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A ARTE A SERVIÇO DA GARANTIA DE DIREITOS

Nos países do Terceiro Mundo, é inegável a falta de garantia dos direitos mais básicos e essenciais dos indivíduos. Para reivindicar tais direitos, diversos atores sociais no Brasil e no mundo usam os quadrinhos para trazer visibilidade ao assunto e suscitar debates sobre temas cruciais a muitas vidas, como o preconceito racial e social, o feminicídio, a marginalização de contingentes majoritários da nossa população e o resgate da dignidade humana. Com isso, saem de cena os super-heróis mascarados da indústria americana e compõem o cenário pessoas da vida real, retratadas no traço. Conheça o perfil e a obra desses artistas e saiba o que eles têm a dizer em prol das pessoas que não têm voz e nem direitos reconhecidos por governos em todo o mundo

PAULO CASTRO

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“ S eria um tanto óbvia a afirmação de que as histórias em quadrinhos refletem aspectos da realidade. Refletem, claro. Assim como o fazem todos os demais produtos artísticos que se valem ou não da narrativa como meio de expressão. Mas há graus de como isso pode ocorrer”, afirmam Waldomiro Vergueiro, Paulo Ramos e Nobu Chinen na apresentação do livro “Enquadrando o Real: Ensaios sobre quadrinhos (auto)biográficos, históricos e jornalísticos”.

Como o mesmo texto detalha, as obras que mais alcançam esses graus de aproximação com a realidade são aquelas que mais tocam, remexem e desnudam as feridas que o real abre nas vidas das pessoas. Com esse viés, diversas são as HQ que fogem dos estereótipos do mundo da fantasia (popularizados por Marvel e DC) e encaram o real sem retoques, mostrando suas dores, exigindo justiça para elas e reivindicando legítimos direitos negados.

Um dos gêneros que mais propicia esse mergulho no caos social que o homem criou para si é a seara do jornalismo em quadrinhos. E, quando se fala nessa varian

Joe Sacco: olhar humanista sobre os conflitos do mundo

Coletânea de trabalhos mais representativos e atuais de Joe Sacco: “Notas sobre Gaza” e “Reportagens”

Trabalhos mais representativos e atuais de Joe Sacco

te inusitada – mas rica – do jornalismo, é inegável falar do seu maior expoente, talvez um dos criadores da grife: o quadrinista e jornalista maltês Joe Sacco. Como já mostramos na nossa 5ª edição (https://bit.ly/2AH5Uir), com uma matéria especial sobre o tema, Joe Sacco foi o que mais levou o jornalismo em quadrinhos ao patamar de excelência que ele justamente reivindica, mostrando ao mundo as populações excluídas de seus direitos. Seu último trabalho é, também, um dos mais emblemáticos: “Reportagens”, que traz seu olhar humanista sobre alguns povos desassistidos que ele conheceu e cujas dores buscou reportar graficamente.

Artistas brasileiros: o traço como denúncia

Em solo natal, as denúncias sobre racismo, exclusão social, mentalidade colonialista, corrupção institucionalizada e preconceitos em geral, que estão na base de formação do nosso país, são bem representadas pelo quadrinista e militante do movimento negro Marcelo D’Salete, principalmente em “Angola Janga” (2017), que aborda curtas histórias relacionadas ao Quilombo dos Palmares, tendo como cenário a então capitania de Pernambuco do fim do século XVI, obra gráfica que deriva de profunda pesquisa sobre o nosso nefasto e vergonhoso passado escravista.

“Angola Janga”: Marcelo D’Salete resgata o contexto histórico do escravismo brasileiro

Na mesma vertente vai o impressionante trabalho: “Chibata! João Cândido e a Revolução que Abalou o Brasil” (2009), dos cearenses Olinto Gadelha (roteiro) e Hemetério (arte), uma investigação riquíssima sobre os antecedentes e os destinos (trágicos) dos envolvidos na revolta de marujos (1910) que marcou a luta por tratamento mais humano na marinha brasileira, até então afeita a práticas e castigos medievais.

A ilustração feminina nacional também tem dignas representantes, como bem evidencia Edna Lopes, pioneira na criação de novelas gráficas no país, criadora de “Amana ao Deus-

“Chibata!”, de Olinto Gadelha e Hemetério: maus-tratos e protagonismo negro

-Dará” (2004), “uma das primeiras narrativas quadrinísticas brasileiras a dar voz a uma protagonista feminina, na qual a violência se destaca como um dos principais motes”, afirmam Ediliane de Oliveira Boff e Waldomiro Vergueiro, no artigo: “Histórias em Quadrinhos como Espaço Privilegiado para Afirmação de Gênero”.

Outra quadrinista brasileira que mantém o mesmo tom de denúncia, qualidade editorial e

“Beco do Rosário”, de Ana Luiza Koehler: a mulher negra e pobre como protagonista da própria história

argumento é Ana Luiza Koehler. Arquiteta e artista gaúcha radicada no mercado de quadrinhos europeus, Ana Luiza é criadora do romance gráfico “Beco do Rosário” (2015), “uma rara construção envolvendo uma protagonista negra nos quadrinhos, Vitória Azambuja”, completam os referidos autores. Empregando técnicas de ilustração com bico de pena e aquarela, além de um argumento pulsante, Ana Luiza desenvolve uma história que tem como cenário a Porto Alegre dos anos de 1920. Na trama, Vitória é uma jovem e humilde moradora do Beco do Rosário (atual avenida Otávio Rocha), cujo maior sonho é se tornar jornalista e sente na pele as dificuldades inerentes à sua condição social e racial.

Releitura histórica magistral

O recorte e o resgate histórico da igualdade de gênero e da equidade social encontram, também, na obra da britânica Kate Evans, uma rara e feliz combinação entre pesquisa biográfica, conteúdo acadêmico e argumento gráfico, em especial na sua magistral grafic novel “Rosa Vermelha” (2017), que traduz e contextualiza, em brilhante releitura histórica, a vida e o pensamento da militante judia polonesa Rosa Luxemburgo (1871-1919). Mulher em uma época cujo único destino feminino era o matrimônio, a maternidade e a submissão ao consorte, revolucionária em um contexto político cujo inevitável desfecho era a forca, deficiente em uma sociedade que repudiava os ditos “incapazes”, Rosa rompeu com todos os estereótipos e pagou com a própria vida a ousadia de lutar por igualdade e por garantia de direitos, como bem Kate Evans soube narrar e ilustrar com admirável sensibilidade.

São obras que evidenciam, às vezes de forma crua, em outras de modo direto, como as histórias em quadrinhos podem estar a serviço de quem não dispõe do artifício da arte para se fazer ouvir e necessita, com dor copiosa, fazer valer sua garantia de direitos ignorados.

“Rosa Vermelha”, de Kate Evans: a força histórica da mulher vulnerável em luta pela equidade social

O leão também tem coração !

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Vamos salvar uma vida hoje?

Mesmo que você não possa adotá-los, o apadrinhamento também é uma opção. Apadrinhando um animal você pode colaborar com um maior bem-estar do bichinho, contribuindo assim nas necessidades especiais dele.

Os cães e gatos do Gatil Luz Violeta precisam de um lar definitivo antes de terem o seu abrigo fechado em maio, e a adoção é a melhor forma de juntos salvarmos todas essas vidas.

Atenção: Por ordem judicial, o abrigo está proibido de abrigar novos animais.

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