LIVRO ICONOGRAFIA VIVA O MERCADO

Page 1



São José Boa Vista Casa Amarela Madalena Cordeiro Encruzilhada

1ª EDIÇÃO

PERNAMBUCO 2014


© 2014, SEBRAE/PE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco É proibida a duplicação ou reprodução deste livro, total ou parcial, por quaisquer meios, sem a autorização expressa do Sebrae/PE 1ª edição 1.000 exemplares Endereço para contato SEBRAE/PE - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco Rua Tabaiares, 360 – Ilha do Leite, Recife/PE Gestora da Unidade de Comércio e Serviços Ana Cláudia Dias Gestora do projeto Valdenice Ferreira Consultores conteudistas Edjailson Xavier Eugênia Miranda Equipe de pesquisa Camila Melo Clarisse Pereira Yves Albuquerque Consultoria em imagem Simone Murua Consultor ad hoc Me. Luiz Severino da Silva Jr. Ilustrador dos ícones Leonardo Costa (Buggy)


Sumário PREFÁCIO........................................................................................................................................................ 6 VAMOS AO MERCADO................................................................................................................................... 9 Mercado de São José .......................................................................................................................... 10 Conhecendo sua história .............................................................................................................. 10 Curiosidades da época .................................................................................................................. 12 Um passeio pelo mercado nos dias atuais ................................................................................... 14 Mercado da Boa Vista ......................................................................................................................... 15 Conhecendo sua história ............................................................................................................... 15 Curiosidades da época .................................................................................................................. 16 Um passeio pelo mercado nos dias atuais .................................................................................... 17 Mercado de Casa Amarela.................................................................................................................. 18 Conhecendo sua história ............................................................................................................... 18 Curiosidades da época .................................................................................................................. 19 Um passeio pelo mercado nos dias atuais ................................................................................... 20 Mercado da Encruzilhada.................................................................................................................... 21 Conhecendo sua história ............................................................................................................... 21 Curiosidades da época ................................................................................................................. 22 Um passeio pelo mercado nos dias atuais ................................................................................... 23 Mercado da Madalena ....................................................................................................................... 25 Conhecendo sua história .............................................................................................................. 25 Curiosidades da época ................................................................................................................. 26 Um passeio pelo mercado nos dias atuais. ................................................................................... 27 Mercado do Cordeiro .......................................................................................................................... 31 Conhecendo sua história ............................................................................................................... 31 Curiosidades da época ................................................................................................................. 33 Um passeio pelo mercado nos dias atuais ................................................................................... 34 BIBLIOGRAFIA REFERENCIAL .................................................................................................................... 37 ÍCONES DOS MERCADOS .......................................................................................................................... 38 Ícones históricos e contemporâneos do Mercado de São José ..................................................39 Ícones históricos e contemporâneos do Mercado da Boa Vista..................................................45 Ícones históricos e contemporâneos do Mercado de Casa Amarela .........................................48 Ícones históricos e contemporâneos do Mercado da Encruzilhada ...........................................52 Ícones históricos e contemporâneos do Mercado da Madalena ................................................56 Ícones históricos e contemporâneos do Mercado do Cordeiro ..................................................60 Ícones Gastronômicos ..................................................................................................................64



Prefácio

Visitar os mercados da cidade do Recife pode ser uma experiência econômica de abastecimento, mas também pode ser uma experiência gastronômica, recreativa, musical e até mesmo histórica. Assim, os seis mercados aqui selecionados são dotados não só de produtos e serviços, mas possuem uma multiplicidade de sabores, cheiros, ambientes, práticas e manifestações culturais que são próprios do nosso processo de urbanização, que se intensificou desde o século XIX. O modelo europeu que norteou nossos primeiros mercados buscou implementar uma higienização e uma organização urbana que foram disseminadas pela segunda Revolução Industrial (1850-70), ao longo do século XIX, e desejadas por nossos administradores municipais. Porém, nossos produtos e nossa maneira de vender no varejo, através de reclames como “Olha o produto, freguês...”, parecem ter imposto ao modelo de fora uma dinâmica toda nossa. Os mercados erguidos para substituir as feiras acabaram, por vezes, sendo cercados por elas. Assim, em cada bairro, nossos mercados encontram caminhos cotidianos para se adaptar à venda dos mais variados produtos. Para melhor compreendermos sua história e dinâmica, este trabalho busca interagir com seus signos e práticas cotidianas. Em nosso olhar, identificamos um padrão histórico que permite compreendê-los em pares, independentemente do espaço geográfico. Os dois primeiros mercados a serem vistos são o de São José e o de Casa Amarela. Representantes da arquitetura do ferro, são construções que exemplificam nossa tardia busca pelos modelos europeus de organização econômica, que também nos legaram pontes de ferro, o sistema ferroviário, postes elétricos e alguns quiosques e coretos de ferro. No caso do Mercado de São José, que foi inaugurado no ano de 1875, temos uma edificação que na “atualidade” foi tombada pelo seu valor histórico e artístico, sendo o exemplar mais antigo da arquitetura do ferro no Brasil. Seus espaços de venda e ornamentos da fachada são a expressão do gosto europeu, cabendo ao visitante vivenciar pelo menos duas experiências. A primeira é a estética do ambiente, visualizando-se as gárgulas das calhas, vitrais e rosáceas e demais ornamentos, e a segunda é a estética dos produtos, feita através do reconhecimento dos setores de venda e da interação com seus comerciantes. Com isso, em uma visitação que busque o melhor produto e o menor preço, pode-se não só entender as setorizações como a essência do comércio praticado. Só assim entendemos que o mercado do peixe é um mercado dentro do mercado, ou que o setor de produtos artesanais representa uma tendência mercadológica que integra turistas, lembranças e artesãos das mais variadas áreas do Nordeste. Já o Mercado de Casa Amarela é um exemplar mais tardio do modelo de mercado de ferro. Instalado em 1930, este mercado possui uma dinâmica fortemente ligada ao cotidiano do bairro. Desenvolveu uma vocação boêmia e gastronômica através das duas dezenas de barezinhos que ocupam todos os boxes externos e parte dos internos. Neles são servidos pratos cotidianos da cozinha regional, que vão desde o clássico feijão, arroz e carne, até a galinha à cabidela e a famosa buchada. Internamente seus poucos boxes de mercadorias oferecem artigos eletroeletrônicos e de vestuário, conforme a dinâmica dos camelódromos contemporâneos, tendência comercial que também está presente em outros mercados públicos.



No que diz respeito aos mercados da Boa Vista e da Madalena, podemos iniciar seus vínculos pela arquitetura de alvenaria. Este tipo de material permitiu maior liberdade nas reformas e ampliações, dentro do gosto de seus comerciantes. É verdade que descaracterizações podem ter sido feitas, mas as marcas do tempo são fruto da ação de seus concessionários, que ditaram a dinâmica das reformas dos espaços em nome do uso. Assim, mesmo tendo sido erguido por volta de 1865, o atual Mercado da Boa Vista encontrou sua forma entre 1901 e 1946. Com isso, foi possível absorver a feira livre do entorno, que passou a ocupar parte dos boxes internos. Porém, mesmo com todas as mudanças arquitetônicas, suas linhas neoclássicas ainda podem ser percebidas em sua fachada principal, onde temos arcos e linhas de cornijas remanescentes. Sua porta principal ainda possui vestígios do que foi seu frontispício – adentrar por essa porta ainda nos permite perceber o desejo de ordenamento do fluxo para o seu amplo pátio interno. Nele dominam os bares e a comida de boteco, com seus tira-gostos e demais petiscos que provocam a convergência de visitantes de várias partes da cidade, e não só dos moradores do bairro. Isto talvez ocorra devido ao fato do mercado manter-se aberto durante o carnaval, o que atrela os serviços dos bares à grande festa popular. Da mesma forma, temos o Mercado da Madalena. Muito mais jovem, fundado em 1925, é uma obra municipal que procurava conter e ordenar a feira livre que ali existia. O mercado ainda mantém parte da sua integridade arquitetônica e dos seus pavilhões internos, onde os produtos de abastecimento de gêneros alimentícios, limpeza e frutas são predominantes. Mas possui um perfil único: a venda de animais de estimação através da chamada Feira do Passarinho. Lanchonetes internas e bares instalados nos boxes da fachada, voltados para a Praça Solange Pinto Melo, dão a tônica do espaço boêmio deste mercado. Por fim, temos os mercados do Cordeiro e da Encruzilhada. Dentre os seis mercados aqui discutidos, o da Encruzilhada parece ter atingido um maior grau de aprimoramento. Primeiro devido ao fato da sua proposta arquitetônica ter adotado o modernismo como modelo, gerando uma edificação que visava a se confrontar com os mercados de estilo eclético como os de São José, Casa Amarela e Madalena. A fachada e o bloco central do Mercado da Encruzilhada apresentam linhas retas e marquise, além de ter o seu nome construído em fonte tipográfica criada especificamente para ele. Nesse bloco central, ainda preservam-se as lajes de concreto armado que delinearam a forma do prédio. Porém, essa noção da arquitetura moderna não foi levada em consideração no momento da sua expansão, quando as necessidades de uso levaram à construção de galpões anexos, onde instalou–se o açougue, além deum conjunto de boxes variados. Segundo pelo fato de ter boxes mais amplos para produtos de abastecimento do varejo. Isto promove uma maior facilidade de expor seus produtos, além de permitir uma circulação mais tranquila dos consumidores. Seus dois restaurantes ampliaram a noção de atendimento no setor gastronômico. Por fim, temos o Mercado do Cordeiro, fundado em 1937. Este foi o único mercado a ser privatizado e depois novamente municipalizado.



Com isso, durante as décadas de 70 a 90, perdeu sua função para a feira do seu entorno, uma vez que, para os comerciantes, era melhor ocupar o espaço público do que pagar o aluguel dos boxes. Os únicos boxes que se mantiveram ativos desde a sua fundação foram os externos, que dialogavam com a dinâmica da feira do entorno. Arquitetonicamente, sempre configurou-se como uma edificação funcional e simples, possuindo um perfil de galpão com boxes sem infraestrutura sanitária. Só com o retorno da gestão municipal, no ano 2002, passou por reformas que possibilitaram a volta dos concessionários para o seu interior. Desta forma, o Mercado do Cordeiro foi contemporaneamente preparado para ser usado a partir das experiências dos mercados anteriores: sua praça de alimentação foi programada com um perfil boêmio de botecos, com gastronomia popular e ênfase no preparo da fava; já o setor varejista perfilou-se à dinâmica de produtos de camelô, sendo também orientado para as festividades do calendário oficial, ou seja, comemorando as festas de Natal, carnaval e São João.

Assim, quem quiser conhecer o povo e seus saberes, práticas e produtos, vivencie esses espaços. E viva o mercado! Luiz Severino da Silva Jr.*

*Doutorando em Arqueologia e Conservação do Patrimônio pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); e professor de História e Teoria da Arte, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).


Vamos ao mercado Os mercados públicos, em sua concepção inicial, cumpriam a função de reunir pessoas interessadas na compra e venda de produtos de primeira necessidade: alimentos secos e molhados, utensílios de casa, roupas, tecidos, animais e até escravos eram algumas das mercadorias comercializadas. Atualmente ainda atendem este público, mas perdem muito em qualidade de ambiente e serviços prestados, se comparados aos principais canais de comercialização da atualidade (shopping centers, supermercados). A vida pulsa nos mercados públicos do Recife. Eles são parte da sua identidade. Emprestam-lhe charme e revelam o caráter da sua gente, seus hábitos, costumes, sua cultura e conferem tradição. Segundo informações da CSURB, são 17 ao todo, alguns com anexos, somando 2.277 boxes. Cada qual com sua personalidade e importância na vida da comunidade. Nesta edição, estamos fazendo uma homenagem a seis mercados do Recife: São José, Madalena, Boa Vista, Encruzilhada, Casa Amarela e Cordeiro. Vamos viajar na história e encontrar nossas raízes acolhendo o valor que cada mercado tem para o seu bairro e para a nossa cidade, com sua trajetória histórica e sua contemporaneidade. Depois vamos levar na sacola os ícones escolhidos para representar, nesta edição, os mercados em destaque.

“Então, pegue sua sacola e vamos aos mercados”!



São José

MERCADO DE


Conhecendo sua história Juntamente com Santo Antônio, o bairro de São José fazia parte da chamada Cidade Maurícia, erguida na chamada Ilha de Marco André. Foi inicialmente propriedade de um colono português que deu nome à ilha (Marco André) e, posteriormente, pertenceu ao dono do Engenho Cordeiro (Sr. Ambrósio Machado). Nesta ilha, em 1630, os holandeses construíram o que hoje chamamos de Forte das Cinco Pontas, com o objetivo de proteger as águas das cacimbas que existiam ali por perto – as “cacimbas do Ambrósio”. Outro proprietário foi o Sr. Taborda. Assim, na área entre o forte e a Ponte Maurícia, surgiram ruas onde se concentrávamos soldados holandeses. Uma destas foi a Rua do Dique, que nos traz a memória dos aterros da região. A partir de 1875, depois de vários aterros e melhoramentos, passou a receber vários moradores. No mesmo período, foi inaugurado o Mercado de São José, no lugar do Mercado da Ribeira do Peixe. Até a década de 1860, São José era um bairro tipicamente residencial, não faltando festejos populares durante o carnaval, nas festas juninas e no ano-novo. A Rua da Concórdia possuía casas de portas e janelas com muita cerâmica portuguesa e francesa em suas fachadas e pessoas nas calçadas travando relações sociais. Isto foi acabando com a chegada da televisão e depois da internet, mas que no início da urbanização era muito comum. Foi nesse bairro que foi fundado o que é reconhecidamente pelo tempo o jornal mais antigo em circulação da América Latina, o Diário de Pernambuco. Figuras muito importantes do bairro são Nélson Ferreira e Alfredo Gama que, muitas vezes, eram solicitados para concertos ao piano na Rua da Concórdia. Esta rua era sempre a mais festiva durante o carnaval, com blocos e clubes, entre eles o famoso Batutas de São José. A rua foi, aos poucos, descaracterizando–se, pois passou a dar lugar ao comércio que expulsou os antigos moradores. Onde os holandeses construíram o Forte das Cinco Pontas, hoje funciona o Museu da Cidade do Recife, tendo ao lado o monumento homenageando frei Caneca e a Igreja de São José. Estes e muitos outros contam um pouco da história do bairro e atualmente são importantes pontos turísticos. Ainda é possível citar o obelisco da Praça do Pirulito e o Pátio de São Pedro. O mercado público existe no Recife desde o século XVI, quando a pequena comunidade de habitantes fez um ponto de compras no largo da Igreja do Corpo Santo (conhecido como Mercado Velho). Com os holandeses, a partir de 1630, passaram a existir vários outros mercados, entre eles o Mercado Grande de Maurícia. Percebe-se, assim, que o Recife, desde o início da colonização, possui uma tradição de mercados públicos que foram sendo estabelecidos e mudados de lugar com o passar do tempo.


No final do século XVIII, o governador D. Tomás José de Mello transferiu o mercado de carne e peixe da antiga Praça do Polé (hoje Praça do Diário) para as cercanias do bairro de São José, que passou a ser conhecido como Largo da Ribeira do Peixe. Respira–se em cada espaço a construção da cidade nesse bairro de São José, onde teve início um processo de empreendedorismo empresarial que moldou o comércio e nossa economia no movimento de reconstrução de Pernambuco. Nascia um povo e uma nação. Os portugueses estavam juntos, mas sabiam que cedo ou tarde iríamos ficar independentes, tal era o nosso grau de irredentismo diante da perda de liberdades, ocorrida após a saída do conde Maurício de Nassau. Com isso, surgiriam as lutas que trouxeram de volta os portugueses. Aquela gente foi sedimentando caminhos de sobrevivência – muitas estrebarias, campos de plantações ou sítios cercavam o bairro de São José. As pessoas viviam do que plantavam, colhiam, pescavam, já que o mar e o rio cercavam aquelas áreas, ou mesmo do que sabiam fazer em arte e criação. Era uma escola aberta do aprender para sobreviver. Logo surgiram os mascates, aqueles nativos que passavam, muitas vezes, noites em claro para colher frutos nas árvores da cidade e, pela manhã, logo cedo, caminhar pelas ruas gritando seus cantos de alegria e vendendo frutas nas portas das casas. Ainda hoje essas ruas sentem o cheiro e o sabor das frutas e os sons daquele canto: ...”Olha a mangaba”; ...”Chora menino pra comprar pitomba”...; ”Olha o cajá”. Tirava–se sustento disso tudo. Daí foi um passo para a venda de comidas caseiras, fritadas de peixe – ainda se vê, nos dias de hoje, na frente da basílica, a mulher vendendo peixe frito e tapioca. E tudo veio dessa história de construção do nosso Recife. O Mercado de São José nasceu disso tudo. Juntou mascates, vendedores ambulantes e pequenos comerciantes que cresciam em suas vidas. Como existiam os pescadores que viviam da pesca e vendiam seu pescado no Mercado da Ribeira do Peixe, esse crescimento e esse movimento tinham que ter uma referência: em 1875 construíram o Mercado de São José. A arquitetura do Mercado de São José é típica do século XIX, pois segue tendências surgidas com a Revolução Francesa e a Revolução Industrial – a primeira, ideológica, pois tudo deveria refletir modernidade; a segunda, por causa da maciça utilização do ferro a partir dela. Mas as construções de ferro, que já eram comuns na Europa em meados do século, só chegaram aqui no final dele, com estruturas importadas (e pré-fabricadas), na maioria das vezes, da França ou Inglaterra. As construções de ferro no Brasil foram incentivadas pelas indústrias de países estrangeiros, sempre tendo o LesHalles Centrales1 de Paris como referência para mercados – o primeiro desses mercados no Brasil foi o Mercado de São José. 1

Este mercado foi encomendado por Napoleão III ao arquiteto Victor Baltard.


Curiosidades da época de fundação Na política Em finais do século XIX, acontecia o que o intelectual Sílvio Romero chamou de um bando de ideias novas entrando na mentalidade dos brasileiros. Foram os intelectuais da época que tomaram para si a responsabilidade de forjar, dentro das nossas instituições científicas, uma nova identidade nacional. Joaquim Nabuco, fazendo parte dessa geração de intelectuais de 1870, foi o mais famoso abolicionista da nossa história. Nessas últimas três décadas desse século, muitas mudanças e acontecimentos se deram no Brasil: primeiro a Lei do Ventre Livre, que mostrava que o fim do escravismo estava próximo; a Guerra do Paraguai, que afora o ônus, fez com que parte dos militares apoiasse a causa escrava –a abolição viria logo, em 1888; e, em seguida, o enfraquecimento e mesmo desmanche de outra instituição brasileira, a monarquia, dando lugar ao sistema republicano. Além disso, merece destaque a construção da Torre Malakoff, que foi erguida para instalar a estação meteorológica, mas que escolheu o formato da última torre islâmica que tombou na Guerra da Crimeia, ocorrida entre os impérios europeus contra os turcootomanos, demonstrando a conduta universalizante praticada na cidade do Recife em fins do século XIX.

Na cultura No século XIX, surgiriam dois gêneros musicais que seriam as bases do que viria a ser a MPB: o lundu e a modinha. O primeiro de origem africana e o segundo de origem portuguesa. Na segunda metade do mesmo século, surgiria o choro ou chorinho, que é fruto da mistura daqueles dois ritmos e da dança de salão europeia. Chiquinha Gonzaga compõe, no fim do XIX, a marchinha Abre Alas, que se tornaria uma das músicas carnavalescas mais reconhecidas e tocadas da música brasileira. As primeiras exibições de filmes no Brasil aconteceram na última década do século XIX, no Rio de Janeiro, mas o primeiro cinema só teria sido inaugurado em 1909. Na segunda metade do século XIX, o romantismo no Brasil entra em declínio, dando lugar a quatro novas escolas literárias: o realismo, o naturalismo, o parnasianismo e o simbolismo. Os maiores nomes da literatura brasileira neste período, respectivamente segundo as escolas, foram Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Olavo Bilac e Cruz e Souza. No futebol Noanode1848,numaconferência em Cambridge, estabeleceu-se um único código de regras para o futebol. No ano de 1871, foi criada a figura do guarda-rede (goleiro), que seria o único que poderia colocar as mãos na bola,

devendo ele ficar próximo ao gol para evitar a entrada da bola. Em 1875, foi estabelecida a regra do tempo de 90 minutos e, em 1891, foi estabelecido o pênalti para punir a falta dentro da área. O profissionalismo no futebol foi iniciado somente em 1885 e, no ano seguinte, seria criada, na Inglaterra, a International Board, entidade cujo objetivo principal era estabelecer e mudar as regras do futebol, quando necessário. Em 1888, foi fundada a Football League com o objetivo de organizar torneios e campeonatos internacionais. No ano de 1897, uma equipe de futebol inglesa chamada Corinthians fez uma excursão fora da Europa, contribuindo para difundir o futebol em diversas partes do mundo. O brasileiro Charles Miller viajou para a Inglaterra aos nove anos de idade para estudar. Lá teve contato com o futebol e, ao retornar ao Brasil, em 1894, trouxe na bagagem a primeira bola de futebol e um conjunto de regras. Podemos considerá–lo o precursor do futebol no Brasil. O primeiro jogo de futebol no Brasil foi realizado em 15 de abril de 1895, entre funcionários de empresas inglesas que atuavam em São Paulo. Os funcionários também eram de origem inglesa. Este jogo foi entre a Companhia de Gáse a Companhia Ferroviária São Paulo Railway. O primeiro time a se formar no Brasil foi o São Paulo Athletic, fundado em 13 de maio de 1888. No início, o futebol era praticado apenas por pessoas da elite, sendo vedada a participação de negros em times de futebol.



Um passeio pelo mercado nos dias atuais

O Mercado de São José é o mais famoso do Recife. Indo de ônibus ou de carro, o destino é o Pátio de São Pedro, passando pelo Beco do Veado Branco, onde é possível parar e olhar o “veado branco”, ainda hoje pendurado na esquina com a Rua Direita. Passear pelo bairro de São José é uma aventura histórica, artística e cultural. É como se vivêssemos o Recife em sua identidade completa, que se espalha por ruas e becos estreitos, onde sonhos e esperanças humanas desenham o contorno de muitas vidas da vida de nossa cidade. Chegando à Praça Dom Vital, bem em frente à Basílica da Penha, encontramos o Mercado de São José. Ao chegar à calçada do mercado, ficamos encantados com a grandeza e a beleza arquitetônica, bem francesa, incrustada nos trópicos, um projeto do engenheiro J.Louis Lieuthier construído pelo engenheiro Louis Léger Vauthier, baseado no Mercado de Grenelle em Paris. Hoje ele é referência nacional e internacional do artesanato, da cultura e da arte nordestinos. Vem gente do mundo inteiro procurar um pedaço de nossa história em forma de cultura e arte. Ao entrar no mercado, nos encantamos com tudo que se encontra e se vê, num colorido estarrecedor que nos remete à infância ou à descoberta do novo, pela infinidade de artigos utilitários mesclados na oferta constante de artesanato, confecções, hortifrutigranjeiros e comidas variadas, até chegar, pela gritaria, ao local onde se encontram à venda os peixes. Para onde nos dirigíamos, víamos cores de tudo. Era um viver intenso num amontoado de coisas e de uma gente simples que vive no comércio, na arte de mostrar, contar e vender nossa cultura e nossas histórias em um só lugar. Tudo isso guardado em todos os sentidos de quem vive o Mercado de São José.


Boa Vista

MERCADO DA


Conhecendo sua história

Antes de iniciar a história do Mercado da Boa Vista, é preciso mergulhar na história do bairro da Boa Vista. “Boa Vista” é a expressão usada pelos contemporâneos que vislumbravam, da janela do segundo palácio de Nassau, situado onde hoje está o Convento do Carmo, a paisagem do que é o bairro da Boa Vista atualmente. Em 1806, a Câmara de Olinda deu a Casimiro Antônio de Medeiros um pedaço de terreno alagado da Boa Vista. Ele aterrou a área e construiu as primeiras casas da futura Rua da Aurora. Foi esta a quarta área do centro do Recife a ser povoada, que recebeu rapidamente, depois do acontecimento citado, importantes ruas: Rua do Aterro (hoje Imperatriz) e Rua Formosa (chamada atualmente de Avenida Conde da Boa Vista, em homenagem a um dos maiores governadores da província). Segundo Flávio Guerra, a Boa Vista era um importante bairro residencial, mas cheio de arruados que não passavam do Pátio de Santa Cruz. Demais caminhos a partir deste pátio davam no que hoje é o cruzamento da antiga Rua do Sebo com a atual Rua Visconde de Goiana. Outros caminhos davam no que iria ser a Rua Gervásio Pires. No mais, eram ruas pobres, terrenos baldios, sítios e mato. Em 1837, ainda segundo Flávio Guerra, embora já com algum comércio, a Boa Vista se tratava de um bairro de residência de famílias abastadas, enquanto a classe média residia no bairro de São José. A Rua Velha e o pátio da Igreja de Santa Cruz ainda guardam muitos dos encantadores casarões do estilo arquitetônico deste período. Os monumentos mais significativos do bairro são a Matriz da Boa Vista, a Praça Maciel Pinheiro, o IAHGP, o Teatro do Parque e a Faculdade de Direito do Recife, além do Mercado da Boa Vista. Construído na primeira metade do século XIX, o Mercado Público da Boa Vista era reconhecidamente frequentado por “pessoas de fino trato”. No governo de Diogo Lobo, no século XVII, teria sido determinado que os comerciantes, pela manhã, horário em que o comércio era mais intenso, só poderiam comercializar seus artigos em lugares fixos e pré-determinados. Para quem era da freguesia da Boa Vista, o local mais próximo era o mercado da Praça do Polé (hoje Praça do Diário, no bairro de Santo Antônio), ou seja, na outra margem do Rio Capibaribe, o que se tornava muito distante para as idas e vindas do comércio. Em 1822, foi contestada a construção de uma nova praça e de um açougue na freguesia da Boa Vista. As verbas só viriam em 1823. O terreno escolhido era localizado na Rua de São Gonçalo, que também se chamou Rua da Ribeira e hoje é a chamada Rua de Santa Cruz. Do terreno escolhido, sabe-se que serviu de estrebaria (cavalariça, cocheira ou estábulo) e cemitério da Capela de Santa Cruz, construída na primeira metade do século XVIII.


O Mercado da Boa Vista possui arcos que assinalam sua localização e foi construído na metade do século XIX, perto do cemitério da Capela de Santa Cruz, no século XVIII. Os arcos lembram o antigo Mercado da Ribeira do Peixe, que tinha sido demolido para dar origem ao Mercado de São José. Em 1865, o mercado já apareceu nos mapas de Law e Blount com sua planta atual (os mapas de Law e Blount são referências em termos de estudos do desenvolvimento urbano do Recife, principalmente dos bairros de Santo Antônio e Boa Vista). Em 1889, o mercado encontrava-se fechado, mas o município tinha intenção de reabri-lo, o que só veio a ocorrer em 1901. Consta que depois disso o mercado sofreu três incêndios. O primeiro no início do século XX, logo após a primeira reinauguração, deixando o prédio abandonado até a sua segunda reinauguração, em 1946. Depois houve mais dois – o último foi em dezembro de 2005. O Mercado da Boa Vista funcionava como estrebaria e mercado de escravos. Sua fachada ainda guarda as colunas e o frontispício que denotam o gosto das linhas neoclássicas, adotadas nas edificações que se implantavam na cidade desde a construção do Teatro de Santa Isabel e do prédio da alfândega no Bairro do Recife, onde hoje foi instalado um shopping center. No box 1, os escravos eram açoitados. No centro do mercado, uma praça arborizada com pau-brasil e árvores frutíferas. Este espaço desabrochou muito de nossa cultura carnavalesca e boêmia. O mercado tem resistido ao tempo, à especulação imobiliária e às transformações urbanísticas: no início dos anos 70, cogitou–se derrubar o mercado para a construção de um grande magazine. Muitas construções da cidade também ameaçaram o mercado, mas a sua existência – e de outros patrimônios históricos que o cercam – impediu tais pretensões.


Curiosidades da época de fundação Na política O Brasil, na primeira metade do século XIX, vivia uma série de mudanças políticas como a vinda da família real portuguesa, em 1808, trazendo consigo toda a administração colonial e uma série de benefícios para a Colônia, tais como a abertura de portos, a criação das primeiras instituições de ensino, a Biblioteca Nacional e o jardim botânico do Rio de Janeiro. Logo em seguida, viria a Independência, em 1822,trazendo mudanças como a criação dos institutos históricos para fazer a história da nova nação, até então vinculada a Portugal e às faculdades de Direito de São Paulo e Recife para estabelecer o Novo Código nacional. Tantas mudanças políticas não trouxeram apenas flores, tendo muitas revoltas sido espalhadas pelo Brasil, principalmente em Pernambuco. Tais revoltas, principalmente separatistas, combatiam a centralização do poder no Rio de Janeiro: a Revolta de 1817 e a Confederação do Equador. Na cultura Na segunda metade do mesmo século, surge o choro ou chorinho, fruto da mistura dos dois ritmos e da dança de salão europeia. Chiquinha Gonzaga compõe, no fim do século XIX, a marchinha Abre Alas, que se tornaria uma das músicas carnavalescas mais reconhecidas e tocadas da MPB.



Um passeio pelo mercado nos dias atuais

O Mercado da Boa Vista é muito procurado pelos moradores das circunvizinhanças para abastecimento diário dos mais diversos utensílios e iguarias. Há boxes de hortifrutigranjeiros, carnes, especiarias e artesanato, mas hoje sua principal vocação é o ambiente de socialização para encontrar amigos e apreciar a culinária pernambucana, muito bem servida pelo conjunto de bares que alimentam a boemia e o prazer de fazer compras, numa confraternização com moradores, visitantes e clientes do local. O mercado transforma–se em palco de orquestras de frevos dos inúmeros blocos que nasceram ou passam em seu entorno, pois ainda está funcionando, no Pátio de Santa Cruz, a Federação Carnavalesca de Pernambuco, onde artistas e músicos se encontram semanalmente e defendem nossa arte e música carnavalescas. Hoje ainda sai do Mercado da Boa Vista o bloco “Nem sempre Lilytoca flauta”, arrastando seus frequentadores no período carnavalesco.


Casa Amarela

MERCADO DE


Conhecendo sua história

Casa Amarela é um bairro situado ao norte da cidade do Recife. Reza a lenda que o nome do bairro se deve a uma famosa casa pintada de amarelo, que era localizada perto do fim da estação de ferro e servia de referência na região. O proprietário era um português, Joaquim dos Santos Oliveira, que por ordens médicas mudou-se para o Arraial Velho (este primitivo nome do bairro foi devido ao Forte Real do Bom Jesus, chamado popularmente de Arraial Velho, pois suas ruínas ainda podem ser vistas no Sítio da Trindade), já que o clima de lá era indicado para ajudar na cura da sua tuberculose. Os primeiros habitantes do bairro surgiram em 1630, ano da invasão holandesa. O povoamento do século XVII inicia-se no pé do Morro de Casa Amarela, em direção ao Mercado de Casa Amarela, no trecho da atual Rua Padre Lemos. O papel do forte era controlar o território interior. Casa Amarela é conhecido por ser um dos bairros mais populosos da cidade, com muitos mercados populares e intensa circulação de pessoas; dizse que em Casa Amarela “todos os caminhos dão na venda”. Esta vocação é percebida desde muito. Desde o século XVII, o bairro já demonstrava sinais de crescimento. Com as linhas de trem que vinham da Mata Norte passando pela Avenida Norte e a antiga Fábrica da Macaxeira, em meados do século XX, o bairro teve um surto de povoamento. O Mercado de Casa Amarela foi construído no dia 9 de novembro de 1930, a partir de materiais remanescentes do Mercado da Caxangá. Não se sabe ao certo porque o mercado foi deslocado, mas conta a história que próximo de onde foi montado o Mercado da Caxangá morava um senhor muito importante que, um certo dia, irritado com toda movimentação e furdunço causados pelo novo mercado, solicitou ao prefeito que suas estruturas fossem trazidas de bonde (Maxambomba) até a estação de Casa Amarela. O Mercado de Casa Amarela é o segundo mercado de ferro do Recife, mas diferentemente do Mercado de São José (o primeiro), o ferro fundido possui destaque na estrutura do telhado e nas portas de acesso. O modelo arquitetônico pode ser encaixado no estilo eclético, um movimento predominante desde meados do século XIX até as primeiras décadas do século XX. Entretanto, na década de 30, a arquitetura moderna já estava em voga na Europa. Além do uso e da mistura de estilos estéticos históricos, a arquitetura eclética, de uma maneira geral, caracterizou–se pela simetria, busca de grandiosidade, rigorosa hierarquização dos espaços internos e riqueza decorativa. Ao lado do mercado, funciona a feira livre de Casa Amarela; o largo onde ela funciona existe desde antes do século XIX e já chegou a abrigar mais de três mil barracas.


Curiosidades da época de fundação Na política Em outubro de 1930, ocorre a chamada “Revolução de 1930”, golpe que acaba com o período político conhecido como República Velha. O presidente do Brasil à época,Washington Luís, é deposto e o presidente eleito, Júlio Prestes, é impedido de assumir. Em seu lugar, Getúlio Vargas assume o comando do país, posto onde fica por 15 anos, apoiado pelos militares. Durante os anos em que permaneceu no poder, Vargas aprovou medidas que favoreceram a legislação trabalhista, dando direitos aos trabalhadores. Por isso é conhecido como “pai dos pobres”. No futebol No ano de 1930, ocorre a primeira Copa do Mundo da história, sediada e vencida pelo Uruguai. O Campeonato Pernambucano de Futebol é interrompido por causa das movimentações da Revolução de 1930.

Na cultura No início da era da cultura de massas, o enorme avanço do rádio, do cinema e da música popular nos anos 30 começa a atingir todos os segmentos sociais do mundo urbano, o que desenvolve uma série de manifestações culturais. Esse fenômeno utiliza os então novos meios de informação, capazes de atingir simultaneamente grandes camadas da população para divulgar a cultura e os anúncios. É a chamada cultura de massas, que trouxe os seguintes marcos: - lançamento da música “Com que roupa”, de Noel Rosa, primeiro grande sucesso do artista, com a expansão do samba através do rádio; - o padrão de beleza feminino, representado pela atriz Greta Garbo (que muito aparece no Diário de Pernambuco e era imitada pelas mulheres): magra e bronzeada; - transição do cinema mudo para o cinema falado (retratado na música “Não tem tradução”, de Noel Rosa, interpretada por Francisco Alves).


Um passeio pelo mercado nos dias atuais

Desde a sua formação comercial – e da sua inauguração, o Mercado de Casa Amarela era chamado de Mercado de Pulgas, nada aver com sujeira, mas com a intensidade de movimentação de produtos que vão desde o antiquário até o artesanato de barro. Hoje, além dessa movimentação intensa, devido ao enorme contingente populacional do bairro de Casa Amarela, é também intensa a oferta de produtos variados. De tudo se encontra. Atualmente, além do prédio principal, o Mercado de Casa Amarela tem três anexos: o primeiro foi construído em 1982 e tem 640m² (inicialmente tinha 29 boxes, hoje possui 34), abrigando restaurantes populares; o segundo tem 14 boxes e vende cereais e alimentos não perecíveis; o terceiro, por sua vez, vende confecções, calçados, acessórios, artesanato e flores - um mundo de ofertas ditadas pela moda. Nos compartimentos externos se encontram os famosos boxes de alimentação, alguns funcionando24 horas, sendo endereço certo de boêmios e daqueles que não têm tempo para fazer suas refeições em casa. Temos nesse mercado boxes de cereais, alimentação, confecções, calçados, artesanato e flores. As diferenças são as quantidades quanto à natureza do consumidor do entorno do bairro. Geralmente isso demonstra o nível salarial e social dos cidadãos e suas necessidades que tão bem no mercado se complementam. Também encontramos no Mercado de Casa Amarela artigos religiosos das mais diversas tendências, registro de nosso sincretismo religioso e da busca da espiritualidade humana, tão fortes na nossa gente, principalmente quando tivemos a influência de várias raças nativas que aqui vieram fincar raízes, mesmo depois de muitos conflitos e batalhas heroicas. Tudo isso influenciou nosso povo, até hoje fazendo parte da vida espiritual do povo pernambucano. O Mercado de Casa Amarela é uma riqueza de lugar. É impossível visitá-lo sem comprar nada, estejamos precisando ou não. O nosso desejo de compra é ativado pela variedade de produtos.


Encruzilhada

MERCADO DA


Conhecendo sua história

O bairro da Encruzilhada recebe este nome por ser o local do antigo cruzamento entre as linhas férreas, onde foi aberta, em 1881, a Estação da Encruzilhada, integrante da linha Recife-Olinda-Beberibe. Por estar localizado num cruzamento de estradas, sempre foi muito movimentado. Em 1927, veio da Itália para o Brasil uma pequena aeronave (Jahú). No Recife, foi oferecida uma semana de recepções aos tripulantes, sendo erguido no bairro um monumento de oito metros de altura: uma coluna em estilo dórico (um estilo ornamental que absorveu este elemento da arquitetura grega, que preza pelo simples, sóbrio, elegante) com um globo terrestre em seu topo e acima dele uma águia. Havia uma placa com os seguintes dizeres: “Raid Gênova-Santos. À heroica tripulação do Jahú, homenagem do povo da Encruzilhada. Recife, 25-9-1927”. Hoje esta placa não se encontra mais no local. Desde o século XIX, foi surgindo espontaneamente no bairro uma feira para a comercialização de bens diversos e alimentos, a qual abastecia boa parte das necessidades da zona norte da cidade do Recife. O prefeito do Recife em 1924 era Antônio de Góis Cavalcanti, que fazia a sua primeira gestão. Na sua segunda gestão (1931-1943), o tal prefeito construiu o Mercado de Santo Amaro. Já em 1950, o prefeito da cidade do Recife era Manuel César de Moraes Rego. O governador de Pernambuco em 1924 era Sérgio Loreto, um político muito atuante que concluiu as obras do quartel e da Praça do Derby, construiu a Avenida Boa Viagem e instituiu o Hino da Cidade do Recife, através da Lei 108, de 10 de julho de 1924. Em 1950, o Estado estava sob a gestão de Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho, que renunciou ao cargo de deputado estadual para assumir o governo do Estado. O atual Mercado da Encruzilhada foi construído no fim da década de 40, entretanto desde 1924 o bairro conta com um mercado público. O Mercado Velho vinculou-se à arquitetura em voga na época - a arquitetura moderna, que prega o rompimento do ecletismo (expressado, por exemplo, no Mercado de Casa Amarela). Mesmo sendo um momento multifacetado da produção arquitetônica internacional, o modernismo manifestou alguns princípios que foram seguidos por diversos arquitetos de variadas escolas e tendências. O governador Sérgio Loreto desapropriou a estação de bondes pertencente à Companhia de Trilhos Urbanos do Recife, Olinda e Beberibe e remodelou o antigo prédio, construindo pequenos edifícios - mais higiênicos e estéticos - para que ali pudesse funcionar um mercado público, que abrigaria os comerciantes da feira próxima ao largo da Encruzilhada.


O Mercado Velho tinha 162 boxes com calçamento interno de paralelepípedos de granito, rejuntado com asfalto. As paredes tinham azulejos até a metade, obedecendo às normas de higiene. À frente do mercado, permaneceu o grande largo como refúgio ajardinado, com pavilhão para retreta, arborização e acabamento com asfalto. Entretanto, por ter sido instalado em um local inapropriado (uma estação de bondes), em poucos anos o Mercado Velho já não estava mais servindo para o seu fim, apresentando péssimas condições aos usuários. Somente em 1949 foi construído, em um terreno vizinho, o mercado da forma como conhecemos atualmente. Os responsáveis pela obra foram o engenheiro Manoel César de Moraes, o diretor de obras Abdias de Carvalho, o construtor Edgar dos Anjos e o desenhista Waldemiro Lima. Em 9 de novembro de 1950,era inaugurado o Mercado da Encruzilhada que se conhece hoje, uma obra arquitetônica em estilo moderno, um orgulho para a engenharia pernambucana da época. O evento da inauguração foi incluído na VIII Semana do Engenheiro e do Arquiteto, promovida pelo Conselho Regional da 2ª região, juntamente com a colaboração do Sindicato de Engenheiros e do Clube de Engenharia de Pernambuco, evento que reuniu engenheiros e arquitetos de todo o Brasil. O novo mercado contava com156 boxes com piso de granito artificial e cerâmica de fabricação local. Nas paredes, foram aplicados azulejos naturais para facilitar a limpeza. O Mercado Novo passou a contar com placas explicativas que seguiam os gêneros do comércio, facilitando a visita dos compradores, além de câmaras frigoríficas, que garantiam maior vida útil para os alimentos de rápido perecimento. O andar superior foi destinado à administração, sendo construído sobre lajes e concreto armado. Em 1992, 1998 e 2007, foram feitas reformas (esquadrias pintadas, cobertas revisadas, tabuleiros reorganizados) apenas no intuito de restauro/ preservação, que não modificaram a estrutura original do mercado.


Curiosidades da época de fundação No futebol A Copa do Mundo de 1950 (a quarta Copa mundial) foi realizada no Brasil, entre os dias 24 de junho e 16 de julho. A final aconteceu no Maracanã entre Brasil e Uruguai. O Uruguai ganhou de 2x1. O estádio foi construído para esta Copa. O público da final era de quase 200 mil pessoas, episódio chamado de “Maracanaço”. O artilheiro da Copa foi um brasileiro, Ademir, com nove gols. Foi a partir da Copa de 1950, sediada no Brasil, que os jogadores começaram a ser identificados com números atrás das camisetas. Recife era uma das cidades-sede, além de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Curitiba. A Ilha do Retiro foi o estádio que sediou a Copa do Mundo em Recife na partida entre Chile e Estados Unidos, vencida pelo país latino-americano por 5x2. Há uma história sobre a participação deste estádio na Copa: diz-se que era condição para a sua participação a construção de um alambrado e três túneis. Sem dinheiro e em crise, a torcida do Sport, junto com a imprensa, iniciou uma campanha para conseguir o material necessário para construir os itens que faltavam. Até os dirigentes trabalharam nas obras. O estádio foi equipado e conseguiu participar da Copa do Mundo de 1950. Até o ano de 1950, o time do América rivalizava com o Santa Cruz e o Sport pela hegemonia do futebol pernambucano. A partir de 1950, este cenário começou a mudar. O Náutico adotou uma nova forma de fazer futebol, deixando de lado o regime semiprofissional e adotando o profissional, contratando atletas de alto nível. O time alvirrubro passava então a despontar no futebol pernambucano, ganhando não só o título de campeão de 1950 (seu quarto título pernambucano e seu primeiro título nos Aflitos), como também vencendo os campeonatos de 1951 e 1952. Na cultura A cultura da década de 50 é marcada pela mudança do consumo e do comportamento da população. A Segunda Guerra deixa a Europa destruída, o que não só fortalece a economia dos Estados Unidos (já que a Europa passa a depender do capital americano para se reerguer), como também este país passa a exportar o americanwayoflife para todo o mundo. Ou seja, a cultura norte-americana passa a ser imperativa em quase todo o globo. Luiz Gonzaga e Dalva de Oliveira eram os artistas brasileiros mais destacados dos anos 50 no século XX. Os filmes de sucesso dos anos 50 foram “Aviso aos navegantes” (Oscarito e Grande Otelo),“Caiçara” (primeiro filme da Vera Cruz, estrelado por Eliane Lage e Mário Sérgio - o filme participou do Festival de Cannes de 1951),“Painel” (curta-metragem de Lima Barreto) e “A sombra da outra” (Watson Macedo). O paraibano Assis Chateaubriand funda, no dia 18 de setembro de 1950, a TV Tupi, a primeira emissora de televisão brasileira. Chateaubriand investiu cinco milhões de dólares em equipamentos para a montagem da TV. Nesta época, Assis era colunista do Diário de Pernambuco. Em 1950, foram lançados importantes livros como “O cão sem plumas”, do pernambucano João Cabral de Melo Neto, e “Geopolítica da fome”, de Josué de Castro, também pernambucano.



Um passeio pelo mercado nos dias atuais

Antes de chegar ao mercado, já se percebe o movimento intenso dos passantes no Largo da Encruzilhada. A visitação se dá ora para abastecer as residências da circunvizinhança de produtos e serviços, ora para cometer o pecado da gula, com tantas iguarias ofertadas pelos restaurantes com fama já consolidada. É possível apreciar os pratos regionais e internacionais preparados no próprio local e, ao mesmo tempo, ser envolvido pela nostalgia na apreciação do cenário bucólico do mercado. A área coberta do Mercado da Encruzilhada é maior que a do Mercado de São José. Sua vocação não é exclusivamente voltada para o artesanato e o turismo, temos também um comércio de utilidades domésticas, calçados, construção e gastronomia. A cada box uma nova visão de comércio tradicional e vocação familiar. Há em todos eles um produto da vida diária e das necessidades do cidadão. Os encontros de familiares e amigos são uma constante nos mercados públicos do Recife. No Mercado da Encruzilhada, temos uma população diversificada e grandiosa vinda de todos os bairros da cidade. Cercado por moradias hoje modernas e exigindo qualidade e agilidade em seus serviços, o mercado mantém sua estrutura comercial, mas com determinação e criatividade atrai milhares de pessoas que procuram, além dos produtos para sua alimentação e vida diária, a gastronomia como sustentáculo e atração para a visitação pública e o fortalecimento do turismo em nossa cidade.


Madalena

MERCADO DA


Conhecendo sua história

Ainda na época dos sítios, surgiram casebres feitos de diversos tipos de materiais. Ao redor de alguns deles, formou-se uma pequena feira – a Feira do Bacurau, inicialmente para vender refeições para trabalhadores, produtos agropecuários e animais. A feira assim era denominada porque funcionava na madrugada, possuindo vida noturna como o pássaro bacurau, para comercializar refeições para os trabalhadores que por ali rondavam de madrugada e para os que iam tomar, ainda nas primeiras horas do dia, café da manhã. Com o crescimento do bairro, o número de visitantes também cresceu, surgindo a necessidade de melhorar a infraestrutura e a higienização da área. A Prefeitura do Recife e o Governo do Estado decidiram demolir os antigos casebres que faziam a Feira do Bacurau para construir um mercado público que se adequasse à crescente freguesia. Em 6 de fevereiro de 1925, iniciavam-se as obras de construção do mercado na Rua Real da Torre, nas proximidades da antiga casa-grande do Engenho Madalena, que desde os fins do século XIX se transformou em um sobrado com azulejo português, onde hoje funciona o Museu da Abolição. Na época da sua inauguração, o prefeito da cidade era Antônio de Góis Cavalcanti e Sérgio Loreto era o governador do Estado. No dia 19 de outubro de 1925, foi inaugurado o Mercado da Madalena, mantendo as características comerciais da antiga Feira do Bacurau: o horário noturno continuava a atrair os trabalhadores e os boêmios, que buscavam um local enérgico nas noites agitadas do Recife. Nos fins de semana, o movimento aumentava a partir do raiar do sol e adentrava pelo dia, com destaque para o comércio de comidas regionais e bebidas. Além disso, é um dos pontos procurados pelos sertanejos que moram na região metropolitana, um canto nostálgico na cidade grande para aqueles que vivem longe do Sertão. Com a introdução das linhas regulares de ônibus urbanos na década de 50, passou a sair deste mercado um ônibus logo nas primeiras horas do dia, justificando o termo bacurau, que passou a ser utilizado em todos os ônibus que circulavam nas primeiras horas do dia. Em 10 de agosto de 1976, foram revitalizadas a Praça Solange Pinto Melo e a “travessia” Luiz Afonso Braga (Luiz Agonia), ambas localizadas do lado direito e do lado esquerdo do mercado. Nesta travessia, localiza-se a atual Feira de Passarinhos do Bacurau, com diversos animais e produtos agropecuários postos à venda. As reformas mais estruturais ocorreram durante os mandatos de Gustavo Krause (1979-1982) e Roberto Magalhães(1997-2001). O Mercado da Madalena possui quatro fachadas, tendo as cobertas com telha canal apoiadas em cornijas. Fora do Brasil, essas telhas são conhecidas como telhas árabes ou mouriscas. Anteriormente as telhas canal não continham um


cozimento perfeito como as telhas francesas e romanas. O processo de moldagem e cozimento tornava as características das telhas canal peculiares quanto à sua forma e coloração, trazendo uma aparência inconfundível para as edificações coloniais, que agradava os neocolonialistas. A entrada principal do mercado é voltada para a Rua Real da Torre e tem 60 metros de comprimento, com o frontão possuindo curvas com voluta e folhagens que remetem ao gosto ornamental do ecletismo, harmonizando-se com o estilo neocolonial do mercado. Além da entrada principal, possui outras quatro entradas com frontões ornados apenas com azulejos ou formas geométricas. As janelas são emolduradas com formas retas e retangulares e cruas, para contrapor com os detalhes do frontão. A espessura das paredes é de 30 centímetros, criando verdadeiros “armários embutidos” que formavam justamente a estrutura das antigas janelas do período colonial. O estilo neocolonial trazia na sua forma de construção técnicas modernas. No mercado, sua implantação buscou resgatar os ornamentos europeus que foram adaptados para as necessidades e identidades do Brasil. Na entrada principal, há um enorme portão de ferro trabalhado no estilo neocolonial. No seu frontispício, o brasão da cidade do Recife, que foi revitalizado em 1982, quando ocorreu uma importante reforma. O historiador Vanildo Bezerra Cavalcanti, boêmio e admirador do mercado, após longa pesquisa constatou que se tratava de um antigo brasão da cidade do Recife, trazendo dentre os seus símbolos a coroa de ouro (representando Recife como a capital do Estado de Pernambuco), o leão (representando a bravura do povo pernambucano),o farol (representando a entrada do porto do Recife com seus arrecifes, o farol e o antigo forte do mar, que não mais existe) e o sol sobre a cruz (uma estilização da bandeira de Pernambuco, sendo o sol a luz que ilumina Pernambuco primeiro do que qualquer outra parte das Américas). Portanto, trata-se de um raro exemplar do antigo brasão municipal, quando era encimado por um único leão e a coroa (que representa a condição de capital) ainda estava colocada no corpo do escudo, juntamente com a cruz e as estrelas do céu de Pernambuco. Além disto, possui a imagem da barra do porto (que também passou a ser um símbolo do brasão do Estado), uma bandeira estilizada do Estado de Pernambuco e um castelo que não mais é utilizado no modelo atual, que se diferencia deste por ser encimado pela coroa com um escudo formado apenas pela bandeira e pela imagem da entrada do porto, sendo o escudo segurado por dois leões. O brasão atual foi regulamentado no ano de 1973. No mercado construído em 1925, só existiam compartimentos na parte periférica. Dentro dos portões, somente grandes pedras com bancas de feira simples, onde se comercializavam frutas e verduras. Com a ampliação do espaço em reformas posteriores, as pedras foram substituídas por boxes, trazendo mais locatários e produtos provenientes de todo o Nordeste para serem comercializados no mercado. Possui ainda um raro torreão central, onde até hoje funciona a administração do mercado. Este pequeno modelo de torreão representa uma tendência arquitetônica utilizada na cidade durante as primeiras décadas do século passado. Atualmente são 180 compartimentos, que oferecem diversos produtos: frutas, verduras, legumes, cereais, carnes e peixes. A administração conserva a estrutura original - uma pequena torre arredondada no centro do mercado. Também houve a implementação de boxes exteriores ao lado da Praça Solange Pinto Melo. Esses boxes foram implementados porque a demanda dos boxes de alimentação era maior que a demanda dos demais, necessitando de um maior espaço para as pessoas transitarem. Também foi construído um pequeno pátio, lembrando uma grande varanda, para colocar mesas e cadeiras próximas à área verde da praça.




Curiosidades da época de fundação No futebol A seleção brasileira participou do Campeonato Sul-Americano de Futebol, nona competição entre os times sul-americanos. Nesta edição, participaram três times: Brasil, Argentina e Paraguai. As seleções jogaram em dois turnos, sendo campeã a Argentina. A décima primeira edição do Campeonato Pernambucano de Futebol continha seis times por sistema de pontos corridos. Os times eram América Futebol Clube, Clube Náutico Capibaribe, Santa Cruz Futebol Clube, Sport Club do Recife, Sport Club Flamengo e Torre Sport Club. O Sport foi campeão, com o Torre ficando em segundo lugar. Na cultura É lançado o Manifesto Regionalista, movimento caracterizado pela propagação do regionalismo no Brasil. No Nordeste, um dos grandes propagandistas foi Gilberto Freyre, propondo unir os nordestinos para fortificar o sentimento regionalista através de conferências, exposições, debates, enfim, propagandas para intensificar os interesses da região em relação à política brasileira. O movimento contava com Graciliano Ramos, Alfredo Pirucha, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Antônio de Queiroz, Lucas Amado e João Cabral de Melo Neto. Critica fortemente a centralização da cultura e da política paulista, rebatendo e fundamentando o bairrismo nordestino. Oswald de Andrade publica, em março de 1925, em Paris, o livro Pau-Brasil, buscando modernizar a cultura brasileira com o que havia de mais inovador na Europa. O pau-brasil tornou-se o símbolo do nacionalismo crescente na década de 20. Para Oswald, o pau-brasil nomeia duas realizações assinadas por ele: o Manifesto da Poesia PauBrasil, editado em 1924 pelo jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro; e o livro poético de mesmo nome, impresso na capital francesa, em 1925, que colocava em prática a teoria criada e divulgada pelo manifesto. No dia de seu centenário (7 de novembro de 1925), o Diário de Pernambuco circulou com60 páginas, trazendo em sua capa uma ilustração de autoria de Manuel Bandeira. Albert Einstein esteve no Brasil em maio de 1925, para uma conferência no Rio, permanecendo por uma semana. Anteriormente ele também visitou outras universidades na Argentina e no Uruguai. Na música, em 1925 começam a ser gravados discos no sistema elétrico. No Brasil, a música mais tocada foi “A casinha”, de Aracy Côrtes. Teatros enchiam a Broadway com diversas peças e musicais. No cinema internacional, clássicos foram lançados: “O encouraçado Potemkin”,“O fantasma da ópera”, “Em busca do ouro”. No Recife, “Aitaré da praia”, retratando os conflitos internos de um pescador. A história se passa na praia de Piedade, que ainda era pouco habitada na época - no filme ela é denominada Tatiá. Cenas foram gravadas com câmeras presas em pequenos barcos de pesca. O uso do flash-back ainda é motivo de debate no cenário cinematográfico pernambucano, pois é um recurso narrativo usado para contextualizar as situações sem a necessidade de diálogos com texto. Com uma hora de duração, foi dirigido por Gentil Roizcom roteiro de Ari Severo e produção da Aurora Filme.



Um passeio pelo mercado nos dias atuais

O Mercado da Madalena, desde os tempos da Feira do Bacurau, é parada obrigatória para quem precisa tomar um café da manhã reforçado, com variadas comidas regionais: munguzá, tapioca, cuscuz com café, sarapatel, buchada, carne de sol, macaxeira, entre outras. Há relatos que poucas vezes o mercado fechou para o público, ou seja, a venda de refeições sempre funcionou de domingo a domingo. Além do café da manhã, o almoço e o jantar também são o forte do local. Além das comidas, o Mercado da Madalena é ponto de encontro para visitantes que gostam de relaxar ao som de música regional. Há repentistas e poetas declamando os “causos” nordestinos, bebendo-se e beliscando-se deliciosos aperitivos preparados por cozinheiras que tornaram seus boxes famosos por suas peculiaridades, sempre servindo diversos clientes, desde os mais simples até personalidades brasileiras e internacionais. Tudo isso em meio a músicas bem nordestinas e vozes que misturam sotaques urbanos e rurais, bem naturais neste espaço recifense por excelência, mas pernambucano por inteiro, vindo dos sonhos e saudades dos que frequentam cada box do local. A Feira dos Passarinhos ainda existe, localizada ao lado da “travessia” Luiz Agonia, com diversas espécies de cachorros, patos, gansos, peixes e pássaros à venda. Há relatos de estrangeiros que vinham comprar espécies brasileiras, mas com a implementação da lei contra a apreensão e venda de animais silvestres e com o Ibama realizando buscas frenéticas contra quem realiza tal comércio, atualmente só com autorização a venda é permitida. Além da venda de animais, o mercado possui diversos boxes com produtos agropecuários e outros produtos para suprir as necessidades e os gostos do freguês. O Mercado da Madalena vem com esse traço, essa cultura viva que ele respira e aspira de seus visitantes e frequentadores assíduos, que se apropriam de toda essa atmosfera.


Cordeiro

MERCADO DO


Conhecendo sua história

Fundado em 23 de março de 1937, nos mandatos de Antônio Novais Filho como prefeito do Recife e Carlos de Lima Cavalcanti como governador de Pernambuco, o Mercado do Cordeiro, localizado na zona oeste da cidade, abriu suas portas para atender o público dos arredores. Ocupando uma área de 2.397m2, com 120 boxes, o local servia como fonte de renda para várias famílias do bairro. Inicialmente os locatários pagavam aluguel para locar bancas de feira dentro do mercado. Em 1950, foi comprado por Arnaldo Galperin e continuou no mesmo processo de locação de bancas. No período de Galperin, o mercado sofreu algumas poucas reformas, mas a estrutura continuava a mesma: com a arquitetura de um enorme galpão constituído de madeira e cimento batido, dividido internamente em diversas bancadas também feitas de madeira. Havia uma enorme desorganização administrativa e também faltava uma adequada infraestrutura interna e externa, pois eram poucas as condições de higiene. As décadas de 80 e 90 foram o auge da precariedade do mercado. Por falta de investimento dos proprietários, houve uma redução da renda dos locatários, causando divergências administrativas entre todos. Com isso, apenas os boxes externos continuaram a ser usados. O interior do mercado passou a ter apenas a função de guardar as barracas da feira que cerca o local até hoje. Essas divergências e a falta de lucros fizeram com que os locatários não conseguissem pagar os aluguéis e, em consequência disso, foi iniciado um processo judicial de despejo. Mas os locatários não saíram de lá, continuaram a usar o mercado e a pedirem ajuda à Prefeitura do Recife e ao Governo do Estado. Em 28 de fevereiro de 2002, durante a gestão do prefeito João Paulo, parte do Mercado do Cordeiro foi desapropriada para que ele fosse demolido e reconstruído. Nessa época, somente 65 dos 120 boxes funcionavam e sob péssimas condições de infraestrutura. Foram utilizadas bancas móveis do lado de fora do mercado, para locar os feirantes durante a reforma. Reinaugurado em 16 de maio de 2008, ainda no mandato de João Paulo, o mercado foi reaberto como um importante centro comercial do Cordeiro e dos arredores. Na reforma, foram reconstruídos 117 boxes, incluindo a construção de pátio interno para eventos, praça de alimentação, sanitários, acessibilidade, medidores individuais de energia, estacionamento e área de carga e descarga de produtos. Em março de 2010, o então vereador da cidade do Recife Múcio Magalhães dava entrada em um projeto de lei para renomear o Mercado do Cordeiro para Mercado Público do Cordeiro – João Portela, em homenagem a um antigo locatário que, em 1962, abriu uma fábrica de sorvetes dentro do próprio mercado.


Com o declínio da feira, ele fechou sua fábrica para abrir um bar cujo forte eram as refeições, nomeado de Bar do Portela, que atendia os trabalhadores do bairro e os acompanhantes dos pacientes do Hospital Getúlio Vargas. No dia da ação de despejo, João Portela tornou-se um dos líderes contra a expulsão dele e de seus colegas feirantes. Faleceu em 2001, sem voltar ao seu box e sem ver reconstruído o mercado no qual passou a vida trabalhando. Foi o Mercado Público do Cordeiro o mais recentemente reformado, adquirindo o estilo moderno em seus traços. No Brasil, o estilo moderno foi utilizado como propaganda para demonstrar modernidade e progresso, pretendidos pelo Estado Novo na década de 30. Como o mercado foi inaugurado em 1937, os traços arquitetônicos utilizados para a reforma foram vigentes à época da sua primeira inauguração. Para os traços internos do Mercado do Cordeiro, o espaço foi dinamizado com corredores amplos para uma melhor circulação de clientes e locatários, além de boxes em formatos retangulares para uma melhor visualização dos produtos por parte de quem visita o espaço. O pátio central é quadrangular, oferecendo uma visão perfeita de qualquer ponto dele. Aberturas laterais ao redor e próximas ao teto oferecem ao visitante uma luz natural pela manhã e à tarde, afora uma ótima circulação de ar nos horários de pico. Para os traços externos, foi escolhida uma plataforma triangular para as fachadas principais do teto - as demais são em linhas retangulares, adequando bem o espaço de simplicidade e sofisticação ao redor do prédio do mercado. Também existem boxes externos, no intuito de melhorar a comercialização de produtos ao ar livre, lembrando as antigas bancas, para os transeuntes.


Curiosidades da época de fundação No futebol Em 1937, a Seleção Brasileira participava do Campeonato Sul-Americano. As seleções participantes eram Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai. A competição foi de turno único, ficando as seleções Argentina e Brasileira tecnicamente empatadas. No jogo de desempate, a Canarinho perdeu para a sua rival. Na sua 23ª edição, o Campeonato Pernambucano de Futebol contou com a participação de nove equipes, com a contagem de pontos corridos: América Futebol Clube, Associação Atlética Great Western, Central Sport Club, Clube Náutico Capibaribe, Íbis Sport Club, Santa Cruz Futebol Clube, Sport Club do Recife, Sport Club Flamengo e Tramways Sport Club. Este último foi o time campeão, sendo vice o Santa Cruz. Na política Na esfera política, o Plano Cohen era divulgado pelo Governo Vargas para simular um ataque comunista que visava ao assassinato de personalidades importantes, a fim de tomar o centro do poder brasileiro, o Rio de Janeiro.

A ideia foi criada para fundamentar a permanência de Vargas no poder, contra os que queriam a sua imediata retirada. O documento foi forjado por Góis Monteiro, responsável pela divulgação do falso atentado comunista. No dia 10 de novembro de 1937, Vargas fecha o Congresso e anuncia a formulação de uma nova Constituição, com o pretexto de eliminar o perigo das agitações comunistas. No dia 2 de dezembro, os partidos políticos foram dissolvidos, iniciando-se o período da história política do Brasil chamado de Estado Novo. É nesse momento político que nasce a UNE, a União Nacional dos Estudantes, um importante grupo político estudantil que lutou contra Vargas e a futura ditadura militar. Na cultura No Rio de Janeiro, ocorre o falecimento do sambista Noel Rosa, a quem o Rio deve parte da sua alma musical. São fundados o Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, com obras e exposições que vão do período oitocentista até a arte contemporânea, e o Centro de Cultura Afro-Brasileira.

No cinema brasileiro, é lançado o filme “O descobrimento do Brasil”, de Humberto Mauro, com trilha sonora de Heitor Villa-Lobos. No exterior, Walt Disney lança o primeiro desenho animado de longametragem: “Branca de Neve e os sete anões”.Estreia “O rei da vela”, peça do modernista Oswald de Andrade. Pablo Picasso pinta “Guernica”, retratando o ataque da aviação alemã na cidade espanhola por ocasião da Guerra Civil no mesmo ano. Esta obra o consagrou como um dos melhores pintores expressionistas. No Brasil, Jorge Amado lança um dos seus clássicos da literatura brasileira: “Capitães de areia”. Entra no ar a Rádio Tupi, em São Paulo. Orlando Silva grava “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro; “Balancê”, marchinha de João de Barro e Alberto Ribeiro, é gravada na Odeon por Carmen Miranda; e “Mamãe eu quero”, marchinha de Vicente Paiva e Jararaca, é gravada na Odeon por Jararaca.



Um passeio pelo mercado nos dias atuais

O Mercado do Cordeiro possui um público-alvo específico - os moradores do próprio bairro e outros arredores. Os produtos são variados, mas com finalidades domésticas. Os produtos comercializados desde a sua inauguração, em 1937, são frutas, verduras, alimentos condimentados, carnes, frutos do mar, aves, entre outros. Com a expansão dos produtos e serviços, novas necessidades foram incluídas: boxes para consertos de produtos eletrônicos, óticas, utilitários para o lar etc. Lojas com produtos agropecuários também ocupam lugar de destaque entre os boxes. Ao entrarmos no mercado, sentimos uma diferença em termos de arquitetura e ocupação dos espaços. Como todos os demais mercados, o comércio de serviços e produtos é bastante diversificado, mas o espaço mais utilizado pelos visitantes é o gastronômico. Conhecido desde o antigo mercado, sempre foi muito procurado por sua comida regional nordestina, com temperos caseiros e únicos, além de produtos de todo o Nordeste, consagrando o Mercado do Cordeiro como um dos centros gastronômicos mais populares do Recife. O centro gastronômico do Mercado do Cordeiro é literalmente o coração do mercado. Pela sua localização e número de boxes envolvidos nesta atividade, diariamente as pessoas usufruem das inúmeras iguarias nordestinas, sendo a fava a mais famosa e que agrada os paladares mais exigentes.

Viver o mercado é buscar ambientes populares, sem requinte, mas com muita identidade cultural e histórica. É buscar conhecimento, raízes e sensações. É buscar o encontro com o passado e a contemporaneidade, para que seja possível garantir um futuro com muito do nosso passado presente. Viva o mercado!



ÍCONES DOS MERCADOS Uma imagem vale por mil palavras A nossa história econômica e sociocultural perpassa pelas imagens que mantemos gravadas em nossas mentes, oriundas dos registros das nossas vidas, que nos remetem ao passado distante ou não, mas sempre presente. Viver os espaços públicos tem muito disso. Lembramo-nos das relações familiares, do convívio com os amigos, enfim, das nossas relações pessoais que transcendem a significância real, pois tudo é relativo. Não é comum nem igualitário, pois trata-se de emoções e emoções são experiências íntimas e pessoais que nos aproximam com alegria ou dor das escritas de nossas vidas. Com muito empenho e apoio de muitas mentes brilhantes, escolhemos 25 ilustrações para representar, nesta edição, a vivência nos mercados públicos, transitando entre a história, gastronomia e contemporaneidade. Venha passear conosco no universo iconográfico dos mercados públicos, despertando para seus sabores e saberes.


ÍCONES HISTÓRICOS E CONTEMPORÂNEOS DO

MERCADO DE SÃO JOSÉ


Mercado de São José O Mercado de São José foi o primeiro mercado de ferro do Brasil; sua arquitetura foi influenciada pelos traços europeus com forte identidade com a realeza


Preto Velho O sincretismo religioso tĂŁo presente nos diversos produtos comercializados no Mercado de SĂŁo JosĂŠ


Cestaria O encontro da diversidade do artesanato comercializado no Mercado de SĂŁo JosĂŠ


ÍCONES HISTÓRICOS E CONTEMPORÂNEOS DO

MERCADO DA BOA VISTA


Mercado da Boa Vista Ilustração da arquitetura da fachada do mercado - os arcos indicavam o comércio de escravos


Mascate Os mascates percorriam as ruas a pé, apresentando à sociedade seus produtos trazidos das grandes metrópoles ou desenvolvidos localmente. O mercado foi uma tentativa de organizar o potencial empreendedor do comércio na cidade, que crescia de forma desordenada


Carnaval No bairro da Boa Vista, encontra-se sediada a Federação Carnavalesca de Pernambuco, no Pátio de Santa Cruz, que durante o ano cria e participa de eventos que defendem nossa cultura, arte e história. Alguns blocos surgiram ali: Batutas da Boa Vista, Nem Sempre Lili Toca Flauta e Amantes de Glória


Mercearia Ainda é possível encontrar mercearias no Mercado da Boa Vista atravessando a diversidade comercial e nos remetendo à nostalgia das lembranças do passado


ÍCONES HISTÓRICOS E CONTEMPORÂNEOS DO

MERCADO DE CASA AMARELA


Mercado de Casa Amarela Destaque para a riqueza dos traços arquitetônicos do Mercado de Casa Amarela, segundo mercado de ferro do Recife, diferente do Mercado de São José (o primeiro). No de Casa Amarela, o ferro fundido possui destaque na estrutura do telhado e nas portas de acesso. O modelo arquitetônico do Mercado de Casa Amarela pode ser encaixado no estilo eclético


Samba As escolas de samba nasceram do movimento afro, que tinha muita influência nos arredores do Mercado de Casa Amarela. Hoje a Escola Gigantes do Samba é uma referência


Galeteiro de Mesa Os tradicionais galeteiros expostos nas mesas de bares e restaurantes locais, remetendo-nos Ă comida caseira para os que fazem do mercado a sua segunda casa


ÍCONES HISTÓRICOS E CONTEMPORÂNEOS DO

MERCADO DA ENCRUZILHADA


Mercado da Encruzilhada A fachada do Mercado da Encruzilhada vinculou-se Ă arquitetura em voga na ĂŠpoca - a arquitetura moderna, que prega o rompimento do ecletismo


Aviamento O comércio de aviamentos e artigos para corte e costura faz parte da história e tradição do Mercado da Encruzilhada


Cerveja e Bohemia Salve, salve a boemia, o encontro com os amigos, as redes verdadeiramente sociais, que ao longo do ano se consolidaram nos espaços públicos


ÍCONES HISTÓRICOS E CONTEMPORÂNEOS DO

MERCADO DA MADALENA


Mercado da Madalena A fachada do Mercado da Madalena homenageia o pĂĄssaro de vida noturna, chamado de Bacurau, que originou o nome da feira que acontecia Ă noite, ainda tradicional no Mercado da Madalena


Bar do Corno Tradicional pela sua irreverência, o Bar do Corno traz consigo a tradição dos encontros da comunidade sertaneja e dos simpatizantes do estilo


Mesa PlĂĄstica O Mercado da Madalena ĂŠ local de encontro, seja para apreciar as iguarias ou para colocar a conversa em dia, seja de noite ou de dia


ÍCONES HISTÓRICOS E CONTEMPORÂNEOS DO

MERCADO DO CORDEIRO


Mercado do Cordeiro O Mercado do Cordeiro, o mais recentemente reformado, adquirindo o estilo moderno em seus tra莽os arquitet么nicos


Sacaria de cereais O comércio de cereais expostos em sacarias registra bem a ligação com o passado


Barraca de feira Com a reforma do Mercado do Cordeiro, as barracas externas passaram para o seu pรกtio interno


ÍCONES DA GASTRONOMIA ENCONTRADA NOS

MERCADOS PÚBLICOS


Bolinho de bacalhau Representa os variados petiscos ofertados nos mercados


Fava A presenรงa da fava como iguaria na tradicional gastronomia pernambucana


JabĂĄ O feijĂŁo aparece nos mercados nas mais diversas versĂľes, tipos e preparos


Caldinho O tradicional caldinho de feijão abre espaço para os mais variados sabores, mas sempre com requinte e distração


Produtos da cana A pinga, a rapadura e o caldo decana s茫o elementos da nossa oferta gastron么mica


Peixe Em muitos mercados, o peixe é elemento de comercialização e consumo local



Referências CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e seus bairros. Recife: Editora do Autor, 2008. CAVALCANTI, Carlos Bezerra; CAVALCANTI, Vanildo Bezerra. O Recife e suas ruas - Se essas ruas fossem minhas... Recife: Editora do Autor, 2008. COSTA, Francisco Pereira da. Arredores do Recife. Recife, 1981. DANTAS, Leonardo; MAIOR, Mário Souto (orgs). O Recife - Quatro séculos de sua paisagem. GOMES, Geraldo. O estilo moderno na arquitetura de Pernambuco. São Paulo, 1995. _______________. O Mercado de São José. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1984 (Coleção Monumentos do Recife, IV). GASPAR, Lúcia. Mercado da Boa Vista. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 1º jul. 2013. LEAL, Ângela Barros... [et al.]. Mercados de ferro do Brasil. Brasília: Instituto Terceiro Setor, 2011. LINS, Marcelo. Mercados de Recife. Recife: Marcelo Lins, 2007. KORNIS, Mônica Almeida. Sociedade e cultura nos anos 50. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/ artigos/Sociedade/Anos1950>. RECIFE, Prefeitura do. Mercado da Encruzilhada. Disponível em: <http://www2.recife.pe.gov.br/pcrservicos/mercado-daencruzilhada/>. Arquivo do Iphan (Biblioteca Almeida Cunha):Diário de Pernambuco (Mercado da Encruzilhada: local cheio de recifes, 26/10/2007). Arquivo Fundaj: Diário de Pernambuco (dezembro de 1950), Jornal do Commercio (dezembro de 1950). Arquivo Apeje.




REALIZAÇÃO:

APOIO:


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.