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MACHADO DE ASSIS

A CAUSA SECRETA Adaptação Adaptação ee Ilustrações Ilustrações de de Francisco Francisco Vilachã Vilachã

E nsino M édio

MATERIAL DIGITAL DO PROFESSOR autoria de Gustavo Assano CC BY NC 4.0 International


A causa secreta São Paulo, 2021 – 1a- edição Material Digital do Professor Ensino Médio

Responsabilidade editorial: Ana Mortara Coordenação editorial: Estúdio Caraminhoca Autoria: Gustavo Assano Revisão: Equipe Casa de Letras

Casa de Letras Rua Fradique Coutinho, 1139 Vila Madalena - São Paulo - SP Tel. 011 2157-3687

Produzido sob licença CC BY 4.0 International


Sumário

Carta aos professores .............................................. 5 Propostas de atividades 1 ........................................ 6 Propostas de atividades 2 ...................................... 18 Para aprofundar ..................................................... 33 Sugestões de referências complementares ....... 38 Bibliografia Comentada ........................................ 39



Carta aos professores Caro educador/educadora, Este manual busca estabelecer pontos de contato entre a matéria literária apresentada neste livro e você, que é quem de fato coloca em prática o processo educativo. O presente volume consiste numa adaptação para a forma de história em quadrinhos de um dos contos mais impressionantes da fase madura da obra de Machado de Assis, A causa secreta, de 1895. Nela, o leitor encontra de maneira concentrada alguns dos principais temas e das principais características de sua prosa que o tornaram um dos maiores forjadores do gênero literário em questão: a reflexão detida e profunda sobre a psicologia dos diferentes tipos sociais que formam a elite do Segundo Reinado dentro de uma narrativa breve, que revela novos níveis de densidade em sua escrita a cada vírgula e escolha de articulação sintática na composição da narrativa breve. A maestria da capacidade analítica do autor sobre seus personagens é apresentada com todo seu brilho e crueldade irônica, revelando uma narrativa com um dos estudos de personagem mais intrincados de toda a literatura brasileira. Não só a crueldade e o sadismo são colocados sob o escrutínio da narrativa, figurados pelos motivos das ações do personagem Fortunato, mas também a forma de ver e relacionar-se com ações e motivos sádicos são criticados, ou seja, a suposta imparcialidade analítica daquele que observa os atos cruéis é também colocada sob exame. Tudo isso sem que a narrativa deixe de expor profundas consequências sobre a compreensão da sociedade brasileira e suas gritantes assimetrias sociais. A linguagem em quadrinhos permitirá que estes temas e questões sejam apresentados com objetividade e com diferentes consequências expressivas para serem discutidas. Esperamos achem útil para um bom trabalho em sala de aula! A causa secreta

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Propostas de atividades 1 1) Tema: O universo das HQs relacionado com prosa romanesca e cinema. (EM13LP51) Selecionar obras do repertório artístico-literário contemporâneo à disposição segundo suas predileções, de modo a constituir um acervo pessoal e dele se apropriar para se inserir e intervir com autonomia e criticidade no meio cultural. (EM13LP54) Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico –, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.

Conteúdo: Apresentação das histórias em quadrinhos enquanto forma específica de expressão artística compreendida e comparada com formas literárias em prosa e formas cinematográficas. Objetivos: Capacitar alunos para a compreensão das histórias em quadrinhos como forma e gênero artístico que possui uma especificidade expressiva, e para a distinção entre esta forma e a especificidade das formas narrativas em prosa, bem como das formas cinematográficas. Justificativa: A forma de composição de obras ficcionais a partir de história em quadrinhos representa uma forma de comunicação de massa amplamente difundida e profundamente consolidada em termos de penetração popular. Neste sentido, sob um primeiro olhar, não há grandes desafios em propor que se leia uma obra escrita no formato de história em quadrinhos para educandos. Em boa medida, a maior parte destes jovens já se familiarizaram com sua estrutura de composição, suas convenções básicas de apresentar personagens, espaços, temporalidades e dinâmicas de enredo.

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No entanto, tal como acontece com a maior parte dos temas relacionados à conversas e discussões sobre obras de arte e apreciação de escrita literária, dificilmente alguém gastou alguns minutos refletindo sobre como estes elementos estão dispostos em termos de consolidação da forma específica em que este material é consumido. Não é muito diferente do que se passa quando se tenta discutir um romance ou um poema narrativo. Ao perguntar sobre as impressões sobre um livro como, digamos, Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, alguns dirão que acharam o personagem Leonardo Pataca engraçado e divertido, enquanto outros poderão acha-lo cruel e irresponsável; alguns poderão achar o enredo dinâmico ao ponto de não poder largar o livro, e outros acharão uma chatice sem fim. Independente destas posições, é muito fácil esta conversa ser desfiada esquecendo-se que a forma lidada é a de um romance, assim como é deixado de lado a consciência sobre quais elementos da leitura são específicos dessa forma artística. Pois bem, a mesma preocupação pode estar presente quando se discute uma história em quadrinhos com estudantes em sala de aula. Tanto uma revista em quadrinhos quanto um romance dispõem narrativas que se constroem a partir de enredo, foco narrativo, personagens, linguagem contextual e variedade de recursos de narração. E por terem estes elementos em comum, ambos também podem trazer grandes questões a partir de problemas da natureza do material fictício, do papel do leitor e da importância e maneira de emitir juízos de valor. Cabe ao professor atentar e enfatizar o fato de que ao se discutir estes elementos, se está assimilando construções formais comuns à prosa literária, assim como ao cinema de ficção.

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Metodologia: Numa primeira rodada de conversa, é possível que muitas de algumas das mais célebres HQs de super-heróis sejam mencionadas, como Homem-Aranha, Batman, e X-Men. Talvez seja da predileção de alguns as revistas derivadas de tirinhas humorísticas e espirituosas como Calvin, Asterix, Turma da Mônica ou até mesmo a obra da Laerte ou a Mafalda de Quino. Pode ser que na sala de aula já se possa encontrar aficionados do gênero, havendo citações de obras consideradas de grande maturidade da forma, como as de Alan Moore ou Neil Gaiman (nunca se deve subestimar as possibilidades de contato dos estudantes com uma forma artística tão diversa e tão massificada!). Ao propor esta atividade, que pode ser das mais descontraídas, é importante que se incentive nos alunos: - A compreensão e consciência sobre o amplo leque de possibilidades sobre a variação de formas de contar histórias e de apresentar gêneros narrativos. Por mais que alguém goste de tirinhas concebidas por Maurício de Souza e não aprecie tiragens limitadas da Marvel, é importante que se articule e enuncie esta diferenciação a partir de elementos das obras levadas em conta pelos alunos. - A reflexão sobre os conteúdos das obras citadas na atividade. São muito bem-vindas perguntas simples como “por que você gosta dessa HQ?”, ou “por que você não gosta desse personagem?”. Aqui o educador também é um facilitador no convite para que os alunos elaborem sobre o próprio gosto, ainda que seja uma fase inicial da conversa sobre forma proposta em sala de aula. Desta forma os alunos se sentirão incentivados a lidar com a obra a ser lida em sala de aula como uma continuidade da fruição estética que já trazem tida como hábito extra-escolar. No entanto, não se deve deixar de levar em conta que se trata agora de uma discussão compromissada e não um mero momento de lazer. - A compreensão da existência de um alto nível de informação em diferentes gêneros de histórias em quadrinhos, com elemen-

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tos passíveis de serem absorvidos e discutidos em sala de aula. O próprio conhecimento do educador sobre a forma será de grande proveito nessa questão, pois é deste material que informações são constantemente absorvidas e assimiladas à própria linguagem dos educandos. Ao longo desta atividade, uma clássica comparação que poderá ser feita é sobre a relação entre histórias em quadrinhos e a forma do cinema. É muito possível que alguns alunos terão chegado ao universo das HQs tendo como primeiro contato com personagens célebres através de obras cinematográficas. Será de grande proveito enfatizar as proximidades entre estas formas, ambas de natureza primordialmente visual, dependendo de imagens para fazer narrativas progredirem, mas também concebendo o cinema como dependente de elementos de natureza diversa, como o som para o cinema e o texto escrito para os quadrinhos. Ao estabelecer esta relação, porém, é de grande importância enfatizar que estes meios não são idênticos. Ao assistir um filme, o espectador toma uma atitude muito mais passiva do que quando alguém lê uma revista em quadrinhos. Quando uma cena de filme se encerra, obrigatoriamente se assistirá a sequência seguinte, não sendo mais possível revisitar o trecho passado quando assistido no cinema. É desta forma que o diretor organiza o ritmo da recepção de seu público, fruindo da obra em plena passividade. Histórias em quadrinhos, por outro lado, cobram do leitor uma atitude ativa, não muito distante da leitura de um romance em prosa. Pode-se ler uma página em alguns segundos, ou pode-se contemplá-la por muitos minutos a fio, sendo da escolha do leitor o ritmo da experiência de apreciação. Um grau maior de interatividade e compromisso é cobrado dos leitores de HQ e estas diferenças não podem ser perdidas de vista nesta conversa introdutória. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

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2) Tema: As especificidades da forma HQ. (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP54) Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico –, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.

Conteúdo: Apresentação de elementos estruturais e estilísticos específicos da forma artística história em quadrinhos a partir do desenvolvimento de conhecimentos prévios do contato com esta forma. Objetivos: Capacitar os alunos para a identificação e articulação de elementos estruturais e estilísticos específicos da forma história em quadrinhos, bem como romper com prévias ideações sobre a oposição entre arte elevada e arte de menor valor em relação a outras formas artísticas, como o romance moderno. Espera-se que com esta aula os alunos tenham os instrumentais necessários para ler uma história em quadrinhos conscientes da linguagem específica desta forma Justificativa: Num momento prévio à leitura da obra em questão, se tem uma boa oportunidade de quebrar preconceitos antigos sobre os quadrinhos como uma cultura menor e as obras romanescas em prosa como necessariamente fonte de elevação por mera convenção do gênero literário. Romper este preconceito é uma forma de furar o bloqueio da intimidação que os grandes nomes da literatura podem fazer recair sobre jovens leitores.

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Metodologia: Propor, seja em duplas ou individualmente, em discussão ou por escrito, que os próprios alunos façam uso de seu conhecimento prévio sobre a forma em quadrinhos e elenquem quais elementos desta forma se diferem de um romance em prosa. Conforme diferentes recursos técnicos são elencados, poderão ser reunidos na lousa, como balões de diálogo, caixas de narração, quadros sequenciados, balões de pensamento, onomatopeias ou imagens. - A partir dessa decomposição, que pode ter maior ou menor amplitude dependendo do que é reunido pelos estudantes, usar um exemplo que concentre uma sequência de três quadrinhos. Pode ser tirado do próprio livro que este manual introduz! - Proponha que, em duplas ou individualmente, se discuta e se coloque por escrito o que acham que está acontecendo na sequência de três imagens, independente dos balões de diálogo. É a oportunidade de encorajar que refinem e reflitam sobre o plano icônico e imagético dos quadrinhos independente do plano textual. Peça que cada dupla ou aluno individual leia o que redigiram. Nas orientações desta atividade, as seguintes ênfases podem ser dadas: Peça que relatem o que está acontecendo; que articulem como eles sabem disso; que digam como a sequência de imagens faz com que se sintam em relação aos personagens ou situação apresentada, e por quê sentem-se assim; que descrevam como os personagens se sentem, e que justifiquem a elaboração da resposta com elementos presentes nos quadrinhos.

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A partir do material fornecido pela discussão, uma série de elementos serão levantados para se esmiuçar a especificidade da forma de histórias em quadrinhos. Poderá ser sublinhada a importância da linguagem corporal e expressões faciais de personagens desenhados. Poderá ser discutido como imagens estáticas por si só podem contar histórias e, ao dispô-las em sequência, como uma progressão de conteúdos narrativos acontece. Será também uma oportunidade de discutir o papel das cores, quando são vivas, quando são neutras, ou até mesmo ausentes, trazendo ênfase para a consciência das escolhas artísticas das composições cromáticas dos quadros. Se poderá discutir a função da combinação entre linguagem verbal e imagética, entendendo-as como inter-relacionadas seja por complementariedade, seja por contradição (o que o personagem diz pode não ser condizente com o que é mostrado pelo quadro). Assim, se poderá apresentar os elementos básicos da construção narrativa em quadrinhos não a partir de exposições teóricas, mas da articulação da prática interpretativa sobre o material em questão. Esta consciência da forma artística poderá ser trabalhada a partir de conhecimentos que os alunos já possuem! Tempo estimado: Uma aula de 50 minutos.

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3) Tema: A relação da forma literária em prosa com a linguagem dos HQs. (EM13LP51) Selecionar obras do repertório artístico-literário contemporâneo à disposição segundo suas predileções, de modo a constituir um acervo pessoal e dele se apropriar para se inserir e intervir com autonomia e criticidade no meio cultural.

Conteúdo: A especificidade da atividade de leitura e a necessidade do uso da imaginação do leitor para o bom aproveitamento do material fruído esteticamente na forma histórias em quadrinho e a diferenciação dos mesmos elementos para relacionar-se com a escrita em prosa. Objetivo: Capacitar os alunos para o exercício ativo e progressivo do exercício da imaginação para ir além dos elementos dispostos nos quadrinhos, bem como saber diferenciar ativamente a forma do exercício imaginativo para a fruição de textos em prosa. Justificativa: Um dos elementos básicos a se levar em conta ao tratar da forma história em quadrinhos é a fixidez da narrativa, em que momentos-chave da história são revelados pela expressão visual e outros são deixados a cargo da imaginação do leitor. Neste sentido, os estudantes são constantemente convidados a pensar quando leem histórias em quadrinhos, complementando na imaginação o que não está expresso em composição gráfica. Uma forma clássica do uso de histórias em quadrinhos em sala de aula em que estas facetas são exercitadas é quando o professor fornece uma tirinha qualquer e pede que os alunos completem os balões de diálogo em branco de forma que o conteúdo do texto verbal se harmonize com o que foi apresentado visualmente como ação narrada.

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Este precedente tão comum sobre o uso desta forma em sala de aula pode ser aproveitado para refletir sobre o sentido da adaptação de um meio artístico para outro. Dentro das possibilidades expressivas que se compõem num livro de histórias em quadrinhos, se pretende refletir sobre a compreensão da relação de adaptações como tradução de uma determinada forma de construir códigos simbólicos narrativos para outro, sem que a passagem da linguagem verbal para a icônico-textual seja vista como redução, limitação ou perda de complexidade. Metodologia: A partir de uma página ou coluna de histórias em quadrinhos, propor que se escreva em sala de aula um parágrafo que narre em prosa o material visual e textual em forma de HQ. O professor poderá justamente incentivar que o estudante complete com o uso da imaginação e organizando em forma de texto em prosa o que é apenas sugerido e não explicitado pelo material gráfico. Com o resultado do exercício feito pelos alunos, se terá a oportunidade de apontar como muitas linhas podem ser resumidas numa única unidade visual, um único quadro da HQ, ou como o contrário também vale, ou seja, como uma frase curta, ou um parágrafo de poucas linhas, ao omitir detalhes, pode resumir o conteúdo de uma página com 12 ou mais quadros. Desta feita, se terá claro e em termos práticos o que se deve ter em mente ao se levar em conta a leitura de uma adaptação de um meio para outro, que no fundo não é nada mais e nada menos que a tradução de um código expressivo (texto em prosa) para outro (HQ). Tempo estimado: Uma aula de 50 minutos.

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4) Tema: A condição de parcialidade e ambivalência do narrador onisciente de A causa secreta. (EM13LP48) Identificar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP49) Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gêneros literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a manifestação livre e subjetiva do eu lírico diante do mundo nos poemas, a múltipla perspectiva da vida humana e social dos romances, a dimensão política e social de textos da literatura marginal e da periferia etc.) para experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.

Conteúdo: Os recursos estilísticos e literários empregados na adaptação em quadrinhos de A causa secreta que permitem perceber a ambivalência e parcialidade na composição do narrador. Objetivo: Capacitar e incentivar nos educandos a percepção dos diversos recursos estilísticos da narrativa machadiana que levam ao questionamento e esforço analítico da composição do narrador. Justificativa: Na adaptação em quadrinhos de A causa secreta, o leitor é apresentado a um narrador que ganha uma voz parcial, provida por um personagem que fala sobre os personagens que comporão a trama do conto. Esta voz individual, no entanto, age como um narrador onisciente em terceira pessoa que nunca explicita o sentido de sua parcialidade, sendo esta uma consequência dos pontos de vista e focos narrativos compostos ao longo da disposição das caixas narrativas sobre imagens dos quadros e da relação do leitor com as diferentes situações e atmosferas que comporão os A presença deste narrador cria uma distância sobre o conflito entre os personagens que serão apresentados. Refere-se aos três, Garcia, Fortunato e Maria Luísa, como objetos que compõem uma situação sem conflito, quase como se fossem objetos que mobíliam

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a sala. Há uma sensação de situação pacata e ausente de excepcionalidades. Mas as intervenções do narrador revelam logo em seguida que o silencio e a sensação de inércia da situação são na verdade de desconforto e constrangimento. A narrativa então recua no tempo e passa a acompanhar Garcia, que observa com o mesmo interesse e engajamento analítico que o narrador os comportamentos de Fortunato. A distância do narrador, portanto, cria uma relação espelhada entre o ímpeto investigativo de Garcia e seu próprio ímpeto de explicar uma situação sem contexto. O tema da narrativa é o sentido da análise investigativa e do olhar analítico sobre as causas e motivações das ações humanas, que serão observados e criticados em Garcia, mas estes também estão no próprio olhar do narrador e na curiosidade do leitor. Os quadrinhos alimentam esse jogo de análise de olhares analíticos. É preciso enfatizar esta relação para que a parcialidade e ambivalência da narrativa se faça explícita. Metodologia: Após a leitura de toda a adaptação em quadrinhos, agrupe os alunos em pares ou trios. Proponha, então, a leitura das páginas 10 e 11. Nelas é apresentado o segundo encontro entre Garcia e Fortunato no Teatro de S. Januário. Enfatize o jogo de olhares estabelecido na cena organizada pela narrativa de Machado: Fortunato observa a cena de dramalhão no palco de teatro e Garcia observa Fortunato observando a cena. Feita esta exposição, chame atenção para o fato de que há um terceiro e um quarto observador em jogo, mas não revele quem são, apenas coloque a questão para a sala. Peça para que discutam entre si quem são esses observadores. A resposta é: os observadores são o narrador onisciente e o próprio leitor, que, tal como Fortunato e Garcia assistem o dramalhão no teatro S. Januário, assistem o enredo se desdobrar no palco da narrativa composta no conto. Com ou sem respostas que con-

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templem esta percepção, enfatize e explique a composição desse jogo de olhares entre personagens, narrador e público leitor. Peça para que os alunos atentem para o fato de que o público leitor, ao assumir a curiosidade analítica assumida pelo narrador, assumem uma estrutura espelhada em relação a Fortunato e Garcia. Enfatize o destaque dado nos quadros da terceira coluna da página 11 nos olhares dos personagens. Feita esta digressão, proponha a seguinte discussão: O olhar dos leitores e do narrador se assemelham mais à curiosidade de Fortunato ou de Garcia? Proponha que discutam entre si e exponham à sala suas conclusões. Esta atividade permitirá colocar em discussão o sentido da análise sobre os motivos dos olhares e reações dos personagens e na composição da estrutura narrativa na adaptação de A causa secreta. Se poderá, assim, pautar a semelhança entre o olhar de Garcia e do narrador, bem como do leitor engajado. Com estes elementos se poderá colocar em discussão a precisão e minúcia da sutileza narrativa da prosa machadiana. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

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Propostas de atividades 2 1) Tema: A apresentação dos personagens de A causa secreta

como procedimento de análise psicológica.

(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP47) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente. (EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais. (EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.

Conteúdo: A forma pela qual a narrativa machadiana dispõe os personagens em A causa secreta e as consequências desta forma para a construção da narrativa e para a compreensão dos conflitos centrais colocados em chave analítica na narrativa. Objetivos: Capacitar e incentivar nos educandos a percepção sobre os diversos nuances do fôlego analítico organizado na forma narrativa organizada pelo conto machadiano e disposto na adaptação em quadrinhos de A causa secreta.

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Justificativa: Na apresentação dos três personagens de A causa secreta, Garcia, Fortunato e Maria Luísa, são colocadas em movimento todas as facetas narrativas que tornam o conflito central do conto possível. Na apresentação da situação inicial se desencadeiam os procedimentos de distanciamento sobre o material dramático e o ímpeto de frieza analítica que conformam os principais temas da narrativa de Machado. Para além das atribuições de caráter ou de relações afetivas em colisão dos personagens, o ponto de partida é a atmosfera de uma situação aparentemente pacata e inercial. Mas antes disso, o narrador revela aos leitores que todos os três estão mortos há anos, e que, portanto, a história poderá ser contada “sem rebuço”, ou seja, sem disfarces ou falseamentos por pudores e medos de constrangimentos. Aqui, a estratégia narrativa não se distancia muito do recurso criativo já utilizado por Machado de Assis ao conceber o narrador Brás Cubas, o “defunto autor” de Memórias póstumas de Brás Cubas. Nele, o narrador assume ângulo de defunto observador e diz que só é possível fazer a inteira análise e pesquisa das personagens quando estão livres dos embaraços da vida social. Ou seja, pode agora exibi-las como são de fato, sem preocupações sobre constranger as máscaras do convívio social, as aparências que preservam uma imagem pública de cada indivíduo.

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Esta apresentação dispõe a imagem dos três personagens apresentados em síntese: Garcia mirava tenso Fortunato e cortava as unhas em pé; Maria Luísa conclui trabalho de agulhas de tricô com as mãos trêmulas; e Fortunato, à vontade, imperial sobre uma cadeira de balanço, olhava para o teto. Os pequenos detalhes resumem de maneira exata a caracterização da situação; em três linhas de três quadrinhos as três personagens estão inteiras. No entanto, o narrador à la Brás Cubas insiste que só há análise inteira e confissão real apenas após partidos os laços com as convenções sociais. Há pressuposta, portanto, a ideia de uma superfície, uma aparência convencional que serve de disfarce, que serve para esconder o que elas de fato são, ou seja, suas causas secretas escondidas. Este jogo entre aparência que atende às convenções sociais e motivos escondidos, ao ser explicitado, torna a apreensão da narrativa de Machado muito mais clara para a discussão em sala de aula sobre a análise psicológica empregada na narrativa.

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Metodologia: Em pares ou em trios, proponha a leitura das páginas 7 e 8 da adaptação em quadrinhos para A causa secreta, em que a abertura da narrativa se dá e os três personagens são apresentados em sua situação pacata. Enfatize o recurso do uso do narrador referindo-se aos personagens, e não a mera apresentação direta entre os três. Oriente a percepção da narrativa para a ausência de arroubos passionais ou colisões explicitadas entre os três. Sublinhe os pequenos detalhes sobre como se dispõem na sala, os termos usados pelo narrador, a atmosfera tensa, mas sem contextualização para o incômodo que paira no ar. Deixe claro o quão fundamental são os olhares, os pequenos gestos e a interação fria entre os personagens. Chame atenção, então, para a nota do narrador sobre o fato de os três estarem “agora mortos e enterrados”. Peça para que as duplas ou trios discutam entre si a questão: Por que é importante para a narrativa o fato dos personagens estarem mortos há muito tempo? Peça então que cada dupla ou trio leia para a sala a que conclusões chegaram. Conforme cada trio ou dupla expõe suas percepções, conduza o debate enfatizando a ideia de constrangimento entre os três na situação apresentada. Aponte para a construção de oposição entre aparência apresentada e motivos do constrangimento que não são esclarecidos. Faça ser notada um cálculo da narrativa para despertar a curiosidade dos leitores para desvendar os motivos deste desconforto e constrangimento e como esta apresentação constrói a ideia de aparência superficial e motivos profundos não revelados, e como esta vontade de aprofundamento analítico desencadeia a narrativa como um todo. Com esta atividade se poderá apresentar a análise psicológica dos personagens e a composição da narrativa como um processo integrado e imbuído de consequências para a compreensão do enredo. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

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2) Tema: O jogo de aparências sociais e conflitos sociais

no enredo de A causa secreta.

(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente. (EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais. (EM13CHS105) Identificar, contextualizar e criticar as tipologias evolutivas (como populações nômades e sedentárias, entre outras) e as oposições dicotômicas (cidade/ campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/sensibilidade, material/virtual etc.), explicitando as ambiguidades e a complexidade dos conceitos e dos sujeitos envolvidos em diferentes circunstâncias e processos. (EM13CHS206) Analisar a ocupação humana e a produção do espaço em diferentes tempos, aplicando os princípios de localização, distribuição, ordem, extensão, conexão, arranjos, casualidade, entre outros que contribuem para o raciocínio geográfico.

Conteúdo: Apresentação dos conflitos contidos na narrativa de A causa secreta que revelam motivações escusas sobre aparências sociais que escondem conflitos sociais nas motivações reveladas. Objetivos: Capacitar e incentivar nos educandos a identificação de elementos que articulam conflitos sociais objetivos, que se relacionam com a compreensão da situação histórica e política do país no momento da escrita no período da ambiência em que se passa o conto A causa secreta.

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Justificativa: As atribuições descritas e expostas nas diversas situações do conto A causa secreta colocam em ação de maneira sutil uma série elementos da vida social inscritas na vida dos cidadãos médios brasileiros do século XIX, ou seja, cidadãos livres sobrevivendo numa sociedade escravocrata. O conto é publicado em 1885 e o enredo se passa na aberturada da década de 1860. Fortunato, por exemplo, é confundido com médico e é capitalista declarado, e Garcia, um estudante de medicina em processo de formação. A condição social de Fortunato é revelada pelo narrador sem que o leitor possa ter nenhuma outra atribuição do personagem senão a apresentação na casa do Catumbi e as observações de Garcia no teatro. No entanto, ao longo da narrativa, sutilmente se revela o alcance do poder e influência do personagem, pois inicia a carreira de Garcia ao fundar uma casa de saúde, paga carregadores e apoiadores, dá as ordens em todos os momentos do enredo, além de ter casas próprias para investir e montar negócios. Não importa onde está, Fortunato age como dono da casa, mesmo quando está na casa dos outros. A autoridade de Fortunato é pela ordem econômica, mas também científica, por agir como se fosse médico no Segundo Império, período em que predominavam a escravidão, a desorganização de falta de saneamento em espaços urbanos, ou seja, a desorganização das cidades. Neste sentido, a união da figura que reúne médico e empresário une imagens do que se pensava como forças sociais que trariam progresso e avanço civilizatório para o país ainda com fortes traços de ex-colônia. Por isso também é do interesse de Fortunato sustentar a imagem de investidor benevolente e agente da saúde altruísta e dedicado ao bem-estar alheio. Esta imagem do cuidado é movida pelo prazer em assistir o sofrimento alheio. Há então uma oposição entre um Fortunato visto em sua máscara pública e um Fortunato por trás desta máscara. Ao escapar da aparência exterior das motivações do personagem, se revela o sentido secreto de suas motivações, que é o gozo pelo sofrimento, e que por sua vez revela a causa secreta do uso de seus privilégios de classe.

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Metodologia: Antes de abordar diretamente os quadrinhos, apresente aos educandos um pouco da situação social dos meios urbanos no Brasil entre a década de 1860 e 1900. Enfatize a insalubridade, a falta de recursos ou planejamento voltados para saúde ou saneamento básico, a situação de país escravocrata com uma população de maioria analfabeta e não escolarizada. Apresente a classe social a que Fortunato e Garcia pertencem como exceções em termos de status social e a função do trabalho médico e da classe empresarial como agentes do progresso segundo as expectativas ideológicas do Segundo Império. Proponha, então, a leitura das páginas 28 e 29, em que são apresentados o zelo de Fortunato em seu trabalho no posto de saúde e sua posição de mando. Em seguida, leia detidamente com a sala a página 38, em que é revelada a causa secreta para o comportamento de Fortunato, sua sensação de prazer ao testemunhar a dor alheia, descrito como “redução de Calígula”. Exponha o sentido dessa descrição e enfatize o paralelo sobre o status e posição de mando de Fortunato.


Forme duplas ou trios e proponha que discutam qual a expectativa que se cria com o zelo de Fortunato como administrador da casa de saúde e o que é revelado com a descoberta de Garcia ao testemunhar a tortura do rato. A atividade pode ser motivada com a questão: O que as duas situações revelam sobre o personagem Fortunato e sobre suas intenções como empresário? O peso da situação histórica e das expectativas da época sobre a função do trabalho de medicina e do empresariado podem ser amplamente explorados durante a discussão em sala de aula. Sublinhe o sentido dos aplausos recebidos por Fortunato, o que eles representam, bem como qual a função cumprida no andamento da narrativa e na construção do conflito apresentado. Será de grande proveito explorar com os alunos a relação contraditória entre elementos tidos como civilizatórios, que trariam progresso e civilidade, mesclados com motivações cruéis e regressivas. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

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3) Tema: A volúpia pela análise espiritual e psicológica no narrador e no personagem Garcia de A causa secreta. (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente. (EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos. (EM13CHS104) Analisar objetos e vestígios da cultura material e imaterial de modo a identi car conhecimentos, valores, crenças e práticas que caracterizam a identidade e a diversidade cultural de diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço. (EM13CHS105) Identificar, contextualizar e criticar as tipologias evolutivas (como populações nômades e sedentárias, entre outras) e as oposições dicotômicas (cidade/ campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/sensibilidade, material/virtual etc.), explicitando as ambiguidades e a complexidade dos conceitos e dos sujeitos envolvidos em diferentes circunstâncias e processos. (EM13CHS501) Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identi cando processos que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a autonomia, o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade..

Conteúdo: O prazer pela análise e por descompor camadas morais impressa no narrador de A causa secreta e sua afinidade com o personagem Garcia, de quem o narrador parece espelhar o impulso analítico.

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Objetivo: Motivar e incentivar nos educandos o olhar questionador sobre o discurso reproduzido pelo narrador onisciente de A causa secreta, bem como sobre os motivos das curiosidades e posturas contemplativas e analíticas do personagem Garciar. Justificativa: Dada a sutileza da organização da narrativa de A causa secreta, facilmente o leitor não iniciado pode direcionar sua atenção e investir seu esforço de interpretação sobre um aspecto ou sobre um personagem e dimensionar este dado elemento como a única força articuladora da obra como um todo. Frequentemente se toma o sadismo de Fortunato como único elemento que permite discernir os sentidos das reflexões traçadas pelo conto, e a expressividade chocante de suas ações, permeadas de imagens mórbidas, como os únicos elementos que devem ser colocados sob um crivo crítico e reflexivo. Assim, facilmente se ignora uma série de questões e escolhas na composição da narrativa que precisam ser enfatizadas para que a leitura de A causa secreta seja a mais proveitosa possível. Não é apenas Fortunato que deve despertar o interesse de compreensão de motivações por serem desvendadas por trás de suas ações; o personagem Garcia também é digno de reflexão, assim como o narrador, que parece mimetizar a volúpia pela análise dos caracteres morais das pessoas. O narrador segue por afinidade o olhar de Garcia. Há uma “comunhão de interesses” que mantém os personagens unidos, mas não são de mesma classe social. Ao ser convidado para fundar a casa de saúde, Garcia passa a ser dependente do capitalista. Fortunato tem interesse pelo sofrimento dos pacientes que frequentam a casa, mas Garcia tem interesse por Fortunato, por quem sente curiosidade e repulsa simultaneamente. Por mais que não seja sádico como Fortunato, o narrador não nos expõe o interesse de Garcia

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por nenhum dos pacientes, ele apenas foca-se na disposição moral enigmática e demoníaca de Fortunato. O que traz prazer a Garcia é o poder de penetração no espírito do outro. Esta é a volúpia da análise, e este é o que o narrador demonstra também conter. Este gozo a partir do exercício da disposição analítica que quer desvendar o outro pode ser colocado em paralelo com o sadismo de Fortunato. Se são mórbidos os motivos de Fortunato, Garcia apenas contempla e nada faz para reagir a esta morbidez. Por sua vez, há algo de sádico na composição do narrador, que mantém os leitores presos ao enredo, como o rato preso ao barbante de Fortunato. Todos estes são temas que podem ser trabalhados em sala de aula. Metodologia: Leia com a sala detidamente as páginas 21, 22 e 23, em que é apresentada a analítica de Garcia para a análise moral das pessoas, seu assombro com a figura de Fortunato depois de escutar a narrativa de Gouvêa e sua subsequente familiaridade e aproximação com Fortunato. Enfatize o contraste deste percurso do personagem, a contradição de sentir-se assombrado e de então sentir-se confortável em sua presença. Sublinhe os elementos e detalhes que ajudem a refletir sobre as atitudes contraditórias de Garcia e seus interesses nesta relação que permitem questionar sua atitude contemplativa como desinteressada. Leia então com os alunos as páginas 26 e 27, em que Garcia “brinca” sobre fundar uma casa de saúde para Fortunato, que por sua vez acata a ideia. Pontue a hesitação de Garcia. Coloque para a sala o que significa este jogo de proposta e contraproposta e até que ponto são sinceras as primeiras recusas de Garcia, e até que ponto se trata de uma hesitação artificial. Peça, então, que sentem em duplas ou trios, e proponha que discutam que tipo de relação está se estabelecendo entre Garcia e Fortunato nestas páginas. Será que Garcia já calculava os benefícios de ser partícipe do empreendimento de Fortunato? O que significa Fortunato administrar e financiar

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a casa enquanto Garcia tem sua “estreia” como médico? Discorra o que significa uma relação de favor entre homens livres dentro da ordem escravocrata. Leia então as páginas 35, 36 e 37, em que é exposta a tortura do rato por Fortunato e a reação fria e analítica de Garcia. Procure enfatizar não apenas o chocante das imagens, mas também o tom curto e frio da forma de descrever as ações na economia das palavras do narrador, quase que partilhando do sadismo de Fortunato. Enfatize o jogo de olhares se repetindo como na passagem do Teatro no começo da narrativa, com Fortunato olhando o rato, Garcia olhando Fortunato e o narrador e leitores contemplando ambos. Feita a leitura, proponha uma discussão com a seguinte questão: O que a frieza analítica de Garcia revela sobre o personagem? O que o mesmo ímpeto analítico revela sobre o narrador? Com estas questões, se tornará proveitosa a discussão sobre o quanto da cumplicidade de todos os elementos e personagens é necessária para que o gozo sádico de Fortunato seja realizado. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

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4) Tema: As críticas de costumes implícitas na narrativa de A causa secreta. (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente. (EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais. (EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.

Conteúdo: Os elementos da narrativa em A causa secreta que permite entrever um esforço de crítica de costumes sociais. Objetivos: Incentivar e capacitar nos educandos a identificação dos elementos na narrativa de A causa secreta que compõem uma crítica sobre costumes sociais da época retratada. Justificativa: A abertura da narrativa de A causa secreta parece num primeiro momento apresentar uma determinada situação pacata e sem consequências para reflexões profundas, mas é seguida de elementos que obrigam o questionamento desta primeira impressão. Este procedimento ocorre em muitos momentos, como com as intenções de Fortunato em fundar a casa de saúde, ou os

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motivos de Garcia em aproximar-se de Fortunato, ou até mesmo com a reação de Fortunato diante da constatação de uma intriga de adultério entre Garcia e Maria Luísa. O movimento constante é a apresentação de uma suposição primeira de uma apresentação imediata, ditada pela obviedade de ações e reações, para logo em seguida ter esta apresentação contrariada. O leitor é sempre movido pela constatação do óbvio que é então desmentido. Esta obviedade primeira é firmada por convenções sociais e costumes do que seriam situações inofensivas e sem maiores consequências na interação entre sujeitos comuns que sustentam uma aparência de normalidade ditada pelas regras de convívio da época. Há método neste procedimento analítico na narrativa machadiana. Nunca é uma ação ou um personagem que é propriamente comentado e criticado, pois é à luz desta situação imediata refletindo a expectativa de obviedade que se organiza o processo de reflexão. Há, portanto, uma relação de contraditoriedade entre uma primeira situação e um elemento que revela uma outra situação escondida na primeira. Há um jogo, portanto, de falsas simplicidades que escondem ambiguidades e de falsas constâncias que revelam volubilidades. No caso de A causa secreta, este procedimento busca expor uma aparência exterior e ações dos personagens para então revelar uma aparência interior. Assim se forma uma complexa teia de crítica de costumes que pode ser discutida de maneira proveitosa em sala de aula. Metodologia: Leia detidamente as páginas 7 e 8 da narrativa, em que é apresentada a situação que inaugura a apresentação dos três personagens centrais da narrativa. Logo em seguida, leia a página 39, em que Maria Luísa retoma o trabalho de agulha, reconstituindo a mesma situação das páginas 7 e 8. Com os alunos em duplas ou em trios proponha que debatam o que das suas impressões mudou na compreensão desta situação na abertura da narrati-

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va para sua retomada como linha de chegada no final da narrativa. Enfatize o contraste sobre a impressão inercial de momento pacato do começo para a situação de choque e perturbação desta nova situação. Coloque questões como: o que este contraste diz sobre a ideia de normalidade? O que se podia pensar sobre os personagens na primeira apresentação e o que pensamos deles nesta segunda apresentação da mesma situação? Aproveite a discussão para exemplificar com o máximo de elementos da narrativa para compor o que é esse jogo entre aparência imediata e desmentido. Saliente a composição da narrativa como uma construção metódica de exposição de uma aparência seguido de seu desmentido. Atente para a necessidade da impressão imediata e da obviedade para que o processo de crítica se desdobre. Enfatize como é intrincado o processo de narrativa ao ponto de não ser possível de dissociar o aspecto crítico e analítico do próprio processo de construção da narrativa. Retome o segundo quadro da segunda coluna da página 29, em que se ilustra toda a cidade aplaudindo Fortunato. Discuta o que significa esta imagem de bom-cidadão e o efeito do contraste com a revelação da causa secreta da motivação de Fortunato. Conduza o debate rumo ao sentido da busca por consolidação de imagens públicas e sua fragilidade diante das causas secretas que podem motivá-las. Assim se poderá tirar consequências maiores sobre o alcance da reflexão crítica machadiana. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos

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Para aprofundar O conto A causa secreta foi publicado originalmente em 1895 no periódico Gazeta de Notícias, e depois integrado no livro Várias histórias, de 1896, publicação esta que reúne o que para muitos são alguns dos mais geniais experimentos narrativos desta fase da trajetória artística do autor, como “A cartomante”, “Uns braços” e “Um homem célebre”. Ao colocar-se como separadas duas fases da concepção da obra de Machado de Assis, está se levando em conta a fundamental divisória representada pela publicação do romance pioneiro Memórias póstumas de Brás Cubas, de 1880. É de grande importância a compreensão do que significou esta ruptura que dividiu as duas fazes da escrita machadiana. Tida como de difícil qualificação, quase impossível restringir a uma única convenção ou escola literária para descrever ou enquadrar, a guinada de 1880 não seria possível sem as obras que antecederam as deste período aludido. Foi no período de fastio e desgaste da fase tardia do romantismo brasileiro que Machado de Assis realizou seus primeiros projetos e experimentos narrativos, tendo também se iniciado com a escrita dramatúrgica e a poesia. Será nos debates sobre realismo literário, no entanto, que a crítica encontra os melhores instrumentos para refletir e traçar apontamentos proveitosos sobre o alcance vertiginoso da prosa machadiana. Se tornará célebre nos meios letrados cariocas do século XIX, no entanto, através de um gênero literário europeu recente, incubado pela consolidação da ampla circulação da imprensa moderna: a crônica. Do sucesso formado pela produtiva carreira na escrita em notas em pé de páginas de jornais, encontra espaço para iniciar-se em outro gênero também filho da imprensa moderna europeia: o folhetim. Tornou-se célebre ao ponto de desbancar José de Alen-

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car – o primeiro folhetinista brasileiro – em termos de circulação e procura. A escrita de alguns de seus principais romances será concebida nesta forma, assim como alguns de seus principais contos. Na primeira fase da prosa machadiana integram-se os romances Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878), e as reuniões de contos nas publicações Contos fluminenses (1870) e Histórias da meia-noite (1873). É de grande valia para a compreensão devida dos sentidos do projeto literário deste período a leitura de seu primeiro folhetim, de 10 de outubro de 1859, em que versa sobre os sentidos da forma folhetim como gênero literário, e surpreende com o grau de consciência que o autor, com apenas 20 anos de idade, já demonstrava ter sobre os sentidos do uso da forma de origem parisiense no Brasil. Já neste primeiro escrito folhetinesco se faz notar a facilidade do timbre paródico sobre as formas culturais brasileiras ao primarem-se pelo esforço do mero arremedo sem mediações das formas europeias. Cria em sua descrição sobre o papel do escritor folhetinista a comparação com o beija-flor, que circula por toda a floresta, observando de todos os ângulos e sob diversos pontos de vista o que a natureza oferece de suas paragens. Uma forma europeia, portanto, só ganharia sentido com a rigorosa, porém não especializada, apuração do olhar sobre a vida local, sobre a sociedade brasileira tal como ela se manifesta diante dos olhos do autor.

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É das convenções do romantismo literário brasileiro que Machado colherá a inspiração para compor os procedimentos literários de sua obra de ficção deste primeiro período. O faz, no entanto, com clara ambição de romper com convencionalismos e formas dogmáticas de arremedos filosóficos e literários europeus. É desta fase o ensaio mais famoso de seus textos críticos, “Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacionalidade”, de 1873, em que propõe, neste ardil retórico que opõe instinto de nacionalidade a sentimento íntimo, um modo de recolher as imagens do mundo de tal maneira que não reproduza apenas uma imagem superficial da coloração local nos conteúdos literários, pois é tarefa do escritor encontrar o brilho de um sentimento íntimo da forma de pertencer a seu tempo e país. Uma imagem de universalidade ao lidar com questões amplamente humanas, mas sem abandonar a cor local da concretude do plano de representação do meio social brasileiro. Seus livros da dita “fase romântica”, portanto, afastam-se da coloração pitoresca, de tom romanesco e patriótico que se transformou em fórmula de sucesso entre o público jovem de seu tempo. É neste sentido que se deve refletir sobre a influência de obras locais de períodos anteriores. Contudo, não se deve ignorar a atualização notável de grande erudito nas influências cosmopolitas da literatura europeia na prosa de Machado de Assis, sendo possível notar técnicas reproduzidas de Stendhal, Flaubert, Balzac, Maupassant, Jonathan Swift, Henry Fielding e Laurence Sterne. Mas não serão poucas as situações, reviravoltas e arroubos parodiados dos grandes autores nacionais que o precederam, tais como Manuel Antônio de Almeida, Joaquim Manuel de Macedo e o já mencionado José de Alencar. Os acertos em matéria de descrição de costumes de fôlego analítico eram reaproveitados pelo grande autor em sua oficina de trabalho, e este não é um dado menor, pois soube aproveitar os limites e as inconsistências de convenções literárias locais de então. Em termos de reprodução do gênero romanesco, o Machado des-

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ta primeira fase concebia uma prosa realista de olhar arguto e de aspiração ilustrada, escrita destinada a um público “de boas famílias”. No plano do conteúdo, destrinchava relações sociais ao mesmo tempo complexas e características, sem abrir mão, no entanto, do esforço de lidar com relações herdadas da ordem colonial de tal forma que apontem para as aspirações de ordem e progresso de nações liberais de maneira conciliatória. A partir de 1880, o alcance artístico e de análise sobre a realidade social agiganta-se, passando até mesmo a desconsiderar convenções do realismo para exprimir-se, como a crítica qualificada aponta com tanta frequência. Em Brás Cubas, descobre um novo tipo de narrador, tanto arbitrário como despeitado, que transforma a insolência e impertinência em princípio formal e processo de configuração expressiva. O desrespeito às normas, no entanto, não as desqualifica, apenas as aponta como inoperantes, redundando numa impotência cínica que ri da própria superioridade retórica improcedente desta voz culta. Machado abandona as aspirações românticas que buscavam um sentido original para a cor local e encontra uma voz que atinge as questões mais amplas e universais da vida letrada, mas atingindo-as pelo sentido negativo destas aspirações. Não há força social ou convenção que escape da lâmina retórica da ironia machadiana. Integram esta fase os romances Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), bem como cinco livros de contos que reúnem dezenas de narrativas breves. Em A causa secreta está plenamente desenvolvida a compreensão machadiana sobre duas naturezas humanas, tal como preliminarmente apresentadas no capítulo IV do romance Iaiá Garcia e composta como teorema no conto O espelho, de 1882. No romance, o narrador aponta que há duas naturezas humanas, uma de convenção natural, íntima e espontânea, e uma natureza social, ou seja,

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uma lei do coração e uma lei da sociedade. No conto O espelho, estas são referidas como alma interior e alma exterior. Do romance ao conto, refina-se a percepção do elemento de mediação entre uma e outra: o olhar exterior. A primeira natureza seria uma disposição com que nasce o sujeito, sua índole ou temperamento; a segunda natureza seria a máscara do sujeito forjada na aprendizagem do trato social, com as leis e convenções de convívio social. O elemento mediador seria o olhar que outros lançam sobre o sujeito e este institui como identidade. Em A causa secreta, a primeira natureza sádica de Fortunato é mascarada pela segunda natureza que a imagem social de capitalista empreendedor numa sociedade escravocrata imprime sobre o personagem e que tanto os outros personagens como a própria ordem social reforçam. Todos tornam-se cúmplices da aceitação do sadismo de Fortunato.

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Sugestões de referências complementares A causa secreta. Autor: Machado de Assis. – Conto. O espelho. Autor: Machado de Assis – Conto de Machado de Assis em que são apresentadas as noções de alma interior e alma exterior. A causa secreta. Dir.: Sérgio Biacnhi. – Filme. “A causa secreta (análise)”. Prof. Marcos Soares. Direção de filmagem: Daniel Melo e Gustavo Goulart Ribeiro. Endereço eletrônico: https:// www.youtube.com/watch?v=WHkBIreuM28 – Palestra gravada em que professor Marcos Soares analisa a adaptação de Sérgio Bianchi para o conto de Machado de Assis. A erva do rato. Dir.: Julio Bressane. – Filme inspirado nos contos A causa secreta e O esqueleto. Pulsão e suas vicissitudes (1915). Autor: Sigmund Freud. – Texto científico em que o fundador da psicanálise discorre sobre a descoberta das fantasias sádicas como pulsões de domínio que evoluem para pulsões de prazer com a crueldade. Machado de Assis – A vida é boa!. Dir.: Eduardo Nunes. – Documentário. Machado de Assis: um mestre na periferia. Dir.: Daniel Augusto. – Documentário. Machado de Assis: Um gênio brasileiro. Autor: Daniel Piza. – Biografia.

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Bibliografia Comentada BARBOSA, Alexandre; RAMOS, Paulo; RAMA, Angela; VILELA, Túlio; VERGUEIRO, Waldomiro (orgs.). Como usar a história em quadrinhos na sala de aula. 2. Ed. São Paulo: Contexto, 2005. – A publicação consiste numa coletânea de textos em que são apresentadas didaticamente as diferentes facetas e possibilidades do uso da forma história em quadrinhos em sala de aula. Há artigos que versam sobre a história da forma, as possibilidades de variação estilística e as precedências proveitosas do uso deste tipo de material por educadores. BOSI, Alfredo. “A máscara e a fenda”. In: O enigma do olhar. 1ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2003. – Ensaio em que o crítico literário apresenta sua interpretação sobre os contos machadianos, formula sua compreensão de contos-teoria como gênero específico na obra machadiana e apresenta sua interpretação sobre A causa secreta. CANDIDO, Antonio. “Esquema de Machado de Assis”. In: Vários Escritos. 3ª ed. rev. e ampl. - São Paulo: Duas Cidades, 1995. – Texto introdutório em que o crítico compendia a história da recepção da obra literária de Machado de Assis ao longo do tempo. Referência fundamental para se refletir sobre os diferentes estágios da compreensão da prosa machadiana nos últimos 120 anos. SCHWARZ, Roberto. “A viravolta machadiana”. In: Martinha versus Lucrécia – Ensaios e entrevistas. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. pp. 247-79. – Neste breve ensaio, o crítico apresenta suas principais teses e formulações acerca da evolução artística e princípios formais da composição da prosa machadiana. Trata-se da síntese de mais de 40 anos de reflexão sobre a fatura da obra, suas consequências estéticas e as diversas questões sobre sua relação com a forma específica da dinâmica social brasileira e seus desdobramentos históricos.

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SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. Ed. 4. São Paulo; Editora 34, 2012. – Estudo meticuloso e detalhado sobre as principais facetas da guinada machadiana a partir do processo de configuração da narrativa de Memórias póstumas de Brás Cubas. Reflexão crítica a partir da relação entre forma artística e composição da dinâmica social e da estrutura ideológica da sociedade de classes brasileira dividida entre escravos, proprietários e homens livres agregados vivendo de favor. Leitura enriquecedora sobre a obra machadiana tanto pelas considerações históricas como pela atenção aos detalhes sobre forma narrativa de Machado no período de maturidade. GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Machado de Assis, o escritor que nos lê: as figuras machadianas através da crítica e das polêmicas. São Paulo; Editora Unesp, 2017. - Estudo profundo e bem matizado sobre as diferentes fazes e diferentes facetas da trajetória e do projeto artístico de Machado de Assis. Diversos temas e aproximações sobre os romances e os contos são trabalhados à luz dos diversos momentos da recepção crítica da obra machadiana ao longo dos anos. SILVA, Cátia Pietro da. “’Teoria do benefício’ e ‘A causa secreta’: poder, favor e exploração”. Revista Anagrama: Revista interdisciplinar da graduação. Ano 3. Edição 1. Set.-nov. de 2009. – Artigo sucinto e sintético em que a autora apresenta uma boa interpretação do conto A causa secreta à luz do capítulo “Teoria do benefício”, em Memórias póstumas de Brás Cubas.

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