Arte e cultura parte 3

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IV AS ARTES, Sテグ JOテグ DA BOA VISTA DO PASSADO AO PRESENTE

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Coreto da Praça da Matriz, hoje Armando de Salles Oliveira - Década de 1940

TODOS CANTAM SUA TERRA

Emílo Lansac Tôha Cabelos brancos, no final da vida, Junto à fonte, a cismar, contemplo a serra, O vai-vem da cidade, hoje crescida, O sol no entardecer da minha terra. Velhos troncos, ramagens em ciranda, Cochichavam de amores em segredo, E havia outrora, aqui, um coreto; a banda João Menino, ora o França, ora o Azevedo.

O machado cortou de rijo. Passa Tudo que é bom. E nesta velha praça, Roupa nova, cresceu este jardim. O coreto e as árvores caíram; Amigos e parentes que partiram... Só a saudade ficou dentro de mim.

Na Praça da Matriz havia um velho coreto, onde hoje está a fonte luminosa. Aos domingos e feriados, realizava, a banda musical, ótimos concertos, regidos que foram pelos maestros: Aquilino, Azevedo, França, João Menino e outros. As grandes árvores do jardim foram abatidas pelo machado do progresso. Muita gente chorou, vendo cair aqueles troncos gigantes.

Emílo Lansac Tôha 271


ALGUMAS PALAVRAS

“A obra de arte é o desvelamento da verdade”.

Heidegger “Se algo não é contado não vale a pena existir”.

Ariel Dorfman

Este levantamento sobre outras artes, que não as plásticas, em São João da Boa Vista, tem por finalidade mostrar

os talentos de nossa cidade e dar subsídios à pergunta inicial: “São João é terra de artistas?”

Há relevantes indícios de que somos uma “terra de artistas”, dessa maneira, partiu-se da premissa de que nossa

cidade, localizada aos pés da Serra da Mantiqueira, às margens do Jaguari-Mirim, interior de São Paulo, divisa com o sul de Minas Gerais, através de várias instituições e iniciativas particulares e públicas, produziu e ainda produz um significativo e importante movimento artístico-cultural. Praticamente, têm-se ótimos representantes em todos os segmentos das artes.

Desta maneira, será dado “um passeio” pela música, dança, literatura, teatro, fotografia, falar-se-á um pouco

do rádio, do cinema, de revistas, jornais, de associações ligadas à vida cultural e artística de nossa terra, enfim, serão

“pinceladas” rápidas num universo que se crê grande.

Os artistas dos diversos campos da arte serão, via de regra, apenas citados, preferencialmente em ordem alfabé-

tica, mesmo tendo valores e pesos muito diferentes, mesmo sendo alguns amadores, outros profissionais.

Vários deles mereceriam capítulos à parte ou, pelo menos, mais detalhamentos, pedem-se, porém, desculpas por

não o fazer, pois fugiria muito da finalidade maior da obra, que são as artes plásticas. Apenas terão destaque Guiomar Novaes, Patrícia Rehder Galvão “Pagu”, Orides Fontela, Fernando Furlanetto, Cláudio Richerme e a Família Assad.

Espera-se que tenham sido nomeados todos os que, de uma maneira ou outra, tenham seu nome ligado às pro-

duções artísticas de nossa cidade. Omissões, infelizmente, vão ocorrer, mas foram absolutamente involuntárias!

Este trabalho não tem ainda a pretensão de ser completo, definitivo, sem erros e omissões. Foi apenas o re-

sultado de muita pesquisa e espera-se que possa servir de subsídio à história das artes em nossa cidade e, ao mesmo tempo, abrir possibilidades para novos e mais completos estudos. Pretendeu-se ainda preservar, em bases mais sólidas e duradouras que a memória humana, todo este acervo de trabalho de inconteste valor cultural e artístico.

Partiu-se também do princípio de que as artes não são apenas um entretenimento, deleite, convite ao devaneio,

mas ainda e principalmente crescimento espiritual, enriquecimento do ser humano, de sua humanidade e de sua sensibilidade. Toda esta afirmação mereceu atenção ao se realizar este trabalho.

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ORGULHOS MAIORES Produzir arte, por si só, já é motivo de orgulho para nós sanjoanenses, simples mortais que apenas temos o dom do deleite e da fruição da obra de arte. Há, porém, os orgulhos maiores:

SÃO TRÊS AS MULHERES

Guiomar Novaes, pianista, Patrícia Rehder Galvão “Pagu”, jornalista e escritora, e Orides Fontela, poeta.

GUIOMAR NOVAES

*São João da Boa Vista/SP -28 de fevereiro de 1894 +São Paulo - 07 de março de 1979

Guiomar Novaes , desde a mais tenra idade, demonstrou notável sintonia com a música e com o piano, transformando-se na grande pianista brasileira, que, com sua arte, impressionou os críticos e o mundo. Ainda criança, transferiu-se, com a família, para São Paulo, indo estudar com o professor Luigi Chiaffarelli – pianista e professor italiano de aprofundada formação e radicado em São Paulo. Aos oito anos de idade, Guiomar Novaes apresentou-se em público na capital paulista, com muita proficiência e com total domínio da técnica. Aos 15 anos, em 1909, por indicação de seu professor, o governo paulista mandou-a para a França, no “Conservatório de Paris” para competir junto com 387 candidatos de todo o mundo, pelas onze vagas, das quais apenas duas eram destinadas a estrangeiros. O júri foi presidido por Debussy e cada candidato deveria apresentar duas músicas. Em sua primeira prova, Guiomar tocou “Carnaval” de Schumann e a Guiomar Novaes em São João da Boa Vista, na abertura da Semana que a homenageia - Atrás: Tereza Blasi e Ziza Andrade - 1978 “Terceira Balada” de Chopin. Na segunda prova o júri pediu que ela repetisse a Balada de Chopin, ao que ela respondeu que só sabia tocar exatamente da mesma maneira como tocou da primeira vez. Debussy respondeu-lhe que era exatamente daquela maneira que ele e o júri queriam ouvir a peça novamente. Guiomar Novaes conquistou, pois, a vaga no legendário “Conservatoire de Paris”, com a nota máxima e foi apontada como a candidata com os melhores dotes artísticos, possuindo apenas cinco anos de estudo com Chiaffarelli. Em 1911, depois de ter sido, por dois anos, aluna do concertista húngaro Isidore Philipp, concluiu as provas finais - Este texto foi baseado, principalmente em: Orsini, Maria Stella. Uma arrebatadora história de amor. São Paulo: Companhia Ilimitada, 1992. 2- Fauré e Moszkowski também faziam parte da Banca Examinadora. 3- Ribeiro, José Alexandre S. Jornal “O Município”, 15 de agosto 2009, p. 3.

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e foi diplomada com o “Premier Prix du Conservatoire”. Aos dezesseis anos iniciou a carreira de concertista, estreando em Londres e em Paris, nos Concertos Colonne. A partir de então, passou a receber inúmeros convites para realizar recitais na França, Itália, Suíça, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, entre outros países e, por onde se apresentava, recebia calorosos aplausos do público e da crítica. Sempre brilhando nos palcos, teve uma carreira internacional de 62 anos, com a rara felicidade de que seus méritos nunca foram questionados, mas aplaudidos. Consolidou um talento artístico desmesurado, cuja maior característica foi a nobreza e a fidelidade estilísticas absolutas, acolitado por uma insuperável sutileza no uso dos pedais do piano, o que resultava numa sonoridade ímpar, e que davam à sua música grande clareza. Mais do que tocar piano, ela fazia música da mais alta qualidade artística, usando a técnica como rara especialidade. Transfigurava-se de tal modo ao piano, tocando de forma arrebatadora como se estivesse improvisando, o que a fazia parecer em transe. Foram muitas as láureas que lhe conferiram e entre elas, em 1939, a da “Légion d´Honneur” da França. Em 1956, recebeu do governo brasileiro a “Comenda da Ordem do Mérito”, como legítima Embaixatriz da Arte Brasileira. Em 1967, foi convidada pela Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, para um recital em Londres na inauguração do Teatro Queen Elizabeth e ainda nesse ano recebeu do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo a Medalha Imperatriz Leopoldina. As apreciações relativas ao seu raro desempenho foram inúmeras, entre elas a do eminente crítico norte americano James Bibbons Huneker, que disse: “Nem todas as gerações têm o privilégio de ouvir uma Guiomar Novaes”. Outros norte-americanos teceram crítica ao seu desempenho pianístico, afirmando: “Toca como se algum espírito estivesse assoprando, em seus ouvidos, os segredos mais profundos de toda a harmonia”. Mais aplausos: “Se ela tivesse nascido alguns séculos atrás, certamente teria sido queimada como feiticeira. Ela é jovem, bonita e toca como o diabo”. É bom lembrar que ela foi destaque num tempo em que as mulheres eram apenas coadjuvantes das personalidades masculinas e ela com seu talento e criatividade conquistou o mundo. “Foi preciso aparecer uma jovem vinda de tão longe para fazer com que os críticos repensassem a tradição de que apenas os poloneses e os russos eram excelentes intérpretes de Chopin. Com Guiomar Novaes (...) essa tradição caiu por terra”, afirmou outro crítico. Diziam ainda que “Guiomar Novaes era simples, discreta e tímida, mas quando chegava perto do piano transformava-se”. Foi fruto de muitos estudos acadêmicos, com diferentes e, às vezes, inusitadas visões. Tofano afirmou: “Guiomar Novaes, Magdalena Tagliaferro e Antonieta Rudge teimaram e tiveram que romper barreiras (...) trilharam um caminho muito difícil, em que abriram mão de seculares papéis femininos. Entre as mulheres desta época havia a domesticidade, a aproximação forte com o piano, mas quando chegava o limite entre o diletantismo, a prenda doméstica e o profissionalismo, havia uma barreira , que poucas conseguiram transpor (...) foi considerada excepcionalmente genial ao interpretar Schumann e Chopin, além de ter sido grande divulgadora, no exterior, de Heitor Villa-Lobos. ‘Não há pianista como Guiomar Novaes’. ‘É uma artista que vicia” . Cada apresentação de Guiomar era considerada uma aula de talento natural, competência laboriosamente conseguida e profissionalismo inabalável, o que fez dela uma das mais perfeitas e renomadas musicistas do mundo, figurando inclusive entre as maiores celebridades nos meios artísticos musicais da Europa e dos Estados Unidos, no século XX, quiçá de todos os tempos. Já no Brasil, é considerada a maior pianista e São João da Boa Vista, sua terra natal, reconhece-a como sua mais expressiva filha internacional. Depois de uma vida inteira dedicada à música, ela foi enterrada ao som da “Marcha Fúnebre” de Beethoven, executada pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, regida pelo maestro Eleazar de Carvalho. Por iniciativa de Rageh Adib e apoio do Prefeito Nelson Mancini Nicolau e Lito Blasi foi criada a “Semana Guiomar Novaes”, em 1977, e anualmente, desde então, a ilustre pianista é homenageada com eventos musicais. É sanjoanense!

- Tofano, Jaci. As pianistas dos anos 20 e a ..., apud Guimarães, Ernani. Profissão Pianista, Jornal Folha de São Paulo, Caderno - Livros, 13 de janeiro 2008. p. 8.

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ORIDES FONTELA

*São João da Boa Vista/SP - 21 de abril de 1940 +Campos do Jordão/SP - 02 de novembro de 1998 “Poesia alada e cheia de peso”

Antonio Candido

Falar sobre Orides Fontela, cuja poesia traz alumbramento e magia, é sempre um desafio. Nasceu em família operária e iletrada, era filha única de Álvaro Fontela e Laurinda Teixeira Fontela. É ela mesma que, através de sua poesia, nos dá algumas orientações sobre sua origem. HERANÇA Da avó materna: Uma toalha de batismo. Do pai: Um martelo Um alicate Uma torquês Duas flautas. Da mãe: Um pilão Um caldeirão Um lenço.

Desde criança, escrevia versos e muito cedo começou a publicar seus escritos nos jornais e revistas estudantis,como este poema, de 10/10/1963. 1 ORIGEM Nem flor, nem ramo, porém RAIZ: íntegra. Sórdida. Nem folha ou verme, mas raiz Absoluta. Amarga. Nem pétalas, nem caule E nem botões. Nem sequer planta. Só a raiz É o fruto.

Ainda nos anos sessenta, quando morava em São João da Boa Vista, foi “descoberta” pelo seu conterrâneo e crítico literário Davi Arrigucci Jr., que aprovou sua poesia e incentivou-a. Logo após, mudou-se para a capital paulista e estudou Filosofia na Universidade de São Paulo - USP. Orides Fontela autografa o livro Teia, em 1996, na Papyrus Livraria. Zezé Em 1969, publicou o seu primeiro livro “TransposiLopes, Mabel, Maria Célia Marcondes, Adélia Adib, Beatriz C. Pinto ção”. Depois, vieram: “Helianto” - 1973; “Alba” - 1983 - Prêmio Jabuti; “Rosácea” - 1986 e “Teia” - 1996. Os quatro primeiros livros foram reunidos no volume “Trevo”. Na França, em 1998, em edição bilingue, seus poemas foram publicados em dois volumes com o título “Trefle” e em 2010 foram traduzidos e publicados na Espanha. Em 2006, sua obra, póstuma, foi reeditada com o nome “Poesia Reunida”. Professora primária e bibliotecária, Orides viveu sempre em meio a grandes dificuldades. De temperamento difícil, 275


personalidade lacônica e amargurada, provocou escândalos com seus melhores amigos. Solitária, sem filhos ou parentes próximos, sem móveis ou objetos acumulados, a única e principal referência de Orides é sua poesia, da qual era muito zelosa e tinha completo domínio de sua estrutura. Boêmia e depressiva, faleceu precocemente num sanatório em Campos do Jordão. Como foi afirmado: “Seu fim, em um hospital público, foi o desenlace a um drama sempre anunciado”. Ninguém melhor para falar dessa importante poeta sanjoanense que críticos literários de renome nacional. Vejamos: Ao fazer o prefácio do livro “Alba”, Antonio Candido afirmou que “Orides Fontela tem um dos dons essenciais da modernidade: dizer densamente muita coisa por meio de poucas, quase nenhumas palavras”. Escreveu ainda que “denso, breve, fulgurante, o seu verso é rico e quase inesgotável, convidando o leitor a voltar diversas vezes a procurar novas dimensões e várias possibilidades de sentido.” Já Ivan Marques 2 , disse: “o que inegavelmente faz de Orides uma poeta mágica é o número infinito de significações, que seus poemas trazem ao leitor; é a riqueza dos símbolos frescos e inspirados, não teóricos, mas intensamente vividos.” Afirma ainda que “da tragédia pessoal de Orides, é possível que se apaguem pouco a pouco os vestígios; que interessará cada vez menos o folclore de encrencas e frustrações que andou nutrindo apetites sórdidos na imprensa; mas nunca deixará de impressionar a disparidade entre a biografia e a obra.” CORUJA Vôo onde ninguém mais – vivo em luz mínima. Ouço o mínimo arfar – farejo o sangue e capturo a presa em pleno escuro.

Augusto Massi em “Uma obra feita em espiral” 3 assinalou que “a poesia de Orides não nasce problematizando o fazer poético, ela nasce da própria problematização”. Donizete Galvão, 4 amigo da poeta, refletiu sobre sua poesia e vida, e considerou que “há um tom de amargura lírica e seca em seus poemas que primam pela concisão, pela dureza óssea, pela economia de recursos e pela densidade, em momento algum ela é sentimental”. José Nêumanne 5 enfatizou também esse aspecto monossilábico, lacônico da poeta e considerou que a sua biografia está inscrita em sua poesia “a palavra poética de Orides Fontela, escassa e exata, nunca se deixou seduzir pelo exercício narcísico e cíclico da viagem em torno do próprio umbigo. Bendita seja, pois, a amargura que lhe incutiu vida, nervos e sangue”. Elegia a Orides Fontela

Orides Fontela e José Marcondes - amigos desde a juventude Papyrus Livraria - 1996

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Maria Célia de Campos Marcondes

Tu eras flor! Mas, foste mais espinho do que flor. Eras beleza! Sendo que em tua vida foste mais fealdade que beleza. Tu eras leveza! Apesar de seres mais pesada que o próprio peso. Eras doçura! Não obstante, foste mais amarga do que doce. Tu eras harmonia! Porém, foste mais confronto que harmonia. Eras grandeza! Sendo tão frágil em teu pequeno físico. Assim eras tu: um paradoxo entre o ser e o não ser. Entre o viver e o sentir. Entre o real e a utopia. Assim eras tu: hermética em tua eloquência. Assim eras tu, que manejaste, com magia, com encantamento, a palavra viva, a palavra forte, a palavra que desperta e faz vibrar a alma.


Orides Fontela é um nome importante e respeitado na Literatura Brasileira. Em homenagem póstuma foi admitida, em 2007, pelas relevantes contribuições à cultura brasileira, na “Ordem do Mérito Cultural - na classe de Grã-Cruz”6, comenda outorgada pelo Presidente da República, Luiz Inácio “Lula” da Silva e pelo Ministro da Cultura, Gilberto Gil. É sanjoanense!

Notas Referenciais ORIDES FONTELA 1- Revista publicada pelo Instituto de Educação Cel. Christiano Osório de Oliveira, em comemoração ao seu 36º aniversário – meados da década de sessenta. 2- Revista Cult nº 28, 1999. 3- Jornal “Folha de São Paulo”, 2001. 4- www.tanto.com.br/orides-donizete.htm 5- Jornal “O Estado de São Paulo”, 26/5/00. 6- Decreto Federal de 22 de outubro de 2007.

Orides Fontela - Década de 1990 - Foto Fritz

Helena Buzon e Sandra Junqueira Franco representando Orides Fontela na peça “O Tempo Pingando dos Olhos”, no Teatro de Tábuas, em 2004.

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PATRÍCIA REHDER GALVÃO “PAGU”, A PIONEIRA *São João da Boa Vista/SP -09 de junho de 1910 +Santos/SP -12 de dezembro de 1962

“Sonhe! Tenha até pesadelos, se necessário for. Mas sonhe.”

Pagu Pagu , a eterna rebelde, contestou os valores da época, posicionou-se não só politicamente, mas também como mulher; sofreu torturas e esteve presa muitas vezes. Seu padrão de comportamento nunca se enquadrou aos padrões culturais da época, seja como mulher, militante política, esposa ou mãe. Sempre esteve à frente de sua época, desafiou os padrões vigentes, contestou, viveu de buscas e ansiedades, sem máscaras, manteve, porém, sempre a marca do feminino. Era uma mulher bonita e atraente, reunindo a beleza física, espiritual e intelectual. Precursora, com um agravante, era mulher num mundo extremamente machista. Andou na contramão, por isso ainda hoje incomoda, provoca e intriga; encarou a verdade através da paixão pela vida e pela existência humana. Era a incorporação da ousadia, da polêmica, da crítica e do protesto. Recusou limitar sua vida à rotina do cotidiano, engajando-se numa verdadeira revolução cultural. Furlani afirma: “É espelho, é cristal, luz e vida para as pessoas que buscam a verdade e a realização dos sonhos utópicos, e os dela transpunham seus limites pessoais, chegando a pensar num mundo igualitário no qual todos seriam felizes e teriam oportunidades.” Foi poeta, desenhista, jornalista, musa inspiradora do modernismo, romancista, política militante do Partido Comunista, dissidente desse mesmo partido, incentivadora da cultura brasileira e universal. Pagu criança em São João Em todos os momentos, inclusive na vida pessoal, foi fiel ao projeto de renovação que da Boa Vista - 1913 acompanhou o desabrochar do “Movimento Modernista”, no qual se engajou a partir dos 18 anos de idade. A crise econômica dos anos 30, deflagrada pela depressão de 29, arrastou Pagu para as ruas, para a militância política, juntamente com seu companheiro Oswald de Andrade. Foi presa quando participou ativamente do comício do Partido e dos estivadores em Santos. Foi ela quem levantou do chão a cabeça ensanguentada de um estivador ferido no confronto com a polícia e morto em seu colo. Ao sair da prisão, o Partido Comunista obrigou-a a declarar-se uma “agitadora individual, sensacionalista e inexperiente”. Nesta fase de engajamento político escreveu “Parque Industrial” publicado em 1933. É “um romance proletário”, que reflete a solidariedade da autora com a mulher operária de origem italiana do Brás e também mostra seu engajamento político e social, que seria uma preocupação da intelectualidade dos anos 30. Para Furlani, “Parque Industrial” é um romance modernista, urbano, ousado, marxista e feminista, que escandalizou tanto o leitor burguês, como a própria militância comunista. Seus personagens são quase todos mulheres; moças de fábrica e de ateliê de costura, militantes do Partido Comunista, normalistas. Os homens são geralmente seus espancadores, delatores e sedutores. O romance escancara situações que não se enquadravam nem no moralismo burguês, nem no mundo comunista. Em pelo menos três aspectos era revolucionário. Primeiro, faz a ligação entre exploração econômica sofrida pelo proletariado, com a exploração sexual sofrida pelas mulheres, denunciando a mulher proletária como a de piores condições de vida, e isto desvelou um mundo até então encoberto, surpreendeu. Segundo, utiliza elementos da linguagem diária, cotidiana, “grosseira”, do povo e isto incomodou. Por último, aborda de maneira aberta e franca a sexualidade dos per - Texto de Maria Célia de Campos Marcondes, baseado em FURLANI, Lúcia M. T. Pagu, Patrícia Galvão Livre na Imaginação, no Espaço e no Tempo. Santos/SP: Ed. UNISANTA, 1999 e GUEDES, Thelma. Pagu, Literatura e Revolução. Cotia/SP: Ateliê Editorial, 2003.

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sonagens e isto escandalizou. Precisou usar o pseudônimo de Mara Lobo para publicar o romance, pois nem mesmo o Partido Comunista deu-lhe o aval em usar seu próprio nome, que era ligado ao Partido. “Parque Industrial” foi traduzido nos EUA pela Universidade de Nebraska sob responsabilidade do brasilianista David Jackson. Pagu não suportava a condescendência, nunca a teve. A publicidade que obteve, enquanto viveu, foi, via de regra, depreciativa. Ela é, pela dramaticidade de sua vida, pela sua natureza não conformista, uma figura que ainda incomoda aos preconceituosos e aos que pretendem dirigir “corretamente” a vida, os outros, a literatura e as artes; àqueles que não ousam discordar, discutir, ir além das normas vigentes, do mundo em que se foi colocado. A identificação com os sonhos e ideais de Pagu a faz imorredoura, “eterna no tempo e no espaço”. Esta identificação faz ainda com que sua luta, sua ousadia, seu “eu” estendam-se além de sua época; ligue sua história à luta e à denúncia da opressão das minorias, da necessidade, através do ato, da superação de preconceitos, e da luta incessante para a construção da cultura brasileira. Ela antecipou, em muitas décadas, problemas que só seriam discutidos e tornados socialmente conscientes no final do século XX. Foi pioneira nas idéias e na ação, transcendeu seu tempo, por isso sofreu, sentiu o ostracismo, foi perseguida, presa, torturada, não se vergou, não se entregou. Somente a doença venceu-a. A vida do espírito, porém, desconhece a morte. Fez história. É sanjoanense!

Pagu em desenho de Di Cavalcanti

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OS HOMENS FERNANDO FURLANETTO – O ESCULTOR *São João da Boa Vista/SP - 05 de março de 1897 +São João da Boa Vista/SP - 20 de abril de 1975

Fernando Furlanetto é também um nome importante da arte em nossa cidade. Era filho de emigrantes italianos que escolheram São João da Boa Vista para morar, e aqui nasceu um ano após seu pai instalar a marmoraria na Avenida Dª. Gertrudes. O ESTUDANTE Aos 14 anos de idade, em 1911, acompanhando a família Giannelli, partiu para a Itália a fim de estudar na Scuola di Belle Arti “Satagio Stagi”, de Pietrasanta, na Toscana, onde permaneceu por oito anos estudando e convivendo com grandes artistas que lhe ensinaram a expressar o seu talento de escultor. Além da escultura, aprendeu, sempre com excelentes professores, arquitetura, anatomia, desenho, e também música, pois era violinista.1 Em 1915, conquistou a Medalha de Prata, no terceiro ano de curso, na disciplina Decorazione Pittorica. Recebeu também diplomas de louvor, honrarias incomuns a um estrangeiro em uma terra pródiga de artistas. Lá foi chamado de “valente artista americano”, na revista italiana “Lo Scultore e il Marmo”, de 15 de fevereiro de 1916. O ESCULTOR E SUA ARTE FUNERÁRIA De volta ao Brasil, foi aqui em São João que se instalou e produziu todas as suas obras esculturais de inestimável valor, que enriquecem a cidade e região com um imenso patrimônio artístico localizado principalmente no Cemitério e na Catedral locais. A criação de uma escultura é trabalho muito complexo e passa por várias fases. Furlanetto, ao ter inspiração para uma obra, primeiramente projetava-a num papel, para só depois começar a executá-la; daí sua dedicação também ao desenho. Depois do estudo pronto ele o modelava em argila e fundia-o em gesso. Essa obra em gesso, que guardava, constituía seu acervo e servia de modelo para o original que seria, por ele, esculpido em mármore de Carrara ou fundido em bronze. Poucas são suas obras ornamentais, próprias para decoração ou para colecionadores, a maioria delas são figuras sacras; encomendas que recebia para serem colocadas em altares de igrejas e, segundo costume da época, em túmulos, o que transformou nosso cemitério num imenso e belo museu a céu aberto onde “sua arte resplandece entre alamedas arborizadas, numa verdadeira galeria de obras primas, num patrimônio cultural, que a ação do tempo e a inconsciência das pessoas insistem em deteriorar”. 2 Entre tantas maravilhas ali localizadas, sua obra-prima é, sem nenhuma dúvida, nem para o próprio escultor, o túmulo de Angelina de Oliveira Bueno e sua filha. Esse monumento conta a história dessa mãe, que já havia perdido dois filhos pequenos e veio, também, a perder sua filha, Dina Benvinda, de apenas sete anos de idade, vítima de uma apendicite aguda. A dor foi tão grande que ela desistiu de viver; fechou-se em seu quarto e de lá não quis mais sair. Vinte e oito dias depois, também faleceu. A avó materna, segundo depoimento de D. Mercedes Beozzo Furlanetto, Caridade - Obra de Fernando Furlanetto Foto José Marcondes

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esposa do escultor, procurou Fernando e pediu-lhe que fizesse um túmulo, retratando a tragédia que acometeu a família, ou seja, transpusesse todo esse drama para o mármore.3 Em entrevista,4 afirmou D. Mercedes, que “Fernando ficou semanas sem dormir direito, até que foi iluminado por uma inspiração divina, e realizou esse trabalho belíssimo”, ressaltou que “o rosto de Angelina foi realizado com base em sua máscara mortuária e o de Dina, em fotos da menina”. Esclareceu ainda que “Fernando considerava o túmulo de Angelina e Dina como sua melhor obra funerária, onde os retratos são perfeitos e a emoção latente”. É uma “estrophe de mármore soluçante”, como escreveu Padre Heliodoro Pires, na década de 1920. 5 Na mesma entrevista declarou que Fernando, por muitas décadas, cuidou da conservação do túmulo até que foi desobrigado pela família, fato que o entristeceu muito. Como se não bastasse sua extraordinária capacidade na arte de esculpir, sua genialidade vai também ser demonstrada como retratista excepcional, haja vista um comentário elogioso publicado no jornal 6 quando terminou o túmulo do Cel. Gabriel Ferreira: “Fernando Furlanetto venceu todas as difficuldades oriundas da falta de uma photographia adequada, e conseguiu com esforço e habilidade raras, reproduzir com exactidão a imagem do respeitável extincto. Os traços principaes da phisyonomia foram apanhados com felicidade, de modo que a impressão do conjuncto é magnífica e verdadeira.” Outras grandes obras de Furlanetto são: o túmulo “Bondade”; a “Piedade” para o túmulo de José Pedro de Oliveira; a monumental capela funerária, em granito negro, do Cel. Cristiano Osório de Oliveira; a escultura do menino Alfredo Pirajá, que sentado num banquinho, atrai a atenção de todos que por ali passam e, há décadas, mães colocam chupetas dependuradas em seu pescoço, ex-voto pelo filho haver deixado de chupá-las, entre dezenas de outras obras que enriquecem nosso campo santo. Como afirmou Lorette: “as esculturas vivem... parecem que nos obBailarina - Obra de Fernando Furlanetto servam, nos questionam, pensam, olhando o infinito...” A maioria dos altares da catedral de São João da Boa Vista é obra de Furlanetto, além do complexo desenho do portal de ferro da Capela do Santíssimo. Algumas poucas estatuetas, de sua autoria, enfeitam salas de visita; talvez as mais famosas sejam: a “Bailarina” que, de tanta leveza e delicadeza, parece estar em movimento, além de “Volúpia”, uma ousadia para a década de 1930. EPÍLOGO Um glaucoma, em 1971, fez com que não mais produzisse, fato que muito o deprimiu e, a um jornal de Campinas, afirmou: “para mim o mármore é um fascínio. Eu não sei fazer outra coisa. A escultura tem sido a minha vida, e agora que os meus olhos já não me ajudam, sinto apenas tristeza”. Veio a falecer aos 78 anos de idade, sem ter conseguido executar o retrato de sua filha Ana Lúcia. Segundo sua viúva, um amigo dedicou-lhe o epitáfio: “Fernando Furlanetto passando pelo mundo não entesourou nada para si, mas entesourou para Deus”. Completou ela a idéia, afirmando que “foi ele um artista puro, sua vida foi muito bonita, mas muito dura, tinha grande paixão pela carreira e pela sua terra, mas tinha também total desprendimento material e apesar de todo talento, sua vida sempre foi muito difícil, com pouco retorno financeiro”. Após seu falecimento, dois fatos vão se interligar e dar destino ao acervo do artista: uma fundição de Rio Claro/SP veio até São João para adquirir as cópias em gesso, pois a partir delas, novas peças seriam produzidas em bronze; e, neste ínterim, um temporal destelhou grande parte do barracão que abrigava todos os modelos, perdendo-se algumas obras, danificando outras e as salvas corriam sério risco. A viúva não sabia o que fazer e ainda precisava do espaço, pois havia muita procura para alugar um local tão valorizado, em plena Avenida D. Gertrudes. 281


D. Mercedes aconselhou-se com José Marcondes e decidiram que as mesmas, por constituírem um precioso acervo artístico, deveriam permanecer na cidade. Assim, com orientação e cuidados técnicos de Marcondes, as obras devidamente impermeabilizadas e patinadas, foram doadas para repartições públicas e escolas de São João da Boa Vista, a saber: Museu Pedagógico Armando de Salles Oliveira, Fórum Dr. Plínio Barreto, Câmara de Vereadores, sede da Prefeitura Municipal, Seminário Sagrado Coração de Maria, escolas Pe. Josué, Instituto de Educação, Teófilo de Andrade, Francisco Paschoal, Joaquim José, além da APAE, Asilo São Vicente de Paula e Velório Municipal. Dessa maneira, tão valioso patrimônio não se perdeu. HOMENAGENS Enquanto estes fatos aconteciam, outro também se desenrolava, pois D. Mercedes, em homenagem ao marido e para ser fixado no seu túmulo, encomendou o busto de Furlanetto ao escultor e amigo de longa data Vilmo Rosadas, famoso artista de Rio Claro/SP. Ao chegar a obra, chamou Marcondes para vê-la e ele não concordou com a proposta de colocá-la no cemitério, pois Furlanetto era uma pessoa muito importante para São João e assim sendo, o busto deveria ficar em uma praça pública para que o sanjoanense o reverenciasse. A filha, Ana Lúcia, concordou com o artista plástico e D. Mercedes acabou também acolhendo a ideia. Foi escolhido um anjo para o túmulo e, a partir de então, Marcondes começou a batalhar para conseguir, junto ao poder público, que a obra fosse colocada no final da Avenida D. Gertrudes, início da Praça Cel. José Pires. Esse local foi o escolhido porque na avenida o escultor nasceu e viveu praticamente a vida inteira. A justificativa poética era a de que, dali, ele poderia continuar a vislumbrar o local tão amado e acompanhar o pulsar e o crescer da cidade. Em 20 de junho de 1987 7, na gestão do então Prefeito Municipal Sidney E. Beraldo, inaugurou-se o busto de Fernando Furlanetto, obra em bronze, de Vilmo Rosadas, cujo projeto do pedestal foi de José Marcondes onde mostra, em composição simples, os três elementos mais trabalhados por Furlanetto: granito, mármore e bronze. De granito é a base triangular cruzada por um bloco em mármore de Carrara onde está assentado o busto em bronze. A viabilidade econômica dessa realização deveu-se ao amigo Luis Silvestre Sibin. Na base, em uma placa, também em bronze, lê-se: “Ao escultor sanjoanense, Fernando Furlanetto, homenagem da população - 20/06/1987”. Em 1997, dez anos após a inauguração do busto e 20 anos depois da 1ª Exposição de Artes da Semana Guiomar Novaes, que por vários anos homenageou o artista, criou-se a Semana Fernando Furlanetto 8. A versão 2005, em sua “VIII Semana”, comemorou 30 anos de seu falecimento. Ficou a alegre sensação de que as lutas travadas e os esforços realizados para que seu nome não fosse esquecido e os modelos de suas obras aqui permanecessem, concretizaram-se. Percorrer as alamedas arborizadas do Cemitério da cidade é uma aula de história e de arte, é uma galeria a céu aberto, onde as obras-primas de Fernando Furlanetto, em mármore e bronze, são retratos de saudade. É um acervo artístico de grande significado e motivo de orgulho, por isso urge que políticas públicas sejam elaboradas com a finalidade de preservação histórica e artística desse patrimônio tão importante, em que “a ação do tempo e de vândalos está a destruir, depredar e deteriorar. São peças originais, são obras de arte, são marcas de nossa cidadania, de nossa história e cultura, de nosso amor a São João da Boa Vista. Sem dúvida, a melhor homenagem que se pode prestar a Fernando Furlanetto é a preservação de sua obra, no cemitério. Local este que, em vida, mereceu tantos cuidados do escultor” 9. Busto do escultor Fernando Furlanetto - Praça Cel. José Pires É sanjoanense! Foto de José Marcondes

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Lamento - Obra de Fernando Furlanetto - Foto de JosĂŠ Marcondes

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Fernando Furlanetto, “Grande Escultor Sanjoanense”, em seu ateliê. 1972 - Foto de José Marcondes

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Anexo No túmulo de Angelina e sua filha Dina há, em alto relevo, na sua parte superior, em forma de meia abóbada celeste, muitos querubins rodeando Jesus Cristo adulto, que sentado bem no centro da abóbada, tem, à sua direita, um menino em pé e, à esquerda, no seu colo, outro menino. As duas crianças representam os dois filhos que Angelina havia perdido. Um deles aponta, com o dedinho, sua irmã Dina. Esta abóbada é ladeada por duas colunas, tendo em seu cimo duas piras acessas. Abaixo desta abóbada, há um painel de lírios. Tudo que foi descrito forma o fundo do túmulo. À frente, em um plano mais alto, há uma escultura em tamanho natural, que representa a menina Dina chamando, com os braços estendidos, sua mãe Angelina, também em tamanho natural, que, em nivel abaixo, com as mãos cruzadas no peito, vai ansiosa subindo os degraus, ao encontro da filha. Ladeando-as, há a estátua de dois anjos adultos ajoelhados e de mãos postas”.

Dina e Angelina - Obra de Fernando Furlanetto - Foto José Marcondes

Notas Referenciais

FERNANDO FURLANETTO 1- A informação de que Furlanetto era violinista foi colhida na entrevista de Zetti Cunha, com seu filho Antonio Furlanetto. Jornal “O Município”, 20 de junho de 1998- caderno Vi...Vendo - p.3. 2- Lorette, Antonio Carlos - R. Catálogo: “Quem foi Fernando Furlanetto”. Ciclo de Palestras sobre vida e obra das personalidades da Galeria Papyrus, 14 de abril de 1999. Muitos dados foram também retirados de Falconi, Rodrigo - jornal “O Município”. 3- Foi realizado em mármore de Carrara, especialmente trazido da Itália. 4- Biazzo, Ana Eugênia. “Mercedes Beozzo Furlanetto – Recordações de um grande artista”. Jornal “O Município”, 19 de agosto de 1989. 5- Jornal “O Município”, 01/05/1920, p. 1, citados por Lorette, Antonio Carlos R. em “O Município”, Caderno Vi...Vendo, 4/11/1995. 6- Idem. 7- O jornal “Gazeta de São João” de 24 de junho de 1987 noticiou a inauguração. 8- Lei NR 026 de 13/05/97 instituiu a “SEMANA FERNANDO FURLANETTO”. 9- Arten, Francisco. “Furlanetto Vive”. Jornal “Correio Sanjoanense”, 14 de maio de 2005, p. C1. 285


CLÁUDIO RICHERME

São João da Boa Vista/SP - 08 de junho de 1952

Mestre, pesquisador e consagrado concertista, Claúdio Richerme trilha os passos do sucesso no mundo da música erudita, “possui técnica impecável e uma flexibilidade elegantemente refinada”. A imprensa local publicou: “São João da Boa Vista se fez representar no maior centro artístico do mundo, Nova York, em março de 1989. O embaixador foi o grande pianista Cláudio Richerme e o jornalista do jornal ‘O Globo’ assim se expressou: ‘Exitosa atuação do pianista brasileiro Cláudio Richerme, foi aclamado calorosamente durante o brilhante concerto que ofereceu no Weill Recital Hall, anexo ao Carnegie Hall de Nova York. (...) Reconhecidamente ovacionado ao final de cada uma de suas interpretações, tocou Camargo Guarnieri, Chopin, Bela Bartok e Villa Lobos’. Nesta tournée apresentou-se ainda em Washington, na Sala de Concertos do Fundo Monetário Internacional. Seu recital foi patrocinado pela Fundação Cultural de Brasileiros de Nova York”. Já na Europa, teve seu “debut” no Musikverein de Viena, em 1985, e o jornal austríaco Wiener Zeitung, após o concerto de Richerme, afirmou que “é preciso usar muitos superlativos para lhe fazer justiça”. Tem recebido, pois, constantes elogios da crítica especializada nacional e internacional. Foi, por duas vezes, premiado pela Associação Paulista de Críticos de Arte como o “Melhor RecitalisClaudio Richerme apresenta-se na XXIX Semana Guiomar Novaes- Theta do Ano”. atro Municipal de São João da Boa Vista - setembro de 2006. Foto José Marcondes Richerme divide sua carreira internacional de pianista com a didática e com a pesquisa. Pertence ao corpo docente do Instituto de Artes da UNESP, São Paulo. É doutor em música, quando defendeu a tese “A Técnica Pianística: uma abordagem científica”, publicada em 1998. Escreveu ainda o livro “Afinal, o que é Arte?” Na Semana Guiomar Novaes, participa como concertista desde a primeira edição, para o deleite e orgulho dos sanjoanenses. Após Guiomar Novaes, Richerme vem brilhando e elevando cada vez mais o nome de São João da Boa Vista, no Brasil e no exterior. É sanjoanense! Pianistas: Claudio Richerme, Zézinho Só e o uruguaio Júlio Cezar Huertas com Maria Célia Marcondes. Jantar Filosófico “Momentos Musicais” - janeiro de 2006 - Foto José Marcondes

Jornal “O Município” abril de 1989.

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UMA FAMÍLIA: ASSAD

Merece também destaque especial a família Assad , formada pelo casal Jorginho – bandolinista - e Ica – cantorae seus quatro filhos: Cito - ritmista, Sérgio e Odair - Duo Assad-violonistas e Badi violonista e cantora,. “Canto desde que me conheço por gente”, confessa a matriarca Angelina Maria de Oliveira Assad, “Dona Ica” - Andradas/MG, 31 de julho de 1930. Seus admiradores afirmam que “quando ela canta, sua voz meiga, aguda e muito afinada faz sonhar e que sabe, de maneira única, pronunciar as palavras dentro da melodia”. Jorge Assad Simão Filho - *São João da Boa Vista, 19 de abril de 1924 - +28 de maio de 2011 -, relojoeiro por profissão, começou a tocar por volta dos dezenove anos de idade. Autodidata, afirma que “não sabe música” e que sempre muito curioso e perfeccionista, ao ouvir e gostar de uma melodia, trabalhava nela até deixar no ponto certo. Seu primeiro instrumento, um cavaquinho, ele ganhou numa rifa e foi Apresentação da Família Assad - Em pé da esquerda para direita: Badi, Clarice, Rodrigo, Ica, afinado pelo violinista Emílio Caslini, com “afiJorge, Carolina e Camille. Sentados: Odair e Sérgio Assad - (Divulgação) nação de bandolim que é a mesma do violino e, dessa maneira, aprendeu a tocar bandolim num cavaquinho.” A partir daí a música sempre fez parte da sua vida. Segundo suas próprias palavras, “o ouvido musical já nasce com a gente, é dom de Deus. Se não fosse o cavaquinho ter aparecido assim, talvez eu nem fosse musicista, apesar de possuir o dom.” O bandolim, que é o seu instrumento, demorou um pouco para entrar na sua vida, já o violão entrou em meados da década de 1950, quando morava em Mococa e ficou amigo de Rogério Cardoso “Rolando Lero”, que adorava cantar e não tinha quem o acompanhasse, o que o forçou a aprender esse instrumento. Em Mococa morou por seis anos e foi lá que nasceram os filhos Sérgio e Odair. Mudou-se para Ribeirão Preto em busca de melhor oportunidade de trabalho e lazer: “Lembro das serestas; meus pais viviam a tocar e cantar”, afirmou Sérgio. Foi nessa cidade que o talento dos filhos desabrochou, pois começaram a tocar com o pai e acabaram sendo “descobertos” por um jornalista do Rio de Janeiro, que se encantou com os meninos e os pôs em contato com a professora Monina Távora que morava no Rio, havia estudado com Andrès Segóvia e dava aulas de violão. Jorge levou os meninos até ela, que ficou maravilhada com o talento dos garotos e os quis como alunos. Tão forte foi sua influência na formação dos dois irmãos que fez Sérgio afirmar: “foi realmente uma pessoa que incentivou a gente a tocar, para fazer o que a gente faz, ela foi a chave, a grande mestra”. Mudaram-se, pois, para o Rio de Janeiro e lá muitas oportunidades apareceram. Sérgio chegou a acompanhar Jacó do Bandolim, no Teatro Record e também Elizete Cardoso. Graças ainda à maestria de que eram possuidores, ganharam um intercâmbio de seis meses para estudar em Seattle, EUA. Nesse tempo o Sérgio tinha quinze anos e o Odair onze. Em suas visitas a São João durante as férias, Sérgio, além de tocar, começou também a compor e, junto com seu amigo sanjoanense Renatinho dos Santos, fez suas primeiras canções e começou a participar dos primeiros festivais de sua vida. Nessa altura ele já estava definido como músico. “Na realidade a música me escolheu, eu não escolhi nada, fui escolhido”. Nesse momento não vislumbrava ser músico, queria apenas tocar, mas acabou graduando-se em música e regência, o que no começo foi difícil, pois o violão não era aceito na Escola de Música do Rio de Janeiro, onde começou seu estudo formal. Toda as informações sobre a Família Assad foram retiradas das entrevistas com Jorge, Ica e Sérgio Assad, concedidas a Silvia Ferrante e publicadas no jornal “Edição Extra”. Alguns dados foram completados por Badi Assad.

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Depois de doze anos morando no Rio de Janeiro, a família voltou para São João da Boa Vista, no final década de 1970; porém Sérgio e Odair ficaram a fim de dar continuidade à carreira do duo que já despontava internacionalmente. Aqui em São João, com treze anos de idade, Badi Assad começou a seguir os mesmos passos dos irmãos, quando aceitou o convite de seu pai para acompanhá-lo ao violão. Ela já conhecia todo o extenso repertório de chorinhos do pai e rapidamente tornaram-se atração nas festividades sociais e culturais da cidade. Nesta mesma fase, Badi começou também a estudar violão erudito e ainda muito jovem ganhou seu primeiro concurso “Jovens Instrumentistas do Rio de Janeiro”. Depois conquistou o prêmio de melhor violonista Brasileira no “Concurso Internacional Villa-Lobos” e aos 18 anos foi escolhida para representar o Brasil no “Concurso Internacional Viña Del Mar”, no Chile. Pronto, seu destino já estava traçado. Esta sanjoanense, possuidora do talento da família, logo se destacou na performance, no violão, sendo hoje exímia violonista além de percursionista, cantora, compositora, poetisa e faz sucesso não só no Brasil, como no exterior. Certa vez um crítico afirmou que era curioso assistir aos irmãos Sérgio e Odair transformando-se em um único som ao se apresentarem, ao passo que Badi, apresentando-se em solo, transformava-se em dois. Este relato retoma o velho tema do duplo: “bastante parecidos para serem dois e bastante diferentes para serem um.” Sérgio, no entanto, afirma que ele e Odair formam um Duo muito especial, pois na realidade eles são muito diferentes na interpretação e passam esta sensação quando tocam, sendo isto o que faz a magia do Duo e os torna “atemporais”. Sérgio faz os arranjos e com modéstia fala: “eu e meu irmão sempre fomos complemento um do outro, eu nunca tive o virtuosismo do Odair, meu papel, na história, foi o de arrumar o repertório, fazer os arranjos, ver a direção que a gente ia seguir”. Hoje eles estão em fase de redescobertas e diversificações, têm carreiras paralelas, tocam com outros músicos, continuando, no entanto, a apresentarem-se com sucesso, nos palcos do mundo. A mãe orgulhosa afirma que sua grande emoção foi quando assistiu ao primeiro concerto dos seus filhos na Sala Cecília Meirelles, no Rio de Janeiro. Mas o sucesso deles acontece também na Europa e Estados Unidos, sendo que em 2002 concorreram ao prêmio Grammy, e ganharam o “Grammy Latino de Tango” com o CD que traz a obra de Piazolla. No entanto, este não foi o único que conquistaram, pois a música “Tahhiyya Li Ossoulina” , composição de Sérgio Assad e sua filha Clarice, foi vencedora do Grammy de 2008 como melhor Ica e Jorge Assad - 2010 - Foto de Silvia Ferrante composição. A família reunida teve uma emoção considerada o “ponto culminante”, quando foi tocar nos Estados Unidos. Apresentaram-se em teatros lotados com até duas mil pessoas e gente famosa ouvindo-os, como o violoncelista YoYo Ma, que viajou especialmente para assisti-los. Foi em Los Angeles que a crítica no jornal comparou Ica Assad a Billie Holiday. Em Stanford, a família apresentouse no dia em que o patriarca Jorge completava 80 anos e a platéia, em pé, cantou “Parabéns a Você”. Foi grande, pois, a receptividade dos norte-americanos em relação ao trabalho deles. A Família Assad apresentou-se ainda no Palácio de Belas Artes de Bruxelas na Bélgica. Sérgio e Odair, apesar de viverem apresentando-se principalmente nos palcos europeus e norte-americanos, dizem que o laço afetivo com São João é imenso e que adoram vir para cá. Já Badi fixou residência em nossa cidade e é daqui que sai para suas apresentações, não só no Brasil, mas também pelo mundo. Hoje, além dos quatro filhos, a família é composta também por sete netos: Clarice, Rodrigo e Júlia – filhos do Sérgio; Carolina, Gustavo, e Camile – filhos do Odair; e Sofia – filha de Badi. Parabéns à família de artistas! Pertencem a São João da Boa Vista! - Borges, Jorge Luiz. O Livro de Areia. Ed. Globo, 1999. 9- Em árabe quer dizer “de volta às origens”.

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MÚSICA, DIVINA MÚSICA ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

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As artes têm a singularidade de extasiar o ser humano e transportá-lo a mundos mágicos, místicos, misteriosos e encantados. De todas elas, talvez a música seja a que tenha, com maior intensidade e de maneira mais abrangente, este dom, este poder! Os gregos já acreditavam nisto e diziam existir íntima relação entre a moral de um povo e a música que entoava, afirmavam ainda que ela influenciava, sobremaneira, o relacionamento do homem com o outro homem, com Deus e mesmo com o mundo que o cercava. Ajuizavam também que influenciava as pessoas e, por conseguinte a sociedade em todos seus aspectos, tanto de emoções como comportamental. Iam além, ao declararem que viam na música a manifestação de harmonia que rege o movimento dos astros e que sustenta o equilíbrio do cosmos. Uma lenda grega conta ainda que Orfeu conseguia, com a música, extasiar os homens e aplacar a fúria dos animais. Sendo uma linguagem que ultrapassa os limites da palavra e expressão universal de sentimentos e emoções que acompanham os vários estados de espírito das pessoas, foi ela considerada, ao longo da história, como uma das mais sublimes criações da humanidade e essencial para o desenvolvimento do ser humano. Weber, ao analisar o ascetismo dos protestantes, concluiu que para eles as artes, de modo geral, eram desconsideradas, porém a música era permitida, mas só executada para a glória de Deus, “a falência da música popular, pós era elizabetana, na Inglaterra, é conhecida, pois foi notável o declínio do que parecia ser um promissor início musical dando ensejo ao vácuo musical, típico dos anglo-saxões” 2. Em contrapartida, as músicas religiosas tiveram grande esplendor e consistiam, em sua grande maioria, em hinos que levam a atitude de luta, ação, vigor e fibra, comportamentos considerados importantes no direcionamento de suas vidas. Em reportagem, uma revista, 3 ao avaliar os cem mais importantes fatos que mudaram o mundo no segundo milênio, colocou, entre eles, o “Rock and Roll” e aquilatou que antes dele sabia-se que a música tinha o dom de acalmar o diabrete que existe em todos nós, com o “rock” descobriu-se que podia também “soltar a besta selvagem dentro de nós”. Já Keith Richards 4 considera que “se não existissem as drogas, não existiria o ‘rock and roll’. Isso é fato”. Parece, pois, haver certa relação entre o tipo de música que uma sociedade executa e as respostas que se pretendem dela, mas isto não passa de mera hipótese, especulação, quem sabe, porém, seja um bom tema de discussão, quiçá acadêmica. OS PRIMEIROS No mundo da música, São João da Boa Vista sempre esteve intensamente ativa. Nele é pleonasmo citar Guiomar Novaes,5 nosso grande orgulho, pianista de renome internacional. Em sua homenagem, foi instituída pela Secretaria de Estado da Cultura, em 1977, e pela prefeitura Municipal de nossa cidade , a “Semana Guiomar Novaes” 6 realizada anualmente. Nesses dias os concertos, as récitas, as Orquestras Sinfônicas recebem aplausos dos sanjoanenses e moradores da região, apesar de não possuir ainda uma identidade definida. A vocação musical de nossa cidade parece, no entanto, que existiu desde sempre, porém iniciou-se este levantamento a partir da primeira metade do século XX, pois foi a partir dessa data, que se encontraram dados e surgiram, assim, os primeiros nomes. Não há dúvida de que, antes outros existiram, mas não se conseguiu levantá-los. Assim, têm-se as primeiras professoras de piano, sendo algumas delas pianistas: Alzira Kiellander; Dona Chiquinha; Filhinha Fontão de Souza; Filhinha de Souza Marcondes; Lila Murr; Maria Amélia “Mariquinha” Westin; Zenaide Paiva 7; Zilah Mattos, que ainda possuía “linda voz de soprano”; além dos pianistas José Telles Guimarães; Lázaro França; Paulo Ferranti; Augusto de Freitas; José “Zeca” Ribeiro, também violinista, e Thomaz Piocchi, entre outros. José Osório 8 nos narra que na ata da sessão de 30 de maio de 1900 do Centro Recreativo Sanjoanense há a notícia da criação de uma orquestra, presidida pelo Capitão Henrique Afonso Loyola e organizada sob os auspícios deste clube. Nela tomaram parte elementos de relevo social e deu grande brilho à sociedade durante os quatro anos de sua duração. 289


MÚSICA NA MATRIZ A Igreja Matriz 9 de São João da Boa Vista possuíu um órgão de tubos de excelente qualidade e Filhinha de Souza Marcondes foi uma de suas primeiras organistas, além de Zilah Mattos e Zenaide Paiva. Mais tarde tivemos Pe. Nicolau Fulgêncio Miranda; Nazaré Nogueira; Olímpia “Ziza” Oliveira de Andrade, também professora de violino, além de José Telles Guimarães. A Matriz teve, por muitas décadas, o “Coral Santa Cecília”, das mulheres, regido durante anos por Nazareth Nogueira e Olímpia “Ziza” Oliveira de Andrade e o “Coral São Luiz”, dos homens, regido, por algum tempo, pelo Pe. Nicolau Fulgêncio Miranda e um dos cantores foi Juveliano Pomeranzi. A soprano Nazareth Nogueira, durante anos, interpretou, magistralmente, “Verônica”, na “Procissão do Enterro” acontecida na Semana Santa, assim como Sônia Bissoli. A partir de certa época, muito provavelmente final da década de 1940, o mais tardar início de 50, houve a unificação dos dois corais sob o nome de “Coral Santa Cecília”. No final da década de 1950, era formado por José Paulo Nogueira de Oliveira; Ademar Claro; João Roberto Simões “Batata”; René Marcos Pozzi; Beatriz Noronha Azevedo; Elza Guarita; Elizabeth Bittencourt e Lúcia Nogueira de Oliveira, regido por Nazaré Nogueira e Edivina Noronha. Já na década de 1990 foi regido pela soprano Neusa Menezes, isto até a sagração da José Paulo Nogueira, Ademar Claro, Nazareth Nogueira, Edivina Noronha, Catedral, em 1995. João Roberto Simões, Renê Marcos Pozzi, Beatriz Azevedo, Elza Guarita, Elizabeth Bittencourt e Lúcia Nogueira. Acervo Família Nogueira O Padre Nicolau Fulgêncio Miranda, italiano, diplomado em música pela Real Academia de Nápoles, morou em São João entre 1928 e 1933. Foi excelente compositor de músicas sacras e através de sua composição “Oremus pró Pontíficie” ficou-se sabendo de algumas cantoras daquela época, pois ele dedicou esta música “às gentis cantoras Isaura de Mattos, Lourdes Marques Penha, Lídia Previero, Nazaré Nogueira, Zilah N. Mattos, Yone Datolli e Olímpia “Ziza” Oliveira de Andrade”. Isto datado de 24 de junho de 1942, pois apesar de Padre Fulgêncio não morar mais na cidade, vinha todos os anos, na comemoração das festas de São João. A VIDA MUSICAL PULSA Nessa época e por muitos anos, existiu em nossa cidade a “Casa Bulcão“ de propriedade de Izauro Bulcão, 10 que, entre outros artigos, comercializava instrumentos, partituras e materiais musicais. Folheando-se alguns catálogos da época, entre eles o catálogo “Noite de Brasilidade” 11 descobriram-se outras cantoras como “a menina” Astrid Marcos, além de Amélia Buzon; Aracy Marques; Celisa Costa Oliveira; Cota França; Elza Alcântara; Ione Datoli; Isaura Mattos; Lindalva Mattos Tavares; Jandira Silveira; Ludia Previero; Lucila França; Margarida Boaventura; Norma Gianelli; Sebastiana Amarante; Ruth Bulcão; a contralto Tita Mattos e “Nena”, que também cantavam na Catedral. Os cantores: Benedito Afonso de Souza; Cezar Skayer; Parrásio Pinto; Roque Iélo e Sebastião Marçal Campos também participaram do evento ”Noite de Brasilidade”. Entre os instrumentistas daquelas longínquas décadas pode ser citado o violinista Izauro Bulcão que pertencia à orquestra que tocava no Theatro Municipal no tempo de cinema-mudo. Foi professor, entre outros, de Olímpia Humberto David, Nazareth Nogueira, Ziza Andrade, violinista não identificado. “Ziza” de Oliveira Andrade e José Almeida Carvalho. Acervo Família Nogueira

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Citam-se, ainda, os violinistas: Zezé França; Jonathas Mattos Júnior “Jotinha”, Dr. Alípio Noronha; Quinha Neder; Veldo Westin; Ziza Andrade e mais tarde Nascipe Atalla Murr e Emílio Caslini. Estes dois últimos foram também compositores e entre suas composições podem-se salientar a “Ave Maria” de Emílio Caslini e a “Marcha Nupcial” de Nascipe Murr, que ainda compôs, junto com José Telles Guimarães, a opereta “Branca de Neve”, apresentada, em 1932, com grande sucesso, no Theatro Municipal de São João da Boa Vista e em Poços de Caldas. Foi remontada em meados da década de 1950. Jonathas Mattos Júnior “Jotinha”, entre outras músicas, compôs, em 1992, o Hino da Catedral de São João Batista, de nossa cidade. Nascipe Atala Murr, organista e professor de música e orfeão do antigo Ginásio do Estado, formou nessa escola um coral onde se sobressaíam as sopranos: Sônia Bissoli, Lourdes Marques e Lourdes Bissoli, além do tenor Noracilde Lima. Podem ser mencionados ainda, além de Norberto Barbieri, entre os músicos daquela época: Paulo Gião professor de harmonia. No clarinete: José Júlio Gião também regente e professor; Basilídio Lopes de Campos “Bilu Carcereiro”; Antônio Nascipe Atala Murr - Divulgação Pradela, que também tocava flauta e Vitório Lorette que, além de clarinete, tocava acordeão. No saxofone, Henrique Martarello e Victório Piocchi que também era flautista, clarinetista e professor, considerado para muitos, um dos melhores músicos da cidade. No pistão, José Liberali Filho “Zandunga” e Acácio Mendes. No trombone, José Júlio Mourão. No violoncelo, João França. No violino, Acácio Mendes e Reynaldo Aleixo, 12 que também tocava contrabaixo e era professor. No violão havia Arnaldo Pozzi, que tocava ainda banjo; José Martins; os irmãos gêmeos Alfredo e Tino Cervedio, barbeiros de profissão que executavam também contrabaixo, bateria e banjo; além de Cornélio Noronha, que foi professor de José Lansac. No contrabaixo, têm-se os nomes Laurentino e Reynaldo Aleixo. Acordeão, Paulo Christensen. 13 Na bateria, Everaldo Esteves e Osvaldo “Vadinho” Carneiro. No trompete, João Carneiro “Carneirinho”. Reynaldo Aleixo Filho, conhecido por “Tio Nando” e por “Nando Aleixo”, tocava violão e bandolim. Formou um grupo de seresta com Lindão Garcia na gaita e vocal; Ninão na sanfona; Jorginho Assad no bandolin e Ica Assad, vocal. Na verdade, estes músicos tocavam, com maestria, vários instrumentos. UM GRANDE VIOLONISTA É oportuno destacar ainda o grande violonista José Lansac, 14 que chegou a ser professor dos Assad e formou, na década de 1960 (1964/68), um quinteto junto com seus alunos: Jorge Estevam; José Lopes; Dide Michellazo e Walter Cristensen. Juntos faziam saraus e serestas. Mas, sobre José Lansac há um belo depoimento de Rodolfo Galvani Júnior 15 “(...) e como interpretava! Suas mãos deslizavam pelo instrumento e tocavam com uma elegância, uma delicadeza e uma dinâmica extraordinárias. Ficava horas e horas deslizando clássicos e populares (...). Tinha muita paciência em falar dos autores e demonstrava ter grande e sólida cultura musical (...) com seu jeito gostoso, discreto e educado, conquistava a todos por onde passava (...)”. Galvani narra, ainda, o reconhecimento que José Lansac tem entre os violonistas paulistanos e paulistas. Já Luiz Nassif conta em seu artigo “A Lenda Lanzac” 16 que este sanjoanense é considerado “o maior violonista brasileiro dos anos 20 aos anos 40” e que Lanzac ”aprendeu a música flamenga com um guitarrista espanhol, que conheceu José Lansac - Violonista - Divulgação em Águas da Prata. Acabou aprimorando-se no estilo, a ponto de escrever um “Manual de Flamengo”, que lhe rendeu a correspondência com Segóvia”. Em seu artigo, Nassif diz ainda que “Lanzac foi o maior violonista clássico brasileiro da primeira metade do século XX”.

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MAIS PULSAR... Há de se nomear também a pianista Benedicta Estevam de Camargo, uma das grandes professoras de piano de nossa cidade, que por mais de sessenta anos, a partir de 1934, dedicou-se ao ensino desse instrumento e manteve, em sua casa, por um longo período, o “Curso de Piano Santa Cecília”. Era “Dona Ditinha” mãe da precoce pianista e compositora Marly Evangeline Estevam de Camargo falecida prematuramente aos 11 anos, - 1937/1949 - e que revelou, desde a mais tenra idade, sua predestinação musical. O maestro Armando Lameira, seu grande incentivador, prognosticou-lhe um futuro igual ao de Guiomar Novaes e esta pianista sanjoanense declarou: “Os dois gênios da música que mais me impressionaram: uma russa e a Marly de São João da Boa Vista”. 17 Marly Evangeline, em 11 de junho de 1943, no Theatro Municipal de nossa cidade, com incompletos cinco anos de idade tocou, de sua autoria, “Valsa para Piano”, acompanhada de orquestra regida por Armando Lameira, no evento, já citado, “Noite de Brasilidade – Grande Festival Artístico da Música Brasileira”. Foi aluna da professora paulistana Dinorah Manoel Vieira, José Jacintho de Almeida, Laureano Alves Alfredo Anselmo e Basilídio Lopes de Campos –“Bilu Carce- de Carvalho a quem dedicou a composição “Dinorah”. Chegou a compor vinte músicas, entre elas: “Marly”; “Segunda Valsa; “Passo do Besouro”; “Maria Rosa”; “Marcha do Expedicionário Brasileiro”. Em 1931, existiu no Bairro Alegre um grupo musical intitulado “Jaz Band Alegrense”, 18 que teve em uma de suas formações: Manoel Vieira, no banjo; José Jacintho de Almeida, na bateria; Laureano Alves, no trombone; Alfredo Anselmo, no acordeão e Basilídio Lopes de Campos“Bilu Carcereiro”, no pistão. Honra, também, São João, cidade em que nasceu, o compositor Geraldo Filme - 1928/1995, considerado o “Pai do Samba Paulista”, pois sua obra, além de “revelar a mais pura raiz do samba urbano paulista, demonstra ainda o espírito negro de São Paulo através da apresentação de imagens que definem todo engajamento dele na luta pela afirmação de seus irmãos de cor”.19 Foi poeta, intérprete e compositor, entre outras, de: “Mulher de Malandro”; ”Vai no Bixiga pra ver”, “São Paulo, Menino Grande”, “Silêncio no Bixiga”. Honra, ainda, nossa cidade o cantor João Dias 20 -1927/1996 - que fez sucesso no Brasil como excelente intérprete. Não se pode, no entanto, esquecer de Almir Ribeiro -1935/1957 - cantor também de renome nacional, que em 1957 foi eleito “Cantor Revelação” e recebeu de Vinicius de Moraes o vaticínio: “se tiver auto-crítica e disciplina naturais do verdadeiro artista, se transformará no maior baladista brasileiro de todos os tempos”. 21 O destino, porém, quis que morresse aos 22 anos de idade. EDIVINA NORONHA ANDRADE A compositora sanjoanense Edivina Noronha Andrade -1893/1985 - Membro Honorário da Academia de Letras de São João da Boa Vista, teve músicas gravadas por Inezita Barroso quando esta, na década de 1950, veio a São João, por ocasião das filmagens de “O Cangaceiro” e conheceu sua obra. Do vasto repertório de composições desta ilustre sanjoanense salientam-se, entre outras: “Desce o Rio Canoeiro”, cantada no filme ‘João Negrinho’; “Canção do Soldado Paulista”; “Pai João”; “Canção da Velha Escrava”; “Sabiá”; “Soluça meu violão”; ”Não é mentira, não!”; “Malemá”; “Engenho Velho”; “Xodó”; “Portãozinho”, em que ‘a descrição é tão perfeita, que se chega a ouvir o seu lamento’; “Menino do Papagaio”, que conta a ‘tristeza de um menino, que não vai à escola e que só brinca e se diverte com o papagaio, dando-lhe linha, linha, linha...’ Há, ainda a bela composição “O’ meu São João”, que diz ‘estas belezas do meu São João/eu cantarei sempre... numa canção’ . 22 Em seu livro inédito denominado “Folclore Regional”, o padre redentorista Osvaldo Arrighi, reuniu cento e cinquenta poemas e músicas de Edivina Noronha que expressam a cultura, a beleza de sentimentos e a magia que se desprendem das melodias e letras dessa querida compositora Edivina Noronha Andrade sanjoanense.23 Em 17 de junho de 2006, no Theatro Municipal, sua neta Vera Guarita fez, em homenagem à querida compositora, o show “Divina Caipira”.

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NENÊ FARNETANI E SUA FILHA ÂNGELA Lindolfo Farnetani, famoso acordeonista e conhecido como “Nenê Farnetani”, 24 é um dos brilhantes nomes da música em nossa terra. Nasceu a 15 de março de 1925, em São João da Boa Vista e iniciou seus estudos de acordeão com o professor Paulo Christensen. Em 1949, participou de um concurso, de âmbito nacional para acordeonista, na Rádio Record de São Paulo. Logrou o primeiro lugar no Brasil, recebendo como prêmio um acordeão e uma medalha. Nos primeiros anos da década de 1950, possuía a Rádio Piratininga o grupo “Típica de Tangos” composto por: Nenê Farnetani, no acordeão; sua esposa Bartira Lourenço Farnetani, no piano; Emílio Caslini, Veldo Westim, José “Zezinho” de Andrade Neto e Acácio Mendes, no violino, além de Alfredo Cervidio no contrabaixo. Montou, em 1951, o “Conjunto Nenê Farnetani” com seis músicos. Já em 1955, fundou a “Orquestra Nenê Farnetani” com dezessete componentes, a saber: Quarteto de saxofone com: Victorio Piocchi, no 1º sax alto; Basilídio Lopes de Campos “Bilu Carcereiro”, no 2º sax tenor; Otávio Barufaldi, no 3º sax; José Mendes Silva “Pé de Galo”, no 4º sax-tenor. Havia ainda: Nenê Farnetani, no acordeão; Tino Cervedio, no contrabaixo; Arnaldo Pozzi, no violão; José Júlio Mourão, no trombone de vara; Emílio Caslini, no violino; Alfredo Cervedio, na percussão – bateria; Delvo Pereira, ritmista; João Coutinho, no bongô; José Liberali Filho “Zandunga”, Acácio Mendes e José Brevis “Neguinho”, no pistão. Os cantores eram Parrásio Pinto e Antônio Ildebrando. Tocou ainda trombone de vara, naLindolfo “Nenê” Farnetani e sua esposa Bartira Gomes Farquela orquestra, Gilberto José Santos. Quando os bailes aconteciam no netani - Acervo Família Farnetani. Recreativo, que tinha piano, convidavam, muitas vezes, Nícola Pacchieli, pianista cego, da cidade de Campinas, para vir tocar. O conjunto, a orquestra e ele como acordeonista, fizeram enorme sucesso na cidade e em toda a região. Tocaram em festas, cassinos, quermesses, retretas, bailes, carnavais, como também em reuniões da Sociedade de Cultura Artística e Sociedade Cultural de Debates. Nenê Farnetani chegou a acompanhar Carlos Galhardo, Lolita Rodrigues, Gregório Barrios, Inezita Barroso e até Libertad Lamarc, quando se apresentaram nos cassinos de Poços de Caldas. Junto com Arnaldo Pozzi no violão, acompanhou, em 1942, Francisco Alves, que esteve na inauguração do prédio da Escola Theófilo Ribeiro de Andrade, no Bairro do Rosário. Tocou no sítio do Orlando “Landão” Farnetani, junto com José Mendes Silva “Pé de Galo” e Emílio Caslini, para Juscelino Kubitschek 25 quando aqui esteve, no início da década de 1970, em um casamento.26 Nenê Farnetani, há setenta anos, vive, vivencia, ajuda a construir e faz parte da história da música em nossa terra. “Mas..., afirma Galvani, 27 confesso que, na sanfona, ainda quem mais me emociona é o tio Nenê Farnetani (...) talvez pela sua teimosia em continuar tocando há tantas décadas. Talvez por ser (...) uma pessoa tão linda, tão íntegra, tão disponível, com a humildade dos sábios, a generosidade dos amigos e a inocência dos puros. Talvez porque desconheço quem tenha levado mais a sério sua profissão e tenha cuidado melhor de seu instrumento de trabalho...” Ângela, filha de Nenê Farnetani, pertence à geração da segunda metade do século XX e desde os três anos de idade revelou sua inclinação para música, aprendendo piano e sanfona com grande facilidade e desenvoltura. Adolescente, estudou e diplomou-se em piano pelo Conservatório Carlos Gomes, de Campinas. Ali, após rigoroso teste, foi considerada como tendo “ouvido absoluto”. A partir da década de 1970, começou a se apresentar, tanto sozinha como acompanhada pelo pai. Fez o arranjo para piano do Hino de São João e é autora do Hino do Tiro-de-Guerra. MAESTROS, BANDAS E ORQUESTRAS

Joaquim L. Azevedo Filho - “Apontamentos Históricos SJBV-1955” - Cajuca

Entre os maestros e regentes cita-se Maestro Aquilino Pereira de Mello, cuja banda que regia, tocou aqui em São João, para Guiomar Novaes, em 1914. Salientam-se ainda os maestros: Armando Lameira, que foi aluno do famoso compositor Carlos Gomes; Antônio B. dos Reis França - conhecido como Tonico França; Cornélio Pinto de Noronha; Francisco Reverati; João de Mello “João Menino”, primeiro a ensinar instrumento de sopro com partitura; Simão Hess; Thomazo Bitello 28 além do Maestro José Júlio Mourão -28/09/190408/1996), que começou a estudar música aos treze anos de idade sendo que em 1º de janeiro de 1918 fez sua primeira apresentação pública, na Praça Joaquim José. Há ainda o Maestro Joaquim Lourenço de Azevedo Filho - 1872/1952. Este último, a partir da década de 1930, até seu falecimento, morou em São João da Boa Vista. 29 Foi professor do Maestro Mourão e esteve à frente da “Banda Santa Cecília” e da célebre “Sociedade Musical Internacional” do Padre Josué S. Mattos. Realizou, por muitos anos, retretas 293


Quinteto de Nenê Farnetani: Roberto Módena, cantor; Atílio Bernardes, sax-tenor; Nenê Farnetani, teclado; Nei Aleixo, contra-baixo; Oswaldo Mazzi “Piola”, bateria; Delvo Pereira, bongô - Foto Real na década de 1980. Acervo Nenê Farnetani.

Apresentação do Conservatório Musical “Guiomar Novaes”: Miriam Pipano, piano; José de Andrade Neto “Zézinho” e Emílio Caslini, violinos; Basilídio Lopes de Campos “Bilu Carcereiro”, saxofone; José Liberalli Filho “Zandunga” e Otávio Barufaldi, clarinetas. Década de 1950

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memoráveis e deliciou, nos coretos e praças públicas, a população sanjoanense. Compôs valsas, polcas, tangos, marchas marciais, dobrados, peças de folguedo como “Sabiá do Sertão”, e a sinfonia “A Soberana”, ambas de projeção internacional. Em 1920, compôs a marcha “Rei Soldado” em homenagem ao monarca Alberto I da Bélgica e foi agraciado com a “Comenda da Ordem da Coroa da Bélgica”. Era “figura eminentemente popular admirada e benquista, espírito boêmio e indiferente às glorificações”. Excursionou artisticamente pela Europa e Estados Unidos e seu nome foi incluído entre os afamados musicistas ao ser especialmente convidado para dar sessenta concertos na “Exposição Íbero-Americana de Sevilha”. Foi ainda regente da célebre “Banda da Força Pública do Estado de São Paulo”. Era também ótimo literato e Banda da Fazenda Santa Tereza. O primeiro da direita para esquerda, sentado, é o maesjornalista. tro Bernardo Quintana Filho. Ao seu lado seu pai, fundador da Banda. Foto de 1920. Acervo As orquestras e bandas, de grande importânde Juvenal Tarifa. cia na cidade, alegravam as festas, os bailes, os jogos de futebol e as praças públicas. Assim, tivemos no início do século XX a Banda de Música do Clube Germânia regida por Simão Hess; mais tarde foi montada a “Banda do Padre Josué”, pomposamente chamada “Sociedade Musical Internacional”, 30 tendo, em uma de suas formações o maestro José Júlio Mourão; Emílio Piocchi; os irmãos Palmyro e Paulo Ferranti; Acácio e Antonio Mendes e Basilídio Lopes de Campos –“Bilu Carcereiro” no clarinete, entre outros. Existiu também a “Orquestra do Zandunga” regida pelo próprio “Zandunga”- José Liberali Filho; além da “Orquestra Arrigucci” 31 regida por Fernando Arrigucci e da “Orquestra do Nenê Farnetani”. Como a população, naquela época, era principalmente agrária, tornou-se comum cada fazenda ter sua própria banda. Dessa maneira, a zona rural de São João da Boa Vista chegou a ter vinte e duas bandas de música. Uma das mais famosas era a da Fazenda Cachoeira, formada principalmente por colonos imigrantes italianos tendo João de Mello –“João Menino” como maestro e um de seus músicos foi Pedro Marcon. Citam-se também as bandas das fazendas: Refúgio, Santa Helena, Santa Tereza, Matão, Aurora, que no início do século XX era regida pelo maestro Simão Hess 32, além da banda do Bairro Alegre e da Estiva. Em 1940, o Grupo Escolar Joaquim José possuía um “orfeão” regido pela profª. Giselda Guimarães, mas com certeza, outras escolas também o possuíam. Na primeira metade do século XX, eram comuns as serestas e São João possuía seresteiros conhecidos, como Francisco Reverati, Thomazo Bitello e Tonico França, entre outros. Segundo Emílio Lansac Tôha “o Bairro do Rosário sempre foi preferido para constantes serestas, mas estas aconteciam também em toda a cidade e deixaram lembranças inesquecíveis. Quase diárias, espelhavam notas sentidas em valsas e tangos. Violão, flauta, cavaquinho, violinos e sanfonas, comoviam os corações das moças casadoiras, com o acento tristes das valsa langarosas de antanho”. CHEGA-SE À SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX Este recorte temporal é arbitrário, pois muitos tiveram sua história nos dois períodos e as citações, por não seguirem uma ordem cronológica rígida, muitas vezes, irão retroagir. SÃO JOÃO POSSUI UM CONSERVATÓRIO Em 01 de agosto de 1953, inaugurou-se, em São João da Boa Vista, na Rua Benjamin Constant, 311, o “Conservatório Guiomar Novaes”. 33 Criado através de uma sociedade formada por dez sócios, convidou-se para dirigi-lo, a Profª Miriam Pipano que tinha sido aluna de piano de José Tel-

Noracilde Lima, Sônia Tasseri Bruno, Olga Esteves, Lucila Talpo, Maria da Glória Pavan, Regina Maria Dias - pianista e solista, Maria Célia Rehder Andrade e Carlos Gomes Rosa. Sentados: Isaac Pipano, Regina Célia Fernandes e a Profa. Miriam Pipano - Acervo Miriam Pipano.

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les Guimarães. O Conservatório ministrava o ensino de diversos instrumentos, além de cursos de canto e balé. Todos os professores possuíam notório saber musical e titulação pertinente à disciplina. O Conservatório obedecia a um rigoroso controle e vigilância realizados pelo governo do Estado, através do “Serviço de Fiscalização Artística, da Secretaria de Governo do Estado de São Paulo” e tinha como exigência, além de muitas outras, realizar um evento artístico por mês e submeter os alunos, semestralmente, a um exame, cuja banca vinha da capital paulista. No cenário cultural, constituiu-se em um marco para a cidade. Chegou a ter quase cem alunos. Os professores de acordeão foram: Paulo Christensen, de São João da Boa Vista, 34 depois Mário Machado, de Poços de Caldas/MG e Eocléssia Valsecchi, de Espírito Santo do Pinhal/SP, tendo como alunos, entre outros: Dulcelei Aleixo, que continua, até hoje, com muito brilho e maestria, sua vida ligada a este instrumento, além de Aparecida Kiellander Corrêa; Carmen Lia Goulardins; Hildevanda A. Reis; Ivete Fiorin; Ivo Lúcio Splesttoser; Maria Adélia de Souza; Maria Lucy Teles Mascaro e Meneval A. Silva. Violinista José “Zézinho” de Andrade Neto - Foto Marcondes As professoras de piano eram: Benedicta Estevam Camargo, Janete Buffará Zogbi, além de Miriam Pipano, e os alunos: Alba Stela Todescato; as irmãs Andiara e Aracê Ribeiro da Silva; Beatriz Carvalho; Carlos Gomes de Souza; Carmen Sylvia de Carvalho Andrade; Carmen Suzana Saman –“Suzi”; Célia Camargo de Lima; Célia Maria Rosa Mancusi; Célia Rehder Andrade; Cilse Pavan; Clineida Andrade Junqueira; Delcio Balestero Aleixo; Dora Ludeliman; Elza Maria A. Silva; Evangelina Gomes; Glaudys Alves; Hebe Mancini Nicolau; Helena de Barros; Isaac Alcantarilla; Laura Maria Noronha Bastos; José Geraldo Sorci; Jussara Regine; Lenise Moraes Andrade; Lizete Galvani; Magali Gonçalves Guerreiro; Magali Dias; Maria Lúcia Perucci Baraúna; Maria Helena Guimarães; Márcia Mouro; Marcus César Cantu; Maria da Glória Pavan; Maria Francisca Ferreira; Marilídia Acceturi; Marinita Trafani; Marly Gomes; Nazaré Nogueira; Niljane Pinto; Olga Esteves; Pedro Jorge Nader; Regina Helena Andrade de Moraes; René Marcos Pozzi; Rita de Cássia Almeida; Salete de Almeida Cara; Scila Ferrante; Vânia G. Gonçalves; Vitória Zogbi; Wilma Barbosa e Zelenê Mendes. Miriam Pipano narra que “faziam audiências com peças dificílimas, onde crianças tocavam, entre outras músicas, “Czardas”, “Concerto de Varsóvia”, “Valsas” além de composições de Chopin”. No piano, Dorival Blotta Filho, aluno da Profª. Miriam Pipano, foi quem protagonizou uma das páginas mais importantes da história do Conservatório, quando, entre cento e quarenta e seis conservatórios do estado de São Paulo, e quatorze mil alunos, ficou entre os cem classificados e acabou conseguindo a Medalha de Ouro, isso por dois anos consecutivos 1963/64, ganhando o “Prêmio Governo do Estado de São Paulo em Piano”, em entrega solene acontecida Dorival Blotta Filho - talentoso e premiado pianista sanjoanense - Década de 1960 no Teatro Municipal de São Paulo. Acervo da Família Blotta No violino houve os alunos Antônio Gimenez, José Mendes e José “Zezinho” de Andrade Neto, este, sem dúvida, o mais notável e que se tornará “spalla” da Orquestra Sinfônica de Campinas. O professor de pistão e instrumentos de sopro era José Liberali Filho ”Zandunga”. Para o canto, o professor vinha de Campinas e a professora de técnica vocal era Miriam Pipano. Tiveram, entre outros, os alunos: Eliacy Macedo de Souza, soprano que vai fazer carreira em Belo Horizonte; além de Adiel Valin; Benedita Moraes Corrêa; Ebrain Bittar; Jack Eleazar Nemer; Joênio Olívio Gâmba; Leila Bianchi; Leonor Moreira; Lucila Talpo; Lúcio Geraldo de Souza “Zizo” “tenor

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de rico timbre”; Luigi Puglia; Salles Marcos – tenor; Maria Helena M. Guimarães; Maria de Lourdes Marcondes- soprano; Noracilde Lima, “grande tenor”, voz impressionante não só pelo volume, mas também pelo seu timbre, poderá ser um cartaz nacional”; 35 Ralf Alvarenga - baixo; Rogério Pozzi “Tulu”; Roberto de Lima Gião - tenor; Sônia Elisa Ricci; Tereza Nora; Thália M. Anderman e Wildes Antonio Bruscato - baixo cantante. O Conservatório tinha o coral denominado “Coro Guiomar Novaes” e uma ‘orquestra’, que teve em uma de suas formações: José Liberalli Filho ”Zandunga” e Waldir Moro no pistão; Constantino Salvedio e Délcio Balestero Aleixo no contrabaixo; Otávio Barufaldi e Basilídio Lopes de Campos –“Bilu Carcereiro” no clarinete; Emílio Caslini, Acácio Mendes, José Mendes e José “Zézinho” de Andrade Neto, no violino. A professora de balé era Dilma de Lima da cidade de Campinas e o número de alunas era muito grande. 36 O Conservatório, infelizmente, encerrou suas atividades em 1964, porém Miriam Pipano continua, até hoje, a dedicar sua vida à música e a formar gerações de músicos, tanto do piano, como da flauta e do canto. EFERVESCÊNCIA Continuava viver a cidade uma época de efervescência musical, pois, além do Conservatório, vários músicos destacavam-se. Entre eles o cantor e instrumentista Ênio Herrera, além dos pianistas Antônio Paulo Ferrante e Renê Marcos Pozzi e o violinista Paulinho Aleixo. Já Milton Abreu Santos –“Milton Relojoeiro”, tocava trombone chave. Osmar Wagner 37 era trompetista. Criou, em São Paulo, a “Escola New Jazz Band“. No acordeão e sanfona: Dulcelei Aleixo; Benedito “Lula” Vasconcellos Filho; Nenê Farnetani; Olintho Farnetani; Paulo Christensen; Renato Kemp; Silvio Bertoldo e o conhecido Joaquim Diniz Junqueira “Colodino” 38, que possuía um conjunto. Em uma das formações tinha Paulo Aleixo, no violino além de “Cidão” e “Pé de Ferro”. Mas..., José Orlando 39 nos conta que: “Quase todas as tardes, lá pelas quatro, aparecia no Bar do Formiga o Joaquim Colodino com sua banda: Pé de Ferro na percussão, Cidão no violão, Dito Zoiúdo no reco-reco e o Zé Moleza no pandeiro. Colodino, um dos músicos mais ecléticos que já vi, tocava qualquer instrumento que lhe pusessem à frente: flauta, sanfona, violão, pandeiro, etc... Era também cantor. Na maioria das vezes, meu saudoso Tio Olinto Farnetani, chegava na roda e o Colodino já lhe passava a sanfona, que por sinal ele dominava muito bem. Ele junto à flauta e ali saíam as mais lindas valsa já compostas. (...) Quando a Judith, cantora lírica de Campinas/SP, Renê Pozzi e sua esposa, pianista Maria Aparecida, o pianista e maestro Júlio ‘plateia’ estava repleta, o Colodino juntava a sanfona no peito, e atendia Massaini de Campinas, José e Amarilis Marcondes. Os músicos o pedido de cantar a canção de sua autoria que a molecada e adultos apresentaram-se em nossa cidade na década de 1980 na Igreja N.S. Aparecida. Semana Guiomar Novaes. pediam, a “Marieta”. Quanto aos compositores das décadas de 1950/60, havia, entre outros, Paulo Braga Silveira e Roberto Balestrin. Dentre os corais sobressaía-se o “Coral Irmã Sheila” do Centro Espírita Irmão Joseph, que, com regência de José “Zézinho” de Andrade Neto e composições de João Cabete e Welson Barbosa, ambos da Academia de Letras de São João da Boa Vista, gravou um disco LP, coisa inusitada para a época. ÉPOCA DE GRANDES E PROFUNDAS MUDANÇAS A década de sessenta ficou marcada mundialmente por mudanças importantes que mexeram na estrutura da vida social. “O que era certo foi posto em discussão e virou hipótese, introduziu-se o relativismo cultural, houve o questionamento das normas e papéis preestabelecidos, penetrou-se em espaços proibidos e produziram-se o contra discurso, a contra-cultura que colocaram face a face atitudes que desafiavam regras até então perpetuadas ”. 40 Nesses não tão longínquos anos sessenta houve, pois, uma alteração estrutural em todo sistema social e, a irreverência, tão comum no mundo dos jovens, tornou-se mais acintosa, suas contestações chegaram a valores até então incontestáveis. O mundo musical não passou incólume a todas essas mudanças e modificações então em curso. A percussão e o ritmo começaram a se sobrepor à melodia, é o “Rock and Roll” que surge, e dará início a outros caminhos, nunca dantes 297


acontecidos no espaço musical. Elvis Presley é o nome do momento. Nessa mesma época, a influência norte-americana, que se tornara mais acentuada com o término da Segunda Guerra Mundial, era preponderante nos cenários econômico, político e cultural; desta maneira, os termos em inglês, começam a aparecer como sinônimo de status elevado. “NIN E SEUS ROCKETES” Em nossa cidade, as mudanças em curso também foram absorvidas e fizeram-se presentes. Dessa maneira, surgiu com grande sucesso, entre os jovens, o conjunto de rock “Nin e seus Rocketes”, 41 formado por Osvaldo “Nin” Pozzi, guitarrista e líder do grupo; Joel Lisboa Biotto, guitarrista; Antônio Paulo Ferrante, pianista; Franco Bonatto, guitarrista; Nelson Azevedo, baterista e Délcio Balestero Aleixo “Nenê Prata”, no contrabaixo. 42 Eles se apresentavam, entre outros espaços, aos sábados à noite, no programa de auditório “Álbum Musical” da Rádio Difusora ZYJ-6, que, naquela época, funcionava na parte superior do Theatro Municipal. Chegaram a gravar um Long-Play. Era o delírio da juventude, inclusive desta, que ora escreve. Os jornais noticiavam suas apresentações. Um deles escreveu:43 “É incontestável o valor destes jovens que vêm se dedicando à música popular norte-americana”. Outro noticiou: “São rapazes de nossa cidade imbuídos de entusiasmo invulgar e conhecimento do as- Conjunto “Nin e seus Rocketes”: Nin,guitarra; Paulo Ferrante, Franco Bonatto, guitarra e vocal; Décio Balestero Aleisunto. Ainda há poucos dias o conhecido cronista e radialista Alfredo piano; xo, contrabaixo, Nelson Azevedo, bateria e Joel Lisboa Biotto, Nagib, da TV Tupi, assistiu a uma exibição deles e gostou deveras”. 44 guitarra. 1960. Ainda outro jornal escreveu: “Sexteto de garotos entre 16 e 19 anos, que vem empolgando a Média Mogiana: três guitarras elétricas, um contrabaixo, uma bateria e um piano”. 45 Uma outra formação contou com a participação de Inácio Ruiz da Silva; Alfredo Nora Filho vocal; Fernando Salles no contrabaixo elétrico e Edson Soares. MAIS GRUPOS MUSICAIS... Já, no final da década de sessenta, surgiu, bem dentro do espírito da época, o grupo musical “Os Infernais”, cujo nome seria impensável alguns anos atrás. Era um conjunto de música jovem “iê-iê-iê” que, numa das formações, contava com Joaquim Pinto Noronha Neto e Veraldo Matos no contrabaixo; Binho; Armando César na guitarra solo; Carlos Caslini – “Buxu” na bateria; Eduardo Blotta no teclado e Ciro Caslini - vocal. Em 1976, surgiu a dupla sertaneja “Luciano e Labareda” com Anor Luciano 46 e Ézio de Oliveira; chegaram a lançar um disco LP, onde constava o Hino de São João. Em 1984, Anor Luciano lançou um disco solo, LP, usando o cognome “Nino Matofino”. A família Luciano é composta por músicos: além dele, o patriarca, há seus três filhos, José Eduardo, Marcos César e Anor Júnior. Da década de 1980, pode-se citar entre os grupos de rock o “Setor Primário” com José Damasceno Jr., vocal; Ivan de Souza; Maurício Bertelli; Márcio Custódio e Antônio C. Silva; além do “Setor Antares” com Pedrinho Bernardes e Toco e ainda o grupo “Bambinos de Munguele” com João Ciacco Jr. e o grupo “Impressão Digital”. 47 Era comum, nas décadas de 1950, 60 e mesmo 70, as Escolas possuírem fanfarras formadas por seus alunos que se apresentavam garbosamente nas festividades e desfiles cívicos de nossa cidade. Cabe aqui o registro da “Banda Marcial da Escola Técnica de Comércio Hugo Sarmento”, com cerca de 50 alunos participantes e comandada, por vários anos, pelo jovem instrutor Francisco da Conceição Silva, carinhosamente chamado por Chico Preto, pessoa festiva que alegrou com a fanfarra as nossas avenidas, ruas, praças e os desfiles cívicos. OS FESTIVAIS

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Os Festivais de Música Popular Brasileira começaram em São João da Boa Vista na década de 1960, antes mesmo dos famosos Festivais da TV Record. Tudo se iniciou com Glorinha Aguiar, professora de música do Instituto de Educação Cel. Christiano Osório de Oliveira que, em sala de aula, começou a trabalhar e estimular a criatividade de seus alunos. O objetivo, afirmou a mestra, era o processo criativo – a educação, não se importando se o produto final fosse ou não “bonito”, ou seja, uma obra de arte, o que seria consequência em prazo mais longo. A motivação foi eficiente e os acontecimentos sucederam-se num crescer tão acentuado, que em 1966 no Salão

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Diocesano, realizou-se o que viria a ser o “I Festival Estudantil de Música” com idealização e produção da Profª Glorinha Aguiar e participação dos alunos. No “II Festival Estudantil”, em 1967, Luis Nassif ganhou vários prêmios: o primeiro lugar foi com sua composição - letra e música - “Penúltima”. O segundo lugar com música de sua autoria e letra de Mathew ficou com “Retirada”. Quarta colocação “Serpentina”, letra e música de Luis Nassif. Quinto lugar “João vai pro mar”, ainda com letra e música dele. Já na sétima colocação a letra foi de Ana Maria Salomão e música de Luis Nassif. Ele torcia para que “Serpentina” ganhasse o primeiro lugar e reclamou contra sua derrota. Era música de protesto contra instituições norte-americanas que vinham no nordeste brasileiro e através da colocação de “serpentinas” no útero das mulheres, faziam o controle de natalidade na região. Os festivais foram sucedendo-se 49 e, em 1971, quando se realizou o “Festival do Samba”, foi tão grande o número dos inscritos que durou uma semana. Já em 1972, 50 com mais de uma semana de música, houve o “Festival do Som” em que entraram “jingles”, música instrumental e composições. Festival de Música: César Caslini, Iremilio Caslini, Vera Aceturi e Joel Lis Os alunos participantes destes festivais foram, entre muitos boa Biotto - 1967 outros: Clovis Vieira; Lucas Otávio de Souza; Luis Antonio Ricci, Luis Carlos Pistelli; Luis Nassif; José Fernando Entraticci; José Márcio Carioca; Renato Santos Junior; os irmãos Lago José Carlos e Pedro; os irmãos Assad - Sérgio e Odair. No entanto, havia os mais novos, com apenas dez, onze anos de idade que, querendo participar, formaram a banda “Toca até Aprender”. Eram eles: Alexandre Pipano; Anor Luciano Jr. 51 e seu irmão Marcos César; Celsinho da Cuíca; Hugo Campos; Jorge Nascimento; 52 José Guilherme – compositor e Maurício de Aguiar. Fizeram eles muito sucesso, principalmente no Festival de Jingles. Os locais também foram mudando do Salão Diocesano para o Centro Recreativo Sanjoanense, depois para a Sociedade Esportiva Sanjoanense e finalmente, em 1973, passou a acontecer no Palmeiras Futebol Clube. Nesta época, a participação já não era só dos estudantes, mas também de músicos da cidade e região, chegando mesmo em nível nacional com participantes de Goiás, Minas Gerais, Paraná, capital paulista, entre outros. Era o “Festival de Inverno MPB de São João da Boa Vista” que se tornou muito concorrido. Os festivais terminaram em meados da década de 1980. Foram praticamente 20 anos com muita música boa e importante movimento cultural da cidade. Zezinho Só começou em 1970 como júri e, quando os festivais se tornaram “abertos”, participou com suas composições assim como seu irmão Antonio Maria “Tonhão” Giffoni Rosa; Didi e seu filho Djalma, cantores; Terezinha Prímola, compositora; Sr. Walace, percussão; “Zé Rapadura”, 53 que tocava cavaquinho e a “Banda Pirata”, do Reio Futebol Clube. Nino Matofino também participava, não só incentivando os filhos e o grupo, mas também tocando e cantando. Nesta onda dos Festivais de Música Popular formou-se ainda o “Quarteto YPY”, composto por Silvia Ferrante, que hoje continua em carreira solo, e as três irmãs Noronha: Fafá, Isa e Kika. Regidas por Luis Carlos Pistelli e acompanhadas pela percussão de Wagner Mateus Pereira “Peri”, já falecido, chegaram, inclusive, a se apresentar na Semana Guiomar Novaes. UMA INUSITADA SERENATA Famosa também era a serenata que a Professora Glorinha Aguiar coordenava. 54 Famosa é um adjetivo que não diz tudo! O melhor talvez fosse dizer extravagante, inusitada, inédita! Primeiramente as alunas “vendiam” as serenatas, cuja renda era para a formatura do Curso Normal do Instituto de Educação, depois alugavam um caminhão, em cuja carroceria era colocado o piano da Profª. Glorinha e todos os sábados do mês de dezembro, após a meia-noite, com a lista de endereços em mãos, saíam: Glorinha Aguiar, no piano; Emílio Caslini, no violino; os alunos com instrumentos vários e o coral da escola. Participaram dessas serenatas, entre muitos outros: Clóvis Vieira; Luis Antônio Ricci; Luis Carlos Pistelli; Luiz Nassif; João Batista Merlin; José Márcio Carioca; Terezinha Prímola; Zezinho Nogueira; os irmão Lago –José Carlos e Pedro, os irmãos Assad – Odair e Sérgio. Tudo coordenado pela Professora Glorinha, que também desenvolveu e ampliou o “Coral Nascipe Murr”, que chegou a ter duzentas vozes de alunos adolescentes, cuja última apresentação aconteceu no Theatro Municipal, em 1965. 299


MAIS MÚSICA E MÚSICOS Sem preocupação nenhuma com datas, e em ordem alfabética, serão nomeados os cantores e instrumentistas, que a partir das décadas de sessenta, setenta, até os dias de hoje, têm alegrado a cidade com a beleza de suas músicas e de suas vozes. Dentre os cantores de música erudita citam-se os tenores: Edison Nardoto; Euclides Dotta Jr.; João Deboni Filho; Iremílio Caslini; Roberto Gião; José Gifoni Rosa carinhosamente conhecido como Zezinho Só, também compositor e pianista; Josemar do Prado Barbosa e Júnior Almeida, entre outros. Há também os barítonos Jamil José Cury; Wildes Antonio Bruscatto; as sopranos Ana Laura Sguassábia Vallim; Neide e Lourdes Deboni; Maria de Lourdes Marcondes; Neusa Simon; Neusa Maria Soares de Menezes e Priscila Vanzela. A soprano Dulcinéia de Oliveira, a contralto Sarah Ramos, o tenor Liberato Felix e o baixo José Donizetti Henrique foram solistas do Coral Elohin. A soprano lírica Neusa Menezes, além de cantora é também pianista, professora de canto e grande conhecedora de música. Suas atividades, no entanto, não se limitam apenas à música, é também organizadora de eventos culturais e lítero-musicais, desde a década de 1980. Na música popular há o canto de Alcides Rodrigues “Só Kaká”, que vem fazendo muito sucesso e elevando o nome de nossa cidade; além de Alexandre Figueiredo; Aline Valin; Anor Luciano “Nino Matofino”, também violonista; Antônio Bernardino Flora “Toni Bernardes”; Ana Lúcia “Tuca Michelazzo”; Angelina M. Zono Oliveira; Aninha Guimarães; Áurea Maria de Oliveira Fontão Alvarez “Tu Fontão”; Badi Assad; Beto Vieira; Bruna Garcia; Carolina Cachola; Celina Godoy, que foi também organista na Matriz; Clícia Martarello; Djalma - sambista; Elaine Seixas; Fábio Jabur; Faustino Walgra Maria - 100 anos de nascimento de Fontão; Fausto Moretti, também professor de canto popular; Flávia “Jorge” Soares; Guimarães Rosa - Academia de Letras de São João da Boa Vista - 2008 Giovana Blasi; Heleno Montanhani; Ica Assad; Lia Michelazzo; João Baptista Ferreira; João Carlos Lemes “João Bota” e seu filho Kleber Lemes “Tatau”; João dos Santos Neto “Joãozinho da Colher”; José Eduardo Luciano “Edu Luciano” também violonista; José Márcio Carioca; Júlio Seda; Júnior Almeida, que recebeu em início de 2011 o “Troféu de Consagração Popular” em festival no Conservatório de Tatuí/SP; Leonardo Gião; Letícia Mamede; Luciana Fialho Mazzi, que cantou na Academia de Letras na década de 1970; Luciana Guimarães; Luiz Pereira; Márcio da Silva Pereira; Paulo Edson Alves; Penélope Gifonni; Paulinho Braga; Patrícia Redher; Priscila Rehder; Rafael Moussessian; Renata Melo; Rui Coutinho, cantor e violonista; Selma Bertolli; Silvia Azevedo; Silvia Ferrante; Vinícius Alves; Walgra Maria Carvalho Pinto e com certeza, tantos outros que, infelizmente, não se conseguiu identificar. Com o aparecimento da música sertaneja, São João fez-se presente com o grande violeiro Vinicius Alves, Pedrão, Givaldo Marcondes; além das duplas: “Juarez e Serginho”; “Grilo Buzon, violeiro e João Bigorna”; “Pedro e Nando” e também “Júlio Seda e Rafael” vencedores, em 2010, do programa “Viola de todos os Cantos”, sendo Júlio compositor. Dentre os compositores têm-se, entre outros: Antonio Maria Gifonni Rosa; Carlos Lago; Célia Bertoldo; Fábio de Carvalho Noronha; João Ciacco Jr.; José Fernando Entratice; Julio Manoel Lima; Luis Antônio Ricci, que recebeu da Academia de Letras de São João da Boa Vista singela home- Violonista Adi Balestero; acordeonista Benedito “Lula” Vasconcelos e percussão João Batista Ferreira - 2005 nagem póstuma em 2008. Em abril de 2010, seus amigos fizeram, em sua memória, no Theatro Municipal, o show “De repente colorido”; Luis Carlos Pistelli; Luis Cláudio S. Bueno -Liminha; José Alfredo Jabur; José Márcio Carioca, também cantor e violonista; Maurício da Silva; Martinho Oliveira Rocha da Silva; Paulo Braga Silveira; Renato dos Santos Júnior; Roberto Bellucci; Silvia Ferrante; Therezinha Prímola; Vinícius Alves; Zezinho Só; Walgra Maria e Walther Castelli. Destes citados, muitos surgiram com os “Festivais de Música Popular” e muitos ainda são também cantores e instrumentistas.

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Luis Carlos Pistelli, além de compositor, é cantor, arranjador e instrumentista – violão, piano, acordeão e desde final da década de 1990 faz parceria com Geraldo Dezena, este como letrista. Gravaram, em 2000, o CD “Trama” e participaram três vezes, -2002/07/08 -, do “Festival Banco de Talentos” da Federação Brasileira de Bancos – Febraban. Com mais de mil inscritos, foram selecionados entre as dezoito melhores composições do território nacional, sendo que em 2007, a música inscrita por eles foi considerada a melhor do Brasil. No cavaquinho nomeia-se “Zé Rapadura”. No bandolim Luis Cláudio dos Santos Bueno “Liminha” que também toca cavaquinho, viola caipira e violão; Martinho Oliveira Rocha da Silva - violão; Claudia S. Oliveira; Eliana Germinari; e o grande mestre, há várias gerações, Jorge Assad, carinhosamente chamado “Jorginho Assad”. Na bateria e percussão Cláudio Domingues; Domingos Agatão “Gatão”; José Henrique Mérida; José de Lima Pereira “Baltazar”; José Teixeira; Márcio Liberalli; Marcos César Luciano; Rubinho Freitas; Sérgio Michelazzo; Wagner Mateus Pereira - in memoriam e o pequeno Victor Luiz Brandão, que começou seus estudos com o Profº. Márcio Liberalli e vem revelando-se um grande percussionista. São João é terra de bons violonistas e violeiros, vejam-se: Adi Balestero Tarifa; Anor Luciano “Nino Matofino”; Badi Assad; Carlos Henrique Toni; Carlos Lago, violão e viola caipira; Daniel Pereira, violões de seis e sete cordas; Dide Michelazzo; Dado Barbosa; Dulcídio Bráz Júnior; Edir Rossi Bassi; Eliana Germinari; José Eduardo “Edu Luciano”, violão e cantor; Fredinho Blasi; Fernando Nunes, violão; Gizelle Costa; Iremeyre Rojas Vidal; os Irmãos Lago: José Carlos e Pedro; Irmãos Assad: Sergio e Odair, internacionalmente conhecidos e aplaudidos; José de Lima Pereira “Baltazar”, violão 7 cordas; José Fernando Entratice, violão e viola caipira, além de compositor; José Lopes que foi, também, grande professor de violão; José Márcio Carioca, violão e cavaquinho; José Alfredo Jabur; Josiane Gonçalves; Júlio Manoel de Lima, violão, cavaquinho e baixolão; o jovem Micael Chaves, violão erudito e aluno de Jorginho Assad, que dizia todo orgulhoso: “veja bem esse menino e tome nota: ele vai ser o melhor violão desse país, a mão direita dele é fantástica” 55; Magrão Mello, guitarra; Roberto Bellucci; Samir Nassur; Walgra Maria; Waldran Régio que é também guitarrista e contrabaixista. Célia Bertoldo, compositora, musicista, pesquisadora da MPB, toca vários instrumentos sendo o violão, o seu preferido. Participou da Banda “Linda Juventude” - Escolas Estaduais “Mons. David” e “Domingos Theodoro”. Vinícius Alves estudou violão clássico e especializou-se em viola caipira. Além de grande intérprete é também compositor, instrumentista, pesquisador de Vinícius Alves - Violeiro formas de execução da viola e dessa maneira, desenvolveu uma técnica própria de executar este instrumento. É ainda integrante e arranjador da “Orquestra Filarmônica de Violas de Campinas”. Tem-se que citar ainda o sanjoanense José Carlos Dias Bicalho “Bicalho” 56, que além de tocar viola é cantador, solista da “Orquestra de Violeiros do Jaguari” e maestro da “Orquestra de Violeiros de Santo Antônio da Posse/SP”. Foi integrante da Orquestra Filarmônica de Campinas. NO PIANO São João da Boa Vista sempre primou no universo pianístico. Hoje há o mestre, pesquisador e consagrado concertista Claúdio Richerme 57 que trilha os passos do sucesso no mundo da música erudita. Entre outros, destacam-se, também, os pianistas e professoras Vânia Gonçalves Noronha, Márcia Mouro Zan, Miriam Pipano, Sarah Ramos, José Giffoni Rosa “Zézinho Só”, além de Márcio da Silva Pereira “Marcinho”. O jovem Timóteo Logobone, hoje bacharel em música na modalidade de piano popular, pela Unicamp, aos nove anos de idade, no evento “Estímulo de Piano Coca-Cola” acontecido em 1990, em Ribeirão Preto, foi classificado em terceiro lugar. Já em 1991 ganhou o prêmio de melhor interpretação. Tem-se, ainda: Ângela Farnetani; Bartira Gomes Farnetani; Christiane Caslini; Evangelina Gomes; Gisele Costa Torrico; Fábio Jabur; Gabriel “Bié” de Oliveira Fontão; Glorinha Aguiar; João Batista Simon Ciacco; Maria Angélica Milan; Maria Cristina Mourão; Maria José Rosa Jabur; Marly Gomes Michelazzo; Maurício Silva; Milerri Pigozzo Fracari; Neusa Menezes; Regina Westin; Rita de Cássia Almeida; Roberta Hoffmann; Waldete Carvalho Pinto, radicada em Lion/França, onde leciona este instrumento. Da geração nova citam-se: Débora Bulha Urias; Fernando Honório Cunha; Giovana Tramonte; Gustavo Bucci Mérida; Lucas Mourão Nogara; Marta Rodrigues. Há ainda os novíssimos João Pedro Cardoso Censoni e Luisa Nery Costa e Silva. Já no teclado citam-se, entre outros: Ângela Farnetani; Carmela Cirto; Gilda Magalhães Nardoto; Márcia Damasceno; Márcia Mouro Zan; Mauricio da Silva; Sarah Ramos, que é, ainda, formada em órgão eletrônico, além de Sérgio Grulli. 301


SAX, FLAUTA, VIOLINO, VIOLONCELO No sax e/ou trompete temos Eduardo Santos; Francis Lee Paiva; Henrique Bruno Borges, Maestro Estevão Eduardo Ferreira e os saudosos José Paulo e Victório Piocchi que por mais de 60 anos dedicou-se a música em nossa cidade. No trompete, tem-se também Anor Luciano Jr. que tocou na Orquestra Sinfônica de Campinas, estudou música na Universidade Federal da Paraíba, é professor de música na Universidade Federal de Belo Horizonte e é trompetista do “Quinteto Brassil”. Na flauta transversal, Ildelberto Peretti, Maria Bernadete Oliveira, Vitório Piocchi e, surgindo com brilho, João Paulo Ballerini Bruno. Entre os violinistas destacam-se: o jovem Ariel Ribeiro Sanches, cuja trajetória tem sido promissora e auspiciosa. Aos 12 anos ingressou na Orquestra Sinfônica de Poços de Caldas/MG e aos 16 já atuava como “spalla”. Venceu, em 2009, o XIII Concurso Nacional Paulo Bosísio, em Juiz de Fora/MG, categoria até 20 anos, o mais concorrido concurso, neste certame. Venceu, em 2010, o “Concurso de Jovens Solistas” promovido pela Orquestra Experimental de Repertório, na cidade de São Paulo. Foi recitalista na 32ª Semana Guiomar Novaes em 2009 e já participou como músico convidado das Orquestras Sinfônica da USP e Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo. Destacam-se também, no violino, o talentoso Seir Piage Dias, pertencente à Orquestra Sinfônica de Poços de Caldas/MG e ainda Antônio Gimenes Filho; Douglas Honório Giorgio Bariola e Seir Piage - dezembro de 1992 Cunha; Lázaro Luís de Souza; Nilson Dimárzi; Ismael Ruiz Sanches e Peterson Farias. Teve-se ainda o saudoso “mestre” José “Zezinho” de Andrade Neto, que foi “spalla” na Orquestra Sinfônica de Campinas. Já na novíssima geração há João Pedro Ballerini Bruno. Entre os violoncelistas: Alexandre Rodrigues Sebarin; César Honório Cunha; Gizelle Costa; Vivian Lis Nogueira Dias; além do italiano Giorgio Bariola que tocou em importantes orquestras da Itália e, no Brasil, na Orquestra Sinfônica Brasileira, do Teatro Municipal do Rio de Janeiro/RJ. Morou em nossa cidade nas décadas de 1980 e 1990, quando foi professor da Escola Sanjoanense de Educação Artística. ALGUNS CONJUNTOS Vários conjuntos animam ou animaram o universo musical de nossa terra. Iremílio Caslini, 58 Joel Lisboa Biotto e Edson Soares formaram, também na década de 1960, um trio que se apresentava em festas, em escolas e nos Grêmios Estudantis. Iremílio, ainda naquela época, apresentou-se com Luis Nassif, quando este era estudante em nossa cidade, na extinta TV Excelsior, em São Paulo no Festival Universitário, onde Nassif classificou a música “Serpentina”. Na década de 1970, formou-se em São João da Boa Vista, um importante grupo de catira denominado “Galo de Ouro”. Era composto por Armando F. Reis; Vitor Lima; José Branco; Manoel Zequiel; José da Serra; Geraldo Alves Toneti; os irmãos Santo e Sebastião da Silva e os cinco irmãos Tibúrcio: Sebastião, Onofre, Antônio, Elias e José. Apresentavam-se, não apenas em nossa cidade, mas também em toda região, tendo inclusive tocado com Vieira e Vieirinha. Este grupo, que divulgava uma importante manifestação folclórica, extinguiu-se em 2008, quando os componentes, já com idade avançada, não mais apresentavam condições de continuar tocando. Infelizmente não deixaram seguidores, pois, segundo depoimento de Armando Reis, a geração jovem não se interessou. Em meados da década de 1980, havia na cidade o grupo sertanejo “Rincão Sanjoanense” com Lázaro Procópio, Juarez e Serginho. 59 Pianista Márcia Zan, Iremílio Caslini, os irmãos João e Lourdes Deboni

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No início da década de 1990, formou-se em São João da Boa Vista o “Trio Pé de Moleque”, composto por: Ronaldo “Nardo” Gião; João Carlos Lemes “João Bota” e Kleber Lemes “Tatau”; estão atuantes até hoje. Seu repertório é formado somente por música popular brasileira. Nesta oportunidade cita-se também Homero Gião, já falecido, que foi cantor e compositor de centenas de sambas e canções várias. Houve também o “Trio Crepúsculo” formado pelos cantores Anor Luciano “Nino Matofino”,violão; Roberto Módena, percussão e Antônio Marcos, surdo. O “Regional Velha Guarda” 60 era composto por Joaquim Batista Oliveira; Santos Tobias; José Rapadura e Renato dos Santos no violão, cavaquinho e pandeiro, além de Maurício Antonio de Jesus no violão. O “Cana Trio” 61 era formado com José de Paula “Pé de Galo”; Antonio Paulo Ferrante e Gilberto Oliveira no piano, bateria, sax e flauta. Nos últimos anos formou-se o “Grupo Vale Tudo”, especialista em chorinho, composto por: Luis Cláudio Santos Bueno “Liminha”, bandolin; Júlio Manoel de Lima “Lima”, cavaquinho e violão; José de Lima Pereira “Baltazar”, violão 7 cordas; Domingos Agatão “Gatão”, percussão. A percussão do grupo passou ainda pelas mãos de Nardo Gião, Heleno Montanhani e Beto Amiki. Alguns componentes deste grupo formaram também o “Grupo Canto & Corda” com: Julio Lima; Luís Cláudio Bueno “Liminha”; Silvia Ferrante; Beto Amiki; Tuca Michelazzo e Mauricio da Silva. Grupo “Unidos pela Música”: Antônio Gimenez - violinista; Eliana Simionato; Luci Salomão; Sandra J. Franco; Gilda Nardoto; Sônia Quintaneiro; Jairo Simionato; Ma Houve ainda o “Duo Luciano” com Edu Luciano e Flária Célia e José Marcondes; Neusa Menezes; Maria Angélica Souza; Zenaide Mazutti via “Jorge” Soares, depois tornou-se o “Trio Don” com a e Amélia Ramalho. 1998. participação de Júnior Almeida. Mais bandas: “Banda Tiroteio” de Toco Michelazzo. Grupos de Pagode e de Samba: “Toca do Pagode”; “Capitais do Samba”; “Samba de Roda”, além de “Herança Negra”, 62 tradicional grupo de samba formado pelos irmãos Paixão, Dalton, Carlos, João Henrique e Daniel, mais André Mattos, Leandro Francisco e André Mendes. Por mais de dez anos, existiu, na década de 1990, o “Grupo Unidos pela Música”, formado por: Jairo e Eliana Simionato; Gilda e Edison Nardoto; Amélia e Hermano Ramalho; Maria Angélica Souza; Heloísa Bruscato; Luci Salomão; Sônia Quintaneiro; Neusa e José Menezes; José Marcondes; Sandra e Mário Teixeira Franco, sendo que Anor de Souza Filho, Paulo de Tarso Salomão e Maria Célia Marcondes revelaram-se excelentes “carregadores de banquinho”. Este grupo, além das tradicionais serestas, pela cidade, tem entre suas realizações a “Noite da Seresta”, acontecida em 1997, na Sociedade Esportiva Sanjoanense. Quanto à música erudita, na década de 1990, formou-se, com músicos sanjoanenses e poçoscaldenses, o “Quinteto de Cordas Villa Lobos”, composto por três violinistas: Seir Piage Dias; Alexandre Rodrigues Sebain; Rafael Braga Sisti, e dois violoncelistas: Marcelo A. Chagas Leite e Rosa Maria Villa. Existe, em nossa cidade, desde a década de 1990, a Orquestra de Violões “Afinando as Cordas” comandada pelo maestro João Batista Rodrigues Júnior “João Brasileiro”, que faz um trabalho maravilhoso com jovens violonistas e vem-se apresentando com grande brilho. Um dos resultados dessa orquestra foi a formação da “Camerata de Violões”, 63 composta por: Ailton da Silva Felipe; Bruno Pereira; Elvis Fernando dos Santos; Jonas de Seresta “Unidos pela Música”: Maria Angélica Souza, Amélia Ramalho, Araújo de Ávila Campos; Nestor Alves de Souza Neto; Grupo Heloisa Bruscato, Eliana Simionato, Hermano Ramalho e Jairo Simionato- Papyrus Sâmara Serrano Diniz; Saulo Barbosa Cândido e Solieny Livraria - 1997. Fostinoni, que regidos João Batista Rodrigues Jr. empreendem “uma viagem a todos os períodos históricos da música, mergulham na aprendizagem do violão e constróem um repertório diversificado”. 303


ALGUNS REDUTOS MUSICAIS

O Bar do Peixotinho foi, por anos, final da década de 1990, início de 2000, reduto dos músicos. Lá frequentavam os irmãos Jabur: Alfredo e Fábio; Fernando Nunes; José Paulo “Pé de Galo”, falecido; Fredinho Blasi; Gizelle Costa; Ika Assad; José Fernando Entratice; Josiane Gonçalves; Jorge Assad; Júlio Lima; Luís Cláudio Bueno; Martinho O. Rocha da Silva; Micael Chaves; Samir Nassur, Silvia Ferrante e Walgra, entre muitos outros. Falar do Bar do Peixotinho é reportar-se à década de 1970, quando na Rua Olaia foi aberto o “Passaredo”, restaurante-reduto dos músicos da cidade, assim como a “Chatanooga” na década de 1980, na Rua São João. A Papyrus Livraria fez belo trabalho, também no campo musical com o projeto “Tributo à Música Popular Brasileira”, onde vários e importantes compositores foram homenageados; além Bar do Peixotinho: Alberto Amiki, Micael Chaves, Jorge Assad, Fredinho do projeto “Samba de Roda”, 64 que objetiva resgatar não só Blasi, Júlio Lima e Silvia Ferrante, de costas. o samba, mas também seus antigos compositores e cantores. Grupo formado por Tomé, no pandeiro; Marreta, no surdo; Nei, no tan-tan; Julinho Sorriso, no cavaquinho; André, no violão e Claudinei Henrique Fernandes, no repique de mão. CORAIS São João da Boa Vista já formou corais de ótima qualidade como o “Coral Vozes de São João” que, sob a batuta de Wildes Antônio Bruscato, esteve ativo por mais de dez anos. Em 1986, este coral organizou, junto com Neusa Menezes, o “1º Em...Canto Coral”, 65 com participação dos corais de Mogi Guaçu, Espírito Santo do Pinhal, Poços de Caldas, Tambaú e São João da Boa Vista. O “Madrigal São João” teve regência de Miriam Pipano. O “Coral Madrigal Elohin”, sob a regência do Maestro Estevão Eduardo Ferreira, em 1998, lançou o CD “Vitória”. Os corais “Vozes de São João”- infantil e “Coral Boca Livre” também são regidos pelo Maestro Estevão Eduardo Coral Vozes de São João da Boa Vista- Cantoras e Maestro Wildes Bruscato 1984 Ferreira, tendo Sarah Ramos como sua auxiliar, sendo estes dois últimos ligados à Prefeitura Municipal. Há ainda o “Coral Canto na Boca”, da Santa Casa Carolina Malheiros. Não se pode esquecer que a Faculdade de Administração e Economia – FAE de São João da Boa Vista possuiu um coral que se apresentou, pelo menos duas vezes, na Academia de Letras de nossa cidade, ou seja: em 11 de outubro e 15 de novembro de 1975, sendo que nesta última data aconteceu a posse, como Membro Honorário, da compositora Edivina Noronha. CORPORAÇÃO MUSICAL DONA GABRIELA DE OLIVEIRA COSTA - BANDA DONA GABRIELA

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Houve época em que era quase vital para uma cidade possuir uma Banda de Música. São João da Boa Vista teve, nas décadas de 1930/40, duas que atuaram simultaneamente: a “Dona Gabriela” e a “Santa Cecília” do maestro João de Melo “João Menino”, que vai ser regida, posteriormente, pelo Maestro Benedito Maciel e foi extinta há décadas. Já a Corporação Musical Dona Gabriela Ribeiro de Oliveira, a “Banda Dona Gabriela”, como é conhecida, continua ativa até hoje. Foi criada em outubro de 1938, numa época em que elas eram muito requisitadas em eventos como procissões, festas, serestas, serenatas, retretas e quermesses. Durante sua trajetória, vários maestros passaram pela corporação, primeiro o Maestro José Júlio Mourão que

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esteve à sua frente por mais de 45 anos, sendo sucedido pelo Maestro Tenente Santos Mazzi Filho, ambos já falecidos. Depois vieram os Maestros Gamalieri Ribeiro, José Henrique Gião e, desde 1999, é o jovem e genial Maestro Márcio da Silva Pereira quem está à frente da Banda. A grande incentivadora, a “patronesse” que sempre deu apoio incondicional a essa Corporação Musical foi Gabriela de Oliveira Costa “Dona Beloca”. Existe aí uma curiosidade: ao contrário do que todos pensam, a “Dona Gabriela”, que deu nome à Banda em 1938, não é Dona Beloca, mas sim, sua mãe, Gabriela Ribeiro de Oliveira. No entanto, no ano de 2005, uma nova diretoria decidiu mudar o nome para “Corporação Musical Dona Gabriela de Oliveira Costa”, esta sim, Dona Beloca. Seu quadro de músicos, nestes 72 anos de existência, foi renovado inúmeras vezes. Por ele já passaram nomes

Banda Dona Gabriela: 1a. Fileira: José Silva, clarinete; José Lorentine “Zézinho Pé de Galo”; Benedito Maciel; Fernando Arrigucci; Guilô Cevitelli “Guilô Barbeiro”; Mário Pereira “Mário Alfaiate”; 2a. Fileira: Antônio Vicente; Júlio Alípio; Rosário Mazzi; Francisco Lang; Benedito Venâncio “Dito Preto”; Gabriel “Gabrielzão”; José Placidio; jovem não identificado; Hellier Mazzi; Alfredo Cervedílio; Maestro Júlio Mourão e José Barbino - Década de 60.

importantes 67 como, entre outros: Américo Rinaldi, que tocou na Banda do maestro João Menino; Antônio Vicente; Arthur Lorentini “Artuzão”; Atílio Rinaldi; Alícia G. Turatti Pesolatto, única mulher que tocou na Banda, hoje está na Itália; Basilídio Lopes de Campos “Bilu Carcereiro”; Benedito Maciel; Duclécio de Oliveira; Fernando Arrigucci; Francis Lee Paiva; Gilberto Abreu Santos; Guilô Cevitelli; Henrique Borges; Herivelton; Jorge Mazzi; José Antônio Placídio; José Barbino; José Barbosa; José Liberalli Filho “Zandunga”; José Lorentini “Zezinho Pé de Galo” ; José Mendes Silva “Pé de Galo”; 68 José “Pito” Mendes; José Placídio; José Silva; Júlio Alípio; Milton “Relojoeiro” Abreu Santos; Ricardo Bertoldo; Rosário Mazzi; Sebastião Tibúrcio; Silvério Rinaldi; Tenente Penha; Waldemar Bonci; Zequinha, que também tocou na Banda do maestro João Menino. Os músicos Mário Benedito Pereira “Mário Alfaiate” e Hellier Mazzi participam da Corporação há aproximadamente 50 anos. A faixa etária dos componentes da Banda é bem extensa, de 13 a 80 anos de idade. Para orgulho e prazer do sanjoanense, a Banda D. Gabriela, 69 geração após geração, apresenta-se sempre com grande “glamour”. Há décadas, todos os domingos à noite, na Praça Joaquim José, lá está ela propiciando momentos de alegria e descontração ao povo sanjoanense.

MÚSICA NA IGREJA PRESBITERIANA A música nos cultos das Igrejas Presbiterianas, prevalecendo coral e hinos, sempre teve grande destaque e importância. Aqui em São João da Boa Vista, 70 essa tradicional Igreja, possui o “Coral Veldo Westin”, que homenageia o grande violinista sanjoanense e presbiteriano. Já teve como regentes, entre outros: Célia Cortez, João

Coral da Igreja Presbiteriana na Academia de Letras -1995

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Rios, Gisele B. Costa Torrico, organista e Vivian Lis Nogueira Dias. Hoje ele é regido por Gerde Garcia Pereira. Por ali passaram excelentes cantoras e instrumentistas como, entre outros: Dulce Madruga, contralto; Décio Madruga, violonista e organista; Irene Vallim, soprano solista; Veldo Westin, violinista; Márcia Mouro Zan, organista, pianista e tecladista, além de Gisele B. Costa Torrico violoncelista, pianista e que hoje pertence à “Orquestra Sinfônica Jovem de São Paulo”; dá aula de viola erudita no “Projeto Guri” daquela cidade e lecionou na Universidade Livre de Música Tom Jobim. Cita-se, também Vivian Lis Nogueira Dias, doutora em música, atuando na Universidade de Campinas - UNICAMP, onde é regente do “Coral Zíper na Boca”, além de professora e cantora. ESCOLAS Vânia Gonçalves Noronha e Márcia Mouro Zan, nas décadas de 1980/90, mantiveram a “Escola Sanjoanense de Educação Artística”, 71 que realizou com seus alunos e/ou professores várias e importantes audições na cidade. Numa época, formou o Trio Pagu – música de Câmara com José Domingos Giffoni Rosa “Zezinho Só”, vocal; João Batista Simon Ciacco, piano e Ildeberto Peretti, flauta transversal. Posteriormente, Vânia Noronha junto com Fafá Noronha, fundaram o “Centro Livre de Arte e Cultura”- CLAC, uma escola de música, aberta a outras artes, tendo uma grande produção artístico-cultural. A Prefeitura Municipal de São João da Boa Vista mantém a “Escola de Iniciação Musical” com Henrique Mérida, professor de percussão e Henrique Bruno Borges, de instrumentos de sopro. Este formou com seus melhores alunos a “Orquestra de Sopro” 72 com 25 músicos. Em 2005, é formada a “Camerata Municipal de Sopro” 73 tendo Henrique B. Borges como regente; no saxofone Acácio Rodrigo dos Reis Silva, Carlos Alberto de Carvalho, Leonardo Palhares Aversa e Rodofo Peres de Castro. No trompete Alicia Greyce Turatti Pesolato, Eduardo Santana e Francis Lee Paiva. No trombone Erivelton Urbano e Milton dos Santos. O bombardino a cargo de Leandro Costa Cândido; no baixo elétrico Tiago Benetti Pereira; na guitarra Luiz Antônio Braido; no piano Márcio Pereira e na bateria Henrique Mérida. Mantém, ainda, a Prefeitura, o Coral Infanto Juvenil “Vozes de São João” 74 criado em 2005, com faixa etária de 06 a 17 anos, que tem recebido elogios da crítica especializada e o “Coral Boca Livre”, ambos regidos pelo Maestro Estevão Eduardo Ferreira e Sarah Ramos. Em 2010, a Associação dos Amigos do Theatro - AMITE - criou a “Camerata de Cordas” com: violino, viola, violoncelo e contrabaixo acústico. Miriam Pipano, incansável, ainda na década de 2000, continua sua trajetória como professora de música e faz um trabalho maravilhoso, desta feita como voluntária em escolas estaduais de ensino fundamental, ensinando flauta doce e descobrindo talentos musicais entre a criançada. COMÉRCIO E INDÚSTRIA

São João da Boa Vista, não contente em possuir tantos e tão importantes talentos na música, teve a feliz ousadia de possuir fábricas de instrumentos musicais, além de vários estabelecimentos comerciais ligados a esta arte. A primeira loja de que se teve notícia foi a “Casa Bulcão”, década de 1920. Já a primeira indústria fundada em 1890 por João Sartorello foi a “Fábrica de Harmônicas Sartorello”, “reconhecidas como as melhores do mercado latinoamericano”. 75 Os herdeiros do fundador associaram-se, em fins da década de 1950, aos irmãos italianos Giorgio e Gean Franco D’Amore. Fechou suas portas em meados de 1960. Na década de 1940, 76 os irmãos Pipano - Abrahan, David e Daniel eram proprietários, em São João da Boa Vista da loja “Palácio da Música”, que comercializava vitrolas, pianos, sanfonas, instrumentos e artigos musicais de modo geral. Na década de 1950, eles associaram-se a Francisco Paulino de Abreu, proprietário da “Fábrica de Harmônicas Brasil”, localizada aqui na cidade. 77 A partir de então, a firma passou a denominar-se “Indústria de Harmônicas Torino Ltda”. Paulino de Abreu, algum tempo depois, saiu da sociedade e a empresa atuou, apenas com os Pipano, por quatro décadas, até os anos noventa. Em 1964, os irmãos Pipano criaram, ainda, uma indústria denominada “Instrumentos Musicais Saema”, 78 que fabricava órgãos eletrônicos, instrumentos de fanfarra, baterias de jazz, violões, violas, cavaquinhos, pandeiros, baterias e teclados. Funcionou até 1994 paralelamente com a Torino. Chegaram a fazer alguma exportação. Segundo Procesi:79 “as indústrias dos Pipano são, a nosso

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ver, uma das colunas que sustentam o nosso parque industrial”. Atualmente têm-se como “luthier” - artesãos fabricantes de instrumentos: Edel Luiz Caslini, que fabrica há mais 50 anos: violão, violão de sete e doze cordas, viola, cavaco, bandolim, guitarra, contrabaixo e contrabaixo acústico e Sebastião Norvino que fabrica baixo, violão elétrico e guitarra. Como mestre em afinação de piano há o talento de Emílio Caslini Jr. Por muitas décadas, a família Anfe possuíu, com sucesso, comércio de instrumentos musicais e materiais ligados à música.

E AÍ?

Se há tantos músicos, compositores, cantores, instrumentistas, empresas ligadas à musica em nossa urbe, deduz-se que deva haver um numeroso público formado por apaixonados diletantes, que, se não possuem o dom musical, possuem, pelo menos, grande sensibilidade no fruir dessa arte. Deduz-se também que São João parece ter um destino musical a ser cumprido. Talvez a criação de uma Banda Sinfônica ou Filarmônica, um Coral Municipal; e principalmente uma entidade que reúna todos os interesses musicais da cidade. Uma voz, que os pronuncie e os realize. Talvez a criação, não!!! A criação passou a existir 80 a partir de janeiro de 2010, quando foram selecionados 31 músicos, sendo 27 sanjoanenses, para a futura “Orquestra Jazz Sinfônica”, tendo o Maestro Agenor Ribeiro Netto, na batuta. “Já esperávamos que São João tivesse excelentes músicos, mas nos surpreendemos com a qualidade que encontramos aqui”, afirmou o Maestro, que é natural de São José do Rio Pardo/SP. Criada oficialmente em março de 2010, faz parte do projeto “Música, Luz e Cidadania”, aprovado pela Lei Rouanet. Este projeto prevê ainda ajuda de custo aos integrantes da orquestra e a implantação de escolas de músicos nos bairros. E o patrocinador é a empresa “AES-Tietê”, que se instala em nossa cidade, com a restauração e início de produção das nossas antigas usinas hidrelétricas. A primeira apresentação pública aconteceu a 30 de abril de 2010. Parabéns! Que tenha vida longa! Ganha São João! Ganha o sanjoanense, seja ele por nascimento, por outorga, ou por arbítrio!

ANEXO MÚSICA, DIVINA MÚSICA

SERPENTINA

Mãe proteja o filho, Que se aproxima o inimigo. Mãe, lá vem o perigo, Não se renda desarmada: Use a foice e a enxada, Parabellum, carabina, Que quem mata, além da fome, Tem mais nome: é SERPENTINA. II O sertão virou sangue e morte. O direito à vida – quem tem? Ontem – gente morrendo de fome; Hoje – feito sem nome: E amanhã – sobra quem?

O sertão hoje é palco, é cenário, De um crime hediondo e brutal; Quem quer vida, que lute, que morra, O assassino que corra Do chão nacional. III Tem missão americana Pra fazer índio rezar; E, ensinando os mandamentos, Ensinar ao “não matar”. Tem missão americana Já dizendo o insensato, De tentar salvar o norte Praticando o assassinato.

Letra e Música de Luis Nassif

Que da voz do homem vivo, Do silêncio do homem morto, Se revele o mesmo brado Contra o crime do aborto. IV O sertão hoje é palco, é cenário, De um crime hediondo e brutal Quem quer vida, que lute, que morra, O assassino que corra Do chão nacional.

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Três grandes músicos sanjoanenses: José “Zézinho” de Andrade Neto - violinista da Orquestra Sinfônica de Campinas; Renê Marcos Pozzi: organista, pianista, compositor e ator teatral e José Luiz Olandesi - tenor lírico. Igreja do Liceu, Campinas. 10/07/1971.

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Emílio Caslini - Violinista

Maestro João de Melo “João Menino” - Banda Santa Cecília

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JOÃO DIAS, SUCESSOR DE FRANCISCO ALVES, EM SÃO JOÃO DA BOA VISTA

Ito Amorim

Estávamos no ano de 1942, e o mundo envolvido na Segunda Grande Guerra. A vida, cada dia que passava , tornava-se mais difícil. Tudo encarecendo. O custo de vida crescendo assustadoramente. Para uns, a ocasião foi de ouro e oportuna. Para outros, só embaraços. Trabalhávamos, João Dias e eu, numa tipografia aqui em São João da Boa Vista. Vida dura, vida de trabalho, justamente na fase mais sentida da existência: quando garoto, espera-se passar a homem. (...) Estávamos, então, nesse período da vida. Quinze anos cheios de ilusões e fantasias, vendo, todavia, bem estreitos os caminhos da oportunidade. Nessa época já éramos fãs incondicionais de Francisco Alves, o Rei da Voz. Maravilhados, ouvíamos suas gravações e não perdíamos um único programa seu. Certo dia, João Dias chega-se a mim e diz: -Já não posso viver assim. Tenho que tentar a vida em outra parte. Vou-me embora para São Paulo. Sei que a vida lá é dificílima, porém lá, as portas da oportunidade são mais amplas. Tenho minha profissão e poderei progredir. E depois, mais esta, se não acertar, voltarei... Mas, irei fazer o possível para não retornar. Preciso vencer João Dias - Divulgação em São Paulo! E numa tarde de setembro lá vai João Dias para São Paulo, levando mais ilusões e sonhos em seu coração, que a bagagem que o acompanhava. Um abraço amigo de despedida e lá foi nosso amigo para a agitada capital paulista. Depois de um mês recebemos uma carta de João Dias. Em um trecho diz ele: “...Tenho pensado em voltar, mas não posso fazer isto. Seria depois um fracassado...” De fato, João Dias tinha razão para estar desanimado. Nós sabemos, perfeitamente, o período ingrato que ele passou, no início, em São Paulo. Enfiado nas oficinas de uma tipografia, trabalhando como louco e ordenado insuficiente para pagar a pensão, em que morava. No entanto, João Dias teve fibra e força de vontade. Aguentou firme e enfrentou impavidamente os tropeços da vida. O tempo ia passando e, embora sempre nos escrevesse suas lamúrias, João Dias ia acomodando-se melhor na capital paulista. Melhora de ordenado, ambientado, já estava com mais força para viver em São Paulo João Dias já vivia, pois, regularmente na capital paulista. Com seu espírito sempre jovial, via nisto um motivo para se alegrar. Já cantava de contentamento. E todos que o ouviam, diziam logo: “parece a voz de Francisco Alves”. Parecia mesmo! Sem a classe do Chico e cantando defeituosamente, tinha, contudo, a voz semelhante ao do Rei da Voz. Observando a opinião geral, João Dias passou a levar a sério esse negócio de cantar. Já era “crooner” de orquestras e defendia seu dinheiro. Sua voz, cada vez mais, tendo semelhança com a do velho Chico. O cartaz de João, em São Paulo, subia e ele conseguiu um pequeno contrato com a Rádio São Paulo, PRA-5. Ia bem a vida para ele, mas temia ainda um ponto: tinha receio que Francisco Alves o ouvisse, não gostasse dessa semelhança e procurasse prejudicá-lo. Certa vez, porém, João Dias cantava numa boate, quando entrou Francisco Alves. Sentou-se o Rei da Voz e aguçou o ouvido. Quando terminou a canção, Francisco Alves mandou chamá-lo. João Dias foi tremendo. Sempre fora admirador do Chico e isso já era motivo para se transfigurar e ainda mais com receio da semelhança de vozes. Estava tão emocionado que nem podia falar direito. Mais tarde escreveu-nos: “Foi uma das maiores emoções de minha vida. Ele tratou-me com imenso carinho e desmedida atenção. Francisco Alves é o maior mesmo...” Desde esse encontro com Francisco Alves, tornaram-se grandes amigos. Como todos sabem o Rei da Voz é um cantor notável e possuído de incrível espírito de colaboração. São inúmeros os artistas que ele colocou no Rádio. Sempre cantando bem e sempre ajudando os outros a subirem, eis a vida de Francisco Alves. O Rei da Voz tem sido um verdadeiro pai para João Dias. Auxilia-o em tudo. Declara abertamente pela imprensa e pelo rádio que ele é seu sucessor. Depois que João aperfeiçoou-se, depois que o Chico fez-lhe a lapidação necessária, surgiu a grande oportunidade de gravar. Chico leva-o na Odeon e se responsabiliza pelo sucesso. É assinado então um contrato de dois anos! João Dias grava seu primeiro disco com as músicas: “Guacyra” e “Canta Maria”. Êxito completo! Satisfação para a Odeon, para Francisco Alves, para João Dias e para todos nós. João gravou até agora oito músicas, todas elas trazendo assinaturas de grandes compositores: David Nasser, Francisco Alves, Ary Barroso, Haekel Tavares etc. O maior sucesso de João Dias, porém, foi “Sinos de Belém” e “Fim de Ano”. Esta última música de autoria de David Nasser e Francisco Alves. Por aí se pode avaliar o que é o Chico Alves. Compôs a musica e ao invés de gravar, certo de sucesso, entregoua a João Dias. A venda em um mês atingiu a trinta mil discos. Recorde da Odeon, na ocasião. Agora está João Dias trilhando o caminho da fama. Contratado pela Rádio Bandeirantes e pela Boate Bambu, financeiramente está satisfeito e, com voz idêntica à de Francisco Alves, somente tende a subir sempre. João Dias não nasceu em São João. É natural de Campinas, mas tinha apenas alguns meses quando sua família mudou-se para a “Cidade dos Crepúsculos Maravilhosos”. Aqui passou grande parte de sua vida, possui bons amigos. E, sempre que pode, vem rever as amizades e a cidade, onde deixou uma lasca grande de seu coração. Aproveitando as férias, João Dias vem passar um mês em nossa terra. Já se apresentou duas vezes na Rádio Difusora da nossa cidade e, como não poderia deixar e ser, o sucesso foi extraordinário. (...)

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In-Revista “A Paulistinha” – junho/julho de 1952, p. 14. Ano II - nº 12/13. Mogi-Mirim. Quando este artigo foi escrito, Francisco Alves ainda era vivo, ele veio a falecer pouco tempo depois, em 27 de setembro de 1952.


Notas Referenciais MÚSICA, DIVINA MÚSICA 1- Procurou-se fazer este texto obedecendo, mais ou menos, uma ordem cronológica, o que nem sempre foi conseguido. 2- Weber, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. S. Paulo: Martin Claret, p. 213. 3- Revista Veja – Edição Especial – “Milênio: 100 fotos que mudaram o mundo do ano 1001 até hoje”. Dezembro de 2000, p. 19. 4- Guitarrista do “Rolling Stones”. Revista Veja, 17/11/2010, p. 21 – Páginas Amarelas. 5- Há um capítulo dedicado a ela. 6- Instituída pela Lei Municipal NR 06, de 30 de março de 1977. 7- Por um período, foi a titular da Orquestra do Theatro Municipal, em tempos de cinema-mudo. 8- Azevedo, José Osório O. História Política e Administrativa de São João da Boa Vista. São Paulo: Sarandi, 2009, p. 763. 9- A Matriz tornou-se Catedral em 1960 com a vinda do Bispado para nossa cidade. 10- Isauro Bulcão participou também da Primeira Exposição Coletiva de Artes Plásticas de São João da Boa Vista. Vide mais dados sobre ele no capítulo referente a essa exposição. 11- “Noite de Brasilidade - Grande Festival Artístico da Música Brasileira”, Theatro Municipal, 11 de junho de 1943 – “unicamente elementos artísticos da Sociedade Sanjoanense”. Dizeres no catálogo. 12- Pai de Reinaldo Aleixo Filho, que tocava violino e bandolim. 13- Pai de Walter Christensen, que tocava violão. 14- Taubkin, Myriam – organização. Violões do Brasil. São Paulo: Rush, 2004, p. 12. 15- Idem. 16- Jornal “O Município” 26/6/2000, p. 2. Transcrito do jornal “A Folha de São Paulo” 23/06/2000. 17- ”Revista Crepúsculo”, ano I, nº 3, dezembro 1957, p.12. 18- Folheto do “Bem Brasil – Jazz Bar”, 12 de junho de 2010. 19- Vieira, Clóvis, jornal “O Município”, 22/11/2008. 2º Caderno, p.1. 20- Na verdade, João Dias nasceu em Campinas em 12/10/1927, era, porém, filho de sanjoanenses e quando ainda bebê, seus pais voltaram a morar em nossa cidade na Praça da Matriz. Relato de sua sobrinha Rita Almeida Noronha. 21- Splettstoser, Jaime Jr. Jornal “O Município”, 04/10/2008, p. 02. 22- Godoy, Odila, Jornal “A Cidade de São João”, 22/11/1975. 23- Idem. 24- Entrevista concedida em sua casa, em outubro de 2010. 25- Jornal “Correio Sanjoanense”, 18 de junho de 2005, p. C2. 26- Casamento de Kátia Nicolau, filha de Miguel Jorge Nicolau, com José Carlos Pomeranzi. 27- Galvani, Rodolfo Jr. in Taubkin, Myrian. O Brasil da Sanfona. São Paulo, 2003, p. 4. 28- Segundo Splettstoser em “Cem anos de indústria em Sâo João da Boa Vista”, 2008, p. 50, Thomazo Bitello era proprietário, em 1901, de uma fábrica de cerveja, na cidade. 29- Oliveira, Benedito Fernandes “Cajuca”. Apontamentos Históricos e Dados Estatísticos de São João da Boa Vista, 1955. Inédito. 30-Têm-se notícias, ainda, da “Banda Infantil Guiomar Novaes”, fundada pelo Padre Josué. 31- Vide sua biografia no capítulo “Pintores da década de 1930”. 32- Splettstoser Jr., Jaime. Alemães, franceses, suecos, dinamarqueses e austríacos em São João da Boa Vista, 2003, p. 114. 33- Dados retirados de diversos convites, programas, catálogos e recortes de jornais, pertencentes à Profª Miriam Pipano, além de entrevista com ela. 34- Sua profissão era padeiro e trabalhava na Padaria da Massimina. Não pôde dar aulas no Conservatório, porque, apesar de grande acordeonista, excelente conhecedor de música e ensinar através de partituras, não possuia a titulação necessária para o cargo. 35- Nader, Pedro Jorge. “O Município”, 15 de outubro de 1955. 36- Ver detalhes no capítulo referente à “Dança”. 37- Informação, por telefone, de Osvaldo Souza. 38- Dados, sobre o conjunto, fornecidos por seu neto Davis V. Junqueira. 39- Farnetani, José Orlando. “Bar Doce Bar”. Jornal “Gazeta de São João”, 05/11/2005, p. 09. 40- De Masi, D. Ócio Criativo. 41- Os fundadores do conjunto foram Antônio Paulo Ferrante, Joel Lisboa Biotto, e Nin Pozzi. Em outra formação recebeu o nome de 311


“The Blues Rocking’s”, arquivo Joel L. Biotto. 42- Segundo “Nenê Prata”, o contrabaixo pertenceu ao Reinaldo Aleixo, que tocou com este mesmo instrumento, na inauguração de nosso Theatro Municipal. 43- Recorte sem o nome do jornal de 23/08/1961, pertencente ao arquivo de Joel L. Biotto. 44- Recorte sem o nome do jornal e sem data. Arquivo de Joel L. Biotto. 45- Jornal “Gazeta Esportiva” de São Paulo, sem data. Arquivo de Joel L. Biotto. 46- Todas as informações sobre a família Luciano foram passadas por telefone por Antonia de Souza Luciano, em 29 de julho de 2010. 47- Catálogo da II Semana do Artista Sanjoanense, de 15 a 22 de dezembro de 1985. 48- Depoimento de Glorinha Aguiar e Pistelli. 49- A letra da música “Serpentina” encontra-se no “Anexo”. Em 1967, uma das composições participantes foi “Senhor de Engenho”, com música de Joel L. Biotto e letra de Aparecido Marques, interpretada por Iremílio Caslini e Vera Aceturi, tendo a participação de César Caslini e Joel Biotto no violão. Arquivo Joel L. Biotto. 50- Estes dois festivais -1971/72 aconteceram na Sociedade Esportiva Sanjoanense. 51- Anor Luciano Jr. vai tocar nas Sinfônicas de Campinas/SP; da Paraíba e de Belo Horizonte/MG. 52- Jorge Nascimento vai tocar na Sinfônica de Curitiba/PR. 53- “Zé Rapudura” trabalhava no Cemitério Municipal e Ricci fala dele em sua composição “Praça Joaquim”. 54- Vieira, Clóvis. Revista Atua. Dezembro 2009, além de depoimentos de Glorinha Aguiar e Luis Carlos Pistelli, que forneceu a data da primeira serenata: 1968. 55- Entrevista com Silvia Ferrante, Jornal “Edição Extra”. 56- Taubkin, Myriam. Violeiros do Brasil. São Paulo: Ipsis, 2008, p. 199. 57- Veja mais dados sobre ele no capítulo “Orgulhos Maiores”. 58- Jornal “Edição Extra”, 8 de setembro de 2007, p. 4 A. 59- Catálogo da “II Semana do Artista Sanjoanense” -1985. 60- Idem. 61- Idem. 62- Jornal “O Município” - 31/03/2010. 63- Apresentaram-se em 2004, na 27ª Semana Guiomar Novaes. Fundadores do “Nin e seus Rocketes”: Paulo Ferrante, Joel Lisboa Biotto e Nin Pozzi. 64- Apresentaram-se em 2010, na 33ª Semana Guiomar Novaes. 65- Este evento aconteceu no Cine Ouro Branco. 66- Os dados sobre a “Banda D. Gabriela” foram fornecidos pelo seu maestro Márcio da Silva Pereira. 67- Nomes lembrados por Mário Benedito Pereira, pai do atual Maestro Márcio da Silva Pereira 68- Era meados da década de 1950, uma orquestra famosa veio abrilhantar um baile na SES. José Lorentini “Zezinho Pé de Galo”, que era exímio clarinetista, além de tocar flauta e sax-tenor, foi apreciar a orquestra. Antes e nos intervalos do baile ia conversar com os músicos; em um destes momentos estava encostado ao piano e admirava uma clarineta prateada, em suas mãos, quando teve um ataque cardíaco fulminante. Depoimento de Mário B. Pereira “Mário Alfaiate”. 69- Ela foi declarada de “Utilidade Pública Municipal”. 70- Dados fornecidos por Gerde G. Pereira a Maria Zenaide Mazutti e esta à autora. 71- Depois, por um período, continuou apenas com a Profª Vânia. 72- Apresentaram-se em 2004, na 27ª Semana Guiomar Novaes. 73- Apresentaram-se na 31ª Semana Guiomar Novaes. 74- Idem. 75- Revista “Álbum de São João” - 1891/1950. 76- Dados fornecidos por David Pipano, em abril de 2010. 77- Segundo Splettstoser, Jaime Jr. e outros. Cem Anos de Indústria em São João da Boa Vista, 2008 - p. 65, por um período teve como sócio o Sr. Marcondes. Localizava-se na Rua Campos Salles, 508. Segundo relato de Edel Luiz Caslini, o Sr. Luiz Caslini foi um dos fundadores desta empresa. 78- SAEMA vem da junção, das primeiras letras, dos nomes das filhas dos proprietários: Samara, Ellen e Magda. 79- Procesi, Augusto. Irmãos Pipano: Uma coluna industrial na cidade. Almanaque do Sesquicentenário, 1974, p. 55. 80- Jornal “O Município”, 03 de fevereiro de 2010, 2º caderno, p. 3.

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DANÇA, EXPRESSÃO DO RÍTMO Não se conseguiu nenhuma informação sobre grupos ou pessoas ligadas à dança anterior à década de 1950. Porém, nessa década, o Conservatório Musical Guiomar Novaes abriu-se para o ensino desta arte. Para ministrar aulas de balé, veio, da cidade de Campinas, a professora Dilma de Lima e logo se formou um corpo de dançarinas composto pelas solistas Iolanda Gabriela Costa Oliveira “Iola”; Maria Cecília C. Santiago; Marilídia Acceturi; Vera Terezinha Costa e Silva e Sônia Suely Sibin. Eram ainda alunas: a menininha Áurea Maria “Tu” de Oliveira Fontão, com apenas três anos de idade; Ana Laura Patrão; Ângela Maineri; Carmen Silvia Coelho; Carmen Silvia Noronha; Deolinda Rezende; Ellen Rose Pipano; Jandira Cassiano; Juliana Virga; Lúcia Legaspe; Magda Pipano; Marcy Jahnel Rehder; Maria Ester Machado; Maria José Todescato; Rosiléia Pipano, entre outras. Apresentavam-se com grande desenvoltura e leveza, fazendo enorme sucesso. Nas décadas 1 de 1960/70 e início de 80, a escola Externato Santo Agostinho, comandada pelas professoras Sarah Salomão e Zezé Lopes, oferecia aulas de balé, trazendo conceituados professores como Renan Aybiré, da Academia Odete Motta Raia, de Campinas e Maria Carmen Teobal de Andrade, de São Paulo. Suas apresentações anuais aconteciam no Centro Recreativo Sanjoanense. Eram dessa turma, entre outras: Ana Claudia Z. Ribeiro Santos; Cristina Hauí; Silvia Oliveira Azevedo, além das três “Marthas”: Martha Prata; Marta Jacinto e Martha Bernardes. BALLET MARINSKY Fundado em 1980, o Ballet Marinsky 2 de Zeza Freitas e Ronaldo Marin participou de vários movimentos inclusive do 1º Encontro Nacional de Dança - ENDA, em São Paulo, no “Teatro Paulo Eiró”, em 1982, com o espetáculo “Os Deuses da Terra”, balé em três atos, tendo como principal bailarina Marta Jacintho, coreografia de Zeza Freitas, roteiro de Ronaldo Marin, baseado na obra de Nietzsche “Assim falou Zaratrusta”. A música foi do sanjoanense João Ciacco Jr. composta especialmente para a ocasião. Foi o primeiro balé a contar uma história completa com características e adequações de um “Balé de Repertório”, com “pás de deux” e solos dos protagonistas. Em 1983, este grupo montou “Mon Faust” baseado em “Fausto” de Goethe, com coreografia de Zeza, roteiro de Marin. Apresentaram-se tanto em São João como em São Paulo. O “Ballet” participou também de uma das primeiras edições do “Festival de Joinville”. Seus principais bailarinos, entre outros, foram: Adauto Fernandes “Fernanda Carraro”; Badi Assad; Celso Bruno; Clóvis Vieira; Cristina Torres; Elisabete Pilli; Evelyn Peres; Fábia e Fernanda Leme; Iremeyre Rojas; João Ciacco Jr.; Júlio Diniz; Luis Vieira; as irmãs Maria de Lourdes e Maria Rita Juvêncio; Marta Jacintho; Paulo Liparine e Stela Delaroli Pagani. Em 1986, com dramaturgia de Clovis Vieira, o Ballet Marinsky apresentou “Aldeia de Cristal”, no Theatro Municipal juntamente com a peça “Liberdade, Liberdade”. Foi a última apresentação antes de o Theatro ser interditado para restauração. Em 1993, com uma nova geração, o Marinsky participou do Festival de Dança de Bento Gonçalves com participação de Leandro Gullin; Luciano Catine; Carolina Zanetti e Marcela Marin. Faz alguns anos que a dança desta equipe está direcionada apenas para o teatro. Os atores fazem aula de balé clássico, contemporâneo e expressão corporal. Neste novo núcleo, destacou-se Luan Batista, que hoje faz parte do “Balé Jovem” do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. ESCOLA DE DANÇA E FESTIVAL Em 1984, iniciou-se o ensino da Dança Moderna e Ginástica Rítmica na Prefeitura Municipal de nossa cidade, implantada pela professora Roseli Prado Galdino. Neste mesmo ano, ela organizou o I Festival de Ginástica Rítmica e Dança, que era apenas uma apresentação interna dos alunos, em suas diferentes faixas etárias. Fez tanto sucesso que em 1985 aconteceu o II Festival, espetáculo já aberto para os grupos da cidade. Em 1986, a terceira edição foi aberta para toda a região e a partir do IV Festival, em 1987, teve âmbito estadual. A evolução do Festival de Ginástica Rítmica e Dança 3 parecia acontecer naturalmente, no entanto, deveu-se principalmente à organização e condução primorosa de seus responsáveis. Foram momentos de grande sucesso e realizações, crescendo, a cada edição, a quantidade e a qualidade dos participantes. Chegou a ser referência estadual. Realizava clínicas, trazendo jurados para as categorias moderna e clássica e apresentava importantes grupos como, entre muitos outros, o “Ballet Stagium”, com Décio Otero e Márika Gidali e o “Ballet Ismael Guiser.” Quando Roseli Prado Galdino retirou-se em 1993, a continuidade das aulas aconteceu por intermédio de suas ex-alunas: Cláudia Jesus da Silva Silveira e Lúcia Helena Almeida.4 Todavia, o ocaso chegou e, infelizmente, em 2006, aconteceu o último Festival. 313


MUITAS ACADEMIAS DE DANÇA Ainda no início na década de 1980, Áurea Maria de Oliveira Fontão Alvarez “Tu Fontão”, fundou a “Academia Corpo e Forma” e ali, por quase 20 anos, lecionou, com grande sucesso, balé clássico. Formou inúmeras turmas que participavam dos Festivais de Ginástica Rítmica e Balé de nossa cidade, obtendo sempre elogios da crítica especializada. Tu Fontão, que possui toda uma história de vida voltada à dança, iniciou-se nesta arte no Conservatório Guiomar Novaes de nossa cidade. Já na juventude foi estudar, em Campinas, com Lina Penteado e Beth Rodrigues, quando se diplomou em balé clássico, com banca examinadora do Royal Ballet de Londres. Fernanda Ciacco também começou dar aulas de dança na década de 1980, estudou na Academia Odete Motta Raia, em Campinas e quando voltou a São João, dedicou-se por mais de dez anos, ao ensino desta arte. Dessa maneira, tendo a dança clássica como base de sua atividade, montou com seus alunos grandes musicais: “Carmen Miranda”, “Noviça Rebelde”, “Brasil de Norte a Sul” e musicais da Broadway, entre outros. Dentre as várias academias que promoveram a dança nessa época, além das já citadas, têm-se ainda a “Oficina do Corpo”, de Christina Anfe e o “Grupo de Dança Medida Certa” de Iga Monicce e Silene Michelazzo, sendo que Silene 5 especializou-se em dança: Balé Clássico, Moderno, Expressão Corporal e Sapateado. Iniciou seu trabalho no Centro Recreativo Sanjoanense - CRS, onde, na década de 1980, formou um dos primeiros grupos de dança da cidade, apresentando-se em toda a região. Há mais de 20 anos tem sua própria Academia de Dança e dá aula de sapateado para crianças e adultos. Organizou e dirigiu mais de 25 espetáculos, sendo os musicais sua marca. Em 2010, apresentou, no Theatro Municipal, junto com Fabiana Martelli e Elisa Frigini, o musical “A Bela e a Fera”. Não se podem, ainda, esquecer dos Clubes de nossa cidade, que há décadas disponibilizam aulas de dança para seus associados, com professores especializados como Maria Cristina Todescato Jesuz Pereira, Cristina Anfe, Edith O. Azevedo e Cleber Oliveira, entre muitos outros. Mauricio Caslini Filho, durante muitos anos, a partir da década de 1980, também lecionou dança nos clubes de nossa terra, geralmente dança de salão. Foi ele, ainda, o responsável pela apresentação da Escola Estadual Joaquim José, nas comemorações de seu aniversário de 100 anos de fundação, em 1996, ocasião em que preparou 430 alunos para um grande Festival de Dança, que, com sucesso, aconteceu no Theatro Municipal. Apresentou-se, ainda, individualmente, pela Prefeitura Municipal, no “Fonteatro Emílio Caslini”. Na década de 1990, durante seis anos, esteve ativo o “Grupo Garra”, 6 de Dança Contemporânea, Jazz e Dança de Salão da “Academia Água e Vida”, comandada por Zizi Abdal. Chegou a possuir em seus quadros cinquenta e quatro bailarinos e participou de vários festivais regionais e estaduais, com importantes premiações. Não se podem deixar de nomear também Geisa Bastos, Maria Cândida de Oliveira Costa, Marisa Sguassábia, Maria José Todescato, entre outras. UMA BAILARINA DE ESCOL Marta Jacinto iniciou seus estudos de balé em 1978, aos 12 anos de idade, no Externato Santo Agostinho com a professora Maria Carmen Teobal de Andrade. Em seguida, durante cinco anos, especializou-se, em Campinas, na Academia de Balé Lina Penteado, onde fez os exames da Royal Academy of London recebendo o diploma na categoria de bailarina clássica, em 1986. Fez ainda aulas de sapateado americano, jazz, balé moderno e dançou no espetáculo “Dom Quixote”, apresentado no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo. Participou de cursos ministrados pela bailarina russa Tatiana Leskcova e fez dança de salão com Carlinhos de Jesus, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, estudou com Ismael Guiser e Ioko Okada com quem chegou a dançar. Em 1987, inscreveu-se para concorrer, entre centenas de participantes, a uma vaga no musical “Sonhos Latinos”, da Companhia de Balé Seiryo, do Japão. Após rigorosos testes realizados em São Paulo, foi aprovada e passou a participar desta companhia, sendo que, muitas vezes, como solista. Fez “tournée” pelo Japão por doze temporadas de seis meses cada, sendo que na última, em 2002, ficou o ano todo. Nesse país, cursou a “Academia Homura Tomoi Ballet Company”, onde teve aulas de dança indiana, do ventre e tango argentino, e Marta Jacinto em “Máscaras” de Menotti Del Picchia. Ao fundo, a atriz lecionou balé clássico e jazz. Helena Buzon. Theatro Municipal - 2008.

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Em 1990, participou de uma temporada nos Estados Unidos, com o diretor italiano Franco Fontana, no musical “Stravaganza” que ficou por dois meses na Broadway, apresentando-se também em Las Vegas, Los Angeles, Miami, São Francisco, entre outros lugares. Este espetáculo era composto só por dançarinos brasileiros. Nesta “tournée” nos EUA estudou Balé Moderno no “Alvin Ailey”, em New York. Foi júri nos festivais de Ginástica Rítmica e Dança de São João. Participou da Semana Guiomar Novaes em 1988, junto com o concertista Cláudio Richerme, dançando “Prelúdio” e duas cirandas de Villa Lobos. Muito ligada ao teatro, participou do Grupo Cena IV e da Companhia Lina Penteado, em Campinas, quando foi dirigida por Maísa Tempesta. Estudou, por dois anos, teatro no Centro Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo, participou do musical “Mr. Bug” dirigido por Rosi Campos. Em nossa cidade, fez o papel de Orides Fontela quando jovem, na peça “O tempo pingando dos olhos” de Maria Célia Marcondes e de “Colombina” em “Máscaras” de Menotti Del Picchia. STUDIUM JOELEN DE BALLET CLÁSSICO Instalou-se aqui em nossa cidade, no ano de 2000, o “Studium Joelen de Ballet” dirigido por Joana Moreno “Joelen”, grande bailarina clássica de Ribeirão Preto. O “Studium”, com sucesso, tem formado bailarinas que vêm conquistando importantes prêmios e títulos não só em São João da Boa Vista como também em concursos e em festivais de níveis nacional e estadual. Possuem, com orgulho, 160 troféus e 28 medalhas. Em 2009, apresentou-se no XX Festival Capézio Promodança, para escolha de títulos, ocasião em que Amanda Falda obteve o título de “Primeira Bailarina Regional Capézio Promodança”, do Brasil, apresentando-se, pois, em 2010, em vários estados brasileiros e no exterior. Já o Studium Joelen foi classificado entre as vinte melhores escolas de balé clássico do Brasil, neste mesmo concurso. Tanto sucesso deve-se à competência e firmeza com que Joana Moreno dirige a escola e ao trabalho incansável do dedicado professor e coreógrafo André Luiz Moreno. Além das aulas técnicas de balé, a escola oferece aulas teóricas de terminologia, música, conhecimento geral em dança e formação de profesBallet Joellen apresentando-se no espetáculo Pe. Vieira - 2008 - Theatro Municipal sor de balé ou bailarino. Dentre as solistas que mais se destacaram, citam-se: Amanda Falda; Isabela Dragão e Letícia Tiense Blasi que conquistaram o patamar mais alto nos concursos de balé clássico, além de Gabriela Menosi Carvalho; Gabrielle Damálio Luis; Grazieli de Souza Falconi; Laura Maria Belmudes; Luiza Lopes Teixeira; Nilcemary Romera e Sarah Lopes Teixeira. MAIS GRUPOS DE DANÇA Há atualmente um outro grupo com o nome “Grupo Garra”, em homenagem ao primeiro de Zizi Abdal, que em 2009 levantou 23 prêmios em participações pelo Estado de São Paulo. Possui 28 integrantes entre 5 e 22 anos dirigidos por Agenor Adriano Delehan. O grupo faz um trabalho sério de inclusão social com crianças de poder aquisitivo baixo, comandado com muito carinho e competência por Márcia Cristina Pestana Ezequiel. São João possui ainda vários grupos de dança, como: a “Academia Fei Long”; “Studio Elaine Juliari” dirigido pela própria Elaine e oferece aulas de balé clássico e moderno, jazz, “street dance”, além do grupo “Impacto Company” 7. Tem-se, ainda, o grupo “Horus Estúdio de Dança” coordenado por Semíramis Castela Lins. Ela se iniciou na dança do ventre em 1998 e, em 2000, começou a ministrar aulas. Um “hobby” que se transformou em lazer profissional e abriu-lhe novas oportunidades e caminhos. Organizou o 1º Encontro Regional de Dança do Ventre - “Arte para a vida”, realizado no dia 27 de julho de 2002 em São João da Boa Vista no Espaço Cultural Fernando Arrigucci, com a presença da bailarina Hayat El Helwa que ministrou o workshop e ganhadora do prêmio IAMED LOS ANGELES considerado o Oscar da dança do ventre. Também organizou o 2º Encontro Regional de Dança do Ventre, realizado no dia 12 de julho de 2003 em São João da Boa Vista, com a presença da bailarina Nájua que ministrou o workshop. Hoje leciona dança árabe, cigana, havaiana, dança de salão e “fusion dance”, além de ser produtora cultural. 315


GRUPOS DE CAPOEIRA A capoeira, 8 considerada um Patrimônio Cultural Nacional que tem seu esplendor na cidade de Salvador/BA, começou em São João, no início da década de 1970, com o professor José Aparecido “Cidão”, do Vale do Paraíba. Nesta mesma década, entre 1973/76, veio o professor baiano José Alfredo Silva, época em que foi fundada a “Escola de Capoeira Capitães do Mato”, que, na década de 1990, passou a denominar-se “Escola Palmares de Capoeira” e a ser comandada por Marcos Paulo Pereira “Mestre Marcão”, que se formou pela “Associação de CapoeiEscola Palmares de Capoeira apresentando-se no espetáculo Pe. Vieira - 2008 ra Mello” da cidade de São Paulo. Em meados da década de 1980, veio de São Paulo para nossa cidade, o capoeirista Laércio Raimundo, que criou o grupo “Ilha de Itaparica”, hoje extinto. Mas ele deixou semente, pois seu ex-aluno Renato Tadeu Lemes “Renatinho”, conduziu os trabalhos por algum tempo e formou um outro seguidor, José Roberto Lemes “Robertinho”, que passou a comandar o grupo “Ginga do Quilombo”. Entre 2003 e 2005, Messias “Mestre Meinha”, de São Paulo, manteve em São João o grupo “Cruzeiro do Sul”. Hoje São João conta com três grupos de capoeira: “Escola Palmares de Capoeira”, que tem como princípio os ensinamentos de Manoel dos Reis Machado “Mestre Bimba” – 1900/1974; o “Grupo de Capoeira Ginga de Quilombo”, com o professor Robertinho e o “Grupo Abado de Capoeira” dirigido pelos professores: Emílio “Espiga” e Rosivan “Índio” e que tem como base o “Mestre Camisa”, do Rio de Janeiro. A capoeira de São João há alguns anos tem participado dos Jogos Regionais.

Notas Referenciais DANÇA

1- Informações de Marta Jacinto. 2- Informações de Zeza Freitas. 3- Oficialmente denominado “Festival Regional de Ginástica Rítmica e Dança”, foi criado pela Lei NR 40 – 24/04/1989. 4- Hoje a Prefeitura mantém aula de Dança Moderna e Ginástica Rítmica no “Centro de Integração Comunitária Tancredo Neves – CIC”; no “Centro Social Urbano Miguel Jorge Nicolau – CSU”, Bairro do DER e no “Centro Social Urbano Luis de Freitas - CSU”, Bairro Durval Nicolau. 5- Dados fornecidos, por e-mail, por Silene Michelazzo. 6- Depoimento de Zizi Abdal. 7- Jornal “Edição Extra”, 24 de abril de 2010, p. 3-b. 8- Dados fornecidos por Marcos Paulo Pereira “Mestre Marcão”, em dezembro de 2010.

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CINEMA, PROJEÇÃO DOS ÍDOLOS SÃO JOÃO PRODUZ CINEMA Até incursões pelo cinema nossa cidade já realizou e, pelas notícias que chegam, 1 tudo começou na década de 1920, quando os irmãos Carlos e Américo Massotti, vindos de Guaranésia/MG, produziram, naquela longínqua década, alguns documentários sobre a cidade e captaram cenas da vida cotidiana. 2 Ramiro Gianelli 3 também produziu, na forma de filmes, alguns trechos de documentários sobre São João. Entre suas produções está o filme intitulado “São João Antigo” de 1920, que reapareceu durante as comemorações do sesquicentenário de nossa cidade. Já na década de 1930, Dilo Gianelli acompanhou as filmagens do documentário “Centenário da Freguesia de São João da Boa Vista”. 4 Os irmãos Gianelli realizaram, ainda, muitos documentários, entre eles citam-se: “Concentração Mariana”; “São João Industrial – Fiatece”, em 1948; “A Enchente do Córrego São João”, em 1949; “Futebol, Palmeiras e Esportiva” e, sobre os bóias frias, produziram, em 1978, “GenteBoa”. Em 1944, Lima Barreto realizou o documentário “Fazenda Velha” sobre a Fazenda Cachoeira de propriedade de Dona Tita de Oliveira. 5 Foi, entretanto, com “João Negrinho” e “Chão Bruto”, que São João da Boa Vista entrou nos longas-metraDilo Gianelli, Prefeito Municipal Miguel Jorge Nicolau e Oswaldo Censoni Acervo José Lopes - Década de 1950 gens. JOÃO NEGRINHO João Negrinho é, sem dúvida, um marco na cultura sanjoanense. Para Ziloca Costa 6 tudo começou com Osvaldo Censoni, que não era de nossa cidade, mas casado com uma sanjoanense. 7 Locutor na Rádio Difusora, foi dele a idéia de filmar João Negrinho a partir do livro de Jaçanã Altair, sanjoanense que, nessa época, morava em Piracicaba/SP. Foi ele, ainda, quem escreveu o “script”, uniu-se a Dilo Gianelli, e como não havia capital para a produção, colocaram à venda cotas, que em pouco tempo foram negociadas, demonstrando que o sanjoanense acreditava na ideia. Os artistas, que seriam apenas sanjoanenses, foram selecionados através de testes; para tanto houve inúmeros candidatos, sendo que até filas chegaram a ser formadas. Todos queriam participar! Enquanto se escolhiam os participantes, era necessário comprar os equipamentos, como: filmadora, objetivas, 8 filmes virgens, maquinários, câmeras, luzes etc. Era preciso, ainda, definir o guarda-roupa e para tanto o sanjoanense foi convocado: baús e malas foram vasculhados e tudo, que servisse, foi emprestado. Pouca coisa precisou ser alugada na Casa do Artista, em São Paulo. As filmagens iniciaram-se em final de 1954 e, segundo Ziloca, Osvaldo Censoni fazia de tudo: era o diretor, marcava as distâncias, a luz necessária, os ensaios, as falas, as roupas, a maquiagem. “Foi a verdadeira alma do filme João Negrinho, era respeitado e querido por todos!” Afirmou ela ainda que os problemas eram enormes: quando um ator podia filmar, outro não podia, era difícil reunir todos eles. Quem não estivesse filmando, e estivesse presente, era responsável pelo auxílio em todas as atividades necessárias, inclusive na cozinha, ninguém ficava parado. O cozinheiro-mor da equipe, no entanto, era Paulo Rezende Lopes. A luz, muitas vezes, era colocada num cabo de vassoura e segurada por um dos atores, que não estivesse em cena. As improvisações foram muitas, para que houvesse sempre a melhor filmagem, o melhor resultado. Lembrou, ainda, que numa ocasião foi necessário fazer a adaptação de um refletor, que passou a ser uma tábua, com papel alumínio colado. 317


As cenas internas foram realizadas principalmente nas casas das fazendas Laje e São Pedro do Barreiro, ambas em São João da Boa Vista, mas também na Fazenda Duas Pontes, em Campinas, de propriedade de Jandira Pamplona de Oliveira. Algumas cenas internas também foram filmadas na residência do Dr. Alípio Noronha, na Rua Prudente de Moraes, esquina com Benedito Araújo – hoje denominada Casa Rosa. Houve ainda cenas tomadas no atual Palácio Episcopal, como, por exemplo, a cena final, da sala grande. Já as cenas externas foram filmadas principalmente na Fazenda Laje, sendo que a cena dos dois meninos na água foi realizada na Fazenda Paradouro e as que exigiam senzala, numa fazenda localizada em Atibaia, por possuir uma em bom estado de conservação. Ziloca afirmou, ainda, que a cena que mais a impressionou foi quando Sinhá Jacinta, interpretada por ela, queima, com doce quente, as mãos de João Negrinho e “o garoto interpretou tão bem, que fiquei assustada e pensei que ele havia, de fato, se machucado. O garoto, completou a narradora, era o engraxate Lúcio Santo Costa, filho de Dona Cida, moradora do Bairro de Santo Antonio”. Pronto o “copião” do filme, foi entregue aos Estúdios Vera Cruz para que fizessem os cortes, dublagens e edição final e, segundo ainda Ziloca Costa “Alba Ribeiro” e Lúcio Santo Costa, em “João Ziloca, para Censoni e para os artistas, foram retiradas muitas partes Negrinho” - 1956 - Foto Gianelli que não deviam, inclusive a música “Engenho Velho”, cantada por Márcia Azevedo Bernardes e de autoria de sua avó, Edivina Noronha, que “diga-se de passagem, era maravilhosa”. O filme, já editado, foi considerado impróprio para menores de dez anos e foram feitas treze cópias. Mas era necessária uma firma distribuidora. Para tanto, foi aberta a “Gianelli Filmes do Brasil”, por Dilo Gianelli, outro idealista do cinema e de grande importância na produção do “João Negrinho”. Uma cópia foi vendida para a França, outra para a TV Cultura e as demais distribuídas pelo Brasil. Porém, o filme não deu lucro, nem para os cotistas, nem para os atores, nem para a direção. Finalmente, três anos após o início das filmagens, em quatro de dezembro de 1957, aconteceu aqui em nossa cidade com a presença de Jaçanã Altair, o lançamento do filme “João Negrinho - história terna e humana”. 9 Contou-nos, ainda, Ziloca que “raras vezes o sanjoanense sentiu tanto orgulho de sua terra: noite de gala, ‘avant première’, grande alegria, longas filas se formando, não só nesse dia, mas por várias semanas. Sucesso! Todos queriam assistir ao filme, que, intensamente, a cidade havia vivido através de suas filmagens”. Atualmente, os direitos sobre o filme pertencem à TV - Cultura e foi exibido em 1979 no Museu da Imagem e do Som – MIS, em São Paulo. 10 A UNIFAE, dentro de um projeto maior sobre a memória da cidade, Eglantina Rosa e Hugolino Michelazzo, em “João Negrinho” em 2009, realizou um importante documentário sobre o filme “João NeFoto Gianelli grinho”, 11 que foi apresentado pela TV Cultura, de São Paulo. CHÃO BRUTO A filmagem de João Negrinho abriu perspectivas para o cinema sanjoanense. Assim, Dionísio Azevedo, ator paulistano, demonstrou desejos de fazer cinema em nossa cidade. Resolvidas várias questões, começou-se a filmar Chão Bruto, do escritor Hernani Donato, tendo Dionísio de Azevedo na direção e em seu elenco: Lima Barreto, Flora Geni, Davi Neto, Jaime Barcellos, Francisco Negrão, além dos sanjoanenses Hugolino Michelazzo, Alberto Prado e Abdala de Aguiar. Foi produzido pela Gianelli Filmes Ltda. 12, no ano de 1957, e escolhido para representar o Brasil no Festival SulAmericano de Cinema, em 1960. “Conta a história empolgante dos amores da mulher que era de todos os homens e estava em busca de um homem só; conta também a história do homem que saiu dos braços de muitas mulheres para conquistar a mulher de seu chefe e através dela as terras que ambicionava; e ainda da rica que se arrastou a vida inteira procurando amor e só teve fortuna, e a do matador vencido pela singeleza da jovem contra quem foi mandado matar.” 13

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CINÉFILOS? Conta a história que Gabriela Oliveira Costa “Dona Beloca” gostava muito de cinema e que nas décadas de 1940/50, montava, na rua em frente à sua casa 14 uma tela e ali projetava filmes. O mesmo faziam os Padres Redentoristas Osvaldo Arrighi e Albertino, no barracão ao lado da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, como também José Peres Castelhano, no “Centro Espírita João Batista”, na Rua Oscar Janson. Nestes eventos grátis eram projetados principalmente documentários, filmes educativos, comédias com Carlitos, com “O Gordo e o Magro”, entre outros. Apesar da precariedade da tela e dos aparelhos de projeção, constituíam-se em sucesso, onde participavam não só os moradores do entorno, como também atraíam espectadores de vários locais da cidade. NOSSAS SALAS Têm-se notícias das seguintes salas de cinema em nossa cidade: A primeira, no início da década de 1910, foi um “Cinematógrafo”, 15 localizado na Rua 7 de Setembro, propriedade de Gabriel Leal: “(...) Tinha cobertura de zinco e uma porta larga, de entrada. A estréia ficou marcada para sábado. Suspensa num gancho havia uma tabuleta com os dizeres: Cinematógrafo (...) não é lanterna mágica. As fitas que passamos são de movimento – Ver para crer (...).” Em 1912, inaugurou-se o “Cine Bijoux”, da Empresa Oliveira & Cia., de Leôncio de Oliveira, localizado na entrada da Avenida Dona Gertrudes. São João teve também o “Cine Guarani”, que funcionou no antigo Teatro Apolo; já o “Cine São João”, por muitos anos, na década de 1940, funcionou na Praça Armando de Salles Oliveira, 102, onde posteriormente vai funcionar a Rádio Difusora. Inaguração do Cine Ouro Branco com o filme “Romeu e Na década de 1930, o Theatro Municipal foi transformado em cine- Julieta” - 1970 - Divulgação ma e no final dos anos 40 foi inaugurado o “Cine Avenida”, na D. Gertrudes, que funcionou por várias décadas. Já o Cine “Ouro Branco” foi inaugurado em 11 de março de 1970, com o filme “Romeu e Julieta”. Está em funcionamento até hoje. CINE CLUBE BELOCA Em junho de 2007, capitaneados por Alfredo Nagib Filho “Fritz” e Alice Abreu, um grupo de produtores culturais, artistas, cinéfilos, profissionais liberais e empresários uniram-se à Associação dos Amigos do Theatro Municipal de São João da Boa Vista - AMITE – e, com vários e importantes apoios, fundaram o Cine Beloca. 16 A primeira sessão ocorreu no dia 17 de junho de 2007, na sala de múltiplo uso “Dilo Gianelli”, no Theatro Municipal. Via de regra, os títulos são exibidos em ciclos de três ou quatro filmes, às terças-feiras, às 20 horas. Em novembro de 2010, aconteceu a apresentação do 38º ciclo, num total de 153 sessões e com média de 42 pessoas por sessão. São filmes de todos os gêneros, de todas as épocas, de toda parte do mundo para serem apreciados e discutidos. Os equipamentos são emprestados em sistema de comodato resultado da parceria do Departamento da Educação Municipal com a AMITE. O trabalho de todos os integrantes é voluntário e a entrada, para as sessões, é gratuita. Tem como objetivo consolidar o papel de formação de público para o cinema de arte, assim como o de debatedor cultural. “Com três anos de atividades, já temos saudades dos primeiros filmes exibidos”, diz Alice Abreu.

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APÊNDICE João Negrinho

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O garoto Lúcio Santo Costa, aos 14 anos, fez o papel de João Negrinho-criança. Foi considerado a maior revelação do filme, sendo que na vida real era engraxate nas ruas e praças da cidade; o filme não lhe deu ascensão social, continuou pobre e morreu muito cedo. Walter Mancini Filho “Tito”, foi o sinhozinho Chiquinho. Alba Ribeiro foi o nome artístico de Maria Amaziles “Ziloca” Oliveira Costa, que interpretou Dona Jacinta Vieira, fazendeira má e desumana no trato com os escravos. Alberto Prado, fotógrafo de profissão, fez o papel do fazendeiro Camilo Vieira. Hugolino Michelazzo interpretou o Frei Luiz da Vila Boa Vista. José Carlos Dias fez o papel de Soares de Moura, o fazendeiro abolicionista. Abdala de Aguiar foi o detestável e malvado feitor Seixas. Eglantina Rosa representou a mãe negra Maria. Sr. Dito, jardineiro da casa da Rosinha do Bilu, fez o papel de João Negrinho quando moço. Como figurantes havia: Joaquim Franco da Silva, Lúcio Noronha, Benedito Luiz, Gastão Michelazzo, Marly Gomes, Terezinha Baraúna, Paulo Rezende Lopes, que fazia o papel de coroinha do Frei Luiz, além de Benedito Antônio Lourenço, conhecido pelo apelido de “Dito Pito”. Jandira Cassiano foi a intérprete da música “Canoeiro”, de Edivina Noronha, dublada por Heleninha Silveira e acompanhada pelo grupo musical “Demônios da Garoa”.

A equipe técnica compunha-se de: Oswaldo Censoni: direção geral, produção, adaptação e roteiro. Dilo Gianelli: diretor de fotografia e ajudou na produção, adaptação e roteiro. Wanderley Perri: continuidade e cenografia. Ruy Heros de Oliveira: assistente de Câmara. Dino Renan Gianelli: assistente de fotografia. Armando Castilho: assistente de cenografia. Música de Conrad Bernhard. Diretor comercial: José Morato Soares.

Cine Avenida - Av. D. Gertrudes - Década de 1950 - Acervo A. C. Lorette

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Notas Referenciais CINEMA

1- Lorette, Antônio Carlos. O cinema sanjoanense. Revista “Contra Regra”, setembro de 2004, pp. 12/17. 2- Splettstoser, Jaime Jr. e outros. Cem anos de Indústria em São João da Boa Vista. 2008, p.73. 3- Falconi, Rodrigo. Ramiro Gianelli, Jornal “O Município”, 24 de outubro de 2009, p. 3. 4- Produção da Vitor-Filme de São Paulo, sob direção de Luiz Del Picchia e Vitor Lima Barreto. O filme foi encomendado pelo prefeito Henrique Cabral de Vasconcellos. 5- Lorette, artigo citado, p.14. 6- O texto sobre o filme “João Negrinho” é resultado de depoimento feito por Maria Amaziles “Ziloca” Oliveira Costa, em novembro de 2007, a Maria Célia de Campos Marcondes. 7- Oswaldo Censoni foi casado com Genoveva Oliveira Costa ”Veva” - filha de Dona Beloca e Dr. João Batista Costa. 8- Foram adquiridas filmadora Arriflex e objetivas Zeiss, importadas da Alemanha. 9- Cardoso, JBP. Já é realidade em São João a Indústria Cinematográfica. Revista “Crepúsculo”, outubro de 1957, p. 30. 10- Vieira, Clóvis. Jornal “O Município” - 23/06/04 - p. 18. 11- Produziu também sobre o Colégio Santo André, Maria Sguassábia, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, entre outros. 12- Revista Crepúsculo - ano III, julho de 1959, p.32. 13- Idem. 14- Localizava-se na Rua Prudente de Moraes, 67. 15- Paschoal, Antônio D. São João de Minha Infância. São Paulo: Papyrus, 2001, p. 55. 16- Os dados referentes ao Cine Beloca foram fornecidos por Alice Abreu, responsável pelas suas atividades. 17- Lorette, Antônio Carlos. O cinema sanjoanense. Revista “Contra Regra”, setembro de 2004, pp. 12/17.

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FOTO, A ARTE DE FIXAR O TEMPO

São João da Boa Vista também tem se dedicado a esta arte e já no início do século XX, Martins10, em seu almanaque, citou Adalberto Monsores e Germano Eyber. O mesmo autor, em 1910, além dos dois acima, nomeou ainda José Caiát e José Marcelino de Oliveira. A partir de então, no decorrer das décadas, chegou-se a alguns nomes, muitos deles proprietários de estabelecimentos comerciais. Iniciemos com o patriarca Ramiro Gianelli que legou à cidade um rico acervo com imagens de São João da Boa Vista. Seus descendentes Dilo, Dino Renan e Brás Sidney “Biá”, até hoje continuam nesta área. Há ainda os Irmãos Brudri – Augusto José e Carlos; além de João Clério de Oliveira, P. Borges e Maurício Rezende do Foto Hollywood. Não se pode esquecer de Manoel Assumpção Ribeiro, que durante anos dedicou-se à arte fotográfica e por ser comunista declarado, em plena época da Guerra Fria, teve sérios problemas para fotografar principalmente casamentos religiosos. Hoje, São João ainda conta com vários estabelecimentos comerciais que trabalham com fotografias. Há bons profissionais e amadores, nesta área, entre outros citam-se: Alfredo Nagib Filho “Fritz”; André Palhares; André Telles; Antônio Carlos R. Lorette; Clovis Vieira; Gabriela Oliveira; Geraldo “Espanhol” Luengo Rodriguez; Leandro Gullin; Leonardo Beraldo; João Olívio Sibin Jr.; José Alfredo Jabur; José Gilberto Sibin; José Marcondes; Kauê Oliveira; Maria Clara Gianelli Feitosa; Milton Mazzarini; Nilton Queiroz, Pedro Conti; Plínio Bruno Aiub; Renata Coutinho Zogbi Barbosa; Rogério dos Santos; Samantha Moreira; Sílvia Borges de Carvalho; Silvia Ferrante, Vinicius Bonanome; Wenderson Maldonado, entre outros. Manoel Assumpção Ribeiro Em 2010, a Academia de Letras de São João da Boa Vista, em parceria com a Associação Comercial e Empresarial - ACE, promoveram o projeto “São João em Vitrina – Um olhar sobre São João”. A finalidade era fixar fotograficamente aquele momento de nossa cidade e, para tanto, foi realizada uma “Campanha Fotográfica”, que resultou em quarenta e cinco fotos selecionadas por um júri composto por: Alfredo Nagib Filho “Fritz”; Clóvis Vieira; Francisco de Assis Carvalho Arten; Kauê de Oliveira e Maria Clara Gianelli. A partir delas os membros da Academia de Letras produziram um texto. Tudo foi registrado em um belo livro. Os fotógrafos que tiveram suas fotos selecionadas neste evento foram: Aline Telini Provenzano; Alline Guimarães Procópio; Ana Lúcia Tarifa Quintana; Ana Maria Loyolla Bueno E. Machado; Ana Paula de Oliveira M. Romeiro; André Ferreira Carbonara; Carlos Henrique Lemes; Cinthia Esbrile Moraes; Davis Barreto de Carvalho; Érika Batista Franciolli; Estela Almeida de Oliveira; Fábio Luis Vilela Pereira; Felix Manoel Matielo Carneiro; Flávia Casellato de Oliveira; Hediene Zara; Hélio de Oliveira; Ismael Nilton Vischi; José Rezende Lopes; José Marcondes; Márcio Daroz Franciolli; Marcos José da Silva; Maria Cecília G. Ferreira Carbonara; Mariane Bovoloni; Nilton Queiroz; Oséias Barboza de Souza; Paula Conti de Oliveira Freitas; Rafael Patruno Tellini; Rodrigo Ciconi Trevisan; Sandra Elisa C. Diniz Farbo; Viviane Macedo Alves; Waldenir Newton Sanches Carbonara; Weldron da Silva Faria; Welson Aparecido Donizete Barreto e Wenderson Bovo Maldonado. A Procultura - Incubadora Cultural11 possui uma coleção de aproximadamente 1.400 fotos “5 Minutos” - Geraldo “Espasobre São João da Boa Vista retratando a cidade Foto nhol” Luengo Rodriguez. Av. D. Gerdesde início do século XX até a década de 1950. trudes - Década de 1960 Este acervo pertencia a Biá Gianelli que o ven“São João em Vitrina” - Foto de Wenderson Maldonado e texto de Maria Célia Marcondes - 2010 deu a Rodolfo Galvani, e este, por sua vez, doou-o à Procultura, dentro do Projeto Memória e Sociedade. São fotos de autoria de Ramiro Giannelli, José Caiát, Germano Eyber, Augusto José e Carlos Budri. 10 Martins, Antonio. Almanaque 1901. 11 Dados fornecidos por Francisco de Assis Martins Bezerra, proprietário da Papyrus Livraria.

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RÁDIO E TELEVISÃO, SOM E IMAGEM EM COMUNICAÇÃO RÁDIO Talvez tudo tenha começado em 1937, com o serviço de alto-falantes, 1 que eram equipamentos instalados geralmente no centro da cidade, em sua praça e ruas principais. Através dele, as pessoas ouviam os anúncios das casas comerciais, variedades, músicas 2 notas fúnebres, transmissões esportivas, notícias locais, nacionais e até mesmo internacionais. Em São João, a partir da década de 1930 e no decorrer das décadas de 1940/50 houve vários sistemas de auto-falantes; um deles funcionou na antiga Praça da Matriz, 2 outro na Praça Joaquim José, 3 ambos pertencentes ao Monsenhor Antônio David. Atuavam duas horas de manhã e à tarde, e quatro horas à noite. 4 Foram locutores destes serviços em suas várias fases: Alcides de Oliveira; Alex Hakim; Antonio e Artur Almeida Carvalho; Celso Legaspe; Cleber Marcondes Martins; Creusi Apresentação musical. Entre outros: Nascipe Murr e Emílo Caslini, violino; Alvise Bruscato; Arnaldo Pozzi - banjo Pereira de Oliveira, Fábio Silveira, e Carmen Rios - cantora. Palco da Rádio Difusora ZYJ6 - 1957 (Divulgação) Jácomo Untura Filho; Lázaro Sanseverino Filho; Osvaldo César de Almeida; Rogério Pozzi, Sebastião Dalarme entre muitos outros. Já a primeira rádio na cidade, inaugurada em 1º de março de 1947, foi a Rádio Difusora ZYJ-6, da família de Leopoldino Bueno, da cidade de Campinas. Vivia-se a era de ouro das rádios e ela tornou-se absoluta na cidade, sendo o seu primeiro locutor o Sr. Vicente de Paulo Bueno. Funcionou inicialmente num prédio existente na Praça Armando de Salles Oliveira, 102. 5 Depois passou a funcionar nas dependências superiores do Theatro Municipal. As rádios foram importantes e valorosos meios de comunicação; quase toda casa possuía seu aparelho e era através dele que se entrava em contato com o mundo, constituindo-se, inclusive, no principal lazer para milhares de pessoas. O grande modelo de rádio, para a época, era a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, PRE-8, localizada na Praça Mauá, 7. Os programas costumavam ser muito variados e aqui em nossa cidade faziam sucesso os musicais, as rádio novelas produzidas ao vivo e em tempo real, os programas de auditório como, por exemplo, o de calouros comandado por Alcides Soares. Outro programa de grande audiência era do “Compadre Fica-Fica”, além de noticiários como “Rotativa no Ar”, “Difusora nos Esportes”, isto para se citarem apenas quatro, de inúmeros outros. Muito importante e concorrido, nessa época, era a apresentação dos artistas na sede das emissoras de rádio, pois elas possuíam auditório com palco. São João não fugia à regra e era, geralmente, no palco da Rádio Difusora, depois Piratininga, que nossos artistas mostravam, sempre com grande público, todo seu talento musical. A Rádio Difusora passou a denominar-se Rádio Piratininga ao ser vendida, em 1952, aos Irmãos Leuzzi e foi integrada a trinta e sete emissoras, formando a rede Piratininga de radiodifusão. Em 1959, esteve em nossa cidade apresentando-se nos palcos da Rádio Piratininga o cantor e compositor Dorival Caymmi que deixou expressa sua impressão sobre São João:“Sua cidade é deveras acolhedora, tanto quanto simpática”.6 Foram locutores, 7 em suas diversas fases, entre muitos outros: Ailton Fonseca; “Amigo” Pedrão; Alan de Oliveira; Anézio Ribeiro; Antonio Carlos Antoniazzi - programa “Não diga não, nem né”; Antonio Carlos N. Oliveira “Leivinha”; Antônio Luiz Magalhães; Antônio Mineiro; Basílio Bisi; Byron Brandão; Carlos Alberto Molles; Célio Braga; Celso Sanverino; Cleber Marcondes; Creusi Pereira de Oliveira; Clóvis Vieira; Dezieli; Edelson Decanini; Fábio Noronha; Fábio Silveira; Francisco Arten; Hamilton Reis; Hélio Fonseca; Humberto Willian Buzon; Ito Amorim; J. Amaral; Jayro Sguassábia; João Fernando Alves Palomo; José Geraldo; Lázaro Procópio; Leonello Palaia; Luis Roberto De Mucio, hoje, repórter esportivo 323


da Rede Globo de Televisão; Marcos “Castor” Bueno; Marco Antônio Moraes; Marcelo Gregório; Matheus O. Valim Orru; Milton Mazzarini; Milton Mastri; Nelson Brandão; Odila Godoy; Orminda Cassiano de Carvalho “Mara Sueli”; Oscar Castelan; Oswaldo Censoni; Octávio Muniz; 8 Patrícia Sanches; Paulinho Santos; Reinaldo Ferreira “Mingo”; Renê Marcos Pozzi; Rogério Pozzi; Ronaldo Noronha; Sebastião Dalarme, Sebastião Nery; Severiano Palomo, Tony Marques e Yvone Palhares. A Rádio Piratininga passou por várias mudanças, está operando até hoje e desde 2002 é afiliada à “Rede Jovem Pan SAT”. Já a Rádio Mirante, inaugurada em 1981, trazida pela família Pirajá, foi a primeira concessão de uma Rádio FM na cidade. Foram seus locutores, entre outros: Adaílton Silva; Carlos Augusto; Christiane Caslini, Clóvis Vieira; César Caslini; Cecília Carvalho; Edelson Decanini; Fátima Ribeiro; Ivair Palermo; João Fernando Palomo; João Marcos Madruga; José Biagioni Neto; José Francisco Dogo Martins; José Luiz Rosa e Marcos Sacarto. Em 2010 tornou-se afiliada da “MixFM”, de São Paulo. Existem ainda na cidade outras emissoras como a Rádio Jo- Radialistas: Francisco Arten e Luis Roberto De Mucio, entre eles, o Prof. José Marcondes - Palestra na UniFEOB - 2000 vem Pan e emissoras religiosas, entre elas a Rádio Anúncio FM 87.9, fundada em 2002, propriedade da Comunitária Cultural de Comunicação “Esperança e Vida” da Paróquia Sagrado Coração de Jesus. DUAS HOMENAGENS Foram muitos os radialistas que fizeram sucesso na rádio sanjoanense. Ficam aqui registrados dois deles, Compadre Fica-Fica e Rogério Pozzi, através dos quais se homenageiam todos os grandes nomes de nossa terra. COMPADRE FICA-FICA Compadre Fica-Fica 9, apelido de Gavino Quessa, era locutor da Rádio Piratininga onde começou a trabalhar em 1957 substituindo outra figura muito popular de então, o Faísca, que foi para Guarulhos. Compadre Fica-Fica possuía uma banca de roupas no Mercado Municipal e foi uma personalidade carismática no trato com o outro. Era amado principalmente pelas pessoas humildes e moradores da zona rural. Seu programa “Manhãs na Roça” começava de madrugada e fazia grande sucesso. Comandava, ainda, aos domingos, o programa de auditório “Terra Sempre Terra” com presença de grandes artistas sertanejos da época, inclusive Alvarenga e Ranchinho. Participou de uma equipe de teatro e costumava ir às fazendas Fica-Fica e Faísca - 1957 onde apresentava algumas peças. “Com suas Acervo Yvone Palhares coreografias o ‘compadre’ alegrava o povo da Fica-Fica com a dupla Indío e Pajé - 1983 lavoura”. Acervo Yvone Palhares Hoje, seus filhos Norival “Comprade Neno” Quessa tem o programa “Terra Sempre Terra” e Oswaldo Quessa, ”Manhãs na Roça”. Ambos na Rádio Piratininga e com grande audiência. ROGÉRIO POZZI Rogério Pozzi 10, conhecido por “Tulu”, locutor de voz firme e desenvolta, possuía grande facilidade em se expressar e bom timbre de voz. Irradiava não só a vida esportiva da cidade como também exposições agro-pecuárias, eleições, visitas de autoridades, desfiles cívicos e até bailes de carnaval. Foi considerado um dos grandes mestres da comunicação na Rádio Difusora. Mudou-se para São José do Rio Preto/SP onde foi ser radialista esportivo. Quando faleceu, deram seu nome a um estádio de futebol, daquela cidade.

TELEVISÃO São João possui dois canais de televisão: TV União e TV Serra Azul Paulista, motivos de orgulho para os sanjoanenses. TV UNIÃO

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A TV União 11 é uma emissora educativa que iniciou suas atividades em 1991 com o nome de TV São João. Nesse mesmo ano, em julho, a primeira equipe contratada gravou, ainda em caráter experimental, suas primeiras imagens, nos XXXV Jogos Regionais. Em 11 de janeiro de 1992, foram ao ar as primeiras imagens da pioneira TV São João. Era o Jornal da Semana, ou seja, um telejornal semanal. Nessa época, a TV São João foi uma grande novidade, muito comentada e presente no dia-a-dia da cidade, indo a campo e registrando os acontecimentos que movimentavam São João da Boa Vista. Paulo Falda assumiu a direção em 11 de dezembro de 1995 e teve como principal desafio expandir as fronteiras da TV, integrando os municípios da região neste trabalho. Essa integração recebeu o nome de UNIÃO. Implantou-se um jornalismo público e imparcial, com foco na educação e nos trabalhos sociais tanto da cidade como da região. Rapidamente os resultados começaram a aparecer. O sinal de transmissão saiu do bairro do Pratinha para alcançar a Serra do Mirante, o segundo ponto mais alto do Estado de São Paulo. A altitude elevada e os equipamentos em UHF passaram a levar o sinal da TV UNIÃO para as cidades da região. Em 2001, criou-se a Fundação União de Comunicação e com isso grandes e novas possibilidades começaram a existir, pois a TV UNIÃO tornou-se geradora, conquistando sua independência em termos de programação. Equipamentos digitais foram adquiridos, melhorando a qualidade das imagens e do áudio, incomparável com o sistema anterior. Surgiram novos programas e parcerias aumentando a geração de empregos e oportunidades na área de Comunicação em toda a região. São realizadas coberturas completas dos eventos educativos e culturais como Carnaval de Rua, Festivais, Desfile de Aniversário das cidades, Semana Guiomar Novaes, EAPIC etc. Citam-se, entre outros apresentadores: David Ribeiro, com “Cine Claquete”; Antônio Luiz Magalhães, com “Região 2000”; Biagioni Neto, com “Jornal do Dia”; Leandro Gullin, com “GPS” e Vilson Silva, com “Conexão VIP”. TV SERRA AZUL PAULISTA No dia 26 de outubro de 2009, o canal São João, 12 transmitido pela operadora de TV a cabo BVCI, foi ao ar com o programa “Cabine Esportiva”. O objetivo era divulgar os acontecimentos da cidade para os sanjoanenses, em programas produzidos e apresentados por talentos da cidade e região,com uma programação eclética e diversificada, com projetos futuros ousados e inteligentes. Ao completar o seu primeiro ano de existência, o “Canal São João” passa a se chamar “TV Serra Azul Paulista”, inspirada na Serra que estabelece fronteira entre os estados de São Paulo e Minas e que é a maior riqueza ecológica da região. Atualmente seus principais programas são: “Cabine Esportiva” apresentado por Aline Fanelli e Toni Marques; “Prosa Caipira” apresentado por João Sérgio J. de Souza “JS”, e “Opinião”, apresentado por Luiza Albuquerque. É representada por seus empreendedores diretores Márcio Janizello de Lima e Osires Colosso Filho, os quais gerenciam este projeto tão importante para a divulgação da Cultura local e nacional. A partir de novembro de 2010, passou a ser transmitida via internet, através do endereço www.tvserrazul.com.

Notas Referenciais

RÁDIO E TELEVISÃO 1- Era o “Rádio Propaganda Difusão Cultural Sanjoanense” de propriedade de Salles Oliva, e posteriormente dos Srs. Caio Rocha e Humberto Untura, depois de José Schwartz e Bill Montovani, ambos de São Paulo. Álbum de São João da Boa Vista - 1891/1950. 2- Nessa praça, hoje Armando Sales, ainda existem as duas colunas de sustentação dos alto-falantes, elas estão localizadas, para quem sobe, no primeiro lance da escada, após a fonte. 3- Rodrigues, Kelly. Peixe Seco: A História da Rádio Piratininga. 4- Algumas programações musicais: “Tarde Sonora”; “Alma Portenha”; ”Noite Musical”; “Ritmo de Boleros”; “Aquarela do Brasil”; “Alô Tio Sam”, entre outros. 5- Este prédio foi demolido na década de 1990. 6- Sguassábia, Jayro. Entrevista “Caymmi Fala”. Revista Crepúsculo, ano III, nº 23, julho de 1959, p.9. 7- Piratininga: nomes lembrados por Antônio Carlos Nogueira Oliveira “Leivinha”. Mirante, por Cecília Carvalho. 8- Pai de “Tatá Muniz” e “Bruno Filho” que começaram como radialistas aqui. Hoje, em São Paulo, já estiveram na Rádio 8- TV Bandeirantes, na equipe do Luciano do Valle, entre outras emissoras. Bruno Filho é ainda chefe do Departamento de Esportes da Rádio Capital São Paulo/SP. 9- Gasparino, Luis Gustavo. Jornal “Correio Sanjoanense”, 17/09/2005, p. C3. 10- Oliveira, Antônio C.N. “Leivinha”. Jornal “O Município” 14/06/2008 - 3º caderno. 11- Dados fornecidos por Paulo Falda, em junho de 2011. 12- Dados fornecidos por João Sérgio J. Souza “JS”, em junho de 2011.

LITERATURA, O UNIVERSO DAS LETRAS

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“A literatura teve a glória de formar em São João, também muito cedo, um verdadeiro ninhal de inspirados intelectuais. Já final do século XVIII, a população desfrutava o gozo da leitura, em jornais e revistas que eles fundaram e das magníficas obras, que o seu talento gerava.”

Jonathas Mattos Jr. “Jotinha”1 Nessa arte, dois grandes nomes destacam-se, a poeta Orides Fontela 2 e a jornalista e escritora Patrícia Redher Galvão “Pagu”, 3 mas há também nomes que, se não alcançaram esta mesma repercussão nacional e até mesmo internacional, mostraram muita qualidade. PRECURSORES Em início do século XX, podem-se citar: Antonio Dias Paschoal; Ary Fialho; Carlos Kiellander; Hugo Sarmento; Luiz Gambetta Sarmento 4; João Baptista Boa Vista; José Fernandes da Silva Campos; Ostiano Sandeville; Manços de Andrade; Silviano Barbosa, fundador, em 1891, do jornal “A Cidade de São João”; Thiers Galvão de França, pai de Pagu; sem contar Nathanael Pereira, dentista de profissão, pai de Jaçanã Altair, dono de grande produção de poesias e crônicas, e que “foi, sem dúvida, estrela fulgurante da constelação de poetas e prosadores de sua época, além de estender sua atividade ao jornalismo, à crítica literária e à dramaturgia. Foi, ainda, o autor da peça teatral “Elvira, a Monja”. 5 Jaçanã Altair, um dos nomes de destaque na literatura sanjoanense, foi uma das primeiras poetisas da cidade, além de ser autora de vários romances, entre eles “João Negrinho”, 6 que se transformou em filme. Outros literatos tiveram textos publicados em jornais e revistas, em suas respectivas épocas. São eles, entre muitos outros: Alberto Granato; Ângelo Fenício; Altivo Ferreira; Aurino Parreiras; Benedicto Cândido; Benedito Fernandes Oliveira “Cajuca”; Borges Rodrigues Ferreira; Dante Alighieri Vita; Emílio Lansac Tôha; Fábio Carvalho Noronha; Francisco Martins Júnior; Francisco Dias Paschoal; Francisco Roberto de Almeida Jr.; Geraldo Ramires; João Batista Figueiredo Sobrinho “Catirino Bernabé”, brilhante cronista; JoAltair Pereira Guerrini - Escriaquim José “Oliveira Neto”; Jordano Paulo da Silveira; José de Jaçanã tora - Acervo da Família Oliveira Azevedo “Zé Poeta”; Maria Conceição Almeida; Mário Campos; Manoel da Costa Patrão; Raul de Sillos; Roque Fiori; Romeu M. Cabral que, além de professor de Geografia, escrevia contos para a imprensa e Tapajós de Araújo. Todos eles eram também, via de regra, intelectuais de escol. Francisco Dias Paschoal - 1923 Acervo da Família

UM POETA

Dá-se um pequeno destaque a “Victrúvio Marcondes” - 1880/1925 -, que segundo “Cajuca” 7 era “poeta mavioso e escritor de grandes recursos, nunca cursou escolas secundárias e nem superiores, tendo feito, apenas, superficialmente o curso primário, mas através de leituras constantes, conseguiu uma ilustração notável e produziu, através de sua rápida existência, trabalhos que o ombrearam com os maiores vultos da história de nossa pátria. Escreveu vários poemas esparsos, que foram reunidos e editados pela Livraria Magalhães de São Paulo, destacando entre eles ‘Musa Selvagem’, ‘Alma Cívica’ e ‘Fogos Fátuos’, este prefaciado por Sílvio Romera. Dotado de farto vocabulário, era notável tribuno e, quando falava, arrebatava as massas dos ouvintes. Sua capacidade literária, sua inteligência invulgar fez com que escrevesse, não raras vezes, sob ‘encomendas’ especiais, alguns dos notáveis discursos que foram usados (...) por célebres republicanos da sua época, nas suas propagandas políticas.” Paschoal 8 assim o descreve: “mocinho pálido, de mãos sem dedos, de pés torcidos para dentro (...) calçando botinas especiais, quase redondas. Trajava-se corretamente, trazendo colarinho lustroso, com gravata borboleta de laço amplo. Segurava entre os cotos da mão uma bengalinha de passeio.”

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No Almanaque de 1901, de Martins, há o texto “Amor, Infortúnio e Esperança” de autoria de Victrúvio Marcondes, com data de 1900. Fica, aqui, no entanto, um poema de sua lavra datado de 1924, em comemoração ao centenário da cidade: 9

“Canção do Tempo”

Minha terra, comemoras Do batismo o centenário; Feliz tempo das amoras... Como hoje tudo está vário!

No homem havia a franqueza Simples, da gente leal; Céu formoso... e a natureza Entre o campo e o matagal.

Um arraial, simplesmente, Descampado e solidão; Chega um padre displicente... E o padre faz um cristão.

No progresso, hoje, a esperança Te leva além, com meiguice... - Quem me dera ser criança, Não ver chegar a velhice!

Tudo era novo. Uma ermida Com trepadeiras e um sino; Quanta poesia na vida, Que vida no seu destino!

Lanço meus olhos até à serra, E entre suspiros e ais, Com franqueza, o’ minha terra, Meus olhos choram demais.

MOMENTOS IMPORTANTES NA CULTURA SANJOANENSE A cidade, sempre muito ligada à literatura, fundou desde o final do século XIX e através do século XX, várias entidades com a finalidade de promover discussões acerca desta arte, além de divulgá-la. Nem todas elas eram apenas literárias, mas havia também, entre seus objetivos, a divulgação das letras. 10 Neste contexto, cita-se o “Clube Liga Literária”, criado no final do século XIX 11 “constituído por sanjoanenses que formavam nossa elite intelectual como Luiz Gambeta Sarmento, José Fernandes da Silva Campos”. Esta associação em 1901 tinha como presidente Nathanael Pereira, vice presidente Luiz Gambeta Sarmento, orador Thiers Galvão e como tesoureiro Ostiano de Sandeville. 12 Em 20 de janeiro de 1898 13 foi fundado o Centro Recreativo Sanjoanense, que segundo Azevedo, 14 iniciou suas atividades tendo como objetivo o desenvolvimento literário e artístico. Desta maneira, suas festividades constavam de concertos musicais, números de declamação, conferências literárias, os quais foram desaparecendo paulatinamente no decorrer das décadas. Eminentes personalidades da literatura nacional por ali passaram, deixando no livro de visitas as agradáveis impressões que tiveram da cidade e do clube que as recebeu. É o caso de Olavo Bilac e Coelho Neto, que em 1901, estando em Poços de Caldas, vieram a São João, discursaram no Centro Recreativo 15 e arrebataram o auditório com a encantadora arte em que eram mestres exímios. Luiz Pizza e Arthur Azevedo também estiveram no “Recreativo” sendo que este escreveu um belo soneto “A São João da Boa Vista”, Nathanael Pereira - escritor e jornalista datado de 1902. 16 Rui Barbosa, em 1911, deixou no livro de visitas desse clube a - Acervo da Família mensagem: “Minhas mais indivisíveis saudades e meu eterno reconhecimento a São João da Boa Vista”. Menotti Del Picchia 17 aí esteve em 1926, quando apresentou a conferência “A Arte de ser Feliz”. Segundo Antônio Dias Paschoal, no início do século XX, existiam nas escolas o cargo de “Inspetor Literário”; no Grupo Escolar Joaquim José era ocupado pelo Prof. João Crisóstomo Jr. LITERATURA EM ALTA

A 30 de março de 1949, foi criado em São João da Boa Vista, em trabalho conjunto com a Sociedade de Cultura 327


Artística, o núcleo municipal da “Associação Brasileira de Escritores”, 18 ligada diretamente à capital paulista. Estes núcleos só eram autorizados nas cidades em que, possibilidades culturais o permitissem. Estiveram na inauguração diversos intelectuais da capital, entre eles o escritor Sérgio Millet, que proferiu uma palestra sobre a “Arte Moderna” e deu posse à primeira diretoria eleita, tendo Dr. Joaquim José de “Oliveira Neto” como presidente, Prof. Hélio Borges como tesoureiro e Jurandy Teixeira Mendes, secretário. A convite desta associação, conferencistas aqui estiveram, com temas literários e educativos, como: Antonio Candido e Florestan Fernandes que proferiram palestras sobre sociologia. Já o Professor João de Souza Ferraz pronunciou uma conferência sobre psicologia, além do prof. Egon Shaden.

ACADEMIA DE LETRAS DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA A ideia de se instalar uma Academia de Letras em São João da Boa Vista foi do professor Dr. Milton Segurado, membro da Academia de Letras de Campinas que, numa conversa informal com Dr. Octávio da Silva Bastos, acontecida na Faculdade de Direito de nossa cidade, propôs-lhe o desafio desta criação. Octávio Bastos, homem de visão, aceitou e levou a proposta adiante. Reuniu-se com dezessete pessoas ligadas à arte e cultura de nossa terra e em 10 de setembro de 1971 foi fundada a Academia de Letras de São João da Boa Vista 19 e solenemente instalada, com quarenta membros, em 15 de novembro desse mesmo ano, nos salões da Sociedade Esportiva Sanjoanense. O inusitado nesta criação foi o fato de haver entre seus membros quatro mulheres: Maria Leonor Alvarez Silva, Odila de Oliveira Godoy, Eunice Veiga e Nise Martins Laurindo, sendo que na Academia Brasileira de Letras isto só vai acontecer em 1977, com Rachel de Queiroz. 20 Em fins dos anos setenta o número de cadeiras passou a ser quarenta e cinco, número este que se conserva até os dias de hoje. Nestes quase quarenta anos de ininterrupta atividade 21 continua fiel ao seu lema: “Os livros governam o mundo”. Realizou centenas de sessões trazendo palestrantes ilustres como, entre muitos outros: Almino Afonso; Antônio Cândido de Mello Souza; 22 Benedictus Mário Mourão; Elisabeth Brockelmann de Faria; Fábio Lucas; Ligia Fagundes Telles; Maria Olívia Garcia R. de Arruda; Nelly Novaes; Paulo Singg; Ronaldo Marin; Suia Legaspe; Zuza Homem de Mello. O Hino de São João da Boa Vista é de autoria de dois acadêmicos: letra de Lucila Martarello Astholpo e música de Fábio de Carvalho Noronha. O Hino da Sociedade Esportiva Sanjoanense também tem a rubrica de duas acadêmicas: José Bonifácio de Andrada e Silva, Maria Inês Ribeiro, Antonio Candido de Mello e Souza - Membro Honorário da Academia de Letras, José e Maria Célia Marcondes - 1998.

Acadêmicos: Lorette; Barbin; Falconi; Sônia; Arten; Nege; Maria Célia; Maria Cecília; Lucelena; Carmen; Vânia; Clineida; Neusa; Silvia; Gilda; Donisete; José Rosa; Frigini; Scannapieco. Fevereiro/2010

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letra de Maria Célia de Campos Marcondes e música de Neusa Maria Soares de Menezes. A ação da Academia sempre foi muito grande e até hoje ela se firma e se amplia através de eventos, pois, além de suas sessões ordinárias abertas ao público, apresenta talentos sanjoanenses nos mais variados setores artísticos-culturais e entre eles cita-se a declamadora Carmela Lombardi. Realizou, em 1974, o “Concurso Literário Estudantil”, com alunos das escolas de São João da Boa Vista. Nessa mesma década aconteceu o concurso regional de poesias, denominado “Métrica e Rima”, sendo que, para a premiação, foi confeccionado o “Troféu Apolo”. Já, em 1981, foi a vez do “Concurso de Crônicas” e desde 1993, sem interrupção, realiza o “Concurso de Poesia, Conto e Crônica” que tem como patronos respectivamente: Emílio Lansac Tôha, Fábio de Carvalho Noronha e Oscar Pereira Leite. Há participantes de todo o Brasil, inclusive de Portugal, Suíça e Japão. Em 2008, graças à acadêmica Neusa Maria Soares de Menezes, a Academia de Letras de São João da Boa Vista entrou na era digital e possui seu “sítio”, cujo endereço é www.alsjbv.com.br. A Academia de Letras implementou com sucesso, por iniciativa da acadêmica Lucelena Maia, em 2009, um projeto denominado “Redação na Escola”, com alunos dos cursos Fundamental e Médio das escolas de São João da Boa Vista, sendo editado um livreto, contendo os textos dos vencedores. Neste primeiro ano o tema foi “Gente” e em 2010 “São João, Sentimentos e Ações”. Ainda em 2010, por ocasião dos cem anos de nascimento de Pagu, lançou, em nível nacional, o Concurso “Pagu - Cem Anos de História” e, nesse mesmo ano, realizou o evento “São João em Vitrina”, campanha fotográfica “Um Olhar sobre São João”. Foram confeccionados catálogos e “banners”. Estes tiveram dois destinos: durante o mês de junho ficaram expostos nas vitrinas do comércio local e, a partir de agosto, foram para as escolas e lá trabalhados pelos professores junto com seus alunos. Todos os eventos da Arcádia têm como objetivo precípuo oportunizar o contato da sociedade sanjoanense, de modo geral, e a juventude, de maneira especial, com o mundo das letras, das artes e da cultura. MAIS CONCURSOS O Curso de Letras do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos - UniFEOB possui também, desde 2005, o concurso de Poesia e Conto; a Prefeitura Municipal, dentro da Maratona Estudantil, realiza Concurso de Poesias. O Jornal “Edição Extra”, em parceria com o Departamento Municipal de Educação, realiza anualmente, com alunos das escolas da cidade, desde 2000, dois concursos literários, um em maio por ocasião do “Dias das Mães” e outro em agosto no “Dia dos Pais”. UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES EM SÃO JOÃO De 1991 a 1996, foram realizados seis Concursos Nacionais de Trovas, 23 com apoio da União Brasileira de Trovadores – UBT, sediada no Rio de Janeiro e do Departamento de Cultura da Prefeitura de São João da Boa Vista. Foi coordenado, no primeiro ano, pelos acadêmicos Fábio de Carvalho Noronha e Antônio “Nino” Barbin e, posteriormente, devido o falecimento de Noronha, só por Barbin. Sempre havia um tema a ser desenvolvido. Participaram trovadores renomados de inúmeros estados do Brasil, inclusive de Portugal. Um livreto era editado contendo as trovas dos vencedores. Trovas premiadas:

Tema “AURORA”:

Tema “PASSAGEM”:

“Gente existe que com calma, Disfarçando o seu desgosto, Tendo a noite dentro d’alma, PROJETOMostra auroras em seu rosto!”

ANDORINHAS

“Projeto

O

Dorival Coutinho

Tema “PASSAGEM”:

“Estou aqui de passagem, Sem saber de onde cheguei, Aguardando outra viagem Cujo destino não sei!”

Ney Damasceno

Andorinhas”,

“Do despontar ao declínio, A lua, passista ao léu, Vai desfilando fascínio, Na passarela do céu!” 24

Waldir Neves

criado e coordenado

Trova da lavra de Antônio“Nino” Barbin, classificada no Concurso de Nova Friburgo/RJ:

“Gozo a delícia enlevada Do estares comigo, agora, Mas a saudade, apressada, Vem antes de ires embora!” 329


por Orlando Jorge Reis Silva, promove evento referente, não só à Língua Portuguesa, mas também aos países que a têm como idioma. O evento denomina-se “Países da Língua Portuguesa” e, em 2010, realizou sua nona edição. Nestas ocasiões são lembrados os países, onde cerca de 200 milhões de pessoas falam este idioma: Brasil, Portugal, Angola, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor Leste. Esta realização parte do princípio de que o Brasil tem uma responsabilidade maior sobre o futuro da Língua Portuguesa, não apenas pela sua extensão territorial e pelo fato de ser populoso, mas também devido sua importância político-econômica e geoestratégica. Carlos Reis, professor e pesquisador da Universidade de Coimbra, assim se manifestou: “O futuro da Língua Portuguesa é aquele que o Brasil quiser”. ALGUMAS HONRAS

Luis Nassif jornalista Divulgação

Washington Novaes Jornalista

A IMPRENSA Divulgação

Davi Arrigucci Jr. Crítico Literário Divulgação

Florestan Fernandes Sociólogo

Aqui em São João estudaram personalidades importantes na vida cultural do país, como: Antonio Candido de Mello e Souza, Washington Novaes, Luis Nassif e Florestan Fernandes, entre outros. São João tem a honra de possuir dois grandes críticos literários, conhecidos nacionalmente: Davi Arrigucci Júnior e Salete de Almeida Cara.

Divulgação

Ainda dentro da literatura discorrer-se-á sobre a Imprensa em nossa cidade. Para tanto foi necessário recorrer principalmente ao intelectual Theófilo Ribeiro de Andrade. 25 REVISTAS Revista “Cirrus” de junho de 1904 tinha o Sr. Carlos Lühmann como editor-proprietário e como redatores: Dr. Luis Gambetta Sarmento; Nathanael Pereira -“escritor e poeta mavioso”; 26 José Fernandes da Silva Campos e Thiers Galvão de França. Publicação quinzenal, exclusivamente literária e científica, teve bons e dedicados colaboradores, deu nota de destaque no movimento literário de então! (...). Seu lema era: “Beijaremos os pés da Ciência; a fronte da Poesia e da Arte; a boca da Verdade e da Justiça e teremos por sublime ideal o Amor e o Trabalho.” 27 Cessou sua publicação em 1905. A revista “A Vida” teve apenas três publicações e circulou entre 1906/1907. Seu editor e redator era Dr. Mauro Pacheco, promotor da comarca. A terceira foi “O Binóculo”, de 1909, possuía uma veia humorística. O redator e editor era Oscar Kiellander, que também ilustrava a revista, Victrúvio Marcondes foi um dos colaboradores. A revista teve curta duração. Revista “A Pérola” de Jacundino Coelho, na década de 1910, além de “O Garimpeiro”; “O Calouro”; “O Corneta” e “Com que Roupa”. Importante também foi a Revista “Crepúsculo” de Jairo Sguassábia, tendo como diretores Emílio Lansac Tôha, Wilson Gomes, Hélio Fonseca. O primeiro número saiu em outubro de 1957 e o último, de que esta pesquisa teve notícia, foi em julho de 1959, número 23. De 1991 a 1993, existiu a revista bimestral “Interior In”, cujo editor era Carlos Henrique Falda “Toco”, tratava de assuntos relacionados a empresários e pessoas da sociedade. O Núcleo Experimental Teatro de Tábuas – NETT publicou vários números Capa da Revista Cirrus - 1904 de uma revista denominada “Contra-Regra”, de Jorge Luís Braz, que primou por asAcervo Jaime Splettstoser Jr.

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suntos culturais e artísticos de modo geral; começou em formato de jornal, depois passou para revista. Circulou, em São João da Boa Vista, nos anos de 2003/04. Atualmente, faz sucesso a revista “ATUA”, publicação da Associação Comercial e Empresarial de São João da Boa Vista – ACE sendo a editora chefe Ana Claudia Z. Ribeiro Santos e a revista “Vitrine” da Pixel’s Comunicações, tendo como editora chefe Regina Vasconcellos.

ALMANAQUES Quanto aos almanaques, houve “Almanaque Província de São Paulo”, datado de 1888, escrito por Jorge Seckler, que descreve, com pormenores, entre outros assuntos, o histórico, relevo, hidrografia e a população de São João da Boa Vista. Em 1901, saiu o Almanaque de Antônio Gomes Martins em que, além dos tradicionais dados, há uma sessão literária. Em 1908, saiu “O Município de São João – Exposição Nacional” escrito por Carlos Kiellander, publicado pelo Clube dos Lavradores, de nossa cidade. Deu notícias sobre São João da época e discursos proferidos na abertura da exposição promovida por este Clube. Em 1910, Antônio Gomes Martins publicou “O Município de São João da Boa Vista” que ampliava e atualizava o almanaque de 1901. Em 1923, o jornal “O Município”, fez um encarte, em forma de almanaque, comemorativo ao início das festividades dos 100 anos de São João da Boa Vista. Em 1924 o jornal “O São João”, também em publicou uma edição especial comemorativa ao centenário de nossa cidade. Foi publicado em 1950, o “Álbum de São João -1891/1950”, de Rogério Lauria Tucci, e, em 1975, “Almanaque Sesquicentenário de São João da Boa Vista, 1824/1974” de Augusto Procesi.

JORNAIS Ainda, segundo Teófilo Ribeiro de Andrade foram editados em São João da Boa Vista os seguintes jornais e planfletos: “O Marimbondo”, de 1884, foi um jornal escolar e para Teófilo é o primeiro jornal de São João da Boa Vista “dirigido e tendo como redator Galdino Siqueira, então escolar, que vai se tornar notável jurista, grande juiz e erudito escritor de Direito Penal (...).” “A Cidade de São João” primeira fase, criada em 1891 por Silviano Barbosa, Manços de Andrade, José Teodoro de Oliveira, Júlio Pedreira de Freitas e Custódio Sandeville, teve na sua primeira e segunda fases a duração de quarenta anos. Neste mesmo ano surgiu o “O Telefone”, de duração efêmera, sendo redatores Ostiano Sandeville e José da Silva Viana. “A Kermesse”, de 1896, publicado apenas durante a realização da quermesse em benefício à Santa Casa. Ainda em 1896, Paschoal dá a notícia do jornal “O Movimento”, tendo como editor Gabriel Ortiz - primeiro diretor do Grupo Escolar Joaquim José - e redatores: João Crisóstomo Júnior, Alfredo de Mello, Júlio Sandoval e Manços de Andrade “inteligência fulgurante, brilhante advogado, prosador e Silviano Barbosa - Jornalista poeta primoroso, humorista e polemista vigoroso, autor das célebres “Maiúsculas e Acervo A. C. Lorette Minúsculas” com o pseudônimo de Júlio Sandoval 28. Em seu livro, Andrade ainda cita o jornal “O Intransigente”, de janeiro de 1897, que tinha como editor-proprietário Jesuíno Ferraz, com colaboração dos professores do Grupo Escolar Joaquim José, onde a poetisa paulista Emiliana Delminda publicava suas poesias. Ainda em 1897 foi criado “O Prelúdio”, de Crisóstomo Bueno dos Reis. Em 1899, Padre Francisco de Paula Lima, Custódio Sandeville e Ostiano Sandeville fizeram circular o jornal “O 331


Municipalista”, que pouco tempo depois desapareceria e seria substituído em 1903 pelo “A Gazeta de São João” que circulou até 1907/08. Foi publicado de 1900 a 1902 “O Stegomya” periódico literário e humorístico, redigido por João dos Santos “Benigno Tejas”. É de 1904 o “Século XX” redigido por Salvatore Nauceri. O centenário jornal “O Município” foi criado em 1906 por Luise e Carlos Lühmann, tendo como primeiro redator Carlos Kiellander. Sem interrupções, desde sua fundação, tem muita história para contar. Hoje, está sob a direção do Dr. Joaquim Cândido de Oliveira Neto. “O Binóculo”, humorístico, criado em 1907 de Francisco D. Paschoal; “O Imparcial” em 1914. Em 1915 surge “O Careca”, jornal crítico humorístico de Antônio Cabral; “O Correio de São João”, de 1918, editado por Antonio Dias Paschoal, fundado e tendo com diretor o poeta Benedito Cândido; “O Sanjoanense” , 1919, de João Cristiano Lühmann; “O Bizarro” em 1923; “O São João”, de Adelino Gião, criado, também, em 1923; “O São João Esportivo”, em 1925 sob a direção de João Lühmann; “A Evolução” de 1926/27 editado pelo então estudante Roque Fiori. Ainda em 1926 é criado “A Revolução” de Roque Teixeira Fiori. O “Diário da Quermesse” criado em de junho de 1932, em forma satírica, dava notícias desse evento e o “A Alvorada” , em 1933, por José Peres Castlhano. “O Diário de São João” de 1936, publicado também durante as festas de São João e Divino; “São João”, jornal criado 1948, que tinha como redator e proprietário Tapajós de Araújo; “A Cidade de São João”, segunda fase, fundada a 08 de dezembro de 1949; “Opção” , década de 1970/80 e o jornal “Sistema Regional de Notícias”, década de 1980. Em circulação, hoje, temos: “O Município”, dirigido por Dr. Joaquim Cândido de Oliveira Neto; “Edição Extra”, com direção de Consuelo e José Geraldo Alliende “Bolinha” 29; “Gazeta de São João”, sob direção de Carmela Palhares; o “Correio Sanjoanense”, criado na de 1990; o jornal “Momento Esportivo”, com direção de Antônio Carlos Nogueira de Oliveira “Leivinha”, os tablóides: “Parabrisa”, dirigido por Carlos Henrique Falda “Toco”; o “Jornal do Sábado” de Tiago dos Santos e “Aqui Tem”.

PERIÓDICOS ESCOLARES Além do “O Marimbondo”, de 1884, já citado acima, existiu no começo do século XX o jornal “O Echo Juvenil”, de pouca duração, dos alunos do Colégio Mata. 30 “O Gynasiano” circulou de 1926 a 1928 dedicado à vida estudantil do Ginásio São João; “O Estudante”, criado em 1938, tinha os professores José Mattos e Sarah Salomão na equipe. Existiram mais alguns periódicos escolares como: o “Maçarico”, jornal do “Grêmio Américo Caselatto”, dos alunos da Escola Técnica de Comércio D. Pedro II, que anos depois passou a se chamar Escola de Comércio Hugo Sarmento e o grêmio recebeu o nome “Grêmio Élcio Mendes Coutinho” – aluno, precocemente, falecido. Cabe aqui também citar o “Grêmio Augusto de Freitas”, que publicou o “O Cererê”, na década de 1950, jornal dos alunos do Ginásio e Colégio Estadual de São João da Boa Vista, depois Instituto de Educação Cel. Christiano Osório de Oliveira, com poesias de Orides Fontela e textos de José Carlos Magalhães Teixeira, entre outros. Os grêmios mantinham intercâmbio escolar, ofereciam sessões de literatura, música, conferências, além de recreações com biblioteca e discoteca, mesas de dama e xadrez. Com a Revolução de 1964, houve a extinção dos Grêmios Estudantis e em seu lugar foram criados os Centros Cívicos, com características muito diferentes dos anteriores. O Centro Cívico do Instituto de Educação tinha como símbolo o Saci Pererê e seu jornal chamava-se “Sacírico”. Francisco Arten foi um dos redatores e havia artigos de Luiz Nassif e Hercílio Sguassábia, entre outros. De um trabalho na sala de aula com seus alunos do Instituto de Educação, surgiu o Jornal EMA – Educação Musical e Artística, 31 comandado pela professora Glorinha Aguiar. O primeiro número, impresso em mimeógrafo a álcool, foi distribuído a todos os alunos da escola. Disso resultou o crescimento, não só dos alunos e professora, como também do jornal que passou, com o tempo, a ser bimestral, com grande tiragem e impresso em gráfica de Vargem Grande do Sul. Passou a ser uma referência e professores de várias cidades do Estado de São Paulo e mesmo do Brasil começaram a usá-lo em suas aulas. Durou 10 anos, de 1972 a 1982.

PEQUENO ESCLARECIMENTO O intuito foi apenas o de mencionar os periódicos, revistas e almanaques que circularam e circulam na cidade. Certamente não se acham aqui nomeados todos eles, porém esta lacuna deve-se somente à dificuldade de uma pesquisa mais pontual. No entanto, no capítulo “Na imensidão de São Paulo”, há um texto de Dr. Joaquim José de “Oliveira Neto”, que cita a imprensa em nossa cidade.

ANEXO 332


LITERATURA POEMAS SÃO JOÃO DA BOA VISTA Artur Azevedo

Naquele paraíso verdejante Passei de um belo dia horas amenas E tão breve passagem foi bastante Para dar-me a sofrer saudosas penas. Sinto fulgir minh’ alma a cada instante Lá para aquelas regiões serranas. Vingando o corpo, Tântalo distante, De haver ficado ali horas apenas. Mas a lembrança da hospitalidade Que recebi naquele doce ninho, É o motor principal desta saudade Da existência no aspérrimo caminho Causa não há que o coração agrade Como na estranha gente achar carinho.

OS POMBOS

Luiz Gambeta Sarmento Quem é que ao ver-te, o coração não treme, Violante ardente de beleza rara? Teu níveo peito no corpete freme E aninha pombos de penugem cara! Quando colocas um botão cor creme Na gola e blusa purpurina clara, Ouço um casal, que docemente geme, De pombos alvos...na cambraia avara! Si eu fora, entanto, o botãozinho dado À flama doce desse ninho infindo Jesus, Senhor... eu ficaria atado Aos pombos alvos de pombal tão lindo! Botão, si eu fora, de teu peito o amado, Seria rosa... esfolharia rindo! Revista São João – 1924

DIANTE DE UM TÚMULO

Nathanael Pereira 333


Quem conservas no seio, ò fria sepultura? Que corpo decomposto em teu negror habita? Há vida lá no fundo, ou nada lá se agita, Além das podridões, além da noite escura? Eternamente muda, ora rica, ora pobre, Vejo-te sempre rude, e sombrio contemplo Teu austero perfil, como se fosse um templo Severo e majestoso, autoritário e nobre. Túmulo, que és na vida? Eu por te ouvir, escuto: Tu, cujo coração nojento é a larva imunda. Que as mães enchem de pranto, e cujo horror inunda. As almas de pavor...cornucópia de luto. Dize se acaba a vida aí no teu regaço Se tu és mesmo o Nirvana, o Nada, o Esquecimento, O intérmino Dormir, o fim do Sofrimento; Se extingues o infinito, a Luz, o Tempo, o Espaço... -Longe de ser a Morte, eu sou a própria Vida, Transformo os corações em flores perfumosas; Dos lábios da donzela eu faço as lindas rosas. Dos seios faço o lírio, a branca margarida. Aqui não há repouso; o que eu houver na sorte, Há de ser flor, semente ou fruto: há vida aqui. - cheira a flor que alimenta e a tua vida é a morte... Dum coração de mãe eu faço um colibri. Teu corpo há de viver, caindo em meu regaço Não tremas tu, mortal; reprime a dor e os ais. Daqui partem cantando as almas imortais - eu sou o Infinito, a Luz, o Tempo, o Espaço.

APÊNDICE RELAÇÃO DE ALGUNS ESCRITORES SANJOANENSES OU LIGADOS A SÃO JOÃO DA BOA VISTA E SUAS OBRAS:

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AGUIAR, Carlos. Minhas Recordações do Largo das Palmeiras, 1993. AGUIAR, Glorinha e BOLDRINI, Nair. Luz ou Sombra, a Decisão é sua, 1980. ALÉM, Nege. A Tortura da Calvície - contos. Rio de Janeiro: AABB, 1956. “Membro da ALSJBV”. _______________ Rua Taboão -contos. São Paulo: Editora dos escritores, 1977. _______________ O Cristo da Ermida – romance. São Paulo: Editora do Escritor, 1979. _______________ O Bancário Dr. Praxedes – contos. São Paulo: Editora do Escritor, 1983. _______________ O Bancário sem Rosto – contos. São Paulo: Ateniense, 1988. _______________ Natal do Homem Só – contos. São Paulo: Edicon, 1994. _______________ Samburá Vazio - contos. São Paulo: Scortecci, 2002. _______________ Lorotas de um Aposentado - contos. São João da Boa Vista/SP: PrismaGraf, 2005. _______________ O Velho Ipê Amarelo – romance. São João da Boa Vista/SP: PrismaGraf, 2007. _______________ Mágoa de Convocado – contos. São João da Boa Vista/SP: PrismaGraf, 2008. _______________ Cinco em Um - contos. São Paulo: Editora do Escritor, 1980. _______________ Histórias Bancárias – contos. São Paulo: Scortecci, 2009. _______________ O Engraxate Dudu – romance. São Paulo: Scortecci, 2010. _______________ Osso e Ferro Velho – contos. Inédito. ALMEIDA Jr., Francisco Roberto de. Ângelus. 1968. “Membro da ALSJBV”. _______________ À Margem da Estrada - poesias, 1955. ALMEIDA, Maria Conceição Nogueira S. “Nisalda”. Folhas de Outono – crônicas, 1971. ALTAIR, Jaçanã. João Negrinho. São Paulo: Melhoramentos, Série Viagens e Aventuras, 2ª edição, 1940. Patrona da cadeira nº 4 da Academia de Letras de São João da Boa Vista - ALSJBV. _______________Caminhando com as Estrela e Ursinho Carinhoso. São Paulo: Melhoramentos, 1939. _______________Uma Estrela no Céu está Cantando - Biografia de Castro Alves. São Paulo: Melhoramentos, 1951. _______________Filipe, é Você, Filipe?... São Paulo: Melhoramentos. _______________A Lenda da Vitória Régia. São Paulo: Melhoramentos. _______________Rosais em Flor. São Paulo: Melhoramentos. ANDRADE, Jasson de Oliveira. Golpe de 1964 em São João da Boa Vista. São Paulo: Assahi Gráfica Editor Ltda., 2008. ANDRADE Filho, Raul de Oliveira. Prosa da Roça. São Paulo: Scortecci, 2001. ANDRADE, Theófilo Ribeiro de. Subsídios à História de São João da Boa Vista - vol I. _______________ Subsídios à História de São João da Boa Vista - vol II (até 1952). São Paulo: Scortecci, 2003. ARRIGUCCI Jr., Davi. Humildade, Paixão e Morte – a poesia de Manuel Bandeira. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. _______________Os Melhores Contos de Rubem Braga. São Paulo: Global, 1999. _______________O Cacto e as Ruínas – a poesia entre outras artes. São Paulo: Duas Cidades, 1997. _______________O Escorpião Encalacrado, a poética da destruição em Júlio Cortazar. SP: Companhia das Letras, 1973. _______________Ugolino e a Perdiz. São Paulo: Cosac&Naify, 2003. _______________Coração Partido – uma análise da poesia reflexiva de Drummond. São Paulo: Cosac&Naify, 2002. _______________Achados e Perdidos. São Paulo: Polis, 1979. _______________Outros Achados e Perdidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. _______________Enigmas e Comentários – ensaios sobre literatura e experiência. SP: Companhia das Letras, 1987. ARTEN, Francisco de Assis Carvalho. O Prefeito e o Capeta. Rio de Janeiro: Thex, 1995. “Membro ALSJBV”. _______________ Nos Campos de São João. Rio de Janeiro: Thex, 2008. _______________ O Rádio como “Divã” Público. Dissertação de Mestrado em Comunicação e Mercado. Faculdades Cásper Líbero, São Paulo, 2000. _____________ A Comunicação Pública “on-line”. Tese de Doutorado em Comunicação e Semiótica. PUC- São Paulo, 2009. AZEVEDO, José Osório de Oliveira. Minhas Memórias. São Paulo: Ibep Nacional -Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas. 1993. “Membro ALSJBV”. _______________ História Administrativa e Política de São João da Boa Vista. 1º tomo 1896 a 1932. - 2º tomo 1911 a 1921. _______________ História Administrativa e Política de São João da Boa Vista – 1896 a 1932. 2ª edição. São Paulo: Sarandi, 2009. AZEVEDO Jr., José Osório. Compromisso de Compra e Venda. São Paulo: Malheiros Editores, 5ª edição. “Membro ALSJBV”. _______________ Compra e Venda. Troca ou Permuta. Editora Revista dos Tribunais. _______________ Posse. Direito Real do Promitente Comprador –Loteamento. São Paulo: Editora Quartier Latin. AZEVEDO, Iolanda Oliveira “Iola”. A Reconquista. São Paulo: Paz e Terra, 1984. Ganhou prêmio Jabuti, com esta obra. “Membro ALSJBV”. _______________ O Lance Final. São Paulo: Art Editora, 1988. BACCI, Percival. Campo e Travessia - poesias. São Paulo: Século XX, 1965. “Membro ALSJBV”. _______________ Canteiro Menor - poesias. São Paulo: Soma, 1967. _______________ e outros. Encontros; Coletâneas de Poetas de Casa Branca. Jundiaí/SP: Arte Quadro, 1995. _______________ Pássaro Tardio - poesias. São Paulo: Scortecci, 1996. BARBIN, Antonio “Nino”. O Tempo, esse Peregrino. São João da Boa Vista: Gráfica Sanjoanense, 1998. “Membro ALSJBV”. _______________ Trovas que o Banco Inspirou. São João da Boa Vista/SP: Gráfica Sanjoanense, 1992. _______________ Banespinha: a Conquista de um Sonho. São João da Boa Vista/SP: Gráfica Sanjoanense, 2009. BARBOSA Sibila, José Carlos. Romantika. São Paulo: Nativa, 2000. “Membro ALSJBV”. _______________ Criaturas. São Paulo: Nativas, 2001. _______________ Personagens. Belo Horizonte/MG: Virtuallibri, 2008. _______________ Novos Viajantes. São João da Boa Vista/SP: UNIFAE, 2009. _______________ Ecumênica. 1953. BARROS, Antônio de Pádua. Fragmentos de um Ponto de Vista. Campinas/SP: EMOPI, 2004. “Membro ALSJBV”. CABRELON, Antonia Massucci. Retalhos de Vida – poesia. Campinas/SP: Pontes, 2010. CANTO, Maria Pereira Lima. Lembro-me... Ainda; Folclórico e Ecológico. São Paulo: Editora do Escritor. 1985. CARA, Salete de Almeida. Literatura Comentada - Manuel Bandeira. São Paulo: Abril Educação,1981. 335


_______________ A Recepção Crítica – O Momento Parnasiano Simbolista no Brasil. São Paulo: Ática, 1983. _______________ A Poesia Lírica. São Paulo: Ática, 2ª edição, 1985. _______________ Fernando Pessoa -um Detetive Leitor e Muitas Pistas. São Paulo: Brasiliense, 1988. _______________ Melhores Crônicas de Machado de Assis, Seleção - Prefácio. São Paulo: Global, 2005. CATTA PRETA, Cyro Armando. Palhas do Tempo. 1993. Membro Correspondente ALSJBV. CENZI, Dirce Ambrósio. O Infinito Dentro de Mim - poesias. São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 1984. CORDEIRO, José Rodrigues. Na Cidade dos Crepúsculos Maravilhosos, 2003. “Membro ALSJBV”. COELHO, Denizar- Mons. Provérbios Populares. São João da Boa Vista/SP: Gráfica Sanjoanense, 2007. COSTA, Divino. Poesias e Modinhas Sertanejas – Fatos Históricos do Brasil. 1994. _______________ O Conto da Poesia. Atibaia/SP: Redijo Gráfica e Editora, 2001. _______________ Heróis da Minha Terra. São João da Boa Vista/SP: Gráfica Sanjoanense, 2006. _______________ O Sonho de um Sertanejo, 1994. _______________ O Caminho da Salvação “Jesus”, 1995. _______________ O Brilho da Poesia, 2004. COSTA, Lúcia Azevedo. Quem é Você? São Paulo: Gráfica Emir Ltda., 1968. COSTA, Maria Cândida de Oliveira. Políticas Públicas e a Educação Rural. Tese doutorado. Unicamp, 2011.“Membro ALSJBV”. DEZENA, Fernando Silva. Ruptura. São Paulo: Scortecci, 1994. DEZENA, Luiza Torres Silva, O Encanto da Vida. Campinas/SP: Livraria Pontes, 2005. “Membro ALSJBV”. EDSON, Paulo Alves. O Corsário de Ilhabela. Itu/SP: Ottoni, 2008. FALCONI, Rodrigo Rossi. Logradouros de São João da Boa Vista. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010. “Membro ALSJBV”. FARKASFALVY, Pierre. Budapeste, Paris, São João da Boa Vista – um Rally Diferente. São Paulo: Papyrus, 2002. FERRANTE, Silvia. A Primeira Dama. Campinas/SP: Impressão Digital do Brasil, 2011. “Membro ALSJBV”. FERREIRA, Jurandir. Um Ladrão de Guarda-Chuvas. São Paulo: Nova Alexandria - 2ª ed., 1995. “Membro ALSJBV”. _______________ Da Quieta Substância dos Dias - crônicas. Poços de Caldas/MG: Inst. Moreira Salles, 1991. _______________ Um Céu Entre Montanhas – romance. _______________ Telêmaco – romance. _______________ A Campainha - contos. _______________ O Camundongo - contos. _______________ Fábulas – poesias. _______________ O Tocador de Requinta -poesias. FONTELA, Orides. Transposição - poesias. São Paulo: Instituto Cultura Hispânica da USP, 1969. Patrona da cadeira 32 da Academia de Letras de São João da Boa Vista. _______________ Helianto - poesias. São Paulo: Duas Cidades, 1973. _______________ Alba - poesias. São Paulo: Roswitha Kempf Editores, 1983. _______________ Rosácea - poesias. São Paulo: Roswitha Kempf Editores, 1986. _______________ Trevo - poesias. São Paulo: Claro Enigma - Duas Cidades, 1988. _______________ Teia - poesias. São Paulo: Geração Editorial, 1996. _______________ Trèfle - poesias. Paris/França: L’Harmattan, 2 volumes, 1998. _______________ Poesia Reunida. São Paulo: CosacNaif, 2006. _______________ Esfera – Uma Antologia - poesias. Sant Ferran/València/Espanha: Três i Quatre, 2010. FRANCO, Paulo Alves. O Trombadinha. São Paulo: J. Scortecci, 1992. _____________Natal Para Um Menino Pobre. Mogi-Mirim/SP: Solimprés, 1987. FRIGINI, Ronaldo. Reconhecimento de Paternidade –Considerações sobre a Lei 8.560/92. Ribeirão Preto/SP: APAMAGIS, 1993. “Membro ALSJBV”. _______________ Comentários à Lei de Pequenas Causas. Livraria Editora de Direito, 1995. _______________ Ementário de Jurisprudência dos Colégios Recursais. São Paulo: Livraria Editora de Direito, 1997 (1ª e 2ª ed.); 3ª ed., Leme/SP: JH Mizuno, 2005. _______________ Dos Prazos no Novo Código Civil. Leme/SP: LED – Livraria Editora de Direito, 2004; 2ª ed., Leme/SP: JHMizuno, 2006. _______________ Comentário à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. Leme/SP: Livraria Editora de Direito, 2000; – 2ª ed. 2004; 3ª ed. 2007. _______________ Juizados Especiais Criminais – Ementário de Jurisprudência dos Colégios Recursais Criminais. Leme/SP: JH-Mizuno, v. 1, 2006. _______________ Execução Civil – Cumprimento da Sentença -vários autores. Ed. Método, 2007. GALVANI, Francisca L. “Chiquita Galvani”. Paraíso: Livro Memorialista -Infância na Fazenda Paraíso e São Sebastião da Grama. São João da Boa Vista/SP: Papyrus Livraria, 2001. GALVÃO, Patrícia Rehder. “Pagu” Parque Industrial - romance proletário, sob o pseudônimo de Mara Lobo. São Paulo: Edição da Autora, 1933. “Patrona da cadeira 36 da Academia de Letras de São João da Boa Vista’. _______________ e FERRAZ, Geraldo. A Famosa Revista - romance. Rio de Janeiro: Americ-Edit., 1945. _______________ Verdade e Liberdade - panfleto político. São Paulo: Edição do Comitê Pró-Candidatura para Deputada Estadual Patrícia Galvão, 1950. _______________ A Famosa Revista. 2ª ed., São Paulo: Livraria José Olympio, 1959. -Publicado em conjunto com Doramundo, de Geraldo Ferraz, sob o título geral de Dois Romances. _______________ O Álbum de Pagu ou Pagu - Nascimento, Vida, Paixão e Morte -1929. Publicado nas revistas Código nº 2, Salvador, 1975 e São Paulo: Duas Cidades, 1978. _______________ Parque Industrial. Reeditado em fac-símile, salvo a capa, com apresentação de Geraldo Galvão Ferraz. São Paulo: Editora Alternativa, 1981. ______________ Parque Industrial. 3ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto São Paulo: EDUFSCar, 1994. _______________ Safra Macabra -contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998. Com o pseudônimo de King Shelter. GÁSPARI, Thales Milani. Confissões de Amor e de Morte -poesias. Rio de Janeiro: Câmara Brasileira de Jovens Escritores. 2009.

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GONÇALVES, Armando. Lenha Verde; Histórias Contadas à Beira do Fogão a Lenha. _______________ Paineira Velha, Pedaços de Vida. Cajamar/SP: Editora Três, 2008. _______________ Destino -poesias. Cajamar/SP: Editora Três, 2009. GREGÓRIO, João Batista. Crenças e Desavenças. São Paulo: Baraúna, 2009. GRINGS, Dadeus Dom. Iniciando meu Ministério. “Membro ALSJBV”. _______________ O Homem Diante do Universo. 1995. _______________ Deus Pai. 1998. KIELLANDER, Carlos. A Idade e os Crimes. São Paulo: Livraria Acadêmica, 1929. LEITE, Octavio Pereira. Elementos de Economia Política, 1954. “Acadêmico”. _______________ Apostila de História do Brasil, 1967. _______________ Velhas Páginas – ensaios.1971. _______________ Um Grande Sonho; Realidade e Fantasia. 1975. _______________ Sob os Céus da Europa. 1977. _______________ O Nordeste e a Amazônia. 1978. _______________ Minhas Memórias, de 1910 aos Nossos Dias. 1982. _______________ A Cultura Imortaliza o Homem. 1983. _______________ Pequeno Formulário Comentado de Escrituras Públicas. LIMA Fº, Acácio Vaz de. O Poder na Antiguidade, Aspectos Históricos e Jurídicos. MAIA, Lucelena de Castro. Um Alvo Calculado - romance. São Paulo: Scortecci, 2003. “Membro ALSJBV”. _______________ Sombras de uma Profecia - romance. São Paulo: Scortecci, 2005. _______________ Põe-te de pé, poeta! – poesias. São Paulo: Scortecci, 2008. _______________ e outros. @teneu.poesi@ - antologia poética. São Paulo: Scortecci, 2003. MACHADO, Leão. Fundição. 1944. “Membro ALSJBV”. _______________ Capa Preta. 1960. _______________ Tempo, Gente e Ação. 1971. MALHEIRO, Maria Cecília de Azevedo. Lampejos. São Paulo: Palas Athenas, 1999. “Membro ALSJBV”. MARCON, Gilberto Brandão. Fragmentos de Obra. São João da Boa Vista/SP: Papyrus Livraria, 2001. “Membro ALSJBV”. MARCONDES, A. Marcos. Coleção Grandes Artistas Brasileiros. São Paulo: Art Editora/Círculo do Lovro, 1982. MARCONDES, José. 50 Anos de Natação -Sociedade Esportiva Sanjoanense SES. São Sebastião da Grama/SP: Gráfica São Sebastião- GRASS, 2005. MARCONDES, Maria Célia de Campos. Trabalho e Desemprego - resultado de trabalho de pesquisa e análise realizado com alunos do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Octávio Bastos - UNIFEOB. São João da Boa Vista/SP: PrismaGraf, 2000. “Membro ALSJBV”. _______________ A Mulher Idosa Frente a Televisão e a Educação Continuada: O olhar, o caminho e o desvelar. Dissertação de Mestrado, Universidade Bandeirante, 2001. MARCONDES, Vitrúvio. Fogos Fáctuos. São Paulo: Livraria Magalhães. _______________Balada e Orações. São Paulo: Livraria Magalhães. _______________Musa Selvagem. São Paulo: Livraria Magalhães. _______________Alma Cívica. São Paulo: Livraria Magalhães. MARTINS, Nise Corrêa. Romanticism in England. 1950. “Acadêmica”. MARTINS, Antônio Gomes. Almanaque São João da Boa Vista. auxiliado por Dr. Alfredo de Mello e Silviano Barbosa, 1901. _______________ Almanaque O Município de São João da Boa Vista; notícias históricas, população, estatística, notas biográficas. 1910. -publicação subvencionada pela Câmara Municipal. MATTOS Júnior, Jonathas –“Jotinha”. Ensaio Historiográfico do Teatro Municipal e Trajetória das Artes em São João da Boa Vista. Espírito Santo do Pinhal/SP: Gráfica Pinhalense, 2000. “Acadêmico”. _______________ A Catedral de São João da Boa Vista. 1992. _______________ Vocação para Amar - romance. São Paulo: Palas Athena, 2000. _______________ A Sagrada Prenda do Rio Paraíba. Espírito Santo do Pinhal/SP: Pinhalense. MENEZES, Thiago e outros. Dualidade. 1993. “Membro ALSJBV”. _______________ e outros. Encontro de Talentos. 1994. _______________ Na Fazenda do Campo Verde. 1995. _______________ Vertigem de Amor. 1995. _______________ Celly Campello, a Rainha dos Anos Dourados. 1996. _______________ Hip Hip Rio. 1997. _______________ Sombras do Sonho. 1999. MOUKARZEL, Munir. Eu Não Quero Morrer. “Membro ALSJBV”. _______________ Ramalhete do Meu Jardim. 1972. MOURA, Esmeralda Peregrino. Poemas para Sacudir a Alma. Companhia Brasileira das Artes, 1989. “Membro ALSJBV”. _______________ Ganhei um Par de Asas -poesias. 1990. _______________ Ama-me -poesias. São João da Boa Vista/SP: Gráfica Cidade, 1993. _______________ De Gente, de Fé, de Fome -poesias. São João Boa Vista/SP: A Cidade, 1995. _______________ Se For Possível - poesias. 1997. NICOLAU, Maria. História do João do Verso. São Paulo: Edições Inteligentes, 2006. NORONHA, Décio Teixeira. Gravidez – Situação de Risco. São Paulo: Revinter, 1997. “Membro ALSJBV”. _______________ Narrativas de um Desavisado. São Paulo: ScorTecci, 2009. NORONHA, Edivino Andrade. Memórias de Uma Vida Feliz. NORONHA, Fábio C. Estórias do Cotidiano - crônicas. São João da Boa Vista/SP: A Cidade de São João, 1991. “Membro ALSJBV”. NORONHA, Fabio Antakly. Bonsai -Uma Arte ao Alcance de Todos – Botânica. Ed. Escrituras, 2005. OLIVEIRA, Ademir Barbosa. Pedaços de mim – poesias. São João da Boa Vista/SP: A Cidade de S. João. “Membro ALSJBV”. OLIVEIRA, Antonio Carlos Nogueira “Leivinha”. A História do Futebol em São João da Boa Vista –1905 a 2008. Gráfica e Editora Gilcav Ltda, 2008. OLIVEIRA, Benedito Fernandes -“Cajuca”. Revolução Paulista -1932. São Paulo, 1950. 337


_______________ Apontamentos Históricos e Dados Estatísticos de São João da Boa Vista. 1955 –Inédito. ORTOLANI, Dirce da Silva Fernandes. Impressões de Viagem. “Membro ALSJBV”. _______________ Contos de Natal. _______________ Nas Asas do Tempo. PÁDUA, Christino Cardoso. Sorriso Fixo -poesias. São João da Boa Vista/SP: A Cidade de São João, 1988. “Membro ALSJBV”. _______________ Só Sonhos - poesias. 1986. PASCHOAL, Antonio Dias. São João da Minha Infância. São João da Boa Vista/SP: Papyrus, 2001. PASCHOAL Filho, Hélio Peres. Síntese Catártica -poesias. São Bernardo/SP: Palavra Muda, 1987. PEREIRA, Júlio César e COSTA, Túlio Marcos Anselmo da. Sancas e Marimbas: a Saga do Terreirão. São João da Boa Vista/ SP: PrimaGraf, 2008. PINHEIRO, Augusto. Onda de Vidro. 1998. “Membro ALSJBV”. _______________ Faça-o Amanhã. 2001. PINTO, Beatriz Virgínia Camarinha Castilho. Entre a Voz e a Letra: a argumentação nos resumos dos depoimentos judiciais -dissertação de Mestrado em Lingüística. Instituto de Estudos Lingüísticos, Unicamp, Campinas, 2008. “Membro ALSJBV”. POSSOLLO, Oscar Burgos. Dez Vidas e Uma Força. 1970. “Membro ALSJBV”. PRÉZIA, Ademaro. Álbum de família – poesias. 1981. “Membro ALSJBV”. _______________ Pico do Gavião – crônicas.1985. _______________ A Dança do Papa -crônicas. 1968. _______________ Baú de Couro. REIS, Leila S. Biagioni dos. Pedaços de Heranças. REZENDE, Maria José Aranha de. Sonetos que o Amor Inspirou -poesias. “Membro ALSJBV”. _______________ Crônicas de Domingo. São Vicente/SP. EDEG, 1970. _______________ Rosa Desfolhada. poesia RIBEIRO, Alexandre Tancredo Pereira. Desejo Puro. São Paulo: Edicon, 1997. RICHERME, Cláudio O. Azevedo. A Técnica Pianística, uma abordagem científica. _______________ Afinal, o que é Arte? São Paulo: Air Musical, 2007. ROZON, João Batista. Cartas do Pensamento. 1993. “Membro ALSJBV”. SAMPAIO, Plínio de Arruda. Por que Participar da Política? São Paulo: Sarandi, 2010. “Membro ALSJBV”. _______________ Como Combater a Corrupção. 2009. _______________ Construindo o Poder popular. 2004. _______________ Desafios da Luta pelo Socialismo... _______________ O Brasil Pode Dar Certo. _______________ História, Crise e Dependência do Brasil. _______________ V Jornada Teológica D. Helder Câmara. _______________ Culturas e Inculturação. SANTOS, Ana Maria. Caminhos para o Sucesso Profissional. Campinas: Komedi, 2006. SARMENTO, Luiz Gambetta. Questão da Água Limpa – resposta à diatribe do Dr. Alfredo de Mello e breve estudo psychologico sobre o Truão da Avenida. São João da Boa Vista/SP: Typografia “O Município”, 1906. SCANNAPIECO, João Baptista, São Pantaleão, Testemunho de Cristo na Vida e na Morte -resenha histórica. Espírito Santo do Pinhal/SP, 1996. “Membro ALSJBV”. _______________ Fragmentos de Uma História a Ser Contada -elevação de São João da Boa Vista à Vila. Publicação da Câmara Municipal de São João da Boa Vista, 2009. _______________ Síntese Histórica do Seminário Diocesano Coração de Maria. Publicação da Reitoria do Seminário. 2009. SEGURADO, Milton Duarte. Campinas em Soneto. Campinas/SP: Minaz Produtora de Arte, I985. “Membro ALSJBV”. SILVA, Maria Leonor Alvarez. Mãe Solteira. “Membro ALSJBV”. _______________ Galeria -Livro das Biografias. São Paulo: Ed. Canton, 1979. _______________ Monografia sobre Monteiro Lobato. 1950. _______________ e SALOMÃO, Matildes Rezende Lopes. História de São João da Boa Vista. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977. SILVA, Plínio. Sétimo Céu -poesias. 1976. “Membro ALSJBV”. SILVEIRA, Jordano Paulo. Lampejos D’Alma -poesias. Mapa Fiscal Editor, 1976. Capa de Maísa Barcellos Amaral “Membro ALSJBV”. SGUASSÁBIA, João Batista. Coisas da Vida –poesias. 1982. “Membro ALSJBV”. _______________ Trovas de um Cantador -poesias. 1985. _______________ Vejo o Mundo de Meu Ninho -poesias. 1991. _______________ Retratos por escrito -poesias. 1997. _______________ Cantos Diversos e Dedos de Prosa. Pirassununga/SP: Jornal Pirassununga, 2001. _______________ Prosiversando -poesias. 2006. _______________ Crônicas Rimadas. Pirassununga/SP: Pira Gráfica, 2009. SPADA, Noêmio. Miragens e Imagens. 1985. Membro Correspondente ALSJBV. SPLETTSTOSER Jr., Jaime. Alemães, Suecos, Dinamarqueses e Austríacos em São João da Boa Vista. São Paulo: Company Editora, 2003. _______________ e outros. Cem anos de Indústria em São João da Boa Vista –1850 –1950. Itu/SP: Editora Ottoni, 2008. TEIXEIRA, Hélio C. Rumos Literários. “Membro ALSJBV”. TÔHA, Emílio Lansac. Entardecer - poesia. 1975. “Membro ALSJBV”. _______________ Mensagem - poesia. _______________ Remanso - poesia. _______________ Todos cantam a sua Terra - poesia. São João da Boa Vista?SP: O Município. _______________ Vigília de Ternura – poesia. 1977. _______________ Verbena -poesia. 1981. _______________ Cântaro Vazio - poesia. _______________ A Gota d’Água – poesia.

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TOLEDO, Maria Conceição Arruda. Seara de Ternura. 1986. Membro Correspondente ALSJBV. _______________ Aristides Monteiro -Processo de Evolução da Poesia em Campinas, 1996. _______________ Resenha Histórica do Centro de Poesia e Arte de Campinas, 1998. _______________ Fragmentos da Imortalidade, 1998. TRAVASSOS, Nelson Palma. Nos Bastidores da Literatura. “Membro ALSJBV”. _______________ Nem Tudo que Reluz é Ouro. _______________ Quando Eu Era Menino – memória. _______________ No Meu Tempo de Mocinho - memória. VALE, Waldemar Martins do. E o palhaço o que é? São João da Boa Vista/SP: Prisma Graf, 2007. VALLIM, Acácio Ribeiro. Girivá. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1953. “Membro ALSJBV”. _______________ Crepúsculo Rural. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1955. _______________ Dias de Esperança. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1957. _______________ Cadernos de Recordação. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais. 1952. _______________ Contribuição para os Estudos dos Cocideos em Geral - tese de doutoramento, 1926. _______________ Terra Lavrada. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1972. _______________ Caminhos do Coração. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1976. VIEIRA, Salomão. Tese de Direito Tributário Comparado. “Membro ALSJBV”.

Acadêmico Jonathas Mattos Jr. “Jotinha” - 1995

Acadêmico Octávio Pereira Leite - 1984 Academia de Letras - Palestra do Crítico Literário Fábio Lucas. Clineida Jacomini, João Scannapieco, Fábio Lucas, Luiz A. Spada, Antônio “Nino” Barbin. UniFAE - 1995

Acadêmico Dr. Arlindo Morandini - 1970

MEMBROS DA ACA- Academia de Letras - Lançamento do livro “Um Ladrão de Guarda-Chuvas” do acadêJurandir Ferreira. Esmeralda Peregrino Moura,VSITA Maria Célia e José Marcondes, DEMIA DEmico LETRAS DE SÃO JOÃO DAdeBOA Luiz Antônio Spada, Francisco Bezerra e Jurandir Ferreira. Papyrus Livraria - 1995 339


- 15/11/1971 a 21/08/2010 -

1- Abelardo Moreira da Silva – Fundador - cadeira 5 - Patrono: Visconde de Taunay. 2- Acácio Ribeiro Vallim - cadeira 39 - Patrono: Alexandre de Gusmão. 3- Adélia Jorge Adib Nagib - cadeira 13 - Patrono: Humberto de Campos. 4- Ademaro Prézia – Fundador - cadeira 11 - Patrono: Machado de Assis. 5- Ademir Barbosa de Oliveira -cadeira 42 - Patrono: Mário de Andrade. 6- Almir Paula Lima - cadeira 22 - Patrono: Firmino Costa. 7- Ana Lúcia Sguassábia Silveira Finazzi - cadeira 7 - Patrono: Coelho Neto. 8- Antonio David - cadeira 21 - Patrono: Dom Duarte Leopoldo e Silva. 9- Antonio Carlos Rodrigues Lorette - cadeira 32 - Patrona: Orides Fontela. 10- Antonio de Pádua Barros - cadeira 29 - Patrono: Raimundo Corrêa. 11- Antônio “Nino” Barbin - cadeira 27 - Patrono: Érico Veríssimo. 12- Antonio Ferraz Monteiro - cadeira 24 - Patrono: Manuel Carlos de Figueiredo Ferraz. 13- Antonio Marcelino de Oliveira - cadeira 12 - Patrono: Dom Aquino Corrêa. 14- Arlindo Morandini - cadeira 45 - Patrono: Barão de Mauá. 15- Augusto César Pinheiro - cadeira 08 - Patrono: Oswaldo Cruz. 16- Beatriz Virgínia Camarinha Castilho Pinto - cadeira 31 - Patrono: Paulo Setúbal. 17- Benedicto Bernal Costa - cadeira 10 - Patrono: Washington Luis Pereira de Souza. 18- Carino Gama Corrêa Filho - cadeira 40 - Patrono: Monteiro Lobato. 19- Carmen Lúcia Balestrin - cadeira 33 - Patrona: Cora Coralina. 20- Celina Maria Bastos Varzin - cadeira 23 - Patrono: João Guimarães Rosa. 21- Christino Cardoso de Pádua - cadeira 20 - Patrono: Castro Alves. 22- Clineida Andrade Junqueira Jacomini - cadeira 43 - Patrono: Rubem Braga. 23- Clóvis Vieira - cadeira 44 - Patrona: Cecília Meirelles. 24- Dadeus Grings - cadeira 01 - Patrono: Beato José de Anchieta. 25- Décio Madruga - cadeira 19 - Patrono: Nelson Omegna. 26- Décio Teixeira Noronha - cadeira 12 - Patrono: Carlos Drummond de Andrade. 27- Dirce da Silva Fernandes Ortolani - cadeira 12 - Patrono: Carlos Drummond de Andrade. 28- Donisete Tavares Moraes Oliveira - cadeira 38 - Patrono: Gonçalves Dias. 29- Edwald Vallin - cadeira 38 - Patrono: David Antunes. 30- Emílio Lansac Tôha – Fundador -cadeira 09 - Patrono: Raul de Leoni. 31- Ernani de Almeida Paiva - cadeira 45 - Patrono: Pe. Antônio Vieira. 32- Esmeralda Peregrino de Moura - cadeira 24 - Patrono: Manoel Carlos de Figueiredo Ferraz. 33- Eunice Veiga - cadeira 25 - Patrono: Manuel Bandeira. 34- Eurico Andrade Azevedo - cadeira 03 - Patrono: Alphonsus de Guimaraens. 35- Fábio Carvalho Noronha - Fundador - cadeira 17 - Patrono: Francisco Paschoal. 36- Fábio Rodrigues Mendes - cadeira 33 - Patrono: Gonçalves Dias. 37- Francisco Cozzupoli - cadeira 26 - Patrono: Vicente de Carvalho. 38- Francisco de Assis Carvalho Arten - cadeira 10 - Patrono: Darcy Ribeiro. 39- Francisco de Assis Martins Bezerra - cadeira 32 - Patrona: Orides Fontela. 40- Francisco Maríngolo - cadeira 39 - Patrono: Alexandre de Gusmão. 41- Francisco Roberto Almeida Júnior - Fundador - cadeira 03 - Patrono: Alphonsus de Guimaraens. 42- Geraldo Majela Furlani - cadeira 27 - Patrono: Gastão Gruls. 43- Gilberto Brandão Marcon - cadeira 06 - Patrono: Mário Quintana. 44- Gilda Magalhães Nardoto - cadeira 37 - Patrono: Menotti Del Picchia. 45- Heitor Fenício - cadeira 16 - Patrono: Olavo Bilac. 46- Hélio Carvalho Teixeira - cadeira 38 - Patrono: David Antunes. 47- Hélio Corrêa Fonseca – Fundador - cadeira 13 - Patrono: Humberto de Campos. 48- Hercílio Ângelo - cadeira 23 - Patrono: João Guimarães Rosa.

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495051525354555657585960616263646566676869707172737475767778798081828384858687888990919293949596979899-

Iolanda Gabriela Oliveira Azevedo “Iola” - cadeira 32 - Patrono: Carlos Drummond de Andrade. Isaias Henrique Côrtes - cadeira 22 - Patrono: Firmino da Costa. João Cabete - cadeira 29 - Patrona: Carmen Cinira. João Baptista Scannapieco - cadeira 17 - Patrono: Francisco Paschoal. João Batista Pereira Bastos - cadeira 27 - Patrono: Gastão Gruls. João Batista Rozon - cadeira 05 - Patrono: Visconde de Taunay. João Batista Sguassábia - cadeira 09 - Patrono: Raul de Leoni. João Otávio Bastos Junqueira - cadeira 19 - Patrono: Paulo Freire. João Ruiz Silva - cadeira 36 - Patrono: Rubem Braga. João Sérgio Januzelli de Souza - cadeira 25 - Patrono: Manuel Bandeira. Joaquim José de Oliveira Neto – Fundador - cadeira 08 - Patrono: Oswaldo Cruz. Jonathas Mattos Júnior “Jotinha” - cadeira 18 - Patrono: Euclides da Cunha. Jordano Paulo da Silveira – Fundador -cadeira 16 - Patrono: Olavo Bilac. Jorge Gutemberg Splettstoser - cadeira 34 - Patrono: José de Alencar. José Assis Canôas - cadeira 37 - Patrono: Álvares de Azevedo. José Benedito Barreto Fonseca - cadeira 20 - Patrono: Castro Alves. José Benedito de Almeida David - cadeira 21 - Patrono: Dom Duarte Leopoldo e Silva. José Carlos Magalhães Teixeira - cadeira 17 - Patrono: Francisco Paschoal. José Carlos Sibila Barbosa - cadeira 26 - Patrono: Gregório de Mattos. José Edgard Simon Alonso - cadeira 41 - Patrono: Pedro Saturnino. José Geraldo Brito Filomeno - cadeira 29 - Patrono: Raimundo Corrêa. José Magalhães Navarro - cadeira 36 - Patrono: Barão do Rio Branco. José Osório de Oliveira Azevedo – Fundador - cadeira 14 - Patrono: Afonso D’Escragnolle Taunay. José Osório Azevedo Júnior - cadeira 15 - Patrono: Mário de Andrade. José Paranhos de Siqueira - cadeira 41 - Patrono: Pedro Saturnino. José Rodrigues Cordeiro – Fundador -cadeira 07 - Patrono: Coelho Neto. José Rosa Costa - cadeira 16 - Patrono: Olavo Bilac. José Simoni - cadeira 19 - Patrono: Mário de Andrade. Júlio Andrade Ferreira - cadeira 28 - Patrono: Erasmo Braga. Jurandir Ferreira - cadeira 26 - Patrono: Vicente de Carvalho. Juversino Garcia de Oliveira - cadeira 31 - Patrono: Paulo Setúbal. Lauro Augusto Bittencourt Borges - cadeira 20 - Patrono: Castro Alves. Leão de Salles Machado - cadeira 35 - Patrono: Amadeu de Queiroz. Lícinio Vita da Silva – Fundador -cadeira 10 - Patrono: Washington Luis Pereira de Souza. Lucelena Maia -cadeira 13 – Patrono: Humberto de Campos. Lucila Martarello Astolpho - cadeira 44 - Patrono: Cecília Meirelles. Luiza Dezena Torres Silva - cadeira 12 - Patrono: Carlos Drummond de Andrade. Luiz Antonio Spada - cadeira 28 - Patrono: Guilherme de Almeida. Luiz Gonzaga Bergonzini - cadeira 12 - Patrono: Dom Aquino Corrêa. Marcello Godoy - cadeira 34 - Patrono: Joaquim José da Silva Xavier “Tiradentes”. Maria Aparecida Pimentel Mangeon Oliveira - cadeira 04 - Patrono: José de Alencar. Maria Cândida de Oliveira Costa - cadeira 04 - Patrona: Jaçanã Altair. Maria Cecília Azevedo Malheiro - cadeira 40 - Patrono: Monteiro Lobato. Maria Célia de Campos Marcondes - cadeira 11 - Patrono: Machado de Assis. Maria Inês Araújo Prado - cadeira 36 - Patrona: Patrícia Rehder Galvão “Pagu”. Maria José Aranha de Rezende - cadeira 24 - Patrono: Manuel Carlos de Figueiredo Ferraz. Maria José Gargantini Moreira da Silva - cadeira 39 - Patrona: Clarice Lispector. Maria Leonor Alvarez Silva – Fundadora -cadeira 19 - Patrona: Jaçanã Altair. Maria Luiza Barcellos do Amaral - cadeira 43 - Patrono: Cândido Portinari. Mario Ferreira Balbão - cadeira 42 - Patrono: Mário de Andrade. Milton Duarte Segurado – Fundador - cadeira 18 - Patrono: Euclides da Cunha. 341


100101102103104105106107108109110111112113114115116117118119120121122123124125126127128-

Munir Moukarzel - cadeira 03 - Patrono: Alphonsus de Guimaraens. Nege Além - cadeira 35 - Patrono: Casimiro de Abreu. Nelson Palma Travassos - cadeira 40 - Patrono: Monteiro Lobato. Neusa Maria Soares de Menezes - cadeira 30 - Patrono: Euclides da Cunha. Neyde de Lima Santos Corbelli - cadeira 33 - Patrono: Gonçalves Dias. Nise Martins Laurindo - cadeira 32 - Patrono: Francisco Antônio Martins Júnior. Octávio da Silva Bastos - Fundador -cadeira 02 - Patrono: Rui Barbosa. Octávio Pereira Leite – Fundador - cadeira 04 - Patrono: José de Alencar. Odila de Oliveira Godoy – Fundadora - cadeira 15 - Patrono: Casimiro de Abreu. Oscar Burgos Possolo - cadeira 34 - Patrono: Joaquim José da Silva Xavier “Tiradentes”. Oswaldo de Oliveira Silveira - cadeira 30 - Patrono: Affonso Schmidt. Palmyro Ferranti – Fundador - cadeira 06 - Patrono: José de Souza Lima. Paulo Mangabeira Albernaz - cadeira 35 - Patrono: Amadeu de Queiroz. Percival Bacci - cadeira 37 - Patrono: Álvares de Azevedo. Plínio de Arruda Sampaio - cadeira 18 - Patrono: João Cabral de Mello Neto. Plínio Silva - cadeira 30 - Patrono: Affonso Schmidt. Rodrigo Alexandre Rossi Falconi - cadeira 42 - Patrono: Pedro Nava. Roberto Melaragno Filho - cadeira 08 - Patrono: Oswaldo Cruz. Ronaldo Frigini - cadeira 01 - Patrono: Graciliano Ramos. Salomão Vieira - cadeira 30 - Patrono: João Cabral de Mello Neto. Sérgio Ayrton Meirelles de Oliveira - cadeira 22 - Patrono: Mário Palmério. Silvia Ferrante - cadeira 09 - Patrono: Raul de Leoni. Sônia Maria Silva Quintaneiro - cadeira 08 - Patrono: José Lins do Rego. Teófilo Ribeiro de Andrade Filho - cadeira 14 - Patrono: Afonso D’Escragnolle Taunay. Thiago Menezes - cadeira 26 - Patrono: Gregório de Mattos. Tomás Vaquero – Fundador -cadeira 01 - Patrono: Beato José de Anchieta. Vânia Gonçalves Noronha - cadeira 24 - Patrono: Vinicius de Moraes. Vedionil do Império - cadeira 41 - Patrono: Lima Barreto. Wildes Antonio Bruscatto - cadeira 02 - Patrono: Rui Barbosa.

Acadêmicos na UniFAE: Atrás: Teófilo, Augusto, Ana Lúcia, Arten, Sérgio, Vedionil, Maria Célia, Celina, Nege Frente: Edwald, Barbin, Clineida, Esmeralda, Aparecidinha, Maria José, Odila, Beatriz, Adélia, Iola, Marcelino, Oswaldo, Pádua e Wildes - 1998

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Notas Referenciais LITERATURA 1- Mattos, Jonathas Jr. - Ensaio Historiográfico Teatro Municipal e Trajetória das Artes em São João da Boa Vista, 2001. p. 37. 2- Há um capítulo dedicado à Orides Fontela. 3- Há um capítulo dedicado à Pagu. 4- Ver poesia sua em anexo. 5- Mattos, Jr. Jonathas. Ensaio Historiográfico Teatro Municipal e Trajetória das Artes em São João da Boa Vista, 2001. 6- Altair, Jaçanã. João Negrinho. São Paulo: Edições Melhoramentos, 2ª ed. 1940. 7- Oliveira, Benedito Fernandes. Apontamentos Históricos e Dados Biográficos de S. João da Boa Vista. 1955, p. 79. - livro inédito. 8- Paschoal, Antônio, Dias - São João da Minha Infância, p. 70. 9- “O São João” - número comemorativo do centenário de São João da Boa Vista”, anno II nº 68. 24 de junho de 1924. 10- A “Sociedade de Cultura Artística” e “Sociedade Cultural de Debates”, encontram-se no capítulo “Sociedades Artísticas e Culturais”. 11- Martins, Antonio Gomes - Almanaque 1901. 12- Mattos, Jr. Jonathas. Ensaio Historiográfico Teatro Municipal e Trajetória das Artes em S. João da Boa Vista, 2001, p. 37. 13- A inauguração do prédio aconteceu em 12 de outubro de 1898, in “Club dos Lavradores” - 1908 - p. 34. 14- Azevedo, José Osório de Oliveira. História Administrativa e Política de São João da Boa Vista -1896 a 1932, São Paulo; Sarandi, 2009. pp. 763/766. 15- Ao se fazer este levantamento sobre Arte e Cultura em nossa cidade, evidenciou-se que o Centro Recreativo, durante toda sua existência, participou ativamente nas atividades culturais e artísticas da cidade, e em seu salão foram realizados muitos e importantes eventos. 16- Vide em anexo. 17- Falconi, Rodrigo, jornal “O Município”, 26 de fevereiro de 2011, p. 04. 18- Álbum de São João da Boa Vista - 1891 a 1950. 19- Há, em anexo, a relação de todos os acadêmicos, nos 39 anos de sua existência. 20- Em 1977, por 23 votos a 15, Rachel de Queiroz vence o jurista Francisco Cavalcanti P. Miranda e torna-se a primeira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras, posse em 04 de novembro, Cadeira nº 05, fundada por Raimundo Corrêa – Patrono Bernardo Guimarães. Cadeira ocupada anteriormente pelo médico Oswaldo Cruz, o poeta Aluísio de Castro e o jurista Cândido Mota Filho. 21- Foi declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei nº 112, de 11 de setembro de 1975 e Utilidade Pública Estadual pela Lei nº 3.041 de 19 de outubro de 1981. 22- O sociólogo e crítico literário Antônio Cândido veio, em 1998, proferir palestra, a convite da professora Maria Célia Marcondes, na Semana da Filosofia, da FEOB, oportunidade em que a Academia de Letras de São João da Boa Vista, outorgou-lhe o título de Sócio Honorário. 23- O Concurso Nacional de Trovas foi oficializado pela Lei NR – 465 de 09/04/1991. 24- Jornal Edição Extra, 05 de junho de 2010, p. 2-B. 25- Andrade, Teófilo R. Subsídio à História de S. João da Boa Vista. vol.II-São Paulo: Scortecci, 2003. pp. 121 a 127/132/139/143. 26- Paschoal, Antônio D. São João da minha infância, p. 69. 27- Castelhano, J. Peres. Revista “Crepúsculo”, out. 1957 - p. 13. 28- Andrade, Theófilo. A imprensa em São João da Boa Vista. Álbum de São João da Boa Vista -1891/-1950. 29- Este jornal iniciou-se com o nome “O Sabe Tudo”, na década de 1990, depois transformou-se no “Edição-Extra”, continuando com o mesmo editor-proprietário. 30- Andrade, Theófilo. A imprensa em São João da Boa Vista. Álbum de São João da Boa Vista -1891/1950. 31- Dados fornecidos pela Professora Glorinha Aguiar.

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MUSEU, PRESERVAÇÃO DA HISTÓRIA É impossível seguir em direção ao futuro, sem buscar referências no passado.

São João possui dois importantes museus: Museu Histórico Armando de Salles Oliveira e Museu Diocesano de Arte Sacra.

MUSEU HISTÓRICO ARMANDO DE SALLES OLIVEIRA PRIMÓRDIOS

Ele 1 foi criado a partir de peças do acervo de Maria Ignês da Silva Oliveira -1887/1969 – Dona “Tita de Oliveira”, como sempre foi carinhosamente chamada. Era uma mulher além de sua época, além de seu espaço. Estudada, culta, sabia falar vários idiomas. Não se casou, não teve filhos. Ainda moça iniciou uma série de viagens ao Brasil e exterior –Europa, Ásia e América - sempre fotografando e adquirindo peças de inestimável valor, que espelhavam o costume dos povos que visitou. Trazia também objetos antigos e tudo que julgasse de interesse histórico, desde que fossem belos, curiosos ou interessantes. Essas relíquias transformaram-se, com o tempo, numa rica coleção, de incalculável e imensurável valor. Morava Dona “Tita” na Fazenda Cachoeira, porém possuía Museu Histórico Armando de Salles Oliveira - Foto Kauê Oliveira residência em São João da Boa Vista localizada na Praça Armando de Salles Oliveira, 122, esquina com a Rua Benedito Araújo. Nessa casa com fachadas neo-renascentistas, projetada pelo engenheiro alemão Carlos Martins, construída em 1888, por seu pai Joaquim José de Oliveira Filho, para servir, à família, de residência urbana, era onde Dona Tita abrigava toda sua rica coleção particular.

A CRIAÇÃO

Maria Ignes “Tita” de Oliveira - Obra de Neyde Arrigucci - 1988 Foto Silvia Ferrante

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A casa, com todas as coleções reunidas, a proprietária doou, por testamento, à Prefeitura Municipal de São João da Boa Vista, para que ali se instalasse um Museu, onde ficariam expostas suas peças. A 1ª reunião e posse 2 da comissão diretora do Museu Municipal foi realizada no dia 5 de janeiro de 1966 na sala do senhor Prefeito Municipal, 3 Dr. Octávio da Silva Bastos. Nessa ocasião, os presentes foram informados sobre a finalidade da criação do Museu e Arquivo Municipais. 4 Foram convidados a assumir os cargos: Presidente Dr. José Osório de Oliveira Azevedo; Coordenador Dr. Paulo de Almeida Sandeville; Pesquisadora Matildes Rezende Lopes Salomão; Tesoureiro Manoel Osório de Azevedo Oliveira e Secretária Maria Leonor Alvarez Silva. Nessa reunião, ficou resolvido ainda que fossem convidados Dr. Joaquim José de “Oliveira Neto” e Dona Olímpia “Ziza” de Oliveira Andrade para que integrassem a Comissão, o que foi aceito pelos dois. Dona “Tita” faleceu em 1969, e neste mesmo ano foi nomeada Marion de Andrade Oliveira como diretora do Museu, que, com esmero, será a responsável pela sua organização.


No dia 24 de junho de 1970, ele foi solenemente inaugurado e passou a ser denominado “Museu Histórico e Pedagógico Dr. Armando de Salles Oliveira”. Foi dado o nome do ex-governador de São Paulo, a pedido da própria doadora, que o tinha como amigo e a quem devotava grande estima. A essa cerimônia compareceram autoridades estaduais e municipais e, no ato, foi aberta à visitação pública. Benedita dos Santos, dona “Ditinha”, foi também pessoa importante para o Museu, pois durante muitos anos trabalhou para dona “Tita” nessa sua casa da cidade e depois vai tornar-se zeladora dessa entidade. Em 1974, foi nomeada a professora Lucila Martarello Astolpho, para auxiliar dona Marion e mais tarde tornar-se-á a sua segunda diretora. Ao Museu, ela vai dedicar-se também com afinco. Maria Laura Blasi de Alencar Aguiar, por um período, também foi sua diretora. Às peças doadas por dona “Tita”, com o tempo, foram acrescidas outras doações, inclusive de José Telles Guimarães, o que só fizeram aumentar e enriquecer o acervo. Por um período, este Museu foi mantido pelo Estado e depois passou a ser administrado por um Conselho de Voluntários, assistido pelo Departamento de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal. Foram presidentes: José Osório de Oliveira Azevedo, posse em 05/01/1966; Joaquim José de “Oliveira Neto”, posse em 27/10/1975; Marion de Andrade Oliveira, posse em 02/06/1992; Maurício José Oliveira Azevedo, posse 19/05/1995; Antônio Carlos Rodrigues Lorette, posse em 03/03/1997 e Lucila Martarello Astopho, posse em 28/01/2002. Hoje a administração pertence ao Departamento de Cultura e Turismo da Prefeitura e a responsável pelo Museu é Lucilene Pavani Benatti.

SÉCULO XXI Em 2003, o prédio passou por um processo de reforma e restauração, sendo reinaugurado em 17 de junho de 2007. O prédio, apesar da exiguidade das salas, de ser muito antigo e de não ter sido construído para a finalidade a que está servindo, constitui um importante patrimônio para o Município. Possui um rico e eclético acervo com cerca de dez mil obras, entre objetos e peças várias, vestimentas de época, documentos, fotos, quadros, material sobre a Revolução de 1932, sobre Orides Fontela, junto a muitas outras coleções preciosas pelo valor, originalidade e autenticidade. Há, ainda, uma sala dedicada a Guiomar Novaes e outra a Fernando Furlanetto. É aberto à visitação pública em horários especiais.

Museu Histórico - Foto Fritz

MUSEU DE ARTE SACRA

Possui a cidade, ainda, o “Museu Diocesano de Arte Sacra” 5 criado por João Batista Merlin, em 7 de março de 1987 6. É uma ‘instituição educativo-cultural, destinada à preservação da memória da tradição religiosa da população regional”. 7 Tem, pois, o intuito de resguardar, não só a expressão cultural-artística e religiosa de nossa cidade e região, mas também os objetos que dela fazem parte, além de proporcionar acesso a informações e compartilhar a importância da preservação deste patrimônio. Sua fundação deve-se somente ao seu criador, João Batista Merlin, que, ao levar sua idéia, os objetivos e finalidades ao então bispo diocesano Dom Tomás Vaquero, recebeu, de imediato, o aval e Museu de Arte Sacra - Foto Leonardo Beraldo - 2009 apoio necessários. Merlin era meticuloso; assim, para orientar e estruturar o novo museu, trouxe do Rio de Janeiro a museóloga Solange Godoy e da Bahia a doutora em Museu de Arte Sacra, Lúcia Marques. Dessa maneira, perante a seriedade da iniciativa, os dezoito municípios pertencentes à Diocese de São João da Boa Vista começaram a doar seu acervo, ou parte dele, sendo que muitas peças já estavam abandonadas por motivos vários: quebradas, em desuso ou João Batista Merlin - Fundador precisando de reparo, o que foi realizado. A estas, juntou peças em perfeito estado de con- do Museu de Arte Sacra - 1987 345


servação, além de ofertas de particulares, possuidores de obras ou coleções. Dessa maneira, começou seu representativo acervo, que hoje possui cerca de 10 mil obras de grande valor histórico-religioso e artístico, desde imagens sacras, oratórios, peças litúrgicas usadas nas celebrações: ostensórios, cálices, âmbulas, além de estandartes de confrarias e irmandades, santinhos de papel e até paramentos completos. Para a instalação do Museu, o então Monsenhor Luiz Gonzaga Bergonzini, também grande incentivador e batalhador por esta causa, cedeu dois pavimentos do edifício da Casa Paroquial, sito na Praça da Catedral, 20. Inúmeros sanjonenses, em atividades das mais variadas, aderiram a esta iniciativa de João Merlin e Dom Tomás: Antônio Carlos Lorette; Edna Aparecida Vasconcellos; Felícia Barbosa; Hélio Ribeiro Jr.; Hélio Rubbo; José Marcondes; José Paulo “Paulinho” Curti Junqueira; Lindalva Mattos Tavares; Luiza Zerbetto Sibin; as irmãs Maria Ângela e Maria Inês Trevisan Ribeiro e a Tia Nenê; Maria Aparecida “Mana” Batista; Maria Aparecida P. Mangeon Oliveira; Maria Célia de Campos Marcondes; Neusa Maria Soares de Menezes; Neusa Solange Ramires; Noemia Rehder; Paulo Roberto Merlin; as irmãs Vilma e Vanda Fleming e Vânia Regina Marcondes entre outros. Os eventos criados por Merlin eram vários e todos realizados nas dependências do Museu. Em noites solenes foram prestadas homenagens, entre outros: a Dona Beloca; José Ianoni escultor, cujo museu possui de sua autoria, uma peça de roca, com rosto de Cristo; Fábio de Carvalho Noronha; Lindalva Mattos; Palmyro Ferranti, Reinauguração do Museu em 30/11/2009 Joaquim José de “Oliveira Netto”; Mercedes e Fernando Furlanetto; Dr. Francisco MaFoto José Marcondes ríngolo; Neyde e Tabajara Arrigucci; Jonathas Mattos Jr. “Jotinha”; Roberto Balestrin, Victório Piocchi, além das exposições sobre a Corte do Divino, presépios, coleções de santinhos de papel e exposições intinerantes pelas cidades da Diocese. Em 1991, com a morte prematura e inesperada de João Batista Merlin, o museu sofreu grande revés! Ficou praticamente adormecido! “Em prolongado período de inatividade”. 8 No final da década de 1990, foi feita uma construção, contornando toda a Igreja Nossa Senhora da Aparecida, para instalar o Museu de Arte Sacra. No entanto, o local, por muitos e vários motivos, ficou impróprio para o fim a que se destinou. Porém, em 30 de novembro de 2009, foram inauguradas suas novas instalações, num espaço amplo, ventilado, adequado e talvez definitivo, no térreo do Palácio Episcopal, na Praça Roque Fiori, 80; sendo que a reserva técnica continuou na Igreja Nossa Senhora Aparecida. O presidente passou a ser o Bispo Diocesano Dom David Dias Pimentel. A diretora, à época desta nova instalação, era Maria Aparecida “Mana” Batista, que não só ajudou na criação do Museu, mas, desde então, é a grande, a extraordinária batalhadora e responsável por sua continuação depois da morte de Merlin. A verdadeira, a grande “guardiã” do Mana Batista - a “alma” do Museu de Arte Sacra de nossa Diocese! Museu de Arte Sacra- Foto J. Mana contou que: “No tempo do João Merlin, as pessoas nem podiam ver o João ou eu Marcondes chegando que se esquivavam, porque sabiam que iríamos pedir alguma coisa que favorecesse o Museu.”9 A ela juntaram-se os batalhadores: Antônio Carlos Rodrigues Lorette, Edna Aparecida Vasconcellos, Eliza da Silva Regolin, Nazareth “Ledi” Guimarães, Neusa S. Ramires, Pilade Pomeranzi Neto, Sueli “Sula” Bermal Moreira, Vânia R. Marcondes e Padre Claudemir Aparecido Canella “Padre Mil”, hoje seu diretor administrativo.

Notas Referenciais MUSEUS 1- Muitos dados foram extraídos de artigos escritos por Antonio Carlos R. Lorette e publicados na imprensa local. 2- Silva, Maria Leonor Alvarez. Almanaque Sesquicentenário de SJBVista -1824/1974. p. 100. 3- Junto com o Museu Municipal foi criado também o Arquivo Municipal e constituíam o Museu e Arquivo Municipal de São João da Boa Vista. 4- Fundado pelo Decreto Estadual nº 47.577 de 18/01/1967. Falconi, Rodrigo. “Logradouros de São João da Boa Vista”, p. 714. 5- Muitos dados sobre este museu foram retirados do Jornal “O Município”, 28/11/2009, p. 8. Outros dados devem-se à participação que a autora teve na criação deste Museu. 6- Os jornais “O Município,” 07/03/1987 e “Gazeta de São João”, de 08/03/1987, noticiaram o evento. 7- Mattos, Jr. Jonathas. A Catedral de São João da Boa Vista, 1992. 8- Mattos, Jr. Jonathas. Ensaio Historiográfico. 2000, p. 41.

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TEATRO, REPRESENTANDO EMOÇÕES

9- Batista, Maria Aparecida “Mana”. Jornal “O Município”, 28/11/2009, p. 8.

“Teatro - casa dos sonhos; casa de produção de sonhos. Atores, vendedores de utopias. Sonhos são bem-vindos. (...) Como suportar sem sonhos?”

Bertold Brecht PIONEIROS – CLUBES DRAMÁTICOS São João da Boa Vista sempre primou intensamente no campo das artes cênicas, haja vista o belíssimo Theatro Municipal que seus próceres construíram em 1914. Mas, não é apenas de edificações que, neste quesito, vem a grandeza de sua gente. Ela vem de seu trabalho, de suas apresentações no palco, da luta anônima nos bastidores, do desempenho e garra ao construir sua história no mundo mágico do teatro. Theófilo de Andrade e A. Paschoal 1 dão notícia de que o primeiro teatro em São João foi o “Teatro Apolo”, edificado, em 1883, na rua Sen. Saraiva com rua Campos Salles e demolido em 1951. Sua construção incentivou a criação de vários grêmios dramáticos e noticia, ainda, Andrade, a existência de um, em 1884, cujo presidente era Júlio César de Mello, pianista e escrivão interino da Câmara. Antônio Gomes Martins, 2 informa a fundação de um grêmio dramático, no seio da associação “Clube Príncipe Di Nápoli”, criado pela colônia italiana, provavelmente entre 1893/95, um dos primeiros de São João. Existiu ainda, nessa época, a “Liga Literária” que também abrigava um Clube Dramático. Jonathas Mattos Jr. “Jotinha” 3 cita e dá referências bibliográficas dos teatros “Recreio” e “São João”, este, como sendo o antigo “Teatro São José”, isso nos primeiros anos do século XX e afirma também que, em 1914, há notícias de um grêmio dramático denominado “Amor à Arte” que, naquele ano, apresentou-se várias vezes no Theatro Municipal. Ainda no início do século XX, Nathanael Pereira escreveu a peça “Elvira, a Monja”.4 Encenada inúmeras vezes na cidade, foi, posteriormente, apresentada por atores profissionais da “Companhia Dramática Couto Rocha”. “Jotinha” elege Nathanael Pereira como introdutor da literatura teatral, em São João.

NO THEATRO MUNICIPAL Em 1914, foi inaugurado o Theatro Municipal de São João da Boa Vista, 5 que vai servir de espaço para as manifestações artísticas e culturais dos sanjoanenses. Na década de 1920, a professora Anésia Martins Mattos organizou, com seus alunos do Grupo Escolar Joaquim José, inúmeros festivais, que eram apresentados no recém-inaugurado Theatro Municipal. “Tais festividades primavam pelo gosto das montagens, pela originalidade dos temas, pela qualidade artística dos alunos-atores e onde nunca faltou o toque de arte.” 6 Por aproximadamente 25 anos, nas décadas de 1930/40/50 sob a liderança de Dona Beloca de Oliveira Costa inúmeros e bons espetáculos de teatro, música, canto, sempre em prol da Casa da Criança, do Asilo e da Santa Casa, foram montados no Theatro Municipal. 7 Participavam desses eventos, entre outros, Lucila Martarello, as irmãs Mattos, 8 Roberto Balestrin; Luiz de Paula Gião, Vicente Marcelino e Francisco Roberto de Almeida Jr. Encenaram várias peças, muitas delas de autoria do professor Herculano de Almeida, geralmente envolvendo passagens da vida da cidade. A mais famosa apresentação aconteceu na década de 1930, foi uma versão musical da história da Branca de Neve, de autoria do Pe. Nicolau Fulgêncio Miranda, com cenários do professor Herculano de Almeida “o mais fértil criador de peças teatrais e habilidoso idealizador de cenários”. 9 Esta peça foi remontada, no mesmo local, por volta de 1950, sob o comando do Professor Nascipe Murr. Em 1952, também no Theatro Municipal, houve o espetáculo “Sonhos de Fada” que envolveu grande número de crianças, sendo a fada interpretada por Lucila Martarello. Segundo “Jotinha”, “num cenário artístico de contos de fadas, um grande livro foi montado de cujas páginas saíam personagens das célebres histórias infantis: ‘O Gato de Botas’, ‘Pequeno Polegar’, ‘Pinóquio’, ‘A Bela Adormecida’, ‘Chapeuzinho Vermelho’, ‘Joãozinho e Maria’, ‘Aladim’, ‘Peter Pan’, ‘Soldadinho de Chumbo’, ‘Alice no País das Maravilhas’, ‘Cinderela’. Foi um espetáculo que marcou época, sendo que cada personagem da história tinha “um padrinho”. 347


TEATRO ESCOLA A Sociedade Cultural de Debates fundou, em junho de 1956, o “Teatro Escola” 10 cuja “ideia” partiu do Profº. Francisco Roberto de Almeida Júnior que apresentou a sugestão na Sociedade Cultural de Debates com aprovação unânime, e foi ele nomeado diretor desse departamento recém criado. Em seguida, procurou Roberto Balestrin, outro apaixonado pelas coisas teatrais, para ser o diretor técnico e ambos concretizaram a ideia. Fundou-se, pois, o Teatro Escola que apresentou vários espetáculos, levando à cena peças de elevado conteúdo moral, entre elas: “Mais um Drama da Vida”; “O Grande Demagogo” e “Eu Mato essa Mulher” de Mário Lago; “O Casca Grossa” de José Wanderley e Daniel Rocha; “São João Evangelista” das Irmãs Missionárias e “Os Transviados” de Amaral Gurgel. Foram também batalhadores desse teatro: Octávio Pereira Leite, Dr. Joaquim José de “Oliveira Neto”; Padre Antônio David e Palmyro Ferranti, que foi também seu diretor.

Teatro Escola: Norma Gianelli, Alcides Soares, Vanderlei Perri, Lucila Martarello, Lúcio Pierini - década de 1950

Faziam parte do grupo, entre outros: Alcides Soares; Aparecida Biagioni; Bié Fontão; Carmela Lombardi; Hélio Corrêa Fonseca; Joênio Gâmba; Lucila Martarello; Lúcio Pierini; Maria José Chiarato; Marly E. Martarello; Noracilde Lima; Norma Gianelli; Paulo Sanseverino; Sálvia Ribas; Terezinha Cabral; Terezinha J. Araújo Baraúna; Thomaz Wanderley Perri e Wildes Bruscato. Naquele tempo, havia o “ponto”, aquela pessoa escondida, à frente do palco num nicho, de costas para o público, que ia sussurrando as falas para os atores. Um deles foi René Marcos Pozzi. Os espetáculos eram geralmente apresentados no Theatro Municipal e, quando este foi interditado, feitas as adaptações necessárias, passaram a se apresentar no palco da então Rádio Difusora ZYJ6, localizada na Praça Armando de Salles Oliveira. 11 Os seus espetáculos constituíam-se em verdadeiros e repetidos triunfos, do ponto de vista artístico-cultural. A renda líquida das bilheterias tinha destino certo: as instituições de caridade e assistência social. Na década de 1950, houve também um grupo de teatro criado por Munir Moukarzel, denominado FAMA, de curta duração.

SURGE O GAMA Posteriormente, em 1957, foi fundado o Grêmio Artístico Municipal de Amadores - GAMA. Era dirigido por Alcides Soares, René Marcos Pozzi, Vera Gomes Lourenço com o apoio de Roberto Balestrin. Conseguiram grande prestígio na cidade e região, sendo suas apresentações muito concorridas.

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Elenco do Teatro Escola: Alcides Soares, Carmela Lombardi, Lúcio Pierini, Terezinha Cabral, Lucila Martarello e sentado: Wanderley Perri.


A princípio, por falta de um local apropriado, os ensaios eram realizados onde fosse possível, até mesmo na pérgula do jardim, porém, quando necessário, a Radio Difusora 12 emprestava seu palco, não apenas para os ensaios, mas até mesmo para as apresentações. No entanto, em 14 de outubro de 1960, o GAMA conseguiu espaço próprio em um prédio, de aproximadamente 400 m2, de propriedade da Santa Casa de Misericórdia “Carolina Malheiros”, situado na Rua Prof. Hugo Sarmento, 119, 13 que tinha sido, anteriormente, a sede do Palmeiras Futebol Clube.

GAMA apresenta “A Grande Estiagem” de Isaac Gondim. Elenco: Bubbo Neto, Vera Gomes, Edson Soares, José Américo Boratto, Maria Olívia, Alcides Soares. Década de 1960.

Foi feita uma grande reforma para adequá-lo a teatro: a varanda, na lateral direita, transformou-se em hall de entrada “foyer”, onde era fixado um painel com as programações, fotografias das peças e de artistas, avisos etc. O amplo salão transmudou-se em plateia com poltronas adquiridas de um antigo cinema do interior paulista; o palco foi construído em uma das suas extremidades, tendo atrás dele, os camarins. No fundo do quintal, havia a edícula onde passou a funcionar uma oficina e ali eram montados os cenários. O aluguel para a Santa Casa e todas as demais despesas eram pagas com a venda de ingressos e contribuição de alguns benfeitores. Na manhã da inauguração, logo às sete horas, houve uma Missa em Ação de Graças, oficiada por D. David Picão, Bispo Diocesano e às 17 horas a inauguração com a bênção das instalações pelo senhor bispo e o descerramento de fita por ele e por João Batista Bernardes “João Lúcio”, então presidente do Palmeiras Futebol Clube. Prestou-se, ainda, uma homenagem aos artistas e benfeitores do GAMA. Algumas peças montadas em seus treze anos de atividades foram: “A Grande Estiagem”, de Isaac Gondim Fº; “Os Inimigos não Mandam Flores” de Pedro Bloch; “As Árvores Morrem em Pé”, “Uma Janela para o Sol”, “O Grande Demagogo”, “O Pagador de Promessas”, de Dias Gomes; “Pelo Pouco que se Vive”; “Testemunha de Acusação”; “Jesus, o Cego e o Leproso” e “A Cigana me Enganou”. Fizeram parte da equipe em suas várias fases e atividades diversas, entre atrizes, atores, direção e equipe técnica: Ademir Gebara; Amélia Medina; Alcides Soares; Antônio Carlos Marcos; Aparecido “Cido” Macedo Marques; Áurea Cabral; Cleuse Pereira de Oliveira; Dionísio Bertelli; Domingos Boaventura; Edson Soares; Edson A. Carvalho; Edward Casaro; Eisleben “Lea” Corrêa Fonseca; Francisco Miguel Vaz de Lima; Francisco “Chicão” Amorin; Francisco Pradella; Inaê Diniz; Iremílio Caslini; Lúcio Pierini; João Alcará; João Batista Merlin; João Mangussi; Joênio Gámba; José Américo Boratto; José Benedito; José Luiz Olandesi; José Marcondes, cenário; José Paulo Nogueira Oliveira; José Pinto Júnior; José “Zito” Mourão; Maria Aparecida “Cidinha” Ferreira; Maria Olívia; Neusa Cerveline; Nenê Rubbo; Noracilde Lima; 349


Oscar Frutuoso Neto; Regina Pozzi; René Marcos Pozzi; René Santos; Ronoel Sandoval; Rublo Neto; Terezinha Cabral Antoniazzi; Vera Gomes Lourenço; Welter Rehder Tonizza; Willian Eleazar Nemer, entre outros. Em 1961, Procópio Ferreira, ator de renome nacional, assistiu aqui na cidade, a um espetáculo encenado pelo grupo e teceu-lhe muitos elogios. O primeiro bispo diocesano Dom David Picão, muito ligado à cultura, era grande frequentador e incentivador do GAMA. Uma ocasião, Laudo Natel esteve na cidade e visitando o teatro destinou uma verba

Plateia no Teatro Gama, Foram identificados: lado esquerdo, Sebastião Godoy e lado direito, Octávio Bastos - Década de 1960

Vista Geral da sala de espetáculo do Teatro Gama

para essa casa de espetáculo. “Vencendo enormes dificuldades materiais, as críticas e precariedades de recursos, este grupo desempenhou enorme importância cultural e artística em nossa cidade, sendo reconhecido em toda a região pelo seu trabalho e, acima de tudo, pela garra com que sempre lutou pelo teatro no interior” . 14 O GAMA foi, pois, um grupo que também marcou época em nossa terra. Em sua existência, alguns nomes devem ser salientados, pois tornaram-se a alma desse teatro. São eles René Marcos Pozzi, Alcides Soares e a Professora Vera Gomes Lourenço. O GAMA encerrou suas atividades em final da década de 1960.

TEATRO ESTUDANTIL SECUNDÁRIO SANJOANENSE -TESS Mais tarde, em 1968, surgiu o Teatro Estudantil Secundário Sanjoanense – TESS, criado e dirigido pela Professora Vera Gomes Lourenço. Este grupo reunia alunos do Instituto de Educação Christiano Osório de Oliveira e montou, entre outras peças: “Barco sem Pescador”, do espanhol Alejandro Casona; “Pluft, o Fantasminha”; “A Bruxinha que era Boa”, ambas de Maria Clara Machado e “Retratos de Família”. Fez também muito sucesso e lotou as mesmas dependências do salão situado na Rua Hugo Sarmento, 119, onde funcionou o GAMA. Por esse grupo passaram entre atores, atrizes, diretores e técnicos: Ademir Gebara; Adalberto Falsetti; Alice Zogbi; Antônio Celso Terra; Antônio de Almeida David; Atílio Eduardo Gallo Lopes, “o eterno Pluft”, 15 que seguiu carreira internacional; Carlos Pereira de Oliveira; Clóvis Vieira; João Batista Merlin; Jorge Luiz Scuratto; José Aluísio de Carvalho; José Antônio “Totonho” Macedo de Souza; José Luis Mouro; José Luis Olandesi; José Marcondes, cenário; José Rodrigues; Lúcia Zanetti; Luis Antônio Ricci; Marcos Birochi; Maria Francisca Ferreira; Mariana M. de Salles; Maria Lúcia da Silva; Maria Tereza D’ Ornellas Borges; Michel Bittar; Nelson Kiellander; Neusa Marcondes Borges; Orivaldo Balone; Orlando Pereira de Oliveira; René Marcos Pozzi; Rosa “Retratos de Família” - TESS. Elenco: Sônia Franco, José Antônio “Totonho” MaceLandini; Rui Sérgio Salomão Sckayer; Salete Cara; Sér- do de Souza, Atílo Eduardo Gallo Lopes, Rosa Landini e Marcos Birochi. 1969.

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gio Ayrton Meirelles de Oliveira; Sônia Sueli Estevam; Sheila Nascimento; Sheila Pinto; Sônia Estela Franco, premiada em Festival em Campinas; Sônia O. Silva; Suzana Vasconcellos Dias; Vanda Bonci; Vera Garcia; Vera Gomes Lourenço, entre outros. LEMBRANÇAS de José Antônio “Totonho” Macedo de Souza: 16 “Entre as várias lembranças da juventude, uma delas (...) fixou-se de maneira muito forte, muito intensa, em minha memória. Foi o tempo vivido no TESS -Teatro Estudantil Secundário Sanjoanense e desta lembrança veio a imagem da peça ‘Pluft, o Fantasminha’. Lembro-me de meu primeiro contato com o grupo, feito através do Orivaldo Baloni, carinhosamente apelidado de Lapa. Era uma leitura do texto da peça, logo após, fui convidado a participar do grupo e posteriormente para fazer um dos personagens, o marinheiro Sebastião. Aceitei, e da leitura passamos aos ensaios e a uma convivência maior (...). O grupo de marinheiros, formado por mim, pelo Lapa e pelo Jorge Luis Scurato, tentava sempre aprontar alguma fora do texto. Que saudade! Por onde andarão esses amigos? A lembrança foi ficando cada vez mais viva e outras situações foram aparecendo, como as broncas de Dona Vera Gomes por não respeitarmos as marcações em cena, das proibições de brincadeiras durante o ensaio, das gozações feitas entre todos. Lembrei-me, ainda, do jeito moleque do Atílio Eduardo Gallo Lopes, nosso personagem central do ‘Fantasminha Pluft’; da meiguice da Vera Lúcia Garcia, e também de sua meiga personagem, ‘Maribel’; da Suzana Vasconcellos Dias, a mamãe fantasma. Lembrei-me de Ruy Sckayer Salomão, que fazia o papel do vovô fantasma e vivia dentro de um enorme baú. Continuando com o exercício de relembranças vieram à minha mente figuras queridas como a de João Batista Merlin, Antonio de Almeida David, José Roberto Rodrigues, Marco Antonio de Oliveira e com certeza esquecendo outros amigos queridos. Lembrei-me do dia da estréia, uma tarde de domingo, o Salão Diocesano lotado. O cenário maravilhoso concebido por Merlin. A ansiedade da estréia, a preparação da maquiagem. O atropelo nos camarins. O primeiro sinal. O aumento da ansiedade. O segundo sinal. O posicionamento do ‘ponto’. A marcação de cena. Ansiedade a mil. O início da peça, a atenção da plateia. O riso, a gargalhada, a expectativa de todos. Fim. Aplausos sinceros. A satisfação do grupo. A alegria de Dona Vera. Momentos maravilhosos e mágicos. Lembranças que permitiram recordar uma das melhores faces de minha vida. (...). Saudade gostosa daqueles tempos! Por onde andarão todos?”.

CENA IV Ronaldo Marin teve uma breve participação no Teatro Estudantil Sanjoanense – TESS - e, em 1975, juntamente com Zeza Freitas, fundaram, no formato de grupo de teatro amador, a “Associação Cena IV Shakespeare Cia”. Participaram ainda desta fundação Suia Legaspe e Clóvis Vieira. Imediatamente receberam a adesão de vários outros jovens talentos da cidade e as primeiras reuniões aconteceram na parte superior da Casa Paroquial, na Praça da Catedral. Nos primeiros anos, o grupo era formado por Adolfo Mazzarini Filho; Ana Laura Barcellos do Amaral; Antônio “Toninho” Legaspe; Aída Cassiano; Cícero Marques; Clóvis Vieira; Edéia Alvise; Eneida Simon; Ronaldo Marin; Sandra Vasques; Silvia Ferrante; Suia Legaspe; Zeza Freitas; Walter Castelli Jr. e na parte técnica João Alvise; Luiz Trevisan; Cícero Dias; José D. Paschoal Neto, entre outros. Em 1977, o Cena IV abriu a I Semana Guiomar Novaes e participou da “Pin-Pauli”, em Espírito Santo do Pinhal, ocasião em que tiveram aulas com Lima Duarte. Em 1978, participou do “Festival do Teatro Amador”, conseguindo o Prêmio Governador do Estado, em Mococa. A partir de então, vem realizando, através de teatro infantil e adulto, um trabalho de formação ética e humana com a divulgação principalmente de textos de Shakespeare, atraindo grande número de pessoas e atingindo todos os extratos sociais. Esta atividade fez com que se tornasse uma referência teatral na formação de atores, em toda região. Ronaldo Marin, no final do ano de 1978, embarcou rumo à Europa onde teve oportunidade de continuar e ampliar seus estudos. Matriculou-

Ronaldo Marin em “Pe. Vieira”. Theatro Municipal - 2008

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se em cursos de Arte e Drama na Universidade de Glasgow na Escócia e depois em Londres, onde ganhou o apelido de Marinsky, que passou a usar no teatro. Ali, aprofundou seus conhecimentos em drama e ampliou seu interesse pela obra de Shakespeare. Ao retornar ao Brasil, início da década de 1980, retornou ao “Cena IV – Shakespeare Cia”, que desde seu início é comandado pela família Marin, tendo à frente o casal Zeza e Ronaldo, ambos com vasta formação acadêmica. Atualmente, os filhos Marcela e Gabriel Marin participam não só do dos destinos do Cena IV como também são atores. No ano de 2009, passou a existir como “Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP”. 17 Saíram do Cena IV, além dos atores citados acima, Bia Martarelo e Hideo Kushiyama. Hoje, em sua equipe, há Andréa Rabello; Bruno Caselli; Bruno Leo, Cláudio Rodrigues; Flávia Zaltrão; Flávio Carvalho; João Gabriel; Karine Palermo; Mariana Theodoro; Pedro Lúcio e Yuri Abbud. Ao todo, pelas várias formações do grupo, montou mais de vinte e cinco peças, entre elas: “A Bela e a Fera”; “Romeu e Julieta”; “Megera Domada”; “Otelo”; “O Mercador de Veneza”; “O Mundo é um Palco” e “Agnes de Deus”. O grupo desenvolve trabalho de formação de atores e dançarinos, realiza ainda apresentações dinâmicas em teatros e em lugares não convencionais como ruas e praças públicas, saguões, pátios e salas de aula não só na cidade, mas em toda região. Ministra palestras e “workshops” visando a capacitação de professores com o objetivo de democratizar o teatro como forma de expressão e auto-conhecimento. Desenvolve ainda projetos sociais junto às comunidades carentes ou não, dentro dos eventos “Troque a Rua pelo Teatro” e “Lugar de Criança é no Teatro” o que tem levado milhares de crianças a assistirem a suas peças. Em 2010, criou e realizou o primeiro “Encontros com Shakespeare”, ao qual se deseja vida longa. Atividade esta que consiste em vários eventos, entre: palestras, debates, oficinas, exposições, mesa redonda e apresentações de peças de autoria do bardo. Estas atividades deverão acontecer anualmente nos meses de abril, quando se comemora o aniversário do teatrólogo. “A arte deu-me a compreensão e uma perspectiva fascinante sobre todos os mistérios do humano, principalmente pelo mergulho na obra fundamental de Shakespeare”, diz Marin.

TEATRO DE TÁBUAS Existiu em São João o Núcleo Experimental Teatro de Tábuas-NETT,18 uma Organização Não Governamental ONG- que iniciou suas atividades em 1999, na Rua Oscar Janson, com direção de Jorge Luiz Brás. Ele recriou a magia em torno das apresentações, sendo realizados mais de cinquenta bons espetáculos vindos de São Paulo e outras grandes cidades, além de produções próprias, tendo como atores, entre muitos outros: Andréia Mourão; Antonio Domenciano; Daniel Salvi Cautela Lopes; Renata Cabrera e Thiago Kavyla. Com finalidade cultural, o “Teatro de Tábuas” possuía o objetivo de formar público para o teatro e ampliar o debate artístico sob a múltipla perspectiva da arte. Instituíu um sistema de sócio-patrocinadores e firmou convênios com as prefeituras de Santa Cruz das Palmeiras/SP, Santo Antônio do Jardim/SP e Tapiratiba/SP, oferecendo oficinas culturais e a construção de um teatro. Com um ônibus “jardineira”, percorreu 86 municípios paulistas com 25 a 50 mil habitantes para mostrar duas peças teatrais: uma adulta e outra infantil. Constituiu o seu “Circuito Estradafora”. Mais tarde adquiriu duas carretas e um teatro inflável, que possibilitaram outras viagens. Dos trinta participantes voltados a esse trabalho, alguns eram atores, outros montadores e o restante, pessoal de apoio. Em 2000, criou a revista “Contra-Regra”, publicação cultural do Teatro de Tábuas. Infelizmente para São João, transferiu-se de nossa cidade e hoje, com sucesso, atua em Campinas, no distrito de Barão Geraldo. Apresentou o espetáculo natalino, “Mares do Mundo”, aqui em nossa cidade em 2009 e 2010, na Praça Rui Barbosa.

FESTIVAL DE TEATRO ATÍLIO EDUARDO GALLO LOPES Há inúmeros grupos que se apresentam todos os anos, geralmente provenientes das escolas de ensino médio, na, já tradicional, “Semana Cultural Atílio Gallo Lopes”. 19 É ele um sanjoanense, ator teatral, que participou da Companhia Teatral “Lindsay Kemp Company”, em Londres/ Inglaterra, apresentando-se em vários teatros europeus. Para o festival há um júri composto por pessoas gabaritadas na área, geralmente provenientes da capital paulista. No ano de 2010, aconteceu com sucesso sua 22ª edição. Narra-nos Castilho:20 “Foi tão bom respirar, por oito dias, teatro feito por sanjoanenses. Notável foi sentir o quanto os grupos amadores dedicam-se para conseguir realizar suas produções (...). Melhor ainda é perceber que os grupos estão cada vez mais deixando de lado a competitividade e se unindo. Tão bom ver tantos talentos sanjoanenses juntos!”

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Atílio Eduardo Gallo Lopes


E A VIDA TEATRAL CONTINUA... Em final da década de 1980, existiu, aqui em São João, o grupo teatral amador “Ossos do Ofício” sob a direção de Marcos Silva e coordenação de Dulcídio Brás Jr. Apresentaram em 1988 a peça “Além do Purgatório” com texto de Marcos Silva. Em 1985, na II Semana do Artista Sanjoanense, o “Grupo Temeis” 21 apresentou a peça “Descaminhos” no Recreativo. Sob a direção do português João Soromenho, que residiu por alguns anos, na década de 1990, em São João da Boa Vista, formou-se um grupo teatral que apresentou a peça “Ânima”, com poemas de Orides Fontela e Dora Avanci, 22 interpretação de Daniel Salvi e Agnes Matizonkas. Formou João Soromenho também e com grande sucesso, um grupo teatral na Faculdade da Terceira Idade da UniFeob, onde atores surgiram entre os alunos e alunas já “sessentões”, que nunca haviam sequer pensado em atuar: Carlota Augusta Cozuppoli; Dione Alencar Laranjeiras Maniassi; Emília Lucas; Francisca “Lola” Krauze Cabral; Helena Maria Buzon; Ivanoel Gonçalves Vieira; Jonas Flanel; Lizete Galvani Bitar; Luiza Rodrigues Cassiolato; Nicéa e João Batista Lisboa Jr.; Vera Lúcia Martins Moraes; Rejane e Álvaro Araújo. Apresentaram as peças de Molière “Médico a Força” e “O Casamento”. Quando Soromenho deixou o grupo, Leandro Gullin, depois Carolina Brás, deram continuidade. Hoje, alguns componentes desta turma formam o “Grupo Sem Limite” que faz uma leitura dramatizada de textos teatrais, tendo Lizete Galvani Bitar na direção mais Arlete Saito Guigim; o casal Álvaro e Rejane Araújo; Emília Lucas; Ivanoel Gonçalves Vieira e Helena M. Buzon. Já no início desse século XXI, foi montada, em São João, 23 a peça “O tempo pingando dos olhos”, um monólogo escrito por Maria Célia de Campos Marcondes, baseado na vida da poeta Orides Fontela e que teve como atrizes, em suas diversas apresentações: Sandra Regina Junqueira Franco; Helena Buzon; Marta Jacinto e Luciana Mansano e como diretoras: Lizete Galvani e Andréia Mourão. Tem-se ainda nessa primeira década de 2000, a “TrupeTac - Teatral de Arte e Cultura”, que já recebeu o nome de Núcleo Teatral de Arte e Cultura - NTAC - dirigido por Andréia Mourão. Há também a “República das Artes” com direção de Renata Cabrera e Marli Marques, sendo que esta dirige, ainda, “Grupo Actos” e o grupo “Senta que o Leão é Manso”, este ligado à Escola Anglo de São João. Salientam-se também: o grupo “Nova Geração”, com direção de Silvana Cirino; o grupo “Os Impossíveis”, com direção de Tiago Couto Ansani; como também “Cia. Arte & Expressão”, 24 criada em 2003, dirigida por Sônia Aparecida Gonçalves, constituindo um segmento da Escola de Samba Sol Nascente, tendo em seu elenco Mayara Monteiro e Thami- “Um Sarau para Orides Fontela”. Atores do Núcleo Teatral de Arte e Cultura NTAC. Dirigido por Andréia Mourão. 2008 res Francisco, entre outros. O “Grupo Namarca” 25 foi fundado em março de 2005 pelo jovem ator João Guilherme O. Pellegrini, juntamente com Amanda Cristina N. Rodrigues; Bianca Dallaqua Corrêa; João Gabriel Mistura; Jéssica Bonci; José Ângelo Peixoto Jr.; Letícia Borato Gruli; Mariane Bovolini Dias; Nathan Augusto dos Santos; Thaís Maia Coimbra, alunos da E.E. Joaquim José, no Projeto Escola da Família. Hoje, com cinco anos, o grupo em atividade, ainda tem a maior parte dos componentes da formação original. Fizeram, entre outras, a montagem das peças: “Quem não Ama, não Mata”, de Cláudio Simões; “Os Patrões” de Paulo J. Dumaresq, classificado para a fase regional do Mapa Cultural Paulista; “A Farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente, “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna. Apresentaram, ainda, “Maria! Maria!”, sarau composto de poemas de Nivaldo Divanni e um musical adaptado da obra “Hoje é Dia de Maria”, de Carlos Alberto Soffredini. É realizado, desde 2007, por pessoas apaixonadas pela arte dramática, o “Monofest”, festival de monólogos teatrais, com grupo de amadores composto por atores e atrizes da cidade e região, com textos de criação própria, e duração máxima de quinze minutos. Com iniciativa de Renata Cabrera e Marli Marques constitui um espaço para os artistas mostrarem seus trabalhos. A vencedora de 2010 foi Thais Giovanetti com “Agreste”. Há ainda o Grupo Teatral “Mancha Afroria Aruanda” que apresentou em maio de 2009, no Theatro Municipal, em homenagem à Lei Áurea, a peça de autoria de Marilídia Inácio “Qual a Cor de Nosso Leite?”, incluindo apresentação de dança afro: “Coco”, “Mineiro” e “Congada”, a direção foi de Sônia Aparecida Gonçalves e Marilídia Inácio. Existe também o “Grupo União & Mudança Ayô”, que promove evento folclórico “Afro Cultural”, com a finalidade de divulgar, promover e agrupar a cultura afro em nossa cidade, segundo a coordenadora Marlena A. Bonfim. Entre os atores citam-se ainda: Leandro Gullin; Carlos Castilho; Mariana Soutto Mayor, estudante de teatro em São Paulo. Já Agnes Matizonkas; Alex Grulli; Bia Martarello e Suia Legaspe apresentam-se com sucesso, na capital pau353


lista. Giovana Lancelotti é atriz da TV Globo, no Rio de Janeiro/RJ. João Roberto Simões, sempre ligado às artes cênicas, também em São Paulo pertence à “Associação Paulista dos Amigos da Arte” - APAA. É importante salientar ainda que Leilah Assumpção, teatróloga e atriz de renome, morou, em sua adolescência, em nossa cidade. Outro sanjoanense, ator de teatro que atuou em algumas peças em São Paulo nas décadas de 1960/70 foi Anor Falda. Participou também de alguns filmes e hoje reside em São João. A verdade, sem dúvida, está nestes dizeres de Clóvis Vieira: 26 “Nós somos muito petulantes! Pensem bem: qual outra cidade do porte de São João da Boa Vista, que ousaria produzir teatro? (...)Talvez tenha sido a influência da imponente arquitetura do Theatro Municipal e a vinda, em épocas passadas, de tantas excelentes companhias teatrais que nos fizeram acreditar em nós mesmos (...)”.

CIRCO IRMÃOS MARTINS Os moradores de São João da Boa Vista, nas décadas de 1950/60, devem lembrar-se do “Circo Irmãos Martins”. Percorria ele vários rincões do Brasil, mas possuía a sede em nossa cidade; qual um pássaro partia, mas era para cá, que voltava à procura do abrigo. Devem lembrar-se do palhaço “Baratinha” de tantas travessuras cometidas, dos dramas teatrais apresentados e de seus atores e atrizes. Waldemar Martins do Valle Filho tornou imorredoura esta história, ao publicar o livro “E o palhaço o que é?”, que conta a saga desta importante família circense, da qual ele fazia parte.

Capa do livro “E o palhaço, o que é?” de Waldemar Martins do Valle, sobre o Circo Irmãos Martins. Capa de Pedro Okabayashi - 2007

CORTE DO DIVINO Segundo relato do Prof. João Batista Scannapieco, a maior tradição deixada pelos portugueses, em São João da Boa Vista, foi a “Corte do Divino”, e que sua origem, em Portugal, prende-se à devoção da rainha Santa Izabel, ao Divino Espírito Santo. Conta, ainda, que foi Felipe Cabral de Vasconcellos quem trouxe de Portugal, no final do século XIX, uma coroa dourada, com pedras coloridas e um cetro imperial. Objetos entregues à Paróquia de São João Batista, com o pedido de que se comemorasse aqui a devoção ao Espírito Santo. Assim, nossa cidade passou a organizar a “Corte do Divino,” durante as novenas do padroeiro. A coroa e o cetro pertencem, hoje, ao acervo do Museu de Arte Sacra. A formação da Corte era a seguinte: um Imperador, que segurava o cetro; uma Imperatriz, com manto vermelho, levava a coroa; os festeiros carregavam os andores e a “guarda” de nobres, formada por crianças de branco, seguravam uma larga fita vermelha. No centro do cortejo ficava a Bandeira do Divino. O Imperador e a Imperatriz eram escolhidos entre os filhos dos festeiros. O cortejo, naqueles distantes e friorentos dias, saía da casa da “imperatriz”, em direção à Igreja Matriz e, ainda, participava da procissão em louvor a São João. Ao repicar dos sinos e o pipocar dos rojões, a Corte , juntamente com a Banda de Música e os devotos, percorriam as ruas centrais, dando um ar majestoso aos festejos juninos. Ao seu término, o vigário nomeava os festeiros para o ano seguinte, entregava-lhes a coroa e o cetro e escolhia os jovens para a próxima Corte. Assim, transformou-se em uma das mais queridas tradições de São João. A partir do início da década de 1960, a Corte extinguiu-se. Porém, na década de 1990, o “Centro Educacional São João” resgatou, por mais de uma década, essa bela tradição. Os sanjoanenses vibraram! Mas, infelizmente, o ocaso, também, aconteceu!

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Corte do Divino - Início da década de 1940 - Praça Armando de Salles Oliveira Acervo A. C. Lorette

Corte do Divino - ao fundo Monsenhor Antônio David - Década de 1950 -

Divulgação

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THEATRO MUNICIPAL UM CAPÍTULO, À PARTE

“A preservação do patrimônio cultural deverá sempre ser olhada com o colorido vivo das manifestações artísticas do povo e da poética dos artista e nunca como uma triste nostalgia do passado.”

Marcos “Castor” Bueno. “Preservar a memória permite-nos exercer um poder que transcende à filosofia e política, é um exercício de cidadania.(...). Preservar não é sonho, mas trabalho e obrigação (...) A esses que se constituíram em depositários de uma memória vivida, a esses guardiões de nossa cultura, só temos a agradecer.”

Maria José Gargantini Moreira da Silva O INÍCIO Nosso Theatro Municipal, o maior patrimônio histórico da cidade, em estilo italiano, com forma de ferradura, foi inaugurado em 1914. Conta a história que as primeiras notícias de sua criação surgiram em 1911, quando um grupo de jovens foi estudar na Europa e voltou com a ideia de construir um teatro em nossa terra. Já em 15 de abril 1912, 27 a Câmara Municipal aprovou a isenção de impostos a quem construísse um teatro. No entanto, por essa ocasião, o major José Evangelista de Almeida, gerente da Casa Bancária Christiano Osório de Oliveira, já havia começado a lutar para conseguir capital, em forma de ações. Oficialmente, porém, só em 24 de fevereiro de 1913, em sessão solene, no salão do Centro Recreativo Sanjoanense, foi criada a sociedade anônima “Companhia Teatral Sanjoanense”, quando 113 acionistas compraram 667 ações. 28 No entanto, o local da construção não estava ainda definido. A ideia primeira era construí-lo na Rua das Lavadeiras, hoje Theatro Municipal de São João da Boa Vista - década de 1920 Rua Oscar Janson, e para tanto chegaram a adquirir ali um terreno, o qual foi permutado por outro localizado atrás da Matriz São João Batista, onde estava prevista a construção de uma cadeia pública. 29 Em maio de 1913, ou seja, um ano e dois meses depois da criação da Companhia Teatral Sanjoanense, foi apresentado, e aprovado, o projeto do construtor italiano J. Pucci, que vai construir o Theatro São Pedro, na cidade de São Paulo. Em 13 de maio de 1913, houve a cerimônia de assentamento da pedra fundamental, e ali foram depositados muitos documentos e moedas da época. Houve discurso de Antônio Cândido de Oliveira e para mestre de obra foi contratado Antonio Lansac. Em 8 de novembro de 1914, deu-se a inauguração do Theatro Municipal de São João da Boa Vista, com a peça “Uma Causa Célebre”. Foi considerado, na época, o maior e o melhor teatro de todo interior do Estado de São Paulo, motivo de orgulho para o sanjoanense, um marco em sua cultura. Em 1937, a maioria das ações da Companhia Teatral Sanjoanense foi comprada pelo Dr. Joaquim José de “Oliveira Neto”, que transformou-o, com sucesso, em cinema.

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AS APRESENTAÇÕES Noites inesquecíveis sucederam-se, 30 trouxe artistas de todo o país, como também espetáculos internacionais e famosas companhias teatrais. Por ele passaram ainda diversos nomes importantes da música, literatura, teatro, balé e intelectualidade. Em seu palco, aconteceram apresentações das óperas “Tosca”, “La Boheme”, “Cavalaria Rusticana”, “Barbeiro de Sevilha”. Apresentaram-se também a Companhia Dramática Internacional sob a direção de Theodora Laveira e o tenor brasileiro Marçal Fernandes, este em 1917. Rui Barbosa, em 1919, ali fez um comício, como candidato à presidência da República, quando o “teatro, feericamente iluminado, recebeu as famílias sanjoanenses”. A “Companhia Zaparrolli” apresentou-se em 1923. Já em 1926, tivemos o “Orfeão da Escola Normal de Piracicaba”, tendo como uma das componentes Jaçanã Altair e, em 1931, foi a vez da “Banda da Companhia Paulista, de Jundiaí”. Villa Lobos deu uma audição em junho de 1930, e, neste mesmo ano, houve espetáculo da “Companhia Clara Weiss”. Entre outros intelectuais, apresentaram-se em palestras e conferências: Affonso Taunay; Frutuoso Viana; Guilherme de Almeida que aqui esteve em outubro de 1931. Guiomar Novaes, em 11 de setembro de 1946, no Theatro Municipal, numa belíssima audição “apresentou-se aos aplausos de seus conterrâneos”. Em 1952, o pianista Souza Lima fez uma aplaudida audição; Procópio Ferreira apresentou-se e houve, neste mesmo ano, conferência de Pedro de Toledo. Em 1953, o futuro governador de São Paulo, André Franco Montoro, fez conferência. Nessa década apresentaram-se também o cantor Vicente Celestino e o tenor Carlos Ramirez. Mais recentemente, a partir da década de 1960, apresentaram-se, entre tantos outros: Cacilda Becker e Walmor Chagas em 1966, com a peça “O Homem e a Mulher”; além de Juca Chaves; Jorge Goulart; Carlos Galhardo; Roberto Carlos; Agnaldo Rayol, este em 1982. Já Dercy Gonçalves, em 1982, deu o toque que faltava: apresentou-se com parte do palco destruído, tendo sido necessária a improvisação de um. Durante o show, deixou seu recado, quando lamentou o estado lastimável e de abandono em que se encontrava o nosso Theatro, afirmando ser o único, com aquelas características “estilo italiano -ferradura”, que ela conhecia em todo o interior e indagou: “onde está o povo que não reclama sua restauração? Onde está o dono do teatro que o abandona daquela maneira?” 31 É certo que todas essas personalidades que passaram pelo nosso Theatro Municipal engrandeceram-no, no entanto e acima de tudo, o sanjoanense sempre o amou e teve-o como um espaço generoso para suas manifestações artísticas e culturais. Muitos e muitos eventos com a chancela do sanjoanense foram também ali realizados. 32 Citam-se o violinista Nascipe Murr, em 1951, e as inúmeras apresentações do Conservatório Musical Guiomar Novaes. 33 O Theatro, por uma época, em seu andar superior, abrigou a sede da “Sociedade de Cultura Artística”, da “Sociedade Cultural de Debates” e em outra ocasião, final da década de 50 início de 60, abrigou a Rádio Difusora ZYJ-6. Já na entrada, à direita, funcionou, por muitos anos, o Bar Theatro, da família Pozzi.

MOMENTOS DE DESDITA Porém, teve ele seus dias de desdita que se tornaram maiores a partir da crise de 1929 e a consequente decadência do café. Com o passar do tempo, apesar de continuar servindo para algumas poucas apresentações teatrais, serviu também, a partir de 1926, para rinque de patinação; depois, como já dito, para cinema e local de bailes, inclusive de carnaval. Há notícias de que o último carnaval realizado, em suas dependências, ocorreu em 1938. Foi utilizado também, porém sem sucesso, como salão de bailes populares. Já como cinema, o Theatro Municipal funcionou por muitos e muitos anos. Iniciou suas atividades ainda à época do cinema mudo, quando orquestras tocavam durante a exibição das películas. Nada disso, porém, salvou-o e, em final da década de 1930, início de 1940, o Theatro acabou fechado por alguns anos. Reabriu em 1945, com a peça “Um Retrato de Mulher”, continuando também, como cinema. Entretanto, em final da década de 50, início de 60, não aguentou a concorrência com outras salas de cinema que, com equipamentos mais sofisticados, se instalaram na cidade. E, para agravar ainda mais a crise, surgiu a televisão, quando sua decadência tornou-se maior e mais visível. No intuito de modernizar ou comercializá-lo, em 1967, tiraram-lhe as frisas e os camarotes “o povo foi sentindo essa destruição. Um sacrilégio! E o pior: Seria vendido a um supermercado”. 34 A população sanjoanense começou a inquietar-se e, em agosto de 1981, o prefeito Nelson Mancini Nicolau decretou de utilidade pública o denominado Theatro Municipal. 357


Entretanto, em 1983, os jornais anunciaram que o Theatro seria demolido; porém a população, temerosa, reclamava sua preservação. Muitos artigos começaram a ser escritos a favor do patrimônio e contra sua destruição, sendo a maioria deles de Olímpia “Ziza” Oliveira de Andrade. Conseguiu-se, assim, que em janeiro de 1984, a Prefeitura Municipal, através do Prefeito Sidney Estanislau Beraldo, comprasse parte do prédio do Theatro, ou seja, da sua frente até o palco, o qual só teria 6 metros; a partir daí, até o final do terreno, continuaria propriedade do antigo dono. O restante do imóvel foi adquirido em maio de 1985.

A RESTAURAÇÃO Após a compra do prédio, 35 em 1984, foi feita uma pesquisa de opinião pública, para se saber as aspirações da população, sobre sua utilização. Foi unânime o desejo de restauração, de dar ao Theatro seu destino original. Dessa maneira, o prefeito Sidney Beraldo nomeou uma equipe de profissionais para elaboração do Projeto de Restauração e Reciclagem do Theatro Municipal de São João da Boa Vista. Eram eles: os arquitetos Joaquim Augusto Azevedo Costa e Mello e Ana Laura Barcelos do Amaral Zenun, os engenheiros Nilson Zenun e João Batista Merlin e o artista plástico José Marcondes. Depois de muito estudo e com os Projetos, Memoriais e Orçamento concluídos, em novembro de 1985, o grupo foi a São Paulo entregá-lo à Secretaria de Estado da Cultura e ao Condephaat, que iniciou o processo de tombamento do Theatro Municipal. Em 13 de abril de 1986, com apoio da AMARTE e coordenação de João Batista Merlin, montou-se, no foyer do Theatro, uma exposição com todos os projetos, fotos, estudos referentes ao restauro do prédio. O objetivo era sensibilizar o governador Franco Montoro e o secretário estadual de Planejamento, José Serra, que visitavam São João e seriam levados até o Theatro. Eles se comprometeram a destinar verbas à restauração, 36 as quais chegaram em setembro de 1986, quando o Secretário de Estado da Cultura, Jorge da Cunha Lima, veio a São João da Boa Vista conhecer o Theatro e liberar os recursos prometidos pelo governador. Em janeiro de 1986, com o projeto já aprovado nos órgãos competentes, iniciaram-se as obras, tendo como responsá- Nilson e Ana Laura Zenun, João Batista Merlin, José Marcondes, Jorge da Cunha Lima - Secretário de veis Ana Laura Barcellos do Amaral Zenun, Estado da Cultura, Prefeito Sidney Beraldo, Joaquim Melo.1986. Nilson Zenun e Gastão Cardoso Michelazzo. Participaram da equipe de restauro, graças às amizades de João Batista Merlin, no Rio de Janeiro: Igor Srenewski, projeto da acústica; Carlos Lafayete Barcellos, projeto de mecânica e iluminação cênica e predial; Heitor Palmeiras, engenheiro de palco; além dos sanjoanenses Nilson Zenun, projeto de água e esgoto e Fred Marcon Westin, projeto estrutural dos camarins. Finalmente no dia 19 de janeiro de 1987, o Condephaat, aprovou o tombamento do Theatro Municipal. As obras foram acontecendo conforme as verbas eram conseguidas, e tendo pronta apenas sua parte estrutural serviu, em 2002, para as apresentações da Semana Guiomar Novaes. Abrigou a I Semana Fernando Furlaneto, em março de 1998 37 e a I Bienal de São João da Boa Vista, em outubro do mesmo ano. Pela lei 046/97, de 24 de julho, o prefeito Laert de Lima Teixeira criou a “Fundação Oliveira Neto”, “que passou a desenvolver campanhas para arrecadar recursos, valendo-se da Lei Rounet de incentivo à cultura. As ações da entidade, em parceria com a prefeitura, permitiram que o Theatro fosse reaberto e voltasse a ocupar definitivamente o lugar de destaque no cenário histórico e cultural do Estado de São Paulo”. 38 O lema da primeira diretoria do Conselho Diretor presidida por José Rubens Blasi Rosas era “Venha atuar nessa peça”. 39 Ao estar apto a funcionar, foi criada em abril de 2003, a “Associação dos Amigos do Theatro Municipal” - AMITE, com a finalidade de administrá-lo sendo as atribuições: promover a popularização do Theatro, realizar eventos com participação de grupos locais, organizar a agenda de espetáculos. Ela já foi presidida por José Rubens Blasi C. Rosas, José Gilberto Sibin, Sérgio Ayrton Meirelles Oliveira e Vânia Gonçalves Noronha. A AMITE possui associados que mensalmente contribuem com ela. Em 2011, o Theatro Municipal não está ainda totalmente pronto, com instalações condizentes aos padrões dos

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melhores e modernos teatros; faltam várias etapas a serem concluídas, inclusive o palco, porém isso é trabalho a médio prazo e, apesar dos custos serem extremamente altos, aos poucos vai-se caminhando. Esforços dos dirigentes e apoio da população não têm faltado que triplamente reafirmam seu orgulho, pois conseguiu preservá-lo da destruição, restaurá-lo e colocá-lo em funcionamento. Muitos sanjoanenses têm o seu nome ligado, para sempre, à sua restauração e às produções artísticas que passaram a acontecer no Theatro Municipal, depois que voltou a servir de “Casa dos Sonhos”. É claro que não será possível lembrar de tudo e todos. Além do Projeto “Seis da Tarde” da AMITE, que acontece todos os domingos, ali se apresentam a Academia de Letras de São João da Boa Vista, o Grupo EntreCantos, o Cena IV, o Studium Joellen de Ballet Clássico, o CLAC, a Semana Guiomar Novaes, a Virada Cultural Paulista, o Projeto Alpha e inúmeros grupos musicais, teatrais, além de abrigar os festivais de teatro, os encontros de corais, de danças e quantos espetáculos a mais, que, infelizmente por falta de dados e especificidade da obra, aqui não estão nomeados. “O teatro restaurado abriga os valores novos que despontam Igor Srenewski, Nilson Zenum, João Batista Merlin, Carlos Lafayete Bar- na música, na dança, nas artes cênicas: deu abrigo à Semana cellos, Heitor Palmeiras, José e Maria Célia Marcondes. 1986 Guiomar Novaes.(...) voltou a ser o nosso templo de cultura e arte. Nunca é demais e nada é esbanjamento, quando se quer firmar o espírito de cultura do povo de uma cidade.”40

UM FATO A SER RECORDADO Em 1996, o Theatro Municipal estava com as obras de restauro caminhando de modo lento, muito lento. Foi quando a Prefeitura Municipal, em agosto, resolveu cedê-lo, como dormitório e alojamento a estudantes universitários que viriam a São João da Boa Vista em um encontro estudantil. A reação, ao se saber da possível ocupação do teatro pelos estudantes, foi imediata, elaborou-se um abaixo-assinado e distribuiram-se panfletos 41 com os dizeres:

“O Theatro é a Casa dos Sonhos, não Albergue” “O Theatro está para servir de hospedaria para universitários durante uma semana de jogos. Nada contra os universitários, nada contra os jogos. Tudo contra o espaço escolhido para alojá-los. Nosso Theatro Municipal tombado, portanto patrimônio histórico, que não tem ainda poltronas, piso, luzes, som, e que de seu tem a magia dos possíveis sonhos que já abrigou... Pode, se tal alojamento acontecer, perder inclusive a dignidade que lhe resta. O teatro exige respeito! Desde que as civilizações existem, o homem utiliza-o para sobreviver à realidade, para não virar máquina, de vez. Ele sobreviveu e sobrevive a todos os tipos de governos, mas não sobrevive ao descaso. O teatro é um ritual! Temos pessoas que se alimentam de sonhos e outras que por algumas horas deixam de ser o que são! Seu palco, que é pura paixão, requer anjos e não colchonetes. Junte-se a nossa causa, brigue pela manutenção do Theatro na sua função primeira e única de Casa de Sonhos. Chaplin já disse: ‘Não sois máquinas, homens é que sois!’ Shakespeare, antes afirmou: ‘O homem é feito de matéria de que são feitos os sonhos.’ Brigue pelo nosso Theatro, é a manutenção dos seus SONHOS. Obrigado! Assinam: Os Grupos de Theatro de São João da Boa Vista.” O abaixo-assinado tinha o seguinte teor: Coleta de assinaturas feita pelos artistas e pelos sanjoaneses: “Teatro é Casa de Sonhos, não Albergue”. Coletadas as assinaturas, em praça pública, o mesmo foi entregue ao poder público que voltou atrás em sua decisão. Prova inconteste do amor e respeito do sanjoanense pela sua cultura, pela sua terra, pela sua história e patrimônio. 359


APÊNDICE I- Texto distribuído pela diretoria da FUNDAÇÃO OLIVEIRA NETO no dia de sua posse.

“ALEA JACTA EST A sorte está lançada! Com a posse dos membros que irão gerir a Fundação Oliveira Neto, temos a certeza de que estamos escrevendo a primeira página de um compromisso com o futuro. O compromisso com o livre pensar e com a cultura no seu sentido mais amplo. E hoje passa a ser o primeiro dia de um grande desafio. Para enfrentar esse desafio, a determinação está na razão direta. É, então, o momento de resgatar, de retomar o tempo, de pensar e buscar soluções porque o futuro é agora! Não há tempo a perder, nem mãos a medir. A tarefa seria árdua, não fosse o objetivo tão nobre: as novas gerações não podem mais esperar. Os que ‘vão chegar’ junto com o novo século, poderão usufruir do tempo presente que começamos a construir hoje. Se o maior desafio desta Fundação Oliveira Neto, neste momento, é devolver o Theatro Municipal a São João da Boa Vista, a determinação passa a ser o compromisso de amor com esta cidade, principalmente com aqueles que vão chegar. Portanto, a partir de agora: ‘Que nasçam poemas. Que nasçam canções. Que nasçam filhos... Alea Jacta est’. Hoje é apenas o primeiro dia. ‘Alea Jacta est’. São João da Boa Vista, verão de 1998.” II – “A primeira impressão que tive ao estar no Theatro em São João foi de um grande silêncio suspenso naquele espaço. A sensação de ausência que se tem é muito forte e contrastante com a beleza do lugar, beleza esta que não se define apenas ao fato de se tratar da grandiosidade e ao mesmo tempo singeleza daquele teatro de ópera, mas de estarem impregnados ali elementos de desconstrução (...)” Tonico Lemos – catálogo da I Semana Fernando Furlanetto, 13 de junho a 04 de julho de 1998, acontecida no Theatro Municipal. III José Marcondes sentiu-se muito honrado ao ser convidado a fazer parte da equipe comandada por Joaquim Mello, que iria elaborar o Projeto de Restauração do Theatro Municipal de São João da Boa Vista e, como todos os componentes da equipe, dedicou-se com afinco. Logo de início, sugeriu que convidassem, para participar da equipe, o amigo e engenheiro João Batista Merlin, que, com grande experiência em restaurações, estava voltando a São João da Boa Vista, o que de imediato foi aceito. A seguir, cópia de algumas correspondências recebidas por José Marcondes: 1“São João da Boa Vista, 23 de março de 1984 Prezado Senhor José Marcondes, Tenho o prazer de comunicar a V. Sª. que através da portaria nº 356, de 15 de março de 1984, fui designado pelo senhor Prefeito Municipal, coordenador do Projeto e Obra da Restauração do Theatro Municipal. E como coordenador de tão importante obra para a municipalidade e região, tomo a liberdade de convidar Vossa Senhoria para participar do citado projeto. Certo da compreensão e aguardando manifestação, aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração. Assinado Joaquim Augusto de Azevedo Costa e Mello Coordenador do Projeto e Obra da Restauração do Theatro Municipal.”

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2“São João da Boa Vista, 23 de maio de 1985 - Ofício nº 08/85 Prezado Senhor, Vimos, por intermédio deste, convocar V.Sª. para uma reunião nesta Prefeitura dia 27, segunda-feira próxima, às 16 horas, a fim de tratarmos de assuntos relacionados à restauração do Theatro Municipal. Por tratar-se de matéria extremamente importante e que está a exigir providências urgentes de nossa parte, insistimos na sua presença. Atenciosamente, Sidney Estanislau Beraldo - Prefeito Municipal” 3ATESTADO “Ilmo. Sr. José Marcondes,

Atesto que o artista plástico José Marcondes participou do Projeto de Restauração do Theatro Municipal de São João da Boa Vista, com área de 1.130 m2 de projeção horizontal constando de: Projeto Arquitetônico, Detalhamento Geral, Projeto de Instalações Hidráulica, Elétrica, Acústica, Cenotécnica, Mecânica, Esquadrias de Ferro e Madeira, e Cobertura. Cumpre ressaltar que o profissional executou com a maior competência, dedicação e elaboração do Projeto que teve grande repercussão junto ao Patrimônio do Estado de São Paulo – CONDEPHAAT. Prefeitura Municipal de São João da Boa Vista/SP, aos quatro dias do mês de dezembro de mil novecentos e oitenta e cinco - 04/12/1985, Sidney Estanislau Beraldo - Prefeito Municipal”

Theatro Municipal - década de 1950 - Acervo A. C. Lorette

Theatro Municipal - Apresentação “Pe. Vieira” - 2008 - Foto Fritz

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Notas Referenciais Teatro

1- Andrade, Teófilo R. Subsídios à História de São João da Boa Vista. 2003, p. 155 e Paschoal, A. D. São João da Minha Infância, p. 49. 2- Martins, Antonio G. Almanaque 1901. 3- Mattos Jr., Jonathas “Jotinha”. Ensaio Historiográfico Teatro Municipal (...). 2001, pp. 34, 35. 4- Drama em quatro atos. Escreveu também “Pobre Mulher”. 5- Vide detalhes, mais à frente, sobre o Theatro Municipal de São João da Boa Vista. 6- Mattos Jr., Jonathas “Jotinha”. Ensaio Historiográfico Teatro Municipal (...). 2001, p. 48. 7- Idem, p. 57. Por muito tempo Beloca foi auxiliada pela soprano Zilah Mattos. Emílio Piocchi também fez cenários. 8- Filhas da professora Anésia Martins Mattos. 9- Idem, Mattos, p. 52. 10- Amorim, Ito. “Revista Crepúsculo”, nov. 1957, nº 2; p. 22. e “Revista Poliantéia” da Sociedade Cultural de Debates – 1958, p.19. 11- O prédio foi demolido e hoje ali funciona um estacionamento. 12- Finazzi, Ana Lúcia. “O Teatro do Gama”. Entrevista com Terezinha Cabral. Jornal “O Município”, 19/06/1993, p. 3. 13- Neste local funcionava antiga sede do Palmeiras Futebol Clube, hoje demolida ali funciona um estacionamento. 14- Finazzi, Ana Lúcia. O Teatro do Gama. Jornal “O Município”, 19/06/1993, p. 3. 15- Vieira, Clóvis, Jornal “O Município”. 23/06/2004- p. 18. 16- Jornal “Edição Extra” - 09/11/1996. 17- Possuem o “blog”: www.omundoeumpalco.zip.net 18- Vieira, Clóvis. Jornal “O Município”, 23/06/2004, p. 18. 19- A “Semana Cultural Atílio Eduardo Gallo Lopes” foi oficializada pela Lei NR 201 de 11/10/1994. 20- Castilho, Carlos. 22º Festival Teatro Atílio Lopes. “O Município”, 25/08/2010, p. 3 - 2º caderno. 21- Não se conseguiu nenhum outro dado. 22- Residente em Vargem Grande do Sul. 23- Centro Universitário Octávio da Silva Bastos – UniFEOB, por duas vezes; Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino –UniFAE; Teatro de Tábuas e Theatro Municipal. 24-“O Município” 16 de dezembro de 2009, 2º caderno, p. 5. 25- Dados fornecidos, via e-mail, por João Guilherme Pellegrini, em fevereiro de 2011. 26- Vieira, Clóvis. Jornal “O Município”. 23/06/2004, p. 18. 27- “Theatro Municipal de São João da Boa Vista - restauração e reciclagem”. Publicação da Prefeitura Municipal de SJBVista 1999. 28- Seus estatutos, a ata da assembleia geral de constituição da sociedade e a lista nominativa dos subscritos de suas ações foram arquivados no cartório do registro geral de hipotecas de São João da Boa Vista, sob o nº 114, de 5 de março de 1913. - Catálogo AMITE, novembro de 2009. 29- Catálogo: “90 Anos Theatro Municipal”. p. 10. 30- A maioria dos dados históricos foi retirada do texto: “Theatro Municipal de São João da Boa Vista, restauração e reciclagem”, publicado pela Prefeitura Municipal de São João da Boa Vista 1997/2000: “São João Qualidade de Vida”. 31- Idem. 32- Muitos desses eventos, ali realizados, são citados neste trabalho. 33- Vide detalhes sobre o Conservatório no capítulo “Música”. 34- 90 anos Theatro Municipal. 2004, p.27. 35- 90 anos Theatro Municipal. 2004, p.31. 36- Dois milhões de cruzados – Livreto: “90 anos do Theatro Municipal São João da Boa Vista”, nov. 2004. 37- Vide em apêndice parecer sobre o Theatro Municipal, por Tonico Lemos. 38- Beraldo, S. “90 anos do Theatro Municipal São João da Boa Vista”, nov/2004. p. 4. 39- Vide em apêndice, o texto constante no caderno, “Fundação Oliveira Neto”, que foi distribuído a todos os membros do Conselho Consultivo, onde havia a cópia da lei da criação da Fundação Oliveira Neto, a diretoria e os membros. 40- “Teatro Municipal de São João da Boa Vista, restauração e reciclagem”, publicado pela Prefeitura Municipal de São João da BoaVista 1997-2000. - São João, Qualidade de Vida. 41- Não consta o nome do autor do texto.

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