VOLUME 6 - A POESIA MARANHENSE - POETAS ESQUECIDOS

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VOLUME 6 POESIA MARANHENSE/LUDOVICENSE: OS POETAS ESQUECIDOS –1900 - 1905 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SÃO LUIS – MARANHÃO 2024

Ela nasceu LEONETE OLIVEIRA Lima Rocha, em São Luís, Maranhão, em 17 de julho de 1888, filha de Gentil Homem de Oliveira e Luiza Fernandes de Oliveira. Foi Professora e Bibliotecária. Ingressou na Academia Maranhense de Letras. Residia no Rio de Janeiro, onde veio a falecer. Publicou "Flocos", "Folhas de Outono" e muitos outros. Leonete Oliveira virou nome de rua em São Luís, no bairro Cohab AnilII.

Péthion de Villar é o pseudônimo literário do médico e poeta brasileiro Egas Moniz Barreto de Aragão (Salvador, 4 de setembro de 1870 - Salvador, 18 de novembro de 1924). Filho de Francisco Moniz Barreto de Aragão (1846-1922) e Ana de Lacerda Moniz de Aragão (1850 - 1946), iniciou os estudos com uma preceptora suíça, continuando-os nos Colégios São José e Marquês de Santa Cruz.

Ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual diplomou-se em 1895. No mesmo ano, começou a lecionar francês , inglês e alemão no Ginásio da Bahia. Ainda estudante, fundou duas revistas: Revista Acadêmica e Renascença

Em 1911, passou a integrar, após concurso, o corpo docente da Faculdade de Medicina da Bahia, como professor extraordinário de História Natural Médica. Passou a professor substituto da mesma disciplina, em 1924. Lecionou, durante muitos anos, no curso de Farmácia, anexo à faculdade. Foi eleito deputado estadual, em 1921 e 1923.

No Diário de Notícias, mantinha uma coluna humanística, com o pseudônimo de Diavolina. Foi um dos fundadores da Academia de Letras da Bahia, ocupando a cadeira nº 13. Colaborou na revista simbolista Os Anais, na Revista do Grêmio Literário, na revista Brasil-Portugal[1] (1899-1914) e ainda na revista Tiro e Sport [2] (1904-1913). Foi contemporâneo de diversos grandes poetas baianos como Artur de Salles, Álvaro Reis e Pedro Kilkerry. Alguns de seus versos foram escritos em francês. Deixou extensa bibliografia científica, literária e filosófica, posteriormente relacionada no livro Breve introdução sobre Pethion de Villar, editado por seu neto, João Augusto Didier. Da sua obra poética, publicou em vida apenas um folheto com 39 páginas, sob o título Suprema Epopéia. Depois de sua morte, a viúva Maria Elisa de Lacerda Valente Moniz de Aragão (1874-1964) publicou, em Lisboa, Poesias Escolhidas (1928). Em 1975, o MEC - Conselho Federal de Cultura publicou Poesia Completa, com introdução de Pedro Calmon [3]

Obras

Poesia de Péthion de Villar

• Poesia completa, MEC- Conselho Federal de Cultura, 1978.

• Poesias escolhidas, Lisboa : Ressurgimento, 1928.

• A Suprema Epopea : synthese lyrica em 3 cantos. Bahia, 1900

• Poesias escogidas de Pethion de Villar, [S.l.] : Cooperativa Tipográfica Editora Ressurgimento, 1928. (em castelhano) Ensaios de Egas Moniz Barreto de Aragão

• Cura promta e radical da Syphilis por um novo methodo therapeutico : Memoria apresentada ao III Congresso Medico-Latino-Americano. Bahia: Lyceu de Artese Officios, 1907

• Dermatologie tropicale, Clermont [Oise] : Imp. Daix et Thiron, 1910(em francês)

• Un probléme de pathologie tropicale: le maculo, Paris : Vigot, 1911 (em francês)

• Indice de trabalhos scientificos especialmente sobre clinica dermatologica e syphiligraphica, Bahia, 1911.

• Arsenotherapia da syphilis

• Problemas de educação nacional e de instrucção publica : notas à margem da mensagem apresentada a Assemblea geral em a sua primeira reunião (7 de abril de 1921) da 16ª legislatura, pelo Exmo. Sr. Prof. Dr. J. J. Seabra, governador da Bahia. Bahia : Imprensa Offical do Estado, 1921

• Criteriologia de Reaccao de Wassermann - Apparelho de Finkelstein. Rio de Janeiro : Typ. Besnard, 1911.

• Júlio Dinis e a sua obra. Porto: Livraria Civilização, 1946 Referências

1. ↑ Rita Correia (29 de Abril de 2009). «Ficha histórica: Brasil-Portugal : revista quinzenal illustrada (18991914).» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 26 de Junho de 2014

2. ↑ Rita Correia (22 de abril de 2014). «Ficha histórica:Tiro e sport : revista de educação physica e actualidades (1904-1913)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 18 de dezembro de 2015

3. ↑ Pethion de Villar Jornal da Poesia

Bibliografia

• Almeida Gouveia, Pethion de Vilar, cavaleiro do sonho e do ideal : interpretação do simbolismo

• Veiga, Cláudio O poeta Pethion de Villar : uma figura romanesca

Francisco Cavalcanti Mangabeira (Salvador, 8 de fevereiro de 1879 - 27 de janeiro de 1904) foi um médico e poeta brasileiro. Ele nasceu em uma ilustre família baiana, sendo irmão dos políticos João Mangabeira e Octavio Mangabeira, e tio do político Francisco Mangabeira e tio avô do político Roberto Mangabeira Unger [1]

Biografia Francisco Mangabeira nasceu em Salvador, em 8 de fevereiro de 1879, sendo filho legítimo do farmacêutico Francisco Cavalcante Mangabeira e de Augusta Mangabeira. Nascido de uma ilustre família baiana, irmão do político João Mangabeira e do político e acadêmico Octavio Mangabeira, que foi inclusive governador do estado.[2] Como poeta, Francisco Mangabeira estreou com o livro de poemas simbolistas Hostiário (Salvador, 1898), ao qual se seguiram Tragédia Épica (Salvador, 1900), Visões de Santa Teresa, em Prosa, (Porto, Portugal, 1896), e, já em edições póstumas, Últimas Poesias (Salvador, 1906) e Poesias (Rio de Janeiro, 1928), reunindo seus três livros do gênero.

Realizados os estudos no curso preparatório do Instituto Oficial do Ensino Secundário, com raro brilhantismo, ingressou em 1894, com quinze anos de idade, na Faculdade de Medicina e de Pharmacia da Bahia Quando cursava o terceiro ano do curso médico, ocorreu a Guerra de Canudos, tendo se apresentado como voluntário em 27 de julho de 1897, com apenas com 18 anos, para servir no Corpo Médico do exército nas fileiras da Quarta Expedição militar contra Canudos. Trabalhou com grande patriotismo e dedicação, permanecendo no campo de batalha até o final da contenda. Terminada a refrega, regressou aos bancos acadêmicos em Salvador, diplomando-se em medicina em 18 de dezembro de 1900 com a tese "Impedimentos de Casamentos Relativos ao Parentesco".[3] Três meses depois de formado seguiu para o Maranhão, para trabalhar como médico na Companhia Maranhense, daí seguindo para o Amazonas em missão oficial. Transferiu-se para Manaus, de onde foi prestar serviços médicos no Rio Negro, Javari, Madeira e Purus Depois de ter estado em férias na Bahia, de 24 de outubro de 1902 até 2 de abril de 1903. Em nova jornada idealista, engajou-se em ações patrióticas, servindo gratuitamente, como médico do 40º Batalhão de Infantaria, no Acre, sob o comando de Plácido de Castro, campanha que teve o objetivo de incorporar aquele território ao Brasil Nessa jornada de sacrifícios, que o seu gênio patriótico e aventuroso lhe impôs nas regiões inóspitas do Acre, conquistaram-lhe os aplausos dos chefes da expedição, manifestados em honrosos ofícios e ordens do dia, publicados pela imprensa. Além dos seus excepcionais compromissos como médico gratuito das tropas brasileiras, Francisco Mangabeira travou relações intimas com os chefes revolucionários, merecendo, desta forma, a confiança de ocupar o cargo de secretario da revolução acreana.[4]

É dessa época o Hino Acreano, o seu poema mais conhecido, além das Cartas do Amazonas que escrevia como correspondente para o Diário de Notícias de Salvador. Após contrair malária, de tão gravemente enfermo é levado para Manaus em busca de tratamento. Ao sentir a extrema gravidade de seu estado, resolve retornar para a Bahia, com o diagnóstico de "polinevrite palustre".[5] Faleceu a bordo do vapor São Salvador, na rota situada entre Belém e São Luís.[6], sendo sepultado na capital maranhense.

O hino do Acre

A letra do Hino Acreano foi escrita pelo Dr. Francisco Mangabeira em 05 de outubro de 1903, no acampamento do exército de Plácido de Castro no seringal Capatará, situado acima do igarapé Distração, na cidade de Rio Branco, onde prestava seus serviços médicos. A música é do maestro amazonense Mozart Donizeti, que viveu nas cidades de Tarauacá e Cruzeiro do Sul. O legado literário

Ao desaparecer, com apenas 24 anos de idade, longe dos centros literários, Mangabeira foi imediata e injustamente esquecido. Sua obra não teve voga suficiente para afirmar seu nome de forma mais ampla. De fato, ele não poderia tornar-se um simbolista de referência, porque, embora essencialmente lírico, era de certa forma um poeta híbrido. Convertido aos protocolos correntes do Simbolismo de então, era ainda assente aos fortes resquícios românticos, tão caros aos poetas baianos surgidos após Castro Alves, a grande referência dos novos.

O poeta teve, no entanto, uma boa acolhida por parte de críticos importantes. Brito Broca[7] registra-o como um dos poetas simbolistas da revista baiana Nova Cruzada, ao lado de Pedro Kilkerry e Carlos Chiachio, este último figura de proa do modernismo baiano e mentor da revista Arco & Flexa (1928/29).

De acordo com Raimundo de Menezes, “sua poesia revela nitidamente influência simbolista”[2], mais precisamente em Hostiário. Já em Tragédia épica o acento íntimo é romântico, no tom de um romantismo às vezes devoto e, sobretudo, social, ao estilo castroalvino, quando se lança a descrever e a lamentar os sofrimentos dantescos dos soldados e dos canudenses, em versos retóricos e altissonantes.

Seu poema Tragédia Épica, sobre a Guerra de Canudos,[8] revela a influência do satanismo de Charles Baudelaire, antecipando a poesia de Augusto dos Anjos e do Surrealismo [9]

Obras

Francisco Mangabeira é autor das seguintes obras:

• Hostiário (1898)[10]

• Tragédia Épica (1900)[11][12]

• Últimas Poesias (1906)[13][14]

• As Visões de Santa Teresa (1906)

OSCAR D`ALVA - – pseud..de ANTONIO DOS REIS CARVALHO Maranhão 1874 – 1946

Extraído de SONETOS. v.1.Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, s.d. 154 p. 16,5 x 11 cm. ilus. col. Editor:

Edson Guedes de Moraes. Inclui 148 sonetos de uma centena de poetas brasileiros e portugueses. Ex. bibl. Antonio Miranda

A MENSAGEIRA – Revista literária dedicada à mulher brasileira. VOLUME II. São Paulo. SP: Imprensa Oficial do Estaddo S.A. IMESP. Edição fac-similar. 246 p. Ex. bibl. Antonio Miranda

Sempre o amor!

Onmia vincit amor et nos caedamus amori Virgilio Egloga IX

Si o grande Zeus me perguntasse um dia

Qual minha escolha, que diria quando

Me apontasse de um lado a Gloria e o Mando, E do outro alguém que eu amasse e me amaria;

Si me dissesse: «Aqui tens a Poesia

Que a tua fama irá eternisando, «Tens a Riqueza, a Gloria que inebria E alli somente um coração te amando;»

Si o velho Mytho assim fallasse, certo

Diria até aos ventos do deserto, Bradaria com todo o meu poder:

Mais que a Poesia, mais que a Gloria, um Mundo, E' ter no coração amor profundo, Amar, amar e só de amor viver!

Rio, Agosto de 1898.

Oscar d' Alva

Antonio dos Reis Carvalho é o poeta Oscar D'Alva em pseudônimo. Nasceu em São Luis, Maranhão, em 1874. Era poeta, ensaísta, teatrólogo, jornalista e professor. Faleceu no Rio de Janeiro em 1946. Editou apenas um livro, o Plenilúnios, que tenho notícias, pela Editora Laemmert, do Rio de Janeiro, em 1903, prefaciado por Arthur Azevedo.

TAUMATURGO SOTERO VAZ Poeta e jornalista. Nascido a 30 de junho de 1869, na cidade do Amarante, e falecido a 19 de maio de 1921. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade do Recife. Promotor Público das comarcas de São Paulo de Olivença e de Tefé. Juiz Municipal de Lábrea e do l9 Distrito de Manaus. Lente de Sociologia e Moral, de Economia Política e Pedagogia e de Literatura do Ginásio Amazonense. Procurador da República. Diretor da Imprensa Oficial, da Secretaria do Estado e do Teatro do Amazonas. Membro efetivo da Academia Amazonense de Letras e patrono da Academia Piauiense de Letras, cadeira n. 16, sendo seu primeiro ocupante Raimundo Zito Batista, e atual Adelmar Soares da Rocha. Pertenceu à Associação de Imprensa do Brasil. Sócio-fundador da Associação de Imprensa do Amazonas. Publicou: "Cantigas", versos, 1900; "Fé, Esperança e Caridade", poesia. Usou o pseudónimo lite¬rário de Warenka, colaborando em jornais e revistas de Manaus de 1895 a 1920. Escreveu revistas, hinos, cançonetas e poesias esparsas. Dentre as revistas: "Chico-Francisco", "Patureba", "O Trouxa", "Não Vou Nisso", "A Baratinha" e "Se a Cabouca Subé".

ANTOLOGIA DE SONETOS PIAUIENSES [por] Félix Aires. [Teresina: 1972.] 218p + VI. Impresso no Senado Federal Centro Gráfico, Brasília. Ex. bibl. Antonio Miranda

CORAÇÃO

Quando eu morrer, Virgem formosa e pura, Se acaso for o corpo meu cremado, Vai e, entre a cinza que restar, procura O coração que eu tenho em mim guardado. Vai, que hás de vê-lo, doce bem amado, Cheio de vida entre a poeira escura, Como um astro que em pleno céu nublado Surge valente e com vigor fulgura.

Hás de encontrá-lo palpitante e forte

Entre esses restos do que soube em vida Amar-te e certo o saberá na morte...

Que o coração, querida, de quem ama, Não se consome, pois é lei sabida Que a chama não consome a própria chama.

Nasceu em São Luís, a 4 de julho de 1870, e faleceu na mesma cidade, a 24 de junho de 1916. Jornalista, poeta, romancista, professor, tradutor, publicista e polemista compulsivo. Dirigiu a Biblioteca Pública, o Liceu Maranhense e a Instrução Pública. Diretor d´ARevista do Norte (1901/1906), periódico ricamente ilustrado,e do jornal A Tarde(1915/1916); colaborou em diversos outros órgãos da imprensa maranhense. Antônio Lobo é, sem favor nenhum, uma das mais importantes figuras de sua geração. Amigo da mocidade, foi o principal agitador de idéias de seu tempo e o entusiasta da renovação mental do Maranhão. Um dos fundadores da Academia, onde, curiosamente, não teve papel relevante, ali instituiu a Cadeira Nº 14, patrocinada por Nina Rodrigues.

A seguir, sua bibliografia, da qual foram excluídos os trabalhos meramente burocráticos e a copiosa colaboração em jornais e revistas.

Por sua inata capacidade realizadora e de liderança, Antônio Lobo muito contribuiu para o rompimento das amarras da “tristíssima e caliginosa noite” que se abatia sobre o Maranhão, numa fase em que as esporádicas produções “não avulta[vam] em face do que o passado produziu”.

Essa tomada de consciência foi o grande estímulo para a ação revitalizadora que se operou em nossa terra. Não se deixando vencer pelo desânimo que pudesse causar o passamento muita vez trágico e/ou prematuro de Gonçalves Dias, João Francisco Lisboa, Gomes de Sousa, Celso Magalhães, Trajano Galvão, Sotero dos Reis, Odorico Mendes, Adelino Fontoura, Gentil Braga, Henriques Leal e muitos outros, concitou os seus coetâneos, numa atitude que me faz recordar Rainer Maria Rilke: “Para os criadores não há pobreza nem lugar pobre”.

Com a efetiva participação de Antônio Lobo, o Maranhão foi sacudido de sua letargia, para a grande ressurreição espiritual que nos deu os Novos Atenienses.

Foi, assim, um verdadeiro agitador de idéias, impelido pela “temperatura moral” de que fala Taine, a quem Antônio Lobo, em seu mencionado livro contesta, arrimado a Adolphe Coste. Com efeito, não se pode negar validade à assertiva de Taine, segundo a qual “o grau seguinte tem sempre por condição o precedente e nasce de sua morte”.

Parece não haver dúvida de que, em termos de obra literária pessoal, bem mais avultada e substancial poderia ter sido a contribuição do autor de A carteira de um neurastênico. Talento e cultura não lhe faltaram. Lobo, entretanto, no exercício da liderança de seu grupo, teve que incluir forçosamente na rotina de seu labor intelectual, atividades mais de impacto que de profundidade. Foi, como vários outros intelectuais desta província de letras, um homem que se gastou e desgastou no periodismo. Aí se explica a profusão de jornais e revistas de que participou ativamente, e as polêmicas ruidosas em que se envolveu. No jornalismo diário despendeu energias, mantendo uma evidência (necessária à sustentação de sua luta restauradora) que muito perderia com o fluir do tempo.

Certamente não seria descabido presumir que nos dias imediatamente anteriores ao de sua morte trágica, tivesse palavras mais amargas que as de Teófilo Gautier, também, como Antônio Lobo, herói e mártir do periodismo.

Ao que até aqui ficou dito, sirvam de fecho, como norte programático, estas sugestivas palavras de Antônio Lobo: “Para que do máximo brilho e esplendor se revista sempre a reputação intelectual da terra que nos serviu de berço e onde sempre temos vivido, terra a que, igualmente, se vinculam os maiores penhores do nosso afeto de homem e os mais fortes estímulos da nossa modestíssima atividade mental”.

Rodrigues, Theodoro, 1873-1912 - Retratos

THEODORO RODRIGUES Nasceu no dia 16 de junho de 1873, em Vigia, Estado do Pará, e faleceu em Belém, em 1913. Entretanto, passou a vida no Amazonas, estado em que teve grande vivência profissional e literária. A maior parte de sua produção se encontra dispersa (e talvez perdida) nos jornais do período.

Obra poética: Canções do Norte (1909);

POESIA E POETAS DO AMAZONAS. Organizadores: Tenório Telles Marcos Frederico Krüger. Manaus: Valer, 2006. 326 p. Ex. bibl. de Antonio Miranda.

M O N J A

Essa que foi outrora tão formosa dama de olhar sereno e iluminado, essa deixara a vida tormentosa por um triste convento abandonado.

E à noite, quando a lua misteriosa vai pelo azul sereno e constelado, a débil voz de sono Dolorosa plange, como um gemido entrecortado.

É que no exul da pálida clausura há uma pungente história de amargura que o coração de sóror vai fanando.

... Noivos... morreu o noivo amado. Agora a monja triste, em desespero, chora, um retrato de lágrimas banhando...

(In: LINS, Seleta literária do Amazonas, p. 62)

A FESTA DO CAIUM*

No espaço o maracá selvagem chocalhando, No terreno da taba em círculo formada,

A cabilda** feroz, em festa vai cantando Os feitos geniais da prole antepassada.

A um canto, triste e só, aquela cena olhando, Co´a forte "mussarana"*** ao poste acorrentada, A vítima infeliz sente que vai chegando O momento fatal de ser sacrificada.

E no auge do festim avança hora suprema!

Enraivecido, o algoz, vibrando a tangapema****, Tomba a vítima... o sangue, em jorros, espadana.

E naquele furor os membros espedaçam...

Deitando-os no "bucan"***** as velhas esfumaçam E a rir vão banquetear-se em rubra carne humana.

(In: KRüGER. Introdução à poesia no Amazonas, p. 141)

EUSTÁQUIO DE AZEVEDO José Eustáquio de Azevedo, Pará, 1867 – 1943.

SONETOS V.2. Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, s.d p. 151-302. 16,5 x 11 cm. ilus. col. Editor Edson Guedes de Moraes. Inclui poetas brasileiros e de outras nacionalidades. Edição artesanal, tiragem limitada. Ex. bibl. Antonio Miranda

A UMA CORTESÃ

A luz do teu olhar que audaz cintila, iluminou minh´alma enregelada, naquela noite olente e constelada em que me viste, em que eu te vi, Dalila!

Tinhas da Vésper que céu rutila, o fulgurante brilho e a graça iriada!... E eu, ao te ver assim, bela, adorada, oh! como te estimei, mulher d´argila!

No coração, porém, só tinhas... lodo! O meu amor arrefeceu de todo... E ao saber que, sem pejo, te vendias,

eu também te comprei! Paguei-te à vista e saí enojado da conquista trescalando ao perfume das orgias!

JONAS DA SILVA (1880-1947)

Jonas Fontenelle da Silva (Parnaíba, 17 de dezembro de 1880 Manaus, 5 de junho de 1947) foi um poeta brasileiro. Nasceu na cidade de Parnaíba, Estado do Piauí, filho do Dr. João Antônio da Silva e de sua esposa,D. Firmina Fontenelle da Silva. Iniciando as primeiras letras em sua cidade natal, aos 11 anos de idade mudou-se com a família para o Amazonas, onde prosseguiu em sua formação intelectual. Mais tarde,ingressou na Faculdade de Odontologia de Salvador,na Bahia, de onde muda-se para a do Rio de Janeiro,diplomando-se em 1899. Durante a sua estada em Salvador, conheceu o escritor João da Silva Campos e juntos foram os precursores do movimento simbolista baiano, iniciado em 1898. Com outros poetas do movimento, idealizou, fundou e manteve a sociedade literária Nova Cruzada, em cuja revista colaborou com a publicação de várias poesias. Em 1900, já morando no Rio de Janeiro, conheceu o poeta Bernardino Lopes e por meio deste, que era bastante influente na época (um dos fundadores da Folha Popular ao lado de Cruz e Sousa), publicou Ânforas, seu primeiro livro de versos. Lopes, apreciando a obra, se dispôs a prefaciála. Dois anos depois, pela mesma tipografia publicou seu segundo livro de poesias, Ulanos. Anos mais tarde fixou residência definitiva em Manaus, onde publicou, em 1923, Czardas, seu terceiro e último livro, pela tipografia da revista Cá e Lá. Nessa mesma revista contribuiu por vários anos como colaborador em paralelo à sua carreira de dentista. Após aposentar-se como funcionário do Instituto Benjamim Constant,de Manaus, passou a dirigir uma empresa cinematográfica, vindo a falecer em 5 de junho de 1947, aos 66 anos de idade.

Foi membro efetivo da Academia Amazonense de Letras,cadeira 18 e da Academia Piauiense de Letras, cadeira 24. Seu livro de estreia, Ânforas, traz na abertura um soneto impresso em vermelho, e as demais composições em cor de sépia. No prefácio Bernardino Lopes escreveu: "... terei mesmo a ousadia de dizer que você procura para dourar os seus sonetos a mesma pamponilha usada nos meus", assinalando, assim, a influência que os seus versos exerciam sobre a poética do jovem artista.

A libertação em relação à influência de Lopes sucede no segundo livro de Jonas da Silva, Ulanos, onde passa a compor versos alexandrinos, embora mantivesse fervorosa admiração pelo "Mestre dos Brasões". Em seu terceiro livro, Czardas, homenageia-o com um soneto intitulado "O Mestre". Jonas da Silva foi um poeta de transição, como Oscar Rosas e Henrique Castriciano.

SILVA, Jonas da. Czardas. Organização de Tenório Telles. 2ª. Edição revista. Manaus, AM: Editora Valer, 1998. 235 pp. (Série Coleção Resgate, 4) 15x23 cm. Estudo crítico por Antonio Paulo Graça. Capa Álvaro Marques. ISBN 85-86512-02-8 Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Vasconcelos.

FAC ET SPERA

Faze e espera, é a divisa de esperanças

De alguém que ainda na vida tudo espera E ainda crê nalgum sonho e na quimera, Dando ouvido às baladas e às romanças... Fac et spera! e a fabricar faianças

Levei a minha louca primavera; E às festas de Amatonte e de Citera

Jarras enviei de todas as nuanças...

Tarde depois, as forças combalidas, Vejo-as no chão, desiludido quase, Jarras, crateras e ânforas partidas "Venho agora concluir a antiga frase: Fac et spera... o Sofrimento e a Morte!"

AVES

No meu pomar, cercado de alto muro, Entre os galhos e as frondes do arvoredo, Gosto de ver pousar o passaredo:

0 verde, o azul, o branco, o de ouro e o escuro.

Sei que o fruto lá em cima está maduro

Pelo chilreio que ouço, manhã, cedo...

Ó galo-da-campina leve e ledo,

Gostas de passar bem, como Epicuro!

Eu sei que tens feitiço e tens prestígio

Mas... entre vós, só a rapina é vezo.

Há quanto tempo usas barrete frígio?

- Ó trovador divino, ó chico-preto, Tanto hás de me roubar que um dia, preso, */Vivo, a cantar te ponho num soneto!...

BERTHOLETIA EXCELSA

Se há uma árvore feliz, decerto é a castanheira:

No bosque ela resplende alta e dominadora.

A árvore da balata essa é tão sofredora, Inspira compaixão a hevea, a seringueira!

Ela sozinha é um bosque e enche toda a clareira...

No ouriço a natureza o seu fruto entesoura

E a colheita presente e a colheita vindoura

Ei-las todas na fronde augusta e sobranceira.

Na casca não se vê sinal de cicatrizes,

De feridas cruéis por onde escorre o látex...

No seu orgulho é assim como as imperatrizes!

Se a posse é disputada entre explosões de nitro,

Na luta em que se queima a pólvora aos arráteis, O fruto é quase o sangue: é negociado a litro!

ANTOLOGIA DE SONETOS PIAUIENSES [por] Félix Aires. [Teresina: 1972.] 218 p. Impresso no Senado Federal Centro Gráfico, Brasília. Ex. bibl. Antonio Miranda

CORAÇÃO

Meu coração é um velho alpendre em cuja

Sombra se escuta pela noite morta

O som de um passo se o gonzo de uma porta

Que a umidade dos tempos enferruja.

Quem foi passando pela estrada torta

Que leva ao alpendre, dessa estrada fuja!

Lá só se encontra a fúnebre coruja

E a dor, que a prece ao caminhante exorta.

Se um dia, abrindo o casarão sombrio, Um abrigo buscando contra o frio E entrasses, doce criatura langue,

Fugirias tremente, vendo a um lado

A crença morte, o sonho estrangulado

E o cadáver do amor banhado em sangue!

DAMASCENO VIEIRA ( Brasil – Rio Grande do Sul ) (1853) Arnaldo Damasceno Vieira foi poeta e engenheiro militar (no Rio Grande do Sul), autor de "Baladas e Poemas".

Nasceu em Porto Alegre, RS, em 6 de março de 1853, e faleceu em Salvador, BA, em 6 de abril de 1910. Filho de José Vieira Fernandes e Belmira Vieira do Nascimento. Cursou a Escola Normal de sua cidade natal, mas não seguiu a carreira do magistério Foi empregado na Tesouraria da Fazenda do Rio Grande do Sul, como segundo-escriturário na Mesa de Vendas Gerais de Pelotas; como administrador, passou a servir como primeiro-escriturário na Alfândega de Porto Alegre. Sua produção como poeta, contista, teatrólogo e memorialista é extensa. Como jornalista, colaborou em numerosas revistas e jornais, não apenas do Rio Grande Sul. Pertenceu ao Partenon Literário do Rio Grande do Sul. Foi sócio correspondente da Associação dos Homens de Letras do Brasil, desde a fundação em 1883. Em 1890 foi eleito sócio correspondente do IHGB. Publicou: Ensaios Tímidos (poesias), P.A., 1872. – A Musa Moderna (poesias), P.A., 1885. – Hino Revolucionário Riograndense (música) 1835. – A Nova Geração: os alunos do Ateneu Brasileiro (composição poética), RJ, 1892. – Ensaios Literários, P.A. – Vingança do Quero-Quero (entre – ato cômico em versos), 1876. – História de um amor (narrativa), P.A., 1890. – A Jangada (conto) – Anuário do O Rio Grande do Sul, P.A., 1885 – Arnaldo (drama), 1886. – Memórias – A Família Pascoal (opereta ítalo-brasileira), 1893 (tem por assunto a colonização italiana). – Os gaúchos (comédia), P.A., 1891 – A Critíca na literatura (ensaios), Salvador, 1907. – A Voz de Tiradentes (cena dramática com uma apoteose à República), P.A., 1890. Seu livro de viagem no Rio da Prata abriu-lhe as portas do IHGB. Nasceu em Porto Alegre, RS, em 6 de março de 1853, e faleceu em Salvador, BA, em 6 de abril de 1910. Filho de José Vieira Fernandes e Belmira Vieira do Nascimento. Cursou a Escola Normal de sua cidade natal, mas não seguiu a carreira do magistério. Foi empregado na Tesouraria da Fazenda do Rio Grande do Sul, como segundo-escriturário na Mesa de Vendas Gerais de Pelotas; como administrador, passou a servir como primeiro-escriturário na Alfândega de Porto Alegre. Sua produção como poeta, contista, teatrólogo e memorialista é extensa. Como jornalista, colaborou em numerosas revistas e jornais, não apenas do Rio Grande Sul. Pertenceu ao Partenon Literário do Rio Grande do Sul. Foi sócio correspondente da Associação dos Homens de Letras do Brasil, desde a fundação em 1883. Em 1890 foi eleito sócio correspondente do IHGB. Publicou: Ensaios Tímidos (poesias), P.A., 1872. – A Musa Moderna (poesias), P.A., 1885. – Hino Revolucionário Riograndense (música) 1835. – A Nova Geração: os alunos do Ateneu Brasileiro (composição poética), RJ, 1892. – Ensaios Literários, P.A. – Vingança do Quero-Quero (entre – ato cômico em versos), 1876. –História de um amor (narrativa), P.A., 1890. – A Jangada (conto) – Anuário do O Rio Grande do Sul, P.A., 1885 – Arnaldo (drama), 1886. – Memórias – A Família Pascoal (opereta ítalo-brasileira), 1893 (tem por assunto a colonização italiana). – Os gaúchos (comédia), P.A., 1891 – A Critíca na literatura (ensaios), Salvador, 1907. – A Voz de Tiradentes (cena dramática com uma apoteose à República), P.A., 1890. Seu livro de viagem no Rio da Prata abriu-lhe as portas do IHGB.

Biografia e imagem:

ALBATROZES

Ou sobre as ondas do alto mar, flutuando, Balouçantes, em sonhos, em cismares, Ou sobre as nuvens revolvendo os ares, Sem receio do ciclone formidando,

De penas alvas, misterioso bando

De albatrozes, transpondo os grandes mares, De encontro aos ventos, suplantando azares, Vão ignoradas plagas demandando...

Deixai-os voar, em plena liberdade,

Ou rente ao mar ou na suprema altura, Sumidos na azulina imensidade.

No dilatado voo indefinito, Eles aspiram, como ideal ventura, Ir pousar nas paragens do infinito.

AO POETA

Sofre! É lei natural: a dor nos retempera;

Ao choque da emoção, o sangue se acelera E imprime à fronte em fogo o lampejo febril.

Sofre a atroz aflição com ânimo viril.

Bem como um reverbero a concentrar no seio

Irradiações do sol que o sofrimento alheio

Bata em teu coração e se converta em luz.

Canta! E a tua voz que inflamada seduz Espalhe à multidão, como urna suave essência, Bondade, amor, poesia, a florir a existência.

Canta o Belo que vês em tocante esplendor, O sorrir infantil, o desbrochar da flor, A prece, na mudez eloquente do pranto, O mistério-mulher de indefinido encanto, O mistério da seiva em contínuo vaivém, O sonho, a vida, a luz, o mistério do Além, O murmurar do rio, o vozear da floresta, Dos ninhos, a oscilar, a pipilante festa, Da invisível monera o estremecer vital E o eterno evolver do mundo sideral.

Quando a morte, por prêmio ao teu apostolado, Conceder-te repouso ao coração cruciado, Encara-a sem temor, pois não é ela um fim. A campa é para nós um novo camarim De mutações; a vida assume nova forma. Não se destrói o corpo, apenas se transforma. A alquímia subterrânea opera outro existir No ar, ou no perfume, ou na flor a sorrir, Ou no éter, a flutuar imponderável...

PUJOL, Hippolyte. Anthologia des Poètes Brésiliens. Preface de M. do Oliveira Lima de L´Académie Brésilienne. São Paulo: 1912. 223 p.. PUJOL, Hippolyte.

TOILETTE DE FIANCÉE

Je veux te donner une robe

De la mousseline de l´air, Elle sera de la couleur de l´aube, Couleur d´un virginal bleu clair.

Pour la broder, j´irai ma chère, Emprunter quelques rayons d´or Au foyer du soleil que nou éclaire: Toilette digne de ton corps.

La jupe est de fine dentelle, De blanche dentelle des mers, Et le corsage est de ue éternelle Qui se balance dans les airs.

C´est la robe de fiancée

Que tu vas recevoir de moi, Et le atours, à l´Aurore, ó Dircée, J´irai les dérober por toi.

Des plus belles fleurs naturelles

Je veux préparer de mes mains

Bouquet des fleurs que brillent les plus belles Dans le polus beau de nos jardins.

Pour ta guilande virginale

J´aurai les étoiles deu ciel, O ma Dircée, et pour tisser ton voile, De lune un rayon inmmortel.

Et por les fêtes nuptialess

Viendra le plus beau des atours: Des brodequins coupés sur deux petals De fleur, coupés par les Amours. Quand nous marcherons ver l´église, Suivis de longue procession, La foule em choeur, de Beauté surprise, Dira: “Quelle heureuse union!”

Dans ce plus beau Jour de ma vie, Du temple en suivant le chemin, Tu pourras voir se flétrir tous d´envie Le lis, la rose et le jasmin.

Oui, ta robe de fiancée

C´est moi que veux te la donner:

J´irai moi que veux te la donner:

L´or du soleil pour la broder!

Imagem: http://www.academiamaranhense.org.br

JOÃO DE DEUS DO RÊGO Nasceu em Caxias, Maranhão, a 22 de novembro de 1867 e faleceu a 30-6-1902, em Belém do Pará – Primeiras Rimas, 1888, Últimas Rimas, 1905 e Numa Pétala de Rosa publicados postumamente. Deixou esparsos, em revistas e jornais dezenas de poemas, contos e fantasias.

RAMOS, Clovis, org. Minha terra tem palmeiras... (Trovadores maranhenses) Estudo e antologia. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1970. Ex. bibl. Antonio Miranda

Voltou... E tal como outrora nos meus sonhos ainda vejo:

Nos olhos a mesma aurora!

Nos lábios o mesmo beijo!

Traz na trança o odor da murta, do trevo e do resedá...

Já não usa a saia curta.

Oh! como crescida está!

Sob a leve musselina

ouço-lhe o seio a bater...

Como eu quis bem à menina!

Oh! como adoro a mulher!

Não sei o que sinto ao vê-la dentro em minh'alma ansiosa, com seus lampejos de estrêla, com seus perfumes de rosa!

E fala: a fala me encanta!

Olha: que imenso fulgor!

Aquele vulto de santa tem graças de beija-flor. E vem, ó formosa louca, mãe da minha inspiração, tercetos de ouro na boca e rimas em turbilhão

Dos seios tem espelhando essa ventura sem par

da noiva bela ajoelhando no sopedâneo do altar.

Aquela que tanto amavas, dona dos olhos risonhos, é quem à noite enviavas a loira tribo dos sonhos.

Já voltou... Voltou agora, ei-la aqui... eu bem a vejo!

Nos olhos a mesma aurora!

Nos lábios o mesmo beijo!

João de Deus do Rego (Caxias, 1867 -Belém, 1902) foi um poeta, advogado e jornalista maranhense. É patrono da cadeira nº 34 da Academia Maranhense de Letras, tendo como fundador A. Serra de Castro.[1]

Foi uma grande influência para o poeta Lívio Barreto, um dos principais nomes do simbolismo no Ceará.

Obras

N'uma petala de rosa (1888)

Primeiras Rimas (1888)[2]

Últimas Rimas (1905)

Sonetos Maranhenses (1923, antologia

António Gomes Leal foi um importante poeta e crítico literário português, nascido em junho de 1848 e que faleceu em janeiro de 1921. Sua obra poética insere-se nas correntes ultrarromântica, parnasiana, simbolista e decadentista, que floresceram em Portugal a partir de meados do século XIX.

António Gomes Leal, a despeito de sua extensa contribuição em um grande número de periódicos portugueses, chegou a passar fome e é dito que viva da caridade alheia, havendo em Portugal um apelo público feito por alguns escritores, já no final de sua vida, para que o Estado lhe concedesse uma pensão o que efetivamente ocorreu. Sua obra mais conhecida é, talvez, O tributo de sangue, mas tanto sua obra poética, quanto sua obra crítica, foram muito apreciadas pelas gerações que se lhe seguiram.

António Duarte Gomes Leal (Lisboa, 6 de junho de 1848 29 de janeiro de 1921)[1] foi um poeta e crítico literário[2] português. Vida e obra Nasceu na praça do Rossio, freguesia da Pena, em Lisboa, filho natural de João António Gomes Leal (m. 1876), funcionário da Alfândega, e de Henriqueta Fernandina Monteiro Alves Cabral Leal. Frequentou o Curso Superior de Letras, mas não o concluiu, empregando-se como escrevente de um notário de Lisboa.[2] Durante a sua juventude assumiu pose de poeta boémio e janota, mas, com a morte da sua mãe, em 1910, caiu na pobreza e reconverteu-se ao catolicismo.[3] Vivia da caridade alheia, chegando a passar fome e a dormir ao relento, em bancos de jardim, como um vagabundo, tendo uma vez sido brutalmente agredido pela canalha da rua. No final da vida, Teixeira de Pascoaes e outros escritores lançaram um apelo público para que o Estado lhe atribuísse uma pensão, o que foi conseguido, apesar de diminuta. Foi um dos fundadores do jornal "O Espectro de Juvenal" (1872)[2] e do jornal "O Século" (1880),[2] tendo colaborado também na Gazeta de Portugal,[2] Revolução de Setembro[2] e Diário de notícias [2] Tem ainda colaboração na revista ilustrada Nova Silva [4] (1907) e outras publicações periódicas, nomeadamente: a Revista de arte e de crítica [5] (1878-1879), O Berro [6] (1896), Branco e Negro [7] (1896-1898), Brasil-Portugal[8] (1899-1914), A Corja [9] (1898), Galeria republicana [10] (1882-1883), A imprensa (1885-1891), Jornal de domingo (1881-1888) A leitura (1894-1896), A

Mulher [11] (1879), As Quadras do Povo [12] (1909), Ribaltas e Gambiarras [13] (1881), O Thalassa (19131915), Argus [14] (1907), O Xuão [15] (1908-1910), Lusitânia [16] (1914), Revista de turismo [17] iniciada em 1916, no periódico O Azeitonense [18] (1919-1920) e no jornal Miau![19] (1916). A sua obra insere-se nas correntes ultraromântica, parnasiana, simbolista e decadentista

Gomes Leal caricaturado por Rafael Bordalo Pinheiro

Em 1933 a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o poeta dando o seu nome a uma rua no Bairro do Arco do Cego, freguesia do Areeiro [20]

Bibliografia activa

A Fome de Camões: Poema em 4 cantos (1870) (eBook)

O Tributo do Sangue (1873)

A Canalha (1873)

Claridades do Sul (1875) (eBook)

A Fome de Camões (1880)

A Traição (1881)

O Renegado: A Antonio Rodrigues Sampaio, carta ao velho pamphletario sobre a perseguição da imprensa (1881) (eBook)

A Morte do Atleta (1883) (eBook)

História de Jesus para as Criançinhas Lerem (1883)

O Anti-Christo (1884)

Troça à Inglaterra (1890)

Fim de um Mundo (1899)

A Morte do Rei Humberto (1900)

O Jesuíta e o Mestre Escola (1901)

A Mulher de Luto (1902)

Serenadas de Hylario no Ceo

Senhora da Melancolia (1910)

Hino Pátria,letra de Gomes Leal e música de Alfredo Keil

O velho palácio.

Bibliografia passiva

Nemésio, Vitorino: Destino de Gomes Leal

Nunes Claro Nasceu a 1878 (Lisboa) Morreu em 1948 (Sintra)

Joaquim Nunes Claro Joaquim Nunes Claro, foi um médico e escritor português. Como médico trabalhou, durante a I Guerra Mundial no hospital militar em Hendaia. Nascimento: 20 de abril de 1878 Falecimento: 4 de maio de 1949

SILVEIRA NETO (1872-1942)

Manuel Azevedo da Silveira Neto nasceu em Morretes, Paraná, em 4 de novembro de 1872 e, após 1879, morou em Curitiba. Iniciou e interrompeu o curso de humanidades, para estudar gravura e desenho. Cursou a Escola de Belas-Artes de Curitiba, sem realizar o sonho de chegar à Academia de Belas-Artes, do Rio. Ingressou, por concurso, na Fazenda Federal, em 1891, iniciando carreira de dignidade e zelo. Casouse em 1893 e viveu passagens dolorosas com a morte de cinco filhos. Integrou o grupo Cenáculo. Em 1901 publicou Luar de hinverno. Falecido E. Perneta, foi proclamado "príncipe dos poetas paranaenses". Faleceu no Rio de Janeiro em 19 de dezembro de 1942.

Para Tasso da Silveira (1967, p. 27/33), o poeta foi "uma espécie de exegeta das ruínas, da morte, do silêncio, como foi em toda a sua vida o homem dominado pela dor de viver." E sintetiza: ''A feição primavera! deu-nos Emiliano Perneta, com a sua poesia coruscante de sol e ébria do sentimento pagão da vida. O desértico recolhimento do inverno foi que sobretudo se condensou no canto de Silveira Neto, embora também nele a primavera por vezes irrompa triunfante".

Poemas extraídos da obra SIMBOLISMO / seleção e prefácio Lauro Junkes. Sâo Paulo: Global, 2006. 152 p. (Coleção roteiro da poesia brasileira0 ISBN 85-260-1147-2

ANTÍFONA

Noite de inverno e o céu ardente de astros, Com a alma transfigurada na Tortura, Olhava estrelas, eu, crendo-as, em nastros, Almas cristalizadas pela Altura.

Frio da noite é o pólo em que o uivo escuto

Do urso branco do Tédio, em brumas densas;

É bar glaciário que nos vem do luto

Da avalanche de todas as descrenças.

A noite é como um coração enfermo; Rito de almas de maldições cobertas.

Alma que perde a fé muda-se em ermo, Ermo de tumbas pela vida abertas.

Esse "réquiem" da Cor pelo ar disperso

Como que encerra, num delírio infindo, Todo o soluço extremo do Universo, Num concerto de lágrimas subindo.

É cenário do Fim que atroz se eleva

Desde que ao Nada o coração se acoite; Pois, como o dia cede o espaço à treva, Fecha-se a Vida nos portais da noite.

Se vem a noite num luar acesa, Lembra uma cruz coberta de boninas;

A luz da lua é triste, que a tristeza

É o sagrado perfume das ruínas.

É uma prece o luar, prece perdida

Por noite afora, em lívida cadência, Como cada sorriso em nossa vida Planta a cruz da saudade na existência.

Era de estrelas um enorme alvearco

A cúpula celeste escura e goiva;

E a Via-Láctea se estendia em arco, Branca e rendada como um véu de noiva.

Depois gelada abrira-se, e na extrema

Nevrose eu vi formarem-se, de tantos

Astros, as duas páginas de um poema

Em que eram cor de lágrimas os cantos.

Cantavam as estrelas. Coros almos

O espaço enchiam de um rumor contrito

E histérico, a fundir astros em salmos, Parecia rezar todo o Infinito.

No êxtase que os páramos outorgam

Aos visionários, eu surpreso via Que, céus afora, como a voz de um órgão, A salmodia d'astros prosseguia.

Erma de risos e de majestades.

Porque as estrelas são os magnos portos

Onde ancorou com todas as saudades

A dor de tantos séculos já mortos.

Desde Valmiki e Homero esses profetas

As intangíveis amplidões cerúleas

Ouvem, sangrando, a queixa dos Poetas, Como um cibório de canções e dúlias.

Ermas de tudo que não fosse a mágoa, As estrelas formavam o Saltério

Num brilho aflito de olhos rasos de água ... E pelo espanto entrei nesse mistério:

Eis que um Visionário do Supremo Ideal, ansioso de Azul e de infinito, (Da ânsia de Azul que teve o Anjo Maldito Após o castigo extremo)

E fatigado do torvo mundo espalto, Onde a alma se nos vai muito de rastros, Pôs-se a evocar a Paz Eterna do Alto; Falou-lhe então a música dos astros:

Luar de inverno e outros poemas (1901)

LITANIAS

O mesmo céu-que nós olhamos, olho: Mundos gelados de saudade; admire-os A alma que tenha, abrolho por abrolho, Toda a loucura e todos os martírios.

Jorro de pranto com que os versos molho, A Via-Láctea é um desfilar de círios.

Quanta tristeza para os céus desfolho Na doida orquestração dos meus delírios! ...

E vou seguindo a ver, pela amargura, Que as estrelas são lágrimas da Altura, Ardendo como os círios dum altar.

Nada mais resta: e a vida, fatigada, De no meu corpo ser tão desgraçada, Foge-me toda para o teu olhar.

Ibidem

A LUA NOVA

A Nestor Victor

No silêncio da cor, treva silente Abriu-se a noite mádida e sombria, Logo que o Sol, rezando: Ave, Maria ... Fechou no Ocaso as portas de oiro ardente.

A terra, a mata, o rio, a penedia. Tudo se fora pela treva e, rente Ao céu, ficou a lua nova algente, Como um sonho esquecido pelo dia.

Ela assim foi: morreu; desde esse instante Pálido e frio, como a lua nova, Ficou-me entre as saudades seu semblante.

Mas, ouve: quanto mais doida cresce

A noite que me vem da sua cova, : Mais branca e inda mais fria ela aparece.

Ibidem

CANÇÃO DAS LARANJEIRAS

Laranjas maduras, seios pendentes pela ramada, apojados de luz,

Que é das orinhas-nevadas e débeis, caçoulas de incenso que o aroma produz?

Se elas recendem o ar todo se infla num esto de gozo, nas frondes do vai,

Como se andasse o Cântico dos cânticos abrindo-se em beijos no laranjal.

São elas o sonho da árvore em festa pensando no fruto, que é todo sabor;

Assim a grinalda que enfiaram, das noivas, é a aurora do dia mais claro do amor.

Infância, candura da estréia longínqua, luz tênue que flui das auras do céu.

Depois do primeiro amor, o remígio do sonho mais puro a que a alma ascendeu.

De sonho, bebido em taças que lembram aquela de lavas, que um dia o vulcão

moldara em Pompéia, num seio de virgem, talvez em memória de algum coração.

José Américo Augusto Olímpio Cavalcanti dos Albuquerques Maranhão Sobrinho (Barra do Corda, 20 de dezembro de 1879 Manaus, 25 de dezembro de 1915) foi um escritor e jornalista brasileiro, fundador da Academia Maranhense de Letras[1]

Luiz Demétrio Juvenal Tavares, 1850 - 1907

Luiz Demétrio Juvenal Tavares nasceu em Cametá, a 21 de junho de 1850. Poeta e jornalista de grande talento. Publicou várias obras de expressivas sensibilidade poética e artigos de vigorosa combatividade na imprensa. Deixou os livros em versos “Pyrilampos” (1877), “Paraenses” (1877), “Viola de Joana” (1887), “Versos Antigos e Modernos” (1889) e os livros de contos “Vida na Roça”, “Casos e mais casos”, “Serões de Mãe Preta“, além de “Musa Republicana”.

Joaquim Nunes Claro - Joaquim Nunes Claro, foi um médico e escritor português. Como médico trabalhou, durante a I Guerra Mundial no hospital militar em Hendaia. Nascimento: 20 de abril de 1878 Falecimento: 4 de maio de 1949

Mal saía da adolescência quando começou a chamar a atenção por versos dispersos, nomeadamente na revista D. Quixote, animada por Leal da Câmara. É certo que não revelavam ainda grande qualidade; mas eram primícias que dissentiam dos esteticismos desse fim de século, subvertiam por vezes a enfática figuração convencional do Poeta e, um tanto à maneira de Raul Brandão, estendiam a ironia ao próprio auto-retrato clownesco; por outro lado, descomediam-se na indignação perante a morte de Maceo, herói da independência cubana. O livro Charcos, então anunciado, nunca chegou a sair. Mas, no início do século XX, Nunes Claro dava sequência às promessas juvenis, tornando-se figura de proa da corrente vitalista e Jacobina então hegemónica no neo-romantismo: colabora na Revista Nova (1901- 1902), na Arte & Vida (1904- 1905) e noutros periódicos afins; anima na sua casa da Rua de S. Marçal o cenáculo «Clárea», onde se reúnem nomes proeminentes daquela corrente (João de Barros, Sílvio Rebelo, Mayer Garção, Ernesto da Silva, etc.); tipifica a reacção dessa facção à evolução de Junqueiro, replicando à Oração ao Pão com o poemeto Oração da Fome (1902), que se

serve dos recursos prosódicos e retóricos consagrados por Junqueiro para contrapor à pacificação cúmplice do canto deísta a pugnacidade de um canto que é protesto contra a condição penosa do homem secularmente esbulhado dos frutos do seu trabalho e, ao mesmo tempo, é exaltação generosa da bondade prometeica desse trabalho em uníssono com a próvida Natureza. Nunes Claro representava então para os seus companheiros a própria personificação esplendorosa do ideal de poeta-cidadão, de lírico sensível e fogoso, fiel aos ditames da mãe-Natureza e aos deveres de emancipação sociocultural. Intrigantemente, Nunes Claro ia rareando a publicação de textos. Em 1908, ainda o chefe de fila, João de Barros, num balanço da vida mental portuguesa para La Revue, de Paris, o proclamava o «espírito mais poético das novas gerações». No entanto, Nunes Claro cada vez mais se apagava na cena literária. Se F. Pessoa o considera ainda, em 1913, um dos três melhores representanttes da referida corrente literária (cf. Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias), é excepcional a sua presença no segundo decénio, como ocorre na revista Atlântida. O mesmo acontece nos anos 20, em que vive retirado para Sintra, entregue ao exercício da medicina e aos afectos familiares; em 1924, já Mayer Garção o evocava entre Os Esquecidos... Enfim, em 1928, Nunes Claro publicava uma apreciável colectânea, sugestivamente intitulada A Cinza das Horas. Depois é o refluxo ao mesmo silêncio entrecortado pela resposta ao apelo de um ou outro periódico (como a revista Descobrimento, em 1932). Os sonetos de A Cinza das Horas evitam com destreza a impressão de monotonia e cantam, num registo delicado, a dinâmica voluntarista, a euforia vital, a lição naturista e a erótica hedonista próprias do seu posicionamento neoromântico; remetem para nível secundário a militância nacionalisto-jacobina; assimilam rasgos do imaginário franciscanista; deixam-se penetrar, de acordo com o título do livro, pelo sentimento melancólico da usura do tempo e da fugacidade do amor.

Abdias da Costa Neves (Teresina, 19 de novembro de 1876 28 de agosto de 1928) foi um escritor, político brasileiro e senador durante a República Velha

Biografia Filho de João da Costa Neves e Delfina de Oliveira Neves, formou-se em Direito, tendo ocupado os cargos de chefe de Polícia, juiz de Direito de Piracuruca, juiz federal de Teresina e advogado da Fazenda Estadual do Piauí [1]

Livros

Lista a completar

Aspectos do Piauhy[nota 1] (1926).

Cruz e Sousa Cruz e Sousa, um importante escritor do simbolismo brasileiro, foi filho de pais negros escravizados, mas educado em meio à aristocracia, o que não lhe privou do preconceito.

Cruz e Sousa, poeta negro catarinense, está registrado na história da literatura brasileira como o mais importante poeta do simbolismo. Filho de pais negros escravizados, foi apadrinhado ainda criança pelo senhor de escravos, recebendo, como afilhado, uma educação formal erudita, o que lhe possibilitou acesso ao melhor da literatura de sua época.

Apesar de ser um intelectual à altura de qualquer outro, sua condição de homem negro impôs-lhe o preconceito racial ao longo de sua vida. Atento à realidade que o circundava, tornou-se um atuante abolicionista, autor de poemas e textos em prosa contrários à escravidão.

Cruz e Sousa, apesar de conviver com a aristocracia intelectual e ser um poeta brilhante, não foi poupado de ser vítima de preconceito por ser negro.

Tópicos deste artigo

Biografia de Cruz e Sousa João da Cruz e Sousa, conhecido no mundo literário como Cruz e Sousa, nasceu em 21 de novembro de 1861, na então cidade de Desterro, hoje nominada Florianópolis, capital de Santa Catarina. Seus pais foram o mestre pedreiro Guilherme da Cruz e a lavadeira Carolina Eva da Conceição, ambos negros escravizados alforriados. Cruz e Sousa recebeu, como de costume na sociedade escravocrata, o sobrenome e a proteção do senhor de escravos que o apadrinhou, o coronel Xavier de Sousa, recebendo educação formal, ao passo que seus pais continuaram vivendo um vida de subjugação. Aos oito anos de idade, Cruz e Sousa iniciou seu gosto pela poesia, ocasião em que declamou versos de sua autoria, os quais homenageavam o retorno do coronel Xavier de Sousa da Guerra do Paraguai Entre 1871 e 1875, o jovem poeta cursou, como bolsista, o Ateneu Provincial Catarinense, estabelecimento educacional de elite. Teve como professor de ciências naturais o naturalista alemão Fritz Muller, amigo e colaborador de Darwin. Muito inteligente, Cruz e Sousa destacou-se em matemática e línguas estrangeiras, como francês, inglês, latim e grego. Além dessas áreas do conhecimento, o poeta foi leitor voraz de escritores como Baudelaire, Leopardi, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, entre outros autores europeus que lhe eram contemporâneos. Essa imensa bagagem cultural, porém, não o privou de ser vítima de racismo, em um contexto altamente escravista. Em 1881, viajou de Porto Alegre até São Luís, no exercício da função de secretário da Companhia Dramática Julieta dos Santos. Essa viagem possibilitou-o ampliar seus horizontes acerca das condições em que eram mantidos os negros nos anos finais da escravidão. Pouco tempo depois, Cruz e Sousa engajou-se na campanha abolicionista e, na Bahia, proferiu um discurso, com um poema seu em homenagem a Castro Alves sendo transcrito em jornal local. O poeta, assim, inseriu-se de vez na vida literária, fundando, com Virgílio Várzea e Santos Losada, em Santa Catarina, o jornal semanal Colombo, periódico literário de cunho parnasiano. Participou também do grupo Ideia Nova, e, em 1885, publicou, com Virgílio Várzea, o livro Tropos e fantasias, obra em que se encontram textos abolicionistas. Dirigiu o jornal ilustrado O Moleque, fortemente discriminado pelos círculos sociais locais devido ao seu viés crítico. Colaborou no jornal republicano e abolicionista Tribuna Popular, considerado o mais ilustre jornal catarinense do período.

Em 1890, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde colaborou com diversos veículo de comunicação, nos quais publicou artigosmanifestos do simbolismo. Conviveu intelectualmente com Raul Pompéia e com Olavo Bilac. Em 1893 lançou um de seus principais livros, a obra de poemas em prosa Missal, e Broqueis, livro de poemas. Casou-se com a jovem negra Gavita Rosa Gonçalves, com quem teve quatro filhos. A família sofreu vários problemas financeiros, em razão dos baixos salários recebidos nos postos modestos que ele assumiu. Para agravar a situação, sua esposa desenvolveu distúrbios mentais após o nascimento do segundo filho.

Acometido pela tuberculose, mudou-se para o interior a fim de melhorar sua saúde. Entretanto, a doença não se estabilizou, e o poeta morreu, em 19 de março de 1898, aos 36 anos de idade.

Características literárias de Cruz e Sousa

Preferência pelo soneto; Composição de outras formas de poema menos rígidas que o soneto.

→ Linguagem Subjetiva; Vaga e imprecisa, com predominância de sugestões ao invés de nomeações objetivas; Predominância de substantivos abstratos; Predominância de adjetivos; Uso frequente de figuras de linguagem, como metáfora, comparação, aliteração, assonância e sinestesia.

→ Conteúdo Temáticas ligadas ao misticismo e à religiosidade; Expressão de estados mentais contemplativos; Predominância de um tom pessimista, que expressa a dor existencial do eu lírico; Interesse por temáticas ligadas ao mistério, à noite, à morte; Predominância de uma visão de mundo antirracionalista e antimaterialista, o que lembra o romantismo

Obras de Cruz e Sousa

Broquéis (1893) – poesia

Missal (1893) – poemas em prosa

Tropos e fantasias (1885) – poemas em prosa (parceria com Virgílio Várzea)

→ Obras póstumas

Últimos sonetos (1905)

Evocações (1898) – poemas em prosa

Faróis (1900) – poesia

Outras evocações (1961) – poemas em prosa

O livro derradeiro (1961) – poesia

Dispersos (1961) – poemas em prosa

Poemas de Cruz e Sousa

Cárcere das almas

Ah, Toda a alma num cárcere anda presa, Soluçando nas trevas, entre as grades

Do calabouço olhando imensidades,

Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza

Quando a alma entre grilhões as liberdades

Sonha e, sonhando, as imortalidades

Rasga no etéreo Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas

Nas prisões colossais e abandonadas,

Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,

Que chaveiro do Céu possui as chaves

Para abrir-vos as portas do Mistério?!

(Poesia completa)

Nesse poema, Cruz e Sousa expressa os principais aspectos formais e temáticos que caracterizaram o simbolismo, como o sofrimento humano, que se manifesta, ao longo dos versos, por meio da oposição entre corpo e alma, em que a alma só se liberta quando se rompem as correntes que a aprisionam à matéria corporal.

Além desse tom metafísico (ou seja, para além da física) e espiritual, há no poema, como traço muito marcante da estética simbolista, a constante presença de metáforas, o que faz com que haja muitas sugestões e não explicitações das mensagens transmitidas pelo eu lírico. Por exemplo, em nenhum momento do poema fala-se explicitamente da palavra morte, porém inferese que o romper das correntes refere-se à perda da vida e, consequentemente, à libertação da alma.

Outra característica simbolista presente no poema, além da presença das metáforas, diz respeito ao uso da sinestesia, figura de linguagem caracterizada pela junção de aspectos sensoriais, como se nota neste verso: “Ó almas presas, mudas”. Em relação aos aspectos formais, Cruz e Sousa também expressa uma tendência simbolista: a construção de sonetos, forma consagrada pela literatura clássica.

Carnal e místico

Pelas regiões tenuíssimas da bruma vagam as Virgens e as Estrelas raras... Como que o leve aroma das searas todo o horizonte em derredor perfuma. Numa evaporação de branca espuma vão diluindo as perspectivas claras... Com brilhos crus e fúlgidos de tiaras as Estrelas apagam-se uma a uma. E então, na treva, em místicas dormências, desfila, com sidéreas latescências, das Virgens o sonâmbulo cortejo...

Ó Formas vagas, nebulosidades!

Essência das eternas virgindades!

Ó intensas quimeras do Desejo...

(Broquéis)

Nesse poema, Cruz e Sousa explora, na primeira estrofe, outra característica recorrente na literatura simbolista: o uso de aliteração, repetição intencional de vocábulos consonantais. Na primeira estrofe, por exemplo, observa-se o emprego da consoante v nas palavras “vagam”, “Virgens”, presentes no segundo verso, e na palavra “leve”, presente no terceiro verso. Outra característica simbolista manifesta-se no emprego de substantivos abstratos (“aromas”, “evaporação”, “brilhos”, “formas”, “essência”, “quimeras”) e de adjetivos (“raras”, “claras”, “crus”, “sidéreas”, “sonâmbulo”, “vagas”, “eternas”), o que contribui para o clima sugestivo e abstrato que perpassa todo o poema.

Por Leandro Guimarães Professor de Literatura

Neno Vasco (1878 - 1920) foi um poeta, advogado, jornalista, anarquista e escritor, ardoroso militante sindicalista revolucionário nascido em Penafiel, Portugal. Emigrou para o Brasil onde estabeleceu uma série de projetos com os anarquistas daquele país. É de sua autoria a tradução do hino A Internacional, mais difundida nos países de língua portuguesa, e terá sido uma das mais importantes figuras do Anarquismo em Portugal.

Biografia Primeiros anos Gregório Nazianzeno Moreira de Queiroz e Vasconcelos, mais conhecido como Neno Vasco, nasceu em Penafiel em 9 de Maio de 1878. Aos 8 ou 9 anos de idade emigra junto com seu pai e sua madrasta para a cidade de São Paulo, no Brasil. Alguns anos depois regressa a Portugal para concluir seus estudos indo viver na casa de seus avós paternos em Amarante. É em Amarante que conhece o poeta Teixeira de Pascoaes, que mais tarde o iria convencer a optar pelo curso de Direito em vez de Medicina.

Formação académica Matricula-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra a 13 de Outubro de 1896, onde passa a ter aulas. Tem como colegas e amigos futuros ilustres da intelectualidade portuguesa como o poeta Teixeira de Pascoaes, Faria de Vasconcelos e António Resende. Em 1900, durante as suas idas ao Porto, conheceu um grupo de propagandistas libertários onde participava Cristiano de Carvalho e Serafim Cardoso Lucena[1]. No ano de 1901 conclui o curso de bacharelado. Ao mesmo tempo passa a empreender atividades militantes, em 2 de Março de 1901 publica o panfleto - A Academia de Coimbra ao Povo Portuguez - onde faz uma ferrenha crítica às arbitrariedades da polícia. Neste mesmo ano começa a escrever artigos para o jornal republicano O Mundo, à época publicado em Lisboa sob a direção de Mayer Garção. Retorno ao Brasil e contato com o Anarquismo No final de 1901 retorna ao Brasil onde rapidamente estabeleceu contato com anarquistas italianos através dos quais tomou conhecimento da obra de Errico Malatesta que daquele momento em diante exerceu uma profunda influência em seu pensamento. Em poucos meses passou a se corresponder com Malatesta e neste contato suas ideias e concepções foram modificadas. Do Brasil escreveu e enviou textos sobre literatura e revolução a serem publicados em Portugal na revista A Sementeira na qual também escreveu um artigo memorável sobre a obra, vida e morte do francês Octave Mirbeau.

Amigo do Povo, Aurora e Voz do Trabalhador Na cidade de São Paulo em 1902 passa a editar o jornal Amigo do Povo junto com Benjamim Mota, Oreste Ristori, Giulio Sorelli, Tobia Boni, Ângelo Bandoni, Gigi Damiani e Ricardo Gonçalves. A influência do periódico foi imediata sendo ele apropriado, não só como um dos principais espaços de dialogo sobre o movimento anarquista brasileiro, mas também lócus de reflexão de questões relacionadas à "emancipação feminina" por um número considerável mulheres notáveis que passaram a contribuir para esta publicação. A partir destas discussões suas Neno Vasco publicou um artigo neste periódico refutando a tese do naturalista Émile Zola acerca da fecundidade. Algum tempo depois lançou a revista Aurora. Nas páginas do jornal Voz do Trabalhador Neno Vasco respondeu às críticas de alguns anarquistas (entre eles Luigi Galleani) que acusava as organizações anarcossindicalistas de serem apenas uma nova forma de governo. A polêmica sobre as relações entre anarquismo e sindicalismo, deu à época fundamental margem para um amplo debate, importante para a compreensão das diferentes correntes dentro do movimento libertário se situavam em relação ao movimento operário e à suas organizações. Casamento, traduções e militância

Fotografia do grupo familiar de Neno Vasco. No ano de 1904 traduziu para o português do francês a obra "Evolução, Revolução e Ideal Anarquista" do francês Élisée Reclus Em 1905 casou-se com Mercedes Moscovo, anarcafeminista filha de uma família espanhola e anarquista por gerações. A esta época desenvolveu intensa atividade de propagação do pensamento libertário tornando-se uma referência entre os libertários brasileiros com os quais colaborava. Também neste ano passou a editar o periódico A Terra Livre com sua esposa, Edgard Leuenroth e outros. Ao mesmo tempo se manteve em diálogo com outros anarquistas de origem portuguesa que, atuavam no Brasil, entre eles Adelino Tavares de Pinho - um comerciante do Porto que exercera a função de professor na Escola Moderna, Marques da Costa - editor do jornal O Trabalho, Manuel Cunha, Diamantino Augusto, Amílcar dos Santos, Raul Pereira dos Santos, José Romero, etc.

Em 1909 traduziu o hino internacionalista progressista A Internacional do francês Eugène Pottier para o português. Rapidamente sua versão se difundiu no meio anarcossindicalista, tanto no Brasil como em Portugal, passando a ser ouvido em manifestações operárias como greves e comícios nestes dois países desde então.

Regresso a Portugal

Proclamada a República em 1910, Neno Vasco retornou a Portugal onde continuou a desenvolver sua militância anarquista, colaborando com a imprensa anarquista brasileira como correspondente. Tornou-se colaborador constante da revista libertária A Sementeira na qual escreveu sobre a situação social no Brasil. Assim como no jornal "A Aurora" (1910-1919), e nas revistas Renovação (1925-1926) [2] e "A Comuna" (1920-1927) do Porto, até à data da sua morte.

Bandeira do "Círculo de Estudos Neno Vasco".

No ano seguinte, nos dias 11, 12 e 13 de Novembro participou do 1º Congresso Anarquista Português. Em 1912 lançou a coleção 'A Brochura Social' com Lima da Costa editando duas obras, tomou parte em diversos encontros anarquistas como a (Conferência Anarquista de Lisboa em 1914), publicou o folheto "Geórgias: ao trabalhador rural" no periódico semanal de Pinto Quartin Terra Livre, ofereceu cursos de formação aos jovens das Juventudes Sindicalistas em O Germinal. Em 1910 desentendeu-se com Emídio Costa sobre estratégias diante da Primeira Guerra Mundial, foi amigo de muitos militantes do movimento anarquista português. Morte

Em 15 de Setembro de 1920 Neno Vasco, intelectual brilhante e influente militante libertário em dois continentes, morreu de tuberculose, pobre e seguro das suas posições anarquistas, na freguesia de São Romão do Coronado do concelho de Trofa, no norte de Portugal

"Concepção Anarquista do Sindicalismo"

Ao longo dos anos 10, enquanto propagandista anarquista, Neno foi desenvolvendo a concepção anarquista do sindicato ao abordar as ideias de Malatesta, entre outros autores, sobre o sindicalismo revolucionário. No fim da sua vida começou a trabalhar numa obra, que ficaria inacabada, sobre o papel que os anarquistas devem ter nas organizações de massas, mais concretamente nos sindicatos, além de abordar a doutrina e as disputas com os marxistas na 1ª Internacional. Nesta obra Neno defende que "o sindicato operário é o grupo essencial, o órgão específico da luta de classes e o núcleo reorganizador da sociedade futura"[3] que deve participar na "luta solidária dos operários contra os patrões" pela acção directa [3]. O papel dos anarquistas nestes sindicatos deve ser o de propaganda, espalhar as ideias anarquistas e afastar a tendência reformista, parlamentarista, dos partidos políticos que só defendem a participação integral no sistema social burguês, uma harmonia entre o capital e o trabalho. Logo, a organização operária deve "viver independente de qualquer partido político ou agrupamento doutrinal" de modo a acentuar o carácter revolucionário, "a resistência deve ser a única função sindical"[3].

Cooperativismo e Mutualismo

Em alguns parágrafos deste livro, o autor aborda o mutualismo e a cooperativa, afirmando que "servem e facilitam a exploração capitalista, fazendo-se factores de resignação e passividade" [3]. Para Neno estas organizações podem ser ainda mais nefastas do que o corporativismo, porque "tende naturalmente para a adaptação do assalariado ao regime burguês, favorecendo mesmo a submissão às condições impostas pelo patronato".[3] Além de que promovem a criação de uma "burocracia permanente parasitária", que mais cedo ou mais tarde, irá "desenvolver o espírito comercial e corromper as melhores intenções"[3]

Social Democracia e Parlamentarismo

As críticas às reformas operárias são constantes em toda a obra, afirmando que "a «lei operária» só serve para iludir as massas inconsientes dando um falso prestígio aos governos e instituições parlamentares e tendendo a desviar o povo da organização e acção directas."[3] Para Neno, a lei só é aplicada quando o proletariado quer que essa reforma seja aprovada, quando os trabalhadores tem força para impor a sua vontade aos governantes.

Sobre o parlamento, este não é nada mais do que uma ferramenta da burguesia para apaziguar as lutas operárias, e corromper o espírito combativo dos movimentos sociais:

"O Parlamento é obra e instrumento das oligarquias políticas e financeiras - e tudo o que ele toca fica corrompido e impotente. E o que nele parece permanecer intacto e incorrupto, não faz senão manter o nefasto prestígio de uma ficção. Resta, pois, a Revolução, robusta filha das circunstâncias e da vontade dos homens, a revolução que marca o parto doloroso, mas necessário e bem-vindo, de todas as sociedades." p.151 [3]

Legado

Durante toda sua vida, seu esforço no movimento editorial muito contribuiu para o crescimento da influência libertária nos meios operários no Brasil e em Portugal. O seu principal livro é A Concepção Anarquista do Sindicalismo, publicado em 1923 pelo coletivo editorial do jornal anarcossindicalista A Batalha e reeditado em 1984. Uma versão brasileira para uso em cursos de formação sindical foi publicada em 2007.

Na cidade de São Paulo, no bairro Cidade Tiradentes existe uma rua com seu nome. No município de Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro há igualmente um edifício com o nome Pr. Neno Vasco construído em 1976.

Obra

Bibliografia

A Academia de Coimbra ao Povo Portuguez, 1901.

Uma espécie de explicação. In: ASSUNÇÃO, Mota. O infanticídio. São Paulo: Terra Livre, 1907. Lavorate! In: Almanacco della rivoluzione. São Paulo: A cura del grupo La Propaganda, 1909.

Prefácio. In: BERTHELOT, Paul. O evangelho da hora. São Paulo: Grupo Aurora e Libertas, 1911; edição francesa: Preface. In: BERTHELOT, Paul. L’e evangile de la heure. Paris: Les Temps Nouveaux, 1912.

Geórgicas: ao trabalhador rural. Lisboa: Publicações de Terra Livre. 1913; edição chilena: El obrero del campo. Rancagua: Ediciones Adelante, 1945; edição cubana: El obrero del campo. Havana: El Progreso, 1925.

Da Porta da Europa (factos e ideias: a questão religiosa, a questão política, a questão económica 1911-1912), Bibl. Libertas, Lisboa, 1913.

As doutrinas libertárias: breve exposição e definições. Rio de Janeiro: Centro de Estudos Sociais, 1913. Sindicalismo revolucionário. In: MIRANDA, Tércio (org.). Almanaque de Aurora. Porto: Grupo Aurora Social, 1913. Miséria e revolução. In: MIRANDA, Tércio (org.). Almanaque de Aurora. Porto: Grupo Aurora Social, 1913 Sindicalismo Revolucionário, 1914[4].

A Concepção Anarquista do Sindicalismo, Editorial A Batalha, Lisboa, 1920; 2ª edição, Afrontamento, Porto, 1984. Em 2007 foi publicada uma versão brasileira usada em cursos de formação sindical.

A marselhesa do fogo. In: KHOURY, Yara Aun (org.). Poesia Anarquista. Revista Brasileira de História. São Paulo, n. 15, 1988.

Os parasitas. In: PRADO, Arnoni; HARDMAN, Foot; LEAL, Claudia (org.). Contos anarquistas: temas e textos da prosa libertária no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

Os anarquistas no movimento operário. São Paulo/Santos: Biblioteca Terra Livre/Núcleo de Estudos Libertários Carlo Aldegheri, 2013.

Traduções

Élisée Reclus, Evolução, Revolução e Ideal Anarquista, Biblioteca Sociológica, S. Paulo, 1904.

A Internacional, 1909.

Entre camponeses. São Paulo: Grupo de Estudos Sociais, 1913.

Peças teatrais

Anedota em 1 acto, 1911.

Greve de Inquilinos: farça em 1 acto, Editorial A Batalha, 1923.

Pecado de Simonia, 1907.

Higino Cícero da Cunha (São José das Cajazeiras, 11 de janeiro de 1858 Teresina, 16 de novembro de 1943) foi um escritor, jornalista, advogado e político brasileiro [1][2]

Biografia Nasceu no sítio Bacuri, no município maranhense de São José das Cajazeiras, atualmente Timon, bem próximo a Teresina, capital do Piauí Iniciou os estudos na casa paterna, orientado pelos irmãos mais velhos. Aos 12 anos mudou-se para Teresina para estudar e trabalhar no comércio. Aos vinte anos de idade, foi continuar os estudos em São Luís, onde realizou os preparatórios para o curso jurídico, entre 1878 e 1880.[3] Em 1881 ingressou na Faculdade de Direito do Recife. Durante o curso colaborou no jornal pernambucano Folha do Norte. Diplomado em 1885, retornou ao Piauí, dando início à sua trajetória política.[1] Após a renúncia do marechal Deodoro da Fonseca em 23 de novembro de 1891, o governador do Piauí Gabriel Luís Ferreira foi deposto em 21 de dezembro mesmo ano, sendo substituído por uma junta governativa presidida pelo tenentecoronel João Domingos Ramos, e da qual fez parte Higino Cunha juntamente com Clodoaldo Freitas, José Eusébio de Carvalho Oliveira, Elias Firmino de Sousa Martins e José Pereira Lopes, até 29 de dezembro, quando João Domingos Ramos assumiu sozinho o governo do estado.[1]

Em 1895 mudou-se para o Amazonas, onde trabalhou como advogado e jornalista, colaborando com os jornais A Federação e O Estado do Amazonas. No ano seguinte, em razão de desentendimentos políticos com o governador Fileto Pires Ferreira, retornou ao Piauí e tornou-se juiz de direito na cidade de Itamarati no estado do Piauí.[1]

Foi um dos fundadores da Academia Piauiense de Letras,[4] e o primeiro ocupante da cadeira nº 7, cujo patrono era Anísio Auto de Abreu.[5] Presidiu a academia por dois períodos: de 1919 a 1924, em sucessão a Clodoaldo Freitas, e no período de 1929 a 1943, somando cerca de vinte anos.[3] Em 1918 foi presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí

Foi também professor do Liceu Piauiense, da Escola Normal e da Faculdade de Direito do Piauí. Como jornalista colaborou no Diário do Piauí, A Democracia, Correio de Teresina, Gazeta do Comércio e A República. também procurador dos feitos da Fazenda estadual, cargo no qual se aposentou em 1925.[1]

É autor das seguintes obras: Pro Veritate (1883), Asineide (1897), O idealismo filosófico e o ideal artístico (1913), Discursos acadêmicos (1921), O teatro em Teresina (1923), O ensino normalista no Piauí (1923), Histórias das rebeliões no Piauí (1924), Os revolucionários no Sul do Brasil (1926), O assassínio do juiz federal (1928), A defesa do professor Leopoldo Cunha (1934), A Igreja Católica e a nova constituição da República (1934) e Memórias: traços autobiográficos (1940).[1]

O Paiz/1904
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