Livreto do Projeto "Grafite agora é arte!"

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Aritana de Andrade Gabriela Ribeiro Karine Barbosa Marcella Doratioto

GrAFIte

AGORA

É ARTE!



Aritana de Andrade Gabriela Ribeiro Karine Barbosa Marcella Doratioto

GrAFIte

AGORA

É ARTE!


Editor Responsável: GABRIELA ROCHA RIBEIRO

Produção de Video: Equipe Alegoria

Editor de Video: ARITANA ROBERTO QUEIROS DE ANDRADE

Produção Gráfica: Equipe Alegoria

Editor de Arte: KARINE DOS SANTOS BARBOSA

Fotografia: Equipe Alegoria Stock Xchng Vi

Editor de Texto: MARCELLA DORATIOTO

Grafites: DANIEL CACCIATORE Produção de Texto: Equipe Alegoria Impressão: Alpha Graphics e PróDigitall

1. edição:  dez. 2011

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Andrade, Aritana; Ribeiro, Gabriela; Barbosa, Karine; Doratioto, Marcella Grafite agora é arte / Aritana de Andrade; Gabriela Ribeiro; Karine Barbosa; Marcella Doratioto. — São Paulo: Editora Vida, 2011. ISBN 978-85-356-0345-3 1. Arte urbana 2. Cultura 3. História 4. Biografia. 11-10376

CDD-269

Índices para catálogo sistemático: 1. Arte urbana: História e cultura   269


Arte Urbana

O

s esforços para uma arte disponível às grandes massas vem desde a pop art; no contexto da pós-modernidade, o grafite pôde transformar a cidade num museu a céu aberto, acessível a todos. É uma arte efêmera, que não busca a permanência para se consagrar, busca a expansão. Dialoga com a cidade, propondo ao meio a comunicação de forma interativa. O grafite veio para democratizar a arte, os lugares que antes não eram percebidos por quem passava, começam a ser notados, representando um ganho de espaço visual na cidade. Os primeiros registros do grafite em São Paulo foram na década de 70, período da ditadura militar. Escrever nos era muros uma forma de manifestação a favor da democracia, outros eram nomes ou frases aleatórias como Cão Fila Km 22, que foi a mais famosa da época. Os nomes e frases fixados


nos muros da cidade refletiam o desejo dos cidadãos em dizer que eles estavam ali, como uma marcação de território. Com o passar dos anos, os artistas aprimoraram suas técnicas influenciados pelas idéias trazidas de Nova York e dessa forma aperfeiçoa-ram seus trabalhos. A década de 80 representou a consagração do grafite enquanto linguagem, embora adorada e repudiada por muitos, em 1981 tornou-se oficialmente reconhecido com a apresentação do audiovisual “Interferência urbana”, com os grafites de Alex Vallauri em sua exposição “Muros de São Paulo”, na Pinacoteca do Estado. Foi o reconhecimento do grafite como arte que contribuiu para sua expansão, hoje os grafites não se limitam só aos muros da cidade, podem ser vistos em estampas de roupas, fachadas e interior de lojas, grafiteiros são contratados até para decorar apartamentos. Agora você pode explorar a evolução do grafite, sentir a força de expressão dessas palavras, olhar e viajar nas imagens nos muros, acompanhar a história dessa arte de rua que entrou para as galerias e museus.


ANOS 70

ANOS 80

ANOS 90

UM NOVO SÉCULO

Linha do Tempo Linha do Tempo Linha do Tempo Linha do Tempo ANOS 70

ANOS 80

ANOS 90

UM NOVO SÉCULO


ANOS 70 A maior relevância dos anos 70 para o grafite em São Paulo foram as aparições de alguns artistas que iniciariam seus trabalhos, os quais se desenvolveriam e ganhariam reconhecimento na década seguinte. Infelizmente, as informações sobre o grafite nessa década são limitadas, devido ao tardio registro desta arte, que além de ser efêmera tinha sua produção limitada em virtude do vigor da repressão do AI 5, que vigorou até outubro de 1978. O AI 5 teve início em 1968, quatro anos depois do golpe mili-

tar. Ele tinha o intuito de deter os opositores do regime. Através de atos complementares, fechou o congresso, suspendeu direitos políticos, confiscou bens e, entre outros poderes, podia deter qualquer pessoa por 60 dias para interrogatório, este muitas vezes feito através de tortura. O grafite surgia como poética do abandono, que chamava a atenção aos esquecidos pelas autoridades públicas e dava voz ao excluídos que viviam nos grandes centros urbanos; o que tornava a cidade de São Paulo um terreno fértil para essa nova arte.


1978

O norte americano radicado no Brasil, John Howard, que desenhava grandes cabeças psicodélicas à mão livre, com o auxilio de pequenas máscaras acompanhadas da inscrição “DEUS SE COME-SE” começa a atuar na região de Santo Amaro.

Alex Vallauri começa a fazer em São Paulo, através de máscaras, sua famosa botinha, que gradualmente foi ganhando outros elementos como a luva e o maiô, até se tornar uma mulher apontando um frango assado.

crédito: divulgação

1975

Alex Vallauri: botinha


ANOS 80 O grafite começa a fazer parte do cenário urbano com maior força e também a invadir os circuitos artísticos e plásticos. Apesar disso, continua a ser marginalizado pelos políticos e pelas autoridades; e, por isso, não consegue desvencilhar-se da pichação. Com o “boom” do grafite nos anos 80, outros nomes começam a se destacar pelas paredes da cidade, são eles: Ivan Sudbreck, Numa Ramos, Jorge Tavares, Job Leocádio, Márcia Mayumi Chicaoka e Carmen Akemi Fukunari, além dos veteranos Alex Vallauri, Carlos Matuck, Waldemar Zaidler, Maurício Villaça e dos integrantes do grupo TupiNãoDá.


1987

O grafite é consagrado enquanto linguagem e torna-se oficialmente reconhecido com a apresentação do audiovisual “Interferência Urbana”, com os grafites de Alex Vallauri em sua exposição “Muros de São Paulo”, na Pinacoteca do Estado.

O TupiNãoDá, um grupo de estudantes que começou a interferir no espaço urbano através de performances e grafites, é preso por grafitar o túnel da Rebouças. Alex Vallauri falece e inspira a criação do Dia Nacional do Grafite (27 de março).

Grupo TupiNãoDá

crédito: divulgação

1981


1989 O estilo americano, caracterizado por letras coloridas e figuras humanas dançando, que refletem nuances do universo do Hip Hop, chega à cidade de São Paulo através dos grafiteiros Gustavo e Otávio (OsGêmeos), Speto, Binho, Tinho e Grupo Aerosol, entre outros. crédito: divulgação

De passagem pelo Brasil, o crítico de arte e repórter fotográfico Enio Massei, diz: “São Paulo tem o privilégio de ser a única cidade do mundo a ter um grupo de artistas trabalhando dentro de uma coerência linguística com homogeneidade que não se encontra nem mesmo em Nova York”.

Grafite de Binho Ribeiro


ANOS 90

Nesta década, os políticos adotam novas condutas em relação ao grafite, diferentemente da década de 80. Os movimentos culturais emergentes, dentre os quais se destaca o grafite, interferem na cidade de forma nova através de sua estética. Uma geração de jovens descobre uma forma de comunicação e dialoga com a população. A arte de rua maldita por “sujar” consegue ultrapassar essa barreira estigmatizante.


1992

O jornal Folha de São Paulo promove uma performance visual com raio laser em comemoração aos seus 70 anos. O evento contou com a participação dos poetas Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Haroldo de Campos e do poeta grafiteiro, Walter Silveira, primeiro a exibir poemas nos muros da cidade.

A Prefeitura de São Paulo passa a fornecer cursos sobre a interferência do grafite na cidade, além de recursos e transporte. Apesar de alguns grafiteiros, como Carlos Matuck, criticarem a postura da Prefeitura ao indicar os lugares que podem ser grafitados, a aceitação é ótima. crédito: divulgação

1991


1994 O grafiteiro Daniel Medeiros (que assina como “Boleta”) surge nos muros da cidade e tem seu trabalho divulgado em diversas revistas nacionais, internacionais e exposições. Seu grafismo se diferencia pelos traços curvilíneos, formas orgânicas e distorcidas com cores leves. crédito: divulgação

Ocorre a I Mostra Paulista de Grafite, onde Tina Vieira declara que considera excelente a iniciativa da Prefeitura em apoiar o grafite, interditando as ruas para facilitar a atuação dos grafiteiros e doando o material necessário, permitindo até levar o material que sobrar para casa.

Boleta grafitando


1998

Surge Rafael Calazans Pierri, mais conhecido como “Highraff”. Com a ascensão da imagem do grafite na mídia e o recente processo de desmarginalização, o trabalho de Highraff se destaca, o que favorece a abertura para expor em outros espaços mais inusitados.

O presidente da República sanciona a nova Lei Ambiental de número 9.605, que conceitua a pichação e o grafite sem diferenciá-los e os declara crime contra o meio ambiente passível de penalidade.

crédito: divulgação

1997

Highraff grafitando


crédito: divulgação

Os artistas Rui Amaral, Ana Letícia Beto Marson, Marco Passareli, Numa Ramos, Beto Pandim, Jorge Luiz Tavares, Júlio Barreto, John Howard e Mauricio Villaça são presos pela Guarda Municipal de São Paulo por grafitarem o túnel sob a Praça Roosevelt.

Grafite de Rui Amaral, um dos artistas presos

A prisão dos artistas, que são indiciados por danos ao patrimônio público e autuados como criminosos, vira capa de revistas como “Veja São Paulo” e também das revistas alemãs “Der Spiegal” e “Stem”, além de foco de matérias dos jornais “O Globo”, “Jornal da Tarde” e “Jornal do Brasil”.


UM NOVO SÉCULO

No ano 2000, o grafite já tinha feito muitas conquistas na cidade de São Paulo, que passou a ser chamada por alguns de “capital do Grafite”. Muitos museus e galerias começaram a aceitar a concepção de grafite como arte, e não como vandalismo. Representado por grafiteiros de prestígio nos circuitos artísticos e sociais, o grafite começa a invadir outros setores, como a Gastronomia, a Moda e até mesmo o Design de Interiores. Grafite passa a ser sinônimo de bom marketing, sendo objeto de exclusividade e criatividade para consumidores e admiradores.


2005

A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) lança como parte de suas ações sociais e culturais o “Projeto Grafite”, com o objetivo de aproximar o público jovem da companhia e incentivar a conservação e renovação dos seus espaços.

Nascida da parceria entre os grafiteiros Flávio Ferraz, o “Jey”, e Daniel Medeiros, o “Boleta”, a Grafiteria surgiu em 2005 com o objetivo de suprir a falta de espaço para exposições de arte urbana em galerias e museus convencionais, bem como acabar com a discriminação acerca da Street Art.

crédito: divulgação

2001

Grafiteiro nas dependências de uma das estações da CPTM


2009

A pichadora Caroline Pivetta é detida por 53 dias, por pichar o segundo andar da 28º Bienal de Arte de São Paulo, com a ajuda de mais quarenta colegas. Caroline fazia parte do grupo “Sustos”, que já havia invadido outros prédios. O caso teve repercussão nacional.

O MASP (Museu de Arte de São Paulo) recebe pela primeira vez a arte das ruas na exposição “De Dentro Para Fora/De Fora Para Dentro”, de curadoria de Baixo Ribeiro, com a apresentação de murais de seis grafiteiros brasileiros. crédito: divulgação

2008

Salão do MASP com exposição "De Dentro Para Fora/De Fora Para Dentro”, de curadoria de Baixo Ribeiro


2010

crédito: divulgação

Ocorre a 1º Bienal Internacional de Graffiti Fine Art, no MuBE (Museu Brasileiro da Escultura). De curadoria de Binho Ribeiro, um dos pioneiros do grafite no Brasil e na América Latina desde 1984, a exposição reúne obras de cinquenta nomes importantes do grafite mundial.

Logo da 1º Bienal Internacional de Graffiti Fine Art

Durante a festa do réveillon que ocorre todos os anos na Av. Paulista, o grafite invade o espaço com um toque de tecnologia. Importada da Holanda, a “parede digital” possibilita que o artista crie imagens virtuais com um spray acionado por sensores, como um controle de videogame sem fio, que não solta tinta.


HOJE

A principal conquista do grafite no ano de 2011 foi sua oficial descriminalização pela Lei. Em 26 de maio de 2011, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 12.408, que altera o artigo 65 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, para descriminalizar o ato de grafitar, e dispor sobre a proibição de comercialização de tintas em embalagens do tipo aerossol a menores de 18 (dezoito) anos. Não mais constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio

público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional. A Lei ainda destaca que o ato de pichar continua sendo crime, com pena de três meses a um ano, além de multa.

Para saber mais sobre a história do grafite na cidade de São Paulo, além de notícias, vídeos e exposições, acesse o site:

http://www.wix.com/alegoriaproducoes/grafite


DAnIeL CACCIAtOre

D

aniel é grafiteiro há 16 anos, além de desenhar é vocalista da banda de grindcore Presto? um hardcore cru, rápido e sem frescuras. Começou a grafitar em 1995 e acompanhou de perto a evolução do grafite. Enfrentou as dificuldades de acesso a informações sobre o assunto; na época não haviam materiais especializados como hoje, as novidades eram repassadas entre os grafiteiros. Inicialmente seus grafites eram feitos em Santo Amaro e Moema, bairro que ainda mora. O crescimento da banda contribuiu para a repercussão de seu trabalho, ele produzia os desenhos das camisetas e capas dos discos do Presto?. O estilo diferenciado de seus grafites ganhou visibilidade entre importantes marcas de produtos ligados ao skate, ele produz estampas para as roupas e acessórios da Urgh, Element e Weird. Daniel conseguiu fazer do grafite sua profissão, seu trabalho pode ser visto não só nos muros e roupas, mas em galerias como a Choque Cultural.



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