Língua Intertextualidade: a importância na formação do leitor

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LÍNGUA INTERTEXTUALIDADE: a importância na formação do leitor Jonas Araujo Amar Professora Mestre Patrícia Loureiro Larroque Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Letras – Língua Portuguesa e Respectivas Licenciaturas (LED0251) Seminário da Prática VI 19/06/2017

RESUMO Apreender os processos pelos quais a intertextualidade se dissemina é perceber na produção e na recepção de textos conhecimentos prévios de outros conteúdos. Todo texto possui partes de outros textos. Há um diálogo de origem, há conteúdos, fatos e significados que o predetermina e são retomados num mecanismo que nega ou reforça o primeiro. O diálogo entre diferentes textos gera uma base de significados que amplia a compreensão do material referenciado e dilata a noção da relação com os outros textos, seja essa uma relação explícita ou implícita. À medida que a leitura ocorre com maior frequência e o contato com diferentes textos se amplia, a sensibilidade para a percepção da intertextualidade tende a evoluir, independentemente do formato que se apresenta ou referencia. Palavras-chave: Intertextualidade. Texto. Diálogo.

1 INTRODUÇÃO Ao musicalizar Monte Castelo para a banda Legião Urbana, o autor Renato Russo absorveu trechos das cartas bíblicas do apóstolo São Paulo, no livro de Coríntios, e os somou a versos pertencentes ao Soneto de Camões. Da mesma forma, o Hino Nacional Brasileiro repete trechos da Canção do Exílio, de Antonio Gonçalves Dias, entre suas estrofes. O diálogo entre textos passou a conquistar espaço na literatura e ganhou singularidade com Kristeva (1974), que recriou o princípio da intertextualidade. Embora não se apresente apenas em textos literários, a ampliação da percepção da intertextualidade aparece em variados nichos da comunicação e da sociedade pós-moderna, aumentando seu espectro para diversas esferas. Assim como na literatura, outras produções também absorvem a diversidade intertextual. Poesia, Artes Visuais, cinema, livros, imagens, músicas e até processos de Marketing e Publicidade assimilam os mecanismos que propagam a intertextualidade, criando novos diálogos.


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Todo texto possui relações com outro ou outros textos. Há um diálogo primitivo e uma conexão com saberes prévios, um mecanismo que torna um texto dependente do conhecimento de outros textos existentes. Embora presente, os processos de intertextualidade podem surgir de forma explícita ou implícita, realizando processos de alusão, citação ou mesmo paródia. Esta breve análise prevê identificar como a intertextualidade dialoga entre gêneros diversos entre si, perpassando a literatura e outras formas de produção, por vezes com um tom de negação do texto citado, outras afirmando e reforçando-o. Aproximar-se da intertextualidade é ampliar a sensibilidade para os diálogos. Em sala de aula, é privilegiar a interdisciplinaridade e um novo campo de estudo.

2 INTERTEXTUALIDADE “A intertextualidade fala uma língua cujo vocabulário é a soma de textos existentes” (JENNY, 1979, p. 21-22 apud CARDOSO-SILVA, 2006). O termo Intertextualidade foi singularizado por Julia Kristeva (1974), ao compor reflexões sobre a teoria dialógica de Mikhail Bakhtin, que define o texto como uma concentração de citações, um resultado de apontamentos de textos anteriores. Cardoso-Silva (2006) reforça a análise e menciona que a primeira noção do fenômeno talvez tenha aparecido ainda de forma implícita em La poétique de Dostoievski (BAKHTIN, 1929), ao abordar o “romance polifônico”, caracterizado pela pluralidade de vozes capazes de estabelecer “múltiplos contatos no interior do mesmo discurso ou com outros discursos” (CARDOSO-SILVA, 2006, p. 48). Com Kristeva (1974), a noção de intertextualidade ganhou traduções e se propagou pelo Ocidente, ao passo que Ducrot (1987) ampliaria a ideia da intertextualidade em nível linguístico, enfatizando que, mesmo num enunciado isolado é possível detectar mais de uma voz. Compreender os processos da intertextualidade é perceber as diversas formas pelas quais a produção e a recepção de um conteúdo depende do conhecimento de outros textos. É a incorporação de um novo modo de leitura, um mecanismo que Dressler (1981 apud CARDOSO-SILVA, 2006) associa, também, aos fatores que tornam um texto dependente do conhecimento de outros previamente existentes. Em Diálogos Possíveis, Koch, Bentes e Cavalcante (2008) transcrevem o que seria a concepção de um intertexto, onde Todo texto revela uma relação radical de seu interior com seu exterior. Dele fazem parte outros


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textos que lhe dão origem, que o predeterminam, com os quais dialoga, que ele retoma, a que alude ou aos quais se opõe. (KOCH; BENTES; CAVALCANTE, 2008, p. 9).

Essa relação dialógica que o intertexto faz ao retomar outros textos, Bakhtin (1992) defende como propriedade fundamental da linguagem (língua e discurso). Para o autor, o dialogismo é um princípio intrínseco da linguagem, visto que a palavra de um é permeada pela palavra do outro. Tal correlação mostra-se presente nas obras impressas e na leitura, instâncias nas quais o discurso é observado em constante ação recíproca, com textos semelhantes ou imediatos. Importante o reforço de que o dialogismo não se restringe ou se finda como sinônimo de diálogo. Muito mais amplo que uma interação, para Bakhtin essa relação é o princípio da concepção da linguagem, dos discursos e dos sujeitos, até mesmo da vida, que tem natureza dialógica, segundo o autor. O que apropriadamente surgem são duas compreensões de dialogismo: 1) diálogo entre discursos (interdiscursividade e intertextualidade) e 2) diálogo entre sujeitos (constituídos no discurso). Estabelecido esse ponto de que o discurso de um se inscreve no discurso do outro, pode-se refletir até que ponto isso é ocultado ou revelado. Advém daí o interesse pelo estudo dos conceitos de polifonia, interdiscursividade e intertextualidade, e como esses termos se relacionam com o dialogismo. Em primeiro lugar, que todos esses termos estão diretamente relacionados à concepção de dialogismo. E, em segundo, que os três conceitos têm fundamentação teórica em Bakhtin, ainda que não tenha sido usado o termo intertextualidade. (KNOLL; PIRES, 2010, p. 211).

Cabe ressaltar que tanto Bakhtin quanto Ducrot rejeitam a noção da unicidade do sujeito, já que ambos se expressam “a favor de um entrecruzamento de vozes na constituição do discurso” (FROSSARD, 2007, p. 2). A intertextualidade não se apresenta apenas em textos literários e pode aparecer nos mais variados nichos da comunicação. Fiorin (2003), aliás, aponta para três formas intertextuais: citação, alusão e estilização. Na citação, conforme Knoll e Pires (2010), não há a obrigação de se manter o sentido do texto citado. Não só as palavras, mas imagens também podem realizar o processo, enquanto o texto verbal cita proposições ou palavras advindas de outro texto, as imagens apropriam-se de signos visualmente determinantes que as projetam em citação a outros textos.


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Quando não há a utilização de parte de outro texto, esse processo é entendido como alusão. O sentido se mantém, fazendo-o remeter de maneira alusiva a outro texto, sem confronto. “O texto que alude não constrói um sentido oposto ao do texto aludido” (FIORIN, 2003, p.31 apud KNOLL; PIRES, 2010, p. 212). Já a estilização se manifesta quando um texto se embasa em outro, porém complementando o seu sentido. Nesse caso, não ocorre manutenção do sentido original, tampouco a inversão do dele. Há apenas uma complementação da ideia, como quando recria-se uma obra com “estilo” próprio. Para além das três formas intertextuais apontadas por Fiorin (2003), Fávero (2003) destaca também a paródia, disposta por Bakhtin lado a lado com a estilização, pois “permitem reconhecer explicitamente a semelhança com aquilo que negam, a palavra tem um duplo sentido, voltando-se para o discurso de um outro e para o objeto do discurso como palavra” (Fávero, 2003, p.53 apud KNOLL; PIRES, 2010, p. 213). Assim que um texto incorpora significados de outros textos e contextos, o processo passa a ser percebido como uma atividade de intertextualidade. Chamlian (2008) e Cardoso-Silva (2006) reportam que a noção de intertextualidade está nas relações que os textos mantêm entre si, sejam elas explícitas ou implícitas. Em sentido amplo, a intertextualidade está presente, de modo implícito, em todo e qualquer texto, pois, na verdade, o processo discursivo se estabelece sempre sobre um discurso prévio. No dizer de Maingueneau, retomando Gerard Genette, todo texto (hipertexto) está implantado pela marca de seu gênero. Já em sentido estrito, a intertextualidade pode dar-se explicitamente – através de citações, referências, resenhas, paráfrases – ou implicitamente – através de certos operadores linguísticos que permitem uma identificação sócio-historicamente situada (CARDOSO-SILVA, 2006 , p. 50).

Mesmo havendo, de forma implícita, traços de intertextualidade em praticamente todo texto, alguns processos usam de forma bastante explícita a intertextualidade na construção de novos textos e diálogos. Tais métodos retomam os formatos apresentados por Fiorin (2003), consagrando narrativas bastante usuais na sociedade atual, que transitam pela citação, alusão, estilização e paródia. Como resultado, encontramos expressões marcantes da intertextualidade em poemas, contos, músicas, projetos audiovisuais e peças publicitárias.


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3 ENTRE TEXTOS Na obra Diálogos Impossíveis, Luis Fernando Veríssimo (2012) escreve crônicas humorísticas com profunda base na intertextualidade. Uma das narrativas, A Diferença, reproduz uma conversa entre personagens conhecidos de outros textos: Drácula1 e Batman2. São personagens que reverberam na cultura universal e, mesmo não conhecendo os textos originais em que aparecem, é perfeitamente possível reconhecê-los, assim como suas histórias. — […] Não somos muito diferentes — diz Drácula. — Somos completamente diferentes! — rebate Batman. — Eu sou o Bem, você é o Mal. Eu salvava as pessoas, você chupava o seu sangue e as transformava em vampiros como você. Somos opostos. — E no entanto — volta Drácula com um sorriso, mostrando os caninos de fantasia — somos, os dois, homens-morcegos. Batman come o resto do seu iogurte sob o olhar cobiçoso do conde […] (VERISSIMO, 2012).

Em A noite em que os hotéis estavam cheios, Moacyr Scliar escreve uma crônica em que a percepção da intertextualidade surge de forma sutil, mas sublime apenas ao final do texto. O conhecimento prévio que a obra resgata não está em outro texto, mas na assimilação de uma das histórias mais difundidas no mundo. — Sinto muito — desculpou-se. — Eu pensei que tinha um quarto vago, mas parece que já foi ocupado. O casal foi adiante. No hotel seguinte, também não havia vaga, e o gerente era metido a engraçado. Ali perto havia uma manjedoura, disse, por que não se hospedavam lá? Não seria muito confortável, mas em compensação não pagariam diária. Para surpresa dele, o viajante achou a ideia boa, e até agradeceu. Saíram. Não demorou muito, apareceram os três Reis Magos, perguntando por um casal de forasteiros. E foi aí que o gerente começou a achar que tal1 Do romance de Bram Stoker, publicado em 26 de Maio de 1897. 2 Criado pelo escritor Bill Finger e pelo artista Bob Kane, da Detective Comics (DC).


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vez tivesse perdido os hóspedes mais importantes já chegados a Belém de Nazaré. (SCLIAR, 1996, p. 9).

Nesse caso, a crônica narrativa se ocupa em realizar um relato momentâneo sobre uma história maior. O texto está próximo de uma paródia de fácil interpretação sobre o nascimento de Jesus Cristo. Uma profunda abordagem intertextual aparece em Canção do Exílio, proposta de Murilo Mendes, em 1930. Em meio ao Modernismo, o poeta mineiro satiriza o poema de Gonçalves Dias (1843) e critica a influência estrangeira na cultura brasileira cada vez mais intensa na época. Canção do Exílio Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacos vendendo a prestações. gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade! (MENDES, 1930. In: Poesias, 1959, p. 5).

O nacionalismo de Mendes (1930) aparece no seu inconformismo e a sua ironia percorre todo o texto. A sonoridade dá pistas da intertextualidade que remete ao texto original. Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.


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Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar –sozinho, à noite– Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá (GONÇALVES DIAS, 1843).

Vale ressaltar que, pouco tempo antes, o Brasil tornava-se independente de Portugal, em 1822, sendo momento importante para o desenvolvimento de uma arte que focasse nos aspectos brasileiros. Curioso notar que dois trechos do texto de Gonçalves Dias aparecem no Hino Nacional Brasileiro, composto por Joaquim Osório Duque Estrada, em 1909. (...) Do que a terra mais garrida Teus risonhos, lindos campos têm mais flores, “Nossos bosques têm mais vida”, “Nossa vida” no teu seio “mais amores” (ESTRADA, 1909).

Para Bronckart (1999), texto pode ser entendido como “toda unidade de produção de linguagem situada, acabada e autossuficiente do ponto de vista da ação ou da comunicação” (BRONCKART, 2007 [1999], p. 75). Logo, a intertextualidade, como reforça Silva (2002), é “um fenômeno constitutivo da produção do sentido e pode-se dar entre textos expressos por diferentes linguagens” (SILVA, 2002).


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Assim, os textos e as linguagens onde a intertextualidade se apresenta perpassam diferentes canais de comunicação, podendo manifestarem-se nas produções do cinema, TV, quadrinhos, músicas e publicidades. Trabalhar a intertextualidade em sala de aula, muitas vezes também é privilegiar a interdisciplinaridade. Um exemplo eficiente é a união do texto bíblico de Coríntios, o soneto Amor é fogo, de Luís Vaz de Camões, e a música Monte Castelo, da banda Legião Urbana3.

Imagem 1: esquema da letra de Monte Castelo, subdividida com textos de Coríntios, Soneto de Camões e composição de Renato Russo4.

3 Álbum Quatro Estações. Lançamento: 1989. Composição: Renato Russo. 4 Fonte: Redes Moderna. Disponível em http://redes.moderna.com.br/2012/08/17/o-uso-da-intertextualidade-no-ensino/ Acesso em 28 de Maio de 2017.


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A canção cruza o soneto de Camões com o texto O amor é o dom supremo, do apóstolo Paulo à Igreja de Coríntios. Na música, o compositor realiza um diálogo entre textos que abordam o amor de maneiras bastante distintas. Mesmo existente entre as pessoas, a ausência de amor pode provocar conflitos, destruindo vidas e sonhos5.

4 IMAGÉTICA Haja vista a presença marcante da intertextualidade na produção de textos, identificá-la também em conteúdos de outros gêneros é determinante para um exercício mais atual e prazeroso. Assim como na música, produtos televisivos reforçam alguns recursos intertextuais. A série americana The Simpsons, por exemplo, vem usando intertextualidade e releituras nos seus episódios veiculados mundialmente há mais de 25 anos. Por outro lado, em 2003, um diálogo da série animada aconteceu na revista Rolling Stone americana, que reproduziu os personagens do desenho numa releitura da clássica capa do álbum musical Abbey Road, da banda britânica The Beatles, fotografada enquanto os integrantes atravessavam uma rua na Inglaterra.

5 A intertextualidade aparece também no contexto histórico. Foi durante a Segunda Guerra Mundial que aconteceu a batalha de Monte Castelo (Itália), que contou com a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para o êxito, embora a maioria dos soldados tenha sido morta.


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Imagem 2: arte de capa da revista Rolling Stone americana, com os personagens de The Simpsons.

Imagem 3: capa do álbum Abbey Road, dos The Beatles, 1969.

De forma bastante interessante, algumas produções artísticas em desenho apropriam-se da perspectiva da intertextualidade de maneira recorrente. Assim como na série The Simpsons, outros produtos similares também exploraram essa narrativa. É o caso da série de quadrinhos Turma da


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Mônica, de Maurício de Souza, que utilizou a intertextualidade para criar uma comunicação em outro formato, nesse caso, na pintura.

Imagem 4: Quadro “Monica Lisa”, de Maurício de Souza (1989), em referência a obra “Mona Lisa” ou “A Gioconda”, do renascentista Leonardo da Vinci (entre 1503 e 1506).

Imagem 5: Quadro “O Berro”, paródia de “O Grito”, de Edvard Munch (1893).


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Imagem 6: Quadro “Magali e Mônica de Rosa e Azul”, referência à obra “Rosa e Azul”, do impressionista francês Pierre-Auguste Renoir (1881).

O livro História em Quadrões (SOUZA, 2001) coleciona algumas dessas pinturas de Maurício de Sousa. O criador da “Turma da Mônica” retratou suas personagens em referências diretas a outras obras mundialmente conhecidas6. As formas intertextuais pressupõem o conhecimento prévio do texto em referência para que o novo texto cumpra a sua finalidade e transmita o conteúdo com o máximo de aproveitamento para o leitor. Assim, “para a compreensão global de um texto, muitas vezes é preciso entender as alusões e referências que ele faz a outros textos, sua intertextualidade” (FIORIN & PLATÃO, 2007). Na própria origem da palavra, o sufixo inter, de origem latina, refere-se a uma noção de relação entre. Logo, a intertextualidade é a essência da relação entre textos. Nesse aspecto, trata-se de uma fonte de inspiração criativa para muitos textos publicitários. A intertextualidade na propaganda é uma releitura de um texto que já existe e reforça a mensagem de um novo texto, seja ele uma música, um outro texto ou uma imagem. 6 Até o ano de 2001 foram realizadas 37 paródias de obras de artistas como Van Gogh, Sandro Boticelli, Michelângelo, Diego Velásquez, Francisco Goya, Claude Monet, Édouard Manet, Rembrandt, Edgar Degas, Gauguin, Eckhout, Gai Qi, Jacques Louis David e Toulouse-Lautrec. Dos nacionais, além de Cândido Portinari, foram homenageados Pedro Américo, Almeida Júnior, Di Cavalcanti e Anita Malfatti. Disponível em ©Obvious: http://obviousmag.org/pausas/ 2015/os-quadroes-de-mauricio-e-o-ensino-de-artes-para-criancas.html#ixzz4iTwqTcZq Acesso em 29/05/2017.


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Imagem 7: Cartaz do filme Beleza Americana, 1999.

Imagem 8: Campanha do Governo Federal sobre uso de preservativos no Carnaval.


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A Hortifruti é uma empresa brasileira especializada na venda de frutas, legumes e verduras, com lojas presentes no Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Para marcar presença no mercado publicitário, a rede explora a intertextualidade através de um portal na internet, promovendo criações com forte apelo a textos já existentes. Um site exclusivo foi desenvolvido para disseminar o projeto.

Imagem 9: Site Hortiflix, da empresa Hortifruti, faz referência ao portal Netflix.

Imagem 10: Portal da multinacional Netflix.

A estratégia é reforçar a marca através de peças publicitárias que mesclem produtos cinematográficos com os produtos comercializados pela empresa. As criações exploram a intertextualidade com filmes e séries nacionais e internacionais.


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Imagem 11: Peça publicitária Horta de Elite, em referência ao filme brasileiro Tropa de Elite (2007).

Imagem 12: Cartaz do filme Tropa de Elite (2007).


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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Entender os processos pelos quais a intertextualidade se propaga é também compreender que a produção e a recepção de textos estão ligadas a conhecimentos prévios de outros conteúdos. O diálogo entre diferentes textos gera uma base de significados que amplia a compreensão do material referenciado e dilata a noção da relação com os outros textos, seja essa uma relação explícita ou implícita. Todo texto possui partes de outros textos. Há um diálogo de origem, há conteúdos, fatos e significados que o predetermina e são retomados num mecanismo que nega ou reforça o primeiro texto. À medida que a leitura ocorre com maior frequência e o contato com diferentes textos se amplia, a sensibilidade para a percepção da intertextualidade tende a evoluir, independentemente do formato que se apresenta ou referencia. A intertextualidade tem seu propósito conectado ao conhecimento prévio do leitor e se propaga por múltiplas vertentes. Seus recursos de identificação espalham-se e espelham-se na literatura, na música, no cinema, nas obras de arte, na publicidade e em outras dissemelhantes produções sociais, referenciando umas às outras, sem qualquer compromisso com delimitações ou restrições entre seus pares. Nas citações, alusões e nas paródias, a intertextualidade mostra-se como um fenômeno de interação entre diferentes modalidades que mobiliza a natureza semiótica, ideológica e subjetiva. O diálogo do texto ocorre com outros textos, mas também com o contexto social, como reforçado no conceito defendido por Bakhtin e Kristeva. Embora tenha sido abordada de forma bastante superficial nesta pesquisa, não há consenso sobre a definição da intertextualidade na literatura comparada. Alguns autores tentam caracterizá-la como um tipo de relação semiótica onde exista uma analogia estrutural, porém, isso dificultaria interpretar como intertextualidade as relações estabelecidas entre literatura e pintura, por exemplo. A ideia primeira de intertextualidade vem conquistando novas percepções e expandindo para esferas não comuns da literatura, mas ainda assim com forte inserção na sociedade.


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