Fanzine 22 extra

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e e bu

N°26 edição extra

Felipe Gurgel A entrevista com o jornalista e músico que colocou o dedo na crítica e nas formas de como o jornalismo cultural é conduzido.

sem

complicação Superguidis conquista a crítica com músicas de veia roqueira e alma pop.


editorial & expediente

Hoje há muitos jovens, em especial aqueles em idade universitária, que sentem a maior saudade dos anos 60 e 70 e veneram praticamente tudo que foi feito na época. Já outros gostam mesmo dos anos 80. Eu não. Em matéria saudosista, fico com tempos que presenciei. Morro de saudades mesmo é dos anos 90, que foi quando vivi minha adolescência. A velocidade das coisas ainda não era tão absurda quanto o trem-bala que embarcamos e não conseguimos mais sair. Havia a MTV que fazia uma programação voltada para o artista e tinha apostas mais certeiras, a Xuxa era apresentadora aquele programa de playback ridículo, mas ótimo para fazer sua música cair na boca do povo. A oferta ainda não era tão grande e havia a possibilidade de se criar novos ídolos. A crítica musical ainda tinha alguma importância e a geração dialogava. Quando olho para o que acontece nos dias atuais, com a velocidade em que vivemos, a inconstância, a falta de um meio catalisador, a dispersão e a falta de ídolos novos e de referências na própria geração, bate aquela melancolia. Deveríamos ter sido mais generosos com os anos 90. Vejo a crítica musical tão intelectualizada que é capaz de venerar certas bandas que fazem um som absolutamente chato até para ouvidos mais treinados. Estamos vivenciando uma época onde existem montes de festivais com poucas atrações novas relevantes, e sinto falta de alguém que possa servir de referência para essa geração que está aí. Talvez a Móveis Coloniais de Acajú seja a banda que esteja mais próxima de alcançar um padrão mais significativo a custo de muito suor e dinheiro tirado do próprio bolso. Talvez a Superguidis também possa alçar uma esfera além daquela que uma banda alternativa/indie/underground muito bem recomendada consiga ir. É uma aposta que se faz tendo em base a grande música que eles produzem. E o Elebu acredita pra caramba nesses caras. Ainda no assunto, o zine ainda traz uma entrevista muito boa com o jornalista e músico Felipe Gurgel, onde há reflexões interessantíssimas a respeito da crítica e do jornalismo cultural.

ELEFANTE BU N°26 EXTRA EDIÇÃO, DIAGRAMAÇÃO, PRODUÇÃO E TEXTOS NÃO ASSINADOS:

DISTRIBUIÇÃO: Por e-mail

Djenane Arraes BLOG PARA DOWNLOAD: DIAGRAMAÇÃO “PORÃO WEB”: http://elefantebu.poraki.com.br Washington Ribeiro CONTATO: CAPA: elefantebu@yahoo.com.br Foto Divulgação CANÇÕES E AFINS: COLABORADORES: Washington Ribeiro, Rúbia Cunha, Leonardo de Moura, Georgiana Calimeris.

Superguidis, basicamente. The Lion Sleeps Tonight, The Tokens; Hey Beautiful, The Solids; Y Todo Para Que, Natália y La Forquetina; Doe Sangue, Nancy.

AGRADECIMENTOS:

APOIO:

Lucas Pocamacha, Fernando Gurgel, Mariana Camara.

Rosa,

Felipe


Capa/ Ziniando:

Superguidis Ziniando:

Felipe Gurgel Festival Calango Porão Web:

Qual o seu estilo? O Guia:

Perdidos no Espaço Mundo Geek:

Civil Wars RPG Alternativo Para Ver:

Narradores de Javé Terapia do Amor

sumário


POP ziniando

independente e alternativo


Djenane Arraes Fotos: divulgação Volte uns 15 anos no tempo. Lembre daquele quarteto gaúcho que saiu das cidades de Porto Alegre e Guaíba com a proposta de um som revolucionário. Algo que estava à frente de qualquer outra coisa que tenha sido feita no mundo. Tinha humor e ironia sem cair na apelação dos Raimundos. Tinha peso sem seguir a onda do hardcore que dominava algumas cidades, como Brasília. Ao mesmo tempo era mais pop do que as revelações de Minas Gerais. Investia em letras acessíveis que rapidamente se proliferaram na boca do povo. Com a ajuda da nascente MTV, seus clipes viraram mania e logo atingiram as principais paradas das rádios comerciais do país. Os integrantes fizeram alguns programas da TV aberta, incluindo Planeta Xuxa e Faustão. Apesar de não apreciarem esse tipo de mídia, julgavam necessário ocupar os espaços disponíveis, afinal de não eles, uma das centenas bandas de pagode ou duplas sertanejas tomariam conta. Embora o discurso fosse contrário, havia sim uma disputa quase injusta entre o popularesco e o resto. Venderam 300 mil cópias no primeiro disco e 350 mil no segundo por um selo independente com o material distribuído por uma grande gravadora. Parte do sucesso era creditado a perspicácia do produtor Philippe

Seabra (Plebe Rude) e do guru Fernando Rosa, jornalista que parece ter dom especial na garimpagem de novos talentos. Agora falando sério, se a Superguidis tivesse surgido há 15 anos, era capaz de ter acontecido tudo isso mesmo. É, de certa forma, uma pena que a banda de Lucas Pocamacha (guitarra e voz), Andrio Maquenzi (voz e guitarra), Diogo Macueidi (baixo) e Marco Pecker (bateria) tenha começado num tempo confuso, de transição entre um velho modelo de se consumir música e uma outra coisa que começa a se definir. É época que gravar disco é a coisa mais fácil do mundo e isso fez com que o mercado ficasse saturado de tanta oferta que existe. Estourar no Myspace passa a ser fundamental ao passo que MTV e periódicos como Bizz perderam a força. Mesmo assim a Superguidis consegue driblar as dificuldades de um tempo onde tudo é muito rápido e se sobressai. O guitarrista Lucas não tem muito que reclamar e está satisfeito com o seu tempo e com as oportunidades que aparecem. “Se tivéssemos aparecido há 15 anos, talvez nunca tivéssemos feito muitas das coisas que fizemos, porque ter o disco na mão nos abriu muitas portas! Tentamos fazer as coisas da maneira mais sincera possível e sem tomar


deci s ões p rec i pi t adas. C ont amos c om a imprescindível ajuda do Fernando Rosa (Senhor F) que é um cara que está nessa de rock há bem mais tempo que a gente e tem uma baita visão das coisas. O que a gente tenta fazer é música boa. Em tempo de mil e uma jogadas de marketing, essa estratégia de vez em quando é esquecida”. A banda tem apenas cinco anos de estrada. Surgiu com a proposta de unir elementos ruidosos do underground com aquilo que é interessante no pop. O primeiro disco homônimo foi gravado no quarto da casa de um amigo da banda com equipamento mínimo e lançado no ano passado pelo selo Senhor F. A repercussão foi incrível e muito rápida para uma banda independente, fruto da tal estratégia que muita gente esquece de fazer, como bem lembrou Lucas. Foi algo tão diferenciado do resto que muitos críticos chegaram a dizer que o debut parecia mais uma coletânea das melhores músicas, tamanha era a qualidade e a quantidade de músicas grudentas. “Foi tudo meio inesperado pra nós. Claro que gostaríamos muito que todo mundo falasse bem da nossa música (como de fato vem acontecendo), mas quando lançamos o primeiro disco não tínhamos noção de o quanto ele afetaria a nossa vida. Só temos a agradecer a todo mundo que ouviu e gostou de nós”, disse Lucas, que ainda acha estranho a banda ter uma grande coleção de hits. “Quando estamos fazendo as canções não ficamos pensando: 'vou deixar isso aqui o mais grudento possível!'. Simplesmente tentamos fazer o melhor que conseguimos limitados à nossa capacidade e se espelhando nas influências que achamos importantes! A idéia sempre foi ser pop. As nossas influências são, na grande maioria, bandas pop, então não tinha como sair muito longe disso. Se isso tudo vai virar "hit" ou não, não depende da gente”. São canções como O Raio Que o Parta, O Banana, Bolo de Casamento, e O Véio Máximo, que trazem versos inteligíveis cantados em coro durante os shows. “Um objeto onde você possa despejar toda a malevolosidade/ não sei se existe essa palavra/ já procurei no dicionário/ pra tu vê que eu não sou um cara ruim”, é o que diz a letra de Malovolosidade. “Nos preocupamos em fazer letras bem pessoais que podem acabar ficando meio 'cabeçudas' demais, saca? Aí entra a preocupação de fazer uma coisa que as pessoas possam entender! Porque ninguém é obrigado a saber dos meus problemas se eu não explicar eles de uma forma clara. Aí que fica a encruzilhada: tentar fazer um som inteligente é a meta, mas ser pop é a conseqüência de tudo que gostamos de ouvir”! Outra peculiaridade que chama a atenção para a Superguidis é o distanciamento com assuntos regionais. Quando se fala de uma banda do Rio Grande do Sul, hoje é possível imaginar toda uma estética sonora característica que foi sendo moldada ao longo do tempo, em especial nos últimos 20 anos. No entanto, a única coisa que escancara o lugar de onde esses moços vieram é o sotaque carregado. “Isso foi simplesmente conseqüência da nossa


formação musical mesmo. Não tem nenhuma espécie de 'quebra' com o rock gaúcho. Simplesmente não é o som que a gente gosta. Respeitamos muito todas as bandas daqui, sabemos que sem elas muitas portas estariam fechadas ainda. Mas preferimos The Cure a Cascavelletes”. Esse distanciamento, mesmo que sem-querer, fica ainda mais forte pelo lançamento do disco por um selo de Brasília. Para Lucas, isso foi mais conseqüência do esfriamento da cena local nos últimos anos, o que obrigou a banda sair e procurar oportunidades fora do estado. No segundo semestre deste ano, o quarteto lançou o segundo disco, A Amarga Sinfonia do Superstar, gravado em Brasília no estúdio DayBreak com produção de Philippe Seabra. O resultado foi um passo adiante e mais seguro em relação ao quase caótico primeiro disco e já gera bons frutos como críticas positivas e a grande procura. A banda também ajudou seu público a adquirir o novo trabalho ao colocá-lo inteiro para download gratuito no site da Trama Virtual um mês depois do lançamento. De acordo com Lucas, cerca de 300 pessoas baixam o disco em média por semana. Ele ainda garante que a idéia era liberá-lo desde o início, só que a banda ainda não tinha tomado a iniciativa. “A razão principal é porque há lugares onde é muito difícil chegar o disco físico, saca? Não por falha na distribuição, mas por falta de conhecimento e interesse dos donos de lojas. Seguido recebemos recados de gente que reclama que não tem o disco na sua cidade ou que não pôde ir ao show e não conseguiu comprar... pensando neles que resolvemos liberar o disco. Porque, para nós, é muito mais vantajoso ter muita gente ouvindo do que poucos possuindo o disco! Sem contar essa baita idéia da Trama Virtual: o download remunerado! Dá pra baixar tranqüilo sem pagar nada, mas a banda ganha uma grana por cada download! Essa grana vem de um patrocinador que libera uma determinada quantia por mês pra esse fim”. Com tudo correndo a favor da Superguidis, agora é esperar para ver se a banda consolida a carreira dentro da esfera underground ou se alçará vôos bem maiores. O que pode-se dizer é que essa história ainda está no início e há muita lenha para queimar.

Sabe por que a Superguidis é tão boa? Dá para fazer uma lista bacana. Eles não se levam tão à sério, não são estrelinhas, não são “cabecinhas” ao mesmo tempo que estão muito longe de ter um amendoim no lugar do cérebro. E a música é boa pra pular nos shows, animar festinhas, cantar no banheiro. São coisas que as pessoas já tinham descoberto desde quando o primeiro disco estava circulando como novidade. Era um som refrescante e muito superior aos hypes ingleses e americanos que muita gente passou a venerar. Agora com o segundo, A Amarga Sinfonia do Superstar, tudo de bom que já se pensava da Superguidis ganhou um “upgrade”. É bem verdade que o som está mais domado em relação a zoeira do debut, o que tirou um pouco do “charme”. Por outro lado, as músicas estão mais cantaroláveis, em sintonia com o seu público, o que é um ganho inestimável. Mas existe uma coisa que permanece igual em relação ao primeiro. Parece que A Amarga Sinfonia do Superstar é um Greatest Hits Vol.2. Dessa vez puxado pelas canções Mais De Que Isso, O Cheiro de Óleo e Ainda Sem Nome. Quer nome de música mais bacana do que Os Erros Que Ainda Não Cometi? “Eu não vou dizer aquelas frases que acho tão legais pra você/ cujas você já sabe quais são”, é o que diz em Apenas Leia. As únicas coisas que pesam contra a Superguidis, mas isso é algo observado desde o disco anterior, é essa homogeneidade do som que pode cansar além de uma aparente dificuldade que a banda tem em produzir músicas mais lentas ou baladas. Enquanto as guitarras estão mais aceleradas, a coisa flui bem, mas quando o ritmo fica mais calmo, daí fica a impressão que a banda esqueceu de ajustar alguma coisa. Mas independente disso (e que bom que a Superguidis não é perfeita), ouça os dois discos da banda e seja feliz.


Papo Cabeça O que há com a nossa crítica? Será que as bandas contribuem para uma boa matéria? E qual é a do jornalismo cultural? Claro que são perguntas complexas, que formam um amplo debate realizado de tempos em tempos entre bandas, estudantes, jornalistas e demais pessoas interessadas. Como isso é algo que sempre “martela”, o Elebu quis saber a opinião do jornalista de Fortaleza (CE) Felipe Gurgel que, apesar de muito jovem, é uma mente privilegiada e tem uma posição muito interessante no que diz respeito a essas questões. É músico (baixista da banda O Garfo), já trabalhou no jornal O Povo, integra as discussões do Nordeste Independente, e é assessor de imprensa do site iJigg e da Secretaria da Cultura do Ceará. Djenane Arraes - Felipe, sua condição de músico e jornalista que atua na área cultural faz com que você se posicione como objeto de notícia e também de crítico. Pode ser pedra e também a vidraça. Como você se coloca nesses dois papéis? Felipe Gurgel - Eu acho que a interseção entre esses "dois papéis" que você fala é a vivência. Não me considero um crítico com boa formação ainda. Aliás, se fosse tentar definir meu papel nessa área de comunicação e cultura, diria que sou um "jornalista interessado", metido com música. Não compartilho daquela idéia de que o crítico musical seja obrigatoriamente o colecionador de discos. Conhecer discos de diversas épocas, variados estilos, é importante, claro. Mas outro lado que vejo como fundamental é vivenciar a cadeia produtiva. Porque quando você entende como se faz um show desde o momento em que se tem que providenciar amplificadores para se colocar no palco até o momento de se fechar a bilheteria, acaba que você é mais preciso - princípio fundamental no bom jornalismo - e sobretudo mais justo com aquilo que você está escrevendo. Por outro lado, você se compromete um pouco no sentido de emitir juízos de valor sobre as bandas, principalmente aquelas do cenário em que você atua. É por isso que, desde que voltei a tocar, tento ser mais um canal de notícias, de informação da música independente, do que um crítico severo mesmo. Sem, no entanto, esquecer que tenho - e devo sempre - ser um filtro também. Essa conversa é longa. Continua você então: acha que um músico pode ser crítico de música? Para essa história aí não tenho uma resposta fechada. Espero a sua contribuição.

Djenane - Acho que tudo é possível nesse mundo. A primeira pessoa que vem a mente é Lester Bangs, que era o crítico de rock mais ferrenho e respeitado que já existiu e ainda tinha a própria banda. Aqui no Brasil quem vem a cabeça de imediato é o Ayrton Mugnaini Jr. Mas são pessoas que a carreira de opiniões falou mais alto do que nas notas musicais, sabe? E há ainda o exemplo contrário, não digo de críticos, mas de jornalistas que foram melhores sucedidos na música. O que nunca vi foi alguém ter o mesmo sucesso nas duas coisas. Mas você disse muito bem: quando se entende todo o processo, a tendência é ser mais "tolerante". Já o que não tem ambição na música tende a endurecer as coisas, ser mais sarcástico e tal. Mas será que existe um crítico perfeito? Que relevância a crítica tem afinal de contas para um músico? Ah, e você tem algum crítico favorito? Felipe - Acho que todo crítico é imperfeito. O que existe é honestidade no que se faz. Às vezes a projeção atrapalha o trabalho de um crítico. Porque à medida que você assimila uma função de responder à expectativa de um público-leitor, acaba que se arrisca a virar autor de novela, ou seja, evidencia alguma "performance" no texto para mexer com quem está te lendo. E quando você tem a opinião de um crítico "olimpiano" em evidência, acaba não percebendo que os argumentos do seu vizinho podem ser mais interessantes até. Vejo esse lado "performático" da crítica como um problema em publicações comerciais como a Bizz, por exemplo. Não tenho um crítico predileto, mas considero o Luciano Almeida Filho, que trabalhou comigo no jornal O Povo, de Fortaleza, e lida com isso há mais de 15 anos, um bom crítico; assim como o Bruno Nogueira (Folha de Pernambuco e site Pop Up) e o Tomaz de Alvarenga (escrevia para o Abacaxi Atômico, nem sei se ainda escreve. É produtor do Enne, de Belo Horizonte) também. São pessoas acessíveis, não sofrem pressão de holofotes. E, para mim, conseguem ter um resultado mais consistente do que a maioria dessas celebridades da crítica. O Lester Bangs como literatura é ótimo, como crítico de música era exagerado demais. O George Belasco, aqui do


com as nossas referências de música. Para outros vai soar como pretensão. Até porque, para muita gente purista (e metido a besta, principalmente), quando você tenta mostrar que seu trabalho tem perspectivas amplas - ainda que o resultado seja esteticamente simples - te acusam de pretensioso. Hoje a língua da choradeira alheia é dizer que isso ou aquilo é "pretensioso", porque tentou (ou não) escapar de rótulos. E, se você observar, tudo na vida é passível de ser rotulado. O nosso comportamento, o nosso caráter. Então imagina uma banda, uma sonoridade. É natural. Conseqüência da ignorância, da falta de sensibilidade, do jeito mesquinho das pessoas mesmo... No entanto, você pode rotular algo simplesmente para ter a referência de algo, sem se enquadrar nesse lado que aponta os rótulos como um problema bicho-papão e quase crônico da mídia em geral. Não acha?

Ceará, escreve para a Rock Press e também tem a banda dele. É competente nos dois lados. Não importa se é crítico ou músico: ele é um cara de boas idéias, sobretudo. Respondendo ainda desordenadamente às suas perguntas, só acho que a crítica tem alguma relevância para o músico quando este tem condições de educação e ego para recebêla. Se não, só serve para alguém ficar puto ou chateado. A crítica de repente pode ser útil para você corrigir algum problema que antes não notara. E quando isso funciona é massa. Djenane - Vou ainda pegar um gancho da crítica e sua "função" de colocar rótulos nas coisas. Mesmo que muitos músicos não gostem, isso ainda é uma necessidade para dar uma pequena referência ao leitor sobre determinado som. Mas há aqueles exemplos que definir é uma tarefa ingrata. Nem mesmo as próprias bandas conseguem. Lembrei de uma conversa que tivemos há algum tempo quando você tentou definir o seu novo projeto e pediu para que imaginasse algumas bandas tirando ou acrescentando certos elementos. Queria que você falasse um pouco do Garfo e saber o que você acha dessas tentativas de rotulagem? Felipe - A gente até fez uma brincadeira com isso no primeiro release da banda, nesse trecho: "Brasileiro, até que provem o contrário. "Mistura de misturas". Música transgênica. Stoner-pop, Post-eletro, Préfuture?! Enfim, qualquer coisa dessas serve para quem se preocupa em enquadrar sonoridades e arrisque definir O Garfo". Dá para perceber que a brincadeira atira para vários lados. E eu digo que não é só tiração de onda. Porque, para a gente, o que está escrito aí tem até um fundo de verdade que combina

Djenane - Nesse caso, serei um pouco advogada do diabo. Da mesma forma que existe sim o crítico que acha que sabe demais e acaba trocando os pés pelas mãos na hora da resenha ou na “criação de rótulos”, há bandas que querem ser vanguarda e produzem uma música ruim. Aí vão dizer que a culpa é de quem? E a proporção não ajuda muito quem faz música. Vamos supor que apareçam umas 20 bandas novas por dia, mas apenas duas ou três delas fazem algo realmente interessante. Se falta referência ou bagagem para alguns críticos, o mesmo vale para muitas das bandas. É claro que aquele que não faz algo bom o suficiente vai brigar pelo trabalho e defendê-lo de todas as formas. Uma recorrente é jogar a culpa "na mídia ignorante" que não entende nada. Vira uma queda de braço. Mas já que o ponto da "vanguarda" foi mencionado, você acha que existe alguém fazendo vanguarda no Brasil atualmente? Felipe - Eita, me pegou agora. Se você quer filosofar sobre o conceito de "vanguarda", vou fugir. Mas se é para falar mal de banda, me disponho (hehehe). Acho que falar de vanguarda é lidar com uma idéia de permanência. Isso em um tempo em que tudo é muito rápido - você tem uma saturação de informação em qualquer meio cultural ou em determinada linguagem artística - fica complicado. Prefiro não me arriscar tanto. Quanto às bandas, citei o modo como os músicos


recebem críticas para sublinhar isso aí que você está dizendo agora. A tendência é transferir a responsabilidade para a ignorância da mídia. É uma briga de foice para empurrar a "culpa" da avaliação. O jornalista escreve que Fulano é ruim, então o Fulano rebate com algum argumento diminuindo o sujeito que escreveu. A verdade é que a maioria das bandas sequer tem preparo para compartilhar idéias e conceitos do seu próprio trabalho, além da música em si, com a mídia. Reclamam de ignorância jornalística, mas também não sabem munir os jornalistas de boas idéias para a reportagem. Não sabem contribuir. Então fica aquela coisa meio cobertura de futebol, sempre se pergunta como é o processo de composição, qual é a inspiração, de onde vem o nome da banda, como se conheceram, quem come quem. Me diz aí qual dessas perguntas é a pior. Djenane - Quem come quem definitivamente é a pergunta que todos querem saber a resposta, se considerarmos que o "jornalismo" mais popular é o que faz a indústria da fofoca. Que, aliás, isso anda tirando espaço do jornalismo cultural, que por sua vez também sofre com a mesmice. A maioria das pessoas não liga quando estão diante de uma matéria de uma banda que elas nunca ouviram falar. E assim a tendência é se repetir. Como mudar isso para tornar o jornalismo cultural bom para quem é o assunto e para quem lê? Felipe - Eu não vou te responder colocando o

jornalismo cultural em antítese com o jornalismo de celebridades. Mesmo porque já ando com a cabeça cansada de reclamar disso. E prefiro falar daquilo que me inquieta e mexe comigo, então vejo que a conversa sobre como melhorar o jornalismo cultural é mais interessante. Falar muito do que não me comove é perda de tempo. Então, lembro que uma colega que ainda está na redação, veterana e super-inteligente, chamada Eleuda de Carvalho, me dizia que a editoria de cultura ia da caretice à ousadia de um dia para o outro, naquela rapidez de definição das pautas de cada edição. Eu concordo e percebi o seguinte, durante a minha passagem por lá: a ousadia ganha destaque quando, geralmente, vem com carga de exotismo ou cobre a dificuldade de fechar a pauta principal de uma determinada edição. Dizer que o jornalismo cultural deve desbitolar da indústria cultural e escapar da agenda de eventos já é um debate cansado, repetitivo. Coisa de palestra ou disciplina acadêmica. Acho que o caminho é mostrar o que essas editorias estão perdendo, à medida que optam por se repetir e investir no que já é consolidado. O George Belasco, que já citei aqui antes, faz uma leitura interessantíssima de Fortaleza. Batizou o último EP como Às Vezes Essa Cidade Me Dá Medo. Mostra como essa cidade é inóspita para alguns que vivem por aqui. Cadê essa leitura nas páginas dos jornais? Cadê uma reflexão em cima disso? O Belasco não movimenta grana, sacou? Não tem um puto furado no bolso. Até o "quem come quem" pode ser interessante, dependendo da abordagem. O Montage é uma banda completamente despudorada. E além de trazer um performer sem vergonha de nada, tem um grande produtor de música eletrônica comandando uma groovebox. Falta isso. Essa percepção, o olhar fustigante. O jornal era para ser um veículo de aposta, eu acreditaria nele assim. Da forma que é, a maioria só reproduz a realidade. Só faz bater o martelo no prego que já furou a parede.


Festival Calango 2007 A Móveis Coloniais de Acajú e a uruguaia Supersonicos são as principais atrações do festival Calango, de Cuiabá, que se realiza nos dias 31 de agosto, 1 e 2 de setembro no Museu do Rio. São 46 atrações de todo o país, além de uma tenda eletrônica com vários DJs se intercalando ao longo da noite. Essa é a quinta edição do Calango, hoje um dos maiores festivais independentes do país. A programação é destacada pela completa ausência de atrações do mainstream (se é que alguma ainda existe). Outros destaques do festival são: Vanguart (MT), Montage (CE) e Macaco Bong (MT). Confira a programação completa:

31/08

01/09

02/09

02:00 The Supersonicos (Uruguai)

02:00 Móveis Coloniais de Acaju (DF)

01:00 Tequila Baby (RS)

01:30 Fuzzly (MT)

01:30 Lord Crossroad (MT)

00:30 Vanguart(MT)

01:00 Debate (SP)

01:00 Pública (RS)

00:00 Patife Band (PR)

00:30 Maldita (RJ)

00:30 Macaco Bong (MT)

23:30 Montage (CE)

00:00 Revoltz (MT)

00:00 Cabaret (RJ)

23:00 Astronauta Pingüim (RS)

23:30 The Rockefellers (GO)

23:30 Mandala Soul (MT)

22:30 Boneca Inflável (MT)

23:00 Chilli Mostarda (MT)

23:00 Supergalo (DF)

22:30 Camundogs (AC)

22:30 The Melt (MT)

22:00 Daniel Belleza e os Corações em Fúria (SP)

22:00 Cravo Carbono (PA)

22:00 Terminal Guadalupe (PR)

21:30 Cachorro Doido (MT)

21:30 Manacá (RJ)

21:00 Carolina Diz (MG)

21:00 Seminal (SP)

20:30 Johnny Alfredo e os Neurônios Mongóis (GO)

20:30 Big Trip (MT)

20:00 Parkers (MS) 19:30 Unchronics (GO) 19:00 Aoxin (MT) 18:30 Prévia

20:00 Stereovitrola (AP) 19:30 High School (MT) 19:00 Mr. Jungle(RR) 18:30 Prévias

21:30 O Quarto das Cinzas (CE) 21:00 Rhox (MT) 20:30 The Feitos (RJ) 20:00 Dead Smurfs(MG) 19:30 Snorks (MT) 19:00 Suco de Nóis (RO) 18:30 Skarros (MT) 18:00 Prévias


Fonte: pt.wikipedia.org.

Qual o seu estilo?

Temos uma necessidade de sempre colocar um rótulo em tudo que escutamos. E, a maioria das tentativas de indentificar os estilos músicais sempre Ragtime fracassamos. Talvez porque o artista não esteja Estilo musical de ritmo preocupado em qual estilo vai compor uma música e sincopado, baseado em sim quais elementos são úteis para sua melodia. esquemas de frases que se Veja a seguir a relação de alguns ritmos e suas repetem. Teve bastante expressão raízes. É mais uma tentativa, é claro!!! entre os anos 1900 e 1920, principalmente. Os músicos ou pianistas fizeram bastante sucesso entre os Saloons, Bailes e fundos Rock ‘n’ roll musicais para Rock'n'Roll vem da mistura de três gêneros: Blues, Country e Jazz. Hoje é um dos estilos mais conhecidos do mundo com várias vertentes de vão do heavy metal ao RAP Blu emocore. O Rap (do inglês Rhythm and O ritmo que Poetry, ritmo e poesia) é a diversas verte expressão musical-verbal da que escutamos cultura Hip Hop. A origem do Rap cultura afro-a remonta à Jamaica, mais ou termo Blues menos na década de 60 quando expressão loo surgiram os Sound Systems, com medo, que eram colocados nas depre ruas dos guetos jamaicanos

Hip Hop Hip-Hop não é só um estilo de música ou um modo de se dançar. É, principalmente, um movimento cultural,iniciado nos Estados Unidos, que fala sobre a cultura das ruas, das esquinas, dos guetos, enfim, dos conflitos sociais e da violência urbana vividos pelas classes menos

Soul Music O Soul é um gênero de música que nasceu do rhythm and blues e do gospel durante o final dos anos 50 e início dos 60 entre os negros norte-americanos. A música soul normalmente apresenta cantores individuais acompanhados por uma banda tradicionalmente composta de uma seção


Jazz Country Música country, antes conhecida como música country e western music ou country-western, é um estilo musical com raízes na música folk,

Swing

Segundo a lenda a palavra jazz vem de jasm, uma redução de orgasm (orgasmo). mistura influencias tanto dos brancos quanto de pretos, blues e ragtime (ritmo que lembra marchas), não é a toa que o ritmo tomou tanto o espírito de liberda

O swing é um estilo de jazz que foi muito popular na década de 1930, usualmente arranjado para grande orquestra dançante, caracterizado por uma batida menos acentuada que a do estilo tradicional do Sul dos EUA, e menos complexo, rítmica e harmonicamente falando, do que o jazz moderno.

ues

e influenciou entes dos sons s hoje surgiu da americana. O s surgiu da ok blue (estar tristeza ou essão)

DUB O Dub surgiu na Jamaica no final da década de 60. Inicialmente era apenas uma forma de remix de músicas Reggae, nos quais se retirava grande parte dos vocais e se valorizava o

Rhythm and blues Surgiu em 1940 para subistituir o termo Race Music. Com fortes influências do Jazz foi

Pop Pop pode se referir a qualquer gênero popularmente difundido da música americana rock, hip-hop, dance, R&B e do country, tornando essa uma categoria específica. A expressão "música pop" também pode ser usada para de referir a subgêneros particulares (dentro do gênero musical pop) que são em alguns casos referidos como soft rock, dance pop e pop rock (apenas nos Eua).


Perdidos no Espaço

o guia

Georgiana Calimeris Lembro sempre dessa frase quando me perco no tempo e isso faz com que me perca no espaço também. Já aconteceu de me entreter nos pensamentos e esquecer de observar a rua para atravessar, meio que acordar apenas quando o carro passa buzinando. Daí, penso: “eita, essa foi por pouco”! Sempre é por pouco. Quando pego o ônibus, observo atentamente, numa ânsia descontrolada, as paradas, os números, tudo direitinho para não me perder e ter que voltar andando um bom pedaço de caminho. Aqui, tudo é longe e tem que andar muito. Meu trabalho exige muita pontualidade. Então, se perder a parada, é certo que meus alunos perderão de dez a quinze minutos da aula e isso é inadmissível. É um momento de tensão observar o relógio, entrar no ônibus e observar direitinho tudo isso. Só relaxo quando desço na parada e pego o rumo exato. Para voltar para casa, nem é tão problemático. É só que a caminhada é chata e monótona e o diálogo interno até acaba fazendo o tempo passar. Mesmo assim, distrair-se pode ser problemático. Quando dirijo, erro os caminhos, passo retornos ou faço-os demasiado antes. Não sei seguir direções a não ser que sejam específicas. Odeio me perder e vivo me perdendo! Talvez, justamente, por já conhecer todo o procedimento que envolve o perder-se é que já não gosto. Uma vez ou outra, vá lá, é aventura, é divertido, rola adrenalina. Sempre? Nem tanto. Acho patético me perder em lugares que conheço de cabo a rabo, de cor e salteado! Me perco dentro de shopping. É ridículo rodear um microcosmo e não me encontrar em hipótese alguma. Pior é ter que ligar para alguém e perguntar onde estou mesmo? A pessoa nem está por perto e pela memória, tenta me ajudar a me localizar. Isso me faz lembrar um desenho animado que esqueci o nome, que tem um morcego com antenas tortas e vive se batendo em árvores e errando o caminho. Tem muitos anos que assisti, mas eu me identifiquei total com o morcego. Era eu! Só podia ser... Acho que só não me perco dentro de casa porque é pequeno e só não esqueço a cabeça por aí porque está pregada ao pescoço. Ia ser até hilário... esquecer a cabeça em bares, cafés, escolas. Já pensou? Voltar para pegar a cabeça revoltada por ter sido esquecida e outras cabeças à espera dos corpos para levá-las de volta para casa. Mas, nem tudo está perdido. Há sempre boas histórias a serem contadas. Dá para divertir outros seres humanos e rir de si mesmo é sempre um bom remédio e uma boa saída para quando é inevitável, quando a gasolina do carro está acabando e tudo que a gente consegue pensar é: meu Deus! Estou perdido! Perdido é pouco... mas, enfim, o importante é que temos como sobreviver aos pequenos deslizes e dar continuidade à vida, mesmo, perdidos no espaço!


Guerra Civil na Marvel mundo geek

O que aconteceria se o governo americano resolvesse obrigar todos os superheróis do país a revelar suas identidades secretas e trabalhar oficialmente pra ele, com a ameaça de prisão para aqueles que desrespeitassem a nova regra? A resposta pode ser conferida em Guerra Civil, minissérie em sete partes com os heróis Marvel, escrita pelo (quase) sempre genial Mark Millar (responsável por sucessos como Os Supremos e Chosen – O eleito do Senhor). Após uma ação frustrada da equipe de jovens heróis conhecida como Novos Guerreiros, que resultou na morte de todos eles e de centenas de civis, o público volta-se contra os super-heróis, forçando o governo americano a implementar a Lei de Registro de Super-Humanos. É o estopim para uma verdadeira guerra, dividindo a comunidade heróica entre aqueles que apóiam e os que são contra a Lei. Até mesmo o Capitão América aparece como um personagem interessante nesta história, ao ficar contra o governo e agir na clandestinidade. Ainda em publicação no Brasil, Guerra Civil promete abalar os alicerces da Casa das Idéias. A arte, a cargo de Steve McNiven e Dexter Vines (respectivamente desenhista e arte-finalista) e as cores de Morry Hollowell fazem desta história também um espetáculo para os olhos. Leitura essencial para quem procura algo diferente nos quadrinhos de super-heróis hoje em dia. (Leonardo de Moura)


RPG

Alternativo

Rúbia Cunha Em uma matéria anterior, abordamos o tema “RPG na Internet”, onde a colaboradora Georgiana Calimeris em parceria com Mariana Camara, começaram a mostrar os conceitos existentes para que compreendêssemos esse universo que ainda gera dúvidas e polêmicas. Elas apontaram os diversos tipos de RPG's que podem ser encontrados por leigos que pretendem mergulhar nesse mundo tão interessante. Devido à extensão do material, seria uma covardia entregar o tesouro todo de uma vez. Mas para que possamos aprofundar o assunto, precisamos relembrar o que vem a significar esse conceito: O RPG é um jogo pouco convencional. Em um teatro, os atores recebem seu guião (ou "script"), o conjunto de suas ações, gestos e falas, com tudo o que suas personagens devem saber. Você interpreta uma personagem de ficção, seguindo o enredo definido em um roteiro. Num jogo de estratégia, por outro lado, você está seguindo um conjunto de regras onde, para vencer, é preciso vencer desafios impostos por seus adversários. Cada partida é única, uma vez que é impossível prever seus movimentos durante o jogo. No RPG, esses dois universos se unem. Com o avanço da tecnologia e a facilidade da comunicação, o jogo se expandiu na internet nas mais variadas formas: PbEM (Play by E-Mail), Massively Multiplayer Online Role Playing Game (MMORPG), Eletrônico, entre outros. Ou seja, o tradicional foi formatado para a forma online que simula as fichas e os dados. Mas o motivo da volta à abordagem temática, deve-se pelo fato de que jogadores de RPG, cansados das regras encontradas em sistemas conhecidos, buscam criar seus próprios universos em fóruns, bloggers e orkut. Enquanto uns ainda se firmam nos sistemas existentes para fazer a base do novo mundo ofertado, outros buscam algo mais.

Pude não só presenciar, como compartilhar algumas muitas vezes a criatividade de Mariana Camara na criação de um RPG Alternativo. Preocupada em fazer algo inédito, Mariana procurou temas complexos como os Pecados Capitais (SinS), os Elementos (Filhos de Kiliel), e até mesmo um mundo futurístico e caótico (HoliDay). Mesmo que alguns pensem ou que venham dizer que tais temas não são inéditos, um RPG Alternativo, busca escapar dos velhos conceitos existentes em sistemas como os das grandes empresas do ramo – White-Wolf, FASA, Wizard of the Coast, Metropolis, etc – visando resgatar o tradicional, mesclando-o com o de internet, fugindo das regras e dados que podam tanto os jogadores que buscam algo novo. Mas a minha opinião se tornaria suspeita, já que sou uma fã de carteirinha da Mariana. Por esse motivo, nada mais justo do que a criadora destes três RPG's que citei, para falar e mostrar o que há de inédito neles.


Rúbia Cunha: Antes de entrarmos nos RPGs criados por você, diganos o que sente quando cria esses mundos? Mariana Camara: Não sei ao certo...É estranho você criar um mundo todo numa cabeça só... Hahaha... Chega a ser coisa de maluco mesmo. Você acorda um dia e diz: “Pensei nisso! Acho que pode funcionar num jogo!” e quando se dá conta, colocou num papel, comentou com os amigos e todo mundo te diz “é, parece uma ótima idéia!”, é incrível como essas coisas ocorrem assim, sem um planejamento árduo. Você não vai dormir pensando em criar algo do nada. Isso brota de algum lugar, seja influenciado ou não por algo ou alguém e cria vida própria. Se o jogo não tiver vida própria, ele não vai funcionar nunca. Você apenas o passa pro papel, ou expõe num canto da internet e vê ele andar sozinho, abrir suas asas e fugir do seu controle. É essa a beleza em fazer isso. Rúbia Cunha: Aprofundando um pouco mais... O que o SinS significou para você e de onde surgiu a idéia para criá-lo? Mariana Camara: O SinS sempre foi algo especial. Ele surgiu de uma idéia boba, quando estava reunida com alguns amigos. Cada um tinha um personagem solitário, que era usado para jogos esporádicos... Esses jogos que surgem quando se tem um vácuo de idéias (se é que isso é possível, haha). Mas quando unimos os personagens notamos que aquilo funcionava, que eles tinham uma certa química e os b a c k g r o u n d s q u e f o ra m s e encaixando aos poucos, sem nenhum problema, como se já tivessem sido feitos para isso. O que fizemos foi tecer uma história única, que envolvesse não somente eles, mas futuros personagens e que pudesse ser jogado por outras pessoas que desejassem seguir o mesmo tema. Rúbia Cunha: Poderia nos falar um pouco mais sobre os Filhos de Kiliel e sua abordagem?

Mariana Camara é autora de diversos RPGs alternativos

Mariana Camara: Falar sobre o projeto é algo complicado. Kiliel desde o início já dava sinais de que seria uma coisa intrincada e grande, às vezes grande demais para mim... Tanto que ele teve seus altos e baixos, mas agora está tomando um rumo certo, especialmente após o registro da idéia, dos textos e do biótipo das personagens. Já a abordagem é algo bem simples... O que facilita o fator de jogabilidade do sistema, que será trabalhado sobre turnos e não sobre dados como os RPG's comuns... Mas isso ainda está sendo trabalhado aos poucos. Rúbia Cunha: Como está sendo o desafio de criar o HoliDay? Mariana Camara: Muito bom... Cansativo, extenuante, mas muito bom. É sempre legal fazer algo diferente. É a primeira vez que trabalho em um projeto de ficção científica, criando raças, corporativas e tudo o que se torna necessário para que um mundo novo funcione. O mais legal é que HoliDay se desenhou como uma brecha na história de Kiliel... Mas isso é surpresa, só jogando pra conferir.

Rúbia Cunha: Ambas sabemos o quão difícil é manter a idéia original de algo que criamos com tanto carinho, mas qual é a maior dificuldade que você encontra nos dias de hoje? Mariana Camara: Conseguir bons jogadores. Rúbia Cunha: Quando você cria esses sistemas novos, o que a diferencia das demais pessoas que buscam criar um RPG Alternativo? Mariana Camara: Poxa, creio que nada... RPG's alternativos são sempre uma coisa muito interessante, sejam criados por jogadores ou por profissionais... São uma forma de expor idéias e tentar mostrá-las às pessoas que curtam os mesmos temas e que talvez tenham tido idéias semelhantes... Rúbia Cunha: O que tem sido mais importante para você, durante a criação desses novos sistemas? Mariana Camara: A compreensão das pessoas ao meu redor. Se não fosse por elas, com certeza eu já teria sido internada como louca.


Aumenta, mas não inventa

para ver

Rúbia Cunha Minha resistência em assistir produções nacionais é grande. Sempre imponho uma única condição: vejo apenas se for com parentes. Mas trabalhando numa locadora em bicos provisórios, resolvi me arriscar com esse filme que é indicado aos concursandos. A diretora e roteirista Eliane Caffé, mostra-nos que toda história contada pelo povo, mesmo que aumentada, sempre possui uma base verídica. E é justamente isso que encontraremos nessa narrativa. Com histórias dentro umas das outras, a criação dessa película, mostra um fato contado posteriormente para turistas à beira de um rio. Tudo gira ao redor da tentativa desesperada dos habitantes em salvar a cidade de Javé da destruição total, ao descobrirem que uma usina hidrelétrica será construída no lugar que eles habitam. Todos nós sabemos que os arredores da região em questão é alagada. Os moradores de Brasília também conhecem alguns casos sobre a construção do lago Paranoá, tendo alguns que são vistos como lendas urbanas e outros não. Vocês leitores já se perguntaram se todas as árvores são retiradas? Ou quem sabe se as casas a beira do rio, veículos quebrados e tantas outras coisas mais, são removidos do local? Quem conhece bem os casos, sabe que a resposta é não. Mas, quem desconhece, poderá ter uma idéia do que a construção de uma hidrelétrica pode vir a causar assistindo a esse filme. O mais interessante de tudo, é ver o empenho que os habitantes têm ao procurar um escrivão para que ele registre as histórias de como surgiu a cidade. Claro, todos gostam de contar a sua versão, nem que para isso um fato ou outro seja acrescentado, gerando divertidas divergências dentre os moradores locais. José Dumont, vive o papel de Antônio Biá, o escrivão encarregado de anotar todas as histórias da população. Orgulhoso em dizer que conhece muitas, mas que jamais havia escrito uma, esse divertido personagem mostra os trejeitos dos demais vividos pelos atores Matheus Nachtergaele, Gero Camilo, Nélson Dantas, Rui Resende, Nélson Xavier, Luci Pereira, Jorge Humberto e Santos. Diferente de muitos filmes nacionais, em que vemos os problemas que a ditadura impôs ao povo brasileiro, podemos nos divertir com as histórias contadas de formas diferentes. Assim como encontraremos as reações das pessoas que escutaram tudo à beira do rio, perguntando a si mesmas, se o que ouviram era verídico ou não. Mas se você ainda resiste às produções

nacionais, devo alertá-lo: elas não são mais aquelas que só rola “putaria” e palavreado. Bom... os palavrões ainda continuam. Afinal, não ter isso em filmes contemporâneos nacionais é o mesmo que dizer aos americanos para extingüirem dos seus os famosos jargões falados em cada quatro de cinco frases. Exagerada? Nem um pouco, mas se quisermos ver algo sem palavreados, temos que buscar aquelas produções que contam a história do Brasil em sua época de Colônia ou até mesmo do Império, e olha que ainda sim, veremos os palavreados mais rebuscados. Mas o assunto não é esse, não é mesmo? Estamos falando sobre os atuais filmes nacionais de excelente qualidade e que estão sendo vistos como importantes para aqueles que pretendem fazer concursos e vestibulares, se assim não o fosse, a produção que estou sugerindo a vocês jamais teria recebido nove indicações, ganhado seis prêmios e sete troféus em festivais como: Grande Prêmio Cinema Brasil, Festival do Rio, Festival Internacional de Friburgo (realizado na Suíça), Calunga, Festival do Audiovisual 2003 (Cine PE).


Rafi e Dave Acho que todo mundo que gosta da Legião Urbana já imaginou, em algum momento, que fazer um filme inspirado em Faroeste Cabloco e Eduardo e Mônica seria uma boa idéia. A última música, em especial, seria uma bela comédia romântica onde um carinha de 16 anos, meio filhinho de papai, se apaixona por uma mulher mais velha, artista plástica, estudante de medicina e que ainda por cima fala alemão. Bom, você conhece a história! Esperava que esse filme fosse brasileiro, mas não é que os americanos já fizeram um? Não sei se Ben Younger já ouviu falar de Renato Russo, mas ele chegou muito próximo do espírito de Eduardo e Mônica ao escrever e dirigir Terapia do Amor (Prime – EUA, 2006). O enredo é muito simples. A atriz Uma Thurman dá vida a Rafi, uma profissional bem sucedida de 37 anos e recém divorciada. Eis que um belo dia ela esbarra em David (Bryan Greenberg), um jovem artista plástico judeu de apenas 23 anos. Os dois se conhecem, se apaixonam e vivem uma história onde precisam superar barreiras que a própria diferença de idade impõe. David mora com os pais, Rafi é dona de um belo apartamento. David ouve rap, e Rafi, jazz. Os amigos dela

são pessoas intelectualizadas, o dele é um mané. Rafi é uma pessoa de muitos contatos, enquanto David está apenas começando. Ainda assim os dois tinham Lisa Metzger (Meryl Streep) em comum: mãe dele e terapeuta dela. É cair num lugar comum dizer que Meryl Streep rouba o filme. Mas nesse caso, ela acaba sendo a melhor e a pior coisa em Terapia do Amor. Sua Lisa Metzger brilha ao enfrentar o dilema em continuar a ajudar Rafi, ao mesmo tempo que reprova a relação que sua paciente tem com o filho. Ela, inclusive, leva o caso para a própria terapeuta(!). Mesmo que seu personagem tenha espaço menor, porém fundamental, na trama dos dois apaixonados, suas aparições tornam-se um problema. É que a química entre Meryl Streep e Uma Thurman é muito maior do que a do par romântico. Isso tira o foco da história, uma vez que você passa a se interessar mais pela relação entre paciente/nora e terapeuta/sogra. De qualquer forma, o espírito Eduardo e Mônica está ali, mesmo que o desfecho seja diferente do proposto na música. E quando termina, a sensação que fica é que a qualquer momento o violão folk vai começar a soar junto com o vozeirão de Renato Russo. "Quem um dia irá dizer que existe razão pras coisas feitas pelo coração/ e quem irá dizer que não existe razão". (Djenane Arraes)


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