Livro Olhares Cruzados Brasil Haiti

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BRASIL-HAITI

Proches par l’histoire, séparés par l’Atlantique, unis par le passé tragique de l’esclavage, les afro-descendants, tout en gardant leurs différences, vivent aujourd’hui des réalités semblables.

Qu’ils soient d’Afrique, du Brésil ou d’Haïti, les enfants cherchent toujours à être photographiés aux cotés de ce qui leur est le plus cher: la famille, les amis, la télévision, les jouets, la nourriture, la plus “belle” partie de la maison, et c’est comme cela que nous devons les montrer car ainsi nous contribuerons à ce qu’ils se sentent inclus dans un monde “qui marche”. Étant donné que nous n’avons pas les moyens de faire un suivi permanent, il est fondamental que ces enfants se sentent représentés, fixés dans le livre qu’ils recevront, de la façon dont ils veulent vraiment être vus et avec laquelle ils puissent s’identifier, pour être fiers d’eux-mêmes et à partir de cela construire leur auto-estime. Ce sont nos propres regards regardant les enfants qui font du projet Regards Croisés un apprentissage continu. Cherchant à les stimuler à faire leur propre lecture de la réalité, nous nous sommes servis de la photographie comme instrument pour retracer les formes avec lesquelles ils voient leur ambiance sociale. En 2004, des ateliers de photographie ont été réalisés avec des enfants au Brésil, en Angola et au Mozambique. Parallèlement, avec l’intention de permettre aux enfants un moyen d’exprimer leur imaginaire, nous avons organisé des ateliers de lettres. En Haïti, avec le concours du Ministère des Relations Extérieures et du Secrétariat Spécial de Politiques de Promotion et l’Égalité Raciale, les activités ont commencé en septembre 2005 avec des enfants du quartier de Bel Air, à Port-auPrince, qui ont participé à des ateliers de photographie, de dessin et de peinture animés par la photographe brésilienne Marie-Ange Bordas. Ensuite, en novembre, l’artiste plastique haïtien Maxence Denis a été invité à venir au Brésil pou réaliser un travail semblable avec les enfants du quilombo du Frechal, au Maranhão.

Conscients des possibilités que ce projet peut offrir comme moyen d’expression et de communication entre enfants afro-descendants et de la contribution que nous pouvons donner à la lutte contre l’intolérance raciale et à la promotion de la paix, nous sommes dans l’espoir de parvenir à bénéficier d’un soutien pour assurer sa continuité.

Crianças do Frechal

L’Haïti c’est juste là, de l’autre côté de la route

Enfants de Frechal

FRECHALPORT AU PRINCE

Quoique nous ayons toujours travaillé dans des communautés défavorisées qui subissent le manque d’infrastructure de base et qui ont des difficultés à assurer leur propre survie, les images des enfants, leurs lettres, leurs dessins et leurs objets d’art nous transmettent optimisme et foi dans la vie. C’est à nous, adultes, de ne pas nous omettre car dans le monde il existe des petits qui clament silencieusement pour une vie meilleure et qui résistent avec espoir à tout genre d’adversité. Il est important de luter contre toute forme de discrimination et d’injustice pour qu’ils se voient assurer le droit de grandir et de vivre avec dignité.

O Haiti é logo ali do outro lado da estrada

OLHARES CRUZADOS · REGARDS CROISÉS

Dans l’intention de promouvoir la connaissance réciproque entre ces communautés, le projet Regards Croisés, mis en place en 2004 avec des ressources propres sous la coordination de Dirce Carrion, présidente de l’OSCIP Image de la Vie, réalise avec les enfants du Brésil, d’Afrique et des Caraïbes, des ateliers de photographie, lettres, dessin, vidéo, jouets, instruments musicaux et d’autres activités qui leur permettent d’identifier leurs racines culturelles communes. Ayant toujours recours à des pratiques artistiques permettant la création d’un langage propre aux enfants, notre intention est qu’ils s’approprient ces formes d’expression et se reconnaissent dans le travail qu’ils réalisent, et qu’ainsi ils se voient à partir de leurs propres regards et non à travers une lecture colonialiste, où le contexte n’est pas accessible aux agents ou alors ceux-ci ne se reconnaissent pas dans le processus.

BRASIL-HAITI OLHARES CRUZADOS REGARDS CROISÉS

Próximos pela história, separados pelo Atlântico, unidos pelo trágico passado da escravidão, os afrodescendentes, guardadas suas diferenças, vivenciam ainda hoje realidades semelhantes. Visando promover o conhecimento recíproco entre estas comunidades, o projeto Olhares Cruzados, iniciado em 2004 com recursos próprios sob a coordenação de Dirce Carrion, presidente da OSCIP Imagem da Vida, vem realizando com crianças do Brasil, da África e do Caribe oficinas de fotografia, cartas, desenho, vídeo, brinquedos, instrumentos musicais e outras atividades que possibilitem a identificação de suas raízes culturais comuns. Utilizando sempre práticas artísticas que permitem a criação de uma linguagem própria das crianças, nossa intenção é que elas se apropriem destas formas de expressão e se encontrem no trabalho realizado. E que se vejam, assim, a partir de seus próprios olhares e não através de uma leitura colonialista, onde o contexto não é acessível aos agentes ou estes não se reconhecem no processo. Sejam elas da África, do Brasil ou do Haiti, as crianças buscam sempre serem fotografadas ao lado daquilo que para elas é mais valioso: a família, os amigos, a televisão, os brinquedos, a comida, a parte mais “bonita” da casa, e é assim que devemos mostrá-las, pois dessa forma estaremos contribuindo para que elas se sintam incluídas em um mundo que “dá certo”. Tendo em vista que não dispomos de meios para fazer um acompanhamento permanente, é fundamental que elas se sintam representadas, fixadas no livro que irão receber. Apresentadas da forma como elas, de fato, querem ser vistas e com a qual possam se identificar, para que sintam orgulho de si mesmas e a partir dai construam sua auto-estima. São os nossos próprios olhares a olhar as crianças que fazem do projeto Olhares Cruzados um contínuo aprendizado. Buscando estimulá-las a fazer a sua própria leitura da realidade, temos utilizado a fotografia como instrumento para retratar as formas que elas vêm seu ambiente social. Em 2004, foram feitas oficinas de fotografia com crianças no Brasil, em Angola e Moçambique. Paralelamente, com a intenção de possibilitar às crianças uma forma de expressar os seus imaginários, realizamos oficinas de cartas. No Haiti, com o apoio do Ministério das Relações Exteriores e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, o trabalho teve início em setembro de 2005 com crianças do bairro de Bel Air, em Porto Príncipe, que participaram de oficinas de fotografia, desenho e pintura orientadas pela fotógrafa brasileira Marie Ange Bordas. Posteriormente, em novembro, o artista plástico haitiano Maxence Denis foi convidado a vir ao Brasil para realizar um trabalho similar com crianças do quilombo do Frechal, no Maranhão. Apesar de termos sempre trabalhado em comunidades carentes, que convivem com a falta de infra-estrutura básica e que enfrentam dificuldades em assegurar a própria sobrevivência, as imagens das crianças, suas cartas, seus desenhos e seus objetos de arte nos transmitem otimismo e fé na vida. Cabe a nós, adultos, não nos omitirmos, pois no mundo existe gente pequena clamando silenciosamente por uma vida melhor e resistindo com esperança a todo tipo de adversidade. É importante lutar contra qualquer forma de discriminação e injustiça para que elas tenham assegurado o direito de crescer e viver com dignidade.

FRECHALPORT AU PRINCE

Cientes das possibilidades que este projeto pode oferecer como forma de expressão e comunicação entre crianças afro-descendentes e da contribuição que podemos dar na luta contra a intolerância racial e a promoção da paz, estamos confiantes de que iremos conseguir apoio que nos permita assegurar a sua continuidade.



Créditos / Crédits Coordenação Editorial / Coordination Editoriale Dirce Carrion

Produção / Production Imagem da Vida Editora Reflexo

Fotografias / Photographies Maxence Denis – Frechai, Maranhão, Brasil Marie Ange Bordas – Port Au Prince, Haiti

Edição de Fotografias / Edition de Photographies Dirce Carrion

Crianças do Frechal no Brasil e Port Au Prince no Haiti / Enfants de Frechai au Brésil et de Port-au-Prince en Haïti Patrocínio / Patronage Ministério das Relações Exteriores / Ministère dês Relations Extérieures Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial / Secretariai Spécial de Politiques de Promotion de l’Égalité Raciale Colaboradores / Collaborateurs Ministério da Cultura e da Comunicação do Haiti / Ministère de Ia Culture et de Ia Communication d’Haïti Ministério da Educação Nacional do Haiti /

Design e Direção de Arte / Conception graphique et Direction d’Art Shadow Design – Mauricio Nisi Gonçalves Versão para o Francês / Traduction en Français Caroline Fretin de Freitas Tradução para o Português / Traduction en Portugais Graziela Betting

BRASIL-HAITI OLHARES CRUZADOS R E G A R D S

C R O I S Ë S

Revisão dos Textos / Révision des textes Liana Amaral Produção Gráfica / Production Graphique Shadow Design

Ministère de l’Éducation Nationale d’Haïti Ministério das Relações Exteriores do Haiti / Ministère dês Affaires Etrangeres et dês Cultes d’Haïti

Impressão e Acabamento / Impression et Finition Pancrom Indústria Gráfica

Museu do Panteão Nacional do Haiti / Musée du Panthéon National Haïtien - MUPANAH

Março de 2006 / Mars 2006

FRECHALPORT AU PRINCE


O Haiti é logo ali do outro lado da estrada

Crianças do Frechal

L’Haïti c’est juste là, de l’autre côté de la route

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Enfants de Frechal

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Brasil-Haiti – Olhares Cruzados

Brésil-Haïti – Regards Croisés

O projeto Brasil-Haiti – Olhares Cruzados vem promover o conhecimento recíproco e a solidariedade entre brasileiros e haitianos por meio do intercâmbio de imagens produzidas por crianças brasileiras e haitianas. Com base em experiências similares em Angola e Moçambique, este trabalho apresenta de maneira original a realidade social de crianças haitianas e brasileiras residentes em comunidades carentes.

Lê projet “Brésil-Haïti – Regarás Croisés” a l’intention de promouvoir Ia connaissance reciproque et ia solidarité entre brésiliens et haïtiens au moyen de l’échange d’images réalisées par dês enfanís brésiliens et haïtiens. Base sur dês expériences sembiables en Angola et au Mozambique, cê travail presente de manière originale ia réalité sociale d’enfants haïtiens et brésiiienshabitants dês communautés défavorisées.

Além de trabalhar o lado lúdico da açâo de fotografar e pintar, o projeto evidencia como a cultura, as brincadeiras e a maneira de interagir com a família e a sociedade são parecidas no Brasil e no Haiti. Mais do que um projeto, Brasil-Haiti – Olhares Cruzados é uma ponte entre universos ao mesmo tempo tão distantes e tão próximos.

Tout en travaillant ie cote ludique de l’action de photographier et de peindre, lê projet met en évidence le fait que Ia culture, lês jeux et Ia façon d’interagir avec Ia famille et Ia sociéíé se ressemblent au Brésil et en Haïti. PIus qu’un projet, “Brésil-Haïti – Regards Croisés” s’agit d’un pont entre dês univers à Ia fois si distants et si proches.

O trabalho da brasileira Dirce Carrion e sua equipe visa dar a conhecer aos haitianos algo mais sobre um país que eles tanto admiram, mas com o qual não têm tido, ainda, a oportunidade de estabelecer contatos estreitos. A iniciativa se insere na dimensão humanista que a política do Governo do Presidente Lula vem imprimindo à diplomacia brasileira.

Lê travail de Ia brésilienne Dirce Carrion et de son equipe vise à faire lês haïtiens découvrir un peu pius sur un pays qu’ils admirent tant, mais avec lequel ils n’ont pás, encore, eu l’occasion d’établir dês liens étroits. Linitiative s’inscrit dans Ia dimension humaniste que Ia politique du gouvernement du Président Luis Inácio Lula da Silva confere dernièrement à Ia diplomatie brésilienne.

Embaixador Celso Amorim, Ministro de Estado das Relações Exteriores

Ambassadeur Celso Amorim, Ministre d’État dês Relations Extérieures

Depuis 2004, quand ie Brésil s’est mis à intégrer avec un effectifconsidérable Ia Mission dês Nations Unies pour Ia síabilisation en Haïti (MINUSTAH), un puissant mouvement d’approximation entre lês deux pays s’est créé. Lê 18 Aoüt. date du match amical entre lês equipes du Brésil et d’Haïti, est maintenant celebre comme ie Jour de Ia Paix. Pour fêter ia date, en 2005, une murale réalisée sur place par dês peintres haïíiens et brésiliens a été inaugurée sur Ia piace Saint Pierre. Pendant que l’oeuvre était exécutée par lês artistes, dês centaines d’enfanís d’écoles publiques et orphelinats de Port-au-Prince ont participe au projet en faisant leurs propres dessins.

Desde 2004, quando o Brasil passou a integrar com expressivo efetivo a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), criou-se um forte movimento de aproximação entre os dois países. O 18 de agosto, data do amistoso entre as seleções do Brasil e do Haiti, passou a ser celebrado como o Dia da Paz. Para comemorar a data, em 2005, foi inaugurado um mural na Praça Saint Pierre, produzido no próprio local por pintores haitianos e brasileiros. Enquanto o mural era pintado pêlos artistas, centenas de crianças de escolas publicas e orfanatos de Porto Príncipe par- ticiparam do projeto produzindo seus próprios desenhos.

La religion et Ia culture dês deux pays, ayant leurs racines communes dans lê continent africain, aussi, lient Haïti et Brésil. La participation brésiilenne dans la restructuration de Ia démocratie en Haïti témoigne de notre engagement avec ia récuperation du pays. PIus que d’apporter sécurite et ordre. Lê Brésil entend contribuer à Ia revitalisation dês institutions et à Ia promotion du deyeloppement économique, social et culturel d’Haïti. La MINUSTAH part du principe que Ia paix n’est pás un bien gratuit. II faut travaiiler pour ia paix avec ténacité. Et lê prix de Ia paix est Ia participation.

Religião e cultura dos dois países, com suas raízes comuns no continente africano, também irmanam Haiti e Brasil. A participação brasileira na reestruturação da democracia no Haiti deixa claro nosso compromisso com a recuperação do país. Mais do que trazer segurança e ordem, o Brasil quer contribuir para a revitalização das instituições e para a promoção do desenvolvimento económico, social e cultural do Haiti. A MINUSTAH parte do princípio de que a paz não é um bem gratuito. Deve-se trabalhar pela paz com afinco. E o preço da paz é a participação. 6

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O olhar sensível sobre a identidade haitiana

Regard sensible sur l’identité haïtienne

Nas últimas décadas têm-se ampliado os olhos e sentidos voltados para as condições de vida que os povos de diversas localidades do mundo desfrutam. Esses olhares, provocados por movimentos sociais, debatidos nas conferências mundiais e por governos locais comprometidos com a mudança, apreendem, principalmente, o exercício da democracia como fonte de justiça, cidadania e igualdade, para além de fronteiras políticas, económicas, sociais e culturais.

Pendant les dernières décennies les yeux et les sens dirigés vers les conditions dans lesquelles vivent les peuples de diverses parties du monde se sont intensi- fiés. Ces regards, provoqués par des mouvements sociaux, débattus dans les conférences mondiales et par des gouvernements locaux engagés avec la transformation, perçoivent, principalement, l’exercice de la démocratie comme source de justice, de citoyenneté et d’égalité, au-delà de frontières politiques, économiques, sociales et culturelles.

Os mesmos olhares globais que aproximam ideias e formas de vida também estão atentos às desumanidades históricas que separaram etnias, destronaram reis e rainhas e massacraram comunidades, transformando-os em mercadorias e trabalhadores escravizados.

Les mêmes regards globaux qui rapprochent idées et formes de vie sont aussi attentifs aux inhumanités historiques qui séparent les ethnies, détrônent rois et reines, massacrent les communautés, les transformant en marchandises et travailleurs esclaves.

A África – mãe, origem e escola para estes povos espalhados pelo mundo sob sua ascendência e descendência – hoje reconstrói sua história, por meio de seus filhos: países compostos, em sua grande maioria, por pessoas descendentes de africanos trazidos na escravidão, que lutam pela liberdade de expressar sua identidade e pelo seu desenvolvimento político, económico e comercial.

L’Afrique – mère, origine et école pour ces peuples dispersés dans le monde sous son ascendance et descendance – reconstruit aujourd’hui son histoire par lebiais de ses fils: pays composés dans leur majorité de descendants d’africains amenés en esclavage qui luttent pour la liberté d’exprimer leur identité et pour leur développement politique, économique et commercial.

Brasil e África uniram-se de maneira trágica pela escravidão e por todo o aparato comercial instalado na costa do Atlântico, tanto lá como cá, para o tráfico de escravos. A abolição tardou a acontecer, mas com ela nossos antepassados conquistaram a liberdade. Iniciouse aí outro ciclo que não correspondeu exatamente à conquista da cidadania plena, a qual ainda continua sendo nosso intuito.

Brésil et Afrique se sont unis de façon tragique du fait de l’esclavage et tout le système commercial installé sur la côte Atlantique, là-bas comme ici, pour la traite des esclaves. L’abolition a tardé, mais avec elle, nos ancêtres ont conquis leur liberté. Ensuite s’est amorcé un autre cycle qui n’a pas exactement correspondu à la conquête de la pleine citoyenneté, qui est toujours notre propos.

Hoje, nos reaproximamos da África por meio de convénios, acordos bilaterais e multilaterais, partilhando as possibilidades de crescimento económico, político e social. Da mesma forma, é hora de demonstrar solidariedade ao povo haitiano. Há muito somos convidados para refletir sobre nossa irmandade com este povo que conquistou a liberdade política, quando muitos brasileiros – e afrodescendentes de outras partes do mundo – nem sequer acreditavam que seriam um dia tratados da mesma

Aujourd’hui nous nous rapprochons de l’Afrique au travers de pactes, d’accord bilatéraux et multilatéraux, en partageant les possibilités de croissance économique, politique et sociale. Ainsi, c’est le moment de démontrer notre solidarité au peuple haïtien. Depuis longtemps nous sommes invités à réfléchir sur notre fraternité avec ce peuple qui a conquis la liberté politique, alors que beaucoup de brésiliens - et afro-descendants d’autres parts du monde – ne croyaient jamais pouvoir être traités 8

maneira que os outros cidadãos e cidadãs. No Haiti, a independência chegou 18 anos antes de sua conquista no Brasil, fazendo daquele país a primeira república negra do mundo, em 1804, e tornando-o um farol para todas as nações e culturas libertárias.

de la même manière que les autres citoyens et citoyennes. En Haïti, l’indépendance est arrivée 18 ans avant que celle du Brésil ne soit conquise, faisant de ce pays la première république noire du monde, en 1804, et le transformant en un phare pour toutes les cultures libératoires.

Por esse motivo, o país encontrou dificuldades para se estruturar, permanecendo isolado e sem efetivo respaldo externo. Hoje, a comunidade internacional preocupa-se de maneira mais enfática por que as condições de vida são inadmissíveis, com profundas desigualdades económicas e sociais e toda a sorte de mazelas.

Pour cette raison, le pays rencontra des difficultés pour se structurer, restant isolé et sans appui externe effectif. Aujourd’hui, la communauté internationale se préoccupe de façon plus intense car les conditions de vie sont inadmissibles, ayant de profondes inégalités économiques et sociales ainsi que toutes sortes de misères.

Urge contribuir para o resgate da ousadia ancestral desse povo, que iluminou durante séculos a resistência similar que ocorreu no Brasil e em outros cantos do mundo.

Il est urgent de contribuer au rétablissement de la hardiesse ancestrale de ce peuple, qui pendant des siècles a illuminé la résistance similaire au Brésil et en d’autres coins du monde.

O governo brasileiro tem tratado a agenda da Promoção da Igualdade Racial de maneira continuada, o que fica explícito na incorporação do Brasil ao projeto Olhares Cruzados, que traz incontáveis possibilidades. Entre elas esse livro, que busca similaridades de nossos olhares sobre o mundo e explora a proximidade da identidade haitiana com a nossa.

Le gouvernement brésilien s’occupe de l’agenda de la Promotion de l’Égalité Raciale d’une manière continue, ce qui est explicite par la participation du Brésil au projet Regards Croisés, qui apporte d’innombrables possibilités, comme par exemple ce livre qui cherche à exposer une similitude de nos regards sur le monde et explore la proximité entre l’identité haïtienne et la nôtre.

O Brasil e o Haiti, embora nações diferentes, sofrem das mesmas sequelas deixadas pela escravidão: a riqueza concentrada, a violência racial, a resistência, as favelas. Infelizmente, a escravidão e o colonialismo foram marcas comuns na nossa história.

Le Brésil et l’Haïti, nations pourtant différentes, souffrent des mêmes séquelles de l’esclavage: richesse concentrée, violence raciale, résistance, bidonvilles. Malheureusement, l’esclavage et le colonialisme ont été des marques communes de notre histoire.

A verdade é que nós, brasileiros, africanos e haitianos sabemos pouco – ou quase nada – uns dos outros, mas mantemos forte identidade. Pouco nos conhecemos no que diz respeito às nossas produções, nossas organizações políticas, nossas linguagens. Temos, sim, um laço ancestral e cultural que une o Brasil a países que possuem grande contingente populacional negro, pois muito de suas identidades se assemelham.

En vérité, nous, brésiliens, africains et haïtiens, ne savons que peu – ou presque rien – les uns des autres, mais nous maintenons une forte identité. Nous nous con naissons à peine en ce qui concerne nos productions, nos organisations politiques, nos langages. Nous avons, il est vrai, un lien ancestral et culturel qui uni le Brésil aux pays possédant un grand contingent de population noire, car grande partie de leurs identités se ressemblent.

Ministra Matilde Ribeiro, Secretária Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

Ministre Matilde Ribeiro, Secrétaire Spéciale de Politiques de Promotion de l’Égalité Raciale

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A água da chuva que empoça sobre a pedra

L’eau de pluie qui fait des flaques sur la pierre

Evapora ao sol

S’évapore au soleil

A fonte que nasce dentro da terra e aflora da rocha

La source qui nait dans terre et affleure la roche

Jamais se esgota

Ne tarif jamais

Ayekobinon Yakpetchou – Bokonom de Abomé

Ayekobinon Yakpetchou – Bokonom d’Abomey

Caminhos Cruzados

Chemins Croisés

Benin,Brasil, Haiti são vértices de um mesmo triângulo que talvez apenas o olhar viajante de Pierre Fatumbi Verger tenha conseguido dar o merecido destaque. Verger foi um estudioso das religiões de matrizes africanas, tendo também viajado para o Haiti onde registrou o universo do vodou. Veio pela primeira vez ao Brasil em 1946, motivado pela curiosidade despertada pelo livro Jubiabá, de Jorge Amado. No Benim, berço do vodou, confirmou a estreita relação deste culto com o candombé e teve despertado seu interesse pela saga dos agudas, descendentes de escravos brasileiros que retornaram à África após a abolição da escravatura. Em sua permanência no Brasil, durante uma visita à Casa das Minas do Maranhão, Verger identifica o uso da linguagem secreta do vodou da família real de Abomé, o que o levou a crer que o culto lá praticado tenha sido introduzido pela mãe de Guêzo, Rei de Daomé, que foi vendida como escrava no início do século XIX. Talvez este seja um dos muitos elos da corrente intencionalmente rompida pêlos mercadores de escravos que exploravam o tráfico entre a África e as colónias na América na intenção de apagar ou erradicar a cultura africana.

Bénin, Brésil, Haïti sont les sommets d’un même triangle que, peut être, seul le regard voyageur de Pierre Fatumbi Verger a réussit à exposer la notoriété méritée. Verger a étudié les religions de ia matrice africaine, voyageant aussi en Haïti où il a enregistré l’univers vodou. Il vint pour la première fois au Brésil en 1946 poussé par la curiosité éveillée par le livre Jubiabà, de Jorge Amado. Au Bénin, berceau du vodou, il confirma l’étroite relation de ce culte avec le candomblé et il s’intéressa par la saga des “agudas”, descendants d’esclaves brésiliens rentrés en Afrique après l’abolition de l’esclavage au Brésil. Pendant son séjour au Brésil, à l’occasion d’une visite à la Casa das Minas do Maranhào (Maison des Mines du Maranhào), Verger identifie le langage secret du vodou de ia famille royale d’Abomey, ce qui mena à croire que le culte pratiqué là-bas ait été introduit par la mère de Guézo, roi de Dahomey, vendue comme esclave au début du XIXème siècle. Ceci pourrait être l’un des nombreux maillons de ia chaine internationalement rompue par les marchands d’esclaves qui exploraient la traite entre l’Afrique et les colonies d’Amérique dans l’intention d’effacer ou d’anéantir la culture africaine.

Revisitando as fotos de Verger, muitas vezes refiz a travessia entre o Brasil e a África e cada vez mais se evidenciavam suas semelhanças, impondo-se a necessidade de contribuir para o fortalecimento da nossa identidade africana. Mas o que era primeiramente uma meta profissional resultou num projeto de vida: os Olhares Cruzados. Desenvolvido inicialmente com crianças brasileiras e africanas em 2004, em 2005 o projeto se estendeu ao Haiti, país onde tive a certeza de que somos todos galhos de uma mesma árvore.

En revoyant les photos de Verger, plusieurs fois j’ai refait la traversée entre le Brésil et l’Afrique, et, chaque fois plus, leur ressemblance se soulignait et la nécessité d contribuer à la consolidation de notre identité africaine s’imposait. Cependant, ce qui au début était un objectif professionnel s’est transformé en un projet de vie: Regards Croisés; d’abord développé avec des enfants brésiliens et africains en 2004-2005, il s’est étendu en Haïti, pays où j’ai pu avoir la certitude que l’on était tous des branches d’un même arbre.

Cruzamos os olhares das crianças haitianas com as do quilombo Frechai, no Maranhão, e mais uma vez as

Nous avons croisé les regards des enfants haïtiens avec ceuxqdu quilombo Frechal au Maranhào et à nouveau les 10

raízes comuns foram evidenciadas quando formulei uma pergunta para as crianças: “Quem sabe onde é o Haiti”? Ao que elas responderam: “É logo ali do outro lado da estrada”. De fato, na época em que a liberdade era apenas um sonho, existiu nas terras do quilombo Frechai um lugar denominado Haiti, que tinha o significado de “terra nossa”, local que foi refúgio para os negros que conseguiam escapar do pesadelo da escravidão. As crianças maranhenses tinham razão: “O Haiti é aqui”.

racines communes se sont manifestées quand j’ai posé aux enfants la question suivante: “Qui sait où se trouve l’Haïti?” Ce à quoi ils ont répondu: “C’est juste là, de l’autre côté de la route.” En effet, à l’époque où la liberté n’était qu’un rêve, il a existé dans les terres du quilombo Frechal un endroit appelé Haïti, qui signifiait “terre à nous”, refuge des nègres qui réussissaient à s’échapper du cauchemar de l’esclavage. Les enfants du Maranhào avaient raison: “L’Haïti, c’est ici”.

Esta não foi a última coincidência, pois algum tempo depois, em Brasília, durante um encontro para acertar os detalhes do projeto Brasil-Haiti – Olhares Cruzados, a reunião foi interrompida por um telefonema com a noticia da viagem do Presidente Lula ao Benin e a necessidade de realizar um evento cultural para a visita presidencial, sugeri, então, a realização da exposição Agudas – Os Brasileiros do Benin, de autoria do antropólogo brasileiro Milton Guran, com quem viajei pela primeira vez ao antigo reino de Abomey.

Ce ne fut pas la seule coïncidence car, quelque temps après, à Brasilia, à l’occasion d’une réunion de pour la mise au point des les détails du projet Brésil-Haïti – Regards Croisés – la séance a été interrompue par un appel téléphonique au sujet de la nouvelle du voyage du président Luia au Bénin et de la nécessité d’organiser un événement culturel pour la visite présidentielle, j’ai suggéré, alors, la réalisation de l’exposition Agudas – Les brésiliens du Bénin, dont l’auteur est l’anthropologue brésilien Milton Guran, avec qui j’ai été pour la première foi à l’ancien royaume d’Abomey.

O jogo do Ifá mais uma vez refez a travessia.

Le jeu de i’Ifa refait la traversée encore une fois.

Dirce Carrion, Presidente da OSCIP Imagem da Vida e Coordenadora do Projeto Olhares Cruzados

Dirce Carrion, Présidente de i’ OSCIP Image de !a Vie e Coordinatrice du Projet Regards Croisés

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brasil brĂŠsil

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Brasil

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Os primeiros africanos a pisar no continente americano eram livres. Participavam de um intenso trânsito comercial que havia se estabelecido desde os primórdios da navegação entre a África, o Brasil, e o Caribe, então chamado de índias Ocidentais, tão rico e importante como as afamadas Índias Orientais. Seguindo a tradição que remonta ao antigo Império do Mali, Abubakari II teria organizado, em 1311, a primeira viagem transatlântica entre a África e o continente americano, quase dois séculos antes dos europeus. É certo que as rotas às duas Índias já estavam bastante estabelecidas bem antes das viagens de Colombo, Vespúcio e Da Gama, contando com a experiência de navegadores árabes, berberes, mandinka e outros africanos, alguns dos quais guiaram os navios europeus. Foram também mercadores africanos, árabes e judeus que fizeram a riqueza da Nova Amsterdã dos Holandeses, a atual Recife brasileira, e ao serem expulsos do Brasil, chegaram livres e prósperos à costa norte americana para onde transplantaram a cidade que se tornou depois Nova York.

Les premiers Africains arrivés sur le continent américain étaient libres. Ils participaient d’un intense trafic commercial établi dès les premiers jours de la navigation entre l’Afrique, le Brésil, et les Caraïbes, alors appelées “Indes Occidentales”, aussi riches et importantes que les célèbres “Indes Orientales”. Suivant la tradition qui remonte à l’ancien Empire du Mali, Abubakari II aurait organisé, en 1311, le premier voyage transatlantique entre l’Afrique et le continent américain, presque deux siècles avant les Européens. Il est certain que les itinéraires vers les deux Indes étaient déjà établis bien avant les voyages de Colomb, Vespucci et Gamma et que ces itinéraires avaient compté avec l’expérience de navigateurs arabes, berbères, mandingues, et autres Africains, certains ayant guidé les navires européens. Ce sont aussi des négociants africains, arabes et juifs qui ont fait la richesse de la Nouvelle Amsterdam des Hollandais, l’actuelle ville brésilienne de Recife, et qui, après être expulsés du Brésil, sont arrivés libres et prospères sur la côte nord américaine où ils ont transplanté la ville qui plus tard deviendrait New York.

Ao contrário do que se pensa, a escravidão foi uma instituição que cresceu através dos séculos XVI e XVII com a consolidação do domínio europeu. O tráfico de escravos foi portanto a primeira grande operação comercial globalizada que levou à ascendência da hegemonia europeia, às custas das vidas e dos corpos de africanos e índios. A rápida desintegração da população ameríndia perpetrada pela guerra da conquista e pelas doenças introduzidas pêlos europeus agravaram gradativamente a falta de mãode-obra nas plantações coloniais e levaram à escravidão dos povos africanos. Índios e africanos compartilharam assim a primeira experiência comum do “terror” perpetrado pelas grandes nações europeias. A partir de 1530, os Portugueses começaram a importar escravos africanos para o Brasil. Quiçá a maior sombra que pese sobre a sua história, o Brasil foi o último país do continente americano a adotar a abolição, mais de 350 anos depois.

Contrairement à nos idées acquises, l’esclavage a été une institution qui a grandi à travers les XVIème et XVIIème siècles du fait de la consolidation de la suprématie européenne. La traite des esclaves fut donc la première grande opération commerciale globalisée qui a fait l’ascendance de l’hégémonie européenne, au prix de vies et de corps d’Africains et d’Indiens. La désintégration rapide de la population amérindienne perpétrée par la guerre de conquête et par les maladies introduites par les Européens a aggravé graduellement le manque de main-d’œuvre dans les plantations coloniales. Indiens et Africains ont partagé ainsi la première expérience commune de “terreur” pratiquée par les grandes nations européennes. À partir de 1530, les Portugais ont commencé à importer des esclaves africains au Brésil. Ceci étant peut-être la plus grande ombre pesant sur son histoire, le Brésil a été le dernier pays du continent américain à adopter l’abolition, plus de 350 ans après.

Não há de fato na história da humanidade algo tão cruel e desumano como o recorde da instituição do escravagis-

Il n’y a rien, en effet, d’aussi cruel et inhumain dans l’histoire de l’humanité que les records de l’institution de

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mo. Mais de 15 milhões de índios perderiam suas vidas. Mais de 15 milhões de africanos teriam sido erradicados de suas terras e levados acorrentados às Américas, a grande maioria ao Caribe e ao Brasil, mas também à América Hispânica, à América do Norte e à Europa. Um número pelo menos duas vezes maior pereceria em alto mar, durante a “passagem média,” viagem transatlântica na qual os escravos eram encerrados e amontoados nos cascos dos navios, cenário de um inferno dantesco.

l’esclavage. Plus de 15 millions d’Indiens perdraient leur vie. Plus de 15 millions d’Africains auraient été enlevés de leurs terres et emportés enchaînés aux Amériques, la grande majorité aux Caraïbes et au Brésil, mais aussi en Amérique Hispanique, en Amérique du Nord et en Europe. Un nombre au moins deux fois plus grand périrait en haute mer, pendant le “passage moyen,” voyage transatlantique où les esclaves étaient enfermés et entassés dans les cales des navires, scénario d’un enfer dantesque.

Os africanos que conseguiam desembarcar obviamente não perdiam a primeira oportunidade para escapar às torturas a que eram submetidos e se juntar aos índios que os haviam precedido nos territórios ainda não conquistados. Formaram-se assim os quilombos e marrons, símbolos da resistência à opressão e às atro- cidades do colonizador europeu, e fontes de uma cultura de resistência. Das narrativas comuns de emancipação nasceria uma filosofia e estética simbiótica, resultado de uma grande mestiçagem entre diferentes povos africanos e indígenas, mas também semiótica, pois que serviria à comunicação de uma cultura incorporada e uma religiosidade proibidas pêlos limites impostos pela escravidão.

Les Africains qui réussissaient à débarquer profitaient, évidemment, de la première occasion pour échapper aux tortures auxquelles ils étaient soumis et rejoindre les Indiens qui les avaient précédés dans les territoires non encore conquis. Ainsi se sont formés les “quilombos” et les communautés marron, symboles de la résistance à l’oppression et aux atrocités du colonisateur européen, et sources d’une culture de résistance. Les récits communs d’émancipation ont donné naissance à une philosophie et une esthétique symbiotique, résultat d’un grand métissage entre différents peuples africains et indigènes, mais aussi sémiotique, qui servirait à communiquer une culture incorporée et une religiosité interdites par les limites imposées par l’esclavage.

O imperialismo europeu só sobreviveu graças ao racismo excludente e à tentativa de erradicação sistemática da humanidade e racionalidade de uma cultura que o historiador britânico Paul Gilroy balizou como a do “Atlântico Negro”: uma cultura híbrida, diaspórica, e globalizada, não circunscrita às fronteiras étnicas ou nacionais. Por causa da liberdade que lhe foi negada, esta cultura fez da arte a sua história, e da música sua religião. Não é por acaso, portanto, que as bandeiras do voudou haitiano, através dos arabescos de seus veveys, ou o conceito de nação nas diversas religiões afro-brasileiras, marcam não a identificação com um grupo ou lugar específico, mas são signos da unificação de uma cultura que floresceu entre a África e as Américas, e que o europeu tentou fragmentar ou destruir.

L’impérialisme européen n’a survécu qu’à cause du racisme proscripteur et de la tentative d’éradication systématique de l’humanité et de la rationalité d’une culture baptisée “l’Atlantique Noir” par l’historien britannique Paul Gilroy: une culture hybride, diasporique et globalisée, non circonscrite aux frontières ethniques ou nationales. Parce que la liberté lui a été niée, cette culture a fait de l’art son histoire et de la musique, sa religion. Ce n’est pas par hasard, cependant, que les drapeaux1 du vaudou haïtien, à travers les arabesques de leurs vévés2, ou que le concept de nation dans les diverses religions afro-brésiliennes ne marquent pas l’identification avec un groupe ou un lieu spécifique; en effet, ce sont les signes de l’unification d’une culture qui a fleuri entre l’Afrique et les Amériques, et que l’Européen a tenté de fragmenter ou détruire.

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O que não podia virar palavra, tornou-se gesto, o que não podia criar raízes, tornou-se movimento. A cultura tornou-se espírito, uma espécie de transcultura, e a humanidade implícita das divindades ancestrais africanas, ou nascidas na resistência contra os opressores, foi antes expressa através de conceitos como o invisível e os mistérios. Mas a resistência deu lugar à rebelião contra a repressão e o jugo. Em 1804, o Haiti torna-se a primeira república inteiramente livre do continente americano, pois os Estados Unidos haviam se tornado independentes e livres apenas para os filhos e descendentes de europeus. Ao reconquistarem o direito à palavra, grandes pensadores, artistas e autores afro-descendentes fizeram da recuperação da memória execrada e da autobiografia um ato de simultânea autocriação e auto-emancipação.

Ce qui ne pouvait être exprimé en mots est devenu geste, ce qui ne pouvait créer de racines, est devenu mouvement. La culture est devenue esprit, une espèce de transculture, et l’humanité implicite des divinités ancestrales africaines, ou celles issues de la résistance contre les oppresseurs, a été exprimée à travers des concepts comme l’invisible et le mystère. Mais la résistance a cédé sa place à la rébellion contre la répression et le joug. En 1804, l’Haïti devient la première république entièrement libre du continent américain, car les États-Unis n’étaient devenus indépendants et libres que pour les enfants et les descendants d’Européens. Après avoir reconquis le droit à la parole, de grands penseurs, artistes, et auteurs afro-descendants ont fait de la récupération de cette mémoire exécrée et de l’autobiographie, un acte simultané d’autocréation et d’auto émancipation.

É este processo que o projeto Olhares Cruzados visa continuar: ao dotar crianças na África, no Brasil e no Caribe, em regiões que se encontram até hoje subjugadas pela herança de colonialismos, com os meios para a articulação, a expressão e a comunicação de suas realidades, de suas culturas e de seus novos imaginários, através de um oceano que ainda hoje é muitas vezes silenciado, pretendemos possibilitar a continuidade da evolução e a transformação das relações humanas.

C’est ce processus que le projet Regards Croisés a l’intention de poursuivre: en dotant les enfants d’Afrique, du Brésil, et des Caraïbes dans des régions qui se trouvent jusqu’aujourd’hui submergées par l’héritage de colonialismes de moyens d’articulation, d’expression et de communication de leurs réalités, de leurs cultures et de leurs nouveaux imaginaires, à travers un océan qui encore aujourd’hui est souvent tu, nous prétendons rendre possible la continuité de l’évolution et la transformation des relations humaines.

Marcelo Fiorini, Antropólogo, Université de Paris III, Sorbonne Nouvelle

Marcelo Fiorini, Anthropologue, Université de Paris III, Sorbonne Nouvelle

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Haiti, uma cultura de resistência

Haïti, une culture de résistance

O Haiti forma com o Caribe e o Brasil o conjunto dos países ou regiões que melhor conservaram a herança africana na América. Esta herança africana é o prolongamento da herança Taino, antiga de cerca de seis mil anos, que se opôs ante a invasão dos europeus (5 de dezembro de1492) que vieram roubar, violar e matar em nome do cristianismo e da civilização. Mas o genocídio dos índios levou estes brancos a buscar à força milhões de negros da África, reduzi-los à escravidão a título de “bens materiais’” e integrá-los ao sistema colonial escravocrata. Nele, estes negros foram sujeitos a um regime de exploração selvagem, a um regime de opressão e de repressão brutal, bem como a um regime de manipulação ideológica sem igual.

Haïti forme avec les Caraïbes et le Brésil, l’ensemble des pays qui ont mieux conservé l’héritage africain en Amérique. Cet héritage africain est le prolongement de l’héritage taino, vieux de près de six mille ans, qui a résisté face à l’invasion des Européens (5 décembre 1492) venus voler, violer et tuer au nom du christianisme et de la civilisation. Mais le génocide des Indiens a poussé ces Blancs à faire chercher de force des millions de noirs d’Afrique, les réduire en esclavage à titre de “biens meubles” et les intégrer dans le système colonial-esclavagiste. Là ces noirs sont soumis à un régime d’exploitation sauvage, à un régime d’oppression et de répression brutale et à un régime de manipulation idéologique sans pareil.

Perante esta situação desumanizante e degradante, os escravos negros a princípio se opuseram e se manifestaram em uma luta sem trégua para reconquistar os seus direitos humanos básicos, o que o sistema lhes recusava por todos os meios. O “aquilombamento” nas montanhas (Doko) permitiu a formação de uma identidade cultural própria que não é outra senão “a linguagem original das massas, a linguagem das frustrações sócio-históricas dos oprimidos, uma linguagem de resistência e um local invulnerável contra os exploradores e os opressores”. E com esta cultura de luta que os escravos negros puderam chegar a fundar, em 1º de janeiro de 1804, a primeira república negra do mundo ou a segunda república livre da América, após os Estados Unidos.

Face à cette situation aussi déshumanisante que dégradante, les noirs esclaves ont d’abord résisté et manifesté une lutte sans merci pour la reconquête de leurs droits humains élémentaires que ie système leur refusait par tous les moyens. Le marronnage dans les mornes (Doko) a permis la formation d’une identité culturelle propre qui n’est autre que “le langage original des Masses, le langage des frustrations socio-historiques des opprimés, un langage de résistance et un lieu d’invulnérabilité face aux exploiteurs et aux oppresseurs”. C’est avec cette culture de lutte que les noirs esclaves ont pu arriver à fonder, le 1er Janvier 1804, la première République Noire du monde ou la seconde république libre de l’Amérique après les Etats-Unis.

Mas esta experiência inigualável foi rapidamente considerada como pervertedora e subvertedora da ordem colonial e escravagista que reinava na América. A revolução haitiana foi portanto demonizada, reprimida e asfixiada de modo que outras colónias da América não seguissem este mau exemplo do Haiti.

Mais, cette expérience unique fut rapidement considérée comme perversive et subversive de l’ordre colonial et esclavagiste régnant en Amérique. La révolution haïtienne fut donc diabolisée, endiguée et étouffée pour que les autres colonies de l’Amérique ne suivent ce “mauvais” exemple d’Haïti.

Paralelamente, a nova elite haitiana construiu uma sociedade baseada no apartheid social e na exclusão. A alienada e enfraquecida elite haitiana nunca pôde realizar uma verdadeira integração nacional e social.

Parallèlement, la nouvelle élite haïtienne a construit une société basée sur l’apartheid social et l’exclusion. L’élite haïtienne extravertie et anémiée n’a jamais pu réaliser une véritable intégration nationale et sociale. L’Etat et 26

O estado e a elite haitiana sempre manifestaram uma atitude de desprezo no que diz respeito às massas e à cultura popular. As massas haitianas retomaram outra vez a resistência secular, inventando todas as formas e estratégias de sobrevivência a partir do vodou, do analfabetismo e da oralidade, da língua créole e de sua referência à África...

l’élite haïtienne ont toujours manifesté une attitude méprisante vis-à-vis des masses et de la culture populaire. Les masses haïtiennes sont de nouveau repliées dans la résistance séculaire inventant toutes formes de stratégies pour survivre à partir de leur vodou, leur analphabétisme et leur oralité, leur langue créole et leur référence à l’Afrique...

Jean Yves Blot, Diretor Geral da Instituto Nacional de Etnologia do Haiti.

Jean Yves Blot, Directeur Général du Bureau National D’Ethnologie d’Haïti

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Frechal - Maranh達o


Frechai: O negro não se calou!

Frechal: Le nègre ne s’est pas tu!

A história do quilombo Frechai teve início em 1792, quando Manuel Coelho de Sousa recebeu, por meio de sesmaria, a gleba de terra a qual denominou Fazenda Pindobal, na época, Município de Guimarães (atual município de Mirinzal). Em seu testamento de partilha, aquela terra passou para as mãos de Torquato Coelho de Sousa, junto com escravos de diversas nações africanas.

L’histoire du quilombo Frechal commence en 1792, quand Manuei Coelho de Sousa reçoit du roi de Portugal le morceau de terre qu’il appelle Fazenda Pindobal, à l’époque dans la commune de Guimaràes (aujourd’hui, commune de Mirinzai). Par son testament, cette terre et ses esclaves de diverses nations africaines, passe aux mains de Torquato Coelho de Sousa.

Nesta época já existiam na região grandes quilombos, como o de Lagoa Amarela, no município de Chapadinha, Limoeiro, no município de Turiaçu, e outros. Os quilombolas participavam de ações que ultrapassavam a defesa do quilombo, como no caso do movimento chamado Guerra da Balaiada, liderado por Negro Cosme, ocorrido entre 1838 e 1841.

À cette époque, il existait déjà dans la région de grands quilombos, comme celui de Lagoa Amarela dans la commune de Chapadinha, celui de Limoeiro dans la commune de Turiaçu, et d’autres. Les membres des quilombos participaient à des initiatives qui excédaient leur défense, comme le cas du mouvement appelé Guerra da Balaiada, mené par Negro Cosme, de 1838 à 1841.

Foi nesse contexto histórico que o quilombo Frechai viveu durante 210 anos, com suas lutas e sua cultura passando de geração para geração. Uma comunidade cuja história sempre esteve ligada ao próprio processo da escravidão no Maranhão.

C’est dans ce contexte historique que le quilombo Frechal vécut pendant 210 ans, ses luttes et sa culture passant de génération en génération. Une communauté dont l’histoire a toujours été reliée au propre processus d’esclavage du Maranhão.

Mesmo após a suposta abolição da escravidão, os quilombolas de Frechai tiveram de continuar lutando por sua sobrevivência, sua liberdade e sua indepedência. Em 1974, teve início um novo e intenso conflito, com a chegada na comunidade de um pretenso proprietário que se intitulou dono daquelas terras, trazendo consigo o absurdo do desmatamento e muitas proibições: de roçado, criação de animal doméstico, construção de casas, pesca artesanal, manifestações culturais... Ou seja, novamente a escravidão...

Même après la supposée abolition de l’esclavage, les quilombolas du Frechal ont dû continuer à luter pour leur survie, leur liberté et leur indépendance. En 1974, un nouveau et intense conflit s’est déclenché, avec l’arrivée dans la communauté d’un soi-disant propriétaire qui s’est intitulé maitre de ces terres, apportant avec lui l’absurdité du déboisement ainsi que beaucoup d’interdictions: de fauche, d’élevage d’animaux domestiques, de construction des maisons, de pêche, de manifestations culturelles... Soit, un nouvel esclavage...

Este conflito chegou a durar 20 anos. No começo, os habitantes de Frechai se sentiram bastante desorientados, mas em 1985, cansados de sentir na pele o quanto estavam sendo prejudicados por esta nova escravidão, resolveram se organizar como um grupo, mobilizando-se contra aquela exploração. A primeira atitude a ser tomada foi a fundação de uma associação de moradores, com participação da Igreja, do sindicato e de diversas entidades de apoio. A mobilização estendeu-se até o Centro de Cultura Negra do

Ce conflit a duré jusqu’à 20 ans. Au début, les habitants de Frechal se sont sentis bien désorientés, mais en 1985, lassés de se faire tant porter préjudice par ce nouvel esclavage, ils décidèrent de s’organiser comme un groupe en se mobilisant contre cette exploration. La première mesure prise a été la fondation d’une association de résidents, avec la participation de l’Église, du Syndicat et de différentes institutions d’appui. La mobilisation s’est étendue jusqu’au Centre de la Culture Noire du Maranhão et la So30

Maranhão e a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, onde foi elaborado um processo judicial, culminado na criação de uma reserva extrativista, hoje reconhecida no Brasil inteiro como Reserva Extrativista de Frechai. O reconhecimento de seus direitos e a luta por eles garantiu aos quilombolas de Frechai uma vida melhor e mais digna.

ciété de Droits Humains du Maranhão, où un procès judiciaire a été réalisé, culminant dans la création d’une réserve d’extraction, aujourd’hui connue dans tout le Brésil comme Réserve d’extraction du Frechal. La reconnaissance de leurs droits a garanti à la communauté du Frechal une vie meilleure et plus digne.

A luta pela posse da terra marca a existência e o cotidiano de todos os trabalhadores que, há séculos, vivem e cultivam no quilombo Frechai. Estes trabalhadores, descendentes de escravos, não são frutos de movimentos migratórios. A sua memória oral não está presa a outro lugar senão ao Frechai: eles sempre estiveram lá, seus pais e seus avós nasceram e foram enterrados naquelas terras.

La lutte pour la possession de la terre marque l’existence et le quotidien de tous les travailleurs qui, depuis des siècles, vivent et cultivent au quilombo Frechal, Ces travailleurs, descendants d’esclaves, ne sont pas le fruit de mouvements migratoires. Leur mémoire orale n’est liée qu’au Frechal: ils ont toujourd vécu dans ces terres, leurs parents et grands-parents y sont nés et y sont enterrés.

Ivo Fonseca Silva, Coordenador Executivo da Aconeruq - Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão

Ivo Fonseca Siiva, Coordinateur Exécutif de l’Aconeruq - Association des Communautés Noires Rurales Quilombolas- du Maranhão

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No Brasil, fui surpreendido pela grande diversidade cultural do Pais. As culturas ameríndia, africana e europeia se encontram nesse país imenso, de maneira intrínseca ou miscigenada, variando conforme as cidades, regiões ou ainda comunidades.

Au Brésil, j’ai été surpris par la très grande diversité culturelle de ce Pays. Les cultures amérindienne, africaine, européenne se retrouvent dans ce même pays, immense, de manière intrinsèque ou métissée, selon les villes ou les régions ou encore les communautés.

Dirce Carrion me guiou pelo seu pais e me fez descobrir algumas de suas facetas. Depois da grande cidade de São Paulo fomos para o estado do Maranhão e nos hospedamos na comunidade do Frechai, onde residem algumas centenas de habitantes que são chamados de quilombolas. Os quilombolas são estranhamente parecidos com os haitianos.

Dirce Carrion m’a guidé et m’a fait découvrir quelques facettes de son pays. Après la grande ville de São Paulo de 18 millions d’habitants, nous nous sommes rendus dans l’État du Maranhâo, et nous avons séjourné dans la communauté de Frechal où résident quelques centaines d’habitants qui se nomment les Quilombos. Les Quilombos ressemblent étrangement aux Haïtiens.

Quilombola, no Brasil, significa escravo fugido. Durante o período da escravidão, os escravos fugidos tomavam posse de uma área e organizavam a vida à sua maneira, ou seja, como na África. Hoje, eles vivem em comunidade, efetuam os trabalhos de interesse geral e comum, ajudam-se uns aos outros e são os guardiões de sua tradição. Admirei o caráter pacífico e sereno e a gentileza dos habitantes dessa comunidade negra do Brasil.

Quilombos veut dire marrons au Brésil. Pendant la période de l’esclavage, des marrons ont pris possession d’un terrain et ont organisé leur vie à leur manière, c’est- à-dire, comme en Afrique et aujourd’hui ils vivent en communauté, effectuent les travaux d’intérêt général en commun, s’entraident les uns les autres et sont les gardiens de ieur tradition. J’ai admiré le côté paisible et serein et la gentillesse des habitants de cette communauté noire du Brésil.

Mas o que mais me surpreendeu foi ficar sabendo que existia, naquela região, uma outra comunidade de quilombolas que se chamava Haiti. Sim, Haiti, com a mesma ortografia que a nossa, sem, no entanto, o trema, que não é usado em português sobre a vogal “i”. Assim como no Frechai, os quilombolas tomaram posse de uma terra e a chamaram de Haiti, o que quer dizer, na antiga língua do Benin, “esta terra é nossa”. Será que alguma vez, uma única vez, já me deram esse significado para a origem do nome de meu pais? Eu não teria acreditado...

Mais ce qui m’a le plus surpris c’est d’avoir appris qu’il existait dans cette région une autre communauté de Quilombos qui s’appelait Haiti, Oui, Haiti avec la même orthographe que le nôtre, sans toutefois le tréma sur le i, qui n’existe pas en portugais. Tout comme à Frechal, des Quilombos ont pris possession d’une terre et l’ont appelé “Haïti”, ce qui veut dire en vieux langage béninois: “cette terre est à nous...”, mais ne m’avait-on pas donné une, mais une seule fois, cette signification à propos de l’origine du nom de mon pays? Je ne l’avais pas cru.

Os ateliês de fotografia e pintura com as crianças dessas comunidades foram uma experiência única, interessante e cheia de sensibilidade. Conseguimos nos comunicar, apesar da barreira que a língua pode provocar, e no Frechai, assim como no Senegal, me senti como se estivesse em casa. Entre os meus. Nós nos parecemos.

Les ateliers de photographie et de peinture avec les enfants de ces communautés ont été une expérience unique, intéressante et pleinne de sensibilité. La communication a eu lieu, malgré la barrière que peut provoquer la langue, et au Frechal, tout comme au Sénégal, je me suis senti chez moi. Parmi les miens. Nous nous ressemblons.

Maxence Denis, Artista plástico e fotógrafo

Maxence Denis, Plasticienne, photographe

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fotos das crianças do frechal photos des enfants de frechal

FRECHAL - Anácia Ana Dalva Ana Look Aurivan Bruna Dayane Érica Erick Gislainy Inácio Joberth John Karina Kássia Kindara Kindê Leandro Leomarcos Luciano Luis Natácio Rarianne Sidney Taciane Thamlys Vanessa Walison DESERTO - Adilson Campos Vieira Aldirene Silva Velvo Alexandra Campos Ana Priscila Ribeiro Campos Andreia Silva Santos Arenildes Trindade Silva Beatrice Ferreira Ribeiro Bruna Cladenir Mafra Deuzenilde Pereira da Silva Edeilde Carvalho Ferreira Erik Jevi Carvalho Géssica Manuela Santos Moreira Gledison Lopes Gleiciene Campos Gleicivânia Jadilson Fereira Rocha Josenildes Pereira da Silva Josilene Campos Mafra Letícia Luciane Ribeiro Santos Marilha Cunha Campos Marilucy Silva Mikalle Baita Rodrigues Nelcilede Osenilde Coelho Silva Raina Fabianne Araújo Taiane Pereira Silva Taiara Ferreira Mondengo Vaneide Vieira Ferreira Vitor Augusto Ferrira dos Santos 42

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Port Au Prince

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Fotos que fazem falar a vida

Des photos qui disent la vie

Poderíamos falar de muitos pontos em comum entre o Haiti e o Brasil. Duas terras que brilham de uma mesma centelha; uma tão grande como um continente, outra uma pequena quase-ilha sobre o mar das Antilhas.

Nous uournons parler des multiples points communs entre le Brésil et ri-laïti, Deux terres qui brillent d’un éclat commun, l’une aussi grande qu’un continent, l’autre, une oetite presqu’île dans la mer des Antilles.

Poderíamos começar pela História: a violência do rapto nas costas africanas, no bojo de navios negreiros, as correntes para os pés e ombros agrilhoados. Poderíamos contrapor a revolta contra a escravidão, a ânsia de libertar-se do inferno colonial, e as vitórias do direito contra as grandes injustiças, para devolver à memória seu quinhão de dignidade.

Nous poumons commencer par l’Histoire: la violence du rapt sur les côtes africaines, la cale des négriers, les chaînes pour les pieds et l’épaule etampée. Nous pourrions opposer la révolte à l’esclavage, le vœu de liberté a l’enfer colonial, les victoires du droit contre la arande injustice, pour rendre à la mémoire sa part de dignité, Nous pourrions ensuite vous dresser l’inventaire des immenses richesses de ces cultures croisées, Yoruba et latinité. Passer d’un peuple a l’autre, décrire leurs ressemblances, des Onxas aux Loas, d’Ogun à Ogou, d’Ovat a Agwe, de Yemanja à Erzulie. Des rythmes et des couleurs, samba et yanvalou, peimure naïve et théâtre total. Cet art commun de dire. de peindre et de chanter la douleur et le rire. Cette capacité inventive qui transforme tout bruit en musique, n’importe quel objet en objet d’art,

Poderíamos depois elaborar sobre o inventário das imensas riquezas destas culturas cruzadas: ioruba e latina. Passando de um povo ao outro, descrevendo suas semelhanças, dos orixás aos loas, de Ogum à Ogou, de Oiá à Agwe, de lemanjá a Erzulie. Dos ritmos e das cores, samba e yanvalou, pintura naïve e teatro total. Esta arte comum de falar, de pintar e cantar a dor e o riso. Esta capacidade de inventar que transforma todo ruído em música e não importa qual objeto, em obra de arte. Poderíamos também falar da realidade social. Da configuração aparente das desigualdades, das faces semelhantes da discriminação. Rio e Porto-Príncipe, cidades e favelas, e a mesma pobreza que desce as montanhas.

Nous pourrions aussi vous parler de la réalité sociale. De la configuration semblable des inégalités, des visages similaires de la discrimination, Rio et Port-au-Prince, villas et bidonvilles, et la même pauvreté descendant des colhnes,

Poderíamos falar de todas as coisas comuns a estes dois países. A dor, o heroísmo. A beleza, o orgulho. A fidelidade à primeira origem, a difícil chegada à modernidade. O passado e a luta por um futuro melhor e um mundo mais justo. Olhemos tudo isto, habitemos ao mesmo tempo o real e o sonho.

Nous pourrions parler de toutes ces choses communes aux deux pays. La douleur, l’héroïsme. La beauté, la fierté. La fidélité à l’origine première, la difficile entrée dans la modernité. Le passe et la lutte pour un avenir meilleur et un monde plus iuste. Regarder tout, cela, habiter en même temps le réel et le rêve.

Mas nós podemos também nos deter. Deixar a vez à infância. Não somos cegos ao sonho e à realidade porque crescemos em bairro pobre. Não somos privados de talento porque a sociedade na qual vivemos se acomoda ante nossa miséria, a gera, a tolera.

Mais nous pouvons aussi nous taire. Laisser la place a l’enfance. On n’est pas aveugle au rêve et au réel parce que l’on grandit dans un quartier pauvre. On n’est pas onvé de talent parce que la société dans laquelle on vit s’accommode a notre misère, la génère, la tolère.

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As crianças do Haiti e do Brasil são seres vivos. Antes de falarmos por eles, é importante escutar o que dizem, seguir seus olhares, encorajar o diálogo entre eles, de um bairro desfavorecido de Porto-Príncipe a uma comunidade pobre do Brasil, seguir a expressão deste fundo cultural africano que se perpetua, resiste e enriquece outras fontes culturais.

Les emfants d’Haïti et du Brésil sont des êtres vivants. Plutôt que de parler pour eux, il est important d’écouter ce qu’ils disent, de suivre leur regard d’encouragé, le dialogue entre eux. d’un quartier défavorisé de Port-auPrince à une communauté pauvre du Brésil, de suivre l’expression de ce fond culturel africain qui se perpétue, résiste et s’enrichit d’autres apports culturels.

As crianças do Brasil e do Haiti têm olhos que vêem o mundo tal como ele é e tal como ele deveria ser. Com uma câmera, eles fixaram sobre a película os momentos de suas vidas e de seus universos, tirados de fragmentos da vida cotidiana. Com uma câmera, elas deram um sentido aos lugares, aos objetos, às cenas, sob as quais despontam, ao mesmo tempo, suas heranças e condições, mas também suas ternuras e esperanças. Estas fotos revelam suas apreensões espontâneas das coisas da vida, o desejo de fazer e de fazer bem, se eles têm acesso ao saber-fazer.

Les enfants du Brésil et d’Haïti ont des yeux qui voient le monde tel qu’i! est et tel qu’il devrait être Avec une caméra, ils ont fixé sur pellicule des moments de eurs vies et de leur univers, sais, des fragments de leur vie quotidienne. Avec une caméra, ils ont donné un sens a des iieux, des objets, des scènes derrière lesqueis pointent à la fois leur héritage et leur condition, mais aussi leur tendresse et leur espoir. Ces photos révèlent leur saisie spontanée des choses de la vie, l’envie de faire et de bien faire, s’ils ont accès au savoir-faire.

As crianças do Brasil e do Haiti são seres humanos, Filhos da miséria1 perdidos em suas Cidade de Deus2, mas Capitães de areia3 e Governadores do orvalho4. As crianças negras do Brasil e do Haiti são pobres e ricas. Tão vivazes quanto vivas.

Les enfants du Brésil et d’Haïti sont des êtres humains Fils de misère1 perdus dans leurs Cité de Dieu2, mais Capitaines des sables3 et Gouverneurs de la rosée4. Les enfants noirs du Brésil et d’Haïti sont si pauvres et si ncnes. Si vivants et vivaces.

Que aquele ou aquela que olhar estas fotos reconheçam nelas o pulsar de seus corações e tudo o quanto é possível dentro de si mesmos.

Que celui ou celle qui regarde ces photos y reconnaisse relan de leur cœur et tout le possible en eux.

Evelyne e Lyonel Trouillot, Escritores haitianos

Evelyne et Lyonei Trouiiiot, Écrivain haïtien

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Sem um espaço de visibilidade e sem confiar na palavra

Sans espace de visibilité et sans croire qu’actes et

e na ação como modo de viver juntos,

paroles soient une manière de vivre ensemble,

nem a realidade de seu próprio eu, de sua própria identidade,

ni la réalité de sa propre existence, de sa propre identité,

nem a realidade do mundo que nos cerca pode ser estabelecida.

ni la réalité du monde environnant ne peuvent être établies.

Hannah Arendt

Hannah Arendt

Bienvenue chez nous: as boas vindas em giz colorido sobre a lousa verde espelham os olhares ansiosos dos alunos que nos recebem na escola Isidore Boisrond. Charles, Alexandra, Mireille, Wenchise, Jean-Bernard... tantos nomes e sorrisos para um tempo infelizmente curto demais. Nos crachás cuidadosamente improvisados alguns sobrenomes ecoam a história da singular independência do país enquanto os olhos revelam a mesma curiosidade de todas as crianças do mundo. Alguns dias depois, a Escola Discrète Aumone nos acolhe em Bei Air com novos nomes e olhares, mas com igual curiosidade, saudável motor de qualquer processo criativo e de troca.

Bienvenue chez nous: le message de bienvenue écrit à la craie de couleur sur le tableau vert reflète les regards anxieux des élèves qui nous reçoivent à l’école Isidore Boisrond. Charles, Alexandra, Mireille, Wenchise, JeanBernard... tant de prénoms et de sourires pour un temps malheureusement trop court. Sur les badges soigneusement improvisés, quelques noms de famille témoignent de l’histoire singulière de l’indépendance du pays tandis que les yeux révèlent la même curiosité de tous les enfants du monde. Quelques Jours après, à Bel Air, de nouveaux prénoms et les mêmes regards curieux, source de tout procès créatif, nous accueillent à !’ École Discrète Aumône.

No espaço de uma semana, o Brasil da camisa 9 de Ronaldo pintada na traseira dos tap-taps, das bandeiras verde e amarela nos muros de Bei Air e nos uniformes da Minustah é descoberto através das paisagens do Maranhão, das festas de Bumba, dos pequenos quilombolas do Frechai, dos pássaros multicoloridos... Nas páginas dos livros trazidos de tão longe les ti-mômes conhecem um pouco mais desta terra tão proximamente distante. E vocês, o que podem fotografar para apresentar sua comunidade às crianças do Brasil? A pergunta inspira e excita: do Falais National à decoração da sala de estar, dos cartazes de cinema ao lixo nas ruas, dos vendedores ambulantes ao jantar em família, a lista vai tenuamente traçando um retraio da vida em Port au Prince.

Toute une semaine, le Brésil représenté par la chemise nº 9 de Ronaido peint à l’arrière des tap-taps, les drapeaux jaune et vert peints sur les murs de Bel Air et accrochés aux treillis de Minustah, est découvert à travers !es paysages du Maranhào, les fêtes de Bumba, ies images des petits descendants des esclaves noirs, les quilombolas du Frechal, les oiseaux aux vifs coloris... Sur les pages des livres ramenés de si loin, les “ti-mômes” en savent un peu plus sur cette terre si lointaine et étrangement si proche. “Et vous, que pourriez-vous photographier pour présenter votre communauté aux enfants du Brésil?” La question inspire et excite: du Palais National à la décoration de la saile de séjour, des enseignes de cinéma aux détritus dans les rues, des vendeurs ambulants au dîner en famille, la liste trace peu à peu un portrait de la vie à Port-au-Prince.

Em minha trajetória de artista mediadora é esta capacidade da fotografia para promover a observação individual e coletiva acerca de si mesmo e seu entorno que me interessa. Instigar o olhar e a partir dele o pensar-se é o que tem orientado meu trabalho com crianças e jovens em diversos países. Para além do manuseio das máquinas fotográficas é esta reflexão criativa que 56

Dans mon parcours d’artiste médiatrice, ce qui m’intéresse c’est cette capacité qu’offre la photographie de promouvoir l’observation, tant individuelle que collective, de soi-même et de ce qui l’entoure. C’est provoquer le regard en tant qu’instigateur de la réflexion sur soi-même qui oriente mon travail dans différents pays auprès des enfants et des 57


dá sentido ao processo. Se num primeiro momento, a máquina fotográfica oferece uma oportunidade de retratar o mundo à sua volta sob seu próprio ponto de vista, com tempo e cuidado, a fotografia pode tornar-se não só uma forma de expressão mas também uma ferramenta de empoderamento e de desenvolvimento de uma consciência coletiva que permite ocupar e garantir um espaço social próprio.

jeunes. Il s’agit d’aller au-delà de la simple utilisation des appareils photographiques pour aboutir à cette réflexion créatrice qui donne un sens au processus. Ainsi, si dans un premier temps, l’appareil photo offre l’occasion de saisir une image personnalisée du monde qui nous entoure, en lui consacrant un certain temps et quelques soins attentifs, la photo peut devenir, non seulement un mode personnel d’expression mais aussi un instrument de capabilité (empowerment) et de développement d’une conscience collective qui permet d’occuper et de garantir un espace social commun.

Em Port-au-Prince, as imagens sem censura das crianças, espontâneas no enquadramento e tecnicamente cruas, falam mais de suas comunidades e de suas vidas do que qualquer ensaio fotográfico que eu poderia ter feito no meu curto tempo de estrangeira em solo haitiano. À moldura da janela do automóvel que me conduz pela cidade as crianças respondem com o marco da porta do quarto, à altura do Urutu que me leva até Bei Air, elas contrapõem os dois pés bem plantados no chão de uma estreita viela, à distância de passagem elas respondem com uma proximidade quase palpável, uma intimidade que salta aos olhos exclamando: esta é a minha vida! Os bichos de pelúcia que comem sobre a cama, a mãe de seios desnudos, as pinturas do pai orgulhosamente exibidas, a lição de casa feita sobre os degraus da escada de cimento, os bibelôs sobre a cómoda recoberta por um tecido florido, os colegas a caminho da escola sob um céu cinza... fragmentos de tantas famílias, de tantas histórias compondo um mosaico mais do que revelador de uma cidade. À tamanha riqueza, só posso acrescentar alguns poucos retratos, cheios de respeito e ternura, testemunhas desse encontro com esses jovens haitianos, com o desejo de que seu futuro seja mais esperançoso do que este presente tão marcado pela dificuldade, pela violência e pela falta de perspectivas.

A Port-au-Prince, les images prises sans censure par les enfants, spontanés dans le cadrage et sans préoccupations techniques, nous parient mieux que n’importe quel essai photographique que j’aurais pu avoir produit en si peu de temps en sol haïtien, de leurs communautés et de leurs vies. À l’encadrement de la vitre de l’automobile qui me conduit en ville, les enfants répondent par le pas de la porte de leur chambre; à la hauteur du char blindé, VUrutu qui m’amène à Be! Air, ils opposent leurs deux pieds bien enfoncés dans la terre d’une ruelle étroite; à la distance du passage, ils répondent par une proximité quasiment palpable, une intimité qui saute aux yeux, qui semble clamer: “C’est ça ma vie!” Les animaux en peluche qui mangent sur le lit, les seins dénudes de la mère, les peintures du père exhibées avec orgueil, le devoir de classe fait sur les marches de l’escalier en ciment, les bibelots sur le meuble recouvert d’un tissu à fleurs, les copains qui vont à l’école sous un ciel gris... fragments de tant de familles, tant d’histoires qui composent une mosaïque unique révélatrice d’une ville. À une si grande richesse, je ne peux qu’offrir quelques rares portraits, emplis de respect et de tendresse, témoignages de cette rencontre avec ces enfants et jeunes haïtiens, à qui je souhaite ardemment que, dans un proche avenir, soit récompensé leur espoir de changer ce présent si durement marqué par les difficultés, la violence et l’absence de perspectives.

Marie Ange Bordas, Artista plástica e fotógrafa

Marie Ange Bordas, Plasticienne, photographe

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fotos das crianças de port au prince photos des enfants de port-au-prince

ÉCOLE ISIDORE BOISROND - Aderna Desvarieux Alexandra Borgella Alexandra Toussaint Anderson Charles Cadet Re Calixte Jean Bernard Florence Joseph Jean Gulles Lenes Jean Widner François Josiane Theodore Kensy François Ketia Francisque Lens Jean Sission Max Junior Barthelmy Michel Isamaelle Mireille Jules M ir landa Joseph Nathalie Civil Saint-Aime Peterson S chylla Dawine Sheena R ichard Steffi K e ny a M a i gn a n t Va n e s s a Ca s s e u s Va n e s s a N a rc i s s e Wa n s o n Fl e u ra n t i n We n c h i s e To u s s a i n t ÉCOLE DISCRÈTE AUMONE - Bettyna Volcy Claudine Hipolite Darline Petion Delva Boaz Etienne Luckner Fabiola Desir Farah Rochefort Formela Ruth Getro Moise Illysse Frantzpy Ivonne Pierre James Joseph Julanie Beauvic Juslene Moise Linda Joseph Lucien John Marie Micheline Brevil Marise Ismael Max Du Frere Mythil Daphta Ralph Bissnith Ricardo Descoches Saatona Chevy Ulysse Makenz y 68

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Fantasias infantis em tempos difíceis

Les fantaisies des enfants en temps difficiles

Brincadeiras e jogos são não apenas recursos essenciais para a construção da passagem da infância para o mundo adulto, mas consistem nas ferramentas mais eficazes para se cuid

Le jeu n’est pas simplement un moyen essentiel pour la construction du passage de l’enfance vers le monde adulte, mais c’est l’outil le plus efficace pour traiter les troubles psychiques issus de l’instabilité ou de la desagrégation des liens sociaux et familiaux dans les conflits armés ou dans les situations de carence économique. Bien que beaucoup l’ignorent, le droit au jeu est reconnu par la Convention internationale sur les Droits de l’Enfant. En plus des blessures concrètes, mesurables, les ambiances oppressives tendent à bouleverser un fondement essentiel de l’enfance: la croyance que les parents peuvent protéger leurs enfants dans des circonstances dangereuses. La pauvreté et l’exclusion sociale, même si plus insidieuses que les conflits, participent aussi au démontage de familles et a la desorientation face à un quotidien hostile. En dehors de la conception de la guerre comme inhérente à la nature humaine, des instances où le recours aux armes semble juste selon le droit international, ou de l’acceptation tacite, parfois religieuse, que la misère est le fruit de différences inévitables entre les hommes, les gouvernements et la collectivité ne peuvent fuir l’en gagement d’atténuer la souffrance des enfants. Les activités ludiques doivent prendre en compte les croyances et les principes du groupe social où elles sont employées. Des ateliers de photographie – pour ce qui est de la propre nature de la photographie – favorisent aussi le retour à la fantaisie et à l’imagination. Le matériel inévitable n’est qu’un instrument pour qu’enfants et adolescents puissent se “réapproprier” des ambiances, des coutumes et des habillements qui constituent les personnages et les scénarios de chaque milieu. La récupération de l’imaginaire, à l’aide des recours symboliques de l’ambiance culturelle de chaque individu, sert d’initiative de reprise de la foi en l’avenir, composant primaire de la dignité humaine, Paulo Schiiler, Pédiatre et psychanalyste

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pinturas das crianças de frechal peintures des enfants de frechal

pinturas das crianças de port au prince peintures des enfants de port-au-prince

FRECHAL - Anácia Ana Dalva Ana Look Aurivan Bruna Dayane Érica Erick Gislainy Inácio Joberth John Karina Kássia Kindara Kindê Leandro Leomarcos Luciano Luis Natácio Rarianne Sidney Taciane Thamlys Vanessa Walison DESERTO - Adilson Campos Vieira Aldirrene Silva Velvo Ana Priscila Ribeiro Campos Andreia Silva Santos Beatrice Ferreira Ribeiro Bruna Cladenir Mafra Deuzenilde Pereira da Silva Edeilde Carvalho Ferreira Elissandra Campos Silva Erik Jevi Carvalho Géssica Manuela Santos Moreira Gleicivânia Gleydison Lopes Gleyiene Campos Jadilson Fereira Rocha Josenilde Coelho Silva Josenilde Pereira da Silva Joycilene Campos Mafra Letícia Luciane Ribeiro Santos Lucivania Marenilde Trindade Silva Marilha Cunha Campos M ar yluce Silva M yalle Baita Rodrigues Nelcilede R aina Fabianne Araújo Taiane Pereira Silva Thyara Ferreira M ondengo Vaneide Vieira Ferreira Vanuzia Vitor Augusto Ferreira dos Santos

ÉCOLE ISIDORE BOISROND - Aderna Desvarieux Alexandra Borgella Alexandra Toussaint Anderson Charles Cadet Re Calixte Jean Bernard Florence Joseph Jean Gulles Lenes Jean Widner François Josiane Theodore K e n s y Fra n ço i s K e t i a Fra n c i s q u e Le n s J e a n S i s s i o n M a x J u n i o r B a r t h e l my M i c h e l I s a m a e l l e Mireille Jules Mirlanda Joseph Nathalie Civil Saint-Aime Peterson Schylla Dawine Sheena Richard Steffi Kenya Maignant Vanessa Casseus Vanessa Narcisse Wanson Fleurantin Wenchise Toussaint É CO L E D I S C R È T E AU M O N E - Alci Jean Vitesse Alfred Islande Angeline Buteau Antoine Noulie Beatrice Joseph Cerve Ivens Charles Ester Elismè Junior Jerry Roland Joseph Wodan Joseph Schneider Julio Alexandre Noxmal Nona Oinaese Nona Osner Jean Baptiste Ralph Dougè Rolanda Vital Ronald Doctring Roseline Seragène Silta Isaac Stentia Celestin Stephania Charles Wisly Romanae

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Por uma ponte viva entre o Haiti e o Brasil!

Pour un pont vivant entre l’Haïti et lê Brésii!

Graças à conjuntura geopolítica, eis que trocas culturais entre a República do Haiti e o Brasil se concretizam. O ano de 2005 inaugurou uma série de eventos, entre eles a visita do Ministro da Cultura do Brasil, o famoso Gilberto Gil, o que não é pouca coisa.

A Ia faveur d’une conjoncture géopoiitique, voilâ que dês échanges cultureis entre ia Republique d’Haïti et lê Bresil se concrétisení. Lannée 2005 a inaugure une sene d’événements, dont Ia visite du ministre de ia culture du Brésii, ie celebre Gilberto Gil, n’est pás dês moindres.

O que aproxima nossos dois povos?

Qu’est-ce qui rapproche nos deux peuples?

A história: a antiga colónia francesa de São Domingos e o estado da Bahia têm em comum a economia de plantation e seu corolário, o negócio negreiro.

Lhistoire – Lancienne coionie française de Saint-Domingue et Ia province de Bahia ont en commun i’économie de planíation, et, son coroliaire, Ia traite négriere.

Além disso, o fato religioso, por suas diversas variantes populares, o culto de santos católicos associado ou integrado ao das divindades africanas, um panteão que apresenta um bom número de equivalências, objeto de estudos recentes, é o mais evidente.

Lê faií religieux, par sés diverges variantes populaires, lê culte dês saints catholiques associe ou integre à celui dês divinités africaines, un paníhéon qu’ presente bon nombre d’equivalences. objets d’etudes recentes, par ailleurs, est lê pius évident.

Sobre a música, poderíamos nos estender longamente, de tão constante que é o espaço do Brasil na paisagem sonora haitiana, desde os anos 1950. É lamentável que o trabalho de uma pessoa como Géraíd Merceron, crítico e compositor musical haitiano, morto há vinte anos, não sejam acessíveis ao grande público. Filho de diplomata, ele vivera no Brasil e, de volta ao país, totalmente repleto da cultura brasileira, tentara, por suas composições, fazer uma fusão original das duas tradições.

Sur Ia musique, on pourrait s’etendre longuemení, tant Ia piace du Brésii dans lê paysage sonore haïtien est une constante, depuis lês années cinquante. II est regrettable que lês travaux d’un Geraíd Merceron, critique et compositeur musical haïtien, disparu i! y a une vingtaine d’années, ne soient pás accessible au grand public. Ris de diplomate, il avait vécu au Brésii et, revenu au pays, tout pétn de culture brésilienne, avait tente par sés compositions une fusion originale dês deux traditions,

Mais recentemente, Sérgio Otanazetra, artista brasileiro que vive na França, levado pela simples curiosidade, passou uma temporada de quinze dias no Haiti.

Plus récemrnent, Sérgio Otanazetra, artiste bresilien, vivant en France, poussé par Ia simple cunosité, a séjourné en Haïti pendant une qumzaine de jours.

Hoje, é pela força dos negócios macropolíticos que o Brasil, potência regional, multiplica os sinais de seu interesse pelo Haiti.

Aujourd’hui. c’est par Ia force dês enjeux macropolitiques que ie Brésii, puissance régionaie, multiplie lês signaux de son interêt pour i’Haïti.

A temporada no Brasil do artista plástico e criador multimídia haitiano Maxence Denis, em novembro de 2005, por iniciativa da OSCIP Imagem da Vida, é a primeira do género.

Lê séjour du plasticie”, créateur multimédia haïtien, Maxence Denis, au Brésii, en novembre 2005, à l’initiative de Ia OSCIP Image de Ia Vie est une première du genre.

Carrié) e algumas iniciativas limitadas à arte naïf haitiana, foi a primeira verdadeira ocasião, oferecida a um artista contemporâneo do Haiti, de explorar e aprofundar o universo brasileiro.

se limitent à l’art naïf haïtien, c’est ia toute première occasion, fournie a un artiste contemporam d’Hiaïti, d’explorer et d’approfondir l’univers bresilien. Maxence, qui s’intéresse aux phénomenes urbains contemporains, qu’il s’agisse des rave à Berlin ou en France, dês installations spontanées pratiquées par le commerce informel d’Hiaïti ou du Sénégal, représente Ia nouvelle géneration de plasticiens haïtiens.

Maxence, que se interessa pêlos fenómenos urbanos contemporâneos – sejam eles as rares de Berlim ou da França, ou as instalações espontâneas praticadas pelo comércio informal do Haiti ou do Senegal –, representa a nova geração de artistas plásticos haitianos. Pelo seu domínio das novas tecnologias, formado pelo audiovisual e pelo meio profissional da televisão francesa, Maxence, que participou da última Bienal de Veneza com uma escultura animada por meios digitais, intitulada “Kwa Bawon”, é o criador haitiano mais equipado para estabelecer a conexão entre esse país-continente, o Brasil, e essa meia-ilha do Caribe, de história complexa e movimentada, pêlos meios de expressão atuais: a instalação, o vídeo, a criação digital e os gêneros mais tradicionais da fotografia e da escultura.

Par sa maîtrise dês nouvelles technoiogies, forme à l’audio-visuel et au milieu professionnel de ia television française, Maxence, qui a participé à la dernière Biennale de Venise avec une sculpture animée par des moyens numériques, intitulée “Kwa Bawon”, est le créateur haïtien le mieux outillé pour établir Ia jonction entre ce pays-continent, le Brésil, et cette demi-île de Ia Caraïbe à l’histoire complexe et mouvementée entre les modes d’expression du jour ; l’installation. Ia vídeo, Ia création numérique et les genres plus traditionneis de ia photographie et de Ia sculpture.

E desejável que existam iniciativas mais amplas que estabeleçam o papel de ponte entre o mundo caribenho, o Haiti no caso, e o Brasil.

Il est souhaitable que de pius arnples initiatives, établissent le rôle de pont entre le monde Caraïbe, Haïti en l’occurrence, et lê Brésil.

Barbara Prézeau Stephenson, Presidente da Fundação AfricAméricA, responsável pelo Caribe e América Latina e Vice-presidente AICA l Sul do Caribe

Barbara Prézeau Stephenson, Presidente de la Fondation AfricAméricA, responsable Caraïbes et Amérique Latine et Vice-présidente AICA l Caraïbes du Sud

En effet. dans lê domaine dês arts plastiques, en dehors d’irrégulières participations à Ia Biennale de São Paulo (lê scuipteur Patrick Vilaire. l’installateur Mario Benjamin, ie peintre Edouard Duval-Carrié) et de quelques initiatives. qui

De fato, na área de artes plásticas, afora as participações irregulares na Bienal de São Paulo (o escultor Patrick Vilaire, o artista Mário Benjamin e o pintor Edouard Duval92

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Agradecimentos

Remerciements

Ao expressarmos nossos agradecimentos, lembramonos de muitas pessoas que nos ajudaram a concretizar nosso trabalho. Mas não podemos deixar de mencionar o nome de algumas cujo apoio foi indispensável para que realizássemos este projeto.

Au moment d’adresser nos remerciements, nous rous rappelons beaucoup de personnes aul nous ont aiaes a concretiser notre eníreprise. Toutefois. nous ne pouvons passer sous silence lê nom de certains dont lê ooncour? a ete indispensable pour Ia réalisation de cê projet.

Assim, o nosso primeiro pensamento vai para as crianças, diretores e professores da Escola Discreto Aumone no bairro de Bei Air, e da Escola Isidore Boisrond, em Porto Príncipe; alunos e professores das Escolas das Comunidades do Quilombo Frechai e do Deserto, no Maranhão; Embaixador Paulo Cordeiro, Ministro Arnaldo D’0liveira, Conselheira Isabel Azevedo, Jacques Bartoli, Bárbara Prezeau, Yves Blot, Lyonel Trouillot, Jean Lherisson, Rooswelt Eduard, Professora Adeline Jean Louis, Lauréus Yardy, Richard Morse, os músicos Thomas, Daniel e Mono; Capitão Leônidas, Ministra Matilde Ribeiro, Ministro Paulo César Meira Vasconcellos, Conselheiro José Mário Ferreira Filho, Magali Naves, Marcelo Fiorini, Milton Guran, Carlos Goldgrub, Jociene da Silva Gomes, Dona Jovina da Silva Gomes, Jonailson da Silva Gomes, Francisco Gomes, Ivo Fonseca da Silva, Denise Paiva, Christian Knepper, Aline Magna, Cleber Trindade, Selvino Heck, Rosa Miriam Ribeiro, Ricardo Teles, Charles, nosso motorista em Porto Príncipe, entre tantas outras pessoas que nos apoiaram e nos receberam em todos os lugares por onde passamos.

Ainsi. notre première pensée vá aux enfants, direoteurs et professeurs de l’école Discrète Aumone du quartier de Bei Air et de l’Ecole Isidore Boisrorid, à Port-au- Prince: aux eleves et proíesseurs dês écoles dês communautés du quilombo Frechai et de Deserto au Maranhão. Ambassadeur Paulo Cordeiro. Ministre Arnaldo D’Oliveira, Conseiller Isabel Azevedo, Jacques Bartoii, Bárbara Prezeau, Yves Blot, Lyone! Trouiilot, Jean Lherisson. Rooswelt Eduard, Adeline Jean Louis, Lauréus Yardy, Richard Morse, lês musiciens Thomas, Daniel e Mono; Capitão Leônidas, Ministre Matilde Ribeiro, Ministre Paulo César Meira Vasconcelios, Conseiller José Mano Ferreira Filho, Magaii Naves. Marcelo Fiorini, Milton Guran, Carlos Goldgrub, Jociene da Silva Gomes, Dona Jovina da Silva Gomes, Jonailson da Silva Gomes, Francisco Gomes, Ivo Fonseca da Silva, Denise Paiva, Chnstian Knepper, Aline Magna. Cleber Trindade. Selvino Heck, Rosa Miriam Ribeiro, Ricardo Teles. Charles, notre chauffeur a Port-au Prince, parmi tant d’autres personnes qui nous ont appuyes et nous ont reçus partout ou nous avons éte. La réalisation de cê projeí se doit egalement grâce au soutien de plusieurs institutions, cornme lê Mmistère de Ia Culture d’Haïti. lê Ministère de l’Education d’Harti; le Musée du Panthéon National d’Haïti: le Bureau National d’Ethnologie: ie Ministère des Relations Exténeurés d’Haïti; lê departement Culturel du Ministère des Relations Extérieures du Brésil: Arnbassade du Brésil à Port-au-Prince; le Secrétariat Spécial de Poiitiques de Promotion de l’Egalité Raciale; Association des Communautes Noires Rurales des Quilombos du Maranhão, la Mission des Nations Unies pour Ia Stabilisation en Haïti, spécialement le Général Urano da Matta Bacellar (in memoriam), ainsi que les officiers et soldats brésiliens qui nous ont prêté leur concours pour Ia réalisation des activités dans le quartier de Bel Air.

A realização deste projeto também só foi possível porque contamos com o apoio de diversas entidades, entre elas Ministério da Cultura do Haiti; Ministério da Educação do Haiti; Ministério das Relações Exteriores do Haiti; Museu do Panteão Nacional do Haiti; Bureau Nacional de Etnologia do Haiti; Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores do Brasil; Embaixada do Brasil em Porto Príncipe; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial; Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão; Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, em especial o General Urano da Matta Bacellar (in memorian), além dos oficiais e soldados brasileiros que nos apoiaram para a realização do trabalho no bairro de Bei Air. 94

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Le principe du vaudou est l’adoration de Iwas (ou loa, c’est phonétique) qui sont des divinités immortelles. Les vévés sont ces dessins si bizarres que les vaudous dessinent à la craie un peu partout. Chaque Iwa à un vévé particulier, un peu comme un drapeau ou un blason qui lui serait dédié. 2 Vévé: dessein tracé à même le sol, à base de farine de maïs, représentant le symbole de l’esprit que l’on veut invoquer. 1

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Communauté d’esclaves fugitifs Habitant d’un quilombo

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Filhos da miséria, romance de Marie Thérèse Colimon 2 Capitães de areia, romance de Jorge Amado 3 Governadores do orvalho, romance de Jacques Roumain 4 Cidade de Deus, romance de Paulo Lins

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Fils de misère, roman de Marie Thérèse Colimon Capitaines des sables, roman de Jorge Amado Gouverneurs de la rosée, roman de Jacques Roumain 4 Cité de Dieu, roman de Paulo Lins

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Brasil-Haiti : olhares cruzados = Brasil-Haiti : regards croisés / [coordenação editorial/coordination editoriale Dirce Carrion; versão para o francês/traduction en français Caroline Fretin de Freitas]. –– São Paulo : Reflexo Texto e Foto, 2006. Vários fotógrafos. Edição bilingüe: português/francês. ISBN: 85-88120-05-4 1. Brasil – Relações culturais – Haiti 2. Crianças –Fotografias 3. Haiti – Relações culturais – Brasil I. Carrion, Dirce. II. Título: BrasilHaiti : regards croisés 06-1632

CDD-303.4828107294 -303.4827294081 Índices para catálogo sistemático: 1. Brasil-África : Relações culturais : Sociologia 303.4828106

Impresso no Brasil, verão de 2006


BRASIL-HAITI

Proches par l’histoire, séparés par l’Atlantique, unis par le passé tragique de l’esclavage, les afro-descendants, tout en gardant leurs différences, vivent aujourd’hui des réalités semblables.

Qu’ils soient d’Afrique, du Brésil ou d’Haïti, les enfants cherchent toujours à être photographiés aux cotés de ce qui leur est le plus cher: la famille, les amis, la télévision, les jouets, la nourriture, la plus “belle” partie de la maison, et c’est comme cela que nous devons les montrer car ainsi nous contribuerons à ce qu’ils se sentent inclus dans un monde “qui marche”. Étant donné que nous n’avons pas les moyens de faire un suivi permanent, il est fondamental que ces enfants se sentent représentés, fixés dans le livre qu’ils recevront, de la façon dont ils veulent vraiment être vus et avec laquelle ils puissent s’identifier, pour être fiers d’eux-mêmes et à partir de cela construire leur auto-estime. Ce sont nos propres regards regardant les enfants qui font du projet Regards Croisés un apprentissage continu. Cherchant à les stimuler à faire leur propre lecture de la réalité, nous nous sommes servis de la photographie comme instrument pour retracer les formes avec lesquelles ils voient leur ambiance sociale. En 2004, des ateliers de photographie ont été réalisés avec des enfants au Brésil, en Angola et au Mozambique. Parallèlement, avec l’intention de permettre aux enfants un moyen d’exprimer leur imaginaire, nous avons organisé des ateliers de lettres. En Haïti, avec le concours du Ministère des Relations Extérieures et du Secrétariat Spécial de Politiques de Promotion et l’Égalité Raciale, les activités ont commencé en septembre 2005 avec des enfants du quartier de Bel Air, à Port-auPrince, qui ont participé à des ateliers de photographie, de dessin et de peinture animés par la photographe brésilienne Marie-Ange Bordas. Ensuite, en novembre, l’artiste plastique haïtien Maxence Denis a été invité à venir au Brésil pou réaliser un travail semblable avec les enfants du quilombo du Frechal, au Maranhão.

Conscients des possibilités que ce projet peut offrir comme moyen d’expression et de communication entre enfants afro-descendants et de la contribution que nous pouvons donner à la lutte contre l’intolérance raciale et à la promotion de la paix, nous sommes dans l’espoir de parvenir à bénéficier d’un soutien pour assurer sa continuité.

Crianças do Frechal

L’Haïti c’est juste là, de l’autre côté de la route

Enfants de Frechal

FRECHALPORT AU PRINCE

Quoique nous ayons toujours travaillé dans des communautés défavorisées qui subissent le manque d’infrastructure de base et qui ont des difficultés à assurer leur propre survie, les images des enfants, leurs lettres, leurs dessins et leurs objets d’art nous transmettent optimisme et foi dans la vie. C’est à nous, adultes, de ne pas nous omettre car dans le monde il existe des petits qui clament silencieusement pour une vie meilleure et qui résistent avec espoir à tout genre d’adversité. Il est important de luter contre toute forme de discrimination et d’injustice pour qu’ils se voient assurer le droit de grandir et de vivre avec dignité.

O Haiti é logo ali do outro lado da estrada

OLHARES CRUZADOS · REGARDS CROISÉS

Dans l’intention de promouvoir la connaissance réciproque entre ces communautés, le projet Regards Croisés, mis en place en 2004 avec des ressources propres sous la coordination de Dirce Carrion, présidente de l’OSCIP Image de la Vie, réalise avec les enfants du Brésil, d’Afrique et des Caraïbes, des ateliers de photographie, lettres, dessin, vidéo, jouets, instruments musicaux et d’autres activités qui leur permettent d’identifier leurs racines culturelles communes. Ayant toujours recours à des pratiques artistiques permettant la création d’un langage propre aux enfants, notre intention est qu’ils s’approprient ces formes d’expression et se reconnaissent dans le travail qu’ils réalisent, et qu’ainsi ils se voient à partir de leurs propres regards et non à travers une lecture colonialiste, où le contexte n’est pas accessible aux agents ou alors ceux-ci ne se reconnaissent pas dans le processus.

BRASIL-HAITI OLHARES CRUZADOS REGARDS CROISÉS

Próximos pela história, separados pelo Atlântico, unidos pelo trágico passado da escravidão, os afrodescendentes, guardadas suas diferenças, vivenciam ainda hoje realidades semelhantes. Visando promover o conhecimento recíproco entre estas comunidades, o projeto Olhares Cruzados, iniciado em 2004 com recursos próprios sob a coordenação de Dirce Carrion, presidente da OSCIP Imagem da Vida, vem realizando com crianças do Brasil, da África e do Caribe oficinas de fotografia, cartas, desenho, vídeo, brinquedos, instrumentos musicais e outras atividades que possibilitem a identificação de suas raízes culturais comuns. Utilizando sempre práticas artísticas que permitem a criação de uma linguagem própria das crianças, nossa intenção é que elas se apropriem destas formas de expressão e se encontrem no trabalho realizado. E que se vejam, assim, a partir de seus próprios olhares e não através de uma leitura colonialista, onde o contexto não é acessível aos agentes ou estes não se reconhecem no processo. Sejam elas da África, do Brasil ou do Haiti, as crianças buscam sempre serem fotografadas ao lado daquilo que para elas é mais valioso: a família, os amigos, a televisão, os brinquedos, a comida, a parte mais “bonita” da casa, e é assim que devemos mostrá-las, pois dessa forma estaremos contribuindo para que elas se sintam incluídas em um mundo que “dá certo”. Tendo em vista que não dispomos de meios para fazer um acompanhamento permanente, é fundamental que elas se sintam representadas, fixadas no livro que irão receber. Apresentadas da forma como elas, de fato, querem ser vistas e com a qual possam se identificar, para que sintam orgulho de si mesmas e a partir dai construam sua auto-estima. São os nossos próprios olhares a olhar as crianças que fazem do projeto Olhares Cruzados um contínuo aprendizado. Buscando estimulá-las a fazer a sua própria leitura da realidade, temos utilizado a fotografia como instrumento para retratar as formas que elas vêm seu ambiente social. Em 2004, foram feitas oficinas de fotografia com crianças no Brasil, em Angola e Moçambique. Paralelamente, com a intenção de possibilitar às crianças uma forma de expressar os seus imaginários, realizamos oficinas de cartas. No Haiti, com o apoio do Ministério das Relações Exteriores e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, o trabalho teve início em setembro de 2005 com crianças do bairro de Bel Air, em Porto Príncipe, que participaram de oficinas de fotografia, desenho e pintura orientadas pela fotógrafa brasileira Marie Ange Bordas. Posteriormente, em novembro, o artista plástico haitiano Maxence Denis foi convidado a vir ao Brasil para realizar um trabalho similar com crianças do quilombo do Frechal, no Maranhão. Apesar de termos sempre trabalhado em comunidades carentes, que convivem com a falta de infra-estrutura básica e que enfrentam dificuldades em assegurar a própria sobrevivência, as imagens das crianças, suas cartas, seus desenhos e seus objetos de arte nos transmitem otimismo e fé na vida. Cabe a nós, adultos, não nos omitirmos, pois no mundo existe gente pequena clamando silenciosamente por uma vida melhor e resistindo com esperança a todo tipo de adversidade. É importante lutar contra qualquer forma de discriminação e injustiça para que elas tenham assegurado o direito de crescer e viver com dignidade.

FRECHALPORT AU PRINCE

Cientes das possibilidades que este projeto pode oferecer como forma de expressão e comunicação entre crianças afro-descendentes e da contribuição que podemos dar na luta contra a intolerância racial e a promoção da paz, estamos confiantes de que iremos conseguir apoio que nos permita assegurar a sua continuidade.


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