A arte barroca no brasil

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A ARTE BARROCA NO BRASIL O barroco teve grande importância no reforço dos valores religiosos disseminados no Brasil Colonial. No Brasil Colonial, a presença dos jesuítas teve grande importância no processo de disseminação do cristianismo católico no interior da colônia. Não por acaso – visando aperfeiçoar suas ações missionárias –, os jesuítas trouxeram da Europa as influências estéticas de cunho fortemente religioso que marcaram o estilo barroco. Na maioria das vezes, esse tipo de criação se manifestou na construção de igrejas e imagens religiosas que tomavam campo nos centros urbanos do país. Chegando ao Brasil, as construções de traço barroco se lançavam aos olhos de uma população mista formada por alfaiates, ambulantes, funcionários públicos, indígenas, escravos e vadios. Essa população, na maioria das vezes, só conseguia compreender o sentido dos valores religiosos afirmados pela catequese com a imponência de imagens ricas em que a complexa ornamentação pretendia reafirmar o caráter sagrado dos santos e templos religiosos. De forma geral, as obras e construções barrocas eram fabricadas a partir do uso de pedra-sabão, barro cozido e madeira policromada ou dourada. Além disso, existiu uma visível preocupação em se reproduzir movimentos de conteúdo dramático, o uso de linhas curvas, a preferência por construções de porte grandioso e o uso de um impacto visual capaz de chamar atenção dos apreciadores. O barroco tentou exprimir uma religiosidade de princípio medieval com a sofisticação da arte renascentista. Dentre os principais representantes dessa arte podemos destacar o escultor Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, e o pintor Manuel da Costa Ataíde. Ambos viveram o auge do barroco no Brasil, na passagem do século XVIII para o XIX, promovendo um estilo próprio que tendeu a eliminar alguns dos excessos perceptíveis nas obras que tinham maior aproximação com o barroco desenvolvido no Velho Mundo. O valor educativo lançado à arte barroca é percebido na dinâmica dos elementos trabalhados em suas principais obras. A tensão entre o medieval e o renascentista pode ser observada no uso de imagens austeras combinadas com a sofisticação dos ornamentos. Paralelamente, os itens acessórios tinham um valor narrativo onde o observador poderia identificar um santo e sua história através do dragão de São Jorge; ou a chave dos céus carregada por São Pedro. O aparecimento desses artistas no ambiente colonial indicava um período de relativa prosperidade material nas cidades e vilas que se enriqueciam graças aos recursos trazidos pela exploração do ouro, a partir do século XVIII. Em muitos casos, essa nova situação fazia com que mulatos e outras figuras marginalizadas do mundo colonial alcançassem prestígio ou um interessante meio de sustentação. Dessa maneira, podemos ver interessantes situações históricas por meio do desenvolvimento de tal arte no Brasil. Uma das mais intrigantes se remete à formação de um mercado consumidor dessa arte de caráter fortemente religioso. As irmandades, igrejas e particulares eram os principais consumidores das construções arquitetônicas e imagens barrocas. Atualmente, o barroco possui grande valor histórico e estético e tem a maioria de suas obras concentradas em regiões do interior mineiro e no Nordeste. Embora tenha o Barroco assumido diversas características ao longo da história, o surgimento está intimamente ligado à Contra-Reforma. A arte barroca procura comover intensamente o espectador. Nesse sentido, a Igreja converte-se numa espécie de espaço cénico, num teatro sacrum onde são encenados os dramas.


O Barroco é o estilo da Reforma católica também denominada de Contra-Reforma. Arquitetura, escultura, pintura, todas as belas artes, serviam de expressão ao Barroco nos territórios onde ele floresceu: a Espanha, a França, a Itália, Portugal, os países católicos do centro da Europa e a América Latina. O catolicismo barroco também impregnou a literatura, e uma das suas manifestações mais importantes e impressionantes foram os “autos sacramentais”, peças teatrais de argumento teológico, reflexo do espírito espanhol do século XVII, e que eram muito apreciados pelo grande público, o que denota o elevado grau de instrução religiosa do povo. Contrariamente à arte do Renascimento, que pregava o predomínio da razão sobre os sentimentos, no Barroco há uma exaltação dos sentimentos, a religiosidade é expressa de forma dramática, intensa, procurando envolver emocionalmente as pessoas. Podemos citar como exemplos de artistas barrocos:           

Aleijadinho Mestre Ataíde Caravaggio Rubens Rembrandt Carracci El Greco Velázquez Vermeer Murillo Tintoretto

Basílica de Nossa Senhora do Carmo em Recife (PE), uma das glórias do barroco brasileiro.


Última Ceia (1795-1796), do escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho A influência barroca manifestou-se claramente nas pinturas feitas em tetos e paredes de igrejas e palácios. As cenas e elementos arquitetônicos (colunas, escadas, balcões, degraus) proporcionavam uma incrível ilusão de movimento e ampliação de espaço, chegando, em alguns casos, a dar a impressão de que a pintura era a realidade, e a parede, de fato, não existisse.

Afresco da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto (MG), por Manuel da Costa Athayde

Basílica do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas (MG)

Interior do Mosteiro de São Bento, Rio de Janeiro


Igreja de Nossa Senhora do Rosário, São Paulo

Azulejos no Convento de São Francisco, Olinda

Igreja de São Francisco, Salvador O Barroco de Pernambuco A partir de 1759 Recife teve grande crescimento econômico, entre suas construções barrocas mais bem cuidadas está a igreja de São Pedro dos Clérigos. Essa igreja teve suas obras iniciadas em 1728 e concluídas em 1782, segundo projeto de Manuel Ferreira Jácome. A fachada barroca de pedra e a verticalidade do edifício eram incomuns nas igrejas brasileiras do século XVII.

Igreja de São Pedro dos Clérigos, Recife O Barroco de Salvador


Na segunda metade do século XVII Salvador era a capital do país e o centro econômico da região mais rica do Brasil, aí encontramos igrejas riquíssimas como a igreja de São Francisco que junto com o convento de São Francisco de Assis e a igreja da Ordem Terceira forma o conjunto arquitetônico barroco mais conhecido da cidade. No frontão da igreja de São Francisco estão os aspectos mais significativos do Barroco: as linhas curvas lembrando as linhas dos elementos da natureza, como plantas e conchas. Seu revestimento interno é todo em talha dourada, o que fez com que essa igreja fosse chamada de “a igreja mais rica do Brasil”.

Igreja de São Francisco, em Salvador,

O Barroco do Rio de Janeiro O Rio de Janeiro só viria a ter destaque econômico e cultural com o início da extração do ouro em Minas Gerais, no século XVIII. Com seu porto, a cidade passou a centro de intercâmbio entre a região da mineração e Portugal. Em 1763 o Rio de Janeiro tornou-se a nova capital do país, a partir daí foram erguidas muitas construções como o Aqueduto da Carioca mais conhecido como os Arcos da Lapa por sua localização no bairro da Lapa e a igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência localizada no largo da Carioca que teve sua construção iniciada ainda no século XVII e concluída em 1773.


Interior da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência no Rio de Janeiro. A escultura barroca do Rio de Janeiro contou com artistas portugueses e com um brasileiro em especial: Mestre Valentim (1750-1813), tão respeitado quanto Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho), nosso artista barroco mais conhecido e admirado. Em 1783 foi inaugurado no Rio de Janeiro o Passeio Público, obra projetada por Mestre Valentim. Sua concepção seguiu a idéia, comum na Europa, de que um jardim com ruas, lagos, fontes, bosques, esculturas e pavilhões representaria a natureza controlada e organizada segundo a razão humana.

Passeio Público, Rio de Janeiro O Barroco de São Paulo Fundada no século XVI, São Paulo permaneceu estagnada por todo o século XVIII, durante este período as ordens religiosas ergueram apenas modestas igrejas barrocas. Dentre estas construções destaca-se o conjunto formado pela igreja e pelo Convento de Nossa Senhora da Luz.

Convento de Nossa Senhora da Luz A igreja de Nossa Senhora da Luz começou a ser construída por volta de 1600 e é um dos poucos exemplos da arquitetura colonial de São Paulo. As esculturas do Barroco paulista são muito simples, em razão da pobreza da cidade nenhum artista de renome ia para lá por isso as imagens são em geral rústicas e primitivas, feitas de barro cozido. O pintor paulista mais conhecido deste período foi frei Jesuíno do Monte Carmelo (17641818). O Barroco de Minas Gerais A evolução da arquitetura mineira não foi rápida, primeiro tentou-se utilizar a técnica construtiva paulista de taipa de pilão, técnica comum no Brasil colônia que consiste em erguer paredes com blocos de barro comprimido dentro de uma forma de madeira denominada taipal, porém o terreno mineiro era duro e pedregoso, pobre em terras argilosas. Mais tarde chegaram às construções com muros de pedras após tentaram vários outros processos sem obtenção de êxito.


Com o tempo, as diversas técnicas de construção foram combinadas harmoniosamente com a rica decoração interior. Essa integração teve seu auge com Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho ( 1730-1814). Na pintura do Barroco mineiro destaca-se Manuel da Costa Ataíde, sua pintura nos forros de igrejas revela excepcional domínio da perspectiva. Ataíde fez pinturas para a igreja de Santo Antônio em Santa Bárbara, para a igreja de Nossa Senhora do Rosário em Mariana e para a igreja de São Francisco em Ouro Preto.

Teto da nave da igreja de São Francisco de Assis Ouro Preto O principal escultor do Barroco do Brasil foi Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho) que além de escultor também foi arquiteto e decorador de igrejas. Podemos encontrar inúmeras obras suas em museus e igrejas de Minas, principalmente em Ouro Preto, mas é a cidade de Congonhas do Campo que abriga seu mais importante conjunto escultórico; o santuário do Bom Jesus de Matosinhos. Na ladeira à frente da igreja foram construídas seis capelas, três de cada lado, em cada uma delas um conjunto de estátuas de madeira em tamanho natural narra um passo da Paixão de Cristo. O santuário do Bom Jesus de Matosinhos é constituído por uma igreja em cujo adro estão esculturas de pedra-sabão de doze profetas: Izaias, Jeremias, Baruque, Ezequiel, Daniel, Oséias, Jonas, Joel, Abdias, Habacuque, Amós e Naum. Cada um deles está em uma posição diferente, fazendo gestos que se coordenam, trazendo a impressão de que as figuras de pedra estão se movendo, gesticulando e dirigindo-se a ouvintes.

Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, Congonha A igreja de Nossa Senhora do Pilar foi originalmente construída com taipa de pilão, tinha paredes paralelas e um interior retangular, com muros lisos, sem as linhas curvas do estilo barroco. Para receber sua rica decoração essa igreja teve seu interior remodelado onde, em 1736 o artista português Francisco Antônio Pombal revestiu internamente as velhas paredes da igreja de modo a traçar uma planta poligonal, criando um dos interiores de igreja mais ricos do Brasil.


A igreja de São Francisco teve sua obra projetada e realizada por Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho), de estilo barroco, porém, com características próprias. Seu interior não é mais excessivamente revestido de talha dourada, criou-se um ambiente mais leve, onde paredes brancas fazem fundo para esculturas repletas de linhas curvas, motivos florais, anjos e santos.

Igreja de São Francisco, Ouro Preto O Barroco nas construções jesuíticas do Sul Entre os séculos XVII e XVIII desenvolveu-se no sul do Brasil uma arte associada à catequese que os padres jesuítas realizavam com os indígenas. Desse período destaca-se a igreja de São Miguel das Missões, da qual ainda restam alguns elementos arquitetônicos. Organizadas pelos jesuítas as missões ou reduções indígenas eram agrupamentos de construções: igreja, colégio, oficinas, enfermarias, cemitério, habitações doa padres e da população nativa (os Guaranis). A região missioneira abrangia parte dos atuais estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, além de terras do Paraguai e Argentina. Diferentemente da arquitetura do século XVIII nas demais regiões do país, as construções jesuíticas do sul, concebidas por construtores de origem européia, muitas vezes misturaram elementos da arquitetura romântica e barroca. A igreja de São Miguel abriga hoje o museu das missões, que reúne fragmentos arquitetônicos e escultura da época. Em 1983, a Unesco deu as ruínas de São Miguel o título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade.



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