Relatório Oficina Desmanche apresenta: Casa Amarela

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ARQUITETURA ARTES E COMUNICAÇÃO

Projeto de conclusão de curso Bacharelado em Design de Produto

Oficina Desmanche apresenta: Casa Amarela

José Victor Barros de Oliveira Orientadora: Profª Drª Mônica Moura

Bauru - SP Fevereiro 2016

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Agradecimentos Agradeço aos meus pais e irmãos pelo núcleo familiar incrível em que cresci. Agradeço também aos professores e professoras, amigos, amigas e colegas com quem pude compartilhar tantas experiências nesses anos de vida universitária. Em especial as mais de vinte pessoas com que dividi o teto e todo o espaço restante da casa. Agradeço por todas as oportunidades que me foram oferecidas para que eu pudesse me desenvolver como cidadão e designer.

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Resumo “Oficina Desmanche apresenta Casa Amarela” é um projeto que tem sido desenvolvido nos dois últimos anos e agora será ampliado e documentado no trabalho de conclusão

de

curso

envolvendo

pesquisa,

experimentação, produção e gestão de um evento. Esse evento faz parte de um projeto que envolve design de produto, design de ambientes/interiores e design gráfico. Sob o prisma do design contemporâneo o TCC envolve questões de lembranças e memórias afetivas, processos criativos

e

sustentabilidade,

produtivos, reciclagem

artesanais, e

digitais,

reaproveitamentos,

partindo do objeto ao ambiente, da escala da “mão” à escala do espaço, do plano ao espaço, do bidimensional ao tridimensional e do espacial ao ambiental.

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Índice Agradecimentos.....................................................................3 Resumo...................................................................................4 Introdução...............................................................................6 Objetivos...............................................................................10 Referências teóricas, visuais e fontes de inspiração...............11 Projeto ”Oficina Desmanche apresenta: Casa Amarela”...........29

Inspiração..............................................................................30 Curadoria...............................................................................37 Projeto expositivo................................................................53 Gestão em Design................................................................61 Relações com o público......................................................65 Sobre a Casa Amarela..........................................................66 Projeto gráfico......................................................................68 Procedimentos metodológicos...........................................75 Resultados..........................................................................105 Conclusões.........................................................................106 Referências.........................................................................108 Glossário.............................................................................110

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Introdução

Desde o ingresso na universidade, até o momento em que perdemos o vínculo e nos formamos, muito acontece. Experiências boas, outras nem tanto, mas todas fundamentais para o nosso desenvolvimento. Por isso, essa busca por entender, talvez rever, tudo o que se passou, possa nos levar a uma compreensão maior de como foi essa etapa. Toda minha inspiração decorreu do que sempre esteve ao meu redor e do que eu procurei me cercar. A casa, as aulas, os amigos e familiares, os lugares que conheci, as conversas, sempre formaram a base do meu processo criativo. Sempre fui de anotar. Temia que alguma informação pudesse se perder. Aprendia relendo o que havia anotado. Demorei a perceber que estava formando um conjunto de informações, até então sem utilidade definida, em algo que

eu

pudesse

compreensível,

dar

interpretar. suas

Simplificar,

próprias

palavras,

tornar intuir,

deduzir. Tudo isso para dizer que sempre anotei ideias, pensamentos, divagações. Fiz listas e mais listas para que quando chegasse a hora, não me faltasse nada. Não foi em vão. Olho ao lado e vejo um conjunto de 6


caderninhos e folhas que eu sempre guardei com carinho, imaginando o momento em que elas me ajudariam a traduzir tudo que está para ser descrito.

Autores, livros, recortes, rascunhos, esboços, desenhos, referências, frases. Tudo tinha o potencial de ser utilizado e será. Para isso, foi necessário equipar um espaço para trabalhar. Tal espaço foi organizado nos fundos da república, batizada por mim e meus amigos de, Casa Amarela, com a construção de uma bancada de trabalho, a instalação de uma rede de energia e a aquisição de algumas ferramentas manuais e elétricas. Mergulhei na idéia básica inicial de que nós vivemos em lugares, geralmente diferentes uns dos outros e estes lugares são compostos de muitos objetos e então partindo de matéria prima já processada, mas em estado de inatividade, os projetos pretendem recuperar esse material de modo que uma nova peça seja produzida, causando um menor impacto ambiental. Tais peças serão pensadas a partir de uma configuração já existente, podendo ser alterada afim de que ela possa ocupar um novo espaço e voltar a ser útil. Espera-se que objetos a primeira vista comuns como isqueiros, botões, 7


madeira, mas com grande potencial criativo e produtivo, sejam recuperados e ressignificados.

Os materiais que se pretende utilizar são, em sua maioria, madeiras descartadas por obras, embalagens vazias (e limpas) além de diversos materiais encontrados em ruas e caçambas pela cidade.

Aliás, a infinidade de possibilidades que o acaso apresenta, ao virar uma rua, ou outra, pode definir o que você irá encontrar no seu dia. Foi o que, também me possibilitou outras criações e outros dias. Mas é claro que não basta apenas ter a matéria prima, também é necessário algumas ferramentas para processá-las. Cortar, perfurar, escarear, lixar, pintar, selar, entre outros processos, são fundamentais para que aquilo que está no plano das ideias se materialize. A viabilidade do projeto

pode

depender

muito

das

ferramentas

disponíveis. Partindo da postura de não aquisição de uma nova matéria prima, mas

percebendo que um

material que não está sendo utilizado, se degradando, sem sentido, motiva a reinserção desta peça, que já tem uma história e pode seguir fazendo parte da história de 8


outras pessoas. Fica clara a intenção de cortar gastos, otimizar processos, encontrar novas possibilidades em meio a tantas opções que podem ser encontradas a um custo acessível, as vezes até nulo. Considerando que já vivi em oito diferentes lugares desde o nascimento até a juventude, passando pela mocidade e agora no princípio da chamada vida adulta, tenho de dizer que todos esses ninhos, sem dúvida, foram cruciais em cada etapa do meu desenvolvimento.

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Objetivos Apresentar como projeto

de conclusão de curso em

Design de Produtos um conjunto de objetos e ações que compreende: - Uma coleção de produtos criados e recriados a partir de objetos e materiais preexistentes utilizando a recriação, reutilização, ressignificação e recontextualização como mote principal; - A Oficina Desmanche apresentando a Casa Amarela como espaço expositivo que mescla exposições e mostras individuais e coletivas com mediação cultural em um evento com duração de três dias (26 a 28/02/2016) Apresentando a Casa Amarela; - A Oficina Desmanche como um negócio local que associa a economia criativa e colaborativa, que promove parcerias para lançamento e divulgação de peças e objetos desenvolvidos sob a marca Oficina Desmanche, bem como a produção de seus parceiros e a implantação de um loja Pop-up que funcionará durante um final de semana; - Expor, divulgar e comercializar a produção da Oficina Desmanche e seus parceiros. 10


Referências teóricas, visuais e inspirações

Por volta dos anos de 2000, refletindo as mudanças presentes na contemporaneidade, passaram a ser criados espaços comerciais que associam o universo cultural

ao

cotidiano,

porém,

esses

espaços

se

deslocaram de ambientes comerciais e passaram a ser realizados em residências, que perderam sem caráter de moradia e passaram a ser utilizadas como espaços expositivos e comerciais, atribuindo o design de interiores característico de cada cômodo da casa, porém com todas as peças e composições que integram os ambientes como produtos que estão a venda.

Um dos exemplos que podemos citar e que foram coletados no desenvolvimento dessa pesquisa é o espaço argentino denominado “Cualquier Verdura”, onde podemos ver na foto a seguir um dos espaços da loja repletos de objetos a venda.

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Figura 1. Ambientação da cozinha na loja

picasaweb.google.com/112411409349417195377/LocalCocina?feat=directlink#61202 45529272199282

Conforme Moura (2009; 2010; 2012; 2014) outro aspecto presente

na

contemporaneidade

é

a

diluição

de

fronteiras entre as áreas do design, tais como, design de produto, design gráfico, design de interiores, entre outras separações e passa a ser instituir o Design como campo maior e que engloba todos os segmentos relacionados à criação e ao desenvolvimento projetual.

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Além disso, no design contemporâneo, acompanhamos a ruptura de barreiras entre campos do conhecimento e, nesse sentido o design dialoga, se aproxima e se funde ao artesanato, à arte, a moda, entre outros campos de aproximação.

A sustentabilidade é outro aspecto que ganha corpo e importância na contemporaneidade registrando grande associação ao design.

As referências teóricas que serviram de base para esse trabalho de conclusão utilizaram algumas vanguardas artísticas

relacionadas

ao

objeto

(ready-mades,

assemblages) da arte moderna e contemporânea. Essas estabelecem relação com o trabalho expositivo que pretendo apresentar.

Quando elegi o início do século XX como ponto de partida, não foi surpresa encontrar alguma semelhança entre alguns trabalhos que vinha desenvolvendo, com obras

modernas

que

deram

início

às

propostas

contemporâneas. Principalmente questões ligadas a 13


apropriação, reuso e a ressignificação, adotada por Dadaístas e Surrealistas através de seus ready-mades ou da busca pelos objets trouvés.

No início do período Moderno, muitas vanguardas despontaram com a constituição de movimentos de arte denominados

de

Expressionismo(1905),

Cubismo

(1907), Dadaísmo (1916), , Surrealismo (1924). Mas foram

especialmente

as

criações

Surrealistas

e

Dadaístas que mais contribuiram para minhas escolhas. Após esses movimentos modernos é na raiz da arte contemporânea, especialmente pela Pop Art e, o Novo Realismo, ambos surgidos entre o final da década de 50 e

início

da

década

de

60,

que

retomam

e

redimensionam a incorporação do objeto cotidiano na obra de arte, porém agora com um maior engajamento político e social. Ambos utilizam os objetos do cotidiano, os produtos de massa e até mesmo o lixo industrial em suas composições, a fim de denunciar o consumismo ou o materialismo excessivos. No caso dos ready-made, criado pelo artista francês Marcel Duchamp (1887-1968), imperava a seleção ao acaso de um objeto industrial, cotidiano e até mesmo 14


banal para assumir o papel de objeto de arte ou obra de arte. Esse deslocamento de contexto proporcionava questionamentos a respeito da arte e

mudanças na

maneira como esses objetos passavam a ser vistos pelo espectador, como uma grande redução simbólica. Esse conceito de redução se dá pela idéia de que um objeto qualquer era apresentado enquanto suas formas e, perante a situação de descontextualização propunham uma ruptura na escolha do que pode ser considerado como obra de arte. Os ready-mades eram objetos inventados por Duchamp e, especificamente os que eram compostos de mais de um objeto passavam a ser denominados

por

seu

criadorcomo

ready-mades

compostos. A seleção adotada por Duchamp incluía objetos de uso cotidiano, de produção em massa, selecionados sem critérios estéticos e expostos em locais institucionalizados da arte – museus e galerias. Dois exemplos marcantes são “Roda de Bicicleta (1912)” e “Fonte (1917)”, ambos apresentados por Duchamp em locais instaurados da arte, questionavam o status do que poderia e o que não poderia ser arte, ao transformar um objeto comum em obra de arte criticava de forma incisiva o sistema (e o mercado) da arte . 15


O Dadaísmo foi um movimento artístico que rapidamente se espalhou pela Europa, aparecendo como reação ao tradicionalismo, com seus conceitos, técnicas e materiais usados para o fazer artístico. Mas valia a atitude artística e escolha de objetos a serem descontextualizados e apresentados, não importando o valor do objeto em si, mas as relações que esse objeto pode proporcionar a quem o cria (autoria) e, especialmente, a quem o observa.

Partia-se da premissa de que ao tratar um

objeto como obra arte e colocá-lo nos locais instituídos e validados como espaços de arte, ele torna-se arte, protagonizando uma mudança de paradigmas na arte a partir da proposta da „anti-arte‟.

Nos anos seguintes, o Surrealismo incorpora o objet trouvé às artes, utilzando detritos da sociedade industrial, como

pedaços

de

madeira,

recortes

de

jornal,

embalagens, fotografias, botões, ferro e outros materiais, sobrepondo

esses materiais na

criação

de

suas

assemblages . A eleição desses fragmentos se dava pela qualidade estética que eles apresentavam, quase sempre desgastados pelo tempo, proporcionavam certa poética e história pessoal a cada objeto encontrado. 16


Cabia então ao artista a busca e seleção desses elementos cotidianos para criação de novas narrativas ou tambem a recuperação de algum valor simbólico do passado,

dessa

forma,

instituindo

novos

valores

estéticos e simbólicos.

Na visão Surrealista, o espectador é defrontado com o imaginário, pois os símbolos existentes configuram relações metáfóricas com o observador, através das apropriações que o artista utiliza. Essa estética do acúmulo e tridimensionalidade nas obras, misturando o cotidiano a arte, criando narrativas de estéticas rotineiras onde todos somos personagens e autores, através da retirada de elementos comuns e deslocamento para ambientes artísticos, configura uma redução figurativa dos

objetos.

Essas

reduções,

não

implicam

necessariamente em diminuição de valor estético, mas sim na apresentação de um novo ponto de vista. De acordo com a potencialidade ao ser utilizado em futuras composições, esses objetos são selecionados, não importando suas funções originais. Esses desvios de 17


sentidos utilizando elementos culturais conhecidos causa maior envolvimento entre o autor e a obra, pois a motivação da escolha de determinadas frações é dada pela experiência estética que elas podem proporcionar.

A diferença entre o ready-made e o objet trouvé é que no primeiro caso, pouco importava o juízo estético da peça, o artista resiste à aparência e adota a aleatoriedade na ação. O ready-made é eleito entre tantos outros iguais e minimamente alterado, remontam seu contexto original. No segundo caso, a eleição se dá essencialmente pelas qualidades estéticas e singularidade, onde o artista busca objetos específicos para elaboração de seu trabalho. Ao contrário da indiferença adotada no readymade, o processo de escolha adotado pelo artista perante objeto trouvé (objeto encontrado) é minucioso e acumulativo, reconhecendo elementos que ele poderá se valer futuramente.

Tanto os Dadaístas quanto os Surrealistas usam as assemblages como recurso artístico, utilizando pedaços de papel, madeira, metal, pedras, entre outros que não são originalmente utilizados para finalidades artisticas. 18


Eram experimentações que envolviam a justaposição e sobreposição de elementos diversos tornando esses signos em alegorias dos nossos sentidos e sentimentos. Baseia-se no argumento de que todo material pode ser utilizado com finalidade artistica através da atribuição intencional de sentido a ela.

Figura 2. Formas no espaço (1920) – Kurt Schwitters

www.wikiart.org/en/kurt-schwitters/forms-in-space-1920

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Outro exemplo particular de ruptura com padrões préestabelecidos se dá pelo artista alemão Kurt Schwitters (1887-1948), considerado o criador da instalação, ele produziu um conjunto de obras singular, criando um movimento artístico particular. Hoje em dia, seria considerado um artista multimídia, tendo contribuindo para

a

arquitetura,

escultura,

tipografia,

poesia,

performance e outros. Particularmente, uma obra chama a atenção pela sua semelhança com o trabalho que venho desenvolvendo. Trata-se de uma série de colunas que foram erguidas em sua própria residência em Hanover e posteriormente tomaram conta de outros ambientes da casa. A Merzbau é um desdobramento do fazer artistico que Schwitters definiu como arte Merz. Ele chamava assim, todo o conjunto de colagens que produziu com materiais danificados encontrados e recuperados. Inicialmente suas obras eram geralmente compostas de pinturas, porém, foi tomando contato com as vanguardas dadaístas que

o fez perceber a

potencialidade dos materiais encontrados, assim, dando início a um processo de acúmulo e apropriações de elementos considerados interessantes. A construção da 20


Merzbau original ocorreu entre 1923-36 e foi destruída por ataques aéreos em 1943, porém uma reconstituição fisica de um ambiente da casa foi montada no fim de 2010 no Sprenguel Museum em Hanover com ajuda de fotografias antigas.

Figura 3. Fotografia Merzbau original (1923-1936) – Kurt Schwitters

7284grp.wordpress.com/2015/02/06/merzbau-kurt-schwitters

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Figura 4. Fotografia Merzbau original (1923-1936) – Kurt Schwitters

arteuniville.blogspot.com.br/p/arte.html

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Dois movimentos artisticos contemporênos também forneceram um conteúdo essencial para o desenvolvimento da proposta. Tanto o Novo Realismo quanto o Pop-Art retomaram a apropriação de objetos do dia-a-dia nas artes. Esses objetos agora eram eleitos entre o descarte e o lixo que as sociedades industriais passam a produzir, como forma de denunciar o consumismo excessivo, o sistema de mercado, a valorização das marcas. São movimentos que possuem maior engajamento social e político, atuando na difusão de ideias e propondo uma iconografia de nosso tempo. Esse período do pós-guerra, onde grandes avanços tecnológicos aconteciam, serviram de inspiração para que os artistas utilizassem as características mais latentes desses objetos a fim de criar novas relações entre o observador/consumidor e o que era consumido. Histórias individuais e coletivas são reinseridas na sociedade através dos trabalhos desses artistas que contribuiram para criar uma certa „mitologia‟ contemporânea. No Brasil, a obra de três artistas também podem ser destacadas com a finalidade de

compreender melhor

como o cenário artístico nacional se articulou nesses últimos anos. Cildo Meireles, artista carioca nascido em 1948, em sua obra Desvio para o Vermelho (1967-1984), presente no acervo de Inhotim desde 2006, destaca o uso de objetos cotidianos nas instalações modernas, ao 23


impregnar um ambiente com diversos objetos com tons avermelhados. Encontra-se essa definição da obra no site de Inhotim:

“Aberta a uma série de simbolismos e metáforas, desde a violência do sangue até conotações ideológicas, o que interessa ao artista nesta obra é oferecer uma seqüência de impactos sensoriais e psicológicos ao espectador: uma série de falsas lógicas que nos devolvem sempre a um mesmo ponto de partida.” Figura 5. Desvio para o Vermelho (1967 – 1984) – Cildo Meireles

www.inhotim.org.br/inhotim/arte-contemporanea/obras/desvio-para-o-vermelho-iimpregnacao-ii-entorno-iii-desvio-2/

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Figura 6. Banana Rack (2003) – Nelson Leirner

enciclopedia.itaucultural.org.br/obra65464/banana-rack

Outros expoentes da arte contemporânea brasileira são o artista paulista Nelson Leirner (1933), que possui uma obra repleta de apropriações e ressignificações, como por exemplo o Banana Rack (2003) e o Projeto Care (1967 – 2000), além do artista carioca Hélio Oiticica (1937-1980), que possui vasta produção para composição de espaços como a série de esculturas Penetráveis (1937 – 1980) e também os Relevos Espaciais (1959 – 1998). Ambos possuem trabalhos com apropriações, ressignificações, reuso, e também a quebra da bidimensionalidade tradicional do quadro, fazendo com que suas peças componham os espaços 25


em que estão inseridas proporcionando uma vivência visual de cores, formas e planos. Figura 7. Projeto Care (1967) – Nelson Leirner

enciclopedia.itaucultural.org.br/obra65476/projeto-care

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Figura 8. Penetráveis (1937) - Hélio Oiticica

http://www.viagensdapaulete.com.br/2012/06/invencao-da-cor-penetravel-magicsquare.html

Figura 9. Relevos Espaciais (1959) – Hélio Oiticica

http://vogue.globo.com/lifestyle/cultura/noticia/2015/04/circuito-sp-arte-melhoresexpos-da-cidade-para-visitar-durante-feira.html

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Por fim, o livro Gesto Inacabado de Cecília Almeida Salles, aborda, entre outros assuntos, o fazer artistico como uma tendência indefinida, onde o ato criativo é aberto a alterações e pode estar em constante mutação até o final do processo criativo. Além disso, as imagens que o artista guarda consigo na memória ou através de fotografias ou vídeos, podem ser insights para trabalhos futuros. Onde a memória funciona como reveladora do ocorrido, misturando elementos reais e ficcionais, constituindo um novo universo, que é produto da imaginação do artista. Além disso, ela aborda um processo de experimentação e pesquisa que ocorrem em conjunto, no desenvolver do projeto, visando testes e aprimoramentos.

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Projeto “Oficina Desmanche apresenta Casa Amarela”

Negócio - Evento - Exposição - Loja Pop-Up

Oficina Desmanche é um negócio local dedicado a pesquisa, ao aprendizado, a experimentação e produção de projetos de design tendo como preceitos questões relacionadas a sustentabilidade, ressignificação e o reuso de materiais descartados e/ou sem uso. Esse projeto, acontece no interior do estado de São Paulo, na cidade de Bauru onde, essa residência se transformará em um evento cultural com mostras e

exposição e

posteriormente numa loja pop-up. Casa Amarela é o título da exposição que abrirá por um curto período de tempo, a fim de divulgar e vender a produção da Oficina Desmanche e seus parceiros. Esse Projeto envolve o início de um negócio atrelado ao trabalho de conclusão de curso de um aluno de Design de Produto da Universidade Estadual Paulista – Unesp – Bauru. A expografia e a curadoria, realizadas pelo aluno, fará referência às memórias do estudante universitário 29


que chegou a esta cidade em 2010 para estudar Design e acabou aprendendo muito mais do que poderia imaginar.

Inspiração:

Para discorrer sobre os processos criativos e produtivos se faz necessário uma análise seguindo uma linha histórica das peças que foram sendo produzidas para exposição.

Trata-se de um processo íntimo e intuitivo, decorrente do acúmulo de diferentes objetos durante os anos de graduação e posteriormente utilizados em assemblages, instalações ou mobiliário. Todos os projetos presentes nos espaços expositivos tomaram forma em um processo contínuo e ininterrupto, pois eram produzidas moderadamente,

pouco

a

pouco,

mediante

a

disponibilidade de materiais e insumos. Essa aparente morosidade na produção das peças não se demonstrou desfavorável, pois ao invés de produzir um objeto por vez, era possível produzir diversas peças por semana. 30


Com o passar dos dias, uma variedade de peças, com múltiplos

materiais

eram

finalizadas,

dando

uma

impressão de otimização da produção. Por exemplo, a madeira era toda cortada e lixada num dia, posteriormente essas peças de madeira eram pintadas e então os objetos eram construídos (tomavam forma e corpo) para, finalmente, ocorrer a aplicação de verniz para dar acabamento aos objetos. Dessa maneira, evitava-se o desperdício de insumos além do tempo que era economizado com a organização e limpeza ao final dos processos, justamente pelo fato de que não eram constantes.

Por se tratar de um projeto expositivo ligado a um percurso histórico, cada fragmento da exposição contém elementos que fazem referência a essa evolução e a esse processo.

Num primeiro momento, há os quadros emoldurados em madeira e vidro, com prints impressos em papel glossy, com acabamento em passepartout e penduradores de parede. Essas peças foram reunidas após seleção de desenhos, colagens e técnicas mistas em papel, 31


remetendo ao princípio do curso de design que realizei, onde

os

trabalhos

são

desenvolvidos

em

duas

dimensões. Quando se trata de exposições artísticas, não é surpresa alguma para o público encontrar quadros, por isso nesse primeiro momento é traçado esse paralelo – quadros/exposição/recepção do público. Dessa forma, tanto o início da exposição, quanto o começo do curso de

Design

se

correlacionando

situam a

cronologicamente

expressão

artística

juntos,

em

duas

dimensões e o desenho no papel. Ao todo são 33 molduras com diferentes espessuras e tamanhos, todas envidraçadas para preservar a impressão, dispostas não linearmente

nas

paredes

do

primeiro

ambiente

expositivo. Esse conjunto de obras, quando juntas, conferem

um aspecto de unidade ao ambiente e a

exposição, pois apesar de as molduras serem diferentes existe uma sequencia lógica de materiais e temas tratados em sua composição.

Muitas molduras foram improvisadas, pois não possuíam essa função originalmente, apenas me valia de formas retangulares ou quadradas, que eram ressignificadas e compunham os quadros. Em outros casos, dispenso o 32


uso da moldura e a madeira é usada como base para objetos do cotidiano reunidos em pequenas colagens. Num terceiro ambiente, por exemplo, há misturas de material em maiores proporções, onde os quadros ganham em volume e saltam para o espaço do ambiente. Neles

é

possível

identificar

também

fragmentos

encontrados por andanças, doações ou pequenas apropriações ocorridas pela cidade, que compõem uma produção de ícones atemporais .

As Pinholes são máquinas fotográficas produzidas de forma artesanal, nesse caso, as desenvolvi com latas de sardinha e bobina de filme – película – fotográfica. Esse tipo de

.

máquina possibilita um resultado muito

interessante, visto que é o tempo de exposição do filme perante a luz que determinam o resultado final da foto. Com esse simples mecanismo, anotando os tempos de exposição à luz, é possível fazer comparações e estabelecer alguns parâmetros mais precisos para a fotografia analógica artesanal.

As fotografias de Pinhole aparecem também nos primeiros ambientes, assim como a fotografia é disciplina 33


desenvolvida na primeira parte da grade curricular, ou seja, nos dois anos iniciais do curso de Design. Mais adiante, os trabalhos ganham em complexidade e na maneira como se relacionam com o espaço. Luzes e sons tomam conta do ambiente, a fim de transformar a sala numa atmosfera tecnológica e, até de certa forma confusa, carregada de ruídos e explorando a linguagem audiovisual.

Esse

desenvolvimento

em

outras

plataformas e com diferentes linguagens nos é proposto a cada novo trabalho das diferentes disciplinas da faculdade de design e, por isso, a exposição caminha nesse sentido. Há também uma referência ao ambiente noturno

das festas e

confraternizações

entre

os

estudantes das três faculdades (FAAC, FC e FEB) da Unesp. As festas fazem parte da vivência de muitos estudantes universitários, sendo propulsora de inúmeras descobertas,

diversão,

conversas

memoráveis

e

encontros inesquecíveis. O ambiente festivo esteve muito presente durante todos esses anos e por isso, não faria sentido deixá-lo de fora desse grande momento de celebração. Espera-se que o público que passe por esse espaço seja envolvido pela quantidade de informação visual e sonora que o espaço proporciona. Que os olhos 34


fiquem vagos, como num curto estado de hipnose que nos submetemos ao nos deparar com a frequência visual que esses aparelhos emitem.

O projeto expositivo apresenta também instalações internas e externas à casa, com diversos materiais como madeira, plástico e metais. São composições que fazem referência aos processos projetuais dos anos finais do curso, onde desenvolvemos projetos em maior escala, com símbolos e signos que inspiram o desenvolvimento do produto final. Há Patterns tridimensionais nas paredes de azulejo e alvenaria, formando composições através da repetição e organização harmônica dos elementos. Essas instalações são resultado de um acúmulo de peças descartadas com potencial de reaproveitamento, que eram encontradas ou doadas por amigos que se mudavam da cidade. A proposta dessas instalações é a criação de texturas e a mistura de objetos de diferentes contextos, todas em um mesmo lugar, onde o incomum é elevado a posição de destaque. Para isso, cola, parafusos e buchas auxiliam na fixação das diferentes porções de material, de modo que as paredes participem mais ativamente com seus novos volumes. Essa 35


ocupação dos espaços pelos materiais sem função definida

é

o

estímulo

para

que

então,

sejam

apresentados finalmente, os móveis, sendo estes providos de funções específicas. Na parte externa da casa,

haverá

móveis

que

encontram-se

em

uso

constante pelos moradores da casa e cederam espaço para

a

ambientação

entrançados ambiente,

de os

do

bambu móveis

espaço

expositivo.

compondo construídos

divisórias com

Com de

material

descartado formam nichos que remetem aos ambientes das casas residenciais.

O local da apresentação contará com um espaço reservado a projeção da apresentação e também contém painéis semânticos de referência que apoiaram o desenvolvimento do trabalho de conclusão. Além dos painéis pendurados na parede lateral, haverá na parede da projeção, duas camisetas dos projetos de extensão (Taquara e Muda Design) integrando a mostra. Por fim, uma composição quadrada em base de madeira com os livros

dos

moradores

da

casa

formarão

uma

representação volumétrica de uma bibliografia ou das referências bibliográficas. O público conseguirá ver a 36


apresentação

confortavelmente

sentada

em

sofás

dispostos na área da Oficina e em cadeiras que também estarão à disposição. Além dos assentos, haverá amplo espaço

para

os

interessados

acompanharem

a

apresentação em pé ou sentados ao chão em diversos pontos que darão a visualização dos slides.

Curadoria

Para justificar as escolhas da curadoria, escreverei elencando seis tópicos para elucidar os caminhos que me levaram a vislumbrar esse projeto. Cada tópico que será abordado, carrega consigo diversas influências, inspirações e aprendizados, que dão corpo a esse projeto de conclusão de curso.

- Universidade:

Passei a frequentar o campus de Bauru da UNESP no início de 2010. Era minha segunda tentativa de ingressar no curso de Design.

Como todos os bons começos

tendem a ser intensos, o ambiente universitário não 37


decepcionou e deu claras demosntrações do quão proveitoso ele poderia ser. O primeiro ano é sobretudo um ano de muitas descobertas. Desde as novas disciplinas e seus professores, quase todo o campus universitário e as pessoas que aparecem aos montes a cada dia. É um ano agitado, geralmente marcado por inúmeras novas amizades, busca por repúblicas ou apartamentos, diversos trabalhos e prazos apertados, além de muitas festas.

No segundo ano de curso, estamos um pouco mais ambientados com a universidade e a cidade, os trabalhos continuam volumosos, mas aprendemos algo desde então.

Já não estamos mais tão “crús” e

conseguimos executar trabalhos cada vez melhores, ficando notório o nível geral da sala

a cada

apresentação. Até que é chegado um ponto crucial do nossso curso, que compete aos alunos, é a escolha de habilitação entre design gráfico ou design de produto. A partir daí, as grades curriculares deixam de ter um teor generalista, como nos dois primeiros anos e, passam abordar questões específicas de cada área do Design. Optei pela habilitação em Design de Produtos por ter 38


grande interesse em trabalhos manuais, sobretudo mobiliário,

além

da

curiosidade

em

manusear

ferramentas e máquinas. E como previsto, os anos seguintes

reservavam

diversos

trabalhos,

que

aumentavam em complexidade e proporções, tornando o processo projetual cada vez mais presente no curso. Trabalhos em grupo também eram frequentemente solicitados pelos professores, proporcionando a chance de aprendermos a trabalhar em equipes, característica desejável a um profissional da área. Trabalhamos com diversos materiais, como papel, madeira, plásticos e outros

na

composição

de

nossos

projetos

e

desenvolvemos uma série de técnicas para executá-los. Temos acesso a inúmeras informações graças aos novos suportes de mídia existentes, que proporcionam acesso irrestrito aos mais variados tipos de conteúdo. Aprendemos a utilizar múltiplos softwares que elevam o nível

dos

nossos

trabalhos

e

tornam

nossas

apresentações muito mais envolventes e impactantes. Tanto impressos, quanto digitalizados na internet, muitos livros

fornecem

elementos

para

a

construção

e

desenvolvimento de saberes relacionados ao curso e seus conceitos. Além de diversos eventos e atividades 39


com temáticas relacionadas ao design, tais como concursos

de

cartazes,

mobiliário

ou

utensílios,

encontros regionais, nacionais e internacionais, palestras e workshops. Todo esse universo de possibilidades se relaciona com o Design, seja direta ou indiretamente, através de relações pontuais ou duradouras. universidade

te

introduz

nesse

universo

A de

acontecimentos e inter-relações que se conectam e auxiliam na transformação do aluno em designer. É ela, a Universidade, a grande responsável por articular essa teia de formação que associa as questões didáticopedagógicas às casualidades com as quais os alunos se defrontam. A somatória desses fatores apoiará o percurso histórico do aluno e posterior papel a desempenhar na sociedade já como profissional.

- Projetos de extensão:

Ao longo da graduação pude participar de dois projetos de extensão universitária, que contribuíram muito para complementar minha formação universitária (Projeto Taquara e Muda Design). No projeto Taquara, trabalhei como voluntário nos anos de 2011 e 2012, obtendo 40


muitos conhecimentos sobre toda a cadeia produtiva do bambu. Os alunos são capacitados desde o plantio das mudas, o manejo de moitas, a colheita o tratamento e o processamento

das

ativamente

dia-a-dia

do

varas do

de

bambu.

grupo,

Participei

apresentando

palestras, auxiliando e participando de workshops e oficinas, além da organização de mostras anuais das atividades do grupo.

Vivenciei a extensão de fato,

quando através de uma premiação, consolidou-se um projeto que vinha sendo desenvolvido em parceria com uma comunidade de assentados rurais. A construção de um galpão de bambu na área comum do assentamento rural, envolvendo alunos, professores, profissionais autônomos significativo.

e

os

Foi

próprios nessa

assentados

primeira

foi

experiência

muito num

laboratório de processamento de madeira e bambu, onde funciona o projeto, que pude me aproximar mais do diaa-dia de uma oficina e desenvolver melhor a atividade projetual, e aprender a manusear ferramentas.

Já no Muda Design, iniciei minha participação no início de 2015, e permaneço vinculado ao projeto desde então, focado em questões relacionadas à manutenção do 41


nosso laboratório e a segurança. Além das duas reuniões semanais que norteiam as atividades a serem desenvolvidas pelos alunos do projeto, ajudo outros estudantes em trabalhos e assessoro professores em disciplinas. O Muda também conta com alguns alunos bolsistas, que possuem pesquisas específicas e sendo assim, dispõem do auxílio dos demais membros do grupo. A rotina do grupo gira em torno de projetos que buscamos desenvolver em conjunto, gerando dados e conhecimentos relacionados à sustentabilidade e ao uso de materiais. O projeto tem como pilar fundamental a sustentabilidade e a geração de conhecimento para que essas novas questões possam ser validadas através de nossas pesquisas.

- Intercâmbio:

Desde

muito

novo,

quando

compreendia

a

possibilidade de se estudar fora do país, isso sempre me pareceu pouco provável de acontecer. Sorte minha estar enganado, pois em 2012 dei início aos trâmites burocráticos que me levariam (com bolsa de estudos) por seis meses a Argentina. Saía de Bauru para me 42


aventurar em Mendoza (ARG), cidade a oeste do país, próximo das Cordilheiras dos Andes e dona de um estilo arquitetônico ímpar. Estudei na Universidad Nacional de Cuyo (UNCuyo), que também me surpreendeu pela sua infraestrutura, ou falta dela, se comparada ao campus de Bauru da UNESP. Percebidos os pontos positivos e negativos, era hora de se comunicar melhor, aprender uma nova língua, para poder desfrutar melhor a experiência. Em três meses de Argentina, passei do estado de não entender uma palavra sequer, a conseguir me comunicar com certa eloqüência e desenvoltura. Rapidamente entendi e incorporei os trejeitos e gírias deles e logo me comunicava facilmente com todas as pessoas, inclusive despertando curiosidade por meu sotaque diferente. Aprender uma nova língua sem dúvida foi o ganho mais valioso dessa experiência, pois viajei sem saber falar quase nada e voltei compreendendo a língua perfeitamente bem. A compreensão melhor do idioma abriu as portas para alguns trabalhos, como barman, ajudante de jardineiro, restaurador de móveis e, até mesmo, pintor de paredes. Trabalhos que foram surgindo entre os amigos e vizinhos, por indicação ou mesmo por casualidades, que 43


complementavam a renda se somadas a bolsa de estudos. Trabalho não me faltava no intercâmbio, pois além das quatro disciplinas que cursava,ainda trabalhava em quase todos os finais de semana em bares e festas. Juan Pablo Perello, vizinho e amigo, possuía um negócio de bares móveis para festas e oferecia o serviço para diversas bodegas, casas de festas e até mesmo cassinos.

Com ele aprendi sobre bares e festas,

principalmente as relações de proporções e quantidades e também como sempre atender bem seus clientes, independente de quem seja. Outro amigo argentino também me convidou para trabalhar na restauração de alguns móveis na loja que ele acabara de se associar. Ganhei elogios da dona da loja, que também trabalhava com restauração já há muito tempo, dizendo que o trabalho que fiz numa cadeira estava impecável. Foi lá também que ocorreram as primeiras vendas, mesmo que ainda na condição de estudante, vendi uma mesa de centro e um boneco de madeira. Após muita água passar por debaixo das acéquias mendocinas, era hora de regressar ao Brasil, e continuar os meus estudos em design. Porém, com a conta recheada de dinheiro oriundo de economias e 44


trabalhos pontuais, pude viajar pelo norte da Argentina, Bolívia, Perú e norte do Brasil. Esse mochilão impactou muito minha vida, pois sempre sonhei conhecer Macchu Picchu e poder realizar um sonho de infância me proporcionou

confiança

para

ambicionar

novas

conquistas. Das quatro disciplinas que cursei na UNCuyo, uma me surpreendeu em particular, pois pedia que usássemos a intuição para buscar um aspecto mais caracteristico e então destacar-se pelo não óbvio. Que entregássemos nossas mãos ao pincel e a folha, sem ter receio do traço e que não devemos temer por errar, e sim, incorporar esses acontecimentos ao processo. Taller de Gráfica Experimental (Oficina Gráfica Experimental) me ensinou a não projetar o óbvio, buscar soluções diferentes das que já são esperadas, que estão múito visíveis ou sugestionadas.

- Estágios:

Após regressar de uma grande viagem pela América Latina, logo a República voltava a ser palco da vida cotidiana em Bauru. Agumas pessoas haviam se 45


mudado e novos moradores chegavam para novamente convivermos. Sentia que o hábito adquirido na Argentina de trabalhar e estudar simultaneamente me motivava a buscar aqui um novo desfio profissional. Foi então que surgiu uma oportunidade de estágio no SESC de Bauru, numa exposição de arte contemporânea (30ª Bienal de Arte de São Paulo – Seleção de Obras). Após passar no processo

seletivo,

iniciamos

um

treinamento

antecedendo a abertura da exposição e posteriormente começamos a receber as turmas de escolares para as visitas agendadas. Esse primeiro contato com obras de arte, com turmas de escolares, atividades de ateliês, visitas guiadas e educação informal foi o despertar e a consciência do desenvolvimento de uma habilidade crucial: a fala. Foi nessa primeira experiência de estágio, que aprendi a me comunicar bem, aprendendo a projetar a fala e conseguindo despertar a atenção do visitante com os conteúdos abordados. Após essa primeira exposição, outras oportunidades de trabalho vieram e então as exposições, alunos e oficinas começaram a fazer parte do meu dia-a-dia. Houve ocasiões onde o treinamento foi contínuo, e em uma oportunidade, pudemos acompanhar a montagem de uma exposição, o 46


que contribuiu muito para compreender melhor essa difícil etapa. Com alguma experiência na área, fui convidado a oferecer algumas oficinas extras no período do estágio, para complementar a programação da unidade. E, como as atividades ocorriam bem, a confiança no meu trabalho aumentava, e as próximas exposições onde eu trabalharia passaram a contar com alguma oficina oferecida por mim. Após dois anos de contratos para trabalhos em exposições e oficinas, a universidade e a empresa já não permitiam mais que eu fosse contratado como estagiário, por atingir dois anos de contratos. Antes disso, me disseram que se caso eu abrisse um CNPJ, e fornecesse notas de serviço, poderia votar a ser contratado pela instituição. Não me restou outra alternativa a não ser abrir uma MEI e me cadastrar no serviço de fornecedores do SESC para poder seguir oferecendo serviços.

- Abertura do CNPJ:

Na manhã do dia 11 de fevereiro de 2015, abri meu cadastro de microempreendedor individual – MEI, junto a prefeitura muncipal de Bauru. Considero essa data 47


como marco inicial de outro sonho que começou a se materializar ainda na graduação: uma oficina de trabalho. Nessa oficina, trabalho em parceria com um amigo de longa data e, ao longo do tempo, adquirimos diversas ferramentas para o desenvolvimento de nossos projetos.

Com esse cadastro MEI, pude iniciar, já em 2015, os primeiros trabalhos onde forneci notas de serviço para o SESC e para a rádio 94FM. Em ambos os casos, segui trabalhando com exposições, porém no SESC, já não tinha mais o compromisso de atendimento aos escolares e o público eventual. Iniciei um novo trabalho de supervisão dos estagiários, cuidando entre outras coisas, dos agendamentos de turmas, escalas de horário e elaboração de oficinas, entre outras coisas. Além disso, essa nova função me abriu novas portas para oferecer atividades complementares para outras linguagens da programação e, consequentemente, trabalhar com um público mais diverso. Na rádio, também pude fazer visitas diferentes, pois não apenas conhecíamos a obra de artistas, como percorríamos os outros andares da rádio, conhecendo melhor seu funcionamento. 48


-Repúblicas:

As casas onde vivi e principalmente as pessoas com quem dividi o teto durante esses anos de vida universitária são fonte inesgotável de inspíração. Ao todo foram quatro casas, três mudanças, duas reformas e mais de vinte moradores em diferentes épocas que dividiram o mesmo espaço comigo diariamente. Sou extremamente grato a cada um deles, pois aprendi muito convivendo com pessoas de diferentes estados (as vezes países) e repertórios diversos. Além de conviver com estudantes do mesmo curso, tive a oportunidade de morar também com arquitetos e artistas, o que ampliou o meu repertório pessoal. Tanto no campo da arquitetura, como das artes plásticas, as influências vinham do acompanhamento de trabalhos e conversas ou então auxiliando na execução de trabalhos.

A república

também era palco de diversos tipos de experimentações, como por exemplo, a disposição dos móveis pela casa, ou mesmo o que era improvisado como mesa ou vaso de plantas. A improvisação e criatividade eram elementos fundamentais para a composição do layout da casa, bem como o estilo e a irreverência na eleição das peças. As 49


reuniões de amigos e também as festas, apresentavam novas visões através da experiência pessoal de cada um que compartilhava seus saberes comigo.

Muitas outras casas serviam de inspiração, seja na maneira como se organizavam, ou mesmo pela dinâmica que a casa estabelecia com seus visitantes. Sempre repletas de decorações e influências diversas, as repúblicas eram o ambiente mais propício para o desenvolvimento de projetos pessoais e coletivos. Enquanto estamos no lar de nossos familiares, não gozamos das mesmas liberdades de alteração do espaço ou mesmo de horários flexíveis ao nosso novo estilo de vida. Na república as regras são estabelecidas em conjunto, geralmente sem hierarquia, com todos os membros dessa nova comunidade contribuindo para uma convivência harmoniosa. Dividimos não somente o espaço físico da casa, mas também as contas, a comida, as

aflições,

angústias,

prazeres,

alegrias

e

principalmente aprendemos a nos respeitar.

Para acomodar a Oficina Desmanche, recentemente o espaço de trabalho foi organizado nos fundos da atual 50


casa, onde construímos uma bancada de trabalho, instalamos

uma

rede

de

energia

e

adquirimos

ferramentas. A ideia é de um local dedicado à pesquisa, aprendizado, experimentação e produção de projetos de design, tendo como diretrizes básicas aspectos da contemporaneidade e do design contemporâneo, a sustentabilidade, a ressignificação de objetos e suas funções, a adoção de processos híbridos (artesanais, manufaturados, e digitais,)

e o reuso de materiais

descartados e, ainda, explorar a relação design e arte. Temos como proposta também, visando uma economia sustentável, a intenção de cortar gastos para otimização de processos e recursos, encontrar novas possibilidades em meio a tantas ofertas de recursos a um custo acessível. Nossa intenção é oferecer propostas em sintonia com o design

contemporâneo, articulando

parcerias, unindo a comunidade estudantil e a cidade, inaugurando e divulgando a marca “Oficina Desmanche”. Assim a exposição “Casa Amarela” pretende abrir suas portas.

51


Figura 10. Planta baixa da exposição com seus ambientes

52


Projeto expositivo Esse texto será apresentado seguindo a sequência de composição e ordenação dos ambientes expositivos da Casa Amarela e, segundo o percurso estabelecido pela ação da curadoria.

1. Varanda: (ambientação: Coletivo Boitatá)

Na entrada da exposição será constituído um ambiente que funiconará como um hall, ou seja, um ambiente introdutório que conterá elementos que, por sua vez, irão simbolizar e exemplificar

o conceito da exposição:

Descarte,

e

criação,

reuso

ressignificação.

Essas

diretrizes se repetirão ao longo do espaço expositivo da casa

em

diferentes proporções

contando

com

a

integração da expografia e da sinalização para a identificação dos ambientes e para situar e informar os visitantes que, por sua vez, poderá percorrer os espaços expositivos

livremente, entretanto, a exposição conta

com um percurso pré-estabelecido pela curadoria do evento.

Justifica-se

a

ordem,

baseado

no

desenvolvimento das atividades do curso, ou seja, as 53


peças ganham dimensão e tridimensionalidade conforme os ambientes vão se encadeando, assim como ocorre no desenvolvimento das disciplinas e atividades ao longo do tempo de formação do estudante. Esse ambiente será composto em parceria com o Coletivo Boitatá, que apresentará uma instalação com materiais descartados.

2. Sala A: (Luminárias, som e video)

Na primeira sala, o ambiente é tomado por múltiplas cores e sons, revelando um espaço escuro e misterioso, proporcionando uma imersão na exposição. Por se tratar do primeiro ambiente expositivo, espera-se que o visitante possa de início ser consumido pelo conjunto de imagens, luzes e sons que a sala proporciona. A sala traz consigo a idéia de celebração, o espaço é inspirado nas inúmeras festas que pude participar durante a graduação. Muitas foram as vezes que uma festa mudava

todo

o

meu

paradigma

da

faculdade,

transformando minha maneira de se relacionar com as pessoas. Esses ambientes são fundamentais para a integração

e

sociabilização 54

entre

a

comunidade


estudantil, pois as celebrações sem dúvidas são o momento mais marcante dessa trajetória.

3. Hall Interno: (Quadrinhos em base de madeira com objetos cotidianos colados em sua superfície, com ganchos para pendurar na parede. Paredes com tecidos estampados e fixados por grampos)

No pequeno hall interno da casa estão pequenos quadros que mostram objetos do cotidiano, muitos deles coletados, alguns adquiridos e, atualmente, desprovidos de função. As paredes desse ambiente foram revestidas com diversos tipos de tecido para causar uma impressão mais carregada, tornando esse pequeno espaço rico em informações visuais. Esses tecidos foram presenteados por uma tia, são originalmente mostruários que, nesse espaço passam a compor um grande tecido, constituído como se fosse um patchwork grampeado. Os objetos que são apresentados fazem parte do repertório comum de todas as pessoas, podendo despertar nelas algumas memórias afetivas e múltiplas interpretações. Nota-se que a partir daí, as peças iniciam o aumento de volume, 55


assim como os trabalhos que foram desenvolvidos à partir do segundo ano.

4. Quarto:

(Quadros

maiores

com

referências

particulares do autor)

No quarto localizado no centro da casa, encontram-se obras com dimensões maiores e também consideradas as mais significativas da exposição. Parte-se da ideia de que naquele quarto, grande parte da exposição foi planejada e, por isso, deve ser visto como um ambiente ímpar. Como o quarto é um ambiente profundamente íntimo, muitas histórias estão contidas naquele espaço, e suas obras também carregam muito da personalidade do autor. É certo afirmar que as obras alí expostas trazem muitas referências particulares e relembram muitas passagens vividas na cidade de Bauru durante esses anos.

5. Sala B: (Prints emoldurados desenvolvidos a partir

de

trabalhos,

exercícios

e

projetos

desenvolvidos durante a graduação em design) 56


Na segunda sala da exposição, aqui denominada Sala A, serão apresentadas obras criadas e produzidas entre os anos de 2010 a 2016. As peças como objeto individuais se estruturam em uma composição e, ao se misturar umas as outras, formam um grande arranjo de quadros, todos

emolduradas

em

madeira

o

que

permite

estabelecer uma unidade ao conjunto. Diversas técnicas são apresentadas, tais como monotipia, esferográfica, colagem, carimbos, entre outras, todas impressas em papel glossy. Essas obras fazem referência aos primeiros

anos

de

curso,

quando

os

alunos

desenvolvem a maioria de seus trabalhos em duas dimensões.

6. Cozinha: (Instalações)

Na cozinha, as paredes são tomadas por diversos elementos, como apoiadores de copo, plantas e panelas, que formam padrões diversos, com objetos usuais.. Entende-se que nessa altura, os projetos já possuem uma escala corporal, e preenchem todo o espaço, de modo

que

esse

ambiente

de

união

torne-se

aconchegante. Nele, os elementos presentes possuem 57


uma função definida, mas são apresentados fora de contexto, servem como um ensaio do que nossa carreira propõe: Funcionalidade. As patterns servem como inspiração de muitos projetos, dada a irreverência e contemporaneidade dos projetos que desenvolvi desde então, incorporando alguns desses signos aos objetos da exposição.

7. Garagem: (Paredes de bambu e mobiliário)

Nesse espaço surgem os móveis, indispensáveis ao cotidiano

de

qualquer

casa,

muitos

deles

foram

idealizados na Oficina Desmanche como alternativa a compra de novas mobílias. Ao invés de gerar uma nova demanda, preferimos adotar uma nova prática, que foi fazer nossos próprios móveis, atendendo as nossas necessidades específicas. Utilizando materiais diversos como madeira, bambu, ferro e outros, as peças possuem um desenho único, tornando esses projetos exclusivos.

58


8. Oficina:

(Produtos

em

desenvolvimento

e

ambientação)

A oficina é a grande motivadora da exposição, pois foi nela que a maior parte dos objetos e da expografia ganhou corpo e pode acontecer. Nesse momento o ambiente de trabalho cede espaço aos lugares em que o público se acomodará durante a apresentação do trabalho. Junto a sofás, cadeiras e degraus, todas as ferramentas manuais, elétricas e alguns projetos em fase de desenvolvimento se encontram. Além de todas as ferramentas,

possuimos

uma

grande

bancada

de

trabalho, prataleiras e uma cabine de pintura feita de lona de banner.

9. Corredor Lateral externo: (Composição com diversas peças de madeira, plástico, metal e galhos de madeira + azulejos hidráulicos e quadros de tampinhas de garrafa).

No

corredor

lateral

externo,

haverá

uma

grande

composição com peças de madeira, ferro, plástico e outros, formando um emaranhado de informações 59


visuais. Além disso, estarão alguns azulejos, ladrilhos hidráulicos, fotos de ladrilhos hidráulicos registradas pela cidade e quadros com tampinhas de cerveja. Esse arranjo de diversos materiais simboliza a essência do trabalho apresentado, a mistura de formas e materiais, dando vida a materiais descartados ou sem uso.

10. Local da Apresentação: (Ambientação e parede para projeção dos slides do trabalho)

O local da apresentação contará com uma parede para projeção de slides para dar suporte a apresentação, uma mesa e cadeiras para a banca examinadora. Em outra parede, algumas referências estarão dispostas afim de formar um painel semântico, repleto de alusões do que foi pesquisado no desenvolvimento do trabalho. Essa parede de apoio serve também como meio de dar forma a bibliografia, porém de uma maneira pouco comum.

60


Gestão em Design: Oficina Desmanche

A

Oficina

Desmanche

é

um

projeto

que

foi

amadurecendo com o passar dos últimos dois anos e a obtenção de recursos para que essa vontade de trabalhar

“em

casa”

(home-office)

pudesse

se

concretizar. Instalar uma oficina nos fundos de casa sempre pareceu uma ideia formidável, pois com isso estaria evitando deslocamentos e, consequentemente, otimizando

custos, tempo

e energia.

Desde

que

estabelecemos os fundos da Casa Amarela como local de trabalho, algumas pessoas já puderam desenvolver projetos pessoais em parceria conosco. Sem incluir dinheiro como moeda de troca costumamos propor aos interessados em utilizar o espaço para que troquemos serviços, tornando a oficina mais dinâmica, beneficiando ambas as partes, no sentido da economia criativa e colaborativa.

Para esse trabalho final de graduação, além das peças que pretendo apresentar, estabeleci algumas parcerias, a partir da visão exercida por minha curadoria e, convidei 61


alguns amigos para também compor os ambientes com suas

obras.

Com

isso,

a

exposição

ganha

em

diversidade de linguagens abordadas e o público pode conferir o trabalho de mais de um expositor em uma dinâmica própria dos circuitos culturais, produtivos e econômicos

vigentes

em

espaços

alternativos

e

valorizados na contemporaneidade.

“Oficina Desmanche” é um pequeno negócio local, que apresentará a Casa Amarela em uma proposta de cunho cultural e expositiva, apresentando peças e seus autores (designers, artistas, arquitetos, profissionais de moda) em uma exposição que integra

quadros, móveis,

luminárias, brinquedos, instalações, entre outros.

62


Figura 11. Construção da bancada de trabalho

Figura 12. Oficina Desmanche em 2014

63


Figura 12. Oficina Desmanche em 2015

64


Relações com o público

Segundo nossa página no Facebook, iniciada em novembro de 2015, possuimos atualmente um público praticamente igual de homens(51%) e mulheres(49%) que curtiram nossa página. Segundo dados gerados pela própria página nosso público é composto de 21% de mulheres entre 18 e 24 anos, contra 13% de homens na mesma faixa etária. Porém, dos 25 aos 34 anos, temos 29% de nossos seguidores homens, contra 24% de mulheres. Se somados essas porcentagens, podemos concluir que cerca de 87% de nossos seguidores nas redes sociais são jovens e adultos entre 18 e 34 anos. Figura 14. Tabela de dados da página

www.facebook.com/oficinadesmanche

65


Sobre a Casa Amarela

A Casa Amarela fica na rua Manoel Bento Cruz, número 12-19, na cidade de Bauru e abriga há dois anos uma república de universitários estudantes de design. Desde o dia em que nos mudamos, já pensávamos na futura criação de uma oficina nos fundos da casa, dado o tamanho do quintal e também da casa já possuir uma cobertura

metálica,

contribuindo

para

termos

um

ambiente de trabalho externo e coberto. Além da área da oficina, a casa ainda reservava mais uma surpresa, um porão embaixo da edícula que possui o mesmo tamanho da fachada da casa, e foi pensado para estocar nossos materiais coletados, guardar insumos protegidos da umidade e dos raios solares, além de guardar nossas ferramentas elétricas com maior segurança. Esse conjunto de oficina e estoque nos proporcionou uma relação muito próxima com a casa, visto que passamos grande parte do tempo na área externa da casa. A Casa Amarela possui uma área construida e uma outra área que circunda a casa. Ao todo, são quatro quartos, sendo três internos à casa e um externo. Há um banheiro comum e uma suíte interna O quarto da edícula também 66


é uma suíte. Além disso, temos duas salas, uma cozinha, varanda de entrada, uma lavanderia interna e outra externa na edícula, há ainda o porão localizado

logo

abaixo, um corredor lateral a casa, uma ampla do garagem no lado oposto. Todos esses dez locais da casa terão uma expografia particular, que fazem referência ao percurso histórico do aluno em paralelo ao curso de Design de Produto da Unesp/FAAC, Campus de Bauru.

Para a vernissage haverá um momento reservado a apresentação do trabalho na edícula, que possui uma grande parede branca, para projeção dos slides, e posteriormente, o autor e seus convidados poderão conversar mais a respeito dos elementos expositivos e também sobre o projeto da Oficina Desmanche. Nos dias seguintes,

pequenas

alterações

serão

feitas

na

expografia para receber a loja pop-up e um bar. Os dois dias seguintes da exposição serão reservados a visitação e também a possibilidade de compra dos objetos expostos, podendo o comprador inclusive, levar o objeto para sua casa a qualquer momento, mediante pagamento em cartão ou dinheiro. 67


Projeto gráfico. Figura 15. - Cartaz de divulgação do evento no Facebook

68


Figura 16. Convite enviado aos profissionais (artistas, arquitetos, designers) interessados em participar do evento.

69


Paleta de cores

Foram escolhidas quatro cores principais (amarelo, azul, preto e branco) para nortear o desenvolvimento do material gråfico da exposição. Figura 17. Paleta de cores

70


Tipografia A tipografia utilizada nos textos apresentados na exposição é a Helvética Std Light Condensed. Já a tipografia utilizada para elaboração do logotipo Casa Amarela é a Lazy Regular. Figura18. Tipografias

Figura 19. Logo do espaço expositivo

71


Identidade da marca

O logotipo da Oficina Desmanche foi desenvolvido pelo designer Thomas Musmann utilizando uma tipografia cursiva, mesclada a outra estilizada, com quebras na palavra, retificando o conceito de fragmentação no ato de desmanchar.

Figura 20. Aplicação do logo com fundo branco e preto

72


Aplicação da marca O logotipo da Oficina Desmanche foi idealizado para ser aplicado preferencialmente monocromático, porém há também a possibilidade de utilizar outras opções de cores para criar a idéia de uma identidade menos enquadrada. O fato da tipografia estar „embutida‟ em uma silueta de placa, possibilita a adição de três cores, na tipografia, no background e também na sombra da placa, dinamizando a aplicação do logo sobre outras cores de fundo. Figura 21. Aplicação da marca em etiqueta

.

73


Figura 22. Aplicação da marca com carimbo

Figura 23. Aplicação do logotipo com variação de cores

74


Procedimentos metodológicos A exposição conta com diversas linguagens artísticas e apresenta obras entre o período de 2010 à 2016, durante os anos em que estive na graduação em Design de Produto. Entre as obras, é possível separá-las em blocos distintos,

seguindo

ordem

alfabética:

brinquedos,,

fotografia, instalação, livro oco, luminárias, mobiliário, quadros com moldura, quadros sem moldura, vasos e videoarte. Comentarei um pouco sobre os processos que deram forma as peças que integram cada nicho de produtos, além do registro fotográfico do trabalho em processo.

- Brinquedos:

Criados a partir de refugos de cortes de madeira, essas peças retomam um brincar um pouco distante do nosso tempo, onde diversas tecnologias podem cumprir essa função. Possuem formas simples, representando apenas os traços mais marcantes dos automóveis que os inspiram, como o clássico fusca, caminhões de carga e 75


um carro de corrida com piloto. Havia um conjunto de peças que possuiam dimensões não tão grandes e por isso,

poderiam

tornar-se

Figura 24. Carrinhos de brinquedo

76

brinquedos

de

madeira.


- Fotografia: Figura 25. Processo de montagem da pinhole e algumas fotos

Figura 26. Quadros com fotos tiradas em mรกquina Pinhole

77


- Instalação:

As instalações não possuem fotos, pois ainda estão em fase de desenvolvimento e estarão prontas mais próximas do dia da apresentação. Por isso, Apenas listarei os projetos que estarão presentes na exposição e sua localização na casa.

- Oficina Desmanche + Boitatá (Varanda); - Televisores (Sala A); - Video-arte de Guilherme Schnider (Sala A); - Parede coberta de mstruário de tecidos (Hall interno); - Parede com apoiadores de copo (Cozinha); - Tampas de panela (Cozinha); - Composição mista (Corredor lateral externo).

78


- Livro oco:

Livros

antigos,

possuem

um

encontrado

na

abrangente

e

como

enciclopédias

conteúdo

que

internet, dinâmica.

pode

ferramenta Os

e

dicionários

facilmente muito

ser mais

avanços tecnológicos

conseguiram comprimir o espaço através do microchip ou mesmo o armazenamento em nuvens que possibilita acesso a todo tipo de informação. Esses livros impressos geralmente possuem páginas repletas de desenhos e ilustrações, gráficos e mapas que podem ser retiradas antes de iniciar o trabalho. Para executar esse rebaixo na superfície superior até quase chegar na sua porção inferior, é necessário o uso de estilete e régua. Marcar o espaçamento que se deseja obter é fundamental para planejar

o

que

poderá

contar

esconderijo.

Se

encaixam

no

seu

perfeitamente

pequeno bem

em

prateleiras e compõem qualquer coleção de livros, tendo a vantagem de não possuir um título chamativo, eles mal chamam a atenção de suas visitas. As páginas recortadas, futuramente podem integrar outros trabalhos, não sendo necessário seu descarte de imediato, pois 79


funcionam também para fazer papel machê, ou para compor assemblages.

Figura 27. Livros e enciclopédias transformados em livros oco

- Luminárias:

As luminárias podem ser divididas em dois estilos básicos, as que remetem a rostos com grandes olhos e as com base em formato retangular simples. Possuem lâmpada de baixa voltagem, sendo ideal para dormir, ou mesmo dar uma luz difusa e mais confortável

ao

ambiente. Por serem feitas com destopo de madeira 80


maciça, são bem resistentes e possuem uma coloração escura. Todas foram pontadas e envernizadas para receberem ao final, seus plugs de tomada coloridos e acabamento para manter o bocal firme no lugar. Figura 28. Luminárias com restos de madeira

81


Figura 29. Luminรกrias com restos de madeira

82


Figura 30. Luminรกrias com restos de madeira

83


- Mobiliário: Mobília feita na oficina e para a casa, atualmente encontram-se em pleno uso pelos moradores da casa. Optamos por fazer nossos móveis ao invés de comprálos de imediato, visto que possuimos matéria prima e ferramentas capazes de executar esse tipo de projeto de maiores proporções. Figura 31. Armário de restos de madeira compensada, maciça e bambu

84


Figura 32. A) Banquinho de ferro, B) Cadeira de retalhos e C) Carretel de madeira com rodĂ­zios

A

B

C 85


A

B

C

Figura 33. A) Mesa com restos de madeira, B) Apoiador de pinus e C) Rack de madeira maciรงa

86


- Quadros com moldura:

As molduras utilizadas nesses trabalhos são em sua maioria adaptações decorrentes do acúmulo de telas de serigrafia e outros retalhos de madeira. Todas possuem penduradores, acabamento com passepartout, vidro ou telas de acetato para proteger a impressão dos raios solares, sujeiras e também de toques com as mãos na folha. Alguns foram pintados e outros tiveram suas cores originais preservadas, e todos foram envernizados para proteger a madeira do ataque de pragas. No caso das telas de serigrafia, por algumas terem grande espessura, das 9 telas que eu tinha em mãos, eu as transformei em 18, cortando-as ao meio com um arco de serra e a serra tico-tico.

Nas

demais,

quando

necessário

eram

preenchidas com massa para madeira, para esconder algumas imperfeições. Nas fotos a seguir, os quadros não estão finalizados, foi uma organização que realizei para selecionar as molduras para cada impressão.

87


A

B

C Figura 34. A) Assemblage de objetos diversos, B) Monalisa (tĂŠcnica mista) e C) Quadro de botĂľes

88


A

B

C

D

Figura 35. A) Quadro de chaves, B) Quadro de isqueiros, D) Quadro de fichas de festa e D) Colagem

89


A

B

C Figura 36. Quadros. T茅cnicas: A) e C) Hidrocor e B) Lin贸leogravura

90


Figura 37. Quadros. TĂŠcnica: Monotipia de carimbo

91


Figura 38. Quadros. TĂŠcnica: Monotipia de carimbo

92


Figura 39. Quadros. TĂŠcnicas: A) monotipia de carimbo, B) Pontilhismo, C) Nanquim e D) Monotipia

A

B

C

D

93


Figura 40. Quadros. TĂŠcnica: Monotipia de carimbo

94


Figura 41. Quadros. TĂŠcnica: Monotipia de carimbo

95


Figura 42. Quadros. TĂŠcnica: A) Monotipia, B) e C) Hidrocor e D) Colagem

A

B

C

D

96


Figura 43. Quadros. TĂŠcnicas: A) Colagem, B) e C) LĂĄpis de cor e D) Nanquim

A

B

C

D 97


- Quadros sem moldura: Suportes de madeira cortada em diversos tamanhos, de acordo com a disponibilidade dos retalhos que tinha a mão. Todos possuem prendedores de parede e foram pontados com uma base branca e depois uma base preta,

para

que

ao

final

do

trabalho,

o

verniz

proporcionasse um brilho uniforme. Esses quadros são inspirados no conceito Surrealista de objet trouvé, onde qualquer objeto, dotado de alguama qualidade estética marcante, ao ser encontrado e deslocado para o ambiente criativo do artista, poderia ser apresentado como arte. Figura 44. Banco de madeira abandonada, transformado em tipografia

98


Figura 45. Quadro com almofada de m贸vel e m茫o de manequim

Figura 46. Quadro de barquinhos de papel sobre base de madeira antiga

99


Figura 47. Quadros. TĂŠcnica: colagens com objetos encontrados e descartados

100


Figura 48. Quadros com tampas de garrafa sobre base de madeira

Figura 49. Quadros com toneira antiga, fios em base de madeira

101


- Vasos: Dois cases de instrumentos musicais encontrados próximos a nossa casa foram trazidos para a oficina inicialmente pelos seus rodízios metálicos enormes. Após a retirada dessas rodas, a estrutura retangular lateral foi preservada pela sua altura ideal para uma boa quantidade de terra. Tiveram seus pés adaptados para o escoamento de água e foram preenchidas com uma camada de manta para vaso e pedregulhos antes da adição da terra. Também contarei com a ajuda de um grande amigo que morou comigo em 2014, e atualmente produz algumas mudas em vaso no quintal de sua casa.

- Videoarte:

Três obras utilizam da linguagem audiovisual para compor o projeto expostitivo. Ficam situadas na primeira sala da casa, após o ambiente de entrada. A circunstância da luz do teto estar com defeito, inspirou a adaptação desse espaço, como o portador da video-arte, visto que o vernissage de lançamento ocorrerá a noite, proporcionando um efeito visual oportuno, dada a 102


necessidade de pouca luz para uma melhor apreensão dessa linguagem pelo público.

- Expografia complementar:

Além das peças apresentadas anteriormente, também fazem parte da expografia alguns elementos que pertencem a casa, mas que estarão mescladas junto aos ambientes da casa, dando apoio visual a algumas situações.

- Bancada de trabalho com morsa; - Bibliografia fisica (coleção de livros); - Cabides com camisetas (2); - Cadeira de papel de livro; - Cadeiras da casa (4); - Caixa de som; - Chapa triangular; - Criado mudo jornal; - Dado de espuma com tecido TNT e feltro; - Estantes metálicas (3); - Gabinete de bambu; - Geladeira azul; - Impressora; - Jacaré de madeira; - Lousa; 103


- Luminária Tulipa; - Mão de gesso; - Máscara verde; - Mesas da casa (2); - Paredes de bambu; - Placas de trânsito (3); - Plantas de plástico na janela da cozinha; - Poltrona Onda (design de Thomas Musmann); - Quadro com utensílios domésticos de cozinha; - Quadro de ferramentas; - Quadro de recados; - Quadro Monalisa; - Sofás (4); - Vasos de plantas;

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Resultados

Como

resultado

principal,

alcancei

a

produção

aproximadamente 100 projetos e peças que compõem o projeto expositivo da exposição e posteriormente estarão à venda na loja pop-up que abrirá nos dois dias seguintes à apresentação do trabalho de conclusão de curso.

Além disso, pude transformar por completo a dinâmica da casa em que vivo, propondo a promoção de um evento que tem como objetivo a divulgação da marca Oficina Desmanche e também da loja pop-up que num primeiro momento aparece com caráter experimental, podendo futuramente abrir novamente suas portas, de acordo com a receptividade do público as obras e também da parte relacionada às vendas.

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Conclusão Ao observar tudo o que tem sido produzido na Oficina Desmanche, concluo que elaboramos produtos que atendem às necessidades do contemporâneo. São peças que possuem um acabamento diferenciado, pois o fato de serem feitos feito à mão, as tornam únicas pela imperfeição. Ao contrário dos processos industriais, onde as linhas retas são alcançadas, no artesanal, há sempre alguma variação que torna seu produto exclusivo. Os materiais encontrados pelas ruas de Bauru também se mostraram muito eficientes, pois são completamente posíveis

de

serem

processados

com

nossas

ferramentas. Com isso, o investimento inicial em matéria prima é excluído, possibilitando outros investimentos, como em ferramentas ou insumos. Muito dos materials que estão no projeto expositivo foram retirados das ruas, ampliando sua vida útil e dando nova função a que possuiam anteriormente. O fato de trabalhar em casa também se mostrou vantajoso, visto que o tempo gasto em deslocamentoera gasto em horas a mais de serviço.

106


A

proposta que envolve a Oficina Desmanche, o

lançamento da Casa Amarela como espaço expositivo, a integração de um evento cultural e um evento comercial, os sistemas e propostas envolvidas na criação das peças, bem como as parcerias realizadas no sentido da economia criativa e colaborativa conferem a esse projeto as características e propostas presentes no design contemporâneo a partir do derrubar de fronteiras entre áreas, ou seja, é design unindo os segmentos de design de produto, design gráfico, design de superfície, da integração e relações estabelecidas entre o design e arte,

a

abordagem

dos

aspectos

pelo

viés

da

sustentabilidade possibilitam ao conjunto que compõem esse projeto a designação “Design Contemporâneo”.

.

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Referências

SALLES, Cecília A. Gesto Inacabado Processo de criação

MOURA,

artística.

M.

São

Design

Paulo,

Annablume,

Brasileiro

(1998).

Contemporâneo:

reflexões, São Paulo: Estação das Letras e Cores, (2014)

MOURA, M. Poéticas do design contemporâneo: a reinvenção do objeto. Anais do III Seminário Nacional de Pesquisa em Cultura Visual. Universidade Federal de Goiânia. Agosto 2010. Goiânia: Editora da UFG, (2010).

STIGGER, V. A Merzbau de Kurt Schwitters e a dimensão ritual da arte moderna, Porto Alegre, (2008). CARVALHO, A. M. Albani de, A exposição como dispositivo na arte contemporânea: Conexões entre o técnico e o simbólico, Rio Grande do Sul, (2012). TORRES, F. Lopes, Merzbau: A obra da vida de Kurt Schwitters, (2002)

108


MADDALOZZO, S. e BUDEL, M. Os novos espaços expositivos e a arte contemporânea, Bahia, (2010). COELHO, T. Por uma arte outra vez transcedental, São Paulo, (1998-1999). LITTING, S. Vieira, Reflexões sobre a apropriação de objetos na arte contemporânea, Espirito Santo, (2015). Internet: http://enciclopedia.itaucultural.org.br http://oglobo.globo.com/cultura/kurt-schwitters-inventordas-instalacoes-ganha-exposicao-4147545 http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/1225653-oexilio-de-kurt-schwitters-um-mestre-modernista.shtml http://sibila.com.br/poemas/kurt-schwitters-o-dadaistaque-era-merz/2790 http://www.jotdown.es/2013/01/merz-o-el-arte-del-todo/ http://www.franceculture.fr/emissions/les-regardeurs/lemerzbau-1920-1923-titre-original-cathedrale-de-lamisere-erotique-de http://novosestudos.uol.com.br/v1/files/uploads/contents/ 97/20080627_merzbau_a_obra_da_vida2.pdf https://vimeo.com/20245992 109


Glossário Acéquia - Canal, rego, vala por onde se derivam e levam as águas dos rios para as terras que devem regar ou para o serviço de rodas d‟água, turbinas ou outros engenhos. Apropriações – Nas artes é um termo é empregado pela história e pela crítica de arte para indicar a incorporação de objetos extra-artísticos, e algumas

vezes

de

outras

obras,

nos

trabalhos

de

arte.

Armazenamnto em nuvem – refere-se à utilização da memória e das capacidades de armazenamentoe cálculo de computadores e servidores compartilhados e interligados por meio da Internet.

Assemblages - O termo é incorporado às artes em 1953 para fazer referência a trabalhos que vão além das colagens. O princípio que orienta a feitura de assemblages é a "estética da acumulação": todo e qualquer tipo de material pode ser incorporado à obra de arte. Background - Cor, estampa ou motivo que serve de fundo a desenho, fotografia, quadro etc. Glossy – Papel utilizado em impressoras a jato de tinta. Insights - Clareza súbita na mente, no intelecto de um indivíduo; iluminação, estalo, luz. Loja pop-up – Lojas abertas por um curto período de tempo, podendo sem implementada a qualquer época do ano, geralmente são apelativas. Merz - Palavra criada pelo alemão Kurt Schwitters, do recorte de um anúncio do Banco do Comércio Alemão (Komerzbank) para designar cada um dos seus processos criativos e o seu próprio estilo. Merzbau - Uma estrutura monumental que envolvia a arquitetura da sua própria moradia em Hanover.

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Objet trouvé – “propriedade perdida”. Qualquer objeto encontrado e selecionado por um artista pelas suas qualidades estéticas. Papel machê - significa papel picado, amassado e esmagado) é uma massa feita com papel picado embebido na água, coado e depois misturado com cola e gesso. Com esta massa é possível moldar objetos em diferentes formatos, utilitários e decorativos, entre outras. Passepartout – É uma borda que contorna uma obra sobre papel ou tela quando da inclusão da moldura. Sua principal função é criar um espaço para evitar o contato do vidro com a obra de arte. Patchwork - Trabalho que consiste na reunião de peças de tecido de várias cores, padrões e formas, costuradas entre si, formando desenhos Patterns – Padrões de imagens se repetindo afim de formar uma malha desses desenhos. Pinhole – “buraco de agulha”. A técnica consiste numa maneira de ver uma imagem real através de uma câmara escura. De um pequeno orifício onde a luz é captada para dentro da câmara, e sofrendo um movimento de inversão, a imagem é projetada para a parede oposta ao orifício ao contrário. Prints – Impressão. Ready-made - Denominação introduzida por Duchamp para os objetos de consumo fabricados e produzidos industrialmente, que o artista declara como arte. Ressignificação - Método utilizado em neurolingüística para fazer com que pessoas possam atribuir novo significado a acontecimentos através da mudança de sua visão de mundo Vernissage - Inauguração de uma exposição de obras de arte.

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