Cilíndrica Cilíndrica Arco Abóbada Pilar e Dintel Abóbada de Arestas Abóbada de Arestas conforto mínimo, espaço reduzido, de pouPilar e Dintel co ou nenhum saneamento básico, e que Figura 05 - Desdobramentos do Arco Pleno. eram exploradas em empregos de muito trabalho braçal e pouco retorno financeiro. Esses ingredientes, em qualquer sociedade são perfeitos para detonarem revoltas sociais de grandes dimensões. Para evitar isso, os imperadores optaram por uma solução paliativa, que envolvia a distribuição de cereais, e a promoção de vários eventos para entreter e distrair o povo dos problemas mais Abóbada Abóbada Cilíndrica Cilíndrica Abóbada Abóbada de Arestasde Arestas sérios na fundação da sociedade romana. Assim, nos tempos de crise, em especial no tempo do Império, as autoridades acalmavam o povo com a construção de enormes arenas, nas quais se realizavam sangrentos espetáculos envolvendo gladiadores, animais ferozes, corridas de bigas, quadrigas, acrobacias, bandas, espetáculos com palhaços, artistas de teatro e corridas de cavalo. Outro costume dos imperadores era a distribuição de cereais mensalmente no Pórtico de Minucius. Basicamente, esses “presentes” ao povo romano garantiam que a plebe não morresse de fome e tamFigura 06 - Coliseu, Roma – 70 d.C – 80 d.C. pouco de aborrecimento. A vantagem de tal prática era que, ao mesmo tempo em que a população ficava contente e apaziCaracterísticas do Teatro Romano guada, a popularidade do imperador entre nn Arena (palco) oval. os mais humildes ficava consolidada. Essa tal política do “pão e circo” muito utilinn Três fileiras de arcos com abóbada cilíndrica para sustentar a arquibancada. zada na Roma antiga continua até hoje. Em nn Formato em 360°. várias situações nos cenários nacional e internacional, esse tipo de manipulação se nn Construído no centro da cidade romana. apresenta das mais diversas formas: evennn As colunas do Coliseu em Roma e os elementos decorativos fazem uma referência tos esportivos, programas televisivos, notícias sensacionalistas, e tantos outros tipos explicita ao estilo da Grécia antiga, contudo, os feitos estruturais alcançados na de “atrações” para a população são visíveis altura e a enorme arquibancada oval, sustentada sobre corredores concêntricos a olhares atentos e esclarecidos. Disponível em: http://verdademundial.com.br Acesso em 19/06/2017

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Artes

Exercícios de Fixação 01. Julgue os itens com relação à arte da Roma Antiga e marque a alternativa com a sequência de itens corretos que melhor se enquadra como resposta final. (IV) a, d, e a) Os escultores romanos representavam não só as características físicas das pessoas, mas também um ideal de beleza. b) Os artistas romanos não realizavam nenhum tipo de pintura. c) Nas construções romanas, os arcos tinham uma função meramente ornamental, não possuindo, então, função estrutural. d) Os romanos foram grandes produtores e apreciadores da arte do mosaico. e) Existem cidades do Antigo Império Romano nas quais a arte, e mais especificamente, a arquitetura e o urbano podem ser apreciados hoje, que são Herculano e Pompeia. (I) a, c, d (II) c, d, e (III) c, d (IV) a, d, e (V) b, e 02. A arte romana sofre uma forte influência da arte etrusca popular, voltada para a expressão da realidade vivida. Marque a alternativa que apresenta legados culturais que os etruscos deixaram aos romanos nas suas construções. a) O arco e a abóbada. b) O arco e a coluna. c) A abóbada e o frontão. d) O frontão e a coluna e) O frontão e o arco 03. A imagem abaixo se refere à qual edificação romana?

A10  Arte Romana

a) Termas. b) Aqueduto. c) Prédio civil. d) Anfiteatro. e) Templo.

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04. A arte estatuaria romana é caracterizada pela: a) representação idealizada e bela das pessoas. b) representação realista das pessoas. c) representação detalhada das imagens e seres. d) representação de motivos tribais com precisão. e) representação distorcida da realidade observada. 05. Fazem parte das inovações romanas: a) arco, flecha, cimento e colunas dóricas. b) arco, abóbada de aresta e abóbada cilíndrica. c) arco, abóbada de aresta e colunas jônicas. d) arco, abóbada, concreto e colunas decorativas. e) arco, abóbada, frontão e colunas decorativas. 06. Relacione a arte romana e julgue os itens: E-E-E-C-C-C-E-C-C-E-E-E a) ( ) Na arquitetura romana predominam as linhas retas, como no Partenon. b) ( ) A pintura romana apresenta imagens realista com perspectiva, portanto, não apresenta a noção de profundidade. c) ( ) O Coliseu, importante construção Grega, foi tão bem planejado que inspirou os projetos dos estádios atuais. d) ( ) O forte dos romanos era a administração e na arte retratavam deuses e deusas idealizados. e) ( ) A contribuição mais importante dos romanos desenvolveu-se nas áreas de arquitetura e engenharia. f) ( ) O uso do arco e da abóbada pelos romanos permitia criar amplos espaços internos, livres do excesso de colunas. g) ( ) Os romanos herdaram dos gregos o uso do arco e da abóbada. h) ( ) A formação cultural dos romanos foi influenciada principalmente pelos gregos. i) ( ) Os romanos retratavam em suas pinturas imagens realísticas com perspectiva. j) ( ) A monocromia do mármore das estátuas clássicas tornou-se sinônimo de bom gosto estético, mas descobriu-se que elas eram originalmente coloridas e que os pigmentos aplicados sobre o mármore não resistiram à ação do tempo. k) ( ) O Coliseu é um bom exemplo do uso da abóbada de aresta. l) ( ) O Panteão foi planejado para reunir as esculturas de deuses, como também era onde o povo se reunia para os cultos.


FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A11

ARTE PRIMITIVA CRISTÃ A Arte Cristã divide-se em dois períodos: antes e depois do reconhecimento do Cristianismo como religião oficial do Império Romano. A arte primitiva cristã ou arte paleocristã surgiu após a morte de Jesus Cristo em 33 d.C., quando seus discípulos começaram a espalhar os seus ensinamentos. Inicialmente, a mensagem foi espalhada apenas pela Judeia, província romana e depois se espalhou pelo Império Romano. No ano de 64 d.C., no governo do Imperador Nero, houve sangrentas perseguições aos cristãos. A mais violenta delas ocorreu entre 303 e 305 d.C., no governo de Diocleciano.

ASSUNTOS ABORDADOS nn Arte Primitiva Cristã nn Características

Devido a essas perseguições, os primeiros cristãos faziam a arte nas catacumbas (construção subterrânea que serviam de sepultura ou ossuário, cripta, cova, túmulo). Os desenhos eram feitos nas paredes e tetos, nos sepulcros ou lóculos, onde eram colocados os mártires. Primeiro, as pinturas somente representavam a cruz (sacrifício de Jesus), a palma (martírio), a âncora (salvação) e o peixe (suas letras em grego são as iniciais do nome de Jesus) que eram os símbolos dos cristãos. Logo depois, começaram a surgir cenas do Antigo e Novo Testamento, sendo que, em destaque, os artistas retratavam Jesus Cristo. A arte não era feita por grandes artistas, mas por pessoas comuns, convertidas à religião. Em 313, o Imperador Constantino permitiu que o cristianismo fosse livremente professado. Assim em 391, no governo do Imperador Teodósio, o cristianismo foi declarado como a religião oficial do império.

Características nn Arte

realizada em Roma, principalmente após a morte de Jesus Cristo em 33 d.C. e antes da oficialização do Cristianismo em 391 d.C. nn As catacumbas além de serem cemitérios, também serviam como esconderijos, encontros e reuniões entre os cristãos. nn Nas paredes das catacumbas, encontramos as principais manifestações artísticas por meio da pintura, do período primitivo cristão. nn Principais desenhos: nn Cruz (sacrifício de Jesus) nn Palma (martírio) nn Âncora (salvação) nn Peixe (suas letras em grego são as iniciais do nome de Jesus) nn Característica dos desenhos: nn Linha, contorno. nn Cor (preenchimento interno ou externo). nn Roma ainda era politeísta. Quem acreditava em um único deus era perseguido, caçado e morto. nn Catacumbas – formadas por grandes túneis com paredes cavadas (lóculos), para abrigar os cadáveres. nn Criptas - “igrejas” subterrâneas. nn Em 313 d.C. – Constantino permitiu que o cristianismo fosse professado livremente. nn Arte feita por pessoas do povo, com muita simplicidade. 127


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Artes

Lóculos

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Figura 01 - Lóculo com pilastra grega e arco romano

Figura 02 - Cripta em uma catacumba romana.

símbolos – Cruz, pomba, âncora, peixe e pão.

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A11  Arte Primitiva Cristã

nn Principais

Figura 03 - Símbolos preferidos dos cristãos para representar Jesus: o peixe e o pão. Figura 04 - Pintura mural das catacumbas de São Calixto, em Roma (século II)

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

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nn Cristo na figura do “O Bom Pastor”: imagem comum em várias catacumbas cristãs.

Figura 05 - O Bom Pastor, Catacumbas cristãs – Século III.

sobre reboco do século III nas Catacumbas Romanas. Representa uma mulher com os braços levantados em súplica e oração em um cenário que sugere o paraíso. Sob a pintura, os lóculos, ou sepulturas escavadas na rocha.

A11  Arte Primitiva Cristã

Fonte: Wikimedia Commons

nn Pintura

Figura 06 - Pintura sobre reboco do século III nas Catacumbas Romanas.

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Artes

SAIBA MAIS TUMBA ONDE JESUS FOI SEPULTADO É ABERTA PELA PRIMEIRA VEZ EM SÉCULOS JERUSALÉM — A tumba na qual o corpo de Jesus foi colocado após a crucificação, segundo a tradição cristã, foi exposta pela primeira vez em quase cinco séculos. Como parte de um amplo projeto de restauração, uma equipe de pesquisadores levantou uma placa de mármore da parte interna da câmara da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, um dos locais mais sagrados do Cristianismo. A tumba estava selada desde 1555, segundo estudos anteriores. De acordo com a revista “National Geographic”, a operação para remover a placa de mármore integra um esforço para se alcançar a superfície original de pedra onde o corpo de Jesus teria sido deixado. Muitos historiadores acreditavam que essa caverna original, identificada séculos depois da morte de Jesus como a sua tumba, teria sido destruída com o tempo. Mas um arqueólogo acompanhando a equipe de restauração disse que testes com radares que ajudam a “enxergar” através do solo determinaram que paredes da caverna estejam de pé, com altura de dois metros e ligadas a um chão de pedra, atrás dos painéis de mármore da câmara no centro da basílica. O que foi encontrado é surpreendente — disse o arqueólogo da “National Geographic” Fredrik Hiebert, em entrevista à agência de notícias Associated Press. De acordo com a crença cristã, o corpo de Jesus Cristo foi colocado num “lóculo”, algo como uma prateleira escavada na parede lateral de uma caverna calcária, após a sua crucificação pelos romanos, por volta do ano 30 ou 33 d.C. Segundo a religião, um grupo de mulheres foi ungir o corpo três dias após o enterro, e o corpo não estava mais lá, pois Jesus havia ressuscitado. A cobertura de mármore foi puxada para trás, e nós fomos surpreendidos pela quantidade de material de preenchimento abaixo dela — disse Hiebert. — Será uma longa análise científica, mas finalmente seremos capazes de ver a superfície de pedra original onde, segundo a tradição, o corpo de Cristo foi colocado. Abaixo do material de preenchimento encontrado após a remoção

do lacre, os cientistas revelaram algo inesperado: outra placa de mármore. Segundo Hiebert, esta segunda laje, cinza e com a gravura de uma pequena cruz, deve ter sido colocada no século XII. A peça está rachada ao meio e possui uma camada esbranquiçada na parte de baixo. — Eu não acredito que seja a rocha original — disse Hiebert. — Nós ainda temos mais trabalho a fazer. Os trabalhos de restauração estão sendo realizados na pequena estrutura localizada no centro da Basílica do Santo Sepulcro, conhecida como Edícula da Tumba, reformada pela última vez em 1810, após um incêndio dois anos antes. Trata-se do local mais sagrado do cristianismo. No século II, o imperador romano Adriano ordenou que o local indicado, como a sepultura de Jesus, fosse aterrado e nele fosse construído um templo dedicado a Vênus. Dois séculos depois, o imperador Constantino decretou o fim da perseguição contra os cristãos e, em 326, sua mãe, Helena, visitou Jerusalém para encontrar os locais associados aos últimos dias de Jesus, e identificou o local da crucificação e a tumba onde foi construída uma igreja substituindo o templo de Adriano. Ao longo dos séculos, ela foi destruída e reconstruída diversas vezes, até o século XIV, quando ela passou a ser administrada por monges católicos e ortodoxos. — Nós estamos num momento crítico para reabilitação da Edícula — disse Antonia Moropoulou, que lidera o time de cientistas da National Technical University que está restaurando a estrutura, em entrevista à “National Geographic”. — As técnicas que estamos usando para documentar este momento único vão permitir ao mundo estudar nossas descobertas como se eles estivessem na tumba de Cristo. As comunidades cristãs responsáveis pela basílica deram aos pesquisadores um período de apenas 60 horas para escavações na parte interna da Edícula. Depois disso, a equipe de restauração terá que selar firmemente o núcleo do túmulo antes dos trabalhos de reforço, para evitar que materiais se infiltrem na tumba considerada sagrada. Disponível em: https://oglobo.globo.com/ Acesso em 12/07/2017.

Exercícios de Fixação Julgue os itens abaixo como Certo ou Errado

C-C-E-C-E-E-C-C

01. A exemplo do Coliseu, os anfiteatros romanos foram cenários de festas e espetáculos, e tiveram grande importância em práticas como a política do pão e circo.

A11  Arte Primitiva Cristã

02. Os desenhos nas paredes das catacumbas no período paleocristão, eram simples sem o uso de perspectiva, volume e proporção. 03. Os construtores romanos, assim como os gregos, assentavam o auditório dos teatros nas encostas das colinas, porque isso lhes garantiria maior solidez da construção e economia de material. 04. Encontramos na arquitetura das catacumbas o uso do arco e da abóbada romana. 05. A arquitetura romana concentrou-se na construção de edi-

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fícios com finalidade religiosa, descuidando-se das obras de infraestrutura e de atendimento às necessidades das populações urbanas. 06. Os desenhos nas paredes das catacumbas no período primitivo cristão, usavam apenas contorno e preenchimento com tintas sofisticadas. 07. A sobrevivência, até os dias atuais, de templos e palácios construídos pelos egípcios, gregos e romanos decorre do uso de materiais resistentes e da aplicação de princípios arquitetônicos fortificados, fazendo-os resistir à ação do tempo e dos homens. 08. A arquitetura romana expressava o caráter bélico e pragmático de uma cultura dominante, enquanto a arquitetura grega se voltava para a representação dos elementos que fundamentavam sua mitologia e sua concepção de mundo.


FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A12

IDADE MÉDIA – PERÍODO BIZANTINO Após a morte de Jesus Cristo, seus discípulos passaram a divulgar seus ensinamentos. Em um espaço de 139 anos eles, foram perseguidos mais de nove vezes, período conhecido e desenvolvido por meio da arte cristã primitiva. Em 391, o Imperador Teodósio declarou o cristianismo como a religião oficial do Império Romano. Ao contrário da arte cristã primitiva, que era popular e simples, a arte cristã depois da oficialização do cristianismo assume um caráter majestoso, que exprime poder e riqueza por meio do Papa e da Igreja.

ASSUNTOS ABORDADOS nn Idade Média – Período Bizantino nn Arquitetura nn Pintura e Escultura nn Ícones nn Iluminuras, Bíblia ilustrada ou ilustração medieval

Em 395, o Imperador Teodósio dividiu em duas partes o imenso território que dominava: o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente. O Império Romano do Ocidente, que ficou com a capital em Roma, sofreu sucessivas ondas de invasões bárbaras até cair completamente em poder dos invasores, no ano que marca o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média, em 476. Depois das invasões bárbaras, o Ocidente reorganiza-se em torno de uma nova aristocracia. Enquanto esse processo se desenvolve, as criações culturais caem a um nível muito inferior ao alcançado pelas realizações da Antiguidade Clássica, devido às invasões. As obras e objetos mais comuns no Império Romano do Ocidente eram pequenos e sofisticados, como: crucifixos, joias e pequenos ícones e manuscritos. O Império Romano do Oriente, apesar das contínuas crises políticas que sofreu, conseguiu manter sua unidade até 1453. Constantinopla que fez parte do Império Romano do Oriente foi fundada em 330 d.C., no local onde ficava Bizâncio, antiga colônia grega e hoje em dia, Istambul. Em 1453, os turcos tomaram sua capital, Constantinopla, quando teve início um novo período histórico: a Idade Moderna. Constantinopla servia de entreposto para várias rotas comerciais que ligavam a Europa ao Oriente, pois, era situada estrategicamente no estreito de Bósforo, entre o mar Negro e o mar de Mármara. Após a oficialização do cristianismo a religião passa a ser monoteísta. O termo bizantino, derivado de Bizâncio, passou a ser usado para nomear as criações culturais de todo o Império do Oriente, e não só daquela cidade. O sistema político, social e econômico era o feudalismo. Nesse território, a arte dividiu-se conforme os tempos. Divisão da arte no Império Romano do Oriente nn Arte

Bizantina – Séc. V ao Séc. X

nn Arte

Românica – Séc. XI ao Séc. XIII

nn Arte

Gótica – Séc. XIII ao Séc. XV

Objetivo da arte durante toda a Idade Média: catequizar. A maioria dos intelectuais e das pessoas alfabetizadas pertencia à Igreja. Não houve realidade visual, a visão é completamente teocêntrica, independente do período de estudo. A Igreja proibiu os nus e desapareceu com a proporção, a harmonia, o equilíbrio e a razão da antiguidade clássica. Havia um interesse exclusivo pela alma, a necessidade de salientar o pecado e o sentimento do pecador e a autorreflexão. A arte servia a igreja. As principais obras estão no campo da arquitetura, principalmente em construção de igrejas e sua ornamentação com mosaicos, afrescos, pinturas, ícones e esculturas religiosas, tendo como tema geral cenas da vida e dos ensinamentos de Cristo. 131


Artes

Arquitetura A arte bizantina se desenvolveu ao longo de mais de mil anos e se caracterizou por misturar na construção das igrejas o classicismo grego e a arte romana com tendência oriental à alegoria, e por um predomínio cada vez maior dos ritos cristãos. No processo construtivo, podemos destacar a arquitetura de grandes e imponentes igrejas, cuja característica principal era a presença de cúpulas sustentadas por colunas. As decorações e pinturas religiosas, no interior das igrejas, eram muito utilizadas, como processo de catequização. Características nn Base

circular, octogonal, hexagonal ou quadrada. cúpulas. nn Decoradas principalmente com mosaicos. nn Paredes grossas, uso da abóbada cilíndrica e de berço. nn Ambiente escuro.

Fonte: Wikimedia Commons

nn Imensas

A12  Idade Média – Período Bizantino

Figura 02 - Basílica de Santa Sofia – Istambul (532-537).

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Fonte: shutterstock.com/Por Karel Gallas

Figura 01 - Parte interna da Basílica de Santa Sofia – Istambul (532-537).


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

nn A Basílica de Santa Sofia foi projetada por dois gregos, um físico e um matemá-

Fonte: shutterstock.com/Por Pier Giorgio Carloni

tico. Localizada em Constantinopla, ela foi construída com o objetivo explícito de inserir nos cristãos a sensação de proximidade com Deus. Para isso, bastava olhar para cima, para dentro do gigantesco domo central. nn Domo central - suportado por uma base quadrada. Quatro enormes colunas foram construídas em cada ângulo do quadrado, no topo das quais havia quatro arcos. No espaço entre os arcos aparecem estruturas triangulares curvas chamadas de pendentes, formando uma base resistente ao domo. nn Ainda na composição temos 40 janelas que iluminavam o ambiente.

Figura 03 - Basílica de San Vitale, em Ravena - Itália (526-547).

Entre os anos 532 e 537, foi construído um grande edifício para ser a catedral de Constantinopla. A construção, promovida pelo Império Bizantino, seria a base de uma das mais famosas basílicas do mundo atual. Na ocasião, o templo religioso foi erguido no local onde já havia uma grande construção em relação às outras igrejas. No mesmo local levantou-se uma basílica de grandes proporções nomeada de Santa Sofia. A Basílica de Santa Sofia passou por três fases em sua história. A primeira foi anexada a grande construção de onde se encontra. A segunda foi uma reformulação encomendada por Teodósio II em 415, mas que foi destruída em grande parte por causa de um incêndio. A reformulação que desta vez se fez necessária gerou a construção que conhecemos hoje. O imperador Justiniano I ordenou a reestruturação da basílica logo após o incêndio, só que providenciando uma basílica muito maior e mais majestosa em relação às anteriores. Desde sua primeira versão, em 360, até 1453, a Basílica de Santa Sofia, também chamada de Hagia Sofia, foi utilizada pela Igreja Ortodoxa Bizantina. Entre 1204 e 1261, contudo, ela foi ocupada pelos religiosos latinos e transformada em um templo do Patriarcado Latino de Constantinopla, do catolicismo romano. Após 1453, a Basílica de Santa Sofia foi conquistada pela expansão islâmica e tornou-se uma mesquita muçulmana. O domínio islâmico no Oriente manteve a basílica como mesquita até 1931, quando foi secularizada e transformada em um museu. O nome da basílica é uma transliteração fonética da palavra grega sabedoria. Assim, o nome completo da basílica, na verdade, é Igreja da Santa Sabedoria de Deus. A construção é mundialmente famosa não só por sua bagagem histórica, mas também por sua arquitetura de destaque. O projeto do médico Isidoro de Mileto e do matemático Antêmio de Trales, ambos gregos possui uma enorme cúpula que é considerada um marco da arquitetura. Durante quase mil anos foi a maior catedral do mundo, perdendo o reinado apenas para a Catedral de Sevilha em 1520. A Basílica de Santa Sofia possui um patrimônio cultural riquíssimo, testemunho de várias fases da história. Muita coisa se perdeu na revolta civil que destruiu parte da primeira versão da basílica e no incêndio que forçou a construção da forma definitiva. A basílica abrigou a Igreja Ortodoxa por quase mil anos, até se iniciar o Cisma do Oriente, em 1054, que dura até hoje. Quatrocentos anos mais tarde, o Império Otomano conquistou Constantinopla removendo ou cobrindo grande parte do patrimônio e sobrepujando com marcas da cultura islâmica. Com quase cinco séculos de domínio islâmico, Kemal Atatürk determinou que a basílica fosse aberta ao público como museu secular, abrigando e exibindo sua rica história. Disponível em: http://arquitecturananoite.files.wordpress.com Acesso em: 15/06/2011

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A12  Idade Média – Período Bizantino

SAIBA MAIS


Artes

Pintura e Escultura A pintura bizantina não teve grande desenvolvimento, pois assim como a escultura sofreram forte obstáculo devido ao movimento iconoclasta. Encontramos elementos distintos: os ícones, pinturas em painéis portáteis, as miniaturas, pinturas usadas nas ilustrações dos livros, portanto vinculadas com a temática da obra, os afrescos, técnica de pintura mural em que a tinta era aplicada no revestimento das paredes, ainda úmidos, garantindo sua fixação, e os mosaicos com pequenos e coloridos pedaços de pedra colados em parede, com predominância da temática cristã. As imagens privilegiavam as figuras de Cristo e da Virgem Maria. Características nn Convenções

rígidas. nn Figuras chapadas sem perspectiva, com pouco volume e sem movimento (são mais simétricas). nn A frontalidade era determinada por Cristo e Maria representados com característica dos governantes (representados sempre maiores na imagem e frontal ao observador) usando auréola. nn Figuras humanas alongadas e desproporcionais. nn Olhar fixo no observador ou olhar misericordioso. nn Os pés não tocam o chão demonstrando divindade. nn Vestimentas clericais com belíssimos adornos. nn Com objetivo de catequização, decoração, domínio, demonstração de poder e divulgação do império romano. nn Afrescos e mosaicos decoravam as paredes das igrejas. nn Mosaicos com aplicação de pedras preciosas, mostrando o poder da igreja por meio da arte. Foi um tipo de arte muito difundido no Império Bizantino, principalmente na Era de Ouro, época de reinado do imperador Justiniano entre 526 a 565. As imagens em mosaico eram formadas pelos artistas a partir de pequenos e coloridos pedaços de pedra colados em parede. Imagens religiosas e do imperador foram os temas principais.

A12  Idade Média – Período Bizantino

Fonte: shutterstock.com/ Por Inguaribile VIaggiatore

Figura 04 - Detalhe do Mosaico bizantino na Basílica de San Vitale, em Ravena - 548.

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Fonte: Wikimedia Commons

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Figura 04 - Mosaicos - catequização, decoração e domínio. Imperador Justiniano, em Ravena - 548.

Fonte: shutterstock.com/Por Faraways

Figura 05 - Detalhes dos Mosaicos na Basílica de San Vitale, em Ravena - 548.

Figura 06 - Cristo pantocrator, mosaico da Basílica de Santa Sofia.

nn Quadros

com representações de figuras sagradas.

nn Produzidos, nn Processo nn Figuras nn Olhar

Fonte: shutterstock.com/ Por Oleg Golovnev A12  Idade Média – Período Bizantino

Ícones adorados e vendidos durante toda a Idade Média.

de douração: fundo dourado com aplicação de folhas de ouro.

frontais e chapadas.

fixo ou misericordioso.

nn Geralmente nn Rigidez

pinturas de cabeça e tórax.

e hierarquia.

nn Os

ícones eram feitos com outros materiais além de madeira e tinta, tais como marfim, Mamoré, metal, mosaico e tapeçaria.

nn Quando a imagem aparece com mais de uma personagem, os mesmos são

representados sempre abaixo da figura central. nn Auréolas. nn Os

ícones foram aliados da doutrina e da prática cristã. Figura 07 - Ícone Bizantino reformulado no computador da Virgem de Vladimir.

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Fonte: Wikimedia Commons

Artes

Figura 08 - São Nicolau, Museu Hermitage – Rússia – XIII-XIV ;

Virgem de Vladimir, Tretiakov, Moscou – 1131

Fonte: Wikimedia Commons

A12  Idade Média – Período Bizantino

Iluminuras, Bíblia ilustrada ou ilustração medieval

Figura 09 - Tribunal da Inquisição em crime de heresia contra a fé católica. Figura 10 - Uma letra “S” capitular iluminada na Bíblia de Malmesbury, um livro manuscrito medieval. Iluminura – objetivo de iluminar o sentido do texto.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

nn Pintura

decorativa das letras capitulares dos textos medievais.

nn Manuscritos, nn Uso

pergaminhos e determinados livros produzidos nos conventos.

do couro, aplicação de pedras preciosas, ouro e prata.

nn As

iluminuras foram aliadas da doutrina e da prática cristã, como forma de catequização.

nn Produzidas

durante toda a Idade Média e ainda hoje as iluminuras e Bíblias ilustradas são usadas. Exercícios de Fixação Leia o texto e responda Opinião do Papa Gregório Magno acerca das obras de arte. “as obras de arte têm pleno direito de existir, pois o seu fim não era ser adoradas pelos fiéis, mas ensinar os ignorantes. O que os doutores podem ler com a sua inteligência nos livros, o veem os ignorantes com os seus olhos nos relevos e nas esculturas.”

a) Adornos de bronze e cobre. b) Aquedutos e esgotos. c) Telhados de beirais recurvos. d) Mosaicos coloridos e cúpulas arredondadas. e) Vias calçadas com artefatos de couro. 05. Observe a imagem:

Papa Gregório Magno 540-604.

01. Redija um argumento para justificar a frase do Papa Gregório Magno, considerando o principal objetivo da arte produzida durante a Idade Média. 02. A arte Bizantina utiliza-se de algumas técnicas artísticas na sua produção, entre elas a pintura em afrescos, mosaicos e iluminuras. Quanto aos mosaicos e os afrescos pode-se notar a importância do Cristianismo. Tais técnicas caracterizam-se por: a) convenções ligadas à altura dos personagens de acordo com sua religiosidade e não posição social. b) uma pintura simplificada, sem regras minuciosas. c) representação em que santos são mais importantes que o próprio Imperador. d) ter o objeto de representar o poder e a autoridade absoluta e sagrada do Imperador. e) mosaicos realizados no interior das moradias dos fiéis.

a) A pintura em tela b) A arquitetura c) As esculturas em barro d) A costura e) O teatro 04. A civilização bizantina floresceu na Idade Média, deixando em muitas regiões da Ásia e da Europa testemunhos de sua irradiação cultural. Assinale a contribuição artística bizantina que se difundiu expressando forte destinação religiosa:

Virgem de Vladimir, Tretiakov, Moscou – 1131

A iconografia anterior está associada a uma importante instituição medieval. Trata-se da(s): a) Igreja b) Cavalaria c) Monarquia d) Universidades e) Corporações e Ofício

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A12  Idade Média – Período Bizantino

03. Entre as artes no império bizantino a que mais se destacou foi :


shutterstock.com/Por Vincentwang

FRENTE

B


ARTES Por falar nisso Por volta de 550 a.C., em Atenas, na Grécia, surgiu o teatro grego, emergido a partir das celebrações realizadas, sobretudo, para o Deus Dionísio, divindade das festas, da fertilidade e do vinho. Nas celebrações dionisíacas, em meio a procissões e com o auxílio de fantasias e máscaras, cuja duração chegava a uma semana, os espectadores bebiam, cantavam e dançavam. A arte cênica na Grécia Antiga foi muito importante no desenvolvimento da cultura do povo helênico. Ademais, o teatro grego também serviu de inspiração e influência para outros povos da Antiguidade Clássica, desde a Ásia Menor até o norte da África e, principalmente, os romanos. O termo theatron, do grego, significa “local onde se vê” ou “lugar para olhar”. Assim, o teatro na Grécia era formado por diversos elementos conceituais e organizacionais, entre eles cenários, personagens e figurinos. Na presença de júris eles apresentavam músicas, danças e mímicas. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

B05 Teatro grego: elementos conceituais............................................ 140 B06 Teatro grego: elemento organizacionais....................................... 146


FRENTE

B

ARTES

MÓDULO B05

ASSUNTOS ABORDADOS nn Teatro grego nn Elementos conceituais nn Unidades aristotélicas

TEATRO GREGO Elementos conceituais Para o bom entendimento do Teatro Grego é necessário compreender alguns conceitos fundamentais que se preservam até hoje. Vamos agora detalhar cada um com o objetivo de facilitar a leitura das obras dramáticas. Conceitos fundamentais nn Ágon – É o combate verbal das personagens, o conflito que constitui o desenrolar

dos fatos, que decorrem da hybris desencadeada pelo herói trágico e que se manifesta na luta contra os que zelam pela ordem estabelecida. Temos o Ágon também na comédia quando acontece o debate entre os protagonistas. nn Anagnórise

(reconhecimento) - É a passagem da ignorância para o conhecimento. A melhor forma - modelo ideal - é quando o reconhecimento acontece juntamente com a peripécia, como no caso de Édipo-Rei. O reconhecimento pode ser a constatação de acontecimentos acidentais, trágicos, mas, quase sempre, se traduz na transformação da personagem, assumindo novas características.

nn Anankê

(moiras ou parcas = destino) - É uma força, uma entidade que se encontra acima dos próprios deuses, aos quais não é permitido desobedecer. As moiras ou parcas contam com três personificações: nn Cloto:

que preside ao nascimento e mantém o fuso na mão;

nn Láquesis:

que fia os dias da vida e os seus acontecimentos;

nn Átropos, a mais velha das três irmãs, que, com a sua tesoura fatal, determina

o tamanho do fio da vida. nn Catástrofe

– É uma ação perniciosa e dolorosa: as mortes em ‘cena’, as dores veementes, os ferimentos e demais casos. É o desenlace trágico, que deve ser construído desde o início, uma vez que resulta do conflito entre o herói e o seu destino, ou seja, entre a sua hybris e seu anankê, aumentando o pathos do herói. Normalmente, está situada no clímax da obra, ou seja, o ponto de maior intensidade dramática.

nn Éthos

– A maneira de pensar, sentir, reagir do herói que através do seu éthos (costumes, hábitos, valores e crenças – sua forma de pensar) estabelece a descoberta do bem e do mal, determinando a purificação (catarse) no espectador. Podemos pensar hoje em caráter ou personalidade.

nn Diégesis

– É um conceito que retrata a capacidade de narrar acontecimentos. Diégesis pode ser entendida como “contar uma história” que retrata uma ação em um tempo e em um local. A narração de uma ação descrevendo a situação dramática e provocando na mente dos ouvintes a saga das personagens e suas respectivas emoções e reações etc. Os autores têm a capacidade, através da narrativa (diégesis), de transportar o espectador ou leitor diretamente para o mundo ‘inventado’, ‘ficcional’, ‘o mundo do faz de conta’.

nn Harmatia -

É o ato heroico que põe em movimento o processo que conduzirá a perda, ao erro, ao fracasso por meio da vontade do herói que pretende alcançar determinado objetivo. É algo que não se pode evitar, é uma espécie de ofensa

140


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

nn Hybris

– É à violação da ordem estabelecida através de uma ação ou comportamento do herói trágico. O herói acaba por enfrentar os poderes instituídos, desafia as leis dos deuses, da pólis, da família ou da natureza. Caracteriza-se como aventuras e desventuras do herói, seu orgulho e teimosia que se mantêm apesar das advertências. Ele se nega a curvar-se e essa recusa leva o herói a cometer o crime de desmedida (ultrapassar o metron, a justa medida das coisas).

nn Katharsis

(catarse) – É o processo de purificação, eliminação ou libertação das emoções e paixões despertadas pela identificação do público com a personagem. O efeito da catarse é um dos principais objetivos da tragédia e isso é feito por meio da comoção do Phobos (terror, medo) e Eleos (piedade). O efeito da catarse deve ser provocado nos espectadores e imprimir uma sensação de elevação da alma com ganhos psicológicos e morais.

nn Metron

– É o entendimento da justa medida e da percepção da noção de limite do indivíduo, de uma família, de um grupo, de um país. Seria o caminho do equilíbrio entre as partes envolvidas em uma determinada situação. Uma boa referência é o mito de Ícaro que deveria voar nem tão próximo do mar e nem tão próximo do sol. Outro símbolo é a balança que pode equilibrar as demandas do interior e do exterior e na orientação para se evitar o exagero. Hoje podemos entender isso como regra, lei, estatutos, acordos etc.

nn Mimeses

– é um conceito que designa a ação ou faculdade de imitar, copiar, reproduzir ou representar elementos da natureza, dos homens e dos deuses. Para Aristóteles é o fundamento de toda a arte. Precisamos compreender esse fenômeno como uma faculdade do ser humano, pois boa parte das atividades humanas se utiliza da imitação, seja a aprendizagem de línguas, de comportamentos, seja a prática religiosa, a prática desportiva, o domínio das novas tecnologias etc. A “imitação de uma ação” é um dos conceitos fundamentais utilizados na tragédia com objetivos de provocar o efeito catártico. A mimeses é, no teatro, uma elaboração artística a partir da observação e aplicação dos fenômenos da realidade.

n n Pathos

– É possível entender como dor, sofrimento, afetação, doença. É o sofrimento do herói imposto pelo Destino e executado pelas Parcas como consequência da sua teimosia, orgulho e ousadia. O pathos é transmitido ao público e é fundamental para a catarse. Temos quatro estados patéticos fundamentais: nn Apatia

nn Simpatia

- existe correspondência e atração entre os sentimentos e afetos

nn Antipatia

- existe rejeição dos sentimentos e dos

afetos nn Empatia

– existe correspondência e atração entre os sentimentos e afetos e o espectador se coloca no lugar da personagem.

nn Peripécia

– É a transformação do sucesso no fracasso ou o contrário. Assim, podemos considerar a peripécia como um fato imprevisível que altera o rumo dos acontecimentos da ação dramática. Funciona como uma quebra da expectativa gerada pela obra ao apresentar um desdobramento inesperado. Podemos, por semelhança, entender o plot point 1 e plot point 2 utilizado no roteiro cinematográfico como uma espécie de peripécia.

Unidades aristotélicas Entre as regras criadas no teatro grego cabe destaque especial para as Unidades Aristotélicas: nn Unidade de tempo (limite temporal dramático [diegé-

tico] de 24 horas, a fábula tem que ocorrer do início ao fim dentro desse limite temporal) nn Unidade

de lugar (um só cenário físico, não pode ocorrer mudanças de local, mas dentro da trama é possível percorrer três lugares: palácio, campo e cidade)

nn Unidade

de ação (uma só história, completa em si, nem tão curta nem tão longa, com início, meio e fim e sem enredos secundários)

Unidades Aristotélicas

Dimensão física

Tempo

Espaço

nn Némesis – É a vingança dos deuses ou do destino pe-

rante o desafio arrogante do homem. Um bom exemplo é Ulisses que desafia os deuses após a conquista da Guerra de Troia.

– ausência de sentimentos e afetos

Ação

Dimensão Dramática 24 horas (1 dia)

Único

3 lugares dramáticos: nn Palácio nn Campo nn Cidade

B05  Teatro grego

em que não se tem intenção determinada de fazer o mal. É entendida como a falha trágica. Podemos por semelhança pensar em um crime sem intenção de cometer. Você tem a culpa, deve a intenção de realizar seu objetivo, mas não pretendia o mal.

Única, completa em si com início, meio e fim.

141


Artes

Ao longo da história do teatro as unidades aristotélicas foram sofrendo alterações, sendo inclusive ignorada por algumas estéticas ou uma referência para outras. Nota-se esse movimento oscilatório no modo como as unidades aristotélicas são utilizadas nos teatros medieval, elisabetano e século de ouro espanhol. No período clássico as unidades descritas por Aristóteles foram valorizadas e definitivamente discutidas por Diderot e Voltaire que a partir do modo como os gregos entediam o tempo, o espaço e a ação propuseram a mistura dos gêneros trágico e cômico, e criou assim o dito “teatro sério”, ou o drama burguês. A partir do século XX, especialmente após as provocações do teórico e encenador alemão Bertolt Brecht e de sua postulação sobre o teatro épico e a fragmentação da dramaturgia linear, nota-se que seria mais adequado falar em diversidade de tempo, espaço e ação. Exercícios de Fixação Texto comum às questões 01, 02 e 03 CATÁSTROFE – A catástrofe é o resultado do erro de julgamento do herói e de sua falha moral: culpado sem verdadeiramente sê-lo, na tragédia grega, ou responsável, na tragédia clássica moderna, por simples “defeitosinhos” (BOILEAU, Arte Poética, III, 107), a personagem deve sempre curvar-se. A diferença reside no fato de que a resolução através da catástrofe tem ora um sentido (na tragédia grega ou na tragédia clássica, que centra a falha no indivíduo responsável, sua paixão, sua glória, etc.); este sentido é o resgate de uma mácula original, o erro de julgamento, a recusa em transigir; ora, ao contrário, ela desemboca apenas num vazio existencial tragicômico (BECKETT), numa situação absurda (IONESCO), num escárnio total (DÜRRENMATT, KUNDERA). PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro p. 41

A partir da conceituação de Catástrofe de Patrice Pavis, coloque certo ou errado nos itens abaixo. 01. Na comédia grega, apesar de muitas semelhanças estruturais com a tragédia grega, não se verifica a presença recorrente da catástrofe. C 02. Normalmente, a catástrofe aparece no desenlace, no desfecho da ação com o objetivo de reforçar a tensão dramática. C

B05  Teatro grego

03. Pode-se afirmar que a catástrofe do personagem Édipo foi a sua ignorância sobre a sua paternidade. Assim ele mata seu pai biológico Laio. E 04. O que dá unidade de ação à fábula não é, como pensam alguns, apenas a presença de uma personagem principal; no decurso de uma existência (de uma vida humana) produzem-se em quantidade infinita muitos acontecimentos, que não constituem uma unidade. Também muitas ações, pelo fato de serem realizadas por um só agente, não criam a unidade. Capítulo VIII – A Arte Poética de Aristóteles

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Na Grécia, as unidades aristotélicas foram estabelecidas para o melhor entendimento da fábula a) através da diversidade e pluralidade do tempo, do espaço e da ação. b) com o objetivo de preservar o sentido ambíguo da linguagem cênica. c) pois a ação deveria se passar em 24 horas e contar uma única história. d) pois o público tinha condições de entender a diversidade de ações. e) por conta da lei que pregava que o teatro era reservado aos eruditos. 05. O drama deve conter uma única ação e um único herói, embora a ação possa ter partes subordinadas, de tal forma unidas pela probabilidade e necessidade que nenhuma pode ser omitida ou modificada sem dano para o todo. As ações secundárias são usadas para ornamentação, desde que permaneçam apenas à ação principal e jamais lutem com esta pela primazia do interesse. CARLSON, Marvin. Teorias do Teatro, p. 84

A partir da leitura do texto acima marque o item CORRETO. a) A ação única é bastante utilizada nas novelas e nas web séries que raramente colocam ações secundárias nos enredos. b) A ação única tinha como objetivo reforçar a falha do herói trágico que sofre o infortúnio da queda, da derrota, como o caso de Édipo. c) A unidade de ação aristotélica permite e estimula o uso de ações secundárias nas tragédias, nas comédias e nas farsas. d) As unidades secundárias são usadas para a ornamentação da cenografia, da indumentária e justificam o uso das máscaras. e) O uso de cenografia falada dispensava a necessidade de demonstrar onde a ação transcorria, pois os atores anunciavam o lugar.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios Complementares Texto comum às questões 01 a 05 Aristóteles não se preocupou em estabelecer qualquer teoria sobre a tragédia nem concentrou-se nos aspectos técnicos do espetáculo, mas no comportamento do público. Concluiu que o espetáculo trágico para realizar-se como obra de arte deveria sempre provocar a Katarsis, a catarse, isto é a purgação das emoções dos espectadores. Assistindo as terríveis dilacerações do herói trágico, sensibilizando-se com o horror que a vida dele se tornara, sentindo uma profunda compaixão pelo infausto que o destino reservara ao herói, o público deveria passar por uma espécie de exorcismo coletivo. Atribui-se à concepção de Aristóteles, que associa a tragédia à purgação, ao fato dele ter sido médico, o que teria contribuído para que ele entendesse a encenação dramática como uma espécie de remédio da alma, ajudando as pessoas do auditório a expelirem suas próprias dores e sofrimentos ao assistirem o desenlace. http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/tragedia_grega1.htm

A partir da leitura do texto acima, coloque certo ou errado

Este herói situa-se entre duas forças opostas: seu caráter e o destino, e se movimenta em um mundo onde a organização social e política está em permanente confronto com a antiga tradição mítica e religiosa. Ele incorre no erro (hamartía) através de um desequilíbrio interno, inconsciente, proporcionado pela hybris (desmedida). Conforme Aristóteles é através da hybris que o destino se manifesta. [...] A seguir, Bornheim aponta os pressupostos fundamentais para a existência da tragédia. O primeiro pressuposto é a existência do herói trágico, pois para que se possa verificar o trágico é necessário que ele seja vivido por alguém; contudo, Bornheim destaca que, concentrar a pesquisa do fenômeno trágico exclusivamente na figura do herói conduz a um equívoco, pois existe um pressuposto ainda mais importante que o herói, qual seja, o sentido da ordem dentro da qual se inscreve o herói trágico. Essa ordem pode ser o cosmos, os deuses, a justiça, o bem ou outros valores morais, o amor e até mesmo o sentido último da realidade (BORNHEIM, 1999, p.73) http://www.uems.br/lem/EDICOES/ 03/Arquivos/gabriela.pdf

nos itens abaixo. 01. Pode-se afirmar que a purgação catártica é efetivada apenas na tragédia e no drama, pois não existe catarse cômica. E 02. Para acontecer o efeito da catarse é necessário o espectador se colocar no lugar do ator e representar o papel trágico. E

A partir da leitura do texto acima, coloque certo ou errado nos itens abaixo. 06. A peripécia é uma mudança das ações dentro da expectativa gerada, não sendo surpreendente; a anagnórise é a mudança da ignorância ao conhecimento. C

03. Para a realização da catarse trágica é necessário o distanciamento emocional e alto envolvimento cognitivo. E

07. A tragédia na Grécia reafirma o caráter do herói através da sua harmatia e da sua hybris. Assim, o herói torna-se mode-

04. Aristóteles esclarece a catarse como uma função regulado-

lo ideal a ser seguido. E

ra das emoções, pois para ele o teatro pode desempenhar função terapêutica. C

08. A tragédia normalmente apresenta a luta entre o herói trágico e os valores instituídos. O herói ultrapassa a justa me-

05. Para acontecer o efeito da catarse é importante que o es-

dida, o metron. C

pectador sinta empatia pelo herói trágico. C

Examinando a figura do herói trágico, o filósofo ensina que a tragédia procede à imitação dos homens melhores, de elevada reputação; é a imitação da vida e das ações de um homem de grande fortuna que, embora não seja um modelo de virtude ou de maldade, cai em desgraça por força de um

09. O cerne do gênero trágico é apresentar a contradição entre o mundo mítico e o surgimento de um mundo racional. C 10. O objetivo da tragédia grega era provocar a catarse. Para isso era necessário que o espectador se afastasse do herói por conta da sua falta de caráter. E

grave erro cometido (falha trágica).

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B05  Teatro grego

Texto comum às questões 06 a 10


FRENTE

B

ARTES

MÓDULO B06

ASSUNTOS ABORDADOS nn Teatro grego

TEATRO GREGO

nn Elementos organizacionais

Elementos organizacionais

nn Os elementos constitutivos do espetáculo

Os festivais

nn Espaço cênico e cenografia nn Elementos cenográficos nn Indumentária nn Elementos arquitetônicos

Os concursos dramáticos aconteciam durante a Dionísia Urbana, normalmente entre os meses de dezembro e março e duravam cinco a sete dias. As apresentações começavam ao nascer do sol e perduravam até o pôr do sol, e eram exibidas três tragédias e uma comédia por dia. O maior objetivo desses festivais era permitir aos cidadãos a reafirmação da ordem material e imaterial da cidade a partir da experiência social e religiosa.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_do_Peloponeso#/media/File:Map_Peloponnesian_War_431_BC-pt.svg

Nos festivais, acontecia um dos processos mais importantes do homem grego, a psicagogia, ou seja, a experiência universal com validade emocional capaz de animar o ser humano e enchê-lo de coragem para enfrentar os perigos e os sofrimentos, além de liberar a embriaguez Dionisíaca. Os conflitos humanos com os deuses, com os indivíduos e com o Estado seriam discutidos com todos os habitantes da cidade e contribuiriam para o processo civilizatório na Grécia. O Arconte, o principal magistrado civil de Atenas era o responsável pela administração desses festivais e o investimento era corresponsabilidade do Estado, que assumia os custos com a manutenção do teatro, o pagamento do coro e dos prêmios. A outra parte ficava por conta dos Coregos, o mecenas (patrocinador da época), escolhidos entre os poderosos da cidade, que deviam ceder um local para os ensaios; adquirir adereços, máscaras, figurinos e garantir um salário aos atores, músicos, dançarinos e figurantes. 144


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Fonte: Wikimedia Commons

Acredita-se que cerca de duas mil peças foram escritas no período grego, porém apenas trinta e três peças e fragmentos sobreviveram. Esse material, como também a obra teóri­ca de Aristóteles, também fragmentada, são os documentos nos quais embasamos o nosso conhecimento sobre o que foi teatro grego.

Os elementos constitutivos do espetáculo 1) Fábula / Ação – Tende a seguir à risca as histórias que ocorrem no plano real, tornando-se um forte pilar de sustentação das incidências do texto dramático. Assim, é construído o enredo, cuja trama busca basicamente ganhar a atenção do espectador. As histórias devem ser intrigantes, com começo, meio e fim, respeitando a curva dramática, ou seja, o desenlace com um momento auspício e o desfecho da trama. 2) Caráter / Personagem – é o resultante entre uma intenção ou vontade (pensamento) e do ato (escolha) decorrente dessa vontade. Em grego personagem significa “aquele que escolhe” – o ator/atriz deve esclarecer a personalidade de sua personagem, interpretando o seu caráter através das características textuais. Aqui, manifestam-se os protagonistas e os antagonistas, de forma que o caráter deve ser discutido de maneira apropriada, coerente com o texto em questão.

B06  Teatro grego

3) Linguagem / Dicção – a maneira de dizer as palavras, visando especialmente à clareza dos significados. – Com a utilização do texto dramático, o ator não necessita de improvisos, podendo seguir um roteiro, com o qual poderá constituir sua personagem. A linguagem deve ser engajada para que motive o público a assistir toda a obra, compreendendo as partes mais relevantes. Ao ator, cabe conjugar voz e expressão corporal para dar vigor físico ao texto dramático. Com a invenção grega do texto teatral utilizado como literatura, os grandes espetáculos cênicos puderam ser resguardados, para serem posteriormente reeditados e encenados por novas gerações. O texto teatral tem um padrão único, com o diálogo dos personagens que interagem dentro de um contexto, que por sua vez segue a linha preconcebida pelo autor. Dentro desse contexto, os personagens vão estruturando uma história, desvelando suas características. 145


Artes

4) Pensamento / Dianoia – palavra grega que significa ‘pensamento’. O pensamento que determina o ato. – Imprescindível para a concepção do autor, que precisa compreender sua sociedade, além de seu momento histórico. O pensamento assim, torna-se subjetivo a todas as concepções artísticas, enquadrando-se à época, ao gênero do público e o objetivo da argumentação. 5) Encenação / Espetáculo – refere-se aos recursos visuais da linguagem cênica. Hoje em dia o termo é usado para indicar qualquer representação. – Na encenação dos textos, existe a necessidade de ambientar os personagens, levando em consideração a época e o local onde se passa a trama. Assim, são utilizados elementos que configuram o espaço abordado pelo autor. As atitudes do personagem (as ações) também devem ser consideradas, de forma que deve haver materiais que permitam ao ator constituir da melhor forma seu personagem. Assim, há a necessidade de cenário e figurinos para a composição das cenas, sendo essa contrarregragem essencial para introduzir o público no espetáculo, dando mais realidade às cenas, enquanto o figurino serve principalmente para compor o personagem. Esses elementos cênicos são sugeridos pelo texto, podendo porém sofrer adaptações por parte do coordenador teatral, que se chamava encenador na época: um prelúdio do diretor. 6) Melodia / Melopeia – em termos gerais, em grego, a arte de compor músicas. – Durante a tragédia, o texto poético era acompanhado pela melodia, que lhe servia de interlúdio. A partir do século XIX, com o simbolismo, é que a melodia deixou de ser apenas um interlúdio para se transformar em um elemento fundamental para o texto em si. Os autores passaram a utilizar a música para acentuar momentos importantes de seu espetáculo, a fim de constituir junto ao público uma forma mais expressiva de se passar a mensagem, além de inspirar os atores. Bertolt Brecht (1898 – 1956), um dos grandes gênios da arte dramática, utilizava músicas em seus textos a fim de mostrar para o espectador que tudo que se passava no palco era mera ficção e não realidade.

Espaço cênico e cenografia

B06  Teatro grego

Os atores principais se apresentavam no terraço do proskénion, usando máscaras e sapatos com plataforma, para que pudessem ser vistos pelas úl mas fileiras do topo. O coro cantava e dançava na orquestra

Orquestra de terra ba da (local das danças)

146

Entrada da orquestra

Terraço do proskénion Camarins (quartos de ves r Entrada da orquestra

Assentos dos sacerdotes e juízes Altar


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Espaço cênico O espaço cênico deve ser entendido como o suporte possível para as apresentações, do mesmo modo que pensamos a tela como um suporte para a pintura. O espaço cênico configura-se como uma moldura. E assim, é possível imaginar a importância do desenvolvimento desse suporte e as devidas consequências para o desenvolvimento da dramaturgia. No início do teatro grego, o espaço utilizado para as encenações, em Atenas, era apenas um grande círculo, depois esse suporte foi se especializando. http://historiaearquitetura.blogspot.com.br/2012/01/teatro-de-epidauro-grecia.html

A arquitetura do teatro grego era estruturada em dois segmentos separados, o ‘Théatron’ e a ‘Skené’, ligados pela ‘Orchéstra’. A lotação completa de um auditório era de cerca de 20 mil pessoas, mais ou menos 10% da população da Ática no século V a.C.

Palco

Cávea

Orquestra

Elementos cenográficos nn Deus

Ex-Machina – Espécie de elemento móvel do cenário, um guindaste responsável pela entrada magistral e inverossímil de um Deus.

Crane

B06  Teatro grego

Deus ex machina

Base of Crane

147


Artes

nn Eciclema – Espécie de elemento móvel do cenário, um praticável que traz para

a cena os acontecimentos fúnebres cometidos atrás da Skené (obscena).

Mechane Mechane Skene

Paraskenion

Skene

nn Períaktoi

Ekkyklema

B06  Teatro grego

– Era uma espécie de elemento móvel do cenário, uma porta giratória com um eixo central (como essas de banco) onde em cada face tinha uma representação de um ambiente. A soma das imagens de todos os períatkois criava um quadro único, assim podíamos ter três imagens. Era bem provável que ficassem nas thyromatas.

148


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Indumentária nn Máscara

– A máscara era utilizada para representar os personagens divinos e os heróis e claro para descaracterizar o ator, tanto na Tragédia como na Comédia. Esse elemento vem sendo utilizado desde os rituais. No caso das máscaras gregas, as aberturas ficavam apenas nos olhos e na boca.

nn Coturno

B06  Teatro grego

- era um sapato de solado exageradamente alto medindo entre 20 a 25 cm de altura. Esse calçado elevaria a estatura do ator e ajudaria a projetar sua figura acima dos participantes do coro. Podemos imaginar os coturnos como pequenas pernas de pau.

nn Túnica

- A vestimenta no teatro era branca e sempre igual. Entretanto, na tragédia apelavam para a diferença. A vestimenta era maior e enfeitada. 149


Artes

Elementos arquitetônicos Música Os músicos se posicionavam ao lado do palco. Os principais instrumentos eram a cítara, a lira e o aulos

Camarins As peças gregas eram representadas por, no máximo, três atores. O camarim era constantemente u lizado por eles para a troca de figurino

Terraço A área que ficava acima do palco que também era u lizada pelos atores na encenação. Orquestra Era a denominação dada à area circular de terra ba da ou com lajes de pedra. No local, o coro dançava e cantava e os atores representavam boa parte das tragédias. Altar posicionado no centro da orquestra, era des nado às oferendas para o deus Dionísio. Coro Na tragédia clássica, o coro representava personagem que cantava partes significa va do drama.

http://arteeducacaodf.blogspot.com.br/2014/05/teatro-grego.html nn Episkénion

– São portas em número de três a cinco, posteriormente foram transformadas numa sequência de vãos que recebeu o nome de Thyromata.

nn Thyromata

- São vãos, em número de três a sete, com largura aproximada de três metros e meio localizadas no Episkénion.

nn Orchéstra – O termo significa ‘lugar onde se dança’. Era a parte central circular

destinada às evoluções do Coro. Com a perda da função do coro o espaço foi se desfazendo também. nn Proskénion – Era a parte do palco onde ocorria praticamente toda a representa-

ção. Com a perda da função da orquestra, essa separação entre as duas partes do palco deixa de ocorrer e tudo vira palco. Atualmente o proscênio é a parte do palco mais próxima do público, localizada entre a ‘boca de cena’ e a ‘plateia’. nn Skené

- O termo significa ‘tenda, barraca’ – o termo estava ligado à origem quando provavelmente a utilização de uma tenda ou barraca servia de camarim para os atores. Com o passar do tempo passou a ter sua devida função como frontispício. Ou seja, fachada o que seria equivalente hoje ao fundo da cena. – O termo significa ‘lugar de onde se vê’. Era o local da plateia, hoje entendemos o termo com duas conotações: 1. o edifício teatral e 2. a peça

B06  Teatro grego

nn Théatron

nn Theologuêion

- O termo significa (lugar de onde os deuses falam). Um local na parte superior da Skené onde ficava a casa dos deuses.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias 04. A experiência universal com validade emocional capaz de animar o ser humano e enchê-lo de coragem para enfrentar os perigos e os sofrimentos, além de liberar a embriaguez Dionisíaca. Os conflitos humanos com os deuses, com os indivíduos e com o Estado seriam discutidos com todos os habitantes da cidade.

Exercícios de Fixação 01. Descreva a função do elemento cenográfico Períaktoi (porta giratória) e quais as três imagens representadas por esse O Periaktoi comunica para o público onde a cena está elemento? ocorrendo. No palácio, no campo e na cidade.

02. No teatro grego o coro é largamente utilizado. Qual a importância do coro e qual o espaço que ele ocupava na arquitetura teatral grega? O coro é uma espécie de voz coletiva e estabelece a atitude mais adequada a ser seguida. Ele ocupa a orchestra que é o local central da ação cênica.

03. Qual era o objetivo da pólis para a realização dos festivais de teatro?

O maior objetivo desses festivais era permitir aos cidadãos a reafirmação da ordem material e imaterial da cidade a partir da experiência social e religiosa.

04. Explique porque o teatro era muito apreciado pelos gregos. 05. Qual a função do elemento cenográfico Deus Ex-Machina?

Elevar o ator e colocá-lo em segurança no alto da skene, onde fica a morada dos deuses na arquitetura teatral. Este elemento ficava escondido atrás da skene.

Exercícios Complementares Texto comum às questões 01 a 05

Texto comum às questões 06 a 10

Reia se uniu a Cronos e lhe deu gloriosos filhos. Mas seus primeiros filhos, o grande Cronos engolia-os, desde o instante em que cada um deles descia do ventre sagrado da mãe até seus joelhos. Seu coração temia que um outro dos altivos filhos de Urano obtivesse a honra real ante os imortais. Ele sabia graças a Gaia e a Urano que, sendo poderoso, era seu destino sucumbir um dia nas mãos de seu próprio filho, vítima dos planos de Zeus. Por isso, vigilante, ele monta-

O primeiro aspecto, apontado por Jean-Pierre Vernant, é o da tragédia como uma instituição social de cunho democrático. Instituição social e não apenas uma manifestação literário-teatral. Instituição, em primeiro lugar, porque as tragédias são escritas e representadas durante as festas cívicas de Atenas; em segundo lugar, porque o coro é formado por um colégio de cidadãos; em terceiro lugar, porque a cidade paga e financia a escrita e a apresentação das peças; em quarto

va guarda. Mas veio o dia em que Réia pôs no mundo Zeus, pai dos deuses e dos homens.

lugar, e sobretudo, porque a tragédia é uma reflexão que a cidade faz sobre o nascimento da democracia.

Hesíodo - Teogonia

Marilena Chauí. Introdução à História da Filosofia, p.113

01. Cantar o Ditirambo, na procissão, em homenagem ao Deus Dioniso (filho de Zeus) é o ato que se tem como o precedente mais remoto e certo da origem do teatro. C 02. O maior e mais importante dos festivais de teatro na Grécia era realizado na cidade de Atenas e foi denominado de ‘O Festival das Grandes Dionisíacas Urbanas’. C 03. Mito é uma representação coletiva, transmitida por meio de várias gerações e que relata uma explicação poética do mundo. C 04. O ritual é a prática do mito, comemorando, no instante em que ocorre, a relação entre homens e outros homens, excluindo do ritual o plano divino. E 05. As formas das procissões, hinos e danças de caráter festivo-religioso influenciaria as formas que o teatro grego assumiria mais tarde. C

A partir do fragmento acima, coloque certo ou errado nos itens abaixo. 06. As grandes dionisíacas foram um ponto culminante na vida religiosa, intelectual e artística de Atenas. C 07. Pode-se afirmar que entre as características da cultura grega no período clássico estão à redução dos espaços públicos e a desvalorização da palavra como instrumento de poder. E 08. Os festivais de teatro na Grécia Antiga duravam alguns dias e eram assistidos por milhares de pessoas que estavam atentas para ouvir e ver as encenações propostas. C 09. O público que assistia aos espetáculos de tragédia era formado pelo grego em geral, ao contrário da comédia, que era assistida por uma pequena elite de cidadãos. E 10. O teatro era o local onde se apresentavam, por meio das peças, os assuntos mais polêmicos da sociedade grega. C

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B06  Teatro grego

A partir do fragmento acima, coloque certo ou errado nos itens abaixo.


Wikimedia Commons

FRENTE

C A peculiar formação instrumental criada pelo compositor Steve Reich para sua peça “Música para 18 músicos”.


ARTES Por falar nisso Ao longo dos séculos, o ser humano desenvolveu incontáveis instrumentos musicais e, por conseguinte, eles foram sendo organizados em diversas formações instrumentais. A palavra orquestra originalmente designava o local onde, no teatro grego antigo, ficava localizado o coro que interagia musicalmente com a plateia e com os atores no palco. Até o século XVI, diferentes grupos de instrumentos eram utilizados principalmente para acompanhar coros ou cantores, sobretudo, em ofícios religiosos. É a partir da segunda metade do século dezessete que a música instrumental vai ganhando espaço nas salas de concerto europeias. Vamos conhecer agora um pouco da evolução da orquestra no contexto do desenvolvimento da música instrumental europeia. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

C05 Os instrumentos de uma orquestra.............................................. 154 C06 As intensidades em música........................................................... 163


FRENTE

C

ARTES

MÓDULO C05

ASSUNTOS ABORDADOS nn Os instrumentos de uma orquestra nn O papel do maestro

Fonte: Wikimedia Commons

nn As salas de concerto

OS INSTRUMENTOS DE UMA ORQUESTRA O que conhecemos hoje sobre orquestra surgiu no Barroco (1600-1750) como uma nova formação instrumental que atendia às novas demandas da música naquela época. E quais eram essas demandas? Basicamente consistiam em proporcionar, nesse primeiro momento, o acompanhamento para as óperas, gênero em franca ascensão nos idos de 1600. Uma das primeiras óperas a serem catalogadas foi “L’Orfeo”, de Cláudio Monteverdi, apresentada pela primeira vez em 1607. Nela, identifica-se uma orquestração muito singular, uma vez que ainda não se havia convencionado uma formação padrão. A família do violino, que mais tarde se tornou o eixo central das orquestras, ainda não tinha um papel protagonista. Vários instrumentos ouvidos na orquestração de “Orfeo” caíram em desuso na música de concerto dos séculos seguintes. O chitarrone, também conhecido como teorba, é um deles. É um instrumento de cordas beliscadas da família do alaúde (que é uma espécie de avô do violão); bem maior que o alaúde convencional, utilizado para uma extensão de notas mais graves. O órgão de tubos, o instrumento mais grandioso criado pelo ser humano, também integrava essa orquestração sui generis. Vale lembrar que o órgão foi o primeiro instrumento de teclas no Ocidente. O cravo, antecessor histórico do piano, bastante comum nas formações instrumentais dessa época, também foi utilizado por Monteverdi. As flautas doces, mais tarde substituídas pelas transversais nas formações, aparecem aqui como protagonistas. Em suma, observe a imagem da orquestração dessa ópera para entender como ainda estava em processo de gestação a arte da combinação dos diferentes timbres dos instrumentos na música europeia. É importante perceber como, em pouco tempo, configurou-se uma nova arte: a música instrumental, baseada, entre outros elementos, nas inumeráveis possibilidades de combinações dos timbres instrumentais.

Figura 01 - Detalhe da obra Adoração do cordeiro místico, de Jan Van Eyck.

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Fonte: Cuarteto Quiroga by Íñigo Ibáñez/Quincena Musical.

Fonte: Wikimedia Commons

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Figura 04 - O quarteto de cordas espanhol Quiroga.

Figura 03 - Trio sonata barroco. Perceba que neste trio não está sendo usado o violoncelo, mas seu ancestral direto, a viola da gamba.

Figura 05 - Apresentação do 3º Concerto de Brandenburgo. Perceba na imagem quão minúscula era a orquestra e que ainda não havia a figura do regente. O papel do maestro (que será explicado posteriormente) era desempenhado pelo cravista, no centro e à frente do grupo.

Com a eclosão dos concertos públicos a partir do século XVIII e com a popularização de gêneros como a ópera, as plateias cresceram rapidamente. Assim, as salas de concerto tiveram que aumentar suas dimensões, como também as formações tiveram que crescer. Isso causou impacto até mesmo na técnica de emissão vocal dos cantores de ópera, que tiveram de otimizar a projeção de suas vozes para ambientes enormes que comportavam até mais de mil pessoas. A partir de meados do século XVIII, as formações tornaram-se maiores e, consequentemente, com sonoridades mais poderosas. Em 1741, G. F. Handel compôs o famoso oratório “Messias” . Os oratórios são uma espécie de ópera religiosa sem encenação produzida na Itália por ocasião da quaresma, época em que a Igreja recomendava a interrupção da temporada de óperas. Nesse oratório, Handel explora um grande conjunto de instrumentos, abrangendo, além de grande coro e cantores solistas, cordas (violinos, violas, violoncelos e contrabaixos), trompetes, oboés, fagotes e tímpanos. E necessários salientar o mais importante: esses vários instrumentos já estavam organizados em uma proporção aproximada que mais tarde iriam se consagrar na música ocidental até meados do século dezenove. Nesse sentido, predominam (em número) as cordas, seguidas das madeiras, dos metais e, em último lugar, a percussão, que só vai crescer em importância no final do século XIX. Observe a imagem da orquestra de Handel: 155

C05  Os instrumentos de uma orquestra

Fonte: Wikimedia Commons

Um dos primeiros exemplos de formação orquestral barroca mais próxima do que conhecemos hoje está presente no conjunto de seis peças instrumentais denominadas “Concertos de Brandenburgo”, compostos entre 1718 e 1721 por J. S. Bach. Nesses concertos, Bach explorou diversos conjuntos, privilegiando as cordas friccionadas. Naquela época, as orquestras praticamente se resumiam ao naipe das cordas. Afinal, foi a partir das formações camerísticas (para pequenos ambientes) de cordas que foram moldadas as orquestras modernas. Nesse sentido, vale citar o trio sonata barroco e os quartetos de cordas. Curiosamente os trios sonatas eram, na maioria das vezes, formações de quatro músicos: dois instrumentos melódicos, geralmente dois violinos, e baixo contínuo, constituído tradicionalmente por dois instrumentos, o violoncelo (ou viola da gamba) e o cravo. O quarteto de cordas, que teve seu auge no Classicismo de forma concomitante ao apogeu das formações orquestrais era formado por dois violinos, uma viola e um violoncelo. Embora as cordas nunca tenham perdido seu protagonismo, pouco a pouco, foram entrando outros instrumentos de outras famílias.

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 02 - Apresentação da ópera “L’Orfeo”, de Claudio Monteverdi.


Artes

Embora cada compositor ao longo da história tenha concebido uma estrutura mais ou menos pessoal para cada uma de suas criações, essa relação hierárquica entre os diferentes naipes de instrumentos (cordas, madeiras, metais e percussão), foi se fixando. Gradativamente, seguindo mais ou menos essa proporção, expandiu-se tanto a variedade de instrumentos (sobretudo os de sopro) quanto o número de instrumentistas. Um bom exemplo da evolução das formações orquestrais ao longo da segunda metade do século XVIII e primeira metade do século XIX são as sinfonias de J. Haydn, W. A. Mozart e L. V. Beethoven. Esses compositores, embora tenham se dedicado também à música de câmara, muito contribuíram para a definição de um repertório de “coloridos” orquestrais, de combinações possíveis de timbres, além de terem explorado bastante a gama de variações dinâmicas dessa formação. Foi no Classicismo que os compositores desenvolveram o hábito (e as técnicas) de variar os timbres dos instrumentos seguindo alguns “papéis” mais ou menos definidos. Os violinos, por exemplo, eram os protagonistas, pois, geralmente, os primeiros violinos ficavam, a maior parte do tempo, responsáveis pela execução da melodia principal das músicas. Aos demais instrumentos de cordas cabia a função de acompanhamento, dividindo as notas dos acordes. Às madeiras cabia o papel de criar alternâncias e contrastes de timbre e protagonizar solos de modo a delimitar as seções das músicas. Trompas e trompetes eram utilizados para reforçar a harmonia e para realçar os picos de intensidade, pois raramente tocavam a melodia principal. A percussão basicamente se resumia aos tímpanos, que pontuavam ritmicamente ou enfatizavam alguma passagem. Enfim, foi na era Clássica que se desenvolveu uma linguagem sinfônica, pensada para combinar cordas, madeiras, metais e percussão como uma unidade instrumental.

C05  Os instrumentos de uma orquestra

Fonte: Photos by InSight Foto, I

Figura 06 - Apresentação do oratório “Messias”, de Handel.

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Para entender melhor, vamos examinar a “Sinfonia nº 5, em dó menor”, conhecida também como a “Sinfonia do Destino”, de L V. Beethoven. Finalizada em 1808, essa sinfonia foi instrumentada com 1 flauta piccolo, 2 flautas transversais, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 1 contrafagote, 2 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos e cordas (violinos, violas, violoncelos e contrabaixos). Perceba que já se trata de uma orquestração mais densa e com maior diversidade de timbres, sobretudo se considerarmos a entrada de vários instrumentos nos naipes de metais e madeiras. Perceba na imagem a configuração dos instrumentos no palco. Na lateral esquerda do regente estão os violinos (divididos em primeiros e segundos); na lateral direita estão os violoncelos e, atrás deles estão os contrabaixos; bem à frente do maestro estão as violas; atrás delas, as madeiras em duas fileiras; e, ao fundo, no centro e à direita ficam os metais, cujo grande potencial de projeção sonora faz-se necessário maior distância em relação ao público para melhor equacionar o volume geral da orquestra. Ao fundo, à esquerda, ficam as percussões.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Seguindo ainda o padrão clássico, essa sinfonia, uma das obras eruditas mais conhecidas da história da música, foi organizada em quatro movimentos. No primeiro, Beethoven utiliza a massa orquestral de forma densa e poderosa. No 2º e 3º movimentos a densidade se reduz praticamente a uma orquestra de câmara, com menos instrumentos soando simultaneamente. Finalmente, no 4º o compositor alemão projeta ao máximo a sonoridade dos instrumentos, mostrando em sua peça uma sonoridade mais próxima do vigor romântico do que com a delicadeza equilibrada do Classicismo.

Fonte: Wikimedia Commons

A partir da segunda metade do século XIX, com a propagação da estética romântica, houve uma crescente difusão estilística em que cada compositor passou a interessar-se cada vez mais pela criação de uma personalidade artística própria do que em seguir alguma tendência coletiva. Desse modo, a orquestra passou a ser empregada de variadas maneiras e em inúmeras formações. Todavia, o que ficou caracterizado como “orquestra romântica” foi um conjunto imenso, capaz de criar intricadas e poderosas texturas, abarcando, muitas vezes, mais de uma centena de músicos. Mais instrumentos foram incluídos (mais metais e percussão, principalmente) e mais instrumentistas também.

Figura 08 - Uma típica formação orquestral romântica.

C05  Os instrumentos de uma orquestra

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 07 - Apresentação da 5ª Sinfonia de Beethoven.

157


Artes

Fonte: Wikimedia Commons

A partir do século XX, os grupos instrumentais foram variando cada vez mais e as grandes formações tradicionais, como a orquestra, foram dando lugar às experiências que buscavam novos timbres, como a música concreta e a música eletroacústica, que, na maioria das vezes, nem mesmo lançavam mão de instrumentos musicais. Mesmo assim, muitos compositores continuaram investindo em formações sinfônicas, que, em geral, passaram a ser menos grandiosas do que no Romantismo.

Figura 09 - Uma apresentação da obra “Ionisation”, de Edgar Varèse.

Se analisarmos a instrumentação de uma das mais importantes peças instrumentais do século XX, “Ionisation”, composta pelo francês Edgar Varèse em 1931, vamos perceber que as formações instrumentais passaram por radicais mudanças ao longo do século XX. Essa peça inovadora foi escrita para doze percussionistas e um pianista. Isso demonstra que o naipe da percussão, sistematicamente desprezado ao longo da história da música, ganhou um espaço de destaque nas vanguardas musicais, que ousavam sonoridades novas e insólitas.

O papel do maestro

Fonte: Wikimedia Commons

C05  Os instrumentos de uma orquestra

Figura 10 - O regente venezuelano Gustavo Dudamel.

Quando as partituras foram criadas, elas promoveram uma grande revolução na forma com a qual se produzia e como se desfrutava da música. Antes delas os compositores eram, na verdade, improvisadores que criavam algo relativamente novo cada vez que tocavam ou cantavam. Tudo dependia da memória das pessoas. Desenvolveram-se, assim, repertórios coletivos tradicionais que iam se dinamizando como tradição oral. Aqueles que criavam uma canção sabiam que não havia como reclamar e provar a autoria de uma obra. As partituras trouxeram, então, essa possibilidade de fixação de uma ideia musical, de poder repetir aquelas mesmas sequências de notas, da maneira exata como o compositor pretendeu.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

O que chamamos hoje de grafia musical é um processo que, desde a Grécia Antiga até hoje, esteve em constante evolução. Como ilustração, pense que, na Idade Média, a escrita neumática não era capaz de indicar com exatidão a duração das notas, ou seja, o ritmo. Como as primeiras partituras da Era Cristã surgiram no século IX para escrever cantos religiosos, presumia-se que o ritmo natural de pronúncia do texto era suficiente para indicar a articulação correta das notas do canto. Portanto, a escrita da música evoluiu muito lentamente. Até o século XVII as partituras não indicavam para quais instrumentos ou vozes haviam sido escritas. O hiato entre o que estava escrito e o que deveria soar era enorme. Tudo isso demonstra a necessidade de se interpretar corretamente uma partitura para que a música produzida a partir dela fosse o mais fiel possível às ideias originais do compositor. E esse é justamente o principal papel de um maestro ou regente: interpretar uma partitura e unificar, a partir dessa interpretação, a execução de dezenas de músicos. Nem sempre, entretanto, existiu um indivíduo que ficasse em pé à frente da orquestra, gesticulando para guiar os músicos. Geralmente o papel mais básico de um regente ao longo da história foi a marcação do tempo, da regularidade rítmica. Durante séculos isso foi feito por alguém que, simplesmente, ficava batendo, regularmente, um bastão ao chão para que todos permanecessem na mesma pulsação. Muitas vezes, os próprios compositores eram também intérpretes de suas músicas, estavam no palco e tocavam, geralmente, cravo ou piano e vez ou outra, quando conseguiam tirar a mão do teclado, davam indicações ao restante do grupo. O papel do maestro foi se fortalecendo à medida em que as orquestras e as obras foram ficando maiores e mais complexas. Chegou um momento em que não bastava que o líder da orquestra, o spalla (como é chamado o primeiro violinista, que, no leiaute atual das orquestras, senta-se na primeira estante, à esquerda do maestro), marcasse o tempo. Muitos outros elementos como dinâmica, timbre, variações de andamento e de caráter passaram a ser grafados nas partituras e tornaram, em meados do século XIX, a autointerpretação algo praticamente impossível de ser realizado de forma simultânea por cerca de uma centena de músicos.

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4 4 C05  Os instrumentos de uma orquestra

Figura 11 - Representação de gestos básicos de regência para marcação de compassos binários, ternários e quaternários.

Os gestos do regente, ainda que pouco convencionados e normalmente pessoais, são uma representação visual de como a orquestra deve agir em conjunto. Via de regra, isso não é definido de surpresa, no momento da apresentação, mas, previamente, nos ensaios. A performance do regente no concerto funciona como um lembrete daquilo que já foi combinado com os músicos. Dada a complexidade das partituras a partir da segunda metade do século XIX, foi se tornando cada vez mais difícil que cada um dos músicos lembrasse, além das notas, de uma grande variedade de inflexões e sutilezas que o seu papel no grupo representava. O maestro tornou-se assim um músico cujo instrumento é a própria orquestra. 159


Artes

Fonte: Wikimedia Commons

As salas de concerto

Outro ponto fundamental a ser discutido quando se fala de música sinfônica é a importância dos espaços destinados a esse tipo de produção musical. Ao longo da história da música, os primeiros ambientes que foram pensados acusticamente para a audição de música foram as naves das igrejas. Como as missas eram integralmente cantadas, era importante que os fiéis tivessem uma boa percepção sonora no interior dos templos. No século XVII, com o desenvolvimento da ópera, começaram a ser construídas as primeiras salas de ópera. Esses espaços foram idealizados para acomodar toda a parafernália de encenação dos Figura 12 - Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles, EUA. dramas musicais, como cenários imensos, e beneficiar a projeção das vozes dos cantores. Em geral, tais espaços podiam ser aproveitados para apresentações de música instrumental, embora seus parâmetros acústicos normalmente atendessem a formações orquestrais maiores e mais densas. Ao longo do século XIX, surgiram as primeiras salas de concerto, calculadas e construídas a fim de otimizar a percepção das sonoridades orquestrais. Isso permitiu que os compositores criassem novos parâmetros estéticos com maiores níveis de sutilezas no que se refere ao tratamento dos timbres e das intensidades. Boa parte da produção sinfônica, a partir do Romantismo, foi influenciada pela possibilidade acústica otimizada das salas de concerto. Os compositores não mais precisavam se preocupar se uma passagem iria ou não ser percebida adequadamente pela plateia. Eles finalmente puderam dar vazão às mais variadas combinações de texturas, densidades e timbres.

C05  Os instrumentos de uma orquestra

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 13 - Interior da Sala São Paulo, em São Paulo.

160


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação 01. C 02. C 03. E 04. E 05. E 06. C 07. E 08. C 09. C 10. E 11. E 12. C 13. E 14. C 15. C 16. C 17. E 18. E

(UnB DF) Na música brasileira, produziram-se obras que retratam a enorme diversidade cultural do país, como ilustram os exemplos a seguir. Heitor Villa-Lobos escreveu Bachianas Brasileiras nº 4 entre 1930 e 1941, utilizando elementos da obra de J. S. Bach e da música popular brasileira. Em 1998, o compositor pernambucano Lenine lançou a canção A Ponte, que, em 2004, recebeu nova versão do brasiliense Gog, em uma mistura do rap e da música popular brasileira. Em 2009, o grupo Barbatuques apresentou a obra Cadeirada, peça musical que utiliza o corpo humano de forma criativa e inusitada. Com relação aos elementos musicais e textuais das obras citadas, julgue os itens seguintes.

01. A ironia e a crítica à ausência de valores éticos estão presentes no discurso poético de A Ponte, de Lenine e do rapper Gog. 02. A manipulação da dinâmica e dos diferentes timbres pode ser observada na versão orquestral da ária das Bachianas Brasileiras nº 4, de Villa-Lobos. 03. As estruturas formais de A Ponte e de Cadeirada, bastante complexas, apresentam várias seções diferentes, nas quais podem ser observadas alterações de melodia e da harmonia. 04. As fontes sonoras utilizadas em Cadeirada assemelham-se àquelas que Heitor Villa-Lobos adotou na ária das Bachianas Brasileiras nº 4. 05. Cadeirada destaca-se pela melodia e pela harmonia, que refletem a forte influência dos cânticos dos indígenas.

Legenda: Arranjo para piano solo da “Sinfonia nº 5 em dó menor”, de Ludwig Van Beethoven. Fonte: http://1.s.cdn2.semplicewebsites.com/ music/larger_93126b483426bfd290b7ea9736ddb5eb.jpg?page=1

A Sinfonia nº 5 em Dó menor Op. 67 de Ludwig van Beethoven, escrita entre 1804 e 1808, é uma das composições mais populares e mais conhecidas em todo repertório da música erudita europeia, assim como é também uma das sinfonias mais executadas hoje em dia. Trata-se da primeira sinfonia do autor composta em tonalidade menor, o que só voltaria a acontecer em 1824 com a “Sinfonia nº 9”, em Ré menor op. 125. A “Sinfonia nº 5 em dó menor” ainda hoje é considerada como um “monumento” da criação artística. A partir das informações acima, julgue os itens de 06 a 08. 06. Os quatro movimentos de uma sinfonia apresentam, cada um deles, uma forma musical específica. O 1º movimento de uma sinfonia é tradicionalmente estruturado na forma-sonata, que consiste na apresentação de 2 temas contrastantes, em um desenvolvimento (variações sobre os dois

Cenário concebido por Helmut Jürgens para a performance de “Carmina Burana” em Munique, em 1959.

temas) e na recapitulação (reexposição do primeiro tema na tonalidade original.

Fonte: http://www.orff.de/typo3temp/pics/04d93fea13.jpg

161

C05  Os instrumentos de uma orquestra

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinfonia_n.º_5_(Beethoven)


Artes

07. A instrumentação mais tradicional de uma sinfonia é consti-

abre a “Bachianas Brasileiras nº 5” e a “Tocata (O Trenzinho

tuída pela orquestra. Esta é historicamente a maior formação

do Caipira)”, quarta parte da “Bachianas Brasileiras nº 2”. A

instrumental da música de concerto. Genericamente, uma or-

motivação para compor as obras do ciclo, de acordo com o

questra é organizada em cordas (violinos, violas, violoncelos e

próprio Villa-Lobos, foram as semelhanças que encontrou en-

contrabaixos), madeiras (flautas, clarinetas, oboés e fagotes),

tre músicas folclóricas do sertão brasileiro e a obra do alemão

metais (trompetes, trompas, trombones e tubas) e percussão

Johann Sebastian Bach (1685-1750).

(xilofones e metalofones, tambores, sinos e idiofones variados).

GOMES, Fábio. Bachianas Brasileiras: Villa-Lobos e a influência de Bach.

Embora o piano usualmente não faça parte de uma orquestra, ele está inserido na instrumentação da “Sinfonia nº 5 em dó menor”, de Ludwig Van Beethoven.

A partir das informações acima, julgue os itens de 12 a 14. 12. Heitor Villa-Lobos foi um compositor dedicado ao estudo e divul-

08. A Quinta Sinfonia de Beethoven foi escrita em uma tonalidade

gação do folclore brasileiro. Isto pode ser identificado na sua obra

menor. Atualmente, utilizam-se principalmente duas tonalida-

“Bachianas Brasileiras nº 4”, em especial no 3º movimento inti-

des na música ocidental: maior e menor. As escalas e campos

tulado de “Ária (cantiga)”, em que o maestro carioca se utiliza de

harmônicos maiores expressam melhor sentimentos de euforia

uma melodia folclórica como base para a composição orquestral.

e alegria; enquanto que as tonalidades menores são mais usadas para criar sonoridades melancólicas ou sombrias. O compositor alemão Carl Orff musicou alguns dos Carmina Burana, compondo uma cantata homônima. Com o subtítulo “Cantiones profanae cantoribus et choris cantandae”, a obra, por suas características, pode ser definida também como uma “cantata cênica”. Estreou em junho de 1937, em Frankfurt e faz parte da trilogia “Trionfi” que Orff compôs em diferentes períodos, e que compreende os “Catulli carmina” (1943) e o “Trionfo di Afrodite” (1952). Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carmina_Burana#A_cantata

A partir das informações acima, julgue os itens de 09 a 11. 09. Embora os textos dos Carmina Burana tenham sido descobertos junto a partituras correspondentes, Carl Orff optou por escrever música original para a cantata. A instrumentação dessa obra inclui grande orquestra, coro misto, coro infantil e cantores solistas. 10. Em “Fortuna Imperatrix Mundi”, 1o movimento de “Carmina Burana”, há o predomínio de altas intensidades de modo que, ao longo de toda a peça, mantém-se a dinâmica fortíssimo (ff). 11. Semelhante aos quatro concertos para violino, “As quatro estaC05  Os instrumentos de uma orquestra

ções”, de Antônio Vivaldi, Carl Orff estruturou “Carmina Burana” em três movimentos.

13. “Bachianas Brasileiras nº4” foi originalmente composta para piano posteriormente arranjada para orquestra. Em seus quatro movimentos, pode-se identificar uma tendência a valorizar os instrumentos de corda, principalmente os violões e violoncelos. 14. “Sagração da Primavera”, de Igor Stravinsky, tem em comum com “Bachianas Brasileiras nº4”, o fato de serem ambas escritas no século vinte. A primeira, entretanto, é uma obra de vanguarda; enquanto a segunda está mais voltada ao nacionalismo e à tradição. (UnB DF) O termo clássico pode ser empregado em diferentes situações: para referir-se à cultura e à arte gregas; como sinônimo de música erudita; ou, ainda, para designar o período artístico musical anterior ao Romantismo, correspondendo aproximadamente ao período entre os anos de 1750 e 1820. Nesse sentido, julgue os seguintes itens. 15. Uma das grandes diferenças entre as composições musicais do período Clássico e as do período anterior, o Barroco, refere-se à textura. Enquanto no período Barroco privilegiava-se a polifonia e o uso do contraponto, no período Clássico desenvolveu-se a textura homofônica com melodias acompanhadas. 16. Acontecimentos paralelos ao desenvolvimento das artes no período Clássico incluem: a declaração da independência americana, as guerras napoleônicas, o início da Revolução Industrial

O ciclo de nove “Bachianas Brasileiras” é um dos destaques no conjunto da obra de aproximadamente mil músicas de Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Ele mesmo afirmava isso. Alguns críticos chegam a esboçar que o ciclo dos “Choros” tem igual peso, mas ninguém se arrisca a apontar a superioridade deste sobre aquele. Basta lembrar que duas das peças mais gravadas de Villa-Lobos são desse ciclo: a “Ária (Cantilena)” que 162

na Inglaterra e o Iluminismo. 17. Mozart, Bach, Beethoven e Villa-Lobos são compositores do período Clássico. 18. Tanto no período Clássico quanto no Romântico, desenvolveu-se a forma poema sinfônico.


FRENTE

C

ARTES

MÓDULO C06

AS INTENSIDADES EM MÚSICA

ASSUNTOS ABORDADOS

Intensidade: conceito acústico

nn As intensidades em música

Quando um som fica mais intenso, ou, como se diz na linguagem corriqueira, mais alto ou com maior volume, podemos nos perguntar o que ocorre no nível das moléculas do ar que nos permite ter essa percepção? Um aumento na intensidade sonora acontece devido ao aumento da amplitude do movimento oscilatório em cada uma das moléculas que está vibrando. Isso significa dizer que há maior espaçamento entre as frentes de onda, ou seja, maior percurso no ir e vir entre as moléculas. Fisicamente, pode-se afirmar que a amplitude de uma onda é a medida da magnitude da máxima perturbação do meio durante uma oscilação. Considerando a representação de uma onda sonora em que lambda corresponda ao comprimento de onda e A à amplitude, chegamos à seguinte representação:

nn Intensidade: conceito acústico nn Poluição sonora nn Dinâmica: as variações de intensidade sonora como expressão musical

A

B

λ A C A λ

Figura 01 - “A” representa o ar em equilíbrio, sem distúrbios, isto é, o silêncio. “B” representa as compressões e rarefações que caracterizam uma onda sonora.

Quanto maior o comprimento de onda, maior o período, isto é, o tempo para se completar um ciclo. Por isso, o período é inversamente proporcional à frequência. No caso da amplitude, como já foi colocado, a relação é de proporção direta com a intensidade. A intensidade sonora se relaciona à pressão exercida pelas frentes de onda sobre determinada área e é medida em decibéis (dB), uma unidade logarítmica mais propícia para a mensuração da experiência auditiva humana.

Fonte: Wikimedia Commons

Poluição sonora

Figura 02 - Vista aérea da zona central de São Paulo.

163


Artes

Fonte: Wikimedia Commons

Atualmente, a constante exposição humana a ruídos em altos níveis de intensidade sonora presentes nos grandes centros urbanos ao redor do mundo constitui um sério problema de saúde pública: a poluição sonora. Diferente de outros tipos de poluição, ela não deixa rastros, não contamina o ar ou a água, não mata, nem causa catástrofes ambientais. Por isso, é o tipo de poluição mais subestimado, ainda que cause sérios danos fisiológicos e psicológicos para animais e seres humanos.

Fonte: Wikimedia Commons

C06  As intensidades em música

Desde o início do processo de industrialização e mecanização ocorrido ao longo da Revolução Industrial, as cidades têm sido palco de um crescente quadro de poluição sonora. Além dos danos à audição, a exposição continuada a ruídos em altas intensidades causa perturbação e desconforto, prejuízo cognitivo, Figura 03 - Trecho do filme “Tempos Modernos” (1936), de Charles Chaplin. distúrbios do sono e, indiretamente, doenças cardiovasculares. Sabe-se que as pessoas percebem, avaliam e reagem aos sons mesmo quando estão dormindo. Por esse motivo, o organismo pode reagir ao ruído com aumento da produção de hormônios, elevação do ritmo cardíaco, contração dos vasos sanguíneos, entre outras reações. Por outro lado, a perda auditiva é uma preocupação internacional, em função do impacto que tem na vida das pessoas, seja na aprendizagem, na orientação vocacional ou no isolamento social. Dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde estimam que 10% da população mundial está exposta a níveis de pressão sonora que potencialmente podem causar perda auditiva induzida por ruídos intensos. Como resultado, lesões e perda da capacidade auditiva tornam-se enfermidades comuns e epidêmicas nas megalópoles. Às vezes, as pessoas já sofrem com esses problemas e não sabem qual a causa. Quando o ruído é intenso e a exposição a ele é continuada, em média 85 dB por oito horas por dia, ocorrem alterações estruturais na orelha interna, que determinam a ocorrência da Pair (Perda Auditiva Induzida por Ruído). Esse tipo de perda é neurossensorial, já que afeta as células ciliadas externas (órgão responsável pela sensibilidade auditiva) e bilateral, interferindo nas frequências agudas (de 3 a 6 kHz) responsáveis pela inteligibilidade de diversos sons na maioria das línguas. Sem uma intervenção adequada, essa perda pode progredir e, por fim, prejudicar a comunicação do indivíduo afetado. Também conhecida como PAINPSE (Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados), ela tem efeito cumulativo e vai se agravando ao longo do tempo. Dependendo da frequência, do tempo de exposição ao som elevado e da predisposição genética, o indivíduo pode sofrer danos auditivos cada vez mais severos, de forma contínua e crescente ao longo da vida. Os principais agentes causadores da perda auditiva são a exposição a ruídos intensos e o processo de envelhecimento.

Figura 04 - Imagem aérea do palco principal do Rock in Rio.

164


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

O que percebemos como “silêncio absoluto”, que é praticamente impossível de ser percebido em condições naturais, corresponde à medição de 0 dB. No outro extremo, está o limiar auditivo. A exposição a sons de intensidades iguais ou superiores a 120 dB resulta em dor intensa para a maioria dos seres humanos. Entretanto, muitas vezes expomo-nos a níveis de intensidade sonora superiores a 100 dB em shows ou por meio do uso de fones de ouvido. Provavelmente todos nós já experimentamos ou experimentaremos alguma vez na vida a audição de um zumbido após sermos expostos a ruídos ou música em intensidades superiores a 85 dB. Apesar de não ser em si uma doença, esse sintoma, denominado tecnicamente como Tinnitus, indica uma reação neurossensorial a danos nas células da cóclea. A cóclea está localizada no ouvido interno e é composta por aproximadamente 15 000 células ciliadas que vibram simpaticamente aos distúrbios do meio. É o lugar onde energia mecânica do som é convertida em sinal elétrico que é transmitido ao cérebro. Por isso, o zumbido, ou Tinnitus, é um alerta de nosso organismo em relação aos níveis prejudiciais de intensidade sonora.

C06  As intensidades em música

Figura 05 - Um medidor de intensidade sonora, mais conhecido como decibelímetro.

Figura 06 - Observe como os níveis de intensidade sonora em um concerto de rock podem superar aqueles produzidos pelas turbinas de um avião.

165


Artes

Dinâmica: as variações de intensidade sonora como expressão musical Embora uma boa performance musical geralmente empregue variações dinâmicas como um recurso estético fundamental para a comunicação com o ouvinte, foi apenas a partir do século XVII que os compositores ocidentais passaram a registrar, em suas composições, indicações de intensidades, ou dinâmicas, para os intérpretes de suas obras. Isso não significa que antes não se variasse a dinâmica na interpretação musical. Até aquela época, não cabia ao compositor determinar detalhes na execução de suas obras. Durante a Idade Média e o Renascimento, o intérprete tinha a liberdade de interpretar a partitura como bem lhe desejasse. Isso muitas vezes fazia com que uma mesma composição ficasse muito diferente, dependendo de quem a tocasse ou a cantasse. A partir do momento em que os compositores passaram a valorizar mais o resultado estético final das suas obras nas salas de concertos, dedicaram-se também a criar símbolos para registrar nas partituras toda uma imensa gama de indicações e instruções, que iam do caráter ou sentimento a ser expresso em determinada passagem ao modo como deveriam ser conduzidas as variações dinâmicas e agógicas (variações de andamento). Se, por um lado, eles foram estabelecendo um controle cada vez maior de como suas obras soariam para o público; por outro, os intérpretes foram, gradativamente, tendo menos liberdade na execução. Eis algumas das representações de dinâmica musical mais utilizadas:

Termo

Símbolo

Efeito

piano

p

Execução Suave

pianissimo

pp

Execução Muito Suave

mezzo piano

mp

Ligeiramente mais forte que o piano

forte

f

Execução com forte intensidade

fortissimo

ff

Muito forte

mezo forte

mf

Metade da intensidade do forte

fortepiano

fp

Iniciando forte, seguindo de piano

sforzando

sfz

Aumento súbito de intensidade

crescendo

Aumento gradual do volume

diminuendo

Diminuição gradual do volume

Tabela 01 - Alguns compositores são mais detalhistas no registro das intensidades em suas partituras que outros. Todavia, as representações de dinâmica, assim como todos os símbolos da grafia musical, apresentam diversas limitações uma vez que se tratam de tentativas de se registrar visualmente situações sonoras complexas.

C06  As intensidades em música

Algumas composições destacam-se pelo uso criativo e incomum das variações dinâmicas. Em sua obra “Bolero”, de 1928, Maurice Ravel, compositor francês, ao longo de quinze minutos, expõe uma melodia repetitiva acompanhada de um ostinato (célula musical repetitiva) percussivo. O objetivo do compositor, nessa obra, foi, segundo ele mesmo afirmou, realizar um estudo de orquestração e dinâmica. Assim, a melodia principal é sempre tocada por um diferente grupo de instrumentos e, desde o início, quando a intensidade é mínima, até o final retumbante da peça, desenvolve-se um longo e gradativo crescendo, que desafia a sensibilidade e a técnica dos instrumentistas. Procure por essa obra na internet e a ouça procurando concentrar-se nas diferentes combinações de timbres na instrumentação e na lenta evolução da intensidade na obra: 166


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Execuções da melodia principal

Instrumentos que tocam, junto com a caixa, o ostinato rítmico

Instrumentos que tocam o tema principal do “bolero”

Caixa

Flauta

Flauta

Clarinete

Flauta

Fagote

Flauta

Clarineta

Fagotes

Oboé d’amore

Trompa

Flauta e trompete (com surdina)

Trompete (com surdina)

Saxofone tenor

Trompete

Saxofone soprano

Flauta e trompa

Trompa, piccolos, celesta

10ª

Trompete (com surdina), trompa, violinos e violas

Oboé, Oboé d’amore, Corne inglês e clarinetas

11ª

Violas, flauta e trompa

Trombone

12ª

Trompete (sem surdina), trompa e violinos

Todos os instrumentos de sopro, exceto fagote e contrafagote e saxofone tenor

13ª

Trompas

Flautas, oboés, clarinetas, piccolo, violinos

14ª

Trompas

Os mesmos instrumentos da 13ª exposição do tema acrescidos do corne inglês, saxofone tenor e violinos

15ª

Trompas

Todos os instrumentos de sopro exceto clarinetas, fagote e contrafagote. Em um segundo momento: trompetes e violinos. Em um terceiro: violas e clarineta baixo.

16ª

Trompas

Todas as madeiras, exceto fagotes e contrafagotes, saxofone soprano, trombones, violinos, violas e cellos. Em um segundo momento, o sax tenor substitui o soprano.

17ª

Oboés, clarinetas, trompas, violinos, violas e cellos.

Flautas, picollo, trompetes, sax tenor e soprano e violinos

18ª

O mesmo

O mesmo acrescido dos trombones

Finale

Todos os instrumentos exceto oboés, clarinetas, corne inglês, fagotes, contrafagotes, tuba, tímpanos, contrabaixo, bumbo, pratos e gongo.

Trombones e sax tenor e soprano.

Exercícios de Fixação (UnB – PAS)

melodia

V

II

III

ritmo

IV voz

instrumento

VI

substância especial* sons eletrônicos *sons distorcidos, buzinas, sons guturais

VI

dinâmica

Assim como na natureza, as diversas músicas existentes no mundo são estruturadas a partir da combinação de determinados elementos. Considerando que cada tubo de ensaio acima contenha um elemento ou uma substância, julgue os itens a seguir.

167

C06  As intensidades em música

I


Artes

GAB 01. C 02. C 03. C 04. E 05. E 06. E 07. E 08. E 09. E 10. C 11. E 12. C 13. C 14. E 15. E 16. C 17. E 18. E 19. E 20. E 21. C 22. C 23. “b”

01. A forma de usar a substância I na figura nº 1 em Dó maior, de J. S. Bach, caracteriza o contraponto de sua textura. 02. A substância VII precisa interagir com outras para se manifestar. 03. Para criar uma mistura com o nome de Sinfonia das Diretas, seria necessário usar pelo menos cinco das substâncias contidas nos tubos.

Com relação aos conceitos apresentados acima, julgue os itens seguintes.

04. As músicas Meu amigo Tom Jobim, Elegia nº 1 e Maria, Maria compartilham a substância I, mas não compartilham a substância IV. 05. A mistura de substâncias diferentes resulta sempre em polifonia. 06. Purple Haze, Concerto de Brandeburgo nº 2, Try e Saudades da Maria têm em comum a mistura das substâncias I, IV e VI. 07. A mistura que determina a regularidade rítmica característica da capoeira é dada pela combinação das substâncias IV e VII. (UnB – PAS) À medida que as plateias aumentaram, as pessoas passaram a querer ouvir música mais alto, mais extravagante, tocada em instrumentos novos e dinâmicos. A guitarra elétrica apareceu porque o violão clássico não podia ser ouvido por grandes grupos de pessoas. Caroline Grimshaw. Conexões-música. São Paulo: Callis, 1998, p. 20 (com adaptações).

Considerando as ideias do texto anterior, julgue os itens a seguir. 08. No texto, a expressão “ouvir música mais alto” está relacionada à frequência do som.

C06  As intensidades em música

09. O rock é um exemplo de gênero de música que utiliza instrumentos eletrônicos, e a música Zoio de Lula, tocada pela banda Charlie Brown Jr., é exemplo de uso e abuso das possibilidades de dinâmica, de volume e de extensão melódica da guitarra elétrica. 10. A razão apresentada no texto para justificar o uso de guitarra elétrica em vez de violão clássico aplica-se também à relação entre baixo acústico e baixo elétrico — instrumentos responsáveis pelas sonoridades graves da música —, sendo o primeiro muito utilizado em orquestras sinfônicas, e o segundo, em bandas de rock. (UnB – PAS) O fenômeno sonoro apresenta quatro características básicas: altura, duração, timbre e intensidade. A altura relaciona-se diretamente com a frequência das ondas sonoras e permite a identificação e diferenciação de sons agudos e sons graves. A intensidade sonora relaciona-se com a quantidade de energia que provocou a vibração sono168

ra, o que permite diferenciar entre sons fortes e sons fracos. O timbre é uma característica sonora resultante da vibração dos corpos, sendo que cada objeto ou ser vivo, pelas suas peculiaridades físicas, tem seu próprio timbre, o que permite diferenciar vozes, instrumentos musicais e objetos sonoros. A duração é a propriedade que permite identificar e diferenciar sons longos e sons curtos.

11. Em muitos conjuntos instrumentais, o baixo elétrico pode ser usado para fazer a base ou a linha melódica mais grave que o solo da guitarra, porque os dois instrumentos têm intensidades diferentes. 12. Do mesmo modo que se pode diferenciar sons longos de curtos, também se pode diferenciar silêncios longos de curtos. 13. Os fatores que possibilitam a identificação da voz de uma pessoa incluem o seu timbre característico e a sua articulação de fala. 14. A voz da cantora de MPB Cássia Eller pode ser considerada um exemplo de voz aguda. Sabemos que som é onda, que os corpos vibram, que essa vibração se transmite para a atmosfera sob a forma de uma propagação ondulatória, que o nosso ouvido é capaz de captá-la e que o cérebro a interpreta, dando-lhe configuração e sentido. Wisnick. O som e o sentido. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

Diferentes tipos de objetos podem ser manipulados para produzirem sons. A identificação e a diferenciação das ondas sonoras permitem classificar os sons quanto a suas qualidades de altura, intensidade, timbre e duração. Hornbostel e Sachs, em 1914, com base no modo como os instrumentos musicais produzem sons, classificaram-nos em idiofones, membranofones, cordofones, aerofones, eletrofones. As figuras abaixo ilustram alguns desses instrumentos.

A

C

B

D


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Considerando as informações e as figuras anterior apresenta-

música erudita, mesmo que essa formação instrumental possa

das, julgue os itens a seguir.

executar outros repertórios. As figuras acima esquematizam al-

15. Os instrumentos musicais mostrados nas figuras A, B e C são classificados, de acordo com a nomenclatura de Hornbostel e Sachs, respectivamente, como cordofones, eletrofones e idiofones.

gumas formações instrumentais. A partir dessas informações, julgue os itens que se seguem. 19. A figura I esquematiza uma orquestra sinfônica. Embora possa haver variações na quantidade e na posição dos instrumentos,

16. Os instrumentos da figura D são classificados como aerofones.

convenciona-se a disposição desses naipes do seguinte modo:

Quanto ao aspecto acústico, a variação de altura do som nesses

nos blocos C, em volta do regente, estariam os instrumentos de

instrumentos é inversamente proporcional ao tamanho da co-

sopro; nos blocos B, mais atrás, os instrumentos de cordas e,

luna de ar: quanto maior a coluna de ar, menor a frequência do

por último, no bloco A, os instrumentos de percussão.

som. Portanto, mais grave será o som do instrumento. 20. A figura II representa um quarteto de cordas, formação instru17. Ondas estacionárias ocorrem quando duas ondas sonoras se

mental básica da qual se originou a orquestra. O quarteto de

propagam em um meio elástico com as mesmas frequência

cordas apresenta uma variação tímbrica e de altura conforme o

e amplitude, mas em sentidos contrários. Analisando-se um

tamanho de cada instrumento, ou seja, quanto maior o instru-

esquema de vibração dessas ondas, observa-se que elas têm

mento mais agudo é o seu som.

pontos de repouso, denominados ventres, e pontos de maior 21. As figuras I e II representam formações de grupos usualmente

amplitude de vibração, denominados nodos.

relacionados à música erudita, enquanto as figuras III e IV re18. O corpo da guitarra elétrica, ilustrada na figura B, é sólido,

presentam grupos musicais populares.

diferentemente do violão. Nela, a vibração da corda é transformada em sinais elétricos, por meio de captadores; em

22. Considerando a formação instrumental de grupos de choro,

seguida, esses sinais são amplificados, podendo sofrer dis-

é correto afirmar que o instrumento que integra esse grupo

torções e modificações com o uso de outros equipamentos

desde sua formação original e que falta na figura IV é a flauta,

eletroeletrônicos.

embora, atualmente, outros instrumentos de sopro, como, por exemplo, o clarinete, possam substituí-la.

(UnB – PAS )

C

bateria

te cla do

A B B C

C C

C regente Figura I 2° violino viola

guitarra

baixo vocal

23. (UnB – PAS) A figura abaixo mostra, de maneira simplificada, a variação de pressão sonora – compressões e rarefações do ar —, em função do tempo, correspondente ao som produzido por uma flauta doce que toca uma sequência de três notas musicais.

Figura III violão cavaquinho

violoncelo Figura lI

pandeiro Figura IV

Ao longo da história, o homem tem explorado diversas fontes sonoras como meio de expressão musical. Embora melodia e padrões rítmicos sejam determinantes na caracterização de

Sabendo que, em pentagramas, a frequência das notas musicais aumenta da linha de baixo para a de cima, que as notas são representadas, no tempo, da esquerda para a direita, assinale a opção em que o pentagrama melhor representa a sequência de notas tocadas pela flauta doce.

diferentes músicas, as possibilidades tímbricas dos instrumentos bem como seus agrupamentos são também fundamentais na identificação de estilos musicais. Por exemplo, um triângulo, uma sanfona e um instrumento de percussão remetem ao baião, assim como o berimbau lembra a capoeira, e uma orquestra sinfônica, muitas vezes, prepara para a audição de

169

C06  As intensidades em música

1° violino


FRENTE

A


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ARTES Por falar nisso No período românico a Igreja é a maior instituição da época: ela domina, secular e culturalmente, o espírito medieval. Nos anos que se seguiram ao ano 1000, viram-se reconstruir igrejas em quase toda a Europa cristã. Mesmo quando isso não era necessário, cada comunidade cristã concorria em emulação para edificar santuários mais suntuosos que sua vizinha. A febre de construção que invadiu a Europa reflete o espírito da época, e o estilo românico, que caracterizou as artes desde o fim do século XI até meados do século XIII, sintetiza em seus traços a história desse período. Até esse momento, a arquitetura não diferenciava, formalmente, palácios de igrejas, devido ao fato de o imperador, de alguma forma, representar tanto o poder religioso quanto o temporal. Surge assim uma arquitetura abobadada, de paredes sólidas e delicadas colunas terminadas em capitéis cúbicos, que se distancia dos rústicos castelos de pedra que davam sequência à linha pós-romana. A Igreja é o único edifício onde se reúne a população, e parte importante da vida social se desenrola no seu interior. Por isso, o estilo românico encontrará sua expressão maior na arquitetura. Considerada “arte sacra”, ela está voltada à construção de igrejas, monastérios, abadias e mosteiros – as “fortalezas sagradas”. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A13 A14 A15 A16

Idade Média − Período românico.................................................. 172 Idade Média − Período gótico....................................................... 177 Renascimento................................................................................ 183 O Renascimento na Alemanha e nos Países Baixos...................... 190


FRENTE

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ARTES

MÓDULO A13

ASSUNTOS ABORDADOS nn Idade Média – Período românico nn Arquitetura nn Pintura e escultura

IDADE MÉDIA – PERÍODO ROMÂNICO A Arte Românica faz referência a um estilo que surgiu durante a Idade Média, também conceituada como ‘romanesco’ um nome sugerido pela própria estrutura das igrejas mais precisamente na Alta Idade Média, entre os séculos XI e XIII. É chamada de arte carolíngia, a arte românica que data do período dominado pelo Imperador Carlos Magno. Esse Império teve um notável desenvolvimento cultural. Os artistas redescobriram a cultura e a arte greco-romana nas oficinas de arte desse império, assim como a arte dos germânicos, sírios, bizantinos e outros, fator decisivo para posteriormente criarem um novo estilo, o românico, usado principalmente nas construções de igrejas e mosteiros.

Arquitetura Na Itália, a arquitetura e a pintura fizeram história. Com a influência greco-romana na arquitetura, os artistas a tornaram mais leve e delicada, diferente da imponência nos outros lugares. Um grande exemplo é o conjunto da catedral de Pisa, onde se localiza a famosa Torre de Pisa. A construção desse prédio teve início em 1063 e sua planta tem forma de cruz. A colocação da primeira pedra dessa gigantesca catedral lançou as bases da arquitetura em estilo românico pisano. Quase mil anos depois, esse estilo arquitetônico pode ser encontrado em praticamente toda a região da Toscana. No entanto, o Duomo de Pisa ainda é considerado a maior obra-prima de seu estilo.

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Figura 01 - Catedral e Torre de Pisa, Itália Arquiteto Buscheto - 1063/1092

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Características das abóbadas de berço e de aresta, dos pilares maciços e aberturas estreitas usadas como janelas.

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Fonte: luciezr / Shutterstock.com

nn Utilização

Figura 02 - Abóbada Cilíndrica/berço.

Figura 03 - Abóbada de Aresta.

nn Abóbada

de berço – era mais simples e consistia num semicírculo – chamado arco pleno – ampliado lateralmente pelas paredes – desvantagens (excesso de peso do teto de alvenaria, que provocava sérios desabamentos, e a pequena luminosidade resultante das poucas janelas, além da impraticável abertura de grandes vãos). nn Abóbada de aresta – intersecção, em ângulo reto, de duas abóbadas de berço apoiadas sobre pilares. Maior leveza e maior iluminação interna. nn Paredes grossas. nn Um portal para entrada, mais tarde, três entradas. nn Poucas janelas. nn Arco romano ou arco pleno. nn Pilastra grega com cenas religiosas no capitel. nn Ambiente escuro. nn Afrescos e mosaicos nas paredes. nn Estátuas-colunas e relevos para decorar e ilustrar. nn Planta baixa com formato de cruz – importante símbolo cristão. Nave central

Primeiro transepto

Segundo transepto

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Charola

Figura 04 - Planta baixa da Catedral de Santiago séc. XII d.C.; Ilustração de uma Catedral Românica.

Vocabulário Transepto – O transepto é a parte de um edifício de uma ou mais naves que atravessa perpendicularmente o seu corpo principal. Charola – andor (padiola sobre a qual se conduzem imagens nas procissões), logo, local onde se colocam imagens.

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Igreja primi va


Artes

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nn Foi

Figura 05 - Igreja de Santa Maria de Ripoll, Gerona

adicionada às igrejas românicas além da nave, abside e corredores, um transepto atravessando a nave, além de uma área que permitia que os fiéis caminhassem pelo santuário e visitassem as pequenas capelas laterais.

nn Durante o período românico houve um momento de relativa paz que encorajou

o comércio e as peregrinações e, enquanto os fiéis cruzavam a Europa, percorrendo as rotas de peregrinação, as igrejas, os mosteiros e os templos que eles visitavam se tornaram mais ornamentados.

#TÁ NA MÍDIA

Considerada um dos edifícios mais famosos da Europa, a Torre de Pisa atrai visitantes do mundo todo. Na verdade, ela é o campanário (torre do sino) independente, em estilo românico, do majestoso Duomo, na incrível Piazza dei Miracoli, Itália. Apesar do fascínio e importância de sua arquitetura e história, muitas pessoas vêm ao local somente para observar e fotografar a curiosa posição desse ícone italiano. Se encontrar longas filas no local, não desanime, pois você estará circundado por alguns dos exemplares arquitetônicos mais incríveis da Itália. Aproveite o tempo que passar na fila para descobrir alguns fatos interessantes sobre o campanário em seu guia de viagens ou na breve introdução sobre a história e o estilo da torre oferecida na entrada da atração. A impressionante Torre de Pisa inclina-se em um ângulo de 5,5°. Antes de intervenções de engenharia no final do século XX, esse ângulo de inclinação tinha quase dobrado. Apesar de sua fundação em solo mole, a estrutura é totalmente segura. Por isso, suba a escadaria em espiral e admire a vista panorâmica lá do alto. Você deverá deixar seus pertences mais volumosos na entrada, pois a escadaria é bem estreita. Suba os 296 degraus em mármore para chegar à plataforma de observação, no topo da torre. Lá do alto, você poderá admirar o Duomo e o Batistério de Pisa, além dos exuberantes gramados da praça. Do local, você também poderá admirar vistas do centro histórico. Portanto, não deixe de levar sua câmera. Os sinos medievais da torre podem ser vistos no oitavo andar. Desça os degraus do outro lado para ver as curiosas estátuas de animais que enfeitam os andares inferiores. A Torre de Pisa fica em uma das extremidades do Centro Histórico da cidade. O local é acessível a pé ou de bicicleta, a partir de várias partes da cidade, de ônibus ou de carro, a partir de pontos mais distantes. Se estiver de carro, há estacionamento seguro, disponível mediante uma taxa, em Via Pietrasantina, a poucos passos da praça. A torre abre todos os dias e os ingressos podem ser reservados on-line ou no local. Compre um ingresso combinado para outras atrações históricas de Pisa e receba um desconto no preço da entrada. Disponível em: www.passeiosnatoscana.com Acesso em 10/07/2017

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Fonte: S-F- / Shutterstock.com

Figura 06 - Catedral e Torre de Pisa, Itália Arquiteto Buscheto - 1063/1092

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Pintura e escultura Na Idade Média, as várias atividades artísticas não eram consideradas independentes entre si. Pelo contrário, elas contribuíam para as realizações e decorações daquela que era a obra fundamental, a grande Igreja. Numa época em que poucas pessoas sabiam ler, a Igreja recorria à pintura, aos relevos e à escultura para narrar histórias bíblicas ou comunicar regras e valores religiosos aos fiéis. Não podemos estudá-las desassociadas da arquitetura. Por isso, a pintura românica desenvolveu-se, sobretudo, nas grandes decorações murais, através da técnica do afresco, que originalmente era uma técnica de pintar sobre a parede úmida. A escultura estava totalmente subordinada à arquitetura e a religião. São esculpidos relevos e estátuas-colunas para enfeitar as paredes, tanto internas como externas nas fachadas, por exemplo. Seus relevos mostram cenas do Antigo e Novo testamento, juízo final e figuras e animais fantasiosos que representam as tormentas a que os pecadores, após a morte seriam submetidos. Características nn Pintura mural – decorações murais, por meio da técnica do afresco (uma camada de

gesso e cal sobre uma superfície e depois aplicação de tinta no gesso ainda úmido). nn Tema: ilustrações de livros religiosos. nn Deformação – traduz os sentimentos religiosos e a interpretação mística que o artista

fazia da realidade. Corpos desproporcionais. nn Colorismo – realizou-se no emprego de cores chapadas, isto é, uniformes, sem preo-

cupação com a perspectiva e os meios-tons ou jogos de luz e sombra, pois não havia a intenção de imitar a natureza.

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Figura 07 - Frontal da Diocese de Urgell, Museu de Arte da Catalunha, Barcelona.

Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons

nn As pinturas assim como as esculturas eram para decorar a arquitetura.

Figura 08 - Frontal de San Quirino e Santa Julia, Museu de Arte da Catalunha, Barcelona.

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Artes

nn Como poucas pessoas sabiam ler e

Fonte: Wikimedia Commons

escrever a Igreja recorria à pintura, a escultura, aos relevos para narrar histórias bíblicas. Este é o tímpano (área semicircular que fica logo abaixo dos arcos que arrematam o vão superior da porta).

Exercícios de Fixação 01. A escultura românica está diretamente associada à arquitetura, às estátuas-colunas e outros. Nesse contexto é coerente afirmar que a escultura românica se desenvolveu com um caráter: a) ornamental. b) religioso e ornamental. c) crítico. d) econômico. 02. A pintura românica seguiu as tradições imagéticas relacionadas às iluminuras de manuscritos. Quanto às características da pintura românica destaca(m):

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a) os principais santos pintados bem menores do que as pessoas comuns. b) Cristo representado semelhante aos reis para realçar o seu poder real. c) o exagero da representação de Cristo era para acentuar o ato de abençoar e destacar o poder da igreja. d) os olhos dos personagens santos e de Cristo, representados fechados, pois estão orando. e) a ênfase no vigor anatômica dos seres místicos. 03. Sabemos que a Arte Românica cresceu devido à fé cristã e que, portanto, tinha um caráter religioso. Em relação às semelhanças e diferenças da Arte Gótica com a Arte Românica, analise e julgue os itens abaixo como (C) CERTO ou (E) ERRADO: C-C-C-E-E

a) A Arte Gótica também surge da espiritualidade cristã. b) A arquitetura é o elemento mais importante do período medieval. c) A escultura medieval está associada diretamente à arquitetura. d) Encontramos adornando paredes de igrejas nos três períodos medievais, o mosaico.

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e) O vitral é um elemento pictórico da arte Gótica. 04. Quanto às Iluminuras julgue os itens abaixo como (C) CERTO ou (E) ERRADO: C-E-C-C a) Eram transcritas à mão. b) Assim como os Afrescos eram feitas pelos monges. c) A Iluminura pode ser uma intervenção artística feita no início de cada capítulo da bíblia. d) Os temas usados nas iluminuras eram de personagens bíblicos do antigo e novo testamento, Jesus Cristo e os santos católicos. 05. Em relação à arquitetura românica, todas as alternativas estão corretas, EXETO: a) Suas construções são em grande parte igrejas e mosteiros. b) Suas construções são em grande parte: palácios e obras públicas. c) Suas construções utiliza-se de, arco pleno, abóbada de aresta e de berço. d) Em suas construções há predomínio de linhas horizontais. e) Devido a poucas e pequenas janelas cria-se um ambiente escuro e sombrio nas construções românicas. 06. Acerca das esculturas românicas é correto afirmar que: a) estavam inteiramente subordinadas a pintura e a literatura. b) estavam inteiramente subordinadas ao ensino e a arquitetura. c) estavam inteiramente subordinadas a arquitetura e a religião. d) estavam inteiramente subordinadas a literatura e ao teatro. e) estavam inteiramente subordinadas ao teatro, a literatura e a religião.


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ARTES

MÓDULO A14

IDADE MÉDIA – PERÍODO GÓTICO Durante a Idade Média, três estilos vigoraram: o estilo bizantino, o românico e o gótico. Posterior ao românico surge, na Baixa Idade Média, o estilo gótico no século XII na França que se espalhou pela Europa até o Século XV. Vale ressaltar que a denominação “Arte Gótica” refere-se aos godos, povo que invadiu e destruiu Roma, em 410. A grandiosidade do período gótico somente foi possível após a solidificação das monarquias. Isso permitiu o desenvolvimento comercial e urbano, levando ao desenvolvimento das rotas comerciais e favorecendo, ainda mais, o crescimento das cidades.

ASSUNTOS ABORDADOS nn Idade Média – Período gótico nn Arquitetura nn Escultura nn Pintura

Os recursos para obras tão magníficas eram obtidos mediante a contribuições dos fiéis, principalmente daqueles que compunham a burguesia em ascensão. Portanto, a Arte Gótica marca o triunfo das cidades, cuja Igreja percebe estar com uma grande parcela dos fiéis, para quem irá construir catedrais. Elas representavam símbolos do poder político da Igreja e econômico da burguesia. Serão as catedrais a exaltarem a beleza do ideal divino, por meio de uma harmonia permeada pela religiosidade. O primeiro e grande exemplo de arquitetura gótica pode ser encontrado na França, na abadia Saint Denis, uma igreja construída por volta de 1140. Além dessa também temos como exemplo a Catedral de Notre-Dame de Paris e a Catedral de Notre-Dame de Chartres.

Arquitetura

Figura 01 - Arcos cilíndricos na nave de St. Sernin, 1080-1120; Arco ogival da Catedral de Beauvais, 1272

Fonte: Wikimedia Commons

Na arquitetura, o gótico esteve marcado pela verticalidade e monumentalidade de suas construções. Além disso, outra importante característica da arte gótica está relacionada com o uso dos vitrais em suas construções. O estilo arquitetônico gótico era contraposto ao estilo arquitetônico românico, anteriormente em voga nas construções medievais, principalmente em mosteiros e basílicas. Essas construções eram caracterizadas pelos arcos de volta perfeita, redondos, e por abóbodas de arestas (constituídas pela penetração de duas abóbodas) feitas em estruturas maciças e com poucos vãos. No estilo arquitetônico gótico, as estruturas das construções são mais leves, formadas por vãos mais amplos, cujo objetivo é conseguir maior luminosidade no interior das edificações, auxiliada pela utilização de janelas delicadamente trabalhadas e de vitrais em forma de rosáceas.

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Artes

Características Principais diferenças entre a Arquitetura Românica e Arquitetura Gótica Arquitetura Românica

Arquitetura Gótica Três portais e rosácea

Uma nave

Três naves

Abóbada de aresta

Abóbada de nervura

Arco pleno

Arco ogival

Paredes grossas com mosaicos

Paredes mais finas

Poucas janelas

Várias janelas com vitral

Igrejas mais baixas

Altura elevada e pilastras finas

Ambiente escuro

Ambiente iluminado (colorido)

Fonte: Wikimedia Commons

Único portal

A14  Idade Média − Período gótico

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 02 - St. Trophine, fim do século XII, Arles, França; Fachada da Catedral de Reims, 1220-1236, França

Figura 03 - Notre-Dame Cathedral, Paris, France

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Rosácea e Vitral abstratas e personagens religiosos chapados. nn Profundamente geométrico. nn Sem profundidade. nn Colorido.

Fonte: Shutterstock.com

nn Formas

Figura 04 - Detalhe de rosácea e vitral de Notre-Dame; Vitral da catedral de chartres.1194,França.

SAIBA MAIS

Disponível em: parissempreparis.com.br Acesso em 26/07/2017

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A14  Idade Média − Período gótico

Fonte: Wikimedia Commons

A Catedral de Notre-Dame de Paris é uma das mais antigas catedrais francesas em estilo gótico. Sua construção foi iniciada em 1163 e está situada na Praça Parvis, na pequena ilha “ile de la Cité”, em Paris, rodeada pelas águas do rio Sena. A arquitetura gótica é um instrumento poderoso no seio de uma sociedade que vê, no início do século XI, a vida urbana transformar-se a um ritmo acelerado. O local contava, antes da construção da catedral, com um espaço destinado ao culto religioso. Os celtas teriam ali celebrado as suas cerimônias onde, mais tarde, os romanos erigiriam um templo de devoção ao deus Júpiter. Também nesse local existiria a primeira igreja do cristianismo de Paris, dedicada ao culto da deusa hindu Shiva, a Basílica de Saint-Etienne, projetada por Childeberto, por volta de 528 d.C. Em substituição dessa obra surge uma igreja românica que permanecerá até 1163, quando se dá o impulso da construção da catedral. Já em 1160, o bispo Maurice de Sully considera a presente igreja pouco digna dos Figura 05 - Marco-zero da França, localizado em frente à catedral novos valores e determina a sua demolição. Inspirado na catedral, Victor Hugo escreveu, em 1831, o romance “Notre-Dame de Paris”, O corcunda de Notre-Dame, que se passa na Idade Média. Situando os acontecimentos na catedral, a história trata de Quasímodo, o personagem central que se apaixona por uma cigana de nome Esmeralda. A ilustração poética do momento abre portas a uma nova vontade de conhecimento da arquitetura do passado e, principalmente, da Catedral de Notre-Dame de Paris. A fachada da Catedral de Notre-Dame de Paris apresenta três níveis horizontais e é ainda dividida em três zonas verticais pelos contrafortes ligeiramente proeminentes que unem a verticalidade os dois pisos inferiores e reforçam os cunhais das duas torres. No nível superior há duas torres de 69 metros de altura. A torre sul acolhe o famoso sino de nome Emmanuel. A torre norte pode ser visitada, subindo-se os seus 386 degraus. No interior, a nave tem 127 metros de comprimento, com 48 metros de largura e 35 metros de altura. Na Praça Parvis, em frente à fachada principal da catedral, encontra-se no pavimento uma placa de bronze que representa o ponto zero, de onde são calculadas todas as distâncias das estradas nacionais francesas.


Artes

Escultura Estando relacionada à arquitetura das grandes igrejas, as esculturas são uma manifestação artística que enriqueciam mais as construções. Os ensinamentos eram dados muitas vezes a partir delas. As obras que se destacam são a estátua do Cavaleiro Medieval, mostrando a cultura da cavalaria e os seus traços. Encontramos algumas esculturas assinadas, no século XIII, como por exemplo, as de Giovanni Pisano, um artista italiano que esculpiu várias esculturas em igrejas. Um dos exemplos de suas obras está na escultura da Virgem e o Menino, livre de colunas ou qualquer outro suporte. Características nn Traços

fisionômicos ricamente trabalhados. das roupas. nn A escultura enriquece a arquitetura. nn Figuras alongadas. Fonte: Shutterstock.com

nn Drapeados

A14  Idade Média − Período gótico

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 06 - Gargolas e Escultura acoplada à arquitetura na Catedral de Notre-Dame, Paris, France.

Figura 07 - Estátuas do portal da Catedral de Chartres, c. 1145-1155. Pórtico da Catedral de Rouen, século XVI

Pintura Às vésperas do Renascimento, a pintura gótica surgiu nos séculos XII, XIV e início do século XV. Geralmente, as pinturas buscavam representar os seres com realismo e tratavam de temas religiosos. Os principais artistas do período foram os que deram início à pintura do Renascimento: 180


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Características nn Período

tardio do gótico. nn Inicia-se novamente um pouco de profundidade e preocupação com relação à proporção do corpo. nn Algum movimento nas figuras. nn Um pouco de realismo. nn Seres humanos de aparência comum. nn Inicia-se o Humanismo que vai se firmar no Renascimento. Principais Artistas nn Giotto

di Bondone (1270-1337) − os santos eram reproduzidos como seres humanos com simplicidade. A visão humanista, na qual o homem é o centro de todas as coisas, começava a surgir nas pinturas dos artistas. As obras mais importantes foram os Afrescos da Igreja de São Francisco de Assis, localizada na Itália e o Retiro de São Joaquim entre os Pastores.

afresco faz parte do conjunto de afrescos sobre a salvação de Cristo. nn Os rostos das imagens realistas são naturais e repletos de vida, ao passo que a angústia dos anjos é mais teatral e caótica. nn Intenso realismo incomum em obras do mesmo período. nn A inclinação diagonal traz os personagens sagrados para o primeiro plano do afresco.

Fonte: Wikimedia Commons

A14  Idade Média − Período gótico

nn Esse

Figura 08 - A Lamentação, na Capella degli Strovegni – Pádua, Itália – 1303-1305.

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Artes

nn Jan

Van Eyck (1390-1441) – fez parte do gótico flamenco, e retratava a vida da sociedade da época, registrando as paisagens urbanas e as suas características e detalhes. As obras mais importantes são O Casal Arnolfini e Nossa Senhora do Chanceler Rolin.

nn Não se trata de um retrato matrimonial convencional. nn A

expressão solene do homem ou a forma do casal não são de comemoração.

nn O

tema religioso é reforçado pelo rosário na parede, as cenas bíblicas ao redor do espelho e os sapatos descalços. à gravidez da mulher.

Fonte: Wikimedia Commons

nn Alusão nn O

ponto alto da imagem é o espelho com detalhes minúsculos e sua assinatura como floreio da obra como um todo. Figura 09 - O Casal Arnolfini, 1434.

Exercícios de Fixação 01. Quanto às características da escultura gótica analise e julgue os itens abaixo como (C) CERTO ou (E) ERRADO: a) C, b) E, c) E, d) C.

a) A escultura está intimamente ligada à arquitetura. b) Sua função é ocupar espaço dentro das construções. c) As imagens nuas são marco, pois destoam das demais criações deste período, entretanto, são frequentemente encontradas. d) Sua função era decorativa, educativa e religiosa. 02. Ainda sobre a escultura gótica analise e julgue os itens abaixo como (C) CERTO ou (E) ERRADO: a) C, b) E, c) E, d) E.

a) As figuras humanas são alongadas. b) A rigidez do período românico é abandonada no gótico. c) As representações mais frequentes são as de reis, rainhas, nobres de alta linhagem e santos. d) Um dos locais reservados às estatuas dentro das igrejas denominava-se Tímpanos. A14  Idade Média − Período gótico

03. Sobre os vitrais marque a alternativa correta: a) Vitrais são os vidros utilizados para construir janelas com cenas religiosas. b) Nos vitrais não ocorria geralmente variação de cor. c) Os vitrais continham figuras bíblicas na sustentação da arquitetura gótica. d) Da Vinci foi um grande produtor de vitrais. 04. Marque (B) Bizantino, (R) Românico ou (G) Gótico para a característica arquitetônica correspondente: Gabarito: a) G, b) G, c) B, d) B, e) G, f) R, g) G, h) R, i) G.

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a) ( ) Construções austeras e robustas. b) ( ) Paredes finas com grandes janelas. c) ( ) Igrejas pouco iluminadas, com minúsculas janelas. d) ( ) Uma das funções destas estruturas era a de resistir aos ataques dos inimigos. e) ( ) Apresenta formas complexas e muito decoradas. f) ( ) Os edifícios apresentam uma decoração muito simples e pouco requintada, quando comparados ao estilo gótico. g) ( ) Igrejas altas, iluminadas, paredes finas com arcobotantes. h) ( ) A planta da igreja em cruz latina representa a cruz onde Jesus Cristo foi morto. i) ( ) A pressão contínua exercida pela abóbada da nave central é descarregada, através dos arcos, para os pilares e transmitida, igualmente sobre as naves laterais para as paredes exteriores do edifício. 05. A partir do século XII, em algumas regiões europeias, nas cidades em crescimento, comerciantes, artesãos e bispos aliaram-se para a construção de catedrais com grandes pórticos, vitrais e rosáceas, produzindo uma “poética da luz”, abóbodas de nervuras e torres elevadas que dominavam os demais edifícios urbanos. O estilo da arte da época é denominado: a) renascentista. b) bizantino. c) românico. d) gótico. e) barroco.


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ARTES

MÓDULO A15

RENASCIMENTO O Renascimento foi um movimento que marcou o início de um processo de renovação cultural, que se desenvolveu durante os séculos XV e XVI. Esse movimento teve início na Itália e depois se expandiu pela Europa, buscando inspiração nos modelos da cultura greco-romana na Antiguidade Clássica. A partir do ano 1400, o interesse pela cultura clássica deu um novo impulso às artes, às ciências e à filosofia na Europa. Na história europeia, a Renascença marca a transição do fim da Idade Média para o surgimento da Idade Moderna. O termo faz referência ao ressurgimento do interesse pelos tesouros intelectuais e artísticos, como também pelas obras de autores clássicos como Platão, Aristóteles, Cícero e Homero, que haviam caído na obscuridade no Ocidente. Essas são redescobertas que dão prioridade ao homem e às realizações humanas.

ASSUNTOS ABORDADOS nn Renascimento nn A Renascença Italiana nn Pintura e escultura nn A Alta Renascença nn Esculturas de Michelangelo nn Arquitetura

A veneração e a simbologia cristã continuam a inspirar os artistas da Renascença mesmo porque a igreja dizia que a humanidade não podia alcançar nada sem a ajuda de Deus, porém, a história e a mitologia romanas eram exploradas como temas artísticos, assim, arte devocional plana e linear da Idade Média se tornou mais naturalista. A descoberta do mundo clássico alterou radicalmente a pintura, a escultura e a arquitetura na Itália. Podemos denominar a arte do período renascentista como: classicismo e academicismo.

A Renascença Italiana A Itália é considerada o berço do Renascimento Cultural, pois foi em cidades como Gênova, Florença e Veneza que houve um grande desenvolvimento intelectual e artístico entre os séculos XV e XVI. O desenvolvimento do Renascimento na Itália foi favorecido pelo importante crescimento comercial e urbano que ocorreu em várias cidades do norte da Itália a partir do século XIV. Grandes mercadores italianos passaram a incentivar o desenvolvimento artístico, financiando vários artistas, principalmente pintores e escultores italianos. Esses ricos comerciantes eram chamados de “mecenas” e o apoio que davam aos artistas ficou conhecido como mecenato. Essa dinâmica burguesia italiana, sobretudo em Florença onde a família Médici deu grande incentivo às artes, foi muito importante para o desenvolvimento artístico renascentista. Características nn Interpretação

científica do mundo.

nn Humanismo – valorização do ser humano em oposição ao divino e ao sobrenatural. nn Razão

– traduzida no rigor científico, na experimentação, na técnica clássica de pintura, na observação da natureza e no estudo de anatomia, resumido na racionalidade.

nn Realismo,

naturalismo, fidelidade e mitologia.

nn Antropocentrismo

– homem como o centro do mundo.

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Artes

Pintura e escultura Duas grandes novidades marcam a pintura renascentista: a utilização da perspectiva, por meio da qual os artistas conseguem reproduzir em suas obras, espaços reais sobre uma superfície plana, dando a noção de profundidade e de volume, ajudados pelo jogo de cores que permitem destacar na obra os elementos mais importantes e obscurecer os elementos secundários. A variação de cores frias e quentes e o manejo da luz e sombra permitem criar distâncias e volumes que parecem ser copiados da realidade. A utilização da tinta a óleo, além de demorar secar e beneficiar os detalhes possibilita uma qualidade maior, dando maior ênfase à realidade com durabilidade às obras. Pode-se dizer que a escultura é a forma de expressão artística que melhor representa o renascimento, no sentido humanista. Utilizando-se da perspectiva e da proporção geométrica, destacam-se as figuras humanas, que até então estavam relegadas em segundo plano, e em processos decorativos, acopladas às paredes ou capitéis. No Renascimento, a escultura ganha independência e a obra, colocada acima de uma base, pode ser apreciada de todos os ângulos. Dois elementos se destacam: a expressão corporal que garante o equilíbrio, revelando uma figura humana de músculos levemente torneados e de proporções perfeitas; e as expressões das figuras, refletindo seus sentimentos, sua dramaticidade. Mesmo contrariando a moral cristã da época, o nu volta a ser utilizado refletindo o naturalismo. Encontramos várias obras retratando elementos mitológicos, como o Baco, de Michelangelo, assim como o busto ou as tumbas de mecenas, reis e papas. Fonte: Wikimedia Commons

Características nn Ideal

de beleza. nn Proporção. nn Claro-escuro, chiaroscuro, luz e sombra, sfumato. nn Perspectiva (composições geométricas: geometria espacial, aérea ou atmosférica). nn Tridimensionalidade. nn Nitidez. nn Planos, linha do horizonte e ponto de fuga. nn Perfeição. nn Maior realismo. nn Manifestação escultórica independente da arquitetura. nn Estilo pessoal. nn Uso da tela e da pintura a óleo. Principais artistas

A15  Renascimento

nn Piero Della Francesca (1415-1492) filho de um sapateiro, pintor italiano nascido

Figura 01 - Políptico de Santo Antônio, Piero Della Francesca – 1467/1469.

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no vilarejo de Sansepolcro, em Arezzo. Conheceu importantes artistas como: Filippo Brunelleschi e Fran Angelico. Escreveu o primeiro tratado como “lidar com a matemática perspectiva”. Piero primou sempre pela criatividade em relação ao passado medieval, apresentando técnicas e temáticas inovadoras como, por exemplo, o uso da tela e da pintura a óleo, o retrato, a representação da natureza, o nu, a perspectiva e a criação do volume. No século XV, Piero Della Francesca, desenvolve uma pintura pessoal e solene, misturando formas geométricas e cores intensas. Sua pintura se diferencia pela utilização da geometria espacial e abstração. Suas composições são muitas vezes, geométricas, combinadas ao uso de áreas de luz e sombra, apresentando pouquíssima emoção. Piero ficou cego e morreu em Sansepolcro.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

nn Ao

centro está a Virgem e o Menino, com quatro santos ao lado. (da esquerda para a direita) Antônio de Pádua, João Batista, Francisco de Assis e Isabel da Hungria, protetora dos franciscanos. nn As cenas na parte de baixo do retábulo (painel de madeira ou mármore pintado) retratam episódios dos santos. nn A perspectiva de um túnel de colunas coríntias contrasta drasticamente com o fundo dourado dos santos abaixo. nn Sandro Botticelli (1445-1510) nasceu no dia 1 de março de 1445 e faleceu no dia

A15  Renascimento

Fonte: Wikimedia Commons

17 de maio de 1510. Filho de um curtidor de peles, na adolescência, trabalhou na casa de um ourives, possivelmente, na oficina de Filippo Lippi, a quem teria ajudado nas decorações da Catedral de Prata. Executou preciosos registros da pintura de cunho mitológico. Foi bem relacionado no círculo florentino, trabalhando também para o Vaticano, produzindo afrescos para a Capela Sistina. nn Uma linha de pensamento vê a obra “Primavera”, figura 2 como uma série de episódios. nn À direita, Zéfiro, o vento oeste, está perseguindo Clóris, uma ninfa, que se transforma na deusa Flora depois que eles se abraçam. No centro do quadro está Vênus, com um cupido de olhos vendados acima; ela aparece como uma deusa do amor e como representação da fertilidade da natureza. À esquerda de Vênus estão as três Graças, e à extrema esquerda está o Deus mensageiro Mercúrio, que afasta a nuvem, o véu que oculta a verdade. nn Uma explicação alternativa para o quadro é que ele representa as estações do ano, de fevereiro (Zéfiro), passando por toda a primavera e o verão, até setembro (Mercúrio). nn Sua obra tem significados filosóficos e alegóricos. nn Figuras com ritmo suave e gracioso, com algumas transparências.

Figura 02 - Primavera, Sandro Botticelli – 1480.

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Artes

A Alta Renascença Florença foi, sem dúvida, o centro da Renascença artística europeia durante a maior parte do século XV. Principais artistas

Figura 03 - Mona Lisa, Leonardo da Vinci – 1503/1506.

nn Leonardo da Vinci (1452-1519) − nasceu em Anchiano e se destacou como cien-

tista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. É ainda conhecido como o precursor da aviação e da balística. Leonardo tinha uma curiosidade insaciável igualada apenas à sua capacidade de invenção. É considerado um dos maiores pintores de todos os tempos e possivelmente a pessoa dotada de talentos mais diversos. Conhecedor de anatomia, engenharia e realizador de pesquisas científicas e de aeronáutica, Da Vinci completou um número notavelmente pequeno de pinturas durante sua vida. Felizmente, inúmeros desenhos e cadernos de esboços sobreviveram para nos mostrar os diversos talentos desse gênio. nn Mona Lisa figura 3, apesar de ser a pintura mais famosa do mundo, pouco se sabe sobre esta mulher de sorriso enigmático. nn O quadro não foi assinado nem datado. nn O título Mona Lisa ou La Gioconda, tem origem num relato do século XVI do historiador da arte Giorgio Vasari: “Francesco Del Giocondo contratou Leonardo para produzir o retrato de sua esposa, Mona Lisa”. nn Leonardo usou músicos e palhaços para manter sua modelo se divertindo. nn O peito e a cabeça estão ligeiramente torcidos em um sutil espiral. nn O braço é um elemento divisório entre o fundo da obra e o expectador. nn Fundo com perspectiva aérea ou atmosférica. nn Não há um ponto de fuga claro para dar a impressão de recuo ou indicar o tamanho relativo dos elementos na paisagem rochosa. nn A luz azul se dispersa a partir dos elementos mais distantes, acrescentando profundidade à imagem de fundo.

Figura 04 - Capela Sistina, Michelangelo – 1508/1512

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(1475-1564) − nascido em Caprese foi pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano, considerado um dos maiores criadores da história da arte do Ocidente. Ele desenvolveu o seu trabalho artístico por mais de setenta anos entre Florença e Roma, onde viveram seus grandes mecenas, a família Médici de Florença, e vários papas romanos. Logo reconhecido, tornou-se um protegido dos Médici, para quem realizou várias obras. Depois se fixou em Roma, onde deixou a maior parte de suas obras mais representativas. Sua carreira se desenvolveu na transição do Renascimento para o Maneirismo, e seu estilo sintetizou influências da arte clássica, centrado na representação da figura humana e em especial no nu masculino, que retratou com enorme pujança. Considerava-se mais escultor do que um pintor e aceitou com relutância a decoração do teto da Capela Sistina.

A15  Renascimento

nn Michelangelo


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

A Separação da Luz e das Trevas, A Criação de Adão, O Pecado Original, A Expulsão do Jardim do Éden e O Dilúvio. nn Rejeitou

as ideias do Vaticano e substituiu a decoração existente, de um céu azul simples e cheio de estrelas, por uma composição mais arquitetônica, na qual a Criação Divina e a Queda do Homem são formas reencenadas. nn Pilastras pintadas se estendem de um lado ao outro do teto, criando nove painéis nos quais as principais cenas do livro do Gênesis foram retratadas. nn A obra apresenta mais de 300 personagens. Foi concluída em apenas quatro anos e exposta ao público no dia de todos os Santos em 1512.

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Esculturas de Michelangelo

Figura 05 - Pietà, Michelangelo - 1499; David, Michelangelo - 1501-1504. nn A

Pietá representa Maria acolhendo seu filho morto. A Maria de Michelangelo apresenta-se como uma mulher jovem com um intenso drapeado. A perfeição dos músculos e das veias de Jesus Cristo demonstra os detalhes e o honroso trabalho de Michelangelo. nn David de Michelangelo apresenta-se como um desafio para quem o contempla. Não é um adolescente e nem um jovem adulto. A expressão do rosto apresenta-se forte e não com o humanismo idealizado do período clássico das esculturas Greco-romanas. Fonte: Wikimedia Commons

Sanzio (1483-1520) − Nasceu em Urbino, foi mestre da pintura e da arquitetura celebrado pela perfeição e suavidade de suas obras. Filho de Giovanni Santi, pintor da corte de Urbino. Estudou as obras de Da Vinci e Michelangelo. Foi nomeado diretor das obras arquitetônicas do Vaticano. Como tinha muitas encomendas empregou cerca de 50 assistentes e alguns se tornaram grandes artistas. A15  Renascimento

nn Rafael

Figura 06 - Afresco Escola de Atenas, Rafael – 1510/1511

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Artes

nn Na obra Escola de Atenas, cinco figuras discutem geometria curvadas sobre um

compasso de uma lousa, enquanto outras (segurando um globo e uma esfera celeste) discutem astronomia. Cada um desses grupos alvoroçados discute uma das sete artes liberais. As duas figuras do centro da composição, andando com segurança ao nosso encontro e transmitido uma sensação irreal de calma, são Platão e Aristóteles, os dois maiores filósofos da Antiguidade. nn É um dos painéis que compõem um grupo de quatro afrescos principais no Palácio Apóstólico no Vaticano que retratam ramos distintos do conhecimento. Como é um afresco medindo 5M X 7M, levou cerca de três anos para completar A Escola de Atenas. nn Mais novo do que Leonardo e do que Michelangelo, Rafael é considerado um dos maiores desenhistas da arte Ocidental.

Arquitetura Os arquitetos renascentistas perceberam que a origem de construção clássica estava na geometria euclidiana, que usava como base de suas obras o quadrado, aplicando-se a perspectiva, com o intuito de se obter uma construção harmônica. Apesar de racional e antropocêntrica, a arte renascentista continuou cristã, porém as novas igrejas adotaram um novo estilo, caracterizado pela funcionalidade e, portanto pela racionalidade, representada pelo plano centralizado, ou a cruz grega. Os palácios também foram construídos de forma plana tendo como base o quadrado, um corpo sólido e normalmente com um pátio central, quadrangular, que tem a função de fazer chegar luz às janelas internas. Características período românico construíram-se templos fechados. A arquitetura gótica buscou a verticalidade. Já a arquitetura renascentista buscou espaços em que as partes do edifício parecessem proporcionais entre si. nn Filipo Brunelleschi (1377 a 1446) − artista pioneiro da arquitetura renascentista foi estudioso da arquitetura greco-romana, da sua teoria das proporções, da escala, eliminando progressivamente as influências góticas. Brunelleschi construiu a cúpula sobre o tambor octogonal da catedral de Florença. Esse local continuava aberto após sua construção. Em 1420, coube a Brunelleschi apresentar o projeto da Cúpula Catedral com uma forma simétrica (um lado igual ao outro) e partes proporcionais entre si.

A15  Renascimento

Fonte: Wikimedia Commons

nn No

Figura 06 - Vista da Cúpula da Catedral de Florença; Planta baixa da catedral de Florença.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação 01. Sobre a arquitetura Renascentista, julgue os itens como verdadeiro ou falso: C-E-C-E-C a) Os arquitetos do Renascimento preocupavam-se em criar ambientes que mostrassem o equilíbrio das linhas, a organização matemática dos espaços e os elementos da antiguidade clássica na decoração. b) A presença das abóbadas de nervura foram estilizadas no período Renascentista e permaneceram até o maneirismo. c) A cúpula é um detalhe importante e constante nas construções Renascentistas. d) A arquitetura Renascentista deu segmento ao estilo das construções góticas. e) Um exemplo de cúpula existente nesse período é o da Basílica de São Pedro no Vaticano. 02. O Renascimento correspondeu: a) a um velho estilo artístico e à mesma forma medieval de encarar a vida e vivê-la. b) a um estilo artístico eclético e a uma vida de recolhimento e opulência cultivada durante séculos na Idade Média. c) ao socialismo medieval, que readaptou a escolástica medieval ao pensamento lúdico reinante. d) a um novo estilo artístico e a uma forma nova de encarar a vida e vivê-la, constituindo assim uma mudança de mentalidade. e) a um período de calma e quietude, com um estilo artístico conservador das imposições estéticas impostas e cultivadas na cultura medieval.

c) Burgueses e governantes que protegiam e patrocinavam financeiramente os artistas renascentistas. d) Religiosos que perseguiam os artistas que faziam obras de arte que criticavam os fundamentos da Igreja Católica. e) Pintores e escultores que usavam modelos vivos para realizar suas obras. 05. (Fuvest SP) Com relação à arte medieval, o Renascimento destaca-se pelas seguintes características: a) a perspectiva geométrica e a pintura a óleo. b) as vidas de santos e o afresco. c) a representação do nu e as iluminuras. d) as alegorias mitológicas e o mosaico. e) o retrato e o estilo românico na arquitetura. 06. Qual dos países abaixo é considerado o berço do Renascimento? a) França b) Itália c) Espanha d) Holanda 07. Leonardo da Vinci desenhou o Homem Vitruviano (1490), que é uma das maiores expressões do Renascimento.

a) Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael Sanzio, Botticelli e Tintoretto. b) Pablo Picasso, Van Gogh, Galileu Galilei e Lucas Mantovanni. c) Pitágoras, Renoir, Portinari, Monet e Laurentino Schiatti. d) Lucas Mantovanni, Pablo Picasso, Monet, Girondinelli e Renoir. e) Leonardo da Vinci, Pablo Picasso, Michelangelo, Van Gogh e Rafael Sanzio. 04. Na Itália Renascentista quem eram os mecenas? a) Governantes que atuavam como artistas, fazendo esculturas e pinturas. b) Pintores que ajudavam financeiramente os burgueses da época.

Dentre os princípios do Renascimento, o Homem Vitruviano representa o/a: a) jusnaturalismo, que explica, a partir da razão prática, o que é natural ao homem. b) teocentrismo, que afirma que Deus é a medida de todas as coisas. c) metafísica, que busca explicações sobre a essência do ser e do universo. d) positivismo, que defende que somente o conhecimento científico é verdadeiro. e) antropocentrismo, que argumenta que o homem é centro do conhecimento.

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A15  Renascimento

03. Vários artistas italianos se destacaram no Renascimento Cultural. Qual das alternativas abaixo apresenta nomes de artistas italianos renascentistas?


FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A16

ASSUNTOS ABORDADOS nn O Renascimento na Alemanha e

nos Países Baixos nn Pintura

O RENASCIMENTO NA ALEMANHA E NOS PAÍSES BAIXOS A Itália também foi o centro transmissor de arte e cultura na época do Renascimento. Muitos artistas italianos foram para outros países da Europa e acabaram espalhando informações e conhecimentos sobre estilos e técnicas de pintura e escultura. Esse fato fez com que o Renascimento não ficasse restrito à Península Itálica, espalhando-se por vários países da Europa. Artistas como Dürer na Alemanha e Holbein, Bosh e Bruegel, nos Países Baixos, renovaram a pintura em seus países inspirados pela pintura italiana. Os Países Baixos e a Alemanha tinham tradições de erudição e de conhecimento que tornaram a região muito receptiva as ideias que difundiam a partir da Itália. A fusão do novo saber com estas tradições deu ao Renascimento do Norte o seu carácter distinto como movimento cultural. Características nn Com

o tempo, as ideias dos artistas italianos que valorizavam a cultura greco-romana começaram a se expandir pela Alemanha e nos Países Baixos.

nn A única área das artes visuais ou (plásticas) abordada pelos artistas foi a pintura. Fonte: Wikimedia Commons

nn No

Renascimento da Itália as figuras tornaram-se mais vivas, o espaço tornou-se mais real e a história do cristianismo começou a ser contada do ponto de vista humano.

nn Enquanto

os artistas italianos davam ênfase à perspectiva e à ilusão do espaço, os artistas flamengos e alemães interessavam-se mais por uma representação detalhada e quase à maneira de ourivesaria do mundo à sua volta.

Pintura Principais artistas nn Albrecht

Dürer (1471-1528) nasceu em Nuremberga. Foi gravador, pintor, ilustrador, matemático e teórico da arte alemã. A sua maestria como pintor foi o resultado de um trabalho árduo e, no campo das artes gráficas, não tinha rival. As suas xilogravuras, consideradas revolucionárias são ainda marcadas pelo estilo gótico. É considerado como o primeiro grande mestre da técnica da aquarela, principalmente no que diz respeito à representação de paisagens. Os seus interesses no espírito humanista do Renascimento abrangiam ainda outros campos, como a geografia, a arquitetura e a geometria. Representa o corpo humano com uma beleza ideal, como imaginaram os artistas clássicos e reproduziu a natureza fielmente, graças aos estudos de geometria e da perspectiva.

nn O autorretrato apresenta a observação visual da Mona Lisa do artista

Leonardo da Vinci. Os dois mantêm a característica do realismo. Figura 01 - Autorrtrato, Dürer – 1498.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

n n Hans Holbein (1498-1543) ficou conhecido como retratista de personalidades

políticas, financeiras e intelectuais da Inglaterra e dos Países Baixos. Seus retratos destacam-se pelo realismo e pela aparência de tranquilidade das pessoas retratas. Ele procurou também dominar a técnica da pintura para expressar um dos ideais renascentistas de beleza: a dignidade do ser humano. Dos seus retratos, é bastante conhecido o de Erasmo de Roterdã. n n Hieronymus

Bosch (1450-1516) nasceu em Hertogenbosch, foi pintor e gravador. Muitos dos seus trabalhos retratam cenas de pecado e tentação, recorrendo à utilização de figuras simbólicas complexas, originais, imaginativas e caricaturais, muitas das quais eram obscuras mesmo no seu tempo. Especula-se que sua obra terá sido uma das fontes do movimento surrealista do século XX, que teve mestres como Max Ernst e Salvador Dalí. O artista Pieter Brueghel foi influenciado pela arte de Bosch e produziu vários quadros em um estilo semelhante.

Criou uma obra inconfundível, rica em símbolos da astrologia, da alquimia e da magia do final da Idade Média. Nem todos os elementos presentes em suas telas, podem ser decifrados, pois muitas vezes ele combina aspectos de diversos seres - animais ou vegetais - e cria estranhas formas sem motivo aparente. O que pretendia ele? Alguns estudiosos veem em sua obra a representação do conflito que inquietava o espírito humano no final da Idade Média: de um lado, o sentimento do pecado ligado aos prazeres materiais; de outro, a busca das virtudes na vida ligada à espiritualidade. Além disso, muitas crenças religiosas espalharam-se pela Europa entre as pessoas mais simples e fortaleceram superstições, talvez representadas na pintura de Bosch. nn O

Tríptico mostra três cenas: o Paraíso à esquerda; o inferno à direita; e um jardim de prazeres terrenos no meio.

Figura 02 - Erasmo de Roterdã, Holbein – 1523; Edward VI como criança, Holbein - 1538.

A16  O renascimento da Alemanha e nos Países Baixos

Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 03 - Jardins das Delícias, Bosch – 1500/1505

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Artes

SAIBA MAIS MELODIA ENCONTRADA NA OBRA O JARDIM DAS DELÍCIAS DE BOSCH Foram necessários cinco séculos para que, finalmente, fosse descoberta, transcrita e ouvida a melodia escondida no famoso quadro renascentista O Jardim das Delícias Terrenas, obra-prima do pintor holandês Hieronymus Bosch. Fonte: Wikimedia Commons

invented by Teads

Trata-se de um dos quadros mais enigmáticos e estudados na história da arte. Pesquisadores e especialistas do movimento renascentista e conservadores de obras de arte do mundo todo se voltaram para a análise do tríptico desde que Felipe II o adquiriu para sua coleção pessoal. A data exata de sua criação, assim como o preço pago por ela, é desconhecida até hoje. O quadro é extremamente complexo e possui inúmeros detalhes, que demandam horas e horas de observação para que possam ser totalmente apreciados, e inclui O Jardim do Éden (painel esquerdo), O Jardim das Delícias Terrenas (painel central) e O Inferno (painel direito). No entanto, depois de mais de 500 anos desde sua criação, ninguém havia encontrado, nem ao menos interpretado, a misteriosa partitura escondida na última seção do quadro. A descoberta foi feita por dois estudantes americanos, que observaram detalhadamente a partitura, cuja metade está desenhada em um livro e a outra metade nas nádegas de um homem caído no chão, na parte direita da obra. Eles próprios se encarregaram de transcrever a notação mensural para a notação moderna, isto é, o pentagrama, e a introduziram em um sequenciador, que gerou a melodia com sons de piano. Não deixe de ouvir a melodia maldita, oculta por mais de 500 anos em uma das obras mais importantes e enigmáticas da história da arte. Fica a dica! Disponível em: www.trocaodisco.com.br Acesso e, 26/07/2017 Fonte: Wikimedia Commons

A16  O renascimento da Alemanha e nos Países Baixos

n n Pieter Bruegel (1525-1569) nasceu em Bre-

da nos países baixos foi pintor, célebre por seus quadros retratando paisagens e cenas do campo. Pintou multidões e cenas populares, com uma vitalidade tal que transborda do quadro. Além da sua predileção por paisagens, pintou quadros que realçavam o absurdo na vulgaridade, expondo as fraquezas e loucuras humanas, que lhe trouxeram muita fama. A mais óbvia influência sobre sua arte é de Hieronymus Bosch. Foi na natureza, no entanto, que ele encontrou sua maior inspiração, sendo identificado como um mestre de paisagens. Foi considerado o primeiro pintor ocidental a pintar paisagens como elemento central e não como um pano de fundo histórico de uma pintura.

Figura 04 - Jogos Infantis, Pieter Bruegel – 1559/1560 nn Retratava

as pequenas aldeias que ainda conservavam a cultura medieval.

nn Vários personagens na pintura, impressão de movimento, as crianças não brin-

cam por prazer, mas por obrigação (ausência do sorriso no rosto). nn A

obra chama-se Jogos Infantis. A tela mostra 250 crianças brincando pelas ruas em 84 brincadeiras diferentes.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação 01. Muitos artistas e filósofos do Renascimento escreveram sobre a natureza e o seu valor para a arte, mas nenhum foi tão bom observador como Leonardo da Vinci. A prova, tanto da sua curiosidade insaciável como de seu entendimento profundo da natureza, pode encontrar-se nos seus muitos desenhos e livros de notas. Dentre as principais características do movimento denominado Renascimento Cultural, encontradas nas obras de Leonardo da Vinci, podemos destacar: a) o bidimensionalismo estético e a desvalorização do ser humano. b) o naturalismo e o geocentrismo. c) o antropocentrismo e o humanismo. d) o teocentrismo e o uso de conceitos irracionais abstratos. e) a arte humanista e a ausência da perspectiva linear.

humanismo típico da cultura medieval para enaltecer os conteúdos religiosos que emergiam com a crise feudal. c) Leonardo da Vinci, personagem-síntese do Renascimento, para quem o homem era o modelo do mundo, notabilizou-se pela atuação diversificada, destacando-se, na pintura, com Monalisa. d) A atuação dos mecenas, protetores e financiadores dos artistas, deu impulso decisivo ao desenvolvimento da arte renascentista. 04. Observe as imagens:

02. Observe a imagem:

Os provérbios holandeses 1559, Bruguel

As imagens apresentadas devem ser relacionadas a dois grandes artistas renascentistas. A da esquerda foi obra do pintor, arquiteto, escultor, mecânico, urbanista, engenheiro, fisiólogo, químico, botânico, geólogo, cartógrafo, físico, precursor da aviação, da balística, da hidráulica, da ótica e da acústica. A da direita foi obra de um artista dotado de uma versatilidade sem limite, indicado por Bramante para servir ao Papa Júlio II, em Roma, foi imortalizado como um dos maiores pintores da Renascença. Assinale entre as alternativas a que traz, respectivamente, os nomes dos autores das duas obras: a) Rafael e Botticelli. b) Leonardo da Vinci e Rafael. c) Leonardo da Vinci e Masaccio. d) Botticelli e Masaccio e) Giotto e Pieter Brueghel.

Sobre essa obra, apresentam-se quatro afirmações. I. Faz parte da arte renascentista europeia. II. Contém uma dimensão de humor e de crítica aos comportamentos humanos. III. Narra a história das atividades de trabalho do camponês no início da Idade Média. IV. Apoia a ideia da Igreja católica de elevação espiritual humana para os pobres e humildes. Estão corretas as afirmações: a) I e II, apenas. b) I, II e IV, apenas. c) I, III e IV, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV.

05. Considere a tela “Jogos Infantis de Pieter Bruegel figura 4 que se apresenta como um grande painel com 250 crianças brincando pelas ruas em 84 brincadeiras diferentes e responda:

03. (UnB DF) Julgue os itens seguintes, referentes ao Renascimento, colocando VERDADEIRO ou FALSO: V-F-V-V a) Retomando traços da Antiguidade Clássica, a Renascença significou a ruptura total e absoluta com a cultura medieval. b) Iniciado na Península Ibérica, sobretudo por sua forte tradição urbana, o movimento renascentista afastou-se do

a) Algumas dessas brincadeiras são conhecidas ainda hoje. Você consegue identificar quais são? b) Há um aspecto curioso que nos chama a atenção na obra “Jogos Infantis”: As crianças não se mostram felizes, pois não sorriem. Explique por que o pintor Pieter Bruegel fez esse quadro.

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A16  O renascimento da Alemanha e nos Países Baixos

Dama com Arminho, 1490. Madona Del Granducha, 1505.


FRENTE

B


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ARTES Por falar nisso O teatro, juntamente com pintura, escultura, literatura, música, dança e cinema, é uma das sete artes. A arte cênica tem suas origens na Grécia Antiga e era imensamente valorizada pela elite grega. Aristóteles, um dos filósofos mais importantes desse período, foi um grande estudioso da tragédia. Na poética, o filósofo de Estagira descreve os gêneros literários: épico, lírico e dramático. Este último é o nosso objeto de estudo, uma vez que está intrinsecamente relacionado ao teatro. O gênero dramático é composto por falas e por instruções (também designadas rubricas) que os atores e atrizes devem desempenhar em cena. Nesse sentido, nas próximas aulas, nós estudaremos a tragédia e a comédia. A tragédia é um gênero que, segundo Aristóteles, é o mais digno de ser assistido, pois ressalta a virtude humana e retrata o homem em seu ápice de emoção. Já a comédia é por ele considerado um gênero menor, visto que o ser humano é representado de maneira pitoresca e demasiadamente informal. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

B07 Teatro grego: tragédia............................................................................196 B08 Teatro grego: comédia................................................................... 200


FRENTE

B

ARTES

MÓDULO B07

ASSUNTOS ABORDADOS nn Teatro grego: tragédia nn Tragédia

TEATRO GREGO: TRAGÉDIA Tragédia A tragédia (tragos = bode; ode = canto; tragédia = canto do bode, sacrifício)é um gênero que mostra o desenvolvimento de uma ação. Ação é a vontade humana em busca da realização dos seus objetivos, que quase sempre tem desfecho fatal, segundo o filósofo Friedrich Hegel. Portanto, o ato trágico decorre de uma ação em que ocorre um ‘sacrifício’ voluntário. Nessa ação, o herói trágico toma consciência moral decorrente da sua falha trágica, do seu ato. Essa tomada de consciência é percebida pela plateia como um engrandecimento psíquico, pois o herói não pretendia o mal, mas o acontecimento funesto acaba ocorrendo em função da sua hybris. Segundo Aristóteles a tragédia é: A imitação de uma ação importante e completa, de certa extensão; num estilo tornado agradável pelo emprego separado de cada uma de suas formas, segundo as partes; ação representada, não com a ajuda de uma narrativa, mas por atores, e que, suscitando a compaixão e o terror, tem por efeito a purgação dessas emoções.

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A tragédia, desse modo, estaria cumprindo um papel de liberação e regulação de certas emoções (processo catártico), de grande importância, que ultrapassa o limite da aceitação social. Essa regulação ajudaria a postular qual a conduta moral adequada e aceita socialmente. É no embate entre as personagens que podemos compreender o pensamento de Hegel que apresenta o caráter dialético da personagem (herói, homem superior) a partir da oposição e da dicotomia de princípios. Segundo ele, O trágico consiste nisto: que, num conflito, os dois lados têm razão em si, mas só podem realizar o verdadeiro conteúdo de sua finalidade negando e ferindo a outra potência que também tem os mesmos direitos, e que assim eles se tornam culpados em sua moralidade e por essa própria moralidade.

Figura 01 - Prometeu acorrentado

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Portanto, a tragédia tem como objetivo apresentar um conflito em que as duas partes têm legitimidade e cada uma, a seu modo, vai defender o seu ponto de vista até o fim, aproximando o ‘destino’ inevitável do conflito. Essas partes normalmente apresentam o homem (superior) com seu livre arbítrio enfrentando os princípios morais, éticos e religiosos defendidos pelas instituições (Estado, família, igreja etc.). Assim a ação trágica não tem como se desatar, estancar ou parar. A ordem final é estabelecida pelo sacrifício do homem que deseja impor sua visão parcial sobre essas forças moralizantes. O homem ‘morre’ em busca de sua afirmação individual frente aos valores do grupo social. Percebemos aqui a normatização do metron (a justa medida das coisas) ajustando a vida social por meio de uma universalização dos valores morais.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Estrutura dramática da tragédia grega Aristóteles indica em sua Poética que as partes estruturais da tragédia se dividem em prólogo, párodo, episódio, estásimo e êxodo. As cenas ocorrem no prólogo e nos episódios; já o coro tem função determinante no párodo, nos estásimos e no êxodo. O párodo sucede ao prólogo e logo depois vem uma série de, até cinco, episódios e estásimos, de modo alternado e sucessivo, e conclui-se com o êxodo, a última intervenção do coro que não é cantada, estabelecendo a seguinte ordem das partes: nn Prólogo

(atores) Párodo (coro) nn 1º Episódio (atores) Estásimo (coro) nn 2º

Episódio (atores) Estásimo (coro)

nn 3º

Episódio (atores) Estásimo (coro)

nn 4º

Episódio (atores) Estásimo (coro)

nn 5º

Episódio (atores) Êxodo (coro / atores)

1) Prólogo – antecede à entrada do coro fazendo a localização temporal, ligando o passado do herói com o presente, situando o público sobre a ação. Podem participar até três atores com diálogo entre dois, ou mesmo por meio de um monólogo. 2) Párodos – Cantos e danças a cargo do coro durante a entrada pelo párodo.(Párodo também é a entrada lateral do teatro grego). 3) Episódios – É a parte dramática. Em cada tragédia podemos ter até cinco episódios. O diálogo acontece entre o coro e as personagens ou apenas entre as personagens. O episódio é antecedido e procedido pelos estásimos, ou seja, localiza-se entre as aparições do coro. 4) Estásimo – É a parte lírica e dramática em que o coro canta, normalmente expressando as ideias políticas, filosóficas e religiosas do autor em sintonia com o pensamento coletivo. Nos estásimos o coro não dança. 5) Êxodo – É a última parte na qual o herói reconhece seu erro e é castigado pelos deuses, sofrendo o castigo e, muitas vezes, possibilitando ao público converter o acontecimento em pharmakon (remédio da alma). O êxodo, diferentemente dos estásimos, são ditos pelo coro, pelo corifeu e personagens. Aqui aparece o processo educacional, moral e religioso grego. Principais Tragediógrafos: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes (sete tragédias): Os Persas, Os Sete Contra Tebas, As Suplicantes, Prometeu Acorrentado (trata das relações entre os homens, os deuses e o universo) e a Oréstia (trilogia completa conhecida, composta por Agamêmnon, As Cóeforase As Eumênides).

B07  Teatro grego: tragédia

nn Ésquilo

nn Sófocles

(seis tragédias e um drama satírico): Ajax, Antígona, Édipo Rei (retratam o conflito das paixões humanas), Electra, As Traquínias, Filoctetes, Édipo em Colona e Os Sabujos (drama satírico).

nn Eurípedes

(dezoito peças): Alceste, Andrômaca, As Bacantes, As Fenícias, As Suplicantes, As Troianas, Electra, Hécuba, Helena, Héracles, Hipólito, Ifigênia em Táurida, Ifigênia em Áulida Íon, Medéia (retratam o conflito das paixões humanas), O Cíclope, Os Heráclidas e Orestes. 197


Artes

Exercícios de Fixação 01. ... a tragédia é imitação, não de pessoas, mas de uma ação, da vida, da felicidade, da desventura; a felicidade e a desventura estão na ação e a finalidade é uma ação, não uma qualidade. Segundo o caráter, as pessoas são tais ou tais, mas é segundo as ações que são felizes ou o contrário. Portanto as personagens não agem para imitar os caracteres, mas adquirem os caracteres graças às ações. Assim, as ações e a fábula constituem a finalidade da tragédia e, em tudo, a finalidade é o que mais importa. A Arte Poética de Aristóteles - Capítulo VI

A tragédia é a imitação de uma ação determinada pelo a) autor que elabora a ação da peça onde pode ser revelado o caráter da personagem. b) caráter inferior da personagem sem se preocupar em construir um personagem refinado. c) caráter pobre e de alta complexidade da personagem que estabelece a fatalidade trágica. d) processo de empatia gerado no espectador que compreende a dimensão do herói trágico. e) uso da máscara de um deus onde é possível estabelecer a catarse da plateia através da identificação. 02. O primeiro aspecto, apontado por Jean-Pierre Vernant, é o da tragédia como uma instituição social de cunho democrático. Instituição social e não apenas uma manifestação literário-teatral. Instituição, em primeiro lugar, porque as tragédias são escritas e representadas durante as festas cívicas de Atenas; em segundo lugar, porque o coro é formado por um colégio de cidadãos; em terceiro lugar, porque a cidade paga e financia a escrita e a apresentação das peças; em quarto lugar, e sobretudo, porque a tragédia é uma reflexão que a cidade faz sobre o nascimento da democracia. Marilena Chauí. Introdução à história da filosofia, p.113

O processo civilizatório na Grécia teve como ingrediente as Grandes Dionisíacas Urbanas onde as tragédias e as comédias eram apresentadas para a) a discussão dos assuntos mais brandos, leves, uma vez que todo assunto polêmico era evitado. b) a sociedade como um ponto culminante na vida religiosa, intelectual e artística da pólis. c) o público diretamente, sem o intermédio de atores, uma vez que o coro desempenhava a voz coletiva. d) os senadores na semana anterior ao evento para validar o conteúdo que seria visto pela população. e) uma pequena parcela da população assistia aos espetáculos gregos, geralmente a elite. Texto comum às questões 03 a 05 Elementos estruturantes da comédia e da tragédia A parabasis é uma polêmica versão das opiniões do autor a respeito de acontecimentos locais, controvérsias políticas e pessoais e, não menos importante, uma tentativa de captar a simpatia do público por sua obra. A parabasis podia ser igualmente usada para justificar, desmentir ou retratar algum acontecimento recentemente ocorrido. BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro, p. 123

Além da parabasis, outro elemento utilizado na comédia era o agon (debate entre os personagens). Esses dois elementos eram utilizados somente na comédia. No entanto, havia três elementos estruturantes comuns à tragédia e à comédia. Quais são esses três elementos estruturantes da tragédia e da comédia? Prólogo 03. _______________________________________________ Prólogo 04. _______________________________________________ Êxodo 05. _______________________________________________

Exercícios Complementares 01. O Herói Trágico B07  Teatro grego: tragédia

O centro do espetáculo teatral gira em torno do destino infeliz do herói, tema comum a maior parte das narrativas e das sagas antigas. Nelas ele é apresentado como uma figura radiante, um vencedor que está no esplendor da vida, usufruindo dos feitos das suas armas, envolto numa auréola de glória quando, repentinamente, vê-se vítima de uma alteração brusca do destino. Um acontecimento sensacional, terrível, sufoca as suas alegrias, conduzindo-o à desgraça,

198

arremessando-o ao mundo das sombras. Assim é que Édipo é rei de Tebas, onde casou com a rainha viúva e com a qual teve quatro belos filhos (dois varões e duas moças), quando tudo deu para desabar ao seu redor. Em outra peça, Agamemnon, o rei de Micenas, ao retornar para casa vitorioso depois de ter pilhado Tróia, sucumbe pelo golpe assassino de Cliptemnestra, sua mulher, e do amante dela. Prometeu, o titã que trouxe do Olimpo o fogo dos céus para os homens, banido, termina preso e encadeado no alto das montanhas do Cáucaso. http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/tragedia_grega1.htm


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02. Sobre a tragédia Assim, a tragédia é uma imitação do sério e do grave, ao passo que a comédia o é do alegre e do agradável. [...] A função da tragédia, portanto, é expor o público ao terror e à piedade, de modo que os poucos inclinados a essas paixões aprendam a senti-las e os muito inclinados se saciem delas pelo hábito, logrando assim mais equilíbrio emocional. [...] o próprio homem se prepara para os golpes do destino observando as catástrofes sofridas por outros. CARLSON, Marvin. Teorias do Teatro, pp. 82 e 83

A partir da leitura do texto acima marque o item CORRETO. a) A capacidade de aprender através da representação simbólica ocorre apenas no gênero trágico. b) A catástrofe cumpre a mesma função da peripécia na tragédia grega, ou seja, é a reviravolta do enredo. c) A tragédia tem capacidade de provocar no espectador o mesmo tipo de catarse que a comédia. d) O processo de aprendizagem vivenciado nas tragédias ajuda o espectador a regular suas emoções. e) Todos os espectadores passam pelos mesmos sentimentos de terror e piedade apresentados na tragédia. Texto comum às questões 03 a 07 Aristóteles define a Tragédia como “a imitação de uma ação importante e completa, de certa extensão; num estilo tornado agradável pelo emprego separado de cada uma de suas formas, segundo as partes; ação representada, não com a ajuda de uma narrativa, mas por atores, e que, suscitando a compaixão e o terror, tem por efeito a purgação dessas emoções”. A partir do fragmento acima, coloque certo ou errado nos itens abaixo: 03. E; 04. C; 05. C; 06 C; 07 E. 03. A ‘ação representada’ é aquela feita por meio da narração da história, pois por meio do relato da ação é otimizada.

06. Os atores devem reapresentar a ação, ou seja, eles devem torná-la presente no momento em que ocorre o espetáculo. 07. Os sentimentos de compaixão e de terror estariam também presente na catarse cômica como o objetivo de provocar o riso. Texto comum às questões 08 a 10 O GUARDA – Ei-la aqui, aquela que fez a extraordinária proeza! Nós a surpreendemos no momento em que sepultava o cadáver. CREONTE – Antígona? Mas como, e onde a prendeste? O GUARDA – Por suas próprias mãos estava dando sepultura ao morto. CREONTE – Tu compreendes o alcance do que estás dizendo? Tens absoluta certeza do que dizes? O GUARDA – Sim! Foi ela, que, apesar de tua proibição, estava dando sepultura ao morto... Não é claro o que estou dizendo? CREONTE – Mas, como foi que a viste e a surpreendeste? O GUARDA – Nós, guardas, fomos nos postar no alto dos cômoros que há em torno do corpo insepulto. Pouco depois, vimos esta jovem que, à vista do cadáver desenterrado, gemendo, proferiu maldições tremendas contra os autores do sacrilégio. Em suas mãos traz uma porção de areia seca, e depois, erguendo um vaso cinzelado, faz, sobre a cabeça do morto, uma tríplice libação. Em vista disso, nós a agarramos, sem que ela demonstrasse o menor susto. CREONTE – E tu, que manténs os olhos fixos no chão, confessas, ou negas, ter feito o que ele diz? ANTÍGONA – Confesso o que fiz! Confesso-o claramente! CREONTE – Sabias que, por uma proclamação, eu havia proibido o que fizeste. E apesar disso, tiveste a audácia de desobedecer a essa determinação? ANTÍGONA – Sim, porque não foi Júpiter que a promulgou; e a Justiça, a deusa que habita com as divindades subterrâneas jamais estabeleceu tal decreto entre os humanos; nem eu creio que teu édito tenha força bastante para conferir a um mortal o poder de infringir as leis divinas, que são eternas! Assim, a sorte que me reservas é um mal que não se deve levar em conta; muito mais grave teria sido admitir que o filho de minha mãe jazesse sem sepultura! Se te parece que cometi um ato de demência, talvez mais louco seja quem me acusa de loucura! Sófocles. Antígona.

A partir do fragmento da tragédia Antígona, julgue os itens abaixo como certo ou errado: 08. C; 09. E; 10. C. 08. A personagem Creonte ultrapassa o limite imposto pelos deuses e ao ultrapassar o metron acaba por suportar as dores da sua decisão.

04. A imitação da ação seria a ‘reapresentação’ do acontecimento, ou seja, uma forma de tornar o ato passado novamente presente.

09. A origem da tragédia grega está atrelada aos rituais divinos realizados na cidade. Nestes rituais havia forte presença de elementos trágicos e cômicos.

05. O objetivo da tragédia, segundo Aristóteles, seria o de provocar a catarse. A purificação dos sentimentos de compaixão e terror.

10. A tragédia grega estabelecia e ditava as regras de convivência que deveriam nortear o comportamento da sociedade grega. 199

B07  Teatro grego: tragédia

A partir da leitura do texto acima, marque a alternativa INCORRETA. a) A queda vertiginosa que sufoca as alegrias de Édipo está relacionada ao seu orgulho e a sua teimosia, sua hybris. b) Édipo é um dos mais importantes personagens trágico. Ele segue o destino estabelecido pelos deuses gregos. c) Em Édipo Rei é desprezível o fato de o protagonista ter saído do estado da ignorância para o de reconhecimento. d) No desfecho da peça Édipo Rei o personagem se cega por força da lei humana e vai para o exílio voluntário. e) O teatro grego do século V a.C. colaborou efetivamente com o processo civilizatório do povo helênico.


FRENTE

B

ARTES

MÓDULO B08

ASSUNTOS ABORDADOS

TEATRO GREGO: COMÉDIA

nn Teatro grego: comédia

Comédia

nn Comédia

A comédia (Komos = procissão jocosa; ode = canto; comédia = cortejo de cantos jocosos) tem como principal objetivo provocar o riso no espectador seja para pedir a cumplicidade, seja para reafirmar a superioridade da plateia diante de uma personagem diferente e original, apresentada com seus caracteres mais simples. Enquanto a tragédia trabalha promovendo a sensibilidade humana, a comédia trabalha fundamentalmente com a inteligência, explicando, instruindo, criticando, apresentando e ironizando os humanos com os seus hábitos e manias. Enquanto o desfecho da tragédia, quase sempre, ocorre por meio de fatalidades, o desenlace da comédia é feliz e é mais comum a conclusão por meio de um casamento. Segundo Aristóteles, a comédia é “uma imitação de homens de qualidade moral inferior” e, portanto, se prende à realidade concreta do dia a dia dos mortais, não focando em aspectos religiosos ou ligados à mitologia. A não ser para fazer zombaria, menosprezar os deuses e maldizer de algumas autoridades. O mais adequado seria dizer que a comédia retira sua fonte material dos costumes dos mortais. Devido a essa característica, a comédia se alastrou com facilidade pelos quatro cantos do mundo. A comédia é organizada levando-se em conta os obstáculos, valorizando os sobressaltos e a agilidade. Ela é repleta de alterações e improvisos com alta taxa de imprevisibilidade e imponderabilidade. Tanto a comédia quanto a tragédia se estabelecem a partir dos ritos sociais e da ordem soberana. E tanto na tragédia quanto na comédia as soluções encontradas instituem a ordem vigente. Um dos elementos fundamentais da comédia é o quiproquó, que é estabelecido a partir da confusão gerada pelo entendimento de uma coisa por outra, gerando um engano sobre o real significado de algo. Já em relação ao efeito provocado pela comédia, espera-se o distanciamento emocional do espectador, já que a identificação não ajuda na recepção da comédia. Comédia em três tempos distintos – de 500 a.C. a 400 a.C. nn Média – de 400 a.C. a 330 a.C. nn Nova – de 330 a.C. a 160 a.C.

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nn Antiga

200


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

A origem mais aceita para o surgimento da Comédia Antiga é derivada dos ritos de fertilidade e dos cantos fálicos em homenagem a Dionísio. Esses ritos eram procissões que contavam com um elemento móvel de cenografia, um ‘carro alegórico’ com um pênis de 4 a 5 metros e jorrava improvisações e obscenidades. A Comédia foi incorporada aos Festivais Dionisíacos, cinquenta anos após a Tragédia. As obras de Aristófanes são classificadas como pertencentes a esse período. A característica marcante da Comédia Antiga é a natureza crítica, abusando das obscenidades e da paródia, retratando uma visão social e política. A Comédia mediana foi um período de transição e não detém muitas características próprias. Podemos considerar como determinante a minimização da maledicência, acidez e sexualidade presentes na Comédia antiga e a introdução dos costumes presentes na nova. As duas últimas peças de Aristófanes, Mulheres no Parlamento e Plutus são consideradas obras da comédia media. A Comédia nova, que registra o espaço da intimidade, impera soberana entre meados do século IV a.C. a meados do século II a.C. Nesse período, a tragédia não tinha espaço na vida do homem grego. Os temas tratados são ligados ao universo doméstico, normalmente falando de relações sentimentais e familiares. O principal autor do período é Menandro, o primeiro a tratar dos personagens-tipo e de situações cotidianas que serviram de fonte para a comédia de costumes. A única obra completa do autor é O Misantropo e mais cinco peças que preservam entre 50 a 80% do conteúdo. Há duas dezenas de obras de Menandro que contêm apenas fragmentos.

B08  Teatro grego: comédia

Fonte: Wikimedia Commons

201


Artes

Estrutura dramática da comédia grega A diferença fundamental entre a estrutura da tragédia e da comédia é perceptível no seu próprio centro . Na tragédia contamos com os episódios e estásimos, o que não acontece na comédia. Esse gênero conta com a inclusão de duas partes: o agon e a parábasis. No final, a saída do coro na tragédia é denominada êxodo e na comédia esse final é denominado komos. 1) Prólogo – antecede a entrada do coro fazendo a localização temporal. Podem participar até três atores com diálogo entre dois ou por meio de um monólogo para situar o público sobre a ação. 2) Párodos – Cantos e danças a cargo do coro durante a entrada pelo párodo, que pode também ser a entrada lateral do teatro grego. 3) Agon ou Debate – em termos gerais, em grego, significa disputa, competição. Consiste em um debate entre dois personagens, um deles frequentemente representando o pensamento do autor. Nesse debate, são avaliados os méritos da ideia central que mobiliza a própria comédia e decidida sua aplicação prática. O agon, em última instância, representa o princípio que estabelece a relação de conflito entre os personagens.

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4) Parábasis – consiste em uma longa parte coral sem vínculo com o teor da comédia, na qual o autor dirigia-se diretamente à plateia para discorrer sobre temas puramente pessoais. Pode-se considerar essa parte como licença poética em que se permite sair da representação. 5) Komos – Essa parte é a saída do coro, normalmente barulhenta e excitada.

Principais Comediógrafos: Aristófanes e Menandro n n Aristóteles

(comédia antiga - satiriza as tradições e a política atenienses; violentamente satírico, critica as inovações sociais, políticas e os deuses): As Aves, As Mulheres na Assembleia, As Nuvens, A Paz, As Rãs, As Tesmoforiantes, As Vespas, Lisístrata (as mulheres fazem greve de sexo para forçar os atenienses e os espartanos a estabelecerem a paz), Os Arcanianos, Os Cavaleiros e Pluto.

nn Menandro

(comédia nova): A Garota de Samos, A Garota dos Cabelos Cortados, Os Árbitros, O Escudo, O Misantropo (critica os costumes) e O Rabugento.

B08  Teatro grego: comédia

n n Sofron de Siracusa (fixou os mimos - o teatro de tipos não usava

coro e utilizava-se de jograis): (serviu de referência para a Commedia dell’Arte). As Feiticeiras, O Pescador de Atum, O Pescador e o Campones e Os Velhos.

Figura 01 - Menandro

202


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 03. A Comédia Antiga é derivada dos ritos de fertilidade e dos cantos fálicos em homenagem a Dionísio e a característica marcante é a natureza crítica, abusando das obscenidades e da paródia, retratando uma visão social e política.

Exercícios de Fixação Texto comum às questões 01 a 03 A parabasis é uma polêmica versão das opiniões do autor a respeito de acontecimentos locais, controvérsias políticas e pessoais e, não menos importante, uma tentativa de captar a simpatia do público por sua obra. A parabasis podia ser igualmente usada para justificar, desmentir ou retratar algum acontecimento recentemente ocorrido. BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro, p. 123

01. Em qual parte da comédia acontecia o debate entre os perQuestão 02. O komos era a saída ruidosa sonagens? No AGON. 02. Qual a função do komos?

do coro. Era a última parte do espetáculo cômico e consequentemente a última parte das celebrações cênicas ocorridas durante o dia. O público normalmente vai embora do teatro sob o efeito do komos.

03. Qual a definição de Comédia Antiga? 04. Qual a definição de Comédia Nova e qual a sua diferença da Antiga? A Comédia Nova contempla maior espaço para a intimidade e os temas tratados são ligados ao universo doméstico, normalmente falando de relações sentimentais e familiares.

05. Leia o texto a seguir. O teatro era o fórum onde eram travadas as mais veementes controvérsias. Aristófanes via a si mesmo como o defensor dos deuses – “pois foram os deuses de nossos pais que

lhes deram a fama” – e como o acusador das tendências subversivas e demagógicas na política e na filosofia de Atenas. Ele acusava os filósofos de “arrogante desprezo pelo povo” e os denunciava como ateus obscurantistas – todos eles, e especialmente Sócrates. Pouco se sabe sobre a formação e a vida de Aristófanes. Parece ter nascido por volta de 445 a.C. e ter vindo do demos ático de Cidatena. Viveu em Atenas durante toda a sua vida criativa [...] Das quarenta comédias que sabemos terem sido compostas por ele, conservaram-se apenas onze. Margot Berthold História Mundial do Teatro. p. 121

A comédia antiga abordava temas ligados à ordem divina e a organização política e social da Grécia. Com relação aos espetáculos cômicos a) era a parte mais importante para poder equilibrar as várias emoções humanas. b) foi fundamental para aliviar as tensões geradas pelos acontecimentos na pólis. c) o riso era garantido por meio da empatia entre o personagem e espectador. d) os efeitos provocados através do quiproquó garantiam paz até o outro festival. e) os heróis eram os deuses que determinavam o comportamento humano ideal.

Exercícios Complementares

Gab. 01. E; 02. C; 03. E; 04. C; 05. C; 06. E; 07. C; 08. C; 09. E; 10. E.

Sobre a origem e a estrutura da Comédia Antiga, julgue os seguintes itens abaixo como Certo ou Errado.

01. As personagens masculinas na Grécia Antiga eram representadas por mulheres que usavam máscaras para disfarçar e dissimular seus traços.

06. Não há a presença de ‘prólogo’, pois os espectadores já conheciam o enredo da comédia; não havendo, assim, a necessidade de explicações preliminares.

02. As aventuras e desventuras dos heróis estão relacionadas à ideia de hybris: crime de desmedida. A hybris pode ser explicada como o rompimento de uma ordem estabelecida.

07. O ‘agon’ representa o princípio que estabelece a relação de conflito entre as personagens.

03. A presença do coro foi uma constante no teatro grego não sofrendo nenhuma modificação ao longo do teatro grego.

08. O teatro grego, em especial a comédia, é o fórum onde eram travadas as mais veementes controvérsias.

04. Os principais dramaturgos gregos foram Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e Aristófanes.

09. Na comédia grega nenhum ator ou membro do coro poderia dirigir-se ao público.

05. Um sapato de solado exageradamente alto, chamado coturno, era usado. Tal tipo de calçado elevaria a estatura do ator e ajudaria a projetar sua figura acima dos participantes do coro.

10. Nas procissões jocosas dominavam uma impressionante técnica, sem direito a improvisações. Os cantos e as danças eram controlados com o maior rigor.

203

B08  Teatro grego: comédia

Sobre o Teatro Grego, julgue os seguintes itens abaixo como Certo ou Errado.


FRENTE

C


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ARTES Por falar nisso Podemos sistematizar didaticamente a experiência musical ocidental em três grandes blocos ou gêneros musicais: erudito, folclórico e popular. O primeiro, que será agora analisado, envolve, sem dúvida, maior complexidade na produção e na recepção. Isso quer dizer que compor, tocar e ouvir música erudita requer preparação e esforço. Não fique, com isso, desencorajado a penetrar nesse universo sonoro. Pelo contrário, vamos entender agora como ele se formou e por que se desenvolveu como tal. O que é, afinal, música erudita? Dito de forma sintética, pode-se afirmar que música clássica, erudita ou de concerto é uma prática musical que surgiu na Europa, onde começou a se desenvolver desde o século dezesseis, e teve seu apogeu no final do século XVIII e primeira metade do século XIX. Pode-se dizer que as composições eruditas se caracterizam por elaboração artística e formal sofisticada em que o compositor busca na linguagem sonora a máxima expressão de ideias, sentimentos ou, mesmo, de paradigmas absolutamente musicais. Convidamos você agora a começar uma jornada pelo mundo da música erudita. Vamos? Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

C07 História da música: Idade Média...........................................................206 C08 A música renascentista (1450-1600)............................................. 214


FRENTE

C

ARTES

MÓDULO C07

ASSUNTOS ABORDADOS nn História da música: Idade Média nn Os estilos e a história da música ocidental nn A música medieval (800 - 1450)

HISTÓRIA DA MÚSICA: IDADE MÉDIA Podemos sistematizar didaticamente a experiência musical ocidental em três grandes blocos ou gêneros musicais: erudito, folclórico e popular. O primeiro, que será agora analisado, envolve, sem dúvida, maior complexidade na produção e na recepção. Isso quer dizer que compor, tocar e ouvir música erudita requer preparação e esforço. Não fique, por isso, desencorajado a penetrar nesse universo sonoro. Pelo contrário, vamos entender agora como ele se formou e por que se desenvolveu como tal. Primeiro devemos nos perguntar, pois, o que é, afinal, música erudita? Dito de forma sintética, pode-se afirmar que música clássica, erudita ou de concerto é uma prática musical que surgiu na Europa, onde começou a se desenvolver desde o século XVI, e teve seu apogeu no final do século XVIII e primeira metade do século XIX. Pode-se dizer que as composições eruditas se caracterizam por elaboração artística e formal sofisticada em que o compositor busca na linguagem sonora a máxima expressão de ideias, sentimentos ou, mesmo, de paradigmas absolutamente musicais.

Fonte: Wikimedia Commons

Os estilos e a história da música ocidental

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Para compreeender a produção musical erudita de tantos séculos, temos que organizá-la em períodos ou estilos. Desse modo, fica mais fácil entender por que e como ocorreram modificações na música e na sociedade. Aliás, o ponto central no estudo da história da música ocidental é buscar a relação entre a sociedade, seus gostos, sua visão de mundo, as condições em que se vivia e a música que se fazia e ouvia. Aqui reside também um problema, pois, para um ouvinte adaptado à música do século XXI, a música barroca do final do século XVII pode soar incompreensível ou, pelo menos, pouquíssimo familiar. Todavia, é bem provável que boa parte do que vamos ouvir e estudar seja agora algo inacessível para a maioria da população em suas respectivas épocas. A arte, de modo gera, l era algo raro e caro em um passado não muito distante. Diante de tudo isso, para se conseguir entrar e compreender cada uma das fases da música ocidental, temos que exercitar a capacidade de nos transportar no tempo e, ao escutar as músicas, imaginar como as pessoas percebiam o mundo em suas épocas.


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A música medieval (800 - 1450)

Fonte: Wikimedia Commons

Aproximar-se da cultura da Idade Média requer primeiramente entender o papel da religião nesse período. Se o catolicismo era uma das poucas coisas comuns aos diferentes reinos da Europa feudal, a missa cantada era um dos elementos mais sagrados do mundo religioso. Isso quer dizer que, se a religião assumia um protagonismo único, a música ocupava uma posição central nos rituais. Isso produziu numerosas consequências para a prática musical. Como a música era muito valorizada, passou cada vez mais, ser regulada e controlada. Durante séculos, a música foi improvisada e não havia a necessidade que determinada obra fosse sempre executada da mesma forma. Todavia, a partir do século IX, criou-se a demanda pelo desenvolvimento de uma modalidade de registro gráfico que pudesse limitar as improvisações e, principalmente, as “contaminações” com outras culturas musicais julgadas indesejáveis. Foi durante a Idade Média que a Península Ibérica recebeu grande influência da cultura árabe. Isso criou uma forte repulsão dentro da Igreja de modo que, não Figura 01 - Menestréis medievais. obstante a perseguição aos muçulmanos, o catolicismo medieval passou a enxergar todas as tradições europeias pré-cristãs como ameaças. Curiosamente, o que conhecemos como música ocidental é, em ampla medida, reflexo da contribuição dessas culturas.

C07  História da música: Idade Média

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O canto gregoriano

Figura 02 - Monges beneditinos entoando cantos litúrgicos.

Não temos como elucidar plenamente a música medieval aqui por, pelo menos, dois motivos. Primeiro, porque há poucos registros da prática que ocorria fora das igrejas, apesar de saber que as tradições populares eram abundantes. Segundo, como se trata de seiscentos e cinquenta anos de história que precisam, por motivos didáticos, ser sintetizados nas informações essenciais. Sendo assim, limitando o estudo aos dados essenciais, pode-se afirmar que o canto gregoriano e os estilos que dele advieram desempenharam o papel mais importante na música medieval. 207


Artes

Fonte: Wikimedia Commons

O título gregoriano deve-se ao Papa Gregório Magno, a quem se atribui o trabalho de organização dos cantos religiosos da Igreja medieval. É também chamado de cantochão, embora esse termo seja mais amplo e se refira também a outras práticas que não aquelas da Igreja Católica Apostólica Romana, como os cantos Ambrosiano, Galicano e Moçárabe. Canto gregoriano significa, portanto, um tipo bem específico de música: nn Vocal

– cantada apenas por homens (monges);

nn A capela – produzida apenas por vozes, sendo vetado o acom-

panhamento de instrumentos; nn Monofônica

– todos os cantores devem cantar as mesmas notas, isto é, a mesma melodia;

nn Cantada em latim – uma vez que a língua latina era o idioma

oficial da Igreja Católica Apostólica Romana. O canto gregoriano tanto fazia parte das missas abertas ao público, como era também uma das práticas mais importantes realizadas nos mosteiros. Em geral, era composto tendo como base salmos bíblicos, apesar de ser também muitas vezes baseado em textos não salmódicos ou, ainda, não bíblicos, embora sempre religiosos. Basicamente, levando em conta os esquemas propriamente musicais, desenvolveram-se três estilos de cantochão:

Figura 03 - Atribui-se ao Papa Gregório Magno a seleção, compilação e adaptação dos cantos religiosos católicos até o século VII. Entretanto, tal fato é normalmente refutado, pois os esquemas de notação foram desenvolvidos duzentos anos mais tarde.

nn Silábico:

em que cada sílaba do texto corresponde a uma nota;

nn Melismático: nn Neumático:

em que uma sílaba é cantada demoradamente em várias notas;

quando ocorre alternância do estilo silábico e melismático.

C07  História da música: Idade Média

Fonte: Wikimedia Commons

SAIBA MAIS

O canto gregoriano foi notado por meio de neumas, a primeira forma de grafia musical ocidental.

208

O canto gregoriano foi escrito em grande parte por meio de um tipo de grafia musical denominada técnica neumática. Os neumas, semelhantes às notas atuais, eram normalmente grafados abaixo ou acima do texto e, em termos de representação rítmica, eram bastante imprecisos, sobretudo até o século XII. Todavia, o canto gregoriano era um estilo baseado na palavra e era ela quem primordialmente determinava as estruturas rítmicas. Para os monges que interpretavam essa música, para os fiéis que a escutavam e para os chefes clericais o que importava era a transmissão do texto religioso. A música, nesse sentido, era utilizada para realçar o significado e os sentimentos das peças e orações.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

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Organum O canto gregoriano foi a base para o desenvolvimento da música ocidental, pois foi das melodias do cantochão que se desenvolveu o organum, a partir do qual se chegou à polifonia, a prática de unir várias melodias simultaneamente. Quando, partindo de uma melodia de canto gregoriano, um compositor acrescentava outras linhas melódicas. A essa técnica dava-se o nome de organum. Conheçamos alguns tipos de organa que, desenvolvidos ao longo do período medieval, resultaram na criação das técnicas polifônicas: Figura 04 - Interior da catedral Notre-Dame em Paris, onde Leonin (1153-1201), compositor francês pioneiro na composição de organa e patrono da “Escola de NotreDame”, compôs a maior parte de sua obra.

a) Organum Paralalelo Organal voice Principal voice Tu

pa - tris

sem - pi

ter - nus

es

fi

li

us.

O organum paralelo foi o primeiro tipo de polifonia. Nessa técnica, surgida no século IX, normalmente duas melodias progridem de forma paralela: caso uma dê um salto de duas notas, a outra seguirá na mesma proporção. Por exemplo: caso uma melodia se encontre na nota dó e outra esteja em sol, se a primeira subir para mi, a segunda salta para si e assim por diante, mantendo o intervalo de quinta até o final da música. A voz mais aguda, retirada de um canto gregoriano, chama-se voz principal (vox principalis). Um pouco mais grave (em um intervalo de quarta ou quinta abaixo) segue a voz organal (vox organalis). b) Organum Livre

c’

fa mu li

les

b a g f e

du

mi

lis

Te hu mi les fa mu

he ve

li mo du

tah do

d c

is

he

lis ve

tah

pi

-

Te hu - mi - les fa - mu - li mo - du - lis vox principalis (cantus)

C07  História da música: Idade Média

do

ve - he - tah do pi - is

vox organalis

Já nos séculos X e XI desenvolveu-se uma modalidade mais complexa de polifonia em que as melodias seguiam por diferentes intervalos e movimentos: o organum livre. Além do movimento paralelo, era utilizado o movimento contrário (se uma voz descia, outra subia ou vice-versa). O movimento oblíquo (uma voz mantém a nota e a outra se movimenta) e o movimento direto, em que as vozes vão em um mesmo sentido, mas em intervalos diferentes. 209


Artes

c) Organum melismático: Léonin (fl. 1163-1190), Organuns duplum Al

-

le

-

lu

-

No organum melismático, comum no século XII, a voz principal, chamada agora de tenor (do latim “tenere”, manter), era responsável pela sustentação de notas longas mais graves exercendo função semelhante a um baixo enquanto a voz superior (organal) se desdobrava em imensos melismas, executando muitas notas em uma mesma sílaba.

C07  História da música: Idade Média

Moteto

210


“Mot” significa palavra em francês. O moteto se desenvolveu a partir do século VIII como uma composição polifônica normalmente a três vozes e politextual (com diversas letras simultâneas). Além de um duplum (segunda voz), passou-se a utilizar também um triplum (terceira voz). Em geral a voz mais grave, o tenor, executava notas mais longas. No duplum ocorria maior movimentação rítmica e no triplum havia uma melodia ainda mais rápida. O curioso desse estilo, que não era necessariamente religioso, era que, muitas vezes, uma única canção tinha várias letras e, não raro, em línguas diferentes. Assim, era extremamente difícil de entender o texto cantando. Isso demonstra que o ideal religioso, que preconizava a palavra, foi gradativamente perdendo espaço para o desenvolvimento artístico em si.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Missa de Notre Dame No final da Idade Média, iniciou-se um declínio na produção musical sacra. Estava em curso uma secularização das artes, um distanciamento da esfera religiosa, que iria se acentuar ainda mais no início do período seguinte, a Renascença. Entretanto, a obra mais importante do século XIV foi uma missa, a Missa de Notre Dame, de Guillaume de Machaut, obra composta para a Catedral de Notre-Dame, em Reims, região de Champagne, na França. Trata-se de um arranjo a quatro vozes para o ordinário da missa. Dividida em cinco movimentos (“Kyrie”, “Gloria”, “Credo”, “Sanctus” e “Agnus Dei”) tem acrescida o canto de despedida “Ite, missa est”. De acordo com o que se conhece sobre interpretação musical na Idade Média, provavelmente cada uma das quatro vozes era dobrada por instrumentos. Essa era uma prática corrente tanto na música secular como na sacra. Entretanto não sabemos exatamente como esses arranjos soavam, pois essas informações não foram escritas, mas relatadas por ouvintes e músicos. Machaut utilizou nessa peça uma polifonia isorrítmica (todas melodias com ritmos semelhantes) de forma a atender uma reivindicação da alta hierarquia clerical, que não via com bons olhos a transformação da missa, o ritual religioso essencial, em concerto musical, que, na visão do clero, servia exclusivamente aos prazeres mundanos. A música não podia, assim, suplantar a religião e a polifonia deveria simplificar-se. Essa tensão piorou ainda mais nos séculos seguintes. De qualquer maneira, além de todas as intrigas, a obra-prima de Guillaume de Machaut expressa uma religiosidade profunda e uma dimensão grandiosa semelhante à da catedral para a qual foi composta.

Ao longo da Idade Média, grande parte das músicas que foram escritas (e, por isso nos são acessíveis hoje) era repertório sacro. Isso não deve obscurecer a riqueza das práticas populares medievais. Mesmo sendo um universo musical bem menos conhecido do que o religioso, deve-se destacar a importância das danças e cantigas (dos trovadores). Curiosamente, naquela época, as danças não eram necessariamente acompanhadas por canções, mas, principalmente, por música instrumental. Isso faz sentido, especialmente se nos lembrar que a música religiosa era predominantemente vocal e que os instrumentos musicais representavam uma influência indesejada para a Igreja Católica. Vale lembrar, pois, duas coisas: a influência moura na Península Ibérica, que durou do século VIII ao XV; e a origem oriental da maioria dos instrumentos ocidentais. Por exemplo, o alaúde, um, dos instrumentos mais importantes da música medieval e renascentista, veio da música árabe. As danças, também, apresentavam, em larga escala, traços não ocidentais.

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Figura 06 - Detalhe de “Alegoria do bom governo”, de Ambrogio Lorenzetti, Palazzo Pubblico, Siena, 1338-40.

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C07  História da música: Idade Média

Danças e canções medievais

Figura 05 - A imponência da arquitetura gótica da Catedral de Notre Dame em Reims cria perfeita consonância com o estilo sóbrio da música de Machaut. Nestas duas obras, arquitetônica e musical, expressa-se, no plano sensível, a ideia de que o homem deve-se sentir minúsculo e insignificante perante um Deus magnânimo e absoluto.


Artes

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Os trovadores

C07  História da música: Idade Média

Figura 07 - Trovadores medievais.

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Aliás, quem eram os trovadores e qual o seu papel na música medieval? Via de regra, os trovadores eram compositores de origem nobre. Não devemos confundi-los com menestréis, que normalmente não eram os autores das poesias e músicas, mas intérpretes errantes, que divulgavam as obras daqueles primeiros. Ser trovador significava ser poeta e músico ao mesmo tempo. Os temas de suas canções abordavam, em geral, a cavalaria e o amor cortês assim como sátiras e críticas bem-humoradas, muitas vezes irônicas. Se não fosse por eles, provavelmente não teríamos uma ideia tão clara do que tenha sido a prática musical fora da Igreja. Embora tenham existido trovadores em toda a Europa, essa tradição esteve historicamente associada ao sul da França, mais especificamente à região da Provença. Foi justamente do francês que se originou a palavra trovador: trobadour, que significa, criar, inventar, descobrir. Eis uma obra de um importante trovador francês do final do século XII: “Can vei la lauzeta mover”, de Bernart de Ventandorn. Leia esta letra (escrita em provençal), cuja temática é tão recorrente na poesia trovadoresca: a amada inatingível e o amor irrealizável. Can vei La lauzeta mover

Quando vejo a cotovia bater

de ioi alas contral rai

de contentamento as sãs ao sol

que s’oblid’ es laissa chazer

que depois desmaia e deixa cair

Per la dousor c’al cor li vai

pela doçura que no coração lhe vai,

ai! tan grans enveya m’en vê

ai! Tão grande inveja sinto

de cui qu’eu veya Jauzion

daqueles que têm a alegria do amor

meravilhas ai, car desse

maravilhado fico por logo

lo cor de dezirer nom fon.

o coração se me não derreter de desejo

Ai, las! tan cuidava saber

Ai de mim! Tanto cuidava saber

d’amor, e tan petit em sai,

d’amor e sei tão pouco,

car eu d’amar no.m posc tener

pois não posso impedir-me de amar

celeis don ia pro non aura.

uma senhora de quem nunca obterei favor.

Tout m’a mo cor, e tout m’a me,

Levou-me o coração, a mim todo,

e se mezeis e tot lo mon;

e a ela própria e ao mundo inteiro,

e can sem tolc, nom laisset re,

quando me deixou já nada eu tinha

mas dezirer e cor volon.

senão desejo e um coração anelante


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação 01. (UnB PAS)

01. Na canção Olhos coloridos, de Macau, há mistura de elementos da rumba e do baião nordestino e, em Eu nasci há dez mil anos atrás, de Raul Seixas, são utilizados elementos contrastantes retirados de obras de Hildegard von Bingen, como, por exemplo, da obra Symphoniae. 02 São exemplos da mistura musical as canções Sadeness, do grupo Enigma, na qual se mistura música eletrônica com canto gregoriano, e Tango do covil, na qual Chico Buarque funde a música brasileira com a música argentina.

Tipos Musicais

Ouvintes

Hip-hop

102

Reggae

83

Rock

93

Hip-hop e Reggae

25

Hip-hop e Rock

37

Reggae e Rock

18

Todos os três tipos

7

Tendo como referência o texto e as músicas “O quam mirabilis est”, de Hildegard Von Bingen, “Eu nasci há dez mil anos atrás”, de Raul Seixas, L’amour est un oiseaux rebellee, de Georges Bizet, e Bachiana n.º 4, de Villa-Lobos, julgue a verossimilhança das situações hipotéticas apresentadas nos itens abaixo. 01. C; 02. E. 01. Na sala, os pais, amantes de ópera, emocionam-se ao som de “L’amour est un oiseaux rebellee”, de Georges Bizet, enquanto o filho mais jovem, roqueiro, ensaia, em seu quarto, Eu nasci há dez mil anos atrás. 02. Na abertura de um festival de música, as tribos funk vibram com a banda de Hildegard Von Bingen quando o baixo toca a introdução de “O quam mirabilis est”. Na segunda parte do festival, as tribos do rock cantam em coro a Bachiana n.º 4 ao som da guitarra de Heitor Villa-Lobos. 02. (UnB PAS) (conforme minha pesquisa, parece que há textos motivadores para esta questão (inclusive Olhos coloridos de Macau) 01. E; 02. C.

03. (UnB PAS) Figura 1

Figura 2

D. Macaulay. Construção de uma catedral. São Paulo: Martins Fontes, 1988, p. 82. Escultura de Mestre Didi.

A figura I mostra a imagem de uma cidade europeia medieval, com sua catedral central e muros altos e fortes, típicos do início do século XIV, e a figura II mostra uma das obras de Mestre Didi. Considerando o contexto histórico a que as imagens remetem, julgue os itens a seguir. 01. C; 02. C; 03. C; 04. C. 01. Na Europa medieval, fortificações situadas no perímetro das cidades, ou burgos, evidenciavam uma estratégia de defesa da população urbana contra ameaças externas. 02. Ao contrário do que ocorreu na Antiguidade clássica, em que predominavam os rituais religiosos praticados no âmbito doméstico, a religiosidade medieval requeria espaços públicos grandiosos para se expressar. 03. De modo geral, as cidades concentravam artífices — marceneiros, vidraceiros, escultores e outros — reunidos em corporações de ofício, capazes de participar da construção de uma catedral, como a representada na figura I. 04. Repertório musical das igrejas medievais, o canto gregoriano, usado pelo DJ Yan na música Different Velocity, revela uma das características da globalização na música.

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C07  História da música: Idade Média

As preferências musicais são referência para o conhecimento das pessoas, já que essas preferências revelam quem as pessoas são e o que querem ou não ser. Assim, as escolhas nem sempre se ligam a critérios musicais, mas ao que a música representa para cada pessoa ou para o grupo sociocultural em que ela se insere. Em uma pesquisa sobre gosto musical, foram obtidos os dados apresentados na tabela a seguir.


FRENTE

C

ARTES

MÓDULO C08

ASSUNTOS ABORDADOS nn A música renascentista (1450-

1600)

nn A polifonia renascentista

Fonte: Wikimedia Commons

nn Reforma e Contrarreforma

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A MÚSICA RENASCENTISTA (1450-1600) A Renascença representou para a história ocidental um florescimento sem precedentes das artes e das ciências. Foi um momento de abertura e conexão entre sensibilidade e inteligência. Isso aconteceu graças ao ideário humanista, ressuscitado a partir do grande interesse pela pesquisa da cultura clássica greco-latina, responsável pelo espírito dominante dessa época. O referencial humano, herdado dos gregos, foi importante para que os artistas pudessem concentrar-se no desenvolvimento técnico da arte, não obstante as funções sociais a ela inevitavelmente associadas. A igreja continuou sendo um eixo fundamental no mundo renascentista. Mas, diferente do período medieval, outras forças contracenaram intensamente no cenário cultural. A burguesia (que veio crescendo, em termos socioeconômicos, de modo vertiginoso), a monarquia e a nobreza contribuíram para que o mecenato promovesse um equilíbrio entre a produção musical sacra e secular. Vale dizer que o Renascimento se configurou mais como um amplo movimento cultural, que orientou as ideias e o senso estético dos pensadores e artistas, do que significou um corpo de regras ou um estilo comum que foi seguido nas diferentes artes. Na música, em especial, essa tese se confirmou. Não há um estilo renascentista propriamente dito, senão um desenvolvimento novo e peculiar de estruturas e técnicas que já existiam, mas que ainda não tinham sido sistematicamente desenvolvidas ou exauridas nas suas possibilidades. Desse modo, a contribuição desse período no contexto mais amplo da evolução musical ocidental expressou-se principalmente no desenvolvimento das potencialidades da polifonia (sobretudo vocal) e na valorização da música instrumental. Esta obteve também maior importância, tanto para os compositores, que passaram a descrever mais precisamente na escrita como queriam que os instrumentos soassem, como para o público, já que entender a complexidade musical passou a ser um importante distintivo social.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Fonte: Wikimedia Commons

A polifonia renascentista Durante os séculos XV e XVI, a canção polifônica secular ganhou um espaço ainda maior na sociedade europeia. Um dos fatores que permitiu esse evento foi a possibilidade de impressão tipográfica de partituras de música. Graças a esse avanço tecnológico, um número maior de pessoas pôde ter acesso à música escrita. Nunca é demais lembrar que ouvir música exigia uma apresentação ao vivo, uma vez que o processo de gravação e reprodução ainda levaria quatro séculos para ser desenvolvido. Por outro lado, foi mais um estímulo para que músicos amadores tocassem e cantassem obras de grandes compositores exclusivamente como divertimento. Embora a música sacra não fosse mais o único espaço para a composição, em meados do século XV ainda era o mais privilegiado. Por isso, um dos maiores compositores dessa época, Joannes Okeghem, dedicou grande parte de seu repertório à música religiosa. Ele fazia parte da escola franco-flamenga, cujos compositores, adeptos do contraponto, renovaram a linguagem da polifonia europeia. Uma das características da polifonia renascentista era a técnica de imitação, recurso composicional em que uma melodia é repetida, com ou sem variações em diferentes vozes. Um exemplo clássico do emprego dessa técnica é o cânone. Nele uma complexa polifonia pode ser engendrada a partir de sucessivas execuções defasadas de uma única melodia. Pode-se dizer, portanto, que o cânone consiste em uma estrutura polifônica de uma melodia apenas. O exemplo abaixo é de uma canção francesa popular em todo mundo, inclusive no Brasil. Embora a maioria das pessoas não a aprenda dessa forma, o “Frère Jacques” é um cânone a quatro vozes. Caso você não compreenda a leitura musical, perceba que um mesmo trecho é cantado sucessivamente com um pequeno atraso:

Son - nez les ma - - nes, Ding, daing, dong!

Fré - re Jac - ques, Dor - mez -vous?

Fré - re

C08  A música renascentista (1450-1600)

Fré - re Jac - ques, Dor - mez -vous?

Son - nez les ma - - nes,

Jac - ques, Dor - mez -vous?

Fré - re

Jac - ques,

215


Artes

Todavia, o exemplo anterior é extremamente simplório, comparado com a extrema complexidade polifônica que atingiu o apogeu durante a Renascença. Foram comuns composições, tanto sacras como profanas, em que eram ouvidas mais de vinte melodias simultâneas. Nesse sentido, observe a partitura de um dos cânones mais complexos já compostos: Deo Gratias, de Johanes Okeghem. Nele se podem ouvir trinta e seis vozes polifônicas diferentes ao mesmo tempo, uma vez que acontecem seis cânones simultâneos, cada um a seis vozes. Imagine a sensação ao ouvir tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Será que você consegue acompanhar uma única melodia em meio às demais?

C08  A música renascentista (1450-1600)

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 03 - Johannes Ockeghem em uma pintura do século XVI.

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O Moteto, tão cultuado pelos compositores medievais, também será objeto de inúmeras obras renascentistas. Contudo, a polifonia intensa, tal como vista no cânone de Ockeghem, não era um consenso, especialmente na música sacra. A ideia do contraponto isorrítmico ou homofonia, como mais tarde será chamado, era uma forma de evitar que o texto se perdesse em meio ao rebuscamento musical.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Reforma e Contrarreforma Fonte: Wikimedia Commons

Figura 04 - “Uma manhã perto dos portões do Louvre”, pintura de Édouard Debate Ponsan.

nenhum momento tenha sido formalmente proibida ou reprimida a prática da polifonia na música sacra católica, os principais compositores da segunda metade do século XVI buscaram soluções que nutriam afinidade com o despojamento do protestantismo. A única regra mais impositiva era no sentido de não basear nenhuma música sacra em melodias populares ou danças, fatos constantemente observados na prática da música sacra da segunda metade do século XV. No âmbito dessa proposta, o italiano Giovanni Pierluigi da Palestrina tornou-se o compositor religioso mais importante do final da Renascença. Observe a partitura de uma obra dele, a Missa sine nomine, para seis vozes. Embora esteja em latim, e presumivelmente você não seja conhecedor dessa língua, perceba como o texto é organizado de modo que as palavras não se sobrepõem demasiadamente e, portanto, proporcionam melhor compreensão do que na polifonia medieval, embora, é claro, exista nessa obra uma série de avanços que eram ainda desconhecidos na Idade Média.

No início do século XVI, Martinho Lutero deu início à reforma protestante. Com isso o cristianismo europeu ficou dividido entre católicos e reformados ou protestantes. As transformações religiosas empreendidas por Lutero foram ao encontro dos anseios burgueses de mudança. E, ainda que proclamassem alterações de ordem religiosa e econômica, em termos sociais, as ideias luteranas eram conservadoras, o que beneficiou a aceitação de parte da nobreza e monarquia europeias, enfastiadas da burocracia católica, que lhe era concorrente no objetivo de acumulação de riqueza e poder. Diante disso, alguns Estados europeus rapidamente adotaram o cristianismo protestante como religião oficial. Como resposta ao ousado crescimento de seu rival, a Igreja Católica tanto reagiu de forma violenta, tentando eliminar os dissidentes, como, posteriormente, promoveu mudanças internas para se adaptar à situação moldada pela nova religião, que foram denominadas Contrarreforma. Dentro desse rol de novidades, especial atenção foi dada à questão da música. Uma vez que o protestantismo preconizava a simplicidade do culto e a comunicação direta com o fiel (lembre-se da tradução da Bíblia empreendida por Lutero para o alemão), a Contrarreforma significou uma reação nesse sentido. Embora em

C08  A música renascentista (1450-1600)

Na noite de vinte e quatro de agosto de 1572, mais de três mil protestantes foram assassinados por ordem de Catarina de Médicis. O episódio ficou conhecido por Noite de São Bartolomeu.

Figura 05 - “Missa Sine Nomine”, de G. P. da Palestrina.

217


Artes Questão 02. A Igreja considerava as técnicas polifonias dispensáveis, pois dificultavam a percepção do texto religioso cantado.

Exercícios de Fixação 01.

serva-se também, nesse período, a afluência de artistas de rua, que propagavam diversas estéticas e formas do fazer teatral. A commedia dell’arte logo se destacou como uma forma espetacular fundamental, ao utilizar-se, inovadoramente, das vias urbanas como espaços cênicos. A cultura do Renascimento, produto da ruptura com a ordem medieval, assentou-se em bases humanistas. A centralidade do estudo do homem gerou profunda mudança nas artes, na literatura e nas ciências de um modo geral, passando o homem a ser considerado, a um só tempo, sujeito e objeto do conhecimento. Assim, as obras de William Shakespeare, como, por exemplo, Otelo, abordam relações de poder, discriminação étnica e cultural, relações de amor e traição, ressaltando, assim, ações e emoções típicas do ser humano. Nesse sentido, as obras de Shakespeare representam uma estética particular nos gêneros no teatro e, na atualidade, ganham novas leituras e novos contextos em diversos palcos, até mesmo no teatro de rua. Essas obras têm contribuído para o surgimento de gêneros e estéticas em que se combinam tradição dramatúrgica e cena contemporânea.

C08  A música renascentista (1450-1600)

Papa Marcelo II (1501-1555)

Tendo vencido o conclave papal em 1555 e sucedido o papa Júlio III, Marcelo II faleceu prematuramente e foi papa por apenas 22 dias. Em 1562, Giovanni Pierluigi da Palestrina compôs uma missa em sua homenagem, na ocasião do Concílio de Trento (1562-63). Por quatro séculos, esta foi a obra executada durante as coroações papais. Com a Missa Papae Marcelli, o compositor G. P. da Palestrina conseguiu a) elaborar uma obra vocal a seis vozes grandiosa e contrapontisticamente exuberante. b) redefinir o conceito de polifonia para que essa prática não fosse proibida na música sacra. c) restaurar os ideais renascentistas de equilíbrio e proporção na arte composicional religiosa. d) romper com o excesso de regras e práticas dogmáticas da Igreja Católica Apostólica Romana. 02. (UnB PAS) Tendo como referência as transformações no pensamento e na cultura ocidentais ocorridas ao longo do Renascimento (1450-1600), explique porque a Igreja católica não incentivava o uso da polifonia na música sacra. Na Idade Média, os autos litúrgicos, importantes para as estéticas dramatúrgica e cênica, revelavam o pensamento teocêntrico e valorizavam dogmas e preceitos cristãos. Ob-

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Tendo como referência o texto acima e os múltiplos aspectos a ele relacionados, julgue os itens a seguir. a) No musical Les Misérables, a 1ª seção da parte vocal da canção I dreamed a dream contém oito frases musicais distintas, estrutura conhecida como rondó. b) Entre os atuais gêneros teatrais da tragédia e da comédia, oriundos da Grécia Antiga, incluem-se novas possibilidades estéticas, como evidenciado, por exemplo, na obra musical Les Misérables. Assim, atualmente, dois gêneros estéticos predominam na linguagem teatral: a performance e o pós- dramático. 03. (Enem MEC) Acompanhando a intenção da burguesia renascentista de ampliar seu domínio sobre a natureza e sobre o espaço geográfico, através da pesquisa científica e da invenção tecnológica, os cientistas também iriam se atirar nessa aventura, tentando conquistar a forma, o movimento, o espaço, a luz, a cor e mesmo a expressão e o sentimento. SEVCENKO, N. O Renascimento. Campinas: Unicamp, 1984.

O texto apresenta um espírito de época que afetou também a produção artística, marcada pela constante relação entre a) fé e misticismo. b) ciência e arte. c) cultura e comércio. d) política e economia. e) astronomia e religião.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

04.

a) uma ópera clássica b) um ciclo orquestral renascentista c) concerto barroco para violino d) sinfonia neoclássica para cello e) exemplo de poema sinfônico romântico 06. (UnB DF) A Europa viveu uma revolução cultural — a Renascença — nos séculos XV e XVI, nos quais muito dos antigos saberes do continente foi recuperado e um novo espírito de curiosidade científica assegurou-lhe avanços tecnológicos essenciais, que a colocaram à frente do resto do mundo. As viagens de exploração logo se transformaram em grandes ondas de colonização, que chegaram à maior parte do globo. Philip Parker. Guia Ilustrado Zahar: história mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p. 216-7.

O momento das descobertas foi também o momento das rupturas. Ao lado das invenções técnicas, que permitiram as aventuras dos navegantes, transformações nas estruturas materiais e mentais deram início ao que a filosofia e a história chamam de “liberação do indivíduo”, tirando-o do anonimato medieval: “divinização do homem e humanização de Deus”. Avança a circulação das ideias, com a descoberta, por Gutenberg, do processo de impressão por meio de tipos móveis, com a multiplicação dos livros e o aparecimento da imprensa escrita.

O instrumento mais popular durante a Renascença foi o alaúde. Conhecido desde os antigos egípcios e chineses, esse instrumento chegou à Europa pela mão dos árabes, os quais o intitulavam al’ud. Tanto trovadores como menestréis o utilizaram desde a Idade Média para acompanhar canções e executar peças instrumentais. Grandes compositores também exploraram as potencialidades desse instrumento. Um dos mais famosos foi o inglês John Dowland, que, além de exímio instrumentista, compunha e interpretava canções. Sobre a música renascentista, pode-se afirmar que a polifonia a) foi a técnica harmônica menos empregada pelos compositores sacros b) tornou-se a técnica predominante na prática musical erudita apenas no Barroco c) foi enfraquecida por compositores católicos como G.P. da Palestrina d) prosperou graças à reforma protestante e a consequente contrarreforma e) foi combatida pelo clero, embora tenha permanecido na prática sacra 05. A obra As quatro estações, de Antônio Vivaldi, pode ser definida estilisticamente como

Adauto Nunes. Experiência e destino. In: Adauto Nunes (Org.). A descoberta do homem e do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p.10-1 (com adaptações).

Tendo como referência os fragmentos de texto acima, e considerando a inserção do Brasil no capitalismo nascente e a produção dos seus espaços geográficos, julgue os itens a seguir. a) Na Europa medieval, a circulação do saber foi dificultada pelas condições técnicas, ao passo que, na Idade Moderna, graças à descoberta de Gutenberg, a disseminação do conhecimento foi facilitada e contemplou um público muito maior. b) Depreende-se do primeiro fragmento de texto que o grande mérito da Renascença foi implementar a restauração de obras antigas, principalmente das artes plásticas, e integrá-las ao acervo cultural da Idade Moderna. c) O ciclo das grandes navegações dos séculos XV e XVI ajudou a completar o processo de transição de um feudalismo em crise a um capitalismo que dava seus passos iniciais. Dessa expansão marítima decorreu a colonização de novas terras, como as americanas. Essa expansão foi essencial para que a Europa incrementasse a acumulação de capital que financiaria o dinamismo econômico da Idade Moderna. d) Mais do que apenas um movimento artístico, cujo esplendor atingiu dimensão incomparável na Itália, o Renascimento desvela a modernidade na Europa, ao ampliar os horizontes de conhecimento e difundir conceitos fundados no humanismo.

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C08  A música renascentista (1450-1600)

John Dowland, compositor, alaudista e cantor inglês do século dezesseis


FRENTE

A


dia ikime

s

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Com

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ARTES Por falar nisso Cada país tem um perfil próprio que o caracteriza e o distingue dos outros. Hoje visualizamos um Brasil maduro, soberano, confiante, seguro de suas diversas tradições e de seus valores nacionais. Contudo, nem sempre foi assim, e a conquista dessa soberania constituiu um processo histórico longo e entremeado por conflitos e interesses. A Arte brasileira consiste em uma arte desenvolvida da desde a época pré-colonial até os dias de hoje. No período colonial os portugueses exerciam influência para que os índios assumissem os valores, o modo de viver, formas e expressões de Portugal de onde vieram os degredados, aventureiros, mercenários, cristãos novos, comerciantes ambiciosos, jovens nobres e exploradores. Antes da chegada dos portugueses no Brasil, podemos identificar as primeiras produções artísticas da préhistória brasileira e as diversas formas de manifestações culturais indígenas. No período colonial a cultura proveniente das diferentes raças começa a misturar-se. Mais tarde com o processo de exploração, chega ao Brasil o barroco europeu misturado com o rococó, assim como os registros pictóricos de viajantes estrangeiros em terras brasileiras. A fauna e a flora brasileiras se faziam presentes junto a motivos clássicos nos entalhes, esculturas e pinturas. Com a chegada da Missão Artística Francesa no século XIX, ensaia-se pela primeira vez a criação de uma escola de arte, consolidada por meio do estabelecimento da Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Posteriormente, sob a influência do expressionismo, do cubismo e do surrealismo europeu, junto com uma valorização do primitivismo, o Brasil assistirá ao desenvolvimento do Modernismo, saindo do atraso artístico com a Semana de Arte Moderna de 1922, que será progressivamente incorporada ao gosto da sociedade e da arte oficial, até que a assimilação das novas tendências surgidas no pós-guerra viesse contribuir para o florescimento da arte contemporânea brasileira. Enfim, o que o país produz, seja na música, na dança, no teatro, na arquitetura, ou na pintura, na escultura, no cinema, na fotografia constitui nossa identidade. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A17 A18 A19 A20

O século XV no Brasil..................................................................... 222 A arte barroca italiana................................................................... 228 A arte barroca fora da Itália e o Rococó........................................ 234 Barroco brasileiro........................................................................... 241


FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A17

ASSUNTOS ABORDADOS nn O século XV no Brasil – Etnias in-

dígenas e as grandes expedições. nn Pintura

O SÉCULO XV NO BRASIL – ETNIAS INDÍGENAS E AS GRANDES EXPEDIÇÕES. Não é impossível que algum europeu tenha chegado ao Brasil antes de Cabral, mas os fatos, as evidências e o contexto histórico unem-se contra essa hipótese. Obviamente, já havia muita gente aqui quando Cabral chegou, mas sem indícios de que tenha vindo da Europa. Todas as versões sobre possíveis descobrimentos por europeus, antes de Cabral, já foram, exaustivamente, estudadas e descartadas há quase cem anos. Antes de 22 de abril de 1500, o Brasil era um vasto território desconhecido pelos europeus. Cabral chegou aqui por acaso, devido a uma manobra planejada (intencionalmente distante da costa da África), pelo mau tempo e pela corrente do Golfo da Guiné. A expedição de Pedro Álvares Cabral deixou o Tejo, em 9 de março de 1500, com 10 naus e três caravelas. Em 21 de abril, avistaram sinais de terra e em 22 de abril, a frota de Pedro Álvares Gouveia (Cabral) avistou um monte, batizado de Monte Pascoal. Em 1501, Porto Seguro já contava com alguns habitantes portugueses trazidos naquelas três primeiras expedições: Cabral, João da Nova e Gonçalo Coelho. A partir daí nasceriam os primeiros caboclos brasileiros, mestiços dos portugueses e dos brasileiros primitivos, tupiniquins e tupinambás.

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 01 - O mapa de Theodore De Bry (1528-1598) publicado em Frankfurt em 1592 oferece uma das melhores representações iniciais da América do Sul, relatando as descobertas até o início da última década do século XVI.

222

A partir do século XV, com o desenvolvimento das técnicas de navegação, os europeus começaram a realizar grandes viagens, alcançando o extremo sul do continente africano, o continente asiático e o continente americano, este conhecido como Novo Mundo. O encontro dos europeus com os povos que viviam nas Américas, cujas características culturais eram diferentes das características dos conquistadores, influenciou a arte, a ciência e a cultura daquela época. As primeiras imagens sobre esse mundo, até então desconhecido, foram feitas na Europa, a partir de relatos de viajantes que estiveram na América. Eram, por exemplo, mapas ou gravuras que ilustravam, com representações fantasiosas de monstros, animais com asas e indígenas que se alimentavam de carne humana.


Fonte: Wikimedia Commons

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Figura 02 - Tupinambás canibais, Gravura de Theodor de Bry.Homens e mulheres canibais, gravura de Theodor de Bry.

Theodor de Bry foi um ourives e editor belga que se tornou especialista em gravuras de cobre. Nascido na Bélgica, logo foi para a Alemanha fugindo das perseguições religiosas de católicos espanhóis. Viveu também na Inglaterra, onde expôs seus trabalhos sobre a exploração do Novo Mundo. O colonialismo pode ser encontrado na arte e na linguagem. A primeira gravura, canibais separando as vísceras do inimigo. Já a segunda, homens, mulheres e crianças assam e comem pedaços dos corpos de seres humanos. Na verdade, essas imagens são tendenciosas e obedecem aos interesses expansionistas da época. Os povos explorados eram tidos como animais irracionais, o que legitimava a colonização que os tronaria seres humanos ”normais”. Os critérios utilizados na criação dessas gravuras foram o exótico e o fantasioso. Os ilustradores não presenciaram nenhuma dessas cenas, apenas faziam-nas com base em relatos e esboços recebidos por viajantes. Os portugueses, logo que tomaram posse das terras, que, posteriormente, foram chamadas de Brasil, não demonstraram grande interesse por elas, já que não apresentavam produtos de lucro imediato. Essa foi a razão pela qual, de 1500 a 1530, a Corte portuguesa se interessasse mais pelas Índias Orientais, que proporcionavam grandes lucros com a revenda de suas especiarias (cravo, canela, pimenta etc.). No ano de 1501, a primeira expedição oficial portuguesa chegou ao Brasil com o objetivo de explorar a recém-descoberta costa brasileira. Tinha como comandante Gaspar Lemos, acompanhado pelo navegador Américo Vespúcio. Nessa expedição, também seriam nomeados os acidentes geográficos e elaborado um mapa do litoral brasileiro. Em 1503, outra expedição passou pelo Brasil, sob o comando de Gonçalo Coelho e foi a primeira a levar carregamentos de pau-brasil para Portugal.

A17  O século XV no Brasil

Nessa época, notava-se a presença de contrabandistas franceses no litoral brasileiro, que realizavam o contrabando de pau-brasil. O rei da França, Francisco I, apoiava a ação desses contrabandistas, e não aceitava as determinações do Tratado de Tordesilhas. Por esse motivo, Portugal viu-se na obrigação de enviar expedições militares para o Brasil. Tais expedições eram comandadas por Cristóvão Jacques, que conseguiu deter vários navios franceses e espanhóis que tentavam invadir as terras brasileiras. A colonização só iniciaria a partir de 1531, com a expedição de Martim Afonso de Sousa. Nessa época, as religiões protestantes surgiam como uma alternativa ao milenar poderio religioso católico. Para reagir à significativa perda de fiéis, a Igreja aprovou a concepção da Ordem 223


Artes

de Jesus, criada em 1534 por Inácio de Loyola, com objetivo de pregar o cristianismo nas Américas. Seguindo atribuições diretas do rei Dom João III, o governador-geral, Tomé de Sousa, chegou ao Brasil em 1549 trazendo vários padres jesuítas que deveriam propagar a fé católica. Esses jesuítas fundaram colégios e missões pelo litoral e interior do Brasil. Esses jesuítas começaram a tarefa de conversão dos nativos, bem como a administração das principais instituições de ensino da época, auxiliando os mais importantes órgãos de administração e controle da metrópole.

mostravam dar grande atenção à cerimônia, fazendo-se notar entre eles um velho, que parecia compreender e explicar aos outros a santidade daquele ator”. Paralelo com a Ordem de Jesus, numerosas expedições em busca de ouro e pedras preciosas partiram de vários pontos da costa brasileira. Em 1554, partiu da Bahia a expedição de Francisco Bruza de Espinosa; a essa seguiram outras expedições comandadas por : Vasco Rodrigues Caldas (1561), Martim de Carvalho (1567), Sebastião Fernandes Tourinho (1572), Antônio Dias Adorno (1574), Sebastião Alvares (1574) Gabriel Soares de Sousa (1592). De Sergipe saiu à expedição de Belchior Dias Moreia e Robério Dias, filho e neto de Caramuru (1590); do Ceará, saiu a de Pero Coelho de Sousa (1594); do Espírito Santo, a de Diogo Martins Cão (1596); e do Maranhão, a malograda expedição de Pero Coelho de Sousa (1603).

Fonte: Wikimedia Commons

Pintura

Figura 03 - Primeira Missa no Brasil-Victor Meirelles, 1860.

A Primeira Missa no Brasil retrata um acontecimento que teria ocorrido em 1º de maio de 1500, quando Pedro Álvares Cabral mandou rezar uma missa para marcar simbolicamente a posse da Terra de Vera Cruz para a coroa portuguesa e a implantação da fé católica no novo domínio. A cena foi retratada por Victor Meirelles em 1860 e inspirada na carta de Pero Vaz de Caminha no trecho: “os selvagens (tupiniquim) correram em grande número ao lugar da solenidade, e ali

Os primeiros artistas a permanecerem por algum tempo no Brasil vieram com os holandeses e se fixaram na costa nordestina, na região de Pernambuco, com a intenção de conquistar terras e plantar cana-de-açúcar. Em 1637, o conde Maurício de Nassau, principal representante da Companhia das Índias Ocidentais e governador geral do Brasil Holandês, juntamente com sua comitiva de cientistas e artistas chegaram ao Brasil. Entre eles, estavam os pintores Franz Post (1612-1680) e Albert Eckhout (1610-1666), que realizaram importantes registros visuais da paisagem, das plantas, dos animais e dos homens que aqui viviam, diferentemente das primeiras imagens do Brasil que eram fantasiosas. Esses artistas retrataram a fauna e a flora do nosso país. Os artistas holandeses usaram técnicas de luz e sombra e cor típicas da pintura holandesa e pintaram, dessa forma, os cenários do nordeste do Brasil, no século XVII.

Fonte: Wikimedia Commons A17  O século XV no Brasil

Figura 04 - Margens do Rio São Francisco, Franz Post-1637.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Fonte: Wikimedia Commons

As obras de Franz Post (1612-1680) são representações com características das paisagens reais do Brasil. Observe a obra Margens do Rio São Francisco e a presença de uma capivara às margens do rio. As obras Margens do Rio São Francisco e Vista de Itamaracá, pintadas em 1637, são consideradas as primeiras e mais antigas pinturas das Américas feitas por um pintor profissional. Durante os seis anos que ficou aqui, Franz Post pintou apenas seis quadros.

Figura 05 - Vista da Ilha de Itamaracá no Brasil, Franz Post-1637.

Fonte: Wikimedia Commons

Já o pintor Albert Eckhout (1610-1666), nos seis anos que passou aqui, fez vinte e uma telas com temas variados, entre eles, retratou a etnografia, em que são retratados os nativos e mestiços do Brasil, a natureza-morta: frutas, legumes e vegetais.

Fonte: Wikimedia Commons

A17  O século XV no Brasil

Figura 06 - Natureza-morta, Albert Eckhout-1637.

Figura 07 - Servo com objeto de marfim, Albert Eckhout-1637. Figura 08 - Selo em homenagem ao Eckhout, na XXIV Bienal de S.P. Figura 09 - Mulher Africana, Albert Eckhout-1641.

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Artes

SAIBA MAIS PLANISFÉRIO PORTUGUÊS ANÔNIMO, O CANTINO - 1502

A17  O século XV no Brasil

Fonte: Wikimedia Commons

Desde o século XV, a confecção de mapas era uma atividade estratégica e secreta em Portugal. As descobertas eram cuidadosamente lançadas nos mapas portugueses da época. Alberto Cantino, um italiano, comerciante de cavalos, em Lisboa e trabalhou secretamente para o Duque de Ferrara, da Itália. Cantino cooptou um cartógrafo português que elaborou um planisfério, provavelmente com base na “carta padrão d’El Rei”. Acredita-se que o mapa foi encomendado em outubro de 1501, concluído na segunda metade de 1502 e enviado para a Itália, possivelmente em outubro daquele ano. O planisfério incorporou alguns dados da primeira expedição exploratória, ao Brasil (1501-1502), mas ao que tudo indica, como uma adição posterior, sem a qualidade original. O mapa não está assinado, nem datado, mas existe uma inscrição em seu verso (em dialeto veneziano): Carta de navegar pela ilha novamente achada na parte da Índia. Oferta de Alberto Cantino ao Senhor Duque Hércules. Essa carta tem dimensões de 2,20 m X 1,05 m e são representados apenas 257° em longitudes, o que seria a extensão do mundo conhecido na época. A linha de Tordesilhas está indicada como Este he o marco dantre Castela e Portuguall. O planisfério ficou na biblioteca de Ferrara até 1597, quando foi transferido para o palácio ducal de Modena. Em 1859, o palácio foi saqueado e o mapa desapareceu. Nos anos de 1970 o diretor da biblioteca de Modena achou o mapa forrando um anteparo em uma salsicharia da cidade, comprou-o e levou-o para a Biblioteca Estense Universitária, onde ainda se encontra até hoje.

Figura 10 - A imagem acima é um fragmento ampliado do Planisfério de Cantino, de 1502.

226


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação 01. Descreva as características da técnica da pintura utilizada pelo artista Theodor de Bry, nas imagens Tupinambás canibais e Homens e mulheres canibais.

( E ) Albert Eckhout compôs o grupo de artistas trazido por Mauricio de Nassau, no século XVII, para documentar a ocupação holandesa do Brasil. Na obra Servo com caixa de ouro, a retratação das pessoas e dos elementos naturais são registros artísticos da terra ocupada, utilizados para ilustrar a história da conquista do Brasil. ( C ) Na obra apresentada, observam-se fundo sem paisagem natural e composto de cores predominantemente quentes, o que ilumina e ressalta a expressão do protagonista. As mesmas cores quentes são retomadas na retratação da caixa de ouro, que contrasta com as cores

Tupinambás canibais, gravura de Theodor de Bry. Homens e mulheres canibais, gravura de Theodor de Bry.

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dos trajes da personagem. Esse contraste cria um ponto focal na composição.

02. As expedições portuguesas ao Brasil nas duas primeiras décadas do século XVI objetivaram a) iniciar o cultivo da cana-de-açúcar e o imediato povoamento. b) travar contato com os nossos índios e iniciar atividades comerciais com os mesmos. c) transferir para o Brasil os acusados de heresias protestantes na corte portuguesa. d) reconhecer a terra descoberta e salvaguardar a sua posse. e) estimular a catequese dos índios a pedido da Companhia de Jesus. 03. (UnB) No que se refere à obra de Albert Eckhout e a seu quadro Servo com caixa de ouro, ilustrado abaixo, julgue os itens a seguir.

Mestre Didi. Sasará Ati Aso Iko. Xaxará com manto de palha da costa, 2003, técnica mista, 64 x 20 x 12 cm. Mestre Didi. Pepeye, o grande pato, 2001, técnica mista, 60 x 60 x 23 cm.

04. (UnB DF) Deoscóredes Maximiliano dos Santos, nascido em Salvador, Bahia, em 1917, e conhecido como Mestre Didi. Escultor e escritor, ele inclui, em sua obra, elementos da cultura afro-brasileira. As formas escultóricas que produz, confeccionadas com contas, búzios, rendas de couro e folhas de palmeira, remetem a mitos, lendas e objetos de culto aos orixás. Suas obras fazem parte dos acervos dos Museus de Arte Moderna de Salvador e do Rio de Janeiro e do Museu Picasso, em Paris, entre outros.

ximo item. ( E ) As peças de mestre Didi apresentadas acima tem claro aspecto primitivo e decorativo, com evidentes conotações ritualísticas, características que impossibilitam categorizá-las como arte, sendo, assim, classificadas como Albert Eckhout. Servo com caixa de ouro, 72 cm × 60 cm. Museu Nacional da Dinamarca.

artesanato popular.

227

A17  O século XV no Brasil

Com base nas informações e imagens acima, julgue o pró-


FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A18

ASSUNTOS ABORDADOS nn A arte barroca italiana nn Maneirismo nn Características da pintura nn Barroco Italiano nn Características

A ARTE BARROCA ITALIANA Maneirismo Paralelamente ao Renascimento Clássico e anterior ao barroco italiano, desenvolve-se em Roma, por volta de 1520 até meados de 1610, um movimento artístico afastado conscientemente do modelo da Antiguidade Clássica: o Maneirismo (a palavra maniera, em italiano, significa maneira). Uma evidente tendência para a estilização exagerada e um capricho nos detalhes começa a ser sua marca, extrapolando, assim, as rígidas linhas dos cânones clássicos. Alguns historiadores consideram o Maneirismo uma transição entre o Renascimento e o Barroco, enquanto outros preferem vê-lo como um estilo, propriamente dito. O certo, porém, é que o Maneirismo é uma consequência de um Renascimento Clássico que entra em decadência. Os artistas se veem obrigados a partir em busca de elementos que lhes permitam renovar e desenvolver todas as habilidades e técnicas adquiridas durante o renascimento. O Maneirismo foi um protesto contra o que era sentido como racionalismo estéril e propriedade conservadora do classicismo. Os rebeldes maneiristas dobraram, racharam e quase romperam com a mentalidade dirigida por regras. Para um maneirista, divino era o não convencional. De fato, todos os artistas desse período que procuraram deliberadamente criar algo novo e inesperado, mesmo à custa da beleza “natural” estabelecida pelos grandes mestres, talvez tenham sido os primeiros artistas “modernos”. Veremos, de fato, que aquilo que é hoje designado por arte “moderna” pode ter tido suas raízes em um impulso semelhante para evitar o óbvio e conseguir efeitos que diferem da convencional beleza natural. Características nn Período:

desde 1520 até 1610 com a crise do Renascimento. nn O nome maneirista e amaneirado foram qualificativos usados para designar uma arte que era vista como decadente, repulsiva e afetada que se afastava dos cânones de equilíbrio, harmonia, racionalidade, moderação e clareza consumados na Alta Renascença. nn Oposição ao Renascimento. nn Movimento entre o Renascimento e o Barroco.

Características da pintura nn Deformação

das figuras. nn Criação de figuras abstratas. nn Não se preocupavam com a harmonia, a proporção, o equilíbrio, a nitidez e a racionalidade. nn Planos paralelos e irreais. nn Seres contorcidos. nn Imagens melancólicas. nn Cores brilhantes. nn Sombras erradas. nn Proporções estranhas. nn Exagero na dramaticidade. 228


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Principais Artistas El Greco (1541-1614) nasceu em Creta, foi pintor, escultor e arquiteto e desenvolveu a maior parte da sua carreira na Espanha. nn A obra mostra Laocoonte sendo punido pelos deuses,

vistos do lado direito da pintura, por tentar alertar os troianos da ameaça do Cavalo de Troia, que escondia um grupo de soldados gregos. nn Enviadas pelos deuses, serpentes marinhas são vistas Fonte: Wikimedia Commons

matando Laocoonte e seus dois filhos. nn As

rochas em primeiro plano, assim como as nuvens ao horizonte são disformes e imateriais.

nn A

obra aos olhos contemporâneos é extremamente criativa e complexa.

Figura 01 - Laocoonte, El Greco– 1610/1614

Agnolo Bronzino (1503-1572), pintor italiano predominantemente palaciano, um dos maiores representantes do maneirismo. nn Especializou-se

em realizar sofisticadas narrativas

alegóricas. nn As

mãos e pés alongados dos personagens centrais são típicos do estilo maneirista.

nn Erotismo

tranquilo.

nn Composição

coesa e complexa.

nn O velho no canto superior direito, com uma ampulheta

nas costas é a personificação do tempo. n n As

demais personagens à direta representam os prazeres.

nn As personagens à esquerda significam o esquecimento,

o ciúme e o desespero. dois personagens principais Vênus e o Cupido aparecem ligeiramente eróticos e obscenos.

Fonte: Wikimedia Commons

nn Os nn Os

membros foram polidos e modelados com uma perfeição de influência clássica.

nn Erotismo

estilizado e edificante alegoria.

Barroco Italiano

Figura 02 - Alegoria do triunfo de Vênus, Agnolo Bronzino – 1540/1550.

A18  A arte barroca italiana

Barroco é o nome dado ao estilo artístico que floresceu entre o final do século XVI e meados do século XVIII, inicialmente na Itália, difundindo-se em seguida pelos países católicos da Europa e da América. Considerado como o estilo correspondente ao absolutismo e contrarreforma, distingue-se pelo esplendor exuberante. Eles reagiram à Contrarreforma, se fortalecendo e fazendo belas composições arquitetônicas, como as igrejas. O Barroco não demorou muito para chegar às Américas e foi por meio dele que a razão, proposta pelo Renascimento, começou a se diluir. A grande característica da arte barroca é o uso das emoções. Texto extraído do site: https://pt.wikipedia.org/wiki/Barroco

229


Artes

Características nn Apropriação

da técnica renascentista e a dramaticidade maneirista. nn Glorificação da imensa riqueza – cálices com joias incrustadas, tapeçarias com fios de ouro e espirais arquitetônicos, são características dessa extravagância. nn Liderança dos papas em Roma questionada pela Reforma Protestante. nn O cristianismo ocidental foi dividido e a Igreja Católica tentou recuperar sua autoridade combatendo a fé protestante por meio da arte. nn Obras para despertar um fervor religioso renovado. nn A palavra “barroco” significava disforme, absurdo ou grotesco e se refere às formas tipicamente fluidas e infinitas associadas ao estilo. O termo era inicialmente depreciativo, e foi cunhado por uma geração posterior de críticos que pretendiam desonrar a arte que os havia precedido. nn Arte feita sob encomenda da Igreja Católica. nn Decoração pesada e design complexo, porém sistemático. nn Aplicação abundante de luz e sombra na pintura. Características da pintura nn Composição

em diagonal (luminosidade geralmente em diagonal). nn Formas monumentais e grandiosas. nn Figuras retorcidas para dar mais dramaticidade. nn Contraste de claro escuro ou luz e sombra. nn Emocional. nn Efeitos decorativos – formas curvas e contracurvas. Principais artistas Michelangelo Merisi de Caravaggio (1571 – 1610) foi um pintor italiano atuante em Roma, Nápoles, Malta e Sicília. Artista barroco, estilo do qual foi o primeiro grande representante. Genial e rebelde, tão exímio nos pincéis quanto no espadachim, o pintor Caravaggio era dono de um temperamento violento e impulsivo. Sua biografia acidentada foi marcada por bebedeiras, sexualidade ambígua, amores

de bordel, dívidas, duelos e assassinatos. Volta e meia ele tinha de se refugiar em lugares distantes de sua residência em Roma, como as ilhas de Malta e da Sicília, em uma época em que os deslocamentos não eram fáceis e as epidemias, ao contrário, caminhavam a passos largos. Por isso, viveu pouco – e também pintou pouco: ele dividia seu tempo, de igual para igual, entre as tabernas e o ateliê. Ao todo, as telas “realmente autênticas” do gênio do chiaroscuro feitas em 15 anos de atividade não devem ultrapassar 40. É de imaginar, portanto, a dificuldade de se reunir duas dezenas delas em uma mesma exposição – distribuíram-se pelos maiores museus do mundo, fazendo eco à vida nômade do autor. Caracterísiticas nn Uso

dramático da luz. nn Realismo. nn Composição criativa. nn Cria a luz no espaço, assim como, luzes individuais direcionadas. nn Chiaroscuro ou claro e escuro ou luz e sombra. nn Usava camponeses como modelos. nn Atração pelo suspense e pela crueldade com alto grau de realidade. nn Reinvenção da história bíblica ao se concentrar no elemento humano, e não no divino. nn A obra A Conversão de São Paulo narra o momento da conversão de Saulo ao cristianismo, quando ele é derrubado de seu cavalo por uma luz celestial em meio à viagem pela estrada que conduzia a Damasco. nn A obra provocou polêmica quando vista pela primeira vez, pois, sua representação realista do tema religioso foi vista como grosseira e inadequada. nn O cavalariço ao fundo está mais preocupado com o cavalo assustado, do que com a conversão de São Paulo em primeiro plano. nn Em sua natureza-morta, a paisagem desaparece das composições caravaggianas, as sombras se tornam quase negras e se contrapõem, sem transições, a luzes violentas. É como se ele se refugiasse em uma caixa preta e posicionasse no centro as suas esplêndidas cenas, iluminadas do alto por uma luz intensa, quase um holofote.

Fonte: Wikimedia Commons

A18  A arte barroca italiana

Figura 03 - A Conversão de São Paulo, Caravaggio – 1600/1601 e NaturezaMorta, Caravaggio- 1596/1598.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Andrea Pozzo (1642-1709) foi decorador, arquiteto, cenógrafo, pintor, professor e teórico italiano, uma das figuras principais da arte barroca católica. de perspectiva ilusionista em tetos de igrejas e palácios. nn Pozzo no teto da Igreja de Santo Inácio destruiu a decoração existente, realizada apenas em estuque branco (massa preparada com gesso, água e cola), tantas foram as críticas que os padres temiam sair às ruas com receio de serem afrontados pelo povo. nn A cena mostra a apoteose de Santo Inácio. Ao centro está Cristo, e para ele convergem todas as linhas de fuga da composição, ou seja, Jesus Cristo é o próprio ponto de fuga. Ele emite raios de luz para o coração do santo, que está logo abaixo, e que por sua vez a irradia para os quatro cantos da Terra. A arquitetura real se funde à simulada com grande efeito de conjunto, aproveitando a luz que entra pelas janelas e fazendo o teto parecer se abrir para o céu em uma vasta visão gloriosa. A cena é povoada por vários anjos, santos e figuras alegóricas nn Em determinado ponto do chão, há uma placa metálica indicando o local exato onde se deve colocar o observador para que a ilusão de tridimensionalidade seja perfeita. O efeito obtido duplica a altura aparente da nave. nn Comunicação entre o mundo terreno e o mundo transcendente.

A18  A arte barroca italiana

Fonte: Wikimedia Commons

nn Composições

Figura 04 - Apoteose de Santo Inácio, teto da Igreja de Santo Inácio de Loyola, Roma. Andrea Pozzo – 1688-1694.

231


Artes

Fonte: Wikimedia Commons

Diego Velázquez (1599-1660) pintor espanhol, era um artista individualista do período barroco contemporâneo, importante retratista. nn Pintou

também cenas com fatores históricos, culturais e a Família Real espanhola. nn Grande parte do seu acervo encontra-se no Museu do Prado. nn Retrata ele mesmo trabalhando. Introdução do quadro dentro do quadro. nn Pintura do rei Felipe IV e sua rainha, Mariana, que se encontram refletidos no espelho da parede ao fundo. nn O camareiro da rainha aparece emoldurado pelo marco da porta de trás. nn No centro a infanta Margarita e suas damas de companhia. nn Com características do barroco o artista cria a convincente ilusão de espaço com seu jogo de luz e sombra. nn Características da escultura barroca nn Linhas curvas. nn Drapeado exagerado das vestes. nn Emoção e dramaticidade exageradas. nn Composição grupal chamado de “sacro monte”, concebido pela Igreja e rapidamente difundido por outros países. nn Atitudes realistas e dramáticas em um arranjo teatralizado.

Figura 05 - As Meninas, Velázquez – 1656.

Principais artistas Gian Lorenzo Bernini (1598-1680) Nasceu em Nápoles, trabalhando principalmente na cidade de Roma. Foi escultor e arquiteto, ainda que tivesse sido pintor. nn Dominou o cenário artístico em Roma com seus projetos exuberantes, dinâmi-

cos, teatrais e orgânicos.

nn A obra O Êxtase de Santa Teresa apresenta uma notável sensação de movimento

e apelo à compaixão do espectador. em mármore, bronze, vidro e afresco, combinando elementos arquitetônicos e esculturais está caída em um arrebatamento quase erótico. nn Na obra Hermafrodito, cópia romana (c.200 d.C.) de original grego, Bernini acrescentou um leito de mármore Carrara, de efeito realista a uma estátua antiga.

Fonte: Wikimedia Commons

A18  A arte barroca italiana

nn Feita

Figura 06 - O Êxtase de Santa Teresa, Gianlorenzo Bernini – 1645-1652 Figura 07 - Hermafrodito. Cópia romana (c.200 d.C.) de original grego, desde 1807 no Louvre. O leito foi adicionado por Bernini em 1619.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

SAIBA MAIS CURIOSIDADES DO GRANDE REBELDE CARAVAGGIO Pedradas − Comenta-se que, além das conhecidas brigas, ameaças e ofensas contra as mais diversas pessoas, Caravaggio chegou a atirar pedras, por mais de uma vez, contra os pedestres que passavam em frente à sua janela, em Roma. O artista foi processado e levado à prisão várias vezes. Luzes, tinta, ação! − Caravaggio era conhecido por pintar bastante rápido e diretamente sobre a tela, sem nunca fazer desenhos e esboços (não há conhecimento de desenhos atribuídos a ele). Artista inquieto e de personalidade ansiosa, sempre entregava suas encomendas dentro do prazo, provavelmente sedento por terminá-las e começar novos trabalhos. Realismo ao pé da letra − Na tela A Morte da Virgem comenta-se que o pintor teria usado como modelo o corpo de uma prostituta encontrada morta no rio Tibre, cujo ventre estava inchado. Já em A Ressurreição de Lázaro, os modelos teriam sido obrigados pelo próprio artista, que os ameaçava com um punhal, a posar carregando um cadáver de verdade. Seguidores − Artistas notáveis como Rembrandt, Vermeer, Rubens e até Cézanne foram influenciados pela maneira como Caravaggio retratava a luz e, por oposição, as sombras. Já um dos trabalhos do artista brasileiro Vik Muniz, conhecido por fazer reproduções de quadros famosos usando materiais inusitados, é uma cópia de A Deposição de Cristo, feita com calda de chocolate. Fragonard e Rubens também reproduziram suas obras. Dor-de-cotovelo − Alguns críticos consideram o uso frequente do “claro-escuro” uma incapacidade de Caravaggio de pintar fundos muito detalhados. Outros o acusam de não ser um bom desenhista, pois geralmente pintava com um modelo vivo presente, a fim de reproduzi-lo da maneira mais fiel possível. Segundo esses censores, um artista completo seria aquele que, com perfeição, consegue reproduzir pessoas, objetos, animais e cenários baseando-se apenas na memória. Disponível em: www.mestres.folha.com.br/pintores/12/curiosidades.html em 20/08/2017

Exercícios de Fixação 01. Faça uma análise comparativa levando em conta as características clássicas e as características maneiristas, entre a obra escultural Laocoonte e seus filhos, Vaticano - original grego de 40 a.C. – 20 a.C. e a pintura Laocoonte do artista maneirista/renascentista El Greco.

riar o significado das imagens, criando efeitos dramáticos, irônicos, grotescos e poéticos. O elemento técnico visual descrito encaixa-se em diferentes termos, exceto: a) luz e sombra. b) claro e escuro. c) chiaroscuro. d) sfumato. e) perspectiva. 04. Observe a obra “Judite Degolando Holofernes”, da artista Artemisia Gentileschi e a obra com mesmo nome do artista Caravaggio e faça uma análise comparativa.

Figura 1

Figura 2

Figura 1 - Laocoonte e seus filhos, Vaticano - original grego de 40 a.C. – 20 a.C.

02. Descreva características importantes da vida da artista Artemisia Gentileschi (1597-1653), que interferiram em suas representações da figura feminina. 03. Elemento responsável pelos efeitos de dilatação do espaço, o de profundidade, o de volume, e o de valorização da parte mais iluminada, ou mais escurecida. Podemos também va-

Figura 1

Figura 2

Figura 1 - Judite Degolando Holofernes, Artemisia Gentileschi - 1620 Figura 2 - Judite Degolando Holofernes, Caravaggio - 1599

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A18  A arte barroca italiana

Figura 2 - Pintura Laocoonte, El Greco - 1610/1614.


FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A19

ASSUNTOS ABORDADOS nn A arte barroca fora da Itália e o

Rococó

nn Barroco nos Países Baixos nn Rococó

A ARTE BARROCA FORA DA ITÁLIA E O ROCOCÓ Barroco nos Países Baixos Do movimento da Luz, assim poderíamos sintetizar o que foram esses três grandes mestres barrocos da pintura holandesa: Hals, Rembrandt e Vermeer. O estilo barroco, iniciado ainda na Itália renascentista, se espalhou por diversos países, e era o “espelho dos acontecimentos sociais, políticos, científicos, culturais e religiosos que agitaram profundamente o mundo europeu”. A corrente inaugurada por Caravaggio impôs-se como uma revolucionária forma realista-naturalista de pintar, e ele, Caravaggio, teve uma profunda influência sobre a arte holandesa, especialmente sobre os três pintores sobre quais abordaremos nesta aula. Havia diversos pintores “caravaggescos” na Holanda, que teriam trazido o estilo do mestre Caravaggio para os Países Baixos. Após a Reforma Protestante, iniciou no século XVI com a publicação das 95 teses de Martinho Lutero, que se rebelava contra a doutrina da Igreja Católica. A Europa foi dividida, e pequenos países mais ao Norte, como a Holanda, sofreram os efeitos dessa divisão. A Bélgica permaneceu católica, mas a região dos Países Baixos, que estavam sob o domínio de governantes católicos espanhóis, resolveu se rebelar contra seus governantes e sua religião oficial, aderindo ao Protestantismo. As pinturas do período caracterizam-se pela riqueza de detalhes, pela precisão e o apuro técnico empregado, em uma tentativa de representar tudo aquilo que o olho humano fosse capaz de captar, dando à imagem um aspecto semelhante à vida, com minucioso realismo. Predominam a pintura de gênero, a natureza-morta, cenas da vida familiar, paisagens pitorescas, retratos e temas profanos, tecnicamente próximos ao realismo de Caravaggio. Na Bélgica, observamos um barroco com as linhas movimentadas e a forte expressão emocional. Uma classe política aristocrática e católica favoreceu a pintura grandiosa e solene, protagonizada por santos e alegorias religiosas. Ao mesmo tempo se difundia a pintura de temas mitológicos, com sugestão de sensualidade, cujo melhor exemplo é a obra de Rubens, artista inspirado na escola veneziana, colorista com aplicação de cores fortes e quentes, criando cenas que sugerem intenso movimento. Suas telas marcam linhas contorcidas nos corpos e pregas e drapeados exagerados nas roupas. Principais artistas Frans Hals (1580 ou 1585-1666) nasceu na Antuérpia Bélgica, mas mudou-se para Holanda quando tinha três anos. Um dos maiores retratistas da história da pintura cumpriu um destino comum a outros grandes nomes da pintura: o extraordinário talento convivendo com intermináveis problemas financeiros. Criador, entre outras, de telas memoráveis como Cavaleiro Sorridente, talvez o mais admirado retrato do mundo depois da Mona Lisa, Hals foi, em essência, um autodidata responsável por seus belos retratos, pela criação de uma pintura independente em seu país.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Fonte: Wikimedia Commons

É provável que a família tenha se transferido para Haarlem em 1585, ou pouco tempo depois, quando a protestante Antuérpia caiu nas mãos das forças católicas espanholas. A Espanha restabeleceu o catolicismo em Antuérpia e os protestantes tiveram o prazo de cinco anos para concluir seus negócios e abandonar a cidade.

Figura 02 - The Banquet of Officers of the St Adrian Militia Company, Frans Hals -1637, Mais tarde terminado por Pieter Codde.

Em seus retratos de grupo, como The Banquet of Officers of the St Adrian Militia Company em 1637, Hals captura cada personagem de maneira diferente. Os rostos não são idealizados e são claramente distinguíveis, com suas personalidades reveladas em uma variedade de poses e expressões. Hals, porém, pintou muitos retratos de pessoas das mais diferentes classes sociais: burgueses ricos, mercadores, militares, comerciantes, advogados, funcionários públicos, músicos, cantores de rua, pescadores que renderam muito pouco dinheiro a Hals.

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A19  A arte barroca fora da Itália e o Rococó

Fonte: Everett - Art / Shutterstock.com

Figura 01 - O Alegre Beberão, Frans Hals, 1668-1630 − O Cavaleiro Sorridente, Frans Hals, 1624


Artes

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Ele sabia como usar a luz como um dos valores fundamentais para dar expressão às suas pinturas. Seus retratos apresentam pessoas vivas, humanas, em seus olhares cheios de vida e simpatia. Dá a impressão, ao ver alguns de seus quadros, que a pessoa que vemos lá parece ser-nos, de alguma forma, familiar, mesmo porque Frans Hals tinha a capacidade de captar o momento expressivo, e eternizar aquilo, resolvendo em poucas pinceladas. Johannes Vermeer (1632-1675) foi o segundo filho de Reynier Jansz, um comerciante de seda de Amsterdam que mudou-se para Delft, onde nasceu Vermeer. Lá, seu pai acabou trabalhando como negociante de arte e, com isso, mantinha relações com alguns pintores, os quais podem ter sido a primeira influência recebida por Vermeer o qual foi admitido como mestre na Guilda de São Lucas em 1653, uma espécie de organização de pintores, vidreiros e comerciantes de arte, além de outros profissionais artesãos. Sabe-se que para ser aceito nessa Guilda, a pessoa tinha que ter passado seis anos como aprendiz de algum artista reconhecido. Também se fala que ele teria sido aluno de Carel Fabricius, um dos aprendizes de Rembrandt.

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Figura 03 - Selo comemorativo da Rapariga com Brinco de Pérola (1665-1666)

Figura 04 - A Leiteira, Johannes Vermeer – 1660 .

Vermeer casou-se em 1653 com Catharina Bolnes, cujos pais tinham uma boa situação financeira. Vermeer era calvinista e sua esposa católica. Por causa da rejeição da mãe dela ao casamento, fala-se que ele teria se convertido ao catolicismo e, em certo sentido, se rendido aos costumes da família de Catharina, com quem logo teve que ir morar. O casal teve quinze filhos, entre os quais quatro morreram ainda bem novos. Sabe-se muito pouco sobre sua vida e, olhando para suas pinturas, as dúvidas sobre quem era esse homem, ainda são muito acentuadas. Ele produziu muito pouco, em torno de 47 quadros, que foram catalogados 100 anos depois de sua morte. Ele pintava de forma lenta e metódica e possuía uma incrível capacidade para sugerir formas e texturas, comunicando o máximo com o mínimo de pinceladas. Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669) pintor e gravador holandês. É geralmente considerado um dos maiores nomes da história da arte europeia e o mais importante da história holandesa. As suas contribuições à arte surgiram em um período denominado pelos historiadores de “Século de Ouro dos Países Baixos”, cuja influência política, a ciência, o comércio e a cultura holandesa — particularmente a pintura — atingiram seu ápice. Aos sete anos ingressou na Escola Latina de Leyden. Gostava de pintura e com sacrifício, seu pai o matriculou na Universidade de Leyden, mas não conseguiu mantê-lo mais que nove meses. Sem abandonar a pintura, estudou com Jacob Isaaksz, que lhe ensina a técnica, o preparo das tintas e a disciplina do desenho.

A19  A arte barroca fora da Itália e o Rococó

Em 1623, a conselho do professor, Rembrandt vai para Amsterdam, que vivia seu apogeu. Em 1631, resolve instalar-se em Amsterdam. Um ano depois já era um pintor famoso, um dos mais caros e procurados da cidade. Retrata os ricos e bem-sucedidos burgueses, pois era moda enfeitar as paredes com o próprio retrato. Em 1632, pinta um dos seus quadros mais famosos: A Lição de Anatomia do Doutor Tulp, que fez imediato sucesso. Em 1634 atinge o auge da fama e prosperidade. Depois de casado, instala-se em uma casa que transforma em centro de reunião social e em museu de objetos raros, móveis antigos e louças valiosas. Após a morte de três filhos e da esposa, Rembrandt entra em uma nova fase, recusando-se a fazer retratos. Seus quadros nesse momento tornam-se mais expressivos, sombrios e reveladores, nos quais o pintor reflete suas dificuldades e perdas.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Em 1645 tomou como criada uma jovem que passou a ser sua modelo e amante. As encomendas começaram a rarear e as dificuldades financeiras aumentaram. Perdeu uma ação na justiça, seu casarão foi hipotecado e seus bens foram leiloados em lotes, só para dar algum preço. Rembrandt continuou trabalhando e produzindo suas gravuras que representavam cenas bíblicas, mitológicas, nus, retratos e paisagens.

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Em 1660, foi procurado para transformar em pintura A Conspiração de Claudius Civilis, no entanto, quando a obra ficou pronta, o que se viu foi um grupo de bárbaros, um bando de assassinos e um rei caolho. Para os burgueses foi um choque. A obra foi devolvida para modificações, mas o artista recusou-se e pôs fogo no quadro, mas logo se arrepende e salva a cena central, que está no museu de Estocolmo. Em 1663 morre sua companheira. Em 1668 morre seu filho Tito, um mês depois de Rembrandt ter pintado A Família de Tito. Sozinho e miserável vive apenas mais um ano.

Figura 05 - Aula de Anatomia do Dr. Tulp, Rembrandt – 1632. Figura 06 - Autorretrato, Rembrandt – 1660. Figura 07 - The Syndics, Rembrandt van – 1662.

Peter Paul Rubens (1577-1640) pintor flamengo do estilo barroco, nascido na Antuérpia, proponente de um estilo extravagante que enfatizava movimento, cor e sensualidade. Ele é conhecido por suas obras contrarreformistas, retratos e pinturas históricas, assuntos mitológicos e alegóricos.

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Com dez anos de idade, frequenta o estúdio de Adam van Noort. Quatro anos depois se muda para o estúdio de Otto van Veen, onde permanece até 1598. Em maio de 1600 muda-se para a Itália. É contratado por Vincenzo Gonzaga, Duque de Mântua, se tornando seu pintor oficial. Faz viagens para Florença e Roma, onde estuda a técnica usada por Michelangelo no Juízo Final na Capela Sistina e por Rafael, nos afrescos. Em Veneza se familiariza com as obras de Ticiano, Veronese, e Caravaggio, entre outros. Em 1601, Rubens recebe sua primeira encomenda, do cardeal da Áustria, e logo vêm outras. Em 1603, ele é enviado a Madri, para sua primeira missão diplomática com o rei Filipe III e seu ministro o Duque de Lerma, do qual faz um retrato. De volta à Itália, recebe diversas encomendas, em 1604 pinta o tríptico A Santa Trindade, oferecido pelo Duque de Mântua à Igreja dos Jesuítas, A Transfiguração e o Batismo de Cristo.

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Artes

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Com espírito empreendedor, compra um terreno, constrói uma casa luxuosa e abre seu estúdio a “Oficina de Rubens”, de onde saem, em trinta anos, cerca de dois mil quadros. Em 1622 vai para Paris, a convite de Maria de Médicis lá ele pinta uma série de telas para o Palácio de Luxemburgo. Em 1626 morre sua esposa, e ele começa a sofrer com o reumatismo. Casa-se novamente e pinta para a corte. Em 1635 pinta A Volta ao Trabalho, em 1638, pinta mais vagarosamente, descobre a vida real e agora a mulher e os filhos merecem sua atenção. Em 1640, pinta seu último autorretrato.

Rococó Figura 08 - Fragmento da obra Natividade na 1600/1608

Para entender melhor os valores que essa tendência artística passa a refletir é preciso voltar ao século XVII Igreja de Pauls de Sai, Rubens – e verificar que durante o reinado de Luís XIV, ou seja, entre 1643 e 1715, a França viveu sob um governo centralizador e autoritário, que deu às artes uma feição clássica. Quando Luís XIV morreu, em 1715, a corte mudou-se de Versalhes para Paris então os artista entraram em contato com os ricos e bem-sucedidos homens de negócios, financistas e banqueiros que, por nascimento, não pertenciam à aristocracia. Mas graças à riqueza que possuíam, esses banqueiros tinham condições de proteger os artistas, atitude que lhes dava prestígio pessoal para serem aceitos na sociedade aristocrata. Tais banqueiros tronam-se os clientes preferidos dos artistas que passaram a produzir quadros pequenos e as estatuetas de porcelana para uso doméstico, muito ao gosto da sociedade na época. A arte rococó refletia, portanto, os valores de uma sociedade fútil que buscava nas obras de arte algo que lhe desse prazer e a levasse a esquecer de seus problemas reais. Os temas utilizados eram cenas eróticas ou galantes da vida cortesã e da mitologia, pastorais, alusões ao teatro da época, motivos religiosos e farta estilização naturalista do mundo vegetal ornamentados nas molduras. Características decorativo e leve que floresceu em toda a Europa durante boa parte do século XVIII. nn Surgiu na França na virada do século e permaneceu popular até a década de 1770, quando, aos poucos, cedeu espaço ao Neoclassicismo. nn Mistura irresistível de elegância, charme, graça e erotismo divertido. nn O termo rococó era originalmente um termo pejorativo. A palavra é uma fusão bem-humorada de ‘rocaille’, um estilo extravagante de enfeites com pedras usado em fontes, e ‘barocco’, palavra italiana que deu origem ao estilo barroco. nn Degradação óbvia e cômica do barroco. nn Os artistas trabalhavam para os mesmos patrões do barroco, só que rejeitavam a pompa excessiva e a grandiosidade relacionada ao barroco. nn Vestimentas exageradas, efeitos teatrais e muita fantasia. nn Temas de pessoas ricas se divertindo ociosos ao ar livre. Flertes fantasiosos em algum cenário fabuloso também se destacavam. nn Principais artistas: os franceses Jean-Antoine Watteau (1684-1721), François Boucher (1703-1770) e Jean-Honoré Fragonard (1732-1806) e o italiano Giambattista Tiepolo (1696-1770).

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nn Estilo

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Principais artistas

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François Boucher (1703-1770) nasceu em Paris e a sua obra é considerada representativa do período da pintura rococó na França. Boucher executou importantes trabalhos decorativos para a Coroa e tornou-se o principal desenhista das porcelanas reais. Em 1765 foi nomeado pintor de Luís XV. Muitos dos seus quadros retratam temas mitológicos e cenas galantes e pastoris. É muito conhecido por suas pinturas idílicas, plenas de volume e carisma, essas que vulgarmente recorriam a temas mitológicos e evocavam a Antiguidade Clássica, posta em voga por Peter Paul Rubens.

Figura 09 - A Odalisca Loira, Boucher – 1752.

CURIOSIDADES SOBRE A OBRA O BALANÇO DE FRAGONARD Embora pé e sapato agora fossem visíveis, o que ainda estava escondido pelas saias continuava a ser um doce segredo. Para solucionar esse enigma, um homem poderia, no período do rococó, fazer três coisas: primeiro, ele poderia olhar furtivamente quando uma dama amarrasse novamente sua liga ao redor de seu joelho, em segundo lugar, poderia brincar de saltar de modo selvagem com a moça para que ela caísse, e, finalmente, poderia empurrá-la em um balanço. Consequentemente, o balanço tornou-se uma brincadeira muito popular entre os jovens. As três situações são temas frequentes nas pinturas e gravuras da época. Jean-Honoré Fragonard pintou um quadro intitulado O balanço, que representa uma cena de diversão íntima entre marido e mulher. Ele muito mais velho, da qual participa furtivamente o jovem amante, que se delicia com a cena oferecida a seu olhar apaixonado. A origem do quadro O Balanço é mencionada no diário do dramaturgo francês Charles Collé, em que consta o caso do pintor Gabriel François Doyen, que teria sido abordado por um barão para pintar a Madame, sua amante, em um balanço empurrado por um bispo. O barão deveria ser retratado de tal modo que pudesse ver as pernas da moça. Doyen, contudo recusou a proposta e encaminhou-a para Fragonard, que recusou o elemento clerical com medo de que isso pudesse arruinar a sua carreira, e então convenceu o amante a trocar o bispo pelo marido traído.

O Balanço, Jean-Honoré Fragonard, 1766.

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A19  A arte barroca fora da Itália e o Rococó

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SAIBA MAIS


Artes

Exercícios de Fixação 01. A arte barroca originou-se na Itália no séc. XVII, mas não tardou a irradiar-se por outros países da Europa e a chegar também ao continente americano, trazida pelos colonizadores portugueses e espanhóis. Segundo a Arte Barroca, é correto afirmar que a) o Barroco foi um movimento contra a reforma protestante. b) no Barroco existe o predomínio das emoções e não o racionalismo renascentista. c) o Barroco foi um movimento quase sem cor e formas.

Frans Hals. O banquete dos oficiais da Milícia de São Jorge. 1627, óleo sobre tela, 179 cm x 257,5 cm, Museu Frans Hals. Amsterdã.

d) este movimento foi quase sem expressão nas artes plásticas. 02. Observe a imagem O Balanço, Jean-Honoré Fragonard e descreva fatores importantes presentes na obra, que explicam as características do rococó. 03. (UnB DF) O banquete tinha tanta importância quanto à vida dos salões no século XVIII e mesmo quanto à corte do Ancien Régime. Os imperadores não tinham corte; viviam em seu palácio, na colina do Platino, à maneira dos nobres de Roma em suas mansões, cercados de escravos e libertos, mas, caída a noite, jantavam com seus convidados, que eram senadores ou simples cidadãos cuja companhia apreciavam. Paul Veyne. O Império Romano. In Phillippe Ariès Georges Duby. História da vida privada: do império romano ao ano mil. 2ª ed. Trad.: Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 181 (com adaptações)

Giambattista Tiepolo. O banquete de Cleópatra. 1743, óleo sobre tela, 250.3 cm x 357 cm. Galeria Nacional de Victória, Austrália.

Considerando o fragmento de texto e as obras reproduzidas acima, julgue os itens de 1 a 4.

E-C-C-C

01. Na obra O Banquete dos Oficiais da Milícia de São Jorge, Frans Hals, pintor renascentista, representou o espírito solene dos banquetes promovidos para homenagear oficiais das milícias. 02. A obra O Banquete de Cleópatra, de Tiepolo, apresenta características do estilo barroco. 03. Artistas plásticos, como, por exemplo, Rubens, foram responsáveis pela decoração, em estilo barroco, de al-

A19  A arte barroca fora da Itália e o Rococó

guns salões de banquete do século XVIII. 04. Na obra O Triunfo de Baco, de Velázquez, a luz clara destaca Baco, deus do vinho, dos demais personagens, recurso que remete à pintura de Caravaggio, na qual também está presente o jogo de claro e escuro, por ser uma das características das artes plásticas no Diego Velázquez. O triunfo de Baco, 1620, óleo sobre tela, 165 cm x 22 cm, Museu do Prado, Madri.

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período Barroco.


FRENTE

A

ARTES

MÓDULO A20

BARROCO BRASILEIRO

ASSUNTOS ABORDADOS

O Barroco no Brasil foi o estilo artístico dominante durante a maior parte do período colonial. Fez sua aparição no país no início do século XVII, introduzido especialmente pelos jesuítas, para catequizar os índios. O Barroco brasileiro desenvolveu-se principalmente com a arte sacra: estatuária, pintura e obras de talha para decoração de igrejas e conventos ou para culto privado. Destacam-se nesse período os seguintes artistas: frei Agostinho da Piedade, Agostinho de Jesus, Domingos da Conceição da Silva e frei Agostinho do Pilar. No auge do século do ouro, as igrejas são decoradas para mostrar o poder da instituição. A utilização de curvas e espirais prevalecem nas obras. Os artistas utilizam matérias-primas típicas do Brasil, tais como: pedra-sabão e madeira. O artista que mais se destacou nessa época foi Antônio Francisco Lisboa – o Aleijadinho (1730-1814).

nn Barroco brasileiro nn Arquitetura nn Escultura nn Pintura nn Principais Artistas

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O Barroco brasileiro foi diretamente influenciado pelo Barroco português, porém, com o tempo, foi assumindo características próprias. A grande produção artística barroca no Brasil ocorreu nas cidades de Minas Gerais, no chamado século do ouro (século XVIII). Essas cidades eram ricas e possuíam uma intensa vida cultural e artística em pleno desenvolvimento devido ao ciclo do ouro e da cana-de-açúcar.

Figura 01 - Interior da Igreja de São Francisco, Salvador - Bahia

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Regiões onde não havia o ciclo do ouro ou do açúcar, (São Paulo), os acabamentos eram mais simples e modestos, com artistas menos experientes. Já as cidades portuárias contaram com artistas renomados de características mais detalhadas e apuradas da arte (Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pernambuco).

Arquitetura Características: nn Frontão

com formas curvas. embutidas ou aparentes para colocar os sinos com pequenas cúpulas com formas diversas. nn Formas curvas para decorar as portas e janelas (influência do rococó europeu), talhadas ou relevadas em pedra ou madeira. nn Torres

Figura 02 - Igreja Nossa Senhora da Luz em São Paulo

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Artes

grossas. nn Uma ou três entradas. nn Pilastras grossas para sustentação. nn Nave central retangular e salas laterais separadas da nave principal. nn Construídas pelo processo conhecido como taipa de pilão – que consistia em comprimir a terra e pedra em formas de madeira no formato de uma grande caixa, denominadas de taipais, cujo material era disposto em camadas.

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nn Paredes

Figura 03 - Ilustração do processo de Taipa de Pilão

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Características das fachadas

Figura 04 - Igreja de São Francisco, Mariana – M.G.

Igreja do Carmo, Mariana – M.G.

Escultura Características curvas. nn Drapeado exagerado das vestes. nn Uso do dourado. nn Emoção e dramaticidade. nn Uso do termo composição grupal chamado de “sacro monte”, concebido pela Igreja e rapidamente difundido por outros países. nn Atitudes realistas e dramáticas em um arranjo teatralizado.

A20  Barroco brasileiro

nn Linhas

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

nn As esculturas em São Paulo, são mais simples e pouco detalhadas, já nas regiões

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onde aconteceu o ciclo do ouro e do açúcar, observamos todas as características presentes no barroco europeu.

Figura 05 - Escultura de São Paulo, autor desconhecido. São Matheus, Mestre Valentim- 1745 – 1813. Profeta Ezequiel, Aleijadinho – 1800/5.

Características dos santos de vestir nn Destinadas

a comover o público.

nn Confeccionadas para serem movidas e transportadas sobre carros em procissões.

do dourado. nn Produzidas para aumentar o efeito mimético, muitas possuíam membros articulado. nn Recebiam roupagens que imitavam as de pessoas vivas. nn Pintura que assemelhava à carne humana. nn Olhos podiam ser de vidro ou cristal. nn Cabeleiras naturais. nn Lágrimas de resina brilhante, dentes e unhas de marfim ou osso. nn Preciosidade do sangue. nn As imagens eram entalhadas apenas parcialmente.

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A20  Barroco brasileiro

nn Uso

Figura 06 - São Roque: Detalhe do rosto. Rio de Janeiro, Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência. Santa Rosa, imagem de roca e de vestir séc. XVIII.

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Artes

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Santo de Roca ou imagens de vestir eram usadas em procissões e possibilitavam gestos teatrais. A possibilidade de mudar de roupa e de gestos das imagens se ajustava perfeitamente com a teatralidade barroca. As figuras impressionavam pela exteriorização religiosa, por meio dos gestos. Para maior realismo, as figuras traziam olhos de cristal, dentes e unhas de marfim ou osso, cabelos humanos, braços e pernas móveis e cores extremamente naturais. As imagens de vestir ou Santo de Roca tiveram seu maior uso no Brasil no século XVIII, chegando a atingir o século XIX.

Figura 07 - Jesus crucificado, Aleijadinho - 1800, madeira policromada - Capela da crucifixão – Congonhas do Campo - Minas Gerais.

Ornamentos esculpidos por entalhe em uma superfície de madeira, mármore, marfim ou outro tipo de pedra.

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A20  Barroco brasileiro

nn Talhas -

Figura 08 - Talha do altar-mor da Matriz do Pilar, Ouro Preto – M.G

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Pintura A pintura de temática religiosa é a principal característica da arte pictórica brasileira, durante sua fase barroca. Trata-se da pintura como ornamento complementar ao conjunto arquitetônico, vista como obra monumental e decorativa, mais um acessório ao trabalho principal, que, nesse caso, seria a própria igreja ou capela. Minas Gerais teve um grande mestre da pintura religiosa monumental, durante o período barroco, Manuel da Costa Ataíde (1762-1830). Características: nn Domínio

técnico da perspectiva.

nn Trabalhos realizados principalmente em forros de igrejas, embora também pos-

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sam ser encontrados alguns painéis em sacristias e paredes laterais de igrejas e ainda algumas poucas pinturas sobre tela. nn Formas monumentais e grandiosas. nn Figuras retorcidas para dar mais dramaticidade. nn Contraste de claro-escuro ou luz e sombra. nn Emocional. nn Efeitos decorativos – formas curvas e contracurvas. nn Novamente observamos que as pinturas do teto de igrejas em São Paulo são mais simples.

Figura 09 - Frei Jesuíno, S.P.

Mestre Ataíde, Ouro Preto.

Principais artistas A20  Barroco brasileiro

Antônio Francisco Lisboa – Aleijadinho (1730-1814), filho de uma escrava e um mestre de obras português, começou sua vida artística ainda na infância, observando o trabalho do pai, que também era entalhador. Desenvolve, aos quarenta anos, uma doença degenerativa nas articulações. Na fase anterior à doença, suas obras são marcadas pelo equilíbrio, harmonia e serenidade. Já depois da doença, Aleijadinho começa a dar um tom mais expressionista às suas obras de arte, misturando diversos estilos do barroco. Em suas esculturas estão presentes características do rococó e dos estilos clássico e gótico. Utilizou como material de suas obras de arte, principalmente a pedra-sabão, 245


Artes

matéria-prima brasileira. A madeira também foi utilizada pelo artista. Podemos citar algumas obras de Aleijadinho: Os Doze Profetas e Os Passos da Paixão, na Igreja de Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas do Campo (MG), projetos arquitetônicos, talhas. Características da escultura do Aleijadinho nn Olhos

espaçados. reto e alongado. nn Bigode saindo de dentro do nariz. nn Feitas parcialmente. nn Drapeado geométrico. nn Lábios entreabertos. nn Queixo pontiagudo. nn Pescoço alongado. nn Sobrancelha em forma de V. nn Dramaticidade. nn Olhos de vidro ou porcelana nas obras em madeira.

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nn Nariz

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A20  Barroco brasileiro

Figura 10 - Cena do carregamento da cruz, na Via Sacra de Congonhas – 1796/9 Profeta Joel, Aleijadinho 1800/5

Figura 11 - Relevo no pórtico da Igreja de São Francisco em São João del-Rei

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Relevo na Igreja de Congonhas do Campo


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação

02. Faça uma análise comparativa entre a pintura do teto da igreja em Ouro Preto – M.G. do Mestre Ataíde e a obra de Andrea Pozzo: Apoteose de Santo Inácio, teto da Igreja de Santo Inácio de Loyola, Roma. 03. Observe a imagem de São Matheus, do Mestre Valentim – séc. XVIII, e marque a alternativa incorreta.

São Matheus, de Mestre Valentim – Séc. XVIII

a) Percebe-se na obra de São Matheus, do Mestre Valentim, o uso do dourado. b) Percebe-se na obra de São Matheus, do Mestre Valentim, o uso de formas curvas. c) Percebe-se na obra de São Matheus, do Mestre Valentim, movimento por meio das formas curvas. d) Percebe-se na obra de São Matheus, do Mestre Valentim, formas geométricas e abstratas. e) A douração presente na imagem de São Matheus, do Mestre Valentim, consiste na aplicação de folhas de ouro na peça em madeira. 04. Observe a imagem e leia o texto.

Passos da Paixão de Cristo – Santa Ceia, Aleijadinho

O barroco mineiro teve como um de seus principais representantes o artista Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho. A partir dessa afirmação e com o auxílio da imagem A Última Ceia, marque a alternativa que melhor caracterize o trabalho e a técnica utilizada por esse pintor e escultor em suas obras. a) As esculturas do artista Aleijadinho destacam-se das demais obras barrocas brasileiras pelo uso do suporte em mármore. b) A dramaticidade exagerada, o uso do suporte de madeira, as formas geométricas, sobrancelha em “V”, barba enroscada, temas religiosos e o entalhe parcial, caracterizam a imagem da Santa Ceia do artista Aleijadinho. c) A dramaticidade representada nas obras de Aleijadinho tem por exceção a figura de Cristo, que sempre é representada com muita serenidade e quietude, uma vez que, é a exata representação da paz. d) A movimentação e a gestualidade dramática presente na cena, assemelham-se as esculturas do classicismo. e) Na obra, Cristo tem a forma do rosto oval, drapeado curvo e profundo, presente também nas esculturas do Barroco Europeu, em especial do artista Caravaggio. 05. O barroco mineiro assume um estilo próprio e bem brasileiro com obras de Mestre Valentim e Aleijadinho. A respeito desses artistas, suas obras e o barroco mineiro, marque a resposta que melhor caracterize o barroco brasileiro. a) Devido à falta de recursos naturais, as regiões do nordeste brasileiro apresentam as construções barrocas mais modestas do país. b) Minas Gerais se destaca por apresentar uma versão do barroco mais original, consequente de sua distância em relação ao litoral brasileiro e devido ao ciclo do ouro e da cana de açúcar, dessa forma encontramos artistas como Mestre Valentim e Aleijadinho. c) É na região de São Paulo que se encontram as igrejas barrocas mais requintadas e ricas do Brasil, ornamentadas com talhas em madeira, recobertas de ouro, feitas por importantes artistas como: Mestre Ataíde, Mestre Valentim e Aleijadinho. d) A região mineira se destaca pela extração do ouro, sendo a localidade que apresenta o maior número de casarões e prédios públicos em estilo barroco, mas com poucas igrejas nesse mesmo estilo. e) A partir do século XVIII os trabalhos de extração do ouro em Minas Gerais foram transferidos para cidades litorâneas, assim como o desenvolvimento do barroco nessa região. O barroco mineiro caiu no abandono e esquecimento.

247

A20  Barroco brasileiro

01. Faça uma análise comparativa entre as características da arquitetura e da escultura do barroco europeu com o barroco brasileiro.


FRENTE

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ARTES Por falar nisso Nas próximas aulas, você conhecerá a importância do teatro romano e a grande contribuição dessa estética para o amadurecimento do gênero cômico, tal como a forma como os romanos estruturaram o espetáculo teatral a partir do modelo grego e como eles misturaram e alteraram os elementos de encenação a partir do processo contaminação. Conhecerá ainda a mudança de gêneros do teatro medieval. Sai de cena a tragédia e a comédia e entram os gêneros o sagrado e o profano. Veremos como a Igreja retomou e estruturou o espetáculo teatral e como acontecia a participação da população e a grande característica da arquitetura e da cenografia medievais, que transformaram a cena em um grande e majestoso espetáculo. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

B09 Teatro romano........................................................................................250 B10 Teatro medieval............................................................................. 256


FRENTE

B

ARTES

MÓDULO B09

ASSUNTOS ABORDADOS nn Teatro romano nn Fábulas e farsas nn Quanto aos gêneros dramáticos nn Espaço cênico no teatro romano

TEATRO ROMANO Fábulas e farsas O teatro romano tem vida longa, são quase oitocentos anos entre as primeiras e as últimas manifestações teatrais. Essa longa jornada do teatro romano é dividida em dois grandes períodos: nn O primeiro período iniciado por volta do século III a.C. e finalizado no ano 27 a.C.

juntamente com o fim da República. Nesse primeiro bloco destacam-se Plauto e Terêncio, sendo mais frequente o gênero das fábulas Atellana, Togata e Paliatta. nn O segundo inicia-se em 27 a.C. e segue até 568 d.C. quando houve a proibição definitiva das apresentações teatrais pela Igreja, que julgava a prática como um rito pagão carregado de licenciosidade, vulgaridade e violência. Nesse mesmo ano, juntamente com a proibição, acontece à invasão bárbara que corrobora com a decadência total do teatro no Império Romano. Nesse segundo período são mais presentes as fábulas Riciniata e Saltica. Essas fábulas são mais corporais e menos literárias. O teatro romano teve como principais referências para o seu surgimento os versos fesceninos de origem etrusca, uma arte poética que guarda semelhança com os versos iâmbicos da Grécia, com relação à forma e ao conteúdo obsceno. Era comum a presença de dançarinos, músicos e mímicos. Outra tradição muito comum originária dos etruscos era a cerimônia funerária. Outra referência são as fábulas atellanas, um gênero farsesco cantado e dançado desde o século VI a.C. O teatro romano aproveita-se principalmente da natureza dessas fontes, além de abusar de quadros de habilidades, como os números circenses, incluindo as acrobacias, os mimos e as pantomimas. A terceira fonte material, oriunda da Grécia, foram as tragédias e as comédias, principalmente as adaptações feitas a partir das obras de Menandro e de Filêmon, dois autores da comédia nova, dos mais destacados. O palco era improvisado, o público ficava em pé e havia uma constância de 15 a 45 dias por ano de apresentações. Veja abaixo exemplos atuais de versos fesceninos: Eu trabalho atualmente

A cabra ensinou ao bode

Na Fazenda Santa Esther

A demonstrar compostura

Meu patrão tem uma mulher

Acabar com essa frescura

Que é o satanás em gente

De comer cu, que não pode!

Quando ele está ausente

Eu faço barba e bigode

Ela chega no terreiro

Disse o bodinho tarado

Passa a mão no corpo inteiro

Já ficando aperreado

Aumentando o meu tesão

Com o cacetinho duro

Eu vou me acabar na mão

Encostou no pé do muro

Feito colher de pedreiro.

Dizendo: fode ou não fode? Heleno Alexandre

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Antonio Xexéu


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

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O teatro romano era normalmente apresentado dentro das atividades e programações dos Ludi Romani (Jogos Romanos). Nesses jogos assistiam-se lutas de gladiadores, corridas de biga, batalhas navais, danças e espetáculos teatrais. Tudo era utilizado para promover a política do Pão e Circo.

B09  Teatro romano

Uma diferença substancial entre a dramaturgia grega e a romana é o tratamento dado ao mundo divino. Na Grécia ele é reverenciado, já na República e também no Império, os romanos execram os deuses que perdem o espaço de glória, caindo quase sempre na zombaria do povo. Assim, pode-se inferir que o teatro romano não teve forte ligação com o religare. Outra diferença significativa é que o material dramático perde a sua seriedade social, pedagógica, terapêutica, tão comum para os gregos. O grande foco dos poetas romanos passa a ser a família, especialmente a convivência entre os homens e a sociedade patriarcal. O comediógrafo Plauto valoriza as relações entre os pais e os filhos e não aborda temas políticos, assunto por demais delicado para a sociedade romana. 251


Artes

Outro aspecto recorrente é o tom farsesco que nos afasta da verossimilhança e nos aproxima de um estranhamento, facilitando o distanciamento, por vezes, necessário para o riso e para o puro divertimento. Esse tom farsesco ganha reforço dos personagens tipos. Esse personagem apresenta um único traço de caráter, ou seja, só tem um único plano psicológico: o bêbado, o corno, o doente, o brigão, o pão-duro, a fofoqueira etc. Ao longo da trama esses caracteres jamais são alterados, sendo facilmente decodificados pela plateia. O material romano será importante como herança cultural para o surgimento e o desenvolvimento do Teatro Renascentista, para a Commedia dell’arte e para o Classicismo Francês. Principais autores romanos: Lívio Andrônico, Névio, Plauto, Terêncio e Sêneca. nn Lívio

Andrônico Escreveu poesias épicas e líricas além de tragédias e comédias derivadas das obras gregas, porém praticamente só encontramos alguns fragmentos dos seus textos e comentários sobre a sua obra. Foi o primeiro tradutor do material grego, responsável pela apropriação cultural oriunda do mundo helênico. Essa técnica denominada PROCESSO CONTAMINAÇÃO surge a partir da mistura de várias obras, gêneros, situações e personagens para produzir uma nova obra.

nn Névio

Do mesmo modo que Lívio Andrônico, ele iniciou sua vida teatral escrevendo adaptações de tragédias e comédias gregas. Posteriormente criou a Fabula Praetexta (tragédia ou drama histórico romano) cujos personagens principais são as altas autoridades romanas. Dois exemplos de fabula praetexta são as peças Rômulo que retratam a fundação de Roma e Clastídio que retrata a tomada de Siracusa. Criou também um procedimento criativo denominado Processo Contaminação, em que a partir de uma comédia grega ele colocava elementos de outras comédias, alterando a obra. Assim, a fidelidade à obra original não é seguida. Outro dado interessante nas suas comédias é possuir temos traços típicos do povo romano.

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Exemplo de Processo Contaminação: a Ópera do Mendigo, de John Gay de 1728, a Ópera dos Três Vinténs de Bertolt Brecht de 1928 e a Ópera do Malandro exemplos de fabula praetexta de Chico Buarque de 1978. Atualmente, em função dos Direitos Autorais, esse processo é bem delicado. A obra tem reserva durante 70 anos após a morte do autor, somente após esse período a obra ingressará no domínio público. Vale notar que no caso do processo contaminação há o reconhecimento do autor original o que diferencia substancialmente da técnica do Control C Control V, onde se omite a fonte. 252

nn Plauto

século III a.C. Poeta cômico que escreveu mais de 21 obras. Sua grande referência foi a comédia nova grega, mas também bebeu da fonte do poeta Névio. As Bacanas, A Comédia da Marmita, A Comédia dos Burros, As Duas Báquides, Anfitrião, Aululária, Caruncho, Casina, Epídico, Estico, O Cabo, Os Cativos, O Cesto, A Corda, O Fantasma, O Gorgulho, Os Menecmos, O Mercador, O Persa, Os Prisioneiros, O Soldado Fanfarrão.

nn Terêncio

século II a.C. Este poeta fez pouco sucesso durante o Império. Foi redescoberto na Idade Média e na Renascença, influenciando nomes como Molière, que é considerado o maior poeta cômico de todos os tempos. A Moça de Andros, A Sogra, O Punidor de Si Mesmo, O Eunuco, Formião e Os Dois Irmãos.

nn Sêneca

Adaptou algumas tragédias gregas e foi contemporâneo de Cristo. Uma contribuição valorosa desse autor foi a ideia de fluxo de energia de onde resulta a Regra de Causa e Efeito, ou Ação e Reação. Carregou a mão ao colocar efeitos brutais, como assassinatos em cena, espectros vingativos e discursos violentos. As Troianas, Medéia, Édipo, Fedra, Tiestes, Hércules em Oeta, Hércules Enlouquecido, As Fenícias e Agamenon. A lei de causa e efeito foi desenvolvida a partir da observação da natureza e foi empregada na criação dramatúrgica com o objetivo de emprestar verossimilhança a obra.

Quanto aos gêneros dramáticos Fabula (dizer algo, contar, narrativa) Fabula Atellana Um gênero farsesco com uso de máscaras, cantado e dançado, originário do povo etrusco, e muito comum entre os séculos VI e IV a.C. É provável que esse gênero tenha se aperfeiçoado e que no século III a.C. já fosse muito popular e tivesse recebido um formato mais elaborado, afinal sempre tinha sido feito a partir de improvisos compostos com as situações domésticas e mitológicas. Nessa estrutura dramática mais sólida passou a ter uma personagem bastante popular e de gosto ‘fácil’ normalmente caracterizada através de máscara. O enredo é desenvolvido para agradar o gosto popular e é recheado de quiproquós. Fabula Palliata Gênero de comédia com enredo, personagens e lugares gregos. São traduções ou adaptações que hoje poderíamos


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

entender essa prática simplesmente como uma montagem de um texto grego feito pelos romanos. Sobre o nome que determina o gênero é uma atribuição às vestimentas gregas usadas pelos atores nas representações, o Palium. Fabula Togata Um gênero farsesco com linguagem obscena. O enredo, os personagens e os lugares eram oriundos de Roma. A toga é uma vestimenta típica do povo romano e como os atores/personagens usavam essa indumentária, o figurino acabou dando nome a esse gênero. Com relação à produção dramática os textos deixam muito a desejar, e talvez em função disso, nenhum exemplar foi preservado para a posteridade. Uma das possibilidades para o surgimento da Togata é a vontade do povo romano em ver as problemáticas locais em cena, normalmente ligadas às classes baixas. Fabula Praetexta Gênero em que eram apresentados dramas históricos romanos. Só há uma única obra preservada. Foi fonte de inspiração para os dramas históricos da Renascença. Fabula Riciniata Gênero pautado no uso do corpo e estruturado a partir de números da mímica. Sua estrutura dramática contava ainda com diálogos. Os atores-bufões e os atores/personagens não usavam máscaras e abusavam de muitos recursos para demonstração de obscenidades, indecências, licenciosidades e imoralidades. Fabula Saltica

Espaço cênico no teatro romano Quase todo o primeiro período do teatro romano foi feito em palcos improvisados, normalmente de madeira. Apenas no final desse período, a partir dos anos 60 a.C., começaram a surgir os teatros em edificações definitivas. No total é construído mais de cem edifícios em territórios do Império Romano. Os romanos, nessa época, já dominavam a tecnologia da construção de arcos e isto foi fator determinante para a construção dos edifícios independente do tipo do terreno. São construções magníficas e suntuosas que preservam muitas semelhanças formais da edificação teatral grega, excetuando, talvez, a diferença de a edificação teatral romana ficar dentro das cidades e ser construído, muitas vezes, sem apoio de uma topografia peculiar, ao lado dos morros, como no caso dos gregos.

Fonte: Wikimedia Commons

Gênero que utiliza a pantomima como fonte formal e a história e a mitologia como conteúdo. É um gênero híbrido entre a tragédia e a comédia, visto que normalmente os atores usavam figurinos trágicos e máscaras. Esse gênero contava com músicos e com um coro que descrevia a cena, desempenhando a mesma função do coro na tragédia e comédia grega. O uso da pantomima (maior utilização de gesto e menor de palavras) carregava de humor as apresentações. Às vezes, na pantomima, um único ator representava todos os personagens, bastando apenas trocar os figurinos e ou as máscaras.

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Link para animação de um edifício teatral romano https://www.youtube.com/watch?v=jwDtlOSpA88 As partes do edifício teatral romano (similar ao grego) eram: 253


Artes

CAVEA – Local onde fica o público, o auditório, equivalente ao termo Theatron no edifício teatral grego, lugar de onde se vê. PULPITUM – Plataforma que fica a um metro e meio de altura acima do piso da orquestra. Prolonga-se por toda a scaena frons, ficando logo atrás da orquestra (palco). Seria o equivalente ao proscenium na Grécia. SCAENA FRONS – equivalente a skené grega. É a fachada erguida ao fundo do palco. Era ricamente adornada e um grande elemento arquitetônico. ORCHESTRA - Era a parte central semicircular. Inovações romanas, sobretudo com relação aos tecidos: PANO DE BOCA (AULEUM) – Atualmente é a cortina que separa o palco da plateia. Servia juntamente com o siparium para esconder e revelar objetos e cenas. ROTUNDA (SIPARIUM) – A cortina de fundo preta que tem como principal função criar um fundo neutro. O siparium foi aumentando de tamanho ao longo dos tempos. Nos teatros modernos, principalmente nos palcos italianos, temos importância impar para os tecidos por possibilitar a ampliação do universo ilusionista. Em alguns teatros, encontramos ainda o ciclorama, quando temos no fundo um telão branco. Exercícios de Fixação Texto 1 O teatro romano não é uma imitação inábil dos gregos e, mesmo na Grécia, a tragédia arcaica em nada se parece com a comédia da época helenística. Um único traço comum: trata-se sempre de uma criação literária, a serviço de uma função coletiva o teatro tem por fim, aqui como noutros lugares, oferecer a uma sociedade uma imagem de si mesma, encarnar em personagens, inscrever em cânticos, em danças, em cenas de mimo, as principais forças que em se apoiam os homens desse tempo.

b) a partir dos jogos lúdicos o teatro passou a figurar como a atração mais importante da programação de eventos que estruturavam a política do pão e circo na República e no Império Romano. c) a sociedade romana era bem diferenciada da grega com relação a recepção da obra teatral. No Império Romano o entretenimento predominava como o aspecto de maior função social. d) havia a predominância do espírito bélico, tanto na Grécia quanto no Império Romano, e por isso se assemelhavam também na mesma expressão cultural sofisticada, elitista e antipopular. e) o declínio do teatro romano ocorreu por conta das encenações em que criminosos condenados à morte substituíam atores profissionais, trazendo para a cena mortes autênticas.

Pierre Grimal. O Teatro Antigo.

Texto 2 As comédias foram admitidas pela primeira vez nas festas dionisíacas por volta do ano 486 a.C. Porém, durante muitas décadas anteriores, a forma cômica foi-se evoluindo a partir de uma variada série de festas e rituais populares. Allardyce Nicoll. História Del Teatro Mundial.

A partir da leitura dos textos 1 e 2, determine os itens abaixo 01. E; 02. E; 03. E. como CERTO ou ERRADO. 01. O teatro romano desprezou as manifestações derivadas das outras culturas, preservou apenas as originárias da Grécia. 02. O poder romano, com o intuito de consolidar uma cultura hegemônica, aniquilou toda e qualquer influência da religião grega.

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03. Com o advento do cristianismo, o teatro romano alcançou seu apogeu, uma vez que foi valorizado pelos cristãos como espaço do sagrado. 04. O teatro romano foi influenciado pelo teatro grego, pois a) ambos tiveram as mesmas influências derivadas da cultura popular, como os mimos, a pantomima e os versos iâmbicos, que são formas poéticas literais, sofisticadas e rebuscadas. 254

05. Lei de Causa e Efeito Sobre a verossimilhança, verossimilhante. Para a dramaturgia clássica, a verossimilhança é aquilo que, nas ações, personagens, representações, parece verdadeiro para o público, tanto no plano das ações como na maneira de representá-las no palco. A verossimilhança é um conceito que está ligado à recepção do espectador, mas que impõe ao dramaturgo inventar uma fábula e motivações que produzirão o efeito e a ilusão da verdade. PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro, p. 428

Com relação a acreditar ou não no acontecimento cênico, pode-se afirmar que na comédia o uso da verossimilhança pode e deve a) ligar a realidade concreta da vida sem nenhum exagero. b) possuir grande extensão de elementos fóbicos e catárticos. c) ser exigida do ator e do espectador de modo mais realista. d) ser mais flexível do que a verossimilhança trágica. e) ser trabalhada do modo mais leve, sutil e sensível.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 01. Processo Contaminação - a importância desse processo se deu ao longo dos períodos históricos por conta de uma série de melhorias e amadurecimento das formas, dos personagens, da situação dramática, entre outros aspectos.

Questão 02. Personagem tipo - aquele que tem apenas um único traço de caráter, que será sempre repetido em todas as cenas.

Exercícios Complementares 01. Ao todo, vinte peças completas de Plauto (autor romano) subsistem. Significativamente, refletem não apenas o repertório de enredos e personagens da Comédia Nova (grega), mas, em seu eficiente engrossamento teatral, a mentalidade de seu autor e do público para o qual escrevia. Elas também se tornaram a fonte inesgotável da comédia europeia. O Amphitruo de Plauto sobrevive no Anfitrião de Molière e no de Kleist, sem falar nas versões modernas de Jean Anouilh e Peter Hacks; Os Menaechmi (Os Gêmeos) ganharam segunda imortalidade na Comédia dos Erros de Shakespeare. O herói de Miles Groriosus, Bramarbas, tornou-se o epítome de pseudo-heroísmo vanglorioso. Em Aulularia (O Pote de Ouro ou Comédia de Panelas), Plauto criou um protótipo de avareza ingênua, que Molière, em O Avarento, mais tarde envolveu no brilhante manto de haute comédie francesa.

´abrasileirou´ a obra mas manteve suas canções (ou árias) principais, os clássicos Balada da Obsessão Sexual (que não foi cantada na estréia porque a cantora Lotte Lenya, mulher de Weill, achou obscena) e Mac the Knife. Na sua montagem, André Heller não levou em consideração a versão de Chico Buarque. “Adoro a Ópera do Malandro, mas esta é posterior à Ópera dos Três Vinténs, que já é uma adaptação de outra”, explica o diretor. “Nessa montagem, preferi dar mais ênfase à música do que ao texto, suprimindo algumas falas.” http://www.estadao.com.br/arquivo/arteelazer/2000/not20000801p4606. htm (disponível maio/2014)

Com base no texto julgue a afirmação abaixo como verdadeira ou falsa e justifique com argumentação pertinente. A Ópera do Malandro é um plágio da Ópera dos Três Vinténs que por sua vez é baseada na Ópera do Mendigo.

BERTHOLD, Margot. História do Teatro Mundial, p. 147

Texto comum às questões 04 a 08

No texto acima a autora descreve a tradição da apropriação de um enredo, de um determinado tema ou na exploração de um determinado personagem. Originalmente descrito por um autor, estas obras são revistas depois por outros autores. Uma das características mais comuns é o amadurecimento do personagem tipo. Qual a importância do processo contaminação para as Artes Cênicas?

O verossimilhante caracteriza uma ação que seja logicamente possível, levando-se em consideração o encadeamento lógico dos motivos, portanto necessário como lógica interna da fábula: “É preciso, também nos caracteres como na composição dos fatos, sempre buscar ou o necessário ou o verossimilhante, de maneira que seja necessário ou o verossimilhante que determinada maneira, que depois de determinada coisa se produza outra determinada coisa” (Poética de Aristóteles)

02. Um dos personagens mais marcantes da dramaturgia romana é o personagem tipo. Qual é a característica principal dessa categoria de personagem?

PAVIS, Patrice, Dicionário de Teatro

03.

A partir da leitura do texto determine os itens abaixo como CERTO ou ERRADO. 04. E; 05. C; 06. C.

PROCESSO CONTAMINAÇÃO - Plágio ou Cópia

Adaptação - A Ópera dos Três Vinténs é sucesso em qualquer versão. Estreou no Berliner Esembler, um teatro estatal quando Weill já era compositor consagrado. Era uma adaptação da Ópera dos Mendigos, de John Gay, escrita 200 anos antes e que usava elementos de música popular em sua concepção. Desde então, teve inúmeras versões, incluindo a Ópera do Malandro, de Chico Buarque de Hollanda, que

04. A verossimilhança só precisa ser trabalhada na comédia, que exige alto grau de encadeamento lógico. 05. O encadeamento lógico de motivos pode ser entendido como a lei de causa e efeito, ação e reação. Isto foi estabelecido a partir da observação do mundo natural. 06. Os caracteres são aspectos físicos e psíquicos das personagens e podem influenciar na verossimilhança. 07. Aspectos absurdos não podem fazer parte da cena no teatro, pois estes impediriam a crença do espectador. 08. A composição dos fatos, nas cenas trágicas, deve ter maior rigor e ser mais verossimilhante para permitir o envolvimento emocional. 09. Pode-se alcançar o efeito de distanciamento na comédia através da quebra da verossimilhança.

Questão 03. Não. As três obras estão relacionadas. Têm a mesma situação, mas são localizadas em tempo e espaço distintos. Portanto as mesmas estão em um contexto de cópia e não de plágio.

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B09  Teatro romano

André Heller, que assina a montagem, buscou as partituras originais, tanto dos arranjos quanto das vozes, que Weill escreveu e que foram modificadas já nas primeiras apresentações. “Por vaidade ou particularidades dos cantores, ele suprimiu algumas árias ou mudou quem as cantava”, lembra Heller. Para ele, é um erro o nome de Brecht vir sempre na frente do de Weill quando se fala na Ópera dos Três Vinténs. “Brecht só adaptou o libreto; dizer que ele é o autor dessa ópera é o mesmo que atribuir Madame Butterfly a Illica, autor dos versos, e não a Puccini, que compôs a música.”


FRENTE

B

ARTES

MÓDULO B10

ASSUNTOS ABORDADOS nn Teatro medieval nn Gêneros sagrados e profanos nn Autores medievais nn Quanto aos gêneros dramáticos nn Espaço cênico no teatro medieval

TEATRO MEDIEVAL Gêneros sagrados e profanos Após a proibição do teatro no fim do Império Romano, o teatro começa a reaparecer lentamente entre os séculos VIII e IX. A Igreja, a mesma que baniu o teatro no final do século VI, compreendeu a importância do ‘espetáculo’ para a promoção do cristianismo e para a expansão do seu domínio. A primeira grande transformação empreendida pela Igreja foi a divisão de gêneros, agora o material é classificado como sagrado ou profano. No período medieval o papel da Igreja era redirecionar e conduzir a religiosidade dos povos ditos bárbaros, que tinham adoração por vários deuses, sendo, portanto sociedades politeístas. Assim, o teatro foi utilizado como importante veículo de fortalecimento da fé cristã. A utilização da linguagem teatral por padres e monges foi uma das formas encontradas pela Igreja para alterar esse quadro secular e catequizar os habitantes, pouco escolarizados, com a sua cultura monoteísta e civilizadora. O objetivo era expandir e popularizar a mitologia cristã. Ao longo do período medieval foram cerca de setecentos anos transmitindo os conteúdos religiosos por meio do teatro. No Brasil, o teatro foi importante recurso didático utilizado pelos Jesuítas para catequização dos índios entre os anos 1550 a 1630. Um dos primeiros passos para esse acontecimento se tornar uma realidade foi perceber que a cerimônia eclesiástica já possuía, dentro da sua estrutura, formal muitos elementos teatrais. Entre estes as antífonas foram escolhidas para o desenvolvimento das cenas. As antífonas são uma parte da missa em que um coro elabora perguntas e emite respostas de conteúdo religioso, normalmente com um texto curto em latim, com repetição constante que facilita a memorização. São trechos cantados e conta com acompanhamento musical. A partir das antífonas o teatro renasce dentro das igrejas e gradativamente a cena se amplia dentro do ritual litúrgico e dentro da arquitetura, ocupando cada vez mais espaço físico e simbólico. Esse amadurecimento cênico iniciado a partir do ritual acontece de modo diversificado de acordo com as peculiaridades de cada região da Europa. Após os primeiros anos, quando se acumula uma experiência teatral, as representações dos gêneros mistério, milagre e auto começaram a ser realizadas dentro da igreja relatando diversas passagens bíblicas, ou seja, promovendo o mistério da fé. Ao longo dos anos as representações foram ganhando cada vez mais elementos cênicos, mais atores e figurantes, sofrendo alterações e a igreja parecia cada vez menor para comportar os espetáculos cheios de efeitos e pirotecnias. A saída foi literalmente o portal da igreja, depois a fachada frontal e as laterais, os vitrais, o adro, as escadarias e por fim a praça, a rua, a feira, a cidade toda. Nesse momento o teatro já é um fenômeno da ´cidade´. O palco é armado em plataformas, carroças, varandas, fontes, etc.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Com o crescimento do espetáculo e com o aumento das experiências cênico-religiosas o resultado foi a expansão de fiéis. Assim a igreja e o teatro ganham espaço e se aventuram a apresentar as duas maiores festas do mundo cristão: o Nascimento e a Morte de Jesus Cristo, ou seja, O Auto da Paixão de Cristo e o Auto de Natal. Essas peças são geralmente longas. Podem durar, algumas horas, dias, semanas e até casos de mais de um mês de duração. Apresentavam um caráter festivo e contavam com a participação mais efetiva das instituições eclesiásticas, e muitas vezes com as entidades profissionais, as guildas dos padeiros, dos marceneiros, dos alfaiates, dos pescadores etc.

Fonte: Wikimedia Commons

SAIBA MAIS O Auto da Paixão de Cristo – A Via Sacra do Morro da Capelinha em Planaltina-DF, é um espetáculo que dura em média 6 horas, conta com cerca de 1 500 participantes e é apresentado para cerca de 150 mil espectadores.

Apesar de haver essas duas festas como as mais tradicionais, havia outros eventos nos quais apresentavam narrações bíblicas desde o Genesis até o Apocalipse. O teatro medieval e as festividades mais importantes aconteceram na Suécia, Itália, França, Alemanha, Inglaterra, Portugal e Espanha. Era bastante comum ter disputa entre as cidades para saber qual a melhor festa, do mesmo modo que os grupos disputam hoje o melhor carnaval, cavalhada ou o melhor boi-bumbá. Em certo momento, a Igreja se viu diante de um dilema: o número de fiéis era alto, mas era necessário aumentar esse número e o maior impedimento era a língua utilizada na missa, o latim. A maior parte da população não tinha acesso a essa língua e a decisão foi adotar a língua nacional para ampliar o contingente cristão. Por outro lado, o temor da Igreja era que a população obtivesse novamente o conhecimento do processo teatral e voltasse a fazer espetáculos, fato que acabou acontecendo.

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Quando o evento teatral ultrapassou os limites físicos da igreja e ganhou a cidade. Ele ampliou seu repertório e ganhou uma linguagem mais popular. Desse modo, surgiu uma legião de artistas independentes, como os juglares, que se dedicaram a aventuras teatrais contando, cantando, dançando, tocando instrumentos, fazendo números de mágicas, de acrobacias etc, em feiras e ruas. Havia ainda os artistas, como os trovadores, que se apresentavam para os nobres e senhores feudais. Entre outras inúmeras práticas. Nesse momento o teatro já tinha variado muito e se desdobrado em novos gêneros. Os dramaturgos começam a utilizar como fonte material os contos, lendas, episódios e outros fatos do cotidiano, misturando temas sagrados com os profanos, tornando-se assunto delicado para o gosto da igreja, que vai se contrariar e deferir uma nova proi-

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Artes

bição de apresentações teatrais em meados do século XVI. Esse ambiente de grande efervescência teatral se amplifica ainda mais com a liberdade para a criação de temas oriundos das culturas grega e romana. Com o desenvolvimento das cidades, já no final do período medieval, foram criadas as condições para o ajuntamento desses artistas e viabilizadas a formação de pequenos grupos e companhias mais estáveis. A temática vai paulatinamente passando do conflito entre os homens e a divindade cristã para os conflitos inerentemente humanos, entre os próprios homens e a sua consciência. Estão dadas as condições artísticas para a evolução teatral que será dinamizada a partir do Renascimento.

Autores medievais: nn Clero

(séculos VIII a XIII) Escreve e atua nos dramas litúrgicos escritos em latim

nn Cidades

de Chester, Coventry, Lincoln, Wakefield e York na Inglaterra Temos registros de dramaturgias de mistérios de importância histórica e literária nessas cidades, principalmente os autos da Paixão e de Natal.

nn Jean

Bodel (século XII e XIII) Escreveu canções de gestas (poemas épicos) e temos o registro de duas peças: Jogo de Adão e Jogo de São Nicolau (Mistérios semilitúrgicos).

nn Adam

de la Halle (século XIII) O Jogo de Robin e Marion, uma das primeiras manifestações cômicas musicada. Por isso é entendida como uma peça precursora da ópera cômica.

nn Théophile

Rutebeuf (século XV) Escreveu milagres, Notre-Dame. Depois começou a escrever peças com dados e dramas pessoais.

nn Arnoul

Gréban (século XV) Mistério da Paixão, com conteúdos sagrados e profanos.

nn Autor

desconhecido (século XV) A Farsa do Advogado Pathelin

nn Maquiavel

(século XVI) A Mandrágora, peça com explicações científicas reais.

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nn Ludovico

Ariosto, Maquiavel e Pietro Arentino (século XVI) Utilizam como fonte material os trabalhos de Plauto e Terêncio

nn Gil

Vicente (século XVI) Escreve várias farsas e autos, entre eles: O Auto da Barca do Inferno; Auto da Barca do Purgatório e o Auto da Barca da Glória.

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nn Camões

Escreve peças cômicas, nacionalistas e com visão clássica.

Quanto aos gêneros dramáticos Sagrados Autos, Milagres, Mistérios, Moralidades e as Laudes Profanos Farsas, Interlúdio, Os Sermões Burlescos, As Sotties, Os Arremedilhos, Os Momos e Entremezes e os Trovadores Sagrados Auto O auto é um gênero escrito em forma de redondilhos (menor = versos de cinco sílabas e maior = sete). Em alguns autos temos uma finalidade satírica, ridicularizando pessoas a partir da moral e dos conteúdos religiosos. É uma denominação para variadas formas de espetáculos. Mistério (também chamados dramas litúrgicos ou jogos) Gênero que dramatizava os mistérios oriundos da mitologia cristã, tendo como fonte material a bíblia e a histórias dos santos. Em Portugal e Espanha eram conhecidas como Auto Sacramental. A sua estrutura era fragmentar, feito em formas de capítulos, podendo ser apresentados numa disposição em sequencia ou de modo simultâneo, outras vezes poderia ser apresentado um capítulo por dia. Com o passar do tempo foi sendo organizado de maneira cronológica. Ao longo do tempo sofre influências de outros gêneros e literaturas. Milagre Gênero que dramatizava a vida dos santos, das santas e da Virgem. Em algumas ocasiões faziam menção a personalidades da cidade. A estrutura era rígida por deliberação da igreja que não aceitava nenhuma introdução de elementos estranhos à narrativa oficial. Com o passar do tempo ficou ‘fora de moda’ e caiu no ostracismo, talvez devido à pouca maestria dos seus autores e da austeridade da igreja. Moralidade É um gênero que aparece em um momento mais tardio e que preserva certa ligação religiosa, mesmo sem ter como fonte material a bíblia. As moralidades são baseadas em personagens alegóricos (Esperança, Amor, Perdão, Morte, Fé, Pecado, Avareza, Luxúria etc.) que mostram um problema moral que precisa ser resolvido a partir do ponto de vista cristão. Tem como finalidade pedagógica apresentar, desenvolver e oferecer um ‘manual’ de comportamento a ser seguido pelo homem medievo.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

As Laudes Gênero de teatro religioso que nasce fora da igreja, sendo apresentado nas ruas, vielas e campos por onde o povo e os frades caminhavam. São procissões religiosas que recitam e narram partes dos Evangelhos (semelhante às atuais romarias e guarda semelhança com os ditirambos - porém com outro conteúdo). Com o passar do tempo ganhou uma encenação mais rica, com acompanhamento musical, caracterização dos personagens e uso de palco etc. Profanos Os Sermões burlescos São monólogos recitados por atores ou jograis mascarados com vestes sacerdotais e que subverte o tom solene. É uma espécie de paródia em que fica claro o tom de deboche, sarcasmo, farsa, de ridicularização e zombaria. As Sotties (de “sot” – parvo ou bobo) Popularmente são personagens que vestem os figurinos dos loucos ou dos tolos, dos bobos da corte, ou seja, o artista louco que poderia mostrar uma sabedoria especial. Atuavam tanto na corte quanto em feiras. É um gênero breve com boa base de humor e significado social. Interlúdio Uma espécie de sottie com caráter farsesco que era apresentado durante os banquetes da corte. Farsa Gênero cômico em que predomina o exagero, o equívoco e o quiproquó. Os personagens apresentam os defeitos e as fraquezas do seu caráter. A linguagem é grosseira. O maior objetivo é provocar o riso fácil, amplo e direto. Não se preocupa com sutilezas ou requintes. O roteiro tem ritmo ágil com muitas mudanças de situação. Os Arremedilhos Podemos imaginar por aproximação e herança cultural com os apresentadores de ruas, que normalmente atuam em dupla e abusa dos recursos farsescos, da música e de um texto simples recitado. Entre os recursos pode-se apontar

um tipo de brincadeira como o sombra que faz imitações burlescas dos transeuntes, muito comum na TV brasileira por meio das famosas pegadinhas. Os Momos e Entremezes Momo é uma máscara que personifica o escárnio e a reprovação. Os momos são ‘festas mascaradas’ que ganham o gosto da alta corte e também da população no final do período medieval. É fácil perceber a herança desse gênero no carnaval brasileiro e no mundial. A fonte material dessas mascaradas é de inspiração literária e do imaginário medieval, principalmente entre a luta do bem e o mal. Os textos serviam apenas de mote para um acontecimento, sendo bem curto. Os Trovadores Os trovadores são poetas e cantores que alegram as noites da corte com abordagem sobre vários temas, sendo o texto um elemento muito importante.

SAIBA MAIS É importante lembrar que além dessa diversidade há ainda a existência do circo e dos artistas populares, de rua, que perambulam pelo mundo. O circo se apresenta como um espetáculo de variedades com números de todas as espécies possíveis, como o palhaço, o equilibrista, o mágico, o domador de animais, o homem bomba, o trapezista, as acrobacias e as demonstrações de deformações físicas, a bailarina, o engolidor de espadas, ou seja, são números de habilidades.

Espaço cênico no teatro medieval Inicialmente o interior das igrejas é usado para realizar as primeiras manifestações cênicas: as antífonas, que são dispostas ao lado do altar (coro), ou na nave principal, transepto ou corredores da igreja. Com o aumento da estrutura cênica as peças deixam o interior e passam a ocupar as cercanias da igreja. A partir do momento da saída da igreja, o clero passa gradativamente a perder o controle sobre o processo criativo dos espetáculos. A população vai desenvolver, paralela e simultaneamente com a igreja, o teatro medieval. Surgem as cenas cômicas e jocosas, começam a ter palcos improvisados para as apresentações em fontes, ruas, varandas, praças, feiras, casas e todos os locais onde seja possível aglomerar público e cena. Posteriormente os palcos medievais começam a ter uma estrutura denominada de mansão, sendo um palco fixo e outro móvel. O palco fixo é uma espécie de tablado onde nor-

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B10  Teatro medieval

Pode-se entender esse gênero como uma tentativa de aplicar os conhecimentos sagrados, ao apresentar os vícios e as virtudes a partir de um olhar sobre a bondade e a maldade do ser humano. Diferente dos Mistérios e Milagres, que têm uma componente visual bem desenvolvida, as moralidades têm como ponto de sustentação o conteúdo emitido por meio das palavras. É um gênero que permitia a liberdade do poeta e por isso foi bastante utilizado ao longo do período medieval e serviu de referência para a criação do teatro renascentista.


Artes

malmente ficava o cenário que identifica o ambiente onde ocorre a cena, por exemplo: céu, inferno, purgatório, tribunal etc. Às vezes a parte móvel levava os atores de uma mansão à outra, às vezes era o próprio público que se locomovia. As carroças, ou plataformas sobre rodas, eram responsáveis pela mobilidade e serviam também de suporte para a cenografia, muitas vezes decoradas como as mansões. Devido a esse aspecto estrutural do espaço cênico e cenográfico o teatro medieval permitiu a simultaneidade de cenas. Além da simultaneidade, as cenas também passam a ter um caráter repetível: ela era apresentada em um local, depois era transportada para outro local onde era novamente apresentada, numa sequência de várias representações das cenas em um mesmo dia.

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Esses aspectos são os pontos mais originais desse período. Isso permitia várias possibilidades para a estruturação dramática. Entre os recursos dramáticos utilizados, existia a Jornada, que constituía em um espetáculo constituído em partes separadas uma das outras, por um período de vinte e quatro horas.


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Há ainda o uso de alçapões que permitem aparições e desaparições dos personagens. Em síntese, no período medieval, pode-se dizer que tivemos grande evolução dos elementos da encenação, principalmente com relação ao uso de espaços cênicos e cenográficos, cenários, figurinos, adereços, maquiagem e efeitos especiais.

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Artes

Exercícios de Fixação Texto comum às questões 01 a 03 O desenvolvimento do palco processional e do palco sobre carros deu-se de maneira independente da literatura

A cultura medieval fortaleceu a expressão popular, visto que a técnica era um misto das inúmeras formas de relacionamento com o público.

dramática. Sua natureza móvel oferecia duas possibilida-

Assim esse termo genérico sugere que

des: os espectadores podiam movimentar-se de um lo-

a) boa parte da prática artística acontecia no local onde se

cal de ação para outro, assistindo à sequencia das cenas à medida que alteravam a própria posição; ou então as próprias cenas, montadas em cenários sobre os carros, eram levadas pelas ruas e representadas em estações predeterminadas.

concentrava as pessoas . b) o ambiente das feiras era terreno árido para as experimentações artísticas. c) o oficio do artista de rua contava com uma linguagem rebuscada e original.

Margot Berthold. História Mundial do Teatro p. 209.

d) os praticantes tinham grande capacidade intelectual e

A partir da leitura do texto determine os itens abaixo como

e) qualquer forma de expressão artística era enquadrada

CERTO ou ERRADO.

01. C; 02. C; 03. E.

sensível para a criação. como atração popular.

01. O espectador poderia assistir ao espetáculo de diversas for-

05. Vinte pessoas carregavam a Virgem Maria com o Nosso

mas: do início para o fim; do final para o início, a mesma

Senhor Jesus, na mais suntuosa elegância em honra de

cena repetidas vezes ou ainda de modo aleatório.

deus. E nessa procissão houve muitas coisas agradáveis, e esplendidamente concebidas. Dela participavam muitos

02. Em algumas montagens a movimentação da plateia não era

carros, representavam-se obras sobre barcos e outros ba-

controlada pelo espetáculo e as cenas eram repetidas na

luartes. Entre eles ia a hoste dos profetas em ordem cro-

mesma quantidade de mansões existentes no espetáculo.

nológica, e, depois dela, o Novo Testamento, como por exemplo na saudação do Anjo, e os Três Reis Magos caval-

03. A principal característica do palco medieval é o elemento

gando grandes camelos e outros estranhos e miraculosos

cenográfico deus-ex-machine que possibilitou a entrada e

animais profusamente adornados, e também a fuga de

saída de atores através de alçapões. Este elemento ainda

Nossa Senhora para o Egito, em atitude muito devota; e

amplia o palco e possibilita o uso de três níveis de piso.

muitas outras coisas aqui omitidas por falta de espaço. Margo Berthold, História Mundial do Teatro, p. 211

04. O saltimbanco era um artista popular que, nas praças públicas, quase sempre em cima de um tablado, fazia demonstrações de habilidades físicas, de acrobacias, de teatro improvisado, antes de vender ao público objetos variados, pomadas ou medicamentos. Saltimbanco é o termo genérico para malabarista, pelotequeiro, embusteiro, charlatão, farsante, pregoeiro, arrancaNa idade média, os saltimbancos se reuniam nos lugares de passagem mais frequentados: Pont-Neuf, em Paris, Praça de São Marcos, em Veneza. São os representantes de um teatro não literário, popular e assumidamente satírico ou

B10  Teatro medieval

quias da Europa. A Igreja utilizava o teatro para a) estimular o espectador a conhecer e apreciar as artes cênicas e espetaculares. b) fortalecer a fé e a convicção dos fiéis através de eventos artístico-religiosos. c) ilustrar como deveria ser o comportamento humano du-

-dentes, paradista.

político. O espetáculo é gratuito e é ponto de encontro das classes populares, mas também, às vezes, de aristocratas que não se furtavam a se misturar ao populacho. PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. p. 349.

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As procissões eram recorrentes na maior parte das paró-

rante os festejos. d) provocar através da representação da Paixão de Cristo o medo dos seguidores. e) reproduzir a mitologia cristã e difundir os costumes do alto clero.


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Exercícios Complementares

No teatro medieval, a dimensão sagrada e deliberadamente edificante suscitou um modo de interpretação extrovertida: ele visa a um patético facilmente “praticável” (os atores não são, em regra geral, profissionais) e acessível (o público abarca todas as esferas da sociedade). Pouco a pouco se define uma tradição, constitui-se um conjunto de regras, relativas à dicção e à mímica, de uma extrema precisão. Este esquema assegura uma integração rápida e eficaz do ator à representação ao mesmo tempo em que garante a legibilidade da interpretação. A representação medieval se baseia em um sistema de códigos onde se exclui todo empenho de caracterização original ou de encarnação pessoal. Os sentimentos e as paixões requerem uma expressão convencional facilmente decifrável. Jean-Jacques Roubine. A Arte do Ator, p.70.

A partir da leitura do texto determine os itens abaixo como CERTO ou ERRADO. 01. C; 02. E; 03. E; 04. E; 05. C; 06. E; 07. C; 08. E; 09. E; 10. E; 11. C;

01. Durante esse período a Igreja utilizou o teatro como ferramenta de promoção da mitologia e fé cristã. 02. No teatro medieval, a estética utilizada foi paulatinamente sendo codificada e aperfeiçoada através da crescente investigação sobre a psicologia da personagem. 03. As principais introduções que a Igreja proporcionou e patrocinou foi a reintrodução da linguagem profana no gênero sagrado. 04. Nas montagens dos autos da Paixão de Cristo, Deus fulmina o Anticristo com um raio. Pode-se afirmar que essa imagem é uma apropriação do Deus grego Zeus. 05. Com relação ao tipo de palco utilizado neste período pode-se afirmar que o uso de carros e palcos fixos possibilitou o surgimento da literatura dramática simultânea. 06. A encarnação dos personagens era uma técnica exigida aos atores medievais. Neste período surgiu o primeiro método de trabalho de ator. 07. Quando a rua passou a ser o espaço teatral medieval começou a existir uma maior preocupação com a dicção e o gestual dos atores. Texto comum às questões 08 a 10 O teatro da Idade Média é tão colorido, variado e cheio de vida e contrastes quanto os séculos que acompanha. Dialoga com Deus e o diabo, apoia seu paraíso sobre quatro singelos pilares e move todo o universo com um simples molinete. Carrega a herança da Antiguidades na bagagem como viático, tem o mimo como companheiro e traz nos pés um rebrilho de ouro bizantino. Provocou e ignorou as proibições da Igreja e atingiu seu esplendor sob os arcos abobadados dessa mesma Igreja. Margot Berthold em História Mundial do Teatro

A partir da leitura do texto determine os itens a seguir como CERTO ou ERRADO. 08. O problema artístico do teatro medieval foi o conflito entre Deus e os Homens, que jamais se submeteram a vontade divina. 09. As formas do Teatro Medieval eram simples e sem nenhuma exuberância sendo pobre em efeitos cenográficos. 10. A história da representação religiosa é a de uma regressiva e paupérrima dramatização teatral. Sejamos “tolerantes”: façamos silêncio!!! A intolerância dos “tolerantes” já foi tema de coluna minha, e julgo esse um dos assuntos culturais mais relevantes de nossos tempos. Por trás da máscara do politicamente correto, uma patota fascista tenta impor sua visão estreita de mundo, em que o humor não mais existe ou, se existe, precisa se adaptar aos ditames dos “oprimidos”, para enaltecer sempre a narrativa de vitimização das “minorias”. Professores sofrem bastante com isso. O livro A marca humana, do grande escritor americano Philip Roth, transformado em filme com Anthony Hopkins, mostra como o uso de uma simples expressão ambígua pode desencadear uma série de mal-entendidos que culminam em uma desgraça. A ficção se tornou realidade, e vários professores temem hoje sofrer retaliação pelo simples uso de um termo que pode ser retirado do contexto pelos “fascistas do bem”. Na Folha, hoje, foi publicado um artigo de dois professores que contam exatamente suas experiências bizarras em sala de aula, vítimas da patrulha politicamente correta. Dizem eles: Nós, professores de ensino médio e pré-vestibular, temos sido, em sala, alvos das mais pesadas acusações. Imbuídos de uma espécie de “neofundamentalismo politicamente correto”, alguns alunos retiram nossas observações de contexto e as usam como combustível para justificar sua intransigência, que cresce a cada dia em progressão geométrica de razão infinita. Claro, atitudes machistas, homofóbicas e afins devem ser combatidas. Mas, em torno dessa causa justa, surgiram patrulhas ideológicas, sempre atentas a toda possível ação preconceituosa. O olhar do crítico está tão viciado que busca preconceito, avidamente, onde não há. Rodrigo Constantino. http://rodrigoconstantino.com/artigos/a-patrulha-politicamente-correta-e-muito-intolerante/acesso em 28/mar/2017

A partir do texto acima, coloque Certo ou Errado no item abaixo. 11. A comédia é certamente um gênero bastante popular entre os brasileiros, no entanto, há de se notar que quase sempre o tipo de comédia que prevalece é aquele que reafirma o establishment. Qualquer tipo de humor que retire algum poderoso da sua zona de conforto pode, potencialmente, gerar um conflito.

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B10  Teatro medieval

Texto comum às questões 01 a 07


FRENTE

C


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ARTES Por falar nisso A partir do surgimento dos concertos públicos e do mecenato burguês, deu-se início a um novo ciclo na música ocidental. Óperas grandiosas, concertos e sinfonias foram, gradativamente, substituindo os valores mais antigos, religiosos, consagrados nas missas, nos oratórios e nas cantatas. A popularização da música de concerto também resultou em uma linguagem mais simples e clara, significando a acessibilidade das novas (e muitas vezes ainda incultas) plateias. Com isso, expandiram-se os horizontes dos compositores, não mais exclusivamente amparados pela nobreza e pelo clero. Vamos mergulhar nesse universo da música de concerto e da ópera? Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

C09 História da música: barroco...................................................................266 C10 História da música: classicismo..................................................... 279


FRENTE

C

ARTES

MÓDULO C09

nn História da música: barroco nn A música do período barroco (1600-1750) nn A ópera barroca nn Música instrumental nn Principais gêneros instrumentais barrocos nn Os principais compositores barrocos

HISTÓRIA DA MÚSICA: BARROCO A música do período barroco (1600-1750) O termo barroco provém de pérola irregular, deformada ou imperfeita. A palavra foi, entretanto, usada para caracterizar a arte do período compreendido entre o início do século XVII e meados do século XVIII em virtude da complexidade, rebuscamento e excesso de ornamentação que caracterizou grande parte da produção artística dessa época. Podemos dizer que o Barroco foi principalmente concentrado na expressão das emoções, muitas vezes religiosas. O epicentro dessa estética se deu na Itália pelo fato de sediar a Igreja Católica e em parte devido a questões econômicas que favoreceram nesse país o patrocínio da produção artística. No aspecto religioso, o conflito advindo da Reforma Protestante e a consequente Contrarreforma teve um impacto considerável nas artes. Isso significa que houve uma continuidade, e até mesmo um amadurecimento, na arte sacra. No plano da música, mais especificamente, pode-se dizer que, após o Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, inicia-se um processo de simplificação na música. Os católicos, a partir desse concílio, concluíram que a música sacra, após um longo período de desenvolvimento técnico que resultou principalmente na polifonia, deveria estabelecer uma comunicação mais direta com os fiéis. Por outro lado, na música secular, criada sem o propósito religioso, caminhava-se também para um “enxugamento” na textura musical. Isso, para o leitor mais atento, pode constituir uma contradição em relação às características mais gerais da estética barroca colocadas no início deste texto. De fato, o Barroco, na música, é um período de transição entre uma linguagem musical polifônica e complexa, pouco voltada para a expressividade, e uma busca por maior clareza e emotividade. Essa é uma linha tênue em que a maioria dos compositores desse período oscilou. Um estilo surgido no final do Renascimento, e que se desenvolveu nos séculos XVII e XVIII, pode explicar melhor a essência da estética musical barroca: a ópera.

Figura 01 - Estátua de Johann Sebastian Bach na frente da igreja de São Tomás, em Leipzig, na Alemanha.

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ASSUNTOS ABORDADOS


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A ópera barroca

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Embora a religiosidade fosse um aspecto ainda bastante central na vida social da Europa em 1600, foi na música secular (realizada fora do contexto religioso) que as transformações sociais (ascensão da burguesia, desenvolvimento da visão racional do mundo, crescimento das estruturas capitalistas) tiveram influências mais determinantes nas transformações musicais. E foi na ópera que, além de representar uma síntese dos aspectos citados, a relação entre música e palavra, uma das instâncias fundamentais da história da música, assumiu grande importância. Para entender tudo isso, devemos Figura 02 - Apresentação da Ópera “Atys”, de Jean Baptiste Lully (1632-1687). voltar à Florença, na Itália, no final do século XVI. Capitaneados por Giovanni de Bardi, o Conde de Vernio, um grupo de humanistas, poetas, intelectuais e músicos buscou na antiguidade clássica um referencial novo para a arte renascentista – sim, isso foi ainda no Renascimento. Basicamente, na questão musical, eles criticavam a polifonia por entender que não era possível, em um emaranhado de melodias polifônicas, traduzir musicalmente as ideias e sentimentos presentes em um texto cantado. Devemos lembrar que era muito comum no século XVI a composição a mais de quatro vozes e, muitas vezes, cada uma delas apresentava uma letra diferente. Evidentemente, a expressão emotiva do sentido do texto não era o objetivo de uma composição polifônica.

Figura 03 - Músicos na corte dos Medici, de Antonio Domenico Gabbiani (1652-1726).

C09  História da música: Barroco

A essência do pensamento musical da Camerata Fiorentina, denominação pela qual esses artistas e pensadores ficaram conhecidos, residia na pesquisa das possibilidades de interação entre a linguagem verbal e musical. Para eles, a palavra tinha um papel primordial na música cantada e não era, de maneira alguma, algo secundário, coadjuvante. O canto era, desse modo, em comparação com outras modalidades como a música instrumental, um tipo superior de música. Isso é explicado porque, a exemplo de outros artistas do Renascimento, o grupo foi buscar na Grécia Antiga o referencial para a criação artística. Mais precisamente, sua fonte de inspiração foi o teatro grego. Por meio do estudo de textos antigos, descobriram que, nele, a música desempenhava um papel crucial. A hipótese mais aceita pelo grupo era que o coro funcionava como narrador nas peças e não apenas declamava, mas cantava o texto. Portanto, o elemento 267


Artes

melódico seria decisivo para a construção dramática e para a compreensão da obra. Havia ainda quem defendesse que as peças gregas eram todas musicadas e que o texto era, assim, todo cantado. Isso sugeria que o teatro grego seria uma forma antiga da ópera. Esses foram, portanto, os ingredientes para que se forjasse um novo tipo de textura musical, mas simples e adaptado à demanda por expressividade: a monodia. Antes de mais nada, monodia não é o mesmo que monofonia, que é uma estrutura de uma só melodia ou uníssono. Em oposição aos estilos vocais polifônicos do século XVI como o moteto e o madrigal, esse novo estilo de canção consistia em uma estrutura em que uma única linha melódica era acompanhada por acordes, normalmente tocados por instrumento de teclado ou alaúde. Além disso, na monodia, o canto era baseado no ritmo natural da fala, de modo que o texto era preconizado em detrimento da música, que deveria simplesmente expressar e assinalar o significado das palavras. A ideia de que a música é capaz de interferir na psiqué e na emoção do ouvinte não surgiu no Barroco nem no Renascimento. Ela é bem mais antiga. A exemplo de muitas influências nas artes e ciências dos séculos XVI a XVIII, essa foi outra que veio dos gregos. No século XVII, ela foi formalizada como a doutrina dos afetos musicais, teoria segundo a qual determinadas estruturas musicais conduzem, involuntariamente, o ouvinte para determinados estados mentais. Isso teve profundas implicações na ópera barroca, pois, uma vez capaz de comunicar um sentido definido, a música passou a ser considerada capaz de interferir ativamente no desenvolvimento dramático. Ópera e seus principais conceitos

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Figura 04 - Florença, maior cidade da Toscana e berço do pensamento musical que mais influenciou a música barroca: a camerata fiorentina.

Ópera é um tipo de obra artística híbrida em que, pelo menos duas formas de arte encontram-se integradas: música e teatro. Ela é, portanto, música encenada. Normalmente há cenário, figurino, maquiagem, iluminação, interpretação dramática e todos os demais elementos de uma peça de teatro. Porém, via de regra, a ópera não é encenada por atores. Uma vez que nela o texto deve ser, prioritariamente, cantado, a interpretação cabe aos cantores, entre solistas e coristas, e músicos acompanhantes, reunidos em uma orquestra. Portanto, além da obra dramática, propriamente dita, chamada na ópera especificamente de libreto, há ainda a interpretação de uma partitura musical. O libreto, que deriva da palavra italiana libretto (que significa literalmente livrinho), é uma espécie de texto teatral especialmente concebido para ser transformado em ópera, ou seja, é criado para ser musicado. Para tanto é normalmente escrito em versos, e estabelece, a partir da métrica e organização poéticas, muito da estrutura rítmica, melódica e estrutural da obra como um todo. Uma vez que o mais comum é o compositor partir do texto pronto, o libreto deve apresentar a estrutura da ópera, que é dividida em árias, recitativos e coros.

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Semelhantes a canções, as árias, embora não constituam uma modalidade de composição exclusiva das óperas (podem ser compostas como peças avulsas ou como parte de oratórios e cantatas), tornaram-se, ao longo do tempo, os trechos mais apreciados das óperas. São muitas vezes cantadas como solos, mas podem ser cantadas em duetos, trios, quartetos ou combinações maiores. A grande diferença em relação aos recitativos é que, nas árias, o desenvolvimento musical, melódico é tão ou mais importante que o enredo ou o texto em si. Nos recitativos, a ênfase é dada à palavra, tanto no ritmo e pronúncia naturais da fala (heranças da monodia) como na relevância da melodia e do acompanhamento, Figura 05 - Trecho do libreto da ópera romântica “Ernani”, de Giuseppe Verdi (1813-1901). Embora seja uma secundários neste caso. Se nos lem- ópera já do século XIX, serve-nos perfeitamente para entender o papel do libreto. brarmos dos musicais atuais, que são apenas versões mais contemporâneas da mesma evolução do teatro musical, podemos trazer uma comparação para entender melhor. As árias seriam, nos musicais de hoje, as canções interpretadas (e, muitas vezes, também dançadas) pelos personagens. Os recitativos seriam os diálogos, que são normalmente simplesmente falados nos dramas musicais contemporâneos, mas que, nas óperas, são cantados em uma espécie de canto falado – embora recitativos exclusivamente falados pelos personagens tenham sido bastante comuns nas óperas a partir do século XIX. Os coros, herança do teatro grego, funcionam, muitas vezes, como narradores da história e não são usados em todas as óperas, embora bastante comuns na maioria delas.

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Carlos Broschi (1705-1782), mais conhecido como Farinelli, foi o mais famoso castrato da história.

O castramento como punição, forma de escravização e controle foi uma prática anciã, que remonta aos antigos sumérios. Como procedimento que ambicionava à prática musical vocal é provavelmente muito mais recente e está melhor registrado na Itália no século XVI. Uma vez que a Igreja, instituição que absorvia quase exclusivamente os músicos profissionais naquela época, não permitia o canto feminino na prática litúrgica, tornou-se comum a castração de meninos impúberes a fim de que mantivessem o registro agudo mesmo quando adultos. Fora do ambiente religioso, nas óperas do século XVII, foi comum papéis protagonistas serem encenados por castrati (plural de castrato, que significa castrado em italiano). Com a expansão das sociedades laicas na Europa ao longo dos séculos XVIII e XIX, a prática caiu em desuso. Mesmo assim, o último castrato faleceu em pleno século XX, em 1922.

C09  História da música: Barroco

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SAIBA MAIS

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Artes

Baixo

Barítono

dó central

Tenor

dó central

Contralto

dó central

Mezzo-Soprano

dó central

Soprano

dó central

Podemos dizer que a ópera surgiu no Renascimento, mas foi o Barroco Figura 06 - Classificação das vozes masculinas e femininas de acordo com a extensão vocal. que assumiu os padrões até hoje a ela associados. Dentre vários fatores que contribuíram para isso, podemos destacar o surgimento dos concertos púbicos. Consequência do ímpeto empreendedor burguês, as apresentações musicais pagas foram uma grande novidade dos anos 1700. Antes disso, a música não religiosa se resumia ao ambiente privado das residências dos nobres e às práticas populares, folclóricas. Dessa forma, ao organizar recitais abertos a quem pagasse o valor do ingresso, os burgueses reivindicavam ao mesmo tempo dois direitos: primeiro, o direito ao acesso à música altamente elaborada dos grandes compositores; segundo, o direito de poder ganhar dinheiro intermediando público, músico, compositores e, em algumas situações, os donos das casas de espetáculos. Surgiu, assim, no final do período Barroco, a concepção de concerto tal como ainda conhecemos hoje no campo da música erudita: uma situação ideal em que o compositor compõe para que o ouvinte aprecie a obra na sua totalidade em um ambiente concentrado e silencioso. Com a enorme diferença que, naquela época, não havia nenhuma outra forma de registro musical que não fosse exclusivamente visual: a partitura. Ouvir música, só ao vivo: ou se tocava ou se assistia alguém tocar. Isso quer dizer que o Barroco foi o primeiro momento em que o grande público pôde ter acesso à música requintada, sofisticada. Todavia, o papel da ópera na sociedade europeia do século XVII, pode ser comparada em alcance e propósito estético às novelas no Brasil de hoje: ambas podem ter grande qualidade artística, embora a rentabilidade seja o principal objetivo de quem as financia. dó central

C09  História da música: Barroco

A divisão das vozes é outro aspecto importante nas óperas, pois os papéis são em geral organizados pelo critério vocal. A classificação mais utilizada se dá pelo alcance vocal, isto é, o intervalo entre a nota mais grave e a mais aguda que o cantor consegue executar com naturalidade. As vozes masculinas são assim divididas, do grave para o agudo, em baixo, barítono, tenor e contra tenor. Esta última categoria se enquadra na tessitura vocal feminina e era em geral reservada aos castrati, cantores castrados de voz surpreendentemente flexível e de alcance agudo. As vozes femininas, por sua vez, dividem-se em contraltos, mezzo-sopranos e sopranos, a classe mais aguda. Portanto, um determinado personagem já tem sua tipologia vocal definida na própria partitura do compositor. Com isso, infelizmente, um tenor não poderá interpretar um papel reservado a um baixo ou, ainda, uma contralto não poderá interpretar a personagem de uma soprano.

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L’Orfeo, de Claudio Monteverdi Baseada na lenda grega de Orfeu, a obra homônima de Claudio Monteverdi pode ser considerada uma das primeiras óperas barrocas, pois foi escrita em 1607 e teve sua partitura publicada em 1609. Ao observar a imagem acima, notamos que os músicos estão visíveis e apenas um pouco mais baixos que os cantores. Isso desaparece a partir do século XVIII, quando os músicos e o regente passam a ficar ocultos no fosso da orquestra. Mas não são apenas essas as diferenças. Além de lançar mão da polifonia, Monteverdi incluiu a improvisação em trechos de sua obra, que era, naquela época, bastante comum tanto na música escrita como na música popular. A instrumentação inclui alguns instrumentos atualmente praticamente desconhecidos pela maioria das pessoas como o instrumento de cordas beliscadas Teorba, o aerofone de teclado Regal, ou ainda alguns que, embora populares hoje, não mais são usados em grandes orquestras como a flauta-doce. A ópera bufa

Figura 08 - La Serva Padrona, intermezzo cômico de Giovanni Battista Pergolesi (1710 –1736)

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C09  História da música: Barroco

Figura 07 - Encenação de L’Orfeo, de Claudio Monteverdi

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Em oposição à ópera séria, constituída normalmente de três atos (e de temática heroica, mitológica), a ópera bufa ou cômica (em italiano: buffa) apresentava uma estrutura mais simples, de dois atos. Seu surgimento se deu no início do século XVIII graças a duas heranças. Primeira, a commedia dell’arte, estilo de teatro de rua, cômico e improvisado, surgido no século XVI. Segunda, a tradição dos interlúdios (intermezzi, em italiano), que eram intervenções dramático-musicais, de caráter geralmente cômico, em meio a óperas ou peças de teatro. O crescimento da ópera como gênero popularizado na Europa a partir do século XVIII muito se deveu à facilidade com que as óperas cômicas se tornavam conhecidas e lembradas não apenas por nobres e burgueses, mas também pela população iletrada e menos abastada. A partir do Classicismo, poucos foram os grandes compositores que não se tornaram célebres com pelo menos uma ópera bufa. Esse é o caso de W. A. Mozart (1756-1791) com a sua famosa “As bodas de Fígaro”, de 1786.


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O oratório Desde o teatro grego antigo, a lenta evolução da interação entre drama e música deu origem a variados estilos. Além da ópera, variedade de música secular, é importante destacar o oratório, espécie de ópera religiosa sem encenação. Semelhante à ópera, apresenta coro, orquestra, solistas, personagens; cantam-se árias e recitativos. Mas, como regra, não há o elemento cênico. Isso ocorreu, principalmente, pelo fato de que a tradição dos oratórios se desenvolveu, sobretudo, nas Igrejas. Por outro lado, o sucesso dos oratórios a partir do século XVII foi, em parte, consequência da popularidade da ópera, que se tornou a principal forma de entretenimento na Europa desde o século XVII ao XIX. Alguns autores dizem, inclusive, que a proibição das apresentações de óperas durante o período da quaresma, na Itália, funcionou como um estímulo para que os fiéis passassem a valorizar Figura 09 - Apresentação do Oratório Messias, de G.F.Handel as óperas religiosas, isto é, os oratórios. Estes nunca foram, entretanto, integrantes da liturgia, tanto no protestantismo quanto no catolicismo, e podiam ser encenados dentro ou fora da igreja ou, até mesmo, em salas de ópera.

SAIBA MAIS AS CANTATAS

C09  História da música: Barroco

Figura 10 - Apresentação de uma Cantata de J. S. Bach.

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Diferente do oratório, que se pode considerar uma modalidade da música sacra, a cantata é um tipo mais amplo de música vocal, que não se desenvolveu exclusivamente nas igrejas e que, portanto, pode ser sacro ou secular. O termo cantata deriva do verbo cantare do italiano e, ao lado da sonata (forma musical em que, no período Barroco, ficou centrada na música instrumental) definem as tradições mais importantes da música de câmara barroca. Outra diferença da cantata em relação ao oratório é que a primeira não, necessariamente, requer uma história, um enredo. Ela é também mais aberta nesse sentido. Tanto um pequeno poema pode dar origem a uma cantata como um libreto propriamente dito. Contudo, foram as cantatas religiosas que mais marcaram o Barroco. Sobretudo aquelas compostas por Johann Sebastian Bach (1685-1750) quando este foi diretor musical da Igreja Protestante em Leipzig na Alemanha, de 1723 até a sua morte, em 1750. Durante esse período, Bach regeu, todos os domingos, uma cantata, sua ou de outro compositor. De sua autoria resultaram mais de duzentas.


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Música instrumental

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Até o século XVI, música instrumental e música vocal não eram conceitos bem separados. Eles se confundiam continuamente, pois não havia o hábito, naquela época, de se indicar, nas partituras, se a música deveria ser cantada ou tocada por instrumentos. Era, portanto, muito comum ouvir instrumentistas e cantores tocando, juntos, as mesmas notas. Se a música fosse a quatro vozes, poderia ser tocada por quatro grupos de cantores ou instrumentistas ou uma combinação desses. Pensar a música para um determinado instrumento ou para formações específicas foi uma novidade, que surgiu no Barroco, no século XVII, quando os principais instrumentos musicais eram o órgão, o cravo e o violino, sendo o primeiro destes de uso prioritariamente religioso. Pode-se dizer que foi no Barroco que, pela primeira vez, a música instrumental passou a ser produzida em pé de igualdade com a música vocal, que, principalmente devido ao papel exercido na religião, havia sido, até aquele momento a prática musical preponderante. E um detalhe importante deve ser lembrado. Diferente da música cantada, que se expressava também pelas palavras e muitas vezes tinha uma função social, a música instrumental era feita apenas para ser ouvida, apreciada como arte. Surge assim o conceito de uma obra de arte musical em si, que se expressa (e se basta) apenas por sons Por outro lado, os compositores, que estavam até então vinculados prioritariamente à Igreja, passaram, cada vez mais, a ser patrocinados por mecenas. Isso deu um razoável impulso à produção musical de câmara, isto é, para pequenas e médias formações. Concebidas para tocar em pequenos espaços (as residências dos nobres ou burgueses abastados) os grupos de câmara foram bastante comuns e produziram, pelo menos, dois resultados: uma variedade de estilos de música instrumental e uma rica tradição de improvisação. A partir dessa época, os instrumentos de teclado passaram a exercer um Figura 11 - Órgão italiano do século dezoito. Universidade papel cada vez mais relevante. Principalmente em virtude da importância Rochester, Nova Iorque. que a improvisação tinha na música instrumental desde o século XVI. O talento musical de um instrumentista era avaliado principalmente pelas suas habilidades como improvisador. Os grandes compositores, a partir do Barroco, eram normalmente solistas de seus instrumentos. E nada mais adequado para esses artistas do que o emprego de instrumentos de teclado que, permitem ao músico, a execução de diferentes melodias ou acordes simultaneamente. Enquanto o órgão era o instrumento religioso por excelência, o cravo, instrumento de teclado de cordas beliscadas, foi gradativamente se firmando como o instrumento preferido dos compositores e também como instrumento central na maioria dos grupos de câmara.

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A ornamentação é outro aspecto importante da música barroca. Semelhante ao que aconteceu durante a mesma época no campo das artes visuais, a ornamentação conferiu grande complexidade na música barroca e exigia, por conseguinte, virtuosismo dos executantes. Como será repetido mais abaixo, no Barroco, geralmente não se escrevia nas partituras tudo de forma detalhada. Muita coisa dependia do conhecimento, da habilidade e, até mesmo, da vontade do intérprete. Por isso, a ornamentação era responsabilidade do executante e era raro quando o compositor se incumbia da notação desses detalhes. Como esse era um domínio de tradição oral, não formalizada, a maneira de se ornar as melodias variava muito de região para região. Obviamente, a ornamentação variou também muito dependendo da época e do estilo da obra musical. Mas, de maneira geral, pode-se dizer que, no Barroco, a ornamentação, em termos de complexidade, atingiu o seu apogeu. 273


Artes

Além da improvisação e da ornamentação, outra característica importante da música instrumental barroca foi o baixo contínuo. Como uma das características desse período era a improvisação, havia o costume de não se registrar, nas partituras, tudo que deveria soar em uma peça. Uma parte se escrevia; outra, presumia-se que, pelo conhecimento das regras e pelo virtuosismo e técnica, o intérprete saberia complementar, tornando a obra mais rica e bela. Esse era o caso da ornamentação, da improvisação propriamente dita e do acompanhamento, conceito que se desenvolveu muito ao longo dos séculos XVII e XVIII. A partir de 1700, torna-se fácil identificar, na maioria das músicas, o que é a melodia principal e o que é acompanhamento, isto é, acordes ou melodias que tem a função de realçar e embelezar a primeira. O baixo contínuo consistia, portanto, em uma técnica de acompanhamento por meio da condução de uma melodia baixa (grave), previamente composta ou improvisada, que deveria estar apoiada na harmonia (acordes) escrita. Era tocado em geral pelo cravo ou pelo órgão ou, ainda, por um grupo de instrumentos em que se incluía, pelo menos, algum instrumento capaz de tocar acordes como o cravo, o órgão, o alaúde, a teorba ou a harpa, podendo incluir instrumentos melódicos graves como violoncelo (o mais comum), o contrabaixo ou o fagote.

Principais gêneros instrumentais barrocos A suíte barroca de danças Suíte, em um sentido geral, significa um conjunto de peças instrumentais reunidas a partir de algum critério. A partir do final do século XVII, era comum a composição de suítes de danças, compostas na mesma tonalidade e organizadas em quatro movimentos, ou seja, em quatro diferentes danças, sempre na seguinte ordem: allemande, courante, sarabande e gigue. Essa foi uma forma que se desenvolveu particularmente na França para o divertimento das cortes e da nobreza. Isso demonstra como, no Barroco, as artes transitavam gradativamente da função religiosa para o mero entretenimento.

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Concerto Grosso

Figura 12 - Le Concert (1635), óleo de Nicolas Tournier.

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Atualmente, no contexto da música erudita, a palavra concerto é normalmente compreendida como uma peça orquestral para solista. Apesar de, ao longo da história da música, esse conceito ter tido uma série de outros significados, essa concepção de contraste entre dois grupos instrumentais começou com o concerto grosso. A ideia era contrapor um diálogo instrumental entre dois grupos: um pequeno grupo solista, chamado de concertino, composto geralmente de dois violinos e um violoncelo (acrescido muitas vezes de uma viola, constituindo assim a atual formação de quarteto de cordas) e uma orquestra. Esses concertos eram organizados em três movimentos (rápido, lento rápido) e foram mais tarde substituídos pelo concerto solista e pela sinfonia.


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A Fuga

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Certamente uma das formas musicais mais engenhosas e complexas já concebidas, a fuga já era conhecida e praticada desde a Idade Média, mas foi a partir do período Barroco que se popularizou e foi incorporada a várias práticas de composição. Em música, a palavra fuga significou, historicamente, uma grande diversidade de formas musicais em que ocorria contraponto imitativo, isto é, melodias polifônicas em que as vozes vão se imitando sucessivamente. De certo modo, a fuga desenvolve a ideia do cânone, em que é tecida uma polifonia a várias vozes a partir de uma única melodia defasada. Ela, entretanto, eleva a mera imitação a um patamar de complexidade bem mais elevado, pois, simultaneamente, ocorrem cânones e variações das melodias destes. O compositor que mais eternizou a fuga, como também contribuiu para a mitificação dessa forma musical foi Johann Sebastian Bach (1685-1750) que escreveu a célebre Arte da Fuga, sua derradeira (e inacabada) obra. Alguns colocam a fuga como o auge da música instrumental ocidental. Outros a consideram fria e matemática por sua demasiada complexidade. O fato é que, quando trabalhada pelo talento dos grandes gênios da música, essa foi uma das maiores expressões artísticas em que coexistem engenhosidade racional e senso de proporcionalidade e equilíbrio estético.

Cada época tem seus mestres, aqueles cujo amplo talento e intuição conseguem abranger com rara beleza as mais importantes práticas, além de captarem a essência do estilo de seu período e condensar com pessoalidade em suas obras. E o Barroco teve grandes mestres na música. Como nosso propósito aqui não é o mapeamento completo, mas apenas a visão geral, citaremos, na ordem cronológica de nascimento apenas os mais importantes para o desenvolvimento da linguagem musical barroca. Claudio Giovanni Antonio Monteverdi (1567-1643) Compositor italiano nascido em Cremona, na Lombardia. Compôs principalmente óperas, madrigais e obras sacras. Das dezoito óperas compostas por ele, a mais relevante foi “L’Orfeo” (1607), uma das primeiras óperas da história e, por isso, muito citada e executada até hoje.

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Os principais compositores barrocos

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Figura 13 - Glenn Gould (1932-1982), pianista canadense, que se notabilizou pela maneira criativa e inovadora de interpretar as peças mais complexas e polifônicas do repertório barroco, como as fugas de J. S. Bach.


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Jean-Baptiste Lully (1632 –1687) Nascido Giovanni Battista Lulli na cidade de Florença, na Toscana, tornou-se cidadão francês a partir de 1661. Considerado o grande mestre do estilo barroco francês, dedicou-se a servir o rei Luiz XIV e sua corte o que fez compondo numerosas óperas, ballets, música incidental para teatro e música sacra. Lully referia-se a suas óperas como “tragédias em música”, o que se explica pela presença constante da mitologia e teatro gregos no seu repertório operístico. Arcangelo Corelli (1653–1713) Italiano de Romagna, Corelli basicamente compôs música instrumental: trios sonatas e concertos grossos. Seu sucesso como compositor no final do século XVII demonstra dois aspectos importantes da música barroca. Primeiro: a supremacia dos compositores italianos. Segundo: a crescente valorização da música instrumental. Alessandro Scarlatti (1660–1725) Natural de Palermo, Sicília, Scarlatti foi outro grande compositor barroco italiano. Sua obra representa a transição para o estilo clássico e, a exemplo dos outros compositores que o antecederam (com exceção de Corelli), dedicou-se, sobretudo, à ópera. Henry Purcell (1659-1695) Inglês de Westminster, foi, ao lado de Edward Elgar e G. F. Handel, um dos mais importantes compositores ingleses. Apesar das influências francesas e italianas, seu repertório definiu muito do que mais tarde veio a ser conhecido como estilo inglês. Antonio Lucio Vivaldi (1678–1741) Padre católico e violinista virtuoso, Vivaldi era natural de Veneza e confirmou, mais uma vez, a preponderância do estilo italiano no Barroco. Além de religioso e músico, Vivaldi foi empresário de ópera, e refletiu essa miscelânea de interesses na sua obra, diversificada em obras sacras, concertos variados, sonatas, óperas e cantatas. Sua obra mais conhecida, As quatro estações, série de quatro concertos para violino, escrita em 1723, é, provavelmente, o primeiro conjunto de peças descritivas da história da música.

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Figura 14 - Da esquerda para direita, Jean-Baptiste Lully, Arcangelo Corelli, Alessandro Scarlatti e Henry Purcell.

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Georg Philipp Telemann (1681–1767) Compositor alemão nascido em Magdeburg, foi um músico autodidata que marcou a entrada, no rol dos grandes maestros barrocos, dos compositores alemães. Tendo absorvido os estilos italiano e francês, Telemann foi um dos compositores mais prolíficos da história (um dos que mais compuseram, em quantidade de obras catalogadas). Seu repertório é bastante variado e inclui obras sacras (paixões, cantatas e oratórios) e seculares (óperas, suítes orquestrais, concertos variados, música de câmera). Jean-Philippe Rameau (1683 –1764) Compositor e teórico francês que, depois de Lully, aparece como um dos maiores nomes da ópera francesa. Seu talento concentrou-se, além das óperas, na produção e execução de obras para o cravo, principal instrumento de teclado do século XVII. Johann Sebastian Bach (1685-1750) Considerado por muitos o maior compositor barroco e um dos maiores compositores da história da música, Bach veio de uma família de longa tradição musical. Talentoso por natureza e estudioso metódico, conseguiu absorver um amplo leque de práticas europeias de várias épocas, além de acrescentar inovações e melhoramentos ao imenso repertório de estilos e gêneros que praticou. Em suma sua obra é, ao mesmo tempo, uma síntese da música do passado, e, em muitos momentos, prenúncio do que o sucedeu. É também vasta em número e diversidade, incluindo todos os estilos mais praticados em sua época com exceção da ópera. Muito religioso, dedicou-se, sobretudo, à música sacra de modo que, em seu repertório, destacam-se as missas e cantatas. Apesar de tocar vários instrumentos, sua habilidade mais reconhecida foi como organista, atividade que praticou durante toda a vida. Georg Friedrich Handel (1685-1759) Nasceu na Alemanha, mas naturalizou-se inglês em 1726. Diferente de Bach, Handel (pode-se escrever seu nome também sem o trema germânico) abraçou a ópera e as formas mais populares, deixando de lado práticas muito apreciadas pelo outro mestre alemão como a música instrumental, pouco presente em seu repertório. Porém, além de ter nascido no mesmo ano, tinha também em comum com Bach, a grande habilidade como cravista e organista. Sua obra mais conhecida até hoje é o oratório Messiah, escrito e apresentado em 1742.

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Figura 15 - Da esquerda para direita, Georg Philipp Telemann, Jean-Philippe Rameau, Johann Sebastian Bach e Georg Friedrich Handel

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Artes

Exercícios de Fixação (PAS – UnB)

01. C; 02. E; 03. E; 04. C; 05. C; 06. C; 07. E; 08. C; 09. C; 10. E.

05. Em grupos musicais, o pulso é, na maioria das vezes, a referência temporal para a obtenção da sincronia, mesmo se cada músico executa padrões rítmicos e melódicos variados. (PAS – UnB) O Barroco nas artes plásticas foi um movimento caracterizado pelo uso excessivo de curvas e contrastes de claro e escuro, tendo sido, ao mesmo tempo, sensual e emotivo. A dramaticidade das obras de arte do Barroco demonstra a luta da emoção contra a razão, opondo-se às ideias racionalistas presentes no Renascimento. Nessa época de conflitos políticos e religiosos, de governos absolutistas e de expansão colonialista e

Figura I

mercantilista, a música barroca teve seu esplendor nos oratórios, nas óperas e nas formas musicais fuga, suíte, concerto e sonata. Muitos foram os compositores barrocos, mas Bach e Haendel, apesar de suas características barrocas tardias, são apontados como os grandes destaques dessa época. No Barroco, começaram também as primeiras experiências com melodia acompanhada por baixo cifrado,

Figura II

Figura III

A sincronia, o equilíbrio, a técnica e a beleza dos acrobatas fazem parte do espetáculo de circos famosos como o Cirque du Soleil e o Circo da China, como ilustram as figuras de I a III acima. Pode-se fazer uma analogia entre esses movimentos e texturas musicais. Nesse contexto, julgue os itens a seguir. 01. O movimento ilustrado na figura I pode representar a ideia do contraponto: embora um acrobata dependa do outro, o tipo e a direção de seus movimentos são diferentes.

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02. Considerando que, no movimento ilustrado na figura II, um dos acrobatas serve apenas como base para o movimento igual dos outros dois, a analogia musical mais adequada a essa situação seria com a textura polifônica, a três vozes, principalmente em razão de o grupo ser formado por três pessoas. 03. O movimento representado na figura II pode ser comparado a um coral, em que as vozes masculinas, representadas pelo rapaz, devem sempre servir de base às vozes femininas. 04. Considerando que, na figura III, todos os acrobatas parecem estar sincronizados no mesmo movimento rítmico e mesma altura, os movimentos representados poderiam simbolizar texturas monofônicas.

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prática essa que se opunha ao contraponto musical e que viria a constituir, até́ os dias de hoje, a base da harmonia e tessitura de muitos tipos de música. A partir dessas informações, julgue os itens a seguir. 06. A ópera é uma composição musical que integra música orquestral, canto, enredo literário e representação teatral. 07. Bach compôs diversas peças musicais de caráter religioso, entre as quais a peça Aleluia, do oratório O Messias. 08. O baixo cifrado, escrito em cifras, é uma indicação harmônica para determinada melodia, em que o instrumentista tem liberdade de improvisar e fazer seu próprio arranjo para o acompanhamento melódico. 09. No Brasil, o barroco musical foi tardio e se concentrou nas colônias de extrativismo de ouro e pedras preciosas, como em Minas Gerais. 10. Os registros musicológicos brasileiros mostram que o Barroco mineiro tem somente exemplos de música profana e popular e está totalmente desvinculado dos ofícios da Igreja.


FRENTE

C

ARTES

MÓDULO C10

HISTÓRIA DA MÚSICA: CLASSICISMO

ASSUNTOS ABORDADOS nn História da música: Classicismo

A música no período clássico (1750-1820) A partir de meados do século XVIII, grandes transformações se deram na história ocidental. No terreno do pensamento destaca-se o Iluminismo. Dentre os principais fatos históricos: a Revolução Francesa, a Revolução Industrial e a Independência dos Estados Unidos. Em termos gerais, o racionalismo e o formalismo deste período muito se deveram à influência do pensamento iluminista, que não influenciou apenas as questões políticas e sociais, mas também todas as artes. O triunfo da razão e a possibilidade de argumentar e desconstruir antigas verdades tiveram notáveis consequências estéticas. Os estados laicos começavam a se formar na Europa e a arte começava a ser tratada como um produto disponível a quase todos. A partir da segunda metade do século XVIII desenvolveu-se, na música europeia, um novo estilo, mais simples e claro, voltado ao deleite estético da nobreza e da alta burguesia, principais financiadores das grandes obras, mas também destinado ao entretenimento do público em geral. O retorno aos ideais clássicos trouxe referenciais como forma, ordem e equilíbrio, que traduziam, de alguma forma, os aspectos hierárquicos e absolutistas do contexto histórico para a dimensão artística. Como consequência, desenvolveram-se formas e regras que culminaram com a consagração da sonata e da sinfonia, sobre as quais todos grandes compositores deste período precisaram demonstrar domínio técnico. Por outro lado, houve um amadurecimento da linguagem operística que se desenvolveu principalmente na forma cômica, mais facilmente comercializável para as grandes plateias. Nesse sentido, até então nunca havia se produzido tanta música para o mero entretenimento. A música do período clássico é bem menos complexa do que a do Barroco, período imediatamente anterior. Mas isso não significa que seja inferior. Grandes gênios brilharam e produziram obras incomparáveis ao longo desses setenta anos, como, por exemplo, Wolfgang Amadeus Mozart e Ludwig van Beethoven, talvez os compositores eruditos mais executados ao longo dos últimos cem anos.

nn A música no período clássico (1750-1820) nn A importância da forma na música do Classicismo nn Compositores do Classicismo

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Figura 01 - O ator Tom Hulce interpreta o compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart no filme “Amadeus” (1984), dirigido por Milos Forman.

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Artes

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A estética musical clássica

Figura 02 - A orquestra sinfônica da Universidade de Washington interpreta uma sinfonia de Joseph Haydn. Perceba que a orquestra clássica é de modo geral bem maior que a barroca.

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Figura 03 - Cena da ópera cômica As bodas de Fígaro, de W.A. Mozart.

Racionalidade, formalismo, equilíbrio, proporcionalidade e simetria foram ideias fundamentais na antiguidade clássica. Milênios depois, elas serviram ao Renascimento e, no Classicismo, foram mais uma vez referenciais fundamentais. Depois da emotividade exagerada do Barroco, a organização formal das obras passou a ser mais valorizada do que a expressão de sentimentos e concepções abstratas. Por isso, há quem afirme que as composições clássicas são matematicamente rigorosas. De fato, não é uma observação equivocada, uma vez que o rigor formal, o respeito aos modelos e padrões, foi algo que praticamente todos os compositores clássicos impuseram a si mesmos. O desafio era conseguir se sobressair dentro daquelas regras a que todos estavam submetidos. Nesse sentido, talvez nunca tenha sido tão almejado o equilíbrio entre forma e expressão, entre razão e emoção. Por outro lado, há aqueles que acusam os compositores clássicos de superficiais e de levarem às últimas consequências o sucesso fácil e o discurso musical formal e vazio.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Não obstante ao formalismo, um importante objetivo, perceptível na maioria das obras dos principais compositores desse período, é a acessibilidade. Nunca sofisticação e simplicidade haviam se combinado, de modo tão eficiente, na música ocidental. As obras primas do Classicismo musical são de tal modo diretas e acessíveis que qualquer indivíduo, mesmo sem nenhum treinamento musical, é capaz de ouvi-las e sair assobiando as melodias. As ideias em geral são apresentadas aos poucos, passo a passo, e suficientemente repetidas para que o ouvinte possa memorizar todas as etapas da composição. Não há o risco de se perder, como era comum na polifonia barroca, em que várias melodias se sobrepunham, colocando quem escutava em um verdadeiro labirinto musical. Os artistas clássicos optaram por uma comunicação mais objetiva e convencionada. Estabeleceu-se, assim, um amplo conjunto de modelos e padrões que, por mais que limitassem de alguma forma a criação, impunham-na uma condição fundamental: a comunicabilidade. Se todos conheciam as regras, ficava mais fácil entender o “jogo” e tornava também mais significativo o desafio de quebrá-las. Nesse sentido, a homofonia contribuiu de modo definitivo para a clareza, fundamental na sonoridade clássica: uma única melodia se sobressaía e o resto da textura exercia um papel coadjuvante, secundário. Embora isso não constituísse nenhuma novidade, pois já era comum desde o início do século XVIII, foi justamente o que permitiu o triunfo da música galante: era fácil de ouvir, mas sempre elegante e não necessariamente simplória na concepção e na execução.

Figura 04 - Essa imagem das mãos ao piano pode descrever a homofonia. Com a mão esquerda, o pianista toca o acompanhamento, os acordes, e, com a direita, ele executa a melodia principal.

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O “estilo galante”, referência estética mais comumente associada ao classicismo musical, além de prezar pelo gosto médio dos ouvintes da segunda metade do século XVIII, significou música elegante, feita dentro dos padrões, porém simples o suficiente para agradar à maioria. Boa parte dessa produção foi feita para servir como música de fundo, a fim de harmonizar os ambientes de jantares e eventos variados. Isso, entretanto, não desqualifica nem o estilo galante nem a música clássica. Por exemplo: hoje um dos gêneros mais respeitados, em termos de qualidade musical, é o jazz norte-americano, que, desde seu período de formação até hoje, tem sido tocado em bares como música ambiente, em um volume que permita às pessoas se ouvirem enquanto conversam. Mas uma coisa não se pode deixar de concluir: o sucesso do estilo galante no século XVIII significou, sobretudo, que a música começara a ser uma mercadoria, um luxo e um prazer que, a cada dia, mais e mais pessoas queriam consumir.

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A importância da forma na música do Classicismo

Figura 05 - Manuscrito da Sinfonia nº 31, em ré maior, de W. A. Mozart.

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Desde que o ser humano começou a produzir arte, ele teve que necessariamente decidir entre o que expressar e como fazê-lo. Este “como” foi provavelmente, durante muito tempo, um fato menos importante do que “o quê”. Fomos gradativamente, entretanto, amadurecendo a ideia que a forma também comunica e é tão importante quanto o conteúdo da mensagem, pois transforma este último. A padronização das formas musicais começou a acontecer ainda na Idade Média com as regras do cantochão e a música sacra em geral. A normatização permitia à Igreja um maior controle das práticas musicais e evitava a “contaminação” com outras tradições. Por outro lado, se levarmos em conta uma arte que muito influenciou e foi influenciada pela música, a poesia, podemos entender que formas definidas permitiram, ao longo dos séculos, a construção de códigos mais acessíveis, que todos 282


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conheciam. Foi assim na Grécia Antiga com as odisseias, declamadas em praça pública, ou na Idade Média e Renascença, com os trovadores e suas cantigas. As pessoas sabiam o que esperar das obras e como acompanhá-las e compreendê-las. Isso permitiu também que, no final do século XVIII, as formas musicais atingissem um alto grau de complexidade. Elas passaram a ser, muitas vezes, como a forma-sonata e a sinfonia, estruturas de grande envergadura e longa duração. E, é claro, não eram totalmente acessíveis a todos, pois a própria sociedade era por demais excludente e elitista (e assim também a arte acabava sendo na mesma medida). Mais àqueles que mantinham contato frequente com as sinfonias e sonatas, por exemplo, possivelmente compreendiam-nas com a naturalidade com que compreendemos hoje filmes, livros e músicas de grande circulação. Sim, parece esquisito afirmar isso, pois hoje os padrões formais se tornaram, de maneira geral, tão simplórios e repetitivos, que tornaram quase desnecessária a inteligência para desvendá-los. Embora incabível essa discussão nesse trecho, cabe lembrar que, há cerca de duzentos anos atrás, cabia à Arte o papel de estimular a inteligência e a sensibilidade. No caso da inteligência, era a elaboração formal o grande estímulo. A forma-sonata, a sonata e a sinfonia A partir do Classicismo, o referencial mais frequentemente encontrado em diversas formas musicais é a forma-sonata. Não se deve confundi-la, contudo, com a sonata, que, desde o século XVIII, é uma outra forma musical muito difundida, escrita tipicamente em três ou quatro movimentos, um dos quais na forma-sonata. A partir do século XVIII, é usual que, em peças divididas em várias partes, os primeiros movimentos sejam estruturados na forma-sonata. Isso acontece nas sinfonias principalmente, mas também nas sonatas, nos concertos, quartetos de cordas, entre outras formas tradicionais. Mais raramente, a forma-sonata é encontrada também em outro movimento que não o primeiro. Entretanto, por mais que alguns compositores tenham ousado acrescentar-lhe novos elementos, sua estrutura tem se mantido praticamente fixa ao longo dos séculos: Exposição

Desenvolvimento

Recapitulação

Figura 06 - Representação esquemática da forma-sonata. As barras duplas com dois pontos (chamadas de ritornellos) significam que, tanto a exposição, quanto o desenvolvimento e a recapitulação, deverão ser tocados duas vezes.

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Na exposição, dois temas, normalmente contrastantes entre si, são apresentados na tonalidade original. Importante salientar que, em cada uma das três partes, há uma certa unidade, há “um começo, meio e fim”. O desenvolvimento marca o momento em que, depois de bem fixados pelo ouvinte (isto é, depois de terem sido repetidos algumas vezes), os dois temas sofrerão variações. A criatividade, assim como a adequação à ideia inicial, com que cada compositor conduz esse trecho demonstra a sua habilidade e domínio na arte da composição. Tradicionalmente os compositores desenvolvem os temas iniciais em outra(s) tonalidade(s), geralmente a dominante, o quinto grau da escala em questão (por exemplo: em dó maior, a modulação seria para sol maior). Finalmente, a reexposição marca “a volta para casa”. Depois dos temas sofrerem inúmeras transformações e, muitas vezes, tornarem-se até mesmo irreconhecíveis, eles reaparecem na tonalidade original, reafirmando a 283


Artes

coerência da obra. É comum também a forma-sonata ser finalizada, após a recapitulação, por uma coda, isto é, uma finalização derivada das ideias iniciais. É importante lembrar que, embora muitos compositores tenham sido fiéis a esse modelo, os verdadeiros artistas sempre buscaram a liberdade e todos os grandes gênios ousaram inovar as formas consagradas. Na forma-sonata não foi diferente.

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Até o final do Barroco, a palavra sonata, derivada do italiano sonare, designava quaisquer composições instrumentais em oposição às cantatas, destinadas a serem cantadas. Grande parte das obras instrumentais produzidas no período Clássico foram compostas em vários movimentos. Certamente a maioria dessas músicas, mesmo que fossem chamadas de serenatas, divertimentos ou partitas, eram sonatas. Divididas em dois, três ou quatro movimentos (sendo mais comum em três movimentos), as sonatas em geral alternavam partes rápidas e lentas, tal como no período barroco. A sonata em quatro movimentos acabou sendo a forma predominante nos quartetos de cordas e, principalmente, nas sinfonias, importantíssimas neste período. Talvez apenas o concerto tenha tido um significado tão amplo na história da música como a sinfonia. Muita música produzida desde a Renascença era chamada de sinfonia, palavra originária do grego, que significa, literalmente, sons harmoniosos. A palavra sinfonia foi usada como sinônimo de consonância (em oposição à dissonância), como denominação de alguns instrumentos aerofônicos ou até mesmo como referência a movimentos de óperas, sonatas e concertos. Foi, no entanto, apenas no período clássico que ela passou a ter o significado que conhecemos até hoje: obra de grandes proporções, dividida geralmente em quatro movimentos, um dos quais estruturado na forma-sonata. Acabou se tornando, assim, a maior forma no âmbito da música instrumental ocidental. É certo que as óperas, que, além de tudo, contam com o apoio de um texto dramático, duram muitas vezes várias horas e, portanto, superam em muito o tamanho das sinfonias. Mas, no campo da música instrumental, ninguém vence a dimensão das sinfonias. Fazendo uma comparação de cunho literário, uma canção atual, popularizada nos meios de comunicação de massa, está para uma tira de jornal, enquanto que uma sinfonia está para um romance. Trata-se de um discurso cujos argumentos tem o tempo necessário para se desenvolverem. Por outro lado, isso exige do ouvinte um nível de atenção prolongado e aprofundado, uma escuta para a qual, desde o Classicismo até hoje, poucos estão dispostos a se dedicar. Enfim, uma sinfonia na segunda metade do século XVIII era ge284

ralmente escrita em quatro movimentos tal como uma sonata (novamente não confundir com a forma-sonata). O 1º movimento era, em geral, rápido e estruturado tradicionalmente na forma-sonata (exposição, desenvolvimento, recapitulação e coda). O 2º movimento era mais livre, porém quase sempre lento, muitas vezes um adágio. O 3º era em geral um minueto (dança de ritmo ternário) ou um scherzo (peça de caráter jocoso, alegre). E, finalmente, o 4º e último movimento era rápido (allegro) e muitas vezes composto como um rondó (forma musical caracterizada pela alternância entre partes novas e a reexposição do tema inicial: ABACA, por exemplo).

Compositores do Classicismo Embora, até o início do século XIX, os compositores fossem ainda tidos como uma espécie de empregados domésticos de luxo da nobreza europeia, foi ao longo do Classicismo que eles lograram grandes conquistas no sentido de se tornarem mais independentes e autônomos. Não foi conquistada, é verdade, a liberdade, seja no campo formal ou tendo em vista a expressão do mundo interior do artista. Mas a liberdade de compor por compor, isto é, pelo próprio prazer de criar ou pelo mero exercício e aprimoramento do ofício começou a ser cultivada mais intensamente. Somando isso à grande demanda por música nesse período, o resultado é que os artistas deste período foram muito prolíficos, compuseram em grande quantidade. Dos vários compositores que viveram e produziram nessa época, podemos destacar, na ordem de nascimento: o italiano Domenico Scarlatti (1685 – 1757), o alemão Christoph Willibald Gluck (1714 - 1787), o também alemão e filho de J. S. Bach, Carl Philipp Emanuel Bach (1714 – 1788), o austríaco Franz Joseph Haydn (1732 –1809), o italiano Luigi Boccherini (1743 – 1805), o italiano Muzio Clementi (1752 – 1832), o austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791), o alemão Ludwig van Beethoven (1770 – 1827), o italiano Gioachino Rossini (1792 – 1868) e o austríaco Franz Schubert (1797 – 1828) – estes três últimos considerados compositores de transição para o Romantismo. Embora cada um tenha contribuído com singularidade para a música ocidental, vamos abordar apenas os três historicamente mais significativos: Haydn, Mozart e Beethoven. Perceba que, desses, dois são austríacos (Haydn e Mozart) e todos são germânicos. Diferente do predomínio italiano, que perdurou até o final do século XVII, o século XVIII deu vez à cultura germânica, e especialmente, em sua segunda metade, à centralidade cultural da cidade de Viena, capital austríaca que polarizou a produção cultural europeia da mesma forma que a cidade de Paris o fez cem anos depois.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

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Franz Joseph Haydn (1732 –1809) Apesar de 23 anos mais velho, Haydn foi amigo de W. A. Mozart, que muito o admirava. Entre outros atributos, como um dos compositores mais prolíficos da história, foi o tutor musical de L. V. Beethoven. Pela lista de admiradores podemos imaginar a importância desse compositor. Entre outras centenas de peças, escreveu, ao longo dos seus 77 anos de vida, 108 sinfonias, sendo responsável pela maturação estilística desse gênero composicional tão vital para o período. De modo geral compôs em todos os gêneros e estilos de sua época, sempre primando pela elegância e leveza: da ópera a música sacra. Seus quartetos de corda também figuraram como modelos para os compositores posteriores. Aliás esse foi seu papel principal na história da música: compositor sistemático, professor incansável e músico atuante desde os seis anos de idade, Haydn inspirou centenas de músicos em toda a Europa com suas obras, princípios e ideias. Embora haja atualmente um destaque muito maior sobre as obras de Mozart e Beethoven, foi Haydn o personagem central, responsável por articular e desencadear os principais fatos estéticos na música erudita da segunda metade do século dezoito. Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

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Figura 07 - “Retrato de Joseph Haydn” (1791), óleo sobre tela de tela de Thomas Hardy.

Figura 08 - Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart, mais conhecido como Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), no começo de sua juventude. C10  História da música: Classicismo

Talvez em toda a história da música, Mozart tenha sido o compositor mais estudado, discutido e tocado. Seu nome se tornou um mito entre os diletantes da música. Há quem defenda que suas obras aumentem a capacidade cognitiva dos fetos, contribua para uma maior concentração nos estudos ou, até mesmo, incremente a produção leiteira de vacas. Deixando de lado a veneração, o pequeno Wolfgang foi, sem dúvida, o maior prodígio musical infantil da história. Escreveu suas primeiras peças para piano aos 5 anos de idade, aos 8, compôs sua primeira sinfonia e, aos 11, sua primeira ópera. Nesse sentido, devemos destacar o papel fundamental de seu tutor e pai, o compositor, regente, professor e violinista austríaco Leopold Mozart (1719-1787), que, a partir da percepção do potencial do filho, abandonou a própria carreira e se dedicou inteiramente ao desenvolvimento de seu pupilo, primeiramente ensinando-lhe tudo que sabia e, posteriormente, produzindo sua carreira artística de modo a prover o financiamento e patrocínio do filho. Embora W. A. Mozart tenha morrido relativamente cedo, aos 35 anos, em 1791, foi um dos compositores mais produtivos que já existiu: produziu 626 obras, muitas das quais peças imensas com vários movimentos, em 30 anos de vida produtiva. Além de seu virtuosismo em vários instrumentos e talento nato para a composição, Mozart ficou famoso pela incrível memória musical, que lhe permitia compor ao longo de uma caminhada e, depois, simplesmente redigir uma sinfonia inteira para uma imensa grade orquestral de modo mecânico, apenas relembrando toda a composição mentalmente. Destacou-se, enfim, em tudo o que fez, seja como violinista, pianista, regente ou compositor nos mais variados estilos em que atuou. Entretanto, suas óperas, concertos e sinfonias tiveram historicamente mais visibilidade no contexto de seu repertório. Vale citar suas óperas mais famosas, que desfrutaram de grande popularidade desde as primeiras apresentações até hoje. Le nozze di Figaro (1786), conhecida em português como As bodas de Fígaro, ópera bufa (cômica) em 4 atos; Don Giovanni (1787), ópera cômico-dramática em 2 atos; Die Zauberflöte (1791), conhecida como A Flauta Mágica, ópera de tema fantástico em 2 atos. Dos seus 44 concertos, escritos para os mais variados instrumentos, podemos destacar os seguintes: Concerto para piano número 24 K.491, Concerto para Clarinete em A maior, K 622, Concerto para violino no 3, K. 216. Dada a importância da sinfonia na época para a distinção de um compositor entre seus pares, Mozart criou peças de notável beleza e equilíbrio. Das 49 sinfonias escritas por Mozart, escolhemos apenas três para evidenciar o seu estilo. Sinfonia número 40 em sol menor K. 550, sinfonia número 25 em sol menor K. 183 e a sinfonia número 41 (Júpiter) em dó maior K. 551.

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Artes

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Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

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Figura 09 - Retrato de L. V. Beethoven durante a composição da Missa Solene (1820). Óleo sobre tela de Joseph Karl Stieler.

Beethoven foi um caso à parte, pois foi, ao mesmo tempo, um compositor que viveu no período Clássico, e que compôs grande parte das suas obras sob essa influência estilística, e um artista que promoveu, com pioneirismo, a estética romântica. Foi, portanto, o músico que mais se destacou na transição do estilo Clássico para o Romântico. A evolução de suas obras reflete justamente isso: a passagem de uma estrutura mais cerebral, fixa e matematicamente equilibrada para um ambiente mais vago, amplo e instável, regido pelas emoções. A sua obra a partir do início do século XIX tende ao romantismo, seja pela busca de liberdade no campo formal, seja pela expressividade ampliada. Já seriamente afetado pela deficiência auditiva e, portanto, afastado da regência e das performances públicas, Beethoven desenvolve, nas últimas duas décadas de vida, uma transformação na sonoridade orquestral, acrescentando mais instrumentistas do que o usual e modificando a maneira de escrever para esta formação, isto é, de orquestrar. Suas obras desta última fase, como os últimos quartetos de cordas, as últimas sonatas de piano ou sua 9a sinfonia, refletem seu desejo por transformações na prática musical clássica. Se compararmos seus últimos trabalhos ao padrão da música clássica de estilo galante, esta última acaba por soar demasiadamente protocolar e superficial, diante da profundidade e força pungente que Beethoven atingiu em seu último ciclo.

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Figura 10 - Fac-símile da escrita de próprio punho de Beethoven de sua 9a Sinfonia.

Figura 11 - Fac-símile da escrita de próprio punho de Mozart de sua 40a Sinfonia.

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Um fato interessante sobre o repertório deste compositor alemão, nascido em Bonn, é que, enquanto Haydn escreveu mais de cem sinfonias e Mozart mais de quarenta, Beethoven, embora muito tenha se dedicado a elas, escreveu apenas nove. Ele de fato não se ocupou em produzir uma obra monumental em volume, mas em qualidade e, principalmente, inovação, que, naquele momento, não era algo valorizado, nem pelos seus pares, nem pelos aficionados na arte musical. Observe as duas figuras acima, fac-símiles das partituras de sinfonias de Beethoven e Mozart. Perceba a diferença: a partitura de Mozart nem parece um manuscrito de tão bem-acabada, provavelmente escrita sem um instante de dúvida ou hesitação; já a de Beethoven apresenta rasuras e demonstra que ele se deteve sobre aquela partitura, repensando-a e reescrevendo-a. Isso pode servir de parâmetro para compararmos Haydn, Mozart e Beethoven. Os dois primeiros representaram a criação e a continuidade do estilo clássico, enquanto o último avistou o esgotamento das formas consagradas e buscou o risco da incerteza de novos caminhos, sem, no entanto, saber aonde iriam levar. 286


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Exercícios de Fixação 01. (PAS Subprograma) O termo clássico pode ser empregado em diferentes situações: para referir-se à cultura e à arte gregas; como sinônimo de música erudita; ou, ainda, para designar o período artístico musical anterior ao Romantismo, correspondendo aproximadamente ao período entre os anos de 1750 e 1820. Nesse sentido, julgue os seguintes itens. 01. Uma das grandes diferenças entre as composições musicais do período Clássico e as do período anterior, o Barroco, refere-se à textura. Enquanto no período Barroco privilegiava-se a polifonia e o uso do contraponto, no período Clássico desenvolveu-se a textura homofônica com melodias acompanhadas. 02. Acontecimentos paralelos ao desenvolvimento das artes no período Clássico incluem: a declaração da independência americana, as guerras napoleônicas, o início da Revolução Industrial na Inglaterra e o Iluminismo. 03. Mozart, Bach, Beethoven e Villa-Lobos são compositores do período Clássico. 04. Tanto no período Clássico quanto no Romântico, desenvolveu-se a forma poema sinfônico. 02. (PAS Subprograma) Considerando a diversidade de estilos, funções e formas de organização dos materiais musicais, julgue os itens que se seguem. 01. C; 02. E; 03. E; 04. C; 05. E; 06. E. 01. Luiz Gonzaga, BB King e Charles Brown compõem músicas que são veículos de expressão de grupos sociais distintos. 02. Em uma primeira audição, é possível identificar claramente a regularidade rítmica e o pulso constante nas peças Serenata em Sol Maior, Elegia às vítimas de Hiroshima e cantorias do Maracatu. 03. O que mais diferencia o tango de Gardel do tango de Piazolla é que o segundo muda o padrão rítmico característico do tango. 04. Muitas músicas e estilos apresentam combinações diversificadas entre voz e instrumento, podendo a voz se destacar mais que o instrumento ou se misturar com ele. Um exemplo do primeiro caso são as árias de Susanna, nas Bodas de Fígaro, de Mozart, e um exemplo do segundo é o blues, de BB King. 05. Em geral, as músicas têm funções diferentes. Assim, seria adequado usar o Forró Russo como música de fundo de uma vernissage, o Quarteto de Cordas K516, de Mozart, para dançar e a Elegia às vítimas de Hiroshima, de Penderecky, para relaxar e poder cochilar. 06. Um exemplo de textura polifônica contrapontística é a Serenata em Sol Maior, de Mozart, porque são usados quatro instrumentos ou quatro naipes que tocam simultaneamente.

03. (PAS Subprograma) De forma geral, ouvimos sempre a mesma música. Assiste-se à imposição de um gosto-médio, que as tabelas de vendas orientam, e que coincide com as músicas mais tocadas. A rádio não tem, assim, capacidade ou espaço para favorecer a inovação musical, demasiado refém que está da indústria discográfica, transformando-se em um agente de homogeneização cultural. Assiste-se à diminuição de estações de verdadeiro serviço público ou ao fim de experiências não comerciais. É o triunfo da globalização dos formatos, sobretudo musicais. Internet: <osegundochoque. blogsome.com> Blog de João Paulo Menezes. No ar desde 1976, a Rádio Nacional FM de Brasília foi a primeira emissora em frequência modulada de Brasília e cobre todo o Distrito Federal e entorno. Ao longo de sua história, a Rádio Nacional FM se tornou uma emissora diferenciada pela sua programação musical, que não se rende a modismos nem a interesses da indústria fonográfica. Novos discos e novos artistas são bem divulgados na programação musical, sem ligação com temas de novelas, temas de filmes ou músicas ligadas a esquemas promocionais que interfiram na diversidade musical da emissora. Internet: <www.radiobras.gov.br> (com adaptações).

Considerando os textos acima como motivadores, redija um texto argumentativo em resposta à seguinte pergunta: Nós ouvimos a música de que gostamos ou aprendemos a gostar daquela que ouvimos? O princípio norteador do texto deverá 04. (UnB DF)

ser a influência que a indústria cultural exerce sobre o gosto médio das plateias.

Texto I A primeira sessão paga de cinema aconteceu no dia 28 de dezembro de 1895, em uma sala nos fundos do Grand Café, no Boulevard des Capucines, em Paris. Assombrada, a plateia viu imagens de trabalhadores saindo de uma fábrica e de um trem chegando à estação. Para os padrões atuais, as imagens seriam banais, mas, para um mundo

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C10  História da música: Classicismo

01. C; 02. C; 03. E; 04. E.


Artes

acostumado apenas com os slides estáticos, eram uma revelação. Com a projeção das imagens em movimento, Louis e Auguste Lumière realizavam o sonho de muitos inventores — naquela noite, nascia o cinema. 1 000 que fizeram 100 anos de cinema. In: The Times/IstoÉ. São Paulo: Ed. Três (com adaptações).

Texto II A Chegada do Trem à Estação (Lumière, 1895), com duração de 50 segundos, narra a chegada de uma locomotiva à plataforma de uma ferrovia repleta de passageiros que a aguardavam. Ao ser projetado, o filme causou espanto diante do público. Como a câmera englobou a totalidade da ação no momento em que o trem chega e para ao lado esquerdo da tela, o público pensou que o trem realmente estava lá, e tamanho foi o medo, que muitos fugiram da sala de exibição, e alguns que permaneceram se esconderam sob as cadeiras. Fernando Mendonça. A filosofia no cinema. In: Spectrum, p. 103 (com adaptações).

Texto III Nada nos impede de afirmar que, comparada com a realidade, a aparência da arte seja ilusória; mas, com idêntica razão, se pode dizer que a chamada realidade é uma ilusão ainda mais forte, uma aparência ainda mais enganadora que a aparência da arte. Na vida empírica e sensitiva, chamamos realidade e consideramos como tal o conjunto dos objetos exteriores e das sensações por eles provocadas. No entanto, todo esse conjunto de objetos e sensações é, não um mundo verdade, mas um mundo ilusões. Sabemos como a verídica realidade existe para lá da sensação imediata dos objetos que percebemos diretamente. Antes, pois, ao mundo exterior do que à aparência da arte se aplicará o qualificativo de ilusório. (...) As obras de arte não são, em referência à realidade concreta, simples aparências e ilusões, mas, sim, possuem uma realidade mais alta e uma existência verídica. Caso se queira marcar um fim último à arte, será ele o de revelar a verdade, o de representar, de modo concreto e figurado, aquilo que agita a alma humana. F. Hegel. In: Obras completas, H. G., vol. X.

C10  História da música: Classicismo

Texto IV A teoria de Flaubert sobre o realismo como norma estética evidenciava preocupação apenas com os processos profissionais do romancista. Ele idealizou uma indiferença científica, uma frieza e cuidado na observação dos materiais. Fez uma viagem ao Egito para estudar o cenário da sua novela Salammbô. Mas não se pode dizer que as novelas de Flaubert sejam uma servil tradução dos objetos naturais. “As pessoas creem que estou preso ao real”, disse ele, “quando, na realidade, o detesto”. Esse realismo rapidamente se intensificou na passagem para a fase chamada naturalismo, de que Zola foi o expoente máximo na França. Wimsatt e Brooks. Crítica literária. Lisboa: Fundação Gulbenkian, 1971, p. 547 (com adaptações).

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Texto V Se tivéssemos de fazer uma trilha sonora para a chegada do trem à estação utilizando como fonte sonora os sons do ambiente da estação, poderíamos planejar a seguinte estrutura musical: som do trem freando lentamente, diminuindo sua velocidade, enquanto se ouve um apito agudo que se repete três vezes; ritmo do movimento da locomotiva ficando mais lento; som do trem diminuindo, e vozes das pessoas na plataforma crescendo de intensidade, de piano para forte; o trem dá seu último suspiro e silêncio. Na plataforma da estação, ouvem-se vozes, choros, pregões de vendedores, sons de carrinhos de carregar bagagem e passos lentos e apressados. Tendo como referência os fragmentos de textos de I a V apresentados, julgue os itens a seguir.

01. C; 02. E; 03. E; 04. C; 05. E; 06. C.

01. Registra-se, nos textos I e II, o aparecimento do cinema em fins do século XIX, período que, sob o ponto de vista de parte das elites, correspondeu à belle époque, quando se acreditava na marcha irreversível do progresso e na força vigorosa da ciência e da tecnologia. Para a maioria da população, todavia, eram graves os efeitos da crise econômica iniciada nos anos 70 do século XIX, entre os quais se incluía a ampliação das correntes migratórias europeias em direção à América. 02. Cronologicamente, o surgimento do cinema, referido nos textos I e II, ocorre no contexto da segunda etapa da revolução industrial, assinalada pela descentralização de empresas e capitais, pelo fim dos monopólios e pela redução do papel do capital financeiro na condução da economia capitalista. 03. No texto V, com o emprego do termo piano, utilizado na descrição da sonoplastia da chegada do trem à estação, indica-se que, naquele momento, ouve-se o som do instrumento musical piano. 04. No texto V, na descrição sonora da chegada do trem à estação, são referidos, implicitamente, os seguintes parâmetros do som: altura, intensidade, duração e timbre. 05. Sabendo-se que Platão considerava o mundo das ideias como absolutamente real, sendo o mundo em que vivemos uma cópia imperfeita daquele, e que, para ele, o conhecimento adquirido por meio de uma cópia era sempre inferior ao obtido por acessos mais diretos ao mundo das ideias, é correto concluir que, de acordo com a filosofia platônica, o cinema, como reprodução do mundo em que vivemos, permite o acesso direto ao mundo das ideias. 06. A música, como arte, ao expressar emoções humanas, pode revelar a “verdade” referida no texto III.


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