História Geral da Aeronáutica Brasileira - Vol 2

Page 1


COLEÇÃO AERONÁUTICA

SÉRIE VOL. 1 VOL. 2 VOL. 3 -

Dos Primórdios até 1920. De 1921 às vésperas da Criação do Ministério da Aeronáutica. Da Criação do Ministério da Aeronáutica até a Entrada do Avião à Jato no Brasil (Título Provisório).

SÉRIE I 2 ·3-

HISTÓRIA GERAL DA AERONÁUTICA BRASILEIRA

HISTÓRIA SETORIAL DA AERONÁUTICA BRASILEIRA

Santos-Dumont e a Conquista do Ar - Aluizio Napoleão Santos-Dumont and the Conquest of the Air - Aluizio Napoleão Senta a Pua! - Rui Moreira Lima

SÉRIE -

ARTE MILITAR E PODER AEROESPACIAL

1-

A Vitória pela Força Aérea - Major A .P. Seversky

2 -

O Domínio do Ar - Gen. Giulio Douhet A Evolução do Poder Aéreo - Murilo Santos

3-

SÉRIE -

1-

CULTURA GERAL E TEMAS DO INTERESSE DA AERONÁUTICA

A linha, De Mermoz, Guillaumet, Saint-Exupéry e dos seus companheiros de Epopéia - Jean-Gerard Fleury

Pedidos ao: Clube do Livro , , INSTITUTO HIS,TORICO-CULTURAL DA AERONAUTICA Praça Marechal.Ancora, 15-A Centro 20021 - Rio de Janeiro - RJ


HISTÓRIA GERAL DA AERONÁUTICA BRASILEIRA Volume 2 "De 1921 às vésperas da Criação do Ministério da Aeronáutica".


COLEÇÃO AERONÁUTICA Série HISTÓRIA GERAL DA AERONÁUTICA BRASILEIRA Volume 2 "De 1921 às vésperas da Criação do Ministério da Aeronáutica ".

Capa CLAUDIO MARTINS "A CONQUISTA DO ESPAÇO". Parte do painel do Aeroporto Internacional Salgado Filho, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, da autoria 'do pintor Aldo Locate1li, 1953.

Da Capa e das Guardas: -

Fotos Gentileza da Superintendência Geral dc Propaganda ' c Imprens.a da VARIG S.A .

Do Texto: - Museu Aeroespacial - Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica - Serviço de Documentação Geral da Marinha - VARIG S.A. - Arquivos Pessoais: Erico Ruhl. Erwin Wendorff, Newton Cuiía, Paulo Kasseb, Roberto Pereira de Andrade c Carlos Eugênio Dufrichc,

EDITORA ITATIAIA LIMITADA BELO HORIZONTE Rua São Geraldo, 67 - CEP 30150 - PABX: 212-1600 c 222-7002 Rua da Bahia, 902 - CEP 30160 - Telefones: 224-5151 e 226-6997 Rua São Geraldo, 53 - CEP 30150 - Te\.: 222-8630 RIO DE JANEIRO Rua Benjamin Constant, 118 -

CEP 20214 -

Te\.: 252-8327

INSTITUTO HISTÓRICO-CULTURAL DA AERONÁUTICA Praça Marechal Âncora, 15-A Centro 20021 - Rio de Janeiro - RJ


INSTITUTO HISTÓRICO-CULTURAL DA AERONÁUTICA

,

HISTORIA GERAL DA , AERONAUTICA BRASILEIRA Volume 2 "De 1921 às vésperas da Criação do Ministério da Aeronáutica" .

EDITORA ITATIAIA LIMITADA INSTITUTO HISTÓRICO-CULTURAL DA AERONÁUTICA


Copyright

© Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica 159h

Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.

v.2

História geral da aeronáutica brasileira/Instituto HistóricoCultural da Aeronáutica. - Belo Horizonte: Itatiaia; Rio de Janeiro: INCAER. 1990. 626 p.: il. - (Coleção Aeronáutica. Série História Geral da Aeronáutica Brasileira; 2). Conteúdo. - v.1. Dos primórdios até 1920. - v.2. De 1921 às vésperas da criação do Ministério da Aeronáutica. í. Aeronáutica' brasileira -

História. I. Título. I I. Série.

CDU 354.73(81 )(09 \)

1990

Os Direitos desta edição pertencem ao Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica Impresso no Brasil Printed in Brazil


COORDENAÇÃO GERAL DEOCLfCIO LIMA DE SIQUEIRA, Tenente-Brigadeiro do Ar Reformado Diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica

COMISSÃO CONSUL TIV A ALUIZIO NAPOLEÃO, Embaixador - Historiador da Aeronáutica AMfRICO JACOBINA LACOMBE, Professor - Presidentc do Instituto Histórico-Geográfico Brasileiro e Membro da Academia Brasileira de Letras ANTONIO FERREIRA PAIM, Professor Universitário ARNALDO NISKIER, Professor - Membro da Academia Brasileira de Letras CARLOS EUGf:NIO DUFRICHE. Comandante - Pesquisador. da História da Aeronáutica

COMISSÃO DE REDAÇÃO OSWALDO TERRA DE FARIA, Major-Brigadeiro do Ar R/R - Presidente do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos FLORIANO DE AGUIAR DIAS, Advogado - Consultor Jurídico de Aviação Civil FLÁ VIO JOSf MARTINS, Coronel Intendente da Aeronáutica R/R - Professor de Língua Portuguesa VINrCIUS JOSf TÁVORA. Professor - Pesquisador de História

COMISSÃO AUXILIAR IVAN BERNARDINO DA COSTA, Coronel-Aviador RIR - Supervisão ALCIR DE BARROS SILVA, Doutor - Coordenação OMAR GURGEL DO AMARAL, Capitão da Aeronáutica R/R - Pesquisas FRANCISCO CÂNDIDO PEREIRA NETTO. Fotógrafo - Ilustração JORGE RIBEIRO PAES, Fotógrafo - Ilustração DIRCE SILVA BRIZIDA, l.°Ten. QFO ADM - Pesquisas GLASSY MATTOS DE CARVALHO, Professora - Revisão

COMPUTADOR

ÁUREO FERREIRA FILHO, 3 S VBR REINALDO MIGUELITO DOS SANTOS, S 2 SSG COPYDESK CLARA RECHT DIAMENT DESENHOS EZEQUIAS VIANA RIBEIRO, 3S BDE UNILSON RAMOS DE AZEVEDO, S1 ADE


NOT A DO EDITOR

CORREÇOES a serem feitas no Volume I, "Dos Primórdios até 1920": -

Página 35 (13.' Página 71 (15.' Página 349 (43.' Página 353 (19"

linha): linha): linha): linha):

1906 e não 1905; 1695 c não 1965; 13 de setembro e não 31 .. . ); avião Dornier Wal e não Junker.


SUMÁRIO LIVRO UM Período de 1921 até 1930

INTRODUÇÃO

21

O TENENTISMO 1 2 3 4 5 6 7 8 9

-

PARTE I Capítulo 1 2 3. 4 5 G-

7 8 9 -

10 11 -

27/40

Interpretações 27 O Espírito Nacionalista Militar 28 Anseios de Mudanças Sociais 29 Influências Culturais da Época 30 Influência Positivista n~ Escola Militar 32 Academicismo Científico na Instrução 34 A Nova Formação Militar 36 A Situação Brasileira no Início da Déçada de 20 O Estado de Espírito 39

AVIAÇÃO MILITAR

38

41/181

1 - A AVIAÇÃO DA MARINHA 43 Outra Tentativa do Cabeçudo 43 A Turma de Pilotos de 1921 43 Equipamento Aéreo em 1921 44 O Método Gosport - Aviação Navalno Campo dos Afonsos 44 Vantagens Econômico-Financeiras do Método Gosport 50 Defesa Aérea da Costa - Primeiras Providências 57 O Primeiro Centro de Aviação Naval 58 Formação de Pessoal Ainda em 1921 58 Os Centros de Santos e Florianópolis 59 Aperfeiçoamento de Pessoál 60 Novos Aviões - As Três Primeiras Esquadrilhas

61


12 13 14 15 16 17 18 19

-

Os Reides de 1923 63 Criação da Diretoria de Aeronáutica 65 Formação de Pilotos - Dificuldades 65 A Escola de Aviação Naval no Galeão - Outras Dificuldades Mais um Reide 67 O Corpo de Oficiais da Reserva Naval Aérea 68 Segurança de Vôo e Instrução em 1927 68 Situação no Final da Década 71

Capítulo 2 1 2 3 4

-

5 6 7 8 9 10 11 12 13

-

14 15 -

A AVIAÇÃO DO EXÉRCITO

75

O Reide Militar Rio de Janeiro-São Paulo As Turmas de 1921 75 A Expansão da Aviação do Exército 77 A Turma de 1922 79 Novos Reides

75

79

A Turma de 1923 81 A Criação da Quinta. Arma 82 O Estatuto da Aviação ,Militar 84 A Criação de Uma Doutrina Aérea Brasileira 84 1927 : Ano de Novidades 85 As Primeiras Turmas da Arma de Aviação 86 Identificação e Classificação de Aviões 88 Novas Inclusões de Pessoal na Arma de Aviação A Volta dos Reides Militares A Turma de 1930 93

91

92

Capítulo 3 - A AVIAÇÃO DA FORÇA PÚBLICA DE SÃO PAULO 1 - Um Reide Idealista 95 2 - A Esquadrilha 99 3 4 5 -

A 1~ Turma da Esquadrilha 100 Um Memorável Salto de Pára-quedas A Esquadrilha Desenvolve-se 102

6 7 -

A Esquadrilha Busca o Domínio Aéreo Paulista O Fim da Esquadrilha 107

Capítulo 4 -

66

101 105

A AVIAÇÃO DA BRIGADA MILITAR DO RIO GRANDE DO SUL 109

1 2 3 -

As Tentativas de Criar Uma Aviação Brigadiana O Serviço de Aviação Desenvolve-se 110 As Sabotagens 111

4 -

O Fim do Serviço de Aviação

111

109

95


Capítulo 5 -

A AVIAÇÃO NOS MOVIMENTOS REVOLUCIONÁRIOS 113

1 -

Revolta de 1922

2 -

Revolução de 1924

3 -

A Coluna Prestes-Miguel Costa

Capítulo 6 -

113 115 126

UM GRANDE ESTÍMULO: O BRASIL NA ROTA DOS REIDES INTERNACIONAIS 130

1 -

Rio de Janeiro-Buenos Aires

130

2 -

Lisboa-Rio de JaÍ1eiro

3 -

Buenos Aires-Rio de Janeiro

4 -

Santiago-Rio de Janeiro

5 -

Nova Iorque-Rio de Janeiro

6 -

Havana-Buenos Aires

7 8 -

Rio de Janeiro-Buenos Aires-Rio de Janeiro Palas-Buenos Aires 135

9 -

Montevidéu-Rio de Janeiro-Montevidéu

131 132

132 133

134

10 -:- Nova Iorque-Buenos Aires

135

136

11 -

Gênova-Santo Amaro

12 -

Buenos Aires-Rio de Janeiro-Buenos Aires

13 14 -

Vôo Pan-Americano 151 Europa-África-Américas-Europa

15 16 -

Alverca-Rio de Janeiro 153 Europa-Africa-Américas-Ásia-Europa

17 -

Rio de Janeiro-Montevidéu

18 19 -

Roma-Natal 156 Lima-Nova Iorque-Lima

161

20 21 -

Sevilha-Havana 161 México-América do Sul

162

22 -

Sevilha-Natal

23 -

Saint Louis-Natal

24 -

Friedrischshafen-Rio de Janeiro

Capítulo 7 -

134

136 150

152 155

156

162 162 164

OS ANOS 20 E A AVIAÇÃO

1 -

O Avião

2 -

Os Barnstormings

3 4 -

A Segurança e os Seguros 169 O Nascimento dos Simuladores de Vôo

5 -

Nascimento da Medicina de Aviação

6 -

O Piloto Automático

167

167 168

171

169 171


7 -

O Serviço de Intendência

8 -

As Alterações na Geopolítica

9 -

Primeiro Vôo sobre a Amazônia

10 -

O Avião e as Ciências

11 -

A Igreja c a Aviaçã.o -

12 -

O -Poder Místico

13 -

O Avião e as Artes

PARTE II -

172 172 173

175 Nossa Senhora de Loreto

177 178

AVIAÇÃO CIVIL

183/ 274

Capítulo 1 -

CONSIDERAÇOES GERAIS

Capítulo 2 -

OS ORGÃOS CONTROLADORES DA AVIAÇÃO CIVIL 187

185

1 -

O Aero Club Brasileiro

2 -

A Inspetoria Federal de Navegação

3 -

A Comissão Nacional de Navegação Aérea

Capítulo 3 -

176

187 188 190

AS TENTATIVAS INDIVIDUAIS DE TRANSPORTE AÉREO COMERCIAL 191

1 -

Leopoldo Corrêa da Silva

2 -

Nelson Guillobel

3 -

João Teixeira Soares e Antonio Rossi

4 -

João Baptista dos Santos e Augusto de Araújo Góes

5 -

Davidson, Pullen & Cia

6 -

João Varzea

7 -

Francisco do Rego Barros Barreto Filho

8 -

Handley Page Ltd

Capítulo 4 -

191

193 194

195

195 195

195

O ADVENTO DAS EMPRESAS AÉREAS NO BRASIL INFLUhNCIA ALEMÃ 197

1 -

A Primeira Autorização -

2 -

A Primeira Companhia Brasileira -

V ARI G

3 -

. O Grupo Condor Syndikat-VARIG

204

4 -

O Grupo VARIG-Sindicato Condor

208

5 -

O Sindicato Condor

Capítulo 5 -

195

Condor Syndikat

197

202

210

O ADVENTO DAS EMPRESAS AÉREAS NO BRAS il INFLUhNCIA FRANCESA 213

1 -

A Lignes Aériennes Latécoere

213

2 -

A Compagnie Générale ·Aéropostale

219


3 -

A , Companhia Aeronáutica Brasileir~

4 -

O Grupo Compagnie Aéropostale-Companhia Aeropostal

Capítulo 6 -

2~3

224

O ADVENTO DAS EMPRESAS AEREAS NO BRASIL INFLU!NCIA NORTE-AMERICANA 227

1 -

A Empresa de Transportes Aéreos, ET A & Cia Ltda

2 -

A New York, Rio & Buenos Aires Line Inc. (N.Y.R.B.A.)

3 -

A Nyrba do Brasil, S/ A 235

4 -

A Pan American Airways Inc.

Cal'ítulo 7 -

227

236

AS PRINCIPAIS MEDIDAS LEGISLADORAS

239

1 -

As Primeiras Regras sobre Aviação ' 239

2 -

A Conferência de Paris e o Congresso de Verona, em 1910

3 -

A Convenção de Paris, em 1919

4 -

As Convenções da Década de 20

5 -

O Decreto n9 14.050/ 20

240

240 241

242

6 '- '- O Decreto n9 4.436/ 21

242

7 -

O Decreto n9 16.983/ 25

8 -

O I Congresso Nacional de Aviação

9 -

O Decreto n9 5.628/28

Capítulo 8 -

231

244 246

246

INCENTIVOS E PRÊMIOS

248

1 -

Santos-Dumont

248

2 -

Augusto Severo

3 -

Aero Club Brasileiro

4 -

Edu Chaves , 249

5 6 -

Sacadura Cabral e . Gago Coutinho Pinto Martins e W àher Hinton 250

7 -

João Ribeiro de Barros

248 249

249

,

Capítulo 9 -

250 '

AEROCLUBES E ESCOLAS

251

251

1 -

O Aero Club de São ' Paulo

2 -

Aero Club Brasileiro

3 -

O Aero Club do Rio Grande do Norte' 254

252

Capítulo 10 -

A INFRA-ESTRUTURA AEROPORTUÁRIA ' 255

Capítulo 11 -

OS PRIMEIROS SELOS AEREOS

258

1 -

A Precipitação do Departamento de Correios e Telégrafos

2 -

O Artifício do Carimbo

259

258


3 -

As Empresas Aéreas Emitem Selos Próprios

4 -

A Primeira Emissão pelo DCT

5 -

Outras Emissões Pioneiras do DCT

Capítulo 1 2 3 4 5 6 -

259

2.62 262

12 - PLANADORES - CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO Evolução do Vôo Planado 264 Os Planadores no Brasil 266 Planadores no Rio Grande do Sul 268 Prosseguimento das Tentativas 269

264

O Ibis, de Nicola Santo 270 O Aligerus Morphnus n9 1 270

Capítulo 13 -

PARTE IH -

SlNTESE RETROSPECTIVA SOBRE A AVIAÇÃOCIVIL 273

INDÚSTRIA AERONÁUTICA 275/ 297

Capítulo 1 - IMPROVISAÇÃO NO NASCER DA INDÚSTRIA 1 - Balões na Guerra da Tríplice Aliança 277 2 - Experiência Histórica 278 Capítulo 2 - OS IDOS DE 1920 279 1 - Situação Geral 279 2 - Iniciativas Isoladas na Aviação

277

281

Capítulo 3 - PASSOS INICIAIS 282 1 - Cursos no Exterior 282 2 - Uma Proposta Inglesa 282 3 -

Normas Sobre Construção de Aeronaves

283

Capítulo 4 - A GRANDE FIGURA DE HENRIQUE LAGE 285 1 - Dados Biográficos 285 2 - A Fábrica Blackburn, a Aviação Naval e o Independência 287 Capítulo 5 12 -

O SÃO PAULO 290 Orton William Hoover, o Inspirador Especificações e Construção 290

Capítulo 6 - O M-5 292 1 - Projeto e Construção 2 3 4 -

290

292

Características 293 O M-5 no Brasil 293 Depoimento de Guedes Muniz, Autor do Projeto

294


LIVRO DOIS Período de 1930 até 1941

INTRODUÇÃO

299

A SITUAÇÃO GERAL DO PAeS 1 -

A Revolução de 30

2 -

As Novas Instituições

PARTE I -

299

299 302

AVIAÇÃO MILITAR

Capítulo 1 -

305/372

A AVJAÇÃO NA REVOLUÇÃO DE 30

307

1 -

Considerações Preliminares

2 -

Tenentes Lemos Cunha e Montenegro, e um Potez 25 na Revolução 308

3 -

Principal Missão da Aviação Rebelde

4 -

Mais Adesões e o Tenentismo310

5 -

Repercussões da Revolução na Aviação Militar

Capítulo 2 -

307

A AVIAÇÃO NA MARINHA

309 311

312

1 -

Os Aviões de Italo Balbo

312

2 -

Reide a Argentina e Uruguai

3 -

A Esquadrilha Petit, Kahl, Menescal

4 -

Organização da Defesa Aérea do Litoral e do Corpo de Aviação 313

313 313

5 -

A Aviação Naval na Guerra do Chaco

6 -

Novos Equipamentos

7 -

O Correio da Esquadra

8 -

Criação do Correio Aéreo Naval

9 -

Medicina de Aviação -

Capítulo 3 -

314

314 315 316

O Esforço da Marinha

A AVIAÇÃO NO EXBRCITO

318

320

1 -

O Destacamento de Aviação de São Paulo

2 -

O Grupo Misto de Aviação

3 -

Missão Histórica de Busca e Salvamento

4 -

Um Reide Internacional

5 -

Desdobramento dos Meios

6 -

Um Vôo de Grupo Bem-Planejado

320

320

323

321 i '

324 32?'

7 -

Demonstrações na Argentina

8 -

Expansão de Meios e Apoio . 326

326

9 -

Organização Territorial e Patrulha do Litoral Norte

10 -

O Correio Aéreo Militar

329

11 -

Medicina de Aviação -:- O Esforço do Exército

336

328


Capítulo 4 -

O MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA DE 1932

1 2 -

Origens 339 A Deflagração

3 -

As Frentes de Combate

4 -

Forças Aéreas em Presença

5 -

Os Comandos Aéreos

6 -

Missões Aéreas

7 -

A Fase Final do . Conflito

Capítulo 5 -

341 342 343

346

346 361

MOVIMENTO COMUNISTA DE 1935

1 -

Origens

2 -

A Deflagração do Movimento

3 4 -

O Envolvimento da Aviação Militar Um Depoimento Importante 367

5 -

Um Relatório Histórico

6 -

O Final

PARTE II -

364 367

369

373/508

A AVIAÇÃO CIVIL NO IN1CIO DA DÉCADA

1 -

Orgão de Controle

2 -

As . Companhias Aéreas

3 -

Outros Segmentos 376

Capítulo 2 -

366

372

AVIAÇÃO CIVIL

Capítulo 1 -

375

375 376

OS ORGÃOS CONTROLADORES DA AVIAÇÃO CIVIL 378

1 -

O Departamento de Aeronáutica Civil 378

2 -

O Conselho Nacional de Aeronáutica

Capítulo 3 -

364

380

AS EMPRESAS AÉREAS NOS ANOS 30

1 -

VARIG

383

2 -

O Grupo Sindicato Condor-Luft Hansa

3 -

O Grupo Lufthansa-Zeppelin

384

388

4 -

Aéropostale

5 (; -

A Air France 398 A Companhia Aeropostal Brasileira . 400

392

7 -

A Pan American

8 -

A Panair do Brasil

404 413

Capítulo 4 - O FRANQUEAMENTO POSTAL 1 -

O Fim dos Selos · Particulares

2 -

A Importância das Malas Postais

422 423

422

383

339


Capítulo 5 1 2 3 4 5 6 7 8 9

-

Capítulo 1 2 3 -

A O A A A A A A A

O SURGIMENTO DE NOVAS EMPRESAS AÉREAS 424 Empresa Aeronáutica Ypiranga 424 Aerolloyd Iguassu 424 Viação Aérea São Paulo (V ASP) 425 Aerobrasil 427 Brasil Aérea 428 Transporte Aero-Brasileiro 428 Ala Littoria 429 LATI 430 Companhia Brasileira de Aviação 430

6 - O TRANSPORTE AÉREO PARA O INTERIOR Problema da Infra-estrutura 432 A Política de Subvenções 433 Uma Lei Inusitada 437

4 -

Outras Linhas Aéreas de Penetração Subvencionadas

5 -

O Avanço da Infra-estrutura para o Norte

Capítulo 7 -

438

439

AS PRINCIPAIS MEDIDAS LEGISLADORAS

1 -

O Decreto n<? 19.902/31

441

2 -

O Decreto n<? 20.704/31

442

3 -

O Decreto n<? 20.914/32

442

4 -

A Convenção de Roma, em 1933

5 -

Os Decretos n<?s 24.572/34, 1.757/37 e 1.687/39

6 -

O Decreto n<? 349/35

7 -

Lei n<? 218/36

8 -

O Decreto n<? 1.439/37

9 -

Instruções e Regulamentos

446

10 -

O Código Brasileiro do Ar

449

444

444

445 446

1 -

Direitos Aduaneiros

2 -

Aeroclubes, Escolas Civis e Clubes de Planadores

3 -

Aeroc1ubes Criados na Década -

441

443

SUBVENÇOES, AUXíLIOS E INCENTIVOS

Capítulo 8 ·-

Capítulo 9

432

452

452 454

455

A CONSOLIDAÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA TERRESTRE 456

1 -

A Importãncia do DAC

2 -

A Iniciativa Privada 457

456


3 4 -

Os Aeródromos na Região Sul

458

As Primeiras Normas Sobre Aeroportos

Capítulo 10 -

459

O SISTEMA DE REGISTRO AERONÁUTICO

1 -

A Instituição do Registro

2 -

Os Primeiros Registros

3 -

Primeiras Instruções para Matrículas de Aeronaves

Capítulo 11 -

464

A MULHER NA AVIAÇÃO CIVIL

1 -

Tereza de Marzo

2 -

Anésia Pinheiro Machado

3 -

Ada Rogato

Capítulo 12 -

467

469

472

PLANADORES CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO 475

São Paulo Toma a Frente

2 -

O Grupo Mackenzie de Planadores

:J -

O Volovelismo Expande-se

4 -

Empreza Aeronáutica Ypiranga

475 475

476 478

5 -

Os Clubes de Planadores

6 -

Santa Cruz do Sul Volta a Construir Planadores

7 -

Chegada da Missão Alemã ao Brasil

8 -

Expansão do Club Paulista de Planadores

9 -

A VARIG Aero Esporte Os Acampamentos

480 485 490

497

Outras Atividades Correlatas

12 -

O IPT e seus Planadores

Capítulo 1 -

484

494

11 -

PARTE lU -

465

467

1 -

10 -

502

504

INDÚSTRIA AERONAUTICA FATOS MARCANTES

509/599

511

1 -

Uma Busca no Passado

2 -

A Empreza Aeronáutica Ypiranga

3 -

Estrangeiros Fazem a Aviação no Brasil

4 -

A União Henrique Lage-Muniz

5 -

Revolução Reconstrói Avião mas Não Paga o Conserto

Capítulo 2 1 -

463

463

511 512 514

515

O PRIMEIRO AVIÃO NACIONAL -

O Projeto

519

2 - As Características

521

3 -

A Construção

522

4 -

O Construtor Henrique Lage

523

O M-7

517 519


Capítulo 3 1 -

OS ÜLTIMOS M

O M-8

525

2 - O M-9

525

3 -

525

O M-ll 527

Capítulo 4 -

O INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DE SÃO PAULO 529

1 -

Fundação e Importância

2 -

Antecedentes Remotos

3 -

Laboratório de Ensaio de Materiais -

4 -

O Laboratório da Revolução Constitucionalista

5 -

Criação do IPT

Capítulo 5 -

529 529 LEM

530 531

532

FREDERICO ABRANCHES BROTERO, O GRANDE IMPULSIONADOR 534

1 -

Interesse pela Aviação

2 -

Estudo sobre Emprego das Madeiras Nacionais em Aviação

3 -

Presença · em outras Atividades da Aviação

4 -

A Madeira Brasileira Freijó

5 -

O Contraplacado

Capítulo 6 -

534

537

538

OS PRIMEIROS ENGENHEIROS AERONÁUTICOS 540

1 ---' Necessidade Básica da Indústria Aeronáutica 2 -

Raymundo Vasconcellos de Aboim 542

3 -

Antonio Guedes Muniz

4 -

A École

5 -

Os Diplomados na ETE

Capítulo 7 -

544

545 546

INICIATIVAS SOBRE INDúSTRIA AERONÁUTICA 547

1 -

Estudos de uma Fábrica de Aviões

2 -

Pequenas Iniciativas Industriais

4 -

Construção no Sul do País

5 - Projetos Minúsculos Capítulo 8 -

536

557

548

549

550

LAGOA SANTA

552

1 -

Primeiros Passos com René Couzinet

2 -

Um Projeto Lento

3 -

O Desapontamento de Couzinet 554

554

552

540

534


Capítulo 9 -

OFICINAS GERAIS DE AVIAÇÃO CIVIL

1 -

A Fábrica Curtiss

2 -

As Oficinas Gerais

3 -

Os Alemães

Capítulo 10 -

557 558

559

A PRODUÇÃO DE AVIÕES NA MARINHA

3 -

0- Stieglitz 560 O Esforço da Marinha 562 O Fock-Wulf 58-B 562

4 -

Mudança de Planos

1 2 -

Capítulo 11 -

564

EXEPERIÊNCIAS ISOLADAS

1 -

O Pelotas

2 -

O Bichinho

3 -

O Café e o Petróleo

4 -

Os Protótipos de Mário Torres

5 -

O Famoso EA Y-201 -

Capítulo 12 -

566

566 567 569 569

o Pai do Paulistinha

571

A ORGANIZAÇÃO LAGE E OS HL

574

1 -

Nacionalização das Atividades

2 -

O HL-l

3 -

O Espírito de Equipe de Henrique Lage

4 -

René Marie Vandale

5 -

Luiz Felipe Marques Gonçalves

6 -

José Garcia de Souza

7 -

Otto Weinbaun

574

575 577

579 582

583

583

Capítulo 13 - Hf.LICES, MOTORES E COMBUSTíVEIS 1 - Inventos 585 2 -

A Fábrica Nacional de Hélices Cruzeiro

586

3 -

As Hélices do IPT e as da Aviação Naval

4 -

As Preocupações do Exército

5 -

Escolha de um Motor

6 -

A Idéia de uma Fábrica de Motores

7 -

Guedes Muniz Fala sobre Combustíveis

587

587

588 589 589

Capítulo 14 - PEQUENOS ENSAIOS INDUSTRIAIS 1 - O Emaillite 592 2 -

557

Armamento

594

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1NDICE REMISSIVO 605

595

592

585

560


INTRODUÇÃO

Inicialmente, havíamos previsto que este Volume deveria abranger o período de 1921 até a entrada do avião a jato no Brasil, ocorrida em 1953. No andar das pesquisas para a redação, começamos a perceber que a extensão da matéria, compreendida naqueles limites, exigiria a elaboração de dois tomos, para se evitarem os inconvenientes de um livro por demais volumoso. A Editora, porém, desaconselhou tal desdobramento, por julgá-lo fora de uso. O INCAER decidiu, então, limitar o período até às vésperas da criação do Ministério da Aeronáutica, em f941. Nesses anos, a Aviação expandiu-se aceleradamente, gerando muitos fatos históricos que não se podem perder, pois estão envolvidos pela magia da criatividade, gerando uma razoável quantidade de exemplos de grande valor para o futuro e um testemunho relevante de certas características positivas dos brasileiros. Três acontecimentos marcam a trajetória da história no período em questão. O primeiro, no início dos anos 20, é representado pelo surgimento do "T enentismo", uma explosão de idealismo brotado dos segmentos civil e militar da sociedade que teria uma influência considerável nos destinos de nossa Pátria. ,O segundo, encontra-se na Revolução de 1930, impulsionada, em grande parte, pelas forças do movimento acima referido. Finalmente, no campo estrito da Aviação, vamonos deparar com a criação do Ministério da Aeronáutica, um ideal desenvolvicÍo no período, fortalecido por aspirações superiores e alimentado pelo clima de patriotismo daqueles tempos, assunto que será tratado no Volume 3 desta S~rie. 21


Nesta altura da vida deste Instituto, já podemos avaliar que o registro de fatos como os que marcaram essa época é contribuição valiosa para o porvir, pois no correr dos relatos pode-se identificar as forças transcendentais que impulsionaram os elementos na direção dos supremos interesses da coletividade. Só elas, situadas no campo do espiritual, podem justificar os sacrifícios ante as dificuldades iniciais da Aviação Brasileira. Ao fazer estas considerações, cabe-nos, também, lembrar o entusiasmo de todos os que têm participado desta recomposição do passado, para que, partindo dele, possamos olhar, com maior segurança, para o futuro. Dentre tantos que alimentam este Instituto com o estímulo de sua grande participação, medida pelo admirável desinteresse com que se processa, cabe destacar: - os freqüentadores dos Encontros no INCAER, onde a apresentação e a discussão de muitos assuntos têm sido uma valiosa contribuição para a elaboração desta obra; - os que, durante a vida, acumulando acervos históricos importantes, organizaram arquivos com dados preciosos sobre o passado dé nossa Aeronáutica, o que tem sido de muita ajuda para nossos trabalhos; - ' as Organizações da Marinha, do Exército, da Força Aérea, da Aviação Civil e de outros segmentos da Sociedade BrasileIra ligados à história de nossas atividades aéreas; e - os integrantes do INCAER, sem distinção de funções, pela elogiável conduta na busca do sucesso de nossa missão. Todos, e não são poucos, trazem a esta Casa uma demonstração de muito interesse pela trajetória da Aviação ·na vida do nosso País. Nesse interesse, identifica-se, com facilidade, a predestinação que ligou o Brasil ao avião, uma conseqüência natural da imensidão do nosso Território e do espírito de liberdade dos brasileiros, que viram nos ares, a libertação do homem de obstáculos que lhe dificultavam os movimentos. Ao apresentar a História Geral da Aeronáutica Brasileira, no seu Volume 1, o atual Ministro da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Octávio Julio Moreira Lima disse, entre outras, as seguintes palavras: "Esta 'obra, não se imaginando definitiva e acabada, veio preencher uma lacuna que, sem dúvida, era uma obrigação inalienável de nossa geração. Por outro lado, a maneira pela qual ela está sendo elaborada, um colegiado dirigido e orientado pelo INCAER, dá-nos a certeza de · que fugiremos de interpretações pessoais ou posições personalísticas e teremos, na realidade, um registro histórico profundo e abrangente.)) Esta visão do Ministro retrata, em feliz síntese, as preocupações com que o INCAER vem desenvolvendo os seus trabalhos. A História é um patamar, de onde nossa visão se deve projetar para o futuro. Para assegurar tal base, o registro dos fatos é um impe22


rativo de cada geração. No cumprimento desse dever, há que se atentar para uma absoluta obediência à verdade, pois uma distorção desta acarretará o risco de um porvir assentado em bases falsas. Para tanto, um trabalho como este será tanto mais útil quanto maior for o número de participantes na busca da verdade. Tudo isto exige muita vontade e determinação. Parece-nos que esses atributos não faltaram àqueles que patriciparam da elaboração deste Volume. Esperamos que o futuro, no seu julgamento implacável do presente, seja generoso pelo que faltar e justo pelo que sobrar. Rio de Janeiro, 1989 . Ten.- Brig.-do-Ar-Ref. DEOCLÉCIO LIMA DE SIQUEIRA Diretor do INCAER

23



LIVRO UM

PERÍODO DE 1921 ATÉ 1930



INTRODUÇÃO

O TENENTISMO

1 -.- Interpretações

PERÍODO da Histéria da Aeronáutica brasileira que vamos considerar aqui neste segundo volume tem seu início em 1921. Período agitado esse, pri:l.Cipalmente no aspecto social, quando circunstâncias econômicas, literárias, políticas e mesmo filosóficas foram determinantes de eventos notáveis na História do Brasil e, particularmente, na História da Aeronáutica. Inúmeros movimentos armados pontearam nesses vinte anos: ora revoluções ou revoltas; ora rebeliões ou levantes ou motins, nos quais estiveram envolvidos personagens e aviões, cujos desempenhos e missões se tornaram dignos de nota, tanto pelo aspecto do pioneirismo de tais missões, como pelo enfoque do idealismo nacionalista que motivou aqueles desempenhos. Objetivos, os mais diversos; líderes, indiferentemente civis ou militares; participantes, indistintamente de várias classes sociais. Unia-os um ideal único, nascido do sentimento patriótico por ver um Brasil soberanamente forte e socialmente harmônico e organizado. Buscavam justiça, moral política, equilíbrio econômico, bem-estar comum. E para isso não importavam os sacrifícios. Até mesmo a vida perdida seria boa troca, se daí resultassem benefícios para a Pátria. Tais movimentos armados ficaram conhecidos por Tenentismo. Mas, assim dita, essa denominação simplesmente caracteriza a participação ativa de oficiais militares ainda nos primeiros postos da carreira. Por isso mesmo, passado mais de meio século, é comum, nos dias atuais, dizer-se que Tenentismo foram ações de caráter político-militar, reali-

O

27


zadas por tenentes . É ainda uma simplificação, e um tanto dçturpada, dessa atuação, na qual não lhe ficam esclarecidas as bases de surgimento, as causas primeiras, os antecedentes que levaram muitos jovens à prisão, à perda da carreira, ao risco de vida, ao futuro totalmente incerto. A par disso, parece ficar carecendo de explicações o fato de as iniciativas terem sido tomadas por tenentes - rapazes inexperientes , ainda mais afeitos ao cumprimento de ordens - e não por coronéis ou generais - homens mais experimentados e a quem cabe a liderança de grandes ações. Atribuir essas iniciativas simplesmente ao espírito impulsivo da juventude seria lugar-comum, verdade óbvia, constituindo apenas esclarecimento parcial. Que dizer ainda quanto aos aspectos disciplinar e hierárquico? Tantas vezes deixaram de ser observados pelos tenentes recém-saídos da escola de formação, justamente onde disciplina e hierarquia eram e são os fundamentos da instrução militar, cujo ensinamento é intensamente praticado com base em técnicas pedagógicas de condicionamento, para que mais fortemente permaneça incorporado no desempenho dos oficiais . Esclarecimentos sobre o que foi, sobre o porquê do Tenentismo e suas origens acham-se esparsos em épocas anteriores, em muitos fatos bem remotos, cuja seqüência de efeitos sobre os jovens militares , e sobre civis também, jovens ou não, atuou como inspiração, como exemplo, como determinante dos movimentos contestatórios no Brasil de 1920 a 40, e cujo significado é bem mais que simples movimentos armados, antes podendo ser tomados como um " estado de espírito em busca de uma paz social" . 2 -

O Espírito Nacionalista ,M ilitar

A partir da segunda metade do século XIX, as Forças Armadas brasileiras passaram por um . processo de modernização, facilitado pelos avanços tecnológicos da Revolução Industrial; também a Guerra de Secessão nos Estados Unidos da América (1861-65) ofereceu oportunidade para a reformulação de práticas militares . Desta forma , o armamento bélico tornou-se mais preciso e de maior potência, fabricado com o aço que as invenções do coque e alto-forno proporcionaram; os transportes de tropas por via férrea, experimentados com sucesso na guerra estadunidense, permitiram deslocamentos mais rápidos; da mesma época é a utilização de balões de observação · para acompanhamento das manobras inimigas; novos estudos sobre operações combinadas entre forças terrestres e marítimas tornaram mais eficazes as táticas de combate. Enfim, as Forças Armadas brasileiras tiveram inúmeras modificações, inclusive em sua estrutura organizacional, que as deixaram modernamenteequipadas e armadas. Conseqüentemente, tornou-se . bas28


tante elevado o moral das tropas, com mostras inequívocas de poder assegurar a defesa da Pátria e dela manter a soberania~ E foi com esse alto prestígio e espírito militar que o Brasil participou da Tríplice Aliança, na guerra contra o Paraguai (1865-70). Nesta, que realmente foi a segunda grande guerra nas Américas, o Brasil teve oportunidade de desenvolver bastante o espírito nacional Umeio adormecido desde o fim das agitações revolucionárias conseqüentes à Independência JJI02 , ao mesmo tempo em que passou a nutrir fortes impulsos de justiça e de liberdade social. A guerra representava ameaça estrangeira à integridade do nosso território, e sua defesa era ditada sobretudo pelos sentimentos de amor à Pátria. E a luta, que exigiu a incorporação de escravos bras'ileiros às tropas da Campanha, pôs em contato direto e constante jovens de classe média, de onde provinha a maioria dos oficiais do Exército, e os contingentes de soldados negros, dos quais partiam de modo fluente e influente os reclamos sobre as duras e tristes condições de vida a eles impostas por seus senhores e proprietários. Por isso mesmo, não foi difícil aos militares brancos compreenderem, àquela época, que o trabalho dos negrO$ era socialmente tão válido quanto o que eles próprios exerciam, ambos contribuindo para o progresso da terra brasileira. Esse misto de nacionalidade, que a Guerra fizera evoluir, e de iguáldade, que a democratização das tropas militares provocara, tornava-se ainda mais vivo na medida em que o desenrolar da campanha contra o ditador Francisco Solano López mostrava bem de . perto ao Brasil os dois outros integrantes da Tríplice Aliança, Argentina e Uruguai, países de governo republicano, e onde o regime escravagista já havia definitivamente sido abolido. E ainda acontecera, há pouco, a vitória dos antiescravocratas na Guerra de Secessão, deixando nosso País como o único, dentre todos nas Américas, a manter a escravidão negra. 3 -

Anseios de Mudanças Sociais

Em 1870, superadas as ameaças paraguaias com a vitória em Cerro Corá, as forças brasileiras· retornaram aos quartéis. A partir de então, cessam todas as atenções que haviam dado ao Exército oportunidade de melhor preparo, modernização e tempos de prestígio que, ao serem exigidas pela nação em guerra, souberam as tropas responder com denodo e heroísmo. Agora era a rotina e a inércia que se estabeleciam, significando para os militares certa desatenção do Governo Imperial para com o adequado preparo e o · moral das forças, principalmente a terrestre. Agora os grandes · e velhos chefes combatentes eram exemplos de mágoa e desilusão para a oficialidade jovem, que sentia o injusto despres29


tígio até mesmo na lentidão irritante com que se verificavam as promoções na carreira. A partir de então, Abolicionismo e República evoluíram como anseios básicos contestatórios, intensificados por idéias de uma nova doutrina filosófica que chegava ao Brasil - o Positivismo. A causa republicana expressava, entre os militares, o descontentamento pela tendência civilista do governo monárquico, já demonstrada em oportunidades diversas nas chamadas questões militares, verificadas a partir de 1883, envolvendo, entre outros, o Capitão Antônio Sena Madureira, o Coronel Cunha Matos e até mesmo o Marechal Deodoro da Fonseca, todos sofrendo sanções disciplinares consideradas injustas pela classe. O Abolicionismo, com suas raízes plantadas no meio militar desde a Guerra do Paraguai, cada vez mais se desenvolvia, na medida em que a Escola Militar proporcionava solo fértil, representado pela geração jovem de cadetes: é que, face à evolução das condições econômicas do País, essa geração emergia como uma nova burguesia, em oposição à antiga, proveniente da aristocracia. Mas, ainda de poucos recursos para custear dispendiosos estudos em faculdades, esses novos burgueses da classe média buscavam a carreira das armas, principalmente a do Exército, cuja instrução gratuita lhes proporcionava formação profissional condigna. E esses jovens, porque socialmente se situavam mais próximos à classe dos escravos, mais freqüentemente presenciavam e acompanhavam o sofrimento negro, sendo fácil, portanto, compreender-lhes os motivos de desejarem a Abolição. 4 -

Influências Culturais da Época

O Positivismo, doutrina filosófica divulgada em Paris por Augusto Comte, a partir de 1830, constituiu uma das formas de pensar características do século XIX, na Europa, exercendo grande influência no Brasil na segunda metade desse século. Na filosofia positivista nega-se validade ao conhecimento proveniente de pura imaginação ou de mera. idealização, com atribuição de causas metafísicas ou teológicas aos fenômenos da vida humana (doenças, riqueza ou pobreza, cataclismas, felicidade, etc.) Para Comte, a única maneira de se alcançar o verdadeiro conhecimento é por meio do estudo experimental, da observação científica, exata, positiva, dos próprios fenômenos e das leis que os regem, como faziam os estudiosos antigos da Grécia, a partir da Astronomia e, mais modernamente, Bacon, Galileu e Descartes, utilizando os elementos exatos da Matemática, da Física, da Biologia, etc. Essa seria, portanto, a forma mais acertada de alcançar o domínio de conhecimento, porque as causas dos fenô30


menos, sendo evidenciadas através de experimentos, se tornariam passíveis de controle, fato este traduzido pela expressão ver para prever. Essa metodologia positiva, segundo Comte, conduziria a uma homogeneidade de conceitos, a uma aproximação de · atitudes e de ações, através da unificação do conhecimento e da cultura, proporcionando mais perfeita integração social e, assim, compreensão e maior fraternidade entre os indivíduos, sem necessidade de exércitos e tranqüilamente liderados pelos mais sábios. É este, de um modo bastante sucinto, o fundamento intelectual pregado pelo Positivismo para que fosse alcançado equilíbrio na humanidade, a paz üniversal. É visível, portanto, a preocupação do Positivismo para com o social; daí ser Augusto Comte considerado o Pai da Sociologia. O estudo da sociedade foi a forma mais efetiva encontrada por Comte para a percepção das complexas relações humanas, da estrutura ou organização dos grupos sociais e suas instituições (família, propriedade, religião, sistema político: etc.) - que ele chamou ordem - e de suas transformações, de sua dinâmica através dos tempos a que denominou progresso. E é a partir dessa concepção que a doutrina filosófica do Positivismo afirma ser a ordem o determinante do progresso, conduzindo à necessidade de aperfeiçoamento das instituições sociais para melhor desenvolvimento da humanidade. Em última análise, é fundamento positivista a interferência na ordem em busca do progresso. As teses positivistas, embora criticadas por muitos estudiosos, ganharam inúmeros adeptos e alcançaram grande projeção em países da América do Sul, onde a tradição cultural da época ainda não oferecia bases próprias e adequadas para suportar os anseios de transformaçeõs políticas e econômicas que então se afiguravam necessárias. É bastante compreensível que o Brasil estivesse entre esses países, em face da agitada conjuntura político-social que se formara desde a vinda da Corte Portuguesa (1808) e, posteriormente, com a Independência (1822). No Rio de Janeiro, essa conjuntura foi-se caracterizando pelos inúmeros movimentos de cunho intelectual, em que literatura e política se iam evidenciando, veiculadas por sucessivos periódicos que passavam a constituir a livre e incipiente imprensa brasileira: O Jornal Científico Econômico e Literário (1826), Aurora Fluminense (1827), O Beija Flor (1830), Revista da Sociedade Filomárica (1833), Minerva Brasiliense (1843), Guanabara (1850), e outros ainda. Através desses periódicos manifestavam-se os "publicistas misto de jornalista, político e homem de letras", no dizer do professor e imortal Afrânio Coutinho37 _ . considerando temas nacionais e estrangeiros, que, começando pela hi5tória pátria, passavam pela raça, flora e fauna nacionais (é expressiva a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1838), e chegavam aos comentários Clen31


tíhcos, políticos, sociais e econômicos, traduzindo e publicando notícIas dos grandes centros de influência, principalmente Paris, Londres e Berlim, ou divulgando nosso progresso no campo cultural, sempre seguindo preceitos das sociedades que orientavam o pensamento da época (maçônica, literária , científica, artística, etc.) . A par dessa imprensa, que nutria a nascente camada intelectual brasileira, surgiu a oratória (que viria subsistir até o Modernismo brasileiro, em 1922) revelando vultos como Visconde do Rio Branco (1819-1880), José do Patrocínio (1854-1905), Joaquim Nabuco (1849-1910), Rui Barbosa (1849-1923), e, posteriormente, Olavo Bilac (1865-1918), Juliano Moreira (18731933), Roquete Pinto (1884-1954), Ataulfo de Paiva (1867-1955). A grande eloqüência desses oradores era fator importante na divulgação dos ideais liberais e nacionalistas brasileiros, provindos do Iluminismo e da Revolução Francesa (1789). Foi assim, em meio a essa agitação intelectual, que o Positivismo começou a ter maior acolhida, abraçado por vários "publicistas" e oradores das últimas décadas do século XIX, como forma de argumentação mais racional e convincente, e ainda porque, a essa época (princípios de 1870), a literatura brasileira deixava o subjetivismo, característico do Romantismo, que até então estivera em voga, e dirigia-se ao Realismo e Parnasianismo, e depois ao Naturalismo, passando a enfocar objetivamente temas sociais relacionados com o cotidiano, retratados em linguagem simples, de fácil alcance por todas as classes de leitores, e que buscavam analisar e interpretar os acontecimentos da vida, as emoções dos personagens e seus desempenhos sob a luz de teorias científicas de cunho lombrosiano e darwiniano, tendendo, pois, a identificar-se com a postura fundamental do Positivismo, na medida em que buscavam o conhecimento valendo-se de metodologias semelhantes. 5 -

Influência Positivista na Escola Militar

Foi em 1850, na Escola Militar do Largo Real da Sé Nova (atual Largo de São Francisco) que apareceu efetivamente a primeira manifestação positivista do Rio de Janeiro: Manuel Joaquim Pereira de Sá defendera com argumentação comtiana sua tese para doutoramento em Ciências Físicas e Naturais . Tem-se ainda que, em 1844, na Faculdade de Medicina da Bahia, uma outra tese já havia sido defendida também à luz de idéias positivistas.1.1. O fato é que pouco a pouco o Positivismo foi sendo divulgado e adotado entre nós, principalmente· nos meios acadêmicos de Engeriharia e Medicina. Em 1879, organizava-se a Sociedade Positivista do Rio de Janeiro, sob orientação de Raimundo Teixeira Mendes, Miguel Lemos e Benjamin Cop.stant. 32


Benjamin Constant Botelho de Magalhães, ex-combatente da Guerra do Paraguai, era, na época, Tenente-Coronel-Engenheiro e professor de Matemática na Escola Militar, então com sede na Praia Vermelha Rio de Janeiro, onde exercia o magistério desde 1872 . Seus dotes de oratória faziam de suas aulas verdadeiras obras de retórica, capazes de penetrar fundo na mente dos cadetes, levando-os a reflexões sobre os ensinamentos recebidos. Além de abraçar o Abolicionismo, decidira-se também pela causa republicana; e ainda tornara-se adepto do Positivismo, embora de forma não-ortodoxa. Era, portanto~ um típico representante das idéias que circulavam nos meios intelectuais brasileiros e predominavam principalmente entre os jovens. Nas exposições de cunho positivista utilizadas por Benjamin Constant em aulas na Escola Militar, juntamente com Inocêncio Serzedelo Correa, Lauro Severiano Müller e Lauro Nina Sodré e Silva, não havia direta abordagem a fatos políticos, mas constituíam elas verdadeiras aulas de civismo, plenas de humanitarismo, que, de certa forma , se transformavam em bases idealistas para o término do regime escravo. Tal foi a relevância dessa atuação que acabou por levar o Marechal Deodoro da Fonseca, então Presidente do Clube Militar, a redigir um documento em que deixava clara a posição abolicionista dos oficiais do Exército. Em 1888, a escravidão negra no Brasil deixou de existir, marcando uma vitória para os movimentos de transformação social, nela ficando a marca positiva da interferência dos militares; mas a atuação positiva de Benjamin Constant continuou junto aos jovens da Escola Militar. Sobre a influência de seus ensinamentos, testemunham as palavras do General Tasso Fragoso, aluno daquela época, quando, em 1930 , discursou por ocasião da morte de seu colega e contemporâneo General Bevilaqua: 54 "Entre todos os professores sobressai Benjamin Constant Botelho Magalhães. ( ... ) "O nosso País atravessava então um dos períodos mais característicos de sua história. Agitava-se o problema da libertação dos escravos e o da substituição do regime monárquico pelo republicano. "Como era natural, ambos repercutiam no seio da Escola, inflamando as nossas imaginações e interpolando-se em nossos deveres qU'otidianos. ((Éramos pela liberdade dos escravizados. Queríamos vê-los livres incondicionalmente e dentro do prazo mais curto, para que se apagasse de vez eSsa mancha que tanto nos deslustrava. Com esse intuito, juntávamos os nossos modestos esforços aos de todos os abolicionistas do País. ( ... ) 33


"Haja ainda vista a moção do Clube Militar contra a utilização do Exército na captura dos negros fugidos e da qual foi incontestavelmente um dos grandes inspiradores o espírito da Escola Militar, representado nas gerações que por ela haviam passado ou ainda nela se encontravam. "Compreende-se que também fôssemos republicanos. "Que era a República para nós? "Um regime inspirado no interesse coletivo, em que imperasse a mais completa liberdade espiritual, a mais absoluta honestidade e desinteresse no trato da causa pública e só os competentes fossem escolhidos para as funções sociais. "Com a mente cultivada pela ciência e pela leitura de grandes pensadores como Augusto Com te, sonhávamos um regime ideal de ventura humana, sem lugar para as violências e os apetites egoísticos, sem lugar até pará nós mesmos, modestos aprendizes da arte da guerra, pois ambicionávamos com Benjamin Constant um futuro de perfeita concórdia internacional. ( ... ) " Nesse ambiente, meu caro Bevilaqua, passaste a mocidade e se te formou a alma, nela hauriste o alimento espiritual que te serviu de guia e fez de ti o brasileiro digno que hoje aqui vimos recordar com lágrimas. ( ... ) "Estávamos dispostos a tudo, a afrontar as dificuldades, a desaparecer obscuramente sempre que o Brasil ressurgisse redimido daquele lance. "A vida era para nós o menor d os bens, se a não pudéssemos viver com dignidade."

6 -

Academicismo Científico na Instrução

Criada por D. João VI em 1810, com o nome de Academia Real Militar, estabelecida na Casa do Trem (edifício hoje incorporado ao conjunto arquitetônico do Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro), a Escola Militar sempre fora orientada segundo a atmosfera cultural em que respiravam os meios intelectuais da época, acentuando-se a tendência de fazer dela mais um "centro de estudos de matemática, filosofia e letras, do que de disciplinas militares"%. Em 1845, passara, inclusive, a conceder aos seus alunos o grau de bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas; em 1858, chegara a ter por objetivo preparar engenheiros civis. Esses bacharéis viriam a constituir efetivo grupo bem distinto da oficialidade mais velha, formada em antigas turmas, ou até mesmo sem curso de formação, que ficaria conhecida como tarimbeiros, em face de sua experiência quase que exclusivamente castrense. "Se um Benjamin Constant, um Euclides da Cunha eram exemplos do primeiro tipo de oficial, Deodoro era a personificação do segundo. ,,96 34


É claro que esse academicismo científico favoreceria bastante a penetração da filosofia positivista. E a tal ponto foi essa penetração que, dentre os bacharéis, nasceu a concepção do soldado-cidadão, criando nos militares jovens a idéia do dever de intervenção na ordem civil, visando ao progresso da sociedade. O processo de separação entre ensino civil e militar, que se iniciara em 1850, consumou-se em 1874, com a criação da Escola Politécnica. O ensino militar passou a concentrar-se na Praia Vermelha mas, ainda assim, mantendo-se a estrutura curricular com ênfase na formação científica. Deste modo permaneceu a forte in.fluência política que as correntes abolicionistas e republicanas já vinham exercendo no meio escolar e que ali tinham aumentado bastante com a presença de Benjamin Constant, a partir de 1872. E foi assim, com aquele senso de responsabilidade do soldado-cidadão que os jovens cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha marcharam ao encontro das forças fiéis ao Marechal Deodoro, que vinham de São Cristóvão para a Praça da Aclamação (hoje Campo de Santana), em 15 de novembro de 1889. Essas marcha dos futuros tenentes, ainda simples alunos inexperientes, representava, no entanto, decisivo apoio às tropas de Deodoro, constituindo motivo de real preocupação para o Ministro da Guerra, Tenente-General Rufino Enéias Gustavo Galvão, Visconde de Maracaju. Sobre o fato, veja-se a seguinte passagem, bastante significativa:

((O 10 .0 BI no Quartel General, recebeu ordens do Ministro da Guerra para se movimentar, Lapa, a fim de deter a Escola Militar, que, por ali, passaria obrigatoriamente. Ouro Preto reagiu à ordem. E ao ver a tropa afastar-se do Quartel, disse a Maracaju: Mas, estas últimas forças (as que vinham de São Cristóvão) estão mais próximas, avizinham-se, são as de que mais há a temer, e V . Exa. permite que exatamente o batalhão, que me disseram ser o de maior confiança, deixe o posto de perigo? Pois aí vêm contra nós artilharia e cavalaria e mandase essa tropa ao encontro dos meninos da Praia Vermelha? 54

Mesmo alcançadas as duas grandes reformas sociais, Abolição e República, as diretrizes positivistas continuaram a reger o pensamento brasileiro, principalmente o dos republicanos, cujo reflexo de imediato se fez sentir com a aposição da legenda "Ordem e Progresso" na nova bandeira brasileira da República , idealizada por Teixeira Mendes, desenhada pelo pintor Décio Vilares e apresentada a Benjamin Constant, que então fazia parte do Governo Provisório como Ministro da Guerra. Mais que legenda, esta concepção positivista serviu de base à consolidação do novo regime. Entre os militares, a figura do soldado-cidadão evidenciou-se ainda mais , com oficiais participando ativamente na vida civil, através da política, elegendo-se como deputados e senadores e ocupando a Presidência de Estados. Porém, esse crescimento de poder 35


na classe militar acabou desagradando o grupo republicano civil, integrado pelos grandes produtores . rurais, principalmente de São Paulo e Minas Gerais.

7 -

A Nova Formação Militar

No Governo do Presidente Campos Sales (1898-1902), já os militares não tinham mais tanta projeção, estando o poder político sob o controle da aristocracia cafeeira. Para isso, além das pressões civis, também haviam concorrido as desprestigiosas derrotas sofridas na Campanha de Canudos (1896-1897), que demonstraram a ineficaz formação castrense do soldado-bacharel, e certos atos de rebeldia verificados entre os cadetes da Escola Mili tar, nos anos de 1895 e 1897 . A Escola chegou mesmo a ser fechada e extinta em 1904, após uma revolta contra aplicação obrigatória de vacinas (14 de novembro). O Exército só voltaria a preparar novos oficiais a partir de 1906, na Escola de Guerra sediada em Porto Alegre (RS), então com novas diretrizes, ditadas por reformas iniciadas pelo Ministro da Guerra Marechal Mallet (18981902) e continuadas até a gestão do Marechal Hermes (1906-1909), cujo objetivo básico era a reformulação do ensino militar, substituindo o soldado-bacharel (o grau deixou de ser concedido) pelo soldado-profissional, apto às campanhas bélicas. É desta época o envio de oficiais ao Exterior, como o Ten. Juventino Fernandes da Fonseca, mandado estudar aerostação na França (1908), num primeiro passo para a criação da aviação no Exército, e dos tenentes que estagiaram na Alemanha, junto ao Exército daquele país (1906, 1908 e 1910), criando aqui, posteriormente, uma revista militar, A Defesa Nacional, cujo objetivo era divulgar o papel do Exército, tanto de defensor do País contra ameaças externas, como também de guardião da ordem social interna. Esse objetivo foi apresentado em Editorial, no exemplar n.o 1, de 10 de outubro de 1913, onde os tenentes redatores dão mostras de continuar adotando as concepções do soldado-cidadão: .

"E debalde que os espíritos liberaes, numa justificada ancia de futurismo, se insurgem contra as intervenções militares na evolução social dos povos: é um facto historico que as sociedades nascentes têm necessidade dos elementos militares para assistirem à sua formação e desenvolvimento, e que só num gráo já elevado de civilisação ellas conseguem emancipar-se da tutella da força, que assim se recolhe e se limita à sua verdadeira funcção. Sem desejar, pois, de forma alguma, a incursão injustificada dos elementos militares nos negocios internos do paiz, o Exercito precisa entretanto estar apparelhado para a sua funcção conservadora e esta36


bilisante dos _elementos sociaes em marcha -_~. e preparado para corrigir as perturbações internas, tão comuns na vida tumultuada das sociedades que se formam. ( ... ) Mas a questão -tem ainda um terceiro aspecto: o exercito, num paiz como o Brazil, não é somente o primeiro factor de transformação político-social, nem o principal elemento de defeza exterior: elle tem igualmente uma funcção educativa e organisadora a exercer na massa geral dos ·cidadãos_ Um bom exercito é uma escola de disciplina hierarchica, que prepara para a disciplina social; e é, ao mesmo tempo, uma escola de trabalho, de sacrifício e de patriotiSmo. Um exercito bem organisado é uma das creações mais perfeitas do espirito humano, porq14e nelle se exige e se obtem o abandono · dos mesquinhos interesses individuaes, exige e se obtem em nome dos grandes interesses _collectivo~; nelle que a -entidade homem, de ordinario tão pessoal e tão egoista, se transfigure na abstracção dever; nelle se exige e se obtem o sacrificio do primeiro e do maior de todos os bens que é a vida, em nome do principio superior da Patria. ( ... )

se

N6s estamos profundamente convencidos que só se corrige o que se critica: de que criticar é um dever; e de que o progresso é obra dos dissidentes. Esta revista foi fundada, por conseguinte) para exercer o direito) que todos temos de julgar das cousas que nos aflectam, segundo o nosso modo de ver) e de darmos a nossa opinião a respeito. ( . .. ) Não queremos ser absolutamente, no seio da nossa classe, uma horda de insurrectos dispostos a endireitar o mundo a ferro e fogo mas um bando de Cavaleiros da Idéa, que saiu a campo, armado, não de uma clava) mas de um argumento; não para confundir, mas para convencer. ( ...

r

É interessante notar que esses tenentes vieram a ser apelidados

de Jovens Turcos, epíteto aparentemente impróprio, mas cuja explicação de seu significado vem mostrar mais um componente do campo das influências que atuavam sobre o espírito da nova oficialidade militar brasileira. Desde 1830, o termo Jovem vinha aparecendo, em todo o mundo, ligado a grupos de moços que propugnavam por reformas: Jovem Alemanha, e Nova Jovem Alemanha, que reagira-m contra a escola literária do gênero romântico; Jovem França, que se notabilizou pelo radicalismo, com o propósito de introduzir profundas reformas políticas, econômicas e sociais; Jovem Itália e Jovem Portugal, que promoveram movimentos visando a introduzir o regime republicano. Também na Turquia houve um desses grupos reformadores, o partido Jovem Turquia, atuante de 1861 até depois da Primeira Guerra Mundial, e cujo objetivo era o de "introduzir no país instituições políticas e parlamentares semelhantes às ocidentais, mas adaptadas às tradições turcas 37


e aos ritos islâmicos". Justamente na época em que os tenentes brasileiros estagiavam na Alemanha, o Jovem Turquia estava em grande evidência, nele atuando militares como Enver Paxá e Kemal Ataturk, este que, por seu espírito reformador, viria a ser considerado o criador da moderna Turquia. Pode-se entender, então, que os nossos Jovens Turcos constituíram no Brasil o grupo reformador que, mais adequadamente, se deveria denominar Jovem Brasil.

8 -

A Situação Brasileira no Início da Década de 20

À época em que o Editorial dos tenentes turcos foi publicado, a política nacional passava por uma fase tumultuada. A partir de imperfeições na redação dos artigos da Cons ti tuição Republicana de 1891, o processo eleitoral sofria deturpações, tanto sob a forma de degolas, onde os candidatos vencedores, se eleitos pelo voto de oposição ao Governo, não eram reconhecidos como tal, sob acusação de fraude; como também sob a forma do voto de cabresto, onde os coronéis do interior, em troca de favores, obrigavam os eleitores a votar nos candidatos da situação. Dessa forma, os grupos aristocráticos impunham ao País uma república oligárquica. Em 1910, em face de cisões entre os grupos da oligarquia e por influência de uma corrente liberal, que emergia da classe média, opondose ao. regime político seletivo, o ex-Ministro da Guerra Marechal Hermes vem a ser eleito Presidente do Brasil, em que pese a ferrenha campanha civilista de Rui Barbosa , seU adversário político. ·

O Governo do Marechal Hermes foi caracterizado pela chamada política das salvações, cujo objetivo era a substituição dos presidentes estaduais oligárquicos de oposição, confiando o governo a grupos articulados com o Exército. Na prática, a política das salvações de Hermes da Fonseca era mais um exemplo do exercício do dever cívico do soldadocidadão, sempre pronto a interferir na ordem social, visando ao seu aperfeiçoamento e progresso. Ao final da presidência do Marechál Hermes, já se previa o início da Primeira Guerra Mundial, que acabaria ocorrendo na gestão seguinte, de Wenceslau Braz (1914-1918). No setor econômico, a guerra provocou um grande desenvolvimento da indústria e, conseqüentemente, beneficiou o setor social, aumentando quantitativamente a mão-de-obra operária, que passou a constituir nova força a atuar na ordem social. Com isso, acontecimentos novos começaram a influir na sociedade brasileira, como organização de sindicatos, movimentos reivindicatórios e greves, que proporcionavam aos trabalhadores meios mais organizados de atuar ·politicamente. 38


Por outro lado, agravava-se o desequilíbrio financeiro do País, que já se vinha verificando desde o Governo Hermes da Fonseca, com retração do crédito brasileiro no mercado internacional, baixa no preço do café exportado e queda no volume de exportações, tudo levando ao aumento do déficit orçamentário e à inflação. A Wenceslau Braz seguiu-se Epitácio Pessoa (1918-1922), cujo Governo teve de enfrentar os sérios problemas que recebera com o mandato presidencial, além daqueles que resultaram do ineditismo no regime republicano, da nomeação de um civil para o Ministério da Guerra - João Pandiá Calógeras - e da negação em conceder aumento da remuneração dos militares. É esta, pois, a situação em que se encontrava o Brasil ao entrar na década de 20. Os militares do Exército, que então se dedicavam ao aperfeiçoamento de sua formação profissional, se por um lado deixaram de ser bacharéis, por outro não esqueceram seu papel social de soldado-cidadão, e viam com apreensão a conturbação política, econômica e social, que agora também chegava até eles com a designação de Calógeras, deixando-os insatisfeitos. Como a traduzir o estado de espírito, a predisposição de interferência social que em breve iria revelar-se como T enentismo, voltamos ao editorial de A Defesa Nacional, que anos antes já tinha previsto: {(C ... ). Nunca nos esqueceremos, nestas páginas, de fazer a mais rigorosa justiça áquelles que nos precederam nesta senda, e que hoje, embranquecidos e tropegos, os pés sangrando das durezas do caminho, se vão pouco a pouco afundando, nas glorias funebres do poente . .. ( ... ) ( ... ). Não nos move de forma alguma a preocupação pretenciosa de sermos os mentores dos nossos chefes nem dos nossos camaradas: entramos na liça apenas com um pouco de mocidade, um pouco de estudo e a maior boa vontade, e dos nossos chefes e camaradas ambicionamos tão somente ser prestimosos auxiliares e dedicados collaboradores. E agora: en avant/" 9 -

O Estado de Espírito

Estão aí, em resumo, as origens do Tenentismo, suas bases históricas, seus fundamentos psicossociais. A Guerra. do Paraguai, quando se reacenderam os sentimentos nacionalistas; passando pelos eventos abolicionistas e republicanos, que, para os militares, foram exemplos de movimentos patrióticos vitoriosos; a instrução nas escolas de formação de oficiais segundo currículos de orientação essencialmente científica, que postergava a formação castrense; as influências humanistas partidas do Positivismo, com suas intenções de intervenção na ordem social; 39


a atmosfera intelectual do realismo e do naturalismo literário, que ' punha a camada popular em contato com os problemas e preocupações da sociedade da época; as situações política e econômica; que exigiam moralização; os vários grupos de Jovens reformistas; tudo isso concorreu, em épocas diversas, para que nos militares se viesse formando o espírito do soldado-cidadão, com profundo idealismo de responsabilidade pela ordem e progresso do País. E esse espírito nacionalista da época iria impulsionar os jovens, tanto do meio militar, como do meio civil. No entanto, o espírito tenentista ficou exclusivame,nte para os movi- . mentos militares de natureza armada, denotando certa rigidez semântica e errônea conotação pejorativa, pois também foi tenentismo o espírito social de Cândido Mariano Rondon, pacificando índios hostis e integrando o Território Nacional com o assentamento 'de linhas telegráficas em meio às selvas brasileiras; da mesma forma foi tenentismo o impulso patriótico de Plácido de Castro na questão com a Bolívia pela posse do Território do Acre. E tenentismo foi o desprendimento de Ribeiro de Barros, Newton Braga, Vasco Cinquini e João Negrão no vôo nacionalista do Jahu, como ainda foi tenentismo o antropofagismo literário e a revolução jovem da Semana de Arte Moderna de 1922. É interessante também observar que o movimento tenentista militar predominou entre ' os oficiais do Exército . De fato , foram em menor número as participações da Marinha, cuja oficialidade ' jovem, embora sob as mesmas ' influências da época, provinha mais da classe soCial aristocrática, cuja sitmlçao econômica privilegiada permitia o custeio de' altas despesas com o enxoval 'para: ingresso na Escola Naval. Esta circunstância, se por um lado já constituía um fator de diferenciação entre a origem da oficialidade do Exército, bas'icamente burguesa, e a da Marinha, por outro levava esta a , enfocar a, problemática social sob outros prismas. E leve-se ainda em consideraç'ão que , na Escola Naval, não atuou ' um Benjamin Constant... ',' , Por tudo isso é que o 'Tenentismo deve ser visto com'oum ' idealismo, uma predisposição, de natureza nacionalista , que se estabeleceu em face de circunstâncias sucessivas que atuara~ na formação do jovem das primeiras décadas do século XX, e que, embora contida por reformas de ensino e atenuação das condições pásicas ditas dominantes, ainda prevaleceram por alguns anos, gerando os Movimentos que VIriam a marcar o período dos anos 20 e 30.

40


PARTE I AVIACÃO MILITAR



CAPíTULO 1

A AVIAÇÃO NA MARINHA

Outra Tentativa do Cabeçudo

1 -

SEGUNDA década do século XX terminara com a marca do grande reide aéreo de Edu Chaves, entre Rio de Janeiro e Buenos Aires. As repercussões desse feito ainda se faziam sentir, quando o Comandante De Lamare, pilotando o já · conhecido Cabeçudo, decolou da Escola de Aviação Naval, na Ilha das Enxadas, em abril de 1921; em companhia do mecânico naval Silva Junior, tentaria imitar ' o vôo pioneiro de Edu. Não foi feliz , mais uma vez: partiu-se a asa inferior direita, e o Cabeçudo foi forçado a pousar próximo ao farol da Ponta do Boi, na Ilha de São Sebastião, litoral de São Paulo (por curiosa coincidência, há, na Ilha, outra ponta denominada

A

Cabeçuda). Embora tendo de enfrentar esse desapontamento do representante da aviação naval, a Escola continuou a fazer progressos. 2 -

A Turma de Pilotos de 1921

Ainda com algum atraso na instrução, maIS oito ofici,ais são bre . vetados, em fevereiro de 1921: Primeiros-Tenentes Antônio Appel Netto, Camillo de Andrade Netto, Paulino de Azevedo Soares, Fernando Muniz Guimarães e Henrique de Souza Cunha . Segundos-Tenentes João Gonçalves Peixoto, Flávio Santos e Dante Pereira de Mattos. 43


Os Tenentes Peixoto e Mattos foram, em seguida, mandados à Françá, para aperfeiçoamento, tendo, inclusive, estagiado na Esquadrilha das Cegonhas (tornada famosa na Primeira Guerra Mundial, pelo sucesso de seus aviões de caça, sob o comando do maior herói da aviação francesa, George Guynemer). Uma curiosidade: obtivera diploma de Piloto-Aviador Naval, no mês anterior, o Capitão do Exército Marcos Evangelista da Costa Villela Junior, pai do Aribu e do Alagoas. Paralelamente, formava-se pessoal de infra-estrUtura, nas especialidades de Aviação, Mecânica e Motores a Explosão. 3 -

Equipamento Aéreo em 1921

Neste ano de 1921, a Escola de Aviação Naval dispunha de 33 aparelhos, compreendendo aviões de bombardeio, caça, instrução e reconhecimento. O que denotava um grande progresso, se nos lembrarmos que há cinco anos só havia os três Curtiss C1, C2 e C3, cuja aquisição, dizia-se, fora à custa da verba do leijão*; na verdade, seu custeio fora feito com o dinheiro apurado em subscrição pública, promovida pela Liga de Defesa Nacional para construção de um 'encouraçado, mas cujo total foi insuficiente, sendo, então, utilizado na compra dos aerobotes56 • 4 -

O Método Gosport -

Aviação Naval no Campo dos Afonsos

Merecem destaque os Avros 504 K, por terem sido destinados à instrução terrestre, a ser ministrada no Campo dos Afonsos: era a primeira tentativa de implantação de um novo método de instrução aérea, com adoção de doutrina pedagógica inglesa pioneira, criada por volta de 1918 pela Gosport School 01 Flying, um centro de instrução de vôo situado na cidade de Gosport, Baía de Portsmouth, nO Condado de Hampshire, Grã-Bretanha. O método Gosport baseava-se no princípio de que, para ser eficiente, o piloto deveria estar capacitado a voar qualquer tipo de avião. Daí pretender a Marinha incluir na sua Escola de Aviação a instrução com aparelhos também de operações terrestres. É bastante rara na literatura aeronáutica brasileira menção ao ensino baseado nas técnicas da Escola de Gosport. No entanto, há dois artigos, publicados em periódicos nacionais de datas posteriores às que estamos enfocando; antecipamos porém sua inclusão, pois ambos apre* Verba resultante de economia nos gêneros alimentícios.

44


sentam aspectos diversos referidos à época de sua adoção. O primeiro artigo é de 1932 e realça os fundamentos pedagógicos da instrução de vôo do métod091 •

o sistema Gosport de instrução de vôo, que serve de base aos metodos de ensino de pilotagem em nossa Escola de Aviação Naval, originou-se durante a guerra européia, na Gosport School of Flying, Inglaterra) para atender as imperiosas necessidades da luta, onde a eficiencia individual dos pilotos assumia, dia a dia, maiores proporções. Ao valor de cada homem nas linhas de combate, vinha juntar-se a eficiência individual) como o provaram as atividades de alguns famosos pilotos, que, só por si, pelos danos causados ao inimigo, representavam mais que uma qualquer unidade de Exército ou de Marinha. Acrescente-se, ainda, as perdas em pessoal e material resultantes de má pilotagem em face do inimigo, de ignorancia tecnica; o abatimento moral ocasionado por taes perdas; a importancia crescente da necessidade de ser mantida a supremacia aerea, e teremos uma ideia exata do que significa para uma nação a eficiencia de seus pilotos. Tendo que resolver tal problema, compilaram as autoridades inglezas todas as instruções dos seus maiores azes, dos seus melhores instrutores, organizando um corpo de doutrina que servia imediatamente de orientação para o ensino da Escola de Gosport. Foi estabelecido o sistema de duplo-comando na aprendizagem) obedecendo a uma sequencia racional de instrução, que não permitia certas praticas erradas. Aos instrutores, foram dadas instruções especiais, com o objetivo de incutir-lhes os mesmos principias) as mesmas normas de trabalho, tudo vizando a homogeneidade e perfeição do ensino e a obtenção do mais alto gráo de eficiencia possivel, por parte dos alunos. E tais foram os re~ sultados alcançados) que, até hoje, quasi vinte anos após, ainda os inglezes adotam as mesmas praticas, os mesmos principias basicos, sendo acompanhados em seus metodos, com ligeiras diferenças) por quasi todas as grC!ndes potencias aéreas. No Brasil, desde 1920 foram introduzidos os metodos de Gosport. Adotou-os a Aviação ' Naval, servindo-se dos conhecimentos adquiridos na Inglaterra, durante a guerra, pelo Capitãotenente Heitor Varady, a cuja extraordinaria dedicação e competencia tecnica devemos os primeiros e notaveis resultados de taes instruções. E esses resultados, foram tão surpreendentes, que á nova escola se filiaram todos os aviadores navais. A falta de recursos materiaes, que durante dez anos sucessivos) quasi paralisou a Escola de Aviação Naval, não conseguiu invalidar o primeiro esforço. Com o resurgimento da dita Escola, 45


em 193 t os mesmos processos vieram demonstrar outra vez o acerto da orientação inicial, que já se pode considerar definitivamente adotada pela Marinha . Simultaneamente, por influencia da Missão Americana e dos resultados colhidos na Escola de Pensacola com o Capitão-tenente Ismar Brasil, introduziram-se tambem na Aviação Naval os processos norte-americanos de seinvalidar o primeiro esforço. Com o ressurgimento da dita Escola, do Galeão em condições de maxima eficiencia, quer pela orientação em vigor, quer pela qualidade do material disponivel. É essa orientação que desejamos expôr, de maneira a permitir sua maior divulgação entre nós, para que a possam ajuizar todos os centros de instrução aeronautica do paiz, onde se forja a nova geração de pilotos nacionais. DOUTRINA GOSPORT - O objetivo comum a todas instruções de pilotagem é o de preparar os alunos para o comando instintivo de seus aviões, de maneira a poderem concentrar sua atenção nos problemas inherentes ás suas missões. Seja o piloto de qualquer categoria, privado, comercial ou militar, ele terá sempre um objetivo no seu vôo. Ora é a sua navegação, que exige a cuidadosa observação do terreno para a estima da sua posição na carta; ora é o cálculo do seu raio de ação, em função do consumo realizado; outras vezes, é . a procura do inimigo; outras, o reconhecimento dos pontos estrategicos; finalmente, para não citar todas as ocupações estranhas á pilotagem em si, pode ser a propria escolha dum terreno apropriado ao pouso e á necessaria decolagem. Voar não é uma ciencia e, sim, uma arte. Arte em que todos os sentidos se devem adaptar ás novas e variantes condições do meio ambiente e ás atitudes, ás posições que vae tomando o avião sob o comando instintivo do piloto. A adaptação dos nossos sentidos deve seguir-se á exata compreensão das novas sensações,. para que haja a necessaria e instintiva coordenação entre os muscuios e orgãos sensoriais no momento oportuno, com a produção automatica dos movimentos adequados. Qualquer processo de raciocinio entre a percepção sensorial e a ação muscular é prejudicial a manobra, porque rouba essa expontaneidade essencial á rapidez de ação, que distingue o piloto que sente, do que apenas constata os fatos consumados, para solucional-os com o auxilio retardado r do raciocinio O bom piloto vôa como anda em terra firme, inconsciente dos esforços musculares individuais e percebendo, tão somente, o conjunto de operações que executa o seu corpo como um todo. Ele é uma parte integrante do seu avião e pensa em função dos movimentos de todo o conjunto, a que éle 46


se acha tão intimamente ligado, como qualquer de suas partes componentes. Por isso, na instrução de vôo, deve o instrutor procurar educar os sentidos dos alunos com o objetivo de sentir o vôo, isto é, sentir a altitude, a velocidade, as forças anormais, a eficiencia dos comandos, o funcionamento do motor, tudo enfim que lhe pode servir de indicação para a direção do avião e que habilite a voar sem a preocupação constante dos instrumentos, quando as condições atmosfericas são bôas. Retirando-se os instrumentos na faze inicial de duplo comando e colocando-se, depois, apenas os que forem imprescindiveis aos solos evita-se a tendencia natural que têm os alunos de confiarem nas suas indicações, exclusivamente. Voar pelos instrumentos é trabalho de raciocinio, que exige uma abstração cqmpleta dos instintos, e que algumas horas de adextramento ensinarão mais tarde, quando o aluno houver creado o instinto de vôo, tão util e tão dificil de ser educado a principio. Todo o trabalho dos instrutores depende da confiança que os alunos tiverem na segurança do aparelho e na capacidade de seus mestres. Mas essa confiança não se impõe e exige os maiores cuidados para ser creada. Ela é conquistada pela inteligencia com que o instrutor conduz o seu aluno, atendendo às modalidades do seu temperamento, á sua emotividade, á sua atividade cerebral, á moderação, que podem determinar um trabalho, constante de animação, ou de inibição, para que se alcance o equilibrio necessario á pilotagem consciente. O bom tipo de piloto é aquele que revela uma dosagem apropriada de atividade, emotividade e moderação, que são qualidades de superioridade geral, quer se con. sidere sob o ponto de vista intelectual, moral ou do poder da vontade. Excesso de vibração, sem dominio, é tão inadequado quanto excesso de moderação, sem os elans que a justifiquem. Encontramos, assim, pilotos aparentemente calmos, que são meros apaticos, e outros sempre agitados, que possuem o dominio necessario nos momentos proprios. Um exame superficial desses dois tipos apresentados, pode levar-nos a um julgamento erroneo, porque o primeiro não poderia agir com a necessaria presteza, o segundo, em eguais condições, na iminencia duma ação importante, saberia reagir sobre os Seus nervos e teria, certamente uma percepção mais rapida de qualquer ocurrencia anormal. São essas considerações de ordem geral, mas que não deixam de exercer uma consideravel influencia na instrução. Elas nos permitem conhecer as falhas de cada aluno, cujo temperamento devemos conhecer bem intimamente, para que possamos corrigil-os a tempo, ou sugerir a interrupção do curso para os que não revelem um grau de aptidão compatível com as exigencias do programa. 47


A Aviação não tem lugar para asilar méros entusiastas do vôo. Conceder um diploma de aviador a quem não possue os dotes de um bom piloto, é condenar a uma perigosa mediocridade individuos que poderiam brilhar em outros meios de atividade, é crear oportunidade de fracassos, que podem acarretar as maif graves consequencias para o pessoal e para o material em serviço, quando não seja até mesmo por em risco o exito de certas missões importantes. Cabe aos instrutores a responsabilidade de tamanho erro, concedendo o ambicionado diploma por questões de sentimento, que mais criteriosamente deveriam levá-los a evitar futuros desastres.

O primeiro passo a dar para que o aluno tenha confiança no aparelho é desfazer seus preconceitos no que se refere aos perigos que oferece a aviação, o que se consegue mais facilmente, pela propria evidencia dos fatos. Nada é mais prejudicial á instrução que a observação frequente de acidentes; assim, é de suma importancia que se consiga evita-los, o que implica na mais absoluta intransigencia quanto ás regras de segurança de vôo, quanto ás inspeções do material,quanto ao uso de paraquedas e quanto ao exato cumprimento do programa de instrução, onde todas as manobras estão previstas de acordo com o progresso já 'alcançado pelo aluno. Por outro lado, não só o entusiasmo dos instrutores, como o proprio sistema de ensino, contribuem para um estado de elevada moral entre todos, o que deve ser alimentado como as condições mais propicias para a obtenção de bons resultados. Mas se qualquer acidente vier a acontecer, é imprescindivel que todos os alunos voem imediatamente para. apagar os efeitos desastrosos da impressão recebida. Desfeitos os preconceitos sobre perigo e conseguida uma elevada moral, acompanhada dos ensinamentos imprescindíveis à segurança, o instrutor iniciará as suas primeiras demonstrações práticas. Começará mostrando como o avião se comporta no ar e quais os recursos que a sua manobra oferece, sem contudo infundir qualquer especie de receio ao aluno com um dos celebres e ridisulos banhos, que mais servem para causarem impressões desagradaveis e em desacordo com o objetivo da instrução. Muito pelo contrário, o instrutor deve mostrar quanto o vôo é seguro e fácil de ser conseguido, desde que o aluno obedeça estrictamente as instruções que recebe. O tubo acustico, as instruções claras e simples, dadas com absoluta serenidade e a tempo, permitirão que aluno comande realmente o aparelho, sem a interferência manual do instrutor. Nessa, como em todas as fases do duplo-comando, a critica deve ser intransigente, procurando perfeição de manobra, sem que o 48


instrutor interfira manualmente na direção. É essa uma condição basica para que se consiga ' aproveitamento e, de tal importancia, que qualquer instrutor deve ser afastado do ensino desde que não tenha o sangue frio de comandar sem executar ele proprio a manobra, o que só uma emergencia justificaria. Colocado o aluno no lugar do piloto, desde o início da instrução, lugar donde ele deverá comandar seu avião nos primeiros solos, o instrutor analisará cada uma de suas manobras, deixando que éle veja a consequencia de seus erros e esgote os recursos de sua propria imaginação para corrigi-los. Antecipando os resultados, o instrutor anunciará o que irá suceder, até o momento critico de ensinar a correção devida. Tal metodo demonstra a segurança do vôo e eleva o instrutor no conceito do aluno, facilitando o estudo de problemas reais que certamente ocorreriam mais tarde na pilotagem, em solo, e que o aluno não saberia resolver a tempo e com a segurança que lhe dá a presença do instrutor. É nessas ocasiões, observando as atitudes de vôo mais anormais, recebendo as impressões mais estranhas, percebendo a calma, a presciencia e os conhecimentos tecnicos do instrutor que a confiança do aluno se retempera. É necessario, pois, que o alunn tenha absoluta certeza de que é ele de fato, quem está comandando o aparelho, o que lhe será mais facilmente. comprovado si o instrutor deixar seus braços em posição visivel, apoiados sobre as bordas da fuselagem. Para que a instrução de vôo tenha um progresso rapido, é necessario tambem que aluno e instrutor se convençam que todo tempo no ar é precioso. No ar só se. ensina o que não pode ser feito no terreno. A teoria absoluta de que um aluno precisa tantas horas no ar para adquirir proficiencia não exprime a realidade dos fatos . Nada vale tempo de vôo sem objetivo d~ aprender ou aperfeiçoar-se. Um piloto pode ser muito inferior a outro, mesmo com o dobro de tempo de adestramento de vôo, mal aproveitado. Cada manobra tem as suas consequencias logicas, que todo aluno deve conhecer. Uma curva, por exemplo, alta e baixa, é sempre executada da mesma maneira, oferece as mesmas probabilidades de entrada em parafuso, sendo mal feita e requer as mesmas precauções para não redundar em parafuso; apenas, quando ha espaço para recuperação, pode-se abusar mais que junto ao sólo; nada mais. As aulas de duplo comando não devem ser dadas com intervalos demasiadamente grandes, nem pequenos, de adestramento em solo. No primeiro caso, o aluno não tem tempo de 49


adquirir confiança em si; no segundo êle pode adquirir vicios de pilotagem que farão os instrutores perderem tempo. A medida indicada pela pratica é de tres horas, no maximo .

5 -

Vantagens Econômico-Financeiras do Método Gosport

o

segundo artigo é de 1936: 113

o ensino de vôo no Brasil, como em muitos outros paízes, tem soffrido alternativas de methodo e de doutrina, não se tendo, até hoje, firmado directrizes fixas, capazes de assegurar a uniformidade desejada no padrão de vôo dos pilotos, compativel com a economia e qualidade da instrucção . Na Marinha, como no Exercito, ainda não se chegou a uma estabilidade de orientação indispensavel á consecução desse objectivo essencial em qualquer organização aerea moderna: produzir pilotos efficientes no menor tempo e pelo menor preço. A rigorosa escolha do material de vôo e o systema de instrucção têm que ser os factores principaes, entre varios secundarios, que influem decisivamente para se conseguir aquelle objectivo. Pode ' dizer-se, de um modo geral, que bons pilotos, excellentes pilotos, são produzidos em todas as forças aereas do mundo, mas, bem examinados os methodos aqui e ali seguidos e comparando-se os resultados obtidos e o material empregado nos differentes paizes, teremos que admitir, pelo menos no caso particular da instrucção de vôo e no treinamento dos pilotos a superioridade de Força Aerea Ingleza. O systema inglez de instrucção de vôo resultou da experiencia da guerra e evoluiu, no seu conjuncto de material e de methodo, parallelamente á evolução notavel que se tem verificado nos varios typos de aviões de guerra. Não será exagerado dizer que, hoje, nos paizes onde a instrucção de vôo está mais avançada, seguem-se ás grandes linhas do systema inglez, differindo apenas o material utilizado na aprendizagem . Esforços consideraveis têm sido feitos para a construcção de aviões cujas caracteristicas e performances igualem ou excedam as dos aviões inglezes de instrucção, typo AVRO e, a continua mudança de typos nos diferentes paizes demonstra que não se têm conseguido o desejado resultado. Mesmo na Inglaterra, periodicamente, o Ministério do Ar provoca a reacção das fabricas e estas concorrem a provas preestabelecidas com typos de creação nova e os fabricantes dos A VROS conservam a leaderança, continuando os seus aviões como padrão da instrucção de vôo na Royal Air Force. 50


Em que consiste o systema inglez de instrucção? Para melhor abordar o assumpto e emprestar-lhe maior clareza, recuemos um pouco no tempo para a collectanea de argumentos que justifiquem o ponto de vista em que nos collocamos. O objectivo de toda instrucção de vôo é produzir pilotos capazes de voar instinctivamente em qualquer typode avião de guerra, sem o que, elles não poderão cumprir, no ar, os seus deveres taes como o bombardeio, a luta, o reconhecimento, etc., e, afim de produzir um piloto capaz de voar no mais diffici!. O typo de avião mais difficil de ser pilotado é o de caça, devido a algumas das suas caracteristicas e determinados aspectos de suas performances: a) velocidade e sensibilidade de commandos, exigidos pela rapidez de manobra, que é o seu unico meio de defesa (é um avião puramente offensivo); b) grande tendencia a girar sobre o mesmo Sltzo (no sólo) e certas particularidades apresentadas por alguns typos em algumas manobras no ar; c) motor, usualmente, com grande excesso de potencia.

A solução que se adaptava até o começo de 1918 na I nglaterra e ainda hoje seguida em muitos paizes, consistia no emprego de varios typos de avião de instrucção, cada um dos quaes possuindo alguma caracteristica do avião de caça; obtinha-se, pela combinação de varios typos, todas essas caracteristicas. Assim, ensinava-se ao alumno primeiro n'um Farman, depois n'um Caudron, em seguida n'um Sopwith, etc. Facilmente se verifica que este systema acarreta o emprego de trez ou mais typos de aviões, triplicando-se o tempo de instrucção e, consequentemente, o seu preço. D' ahi se infere que o ideal seria utilizar um avião de caça para a instrucção, mas isto é impossivel visto ser este typo monoplace, além de ser muito caro. Consequentemente, si se pudesse usar um só typo de avião - aquele que possuisse todas as caracteristicas do avião de caça - e, uma vez que o alumno aprendesse a voar em qualquer typo de avião de guerra, ter-se-ia rea· lisado notável economia de tempo e de dinheiro. Foram estas considerações que levaram em 1917 o Coronel Smith Barry e o Major F. P. Scott a realizarem exaustivas experiencias) na Escola de Gosport, procurando) entre todos os aviões que eram utilisados pelas nações) então em guerra com os Imperios Centraes, um, que pudesse satisfazer àquella condição. Desenvolveu-se, assim, um novo methodo de instrucção que tomou 51


o nome d'aquella famosa Escola e o avião escolhido foi o AVRO, que se verificou possuir todas as qualidades necessarias, com a vantagem de duplo commando. Uma vez completada a instrucção nesse avião (o que exigia de um a um e meio mez, com aulas duas v~zes por dia) o alumno estava em condições de voar em qualquer avião de guerra .

Os methodos que tornaram possivel este resultado foram applicados em Gosport em 1917 e resultaram da combinação dos processos scientificos com os de senso commum, e, principalmente de instrucção de vôo . Até então (como ainda acontece em alguns paizes) não se ensinava o alumno a voar; elle aprendia a voar, graças, principalmente, á sua capacidade de imitação. No systema Gosport empregam-se telephones e o alumno aprende com o instructor, usando a sua intelligencia. Verificouse que era mais necessario o esforço do instructor que do alumno . O instructor deve ser um especialista em instrucção; deve saber analisar qualquer manobra no ar, durante a instrucção. Deve ser capaz de ensinar não só como, mas, também, porque se deve fazer cada manobra de certa forma. Deve ' ser capaz de exemplificar praticamente não só o modo correcto como o incorrecto de manobrar, mostrando as consequencias das manobras erradas. Em outras palavras, o principio director deve ser que a ignorancia é o unico perigo na aviação. Si se ensina o alumno a pôr o avião em qualquer posição concebivel e a restabelecer o seu equilibrio, elle nunca se encontrará em dificuldades que não possa superar. Não se deve ensinar o alumno somente a manter-se no ar, mas sim, a executar todas as manobras que se podem fazer no ar e no campo de pouso; como se pousa com vento de travéz, como se fazem pousos forçados, acrobacias, quedas de azas, etc. As constantes experiencias que se fizeram nesse sentido em Gosport, deram lugar á mstituição de um systema que permitiu instruir completamente um pilotO em pouco mais de um mez n'um typo de avião, em quanto todos os outros systemas exigiam de 5 a 8 meus ou mais e 3 ou mais typos de aviões. Como uma prova conclusiva instruiram-se 22 ofliciaes por est~ systema em 5 semanas, depois das quaes todos voaram em todos aviões de guerra então existentes (Setembro de 1917) sem quebrar um só estay. Gosport tornou-se uma escola especial de instrucção para instructores. Os pilotos que regressavam das varias frentes de batalha eram enviadas para aquela Escola, afim de aprenderem como voar sem defeitos e como ensinar a voar. O systema não parou aqui; abrangeu toda a organização escolar. Verificou-se que uma escola de vôo não era mais do que 52


uma fabrica para produzir pilotos, em que, como em todas as outras fabricas, o custo da produção depende da sua quantidade de numero de operarias, do tempo gasto em produzir e do custo da materia prima. Os factores principaes de que dependem estes itens, são: a) Qualidade da instrucção. O instructor ideal é aquelle que consegue produzir maiores resultados no menor tempo de vôo. D'ahi a necessidade de intensiva instrução . b) A porcentagem de accidentes, que depende da qualidade da instrucção; c) Organização das oflicinas que deve atender aos reparos de tal forma, que mantenha um fluxo de trabalho constante, permitindo assim o minimo emprego de mecanicos; d) Estrita diflerenciação entre operarios e aprendizes; e) Preço inicial dos aviões a utilizar. Com referencia a (a) e (b) a porcentagem de accidentes em Gosport foi reduzida a 3% por dia contra 9% na Brigada de Instrucção do Norte na Inglaterra, e 13% em Pau, na França. Os francezes, nesta ultima estação, devido á alta porcenta· gem de accidentes só podiam manterem serviço diario 1/3 dos seus aviões, apenas 133 eram mantidos em constante serviço, ficando os outros 2/3 em reparos ou reserva. Em Gosport verificou-se, facilmente: ser possivel manter 2/3 em constante serviço diario e 1/3 em reparos ou em reserva, graças a reduzida porcentagem qe accidentes. O número total de mecanicos empregados em Pau era de 1.390, ou melhor necessitavam de 10 homens para manter um avião no ar, por dia . Em Gosport onde eram mantidos dois terços dos aviões diariamente em vôo, contra um terço na França, eram apenas necessários 5 homens para manter-se um avião no ar. Na Brigada de Instrucção do Norte (Inglaterra) devido não só ao systema de organização como a alta porcentagem de accidentes, não se empregavam menos de 16 homens para fazer o mesmo serviço e destes 14 eram especialistas ou pagos como tal. Ainda mais verificou-se que todo o systema de instrucção era susceptivel de grande melhoramento e economia, a muitos respeitos. Por exemplo: antes de ensinar a voar, os ofliciaes faziam o curso da Escola Elementar de Aeronáutica Militar, onde aprendiam uma boa copia de theoria de aeroplanos e de motores. Subsequentemente, no curso de vôo, cerca de 2..0% tinham de ser dispensados, representando perda total o tempo e o dinheiro gastos anteriormente. Seria, portanto, melhor ensinai-os primeiro a 53


voar e, ao mesmo tempo, visto como elles não podem voar todo o dia, intercallar no horario de vôo, as necessarias theoria e instrucção pratica de terra. Para resumir damos uma comparação de todo o curso do systema Gosport com o outro que se empregava na Inglaterra e ainda hoje em uso, com pequenas modificações em alguns paizes: SYSTEMA GOSPORT a) 4 semanas de curso de vôo depois das quaes o alumno póde voar em qualquer typo de avião de guerra e durante as quaes elle faz os cursos de terra, de artilharia, de telegraphia, assumptos technicos, etc.; b) 1 semana de curso technico em avião de guerra e pratica de vôo no mesmo;

c) 2 semanas de artilharia e tactica em trabalhos do Corpo ou exercito (não em ambos); d) o alumno conclue o curso e é transferido para uma esquadrilha de guerra em cooperação pratica com o Exercito, ou em trabalhos do Corpo ou do Exercito, operações independentes, etc. 7 semanas ao todo. OUTROS SYSTEMAS a) 6 semanas de curso technico incluindo conhecimentos exigidos pelos pilotos, do Corpo e do Exercito, theoria e artilharia elementar, meteorologia, etc.; b) 4 semanas de artilharia em terra;

c) 4 semanas de instrucção elementar em Maurice Farman ou

D.H.6; d) 6 semanas de instrução mais adiantada em esquadrilha, Avros, B.E, Curtiss, Sopwiths, Camels, etc.; e) 3 semanas em esquadrilha de caça Avros, Sopwiths, Camels, etc.;

f) 1 semana de artilharia em T urn-bury; g) 2 semanas de tactica. 26 semanas ao todo.

O systema ennunciado acima sob a designação de outros systemas, vigorou na Inglaterra até 1918, quando o systema Gos54


port permitiu a substituição de c), d) e e) por um só curso em aviões AVRO. Houve uma experiencia ititeressantissima na America do Sul, em materia de instrucção de vôo, que, não sendo muito conhecida entre nós, podemos citar aqui para que d'ella se possam tirar os ensinamentos úteis. Refiro-me ao contracto de uma missão ingleza pelo Governo do Chile, que foi chefiada pelo Major F. P. Scott. Para não sermos prolixos, façamos a comparação dos resultados ali obtidos anterior e posteriormente ao contracto d' aquella missão.

DEMONSTRAÇÃO COMPARATIVA DO CUSTO DA INSTRUÇÃO DE UM PILOTO DURANTE 4 ANNOS (19171920) E DURANTE O PERIODO COBERTO PELOS TRABALHOS DA MISSÃO PERIODO 1917-1920 (4 ANNOS). Aviões usados - 6 Bleriot, 1 Deperdussin, 5 Sancnez Bessal 6 aviões escola (pinguins), 1 Farman, 1 Morane, do custo médio de 2.000 pesos - 40.000 pesos. Despesa orçamentaria em 4 annos, com creditos especiaes, excluindo o credito extraordinario de 1.800.000 pesos em 1920:

1917 1918 1918 1919 1919 1920 1920

........ . ........ . (creditos especiaes) . ........ . (creditas especiaes) . ........ . (credito extraordinario exclusivo)

$ $ $ $ $ $

180.640 351.800 1.014.200 378.900 40.000 543.500

$

2.509 .040

Durante este período não se preparou um só piloto capaz de voar n'um De Havilland e diplomaram-se 10 pilotos capazes de decollar e pousar n'outros aviões do tipo Bleriot ou Bristol monoplano. O custo da produção destes 10 pilotos, os unicos disponiveis na mobilisação de 1920, foi: Custo por piloto . . . . . . . . . .

290.000 pesos 55


PERIODO COBERTO PELA MISSÃO SCOTT (1 ANNO) Orçamento original de $ 1.076.233 pesos, mas reduzidos de $ 691.368,63, devido a apertos finanCeiros: Restantes . . . . . . . . . Creditos especiaes inclusive Missão Seott e a compra de sobressalentes . . . . . .

. . . . . . . as despezas com seis aviões Avros . . . . . . .

. a e .

$

384.864,37

$

522.726,00

$

907.584,37

Isto corresponde à produção de 64 pilotos capazes de voar qualquer avião de guerra. Custo por piloto, $ 14 .181,00 pesos, ou seja, um vigesimo do que custava anteriormente.

QUADRO COMPARATIVO AVIAÇÃO MILITAR CHILENA Resultados obtidos durante 4 anos - 1917-1920 - com os alcançados durante um ano - Novembro de 1920 a Novembro de 1921: 4 anos (1917-1920)

1 ano (1920-1921)

H oras de vôo . . 387 2.813 47 Acidentes maiores 34 28 31 Acidentes menores Proporção de acidentes por hora de vôo: Maiores . . . . . . 1 em cada 8 horas 1 em cada 82 horas 1 por 100 horas Menores . . . . . 1 por 12 horas Número de aviões em vôo por dia . . . . 0,6 aviões 8 avtoes Número de mecâni40 76 cos empregados . . D' onde número de homens empregados para manter 1 avião 66 9,5 no ar por dia 2 Mortos . . . . . . 7 56


Tendo em vista os resultados acima, seria interessante um esforço prático, em nossas escolas de aviação militar e naval, no sentido de obterem-se dados comparativos dos resultados obtidos com a instrução de vôo, simultaneamente, em duas turmas, adotando-se, para uma delas, o método ortodoxo inglês (sistema e material) e para a outra os métodos ora em voga nas duas escolas. Para o Brasil, mais ainda que para outros países, devido à escassez de recursos orçamentários, que tanto dificulta o progresso da sua aviação, parece que seria de grande utilidade a experiência.

Embora, na época, sua aplicação não houvesse trazido resultados apreciáveis, o evento Gosport, em 1921, é marcante para a história da aeronáutica brasileira, pois, além de mostrar mais uma das glórias do Campo dos Afonsos - um dos berços da Aviação Naval - marca também a época em que o ensino de aviação, até então simplesmente empírico e com orientação de diversas procedências, ensaiou um grande passo para se organizar, com base em estudadas técnicas pedagógicas, tendo a Inglaterra como única fonte. 6 -

Defesa Aérea da Costa -

Primeiras Providências

Ao mesmo tempo em que cuidava de aprimorar a instrução de vôo, a Escola buscava manter a operacionalidade de seus pilotos, não obstante as dificuldades impostas pela deficiência na manutenção de seu equipamento aéreo, deficiência esta trazida pela indispensável economia de gastos que a conjuntura econômica da época determinava. Além de vôos ,diários, desfiles no ar e acrobacias em datas festivas faziam parte da programação de atividades. Um importante levantamento aéreo, para confecção de cartas hidrográficas do litoral e dos lagos do Estado do Rio de Janeiro, foi realizado pelo Tenente Petit 'e pelo antigo e constante colaborador da Aviação Naval, o fotógrafo de A Noite Jorge Kfuri , em setembro de 1921. Daí resultou, inclusive, a organização de um ponto de apoio em Cabo Frio, com depósito de combustível sob aguarda da Delegacia de Polícia local. Mostrando disposição em dar continuidade efetiva a projetos desse tipo, bastan'te necessários ao patrulhamento aéreo da costa brasileira, mas não dispondo de técnicos especializados, a Marinha contratou Jorge Kfuri para executar serviços aéreos de foto-levantamento para a Escola de Aviação Naval. À Marinha sempre estiveram afetos projetos específicos para a guarda do litoral brasileiro. Em 1917, quando da Primeira Guerra Mundial , 57


tinha sido criado, na gestão ministerial do Almirante Alexandrino, o Serviço de Defesa das Costas e Fronteiras do Brasil por meio de Engenhos Aéreos. Agora, em 1921, o Ministro çivil da Pasta, João Pedro da Veiga Miranda, voltava a cogitar de projeto semelhante: Organização Aérea para a Defesa do Litoral Brasileiro, já que o antigo Serviço não

chegou a ter desenvolvimento na Marinha. Após um mês de intensos estudos acompanhados pelo seu EstadoMaior, o Ministro vem a aprovar o Projeto, pelo Aviso Reservado n.o . 4 .268, de 05 de dezembro de 1921 , com o qual estruturava a organização básica da Aviação Naval, adequando-a para a defesa aérea da costa brasileira. Dias depois, é sancionado pelo Presidente Epitácio Pessoa o. Decreto n.o 4.436, de 30 de dezembro, estabelecendo duas linhas de navegação aérea entre as cidades do Rio de Janeiro e Porto Alegre, ((a serem implantadas até setembro de 1922 uma pelo litoral, destinada JJ

,

((ao serviço de aviões e hidroavieõs JJ , ((estabelecida, conservada e dirigida pelo Ministério da Marinha", outra pelo interior, destinada ((ao 21 tráfego de aviões", a cargo do Ministério da Guerra •

7 -

O Primeiro Centro de Aviação Naval

Pela urgência determinada no Decreto, a Marinha passou de imediato a tratar dos implementas do Projeto de Defesa Aérea, cogitando da criação de um Centro de Aviação Naval, que seria o elo principal do sistema de defesa do litoral. O lugar escolhido para a construção desse Centro foi a Ponta do Galeão, Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, aproveitando-se os terrenos da Escola de Aprendizes-Marinheiros, inclusive com ampliação da área, tão logo fosse desocupado o local onde, então, estava uma colônia de alienados, e demolidos os respectivos edifícios. Para garantir a posse desse terreno (qúe dependia de ato de desapropriação pelo Ministro da Justiça) os Tenentes Epaminondas e Savaget (( foram mandados operar com aviões terrestres no Galeão - contra a vontade do Ministro da Marinha, cuja opinião era de que aviões de roda deveriam ser do Exército JJ5ó •

8 -

Formação de Pessoal ainda em 1921 Ainda neste ano, obtiveram diploma de piloto-aviador: Segundos-Tenentes José de Lemos Cunha; Floriano Peixoto Cordeiro de Farias; Fernando Muniz Freire Júnior; Luiz Leal Netto dos Reys.

58


Ao começar o ano de 1922, Centenário da Independência do Brasil, a Aviação Naval já tinha como definida, pode-se dizer, sua missão precípua, qual seja a de patrulhamento aéreo do litoral brasileiro (o que, aliás, já tinha sido delineado na alínea "a" do Art. 1.0 do Regulamento da Escola de Aviação Naval, desde 1917). Faltava-lhe então 'efetivar · sua organização administrativa e aparelhar-se adequadamente. Logo em janeiro, o regulamento da Escola de Aviação sofreu revisões, para admitir aviadores civis, reservistas, sócios do Aero Club Brasileiro e de outros aero-civis (como também eram conhecidos os Aeroclubes) que, comissionados no posto de segundo-tenente aviador, deveriam permanecer no mínimo cinco anos em serviço militar ativo; dessa forma, a Aviação Naval pretendia manter um corpo de pessoal jovem, passível de renovação e suficiente para os inúmeros encargos da nova Organização. Quanto aos oficiais de carreira, formados no curso regular de pilotagem da Escola de Aviação, passariam a integrar o chamado "Quadro A", constituindo um corpo permanente. Comissões diversas foram designadas para elaborar regulamentos e regimentos, visando à formação de esquadrilhas, e estudar encomendas de novos aviões, adequados em tipo e quantidade à Defesa Aérea do Litoral Brasileiro. Enquanto isso, a Escola de Aviação Naval formava novos pilotos: Primeiros-Tenentes América Leal, Arnaldo Pereira Gomes, Francisco Félix de Araújo, Ari de Albuquerque Lima, Samuel Brasileiro da Silva e Aristides Francisco Garnier 124 •

9 -

Os Centros de Santos e Florianópolis

Em maio aconteceu a esperada desapropriação dos terrenos da colônia de alienados no Galeão, e as construções do Centro de Aviação vieram a iniciar-se em julho, sob a fiscalização do Capitão-de-Corveta Engenheiro Naval Arthur Rocha. O

Para cumprir o Decreto n. 4.436, que estabelecia as linhas aéreas para o Sul, tornavam-se necessárias construções de outros centros ao longo da costa brasileira, além daquele no Galeão. A partir dos estudos de viabilidades que haviam sido iniciados pelo Comandante De Lamare, desde 1919, decidiu a Marinha construir um em Santos, semelhante ao Centro do Rio de Janeiro, aproveitando terrenos em Bocaina, duados à União pelo Presidente de São Paulo, Washington Lüi~. Num chuvoso 59


domingo, 22 de outubro deste 1922, era lançada a pedra fundamental daquefa que futuramente viria a transformar-se na Base Aérea de Santos (a denominação Base só se tornaria corrente após 1930).

Fig. 1 - o Presidente Washington Luiz, por ocasião do lançamento da pedra fundamental da Base de Aviação Naval, hoje Base Aérea de Santos, SP.

Ao final da gestão ministerial do Dr. Pedro da Veiga Miranda , a Marinha recebeu terrenos em Florianópolis, doados pelo Governo de Santa Catarina (na localidade de Caiacanga-Mirim) e pelo Ministério da Guerra (em Ressacada), para construção de mais um Posto de Aviação. Ao assumir a Presidência da República, em 15 de novembro de 1922, Arthur da Silva Bernardes escolheu para Ministro da Marinha o Almirante Alexandrino Faria de Alencar, cargo que ele iria ocupar pela terceira vez (e, infelizmente, a última, em face do seu falecimento, que interromperia sua gestão). Sempre entusiasmado pela aviação, o Ministro Alexandrino deu prosseguimento ao profícuo trabalho de seu antecessor.

10 -

Aperfeiçoamento de Pessoal

A par da criação do Centro do Rio de Janeiro, de Santos e Florianópolis, estudos sobre a construção de outros pontos de apoio a vôos 60


para a defesa também do litoral norte vinham sendo efetuados por comissões específicas. Até mesmo o emprego de um navio-aeródromo estava sendo coigtado. Uma preocupação maior, porém, vinha tomando vulto: a indústria aeronáutica, cujo estágio não correspondia qualitativamente às expectativas inerentes a possíveis situações bélicas, e, quanto à produção, deixava o País na dependência do controle estrangeiro. Daí a idéia arrojada de ser construída uma fábrica, capaz de suprir com aviões, motores, hélices e acessórios nacionais as necessidades da Aviação Naval. O primeiro passo nesse sentido já tinha sido dado, com o enviO do Primeiro-Tenente Raymundo Vasconcellos de Aboim ao College o/ Science and Technology o/ London, para cursar Engenharia Aeronáutica. Em 5 de outubro de 1922, sua matrícula fora efetivada. Os diversos aspectos do desenvolvimento da indústria aeronaval no período são assunto especialmente desenvolvido neste volume. Quanto à operacionalidade de seu pessoal, a Aviação Naval jamais se descuidava, não obstante o estado precário dos seus aviões. Em março, o Tenente José de Lemos Cunha e o fotógrafo Jorge Kfuri, tendo deco· lado do Campo dos Afonsos num Avro 504 para missão de reconheci· mento em Magé, deixaram apreensivos seus companheiros da Escola de Aviação Militar, pois não tinham regressado no tempo previsto, nem foram localizados, na rota, pelo Breguet que a Escola enviara em missão de busca: haviam aterrado em pane na Ilha do Governador ... Mais felizes, pois correriam sem incidentes, foram as recepções aladas ao "Santa Cruz", de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em junho, realizadas por dez aparelhos, bem como ao vapor Lutécia, em agosto, procedente da França, trazendo Santos-Dumont, e nas quais tomaram parte cinco aerobotes Curtiss.

11 -

Novos Aviões -

As Três Primeiras Esquadrilhas

Em 1923 já foi possível a organização das esquadrilhas, objeto de estudos anteriores para a implantação da Defesa Aérea do Litoral. Os aviões encomendados à fábrica Curtiss e à Ansaldo começaram a chegar, e com esse equipamento iam surgindo as três primeiras esquadrilhas militares brasileiras: de bombardeio e patrulha, com 14 aparelhos Curtiss F 5L; de reconhecimento, com dezoito aviões SVA-10; e de caça, com doze aviões Sopwith 7F-1 Snipe (esses dois últimos muito pouco, quase nada mesmo, viriam a ser utilizados, por falta de adequa61


ção operacional : demasiada velocidade para pouso e decolagem em relação às dimensões da pista do Galeão).

Fig . -

Fig . 3 -

Curtiss

F·j

L.

Ansaldo SV A 10.

A 1 de maio, a esquadrilha de bombardeio recebeu sua equipagem inicial: Capitães-Tenentes Schorcht , Raul Bandeira, Savaget e Varady. Enquanto se firmava cada vez mais a Flotilha de Aviação , a Escola de Aviação, cujo comando tinha voltado ao Comandante Protógenes, acumulando com o da Flotilha, exercitava a operacionalidade de seu pessoal , realizando um grande reide ao Nordeste. 62


Fig. 4 -

12 -

Sopwith 7 F-I SNIPE

Os Reides de 1923

Partindo da Ilha das Enxadas, no Rio, em 1 de julho, quatro Curtiss bombardeiros F5L, aos quais foi autorizado juntar-se um aparelho Junkers, com tripulação alemã, alcançaram Aracaju (SE) no dia 18 , após escalas em Vitória (ES) e Salvador (BA). Ainda na capital baiana, a Esquadrilha dos I bis , como fora apelidada pela imprensa de Salvador, recebeu festivas manifestações pela homenagem que, com sua visita aérea , a aviação naval prestava à Bahia na comemoração do seu Centenário de Independência. Em Aracaju, a esquadrilha encontrou semelhante recepção. Discursando em nome dos companheiros da jornada, o Capitão-de-Mar-eGuerra Protógenes Guimarães agradeceu as homenagens prestadas a todos os integrantes das tripulações , seus comandados naquele vôo pioneiro, enfatizando que o reide, além de mostrar a prontidão da aviação naval para a defesa do litoral brasileiro, representava estímulo a que outros ' se lançassem naquela rota aérea, conduzindo passageiros e carga, fazendo o progresso comercial e industrial da região e do País; por outro lado, acrescentou, era inegável que vôos como o realizado contribuíam para a manutenção da unidade nacional, tão necessária naqueles tempos. A 29 de julho, a esquadrilha decolou de Aracaju, em regresso ao Rio, com escalas em Salvador, Porto Seguro e Vitória , alcançando sem .incidentes a Ilha das Enxadas em 8 de agosto. Estava concluído , com total sucesso, o primeiro reide aéreo de uma esquadrilha naval brasilei63


ra. Haviam sido percorridos mais de três mil quilômetros, em 25 horas de vôo! Ressalta-se aqui uma curiosidade: a escala 'em Porto Seguro, que não tinha ocorrido na viagem de ida, foi motivada pelo aumento de peso verificado nos hidros: alguns bons quilos. .. de água de chuva (por falta de alojamentos adequados os aviões tinham ficado desabrigados todo o tempo), o que obrigou a um reabastecimento menor de combustível, para compensar o encharcamento da estrutura de madeira e tela. Em 4 de setembro, um novo longo vôo teve início, também com os bombardeiros. Cinco hidros F5L, ainda sob p . comando de Protógenes, dirigiram-se a Santos e Florianópolis, a fim de inspecionar e documentar as obras dos Centros de Aviação. Para tanto, além da numerosa equipagem, composta de oficiais, sub oficiais e praças, foram levados um representante da Revista Marítima Brasileira, um operador cinematográfico da Botelho Film e o fotógrafo Jorge Kfuri (agora comissionado como Segundo-Tenente). . Em novembro desse ano de 1923, já se podiam utilizar ' aviões de roda na Ilha do Governador, decolando -e aterrando na nova pista do Galeão, que fora situada entre a Escola de Aviação (em construção na parte mais próxima ao continente - nos dias atuais, até bem pouco tempo, utilizada como instalações do Correio Aéreo Nacional) e o Centro de Aviação (na parte mais interna da Ilha - onde hoje fica a Base Aérea, para cuja fachada há projeto aprovado de tombamento), ambos com obras em andamento.

Fig. 5 -

64

Base da A viação Naval 'no Galeão .


Fig. 6 -

13 -

Portão de entrada da antiga Escola de A viação Naval, na Ilha do Governador (1923) .

Criação da Diretoria de Aeronáutic"a

Em 18 de novembro de 1923, pelo Decreto 15.847, vem a ser criada a Defesa Aérea do Litoral, à qual se subordinavam a · Escola de Aviação e as unidades aéreas, em fase de construção: o Centro do Rio de Janeiro, de Santos e Florianópolis. Logo em seguida, porém, a Defesa Aérea foi extinta. Em 5 de dezembro de 1923, é assinado outro Decreto, este de n.o 16..237, cria1;ldo a Diretoria de Aeronáutica do Ministério da Marinha e subordinando aquelas unidades ao extinto órgão.

14 -

Formação de pilotos -

Dificuldades

A essa época, a aviação naval ressentia-se da dificuldade em formar oficiais pilotos-aviadores. Neste ano, dos poucos brevetados até então menos da metade (c:erca de 26) estava prestando serviço efetivo à Aeronáutica. As dificuldades eram várias: encargo que se afigurava arriscado, não constituindo atrativo relevante a gratificação financeira oferecida ao pessoal de vôo; dotações orçamentárias que , escassas , impediam fossem melhorados os recursos de segurança aérea; manutenção mecânica dos aparelhos deficiente, também por falta de verbas; acomodações não-confortáveis, incompatíveis com as exigências da instrução (por falta de espaço na Ilha das Enxadas , a própria Escola viu-se na contingência de instalar-se, embora provisoriamente, no Javari (cruzador auxiliar adaptado de um navio-transporte do Lloyd Brasileiro e 65


incorporado à Marinha, quando da Primeira Guerra Mundial), até sua transferência para o Galeão. De qualquer forma, o Regulamento pelo qual a Escola se vinha regendo (Dec. 14.551, de 16-12-20) previa 180 vagas para os diversos cursos; no de pilotagem, só nove alunos foram brevetados, já em meados de 1924, pelos atrasos na instrução: Primeiros-Tenentes Manoel Raposo dos Santos; Pedro Paulo Villasboas Beltrão; Armando Pinheiro de Andrade; Hugo da Cunha Machado; Amarílio Vieira Cortez. Segundos-Tenentes Reynaldo Joaquim Ribeiro de Carvalho Filho; Álvaro de Araújo; Antônio de Azevedo Castro Lima; Ismar Pfaltzgraff Brasil. 15 -

A Escola de Aviação Naval no Galeão -

Outras Dificuldades

No segundo semestre de 1924, a Escola de Aviação Naval finalmente transferiu-se para a Ponta do Galeão, ocupando as novas instalações, e ampliou os vôos com os aviões Avro, equipados com rodas para instrução em terra, ainda seguindo o método Gosport, iniciado no Campo dos Afonsos. O Centro de A viação do Rio de Janeiro ganha o seu primeiro Comandante, Capitão-de-Mar-e-Guerra Heráclito da Graça Aranha. Quanto à Diretoria de Aeronáutica, ela é praticamente desativada, pois o Decreto 16.683, de 26 de novembro de 1924, torna sem efeito sua regulamentação, estabelecida pelo Decreto 16.600, de 17 de setembro, extinguindo-se, afinal, quando o Aviso 5.252, de 30 de dezembro, deu instruções para a execução da transferência definitiva ao EstadoMaior dos órgãos que a ela estavam apensos: a Escola e os Centros de Aviação do Rio, de Santos e Florianópolis. O ano de 1925 não foi dos mais promissores, em virtude do momento de agitações políticas que o País vinha atravessando. Neste ano não houve matrícula no curso de formação de pilotos, e os que se diplomaram haviam obtido inscrições em 1923: Tenentes Álvaro Hecksher; João Marques Filho; Americo Leal. Terceiro-Sargento Almacchio Dessaune. Também se formou nessa época o Tenente Armando de Souza e Mello Ararigboia, do Exército. As construções do Centro do Rio de Janeiro, de Santos e Santa Catarina arrastavam-se, por falta de verbas; o equipamento aéreo tor66


nava-se cada vez mais deficiente, por falta de manutenção adequada; a problemática do recrutamento de pilotos agravava-se, por escassez de candidatos. Enfim, tudo levava a Aviação Naval a um estado realmente precário, que se vê claramente traduzido nas palavras em forte estilo de Monteiro Lobato no prefácio de "Aerogramas", referindo-se ao desânimo que se abatia sobre os pilotos navais w: ... lentamente fenecendo no entusiasmo... ou abandonam a carreira ou acocoram-se nela, resignados, à espera de que o tempo corra e as magras regalias das promoções lhes venham ter às mãos. E o Brasil, por escárnio do acaso pai duplo da Aviação, por Gusmão e Dumont, não voa - embora custeie um oneroso aparelhamento de voar. Limita-se a ver voarem os outros povos . ..

Apenas a atuação eficaz do Comandante Heráclito da Graça Aranha constituía um dos poucos estímulos, ao qual o pessoal da aviação ainda vinha dando resposta satisfatória. Ao final de 1925, voltou a ser restabelecida a Diretoria de Aeronáutica, pelo Decreto 17 .153, promulgado em 23 de dezembro. Essas diversas alterações na ordenação administrativa da Aeronáutica da Marinha bem mostram a incerteza, a insegurança, a indecisão, na época, quanto à estrutura organi~acional mais adequada para a aviação. Em 1926, a situação precária da Aviação Naval pouco se modificou. No tocante às obras do Galeão, apenas as da Escola estavam praticamente concluídas, enquanto as do Centro se encontravam em atraso; as de Santos, paralisadas; as de Santa Catarina, porém, embora ainda não de todo concluídas, podiam ser consideradas como utilizáveis. Em 18 de abril, a Marinha do Brasil enlutou-se: falecia o Ministro Almirante Alexandrino Faria de Alencar, ao qual a Aviação Naval devia tanto em desenvolvimento, em progresso. Por seu entusiasmo, por suas iniciativas, por sua dedicação para com o vôo na Marinha, pode hoje o Almirante Alexandrino ser merecidamente considerado como o Pai da Aviação N avar 3 •

16 -

Mais um Reide

Mesmo ainda em meio às dificuldades e carências da época, surge do Capitão-Tenente Netto dos Reys a idéia de um novo reide: viagem de instrução a Belo Horizonte (MG). 67


Eram 11 horas de 3 de agosto de 1926 quando uma esquadrilha de três Avros iniciou a rota mineira, sob o comando de Heitor Farady. Anteriormente, Appel Netto' já havia seguido por terra, visando à escolha e ao preparo de locais para a aterragem, em Juiz de Fora e Belo Horizonte. Dos três aparelhos, o de Netto dos Reys e Jorge Kfuri ficou em Petrópolis (RJ), acidentado, enquanto os demais alcançaram o destino na tarde do mesmo dia . Mas, de regresso ao Rio, ambos os aviões ficaram pelo caminho: o de Varady e Marques Filho caiu próximo a Juiz de Fora, e o de Dante e Reynaldo, em Queluz. Era o fim antecipado daquele vôo pioneiro, o que bem retrata o mau estado dos aviões navaIS. Em dezembro, ativa-se a Diretoria de Aeronáutica, recriada, como vimos, no ano anterior, com Divisões de Planos, Material e Vôo. Recebeu a primeira função de Diretor Geral de Aeronáutica o ContraAlmirante Alvaro Nunes de Carvalho. 17

O Corpo de Oficiais da Reserva Naval Aérea

Na tentativa de atenuar o persistente problema do recrutamento de pilotos, foi assinado o Decreto 17.594, em 9 de dezembro de 1926, criando o Corpo de Oficiais da Reserva Naval Aérea (RNA) , a ser formado com o aproveitamento de civis brevetados pela Escola de Aviação ou pelo Aero Club Brasileiro e outros aero-civis, que requeressem nomeação para a RNA, bem como de oficiais de marinha, reformados ou demissionários , que tivessem obtido diploma de aviador-naval, desde que requeressem o respectivo ingresso. Essa era a medida que se mostrara adequada no momento, haja vista que o curso de pilotagem cada vez maIS diplomava menos. Ao final de 1926, apenas três aviadores: Tenente José Pereira Cotta Filho; Marinheiros Bernardino Pinto .da Costa e Coriolano Luiz Tenan.

18 -

Segurança de Vôo e Instrução em 1927

O ano seguinte, 1927, ficou caracterizado na Aviação Naval pela atenção precípua para com a instrução e segurança dos vôos, já que a freqüência de acidentes vinha aumentando. Em parte, atribuía-se como causa básica desses acidentes a deficiente manutenção dos aparelhos, 68


quer por falta de verbas específicas para a aviação, quer pela fadiga dos motores, já bastante usados. Uma das providências tomadas foi a compra de pára-quedas Irving (os mais famosos da época), visando a que houvesse quantidade suficiente para que cada piloto dispusesse de um. Como os Avros 504 K já se mostravam obsoletos para a instrução, novos modelos N/O foram adquiridos , em versão tanto terrestre quanto marítima .

Fig. 7 -

Avro 504-N/O . (Terrestre)

Fig. 8 -

A vro 504-N /O. (Marítimo)

Foi com um desses aparelhos de versão terrestre que o Tenente Netto dos Reys viria a realizar na Aviação Naval o primeiro vôo noturno sobre o solo, em 15 de junho. Esse feito assume aspectos importantes de técnicas e arrojo , se levado em consideração que os vôos à noite só eram realizados , até então, sobre o mar, quando a luz da lua, refletida na água, facilitava ao piloto alguma orientação sobre a altura do aparelho , o que evidentemente não ' acontecia sobre a terra. 69


Além desses Avros, em número total de 6, ainda foram comprados 3 Consolidated NY-2, também para instrução.

Fig. 9 -

Consolidated NY-2 .

Outra medida tomada com relação ' à segurança dos vôos foi a instituição de inspeções semestrais de saúde. No entanto, isto veio a causaralguns desentendimentos entre aviadores e médicos militares do Hospital Central da Marinha: é que estes, embora sem conhecimento específico de medicina de aviação, se mostravam bastante rigorosos nos critérios de avaliação de resultados, muitas vezes trazendo prejuízo às atividades de vôo dos pilotos. Em maio, um evento auspicioso teve lugar : a visita ao Centro de Aviação do Rio de Janeiro e à Bscola pelo Presidente Washington Luiz, em companhia do seu Ministro da Marinha, o Contra-Almirante Arnaldo Siqueira Pinto da Luz. Na ocasião, o Presidente da República prometeu estudar as possibilidades de numerário para a conclusão das obras. Em dezembro de 1927, eram aprovados no Curso de Aviadores Navais: Capitão-Tenente Álvaro Barcellos Sobral. Primeiros-Tenentes Ary de Albuquerque Lima; Antônio Correia Dias Costa. Civil José Bastos Padilha. - 70


Em 1928, em continuação às medidas de segurança, insti tuíramse regras de vôo, com estabelecimento de vias aéreas em altitudes predeterminadas, conforme o afastamento da aeronave em relação ao campo de pouso. Nos assuntos administrativos também houve algumas inovações: o Centro de Aviação estruturou-se com base em moldes norte-americanos, com resultados satisfatórios; a Diretoria de Aeronáutica passou a controlar mais especificamente a aplicação de verbas com a aVlaçao, e foi introduzido o sistema de medição de combustíveis e lubrificantes. As obras dos Centros de Santos e Santa Catarina prosseguiam, na medida do possível. Um Consolidated PT-3, terrestre, foi adquirido para o Centro do Rio de Janeiro, visando a facilitar a instrução de vôo na Escola.

Fig. 10 -

19 -

Consolidated PT-J

Situação no final da Década

Todas essas medidas espelhavam os esforços para o desenvolvimento e, principalmente, a organização dos setores básicos da Aviação 71


Naval: administrativo, técnico e instrucional. Mas persistia ainda o problema do recrutamento de pilotos. Uma nova resolução foi tomada: a introdução de aulas de Aeronáutica na quarta série do Curso da Escola Naval, com um estágio obrigatório de vôo na Escola de Aviação, para os guardas-marinhas. Os primeiros resultados dessa experiência foram promissores, obtendo-se cerca de 35% de alunos aptos para pilotagem; 50%, que não alcança. ram habilitação, passaram ao curso de observador aéreo, atividade auxiliar de aviação, que, do ar, cuidava da regulagem dos tiros da artilhária e da localização e posicionamento no solo de tropas inimigas, e que não exigia habilidade de pilotagem; apenas os 15 % restantes não obtiveram aproveitamento em qualquer dos cursos. Mas sobreveio um acidente de aviação com o guarda-marinha Salvador Correa de Sá e Benevides, o que levou à suspensão do estágio. Em comemoração ao nono aniversário de inauguração da Escola de Aviação Militar (19 de julho de 1928), a Aviação Naval fez-se representar com duas esquadrilhas, uma de Avrose outra de Consolídateds, que formaram um V sobre o Campo dos Afonsos, enquanto integrantes da Missão Americana fizeram acrobacias arrojadas, causando intensa emoção na assistência dessa festa aviatória comemorativa, na qual estava o Presidente da República, Washington. Luiz. Os anos de 1929 e 1930 não trouxeram maiores novidades. As obras, tocadas com lentidão, mostravam desinteresse, marasmo, inércia; o equipamento de vôo, com manutenção deficiente, diminuía a operacionalidade das esquadrilhas; os vôos, limitados ~ pequenos tours sobre o campo do Galeão e ao Serviço Postal Aéreo, com transporte de correspondência para a Esquadra em manobras na Ilha Grande. Os cargos de comando eram exercidos por leigos em .aeronáutica, por falta de pessoal com o devido conhecimento de aviação, cujo recrutamento se tornava mais e mais difícil. Um fato merece registro: o concurso popular promovido pelo jornâl carioca Correio da Manhã, em 1929, para indicação de ((o mais completo aviador brasileiro". Ganhou o ambicionado título o Comandante Dante de Mattos; em segundo lugar, ficou Borges Leitão, da aviação do Exército. Menos votados foram Protógenes, Edu Chaves, Santos-Dumont e outros. Ao término de 1930, a situação da Aviação Naval deixava muito a desejar, em termos de equipamentos e de organização administrativa. Poucos aviões de bombardeio e patrulha e outros tantos de instru72


ção eram o que restava em disponibilidade para qualquer possível missão. Por contingência dos movimentos rebeldes da época, o Governo ameaçado de Washington Luiz viu-se obrigado à compra de três hidros

Fig. 11 -

Vôo de Dan te, no dorso.

Martin PM (patrulha) e seis Vought 02U-2A Corsair (bombardeiro), como meio de dar à Aviação Naval um pouco mais de poder aéreo , visando à manutenção da ordem interna do País. 73


Fig. 12 -

Fig. 13 -

74

Martin PM (Patrulha).

Vougth 02U-2A "Corsair", versão marítima.


CAPíTULO 2

A AVIAÇÃO DO EXÉRCITO

1-

O Reide Militar Rio de Janeiro--São Paulo

O ENTRAR o ano de 1921, a aviação do Exército enfrentava dificuldades semelhantes às que vinham preocupando a aviação da Marinha, e tudo devido à conjuntura econômica desfavorável em que o País estava situado. Em 11 de junho, o Exército realiza pela primeira vez a rota RioSão Paulo, com avião militar. Em dois Spad 7, os Tenentes Carpenter e Salustiano decolaram dos Afonsos e alcançaram o destino, regressando dois dias depois. Apenas um incidente, nesse regresso: pouso forçado de Carpenter, em Santa Cruz, Rio de Janeiro, por falta de essência. A propósito: nos idos de 1920, já houvera uma tentativa de vôo militar entre Afonso,s e São Paulo; realizaram-na os Tenentes Pedro Martins da Rocha (da turma que se tinha diplomado no início daquele mesmo ano), pilotando um Sopwith, e Rubens de Mello e Souza (que viria a tornar-se aviador em 1921), como passageiro. Ambos os oficiais foram punidos, e Rocha ainda perdeu a vultosa quantia de dois contos e trezentos e sessenta e seis mil réis. É que os entusiasmados oficiais fizeram o vôo sem a necessária permissão das autoridades; além disso, Rocha deixara danificado todo o aparelho ao tentar alcançar um campo, já em Suzano (SP), em pouso de emergência, por falta de combustível.

A

2 -

As Turmas de 1921

Ainda em junho, no curso de Observador Aéreo, os integrantes da primeira turma obtiveram seus diplomas: 75


Capitão Newton Braga. Primeiros-Tenentes Eduardo Gomes; Lysias Augusto Rodrigues; I vo Borges; Amilcar Sérgio Velloso Pederneiras; Gervásio Duncan de Lima Rodrigues; Ajalmar Vieira Mascarenhas; Sylvino Elvídio Bezerra Cavalcante; Plinio Paes Barreto. Segundo-Tenente Carlos Saldanha da Gama Chevalier.

Fig. 14 - Primeiro-Tenente Eduardo Gomes, aluno do Curso de Observador Aéreo, Escola de Aviação Militar, Campo dos Ajonsos.

É interessante assinalar que,em 16 de março deste 1921, ainda

no início do Curso, o Tenente Lysias já participara de um recorde de altura, alcançando 6.800 m, num Breguet 14 pilotado pelo Capitão Alzir. Ao final do ano de 1921, diplomava-se a segunda turma de Observadores Aéreos: Primeiros-Tenentes Oswaldo Cordeiro de Farias; Canrobert Penn Lopes da Costa; Atilo Silveira de Oliveira; Vasco Alves Secco; Armando de Souza e Mello Ararigboia; Adherbal da Costa 76


Oliveira; Augusto Franco Netto; Uriel Sérgio Cardim; Samuel Ribeiro Gomes Pereira. Segundo-Tenente Edgar Ferreira da Silva. Com interrupções e atrasos na instrução de vôo, em face da escassez de aviões em disponibilidade, também diplomou-se a terceira turma de Pilotos-Aviadores: Capitão Marcos Evangelista da Costa Villela Junior. Segundos-Tenentes Rubens de Mello e Souza; Antonio Guedes Muniz. Primeiros-Sargentos Francisco Salles de Lorena Fernandes; Antonio José Fernandes. Segundos-Sargentos Adalberto Coelho da Silva; João Leite da Silva; Cesar Augusto Simões Pedrette. Terceiros-Sargentos Noêmio Ferraz; Thomaz Mena Barreto Monclaro; Carlos Rodrigues Coelho. Soldados Nicolino dos Reis Costa; José Rodrigues Pinto. Nesta turma também se diplomou o Suboficial paraguaio Emílio Nudelman. 3 -

A Expansão da Aviação do Exército Foi ainda em dezembro que o Presidente Epitácio Pessoa assinou

<? Decreto criando as duas linhas aéreas para o Sul, como já vimos, ca-

bendo ao Exército a rota por sobre o continente. Mas o Ministro da Guerra Pandiá Calógeras já havia tomado providências, desde agosto, para o estabelecimento de campos de aviação e instalações apropriadas no Rio Grande do Sul. Os locais escolhidos tinham sido as cidades de Santa Maria, na parte central do Estado, e Alegrete, próximo às fronteiras com o Uruguai e a Argentina, onde já havia unidades do Exército. Tão logo foram os terrenos adquiridos, o material e pessoal selecionados seguiram para lá, já em dezembro, sob o comando do Capitão Alzir e Segundo-Tenente Carpenter, com missão de organizar as unidades aéreas. Ao iniciar-se o ano de 1922, a Escola de Aviação Militar consegue ampliar sua área no Campo dos Afonsos, mediante aceitação de oferta de terrenos que lhe foi feita pela Polícia Militar do Distrito Federal. Veja-se o curioso acordo estabelecido entre os Ministérios da Justiça e da Guerra78 • 77


A 25, ainda de fevereiro, entre o Ministério da Guerra e o da Justiça, foi feito um ajuste referente à cessão àquele Ministério de uma parte dos terrenos da Invernada da Corporação, nos seguintes termos: A Polícia Militar cede ao Ministério da Guerra mais a faixa de terra que fica ao norte do campo e a que está situada a leste da Invernada; entre esta e o campo, compreendendo ambas 1.071.340 m2; 1.

U

-

2.° -

O Ministério da Guerra obrigar-se-á:

a) a desviar a linha de bonde;

b) a cercar com moirõesde ferro revestido de cimento e com cinco ordens de fios de arame farpado a faixa de terreno que res~ tar para a Invernada; . c) a ceder 500 espadas com bainhas para praças, do modelo em uso no Exército, modificadas para ~ o tipo adotado na Polícia Militar, e dois fuzis Madsen, com os respectivos acessórios; d) a tomar providência para evitar que continuem a cair na parte edificada da Invernada os projéteis que procr:dem de um(! linha de tiro existente próxima, utilizada pelos corpos aquartelados na Vila Militar. Em 5 de junho de 1922, vem a ser criado o Grupo de Aviação no Sul, composto da 1.a Esquadrilha de Bombardeio, com quatro aviões Breguet 14, e da 1.a Esquadrilha de Caça, com nove aviões Spad 7, ambas apoiadas pela 3. a Companhia Provisória de Parque de Aviação, para serviços de manutenção dos aparelhos. Essas Esquadrilhas e o Parque

Fi~ .

78

/5 -

Hangar da Esquadrilha de Observação de Alegrete, RS.


lflam ficar sediados em Santa Maria. Em Alegrete ficaria, estrategicamente, a 3. a Esquadrilha de Observação, com seis aviões Breguet 14 . O Grupo assim criado recebeu o comando do Capitão Alzir e tinha subordinação direta ao Comandante da Região Militar, no tocante à disciplina, administração e instrução tática; quanto à instrução técnica e inspeção geral, subordinava-se ao Estado-Maior do Exército, onde já funcionava, desde 30 de maio, uma seção de aeronáutica. Em novembro, concluem-se nos Afonsos as obras do Quartel da Companhia de Aviação, proporcionando instalações condignas para o pessoal da Escola, que até então ocupava diversas casas particulares alugadas na Vila Marechal Hermes, desde sua criação em 1919 (esse antigo quartel ocupava o local onde, mais tarde, se situaria o Pavilhão do Comando da Escola de Aeronáutica). 4 -

A Turma de 1922

Em face de acontecimentos políticos que envolveram a Escola de Aviação em meados de 1922, a instrução de vôo sofreu interrupção até setembro, atrasando para dezembro a diplomação da quarta turma de Pilotos-Aviadores, cujos integrantes foram: Primeiro-Tenente Alvaro Assumpção d'Avila. Segundos-Tenentes Emílio Gaelzer; Octavio Alves do Valle; Cícero Odilon Mafra Magalhães. Primeiros-Sargentos Luiz Aurélio de Godoy e Vasconcellos; Odemiro Martins de Araujo. Segundos-Sargentos Synval de Castro e Silva Filho, Lourival Campello; José Sampaio Xavier. Anspeçada Gonçalo de Paiva Cavalcanti. Soldado Rubens Gomes de Almeida. 5 -

Novos Reides

Em 1923, dois eventos importantes na Escola de Aviação Militar: o primeiro foi outro reide Rio-São Paulo-Rio, realizado entre 21 de abril e 7 de maio, agora com três aparelhos Breguet 14, formando a Esquadrilha Anhangá, pilotados pelos Tenentes Bento Ribeiro, Mello e Souza e Suboficial paraguaio Emílio Nudelman, e levando como passageiros os Tenentes Guedes Muniz, Ajalmar Mascarenhas e o Major Eduardo Vallo, da Missão Austríaca (que, então, auxiliava no Brasil o Serviço Geográfico Militar). O segundo evento, um reide a Curi79


tiba (PR), ~m solitário Breguet 14, também denominado Anhangá, pilotado pelo Tenente Aroldo Leitão, levando em sua companhia o Tenente Adyr Guimarães, do Serviço Geográfico, que decolou dos Afonsos em 23 de abril.

Fig. 16 -

Os Breguel 14, da Escola . de Aviação Militar, preparando-se para um vôo em esquadrilha.

","

Fig. 17 -

Reide Rio Curitiba .

. ': Esses vôos' dos Anhangás têm em si mais significado ' do que evidentémente apresentam em termos de pioneirismo. Como se sabe, toda a orientação técnica de aeronáutica vinha sendo impressa pela Missão

80


Francesa. Talvez por medida excessiva de segurança; talvez por objetivo de levar a aviação brasileira somente a vôos táticos (que era a experiência maior dos aviadores franceses da Primeira Guerra Mundial), o fato é que a atividade aérea do Exército ficava cerceada a uma área circular, com centro no Campo dos Afonsos e com um raio máximo de alcance até Santa Cruz ou até o subúrbio do Engenho Novo, com uns poucos quilômetros de extensão. Essa limitação desagradava aos pilotos militares, cujo entusiasmo os estava a impelir para vôos mais longos, em busca de locais bem mais distantes que o Brasil grande tinha a oferecer . Tal impulso foi tema para uma série de artigos estampados na antiga revista criada pelos jovens turcos, A Defesa Nacional, escritos pelo Tenente Ajalmar Mascarenhas, sob o título 'Rumo ao Brasil Fora dos Afonsos". Pressionada pela repercussão nacionalista dessas publicações, a Missão Francesa de Aviação, então chefiada pelo Tenente-Coronel Seguin, viu-se na contingência de reformular suas diretrizes, ainda mais que o próprio Ministro da Guerra, agora o General Fernando Setembrino de Carvalho, era partidário dos vôos mais longos. Daí, mesmo com parecer francês contrário aos reides, o Exército foi o pioneiro no Brasil dos vôos militares a grandes distâncias, com esquadrilha, abrindo perspectivas de maior domínio do espaço aéreo brasileiro. 6 -

A Turma de 1923

A Escola de Aviação Militar ainda formou uma quinta turma, em 1923. A partir de então, novos pilotos-aviadores só viriam a ser diplomados em final de 1926, princípios de 1927. Em termos de atividade aérea, esse período foi também de estagnação e atraso; e para tudo isso encontram-se as causas na conturbada vida: política do País, que produziu uma série de graves eventos. Também foi causa a deficiência do equipamento de vôo, já bastante desgastado e com manutenção prejudicada, por falta de recursos financeiros. A quinta turma de Pilotos-Aviadores compunha-se dos seguintes militares: Capitão Amilcar Sérgio Velloso Pederneiras. Primeiros-Tenentes Adalberto Araripe da Rocha Lima; Arquimedes Cordeiro; Abelardo Servílio de Mesquita; Carlos Saldanha da Gama Chevalier. Segundos-Tenentes Armando de Mello Meziat; Antônio Alberto Barcellos. Havia também dois suboficiais paraguaios: José J. Jara e Juan José Benitez. IH


Em 1924, por ordem ministerial do General Setembrino, o Grupo de Esquadrilha no Sul passou a ser classificado como um destacamento da Escola de Aviação Militar, perdendo assim sua subordinação ao Estado-Maior do Exército.

7 -

A Criação da Quinta Arma

Passados os tempos críticos de quase paralisação e involução, entre 1924 e 1926, quando toda a atividade aérea esteve suspensa, em face da participação de aviadores militares nos movimentos revoltosos, o ano de 1927 viria a tornar-se notável para a aeronáutica militar. No mês de janeiro, o próprio dia 13 já foi auspicioso: marcou a promulgação da Lei 5.168 cuja iniciativa fora do Senador Carlos Cavalcanti, o qual criava a Arma de Aviação do Exército - a Quinta Arma, tão sonhada por oito anos, desde a criação da Escola, em 1919. Era o reconhecimento da autonomia, da força, do valor que a aviação representava, e que agora vinha a ocupar lugar igual ao da Infantaria, da Cavalaria, da Artilharia ou da Engenharia. Essa importante lei, sancionada pelo Presidente Washington Luiz, que tinha o General Nestor Sezefredo dos Passos como Ministro da Guerra, mudou totalmente a situação precária em que a Aviação Militar se encontrava, proporcionando-lhe uma nova fase de desenvolvimento. A partir da criação dessa Quinta Arma, organizou-se a Diretoria de Aviação Militar, com sede no prédio da Rua Barão de Mesquita, no Bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, onde já funcionava a Escola de EstadoMaior. O primeiro Diretor foi o General-de-Brigada Álvaro Guilherme Mariante, cujo conhecimento de assuntos de aviação já vinha desde 1922, quando ocupava, como Tenente-Coronel, a chefia de Seção de Aeronáutica do Estado-Maior. Para seu Gabinete, trouxe o Major Pedro Aurélio de Góis Monteiro que, com o Capitão Aguinaldo Caiado de Castro, conduziu a redação de todos os regulamentos para a Aviação do Exército de então. A Diretoria de Aviação era subordinada diretamente ao Estado-Maior, e sua regulamentação deu-se em 2 de junho, pelo Decreto 17.813. O efetivo do novo Quadro de Oficiais foi, inicialmente, formado pelos que, pertencentes a outras Armas, mas já possuidores do diploma militar de aviação, requereram a respectiva transferência. Entre pilotos e observadores, os seguintes ocuparam as primeiras vagas então abertas: 82


Fig. 18 - General Álvaro Guilherme Mariante - Primeiro Diretor da Aviação Militar.

- da Arma de Infantaria: Major Marcos Evangelista da Costa Villela Junio r,Capitão Newton Braga; Primeiros-Tenentes Henrique Raymundo Dyott Fontenelle, Raul Luna, Cícero Odilon Mafra Magalhães, Ivan Carpenter Ferreira, Armando de Mello Meziat, Octávio Alves do Valle, Antonio Fernandes Barbosa, Antonio Alberto Barcellos e Abelardo Servilho de Mesquita; - da Arma de Cavalaria: Capitães Mário Barbedo, Bento Ribeiro Carneiro Monteiro e Aroldo Borges Leitão; PrimeirosTenentes Alvaro Assumpção d'Avila e Arquimedes Cordeiro; - da Arma de Artilharia: Major Alzir Mendes Rodrigues Lima; Capitães Raul Vieira de Mello, Amilcar Sérgio Velloso Pederneiras, Godofredo Franco de Farias, Gervásio Duncan de Lima Rodrigues, Silvino Elpidio Bezerra Cavalcanti, Lysias Augusto Rodrigues, Ivo Borges, Samuel Ribeiro Gomes Pereira, Armando de Souza e Mello Ararigboia e Ajalmar Vieira Mascarenhas; Primeiros-Tenentes Adalberto Araripe da ·Rocha Lima, Uriel Sérgio Cardim, Vasco Alves Secco, Eduardo Gomes, Adherbal da Costa OliveIra, Carlos Saldanha da Gama Chevalier e Edgar Ferreira da Silva; 83


niZ

- da Arma de Engenharia: Capitães Antonio Guedes Mue' Emílio Gaelzer.

Visando a obter maior recrutamento, foi instituído o Curso Provisório na Escola de Aviação, para capitães e primeiros-tenentes das outras armas que, com idade inferior a trinta anos, requeressem a transferência; quanto a segundos-tenentes e cadetes, estes teriam vagas asseguradas na Quinta Arma, desde que realizassem o curso de piloto-militar e obtivessem o respectivo diploma de aviação. Em face dessas medidas, a Escola de Aviação teve de se reestruturar e reaparelhar, não só para atender o grande número de candidatos à nova Arma, mas também para adaptar-se ao recém-criado Estatuto da Aviação Militar) aprovado pelo Decreto 17.818, de 2 de junho de 1927. 8 -

O Estatuto da Aviação Militar

O Estatuto introduziu um novo enquadramento para o pessoal de aviação, colocando-o em duas categorias: diplomados e não-diplomados. Na de diplomados, incluíam-se navegantes e técnicos. Para estar entre os navegantes, era condição ter o diploma de piloto-aviador, a partir do qual diversas especializações podiam ser cursadas: navegador, observador, metralhador e fotógrafo. De imediato surgiu a necessidade de ser ministrada a instrução de pilotagem aos já diplomados até então apenas no curso de observador. Por outro lado, aos antigos pilotos-aviadores tornou-se necessária uma adaptação aos novos tipos de aeronaves que passaram a ser utilizadas na escola, como o Potez) o Schreck) o Amiot e outros, mais modernos, mais possantes, mais pesados, semelhantes aos utilizados pela avançada aviação francesa . Essa aquisição pelo Exército tornou-se possível com a abertura de um então elevado crédito de trinta mil e quinhentos contos de réis, previstos para serem parceladamente gastos, num período de cinco anos, com a organização e reaparelhagem da aviação militar. 9 -

A Criação de Uma Doutrina Aérea Brasileira

É desta época a chegada de uma grande Missão Militar Francesa de Aviação, composta de oito oficiais, chefiada pelo Tenente-Coronel Henri Jeauneaud, convidada pelo Governo para orientar a instrução de vôo, para cuja chefia foi designado o Major Marc Benoit Terrasson. 84


Os resultados foram imediatos, iniciando-se logo a elaboração do Regulamento para os Exercícios e Combates da Aviação, com base em documento semelhante ao existente para a aviação de França, na época uma das mais avançadas do mundo. Esse regulamento compunha-se de cinco partes, cada qual vindo a ser aprovada por decreto específic061 :

1. a Parte - Organização Geral e Instrução na Aviação (Decreto n.O 18.116, de 23 de fevereiro de 1928) 2. a Parte - Organização e comando da Aviação nos Exércitos (Decreto n.O 18.116, de 23 de fevereiro de 1928) 3. a Parte -

Título I - Papel da Aviação .nas Operações Título n - Missões de Caça Título In - Missões de Bombardeio (Decreto n.o 17.593, de 9 de dezembro de 1926)

3. a Parte -

Título V - Missões de Informação (Decreto n.O 18.340, de 9 de agosto de 1928)

4. a Parte -

Serviço de Informações Aéreas (Decreto n.o 18.412, de 27 de setembro de

1928)

5. a Parte -

Movimentos e estacionamentos (Decreto n.O 18.413, de 27 de setembro de

1928). Este regulamento pode ser considerado o embrião de uma Doutrina Aérea brasileira.

10 -

1927: Ano de Novidades

Foi ainda em 1927, com a criação do Estatuto, que se deu a instituição de provas aéreas periódicas para o pessoal de aviação, navegantes e técnicos, e os navegantes que não as realizassem ficariam impedidos para promoções por merecimento ou para ocupar funções de comando em unidades de combate. Mais duas novidades, neste ano tão cheio de inovações: uma foram os dois vôos noturnos, realizados pela primeira vez na aviação do Exército em 17 de junho, num Spad 54-Herbemont, pilotado pelo Tenente Aroldo Leitão, com duração de dez minutos cada um. Esses vôos foram realizados sobre o solo, exemplo do já realizado pela aviação naval dois dias antes. A outra novidade foi o salto com pára-quedas 85


praticado pela primeira vez sobre o Campo dos Afonsos, em 1 de outubro, pelo Tenente Chevalier, de bordo de um Breguet 14, pilotado pelo Tenente Aroldo Leitão.

Fig. 19 -

Fig. 20 -

11

Spad 54 -

H erbmonl.

Primeiro salto de pára·quedas sobre o Campo dos Ajonsos.

As Primeiras Turmas da Arma de Aviação

Em princípios de 1928, mais precisamente em 20 de janeiro, são declarados Aspirantes-a-Oficial os cadetes da primeira turma da Arma de Aviação: 86


Antônio Lemos Cunha; Casemiro Montenegro Filho; Márcio de Souza e Mello; Joelmir Campos de Araripe Macedo; José de Souza Prata; Orsini Araújo Coriolano; Nicanor Porto Virmond.

Fig. 21 -

Primeira Turma de Oficiais-Aviadores. Da E para D.: Araripe, Prata, Montenegro, Orsini, Lemos Cunha, Virmond e Márcio.

Em 12 de março, por determinação do Ministro Sezefredo dos Passos, o Destacamento de Aviação na Terceira Região Militar foi dissolvido, ficando as instalações de Santa Maria e Alegrete sob a guarda de um pequeno contingente da Escola de Aviação, Em 13 de julho, dia do nono aniversário de inauguração da Escola, foi realizada grande parada aérea, com desfiles de aviões da Marinha e acrobacias realizadas por aviadores da Missão americana, Também participaram com demonstrações acrobáticas o Major Terrasson da Missão Francesa e os Majores Pederneiras e Lysias, Em 14 de agosto, diplomava-se a primeira turma de pilotos-aviadores do novo quadro, com alunos provindos do círculo de praças: Primeiro-Sargento Floriano Peixoto de Oliveira. Terceiro-Sargento Carlos Brunswick França. Cabos Oswaldo Carneiro Lima e Tindaro Pereira Dias. S7


A segunda turma de Aspirantes-a-Oficial de Aviação foi declarada em 19 de janeiro de 1929: Benjamin Quintella (Segundo-Tenente), Clovis Monteiro Travassos, José Sampaio de Macedo, Waldemiro Advíncula Montezuma, Luiz Carneiro de Farias, Estevam Leite de Rezende, Armando Perdigão, Joaquim Tavares Libânio, Manoel Pinto de Silva Valle e Lincoln Ribeiro Tôrres.

12 -

Identificação e Classificação de Aviões

As primeiras instruções para matrícula dos aparelhos da Aviação Militar surgiram por despacho do Ministro da Guerra, General Sezefredo dos Passos, em 20 de janeiro de 1929. Previam-se letras, números e nomes notáveis da História ou da Geografia brasileira, de modo que cada avião tivesse uma fácil identificação. Basicamente, consistia na seguinte: letra K - avião da Escola de Aviação; letras A a] - outras unidades aéreas (a serem criadas); números 110 a 199 - aviões de combate; 210 em diante - aviões de treinamento; nomes - juntavam-se às letras e números nos aviões pesados (Amiot e Lioré) . Em Aviso Ministerial de 7 de maio, foi instituído o Sistema de Material de Aviação, classificando as aeronaves do Exército em duas categorias: Escola e Combate. Na primeira ficaram incluídos os Moranes 130 e 147, os Schrecks 17 e os Potez 33; na segunda, os Nieuports 72, os Breguets 19, os Potez 25, os Amiots 122 e os Liorés 25. Eram aviões franceses novos, adquiridos para reaparelhar a aviação militar a partir de 1927.

Fig. 22 -

88

Morane-Saulnier 130.


Fig . 23 -

Fig. 24 -

Morane-Saulnier 147

Schreck 17 em vôo, sobre a !lha do Rijo, na Bahia de Guanabara.

Fig. 25 -

Potez 33.

89


fig. 26 -

Nieuport De/age 72-Cl.

fig. 27 -

Fig. 28 -

90

Breguet 19

Potez 25.


Fig. 29 -

Fig. 30 -

13 -

A mio/ 122 Bp 3.

Lioré ET Olivier (LEOl 25 Bn 4.

Novas Inclusões de Pessoal na Arma de Aviação

Por Decreto de 27 de junho de 1929 , é transferido para a Arma de Aviação o Capitão Ângelo Mendes de Moraes, da turma de 1920 e com curso de piloto-aviador feito também na Argentina. No dia consagrado à Bandeira Nacional, diploma-se a segunda turma de Praças-Aviadores, formada exclusivamente de cabos: Bianor Fadoul, Severiano Primo da Fonseca Lins, João Urupukina, Gilberto de Almeida, Dagoberto Nery Hayne, Rubens Borges Corrêa, Dácio Borges e Alexandre Zaphyrios Bersou. 91


o Curso Provisório proporcionou a transferência de

vários oficiais para o Quadro de Aviação. Em 1929, veio da Engenharia o Capitão Plínio Raulino de Oliveira, que, ao final do ano seguinte, já no posto de major, viria a ser designado para o Comando da Escola de Aviação, num curioso retorno: a pista de decolagens, segundo já se viu, recebera sua orientação, como tenente, nos serviços de terraplenagem, quando da construção da Escola, onze anos antes . Em 1930, vieram: Da Artilharia: Capitães Carlos Pfaltzgraff Brasil; Althair Eugênio Rozsanyi. Primeiros-Tenentes José Cândido da Silva Muricy Filho; Antônio Alves Cabral; José Angelo Gomes Ribeiro. Da Infantaria: Primeiros-Tenentes Ignácio Loyola Daher; Altamiro O'Reilly de Souza; Romeu Ewerton Quadros. Da Cavalaria: Primeiros-Tenentes Floriano Peixoto da Fonseca Nunes; Francisco de Assis Corrêa de Mello; Francisco de Assis de Oliveira Braga; Godofredo Vidal. Em janeiro de 1930, no dia 21, nova turma, a terceira, era declarada Aspirante-a-Oficial de Aviação: Júlio Américo dos Reis (Segundo-Tenente); Guilherme Aloysio Telles Ribeiro, Nelson Freire Lavenere-Wanderley, Benjamirp Manoel Amarante, João de Almeida, João Adil de Oliveira, Arthur da Motta Lima Filho, Agliberto Vieira de Azevedo, Martinho Cândido dos Santos, Homero Souto de Oliveira e Alvaro Domingos de Freitas. Confirmado no posto de Segundo-Tenente: Synval de Castro e Silva.

14 -

A Volta dos Reides Militares

Neste mesmo ano, encerrou-se definitivamente a existência das Esquadrilhas de Santa Maria e Alegrete, com a transferência de todo o material para a Escola de Aviação. Se, por um lado, ti~ha sido desanimadora a extinção das unidades aéreas no sul, por outro constituíram progresso os novos vôos de longo percurso que a Aviação Militar voltou a empreender. Depois dos realizados em 1923, com destino a São Paulo e Curitiba, que marcaram as primeiras saídas para bem além do Campo dos Afonsos , agora em 1930 outros reides tiveram lugar. 92


Uma esquadrilha de três anfíbios Schrecks} começando em 16 de junho e terminando em 22, fez o percurso aéreo Rio-Porto Alegre-Rio, realizando inclusive pousos na água. Tomaram parte nesse vôo o Tenente-Coronel Jeauneaud e o Major Terrasson, da MÍssão Francesa; Capitães Rozsanyi e Assumpção d'Avila; Sargentos Amaro Polycarpo de Oliveira e Octávio Santos. Em 4 de agosto, outra esquadrilha de Schrecks} com quatro aparelhos, voou até Belém, tendo outra vez como equipagem a dupla francesa Jeauneaud e Terrasson, Capitães Rozsanyi, Quintella e Gaelzer, Tenente Lemos Cunha e Sargentos :rolycarpo e Dario Perli. Apenas o avião de Rozsanyi e Quintella não teve sucesso no percurso, pois, logo na ida, acidentou-se, quando da decolagem no estuário do rio Parnaíba, entre Piauí e Maranhão. Os três outros anfíbios regressaram a 28 de agosto.

Fig. 31 -

15 -

Esquadrilha de Schreck 17. antes da partida para o reide a Belém.

A Turma de 1930

A 11 de dezembro de 193 O, mais praças recebiam o brevê de piloto-aviador, constituindo a terceira turma: Cabos Ferrúcio Cuminato, Carlos Faria Leão, Childerico Motta, Miguel de Oliveira Chaves, Mario Laper, Hugo Cantergiani, Hermes Cruz, Licínio Corrêa Dias, Ervino Hauer Kawasinsk, Arthur Martins Rocha, Gratuliano Ximenes de Oliveira e Azor Galvão de Souza. Pelos fatos registrados, a Aviação do Exército mostrava-se organizada e aparelhada, ao término deste período, de 1921 a 1930, em que lhe pesem os -movimentos de agitação político-militar. 93


Libertando-se dos limites franceses dos Afonsos, seus vôos proporcionaram treinamento eficaz para que o Brasil pudesse contar com pilotos experimentados, capazes de alcançar os longínquos pontos do País, com presteza tal que as distâncias pareciam não permitir imaginar. Assegurava-se assim a integração nacional, que o acerbado sentimento patriótico da época vinha exigindo dos militares . E o Campo dos Afonsos cada vez mais firmava-se como o ninho das águias, o berço tranqüilo procurado pelos aviadores militares , depois do cumprimento de suas entusiasmadas missões aéreas.

94


CAPíTULO 3

AVIAÇÃO NA FORÇA PÚBLICA DE SÃO PAULO

1 -

Um Reide Idealista

EVEMOS estar lembrados da segunda fase da Escola de Aviação da Força Pública de São Paulo: com a saída de Orton Hoover da direção témica, seu funcionamento, em 1920, ficou sob a orientação dos Tenentes PM aviadores Antônio Reynaldo Gonçalves, Álvaro de Azambuja Cardoso e Aristides Gonçalves Muza. Contudo, não se têm, ou são confusas, notícias sobre atividades regulares da Escola daí por diante, sabendo-se apenas que, em 1922, as oficinas foram fechadas e os aviões aRrOLES recolhidos aos hangares, enquanto que alguns JN foram vehdidos e outros doados à Marinha. Em maio de 1924, é mandada recolher aos arquivos do Comando Geral da Força toda a documentação existente naquela unidade de aviação; mas os aviões permaneceram fechados nos hangares do Campo de Marte, sob a guarda do Tenente Muza. Embora quase nada exista também com referência à instrução nesse período, é oportuno que se venha fazer um relato emocionante, não diretamente sobre a Escola, mas a ela bastante ligado. Na sua primeira e única turma, formada por Hoover, recebera o brevê de piloto-aviador o Capitão João Busse, da Força Pública do Paraná, em 1 de agosto de 1920. João Busse sempre fora um estudioso, cultivando nas Letras um espírito idealista que veio a caracterizar sua vida como o de um romântico, em quem o desejo do deveria ser predominava ao é quotidiano. Por isso mesmo, deixava-se levar peJas reflexões, pela imaginação, peJas visões do belo, que substituíam

D

95


a realidade, nem sempre agradável. E compunha poesias, dando vazão às ansiedades que o acompanhavam. Nascera no Paraná, na capital, e com dezoito anos ingressava no então Regimento de Segurança; em pouco tempo, sua dedicação ao serviço e seus desempenhos eficientes levaram-no ao oficialato. Uma clara demonstração de seu caráter, prova de firmeza de atitudes e retidão de procedimento, encontra-se na sua iniciativa de requerer às autoridades que o submetessem a um Conselho de Investigação e Guerra, a fim de desfazer os comentários e acusações de covardia que contra ele se formaram quando da sua retirada após uma emboscada frente aos quadros santos do monge José Maria, nas primeiras escaramuças da Guerra do Contestado. Cabal e indubitavelmente comprovado o acerto da atitude que tomara na ocasião, Busse voltou posteriormente ao combate, como Tenente comandante da escolta do General Setembrino. Foi aí, então, que veio a conhecer os pilotos Ricardo Kirk e Ernesto Darioli, e se deixou levar pelos vôos dos Moranes (vide página 426, vol. 1, da História Geral da Aeronáutica Brasileira, onde Busse é o primeiro da esquerda, no grupo da figo 128). Nem mesmo o fatal acidente de Kirk iria diminuir-lhe o entusiasmo pela aviação. Nos anos de 1917 e 1918, Busse participara da campanha para compra do Sargento, o avião que lhe traria como certa a obtenção do brevet de piloto-aviador; daí toda a indignação que nele causaram as tentativas de impedir o estabelecimento da Escola Paranaense de Aviação, mediante denúncias de que o Sargento era imprestável, velho e sem segurança, indignação que Busse extravasou nas palavras que dirigiu em ofício à Guarda Nacional, a respeito das tais denúncias. Depois de superada essa fase, entre os que de imediato se inscreveram para matrícula na primeira turma de 1919 lá estava o nome do Capitão João Busse, que então também integrava o Conselho Administrativo da Escola. Já vimos, no entanto, que a Escola Paranaense de Aviação não teve sucesso, vindo a desaparecer naquele mesmo ano, sem ter diplomado qualquer aluno. Em 1920, Busse pleiteou e obteve de seu Estado o custeio do curso de pilotagem na Escola de Aviação da Força Pública de São . Paulo. Quem sabe não poderia ele fazer voltar a voar o velho Sargento, que Bergman tornara tão popular entre os paranaenses? Quem sabe não poderia ele manter o seu Paraná entre os estados pioneiros da aviação no Brasil, ao lado do Rio de Janeiro e de São Paulo? Com esses ideais, Busse partiu para a escola paulista. Conquistado o brevê, primeiro dos sonhos, quis Busse homenagear a sua terra, os seus conterrâneos, num agradecimento verdadeiro 96


e ~ondigno pela confiança nele depositada e pelo diploma que lhe haviam proporcionado: regressaria a Curitiba, não por terra, em meio à fumaça negra de um trem a vapor, como simples passageiro; mas gloriosamente envolto pelas nuvens claras do céu paranaense, como só um aviador poderia fazer e seu ídealismo ditava como obrigação. Seus poucos recursos financeiros não lhe permitiam, porém, adquirir um avião para aquele vôo. Por isso, em carta ao Coronel Herculano Rocha, da Associação Comercial do Paraná, solicitou-lhe intercessão junto aos empresários, a fim , de que lhe proporcionassem a importância necessária à compra de um aeroplano, com o qual pudesse realizar o reide tão desejado. Em sua argumentação, lembrava mesmo que Edu Chaves, para sua célebre viagem pioneira a Buenos Aires, tivera ajuda do Governo paulista. O intento do idealista piloto tornou-se comentário freqüente, enquanto, confiante, Busse preparava o aéreo regresso. E tornou-se notícia que jornais passaram a divulgar em tom sensacionalista, com qualificativos de heróico e arrojado o vôo São Paulo-Curitiba do iniciante aviador e jovem capitão de polícia. A campanha visando a presentear Busse com o avião pretendido estava a meio quando ele recebeu ordens para pronto regresso, por imperiosa necessidade do serviço no seu Regimento de Segurança. Nessa contingência, não lhe restou alternativa se não a de tomar empres- , tado, em Campinas, um velho Caudron G-3, do seu colega e amigo Tenente Reynaldo Gpnçalves, da Escola de Aviação da Força Pública de São Paulo. Em 23 de maio de 1921, deixava o campo de aviação da cidade campinense, alçando-se feliz no biplano francês, guiando-o rumo ao sul, em companhia do mecânico Genaro Sardoni. A rota era problemática, pois não havia campos de pouso adequadamente preparados, e as aterragens tinham de ser feitas nos terrenos mais planos, divisados lá do alto, nos arredores das cidades. Mas isto não influía na determinação do idealista piloto. A primeira escala foi em Indaiatuba, um pouso forçado por falhas de motor. No dia seguinte, após os reparos necessários, prosseguiu para Itapetininga. Lá chegaram adoentados, ele e o mecânico, por causa dos maus momentos de baixas temperaturas suportadas durante o vôo. A decolagem seguinte, para Faxina (atual Itapeva), tornou-se problemática, vindo a ser adiada por alguns dias. Aconteceu que, verificando-se desarranjos nos cabos de comando, Busse teve de aguardar um novo mecânico, vindo de São Paulo por providência do Tenente Reynaldo, para substituir Genaro Sardoni, que ainda não se recuperara. 97


o mecânico que chegou, Giovani Ragni , embora esforçado, o que fez foi deixar o avião mais desregulado ainda , pelo que foi dispensado. Nova solicitação a Reynaldo, e novo técnico veio a Itapetininga ; mas este também se mostrou ineficiente, e Busse pediu outro. Para sua surpresa, voltou Giovani Ragni (fora este o mesmo mecânico do piloto italiano Domingos Bertoni, morto em acidente um mês antes, quando caíra com seu avião no trajeto para Rio Claro; Ragni escapara com ferimentos leves). Os pormenores que permitem conhecer os problemas enfrentados por Busse estão registrados num diário por ele escrito, no período da viagem. No dia 30 de maio de 1921, antes de decolar de Itapetininga, ficou gravada toda a sua preocupação, e também a firme determinação que o impelia ao vôo de regresso: Levantei-me cedo e estou no campo . Vou voar no aparelho completamente desregulado e bastará ele se manter no espaço para eu prosseguir este reid, pois estou certo de que o mecânico não poderá endireitá-lo, embora tenha demonstrado boa vontade. Se acontecer alguma desgraça, fiquem todos sabendo que foi somente devido a não poder obter os recursos de que necessito, não obstante os esforços dos meus queridos amigos Tenente Reynaldo e Adelino Ferreira, em São Paulo, únicos que me prestaram mão forte. Como é fácil compreender, não posso recuar; mas sirva isto de exemplo, para outros colegas que trabalham pelo desenvolvimento da aviação em nosso país, que tanto necessita dela, mas que, infelizmente, é tão desprezada pelos governos."

E Busse de fato decola para mais urna etapa . Já estava perto de Faxina, sobrevoando a Cidade de Buri, ainda no lento cruzeiro sobre o estado paulista, quando o Caudron apresentou novas falhas: o motor não conseguia manter um ritmo de funcionamento satisfatório, obrigando a que João Busse tentasse um pouso de emergência. Perdendo altura rapidamente , o já descontrolado Caudron alcançou então velocidade impossível de dominar para urna aterragem segura. O acidente foi inevitável, e o avião bateu violentamente contra o chão, deixando o mecânico bastante machucado, e o piloto, atirado para fora, ferido. Terminava em real tristeza o sonho alegre do romântico piloto Capitão PM João Busse. Seu idealismo lhe fora fatal, mas o significado do ato corajoso persistiu, ficando na História de nossa aviação como mais um exemplo da força de vontade dos arrojados propósitos dos aviadores pioneiros em mostrar o avião corno elemento de aproximação de locais afastados e de união de povos distantes. 98


Fig. 32 -

2 -

Capitão Busse.

A Esquadrilha

Voltemos à Escola de Aviação da Força Pública de São Paulo. Em 9 de julho de 1924, o Coronel Pedro Dias de Campos assume o Comando Geral da Força. Tomando conhecimento de que existiam oito aviões nos hangares do Campo de Marte (doís aeroplanos com defeito e seis em bom estado) , e conhecendo o valor da aviação · como arma de guerra, trata de fazer voltar ao funcionamento a importante atividade aérea; junto ao Governo paulista, provoca a Lei n.o 2.051, sancionada pelo Presidente estadual Carlos de Campos, em 31 de dezembro de 1924, reconstituindo o serviço de aviação .. Essa lei estadual teve uma característica bastante expressiva: nela não estava a cogitação para restabelecer a antiga Escola, mas sim a criação de uma esquadrilha de aviação, o que significava o aparecimento de uma organização pronta para entrar em atividade, com pilotosaviadores já habilitados, aviões em plena condição de operacionalidade e instalações em funcionamento no Campo de Marte. Em termos mili99


tares, a existência de uma esquadrilha mostrava que São Paulo de fato possuía força e poder bélico. Se, diferentemente, tivesse sido cogitada a reorganização da Escola, o significado seria o de instrução, de treinamento, o que demonstrava evidente fase de iniciação, de preparo o que, em última análise, mostrava vulnerabilidade. Nada impedia, porém, que novos pilotos fossem diplomados; que hangares fossem amplia.dos ou que mais aviões viessem a ser adquiridos. O importante era ter como meta básica a prontidão de emprego da nova organização, fazendo conseqüentemente do ensino um objetivo secundário. Esse espírito da Lei era, obviamente, próprio da época, quando os movimentos armados vinham ameaçando a tranqüilidade do País. Com a inauguração da Esquadrilha, em 1.0 de janeiro de 1925, a aviação da Força Pública de São Paulo entra em sua terceira fase, sob o comando do Major Bernardo Espinola Mendes, piloto-aviador da turma de 1920. Posteriormente foi substituído pelo Major José Garrido. De imediato, tratou~se de ampliar o efetivo de pilotos. Além de abrir vagas no curso de candidatos a piloto-aviador de combate a todos os oficiais de polícia, graduados e soldados, aprovados em rigorosa inspeção de saúde, fiCou estabelecido que os aspirantes-a-oficial teriam também de realizá-lo. Além desse curso, o ensino de aviação compreendia mais três outros: o de observador-bombardeador, o de aperfeiçoamento e o de mecânico. Para orientar esses cursos, foi contratado Orton William Hoover, que voltava assim a prestar serviços à Polícia de São Paulo. 3 -

A 1.a Turma da Esquadrilha

Os primeiros alunos aprovados em 1925, no curso de pilotagem, foram todos sargentos , 'então promovidos a aspirantes por prêmio, pela participação na Revolução de 1924. Eram nove: Edmundo da Fonseca Chantre; Naul de Azevedo ; Antônio Pereira Lima; José Augusto Nogueira; João Negrão; Ranulpho Lopes Guimarães ; Benedito Martiniano de Toledo; Vicente Borba e Manuel Acylino de Almeida. No tocante aq reaparelhamento da Esquadrilha, foi autorizada a transferência, para o Campo de Marte,- de quatro aviões e acessórios diversos, que se achavam ainda no 'Quartel dos Bombeiros, recolhidos desde 1914, quando da primeira paralisação das atividades da fase inicial da Escola de Aviação. Vieram juntar-se, pois, aos remanescentes da segunda fase, verificada entre 1919 e 1920 . Uma curiosidade foi o processo aberto pelo ex-Tenente-AviadorAntônio Reynaldo Gonçalves, da turma de 1920, então afastado da Força por sua participação 'entre os rebeldes de 1924. Reclamava, como de sua propriedade, um Aviatic, moderno avião da época, com 120 HP, 100


que fora incorporado à Esquadrilha. Verificada a exatidão do pedido, foi-lhe devolvido o aparelho. As instalações do Campo de Marte foram ampliadas, e maquinaria moderna foi adquírida para a mecânica dos aviões. Roover aí viria a construir o biplano-escola São Paulo (mascote da Esquadrilha), o que diz da qualidade das oficinas. Até mesmo bombas explosivas passaram a ser produzidas, cabendo essa atividade ao Capitão Nathanael Prado. E mais um oficial vem a integrar-se à Esquadrilha: Primeiro-Tenente Odilon Aquino de Oliveira.

4 -

Um Memorável Salto de Pára-quedas

Ao final de 1925, um piloto-policial vem a tornar-se famoso, ao executar um salto de pára-quedas. O evento deu-se de modo bastante imprevisto e, talvez por isso mesmo, foi curioso e cercado de pormenores jocosos. Um grande público, pagante, aglomerava-se no Campo de Marte. Até mesmo o Presidente do Estado comparecera. Todos queriam ver o salto de uma mulher, a pára-quedista francesa ]eanette Caillet Pimentel. O acontecimento, inédito em São Paulo, fora idealizado pelo Coronel Pedro Dias de Campos, visando a angariar fundos para a construção de um hospital para a Cruz Azul (Sociedade Beneficente da Força, criada pelo Coronel). Mas, à última hora, ]eanette adoeceu. Como resolver o problema? Seria lamentável a devolução do dinheiro cobrado pelas entradas; por outro lado, a Corporação precisava manter seu compromisso para com o público, confiante no espetáculo e prestimoso colaborador da campanha. O Coronel Campos não pensou muito e decidiu continuar o programado. Surpreendendo todos os Oficiais, escalou um deles para substituir a francesa. O escolhido foi o Tenente Antônio Pereira Lima, recém-brevetado e que jamais praticara um salto sequer. Sem ousar argumentar com o Comandante Geral, Pereira Lima não teve alternativa a não ser a de decolar com Roover e atirar-se de qualquer modo, com o pára-quedas que os companheiros apressadamente lhe prenderam ao corpo. Diz-se que, além de ter que agüentar fortes dores entre as pernas, pela má colocação das correias de suporte que lhe fizeram incômoda compressão, o improvisado saltador ainda foi severamente repreendido ao atingir o solo, por cair de pernas abertas e justamente sobre a capota de lona do carro do Comandante ... De qualguer forma, este evento marca o primeiro salto com páraquedas executado por um brasileiro, em 1 de novembro de 1925. Documenta o feito a notícia do Correio Paulistano, publicada no dia imediato41 : 101


Merece especial referência, dos principais aspectos dessa tarde de Aviação, o audacioso salto, realizado de um aeroplano, voando em grande altura, pelo Tenente Antônio Pereira Lima, da gloriosa Força Pública do Estado, qr.te se saiu, galhardamente, dessa difícil prova, festejado ao cair ao solo pelos vibrantes aplausos da assistência.

E o Coronel Pedro Dias de Campos, num gesto de Chefe, não poupou ao público o maravilhoso espetáculo de contemplar um corpo humano, descendo dos espaços, em ritmo mais ou menos uniforme, chegar ao solo são e salvo, graças a um engenho da técnica. Parabéns ao Tenente Lima e ao Comandante Geral da nossa valorosa Milícia.

Fig. 33 -

5 -

Tenente Lima.

A Esquadrilha Desenvolve-se

Em novembro, a Esquadrilha participou das comemorações doaniversário da Proclamação da República, realizando desfile aéreo que entuSIasmou a assistência. ' 102


Em 1926, eram recebidos dois aVlOes de bombardeio, um Rufr Daland e um Sikorsky, batizados de Raposo e Anhanguera, respectivamente, em homenagem aos · dois bandeirantes paulistas:

. Fig. 34 -

Anhanguera.

No ensino prático, destaca-se a designação dos Tenentes Chantre e Negrão, indicados por Roover, para desempenhar as funções de instrutor de vôo, atividade por demais ambicionada pelos aviadores da época, pois tal designação significava o reconhecimento cabal da habilidade e da segurança de desempenho do escolhido. Em julho, aviadores da turma de 1925, Tenentes Negrão, Lima, Toledo e Azevedo, e mais os Sargentos Raul Marcondes e João Sylvio Roelz são aprovados nos exames avançados de vôo. Para que se tenha idéia do nível exigido nesse exame, vejam-se os tipos de manobras e acrobacia a que o candidato tinha de se submeter, sob apreciação das comissões fiscalizadoras 24 : Primeira Prova (Adiantada) 1. 0 metros):

Um vôo até alcançar a altura de 3.031 pés (1.000

-

-

fazer um looping {{en reversement"; parafuso, saindo deste a 1.500 pés (495 metros) e pousar num raio de 50 metros, sem usar o motor. 103


2.0 - Levantar vôo e pousar no Aeródromo do Ipiranga, parando o motor, para depois de cinco minutos dar partida (/0 mesmo e regressar. 3. 0

-

Vôo de esquadrilha. - Segunda Prova

1.° - Uma série de cinco oitos, na altura de 455 pés (150 metros), pousar num raio de 50 metros, em um ponto previamente marcado. 2. 0 - Uma série de cinco oitos a 455 pés (150 metros); antes de pousar, alcançar a altura de 2.000 pés (660 metros); nesta altura,cortar o motor e pousar no mesmo raio de 50 metros, sem usar o motor. Nota: Todas as provas são feitas sem passageiro.

o

segundo semestre de 1926 foi praticamente todo ocupado Rela Esquadrilha no cumprimento da missão de se deslocar para Goiás, iptegrando uma Brigada Mista com o Exército, comandada pelo Coronel Pedro Dias de Campos. Essa grande expedição militar era mais uma que o Governo Federal de Arthur Bernardes determinava para combater a Divisão do General rebelde Miguel Costa e sua pregação revolucionária através do País. A esquadrilha era chefiada pelo Tenente Chantre, que viria a perder a vida como veremos na página 129. Em 1927, mais candidatos solicitam matrícula no Curso de PilotoAviador de Combate, todos segundos-tenentes: Cyro Alves da Silva; Laércio Gonçalves de Oliveira; João de Quadros; Sebastião Machado; Joaquim Deoclécio Guedes; Messias Henrique Ribeiro; Ro.1dão Carneiro Seabra; Pedro Luiz Pereira; Benedito de Paula França. São também matriculados os aspirantes: Eloy Villas Boas da Silva; Pantaleão de Lima; José Maurício de Oliveira; Arthur Guizolphe de Castro; Manoel da Motta Mello. O quadro de mecamca foi também bastante aumentado em seu efetivo, com a habilitação de vários sargentos, cabos e soldados, nos respectivos cursos. 104


Ao iniciar-se o ano de 1927 ,a Esquadrilha estava equipada com os seguintes ' aparelhos: Instrução: Curtiss JN-4D, de 90 HP (n.o 107 a 114) Bombardeio: Huff-Daland-Petrel 5, de 200 HP (Raposo)

Sikorsky, de 200 HP (Anhanguera) Caça: Farman 301 (Ten. Chantre) - 1.

8; 1:

1;

OS JN 112 a 114 tinham, respectivamente, os nomes dos Bandeirantes Manoel Preto, Paes Leme e Borba Gato. Durante o ano, o bombardeiro Raposo foi descarregado, já imprestável pelo número de horas voadas, bem como o Curtis JN 107, destruído por incêndio quando era transportado de Goiás, onde sofrera acidente, para São Paulo. Oito pára-quedas, três aparelhos Reid Control e algum outro material de aviação foram adquiridos, enquanto que as oficinas, embora com muita dificuldade, correspondiam às expectativas, no tocante à manutenção. Continuando sua atividade ligada ao armamento da Esquadrilha, o Capitão Nathanael inventou, ainda neste ano de 1927, um tipo de granada de funcionamento automático simples, seguro e eficaz, que veio substituir as que até então eram ::ttiradas manualmente pelos pilotos e observadores, de bordo dos aviões. Também o Major José Garrido, Comandante da esquadrilha, inventou um aparelho de sinalização, a que chamou "Painel Anfíbio", que veio a ser aprovado como de utilidade. 6 -

A Esquadrilha Busca o Domínio Aéreo Paulista

Ao final de 1927, surgem novos campos de aviação, abertos pela Esquadrilha no interior de São Paulo: Sorocaba e Itapetininga, ao mesmo tempo que, em Bauru, o Exército dava como pronto outro campo, pondo-o à disposição da Esquadrilha para a competente inspeção técnica. Inúmeros campos já haviam sido preparados anteriormente, quando das missões em Goiás. O esforço de penetração para o interior do Estado erà incessante, a exemplo dos antepassados bandeirantes paulistas, visando ao controle de todo o território. Contudo, era inevitável o çlesgaste dos aviões, motivo por que tiveram de ser descarregados, ao final do ano, por indisponibilidade total, o JN 107 e o Huft-Daland Raposo (o JN 108 seria herdeiro desse nome), enquanto os demais aparelhos em breve careceriam de imediata substituição. 105


Em 1928, as atividades de rotina continuam em ritmo normal, com novos campos sendo abertos: Mogi das Cruzes, Ipauçu, Campo Largo. Dois eventos, porém, ficaram em evidência: em setembro, o grave acidente aéreo com o Tenente Roldão, que sofreu fratura craniana, vindo a tornar-se inválido para o serviço militar; e a cessão de parte do Campo de Marte para utilização pela ~mpresa de Transportes Aéreos ETA, o que dava à Força Pública a oportunidade de colaborar com o desenvolvimento da aviação civil brasileira. Mais dois aparelhos se tornaram então inoperantes: o IN 112 (Manoel Preto) e o Farman 301, que perdeu seu nome 'de batismo Tenente Chantre para o IN 111. Em ma~o de 1929, um inusitado e triste acontecimento: quando deixava seu avião, após regressar de exercícios aéreos, o Tenente Cyro faleceu subitamente. A partir daí, temendo pela segurança do vôo, foram de imediato tomadas as providências para que os demais aviadores d~ Esquadrilha fossem submetidos a uma rigorosa inspeção de · saúde, a exemplo do que já se fazia nas Escolas de Aviação Naval e Militar, em face do desenvolvimento da medicina especializada em aviação. Em julho, uma curiosidade: a instituição, na Força Pública de São Paulo, de toques de corneta para a aviação (de Comandante da Aviação.. .de Aviador e de Aviação). Ainda neste mês de julho, o Capitão Messias é obrigado a pouso de emergência, com o IN 113, o Paes Leme, em Guapira; embora saindo ileso, bem como um seu passageiro, o aeroplano sofreu avarias sérias, tendo de ser excluído da carga da Esquadrilha. Os remanescentes IN foram todos também descarregados, em face do grande desgaste que apresentavam. Contudo novos aviões vieram a substituí-los: eram seis Curtiss Fledgling de 170 HP, adquiridos nos Estados Unidos da América, e um· Avro (que recebeu o nome de Itararé, comprado do aviador Vasco Cinquinipor trinta contos de réis). Com os Curtiss formaram-se duas esquadrilhas: Azul, com os aviões batizados de Santos, Avaré e Atibaia; Vermelha, com o Campinas, São Manoel e Itapetininga. Em fins de agosto, nova tragédia.: o Capitão Messias cai com o Anhanguera sobre as matas de Guapira, em trecho de mau tempo na rota Itatinga-São Paulo. No acidente também perdeu a vida o Deputado estadual Manoel Lacerda Franco, então presidente do Aero Club de São Paulo. Este ano de 1929, que contou com dois eventos fatais, encerrouse, felizmente, sem outras más notícias. Em que pese o risco a que se expunham os aviadores, a Esquadrilha ainda recebeu resposta satisfatória, ao oferecer matrículas no seu 106


curso de formação de pilotos para pessoal civil, numa interação efetiva com o povo paulista: matricularam-se prontamente os Srs. Renato Pedroso, Benedito Brandão, Paulo Sachitelli, Braz Nery, João Michilani, Alberto Americano, Augusto Meirelles, Raul Barbetta e ainda o Capitão da Reserva do Exército Amadeu Saraiva, entre outros.

7 -

O Fim da Esquadrilha

o ano seguinte, 1930, foi particularmente marcante para a Esquadrilha da Força Pública de São Paulo, como iremos ver. Até setembro, os eventos foram de rotina, pilotos e aviões realizando missões de instrução, vôos ao interior do Estado, para abertura de inúmeros campos, e cumprindo programas festivos , com formação de esquadrilhas e demonstrações acrobáticas . Em outubro, houve o movimento revolucionário que culminou com a deposição do PresIdente da República Washington Luiz e a instalação do Governo Provisório, com Getúlio Vargas . A Polícia Militar, que permaneceu com as forças legalistas, sofre as inevitáveis conseqüências de seu posicionamento, em face da vitória revolucionária. O General Miguel Costa assume funções de Inspetor da Força PÚblica. O Major José Garrido é destituído do Comando da Esquadrilha de Aviação, passando-o ao Capitão Antônio Reynaldo Gonçalves , então readmitido. Oficiais revolucionários do Exercito são comissionados na Força, entre os quais o Major Eduardo Gomes, no posto de tenentecoronel. Todos os aviões e munições são entregues ao Exército (os Curtiss Fledgling viriam posteriormente a ser usados pelo Correio Aéreo Militar). Aviões civis, que haviam sido requisitados pelo Governo deposto, são devolvidos aos respectivos proprietários (dois Nieuports de Fritz Roesler e um aeroplano do Sindicato Condor). O pessoal civil -incorporado em emergência é dispensado (Hoover, Renato Pedroso, Fritz Roesler, José de Mello, Jayme Medeiros Nunes e outros), enquanto os pilotos militares da Força são dispersados por todo o Estado, ocupando cargos diversos. E o fim chega, então, para a Esquadrilha, através da publicação em boletim da Inspetoria Geral: Em virtude de escapar à finalidade desta Força e devendo ser a Aviação um elemento do Exército, é dissolvida, nesta data, a Esquadrilha de Aviação, cujo material será entregue ao Governo Federal. 10r


Eram 18 de dezembro de 1930 . Estava encerrada mais uma fase da aVlaçao da Força Pública de São Paulo, a terceira. Criada primeiramente em 1914 , em face de circunstâncias políticas, vinha agora a encerrar suas atividades em face de circunstâncias semelhantes. No entanto , deixava registrados na História muito de seu trabalho, nas participações em Goiás, com o Exército; muito de seu esforço, nos inúmeros campos de aviação que fez abrir por todo o Estado; muito de seu heroísmo, traduzido na invalidez do Tenente Roldão e nas mortes dos Tenentes Cyro, Chantre e Messias.

108


CAPíTULO 4

A AVIAÇÃO DA BRIGADA MILITAR DO RIO GRANDE DO SUL

1 -

As Tentativas de Criar Uma Aviação Brigadiana

3 O de março de 1915, assumiu o comando geral da Brigada Militar o Coronel ' Affonso Emílio Massot. Este fato , mais do que um mero ato administrativo, marcou o início de uma nova fase brigadiana. A Brigada Militar fora criada no Rio Grande do Sul, por decreto de 15 de outubro de 1892 , com missão de {{auxiliar a Força Federal na defesa da República", Seu regulamento especificava suas atribuições: ({zelar pela segurança pública) mantenimento da República e do

A

Governo do Estado ) fazendo respeitar a ordem e executar as leis}}9,

Atualmente, a Brigada executa atividades policiais e, por tradição, é a única polícia militar brasileira que mantém essa denominação. O Coronel Massot, hoje Patrono da Brigada, participara de inúmeros -movimentos revolucionários, e em todos eles tivera oportunidade. de constatar as vantagens que um bom serviço de reconhecimento e observação poderia trazer para as tropas em combate . Aliás, ~ssa visão tática não era novidade, pois já vimos que, na Guerra do Paraguai, foram empregados até balões em missões de observação e, bem mais recentemente, o General Setembrino de Carvalho havia chegado a essa conclusão, motivo pelo qual solicitara ao Ministro da Guerra o concurso da . aviação na Campanha do Contestado. Logo em 6 de agosto de 1915, o Coronel Massot encaminha ao Presidente do Rio Grande do Sul, Antônio Augusto Borges de Medei'ros, o Ofício 323, contendo proposta de criação de uma escola de avia109


ção. Ao ofício anexava um estudo pormenorizado do Engenheiro Evaldo Pedro Blauth, que também era aviador , com brevê internacional da F AI, obtido na Alemanha em 1914. No projeto de Blauth para a criação da escola, havia explanações pormenorizadas sobre todos os aspectos a serem observados , com análises claras e fundamentadas sQbre as características de um campo de aviação considerado bom, sobre as instalações necessárias, serviços de apoio, socorro e comunicações. E ainda se estendia em comentários sobre os próprios aviões de instrução, a aquisição deles e respectiva estimativa de preços. Finalmente oferecia sugestão de um currículo escolar, nominando assuntos teóricos e prevendo exercícios práticos. No seu ofício, o Coronel Massot também comunicava a existência de uma oferta do aviador John Barrow para ministrar a instrução. O projeto foi, porém, recusado pelo Presidente Borges de Medeiros, que considerou o assunto como da alçada do Governo Federal e do Ministério da Guerra. Oito anos depois, quando do movimento revolucionário de Assis Brasil, o Coronel Massot viu oportunidade para insistir na tentativa de introduzir a aviação na Brigada. O decreto estadual 3.161, de 31 de maio de 1923, regulamentando o Serviço de Aviação da Brigada, foi a concretização do sonho que o Coronel Massot alimentara. 2 -

O Serviço de Aviação Desenvolve-se

Localizado no terreno do Posto de Veterinária, na Várzea do Gravataí, cercanias de Porto Alegre (hoje ocupada pela VARIG S.A.), o Serviço de Aviação começou a funcionar com dois hangares (um fixo, outro desmontável) e instalações para alojamento de pessoal, oficinas e serviços burocráticos, sob a direção técnica do Dr. Sílvio Barbosa. Noêmio Ferraz, ex-sargento-aviador do Exército, da turma de 1921, foi contratado .para as missões de vôo e Ozório de Oliveira Antunes, para as funções de observador aéreo, sendo a ambos atribuído o posto de alferes. Os aviões vieram da Argentina: dois Breguets 14, usados, adquiridos pelo Governo estadual , através da sua Secretaria de Obras Públicas; receberam a identificação de BM-1 e BM-2 . Essa aquisição foi cercada de comentários pela Imprensa, na qual se afirmava que os aviões visavam a combaté aos insurretos assisistas. Até mesmo o Exército se interessou pelo fato, tendo o Comandante da Região Militar designado uma comissão para verificar se os aparelhos eram ou não de guerra . Em 30 de maio, fizeram-se vôos de experiência, após os aviões terem sido montados pelo representante dos · Breg,uets na Argentina, Pa110


trick F. Hasset. Estavam equipados com metralhadoras, fuzis e lançadores de bombas, à semelhança dos aeroplanos empI;egados na Primeira Guerra Mundial. As metralhadoras foram posteriormente retiradas, pois se destinavam apenas a combates aéreos, e recolhidas ao depósito do Campo da Várzea do Gravataí. Quanto às bombas, construídas pela própria Brigada, elas só produziam efeito moral: seus lançamentos não seriam feitos diretamente sobre os insurretos; destinavam-se a espantarlhes as montarias, provocando estouro da cavalhada, deixando-os confusos e a pé, na perseguição aos animais. De pronto, iniciaram-se missões de observação por sobre o Estado, com vôos de Ferraz e Ozório, em torno de Porto Alegre, sobre as Cidadesde Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Alfredo Chaves (hoje Veranópolis), ao norte, onde o vôo se fazia por sobre a Serra Geral, com altura superior a 800 m; Cachoeira do Sul, São Sepé, Caçapava do Sul e Encruzilhada do Sul, a oeste; Camaquá e Pelotas, ao sul, percorrendo distâncias superiores a 200 km.

3 -

As Sabotagens

Nem tudo, porém, corria tranqüilo; atos de sabotagem vinham sendo perpetrados: um galpão de ferramentas foi pelos ares, após um portador desconhecido ter deixado lá uma lata, supostamente com graxa, para ser usada nos aviões. Projetis inesperados atingiam com freqüência as instalações do Serviço de Aviação, sem que se localizasse de onde partiam os tiros, nem os autores dos disparos. Acrescente-se ainda o desaparecimento misterioso das metralhadoras retiradas dos Breguets, três dias após terem sido guardadas no almoxarifado. Tudo isso levava inquietações, provocando estado de apreensão e criando tensões, que nem o reforço da segurança conseguia evitar. I

4 -

O Fim do Serviço de Aviação

Em 9 de agosto deste 1923, o BM-1 decolara da Várzea do Gravataí, numa de suas missões de observação, com Ferraz e Ozório. Já no regresso , quando em sobrevôo da Várzea do Piqueri, o avião incendiou-se, obrigando a que Ferraz manobrasse uma aterragem de emergência. Em que pese a conhecida destreza do piloto, o pouso foi desastroso. Lançado para fora da nacele, Ferraz escapou do fogo que fez explodir o avião, matando o Alferes-observador Ozório. Os vôos passaram, então, a ser feitos só no BM-2 . Já desgastado, veio a apresentar falhas constantes. Foram em vão as tentativas de 111


aquisição de novos aviões, e, na impossibilidade do cumprimento eficaz de suas missões, o Serviço acabou por ser extinto, e a Brigada perdeu sua aviação por ato de 24 de janeiro de 1924. O Coronel Massot, em seu relatório de 1924, assim explicava o término de Serviço de Aviação: {{dada a construção antiga dos aeroplanos adquiridos e por conse.qüência já muito usados, não logrando maior êxito o novel serviço . ,,63 Após a extinção, foi estabelecido um contrato com o Sr. Orestes Dionísio Borroni, visando ao aproveitamento das instalações do campo do Posto de Veterinária para que o referido senhor já se estabelecesse com um parque de aviação, que serviria como base de operações para um serviço de transporte comercial entre Porto Alegre e Pelotas. Pelo contrato, além de dispor das instalações já existentes, a Borroni cabia permissão para também fazer uso do Breguet BM-2. No entanto, o contrato jamais foi cumprido, e veio a prescrever. O BM-2 foi alienado como sucata. Fora curta a duração do Serviço de Aviação da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Também fora pequena sua equipe de pessoal, onde mais se destacaram o Alferes Ferraz e o irtfortunado Ozório. Contudo, niJma época em que a maior segurança de vôo era paradoxalmente o regresso das frágeis rodinhas do avião ao solo do campo de pouso, o exemplo de Ferraz e Ozório foi grande e ficou perene, pelo desprendimento e pela coragem com que, pioneiramente nos pagos gaúchos, elevaram ainda mais o valor da aviação, que a visão acurada do Coronel Massot soubera divisar para a Brigada.

112


CAPíTULO 5

A AVIAÇÃO NOS MOVIMENTOS REVOLUCIONÁRIOS

1 -

Revolta de 1922

M 1915, já se tinha cogitado do emprego do avião na Campanha do Contestado; mas logo a primeira missão, programada pelo General Setembrino, fracassara, resultando em acidente fatal, o de Kirk .

E

Assim, só na década de 20 nossa aviação viria a ter o seu batismo

de fogo , quando os aviões chegaram, de fato, a ser empregados em reais operações aéreas de natureza bélica. Infelizmente, implicados em combates fratricidas, nos movimentos revolucionários a que o idealismo tenentista fora levado, na busca das reformas sociais brasileiras. A primeira manifestação armada do Tenentismo apareceu em 1922, em conseqüência do estado de espírito da mocidade do Exército, então exacerbado por dois eventos, que ficaram conhecidos como questões militares. O primeiro aconteceu ainda em 1921. Para suceder Epitácio Pessoa na Presidência do País, surge o candidato Arthur Bernardes, lançado pela política continuista e excludente, conhecida como café COm leite, representada por grupos oligárquicos de São Paulo e Minas Gerais . Em sua oposição, grupos do Rio de Janeiro , Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco, formando a Reação Republicana, apresentam o candidato Nilo Peçanha, cujos programas políticos reformistas agradaram aos setores burgueses e, particularmente, sensibilizaram os militares. 113


Em outubro de 1921, o jornal carioca Correio da Manhã, atribuindo autoria a Bernardes, publica as explosivas cartas falsas , cujo conteúdo era fortemente ofensivo ao Marechal Hermes , então líder no Exército e presidente do Clube Militar. Embora, algum tempo depois , viesse a ser descoberto que as cartas tinham sido forj adas, na época do seu surgimento formara-se entre os militares um clima hostil em relação a Bernardes, e eles passaram a exigir-lhe a renúncia, apoiando francamente a candidatura Nilo Peçanha. Contudo, Arthur Bernardes vence as eleições, em março de 1922 ; sua posse teria lugar em dezembro , numa frustração para os militares e para todos os que desejavam refo~mas. A segunda questão militar originou-se em 2 de julho de 1922 , com a prisão do Marechal Hermes e o fechamento do Clube Militar, ordenado por Epitácio Pessoa, em face de o seu presidente ter exortado o comandante da guarnição militar do Recife a que não servisse ao Governo como algoz do povo, na repressão aos movimentos armados com que pernambucanos oposicionistas mostravam sua insatisfação contra a eleição de Bernardes . Os ressentimentos contra Epitácio Pessoa e Arthur Bernardes formaram a gota que faltava para que 6 idealismo reformista do soldadocidadão viesse a extravasar-se. Na manhã carioca de 5 de julho, surgem três focos revoltosos no Exército: alguns quartéis da Vila Militar, no subúrbio de Deodoro, a Escola Militar do Realengo e o Forte de Copacabana. Os dois primeiros foram dominados com facilidade. Mas no Forte, a preparação para o movimento, então comandado pelo Capitão Euclides Hermes da Fonseca (filho do Marechal), fora feita com bastante antecedência, e mostrou maior oposição, exigindo ataques violentos, em que tomaram parte dois hidroaviões da Aviação Naval, lançando bombas que , providencialmente, caíram apenas próximas ao Forte, sem causar piores efeitos. É possível que os tiros vindos dos navios e das fortalezas da Baía de Guanabata não tivessem intimidado os revoltosos, que tinham os muros do Forte a ampará-los. No entanto, contra os ataques aéreos pouco ou nada tinham com que se defendessem. Daí ter o bombardeamento provocado a imediata dispersão dos revoltosos; apenas alguns deles resistiram, mas deixando o Forte e vindo à rua para enfrentar as tropas terrestres. Eram os 18 do Forte} liderados pelos Tenentes Siqueira Campos, Eduardo Gomes, então Observador da Aviação Militar , Mário Carpenter e Nilton Prado, acompanhados de alguns outros militares e de um civil, Otávio Correia (que voluntariamente se juntara ao grupo). 1"14-


Os "18 do Forte". Na linha de fren te, da esquerda para a direita: Eduardo Gomes, Mário Carpenter, Newton Prado e Otávio Correia.

Fig. 35 -

A Escola de Aviação Militar, nos Afonsos, teve suas atividades suspensas e, por medida de segurança, foi ocupada por tropas do Exército. Quase todos os oficiais-aviadores foram, inclusive, aprisionados em navios e fortalezas, o que tirava qualquer possibilidade de uma operação aérea rebelde. A rotina normal só veio a restabelecer-se em setembro. 2 -

Revolução de 1924

o

Movimento Tenentista de 22 fracassara, mas deixara visíveis a insatisfação dos militares jovens contra o tratamento indigno que o Governo dispensava ao Exército e o descontentamento com as medidas politiqueiras e tributárias dos grupos dominantes, que traziam insatisfação ao povo brasileiro, dificultando o desenvolvimento da Nação, transfigurando o tão almejado regime republicano e desconsiderando o federalismo que deveria unir os estados do País. Os governantes deveriam ser eleitos por voto secreto, representando a livre vontade popular, sem as pressões a que o voto a descoberto estava sujeito. As reeleições estaduais deveriam ser proibidas, visando a · que as sucessões acontecessem. sem armações eleitoreiras, que tiravam oportunidade aos candidatos nãosituacionistas. A Imprensa devia ter ampla liberdade, para proporcionar ao povo informações mais verídicas, sem interferência de censuras deturpadoras da verdade. As medidas de natureza tributária precisavam ser mais justas e mais adequadas à burguesia emergente. Era desejável a separação Igreja-Estado. O ensino carecia de reorganização_ En115


fim, eram necessárias reformas profundas na estrutura social; e esse dever cabia ao cidadão, àquele que, sem propósito outro que não o bem comum, se preocupava com o Brasil e desejava para ele um futuro certo, próspero, com ordem e progresso. E até onde o cidadão do povo seria capaz de, sozinho e sem meios, realizar tais reformas? Seria mesmo necessária a presença do soldado-cidadão! · Com esse propósito de participação reformista, novamente voltam os militares a um movimento armado, visando à deposição de Bernardes. Reunidos em São Paulo, líderes da rebelião de 22 traçam cuidadosos planos para uma revolução em âmbito nacional. A escolha de São Paulo como ponto de partida do movimento tinha sido ditada por três razões de ordem estratégica: na Capital bandeirante havia indícios de adesão da Força Pública, então a mais forte do País; a cidade, além de constituir o centro da malha ferroviária nacional, com possibilidade de fácil transporte para o Triângulo Mineiro, Paraná, Mato Grosso e Goiás, possuía saídas para o litoral, através de Santos; para o nordeste, pelo Vale do Paraíba; para o norte, por Campinas e Mogi-Mirim; para oeste e sul, por Itapetininga; e, obviamente, por apresentar mais tranqüilidade e segurança para reuniões e elaboração de planos, já que o Rio de Janeiro estava bastante alerta, com policiamento rigoroso contra agitações, desde a revolta do Forte de Copacabana, e os líderes do movimento mantinham-se todos na situação de desertores, usando nomes falsos, para evitar a pena de prisão a eles atribuída no processo que se arrastara por ano e meio, pelo levante anteriorS5 • O comandante do movimento foi selecionado entre os oficiais da reserva, já que os da ativa estavam, de certa forma, ligados à política dominante, pois só galgavam ao generalato os que fossem da vontade do Presidente da República. A escolha recaiu sobre Isidoro Dias Lopes, general reformado e partidário de Nilo Peçanha. Os planos tenentistas visavam a um ataque à capital paulista, para domínio total das forças governistas. O fator surpresa garantiria a queda militar em poucas horas, com conseqüente deposição do Presidente do Estado, Washington Luiz, e imediata marcha para o Rio, através do entroncamento ferroviário de Barra do Piraí. Na madrugada paulista de 5 de julho de 1924, o Capitão Joaquim Távora e o Tenente Eduardo Gomes reuniram-se ao Capitão Newton Estillac Leal e a outros tenentes, tomando o Quarto Batalhão de Caçadores, no Bairro de Santana. Estava iniciada a Revolução, com o apoio de vários quartéis do Exércüo e de parte das tropas da Força· Pública, sob o .comando do Major FP Miguel Costa. A conquista da cidade não aconteceu com a presteza que fora planejada, proporcionando a que as forças govern·amerttais reagissem e de116


tivessem o avanço tenentista. Resistência de ambas as partes já prolongava o combate por vários dias, quando o Ministro da Guerra, Setembrino de Carvalho, se decidiu pelo bombardeamento intensivo da cidade, inclusive com emprego da aviação, para aniquilamento total dos rebeldes. A 14 de julho, foram, então, deslocadas para São Paulo, baseandose em Mogi das Cruzes, a Esquadrilha de Aperfeiçoamento e a Primeira Companhia de Parque de Aviação, da Escola dos Afonsos, cujo comandante, Tenente-Coronel Álvaro Octávio de Alencastre, foi designado Diretor de Aeronáutica, para as operações aéreas contra os rebeldes. O Capitão Marcos Evangelista da Costa Villela Júnior comandava os pilotos e observadores legalistas que seguiram para Mogi. Entre os aviadores, estavam: Capitão Alzir Lima. Primeiros-Tenentes Bento Ribeiro; Cícero Magalhães; Abelardo Mesquita. Segundos-Tenentes Sylvio Canizares da Veiga; Thomaz Monclaro; Adalberto da Silva. Segundo-Sargento Manoel Machado. Terceiro-Sargento Synval de Castro. Entre os observadores: Capitão Amilcar Pederneiras. Primeiro-Tenente Vasco Alves Secco. Segundo-Tenente (Aluno) Altivo Halfeld. Nas operações contra os rebeldes seriam utilizados seis Breguets-14, dois Nieuports e dois Spads, que viriam a realizar um total de vinte e uma missões, incluindo observação, ligação e bombardeio, entre os dias 19 e 28 de julho. Numa das operações, o Capitão Villela Jr. ficou gravemente ferido em acidente com seu Breguet, quando regressava da missão. Também o Tenente-Observador Alves Secco se acidentou com um Nieuport, felizmente sem gravidade, deixando porém bastante ferido o Sargento-Aviador Synval de Castro. A Aviação Naval também interveio, com missões de reconhecimento. Para Santos foram enviadas as Primeira e Segunda Esquadrilhas dos modernos F-5L adquiridos em 1923 para a defesa aérea do litoral, dois HS~2L e dois MF, sob o comando do Capitão Neiva de Figueiredo.

/

117


A equipagem inicial da Primeira Esquadrilha de F-5L estava assim constituída: Avião

1

Tenentes Fileto, Peixoto e Brasil;

Avião

2

Comandante Neiva, Tenentes Beltrão e Reynaldo de Carvalho;.

Avião

4

Tenentes Cor tez e Araújo;

Avião 22

Tenentes Epaminondas e Machado e Comandante Proença;

Avião 23 -

Comandante Varady, Tenente Santos e Sargento Afonso.

A da Segunda: Avião 21 -

Tenentes Mattos, Lima e Kfuri.

As missões realizadas foram de apoio aos navios que bloqueavam aquele porto e de observação do litoral paulista (Itaipu, São Vicente, Bertioga e Conceição de Itanhaém), para evitar que houvesse ocupação pelos rebeldes, bem como de policiamento sobre Santos. No entanto, foram as forças tenentistas as primeiras a empregar aviões no conflito, com operações orientadas pelo Tenente-Observador Eduardo Gomes e pelo Tenente-Aviador da Força Pública Antônio Reynaldo Gonçalves, recebendo ainda o concurso do Terceiro-Sargento Carlos Rodrigues Coelho (ex-cadete, expulso após o movimento de 22). Quatro outros pilotos, todos estrangeiros, foram contratados para participar das missões rebeldes: Lúcio Gordines e Alberto Comelli, italianos, e Fritz Roesler e Carlos Herdler, alemães. Dos aviões utilizados, alguns pertenciam à então inoperante Escola de Aviação da Força Pública de São Paulo, encontrados nos hangares do Campo de Marte; outros foram requisitados à escola de Edu Chaves; outros ainda eram de propriedade das aviadoras Teresa de Marzo, aluna de Fritz Roesler, e Anésia Pinheiro Machado, aluna do Tenente Reynaldo. Também foram requisitadas peças de reposição e acessórios dos irmãos aviadores italianos Robba. Logo em 13 de julho, foi tentada por Eduardo Gomes a primeira missão de reconhecimento aéreo, sobre os bairros Ipiranga, Penha e Vila Mariana, que teve de regressar em emergência, por pane, acidentandose na aterragem em Marte. Uma segunda missão também não foi bem sucedida, outra vez por pane de motor. Uma terceira missão de reconhecimento foi realizada sobre Sorocaba, rumando depois para Santos, onde Carlos Herdler e Eduardo Gomes fizeram sobrevôo sobre tropas da Marinha, lançando papéis de pro118


paganda revolucionária no encouraçado Minas Gerais. À vista de um hidroavião da Marinha que decolava para lhes dar combate, os ousados rebeldes decidem regressar à base, em Marte. O hidroavião que decolava era pilotado pelo Tenente-Aviador Naval Fernando Savaget; nem chegou, porém, a alçar vôo: capotou e Savaget, quase afogado, foi milagrosamente salvo a tempo, depois de ficar submerso por vários minutos. A 22 de julho, iniciaram-se as operações aéreas legalistas de bombardeio. Após alguns vôos prévios de reconhecimento, a partir do dia 19. a Aviação Militar passou a utilizar seus aviões para despejar granadas Stockles e obuses 105 sobre o centro da capital paulista, já então bastante danificada pelos projetis dos pesados canhões legalistas, que, a cada momento, dia e noite, intensificavam o furioso bombardeio, tornando-o brutal, com sacrifício maior para a população, já sem qualquer abrigo seguro para escapar da morte, sem poder contar com o comércio, para ter alimentos disponíveis, recorrendo a saques. A Cidade de São Paulo estava quase destruída, em pleno caos. A finalidade do pesado ataque legalista era, evidentemente, a aniquilação das forças tenentistas. No entanto, o motivo era outro: ainda estava na lembrança de todos a forte resistência dos settanejos .de Canudos, em 1897, que trouxera bastante desgaste para o Exército. O General Setembrino não queria repetição; por isso, o propósito da ofensiva maciça e indiscriminada. A respeito do bombardeio aéreo sobre a capital paulista, são bastante oportunas as observações feitas pelo General-de-Divisão Abílio de Noronha, em 1924 79 : Vejamos alguma coisa de avzaçao) uma vez que as forças legaes contavam com duas esquadrilhas e os rebeldes com três ou quatro apparelhos) não adequados aos fins a que foram usados. A aviação militar comprehende as seguintes diversas especialidades: observação) bombardeio e caça. A de observação tem por fim: reconhecimentos) missões de tiro) de lzgação) de vigilancia) combate e transmissão de ordens. As esquadrilhas de que dispunham as· forças legaes) realizaram alguns desses fins? Absolutamente não. Os serviços de reconhecimento que têm por fim a localização da tropa inimiga) de seu.s pontos fortificados) da posição de sua artilharia) de . seus depósitos de víveres e munições) dos movimentos de tropas) etc.) isso por meio de reconhecimento a olho nu ou ph.otographicos (verticaes) obliquos ou panoramicos)) não foram realizados) pois como taes) não podemos qualificar os vôos a uma enorme altura) temendo uma artilharia anti-aérea que sabiam não existir) e dos quaes sempre resultavam informações vagas - "de que no Quartel da Luz e pro119


ximidades, tinha sido notada a presença de rebeldes". A mtssao de tiro, que em regra geral é a regulação dos disparos da artilharia amiga, com informações que fornece sobre si os tiros estão curtos ou longos, muito à direita ou à esquerda do objetivo visado, durante o tempo em que a artilharia amiga dispara, nunca foi tentado, apesar dos rebeldes não contar.em com elementos capazes de oppôr um impecilho a isso . No entanto, os revoltosos com os seus pequenos apparelhos, mais de uma vez fizeram regulação de tiro para a sua artilharia.

Fig. 36 -Soldados entrincheirados tentam abater um avião rebelde.

A aVlaçao de bombardeio, como doutrina o major Roswag, da Missão Franceza instructora do nosso Exército, é o prolongamento da artilharia de longo alcance pelo grande raio de acção do avião. Com as bombas, por eUa jogadas, attingem-se os pontos julgados isentos de qualquer ataque pelo inimigo, leva-se a destruição aos seus pontos fortificados, provoca-se o panico e a debandada das tropas estacionadas ou em marcha, inquietam-se de todos os modos os altos comandos. Tivemos isso entre nós? A não ser algumas bombas lançadas de uma grande altura visando attingir unicamente o Quartel da Luz, mas que erraram o alvo, nada mais houve. Não entenderam que, muito mais acertado que os disparos de artilharia a 7,8 e até 9 kilometros e meio de distancia, seria o emprego continuo do bombardeio pelos aviões, os quaes, uma vez que ag,issem com precisão e sem receio, poupariam a vida de 120


innumeros civis que foram victimas dos disparos desordenados da • artilharia legalista. Quanto à aviação de caça} cujo escopo principal é combater os aviões inimigos, neutralisando sua acção por todos os meios possíveis} a acção das esquadrilhas das forças legaes foi nulla. Contava a Divisão com apparelhos Spad} motores 180 H.F. Hispano Suiza} theoricamente dispondo de uma velocidade de 200 kilometros por hora} que foram postos em cheque pelos Caudrons e Nieuports dos rebeldes} os quaes foram a Santos varias vezes fazer observações} levantaram vôos tentando ir à Capital Federal e atravessaram impunemente as linhas legaes} diariamente} sem serem molestados} indo a Guayaúna lançar proclamações e ahi voar a menos de 200 metros de altura sobre o Quartel General da Divisão. O avião de infantaria} a mais perigosa das niissões de aviação de observação} o qual visa entre outras cousas} principalmente apoiar esta arma} para isso realizando vôos baixos e fazendo desse modo com vantagens emprego das armas automaticas} lançando bombas e granadas de mão} não deu sígnal de si durante os 18 dias em que durou a acção contra os revoltosos. Emfim. Como doutrinam os grandes mestres} o Estado Maior da Divisão devia ter como adjunctos technicos e tacticos} pelo menos dois officiaes de aviação} pilotos ou observadores} destÍ1:ados a acompanhar} em todos os seus detalhes} o papel que estava fazendo a aviação} apontando falhas a serem preenchidas. Mas isso foi julgado co usa de pouca monta e o resultado foi o que em synthese acabamos de descrever. ( ... )

Numa resolução extrema, o comando rebelde decide atacar o Palácio do Catete, residência oficial do Presidente da República, no Rio de Janeiro, vendo no ataque à pessoa do Governo Federal um meio para contragolpe ar as forças legalistas, ao mesmo tempo em que lhes desviav~ a atenção para longe de São Paulo. Nessa missão foram engajados Eduardo Gomes e Carlos Herdler. No Oriole de Tereza de Marzo, especialmente preparado e equipado com tanques sobressalentes de combustível, deveriam ir ao Rio, lançar material de propaganda revolucionária sobre a cidade, deixar cair poderosa bomba explosiva sobre o Palácio do Governo e regressar a São Paulo. Coube ao mecânico Vasco Cinquini aprontar o avião para a ambiciosa missão. Decolando por volta de meio-dia, com Eduardo Gomes levando a bomba aninhada em seu colo, o Oriole voou cerca de hora e meia, quando seu motor passou a ferver, por vazamento de água no radiador. Tornou-se obrigatória a aterragem; o perigoso pouso, com capotagem, foi feito em terreno sobre a Serra do Mar, no bairro da Catioca, Município de Cunha, já quase na divisa com o Rio de Janeiro, território lega121


Fig. 37 -:- Destroços do Curtis "Oriole" de Tereza de Marzo, pilotado por Carlos Herdler, no qual o Tenente Eduardo Gomes pretendia chegar ao Rio de Janeiro bombardear o Palácio do Catete.

lista. Do fato, tem-se o seguinte registro do então delegado ele polícia em Cunha, Walfrido Maranhão5s : No dia 24 do mês p. findo, pela manhã, a minha ordenança, às 8 horas, informou-me que um aeroplano caíra no bairro da Catioca, que dista desta cidade cerca de quatro léguas. ( . .. ) Infelizmente não me foi possível efetuar a prisão dos aviadores, os quais sr: haviam evadido na véspera do dia em que me foi cientificado ( ... ) O apárelho era de fabricação Curtiss, de grande força, tipo 169, modelo 519. O motivo da sua queda foi a falta d'água no carburador, pois no tanque de inflamáveis era registrado cerca de oito latas de gasolina. Encontravam-se no avião e foram logo enviados para a Delegacia Regional cinqüenta mil boletins .r;ediciosos, diversos exemplares de O Estado de S. Paulo do dia 23 de julho p. findo e mais uma enorme bomba de dinamite, pesando, aproximadamente, cerca de três quilos. ( . .. ) O primeiro aviador era de nacionalidade brasileira, magro, alto, moreno, amável, falando bem e com expressão, mostrando possuir muita inteligência e desembaraço. Deixou o nome de Eugênio de OLiveira, do Aero Club Brasileiro. Seu companheiro, o aviador-mecânico, era de nacionalidade alemã, bai122


xo, muito gordo, pouca barba alourada, vestindo fazenda de casi~ mira peluda, calçando perneiras, trazendo .consigo uma valise e demonstrando não conhecer o nosso idioma. Declarou chamar-se Carlos Hartier. ( ... ) O avião caiu sobre. uma grande várzea, mas, indo de encontro a um brejo, ficou com a hélice C:esmantelada. ( ... ) O local onde o avião caiu é pantanoso. Por isso mesmo o avião ficou em grande · parte atolado, sofrendo fortes avarias em seu corpo de madeira, tornando-se ainda difícil a sua remoção. ( ... ) Recebidos pelo sr. Pacetti, declararam que eram legalistas; sendo assim, o referido inspetor favoreceu-os com tudo que estava ao seu alcance, dando-lhes um lunch, facilitando-lhes meios de condução e mais um portador para ensinar-lhes o caminho e voltar com os animais que o levariam até o leito da estrada de ferro, em Guaratinguetá. ( ... )

Embora tenha conseguido escapar nessa oportunidade, o Tenente Eduardo Gomes foi posteriormente reconhecido e preso em Florianópolis, quando tentava ir para o Rio Grande do Sul e, de lá, continuar sua missão revolucionária. Recambiado para o Rio, foi encaminhado para a Casa de Detenção. Em São Paulo, os bombardeios continuavam. Em 26 de julho, aviões governistas lançaram uma comunicação do Ministro da Guerra Setembrino de Carvalho, conclamando o povo para que abandonasse a cidade, a fim de que as tropas legalistas pudessem agir com total liberdade no combate aos rebeldes. Era sinal de que os bombardeios iriam recrudescer, como de fato aconteceu. Com uma série de fatores negativos pesando contra as tropas revoltadas, como inúmeras baixas em combate, várias deserções, falta total de notícias sobre o andamento dos levantes nos demais pontos do País, aumento de pessoal e de armamento do exército legalista, a situação tornou-se bastante desfavorável para os rebeldes, levando o General Isidoro e seu Estado-Maior a decidirem pela retirada. Em 27 e 28 de julho, abandonam furtivamente , à noite, a Cidade de São Paulo, runiando para oeste, em direção a Bauru, de trem, em direção a Mato Grosso do Sul, conduzindo todo o armamento disponível, animais, víveres e munições. O novo plano era retomar a lutà naquele estado. Para isso, em 6 de agosto, tomaram a Cidade de Presidente Epitácio(SP), às margens do Rio Paraná, nela estabelecendo um estado livre revolucionário, com o nome de Porto Joaquim. Távora - homenagem póstuma ao Capitão-líder que haviam perdido, morto em combate, em 14 de julho. A Esquadrilha de Aperfeiçoamento e a Primeira Companhia de Parque de Aviação, que a esta altura já haviam regressado aos Afonsos, 123


Mensagem aos Caríoças e

FI t1minel1ses

Os rn ohl( ionarius Ih:' S, Paulo, cum.> ~l'st .. .te admiruçãu c ~\ 111(' •• . thÜl "dn "1)\ Õ úui.h':.u L' f1umin.:ns.c. en\ iam a cs~s I.:acs camarada" ., eml!!".,!' um l' rr.lssarlo pllrtauor de suas slludações e dv s:us id";I<' s , A 5 do corrente foi Iniciado pelos corpos do eJlerclto e da Palie'" aquartelaüos no Estado de S, Paulo, um movimento revolucionaria tendente a corrh:lr os l'rro~ ""~: Inaus :!lI", rn:>s, Il ..-k : a · " , ·,l.t" " I:~(~ MIeS e mntalaes da Nação Rrasllelra e a defender os Interesses e os d~ rrltes do 1'0\"0. Esse mo\' lmento vem conquistando dia a dia as sympathias de todo o plWO paulista, que vibra em Bpotheosl's de manlfelitações patrloUe. . ; I' domina as poslçi'H:s tacticas e estrateKlcBs, eomml'n: iat's l' i:ll:u~t:-l.es _is Importantes. taes como a Capital do Estado. as cldadel> til' ~am­ plnas, Jundlahy, Rlbl'iõão Preto, etc., etc. e tem as esperanças da ~i­ ctorla robustecidas nos elevados IntuItos patrlotlcos ,!Uc o iustlflc!!m. O seu ponto de ,,' Ista polltieo, entre outros, "Isa o sej!ulnte:

1." - Restabelecer a fórma de governo republicana federatl,,'a; Z.O - As actuBes fronteiras dos Estados em tudo que di~ser ~s­ peito aos Interesses regionaes, com a posslvel diminuição do numero de unidades da Federação, afim de tornaJ-es m.JII5 equ IIIbradas: 3.° - A separaçio da F.greja e do Estado, firmado o princfplo da U.. berdade religiosa e a delesa da maioria cathollca nos ~eus direitos constltueionaes contra as Intoleranclas da Irreli~lo­ sldade; Attrlbulçio da Justiça de conhecer da constitucionalidade dos aetos lejtlslatlvos; S.· - A prohlblçio dos Impostos Interestaduaes; 6.° - Tudo o que se refere i deciaraçAo dos direitos dos braslld- 'ros, nlo se admlttlndo modHleaçio alKuma senio ampliatlva; 7.° - Prohlblçio de reelelçio do presidente da Republlca e dos presIdentes e &,overnadorea dos Estados. Do mesmo modo prohlblda a . reelelçAo dos deputados federaes e ntaduaes, senadores, salvo se alcançarem o suftra&,lo de dois terços do c.-lettorado comparecente; R,o - Decretar o voto secreto; 9.0 - . A obrigatoriedade do ensino prlmarlo e profissional. •• U

_

Su~tentam esse movimento e esses ldeaes reforçadOS diarIamente por Clenh'nas de voluntarlos e patriotas da melhor socIedade paulista, as CUlntr-s unidades: 4.0 Batalhlo de Caçadores, Z.o Orupo de ArtOharta Pesada. Z.• Orupo de ArtilharIa de Montanha, Força Publica do E~~ ""- ~erlmento de Infantarlr. .5.0 Rerlmento de Infantaria (parte), 6.~ll1Iento de Infantaria elementos do Z.O de CavaUarla Dtvlalonarla. 4.- ~erlmento de Artllh~rla Montada, .5.0 Batalblo de Caçadores, ..tem Itr Irande numero de elementos governIstas que se U.. apresent.dD Per. fu '" r causa commum com os revoluclonarlos.

VIVA A REPUBLlCA! S. Paulo . ':0 de Julho de 19.!4,

OS REVOLlJCIO~ARIOS Fig, 38 -

124

Boletim .distribuído pelos sediciosos.


foram outra vez mobilizadas, partindo, em 18 de agosto, para a Cidade de Indiana (SP), onde ficou estabelecida a sede do destacaIllento de aviação. De lá sairiam vários vôos de reconhecimento sobre a região tomada pelos rebeldes. Mas, no mesmo dia em que o destacamento deixava os Afonsos, os rebeldes foram rechaçados por tropas do Exército, já em Mato Grosso. Em 26 de setembro, a Esquadrilha e a Companhia de Parque voltavam à Escola de Aviação, enquanto os rebeldes desciam o Rio Paraná, para tentar sublevar os estados do sul, com auxílio dos antigos bandoleiros d.e libertação de Assis Brasil e do Capitão-Engenheiro do Exército Luiz Carlos Prestes, que aderiram à revolução_o Mas a Revolução Tenentista de 1924 também havia alcançado o norte do País, onde a Aviação Naval foi chamada a intervir. Alguns navios da Marinha, da Flotilha do Amazonas, tinham aderido ao movimento, sob o comando do Tenente-Aviador Naval José Lemos Cunha. Em 1 de agosto, são transportados para Belém dois hidroaviões MP} para cooperar com o Exército nas operações de bombardeio de posições revolucionárias e até mesmo causar o afundamento de navios que se mantivessem hostis. Subindo o Rio Amazonas com destino à Manaus, sempre acompanhada pelos Curtiss MP} a Divisão do Norte, formada pelo cruzador Barroso; pelos contratorpedeiros Sergipe e Mato Grosso; pela canhoneira Amapá; e pelo rebocador Ernestina, ocupa Santarém, põe a pique o mercante Jari, tomado pelos revoltosos, e alcança b Forte de Óbidos, ocupado pelos rebeldes. Ao sobrevôo de reconhecimento pelos MP, os revolucionários do Forte respondem com tiros aos aviões; de pronto, eles lançam algumas bombas sobre os rebeldes, o que provoca a imediata rendição. Em 30 de agosto, a Divisão alcança Manaus, tendo restabelecido o total domínio legalista na região. Em outubro, nova atuação dos aviões dos Afonsos. Sob o comando do General Cândido Mariano Rondon, um destacamento de aviação deixou a Escola de Aviação Militar, acompanhando uma coluna que agiria no interior de São Paulo e Paraná, em perseguição a rebeldes. A base de operaçõt:s aéreas foi estabelecida em Ourinhos (SP), e a missão prolongou-se até 1925, quando, em '30 de março, houve o regresso aos Afonsos. Ainda ao final de 1924, os ideais tenentistas vêm a provocar movimentos revolucionários na Marinha, desta vez no Rio de Janeiro, co~ mandados pelo Capitão-de-Mar-.e-Guerra Protógenes Guimarães. O excomandante da Escola de Aviação conseguira a adesão de vários -aviadores navais, de -oficiais da Flotilha de Submarinos·, da tripulação do cóntratorpedeiro Rio Grande do Norte e de outros navios, inclusive do encouraçado São Paulo. Embora Protógenes tenha sido' aprisionado, 125


na noite de 20 para 21 de outubro, sua ausência não impediu a propagação do movimento, que veio a iniciar-se em 4 de novembro. O Sargento-Aviador Bráulio Gouveia, decidindo integrar-se aos rebeldes, consegue decolar do Galeão com um hidro e alcança o encouraçado São Paulo, que já deixava a Baía de Guanabara, dirigindo-se ao sul, para colaborar com os in.surretos do Rio Grande. No través do Forte de Copacabana e Fortaleza de Santa Cruz, na saída da barra, o encouraçado é atingido por tiros de canhão daquelas unidades do Exército, que também destroem o hidroavião que seguia a reboque, deixando inclusive ferido o Sargento Bráulio. No dia 5, a Aviação Naval, com missões de busca, consegue localizar o São Paulo, já no litoral paulista. Em 9 de novembro, verificando que seria impossível ao navio ancorar em Porto Alegre, pelo tamanho de seu calado, a tripulação rebelde dirige-se a Montevidéu, onde pede asilo político, abandonando o encouraçado rias mãos de legalistas que nele estavam sendo mantidos prisioneiros. 3 -

A Coluna Prestes-Miguel Costa

A · tropa rebelde de Isidoro Dias Lopes, que evacuara São · Paulo e rumara em direção ao oeste, buscando Mato Grosso, onde fora rechaçada em agosto na Cidade de Três Lagoas, retirara-se mais para o sul, estabelecendo-se no Paraná. No Rio Grande do Sul, o Capitão Luiz Carlos Prestes, com a ajuda do também Capitão Juarez Távora e dos Tenentes Iranda Cunha e Siqueira Campos, iniciavam, na mesma época, outro movimento tenentista. Resistiram até dezembro de 1924, quando foram obrigados a retirar-se para Santa Catarina e dali para o Paraná. Desse encontro de forças nascia a famosa Coluna Prestes, sob a chefia do Major FP Miguel Costa, já que o General Isidoro Dias Lopes preferiu exilar-se no estrangeiro, pois estava convencido de que ((nada mais se pode fazer no terreno militar". Durante mais de dois anos a Coluna Prestes-Miguel Costa percorreu grande parte do Brasil, pregando os ideais tenentistas revolucion'ários por treze estados, combatendo toda softe de adversários, com tática de guerrilha, desde tropas legalistas até cangaceiros (que confundiram a Coluna com tropas de polícia volante, que procuravam pelo famoso bandoleiro "Lampião"), sempre sob a chefia de Miguel Costa, sem que lhe fosse infligida qualquer derrota considerada séria54. Miguel Costa só veio a desistir dessa obstinada caminhada, dirigindo-se ao exílio em princípios de 1927, ao saber que o novo Governo de Washington Luiz tinha substituído o do Presidente Arthur Bernardes. em fins de 1926. 126


Entre as tropas legalistas que deram combate à Coluna; esteve uma Brigada mista chefiada pelo Comandante-Geral da Força Pública de São Paulo, Coronel Pedro Dias de Campos, que, devemos estar lembrados, fizera voltar a aviação àquela Força,em dezembro de 1924. E lá estavam os aviões nessa Brigada, integrando-se juntamente com a Infantaria, Cavalaria, Infantaria Montada e Engenharia. Em 26 de junho de 1926, partiam para Goiás, levando o Anhangüera e os JN. Da equipagem faziam parte os Segundos-Tenemes-Aviadores Chantre, Negrão e Pereira Lima; Segundos-Tenentes-Observadores Odilon, Naul e Borba. Orton Hoover, pilotando o Anhangüera, foi designado para orientar, ~té o destino, a Esquádrilha de JN, comandada por Chantre. Era a primeira vez que os aviadores da Força PÚblica se aventuravam em viagem tão lOnga, e com- aviões tão frágeis.

Fig. 39 -

Tenente Chantre.

127


As etapas de vôo no deslocamento eram pequenas, em virtude do pequeno raio de ação dos aparelhos: São Paulo-Campinas (SP) - 80 km Campinas-Pirassununga (SP) - 107 km Pirassununga-Ribeirão Preto (SP) - 100 km Ribeirão Preto-Ituverava (SP) - 95 km Ituverava-Uberaba (MG) - 65 km Uberaba-Araguari (MG) - 125 km Araguari-Ipameri (GO) - 100 km Ipameri-Campo Formoso (GO) -' 85 km Campo Formoso-Santa Luzia (GO) - 90 km Santa Luzia-Formosa (GO) - 95 km Tota] do percurso -

942 km

o

planejamento fora cuidadoso 'e pormenorizado, sendo previstas as quantidades de combustível para os reabastecimentos, os lubrificantes, as ferramentas, o armamento dos aviões e a respectiva muriição. Até mesmo instruções sobre a segurança dos aparelhos e os cuidados para protegê-los, em terra, contra tempestades foram especialmente elaboradas, sendo interessante serem aqui reprochizidas24 : 1.o - Colocar o aparelho com a frente para a direção do vento, em seguida assinalar com estacas os seguintes pontos, na frente do aparelho em baixo da hélicej na cauda entre a fuzelagem e o estabilizador e nas extremidades das asas junto aos bodoques defensores das mesmas.

Retirar o aparelho e fazer 4 buracos de: 2,00 de comprimento, 0,50 de largura e. 1,00 de profundidade.

2.() -

3.° - Em cada um desses buracos enterrar um pau forte de 1,90 de comprimento com uma corda de 1)) por 10,00 de comprimento cada uma, para frente e cauda do aparelho - e de 1/2)) por -6,50 para cada extremidade das asas, amarradas ao centro dos ditos paus com uma volta as duas pontas iguais e para fora da terra. 4.° - Passar as cordas da frente por cima da hélice próxi11!o à presa dando duas voltas em sentido cruzado, terminando por um nó logo abaixo da hélice, cingindo a abertura da mesma. 5. 0 - A corda da cauda deve passar por cima da fuzelagem junto do estabilizador horizontal. ' 128


6.° - As asas devem passar, se for possível, pelas argolas exIStentes nas ferragens dos bodoques. 7.° - Fazer todo o possível para que os avzoes · fiquem sempre com as rodas em cima de uma táboa; em caso de dificuldade lançar mão das táboas das caixas de gazolina. Observações: Afastar os aparelhos das árvores para resguardá-los dos- raios.

Visando ao incentivo e destaque dos pioneiros aviadores , foi criado um distintivo de metal amarelo, com a forma de duas asas abertas , para ser usado no lado esquerdo do peito pelos pilotos que seguiram em operação de guerra para o Estado de Goiás. Em céus goianos, a esquadrilha realizou missões de reconhecimento em auxílio às tropas da Infantaria. Dessas missões resultou a abertura de inúmeros campos de aviação no Estado: Tavares, Vianópolis, Planaltina, Olho d'Água, São João do Capetinga, além dos que tinham sido necessários aos pousos de escala: Ipameri, Campo Formoso, Santa Luzia e Formosa. Em meados de agosto, a esquadrilha recebe ordens para se dirigir a São Paulo, a fim de buscar correspondência .do Governo para o Coronel Pedro Dias e providenciar suprimentos para as tropas em combate. Já no regresso, o avião JN, com Chantre e Lima, sofre acidente grave na decolagem de Uberaba para Araguari, motivado pelo desequilíbrio de uma das asas, mal recuperado de uma avaria que sofrera ao derrapar na decolagem de Ribeirão Preto. O Tenente Lima consegue sobreviver, mas Chantre, com fratura de crânio, perde a vida. O dia 31 de agosto de 1926 marcava, assim, o sacrifício do primeiro mártir da aviação militar paulista.

Fig. 40 -

Acidente com Chantre e Lima.

129


CAPÍTULO 6

UM GRANDE ESTÍMULO: O BRASIL NA ROTA DOS REIDES INTERNACIONAIS

' A

TERCEIRA década brasileira do nosso século teve como destaque maior a data ' de comemoração do Centenário da Independência do Brasil, fato que punha o País em evidência. Se por um lado grandes comemorações constavam do programa oficial do Governo, por outro o Brasil era a pátria de Santos-Dumont, o Pai da Aviação. Além disso, ter na rota o maior país da América do Sul, quer voando por sobre o continente, quer atravessando o Atlântico, quer cruzando os Andes, era um desafio que aguçava o arrojo dos pilotos, fazendo-os lançarem-se em reides verdadeiramente notáveis. E a década foi pródiga em vôos desse tipo, nos quais o Brasil fazia parte da rota e testemunhava a surpreendente evolução da aeronáutica, o que sem dúvida se constituía em forte estímulo à nossa crescente " Aviação.

1-

Rio de Janeiro-Buenos Aires

Edu Chaves já o tinha realizado, de modo pioneiro, na direção Norte-Sul, entre 25 e 29 de dezembro de 1920. Agora era a vez daquele que tinha sido seu competidor maior, mas que o cupim patriótico alijara da concorrência, o argentino E. M. Hearne. Partindo do ,Rio em 28 de janeiro de 1921, utilizando o mesmo biplano Ansaldo S.V.A. - 10, de 220 HI?, com que o italiano Antonio Locatelli também ha130


via tentado esse reide , em 1919, Hearne chegou à capital platina em 2 de fevereiro.

2 -

Lisboa-Rio de Janeiro

. Foi a primeira travessia aérea entre a Europa e a América do Sul feita com sucesso (em 1919 já fora tentado pelo Tenente Fontan). Realizaram-na o Contra-Almirante Carlos Viegas Gago Coutinho, como navegador, e o Capitão-de-Fragata Artur de Sacadura Cabral, como piloto, ambos da Armada de Portugal. Partiram de Lisboa em 3 O de março de 1922, com um hidroavião biplano Fairey· IH D, de 350 HP, especialmente preparado, que recebeu o nome de Lusitânia. Após várias escalas, o Lusitânia alcançou território brasileiro, em 18 de abril, amerissando próximo aos Rochedos de São Pedro e São Paulo (a mil quilômetros da cidade de Natal [RN]). Em razão do mar agitado, o hidro teve os flutuadores avariados e submergiu. Transportados de navio para Fernando de Noronha, os tripulantes portugueses tiveram de lá ficar aguardando outro hidroavião. Um novo Fairey, de número 16, foi enviado pelo Governo português. Visando a preservar a continuidade aérea do reide, o novo Fairey decolou de Fernando de Noronha, retornando ao penedo. No entanto, no regresso a Fernando de Noronha, nova dificuldade: entupimento no condutor de combustível, o que obrigou a mais um pouso de emergência, em pleno oceano. Recolhidos, após mais de nove horas de espera, Gago Coutinho e Sacadura Cabral foram salvos e reconduzidos a Fernando de Noronha, de onde retomaram o reide, em 5 de julho, com outro Fairey, de número 17, também fornecido pelo Governo de Portugal. Com escalas em Recife (PE), Salvador (BA), Porto Seguro (BA) e Vitória (ES), Gago Coutinho e Sacadura Cabral chegaram triunfalmente ao Rio de Janeiro em 17 de junho, após terem percorrido oito mil quilômetros , em 62 horas, com orientação precisa , utilizando apenas instrumentos e técnicas de navegação astronômica que eles próprios tinham concebido para o arrojado vôo. Apesar do mau tempo e da forte cerração que cobria a cidade, a chegada dos portugueses na Baía de Guanabara foi festiva, com dezenove aviões entre os da Marinha e do Exército, e do Independência de Lafay, fazendo passagens a baixa ~ltura, entusiasmando o público que viera recepcionar os bravos aviadores do reide . Tão logo foi avistado o avião português, pilotado pelo Tenente Godinho prestoulhe homenagem, escoltando-o até ~ amerissagem. O Fairey 17 foi , aqui no Brasil, batizado de Santa Cruz. J3l


Fig. 41 -

3 -

O "Santa Cruz"

Buenos Aires-Rio de Janeiro

Foi tentado pelo aviador naturalizado argentino (uruguaio de nascimento) Pablo Teodoro Fels, em companhia do Sr. Jorge M. Piacentini , sob o patrocínio do jornal La Nación . Decolando de Buenos Aires em 2 de setembro de 1922, com o biplano Dorand-Renault) de 190 HP denominado Mitre ) Fels e Piacentini caíram em Parati (RJ), após perda da hélice em vôo, no dia 7 de setembro, interrompendo o reide definitivamente, pela destruição total do aparelho. 4 -

Santiago-Rio de Janeiro

Foi realizado pelo Capitão-Aviador do exército chileno Diego Aracena Aguilar, que teve como mecânico Arturo Ricardo Seabrook. Decolando de Santiago, em 29 de agosto de 1922, com um De Havilland - 9) denominado Ferroviário (homenagem aos trabalhadores que o patrocinaram), Aracenae Seabrook acidentaram-se num pouso em Ubatuba (SP), em 14 de setembro, após 38 horas de vôo, com doze escalas e penosa travessia sobre os Andes. Foram então transportados para o Rio de Janeiro. Por oferecimento do Governo Brasileiro, o Capitão Aracena utilizou um hidroplano da Aviação Naval que , pilotado pelo Tenente Victor de Carvalho é Silva, o reconduziu a Ubatuba; com esse hidro completou o reide, chegando ao Rio de Janeiro em 25 de setembro . Essa travessia dos Andes feita por Aracena mereceu, na época , elogio de SantosDumont como o «maior feito da aviação sul-americana" . 1.32


5 -

.i

Nova Iorque-Rio de Janeiro

Foi realizado pelo cearense Dr. Euclides Pinto Martins, que vivia nos Estados Unidos, onde estudara engenharia e aprendera a pilotar no corpo policial de Nova Iorque. Tivera aulas de navegação no Lloyd Brasileiro, como tripulante do Pará. Seu companheiro de pilotagem foi o Major norte-americano Walter Hinton. Ambos conseguiram o patrocínio do jornal New Y ork World para o reide de homenagem ao Centenário da Independência do Brasil. Em 17 de agosto de 1922, decolaram da Baía de Hudson, Nova Iorque , no Sampaio Correia (homenagem ao engenheiro, deputado e senador fluminense José Matoso Sampaio Correia, na época Presidente do Aero Club Brasileiro, levando como passageiros o engenheiro-mecânico Jonh Edward Wilshusen, da fábrica de motores Liberty, o jornalista George Thomas Bye, do New York World, e o cinegrafista John Thomas BaltseU, da Pathé News. O aparelho era um biplano, bimotor, hidro, Curtiss, de 400 HP, com as bandeiras brasileira e estadunidense na fuselagem. Depois de seis dias de viagem e uma amerissagem desastrosa na Baía de Guantánamo (Cuba), o avião submergiu, tendo todos sido socorridos pelo cruzador norte-americano Denver e levados para a Base Aeronaval de Pensacola, Flórida (EUA). Com um outro Curtiss, semelhante ao acidentado e obtido na Base pelo Jornal, o reide teve prosseguimento, em 3 de setembro. Após a primeira escala em território brasileiro, na foz do Cunani (AP), em 1 de novembro, rumaram para Belém (PA) e Natal (RN) , onde se processou a troca do motor por outro enviado por nossa Escola de Aviação Naval. O Sampaio Correia II chegou ao Rio de Janeiro em 8 de fevereiro de 1923, após 175 dias de viaí!em. c()m nercurso de

Fig. 42 -

O "Sampaio Correa lI', na Baía de · Guanab.ara.

133


10.532 quilômetros, em cem horas e meia de vôo. Estava completada a primeira ligação Nova Iorque-Rio de Janeiro.

Fig. 43 -

6 -

Euclides Pinto Martin o e Walter Hinton .

Havana-Buenos Aires

Em 25 de junho de 1923, quando decolava de Aracati (CE) com destino a Argentina , explodiu um hidroavião alemão Junkers F-13, de 180 HP, que tentava o reide desde Cuba, no qual viajava o filho do presidente da fábrica do avião . Um outro Junkers} que os acompanhava no reide , havia caído no litoral do Amapá. 7 -

Rio-Buenos Aires-Rio

Em 14 de janeiro de 1925 , três biplanos Breguet-14} de 300 HP, deixavam o Campo dos Afonsos com destino à Argentina , pilotados por Paul Vachet, Etienne Lafay e Victor Hamm, levando como mecânicos Gauthier, Estival e Chevalier. O vôo tinha por objetivo explorar a rota para a Compagnie Générale d'Entreprises A éronautiques (depois Linhas Aéreas Latécoere), e era coordenado pelo Capitão Joseph Roig . Alcançado o campo argentino de EI Palomar, l'0r Vachet e Lafay (Hamm ficara em pane em Porto Alegre), foi iniciado o regresso ao Rio de Janeiro, onde chegaram em 23 de janeiro. 134


Fig. 44 -

8 -

Etienne Lafay. Paul Vachet e Victor Hamm e o Breguet 14.

PaIos-Buenos Aires

Reide realizado pelos espanhóis Comandante-Aviador Ramón Franco e Tenente Julio Ruiz de Alda, Tenente Manuel Durán e mecânico Pablo Rada, com um hidro Dornier Wa!, motor de 450 HP, denominado Plus Ultra. Decolando de PaIos (Espanha), em 22 de janeiro de 1926, escalam no Brasil em 4 de fevereiro, na Ilha das Enxadas, Rio de Janeiro. Alcançaram a Argentina em 10 de fevereiro. Franco e Alda bateram o recorde de rapidez na única travessia do Atlântico Sul, sem incidentes, percorrendo 7.855 km em 45 horas de vôo, durante quatorze dias.

9 -

Montevidéu-Rio de Janeiro-Montevidéu

Tentado pelo aviador uruguaio Tenente do Exército Medardo Farias, em companhia do mecânico José Rigoli, pilotando um velho Breguet-14 , de 300 HP. O planejamento do reide previa a decolagem de Montevidéu, escalas brasileiras em Pelotas, Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro, daí regressando à capital uruguaia. Em 19 de maio de 1926, alcançaram o Rio de Janeiro, encerrando com sucesso a primeira etapa. Já no regresso, dirigindo-se a Assunção, o reide chega ao fim, prematuramente interrompido por acidente na altura de Florianópolis . Contudo, este reide chegou a unir, pela primeira vez, por ar,as Cidades de Montevidéu e Rio de Janeiro, na direção sul-norte. 135


10 -

Nova Iorque-Buen"s Aires

Em 18 de julho de 1926, passam pelo Rio os argentinos Eduardo A. Olivero e Bernardo Duggan, pilotando o Buenos Aires, um hidro, biplano, Savoia Marchetti-S 59, bimotor de 450 HP. Trazem como mecânico Ernesto Campanelli. Deixaram a Base Militar de Miller Field, nos Estados Unidos, em 24 de maio de 1926, rumo à Argentina. Em 13 de junho, na altura da Ilha de Caracá (AP) , o Buenos Aires fora forçado a uma amerissagem de emergência, por falta de combustível. Um pescador brasileiro que então navegava pelo local, Josino Cardoso, prestou valioso socorro à tripulação, transportando-a em seu barco Juruna, numa viagem de 600 km, até Vigia (PA), a leste da Ilha de Marajó. De lá, com o auxílio de autoridades brasileiras, puderam voltar ao hidlK>avião e retornar ao reide até Buenos Aires, onde chegaram em 13 de agosto. Quando, na Argentina, chegaram as notícias do acontecido com Olivero, Duggan e Campanelli, e do socorro prestado, o jornal La Prensa patrocinou a vinda ao Brasil dos aviadores Patricio Hasset e Diego Arzeno, em companhia do mecânico Brown. Decolaram da Argentina em 27 de junho, com o avião Airco, chegando ao Centro de Aviação Naval, no Rio, em 7 de julho. Dois dias depois, com folhetos lançados de bordo do Airco, agradeciam ao povo brasileiro e, em particular, ao pescador Josino, toda a solidariedade demonstrada para com os aeronautas argentinos. 11 -

Gênova-Santo Amaro

Era chegada a vez de o próprio Brasil fazer-5e incluir no rol dos países que marcavam seus nomes comreides internacionais, nestes anos da terceira década, não bastasse já tê-lo feito com o vôo do paulista Edu Chaves, entre Rio e Buenos Aires, no final da década anterior, e também com o do cearense Euclides Pinto Martins, que ressaltara a nossa nacionalidade, fazendo Nova Iorque-Rio de Janeiro com os Sampaio Correia, em 1922. Mas, para nós brasileiros, o grande reide, o mais arrojado, o mais emocionante, viria a ser este de 1927, que estava para ligar a Itália ao Brasil, em rota aérea de oeste para leste, sobre o Atlântico. Agora, porém, seria realizado somente por brasileiros que, exclusivamente com esforços próprios, abnegação total da tripulação, sem qualquer patrocínio governamental ou comercial, buscavam pleno sucesso, projetando um grande vôo idealista, sem outra preocupação que não fosse realizar um feito digno das tradições aeronáuticas do Brasil,)} no dizer do Brigadeiro Newton Braga'~. 136


A idéia primeira de um reide transoceânico, a partir do Brasil, tomou vulto na cabeça de dois homens da aviação brasileira, estimulados pelo reide de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em 1922 : um era o ex-estudante de Direito, agora piloto civil e próspero agricultor paulista, João Ribeiro de Barros, e o outro, o Capitão-Observador Militar Newton Braga. Ambos com a mesma intenção: o arrojo e a perícia dos filhos brasileiros, em retribuição a igual feito dos aviadores da PátriaMãe européia.

Fig. 45 -

Ribeiro de Barros.

João Ribeiro de Barros tomou a iniciativa, buscando a cooperação do Capitão-Observador Militar Lysias Augusto Rodrigues. Não conseguindo estabelecer com ele acordo satisfatório, Barros dirigiu-se a Newton Braga, propondo a realização do reide. Entretanto, Lysias resolvera por si levar o projeto adiante , formando sua trIpulação como Tenente-Aviador-Naval Appel Netto e o Tenente-Médico da Reserva do Exército Oswaldo Trindade, devendo ainda contar com um mecânico de aviação da Marinha. 137


Fig. 46 -

Newton Braga.

Como o seu planejamento não tivesse obtido o necessano parecer favorável do Estado-Maior do Exército, o projeto foi abandonado pela equipe. Newton Braga, antes mesmo de conhecer os intentos de Ribeiro de Barros, já tinha concebido o seu projeto de um reide a Portugai, quando, então Secretário do Aero Club Brasileiro, sob a presidência do Dr. Maurício de Lacerda (1917-1920), participara das homenagens que o Clube prestara aos portugueses; chegou inclusive a convidar o Capitão-Aviador Militar AlzirMendes Rodrigues Lima para acompanhá-lo no vôo sobre o Atlântico. A idéia, posteriormente apresentada ao Prof. José Matoso Sampaio Correia, o então Presidente do Aero Club (1921-1924), não pôde, na época, .tornar-se realidade. O abandono do projeto pelo Capitão Lysias , além de permitir ao Capitão Newton Braga aceitar o convite de Ribeiro de Barros , sem choques éticos com Lysias, fez surgir para ele uma segunda oportunidade de realização do reide que idealizara. Mas o projeto de Barros era mais audacioso, pois sua pretensão era ir além de Portugal e alcançar a Itália. Os preparativos para o vôo . pioneiro logo se lnIClaram , em começos de 1926. Se por um lado foram facilitados Po( Ribeiro de Barros, 138


Fig. 47 -

Lysias Augusto Rodrigues.

que, como idealizador e comandante do reide, se propusera a responsabilidade de também custear todas as despesas, por outro a SIAI (50cietá Idrovolante Alta Itália) trouxe algumas dificuldades. A SIAI era a fabricante dos hidroaviões 5avoia Marchetti 5-55, aparelhos a que os estudos de Ribeiro de Barros conduziram como melhor opção. No entanto, a fábrica não lhe pôde fornecer um aparelho novo, oferecendo, porém, o Alcyone, hidro posto à venda pelo Conde italiano Casagrande, após desistir, em Casablanca, de um reide Itália-Argentina que, com ele, pretendera realizar. Aceita a oferta, e estabelecido o preço de 200 contos de ,réis, pela compra e adaptação, Barros e seu antigo companheiro e mecânico Vasco Cinquini (revolucionário de 1924 que preparara os aviões da Força Pública de São Paulo para Eduardo Gomes) partiram para a Itália em maio de 1926, a fim de acompanhar as revisões e modificações do aparelho que o deixa139


riam em condições satisfatórias para o vôo transoceânico, tudo de acordo com esclarecimentos e instruções recebidos de Gago Coutinho. Braga ficaria no Brasil, preparando o material de navegação do reide.

Fig. 48 -

o

"Alcyone", antes de ser o "Jahu".

Os reparos foram iniciados, não sem aborrecimentos senos com a diretoria da SIAI que ora se negava à execução como indicado, ora exigia pagamentos extras. A pedido de Barros, Newton Braga viajou ao encontro dos companheiros, às suas próprias expensas: talvez porque fora revolucionário de 1922, não obtivera de seus chefes a concessão de um prêmio de viagem à Europa, a que tinha feito jus por sua boa classificação ao final do curso da Escola de Estado-Maior. Na Itália, teve de valer-se da intercessão do engenheiro Marchetti junto à fábrica, para que as exigências brasileiras fossem atendidas. Era notória, porém, a morosidade com que os serviços se desenvolviam. Em pouco, o motivo ficou conhecido: chamava-se Francesco De Pinedo. Para o seu reide Europa-Africa-América-Europa (focalizado a seguir) , De Pinedo ' tinha experimentado as possibilidades de um Dornier Wal, a exemplo do utilizado por Ramón Franco e Ruiz de Alda no reide PaIos-Buenos Aires (já mencionado anteriormente). Não obtivera sucesso, tendo, inclusive, causado, na ocasião, a morte do navegador. E desistira do vôo. Agora que soubera dos aperfeiçoamentos idealizados por Ribeiro de Barros para o Savoia-Marchetti, voltara a decidir-se pela realização do seu reide, mas com este tipo de avião, e com as modificações brasileiras. Enviara então à fábrica Carlo Del Prete, seu novo navegador, para o pregaro de um outro hidroavião, naquelas mesmas condições, e tudo indicava ,que a SIAI estava colaborando para que De Pinedo e Del Prete tivessem precedência no início do reide. 140


Conhecendo essas circunstâncias, Barros, Braga e Cinquini eXIgIram pressa na conclusão do avião brasileiro, cuja entrega foi então prometida para setembro. E concluíram ser mais favorável a inversão do trecho, agora com partida da Europa em direção ao Brasil. Ribeiro de Barros já constatara que seria impossível, por ser demasiado cansativo, pilotar o Savoia com uma só pessoa durante todo o reide; e um co-piloto foi indicado por Newton Braga: o Tenente do Exército Arthur Fernandes da Cunha, brevetado desde quando cabo, em 1921, na segunda turma da Escola de Aviação Militar, mas que vinha prestando serviço como veterinário. Chegou a Sesto Calende em princípio de outubro, e ainda foi necessário ministrar-lhe alguma instrução de vôo em hidro, que ele nunca pilotara. Tudo estava preparado para o início do reide Itália-Brasil. O Savoia-Marchetti transformara-se de Alcyone em Jahu, batizado por Ribeiro de Barros, que, ao escolher para o avião o nome tupi de um peixe brasileiro, também homenageava sua cidade natal em São Paulo. A mudança de nome não significava apenas 'um capricho nacionalista, mas denotava um hidroavião que a criatividade brasileira deixara cuidadosamente pronto para o grande vôo, com dois motores Isota Fraschini de 525 HP, novos e bastante testados, dois botes, denominados por Ribeiro de Barros de Vou Ali (o da direita) e Já Volto (o da esquerda), em outra configuração que a original, gerando melhores condições de vôo para pouso e decolagem, além de maior espaço para o navegador (no Vou Ali) e para o mecânico (no Já Volto); radiador com maior capacidade de refrigeração, aumento de diâmetro nas tubulações, cabos de comando mais flexíveis, carburadores adaptados ao vôo nas zonas equatoriais, magnetos de maior potência.

Fig. 49 -

o

"Jahu".

141


Fig. 50 -

Fig. 51 -

142

Motores do "Jahu".

Interior do bote direito do "Jahu", onde viajou o navegador Newton Braga.


Fig. 52 -

Interior da cabine de comando do "Jahu".

Além disso, o navegador Newton Braga equipara o Jahu com bússolas de sua escolha pessoal e por ele mesmo reguladas: sextante de bolha, eficiente fabricação inglesa, que ele logo aprendeu a manejar; e bombas de fumaça, que se inflamavam ao contato com a água, para mostrar a deriva em vôo do avião, que também ele mesmo idealizou e mandou construir, evitando usar as italianas, de complexo manejo e falhas constantes. A tudo isso, juntou cartas marítimas de toda a rota, as mais atualizadas, que viera colecionando. A 13 de outubro de 1926, o Jahu decolava do Lago Maior, em Sesta Calende, para a costa marítima de Gênova, no único percurso inteiramente sobre terra. Em 18, seguia rumo a Gibraltar. Tinha início o reide dos brasileiros. O vôo seguia normalmente, navegador, mecânico e pilotos comunicando suas observações uns aos outros por meio de bilhetes curtos, passados através do vão interior das asas, ou acenos significativos de braços, com metade do corpo fora da carenagem do avião, em meio ao ensurdecedor barulho dos motores sobre as asas. Foi na altura do Golfo de Valênci:} que os motores começaram a ratear, por falta de alimentação automática de gasolina, obrigando a que as bombas manuais, localizadas nos botes, fossem acionadas pelo mecânico e pelo navegador, levando-os a extremo cansaço e determinando pouso de emergência. Amerissaram em Alicante, depois de breve 143


:::"~.:.~-'

...

'.

r '-

~.

:~

'. ,

_. .J ·'· r . . ' '.' ",

--J.!...i.~

'ti

~

' ,"

'15'· . ..~ ,.

~

.

I

~.

•\

.

.

I

Fig, 53 -

..

o

I

reide do "Jahu": Gênova-São Paulo,

pouso em Denia, sem conseguirem sanar a pane e ainda com um dos botes avariado. As causas do mau funcionamento dos motores não puderam ser identificadas em Alicante, e o vôo foi, assim mesmo, reiniciado, em direção a Gibraltar, onde o Jahu chegou em 19 de outubro, ainda alimentado manualmente. Na revisão em busca da causa das panes, foi constatada, nos filtros coletores da gasolina para o motor, a presença de sabão, areia e água . Fora sabotagem, no reabastecimento em Gênova. Seis dias após, com o Jahu refeito do criminoso envenenamento, teve lugar a partida de Gibraltar rumo ao Arquipélago das Canárias. Newton Braga, prevenindo-se, criou um dispositivo que lhe permitiria acionar a bomba manual de combustível tom o pé. Sete horas de vôo e o Jahu descansava nas águas do PortQ de La Luz, na Grande Canária. Outra vez, nem tudo correra bem nessa etapa: os motores tinham voltado a funcionar mal, não proporcionando às hélices rotações adequadas. Exaustivas revisões posteriores mostraram que a sabotagem com sabão, areia e água tinha danificado engrenagens no motor. Foi até necessário confeccionar peças novas, o que retardou a partida para o Arquipélago de Cabo Verde. A decolagem das Canárias seria problemática. O Porto de La Luz oferecia pouco espaço e abrigava um grande número de embarcações; a outra opçã~ seria levar o Jahu à Baía de Gando, cerca de quatro 144


milhas ao sul do porto, o que, porém, acarretava transportar, por lancha, todo o combustível necessário à travessia. A primeira opção acabou prevalecendo. Estava já o hidroavião n plenos motores para n decolagem quando uma lancha lhe vem pela proa, em rumo de colisão. Com extrema habilidade, os pilotos evitaram o desastre, cortando os motores e conseguindo desviar o aparelho. O susto e a precaução levaram-nos a decidir pela Baía de Gando para nova decolagem. À tarde, depois do exaustivo bombeamento manual para esvaziar os tanques de combustível, e de transportá-lo para Ç-ando, quando a tripulação descansava sobre as asas do Jahu um novo sobressalto: outra vez um barco a vela rumou célere em direção ao hidro, visando a atingi-lo; Vasco Cinquini conseguiu que o mastro da embarcação não destruísse a asa do Jahu enquanto os agressores passavam gritando insultos e chamando-os de covardes, por terem tido medo de decolar. Só se afastaram quando Cinquini, contido pelos companheiros, ameaçou os desordeiros com um fuzil, pronto a disparar. Era 8 de novembro quando afinal o Jahu decolou rumo a Cabo Verde. Novos dissabores, ao aproximarem-se do arquipélago. A amerissagem fora planejada pelo navegador para o Porto Praia, na Ilha de São Tiago, mas o hidro baixava em direção ao litoral da Ilha do Fogo. Aü tentar fazer a correção junto aos pilotos, Newton Braga percebeu que Ribeiro de Barros lutava pela retomada do rumo traçado, enquanto o Tenente Arthur Cunha, firmemente apegado aos comandos do aparelho, mantinha o rumo desviado. Ribeiro de Barros, cedendo, evitou que aquele ato de indisciplina do co-piloto redundasse em desastre. Em Cabo Verde evidenciou-se a necessidade de uma raspagem do casco do Jahu: a grande quantidade de mariscos que a ele se agregara, após um mês ininterrupto de contato com a água do mar, vinha dificultando as decolagens. Nas tentativas de pôr o hidroavião em seco, graves avarias foram causadas aos botes, impossíveis de reparar sem material adequado e profissional competente, que Newton Braga teve de ir buscar na SIAI, em Sesto Calende. Já no regresso, passando em Portugal, é procurado pelo Tenente Cunha, que, surpreendentemente, lhe comunica estar regressando ao Brasil, por ter-se desentendido com Barros e Cinquini e abandonado o reide. Este procedimento do co-piloto viria a produzir inúmeras conseqüências, com desagradável repercussão' internacional. Era o desfecho de certas atitudes que o Tenente Arthur Fernandes da Cunha viera assumindo durante o reide, principalmente em termos de disciplina e respeito ao comando de Ribeiro de Barros. J

J

145


Comenta-se que tais atitudes'refletiam intenções do Tenente Cunha em assumir o comando do vôo. Desde que lhe fora concedida autorização para integrar a tripulação do hidroplano no Rio de Janeiro, chegara estranhamente a antecipar a notícia de que o co-piloto assumira o comando do Jahu para que o reide pudesse chegar a bom termo. Ainda em Lisboa, dandú entrevistas a jornais estrangeiros, o Tenente Arthur Fernandes da Cunha vem a ridicularizar a iniciativa de Ribeiro de Barros, introduzindo adjetivos como aventureiro) doido e incapaz. E ainda fez indelicadas e despropositadas críticas ao reide PaIos-Argentina, de Ramón Franco e Ruiz de Alda, realizado meses antes, o que até provocou interpelação do Governo espanhol ao Itamarati. Decepcionado e bastante aborrecido, Ribeiro de Barros esteve por desistir do reide, deixando Newton Braga incumbido de desmontar o Jahu em Porto Praia e embarcá-lo de Cabo Verde para o Brasil, ainda mais porque há dois meses não era atendido pelo Governo Brasileiro na solicitação de um novo co-piloto. Recebera, inclusive, telegrama do Ministério da Viação, em nome do Presidente Washington Luiz, para que interrompesse o reide, cessando assim o rumoroso caso então criado. A ação estimuladora da mãe de Ribeiro de Barros e a intervenção dos políticos paulistas Senador Amaral Carvalho f' Deputado Hilário Freire não só reanimaram Ribeiro de Barros como lhe proporcionaram um co-piloto, o ex-sargento João Negrão (piloto aviador da turma de 1925 da Esquadrilha da Força Pública de São .Paulo, promovido a Tenente por sua participação legalista na Revolução de 24), cedido pelo Coronel Pedro Dias de Campos, Comandante da Corporação. Após meticulosa revisão dos motores, e substituição, pelo mecânico Cinquini, da gasolina que se alterara pelo longo tempo de estocagem, quando então ainda mais uma sabotagem fora descoberta (uma placa de bronze criminosamente introduzida no depósito do óleo lubrificante), o Jahu estava outra vez equipado e pronto para o reinício do reide, sob a navegação de Newton Braga. Após quase seis meses de paralisação no Arquipélago de Cabo Verde, Ribeiro de Barros volta ao comando do vôo, decolando de Porto Praia em 28 de abril de 1927, com o novo co-piloto João Negrão, substituto do Tenente Arthur Fernandes da Cunha (que a partir de então voltou a exercer atividades exclusivamente no Serviço de Veterinária do Exército, em que pesem seus diversos requerimentos para ingressar na Aviação Militar, todos indeferidos) . O plano de vôo previa ida direta até o Brasil, cruzando o Atlântico Norte e alcançando Natal (RN). Mas tiveram de fazer um pouso de emergência próximo a Fernando de Noronha: uma porca de parafuso fixador dos motores soltara-se e atingira a hélice, danificando-a . Foram socorridos pela tripulação do Comandante Nisbet, do navio italiano Angelo Toso. O Comandante cortesmente fez o navio retornar 146


à Ilha, levando a tripulação do Jahu e rebocando o hidroavião. Coincidentemente, dois meses antes, o cruzador Barroso, da Marinha brasileira, prestara o mesmo tipo de auxílio, naquela mesma região, socorrendo os concorrentes italianos da tripulação, De Pinedo e Del Prete, e também rebocando o concorrente do Jahu, o Santa Maria. No Rio de Janeiro, o exasperante comunicado do A Pátria, re gistrando que o ] ahu afundara no mar, Í<:li logo desprezado em meio às alegrias pela chegada em segurança a Fernando de Noronha dos brasileiros e do hidro, a 29 de abri1. O continente foi alcançado em 14 de maio de 1927, com o Jahu pousando nas águas do Potenji, em Natal (RN), com hélice nova procedente do Recife.

Fig. 54 -

Tripulação do "Iahú" na chegada ao Brasil.

Mais um contratempo: avesso a festas, Vasco Cinquini recusavase a fazer escalas nos diversos estados do litoral brasileiro que se pl;opunham homenagear a tripulação do vôo internacional; não sendo atendido pelos companheiros, que argumentavam não poderem declinar do convite, o mecânico decidiu-se, em Recife, por abandonar a equipe. Um novo mecânico foi conseguido: era o suboficial da Marinha Antônio Machado de Mendonça. 147


Com a presença de Mendonça, o Jahu passava a ter uma tripulação que reunia um representante civil (Ribeiro de Barros), um militar do Exército (Newton Braga), um da Marinha (Mendonça) e um da Força Pública (Negrão). Entretanto, para alegria de todos, Vasco Cinquini acabou por aceder aos pedidos dos companheiros, voltando a integrar a velha equipe; e com ela voou por toda a costa brasileira, tocando em Salvador (BA) a 25 de junho, Rio de Janeiro (RJ) em 5 de julho e Santos (SP) em 29 de julho, para finalmente amerissar nas águas amigas da represa de Santo Amaro (SP) em 1 de agosto de 1927.

Fig. 55 -

"Jahú" -

multidão na Ponta do Calabouço, Rio de Janeiro.

Estava encerrado o grande reide internacional do Jahu que ao Mundo deu mostras do arrojo, da tenacidade e da capacidade técnica do homem brasileiro de aviação, enquanto que, para o País, a tripulação mostrou que, em torno de um fator maior - a Pátria Brasileira - os objetivos, os ideais e as convicções pessoais, até mesmo entre legalistas, como os · de Negrão, · e revolucionários, como os de Braga e Cinquini, deveriam ser convergentes. E foi isto que os fez unidos, solidários e confiantes uns nos outros, em meio a tantas dificuldades, a tantos sacrifícios, até o fim. 148


Fig. 56 -

O povo na rua.

Fig. 57 - Praça da Sé. por ocaslao da missa. Observe-se a réplica do aVia0 "Jahú" sobre as obras da construção da Catedral de S. Paulo, SP.

149


Fig. 58 -

Fig. 59 -

12 -

O povo na re presa de Santo Amaro, aguardando o "Jahú ".

O "/ahú" nu Museu de Aeronáutica da Fundação Santos-Dumont. São Paulo.

Buenos Aires-Rio de Janeiro

Em 17 de novembro de 1926, um hidro Dornier WaI, de 360 HP , denominado Atlântico, com acomodações para dez passageiros, decola de Buenos Aires com destino ao Rio de Janeiro, pilotado por Fritz Hammer e Max Sauer , do Condor Syndikat (consórcio de firmas alemãs 150


para transporte aéreo), trazendo o chance1er Hans Luther, ex-Ministro da Alemanha. Este vôo tinha caráter promocional (daí, a presença do Dr. Luther), visando ao estabelecimento de linhas aéreas de passageiros pelo Syndikat, entre as duas grandes capitais. Em 1.0 de janeiro de 1927, o Atlântico levou como passageiro, até Florianópolis (SC), o Ministro da Viação e Obras Públicas do Brasil, Dr. Victor Konder, que naquele estado iria inaugurar um aeroclube. Desse rei de resultou a autorização para que o Condor Syndikat operasse no território brasileiro.

13 -

Vôo Pan-Americano

Até então, os grandes vôos sobre o mar vinham sendo realizados exclusivamente sobre o Oceano Atlântico. Em 21 de dezembro de 1926, cinco aviões anfíbios Loening, biplanos, com um motor de 400 HP, pertencentes ao Exército dos Estados Unidos da América, decolaram da Base Aérea de Kelly Field, em San Antonio, Texas

Fig. 60 -

Loening Amphibiam -

vôo Pan Americano.

Sob O comando do Major Hubert "A. Dargue, a Esquadrilha PanAmericana sobrevoou o Golfo do México e o Mar das Antilhas, até o Canal. do Panamá; cruzando-o, alcançou o Pacífico, percorrendo toda a costa oeste da América do Sul, até Valdivia,' 'no Chile. Guinando para 151


leste, chegou a Baía Blanca, na costa atlântica sul da Argentina. Daí, com rumo norte, passou por Buenos Aires e Assunção; em seguida, desceu para o sul até Montevidéu. Retomando o rumo norte, escalou nas cidades brasileiras de Porto Alegre, Florianópolis, Santos, Rio de Janeiro, Vitória, Porto Seguro, Salvador, Recife, Natal, Camocim, São Luís .e Belém. Depois, passando pela Venezuela, Porto Rico e Cuba, dirigiu-se para Washington, onde aterrou em Bolling Field, a 2 de maio de 1927, após percorrer cerca de mais de vinte mil milhas. A lamentar nesse reide foi o acidente com dois aviões da Esquadrilha Pan-Americana, em Buenos Aires, que se chocaram no ar, matando seus pilotos e causando total perda material. O gigantesco vôo pan-americano teve dois objetivos: um de natureza social, alcançado pelas visitas aos inúmeros países, estreitando as relações políticas com os EUA. Outro de natureza técnica, quando foram dadas provas da segurança de vôo com aviões anfíbios, fabricados pela mais adiantada indústria aeronáutica do. norte do · continente americàno. Além disso, os países visitados obtiveram muitos ensinamentos sobre estruturação de unidades e serviços aéreos. 14 _. - Europa-África-Américas-Europa Este grande circuito {oi realizado pelo aviador italiano Marquês Francesco De Pinedo. O reide teve início na Itália, com o Savoia-Marchetti S-55, denominado Santa Maria, hidroavião bimotor de 500 HP. Acompanhando Pinedo vinham o Comandante italiano Carlo Del . Prete e o mecânico Vitale Zachetti. Após decolarem de Sesto Caleride, em 8 de fevereiro de 1927, fizeram escalas em Bolama, na Guiné Portuguesa e em Porto Praia, no Arquipélago de Cabo Verde, rumando em seguida para Fernando de Noronha. De Recife, · partiu para a Ilha o cruzador Barroso, da Marinha do Brasil, com a missão de prestar eventual assistência.' a De Pin·edo. E esta missão tornou-se, de fato, providencial:, o Santa Maria foi obrigado a uma amerissagem em pleno oceano, em 22 de fevereiro, por falta de combustível; assim a tripulação pôde de imediato ser socor· rida e o aerobote foi posto em segurança, a reboque do cruzador até a Baía de Santo Antônio (FN). Daí o reide teve prosseguimento, com destino a Natal e Rio de Janeiro. Em seguida, escalas sul· americanas em Buenos Aires, Assunção e Manaus; norte-americanas em Nova Orleans, Phoenix (onde o avião foi destruído por um incêndio, sendo ,substituído pelo Santa Maria lI) e Georgetown, rumando então para 152


o Canadá, Arquipélago dos Açores e Lisboa. Finalizando o vitorioso reide, pousaram em Roma, a 16 de junho de 1927, após terem voado cerca de quarenta mil quilômetros , o equivalente" a uma volta ao mundo , pela linha Equador. No bairro carioca de Laranjeiras, o nome Marquês de Pinedo atualmente batiza uma rua. 15 -

Alverca-Rio de Janeiro

Em 2 de março de 1927, o Major José Manoel Sarmento de Beires deixava Portugal, pilotando o Argos, um hidro monoplano Dornier Wal, bimotor de 450 HP. Tinha como navegador o Capitão Jorge de Castilhos e como mecânico o Alferes Manoel Antônio Gouveia. Encontram-se citações sobre um outro tripulante, Durval Portugal; mas não se tem registro de sua chegada ao Brasil.

Fig. 61 -

o "Argos" .

Atravessando o Estreito de Gibraltar, alcançaram Casablanca, no Vila Cisneiros, no Saara ocidental, e Bolama, na Guiné Portuguesa. No trajeto para Fernando de Noronha , os tripulantes do Argos tornaram-se pioneiros da primeira travessia noturna do Atlântico Sul, de 16 para 17 de março de 1927. De Fernando de Noronha, rumaram para Natal, Recife e Salvador, chegando ao Rio em 10 de abril. Na Escola de Aviação Naval, o :Argos foi totalmente revisado. Durante a 'estada dos aeronautas portugueses, o Presidente Washington Luiz visitou a Escola, em 21 de maio, ocasião em que fez um vôo no Argos, a convite de Sarmento de Beires. Marroc~s,

153


Fig. 62 - Tripulaçcio do "Argos' ; Castilhos, Sarmento de Beires e Gouveia.

Fig. 63 -

154

Vôo do Presidei1te Wushington Luiz no "Argos".


Em 1 de junho, foi iniciado o regresso do vôo português, levando como auxiliar do mecânico Gouveia o Sub oficial da Marinha do Brasil, Antônio Machado de Mendonça (que substituíra Cinquini no reide do Jahu). Planejando voltar via América do Norte e Açores, Sarmento de Beires tomou o rumo norte, escalando em Ilhéus, Natal e Belém. Na costa do Amapá, próximo à foz do Rio Calçoene, uma amerissagem forçada fez submergir o Argos. A tripulação, porém, foi toda salva por uma canoa denominada Tira-Teimas, lembrando o feito semelhante de Josino Cardoso, que, na mesma região, em junho de 1926, recolhera, no Juruna, os tripulantes do Buenos Aires, Olivero, Duggan e Campanelli. Lamenta-se, porém, que o nome do jangadeiro da T ira-T eimasnão tenha ficado registrado. 16 -

Europa-Ãfrica-Américas-Ãsia-Europa

Em 10 de outubro de 1927} decolava de Paris o Capitão do Exército francês Dieudonné Costes, pilotando um Breguet-19, motor de 600 HP, batizado Nungesser-Coli, homenagem aos aviadores franceses Charles Nungesser e François Coli, que decolaram de Paris em 8 de maio de 1927, tentando pela primeira vez o reide Europa-EUA, com um Levasseur PL-8 denominado L'Oiseau Blanc (e que desapareceu no Atlântico Norte), tendo como navegador o Comandante JosephMarie Le Brix. Iniciavam um gigantesco reide, abrangendo vários continentes. Da Europa, os aeronautas franceses dirigiram-se ao continente africano, escalando em Saint Louis, no Senegal. Em 14 de outubro, tornaram-se pioneiros da travessia do Atlântico Sul sem escalas, voando 3.400 quilômetros, durante dezoito horas, até alcançarem o continente americano, aterrando em Natal (RN): No Rio de Janeiro chegaram em 17 de outubro, pousando no Campo dos Afonsos. Depois de tocar em várias cidades de países da América do Sul, Costes e Le Brix dirigiram-se à América do Norte, alcançando Nova Iorque. Daí cruzaram todo o território estadunidense, rumo oeste, até' São Francisco, na Califórnia, quando então o Breguet Nungesser-Coli foi transportado de navio até o Japão. De Tóquio, o reide prosseguiu até Paris, onde se encerrou . o audacioso vôo de cerca de sessenta mil quilômetros em torno do Mundo. Para muitos dos entusiastas da aviaçã~ que estiveram assistindo à chegada dos aviadores franceses ao Campo dos Afonsos, o dia 17 de outubro de 1927 proporcionou também uma visão das mais trágicas: a queda, com explosão e morte de toda a tripulação, do Breguet-14 , da 155


Escola de Aviação Militar, em que voavam o Capi~ão Attila Silveira, os Tenentes Salustiano Franklin da Silva e Thomaz Menna Barreto Monclaro. Queriam prestar homenagem a Costes e Le Brix, com um salto de pára-quedas a ser realizado pelo Tenente Menna Barreto (repetindo o feito do Tenente Chevalier, em 1 de outubro). Em repentina perda de altura, o Breguet precipitou"se ao solo, desgovernado, tirando a vida dos três jovens militares, que nem puderam ser socorridos, em face das chamas que imediatamente envolveram os destroços do aparelho. 17 -

Rio de Janeiro-Montevidéu

Pilotando um avião denominado Mosquito, o aviador alemão Guilherme Mertens decola do Rio e chega à Escola Militar de Aviação de Mendoza, no Uruguai, em 26 de novembro de 1926. Numa aterragem infeliz, destroça o avião, mas escapa sem ferimentos. 18 -

Roma-Natal

Até então, quase todos os aVlOes que cruzaram o Atlântico Sul tinham tocado em Fernando de Noronha. Assim foi com o Lusitânia de Gago Coutinho (1922), com o Plus Ultra de Ramon Franco (1926), com o Jahu de Ribeiro de Barros, com o Santa Maria de De Pinedo, e com o Argos de Sarmento de Beires (1927). Ao término de 1927, o Nungesser-Coli de Costes, conseguira fazer a primeira travessia sem escalas entre a África (Senegal) e o Brasil (Natal). No entanto, esse recorde seria superado em pouco tempo, mais precisamente em 5 de julho de 1928, pelos aviadores italianos Arturo Ferrarin e o já nosso conhecido Carlo Del prete. O avião foi um Savoia-Marchetti 5-64, monoplano de asa alta, com motor de propulsão · sobre a asa. Fora especialmente projetado para o vôo de travessia do Atlântico Sul sem escalas, entre a Itália e o Brasil. A 3 de julho de 1928, deu-se a partida no Campo de Montocelio, em Roma, em pista de 1.200 m, construída propositalmente com inclinação para facilitar a decolagem, em face do peso do aparel}lO. Sobrevoando a Sardenha, percorreram a costa sul da Espanha e passaram por sobre o Estreito de Gibraltar, rumando então para o sul, até Vila Cisneiros, no Saara Ocidental. Daí, guinando para oeste, tomaram o rumo do Cabo São Roque, entre Natal e Touros, no Rio Grande do Norte, Brasil. Em face de pequeno erro de navegação, imposto por más condições meteorológicas, aterraram na praia de Touros, em 5 de julho, sendo recolhidos no dia seguinte por André Depecker, piloto da Aéropostale que os procurava com um Breguet. 156


Fig. 64 -

O "Savoia-Marchetti S-64" na praia de Touros . Rio Grande do Norte .

Oficializando as marcas de Ferrarin e Del Prete, o Aero Club Br3sileiro assim se pronunciou, em ofício dirigido ao Embaixador da Itália no Brasil~ assinado pelo Comandante Victor de Carvalho e Silva, Capitão Bento Ribeiro e Dr. Maurício Lisboa: Rio de Janeiro, 9 de julho de 1928 Senhor Embaixador, O Aero Club Brasileiro tem a honra de comuntcar a Vossa Excelência que a sua Comissão Technica, hoje novamente reunida, ultimou os estudos relativos ao raid levado a effeito pelos pilotos Arturo Ferrarin e Carlo Del Prete em avião Savoia-Marchetti, de Roma à cidade de Natal (Brasil), declarando em seu relatório, haverem esses pilotos percorrido 64° 28' de círculo máximo, ou sejam 7.163 Kilômetros, permanecendo no ar, durante esse trajecto 49 horas e 19 minutos, batendo dessa forma o record mundial de linha recta, bem como o record mundial de vôo sem escalas. O resultado das nossas observações foi hoje mesmo transmitido ao Real Aero Club d'Italia e à Federation Aeronautique Internationale, para os fins da homologação ofticial.

Mas nem tudo foram alegrias. O Savoia-Marchetti 5-64 fora levado a Natal e submetido a revisões, para que os pilotos italianos ainda pudessem voar até os Afonsos, no Rio de Janeiro, numa visita à Escola de Aviação Militar. Porém, na decolagem de Natal, o aparelho sofreu avarias e os pilotos foram transportados por um Laté 25, da Compagnie Aéropostale. 157


'Em 8 de agosto , já no Rio, em visita ao Centro de Aviação Naval, Del Prete e Ferrarin tiveram permissão para voar um 5avoia-Marchetti

Fig. 65 -

o

"Savoia-Marchetti S-62" sendo examinado por Del Prete.

5-62, que lá se encontrava . Nesse vôo , que contava com a particIpação do mecânico naval brasileiro Suboficial Raul Inácio de Medeiros, os pilotos italianos sofreram um acidente na Baía de Guanabara. Todos foram salvos pelo tripulante de um rebocador que se encontrava nas proximidades: o escoteiro Armando da Silva Magalhães. Contudo, Del Prete teve fraturas graves em ambas as pernas, seguindo-se uma forte infecção que o obrigou à amputação dupla. Mesmo assim , Del Prete não conseguiu sobreviver, vindo a falecer oito dias depois. Seu corpo foi transportado para a Itália no transatlântico Conte Rosso, e o fato emocionou toda a cidade do Rio de Janeiro, que compareceu em massa ao embarque dos restos mortais, numa homenagem que veio a perpetuarse com a aposição de seu nome a uma praça carioca, no Bairro de Laranjeiras. Também em Natal foi erguido grandioso monumento aos pilotos italianos. Os vôos sem escalas sobre o Atlântico Sul ficariam também na história pelo sacrifício fatal exigido de alguns de seus pioneiros. Antes da tragédia de Del Prete, outros pilotos , Capitão-Aviador do Exército francês Jacques Pierre de Serre de Saint-Roman e Marcel Hervé Mouneyres, acompanhados do mecânico naval Petit, já se haviam decidido a fazer um vôo direto da África ao Brasil. A bordo do hidro biplano bimotor Farman Goliath , a brava tripulação francesa decolou do campo de Saint Raphael, rumando para Saint-Louis, no Senegal, com escalas em Casablanca e Agadir, na costa do Marrocos. 158


Fig. 66 -

Fun eral de Del Prele.

Na primeira escala, o hidro teve avariado um de seus flutuadores. Em vez de repará-lo, ele e o outro foram substituídos por rodas, criandose a versão terrestre do Goliath, por ideia de Saint-Roman e Mouneyres, que só viam vantagens nessa modificação. Embora essa alteração tenha resultado no cancelamento do certificado de navegabilidade do avião e da autorização para a travessia do oceano, os pilotos decidiram prosseguir na aventura aérea. Os preparativos da viagem tiriham sido bem cuidados, estabelecendo-se inclusive uma comunicação em ondas curtas, onde a Rádio Club do Senegal deveria receber sinais FF, enviados do Goliath , a intervalos de meia hora, significando que tudo ia bem. Em 5 de maio de 1927, dois meSes portanto antes de Ferrarin e Del Prete, Saint-Roman e Mouneyres iniciaram no Senegal o reide sem escalas sobre o Atlântico. Abasteceram-se com 5.000 litros de gasolina, o que seria suficiente para 28 horas de vôo, embora a previsão fosse alcançar Natal (RN) em apenas 22 horas de travessia. No acompanhamento do Goliath, foram recebidas duas mensagens FF, uma pela Rádio Club do Senegal, e uma em Dacar. Entretanto, seguiu-se silêncio total e desaparecimento do avião com sua tripulação. Inúmeras buscas foram então efetuadas, estend~ndo-se até 29 de julho, entre Recife (PE) e Natal (RN), pelas Marinhas de Guerra e Mercante, ' com a ajuda de pescadores, abrangendo o Atol das Rocas , Fernando de Noronha e Penedos de São Pedro e São Paulo, sem qualquer sucesso. 159


Em 18 de junho, porém, pescadores da costa do Cabo Maguari (PA) já relatavam ter encontrado uma espécie de jangada feita com uma asa de avião, tendo, inclusive, rodas com pneu amarradas com pedaços de cabos elásticos de cada lado . Examinadas as rodas e algumas peças trazidas por esses pescadores (que não puderam rebocar toda a jangada encontrada), foram elas identificadas como sendo do Coliath; mas o estado delas indicava não ter havido acidente com o aparelho. Nunca mais se soube algo sobre o avião ou sobre seus tripulantes.

Fig. 67 - Rodas do avião de Saint-Roman . . encontradas no mar próximo ao Cabo Maguary, Pará: hoje se encontram no Museu do Ar em Le Bourget. Paris. França.

Entre varras hipóteses formuladas sobre o desaparecimento, uma que parece provável sugere ter o Coliath pousado normalmente, em 6 de maio, numa das praias entre o Cabo de São Roque (RN) e Fortaleza (CE). Por ser região desabitada e com altas dunas de areia, que dificultavam sua transposição, a tripulação teria improvisado a jangada com parte da asa do avião, para alcançar, por mar, local com algum recurso. No entanto, teriam sido apanhados por alguma onda e perecido afogados. Os restos da jangada improvisada teriam sido levados por . correntes marinhas até a altura da Ilha de Marajó, onde os pescadores vieram a encontrá-la. Quanto ao avião, teria ele desaparecido no mar, puxado da praia pelas ondas de maré cheia. 160


o Brasil prestou homenagem a Saint-Roman, dando seu nome a uma rua no bairro carioca de Copacabana. 19 -. - Lima-Nova Iorque-Lima A 11 de' dezembro de 1928 destacavam-se os peruanos TenenteAviador da Marinha Carlos Zegarra, e o civil Carlos Martínez Pinillos, que decolaram de Lima e chegaram ao Rio de Janeiro, em 3 O daquele mês. O pouso deles, com um Bellanca de 300 HP, denominado Peru, foi no Campo dos Afonsos, após . terem escalado em Santiago, alcançado Buenos Aires (atravessando pelo sul do Chile), cruzado a Bacia do Prata e passado por Montevidéu. Do Rio, Zegarra e Pinillos prosseguiram para Salvador, Natal e Belém. O avião foi então 'embarcado em navio que o conduziu aos Estados Unidos.

20 -

Sevilha-Havana

Pilotando um Breguet 19, biplano, mono motor de 600 HP, denominado Jesus Del Gran Poder, os Capitães-Aviadores espanhóis Ignacio Jiménez e Francisco Iglesias deixaram a Espanha em 24 de março de 1929, propondo-se à travessia do Atlântico Sul sem escalas, até o Rio de Janeiro. Embora o vôo transcorresse sem dificuldades, e o motor Hispano-Suiza, construído em Barcelona, funcionasse com precisão, o combustível foi insuficiente para completar o trajeto planejado. Como alternativa, em 26 de março, foi efetuado um pouso no Campo da Marquita, em Camaçari, próximo a Salvador (BA). Contudo, os espanhóis únham voado mais de seis mil e quinhentos quilômetros sobre o oceano, em cerca de quarenta e quatro horas contínuas. Em 28 de março, o Jesus Del Gran Poder finalmente chegava ao Rio, aterrando no Campo dos Afonsos. Segundo declarações dos pilotos à imprensa carioca, prestadas no Pálace Hotel, onde ficaram hospedados, o vôo que realizavam tinha por objetivo maior aproximação ibero-americana e divulgação comercial da Exposição de Sevilha. Em 2 de abril, Jiménez e Iglesias dirigem-se aos Afonsos, acompanhados por conterrâneos da colônia espanhola no Brasil, por representantes do Aero Club Brasileiro e por muitos brasileiros que buscavam homenageá-los, formando extensa caravana de automóveis. 161


No campo da Escola de Aviação Militar, o Jesus Del Gran Poder Ja estava pronto para levantar vôo, preparado pelo mecânico Gainzó. Às seis horas, tem lugar a decolagem rumo a Montevidéu, Buenos Aires, Santiago, Lima e países da América Central, onde o reide se encerraria, mais precisamente em Havana, Cuba. 21

México-América do Sul

Em 23 de setembro de 1929, aterráva no Campo dos Afonsos o Coronel-Aviador mexicano Pablo L. Sidar e o Subtenente-mecânico Arnulpho Cortés. Depois de uma estada de dois dias, decolaram para Santos (SP), em prosseguimento ao reide, considerado bastante preciso, por cidades das Américas. O rei de de Sidar e Cortés estava sendo realizado com um Douglas-Hornet, de 525 HP, denominado Exército Mexzcano.

22 -

Sevilha-Natal

Foi o trajeto planejado, e quase completado, pelos aviadores Léon ChaIles, francês, e Tydeo Larre Borges, Tenente-Coronel do Exército uruguaio (que fizera no Brasil Curso de Piloto-Aviador, na Escola de Aviação Militar, em 1920, segunda turma), a bordo do Pajaro Blanco, um Breguet-19, de 450 HP. Decolando da base aérea de Tablado, na cidade espanhola de Sevilha, em 15 de dezembro de 1929, conseguiram chegar ao Rio Grande do Norte. A aterragem, porém, foi realizada em emergência, na noite de 16 de dezembro, num sítio da cidade de Santo Antônio, cerca de 70 km a sudoeste de Natal, por não terem localizado esta cidade, em face da má visibilidade sobre a região e de escassez de combustível. O pouso forçado destruiu o avião e deixou ChaIles levemente ferido. Larre Borges saiu ileso e mais: tornou-se o primeiro americano a atravessar, sem escalas, o Atlântico Sul, em cerca de quarenta horas de vôo.

23 -

Saint Louis-Natal

Este foi o primeiro reide com objetivos comerciais que incluía a travessia do Atlântico Sul, sem escalas. Foi realizado pelos franceses Jean Mermoz, piloto, Jean Dabry, navegador, e Léopold Gimié, radiotelegrafista . Tentava-se complementar a expectativa de viabilidade de uma extensa li nha de correio da Compagnie Générale Aéropostale (ex-Lignes 162


Aériennes Latécoere) entre a França e o Chile, cujo trecho entre Rio e Buenos Aires já tinha sido experimentado com sucesso por Vachet, Lafay e Hamm (vide n. 7 deste capítulo), bem como entre o Rio e Recife (PE) (6 e 7 de março), pelos aviadores Vachet, Hamm e Roig, em 1925, depois, em 1927, refeito até Natal (RN) pela dupla Vachet, Deley, mais um mecânico da Companhia; entre Toulouse, na França e Saint Louis, no Senegal, com um Laté 26, pilotado por Mermoz e Negrin, em 1927; e entre Buenos Aires e Santiago, por Mermoz, Collenot e o Conde De La Vaux, num Laté-25 , em março de 1929, quando a companhia ainda se denominava Compagnie Générale d'Entreprises Aéronautiques. A bordo de um Laté 28, transformado em hidro, monomotor de 500 HP, a que Mermoz batizara Le Comte de La Vaulx (homenagem ao presidente da FAI que, no vôo de 1929, com ele tinha voado e se acidentado sobre a Cordilheira dos Andes, quando da exploração do trecho Buenos Aires-Santiago), a tripulação chegou a Sain t Louis, no Senegal, transportando mais de 100 kg de correspondência postal, e iniciaram, em 12 de maio de 1930, a vitoriosa travessia do oceano. Depois de cerca de 21 horas de vôo, alcançaram o continente americano, aterrando no Brasil, na foz do Potenji, em Natal (RN), em 13 de maio de 1930. Estava assim completada a linha do primeiro correio aéreo sobre o Atlântico, sem escalas. Dessa forma, Mermoz e seus companheiros Dabry e Gimié abreviavam em muito o tempo de trânsito das malas postais, fazendo com que cartas postadas na França chegassem ao Brasil em apenas dois doias! U

fig_ b8 -

"Cullde de La Vau/x",

163


Fig. 69 - O "Conde de La Vau Ix" , com flutuad ores, Laté 28 no qual Mermoz fez a primeira travessia do Atlântico em 1930.

24 -

Friedrischshafen-Rio

Até então, os grandes reides internacionais eram realizados por aeroplanos ou hidroplanos em episódios de arrojo e pioneirismo. A 24 de maio de 1930, porém, um diferente veículo aéreo estrangeiro apareceu nos céus do Rio de Janeiro: foi o dirigível alemão D-LZ-127 Gra! Zeppelin. Com 236 ,6 m de comprimento, 30,5 m de diâmetro e 105.000 m3 de volume , o zepellim era equipado com cinco motores de 530 HP, alcançando 110 km/h de velocidade, com raio de ação de 10.000 km. O pouso do Zeppelin exigia manobras singulares : cabos presos à aeronave eram puxados manualmente por uma numerosa equipe de solo, trazendo-lhe a proa até uma torre rotativa especial, onde ela ficava presa , enquanto a popa era ligada a um veículo que guiava o dirigível até uma posição adequada em relação ao vento. Com sua forma de balão, alongado como um charuto, tinha estrutura de alumínio , que continha dezessete células com hidrogênio, sistema de direção por lemes e de propulsão por hélices. E tinha a possibilidade de ficar parado no ar. Por seu tamanho descomunal e forma imponente, o zepelim era alvo da ·curiosidade popular, sendo comparado a uma baleia nos ares. A cabina, onde viajavam até quarenta e quatro tripulantes e vinte passageiros, era luxuosa , a fim de permitir total conforto, com salas de refeições e bar, dormitórios e banheiros , salas para jogos e para fu164


Fig . 70 - Rio de Janeiro, 25-05-30 o orgulho da indústria aeronática . alemã no Campo dos Afonsos, onde nunca existiu a torre rotativa especial

Fig. 71 -

Uma chegada. segurança e pruteçãu.

mantes, com janelas panorâmicas de onde se podia apreciar tqda a paIsagem que o trajeto proporcionava, acompanhando-se inclusive com mapas presenteados aos passageiros . Antes de chegar aos Afonsos, o dirigível alemão fizera escalas na Espanha (Sevilha) e atravessara o Atlântico Sul, alcançando Re165


Fig. 72 -

Interior do Zeppelin. conforto e visão deslumbrante.

cife (PE). 'De lá veio ao Rio, retornando em·seguida a Recife e rum ando para os EU A, de onde voltou à Alemanha. Na manhã de 25 de maio, o Gra! Zeppelin foi recepcionado pelo Consolidated-432, da Aviação Naval brasileira, pilotado pelo CapitãoTenente Dias Costa, que evoluiu em torno da gigantesca aeronave, estacionada no ar, sobre o Campo dos Afonsos, desde a noite anterior, aguardando condições diurnas adequadas para a sua descida. Com a chegada do dirigível ao Recife, realizou-se a primeira viagem transoceânica de passageiros, ligando a Europa ao Brasil, iniciativa que coube à Luftschiffbau Zeppelin.

166


CAPíTULO 7

OS ANOS 20 E A AVIAÇÃO

1 -

O Avião

ÃO facilmente constatadas as rápidas inovações que os aeroplanos passaram a mostrar nas linhas de suas formas, na potência dos motores, na capacidade de transportar passageiros, no raio de ação, a partir do original 14 Bis, de 1906, e da graciosa Demoiselle, de 1907. Blériots} Farmans} Voisins foram as primeiras criações que o idealismo de Santos-Dumont logo permitiu aparecer, até por ele mesmo incentivadas, sem que implicasse qualquer benefício financeiro ao magnânimo inventor, constituindo entrave ao aperfeiçoamento dos engenhos aéreos. E hoje chega-se à conclusão de que, dentre as criações humanas, o avião foi a que teve um dos mais vertiginosos desenvolvimentos, uma evolução das mais rápidas.

S

Dos ainda incipientes vôos da segunda década do século, em que o arrojo e o desafio à coragem dos solitários pilotos autodidatas eram a tônica, às viagens de longo percurso, com tripulação e planejamento, quê ficaram conhecidas pelo nome genérico (com certa impropriedade semântica) de reides, o avião foi o estímulo, o ponto de partida, a causa de muitas modificações, de inúmeras transformações, de várias alterações nos diferentes campos do conhecimento, nos diversos ramos de atividade, na estrutura social, na conduta individual do homem, principalmente a partir dos anos 20. 167


2 -

Os barnstormings

Os vôos de fantasia, como se dizia na época, levavam aos campos multidões de curiosos e entusiasmados brasileiros, que até pagavam para estar nos meeting de aviação, onde pilotos, como os franceses René Fonck, o As dos Ases, e Alfredo Fronval, o Campeão das Acrobacias , que estiverám no Brasil nos festejos do Centenário da Independência,

Fig. 73 -

yW

r.L.-"'i.~.Ji!

,

audácia e perícia.

Aviação

.a

D01"nNGO

J ..

·.Al-,;t_i~t!f.

(~ .lI\l 1 l llO '

Charles As/or -

t

..•

_ OID

\' i ~~ • '~"i''t.t "t'~ / .. ;' l ____ ~-

o

00

ur

ás

15 hora s de

AHDRE' LOYER - O Az Internacional CHARlES ASTOR - o Diabo do ar

Volteio Aereo p André loyer Acrobacias zas do avião a 150 I<m. hora por Chelftes Astor d

SEHSA (lONA L! II ,

Salto de Paraquedas•l.: f~m:; !~~~ . Vôos de PASSAG EIRO ~__ _ Fig. 74 -

168

4

Propaganda de um Circo Aéreo.


realizavam demonstrações, de ((vôo de costas) corrida de avzoes)simu-

lação de combate) acrobacias) descidas impressionantes em pára-quedas) etc.JJ, em · apresentações conhecidas internacionalmente como ' barnstorming, que, afinal, eram verdadeiros espetáculos circenses, 'em que aviões substituíam os trapézios e o céu servia de picadeiro. E nessa arte o Brasil teve um grande representante: Charles Astor, adepto do pára-quedismo, acrobata ·de circo e atleta de cama elástica (esporte que ele introduziu em noSso País). Muito ligado à aviação, suas ·demonstraçÕes sobre as asas de aviões em · vôo trouxeram muitas emoções aos brasileiros dos anos 20. 3 -

A Segurança e os Seguros

É interessante lembrar que, nessa época, os aviões ainda eram precárias máquinas de voar, com frágeis estruturas de madeira cobertas com tela envernizada. Daí os estudos para o emprego de ligas metálicas, primeiramente nas longarinas e, depois, nas carenagens. Em 1923 a Inglaterra já possuía aviões metálicos, inovação que não tardaria a chegar ao Brasil. Essa e outras medidas que a construção aeronáutica vinha continuamente tomando, num esforço para aperfeiçoar o avião e diminuir seu risco de acidentes, trouxeram uma conseqüência digna de registro: o interesse das companhias de seguro. Até metade da década de 20, nenhuma firma do gênero fazia negócios com pessoas ou empresas ligadas à atividade de aviação. Foi a partir desta década que os contratos seguradores de pilotos e aeroplanos se multiplicaram, marcando a nova fase de credibilidade material na segurança dos aparelhos e dos vôos. Paralelamente, também se incrementaram providências para a segurança em terra: medidas contra-incêndios nas aeronaves estacionadas, como por exemplo a proibição de fumar nas proximidades do aparelho, a proibição a que pessoas estranhas transitassem pelos hangares, para evitar acidentes ou sabotagens, e, mais ainda, a obrigatoriedade, para os pilotos 1 do conhecimento prévio das rotas, dos sinais técnicos convencionais par.a a navegação aérea, conhecimento das condições meteorológicas dos campos de pouso, na rota, etc., o que levou o Ministério da Agricultura 'a desenvolver métodos eficazes para previsão do tempo, medição da velocidade dos ventos e condições do mar, com freqüentes expedições de boletins para conhecimento dos aviadores.

4 _.- O Nascimento dos Simuladores de Vôo Em face da complexidade de que a aeronál,ltica se ia revestindo, foi grande nos anos 20 a disseminação, por quase todo o País, de aeroclu169


bes, campos de pouso, escolas de aviação, cursos de mecânico de avião, . e estações de telégrafo sem fio. No entanto, um problema persistia na formação dos aviadores: o conhecimento antecipado da habilidade individualdo candidato à pilotagem, suas reações psicomotoras na condução do aparelho, das quais resultava diretamente a segurança do vôo. E nesse ponto já o Brasil teve modernizada, nos anos 20, a sua instrução aeronáutica, particularmente no campo militar, importando da Inglaterra disepndiosos aparelhos Reid, invenção de um antigo oficial da Royal Air Force, G. H . Reid, e já em uso naquela avançada Força Aérea.

Fig. 75 -

o

o ."Reid Contro/". precursos dos simul"adores de vôo.

aparelho Reid, conhecido originalmente como Reid Control , consistia em uma estrutura que imitava a fuselagem de um avião, com nacela, manche e pedais, permitindo mover a estrutura como a de um avião verdadeiro em vôo. As reações do piloto para cada manobra, ordenada p~lo examinador ou determinada por algum sinal súbito, iam sendo registradas, a fim de formar um gráfico que exprimia o grau de presteza com que as curvas, descidas e subidas eram realizadas. Com a colaboração de um corpo médico, foi elaborada uma tabela de marcas ideais para um bom piloto, mediante a qual o resultado obtido no Reid Controi podia ser avaliado, permitindo assim a seleção dos melhores candidatos. O aparelho Reid, precursor dos modernos simuladores de 17b


vôo , atualmente tão utilizados em aVlaçao, foi portanto mais uma das contribuições dos anos 20. 5 -

Nascimento da Medicina de Aviação

Paralelamente à problemática referente à habilitação para a pilotagem, havia uma outra preocupação: a saúde dos aviadores. Neste particular, o Exército já tinha aprovado, desde 1919, instruções sobre o exame de aptidão física para o serviço de aviação militar. No entanto, foram os anos 20 que mostraram a Medicina de Aviação como um capítulo verdadeiramente à parte da ciência médica, pela necessidade de estudos específicos sobre a influência do vôo nas condições físicas e psicológicas do piloto, como as grandes aviações do Mundo já vinham fazendo desde a Primeira Guerra Mundial. A partir de 1923, o Capitão-Médico do Exército Florêncio Carlos de Abreu Pereira, dirigindo um grupo de colegas formado por Alfredo Issler Vieira, João Pires da Silva Filho, Thales Martins, Arnaldo Cerqueira e Pessoa de Melo, dedica-se a pesquisas nesse campo, todos vindo a publicar em revistas especializadas os resultados de 'seus trabalhos. Nessa mesma época, a Marinha designava o Capitão-Tenente Mário Pontes de Miranda para cursar a Escola de Medicina de Aviação de Mitchel Field, em Nova Iorque, EUA. Pontes de Miranda viria ,a receber o primeiro diploma de Flight Surgeon (Médico de Aviação) concedido por aquela escola a um estrangeiro. Em 1925, o grupo de Florêncio de Abreu concluía um projeto de Regulamento Médico do Pessoal da Aeronáutica (que mais tarde daria origem ao Regulamento Médico da Aeronáutica Militar, oficializado em 1930). . . No ano seguinte já se cogitava, no Exército e na Marinha, da criação de Centros, onde os Médicos de Aviação exerceriam atividade específica junto aos aviadores. Mas foi o ano de 1927 que proporcionou à Medicina de Aviação o seu maior impulso, quando o famoso médico brasileiro Miguel Couto proferiu, em 30 de junho, conferência sobre o tema, enfatizando a necessidade da especialização; na audiên, cia, o Presidente da República Washington Luiz,. e os Ministros Militares Almirante Pinto da Luz, da Mar-inha, e General . Setembrino de Carvalho, do Exército. Desde então, a Medicina de Aviação subiu às cogitações governamentais. 6 -

O Piloto-Automático

Obviamente, a engenharia aeronáutica também considerava as condições físicas dos pilotos, buscando introduzir nos aviões fatores que 171


evitassem principalmente a fadiga do aviador . São de 1929 notícias no Brasil sobre experiências francesas com um avião equipado com servomotores, capazes de corrigir facilmente o comando de direção dos aviões, sem esforço do piloto, bastando para tanto acionar comutadores elétricos. Era o piloto-automático, que os anos 20 viam nascer .

7 -

O Serviço de Intendência

Ao Serviço de Intendência (nome cuja raiz latina expressa cuidado, vigilância, controle) sempre couberam a previsão de apoio material às atividades militares e a provisão em tempo hábil dos recursos necessários para que as missões jamais sofressem interrupções. Porém, com relação ao material de aviação, os anos 20 não o contemplaram com mais esse encargo, ficando toda a responsabilidade com os próprios aviadores. Permaneciam com a Intendência, porém, entre outras, as atividades de finanças e de alimentação, que lhe eram tradicionais desde os tempos do cerco de Tróia pelo lendário Agamerion, em cujos acampamentos alguns militares só se ocupavam de serviços de apoio, como o poeta Homero narrou na Ilíada. A propósito, esses militares deram origem ao atual distintivo da Intendência, igual nas três forças militares, ao colocarem na entrada de suas tendas, para fácil identificação do serviço, folhas de acanto, arbusto da região do Mediterrâneo, que, mesmo envelhecidas e amareladas, permaneciam por longo tempo sem se desfazerem.

8 -

As Alterações na Geopolítica

Foi ainda a terceira década de nosso século que aSSIStiu à mudança, provocada pela aviação, nos antigos conceitos de regiões marítimas e regiões centrais. Tais conceitos são de teoria que busca explicar o maior grau de atividade econômica e política, nas regiões localizadas nos litorais, em face do intercâmbio social, que os portos de mar facilitavam : Com o .ádvento do avião e o desenvolvimento da aeronáutica, deixaram de existir para as regiões centrais as barrdràs geográficas que traziam dificuldades àquele intercâmbio. E os anos 20 deram , no Brasil, exemplos dessa profunda modificação geopolítiql.. em 1926, o Planalto Central já tinha sido ligado a São Paulo, com os vôos a Goiás pela Esquadrilha da Força Pública bandeirante. Em 19:29, foi Cuiabá, ·capital do .'estàdo int:eriorano de Mato Grosso, que veio a ligar-se .a.o litoral 172


atlântico, com o vôo de Vasco Cinquini e Reynaldo Gonçalves, a partir de Santos (SP), e o de Hans Guzy, a partir do Rio de Janeiro (RJ). Esses reides de 1929 foram incentivados pelo Presidente de Mato Grosso, Mário Correia, que oferecera um prêmio de vinte contos de réis ao piloto pioneiro que voasse sobre Cuiabá. Hans Guzy, aviador alemão radicado no Brasil, foi o primeiro a decolar, deixando o Rio de Janeiro. com seu Klemm de 20 HP, batizado com o nome daquele governador, em 7 de março. Fez escalas em Mogi das Cruzes (SP), Sorocaba (SP), Bauru (SP), Três Lagoas (MT) , Campo Grande (MT) e Coxim (MT). A 100 km do final do reide, teve de aterrar em pane na cidade de Santo Antônio, só conseguindo alcançar Cuiabá em 5 de abril. Vasco Cinquini e Reynaldo Gonçalves decolaram de Santos com um Avro Avian, de 60 HP, em 26 de março. Pousando em Bauru, Três Lagoas, Campo Grande (MT), Corumbá € Puerto Juárez, na Bolívia, alcançaram Cuiabá em 4 de abril, um dia antes de Guzy, fazendo jus, portanto, ao prêmio. Após grandes homenagens, Cinquini e Reynaldo iniciaram o vôo de regresso, decolando de Cuiabá com o Mato Grosso (nome dado ao Avro Avian pela senhora Mário Correia), deixando a promessa de, posteriormente, voltarem para fundar uma escola de aviação, o que faria com que Cuiabá, e portanto o estado central de Mato Grosso, pudesse participar da progressista atividade aeronáutica, até então restrita aos litorâneos Rio de Janeiro e São Paulo.

9 - .- Primeiro Vôo sobre a Amazônia Cinquini, Reynaldo e Guzy haviam encurtado distâncias e desfeito barreiras, voando cerca de dois mil quilômetros, grande parte dos quais coberta de florestas de difícil penetração, onde as vias de acesso até Cuiabá eram rios de navegação insegura e freqüentemente precária, em função do regime de chuvas e estiagens. No entanto, o maior exemplo pioneiro no Brasil que os anos 20 ptoporcionaram foi o da exploração científica do Dr. Alexander Hamilton Rice, realizada em 1924, até as cabeceiras do Rio Uraricoera, afluetne ocidental do Rio Branco, que banha as regiões amazônicas do território de Roraima. A expedição do Dr. Rice vinha complementar uma outra" também por ele dirigida em 1919-20, visando a traçar cartas da região e a constatar as possibilidades de uma passagem pela Serra Parima, entre as nascentes do Uraricoera, no Território de Roraima, e do Orinoco, na Venezuela, que as dificuldades de penetração na densa floresta amazô173


nica, as corredeiras dos rios e os ataques de índios até então hostis não permiüram chegasse a bom termo. Quatro anos após, o Dr. Rice estava voltando , agora com cerca de cem pessoas, entre cientistas, canoeiros e carregadores, e um hidroplano, cuja tripulação era cOfl:stituída por Walter Hinton, piloto, John Wilshusen, mecânico, e o Capitão Alberto W . Stevens, Observador Aéreo do Exército norte-americano. Este foi o primeiro vôo sobre a Região Amazônica de que se tem notícia . A missão, na qual foram percorridos cerca de vinte mil quilômetros, era a de plotar, do alto, os obstáculos que os grupos de terra teriam pela frente e o melhor caminho a seguir para transpô-los; manter o contato entre os diversos grupos, eventualmente separados, localizando-os e promovendo sua orientação; obter fotografias aéreas para mapeamentos. Além de garantir o sucesso integral da expedição, o hidroplano Eleanor IH, já naquela época, permitia a uma região interior mais Hcil contato com a civilização litorânea, estabelecendo inclusive contatos com índios, onde roupas e utensílios diversos eram oferecidos, e arcos e flechas eram recebidos, num primitivo sistema de trocas, mas que dava a conhecer aos silvícolas os progressos da civilização.

Fig. 76 -

174

"Eleunvr' /lI" -

vüsuJiu nu Amuzôniu.


Fig. 77 -

10 -

O progresso da civilização chega à Selva Amazônica.

O Avião e as Ciências

Os anos 20 viam, portanto, já o avião sendo utilizado em missões diversificadas e bem diferentes do temível emprego bélico. E outras missões vieram, nos campos da saúde e da agricultura, como a de pulverização de inseticida para ex terminação de mosquitos , realizada experimentalmente em 1926, na Louisiana (EUA) e Quântico (Nicarágua), e a de bombardeamento de nuvens com fumígenos para evitar geadas e dar proteção às plantações, preconizado em 1926 pelo Capitão-de-Mare-Guerra Arthur Carneiro, químico da Marinha do Brasil. Um fato interessante foi a preocupação, já surgida nesta década; com uma alternativa para a gasolina, cujo consumo fora grandemente aumentado pelo desenvolvimento da aviação, quando então o Prof. Lima e Silva, da Escola Naval, apontava o álcool como excelente carburante, baseado em conclusões do II Congresso Nacional de Química Aplicada, realizado em Marselha (França), em julho de 1923. 175


11 -

A Igreja e a Aviação -

Nossa Senhora de Loreto

o século XX ficaria para sempre marcado pela vitória de SantosDumont na conquista do ar; e os anos 20 do século, por inspirada indicação de Bento XV (Giacomo Della Chiesa, Papa entre 1914 e 19'22) que, em 24 de março de 1920, proclamou a padroeira universal dos aeronautas: "Nossa Senhora de Loreto. A tradução da Acta Apostoliae Sedis (Decreto Papal), redigido em latim, é a seguinte: o Santo

Padre Bento XV) atendendo com satisfação aos piedosos pedidos de alguns Bispos e de outros fiéis ) relatados pelo abaixo-assinado Cardeal prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos) declarou e constituiu. por sua suprema autoridadé a Beatíssima Virgem Maria sob o título de Nossa Senhora de Loreto padroeira principal junto a Deus de todos os aeronautas. Revogam~se as disposições em contrário.

Os motivos da escolha remontam ao século XIII, quando, na Galiléia, foi imposto o islamismo, em substituição à religião cristã. Na cidade de Nazaré localizava-se a casa que abrigava a Sagrada Família, e, desde então, o local fora transformado em templo para culto à Virgem Maria. Conta-se que no dia io de maio de 1291, visando à proteção contra os muçulmanos islamistas, a casa foi transladada, por sobre o Mar Mediterrâneo, para Tersatto, lugarejo próximo a Fiume (hoje Rijeka), na Iugoslávia e, três anos depois, nos primeiros momentos de 10 de dezembro, foi outra vez transportada por anjos, que a levaram pelos ares, por sobre o Mar Adriático, e a depositaram em meio a um bosque . de loureiros (daí o nome de Nossa Senhora de Loreto). Em 1967, quando de uma visita do Vaticano, o Brigadeiro Eduardo Gomes foi atendido em sua solicitação ao Papa Paulo VI, que compôs uma oração à Nossa Senhora do Loreto: Ó Maria) Rainha do Céu) gloriosa Padroeira da Aviação) ergue-se até Vós a nossa súplica.

Somos pilotos e aviadores do mundo inteiro; e) arrojados aos caminhos do espaço) . unindo em laços de solidariedade as nações e os continentes) queremos ser instrumentos vigilantes e responsáveis. da paz e do progresso para nossas pátrias. Em Vós depositamos a nossa ·confiança. Sabemos a quantos perigos se expõe a nossa vida; velai por nós) mãe piedosa) durante os vôos. 176


Protegei-nos no cumprimento do 'árduo dever cotidiano; inspirai-nos os vigorosos pensamentos da · virtude e fazei com que nos mantenhamos fiéis aos nossos compromissos de homens e de cristãos. Reacendei em nosso coração o anelo dos bens celestiais, Vós que sois a Porta do Céu e guiai-nos, agora e sempre. Nas asas da fé, da esperança e da caridade. Amém.

No Brasil, a antiga Igreja de Nossa Senhora de Loreto, erigida em 1664, foi elevada à categoria de Santuário Perpétuo, em 17 de outubro de 1970, como nome de Santúário Nacional de Nossa Senhora de Loreto, por Decreto de sua Eminência Reverendíssima D. Jaime de Barros Câmara, Arcebispo do Rio de Janeiro. A petição inicial foi feita mediante o Aviso 01/GMPR/98-R, de 10 de agosto de 1970, expedido pelo Marechal-do-Ar Marcio de Souza e Mello, Ministro da Aeronáutica. 12 -

O Poder Místico

Aí está, portanto, o aVia0 marcando os anos 20, deixando nele3 impressa sua influência no campo militar, no campo econômico e no campo social. Além disso, o avião era como algo místico, que também atuava no espírito humano: levava ao pânico, pela agressividade indefensável que representava, como nas operações de bombardeio; levava ao divertimento com emoções fortes, quando dos barnstormings, pela perícia e coragem dos atores aéreos, que traziam milhares de pessoas aos campos de demonstrações; levava ao alegre entusiasmo, pela vitória das tripulações pioneiras, como nas aplaudidas recepções aos reides . Mas que poder, que força teria o avião para causar tantas sensações? Talvez fossem suas formas avançadamente originais. Talvez, a audaciosa possibilidade de levar o homem às alturas. Talvez a surpreendente velocidade. Aliás, a coragem, a energia, a audácia, a agressividade, presentes na velocidade, foram características do início do século XX, realçadas no famoso Manifesto Futurista, publicado em Paris, no Le Figaro, em 20 de fevereiro de 1909, onde seu autor, o escritor Felippo Tommaso Marinetti, pregava novas orientações para a" literatura, em face das transformações por que o Mundo passava, principalmente em face da invenção do automóvel, em 1887: ( ... ) Queremos cantar o amor ao perigo; o hábito de energia e da temeridade. A coragem, a audácia, a religião serão elementos essenciais de nossa poesia. A Literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase e o som; queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mor177


tal, a bofetada e o soco; afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu com uma beleza nova: a beleza da velociadde; um automóvel que ruge é mais que tudo a vitória de Samotrácia. Queremos louvar o homem que segura o volante. ( ... )

13

O Avião e as Artes

E foi assim que os anos 20 viram o aVia0 até como personagem . literária, retratado no poema futurista de Agenor Barbosa e apresentado durante a agitada Semana de Arte Moderna (13 a 17 de fevereiro de 1922), no Teatro Municipal de São Paulo, quando foi, inclusive, aplaudido, e ainda mereceu o elogio de Oswald de Andrade:

os PÁSSAROS DE AÇO No aeródromo, o aeroplano Subiu, triunfal, na tarde clara, Grande e sonoro, como o Sonho humano! Ó bandeiras de audácia!

Da Terra, que a ambição dos paulistas povoara De catedrais e fábricas imensas Que, por áreas extensas, Se centimultiplicavam em garras e tentáculos, A cidade assistia indiferente, Naquele início de poente, Com os seus divinos céus, luminosos e imáculos, Seu mare-magnum, seu oceano,

o

seu O seu Todos O seu

bazar cosmopolitano, surdo rolar de esquares e de praças, os seus florões, todas as suas raças, belo brasão, heráldico e minúsculo,

A ascensão maravilhosa do crepúsculo. E um outro aeroplano Alçou o vôo logo após, medindo o espaço, Como um estranho pássaro de aço E pano . . . 178


E em semicírculos, como uma ave de rapina, Subiu num rufo de motor Dominador, Pela amplidão dos céus, solitária e divina! Subiu . .. e como alguém que perscruta o horizonte, Vagou, sereno, pela imensa solidão, Como se olhasse, ao longe, o perfil de algum monte . .. Como se lhe parasse o coração! Ó bandeiras de audácia!

Ao longe, a terra era Dava ilusão, a quem De tal altura, de um E a Cidade era como Gizado Em paralelas, Brancas, vermelhas e

uma erma planície. a visse infinito descampado. um tablado,

amarelas.

Os rios, que se acendiam numa oblata A luz morrente, Refulgiam violentamente Em longas fitas de berilo, de Olro e prata. Liquefeitos, auríferos, em gemas, Resplandiam, como fantásticos diademas, Postos à fronte da Terra . .. Ó bandeiras de audácia! Ó flâmulas de guerra!

E olhando o céu que se estendia, ermo e profundo, O aviador teve vontade de ir-lhe ao fundo.' Teve um desejo desvairado de subir! De subir no seu sonho e na sua ânsia! De ver tudo que acena da distância E que, jamais, pôde atingir! 179


E o intrépido paulista} Fitando o céu que o alucinou} Na vertigem do vôo atirou-se à conquista!

A conquista do azul de onde jamais voltou . ..

6

bandeiras de audácia!

Até mesmo no cinema brasileiro dos anos 20 o aVIa0 partiCIpou: foi no filme Hei de Vencer (Pátria Filme, SP), drama produzido por Antônio Tibiriçá e dirigido por Luís de Barros, lançado no Cinema Parisiense em 24 de novembro de 1924, cujo argumento incluía cenas de coragem e arroJo: ( ... ) o guarda-noturno Alberto} · cuja maior ambição era ser repórter} tenta inocentar um amigo acusado de um crime. Com ajuda do amigo Ernesto investiga os acontecimentos ligados ao crime e ·é perseguido pelo verdadeiro criminoso. Jayme} o bandido} antes de morrer confessa o crime} após uma perseguição de avião} em que se precipitou ao solo} com Ernesto em seu encalço. Ernesto passara de um avião para outro} usando uma escada de corda} e conseguira manter-se preso às asas do avião} salvando-se. ( ... )".

Fig . 78 -

180

Ou filme " Hei de Vencer".

/


Uma curiosidade: fez parte do elenco de artistas que atuou no Hei de Vencer a conhecida aviadora Anésia Pinheiro M,achado. Aí está, portanto, o avião na terceira década do século, os anos 20 de tantas agitações, em que, de uma ou outra forma, esteve sempre presente, a inudar os costumes, a sociedade, o inundo.

181



PARTE II AVIAÇÃO CIVIL



./' CAPíTULO 1

CONSIDERAÇÕES GERAIS

o

SEU início, a Aviação apareceu como recreação, um divertimento inusitado e arriscado, ninguém podendo supor que viesse a ter a importância que hoje a· ela se atribui. Ainda quando se mantinha nos estreitos limites da experimentação, ela já era fascínio pelo que representava para o ser humano, em seu desejo de imitar o vôo dos pássaros. No Brasil, a Aviação surgiu sob signo elitista, pois era um divertimento caro. Apesar disto, começou a ser praticada entre nós desde muito cedo, desenvolvendo-se em núcleos civis e alcançando os meios militares, onde o progresso foi maior. A Aviação prende-se a quatro elementos: o Homem, a Máquina, o Espaço Aéreo e a Infra-estrutura ou Apoio Terrestre. Com a conjugação destes elementos, a Aviação realiza todas as atividades praticadas no espaço aéreo, classificando-se como militar ou civil, de acordo com a natureza do objetivo da atividade realizada pela aerónave. Na Aviação Civil, a atividade aérea básica é o transporte, que pode ser: público, prestando serviço a usuários generalizados; privado, quando serve exclusivamente ao proprietário da aeronave; administrativo, ao ser feito por aviões de entidades de direito público interno; e de recreio ou desporto, cujo vôo se destina ao lazer. Em todos esses casos a atividade é entendida como transporte-fim. Há casos, porém, em que a Aviação Civil executa vôos para facilitar uma outra atividade, ou a ela prestando auxílio, como nas missões

N

185


de fotografia aérea, proteção à agricultura, investigações sobre o mar ou simplesmente em instrução de vôo. Nesses casos tem-se o transportemeio. Em sua evolução, a Aviação Civil tornou-se complexa, exigindo um sistema no qual diversos órgãos pâsSaram a exercer funções específicas. Quando do seu surgimento, criou-se um órgão encarregado de superintendê-Ia, mas ao qual faltava uma adequada estrutura. No entanto, isto não chegou a constituir problema, porque o vôo nada apresentava além do binômio homem-máquina, não havendo infra-estrutura a cuidar, e cogitações sobre o espaço aéreo eram raras. Com o crescimento da Aviação, porém, novas exigências foram surgindo. Eram necessários: controle, fiscalização e homologação de aeronaves, seus componentes e equipamentos, e serviços de manutenção; registro de · aeronaves; controle e fiscalização do funcionamento de serviços de permissionários e concessionátios de transporte aéreo e atividades afins; orientação, coordenação e controle de instalações de manutenção e de opetação de aeródromos; coordenação, controle e fiscalização de tráfego; incentivo, apoio, orientação e controle da aviação despottiva e dos. serviços aéreos especializados.

,.: · t'

186


CAPíTULO 2

OS ORGÃOS CONTROLADORES DA AVIAÇÃO CIVIL

1 -

O Aero Club Brasileiro

ESDE a invenção do avião, até que surgisse qualquer legislação pertinente ao controle da aeronáutica, as atividades de aviação. eram todas de cunho desportivo, limitando-se aos arrojados vôos de aprendizes autodidatas. Em 1911, com a fundação do Aero Club Brasileiro, passou-se a cogitar de uma instrução de vôo mais técnica, inclusive com a concessão de brevês. Entretanto, tudo obedecia às regulamentações vigentes em França, onde já existia a F .AJ . (Fédération Aéronautique Internationale), cabendo, posteriormente, ao Aero Club Brasileiro, como seu filiado, colocá-las em vigor no Brasil.

D

Porém, em face do desenvolvimento da atividade aeronáutica, o Governo Brasileiro sentiu a necessidade de intervir no controle desse novo campo de atividade , cabendo ao Aeroclube o papel de único árbitro no tocante à habilitação de pilotos . Em 1906, o Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas desmembra-se em dois outros: da Indústria e Comércio e da Viação e Obras Públicas. Até 1919, a este coube, entre outros, o trato de assuntos ligados à aeronáutica, como o do reconhecimento da utilidade pública do Aero Club Brasileiro, o das concessões de subvenções a essa instituição e os de diversas permissões para exploração de tráfego aéreo comercial. 187


2 -

A Inspetoria Federal de Navegação

Depois que se desmembrou do Ministério da Indústria, o Ministério da Viação e Obras Públicas pôde dedicar maior atenção aos problemas da aeronáutica civil. Os assuntos da navegação hidroviária estavam afetos à então Inspetoria de Navegação Marítima e Fluvial, e o Governo achou por bem atri.buir-Ihe ainda as questões da incipiente aeronáuticà. Em 1920, o Dr. Pires do Rio, Ministro da Viação e Obras Públicas, sugeriu ao Presidente Epitácio Pessoa que ampliasse as atividades da referida Inspetoria, a qual foi reorganizada pelo Decreto n.O 14.050, de 5 de fevereiro desse mesmo ano, sob a denominação de Inspetoria Federal de Navegação. Assumindo a superintendência da navegação aérea, a Inspetoria Federal passou a enfeixar todos os poderes relativos às concessões e permissoes, bem como a fiscalização das entidades concessionárias e permissionárias, e até da indústria de construção de aviões. Dos dez parágrafos do artigo daquele Decreto que estabelecia a atividade fiscalizadora da Inspetoria, somente um se referia aos pilotos, exigindo das companhias que os contratassem fazerem, também, a comprovação da habilitação deles por escola ou iristituição reconhecida pelo Governo. Os demais parágrafos traduziam a preocupação oficial para com a aeronave, o veículo desconhecido, cujo emprego exigia maior zelo. A título de curiosidade, é interessante reproduzi-los, na parte referente à fiscalização da navegação aérea: § 18. Si as aeronaves dos concessionários satisfazem às conçições especiaes para o serviço de navegação a que se destinam e si são observados todos os regulamentos, disposições de Lei e demais instruções expedidas pelo Ministério de Viação e Obras Públicas, com referência ao assumpto. § 19. Si as aeronaves dispõem de accommodações convenientes para o transporte de malas do Correio, passageiros e. mercadorias. § 20. Si as aeronaves estão apparelhadas das ferramentas, sobressalentes e acessorios para remediar os desarranjos que occorram durante a viagem e, bem assim, de todo o material e objectos necessa rios ao serviço dos passageiros e da tripulação. § 21. Si as aeronaves levam a bordo victualha, aguada combustível e lubrificantes necessarios à viagem que vão emprehender. 188


'§ 22. Si as aeronaves, por occaszao da partida, estão em condições de offerecer a segurança precisa e, bem assim, si estão providas de apparelhos de telegraphia sem ·fio e dos mais aperfeiçoados, para os casos de incêndio ou accidentes. § 23. Si os concessionários effectuaram a matrícula nainspectoria, de seus pilotos e mecânicos, apresentando, para este fim, ús respectivos títulos, passados por escola ou instituição, nacional ou estrangeira, reconhecida pelo Governo. § 24 : Si as aeronaves, nacionaes ou estrangeiras, para o efteito de sua identificação trazem os signaes ou emblemas, eipeciaes convencionados. j

§ 25. Si os concesstonartos eftectuaram na inspectoria os registros de suas aeronaves. § 26. Si, além das disposições deste regulamento, c14mprem os concessionarios as demais instrucções e leis que existam ou venham a existir, referentes ao assumpto. § 27. Si são observadas quaesquer outras disposições referentes aos navios, que forem também aplicáveis às aeronaves.

Durante os cinco anos que se seguiram, a Inspetoria não teve grande atividade, uma vez que a Aviação Civil, vinda do início do século, não mostrou grandes modificações. Porém, com a chegada dos primeiros aviões .ao Brasil, destinados à Aviação Civil, a partir de 1925, ficou evidenciado o despreparo da Inspetoria. Em 22 de julho de 1925, o Presidente Arthur Bernardes assinava o Decreto n.O 16.983, aprovando o Regulamento para os serviços civis de navegação aérea. Este já previa, inclusive, no seu artigo 95,- a reorganização da Inspetoria, "de modo a torná-la apta para desempenhar todas as funções previstas", o que, de certa forma, lhe atestava a deficiência em face das novas medidas reguladoras. Em 11 de novembro de 1926, a Inspetoria, mesmo ainda sem ter sido reorganizada, elaborou instruções para exames, cartas, licenças e matrículas, relativas aos aeronautas civis. Tratava-se de uma regulamentação bem adiantada e mesmo muito mais técnica do que as que se lhe seguiram. Por exemplo: o que o Código Brasileiro do Ar muito impropriamente vem a denominar de licença (tipo de habilitação de aeronauta) é, na verdade, a liberação para exercer a profissão, conforme usou, muito acertadamente, a Inspetoria. O documento que habilita um . profissional é o diploma, e a Inspetoria chamou de cada, reservando o termo licença para0 credenciamento de exercício da profissão. 189


Y -

A Comissão Nacional de ' Navegação Aérea

Dada a rapidez com que passou a desenvolver-se a Aviação desde 1927, o Governo verificou que a reorganização da Inspetoria, preconizada no Decreto n.o 16 .983 , de 1925 , não iria satisfazer as exigências do transporte aéreo nacional. Por isso, a Portaria de 4 de janeiro 'de 1928, do Ministro da Viação e Obras Públicas, Victor Konder, criou a Comissão Nacional de Navegação Aérea, subordinada diretamente ao 'seu Gabinete. Estava assim iniciada uma nova fase da Aviação Civil, com a Comissão funcionando até o advento do Departamento de Aeronáutica Civil, .criado pelo Decreto n.o 19.902, de 22 de abril de 1931.

'"

1-90


CAPÍTULO 3

AS TENTATIVAS INDIVIDUAIS DE TRANSPORTE AÉREO COMERCIAL

1 -

Leopoldo Corrêa da Silva

ÃO obstante ter havido um decreto, ainda no Império, cpncedendo privilégio a certo cida?~o brasileiro (vide Balão Brazil, capo ~, Parte IV, voI. I, desta Sene), parece que, na verdade, quem prImeiro pensou em organizar uma companhia de transporte foi o co-estaduano de Santos-Dumont , Leopoldo Corrêa da Silva, nascido no Distrito de Mar de Espanha, em Minas Gerais. Em fins de 1890, quando ainda a República ensaiava seus primeiros passos, ele lançou a idéia de uma Sociedade Particular de Navegação Aérea, emitindo ações no valor de 100$000 (cem mil réis) cada uma, um título financeiro de difícil definição, pois conjuga caracteres de ação, nota promissória e até de empréstimo, conforme se pode concluir de seus termos:

N

o portador da presente Ilção terá no prazo de doze meses direito ao tripLo de seu valor se o respectivo inventor abaixo assinado obtiver o resultado que espera, aliás em virtude das opiniões de alguns profissionais que assistiram as primeiras experiências feitas no Rio de Janeiro com o balão denominado Cruzeiro do Sul. Tratava-se, portanto, de uma companhia que iria empregar os balões de invenção do fundador da empresa. Corrêa da Silva já patenteara na Alemanha, e parece que também em alguns outros países 'europeus, dois balões: o referido Cruzeiro do Sul e o 21 de Abril, este tido comO 191


Fig. 79 - Leopoldo Corrêa da Silva, Pioneiro do Transporte Aéreo.

/.,,' , Fig. 80 -

..

Fac-Simile de uma ação da primeira organização para transportes aéreos no Brasil.

o precursor do zepelim (vide O 21 de Ahril:, cap o 8, Parte IV, vaI. I, desta Série) . É desconhecido o resultado da lançamento das ações da Sociedade Particular de Navegação Aérea, se houve algum obstáculo à concreti192


zação do empreendimento, se ele malogrou e quais as razões. Tambén' não ficou patente a extensão do apoio popular e o que aconteceu com os investidores quando a Companhia não foi avante, já que o valor nominal da ação era bastante alto para a época. . Embora muitos atos governamentais da época autorizassem a implantação de linhas aéreas, a Coletânea de Legislação Aeronáutica não consigna nenhuma permissão a Leopoldo Corrêa da Silva, nem mesmo privilégio para seus balões. Ao que tudo indica, a iniciativa foi exclusivamente de natureza privada, sem qualquer ratificação oficial. 2 -

Nelson Guillübel

Já no caso de outro pioneiro, o Comandante Nelson Guillobel, ele teria pecado pelo excesso de observância do protocolo, resultando daí uma frustração. Foi ele o primeiro a pensar numa companhia de transporte com emprego de aviões, isto no já longínquo ano de 1912. Indo passar as férias na França, onde teve oportunidade de encontrar-se com SantosDumont, resolveu , levado pelo entusiasmo, fundar uma empresa, que teria o nome de Societé Brésilienne df! Transports et Communications. Expondo a idéia a diversos amigos, dos quais veio a receber incentivos, mas carecendo de conhecimentos comerciais, aliou-se ao Engenheiro Luiz Betin Paes Leme e a um senhor de nome Surcoufe. Ao retornar ao Brasil, deu os primeiros passos para pôr a idéia em execução, oportunidade em que ficou decidida a alteração do nome da novel empresa para Compagnie de Transports Aériennes du Vai de l'Amazonas, mais consentânea com o objetivo de ligações aéreas naquela região. Nessa ordem de pensamento, dirigiu ao Congresso Nacional uma petição, cujos termos merecem transcrição: Senhores Membros do Congresso Nacional. O abaixo-assignado desejando introduzir no Brasil, sob forma prática, a navegação aérea, vem pedir concessãó e privilégio por dez anos para estabelecimento de um serviço aéreo de transporte de passageiros e cargas entre a cidade de Manaus e o Território · do Acre. Os pontos terminais desta linha serão ulteriormente combinados entre o requerente e o Poder Executivo. O abaixo-assignado propõe-se a construir além dos campos de partida e chegada nos dois extremos da linha, postos intermediários de socorro e repouso. Propõe-se ainda o abaixo-assinado a transportar as malas do correio .e a manter uma escola prática de pilotos para a qual 193


o Ministério da Guerra poderá enviar anualmente um certo número de alunos, e a manter sempre em bom estado toda a sua frota aérea que em caso de guerra poderá ser requisitada pelo Governo. O abaixo-assignado pede além do privilegio por dez anos para servir a zona a que se refere que o Congresso Nacional autorize respectivamente o Ministério da Viação e o Ministério da Guerra a contratar com elle o transporte das malas do correio e a dar-lhe uma subvenção para o custeio da escola de pilotos e para quaisquer outros serviços que possa prestar ao Ministério da Guerra. 13 de junho de 1912.

Esse pedido objetivo, claro e de sentido altamente patriótico, parece ter sido tomado pelo Congresso como unia utopia, ou mesmo uma aventura, conclusão que se infere do inusitado despacho exarado por subscritor não identificado: "Não merece ser levado em consideração". A decepção do peticionário refletiu-se na sua atitude de nunca mais ter voltado à pretensão. Para se avaliar exatamente o sentido patriótico e o alcance da idéia do Comandante Guillobel, convém esclarecer que somente vinte anos depois o transporte aéreo chegou à Amazônia e, precisamente, com apoio financeiro da União, tal como ele pedira. Nesta época, 1912, não havia aeroclubes em efetivo funcionamento. Apesar da repercussão do êxito de Santos-Dumont, coincidência ou não, depois daquele esdrúxulo despacho na petição de Guillobel, ocorreu uma fase de pessimismo, pois nenhuma outra tentativa foi feita para constituir empresa de transporte aéreo no Brasil. A Primeira Guerra Mundial exerceu uma influência negativa muito grande nos pioneiros desse setor. Com o fim do conflito e as notícias sobre o papel da Aviação, que homeopaticamente chegavam ao público por meio de telegramas e de jornais, reiniciou-se, já no fim de 1918, o ciclo de Ínteresse pelo transporte aéreo. 3 -

João Teixeira Soares e Antonio Rossi

Em 23 de outubro de 1918, o Decreto n.o 13.244 concedia permissão aos cidadãos João Teixeira Soares e Antonio Rossi, por si ou por meio de empresa que organizassem, montassem e custeassem, para um serviço de aviação ~ transporte por meio de aeroplanos, ligando entre . si as principais cidades do Brasil. Nesse ano de 1918, nenhuma outra tentativa aconteceu. Já no ano seguinte, foram dadas cinco outras permissões. 194


4 -

João Baptista dos Santos e Augusto de Araújo Góes

Decreto n.o 13.504, de 12 de março de 1919. Concede permissão a João Baptista dos Santos e Augusto de Araujo Góes para, por si ou por meio de ~mpresa, sem privilégio ou monopólio, utilizarem aparelhos aéreos dos mais aperfeiçoados, inclusive os hidroaviões, no transporte de passageiros e mercadorias entre as cidades principais do Brasil. 5 -

Davidson, Pullen & Cia.

Decreto n.o 13.566, de 26 de abril de 1919. Concede permlssao a Davidson, Pullen & Cia, negociantes no Rio, para, por si ou por meio d~ empresa, explorarem um serviço de comunicações aéreas entre os diversos pontos da República e entre estes e o estrangeiro. Essa autorização era apenas para o transporte de pequenas encomendas e correspondência, podendo estender-se a passageiros, dado o desenvolvimento do serviço. 6' -

João Várzea

Decreto n.o 13.567, de 26 de abril de 1919. Concede permissão a João Várzea, por si ou por meio de empresa, para utilizar aparelhos aéreos dos mais aperfeiçoados, inclusive os hidroaviões, no transporte de passageiros · e mercadorias, entre as principais cidades do Brasil e entre estas e o estrangeiro. 7 - ' Francisco do Rego Barros Barreto Filho Decreto n.O 13.568, de 26 de abril de 1919. Concede permissão a Francisco do Rego Barros Barreto Filho, para, por si ou por meio de empresa, utilizar-se de aparelhos ·aéreos dos mais aperfeiçoados, no transporte de passageiros e mercadorias entre as principais cidades do Brasil. . 8 -

Handley Page Ltd

Decreto n.O 13.569, de 26 de abril de 1919. Concede permissão a Handley Page Ltd. pará estabelecer um · serviço de aviação e transporte de passageiros ou cargas, por meio de aeroplanos e hidroaeroplanos, entre as principais cidades do Brasil. 195


Com essa quinta autorização de 1919, termina o ciclo das tentativas. Nenhuma das seis autorizações dadas entre os anos de 1918 e 1919 teve execução , embora algumas tivessem sido reformuladas nos anos posteriores; somente oito anos depois vai surgir a primeira empresa constituída no País. Tem-se ainda notícia de uma sociedade entre o americano Orton Hoover e o engenheiro italiano Cappa Brava, que tentaram, em 1920, obter pemissão para realizarem sobrevôos no Rio de Janeiro, transportando passageiros. Não se conhecem, porém, quaisquer realizações nesse sentido.

1CJ6


CAPÍTULO 4

O ADVENTO DAS EMPRESAS AÉREAS NO BRASIL - INFLUÊNCIA ALEMÃ

1 -

A Primeira Autorização -

Condor Syndikat

ENHUMA, ou talvez poucas invenções trouxeram tantas transformações para o planeta quanto a do avião. Além deste aspecto transcendental de haver mudado a face do Mundo, datas e eventos dos primeiros tempos da nossa Aviação Civil têm enfoques controvertidos. Esta controvérsia é tanto mais surpreendente quando se atenta para o fato de ela ter · sua história a partir de uma invenção relativamente nova. Um relato das origens da aviação comercial brasileira, mesmo que sucinto, leva-nos, curiosamente, até a Alemanha, passando pela Colômbia. Em 5 de dezembro de 1919, alguns alemães fundaram a 50ciedad Colombo-Alemana de Transportes Aéreos (SCADTA). Do ponto de vista estratégico, a posição geográfica colombiana facilitava expansões aéreas para o Norte, em direção aos Estados Unidos da América, e para o Sul, rumo ao Brasil e demais países da América Meridional. Visando a essa expansão, Fritz Wilh~lm Hammer, piloto-aviadorengenheiro da SCADTA,. consegue criar, em 5 de maio de 1924 , um consórcio entre o Deutsche Aero Lloyd A.G. e a firma Schlubach Theimer. Da união entre aquela empresa transportadora e essa agência mercantil nasceu, na Alemanha, o Condor Syndikat, do qual Hammer e Peter Paul von Bauer, outro integrante da diretoria da SCADTA, faziam parte do corpo de acionistas. Eram metas básicas do Syndikat: facilitar, para a SCADTA, a expansão de linhas comerciais na América

N

197


do Norte e obter autorização de linhas aéreas comerciais no continente sul-americano. De imediato, o Condor Syndikat adquire dois modernos hidroplanos Dornier Wal,. cada um com dois motores de 360 HP, fabricados .na Itália (o Tratado de Versalhes proibia a construção de aviões com mais de um motor, na Alemanha de após guerra). Foram os primeiros especificamente destinados a transporte de passageiros, com acomodações em nove poltronas de vime. Em 10 de agosto de 1925, a SCADTA, já com as facilidades proporcionadas pelo Condor Syndikat, realizava um reide para Havana, Cuba, com dois Dornier Wals, então batizados de Atlântico e Pacífico, buscando alcançar o continente norte-americano e obter concessão de linhas aéreas. O Pacífico chegou, inclusive, até Miami, na Plórida (EUA). Entretanto, por motivos políticos e comerciais, a viagem não pôde prosseguir, voltando o Pacífico para Havana; o Atlântico, desmontado, foi embarcado de volta para a Alemanha. Esgotava-se assim a primeira das metas básicas do Condor Syndikat. Em 6 de janeiro de 1926, surge na Alemanha a empresa aérea Deutsche Luft Hansa A.G., com origem no consórcio de várias empresas germânicas de aviação comercial. O próprio Condor Syndikat entrou em negociações para vir a integrar a Luft Hansa, neste mesmo ano . No entanto, sua meta de buscar expansão na América do Sul não havia sido esquecida, e as providências para seu alcance logo tiveram lugar. Já com suporte da Luft Hansa, o Condor Syndikat transporta por via marítima, para Montevidéu, dois Dornier Wals: o já conhecido Atlântico e um outro denominado Hai. Em Montevidéu os hidros foram montados e voavam para Buenos Aires. A 17 de novembro, tripulado por Fritz Hammer, Max Sauer e Herman Teegen, o Atlântico decola para o Rio de Janeiro, com escalas no Rio Grande do Sul (Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre), em Santa Catarina (Florianópolis e São Francisco do Sul) e São Paulo (Santos). O Hai) tripulado por Freiherr von Buddenbrock e Franz Nuelle, acidentou-se e só pôde chegar até Rio Grande. A intenção do Condor Syndikat era fazer da viagem do Atlântico um vôo promocional, confirmando as qualidades do hidroavião Dornier Wal, inclusive já demonstradas quando do sucesso do recente reide aéreo de Ramon Franco, entre Espanha e Brasil. Para tanto, trazia como passageiro o ex-chanceler alemão Dr. Hans Luther, cuja importância como personalidade política, além de dar realce à credibilidade no fator segurança de vôo do transporte aéreo, contribuía para mais fáceis entendimentos com as autoridades brasileiras, com vista à autorização de rotas no País. 198


A 27 de novembro, o Atlântico amerissa nas águas próximas à Ilha das Enxadas, e o Dr. Hans Luther logo busca contato com o Ministro da Viação e Obras Públicas, Dr. Victor Konder . Durante as negociações, o Dr. Luther põe o Atlântico à disposição do nosso Ministro, para uma viagem de demonstração da segurança e conforto do Dornier. Natural de Santa Catarina, o Dr. Victor Konder optou por voar até Florianópolis, ficando a decolagem marcada para 1.0 de janeiro de 1927. Entrementes, o Atlântico fez vôos locais, levando pessoas da sociedade carioca para vistas aéreas do Rio de Janeiro. Com as negociações em bom andamento, o Condor Syndikat, sempre atento aos pormenores, consegue que a Luft Hansa mande ao Brasil o então considerado melhor piloto de Dornier Wal, Rudolf Crammer von Clausbruch; com Franz Nuelle (mecânico do Hai) e Wirz (telegrafista) completou a selecionada tripulação para o vôo com o Ministro Konder. No dia de AnQ Novo de 1927, o Atlântico decolava da Baía de Guanabara rumo a Florianópolis. Além do Ministro, viajavam como passageiros os jornalistas Raul Portugal e Machado Florence, além do cinegrafista Alberto Botelho. Sobre Itajaí, onde residia a família Konder, o Condor Syndikat não esqueceu de prestar sua homenagem, fazendo atirar sobre os jardins da casa um buquê de flores. A viagem de regresso foi realizada em 4 de janeiro, após o Ministro Konder ter inaugurado um centro de aviação em Florianópolis. Pelas deferências prestadas, cada integrante da tripulação foi presenteado com um relógio de ouro. Mas o maior presente recebeu o Condor Syndikat, em 27 de janeiro de 1927, através do Diário Oficial da União, que publicou o Aviso n.o 60/G, emitido no dia anterior, dirigido ao Inspetor Federal de Navegação: Tendo em vista o que requereu o Condor Syndikat, com sede em Berlim, representado no Brasil pela firma Herm. Stolz & Comp ., e ouvidos os Ministérios da Guerra e da Marinha, por seus representantes junto a este Ministério, declaro-vos, para os devidos fins, que, de acordo com disposto no art . 44 do Regulamento dos Serviços Civis de Navegação Aérea, aprovado pelo decreto n." 16.983, de 22 de julho de 1925, fica outorgada àquele sindicato autorização, especial, por prazo não excedente de um ano e a .contar desta data, para estabelecer, a título precário e de experiência, o tráfego aéreo, por meio de hidroaviões, entre o Rio de Janeiro e a cidade do Rio Grande, com escalas em Santos, Paranaguá, São Francisco e Florianópolis; entre a cidade do Rio Grande e Porto Alegre, com escala em Pelotas, e entre a cidade de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, podendo estender esta linha até Montevidéu, caso tenha autorização do governo do Uruguai para esse fim. 199


No uso da presente autorização o Condor Syndikat fica obrigado a transportar em cada viagem dois técnicos indicados por este Ministério, e a observar todas as disposições do citado regulamento, mas não obstante poderá ser cassada essa autorização, si assim o exigirem a ordem pública ou a segurança nacional, conforme prevê o art. 67 do mesmo regulamento. Quanto aos certificados de navegabilidade, cartas dos tripulantes e licenças dos aviões que vierem a ser empregados nesse tráfego, concedidos por autoridades estrangeiras, reconheço como válidas, quando apresentarem o visto dos técnicos militares junto a este Ministério. Fica entendido, todavia, que na forma do parágrafo único do art. 13 da Constituição Federal, combinado com o art. 19 da Lei n.o 4.911, de 12 de janeiro de 1925, os aviõeS não poderão transportar mercadorias entre os portos nacionais. Obtivera pleno sucesso o vôo promocional do Dornier Wal Atlântico, na viagem de janeiro de 1927 que ficaria na história da aeronáutica como o marco do início da Aviação Comercial no Brasil e motivadora da primeira autorização no gênero.

- -... -=i0.2" J I\Ni:'tRO 10 ""O-=-=--=0

l:-l.

:-.

.~ .=<~~~,e)'%:~JJF:'''~~~

~lIími~niTftf~~~.,rr(rl'l'~

~2QU]~~,R1Ell§ ~Figo 81 - Selo comemorativo do início da Aviação Comercial no Brasil.

200


Sem perda de tempo, o Atlântico decola para a capital gaúcha, visando a iniciar suas atividades aéreas no Brasil. Na edição de 29 de janeiro de 1927, o Correio do Povo, editado em Porto Alegre, anunciava a chegada àquela cidade do hidroavião Atlântico, procedente do Rio de Janeiro, informando tratar-se de uma aeronave do Condor Syndikat, que viera ao Brasil para explorar o transporte aéreo. Era passageiro da aeronave o Sr. Otto Ernst Meyer, que voltara da Alemanha, onde fora adquirir material para uma companhia aérea a ser constituída no Brasil, a Empresa de Viação Aérea Rio-Grandense de Transporte Aéreo , que mais tarde viria a ser conhecida como VARIG, e o Tenente-Aviador militar Henrique Dyott Fontenelle, na qualidade dê técnico indicado pelo Ministério da Viação e Obras PÚblicas, como ficara previsto na autorização brasileira. Conta-se como curiosidade que Otto Meyer, sabendo que em Ci dreira (RS) se encontrava sua esposa, decidiu com ela entrar em contato, e, ao sobrevoar a localidade balneária, a pouco mais de 5 metros de altura, deixou cair uma carta, atada com uma fita com as cores da bandeira do Brasil. De Cidreira, o avião rumou para o Farol de Itapoã, na Lagoa dos Patos (RS), e seguiu o curso do Rio Guaíba; quando eram aproximadamente 12h e 30 min, chegava à capital gaúcha. Já na edição do dia 4 de fevereiro, o citado jornal dava conta da primeira viagem da Linha da Lagoa (como ficaria conhecida a rota sobre a Lagoa :dos Patos), efetuada no dia anterior com o Atlântico: tripulado por Rudolf Crammer von Clausbruch, Max Sauer e Franz Nuelle, navegando com forte vento contrário, em 2h e 45 min, realizou o trajeto entre Porto Alegre e Rio Grande, levando como passageiros os senhores Guilherme GastaI, João de Oliveira Goulart e a senhorita Maria Echenique, além de 162 kg de correspondência postal. Esse é considerado o vôo inaugural da Aviação Comercial no País. Fora realizado por uma companhia estrangeira, o Condor Syndikat, que, criado com o propósito de apoiar companhias de· transporte aéreo, como a SCADTA, passara a ser, no Brasil, uma efetiva transportadora, recebendo autorização brasileira, fornecendo a tripulação e o avião, e até mesmo emitindo passagens em seu nome. Fora um grande passo, este que introduzia no Brasil a Aviação Comercial, em que pese as condições precárias da época: mesmo considerado moderno, o hidroavião Dornier Wal era lento, com velocidade que variava bastante conforme a direção do vento, ficando em torno de 150 quilômetros horários. A ventilação interna fazia-se com as janelas abertas durante o vôo (na decolagem eram mantidas fechadas, para evitar a entrada d'água); por isso mesmo, o barulho dos dois motores era ensurdecedor, obrigando os passageiros ao uso de algodão nos ouvidos e, para conversas, falar aos gritos. As vertigens durante o vôo eram comuns, em face da pouca estabilidade do aparelho, mas a companhia, Q

201


previdentemente, já então fornecia os conhecidos saquinhos para os efeitos do enjôo. A instalação sanitária constituía-se num urinol , com tampa, estrategicamente colocado na parte traseira do hidroplano. Mesmo assim, a confiabilidade no serviço aéreo era evidente, permitindo ao Condor Syndikat efetivar vôos regulares na Linha da Lagoa a partir de 22 de fevereiro de 1927. Em 28 de março já realizava também a primeira linha de serviço postal entre Porto Alegre e Rio Grande. 2 -

A Primeira Companhia Brasileira -

VARIG

Já vimos que, ao decolar para Porto Alegre após a viagem com o Ministro Victor Konder, o Atlântico transportou do Rio de Janeiro um passageiro que regressava da Alemanha, onde fora buscar apoio para uma companhia de aviação comercial que pretendia fundar no Rio Grande do Sul. Seu nome: Otto Ernst Meyer-Labastille, um observador aéreo alemão, ex-combatente da Primeira Guerra Mundial. Otto Meyer emigrara para o Brasil em 1921, e trabalhara para a firma dos irmãos Lundgren, com matriz em Recife (PE), Lojas Paulistas (Casas Pernambucanas, nos demais estados brasileiros). Em 1923, Otto Meyer vem a estabelecer-se em Porto Alegre. Suas viagens pelo Brasil evidenciavam a necessidade de transporte mais rápido que o ferrovi~rio ou o marítimo, num país de tão grandes dimensões, levando-o a cogitar da formação de uma empresa aérea. Em 1926, com projetos já elaborados, apresenta suas idéias a cidadãos da política, do comércio e da indústria gaúcha, onde ele tinha fácil penetração e mantinha bom relacionamento, não só por suas atividades profissionais, mas também por se ter casado com senhora da sociedade local, filha do Coronel Hemetério Mostardeiro. Obteve então de~isivo apoio do Major Alberto Bins, deputado estadual e presidente da Associação Comercial de Porto Alegre, além de industrial e fazendeiro. Foi Alberto Bins que o orientou nos entendimentos com o Dr. Borges de Medeiros, então Presidente do Rio Grande do Sul, com vistas à obtenção do apoio governamental para a futura Empresa de Viação Aérea RioGrandense, que viria a ficar conheci,da como VARIG. Tendo obtido parecer favorável em seu requerimento de isenção de impostos para a Empresa, bem como· a adesão de dez grandes empresários para subscrição de ações, Otto Meyer embarca para a Alemanha, em 12 de novembro de 1926, com o propósito de conseguir apoio da empresa industrial Junkers. Em 25 de janeiro de 1927, chegava de regresso ao Rio de Janeiro, sem ter alcançado a ajuda pretendida. Dois dias depois, como passageiro do Dornier WaI Atlântico, que fizera o vôo promocional com o Ministro Konder, Otto Meyer dirige-se a Porto Alegre. . 202


Para contrabalançar a frustração trazida da Alemanha , o incentivo fiscal solicitado ao governo gaúcho fora concedido, pela Lei Estadual 413 , de 1 de dezembro de 1926 . A este fato bastante positivo, somou-se o apoio da firma Bromberg, de Porto Alegre, cedendo as primeiras instalações administrativas, onde os planos para a futura VARIG iriam ter continuidade . O vôo inaugural do Condor Syndikat na Linha da Lagoa , realizado em 3 de fevereiro de 1927, foi, sem dúvida, um acontecimento que trouxe mais entusiasmo ao grupo de Otto Meyer, levando-o a prosseguir na consecussão da sua empresa aérea nacional. Em 1 de abril tem lugar a primeira reunião visando a ultimar os assuntos para a fundação da VARIG . Pela Imprensa local foram divulgados convites para a formação do corpo de acionistas, que já então contava com um grupo de alguns subscritores: Major Alberto Bins, Dr. Carlos Maria Bins, Charles Fraeb, Rodolpho Ahrons, José Bertaso, L. A. Gutschow, Dr. Adroaldo Mesquita da Costa, Emílio Gertum, Jorge M. Pfeiffer, Ernesto Rotermund, Arthur Bromberg, Waldemar Bromberg e a companhia alemã Condor Syndikat. Em 7 de maio, é realizada a assembléia geral da constituição definitiva da Sociedade Anônima Empresa de Viação Aérea Rio-Grandense, com · aprovação dos estatutos e eleição da primeira diretoria e do conselho fiscal. .

fi/!.. 82 -

Assembléia úe cunstituiçiiu úa VARIG .

203


Os nomes, todos indicados pelo Dr. Adroaldo Mesquita da Costa, foram aclamados, também por proposta do Dr. Adroaldo: diretor-gerente, Otto Ernst Meyer; diretor-técnico, Rudolf Crammer von Clausbruch; diretor-delegado, FrÍtz Hammer; suplentes respectivos, Carlos Albrecht Júnior, Freiherr von Buddenbrock e Max Sauer. O conselho fiscal ficou assim constituído: Major Alberto Bins, Coronel Pedro Ozório, Victor Alberto Kessler, L. A. Gutschow, Gustavo Poock Júnior, Rodolpho Ahrons, José Bertaso, Arthur Bromberg e Coronel Hemetério Mostardeiro. Estava assim criada a VARIG, com seus estatutos aprovados, diretoria e conselho fiscal formados . Do seu capital inicial de mil contos de réis, divididos em 5.000 ações, com valor nominal de duzentos mil réis, 3.539 haviam sido subscritas, sendo que 1.050 pertenciam ao Condor Syndikat, representando uma participação de 21 % no capital da empresa. Em 7 de maio de 1927, tem lugar o registro da VARIG como empresa privada, e em 10 de junho é assinado o Decreto 17.832, cujo teor básico é o seguinte: ( ... )

Artigo Único. Fica concedida à Sociedade Anônima Empresa de Viação Aérea Rio Grandense, c0!11 sede em Pôrto Alegre; capital do Estado do Rio Grande do Sul} permissão para estabelecer o tráfego aéreo comercial no litoral do Estado de Santa Catarina e em todo o território do Rio Grande do Sul} podendo estender suas linhas até a cidade de Montevidéo } caso o Govêrno da República Oriental do Uruguai o permita. ( ... )

Washington Luiz P. de Souza. ' Victor Konder.

Era a pnmeua autorização dada a uma empresa aérea brasileira.

3 -

O Grupo Condor Syndikat -

VARIG

A VARIGestava pronta para funcionar, ou melhor, estava quase pronta, pois não tinha aeronaves para operar. Ao Condor Syndikat não faltava motivo para auxiliar a nova empresa, já que esta se tornava potencial usuária de equipamentos, de serviços e de pessoal, fornecidos pelo Syndikat, objetivo para o qual fora :204


fundado. Foi dentro dessa perspectiva que a VARIG viria a ter o seu primeiro avião, como logo veremos. Em meados de maio de 1927, quando o hidroplano Atlântico completava sua qüinquagésima viagem na Linha da Lagoa, o Condor Syndikat já providenciara a vinda de um novo aerobote, um Junkers G-24 , trimotor, com capacidade para oito passageiros. Em 18 de maio, após montado em Buenos Aires, realizara viagem para o Rio, com escalas em Rio Grande, Porto Alegre, Florianópolis e Santos. E, já nesta viagem, transportara passageiros : entre -Rio Grande e Porto Alegre, Gustavo Feddersen; entre Porto Alegre e Rio, Carlos Ebner, João de Oliveira Goulart, ca<;al Otto Meyer e a filhinha ainda bebê. A 22 de maio, tinhà amerissado na Guanabara. Dando prosseguimento aos seus planos de expansão aérea , dentro da autorização governamental recebida, o Condor Syndikat vinha cogitando uma nova linha entre Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Em 1 de junho, programara a inauguração, com um encontro, em São Francisco do Sul (SC), elltre o Atlântico, procedente de Porto Alegre, e o Junkers G-24, procedente do Rio, e respectivos retornos, no ~esmo dia. Entretanto, porque o G-24 teve problemas mecânicos, o Atlântico fêz o percurso inteiro, tripulado por Clausbruch e Nuelle, regressando ao Rio três dias depois. Após esse vôo inaugural, a linha Rio~Porto Alegre ficou sendo realizada eventualmente, utilizando o Junkers G-24, então batizado de Ypiranga (tripulado por Max Sauer, Heinz Putz e Otto Schollkopf. o

o

Figo 83 -

o

·· Ypiranga" . do Condor Syndikato

De posse desse novo aparelho, e já com a nova linha inaugurada, o Syndikat entrega à VARIG o hidroavião Atlântico, com integralização das ações que subscrevera. Em 15 de junho, essa transação é con205


tabilizada na Empresa pelo valor de quatrocentos e vinte e cinco contos de réis. Com o Atlântico, o Condor Syndikat também passou para a VARIG a incumbência de realizar a Linha da Lagoa, além de ceder os serviços do seu piloto Clausbruch que, embora diretor-técnico da Viação Rio-Grandense, tinha seu ordenado pago pelo Syndikat. Ao Condor caberiam comissões sobre as passagens vendidas e os fretes postais cobrados. Em 22 de junho, embora ainda aguardando autorização para seus vôos (só publicada no Diário Oficial de 28 do mês), a VARIG faz o Atlântico realizar 'a primeira viagem, na Linha da Lagoa, sob sua responsabilidade. Tripulado por Clausbruch, Sauer e Nuelle, transporta seis passageiros e malas postais. Estavam, portanto, iniciadas as operações aéreas da VARIG, que durante todo um ano iria ~constituir-se na sua única linha.

Fig. 84 -

o

"Atlântico", primeiro avião da V ARlG, com matrícula brasileira.

A esta época, já quase se completava metade do prazo concedido pelo Brasil ao Condor Syndikat, para o exercício de atividades aéreas. Começara com a Linha da Lagoa, que passara à VARIG, e fazia a Rio de Janeiro-Porto Alegre. A partir de 18 de junho de 1927 , os carimbos triangulares de sobreta~a, impressos com seu nome e aplicados nos envelopes da correspondência postal sob sua responsabilidade de transporte, haviam sido substituídos por selos privativos, porém trazendo, agora, o nome Sindicato Condor, talvez antecipando nova razão social para uma possível Companhia Brasileira. 206


Fig. 85 - Carimbo do Condor Syndikat .

Em meados desse ano de 1927, o Condor Syndikat encomenda na Alemanha dois Dornier Wal , que viriam a ser batizados de SantosDumont e Bartholomeu de Gusmão, equipados com motores de 600 HP e aqui no Brasil aparelhados com rádio de ondas longas, com precário alcance.

Fig. 86 -

o

"8artholomeu de Gusmão" do Condor Syndikat.

Em instalações cedidas pela Marinha, o Syndikat construiu sua primeira estação de hidros na Ilha das Enxadas , e o embarque era precedido de pesagem, realizada, ao ar livre , em balanças portáteis, cobrado o excesso a 75 kg. Quando de sua encampação na Alemanha pela Luft Hansa, em 1 de julho, o Condor Syndikat interrompe a atividade aérea entre Rio de Janeiro e Porto Alegre que vinha realizando , se bem que esporadicamente. No entanto, não cessaram aquelas outras de apoio à ' infraestrutura de novas empresas de aviação; tanto que, em 13 de julho, quando o Atlântico entra em reparos , é o Junkers G-24 Y piranga que o vem substituir, fornecido à VARIG pelo Condor Syndikat, em .regime de leasing . É também do Condor Syndikat que , em outubro, a VA207


RI G adquire a sua segunda aeronave: um Dornier Merkur, para seis passageiros, que receberia o nome de Gaúcho.

Fig. 87 -

4 -

Dornier Merkur, o "Gaúcho", segundo avião da VARIG, com matrícula brasileira.

O Grupo VARIG -

SINDICATO CONDOR

Embora realizando apenas uma linha regular, a VARIG mostrava o sucesso da iniciativa de Otto Meyer, então bastante auxiliado pelo seu secretário brasileiro Ruben Martin Berta. Desde o 82.0 vôo da Linha da Lagoa (11 de novembro), selos privativos da Viação Aérea RioGrandense substituíam os carimbos de sobretaxa na correspondência postal, confirmando sua individualidade, sua autonomia como empresa aérea. Este vôo, marcante pela estréia de utilização dos selos privativos da VARIG, era a quarta etapa de um outro vôo que fora iniciado dois dias antes e que ficaria notável: com o hidroplano Santos-Dumont, do Condor Syndikat, comandado por Hammer, pilotado por Gunther Schuster, tendo como mecânico Teegen e radiotelegrafista Erich Kkmm, teve início, em 9 de novembro, o vôo de inauguração da linha entre a cidade do Rio de Janeiro e a de Rio Grande, realizada pelo Sindicato Condor, no primeiro trecho, entre Rio de Janeiro e Porto Alegre, e, no segundo, pela VARIG, entre Porto Alegre e Rio Grande (Linha 'da Lagoa). O regresso desse vôo inaugural, constituindo a terceira e quarta etapas, foi realizado entre 11 e 12 de novembro. O aspecto mais curioso desse fato é o aparecimento outra vez do nome Sindicato Condor, agora em novembro de 1927, incluído no carimbo comemorativo da viagem. Talvez se possa deduzir que o Condor 208


Fig. 88 -

Otto Ernst Meyer (direita), primeiro Presidente da VARIG com Rubem Berta, segundo presidente.

Syndikat novamente se antecipava na sua nacionalização, como já o fizera com os selos. Somente em 1 de dezembro de 1927, o Sindicato Condor obtém seu registro como empresa aérea brasileira. Os diretores do Sindicato Condor eram os mesmos que haviam pertencido ao Condor Syndikat: Fritz Hammer, diretor-geral; Max Sauer, diretor-técnico; Hans Wilkens, diretor-comercial. O capital fora subscrito por Hammer, Rerm. Stohz, Sauer, com inclusão do brasileiro Conde Pereira Carneiro. Em 20 de janeiro de 1928, o Sindicato Condor recebe autorização para operar linhas aéreas no Brasil, através do Dec~eto 18.075, no qual constava: ( ... ) Artigo Único . Fica concedida à sociedade mercantil brasileira Sindicato Condor, Limitada, com sede nesta capital, a permissão para estabelecer o tráfego aéreo comercial no território nacional, podendo estender as suas linhas até o Uruguai e a Argentina, caso obtenha para esse fim a autorização dos governos desses países. ( ... ) Washington Luiz P. de Souza . Victor Konder.

209


Em maio de 1928, a VARIG vem a operar conjuntamente com o Sindicato Condor e durante os três anos seguintes. Buscando apoio governamental, a VARIG consegue do presidente do estado gaúcho a verba de vinte e cinco contos de réis, para construir sua estação de passageiros em Rio Grande (Ofício 1.10, da Secretaria de Obras Públicas, expedido em 20 de maio de 1929). No ano seguinte, em 24 de abril, a VARIG fechava um importante contrato com o governo do Rio Grande do Sul, em cujo teor constava a obrigação, pela Empresa, de: adquirir aviões ao governo, a ele pagando com 1.050 de suas ações; fazer a manutenção de outros seis aviões; criar uma escola de aviação, proporcionando anualmente dez vagas gratuitas para alunos da Brigada Militar. Por seu turno, o governo estadual cederia à empresa, por vinte anos: um campo em Gravataí; recursos financeiros no valor de trezentos e noventa e nove mil contos de réis, para aplicação em construções e melhorias desse campo; e ainda lhe daria um crédito de cento e oitenta e seis mil dólares, para aquisição de novos aviões de diferentes tipos. Com todo esse forte apoio oficial recebido, a união com o Sindicato enfraqueceu, e a sociedade desfez-se. Ao Condor foram então entregues o Atlântico e o Gaúcho, ficando a VARIG mais uma vez sem aviões, aguardando a ajuda estadual. Em outubro de 1930, estoura a Revolução, e o contrato não pôde ser cumprido. Para a VARIG, esse fato foi o princípio de uma séria crise, conduzindo-a quase que à falência.

5 -

O Sindicato Condor

A Linha Rio de J aneiro-Porto Alegre passou a ser realizada pelo Sindicato Condor duas vezes por semana, operada pelos Junkers G-24 e Dornier Wal Santos-Dumont, sendo complementada na Linha da Lagoa pela VARIG. Adquirindo novos aviões, Junkers F-l3, o Condor enceta vôos-na direção norte do Brasil. Em 15 de julho de 1929, a linha baiana Salvador-Ilhéus-Belmonte é inaugurada e mantida semanalmente, com o Junkers Pirajá, tripulado por Frederico Hoepken e Xavier Greiss. Em 2 de setembro, a mesma equipagem inaugura nova linha passando por Valença e Santarém, visando a preencher, com escalas intermediárias, o trajeto entre Salvador e Ilhéus. Em 5 de fevereiro de 1930, é inaugurada a linha entre Rio de Janeiro e Natal (RN), com escalas em Vitória (ES), Caravelas (BA) , 210


Fig. 89 -

O "Pirajá" do Sindicato Condor.

Belmonte (BA), Ilhéus (BA), Salvador (BA), Maceió (AL) , Recife (PE) e Cabedelo (PB). Este vôo foi realizado por Clausbruch com um novo Dornier Wal, o Otinda, até Salvador; daí foi complementado por Hoepken, com o Junkers F-13 Pirajá, até Natal. O serviço passou a ser realizado com regularidade semanal.

Fig. 90 -

o

"Otinda" do Sindicato Condor,

Nova linha se segUiu, em setembro, agora pioneiramente penetrando no interior brasileiro: Corumbá (MTS) -Cuiabá (MT). Sua 211


cnaçao se deu na época do conflito armado entre Paraguai e Bolívia. O Pirajá, que voara até Buenos Aires, foi levado para Assunção e, em seguida, Corumbá, ponto terminal da E. F. Noroeste do Brasil. Ali, o Condor decidiu prolongar o vôo até Cuiabá, com uma escala em Porto Jofre, inaugurando, assim, a linha interiorana. O ano de 1930 terminaria com a Aviação Comercial Brasileira, sob a influência alemã, em pleno desenvolvimento, inclusive realizando regularmente aquela linha no centro do País.

212


CAPÍTULO 5

O ADVENTO DAS EMPRESAS AÉREAS NO BRASIL - INFLUÊNCIA FRANCESA

1 -

A Lignes Aériennes La técoere

IERRE LATÉCOERE: homem sério, reservado, de aparência irre· preensível, que usava monóculo; com ele teve início uma saga da aviação francesa que se transportou para os mais recônditos rincões da Terra. Latécoere era fabricante de munições durante a Primeira Guerra Mundial, e, a partir de 1917, ou seja, um ano antes do término do conflito, passou também a construir aviões de uso militar. Mas Pierre Latécoere tinha planos ambiciosos, e dois meses antes do Armistício já propunha a criação de uma companhia aérea que, saindo de Toulouse, no sul da França, atravessaria a Espanha, cruzaria o Mediterrâneo em direção ao Marrocos, até chegar à então desolada costa do Senegal. Dali, tentaria cruzar o Atlântico em busca da América do Sul, onde os interesses da França eram de grande vulto. Acabada a guerra e dirigindose a alguns descrentes no desenvolvimento da aviação, disse-lhes Latécoere: ((Vocês acreditam que a aviação está acabada; pois eu acredito que ela está justamente começando". A idéia foi sendo levada adiante e as Lignes Aériennes Latécoere - ou como seriam imediatamente conhecidas - La Ligne (A Linha) - começaram transportando a mala postal para Barcelona, através dos Pirineus. Nesta fase, e durante muitos anos, A Linha contou com um gerente geral de primeiríssima grandeza, na pessoa de um veterano da Guerra, Didier Daurat. Foi ele o grande incentivador das Linhas Latécoere e o criador do espírito de arrojo, disciplina e, ao mesmo tempo,

P

213


aventureirismo dos pilotos que nelas serviam, onde despontariam nomes como Jean Mermoz e Antoine de Saint-Exupéry, o primeiro ligado indissoluvelmente ao Brasil e o outro, igualmente piloto, à literatura in ternacional. Dando continuidade a seus planos de expansão, Latécoere mandou à América do Sul, mais precisamente ao Brasil, Uruguai e Argentina, um grupo técnico de diretores, pilotos e mecânicos, trazendo aviões, para mostrar a exeqüibilidade dos serviços que pretendia prestar, que basicamente era o transporte da mala postal através do Atlântico; na época, um sonho praticamente irrealizável, mas que Latécoere queria tornar realidade. Este grupo, que se chamou Missão Latécoere, chegou ao Rio de Janeiro em novembro de 1924; entrou em contato com representantes do Governo Brasileiro, com a finalidade de conseguir permissão para sua tentativa de estender até Buenos Aires a linha que, começava em Toulouse. Vinham na missão dois diretores da companhia, um dos quais era o Príncipe Murat, três aparelhos biplanos Breguet 14, respectivos pilotos e mecânicos. O vôo experimental foi realizado sob a direção de Paul Vachet, piloto-chefe, e ocorreu em 14 de janeiro de 1925; na ocasião, foram transportados mala postal e jornais. Dos três Breguet que iniciaram o vôo, dois chegaram em Buenos Aires, após trinta e seis horas de viagem, com seis escalas no percurso. A 5 de fevereiro, ainda com Vachet no comando, foi feito outro vôo do Rio de Janeiro para Recife, desta feita com três paradas. Finalmente, a 6 de março deste mesmo ano, 1925, foi tentado, com sucesso, um vôo de Buenos Aires a Recife. É interessante notar que os aviões traziam escrito no leme: ((Linhas Aéreas Latécoere - Linha Pernambuco - Rio de Janeiro - Monte..vidéu - Buenos Aires"; na fuselagem, em três idiomas: ((Correos Correios - Postes", o que demonstrava a confiança em conseguir as

concessões para tal empreendimento. A Companhia Latécoere, ao mesmo tempo, apresentou ao Governo Brasileiro um estudo de viabilidade econômica, juntamente com o projeto operacional. Solicitava, também, uma subvenção por quilômetro percorrido, mas, em contrapartida, oferecia ao Brasil uma participação no empreendimento. As autoridades, após estudarem a proposta, decidiram pela sua rejeição, tendo em vista o desembolso de quantias vultosas, principalmente nos primeiros anos. E, assim, os entendimentos foram paralisados, pelo menos por uns meses. Neste ínterim, uma empresa nacional estava ein vias de organização: a Companhia Brasileira de Empreendimentos Aeronáuticos. For- ' mada exclusivamente por brasileiros, requereu e conseguiu uma autorização para explorar o tráfego aéreo no Território Nacional. Isto ocorreu através do Decreto n.o 17.055, de 1 de outubro de 1925. O presidente 214


Fig. 91 -

"Breguet 14" da Latecoere, um dos três que vieram para o Brasil em 1924.

Fig. 92 - Rio de Janeiro, recepção à tripulação do "Breguet 14", que fez a primeira viagem Rio-Recífe-Rio, vendo-se à esquerda do píloto Vachet. o almirante Gago Coutinho.

da empresa era o Sr. Mário de Azevedo Ribeiro; vice-presidente, Sr. Herbert Moses; secretário, o Príncipe Charles Murat (o mesmo da Missão Latecoere); e um de seus diretores Virgilio de Melo Franco, José Garcia de Souza, em seu livro A Verdade sobre a História da Aeronáutica, relata que Mario de Azevedo Ribeiro, ex-presidente do Jockey Club Brasileiro, afirmou ter sido a Companhia Brasileira de Em215


preendimentos Aeronáuticos uma iniciativa do Sr. Lineo de Paula Machado, homem de destaque nos meios empresariais brasileiros àquela época. O Decreto que autorizou a Companhia Brasileira de Empreendimentos Aeronáuticos a explorar o tráfego aéreo vinculava sua validade a diversas cláusulas de um contrato que acompanhava o mesmo. Eram estas em número de trinta e quatro, e foi a deste número, exatamente a última, que desfez toda a pretensão. Rezava que «O contrato relativo a presente concessão só se tornaria efetivo depois de registrado pelo Tribunal de Contas.)} E isto não aconteceu. O Tribunal negou o registro; os interessados recorreram, mas foram vencidos. Com isto, a Companhia Brasileira de Empreendimentos Aeronáuticos não saiu do papel. É interessante, porém, saber-se o que pretendia esta companhia, o que estava explicitado nas cláusulas que acompanhavam o Decreto. A primeira dizia que a concessionária se obrigaria a realizar viagens para o transporte de passageiros, carga, encomendas, valores e malas postais entre Recife (PE) e Pelotas (RS), com escalas intermediárias em Maceió, Salvador, Caravelas, Vitória, Rio de Janeiro, Santos, Paranaguá, Florianópolis e Porto Alegre, podendo ser, ulteriormente, estendida até Natal, Fernando de Noronha e Rochedos de São Pedro e São Paulo. Outra cláusula dizia que poderia ser estabelecido tráfego mútuo com outras empresas de navegação aérea, nacionais ou estrangeiras (sic) que estivessem devidamente autorizadas a operar no Território Nacional. Outras disposições, abrangendo vários quesitos, rezava que a companhia estava autorizada a construir aeródromos de sua propriedade nos pontos de escala, em terrenos que lhe seriam gratuitamente cedidos pelo Governo. Não se sabe quais as razões que levaram o Tribunal de Contas a negar o registro do contrato, mas é possível que a campanha, que então fora desfechada pela Imprensa, principalmente pelo jornal A Pátria, de que a Companhia Brasileira de Empreendimentos Aeronáuticos não passava de subsidiária da Compagni"e Générale d'Entreprises Aéronautiques Lignes Aériennes, Latecoere, tenha influído na decisão. Em fins de 1926, a Latécoere retomou a iniciativa junto ao Governo Brasileiro, visando sempre à concessão de uma linha. Desta feita, porém apresentou o pedido de forma diferente: solicitou apenas que lhe fosse dado o direito de passagem de suas aeronaves por território brasileiro. Teve deferimento. Logo no início do ano de 1927, volta à carga e, desta vez, consegue uma autorização para operar o tráfego aéreo no Território Nacional, através do Aviso Ministerial 197 jG, de 9 de março de 1927'. São estes os seus termos básicos: Sr. Inspetor Federal de Navegação. Tendo em vista o que requereu a Compagnie Générale d'Entreprises Aéronautiques, 216


Lignes Latécoere, sociedade francesa com sede em Paris, e ouvidos os Ministérios da Guerra e da Marinha, por seus representantes junto a este Ministério, declaro-vos, para os devidos fins, que, de acordo com o disposto no art. 44 do Regulamento para os Serviços Civis de Navegação Aérea, aprovado pelo Decreto n.o 16.983, de 22 de julho de 1925, fica outorgada àquela companhia autorização especial, por prazo não excedente de um ano e a contar desta, para estabelecer, a título precário e de experiência, o tráfego aéreo sobre o território brasileiro de Fernando de Noronha a R~cife, e desta cidade à de Santa Vitória do Palma.r, com pousos em Maceió, Bahia, Caravelas, Vitória, Rio de Janeiro, Santos, Paranaguá, Florianópolis, Porto Alegre e Pelotas. ( ... ) Portanto, aquilo que havia sido negado à Companhia Brasileira de Empreendimentos Aeronáuticos, pelo Tribunal de Contas, era agora concedido às Lignes Latecoere através de simples Aviso Ministerial dirigido ao Inspetor Federal de Navegação. Isto posto, criada a situação de fato, o Governo resolveu, então, oficializá-la, o que foi feito pelo Decreto 18.009, de 6 de dezembro de 1927, assinado pelo Presidente da República e referendado pelo Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio. A Latécoere, finalmente, estava funcionando no Brasil. Menos de três meses depois, a Compagnie Générale d 'Entreprises Aéronautiques vem a mudar de nome. Passou a ser Compagnie Générale Aéropostale, o que foi aceito e homologado pelo Governo Brasileiro através de novo decreto, o de número 18.113, de 14 de fevereiro de 1928. Vinte e um dias depois, novo ato governamental, desta feita a Portaria s/n.o, de 7 de março de 1928 , do Ministro da Viação e Obras Públicas, Victor Konder, prorrogava por um ano a autorização da Compagníe Générale d'Entreprises Aéronautiques, para operar o tráfego aéreo no território brasileiro. Com o mesmo percurso e as mesmas etapas intermediárias (início em Fernando de Noronha e Recife e final em Santa Vitória do Palmar), a agora denominada Aéropostale tomou para si a autorização e as atividades de sua e~tinta an tecessora. A mudança de nome para Compagnie Générale Aéropostale não foi um simples fato; envolveu uma série de eventos e, em última análise, significou uma perda para Pierre Latécoere, pois seu nome já não constava da nova razão social. Para compreender o que realmente se passou, é necessário voltar no tempo. Desde 1925, Latécoere vinha cogitando de uma autorização de linha aérea no Brasil, que, aliás, já lhe havia sido negada pelo Governo Brasileiro. Depois intentou, através da Companhia Brasileira de 217


Empreendimentos Aeronáuticos, pretendendo fazer dela uma subsidiária. Igualmente não conseguiu, em virtude de o Tribunal de Contas ter negado registro ao contrato. Enquanto isto, o dinheiro esvaía-se, e Pierre Latécoere via esfumarem-se os seus sonhos de estender sua linha até Buenos Aires, a partir do Brasil, onde, aliás, seria feita quase que a totalidade do percurso. Latécoere, que já havia desembolsado cerca de dois milhões de francos de sua propriedade, além de duzentos mil que o governo francês subsidiara, determinou ao Príncipe Murat, que estava no Brasil como chefe da Missão Latécoere, para formalmente desistir de tudo e fazer retornar à França o pessoal e o material que aqui se encontrassem. Ao seu regresso, o Príncipe Murat aconselhou o titular da empresa a que ele próprio viesse ao Brasil, a fim de defender pessoalmente os seus interesses. E assim aconteceu42 • A 3 de dezembro de 1926, Latécoere desembarcava no Rio de Janeiro. Logo à sua chegada, foi informado de que havia no Brasil alguém que poderia auxiliá-lo. Era um francês que há vinte e cinco anos dirigia um imenso conglomerádo franco-sul-americano, com ramificações no Brasil, Uruguai e Argentina. Seus vários negócios incluíam construção de portos e vias férreas, exploração de minas, etc., enfim uma gama bem ampla de atividades, e em todas obtinha, invariavelmente, grande êxito. Seu nome, Marcel Bouilloux-Lafont. Latécoere não conseguiu, de imediato, entusiasmar Lafont no negócio de aviação, realmente um assunto que, naquela época, mais trazia a marca instável do aventureirismo do que a certeza dos cifrões. Mas Lafont não se furtou ao apelo de seu conterrâneo, prontificandose a respaldar as solicitações de Latécoere junto às autoridades brasileiras. Mas todo o seu prestígio não foi suficiente para modificar o ato denegatório do Tribunal de Contas brasileiro. Era praxe que as decisões do Tribunal poderiam ser objeto de reavaliação por três vezes, e o Orgão, já por duas, mantivera-se firme na negativa. Mudar na terceira, sem haver apresentação de fatos novos, poderia sugerir que o Tribunal se deixara levar por influências estranhas, e, assim, o pedido francês foi denegado pela última vez. Pierre Latécoere já estava prestes a retornar à França quando. Lafont insistiu com ele para que juntos fossem à · Argentina, onde as pretensões gaulesas talvez encontrassem melhor guarida. Recebidos pelo Presidente Alvear, foi imediatamente concertado um contrato que dava à Latécoere a exclusividade do correio aéreo entre a Argentina e a Europa, até um máximo de 25% do total de correspondência. Pierre Latécoere retorna à sua pátria e tenta interessar o governo francês nesse acordo com a Argentina, pois os dois milhões de francos que desembolsara estavam a fazer-lhe muita falta, e ele sozinho não poderia fazer novos investimentos. Lafont, espírito empreendedor e grande homem de negócios, pensou melhor sobre sua recusa de par218


tlclpar do negoclO de aVlaçao, principalmente após a boa aceitação por parte do governo argentino. Começou a estudar os relatórios da Latécoere, e paulatinamente foi mudando de opinião. Quando Pierre Latécoere ofereceu participação ao governo francês, e este mostrou desinteresse, Lafont, a esta altura já intensamente motivado, apressou-se em aceitar a oferta e assumiu a empresa aérea, talvez uma das poucas atividades de que ainda não havia participado. Muda o nome Latécoere para Aéropostale e consegue, como vimos, autorização do Governo Brasileiro para operar em nosso território, a partir de 14 de fevereiro de 1928. 2 -

A Compagnie Générale Aéropostale

Daí para diante, o nome Latécoere passa a ser somente o dos aviões que ele construía na sua fábrica em Toulouse; retira-se da Linha, sonho que idealizou e acalentou com tanto carinho, e volta a ser apenas o engenheiro-construtor. Bouilloux-Lafont assume inteiramente o controle da antiga Compagnie Générale e imprime-lhe a sua marca, desenvolvendo .atividades da Aéropostale num ritmo sempre cre~cente. O vôo postal Paris-Buenos Aires foi inaugurado em 1 de março de 1928, aproveitando o segmento Natal-Buenos Aires que vinha sendo operado desde 14 de novembro de 1927. Para ajudá-lo nessa tarefa, a Aéropostale usou, inclusive, seis destróieres-caça-suhmarinos da marinha francesa: le Révigny, l'Épernay, le Reims, le Luneville, le Péronne e le Bellort. Esta situação perdurou por cerca de dois anos e meio, os destróieres fazendo o trecho Dacar-Natal em aproximadamente quatro dias e meio. De Natal em diante, a mala era transportada pelos aviões. A idéia foi aperfeiçoada a partir do fim do ano de 1930, sendo os destróieres substituídos por barcos especialmente desenhados para essa função, que tomavam o nome de Aéropostale I, 11, etc., à medida em que iam sendo incorporados. Estes navios diminuíram para apenas trinta e seis~ horas o trecho Dacar-Natal. E ainda mais outros foram empregados nesta tarefa, como Bem-te-vi, o Becligue, o Cicogne e o Plochée. A Linha, tão sonhada por Pierre Latécoere, começava a ganhar vulto, só que agora sob a orientação de Lafont. Em 15 de julho de 1929, chegava a Santiago do Chile, e, com outras rotas, ao Peru, à Bolívia e à Venezuela. No final da década de vinte, a Aéropostale ocupava os céus da América do Sul. Na Argentina, o relacionamento entre o governo e a Aéropostale era dos melhores, tanto que a Companhia foi autorizada a fundar uma subsidiária, a Aéroposta Argentina; subvencionada pelo governo platino, servia à Patagônia, com rotas de integração, e ainda realizava algumas outras linhas interiores. 219


Fig. 93 -

Mala Postal da Aéropostale.

A 16 de abril de 1928, a história da Aviação Comercial registra um grande passo. Decolando do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro com um aparelho Latécoere 26, Jean Mermoz inicia o primeiro vôo noturno da Aéropostale. Partiu no meio da noite, levando dois jornalistas brasileiros. Após três horas de viagem, chegaram a Santos, cujo campo havia sido previamente assinalado por três pontos de fogo, em triângulo, que o piloto francês havia mandado colocar. Seguiram depois para Florianópolis, onde chegaram ao amanhecer. O dia foi todo usado para vôo com pequenas escalas em Porto Alegre e Pelotas. O início da noite apanhou Mermoz já no Departamento de Lavalleja; alcançou o Departamento de Canelones e, noite fechada, aterrou em Montevidéu, sempre se guiando pelos três fogos em triângulo, que havia solicitado acender nos campos de pouso. Mermoz, resistindo aos apelos para que descansasse, deixou o motor do Laté 26 girando. Em pouco tempo voltava ao avião. Sobrevoou o Estuário do Prata, e logo o negrume de noite rompia-se com o aparecimento das primeiras luzes no horizonte, que foram aumentando até que Buenos Aires ficou totalmente descortinada. Ultrapassados os limites urbanos, eis que surgem, novamente, os três fogos encomendados por Mermoz. O avião aterra, e uma pequena multidão precipita-se para cumprimentar o piloto francês. Estava finda a missão, e realizado o primeiro vôo noturno Rio-Buenos Aires. Imediatamente os dois jornalistas brasileiros pediram um carro para ir até uma agência de correio, donde pudessem espalhar pelo Mundo a notícia do notável feito. Os três últimos anos da década de vinte marcaram o apogeu da Aéropostale. Só no Brasil ela possuía treze aviões: dois Bréguet, dois Laté 17 e nove Laté 25, existindo, ainda, em fase de montagem, diversos outros aviões. 220


Em agosto de 1928, a Aéropostale tenta e consegue fazer a travessia do território brasileiro no sentido Leste-Oeste. Mais uma vez Mermoz parte do Campo dos Afonsos, em companhia de dois colegas, Pranville e Collenot, a bordo de um Laté 26 especialmente equipado. Pretendiam fazer um vôo direto de cerca de dois mil quilômetros, até a Bolívia, para depois retornar ao Rio , via Paraguai e Argentina, rota que a Aéropostale pretendia estabelecer. Tendo saído dos Afonsos ainda de madrugada, chegaram a Corumbá, em frente a Puerto Suárez, na Bolívia. Desta forma, o Brasil era atravessado no sentido horizontal, por primeira vez. O vôo prosseguiu para Assunção , imediatamente após uma pequena refeição dos pilotos, mas houve um contratempo e o giro completo pretendido não pôde ser realizado. Restou, porém, a travessia do Brasil. A linha bissemanal, ligando Assunção e Buenos Aires, só foi inaugurada a 1.0 de janeiro de 1929, por um outro piloto francês, Vachet. A ligação com o Chile foi feita pela primeira vez a 28 de fevereiro de 1929, com Mermoz e Collenot, num Laté 25, modificado para permitir seu vôo na altitude de 4.000 metros. A viagem teve alguns percalços, mas o caminho estava aberto. Em julho, novamente com Mermoz e Guillaumet, a rota foi oficialmente inaugurada.

Fig. 94 -

o

·· Lalé 25". da Aérupustale.

Ainda neste ano de 1929, a Aéropostale adquiriu vanos aparelhos Potez 25, biplanos, que conseguiam atingir altitudes aproximadamente de 5.750 metros. A travessia dos Andes tornava-se mais fácil. Outro grande sonho dos idealizadores da Latécoere e da Aéropostale era, sem dúvida, a travessia do Atlântico. Isto, porém, só foi realizado em 1930. Três anos antes, com o Laté 24, havia esperanças de que isto fosse possível, mas o avião não tinha capacidade de realizar 221


vôos a grandes distâncias. Por isso, a travessia fora postergada por mais algum tempo, à espera de um avião tecnicamente mais perfeito, capaz de enfrentar os milhares de quilômetros que separavam África e Brasil. As oficinas de Toulouse estavam desenvolvendo um aparelho que tomou a designação de Laté 28. Equipado com um motor de 200 cavalos, velocidade de cruzeiro de 200 km por hora, cabina para oito passageiros ou 1.000 quilos em malas postais e, o que era principal, um raio de ação superior a 1.000 quilômetros. Entretanto, essas características foram superadas: o aparelho poderia levar combustível para 4.000 quilômetros, além de um navegador, um radiotelegrafista e, ainda, as malas postais. A 12 de maio de 1930, o Laté 28, que havia passado por várias provas em território europeu, levantou vôo do Senegal. O "Comte de La Vaulx", nome com que Mermoz o havia batizado, trazia a primeira mala de correspondência transoceânica do Mundo, com 130 quilos de peso. A mil quilômetros de Dacar, estava o Phocée e, a outros mil de Natal, o Bem-te-vi, navios que a Aéropostale havia designado para prestarem eventual auxílio a Mermoz. Exatamente nas posições previamente demarcadas, os dois navios foram localizados e, entre estes e o avião, mensagens foram trocadas. O vôo continuava tranqüilo. Na manhã do dia 13 de maio, o primeiro avião da Aéropostale a fazer uma travessia do Oceano Atlântico amerissava suavemente nas águas do rio Potengi, em Natal, Rio Grande do Norte. Transportados os sacos de correio para outro avião, 45 minutos depois este decolava rumo ao Sul, cujo ponto final seria Santiago do Chile.

Fig. 95 -

o

Laté 28, "Cmte de la Vaulx", na primeira travessia do Atlântico Sul.

Estava batido o recorde mundial de distância em hidroavião. A travessia do Atlântico Sul fora feita em vinte e uma horas. Os tempos totais foram de dois dias para, saindo de Toulouse, atingir o Brasil; 222


três dias e meio para chegar à Argentina; e mais vinte e quatro horas para chegar à capital chilena. No Brasil, a principal base operacional dos aviões da Aéropostale ficava no Campo dos Afonsos, em acordo com o Ministério da Guerra. Outros campos vinham sendo preparados, desde o início das operações francesas no Brasil. Alguns operavam de maneira precária, e outros encontravam-se em fase de construção. Entre estes últimos, os de Natal, Recife, Maceió, Salvador, Caravelas, Vitória, Santos, Florianópolis, Porto Alegre e Pelotas.

3 -

A Companhia Aeronáutica Brasileira

Esta companhia desempenha um papel muito importante na aviação brasileira e sua existência parece, à primeira vista, um tanto confusa. Na verdade era uma empresa que se destinava precipuamente a construir os aeródromos de que tanto necessitava a Aéropostale, e isto ela o fez, durante dois anos. Criada em 1928, operou na sua especialidade até 1930, quando requereu e obteve ({permissão para estabelecer o tráfego aéreo comercial no Território Nacional, podendo estender as suas linhas até o Uruguai e Argentina e as Guianas, caso obtenha para este fim a autorização dos respectivos Governos. Este era, em essência, o Decreto n.O 19.115, de 14 de fevereiro de 1930, assinado pelo Presidente Washington Luiz e referendado por seu Ministro da Viação e Obras Públicas, Victor Konder. A Companhia, por todos os títulos brasileira, dois meses e dois dias após, realiza uma Assembléia Geral e muda sua razão social de Companhia Aeronáutica Brasileira para Companhia Aeropostal Brasileira. Este fato foi reconhecido pelo Governo do Brasil através de um outro Decreto, o de número 19.280, de 11 de julho de 1930, que, em seu artigo único, reza: "fica reconhecida sob a denominação de Companhia Aeropostal Brasile~ra a sociedade anônima constituída sob o nome de Companhiq. Aeronáutica Brasileira e à qual foi concedida permzssao pelo decreto n." 19.115, de 14 de fevereiro do corrente ano, para estabelecer tráfego aéreo no território nacional. JJ

JJ

Já se vê que a companhia que construía aeroportos para a empresa francesa acrescentou ao seu ramo a capacidade de operar tráfego aéreo, fazendo concorrência à firma francesa que já operava neste ramo e que era, também, a contratante de seus serviços. E ainda, como se isso não bastasse, pouco tempo depois (após de obtida a concessão do tráfego aéreo), muda seu nome para Aeropos tal. 223


4 -

O Grupo Compagnie Aéropostale -

Companhia Aeropostal

Pelotas, no sul do Estado do Rio Grande do Sul, era uma das escalas da Aéropostale, no rumo Buenos Aires e, posteriormente, Santiago do Chile. Ali, em 1928, a Aéropostale inaugurou uma agência, em cerimônia que contou com a presença do Intendente (assim se chamavam os prefeitos), do agente, Sr. A. Perret e do diretor comercial da Compagnie, Dr. Edmundo de Oliveira. Este último, em seu discurso de saudação, referindo-se às instalações de terra, revela: « ••• Além disto, dispõe (a Aéropostale), no percurso total de suas linhas, de cerca de trinta aeródromos e respectivas instalações terrestres, aí compreendidos: hangares, oficinas, casas para pilotos, estações radiotelegráficas de ondas curta e longa, etc. No Brasil, como sabeis, parte dessa tarefa está confiada à Companhia Aeronáutica Brasileira, empresa nacional, com capital de 4 .000 contos, que já está autorizada a elevá-lo até 10.000 cont%~~ A Companhia Aeronáutica Brasileira era, por conseguinte, referida como empresa nacional. Num relatório à Assembléia Geral Ordinária da Companhia Aeronáutica Brasileira, apresentado em 17' de junho de 1929, dois diretores da empresa expuseram um quadro que já demonstrava a intenção de fazê-la operar tráfego aéreo em futuro próximo, o que realmente aconteceu um ano depois. Diziam os diretores Sampaio Corrêa e Augusto Ramos: ( ... ) ({nosso primeiro exercício social, encerrado em 31 de dezembro último: este exercício caracterizouse principalmente como uma fase de organização e foi inteiramente consagrado à instalação, ao longo da extensa costa brasileira, de Natal a Pelotas, e sob o regime do decreto n.O 16.983, de 22 de julho de 1925, de campos de aviação, cuja quase totalidade está atualmente terminada. No Rio de Janeiro somente instalamos um campo de socorro, por isto que conseguimos dos serviços militares de aviação, por intermédio do Sr. Ministro da Guerra, a quem renovamos aqui os nossos agradecimentos, permissão para utilizarmos em nossos serviços o Campo dos Afon50S e de ali instalarmos um hangar para os nossos aviões. Ao mesmo tempo em que executávamos todos os nossos trabalhos de preparação de terrenos, para sua utilização em campos de aviação, a Companhia Auxiliar Rádio Emissora do Brasil procedia, de acordo conosco, à instalação, em todos os campos, de estações de emissão e de recepção radiotelegráficas, absolutamente indispensáveis à perfeita execução de qualquer serviço comercial aéreo. Aguardando o momento de pormos em execução os serviços de linhas aéreas, para passageiros e carga postal, que temos em vista e já se acham em estudos adiantados - e conforme o combinado previamente com a Cie. Générale Aéropostale, concedemos a essa companhia, mediante uma remuneração determinada, o uso dos nossos campos, para o servIço da linha internacional França-América do Sul. Nossos acor224


dos com a CG.A. reservam aliás todos os nossos direitos no que concerne à nossa própria exploração." Havia, portanto, bons entendimentos com a companhia francesa. Mil novecentos e vinte e oito foi realmente um ano de expansão para a Companhia Aeronáutica Brasileira . Em outubro ela obteve uma ampliação de sua autorização anterior , mediante um Aviso do Ministro da Viação, cujos termos principais são : "O Sr. Ministro da Viação ( ... ) resolveu conceder-lhe autorização, a títuló precário e pelo prazo de um ano, para utilizar os aviões da Compagnie Générale Aéropostale em viagem de estudos das linhas aéreas que pretende ulteriormente explorar, f.azendo as ligações Rio-São Paulo-Curitiba, com possível desenvolvimento até o sul do País, e Rio-Belo Horizonte-Goiás (Planalto Central), até a fronteira com a Bolívia, o que corresponde a uma ampliação da autorização em cujo gozo se encontra esta última companhia, em virtude da Portaria de sete de março do corrente ano ( ... )" Como se vê, a Companhia Aeronáutica Brasileira iniciou construindo aeroportos; pleiteou e conseguiu autorização para operar tráfego aéreo; conseguiu aumentar seu raio de ação, ou seja, tornava-se uma concorrente da Aéropostale. Mas esta, ao que se deduz, não só aceitava a situação, como até incentivava o desenvolvimento da Companhia Aeronáutica Brasileira. Que, finalmente, muda de nome para Companhia Aeropostal Brasileira. Esta sucessiva mudança de razões sociais e de objetivos da empresa; esta estranha simbiose entre as duas firmas, uma brasileira e outra francesa; tudo estava a indicar que, por trás de uma e outra , havia um único grupo econômico. Quem elucida a questão é Jean-Gérard Fleury, em seu livro A Linha. Mas o que assegurava uma posição ainda mais sólida à linha era a infra-estrutura. Assim como os automóveis não podem circular sem estradas, os aviões devem dispor de campos numerosos e bem conservados, ligações radioelétricas com o solo. Na Europa, os próprios países estabelecem estas instalações. Na América do Sul, a Aéropostale teve de criá-las, Dois parágrafos adiante, o jornalista francês é mais explícito: "As sociedades, associadas ou filiais locais da Aéropostale, tinham comprado, preparado e organizado esses campos de aviação .. Algumas tinham até empenhado seus próprios fundos para acelerar a construção". Mas, se dúvidas ainda pudessem subsistir sobre a verdadeira natureza das relações entre as duas empresas, seriam elas desfeitas através de uma publicação da época. A revista Aeronáutica, ((órgão oficial do Aero Club Brasileiro" , foi bem clara e precisa quanto ao assunto. Em sua edição de junho-julho de 1928, contém matéria dedicada exclusivamente à Com pagnie Générale Aéropostale, desde sua origem até aquela data. Depois de várias considerações sobre a companhia francesa, acrescenta: "Também para as organizações de terra, como campos de 225


avzaçao, hangares, oficinas, etc., a c.G.A. cuidou desde logo de prover perfeitamente as suas necessidades no Brasil. Acha-se essa parte a cargo da Companhia Aeronáutica Brasileira, da qual também é Presidente o Sr. Bouilloux Lafont, e com quem mantém a c.G.A. contrato especial para esses serviços. Essa empresa nacional que tem na sua direção os Srs. Carlos Sampaio, Sampaio Corrêa, Saboya de Medeiros, Augusto Ramos, George Thyss e Raymundo de Burlet, projeta, além disso, instituir linhas de passageiros ligando vários Estados brasileiros, com um serviço regular. JJ Está assim esclarecido o porquê das similitudes e coincidências.

226


CAPÍTULO 6

O ADVENTO DAS EMPRESAS AÉREAS NO BRASIL INFLUÊNCIA NORTE-AMERICANA

1 -

A Empresa de Transportes Aéreos , ETA & Cia . Ltda.

ICA concedida à sociedade mercantil brasileira Empresa de Transportes Aéreos, ETA & Companhia Limitada, com sede nesta Capital, a permissão para estabelecer o tráfego aéreo comercial em território nacional." Este o artigo único do Decreto n.O 18.625, de 1 de março de 1929, assinado pelo Presidente da República Washington Luiz P. de Souza e referendado pelo Ministro Victor Konder, que permitiu, oficialmente, que a empresa brasileira pudesse funcionar.

F

A ETA havia sido fundada um pouco antes - a 10 de agosto de 1928 - por Rui Vacani e os irmãos Alexandre José Braga e Benjamin Braga, e seus planos eram ambiciosos para a época: uma linha entre Rio de Janeiro e São Paulo; uma outra ligando a então Capital Federal a Campos, no interior fluminense; e outra atingindo Belo Horizonte e Pirapora, em Minas Gerais. A história desta companhia genuinamente brasileira, pois nacionais eram seus fundadores e o seu capital, começa em 1927, e envolve um plano de autoria de um empresário norte-americano, de nome Ralph O'NeiIL O homem de negócios estadunidense queria habilitar-se a uma concorrência que o Departamento de Correios norte-americano iria abrir dentro de algum tempo, e que envolvia uma quantia vultosa para a época: seis rriilhões de dólares. Pretendia o órgão postal norte-americano usar linhas aéreas que levassem suas malas em direção à América do Sul. Com a intenção de concorrer, O'Neill iniciou uma estratégia que se desenvolvia em duas direções. Uma, a criação de empresa estaduni227


dense que seria a parte principal do empreendimento, e com a qual pretendia vencer a concorrência; outra, iniciava uma busca de empresas já existentes ou por se formarem, nos países por onde as linhas deverIam passar. Sabedor de que no Brasil o grupo nacional pretendia fundar uma companhia de navegação aérea, Ralph O'Neill iniciou seus contatoS com os dirigentes da empresa que, mais tarde, em 1928, viria a ser a ETA. Houve duas aproximações naquele ano de 1927, uma em junho e outra em dezembro,e o negócio ficou apenas esboçado, pois havia exigências por parte do grupo brasileiro, com as quais O'Neill não concordava, principalmente do ponto de vista financeiro. Por outro lado, para que qualquer negociação fosse levada a bom termo, era indispensável que a companhia brasileira (que ainda nem se havia formado) possuísse exclusividade na exploração de linhas aéreas em Território Nacional. Isto conseguido, os norte-americanos fariam, então, um sistema de tráfego mútuo ou, simplesmente, comprariam a empresa brasileira, com suas respectivas linhas. Como se depreende, todas as negociações eram feitas na base de conjecturas e suposições, pois havia várias condicionantes a serem levadas em conta, principalmente de parte do Governo Brasileiro, que, de acordo com a legislação do País, não concedia autorização para exploração de linhas aéreas com cláusula de exclusividade. De qualquer forma, tanto um grupo Como o outro foram levando avante suas idéias. O'Neill formou uma empresa nos Estados Unidos da América, com nome que expressava a confiança de conseguir o que pretendia: a New York, Rio & Buenos Aires Line Inc.; no Brasil, Rui Vacani e os irmãos Alexandre e Benjamin Braga continuavam a implementar o projeto de sua companhia de navegação aérea brasileira. As diversas etapas foram sendo vencidas: a fundação deu-se na metade de 1928, e a permissão para o tráfego aéreo a 1 de março de 1929. Em 12 de junho de 1929, com situação inteiramente regularizada, a ETA obtinha a autorização para fazer b transporte aéreo de correspondência entre o então Distrito Federal (Rio de Janeiro), Campos (RJ) e São Paulo. O documento que a habilitou foi a Portaria n.o 844, da Diretoria Geral dos Correios, que também mandava as agências postais daquelas cidades receberem toda a correspondência transportada via aérea, pela ETA, e, imediatamente, realizar a respectiva entrega aos destinatários. Estes serviços foram mantidos por pouco tempo, com freqüência trissemanal, pois a nova companhia aérea não se comprometia a realizar os vôos com retorno no mesmo dia. No mês seguinte, julho de 1929, a.ETA já se propunha ampliar suas linhas, amparada no Decreto Legislativo 5.628, de 31 de dezembro de 1928, que autorizava o Poder Executivo, entre outras coisas, a contratar estabelecimento e exploração de várias linhas de serviço aéreo, e, 228


em seu artigo terceiro, igualmente autorizava à empresa contratante do serviço uma subvenção anual, fixada no respectivo contrato, de acordo com a extensão de cada linha. Esta subvenção foi o fulcro, por muitos anos, para as companhias fazerem iniciar e terminar suas linhas em pontos extremos do Território Nacional. A ETA percebeu a vantagem e, imediatamente, propôs-se a estabelecer o tráfego do Rio de Janeiro até Cruzeiro do Sul, no Território do Acre, via Belo Horizonte; e mais, com ramificação por todo o País até suas fronteiras. Ao mesmo tempo, a ETA dava início à ligação Rio-São Paulo, fato noticiado por A Gazeta, de São Paulo, em sua edição de 30 de julho de 1929, o que faz supor ter a viagem ocorrido no dia anterior, 29 de julho. O avião que inaugurou a linha decolou do Campo de Manguinhos, no Rio, às doze horas, e chegou ao Campo de Marte, em São Paulo, às 15 horas e 45 minutos. Era um monoplano Klemm biplace, com motor Salmson, conduzido pelo piloto Hans Gusy. A Gazeta, em sua edição de 2 de agosto, noticiava a realização da segunda viagem entre as duas capitais e, na de 30 do mesmo mês, dá conta da chegada de um avião Klemm, sob o comando do piloto Erler. A ET A operava com 3 aviões Klemm, que foram registrados em dezembro de 1928: um L 20, matrícula P-BBAA, e dois L 25, matrículas P-BBAC e P-BBAD.

figo 96 -

o "Klemm" da ETA.

Em 1929, no mesmo ano em que a ET A dava início às suas atIVidades, o já referido empresário norte-americano Ralph O'Neill fundava também a sua companhia, a New York, Rio & Buenos Aires Line Inc., e passou a operar a linha com aerobotes que traziam na fuselagem as iniciais N.Y.R.B.A . (isto contribuiria para que a empresa ficasse conhecida por aquela sigla e, mais tarde, quando o empresário norte-ame229


ricaqo veio a fundar uma subsidiária no Brasil, esta tomasse o nome de Nyrba do Brasil). A ETA, enquanto isto, prosseguia sua trajetória de companhia brasileira em busca de expansão. Com o pedido para estender suas linhas por todo o Território Nacional já encaminhado, tratou de prover sua frota com novos equipamentos até então modestamente representados por 3 aviões Klemm. Para isto, mandou um seu representante aos Estados Unidos, a fim de contatar a fábrica de aviões Fairchild Co. e examinar a possibilidade de adquirir aparelhos. Segundo relata José Garcia de Souza em seu livro A Verdade sobre a História da Aeronáutica, o representante da ETA foi procurado, logo à sua chegada, por um elemento da Standard Oil Company, que lhe propôs um encontro com um representante de outra firma, que poderia fornecer os aviões de que a ETA necessitava. Na verdade, tal representante não era outro senão um diretor da New Y ork, Rio & Buenos Aires Line, que não queria vender aviões, mas simplesmente adquirir a ETA. Era a segunda parte da estratégia de O'Neill, de que falamos anteriormente. Após conversações, a transação foi aceita pela ETA, num negócio que envolvia a importância de 250 milhões de dólares, sendo 10 milhões à vista e os restantes 240 quando o contrato fosse assinado. Os 10 milhões foram entregues aos representantes da ETA no dia 8 de agosto de 1929, e o contrato foi assinado no dia 13, sem registro, entretanto, de que os 240 milhões foram realmente repassados. Os fatos iam-se sucedendo com rapidez, e a concorrência pública dos Correios norte-americanos, prevista para 1 de outubro de 1929, terminou não se concretizando, sendo adiada para o ano seguinte. Com isto a New York, Rio & Buenos Aires Line teve postergados os seus planos, o que, em última análise, se constituiu em sério revés. Ao mesmo tempo, revendo o contrato assinado com a ETA, os advogados de O'Neill verificaram que os termos do contrato assinado em 13 de agosto passaram a não ter valor perante a lei brasileira, posto que uma exclusividade de linhas nacionais, pleiteada pela ETA ao Governo Brasileiro, e julgada por O'Neill como essencial para o sucesso da N.Y.R.B.A. no Brasil, tanto que constara como cláusula, não tinha sido concedida. Por isso, O'Neill resolve denunciar o contrato, e o caso foi às barras dos tribunais, arrastando-se por vários anos. Entrementes, a New York, Rio & Buenos Aires Line resolve entrar no mercado brasileiro por outra porta, e funda sua subsidiária Nyrba do Brasil, S.A. Face a isto, a ETA deve ter-se desinteressado pelo comércio da navegação aérea, pois suspendeu seus vôos e promoveu a venda de dois Klemm L 25, de prefixos P-BBAC e P-BBAD à VARIG, em 16 de novembro de 1929. Com o novo proprietário, os aparelhos tiveram suas matrículas modificadas para PP-VAA e PP-VAB, respectivamente, após a adoção da nova fórmula de registro de aviões, em que os P foram trans230


formados em PP, designativos de aparelhos comerciais, em vigor a partir de 1932. Quanto ao primeiro dos aviões, o Klemm L20, prefixo PBBAA, nunca mais se soube de sua existência. A história da ETA; como se vê, é um capítulo obscuro e bastante confuso na aviação brasileira. Que ela estava autorizada a operar, é um próprio decreto do Presidente da República que o confirma; que chegou a realizar alguns vôos, são relatos de órgãos de imprensa que o asse~ guram. Entretanto, o seu nome não consta de qualquer publicação do Departamento de Aeronáutica Civil, onde são arroladas as permissões e concessões do Poder Público. Talvez a melhor prova de sua existência tenha sido a emissão de selos postais para serem usados no transporte de correspondência aérea. Valendo-se de uma autorização do Congresso Nacional, através de uma Lei de 31 de maio de 1925, para que o Poder Executivo, via Casa da Moeda, emitisse selos com aquela finalidade, a ETA solicitou e conseguiu a emissão de uma série de estampilhas, a exemplo do que também fora concedido à VARIG e ao Sindicato Condor. Os selos da ETA traziam a figura de um avião vermelho. É o registro real, embora melancólico, das atividades daquela empresa genuinamente brasileira. 2-

A New York, Rio & Buenos Aires Line Inc. (N.Y.R.B.A.)

Duas empresas aéreas americanas pleitearam, em 1929, permissão para operar em território brasileiro. Muito embora, cronologicamente, a primeira autorização legal tenha sido outorgada à Pan American Airways Inc., e só cinco meses maís tarde à New York Rio & Buenos Aires Line Inc., coube a esta última a primazia de uso efetivo do direito concedido. Isto numa época em que as primeiras empresas, implantadas desde 1927, procuravam firmar-se na disputa de um mercado incipiente, quase restrito ao transporte de malas postais. Natural, portanto, que a entrada em operação de mais uma congênere, muito mais capitalizada, acarretasse choques de interesses. E foi o que ocorreu, vinculando o início das atividades da New York, Rio & Buenos Aires Line Inc. à operação da modesta empresa brasileira ETA. A história da empresa aérea New York, Rio & Buenos Aires Line Inc. (N.Y.R.B.A.) e da sua presença nos céus do Brasil começa com a personalidade empreendedora de seu idealizador e fundador Ralph O'Neill. Ele foi um conceituado às da Primeira Guerra Mundial, várias vezes condecorado, o que lhe valeu ser chamado a cooperar na organização da Força Aérea Mexicana, tarefa de que participou durante cinco anos, entre as funções de orientador e assessor. Em 1927 tornou-se representante da Boeing Airplane Company para toda a América Latina. Nos últimos três anos da década de 20, começara realmente a expansão do transporte aéreo no Brasil, e as nações estrangeiras produ231


toras de equipamentos cedo perceberam que os investimentos naquele setor deveriam merecer prioridade. Era o tempo dos grandes reides, num efeito-demonstração das possibilidades do transporte pelo ar. Naquela época, as cidades do Rio de Janeiro e de Buenos Aires constituíam-se nas capitais mais prósperas e de maior importância comercial no conjunto das nações da América Latina. Natural, portanto, que os homens engajados na implantação do transporte aéreo internacional cogitassem de uma ligação entre Nova Iorque, Rio e Buenos Aires. Ralph O'Neill, com projeto ambicioso de promover uma ligação aérea entre Argentina, Brasil e Estados Unidos, destinada ao transporte aéreo de mala postal, percebeu de pronto a necessidade de entendimentos com o nosso País. Em junho de 1928, depois de acertos iniciais com a Argentina, onde foi recebido pelo Presidente Hipólito Irigoyen, partiu para o Rio de Janeiro, a fim de aqui tratar dos pormenores do empreendimento a que se propunha concretizar. Em julho, verificava-se o primeiro contato com a ETA, visando a adquiri-la, no que não obteve sucesso. Preocupado em assegurar suporte financeiro para seu empreendimento, O'Neill volta para os Estados Unidos, onde consegue adesões da maior importância para concretização de seus negócios. Jame~ Rand, da Remington Rand Corporation, assegura-lhe financiamentos de vulto e chega a propor-lhe que a empresa se denominasse Trimotor 5afety Airways, sendo dissuadido pela contraproposta de O'Neill, segundo a qual, a exemplo das ferrovias, o nome deveria sugerir a própria seqüência geográfica das principais cidades servidas pela linha. Reuben Fleet da Consolidated Aircraft compromete-se a fornecer-lhe aviões bimotores Commodore; seu amigo Almirante Moffet garante-lhe pronta entrega de aviões 5ikorsky 5-38, para cobrir a rota, enquanto estivessem em produção os Commodore. Em dezembro de 1928, regressa ao Rio de Janeiro e tem um segundo contato com a ETA, quando foi discutido o teor do complexo contrato assinado em Nova Iorque. Em face do critério adotado pelo Presidente Calvin Coolidge, de que o transporte de mala postal na rota sul-americana seria através de concorrência pública, as chances de O'Neill de ser o vencedor cresceram em fins de fevereiro de 1929, por ter recebido do governo argentino o contrato de transporte de correspondência postal para os Estados Unidos. A posse desse documento acelerou o processo de organização da empresa e precipitou importantes adesões ao empreendimento. Em 17 de março de 1929 é formalmente fundada, no Estado de Delaware, a New York, Rio & Buenos Aires Line Inc. No ato de fundação, a ela associaram-se Frank C. Munson, da empresa de navegação marítima Munson; William B. Mayo, da Ford Company, cuja eleição para uma 232


das diretorias consolidou a encomenda de seus aVlOes trimotores Ford; da International Founders; e Lewis Pierson, da Irving Trust. Mais tarde a eles se juntaram dois dissidentes da Pan American , Richard Bevier e J. K. Montgomery , representando uma hipotética empresa American International Airways. A participação de tantos representantes do forte empresariado americano proporcionou à N.Y.R.B.A . investimentos da ordem de 8.500.000 dólares . O primeiro vôo exploratório, ligando Nova Iorque a Buenos Aires, foi realizado por O'Neill entre os dias 11 de junho e 13 de julho de 1929, no avião Sikorsky S-38, Washington . Verdadeira viagem de estudos, foi fundamental para contato com as autoridades dos países envolvidos e preparação da infra-estrutura necessária às futuras operações regulares, quando em serviços os aviões Commodore. Em 1 de agosto de 1929, utilizando um dos novos trimotores Ford no cruzamento da Cordilheira dos Andes, um segundo vôo exploratório encerra a fase de experiências, e marca o início da implantação e expansão das linhas com vistas à ligação global Argentina-Estados Unidos . Como requisito fundamental desse desenvolvimento , a concessão para operar em território brasileiro foi obtida por O'Neill, através do Decreto n.o 18 .951, de 15 de outubro de 1929. Autorizações anteriores de chilenos e uruguaios permitiram estabelecer linhas e expandi-las progressivamente, completando-se a ligação Estados Unidos da América-Argentina em seis meses, segundo o quadro abaixo:

J. E . Reynolds,

Ano

1929

1930

Dia e Mês

21-AGO l-SET 29-NOV 23-DEZ 19/ 25 -

FEV

Equipamento

Sikorsky S-38 Ford Trimotor Sikorsky S-38 Commodore Sikorsky S-38 Commodore

Etapa

Freqüência

Montevidéu-B. Aires 2 vôos/dia Buenos Aires-Santiago 2 vôos/ sem B. Aires-Yacuiba (Bolívia) Rio de Janeiro-B. Aires Miami-Buenos Aires

2 vôos/ sem

A 4 de dezembro de 1929 , assume a presidência do Conselho de Administração William P. Mc Cracken, importante figura da política americana e ex-Secretário Assistente do Comércio para Assuntos Aeronáuticos, o que veio a trazer maior prestígio à Empresa, facilitando-lhe a obtenção de novas autorizações. A pujança econômica da Argentina justificava o interesse de americanos e europeus em estabelecerem linhas aéreas internacionais que atingissem também aquele país. 233


A partir de fevereiro de 1930, com base em eficiente sistema logístico de apoio, a operação atingiu excelentes índices de regularidade, em que pese a grande distância a ser coberta entre os pontos extremos da rota.

Fig. 97 -

o

"Commodore" da N. Y . R . B. A . LlNE.

Entretanto, cedo ficou evidente que, embora sólida, a economia argentina, mesmo aliada às do Brasil e Uruguai, não alcançava a massa crítica de recursos indispensáveis ao suporte do empreendimento imaginado rentável por O'Neill. Daí a sua luta para conseguir subsídios governamentais americanos, principalmente os que pudessem fluir da Diretoria Geral dos Correios. Para seu desespero, no entanto, o Diretor Geral dos Correios, Walter F. Brown, nomeado pelo Presidente Hoover, tinha outras preferências: alocá-los à Pan American Airways Inc., uma das concorrentes nos Estados Unidos da América. Em abril de 1930, sem subsídios e ainda arrastando as conseqüências da crise de Wall Street, no final do ano anterior, a N.Y.R.B.A. começa a acumular prejuízos, o que levou o Presidente do Conselho de Administração, Mac Cracken, a propor conversações para fusão da empresa com a Pan American. Após quatro meses de penosas discussões, totalmente desfavoráveis à N.Y.R.B.A., em 19 de agosto de 1930 inicia-se o processo de fusão. No dia seguinte, a Pan American Airways Inc. recebe da Direção Geral dos Correios a exclusividade do transporte de malas postais para toda a costa oriental da América do Sul, mediante a subvenção de dois dólares por milha voada. Em 15 de setembro de 1930, com a transferência das ações, competia-se a absorção formal da N.Y.R.B.A. pela Pan American. 234


UNHAS DA N.Y.R.B.A. ll929 -1930) Soo Juon -~~-St

Toamos

Anliguo

~ ~~-'Q

". "",

Sto Lucic Porlof Spoin ~eorgetowr: ,

"

~. (:,..,.. >.~ :, ~~~m.Onbo

_: _ __ -'

--

o ,

400 I

200

!

:

__' __ -'_ __

I

Montenegrc, São LUIs - Fortolezc atol Paraíba!;) Rem Moceiô :t\rocaju

800

!

,

600

'i

/lPOO

Escol'o , Mililos Terre~,s

Fig. 98 -

Linhas da N . Y . R . R . A ,

Encerraram-se, assim, após breve período de promissor sucesso, as atividades de uma empresa americana , cuja razão social legalmente registrada no ,Brasil era N ew York, Rio & Buenos Aires Line Inc ., o que não impediu fosse mais conhecida nos meios aeronáuticos por N.Y.R.B .A. O fato de a sigla sobrepor-se à correta denominação analítica pode ser imputado à própria empresa. Como organização, cuja atividade-fim era o transporte aéreo, nada mais natural que sua imagem - se vinculasse estreitamente ao equipamento aéreo utilizado na operação. Ora, por decisão dos responsáveis pela direção, todos os aviões da New York, Rio & Buenos Aires Line Inc. ostentavam, de cada lado da fuselagem, a inscrição N.Y .R .B.A., num apelo direto ao observador para identificar a empresa através da fácil acrossemia .

3 -

A Nyrb a do Brasil,

SI A

A força da sigla crescia na exata dimensão dos resultados alcançados pela empresa. Na crista dos sucessos ,- não havia como deixar de associá-la aos critérios de eficiência administrativa e êxito empresarial. 235


Impunha-se, também, utilizar o prestígio, principalmente para harmonizar cláusulas contratuais a serem pactuadas com os diversos estados, os quais possuíam peculiaridades jurídicas muito diferentes. Foi o que aconteceu no Brasil. Quando, em março de 1928, Q'Neill chegou ao Rio de Janeiro por via marítima, ainda na condição de concessionário da Boeing Airplane Company, mas já com planos de estabelecer ligação aérea entre as três Américas, foi recebido em audiência pelo Presidente Washington Luiz. Encaminhado ao Ministro Victor Konder, com ele estabeleceu um nível de relacionamento pessoal, acima do protocolar. Mais tarde, entre 11 de junho e 13 de julho de 1929, quando realizou a primeira viagem exploratória no avião Sikorsky S-38, Washington, intencionalmente longa para permitir contatos com autoridares de todos os países envolvidos na operação da linha Nova IorqueRio-Buenos Aires, reencontrou-se com Victor Konder. Na oportunidade, dele recebeu orientação no sentido de organizar uma subsidiária brasileira, capaz de atender integralmente às peculiaridades de nossa legislação aeronáutica. Q'Neill tratou de habilitar-se à criação da subsidiária, cuja razão social foi por ele denominada Nyrba do Brasil S/A. Pelo Decreto n.o 19.079, de 24 de janeiro de 1930, a nova empresa foi autorizada a operar em todo o Território Nacional, podendo ter prolongadas as . suas ligações para Uruguai, Argentina e Guianas, mediante a devida aquiescência dos respectivos governos. Com a publicação desse ato legal, configurou-se uma situação singular. A acrossemia N.Y.R.B.A., que a matriz americana (New York, Rio & Buenos Aires Line Inc.) usava apenas como sigla, e que não era consignada na razão social registrada no Brasil, passara, na filial brasileira (Nyrba do Brasil S/ A), a ser parte integrante da razão social da nova empresa, e assim ficara registrada no cadastro aeronáutico nacional. Em 17 de outubro de 193 0, um mês depois de completada pela Pan American Airways Inc . a absorção da New York, Rio & Buenos Aires Une Inc. e de sua subsidiária, criada meses antes, a Nyrba do Brasil S/A teve a sua razão social mudada para Panair do Brasil S/A, modificação esta formalmente reconhecida pelo Decreto n.o 19.417, de 21 de novembro do mesmo ano. 4 -

A Pan American Airways Inc.

As primeiras empresas americanas foram fundadas na expectativa de participar dos rendosos contratos de transporte de malas postais patrocinados pela Direção Geral dos Correios. A Pan American Airways Inc . não fugiu à regra. 236


Seu fundador, Juan Trippe, filho de homem rico e apaixonado pela aviação, depois de uma experiência frustrada na direção da empresa Colonial Air .T ransport, que fazia o transporte de correspondência postal entre Nova Iorque e Boston, transfere-se para Miami. Ali funda a Pan American Airways Inc., em 28 de outubro de 1927, iniciando a ligação Key West-Havana, uma linha que circunstâncias especiais tornaram rentável desde a sua inauguração, associando duas preciosas receitas oriundas do transporte de passageiros e de correio aéreo. Os Estados Unidos da América viviam sob severas restrições da Lei Seca, e Havana, onde o comércio de bebida alcoólica era livre, acabou transformando-se em pólo turístico privilegiado, atraindo levas de americanos sedentos. Com isso, os vôos para a capital cubana passaram a ter excelente índice de passageiros. O transporte simultâneo de malas postais, através de contrato com a Direção Geral dos Correios, fazia subir consideravelmente a rentabilidade dos vôos e dis'So soube valer-se Juan Trippe para aumentar as freqüências deste curto e rendoso vôo internacional. Dois meses depois de inaugurada a linha, um outro acontecimento deu a Trippe a chave para iniciar a grande expansão da Pan American Airways Inc. Charles Lindbergh, repetindo parte do histórico vôo da SCADTA, realizado há mais de dois anos, decolou da cidade do México no dia 14 de dezembro de 1927, a bordo do seu já famoso Spirit of St. Louise, depois de visitar todos os países da América Central e as principais Ilhas do Caribe, chegou a Miami no dia 7 de fevereiro de 1928. Cercado da aura popular que uma anterior travessia do Atlântico, em maio de 1927, entre Nova Iorque e Paris, já lhe tinha granjeado, este novo circuito aéreo transformou-se em um evento a servir de estÍmulo a vôos comerciais para a América Central, além de valer para Lindbergh um convite de Trippe para participar da Pan American como . consultor técnico. Portanto, depois da bem sucedida incursão aeronáutica germânica na América do Sul, no final dos anos vinte do reide experimental da SCADTA ao Caribe e a Miami, em 1925, eram agora, os Estados Unidos que avançavam para a exploração comercial de linhas aéreas naquela região; e a Pan American Airways Inc. foi o agente da estratégia. Os pequenos países, carentes de recursos para implantação de suas próprias linhas aéreas, ansiavam por investimentos estrangeiros e, em pouco tempo, viram-se totalmente integrados ao sistema Pan American. Durante dez anos houve um verdadeiro monopólio da empresa sobre as rotas internacionais do Caribe e da América Central. A expansão inicial para o sul fez-se pela costa do Pacífico em lances muito bem planejados de um xadrez político-empresarial, jogado com maestria, na medida em que os sucessivos concorrentes foram todos derrotados. O xeque-mate ocorreu com uma dupla conquista: em 237


associação com a Grace Shipping Line, a Pan American conseguiu funda!' a subsidiária Panagra e obteve o valioso contrato de transporte de malas postais com a Direção Geral dos Correios dos Estados Unidos da América. Isto facilitou-lhe conquistar ligações com Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Chile, e chegar finalmente a Buenos Aires. No Brasil, provavelmente sem o conhecimento de Ralph O'Neill, Juan Trippe obteve o certificado de operação através do Decreto 18.768, de 28- de maio de 1929 (cinco meses, portanto, antes da autorização dada à New York, Rio & Buenos Aires Line Inc.), num m@mento em que era duvidosa a sua capacidade de operação na área, tanto que O'Neill considerou irrelevante o desafio, à N.Y.R.B.A., quando dele se inteirou. Foi, entretanto, com base em reserva de direitos, que Trippe viria a absorver a rival empresa pertencente a O 'Neill , um ano e quatro meses mais tarde. A partir de 1930, a presença da Pan American Airways Inc. nos céus do Brasil foi constante, pela sua dupla condição de detentora da rota internacional para os Estados-Unidos e de controladora das ligações domésticas através da subsidiária Panair do Brasil S.A.

238


CAPÍTULO 7

AS PRINCIPAIS MEDIDAS LEGISLADORAS

1 -

As Primeiras Regras sobre Aviação

M autor francês já observou, com muita propriedade, que se o direito é o resultado das experiências acumuladas pelas gerações passadas, isso explica a dificuldade em que se acharam todos os povos , nas primeiras décadas do século , para organizar uma legislação aérea, pois, não tendo existido o transporte no tempo das gerações anteriores, estas nada deixaram como diretrizes aos pósteros. Assim, cada país foi legislando na medida em que a Aviação foi apresentando aspectos novos, à proporção em que o transporte ia tomando vulto, projetando reflexos em todos os setores da comunidade. Ao terminar a Primeira Guerra Mundial , com a experiência por ela proporcionada, a Aviação passou preponderantemente a ser orientada para a utilização comercial, impondo a fixação de novos princípios fundamentais, subsidiados pelos do Direito Marítimo. A princípio, não obstante o trabalho dos congressos de direito, a legislação surgiu vacilante, contraditória e fragmentada , do que se tem exemplo marcante em nossa legislação, que procurou antecipar-se ao fenômeno , recorrendo aos modelos mais avançados no exterior, mas sem conseqüências práticas. O fato da prec::edência do transporte internacional deu mais impulso à legislação internacional. Antes de arrumar a casa, cada um pensava em harmonizar-se com os vizinhos próximos ou longínquos. Isso deu à legislação internacional a natureza de fonte de tudo que se veio a · fazer em cada país. E é por isso que o estudo da legislação brasileira

U

239


deve partir antes dos congressos, onde se encontram as origens do que foi absorvido pelas várias legislações. As primeiras regras sobre a Aviação datam de 1899, quando a conferência então realizada em Haia emitiu a seguinte declaração:

As potências contratantes estabelecem, por cinco anos, a proibição de lançar projéteis e explosivos de bordo de globos ou outros meios análogos. 2 -

A Conferência de Paris e o Congresso de Verona, em 1910

o primeiro ato específico sobre navegação aérea resultou da Conferência de Paris, em 1910, que reuniu representantes de dezoito Estados europeus para estudar os seguintes temas de direito público: -

divisão dos aeróstatos;

-

autorização para a navegação aérea; inscrição de aeronaves; habilitação de pessoal; documentacão para aeronave; direito de aterragem;

-

alfândega;

-

assistência aérea.

Nesse mesmo ano, reuniu-se, em caráter não-oficial, um Congresso em Verona, Itália, onde se discutiram estes assuntos: soberania do espaço aéreo, nacionalidade única para as aeronaves, aterragem em propriedade particular. Esses assuntos são eternos e por isso nenhuma estranheza causa sua discussão há oitenta anos; entretanto, o que é surpreendente neles é a nacionalidade única para as aeronaves, princípio que prevalece em todas as legislações estrangeiras e na brasileira, sem nunca ter sido posto em dúvida. 3 -

A Convenção de Paris, em 1919

Com o término da Primeira Guerra Mundial, as potências aliadas e associadas, no curso da Conferência de Paz, convocaram uma assembléia, que se reuniu em Paris no ano de 1919. Nessa Conferência, de que o Brasil fez parte mas não a ratificou, embora viesse a perfilhar 240


seus pnnClplOS, foram assentados os alicerces da ' Aviação Civil. O ato aprovado por essa Conferência foi denominado Convention Portant Réglementation de la Navegation Aérienne, ficando conhecido, porém, como CINA, a partir da denominação da ComIssão Internacional de Navegação Aérea, criada pelo art. 34 da Convenção e posta sob a autoridade da Sociedade das Nações. ' Essa importante Convenç,ão, matriz de todas as que se seguiram e fonte das legislações dos diversos Estados, compreendia nove capítulos: Princípios gerais. Nacionalidade das aeronaves. Certificados de habilitação e capacitação. Tráfego sobre territórios estrangeiros. Disposições para decolagem, vôo e aterragem. Transportes proibidos. Aeronaves do Estado. -

Comissão Internacional de Navegação Aérea.

As Convenções da Década de 20

4 -

Nos dez anos que se seguiram, foram celebradas as seguintes Convenções: -

Varsóvia, para unificação de regras de transporte , e responsabilidade civil. Haia, sobre controle sanitário para , a navegação aérea. Ibero-Americana de Navegação Aérea -

CIANA.

Pan-Americana de Aviação Comercial, 1928. Todas essas Convenções fazem parte da história de nossa Aviação Civil, porque, no período que vai do primeiro emprego do avião até a avocação das atividades civis pelo Governo, nenhuma legislação nacional regia a Aviação. Os princípios aplicados pelo então , Ministério ~a Indústria 'e Obras Públicas eram proporcionados pela vasta legislação internacional então vigente, notadamente a Convenção de Paris de 1919. 241


5 -

O Decreto n.o 14.050/20

Por este Decreto, de 5 de fevereiro de 1920, foi reorganizada a antiga Inspetoria de Navegação Marítima e Fluvial, passando a denominar-se Inspetoria de Navegação, a fim de enfeixar as atividades aeronáuticas; isso no entanto só veio a resolver a parte em que se disciplinavam os fatos da Aviação, conforme consignou o art. 19:

o

Governo regulamentará o serviço de aviação, quer para as linhas internacionais, quer para as interiores, tendo em vista os princípios gerais estabelecidos na Constituição de 24 de fevereiro, com respeito à navegação de cabotagem e à não-concessão de privilégio, os regulamentos adotados em outros países e as convenções internacionais existentes, acautelados os interesses da Defesa Nacional, podendo contratar o transporte de correspondência postal, mediante o pagamento do produto ou de parte do produto qt.'e for apurado pela venda de selos especiais, cuja tabela poderá organizar.

6 -

O Decreto n.o 4.436/21

Antes da Primeira Guerra Mundial, a Aviação Civil limitava-se às práticas; desportivas, girando em torno do Aero Club Brasileiro todas as ações nesse particular. Havia manifestações em prol do estabelecimento de transporte aéreo, mas não passavam de sonhos, bem-intencionados, mas ainda fora da realidade. Após o término da guerra, voltaram os interesses pelo transporte aéreo. Mas ainda decorreriam cinco anos para que chegasse ao País o primeiro avião com esse objetivo. No entanto, ~ assunto logo se tornou preocupação do Ministério da Viação e Obras Públicas. Nos países estrangeiros, o transporte aéreo estava sendo predominantemente realizado com hidroaviões, de modo que a falta de superfície aquática nas regiões interiores constituía um obstáculo natural à chegada do avião ao hinterland. Mas, no Brasil, isso teria de ser superado, em face da vastidão de seu território e da escassez de estradas-de-ferro. Por isso, quando o Brasil ainda não contava com um mínimo de legislação aeronáutica; quando ainda não operava no Território Nacional qualquer avião ' de transporte, quando nos países mais adiantados essa aviação de transporte era ainda incipiente, o legislador brasileiro já pensava em termos de pioneirismo: ser dos primeiros a adotar o novo transporte. Foi assim que saiu o Decreto n.o 4.436, de 30 de dezem242


bro de 1921, tentando um empreendimento grandioso, que abrilhantasse os festejos do primeiro Centenário de nossa Independência. A idéia, básica, contida no Artigo 1.0, consistia em estabelecer duas ligações entre o Rio de Janeiro (então Distrito Federal) e a capital do Estado do Rio Grande do Sul, uma destinada ao emprego ' de aviões e outra, ao de hidroaviões. A primeira deveria ficar a cargo do então Ministério da Guerra, e seu traçado seria orientado pelo das vias férreas existentes na região, a fim de que os campos de pouso ficassem situados nas margens das estações ferroviárias. Aí está um dos princípios modernos de aproximar terminais, para dar unidade aos transportes. Ambas as linhas deveriam ter ao seu longo, em pontos de aterragem afastados no máximo 300 quilômetros, estações radiotelegráficas e radiotelefônicas. As dos terminais deveriam ter capacidade para intercomunicação direta. Em todos os pontos de aterragem com instalação de telégrafo ou telefone, comum QU sem fio, seriam mOntadas estações meteorológicas e aerológicas, , preparadas para o serviço de navegação. , Esse interessante projeto, que morreu no papel, não se sabe por que razões, com suas minúcias, dificilmente se pode conceber como fracassado, pois o Governo dispunha de tudo quanto se 'fazia necessário para levá-lo a .bom termo, porque até mesmo a abertura do crédito indispensável estava autorizada na lei, no valor de 4.000:000$000 (quatro mil contos de' réis). Não é demasiado transcrecer parte da lei, a fim de se aquilatar o seu caráter objetivo: ( ... ) Art, 2.° A linh'a do litoral será estabelecida, conservada e' dirigida pelo Ministério da Marinha, e a do interior, pelo da Guerra, salvo no que se refere aoi serviços de radiotelegrafia e de radiotelefonta, bem como aos de meteorologia e aerologia, que serão instalados e Obras Públicas e pelo da Agridirigidos pelo Ministério da Viação cultura, Indústria e Comércio, respectivamente. § 1.° Sempre que o Ministério da Guerra tiver necessidade de preparar um campo de aterragem em ponto do litoral onde exista ou venha a existir outro do Ministério da Marinha, as instalações ficarão a cargo do primeiro desses Ministérios. § 2.° Os telegramas das autor.idades militares sobrf( os sertJiços próprios das duas linhas aéreas, bem assim os telegramas oficiais e de assunto militar, terão preferência sobre os de caráter comum. Art. 3,° O Poder Executivo facultará a entrada nas escolas de pilotagem, a cargo de autoridades · militares, aos candidatos civis indicados pelos Governos dos Estados, percorridos pelas duas linhas) que fizerem doação ao Governo Federal dos terrenos preçisos ao prepar.o

e

, 243


dos campos de aterragem nos respectivos territórios. O número de candidatos será fixado anualmente pelos Ministérios da Guerra e da Marinha. Art. 4.° Embora as duas linhas se destinem, precipuamente, aos serviços da Armada e do Exército, poderá o Governo permitir, se e quando julgar conveniente, sejam elas utilizadas para reides esportivos e para viagens comerciais e de experiências, desde que satisfaçam as seguintes condições: 1." Obediência aos regulamentos que forem expedidos pelo Poder Executivo, além de instruções especiais de ocasião. 2." Pagamento de uma taxa de utilização da linha quando as viagens tiverem fins comerciais e indenização do material que utilizar nos campos de aterragem. No afã de acertar e atingir a perfeição, a lei incidiu em contradição. Tudo no art. 1.0, notadamente no seu § 2.°, dava a entender que o objetivo era a ligação, pelo litoral e pelo interior, dos principais centros políticos, comerciais e industriais; mas já no , art. 4.° se lhes dava primordialmente um caráter de linha militar. Não se têm notícias da razão ou razões do insucesso dessa tentativa, que teria antecipado o advento do transporte aéreo brasileiro. Mas a lei constitui um marco na história da Aviação Civil e atesta a visão dos homens do Governo. O aspecto da lei que previa a instalação de serviços de prontosocorro nos locais de aterragem não deve passar sem reparo, porque ele é sintomático do grau de risco em que então se tinham os vôos. A iniciativa, mesmo de parte do aspecto psicológico, era importante, e hoje, nos grandes terminais aeroportuários , existe uma completa assistência médica, que tem prestado reais serviços. Num tempo de operação ainda muito arriscada, essa preocupação do legislador com eventuais feridos ou doentes era surpreendente.

7 -

O Decreto n.o 16.983/25

Com fundamento no art. 19, do Decreto n.o 14.050/20, o Presidente baixou o Decreto n .o 16.983, de 22 de julho de 1925, aprovando o Regulamento para os Serviços Civis de Navegação Aérea. Esse foi o primeiro ato disciplinador da novel atividade, louvada no que havia de mais moderno nas legislações dos outros Estados e muito antes que surgisse entre nós a primeira empresa. Para os firis da história da Aviação, parece suficiente dar um apanhado dos capítulos desse regulamento, cujas epígrafes falam por si mesmas; ' daí que se poderá comprovar o avanço de nossa legislação 244


naqlle1es tempos, basicamente a , mesma vigente nos, dias de hoje, apenas com os aperfeiçoamentos que a técnica e o progresso trouxeram : '-, - :espaço aér~o:ptincípio, da . ~qbe~a~ia naciop.al sobre' o espaço ;

aerona~es: definiç~o' é· classificação:; aerOlJ.autas: direitos in~rentes à habilitação; organização de terra: aeródromos , escolas ' e fábricas de aviões; tráfego aéreo: regime de sobrevôo do espaço brasileiro; concessões de navegação aérea: regime das ras e estrangeiras;

e~presas

brasilei-

transportes aéreos; regime de responsabilidades pelo Código Civil; I

penalidades.

o regulamento previa ainda a elaboração do Plano Geral. de Viação Aérea no País, com o fim de serem estabele~idas as necessárias organizações de terras (aeródromos) e determiriadas as linhas cujo tráfego consultasse os ~nteresses gerais . Esse Plano só viria a ser elaborado pelo Departamento de Aeronáutica Civil. A Portaria M.V.O.P. sem número, de 6 de outubro de 1925 , do então Ministro, aprovou instruções complementares a esse regulamento , dispondo, transitoriamente, para o período que antecedesse a reorganização da Inspetoria. Também as mesmas instruções consignavam expressamente as fontes de nossa legislação: Aj instruções de que tratam os arts. 19, 28, 42 e 63 do Regulamento para a aviação civil serão ' o.rganiza~as tendo em vista os anexos da Convenção Internacional de Versalhes, de 13 de ou' . tubro de 1919 (Convenção de Paris) . ' .

Deve-se lembrar que o Brasil fez parte da referida Convenção " mas ela não teve vigência . oficial entre nós porque não foi ra~ificada . Outro ato que veio a complementar o Regulamento e a Portaria, foi outra Portaria M.V .O.P .,' de 11 de novembro de 1926, do citado Ministro, aprovando instruções para exames, ~artas , licenças e matrículas de aeronautas civis . Tratava-se de um documento complexo e completo, com vinte e cinco artigos, muito minucioso e mesmo bastante avançado para a época. 245


8 -

O I Congresso Nacional de Aviação

o

final dessa década foi marcado pela realização do I Congresso Nacional de Aviação, cuja iniciativa se deveu aos aviadores Netto dos Reys, Anor Teixeira, Henrique Dyot Fontenelle e ao Engenheiro Cesar Grillo, por intermédio do Clube dos Bandeirantes do . Brasil. O evento verificou-se a 14 de julho de 1928, pouco depois de iniciados os transportes aéreos no. País, o que torna mais significativa a temática do conclave: I

Organizações de terra.

II

Tráfego aéreo.

III

Técnica aeronáutica.

IV

Iniciativa e auxílios em prol da

V

Educação, turismo e propaganda.

VI

Medicina especializada.

VII

Direito Aéreo.

VIII -

Organização administrativa da Aeronáutica.

Aeronáu~ica.

Muito do que veio a ser incluído na legislação que se seguiu, e até· me5JJ!l.0J na organização administrativa do futuro Departamento de Aeronáutica Civil, deve ter sido conseqüência das recomendações desse Congresso. Isso não obstante a excelência do Regulamento de 1925, cujas linhas-mestras vararam os tempos e chegaram aos nossos dias. 9 -

U

O Decreto n. 5.628/28

Por iniciativa do Ministério da Viação e Obras Públicas, vem a ser assinado o Decreto n. 5 .628, de 31 de dezembro de 1928, autorizando o Poder Executivo a contratar a exploração de vasta rede de linhas para o interior, mediante subvencionamento. Era um plano audacioso. Eis á rede pretendida: 1. De Rio de Janeiro, via Belo Horizonte, Goiás, Cuiabá, São Luís de Cáceres, Mato Grosso; Rio Branco, Sena Madureira, até Cruzeiro do Sul , no Território do Acre, com as seguintes ramificações: U

a) de Rio de Janeiro, via Belo Horizonte, a Pirapora, Janu.ária, Barra, Floriano, Teresina e São Luís; outra de Barra, Xique-Xique, Pilão Arcado, Remanso, Casa Nova, Petrolina, Curoçá, Boavista, Belém de Caboclo, Jatobá, Penedo, Maceió, Recife, Paraíba, Rio Grande do Norte, passando por todos os portos marítimos do norte e do sul do País; 246


b) de Goiás, Porto Nacional, São João do Araguaia, Belém

Manaus; c) de Cuiabá a Corumbá e Porto Esperança. 2. De Rio de Janeiro, via São Paulo, Itararé, Ponta Grossa, Guarapuava, Palmas, Xanxerê, Cruz Alta, Santa Maria até Uruguaiana , com uma ramificação: a) de Guarapuava para Colônia Mallet (Laranjeiras)-Foz do Iguaçu. 3. De São Paulo, via Bauru, Araçatuba, Três Lagoas, Campo Grande, Miranda-até Corumbá. O Decreto não chegou a ser posto em prática. Ao lado da falta de empresa com estrutura para assumir o serviço , ou mesmo parte dele (na época só existiam a VARIG e o Sindicato Condor), ocorria a notória deficiência ' do , Ministério . da Viação e Obras Públicas, mesmo com a substituição da Inspetoria Federal de Navegação pela Comissão Nacional de Navegação Aérea . . Em que pese a falta de execução, a idéia fora lançada; só viria a ser retomada em 1931, já pelo Departamento de Aeronáutica Civil. () Decreto n.O 5.628 constituía-se num importante projeto de longo alcance, seja pelo grande e variado número de localidades a serem atingidas , seja pelas obrigações a que se submeteriam as adjudicatárias dessas linhas de desbravamento: manter escolas para . formação de pilotos civis; empregar tripulações exclusivamente de brasileiros natos, dentro de dois anos após o início do serviço; e adotar aviões modernos e seguros, a juízo das autoridades brasileiras.

247


CAPfTULO 8

INCENTIVOS E PRÊMIOS

1 -

Santos-Dumont

ERECE louvor a atuação do Governo Brasileiro no tocante ao apoio jamais negado à Aviação Civil. Mesmo em face da perplexidadereinante nas duas primeiras décadas deste século, com a frustração de todas as tentativas para dotar o País com linha aérea, o Poder Público nunca se furtou ao dever de incentivar e apoiar as iniciativas tendentes a levar adiante a Aviação CiviL Faz-se aqui necessário um retorno no tempo. Quando em Paris, Santos-Dumont fez a primeira experiência com balão dirigível, em 1901, o Congresso votou a Lei n.o 799, de 17 de novembro, autorizando o Poder Executivo a conceder-lhe o prêmio de 100:000$000 (cem contos de réis). O inventor não encontrava no Brasil campo adequado a suas experiências, mas tanto o Governo quanto o povo as acompanhavam, traduzindo a atitude dos deputados um atestado desse interesse pelo nosso maior inventor.

M

2 -

Augusto Severo

Em 1902, pela Lei Orçamentária da República, uma autorização foi dada ao Poder Executivo: abrir crédito necessário para enviar à Europa profissional brasileiro, com o propósito de dar prosseguimento às experiências e acautelar os interesses e direitos de Augusto Severo. 248


A construção dos aeróstatos Santq Cruz~ , I?~taI1?bém; foJ obj~to de financiamento oficial, com dois créditos de 20:000$000 (vinte contos de réis). .. 3 -

Aero Club Brasileiro

o apoio oficial não se limitava ao aspecto da construçãoaeronáutica. Em 1913, o Aero Club Brasileiro recebeu um auxílio financeiro de 30 :000$000 (trinta contos de réis), importância substancial para a época. Não obstante ' ter sido concedido por lei orçamentária, cúj~ vigência é anual, parece que se tratava de auxílio a ser repetido de ano para ano, porque até 1919 nenhum outro ato a ele se referiu. Mas como nesse ano foi aberto um crédito de 50:000$000 (cinqüenta contos de réis) "para pagamento da subvenção anual ao Aero C/ub", a conclusão é de que ela prevaleceu também nos anos anteriores. Com a transformação da Inspetoria de Navegação Marítima e Fluvial na Inspetoria Federal de Navegação, hou~ç incremento na política de auxílio. Em 1920, foram adotadas duas providências nesse sen-. tido: a isenção de direitos para aeroplanos, hidroplanos, hidroaeroplanos e similares, e para peças e acessórios, hangares e material de aviação, incluídos aparelhamento cirúrgico e macas importados pelo Aero Club Brasileiro; e o segundo incentivo também estava contido na Lei Orçamentária para 1921, estabelecendo que, enquanto não fosse decretada a reforma de tarifas, os aeroplanos, hangares, motores e acessórios ficariam sujeitos à taxa de 100 réis por quilograma, exceto se importados para fins de provas internacionais ou para escolas, com entrada no País sujeita a termo de responsabilidade. 4 -

Edu Chaves

Quando Edu Chaves efetuou o famoso vôo entre Rio de Janeiro em 1920, o Governo concedeu-lhe a importância de 50: 600$000 (cinqüenta contos de reis), a título de indenização das despesas que fez para realizar o percurso aéreo_ Evidentemente que se trata de. um eufemismo, pois não existe a . figura legal do' ressarcimento de despesas efetuadas por estranhos aos quadros públicos. Era, portanto, um prêmio.

e Buenos Aires,

5 -

Sacadura Cabral e Gago Coutinho

Já no caso de Saca dura Cabral e Gago Coutinho" também aquinhoados com idêntica quantia, pelo Decreto n.o 4.596, de 18 de ou249


tubro de ' 1922~' nerihtima 'fórmula foi usada para acobertar a natureza , . do ' prêmio. ' '

6 -

Pinto Martins e Walter Hinton

Aos aviadores Pinto Martins e Walter Hinton foi atribuído o prêmio de 100:000$000 (cem contos de réis), pela travessia Nova Iorque-Rio de Janeiro, em 1922/23, mas o respectivo decreto caducou. Uma circunstância a ressaltar é a de que os poderes públicos, pródigos ' rio auxílio a todo tipo de atividade, embora mediante açõês isoladas, avulsas, ao dispor sobre a Aviação Civil, no primeiro ' regularnento específico não trouxe uma , única palàvra expressa a respeito desse apoio financeiro, se iria concedê-lo, de que fo~ma e quando'. Não se compreende que, sendo uma regulamentação rel~ltiva à Aviação Civil, só contivesse um artigo sobre as escolas de aviação, artigo este que deixa subentender a existênCia do subvencionamento, mas não consigna o dever de auxiliar. No entanto, é mais explícito com relação às sociedades ou instituições fundadas com fins de propaganda e , desenvolvimento da aeronáutica, estabelecendo que o Governo lhes poderia conceder favores e regalias oficiais. Houve obstáculo à concessão do prêmio aos aviadores Pinto Martins e Walter Hinton, porque, autorizado em 1924, por decreto do Congresso, três anos depois o ato estava sem cumprimento, tanto que o Decreto n.o 5.372-A, de 10 de dezembro de 1927, votado pelo Congresso, revigorou o da concessão (4.823, de 26 de janeiro de 1924). Talvez não tivesse sido aberto o crédito devido naquela ocasião. Quando isso aconteceu, Pinto Martins já não existia: suicidara-se em fins de 1924. 7 -

João Ribeiro de Barros

Esse aspecto é interessante, porque, com relação a João Ribeiro de Barros, o Decreto votado pelo Congresso, de ri.O 5,. 390, de 21 de dezembro de 1927, inovou aO autorizar diretamente o Presidente da República à abertura do crédito especial de 300:000$000 (trezentos contos de réis), para distribuir, a seu critério, como prêmio ao aviador e aos seus companheiros do reide Gênova-Santos, com o Jahu. Ressalvada a subvenção anual concedida ao Aero Club Brasileiro, nenhum prêmio oficial foi autorizado nos últimos anos da década. Havia a vontade de ajudar, o ânimo de estimular, mas faltava uma planificação, uma diretriz que conduzisse o particular a dedicar-se à Aviação Civil, uma atividade onerosa.

250


CAPíTULO 9

AEROCLUBES E ESCOLAS

1 -

O Aero Club de São Paulo

S aeroc1ubes tiveram origem na França, de onde se estenderam para outros países. Já no século passado, o Aeroc1ube da França gozava de grande conceito, tendo ·participado dos mais impor. tantes eventos da aviação e recebido a missão de acompanhar as experiências de .Santos-Dumont. Os aeroclubes foram os verdadeiros criadores da mentalidade aero" náutica, o que os torna credores da gratidão dos povos, que nem sem~ pre retribuíram esse serviço. Aqui no Brasil, somente depois de vinte anos é que essas associações foram objeto de apoio. O Aero Club Brasileiro (nome com que foi criado em 1911) gozou de muito prestígio e chegou a receber uma subvenção anual de Governo da União, mas o que o salvol,J de muitas dificuldades foi a assistência daqueles abnegados que conseguiram contorná-las ao longo dos anos. Mesmo quando o Governo oficializou o auxílio em dinheiro e em material, fornecendo aviões e proporcionando quotas de combustível, faltaram plan:ejamento e fiscalização. Daí resultou o insucesso de .muitas dessas Sociedades, em que a malversação alcançou alto grau. E onde elas ' obtiveram sucesso, não foi o auxílio governamental que o proporcionou, mas o esforço próprio de verdadeiros patriotas. Em alguns lugares, o insucesso teve lugar face a características regionais, aliadas ao fato de serem as regiões bem servidas por transporte de superfície. Um 'exemplo marcante disso foi .d ado pelo Estado

O

251


de Minas Gerais, que chegou a ter dezenas de aeroclubes, mas sem despertar o entusiasmo do homem comum, apegado ao trem de ferro. Já em São Paulo, no Rio Grande do Sul e no Paraná, onde o transporte aéreo chegou a instalar-se, havia propensão do homem comum pela aviação, e os aeroclubes tiveram papel de relevo. Foi exatamente em São Paulo, no ano de 1910, que apareceu a primeira dessas Associações, com origem num clube de jogo, no qual o vôo passou de simples prática para atividade preponderante. Segundo depoimento colhido no I Seminário de História da Aeronáutica Brasileira, realizado no INCAER, o entusiasmo reinante naquele aeroclube atingiu tal culminância que, envolvido numa onda de otimismo, chegou a organizar um concurso avia tório , com prêmios aos pilotos que conseguissem voar mil metros em linha reta. Tratando-se de fato que distava apenas quatro anos da invenção do mais pesado que o ar, era de fato surpreendente a iniciativa do Aero Club de São Paulo. E, como era óbvio, nãoapáreceu concorrente. O contrário é que realmente seria surpresa. Há, no entanto, quem afirme que a atividade aeronáutica era apenas para acobertar o jogo carteado, então proibido. 2 -

Aero Club Brasileiro

Se foi em São Paulo que surgiu o primeiro aeroclube, foi no então Distrito Federal q~e se fundou o principal deles, que constituiria durante muitos anos o órgão-padrão: o Aero Club Brasileiro. O patriotismo e a crença na aviação brasileira sempre estiveram presentes na vida deste aeroclube; não fosse isto, de há muito haveria desaparecido. Já em 1916, essas dificuldades levaram seus associados, que não mediam sacrifícios na manutenção do Clube, a idealizar meios de suplementar os recursos de que ele dispunha. Assim é que o jornal A Epocha, dirigido pelo jurista Vicente Piragibe, publicou anúncio de uma Grande Tômbola pela Aviação, com bilhetes a 1$000 (mil-réis) cada um. Naquele ano, a Associação esteve à beira da falência, e só foi salva pelo socorro nunca faltante daqueles homens que insistiam em lutar contra a adversidade. Para se demonstrar o atraso com que o Governo. acolheu essa importante e tão grandiosa iniciativa, é suficiente relembrar que aquele primeiro auxílio, no valor de 30:000$000 (trinta contos de réis), só lhe foi concedido em 1913, e que somente em 1916, um dos piores anos de sua existência, o Aero Club obteve o reconhecimento de sua utiI idade pública. Já vimos que, nesse ano, a sociedade veio a fazer jus a uma sub· venção de 50:000$000 (cinqüenta contos de réis). Foi ela que permitiu ao Aero Club manter-se por algum tempo. 252


Sobre a escola de pilotagem que seria a primeira do Brasil, funciOnando no Aero Club Brasileiro, as versões não coincidem. Umas se referem à Escola Brasileira de Aviação, de Gino, Buccelli e Cia como pioneira; outras dão essa escola como posterior à do Aero Club, que teria sido fundada 'em 1912, um ano antes da Escola Brasileira. Assim l se aceita essa versão, o berço de aprendizagem da aeronáutica civil seria o próprio Aero Club com sua escola no Campo dos Afonsos. ' Há, entretanto, outras versões, afirmando que a escola do Aero Club não chegou a funcionar, atribuindo-se esse fato à mudança do Clube para a Ponta do Galeão. De qualquer forma, o Aero Club Brasileiro foi palco de grandes acontecimentos importantes para a Aviação Civil e protagonista de muitos outros, pois ,era a única entidade com representação da Féderation Aéronautique Internacionale (FAI). Como seu associado, iniciou um trabalho de divulgação e aliciamento, conseguindo a filiação de muitas entidades fundadas no interior, graças aos estímulos por ele concedidos. Teve participação no I Congresso Nacional de Aviação, realizado em 1928, quando recebeu a visita do então Presidente da Fédération, PierreFlandin (que foi por duas vezes Ministro do governo francês); integrou-se à recepção do reide de Sacadura Cabral e Gago Coutinho, do reide de Edu Chaves, e do reide de João de Barros; e foi propugnador da criação das Escolas de Aviação. Nos seus primeiros vinte anos <;te vida, o Aero Club Brasileiro teve a dirigi-lo as seguintes personalidades: Almirante José Carlos de Carvalho

1911-1912

Marechal José Bernardino Bormann

1912-1913

Marechal Alfredo Carlos Müller de Campos

1913-1914

Comendador Gregório Garcia Seabra

1914-1917

Jornalista Mauricio de Lacerda

1917-1920

Professor José Matoso Sampaio Correa

1921-1924

Deputado Cesar Lacerda de Vergueiro

1924-1930

Houve duas ocupações temporárias da Presidência, mas não em virtude de eleição: a de Amilcar Marchesini em 1920 e a do Senador Carlos Augusto Cavalcanti em 1926. O quarto presidente foi, alguns anos mais tarde, proclamado Presidente Honorário, por proposta do Marechal Bormann, como homenagem aos meritórios serviços prestados à instituição e à causa da aviação nacional, causa esta que assistiu com contribuições particulares nos vários estágios de penúria por que vinha passando o Aero Club. 253


Foi sob sua gestão que surgiu a revista do Aero Club Brasileiro, que do quarto número em diante mudou o nome para Aerólilo, seguindo o exemplo do Aeroclube da França, que editava publicação semelhante. Finalmente, vale ressaltar a homenagem prestada a Santos-Dumoht, proclamando-o Presidente Honorário da entidade. Pelo espírito do brasileiro, demonstrado em diversas oportunidades em que se tentou implantar o transporte aéreo, pelas tentativas de tabricar aviões, esse interesse deveria também àlcançar a aviação desportiva. Partindo-se desse espírito voltado para as coisas da aviação, o irrisório número de aeroclubes nesta terceira década causa estranheza. Mas se se atentar para o fato de que o Aero Club Brasileiro, funcionando na Capital do País, com uma plêiade de patriotas atrás de si, lutava com dificuldades financeiras, a razão do desinteresse do homem do interior pelos aeroclubes pode estar aí.

3-

O Aeroclube do Rio Grande do Norte

. Foi fundado em Natal, no dia 29 de dezembro de 1928, tendo como primeiro· Presidente o Doutor Juvenal Lamartine de Faria, grande incentivador da criação deste Aeroclube. Os outros componentes da primeira Diretoria foram: 1.0 Vice Presidente, Fernando Gomes Pedroza; 2.° Viée Presidente, Dr. Décio Fonseca; 1.0 Secretário, Doutor Adauto da Camara. Em 1929, o Capitão-Tenente Djalma Petit, da A:viação Naval, foi posto à disposição do Governo do Estado para dirigir a Escola de Vôo do Aeroclube. Com o funcionamento de ~ua Escola, o Aeroclube iniciou uma fase de esplendor, pois passou a ser o ponto de reuniões da Sociedade de Natal. Em 193 O, participou da Revolução com um avião · pilotado por Djalma Petit, faezndo lançamento de panfletos sobre Recife, defendendo a causa revolucionáí:ia.

:254


CAPíTULO 10

A INFRA-ESTRUTURA AEROPORTUÁRIA

ARECE que todos os atos legais na década de 20, que outorgaram permissões para a exploração do transporte aéreo no Brasil, não foram objeto de estudos minuciosos, posto que todos os pedidos obtiveram deferimento sem que deles constassem argumentações, planos, previsões, justificativas que lhes servissem de base. O único que efetivamente tinha, até então, esboçado um projeto foi o de Güillobel, em 1912. A preocupação maior era com o equipamento a ser utilizado. As expressões variavam pouco, mas os decretos e contratos falavam em aparelhos aéreos dos mais aperfeiçoados, referindo-se a hidroaviões. Essa preocupação com o tipo de aeronave · tinha, evidentemente, muito a ver com a infra-estrutura disponível, toda ela aquática. Entretanto, em 1925, o primeiro Regulamento para os Serviços Civis de Navegação Aérea (Decreto n.o 16.983, de 22 de julho) já tinha estabelecido uma política centralizadora para a construção de campos de pouso, subordinando-a à prévia aprovação do Governo Federal e recomendando o entendimento com os Governos Estad~ais, afim de que estes doassem terrenos para as instalações da navegação aérea. Mas, sem embargo da avocação das aprovações prévias dos campos de pouso, nos anos que se seguiram houve muitas violações dessa competência exclusiva, com proliferação totalmente lógica de campos municipais. Assim, enquanto os atos oficiais reglJlarnentadores avocavam o direito de construir os campos, ou de ,permitir · sua construção meqiante .aprovação prévia, o .Poder Público . veio a r~passar esse ônus a terceiros, embora na Portaria sem número 90 Ministério da, .Viação e

P

255


Obras Públicas, datada de 6 de outubro de 1925, posterior, portanto, ao Regulamento citado, a Inspetoria Federal de Navegação estabelecesse que deveriam nela servir {{um oficial-aviador do Exército, outro da Marinha, um meteorologista, um engenheiro e alguns desenhistas, com a finalidade, dentre outras, de estudar e projetar a localização, dimensões e instalações dos aeródromos e campos de pouso públicos (sic), incluídos os aeródromos de fronteira". Apesar dessas intenções, em 1930 a infra-estrutura continuava marítima ou fluvial. Uma Portaria do M .V.O.P., de 30 de junho, relacionava vinte e três aeródromos marítimos: Porto de Belém - Trecho da baía de Guajará, entre a doca Marechal Hermes e o estaleiro de VaI de Cães. Porto de São Luís - Trecho do estuário do Porto, entre a ponte de São Francisco e o igarapé do Jansen. Porto de Amarração - Trecho do estuário do ' Igarassu, entre a vila de Amarração e a coroa de Monte Cristo. Porto Fortaleza - Trecho do rio Ceará, marcado na respectiva planta. Porto de Natal - Trecho do rio Potengi, entre a Montegem e o enraizamento do dique da Pimpa. Porto Paraíba .- Trecho do rio Sanhauá, a jusante da ' Gamboa dos Frades. Porto de Recife - Bacia de Pina, a partir do cais Wilson, e braços de mar laterais à coroa dos Passarinhos. Porto Maceió - Saco sul da lagoa do Norte. Porto Aracaju - Trecho do rio Sergipe, entre a cidade e o rio Tramandaí Pequeno. Porto São Salvador - Parte da enseada de Itapagipe, denominada Porto dos Mastros. Porto de Ilhéus - Trecho do rio Cachoeira, entre a fazenda do Eustachio e a bacia da Sapetinga. Porto de Belmonte - Trecho do rio Jequitinhonha, entre a cidade e a ilha das Vacas. Porto de Vitória - Trecho do estuário do rio Santa Maria, condguo ao bairro de Santo Antônio. Porto de Campos _ . Trecho do rio Paraíba do Sul, fronteiro à cidade e compreendido pelas duas pontes existentes. Porto do Rio de Janeiro - Provisoriamente, trecho fronteiro à Ponta do Calabouço, figurado na planta. Porto de Santos - Trecho do canal de acesso, contíguo à ponte da Praia, a partir do forte. Porto de Paranaguá - Trecho e braço do rio Itiberê, marcados na respectiva planta. 256


Porto de São Francisco - Zona fronteira à cidade, a montante das obras do Porto projetadas. Porto de Itajaí - Trecho do rio Itajaí, entre Navegantes e o enraizamento do guia corrente da margem direita. Porto de Florianópolis - Zona demarcada na planta, desde a Praia de Fora, até a Prainha. Em virtude da variabilidade do vento nesse Porto, são fixados dois ancoradouros de franquia, que poderão ser utilizados conforme a direção do vento. Porto de Laguna - Trecho da lagoa de Santo Antônio dos Anjos, contíguo ao cais do Rosário. Porto do Rio Grande - Trecho do Saco da Mangueira, a montante da ponte da linha férrea do molhe de W . Porto de Porto Alegre - Trecho do rio Guaíba, entre a ilha da Pólvora e a dos Marinheiros. Em 1928, cria-se, no Brasil, primeira empresa especializada em fotografia aérea, formada por técnicos ingleses: The Aircraft Operating Co. Lt. Embora o Decreto 18.156, de 13 de março, lhe tenha dado autorização de funcionamento, não se tem notícia de qualquer realização sua.

257


CAPÍTULO 11

OS PRIMEIROS SELOS AÉREOS

1 -

A Precipitação do Departamento de Correios e Telégrafos

AVIAÇÃO Civil deve ter provocado uma atração irresistível nos homens do Ministério da Viação e Obras Públicas, tal a preocupação que os assediou nos primeiros passos daquela atividade. Apesar de não haver uma única empresa em operação no País no início da década, as autoridades sempre procuraram antecipar-se ao surgimento de algum aspecto dessa incipiente atividade. Disso dão prova os primeiros decretos e as primeiras providências, estas um tanto tímidas a princípio, como foi o caso da Inspetoria Federal de Navegação, que não tinha o que superintender no particular da Aviação Civil, a não ser expedir cartas de matrícula de aeronaves e de pilotos, bem como fiscalizá-los. No entanto, dentre as providências antecipadoras , vale mencionar a reorganização feita no Departamento de Correios e Telégrafos pela Lei n.O 4.273, de 1 de fevereiro de 1921. Não tendo uma base expe- ' rimental, nem conhecendo a extensão ou mesmo a potencialidade da Aviação Civil, o legislador tratou do transporte de malas postais num tom de desânimo ou de pessimismo, atribuindo àquele Departamento a tarefa de organizar os serviços de transporte aéreo, quando possível. Parecia haver crença generalizada de que se tratava de uma hipótese remota, algo inatingível, porque todos previam a evolução da Aviação Civil, mas ninguém lograva assentá-la em função de tempo O

A

258


problema não consistia em saber como orgamzar, e SIm em quando organizar. Não obstante, este quando surgiu alguns anos depois, com a chegada ao País dos primeiros aviões das empresas estrangeiras. Mas é evidente que, cogitando em termos de possibilidades remotas, o Governo foi apanhado de surpresa. Legislara antecipadamente para a Aviação Civil, previra o desenvolvimento do transporte de malas postais, mas na ocasião estava desprevenido.

2 -

O Artifício do Carimbo

Interessante é que no ano de 1925, sem nenhuma empresa de transporte estar operando entre nós, de novo o Congresso Nacional votou uma lei - Decreto n.O 4.930, de 31 de maio - autorizando o Poder Executivo a emitir, na Casa dá Moeda , selos postais de diversos valores considerados convenientes, entre eles um de duzentos réis, em homenagem a Santos-Dumont. Um dos valores deveria estampar, em efígie, o grande brasileiro, e os demais deveriam conter alegorias à Aviação. A série, nos termos da citada lei, seria destinada especialmente ao serviço postal aéreo. ;. quando for estabelecido. Tal como ocorrera com a organização do transporte postal em 1921, o legislador expressou apenas uma esperança; e esta ficou muitos anos sem cumprimento. Não obstante, aquele tão decantado quando possível surgiu nesse mesmo ano, . com a chegada ao País dos primeiros aviões de transporte aéreo comercial das empresas estrangeiras. O Departamento de Correios e Telégrafos lançou mão de selos para correspondência comum, seguindo-se a utilização de selos de correspondência oficial, com aposição de um carimbo com a expressão CORREIO AÉREO . Os selos assim utilizados pertenciam à série com efígie do ex-Presidente Afonso Pena.

3 -

As Empresas Aéreas Emitem Selos Próprios

Em 1927, o Departamento de Correios e Telégrafos procurou dar cumprimento a uma antiga lei de 1921, que lhe havia determinado reorganizar o transporte aéreo postal, e baixou instruções para execução do serviço postal aéreo; mas não emitiu os · selos especiais destinados ao franqueamento da correspondência, passando a incumbência às duas empresas brasileiras - Sindicato Condor Ltda. e VARIG. 259


Há uma versão de que essa delegação às duas empresas, substi· tuindo o DCT numa atribuição privativa, resultava do propósit,o de subsidiar o serviço aéreo. Essa versão não está abonada em nenhum ato oficial, mas tem certo fundamento, uma vez que, tendo adotado os selos oficiais para postagem da correspondência aérea, e tendo sido a Casa da Moeda autorizada a emitir uma série especial, não haveria razão significativa para permitir que empresas particulares assumissem tal competência. É conveniente acentuar que, não obstante ter sido a VARIG a primeira empresa nacional que se constituiu no Brasil, foi ela a segunda a emitir esses selos particulares. Até que os selos fossem emitidos, a empresa utilizava um carimbo-selo, de forma triangular, prática iniciada pelo Condor Syndikat. Essa faculdade ou direito de emitir selos aéreOs era peculiar somente às empresas brasileiras, porque não houve emissão de selos aéreos pelas empresas estrangeiras. E apenas três empresas dela se valeram: o Sindicato Condor Ltda., a VARIG e a Empresa de Transportes Aéreos - ETA, sendo também essa a ordem de emissão das estampilhas.

Fi/!.. 99 - Sindicato Condor e VARIG voando associados.

Os selos aéreos eram de valores altos, o que os SUjeItava a fá1sificações, e muito reputados, sem embargo da emissão volumosa, porque nos começos a filatelia 'era miragem entre nós, e poucos se deram conta do valor que esses seIos assumiriam. Os primeiros selos emitidos nessa modalidade particular tinham as mesmas características: um condor sobranceiro a um círculo com a bandeira brasileira estilizada, o valor respectivo 'e o nome da empresa. Já os selos da ETA traziam a figura de um avião vermelho num cír· culo estrelado, com o nome da empresa também em vermelho. 260


~ . ~'~~~~~~~-~~~~~-_ ._ '~.~~

';:'~'

d'

Fig. 100 - Selos Aéreos Particulares. (o selo de 1930. com a efígie de Victor Konder. menciona o nome errado do Syndicato Condor).

."

~IAt>l"''''''''-'''~'h ''!'fO<

Fig. 10/ -

Selos Aéreos Particulares.

261


~ll lll

. lItilil

"

'~~~_. . . . . . ._~_ _ _ _ _ _""'ff'. "''!;!l . ~

Fig, 102 -

4 -

Selos A éreos Particulares.

A Primeira Emissão pelo DCT

Somente em 1929 o Departamento dos Correios cumpriu a Lei 4,93 O/25, emi tindo a primeira série de selos aéreos. Eram oi to, com figuras e efígies importantes da Aviação : cinco deles, de valores crescentes, para as figuras, e três, também de valores crescentes, para as pessoas. Na ordem de valores, esses selos estampavam: o monumento a Bartolomeu de Gusmão, o primeiro dirigível de Santos-Dumont, o primeiro dirigível de Augusto Severo, o 14-Bis e o Jahu; as pessoas: Bartolomeu de Gusmão, Santos-Dumont e Augustó Severo. 5 -

Outras Emissões Pioneiras do DCT

A inauguração da mala postal Brasil-Estados Unidos da América ensejou o lançamento de um selo comemorativo pelo Departaménto dos Correios, destinado especificamente àquela ligação: uma imagem do mundialmente conhecido Pão de Açúcar, encimado por uma águia transportando uma carta. Com a chegada ao Brasil do dirigível Zeppelin, foram emitidos oficialmente dois selos, ambos com a figura da aeronave: um para a viagem triangular Europa-América do Norte-Europa, e outro apenas para a rota Brasil-Estados Unidos. Uma curiosidade em torno desses selos, é que fazem parte das séries mais valiosas para a filatelia , e esse fenômeno é comum em todos os países que os emitiram. 262


No ano de 1930, o DCT emItIU um selo especial, comemorativo do primeiro vôo do Sindicato Condor, já então com nova razão social, determinada pela restrição de uso da palavra sindicato. Trata-se de um selo pouco conhecido e que traz a efígie do então Ministro d1 Viação e Obras Públicas, Victor Konder. A partir de 1929, o DCT já assumira uma posição mais marcante, e passara a emitir selos, com regularidade, para postagem de corres" pondência aérea.

263


CA~fTULO 12

PLANADORES -

1 -

CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO

Evolução do Vôo Planado

VOLUME I desta obra mostra como a partir de Dédalo e fcaro, e até. o final do século XIX, foram feitas incessantemente experiências como artefatos que voavam, isto é arrojando-se do cume de uma elevação qualquer, percorriam, planando, vários metros, que iam aumentando à medida em que tais engenhos se iam aperfeiçoando. O aparecimento do avião ocupou todos os espaços, tanto pelo seu ineditismo, como por representar a última palavra em tecnologia, e fez com que saíssem do cenário quase todos os outros artefatos voadores, exceção feita aos dirigíveis rígidos (zepelins) e alguns planadores primários, construídos e levados a voar por alguns poucos aficionados do esporte. É costume, e comum, atribuir-se aos alemães, vencidos na Primeira Guerra Mundial, o extraordinário incremento que tomou o volovelismo, a partir do término daquele conflito. Os teutos, realmente, tiveram um papel importantíssimo no desenvolvimento dos planadores, haja- vista que aquele a quem se pode atribuir o papel de pai do volovelismo moderno era um alemão - Lilienthal. Mas daí a atribuirse-lhes uma intenção exclusivamente belicosa vai uma distância muito grande. É bem verdade que o regime que se instalou na Alemanha em 1933 direcionou o vôo a vela no sentido de que pudesse servir

O

264


de escola para futuros aviadores que, por sua vez, vmam a constituirse no núcleo central da sua força aérea - a Luftwaffe. O Tratado de Versalhes, imposto à Alemanha em razão de sua derrota na Conflagração de 1914 -1918, tinha, entre tantos, um artigo particularmente doloroso, o de número 198: ((As forças militares da Alemanha não . deverão comportar nenhuma aviação militar nem naval. )}

Proibidos de se lançarem em novas aventuras no que tange à aviação com motor, os jovens alemães, ainda embalados pelas conquistas e vitórias de seus ases durante a guerra, como Von Richtoffen (com oitenta aviões comprovadamente abatidos), Udet, Werner Voss, Goeringe tantos outros, voltaram-se para as experiências que, com tanto sucesso, havia realizado Lilienthal: construção e vôo do planador. Assim, em meio ao caos total em todos os setores da vida alemã, com ênfase no econômico e no social, renascia o interesse pelo volovelismo. De simples esporte, que entusiasmava a quase totalidade da juventude germânica, o vôo planado passou a ser algo mais. Não esquecendo o lado científico da arte de voar, os alemães quiseram logo transformála em ciência de voar, e para isso criaram dois institutos: um em Rossiten e outro na Wassekuppe, um grupo de montanhas no Reno apropriado para o estudo e aproveitamento de correntes de ar. As duas escolas, pouco tempo depois, fundiram-se na Rohe-Rossitien-GeselschafP, a RRG, com sede em Frankfurt, e que logo se transformou numa verdadeira universidade, com vários departamentos, como meteorologia, aerodinâmica, .construção , instrução e, principalmente, promovendo o que foi o maior fator de divulgação de suas atividades: os grandes concursos anuais. Apesar de ser difícil determinar onde foi o nascedouro e quais foram as datas exatas desses acontecimentos, é aceito por quase todas as autoridades em aeronáutica que o primeiro planador construído, com características realmente modernas, foi o Vampiro, planejado por Madelug, na cidade de Hannover, capital do Estado da Baixa Saxônia , em 1921. Mas, veja-se bem, com ((características verdadeiramente modernas)}, pois modelos simples e até rudimentares já eram experimentados, e que, através de desenhos, vieram ao Brasil, ainda em 1918, como veremos após. Hentzen e Martens, em 1922, já demonstravam a excelência do Vampiro, obtendo um verdadeiro recorde de permanência no ar: uma hora. Paul Karlson, em seu livro A Conquista dos Ares, mostra que desde então o assunto volovelismo tomou proporções sempre e sempre maiores. É de seu livro o seguinte: ((Depois vieram os aparelhos Fafnir e Fafnir II. Com o primeiro, Lippisch iniciou uma série de vôos pla265


nados que mudou o aspecto do problema do vôo em extensão. Já o Fafnir II era mais aperfeiçoado, do ponto de vista de aerodinâmica, que o seu antecessor, e apresentava grande vantagem sobre o Vampiro. O Fafnir II podia desenvolver velocidades de 90/100 km/h, antes de atingir a velocidade descendente que se manifestava no Vampiro.-já aos 60 km / h. Ou seja, no mesmo tempo e com a mesma perda de altitude, o Fafnir II cobria uma vez e meia o percurso do Vampiro ." Ao mesmo tempo em que se conquistavam novas marcas de distância percorrida e de tempo de permanência no ar, cuidava-se, também, de galgar novas alturas, e recordes iam sendo batidos um após outro. O local ideal para vôo continuava a ser o sul/sudeste da Alemanha, pois, além de montanhas de boa altura, havia ainda a ocorrência de nuvens que facilitavam o vôo planado. Sobre isto, é Paul Karlson quem traça um quadro da região: ((Os habitantes de Hirscheberg, em Riesengebirge, na fronteira com a Tcheco-Eslováquia, conhecem as nuvens que os adeptos do planador tornaram famosas : as Moazagotl, nuvens oblongas que, com certos ventos, pairam no ar a alguma distância das encostas. Tempo de Moazagotl dizem os aviadores, é tempo propício para voar. Wolf Hirth e outros pilotos da Grunau realizaram vôos de exploração a essas nuvens, excedendo a marca dos 8.000 metros." 2 -

Os Planadores no Brasil

Falar-se de planadores no Brasil, tanto de sua cónstrução como de operacionalidade, é procurar alinhar os construtores e os amantes daquele esporte numa ordem cronológica o mais possível rigorosa. Mas há casos em que isto não é exatamente possível, sobretudo quando se trata ·de experiências realizadas no exterior. Na mesma época em que Otto Lilienthal fazia seu último e malogrado vôo, a 10 de agosto de 1896, um brasileiro apresentava em Londres uma espécie de planador, criação sua. Este elevar-se-ia guindado por um balão e depois, solto, dirigir-se-ia para o ponto que o piloto desejasse. Em uma data que não está bem precisa - 1896 ou 1898 - foi realizada uma experiência pública, com absoluto sucesso, na presença inclusive de representantes da imprensa londrina. O inventor, Tancredo Alvares de Azevedo Macedo, havia requerido e obtido, alguns anos antes, uma patente de seu aparelho na Suíça. Porém, como tinha verdadeira ojeriza à publicidade em torno de seu nome, ocultou sempre seus documentos, o que motivou o quase total desconhecimento desta experiência, que o coloca como um pioneiro do vôo planado. O carioca Tancredo Macedo, entretanto, teve sua tentativa anotada e registrada pela imprensa da capital britânica. 266


Fig. 103 - Erwin W endor// pilotando um "Hol's der Teu/e/H.

Erwin Wendorff nasceu em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, e dedicou toda a sua vida à aviação. Pesquisador, historiador, construtor de planadores, piloto da VARIG, ali fez a sua carreira, voando todos os tipos de aparelhos que a companhia possuía, até se aposentar como comandante master. Vive hoje no bairro de Petrópolis, em Porto Alegre, com a mulher ' e uma filha, sempre voltado e ativo para as coisas de aviação, fazendo parte de várias entidades aviatórias de todo o mundo, das quais é correspondente. É Erwin Wendorff quem relata que já em 1918 foi construído um planador rudimentar no Brasil. Cauteloso , Wendorff não afirma categoricamente que esse aparelho foi o primeiro a ser construído em nosso País, mas não encontramos nenhuma referência mais antiga a nenhum outro. Diz o pesquisador que naquele ano, 1918, em Blumenau, Santa Catarina, um grupo de alemães e descendentes de alemães recebeu algumas revistas que traziam desenhos bastante pormenorizados de um planador. As publicações, oriundas da Alemanha, traziam fotografias dos planadores e alguns pequenos desenhos esquemáticos de como fabricar um. E assim foi feito. O planador tornou-se realidade e voou por diversas vezes, provavelmente lançado das pequenas montanhas que circundam aquela cidade do Vale do Itajaí, fundada por Hermann Blumenau, que viera da Alemanha em 1846 . É o primeiro registro de um planador no Brasil, aqui construído e que aqui voou. O aparelho de Tancredo Álvares de Aze267


· vedo Macedo, embora idealizado por um brasileiro, foi construído e voou na Europa. Já a pequenina Blumenau de 1918 pode orgulhar-se de ter sido o primeiro local brasileiro a ter visto um veleiro dos ares.

3 -

Planadores no Rio Grande do Sul

Novamente de descendentes de alemães foi a segunda tentativa de vôo planado, também vitoriosa, embora rudimentar. Foi na cidade de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, distante 116 quilômetros em linha reta da Capital do Estado, e colonizada por grupos de famílias alemãs em 1849. Ali se desenrolou a segunda experiência de planadores que, construídos, voaram em território brasileiro. A exemplo de quase todos os que escrevem sobre fatos que se tornam históricos, o jornal A Gazeta do Sul também credita à pequena cidade, maior produtora de fumo do Estado, o galardão da primazia, com um título orgulhoso - "Santa Cruz do Sul elevou-se em asas de Ícaro com os primeiros planadores da América do Sul)). De qualquer forma, o periódico santa-cruzense procurou ser o mais exato possível, transcrevendo artigo publicado na edição do Correio do Povo (jornal mais tradicional do Rio Grande do Sul), de 2 de abril de 1972, de autoria do jornalista Sérgio Dillemburg, e buscando ainda mais subsídios nos arquivos da Gazeta do Sul, principalmente da edição de 10 de outubro de 1964. O artigo assim iniciava:

o estranho objeto, de asas muito grandes, rolou veloztliente barranco abaixo até que, impulsionado pelo vento, alçou um vôo silencioso pelo céu afora, sob os olhares estupefatos dos assistentes, indo espatifar-se de encontro ao solo a 30 metros de distância. Esta cena, que passaria à história do esporte do vôo a vela, ocorreu em Santa Cruz do Sul, em 1920, quando Rodolfo Lohre e Gustavo Mohyneck lançaram o primeiro planador de que se tem notícia na América do Sul. Baseados apenas no que uma revista alemã dizia, Rodolfo e Gustavo decidiram construir o seu planador. Empregaram madeira de pinho e taquaras. As peças eram feitas numa marcenaria e montadas nos fundos de uma antiga cervejaria. Depois de muito trabalho, os ({dois ma- . lucos)) levaram o seu aparelho até um morro próximo. Um dos improvisados pilotos acomodou-se em seu interior e projetou-se barranco abaixo. Como ninguém soubesse o que devia fazer, o planador ganhou altura e percorreu mais de 20 metros de distância, a cinco metros de altura, antes de estatelar-se no chão E assim, baseados em notícias da época, os dois jornais gaúchos trazem a notícia de uma tentativa não totalmente frustrada (pois o planador voou realmente) de vôo a vela no Brasil. Não foi nem a primeira, 268


pois que dois anos antes, em Blumenau, havia sido feita idêntica tentativa, mas de qualquer forma é um relato veraz e comprovado dos primórdios do volovelismo, naquele dis tan te 1920. 4 -

Prosseguimento das Tentativas

o sul do País foi, indiscutivelmente, o grande celeiro de idéias e realizações no campo da aviação, com ou sem motor. Garimpando entre as milhares de referências que constituem, em última análise, a história da nossa Aviação, encontra-se uma, bem pequena, sobre a construção de planadores, desta vez em São Paulo. A revista Anuário Aeronáutico publicou, em 1954, sobre o assunto, um tópico que rezava: ((Retrocedendo, em 1929, no Campo de Marte, verificou-se um notável acontecimento: Ismael Guilherme, Americano e Ronza, construÍram o primeiro planador e nele, nesse mesmo ano, com sucesso, realizaram os primeiros vôos. Daí por diante, outros planadores, secundários, foram construídos." Através de pesquisas conseguiu-se saber que o construtor Ismael Guilherme, citado pelo Anuário Aeronáutico, é o Capitão da Força Pública de São Paulo Ismael Guilherme Torres Cristiano. Estas notícias colidem, entretanto, com a que é prestada por Raul Leme Monteiro, em seu livro 25 Anos a Serviço da Aviação, no capítulo Breve História do Vôo a Vela na América do Sul, onde é dito, enfaticamente: ((Dois de março de 1930 - Esse foi o dia histórico do primeiro vôo em planador na América do Sul." A seguir, Raul Leme Monteiro relata que os irmãos Aldo e Guido Aliberti, residentes em São Caetano e proprietários de uma fábrica de botões, "projetaram e pacientemente construíram o primeiro planador que se fez na América do Sul". Diz ainda que o planador era do tipo Zogling, primário, com pequenas modificações, tinha dez metros de envergadura e cinco de fuselagem, asas móveis nas extremidades, manobradas por meio de alavancas controladas pelo piloto. E continua: ((A 2 de março de 1930 o planador foi transportado para o campo de Tereza de Marzo, no Ipiranga. Eram 10 horas da manhã, e Guido Aliberti, auxiliado por seu irmão Aldo, instalou-se e procurou aproveitar-se do vento que soprava forte, com o planador impulsionado por cabos de borracha. Depois de algumas tentativas, o aparelho atingiu cerca de 30 .metros de altura. Após algumas evoluções, Guido Aliberti não mais conseguiu manter o controle do planador e, ao executar uma curva, entrou em perda e foi chocar-se violentamente contra o solo. Removido .para a Casa de Saúde Matarazzo, com contusões generalizadas e fratura de ambas as pernas, Guido ali ficou em tratamento por duas semanas, mas não resistiu à seriedade dos ferimentos, vindo a falecer." Guido Aliberti, segundo os cronistas, é, pois, a primeira vítima do volovelismo no Brasil. 269


o livro de Raul Leme Monteiro, desenvolvido em ordem cronológica, diz ainda: "Vinte e nove de novembro de 1931 - Franz Ronza - um dos fundadores do Clube Paulista de Planadores - realiza o segundo vôo em planador no Brasil e o terceiro na América do Sul." Neste ponto, o autor faz lembrar o vôo realizado no aeródromo de Morón, na Argentina, por Luiz Paolini, a 18 de dezembro de 1930, com um planador primário norte-americano Detroit Cult. Por outro lado, é possível que Franz Ronza, citado como o realizador do segundo vôo de planador do Brasil, seja o mesmo Ronza companheiro de Ismael Guilherme e Americano, apontados pelo Anuário Aeronáutico como tendo construído e voado o primeiro planador no Brasil em 1929. 5 -

O I bis, de Nicola Santo

Irrompia o ano de 1923 e com ele a notícia de mais uma tentativa de vôo sem motor. O jornal A Noite, do Rio de Janeiro, à página 6 de sua edição de 1.0 de janeiro de 1923, publicou notícia de um 'experimento de Nicola Santo, um engenheiro italiano aqui radicado e que se vinha dedicando à construção e reparação de aviões, conforme autorização que lhe fora concedida pelo Aero Club Brasileiro, desde 1913. Depois de várias experiências, algumas das quais nem saíram do papel, como o Aerotorpedo, citado no primeiro volume desta História Geral da Aeronáutica Brasileira, Nicola Santo volta com um novo projeto. Desta feita chamou-lhe Ibis. Segundo a notícia de A Noite, {{ ... os croquis que ilustram esta notícia são os do aparelho do inventor Nicola Santo, que o fez construir conforme estudos próprios, obedecendo à técnica geral aplicada. Tem a configuração de um pássaro e, como a gravura mostra, é triplano, sem aparelho propulsor." Igualmente do Ibis nunca mais se ouviu falar, nem mesmo da "próxima experiência definitiva" que constava do título da notícia de A Noite.

6 -

O Aligerus Morphnus n.o 1

O urubutinga, ave cientificamente classificada como do gênero Morphnus, e encontradiça, em todo o País, inspirou um projeto de planador nos primórdios da saga aviatória. E desta vez não foi no Sul, mas no extremo Norte brasileiro. ' Igualmente em 1923, em Santarém, no Pará, onde vivia, um engenheiro de nome Anysio Chaves pôs-se a ob~ servar o V00 dos urubutingas, e partindo daí deduziu que um aparelho poderia ser construído se fossem observadas as mesmas características morfológicas daquele falconídeo tão ' comum. Em um artigo publicado no jornal A Cidade de Santarém, no día 9 de junho de 1923, o Enge270


nheiro Anysio Chaves relata como chegou a essa conclusão: {(Matet um urubutinga, ave que cientificamente acha-se classificada como de gênero Morphnus - da família dos abutres, e, tomando-lhe todas as medidas e respectivo peso, pude construir uma miniatura do aparelho, cópia fiel da referida ave, com a qual penso ter dado solução definitiva ao problema da aviação sem motor. Quanto à técnica de vôo sem motor com o meu aparelho, pretendo adquiri-la sem nenhum acidente, em lugar próprio, em tempo próprio e com alguns recursos naturais. Uma vez adquirida essa técnica, qualquer pessoa poderá voar, com tanta perfeição quanto o próprio urubu, desde que haja ventilação suficiente para erguer o aparelho do solo, de sobre as águas, com ou sem leve impulso."

---

Fig. 104 -

"Aligerus Morphnus".

o Engenheiro Anysio Chaves, juntamente com seu trabalho publicado em A Cidade, produziu uma representação gráfica do seu invento, com bastante riqueza de detalhes. A esse respeito, a revista Aeronáutica, em seu número 7, de 15 de fevereiro de 1927, e que se editava no Rio de Janeiro, faz menção ao Aligerus Morphnus n.o 1, lamenta~­ do entretanto que seu autor não tivesse até àquela data, quatro anos' passados, nenhuma solução por parte quer do Governo, quer de organizações científicas. Na apresentação do trabalho do Engenheiro Anysio Chaves, a revista Aeronáutica incorre em um pequeno erro, quando diz: ({As conclusões interessantes que serviram de base ao projeto deste aparelho são ainda de muita oportunidade, pois até o presente momento o problema do vôo a vela não teve solução definitiva." Ota, em 1922, o Vampiro já batia um recorde de permanência no ar, com uma hora de vôo planado. A revista prossegue na apresentação, deplorando que o inventor não tenha sido bem compreendido. E arrelI!ata: 271


Em vão procurou seu autor comunicar-se com as corporações 'científicas nacionais a quem poderia interessar o assunto e delas não obteve a crítica desejada.)J Ao que parece, o Aligerus Morphnus n. o 1 nunca saiu mesmo do papel, tendo subsistido apenas a miniatura que seu criador construiu. De qualquer forma, porém, trata-se de um projeto que não se baseou em outros, alienígenas, como as tentativas de Blumenau e Santa Cruz do Sul, mas da pura observação de uma ave que poderia ter seus movimentos reproduzidos mecanicamente por um aparelho. Aliás, repetiu o que já fizera Vilella Jr., que, também observando o vôo de um urubu, CrIOU seu avião, a que denominou, mais simplesmente, Aribu.

272


CAPÍTULO 13

SíNTESE RETROSPECTIVA SOBRE A AVIAÇÃO CIVIL

A PRIMEIRA década em que a Aviação Civil esteve colocada oficialmente sob jurisdição do Ministério da Viação e Obras Públicas, período em que tiveram início os nossos transportes aéreos, houve variados e marcantes acontecimentos que, não obstante, admitem uma síntese cronológica:

N

1.0 -

os grandes reides sobre o Atlântico Sul;

2.° - a política de concessão de prêmios, incentivos e auxílios para construção de balões, para feitos de pilotos e para escolas e aeroclubes; 3.° - a entrega dos assuntos da Aviação Civil, ainda no campo do licenciamento de aeronaves e de pilotos, à Inspetoria Federal de Navegação (1920); 4.° - ~ tentativa pelo Congresso para implantar. duas linhas entre o Sul e o Distrito Federal, a fim de abrilhantar os festejos do Centenário da Independência (1921); 5.° - a expedição do primeiro regulamento para os Serviços Civis de Navegação Aérea (1925); 6.° - o lançamento das bases para a implantação de uma infraestrutura terrestre (1925); 7.° - a vinda das quatro primeiras empresas estrangeiras: Latécoere, Condor Syndikat, Pan American e N.Y.R.B.A. (1925/27); 273


8.° - a expedição da Primeira regulamentação para exames e matrículas, e emissão de cartas e licenças de pessoal navegante (1926); 9 .° - a emissão dos primeiros selos para franquia aérea pelas próprias empresas de transporte aéreo - VARIG e Condor (1927); 10.° - a organização das primeiras empresas constituídas soh a lei brasileira - Sociedade Anônima Empresa de Viação Aérea RioGrandense, Syndicato Condor Ltda., Nyrba do Brasil S.A. e Empresa de Transportes Aéreos ETA & Cia . Limitada (1927/30); 11.° - a tentativa de implantação de uma rede interior de linhas aéreas subvencionadas, ligando o Rio de Janeiro a todos os Estados no norte, nordeste, centro-oeste e sudeste do País (1928); 12 .° - a substituição da Inspetoria Federal de Navegação pela Comissão Nacional de Navegação (1928); 13.u

-

as primeiras tentativas de volovelismo no Brasil.

Nessa primeira década, em cujos dois últimos anos teve lugar o início do transporte aéreo brasileiro, o tráfego passou a desenvolver-se de tal maneira que o movimento dobrou , mostrando a real potencialidade de nossa Aviação Civil. Eis um quadro comparativo e bastante significativo: Discriminação

1928

1929

1930

Companhias .

4

4

4

6.595

7.245

15.503

Aeronaves em tráfego .

57

51

62

Aeronautas em serviço

24

23

39

1.178

1.476

1.767

912.359

1.140.130

1.707 .977.

Horas de vôo

6 .615

8.212

12 .013

Passageiros .

2.504

3.651

4.667

Bagagens, kg

20.259

29.617

23.864

9.688

24.051

31.946

Linhas exploradas, extensão , km

Número de vôos . Percurso, km .

Correio, peso bruto, kg . Cargas, kg . 274

.

1.911

7.778 ·

9 .609


PARTE

III

INDÚSTRIA AERONÁUTICA



CAPÍTULO 1

IMPROVISAÇÃO NO NASCER DA INDÚSTRIA

1 -

Balões na Guerra da Tríplice Aliança

24 de junho de 1867 - há um século - subia aos ares, no Teatro de Operações de Guerra da Tríplice Aliança, um balão . de observação - o primeiro emprego militar da aeronáutica na América do Sul e a semente daquilo que, muito mais tarde, veio a transformar-se na Força Aérea Brasileira. Com estas palavras, Eduardo Gomes, então Ministro da Aeronáutica, iniciava o Prefácio do livro História da Força Aérea Brasileira, de autoria do Ten. Brig. Nelson Freire Lavenere-Wanderley, que se constitui numa das mais completas obras sobre a FAB, interligando-se com, toda a História da Aviação no Brasil. Além de marcar a primeira vez em que a aerostação foi usada em operações de guerra no Brasil, assinala igualmente o início de um processo industrial, pois que os dois balões solicitados pelo Marquês de Caxias e encomendados pelo Governo Imperial brasileiro aos Estados Unidos necessitavam de hidrogênio que os fizesse elevar-se aos ares. Os irmãos Allen - James e Ezra - norte-americanos, foram indicados para a função de aeronautas, e chegaram ao Rio de Janeiro, no vapor Merrimac em 22 de março de 1867. O convite inicial fora feito ao Prof. T. S. Lowe, Aeronauta-Chefe do Exército do Potomac na Guerra de Secessão, mas como ele, em virtude de compromissos anteriormente assumidos, não pôde aceitar a incumbência, recomendou os irmãos Allen para a missão . No entanto, um pequeno esquecimento quase frustra o êxito do empreendimentos. Os componentes para o fabrico do hidrogênio ácido sulfúrico e limalha de ferro - não foram embarcados no Rio de

A

277


Janeiro junto com os balões, e assim, quando estes chegaram a Tuiuti, em 31 de maio de 1867, não havia como preparar o gás que os encheria. James e Ezra Allen tiveram que usar o ácido deixado em Corrientes pelo francês Doyen, primeiro aeronauta encarregado de fazer ascender um balão, e que não lograra êxito. Mas apenas metade do problema estava solucionado, pois não havia limalha de ferro; assim, em última instância, os norte-americanos lançaram mão de sucata, que incluía não só ferro mas vários outros metais impróprios. O resultado, pífio, fez com que apenas um dos balões - o menor - fosse utilizado, mas, mesmo assim, foram efetuadas vinte ascensões, que permitiram a Caxias um conhecimento do Teatro de Operações até então impossível, possibilitando ao comandante realizar com êxito sua investida contra o lmmlgo. O balão maior, que não subiu, media 3.700 pés cúbicos e 12 metros de diâmetro, e o menor, 1.700 pés cúbicos e 8,5 metros de diâmetro; mas ambos sofreram - o primeiro de maneira irreparável - grande diminuição de sua capacidade ascensional pelo uso impróprio da sucata. A última ascensão foi realizada a 25 de setembro de 1867, a cinco quilômetros de Tuiu-Cuê e bem próximo a Humaitá. 2 -

Experiência Histórica

Os fatos referidos foram tratados com amplitude no primeiro volume desta História Geral da Aeronáutica Brasileira, e sua inclusão agora deve-se menos ao uso de balões como engenho militar que ao surgimento de um incipiente processo industrial, onde, à falta de um dos componentes corretos, conseguiu-se, usando de improvisação, um resultado, senão ótimo, pelo menos capaz de atingir o objetivo colimado: fazer subir o balão. Não foi, é lógico, o início de uma indústria. Mas não há dúvida de que se usou um processo industrial, realizado com arte e engenho, e que acresce de importância porque executado sob a pressão das batalhas que já haviam ocorrido e daquelas que ainda haveriam de brotar. Empregaram-se pregos, peças inúteis, chegando-se até o zinco. Mesmo aros de ferro que cintavam os fardos de feno para alimentação dos c~­ valos foram usados. Não chegaram até nós os detalhes do sistema empregado para a obtenção do hidrogênio, mas a certeza do emprego de métodos apenas rudimentares é cabal. O fato não é desmerecedor, antes digno dos maiores elogios, face à premência com que foi executado. Assim, com a primeira ascensão de um balão com fins militares, no Brasil, ocorreu também a primeira tentativa, igualmente vitoriosa, de um processo industrial destinado à aerostação, em última análise · a aeronáutica brasileira: 278


CAPíTULO 2

OS IDOS DE 1920

1 -

Situação Geral

ANO de 1920 começara morno no Brasil. A placidez era a tônica em quase todos os setores da vida nacional, e somente na Política é que se observava alguma agitação. Havia insatisfação no ar, traduzida por virulentos artigos em jornais; os partidos políticos, apenas regionais, traziam até o cenário federal os inconformismos da classe política de cada Estado. Um homem haveria de representar bem essa época. O bacharel Epitácio Lind'olf6 da Silva Pessoa, filho de um coronel da Guarda Nacionale senhor de engenho, nasceu em Umbuzeiro, na Paraíba. Sua carreira, vertiginosa, começou quando exerceu a Promotoria Pública de Bom Jardim , em Pernambuco, já nos estertores do regime monárquico. O filho do coronel José de Silva Pessoa e de sua segunda mulher Henriqueta Barbosa de Lucena pede então demissão de seu cargo e vem para o Rio de Janeiro, onde, com a ajuda do irmão mais velho, Tenente José Pessoa, insinlJa-se junto ao Marechal Deodoro. Sobrevindo a República e sendo o Tenente José Pessoa nomeado ajudante-de-ordens do prifI'eiro Presidente I foi fácil a Epitácio ascender na carreira. Logo a seguir candidatou-se e foi o deputado mais votado da Paraíba, passando a ocupar uma cadeira de Constituinte em 1891. Daí em diante não parou mais, e quando aquele 1920 se, iniciou vamos encontrá-lo como Presidente da República. Logo no início decreta a intervenção na Bahia, o que provoca uma reação imediata e violenta de Ruy Barbosa, que

O .

279


renuncia ao cargo de representante do Brasil na Sociedade das Nações e inicia uma série de artigos contra Epitácio. A crise perdurou por todo o ano. A década começava a esquentar politicamente, mas em outros setores e na vida comum do homem do povo a atmosfera era de tranqüilidade. Os chamados années foltes restringiam-se unicamente à Europa e aos Estados Unidos. A 19 de setembro vieram ao Brasil, em visita de retribuição, o Rei Alberto I e sua mulher, a Rainha Elisabeth, da Bélgica. Em virtude de sua heróica resistência aos alemães, durante a Primeira Guerra Mundial, Alberto era um ídolo internacional, e sob esta condição foi recepcionado no Brasil. Durante sua visita, que durou quase um mês - os soberanos só se retiraram em 16 de outubro - o Brasil viveu dias de intensa vibração, particularmente na Capital da República. Perto do fim do ano, em novembro, Hermes da Fonseca retorna do exterior e é imediatamente o centro de toda a agitação e das críticas dos militares ao Governo, investindo inclusive contra Pandiá Calógeras, num movimento que se prolongaria pelos anos seguintes. E foi assim, entre instantes de agitação política, de vibração cívica e, ao mesmo tempo, de placidez de país essencialmente agrícola e quase colonial, que se foram desenvolvendo os anos 20, que haveriam de marcar o início de um processo evolucionista social que perdura até hoje. À parte a movimentação política apenas epidérmica, o Brasil continuava a viver sua vida mansa e arrastada. Tertúlias literárias eram a tônica em quase todo o País, com ênfase na poesia, e a cultura era o apanágio da sociedade. As atividades industriais e comerciais não eram - ainda - tidas em tão alta conta quanto as de caráter cultural, principalmente no Rio de Janeiro. Em São Paulo, aí sim, instalavam-se novas indústrias, principalmente em conseqüência do engenho e da operosidade dos imigrantes, italianos, sobretudo, que já buscavam o Brasil há algum tempo. Os interesses eram Jocalizados de acordo com a etnia predominante nas diversas regiões. O Nordeste, que não recebera imigrantes, permanecia com o plantio e a cultura açucareiros, enquanto o Rio Grande do Sul, que se dedicava, desde a sua formação, à pecuária, por força de italianos e alemães, desenvolvia ainda a agricultura e uma incipiente indústria. Mas é São Paulo que começa a desenvolver-se de uma forma espantosa. Apoiando-se unicamente na monocultura do café, dá os primeiros passos no terreno da industrialização e aumenta progressivamente o comércio, principalmente pela mentalidade que trouxeram os novos colonizadores migrantes. 280


2 -

Iniciativas Isoladas na Aviação

Os feitos de Santos-Dumont no campo da dirigibilidade das balões e na conquista do espaço com um aparelho mais pesado que o ar, trazidos até nós pelos despachos telegráficos vindos de Paris, enchiam de orgulho e emoção todos os brasileiros. No entanto, o genial inventor abandonara suas experiências e conquistas, e a tendência emoliente do povo de se deixar quedar embalado por lembranças como se fossem realizações, que precisam ser sempre renovadas, fez com que os anos que mediaram ,1908 e 1920 fossem praticamente estáticos e improdutivos no que tange às atividades industriais de aviação. Vimos, no Volume I desta obra, algumas tentativas, vitoriosas, aliás, por parte de J. d'Alvear, Capo Villela com seu Aribu, até chegarmos ao Rio de Janeiro, biplano construído por Lafay sob o patrocínio de Henrique Lage. Enquanto isso porém, na Europa e na França principalmente, desenvolvia-se uma indústria dia a dia mais especializada: a cada nova descoberta somava-se outra, e o resultado era sempre e sempre novos avanços, novos aperfeiçoamentos, que atingiram, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial e seu intervalo de quatro anos, um grau bastante elevado do engenho aéreo, do ponto de vista tanto bélico quanto desportivo e comercial. Cada pioneiro fabricava seus próprios aparelhos e, obtido êxito, passava a' fabricá-los em escala mais ou menos industrial e a vendê-los a quantos quisessem possuí-los. Além disso, eram incentivados por seus governos, que viam no avião uma arma privilegiada, pois ampliava consideravelmente o campo de ação, até então limitado pela potência do canhão que atirava o seu obus. A possibilidade de levar a destruição até o território inimigo foi imediatamente vislumbrada pelos governos europeus, e o conflito de 1914-18 confirmou o acerto desse prognóstico. Ao final da guerra os aviões já estavam amplamente aperfeiçoados e equipados até com metralhadoras que atiravam em sincronia com o giro da hélice. Os. Voisin, os Breguet, os Blériot, os Farman transformaram-se em máquinas de guerra, como os Spad, Cotha, Vickers e tantos outros . . Na Europa, em 1920, havia uma indústria de aeronaves bastan~e sólida, bem como nos Estados Unidos da América, embora em escala menor, e o Brasil tinha que importá-l~s sempre que necessitava, tanto para equipar suas forças de mar e terra, como para simples desporto.

281


CAPíTULO 3

PASSOS INICIAIS

1 -

N

Cursos no Exterior

o final de 1919, a Marinha do Brasil estava empenhada em sUprir

a sua Aviação Naval, criada pouco tempo antes, e para isso mandava ao Exterior alguns oficiais com a finalidade, não só de observar o progresso na aviação na Europa e nos Estados Unidos da América, como também de conseguir meios de implantar em Território Nacional uma fábrica, pequena que fosse, de aviões que pudessem ser utilizados por sua Aviação. Os oficiais de Marinha Raul Bandeira e Victor Carvalho da Silva foram aos Estados Unidos da América fazer cursos de especialização dentro desse objetivo. Ao regressar, trouxeram algum material para a montagem e recuperação de aeronaves, pretendendo fabricar aviões de projeto norte-americano. A idéia não vingou, embora o material não se tivesse perdido: foi utilizado em um estabelecimento da Marinha que, anos depois, foi denominado Fábrica do Galeão. .

2 -

Uma Proposta Inglesa

Nesta ocasião, também estava regressando da Inglaterra um outro oficial de Marinha, Manoel Augusto Pereira de Vasconcelos, com uma proposta da empresa Blackburn Aircraft Ltd. para construir aviões no Brasil. 282


· . Como era amigo de Henrique Lage, um grande armador e empresário brasileiro, conseguiu convertê-lo à idéia da ,aviação , e com tal êxito que Henrique Lage, embora nunca tenha abandonado seus navios e as empresas fundadas por seu pai - a Companhia Nacional de Navegação Costeira entre outras - , transformou-se num . grande entusiasta da ,aviação, e logo se interessou pela proposta da Fábrica Blackburn. Continuou com seu interesse pela aeronáutica até sua morte, em 2 de julho de 1941, aos sessenta anos. 3 -

Normas Sobre Construção de Aeronaves

Nem se tinha idéia de como instalar uma fábrica de aVl0es no Brasil e já o Governo baixava um regulamento para traça'r normas sobre . o funcionamento de · tais oficinas ou estaleiros. O documento é extremamente valioso do ponto de vista histórico, pois mostra a preocupação do Governo, já naquela época, com os estabelecimentos que viessem a produzir aeronaves no Brasil, bem como as características que os mesmos deveriam ter quando se destinassem à navegação aérea com objetivo comercial. Por seu interesse, transcrevemos algumas partes do decreto, em especial as que se referem expressamente a aparelhos de aviação: Decreto n.() 14.050 - 5 de fevereiro de 1920, Aprova o Regulamento da Inspetoria Federal de Navegação . O Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, usando da autorização constante do art . 53 n . II, da iei n." 3.991, de 5 de janeiro deste anno que fixa a despeza para o corrente exercício decreta : Artigo unico. Fica approvado o regulamento, que com este baixa, para a I nspectoria Federal de Navegação, assignado pelo ministro de Estado da Viação e Obras Publicas. Rio de Janeiro, 5 de fevereiro de 1920, 99 ." da Independência e 32." da Republica. Epitacio Pessôa ]. Pires do Rio. Ref!,ulamento da I nspectoria Federal de Navegação

Capítulo T Da I nspectoria Federal de Navegação. Art. 1." - A Tnspectoria Federal de Viação Maritima e Fluvial passará a denominar-se " I nspectoria Federal de Navegação" . 283


Art. 2.° - A Inspectorza terá a seu cargo o serviço de navegação maritima, fluvial e aerea, na parte dependente do Ministério da Viação e Obras Públicas, competindo-lhe: 5.° - Fiscalizar o estabelecimento e exploração de estaleiros e officinas de construção de navios ou aeronaves que gosem ou venham gosar de quaesquer favores do Governo Federal. Art. 4.° - No regimen de fiscalização, a Inspectoria tem seu cargo verificar: ((Na parte referente à construção de estaleiros, navios e aeronaves: 28. Si o material importado pelos conc~ssionarios gosa de qualquer favor do Governo e, no caso affirmativo, se representa a quantidade precisa para a execução das obras a que se destina, de accôrdo com os respectivos planos approvados. 29. Si o material importado pelos concessionarios para a execução de uma determinada obra, e que tiver gosado ou deva gosar de qualquer favor do Governo, é effetivamente applicado nessa obra. 30. Si a construção dos estaleiros ~ officinas e de navios ou aeronaves obedece aos respectivos planos approvados. Art. 5.° - Fica entendido que as expressões concessionario, navios e aeronaves, empregadas neste regulamento comprehendem, respectivamente: a) qualquer companhia, sociedade, empreza, parceira, armador, individuo, etc, que gose ou venha a gosar dt: quaesquer favores da União, visando serviços de navegação, de construção de navios ou aeronaves, ou de estabelecimentos de estaleiros ou officinas destinados às construções daquella natureza; b) toda embarcação a vela, a vapor ou qualquer outro meio de propulsão; c) todo balão captivo, livre ou dirigivel, aeroplano, hydroplano, hydro-aeroplano ou qualquer outro aparelho de aviação.

284


CAPíTULO 4

A GRANDE FIGURA DE HENRIQUE LAGE

1 -

Dados Biográficos

HISTÓRIA da indústria aeronáutica brasileira passa, obrigatoriamente, por Henrique Lage. Graças à sua visão de homem de negócios e de patriota, o Brasil deve o impulso em direção à independêpcia no campo do fabrico de aeronaves, que se constituía até então como que numa reserva de mercado dos europeus e uns poucos norte-americanos. Na capital do Império nasceu Henrique , filho de um próspero armador e industrial português, Antonio Martins Lage Filho, a 14 de março de 1881. Tinha apenas 27 anos quando, já formado em Engenharia, substituiu o pai na direção da Companhia Nacional de Navegação Costeira, fundada no Rio de Janeiro em 1891 e que se constituía, então, não na única, mas na mais segura das ligações entre todas as cidades do litoral brasileiro, quer pelo número de navios, quer pela regularidade e freqüência dos mesmos. Expandindo seus negócios, construiu estaleiros na Ilha do Viana, na Baía de Guanabara, local onde algum tempo depois iniciou suas primeiras experiências no setor da construção de aviões. Mas não ficou restrito ao ramo de armador de navios. Diversificou suas atividades ingressando em outros negócios, como, por exemplo, a extração de carvão mineral em Santa Catarina, durante a década de 20. Depois de um primeiro período em que construiu aviões, foi forçado a abandonar esta idéia por motivos até hoje obscuros, em que as negociações encetadas entre ele e o Governo Federal da época não chegaram a bom termo. Entretanto, viria a retomar o entusiasmo, e com

A

285


Fig. 105 -

Ilha do Viana. na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro.

muito maior ímpeto, no início da década de 30, quando o Chefe do Governo Provisório, Getúlio Vargas, o aproximou de um outro gigante da construçã<Y de avioes, Guedes Muniz. Exerceu um mandato legislativo de maio de 1935 a novembro de 1937, pelo Partido Autonomista , seção do Distrito Federal. Mas a 10 de novembro, com o advento do Estado Novo e o conseqüente fechamento de todas as Casas Legislativas, teve sua breve carreira política encerrada. A paixão pelo Brasil, porém, continuou a impulsioná-lo. Percebendo que não poderia ficar à mercê de importações para a construção de seus navios, criou e instalou no ano seguinte, 1938, o primeiro forno siderúrgico do País. Nesse setor, aliás, construiu e entregou à Marinha do Brasil seis corvetas de mil toneladas cada uma. Mas o homem que teve visão suficiente para compreender que o futuro do Brasil estava na aviàção não se detinha nos louros conquistados. Muito embora a atividade aviatória, pelo menos no setor da construção, fosse sempre a sua paixão, tanto que dedicava a metade de seu expediente às fábricas da Companhia Nacional de Navegação Aérea e da Fábrica Brasileira de Aviões, Henrique Lage continuava sempre a aumentar o seu império industrial. Dedicou-se também à Imprensa, tendo sido proprietário dos jornais O Imparcial e A Tribuna. Era principal acionista ou único proprietário de mais de três dezenas de empreendimentos, que iam do carvão aos navios, da Medicina aos seguros, passando por fábricas de tecidos, exploração de gás natural, hospitais, mineração e tantos outros. 286


Lage veio a falecer no Rio de Janeiro a 2 de julho de 1941, e seus negócios foram inicialmente geridos pela sua viúva, a cantora lírica italiana Gabriella Benzanzoni. O Brasil havia entrado na guerra e a Organização Lage foi considerada pelo Governo ({um conjunto valoroso, aproveitado no interesse da defesa nacional", e todos os seus bens, inclusive os particulares, como a residência na Rua Jardim Botânico, foram incorporados ao patrimônio da União. Um antigo auxiliar de Henrique Lage, e um de seus maiores amigos, Pedro Brando, já estava à testa dos negócios a pedido da viúva, e assim continuou na condição de administrador nomeado pelo Governo. Gabriella Benzanzoni Lage ingressou em juízo pedindo indenização por seus bens desapropriados, e a questão arrastou-se por vários anos . Já estava para ser paga, face a um laudo arbitral de 1948, quando o mesmo Getúlio Vargas, que assumira mais uma vez a Presidência da República e tanto havia incentivado Henrique Lage a interessar-se pelas coisas da aviação, fez retirar do Senado a mensagem que pedia a liberação da verba para pagar a indenização fixada, encaminhada pelo Governo anterior. A contribuição de Henrique Lage à causa da aviação jamais poderá ser esquecida, pois foi graças ao seu dinamismo que o Brasil pôde contar, em dois períodos diferentes - 1920/22 e de 32 até seu falecimento - com ativas fábricas de aeronaves e com produção sempre mais desenvolviqa. 2 -

A Fábrica Blackburn, a Aviação Naval e o Independência

Em 1921 chegaram ao Brasil alguns representantes de um grupo industrial britânico, resultado das gestões feitas por Manoel Augusto Pereira de Vasconcellos, que estivera na Inglaterra fazendo um estágio, dada a sua condição de oficial de Marinha. Um protocolo foi assinado prevendo a construção, por Henrique Lage, dos aviões Blackburn e de motores Bristol. Alguns meses depois, chegavam à Ilha do Viana, sede da Companhia Nacional de Navegação Costeira, as primeiras ferramentas, plantas, etc. que constituíam o ponto de partida para a construção dos aviões Blackburn. Louis Etienne Lafay e o Engenheiro Braconnot já haviam construído o Rio de Janeiro com o patrocínio de Henrique Lage, e obtiveram grande sucesso. Lage lançou-se logo depois, sempre com Lafay e Braconnot, à construção de um novo aparelho, a que denominou Independência, em virtude de transcorrer naquele ano o aniversário dos cem anos da libertação do Brasil do jugo de Portugal. O Independência era um projeto ambicioso: biplano e com dois motores, um à frente e outro à ré (tipo push pull), podia levar até cinco pessoas. Sua ,potência era fornecida pelos motores Clerget, de 130 HP, 287


Fig. 106 -

O "Rio de Janeiro".

quase o dobro do antigo Gnôme de 80 cavalos que equipava o Rio de Janeiro, e os passageiros ficavam em uma nacela que se situava exatamente entre os dois motores. A parte traseira do avião não dispunha de fuselagem, e era constituída de uma armação entrelaçada com arames, numa concepção que o aproximava muito do Caudron G-3. Era equipado ainda com dois pares de rodas e uma bequilha tipo patim de arrasto. Este avião, que bateu vários recordes, tinha doze metros de envergadura e voou pela primeira vez no Campo dos Afonsos, a 25 de maio de 1922. Ainda há registro de sua atuação quando fez parte integrante de uma esquadrilha que recepcionou os aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que vinham de obter êxito na travessia do Atlântico, mas depois disso, a 17 de junho, pouco se sabe do que aconteceu ao primeiro bimotor brasileiro. Quando estava pronto para iniciar a construção dos aparelhos ingleses, em 1922, aconteceu algo que frustrou os intentos do armador brasileiro. Como homem de negócios, Henrique Lage deveria contar com um número de encomendas bastante grande, que justificasse a aplicação de capital e o tempo que haveria de dedicar ao novo empreendimento, tão diverso de tudo o que vinha fazendo. Mas, inexplicavelmente, os pedidos não apareceram . Roberto Pereira de Andrade, em seu livro História da Construção Aeronáutica no Brasil, ao tratar do assunto revela sua 'perplexidade: ({ ... a Aviação Naval brasileira precisava desesperadamente ampliar seus efetivos. A falta de encomendas foi, certamente, um dos motivos que forçou Henrique Lage a estocar suas máquinas e protelar, por alguns anos, a idéia de fabricar aviões no Brasil." Realmente, há uma incoerência entre o fato de a Marinha precisar de aviões e a Organização Lage não receber pedidos, uma vez que queria e podia fabricá-los. 288


Fig. 107 -

O "Independência" em cunstrução nas Oficinas da Cia. Nacional de Navegação Costeira. na Ilha do Viana. 1922.

o

fato, misterioso, determinou o desinteresse de Lage pelo assunto: sua maquinaria, vinda da Inglaterra, foi deixada ociosa na Ilha do Viana, e só dez anos depois veio a utilizá-la, já em outra fase, com outro Governo, e não mais contando com o concurso de Lafay, que havia regressado à França em meados da década de 20. Assim, os famosos Blackburn, dos quais um veio até a fazer demonstrações , nunca chegaram a ser fabricados no Brasil, e a construção aeronáutica ficou estacionana por alguns anos, só retomando o impulso no início da década seguinte.

rig. JU8 -

() "llldepellllh/(·iu ".

289


CAPÍTULO 5

O SÃO PAULO

1 -

Orton William Hoover, o Inspirador

ENTRE tantos estrangeiros que vieram ao Brasil neste século em função de atividades aviatórias, um nome avulta por sua perseverança, amor ao Brasil e às coisas brasileiras. Orton William Hoover fez de tudo: foi instrutor em escolas brasileiras de aviação, representante comercial da fábrica norte-americana Curtiss e, também, seu piloto-mecânico, cônsul dos Estados Unidos da América na cidade de Santos e figura de proa em todas as atividades de aviação no Brasil até sua morte, em 16 de julho de 1958. Após várias idas à sua terra natal, os Estados Unidos da América, e vindas ao Rio de Janeiro, Hoover fixou-se em São Paulo em 1925, em caráter definitivo. Neste mesmo ano fundou a Esquadrilha de Aviação que pertencia à Escola de Aviação da Força Pública de São Paulo criada originalmente em 1913 também por instâncias de Hoover junto ao Secretário de Justiça e Segurança daquele Estado. Em 1925 Orton Hoover, então novamente contratado como instrutor, estimulou o projeto e a construção de um avião monomotor, biplano-escola, e que recebeu o nome de São Paulo. Este aparelho tem grande importância na história da indústria, pois foi a primeira iniciativa bem-sucedida de construção aeronáutica em São Paulo.

D

2 -

Especificações e Construção

O São Paulo era um biplano equipado com motor radial de cilindros expostos, com 60 HP e desenvolvia perto de 130 km/hora. Du290


rante a Revolução de 30, sofreu um acidente e ficou seriamente avariado. O São Paulo era a mascote da Esquadrilha, e, tendo em vista o êxito que cercou sua fabricação, o Governo do Estado de São Paulo autorizou a produção de mais dois aviões do mesmo tipo, mas já com motores Le Blond de 90 HP e que alcançavam 160 quilômetros por hora; no entanto, por ordem do Governo Provisório, sua construção foi interrompida.

fi/!,. lU') -

o

"Süu I'(lulu",

Na mesma ocaSlao, idos de 1930 , foi fechada definitivamente a Escola de Aviação da Força Pública. O Campo de Marte, onde ela se localizava, foi ocupado pela aviação militar do Exército, e até hoje existe ali o aeroporto, usado pelo Aeroclube de São Paulo, mas funcionando só para operações diurnas. O Ministério da Aeronáutica possui agora, no mesmo local, o Parque de Material, o Hospital da Aeronáutica, a Comissão Aeronáutica Brasileira (seção São Paulo), e está em construção o Depósito Regional de Intendência. O Aeroporto pode ser utilizado por aeronaves militares até a categoria C-130 (Hércules).

291


CAPÍTULO 6

O M-5

1 -

Projeto e Construção

'

O FIM do Curso de Engenharia Aeronáutica na França, o então Major Antonio Guedes Muniz apresentou o projeto do avião M-5, que despertou a atenção de seus superiores. O M-5 foi levado à construção, testado rigorosamente por técnicos franceses e depois desmontado e enviado ao Brasil. Aqui, no Campo dos Afonsos, foi novamente montado e apresentado ao público como parte integrante dos festejos do 12. aniversário de fundação da Escola de Aviação Militar, em 10 de julho de 1931.

N

0

Fig, fIO -

292

o

"M-5".


Concluído o curso, o Major Guedes Muniz fora convidado a permanecer mais tempo na França, como fiscal do Governo Brasileiro junto a uma fábrica francesa que aprontava uma encomenda do Exército De projeto, o M-5 passara à realidade, e a Fábrica Caudron encarregou-se da construção, tendo antes te~tado o modelo em túneL aerodinâmico. O Ministro da Guerra de então, General Nestor Sezefredo Passos, aprovou o acordo, e o M-5 ficou pronto em 1929. Realizou ainda na França todos os seus vôos de teste, e foi homologado pelo Serviço Técnico da Aeronáutica Francesa, podendo ser utilizado tanto para turismo como para instrução. 2 -

Características

As características do M-5 diferenciavam-no bastante dos aviões europeus daquela época, principalmente por ser monoplano de asa baixa, quando a grande maioria era composta de biplanos, tendência que vinha desde antes da Primeira Guerra Mundial. Era biplace e possuía estrutura de madeira coberta com tela e contraplacado. A parte dianteira de sua fuselagem era de alumínio, onde ficava o motor, um Hispano-Suíza de 100 HP, 6 cilindros em linha, refrigerado a água e uma hélice de madeira com passo fixo. Tinha 7,10 m de comprimento, autonomia para qiIatro horas e meia, e velocidade máxima de 250 km/h e de cruzeiro, 175 km/h. Seu trem de pouso tinha rodas e pneus de grandes diâmetros (para evitar atolar); um patim metálico traseiro com amortecedores de borracha fazia as vezes de bequilha. 3 -

O M-5 no Brasil

Mas o Brasil tinha novo Governo, oriundo do movimento revolucionário de 3 de outubro de 1930, e o Chefe do Governo Provisóri~, Getúlio Vargas, resolveu acabar com a Missão Militar Brasileira na França. Assim, já em janeiro de 1931, Guedes Muniz regressa ao Brasil, mas trazendo desmontado, como dissemos, o seu M-5. Alguns meses depois, no aniversário de criação da Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos, Guedes Muniz é apresentado a Getúlio Vargas; este lhe faz perguntas sobre omonoplano que ali se encontrava, e demonstra desejo de voar nele. Não obstante a oposição de sua mulher, D. Darcy, Vargas fez um vôo de quinze minutos no M-5 com o Capitão Adherbal da Costa Oliveira no comando. O pequeno avião voou até 1934, quando teve uma asa e o trem de pouso seriamente danificados em um acidente. 293


Fig. · 111 - O "M-5", antes do vôo com o Presidente Getulio Vargas . e D . Darcy. Da esquerda para a direita: Maj. Guedes Muniz , Cel. Plínio Raulino e o piloto Capo Aderbal de Oliveira.

4 -

Depoimento de Guedes Muniz, Autor do Projeto

Guedes Muniz era um homem modesto e não gostava que o chamassem de inventor. Sobre o M-5, e principalmente sobre si mesmo, Guedes Muniz dá o seu depoimento, logo depois de ter retornado ao Brasil : "Eu poderia ter iniciado o projeto de um avião de maior vulto, mas a prudência aconselhava-me a começar do simples para o composto, do fácil para o difícil. Foi por iSso que surgiu o M-5, avião de 100 CV apenas. Não me arrependo do programa que escolhi. Muitos de meus camaradas, a minoria deles felizmente, não compreendem nem aplaudem a minha escolha, pois preferiam que eu tivesse "inventado" (o termo é deles) um verdadeiro avião militar, em lugar de um "sim pIes avião de turismo", como eles batizaram o M-5. Aproveito a oportunidade para dizer-lhes aqui que o M-5 é um avião genuinamente militar, para isso foi construído, pois o cálculo de suas características de vôo foi feito visando ao pro grama militar do avião estafeta." ... "Jornais daqui, quando sé referiam a mim e ao M-5, nunca deixaram de chamarme de inventor, e o M-5, de invenção. .

Nada disto é perfeitamente exato, porém. São raríssimas; senão mesmo inexistentes as invenções modernas de tipo de avião. O M-5, em sua forma geral, apresenta os mesmos desenhos de muitos outros aviões. Eu nada inventei nem nada procurei inventar, desenhando o M-5 . Olhando-o, reconhece-se a forma clássica 294


alemã - ]unkers, Klemm etc, com modificações de detalhe que representam, estas sim, idéias pessoais que procurei pôr em prática. Fugindo das regras usuais, fiz do M-5 um avião curto, procurando concentrar as massas, visando sobretudo a obter rendimentos aerodinâmicos elevados. E creio que o consegui. A forma da cabine, também, é idéia minha, e visava sobretudo à fácil evacuação do aparelho pela equipagem, em caso de necessidade. Se no aspecto geral do M-5 encontra-se "traços de família" da família alemã, o que me tem valido, de demolidores pouco avisados em questões técnicas, o título d~ copiador. .. nos detalhes de construção impera. soberana, a vontade particular e pessoal do engenheiro. Cada peça, cada minúcia do aparelho representa um esforço em busca do inédito, uma luta em procura do mais simples, do mais econômico e do mais leve. A isto podem chamar "invenção", mas a mim repugna, um pouco, receber só por isso o título de "inventor". ({Engenheiro" é suficiente e diz tudo, sintetiza o trabalho paciente sobre a prancha de desenho, concretiza e'SSas horas de correrias silenciosas atrás de uma idéia que não quer muitas vezes surgir da ponta de um lápis imóvel. O M-5 foi exposto na Feira de Amostras. A curiosidade do nosso povo, infelizmente, não fica só nos olhos, ela não edific.a a sua .convicção no ato de olhar, ({ver para crer" é pouéo; · é preciso pegar para convencer! E tanto apalparam o M-5, tanto mexeram nos lemes e abriram_ portas e fizeram força sobre a tela que o meu pobre avião veio doente da Exposição. Tão doente que teve de entrar para as oficinas do Campo dos Afonsos. Aproveitando essa triste oportunidade, resolvi então transformar o M-5 para o tipo aberto. O verão nos castiga, e a limusine do M-5 seria quente demais para a estação. Além disso, o Engenheiro tem de curvarse à vontade manhosa dos pilotos. Eles preferem voar ao ar livre, ao sol, aspirando de pulmões abertos os 200 km por hora de vento que lhes fustiga as faces . E foi por isto que o M-5 perdeu sua cabine especial. Quando o Exmo . Sr. Dr. Getúlio Vargas deu-me a honra e a responsabilidade de confiar a sua vida às asas que eu calculara, foi essa cabine a principal responsável pela impressão de "conforto e de macio" com que S. Exa. sintetizou o seu vôo feliz . Nós outros também preferimos o conforto, o sossego, e temos geralmente horror às correntes de ar. Nossos pilotos não são, porém, como nós. E como o M-5 é para eles . .. 7 Depreende-se, da leitura do artigo do Major Guedes Muniz) publicado em janeiro de 1932, o quanto de simplicidade caracterizava a 295


sua personalidade, a ponto de dizer que repugnava-lhe o título de inventor que, na realidade , bem merecia, não só pelo M-5 mas pelos tantos outros que se lhe seguiram. Com a vinda de Antonio Guedes Muniz para o Brasil, cumprida sua missão na França, encerra-se a década de 20, que foi, antes de tudo, a fase dos projetos. A seguinte seria tão profícua quanto a anterior, mas voltada sobretudo para a construção propriamente dita.

Fig. J /2 - Guedes Muniz com o modelo do M-S. durante sua estada na França.

296


LIVRO DOIS PERíODO DE 1930 ATÉ 1941



INTRODUÇÃO

A SITUAÇÃO GERAL DO PAíS

1 -

A Revolução de 30

E o início da década de 20 viu a explosão do Tenentismo, com tenentes do Exército e da Literatura, tão bem representados pelos intelectuais da Semana de Arte Moderna, os anos 30 iriam registrar, desde o seu alvorecer, o impacto das ondas de choque produzidas por aquele movimento abrangente. Catalisadoras de inegáveis anseios do povo, as energias dos jovens tenentes civis e militares, postas de quarentena no quadriênio Arthur Bernardes (1922-1926), sob permanente estado de sítio, e só parcialmente liberadas na gestão seguinte de Washington Luiz (1926-1930), acumulariam pressão suficiente para romper o dique da insatisfação popular, explodindo em sucessivas convulsões que marcariam a década de 30 como de profundas transformações vividas pela sociedade brasileira. Com deito, o apagar dos ,anos 20 apresentou uma atmosfera de pré-revolução. Em primeiro lugar, a lealdade ao Governo anterior deixou Washington Luiz de mãos atadas para atender às reivindicações da minoria parlamentar, em cujo nome Flores da Cunha apresentou, em 1927, projeto de anistia para todos os revolucionários, civis e militares, de 1922 até então. Mais tarde, consciente de que a reforma financeira que implantara exigiria prazo superior ao de sua gestão para consolidar-se plenamente, procurou comandar a sua própria sucessão, indicando, ainda em

S

299


1928, alguém que se mantivesse fiel à sua política. A escolha recaiu na pessoa do Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, político experiente, desde 1927 à frente do governo de São Paulo, o que descontentou sobremodo Antônio Carlos de Andrade, governador mineiro com sérias pretensões presidenciais no contexto do tradicional revezamento Café com Leite da política brasileira. Esses e outros fatos tiveram repercussões negativas nos meios civil e militar. Aliás, desde 1926 as oposições começaram a articular-se, primeiro com a fundação do Partido Democrático de São Paulo, apresentando programa de forte apelo à classe média quanto à necessidade de mudanças no bojo do que se convencionou chamar Revolução Civil. A resposta foi imediata e, sucessivamente, no Distríto Federal, nos Estados de Santa Catarína, Rio de Janeiro, Maranhão, Ceará e Pernambuco surgiram Partidos Democráticos regionais. Com o propósito de unificar as oposições dispersas em torno do programa do Partido Democrático de São Paulo, os gaúchos propuseram, em 1928, a formação do Partido Democrático Nacional, verdadeiro núcleo de um futuro levante civil. Valendo-se, ainda, do desentendimento Minas/São Paulo, suscitado pela indicação de Júlio Prestes de Albuquerque, introduziram no processo sucessório a figura do tertius na pessoa de seu conterrâneo Getúlio Vargas. Conseguindo a adesão imediata de mineiros e paraibanos, lançaram, em 1929, a Aliança Liberal, que aglutinaria a massa de oposicionistas do Partido Democrático Nacional e militares descontentes egressos do Tenentismo. O gaúcho Vargas e o paraibano João Pessoa foram assim indicados para presidente e vice~presidente na chapa de oposição. Se a situação política era tensa, agravar-se-ia mais ainda a partir do segundo trímestre de 1929, com a ocorrência de dois fatos econômicos da maior importância: a superprodução de café, que acarretou queda progressiva dos preços desde o início de maio; a falência da Bolsa de Nova Iorque em outubro, eliminando qualquer possibilidade de compra maciça de novos excedentes pelos americanos. . Os efeitos negativos destes dois fatos (estoques de 27 milhões de sacas e crise mundial por conta do crdsh da Bolsa de Nova Iorque) repercutiríam sobre as cotações do café no mercado internacional, fazendo com que os preços de agosto de 1929 caíssem, em janeiro de 1930, para um décimo daquele valor. Representando, à época, II.1ais.de 5 0% das exportações brasileiras, com poder para eleger até presidentes, o café foi o pivô da maior crise da história republicana, com graves conseqüê.ncias não só para os demais' segmentos ' da economia brasileira, como, sobretudo, para o quadro político-social de então, às vésperas de um processo eleitoral da maior relevância. Marcadas para 1 de março de 193 0, duas forças principais disputariam o voto dos brasileiros: a Aliança Liberal, com Getúlio Vargas e João Pessoa, de um lado; de outro, o Partido Republicano, com Júlio Prestes e Vital Soares. 300


A Aliança Liberal, cujo núcleo principal se inspirava no Tenentismo, abrigava também membros das classes médias urbanas e até oligarcas dissidentes. Entretanto, enquanto os tenentes civis e militares pretendiam reformas sociais e econômicas que melhorassem as condições de vida dos brasileiros, os oligarcas visavam apenas ao revezamento de poder. O Partido Republicano representava a continuidade do poder dominante, contra o qual o povo já dava sinais de insatisfação . A compacta presença popular nos grandes comícios da Aliança Liberal, por exemplo, revelava adesão espontânea a·novas bandeiras de esperança e a seus condutores, muitos deles protagonistas em passado recente de levantes armados em prol da moralização do regime . Sem justiça eleitoral institucionalizada, a fraude nos pleitos era a praxe, e o de 1 de março de 1930 não fugiu à regra. Apuradas as urnas , Júlio Prestes foi o vencedor. Esgotando-se a alternativa legal, ainda que não legítima, de acesso ao poder, só restava à Aliança Liberal um caminho: a revolução. Neste particular, não havia entretanto consenso. Assim, quando soube que a estratégia de acesso ao poder da Aliança Liberal, por terem seus líderes consciência a prioriga falsidade dos resultados, seria desenvolvida em dois planos, no da campanha política e no da conspiração, o próprio João Pessoa foi enfático ao declarar: Prefiro mil vezes Júlio Prestes a uma revoluçãof1 Mal sabia ele, entretanto, que, ao tombar sob o impàcto das balas assassinas de João Dantas, seria o próprio estopim de uma revolução que tomaria o poder pela força, idéia que sempre rejeitara em vida. Se a sua posição até o fatídico 26 de julho sempre fora legalista, tal não ocorria em relação a outros líderes. Antônio Carlos em Minas Gerais; Getúlio Vargàs, no Rio Grande do Sul; os tenentes de 1922 e 1924, participantes da coluna Prestes-Miguel Costa, Juarez Távora, João Alberto, Siqueira Campos e Cordeiro de Farias, aos quais se juntaria Góes Monteiro - todos, aliancistas, de há muito participavam de conspiração contra o Governo Federal. É verdade que em maio de 1930, quando os tenentes se desentenderam e vieram à luz os manifestos de Luiz Carlos Prestes aderindo ao marxismo e de Juarez Távora condenando a defecção, por não considerar válidos os pressupostos do companheiro de lutas para solução dos problemas brasileiros, a Aliança Liberal conheceu momentos de crise. O assassinato de João Pessoa, entretanto, foi o fato político aglutinádor das oposições em sua arrancada para o poder. Barbosa Lima Sobrinho assim comenta o episódio. 80 Nenhuma caravana política) de tantas que percorreram o Brasil das candidaturas aliancistas, pôde fazer pela causa o que 301


.:sse cortejo fúnebre vai conseguindo. ( ... ) João Pessoa vivo foi uma voz contra a revolução. Mas João Pessoa morto foi o verdadeiro articulado r do movimento revolucionário.

Também a professora Inês Caminha Lopes Ribeiro a ele assim se refere, depois de analisar a crise oposicionista.92 A morte do governador paraibano viria reavivar de forma superlativa o antigo fervor. Nas palavras de Lourival Coutinho em livro sobre o General Góes Monteiro, a revolução não teria passado do embrião se não fora o acontecimento imprevisível ( ... ), "isto é, o assassínio de João Pessoa ( ... ). Este foi o rastilho do incêndio, foi a voltagem que regalvanizou o estado de espírito revolucionário então em adinamia, e quanto ao ímpeto que, em poucos dias, o que parecia irremovível esbarrondava por terra, como em castelo de cartas ( ... ). Não é exagero dizer-se, portanto, que a morte de João Pessoa, a força de Sf:U cadáver, é que derrubou o Governo de Washington Luiz.

Em síntese, o sacrifício de um homem que, paradoxalmente, renegava a tomada do poder pela força pôs por terra as últimas vacilações da Aliança Liberal quanto a uma ação revolucionária. No dia 3 de outubro de 1930, a ação conjunta dos Estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba desencadeia o processo revolucionário inspirado pelo tenentismo civil e militar. Vitoriosa a revolução em suas bases de partida, organizam-se imediatamente três colunas que, em movimento convergente, marcham para a conquista da Capital da República. Com exceção de alguns pontos fortes em Minas Gerais, Pernambuco e no Rio Grande do Sul, pequenas resistências e grandes adesões caracterizam a progressão dos rebeldes. No dia 11, Getúlio Vargas assume o comando das forças revolucionárias, estabelecendo seu QG em Ponta Grossa, Paraná. No dia 24, Washington Luiz é deposto por uma junta provisória que · toma as rédeas do Governo. Com a chegada de Getúlio Vargas ao Rio de Janeiro em 31 de outubro, aclamado pela população, três dias depois, a 3 de novembro, a junta transfere a ele o poder, na qualidade de Chefe do Governo Provisório. Fechava-se assim um ciclo, o da República Velha. Abria-se outro, o dos Tenentes no Poder. 2 -

As Novas Instituições

Com a Revolução de 1930, uma vez implantado o novo poder, começaram os seus promotores a introduzir as mudanças anunciadas em manifestos durante a campanha. Entre estas, em caráter priori302


tário, pretendia-se reduzir a' autonomia das Unidades da Federação assegurada pela Constituição de 1891, consagrando a realidade de um Estado fragmentário. Importantes transformações seriam então introduzidas na vida da Nação como um todo. Os problemas sociais teriam tratamento mais adequado, o que implicaria em retirá-los da esfera puramente policial. Através da criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, o Estado assumiria a condição de árbitro entre patrões e empregados, inspiração positivista de influência marcante na formação dos tenentes. Esta diretriz política abrigava, em sua essência, a idéia de um Governo forte, autoritário e paternalista, fato que provocaria fraturas na unidade do movimento tenentista. Já em 1931 regulamentou-se o trabalho feminino e de menores, instituindo-se no ano seguinte a jornada de oito horas para a indústria e o comércio, velha aspiração dos trabalhadores. No campo econômico, anunciou-se a importância do mercado interno, e adotaram-se medidas de proteção à indústria, proibindo-se a importação de máquinas que a tecnologia nacional tivesse condições de produzir. Paralelamente, houve intervenção na agricultura, com a criação do Conselho da Produção Nacional do Café e da Comissão de Defesa da Produção do Açúcar, embriões dos atuais Institutos Brasileiro de Café (IBC) e do Açúcar e do Alcool (IAA). É a burocracia ampliando a função do Estado nas mãos de um governo forte que procura sepultar para sempre a Política dos Governadores e a tirania do Café com Leite. Na concepção dos promotores das mudanças, Tenentismo, finalmente, fazia o Brasil ingressar no século XX. A realidade não ratificaria essa premissa, como o próprio futuro o evidenciou, já que longe ainda estavam importantes conquistas sociais já incorporadas às modernas sociedades desde o alvorecer daquele século.

°

303



PARTE I AVIAÇÃO MILITAR



CAPíTULO 1

A AVIAÇÃO NA REVOLUÇÃO DE 30

1 -

Considerações Preliminares .

M que pesem alguns avanços no campo operacional obtido pela Aviação Militar, no ano de 1930, imediatamente antes do início das hostilidades, a participação no conflito em si foi modesta. Alguns fatores contribuíram para isto. Em primeiro lugar, as limitações dos aviões e do pessoal para operações militares, pois o material aéreo disponível, além de ser iinpróprio em quantidade, era tecnicamente subordinado aos avanços do final da Primeira Guerra Mundial, e os recursos humanos sofriam naturalmente as conseqüências dessas contingências. Outro fator a considerar é que durante o movimento revolucionário não houve confronto de forças, o que, evidentemente, não exigiu um maior emprego de aviões. Outro ponto que merece atenção é o fato de que, até então, os aviões eram mais prisioneiros de suas bases, embora já houvesse indícios de uma consciência no sentido de vôos mais longos, e, até mesmo, como já vimos, algumas tentativas já haviam sido feitas na década que terminava, através dos reides pioneiros de nossa Aviação Militar. Finalmente~ tanto na Aviação da Marinha como na do Exército, as dificuldades multiplicavam-se, como conseqüência da crise econômica, que atormentava o Governo, e da inquietação ·decorrente das turbulências políticas dos últimos anos, que a todos atingia. Em contrapartida, tanto numa como noutra Aviação, existia, em estado latente, um espírito idealista de muita amplitude. Findava-se uma década de grandes manifestações de inconformismo com o injusto, todas

E

307


elas caracterizadas por um elevado espírito de oferendas. Nas duas Aviações, este espírito manifestava-se nos holocaustos de uma profissão de riscos, e nas perenes preocupações alimentadas por lideranças marcadas pelo patriotismo. Na do Exército, o vulto de Eduardo Gomes de há muito se fazia presente, pois convivera com muitos da Aviação no aprendizado e na prática da sua especialização em Observação Aérea. Na Aviação Naval, a marca do idealismo de um Protógenes Guimarães, tão ligado a ela, transmitia a todos um sopro de idealismo nos tempos de véspera da Revolução. H-avia, também, a consciência das possibilidades do avião com relação 'aos cruciais problemas das longas distâncias , que pulverizavam as possibilidades de uma imensa Nação. Por tudo isso, existia uma predisposição para novos tempos. 2 -

Tenentes Lemos Cunha e Montenegro, e um Potez 25 na Revolução

Apesar daquela predisposição, a presença da aVlaçao no movimento revolucionário de 1930 foi bastante restrita, considerando-se que três foram os eixos de deslocamentos de tropas, tom efetivos de certo vulto, partindo respectivamente de Porto Alegre , Recife e Belo Horizonte. Mas se restrita foi a participação, não há dúvida de que grande foi o entendimento dos que se engajaram nas poucas e limitadas missões então desempenhadas. E, ao constatarmos as patentes dos que voluntariamente ofereceram seus serviços a uma causa que julgaram nobre, encontramos o elo de ligação entre motivação e impulso, entre tenentismo e tenente. Oito anos depois, os ecos de 1922 ainda eram suficientemente fortes para motivar os novos tenentes e impulsioná-los à prática de ações corajosas e de desprendimento. A propósi vale a pena transcrever um episódio de seqüestro de aeronave tão bem descrito por Godofredo Nascentes Tinoco, em seu livro Tempo Bom: lIO I

' .

o

governo, preparando-se, talvez, para sufocar a revolução em gestação, adquirira moderníssimo aeroplano francês, Potez 25 A-lll, destinado a bombardeios aéreos. O aparelho estava já montado e aguardava o momento de ser experimentado. Entretanto, a bússola, o altímetro, o velocímetro, os pequenos aparelhos de orientação enfim, não estavam ainda instalados, por isso que ninguém sabia ainda quando alçaria o primeiro vôo de experiência o belo pássaro mecânico, cuidadosamente guardado no hangar do 308


Campo dos Afonsos. Os Primeiros-Tenentes-Aviadores Casimiro Montenegro e Antonio Lemos Cunha, talvez já suspeitados, talvez já no index do Governo, não voàvam de longa data. Três de Outubro, Minas e Rio Grande, ao mesmo tempo que o norte do Brasil, como um só home11!, dão o grito de guerra levantando-se armados, contra os Governos oligarcas. Na Escola de Aviação, a atividade é febril; voam apenas os pilotos reco. nhecidamente legalistas. Certo dia, porém, manhã cedo, saem todos os aparelhos em condições de vôo. O campo está deserto. Montenegro e Cunha, ciosos dos compromissos assumidos, lotam o lindo avião de gasolina e óleo. Arrastam-no para a pista, e, no momento em que dão à hélice, aproximam-se os aparelhos em vôo procurando pouso. Os dois heróis precipitam a decolagem; de saída, quase colidem com os aparelhos que chegam. Ganham altura sempre, sempre imprimindo ao novíssimo aparelho a sua velocidade máxima, em direção a Belo Horizonte. Iam se aliar às tropas revolucionárias, nas Alterosas. Foi com esse aparelho, e acompanhado do Segundo-Tenente Clovis, que Montenegro lançou boletins no pátio interno do 12.0 RI em Belo Horizonte, convidando-o à rendição, sob pena de bombardeio. 3 -

Principal Missão da Aviação Rebelde

Na Revolução de 1930, além de poucas mIssoes de reconhecimento executadas no eixo Rio de Janeiro-Juiz de Fora-Belo Horizonte, a aviação foi empregada basicamente como arma psicológica, através do lançamento de panfletos concitando as tropas legalistas à rendição. Originais de algumas mensagens extraídas do livro Da Resistência do 12. 0 RI, Da Revolução em Minas, do Primeiro-Tenente Clorindo Valladares, são aqui transcritas a título de ilustração, precedidas de um . do autor: 112 regIstro

Noite de 6 para 7 Enviei ao Major Campos uma mensagem que, lançada de foguete, caiu sobre nossas trincheiras. O Tenente Chagas também mandara a que lhe caíra perto. Eram informações fornecidas pelo adversário. Por isso foram julgadas suspeitas. Os aviões que passaram por cima do quartel não deram informações. Somente na manhã de 8, soube-se da adesão de dois à Revolução, isto é, que haviam aterrado no Prado. 309


Boletins São todas cópias exatas. Aos soldados do 12. 0 Regimento de Infantaria. Estamos preparando para fazer o bombardeamento aéreo desse quartel. Se a rendição não se fizer sem demora, fá-lo-emos. Se içarem bandeira branca e se entregarem, não sofrerão represálias. Se continuarem a resistir, teremos d~ ser impiedosos. 5 de outubro de 1930 (ass.) Coronel Aristarcho Pessoa Boletim oficial n. 14 Bravos camaradas Já mostramos que vos podemos destruir! É inútil o vosso sacrifício! A revolução está vitoriosa em todó o país! Rendei-vos! A Aviação Militar.

4 -

Mais Adesões e o Tenentismo

Em seu livro História da Força Aérea Brasileira/1 o TenenteBrigadeiro Wanderley registra a saída de mais três aviões do Campo dos Afonsos para Belo Horizonte: o avião Morane 130 K218, tripulado pelos Tenentes Clóvis Travassos e Agliberto Vieira de Azevedo; o Morane 130 K224, tripulado pelos Sargento-Ajudante Carlos Brunswick França e Terceiro-Sargento Dinarco Reis; e o avião Morane 130 K217, tripulado pelos Primeiros-Sargentos Tíndaro Pereira Dias e Octávio Francisco dos Santos. Com a Revolução de 30, o Tenentismo chega ao poder, e não há dúvida de que a simpatia das massas urbanas estava nitidamente dirigida para os legendários tenentes, civis e militares. Em que pese este fato, ao compartilhar o poder com velhos políticos, alguns dos quais seus adversários de ontem, perceberam que ainda eram longínquas as possibilidades de instaurar a república de seus sonhos . O próprio Juarez Távora, que por onde passava recebia homenagem de grandes multidões, declarou certa vez .80 A verdade é que me sentia perplexo ( .. . ) Essa perplexidade decorria, em parte, da disparidade de pensamento - mesmo entre os líderes militares do movimento vitorioso - a respeito das transformações a operar, e dos caminhos · mais adequados para realizá-las.

Não foi por outra razão que o verdadeiro núcleo do Tenentismo, fiel a seus ideais e diante do sucesso apenas parcial da revolução que foi sua, ainda marcaria presença na política brasileira durante as pró310


ximaS décadas, em sucessivas tentativas de transformar o País, segundo parâmetros que perseguiam desde a juventude. 5 -

Repercussões da Revolução na Aviação Militar

Iniciada sob o signô de uma revolução, a década de 3 O seria palco de movimentos armados e convulsões sociais característicos de uma era de profundas transformações na sociedade brasileira. Com participação ativa nos principais episódios que marcaram esse período, as Forças Armadas, expressando as aspirações de ponderáveis 'parcelas da sociedade civil, foram autores e atores do agitado processo de mudanças então registrado. Se de início o engajamento nos problemas era restrito aos quadros clássicos de tropas de mar e terra, pouco a pouco, na medida em que cresciam de importância, os segmentos aéreos das duas corporações militares viram aumentar progressivamente o seu envolvimento compulsório na dinâmica da evolução social brasileira. Para participação à altura do momento histórico vivido pela Nação, havia necessariamente a contrapartida de preparo adequado e disso se aperceberam os chefes mais esclarecidos, iniciando uma fase de aperfeiçoamento de recursos humanos e modernização de equipamentos. Foi uma época de correções e ajustamentos, Janto na Marinha quanto no Exército.

311


CAPíTULO 2

A AVIAÇÃO NA MARINHA

1 -

Os Aviões de !talo Balbo

OS ,anos 30, a ' Marinha empreendeu grandes esforços para desenvolver sua aviação; a fim de atender às novas necessidades operacionais da esquadra decorrentes da expansão dos meios flutuántes e às contingências da defesa aérea do litoral, de sua inteira respClUsabilidade. Com esse objetivo, antes mesmo de criar o Corpo de Aviação da Marinha e reorganizar o quadro de aviadores navais, a Marinha incor-

N

Fig. 113 -

312

Avião Savoia Marchetti S-55A


porou ao seu , acervo de equipamentos aéreos onze hidroaviões Savoia Marchetti. Eles chegaram ao Brasil em janeíto de 1931, comandados pelo General Italo Balbo, depois de completarem a ligação Roma-Rio num reide em conjunto. Negociados na base de troca por café, foram entregues à Aviação Naval. Imediatamente disponíveis para treinamento dos aviadores navais brasileiros, que a eles se adaptaram sem problemas, neste mesmo ano -participaram de novo reide, já sob bandeira brasileira. 2 -

Reide a Argentina e Uruguai

Aproveitando as datas nacionais da Argentina e do Uruguai, respectivamente 9 e 18 de julho, oito aviões Savoia Marchetti, sob o c.omando do Capitão-de-Corveta Antonio Augusto Schorcht, incorporaramse aos festejos programados nos dois países, realizando o percurso de ida e volta a Buenos Aires e Montevidéu em perfeitas condições de segurança, apesar das condições atmosféricas adversas predominantes em alguns trechos da rota. Além dos tripulantes, Capitães-Tenentes Raymundo Vasconcellos de Aboim, Luiz Leal Netto dos Reys, Dante de Mattos, Ismar Pfaltzgraff Brasil, Mario da Cunha Godinho, Epaminondas Gomes dos Santos, Ary de Albuquerque Lima, João Corrêa Dias Costa, Braulio Gouvêa e Capitão-Tenente Médico Dr. Manoel Ferreira Mendes; participaram do reide como convidados os Capitães da Aviação Milital Aroldo Borges Leitão e Carlos Pfaltzgraff Brasil. .3 -

A Esquadrilha Petit, Kahl, Menescal

Em 1932, a Aviação Naval organizou uma esquadrilha de demonstração com aviões de caça Boeing 256, tendo como comandante e alas, respectivamente, o Capitão-de-Corveta Djalma Fontes Cordovil Petit, os Capitães-Tenentes Lauro Oriano Menescal e José Kahl Filho. Muito conceituada pela precisão das manobras acrobáticas que realizava, teve oportunidade de participar, em janeiro de 1933, das çomemorações de inauguração do Aeroporto Internacional de Montevidéu. Em agosto, setembro e outubro desse mesmo ano,comboiou o navio Almirante Jaceguay, que conduziu o Presidente Getúlio Vargas às Capitais do norte do Brasil. No regresso dessa viagem, pernoitou em Macaé para comboiar o dirigível Graf Zeppelinem sua chegada ao Rio de J aneiro, em 5 de outubro. ' 4 -

Organização da Defesa Aérea do Litoral e do Corpo de Aviação

Ainda em 1933, a Marinha sistematizou a Defesa· Aérea do Litoral, dividindo-o em cinco setores, e organizou as unidades do seu Corpo de 313


Aviação (Decreto n.o 22.570, de 23 de março de 1933, e Decreto n. e 20.479, de 3 de outubro de 1931, respectivamente). Na realidade, os cinco Setores Aéreos previstos no diploma legal foram apenas planejados, já que as UnÍdades Aéreas previstas para guarnecê-los foram extintas nesse mesmo ano. . Já a organização do Corpo de Aviação ' se efetivou plenamente, compreendendo as seguintes Unidades: 6\ Primeira Flotilha de Aviões de Esclarecimento e Bombardeio, com dezoito aviões Fairey Gordon, com sede no Centro de . Aviação Naval do Rio de Janeiro; Primeira Flotilha de Observação, com doze aviões Vought Corsair, parte com sede no Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro e parte no Centro de Aviação de Santa Catarina; Primeira Flotilha de Bombardeio e Patrulha, com dois aviões Martin PM e cinco aviões Savoia Marchetti, pertencente à Força Aérea da Esquadra; Divisão de Aviões de combate, com oito aviões de caça Boeing 256; Divisão de Aviões de treinamento com oito aviões Waco CSO. 5 -

A Aviação Naval na Guerra do Chaco

Em 1934, a eclosão da Guerra do Chacoentre Paraguai e Bolívia preocupou o Governo Brasileiro, que decidiu então realizar ação de presença mais marcante em nossa fronteira fluvial com os dois países, mobilizando efetivos do Exército e da Marinha, inclusive aviões de combate. Em 4 de dezembro de 1934, decolaram do Galeão duas esquadrilhas de aviões navais sob o comando do Capitão-de-Fragata Fernando Victor do Amaral S.avaget, que se deslocou pilotando um Boeing de caça. A esquadrilha de quatro aviões Boeing tinha como pilotos o Capitão-de-Corveta Álvaro de Araújo e os Capitães-Tenentes Guilherme Fischer Presser, Dario Cavalcanti de Azambuja e Antônio Joaquim da Silva Gomes; a de seis aviões Vought Corsair, o Capitão-de-Corveta Ismar Pfaltzgraff Brasil e os Capitães-Tenentes Gabriel Grün Moss, Hélio Costa, Carlos Alberto de Filgueiras Souto, Franklin Antonio Rocha e Salvador Corrêa de Sá e Benevides.61 6 -

Novos Equipamentos '

Em 1935, a Aviação Naval sofreu a sua última reorganização (Decreto n.o 232, de 12 de julho de 1935), preparando-se para a expansão 314


de meios aéreos que incorporaria a partir de 1936, não só com aVlOes fabricados no Brasil em associação com a Focke-Wulf da Alemanha como também com aviões importados. Efetivamente, a partir de 1936, foram entregues à Aviação Naval quarenta e um aviões de treinamento Focke-Wulf FW 44J; a partir de 1938, dezesseIs aviões de bombardeio Focke-Wulf FW 58B e doze aviões de treinamento e adestramento North American NA-46 importados dos Estados Unidos. Com os dois últimos equipamentos foram organizadas a Primeira e a Segunda Esquadrilhas de Adestramento Militar. 7 -

O Correio da Esquadra

Em 1919, a Aviação Naval criou um serviço aéreo específico para comunicações com a esquadra quando em exercícios fora da sede, ao qual denominou Correio Aéreo da Esquadra. O primeiro vôo foi realizado no dia 15 de agosto daquele ano, no hidroavião Curtiss HS.2 n.O 11, tendo como pilotos os aviadores navais Raymundo Vasconcellos de Aboim e Mario da Cunha Godinho, e como observador o Oficial de Marinha Carlos Pereira Guimarães, subcomandante da Escola de Aviação Naval.

Fig. 114 -

Curtiss HS.2.

Depois de cerca de trezentas ligações com a Esquadra em diferentes exercícios e manobras, o serviço foi desàtivado. 315


8 _. - Criação do Correio Aére<..' Naval Em 1934, foi criado o Correio Aéreo Naval, tendo como objetivos • • • 69 prmcipais: a) adestramento dos aviadores navais e dos pilotos aviadores· da reserva; b) facilidade de comunicações rápidas entre as repartições estaduais e entre os respectivos Estados e o Ministério da Marinha; c) ligação mais fácil entre as populaçõ('s litorâneas e ribeirinhas com os centros populosos e capitais; e d) facilidade de atuação do Governo junto às populações afastadas, em prol da unidade nacional. O primeiro vôo do Correio Aéreo Naval foi realizado num Waco CSO com flutuadores, pilotado pelos Capitães-Tenentes Ismar P . Brasil e Alvaro Araújo, cobrindo a rota Rio de Janeiro-Florianópolis, com pousos em Santos e Paranaguá.

Fil!.. 115 -

Avião Waco eSQ com flutuadores.

Em 1936. o Correio Aéreo Naval foi definitivamente organizado, com a criação da Divisão de Aviões do Correio Naval, ea linha-tronco foi estendida até a Cidade de Rio Grande, passando a ser alimentada por linhas de irradiação. Nas bases de aviação da costa sul, os respectivos 316


avlO<:;s passaram a recolher a correspondência das localidades vi~inras para entregá-la ao avião da linha-tronco e, iguàlmente, passaram a · distribuir a carga postal por este trazida. Santos era pólo de · irradiação para Ubatuba , São Sebastião, Iguape e Cananéia; Florianópolis o era para Tijucas, Itajaí, Joinville, São Francisco, Laguna, Tubarão e Ara· ranguá; de Rio Grande partiam aviões para Pelotas, Jaguarão e Santa Vitória do Palmar. Neste mesmo ano, a Divisão teve seu nome mudado para Grupo Independente de Aviões do Correio Aéreo e, pouco tempo depois, para Grupo de Aviões Correio da Linha Sul.

o

CORREIO AEREO NAVAL 1934 - 19 4 0 L INHA TR ONCO

S UL

L INHAS DE IRRADIAÇÃO

Fig. 116 -

Linhas do Correio A éreo Naval.

o Correio Aéreo Naval utilizava, de início, hidroaviões Waco CSO e CPF F5; passou, posteriormente, a empregar aviões terrestres Waco F-5 e CJC Cabine. Em 1940 , com o objetivo de implantar linhas ao longo da costa norte até Belém, foram adquiridos quatro aviões Beechcraft D-17 A. Na realidade, estas linhas não chegaram a ter funcionamento regular. Os encarregados do Correio Aéreo Naval foram : em 1936, o Capitão-Tenente José Kahl Filho; em 1937 e 1938, o Capitão-de-Corveta 317


Antonio de Castro Lima; e, em 1939 e 1940, o Capitão-de-Corveta Reynaldo' Joaquim Ribeiro de Carvalho Filho.

9 -

Medicina de Aviação -

O Esforço da Marinha

. Em 8 de setembro de 1931, por ofício número 108 da Diretoria de Aeronáutica Naval, de 28/8/1931, foi criado o Curso de Medicina de Aviação Naval, com sede provisória em dependências da nova Escola de Aviação Naval no Galeão. Para o primeiro ano foram oferecidas duas vagas para médicos e três para enfermeiros. Os Primeiros-Tenentes Médicos da Armada Benjamim Ferreira Bastos e José de Faria Góis Sobrinho foram os concluintes do primeiro curso, recebendo os · respectivos . diplomas. Após a primeira turma, sucederam-se outras em 1933 e 1934, todas da Marinha. Freqüentaram esses cursos e receberam diploma os Prirneiros-Tenen~es Médicos da Armada: Sabino Lopes Ribeiro Jr., Waldemir Salem, Roberto Menezes de Oliveira, Clóvis Cardoso de Moraes e o médico civil Dr, Guilherme Rebelo Jr. De ~cordo com o Regulamento do Serviço Médico Naval, foràm diplomados no curso para enfermeiros os Suboficiais: Nilo Mattos,Armando Carlos da Silva, José Moutinho de Carvalho e João Severino Ramos. Em janeiro de 1934, é nomeado Diretor de Saúde da Marinha o Contra-Almirante Arthur do Valle Lima, e o Capitão-de-Mar-e-Guerra Dr. João Dourado Cerqueira assume a direção do Hospital Central da Marinha. Pelo Aviso n.o 2.011, de 13 de julho de 1934, Pontes de Miranda é transferido da Chefia da Divisão de Medicina de Aviação Naval (Escola de Aviação Naval), por ter sido posto à disposição da Diretoria de Aviação Militar (Exército), com a finalidade de organizar um curso de Medicina de Aviação para oficiais-médicos do Exército. Como Diretor d~ Ensino do Curso de Medicina de Aviação, revelou profundos conhecimentos na especialidade e qualidades raras de orientador técnico. Di-. plomada a primeira turma de médicos 'militares especializados em Medicina de Aviação, Pontes de Miranda deixa as funções de consultor técnico do Serviço Médico da Aviação Militar e dedica-se a pesquisas sobre a influência da altitude no comportamento do corpo humano em vôo. O plano de conjunto das pesquisas organizado por Pontes deMiranda bem define as suas qualidades de profissional culto e empreendedor. Em 2 de janeiro de 1938, foi publicado o primeiro número da Revista da Aviação Naval, iniciativa do oficial de Marinha Salvador Cor318


rêa de Sá e Benevides. Esta revista tinha uma seção de assuntos de Medicina ligados à Aviação e a cargo de Waldemir Salém. Com a exoneração do Almirante Lins, é nomeado, em 18 de fevereiro de 1938, Diretor de Saúde o Contra-Almirante Dr. Cerqueira . Bião, que, em 24 de junho de 1938, é substituído pelo Contra-Almirante Octavio Joaquim Tosta da Silva, exonerado da Direção do Hospital Central da Marinha. Em 1 de julho de 1938, assume a Direção do Hospital Central da Marinha o Capitão-de-Mar-e-Guerra Ranulpho de Almeida Sampaio.

319


CAPÍTULO 3

A AVIAÇÃO NO EXÉRCITO

1 -

O Destacamento de Aviação de São Paulo

A década de 30, depois da modesta participação na Revolução de outubro, a Aviação Militar, com base em análises operacionais daquele movimento, sentiu necessidade de desdobrar elementos em São Paulo. Assim, em novembro de 1930, foram destacados três aviões Potez 25 TOE, comandados pelo Capitão Álvaro Assumpção d'Avila, para constituir o Destacamento de Aviação de São Paulo. Do efetivo da organização faziam parte ainda o Capitão Antonio Alberto Barcelos, Primeiro-Tenente Altamiro O'Reilly de Souza, os SegundosTenentes Armando Perdigão, Joaquim Tavares Libânio e João de Almeida, além do pessoal de apoio, sargentos e praças.

N .

2 -

O Grupo Misto de Aviação

No final dos anos 20, a Aviação Militar havia incorporado ao seu acervo de material aéreo várias dezenas de aviões novos, todos de fabricação francesa, ampliando significativamente as oportunidades de treinamento para as equipagens de combate. Em 1931, utilizando parte deste equipamento, a Aviação Militar ativou a primeira unidade aérea depois de criada a arma de Aviação: o Grupo Misto de Aviação, com sede no Campo dos Afonsos, criado 320


pelo Decreto n.o 20 .023, de 21 de março de 1931. Equipado em seu núcleo central com dez aviões .Potez 25 TOE e dispondo de uma Esquadrilha de Treinamento com vários aviões Curtiss Fledgling, teve como primeiro comandante o Major Eduardo Gomes. Nascida sob o signo do sucesso, esta Unidade, sob o comando de um verdadeiro líder, escreveria páginas gloriosas da história aeronáutica brasileira ao longo dos anos 30. 3 _ . Missão Histórica de Busca e Salvamento Merece tilmbém destaque, como exemplo revelado r das multifaces dos homens do espaço, um feito surpreendente vivido pela Aviação Miliülr em 1931, um dos muitos episódios precursores, em nosso I?aís, das hoje rotineiras operações desenvolvidas pelas Unidades Aéreas de Busca e Salvamento. Na fase pioneira; em conseqüência ainda da incipiente tecnologia das máquinas, a aviação exigia dos homens que se aventuravam no espaço uma postura psicológica de permanente convívio com os tênues limites entre o ser e o não-ser. Esta condição acabou desenvolvendo nos homens da terceira dimensão um alto senso de solidariedade humana, levando-os, não raro, a arriscarem a própria vida na tentativa de .salvar vidas alheias. Foi precisamente esse o comportamento de quatro Jovens aviadores militares: o Capitão Henrique Raymundo Dyott Fontenelle e os Tenentes Francisco de Assis Corrêa de Mello, Joelmir Campos de Araripe Macedo e Nelson Freire Lavenere-Wanderley. Pàrticiparam eles da operação de busca e salvamento do Conde Edmundo Di Robilant, aviador italiano desaparecido em abril de 1931 , quando realizava um reide de São Paulo a Mato Grosso, em companhia do mecânico de vôo Quaranta. Encontrando condições- meteorológicas adversas, desviou' sua rota . para o Vale do Paranapanema, descendo o rio com a intenção de intetceptar o Rio Paraná e daí infletir para o norte, subindo o rio e orientando-se para atingir o destino planejado. Com o alongamento da rota e a conseqüente escassez de combustível, realizou pouso forçado em uma clareira na floresta. Tão logo foi registrado o desaparecimento, dois aviões da Aviação Militar foram acionados, partindo do Rio de Janeiro a 18 de abril: um sob o comando do Capitão Fontenelle, tendo como observador o Tenente Araripe; outro comandado pelo Tenente Mello, tendo como observador o Tenente Wanderley. No mesmo dia chegaram a São Paulo e à tarde desceram em São Manuel seguindo a rota planejada por Robilant. 321


~os

dias 19 e 20, começaram as buscas através de reconhecimento aéreo e pousos em diferentes campos, colhendo indicações dos habitantes sobre possíveis direções de vôo do avião sinistrado. Num desses pousos em clareira próxima a Assis, o avião sofre pequenas avarias, sem qualquer dano para os tripulantes. O incidente serviu de motivo para que o Tenente Mello e o Engenheiro Dória, da prefeitura de Assis, escolhessem local adequado para o aeroporto da cidade. A eficiência e rapidez com que o novo sítio foi preparado pelo Engenheiro Dória permitiram a inauguração do novo aeroporto já no dia 22, com pouso do Capitão Fontenelle e bênção do bispo local. Com base de operações nesse aeródromo e o prosseguimento das buscas, conseguiu o Tenente Mello, afinal, descobrir o avião em uma clareira na floresta, sem qualquer vestígio dos tripulantes, o que era forte indício de sobrevivência.

Fig. 117 - Resgate do Conde Di Robilant. Na proa. o Ten. Corrêa de Mello e, sentado, o Conde Di Rohilant.

O local só era acessível por terra. Foi então organizada uma coluna que, orientada pelo Capitão Fontenelle em constantes sobrevôos indicativos da direção geral a tomar, chegou até o avião e o encontrou intacto. Certamente os tripulantes dali se afastaram em busca de sobrevivência. Tratava-se agora de encontrá-los, e para tanto se embrenha322


ram na floresta três caravanas: uma sob o comando do Tenente Mello; outra, do Engenheiro Dória, e a terceira , do Cônsul Scheider. A coluna do Engenheiro Dória encontrou sinais evidentes da passagem dos tripulantes: um galho quebrado (caboclo não quebra galho); uma carteira de cigarro Kifield vazia (caboclo não fuma cigarro americano) e uma folha destacada de bloco. Pouco depois, ao encontrarem-se as três caravanas no ponto predeterminado de reunião, a do Cônsul Scheider trazia o ConQe Robilant, encontrado em Porto São José, na confluência dos Rios Parapanema e Paraná. Após o pouso forçado, explicou o piloto, caminharam ele e Quaranta vários dias, seguindo o caminho das antas e alimentando-se de ervas e frutos , até que' o mecânico com febre, as pernas e mãos. inchadas, não pôde mais caminhar. Deixando-o relativamente abrigado na floresta, saiu em busca de auxílio. O encontro fortuito com um índio levou-o à cabana onde se encontravam um alemão e uma enfermeira também alemã, os quais se mostraram incrédulos quando RobHant declinou o seu título, a sua profissão e solicitou auxílio imediato para resgate do companheiro e amigo que ficara na floresta. Partiram todos em direção ao abrigo improvisado, mas quando lá chegaram Quaranta já estava morto. Encerrou-se, assim, uma bem-sucedida missão de busca e salvamento, em que pese a perda de um dos homens que se pretendia resgatar com vida. No episódio, é difícil ressaltar o que de maior fizeram os jovens pilotos da Aviação Militar : se o desprendimento, a admirável simplicidade, o raro sangue frio, . a perfeita capacidade técnica, que revelaram em todas as emocionantes peripécias da procura dos aviadores perdidos; ou 'se o extraordinário espírito de solidariedade humana, que esteve sempre em primeiro plano no elenco das preocupações dos jovens oficiais durante toda a operação.

4 -

Um Reide Internacional

Ainda em 1931, 'em .arrojada demonstração das potencialidades da Quinta Arma, a Aviação Militar realizou importante reide a várias Capitais do Continente Sul-americano no avião Amiot 122 Bp3 K622, denominado Duque de Caxias. Eram seus tripulantes o Capitão Arquimedes Cordeiro e os Primeiros-Tenentes Francisco de Assis Corrêa de Mello e Godofredo Vidal. Como fatores notáveis a destacar, foi o primeiro avião brasileiro a cruzar a Cordilheira dos Andes e a decolar do 323


Aeroporto de La Paz, o mais alto do mundo, a 4.000 metros; foi o primeiro avião militar brasileiro a visitar as capitais do Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile e Peru. Fugindo ao rigor cronológico, por sua importância inconteste como palco de participação efetiva da Quinta Arma, a Revolução Constitucionalista de 32 será tratada em capítulo específico, considerando os movimentos internos de rebelião no período.

+

@ Fig. 118 -

5 -

+

CD

t

®

Avião Amiot 122 BpJ K622 com seus tripulantes: 1 - Capo Arquimedes Cordeiro: 2 - 1." Ten. Francisco de Assis Corrêa de Mello e 3 1." Ten. Godofredo Vida/o

Desdobramento dos Meios

o ano de

19-33 foi significativo para a Aviação Militar, na medida em que começaram efetivamente a descentralização de Unidades Aéreas e a ampliação de órgãos de apoio, prioritariamente para o Teatro de Operações Sul, em função das próprias Hipóteses de Guerra vigentes à época (Decreto n.o 22.591, de 29 de março de 1933, e Decreto n.O 22.735, de 19 de maio de 1935). A partir daguele ano, expandiu-se o desdobramento com base em sucessivos diplomas legais gue deram OrIgem às seguintes Organizações: 324


Organização

Ato

Sede

8/ 07/ 33

Afonsos

1<:> Comandante -

Observo

-

1933 Parque C. de Aviação

1<:> Reg. de Aviação 59 Reg. de J\viação Depósito C. Aviação 39 Reg. de Aviação

20/ 07/ 33 Afonsos 27/ 07/ 33 Curitiba 8/ 08/ 33 Afonsos 13/ 12/ 33 S. Maria

Maj Ivan C. Ferreira Ex GMAv Cel Newton Braga Maj Samuel R. G. Pereira Cap Abelardo S. de Mesquita Cap Clovis Travassos

1934 Dest Av de C. Grande Esq. de AviáÇão Nu. 29 Reg. de Aviação Dst de Av B. Horizonte Nu. Serv Tec Aviação Dest Av de Fortaleza

23/ 01/34 C. Grande 29 Ten Hortencio P. de Brito 17/ 04/ 34 E. Militar Cap Martinho C. dos Santos 29/ 04/ 34 Marte Cap Casimiro M. Filho Ex DsTSP 19/ 05/ 34 Pampulha 29 Ten Doorgal Borges 26/ 09/ 34 Afonsos Ten Cel Antonio Guedes Muniz 9 13/11/34 Fortaleza 1 Ten Gonçalo P. Cavalcanti

1936 Nu. 79 Reg. de AvÍação Nu. 69 Reg. de Avia'Ção

30/ 06/ 36 29/ 07/ 36

Belém Fortaleza

Cap Ruy Presser BeBo Cap José S. de Macedo Ex Ds TFZ

--

o quadro acima demonstra a preocupação com uma expansão programada e progressiva de meios aéreos e de apoio, a fim de atender às necessidades do Exército em seu desdobramento no Território Nacional. A ativação das Organizações, particularmente a das Unidades Aéreas, fez-se por etapas, partindo do nível Destacamento e evoluindo sucessivamente para Núcleo e Escalão definitivo. 6 -

Um Vôo de Grupo Bem-Planejado

Em 1934, a Aviação Militar acrescentou mais um feito marcante ao seu acervo de realizações aeronáuticas. Foi um episódio de amadure325


cimento da Organização; voltada para o planejamento, que envolvia o reconhecimento prioritário do Território Nacional, fator indispensável para o correto desdobramento de uma Força em expansão. Foi com esse espírito que a Escola de Aviação Militar realizou, em março daquele ano, uma viagem ao norte do País com sete aviões Bellanca em vôo de grupo. O êxito completo dessa missão revelou a correção do planejamento, da organização e da execução, obra de competência do chefe, Tenente-Coronel Ajalmar Vieira Mascarenhas, e do valor inconteste das tripulações.

7 -

Demonstrações na Argentina

Em 1935, durante a viagem do Presidente Getúlio Vargas às Repúblicas do Prata, a bordo do Encouraçado São Paulo, o Exército fezse representar pelos cadetes da Escola Militar e por esquadrilhas da Aviação Militar. Uma esquadrilha de demonstração com três aviões de caça Boeing, uma esquadrilha de sete aviões Vought Corsair e outra de dois aviões Bellanca compunham a representação da Aviação. Houve uma parte da representação aérea brasileira que impressionou profundamente os círculos aeronáuticos e o povo, na Argentina e no Uruguai; foram as demonstrações de acrobacia, em vôo de grupo e por aviões isolados, realizados pelos aviões de caça Boeing; essas de. monstrações impressionaram de tal forma a opinião pública argentina que foram votadas, no Congresso, verbas para reaparelhar a Aviação argentina; o comandante da esquadrilha acrobática era o Capitão José Vicente Paria Lima, e os aviões das alas eram pilotados pelo Capitão Geraldo Guia de Aquino e pelo Primeiro-Tenente Victor da Gama Barcellos.

8 -

Expansão de Meios e Apoio

Em 1935, novos equipamentos engrossaram o acervo da Aviação Militar: os aviões Curtiss CW-16 de instrução primária, equipados com motor Warner Scarab de 125 c.v. De 1937 a 1940, a Aviação Militar realiza nova e importante expansão, incorporando ao seu acervo 128 aviões, importados e nacionais, 326


estes projetados pelo Coronel-Engenheiro Antonio Guedes Muniz e fabricados nos estabelecimentos industriais Henrique Lage:

Figo 119 -

Curtiss CW 16.

15 aviões Avro de instrução avançada; 24 aviões Stearman de treinamento avançado; 2 aviões Lockheed 12 A, para transporte de autoridades; 3 aviões Savoia Marchetti, Ratos Verdes, de bombardeio; 20 aviões Muniz M-7, de instrução primária; 30 aviões Waco Cabine EGC-7; 10 aviões Vultee V-ll GB2, de bombardeio e reconhecimento de longo alcance; 2 aviões Bellanca Skyrocket, para atender ao Serviço Geográfico do Exército; 2 hidroaviões Consolidated C-12 Commodore, adquiridos da· Panair do Brasil SA para vôo na Amazônia; 20 aviões Stearman A 75-L3 de instrução primária; 30 aviões North American NA 44, de instrução avançada, trazidos em vôo dos Estados Unidos por tripulações brasileiras, inaugurando um novo sistema de recebimento de aeronaves importadas. 327


Fig. 120 - Campo dos Afonws, 1937. Embaixo, à esquerda, o hangar da antiga Latécoere (posteriormente, Aérupustale e, depois, Air France). No centro do campo, a Barraca de Controle de Pouso e Decolagem da instrução de vôu.

9 -

Organização Territorial e Patrulha' do Litoral Norte

Em 1936, a Aviação Militar chegara à Amazônia com o Núcleo do 7.° Regimento de Aviação instalado em Belém, Pará, com alguns aviões do CAM e, a partir de então, passou a representar nessa região instrumento de soberania e integração nacional, desempenhando missões da mais alta importância de ordem militar, econômica e psicossocial. Em 1937, com a conclusão de parte das instalações, o 3,° Regimento de Aviação foi transferido de Santa Maria para Canoas. Em 1939, processa-se a primeira divisão do Território Nacional em Zonas Aéreas, ainda com o enfoque de Força Terrestre legislando sobre uma de suas armas, como se depreende pela solução encontrada: 1. a Zona Militar Aérea

1.a , 6. a e 8. a Regiões Militares

2. a Zona Militar Aérea

2. a , 4. a e 9. a Regiões Militares

3. a Zona Militar Aérea

3. a e 5. a Regiões Militares.

O ano de 1939 assinalaria ainda, em dezembro, a. realização dos primeiros patrulhamentos do litoral norte brasileiro, realizados por aviões . Vought Corsair, destacados para Recife e Belém. 328


Tratava-se, evidentemente, de um esf~ço pioneiro da Aviação Militar no cumprimento de sua destinação constitucional, mas sem qualquer resultado prático, já que estavam ausentes do processo de engajamento três pressupostos básicos: a ameaça, o treinamento operacional neste novo tipo de missão e o equipamento adequado, os quais só se concretizariam muito mais tarde, já sob responsabilidade da Força Aérea Brasileira. 10 -

O Correio Aéreo Militar

. Se o final da década de 20 já tinha revelado· a insatisfação dos aviadores militares com a restrita autonomia de vôo imposta pela Missão Francesa, limitando a maioria esmagadora das missões a um cilindro teórico de 10 km de raio em torno do Campo dos Afonsos, o início dos anos 30 assinalaria, afinal, o rompimento desse tabu. Para tanto concorreram três fatos da maior importância: a insatisfação em si, como força impulsora de um processo de mudança; a criação de uma estrutura, como suporte material à disposição dos promotores da nova idéia; e, finalmente, a existência de um verdadeiro líder polarizando anseios dos insatisfeitos, como fator decisivo para transformar aspirações em realidade. Assim, em maio de 1931, surgiu o Grupo Misto de Aviação, comandado pelo Major Eduardo Gomes e contando em sua organização com uma Esquadrilha de Adestramento, à qual foram incorporados recursos humanos entusiasmados com a nova missão e equipamentos oriundos da Escola de Aviação Militar e da Força Pública de São Paulo, num total de 7 Curtiss Fledgling, todos bastante usados e desgastados. Foi este o núcleo de um serviço que nasceu sob o signo do êxito, justificando em sua expansão e consolidação O · acerto de uma decisão madura, com repercussões de ordem política, estratégica e social. Decisão a que não se furtou o Ministro da Guerra de então, General José Fernandes Leite de Castro, vislumbrando, nas propostas de oficiais idealistas como Eduardo Gomes, Lemos Cunha e Casimiro Montenegro Filho, a oportunidade para o Exército de, simultaneamente; prestar serviços públicos de alto interesse nacional e proporcionar adestramento operacional aos seus quadros; ansiosos por melhorarem os seus próprios padrões de desempenho. Tal era o grau de interesse dos homens envolvidos no desafio que um mês após a criação da Unidade Aérea, a 12 de junho de 1931, a bordo do Curtiss Fledgling K 263, os Tenentes Casimiro Montenegro Filho e Nelson Freire Lavenere-Wanderley realizaram a viagem inaugural, transportando uma mala postal do Rio para São Paulo, e de lá ttouxeramoutta; a 15 do mesmo mês. 329


Fig. 121 -

Curtiss Fledging, do primeiro vôo do Correio Aéreo Militar -

CAM.

o avião empregado tinha limites operacionais que se evidenciaram nesse primeiro vôo, embora já apresentasse novidades tecnológicas da década de 20 , como o motor refrigerado a ar, de menor peso e maior eficiência. Equipado com motor Wright Challenger de 170 H.P. e com tanque de gasolina suplementar, o avião podia voar cinco horas ~ meia à velocidade de cruzeiro de 120 km/h. Com dois tripulantes, a carga útil era de 15 kg, neles incluídos os pertences dos pilotos, as ferramentas e a mala postal. Na viagem de ida foi escolhida a rota direta, opção não ideal, já que obrigou à realização do vôo acima de 2 .000 metros, diminuindo o rendimento do motor e a velocidade. A ocorrência de ventos de frente e ar agitado fez com que a velocidade caísse para 80 km/h. Dessa forma , a viagem prevista para três horas e meia levou cerca de cinco horas e vinte minutos , e a chegada a São Paulo ocorreu com as luzes da cidade já acesas, impedindo o reconhecimento do Campo de Marte, à época não-demarcado. Em emergência, os pilotos pousaram com sucesso na pista: do Jockey Club da Mooca. Imbuídos do espírito da missão e com o hipódromo fechado, a alternativa encontrada pelos pilotos foi pular o muro, tomar um táxi e entregar a mala postal na estação central dos Correios, na Avenida São João. Com pleno êxito, completava-se assim, ainda que de forma inusitada, a primeira missão do Serviço Postal Aéreo Militar, mais tarde Correio Aéreo Militar. No dia seguinte, o avião foi levado para o Campo de Marte, e a experiência adquirida na ida indicou a necessidade de se tentar o re330

I


gresso por rota alternativa, decidindo-se pelo vôo através do Vale do Paraíba até Resende e dali diretamente ao Rio de Janeiro. O novo percurso foi coberto em três horas e meia e passou a ser a rota oficial para a ligação Rio-São Paulo, realizada com a freqüência de três vôos semanaiS. O sucesso da primeira linha induziu os idealizadores a programar expansões progressivas com o objetivo de servir às comunidades espalhadas por todo o Território Nacional, prioritariam~nte às carentes de meios de transporte regulares. Tudo isso no momento em que a avia· ção comercial brasileira dava seus primeiros passos no transporte de passageiros e os vôos estavam ainda quase que. totalmente restritos ao litoral. O mergulho no interior seria, como realmente o foi, pioneirismo do Correio Aéreo Militar, e não foram poucas as comunidades, aí incluídas as indígenas, que conheceram o avião bem antes de qualquer contato com os modernos meios de transporte do nosso século: bonde, ônibus, trem ou automóvel. '_ A primeira expansão programada foi estender a ligação Rio-São Paulo até Goiás, um salto ousado em direção ao interior, que mereceu cuidadoso planejament9 envolvendo duas etapas bem definidas: uma preparatória, importando em deslocamento terrestre, do qual se incumbiu o Tenente Montenegro, com o objetivo de entrar em contato com os prefeitos das localidades a serem servidas e solicitar a construção de campos de aviação indispensáveis aos pousos intermediários para se atingir, com segurança, a Cidade de Goiás; outra definitiva, caracterizando o próprio deslocamento aéreo, uma vez preparada a infra-estrutura de apoio. O vôo inaugural da Linha Rio-Goiás, tentado no dia 12 de outubro de 1931 pelos mesmos pioneiros e no mesmo avião da ligação RioSão Paulo, não foi bem sucedido. Um pouso forçado nas proximidades da estação de Scheid, na Estrada-de-Ferro Central do Brasil, avariou o avião e provocou ferimentos leves no Tenente Montenegro. Uma semana depois, no dia 19, nova tentativa com o avião Curtiss Fledgling K 273, tripulado pelos Tenentes Wanderley e Joelmir Campos de Araripe Macedo, teve êxito parcial. Na ida, depois de pernoitar em São Paulo e- Ipameri, realizando pousos intermediários em Ribeirão Preto, Uberaba, Uberlândia, Araguari e Leopoldo Bulhões, o avião chegou sem problemas a Goiás no dia 21. No regresso, em que pese a viagem preparatória de Montenegro, indicando padrões mínimos de segurança, o avião acidentou-se ao decolar de Leopoldo Bulhões, pelas precárias condições do campo, sem maiores conseqüências para os tripulantes. A Linha Rio-Goiás passou a operar regularmente a partir de 30 de novembro, com a freqüência de um vôo semanal. Ao encerrar-se o ano de 1931, com apenas seis meses de existência, o Correio Aéreo Militar já conseguira apresentar saldo positivo de 331


realizações: rede aérea de 1. 7 31 quilômetros de extensão, transporte de 340 'quilos de correspondência e 37 pilotos com experiência de vôo significativamente acrescida, em relação ao seu recente passado operacional, além de totalmente libertos das servidões do vôo local no Campo dos Afonsos. A propósito vale relembrar um trecho do Brigadeiro Wanderley bastante significativo: 61 .. . durante os três primeiros anos de funcionamento do Correio Aéreo Militar, não houve nenhum ferimento grave, nenhuma vida perdida, entre os oficiais e sargentos que participavam dos vôos; o que estabeleceu um contraste curioso: enfrentando ' as dificuldades e os riscos dos vôos do Correio Aéreo Militar, pelo interior do Brasil, a Aviação Militar pagava tributo muito menor, em vidas perdidas, do que 110S vôos em torno do Campo dos Afonsos, a que tínhamos ficado sujeitos durante tantos anos, como medida de precaução.

o ano de 1932 caracterizou-se por uma interrupção do Correio Aéreo Militar de julho a outubro, por conta da Revolução Constitucionalista, e também por uma renovação de equipamentos de vôo, providenciada pelas autoridades da Aviação Militar. Completamente novos, os Waco CSQ foram os primeiros representantes de uma série de outros modelos da família Waco, responsáveis por um período de grande expansão das linhas do CAM. Equipados com motores mais potentes, de 240 H.P. , e ostentando aerodinâmica mais avançada, atingiam a velocidade de 180 km/h, bem superior à desenvolvida pelos Curtiss Fledgling; além disso, dispunham de freios nas rodas, uma novidade na época. Com o término da revolução, dispondo de numerosa frota de aviões Waco CSQ, os responsáveis pelo CAM retomaram o programa de expansão 'e duas novas linhas foram então inauguradas ainda em 1932: Mato Grosso e Paraná. Q vôo inaugural da primeira teve como piloto o Tenente Hortêncio Pereira Brito, primeiro comandante do Destacamento de Aviação de Campo Grande, o qual foi realizado com escalas em São Paulo, Bauru, Penápolis, Três Lagoas e Campo Grande. A inauguração da segunda coube ao Tenente Lemos Cunha, que chegou a Curitiba após a realização de pousos intermediários em São Paulo, Sorocaba, Itapetininga, Faxina e Ponta Grossa. Nota-se, na determinação das rotas, a constante preocupação com o vôo interiorano. Com 3.630 quilômetros de extensão no final de 1932, a rede do CAM mais que dobrou em relação ao ano anterior, em distância percorrida e horas voadas, mesmo com a interrupção de quatro meses imposta pela revolução. Em 1933, os responsáveis pelo CAM voltaram suas preocupações . pa:rá um ·eixo de penetração na direção norte , ligando Rio de Janeiro a 332


Fortaleza, beneficiando comunidades ribeirinhas do São Francisco e -do sertão árido; em nítida postura de integração nacional. A chamada Linha do Rio São Francisço foi inaugurada no '4ia 15 de fevereiro, pelos Tenentes José Macedo e Nelson Freire Lavenere-Wanderley, pilotando o avião Waco CSO n.o 21, que chegou a Fortaleza no dia 17, depois de pernoites em Bom Jesus da Lapa e Crato, além de pousos intermediários em Belo Horizonte, Pirapora, Rio Branco, Barra do Rio Grande, Xique-Xique, Remanso, Juazeiro, Petrolina, Juazeiro do Norte, Iguatu e Quixadá. Em dezembro de 1933, a Linha do São Francisco foi estendida até Teresina, com escah~ em Acarajú, Camocim,Parnaíba, Peri-Peri, Campo Maior e Teresina. Em janeiro de 1934, novos representantes da família Waco, os CJC-Cabine, foram incorporados à frota do CAM; aumentando significativamenteo rendimento operacional do serviço. Equipados com motor Wright de 240 H.P., desenvolviam velocidade de 20Ó kin/h, transportavam carga útil da ordem de 200 kg além, dos tripulantes, e dispunham de alcance de 800 quilômetros. Em 23 de junho de 1934, os Tenentes Rosemiro Leal Menezes e Levi Castro de Abreu inauguraram uma linha no Rio Grande do Sul, ligando Santa Maria a Porto Alegre, com pousos intermediários em Alegrete, Uruguaiana e Cachoeira. Em agosto do mesmo ano, a bordo ~o WacO CJC Cabine C-64, os Tenentes Victor da Gama Barcellos e Rafael de Souza Pinto voaram pela primeira vez de Fortaleza ao Rio de Janeiro no mesmo dia, cumprindo todas as etapas previstas. Ainda naquele mês, nascia em Mato Grosso uma linha circular específica de fronteira, para servir às guarnições do Exército desdobradas naquela região. Com origem e destino em Campo Grande, essa linha de 700 km cumpria pousos intermediários em Bela Vista, Ponta Porã, Maracaju e Entre Rios. Algum tempo depois, a linha expandiu-se para 2.700 km, cobrindo dois circuitos distintos: um norte, com pousos em Coxim, Lajeado, Cuiabá, Rosário do Oeste, Cáceres, Vila Bela, Corumbá e retorno a Campo Grande; outro sul, cobrindo Porto Murtinho, Nioac, Bela Vista, Ponta Porã, Campanário, Dourados e novamente Campo Grande. O an~ de 1935 continuou registrando a escalada de expansão do CAM, com os seguintes e principais eventos: em janeiro, inclusão de Passo Fundo no circuito do Rio Grande do Sul; em fevereiro, prolongamento da linha de Curitiba até Porto Alegre, com pousos em Paranaguá e Florianópolis; 333


em 14 de julho, praticamente quatro anos após a primeira missão, o CAM batia às portas da Amazônia, com o prolongamento da Linha Fortaleza-Teresina até Belém, escalando em São Luís; vôo realizado pelos Capitão Manoel Pinto da Silva Valle e Tenente Gonçalo de Paiva Cavalcanti; em outubro, chegada ·do primeiro lote de oito, de um total de trinta novos representantes da família Waco, os CPF F-5, equipados com motor Wright Whirlwind, de 240 H.P., destinados ao CAM e às esquadrilhas de treinamento' das Unidades Aéreas. Ao encerrar-se o ano de 1935, a rede do CAM atingiu a marca de 10.280 km, ao longo da qual foram distribuídos 18.365 kg de correspondência. Fiel ao planejamento inicial, cumpria-se progressivamente a meta de interiorização, e, nas Regiões· Sul e Centro-Oeste, vários pontos da fronteira terrestre foram alcançados, em processo de vivificação e presença de inestimável valor para afirmação de soberania. A obra de pioneirismo do Correio Aéreo Militar, proporcionando a seus pilotos acumulação progressiva de experiência, foi fator relevante na nacionalização das tripulações de aviões comerciais brasileiros. Quando, em 1936, uma segunda e enérgica Portaria foi baixada pelo Ministério da Viação e Obras Públicas, reforçando uma anterior de 1931, exigindo completa nacionalização de aeronautas, muitos dos pilotos do CAM, já devidamente preparados e experientes, puderam prestar valiosos serviços à aviação corriercial brasileira. No limiar de 1936, duas novas linhas são criadas: uma de irradiação, partindo de Curitiba e servindo às localidades de Ponta Grossa e Guarapuava; outra, inaugurando a fase de vôos internacionais do CAM. Obedecendo a parâmetros de uma política de aproximação e convivência pacífica com todos os países de nosso continente, em 23 de janeiro o Waco CJC-Cabine C 47, pilotado pelos Tenentes Hortêncio Pereira Brito e Ricardo Nicoll, ligou o Rio de Janeiro a Assunção, com escalas em São Paulo, Bauru, Três Lagoas, Campo Grande, PontaPorã, Concepción (no Paraguai) e Assunção. Segundo depoimento dos próprios embaixadores brasileir-os, essa primeira experiência internacional do CAM foi instrumento de inegável valor diplomático no relacionamento entre Brasil e Paraguai. As estatísticas de 1936 revelarám novo surto de crescimento do serviço. Percorrendo 1.081.900 km, o CAM transportou 23.907 kg de correspondência. Paralelamente, desenvolveu-se um trabalho de melhoria da infra-estrutura de apoio, dando melhores condições de operacionalidade ao serviço. Com vistas à nova e · profunda penetração na direção norte, em 1935 e 1936 o Major Lysias A. Rodrigues e o Sargento Soriano Bas334


tos de Oliveira realizaram três viagens exploratórias pelo Rio Tocantins, precursoras da futura implantação de urna ligação Rio-Belém pelo vale daquele rio, a qual só se concretizou três anos mais tarde. Os trabalhos de desbravamento então realizados foram de tal monta e conteúdo que o Major Lysiasos reuniu em precioso volume a que denominou Roteiro do Tocantins. . Em 1937, começou a penetração na Amazônia, primeiramente através de rotas litorâneas. A 22 de julho, foi feita a ligação até Amapá. A 4 de agosto, a linha foi prolongada até o Oiapoque, no Waco CSO n.o 31, pilotado pelo Capitão Ruy Presser Bello e pelo Tenente Joléo da Veiga Cabral. O primeiro ponto da fronteira norte foi então atingido.

Fig. 122 - Capo Av. Ary Presser Bel/o, Sargento Sérvulo, Capo Av. Cantídio Bentes Guimarães e o Cel. Eduardo Gomes, reabastecendo um Bellanca do "CAM" no Amapá - Rota do Iapoque, 1938 - Correio Aéreo Militar.

Em 1938, novas rotas foram expandidas, e a extensão da rede alcançou 14.916 km. O ano de 1939 assinalaria a grande penetração na Amazônia pelo flanco sul. Os vôos experimentais realizados .pelo Major Lysias iriam agora adquirir caráter de regularidade, com a inauguração da Linha do Tocantins, prolongamento natural da rota de Goiás. Decolando do Rio de Janeiro em 31 de janeiro, no avião Bellanca K-215, o Major Hortêncio Pereira de Brito e ' o Capitão Roberto Carlos de Assis Jatahy concluíram a rota normal até Goiás, ligando esta cidade a Belém, com escalas em Santa Luzia, Formosa, Palmas, Peixe, Porto Nacional, Tocantinia, Pedro Monso, Carolina, Boa Vista, Imperatriz, Marabá e Cametá. 335


A extensa lista de localidades incorporadas. ao roteiro evidencia a preocupação de servir ao maior número possível de comunidades, aproximando-as no tempo, na medida em que o avião reduziu para horas a duração de viagens anteriormente expressa em dias. Ainda em 1939, foram incorporadas ao CAM algumas unidades do último representante da família Waco, os EGC-7 Cabine, com 350 H.P. de potência e desempenho bem superior ao de seus antecessores. Ao final da década de 3 O, -a rede do CAM alcançara uma extensão total de 19.709km, e a correspondência transportada atingiu 65.438 kg.

o

o

'-'

o

'" o

CORREIO AÉREO MILITAR .

1931 - 1940 EXPAN SÃO

"931

-

LINH AS

UH

_

LINHAS

"93 5 -1 936

_ _

UNHAS UNHAS

~o

_

LINHAS

.. ,

( EXPERIMENTA L J

_

UNHAS

.. ,

(OEFINITIVA)

4

:5.

7

.

• I

8 H

• g

.iZ

t:5

Fig. 123 -

11 -

Linhas do Correio Aéréo Militar.

Medicina de Aviação -

O Esforço do Exército

Em agosto de 1933, constituiu-se a Junta Médica de Aviação Mi. litar, -sediada no Departamento Médico. de Aviação, no Campo dos Monsos, onde começou a funcionar. Em 29 de março de 1934, o Departamento Médico transformouse no Serviço Médico da Aviação Militar, o núcleo pioneiro de seleção médica do pessoal militar aeronavegante. Seu primeiro chefe foi o então Major-Médico Angelo Godinho dos Santos. Quatro meses depois, chega aos Afonsos Mario Pontes de Miranda, para organizar o Curso de Medicina de Aviação, só regulamentado um ano depois, em 5 de agosto de,J935. 336


Pontes de Miranda, nomeado diretor ·desse curso, convidou para instrutores os seguintes oficiais: Porto Carrero, Instrutor de Psicologia; Barros de Vasconcelos, Instrutor de Oftalmologia; Góes Sobrinho, auxiliar de Instrutor de Medicina de Aviação; e Pinto F:ernandes; Instrutor de Otorrinolaringologia; o próprio Pontes de Miranda era Instrutor de Medicina de Aviação. Em 31 de maio de 1935, segundo o boletim n.O 126 da Diretoria da Aviação Militar, em cerimônia presidida pelo General Diretor da Aviação Militar do Exército, com a presença de autoridades do Serviço de Saúde do Exército, General Alvaro Tourinho e Coronel-Médko Antonio A. Cerqueira, do Serviço de Saúde Naval, diplomouse em Medicina de Aviação a primeira turma de Médicos do Exército, da qual faziam parte o então Major-Médico Angelo Godinho dos Santos; os Capitães-Médicos José da Silva Celestino, Hyldo Sá Miranda Horta, Arminio Leal Elejalde, Edgard Corrêa de Mello, Arauld da Silva Bretas e José Gonçalves; os Primeiros-Tenentes-Médicos Oriovaldo Benitez de Carvalho Lima, Salvador Uchoa Cavalcanti, Eduino Tamarindo Carpenter,Waldemar Basgal; e o Tenente-Farmacêutico Benedito Archanjo da Costa Gama . Nesse mesmo ano , no dia 3 de outubro (Decreto n.O 361, de 3 de outubro de 1935), o Serviço de Saúde da Aviação Militar passou a reger-se por um regulamento próprio, e no ano seguinte, em prédio a ele destinado no Campo dos Afonsos, vem a ser dirigido pelo CapitãoMédico Edgard Corrêa de Mello. Em 1936, o Curso de Medicina de Aviação, tendo como chefe de Ensino Godinho dos Santos e como instrutores Médicos do Exército recém-diplomados em Medicina de Aviação, forma a segunda turma de médicos militares e civis, num total de cinco: os Capitães-Médicos Luthero de Carvalho Teixeira e Luiz Villalonga; os Primeiros-TenentesMédicos Candido M. Holanda Cavalcanti, Odalto de Barros Smith, Joaquim Martim Garcia; João Carlos Caggiano; e os civis Drs.Arthur Villar do Valle, Arthur Borges Dias, Fernando Martim Mendes, José Kaitz, Luciano Benjamin de Viveiros, Luiz Palmerio Lopes e Wandick Seize. Conforme o Boletim da Aviação Militar n.O 146, de 24 de junho de 1936, o Ministro da Guerra autoriza a ida do Capitão-Médico Arauld-da Silva Bretas, do Departamento de Aviação Militar, à Alemanha, como delegado junto aos Jogos Olímpicos; participa ainda do Congresso de Medicina Esportiva e de Aviação e estuda a organização do Serviço Médico de Aviação e Aviação Sanitária. Posteriormente, o Ministro das Relações Exteriores, em Aviso de 3 de setembro de 36, comunica ter o Dr. Bretas iniciado oficialmente seu estágio no Serviço Médico da Aviação Militar. Em 1937, o Serviço de Saúde do Exército já contava com número apreciável de médicos diplomados na nova especialidade, aptos 337


para as inspeções sanitárias dos Aeronavegantes; estas inspeções tornaram-seentão objeto de instruções especializadas. O Serviço passou a funcionar plenamente com a seguinte organização: Chefia, Pronto-Socorro Central, Departamento Médico e Formações Sanitárias para as Unidades de Aviação. O Serviço era encarregado da seleção e assistência permanente do pessoal aeronavegante, do estudo das questões médicas referentes aos aviadores, da instrução do pessoal sanitário, do estudo dos acidentes de vôo, da organização da aviação sanitária e da higiene industrial aplicada aos operários das oficinas de reparação dos aviões. Em 1938, constituiu-se a terceira turma e foram diplomados em Medicina de Aviação quinze médicos militares e civis: os CapitãesMédicos Telêmaco Gonçalves Maia, Benedito Pericles Fleury; os Primeiros-Tenentes-Médicos Godofredo da Costa Freitas, Carlos Santos Rocha, Eduardo Moutinho dos Reis, Thomas Girdwood, Lucilo V. Urrutigaray, Francisco C. Grelle e Gustavo A. .Silva Rego; os civis Drs. Jorge Ferreira Pinto, Waldemar Lins Filho, Natalino Tolomei, Sylvio Cavalcanti da Cunha, José Abreu Conceição; e o Capitão-Médico da Marinha Euclides de Souza Moreira. Em 1939, concluía o curso de Medicina de Aviação a quarta turma de médicos militares e civis, em número de treze: Primeiros-TenentesMédicos Fernando Dias Campos Jr., Herbert Carneiro Ying, Antonio Castro Fleury e Alvaro Tourinho Junqueira Aires; e os civis Drs. Rafael Galeno Sidou, João Caetano da Silva, Belgrano R. Montealverne, Lintz Caire, Armando Barbosa Jaques, Aroldo A. A. Albuquerque, João Pires Teixeira, João Barros de Souza e Celencino S. Lisboa. Em outubro de 1940, o Prof. Ross MacFarland, da Harvard University e Diretor Médico da Pan American Airways, visita o Departamento Médico da Aviação Militar externando sua admiração pelo que vira. Em 1940, a quinta turma de médicos militares e CIVIS, em número de dez, recebia o diploma de Médico Especialista em Medicina de Aviação. Os militares Georges Guimarães, Lucival Lage Lobato, José Ubirajara Cezário Alvim, e os civis Clovis Bulcão Viana, Ismar' Fernandes, Walter Müller, Humberto Grault, Pedro Miichel, José Machado Carvalho Jr. e Adelermo Alvarenga compunham aquela turma. Finalmente, em fevereiro de 1941, na sexta turma, recebiam o diploma de Médico de Aviação: os militares Antonio Melibeu da Silva, Capitão-Médico; Tenentes-Médicos Henrique Mourão Camarinha, Geraldo Cesário Alvim e Teócrito de C. Almeida Neves; e o civil Dr. José Elias Neder.

338


CAPíTULO 4

O MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA DE 1932

1 -

Origens

movimento de 1932, que durou exatamente 85 dias, foi o clímax de um processo de atrito entre o Presidente Getúlio Vargas e as lideranças paulistas, envolvendo causas remotas e motivações próximas. As primeiras tiveram suas raízes uma década antes, quando uma série de crises veio à tona, tumultuando a vida política brasileira durante oito anos e culminando com a Revolução de 1930, dirigida em grande parte contra o Partido Republicano Paulista e o sistema oligárquico por ele representado. As segundas têm sua gênese na própria revolução, mais particularmente no exercício do poder pelos vencedores. Os revolucionários de 1930 tinham plena consciência da importância de São Paulo no conjunto da Federação, tanto que Vargas, ao atingir as suas fronteiras em marcha para o Rio de Janeiro, telegrafou à junta militar que depusera Washington Luiz, afirmando sua pretensão de ocupar o Estado apenas parfl consolidar a situação militar, não havendo propósito de hostilizar ou humilhar os nossos irmãos daquele Estado, que só nos merecem estima e apreço.53 Mais tarde, em visita a São Paulo na companhia de João Neves da Fontoura, foi a vez de este último declarar, quando discursava para ~ultidão: Os exércitos do Rio Grande trazem um lema inscrito em suas bandeiras: São Paulo aos paulistas. Apesar dessas declarações , a verdade é que homens influentes em torno de Vargas se opunham à entrega do poder a políticos profis-

O

339


sionais, em especial ao 1íder do Partido Democrata, Professor Francisco Morato, por julgarem que a ação do partido fora de excessiva passividade nas eleições de 1930 e quase contemplativa durante a conspiração contra o Governo de Washington Luiz. A decisão de Vargas de manter um delegado militar nos Campos Elíseos, com amplas credenciais para organizar uma nova administração estadual; ainda que por pouco tempo, segundo declarou o Professor Morato, não agradou ao líder, nem ao Partido Democrático, muito menos aos paulistas, que se sentiram relegados a segundo plano na condução dos destinos de seu pr6prioEstado. A presença do Tenente João Alberto acelerou o ritmo de ruptura entre Vargas e São Paulo, e as divergências cresceram, a partir dos primeiros meses de 1931, à medida em que os paulistas reivindicavam para ~ direção . do seu Estado um civil paulista, e nela viam, ao contrário, representantes do Tenentismo na condição de interventores. As campanhas na imprensa e no rádio foram a válvula de escape para o orgulho estadual ferido; através delas, os diretores do Partido Democrático queixavam-se da preterição sistemática dos filhos de São 3 Paulo e de outros grandes vultos da terra por elementos de ford e declaravam que acha-se em jogo a sorte de São Paulo e com ela a do Brasil inteir..o, porque São Paulo não é apenas a pérola, mas a meduifl e o sangue da federação. 53 Tais campanhas extrapolaram da simples contestação política para uma primeira tentativa de luta armada, fruto de conspiração cívicomilitar, envolvendo o levante frustrado da Força Pública, no qual tiveram papel importante o próprio Professor Morato e Júlio de Mesquita Filho, diretor de O Estado de S. Paulo, visando a depor o interventor e a apresentar a Vargas um fato consumado de graves repercussões. Configurou-se assim um processo de difícil conciliação entre a elite política paulista e o regime revolucionário, com a intransigência daquela em relação à independência administrativa do Estado. As crises sucederam-se provocando ó revesamento de interventores: João Alberto, Laudo de Camargo, Manuel Rabelo e, por fim, o Embaixador Pedro de Toledo, um homem de mais de setenta anos. Civil e paulista, sim, mas afastado da polítiea e do Estado há muito tempo. Mais. ainda: visto com reservas pelos paulistas, na expectativa de sua real independência, e contestado por revolucionários radicais, que, na impossibilidade de evitar sua posse, pretendiam cerceá-lo na , organização do secretariado, o que seria nova afronta aos paulistas. Nesta altl,lra, sentindo-se cercados pelo poder revolucionário, o Partido Republicano .Paulista e o Partido Democrático, tradicionalmente rivais, uniram suas forças no que se convencionou chamar de Frente Única Paulista, e levantaram as bandeiras da reconstitucionalização e da autonomia, como únicas capazes de devolver a São Paulo a dignidade e a independência. 340


Se os objetivos da Frente eram em si pacíficos, os meios para atingi-los incluíam até a conspiração político-militar. Embora catalisando os sentimentos de oposição ao Governo central, o caso paulista não foi o único no biênio 1931/1932, já que havia outros focos de conspiração no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais . Desde 1931, o Partido Libertador gaúcho manifestava sua solidariedade ao Partido Democrático de São Paulo por seu rompimento com João Alberto. Nessa mesma época, vozes levantavam-se no Exército contra a presença dos tenentes nas interventorias, por considerálas subversão da hierarquia, o que levou o General Isidoro Dias Lopes, Comandante da 2. a . Região Militar em São Paulo,- a iniciar sondagens visando à derrubada do Governo Provisório. Em sua guarnição, contava ele com ampla camada da oficialidade. Em Mato Grosso, sensibilizara o Comandante da Região Militar, General Bertoldo Klinger, um dos mais severos críticos do Tenentismo. No Rio de Janeiro, aliciou, entre outros, o Coronel Euclides Figueiredo, que viria a desempenhar importante papel no processo revolucionário. Em Minas Gerais, os rebeldes contavam senão com o apoio, pelo menos com uma neutralidade simpática em caso de levante. São Paulo tinha plena convicção de que nenhum movimento rebelde teria sucesso se não contasse. com o apoio das principais Unidades da Federação. Nesse particular, a ajuda do Rio Grande do Sul seria obviamente crucial para o sucesso de uma guerra prolongada, e os conspiradores nãó ignoravam isso. A rede .conspiradora proliferou e chegou a envolver o próprio interventor gaúcho, Flores da Cunha, que prometeu pegar em armas contra Vargas, promessa não cumprida e que, afinal, I?udaria o curso dos acontecimentos. 2 -

A Deflagração

Ante esse quadro, fixou-se a data da revolução para o dia 14 de julho de 1932, aniversário da Queda da Bastilha. Dois acontecimentos, entretanto, precipitaram a antecipação dQ movimento: a nomeação do novo Ministro da Guerra, General Augusto Inácio do Espírito Santo Cardoso, há muito afastado do serviço ativo e sem curso de Estado-Maior; e a demissão do General Bertoldo Klinger do comando da 9. a Região Militar, em conseqüência de carta enviada ao novo ministro, contendo críticas acerbas ao seu investimento nas funções de ministro. Ofendido em seu brio militar, revoltado com o que julgava uma ofensa à dignidade do Exército, resolveu o General Klinger assim agir, sabendo que provocaria o há muito preparado levante militar. 341


Realmente, a emergência criada pela atividade federal contra Klinger ameaçava pôr em xeque ou mesmo desmontar os planos militares dos constitucionalistas, que, na atmosfera cada vez mais ebuliente de São Paulo, mal podiam ser mantidos em segredo. Dificilmente se poderia esperar mais uma semana sem defecções ou sem que o Governo, através do deslocamento de tropas ou da substituição de oficiais, neutralizasse as ações projetadas. Assim, na noite de 9 para 10 de julho de 1932, foi deflagrada a Revolução Constitucionalista. O início da rebelião em São Paulo processou-se com surpreendente facilidade e sem grande violência, a partir da primeira reunião presidida pelo Coronel Figueiredo, às onze horas. Ao longo da tarde, houve centenas de conquistas de posição, resistências vencidas, rendiçõesexigidas e obtidas, adesões ganhas, solidariedades hipotecadas e apoio mobilizado. Nada disso, entretanto, entusiasmou o comando revolucionário, já que as adesões indispensáveis e decisivas do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais ainda não ' se tinham manifestado. Ao cabo de 24 horas, as esperanças frustraram-se por completo, na medida em que os aliados com que contavam ' os paulistas cerraram fileiras com o Governo Central. A partir de 10 de julho, o cerco federal a São Paulo, que não estava preparado para uma longa campanha, apertar-se-ia cada vez mais. A derrota final seria questão apenas de tempo. Dos oficiais que serviam no Destacamento de Aviação em São Paulo, um aderiu à revolução, o Primeiro-Tenente Nicanor Porto Virmon; três, por discordarem, ficaram presos até o final do conflito: o Capitão Alvaro Assumpção d'Avila e os Primeiros-Tenentes Casimiro Montenegro Filho e João de Almeida; o Segundo-Tenente Geraldo Guia de Aquino fugiu por via férrea, dirigindo-se para Minas Gerais via Pirassununga, Casa Branca, Guaxupé e Três Corações, apresentando-se no Rio a 15 de julho, a tempo de participar de operações aéreas nas frentes do Vale do Paraíba e de Mogi-Mirim. Em contrapartida, deixaram as hostes governistas, deslocando-se para São Paulo por via marítima os Majores Ivo Borges e Lysias Augusto Rodrigues e os Primeiros-Tenentes José Angelo Gomes Ribeiro e Orsini Coriolano. A eles agregaram-se oficiais da Força Pública e civis que participaram das operações aéreas, quer como pilotos, -quer como observadores. 3 -

As Frentes de Combate

Com a eclosão do movimento em São Paulo, logo na primeira semana as forças legalistas se desdobraram nos limites do Estado, estabelecendo inicialmente duas frentes: uma ao sul, na fronteira com o 342


REVOLUCÃO DE 1932 AS TRÊS FRE-NTES DE COMBATE

ESTADO DE SÃO '

PAULO srA CIIIJ2

CÃtl>IDO

n." "'Tt"

MOTA .

.............

DO

~ FMX>

.JI"

CAM PI NAS.

~ ~C'AMroS .AlARÉ ~AFETI\IINGA

>(;}ILHA DE G{) S. SEBASTI ÃO

PARANÁ

Fig. 124 -

Frentes de Combate na Revolução de 1932.

Paraná, cujos elementos. marchariam sobre São Paulo seguindo o eixo Itararé-Faxina (ltapeva)-Itapetininga; outra no leste, cujos componentes avançariam pelo Vale do Paraíba. Posteriormente outra frente se abriu na fronteira com Minas Gerais, sendo objetivo das forças aí desdobradas progredir com um flanco sobre o Vale do Paraíba e com outro sobre Campinas, apertando o cerco sobre a capital.

4 - . Forças Aéreas em Presença Ainda na fase de ebulição política, quando ficou .evidente a forte possibilidade de que as sucessivas crises desembocariam num conflito armado, os contendores em potencial procuravam mobilizar os meios de combate mais avançados para impor a sua vontade. É óbvio que os dois lados reconheceram de pronto a importância da ' aviação, e ambos desenvolveram grandes esforços para enriquecer seus meios aéreos. Com presença marcante e decisiva nas três frentes de combate e mesmo sobre o mar durante o bloqueio naval do Porto de Santos, a aviação foi responsável pela unicidade histórica da Revolução de 1932, na -medida em que nenhum chefe pôde dela prescindir. Ela é referencial obrigatório em qualquer análise político-militar do movimento constitucionalista . 343


Na realidade, durante a guerra civil, ocorreu pela primeira vez, na história do País , o ensaio em escala considerável da arma mais temida do período de entre-guerras. Embora a disponibilidade de meios fosse modesta de parte a parte, os resultados da intervenção dos mesmos nos combates foram surpreendentes. Constitucionalistas e legalistas, nas três frentes, clamavam continuamente por maior presença da aviação, certos de sua condição de fiel da balança na dicotomia vitória/ derrota . A ânsia por meios aéreos manifestou-se desde os instantes iniciais da luta. Um dos primeiros atos paulistas foi ocupar o Campo de Marte, base do Exército nos arredores de São Paulo, onde se encontravam dois aviões Potez 25 TOE e dois Waco CSO, um dos quais pertencente ao Grupo Misto de Aviação, sediado no Campo dos Afonsos. Assim, na manhã de 10 de julho, a Aviação Constitucionalista compreencHa quatro aviões, aos quais sç acrescentariam posteriormente o Waco eso C-3, levado para São Paulo, no dia 21 de julho, pelo Primeiro-Tenente Arthur da Motta Lima, e o Nieuport Delage Ni D-72, transportado na segunda quinzena de agosto pelo Capitão Adherbal da Costa Oliveira, por terem ambos os pilotos aderido à causa revolucionária. Além desses,uma série de aviões leves foi posta à disposição dos rebeldes por proprietários privados: três De Havilland DH 60x Moth, dois Harriot 410, um Nieuport Ni-81, um Morane-Saulnier MS29, um Curtiss JN-2 e um Caudron 93-bis. Alguns dias mais tarde foi acrescentado a esta frota heterogênea um Laté 26 requisitado da Aéropostale, com vistas a possível adaptação para bombardeio. Também os legalistas cedo revelaram reconhecimento pelo valor potencial da nova arma . Já a 10 de julho., o General Góis Monteiro instruiu o Coronel Pessoa no sentido de solicitar ao Ministério da Guerra que mantivesse sempre à sua disposição três aviões armados. No início das hostilidades, a Aviação legalista era mais bem servida de meios aéreos. Da Aviação Militar foram mobilizados: o Grupo Misto de Aviação, com doze aviões Potez 25 TOE de observação e bombardeio e cinco aviões Waco CSO armados com' metralhadoras e porta-bombas; a Escola de Aviação Militar, com um avião de bombardeio Amiot 122, um caça Nieuport-Delage Ni D-72 e onze De Havilland DH 60T Moth, atualizados em missões de ligação, observação e regulagem de tiros de artilharia. A Aviação Naval mobilizou a 18.a Divisão de Observação com quatro aviões Vought 02V-2A Corsair e a Flotilha Mista Independente de Aviões de Patrulha com três aviões Martin PM e sete Savoia Marchetti S-55. Para tarefas de ligação, reconhecimento e observação, haVia ainda disponíveis doze De Havilland DH 60 e dois Avro 504. Se o primeiro passo foi mobilizar os meios existentes, o segundo, tanto de legalistas quanto de constitucionalistas, foi adquirir meios 344


complementares, necessanamente Importados, já que a indústria local era incapaz de produzi-los. Dos contratos negociados pelo Governo Federal, apenas um, referente à compra de trinta e seis Waco C90, Se concretizou com a rapidez necessária para permitir o emprego operacional no conflito. Dos trinta e seis, só dez foram montados a tempo de terem participação efetiva, mesmo assim com uma particularidade. A intenção era usar os Waco C90 primariamente como aviões de caça, e secundariamente como de bombardeio e observação. O contrato especificou a instalação de metralhadoras de 7mm, com a finalidade de utilizar munição já fabricada no País para armamento de mesmo calibre usado na Infantaria. Entretanto, como as munições aérea e terrestre têm características distintas, as metralhadoras dos Waco C90, em sua maioria, entravam em pane logo após as primeiras rajadas. Os aviões passaram então a cumprir primariamente missões de bombardeio e observação, e os poucos cujas metralhadoras aceitaram a munição autóctone eram intensamente solicitados e deslocavam-se para as três frentes, realizando missões primárias de caça. Para os paulistas, as dificuldades de aquisição de material eram significativamente maiores . As negociações em Nova Iorque, por exemplo, com a Consolidated Aircraft, para a compra de dez aviões Fleet 10D, quando quase concluídas, foram abortadas por intervenção direta do Governo Brasileiro junto ao Departamento de Estado. Só mesmo através de operação triangular .em Buenos Aires, a fim de burlar cláusulas do Tratado de Havana, foi possível adquirir dez aviões Curtiss 0-13 Falcon na fábrica de montagem da Curtiss Wright Corporation, em Los Cerrillos, Chile, pela quantia de US$ 292.500. Eram aviões robustos, equipados com motor Curtiss D-12 de 435 H.P., velocidade máxima de 224 km/h, raio de ação de 1.000 km e teto de 4.600 m, capazes de realizar bombardeio picado. Sem dúvida, foram os aviões mais aperfeiçoados que participaram da luta aérea. O transporte desses aviões para o Brasil foi um verdadeiro desafio. Em princípios de agosto, pilotos americanos e ingleses especialmente contratados iniciaram os vôos de translado via Argentina e Paraguai. Dois aviões foram entregues a pilotos brasileiros em Encar· nación, no Paraguai, próximo à fronteira argentina. No dia 25 -de agosto, um dos aviões fez pouso forçado em Concepción, sendo apreendido pelas autoridades paraguaias sob a acusação de sobrevôo não-autorizado de seu espaço aéreo . Pouco mais de uma semana depois, outro Falcon sofreu acidente na Argentina, próximo à fronteira chilena. Finalmente, a 1 de setembro, os paulistas receberam os primeiros Falcon, e as entregas posteriores foram feitas aos rebeldes brasileiros na cidade de Campanário, no sul de Mato Grosso. De lá eram transladados para o Campo de Marte, a fim de receberem metralhadoras e portabombas, estas últimas já de fabricação nacional. Apesar do esforço 345


hercúleo, apenas quatro Falcon participaram das operações aéreas antes que a revolução chegasse ao fim. O primeiro emprego foi a 20 de setembro, em missão de bombardeio ao Campo de Mogi-Mirim.

5 -

Os Comandos Aéreos

Para emprego dos meios aéreos, o General Góis Monteiro dispunha em seu Estado-Maior de dois assessores, os Capitães Vasco Alves Secco e Carlos Pfaltzgraff Brasil. O Major Eduardo Gomes, comandante do Grupo Misto de Aviação, que desde o rompimento das hostilidades coordenava o emprego de sua unidade e dos reforços da Escola de Aviação Militar, foi designado, em 16 de setembro, Comandante das Unidades Aéreas do Destacamento de Exército do Leste. No dia 6 de setembro, foi designado Comandante das Unidades Aéreas do Destacamento de Exército do Sul o Major Ajalmar Vieira Mascarenhas. Os aviões da Marinha ficavam sob o controle operacional direto das autoridades navais, operando em apoio aos navios de superfície desdobrados nas proximidades do porto de Santos, para efetivação de blóqueio naval e também em apoio à Flotilha Naval de Mato Grosso, sediada em Ladário. Participaram também de operações com a Aviação Militar no Vale do Paraíba e na frente sul, em missões de escolta e observação. Os meios aéreos paulistas foram enfeixados nas mãos do Major Ivo Borges, Comandante das Unidades Aéreas da Aviação Constitucionalista, e nas do Major Lysias A. Rodrigues, Comandante do Grupo de Aviação Constitucionalista.

6 -

Missões Aéreas

Em termos de infra-estrutura de aeródromos, os paulistas tinham muito mais flexibilidade que os governistas. Enquanto estes dispunham apenas do Campo dos Afonsos, do Galeão e só muito mais tarde de Resende, aqueles serviam-se do Campo de Marte como base principal, significativamente aumentado durante a revolução, e também dos Campos de Lorena, Taubaté, Mogi-Mirim, Campinas e Itapetininga. De uma posição central em relação às zonas de combate, com facilidade de desdobramentos nos campos citados, os paulistas colocavam-se em posições bem p-róximas das três frentes, conseguindo assim, com os mesmos aviões e pilotos, a realização de grande número de sortidas. 346


Durante os primeiros dias de hostilidades, tanto legalistas quanto constitucionalistas empregavam seus aviões em missões de reconhecimento e propaganda. Assim, no dia seguinte ao rompimento das hostilidades, 10 de julho, os paulistas enviaram ao Rio de Janeiro um dos seus Waco CSO, com o objetivo de lançar panfletos; e nesse mesmo dia lançaram uma patrulha aérea de combate sobre ·São Paulo, constituída de dois CSO 'e um Nieuport Ni D-80, com a finalidade de interceptar aviões legalistas. Três d~as mais tarde, os governistas planejavam duas sortidas de Potez 25 TOE, executando-as em seguida. No curso da primeira, concentrações de tropas paulistas foram detectadas e atacadas perto de Queluz e durante a segunda foi interceptado um Waco eso paulista em vôo de observação perto de Bananal. O Tenente Márcio de Souza e Mello, no comando do Potez 25, iniciou a aproximação para o combate, desferiu as primeiras rajadas, mas, com problemas de sincronização das metralhadoras e ultrapassado em velocidade, abandonou a perseguição. Sentindo a necessidade de dispor de um aeródromo mais próximo das frentes de combate, os legalistas planejaram a ampliação do Campo de Resende, que, embora só tenha adquirido plena operacionalidade na segunda .quinzena de agosto, foi usado pela Aviação Legalista desde meados de julho.

Fig. 125 -

Desdobramento da Aviaçqo Legalista em Resende.

Assim, em 16 de julho, dois Potez 25 TOE e dois Waco CSO da Aviação Militar decolaram do Campo dos Afonsos e pousaram em Resende, onde os esperava um Vought 02V-2A Corsair da Aviação Naval, para realizarem missão conjunta sobre São Paulo. Os dois Waco CSO lançariam panfletos; os dois Potez 25 TOE atacariam o Campo de Marte, enquanto o Vought 02V-2A Corsair faria a cobertura de 347


escolta. No dia seguinte os legalistas renovaram o ataque ao Campo de Marte com três Potez e um Amiot Bp 3, lançando bombas de 50 libras, sem grandes danos para as instalações. Nesse mesmo dia um Potez atacou o Campo de Taubaté. A situação no Vale do Paraíba, inicialmente favorável aos paulistas, evoluiu mais tarde para vantagem dos legalistas. Com a finalidade de reduzir a iniciativa dos paulistas nessa área, os governistas montaram uma série de ataques aéreos a pontos críticos das posições defensivas adversárias. Em 20 de julho, três Waco e três Potez cumpriram missões de apoio aéreo aproximado em proveito das forças governistas que defendiam São José do Barreiro, então sob pesado bombardeio da artilharia paulista. Os aviões concentraram os ataques sobre as baterias, destruindo-as totalmente e aliviando a pressão que então exerciam. Os ataques aéreos foram, para ambos os contendores, a grande novidade da Revolução de 1932, não raro causando pânico nos combatentes terrestres. Este efeito foi explorado ao máximo pelos legalistas, que instituíram a prática de usar patrulhas aéreas sobre tropas rebeldes, muito mais para fins psicológicos do que propriamente pelo que poderiam representar certos alvos de oportunidade. Os Waco CSO de cor vermelha, que desempenharam grande parte dessas missões de inquietação, eram temidos, e foram logo apelidados pelos paulistas de vermelhinhos. Dada a inferioridade de meios no Vale do Paraíba, os paulistas resolveram concentrar seus recursos aéreos' na Frente Sul, onde havia total ausência de oposição aérea legalista. Assim, o Major Lysias Rodrigues desdobrou o Grupo de Aviação Constitucionalista, com dois Potez e três Waco no Campo de Itapetininga, próximo da linha de frente. Desse 'ponto privilegiado, a partir de 16 de julho, aquela Unidade Aérea passou a hostilizar as forças legalistas, atacando concentrações de colunas, comboios e linhas ferroviárias. Usando tática de aviões isolados ou aos pares, cada piloto realizando duas ou três sortidas por dia e, sem oposição aérea, o Grupo procurou conter o avanço das tropas do General Waldomiro Lima, inquietando, retardando e causando baixas. A tal ponto que o comandante da Frente Sul se viu na contingência de solicitar apoio aéreo urgente ao Quartel-General na Rio de Janeiro. Finalmente, em 26 de julho, um Potez chega a Faxina, aeródromo recentemente ocupado pelas tropas governistas. Tão logo o Potez 25 foi reabastecido e armado, decolou de Faxina para uma missão de reconhecimento armado à base dos constitucionalistas em Itapetininga, pilotado pelos Tenentes Carlos França e Antônio Lemos Cunha. O avião atacou o QG da aviação rebelde e nó retorno bombardeou um comboio de tropas. , 348


Fig. 126 - Croquis feito, durante o vôa, pelo piloto, em ·condições precárias, provavelmente em cima da perna e com a nacele aberta. Lançado àmarrado a um lastro (uma pedra, madeira, etc .. .)

.

.

,

..

.

Fig. 126·A - O mesmo croquis interpretado pelo .então Ten. João Bina Machado, Oficial de Transmissão do 8. B.C., que o recolheu ·e o interpretou. (Originais cedidos ao INCAER pelo Gen. Ex. !oão Bina Machado) . U

349


No dia seguinte, duas novas sortidas foram realizadas, e, no dia 28, ao atacar o campo de Itapetininga onde havia um Waco estacionado, foram lançadas duas salvas de bombas que , entretanto, não atingiram o alvo. Sentindo que enfim começara a encontrar oposição aérea, o Major Lysias procurou imediatamente neutralizar a ameaça potencial. pespachou dois Potez para Faxina que, surpreendendo o avião governista estacionado, não tiveram dificuldades em atacá-lo, causando-lhe sérios danos e indisponibilidade prolong~da. Com isso, a Frente Sul perdeu o apoio aéreo de que tanto necessitava. No dia 5 de agosto, entretanto, mais um Potez deixou Resende com destino a Faxina, a fim de substituir o avião danificado dias antes. No dia 8, empenhado em missão na parte da manhã, foi interceptado por uma formação paulista de dois Waco e um Potez, sob o comando do Capitão Gomes Ribeiro, mas c(;mseguiu escapar. Na tarde desse mesmo dia, no entanto, na execução' de nova sortida, foi mais uma vez interceptado pela mesma formação rebelde, desta vez sob o comando do Major Lysias, e, em combate aéreo na região de Buri, o Potez governista recebe vários tiros no radiador de água, e é obrigado a aterrar fora de campo, no interior das linhas amigas, felizmente sem danos pessoais, mas com perda total do ' equipamento. Querem alguns pesquisadores que o Potez 25 TOE A-l17 tenha sido o primeiro avião abatido em combate aéreo na América Latina, antecipando-se em oito semanas a evento semelhante em 30 de setembro de 1932, quando um avião paraguaio Wibault 73 foi derrubado por um Vickers 143, na Guerra do Chaco, conforme consta dos registros aeronáuticos internacionais. Três dias depois, 11 de agosto, um terceiro Potez é deslocado para Faxina. Já no dia seguinte, escoltado por dois Vought Corsair da Marinha, decolou para missão de ataqúe à base de Itapetininga, mas não encontrou qualquer oposição aérea porque o Grupo' de Aviação Constitucionalista se deslocara para Lorena, a fim de ten'tar barrar o avanço governista no Vale do Paraíba e na frente mineira. Chegados a Lorena, foram logo empenhados em ataques a pontos fortes da frente legalista, surpreendendo as tropas há muito habituadas apenas ao sobrevôo de aviões amigos. Com o intuito de marcar o seu espírito ofensivo, os rebeldes planejaram um audacioso ataque ao Campo de Resende, levado a efeito no dia 13 de agosto às 01h30min, sem maiores conseqüências táticas, mas constituindo-se no primeiro ataque 350


aéreo noturno realizado na América Latina. É o que afirmam alguns pesquisadores, declarando que ele precedeu de dois anos e quatro meses o alegado primeiro ataque do avião naval paraguaio Macchi M 18, que consta nos registros aeronáuticos como tendo sido realizado a 20 de dezembro de 1934. Como resposta à afronta, os legalistas executaram nesse mesmo dia um ataque maciço ao Campo de Lorena, com cinco Potez e dois

1>.,J";>

b'O-A-

.!)oo.~ y

';2 A _

l/'f{I'iH_

~t<vI ~ p,,\o:. rol... Pz.,+ cu..... vi~.sn.".'", o

Z 1I

~

G..... ~. ~ .

Fig. 127 - Missão de reconhecimento do Ten. Av. Lemos Cunha, elaborada, lançada e interpretada nos moldes das fotos 126 e 126-A. Observe o papel utilizado pelo piloto, do hotel de Faxina, onde se hospedavam os Aviadores. (Originais cedidos pelo Gen. Ex. João Bina Machado ao INCAER).

35'1


Waco dos recentemente chegados dos Estados Unidos. Embora surpreendessem os aviões paulistas estacionados e realizassem ataques durante cinco minutos, nada disso impediu que conseguissem decolar com os aviões na direção de São Paulo. Logo depois desse ataque, os paulistas desfecharam um outro contra Areias, ocupada pelos governistas, utilizando um Potez e dois Waco. Perto de Bom Jesus da Bocaina, durante o retorno, interceptaram um Potez governista, pilotado pelo Tenente José Cândido de Murici Filho, tendo como observador-metralhado r o Tenente José Vicente de Faria Lima, que estava bombardeando a usina elétrica local. Houve rajadas de parte a parte, sem perdas, mas os rebeldes desengajaram do combate por falta de munição e combustível. No dia seguinte, depois de realizar missões em Queluz e Areias, os paulistas retornaram Lorena, e, concluindo que estavam em vias de perder este campo avançado, retraíram-se para a antiga base de I tapetininga. Na segunda quinzena de agosto, intensificaram-se as ações aéreas de ambos os contendores. Os paulistas retornaram ao Vale do Paraíba e no dia 22 houve um combate aéreo envolvendo um Waco . e um Nieuport do lado dos paulistas e um Waco e um Pbtez do lado do Governo. Os aviões paulistas regressavam de um ataque às tropas na região de QuelU2!, e os do Governo, que tinham tomado conhecimento antecipado do ataque, decolaram de Resende para persegui-los. Houve troca de rajadas entre os combatentes, mas nenhum avião foi abatido. No dia 23, três Potez e dois Waco legalistas descobriram a base de Guaratinguetá, onde estavam estacionados dois Waco, dois Potez e um Nieuport, os quais regressaram pouco antes de um bem-sucedido ataque às tropas governistas na região de Cunha. Os . cinco aviões legalistas iniciaram a corrida de bombardeio do Sul, atingindo em cheio um dos Potez rebeldes, que se fez em chamas. Em conseqüência, os quatro aviões remanescentes retraíram-se para São Paulo. Em 26 de agosto, a Aviação Constitucionalista passou a operàr simultaneamente de Mogi-Mirim, a p~quena distância da fronteira mineira, e do . Campo de Marte, em apoio a um batalhão que lutava desesperadamente para manter a posse de Itaipava, conquistada pelos legalistas no dia seguinte. A situação para os rebeldes deteriorava-se seriamente, obrigando a esforço máximo dos pilotos, do pessoal de apoio e das máquinas. Como conseqüência, o Grupo de Aviação Constitucionalista retrai-se para a base principal, o Campo de Marte.

a

352


Conquistadas novas posições, os legalistas pressionavam na frente mineira. Para isso, três Waco deslocaram-se de Resende e passaram a operar de Pouso Alegre, 100 quilômetros a nordeste de Mogi-Mirim. Simultaneamente, os aviões baseados em Resende desenvolveram operações intensas no Vale do Paraíba. E, para aumentar a pressão sobre os rebeldes, dois Waco desloçam-se para Faxina no dia 1 de setembro. Assim, a Aviação Legalista marcava presença nas três frentes de combate. Na frente mineira, a ofensiva terrestre acelerou-se, e os paulistas começaram a ceder terreno. No dia 5 de setembro, as forças governamentais ocuparam_Mogi-Mirim e seus aeródromos. Seis dias depois, três Waco foram transferidos de Pouso Alegre para a cidade conquistada, apesar de a frente dos combates encontrar-se ainda próxima ao aeroporto. Eles fustigaram continuamente as tropas rebeldes nas estradas e ferrovias ao sul de Mogi-Mirim. Nesses combates faleceu o único pil~to legalista, Segundo-Tenente Lauro Aguirre Horta Barbosa, atacando uma composição ferroviária na região de Casa Branca, quando o Waco que pilotava foi abatido pelo fogo de armas antiaéreas. Também na Frente Sul a ofensiva legalista acelerou-se, a despeito dó potencial dos constitucionalistas e de seu Grupo de Aviação. Itapetininga continuava em uso, apesar de bem próximo da frente de combates terrestres. No dia 17 de setembro, entretanto, percebendo a ativa oposição aérea também nessa frente e a progressão das forças terrestres, os paulistas sentiram que seria temeridade operar de aeródromo tão próximo da linha de frente e assim, dois dias depois, evacuaram definitivamente Itapetininga, que lhes servira de base desde o início do conflito. As forças em confronto no transcorrer da Revolução de 1932 tiveram oportunidade de -exercitar técnicas de comando e estado-maior na condução das operações terrestres e aéreas. Os ensinamentos da Primeira Guerra Mundial, aqui transmitidos ao Exército pela Missão Militar Francesa nas escolas de EstadoMaior e de Aperfeiçoamento, sistematizaram os trabalhos nos escalões de comando, planejamento e execução, ensejando a emissão de documentos nos três níveis, através dos quais podem ser analisadas as operações terrestres e aéreas levadas a efeito durante a Revolução de 1932. Transcrevemos a seguir três destes documentos, específicos de emprego da Aviação Legalista: uma Ordem Particular de bombardeio e reconhecimento; um Relatório de Missão de reconhecimento e bombardeio; um Relatório de regulação de tiros de artilharia. 353


DEST. DE EX. DE LESTE Divisão do Vale do Paraíba Estado-Maior 3. a Seção N.o 79

Q .G. em BARRA MANSA, 30 de julho de 1932

ORDEM PARTICULAR N .o 49 (A Aviação para o dia 3 O) Carta 1932 - Escala 1/100.000

I - INFORMAÇÕES SOBRE O INIMIGO O inimigo continua perdendo terreno em toda a frente da D.I. V ALE DO P ARA1BA Frente da D.I. MINEIRA sem alteração.

n - INFORMAÇÕES SOBRE A TROPA AMIGA A D.I. VALE DO PARA1BA aontinua na jornada de hoje S1:ta progressão, tendo sido o avanço mais acentuado na frente do Destacamento COLATINO, que atingiu as alturas do Morro CAK RAPATO e ALTO DA CACHOEIRINHA, nas proximidades da estrada Rio-São Paulo. S. JOSÉ DO BARREIRO acha-se quase envolvido pelos Destacamentos DALTRO, digo, FONTOURA e COLATINO. Na frente Destacamento DALTRO e 1.° R.I. foram realizados apenas pequenos avanços. In - ATIVIDADE AÉREA INIMIGA IV -

Nula.

MISSAO DA AVIAÇAO

a) Bombardeio, a baixa altura, na frente da D.I. V ALE DO PARA1BA.

1) O fim da missão é a inquietação . 2) Objetivos a atingir, por ordem de urgência: -. Reuniões de tropas e viaturas em FAZ. PALMEIRAS, FAZ. SANTA RITA e AREIASj -

Comboios e artilharia.

3) Efetivos a empregar: 4 aviões que sairão isoladamente. 4) Saídas: às 9 horas, 11 horasj 14 horas e 16 horas. 5) Instrução sobre o bombardeio: A Aviação deve entrar, antes de cada saída, em entendimento com o P.c. do 1.° R.I., em Itatiaia, a fim de ter as últimas infor354


mações sobre a frente atingida pela tropa amiga, que marcha em . direção das FAZENDAS PALMEIRAS e SANTA RITA. b) Reconhecimento a vista sobre os eixos: - S. JOSÉ DO BARREIRO - AREIAS - SILVEIRA e QUELUZ. - FAZ. DA UNIÃO - FAZ. SALTO - informando sobre a atividade inimiga. V - HORA DE EXECUÇAO Um reconhecimento será feito pela manhã e outro ao caIr da tarde. VI - DISTINTIVO DOS AVIOES Flâmula vermelha na asa direita. VII - TRANSMISSOES Sem alteração (a) General P. Góes CONFERE: Pantaleão Pessoa Ten.-Cel. Chefe do EM. DEST. EX. LESTE DIV. V. DO P ARAlBA GRUPO DE AVIAÇÃO CARTA: O.M. 1932 ESCALA: 1/100.000

P.c. no Campo de Resende, 4 de Setembro de 1932.

RELATÓRIO DE MISSÃO GUARNIÇÃO Piloto - Capo Fontenelle Observ - T en. Montezuma PARTIDA - 10h05 CHEGADA - 12h.22

DATA: 4-IX-932 - Manhã Aviso 25 TOE A-214 DURAÇÃO: 2h.17

MISSÃO: Reconhecimento à vista do itinerário - PINHEIRO - VILA QUEIMADA -. CRUZEIRO - CACHOEIRA JAT AHY - SILVEIRAS. Ataque a bomba na ordem de urgência seguinte: reunião de tropas 2 - organizações 3 _ . trens e .comboios 1 -

355


Reconhecimento foto da zona LAURINHAS (vide calco)

PINHEIROS

CONDIÇÕES ATMOSFÉRICAS: Tempo bom VISIBILIDADE Horizontal _. regular, um pouco prejudicada pela fumaça das queimadas. Vertical ALTURA -

boa.

2.000 ms.

TRABALHO REALIZADO. a) Ataques a bomba -

foram executados 2 (dois) ataques a bomba:

1-11,15 -

Objetivo (vide informação n.O 6). Feitas 2 (duas) salvas, cerca de 50 (cincoenta) metros do alvo.

II-11,40 -

Objetivo (vide informação n.O 8). Feitas 2 (duas) salvas longas.

As viaturas pararam e os cavaleiros desapareceram nas orlas da estrada. b) Ataque a metralhadora - Executei um ataque com a metralhadora sob a fuselagem contra o mesmo objetivo assinalado acima. c) Reconhecimento foto - Deixei de executar o reconhecimento pedido por ter julgado importantes para o comando as informações colhidas, e, portanto, ter que transmiti-las o mais rapida- mente possível, acrescendo a isto que a região considerada estava sendo abandonada pelos contrários. INFORMAÇÕES COLHIDAS

356

N.o

1) 10,40

-

PINHEIROS _ . Uma coluna de infantaria, cerca de 2 (dois) pelotões, na estrada 2 Km a NW de PINHEIROS em marcha direção desta cidade.

N.o

2) 10,41

-

2 (dois) caminhões na mesma estrada, em movimento para PINHEIROS. - cerca de 5 (cinco) caminhões -parados nessa estrada, 3 (três) Km, ao N de PINHEIROS.


N.O

3) 10,42

-

2 (dois) caminhões na estrada entre PINHEIROS e CRUZEIRO, em movimento direção desta ultima cidade.

N.O

4) 10,50

-

PINHEIROS - Intenso movimento de caminhões na cidade.

N .o 5) 11,00

-

FRANCISCO MARCELINO sinalar.

N.o

6) 11,15

-

JATAHY - 7 (sete) cavaleiros na estrada Rio-S. Paulo,Km 4, 5 a L. de JAT AHY, em marcha direção desta cidade.

N.o

7) 11,20

-

CACHOEIRA - 2 (dois) caminhões na estrada que margeia a W o Rio da BOCAINA, em movimento para CACHOEIRA.

N.O

8) 11,40

-

Nessa mesma estrada 7 Km (sete) a SE de CACHOEIRA, cerca de 10 (dez) cavaleiros e 5 (cinco) caminhões em movimento em direção Faz. BOCAINA. Pararam à aproximação do avião.

N.o

9) 11,35

-

Ainda nessa estrada cerca de 8 (oito) caminões parados, na altura das organizações de CACHOEIRA, 2Km a SE desta cidade.

N.o 10) 11,37

-

CACHOEIRA - 1 (um) caminhão em movimento para JATAHY.

N.o 11) 11,45

-

Algum movimento de viaturas na estrada entre QUILOMBO e CACHOEIRA (lado N. do rio); 2 (dois) caminhões a 1 (um) Km e na direção desta última cidade e 1 (um) automóvel direção QUILOMBO.

N.o 12) 11,48

-

3 (três) caminhões parados na estrada 2Km,5 (dois e meio) a NE de CRUZEIRO.

N.o 13) 11,50' -.

Intenso movimento de caminhões de PINHEIROS para CRUZEIRO e em menor numero de CRUZEIRO para PINHEIROS.

N.o 14) 11,53

-

LAVRINHAS - 3 (três) composições paradas na estação; uma de 17 (dezessete) carrose as outras cerca de 8 (oito) carros.

N .o 15) 11,55

-

VILA QUEIMADA -

Nada a as-

Nada a assinalar. 357


OBSERVAÇÕES - As organizações a SW de VILA QUEIMADA parecem estar abandonadas; naquelas mais ao Sul observei uma queimada, na encosta W da elevação. - Deixei de atacar a bomba a coluna de infantaria assinalada em PINHEIROS por ter ficado na incerteza de se tratar de tropa amiga ou inimiga, em virtude do avanço das nossas tropas. Pareceu-me, no entanto, tratar-se .de tropa amiga por não ter procurado furtar-se à presença dos nossos aviões. - Pareceu-me (sem afirmar com certeza) existirem umas trincheiras numa elevação a 3 Km a NE de CRUZEIRO . Na entrada que passa na encosta W dessa elevação observei 3 (três) caminhões parados. - Notei em CACHOEIRA, na parte da cidade da margem Norte, um certo movimento de veículos, tendo como base um edifício da praça parecendo tratar-se dum P C. IMPRESSA O DO OBSERVADOR - A minha impressão é que os contrarios se retiram de PINHEIROS, pretendendo oferecer uma fraca resistencia nas alturas a NE de CRUZEIRO. Tenho impressão também que estão preparando para se retirar de SILVEIRAS e o ataque ao nosso flanco esquerdo tem por fim simplesmente facilitar a retirada do grosso das tropas empenhadas nessa região. - A presença de caminhões junto das organizações de CACHOEIRA, deixaram-me impressão que os contrarios ou as estão melhorando, ou já ocupando-as. DEST. EX. LESTE DIV. DO V. PARA1BA

(a). Montezuma. PC no Campo de Rezende, 4 de setembro de 1932.

DESTACAMENTO DE REZENDE CAR: ' OM-932, ESC:ljl00.000 PLANO DIRETOR: "1/20.000 Condições atmosfericas: Visibilidade regular. Avião Moth 3010 (radio) Piloto: Ten. Lima 358


Obs. Ten. Lemos Cunha Decolagem: 10h12 Aterragem: 12h12 Duração: 2hoo Missão - De acordo com a ordem particular à Aviação, n.O 109, para o dia 4 de Setembro de 1932:

I -

Natureza e fim da Missão: - regulação tiro da Bia 20 L, sobre os seguintes objetivos:

-

n.O 1:5790, plano diretor. Leito da E.F., alem de LAVRINHAS

-

n.o 2: Edifício proximo ao Kilometro 247 da E. F. , além de LAVRINHAS. (P.C)

II III Horas

Execução: entre 10 e 10h30 Entendimento direto com a BIA 120 L.

Mensagem do avião

10h15 10h33 , 10h33 10h34 10h37 10h43 10h45 10h57 llh05

Axaxaxaxaxax. Axaxaxaxaxax . Ax ax ax ax SN SN

llh08 llh18 llh25 llh28 11h30 llh40 llh50 llh54

Ax Ax Ax Ax

Ax ax axax ax . Ax ax ax ax 27 . Ax ax ax 16 Ax ax ax ax Ax ax ax 27 ax ax ax ax ax ax ax ax ax ax ax 27 . ax ax ax APR . Ax ax ax ax SN SN SN Axaxaxaxax. Ax ax ax ax 27 . . . . Ax ax ax ax ATR ATR

Painel da Bia

Obs.

(Pedi alongamento, em virtude dificuldade de observ.)

(repetido) (repetido)

Foi suspensa a regulação, com uma duração de 2h. 359


RECONHECIMENTO À VIST A: No entroncamento de estradas a NW de LAVRINHAS, existem 4 caminhões estacionados junto a uma casa, cujo pateo tem regular numero de cavalos, parecendo um P.c. llh40 - Movimento de automóveis nas estradas que saem ao N e a W de PINHEIROS. (a) Antonio de Lemos Cunha. 1.° Tenente.

Três dias após o rompimento das hostilidades, os primeiros navios da Marinha chegam às costas de São Paulo, iniciando o bloqueio do porto de Santos. Para o apoio a esses navios e a outros que a eles se juntariam, nesse mesmo dia, três Savoia Marchetti S 55 e dois Martin PM deslocaram-se para Vila Bela, na Ilha de São Sebastião. Além das missões de apoio aéreo às unidades navais, era intenção da Marinha empregar os aviões acima, juntamente com quatro Vought 02U-2A Corsair, em ataques a alvos terrestres. Os Corsair na configuração flutuadores operavam do Galeão, por ser tecnicamente contra-indicado fazê-lo ao largo de Vila Bela, o que levou a Marinha a aumentar o campo de pouso da ilha e utilizar a configuração rodas, a fim de poder operá-los mais próximo da área de combate, fazendo o patrulhamento da costa paulista entre Santos e Parati. No dia 18 de julho, dois Corsair em missão de reconhecimento armado no eixo Parati-Cunha-Lagoinha foram hostilizados por fogo antiaéreo e interceptaram um Potez rebelde que conseguiu fugir protegendo-se na nebulosidade existente na região. Três dias depois dois Corsair receberam a missão de atacar urna bateria, cujos fogos estavam barrando o avanço de um batalhão de fuzileiros navais na área de Cunha. Após demorada busca, sem conseguir localizá-la, a patrulha preparava-se para regresso à base quando o Capitão-de-Corveta Petit avistou urna concentração inusitada de carros de boi e carroças de cavalo. Descendo para investigar, foi atacado por fogo de armas de pequeno calibre e decidiu soltar suas bombas sobre a concentração, a 15 m de altura. À explosão das bombas aérças, para surpresa do piloto, seguiram-se várias outras. O reconhecimento posterior -mostrou tratar-se da destruição de morteiros e sua quota de munição, ou seja, destruição da artilharia que barrava a progressão dos fuzileiros, propósito atribuído aos Corsair comandados por Petit. Para reforçar a Aviação Militar desdobrada no Vale do Paraíba, dois aviões Corsair permaneceram regularmente em alerta no Galeão, enquanto os outros dois apoiavam as unidades navais, partindo do 360


campo de Vila Bela, já com novas dimensões. No dia 27 de julho estes últimos receberam a missão de escoltar um Martin PM e dois Savoia Marchetti S-55 no ataque às instalações da Light em São Paulo, mas a missão foi abortada. No dia seguinte nova tentativa de ataque a Cubatão, também sem sucesso, por conta de precárias condições atmosféricas sobre o alvo. A terceira tentativa, no dia 29, com um Savoia Marchetti e um Corsair foi positiva quanto ao ataque, mas os resultados do bombardeio foram insignificantes. Na segunda quinzena de agosto, quando os ataques nas três frentes terrestres se intensificaram, a Aviação Naval executou uma série de vôos de patrulha, de reconhecimento e de ataque ao longo do litoral paulista coincidindo com aquela ofensiva. Hostilizados pelos rebeldes que ocuparam o Forte de Itaipu, no dia 3 de setembro, três Savoia Marchetti escoltados por um Corsair realizaram um primeiro ataque ao forte, seguido de outro no dia 5, que resultou em sérios danos com destruição de vários canhões. No mês de setembro, com a chegada dos primeiros Falcon ao Campo de Marte, um deles foi destacado para Mato Grosso, com o objetivo de atacar o monitor Pernambuco, fundeado no Rio Paraguai próximo a Porto Esperança. Pilotado pelo americano Orton Roover e tendo como observador Juvenal Paixão, durante três dias, cinco ataques foram conduzidos contra o navio, causando-lhe sérios danos. Para a devida proteção aérea a seus navios fluviais, a Aviação Naval transladava em agosto para Ladário, com grande dificuldade, dois aviões Avro 504 equipados com flutuadores e armados com uma única metralhadora Vickers. Esses aviões fizeram inúmeros vôos de ligação e reconhecimento em proveito das forças governistas do Destacamento Nery da Fonseca e em apoio à Flotilha Naval de Mato Grosso. Foram pilotados nessas missões pelos Capitão-Tenente Ary de Albuquerque Lima e Primeiro-Tenente Carlos Alberto Ruet de Oliveira Sampaio. Na realidade, os aviões não tinham condições de enfrentar os Falcon em combate aéreo, por serem operacionalmente inferiores. Ainda durante o mês de setembro, aviões Corsair participaram das operações aéreas na Frente Sul.

7 -

A Fase Final do Conflito

Com a retirada do Grupo de Aviação da base de Itapetininga, a 19 de setembro, a situação tornava-se crítica para os constitucionalistas. As forças legalistas avançaram em -todas as frentes, e a resistência rebelde começava a entrar em colapso. O número de sortidas da Aviação Militar crescia significativamente à proporção que o conflito marchava para a inevitável conclusão, sendo que os Waco baseados em Mogi-Mirim chegaram a cumprir cinco missões.. por dia. 361


Mesmo acuada, a Aviação paulista ainda reslst1a ~ No dia 20 de setembro, pela primeira vez os aviões Falcon entraram em ação na Frente Mineira, bombardeando o campo de Mogi-Mirim. Eram ao todo dois Falcon, um Wacoe um Nieuport Delage, fazendo a escolta. Quinze minutos antes do bombardeio tinham acabado de aterrar quatro Waco legalistas em trânsito para a Frente Sul; dois desses aviões foram incendiados e dois sofreram danos menores, Entusiasmada como sucesso desse ataque, a Aviação Constitucionalista executou, quatro dias depois, um ataque diversionário aos navios de guerra que fazíamo bloqueio de Santos, com a finalidade de fazê-los concentrar a atenção nos aviões, dando chance ao navio Ruth, que trazia armamento e munição para os rebeldes, de iludir o bloqueio naval e entrar no porto. Para a missão foram designados dois Falcon e um Waco, mas o ataque não teve sucesso, e foi abatido pelo fogo antiaéreo do Cruzador Rio Grande do Sul o Falcon pilotado pelo Primeiro-Tenente Gomes Ribeiro, que tinha como observador o Dr. Mario Machado Bittencourt, matando os dois tripWantes. Essa missão foi o canto do cisne do Grupo de Aviação Constitucionalista. A importância do navio Ruth para os paulistas pode ser avaliada através do registro publicado na obra Os Engenheiros de São Paulo' em 1932, de ArthurMorgan.* No capítulo Ruth, referindo-se a uma visita de navios de guerra a São Paulo, entre os quais estava o próprio Ruth, incorporado 'à Esquadra após a revolução . e rebatizado com o nome de Rio Branco, assim se expressou o autor:

Que ironia da sorte !Como entraste hoje em Santos, e como serid se tivesses entrado em 1932! Nos últimos dias de setembro ficou claro para os ' paulistas a impossibilidade de reversão do curso do conflito. A 29 tiveram início as negociações para o cessar-fogo. O Coronel Oswaldo Villa Bella, Chefe do Estado-Maior do General Bertoldo Klinger, e o Major-Aviador Ivo Borges foram os militares que, representando as forças constitucionalistas, compareceram ao QG do General Góis Monteiro para assinar o armistício, o qual se consumou a 3 de outubro. A Juta deixou marcas profundas na sociedade brasileira como um todo. Mas houve. gestos que repercutiram positivamente para a recon: ciliação. A iniciativa do Diretor de Aviação Militar, mandando rezar na Igreja da Candelária, no dia 22 de outubro, missa pelas almas dos aviadores mortos, de ambos os lados, foi uni deles. Mereceu do Dr. Machado Bittencourt, pai do jovem Dr. Mário, falecido em Santos juntamente com o Tenente Gomes Ribeiro, manifestação nos seguintes termos: •

Arthur Morgan -

362

pseudônimo do Dr. Armando de Arruda Pereira.


Exmo. Sr. General Aranha da Silva M .D.CMT. da Aviação Militar Brasileira Ausente em Santos, onde há vários dias me encontrava, pesquIsando o Oceano em busca dos despojos do meu filho, a notícia do nobre e expressivo gesto da Aviação Militar Brasileira não me chegou com tempo de permitir-me estar presente à tocante cerimônic da Candelária. Privado por esse motivo de apresentar pessoalmente a V . Exa. e seus dignos comandados as expressões do meu aplauso e da minha comovida gratidão, pela significativa e fraternal iniciativa de, numa mesma prece, honrar a memória dos irmãos que, com tanta bravura e dedicação, tombaram em campos adversos, valho-me deste meio, pedindo a V . Exa. que a todos faça ciente de quanto tocou o meu coração de pai a beleza moral e cívica dessas exéquias. Com as melhores saudações e agradecimentos Adm, Att e obrg Dr. Machado Bittencourt.

Com o término da revolução, os Majores Ivo Borges e Lysias Rodrigues, o Capitão Adherbal da Costa Oliveira, os Primeiros-Tenentes Orsini de Araujo Coriolano e Arthur da Motta Lima, todos reformados pelo Governo, exilaram-se em Lisboa e Buenos Aires. Anistiados em 1934, pelo Decreto n. 23.674 de 2 de janeiro, foram todos reintegrados em seus quadros. Conquanto o número de aeronaves diretamente empregadas nas missões de combate tenha sido reduzido e a eficácia operacional relativamente modesta , não há dúvida de que a progressão das forças de superfície foi significativamente afetada pelas operações aéreas de ambos os lados_ U

363


CAPíTULO 5

O MOVIMENTO COMUNISTA DE 1935

1 -

Origens

OM a grande depressão de 1929, anunciada por muitos como o declínio inexorável do capitalismo e a sentença de morte da democracia liberal, o mundo entrou em violenta crise da qual só emer;girIa depois da Segunda Guerra Mundial. De um lado o ultranacionalis· mo fascista ganhara força 'e chegara ao poder na Itália (1922) e na Alemanha (1933) , propondo soluções autocráticas para o salvamento dos povos. De outro, as doutrinas socialistas e comunistas, inspirando o poder na Rússia (1917) e preconizando a superação do capitalismo pela liquidação do regime de livre iniciativa e propriedade privada, propõem soluções igualtI!ente autocráticas para o mesmo objetivo de salvamento dos povos. Em todo o mundo, Brasil no meio, o liberalismo em defensiva assiste à luta entre a direita fascista e a esquerda comunista. Estes dois movimentos , em processo de oposição crescente e de radicalização, acabaram dando origem à síndrome do anti e inspiraram a criação de organizações, de parte a parte, que se arrogaram o papeI de legítimas representantes dos sentimentos da sociedade como um todo. Assim, foi em clima de antifascismo radical até louvável que, em 23 de março de 1935, nasceu a Aliançà Nacional Libertadora. Louvável no sentido de que seus objetivos aparentes e tornados públicos poderiam ser encampados pela maioria esmagadora dos cidadãos bem-intencionados de qualquer país. Condenável na medida em que os objetivos reais atendiam às conclusões do VII Congresso da Terceira Internacional de Moscou, na qual Dmitrov assim se expressou: 99

C

364


No Brasil, o Partido Comunista, que sustentou o desenvolvimento da frente antiimperialista criando a Aliança Nacional Libertadora, deve trabalhar com todas as suas forças para ampliar ainda mais aquela frente, atraindo sobretudo os milhões de camponeses e orientando o movimento no sentido de formar núcleos de um exército popular revolucionário, totalmente devotado à revolução e à· consolidação do poder da Aliança Nacional Libertadora.

Nesse mesmo Congresso, o delegado chinês Van Mine, membro do Conselho Executivo e relator dos assuntos referentes à América do - Sul, foi taxativo: 99 Devo expor a todos os camaradas que se interessam pelo desenvolvimento e expansão do comunismo na América Meridional, que no Brasil já existe uma ampla e bem organizada Associação, denominada Aliança Nacional Libertadora, e da qual já participa um grande número de oficiais e soldados do Exército e da Marinha Brasileiros. Essa Aliança foi criada sob a orientação secreta, mas direta do Partido Comunista Brasileiro, segundo as instruções confidenciais recebidas na Legação Soviética em Montevidéu. Essa Aliança segue cegamente as ordens do -nosso bravo camarada Prestes, que foi em numerosos comícios públicos, realizados no Brasil, aclamado como seu chefe absoluto e PreSidente de Honra.

Há aqui uma nítida vinculação dos interesses nacionais a uma intemacionalização que não mereceu a sanção da sociedade brasileira. Em que pesem as enfáticas declarações acima, a verdade é que o Partido Comunista, valendo-se do prestígio de Prestes, ex-líder tenentista, procurou desde 1933 aliciar militares entre os jovens oficiais e, em menor escala, nos escalões inferiores. Entretanto, no dizer do professor Leôncio Martins Rodrigues a entrada dos militares no PCB resúltou numa estranha mistura de stalinismo com tenentismo, que transformou a tática stalinista da frente antifascista numa típica quartelada tenentista. Com a Aliança Nacional Libertadora totalmente controlada pelo Partido Comunista, o Governo decide-se pelo fecha~ento da organização e o concretiza através do Decreto n.o 229, de 11 de julho de 1935. O ato legal, entretanto, não dissolveu a ANL, apenas radicalizou as suas posições, desviando-a da pretensa condição de movimento popular para a de central de operações de U111 golpe contra as instituições, para implantação de um regime marxista. Só que pretendeu atingir meta tão ambiciosa contando apenas com os quadros militares da própria 365


Aliança e do Partido Comunista, os quais eram fração ínfima dos efetivos do Exército e da Marinha.

2 -

A Deflagração do Movimento

o plano

revolucionário previa a deflagração do movimento simultaneamente em vários pontos do Território Nacional, como se depreende das declarações prestadas por Antonio Maciel Bonfim ou Adalberto de Andrade Ramos, Secretário Geral do Partido Comunista: 99 ... na noite de 25 de novembro realizou-se na Rua Correia de Oliveira n.o 5, residência do Dr. ]osino Reis, uma reunião, à qual compareceram o declarante, Harry Bcrger e Luiz Carlos Prestes; nessa reunião tratou-se da atuação que deveria ter o Partido Comuniúa no movimento armado que deveria deflagrar em várias unidades militares no dia 27 daquele mês.

Embora acertada para o dia 27 de novembro, houve antecipação da deflagração para 23, em Natal, e para 24, em Recife. Em Natal houve até oitenta horas de governo comunista com secretariado nomeado e lançamento de manifesto sob o lema Todo o poder à Aliança Nacional Libertadora. No Rio de Janeiro, três eram os pontos principais visados pelos revolucionários: o 3.° RI, na Praia Vermelha; o 2.° RI, na Vila Militar, uma das unidades minadas pela conspiração; e a Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos. Embora essas guarnições estivessem de prontidão, isso não impediu que na tarde de 26 de novembro um estranho estafeta, como o chamou Helio Silva, chegasse ao 3.° RI e entregasse ao chefe do levante, Capitão Agildo Barata, que ali se encontrava preso, uma ordem assinada por Prestes: 99 O 3.° Regimento Popular Revolucionárif! deverá leva1jtarse às duas horas da madrugada no dia 26 para 27 do corrente e a partir das 3 horas iniciar a execução das missões constantes do plano anexo por f1Zim rubricado, 26/11/1935 - Luiz Carlos Prestes.

o levante fracassou totalmente, já que de um. efetivo de quase 1.700 homens, dos quais aproximadamente cem oficiais e .duzentos sargentos, apenas treze compunham a célula do PCB, dois oficiais, um cabo e o restante soldados, além de Agildo BlItlttll . 366


3 .- - . O Envolvimento da Aviação Militar Tão logo ocorreram os levantes de Natal e Recife, a Aviação Militar fez deslocar para a região uma esquadrilha de três aviões Vought Corsair, sob o comando do Capitão José de Souza Prata. Na expectativa de emprego real em combate, esses aviões realizaram vários vôos sobre as duas capitais, mas na realidade atuaram apenas como arma psicológica de dissuasão, já que a rendição quaseimediata não exigiu outro tipo de missão. Embora a pintura vermelha fosse típica dos aviões Waco CSO ~ não dos Vought Corsair, vale a pena transcrever um trecho do relato "feito a Helio Silva pelo General Frederico Mindelo, a propósito de sua participação na revolta do 29 BC em Recife, onde se evidencia o potencial do avião como arma psicológica nos idos de 30: 99 Um avião vermelhinho sobrevoava alto sobre a Vila. Tivemos conhecimento depois de passada a luta que um farmacêutico, exaltado partidário dos comunistas, com o simples vôo daquele avião suicidara-se naquela cidade de Jaboatão .

Nos levantes do Rio de Janeiro, ocorreram fatos muito graves, selando com sangue o confronto entre companheiros de farda, alguns dos quais, até momentos antes da hora fatídica, partícipes de harmoniosa convivência militar, em que pesem convicções ideológicas diametralmente opostas. A atmosfera pesada das noites de novembro posteriores aos levantes de Natal ~ Recife, por força do regime de prontidão então instaurado, levava os comandantes da Escola de Aviação Militar e do 1.° Regimento de Aviação, respectivamente Tenentes-Coronéis Ivo Borges e Eduardo Gomes, a contatos permanentes, típicos de postura preventiva anti-rebelião. Na noite de 26 para 27, o diálogo entre ambos, às 22 horas, não revelou preocupação quanto à expectativa de revolução iminente, pelo menos nas próximas horas. Dessa forma, foram realmente uma surpresa a eclosão do levante na Escola de Avia,ção Militar, entre 2 e 3 horas da madrugada, e a posterior tentativa de subj~gar o 1.° Regimento de Aviação. A surpresa maior correria por conta dos próprios eventos, na seqüência dos quais se . registraram momentos de grande tensão, com . requintes até de crueldade. 4 -

Um Depoimento Importante

A morte do Tenente Benedito Lopes Bragança, como se depreende do depoimento do Segundo-Tenente Oswaldo Ribeiro Mendes, em 367


IPM arquivado no Superior Tribunal Militar, foi uma mancha in apagada do movimento de 1935: 99

... cêrca das 3 hs do dia 27 de novembro foi com o Capo Armando de Sousa e Melo e uma patrulha composta de um GC~ comandada pelo terceiro-sargento da Companhia de Guardas} Belda} em direção à Enfermaria a fim de render uma patrulha lá estacionada. Feita a substituição agregaram à tropa mais um GC que tinha} por engano} ido render o primeiro. O Ten. Bràgança se reuniu, a êles. Ao voltarem pela estrada que vai ter à Enfermaria viram chegar um carro reconhecido como do Capo Sócrates} o que não causou estranheza. O Ten. Mendes dirigiu-se ao Cap o Sócrates perguntando o que há Sócrates? quando foi abordado pelo mesmo que armado de Colt 45 intimidou-o a render-se e tôda a tropa era cercada pelo Capo Agliberto} primeiro-tenente Benedito} segundo-tenente Dinarco} Aspirante Walter} que desceram do carro armados. O Aspirante Walter tomando o fuzil do soldado concitou a tropa a aderir. Só concordou um soldado de côr preta. O Capo Sócrates dirigiu-se à Companhia de Alunos e gritou: Companhia de Alunos Hurrah pela revolução. De dentro partiram alguns vivas} como se já esperassem. Seguiu-se grande tumulto nos alojamentos da Companhia. A partir do momento da chegada do carro} o Te~. Mendes não mais viu o Capo Armando. O Ten. Bragança foi desarmado. O Ten. Mendes em vista de não ter aderido foi prêso no carro pelo Ten. Benedito. Os Tens. Bragança e Mendes ficaram no carro sob a guarda do Capo Agliberto} empunhando revólver contra êles. O Cap o Agliberto estava a menos de 1 metro do carro com a porta esquerda aberta. Havia várias granadas de mão no carro. O Capo Agliberto ouvindo o primeiro tiro disparado da direção da Casa dos Pilotos visou friamente o Ten. Bragança e atirou. Êste caiu para o lado direito dentro do carro} morto. Quando o Capo Agliberto apontou para o Ten. Mendes} ao atirar} a arma falhou e êsse aproveitando o momento de surprêsa emptf.nhou seu revólver e atirou pela porta do carro fazendo com que o Capo Aglibcrto fugisse para o capinzal que vai ter à Enfermaria. O Aspirante Walter conseguiu fugir . Inútil foi a decisão do ator, já que ao clarear do dia a ação combinada das tropas leais ao Governo mudou o rumo dos acontecimentos. A rebelião na Escola de Aviação Militar e o ataque ao 1.0 Regimento de Aviação foram amhos sufocados pela resistência firme e heróica da maioria esmagadora de militares que integravam os quadros das organizações agredidas. Subjugad()s os revoltosos no Campo dos Afonsos, duas esquadrilhas de três aviões Vought Corsair decolam para cooperar no ataque 368


ao 3.° RI e, ainda na manhã de 27, cessa a resistência: dessa Unidade com 'a prisão dos rebeldes. O Tenente-Coronel Eduardo Gomes, já então figura preeminente da Aviação Militar e cidadão do Brasil, pela sua participação nobre, idealista, patriótica e desinteressada nos sucessivos movimentos políticomilitares desde 1922, foi ferido em combate, na tentativa dos ·revoltosos de dominar o 1.0 Regimento de Aviaçã? 5 -

Um Relatório Histórico

No documento em que se dirige às a~toridades superiores relatando os acontecimentos, num verdadeiro depoimento para a História, retrata de forma simples e objetiva um dos episódios marcantes de nossa his, • ,,99 tona contemporanea. Estava prevenido de que havia .ameaças de um movimento comunista na cidade, com surtos talvez em alguns corpos, mas não esperava que o movimento rompesse da Escola de Aviação Militar, quando fui alertado, pouco antes das 3 horas da madrugada, por alguns tiros vindos dessa Escola. Antes já havia sido avisado pelo Sr. Gen. Andrada, que o 3. 0 RI estava revoltado, o que me induziu a reforçar as medidas de segurança desta unidade. Para tal fim mandei acordar o pessoal que pernoitava no Regimento, que era metade da tropa posta de prontidão por tôda a manhã, armando e municionando os soldados. Enviei, então, uma patrulha sob o comando do Sgt. Amaral que entrou em contato com a Escola, a fim de colhêr informações e em seguida lancei 2 grupos de Combate para a altura da caixa d'água do Regimento com a missão de deter qualquer progressão de elementos da Escola que porventura se achassem rebelados e que tentassem se aproximar do Regimento seguindo o eixo da estrada Rio-São Paulo. Ainda empreguei elementos do Grupo Médio no valor de um pelotão, sob o comando do 2. 0 Ten. José Zippin Grispun, com o fim de defender o hangar dêsse grupo e o Pavilhão de Comando, ficando o primeiro-tenente José Moutinho dos Reis encarregado da segurança do flanco direito do Regimento e de estabelecer ligação com o Regimento Andrade Neves que, segundo comunicação do Sr. Gen. Andrada, deveria se deslocar até Campinho. Elementos da Companhia Extra foram reforçar a guarda do quartel e tiveram a missão de repelir qualquer ataque que partisse da região de Campinho. Dessa forma procurei cobrir o Regimento em tôdas as direções possíveis de ataque. Os sediciosos se aproximaram em silêncio, prevalecendo-se da escuridão, aprisionando a patrulha do Sgt. Amaral e caindo 369


sôbre os grupos que tinham a missão de retardar ou deter a sua progressão, na altura da caixa d'água do Regimento. Mataram o cabo Coriolano Ferreira Santiago e aprisionaram alguns homens. Conseguiram, assim, invadir o hangar da Esquadrilha de Treinamento que foi, aliás, a única dependência do Regimento da qual conseguiram se apossar e isto porque, se achava aberto, na ocasião, para a saída de um avião Waco F-5 que devia decolar às 3,40 h da madrugada com destino a Recife. Pouco depois era aprisionado de surprêsa o segundo-tenente Roberto Julião de Cavalcante Lemos, quando retirava munição do almoxarifado e, simultâneamente, caía prisioneiro do Capo Sócrates o primeiro-tenente José Moutinho dos Reis que, ignorando a rápida progressão dos rebeldes e devido à escuridão da noite confundiu um g{UPO de praças da EAvM que se achava entre o Pavilhão do Comando e o 1.° Grupo com elementos dêste Regimento. Essas. foram as únicas e efêmeras vantagens obtidas pelos rebeldes que iniciaram, então, renhido tiroteio contra os que defendiam as instalações do Regimento, localizadas principalmente no Pavilhão de Comando. Estava o Regimento, nessa altura, completamente cercado pelos rebeldes que, comandados pelo Capo Sócrates e o Ten. Ivan, atiravam a pequena distância, prolongando-se o seu fogo violento até às 4,15 h da manhã, quando, com o clarear do dia, entregaramse primeiro os que do campo atacavam o Pavilhão de Comando e, sucessivamente, os que se haviam colocado à retaguarda do Grupo Médio e em outros pontos e, inclusive, os que se achavam no interior da Esquadrilha de Treinamento. Foram feitos, assim} 134 prisioneiros e mais os Tens. França e Dinarco e o Aspirante Walter e apreendidos 183 fuzis Mauser} uma metralhadora pesada Hotckiss} 10 FM-Hotckiss e 126 sabres-punhais. Pelo número de prisioneiros e quantidade de. material apreendido, pode V. Exa. bem avaliar a intensidade do ataque sofrido por essa unidade durante a noite e quando se achava completamente desprevenida com relação à EAvM. Muito se distinguiram nessa ação o Ten. Zippin que lutou bravamente e os Tens. Lemos e Moutinho que, embora tendo sido aprisionados} nunca se conformaram com essa situação} conseguindo evadir-se} e que pelas disposições que enérgicamente tomaram no início do ataque muito concorreram para que não caísse o Regimento em poder dos rebeldes. Cumpre-me salientar a atitude do telefonista de dia ao Regimento} soldado Alfredo de Jesus} que durante tôda a luta não J.eixou por um só instante o seu pôsto} batido embora pelas balas, obtendo as ligações que se tornaram necessárias e prevenindo de 370


acôrdo com minhas ordens os oficiais que se achavam em suas residências. Foi, ainda graças a tal atitude, que pude me com.unicar durante a luta com os Srs. Gens. Ministro da Guerra, Diretor da Aviação, Comandante da l .a Brigada de Infantaria e Chefe do EM do Senhor Presidente. Aprisionados uns e expulsos outros rebeldes. das proximidades dêste Regimento, puderam chegar a esta unidade o Ten . C;el. I vo Borges e elementos de ligação das Unidades Escolas, sendo~ então, iniciada uma ação ofensiva sôbre a EAvM, seguindo o eixo da estrada Rio-São Paulo, com elementos dêste Regimento prontamente reforçados por um esquadrão de metralhadoras e outros elementos do Regimento Andrade Neves, comandados pelo Capo Coriolano Ribeiro Dutra, conduzidos pelo T en. Cel. I V(J) Borges que foi também auxiliado pelo Maj. Fontenelle eCap. Perdigão. É de salientar a conduta desassombrada dêsses dols loficiais que, alertados em suas residências acorreram prontamentellv Quar. tel e auxiliaram decisivamente êste Comando quando procurava dominar os amotinados ainda no interior do Regimento. Ainda coube a êsses oficiais aprisionar os rebeldes que se achavam na retaguarda do 2.° Grupo e próximos ao almoxarifado do Regimento no que foram, também, auxiliados pelos Caps. Jonas, Theophilo e Amarante. Mais tarde chegaram os Srs. Ten. Cel. Muniz, Majs. Borges e Ávila, Caps. Aquino, Wanderley, Martinho, . Mendes, Libânio e Severino, Tens. Castro Neves, Baptista, Adherbal e Armando Menezes. Cabe-me acrescentar que logo após o início do -ataque fui ferido na mão direita por bala de .fm..U e foram também ferMos durante a ação o primeiro-sargento João Domingos e soldados AI· varo de Souza Pereira, Sebastião Nivaldo de Alvarenga Ortiz e Manoel Cosme de Araújo. Pereceram em combate, além do cabo Coriolano Ferreira Santiago, o soldado José Harmito de Sá. Inclusas encontrareis as partes oficiais que agiram sob o meu comando, bem como as de alguns sargentos, as quais esclarecem cada caso particular da luta desenvolvida.- Junto, também, a relação com os nomes dos sargentos e praças que mais se' distinguiram na ação, das avarias produzidas no material dêste Regimento, do material bélico apreendido aos rebeldes e das praças aprisionacf,as. Ao 1.° Regimento de Aviação, será sempre muito grata a ação desenvolvida pelo Sr. Gen. José Joaquim de Andrada e pelas Unidades Escolas que tão prontamente atenderam para -sufocar a rebeldia da EAvM e defender o Regimento tão traiçoeiramente atacado. 371


6 -

O Final

Por terem sido mortos em combate no ataque sofrido pela Escola de Aviação , Militar, foram promovidos post-mortem os seguintes mili" tares: Capitão Armando de Souza e Mello ; Primeiros-Tenentes Danilo Paladini e Benedito Lopes Bragança; Soldados Walter de Souza e Silva, Péricles Leal Bezerra, Orlando Henrique, José Menezes Filho, José Mário Cavalcante e Walter França. À rendição dos rebeldes seguiu-se a apuração das responsabilidades, a cabo da qual o Ministro da Guerra baixou o Aviso n.o 1, de 3 de janeiro de 1936, do qual extraímos: Para que seja dado cumprimento imediato do Decreto n.O 5-58, de 31 de dezembro de 1935, que determina a perda da patente e do posto dos oficiais do 3.° Regimento de Infantaria e da Escola de Aviação Militar, que participaram do movimento subversivo de 27 de novembro do ano findo, deveis mandar sejam excluídos das diferentes armas e serviços os seguintes oficiais: (da arma de Aviação) Capitão Sócrates Gonçalves da Silva, Capitão Agliberto Vieira de Azevedo, Primeiro-Tenente Benedito de Carvalho, Segundo-Tenente Ivan Ramos Ribeiro, Segundo-Tenente José Gay da Cunha e Segundo-Tenente Carlos Brunswick França. Esses oficiais, por sua conduta aviltante, faltaram às finalidades sempre sagradas da camaradagem e aos juramentos prestadós à Pátria e se tornaram indignos de vestir a farda gloriosa do nosso Exército. (a) General João Gomes

Pelo Aviso n.o 19, de 13 de janeiro de 1936, o Ministro da Guerra mandou excluir, também, o Aspirante-a-Oficial Walter José Benjamim da Silva. . Com o total fracasso dos levantes, a Revolução Comunista de 1935 chega ao seu epílogo. A implantação de um regime em dissonância com os anseios da sociedade brasileira sofria, assim, o seu mais rude golpe, com ressonância em: toda a América Latina.

372


pARTE 11 AVIAÇÃO CIVIL


6 -

O Final

Por terem sido mortos em combate no ataque sofrido pela Escola de Aviação , Militar, foram promovidos post-mortem os seguintes mili" tares: Capitão Armando de Souza e Mello ; Primeiros-Tenentes Danilo Paladini e Benedito Lopes Bragança; Soldados Walter de Souza e Silva, Péricles Leal Bezerra, Orlando Henrique, José Menezes Filho, José Mário Cavalcante e Walter França. À rendição dos rebeldes seguiu-se a apuração das responsabilidades, a cabo da qual o Ministro da Guerra baixou o Aviso n.o 1, de 3 de janeiro de 1936, do qual extraímos: Para que seja dado cumprimento imediato do Decreto n.O 5-58, de 31 de dezembro de 1935, que determina a perda da patente e do posto dos oficiais do 3.° Regimento de Infantaria e da Escola de Aviação Militar, que participaram do movimento subversivo de 27 de novembro do ano findo, deveis mandar sejam excluídos das diferentes armas e serviços os seguintes oficiais: (da arma de Aviação) Capitão Sócrates Gonçalves da Silva, Capitão Agliberto Vieira de Azevedo, Primeiro-Tenente Benedito de Carvalho, Segundo-Tenente Ivan Ramos Ribeiro, Segundo-Tenente José Gay da Cunha e Segundo-Tenente Carlos Brunswick França. Esses oficiais, por sua conduta aviltante, faltaram às finalidades sempre sagradas da camaradagem e aos juramentos prestadós à Pátria e se tornaram indignos de vestir a farda gloriosa do nosso Exército. (a) General João Gomes

Pelo Aviso n.o 19, de 13 de janeiro de 1936, o Ministro da Guerra mandou excluir, também, o Aspirante-a-Oficial Walter José Benjamim da Silva. . Com o total fracasso dos levantes, a Revolução Comunista de 1935 chega ao seu epílogo. A implantação de um regime em dissonância com os anseios da sociedade brasileira sofria, assim, o seu mais rude golpe, com ressonância em: toda a América Latina.

372


CAPíTULO 1

A AVIAÇÃO CIVIL NO INíCIO DA DÉCADA

1 -

Orgão de controle

O terminar a década de 20, a Aviação Civil, até então repre. sada numa repartição onde constituía corpo estranho, passou a merecer mais atenção, digna de ter seu órgão próprio. Efetivamente, não se justificava que, depois de dez anos, ela continuasse na Inspetoria Federal de Navegação, cujas finalidades eram cuidar da navegação marítima, fluvial e lacustre. Apesar dos esforços e da boa vontade dos homens a quem a aviação fora entregue na Inspetoria, o fato é que ela pouco evoluiu, circunstância em parte causada pela estagnação que a Aviação Civil conheceu até a chegada da primeira empresa estrangeira ao Brasil e da constituição da primeira empresa brasileira. Cabe ressalvar que a Aviação Civil, nesta década, passara também a estar afeta à Comissão Nacional de Navegação Aérea, forma que o Governo havia encontrado para dinamizar as atividades aviatórias ci~ vis, mas que se revelou, como era óbvio, mero paliativo. Não se fazia necessário um órgão consultivo, mas uma entidade de caráter executivo, e este aspecto faltava à Comissão. Depois do Regulamento de 192?, que somava tudo quanto era de moderno das legislações dos outros países, a falta de atividades a serem superintendidas levou aqueles dois órgãos ao marasmo: havia legislação, mas não havia a atividade; e sem atividade, o melhor dos órgãos administrativos fica sem saber o que fazer, não podendo regulamentar no vazio, com atos sem destinatários.

A

375


2 -

As Companhias Aéreas

A estatística da Inspetoria para aquele final de decênio acusava o funcionamento de quatro companhias, mas deve tratar-se de engano, porque, na verdade, eram cinco, duas estrangeiras, Pan American e Aéropostale, e três brasileiras, VARIG, Sindicato Condor e Panair do Brasil, não contando a Aeropostal, que, autorizada a operar tráfego aéreo, não obstante se dedicava à construção de aeródromos. A New York, Rio & Buenos Aires Line Inc. já não operava no Brasil, tendo a Pan American, que a absorveu, fundado a brasileira Nyrba, que se transformou, ao final da década, em Panair do Brasil. Também o Condor Syndikat cedera lugar ao Sindicato Condor Ltda. Dessas cinco empresas, a que tinha a situação menos sólida era precisamente a VARIG, cuja constituição fora precedida e sucedida de tantas esperanças do povo gaúcho e do resto do País. A VARIG vem a enfrentar séria crise, pois o Condor Syndikat retirara os dois aviões com que operava a companhia nacional, levando-a à condição de empresa aérea sem aviões. Mas enquanto a VARIG entrava na crise de que só viria a sair dois anos depois, o Sindicato Condor e a Panair vinham de vento em popa, não obstante o fato de não terem saído do litoral, onde se achavam desde que foram autorizadas a funcionar. Nessa ocasião, havia duas ligações internacionais: a Europa era ligada a Buenos Aires pela Aéropostale, linha que tinha início em Toulouse, na França; e os Estados Unidos eram ligados a Buenos Aires pela Pan American, ambas as empresas passando pelo território brasileiro. O movimento do tráfego comercial aumentara consideravelmente; na prática, dobrara tanto em quilometragem das linhas, quanto em quilômetros percorridos, notando-se, porém, que o maior incremento se verificava no transporte de malas postais, cujo crescimento era de 300%. Além do crescimento vegetativo, ocorrera um aumento na freqüência das linhas das empresas brasileiras. As dificuldades para que uma empresa nacional operasse tráfego internacional eram muito grandes, haja vista que a VARIG, lá nas cercanias da fronteira e autorizada a ligar o Brasil ao Uruguai, ainda não havia conseguido implementar essa ligação. 3 -

Outros segmentos

Também na parte desportiva era grande o atraso, porque, exceto o Aero Club Brasileiro, ainda não ocorrera o movimento que só o Departamento de Aeronáutica Civil iria incrementar, a partir de 1931. No tocante à infra-estrutura, já havia muito progresso, porque a colaboração das empresas estrangeiras, embora com interesse próprio, 376


impunha a construção de aeródromos terrestres. Mas é ainda a ação do Departamento que irá fortalecer o programa de construção. A legislação ainda era a de seis anos antes, aperfeiçoada em termos teóricos, mas carente em termos de execução, o que se explica pela falta de objeto. A legislação perfilhara o que de mais moderno havia no Exterior, mas o País não dispunha de práticas que permitissem entender até onde a dita legislação consultava as peculiaridades brasileiras. Sem embargo de tudo isso, é a criação do Departamento de Aeronáutica Civil que vai abrir novas perspectivas à Aviação Civil, permitir a vinda de novas empresas européias, a multiplicação dos aeroclubes e escolas e a adequação da legislação ao fenômeno incipiente.

377


CAPíTULO 2

OS ORGÃOS CONTROLADORES DA AVIAÇÃO CIVIL

1 -

O Departamento de Aeronáutica Civil

DANDO o Governo Federal confiou as atividades da Aviação . Civil, naquela oportunidade ainda embrionária, aos cuidados da Inspetoria Federal de Navegação, deixou de levar em conta as perspectivas do transporte aéreo. Não fosse assim, não poderia deixar de ver que uma repartição estruturada para ~tender aos serviços da navegação marítima e fluvial dificilmente estaria em condições de atender também aos serviços da Aviação Civil. Observe-se, no entanto, que essas atividades eram de pequena monta, limitadas ao controle da máquina e do piloto. Não obstante, mirando-se nos exemplos estrangeiros para assenhorear-se da experiência colhida por eles, deveria ter entregue aquelas atividades a um órgão específico. Essa atitude é pouco compreensível, se se atenta para a circunstância de que um órgão de tal natureza sempre estivera nas cogitações do Governo. E o fato de não estar a Inspetoria preparada para assumir os novos encargos está comprovado neste texto do Decreto n.o 16.983, de 1925:

Q

Art. 95. O Governo reorganizará a Inspetoria Federal de Navegação, de modo a torná-la apta para desempenhar todas as funções previstas neste Regulamento, podendo requisitar, para nela servirem em comissão, oficiais aviadores do Exército e da Marinha e funcionários civis de outros Ministérios . .. 378


,Ora, é óbvio que se em 1925, sem que tivessem surgido os pnmeiros transportes, já o Governo considerava que a Inspetoria não estava apta a superintendê-Ios, não a poderia considerar apta cinco anos antes, ao atribuir àquele órgão ,as incumbências da aviação. Esse paradoxo é que suscita a questão de o Governo ter sido imprevidente em 1920, uma vez que tanto nesse ano, quanto em 1925, o estágio do transporte aéreo brasileiro, do mesmo modo que a aviação civil em geral, era um só: não existia. Desse modo, havia um regulamento bem avançado, seguindo os melhores modelos estrangeiros, mas não havia o instrumento para pô-lo em execução; como já havia nos países europeus. Quando as primeiras empresas estrangeiras chegaram ao País, a situação do Governo para a nova atividade crescente era quase de expectador; pois não tinha um órgão à altura das necessidades surgidas. Quando àquelas empresas se juntaram as primeiras companhias fundadas no Brasil, tornou-se premente a criação do órgão específico que assumisse o controle da Aviação Civil. Mas para isto se fazia necessária a intervenção do Poder Legislativo, porque, ao tempo, quase tudo passava pelo crivo das Casas do Congresso. Apesar da incapacidade da Inspetoria para assumir os novos encargos, não obstante estar organizada para tratar de assuntos de navegação marítima e fluvial, assuntos pouco semelhantes aos de navegação aérea, o crescimento do tráfego aéreo no País, a partir de 1925, mostrou a necessidade de um órgão especialmente criado para essa nova atividade. O que se viu, porém, três anos depois de comprovada a ineficácia da Inspetoria, foi a sua substituição pela Comissão de Navegação Aérea, medida igualmente ineficaz. Se a Inspetoria não tinha estrutura para assumir os serviços da Aviação Civil, não seria a Comissão, como colegiado consultivo, que faria as suas vezes. A impressão que se tira de tudo isso é que o Governo encontrava obstáculo para proceder à criação 'desse decantado órgão espe' cHico, com dificuldade para obter o ato necessário do Legislativo. Essa impressão é robustecida pelo fato de que, vitoriosa a Revolução de 1930 e constituído o Governo Provisório, cinco meses depois ele criava o Departamento de Aeronáutica Civil - D.A.C. - Decreto n.o 19.902, de 22 de abril de 1931. O Engenheiro tesar da Silveira Grillo foi seu primeiro Diretor. Os serviços do novo órgão foram distribuídos por três divisões: 1

Administrativa

2

Operações

3

Tráfego. 379


o

Departamento exercia sua ação por intermédio de dez regiões:

l.a -

Amazonas, Pará e Maranhão -

2. a

-

Piauí, continuação da rota Parnaíba-Floriano-Carolina até Riachão, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco - Sede em Fortaleza.

3.a

-

Goiás e continuação da rota do Tocantins nos Estados do Maranhão e Pará até Marabá - Sede em Goiânia.

4.a

-

Alagoas, Sergipe e Bahia (com exclusão da rota do São Sede em Francisco e do Aeroporto de Caravelas) Salvador.

5.a

-

6.a

-

7.a

-

Estado de São Paulo -

8.a

-

Mato Grosso -

9.a

-

Paraná e Santa Catarina -

-

Rio Grande do Sul -

a

10.

.

Sede em Belém.

Espírito Santo, com continuação da rota litoral até Caravelas, Rio de Janeiro e zona sul de Minas, limitada pelos Rios Doce, das Mortes e Grande - Sede no Rio de Janeiro. Minas Gerais, com exclusão da zona pertencente à 5.a Região, zona oeste da Bahia, limitada pela rota do São Francisco ate Petrolina, exclusive - Sede em Belo Horizonte. Sede em São Paulo.

Sede em Campo Grande. Sede em Curitiba.

Sede em Porto Alegre.

Em 1934, o Decreto n.O 24.506, de 29 de junho, efetivou a transferência, para o Departamento, do Instituto de Meteorologia, até então integrado na organização do Ministério da Agricultura. Uma curiosidade no quadro de pessoal do Instituto: a presença de quatro padres exercendo as funções de meteorologista.

2 -. - O Conselho Nacional de Aeronáutica No anteprojeto do Código Brasileiro do Ar, elaborado pela Comissão Legislativa nomeada para assuntos de códigos em geral, figurava o Conselho Nacional de Aeronáutica. Seria um organismo técnico, composto de · brasileiros notáveis pela idoneidade e competência especializada em navegação aérea. Teria atribuições muito amplas, cabendo-lhe: a 380

investigar as condições técnicas e econômicas, o estatuto legal, a organização administrativa e as diretrizes políticas


das aeronáuticas nacionais, recorrendo à documentação dos centros de estudos e organismos internacionais; b - . projetar e propor aos Poderes Públicos, federais, estaduais e municipais, medidas para favorecer e aperfeiçoar a navegação aérea; c -

firmar e submeter ao Presidente da República as diretrizes da política aérea brasileira, sem prejuízo da autonomia da aviação militar, nával e civil;

d ~ opinar sobre projetos de lei e regulamentos e sobre consultas que lhe fossem feitas. No entanto, não era hora de criar um Conselho; se o Departamento de Aeronáutica Civil estava dando conta dos encargos e atendendo plenamente aos problemas da aviação, por que criar esse órgão que mais se prenunciava como de natureza política? A Comissão Legislativa da Câmara fez publicar, no Diário Oficial de 2 de agosto de 1933, o anteprojeto do Código, subscrito por preeminentes juristas: Deodato Maia, presidente; Rodrigo Octavio · Filho, membro; e Trajano Medeiros do Paço, membro. Porém, o único que tinha experiência das coisas da aviação civil era o último, pois Medeiros do PaçG havia sido Delegado do Brasil à Conferência Internacional de Direito Privado Aéreo, realizada em Varsóvia, em 1929. Em carta à Associação Comercial, o Dr. Claudio Ganns, que integrava o Comité Internacional Téchnique d'Experts Juridiques Aériens (C.I.T.E.].A.), Seção Brasileira, deu conta da observação que fizera à Comissão elaboradora do anteprojeto, considerando-o acentuadamente burocrático e sugerindo, para integrar o Conselho, representantes do comércio e das empresas de aviação; em abono de sua sugestão, citava a França, com seu Conselho Superior de Transporte Aéreo. Sobre estes pOntos, também oficiou ao Presidente do Comitê o Dr. Cauby de Araujo. Afinal, chegou-se ao texto definitivo sobre o · Conselho, atril;mindo-lhe as funções já descritas anteriormente. A composição, porém, foi ampliada para dezesseis membros, contrariando o princípio de que os órgãos com excessivo número de membros tendem a tornar-se ineficientes, pela heterogeneidade de opiniões. Após cinco anos de funcionamento e de muitas discussões, a composição foi reduzida para seis membros, composição determinada pelo Artigo 10 do Código Brasileiro do Ar, instituído pelo Decreto-lei n.o 483, de 8 de junho de 1938: três escolhidos pelo Governo, um representante do M.v.O.P., um oficial-superior do Exército e outro da Marinha . .381


o Decreto de 12 de setembro de 1938, publicado no Diário Oficial de 21 do mesmo mês, nomeou os representantes para o Conselho: Almirante Virginius Brito de Lamare Bacharel Antonio Moutinho Doria Engenheiro Luciano Lobato Koeler Bacharel Trajano Furtado Reis Cel Amilcar Sergio Veloso Pederneiras Cap Frag Antonio Appel Netto. Com a criação do Ministério da Aeronáutica, o Conselho foi extinto. Não deixou marcas, nem é lembrado quando se evocam os grandes problemas e as grandes soluções que ocorreram no final da década.

382


CAPíTULO 3

AS EMPRESAS AÉREAS NOS ANOS 30

1 -

VARIG

ano de 1931 encontrou a VARIG em serIa crise administrativa e financeira, com a renúncia do Major Alberto Bins e a paralisação das atividades, tudo em função do movimento revolucionário de 1930, que estourara em 3 de outubro, trazendo dificuldades para o Governo gaúcho cumprir sua parte no contrato estabelecido com a Viação Aérea, em 24 de abril daquele ano. Entretanto, graças ao substituto do Major Bins na presidência do Conselho Fiscal, o Dr. Adroaldo Mesquita da Costa, cuja denodada atuação, junto ao interventor federal do Rio Grande do Sul, Flores da Cunha, foi de pleno sucesso, a VARIG consegue equilibrar-se e soerguer-se, no final de 1931, recebendo a providencial verba de mil e duzentos contos de réis e tendo legalizado a transação de 1.050 ações com o Governo estadual. A partir de então, a companhia brasileira retoma seu ritmo de evolução. Em 25 de março de 1932, chegam ao Rio Grande, via marítima, dois Junkers F-13, de passageiros, e um A-50, de treinamento. Com estes aparelhos chegaram, também, os pilotos Hans Stunde e ·Max Frantz e o mecânico Paul Lovatzki, todos recomendados pela Fábrica Junkers. Do porto do Rio Grande, decolam para Porto Alegre, com a equipagem acrescida de um piloto brasileiro, brevetado nos Estados Unidos da América, Alfredo Daudt, que, além de ser o primeiro piloto aéreo gaúcho, se tornava, também, o primeiro tripulante brasileiro da VARIG.

O

383


A partir de abril,esses Junkers, já batizados de Livramento e Sántá Cruz, inauguram a linha Porto Alegre-Pelotas e passam a realizar outras para o interior gaúcho, alcançando Cruz Alta, Palmeira das Missões, ao norte do Estado; Bagé e Santana do Livramento, ao sul. .Com o Dornier Merkur Gaúcho, possivelmente alugado ao Sindicato Condor, a Linha da Lagoa vinha sendo feita regularmente. Em 1936, a VARIG aumenta sua frota com um Messerschmitt M 108 B, modelo T aifun, monomotor de asa baixa, configurado para quatro passageiros. Infelizmente, tornou-se inoperante, ao final do ano, em face de acidente. Já no ano seguinte, 1937, um novo Messerschmitt, modelo M 20 B, denominado Aceguá, veio a ser incluído no acervo da VARIG. Com acomodações para dez passageiros e tripulado por dois pilotos, o Aceguá era considerado um aparelho efetivamente comercial, permitindo o prôlongamento, até Uruguaiana, da linha que alcançava Santana do Livramento. Em 1938, novo avião : um Junkers JU 52/3m, adquirido da South African Airways, recebendo o nome de Mauá . Era um trimotor para dezessete passageiros e três tripulantes. Ao entrar o ano de 1940, a VARIG operava eficientemente a rede aérea gaúcha, levando o seu nome nas asas do Livramento , do Santa Cruz, do Aceguá e do Mauá a remotos pontos do Rio Grande do" Sul. 2 -

O Grupo Sindicato Condor-Luft Hansa

Os anos 30 marcaram o Sindicato Condor com o esforço despendido na competição com os franceses pelo melhor desempenho no transporte de malas postais para a América do Sul, e a conseqüente obtenção de contrato com os diversos Departamentos de Correios . Em maio de 1930, Jean Mermoz, da Aéropostale, já havia cruzado o Atlântico com o Comte de la Vaulx, na travessia pioneira Senegal (Saint Louis)-Brasil (Natal), transportando correspondência de correio. Era a resposta francesa às tentativas alemãs. Desde março de 1930, o Sindicato Condor vinha realizando vôos experimentaís para Fernando de Noronha , transportando malas postais . Ali , por inici~tiva da Luft Hansa, a correspondência era transferida para transatlânticos germânicos (Cap Arcona e Cap Polonio), que a levava até a Europa. O tráfego em ambos os sentidos , assim realizado, produzia uma economia de tempo de até quatro dias, entre a América do Sul e o continente europeu , em relação ao tráfego exclusivamente marítimo. Em maio de 1930, ainda por iniciativa da Luft Hansa, acontecera o vôo , também pioneiro, do dirigível Graf Zeppelin , que pou384


sou no campo de Jequiá, em Recife, provindo de Friedrichshafen, na Alemanha, seguindo depois para os Afonsos (RJ), onde malas postais foram transferidas para aviões do Condor que as transportaram para os diversos destinos no sul do País, Uruguai e Argentina. Esta nova forma de tráfego postal ficou sendo utilizada pelo Sindicato Condor e Luft Hansa até meados de 1932, em viagens mensais, com apenas a modificação de que a correspondência passou a ser transferida para os aviões do Sindicato, em ' Recife. A regularidade das travessias com o zepelim e as vantagens trazidas à comunicação postal pelos seus vôos, agora outra vez vindo até o Rio de Janeiro, levaram as autoridades brasileiras a cogitar da construção de um gigantesco hangar em Santa Cruz (RJ), tecnicamente adequado para a ancoragem e proteção do dirigível. O local escolhido foi o Campo de São José e as instalações que lá iriam ser construídas, a partir de 1934, receberiam, em 1936, o nome de Aeroporto Bartolomeu de Gusmão (atual Base Aérea de Santa Cruz). Contudo, o fator tempo ainda era preocupante, pois o zepelim era um aparelho lento; por outro lado, Bouilloux-Lafont, o presidente da concorrente francesa Aéropostale, já ensaiava a utilização regular de hidroaviões entre a África e o Brasil, tendo Couzinet realizado um vôo experimental, embora com avião de roda, o Arc-en-Ciel, em 16 de janeiro de 1933, levando 14h e 27min na travessia do Atlântico. Aproveitando a experiência adquirida em 1930 nas oper'ações conjugadas com os transatlânticos, os alemães, por iniciativa da Luft Hansa, equiparam o cargueiro Westfalen com uma gigantesca catapulta, a exemplo do que já havia sido feito, em menor escala, com o Bremen e o Europa, no lançamento de pequenos hidros nas linhas de correio no Atlântico Norte. O equipamento do Westfalen tinha capacidade para lançar um Dornier de oito a dez toneladas, na velocidade de 140 km/h, em cerca de 2 segundos. O hidroavião era retirado do mar por um guindaste para 15 toneladas, depois que o aparelho se posicionava sobre uma prancha que ficava a reboque do navio.

Um Oornie, .. Wai~ ~ C3!.:lpuIl3dO -:: o m a vel!'c;dade de 150 kmth. C,Jtapu lta Heinkc!, embutida dI) ",anci~:1 fi)(3: P:lt i ns <1e .1#!'col <Ja ...:m

Fig. 128 -

\

I.

,.•

~ -

.

Trumpurte de Currespondência no Atlântico Sul do Condor.

385


Os alemães passaram a operarem Bathurst, na foz do Rio Gâmbia, local com as mesmas condições de Dacar, utilizado pelos franceses. Em 29 de maio de 1933, realizou-se- a primeira experiência de decolagem catapultada do Westfalen, utilizando-se o Dornier Monsun em mar aberto, próximo . a Bathurst. Entre o recolhimento do hidro, o reabastecimento e a catapultagem não decorreram mais que trinta minutos. Em 6 de junho, ainda com o Monsun) pilotado pelo Capitão Jobst von Studnitz, foi feita a experiência completa. Depois de voar 1.500 km mar adentro, o hidro amerissou, foi recolhido pelo Westfalen, no meio do oceano) como era o jargão da época, reabastecido e relançado, permitindo sua chegada a Natal no dia seguinte. É interessante observar que o vôo sobre o oceano era feito a uma altitude de apenas cinco a dez metros, para aproveitamento do efeito solo , prática criada pelo experiente piloto Clausbruch, que proporcionava um ganho médio de 15 km/h na velocidade de cruzeiro, além da economia de combustível, já que, a baixa altura, era maior a sustentação do aparelho, em função da ·maior densidade do ar. Enquanto essas operações experimentais eram realizadas pela Luft Hansa, O Sindicato Condor expandia suas rotas no Brasil, inaugurando, em 8 de setembro de 1933, a Linha São Paulo-Cuiabá (MT)-São Paulo (SP), com freqüência semanal, passando por Campo Grande (MTS) e Corumbá (MTS). Era a ligação aérea pioneira entre o centro e o litoral brasileiro. Em 7 de fevereiro de 1934, o Condor, sempre com a colaboração da Luft' Hansa, inaugura no Brasil a primeira linha postal regular transoceânica de todo o Mundo, a partir de Berlim, até a América do Sul. Outra vez foram utilizados o Westfalen e o Taifun, a partir de Bathurst. A mala postal de 37,5 kg saíra de Berlim em 3 de fevereiro, transportada pelo mais veloz monomotor de então, um Heinkel He-7 O Blitz, que fizera escala~ em Sevilha e Cadiz. Daí, passara ao trimotor Junkers Zéphyr) que ainda escalara em Las Palmas, antes de alcançar Bathurst, em 6 de fevereiro. Imediatamente o Westfalen se faz ao mar, para a posição de meio do oceano; às 4 horas da manhã de 7 de fevereiro, o T aifun é catapultado e onze horas depois sobrevoava Fernando de Noronha, para depois amerissar no estuário do Potengi, no Rio Grande do Norte, às 17h e 25min. Em Natal, a mala foi transferida para o Junkers Tietê) do Condor, em vinte minutos, e levada, com escalas no Brasil, até Montevidéu e Buenos Aires, em pouco mais de um dia, graças ao serviço de corre386


1ação com as suas demais linhas que o Condor havia planejado cuidadosamente. A partir de então, esses vôos passaram a ser regularmente efetuados a cada duas semanas. Em fins de 1934, novos progressos: a utilização de um segundo navio-catapulta, próximo a Bathurst, o Schwabenland, . enquanto o Westfalen era transferido para as proximidades de Fernando de Noronha. Isto veio a permitir, em princípios de 1935, operações noturnas, com um dia de economia em tempo no transporte postal; a costa do Pacífico Sul é alcançada, com vôos semanais sobre os Andes, ligando Buenos Aires a Santiago, com escala em Mendoza, na Argentina; no Brasil, a linha de Natal é estendida até Fortaleza. É também digna de nota a organização de um serviço de aerofotogrametria, em que o Condor se tornou pioneiro, neste ano de 1935. Em 1936, o Sindicato Condor inaugura uma linha semanal de São Paulo a Cochabamba e La Paz, em conexão com o Lloyd Aéreo Boliviano, a partir de Porto Juarez, num prolongamento, para oeste, a partir de Corumbá, de sua linha interiorana até Cuiabá. Nessa época, o hidroplano Junkers. T aquary realiza um vôo exploratório até Rio Branco, capital do então Território do Acre, sondando a exeqüibilidade de estabelecer uma linha aérea .. .Ainda neste ano, a Linha Norte é estendida de Fortaleza a Belém. Em 1937, é inaugurada uma nova linha, voltada para o interior do Piauí, ligando Parnaíba, Teresina, Floriano e Uruçuí (Rota do Par. naíba). Ainda neste ano é estabelecida a duplicidade semanal nas linhas Rio-Buenos Aires (inaugurada em 1934), Buenos Aires-Santiago (inaugurada em 1935) e Rio-Belém (inaugurada em 1936), e é feita a ligação do Uruçuí a Carolina (MA), ponto de início da Rota do Tocantins. Entre 1938 e 39, os Junkers F-13 e JU 52j3m do Sindicato ligam as cidades maranhenses de Carolina e Imperatriz; prosseguindo rumo noroeste, complementam a Rota do Tocantins no Estado do Pará, unindo via aérea as cidades de Alcobaça, Cametá, Abaeté e Belém. Um segundo vôo com o Taquary, em direção ao Acre, faz a ligação de Porto Velho (RO) a Rio Branco. Ao mesmo tempo, voava em direção contrária o Junkers Tibagy, confirmando a possibilidade de uma linha acreana. Entre 1939 e 40, várias outras cidades maranhenses foram sendo incluídas nessas rotas. O mesmo aconteceu no Ceará. Na Amazônia, o Condor estabelece definitivamente a linha para o Acre, fazendo a ligação de Corumbá a Porto Velho, seguindo os cursos dos Rios Mamoré e Guaporé. Desta forma, tornou possível a viagem aérea regular até o faroeste brasileiro, a partir da Região Sul. 387


CONOOR 1940

SELEM

LÁSREA

BOCA 00 ACRE

MACE"

PORTO VELHO

ARACAJÚ

RD

BRANCO GUAJARA" MIRIM XA URI

SALVADOR

FORTE PRíNCIPE DA BEIRA ILHAS DAS FLORES

ILHÉUS

CUIABÁ

CM1PO

EELMONTE

TRÊS LAGOAS ARAÇATUBA

VITÓRIA

GRANDE

RIO DE JANEftO S. PAULO

M::NDOZA (RA)

SAN[,bAOO CHILE

Fig. 129 -

BUENOS AIRES

MONTEVIDÉU

Rotas do Condor até 1940.

Em que pesem as vantagens trazidas às populações das cidades interioranas beneficiadas, as atividades do Condor, para estabelecer linhas em regiões reconhecidamente de poucos recursos econômicos e financeiros, trouxeram suspeitas de configurar uma preparação para eventuais operações de bombardeiros alemães na América do Sul, em face da Segunda Guerra Mundial. Essa hipótese foi levantada por estrategistas militares dos Estados Unidos da América. Em contraargumento, ressalte-se o fato de que aeródromos nessas regiões já haviam sido criados pelo Correio Aéreo Militar, em 1936, e pelo D.A.C. (1937), os 'quais foram apenas aproveitados pelo Sindicato Condor, para pouso e decolagem de seus Junkers. E ainda: na linha para o Acre, a Panair do Brasil fora pioneira, a partir de Belém, embora não tivesse dado continuidade aos serviços. 3 -

O Grupo Lufthansa-Zeppelin

Em 1935, é fundada, na Alemanha, a Deutsche Zeppelin Reederei pela Deutsche Lufthansa A.ktiegesellschaft unida à Luftschiffbau Zeppelin. A Luftschiffbau Zeppelin já havia obtido no Brasil autorização para vôo e permissão para construir, no Rio de Janeiro, um aeroporto 388


adequado aos dirigíveis, construção essa a ser financiada pelo Brasil e, posteriormente, arrendada pela companhia alemã, mediante o Decreto n.o 24.069, de 31 de março de 1934. Tudo teria sido mais fácil se apenas se tivesse dado autorização para estabelecer a linha e deixado à permissionária o ônus de operat no País, implantando a infra-estrutura adequada às suas operações. O que não tinha sentido era permitir-lhe a vinda ao Brasil e o País arcar com o ônus da construção do hangar, que seria paga com ~rrendamento, trocando um investimento efetivo por uma receita em potencial. O contrato, celebrado de acordo com a autorização do decreto, era de uma liberalidade pouco comum: o País não tinha nenhum interesse especial em que . a Zeppelin viesse ao nosso território; esse interesse era da Alemanha. Por isso mesmo, era inconcebível que o Brasil se envolvesse em vultosa despesa, para construir um aeroporto só para os dirigíveis, exatamente na época em que dava início a um vasto programa de dotar nosso território com aeródromos que permitissem o deslocamento do transporte aéreo para o interior, em benefício de nossas empresas e de nosso País. Era mesmo um fato inédito dar autorização a uma empresa estrangeira para vir ao nosso País e ainda lhe proporcionar os meios de operar no Território Nacional. Nenhum país faria uma coisa dessas: dada a autorização para estabelecer a linha, o resto deveria passar a ser ônus da permissionária. Eis os pontos principais do contrato a serem · observados pela Luftschiffbau: assumir, como empreiteIra, a tarefa de construir, nas proxImidades de Santa Cruz, um hangar com 270 metros de comprimento, 50 de altura e 50 de largura; fazer instalações para produção de gás hidrogênio; idem, para abastecimento com gás combustível; com a respectiva canalização; executar todos os trabalhos de terraplenagem; construir alOjamentos para as · tripulações e o pessoal da fiscalização.

O Governo Brasileiro concedia à empresa um crédito de ... 11.206:800$000 (onze mil, duzentos e seis contos e oitocentos mil réis) e permitia-lhe a importação de todo o material, provindo do Exterior, livre de direitos alfandegários. Em contrapartida, a empresa pagar-lhe-ia 16 contos de réis por pouso do zepelim, e mais uma cota 389


anual de 80 contos. Como os pousos anuaIS eram em número de vinte-, os ônus da empresa para com o Governo seriam, anualmente, de quatrocentos contos de réis, acrescidos de trinta e seis contos referentes a fiscalizações. Mesmo que mais dirigíveis se servissem do aeroporto, pagando a tarifa de 16 contos para cada pouso, é fácil verificar quantos anos seriam necessários para amortizar o investimento ... Essa autorização à empresa alemã é única na história de nossa aviação e leva-nos a cogitar sobre as razões que teriam determinado tanta liberalidade, mesmo em se admitindo ponderáveis razões de Estado. No ano seguinte, 1936, o Governo Brasileiro aprovaria o plano geral do aeroporto, bem como as plantas, especificações e orçamento, cujo total iria exceder de pouco à metade do crédito aberto para ocorrer às obras. O item mais caro dessa especificação era a estrutura metálica do hangar: 5.203 :578$000 (cinco mil, duzentos e três contos e quinhentos e setenta e oito mil réis). Em 1935, uma segunda empresa alemã foi autorizada a funcionar no Brasil, mediante o Decreto n.o 142, de 30 de abril: a Deutsche Lufthama Aktiengesellschaft. A expressão segunda empresa foi autorizada parece induzir à conclusão de que foram duas autorizações. Na verdade, quanto à Luftschiffbau Zeppelin, não houve autorização para funcionar, pois o ato oficial já partiu da celebração do contrato para construir hangar e, daí, para o estabelecimento do tráfego, suprimindo a etapa da autorização de funcionamento, exigência do Código Civil. Se, em relação à primeira empresa alemã, houve parcimônia nos atos oficiais, com referência à segunda esses atos foram vários e espaçados. Autorizada a funcionar em 1935, apenas em 1936 a Portaria n.o 170jM.v.O.P. deu a permissão para estabelecer tráfego sobre nosso território, com pouso facultativo em Fernando de Noronha e obrigatório em Natal, na execução da linha Alemanha-América do Sul, com a faculdade de estender, excepcionalmente, o vôo além de Natal, em direção ao Sul, por motivo de conveniência técnica ou para assegurar a rapidez do transport? das corresppndências postais internacionais, observados o roteiro e o itiner.ário das outras linhas regulares de hidroaviões. Não havia, portanto, um elenco de escalas, como nas demais autorizações dadas às empresas estrangeiras, como também não houve no caso da Luftschiffbau Zeppelin. Em 1936, os trajetos entre a Alemanha e o Brasil, com, o zepelim, alcançavam sucesso absoluto, contando com dezesseis viagens de ida e volta no transporte sempre crescente de passageiros e de malas postais. Tal sucesso era resultante da confiança depositada no 390


serviço. Também concorrera a substituição do dirigível Graf Zeppelin, de vinte e quatro passageiros, pelo Hindenburg, com acomodações para cinqüenta. Da mesma forma concorreram as providências da Lufthansa, transferindo, das linhas do Atlântico Norte para o Sul, os hidroaviões Dornier DO 18, construídos para longo percurso, permitindo fazer o vôo Bathurst-Natal com maior conforto e menor tempo. Mas todo esse sucesso foi empanado em 1937, em face do trágico acidente com o Hindenburg em Lakehurst, New Jersey (USA), a 6 de maio. Logo a seguir, em 17 de junho, a Luftschiffbau Zeppelin solicita ao Governo Brasileiro a suspensão de sua linha. Como ficou esclarecido, a Portaria n.o 170jM.V.O.P., de 1936, dava autorização à Lufthansa para fazer a ligação Europa-Natal, só podendo seguir adiante nas condições expressas. Mas em 1938, atendendo a requerimento da empresa, o Presidente da República baixou o Decreto-lei n.O 425, de 12 de maio, autorizando-a a estender a linha Alemanha-América do Sul até o extremo sul do Brasil, fazendo escalas em Recife, Bahia, Rio de Janeiro, Santos, Florianópolis e Porto Alegre. Nos anos seguintes, a Lufthansa permaneceu operando com os Dorniers DO 18, depois substituídos pelos DO 26, realizando as travessias do Atlântico Sul, até Natal, daí prosseguindo para o sul, agilizando o transporte do correio: ficava proibido, no entanto, o vôo comercial de passageiros ao longo do litoral. No Brasil, Lufthansa e Zeppelin operavam interligadas, havendo a terceira, dita brasileira, que era o Sindicato Condor Ltda., este herdado do Condor Syndikat pela Lufthansá. Funcionavam todas como empreendimentos autônomos, dando ao público a impressão de se tratar de interesses concorrentes, quando na verdade não passavam de interesses mútuos. Isso ficou comprovado por elas mesmas, quando divulgaram um croquis com as linhas e as freqüências das três. Esse mapa é interessante, posto que identifica as linhas então operadas: a -

linhas aéreas Condor no Brasil;

b -

linhas aéreas ultra-rápidas Condor-Rio de Janeiro a Buenos Aires e Santiago;

c -

linha aérea ultra-rápida Condor Rio-Natal, em combinação com o serviço transoceânico Lufthansa;

d -

linha aérea transoceânica América do Sul-Europa via Condor-Lufthansa;

e -

serviço aéreo regular de dirigíveis via Condor-Zeppelin. 391


Paralelamente a isso tudo, ainda funcionava uma linha de ônibus entre Santos e São Paulo, em combinasão com a chegada e a partida dos aviões.

Fig. 130 -

4 -

Condor-Lufthansa-Ze ppelin no transporte de m alas postais.

Aéropostale

Para a Compagnie Générale A éropostale (ex-Latécoere), o ano de 1930 havia-se encerrado como de grandes realizações e promessa de ampliação de suas linhas e de seus projetos mais ambiciosos _ No fim do ano de 1929, a c.G.A. contava com uma respeitável frota de: 200 aviões Laté 25 e 26 e Bréguet com motores Renault de 300 H .P .; 20 hidroaviões Laté 21 , 24 e 32 e CAMS com motores Hispano-Suiza de 480 H.P.; além destes, possuía mais 1.213 motores; e ainda era proprietária de 6 Avisos, navios rápidos, de 1.000 e 1.200 toneladas, desenvolvendo 6.000 H.P. e uma velocidade média horária de 16/18 nós; também 4 navios de socorro, de 300 a 500 toneladas, e 6 cisternas para óleo e carvão, de capacidade de 2.300 toneladas cada uma. O material humano era contabilizado igualmente em números expressivos: 80 pilotos-aviadores , .30 chefes mecânicos, 25 eletricistas, 600 auxiliares especialistas, 60 oficiais de marinha, 300 marinheiros,. 50 radiotelegrafistas e 210 mecâriicos. Isto excluindo a dire392


toria, o pessoal de escritório, etc. Além disso, no percurso total de suas linhas, dispunha de cerca de 30 aeródromos e respectivas instalações terrestres. . Um mapa da Aéropostale do início de 1930, amplamente difundido em todo o Mundo, mostrava bem a pujança de sua situação. Suas linhas iniciavam-se em Toulouse e iam até Bordeaux; daí seguia uma para Madri, e outra, para Paris. Novamente saindo de Toulouse, para Barcelona, depois Alicante, atravessando o Estreito de Gibraltar até Tânger; de Barcelona a Marselha; e, cruzando sobre o Mediterrâneo, atingindo Alger, na Algéria (hoje Argélia) e desta última até alcançar Rr.bat, onde se encontrava com a rota que vinha por Alicante. A seguir, Casablanca, Agadir, Vila Cisneros (no Rio de Ouro) até atingir Dacar, no Senegal. Deste ponto extremo do território africano, cruzando o Atlântico até Natal, descendo para Rio de Janeiro, Montevidéu e Buenos Aires. Da capital portenha, uma outra linha baixava até Punta Arenas, no extremo sul do continente sul-americano. Outra ia para Santiago do Chile e subia para Antofagasta, Arica até atingir Callao, no Peru. Estas eram as linhas efetivas da Aéropostale, mas um outro projeto, ainda mais ambicioso, estava a desenvolver-se, pois a C.G.A. estava pleiteando outras linhas para o transporte da mala postal, com dois ramos, saindo respectivamente de Alger e Dacar e que se encontrariam no Sudão, com desdobramentos para Costa do Marfim, Lagos, na Nigéria, Brazzaville, no Congo Belga, atravessando a Rodésia até Moçambique e, dali, cruzando o Canal de Moçambique, até Madagascar. Este projeto, entretanto, por motivos que veremos adiante, não chegou a ser implementado. Na segunda metade de 1927, quando da transformação da Compagnie Générale d'Entreprises Aéronautiques em Compagnie Générale Aéropostale, o capital da primeira era de vinte bilhões de francos. Com a nova razão social e os novos objetivos a serem alcançados, houve um aumento imediato de necessidades financeiras, e o capital na nova empresa passou para cinqüenta bilhões de francos. O organizador e coordenador desse empreendimento era o homem de negócios, radicado no Brasil, Marcel Bouilloux-Lafont. Apenas para se ter uma idéia do potencial econômico de Lafont, que possuía empresas em todo o Mundo, com ênfase na França, Argentina, Uruguai, somente no Brasil ele controlava os capitais franceses colocados nos seguintes empreendimentos: Crédit Foncier du Brésil, Caisse Commercialle e Industrialle de Paris, Companhia Brasileira de Imóveis e Construções, Companhia Imobiliária da Bahia, Companhia Ferroviária Este Brasileiro, Société Franc-Sul-Américaine de Travaux Publiques, Société de Construction du Port de Bahia, Companhia Concessionária das Docas e do Porto da Bahia, Banco Federal Brasileiro (antigo Banco Estadual de Sergipe), Companhia Brasileira de Exploração de Portos, Banco Hipotecário do Brasil, .Companhia Geral de Socie393


dade e Indústria Ltda., e ainda outras. Só nesses empreendimentos estavam investidos mais de um milhão de contos de réis, quantia difícil de se traduzir para os parâmetros atuais. É de se notar, portanto, que grande parte da fortuna pessoal de Lafont estava comprometida nesses negócios. Quando tudo parecia tão promissor, e as linhas aéreas desdobravam-se uma após outra, em todas as direções, fatos estranhos começaram a desenvolver-se na França. Imediatamente após a transformação da Latécoere, em agosto de 1927, a Aéropostale havia firmado com o governo francês um convênio que estendia à recém-desbravada linha Dacar-Natal-Buenos Aires as disposições de um contrato de 1924, pelo qual a França concedia uma subvenção por quilômetro percorrido e mais um acréscimo que cobria as despesas realizadas com a exploração de novas rotas e trabalhos de infra-estrutura em terra. Tudo isto era controlado pelo Ministério do Ar francês, e o tempo do convênio era estipulado em dez anos. A 2 de agosto de 1929, era firmado um outro contrato, entre a França e a Aéropostale, com duração de vinte anos, que viria a permitir à companhia de aviação prosseguir em seus planos de expansão. O contrato, entretanto, teria de ser ratificado pelo Parlamento. Enquanto isso não acontecia, Lafont determinara a uma subsidiária, a Société Générale d'Aviation, que estabelecesse campos de pouso e instalações de terra, criasse sociedades filiadas e adiantasse recursos à Aéropostale no valor de vários milhões de francos. O Ministério do Ar havia aprovado um empréstimo de 200 milhões de francos, que seria coberto pela emissão de obrigações, sob seu controle e o do Ministério das Finanças. Convencido de que a situação estava favoravelmente resolvida, Bouilloux-Lafont mandou seus bancos e outras empresas de seu grupo emprestarem numerário à Aéropostale, baseado no empréstimo prometido pelo governo francês. Tudo estava previsto para ter seu desenlace a partir de fevereiro de 1931, quando a operação financeira teria sua efetivação, e a empresa aérea saldaria seus compromissos para com as demais firmas de Lafont. Nos três primeiros meses de 1931, desencadeou-se uma campanha insidiosa na imprensa francesa, acusando Lafont de dilapidar recursos do governo, transferindo-os à Aéropostale e pressionando o Ministro do Ar no sentido de que desistisse de seu apoio à empresa de aviação. Março chegou ao final sem o assunto ter sido discutido no Parlamento, e sem o Ministro ter-se resolvido sobre o contrato. Dessa forma, março de 1931 foi um mês negro para a Aéropostale, para Lafont e para a Linha, que tão arduamente fora consolidada nos últimos cinco anos. Os credores, em sua maioria empresas do grupo Bouilloux-Lafont, mantinham sua confiança no empreendimento e não pressionavam; po394


rém o próprio governo francês, numa atitude inusitada para com uma empresa de mesma nacionalidade, exigiu o depósito do balanço da Aéropostale. A Compagnie não teve outra solução senão esclarecer a situação difícil em que se encontrava, na realidade em função do próprio Governo, que a estimulara a contrair dívidas e, agora, lhe voltava as costas. A 31 de março de 1931, a Aéropostale entrava em liquidação judicial. É um tanto difícil precisar o que verdadeiramente acontecia na França àquela época. Mas são vários os indicadores de que a paixão política aliada à cobiça de grupos econômicos contrários cooperaram para a derrocada do empreendimento aeronáutico francês. Ao contrário do que acontecia em outros países, cujos governos auxiliavam de qualquer forma as empresas nacionais, principalmente Alemanha e . Estados Unidos, a França condenou ao fracasso uma idéia tão brilhante e que se vinha desenvolvendo com grande eficiência. Maurice Bouilloux-Lafont, irmão de Marcel, era vice-presidente da Câmara dos Deputados, mas possuía grandes inimigos; Este fato, mais a inveja decorrente do sucesso de Marcel Bouilloux-Lafont em todos os negócios em que se engajava, e ainda os interesses de um outro grupo aeronáutico francês, que detinha o controle da Air Orient, tudo se juntou para que ocorresse a débácle da Aéropostale. Na época, até interesses antifranceses, alienígenas, foram invocados como tendo feito parte do complô. André, filho de Marcel Bouilloux-Lafont, chegou a reunir documentos que visavam a incriminar o governo alemão. Comprovados como falsos, André teve que responder a processo, chegando a ser preso. Um convênio provisório foi articulado entre o governo francês e a Aéropostale, em substituição ao anterior que a ligava ao Estado, e uma pequena subvenção mensal foi atribuída ao liquidante. A Companhia formou um conselho para lhe dirigir os destinos, composto por quatro membros: André Bouilloux-Lafont, Cangardel, Lioré, sob a presidência de Dautry. Este último pugnou para que a Companhia não afundasse de vez, enquanto Marcel Bouilloux-Lafont lutava para reconquistar a credibilidade de seu negócio; mas os frutos nãu foram animadores. As tripulações dos aviões continuavam a dar o melhor de si e a cumprir os horários e etapas, mas em muitos casos tiveram até seus vencimentos suspensos. Houve uma redução de linhas, principalmente daquelas que tinham sido recém-implantadas, como as do Chile ao Peru, Chile à Bolívia e Argentina ao Paraguai. Os planos para estender as linhas no continente africano, de que falamos antes, foram, logicamente, abandonados. Duas linhas brasileiras foram adiadas, a RioCorumbá e uma outra que, saindo de Natal, se dirigiria às Antilhas. 395


Na Argentina foi suspensa a maIor parte dos vôos da subsidiária Aeroposta. Assim, arrastando-se, a Aéropostale tentava continuar sua trajetória, cada vez mais cheia de percalços. Jean Mermoz, cuja fama de grande piloto e nobre idealista lhe havia dado uma auréola de herói nacional, intercedeu junto aos governantes em prol da Aéropostale, mas tudo em vão. Os políticos ouviram-no com atenção e prometeramlhe estudar o problema com boa vontade, mas nada fizeram. Esse estado de desânimo já se prolongava por quase dois anos, quando surgiu um jovem, René Couzinet, engenheiro e projetista, com planos de um novo e revolucionário avião: o Arc-en-Ciel (Arco-íris). Couzinet havia construído e voara seu primeiro avião em 1928. E até o verão europeu de 1932, quando apresentou seu projeto a Verdurand e Helbronner, respectivamente diretor e secretário-geral da Aéropostale, Couzinet já havia construído três modelos do Arc-en-Ciel, sendo que os dois primeiros caíram, ficando inteiramente destruídos. O terceiro, pronto em fins de 1931, fez com sucesso seu vôo experimental em janeiro de 1932. Inicialmente havia sido projetado para operar sobre o Atlântico Norte, mas Couzinet o ad~ptou para as travessias do Oceano em sua parte sul, dando ao aparelho novas características para permitir o transporte de carga mais pesada por metro quadrado, o que poderia resolver, pelo menos em parte, o problema da Aéropostale. . Depois de recusar o nome de Jean Mermoz para pilotar seu avião, Couzinet rendeu-se ao entusiasmo do piloto francês, após tê-lo conhecido pessoalmente: passou a exigir Mermoz como o único que poderia e deveria levar seu revolucionário aparelho na travessia do Atlântico Sul. A 16 de janeiro de 1933, o esguio e prateado aparelho de Couzinet levantou vôo de Saint Louis no Senegal, rumo a Natal, no Brasil. Eram três horas da madrugada, e o vôo transcorreu tranqüilo por 14 horas e 27 minutos, com o recorde de velocidade média de 227 quilômetros por hora. E o Arc-en-Ciel manteve absoluto esse recorde por quatro anos. A 17 de janeiro, esse avião de linhas inteiramente novas seguiu para o Rio de Janeiro e Buenos Aires, onde foi alvo da admiração pública. Na volta, o Arc-en-Ciel realizou o primeiro vôo sem escalas Buenos Aires-Rio, num percurso de 2.400 quilômetros. O avião com que se pretendia restabelecer o prestígio da Aéropostale era, como dissemos, revolucionário. O avião com que Mermoz fez a travessia do Atlântico, a 16 de janeiro de 1933, era ainda o modelo 70. Após o retorno à França, ele sofreu extensas modificações, e passou a ser denominado Couzinet 71. O modelo 70 era um monoplano de asa baixa, em cantilever, fuselagem com estrutura de madeira, em configuração pouco usual: retangular, na parte dianteim tornando-se ovalada, em direção à cauda, que fazia parte integrante 396


da . fuselagem, com topo em forma de lâmina; os trens de aterragem consistiam em duas unidades independentes (dianteira e traseira), dotadas de grandes rodas, com pneus cobertos por compridos pára-lamas estilizados; três motores Hispano-Suiza, com 12 cilindros, em V, de 650 H.P., radiadores frontais e hélices tripás metálicas. Levava piloto, mecânico, navegador e radiooperador; tinha sua denominação inscrita ao longo das duas laterais da fuselagem e, nas asas, sua matrícula: F-AMBV. O modelo 71, surgido logo depois, teve sua fuselagem alongada e a nacela colocada mais para trás; os pára-lamas foram reduzidos no trem dianteiro e abolidos no traseiro; as janelas da cabina também foram redesenhadas com alteração de tamanho, recebendo abaixo delas as palavras: France-Amérique du Sud. Os três motores foram mantidos, só que agora com hélices bipás. ~oi com esta nova apresentação que o Arc-en-Ciel iniciou operações regulares, realizando dois vôos em 1933 e seis no ano seguinte, alguns sob o comando de Jean Mermoz. Desde 1925 os franceses vinham fazendo gestões para funcionamento de suas empresas no Brasil. Depois de alguns anos, a Latécoere conseguiu sua autorização em 1927, seguindo-se-Ihe, no ano seguinte, a Aéropostale. Havia muita identidade entre essas e.mpresas francesas, que mudavam de nome constantemente e, além disso, constituíam empresas ditas nacionais.

" FRANCES

Fig. 131 -

Aérupostale no transporte de malas postais.

397


5 -

A Air France

Em 1932, em plena fase da intervenção na Aéropostale, os negócios iam de mal a pior. Neste ano, a Companhia Aeropostal Brasileira, que tinha até recebido dois aviões Laté 25, de prefixos P-BEAA e P-BEAB, deixou de funcionar. Por seu lado, a Aéropostale, francesa, também realizou seus últimos vôos. Quando o Arc-en-Ciel (Couzinet 70) retornou à França, uma notícia aguardava seus tripulantes: todas as companhias francesas tinham sido reunidas em uma única: a Air France. A fusão das companhias aéreas francesas foi, na verdade, uma conseqüência da política estatizante que predominava na França de então. O Ministro do Ar, Pierre Cot, alegava que a medida se impunha para reduzir as subvenções e que, além disto, havendo um só comando empresarial, se tornava mais fácil o entendimento com o governo. Cinco companhias aéreas, Farman, La Cidna, Air Union, Air Orient e Aéropostale, passaram assim, desde 30 de agosto qe 1933, a constituir a Air France. A antiga linha da Aéropostale para a América do Sul continuou a ser feita pela nova e única empresa de navegação aérea francesa. Vários vôos foram realizados pelo novíssimo Arc-en~Ciel (modelo 71) e pelos outros aviões mais antigos. Mermoz continuava a ser o líder da rota. No Brasil, Getúlio Vargas, como chefe do Governo Provisório, assinou o Decreto n.o 24.030, de 22 de março de 1934, concedendo autorização à Air France para atuar no Território Nacional, tendo sido esse decreto referendado pelo Ministro Joaquim Pedro Salgado Filho, então Titular da Pasta do Trabalho. A regulamentação foi feita através da Portaria n.o 526jM.v.O.P., de 2 de julho do mesmo ano, que, em última análise, era a ratificação da portaria anterior, que concedera à Aéropostale o direito de tráfego aéreo no litoral brasileiro, desde Fernando de Noronha até Pelotas, no Rio Grande do Sul. É de se assinalar a rapidez com que a Air France viria a fazer jus a uma exceção legal que a beneficiaria bastante: tendo sido autorizada a funcionar no País em março de 1934 e a estabelecer tráfego em 2 de julho de 1934, sete dias depois vem a obter autorização, em caráter excepcional, para transportar correspondência postal interior. Infelizmente, os atos oficiais não consignaram o critério que presidiu a permissão para esse transporte, tão contrário aos interesses do País. E nisso não vai qualquer xenofobia, porque, se a empresa nem ainda iniciara o serviço (se o fizera, não tinha realizado mais do que uma viagem semanal, que essa era sua freqüência), não poderia ter mérito comprovado justificador da exceção. A partir de então, uma nova fase vem a ter lugar na Air France. Sensível aos movimentos políticos, que lhe guiavam os passos, 11 com398


panhia estatal francesa passou a fazer acordos de tráfego mútuo com a Lufthansa, o que causava estupefação nos meios aviatórios, porque deixava que a representante de um país tradicionalmente adversário, como a Alemanha, fosse ocupando espaços tão duramente conquistados pelos uomens da Linha. No Brasil, isto também se fez sentir, permitindo tanto à Lufthansa, alemã, como à Pan American, norte-americana, disputarem, palmo a palmo, o direito de estabelecimento de linhas, a sua ampliação e a conquista do favoritismo público.. A Air France dispunha de uma frota respeitável em número de aparelhos, proveniente do somatório dos acervos das companhias partícipes do consórcio. Assim, o seu equipamento, usado preferencialmente nas travessias marítimas, tinha um número muito variado de marcas, em razão mesmo de cada uma daquelas empresas possuir doutrina operacional própria. Havia hidros Latécoere 300 e 301, Blériot 5190, vários Farman F. 220, 2200 e 2220, 2231, 2234, etc. Os aviões terrestres eram os Bréguet 393T, Fokker F VII/b-3m, Wibault 383T, Dewoitine D.333 e 338, Potez 62. E ainda os Salmon, Lioré et Olivier, CAMS, os Couzinet 70 e 71 (Arc-en-Ciel), etc. Muitos destes aviões nem chegaram a voar no Brasil, tendo sido empregados em outras linhas. A Air France continuava a sua trajetória, acompanhando o desenvolvimento natural da aviação em todo o Mundo. Marcel Bouilloux-Lafont havia perdido grande parte de sua fortuna; vivia agora uma existência modesta, em seu apartamento na Avenida Foch, Paris. Estava quase cego e seu interesse era despertado apenas quando se falava em sua campanha pró-reabilitação e nos aviões que aprendera a amar. Alguns anos mais -tarde, sentiu aguçar-lhe a saudade do Brasil e, embora quase sem visão, voltou ao nosso País. Viveu alguns anos no Hotel Natal, na Rua Álvaro Alvim, no Rio de Janeiro, embora ainda fosse proprietário de uma boa casa no bairro de Santa Teresa. Faleceu em 1944 e foi sepultado no cemitério São João Batista. Vários anos depois sua família fez transladar seus despojos para o cemitério da cidade francesa de Étampes, onde nascera. Mermoz, o super-homem gaulês, o piloto herói de tantas aventuras também se aproximava do fim. Um dia, 7 de dezembro de 1936, partiu da África pilotando um Laté 300, o Croix du Sud, tomando o rumo que lhe era tão familiar: Natal, no Rio Grande do Norte. As Parcas alcançaram-no porém, e Jean Mermoz desapareceu nas águas do Atlântico, junto com os companheiros tripulantes naquele fatídico vôo. Ainda em 1936, a Air France pusera em serviço os novos aviões Farman F-2200; dois anos depois, a 4 de julho, anunciava a sua 300.a travessia do Atlântico Sul, com a mais recente versão do Farman, o F-2220, chamado Ville de Dakar. 399


Nessa época, a Companhia francesa continuava com a mesma linha no território brasileiro, mas havia expandido suas rotas internacionais. Anunciava nos jornais do Rio de Janeiro que possuía a linha contínua mais longa do Mundo, com 27.012 quilômetros, ligando Santiago do Chile a Saigon (Indochina), que, somados aos das outras linhas, to talizavam 37.235 quilômetros. Seu escritório no Rio de Janeiro, na Avenida Rio Branco, 62, anunciava ainda duas travessias aéreas mensais transatlânticas em cada sentido, com partidas de Paris e do Rio de Janeiro, respectivamente nos primeiros e terceiros, segundos e quartos domingos de cada mês. Finalmente, em 1940, em face da situação francesa desfavorável na Segunda Guerra Mundial, que se iniciara no ano anterior, a Air France foi obrigada a suspender seus vôos de longa distância e a SUprImIr o serviço aeropostal que vinha prestando no Brasil. 6 -

A Companhia Aeropostal Brasileira

Em 1931, o Departamento de Aeronáutica Civil encontrou uma situação irregular com relação aos campos de pouso construídos pela Companhia Aeropostal Brasileira e utilízados pela empresa francesa Compagnie Générale Aéropostale que três anos depois foi substituída pela Air France. Uma das tônicas da nossa aviação sempre foi a do fato consumado. Criava-se a situação e depois pedia-se a regularização. Em diversas oportunidades, o Departamento de Aeronáutica Civil convocou os responsáveis pelas duas empresas, com a finalidade de esclarecer a situação dos campos de pouso já então utilizados pela Air France. De acordo com a legislação brasileira, os aeródromos não podem ser explorados sem permissão ou concessão e, no entanto, havia uma série deles, ao longo da costa, utilizados pela empresa francesa ~o arrepio das leis. Desde 1933 as tentativas do D.A.C. vinham sofrendo dificuldades, porque a empresa francesa e a empresa brasileira, possivelmente de caso pensado, suscitavam divergências entre si acerca da situação. Devia tratar-se de uma farsa, porque, no fundo, os interesses eram os' mesmos; nem a Aeropostal iria aceitar benfeitorias ,em sua propriedade, nem a Air France iria construí-las em propriedade alheia. Havia indícios claros dessa ambigüidade propositada, sendo um deles a alta soma que a Air France pagava pelo uso dos aeródromos: 345.000 francos, anualmente, além dos encargos de manutenção. Quer dizer: a Aeropostal cedia a área de pouso, a Air France fazia todo o trabalho de conservação e ainda pagava vultosa importância à outra. Comercialmente esse cOntrato de locação seria insuportável, donde se presumir não fosse verdadeiro. Um levantamento pormenorizado feito pelo Departamento constatou divergências nos valores contabilizados em balanço; chegou à con400


clusão de que cOnstituía exagero avaliar em mil contos de réis os terrenos; e que, na base dos pagamentos feitos pela Air France, a Aeropostal estava recebendo, anualmente, 345 contos de réis, numa remuneração de capital à taxa de 18% ao ano, o que era manifestamente absurdo naquela conjuntura. Tudo ficou devidamente esclarecido em 1935, mas o assunto rolou ainda por três anos. Sendo um contrato oneroso, por que a Air France não se valia da interferência do Departamento, ao tentar regularizar a situação dos terrenos, e não pedia condições mais leves? Era uma solução perfeitamente legal, uma vez que cabia ao Governo fixar as taxas de utilização dos aeródromos. Um estudo, apresentado ao diretor do Departamento de Aeronáutica Civil, analisou profundamente a situação Air France versus Aeropostal e fez menção ao contrato locativo existente entre ambas; mas não esclareceu se os termos do ajuste lhe foram apresentados, louvandose, portanto, na palavra das partes. Assim, propunha, para regularização, um programa de seis pontos: 1.0 -

o Governo daria concessão à Aeropostal para explorar os aeroportos que construíra para a Latécoere e, depois, para a Air France;

2.°

a concessão seria pelo prazo de 25 anos;

3.°

seria fixada taxa de pouso igual para todas as empresas que utilizassem os aeródromos;

4.°

cada empresa operando nos aeródromos ficaria ainda sujeita a uma contribuição global, para auxiliar a amortização do capital;

5.° -

a conservação dos campos ficaria a cargo da Aeropostal;

6.° -

as instalações e os campos seriam de uso comum das empresas, mediante o pagamento da respectiva taxa.

Isso ocorreu em 1935, mas, como ficou dito, somente três anos depois o Governo acatou esse parecer e expediu o Decreto-lei n,o 272, de 12 de fevereiro de 1938, aprovando as cláusulas da concessão a ser outorgada à Aeropostal, que assumia o compromisso de manter, por sua conta, os seguintes aeroportos construídos quase dez anos antes: Natal (RN) , Maceió (AL) , Itapoam (BA) , Caravelas (BA), Vitória (ES), Jacarepaguá (RJ), Itaipu (SP), Florianópolis (SC), Porto Alegre (RS), Pelotas (RS). A situação da Aeropostal perante a legislação brasileira ficou resolvida coril a concessão. Mas havia ainda um ponto importante, no 401


qual se baseav.a a concessÍonana com vistas ao futuro, quando tivesse de reverter à União bens e benefícios. Esse ponto era o capital investido, que figurava nos balanços da Aeropostal por um valor e na contabilidade, por outro, criando, assim, uma complexidade para o cumprimento final do contrato de concessão. O contrato de concessão estabelecia que o capital aplicado em cada aeroporto seria fixado mediante avaliação, e de adaptação devidamente comprovada, recorrendo-se a arbitramento .em caso de divergência. Dando cumprimento a essa determinação contratual, a Comissão do Departamento de Aeronáutica Civil examinou a pretensão da Aeropostal e da Air France, que apresentaram relações de créditos no total aproximado de seis mil contos de réis. Concluiu-se que havia excesso na pretensão, tendo em vista estas circunstâncias: Natal -

terreno doado pelo Estado;

Maceió -

concessão pelo Estado; adquirido por 20:000$000;

Itapoam Caravelas Vitória -

doação pelo Estado; concessão pelo Estado;

Jacarepaguá Itaipu -

preço 415.: 000$000;

preço 24:000$000;

Florianópolis -

preço 16:010$000;

Porto Alegre -

concessão pelo Estado;

Pelotas -

concessão pelo Município.

Encontrava, assim, a importância de quatrocentos e setenta e cinco contos para todos os aeroportos, no item preço de aquisição, ao qual deveria ser somada a importância de um mil, quatrocentos e vinte cinco contos, relativa às obras de adaptação, configurando o capital contratual em mil e novecentos contos de réis. Era evidente a exacerbação dos custos e despesas. Não se conformando com as glosas efetuadas pela Comissão de Avaliação, ambas as empresas recorreram ao Ministro da Viação e Obras Públicas. Instruindo o recurso, o Diretor do Departamento de Aeronáutica Civil o submeteu ao Ministro, numa exposição onde se lê: ( ... ) Estes documentos) porém) a Comissão não os considerou) e procedeu com acerto) porquanto) não sendo o capital uma ficção) é impossível reconhecer a favor da concessionária a importância do desembolso de outrem) na realização de obras novas que 402


a Air France construiu no seu interesse, para o pouso de seus aviões) mas, legalmente, se incorporaram à utilização pública dos aeródromos. Se houvesse uma questão a decidir, relativamente a este fato de ter a Air France aplicado uma grande soma no bem público, teria de ser decidida com a Air France, e não com a Aeropostal. Mas, na realidade, essa questão não existe. Não existe, porque a Air France não cogitou do assunto e, mais do que isso, porque a Air France, no regime atual, abertos definitivamente os aeródromos ao tráfego público, não teve nenhum prejuízo. A convenção que entre ela e a Aeropostal teria regulado o uso dos aeródromos pela primeira, foi substituída vantajosamente pelo direito público, e como a concessionária é obrigada a manter os aeroportos em per. feitas condições, está garantido à Air France o gozo das vantagens que adquiriu quando realizou aquelas obras ( ... )

o

tema não poderia ter sido colocado em melhores termos, pois era uma situação de meridiana clareza: ambas as empresas - Latécoere e Aeropostal - haviam construído os campos à revelia do Governo. Por direito de sucessão, a Latécoere foi substituída pela Air France, que também contratou o uso dos campos à revelia do Governo. Eram dois relacionamentos diversos, não havendo por que unificá-los perante o Governo. Responsável perante este era a construtora dos campos, e as despesas por ela efetuadas é que deveriam ser consideradas, nada tendo a União com as benfeitorias que a ocupante dos aeródromos havia feito no seu interesse exclusivo. Mas tudo resultava do princípio, muito seguido na França, do fait accompli. Na verdade, houve entre nós diversas empresas, representando interesses franceses . Eram pessoas jurídicas diferentes, mas identificando o mesmo grupo econômico. No fundo, o interesse representado foi um só, o objetivo o mesmo, as pessoas as mesmas. Veja-se a cronologia: 1927 -

surge a Latécoere Aéronautiques;

Compagnie Générale d'Entreprises

1928 -

muda de nome para Compagnie Générale Aéropostale, dita sucessora pelo ato oficial, mas sem ter havido sucessão e sim mudança de nome;

1928 -

surge, constituída no Brasil, a Companhia Aeronáutica Brasileira;

1930 -

a Companhia Aeronáutica Brasileira é autorizada a funcionar e vem a m:udar o nome para Companhia Aeropostal Brasileira; a primeira denominação nãó passou de uma etapa para adotar a segunda razão social semelhante à francesa. 403


Era interessante a facilidade com que essas empresas se constituíam, obtinham autorização para funcionar, sem que alguém se aprofundasse nos laços de irmandade entre elas. As simples circunstâncias das ligações, dos contratos celebrados entre elas, estavam a caracterizar o mesmo interesse, o mesmo grupo econômico. Aliás, o presidente da Aeropostal Brasileira era o francês Bouilloux-Lafont, o que já extravasava do campo das coincidências. No livro Traité de Droit Aérien, o jurista Marcel Le Goff escreveu: ( ... ) Não é impossível- que} apesar das subvenções oficiais} uma companhia esteja em déficit} obrigada a declarar-se insolvente e colocar-se em regime falimentar ou de liquidação judicial. É o caso recente da Companhia Aeropostal} que explorava a linha França-América do Sul e a linha Marselha-Alger. Desde 1930 essa companhia achou-se em má situação financeira} que se tornou precária no começo de 1931} quando} em 28 de março} a sociedade depositou seu balanço e se declarou em liquidação . As causas dessa situação deplorável deviam-se à crise mundial} à situação das filiais americanas da sociedade e à suspensão do apoio do grupo bancário com que contava ( ... )

Note-se que isso ocorria no InICIO de 1931, embora desde o ano anterior a situação financeira já fosse ruim. Sem embargo, obtinha, por suas subsidiárias no Brasil, um tratamento de empresa solvente. Como quer que seja, o contrato de concessão não chegou a final, pois, em 1944, faltando ainda dezenove anos para o término, o Governo desapropriou os aeródromos, pelos quais veio a pagar quase cinco vezes mais do que o valor encontrado pela Comissão de Avaliação cerca de nove milhões de cruzeiros. O Decreto de Desapropriação abrangeu os terrenos dos aeroportos do litoral, sem distinguir entre os que foram doados, cedidos e comprados, e incluiu as organizações de terra e o material das instalações, pertencentes à Air France. 7 -

A Pan American

O constituinte de 1891 não se poderia antecipar ao invento do avião. Por isso, a Carta Magna de 24 de fevereiro só tratava da cabotagem marítima, reservando-a aos navios nacionais. Entretanto, ele já enfrentava a realidade do avião ao tempo das Emendas, levadas a efeito no Governo Arthllr Bernardes, e conhecia, evidentemente, o Regulamento para os Serviços Civis de Navegação Aérea, de 1925, cujo artigo 70 restringia às aeronaves nacionais o transporte de passageiros e cargas, entre pontos do Território Nacional, a chamada cabotagem. 404


Na Exposição de Motivos que fez o encaminhamento do Anteprojeto de Regulamento para os Serviços Aeronáuticos Civis ao Chefe do Governo Provisório, anteprojeto esse elaborado com a colaboração do Departamento de Aeronáutica Civil, então recém-criado, ficaram arrolados os pontos mais importantes do citado diploma, seguindo os princípios vigentes nos países mais adiantados, lendo-se esta passagem: ( ... ) Mas é conveniente regular cautelosamente a concessão de nacionalidade brasileira às aeronaves) assegurando-lhes certas vantagens e regalias) como a da exclusividade para o transporte entre pontos do território nacional. É verdade que não dispomos de capitais suficientes para criar e manter linhas aéreas sobre o nosso vasto território) mas é fora de dúvida que a cooperação do capital estrangeiro nos empreendimentos dessa natureza deve e pode ser obtida sob a forma de companhias nacionais, com sede e foro no Brasil) constituindo as suas aeronaves reservas eventuais das nossas forças aéreas. ( ... )

Assim, o Decreto n. O 20.914, de 6 de janeiro de 1932, que aprovou o dito regulamento, consignou a regra restritiva da cabotagem no art. 9. 0 ; mas abriu logo uma exceção no dispositivo seguinte: Parágrafo Único - Excepcionalmente) poderá o Governo permitir que as .aeronaves estrangeiras façam o transporte de correspondência postal interior) bem assim o de passageiros entre pontos ainda não suficientemente servidos pelas aeronaves brasileiras e até que o sejam.

Em 1932; a situação era a seguinte: operavam no País duas empresas estrangeiras (Aéropostale e Pan American), com linhas de norte a sul, pelo litoral, ambas em superposição com elas mesmas e com duas brasileiras (Condor e Panair). Ressalvadas as linhas da VARIG no Estado do 'Ri, Grande do Sul, nenhuma empresa operava no interior. No litoral havia suficiência de transporte, uma vez que nenhuma operadora falava em aumentar sua freqüência, sinal de. que todas estavam atendendo à demanda. Em 21 de fevereiro de 1934, a Portaria n. o 179 - M.V.O.P., assinada pelo Ministro José Américo de Almeida, vem a renovar autorizaçõesconcedidas à Pan American, nos mesmos termos da primeira autorização, expedida em 10 de agosto de 1929; para estabelecer tráfego aéreo no País. Surpreendentemente, menos de três meses depois, o Ministro segliinte do M.V.O.P., Marques dos Reis, assinava outra Portaria, n. o 364, de 2 de maio, dizendo fazê-lo em caráter excepcional, baseado no 405


parágrafo único do art. 9.°, do Decreto 20.914, para conceder à Pan American autorização de: ( ... ) executar serviço de transporte aéreo entre pontos do território nacional, só podendo ser utilizada em uma viagem semanal e vigorar enquanto for mantido pela Panair do Brasil, com a mesma eficiência, o serviço da linha Belém-Porto Alegre, com as atuais escalas intermediárias, na razão de, pelo menos, uma viagem semanal em cada sentido, como atualmente, utilizadas nesse serviço aeronaves do tipo Comodore C-16, ora empregadas, ou outras de maior porte, ficando entendido que o prazo da utilização não ultrapassará cinco anos, bem como a fixação desse prazo não importa em garantia, por igual período, da autorização para o tráfego no território brasileiro, dada pelCl portaria de 21 de fevereiro do corrente ano.

Fig. 132 -

Consolidated Commodore C-16, no hangar da Pan American, no Aeroporto Santos-Dumont.

o ato não contém qualquer considerandum pelo qual se possa aferIr a razão de autorização tão estranha e contraditória às intenções de nacionalização das linhas para o interior, expressas no Decreto n.o 20.914/32. Este fato era o início de uma questão com a Pan American, que se prolongaria por alguns anos. Um decreto de4 de julho de 1934, de número 24.572, veio discriminar as zonas interditas à navegação aérea. Na sua aplicação, surgiram dúvidas quanto ao alcance do art. 6.°. Esse dispositivo reservava , 406


ao Correio Aéreo Militar e às aeronaves de 'empresas brasileiras, tripuladas por brasileiros, as seguintes linhas aéreas: Rio a Santa Maria, via cidades do Paraná, Cruz Alta; São Paulo a Corumbá, via Bauru e outras em Mato Grosso; De qualquer ponto do Paraná ou Santa Catarina para Foz do Iguaçu ou margens do Rio Paraná; De qualquer ponto da E.F. Noroeste para o sul do País. Para dirimir as dúvidas, um posterior Decreto, n.o 1.757, de 2 de julho de 1937, estabeleceu: As linhas aéreas internacionais entre países estrangeiros, com passagem sobre o território nacional, poderão atravessar a zona compreendida entre qualquer ponto do Paraná ou de Santa Catarina e Foz do Iguassu ou as margens do rio Paraná, mediante a necessária autorização e observadas as disposições que regulam. o estabelecimento e a manutenção das linhas aéreas internacionais no Brasil.

Esta exceção veio a favorecer a Pan American, por causa de sua linha Miami-Assunção, autorizada em junho desse ano, passando pelo sul do território brasileiro. À luz do art. 6.° do Decreto n.o 24.572/34, ela não poderia sobrevoar nosso território. Porém, com a nova disposição contida no Decreto n.o 1.757/37, cessava o impedimento. Valendo-se desta exceção, o Ministro Marques dos Reis, renovou, pela Portaria n.o 464/M.V.O.P., de 13 de setembro de 1937, a concessão dada àquela empresa para estabelecer tráfego aéreo internacional ao longo da costa, entre a fronteira norte e o Rio de Janeiro, com escalas em Belém, São Luís, Amarração, Camocim, Areia Branca, Natal, Recife, Maceió, Aracaju, Bahia, Caravelas e Vitória; e do Rio de Janeiro até a fronteira com o Paraguai, com escalas em São Paulo e Curitiba, na execução da linha Miami-Assunção. As últimas ligações no Brasil eram ressalvadas pelo recente decreto que alterou o primitivo sobre zonas interditas. Nessa autorização renovadora havia uma cláusula estipulando a rota a seguir no território brasileiro : após a escala em Curitiba, penetração para o interior, com escalas em Palmeira, Irati, Guarapuava e Foz do Iguaçu, esta de caráter obrigatório. Por seu turno, a Pan American ficava com o compromisso de dotar essa rota com aeródromos de emergência e de levar um piloto brasileiro ou fiscal de rota. O Fiscal de Rotas era uma criação do Regulamento para os Serviços Aeronáuticos Civis e obrigatório em todas as viagens. Esta Portaria n.O 464/37 era de legitimidade discutível, porque não considerava o pressuposto restritivo que o Decreto n.o 24.572/34 407


estabelecia, pois não justihcava a exceção ao princípio da cabotagem, reservada a empresas brasileiras. No fim de 1937, o Ministro da Viação e Obras Públicas já era outro - João de Mendonça Lima. Desprezando o que já constava nas autorizações, e como que restabelecendo os princípios instituídos quanto à reserva do transporte interior, assinou a Portaria n.O 550, de 10 de dezembro, dispondo: As vigentes permissões para o transporte de cargas e de corres~ pondência postal interior, concedidas às companhias estrangeiras, só poderão ser utilizadas, de ora em diante, nos percursos das linhas que não sejam executados, em concorrência, nos mesmos dias, pelas companhias brasileiras; ( ... )

No preâmbulo do ato, dizia o Ministro Mendonça Lima obedecer ao art. 9.° do Decreto n.o 20.914 (restrição de cabotagem às aeronaves brasileiras); e levar em consideração o desenvolvimento que já apresentava o tráfego nas linhas aéreas costeiras, em cuja execução concorriam companhias brasileiras e estrangeiras. Ora, a situação descrita, e apresentada como justificadora do novo ato, preexistia ao tempo da renovação de autorização dada à Pan American, pela Poitaria n.o 464. O caso, portJl.nto, não era de tentar reformular as regras, mas sim de cancelar aquela renovação contraditória, porque os pressupostos agora invocados na Portaria h.O 550 não o tinham sido anteriormente. E ainda porque, se um ato de setembro dava a autori" zação, e outro de dezembro considerava desnecessário que empresa estrangeira viesse a suplementar a demanda, era lógico não haver mais sucedâneo para a primeira portaria. No entanto, a Portaria n.o 464 permaneceu vigente. Foi isso que deve ter levado o então Tenente-Coronel Eduardo Gomes à correspondência que, durante algum tempo, manteve com Oswaldo Aranha, na época Embaixador do Brasil nos Estados Unidos da Améric~, e que culminou, oito anos depois, com o cancelamento da liberalidade, por iniciativa do próprio Eduardo Gomes, já na gestão do Ministro Salgado Filho, titular da Pasta da Aeronáutica. O artigo 6.° do Decreto n.O 24.572, de 1934, que estabelecera as zonas interditas à navegação aérea, havia sido incluído por iniciativa de Eduardo Gomes. A pretexto de estabelecer a inteligência desse artigo 6.°, e sem consulta ao autor da inclusão, o Decreto n.O 1.757/37 interpretava que linhas estrangeiras poderiam atravessar pontos do Paraná, de Santa Catarina, Foz do Iguaçu ou as margens do Rio Paraná. Fora com base nessa inteligência que o Ministro da Viação, Marques dos Reis, baixara a Portaria n.o 464/37, concedendo à Pan American a autorização tão censurada. Em carta de 8 de setembro de 1937, dirigida ao Embaixa408


dor Oswaldo Arariha, Eduardo Gomes se disse surpreso com a publica. ção daquele decreto interpretador, e assim se manifestou: ( ... ) Pela simples leitura desse: novo decreto o Sr. verá a truculência e a ilegalidade ora praticada pelo Governo para anular uma lei anterior, feita para salvaguardar superiores interesses do País. Era triplo o objetivo daquele artigo 6, ora revogado: 1

impedir que países como a Argentina estabelecessem um tráfego naquelas rotas;

2 ._ - fomentar o desenvolvimento das companhias nacionais de navegação aérea, cujo material, em caso de guerra, nos seria de grande utilidade;

3 -

desenvolver, simultaneamente, os quadros dos navegantes das referidas companhias, e, assim o efetivo das nossas reservas aéreas, além de garantir, como seria de justiça, colocação nas funções de pilotos, rádios, etc., nos referidos aviões, a brasileiros, em vez de reservá-los a estrangeiros.

O Embaixador deu-se pressa em responder a essa carta e, em 13 do mesmo mês, enviou a Eduardo Gomes uma carta que se transcreve abaixo, cortados os pontos irrelevantes para compreensão da posição do Embaixador. Não se trata, portanto, de uma transcrição ipsis litteris. Os trechos sobre política internacional foram suprimidos, porque não guardam relação com o problema das zonas interditas e a autorização dada à Pan American. Eis os trechos pertinentes da carta: ( ... ) Junto, aqui, em caracter pessoal, cópia dos tres ~ele­ gramas únicos que sobre o assunto dirigi ao Presidente. Por ela verás que o primeiro, de 14 de julho, foi feito 12 dias após o Dec. n.o 1.757, de 2 de julho de 1937. Isto prova, meu caro, que não tive a menor intervenção para a expedição do referido Decreto, que é atribuída à minha ação! Pelos seus termos verás, ainda, que eu intervim no caso, somente no dia da viagem inaugural e que meus objetivos eram obter bom efeito para a cooperação maior deste Governo em ·favor da extensão das linhas aéreas em nosso país. Meu segundo telegrama, em 23 de agosto, não tem o menor empenho. É o cumprimento de um dever! uma informação e a sugestão do meio para corrigir o que me parecia um mal para nós. O terceiro merece uma explicação especial, ait,tda quando a data - 27 de agosto - çonstitui, por si só, explicação dos seus 409


termos. O Presidente, por carta, informou-me da oposição. Estavamos, aqui, atravessando um momento difícil devido à questão dos destróieres. Cumpri o meu dever e procurei reunir elementos em favor de uma causa que dizia com a nossa dignidade e com a necessidade de vencermos uma questão para nós existencial. Eis tudo quanto fiz. O decreto existiu antes de meus telegrammas e sem que eu siquer houvesse sabido e menos inspirado sua expedição. Transmiti à meu Governo informações e pedi providências, como era natural, porque diziam com os interesses nossos, como eu os encaro e os tenho que encarar, neste país. Não me empenhei e menos procurei impor esses pontos de vista ou esses pedidos. A minha função é esta: levar ao conhecimento do meu Governo tudo quanto em minha opinião pode favorecer daqui ao Brasil e daí aos Estados Unidos. Não me ?xcedi e menos manifestei qualquer insistência ou interesse maior, além do geral. Não compreendo, pois, que a "vitoria" se deva à "minha ajuda decisiva", mas, se assim foi, faço questão de esclarecer-te que minha ação como Embaixador não tem caráter executivo, mas meramente informativo e esclarecedor. Tudo quanto informo, peço e até faço, depende sempre do interesse do Brasil, de que o nosso Governo é o árbitro e o juiz final e a cuja decisão tenho que obedecer sem reservas, dada minha posição no exterior. Confesso-te que desconhecia o art. 6.° do Dec. 24.572, de 4 de julho de 1934, e suas providências. Foi feito no fim do Governo de que fiz parte, não foi por mim referendado e, por esses motivos e pelo acúmulo natural nessas épocas, passou-me inteiramente desapercebido. Lendo-o agora, acho razoável quanto dizes e justifico tuas reservas. Vou escrever ao Presidente sobre o assunto em termos bem claros. Não será a palavra do Embaixador, que nada pode opinar sobre coisas internas e cuja autoridade perdeuse com a distância, mas a de um cidadão que pôs e põe o interesse do seu país acima de tudo e de todos. Uma cousa, porém, estranhei em tua car.ta e para isso pçço uma explicação maior. É quando dizes preferível fazer a concessão à V.A.S.P. e Condor. Qual a razão? Infelizmente, Eduardo, desconheço muitos fatos atuaes e daí o erro de opiniões e juizos. Tenho para mim que a Pan American é dos melhores, mais dedicados e serviçais amigos que temos nos Estados Unidos. Tenho por certo, ainda mais, Eduardo, que nos Estados Unidos temos o mais firme, o melhor e mais leal dos amigos do Brasil dentro da comunhão internacional. Minha opinião, no caso, é que não se deve fazer concessão a nenhuma companhia ou, então, a todas. Se há interesse de defesa nacional, só militares deverão voar nessas regiões. Ninguém mais. Permitir a .um é tornar acessível a todos. Aguardo, 410


porém, tua resposta para formar uma opinião definitiva e escrever ao Presidente, como quero fazer. Seria de todo útil que viesses a este país para ver, conhecer e ajuizar. Tenho a segurança de poder fazer-te ver tudo e conhecer os menores detalhes das organizações aéreas, civis e militares, deste país. Tenho, mais, a certeza de que esta gente só deseja cooperar conosco, aceitar nossos pontos de vista, mesmo porque é do interesse deles. Poderás assim, levar elementos para orientar esses assuntos sem mais dificuldades. Há um pouco de confusão e mal entendido que convém esclarecer no interesse da nossa aviação e do nosso país. ( ... )

Continuando a troca de correspondência, Eduardo Gomes escreveu ainda: ( ... ) Aí vai uma copia da portaría n.o 464, e pela sua lei!ura, quem estiver um pouco enfronhado neste caso escabroso, poderá ter uma justa medida da venalidade e da ausência de patriotismo dos homens que a Revolução ingenuamente elevou a posições de responsabilidade e que hoje tão miseravelmente traem o Brasil. E delles só se salva mesmo a inteligência com que revogam as nossas leis e entregam a Pátria ao estrangeiro. Como a Revolução foi boa para eles! ( ... )

São palavras contundentes, mas justas. Mas é evidente que não se tratava de venalidade, sendo a expressão fruto da indignação a que foi levado o grande patriota brasileiro. À luz da legislação, a concessão injustificável à Pan American devia ter fundo político, resultado de pressões exercidas pelo Departamento de Estado Americano. Em outra carta ao Embaixador, lê-se: ( ... ) Mando-lhe hoje não só aquella portaria como também o ato do Governo argentino, relativo ao mesmo assunto, e pela comparação que o Sr. naturalmente fará de um com o outro, bem poderá concluir com que zelo o argentino defendeu ou resguardou o desenvolvimento da aviação comercial argentina, com uma série infindável de restrições todas em caráter excepcional e conservando o direito de revogá-las sumariamente logo que j entre outros motivos, surja uma companhia argentina pleiteando a mesma concessão. ( ... )

Eduardo Gomes referia-se ao Decreto n.o 112.905/37, assinado pelo Presidente Justo, da Argentina. Entretanto, a conclusão . a que se chega é de que a concessão argentina feita à Pan American támbém não , 411


passara de uma transigência. O decreto estava cheio de ressalvas, mas isto constava igualmente da portaria ministerIal brasileira. O fato de deter-se em minúcias restritivas poderia dar a impressão de ser um ato a salvo de injunções, mas podia também ser maneira de escondê-las. O fato é que, perante a lei argentina ou perante a lei brasileira, as concessões eram ilegais, ficando portanto no mesmo plano, tanto a portaria, como o decreto, pois ambos contrariavam a legislação e os princípios internacionais que restringiam a cabotagem aos nacionais. Na carta há também uma explicação sobre o lado pessoal da questão tratada com o Embaixador:

( ... ) Procedendo com a maior lealdade para com o Sr., devolhe dizer que em absoluto não lhe atribuo a culpa de haver conscientemente trabalhado pela revogação da nossa lei. Ao contrário, eu penso que o prií1cipal responsável por tudo isto foi o Ministro da Viação, e que está para fugir aos ataques justos pelo seu procedimento indecoroso, torque agiu com pleno conhecimento de causa. ( ... ) Mas, logo adiante, na mesma carta, Eduardo Gomes dá um sentido mais exato ao procedimento do Ministro Marques dos Reis, ao dizer:

( ... ) Eu aguardo cartas suas e gostaria de saber porque será que a Pan American Airways, que conhece a fundo a política aérea dos países sul americanos (aqui, para se adaptar a elas criou outras companhias, tipo Panair do Brasil), não pleiteou desta vez, para esta sua testa de ferro, a referida concessão, · indo ao ponto de forçar o nosso governo a enfrentar a opinião pública e fazer, a custa de revogação das nossas leis, uma concessão que tem todos os aspectos de um acto escandaloso. ( ... ) Como se vê dos próprios termos da correspondência, era o Governo que cedia às pressões, e não somente o Ministro da Viação. As ponderações de Eduardo Gomes eram de todo procedentes, pois mesmo diante das circunstâncias políticas apontadas pelo Embaixador Oswaldo Aranha, o preço pago era alto. Apesar de tudo, no entanto, Getulio Vargas expediu. o Decretolei n.o 282, de 18 de fevereiro de 1938, concedendo autorização à Pan American Airways Inc. para executar a linha aérea Miami-Assunção, ratificando em tudo a Portaria n.o 464. No Brasil, provavelmente sem o conhecimento de Ralph O 'Neill , Juan Trippe obteve o certificado de operação através do Decreto n.o 18.768, de 28 de maio de 1929, portanto, cinco meses antes da autorização dada à New York, Rio & Buenos Aires Line Inc, num momento em que era duvidosa a sua capacidade de operação na área, tanto


que O'Neill considerou irrelevante o desafio quando dele se inteirou. Foi, entretanto, uma reserva de direitos que Trippe utilizou um ano e quatro meses mais tarde, quando absorveu a empresa rival de O'Neill. No período 1930/1941,. a presença da Pan American Airways nos céus do Brasil foi constante, pela sua dupla condição de detentora da rota internacional para os Estados-Unidos e de controladora das ligações domésticas, litorâneas, através da subsidiária Panair do Brasil. Tendo assumido o controle da New Y ork, Rio & Buenos Aires Line Inc, em 15 de setembro de 1930, as ligações internacionais Nova Iorque-Rio de Janeiro foram feitas, a princípio, pela rota costeira, utilizando hidroaviões Sikorsky S-42, em vôos de maior ou menor duração, segundo o número de escalas servidas. A partir de 1940, a Pan American recebeu autorização para construir e financiou, através de sua subsidiária Panair do Brasil, a construção de um aeroporto em Barreiras, na Bahia. Dessa forma, foi possível a operação Belém-Rio com aviões Douglas DC-3, realizando vôos com alternativas de escala em Carolina, Barreiras e Belo Horizonte. Na realidade, a construção do aeroporto de Barreiras visava à entrada em operação, na década de 40, dos aviões Boeing 307-Stratoliner, para os quais seria alternativa de emergência nos vôos diretos Belém-Rio e Rio-Belém. Se analisarmos o processo de expansão da Pan American Airways, partindo de sua minúscula base americallil de Miami, em 28 de setembro de 1927, para atingirem setembro de 1930 uma vasta rede de ligações aéreas envolvendo as três Américas e o Caribe, a figura de seu fundador e diretor, Juan Trippe, emerge como protótipo do empresário bem sucedido, com sensibilidade para perceber o momento exato de decisão e agir. Haja vista a magistral manobra estratégica de duplo envolvimento para assegurar o monopólio dos vôos internacionais, ligando os Estados Unidos à América do Sul. Associando-se à Grace Shipping Line, para formar a Panagra, e absorvendo a New York, Rio & Buenos Aires Line I nc, converge sobre Buenos Aires de duas direções, explorando o potencial de tráfego de todas as capitais sul-americanas da costa oriental e da vertente ocidental, além das linhas interiores das subsidiárias Panair e Panagra. 8 -

A Panair do Brasil

Em 28 de novembro de 1930, uma semana após a assinatura do Decreto n.<' 19,417, que reconheceu sob nova razão social a ex-Nyrba do Brasil S/ A, decolou de Belém para Santos, transportando mala aérea e ainda com tripulação inteiramente americana, o primeiro avião osten\ tando o emblema da Panair do Brasil S/A. 4L3


Em 8 de dezembro de 1930, através da Circular n.O 82, da Diretoriá Geral dos Correios, efetivou-se a transferência formal para a nova empresa das concessões de transporte de mala aérea outorgada à sua antecessora. O ano de 1931 assinalou dois eventos da maior importância. O primeiro deles foi a inauguração, em 2 de março de 1931, do serviço de transporte de passageiros entre Belém e Rio de Janeiro. O segundo foi a extensão desse transporte até Buenos Aires, em 23 de novembro, percurso realizado em cinco dias, com pernoites em Fortaleza, Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Um outro evento de iniciativa da Panair do Brasil SI A também ocorreu em 1931. Desde 1926, quando passou a preocupar-se com a situação dos aeronautas brasileiros, o Ministério da Viação e Obras Públicas fizera aprovar, mediante portaria, instruções relativas aos aviadores civis e à nacionalização das equipagens. Em 1931, a pressão dos meios aeronáuticos nacionais, para cumprimento daquelas instruções, recrudesceu, principalmente em relação ao princípio de nacionalização, tudo indicando a iminência de atos oficiai~ no sentido de acelerá-lo. Antecipando-se a possíveis reações à realidade do seu quadro de pilotos, todos estrangeiros, a Panair do Brasil SI A apresentou, em 3 de junho de 1931, ao Departamento de Aeronáutica Civil, memorial sobre possibilidades de aproveitamento de pilotos brasileiros na aviação comercial. Efetivamente, a 21 de outubro de 1931, o Ministério da Viação e Obras Públicas baixou portaria fixando em dois anos o prazo para que as aeronaves nacionais passassem a ser tripuladas por aeronautas brasileiros e determinando ao Departamento de Aeronáutica Civil o estabelecimento das condições de substituição gradual, naquele prazo, dos aeronautas estrangeiros. Se 1932 foi o ano de consolidação administrativa da nova empresa, e até da perda inesperada de um Sikorsky S-38, conduzido por mãos inexperientes, em operação de seqüestro, levado a efeito por revolucionários paulistas, 1933 foi pródigo em eventos operacionais. Em abril, duas iniciativas de grande repercussão para a operacionalidade da empresa refletiram a vitalidade e o dinamismo de dirigentes e dirigidos: a Panair do Brasil SI A decidiu aprimorar o preparo de seus pilotos, introduzindo o treinamento intensivo de vôo sem visibilidade, ou seja, controlado por instrumentos; simultaneamente, instituiu um sistema de incentivo à criatividade de seus funcionários do Departamento de Manutenção, acolhendo e premiando sugestões construtivas, com vistas ao aumento da produtividade dos equipamentos de vôo. O grande evento operacional do ano, entretanto, ocorreu em outubro: nos dias 11 e 12, coma realização do vôo experimental e pioneiro entre Belém e Manaus, em avião Sikorsky S-38, sob o co414


mando do Comandante H . T. Toomey, com escalas em Breves, Gurupá, Prainha, Santarém (pernoite), Obidos, Parintins e Itacoatiara; nos dias 25 e 26, com a inauguração oficial da linha Belém-Manaus, verdadeira espinha dorsal, cobrindo os primeiros 1.500 quilômetros de penetração em direção à Amazônia ocidental. O ano de 1934 foi de consolidação da rota Belém-Manaus; de inauguração de uma segunda freqüência na ligação costeira Rio-Belém, a partir de 27 de março,_' e de realização, em 23 de outubro, de outra viagem exploratória, com vistas à ligação Rio-Belém pelo interior, em avião Sikorsky S-38. Na oportunidade, foram realizados pousos em Belo Horizonte, Pirapora (pernoite), Barra do Rio Grande (pernoite), Rio Tocantins, Rio Araguaia, 40 quilômetros ao norte de Conceição do Araguaia (2 pernoites por falta de combustível) e Carolina (pernoite) . No dia 28, o avião atingiu Belém. Três eventos marcantes ocorreram em 1935, imprimindo novos rumos à empresa: 1) iniciando o processo de nacionalização das equipagens, o primeiro piloto brasileiro, oriundo da aviação naval , Coriolano Luiz Tenan, passou a integrar o quadro de comandantes; 2) como prólogo do fUlü:to estabelecimento das linhas mineiras, foram realizadas viagens de estudos com vistas às ligações Rio-Belo Horizonte-São Paulo; 3) a Estação Terminal na Ponta do Calabouço (hoje sede do I.N.C.A.E.R.), que serviria à Pan American Airways e à aviação em geral , começou a ser construída em 4 de novembro, vindo a denominarse Aeroporto Santos-Dumont.

Fig. 133 - Cerimônia. no D.A .C., de assinatura do contrato para construção do Aeroporto Santos-Dumont. Sentado à mesa, o Eng.o Cesar Grillo.

415


Fig. 134 -

Ponta do Calabouço, Aeroporto Santos·Dumont em construção, 1936.

Fig. 135 -

Aeroporto Santos-Dumont, em construção, 1936.

Com a chegada, em fevereiro de 1936, de dois novos aviões anfíbios Fairchild 91, monomotores aerodinamicamente mais evoluídos, de capacidade de carga semelhante à dos Sikorsky S-38, porém mais velozes, a ligação Belém-Manaus passou a ser feita também com esse equipamento, a partir de março daquele ano. Pelo posicionamento do motor, o Fairchild 91 foi logo apelidado de Cachimbinho. 416


Fig. 136 - Idos de 1940 - Aeroporto Santos-Dumont. Em primeiro plano, à direita. a Estação de hidroaviões, hoje Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica. com suas passarelas. de embarque.

Fig. 137 -

Hangar da Pan American/PANAIR do Brasil, no Aeroporto Santos-Dumont.

No cumprimento de uma sadia política de expansão e atualização, sucediam-se, em ritmo crescente, as iniciativas da Panair do Brasil S/A. Em outubro de 1936, foi realizada uma viagem exploratória em avião Sikorsky S-38, visando à futura implantação de linhas de 417


Fig. 138 -

Fig. 139 -

Hangar da Pan American, no Aeroporto Santos-Dumont, vendo·se o cais de embarque e o avião Consolidated Commodore.

Estação de hidroaviões do Aeroporto Santos·Dumont, hoie sede do INCAER - Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.

irradiação: Manaus-Rio Branco, via Porto Velho; Rio Branco-Tabatin· ga, via Sena Madureira e São Felipe; Tabatinga-Iquitos (Peru)-Manaus. Nesse mesmo mês, o esforço de modernização concentrou-se na área logística, com a incorporação à frota do primeiro avião Sikorsky S-43 Baby Clipper para 18 passageiros. 418


Fig. 140 -

Parte interna da Estação de hidroaviões, hoje sede do INCAER Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.

Fig. 141 - Banquete de inauguração da Estação de hidroaviões, com a presença do PresidenJe Getúlio Vargas.

A renovação do equipamento aéreo foi fruto de uma política global, atendendo às peculiaridades das linhas em expansão nas diferentes regiões do território brasileiro. Assim, j á no início de 1937 foram incorporados os novos aviões Lockheed Electra, que operariam nas li419


nhas mineiras, inicialmente na ligação Rio-Belo Horizonte, inaugurada em 20' de março de 1937. Mais um Baby Clipper foi adquirido para operar na Amazônia, a fim de apoiar a linha de irradiação Manaus-Rio Branco, com escalas em Borba, Manicoré, Humaitá, Porto Velho e Presidente Marques, a qual se tornou operacional a partir de 9 de março de 1937.

Fig. 142 -

Electra da PANAIR do Brasil.

Em 1938, o mês de setembro foi significativo para a aVlaçao comercial brasileira, na medida em que, no dia 1, assumiu o cargo de Piloto-Chefe da Panair do Brasil SI A o Comandante Coriolano Luiz Tenan e, no dia 26, foi integralmente nacionalizado o Quadro de Aeronautas da empresa, com a substituição do último piloto americano. A grande demanda de lugares na ligação Rio-Belo Horizonte acabou transformando a capital mineira em excelente pólo de irradiação de linhas aéreas. O ano de 1939 caracterizou-se como o de expansão das chamadas linhas mineiras. Assim, a partir de janeiro, em sucessivos lances, implantaram-se serviços aéreos com escala compulsória em Belo Horizonte, atendendo às seguintes conexões: Rio de Janeiro-Belo Horizonte-Uberaba e Rio de Janeiro-Belo Horizonte-Poços de Caldas, inauguradas em 4 de janeiro; Rio de Janeiro-Belo Horizonte-Poços de Caldas-São Paulo-Curitiba, ativada em 28 de janeiro; Rio de JaneiroBelo Horizonte-Governador Valadares, para apoio da qual a infraestrutura de proteção ao vôo começou a ser instalada a partir de 1 de dezembro. No ano de 1940, duas providências foram adotadas pela Panair do Brasil SI A, com vistas ao aprimoramento dos serviços em benefício dos usuários: 1) em 27 de maio, a adoção do sistema de rotas circulares para as ligações Rio de Janeiro-Belo Horizonte-Poços de CaldasSão Paulo, partindo as aeronaves do Rio de Janeiro em sentidos opos420


tos; em 9 de julho, o primeiro aVIa0 Douglas DC-2 é incorporado à frota com o prefixo PP-PAY, aumentando a oferta de assentos à disposição do público, e nessa mesma data são encomendados os Lockheed Lodestar. Em 1 de agosto, os hidroaviões são substituídos na ligação RioPorto Alegre, e os pousos passaram de Santos e Paranaguá para São Paulo e Curitiba. Ao encerrar-se o ano de 1940, às vésperas, portanto, da criação do Ministério da Aeronáutica, a Panair do Brasil SI A era uma empresa solidamente estruturada e detentora de planejamentos realísticos com os quais enfrentaria a sua expansão na década seguinte.

PANAIR 1940

~ S. ANTO~IO

CODA JÁS FONTE BOA TEfÊ

:;;~~~~';fNÇA

I MAN~O~

001005

G~~,(LEM

PARIN TIN S""'O'c,____ cun~ALlNtl\~ ~UIZ SANTARiM " -

~~~~:nARA

COARI

kO. '-/NA ifjtl " ---(,I Ct.M OCt M

'Of~lALE:lA

.

TABAT INGA

' NA1Al\

MANLCORÉ

JoÃo P ( ::;SO~

O CARO Llli A / H UMAITÃ

\

Rf CIH

g PORTO VE L HO

ARAc;~::7 BAR REiR AS\'

/

,

SALVAD07

P ' Ur.r·OR I. • CORUI.'.B A

!

"

,

i""'"'

I ,,"C I,IUI', h OrlR

o~~~~:,·;S[

c. __ __ c.

T RÊS L AGOAS

I R-XÁ vuERAfl A O'

---o

"

f i VAU'DAR ES

. z, ~ ____ • "nsno

P O~OS DE

A R A Ç A"'i UB A·~ A LOIIJ

~J. Assu r;çi.o

/

" - C . ---FO Z 00 IGUAÇU

VITÓ RI A

li\IFUZONT

R IO DE .JANEIRO

S PAU LO

- O'CURIT IBA o S FRANC ISCO )

ITA J Ai

FLOR IANO POLI S

o PORTO

Fig. 143 -

A LEGRE

PANAIR 1940.

421


CAPíTULO 4

O FRANQUEAMENTO POSTAL

1 -

O Fim dos Selos Particulares

UANDO o transporte aéreo brasileiro se tornou realidade, não havia ainda uma sistemática para o franqueamento postal, e as . três empresas em funcionamento foram autorizadas a emitir seus próprios selos; com isso, coexIstIram três tipos de franqueamento: com selos oficiais para correspondência, devidamente sobretaxados; com selos particulares das empresas VARIG, CONDOR e ETA; e com selos emitidos para transporte de correspondência nos zepelins. Depois de cinco anos desse regime misto, .selos particulares e selos oficiais, o Governo Provisório resolveu reformular o serviço postal aéreo, a fim de simplificá-lo e dar-lhe mais eficiência, pois a maioria dos países já havia adotado semelhantes medidas. Por outro lado, não mais se justificava a cobrança da sobretaxa exclusivamente por meio de selos especiais, uma vez que os de postagem comum podiam atenger perfeitamente as necessidades do transporte aéreo de correspondência. O Decreton.o 22.673, de 28 de abril de 1933, que determinou essa reformulação, estabeleceu três tipos de taxas aéreas, para.a veiculação da correspondência postal:

Q

422

a -

regional, no mesmo estado;

b -

interestadual, entre um estado e outro;

c -

internacional, entre países.


o emprego da denominação ,taxa é inexplicável na sistemática dos Correios, que sempre aludira a selos; a taxa poderia .ser entendida como contraprestação do serviço de transporte, mas não havia nenhuma razão para estabelecer diferença entre selo de correspondência ordinária e de correspondência aérea. O ponto mais importante da reformulação foi a mudança da forma de pagamento do transporte aéreo : a remuneração pelo transporte de correspondência por via aérea será feita na base do peso . bruto das expedições e de acordo com as unidades de peso fixadas . Com isso, os Correios e Telégrafos entregavam às empresas as malas postais, que continham a correspondência já franqueada com postagem comum, e cuja receita ficava inteiramente com esse serviço; e este pagava às empresas de transporte aéreo um tanto por quilograma de correspondência contido nas malas, sistema que vigora até os dias de hoje. No prinCípio, as embalagens eram de lona, com fechos metálicos, o que dava às transportadoras grande vantagem ao ser computado o peso delas na remuneração do transporte. Com o tempo, essas embalagens foram sendo modificadas, ' para lhes diminuir o peso.

2 -

A Importância das Malas Postais

A mala postal sempre representou parcela importante na receita das empresas de transporte aéreo, o que motivava disputa entre elas. Para se ter uma idéia dessa importância, é bastante assinalar que, na carga transportada, a mala postal chegava a representar .,50% do total, além de ter um acréscimo na tarifa por quilograma. Essa disputa suscitava, muitas vezes, problemas internacionais, porque cada país dava preferência a suas respectivas empresas. No Brasil, entretanto, o sistema de dar a mala àquela que saísse mais cedo do país estrangeiro de origem, ou à que chegasse mais xapidamente ao de destino, quase sempre militava contra o interesse de nossas empresas, cujo tráfego era doméstico. Mesmo dentro do Brasil, tal sistema l.evou as empresas a saídas cada vez mais cedo para sobrepujar a concorrente; com isso, muitas viagens começavam pela madrugada, sem a menor necessidade. Mas o fato dá a importância exata da mala postal aérea e sua repercussão na receita das transportadoras, muitas delas preferindo esse serviço ao subvencionarnento direto por quilometragem nas linhas de passageiros, ou mesmo ao transporte de outras cargas.

423


CAPÍTULO 5

O SURGIMENTO DE NOVAS EMPRESAS AÉREAS

1-

A Empreza Aeronáutica Ypiranga

ONSTITUIU-SE por instrumento particular, celebrado em 20 de janeiro de 1932, composta dos sócios: Henrique Uchôa SantosDumont, Fritz Roesler e Orton W. Hoover. Ressalvado o primeiro, os outros eram dedicados à instrução de pilotagem, tendo explorado escolas de aviação em São Paulo. A Ypiranga arquivou seu contrato social na Junta Comercial do Estado de São Paulo, mas nunca obteve autorização para funcionar como empreSq de transporte. Seus objetivos sociais predominantes eram o fabrico e construção de aeroplanos sem motor, comumente denominados Planadores ou Gliders, e aeroplanos com motor denominados Typo Escola ou de Turismo e até aviões de guerra por encomenda governamental. Dentro desses objetivos estava a execução de transporte aéreo, posto que era uma atividade secundária inerente. Contudo, a autorização para isso era indispensável, porque a legislação vigente Jazia dela depender o funcionamento de fábricas e escolas, e fabricação e instrução eram objetivos da Ypiranga.

C

2 -

O Aerolloyd Iguassu

Surgiu em Curitiba, Paraná, no ano de 1933. Seu objetivo era ligar o Estado do Paraná aos de Santa Catarina e São Paulo. 424


Inicialmente a empresa teve o apoio financeiro da fábrica do Mate Leão, o que autoriza a supor também houvesse o objetivo de atender os interesses dos ervateiros locais. Não seria, pois, como no aparecimento das outras empresas: um grupo visando a criar um negócio; era um negócio criando uma empresa. A Lei n.o 468, de 31 de julho de 1937, autorizou o Poder Executivo a contratar as linhas de Curitiba para São Paulo e de Curitiba para Florianópolis, mediante subvenção de dois mil-réis por quilômetro. É interessante aqui observar que, pela primeira vez na história da aviação brasileira, o Congresso autorizava, sem concorrência, a execução de linhas aéreas subvencionadas. O Aerolloyd adquiriu dois pequenos aviões, absolutamente inadequados ao tipo de serviço naquela região montanhosa e de aeródromos praticamente inadequados, quer por condições de precária construção, quer pelas circunstâncias meteorológicas. A igual das demais empresas brasileiras, o Aerolloyd aparecera sob o signo das dificuldades, e assim foi até onde a exaustão financeira lhe permitiu. A subvenção foi aumentada; mesmo assim, dois anos depois, a empresa ainda se defrontava com o insucesso e teve de transferir Suas linhas para uma outra, a VASP, encerrando as atividades aéreas (Decreto n.o 4.812, de 28 de outubro de 1939).

3 -

A Viação Aérea São Paulo (V ASP)

Em 4 de novembro de 1933, na capital paulista, um grupo d~ cidadãos fundou uma empresa regional que recebeu o nome de Viação Aérea São Paulo S/A - VASP. O capital inicial, totalmente subscrito, foi de quatrocentos contos de réis, divididos em duas mil ações de duzentos mil-réis. Elegeuse a diretoria: Heribaldo Siciliano, presidente; Antônio Carlos Couto de Barros, vice-presidente; José Mariano Camargo Aranha, secretário; · e Fernando Guedes Galvão, tesoureiro. A festa de inauguração da empresa ocorreu uma semana depois, no Campo de Marte, ocasião em que foram apresentados ao público o Bartholomeu de Gusmão e o Edu Chaves, dois aviões tipo Monospar, de fabricação inglesa, que já haviam sido comprados antes da constituição da Sociedade. Logo em seguida à cerimônia de batismo, esses aviões decolaram para Ribeirão Preto e para Uberaba. As duas aeronaves receberam as marcas PP-SPA e PP-SPB no Registro Aeronáutico. Somen te em 31 de março de 1934 o Governo Provisório veio a expedir o Decreto n.o 24.070, que autorizou o funcionamento da VASP. Assim, portanto, a Viação Aérea estivera irregularmente em atividade desde novembro do ano anterior. 425


Durante este ano, a VASP funcionou operando apenas os dois aviões Monospar, cuja capacidade era pequena (só levavam três passageiros). No fim do ano de 1934, a frota da empresa cresceu com a compra de um bimotor biplano De Havilland-Dragon, com oito lugares, também de fabricação inglesa. Ao contrário do que se pode supor, não foi a linha São PauloRio de Janeiro a primeira ligação da VASP: ela começou ligando São Paulo a Uberaba, via Ribeirão Preto, e São Paulo a São José do Rio Preto, via São Carlos. Somente em 1936 é que a empresa iniciou a ligação das duas capitais, operando com dois aviões de fabricação alemã, Junkers 52, que, aliás, se acidentaram justamente na inauguração oficial da linha. Como aconteceu com as outras três empresas constituídas com capital brasileiro, VARIG, ETA e Aerolloyd Iguassu, dentro em pouco a VASP se viu em dificuldades financeiras. Mesmo com todo o apoio dos seus organizadores e acionistas principais, ela esteve ameaçada de colapso. Nessa altura, o dirigente do Estado de . São Paulo, Armando Salles de Oliveira, emprestou ajuda financeira à empresa, passando porém a ser seu acionista majoritário, saindo a VASP da condição de empresa privada para a de sociedade de economia mista. Elevado o capital social de mil para três mil contos de réis, aumento que foi dividido proporcionalmente entre o Estado e a Prefeitura da cidade, a VASP pôde outra vez fazer face aos seus compromissos. Da parte do Governo Federal, de quem já recebia .isenções de direitos para compra de combustível e importação de equipamento, recebeu outras ajudas suplementares, como o subvencionamento da linha Uberaba-Goiânia, e a autorização para ficar com as linhas da Aerolloyd Iguassu, que também eram subvencionadas. A VASP cresceu muito nos anos seguintes e conseguiu aprumarse, apesar das dificuldades. Entretanto, mais do que as dificuldades,

Fig .. 144 -

426

Monospar da VASP.


quô sempre foram comuns a todas as empresas, contribuiu muito para sua situação de inferioridade a circunstância de estar sujeita a administrações rotativas, com mudança a cada governo estadual, prejudicando a continuidade das programações e enfraquecendo a necessária agressividade de competição.

VASP 1940

, ,

)

. t

J.. .... _ __ ......

ANAPOLI$

" __

.

'''',

Linhas da V ASP -

1940.

GOIÂNIA /

Fig. 145 -

4 -

,

A Aerobrasil

A constituição da Aerobrasil ocorreu por um instrumento particular celebrado em 22 de outubro de 1934, entre dois sócios: Howard Thompson Byler e Antonio Ferreira Real. Em 1936, o primeiro cedeu suas cotas a Paulo Sampaio, continuando a composição com dois sócios apenas. Lendo-se o contrato de constituição, a impressão que dele se extrai é de que a Aerobrasil não tinha, senão remotamente, o propó~ sito de explorar tráfego aéreo. Seus objetivos eram a compra e venda de material aeronáutico, representações, serviços de engenharia . aeronáutica e demais atividades condizentes com a indústria aviatória, uma fórmula vaga, de pouco significado, pois se efetivamente se ' tratasse de transporte, nada mais lógico do que mencionar a expressão. Nãó 427


obstante, requereu essa autorização e, com parecer favorável do Departamento de Aeronáutica Civil, foi autorizada pelo Decreto n.o 1.152 , de 16 de outubro de 1936. A Aerobrasil jamais explorou· tráfego aéreo. 5 -

A Brasil Aérea

Nenhum repositório ou coleção de atos oficiais menCIOna essa empresa, o que é surpreendente, quer pelos seus múltiplos objétivos, quer pelas suas ligações estreitas com a AeropostaL Mesmo que ela fosse tão-somente uma empresa construtora de aeródromos, ou mesmo de manutenção de campos de pouso, ·ou apoiadora de operações aéreas, é difícil compreender a razão de não ter sido credenciada pelo Ministério da Viação e Obras Públicas. Ela foi constituída em 25 de março de 1936, com o capital de quatrocentos contos de réis, divididos em quatrocentas cotas, assim distribuídas: Air France . . . . . . . . . . Jean Dominique Eugêne du BarraI João Peixoto (brasileiro) . Claudio Ganns (brasileiro) . . .

240 60 60 40

cotas cotas cotas cotas

Seus objetivos consistiam no seguinte: transporte aéreo, administração de aeroportos, serviços de meteorologia e radiocomunicações . Seu capital era integralmente estrangeiro, da Air France, porque Du BarraI era francês, sendo representante da Air Fdmce no Brasil, e os dois brasileiros só eram sócios nominalmente, pois Claudio Ganns era muito ligado àquela empresa, de quem era advogado. Pode - a dúvida é possível - acontecer que o terceiro sócio João Peixoto fosse comparsa verdadeiro, mas não existe comprovação em nenhum dos dois sentidos.

6 -

A Transporte Aero-Brasileiro

Essa empresa foi constituída pelo Engenheiro Jorge Marques de Azevedo. Ele ocupava então a chefia da Divisão do Tráfego do Departamento de Aeronáutica Civil. Era tido como piloto arrojado, dado a acrobacias perigosas, numa das quais sofreu sério acidente. A autorização de funcionamento da empresa de Azevedo (Decreto n.o 1.795, de 27 de agosto de 1937) merece registro especial, pois, pela primeira vez, · um documento oficial faz menção a táxi aéreo : 428


( ... ) Fica concedida permzssao à sociedade brasileira de responsabilidade limitada Transporte Aero-Brasileiro Limitada com sede e foro na cidade do Rio de Janeiro (Distrito Federefl), para estabelecer tráfego aéreo comercial e explorar o serviço. de transporte por meio de aviões-táxi no território nacional. ( ... )

Não parece que Jorge Marques de Azevedo tenha chegado a comprar aviões para a companhia ou que tenha mesmo chegado a operar em nome dela . A certeza é apenas de que conservou o título por muitos anos. Na vigência do Ministério da Aeronáutica , tentou reativar a empresa junto à Diretoria de Aeronáutica Civil, mas não teve sucesso e sua permissão acabou sendo cancelada por falta de operação.

7 -'

A Ala Li ttoria

Dos países europeus ocidentais que Ja tinham adiantado sistema de transporte aéreo - França, Alemanha, Inglaterra e Itália - apenas os dois primeiros estavam representados no Brasil por empresas do gênero: a Air France e a Lufthansae Zeppelin, respectivamente. A Inglaterra apenas tinha no nosso País a The Aircraft Operations Co. Ltd.) especializada em aerofotografia . Em 1938 a situação na Europa já prenunciava tempos de guerra, com a Alemanha adotando atitudes que vinham sendo toleradas, na suposição de que a guerra poderia ser evitada. Àquela altura, a Áustria havia sido anexada à Alemanha; a guerra civil espanhola tinha servido de experimentação para a aviação; e a aproximção da Itália à Alemanha era um fato. Em fins daquele ano, uma empresa italiana, Ala Littoria S.A., pediu autorização para funcionar no Brasil. Criou-se uma situação embaraçosa, porque, se a guerra iminente viesse a alastrar-se para as Américas, temia-se que empresas italianas e alemãs pudessem constituir pontas de lança. Contudo, pelo Decreto n.o 3.481, de 23 de dezembro de 1938, o Governo autorizou o funcionamento da Ala Littoria . .As desconfianças americanas mais se acentuaram, em face de a empresa, apesar de, em julho de 1939, ter sido autorizada a estabelecer' o tráfego aéreo, meses depois ainda não havia iniciado as suas operações, que consistiriam na ligação Itália-América do Sul, com escalas em Natal, Recife, Bahia, Rio de Janeiro , Santos e Porto Alegre. Parecia que o objetivo da empresa não era mesmo executar atividade aérea, mas instalar-se no País como titular de uma permissão que lhe daria direito a operar quando quisesse, pois o ato legal nem fixara prazo. Mesmo assim, em agosto de 1939, a Ala Littoria propôs ao Ministério da Viação e Obras Públicas .utilizar três equipamentos móveis destinados a serviços radioelétricos de proteção ao vôo das aeronaves da empresa, montados em caminhões, para serem operados pelo De429


partamento de Aeronáutica Civil, na Bahia, em Recife e Fernando de Noronha. O Ministro autorizou o D.A.C. a utilizá-los mediante as seguintes condições: a -

a Ala Littoria importaria os equipamentos e os colocaria à disposição do Departamento de Aeronáutica Civil nos locais indicados, sem ônus para o Governo;

b -

os equipamentQs deveriam ser retirados quando o Departamento determinasse, cabendo aí o pagamento 'pos direitos aduaneiros, caso os vendesse no País;

c -

com aqueles equipamentos o Departamento faria a proteção e o controle de vôo das aeronaves da empresa, que custearia a manutenção respectiva.

Corria o ano de 1940 , com os graves acontecimentos decorrentes da guerra: a rendição da França, a divisão da Polônia, toda a Europa ocupada pela Alemanha, exceto V.R.S.S. e Inglaterra; e eis que um novo decreto-lei brasileiro autoriza a Ala Littoria a manter sua linha ItáliaAmérica do Sul, com escalas no Território Nacional. A nova permissão, dada em setembro de 1940, repetia todas as cláusulas do decreto de 1939; mas, como ambos os atos oficiais não consignavam prazo, é difícil entender as causas dessa renovação, principalmente atendendo-se à circunstância da entrada da Itália na Segunda Guerra Mundial.

8 -

A LATI

Ficou ainda mais difícil de compreender quando outra empresa italiana, a Sociedade Anônima Linee Aeree Transcontinentali Italiane (LATI), também veio a obter, em 1940, permissão para funcionar no Brasil. Não existe, porém, nenhum ato oficial posterior autorizando o tráfego da LATI, mas sabe-se que, já com o Brasil participando da Guerra, todo o equipamento da empresa foi requisitado pelo Governo.

9 -

A Companhia Brasileira de Aviação

Foi constituída na Cidade de Santos, por meio de subscrição pública, que naquela época não dependia de autotização prévia: os fundadores lançavam as ações entre o público e, depois de constituída a empresa, recorria-se à Junta Comercial para legalizá-la juridicamente, somente então requerendo autorização para operá-la. Ela começou, porém, a funcionar irregularmente, sem autorização do Ministério da Viação e Obras Públicas . Ligava a cidade de Santos 430


ao interior do Estado de São Paulo, empregando aeronaves Stinson, em ligações que se assemelhavam às de um táxi aéreo, mas que também tinham características de linha regular, funcionando em dias certos, sem aquele caráter eventual do táxi. Só na vigência do Ministério da Aeronáutica, é que a Companhia Brasileira de Aviação requereu autorização para explorar tráfego aéreo, e seu processo esteve em tramitação por dois anos. Suspendeu as operações e, um ano depois, desapareceu. Nos registros oficiais seu funcionamento só aparece na década de 1940.

431


CAPíTULO 6

O TRANSPORTE AÉREO PARA O INTERIOR

1 -

Problema da Infra-estrutura

OMO se viu no capítulo retrospectivo sobre a década 20-30, houve duas tentativas oficiais para implantar o transporte aéreo no interior do País, uma em 1921 e outra em 1928. A de 1921 ficava a cargo do Ministério da Guerra e da Marinha; a de 1928 oferecia subvenção às companhias aéreas. Embora já estivessem em funcionamento a VARIG e o Condor, nenhuma dispunha de estrutura para concorrer à exploração das linhas projetadas no interior. E a tentativa não logrou resultado positivo. A programação feita em 1928 era por demais ambiciosa, porque se tratava de duas ligações, partindo uma de São Paulo e outra do Rio de Janeiro, com destino a quase todos os Estados. Era uma reprodução ampliada daquele primeiro plano, confiado à execução dos Ministérios Militares. Outro ponto muito importante é que, nas duas ocasiões, não havia infra-estrutura terrestre, o fator principal para a instalação das linhas no interior. Mesmo que se cogitasse, como foi o caso, de entregar ao concorrente vencedor em 1928 a construção dos aeródromos, isso levaria tanto tempo que consumiria o prazo da concessão, sem que as linhas estivessem em funcionamento. Com a criação do Departamento de Aeronáutica Civil, teve início uma acelerada atividade no sentido de dotar o interior do País de aeródromos terrestres.

C

432


2

A Política de Subvenções

Assim sendo, na política de levar o transporte aéreo para o interior, a sistemática basicamente adotada foi a de subvencionamento. Chegara o ano de 1933 e, com ele, a oportunidade de pôr em execução os estudos que haviam sido feitos anteriormente (19'21 e 1928). O Governo Provisório de então baixou o Decreton.o 22.869, de 28 de junho, autorizando o Ministério da Viação e Obras Públicas a contratar o serviço de transporte aéreo entre Belém e Manaus, dizendo na fundamentação do ato: ( ... ) considerando que Ja existe o ser.viço regular de transporte aéreo ao longo da costa brasileira; considerando a necessidade de estender esse serviço até Manaus, em ligação Com as demais capitais por .meio rápido de transporte; e considerando que essa nova linha não trará compensação imediata para a empresa que dela se incumbir ( . .. )

O contrato seria celebrado com a empresa nacional que maiores vantagens oferecesse, mediante concorrência pública, e com subvenção máxima de 3$000 (três mil réis) por quilômetro, para uma viagem redonda por semana. Entretanto, já no dia 8 de julho seguinte, o referido decreto era revogado pelo de n.o 22.904, que repetiu os mesmos consideranda do anterior, mas inovou em pontos importantes: 1.° foi eliminada a quantia de subvenção por quilômetro;

2.° o contrato continuaria sendo celebrado com a empresa nacional que desse as maiores vantagens, mas a adjudicação seria feita à que oferecesse o menor preço; 3 .0 enquanto o processo licitatório não chegasse ao final, o Ministério da Viação e Obras Públicas' poderia permitir a execução da linha a título precário, mediante a subvenção que viesse a ser fixada no contrato definitivo . Interessante no decreto último é a circunstância de se permItlr a execução da linha a título precário, mediante uma subvenção que ainda não era conhecida. Se esta dependia da conclusão do processo de licitação e estava condicionada à aceitação da proposta, não poderia haver um preço unitário conhecido antes do contrato; e se este tinha já o preço conhecido, estava em fase de ultimação, não necessitando permitir a exploração a título precário. Somente a recém-constituída Panair do Brasil inscreveu-se para a licitação, ainda mais que já vinha fazendo vôos experimentais na região. 433


Em 15 de março de 1934, o Decreto n.O 24.015 autorizou a celebração do contrato com aquela companhia, e estipulou as cláusulas a serem observadas. Por motivos ignorados, o decreto dispunha que o trajeto deveria ser feito no mesmo dia, num percurso de aproximadamente 1.500 quilômetros, o crIe se tornava inexeqüível, pois a aeronave só poderia voar até o pôr do sol, e, com quatro escalas de passagem e três de reabastecimento, não haveria como cumprir a exigência. Felizmente, o contrato não perfilhou esse absurdo. No mais, poucas divergênciàs entre contrato e decreto, sendo curioso mencionar um resumo das exigências, com relação às aeronaves: emprego de aparelhos anfíbios ou hidroaviões para, no mínimo, oito passageiros; tripulação constituída de, pelo menos, piloto e mecamco, devendo um deles, nesse caso, acumular as funções de radiotelegrafista; . carga útil de 682 quilos, para um raio de ação de 1.200 quilômetros e de 955 quilos, para um raio de ação de 500 quilômetros; velocidade de cruzeiro: 248 quilômetros horários; velocidade máxima: 297 quilômetros horários; bote salva-vidas com lotação mínima para 10 pessoas (suprimida no contrato); caixa de medicamentos (suprimida no contrato); extintores de incêndio; estação de radiotelegrafia, com alcance para mil quilômetros; aparelhos de navegação e controle de vôo. No tocante à subvenção, o Decreto n.O 24.015 estipulava a quantia de 6$000 (seis mil réis) por quilômetro de vôo, que correspondia a 9:000$000 (nove contos de réis) por viagem entre Belém e Manaus, ou vice-versa, a serem pagos à Fanair em prestações mensais. Em 14 de agosto de 1933, o Governo Provisório ainda expedira . o Decreto n.O 23.074, autorizando o Ministério da Viação e Obras Públicas a contratar o serviço de transporte na 'rota São Paulo-Campo Grande, pelo prazo de três anos e subvenção de 3$000 (três mil réis) por quilômetro. Foi feita a concorrência e vencida pela empresa Sindicato Condor Ltda., com a qual foi celebrado o respectivo contrato, em 15 de março de 1934, mediante autorização dada pelo Decreto n.o 24.016, do mesmo dia. 434


A linha licitada, com extensão de 1.865 quilômetros, deveria ser percorrida em duas etapas: uma de São Paulo áté Campo Grande, num dia, e, no dia seguinte, a etapa Campo Grande-Cuiabá. Note-se que o Decreto autorizador da conéorrência falava em São Paulo-Campo Grande; mas a concorrência fora feita para a linha São Paulo-Cuiabá, compreendendo estas escalás: obrigatórias: Piracicaba, Lins, Penápolis, Araçatuba e Aquidauana; facultativas, eventualmente obrigatórias: Mutum e Miranda; reaba'stecedoras obrigatórias: Bauru, Três Lagoas, Campo Grande, Corumbá e Porto J ofre. As aeronaves empregadas deveriam ter lotação de quatro passageiros e dois tripulantes, velocidade de cruzeiro de 150 quilômetros horários. Poderiam ser de dois tipos, conforme o trecho voado: para o primeiro trecho, até Corumbá, além dos requisitos mencionados, deveriam ter capacidade para 500 quilos de carga útil e raio de ação de 500 quilômetros; para o trecho até Cuiabá, além daqueles requisitos, carga útil de 350 quilos e raio de ação de 300 quilômetros. No sobrevôo, as aeronaves deveriam cobrir o percurso da via férrea, a linha do Telégrafo Nacional e o curso dos rios Paraguai, São Lourenço e Cuiabá, nos trechos Campo Grande-Corumbá, Campo Grande-Aquidauana e Campo Grande-Porto Esperança, respectivamente. Em começos de 1937, com base na Lei n.O 337, de 7 de dezembro de 1936 (nessa altura já fora restabelecido o funcionamento do Poder Legislativo dissolvido pela Revolução de 1930), foi aberta concorrência para instalaçãq da linha Parnaíba-Floriano, no Estado do Piauí (Rota do Parnaíba), licitação também vencida pelo Sindicato Condor. A subvenção quilométrica era de 4$300 (quatro mil e trezentos réis), para um percurso de 530 quilômetros, cobrindo o Rio Parnaíba ou à {{vista dele", como dizia o contrato. Este o roteiro da linha: Escalas de passagem: Porto, Repartição, João Pessoa, Miguel Alves, União, Belém e Amarante; Escalas de reabastecimento: Parnaíba, Teresina e Floriano. Todos esses contratos tinham o prazo comum de 3 anos, de modo que, omissos quanto a prorrogações, a exploração das linhas teria de submeter-se a novas concorrências. E foi isso o que determinou a Lei n.o 417, de 7 de abril de 1937, com relação aos serviços entre São Paulo e Cuiabá e entre Belém e Manaus. A dita lei foi a rrianeira de formalizar o explorador na linha, pois só ele dispunha do equipamento previsto, só ele conhecia a rota, só ele dispunha de dados para formalizar o valor da subvenção. Por ISSO 435


mesmo, já em setembro de 1937 estavam assinados dois novos contratos, com as mesmas empresas primitivas, Panair do Brasil e Sindicato Condor. ' . O contrato com a primeira das duas empresas (Panair) era quase uma reprodução do ajuste de 1934, desde a' fr~qüência, as escalas, a subvenção, até as características das aeronaves. A única inovação, aliás de natureza surpreendente, estava contida na cláusula décima-terceira, cujo otimismo deve ser ressaltado: Em igualdade de condições, a contratante se obriga a adquirir, para o serviço da linha contratual, aeronaves que forem fabricadas no Brasil.

Já o contrato com o Sindicato Condor trazia mais inovações: 1.a

as escalas de Piracicaba, Lins e Penápolis foram eliminadas;

2. a

as aeronaves deveriam ter capacidade para 7 passageiros e raio de ação de 900 quilômetros;

3. a

-

cláusula de preferência para aquisição de aeron~ves fabricadas no País.

Dentro ainda daquela programação feita em 1928, que previa a ínteriorização do transporte aéreo, o Decreto-lei n. O 144, de 29 de dezembro de 1937, autorizou contratação de uma linha entre Uberaba e Goiânia, mediante concorrência pública, em que a subvenção máxima por quilômetro seria de 3$000 (três mil réis). Essa licitação foi vencida pela Viação Aérea São Paulo - VASP, com 'a qual foi assinado o termo respectivo. A rota e a quilometragem a considerar eram as s,eguintes: Rota Uberaba-Araguari Araguari-Catalão Catalão-Ipameri . Ipameri-Anápolis Anápolis-Goiânia

Quilometragem Total Parcial 125 57 55 173 60

125 182 237 410 470

Tratava-se, portanto, de uma operação onerosa, pois as escalas, exceto a de Catalão, eram obrigatórias, com muitos pousos num trajeto de menos de 500 quilômetros . Por outro lado, as aeronaves a serem empregadas deveriam ter capacidade para 3 passageiros, o que mais acentuava essa onerosidade. 436


Para vencer a concorrência pública, a VASP oferecera um preço quilométrico inferior em 300 réis ao limite estipulado pelo Governo, o que mostrara a fragilidade do critério da estipulação de um teto para os concorrentes, porque, se esse teto era considerado o limite mínimo indispensável para a exploração adequada, qualquer diferença para menos iria traduzir-se em deficiência no resultado operacional. E foi o que aconteceu, 'porque, no fim do ano, mais precisamente em 4 de outubro de 1938, o Governo viria a suspender, até 31 de dezembro, o regime de subvencionamento da VASP, justificando a medida com estas razões: ( ... ) considerando que a necessidade de prover à segurança da linha obrigou a contratante ao emprego de avião de características superiores às exigidas pelo Decreto-lei n.o 144, o que veio a onerar as condições do tráfego,' considerando a vantagem do emprego de avião provido de radiotelegrafia em relação aos que não dispõem de tal aparelhagem ( . . . )

Ao que parece, os estudos da linha havia1;l1 levado a · conclusões errôneas, porque, estando a VASP sediada na capital de São Paulo, logicamente a linha deveria ter seu início nesta cidade, e não em outra, distante-, situada no Triângulo Mineiro; assim , a subvenção de 3$000 por quilômetro não poderia ser suficiente para também atender aos custos dos deslocamentos para Uberaba. Não obstante, é de supor que a VASP haja retomado a execução da linha, assim que terminou o prazo de suspensão. No ano de 1939, porém, depois de novos estudos pelo Departamento de Aeronáutica Civil, o Governo determinaria a revisão do contrato original , com observância de condições mais favoráveis: elevação da subvenção para 6$000 por quilômetro; inclusão do trecho São Paulo-Uberaba na linha; emprego de avião trimotor para · 17 passageiros; ajustamento da subvenção para equilíbrio de receita e despesa, com vistas ao exercício seguinte, entrando, como parcela da receita ou da despesa, o saldo ou o déficit apurado no ano anterior , respectivamente.

3 -

Uma Lei Inusitada

Ainda no ano de 1937, o Congresso aprovou a Lei n.O 468, de 3 de julho, abrindo um precedente de que futuramente se iriam valer outras empresas. Inovando em relação ao Código de Contabilidade da União, que exigia a concorrência pública para celebração de contrato de que 437


decorresse receita ou despesa para os cofres públicos, a referida lei autorizou o Poder Executivo a contratar com a Companhia Aerollo~d Iguassu S.A., de Curitiba, as linhas aéreas de Curitiba a São Paulo e de Curitiba a Florianópolis, mediante a subvenção de dois mil réis (2$000) por quilômetro voado, até o limite anual de duzentos e quarenta contos de réis. Além de inusitada na forma, a lei era tanto mais estranha quanto a empresa não tinha tradição, não tinha estrutura sólida e nem estava, ao que se sabe, aparelhada. Tudo isso ficou demonstrado quando a Iguassu requereu, em 1939, autorização para transferir o contrato para a VASP. Foi ouvido o Departamento de Aeronáutica Civil e concedida a autotização por decreto. Pouco depois, a Aerolloyd Iguassu deixava de existir, não se sabendo em razão de quê, se promovera sua liquidação ou se falira. Só não é verdadeira a versão de que foi incorporada pela VASP, porque, se isso tivesse acontecido, esta ficaria como sucessora da Iguassu e a transferência de linhas de uma para outra seria automática, independentemente de lei, de decreto e até de contrato. 4 -

Outras Linhas Aéreas de Penetração Subvencionadas

Entre 1938 e 1939, dois atos foram expedidos a respeito das ligações do Sindicato Condor, no oeste, e da Panaír do Brasil, na Amazônia: O Decreto-lei n.O 646, de 25 de agosto de 1938, autorizou o estabelecimento de uma linha entre Porto Velho e Rio Branco, no então Território do Acre. A exploração foi adjudicada àquela primeira empresa, que operava a linha de São Paulo para Cuiabá, estendida a Porto Velho. Posteriormente a ligação foi prolongada até Xapuri. O Decreto-lei n.o 1.106, de 10 de fevereiro de 1939, autorizou a revisão dos contratos das linhas Parnaíba-Floriano (Condor), Belém-Manaus (Panair) e São Paulo-Cuiabá (Condor), a fim de: a -

estender a linha de Parnaíba até Belém do Pará, via Uruçuí, Carolina, Marabá e Alcobaça;

b -

estender a linha de Belém-Manaus a Porto Velho, fazendo conexão com a linha São Paulo-Porto Velho;

c -

aumentar a freqüência da linha São Paulo-Corumbá;

d ~ estender a linha São Paulo-Cuiabá a Porto Velho, fazendo conexão com a linha Porto Velho-Manaus. A circunstância mais ressaltante na instalação das linhas subvencionadas é a da preponderância das empresas de capital estrangeiro e 438


com suporte em outras empresas no Exterior, como a Panair eo Sindicato Condor. As duas únicas oportunidades ao alcance das empresas genuinamente nacionais foram as da Aerolloyd Iguassue da VASP em linhas de curta extensão. Com as concorrências vencidas pelo Sindicato Condor e pela Panair do Brasil, ressalvadas as linhas da VASP para o Triângulo . Mineiro~ e a de Curitiba e Florianópolis para São Paulo, herdadas da Aerolloyd Iguassu, todas · as demais estavam .nas mãos daquelas duas empresas. Ambas saíam de Porto Alegre para o Rio e São Paulo, daí seglliam até Belém. De Belém, a Panair seguia até o Acre e Porto Velho. Do Acre até São Paulo, operava o Sindicato Condor, fechando o circuito. Como se pode ver, II linha subvencionada do Sindicato Condor, partindo de. São Paulo via Mato Grosso, e a linha da Panair do Brasil, partindo de Belém, passaram a fazer junção no Território do Acre. Este ficou, portanto, ligado ao sul do País por duas vias, pelo litoral e pelo interior. Não obstante, as deficiências do Território eram tantas que, em 1939, o Governo Federal lhe concedeu um auxílio de 58:500$000 (cinqüenta e oito contos e quinhentos mil réis), para pagar parte do preço de um avião destinado II fazer os serviços do governo local. Essa divisão do Território Nacional pelas duas empresas, desde os seus primeiros dias de funcionamento, continuou também sob o regime de concorrência. Nunca houve entre elas qualquer disputa em torno das linhas postas em concorrência, porque cada uma tinha seu campo respeitado pela outra. Daí a conclusão de nunca ter havido disputa de preço quanto ao limite fixado pelo Governo. A linha era adjudicada a quem se at;1tecipava e pelo preço que se sabia imutável. Já se falou que as linhas interioranas do Condor causaram suspeitas estadunidenses de favorecerem operações de bombardeiros alemães. Tais suspeitas, a serem verdade, comprometeriam o nosso próprio Governo, que"subvencionava a Companhia, incentivando o estabelecimento das linhas. Por outro lado, foram os brasileiros que iniciaram os trabalhos para estabelecer um mínimo de infra-estrutura aeroportuária na região. 5 -

O Avanço da Infra-estrutura para o Norte

Em 1931, uma expedição já havia percorrido a região do Tocantins, com o objetivo de implantar uma linha aérea, ligando o Rio de Janeiro ao Estado do Pará. A expedição fora composta por Felix Blotner, Lysias Rodrigues e Arnold Lorennz. Para a concretização desse objetivo, seria necessária a cooperação das prefeituras ao longo da rota, a cujo cargo ficariam os trabalhos de preparo da infra-estrutura. Mas a maioria das prefeituras não conseguiu levar o projeto avante, dadas as dificul439


dades para construir os campos de pouso, e muito poucas eram as que teriam alguma condição financeira para arcar com tal ônus. Somente em 1936, os trabalhos prosseguiram, então a cargo do Correio Aéreo Militar. A partir de 1937, o Departamento de Aeronáutica Civil assumiu o encargo, mas sem conseguir cumpri-lo, em razão de muitos fatores, entre os quais as condições adversas da região, a falta de braços e a carência de transporte terrestre para apoiar os serviços. Não obstante essas dificuldades, em 1937 tiveram prosseguimento as obras dos seguintes aeroportos: Abaeté, Cametá (novo campo), Alcobaça (recuperação), Marabá, Imperatriz, Carolina, Pedro Afonso; Tocantínia, Porto Nacional, Peixe (novo campo), Palma (recuperação) e Formosa. Paralelamente, também teve início a construção de outros: Baião, Remansão, São Vicente, Porto Franco, São João da Aliança e Santa Luzia. O Engenheiro José de Oliveira Machado, -outro veterano da Aviação Civil, relata, em artigo publicado no Boletim do D.A.C, Ano I, n .o 4, outubro-dezembro de 1938: Em outubro foi feita a inspeção desses campos por um dos chefes de serviço do DAC, sendo utilizado o avião Belanca K-326, por gentileza da aeronáutica do Exército, até o aeroporto de Carolina e em. novembro procedeu o mesmo chefe a uma inspeção, com o mesmo avião e com a presença do Coronel Eduardo Gomes, em toda a extensão da rota, que foi considerada em condições de permitir o estabelecimento da linha aérea do CAM. Então, foi aberto o tráfego aéreo pela rota do Tocantins, representada em ((croquis)) anexo, no qual estão assinalados os campos existentes; porém, para o percur.so de aviões de grande porte, é indispensável O melhoramento e ampliação de alguns aeroportos. É o que o DAC se empenha em fazer em Marabá, Carolina, Porto Nacional e Formosa, dada à possibilidade da excursão por aviões pesados que, passando por Belém, demandem o Rio.

440


CAPíTULO 7

AS PRINCIPAIS MEDIDAS LEGISLADORAS

1 -

O Decreto n.o 19.902/31

EPOIS do Decreto n.O 16.983 de 1925, que, pela primeira vez, regulamentou os serviços civis de navegação ~érea, que, aliás: ainda não existiam, decorreram sete anos até que os primeiros frutos da instalação do transporte aéreo permitissem reformular aquela regulamentação. A década de 1930-194 O foi das mais férteis em legislação, porque foi no seu curso que as leis se sedimentaram e consolidaram. Dois atos disputam a primazia nesse período: o da criação do Departamento de Aeronáutica Civil e o da promulgação do Código Brasileiro do Ar. Se este é mais importante pela ampliação e sistematização dos atos antecedentes da mesma natureza, aquele teve maior relevo, porque gerou a ({casa oficial)) da Aviação Civil. Esta poderia desenvolver-se sem a legislação, mas não iria adiante sem o Departamento. "Entre os dois citados atos, existem outros, porém que tiveram grande papel na Aviação Civil no período que vai "da criação do Departemento até a promulgação do Código, sete anos depois. Na história da Aviação Civil há muito de coincidência e de oportunidade. A criação do Departamento de Aeronáutica Civil exigiria uma longa tramitação na via legislativa muito maior do que hoje há nos projetos de lei. Mas a sorte militou, e a circunstância de o País estar sob um Governo Provisório, enfeixando todos os Poderes, permitiu que o Decreto n.o 19.902, de 22 de abril de 1931, desse criação ao Departamento.

D

441


2 -

O Decreto n.o 20.704/31

o Departamento de Aeronáutica Civil exerceu muita influência na legislação pertinente, quando esta não era de sua iniciativa. Um ato internacional de grande importância e do qual participara o Brasil foi a Convenção de Varsóvia (concluída em 12 de outubro de 1929), para unificação de certas regras relativas ao transporte aéreo internacional. Normalmente, a decretação de sua vigência arrastar-se-iapor muitos anos no Legislativo, mas, por influência do Departamento, dada a relevância do assunto, a respectiva ordem de execução no Brasil foi promulgada já em 1931, pelo Decreto n.o 20.704, de 24 de novembro. Foi caso raro essa promulgação ter ocorrido em tão breve espaço de tempo. 3 -

O Decreto n.O 20.914/32

Trata-se do Regulamento para Execução dos Serviços Aeronáuticos Civis, baixado em 6 de janeiro de 1932, que, embora dispondo sobre quase toda a matéria do Reghlamento de 1925, não o revogou expressamente e o complementou melhor. Esse segundo decreto não dependeu do Poder Legislativo, porque o País ainda se encontrava sob o Governo Provisório trazido pela Revolução de 1930. Não obstante, sofreu urna tramitação de mais de seis meses, o que lhe deu, de certa forma, um consenso geral que beneficiou suas disposições. . Na Exposição de Motivos com que o projeto foi submetido ao Chefe do Governo Provisório, o Ministro da Viação e Obras Públicas começa dizendo que: ( ... ) a aviação civil e comercial no Brasil já exige a fixação de normas e preceitos de natureza substantiva, que orientem, com segurança, o seu desenvolvimento ' de acordo com as nossas possibilidades ( .. . )

Se houve no Brasil, alguma vez, um decreto de regulamentação que tivesse sido mais abonado por jurist~s e técnicos , talvez este fosse mais o Decreto n.o 20.914. Levi Carneiro, jurista do maior tomo, opi~ nou sobre ele. Clovis Bevilaqua, que: teve grande participação na elaboração 'e redação do Código Civil · Brasileiro, deu seu parecer como Consultor Jurídico -do Ministério dás Relações Exteriores. · O Comandante Djalma Petit ofereceu cerca de trinta sugestões, 'muitaspertinentes e de real interesse. Apesar de o anteprojeto ter partido do Ministério da' Viação e Obras Públicas, o que, necessariamente, já deixava clara á intervenção do D.A.C. na . sua redação , o Diretor GeralC(::sar Grillo opinou em diversas oportunidades, ~efendendo o texto, aceitando 442


ou rejeitando as emendas propostas, e tornou-se um baluarte para impepir que a aviação comercial fosse entregue à- Diretoria da Marinha Mer. cante, como se pretendia. Era como se hoje se entregasse esse ramo da aviação ao Ministério dos Transportes. Mas, prevaleceu o ponto de vista do Departamento de Aeronáutica Civil e, em 4 de janeiro de 1932, o Chefe do Governo Provisório assinou este curioso despacho: Aprovado. Lavre-se o projeto definitivo.

Getúlio Vargas tinha um modo peculiar de despachar, por vezes criando dúvida quanto ao que pretendia, .como nesse caso em que manda lavrar o projeto definitivo, quando a próxima fase era a transformação do projeto em decreto, esta a palavra adequada . Isso também ocorria quando a ele eram apresentadas alternativas para opção e ele despachava: Sim, ou De acordo, não se sabendo que solução adotara.

4 -

A Convenção de Roma, em 1933

No início dos transportes aéreos, do mesmo modo que a grande preocupação do transportador foi o passageiro, que se via na contingência de ter que acionar a empresa quando de um eventual dano - problema que a Convenção de Varsóvia resolveu em 1929 - merecia atenção o problema do homem no solo e sua propriedade. A aviação tornavase um fato comum da vida e com esse caráter deveria ser aceita como conseqüência do progresso e suportada por todos. Mas, enquanto os demais meios de transporte em nada afetavam a vida do cidadão alheio a eles, a aviação era tida como um risco constante às populações. A queda de um avião numa propriedade ou num grupo de pessoas constituía sempre um risco temido, que os demais transportes não ofereciam. Tendo presentes esses fatos, mais de quarenta países, entre eles o Estado do Vaticano, reuniram-se em Roma, no ano de 1933,a fim de encontrar um denominador comum entre as diversas tendências acerca da responsabilidade do transportador em relação aos bens e à população no solo. Uma dessas tendências baseava-se na culpa, ficando a prova de 'sua inexistência a cargo do transportador. Oútra baseava-se na teoria da· responsabilidade absoluta, independente de prova,bastando ao pr~­ judicado provar o dano e a relação de causa e efeito entre 'elee a ·ação do transportador. Essa última é a que prevaleceu, constituindo o artigo primeiro da Convenção:

o dano causado por uma aeronave . em vôo a pessoas ou bens no solo dará lugar à reparação cOm a prova apenas desse dano e de que ele proveio da aeronave .. 443


Esses princípios até hoje vigoram também no Brasil. A aviação -é Jm fato da vida comum e todos devem suportá-lo. Mas quem aufere os proveitos dela é o explorador, de modo que não teria sentido isentá-lo de responsabilidade, pelo fato de se tratar de um risco imposto pelo progresso, e onerar o homem no solo, que em nada contribuiu para o evento. 5 -

Os Decretos n.os 24.572/34, 1.757/37 e 1.687/39

Os atos de autorização para sobrevôo de nosso território por empresas estrangeiras costumavam trazer certas restrições impostas pela segurança nacional, embora o País ainda carecesse de legislação própria a esse respeito. Em 1934, por iniciativa do Ministério do Exército, foi expedido o Decreto n.o 24.572, de 4 de julho, que 'sanou aquela lacuna, estabelecendo as zonas interditas à navegação aérea. Esse' decreto, com o qual tinha colaborado o então Tenente-Coronel Eduardo Gomes, foi aditado pelo de n.O 1.757, de 2 de julho de 1937, para abrir uma exceção na regra geral de proibição aos vôos em rota para o Paraguai, (j que levou aquele oficial a grande indignação (episódio narrado no número 7, do Capítulo 3 deste Volume). Mais tarde, foi ainda substituído pelo Decreto-lei n.o 1.687, de 17 de outubro de 1939. 6 -

O Decreto n.o 349/35

Em 12 de abril de 1933, havia sido firmada, em Haia, a Convenção Sanitária Internacional para a Navegação Aérea, mas o Brasil não esteve presente. Entretanto, ele veio a aderir a essa Convenção e a fez promulgar pelo Decreto n,o 349, de 30 de setembro de 1935, para vigorar em todo o Território Nacional. Numa época de epidemias, deendemias e poucos hábitos de higiene, a Convenção era de grande importância na prevenção desses males, assegurando a profilaxia em lugar da terapia. Já naquela longínqua época a Convenção precoriizava, inclusive, a presença de .um médico nos aeroportos. Na sua terceira parte, a Convenção disciplinava o ((regime sanitário aplicável em càso de certas moléstias", que eram estas: cólera, peste, febre amarela, tifoexantemático e varíola. Pela Convenção, con~ tavam-se assim .os dias de incubação: cinco para a cólera; seis para a peste e a febre amarela; doze para o tifo exantemático; catorze para a varíola. 444


Todo aeródromo em reglao onde fosse comprovada a febre amarela tomaria o nome de Aeródromo Antiamaril. Hoje, muito de tudo isso ingressou no campo folclórico, mas naquela ocasião tais problemas eram tomados ,bem mais a sério. Os cuidados, então aconselhados, ainda hoje prevalecem para países africanos, para os quais só se viaja depois de convenientemente vacinado.

7 - . Lei n.O 218/36 Outro acontecimento marcante foi a instituição do Dia do Aviador, -a ser cel~brado no dia 23 de outubro de cada ano, dizendo a Lei n:o 218, de 4 de julho de 1936, que o instituiu, que .os Poderes Públicos deveriam providenciar para que: ( ... ) essa comemoração tenha sempre condigna celebração cívica, desportiva e cultural, esta especialmente escolar, e acentuando a iniciativa do notável brasileiroSantos-Dumont, quanto à prioridade do vôo em aparelho mais pesado do que o ar. É importante fazer aqui constar a iniciativa do Touring Club do Brasil, tradicional associação dedicada aos transportes: em 1935, o Touring, sob a presidência de Otávio Guinle, criou a Semana da Asa, festividade batizada por Berilo Neves e idealizada pela Comissão de Turismo Aéreo, dirigida pelo Major Godofredo Vidal. O objetivo era exaltar os grandes inventores aeronáuticos brasileiros, que então pareciam esquecidos. Nenhum deles possuía qualquer monumento e seus nomes pouco eram lembrados. O ponto de destaque da Semana seria o Dia da Aviação, a ser proposto ao Governo para comemoração em 23 de outubro. No ano seguinte, o Presidente Getúlio Vargas sancionava a Lei que instituía não o dia da aviação, mas o Dia do Aviador, cuja comemoração costumava ser no dia 12 de dezembro, consagrado a Nossa Senhora de Loreto. A primeira Semana da Asa, realizada entre 20 e 27 de outubro de 1935, constituiu grande estímulo para que o espírito aeronáutico brasileiro ressurgisse, mais forte, com mais entusiasmo, oferecendo ao público oportunidades de maior aproximação à atividade de aviação, através de visitas às instalações aéreas, militares e civis, organização de exposições, concursos de desenhos, ofícios religiosos na Igreja de Nossa Senhora de Loreto e revoadas, estas tornando-se bastante populares e dando origem às corridas de aviões, tão comuns na década de 30. 445


8 -

O Decreto n.o 1.439/37

As chamadas servidões aéreas, que são as restrições de altura impostas ao direito de construir, nas proximidades dos aeródromos, escolas de aeronáutica e fábricas de aeronaves, já constavam no artigo 41 do Regulamento de 1932. Não obstante, em 5 de fevereiro de 1937, pelo Decreto n.O 1.439, foi baixado um regulamento específico. Essa antecipação do legislador não impediu que as construções se desenvolvessem, principalmente nas proximidades dos aeródromos. Até hoje eles constituem um pólo de atração, tanto pelas facilidades que oferecem, quanto pelas oportunidades que proporcionam, de modo que, construído um aeródromo, sempre existe um movimento de aproximação, que vai levando a população para mais perto. 9 -

Instruções e Regulamentos

Paralelamente, porém, à ação legislativa, o Departamento atuava na sua área, baixando instruções e regulamentos para aplicação das leis sobre Aviação Civil. É o caso, por exemplo, da Portaria s/n (M.V.O.P.), de 31 de outubro de 1931, em que o Ministro, atendendo à exposição de motivos do D.A.C., resolve fixar o prazo de dois anos para que as aeronaves nacionais passassem a ser tripuladas pot aeronautas brasileiros. No entanto, esse dispositivo foi dificultado pela falta de escolas de formação e por serem raros os civis que se dedicavam à pilotagem. Daí terem sido vários os militares que, brevetados nas Escolas de Aviação Naval e Militar, e até da Força Pública de São Paulo, passaram para a Aviação Civil; na sua maioria, todos tinham sido hrevetados como sargentos-pilotos, . mas havia também mecânicos e radiotelegrafistas.' Muitos permaneceram em serviço por anos, fazendo carreira e chegando a alcançar a situação de Comandante de aeronave em diversas companhias. Houve também oficiais pilotos que prestaram serviços na Aviação Civil, utilizando o direito de licença para tratar de interesse particular; ao fim desta, porém, voltaram aos quartéis, prosseguindo na carreir~ de piloto-militar. Muitas disposições existiam há mais de dez anos e, no entanto, não tinham regulamentação. A navegação aérea já tinha completado o seu oitavo ano e havia muitas leis,' mas que ficavam distantes do homem comum, para quem as minúcias das instruções sempre se mostraram necessárias. A quem estiver desafeito às peculiaridades da época, muitas dessas instruções podem parecer ingênuas, suscitar alguma perplexidade. Quem as lê, hoje, pode até pensar que se tratava de um exagero da administração. Um exemplo disso está na Portaria n.o 508 (M.V.O.P.), de 23 de 446


julho de 1936, com instruções pl!.ra sinalização diurna e noturna dos obstáculos à navegação aérea.' Ist(j) tornou-se um imperativo em favor da segurança, principalmente porque, na época, os vôos eram feitos a baixa altura; o que exigia atenção para com os obstáculos subjacentes. Havia cinco tipos de sinalização, conforme os seguintes obstáculos: I 11

torres e postes de grande altura; linhas de transmissão;

111

pontes;

IV

caixas d'água, silos, gasômetros e estruturas semelhantes;

V

chaminés.

Essas instruções seriam posteriormente completadas pela Portaria n.o 68 (D.A.C.), de25 de abril de 1938, que facilitava o reconhecimento dos locais sobrevoados, estabelecendo indicações de importância, até nos dias de hoje, para a aviação de pequeno porte: nos edifícios públicos e particulares, estações ferroviárias, fábricas, arranha-céus, galpões e quaisquer logradouros que oferecessem fácil visibilidade do ar, deveriam ser pintadas inscrições fornecendo dados c:omo nome do lugar, seta indicadora do aeródromo e inscrição numérica da distância desse aeródromo. Como se disse, há certos aspectos na Aviação Civil que despertam estranheza. A Convenção de Paris de 1919 adotara o princípio da nacionalidade ,única para as aeronaves e aprovara um anexo sobre marcas de nacionalidade e matrículas; nossa aviação passou a obedecer àquelas normas, mas no Brasil não houve instrumento regulador dispondo sobre a matéria. Assim, as aeronaves brasileiras traziam marcas de nacionalidade e matrícula que, primeiramente, foram dadas pela Inspetoria Federal e, mais tarde, pelo Departamento de Aeronáutica Civil. Somente quase dois anos depois da criação do Departamento, é que o Ministro da 'Viação baixaria a primeira Portaria pertinente que foi substituída, quatro anos mais tarde, pela de n.O 331, de" 25 de junho de 1937, mais completa. Salvo algumas correções e certo aperfeiçoamento, estas instruções foram as que prevaleceram até o advento do Ministério da Aeronáutica. ' O atraso ocorrido na regulamentação da matrícula de aeronaves não aconteceu com o pessoal navegante: já vimos que uma Portaria de 1926 aprovara instruções para exames, cartas; licenças e matrículas de aeronautas. Era, porém, uma regulamentação teórica, pois não havia aeronautas então, apenas pilotos amadores; mesmo assim, como era muito abrangente e complexa, conseguiu sobreviver até 1939, quando o Departamento expediu Instruções para a Matrícula Profissional do Pessoal da Aeronáutica Civil, que, apesar do nome, era exclusivamente destinada ao pessoal navegante, e não a qualquer servidor da repartição. 447


Para que as matrículas atendessem às exigências da Lei do Serviço Mi litar, os navegantes foram grupados em três categorias: A -

com função técnica (exceto o aeromoço);

B -

com função acessória a bordo ou em organização de terra;

C -

portador de carta de amador.

Mas a preocupação com os aeronavegantes foi ainda motivo para a Portaria M.V.O.P. n.o 215, de 20 de abril de 1937, aprovando instruções para exame de sanidade dos candidatos a tripulantes e dos tripulantes, com funções técnicas nas aeronaves civis. Aliás, esse tipo de preocupação já vinha de há muito, principalmente na aviação militar, tendo o' Dr. Winkelmann Barros Barbosa Lima freqüentado um curso preliminar de Medicina de Aviação, ministrado por médicos da Marinha (aos do Exército. A Portaria n.O 215 criava, na prática, o Serviço Médico da Aeronáu tica Civil (S .M.A.C.), conforme o confirmou a Portaria n.o 142jD.A.C.. de 30 de setembro de 1937, ao traçar instruções para o S.M.A.C. que seria um órgão técnico do D.A.C., com a finalidade de selecionar e fiscalizar o pessoal aeronavegante de atividade civil comercial e turismo, cujos exames, até então, eram feitos por médicos estranhos, constando do preenchimento de fichas médicas fornecidas pelo Departamento Médico. Esse serviço, dirigido pelos médicos Drs. Luís Palmeiro Lopes, Arthur Borges Dias e Luciano Benjamin de Viveiros, diplomados em Medicina de Aviação no ano de 1936, por indicação do Chefe do Departamento de Aeronáutica Civil, funcionava na Rua Visconde de Itaboraí n.o 80, de onde se mudJ1.!, em novembro de 1938, para o anexo ao hangar 1, no Aeroporto Santos-Dumont. Nas novas instalações, a chefia do serviço coube ao Dr. Luciano Benjamin de Viveiros, assessorado pelos Drs. Fernando Mendes da Silva, Borges Dias e Palmeiro Lopes, responsáveis pelos gabinetes de Fisiologia, Oftalmologia e Otorrinolaringologia. Mais tarde, instalou-se um gabinete de pesquisas clínicas que ficou sob os cuidados do técnico de laboratório, acadêmico de Medicina Gil von Schoster Câmara. Os médicos I.este Departamento' fiscalizavarri., periodicamente, os centros de aviação ':lvil, aonde iam especialmente para fazerem exame de sanidade em todos os candidatos à aviação. Ainda em fins de 1937, E. Barroso Tostes, Capitão-Tenente Médico da Marinha, organizou o serviço da Panair do Brasil, com a" finalidade de assistência ao pessoal e controle dos aeronautas do ponto de vista médico aeronáutico, controle este que Pontes de Mir"pda já vinha fazendo em seu consultório particular. 448


Em 1938, o Dr. Waldemar Lins Filho, da Aviação Civil, recebe o seu diploma de Médico de Aviação, como integrante da terceira turma do Exército. Em 1940, o Dr. Clóvis Bulcão Viana, integrante da quinta turma, é também diplomado em Medicina de Aviação. Era evidente que se estava a cuidar da segurança da aviação. Para tanto, também concorreu a Portaria n.o 156, de 21 de outubro, ainda de . 1937, aprovando instruções para o Serviço de ' Inspeção Aer:onáutica (S.I.A.), órgão do D.A.C. ao qual incumbiria, entre outros; pontos, proceder à vistoria de aeronaves, examinar candidatos a pilotos e mecânicos, colaborar nos estudos de rotas aéreas e proceder a inquéritos sobre acidentes de aviação.

°-

1

O Código Brasileiro do Ar

Na legislação aeronáutica, constituiu marco importante o Código Brasileiro do Ar que, com os decretos regulamentadores que o antecederam, consolidou as normas jurídicas sobre o direito aeronáutico'. Logo após a Revolução de 1930, o Presidente do Governo Provisório criou .a Comissão Legislativa, cuja função era rever todos os Códigos em vigore sua legislação complementar. Em 1933, a 8. a Subcomissão, formada pelos diversos juristas, Deodato Maia, Rodrigo Otávio Filho e Trajano Medeiros do Paço, elaborou um anteprojeto de código para a navegaçao aérea. Imediatament,e, foi dado à divulgação pelo Jornal do Commercio, veículo muito utilizado em assuntos jurídicos. Nessa ocasião, funcionava na Europa o Comité Internacional T éch~­ nique d'Experts Juridiques Aériens (CITEJA), que congregava todos os especialistas em Aviação Civil. Tinha delegações em muitos países e em 1933 chegou ao Brasil. Em 27 de maio desse mesmo ano, realizou-se a reunião do Comitê, no ltamarati, ocasião em que o Presidente da Delegação Brasileira, o jurista Clovis Bevilaqua, convidou para Presidente de Honra da Sessão o Embaixador Afrânio de Mello Franco, Ministro das Relações Exteriores. Estavam presentes oS demais membros da pelegação: Antônio Moitinha Dória, delegado nacional, Claudio Ganns, secretário, Desembargador André de Faria Pereira, Juízes Augusto Sabóia Lima, Deodato Maia, Carlos da Silva Costa, Rodrigo Otávio Filho e Edgard Ribas Carneiro, professores Philade1pho de Azevedo e Haroldo Valadão, e os diplomatas Octávio Nascimento Brito e Trajano do Paço; acompanhando-os os Conselheiros Técnicos Ismael de Souza, Edmundo d'Oliveira e Cauby de Araujo. O Conselheiro Técnico Cauby de Araufo sugeriu que a Comissão examinasse o Anteprojeto\ do Código Aéreo Brasileiro, já então con449


cluído, assunto que ficou postergado para outra reumao, em virtude da ausência do respectivo relator, Trajano do Paço. Durante os anos de 1933 e 1934, o Comitê examinou o Anteprojeto do Código, discutindo as sugestões, analisando as emendas provindas das mais diversas fontes, concluindo efetivamente os trabalhos no dia 27 de janeiro de 1935, quando foi realizada a última sessão. O Jornal do -Commerdo publicou em duas partes, nos dias 9 e 16 de dezembro de 1934, antes, pois, .da conclusão dos trabalhos, a extensa Exposição de Motivos, na qual foram explicados todos os aspectos do Novo Código e a sua atualidade em face das legislações estrangeiras. No dia 21 de março de 1935, no salão nobre do ltamarati, efetuou-se a cerimônia de entrega do Anteprojeto do Código do Ar, ocasião em que o então" Ministro do Exterior, Dr. José Carlos de Macedo Soares, que substituía o .Embaixador Mello Franco, assinalou os relevantes serviços dos autores do projeto, afirmando que doravante teria lugar a palavra do Legislativo: ( ... ) Foi ouvida a palavra serena e abalisadados técnicos. Os aspectos políticos do problema serão devidamente apreciados pelo Poder Legislativo da República. ' Cabe à Câmara dos Deputados fixar a doutrina que melhor convém aos interesses nacionais. Decidirá se devemos nos ater à . teoria do direito .absoluto ao situado acima do território brasileiro, tese adotada pela Convenção Internacional de 1919, e pela Seção Brasileira. do Comité Jurídico ( ... ) ao contrário, firmará a doutrina de que o ar é livre, como o quer o Comité Juridique International de l'Aviatíon ( ... )

Uma semana após, o Presidente da República enviou ao Congresso o Anteprojeto e a Exposição de Motivos. Somente em agosto de 1935, o Departamento de Aeronáutica Civil apresentou ao Ministro da Viação um Memorando com as SU?s observações acerca do Projeto de Código, projeto esse que a Imprensa divulgara ao longo de mais de dois anos: autêntica falta de entrosamento entre o Departamento, que se omitiu, e o Comitê que o alijara dos estudos. O Projeto, de autoria dos maiores técnicos brasileiros de então e que perfilhara conceitos e princípios das mais modernas legislações estrangeiras, rolou por mais de dois anos na Câmara, onde não militava um especialista sequer da aviação. E , às vésperas da instalação do Estado Novo, mais precisamente em 2 O de outubro de 1937, a Comissão Especial ainda debatia a conceituação de aeronave. Afinal, depois de uma peregrinação de cinco anos, já na vigência do Estado Novo, o Presidente Getúlio Vargas promulgou o novo Código Brasileiro do Ar, Decreto-lei n.O 483·, de 8 de junho de 1938. O texto 450


em nada diferia do que estivera em curso na Comissão Especial. Tanto tempo despendido por tanta gente, para obter um texto verdadeiramente imperfeito, contraditório e alheio aos atuais problemas da Aviação Civil. Para um Código que esteve em estudos por oito anos, de 1930 a 1938, ele nasceu velho, pois as condições de quando começou a ser elaborado, praticamente sem aviação comercial brasileira, haviam mudado substancialmente em 1938, quando as empresas serviam todo o País. Daí ter ficado obsoleto, já no início do Ministério da Aeronáutic~.

451


CAPÍTULO 8

SUBVENÇÕES, AUXÍLIOS E INCENTIVOS

1 -

Direitos Aduaneiros

MBORA já houvesse um acentuado movimento na Aviação Civil, o . Governo, ?ão parecia. preocupar-se ~om esse ~~to, ~ão. elaborand? . umapolIuca no senudo de proporcIOnar auxIlIo prInCIpalmente a aviação desportiva. Tentou, em vão, subvencionar a aviação comercial, mas mesmo aí faltava unidade de programação, um sentido prático. Por isso mesmo, ressalvados os poucos auxílios ministrados ao Aero Club Brasileiro, uma isenção quase inexpressiva de direitos de importação, a década 1920-1930 não foi fértil para a Aviação Cjvil. Aí surge a quéStão sobre se esse aparente desinteresse r~sultava da falta de entidades a auxiliar, ou se as novas entidades não surgiam por falta desse substancioso auxílro. O próprio .fato de crescer o número de diletantes da aviação já fazia prever que as entidades que os congregavam não podiam fortalecer-se sem o apoio governamental, que aliás foi dado em grande escala PC! todos os países europeus. Com à criação do Departamento de Aeronáutica Civil, adotou-se a política de atacar várias frentes ao mesmo tempo, como a implantação de linhas no interior, a construção de campos, a melhoria da legislação e o estímulo à criação de entidades desportivas, situações quase todas dependentes de subvencionamento e subsídios. Na ocasião, valeu a circunstância já acentuada de não estar funcionando o Congresso, porque os auxílios dependiam de lei e a lei, de .uma tramitação demorada. Estando ainda vigente o Governo Provisório, muitas das medidasneces-

E

452


sanas puderam ser prontamente adotadas. A única observação que se pode fazer àquela política está na sua falta de programação, porque prevalecia o casuísmo, quando se fazia mister um planejamento de conjunto, a fim de nada se perder. Desde 1927 havia linhas comerciais em exploração, mantidas com dificuldades pelas empresas brasileiras que não tinham retaguarda financeira no exterior. Urgia estabelecer um critério para dispensar o paga- . mento dos excessivos direitos aduaneiros e outro para permitir que alguém assumisse a exploração das linhas do interior. Quanto a estas linhas, o assunto ficou resolvido nos três primeiros anos de vida do Departamento de Aeronáutica Civil. Quanto à questão aduaneira, o Governo Provisório editou o Decreto n.o 21.760, de 23 de agosto de 1932, que veio a reduzir os impostos de importação de gasolina e óleo, favores que se destinavam tanto às companhias de transporte, como às particulares, embora pareça estranha a indusão dessas últimas. Na verdade, o decreto concedia 30% de descontos, mas impunha contraprestações: a -

manter linha regular de transporte aéreo;

b -

conceder abatimento de 50% nas passagens dos servidores civis e militares;

c -

localizar os depósitos em área designada pelo Inspetor da Alfândega, e manter escrita de entrada e saída dos combustíveis importados.

Essas condições só podiam ser cumpridas por quem explorasse . linhas, ou seja, as companhias de transporte aéreo. Por isso mesmo é que se torna estranho que o decreto tivesse como destinatários também os particulares, uma vez que não podiam dar nada em troca dos favores aduaneiros recebidos. Uma circunstâncla interessante eStava nos termos do decreto: só mencionava os direitos aduaneiros, mas esse fato tem explicação, já que a Constituição em vigor ainda não atribuía à União a cobrança do imposto de consumo ; Só a partir de 1937 esse imposto foi transferido da órbita estadual para a federal. Esse regime prevaleceu até 1938, quando o Presidente da República expediu o Decreto-lei n.O 300, de 24 de fevereiro, isentando integralmente os direitos de importação. Agora a isenção abrangia aeronaves montadas e desmontadas, peças e acessórios, material para sinalização de aeródromos e montagem de oficinas. Esses benefícios trouxeram muita ajuda às empresas brasileiras, principalmente às ainda sem situação consolidada, e proporcionaram o desenvolvimento de oficinas de manutenção. 453


2 -

Aeroclubes, Escolas Civis e Clubes de Planadores

Antes da criação do D.A.C., os órgãos do M.V.O.P. mostraram-se sensíveis aos problemas da aviação desportiva. Os auxílios que tentaram dar à aviação comercial não tinham senão o objetivo de interiorizar o transporte aéreo; aquele interesse em desenvolver a aviação desportiva, então comum em todos os países, e que proporcionava uma elite de aviadores, esse não existia. Em 1934, o Governo Provisório concedeu uma subvenção de cento e vinte contos de réis ao Aeroc1ube do Brasil, já então ·enfrentando grandes dificuldades para sobreviver. Como havia saldo na dotação orçamentária, havia lugar para o auxílio ao plano de obras da entidade. Mas essas iniciativas não obedeciam a um planejamento, nem tinham continuidade. Vale ressaltar que eram precedidas de consideranda que faziam . crer no reconhecimento da necessidade de estabelecer a política definitiva de auxílio, mas não saía . disso: ( ... ) considerando que a aviação desportiva, reserva da aviação militar, necessita de recursos urgentes e que só o Governo Federal pode concedê-los; considerando que todos os países subvencionam os seus aeroclubes ( ... ) Por que não fazer do auxílio isolado uma sistemática que levasse o Aeroclube .a continuar tudo aquilo· que de bom reconheciam nele? Somente no seu oitavo ano de vida foi que o D.A.C. acordou para o problema. Para isso deve ter contribuído muito o reflexo vindo da Europa, já vivendo em clima de pré-guerra. Até então o Brasil só contava com o esforço dos abnegados l que criavam e mantinham pequenos aeroclubes a duras penas. Para o Governo, só havia duas entidades dignas de amparo: o Aeroclube do Brasil e o de São Paulo. No entanto, já existiam em funcionamento cerca de cinqüenta aeroclubes espalhados pelo País, notadamente em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Finalmente, por iniciativa do Departamento de AerOnáutica Civil, tardia mas nem por isso desmerecida, o Orçamento Geral da União para 1938 destinou a dotação de , 1.500:000$000 (mil e quinhentos contos de réis), para subvencionamento de aeroclubes, escolas de aviação civil e clubes de planadores. O ano de 1938 constituiu um marco para a aviação desportiva, pois até os governos estaduais passaram a tomar conhecimento do problema e ajudar diretamente as entidades em seu território. Nesse ano que marcou a nova política de auxílio aos aeroclubes, foram comprados dezesseis aviões e dois planadores. 454


Em 1939, ainda dentro dessa política, o Ministério da Viação e Obras Públicas adquiriu inúmeros aviões para diversas daquelas entidades. Até então, ainda que se considerem os passos dados na consecução de uma política homogênea para ajudar os aeroclubes, ela carecia de substância, isto é, fazia apenas concessões paliativas dentro de um orçamento apertado, que pretendia atender a muitos setores simultaneamente. Entretanto, no último dia da década de ' 30, o Presidente da República assinou o Decreto-leLn." 2.935, que se constituiu no ponto alto da polítiCa de auxílio e jamais veio a ter repetição. Foi a autorização dada ao Banco do Brasil para abrir um crédito de 4.200:000$000 (quatro mil e duzentos contos de réis), para a Companhia Nacional de Navegação Aérea construir cem aviões de treinamento para o Aeroclube do Brasil. Esse foi o fecho de ouro da década. 3 -

Aeroclubes Criados na Década

1932 -

Aero Clube do Paraná;

1936

Aero Clube de Santos e Aero Clube Minas Gerais;

1937

Aero Clube do Pará, Aero Clube de Limeira, Aero Clube de Santa Catarina;

1938 -

Aero Clube da Bahia, Aero Clube de Juiz de Fora, Aero Clube de Joinville, Aero Clube do Rio Grande do Sul, Aero Clube de Santa Maria e Aero Clube de Piracicaba;'

1939 -

Aero Clube de Barretos, Aero Clube de Bauru, Aero Clube de Campinas, Aero Clube da Cidade do Rio Grande, Aero Clube de Cruz Alta, Aero Clube do Espírito Santo, Aero Clube de Franca, Aero Clube de Livramento, Aero Clube de Pelotas, Aero Clube de Pindainonhangaba, Aerb Clube de Presidente Prudente, Aero Clube de Ribeirão Preto, Aere Clube de Rio Claro, Aero Clube de Sergipe e Aero Clube de Uruguaiana;

1940 -

Aero Clube de Alegrete, Aero Clube de Alagoas, Aero Clube do Amazonas, Aero Clube de Bagé, Aero Clube de Barbacena, Aero Clube de Bragança Paulista, Aero Clube de Campina Grande, Aero Clube de Carazinho, Aero Clube de Catanduva, Aero' Clube de Guaratinguetá, Aero Clube de Ijuí, Aero Clube de Jaguarão, Aero Clube de Londrina, Aero Clube de Marília, Aero Clube de Montenegro, Aero Clube da Paraíba. Aero Clube de Passo Fundo, Aero Clube de Pernambuco , Aero Clube de Piauí, Aero Clube de Santa Cruz do Sul e Aero Clube de São José dos Campos. 455


CAPíTULO 9

A CONSOLIDAÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA TERRESTRE

1 -

A Importância do D.A.C.

O fim da década de 20, pouco se falava em aérodromos terrestres, porque a infra-estrutura era quase toda aquática. É verdade que no litoral ela era mista, havendo muitos aeródromos terrestres. Mas no interior do País eram poucos esses aeródromos. Ainda no ano de 1930, o Ministério da Viação e Obras Públicas regulamentou o estabelecimento de aeródromos públicos para hidroaviões, e uma portaria discriminou quais eram esses aeródromos. Porém, nenhum ato regulamentava a construção de aeródromos terrestres. Ressalvados os dispositivos dos decretos sobre a Aviação Civil, apenas normativos, a construção dessa infra-estrutura carecia de regras. O problema da infra-estrutura terrestre só surgiu mesmo com a criação do Departamento de Aeronáutica Civil, em 1931, cuja Divisão de Operações cuidava de aeronaves, aeronautas e campos de pouso. A ação do Departamento intensificou-se com o aperfeiçoamento da legis" lação, até então a cargo do Regulamento de 1925. Com a abertura de concorrências públicas para exploração de linhas aéreas no interior do País, tornou-se imperativo dotar de infra-estrutura as localidades previstas nas rotas. O Departamento atacou simultaneamente diversas frentes e sua ação desenvolveu-se de tal maneira que, em 1936, a Comissão Fiscal de Obras de Aeroportos foi transformada em Divisão de Aeroportos, recebendo todo o acervo de pessoal e material daquela Comissão. Por outro lado, em 1937, com a divisão do território brasileiro em nove

A

456


reg1oes, procedeu-se à descentralização dos serviços, o que permitiu dinamizá-los e assegurar a necessária eficiência. Os engenheiros em serviço nessas regiões tinham, entre seus numerosos misteres, os seguintes: escolha do local do campo, reconhecimento do terreno, legalização das áreas e estabelecimento de zonas de proteção, construção do campo, sinalização e balizamento. Nas locãlidades do interior, recorria-se à contratação de mão-deobra, dentro dos preços básicos fixados pela Divisão de Aeroportos, devendo os trabalhos obedecer a programações e planifica:ções. O regulamento para os Serviços Aeronáuticos Civis, de 1932, estabelecera algumas regras para a construção de aeródromos: aprovação do local e das plantas, 'especificações e orçamento; restrição quanto ao número na mesma localidade (a exceção só poderia resultar de exigência do tráfego); reserva de áreas para os serviços federais; prazo variável em função do investimento, com cláusula de reversão ao domínio da União, ao término da concessão.

o Regulamento procurara, assim, racionalizar as construções e evitar o esforço concorrente e improfícuo. Ao submetê-lo à apreciação do Presidente da República. seus autores fizeram constar na Exposição de Motivos: São le ver as dificuldades de toda sorte que a topografia do nosso território apresenta à implantação das bases para o pouso das aeronaves; a impossibilidade em que se encontram a União e os Estados de acudir financeiramente ao estabelecimento de aeroportos etrl todos os pontos em que se tornam necessários e, finalmente, a escassez de capitais e a relativa confiança que, por enquanto, inspiram esses empreendimentos - o que tudo exige a adoção dé um regime adaptável às circunstâncias que se apresentarem e que ,assegure na medida do possível natural desenvolvime1Jto das linhas aéreas e a remuneração dos capitais sem envolver a responsabilidade da União .

2 -

A Iniciativa Privada

o pensamento da época era confiar a construção à iniciativa privada e aos Estados da União, mediante concessões, no pressuposto de que os investimentos seriam cobertos pela cobrança de tarifas e sobre457


tarifas. Mas cedo esse propósito revelou-se utópico, não só porque a iniciativa privada não tinha como aplicar dinheiro no empreendimento, cujas perspectivas não eram confiáveis, mas também porque as tarifas jamais cobririam os custos. O problema teria de ficar adstrito aos recursos da União. Esse fato veio demonstrar quão de esforço desenvolveu o Departamento de Aeronáutica Civil para dotar o País de uma rede de aeródromos terrestres, dentro dos seus parcos recursos orçamentários. Com a construção desses aeródromos no interior, tornou-se possível a abertura de concorrência ptiblica para escolha dos concessionários das linhas. À medida em que esses campos de pouso se foram tornando praticáveis, as linhas foram estendendo-se para o interior de Mato Grosso, Goiás e Acre. 3 -

Os Aeródromos na Região Sul

Já havia, porém, uma rede de aeródromos terrestres no Estado do Rio Grande do Sul, que era operada pela VARIG. Em 1933, com a praticabilidade dos aeródromos do interior de São Paulo, Mato Grosso e Território do Acre, pelo Departamento de Aeronáutica Civil, o Governo deu início ao trabalho de prover com transporte aéreo esses Estados. A Linha Amazônica, cuja rota seguia o curso do rio, continuava operada pelos hidroaviões. Apesar de os recursos serem limitados, porque dependiam do Orçamento Geral da União, o Departamento de Aeronáutica Civil não esmorecia, àtacando diversas obras ao mesmo tempo, para evitar que as dotações caducassem. Em 1936, além das obras do Aeroporto do

Fig. 146 -

458

Aeroporto de Congonhas. em construção.


Rio de Janeiro, a cargo do Governo, e das obras do Aeroporto para dirigíveis, objeto de contrato com a Luftschiffbau Zeppelin, estavam em andamento as dos Aeroportos do Ceará e de Santos, no Estado de São Paulo, onde o Aeroporto de Congonhas já funcionava, nele operando a VASP, na linha São Paulo-Rio de Janeiro. 4 -

As Primeiras Normas sobre Aeroportos

Entretanto, somente em 1937, o Departamento de Aeronáutica Civil veio a elaborar um regulamento que estabelecia a zona de proteção dos aeroportos (Dec. n.o 1.439), As considerações para adoção do regulamento já eram coetâneas do surgimento da aviação; tardia era apenas a sua invocação: Considerando que. o tráfego aéreo exige condições favoráveis ao pouso e à partida das aeronaves ( ... ); Considerando que a presença de obstáculos nas proximidades dos aeroportos restringe praticamente as dimensões reais destes ( ... )

Ao lado de sumas preocupações com as obras, com a perfeição de realizá-las, com o empenho de cumprir bem sua missão, o Departamento também tinha preocupações mínimas, que hoje até podem provocar risos. Algumas delas aparecem, por exemplo, na Portaria n.o 41, de 18 de fevereiro de 1937, que estabelecia normas a serem' observadas pelos Engenheiros Encarregados de Região: 1 em princípio deve haver em cada campo de pouso, permanentemente) um trabalhador que saiba ler e escrever e que ficará incumbido de manter em bom estado de conservação o campo;

2 - esse trabalhador) que será o guarda do campo) deverá executar os seguintes serviços: a) capina e limpa; b) corte da grama; c) destruição de cupins; d) extinção de buracos de tptu; e) destruição de formigueiros; f) repregação de cercas; g) substituição de moirões; h) caiação de cercas,' 459


i) nivelamento de trilhas;

j) conservação de biruta;

k) caiação de sinais. Deverá também esse trabalhador fazer os seguintes serviços de fiscalização: a) impedir travessias; b) impedir pastoreiros,· c) conservar a porteira trancada,· d) fazer observações de vento,· e) fazer observações de nuvens,· f) fazer registro de aviões,· g) notificar ocorrências,· h) escriturar material: 1. entrado 2. gasto ou empregado i) manter o ponto do pessoal em dia. (; .. )

Em 1939, o Diretor do Departamento aprovou instruções para os levantamentos topográficos dos terrenos destinados a aeroportos, outro ato bem atrasado, em relação ao andamento das obras em inúmeras localidades brasileiras. Esses levantamentos tinham duas finalidades: estudos preliminares e escolha do terreno, e projeção e execução. O problema do abastecimento de aeronaves nos aeroportos era complexo e suscitava muita reclamação quanto ao perigo que representava. O combustível era transportado pelas ruas da cidade até os campos de pouso, onde era despejado nos depósitos que, por sua vez, ficavam sujeitos a riscos. Partindo da necessidade de evitá-los, o Departamento de Aeronáutica Civil propôs ao Presidente da República um projeto, que se transformou no Decreto-lei n.O 1.624, de 23 de setembro de 1939, permitindo a instalação de tanques subterrâneos, com bombas para abastecimento direto de aeronaves. Com essa finalidade foram assinados muitos contratos com as companhias petrolíferas que funcionavam no País e 'esse regime vigorou até a adoção do sistema de abastecimento direto por caminhões-tanques. Um outro passo tomado pelo Departamento foi a expedição do Regulamento para os Aeroportos em Tráfego (Portaria n.o 16, de 24 de janeiro de 1940), que criou a figurado Administrador de Aeroporto. 460


o Departamento de Aeronáutica Civil entregara-se à febril atIvIdade na construção de aeródromos terrestres, desde a sua criação em 1931. Entretanto, decorridos dez anos, com dezenas deles já em funcionamento, não havia nenhum ato disciplinando o nome que deveriam adotar. Havia; porém, um consentimento tácito no sentido de que o nome seria o da respectiva localização. Mas, já em 1936, três deles haviam sido excepcionados daquele entendimento, porque o Decreto n.o 1.150, de 16 de outubro, atribuiu aos Aeroportos do Rio de Janeiro, de Santa Cruz (Dirigíveis) e Recife os nomes, respectivamente, de Santos-Dumont, Bartolomeu de Gusmão e Augusto Severo, num preito a esses {(vultos de inconfundível relevo na história da aeronáutica brasileira que, pelo seu valor, muito honraram sua terra natal, bem merecendo ter seus nomes ligados aos primeiros aeroportos modernos que se constroem no Brasil", como se expressou o ato oficial. Mas o problema da denominação dos aeródromos não era uma questão tão simples que ficasse solucionada com a adoção do n~me da localização. Nas regiões metropolitanas, podia haver mais de um. Uma localidade inexpressiva poderia ter outro a serviço de uma localidade expressiva, de modo que, atentando para essas peculiaridades, o Det:reto-Iei D.o 2.271, de 3 de junho de 1940, tentou disciplinar a luatéria: Considerando que a fixação clara e precisa dos sítios onde estão_.localizados os aeroportos -é um elemento de segurança para a nav~gação aérea; Considerando a circunstância de que uma denominação que não indique imediatamente a situação do terreno de pouso pode tornar-se motivo de dúvida e erro, com resultados imprevistos de danos pessoais e materiais; Considerando ser de toda necessidade o estabelecimento de normas uniformes para a determinação -dos aeroportos; Considerando a conveniênCia de que essa determinação cor~ responda à denominação das próprias cidades, vilas ou povoados em -que se encontrem instalados os aeroportos e aeródromos, decreta: Art. 1.° Os aeroportos deverão ter a denominação das próprias cidades, vilas ou povoados em que se encontrem, declarandose a posição norte, sul, leste ou oeste, quando houver mais de um na localidade. Parágrafo único. Excluem-se -dessa disposição os aeroportos federais Santos-Dumont e Bartholomeu de Gusmão, do Rio de Jane~ro, pela significação excepcional que têm, de homenagem aos dois brasileiros que lhes dão os nomes; e os aeródromos, que poderão ter outra denominação, aprovada previamente pelo Departamento de Aeronáutica Civil. 461


Art. 2. 0 Fica instituído o registro obrigatório de aeroportos e aeródromos) a cargo do Departamento de Aeronáutica Civil. É interes~ante aqui notar que, nos termos da lei, o aeroporto de Recife -perdia o nome de Augusto Severo. A dinâmica política de construção de aeródromos, levada a cabo pelo Departamento de Aeronáutica Civil, comprovou sua eficiência de modo cabal. Ao tempo da passagem do Departamento para o Ministério da Aeroriáutica, os aeródromos em · tráfego permitiam circundar o País: saindo-se do Rio de Janeiro, pelo oeste e pelo leste, as aeronaves · podiam encontrar-se no Acre, sem contar as ligações para o sul, a rede dentro do · Estado de São Paulo e dentro do Estado do Rio Grande do Sul. Na ocasião, o hidroavião só não constituía uma velharia porque era imprescindível à rede amazônica.

462


CAPÍTULO 10

O SISTEMA DE REGISTRO AERONÁUTICO

1 -

A Instituição do Registro

MA das peças mais importantes da Aviação Civil é o Sistema do Registro Aeronáutico, que nela exerce o mesmo papel do Registro Imobiliário. O Registro foi instituído pela Convenção de Paris de 1919, em um de seus anexos. Conquanto o Brasil dela tenha feito parte, jamais a ratificou e promulgou . Apesar disso , adotou muitos de seus princípios, como a soberania do espaço aéreo e, principalmente, a nacionalidade única para as aeronaves. Os Estados comprometeram-se a observar esse princípio e criaram seus próprios registros, intercomunicantes, no sentido da preservação de uma participação em relação a outra. Antes da Convenção de Paris. a França tinha seu registro, denominado Bureau Veritas, criado há mais de um século. Nele eram inscritas, originalmente, as embarcações e os registros destas eram universalmen te reconhecidos. Depois da Convenção de Varsóvia, não havia mais razão para que o Bureau enfeixasse as atribuições duplas, com relação a navios e a: aeronaves. Mas, somente em 1930, um decreto do governo fráncês ainda encarregou o Bureau da emissão de certificados de navegabilidade e documentos de bordo de aeronave. O Bureau, conquanto não fosse uma entidade oficial, mantinha estreitas relações com o Governo, gozando do status de repartição pública. A confiança que inspirava o Bureauera tanta que todos os países recorriam a ele, para certificação de qualquer propriedade. Tanto

U

463


os países que tinham registro próprio quanto os que não o tinham valiam-se do Bureau, que fornecia todas as informações necessárias, orientando todos quantos quisessem saber o que ocorria com determinada propriedade, o que era facilitado também por publicações, espécie de anuários que divulgavam todos os dados relativos a aeronaves. No Brasil, também existia um registro de embarcações, instituído pelo Código Comercial de 1850, o qual determinava que os navios fossem registrados no Tribunal do Comércio, prática que vigorou por muito tempo e foi substituída 'pelo registro nas Capitanias dos Portos. Esse registro marítimo balizou o registro de aeronaves que se fazia na Inspetoria Federal de Navegação, mesmo porque, estando aeronaves e navios sob jurisdição daquele órgão, era óbvio que adotasse as . regras extraídas do registro mais antigo. 2 -

Os Primeiros Registros

Quando trafegavam no Brasil apenas aeronaves de desporto, não esta'ndo ainda implantada a aviação comercial, a navegação aérea foi confiada à Inspetoria Federal de Navegação Marítima e Fluvial, que por isso perdeu a adjetivação de seu nome, para ficar mais abrangente. O regulamento novo atribuía ao Inspetor de Navegação a competência para visar os títulos de matrícula de aeronaves, pilotos, mecânicos e concessionárias. Mas o estranho é que em nenhuma passagem existia qualquer disposição criando o registro que parecia estar sendo chamado de Regístro de Matrícula. Estava consignada a atribuição de visar, mas, onde o título visado era arquivado ou inscrito, não se sabe. Não é crível que a matrícula se fizesse onde se efetuava a de navios, porque estes só eram inscritos quando mercantes, o que, por analogia, poderia levar à conclusão de que as aeronaves mercantes eram também inscritas no Tribunal do Comércio. Mas tudo isso são meras suposições. A primeira vez que aparece o registro de aeronaves, tal como conseguiu varar os tempos e chegar até nós, foi em 1925, quando o Art. 11 do Regulamento par~ os Serviços Civis de Navegação Aérea estabeleceu:

o termo de matrícula será inscrito em livro especial, que se denominará Registro de Matrícula de Aeronaves. Como não havia repartição específica encarregada dos assuntos de aviação, o Regulamento dispunha que a matrícula seria efetuada na repartição competente. Também foi nesse Regulamento que se estabeleceram os princípios básicos do sistema de registro resultante da Convenção de Paris: 464


1.0 -

a aeronave tem a nacionalidade do Estado em cujo registro estiver inscrita;

2 .°

só pode ser inscrita nesse registro aeronave privada de pessoa física brasileira ou de pessoa jurídica constituída no Brasil, com sede no País, gerência nacional e um terço de capital em mãos de brasileiros; .

3.°

a inscrição nesse registro acarreta a perda automática da matrícula anterior;

4.° -

qualquer ato ou fato jurídico alterado da situação jurídica da aeronave deve ser transcrito no registro;

5.°

o registro é público e qualquer do povo pode obter certidão do que nele conste.

Essas instruções foram reformuladas ainda sob a supervisão 'da Inspetoria em 1926, abrangendo somente a parte sobre pilotos, ocasião em que foram criadas estas categorias de cartas: Piloto de avião de recreio ou desporto ; Piloto de avião mercante; Piloto de balão livre; Piloto de dirigível de 3.a classe; Piloto de dirigível de 2.a classe; Piloto de dirigível · de 1.a classe; Navegador; Mecânico; Radiotelegrafista.

3 -

Primeiras Instruções para Matrículas de Aeronaves

As primeiras instruções para a matrícula de aeronaves foram feitas por uma Portaria de 1932, por inspiração do Departamento de Aeronáutica Civil. Parece que se tratava de ato ainda rudimentar , dada a existência de poucas aeronaves brasileiras. Mas, em 1937 , o Ministro da Viação baixou novas e completas instruções pela Portaria n.o 331 , de 25 de junho. Ficaram sistematizadas as marcas de nacionalidade e de inatrÍcula formada por letras maiúsculas, de caracteres romanos , compostos de dois grupos: um de nacionalidade, identificado pelas letras PP, atribuídas internacionalmente ao Brasil , e outro de três letras, com ex465


clusão de 50S (código de socorro), XXX (sinal de urgência), PAN (sinal de urgência radioelétrica), TTT (sinal de segurança), e combinações , onde W apareceria como segunda letra. Na distribuição das combinações para as aeronaves civis brasileiras, ficaram reservadas: PP-FAA até PP~FZZ para as federais, PP-EAA até PP-EZZ para as estaduais, e PP-MAAaté PP-MZZ para as municipais. Essas disposições vigorariam até 1950, quando 'portaria do Ministro da Aeronáutica viria revogá-las. Mas O ato que instituiu o registro com o nome de Registro Aeronáutico Brasileiro foi o Regulamento para os Serviços Aéreos Civis, de 1932, no art~ 21 do Decreto n.o 20.914, de 6 de janeiro de 1932 . Esse Regulamento manteve aqueles princípios já referidos e acrescentou estes: proibição' de permanecer a aeronave no País, sem estar matriculada; localização da matrícula no Departamento de Aeronáutica Civil; perda da nacionalidade brasileira, quando a aeronave for matriculada em outro país; obrigatoriedade de averbação das transferênCias de propriedade e de todos os atos de constituição, alteração ou renúncia de direitos reais sobre elas.

o Código Brasileiro do Ar, instituído pelo Decreto-lei n. o 483 , de 8 de junho de 1938, em nada alterou o sistema do registro, limitando-se' a repetir a legislação anterior, no tocante à nacionalidade e à obrigatoriedade de marcas identificadoras nas aeronaves, permanecendo os princípios básicos, comuns a todas as legislações aeronáuticas brasileiras, valendo até os dias de hoje.

466


CAPíTULO 11

A MULHER NA AVIAÇÃO CIVIL

1 -

Tereza de Marzo

UANDO a mulher se .decide a preterir as funções domésticas ·pela atividade fora do lar, quase sempre consegue destacar-se, elevando-se além do nível de boa profissional. Mas quando ela se dedica a uma atividade inusitada para a época, essa ascensão mais se acentua. E, finalmente, quando ela não está sozinha nesse campo -inusitado, sempre ocorre o problema da precedência: qual a primeira a voar? qual a primeira a voar só? qual a primeira a ser brevetada? e assim por diante, Escrevem-se laudas e mais laudas para argumentar num sentido ou noutro, mas no final os méritos sobrelevantes de uma sobre a outra pouco alteram a glória alcançada. Isso acontece na Aviação Civil, onde surgem três estrelas, cada uma disputando primazias, mas encontrando-se todas aureoladas pela opinião pública: Essas três estrelas do firmamento aviatório, mesmo que se releguem as posições defendidas, são todas grandes, com o mesmo mérito, que consiste não em brilhar individualmente, mas em engrandecer o País. A emulação só serve para mantê-las em evidência, não desmerecendo nenhuma, mesmo porque não é caso de somar feitos apenas, nem de aparecer no noticiário. O que existe numericamente num caso é contrabalançado pela qualidade no outro, mas tudo de primeira grandeza. . Tereza de Marzo nasceu em São Paulo, filha de industrial, e muito cedo apaixonou-se pela Aviação. Tratava-se de uma aspira~ão surpreendente para a época, pois ainda predominavam aqueles vetustos princí-

Q

467


pios de que o lugar de mulher era no lar. Poucas as que ousavam exercer profissão fora de casa. Ainda não haviam surgido os primeiros sinais em prol da emancipação feminina, e esse papel da mulher fora do lar era criticado. Como é natural, jamais ela poderia praticar a pilotagem sem contar com o beneplácito dos pais, a menos que assumisse a atitude drás tica de sair de casa. O pai era radicalmente contrário à sua pretensão. Entretanto, ardilosamente, trabalhou a concordância materna, sempre mais fácil de conseguir, embora as mães, nesse particular de profissão de filhos, hesitem entre fazer-lhes a vontade e preservar seu temor pelo perigo que a atividade possa representar. Vencida a resistência materna, abriu-se caminho para a concordância paterna e, assim, pôde iniciar seu aprendizado com os irmãos Robba. Quando estes emigra· ram para o interior do Estado, ela encontrou Fritz Roesler, que era outro fanático da aviação, como ela. Com apenas vinte e poucas horas de treinamento, habilitou-se perante a Banca Examinadora do Aero Club Brasileiro, tendo sido aprovada com distinção. No dia 8 de abril de 1922, recebeu o brevê da Federação Aeronáutica Internacional.

Fig. 147 -

Teresa de Marzo com Fritz RoesTer.

Mas aconteceu o imprevisto, aquela circunstância não-imaginada e que corta as carreiras mais promissoras. Voando sob a orientação de Fritz Roesler, colocaram-se ambos mais ao alcance de Eros, que não 468


demorou a atingi-los com sua seta. E, como nos · finais das histórias de fadas, casaram-se. Muito grande deve ter sido a colaboração do casal na divulgação das alegrias da Aviação Civil, mesmo porque Tereza de Marzo aliava a sua habilidade de aviadora a um perfeito trabalho de publicitária. Num avulso existente no Museu Aeroespacial, lê-se: Depois de magnífico exame em que foi aprovada com distinção, por vários anos puderam paulistas e brasileiros ver nos céus de nossa terra a Condor dos Ares, que apregoava a todas as mulheres uma mensagem luminosa e sublime de valor e coragem. Inaugurou um novo capítulo na história brasileira. Ninguém jamais esquecerá o São Paulo, um minúsculo Caudron, incipiente como era a própria aviação, tripulado por uma intrépida jovem que ainda hoje é o símbolo da mulher brasileira.

2 -

Anésia Pinheiro Machado

Se Tereza de Marzo foi a primeira brasileira a receber um brevê, a aviação civil feminina atingiu seu ponto culminante na pessoa de Anésia Pinheiro Machado que, abandonando seus estudos de Farmacologia, se dedicou à aviação ainda antes de Tereza, por influência do piloto da Força Pública do Paraná, João Busse, com quem chegou a voar algumas vezes. Foi titular do Brevê n.O 77, da F.A.L, obtido em 9 de abril de 1922. Tereza de Marzo recebera o seu na véspera desse dia, pois, fortuitamente, a Comissão do Aero Club Brasileiro que, à chegada em São Paulo, fora recepcionada por Tereza, decidiu examinála antes de Anésia. Em face dos méritos inegáveis de ambas, seria possível a emulação das duas aviadoras, não fosse o casamento de Teresa, pois, pelos seus primeiros passos, tudo prenunciava grandes feitos que a vida caseira veio interromper. O currículo, muito divulgado, de Anésia Pinheiro Machado alinha títulos que são deveras impressionantes pelo seu pioneirismo, e através do qual se vê quão espantosa tem sido a vida de Anésia: Primeira raidwooman brasileira; Primeira aviadora a conduzir passageiro; Primeira a realizar vôos de acrobacia; Primeira a realizar vôos interestaduais (vôo de comemoração do Centenário da Independência, entre Rio e São Paulo); Primeira repórter aeronáutica; Primeira a realizar vôo transcontinental; Primeira a prestar exame para piloto comercial 469


Esse vôo comemorativo do nosso Centenário da Independência foi considerado uma notável proeza para a época, dada a precariedade com que foi realizado, sem conhecimento específico das condições meteorológicas na rota, mesmo porque a meteorologia dava os seus primeiros passos entre nós. Essa proeza foi consagrada por SantosDumont, como atesta este bilhete do Pai da Aviação àquela intrépida aviadora: Rio, 9 setembro 1922 Senhorita Anesia Pinheiro Machado Minhas mais sinceras felicitações pelo seu lindo vôo São Paulo-Rio, commemorando sportiva e audaciosamente o centenário da nossa Independência. Junto envio-lhe uma medalha egual a que me acompanha sempre. Homenagens de Santos-Dumont.

Também a Prefeitura do Rio de Janeiro concedeu um prêmio a Anésia, homenageando-a pelo feito. Além daquela precedência de que se orgulha, Anésia Pinheiro Machado, conquanto não o proclame, pode ser considerada a mulher brasileira mais condecorada. Além de integrante da Ordern Nacional do Mérito, possui as medalhas nacionais: Atlântico Sul, Guerra, Méríto Aeronáutico, Mérito Naval, Mérito Militar, Mérito Santos-Dumont, Mérito Rio Branco, Almirante Tamandaré, Pacificador, Caetano de Faria, Marechal Hermes, Souza Aguiar, Imperatriz Leopoldina, Marechal Rondon, José Bonifácio, Couto Magalhães, Movimento Constitucionalista, Mérito Cívico do Estado de São Paulo; e as estrangeiras: Arriélia Earhat, Aeronáutica (França), Cruz Peruana; integra também a Ordem do Mérito Bernardo O'Higgins e a Ordem Nacional del Mérito (Paraguai). Anésia foi ainda Instrutora de Link Trainer, Instrutora das Forças Armadas, sócia honorária de diversas instituições estrangeiras, sócia efetiva de muitas instituições americanas, Cidadã Honorária Carioca, Paulistana, do Estado de Missouri, de Salissaw, de Keokuk, de Baton Rouge, e possui o Diploma Paul Tissandier, outorgado pela FAI. Esse último título tem esta justificativa: Doyenne des aviatrices du monde, pratiquant encore comme pilote et consacrant sa vie à I' avancement de I' aviation sportive et privé au Brésil.

Mas a consagração de Anésia não é apenas como aviadora, embora isso, por si só, já constitua um título de grandeza. Além de propagadora das coisas brasileiras e, principalmente, da precedência de 470


Santos-Dumont, também sua audácia de aviadora chegou até os Estados Unidos da América: no National Air and Space Museum, em Washington (D.C.), considerado o maior sobre a história da aviação, organizou uma solenidade em defesa da história do Pai da Aviação, oportunidade em que fez diversas doações à instituição, como: maque te em miniatura do 14 Bis, reprodução do monumento dedicado a Santos-Dumont no Bois de Bologne (que, aliás, foi danificado pelos alemães na Segunda Guerra Mundial) , quadros e objetos. Tudo isso foi levado a efeito lá onde a contestação ao feito de Santos-Dumont sempre obedeceu a injunções da política nacionalista. Os feitos de Anésia estão cantados e decantados em várias obras nacionais e estrangeiras, especializadas ou não em aviação, como: O perfil da mulher brasileira, de A. Austregésilo; Precursoras brasileiras, de Barros Vidal; Janela aberta, de Raimundo Magalhães Júnior; Dicio-

Fig. /48 -

Anésia Pinheiro Machado . .

471


nano Enciclopédico U.T.E.HA.} do México. Seu nome consta airida do W ho} s W ho in Latin America. Naquele museu americano existe uma galeria das mulheres que engrandeceram a aviação e, ao lado de 36 aviadoras igualmente notáveis, figura o nome de Anésia Pinheiro Machado.

3 -

Ada Rogato

É a terceira estrela dessa magnífica constelação que engrandeceu a Aviação Civil. Não tem o currículo de Anésia, não teve as mesmas facilidades desta e de Tereza, que não lutavam com preocupações financeiras, mas sua contribuição para a Aviação Civil não é menor. Muitas vezes os títulos que lhe faltam são supridos pelo exemplo eficiente. Ada nasceu em São Paulo, na capital, filha de imigrantes, dos quais herdou aquela pertinácia, aquela vontade de vencer, aquele amor ao trabalho, pois, também como o sertanejo, o imigrante é antes de tudo um forte. Fez os primeiros estudos no Rio de Janeiro, estudou piano, pintura e desenho, e tudo fazia crer que seria mais uma artista no caminho do progresso, pois seus quadros, conquanto não tivessem sido expostos, sempre mereceram elogios dos professores. Mas o sonho de Ada não era o de todas as moças de então, nem pretendia permanecer presa às lides terrestres. Alimentava um' sonho maior, mais alto, desprender o corpo para a região dos pássaros, elevar-se, enfim, da mediocridade da vida lareira. Voltando a São Paulo,enfrentou a cotidiana luta pela sobrevivência, tendo de prover as necessidades do lar dentro de um orçamento apertado. Mas soube manter essa luta que derrota a maioria, e venceu, conseguindo fazer seu curso de pilotagem, o que não era fácil para a ocupante de um emprego público. Esse sacrifício, por si só, implicando a supressão de muito lazer e muitas comodidades, dá mostra de sua tenacidade. Quando Ada Rogato apareceu no cenário da aviação, no início da década de 1950, parecia não haver mais recordes a superar, pois suas antecessoras já tinham recebido todos os títulos: reides, acrobacias, travessias e títulos de que, até então, só os homens eram portadores. Mas, com sua coragem que é deveras surpreendente, sua técnica desenvolvida, recorreu a outros campos ainda não percorridos pelos aviadores, homens e mulheres. Nenhuma outra mulher brasileira se havia dedicado ao pára-quedismo. Pois foi ela a primeira mulher a obter o título de pára-quedista, sendo portadora do brevê n.°l. Fez cen472


tenas de saltos. Num aniversarIo do Presidente Getúlio Vargas, com o propósito de homenageá-lo, deu um salto noturno dentro d'água, sob a luz de holofotes. Foi a primeira vez que isso ocorreu na história da aviação. Naquele afã de saber tudo, de tudo conhecer, conseguiu licenciar-se nos mais variados tipos de aeronaves, num balanço que muito piloto masculino não exibe: Aeronca, Moth, Muniz-7 e Muniz-9, Bucker (avião para acrobacia), Waco, Stinson, Curtiss, Fairchild, Rearwin, Piper, HB-1, HL-6, Cessna e Taylorcraft. Também lhe cabe a precedência feminina nos vôos de planador, sendo considerada a maior aviadora nesse tipo de vôo. É portadora do também primeiro brevê internacional de vôo a vela feminino na América do Sul. Mas a essas atividades inerentes à vida do piloto quer profissional, quer amador, Ada Rogato aliava o espírito humanitário, dedicando-se ao vôo de crianças acometidas de coqueluche. Também se dedicou à tarefa de difundir a aviação civil, mostrando aos jovens seu exemplo de aviadora bem sucedida. Comprou um avião para uso próprio, batizado com o nome de Brasileirinho, no qual viajou por todo o Brasil, naquela missão sem pioneiro de mostrar aos brasileiros do interior as belezas da aviação, apenas pelo amor à aviação. Percorreu dezenas de cidades do Paraná e de São Paulo, organizando festas a que chamava de Tardes Aeronáuticas, quando se exibia fazendo acrobacias e dando saltos de pára-quedas. Numa dessas façanhas que a celebrizaram, inscreveu-se para uma prova de aterragem de precisão, com seu pequeno avião, um CAP 4 de fabricação nacional. Nesse vôo, parou o motor a uma altura de 500 metros e, com a hélice parada, planou com o aparelho e aterrou no campo, utilizando apenas 150 dos 1.800 metros da pista. Essa proeza valeu-lhe a Taça Brigadeiro Trompowsky, oferecida pelo Aero Club de São Paulo. Ada Rogato não se promovia no sentido de aumentar sua fama, pois tinha sempre um propósito mais alto nas suas façanhas, como o de ajudar necessitados, dar exemplos a quem considerava estar precisando, mostrar o que é a aviação e comprovar a boa qualidade dos aviões feitos no País. Por isso mesmo, gozava de grande popularidade tanto no Brasil quanto no Exterior, principalmente nos países da América do Sul, para onde levou demonstração de sua técnica. Ada também se pode dizer primeira em alguma coisa, pois foi admitida na Ordem do Mérito Aeronáutico antes de qualquer outra aviadora. Foi condecorada com a Ordem de O'Higgins, brevetada como aviadora civil do Paraguai, da Argentina, do Peru, da Venezuela, da 473


Guatemala, possuindo as Asas da Força Aérea Colombiana. Voou por 28 países, levando mensagens -das autoridades brasileiras. Nesses vôos chegou até o Alasca, onde foi recepcionada com entusiasmo. Recebeu, e com razão, o título de Gaivota Solitária) que lhe atribuiu o jornal A Gazeta, de São Paulo.

Fig. 149 -

474

Ada Rogato.


CAPÍTULO 12

PLANADORES -

1 -

CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO

São Paulo toma a Frente

S primeiros anos da década de 30, no setor do vôo a vela, mostra. ram uma predominância indiscutível do Estado de São Paulo. Houve várias experiências com planadores em todo o País, como Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Alagoas e outros estados, mas foi em São Paulo que o volovelismo tomou mais incremento, não só com a organização de grupos e clubes que se dedicavam à prática do esporte, como também já começavam as primeiras tentativas de construção. Os últimos meses de 1931 foram o palco para um vôo de planador por parte de Franz Ronza, que em dezembro, juntamente com o Capitão Ismael Guilherme e Jayme Americano, realizaram vários vôos. Na mesma época, juntaram-se ao grupo chefiado por Ronza mais os senhores Valdo Torres Guilherme, Fernando E. Lee, Alberto Americano, Francisco Micheloti e outros, todos entusiastas do vôo planado e que viriam, algum tempo depois, a fundar o Club Paulista de Planadores, entidade que teve grande relevância na aviação brasileira. Ainda em dezembro de 1931 foi a vez de um grupo de jovens reunirem-se em Santa Maria, centro geográfico do Estado do Rio Grande do Sul, para a prática do volovelismo, utilizando para isto um aparelho primário.

O

2 -

O Grupo Mackenzie de Planadores

Como dissemos em outra parte deste Volume, ao tratar do papel dos estrangeiros na aviação brasileira, o Grupo Mackenzie de Planado475


res foi fundado a 15 de dezembro de 1931 e durante muitos anos liderou as atividades volovelistas em São Paulo. Além da primeira festa de planadores que ocorreu no Campo de Marte, a 21 de março de J.932, e a instrução iniciada em maio, com planadores primários, desenvolveu muitas outras atividades. A 29 de abril de 1933, o Grupo Mackenzie de Planadores foi reorganizado em bases inteiramente novas e adotou o nome pelo qual ficou conhecido daí em diante, Club Mackenzie de Planadores. Naquela data foram apresentados os novos estatutos e foi eleita, por aclamação, a seguinte Diretoria: Presidente - 1.0 Tenente Casemiro Montenegro Filho (comandante da Esquadrilha da 2.a R.M.); Vice-Presidente - Joaquim Lopes de Figueiredo; 1.0 Secretário Adelpha C. S. Rodrigues; 2.° Secretário - Paulo G. Lefevre; Tesoureiro - Manoel A. G. de Soutelo; Diretor Técnico - E. H. Weeden; e Almoxarife - Prof. Clarck. Nesse mesmo ano, 'em agosto, o clube promoveu a Semana da Aviação, que consistiu numa exposição aeronáutica que teve por local a Biblioteca da Escola de Engenharia Mackenzie. Já em janeiro de 1934, o clube tinha quarenta e sete sócios, dos quais vinte e quatro eram alunos já preparados e voando regularmente . Com a fusão, algum tempo depois, com o Aero Club de São Paulo, onde recebeu a denominação Seção Mackenúe de Planadores, o clube entrou num plano descendente, do ponto de vista de atividades volovelistas, pois o Aero Cluh de São Paulo se interessava unicamente pelo vôo a motor; após uns poucos vôos ali realizados, o Aero Club de São Paulo resolveu extinguir o vôo· a vela, continuando tãosomente com o preparo de pilotos de avião.

3 -

O Volovelismo Expande-se

O ano de 1932 foi um dos mais importantes na história do vôo a vela no Brasil. Não obstante a Revolução que eclodiu a 9 de julho em São Paulo, e que fez o País estremecer em suas bases, o desenvolviinento do volovelismo atingiu proporções de vulto em todo o Brasil. No Rio de Janeiro, na Ilha do Viana, Henrique Lage cuidava também de um aparelho sem motor, o Avia ou Avialage. Em uma visita que o redator de aeronáutica da revista Asas fez àquelas instalações, o fato foi constatado e desta forma descrito: ((O Eng. Braconnot, para satisfazer a nossa curiosidade aviatória, nos levou para um recanto escondido das oficinas, onde cuidadosamente se prepara a construção de um planador, avião sem motor. Desenhos espalhados por toda a parte, operários escolhidos dentre os melhores traçavam os gabaritos para o corte das ferragens e para a montagem do avião. O que mais realça o patriótico desinteresse desta iniciativa particular é o destino que vai ter este avião - ele será oferecido gratuitamente ao Exército, para que nossos avíadores militares lancem, no Brasil, o primeiro grupamento de vôo' 476


sem. motor. Este aparelho que o redator de Asas, aspirante Flávio como se assinava, viu nascer, era um planador monoplace, de madeira e externamente coberto com tela. Fez uns poucos vôos e terminou seus ·dias num acidente em que feriu o então major-aviador Henrique Dyott Fon. tenelle. JJ Um grupo de jovens paranaenses, descendentes de alemães, construiu dois planadores tipo Professor, oriundos de um desenho do .famoso Holz der Teufel. Isto ocorreu em Ponta Grossa, em 1932, tendo esse grupo desenvolvido intensa atividade a partir de então. Um terceiro modelo começou a ser construído, mas, por falta de dinheiro, não teve prosseguimento. Como, além da etnia, o interesse pelo volovelismo ligava-os à Alemanha, que expandia enormemente sua frota de veleiros, esta presenteou o grupo de Ponta Grossa com um Grunau Baby, em 1936. Este aparelho continuou voando mesmo depois de o grupo de Ponta Grossa ter-se dissolvido em virtude de suas ligações com a Alemanha, então já em guerra com o Brasil. Os aparelhos Professor eram do tipo de alto rendimento, e possuíam uma envergadura de 16,09 m., pesavam 155 quilos e sua velocidade de descida era de 0,E7 m./seg. Na época, todas as publicações sobre aviação dedicavam boa parte de seu espaço para tratarem do vôo a vela, e seus redatores especializados procuravam incutir a idéia de que o volovelismo era um esporte não só excitante, como também muito barato. Herbert Kuehne, que foi um especialista em planadores, dizia, em 1932, em defesa de seus pontos de vista, que « ••• um planador escola obtém-se por cerca de dois contos de réis, e que um planador de alto rendimento em caso nenhum custará mais que um automóvel Ford". Na época, um Ford 1932, modelo A, custava cerca de cinco a seis contos de réis. Por este preço, podiase encomendar um planador ao Sr. Oscar Regua, no Aero Club de São Paulo, no Edifício Martinelli. A descrição de uma visita às instalações de Lage, na Ilha do Viana, onde se construía um planador para ser doado ao Exército, provocou imediatamente uma observação de um leitor, que, pelo seu interesse, transcrevemos: "Peço permissão para, juntamente a esta, remeter algumas fotografias mostrando que não é somente a Capital da República que tomou esta iniciativa, pois o pequeno · Estado de Alagoas ufana-se em dizer que foi o primeiro a iniciar a construção desses aparelhos, e isto deve-se ao gênio empreendedor e ao civismo dos Srs. Leão & Irmãos, proprietários da Central Leão Utinga, onde o primeiro planador foi construído e já se acha quase em início das experiênciàs. Para dar uma pequena idéia, informo que o aparelho tem 8 metros de comprimento com uma envergadura de asa de 17 metros, tendo comando duplo, o que se prestará admiravelmente para servir de ((professor" àqueles que desejam praticar tão útil e sensacional esporte. Também tenho a informar que todo o material empregado é genuinamente alagoano, com exceção dos esticadores, cabos e fios . Por gentileza dos senhores Dire477


tores da Aéropostale o seu campo e hangar foram cedidos para estas experiências, o que será muito breve e terei imensa satisfação de, quando chegar esta ocasião, remeter algumas fotos." _ No Rio Grande do Sul, igualmente, incrementava-se a construção de ((aviões sem motor", um dos quais estava sendo construído em Porto Alegre pelo jovem Carlos Hansen, ex-aluno da Escola Militar de Aviação, e que, segundo as notícias, deveria ficar pronto até o fim do mês de abril e a3 primeiras experiências seriam feitas em maio. O aparelho era do tipo pára-sol, de "equilíbrio automático em todos os sentidos e que, pondo-se em posição neutra os seus comandos, recupera automaticamente o ângulo de planeio e desce serenamente". Do Estado gaúcho, mais precisamente da cidade de Santa Maria, provinha uma notícia de que não um primeiro, mas um segundo aparelho sem motor já estava sendo construído e até já havia voado, e que tinha recebido o nome de Andorinha. O ano de 1932 veria ainda grandes iniciativas no campo da aviação. Em São Paulo forma-se mais um clube de aviação, que se denominou Bandeirantes. Este clube viria a usar o campo de São Caetano que, depois de reformado, serviu para a aprendizagem dos seus sócios. O Clube Bandeirantes, segundo seus estatutos, daria maior ênfase à aviação sem motor, sem descurar, entretanto, do ensino em aviões .com .motor. Este ano, como dissemos antes, foi marcante para o volovelismo, tanto no Brasil comO no Exterior. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, um grupo de entusiastas fundou o Soaring Society of America (SSA), entidade destinada a congregar todos quantos se interessavam pelo vôo planado, inclusive criando regulamentos, expedindo documentação relativa ao volovelismo, etc. Mas, apesar disto, nunca conseguiu atingir os níveis da Alemanha. Fundada em 1932 a SSA possuía, trinta e cinco anos depois, apenas 8.000 associados, contra 50.000 pilotos licenciados em planador na Alemanha.

4 -

Empreza Aeronautica Ypiranga

Documento dos mais curiosos é o cOntrato da criação da Empreza Aeronautica Ypiranga, Ltda., organização que teve papel dos mais destacados na aviação brasileira e cujo produto que maior .relevo alcançou - o EAY 201 - já foi objeto de extensas considerações neste mesmo Volume. O contrato da EAY previa, em primeiro lugar, a construçao de planadores, seguindo-se-lhes aeroplanos com motor e, até, oportunamente, aviões de guerra. O contrato, firmado a 20 de janeiro de 1932, diz, em suas partes principais: ((Com a denominação de Empreza Aeronautica Ypiranga, Ltda. fica constituída nesta Capital uma sociedade industrial por quotas de responsabilidade limitada, organizada de acordo 478


com. o Decreto n.O 3.708) de 1.° de janeiro de 1929) sendo seus SOCtOS componentes os Srs. Henrique Uchôa Santos-Dumont) brasileiro) solteiro/ Fritz Roesler) brasileiro) casado)· e Orton W. Hoover) norte-americano) casado; todos proprietários domiciliados nesta Capital. A sociedade ora constituída destina-se ao fabrico e à construção de aeroplanos sem motor) comumente denominados Planadores ou Gliders) de vários tipos e formatos) construção de aeroplanos com motor) metálicos) de madeira ou mistos) dos denominados Tipo Escola ou de Turismo) e) oportunamente) de aviões de guerra) quando por encomenda governamental) e após a devida autorização ministerial. A Empreza manterá anexa à fábrica de aviões uma escola de pilotagem para aeroplanos com e sem motor) bem como explorará representações para venda de material aeronáutico nacional e estrangeiro. A Empreza poderá ainda) mediante contrato) incumbir-se) por si ou seus prepostos) de levantamentos aero-fotográficos) transportes aéreos) organizando tantas seções especializadas quantas as necessidades objetivas assim o exigirem. Capital Social - O capital será de Rs. 150:000$000 (cento e cinqüenta contos de réis)) dividido em 150 quotas de 1 conto de réis) cabendo a cada um dos sócios realizar 50 quotas da maneira seguinte: o sócio Henrique Uchôa Santos-Dumont entrará neste ato para a sociedade com a quantia de Rs. 15:000$000 (quinze contos de réis). Obriga-se mais a entrar com a quantia de Rs. 5:000$000 (cinco contos de réis) durante a vigência do mês de março deste ano) e até o fim do mês de junho ainda do mesmo ano deverá entrar com a quantia de Rs. 10:000$000 (dez contos de réis) parceladamente ou de . uma só vez) ficando) deste modo: até o referido mês de junho com trinta quotas realizadas. As restantes 20 quotas serão realizadas à medida que as necessidades da Empreza o exigirem. Os demais sócios realizarão as suas quotas com os lucros verificados segundo os balancetes semestrais) ficando todos responsáveis por suas respectivas quotas de caPital. Da Diretoria - Ocupará as funções de Diretor-Presidente o Sr. Henrique Uchôa Santos-Dumont) que será o Tesoureiro da Empreza) podendo efetuar pagamentos) recebimentos) conservando sempre em banco desta praça os valores e o saldo da sociedade. Ocupará as funções de Diretor-Técnico externo o Sr. Orton W. Hoover) que se incumbirá das aulas de pilotagem) demonstrações aéreas) venda de produtos da Empreza) e tudo o mais que se relacione com a organização externa da sociedade. O Fritz Roesler se incumbirá de dirigir internamente os trabalhos de construção de aviões) podendo contratar e despedir operários) enfim) tudo o que se relacione com a organização interna da fábrica. Lucros - Lucros e per4as serão divididos igualmente entre os sócios) o que será verificado pelos balancetes semestrais. Das Retiradas - As retiradas mensais se operarão da seguinte maneira: os sócios Fritz Roesler e Orton W. Hoover retirarão mensalmente a quantia de Rs. 1:500$000 (um conto e quinhentos mil réis) a título de "pro-labore") quantia esta que se destinará a atender às suas 479


necessidades pessoais, e mais a de Rs. 1:500.$000 (um conto e quinhentos mil réis) da conta de lucros se esta comportar tal retirada. Das Disposições Gerais - Todos os inventos realizados por qualquer dos sócios ficarão pertencendo à . Empreza que os explorará quando julgar conveniente. A Empreza iniciará seus trabalhos provisoriamente em uma das dependências do hangar de propriedade pàrticular do Sr. Fritz Roesler, sito no Campo de Marte nesta Capital. No referido hangar se encontram 4 aviões, com motor, de propriedade do mesmo senhor, destinados a serem vendidos, mas tais negociações não devem prejudicar a boa mar.. cha dos serviços da Empreza. E por estarem de pleno acordo. .. etc., São Paulo, 20 de janeiro de 1932. ass) 1.0 - Henrique Uchôa SantosDumont, 2.° Fritz Roesler, 3.° Orton W . Hoover. Testemunhas: Plínio de Castro Ferraz, Joaquim Pinto de Araújo Cintra. Tabelionato Veiga (rua São Bento, 5-A)." A pequena fábrica começou imediatamente a funcionar. Em abril de 1932 recebia a visita de Guedes Muniz e mais Conde Siciliano, Santos-Dumont, Capitão Fontenelle, Dr. Cesar Grillo, Corbisier, e ainda Hoover, Roesler e diversos alunos do Mackenzie. Nessa ocasião - é Guedes Muniz quem conta - houve dois vôos de planador, um pilotado por Fontenelle e outro por ele mesmo, Muniz,no qual atingiu a altura de quarenta metros,mas na descida, num ({reflexo normal da pilotagem de aviões que possuem debaixo de si um trem de aterragem, entrei em perda de velocidade, tendo, felizmente, no choque, quebrado apenas a barra da direção do . planador". Muniz ainda acentua que a fábrica tinha em seus planos a construção de vários planadores secundários e até terciários, mas que estes só teriam iniciados seus projetos depois que a escola de pilotagem, que funcionava anexa, tivesse formado pilotos em condições de atuarem naquelas modalidades mais desenvolvidas. A Empreza Aeronáutica Ypiranga constituiu-se, realmente,' num pólo irradiador de desenvolvimento da construção aeronáutica. Seus planadores (o primeiro foi o EAY-T-I01) e aviões, principalmente o EAY-201, ancestral de praticamente todos os aviões da Companhia Aeronáutica Paulista (os Paulistinhas), marcaram época na aviação prasileira. A Ypiranga produziu, por muito tempo ainda, vários planadores que foram utilizados por clubes de volovelismo.

5 -

Os Clubes de Planadores

Após a fundação do Grupo Mackenzie de Planadores, e sua transformação em Club Mackenzie de Planadores, em 1933, outras associações desportivas começaram a surgir, principalmente em São Paulo. Foi criado um clube que tomou o nome de Bandeirantes, em 1932, mas que teve duração efêmera e do qual pouco se sabe. Ainda neste ano uma escola de planadores foi fundada por Sidow Spencer. Durou até princí480


pios de 1934, quando encerrou suas atividades, e mesmo este tempo tão exíguo somente foi conseguido graças à tenacidade de seu diretor. A 2 de janeiro de 1934 é fundado o Club Paulista de Planadores (em que eram muito empregados os aparelhos da EAY) , fruto do esforço e da perseverança de alguns entusiastas do vôo a vela, e que já vinham ministrando seus conhecimentos desde 1932, embora de forma nãooficial. Dentre estes, avultam as figuras de Jayme Americano, Capitão Ismael Guilherme, Alberto Americano, Valdo Torres Guilherme e mais alguns outros, que utilizavam o Campo de Marte para dar instrução em planadores primários e, em alguns casos, com aparelhos secundários. Fundado o Clube, as atividades daquele grupo tornaram-se oficiais, e de um hangaremprestado por Fritz Roesler e Orton Hoover, o Clube Paulista de Planadores passou a ocupar um hangar próprio, também no Campo de Marte, e que foi criado por um dos fundadores, o Eng. José Antonio Salgado. Este hangar, muitos anos depois, passou a ser utilizado pela Escola de Aeronáutica São Paulo. As atividades do Club Paulista de Planadores tiveram início de forma entusiástica. Neste ano, 1934, visitou o Brasil a Missão Alemã de Vôo sem Motor, e um de seus volovelistas foi contratado pelo Club 'Paulista de Planadores para ser seu instrutor - Heini Dittmar, que, aliás, em São Paulo, bateu o recorde mundial de altura em planadores. Contava o clube com diversos departamentos, destacando-se a Oficina de Construção e Reparação , que foi confiada ao Engenheiro Frederico Abranches Brotero. Em 1936, o relatório do Clube acentuava que a Oficina havia sido construída anexa ao Laboratório de Pesquisas Tecnológicas da Escola Politécnica, por ordem do Secretário de Viação da época, Francisco Machado Campos, e com a permissão do Secretário de Educação e dos diretores da Escola Politécnica e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, cujos laboratórios foram postos à disposição do Clube, para o ensaio dos materiais empregados na construção de seus aparelhos. O CPP já contava, em 1936, com três cursos teóricos: um superior de Meteorologia, que estava a cargo do Dr. Alipio Leme de Oliveira e que funcionava no Anfiteatro da Escola Politécnica; um curso de Aerodinâmica Elementar, a cargo do Professor Engenheiro Gaspar Ricardo Junior, que foi iniciado na Escola Politécnica e, depois, transferido para a Escola de Comércio Alvares Penteado, por oferecimento do seu diretor, Dr. Horácio Berlinck; e o terceiro curso, de Teoria Elementar de Vôo, a cargo de Jayme Americano, e que funcionou sempre na própria sede do Clube, à Praça Ramos de Azevedo n.O 16, no Edifício Glória. Depois de um período de fastígio, em que foram brevetados dezenas de pilotos, seguiu-se um declínio entre 1937 e 1939, quando os principais elementos que compunham o Club Paulista de Planadores organizaram a Escola de Aeronáutica São Paulo. A 6 de setembro de 1939, foi organizado na Escola Politécnica o Aeroclube Grêmio Politécnico, 481


sucessor e herdeiro de todo o material e das tradições do Club Paulista de Planadores. Este Grêmio teve duração muito diminuta, e já a 17 de abril de 1941 era reorganizado, passando a chamar-se Club Politécnico de Planadores, o conhecido CPP. Este teve sua primeira Diretoria eleita por aclamàção, para o Biênio 1941/42, à cuja testa se encontrava o Engenheiro Romeu Corsini, sendo Secretário Oswaldo Fadigas e T esoureiro José Milton Nogueira. Neste ano, 1941, alguns membros do cpp ingressaram na Seção de Aeronáutica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, tornando-se verdadeiros homens de proa na Indústria Aeronáutica Brasileira. Dentre eles destacaram-se Romeu Corsini, Fábio Forjás, Eduardo de Melo Alvarenga, Adonis Maitino, Silvio de Oliveira, Silvio de Aguiar Pupo, Oswaldo Fadigas, Jacques L. de Morais, Octavio Guedes de Morais e Clay do Amaral. Ainda neste último ano, o CPP, procurando disseminar o Vôo a vela pelo Brasil, estimula a fundação do Club Mineiro de Planadores, a 11 de setembro de 1941. A primeira diretoria do Clube Paulista de Planadores, de 1934, era assim constituída: Presidente - Guilherme Winter; Vice-presidente - Mariano de Oliveira Mendel; Tesoureiro - José Antonio Salgado; Procurador - Alberto Americano; Secretário - Antonio Orlando de Almeida Prado. Comissão Técnica: Engenheiros Nuno Monteiro, Mariano Mendel, Roberto Hotinger, Ary Torres, Frederico Abranches Bro. tero, Affonso P. de Toledo Piza; Jayme Americano, médico; e Alberto Americano, advogado. . Em junho de 1934, o Club Paulista de Planadores já havia formado sua primeira turma, ainda no Campo de Cumbica, e havia concedido o brevê ((AJJ em aparelho Zoegling, aos senhores Jayme Americano, Alberto Americano, Clay Presgrave do Amaral, José Afonso Luzzi Junior, e o brevê ((B JJ , em aparelho Grunau Baby, a Paulo Gonçalves Lefevere. No Rio de Janeiro era fundado o Planador Club do Brasil,cuja Diretoria, eleita em Assembléia Geral no dia 14 de abril de 1934, ficou assim constituída: Presidente - Paulo V. da Rocha Vianna; Vice Antonio L. Seabra; 1.0 Secretário - Wilson Alves de Andrade; 2.° Secretário - Oswaldo de Paula Dias; 1.° Tesoureiro - Alvaro Vieira Araújo; 2.° Tesoureiro - Eduardo Aloysio Ferreira; Procurador - Álvaro de Azevedo Beiral; Bibliotecário - Diomedes de Vasconcellos Ferreira; e Presidente do Conselho Técnico Herbert Kuehne, este último, aliás, antigo colaborador da revista Asas no setor do vôo a vela, com vários artigos publicados sobre o assunto. O Planador Club do Brasil recém-criado, passou a ocupar a sede do Aeroclube do Brasil, à Avenida Rio Branco número 110, 5.° andar. Ainda no Rio, no mesmo ano, procedeu-se a uma experiência bastante interessante: Martin Wziedmann, mecânico do Sindicato Condor, seu irmão Haris e Gustavo Brunheim, homem do comércio carioca, pediram licença ·e obtiveram, do Sindicato Condor, as oficinas e as peças 482


de aviões fora de uso, para, assim, construírem um planador-escola. Iniciaram a construção em um salão de sua residência em São Cristóvão, após o que pediram licença ao Major Fontenelle para ocuparem um hangar do 1.0 Regimento de Aviação, no Campo dos Afonsos. Desmontado em São Cristóvão, e novamente montado nos Afonsos, oplanador teve sua primeira experiência de vôo a 22 de julho de 1934, e, embora não dispondo de um aparelho transportador (avião ou automóvel), foi o mesmo lançado por cabos Sandows. A notícia sobre o acontecimento é , pequena e, depois, não há nenhuma referência ao aparelho, mas o fato de ter sido construído e voado com êxito dá bem uma dimensão de como evoluía o volovelismo em todos os pontos do Território Nacional. Também em Bauru, que mais tarde foi um grande centro de cons" trução e operacionalidade de planadores, foi feita uma tentativa, igualmente coroada de êxito, em outubro de 1934. Três jovens, Adolpho Lozano, Waldemar Esbaille e Manoel Chamorro, construíram um planador que possuía 10 metros de envergadura, 5 metros de comprimento, 2,50 de altura e uma largura de asas de um metro e meio. Os próprios cons: trutores reconheceram que ((a falta de técnica, a fragilidade do material empregado e sem a mais leve noção de aprendizagem de vôo, impediram que (o planador) desse melhores resultados". O aparelho dt Bauru foi rebocado por um caminhão, e por duas vezes decolou a um metro do solo; na terceira tentativa, com maior velocidade, o planador elevou-se a seis metros, aproximadamente, capotando de dorso na queda, tendo inutilizado a asa direita; o piloto recebeu apenas uns arranhões sem importância. E Manoel Chamorro, em carta dirigida a um órgão de notícias aviatórias, declaràva, cheio de confiança: ((breve iniciaremos il construção de um segundo planador" . Como dissemos antes, Bauru, com seu Club de Planadores, teve um importantíssimo papel no volovelisrrio nacional, principalmente a partir de 5 de setembro de 1942, quando um planador 1 construído já com técnica mais apurada por Kurt Hendrich, voou pela primeira vez. Mas a primeira tentativa foi a daqueles três jovens, em 1934. O ano ia-se encerrando com grande atividade volovelista. Em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, era fundada a Associação Petropolítana de Planadores Aéreos, enquanto que 'e mCuritiba, cápital do Paraná, era organizado, também em dezembro, o Clube de Planadores Ursinus, em homenagem ao grande engenheiro alemão F. Ursinus, cognominado o pai da Rhon-Wasser-Kuppe. · Em Campinas, São Paulo, um professor do colégio Progresso Campineiro aproveitou um galpão da escola onde lecionava para construir uma aeronave com projeto de sua autoria, com um professor de matemática seu amigo. Era um planador primário, de asa alta, com estrutura de madeira e o assento exposto, fixado sobre um patim metálico. O inventor, Professor Djalma Campos de Pádua, rebocou-o com um auto483


móvel e o aparelho levantou vôo. Não uma mas vanas vezes, com as tentativas sempre coroadas de êxito, o planador campineiro, cuja cons· trução havia durado de fins de 1932 até o início do ano de 1934, realizou vários vôos sobre o Hipódromo de Campinas. Novembro de 1934 ainda viu a construção de um outro planador genuinamente nacional. O Cabo Artífice de Aviação, Norival Anastácio Alves, construiu um aparelho a que deu o nome de Brasil n.O 1, o que demonstrava a intenção de continuar a série, o que, ao que se sabe, não ocorreu. Mas o cabo artífice era apoiado pelo General Eurico Gas· par Dutra e por Guedes Muniz, que o incentivaram e conseguiram que o aparelho ficasse exposto na Feira Internacional de Amostras. O aparelho, projetado e construído pelo Cabo Artífice Norival Anastácio Alves no Parque Central de Aviação, custou Rs. 5:166$453, sendo Rs. 2:534$385 de mão-de-obra e Rs. 2:632$068 de material, que era aproximadamente o preço que custava um planador na época, como dissemos antes, e que podia ser encomendado ao Aero Club de São Paulo, ao preço de cinco ou seis contos de réis. Após o período em que ficou exposto na Feira de Amostras, o Brasil n.O 1 foi transportado para o Campo dos Afonsos, onde, rebocado por caminhões militares, executou vários vôos, todos muito bem sucedidos.

6 -

Santa Cruz do Sul Volta a Construir Planadores

o município gaúcho colonizado por alemães, onde em 1920 fOl realizada a segunda tentativa de construção e vôo de planador no Brasil (a primeira foi em Blumenau, em 1918), pelo trabalho de Rodolpho Lohre e Gustavo Moyhneck, retomou, quatorze anos depois, a dianteira no volovelismo. Em agosto de 1934, um grupo de jovens santa-cruzensesI tendo à frente Ottmar Reichert e composto de João Carlos Kolberg, Willy Stahl, Rudolfo Stahl, Hugo Reichert e Lauro João Holst, resolveu se dedicar ao esporte da aviação a vela. Isto é o que consta da primeira Ata do Aero Club de Santa Cruz do Sul, redigida pelo diretor-presidente do jornal Gazeta do Sul, Sr. Francisco José Frantz. Lutando com grandes dificuldades oriundas do meio ambiente acanhado, e também de ordem financeira, foram aos poucos dando forma ao seu idealismo. Ottmar Reichert dirigiu-se à VARIG, em Porto Alegre, Capital do Estado do Rio Grande do Sul, onde lhe foram ministrados alguns conhecimentos de construção de planadores e também de vôo. De regresso a Santa Cruz do Sul, Reichert procurou concretizar os ensinamentos recebidos e, assim, passou o grupo, sob sua direção, a construir um planador a que deram o nome de Se-l. Entretanto, sem dinheiro e sem ferramentas, teria sido impossível levar a bom termo o empreendimento, não fora o entusiasmo de um outro santa-cruzense, Carlos Hoelzel, que por esta época estava trazendo para a pequena cid a484


de o primeiro avião a motor. Hoelzel pôs à disposição do grupo o hangar que possuía no campo de aviação da cidade, e foi ali , a quatro quilômetros da sede do município, que os jovens iam construindo o SC-l, utilizando inclusive ferramentas emprestadas por Carlos Hoelzel. Neste ínterim, Alberto Reichert resolveu entregar ao Aero Club de Santa Cruz um galpão que possuía na cidade, e foi onde o planador recebeu os últimos retoques . O SC-l foi terminado em fevereiro de 1935, quando se verificou que, por falta de plantas exatas, possuía alguns defeitos. Aliás, o SC-l foi elaborado a partir de uma fotografia publicitária; daí a falta de uma planta. Os percalços eram inúmeros, e um daqueles pioneiros relata as dificuldades por que passaram para construir o aparelho: O maior problema era a aquisição do material, pois dinheiro não tính-amos. Valendo-nos de conhecidos, conseguimos o pano . Algumas peças, como dobradiças, eram feitas de alumínio ou então retiradas de automóveis. Naquela época saíamos de casa bem cedo e caminhávamos mais de 8 quilômetros com o planador nas costas. Com o tempo, improvisamos um carrinho. O planador era montado e atrelado. A · distância percorrida variava de 20 a 30 metros. O pequeno grupo de abnegados partiu, então, para a construção do SC-2, que só ficou pronto em 1938. Para construírem este aparelh'J, voltaram-se os pioneiros novamente para a VARIG, mais precisamente para a Varig Aero Esporte, que havia sido criada em 1937. Esta ajudou os construtores, fornecendo-lhes gratuitamente todo à material de construção, plantas técnicas e duas semanas de instrução de vôo para Ottmar Reichert. E quando o planador ficou pronto, verificou-se que não havia como rebocá-lo. O Prefeito da época, Oscar Rafael Jost, põe à disposição do Aero Club o carro oficial da Prefeitura. No ano seguinte, 1939, decidiram adquirir uma camioneta, pagando-a em prestações. O Aero Club de Santa Cruz, criado em 1934, já possuía, 4 anos depois, 35 sócios, mas até 1940 ainda não havia uma diretoria oficializada, tendo apenas Ottmar Reichert como diretor técnico. A 12 de juiho, Luiz Beck da Silva foi eleito Presidente, e a filiação ao Aeroclube do Brasil ocorreu a 30 de setembro de 1940. 7 -

Chegada da Missão Alemã ao Brasil

O fato mais importante da década de trinta para o volovelismo brasileiro foi, sem dúvida, a chegada de uma missão da Escola de Aviação sem Motor, de Hornberg. Procedente de Hamburgo, aportou no Rio de Janeiro a Missão Alemã de VSM, no dia 23 de janeiro de 1934, vinda pelo navio Monte Pascoal, e constituída por cientistas e aviadores da maior grandeza no cenário volovelista alemão, o que na época significava do Mundo inteiro. Eram seus membros o Professor Dr. Walter 485


Georgii, como chefe da missão, o Engenheiro Harth, os aviadores Wolf Hirth, Hihm, Dittmar, Peter Riedel e a jovem Hanna Reitsch. É preciso antes, porém, para se ter uma idéia do significado de uma missão tedesca de vôo sem motor no Brasil, remontar ao quanto já se fazia nesse campo na Alemanha, que vinha, desde os últimos quartéis do século XIX, com Otto Lilienthal, se destacando na construção e no uso cada vez mais desenvolvido dos planadores. É preciso lembrar os concursos de planadores, principalmente o XIII Concurso Internacional de Vôo a vela do Rhon, realizado na segunda metade do ano de 1932, com uma duração de quinze dias. Apesar de o volovelismo estar interessando a quase todas as nações européias, a Alemanha despontava como a mais desenvolvida no assunto. Basta dizer-se que dos oitenta e dois aparelhos inscritos, havia somente dois pilotos poloneses e um italiano, sendo que este último utilizava um planador de construção alemã, um Rhonadler. Neste _aparelho, o italiano Ponti realizou dois vôos, um de 4 horas e 16 minutos e outro de 1 hora e 14 minutos. Os poloneses realizaram apenas pequenos vôos de menos de 30 minutos, de pequena importância. A representação alemã, entretanto, colheu grandes louros, quer batendo novos recordes, ampliando os existentes, quer exercitando o Vôo a vela com manobras inteiramente novas. Um dos aparelhos conseguiu alcançar 154 quilômetros e 900 metros em linha reta. Um dos pilotos, Mayer, com um planador Pompersland atingiu 185 metros de altura, enquanto que outro, Schleicher, aumentou o recorde de permanência no ar, elevando-o de 9 para 12 horas. Entre seiscentos lançamentos efetuados, sete permitiram vôos de mais de quatro horas. Vários novos tipos de planadores foram apresentados, dos quais é de se destacar o Uruha, um biposto da Sociedade RhonRossiten, com 26 metros de abertura de asa; Kronfeld apresentou, pela primeira vez 'em um concurso, o seu Austria; um outro planador, extremamente leve, e que causou grande admiração, foi o Cziti, como também o Rhonadler 32, projeto de Schleicher e Poppenhauser. Outros aparelhos foram apresentados; alguns estranhos, todos inéditos: o Cherneicus, que não possuía ailerons, o Kondor, com linhas belíssimas e avançadas para a época, e o Storch VIII (cegonha) de fabricação do famoso projetista Lippisch, um planador sem cauda, na realidade uma asa-voadora. Aliás, com um aparelho que iniciou a série, Lippisch acrescentou ao mesmo um pequenino , motor DKW, cuja potência nominal era de 12 c.v., mas que, na. realidade, nunca desenvolveu mais que 8 c.v. Partindo de um plano inclinado, a asa-voadora de Lippisch conseguiu, saindo da região do Rhon, atingir o aeroporto de Tempelhoff, em Berlim, onde fez diversas demonstrações, em 1929. E assim, ao mesmo tempo que Lippisch se dedicava aos aviões com motor, desenvolvia os projetos de planadores, dos quais o Storch VIII foi um dos representantes que mais brilhou no XIII Concurso In~ernacional de vôo sem motor de Rhon. 486


Vê-se, portanto, que o grau de avanço do volovelismo mundial encontrava seu apogeu na Alemanha, e que uma missão de vôo sem motor daquele país vindo ao Brasil teria forçosamente de ampliar os horizontes do cenário brasileiro, o que efetivamente aconteceu. O Professor Georgii, chefe da Missão, além de figura de proa da Rhon-Rossiten, era presidente da Comissão de Planadores da F.A.I. (Fédération Aéronautique lnternationale) e da Comission lnternationale d'Études du Vol à Voile. Hirth, Riedel e Dittmar já eram grandes ases na Alemanha, sendo que Riedel, por exemplo, já havia conseguido vencer, em um vôo, um percurso de 230 quilômetros, a maior performance daquela época, só suplantada pelos 275 km de Grochnoff, morto em um desastre em 1932. E, finalmente, Hanna Reitsch havia batido o recorde mundial feminino, voando dez horas ininterruptamente. Era, pois, de primeira grandeza a Missão Alemã de vôo sem motor que visitou o Brasil. Tão logo chegaram, os alemães foram para o Campo dos Afonsos, onde deram início às suas demonstrações, tendo todos os pilotos permanecido por várias horas no ar, atingindo altitudes superiores a 2.000 metros. Anna Reitsch, exímia acrobata, entusiasmava a todos com seus vôos a baixa altura. Logo na chegada ao Brasil, um fato relevante e auspicioso ocorreu: Heinrich (Heini) Dittmar, pilotando um aparelho Condor, a 17 de fevereiro de 1934, batia o recorde mundial de altura em ' planadores. Num magnífico vôo de uma hora e meia, seu aparelho atingiu a altitude de 4.200 metros acima do nível do mar. Dittmar havia decolado às 11 horas e 1 minuto, abandonou o cabo do avião que o rebocava a uma altura de 350 metros, e continuou ~ subir até os 4.200. Descontando-se os 350 metros correspondentes à altura a que fora rebocado, atingiu portanto 3.850 metros, superando, em 1.350 metros, o recorde anterior que era de 2.500. No mesmo dia 17 de fevereiro, Hanna Reitsch, pilotando um Baby, abandonava o cabo do rebocador a 500 metros e atingia 2.000, conseguindo a altura relativa de 1.500 m, conquistando o recorde feminino de altura em planadores. A Missão Alemã finalizou suas atividades no Rio de Janeiro no dia 21 de fevereiro, quando, das 16 às 18 horas, no Hipódromo Brasileiro, realizou uma demonstração franqueada ao público, e a que compareceu o Ministro da Viação, José Américo de Almeida, além de membros da colônia alemã, aviadores militares e civis, e elementos da sociedade carioca. As provas constituíram-se de acrobacia's, tendo inclusive Hanna Reitsch executado um looping. A Alemanha não descansava e o desenvolvimento do volovelismo já era contado mês a mês. A revista Luftwelt, de 22 de fevereiro de 1934, dava o número de brevês concedidos até aquela data: nada menos de 7.690 do tipo A, 5.751 do tipo B e 2.410 brevês C, ou seja, 15.851 novos aviadores de aeronaves sem motor, o que é, realmente, um número impressionante para o ano de 1934. Todas essas notícias despertavam um entusiasmo cada vez maior no Brasil, daí porque a 487


Missão Alemã conquÍstava a cada dia não sóa simpatia do povo, mas, também, um lugar destacado nos meios científicos e esportivos da época. Tamanho foi seu êxito que, concluídos os trabalhos no Rio de Janeiro, foram convocados para São Paulo. O Club Paulista de Planadores, fundado a 2 de janeiro de 1934, e amparado pelo Prefeito Antonio Carlos de Assumpção, tendo em vista o sucesso da Missão Alemã no Rio de Janeiro, resolve contratá-la para exibições em São Paulo. Chegando à Capital da Paulicéia no dia 2 de março, os tedescos foram hospedados no Hoiel Terminus e passaram imediatamente a desenvolver seus trabalhos no Campo de Marte. Os conhecimentos demonstrados pelos integrantes da missão agradaram sobremaneira os paulistas, e de tal forma que em fins de abril o ClubPaulista de Planadores contratava Heinrich Dittmar para seu instrutor. Dittmar, formado em Wasserkuppe-Rhon, já era um instrutor de fama mundial, e sua contratação, com o beneplácito do Professor Walter Georgii, trouxe imediata notoriedade para o Club Paulista de Planadores como veremos. O Professor Walter Georgii era, além de todos os seus títulos, presidente da ISTUS, entidade internacional de superintendência do Vôo a vela em todo o Mundo, e o Club Paulista de Planadores imediatamente filiou-se àquela entidade, e recebeu da ISTUS poderes e credenciais para orientare superintender oficialmente o Vôo a vela no Brasil, o que tornou o Brasil o primeiro país da América Latina a ter assento no plenário da organização. Tudo isto acontecia muito rapidamente, tanto que, em junho de 1934, já era formada a primeira turma de instrutores volovelistas, sob a orientação de Heinrich (Heini) Dittmar. Esta turma era composta de Fernando E. Lee, Valdo Torres Guilherme, Jayme Americano, Franz Ronza, Capitão Ismael Guilherme e Francisco Micheloti, todos eles aptos na categoria de planadores terciários. Um mês depois, em julho, o Club Paulista de Planadores iniciou a construção de sua sede, hangares e pistas em uma fazenda em Cumbica, Guarulhos, cedida pelo seu proprietário, Samuel Ribeiro. Com a inauguração desta, em janeiro de 1935, o Campo de Marte ficou como depósito de material e local para instrução primária, enquanto que Cumbica passou a ·polarizar a quase totalidade das atividades do Club. E ·estas começaram, imediatamente, a frutificar. Em maio de 1935, o CPP conseguia, dezesseis meses depois de sua fundação, o seu primeiro laurel: um de seus alunos, Dácio A. Moraes Junior, batia o recorde sulamericano de permanência no ar com planador, atingindo a marca de uma hora e vinte e quatro minutos. Este título foi conseguido em um aparelho Grunau Baby, dos dois que foram oferecidos ao CPP pelo Sr. Alfredo Schuring, industrial paulista e elemento muito conhecido nos meios esportivos de São Paulo. O CPP, como dissemos, foi fundado a: 2 de janeiro de 1934, mas a idéia de organizá-lo ocorreu a 23 de dezembro de 1933, ou seja dez dias antes. De qualquer forma, era uma entidade destinada a influenciar grandemente os destinos do volovelismo no 488


País, mercê de um progresso verdadeiramente vertIgmoso. Por ocasião da formatura dos primeiros instrutores, o CPP já dispunha de cinco planadores primários tipo Zoeglinge um de alta escola Grunau Baby. Além destes, o Club Paulista de Planadores estava construindo uma série de outros cinco planadores primários e dois Grunau. Finalmente, ofertados pelo Sr. Alfredo Schuring, estavam sendo esperados da Alemanha ainda outros quatro Grunau. Em maio, o Club Paulista de Planadores já oferecia instrução a cerca de cinqüenta sócios, sendo dez já brevetados nas três categorias e quinze nas classes A e B. O CPP ainda mantinha um curso obrigatório de aeronáutica elementar para todos os candidatos a brevê, a cargo do Professor Gaspar Ricardo Junior, e um outro de radiotelegrafia. Finalmente, para aqueles que demonstravam interesse também pelo vôo com motor, o CPP facilitava o apren. dizado, com instrução sob a orientação do Dr. Fenile Felici. O resto do País continuava a interessar-se pelo volovelismo. Em Santos, na mesma ocasião, era lançada a idéia da fundação de um clube de planadores, tendo em vista o êxito na construção de um aparelho por dois jovens, Abel Pereira Leite e Odair Floresi respectivamente com quinze e dezesseis anos, e que ficou exposto por algum tempo no recinto da 1.a Feira de Amostras realizada naquela cidade do litoral paulista. Os jovens não dispunham de meios para a realização de seu projeto, mas foram grandemente ajudados pelo Sr. Jean Bernard, representante da Air France, e do Sr. Caio de Barros Penteado,que cederam grande quantidade de material. Na Bahia, em julho de 1935, era criado o Club Universitário de Planadores, cuja primeira diretoria ficou assim constituída: Presidente - Lourival de Souza Dantas; Vice-presidente - José Vaz Espinheira; Diretor-Geral _ . Joffiton Ramos Andrade; 1.° Secretário - Angelo Santa Rita Junior; 2.° Secretário - Orlando Bacellar Gomes; e Tesoureiro - Antonio de Pádua Bompet. A Comissão Técnica ficou a cargo de um jovem, Miguel Vitta, que recém acabara o curso de Engenharia. Como se vê, em todos os pontos do País surgiram os clubes que pugnavam pela introdução do volovelismo entre nós. E a idéia irradiava-se também aos bem jovens, através de concursos de modelos de planadores. O primeiro destes concursos realizados no Brasil ocorreu na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, como resultante do trabalho do Planador Clube do Brasil e que foi patrocinado pela revista Asas. Aconteceu a 28 de julho de 1935 e teve seu resultado estampado naquele periódico com grande destaque. Foram seus vencedores, na prova de lançamento, o aluno do Colégio Santo Inácio, de quinze anos de idade, Paulo Dias Pereira, construtor de um modelo denominado Urubu, tendo atingido a distância de cinqüenta metros e com uma duração de vôo de oito segundos, tendo sido desclassificado o menino Jorge Cummings, por ser de nacionalidade inglesa, não obstante ter conseguido 150 metros e 13 segundos de duração de vôo. A ele, entretanto, como ({prêmio de Con489


solação", foi ofertada uma assinatura da revista Asas por um ano; na prova de Habilidade e Perfeição de Construção, o vencedor foi o aluno da Escola Experimental, com treze anos, José Pereira, com um exemplar do tipo Grunau Baby; e, finalmente, na terceira prova, de Desenho, foram vencedores, empatados, Carlos Augusto de Freitas Lima, com doze anos e aluno do Instituto Juruena, Ligia Dolores de Andrade, com dezesseis anos e aluna do Colégio Batista,e, ainda, Álvaro Moreira, de dezesseis anos e aluno do Ginásio. Anglo-Brasileiro. A todos os vencedores coube um prêmio, em dinheiro, de cem mil réis e uma matrícula gratuita, por seis meses, no Planador Club do Brasil. Os Grunau Baby eram, na ocasião, os modelos mais populares, não só entre os que já os podiam operar, como entre os jovens colegiais, como vimos acima. Exemplares do Grunau foram construídos em Bauru, enquanto que na Capital de São Paulo, João Luiz Job, figura das mais destacadas no volovelismo brasileiro, montava igualmente um modelo daquele tipo. Outros aparelhos que despertavam o interesse dos brasileiros era o Zoegling, planador primário, e o Hols der Teufel, este secundário. Nos arredores da Capital Paulista, um grupo de alemães e descendentes construiu, com seus próprios recur~os, dois aparelhos, um de cada tipo. Providenciaram a organização de um clube de vôo a vela, e faziam voar seus planadores com auxílio de sandows. O relatório da VARIG, de 19J5, dizia que, (( ... valendo-nos da operosidade de vários jovens, adeptos fervorosos do vôo a vela, foram construídos e expostos no Pavilhão Rio-Grandense da Exposição do Centenário Farroupilha, dois aparelhos dos tipos Grunau Baby e Hols der Teufel que despertaram geral interesse e curiosidade". Estes dois planadorespassaram depois a fazer parte do acervo da VARIG e voaram durante muitos anos.

8 -

Expansão do Club Paulista de Planadores

Com o retorno de Heinrich Dittmar à Alemanha, em junho de 1934, e tendo deixado um grupo de seis instrutores já formados com o aval da ISTUS, o Club Paulista de Planadores passou a expandir-se. Com a construção de uma nova sede, com respectivos hangares e pistas, em janeiro de 1935, o Club passou a atacar um outro problema conseguir um avião-rebocador para seus planadores. Começou apelando para a generosidade de seus associados ou amigos, conseguindo imediatamente uma resposta profícua. Alguns empresários assumiram o papel de Mecenas e contribuíram de maneira ampla para os cofres do Club Paulista de Planadores. Destacaram-se Alfredo Schuring (que doou vários planadores), Samuel Ribeiro (que cedeu parte da Fazenda Cumbica para a construção da sede), Guilherme Guinle, Octavio Guinle, 490


Arnaldo Guinle e Assis Chateaubriand, além da Companhia Docas de Santos, que igualmente muito auxiliou o Club. Com o dinheiro arrecadado com tais donativos, foi possível ao Cpp implementar alguns de seus projetos - adquiriu dois planadores primários Zoegling e um automóvel Ford de 8 cilindros para reboque; contratou o hangar de Fritz Roesler no Campo de Marte; e efetuou o pagamento respectivo de todas estas inovações, a oficina de reparação e construção, etc. Faltava, porém, a aquisição de um avião-reboque, pois o automóvel Ford não era suficiente para o lançamento de aparelhos de maior categoria. Servia, sim, para planadores primários, mas o Club já hávia ultrapassado esta fase. Ainda por subscrição, foi conseguido um Taylor Cub que prestou alguns serviços, embora precariamente, pois não era específico para a missão que se pretendia. O uso contínuo a que foi submetido, tanto para treinamento de vôo como para observações meteorológicas, desgastou-o de tal forma que foi, primeiramente, abandonado e, depois, vendido a outras pessoas. O Club Paulista de Planadores enviou, então, ao Rio de Janeiro, seu sócio Alberto Americano, 'que conseguiu, junto ao Ministério da Guerra a cessão de um avião Curtiss, retirado do serviço ativo, por isto me~mo com seu motor com tempo vencido e cuja substituição ultrapassaria os trinta contos de réis, absolutamente insuportável para as finanças do CPP. Após um interregno em que o velho Ford cumpriu suas obrigações de rebocador, o Club novamente se movimentou para conseguir, ainda junto às autoridades feqerais, um avião que pudesse tracionar seus planadores. E, para dar ênfase ao pretendido, enviou, não uma só pessoa, mas uma Comissão, a que foram incorporados alguns aviadores que trouxeram consigo dois aparelhos, um dos quais construído nas oficinas do CPP. No Rio de Janeiro, a Comissão buscou interessar os militares que intervinham diretamente com o assunto aviação, a começar pelo Ministro da Guerra, General João Gomes Ribeiro, o Comandante da Aviação Militar, General Eurico Gaspar Dutra, e mais os Tenentes-Coronéis Eduardo Gomes e Ivo Borges e Major Fontenelle. Foi acertada uma troca: o cpp recebeu um Waco da Escola de Aviação Militar, e entregou um planador, de nome Jaraguá, primeiro aparelho de alta escola construído nas oficinas do Cluh Paulista de Planadores. Retornando a São Paulo, e após três meses de euforia, com o Waco desempenhando brilhantemente seu papel de rebocador, eis que este sofreu um acidente, quando pilotado por um oficial do Exército, e retomou então o CPP o velho Ford para seus lançamentos. Desta vez o Club resolveu apelar diretamente para os Poderes Públicos da Paulicéia. Um projeto oriundo da Assembléia Legislativa tornou-se Decreto sancionado pelo Interventor interino Mário Pereira Munhoz, concedendo anualmente ao Club Paulista de Planadores cento e vinte contos de réis. Foram adquiridas as 491


portas metálicas para o hangar de Cumbica e adquirido um Aeronca em bom estado para o serviço de pesquisas meteorológicas; o velho Ford foi substituído por um novo, com dispositivos mais aperfeiçoados. As finanças do Club iam progredindo e para isto contribuiu' muito a doação de um terreno, por parte de Samuel Ribeiro, localizado no bairro da Lapa. Este terreno, vendido ao Sr. Joaquim Pinto P. de Almeida, rendeu ao Club Paulista de Planadores cinqüenta e cinco contos de réis, que serviram para o melhoramento de seu material em geral e aprimoramento das oficinas. O final do ano de 1935 viu o Club avançando a passos largos para a consecução de seus objetivos, uma vez que iam sendo vencidas, uma a uma, todas as dificuldades. A 17 de dezembro prestou exames, tendo recebido o seu brevê C a aviadora Ada Rogato, que viria a transformar-se numa das grandes figuras da aviação nacional. O ano seguinte assistiu a uma nova arremetida do Club no sentido de conseguir um avião-reboque. Na metade do ano; em junho, novamente um grupo de associados tomava o rumo do Rio de Janeiro, para pleitear a cessão de um avião com aquela finalidade. Desta vez apelaram para o Ministro das Relações Exteriores, José Carlos de Macedo Soares, e ainda aos militares que os haviam auxiliado da primeira vez, Tenentes-Coronéis Eduardo Gomes, Ivo Borges e Major Henrique D. Fontenelle, e obtiveram sucesso no que pleiteavam. Foram conseguidos um avião Moth, que pertencia à Escola de Aviação Militar, e ainda 1.200 litros de gasolina, com a promessa de entregas regulares mensais de igual quantidade. Com o problema do avião-reboque resolvido, passou-se à construção de planadores em maior escala, e três Grunau e um Hols der Teu/el saíram das oficinas do CPP. O Club ainda expandia suas atividades, inclusive editando livros sobre Aviação. De autoria do Engenheiro Gaspar Ricardo Junior vieram dois livros - Rudimentos da Aeronáutica e Curvas Características do Planador Anhemby, enquanto que Jayme Americano escreveu outros dois: Introdução ao Aprendizado do Vôo sem Motor e Notas sobre Vôo Térmico e Voo Rebocado por Avião, sempre de acordo com os .estatutos do CPP, que previam, em seu .artigo primeiro, ((O Club tem por fim desenvolver e propágar, por todos os meios possíveis, o vôo sem motor". . As atividades do Club cessaram a 5 de dezembro de 1939, quando deveria ceder sua sede, hangares, pistas e demais instalações à Aviação Militar do Exército, visto que esta necessitava daquele local para ali colocar suas instalações. Até aquela data, o Club Paulista de Planadores havia concedido cento e cinqüenta brevês A, sessenta e quatro B, quarenta e cinco C e formado 25 pilotos de avião com motor. Em Assembléia Geral, em 5 de dezembro, os sócios deliberantes fundadores do Club criam a Escola de Aeronáutica São Paulo, transformando o curso de planadores e transferindo todo 492


o material para o hangar do Campo de Marte (onde aliás havia começado). A 5 de janeiro de 1940, ·os sócios deliberantes deram por encerradas definitivamente suas atividades volovelistas. Os fundadores da Escola de Aeronáutica São Paulo que assinaram a Ata foram: Guilherme E. Winter, Noé Ribeiro, Capitão Ismael Guilherme, Valdo Torres Guilherme, Fernando Edward Lee, José Antonio Salgado, Jayme Americano, Alberto Americano, João de Oliveira Mattos, Odon Carlos Figueiredo Ferraz e Comandante José Oswaldo Machado Pedrosa. A reunião que encerrou a parte volovelista, isto é, que extinguiu o Club Paulista de Planadores, foi realizada, como dissemos, a 5 de janeiro de 1940, à Rua Florência de Abreu, n.O 1, presidida por Noé Ribeiro e secretariada pelo Comandante José Oswaldo Ma. chado Pedrosa. Ficou ali acertado que todas as instalações do Club em Cumbica, sem exceção, seriam entregues ao Senhor Samuel Ribeiro, para que este pudesse entregar tudo à Aviação Militar do Exército, e que seriam doados ao Aeroclube do Brasil os planadores do Club, fi. cando em poder da Escola de Aeronáutica São Paulo os aviões PP-TAK e PP-TEU, mais o hangar do Campo de Màrte com todos os seus acessórios. É de ressaltar-se que todas estas operações imobiliárias, desde a cessão do ~erreno por parte do Sr. Samuel Ribeiro ao Club, realização de benfeitorias no mesmo, construção da sede, devolução ao mesmo Samuel Ribeiro por parte do Club e, finalmente, doação ao Exército brasileiro, foram realizadas sem qualquer ônus para nenhuma das partes. A este respeito é interessante lembrar o que foi dito pelo Coronel Henrique Dyott Fontenelle, a 30 de ' outubro de 1940, em entrevista concedida a A Gazeta, de São Paulo: ((A imensa área de Cumbica) que é de 9.700 .000 metros quadrados} foi doada pelo Sr. Samuel Ribeiro à aeronáutica do Exército} doação esta que} além de ter um . grande valor econômico também é} sob o ponto de vista técnico} de uma significação inestimável. Como é do conhecimento público} o Campo de Cumbica foi feito por indicações do professor Georgü} sumidade alemã de vôo a vela} que aqui esteve com uma expedição científica de estudos e pesquisas aeronáuticas} ' que considerou o terreno privilegiado para instalações de quaisquer organizações aeronáuticas. Desta maneira} pela sua situação estratégica C pela sua posição geográfica grandemente privilegiada} o Campo de Cumbica está fadado a ser a maior e mais importante base aérea do Brasil.}} O ano de 1936 ainda veria a criação, no Rio de Janeiro, de um Club Carioca de Planadores, e outro que tomou o nome de Clubdos Alcatrazes, nome tirado da ave da família dos Fregatídeos, conhecidâ por ser capaz de se manter em vôo por longo tempo, movimentando ao mínimo as suas asas. E, finalmente, o surgimento de um outro clube de atividades volovelistas, mas que funcionou somente durante aquele ano, na Cidade de Santos, São Paulo. 493


9 -

A Varig Aero Esporte

o segundo fato mais importante da década de trinta, no setor do volovelismo, foi, sem dúvida, a criação da'Varig Aero Esporte - VAE, ramo daquela empresa aérea gaúcha que se dedicava primeiramente ao esporte e, depois, à formação de pilotos para companhia de aviação. Sob o manto protetor da empresa-mãe, e dela extraindo os ensinamentos e a disciplina, principalmente, a VAE tornou-sé', 10gG no primeiro ano de existência, um modelo de como deveria funcionar uma escola. Mas, como praticamente tudo no Brasil, no que tange a vôo a vela, não deixou de sofrer a influência da vinda da Missão Alemã de vôo sem motor, em 1934. A história da VAE começa muito antes, mas só recebeu impulso após a chegada dos germânicos, e é contada no próprio enunciado dos estatutos do departamento, em seu Capítulo I Denominação, sede e fins: ((Art. 1.° - A Varig Aero Esporte, por abreviação VAE, é o departamento desportivo-instrutivo da S.A. Viação Aérea Rio-Grandense VARIG. Sua existência encontra-se prevista ,!os estatutos da VARIG aprovados pela assembléia de constituição da empresa, realizada em 7 de maio de 1927, e foi ratificada no contrato firmado pela V ARIG com o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, em 7de outubro de 1931. Filiada ao Aero C/ub do Brasil desde 27 de janeiro de 1939, foi reconhecida de utilidade pública pelo Decreto n.o 7.917, de 18 de agâsto de 1939, do Governo Estadual. As instruções de vôo foram iniciadas a 15 de julho de 1932; com6) departamento autônomo da V ARIG, começou a funcionar em 15 de fevereiro de 1937." No ano do Centenário da Revolução Farroupilha, que marcou no Rio Grande do Sul uma série de iniciativas de sentido desenvolvirrientista, o fundador e diretor-gerente da VARIG, Sr. Otto Ernst Meyer, produziu um documento que veio a servir de base para a criação da VAE. Escrito originalmente em alemão, e traduzido pelos Professores Carlos Zelle Ricardo Krapf, Otto Ernst Meyer já em 1935 dava as linhas-mestras do departamento aerodesportivo da VARIG, prevendo um presidente', um diretor técnico e um dirigente de propaganda, um tesoureiro e os sócios contribuintes. A organização previa ainda um setor de vôo a motor, um de vôo a vela e outro de aeromodelismo. O setor de volovelismo aceitava joveQs de ambos os sexos, com uma idade mínima de dezesseis anos, mediante a apresentação de um atestado médico e que fossem aprovados em um exame psicológico, a ser realizado pela VARI G. E após inúmeras considerações de ordem técnica, que foram praticamente todas aproveitadas nos estatutos definitivos da VAE, o diretor-gerente da VARIG, Otto E. Meyer, dizi.a que as metas a serem atingidas eram as de obtenção dos brevês A, B e C, e, ainda, o distintivo especial C de Prata, como prova de eficiência. Finalizava dizendo que o grupo de planadores deveria filiar-se à Co494


missão Internacional de Estudos para o vôo a veia (ISTUS) , a fim de se beneficiar com as vantagens daí decorrentes e ter a possibilidade de poder enviar representantes na próxima Olimpíada, que seria realizada em Berlim, em 1936. . Onze meses depois de iniciados oficialmente os trabalhos, a VAE já podia apresentar um relatório de atividades que traduziu o ardor com que o jovem departamento se atirou ao empreendimento. A 31 de dezembro de 1937, a Varig Aero Esporte anunciava que já dispunha de um automóvel para reboque, adquirido através de subscrição no comércio de Porto Alegre, conseguido uma subvenção de vinte contos de réis através de dotação da Assembléia Legislativa gaúcha, além de ter importado da Alemanha um planador tipo Wolf e um avião esporte Klemm 25, além de outras realizações. O Resumo do relatório, sucinto, diz bem o que foi o primeiro ano de atividades: Nos seus 12 meses de atividade, a V AE congregou cinco grupos dispersos de vôo sem motor nesta Capital. Deu-lhes vida e realizou concretamente as suas atividades. Preparou 6 planadores e importou um de classe. Organizou a sua oficina e sua escola de modelos. Conseguiu difundir o mais possível a idéia das vantagens do culto da asa e assim obteve francos resultados e apoio, não só no auxílio financeiro do comércio local, como também da Egrégia Assembléia Legislativa do Estado. E no campo de sua precípua finalidade, isto é, voar, a V AE encerra o ano de 1937 com o explêndido número de 2.694 vôos realizados, iendo recebido instrução mais de 60 alunos de ambos os sexos, conseguindo 12 o brevê A e um o brevê B. Estes resultados foram conseguidos principalmente pela ação de um jovem instrutor, Comandante Carlos Henrique Rhul, que, em fevereiro de 1937, estava chegando da Alemanha, onde fora especializarse como piloto comercial e conseguira, no vôo a vela, todos os brevês existentes. Com a chegada de Rhul, pôde ser implementada a idéia de Otto Ernst Meyer, de um departamento esportivo de volovelismo. Ruhl imprimiu de imediato a sua marca, baseada na interação dos conhecimentos técnicos apurados com uma férrea disciplina. Logo nos primeiros 30 dias de efetivas atividades, já haviam sido instruídos vinte e dois alunos que fizeram cento e quarenta e seis vôos, a maioria a .bordo do Grunau Baby n. Enquanto alguns alunos recebiam instrução de vôo, outros dedicavam-se à construção de quatro planadores, que, à medida em que iam ficando prontos, eram logo aproveitados na instrução. A construção de planadores, pelos alunos, fazia parte do currículo do curso sem motor. Antes de iniciar a instrução, os alunos deviam trabalhar cinqüenta horas na oficina. Esta era a Taxa que a VAE cobrava de seus alunos, para ingresso, mas a maioria destes triplicou essa carga de serviços prestados, no afã de desenvolver a sua Agremiação. A 18 de abril, somente quatro meses após o início das atividades, um aluno, Rudi Weisbauer, recebia o brevê A. Na mesma 495


ocasIao, outro estudante conseguiu o 4.° vôo da série A) que eXIgIa que cinco vôos em linha reta e planados fossem feitos, cada um, no período mínimo de trinta segundos. Era ele Erwin Bier, mais tarde figura de destaque no volovelismo brasileiro. A VAE também· recebeu, nos seus primeiros meses de existência, um planador intermediário do tipo Hols der T eu/el com bote que havia sido doado, juntamente com um jogo completo de ferramentas e um cabo de borracha, pelo 1. 0 Grupo de Vôo a Vela de Porto Alegre) quando de sua dissolução. o setor de vôo com motor iniciou seu curso a 6 de dezembro de 1937, e seu primeiro aluno foi o jovem porto-alegrense Olyntho Pereira, e a instrução era feita com o aparelho Klemm I 25) com motor Salmson de 40 H.P., cedido pela VARIG. O segundo avião da VAE foi um Bücker-Student) PP-TEV, com o nome de Chico) e que se tornou o avião rriais popular do Rio Grande do Sul, tendo participado de várias revoadas da Semana da Asa. O ano seguinte veria a construção do primeiro hangarda VAE, já que até então era usado um galpão da bomba de recalque para drenagem do aeródromo. O único planador existente só podia ser conduzido ao hangar depois de desmontado, necessitando, portanto, a cada vôo, de montagem e regulagem, o que demandava cerca de duas horas. O novo hangar foi possível graças à boa vontade dos dirigentes da V AE e, também, do Prefeito de Porto Alegre, que cedeu os materiais do Cassino da Exposição Farroupilha de 1935, no antigo Parque da Redenção, depois Parque Farroupilha, em Porto Alegre. A quantidade de material era vultosa e veio resolver um problema premente da V AE. Na construção do hangar, grande parte da mão-de-obra foi gratuita, por parte dos alunos da Varig Aero Esporte. Esta ia-se expandindo cada vez mais, e, durante os anos de 1938 e 1939, foram brevetados cem pilotos de vôo em planador e oito de vôo com motor. Ao mesmo tempo, a VAE incentivava e orientava a instalação de vários clubes de aviação desportiva, sobressaindo os dos Municípios de Montenegro, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Cruz Alta, locais onde predominavam os elementos descendentes de alemães, que continuavam a receber inspiração, principalmente, do surto volovelista por que passava a Alemanha, que já havia formado, naquela altura, imediatamente antes da Segunda Guerra Mundial, mais de meia centena de milhar de pilotos de planador. . A 20 de maio de 1939, a VAE teve enriquecido o seu acervo, com a importação, da Alemanha, de um planador biplace Kranich (PP-5 - Biguá) e um planador monoplace Weihe (PP-4 - Alcatraz) , ambos construídos pela fábrica Karl Schweyer A.G. E ainda, por interferência do Diretor do D.f\.C., foi transferido cà VAE, mediante uma indenização, um avião biplano Bücker-Jungmann (PP-TFH - Zeca) , qu~ 496


havia sido entregue, anteriormente, ao Aero Club de Goiás. Finalmente, a par de uma contabilidade muito bem equilibrada, pôde a VAE baixar o custo da hora de vôo de instrução para 85$000, o que foi deferido pelo Departamento de Aeronáutica Civil. A VAE continuava a brevetar seus pilotos, e a posição destes, a 30 de junho de 1940, era a seguinte: sócios integrantes do setor de vôo a vela, 29; de pilotagem de aviões, 11; de pilotagem e vôo a vela simultaneamente, 34; aeromodelismo, 6; e aeromodelismo e vôo a vela, 3 - num total de 83 . A primeira mulher que obteve sua licença de vôo, nó Rio Grande do Sul, foi a senhorita Nelly Bordini, tendo mais tarde, inclusive, participado de uma revoada a Montevidéu, a 24 de fevereiro de 1940. Por esta ocasião, a VAE já havia realizado, desde o início de suas atividades, em fevereiro de 1937, 11.892 vôos a motor, 10.995 vôos a vela e 476 vôos de reboque, com uma margem de segurança de 100 % . 10 -

Os Acampamentos

O primeiro acampamento de vôo a vela na América do Sul foi uma iniciativa da VAE e de Carlos Ruhl, e foi inaugurado em fins de janeiro de 1940, na pequena cidade de Osório, situada ao pé da Serra do Mar e bem próxima ao Oceano Atlântico. Suas atividades desportivas prolongaram-se por quinze dias, tendo comparecido ao evento trinta e sete aviadores desportistas, do Rio Grande do Sul e do Uruguai, com sete planadores e três aviões. Apesar do mau tempo, que prejudicou bastante o certame, foram estabelecidos dois novos recordes brasileiros de duração com planadores monoplaces, com 5 horas e 8 minutos, bem como o recorde sul-americano em planador biplace, com 5 horas e 58 minutos. Nesta época, junho de 1940, era o seguinte o acerVo da VAE: 1 avião Bücker-Student PP-TEV (Chico); 1 BückerJungmann PP-TSH (Zeca); 1 Bücker-Jungmann PP-TEZ (Juca) , que era propriedade particular do Sr. Erwin Bier; 1 avião Klemm 25 ppTDN (Cuéra), todos com dispositivos de reboque. Os planadores eram: 1 Hols der Teufel.(Gafanhoto); 1 Grunau 9 (Tico-Tico); 1 Wolf (Gaivota); 1 Weihe PP-4 (Alcatraz); 1 Kranich PP-5 (Biguá) (biplace para instrução); 1 Grunau Baby (Garça); e 1 Bussard (Urubu); e, ainda, material suplementar, veículos completos para transporte dos planadores e um caminhão com carroçaria especial para reboque. Três planadores foram importados e outros cinco construídos na própria oficina da VAE, e um planador ainda foi enviado para atender um grupo de volovelismo do interior do Estado. A distribuição das responsabilidades e dos diferentes setores de trabalho obedecia à seguinte constituição: Comissão de Administração - Otto Ernst Meyer e Érico de Assis Brasil, sendo 497


suplentes Ruben Berta e Harry Schuetz; Dirigente e Instrutor-Chefe - Carlos Henrique Ruhl e suplente Goetz G. Herzfeldt; 1.0 Tesoureiro - Erwin Bier; e 2.° Tesoureiro - K1aus R. Hoelck.

Fig. 150 -

Cmte. Ruhl ao lado do "Gaivota".

Ao longo de sua existência, a VAE proporcionou ao mundo volovelista o registro de muitos recordes, alguns até internacionais. Um ano tão-somente depois de criada, ,já o instrutor-chefe da Varig Aero Esporte; Carlos Ruhl, conquistava o recorde gaúcho de permanência para planador monoplace, com o tempo de 1 hora e 16 minutos. O fato ocorreu no dia 30 de janeiro, em um distrito de Porto Alegre denominado Belém Novo. O mesmo Ruhl . ultrapassou a sua própria marca, a 13 de novembro do mesmo ano, e o local foi o espaço acima do Aeroporto Federal na Capital Rio-grandense, com 1 hora e 23 minutos. No mesmo dia e local, o instrutor da VAE Gõetz Herzfeldt su498


Fig. 151 -

Goetz Herzfeldt a bordo do "Biguá". Observando, Kessler e Bety Rottermund (volovelista).

perou a marca de Ruhl, permanecendo 3 horas e 4 minutos. Poucos dias depois de terem sido atingidas estas marcas, durante o primeiro acampamento da VAE, em Osório, José Wingen batia o recorde brasileiro de permanência em monoplace, no dia 16 de janeiro. Voou durante 5 horas e 58 minutos, ultrapassando o tempo de um colega carioca que possuía a marca de 4 horas e 35 minutos. Doze dias depois, Carlos Ruhl aumentava o recorde brasileiro de permanência em monoplace com 7 horas e 36 minutos, e, finalmente, coroando o êxito do primeiro acampamento de volovelismo da VAE, novamente José Wingen alcançava a maior marca de permanência em biplace, na América do Sul, com 5 horas e 58 minutos. Os primeiros meses de 1941 registraram excelentes marcas dos pilotos da VAE. Ruhl bateu o recorde sul-americano de distância, cobrindo o percurso Porto Alegre-Cidreira (balneário marítimo) , num total de 92 km. Era o dia 11 de fevereiro e o tipo de planador empregado foi o biplace. Ainda José Wingen, a 13 de março, em monoplace, atingia o recorde brasileiro de permanência, voando 8 horas e 2 minutos, e ultrapassando o recorde anterior que pertencia a Carlos RuhI. No dia 20 do mesmo mês de março, o recorde brasileiro de permanência foi batido por outro entusiasta e instrutor da VAE, Erwin Wendorff, que voou em monoplace 10 horas e 12 minutos. No mesmo dia , Güetz Herzfeldt conquistava o recorde sul-americano de permanência para biplace, sustentando-se durante 7 horas e 12 minutos, e dois dias depois, a 22 de março, o piloto paulista Franz Schubert, voando no monoplace da V AE de nome Urubu, conseguiu superar o 499


recorde de permanência que estava em poder de Erwin Wendorff, com o tempo de 11 horas e 14 minutos. Já se vê que era grande o espírito de competição que animava os elementos da VAE, e aemulação daí decorrente era representada pelo batimento de recordes quase que diariamente. No período em que tais recordes eram atingidos, 8 a 23 de março de 1941, realizava-se o 2.° Acampamento de Vôo a Vela, também em Osório, e que, a exemplo do primeiro, congregou grande número de aficionados do volovelismo. Desta feita, porém, houve um sensível desenvolvimento de todas as atividades, sociais ou desportivas, e que se traduziu em recordes que suplantavam e se sucediam uns aos outros. Ainda durante este 2.° Acampamento, o único brevê internacional classe C foi concedido a uma mulher - Úrsula Blumer, de São Paulo. Houve uma boa freqüência diária de participantes, entre associados da VAE e visitantes convidados. Intervieram, também, três aviões com motor, quatro planadores de alto rendimento, quatro planadores primários e um número muito alto de reboques de planadores realizados por automóvel ou camioneta: 2.250, sendo que o número total de vôos de planador, aí incluídos os vários tipos de reboque, foi de 2.465, o que revela, juntamente com as horas totais de permanência em planadores - 141 horas e 49 minutos - um índice elevadíssimo de assiduidade e de interesse pelo certame.

Fig. 152 -

500

Volovelistas no Sul.


A construção de planadores era também um dos pontos altos da atividade da VAE. Um desses veleiros, construído em 1938, serviu de instrumento de formação para inúmeros pilotos, era figura imprescin· dível durante as comemorações de diversas Semanas da Asa daquela época e participava ainda, fazendo evoluções, das Paradas da Mocidade, que haviam sido incrementadas a partir de 1937, e que se realizavam nos CÜ\tá; 4 ou 5 de setembro, dentro das festividades da Semana da Pátria. Igualmente participava dos desfiles comemorativos do Dia do Aviador. Seu nome - Gaivota - ainda hoje desperta saudades naqueles que viveram aquela época de fastígio do volovelismo gaúcho. Está ele, hoje, suspenso do teto no Museu VARIG, em Porto Alegre. Era um Goeppingen Wol/, de cor branca, e seu prefixo, PP-10, foi substituído por PP-PAQ. Media seis metros e trinta e cinco centímetros de comprimento, com uma envergadura de quatorze metros e pesava cento e quarenta e nove quilos. Os dirigentes da VAE, entretanto, não se quedaram somente na construção de aparelhos para uso da sua entidade, mas partiram para o interior do Estado do Rio Grande do Sul, para auxiliar na construção ou simplesmente construir os veleiros e entregá-los aos aeroclubes interioranos. É o caso, por exemplo, de Erwin Wendorff, elemento que até hoje pontifica no setor do vôo a vela, depois de ter feito toda uma carreira profissional na VARIG. Wendorff construiu um planador tipo Grunau 9, de um projeto alemão, com onze metros de envergadura, e que podia ser rebocado ou impulsionado por cabo Sandow. Este tipo de planador, primário, substituiu, em alguns casos, os Hols der Teu/el e Zoegling, e já havia sido

Fig. 153 -

o

"Pampeiro", construído em Livramento, RS, em 1940.

501


construído pela VAE para uso próprio e para o Aero Club de Santa Cruz, cidade que, como vimos, é a mais tradicional no volovelismo riograndense e palco da segunda mais antiga experiência com planadores no Brasil, em 1920. O Pampeiro, assim se chamava, foi construído para o Aero Club de Livramento, cidade fronteiriça com o Uruguai, nos anos de 1940 e 1941. Desta forma, a VAE ia dando cumprimento ao que estabeleciam seus estatutos, que era desenvolver cada vez mais e expandir o ensino, o gosto e a prática do volovelismo. Em junho de 1939, a -VAE construiu e entregou ao Aero Club de Bagé um outro aparelho, primário, por um preço irrisório: 1 :500$000. 11 -

Outras Atividades Correlatas

A indústria aeronáutica no Brasil continuava a ensaiar novos passos, tímidos a princípio, para se irem firmando cada dia mais. Mas, além de aviões e planadores, outras atividades que cercavam o setor aeronáutico surgiam. O aeromodelismo era uma destas. A Associação Petropolitana de Planadores Aéreos promoveu, juntamente com o patrocínio do Jornal de Petrópolis, da Pequena Ilustração e da revista Asas, um concurso denominado 1.° Concurso Fluminense de Modelos e Desenhos de Planadores e Aviões, a ser desenvolvido naquela cidade serrana e extensivo a meninos e meninas até 18 anos. O concurso era simples e atraiu grande número de participantes, naquele janeiro de 1938. Os modelos podiam ser de qualquer tipo ou material, e somente não podiam exceder a dois metros de envergadura. Eram previstas seis provas, sendo duas de planadores, duas de aviões e as quinta e sexta provas eram somente de desenhos. Como este, iam sendo realizados vários outros concursos, em todo o Território Nacional, dirigidos principalmente aos jovens. Era a conjugação do natural interesse que a aviação despertava no público juvenil com a intenção do Governo Federal de incrementar o gosto pelas atividades aviatórias. No Rio de Janeiro, o Club dos Alcatrazes, fundado em 1936, continuava sua expansão, embora com algumas dificuldades. Em abril de 1939, iniciava uma série de treinos, com um grupo de 15 alunos, em um planador primário Quo Lilienthal, sob a direção de seu instrutor Wieemann. No Exterior, preparava-se, afanosamente, a participação de vários países na modalidade Vôo e Vela, a ser incluída pela primeira vez nas Olimpíadas de 1940, que deveriam realizar-se na Finlândia.~a Olimpíada anterior (Berlim, 1936), o vôo a vela já havia feito sua apresentação, mas sem caráter oficial. As provas de volovelismo seriam realizadas na localidade de Jaemijaervi, pequena circunscrição típica finlandesa e que distava de Helsinki três horas de trem, até Tampere, e desta até Jaemijaervi mais duas horas por rodovia. Estava prevista a construção de um bloco de dois hangares, 502


capazes de alojar de trinta a trinta e cinco planadores, outro hangar para três aviões-rebocadores, um restaurante para cem pessoas e um internato que poderia abrigar cento e cinqüenta alunos. A programação para as provas olímpicas de vôo a vela já estava preparada com um ano de antecedência, tendo sido ratificada pela Fédération Aéronautique I nternationale, de Paris, a 5 de janeiro de 1939 . Infelizmente, a eclosão de novo conflito na Europa impediu a realização das Olimpíadas de 1940. Mas uma das últimas estatísticas sobre volovêlismo, anteriores à Segunda Guerra Mundial, mostrava que era inconteste a supremacia dos alemães nesse campo. Em julho de 1939, três meses antes do início da conflagração, o número de prêmios-distintivos concedidos pela entidade mundial de vôo a vela era assim distribuído: Alemanha - 437 prêmios; Polônia - 95; Inglaterra - 29; Áustria - 20; França - 17; Estados Unidos da América - ·10; Suíça - 8; Hungria - 4; Finlândia - 3; Iugoslávia - 2; União Soviética - 2; Lituânia, Rumênia, Holanda e Brasil, 1 prêmio para cada, sendo · que o prêmio destinado ao Brasil foi conquistado pelo piloto Guido, Kleinat, do Club dos Alcatrazes . No Brasil continuava a marcha ascensional de algumas organizações volovelistas, enquanto que outras, infelizmente, iam desaparecendo. É o caso do Planador Club do Brasil, fundado em 8 de dezembro de 1933 , no Rio de Janeiro. Pretendia, como seu oome estava a indicar, ser uma agremiação de caráter nacional e, como tal, promover o desenvolvimento do volovelismo em todo o Brasil. Após algumas peripécias, entretanto, resolveram seus associados mudar de nome, transformando-se em Club Carioca de Planadores, com uma área de ação muito mais restrita. Mesmo assim não vingou e, dentro de um pouco mais de tempo, desapareceu completamente. Outra agremiação que durou uns poucos anos foi a Associação Petropolitana de Planadores Aéreos. No Rio Grande do Sul, anteriores à VAE, fundaram-sealgumas instituições, como o Planador Club Santos-Dumont, Club de Planadores de Rio Grande (da cidade de Rio Grande), mas não lograram êxito. O Club dos Alcatrazes, no Rio de Janeiro, promoveu algumas demonstrações com planadores trazidos diretamente da Alemanha a bordo do dirigível Híndenburg, em 1939. Aliás, não era um fato inusitado, pois, uns poucos anos antes, o Gra! Zeppelin trouxe o aviador Julius von Boeckel e seu avião Klemm, para dois passageiros, e que, a partir do Rio de Janeiro, visitou vários países sulamericanos em missão comercial. Este aparelho, que vinha embarcado com as asas dobradas, já trazia a cruz gamada no leme e seu prefixo era o D-EGOP. Ainda nesse mesmo ano de 1939, dois acontecimentos viriam dar nova dimensão ao volovelismo. A 6 de setembro, foi organizado o Aero Club Grêmio Politécnico. Sua vida foi efêmera, pouco mais de um ano, mas veio a transformar-se, ' em 17 de abril de 1941, no Club 503


Politécnico de Planadores, e este sim teve grande importância no desporte do vôo a vela. Por outro lado, no fim do ano, a 5 de dezembro, o grupo de aficinonados e mesmo fundadores do antigo Club Paulista de Planadores resolveu organizar uma outra agremiação, como sucessora daquele - a Escola de Aeronáutica São Paulo. O motivo foi a entrega de suas instalações em Cumbica para o Exército e, tendo encerrado suas atividades volovelistas, passou para o preparo e a instrução de pilotos de avião com motor. As atividades da construção e da operacionalidade (le planadores estão de tal forma entrosadas nos anos 1940 e 1941 que é difícil distinguir-se quando acaba uma e começa a outra; O Grupo Pignatari constituía-se em um dos grandes complexos industriais de São Paulo e situava-se em Utinga, cercanias de Santo André. Dentre as várias organizações que compunham o Grupo havia a Laminação Nacional de Metais. Esta, no fim do ano de 1940, iniciou a construção de planadores e, estendendo-se pelo ano seguinte, produziu trinta planadores Alcatraz, que era uma cópia ou versão brasileira do Grunau Baby alemão. Estes foram os primeiros, mas a produção continuou pelos anos seguintes. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas, de que já nos ocuparemos, teve criada pelo Governo do Estado de São Paulo, oficialmente, uma Divisão de Aeronáutica, que visava a ampliar um campo de ação que já vinha sendo objeto de estudos por parte do IPT. Passaram por esta Divisão vários engenheiros e alunos da Escola Politécnica, dos quais é justo destacar, pelo muito que realizaram, os nomes de Clay do Amaral, Eduardo Alvarenga, Djalma Forjaz, Romeu Corsini, Sílvio de Oliveira, Gaspar Ricardo Junior, Oswaldo Fadigas Torres, Nedo Eston e Breno Junqueira. A Escola Politécnica, aliás, já estava dirigindo suas atenções para a aviação, tendo mesmo importado da Alemanha, em 1939, uma usina-piloto completa para fabricação de chapas de contraplacado de alta qualidade, material muito empregado na época e que supriu todo o mercado brasileiro e da América do Sul durante a Segunda Guerra Mundial. 12 -

O IPT e seus Planadores

A Divisão de Aeronáutica do IPT ficou a cargo dos Engenheiros Frederico Brotero (o Pai do Freijó) e Clay do Amaral, e destinava-se a projetar e auxiliar indústrias nacionais que se interessassem pelos mesmos e, também, construir modelos a serem entregues a entidades volovelistas em todo o Brasil. Os planadores primários constituíram o início da produção, mas depois o IPT partiu para outros modelos, secundários. No primeiro caso estavam os tipos mais usados, o Zoegling e o Grunau 9, mas Broteroe Clay do Amaral tomaram a si a iniciativa de estudar um protótipo, ainda para instrução primária, mas 504


que reunisse qualidades e características melhores do que os tipos até então conhecidos. Os modelos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas tomaram a designação IPT, seguida da numeração contínua correspondente à sua construção. Assim , foram feitos os IPT-1 - Gafanhoto; IPT-2 - Aratinga; IPT-3 _. Saracura; IPT-4 - Planalto; e o IPT-5, chamado Jaraguá em homenagem ao outro Jaraguá, com que Hanna Reitsch fizera excelentes demonstrações em São Paulo, em 1934. Os modelos IPT foram-se sucedendo ao longo dos anos seguintes , todos com grande aceitação por parte dos clubes e dos próprios pilotos. O IPT-l, o Gafanhoto , era um modelo bem rudiemntar, mas realizava plenamente sua missão. Pesava, vazio , 115 kg, com 5,40m de comprimento e uma envergadura de 10 metros e 35 centímetros. Sua velocidade máxima era alcançada aos 120 km/h e podia carregar até 90 quilos. Como um projeto bem brasileiro, também brasileiros eram os materiais empregados: Freijó para estrutura, pinho do Paraná para o contraplacado (IPT), os montantes de pau marfim ou Freijó, o patim de pau marfim ou ipê, as ferragens de aço doce e o acabamento com verniz de boa qualidade, empregado em três demãos, no mínimo.

Plll/'lAOOR PRIMIiRIO I.P.T. I

.~r~~ Peso vasio Envergadura $uperficie de asa COlllprimento

.

~

10,35111

',40111

120 *111/11 Velocidade máximo de 0lerr0gem 5Skm/h

Capacidade de cargo 90

*9

PRoJiro Fig. 154 -

O "Gafanhoto".

O IPT-5 foi projetado por Romeu Corsini, sob a orientação de Clay Presgrave do Amaral, e foi concluído em meados de 1941. Os materiais de sua construção foram mais ou menos os mesmos do IPT-l, isto é, madeiras e ferragens nacionais, mas era um projeto muito mais 505


moderno que qualquer outro planador até então fabricado no Brasil. Podia conduzir dois tripulantes lado a lado, e colocados de tal maneira que a ação de um não interferisse com a de seu companheiro. Tinha comando duplo e um quadro de instrumentos em que se destacava um novo tipo de variômetro projetado no próprio IPT, além de um termômetro com sensores postos nas extremidades das asas,e que eram capazes de medir diferenças térmicas de até um décimo de grau. Além de todas estas inovações, ainda possuía flaps, roda com amortecedores e freio sob a fuselagem. O IPT-5 possuía uma envergadura de dezessete metros e suas asas tinham como núcleo uma única longarina, o que também era uma novidade e que demonstrou, dez anos depois, quando o IPT-5 foi desmontado para exames, que resistira perfeitamente bem a todos os esforços a que o planador revolucionário fora submetido. Finalmente, 1941 ainda veria um projeto de um planador ainda mais moderno. Seu idealizador foi um estoniano que emigrou para o Brasil, e que tendo trazido da Europa o germe da aviação, após algumas tentativas na agricultura e no funcionalismo público paulista, viu reacesas suas aspirações, quando da vinda da Missão Alemã a São Paulo, em 1934. Associando-se sucessivamente ao Club Paulista de Planadores e ao Club Politécnico de Planadores, o estoniano João Lepper realizou seu sonho, tirou brevê e, para coroamento, passou a ser instrutor de pilotagem . Convidado por Frederico Brotero, ingressou no IPT e passou a trabalhar em projetos, nos quais se _revelaria um mestre . Tanto que idealizou um planador que se destinava, segundo ele, a superar o alemão Olimpya Meise, que era o melhor veleiro do Mundo naquela época. E dizia Lepper que havia conseguido. O projeto, que recebeu o nome de Stratus, ficou pronto em 1941, mas só veio a voar pela primeira vez em 1944, já encampado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas e com o prefixo IPT-6. . Veria ainda o ano de 1941 o nascimento de uma organização volovelista de primeira grandeza: o Club Politécnic.o de Planadores - CPP - fundado a 17 de abril e constituído basicamente pelo Aero Club Grêmio Politécnico e mais por engenheiros e alunos da Escola Politécnica, e que foi o sucessor do antigo Club Paulista de Planadores. Já nasceu apoiado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas, através da sua Diretoria de Aeronáutica, e teve por longa data como mentores os Engenheiros Frederico Abranches Brotero e Romeu Corsini. O CPP, como ficou logo conhecido, foi uma das organizações que mais fez pelo vôo a vela no Brasil, juntamente com o Club Paulista de Planadores e a Varig Aero Esporte. A cooperação do IPT foi-lhe extremamente valiosa, e permitiu que São Paulo retomasse o lugar de destaque que sempre teve na aviação brasileira, principalmente no campo do volovelis506


mo. Em poucos anos de existência, o CPP já possuía um campo extremamente bem dimensionado para as operações do vôo a vela, com uma pista de quase 1.200 metros, bem compactada e perfeitamente drenada, um hangar espaçoso. Para estas obras muito cooperaram os Poderes Públicos de São Paulo, principalmente através da Secretaria de Viação e Obras Públicas, e a parte de alvenaria e instalações foi ofertada ainda uma vez mais pelo organismo que sempre o protegeu: o 1PT.

507



PARTE III

INDÚSTRIA AERONÁUTICA



CAPíTULO 1

FATOS MARCANTES

1 -

Uma Busca no Passado

o

Volume I desta obra, fizemos menção ao famoso avião construído por Demetrie Sensaud de Lavaud - o São Paulo _ . que depois do primeiro vôo ficou exposto no Saguão do Teatro Poli teama, a partir de 12 de janeiro de 1910. Outros nomes também ficaram famosos, na época, como Pellegati, mecânico do São Paulo, Gastão de Almeida e tantos outros; e igualmente citado foi Pedro Avignon, que teria construído um aparelho em 1909. É reconhecido por todos porém como sendo o primeiro vôo no Brasil e na América do Sul o que Demetrie Sensaud de Lavaud realizou no dia 7 de janeiro de 1910 em Osasco. O Coronel-Aviador Lysias A. Rodrigues, em sua série de artigos denominados Primeiros Passos da Aviação no Brasil, para a revista Avião, de novembro de 1944, declara possuir carta de familiares de Pedro Avignon que, a certa altura, diz que o aparelho ... não foi cópia de antro, e sim sua própria invenção, baseado nos conhecimentos obtidos pela leitura de revistas francesas. Assim, em junho de 1909 foram feitas plantas do aparelho e em princípios de dezembro estava compl~tamente pronto, quando foram feitas as experiências. De .certa forma ratificando o que estava contido na carta dos parentes de Avignon, o jornal Fanfulla, de São Paulo, publicou em sua edição de 27 de janeiro de 1910: No fim do primeiro dia de dezembro último - dezembro de 1909, portanto - o Sr. Pedro Avignon, industrial residente em Joli, acabou de construir aqui em São Paulo

N

511


um ,monoplano de sua invenção, que ele batizou com o nome de Avignon l. Ainda não havíamos publicado a notícia porque o Sr. Avignon mantinha segredo sobre a construção de sua máquina. O Avignon é um mono plano apoiado sobre quatro rodas, duas colocadas transversalmente, e as outras colocadas, uma na frente e outra atrás do aparelho. Foilhe adaptado um motor de motocicleta Brown, da força de seis cavalos e dois cilindros. O aparelho mede 8 metros de comprimento e 6 de largura; pesa 220 kg; a hélice, feita de madeira com listras de aço, faz 450 giros por minuto; tem dois lemes de profundidade, um anterior e outro posterior. Por este aparelho, que já fez pequenos vôos em Mogi das Cruzes, o inventor pedirá patente de invenção ao Governo Federal. O Sr. Pedro Avignon está agora ocupado na construção de um segundo monoplano, para o qual já encomendou na Europa um motor Anzani de 25-30 HP. Como o jornal Fanfulla em sua edição de 27 de janeiro de 1910 declara que Avignon acabou de construir seu aparelho em 1 de dezembro de 1909 e logo adiante fala que o avião .. . já fez pequenos vôos em Mogi das Cruzes . .. , é lícito deduzir que o vôo do Avignon I foi realizado no intervalo de tempo que medeia estas datas. Mas, por ser inconclusivo, não derroga o fato citado no jornal O Estado de Sãó Paulo, de 8 de janeiro de 1910, de que o vôo de Demetrie Sensaud de Lavaud, no dia anterior, havia sido o primeiro.

2 -

A Empreza Aeronáutica Ypiranga

Alberto Santos-Dumont foi um grande incentivador de uma empresa que se destinava a construir aviões e planadores. Através de seu sobrinho Henrique Santos-Dumont, o Pai da Aviação viu mais um sonho seu tornar-se realidade: a construção de aviões. Em 20 de janeiro de 1932 era fundada a Empreza Aeronáutica Ypiranga, cuja presidência foi ocupada por seu financiador , Henrique Santos-Dumont, e a direção técnica por Orton Hoover, já de nosso conhecimento, e Fritz Roesler. Os documentos de constituição da Empreza Aeronáutica Ypiranga EAY - - já estabeleciam que ela se propunha a projetar, construir e vender aeronaves . A época, entretanto, não era politicamente favorável a São Paulo. Manifestando-se desde o início da Revolução de 30 contrário à sua maneira de agir e de conduzir os destinos do grande Estado, com a semente da Revolução Constitucionalista desde logo lançada, e que viria a eclodir em 9 de julho de 1932, São Paulo vinha sofrendo discriminações as mais variadas por parte do Governo _Provisório. Isto se fez sentir também na EAY, que vinha encontrando dificuldades na compra, através de importação, de motores e peças indispensáveis à construção dos aviões. Desta forma, resolveu inclinar-se para a construção de planadores, bem mais fácil e que começava a inte512


ressar a juventude brasileira, embora ainda de maneira tímida. A Ypiranga já tinha construído quatro planadores, todos com excelentes resultados, mas continuava a buscar o seu objetivo maior - os aviões. Foi desta maneira que surgiu, da Empreza Aeronáutica Ypiranga, que se encontrava localizada no hangar Maneco - posteriormente pertencente à CAP, Companhia Aeronáutica Paulista - o avião YpirangaEAY-201. É o mais antigo aparelho nacional registrado no RAB - Registro Aeronáutico Brasileiro) e voou pela primeira vez ~m setembro de 1935.

Fig. 155 -

o

" Ypiranga".

A Empreza Ypiranga desenvolvia vanos projetos de planadores a par dos de outros aviões, momentaneamente paralisados. Dedicava-se, também, à reconstrução de aviões danificados, como é o caso de um aparelho Moth, seriamente acidentado no Campo de Marte em 1932, pertencente a um paulista entusiastà de aviação, Sr. Irahi Corrêa. Os planadores primários eram construídos na própria Ypitanga, pelo sistema Lippisch. Roover e Roesler possuíam, entretanto, desenhos e projetos de planadores secundários e terciários, mas só pretendiam implementá-los após terem formado pilotos com experiência suficiente em aparelhos primários . A um desses foi dada a marca EAY-T-101 , que tinha 10,15 m de envergadura, superfície total de 5,49 m e uma velocidade de cruzeiro de 14 m/segundo, com ângulo de descida de 12 513


por 1. Em 1932, ainda, a Ypiranga estava planejando construir um hidroavião sem motor, que seria usado na represa de Santo Amaro. Teria uma fuselagem de aço, em forma de bote, e uma superfície maior que a do EAY-T-101.

3 -

Estrangeiros Fazem a Aviação no Brasil

Como resultado da Guerra .Franco-alemã, Estrasburgo, na AlsáciaLorena, fora ocupada e estava fazendo parte integrante do Império Alemão quando ali nasceu, a 4 de dezembro de 1892, Fritz Roesler. Juntamente com Orton Hoover, assumiu a direção técnica da Empreza Aeronáutica Ypiranga. Fritz Roesler é outro exemplo de amor ao Brasíl dado por estrangeiros. Com 23 anos, recebeu seu brevê de piloto e imediatamente ingressou na aviação militar de seu país, tendo combatido norte-americanos, ingleses e franceses. Terminada a guerra, veio para o Brasil, e em . 1920 já o encontramos radicado em Olímpia, no interior de São Pauld~ Mas a cidade grande oferecia mais oportunidades para aquele homem que vivia só para a aviação; assim, logo depois, transferiu-se para a capital do Estado. Na época, era um modismo aprender a voar, e proliferavam as escolas. Orton Hoover já havia criado a Escola de Aviação Curtiss, em 1920, e Fritz Roesler, três anos depois, funda a sua, a Escola de Aviação Ypiranga, que permarieceu durante quatro anos no bairro do Ypiranga, na cidade de São Paulo. Roesler muda-se para o hangar Maneco, no Campo de Marte, em 1927, e segue dando suas aulas de pilotagem. A 15 de dezembro de 1931 é fundado, em São Paulo, um clube que se denominou o Grupo Mackenzie de Planadores, depois Club Mackenzie de Planadores, e cuja diretoria era constituída por George Corbisier, Presidente Honorário; Oscar de Souza Pinto, Presidente; Henrique Santos-Dumont, Secretário; e Joaquim Lopes de Figueiredo, Tesoureiro. Dois meses após a primeira festa de planadores, que se realizou no Campo de Marte, em 21 de marçõ de 1932, o Grupo Mackenzie de Planadores dava início à instrução com planadores primários. E é ali, ministrando aulas de planagem, que vamos encontrar novamente Fritz Roesler,ombro a ombro com Franz Ronza e Orton Hoover. Na mesma ocasião existiam a escola de pilotagem Hoover, no bairro de Indianópolis, a dos italianos Giovanni e Enrico Robba, a Escola de Aviação de Campinas, do aviador Vicaux (na qual João Ribeiro de Matos se formou), e a de Fritz Roesler. Apesar de piloto experimentado, tendo inclusive participado de operações de guerra, e de possuir brevê desde 1915, F ritz Roesler veio a ser diplomado muitos anos depois, pelo Aeroclube do Brasil. O detalhe interessante é que uma sua aluna, Tereza de Marzo, com quem Sê 514


casou, e Anésia Pinheiro Machado, aluna de Antonio Reynaldo Gonçalves, receberam diplomas com data anterior à dele. 4-

A União Henrique Lage - Muniz

Os anos 20, no campo da aviação, foram das tentativas, do pioneirismo, da aventura, enfim. Na parte da indústria aeronáutica, como vimos, muito pouca coisa foi realizada, mesmo porque esta última só existe em função da aviação organizada, seja civil, seja militar. A década seguinte presenciou um boom de atividades aviatórias, inclusive na parte industrial. Para isso contribuiu bastante o panorama político advindo com a Revolução, que trouxe mudanças na alta administração do País e idéias novas - corolário mesmo do movimento. Em São Paulo desenvolvia-se um surto de aviação em todos os sentidos: escolas de aprendizagem eram criadas, a juventude passou a adotar o avião como um símbolo de seu ardor, e algumas tentativas de industrialização foram feitas, como a EAY. Mas a situação política fermentava na Paulicéia, desde Itararé a batalha que· não houve - e a chegada do Tenente João Alberto, descendo do trem com um semblante fechado e trazido pela mão de Oswaldo Aranha para assumir a Interventoria. Novo movimento armado eclode em São Paulo; a aviação teve papel importante com atividades de ambos os lados, tanto que até Orton Hoover foi incorporado à Força Pública (que dispunha de aviação) com o posto de major, a título precário . Mas não foi só ele. O nosso já conhecido Fritz Roesler, João Carlos Gravê e o grande aviador civil Renato Pedroso, que possuía uma grande escola de aprendizagem, foram igualmente incorporados no posto de Primeiros-Tenentes, e ainda José de Mello e Jayme Medeiros Nunes comissionados como Segundos-Tenentes. O final da Revolução Constitucionalista marcou, paradoxalmente, um período de desafogo para a indústria e o comércio paulistas, que deixaram de sofrer discriminação por parte do Governo Federal. E o segmento aeronáutico da indústria continuou a expandir-se. Mas é o Rio de Janeiro que retoma a primazia no setor aviatório, e, conseqüentemente, no industrial. O Chefe da Revolução de 30 já possuía o título de Presidente do Brasil, e, fato inconteste, era um entusiasta da aviação. Getúlio Vargas vinha tomando uma série de medidas de ajuda e incentivo à incipiente aviação nacional, e ele mesmo participava de todo evento que dissesse respeito à arte de voar. Já criara o Departamento de Aviação Civil (D.A.C.), junto ao Ministério da Viação e Obras Públicas, além de outras iniciativas, ora visando ao incremento, ora acautelando os interesses nacionais no setor aviatório. 515


Getúlio Vargas conhecera Guedes Muniz, major ainda, em uma demonstração no Campo dos Afonsos, tendo até voado por quinze minutos no M-5; ele estava atento a tudo o que se passava na aviação brasileira. Guedes Muniz, por outro lado, continuava sua carreira militar, sempre ligado aos projetos e construção de aeronaves, sua especialidade. Em 1933, sugeriu a criação do Núcleo do Serviço Técnico de Aviação, que foi instalado em dependências cedidas pela Escola de Aviação Militar, ao lado do Parque Central de Aviação, no Campo dos Afonsos . Muniz foi o primeiro Diretor do Núcleo, e iniciou suas atividades no ano seguinte, selecionando candidatos para trabalharem com ele, como engenheiros, projetistas, desenhistas, técnicos , auxiliares, etc. Em 29 de março de 1934, foi promovido a T enen te-Coronel, e foi nessa ocasião que Vargas interveio. Por esta época Muniz já era conhecido nos círculos aviatórios do País, não só por ter criado o M-5 (que voou exatamente até 1934), como por sua atuação em quase todos os congressos, simpósios, etc. que se - realizavam no Brasil , inclusive como redator e comentarista da revista Asas, que iniciara suas publicações periódicas em 1932 e se constituía no grande fórum de debates sobre aviação. Vargas já era amigo de Guedes Muniz, e conhecera, por força do exercício de seu cargo, Henrique Lage . Sabendo da capacidade de Guedes Muniz, resolveu apresentá-lo a Lage, e convenceu-o de que deveria retomar suas atividades de industrial de aviação , melancolicamente interrompidas em 1922 , por incompreensão do Governo Federal de então. O armador naval volta a entusiasmar-se com a idéia de fabricar aviões, pois, tendo sido solicitado a isto pelo próprio Chefe da Nação, acreditava que as encomendas não lhe haveriam de faltar como há doze anos . A Companhia Nacional de Navegação Aérea já estava criada, desde 1921 , mas inoperante. Reativada, à velha (mas não usada) maquinaria foram acrescentados alguns implementos modernos . O primeiro presidente da CNNA foi o Dr. Rodrigo Otávio Filho, mas o cérebro da Organização Lage , Henrique, chamou para diretor técnico o Engenheiro Aeronáutico Luiz Felipe Marques Gonçalves. Guedes Muniz exercia a função de fiscal. Foi assim que, em 1935 (muito embora os componentes tivessem sido_ encomendados nos Estados Unidos da América em agosto de 1933), nos estaleiros da Companhia Nacional de Navegação Costeira (usados pela CNNA) , foi construído o M-6 . Guedes Muniz afirma textualmente: Eu sempre cognominava os tipos com número ímpar, mas um aparelho com número par foi surgindo dos Estaleiros Lage. Foi ele projetado por uma equipe cujo chefe era o Engenheiro belga René Marie Vandaele , e que incluía também o desenhista Engenheiro MarceI deI CarIi. O Chefe da equipe havia sido trazido por Muniz para integrar o seu grupo no Núcleo de Serviço Técnico de Aviação . Mas explica-se: o M-6 não era um projeto novo 516


de Guedes Muniz, apenas uma versão aperfeiçoada do M-5, do qual tinha a mesma configuração externa, mas com asa de madeira inteiriça ~ fuselagem de tubos soldados de aço-cromo-molibdênio, técnica também depois adotada no M-7. O M-6 possuía um motor norte-americano Wright, de 150 H.P., equipado ainda com hélice de madeira. Sua carreira foi curta: depois de apresentado na Feira de Amostras de 1936, voltou aos estaleiros e recebeu algumas modificações importantes, como um novo motor em linha, inglês, de 200 H.P., marca Gipsy. E um novo nome - M-8. 5 -

Revolução Reconstrói Avião mas Não Paga o Conserto

Minas Gerais, 1930. Num esforço para participar do movimento outubrista com armas modernas, o Estado de Minas Gerais manda reconstruir um velho avião de bombardeio que se acidentara em 1928. A ele foi dado um novo nome, bem de acordo com a época: Aliança Liberal. Seu reconstrutor foi um velho italiano, Mario Bima, que nasceu em Mondovi, no Pie monte , em 1896, e que veio para o Brasil em 1921, fixando-se em Belo Horizonte. Era um artesão capaz e cuidadoso, tendo sido solicitado várias vezes pelo Governo de Minas para muitos outros serviços, como as esculturas da gare da Estação Central do Brasil, além de faculdades, colégios e outros. Em 1936 executou as urnas, carretas e altares que transladaram os restos mortais dos soldados mineiros mortos em combate no Movimento de 1932, transferidos para Minas por iniciativa do Governo do Estado. Era um artista de comprovada competência e grandes serviços prestados a Minas Gerais e à aviação, tanto que, em 1974, foi agraciado com a Medalha Santos-Dumont, que recebeu das mãos do então Governador Rondon Pacheco. Mario Bima, entretanto, teve que percorrer a via crucis burocrática, e a leitura dos documentos de seu processo faz lembrar o livro de Franz Kafka. O italiano recebeu, do próprio Olegário Maciel, líder civil do movimento e que se tornaria, depois, Interventor Federal do Estado, ordens sigilosas e verbais para reconstruir o avião. Executou o serviço, e existem mesmo várias fotografias de suas oficinas e do Aliança Liberal (com o nome escrito em letras gigantescas nas asas) sendo reconstruído. Mas eis que Olegário Maciel morre, e Mario Bima, que vinha tendo seu processo despachado favoravelmente, porém de maneira muito lenta, é tolhido em suas pretensões, pois o crédito já fora aberto, mas não havia sido promulgada a lei respectiva, em virtude da vigência do Estado Novo. Bima refaz todo o processo, já então dirigido a Benedito Valadares, atual Governador do Estado, o qual, em despacho de próprio punho a lápis, afirma de forma categórica: Nenhum avião mmetro voou na Revolução de 30. Em 12.12.939. ass.) Benedito Valadares, e mandou arquivar o processo. O escultor italiano não desa517


nima, porém, e volta à carga, dizendo que estava tendo sua oficina lançada pela Dívida Pública em 4:000$000 (quatro contos de réis), por falta de pagamento de impostos, e solicitava um acerto de contas, com os 8:430$000 (oito contos quatrocentos e trinta mil réis), que era a quanto montava o conserto do Aliança Liberal, contando apenas o material que ali fora empregado . Em 25 de fevereiro de 1942, Benedito Valadares ainda continuava Governador e o pleito de Mario Bima, de 1931, voltou à mais alta instância administrativa. E Valadares pergunta: Havia autorização do Governo do Estado para Mario Bim(1 reconstruir o avião? O processo não diz se o escultor italiano recebeu, afinal, os seus oito contos quatrocentos e trinta mil réis. Porém, não obstante as dúvidas levantadas por Benedito Valadares, lá estão as fotos da reconstrução de um avião de lembrança tão sugestiva: Aliança Liberat36 •

Fig. 156 -

518

o

"Aliança Liberal" sendo reconstruído.


CAPíTULO 2

O PRIMEIRO AVIÃO NACIONAL -

1 -

O

M~7

O Projeto

primeiro aparelho de projeto e construção. inteiramente nacionais foi o M-7, e de tal forma marcante foi sua atuação que o dia de seu primeiro vôo passaria a ser considerado o Dia da Indústria Aeronáutica Brasileira - 17 de outubro, por Portaria do Ministro da

O

Fig. 157 -

O "M-7"

519


Aeronáutica Délio Jardim de Mattos, datada de 23 de agosto de 1980. Quarenta e nove anos depois do projeto, dele diria Guedes Muniz, em 1984, já então Marechal-do-Ar, de maneira simples: O M -7 tinha como objetivo servir em missões militares e atender aos aeroclubes. Era um avião de motor pequeno) 120 HP) e que foi construído na indústria civil brasileira. Quem me incentivou) aceitando o meu desafio ) foi Henrique Lage) que tinha um estaleiro na Ilha do Viana ) perto de Niterói. O M-7 era feito ' no seu estaleiro) e eu era o fiscal. Havia um grupo d~ pessoal da aeronáutica ensinando o pessoal deles a fazer avião. O primeiro protótipo) entretanto) quem construiu foi o Parque dos Afonsos. Mas os detalhes do projeto ele os relata de forma ampla, em maio de 1935: Na construção de um avião de novo modelo) três fases perfeitamente distintas caracterizaram a sua evolução . A primeira compreende o anteprojeto: a escolha da forma a adotar de acordo com o fim a que se destina o avião; a seleção dos melhores perfis; 05 primeiros cálculos; a escolha do tipo de construção mais conveniente) de acordo com os recursos do País. A segunda fase compreende o d~senho detalhado de todo o avião para a sua fabricação : os ensaios de matérias-primas) os planos de conjunto e equipamento.) a distribuição do combustível e lubrificante) a instalação do motor e o desenho de todos os comandos) etc. Esta segunda fase é lenta) trabalhosa e fatigante ) mas profundamente interessante. E a terceira fase compreende a construção do avião protótipo para o vôo e de um outro idêntico para o ensaio estático no solo até a ruptura .

O ciclo de evolução deste novo avião) que a numeração cronológica quis que fosse batizado de M-7) já completou a sua P!imeira fase) e o anteprojeto foi realizado. A maquete foi construJda pelo Parque Central) e os ensaios executados no túnel aerodinâmico do Laboratório Eiffel de Paris) sob as vistas do meu particular amigo Tenente-Coronel Ajalmar Mascarenhas . O ensaio foi conduzido rapidamente graças ao auxílio que me foi prestado pelo Comandanle Pierre Fay) da Missão Francesa) e Capitão Julio A . dos Reis) da Escola Superior de Aeronáutica de Paris . As conclusões do Relatório do Laboratório Eiffel foram as seguintes: Estabilidade de rota - muito satisfatória e tendo um desenvolvimento ótimo . Estabilidade longitudinal - a simples inspeção das curvas de estabilidade indica um declive muito rápido e, canse520


qüentemente, uma excelente estabilidade para as três (3) centragens previstas.

E prossegue o Tenente-Coronel Muniz, ainda em 1935: A segunda fase da evolução do M-7 está quase terwinada, graças aos atuais recursos do Serviço Técnico de Aviação, através de seu Departamento de Estudos e Gabinete de Desfnho, sob a direção do Capitão Joaquim Tavares Libano. Para as articulações do trem de aterragem do M-7 eu precisava de um bronze especial, e logo depois o Serviço Técnico de Aviação indicava a composição . de um bronze que poderia ser preparado aqui mesmo pelo Parque Central, e com uma resistência superior à desejada.

E Guedes Muniz finaliza suas palavras sobre aquele projeto que lhe seria tão caro e que tanta importância teve no cenário aeronáutico brasileiro: A terceira fase da evolução do primeiro avião escola brasileiro começará com a sua fabricação . Meu desejo é que a mesma seja confiada ao Parque Central de Aviação, sob a competente direção do Major Ivan C. Ferreira., Esse órgão técnico está perfeitamente.. aparelhado para realizar qualquer tipo de avião de construção mista como a do M-7, e suas instalações ultrapassam de muito o que existe noutros países, em casas que são ou foram fornecedoras de aviões para o nosso Governo. Muitas peças, porém, talvez não devam ser desde logo construídas pelo Parque Central, por uma questão econômica apenas. É possível que tais peças sejam de preferência confeccionadas na indústria civil do Rio de Janeiro, Minas Gerais ou São Pauld.

2 -

As Características

As asas foram dispostas de maneira que permlt1am a evacuação rápida do piloto e co-piloto, de pára-quedas, em caso de emergência, e foram amarradas uma à outra por meio de um par de mastros em N, de aço. A · construção da asa era de madeira, tipo caixão, e cada uma delas se compunha de duas longarinas paralelas. A fuselagem era de aço-cromo-molibdênio inteiramente soldada, técnica norte-americana, já adotada no Spirit o/ Saint Louis de Lindbergh, e, depois deste fato, encampada pelos engenheiros franceses a que Muniz se integrou, e a forma simples, do tipo de viga armada em N. O trem de aterragem, equipado com freio nas rodas, acionado por um punho no manche e 521


manobrado diferentemente pelos pedais do leme de direção. O motor do protótipo era um Gipsy Major de 130 c.v. a 2.350 r/mi de quatro cilindros invertidos, com hélice de madeira. Os tanques de gasolina possuíam uma capacidade de 150 litros, o que permitia uma autonomia de mais de quatro horas; no entanto, com uma alimentação suplementar, prevista para os casos de transformação do aparelho para fins turísticos, esta autonomia poderia ser aumentada para cinco horas e meia. Sua envergadura maior (plano superior) era de 9 metros, com um comprimento total de 7,24 ni e peso total de 860 kg. Suas velocidades estavam previstas para 155 k/h a de cruzeiro e· a máxima em 170 k/h.

3 -

A Construção

Guedes Muniz prometera a seus superiores que construiria seu avião num prazo de nove semanas, o que causou surpresa, uma vez que foi considerado exíguo . A 8 de agosto de 1935 era colocado o primeiro prego (de ouro) na primeira nervura a ser montada. Convidado, o Ministro da Guerra de então, General João Gomes Ribeiro, fez-se representar pelo Coronel Lobato, tendo ainda comparecido à cerimônia o Coronel Newton Braga, o Coronel Pederneiras, o Tenente-Coronel Ivo, o Comandante da Escola de Aviação Militar, _grande número de oficiais, cadetes e praças. O ato constituiu-se na colocação de três pregos, um pelo representante do Ministro da Guerra, outro pelo Diretor do Parque Central de Aviação e, finalmente, o terceiro pelo Tenente-Coronel, Guedes Muniz, que ao final proferiu algumas palavras apresentando o avião que estava com sua construção sendo iniciada. Setenta e um dias depois, às 6 horas da tarde de 17 de outubro de 1935, o M-7 era dado como concluído, e às 6h10min, com muito mau tempo, Guedes Muniz mandava virar o motor Gipsy Major e acender os refletores do campo, enquanto o Capitão Geraldo Guia de Aquino preparava o seu pára-quedas. Junto com Aquino, que pilotava, ia o Tenente-Coronel Guedes Muniz, satisfeito com seu projeto nacional que começava a voar. Depois de rolar em diversos sentidos, ora çom a bequilha no solo, ora no ar, o M-7 realizou diversos vôos curtos, a baixíssima altura - apenas 3 metros - para observar como o avião se comportava. Guedes Muniz, entretanto, não atendeu à solicitação do Capitão Aquino de fazer um vôo a grande altitude, devido principalmente ao mau tempo, e fez o aparelho retornar. Havia voado, portanto, o primeiro avião de concepção, projeto e construção brasileiros. O ato foi assistido por vários oficiais c por uma turma de cadetes do terceiro ano de aviação. O vôo foi tão satisfatório que o aparelho foi logo homologado. 522


4 -

O Construtor Henrique Lage

Os dois protótipos do M-7 foram construídos no Parque Central de Aviação, e um deles era usado apenas para testes de esforço. É neste ponto que se entrelaçam as atividades de Henrique Lage e Guedes Muniz. Lage possuía a Companhia Nacional de Navegação Aérea desde 1921, que funcionava à Av. Rodrigues Alves, 3 03, quando, pretendeu construir os aviões Blackburn e os motores Bristol. Tendo em vista o sucesso do vôo experimental do M -7, cria a Fábrica Brasileira de Aviões, com a intenção de construir e desenvolver o projeto de Guedes Muniz. Na verdade, embora as duas companhias funcionassem ·ao mesmo tempo e tivessem razão social distinta, quem construía os aviões era a Organização Lage, enorme complexo industrial e comercial. A Companhia Nacional de Navegação Aérea - CNNA - dedicar-se-ia mais tarde a um avião monomotor de asa alta, o HL, enquanto a Fábrica Brasileira de Aviões desenvolvia o projeto Muniz. O M-7 foi construído em série, tendo sido, aliás, o primeiro avião fabricado dentro dessa modalidade no Brasil. Além dos dois protótipos (um que voou e outro que se destinou a testes), foram construídos 26 aparelhos de série, durante o período compreendido entre 30 de setembro de 1936 (quando dois aparelhos foram apresentados à Imprensa e no dia seguinte seguiram voando para São P~lUlo, para o Aeroclube)} até outubro de 1941, quando foram entregues oito de uma encomenda de

Fig. 158 - Henrique Lage, entre os Generais Leite de Castro e Goes Monteiro, na entrega de um avião Muniz, na Ilha do Viana, Baía de Guanabara, Rf.

523


quatorze unidades por parte do D.A.C., para posterior repasse aos aero clubes. Cinco ficaram no Rio de Janeiro, no Aeroclube do Brasil, e os outros três foram enviados para Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul. No número total de M-7 construídos existe uma pequena discrepância, pois, enquanto alguns autores citam a existência de apenas um protótipo, outros dão como sendo dois, o que aumentaria o total para 28. Os aparelhos eram construídos na Ilha do Viana, na Baía de Guanabara, e, depois, transportados de balsa para a Ilha do Engenho, onde a Organização Lage tinha um campo de pouso. Ali eram testados e só então entregues aos compradores. Tiveram uma vida útil de 29 anos, pois o último deles, matriculado em 1938 como PP-TEN, voou regularmente até 1967, tendo sido após doado ao Museu de Aeronáutica da Fundação Santos-Dumont, em São Paulo.

524


CAPíTULO 3

OS ÚLTIMOS M

1 -

O M-8

OMO já nos referimos, o M-7 participou da Feira de Amostras de 1936, ond~, no dizer do l?rópr~o Guedes Muniz, sofreu muito. Foi levado entao para a Ilha do VIana, quando recebeu reparos e modificações importantes, como a substituição de seu antigo motor por outro mais potente, um Gipsy inglês, de 200 H .P. A esse aparelho assim modificado foi dado o nome de M-8. Embora fosse unânime o reconhecimento do êxito do M-7, eramlhe atribuídas algumas deficiências, principalmente no que tangia à pouca potência de seu motor. Isto já fora contornado com a colocação do motor Gipsy no M-8, mas o projetista se deu conta de que o avião não dispunha de força suficiente, principalmente para acrobacias. Passou, então; a desenvolver um novo projeto que tomou o nome de M-9, e foi dos mais ·famosos aviões brasileiros daquela década de 30.

C

2 -

O M-9

Da prancheta de desenho à construção do protótipo não demorou muito, e já em 1937 o M-9 voou pela primeira vez. Como suas linhas básicas eram oriundas do M-7, logicamente ele era muito parecido com este. Havia no entanto alterações profundas: um novo motor inglês' De Havilland Gipsy Six com 200 cavalos, modificações do leme que o tornaram de comando mais rápido, e ao peso total de 860 kg do M-7, 525


foram acrescentados 150, perfazendo 1.010 quilos; mais alto, possuía maior velocidade. Quanto ao desempenho, preenchia plenamente as necessidades que motivaram sua criação: era ótimo para acrobacias.

Fig. 159 -

o

"M-9" .

.Tão logo foi homologado, em fevereiro de 1938, Lage recebeu uma encomenda de vinte aparelhos, e, poucos meses depois, na véspera do Natal do mesmo ano, voava o primeiro M-9 oriundo da fabricação em série. O Exército, que fizera a encomenda, recebeu os primeiros cinco em 5 de abril de 1939 e alocou-os imediatamente à Aviação Militar. Até o protótipo recebeu matrícula - PP-PDE - e foi vendido à Varig Aero Esporte (VAE), fundada alguns poucos anos antes, em Porto Alegre. Várias encomendas sucederam-se e a última entrega foi feita em março de 1943. O M-9 era um avião robusto mas ao mesmo tempo ágil e foi utilizado como aparelho de instrução pela Aviação MIlitar, com ênfase na Escola de Aviação Militar, para a qual foram encomendados e destinados vinte aparelhos. Alguns foram doados aos governos da Argentina e do Paraguai. A Segunda Guerra Mundial já tinha um ano quando o Exército fez mais uma encomenda de vinte aviões M-9, que seria a última. Em função do conflito, haviam começado também as dificuldades para a in· dústria brasileira, e, em especial, a aeronáutica. Os motores De Havilland Gipsy Six que equipavam até então os M-9 não podiam ser mais entregues pela Inglaterra, envolvida pela guerra e com o esforço indus~rial inteiramente comprometido com suas próprias Forças Armadas. 526


Assim, a Organização Lage teve que optar por um outro motor, um pouco menos potente, de procedência norte-americana: o Ranger 6-440-C2, com 190 H.P. Aliás, sobre este assunto específico, Guedes Muniz, já Marechal-do-Ar, em 1984, concedeu uma entrevista à Revista Aeronáutica, e teve palavras fortes para defini-lo: Tive que usar um motor Ranger, que era uma porcaria. A modificação atrasou um pouco o fabrico desses últimos M-9, e o primeiro lote de cinco, dos vinte encomendados, só pôde ser entregue em março de 1942. Nesse ínterim, muitos fatos novos haviam acontecido no Brasil, alguns dizendo respeito diretamente à aviação: fora criado o Ministério da Aeronáutica, a 20 de janeiro de 1941; Henrique Lage falecera a 2 de julho do mesmo ano, e a presidência da CNNA estava sendo exercida pelo Comendador Ernesto Benzanzoni, cidadão ita. liano, e em janeiro de 1942 tinha lugar no Rio de Janeiro a Conferência Pan-Americana, que teve como conseqüência imediata o rompimento de relações do Brasil com a Alemanha, Itália e Japão, o que provocou a intervenção na Organização Lage. Os M"9 dispersaram-se. A maioi:ia foi -para Porto Alegre, incorporada às unidades da Base Aérea, outros foram doado~ a vários aeroclubes pelo Brasil afora, e dois foram destinados, 'em 1943, à recém-criada Fábrica Nacional de Motores, com a finalidade de servirem como aparelhos de prova e experimentação. No total, foram fabricados 41 aparelhos, incluindo um protótipo. Os Muniz M-9 tiveram vida muito longa, e um dos últimos, o PP-RSH, ainda voava e -servia como aeronave de instrução no Aeroclube de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, em março de 1958.

3 -

O M-ll

Guedes Muniz, que fora promovido a coronel em 7 de setembro de 1938, já estava quase atingindo o generalato quandô projetou o M-11. Foi um retorno às origens, pois o avião tinha as linhas básicas daquele que fora o projeto de fim de curso na Escola Superior da Aeronáutica de Paris, e o primeiro construído. O Muniz M~l1 era um monoplano de asa baixa, executado igualmente em madeira nacional mas com motor bastante potente, o Gipsy de 200 H.P. Voou pela primeira vez em 28 de outubro de 1941, sob o comando do Capitão Vinhaes. Os testes foram amplamente satisfatórios, e o M-ll chegou a voar 4.000 horas, tendo sido inclusive registrado como treinador primário de primeiro modelo (TP-1); depois disso, no entanto, a idéia fl)i abandonada e a construção não passou do protótipo. O M-ll voou até 1949. Com este aparelho encerrou-se uma fase heróica da aviação brasileira. Os PT-19, de fabricação norte-americana, estavam s'endo enviados às

527


dezenas para o Brasil, por conta da Lei de Empréstimo e Arrendamento, e gestões já estavam sendo encaminhadas para que o Brasil passasse a fabricá-los, sob licença.

Fig. 160 -

o

uM-11".

Guedes Muniz, ainda coronel, estava à disposição do Ministro da Viação e Obras Públicas, pugnando por uma idéia que lhe entusiasmava, a construção de motores de aviação no Brasil. Para tanto, foi criada a Fábrica Nacional de Motores (F'NM), e Guedes Muniz passou a dirigila desde 1941. Em 6 de abril de 1942, foi promovido a Brigadeiro-doAr. A Fábrica Nacional de Motores teve enorme importância no contexto industrial brasileiro, inicialmente no setor da aeronáutica. Tão importante que será objeto de um capítulo à parte.

528


CAPÍTULO 4

O INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DE SÃO PAULO

1 -

· C

Fundação e Importância

OMO já dissemos, a época que mediou os anos 30 e 40 foi de grande agitação nos meios aviatórios brasileiros, em contraste com a apatia dos dez anos anteriores. No setor da construção viu-se um desenvolvimento cada vez mais acelerado, acompanhando pari passu as novas conquistas nacionâis e a excitação que a aviação mundial demonstrava e fazia chegar ao Brasil sob a forma de aviões cada dias mais revolucionários. Nessa fase interligam-se, por sua importância, fatores os mais diversos no campo da indústria aeronáutica, mas principalmente aquele que trata das madeiras com que eram construídos os aviões de então . Dentre os homens que colaboraram para o aprimoramento da técnica dos aviões de madeira avulsa, destaca-se o nome do .Engenheiro Frederico Abranches Brotero, mas é necessário também saber algo sobre a casa que o abrigou , o famoso por todos os títulos Instituto de Pesquisas Tecnológicas. .

2 -

Antecedentes Remotos

O IPT não nasceu do nada, e sim da transformação do antigo Laboratório de" Ensaio de Materiais da Escola Politécnica de São Paulo , que, por sua vez, tem sua gênese na Escola Politécnica, criada pela Lei n.o 191, de 24 de agosto de 1893, e inaugurada solenemente com a aber529


tura dos dois primeiros anos do Curso de Engenheiros Civis. Nos últimos dias de dezembro de 1896, estavam concluídos o grande edifíciosede e os laboratórios que funcionariam anexos, conjunto a que se deno minou, mais tarde, edifício Paula Souza, em homenagem ao primeiro diretor da Escola Politécnica e fundador do Gabinete de Resistência de Materiais, Antonio Francisco de Paula Souza, nascido em 6 de dezembro de 1843 e falecido a 13 de abril de 1917 . Bem poucos anos depois, o Grêmio Politécnico já fazia publicar um Manual de Resistência de Materiais, com mais de trezentas páginas, e que se constituía em um repositório notável para a época (1905), das propriedades físicas, mecânicas e químicas dos materiais de construção então mais empregados no nosso meio - contendo as primeiras indicações experimentais acerca dos materiais do País, sobre os quais eram omissos os manuais e for~ mulários da profissão.

3 -

Laboratório de Ensaio de Materiais -

o

LEM

ano de 1926 marca uma grande transformação. Foi confiada a direção do antigo Gabinete de Resistência de Materiais ao Engenheiro Ary F. Torres, qiIe vinha de um curso de aperfeiçoamento em Zurique e visitara a grande maioria de estabelecimentos congêneres por toda a Europa, como prêmio de viagem por seu curso de materiais de construção. Tão logo assumiu, a 5 de abril de 1926, o Engenheiro Ary Torres apresentou um projeto de remodelação do Gabinete, do qu-al o ponto principal era, sem dúvida, a sua transformação de exélusivamente didático em laboratório industrial, o qual abrangeria, além do ensino, os ensaios solicitados por particulares e as pesquisas de utilidade geral sobre materiais de construção, suas propriedades, maneira de determiná-las em laboratório, etc. E no seu artigo 2. 0 , também serão iniciados estudos sistemáticos sobre propriedades de materiais nacionais (madeiras, pedras,. etc.). Foi exatamente este pequeno item que permitiu, mais tarde, estudos avançadíssimos sobre as· madeiras que equipariam os aviões brasileiros, estudos estes quase todos de autoria ou de inspiração do Engenheiro Frederico Brotero. Um ano depois já o Laboratório conseguia verbas através de um Fundo que foi criado e constituído pelas três grandes estradas-de-ferro de São Paulo, que contribuíram: com 200 contos de réis a Cia. Paulista de Estradas-de-Ferro; com 100 contos a Mogiana; e mais 100 contos a Estrada-de-Ferro Sorocabana. Em 1931 o antigo Gabinete de Resistência e Ensaios passou a denominar-se Laboratório de Ensaio de Materiais, e suas iniciais, LEM, tornaram-se imediatamente conhecidas em todo o Território Nacional. 530


Ainda neste mesmo ano o LEM foi complementado com uma subvenção anual de 24 contos de réis, por Portaria do então Prefeito Luiz de Anhaia Mello, e que se constituiu na primeira subvenção consignada ao Laboratóriols •

4

O Laboratório da Revolução Constitucionalista

Toda publicação que se refira ao emprego de materiais nos aviões brasileiros cita o Engenheiro Frederico Abranches Brotero como o maior especialista em madeiras de emprego em aviação, mas é ainda em seu Laboratório (antecessor do 1PT) que vamos encontrar o seu nome, e ligado a outras atividades que não as aeronaves daquela década. A Congregação da Escola, com todo o seu corpo docente e técnico, votou pela manifestação de irrestrita solidariedade ao Governador Pedro de Toledo, a 12 de julho de 1932. Assim, o Governo do Estado de São Paulo requisitou a Escola, com todos os seus Laboratórios, para constituírem o Serviço de Engenharia da Força Pública do Estado, e o Laboratório de Ensaios de Materiais incrementou ainda mais os serviços que já vinha prestando à Revolução Constitucionalista. O Diretor efetivo do Laboratório encontrava-se ausente de São Paulo, naquele ano de 1932, e a direção interina era desempenhada pelo Engenheiro Adriano Marchini. Este porém adoeceu e foi hospitalizado; assumiu então a direção interina o Engenheiro Frederico Abranches Brotero. Foram estudados e executados periscoplOS de trincheira, corretores de tiro para metralhadoras antiaéreas, telêmetros e binóculos milimetrados para artilharia, ensaiados e estudados materiais para chapas de blindagem, capacetes, morteiros de trincheira, etc. Das contribuições do Laboratório ao Movimento de 32 devem ser destacadas, como aplicações mais nÍtidas da técnica experimental, as referentes à fabricação de granadas de mão e munição para artilharia. Por necessitar de fiscalização técnica severa e cuidadosa, a Direção da Escola confiou-a diretamente ao Laboratório. Depois da apreciação de diversos tipos de granadas estrangeiras, foi adotada a de tipoMill's, mas somente no que tange ao casco e princípio geral de funcionamento, pois quanto à deto-nação foi necessária, mediante um estudo experimental, a criação de um novo dispositivo, a fim de aproveitar as espoletas de fogo central, as únicas existentes em São Paulo na ocasião. Resolvidas as dificuldades técnicas de adaptação e experimentadas com êxito as granadas de uma série experimental, foi logo iniciada a fabricação em escala industrial, com pessoal do Laboratório. 531


Nessa parte experimental, F. A. Brotero criou um bocal especial para o lançamento de granadas com fuzil. Mas a Revolução Constitucionalista espraiava-se, e a fabricação de material bélico foi incrementada. Cerca de trezentos voluntários vieram incorporar-se ao pessoal do Laboratório, distribuindo-se pelas seções de fabrico de detonadores, verificação de OJscos e percussores, carga dos cascos, bocais para lançamento (idéia de Brotero), encaixotamento e remessa. O Laboratório chegou a produzir um total de 150.000 granadas de mão, sendo que nos últimos dias de luta a produção diária atingia dez mil. Apesar dos cuidados, esta parte da fabricação produziu algumas vítimas, como os voluntários Engenheiros Douglas McLean e Joaquim Bohn e o estudante José Greff Borba. Cessadas as hostilidades, o Laboratório voltou-se para as atividades normais, para as quais fora criado, e em fins de 1933 já apresentava realizações que ultrapassavam todas as previsões.

5 -

Criação do IPT

O terreno estava aberto para a edição do Decreto n.O 6.375, de 3 de abril de 1934, do então Interventor Federal, Armando Salles de Oliveira, que haveria de transformar o Laboratório em Instituto de Pesquisas Tecnológicas, anexo à Escola Politécnica de São Paulo. O prim~iro conselho criado para dirigir o IPT era constituído dos Profe!)sores Edgard de Souza (eleito Presidente), F. A. da Fonseca Telles, Alexandre Albuquerque e Eduardo Ribeiro Costa; os Engenheiros Hippolyto J>ujol Jr. e Argemiro Couto de Barros (eleito Secretário) , e, ainda, os industriais Horácio Lafer e José Ermírio de Moraes. Havia grande necessidade de adquirir-se aparelhagem que viesse completar a já existente, possibilitando a execução do programa previsto. O Governo do Estado, entretanto, dada a sua situação financeira difícil, não pôde contribuir com mais do que 180 contos de réis, e eram indispensáveis um mil contos . Foi feito um plano de doações, por parte dos industriais paulistas, a ser completado em três prestações anuais. As contribuições foram: 'Light & Power e Indústrias Reunidas F. Matarazzo - 100 contos cada; Cia . Brasileira de Cimento . Portland - 50 contos; Fábrica Votorantim SI A - 33:333$300; Serva, 'Ribeiro & Cia, Ltda. - 15 contos; Cia. Paulisa de Louça Esmaltada, Cotonifício Rodolfo Crespi e Klabin & Irmãos 10:000$000 cada um. Desde essa época o IPT tem dado sua colaboração, não só a órgãos governamentais do Estado de São Paulo, como aos da União, e em igualdade de condições à indústria, nos mais diversos setores que diZem respeito ao emprego de materiais. Porém, aqui nos dete532


remos apenas no capítulo madeiras e sua utilização na indústria de aviões. E para isso é necessário, agora, conhecer o Engenheiro Frederico Abranches Brotero, que exercia a função de Chefe da Seção de Ensaios Mecânicos de Madeiras.

Fig. 161 -

Engenheiro Frederico Abranches Brotem .

533


CAPíTULO 5 FREDERICO ABRANCHES BROTERO, O GRANDE IMPULSIONADOR

1 -

Interesse pela Aviação

O longo de sua vida, Brotero foi aos poucos interessando-se sempre mais por aviões, sem abandonar entretanto a especialidade básica de sua carreira de engenheiro - o estudo de madeiras. Nascido na cidade de São Paulo, a 16 de junho de 1904, o filho de João de Barros Brotero e Cecília Abranches Brotero inclinouse desde cedo para a Engenharia. Iniciando-se desde os 27 anos no Laboratório de Ensaios de Materiais, o famoso LEM, e que foi o antecessor do IPT, Brotero foi indicado para a Seção de Ensaios Mecânicos de Madeiras, cuja chefia assumiu em 1931. Após breve experiência na indústria bélica durante a Revolução Constitucionalista, como já vimos, Brotero retoma às suas madeiras, e delas nunca mais se afastou. Mesmo depois, quando passou a interessar-se por aviõeS, entrelaçou as duas atividades de forma homogênea, pois que uma constituía a estrutura basilar da outra. Sua participação mais intensa come· çou a dar-se por ocasião do I Congresso Nacional de Aerenáutica, realizado em São Paulo em abril de 1934.

A

2

Estudo sobre Emprego das Madeiras

N~cionais

em Aviação

Nessa ocasião, Brotero, que já pertencia também ao Conselho Técnico do C1ub Paulista de Planadores, apresentou um alentado trabalho, uma Memória sobre o Emprego das Madeiras Nacionais em 534


Aviação, onde fez um estudo aprofundado da matéria, tanto de seu emprego em países da Europa, como das possibilidades do Brasil, possuidor de imensas reservas de madeira que; segundo Brotero, se prestavam extraordinariamente bem para a feitura de aviões, hélices e outros detalhes. A tese em questão teve como relator o TenenteCoronel-Engenheiro de Aviação Antonio Guedes Muniz, que a certa altura de seu relatório diz: O meu parecer a respeito do presente estudo é que o mesmo demonstra, por parte do autor, um profundo conhecimento da questão, aliado a um alentado ideal que o coloca na vanguarda de quaisquer empreendimentos em prol do aproveitamento da matéria-prima nacional na construção aeronáutica. O relator Guedes Muniz, encampando todas as proposições do Engenheiro Brotero, finaliza seu relatório pedindo ao Plenário a aprovação do seguinte: a) publicação da tese referida nos Anais; b) mensagem-circular aos aeroclubes e autoridades interrssadas, aconselhando que se abstenham de consertar ou construir aviões ou planadores desde que esses trabalhos não possam ser controlados por pesquisas e ensaios de laboratório; c) mensagem ao MiniStério da Guerra para que conceda auxílio financeiro e técnico ao Instituto de Pesquisas Tec;;ológicas anexo à Escola Politécnica de São Paulo para que continue. e desenvolva as pesquisas já iniciadas sobre matérias-primas nacionais suscetíveis de interessar a fabricação aeronáutica. São Paulo, 20 de abril de 1934. Esta Memória, vazada em termos altamente técnicos, abrangia prí meiramente as espécies de madeira empregadas nos Estados Unidos, França e Itália, onde aparece, predominantemente, o Spruce. A seguir é examinado o emprego das madeiras nacionais, ocasião em que Brotero demonstra seu profundo conhecimento sobre o assunto, analisando o desempenho de cada espécie em cada parte de aeronave a que se destinaria, como longarinas, hélices, arcabouço das asas, · etc. São alinhadas,· depois, considerações sobre a técnica do emprego da madeira na aviação, iniciando pela escolha e derrubada das árvores, o desdobro das toras, os defeitos que afetam a resistência (desvios das fibras,hós, bolsas de resina, incrustrações minerais, fibras compridas, apodrecimento, defeitos provenientes da secagem e defeitos de manufatura), secagem da madeira, proteção contra a umidade, colagem, madeira compensada e as conclusões, tudo ilustrado com diagramas, demonstrativos e quadros com características das espécies americanas e européias mais usadas em aviação. A tese, apresentada no I Congresso Nacional de Aeronáutica, é um trabalho magnífico, mas foi apenas um dos tantos que Brotero produziu durante o primeiro lustro da década de 30, e que serviu de base ao livro Emprego de Madeiras Nacionais em Aviões, lançado em outubro de 1939 em São Paulo, no qual Brotero preco535


nizava a substituição das madeiras importadas por outras nacionais para a feitura dos aviões de pequeno e médio portes., 3 -

Presença em Outras Atividades da Aviação

Já nessa ocasião inteiramente engolfado pela febre aviatória, Brotero consegue, dentro do IPT, o desdobramento da Seção de Madeiras em uma Seção de Aeronáutica. O Governo do Estado de São Paulo criou oficialmente a Divisão de Aeronáutica em 1940, e por essa Divisão passaram vários engenheiros 'e alunos da Escola Politécnica, que, mais tarde, se dedicaram a diversos setores na aviação, destacando-se dentre -eles: Clay do Amaral, Eduardo Alvarenga, Djalma Forjaz, Romeu Corsini, Silvio de Oliveira, Gaspar Ricardo Júnior, Oswaldo Fadigas, Nedo Eston e Breno Junqueira. O 'Governo do Estado de São Paulo criou a seguir o Conselho Estadual de Aeronáutica Civil, tendo em vista a necessidade de um maior e melhor acompanhamento das atividades aviatórias civis, principalmente no que tangia à melhoria e construção de aeroportos. Este novo órgão da Secretaria Estadual de Viação, que teve sua presidência entregue ao Engenheiro Frederico A. Brotero, proporcionou à Secretaria de Viação valiosos subsídios e orientação técnica para que fosse iniciada a construção ou simples melhoria de condições de vários aeroportos no interior de São Paulo, e abrangeu também os trabalhos de remodelação do Aeroporto de Congonhas. Ao terem início as obras, em 1947, o Aeroporto de Congonhas dispunha apenas d~ uma, pista de 1.200 metros, asfaltada rudimentarmente em um , trecho de 600 metros, e condições técnicas de perfil muito deficiente. Para uma idéia da grandeza da obra, basta lembrar que foram feitos o desmonte de 2 milhões de metros cúbicos de terra e a pavimentação de uma área de aproximadamente 80 mil metros quadrados, com uma laje de 30 cm de espessura. Brotero, ainda como' Presidente do Conselho Estadual de Aeronáutica Civil, fez parte de uma comissão de técnicos em serviços públicos e obras aeroportuárias que emitiria parecer sobre a necessidade de se construir um futuro aeroporto internacional em São Paulo. Nésse ano, 1951, o Grupo de Trabalho foi constituído pelo Engenheiro Prestes Maia, Engenheiro Alfredo Borelli, Lysandro Pe' reira da SlIva, representante do Poder Público paulista, Renato Moutinho Guimarães, pelo Ministério da Aeronáutica, Luiz Fernando do Amaral, do Instituto de Engenharia, e o Presidente do CEAC, Engenheiro Frederico A. Brotero. Esta Comissão opinou por um s.Ístema integrado, constituído por Congonhas (que se destinaria no futuro às linhas domésticas); Santo Ângelo, nas proximidades de Mogi das Cruzes, com um grande terminal para linhas internacionais; e Viracopos, 536


em Campinas, como eventual alternativa, servindo toda a zona sul do País, inclusive para os grandes' aviões a jato. 4 -

A Madeira Brasileira Freijó

Como se vê, foi constante, ininterrupta e da maior importância a contribuição do Engenheiro F. A. Brotero à indústria aeronáutica brasileira. Ele é mais conhecido, entretanto, por ter conseguido a substituição do Spruce pelo Freijó, que combinava leveza a grande resistência e rigidez por unidade de peso, além de possuir considerável elasticidade. O Spruce era empregado na indústria aeronáutica norte-americana e 'em grande parte da européia, ' e, nos primórdios, também no Brasil. Ainda se empregavam madeiras como o Ash (Fraxinus spp), o Basswood (Tilia glabra), o Hickory (Historia spp) e outras. Brotero provou que o Spruce poderia ser substituído por chapas de madeira contraplacada, constituída por pinho e por frei-jorge, uma árvore borraginácea (Cordia goeldiana), que produz um~ ótima madeira, e que ficou conhecida, no seu emprego em .avião, por jreijó. O fr~i-jorge, ou freijó, é 25 % mais resistente que o Spruce, ainda com a vantagem de ser madeira nacional facilmente encontrável. No Norte-Nordeste brasileiro o freijóera muito utilizado no fabrico de rodas e principalmente de enxadas, por ser resistente e leve. Entretanto, pór ocasião da tese apresentada . ao I Congresso Nacional de Aeronáutica de São Paulo, Brotero ainda . não fala no frei-jorge ou freijó. No capítulo 2 - Estudo sobre Emprego das Madeiras Nacionais em Aviação, Brotero afirma que apresentam características satisfatórias as seguintes espécies até então estudadas (1934): cabreúva, eucaliptus citridora, ipê-roxo, pau-marfim, guaiuvira, açoitacavalo, tamboril, cedro, mandioqueira, ipê-amarelo, cinamomo, guaratá, guaraiúva, monjoleiro e embira-de-sapo. So em 1936 é que aparece o freijó, com seu uso em avião preconizado por Brotero, e de tal forma o trabalho de apresentação da nova madeira foi realizado que impressionou vivamente. Henrique Lage, que já estava fabricando os Muniz em sua Fábrica Brasileira de Aviões. Queremos crer que, para isto, deve ter colaborado a opinião de Guedes Muniz, Relator do Congresso de São Paulo e entusiasta das idéias de Brotero. Ora, Muniz estava, nesse exato momento, prestando assessoria técnica, como oficial, à Organização Lage, e era, igualmente, muito acatado pelo titular, Henrique Lage. Desta forma, o armador carioca, em 1937, manda para o norte do País o Engenheiro alemão Otto Weinbaun, igualmente especialista em madeiras. Lage teria sido influenciado a tomar esta decisão em vista 537


não só da justeza dos argumentos de Brotero mas também, como que a comprová-los, tinha sabido que os japoneses estavam comprando grandes quantidades de freijó na Amazônia, para construírem aviões de guerra. Weinbaun passou seis meses na Amazônia é, quando voltou, apresentou um relatório circunstanciado a Henrique Lage, comprovando os argumentos de Brotero que davam o freijó como a madeira que mais se ajustava às necessidades da indústria aeronáutica brasileira. De posse dessas conclusões, Henrique Lage determinou aos seus diretores da Companhia Nacional de Navegação Aérea e Fábrica Brasileira de Aviões que, daquela data em diante, só se construíssem aviões com o emprego do freijó. Em agosto de 1939 Brotero consegue uma grande vitória: obtém do Governo do Estado de São Paulo uma verba para a importação de equipamentos dos Estados Unidos da América, para instalação, no IPT, de uma fábrica de madeira contraplacada, que antes do fim do ano já se achava em funcionamento. 5 -

O Contraplacado

O contraplaca do foi a base da grande maioria dos aviões brasileiros construídos no Brasil, principalmente a partir do final da década de 30. Trata-se de um método de colar várias chapas de madeira, e o produto final, o contraplacado, é muito empregado não só na aviação como para diversos outros fins. Até a Primeira Guerra M'undial, era um privilégio quase que exclusivo da Rússia e da Alemanha, mas depois seu emprego se popularizou. Um dos fins visados pelo contraplacado é atenuar, se não eliminar, os efeitos produzidos na madeira pela absorção ou pela perda de umidade. O meio empregado é compensar as contrações que são exercidas predominantemente no sentido normal às fibras da madeira, colando-se várias chapas ou folhas com as fibras em sentido cruzado. O compensado tem grandes aplicações onde seja requerida a indeformabilídade, o que se ajusta à perfeição no caso de aviões. Os que se destinam à construção aeronáutica devem apresentar ' qualidades mecânicas bastante apuradas; na época eram empregadas as . normas francesas, que especificavam uniformidade dl'.s folhas, que deveriam ter 0,8; 1); 1,6; e 2,0 mm, de espessura; a cola deveria ser preferencialmente de caseína, caso o objeto em que fosse usado o contraplacado ficasse exposto à umidade. Brotero não apreciava as madeiras empregadas em compensados na época, e recomendava o emprego, no miolo de compensados que se destinassem à aviação, de madeiras muito leves, como guapuruvu, jangada, caixete, embiruçu e outras. Como dissemos, este ponto de vista foi revisto com o aparecimento do freijó, e oscontraplacados passaram a ser utilizados com pinho e aquela madeira tão 538


abundante no norte do País. Praticamente todas as fábricas nacionais passaram a empregar os contraplacados que eram produzidos no 1PT, tanto para asas como para hélices. É o caso dos Muniz M -7 e M-9, os lFG e 2FG (Fábrica do Galeão), e os fabricados pela EAY - Empreza Aeronáutica Ypiranga, de São Paulo. Além das -qualidades apresentadas pelos contraplacados feitos no 1PT, era fator a ser levado em conta, sempre, o preço, pois uma chapa nacional custava cerca de seis vezes menos do que uma importada.


CAPÍTULO 6

OS PRIMEIROS ENGENHEIROS AERONÁUTICOS

1 -

Necessidade Básica da Indústria Aeronáutica

ÃO Paulo, através de sua Escola Politécnica, construiu o Instituto de Pesquisas Tecnológicas, cuja Seção de Ensaios de Madeiras teve tanta influência na aviação que acabou transformando-se em Serviço de Aeronáutica, sempre sob a égide de Frederico Brotero. O Governo Federal, por sua vez, reconhecendo a necessidade de incentivar o estudo da engenharia no campo da aeronáutica, instalou, em 1934, o Serviço Técnico de Aeronáutica. Este sobreviveu até 1946, mas de maneira um tanto precária, e sofreu diversas modificações em sua estrutura e feição administrativa. Era conhecido por sua sigla S.T.Aer. - e funcionava no Rio de Janeiro, mas com pouca ou nenhuma verba, o que impediu que pudesse desenvolver tecnologia que levasse avante a idéia inicial, que era a de incrementar a engenharia aeronáutica. É bem verdade que esta função vinha sendo exercida com grande proficiência pelo IPT, de São Paulo, o qual, diga-se de passagem, nunca negou apoio ao Serviço Federal. A situação perdurou até o fim dos dias do S.T.Aer., em 1946, quando foi extinto e substituído pelo Centro Técnico de Aeronáutica, CTA, que tinha como base de sua pirâmide estrutural o Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA6 • A idéia de formar engenheiros especialistas em aeronáutica não era nova. Desde o início da d~cada de 30 que se instalara no País uma mentalidade mais aberta às coisas do saber e desenvolveu-se uma política de incentivo à Universidade, aqui tomada no seu sentido mais amplo. Nas Forças Armadas ocorreu o mesmo. A Escola de Engenharia

S

540


Militar foi transformada em Escola Técnica do Exército, nos idos de 1933. "Era o cumprimento de um dos corolários da Revolução de 30, que afirmava: Na medida dos recursos do Erário, deve-se prover o Ex6rcito do material que lhe é indispensável, sobretudo no que se refere à artilharia e à aviação. Paralelamente, não devemos poupar esforços para desenvolver, entre nós, a indústria militar, com o aperfeiçoamento dos arsenais. O Exército tentou organizar em 1938, pela primeira vez no Brasil, um curso de engenharia aeronáutica. No ano seguinte, decidiu o Ministério da Guerra criar o Curso de Engenharia Aeronáutica, junto à Escola Técnica do Exército, sediada na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Esta decisão foi tomada, em parte, levando em conta os insistentes apelos do então Major Guedes Muniz e um estudo do Capitão-Aviador Militar Antonio Alves Cabral, apresentado em palestra no Clube Militar a 20 de fevereiro de 1935, amplamente divulgado nos meios militares e governamentais, com o apadrinhamento do então Ministro da Guerra. Em seú trabalho , que tantas e profícuas resultantes teve, o então Capitão-Aviador Militar Antonio Alves Cabral iniciava fazendo um retrospecto do mercado brasileiro de aviões, remontando a 1927. Dessa data até o momento, dizia ele, já havíamos recebido do Exterior 554 aviões e as nossas necessidades atingem 100 aviões e 133 motores. E prosseguia," textualmente: Pelo que se vê, somos um excelent~ mercado aeronáutico e cada vez mais promissor, dado o impulso nacional que a aviação ultimamente tem recebido . A imprevisão de nossos industriais deixa fugir do Brasil, em cada ano, cerca de 30 .000:000$000 (trinta mil contos de réis). Não são recursos que nos faltam, e sim uma orientação aviatória que venha impulsionar, brasileiramente, o desenvolvimento de nossas possibilidades ilimitadas. .. Mais adiante, o Capitão Cabral considera outro aspecto do problema: Nenhum órgão existente entre nós, apesar dos melhores sacrifícios} conseguirá abordar o problema em seu conjunto. Não falta capacidade errz nosso pessoal, mas surgem tantos empecilhos de ordem política e administrativa que aos poucos perdemos a vontade de impulsionar aquilo que compreend~mos ser uma necessidade. Tendo realizado vários estudos sobre as diversas aviações européias, o Capitão Cabral acabou por eleger a italiana corrio o modelo a ser seguido pelo Brasil. Nas proposições que apresentou, destacam-se, por seu interesse, as seguintes: - organizar várias escolas de aprendizagem e especiaíização aeronáutica; o rendimento do material e ~(eficiência de uma aviação estão na dependência direta do grau de instrução de seu pessoal, cuja mentalidade deve ser formada em escolas; - criar campos experimentais para tudo que se empregar na . Aviação Militar e Civil; 541


- manter uma Escola Civil de Engenharia Aeronáutica, com um curso complementar para engenheiros da aeronáutica militar; - .manter um setor próprio de ensino para tratar de todos os assuntos referentes à formação e ao aperfeiçoamento de pessoal, em todas as especialidades próprias dos quadros da Aeronáutica Militar. E, ainda, insistindo na criação .de condições para a fotmação de Oficiais de Vôo, dizia mais o Capitão Cabral, em seu estudo: Esse con' Ironta que vimos fazendo nos leva ainda a encarecer a imperiosa necessidade que nos forçará a construir uma outra bdse de nossa política aérea. Quero referir-me à premente urgência de se fundar uma Escola Brasileira de Engenharia Aeronáutica. Sem esse instrumento nuclear de aparelhamento aviatório não se pode r:sperar nenhum progresso sólido) nem 'desenvolvimento normal de nosso poderio. Considerou ainda, em complemento, sobre a conveniência de, nos primeiros anos dessa Escola, os cursos especializados de aeronáutica serem dados por professores contratados no estrangeiro e pelos oficiais engenheiros formados na Europa e nos Estados Unidos da América, ainda que diminuto o número destes existentes então no Exército e na Marinha. E para as cadeiras comuns de ciência básica, dizia que no Brasil há mestres de notável saber que poderiam se encarregar da parte fundamental dos cursos de formação dos futuros engenheiros. 2 -

Raymundo Vasconcellos de Aboim

Primeiro militar brasileiro a ostentar o título de engenheiro aeronáutico e grande propugnador de uma indústria de aviões brasileira, Raymundo Vasconcellos de Aboim, hoje Marechal-da-Ar, merece um destaque todo especial na História Geral da Aeronáutica Brasileira. Este carioca, nascido em 1898, inclinou-se primeiramente pelas coisas do mar, tendo ingressado na Marinha quando irrompia a Primeira Guerra Mundial, saindo Guarda-Marinha exatamente quando ela terminou, em 1918. A Marinha criara rec~ntemente a sua Aviação Naval,' e Aboim, que não conseguira participar diretamente das hostilidades, como era seu desejo, ingressou no curso de aviação. Fez todo o ano letivo da Escola em 1919 (e pertence mesmo a esta turma), mas só se graduou em fevereiro do ano seguinte, pois as aulas haviam sido prorrogadas. Foram seus colegas no curso de pilotagem e brevetados o PrimeiroTenente Deodoro Neiva de Figueiredo e os Segundos-Tenentes José Augusto de Paiva Meira, José Backer de Azamor e Djalma Fontes Cordovil Petit, não tendo prestado exames, por ter adoecido, o SegundoTenente Arthur Bustamante. Mas antes disso AbQim já voava como Observador, como no célebre vôo de 15 de agosto de 1919, que inau542


Fig. 162 - Aboim entre aviadores navais, Da esquerda para direita: com capacete de vôo, 3.", José Kahl 5. Lauro Oriano Menescal; 6. Dario Azambuja; e, 7. Vasconcellos de Aboim. O civil na extrema direita, com o é o engenheiro Cesar Gri/lo. 0

0

0

,

,

,

1933. Filho; 4.", Djalma Petit; com quépi branco, chapéu claro na mão,

gurou as atividades do Primeiro Correio de Esquadra, fato já referido no Volume I desta obra. Logo após ter recebido seu brevê, vamos encontrá-lo como bombardeado r numa esquadrilha que fazia evoluções frente à Avenida Beira-Mar, por ocasião dos festejos comemorativos da Batalha do Riachuelo; eram aparelhos HS-2, e o de n.O 12 tinha como piloto o Tenente Trompowsky, o Tenente Muniz como Observador, além do próprio Aboim . Em setembro de 1920, o HS-2 de número 13 fazia parte de uma flotilha da Escola que sobrevoou o Encouraçado São Paulo, em uma homenagem que foi prestada ao Rei Alberto, da Bélgica. A bordo do HS-2 , os Tenentes Aboim e Epaminondas. Por ocasião da data nacional da Argentina, em 1931, a Marinha do Brasil não dispunha de uma belonave em condições de tal represen~ tação. Resolveu-se então que seria mandada uma esquadrilha de aviões Savoia Marchetti recém-adquiridos à Itália. O avião-capitânia da esquadrilha era ode n.O 1, chamado Coronel Madalena, e tinha como comandante o Capitão-de-Corveta Schorcht e como assistente o já Capitão-Tenente Aboim. No mesmo aparelho ainda seguiu o Tenente Saddock de Sá, Ajudante-de-Ordens do Dr. Afrânio de Mello Franco, na condição de representante do Ministro das Relações Exteriores. Nesta ocasião Vasconcellos de Aboim já possuía, também, o diploma de engenheiro civil, e foi nessa condição que ingressou no Imperial College of Science and T echn9logy de Londres, que oferecia como pÓS" graduação um curso de engenharia aeronáutica. Tendo recebido o seu diploma em 1925, tornou-se Raymundo Vasconcellos de Aboim, como 543


dissemos, o primeiro brasileiro e primeiro sul-americano a possuir um título de engenheiro aeronáutico. A partir de então sua atividade voltou-se inteiramente à produção de aviões. Exerceu várias comissões importantes na Aviação Naval, tendo sido inclusive seu Diretor de Material,de 1928 até 1935. Desta data em diante, seu nome confunde-se com a própria indústria naval aeronáutica. Quando foi criado o Ministério da Aeronáutica, em 1941, Aboim passou para os seus quadros como majoraviador, e ali galgou todos os postos, até o mais alto. 3 -

Antonio Guedes Muniz

São poucos os homens que vêem , ainda em vida, o reconhecimento às suas obras e realizações . Guedes Muniz foi um desses privilegiados. A Portaria n.o 1.024 que, em agosto de 1980, viria a instituir o Dia da Indústria Aeronáutica, diz bem da alta conta em que não só o Governo brasileiro mas toda a organização industrial aeronáutica têm por Antonio Guedes Muniz. A terra que viu nascer Rosa da Fonseca, Deodoro, Floriano, Bráulio Cavalcanti, foi berço também de Guedes Muniz. O século XIX estava por terminar quando, a 12 de junho de 1900, nasceu em Maceió Antonio Guedes Muniz, filho também de alagoanos. O garoto que brincava às margens da lagoa de Mundaú estava ainda longe de saber que a França haveria de fazê-lo oficial de sua Legião de Hon-ra, uma apenas dentre as inúmeras homenagens que receberia pela vida afora . Nos dez anos que se seguiram, enceta uma viagem ao Rio, e, após, retoma a Maceió, para onde seu pai voltaria para exercer o cargo de Inspetor da Alfândega; governava então Alagoas Euclides Vieira Malta, e a vida de Guedes Muniz transcorria tranqüilamente. Após alguns estudos naquela capital nordestina , vem para a Capital Federal em caráter definitivo, e já em 1918 vemo-lo inscrever-se, ser aprovado e matriculado na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, de onde se transferiria para a Escola Militar, destino natural, naqueles tempos, de todo jovem inteligente que não dispusesse de muitos recursos. A carreira militar possibilitava uma ascensão segura, além de meios para desenvolver as aptidões naturais. Quis o destino que houvesse sido escolhido para servir na Companhia de Aviação da Arma de Engenharia, após ter sido declarado Aspirante a 18 de janeiro de 1921. Muniz até então nunca pensara em aviação, mas, visitando o Campo dos Afonsos, vem a encontrar-se com um contemporâneo, Marcos Evangelista Villela Júnior, já famoso por . ter sido o construtor do Aribu e do Alagoas, precursores da indústria aeronáutica brasileira. O Capitão Villela insiste para que Muniz embarque com ele ~m um avião e entusiasma-se com a habilidade inata do jovem aspirante em pilotar. Este ano foi decisivo para o futuro do jovem oficial, tenente desde maio e que em dezembro já recebia o seu 544


brevê de piloto aviador militar, formado na terceira turma da Escola de Aviação Militar. A data do Centenário da Independência do Brasil foi também a de sua promoção a Primeiro-Tenente. Em 1923, casa-se com Lúcia da Rocha e Silva. Emprega o seu espírito metódico organizando o Serviço Meteorológico da Aviação Militar, e torna-se o seu primeiro chefe. Desde há alguns anos Muniz fora incentivado por técnícos da Missão Militar Francesa a fazer o curso da Escola Superior de Engenharia Aeronáutica da França. O projeto criou raízes, e Muniz solicitou a competente autorização, mas esta só lhe foi concedida no final de 1924, e, mesmo assim, com uma condição: que a viagem fosse por sua conta e os meios de subsistência fossem os oriundos dos seus vencimentos no País, isto é, mil-réis papel, ao contrário dos outros oficiais, que ganhavam em moeda forte. Mas a oportunidade, de qualquer forma, era tentadora, e Muniz não estava disposto a deixá-la passar. Com a concordância de sua mulher, aceita o oferecimento e parte para Paris, indo morar num pequeno apartamento em um bairro modesto, o Buttes Chaumont. Os anos foram passando, Muniz é promovido a Capitão, e em 1927 transferido para a Arma de Aviação, recém-criada. Mas continuava ga. nhando em moeda nacional, que um amigo transformava em francos_e remetia para Paris. A vida continuava dura para o jovem oficial brasileiro, casado, dois filhos, que enfrentava dificuldades com o idioma francês e ainda fazia o curso superior de engenharia aeronáutica. Neste curso era obrigatória a feitura de projetos, e Muniz cumpriu rigorosamente a exigência, nascendo então os projetos com a inicial do seu nome, seguido do número correspondente à: cronologia: M-l e M-3. Ao final dó curso, elaborou o M -5.

4 -

A École

Além de Raymundo Vasconcellos de Aboim, formado em Londres, vários oficiais fizeram curso e graduaram-se ·em Paris, na École Nationale Supérieure d'Aéronautique, onde, como já vimos, formara-se Antonio Guedes Muniz. Foram eles Ivan Carpenter Ferreira, Júlio Améríco dos Reis, Guilherme Aloysio T elles Ribeiro, Oswaldo Baloussier , José Vicente de Faria Lima e Jussaro Fausto de Souza. Em 1933 a Aviação Militar já estava reorganizada, e sob o comando do então General-de-Brigada Eurico Gaspar Dutra. A partir de 8 de julho daquele ano , foi dado prosseguimento à sua reestruturação, com a ativação do Parque Central de Aviação, do Depósito Central de Aviação, a 8 de agosto, e do Núcleo do Serviço Técnico de Aviação, a 26 de setembro do ano seguinte. O Núcleo ficou sob a direção do TenenteCoronel-Aviador Antonio Guedes Muniz, e, posteriormente, do Coronel Ivan Carpenter Ferreira. A partir de 1938, já então com o nome de 545


Serviço Técnico de Aviação, denominação que ~erdurou até a criação do Ministério da Aeronáutica, quando passou a ser Serviço Técnico da Aeronáutica - S.T.Aer., tinha como função precípua o acompanhamento da homologação dos novos aviões construídos no Brasil. e orientação técnica do desenvolvimento e controle de qualidade do equipamento e material de emprego aeronáutico produzidos no País. 5 -

Os Diplomados na ETE

Ao mesmo tempo, a Escola Técnica do Exército criou, no início de 1939, o Curso de Engenharia Aeronáutica. A Direção foi entregue aos oficiais José Vicente de Faria Lima e Guilherme Aloysio Telles Ribeiro, diplomados em Engenharia pela École Nationale Supérieure d'Aéronautique de Paris. A Escola Técnica do Exército (ETE), além dos dois acima citados, ainda teve como professores os oficiais Jussaro Fausto de Souza, Oswaldo Baloussier, José Cecílio de Arruda Filho e o francês . René Couzinet, o que fazia com que predominasse na ETE a influência gaulesa. A primeira turma formada pela Escola Técnica do Exército, de engenheiros aeronáuticos, graduou-se em fins de 1942 e era constituída por sete oficiais-aviadores: Casimiro Montenegro Filho, Joelmir Campos de Araripe Macedo,Waldemiro Advíncula Montezuma, Agemar da Rocha Santos, Renato Augusto Rodrigues, Dirceu de Paiva Guimarães e Jorge Araújo Proença. Da turma ainda faziam parte quatro civis: Renê Amarante, Rocha Fragoso, Valêncio de Barros ·e Fernando Pessoa Ra bello, ou seja, um total de onze formandos. Na segunda turma, no ano seguinte, formaram-se os oficiais Archimedes Cordeiro, Henrique de Castro Neves, Oswaldo Carneiro Lima e João Luiz Vieira Maldonado. Com a criação do Ministério da Aeronáutica, em janeiro de 1941, ficaram . suspensas novas admissões para o Curso de Engenharia Aeronáutica da Escola Técnica do Exército, até se definirem a estrutura do novo Ministério e as atribuições dos respectivos órgãos, sem se interromper, porém, na Escola Técnica do Exército, a continuidade do ensino das duas turmas já em andamento.

546


CAPíTULO 7

INICIATIVAS SOBRE INDÚSTRIA AERONÁUTICA

1 -

Estudos de uma Fábrica de Aviões

Governo Provisório, que se instalou no Brasil através da Revolução de 3 de outubro de 1930, procurou imediatamente dotar o País de mecanismos que proporcionassem um maior desenvolvimento tecnológico e industrial, principalmente tendo em vista evitar a evasão de divisas através de importações. Um dos setores a merecer atenção foi o da indústria aeronáutica. Para tanto o Governo Provisório mandou constituir uma Comissão para tratar do assunto, a CEIFA Comissão de Estudos para Instalação de uma Fábrica de Aviões . Este organismo iniciou seus trabalhos no início de 1932, e tinha como membros o Engenheiro César Grillo, o Major Antonio Guedes Muniz e o Capitão-Tenente Vitor de Carvalho. A CEIFA foi recebida com grande entusiasmo, e o fato de ser constituída por homens reconhecidamente capazes e entusiastas da aviação aumentava-lhe a autoridade. Os objetivos iniciais eram três, a saber:

O

1.0 - estudar a possibilidade de instalação de uma fábrica de aviões no Brasil; 2.° - estudar a . possibilidade de utilização de matéria-prima nacional; 3.° - organizar as bases de uma concorrência para que pudesse ser instalada a referida fábrica, habilitando o Governo a decidir sobre a proposta mais favorável. 547


A CEIFA iniciou imediatamente suas atividades, realizando várias reuniões. Como um dos objetivos merecesse um estudo mais acurado, que não podia ser abrangido somente pelos três membros, pediu e obteve a constituição de uma Subcomissão que trataria apenas do item matéria-prima nacional. Formavam-na o Capitão Silvio Raulino de Oliveira, o Capitão-Tenente Paulino de Azevedo Soares e o Engenheiro Oscar Antçmio Mendonça. Os trabalhos da CEIFA continuaram e obtiveram plena aprovação por parte dos Ministros da Guerra, Marinha e Viação, e muitas de suas proposições foram levadas a um fórum mais amplo, tendo sido várias delas expostas no I Congresso de Aviação, que teve lugar em São Paulo, em 1934. 2 -

Pequenas Iniciativas Industriais

A década de 30 foi fértil de sonhos no setor aviatório, incluindose aí a indústria como um de seus segmentos. Vários deles tornaram-se realidade, outros esgotaram-se em si mesmos, outros ainda tiveram vida de muito pouca duração. O setor industrial, por exemplo, viu pipocarem aqui e ali experiências as mais diversas. Motores, hélices, páraquedas, tudo despertava interesse, e era estimulado tanto por parte do Poder Público como pela Imprensa. O jornal A Noite, de 9 de maio de 1932, publica uma reportagem sobre um operário mecânico, Oscar Máximo Pereira, que, apesar de nunca ter visto um motor rotativo (radial), construiu um modelo pequeno, quase miniatura, com 3 H.P. e aproximadamente 700 rotações. O referido artífice brasileiro expôs seu modelo em uma garagem de nome Metrópole, e foi visitado por vários técnicos e especialistas em aviação, entre eles Guedes Muniz, Major Mendes de Moraes, Gervasio Duncan, Armando Ararigboia e vários outros. Numa prova de quanto interessavam quaisquer novidades, ali compareceu, também, J. von Riebeck, representante no Brasil de indústrias aeronáuticas alemãs. O operário mecânico Oscar Máximo Pereira foi c.onvidado para fazer nova demonstração de seu trabalho na Escola de Aviação, perante seu Diretor, General Aranha da Silva. Nunca mais se soube se o trabalho do artífice brasileiro conseguiu transformar-se em realidade, mas, de qualquer forma, ficou o registro de uma iniciativa no ramo industrial. Por outro lado, o convite para apresentar seu engenho na Escola de Aviação, após ter sido visto por homens como Guedes Muniz e outros, révela que o pequeno motor despertou a admiração dos mesmos e a sua possível exeqüibilidade. Uma das exigências para quem quisesse voar, naqueles tempos heróicos da década de 30, era o uso de pára-quedas. No Brasil ainda não se fabricavam tais artefatos, importados de várias partes do Mundo. Em 1932 a lrving Air Chute Co., de Buffalo, apregoava em anúncios 548


de página inteira a excelência _de seus pára-quedas Irvin, os melhores, os -m ah seguros. Quem os representava no Brasil era a Casa Mayrink Veiga S/A, à rua Mayrink Veiga n.o 21, no Rio de Janeiro. Alguns poucos anos depois, entretanto, também em anúncio de página inteira, a Switlik dizia: Para atender às necessidades do país e cooperar no movimento patriótico em prol de nossa industrialização, resolvemos montar uma fábrica dos afamados pára-quedas de segurança Switlik. Instalada modernamente em amplo local em Vicente de Carva· lho, a Fábrica de Pára-quedas Switlik acha-se em pleno funcionament0 7 •

(/~RAHÇA SIK o"..ia us;,do pele Exercite lIorle AlmlriCllna

Func;on~men'o

• seguro

PIONEIROS DOS NHiOCIOS DE A.VI.l~ÃO NO BtASIL (DESDE 1911) RIO DE JANEIRO _ sAo PAULO

PTO. ALEGRE. PELOTAS. B. HORI ZONTE

NITEROY

Fig. 163 -

3 -

Propaganda do Pára·quedas Switlik.

Construção no Sul do País

Enquanto tudo isso se desenrolava, cada vez maior era o interesse pela aviação. A construção de aviões era uma grande meta preconizada pelo Governo, que ora criava suas próprias atividades industriais, ora estimulava a iniciativa privada no mesmo sentido. E esta atendia plenamente à expectativa dos órgãos governamentais. Os que não podiam ingressar no clube dos grandes industriais e construir aviões em grandes quantidades, como ocorreu na segunda metade da década de 30, faziam pequenas .- mas inteiramente válidas - tentativas de construção ou reconstrução de aviões. 549


A VARIG, fundada em 1927, procurava aumentar suas atividades, quer expandindo suas linhas por todo o Rio Grande do Sul, quer criando, dez anos depois, a VAE - Varig Aero Esporte, entidade desportiva que se destinava, precipuamente, a formar pilotos segundJ a sua filosofia de trabalho e, com isso, fornecer aviadores para a companhia. Corria o ano de 1935 e o Rio Grande do Sul preparava-se para festejar os cem anos da Revolução Farroupilha, com uma grande exposição no antigo Parque da Redenção, em Porto Alegre, inaugurada pelo Governador José Antonio Flores da Cunha, a 20 de setembro. Nessa Exposição, onde cada um dos Estados da Federação possuía um pavilhão especialmente construído, destacava-se, logicamente, o do Estado-sedé, e, neste, um dos estandes que mais atenção despertava era o da VARIG. Ali estavam dois planadores dos tipos Grunau Baby Hols der Teu/el) inteiramente construídos nas oficinas de reparação da VARI G, e que iriam servir para instrução pela Varig Aeto Esporte a partir de 1937. Havia, igualmente, fotos de outro trabalho que fazia os operários e artífices da VARIG extremamente orgulhosos. Era de um avião Klemm L 25, reconstruído com material nacional a partir da fuselagem e do motor, que eram as únicas partes originais que as oficinas possuíam. O Klemm L 25 foi destinado aos serviços da Escola e prestou ótimos serviços durante muitos anos. O segundo aparelho que a VAE possuiu foi um Bücker-Student, prefixo PP-TEV, e que recebeu o nome popular de Chico. A Varig Aero Esporte ainda teve diversos outros aviões, mas seu destaque maior foi dado com a construção e instrução de planadores, como já vimos ' e~ outra parte deste Volume. Ela cessou suas atividades em meados de 1952, finalizando uma época de grandes feitos na prática do desporto aéreo, e foi substituída pela EVAER -' - Escola VARIG de Aeronáutica.

e

4 -

Projetos Minúsculos

Pequenos projetos iam sendo desenvolvidos por particulares. Jornais e revistas da época trazem notícias de grupos de pessoas, aficiona- . das da aviação, que se dispunham a projetar e desenvolver estudos de pequenos aviões. Embora não fossem caracterizadas como indústria, no sentido exato da palavra, eram tentativas que pelo menos mostravam o interesse que a aviação despertava nos brasileiros naqueles anos anteriores a 1940. Nos subúrbios da Leopoldina, no Rio de Janeiro, uma pequena oficina preparava-se para construir um aparelho. Na terminologia pitoresca da época, tratava-se de uma avionete para apenas dois passageiros, monoplano e de asa alta. Os construtores mantinham (e mantiveram) 550


absoluto sigilo sobre o assunto, de tal forma que nunca mais se soube o que foi feito da avioneta. Apenas que seu preço se destinava a revolucionar o mercado, pois cada aparelho estava previsto para custar apenas 16 :000$000 (dezesseis contos de réis), realmente um preço muito baixo para aquele ano de 1937. Um outro projeto, também de 1937, pertencia a um grupo de pessoas ligadas ao Club Paulista de Planadores. Também avioneta era o que se pretendia, mas desta feita para apenas uma pessoa. A idéia era de um monoplano, de asa baixa em cantilever. Ignora-se igualmente o que aconteceu com o projeto paulista; não se sabe sequer se chegou a voar.

551


CAPíTULO 8

LAGOA SANTA

1 -

Primeiros passos com René Couzinet

<C <HEIA de boas intenções foi a idéia de se construir uma fábrica de aviões no Brasil, na década de 30, por iniciativa governamental. Mas entre o pensamento inicial e o real funcionamento da fábrica mediaram tantos anos, tantos percalços aconteceram (inclusive uma guerra .mundial) que o resultado foi frustrante. Teve início em fevereiro de 1933, quando regressava de Buenos Aires o avião Arc-en-ciel, da Companhia Latécoere, que tinha uma linha regular entre a França e o Continente Sul~americano. Junto com o piloto Jean Mermoz estava o engenheiro e· projetista do aparelho, René Couzinet. Ambos foram recebidos em audiência pelo Presidehte da República, Getúlio Vargas, e este disse aos dois franceses dos planos do Governo brasileiro de desenvolver a indústria aeronáutica no País, tendo já inclusive criado uma comissão especial pàra tratar do assunto. E mais: que já havia inclusive mandado abrir concorrência para a instalação da referida fábrica. Dirigindo-se diretamente a CouZinet, Vargas perguntou-lhe se não estaria disposto a tomar parte no esforço nacional em prol da aviação, e se não poderia apresentar um projeto específico. Couzinet esquivou-se, usando como argumento o fato de que o Arc-en-ciel era fruto do esforço de um grupo privado, na França, e que ele não poderia dedicar-se a nenhum outro projeto sem antes cumprir seus compromissos na França. Um ano e meio dépois, a 8 de setembroàe 1934, Couzinet apresentava-se Getúlio V~rgas e dizia-lhe que já estava em condições de prestar <

<

<

a

552


sua co~aboração. Vargas imediatamente designou Couzinet para trabalhar junto à comissão que estudava a localização da fábrica. Mas ele teve de regressar à França logo, uma vez que fora convidado pelo General Denain, Ministro do Ar da França, para dirigir o Arsenal Bouget, onde teve de se desincumbir de uma missão que lhe fora confiada: . terminar a construção de um bimotor para o correio noturno. Cumprida a missão, Couzinet . regressa mais uma vez ao Brasil, em fevereiro de 1935, dois anos exatos de sua primeira conversa com Getúlio Vargas. René Couzinet agrega-se à Comissão designada pelo General Mendonça Lima, então Ministro da Viação e Obras Públicas, e composta do Coronel-Aviador-Engenheiro Ivan Carpenter Ferreira, representante do. Exército, Engenheiro César Silveira Grillo, da Aeronáutica Civil, e mais tarde substituído pelo Engenheiro Adroaldo Junqueira Aires, e Comandante Vitor de Carvalho e Silva, representante da Marinha. Couzinet, a princípio, não era muito favorável à localização da fábrica em Lagoa Santa (cerca de 50 km de Belo Horizonte), por temer não encon, trar mão-de-obra qualificada naquela distância, mas rendeu-se ao argumento do representante da Marinha de que estabelecimentos industriais que interessassem à defesa nacional deveriam ficar longe do litoral, e, portanto, à mercê de possíveis bombardeios por aviões, que estavam naquela época desenvolvendo cada vez mais o seu raio de ação. Aprovado o parecer da Comissão pelo Governo, tratou-se, imediatamente, de se constituir uma empresa para a construção da fábrica. · Surgiu, então, uma plêiade de homens de indústria, quase todos ou todos mesmo entusiastas de aviação, que se dispuseram a formar a nova companhia. Eram capitaneados pelo industrial Antonio Lartigau Seabra, e contavam ainda com o ardor do jovem jornalista francês Jean Gérard Fleury, amigo de Mermoz e Couzinet. Os outros eram: Bento Oswaldo Cruz, Paulo da Rocha Viana (mais tarde criador da .NAB Navegação Aérea Brasileira), Jorge Marques de Azevedo, Edmond d'Oliveira, Claudio Ganns, José Saboia Viriato de Medeiros, Cipriano Amoroso Costa, Henrique Ferreira de Moraes, Luiz Catnilo de Oliveira Neto, Manoel Souto de Pontes Câmara, e, ainda, ·dois diretores das fábricas de Couzinet na França, Abel Verdurand e Paul Rosychi. Apesar do entusiasmo de todos, a máquina governamental movia-o se com lentidão exasperante. Em outubro de 1937, ,por falta de qualquer outro concorrente, foram os trabalhos de instalação da fábrica adjudicados à firma Construções Aeronáuticas SI A. Mais uns meses de espera e eis que a concorrência é anulada, em março de 1938. O Governo, então, nomeia nova comissão para receber outras propostas e saber dos boatos que então corriam de que firmas alemãs e italianas estavam interessando-se pelo projeto; nenhum novo concorrente se apre sentou. Nesse ínterim havia eclodido a Segunda Guerra Mundial, a 1 de setembro de 1939, e Vargas determinou maior presteza para o início 553


das obras, pois pressentia que com a guerra haveriam de surgir mais e maiores dificuldades. E, assim, a 6 de outubro de 1939, foi aceito o projeto da Construções Aeronáuticas S/A. 2 -

Um Projeto Lento

Enquanto se arrastavam as decisões para a composição da empresa que haveria de instalar a fábrica, o Governo vinha desde 1935, também lentamente, fazendo a sua parte. Em sua mensagem ao Legislativo, no ano de 1936, o Chefe do Executivo fazia menção à Fábrica de Aviões de Lagoa Santa e dizia que algumas providências estavam sendo tomadas. No mesmo ano, as obras de terraplenagem foram iniciadas e movimentaram cerca de um milhão de metros cúbicos de terra. A área destinada à futura fábrica já esta7alimpa, e media 150.000 metros quadrados; Três mil contos de réis foram destinados às obras de montagem dós motores que forneciam energia, um observatório, etc., e estudavase uma pista de pouso de 1.100 metros, já estando prevista também a instalação ali do 4.° Regimento de Aviação. Interessante era a garantia do Governo de fazer encomendas à nova fábrica no valor de 15 mil cOlitos de réis anuais, para aviões, hidroaviões e peças sobressalentes. Nessa importância não estava incluído o custo dos motores, que poderiam ser adquiridos diretamente pelo Governo, em outra fonte . O prazo de duração do contrato era de quinze anos,e, já cuidando da nacionalização, o Governo estabelecia que a empresa que vencesse a concorrência e administrasse a fábrica deveria ser obrigatoriamente brasileira, e todo o pessoal empregado na indústria deveria ser nacionalizado progressivamente para, em quatro anos, atingir 85 %. O contrato previa ainda que a capacidade produtiva normal seria executada sob o regime de oito horas de trabalho diário, e que pudesse garantir, em qualquer emergência, a construção anual, para ó Govern9, sem prejuízo de encomendas particulares, dos seguintes quantitativos: primeiro ano - 100.000 quilos de peso vazio de aviões fabricados; segundo ano - 140.000 quilos; e terceiro ano - 200.000 quilos de peso vazio de aviões fabricados. Finalmente, era admitida a proporção de dois terços de aviões de construção mista e um terço de construção inteiramente metálica. O contrato foi assinado em 6 de abril de 1940, confirmado um mês depois pelo Decreto-Lei n.o 2.176 e registrado no Tribunal de Contas da União em 24 de maio de 1940. 3 _. - O Desapontamento de Couzinet O Correio da Manhã do Rio de Janeiro, de 28 de outubro de 1944, publica uma longa reportagem sobre René Couzinet, em que ele trata de 554


diferentes assuntos aeronáuticos. Entretanto, é a parte inicial da mesma que transcrevemos, por sua oportunidade e para demonstrar, com suas próprias palavras, toda a frustração de que se encontrava possuído: Desde que me formei em engenharia, em 1924, até o Armistício, em 1940, não se passou hora de trabalho em que não me entregasse à tarefa de concepção e realização de aviões, hidroaviões e motores de aviões. Por um estranho paradoxo, a guerra me impossibilitou de produzir o que quer que seja, um simples rebite que fosse. É uma história inacreditável. que, tendo conseguido escapar de França após o Armistício e reagrupar aqui, no Brasil, a turma fiel do Escritório de Estudos e dos chefes de Oficinas, me tenha visto impedido, quando parecia isto mais útil ao meu país e a seus aliados, de fazer a única coisa que me interessa na vida, a sáber - aviões. História para ser contadú um dia, mais tarde. Seguramente não me quedei inativo, do que é testemunho a Fábrica de Lagoa Santa, construída em dezoito meses, e, se não me foi dado fabricar aviões, pude ao menos, com o conCUrSo dos notáveis técnicos que me acompanharam, dar impulso a estudos técnicos que demonstrarão, assim que consigamos pô-los em prática, não termos perdido nem a vitalidade nem o espírito de progresso. É flagrante a frustração de Couzi,net, mesmo alguns anos depois do estabelecimento da 'empresa que implantou a fábrica. Sua frase, nã(.I me foi dado fabricar ' aí aviões . .. é reveladora, também, de que a& coisas em Lagoa Santa não andavam tão bem quanto o desejava o Governo, e o queriam os industriais que ali estavam aplicando o melhor de seus esforços, sempre embalados pelo sonho de dotar o Brasil de uma indústria que, realmente, fizesse aviões. René Couzinet e seus dois auxiliares, Abel Verdurand e Paul Rosychi, haviam retornado à França pouco antes da eclosão da guerra; vencida a França, foi esta dividida, e Couzinet encontrava-se, neSSá ocasião, na parte denominada França Independente, cujo governo era sediado em Viçhy. Getúlio Vargas, que realmente depositava grandes esperanças e confiança em Couzinet, iniciou conversações diplomáticas, a fim de trazer de volta o técnico francês, o que çle fato conseguiu. Foi ele nomeado Diretor na nova empresa e professor do Curso de Aeromecânica na Escola Técnica do Exército, recém-criada. O convite fora feito pelo Ministro da Guerra de então, General Eurico Gaspar Dutra, o que demonstra que eram das melhores as relações entre o projetista francês e o Governo brasileiro. Tudo conspirava contrariamente para que Lagoa Santa iniciasse, afinal, sua produção. A Segunda Guerra Mundial, ainda circunscrita à Europa, impedia que ali se pudesse comprar o que quer que fosse, e máquinas, fresas e tornos era o de que mais se necessitava. Voltados os 555


olhos para os Estados Unidos da América, eis que estes entram igualmente no conflito em dezembro de 1941. Fechava-se assim a última porta de possíveis fornecedores de ferramenta!. O Governo, porém, continuava insistindo com Lagoa Santa, e é bastante conhecido um despacho do Presidente da República, já em 1943, em que afirma que a Fábrica de Lagoa Santa deveria ter prioridade sobre qualquer fábrica de aviões, até que aquela estivesse construída e em pleno funcionamento. Os anos arrastavam-se e nenhum avião era produzido. Embora as obras civis, de responsabilidade das firmas Alfredo Santiago & Cia. Ltda. e Giannetti & Cia. Ltda., tivessem ficado prontas no início de 1943, constituídas de uma central elétrica, oficinas de pintura, laboratórios, etc., o ano de 1944 já ia em meio e a Fábrica de Lagoa Santa, concebida onze anos antes, não tinha ainda construído um avião sequer. Nessa ocasião, o Ministério da Aeronáutica já havia sido criado, e o Governo instituiu uma comissão especial para estudar o assunto e propor medidas que viessem a solucionar o verdadeiro impasse em que o empreendimento se encontrava. Essa comissão propôs, entre outras coisas, que o capital fosse aberto à iniciativa privada. Alguns interessados apresentaram-se, entre estes o Grupo Pignatari, que já dispunha de experiência com aviões, pois era possuidor da Companhia Aeronáutica Paulista, na época a mais importante fábrica brasileira de aviões. Com a alteração contratual, Lagoa Santa passou à categoria de sociedade- de economia mista. Houve uma mudança em sua diretoria, mas René Couzinet continuou como consultor técnico, função pela qual fazia questão de receber apenas uma retribuição simbólica de 1 cruzeiro (o mil-réis já havia acabado) por mês. Iniciava-se assim uma nova fase de Lagoa Santa, que será objeto de estudos n~ próximo Volume.

556


CAPíTULO 9

OFICINAS GERAIS DE AVIAÇÃO NA V AL

1 -

A Fábrica Curtiss

o

mesmo ano em que o Governo brasileiro negava as encomendas feitas a Henrique Lage - 1922 - o que provocou o pos. tergamento do início da indústria aeronáutica no Brasil, o Ministro da Marinha, Almirante Alexandrino de Alencar, discutia o futuro da aeronáutica naval, e ao mesmo tempo dizia que a situação, quanto à utilização da arma aérea e ao aperfeiçoamento dos aviões, ainda não se apresentava madura, mas que, de qualquer forma, dever-se-ia providenciar no País a construção dos aparelhos que suprissem nossas necessidades futuras. Como se nota, o que a Marinha discutia não era o mérito da questão, mas, apenas, a sua oportunidade. Com o advento de um novo Governo, em 1930, e que manifestou grande interesse pelo desenvolvimento da aviação, civil e militar, a idéia da construção de aviões começou a gerar frutos, como vimos em capítulos anteriores. Em 1933, a Curtiss W right Export Corporation propôs a construção de uma fábrica de aviões em território brasileiro, e o Governo criou uma Comissão a ser designada pelo Ministério da Viação e Obras Públicas, e que teria a colaboração do Exército e da Marinha. A idéia, porém, não foi levada avante . A Marinha, isoladamente, preocupava-se cada vez mais com a arma aérea como complemento de suas atividades, e o seu Centro de Aviação Naval estava atento e desejoso de possuir, pelo menos a longo prazo, uma fábrica de aviões, mas queria, de imediato, uma oficina de reparos para os aviões que já estava importando. O Exército dispunha de uma

N

557


oficina de reparação de motores Wright, que ficou sob o comando do então Segundo-Tenente Jerônimo B. Bastos. Essa Oficina Wright instalou-se em São Paulo, e deveu sua existência ao auxílio que lhe deu Eduardo Gomes; foi uma das peças fundamentais do Parque de Aeronáutica de São Paulo. . 2· -

As Oficinas Gerais

A Marinha desenvolveu a idéia de criar as Oficinas Gerais de Aviação Naval, que seriam a primeira organização de grandes . proporções dedicada aos reparos e manutenção de aeronaves e, já com vistas para o futuro, teriam anexa uma fábrica de aviões. Desde 1927 e até 1935 já haviam sido importados pela Marinha 143 aviões de diversas procedências, mas principalmente europeus. Destes, sessenta estavam parados por falta de manutenção e peças sobressalentes. Urgia, pois, instalar imediatamente a oficina e cuidar, ao mesmo tempo, de implementar a fábrica de aviões. Tratou-se logo de passar da idéia à ação. Estavam para nascer as Oficinas Gerais de Aviação Naval que começaram a funcionar em instalações já existentes da Base de Aviação Naval do Galeão, e embora fosse este o seu nome oficial, o empreendimento passou logo a ser conhecido por todos como Fábrica de Aviões . A pedra fundamental do edifício definitivo foi lançada em junho de 1936, e a Diretoria de Aeronáutica iniciou imediatamente uma construção com 19.000 metros quadrados de área coberta para abrigar a oficina. Era Ministro da Marinha o Almirante Henrique Aristides Guilhem; Diretor Geral de Aeronáutica o Contra-Almirante Antonio Augusto Schorcht; e Diretor da Escola de Aviação Naval o Capi~ão-de­ Mar-e-Guerra Armando Trompowsky. O contrato da construção foi firmado com a empresa H . Lange & Cia. , na qualidade de procuradora da Fock Wulf. Tratava-se agora de escolher quem forneceria os aparelhos. A escolha estava entre, de um lado, os Estados Unidos da América, e, do outro, os europeus, com Alemanha, Inglaterra, França e Itália. PenSou-se inicialmente nos Estados Unidos da América, e para lá foi mandado o oficial Raymundo Vasconcellos de Aboim, o qual, como . vimos anteriormente, ocupava desde 1928 a Diretoria de Material da Aviação Naval. Junto com Aboim viajou também um pequeno grupo' de oficiais de Marinha, todos aviadores, que estagiaram nas fábricas Chance Vought e Glenn Martin. Verificou-se, de imediato, que a aviação nos Estados Unidos não estava tão desenvolvida quanto em vários países da Europa (França, Inglaterra, Itália e Alemanha); ao mesmo tempo, surgiu um impasse: os americanos queriam apenas mandar operários treinados para virem ensinar aos operários brasileiros, e com altos salários. Ora, a Marinha interessava-se por assistência técnica e, o que 558


era mais importante, pela vinda de elementos de maior capacidade, engenheiros e outros técnicos de igual categoria, e não apenas operários. Em virtude disto e do alto custo financeiro da proposta norte-americana, o projeto foi abandonado e Aboim retornou ao Brasil.

3 -

Os Alemães

O programa de aqmslçao de aVlOes pela Marinha de Guerra do Brasil não estava estacionário, e cogitava-se de adquirir alguns aviões leves de treinamento quando Aboim regressou de sua viagem aos EUA. Nessa ocasião os alemães, sabedores da disposição do Governo brasileiro, através de sua Marinha, de adquirir aviões, procuraram o Almirante Antonio Augusto Schorcht, Comandante da Aviação Naval. O contato foi feito através de um alemão, Sr. Heinrich Lange, que estava dirigindo a construção das docas da Ilha das Cobras, na Baía de Guanaba'ra. Aboim foi consultado sobre o oferecimento dos alemães e sugeriu que a Marinha desse como vencedora qualquer das cinco firmas alemãs e inglesas que patricipavam da concorrência; venceria aquela que se comprometesse a construir aviões no Brasil que pudessem servir à Marinha de Guerra. Como técnica comercial, os alemães convidaram Vasconcellos de Aboim a visitar a Alemanha e ele esteve, entre outras, na fábrica Focke Wulf, e voltou vivamente impressionado com o que viu. A Alemanha já estava presente no Brasil através de vários empreendimentos. No setor da aviação, haviam construído o gigantesco hangar para os zepelins, em Santa Cruz, e vinham obtendo grande sucesso com sua companhia Condor, sucessora do Condor Syndicat, uma empresa que vendia aviões, como o primeiro Dornier Wal da VARIG - o Atlântico. Além disso, a par da excelência de seus produtos, havia, de parte do Governo brasileiro, uma grande simpatia pela pátria de Goethe. Os alemães mandariam para o Brasil os técnicos e os projetos, e a Marinha faria construir as obras civis para a instalação das Oficinas Gerais de Aviação Naval, que seriam posteriormente transformadas em Fábrica de Aviões do Galeão, nome adotado em virtude de ter sido escolhida como sede a Ilha do Governador, com a sua Ponta do Galeão. O projeto andou celeremente, não obstante os poucos recurs~s de que dispunha a Marinha para implementá-lo, mas as pretensões eram ambiciosas: construção, por etapas, de aviões Focke W ulf-44 Stieglitz; Fock Wulf-56 de treinamento avançado; Focke Wulf-58 , bimotor de bombardeio e observação; e, finalmente, o Focke Wulf-200, o Condor, quadrimotor comercial. A Focke Wulf Flugzeugbau A.C., de Bremen, de comum acordo com o Ministério da Marinha, deu início imediatamente à construção do modelo destinado ao treinamento primário, o FW-44.

559


CAPÍTULO 10

A PRODUÇÃO DE AVIÕES NA MARINHA

1 -

O Stieglitz

modelo escolhido era um aparelho de estrutura metálica, destinado à instrução e alta acrobacia, e que contava em seu ativo com o prêmio das Olimpíadas de Bedim de 1936, sendo portanto oficialmente .o melhor aparelho de sua classe. Era também, nessa época, o avião mais produzido em todo o Mundo, pois a Inglaterra, a França e o Japão já o estavam construindo sob licença e também os países es-

O

ri/!.. /64 -

560

U "S ticl!.lit z ·'.


candinavos o estavam adotando. O StiegIitz apresentava características realmente marcantes: extrema maneabilidade, motor de funcionamento garantido por altos coeficientes de segurança, grande estabilidade, pequena velocidade de pouso e perfeita segurança em vôos de acrobacia, graças a um novo carburador que lhe fora acrescentado. E, ainda, instalação automática contra fogo, assento-elevador para as aterragens e abertura automática das portinholas, facilitando o desembaraço do piloto em caso de acidente. Suas características eram: biplano, biplace com duplo comando para instrução, acrobacia e cruzeiro; motor Siemens com carburador suplementar para vôo de dorso e 150 H.P. de potência; seu peso total para cruzeiro era de 860 kg, para instrução 800, e adaptado para acrobacia, somente 725 kg. Suas velocidades: 188 km/hora a máxima com 800 kg; 174 km/hora à velocidade de cruzeiro, a 2.075 rpm, e velocidade de pouso apenas 74 km/hora. Ascendia a 1.000 metros em 4,5 minutos, e alcançava a máxima de 4.400 metros com uma autonomia de 575 km a 2.075 rpm. Tanto as asas superiores como as inferiores mediam 10 metros quadrados, e a envergadura era de 9,00 metros. Um fator que levou as autoridades d'a Marinha a inclinarem-se pelo Stieglitz foi o seu baixo custo de produção. Cada unidade estava orçada em 90:000$000 (noventa contos de réis), já computadas aí as despesas de instalações. A Marinha anunciava, em 1937, que esse preço unitário era apenas 75% do valor por que haviam sido adquiridos (importados) os últimos aviões-escola, cuja performance era, por outro lado, sensivelmente inferior à do avião da Focke W uI/. E mais: que se o contrato fosse renovado, o custo do produto final cairia para 75 contos de réis, um verdadeiro recorde em construção de aeronaves. Os técnicos alemães, ao mesmo tempo em que desenvolviam o projeto, iam corrigindo as naturais deficiências dos operários brasileiros, que pouca ou nenhuma noção possuíam do fabrico de aviões; assim, a Marinha ia constituindo um corpo próprio de operários especializados que muito lhe haveriam de ser úteis nos anos seguintes. Por força contratual, tanto os motores quanto a matéria-prima indispensável ao fabrito dos StiegIitz eram ímportados da Alemanha, mas os engenheiros brasileiros começaram . a entrever a possibilidade de irem transformando o emprego da matéria-prima germânica por similar nacional, principalmente no que tangia a tela, cola, vernizes, madeira e borracha. Teve início, então, a fabricação do Focke WuIf FW-44-J, em duas etapas de vinte aparelhos cada uma. O primeiro avião foi construído e, já em 8 de maio de 1937, realizou seu ·primeiro vôo sob as vistas do Presidente da Repúbliça, pilotado pelo Segundo-Tenente RNA Jorge Marques de Azevedo; este fato bem revela a rapidez corri que se vinham processando as diversas etapas da Fábrica - menos de um ano depois de lançada a pedra fundamental das OfiCinas Gerais de Aviação Naval. A primeira aeronave Focke WuIf-44-J que precedeu a série fabricada 561


no Galeão foi recebida da Alemanhá e fez seu primeiro vôo, pilotada pelo Tenente Azevedo, a 10 de novembro de 1936. Os acontecimentos sucediam-se celeremente: os aviões FW-44-J, à medida em que iam sendo construídos, foram entrando em serviço na Escola de Aviação Naval e, em agosto de 1937, estavam substituindo os Tiger Moth, introduzidos em agosto de 1935. O último FW -44-J da primeira série de vinte tomou a matrícula IlAvN145, e fez seu primeiro vôo a 4 de agosto de 1937. A Aviação Naval, no seu todo, utilizava os seguintes tipos de aviões, em 1938: Primeiro Grupo de Esclarecimentos e Bombardeio - aviões Fairey Gordon; Correio Aéreo Naval - Waco CSO, F-5 e CJC (WacoCabine); Seção de Combate - Boeings modelo 1932; Seção de Observação - Vought Corsair V-66 B; e a Escola, como foi dito, os Stieglitz56 • A Revista Naval de maio de 1937, em um artigo intitulado A Marinha constrói seus Aviões de Instrução, de autoria de A. F. Lobato, tece rasgados elogios à Missão Alemã que estava orientando os trabalhos de construção dos Stieglitz e, também, ao espírito que animava os alemães. Um pequeno trecho merece ser transcrito: Hoje mais do que nunca nos é útil sua amizade, pelos belos exemplos de sacrifício, de patriotismo e de fé, quando parece tramar-se uma conjuração para extirpar essas virtudf:.s da face da terra. Fortes são, deste modo, as afinidades existentes entre nós e aquela nação que conosco afirma a personalidade de seu povo, a realidade eterna da sua pátria e, na nossa vanguarda, combate até ao extermínio aquelas idéias bárbaras e pestilentas que visam, impe- · nitentemente, submergir no seu .lodo tudo o que, durante milênios,' o Homem criou de mais elevado e sagrado. Com tal espírito, aliado às (realmente) excelentes condições de desempenho dos produtos alemães, o empreendimento tinha tudo para progredir, o que efetivamente aconteceu. 2 -

O Esforço da Marinha

Muito embora houvesse boa vontade e disposição de espírito por parte de ambos os contratantes - Marinha e alemães - o projeto defrontava-se com um grave empecilho: a falta de verbas, espantalho tradicional de todo empreendimento governamental brasileiro. Mas as autoridades navais não se intimidaram e puseram mãos à obra, literalmente.

3 -

O Focke-W ulf 58-B

Na metade do ano de 1937, a 30 de julho, implementou-se o segundo item do contrato, quando, recebido da Alemanha, foi experimentado em vôo o primeiro Focke W ulf 58 Weihe. O aparelho veio em partes e foi montado no Galeão; este serviria de modelo para a série 562


de bimotores que seriam construídos no Brasil. Passou-se por cima, queimando etapas, do FW 56, de treinamento avançado. As Oficinas já haviam produzido quarenta Stieglitz e adquirido material para a construção de 25 aviões Focke W ul! 58-B, bimotores que se destinavam ao bombardeio e também ao treinamento avançado. Assim foi dado início à primeira série dos FW-58. Após o primeiro recebido da Alemanha e montado no Galeão, o primeiro dos FW-58 fabricado no Brasil foi entregue pronto a 20 de abril de 1938, fazendo parte de um lote de dez aparelhos. Este avião tinha matrícula D2FW 168 . A 4 de outubro do mesmo ano, voou pela primeira vez o quinto aparelho da série de dez encomendada. Nesse ínterim havia eclodido a Segunda Guerra Mundial, e a Fábrica do Galeão viu-se desfalcada da cooperação alemã . Continuou, porém, a trabalhar sem assistência técnica, e entregou mais cinco aparelhos FW58 até 1940, tendo sido todos os dez incorporados à Segunda Esquadrilha de Adestramento Militar. O ano de 1939 foi de grandes realizações para a Aviação Naval e . sua Fábrica de Aviões. As Oficinas Gerais de Aviação Naval (este o seu nome oficial) só ficaram inteiramente prontas em junho desse ano, quando foram oficialmente inauguradas no dia 11. Foram instalados ali o aparelhamento do banho eloxal indispensável ao tratamento das ligas leves; o forno elétrico necessário para o tratamento térmico do material; e estavam em vias de conclusão as seções de forja e fundição. Funcionando normalmente estavam, em 1939, as seções de mecânica, ferramentaria, motores, eloxal e galvanoplastia, tratamento térmico, fundi-

Fig. /65 -

o

"Focke Wulf FW-58-B".

563


ção, eletricidade, serraria e carpintaria, hélices, serralheria e solda, entelagem, dosagem, pintura e montagem, além de um laboratório químico e outro de ensaios. As Oficinas construíram, também, hélices com madeira nacional, tanques de alumínio, asas, grande quantidade 'e variedade de sobressalentes, além de realizarem vários trabalhos de provas e pesquisas sobre vernizes, tintas, tecidos, madeiras, instrumentos e demais artigos da indústria nacional aplicados à Aviação, em cooperação com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo. Reparos e recuperàção de aparelhos acidentados foram atendidos pelas Oficinas, inclusive assistência aos aviões da Escola, do Correio Aéreo e outros. No mesmo ano, foram revistos 62 motores e reparados 38 aviões. As Oficinas Gerais de Aviação Naval receberam a denominação de Fábrica do Galeão, com o Decreto-Lei n.o 3.302, de 22 de maio de 1941.

Fig. 166 -

4 -

Construção de hélices do 'FW-58', nas Oficinas Gerais de Aviação Naval, ' depois chamadas Fábrica do Galeão.

Mudança de Planos

o reequipamento da Aviação Naval baseava-se exclusivamente num projeto alemão, fruto de gestões de Vasconcellos de Aboim com as Indústrias Focke W ulf. Tudo estava processando-se normalmente e de forma até bastante rápida, quando sobreveio a Segunda Guerra Mundial, e a Alemanha, principal participante do conflito, teve de concentrar-se no seu esforço de guerra, paralisando todos os empreendimentos que 564


possuíà no Exterior. A cooperação germano-brasileira foi interrompida, e a Marinha, co-partícipe, teve de encontrar uma saída para o impasse. Já haviam sido fabricados quarenta Stieglitz 44-J, mais tarde denominados Pintassilgo, encontravam-se no Brasil os componentes para o fabrico de 25 FW-58 Weihe e os gabaritos para a construção, em uma última etapa, dos quadrimotores FW-200 Condor, embarcados em navio brasileiro, um dos últimos a trazer equipamento da Alemanha antes do irrompimento das hostilidades. · A primeira série de dez FW 58B (cinco fabricados com assistência alemã e cinco já sem esta assistência) sofreu imediatamente os efeitos da mudança de política ocasionada pela guerra: as metralhadoras alemãs de 7,9 mm foram substituídas por Colt Browning ponto 30, e os portabombas que se destinavam a receber artefatos germânicos foram adaptados para as bombas e cargas de profundidade norte-americanas. Igualmente as tintas e a tela externa passaram a ser nacionais. Desses dez Focke Wulf 58 B, apenas cinco foram entregues à Marinha antes da criação do Ministério da Aeronáutica. Terminada a primeira série de dez aparelhos, foi dado início, imediatamente, à construção da segunda série de quinze, perfazendo desta forma os 25 cujos componentes haviam sido trazidos de navio, entre estes os motores Argus, de 240 H .P. As diferenças entre os aparelhos da primeira e da segunda séries foram bem mais nítidas, e a própria Marinha acentuou esta diferenciação através dos registros: enquanto os da primeira série foram ' nomeados D-2 FW (D indicativo de avião de uso geral, e 2 designativo de segundo modelo montado no Brasil) , os quinze aparelhos da segunda série foram registrados como 2 Av-N; além disso, verificou-se uma participação maior de implementos brasileiros, como madeira nacional nas asas, tela externa feita em Campinas, pneus e freios igualmente de fabricação nacional e contraplacado de madeira executado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de :São Paulo, para cobertura externa de certas partes das asas e da fuselagem. O armamento também era norte-americano. A 8 de maio de 1940, realizou o seu primeiro vôo o primeiro FW 58 B nacional da segunda série, e seus pilotos foram os SegundosTenentes Sampaio e Gilberto C. Menezes. Um mês depois, a 10 de junho, O mesmo aparelho, já então denominado 2Av-N 1, e com a mesma tripulação, foi a Santos e Florianópolis. Os FockeW ulf FW 58 B iam logo prestando serviços à Marinha. Um deles, em agosto de 1940, levando a bordo, como tripulantes, o Capitão-Tenente Nelson Baena de Miranda, Primeiros-Tenentes Jair Américo dos Reis e Jorge Kfuri, seguiu para Salvador, Bahia, pois o Capitão-Tenente Baena de Miranda fora designado para localizar o verdadeiro ponto do Descobrimento do Brasil, tarefa que, no mar, foi executada pelo navio hidrográfico Rio Branco. Com a criação do Ministério da Aeronáutica, em 1941, as denominações D-2FW e 2 Av-N desapareceram, e foram englobadas como 2 FG, que significava segundo modelo produzido na Fábrica do Galeão. 565


CAPíTULO 11

EXPERIÊNCIAS ISOLADAS

1 -

O Pelotas

NQUANTO nos anos 20 quase todos os pilotos construíam seus . próprios aparelhos para voar ou iam buscá-los na Europa, o que limitou a chamada indústria aeronáutica a parâmetros muito pequerios, a década seguinte mostrou a tentativa de industrialização de forma mais ordenada. Aqui e ali aparecem referências a interessados em aviação que construíam protótipos, que significa em última análise primeiro tipo, tipo mais recente, o que sempre induz a pensar em uma série que se pretenda construir. Mas se a construção de um protótipo já é difícil, a de uma série acarreta uma variedade de problemas, em que avulta sempre a falta de numerário, principalmente quando se trata de construtores isolados. Houve, como já vimos, a tentativa de implantação de fábricas de aviões, algumas até vitoriosas. Estas faziam, também, os seus protótipos, e a pàrtir deles iniciavam a produção seriada. Os que se aventuraram a fabricar seus próprios aviões, quer com projetos exclusivos e próprios, quer trabalhando com estudos alienígenas e fazendo neles algumas modificações, não lograram muito êxito. Seus nomes, porém, ficaram guardados como exemplos de tenacidade, coragem e aventureirismo. Suas iniciativas solitárias não lograram continuação pelos motivos os mais variados - falta de dinheiro pura e simplesmente, ou por não terem conseguido alguma instituição que se interessasse por seus modelos. E outros enfim, como o Petróleo e o Café, do Grupo Pignatari, que foram desmontados pelo próprio construtor, após haver ele constatado a sua inviabilidade.

E

566


A cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, era a mais importante do Estado depois da Capital, e ali o filho de uma de suas famílias mais ilustres, Joaquim da Costa Fonseca Filho, desenvolveu, em 1933, um protótipo a que denominou F (de Fonseca) 1. Era um monoplace e serviu de base para um projeto um pouco mais arrojado do mesmo Fonseca Filho: o F2. Este recebeu ainda um nome, Pelotas, e era já biplace em tandem. Tinha asas em pára-sol, cantilever e um pequeno motor de 4 cilindros, tendo sido mesmo homologado. O Pelotas é de 1935, ano que serviu de marco para as atividades aviatórias no Rio Grande do Sul, principalmente por se tratar da época em que se comemorava o Centenário da Revolução Farroupilha e em que todos os gaúchos se encontravam imbuídos de uma espécie de orgulho em poder mostrar para o resto do Brasil o quanto podia a gente farroupilha. Os planadores, construídos em Porto Alegre, são um exemplo disto.

2 -

O Bichinho

Bichinho de Rio Claro era o nome dado ao aparelho minúsculo projetado por Orton Hoover e Frederico Broteroem 1938. Este pequeno avião, que as notícias da época chamavam de avião mosquito, foi uma iniciativa do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, tendo sido mesmo registrado como o número zero dos aparelhos IPT. Levava somente o piloto e constituiu-se em uma experiência amplamente vitoriosa da indústria brasileira, embora nunca tivesse tido sua produção seriada. Do Bichinho de Rio Claro, que ficou depois conhecido apenas como Bichinho, foram feitos quatro protótipos. O primeiro deles, o IPT O, foi montado em 1939 ,e fez seu primeiro vôo no dia 9 de julho, quando saiu de São Paulo rumo ao Rio de Janeiro. Construído nas oficinas do Clube 'paulista de Planadores e concluído em Rio Claro, na Escola Municipal de Aviação (da qual Orton Hoover era diretor técnko), o protótipo HB 1 - depois denominado Bichinho de Rio Claro - foi levado por populares pelas ruas da cidade até o campo de pouso, onde Hoover fez os primeiros vôos de experiência coroados de pleno êxito. Animado, ele resolveu vir ao Rio de Janeiro, e, para isto, conseguiu uma autorização especial. Voou até Pindamonhangaba, de onde partiu logo após para o Rio de Janeiro, chegando ao Aeroporto Santos-Dumont depois de duas horas e dezoito minutos, tempo verdadeiramente notável para um aparelho dotado de um motor Walter Mikron de 60 H.P. apenas. O Bichinho empregava cerca de 90% de materiais nacionais, e, com exceção dos instrumentos de bordo e o motor, todo o resto era de produção brasileira. Desde a madeira, selecionada pelo IPT, até o 567


material de duralumínio, tudo foi adquirido em São Paulo, de fabricação nacional. O HB 1 (primeiro protótipo) era um monoplano de asa baixa monoplace, medindo 6 metros e 80 centímetros de ponta a ponta de asa e com um comprimento de 5,6 metros, pesando vazio apenas 260 kg. Sua velocidade máxima era de 234 quilômetro~, e aterrava a 75 km/ hora. O Bichinho possuía um dispositivo que só era encontrado, naquela época, em aviões estrangeiros de maior custo: flaps, e seu preço de construção foi verdadeiramente insignificante - menos de 40 contos de réis. Suas asas pontudas foram empregadas em todos os quatro protótipos construídos, e, depois, usadas na maioria dos aparelhos (aviões e planadores) construídos pelo 1PT. Alguns anos mais tarde, em 1943, atendendo às ponderações de Hoover, que considerava o Bichinho com muito pouca potência, o 1PT reprojetou-o e deu aos três últimos protótipos construídos motores mais potentes. Assim, vieram o 1PT-O-A, que foi o segundo, com motor de 65 H.P.; o 1PT-O-B, com 75 H.P., e o quarto e último, 1PT-O-C, com 85 H.P., todos os três motores Continental. O último foi construído em 1946 e originalmente matriculado como PP-ZPA, que mudou, posteriormente, para PT-AOA, e além do motor de 85 H.P. possuía inovações, como uma cabina fechada com cobertura de plástico.

Fig. 167 -

o

"Bichinho".

Na mesma época do projeto e construção do Bichinho, foi tentada, também, a de um outro avião, denominado Apiaí. Este seria um monomotor de quatro lugares, e os seus planos eram de autoria do Engenheiro Eduardo de Melo Alvarenga, pertencente à antiga Seção de Madeiras, posteriormente transformada em Seção de Aeronáutica do 1PT. Apesar de se chegar a uma maquete para estudos aerodinâmicos, o avião nunca . chegou à ser cónstruído. 568


3 -

O Café e o Petróleo

A década de 30 já estava para acabar quando o empresário paulista Francisco Pignatari imaginou construir a sua famosa CAP - Companhia Aeronáutica Paulista. Como medida preliminar, autorizou il construção de dois protótipos, que receberam os nomes sugestivos de Café e Petróleo, dois produtos que eram, na época, um o sustentáculo da economia nacional, e o outro que se esperava viesse a sê-lo. Os dois aviões foram projetados por um italiano que já havia trabalhado na construção de aviões na Europa - L. Bresciani. O financiamento foi feito por Pignatari, e estavam quase prontos quando Bresciani teve que se afastar do empreendimento por motivos de saúde. Outros técnicos, de menor capacidade, concluíram o projeto, mas os aviões ficaram pesados demais, conforme verificou um instrutor do Aero Clube de São Paulo, que executou os vôos experimentais. O próprio Pignatari mandou desmontálos, após ter verificado que não correspondiam às expectativas. O Petróleo era cor de alumínio, tinha dois assentos em tandem e um motor alemão de 160 H.P. Hirth HM; o Café era vermelho-escuro, biplace lado a lado, e o motor americano de 4 cilindros opostos e 140 H.P. de potência. Esses aviões foram objeto de divulgação bastante intensa e chegaram a ser apresentados em uma Feira Industrial de São Paulo, mas, infelizmente, não apresentaram boa performance e tiveram vida cur,.

6

tlSSlma.

4 -

Os Protótipos de Mário Torres

Este Suboficial de Marinha, pertencente à Aviação Naval, exercia sua atividade desenhando e fabricando hélices para a sua organização. Dei" xando o serviço militar, Mário Torres continuou com suas atividades no campo aviatório, mas já na iniciativa privada. Em bem pouco tempo realizou seis protótipos, a que deu o nome Torres, o seu próprio. Dos três primeiros, o mais conhecido foi um que se assemelhava ao famoso Pou-de-ciel francês, mas são escassas as notícias sobre eles. Os três últimos, porém, já alcançaram maior notoriedade. O Torres-4 recebeu o nome de Grumete, e era um monomotor biplano, derivado do modelo norte-americano Rose Parakeet. Seu aspecto lembrava um avião acrobático. Também biplano, biplace com duplo comando e assentos -em tandem, surgiu em 1940 o Mutuca, nome com que foi batizado o Torres-5. Montado no Aeroclube do Brasil, possuía um motor radial Armstrong Siddeley Genet de 5 cilindros e uma potência de 80 H.P. O Mutuca tinha uma velocidade máxima de 170 km/h, mas, depois que Mário Torres lhe adaptou uma nova hélice, o aparelho melhorou bastante seu desempenho. Foi homologado em 1942 e manteve-se voando até 1945, quando, em um acidente na Baixada Fluminense, foi totalmente destruído: 569


o último dos protótipos de Torres foi

o T orres-6, um pequeno monomotor monoplace, de asa baixa. Foi construído em 1942 e tinha 7,40 m de envergadura e 9,45 m de comprimento. Com o vôo do Torres-6 encerrou-se o ciclo de construções de protótipos de autoria de Mário Tor-

Fig. 168 -

Flg. 169 -

o

"Mutuca" -

o

"Grumete"

o piloto Ximenes e o construtor (de branco) Sgt. Torres.

res. E, também, findava a década de 30, que tantos experimentos ofereceu. Muito pouco conhecido, mas figurando na galeria dos construtores de protótipos, ainda aparece um monomotor experimental, de di570


mensões diminutas, chamado Silva XP-1. Iniciava-se o ano de 1941, com a criação do Ministério da Aeronáutica, e a partir dessa data a construção de aviões passou a ser mais sistematizada, tendo-se atingido marcas de produção verdadeiramehte notáveis. Os protótipos isolados já haviam ficado para trás. Mas um deles deixou história.

5 -

O Famoso EAY-20 1 -

O Pai do Paulistinha

A Empreza Aeronáutica Ypiranga, como vimos, foi fundada em 1931 por Orton Hoover, F ri tz Roesler e um sobrinho de Alberto SantosDumont, Henrique Santos-Dumont. Após vários percalços advindos da Revolução Constitucionalista de 1932, a Empreza Aeronáutica Ypiranga iniciou suas atividades construindo alguns planadores em 1933, e, dois anos depois, o talvez mais famoso dos aviões de fabricação nacional. Sua vida foi muito longa, e o EAY-201 começa a aparecer, oficialmente, no dia 11 de setembro de 1935, quando a Empreza Aeronáutica Ypiranga comunica ao D.A.C. o término da construção, em suas oficinas no Campo- de Marte, do protótipo, e ao mesmo tempo informa que a construção foi acompanhada em todas as fases pelo Capitão Montenegro e pelo Tenente Jerônimo, do Núcleo de Aviação Militar de São Paulo. E mais: que o avião está em experiências de vôo para determinação da performance e características; e, finalmente, solicita instruções para vistoria e homologação. O vôo de vistoria foi efetuado a 5 de outubro de 1935 pelo Tenente Levy, e durou quinze minutos. Em novembro, entre os dias 6 e 9, o EAY-201 foi pilotado, no Rio de Janeiro, para fins de homologação, pelo Major Fontenelle, Coronel Ivo Borges, Capitão Wanderley, Tenente Castro Neves e Capitão Mello. O Comandante do 2.° Regimento de Aviação remete ao D.A.C. o Relatório da vistoria aprovanço o protótipo EAY-201 Ypiranga, e a 22 do mesmo mês a Empreza Aeronáutica Ypirangarequer registro, no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), do avião de sua construção e propriedade EAY-201 Ypiranga, o que veio a acontecer no dia 26 de junho de 1936, recebendo o Certificado de Matrícula n.o 87 e as marcas PP-TBF. Era a primeira aeronave de fabricação nacional inscrita no RAB. O Y piran ga foi vendido a Rodolpho Valentini, da Escola de A viação Valentini, no dia 27 de março de 1941, e três meses depois, a 30 de junho, ao pousar no campo de aviação de Varginha, Minas Gerais; que se encontrava em construção, o Ypiranga parte o trem de pouso e torce a fuselagem. A Empreza Aeronáutica Ypiranga recompra-o então a 16 de dezembro do mesmo 1941. Quase que imediatamente após, o IPT emite o seu Relatório n. 384 - Revisão da Estrutura - para. novamente submetê-lo à aprovação do Ministério da Aeronáutica, já então criado. O Relatório, de 4 de fevereiro de 1942, foi fundamentado no acompanhamento da construção de mais 4 aparelhos EAY-201, no U

571


Campo de Marte, que vinha ocorrendo desde maio de 1941, pelos engenheirandos Adonis Maitino e Romeu Corsini. Os cálculos e verificações foram revistos pelo Engenheiro Clay Ptesgravedo Amaral. . Nesse ínterim, havia sido criada a Companhia AeronáutÍca Paulista (CAP), e o D.A.C.oficiou ao Serviço Técnico de AeronáutiCa soli c citando pronunciamento sobre a homologação do Y piranga, face à existência de diversas aeronaves do mesmo tipo, cujas matrículas dependiam daquela providência. A 3 de novembro de 1942 o S.T.Aet. responde ao D.A.C. informando que a Companhia Aeronáutica Paulista dera entrada na docuinentação do CAPA Paulistinha (sucessor do Ypiranga) e não na documentação do EAY-201. A 12 de janeiro de 1943, o protótipo EAY201 (iriodificado)é te-homologado pelo Serviço Técnico de Aeronáutica como CAPA Paulistinha. Mas o EAY-20 1 ainda haveria de voa'r muito e m~itas vezes mudar de mãos. Em 30 de janeiro de 1943 '0 PP-TBF (Ypiranga EAY-201 modificado) sofre capotagem no campo de aviação de Alienas, Minas Gerais, motivada por forte vento. A pedido da Companhia Aeronáutica Paulista, foi anotada no Certificado de Matrícula doPP-TBF a modificação para CAPA Paulistinha, n.O de série 01, já entãoeq1üpado com motor Franklin 4AC-176-B2, com 65 H.P., substituindo o original Salmson 9AD, de 40 H .P. O EAY-201 é transferido para a Companhia Aeronáutica Paulista em 11 de março de ' 1943 e vendido por esta ao Aeroclube de Ituititaba, Minas Gerais, por 80 mil cruzeiros, no dia 18 de novembro de 1943. ' A partir daí começou o EAY-201 a mudar de dono várias vezes. Do Aeroclube de Ituiutaba foi transferido, a 5 de abril de 1949, a Sami Rodrigues de Morais, de Rio Verde, Goiás, com cerca de 690 horas de vôo. Em agos!o de 1951, foi adquirido por José Vieira Tavares, de São Paulo. Por um erro de pilotagem, em 22 de novembro de 1952 , capotou no município de Restinga Seca, no Rio Grande do Sul, e foi comprado por Saul de Morais, de Porto Alegre, a 22 de maio de 1953. Os anos seguintes do EAY-201 foram todos passados no Estado sulino. Foi transferido, com 1.090 horas de vôo, a Alberto Samedo Guedes e Evaldo Batista Quadrado, do município de São Leopoldo, que foram autorizados .a usá-lo como rebocador de faixas de propaganda aérea. Quando já tinha 1.117 horas totais de vôo, foi vendido por Cr$ 280.000,00 para o Aeroclube de Camaquã, e naquele estabelecimento voou 203 horas até o dia 3 de dezembro de 1962. O Y piranga estava chegando ao fim de seus dias de vôo e ia voltar às suas origens, isto é, o Estado de São Paulo. A 4 de março de 1963 voou de Porto Alegre para São Paulo, pilotado pelo oficial da FAB Hélio Labourdette Martins, a fim de ser recolhido ao Museu de Aeronáutica da Fundação Santos-Dumont. Nesta data encerrou sua vida útil, com um total de 1.330 horas e 40 minutos de vôo. Foi recebido 572


em perfeitas condições de aeronavegabilidade e está exposto à visitação pública ao lado de um outro EAY-201 PP-TIS (pré-série n.o 02), que teve sua vida toda desenvolvida no Aeroclube de Marília, São Paulo. A excelência de seu projeto e de sua construção está comprovada não só na vida extensa como por ter sido o protótipo que deu lugar ao Paulistinha, que tanta fama adquiriu em todo o Brasil, e do qual foram construídos centenas.

573


CAPíTULO 12

A ORGANIZAÇÃO LAGE E OS HL

1 -

Nacionalização das Atividades

Companhia Nacional de Naveg~ção Aérea, como vimos, foi ~n­ dada em 1921, fazendo parte mtegrante da chamada OrganIzação Lage. Depois da çxperiência fracassada de 1922, quando, fabricados o Rio de Janeiro e'o Independência com pleno êxito, não conseguiu do Governo Federal encomendas que justificassem o emprego da maquinaria encomendada à Inglaterra, a CNNA retomou na década de 30 a fabricação de aviões. Acrescentando ao extenso número de empresas da Organização Lage a Fábrica Brasileira de Aviões, iniciou a fabri. cação seriada dos M-7 e M-9, em 1935. Henrique Lage, a par de ser um homem extremamente empreendedor, era, também, muitíssimo ambicioso. Seus planos para a aviação brasileira constituíam audácia para a época, como se pode depreender das palavras do Engenheiro Aeronáutico Luiz Felipe Marques, que desde julho de 1939 era o responsável técnico e administrativo da CNNA. Em seu livro (hoje muito raro) Problemas de Administração da Construção Aeronáutica no Brasil, Luiz Felipe Marques assim traduzia o pensamento de Henrique Lage sobre o assunto: A Companhia Nacional de Navegação Aérea não é, todavia, apenas uma fábrica de aviões. A sua estrutura é muito mais ampla, pois seus estatutos prevêem a organização de três departamentos principais: o primeiro, constituído de uma usina de fabricação de aviões e motores; o segundo, a criação de uma escola de aviação completamente aparelhada para a formação de aeronautas idôneos; e o terceiro, destinado à exploração de linhas aéreas

A

574


dentro do Brasil e de ligação do nosso País com as demais repúblicas do continente. Já se vê, assim, que Henrique Lage pretendia projetar e fabricar aviões, formar pilotos próprios e, em outra etapa, entrar no ramo da navegação aérea comercial. Em 1940, era grande o entusiasmo do Governo brasileiro pela atividade aviatória: preparava-se a criação do Ministério da Aeronáutica - idéia antiga que vinha sendo acalentada desde a década de 20 havia prenúncios de grandes campanhas visando à formação de pilotos e, conseqüentemente, grandes encomendas de ' aviões teriam de ser feitas, e a própria nação brasileira conscientizara-se da necessidade de adotar o' avião como um meio de transporte moderno e adequado às condições nacionais, tendo em vista as dimensões continentais do Brasil. A Companhia Nacional de Navegação Aérea teve uma nova diretoria nomeada por Henrique Lage em 1939, da qual ele mesmo fazia parte como Presidente, o que era inusitado, pois o dinâmico armador carioca nunca assumia a presidência de qualquer das empresas da Organização Lage. Este fato demonstra o carinho que ele dedicava à aviação. Tão logo foi constituída esta nova diretoria, entraram em atividade os seus três departamentos. Foi, igualmente, estudada a viabilidade do estabelecimento de uma linha de navegação aérea comercial entre Rio e Montevidéu, e, isto feito, solicitada a licença, concedida tanto pelo Governo brasileiro como pelo uruguaio. O Departamento Técnico da CNNA compunha-se de dois engenheiros, oito desenhistas e doze operários que desenvolviam atividades em uma. pequena oficina. Com a recomendação expressa de Henrique Lage de estudar e projetar aviões em que fosse utilizado somente material nacional, o Departamento Técnico conseguiu realizar seis protótipos, designados HL e numerados ao longo do tempo de 1 a 6. A idéia da CNNA era desenvolver projetos que envolvessem, no início, apenas aviôes leves e pequenos que se destinariam à aviação civil brasileira, representada na época pelos aeroclubes já disseminados por todo o País, e que vinham recebendo incentivo cada vez maior do Governo Federal.

2 -

O HL-l

, O Engenheiro Luiz Felipe Marques Gonçalves ficou com a responsabilidade do projeto industrial do primeiro avião da CNNA, enquanto a supervisão da parte técnica coube ao belga René Marie Vandaele, grande propugnador das coisas da aviação e que se integrou inteiramente ao meio aviatório brasileiro. Acicatado por Henrique Lage, Vandaele fez o projeto e a construção foi iniciada e terminada, tudo em apenas 65 dias. Lage pretendia um avião da classe do Taylor Cub e, como sempre, que utilizasse o maior número de componentes .brasileiros. O protótipo 575


recebeu, inicialmente, as letras H-L pintadas na cauda; depois estas foram transformadas em HL-65 (o número de H.P. do motor) e, finalmente, a sua denominação final: HL-l , ou seja, primeiro modelo da empresa de Henrique Lage. O HL-l protótipo foi constnúdo na Ilha do Viana e realizou seu primeiro vôo de ensaio no dia 18 de junho de 1940. O Departamento de Aviação Civil (D.A.C.) havia nomeado uma comissão técnica para vistoriar os desenhos, cálculos e a própria construção, que era composta dos Engenheiros Paulo Sampaio, Rufino de Almeida e Salomão J abour, sendo que este último submeteu o aparelho aos testes regulamentares que visavam a receber o competente Certificado de Navegabilidade. Os testes duraram cerca de dois meses, após o que o avião foi considerado em condições e recebeu sua matricula: PP-THG, e registro no RAB n.o 293, na categoria recreio. O HL-1 era um monomotor de asa alta, biplace em tandem, e possuía um motor Continental A-65, com 4 cilindros e 65 H.P. a 2.300 rotações por minuto. Sua hélice era de madeira, fahriCada pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo . Suas outras medidas eram: 10,70 m de envergadura; 6,70 m de comprimento; 2,70 m de altura; 340 kg vazio; e 580 kg de peso máximo; possuía um tetooperácional de 4.000 metros , uma velocidade de cruzeiro de 125 km/h e máxima de 150 km/h. Este protótipo, matriculado PP-THG, foi entregue ao Governo do Estado de São Paulo, cujo Interventor Adhemar de Barros teria encomendado dez exemplares, conforme assim o anunciou a CNNA. Entretanto, somente o PP-THG foi adquirido pelo Estado de São Paulo. Graças ao pequeno consumo e diminuto preço de manutenção do aparelho, o Aeroclube de São Paulo cobrava uma quantia mínima de seus alunos. A partir do protótipo, outros exemplares foram constnúdos, tendo todos obtido êxito. Um destes foi o matriculado como PP-PIll... Este avião foi doado ao piloto paraguaio Elias Navarro pelo Presidente Getúlio Vargas, em virtude de ter aquele aviador perdido seu aparelho num acident.e nas proximidades do Monumento Rodoviário, quando voava de Assunção para o Rio de Janeiro, onde vinha assistir às comemorações da Semana da Asa , em outubro de 1940. O aparelho tinha tanques de combustível adicionais, o que permitiu a Elias Navarro fazer um reide Rio-Buenos Aires sem escalas e, mais tarde, outra viagem entre Assunção do Paraguai e o Rio de Janeiro . Entre 1940 e 1941, mais oito HL-l foram construídos. Dois foram doados ao Governo boliviano e dois mais para 0' Aeroclube do Paraguai, como oferta do G0verno brasileiro. Outros dois, ainda, foram adquiridos pelo Aeroclube de Pernambuco, tendo recebido matrículas PP-TIC e PP-TID. Em maio de 1941, o recém-criado Ministério da Aeronáutica fez uma encomenda de uma centena de aeronaves RL-l, que se destinavam aos aeroclubes brasileiros. Para esta encomenda criou-se um novo tipo de aparelho, denominado agora HL1B, ao mesmo tempo em que os anteriores HL-l pass.a576


ram a chamar-se HL-1A. Esta centena de aVlOes encomendados diferia dos anteriores por ter um tanque com apenas 50 litros de gasolina e os 4 cilindros do motor Continental descobertos, ao contrário do anterior, que chegou a possuir tanques de combustível de 75 litros e o motor completamente coberto por uma carenagem aerodinâmica. Entre a encomenda de maio e a entrega dos cem aviões a 25 de agosto, ocorreu a morte de Henrique Lage, a 2 de julho de 1941, o que ressalta o esforço que a equipe da Organização Lage no setor de aviaç~o, à frente o Engenheiro Luiz Felipe Marques, teve que fazer.

Fig. 170 -

3 -

U "HL-IB".

O Espírito de Equipe de Henrique Lage

É usual que se atribua ao chefe de. qualquer movimento que reúna várias pessoas a responsabilidade pelo êxito ou malogro. Isto acontece com generais, almirantes, industriais, cientistas, comerciantes e toda a vasta gama da atividade humana. Não poderia ocorrer de outro modo com a trajetória de Henrique Lage, industrial operoso e de grande visão. Dentre suas inúmeras atividades empresariais, a que nos interessa mais de perto é, logicamente, a da aviação, onde, a par de seu incontestável pioneirismo (aviões Rio de Janeiro e Independência), tem lugar de destaque a pertinácia com que perseguiu seu objetivo, desenvolvendo a cada dia mais a capacidade industrial de aviação do Brasil. Como tantos outro') líderes, Henrique Lage poderia ter a morte como ponto final de suas atividades, mas até isso o empresário brasileiro previu, e tomou providências para que sua obra continuasse após seu desaparecimento. Em seu testamento, Henrique Lage diz expressamente que ... recomenda 577


à mulher, seus sobrinhos e demais legatários que reúnam em uma só

organização as empresas ou firmas pertencentes a ele - testador de modo que formem um todo, como sempre estiveram em suas mãos, pois esse patrimônio não deve nem pode ser dispersado. Em atendimento à vontade de Henrique Lage, os familiares reuniram-se e fizeram uma exposição, encabeça da pela assinatura de Renaud Lage, único irmão sobrevivente de Henrique, seguindo-se a assinatura da viúva, Gabriela Benzanzoni Lage, e de nove descendentes do velho Antonio Martins Lage Filho: William, Antonio Augusto, George Ivan, Henrique Vitor, André Raul, Alfredo Martins, Eugênio Martins, Carlos Martins e Henry Potter. Todos eles manifestaram-se de acordo com os termos do testamento e declararam que só desejavam uma coisa: continuar a obra de Henrique, unidos, em defesa de um patrimônio acumulado pelo trabalho de cinco gerações que os antecederam. As atividades dos Lage datam de meados do século XIX, e Henrique foi o último da família a presidir e comandar a Organização Lage. De todos os segmentos da vastíssima empresa, sem dúvida era a navegação marítima a espinha dorsal, pois que até a quarta década deste século a ligação entre os diferentes (e distantes) pontos do Território Nacional era feita basicamente pelos I ta, denominação dada às embarcações da Companhia Nacional de Navegação Costeira, que tinha seus nomes iniciados com aquelas palavras, como Itaquicé, Itaimbé e tantos outros. Mas o sonho mais ternamente acalentado por Henrique Lageera, sem dúvida, a navegação aérea e, para tanto, sua visão de homem de negócios fez com que às suas empresas fosse acrescentada mais uma: a Companhia Nacional de Navegação Aérea. Meticuloso, tratou logo de construir seus próprios aviões, que viriam, mais tarde, integrar as linhas de navegação já mencionadas. Se o mérito de pioneiro e desbravador da indústria aeronáutica brasileira cabe sem dúvida a Lage, não é possível, entretanto, escrever sobre a história dessa mesma indústria esquecendo aqueles que ajudaram o armador brasileiro a desenvolver suas idéias. Envolvidos pelo ideal da aviação e, ao mesmo tempo, estimulados pelo entusiasmo transbordante de Henrique Lage, vários de seus colaboradores tornaram-se, eles mesmos, parte integrante dessa história. Pode-se mesmo dizer que, entre 1920 e 1941, a CNNA diretamente, ou através de sua subsidiária,. a Fábrica Brasileira de Aviões, estabeleceu contato com todos quantos estivessem envolvidos pela atividade aviatória: engenheiros, mestres, artífices, químicos, pilotos, organizações privadas ou governamentais, todos foram atingidos pela ação de Henrique Lage ou de seus colaboradores mais próximos. Sem pretender injustiçar ninguém, alguns nomes, entretanto, sobressaem, como Vandaele, José Garcia de Souza, Luiz Felipe Marques e até Elias Navarro, que levou o nome HL para fora da fronteira brasileira. 578


4 -

René Marie Vandaele

o belga René Marie Vandaele foi um deles. É ele mesmo quem diz: Quando cheguei ao Brasil, em 1933, trouxe uma carta de apre. sentação para o então Capitão Antonio Guedes Muniz, e, em nosso primeiro contacto, ele me deu a impressão de um jovem oficial de inteligência brilhante. Dois dias depois, a 16 de março (de 1933), entrei por intermédio de Muniz no Escritório Técnico da Companhia Nacional de Navegação Costeira, instalada na Ilha do Viana, na Baía de Guanabara. Nesse escritório, tratando das questões navais, estava como chefe o sr. Sampaio, com a assistência dos senhores Mário e Euclides. Estava em construção, nesta Ilha, sob a supervisão de Muniz, um planador primário, o Avia, todo feito de madeira nacional, do qual o Brigadeiro Dyott Fontenelle devia ter uma desagradável lembrança, porque, penso eu, alguns de seus dentes ficaram no meio dos destroços do planador. Foi no escritório Técnico da Companhia Nacional de Navegação Costeira que se organizou o núcleo aeronáutico composto de: Henrique Lage; Guedes Muniz - idealizado r das configurações externas dos M-6 e M-l e do trem de pouso do M-l; R. Vandaele - Engenheiro encarregado dos projetos; M. dei Carli - Engenheiro Desenhista; Nélson - Desenhista. Na véspera da organização desse grupo, Muniz me havia pedido para procurar dois desenhistas de avião. Consegui (naquele tempo, em 1933) encontrar somente dei Carli, observador de balão cativo (na França). Entretanto, o espírito de organização de dez Carli o permitiu ajudar bastante. Estas palavras de Vandaele dão uma idéia exata de como era pequeno o grupo de aviação da Companhia Nacional de Navegação Costeira, o que ressalta, ainda mais, o ardor e o empenho de que os mesmos estavam possuídos, tendo em vista os resultados obtidos. Vandaele colocou-se modestamente em terceiro lugar da lista, como engenheiro encarregado dos projetos. Na verdade, ele foi sempre, mais que tudo, um projetista. Já havia trabalhado na França, entre 1929 e 1932, como projetista de aviões nas indústrias de Renri Potez e, por urp. pequeno período, no Departamento de Motores da Société Nationale d'Études et Construction de Moteurs d' Avions, tendo, nesta última, participado de alguns estudos preliminares sobre turbinas a jato e sua aplicação em aviação. Antes disto, cursara a École Supérieure de Navegation Aérienne e a École lndustrielle Supérieure, respectivamente em Bruxelas e Liege. René Marie Vandaele nasceu a 11 de maio de 1904, filho de Arthur Vandaele e Marie-Anne de Georgii, na Bélgica, mas terminou seus dias no Brasil. Estava trabalhando nos projetos do terceiro RL quando foi convocado para voltar à Europa, mais precisamente à Inglaterra, onde se 579


encontrava o Governo belga no exílio, em virtude da ocupação de seu país pelos alemães, logo no segundo ano da Segunda Guerra Mundial. Vandaele deu assessoria técnica à Force Aérienne Belge e concomitantemente lecionava matemática, meteorologia e navegação aérea. Em sua primeira fase de permanência no Brasil, Vandaele, grande entusiasta de planadores, organizou o Clube do Vôo a vela em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, e participou de inúmeras atividades volovelistas na Capital da República. Sob sua orientação, os associados construíram e voaram numerosos planadores, em uma época em que este esporte recém estava surgindo no Brasil. Os anos passados em nosso País tiveram efeito nostálgico, e Vandaele retornou da Europa em 1949, desta vez para ficar definitivamente. Henrique Lage já havia morrido, e a Organização que levava seu nome tivera seus bens incorporados ao Patrimônio da União; Vandaele foi encontrar uma organização onde podia dar vazão aos seus conhecimentos de engenharia e projetista de avião. Foi contratado pelo ITA, o primeiro dos institutos do Centro Técnico de Aeronáutica, criado pelo Governo em São José dos Campos, São Paulo. Além das aulas, ainda encontrava tempo para desenhar novos tipos de aviões, e,sob sua orientação, os alunos do ITA projetaram uma série de modelos experimentais batizados ITAs1, 2, 3 e 4. Continuou, por outro lado, a dedicar-se ao volovelismo, tanto em São Paulo quanto no resto do País, como incentivador, e a partir de 1963 foi eleito Presidente da Federação Brasileira de Vôo a vela. Era casado com uma senhora inglesa, Joan Florence Vandaele, e quando morreu, a 21 de julho de 1974, representava o ITA no GEIMA (Grupo Executivo da Indústría do Material Aeronáutico). De todos os episódios de sua vida passada na CNNA 1 ao lado de Henrique Lage, um deles Vandaele gostava de contar sempre. É o caso do HL-3, como nasceu e como foi desen.volvida a idéia. São palavras do próprio Vandaele: Um belo dia, às 21:30, recebi um telefonema do sr. Henrique Lage dando-me ordem de apresentar para o dia seguinte um antepro;eto de um avião-escola, monoplano de asa baixa, monomotor, bilugares em tandem. Protestei por falta de tempo, a fim de apresentar algum esquema bem pensado, mas o sr. Henrique Lage ficou furioso e desligou o telefone. Fui à casa dele e ele me convenceu a apresentar às 16:00 do dia seguinte alguma coisa. Trabalhei a noite toda fazendo as três vistas, os cálculos de performances, estabelecendo os princípios de construção e organizando o trabalho do dia seguinte para meus sete engenheiros e técnicos. Quando o pessoal chegou, às 8:00, reuni a turma e expliquei que às 16:00 devia apresentar o antepro;eto do HL-3. Cada um olhou para o outro, maneira de dizer: 'Este homem 580


é louco.' .Mas cada um fez um esforço maXlmo, e às 15:40 re'cebi as cópias heliográficas ainda molhadas, tomei a lancha rápida do sr. Henrique Lage (motor de avião Rolls Royce) para ir à Ilha do Viana, até os escritórios da Costeira - Avenida Rodrigues Alves -- - Cais do Porto do Rio de Janeiro. Quando cheguei lá, o sr. Henrique Lage não me deixou arrumar a pasta. Tomou tudo e foi para a Diretoria de Aeronáutica Civil~ e voltou 25 minutos depois dizendo-me: 'Eu tenho a encomenda, pode agora estudar e construÍr o avião.' Havia outros concorrentes estrangeiros, e o sr. Henrique Lage recebera um prazo de 24 horas para apresentar algum projeto genuinamente nacional. Três meses depois o HL-3 fez seu primeiro vôo . Mais uma vez não sei como isso f~i possível. Nos três últimos dias antes do primeiro vôo, os montadores trabalharam dia e noite, e eu também. E, com uma pontinha de orgulho irrevelada, Vandaele conclui:

o Correio da Manhã de 23 de agosto de 1941 trouxe uma fotografia do' HL-3.

Fig. 171 -

o

"HL·3".

Vandaele nunca escondeu, antes exterIOrIZOU, a profunda admiração que votava a Henrique Lage. Relata ainda que, durante os nove anos em que trabalhou a serviço do armador brasileiro, realizou várias tarefas que reputou de relevância, a saber: c A pedido do sr. Henrique Lage: numerosos anteprojetos de aviões, hidroaviões e anfíbios mono, bi e trimotores para finalidades civis e militares; a pedido do Engenheiro Braconnot, Engenheiro-chefe das oficinas de Ilha do Viana, 581


estudos de desliladores para a Companhia Brasileira de Navegação Rio Amazonas (ex-Amazon River); a pedido do sr. Victor Lage (sobrinho do sr. Henrique Lage)) estudos preliminares de navios a sustentação aquática; a pedido do sr. Henrique Lage) estudos de linhas aéreas . de interesse local. Em declaração fei ta a 29 de setembro de 1958, assinada de próprio punho, dezessete anos após o falecimento de seu chefe e não ha" vendo, portanto, nenhum interesse subalterno a mover-lhe, Vandaele diz: Desejo salientar a grande admiração que tinha e que tenho até hoje para a brilhante e vasta inteligência do sr. Henrique Lage, sempre orientando suas visões para o futuro industrial do Brasil. Na minha modesta opinião) o sr. Henrique Lage foi um dos maiores (senão o maior) pioneiro da independência econômica do Brasil das quatro primeiras décadas do século XX.

5 -

Luiz Felipe Marques Gonçalves

Luiz Felipe Marques Gonçalves, uruguaio e técnico de nomeada, era, no dizer de Vandaele, ... amigo íntimo do Sr. Victor Lage) sobrinho do sr. Henrique Lage. A instâncias de Victor Lage, foi admitido pela Organização Lage na época em que se tratava de projetar e construir o HL-l. Entre vários títulos, Luiz Felipe Marques Gonçalves viria mais tarde a ostentar o de Supervisor do Curso Técnico de Construção Aeronáutica da Escola Técnica Nacional, que teve seu início em 12 de abril de 1945. Mas já era um bom engenheiro quando foi contratado por Henrique Lage, e assumiu logo lugar de destaque na Organização. Muito dedicado ao empresário brasileiro, sua fama de organizador foi comprovada várias vezes durante os anos que se seguiram, inclusive após a morte de Lage. Sobre este, igualmente Luiz Felipe Marques Gonçalves viria a dizer, em seu livro, muitos anos depois: O Prefácio) com o qual desejo apresentar este trabalho) tem por objetivo dizer) em poucas palavras, que) desde julho de 1939) como responsável pelas direções técnica e administrativa da Companhia Nacional de Navegação Aérea) esforcei-me para manter a referida administração de acordo com as normas clássicas estabelecidas pelo saudoso Henrique Lage) chefe das empresas, de cujo grupo fazia parte a CNNA) normas essas que sempre foram: trabalhar com zelo) fé) boa vontade) dignidade) desinteressadamente) com compreensão dos problemas e visão de futuro, tendo sempre em vista o bem dos interesses do País. Nota-se, pelas palavras de tantos quantos trabalharam ao lado de Henrique Lage, a admiração que tinham pelo seu chefe, ao qual a maIOrIa chamava amigo. 582


6 -

José Garcia de Souza

Figura singular era José Garcia de Souza, misto de jornalista, homem de empresa, escritor, piloto-aviador membro da A1(iation Eriters Association, e também do Institute of Aeronautical Sciences e Consultor, para a América do Sul, da Aeronautical Digest Publishing Corpo Foi designado pelo Ministro da Aeronáutica para organizar o Museu de Aeronáutica, obra que, afinal, foi levada a efeito pelo Ministro Araripe Macedo, com a denominação de Museu Aeroespacial. Situa-se este no Campo dos Afonsos e sua biblioteca, vastíssima, é formada em grande parte por livros e documentos ofertados por José Garcia de Souza. Foi o maior divulgado r da obra de Henrique Lage, a quem chamava sempre, carinhosamente, meu amigo, e chegou a fazer parte, como Diretor, da Companhia Nacional de Navegação Aérea. Seu brevê de piloto foi obtido no Aeroclube do Br"sil, em 1935; tornou-se um dos maiores conhecedores da história da aviação brasileira, e, com certeza, detentor da maior biblioteca sobre o assunto.

7 -

Qtto Weinbaun

Menos conhecido, mas com uma particIpação importante para a aviação e principalmente para a CNNA, foi o alemão Qtto Weinbaun. Era um técnico em madeira, e Henrique Lage mandou-o ao norte do País, em 1937, a fim de realizar estudos para o aproveitamento das madeiras nacionais na construção de aviões. Qtto Weinbaun quedou-se cerca de seis meses na região da bacia amazônica, e quando voltou apresentou um consciencioso trabalho sobre o assunto. Igualmente admirador das qualidades do freijó, como Brotero, Weinbaun contagiou Henrique Lage com seu entusiasmo, o qual determinou que de hoje em diante só construiremos aviões com freijó. Weinbaun; quando retornou, fez algumas declarações: O objetivo desse estudo foi encontrar uma madeira leve t' resistente que possa ser aplicada na· construção de aviões nacionais. Para poder executar esse estudo, o sr. Henrique Lage, animador da indústria nacional que tem um imenso interesse na aplicação de matéria prima brasileira em todos os seus ramos industriais, enviou-me ao Pará e Amazonas. Com efeito, as ordens de Henrique Lage foram cumpridas ao pé da letra, e a série de 100HL-B encomendados à CNNA já tinham suas asas e empenagens inteiramente de freijó. O Comendador Ernesto Benzanzoni, cunhado de Henrique Lage e que o substituiu por algum tempo na presidência da CNNA, e Pedro Brando, que assumiu a direção geral da Organização Lage por designação da viúva e herdeira Gabriela Benzanzoni Lage, e, quando o Governo Federal interveio nas empresas, continuou à testa das mesmas como seu 583


representante, foram duas figuras que muito ajudaram Henrique Lage. Por ocasião do falecimento do empresário brasileiro, os ânimos estavam muito agitados e as opiniões sobre qual devia ser a conduta do Governo em relação ao espólio eram as mais diversas. Tanto Ernesto Benzanzoni como Pedro Brando, dos quais somente se ouviam louvores, passaram a ser criticados e até atacados publicamente pela Imprensa. De qualquer forma, foram homens que fizeram parte da equipe de Henrique Lage e deram sua contribuição, junto com a de seu chefe, para o desenvolvimento da indústria aeronáutica brasileira. E, finalmente, não se pode esquecer Elias Navarro. Embora não pertencendo à Organização Lage, contribuiu muito para a divulgação desta no Exterior, quando, com um HL-~ feito especialmente para si, e que lhe foi ofertado pelo Presidente da República, levou através de vários reides o emblema RL para outros países do continente. Isto ocorreu em 1939, quando Navarro cobriu 5.900 quilômetrós ligando, sem etapas, as capitais de quatro repúblicas sul-americanas: ParagUai, Uruguai, Argentina e Brasil. Num destes vôos, Navarro fez o percurso Rio de Janeiro-Buenos Aires em 20 horas, e em pouco mais de 18 horas cobriu a etapa Assunção-Rio de Janeiro. Elias Navarro deixou o Brasil em 1946, radicando-se na Argentina.

584


CAPÍTULO 13

HÉLICES, MOTORES E COMBUSTÍVEIS

1 -

Inventos

ÃO muito escassas as informações sobre construção de hélices e mot<?res b~asileiros ?o ?~ríodo ~omp~eendido entre 192_0 e 1941; AqUle alI surgem mdíclos, mUlto tenues, de construçoes ou ate de invenções relacionadas com a aviação. É o caso, por exemplo, de uma pequena referência publicada no Boletim Geral da Força Pública de São Paulo, com data de 26 de agosto de 1927. Ali, entre vários itens, ocupa o primeiro lugar na seção Segundo Semestre o seguinte: São designados os senhores Coronel Afro Marcondes de Rezende e . instrutor Orton Hoover para, em comissão, examinarem um aparelho de sinalização, do invento do senhor Major José Garrido, dando pa recer sobre a sua utilidade e conveniência na adoção do mesmo. E, após uma notícia .de evoluções da Esquadrilha de Aviação por ocasião da posse do novo Presidente do Estado, Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, o Boletim Geral voltava ao assunto: A comissão incumbida de dar parecer acerca do Painel Anfíbio (?), do invento do Major José Garrido, Comandante da E. A., aprova a sua utilidade e junta um exemplar de A Gazeta de 18/5 último, segundo o qual o aviador de Pinedo achou o aparelho magnífico. Presume-se que o aparelho de sinalização citado no primeiro item é o mesmo Painel Anfíbio, principalmente por ser o mesmo Major José Garrido o seu inventor. Infelizmente, nada mais foi encontrado, nem há referências posteriores à utilização de tal invento.

S

585


Uma outra curiosidade é a referência, no mesmo Boletim Geral, à notícia do conserto de uma hélice do avião J.N. 113, avariada na cidade de Santos, e que era pilotado pelo Primeiro-Tenente Naul de Azevedo. O conserto, preço do Liceu de Artes e Ofícios, custou 600$000 (seiscentos mil réis), o que era muito elevado para 1927. Ainda neste ano, um Capitão Nathanael, da Força Pública de São Paulo, inventou um tipo de granada para aeroplanos, com dispositivo de explosão simples, seguro e facilmente renovável. Naqueles ·anos de tentativas, sonhos frustrados mas sempre esperançosos, muito pouco se fez no Brasil em termos de indústrias aeronáuticas. A experiência de Henrique Lage, iniciada em 1921, terminara melancolicamente. Uma ou outra tentativa de construção não justificava o emprego do termo indústria, pois quase sempre eram produto· artesanal daquele grupo seleto, mas muito pequeno, que abrigava pilotos, mecânicos, construtores, pintores, artífices, de um modo geràJ unidos tão-somente pelo ideal de fazer voar seus çngenhos.

2-

A Fábrica Nacional de Hélices Cruzeiro

Logicamente, havendo pouca produção de aVlOes, seria também pequena a produção de peças para os mesmos aparelhos. Mas uma fábrica dedicava-se desde 1918 a construir e entregar propulsores para aviões - hélices, feitas de madeira nobre (quase sempre jacarandá, mogno, etc.) e produzidas com muito carinho e esmero, pois que de sua perfeição dependia o comportamento do avião em si. Chamava-se Fábrica Nacional de Hélices Cruzeiro, propriedade de um paulista chamado Idílico Bernini. A idéia de fabricar hélices teve começo quando Bernini foi instado a construir uma para substituir a que equipava um motor Fiat, de uma aeronave dos Irmãos Robba, utilizada para acrobacias aéreas. Com o êxito obtido, Bernini pretendeu dar continuidade àquela tarefa~ mas verificou que seria necessário mais que empirismo se quisesse continuar no ramo. Ingressou então no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e fez um curso de especialização em madeira. Com uma pequena oficina perto do Campo de Marte, São Paulo, local onde todos os pilotos vinham exercitar-se, Bernini ia produzindo hélices sempre melhores. Sua fama de construtor espalhou-se, as encomendas cresceram e a fábrica expandiu-se. Gago Coutinho e Sacadura Cabral, após o famoso vôo do Atlântico, em 1922, fizeram vários outros de demonstração e, num deles, em São Paulo, quebraram uma hélice. E foi a Bernini que os dois aviadores portugueses recorreram. O trabalho de Bernini ultrapassou décadas, e só veio a terminar em 1945, com o advento da hélice de metal (alumínio). Numa tentativa de continuar a fabricar hélices para os aviões nacionais, como vinha ocorrendo desde 1918, Bernini quis repetir o que havia feito quando 586


ingressou no Liceu de Artes e Ofícios ·para se especializar em madeiras nobres. Desta vez tomou o rumo dos Estados Unidos da América, para aprender novas técnicas e adotá-las em sua fábrica. Mas a falta de encomendas por parte dos governos, fantasma que sempre afugentou os industriais brasileiros do campo aviatório, voltou a aparecer. Por outro lado a Campanha Nacional de Aviação havia sido encerrada, e isto também concorreu para o fim da Fábrica Nacional de Hélices Cruzeiro. Ainda lutou Bernini durante três anos, mas teve que se render e fechar sua empresa em 1948. O trabalho de Idílico Betnini porém não pode ficar esquecido ao estudar-se o desenvolvimento da indústria aeronáutica no Brasil. Seus propulsores equiparam a maioria dos aparelhos de Henrique Lage (na sua segunda fase, iniciada em 1932), os aviões da Força Pública de São Paulo durante a Revolução Constitucionalista, os aparelhos da Aviação Militar e, mais tarde, os da Força Aérea Brasileira. Produziu ele não só hélices especiais sob encomenda, como também as de tipo comum, em série, para alguns modelos de motores Aeronca, Franklin, Continental, Gipsy, Rangere outros. No total, a produção da fábrica de Idílico Bernini, em trinta anos, foi de 1.500 hélices. 3 -

As Hélices do IPT e as da Aviação Naval

Assim como a Fábrica Nacional de Hélices Cruzeiro} outro grande construtor e abastecedor de hélices das fábricas nacionais de aviões foi o Instituto de Pesquisas . Tecnológicas de São Paulo - o IPT. Tanto de um como de outro fabricante, as hélices nacionais eram de primeiríssima qualidade. As de madeira, entretanto, chegaram ao fim de sua vida face à modernização por que ia passando a indústria brasileira. O advento da hélice de metal fez com ,que estes dois grandes fornecedores, que trabalhavam com madeiras nacionais, fossem aos poucos deixando o mercado. As Oficinas Gerais de Aviação Naval já também fabricavam algumas hélices com madeira nacional, a partir de 1939. 4 -

As Preocupações do Exército

Foi o Exército, e não a Marinha, a corporação que primeiro pensou em fabricar motores de avião no Brasil. O fato teve início em 1931, quando o então Major Eduardo Gomes, que recém assumira o Comando Interino do Grupo Misto de Aviação, deu início às providências que visavam dotar o Parque de Aeronáutica da Base Aérea de São Paulo de condições para ali instalar uma fábriéa de reparos de mo587


tores de aviação. A 12 de junho daquele ano, -Eduardo Gomes já estava preparando a infra-estrutura necessária. para que o CAM pudesse desenvolver sempre mais suas atividades. A intenção era dotar o Parque de uma oficina capaz de reparar, reformar e até, se possível, fabricar peças e componentes para os motores Wright, utilizados nos aviões da Aviação do Exército. Tudo correu muito ' lentamente, e Eduardo Gomes já era Tenente-Coronel e Comandante Interino do Primeiro Regimento de AviàÇão, em 1935, quando a oficina foi concluída, tendo ficado sob ·a direção do então Tenente Jerônimo Bastos. A parte técnica foi confiada a dois elementos: a Fábrica Wright mandou para o Brasil um homem seu, William S. Reed, e João Emenésio Pinto, um subtenente brasileiro, escolhido não só por ser ótimo mecânico de aeronáutica, como, também, por falar inglês, o que viria facilitar o contato com o representante da Wright. 5 -

Escolha de um Motor

Uns poucos anos depois, a Aviação Militar do Exército promoveu um debate para definir qual o motor que haveria de equipar os seus aviões. O debate, na realidade, foi uma reunião de engenheiros, pro~ovida pelo Diretor de Aeronáutica, General Isauro Reguera, e constituída por Guedes Muniz, Ivan Carpenter Ferreira, Júlio América dos Reis, ' Guilherme Aloysio Teles Ribeiro e José Vicente de Faria Lima. A exceção de Guedes Muniz, que se manifestou favorável ao motor inglês Gipsy (que equipara o M-7), todos os outros inclinaram-se pelo motor Wright . A preferência de Guedes Muniz pelo Gipsy era compreensível, pois fazia parte de um projeto seu; os demais alegavam que o W right já era empregado nos aviões do Exército e, acima de tudo, eram mais simples. Apesar de ser vencido em sua manifestação, Guedes Muniz foi chamado pelo Chefe da Aviação Militar para emitir um parecer técnico sobre os motores W right, alguns dos quais haviam explodido em pleno vôo, quando faziam parte do equipamento dos aviões Wacco, que estavam entrando em serviço no Exército. Muniz escolheu as praias da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, para fazer seus vôos de observação de comportamento dos motores. Verificou então que .os cilindros superiores tendiam a explodir por superaquecimento, muito embora quase todos ficassem dentro dos 500 graus Fahrenheit que a Fábrica Wright estabeli!cia. Muniz localizou o defeito, que residia no capô do motor, desenhado para trabalhar em lugares mais frios, e que não se adaptava às temperaturas tropicais do Brasil. Confirmado o fato pelos técnicos' da Wright, a carenagem foi modificada e as explosões em vôo . acabaram. 588


6 -

A Idéia de uma Fábrica de Motores

Gueàes Muniz continuava a pugnar pela cnaçao de uma Fábrica de Motores (e de aviões) no Brasil, a par da criação do que chamava de Ministério do Ar, que viria solucionar todos os problemas da aviação brasileira. Estas idéias já vinham sendo expostas a público desde 1934, através de inúmeros artigos seus e conferências. Seu prestígio e sua autoridade em assuntos aeronáuticos aumentavam a cada dia, e ele foi encontrando ressonância no seio do Exército, a que pertencia, e no Governo de maneira mais ampla. Um livreto do Serviço Técnico d.= Aviação, publicado em 1936, em que Muniz expunha suas idéias, serviu de motivação para que o Ministério da Viação e Obras Públicas, a 26 de outubro de 1938, pelo seu Ministro General João de Mendonça Lima, baixasse uma Portaria, de n.O 514, em que designava os Engenheiros Aeronáuticos Antonio Guedes Muniz e Jussaro Fausto de Souza, e mais o Engenheiro Civil Adroaldo Junqueira Alves, para estudarem e proporem os meios para o estabelecimento de uma fábrica de motores de avião. O trabalho da comissão foi bem aceito pelos meios governamentais e constituiu-se no fulcro do que viria mais tarde a ser a Fábrica Nacional de Motores, da qual Guedes Muniz foi eleito Presidente. 7 -

Guedes Muniz Fala Sobre Combustíveis

No auge da campanha da utilização do álcool como combustível, na década de 70, muitas vezes foi ele apontado para resolver também o problema da aviação. Vozes ponderadas, entretanto, fizeram ver da impossibilidade de substituição do combustível tradicional por álcool-anidro. Esta idéia não era nova, e sempre teve seus defensores. Há quase sessenta anos ela já estava na berlinda, principalmente pelo desenvolvimento da aviação no Brasil e pela necessidade de se economizarem divisas, ardentemente defendida pelo Governo de então. A sugestão do emprego do álcool foi oferecida e uma voz categorizada contrapôs-se a ela. A 1.0 de janeiro de 1933, uma das grandes autoridades em aviação no Brasil, o então Major Guedes Muniz, escrevia um artigo para a revista Asas, em seu número de primeiro aniversário. A visão do futuro daquele engenheiro é curiosa, mas seus argumentos são vigorosos. Dizia ele: É . sabido que as estatísticas mundiais limitam a capacidade

de produção de petróleo a uns trinta ou quarenta at'os mais. Findo este prazo, o precioso combustível ter-se-á extinguido . .. O número de motores a explosão cresce diariamente, vertil!.ino589


samente, de sorte que já é tempo de serem tomadas precauções a e~te respeito. Além disso, nem todos os países exploram o petróleo, de sorte que é perfeitamente justo e patriótico que estes países procurem resolver o problema da alimentação dos seus motores com a prata da casa, com um combustível nacional. Entretanto, a coisa parece que se vai fazendo, pelo menos entre nós, sem uma técnica profunda nem a prudência necessária, pois o problema do combustível nacional consiste, apenas, na substituição dos derivados do petróleo por um produto de origem nacional, mas consiste principalmente na adaptação dos motores a estes novos combustíveis.

Guedes Muniz, a seguir, tece comentários de ordem técnica para lemonstrar a inexeqüibilidade da simples mistura do álcool com a gasoina para produzir um combustível competente. Considera, também, a lesvantagem do álcool face ao consumo: Utilizado nos motores normais, de automóvel ou de aviação, o consumo de álcool é muito superior ao da gasolina, e este excesso atinge 30, 35 e mesmo 40%, o que tornaria impossível o emprego, pelo aumento de peso, diminuição da carga militar, do atual álcool motor na aviação.

Por esta época, houve um movimento para a introdução do álcool como combustível de automóveis no Rio de Janeiro. Guedes Muniz tratou também deste aspecto dizendo: Aqui abrimos um parêntese para mostrar o sacrifício econômico que poderia ter sido imposto aos utilizadores cariocas caso a última experiência tivesse sido levada avante. Felizmente o álcool-motor deixou de existir, porque nossa produção de álcool era insuficiente para satisfazer o consumo carioca. .. Os responsáveis pela idéia, antes de terem proposto ao Governo esta solução, patriótica na sua teoria mas antieconômica nas suas causas, deviam ter pr~visto em simples e banal estatística a deficiência da produção de álcool no País, a fim de evitar a suspensão de uma medida útil, necessária e patriótica, quando realizado como deve ser, com prudência e técnica, suspensão esta que lança o descrédito na massa sobre a utilidade da medida. O álcool era vendido nas bombas a 1$000. A gasolina a 1$200. Um chauffeur que realizasse ZOO km diários (e esta é uma boa média) gastando 20 litros, aos 100 quilômetros teria gasto de gasolina 24$000. Como o consumo do álcool é 35% mais elevado ele passou a gastar 27 litros aos 100 km e portanto 27$000 de álcool-motor. Prejuízo diário , 3$000 . No fim do mês, 90$000 . No fim do ano,1 :000$000 . 590


Considerando vinte mil automóveis no Rio (sic), carga, transportes, passageiros, particulares, etc., o prejuízo de nossos automobilistas, em um ano, seria de vinte e um mil e seiscentos contos de réis. . Após estas considerações, entretanto, Guedes Muniz preconiza a adoção do substituto da gasolina, desde que sejam construídos motores próprios para suportar o combustível. E arremata:

o combustível nacional precisa ser empregado. Estamos certos de que este é um problema necessário e patriótico que ,!-OS governos compete resolver, pois antes de mais nada se evita a emigração do ouro nacional, e depois se soluciona desde já a falta futura do petróleo, esgotadas que forem as suas fontes naturais. Utilizando motores de alta compressão, o · emprego do combustível nacional, álcool puro, álcool-motor, etc., é possível, é vantajoso, é econômico, é patriótico... haverá economia apreciável, pois o álcool-motor é mais barato e, além disso tudo, conservar-se-á no País uma grande quantidade de ouro que não precisará ser exportada para aquisição de combustível estrangeiro. E isto só se poderá obter, no automóvel como na aviação, quando no Brasil a indústria nacional produzir motores de automóvel e motores de aviação adaptados às nossas necessidades, aos nossos programas técnicos, aos nossos patrióticos interesses.

591


CAPíTULO 14

PEQUENOS ENSAIOS INDUSTRIAIS

i -

O Emaillite

UANDO se fala em indústria aeronáutica imagina-se logo a construção de aviões ou de planadores. Todavia, há toda uma gama . de outros produtos indispensáveis à aviação, quer por fazerem parte integrante do corpo de um avião ou planador, quer por estarem ligados de qualquer maneira à construção de material aeronáutico. Assim vimos, páginas atrás, como se construíram pára-quedas no Brasil, tipos de madeira indicados para a construção de aeronaves por serem de melhor qualidade ou por apresentarem certas características que tomavam a aeronave mais leve, mais resistente, etc. As referências ·aos materiais de construção são muito raras, principalmente durante os anos 20, quando o termo indústria não era empregado como é hoje, aproximandose mais de um artesanato. Algumas são bem intencionadas, ou pelo ineditismo ou pelas condições um tanto misteriosas de sua obtenção. No início da década, a Aviação Militar usava nos seus aparelhos, então de tela, um verniz. Era obtido através de importação da França, e o Brasil já pensava em produzi-lo. O assunto foi 'objeto de uma pesquisa na França, e um documento , militar, absolutamente reservado na época, ·é transcrito agora na Íntegra por seu interesse; inclusive guardando a grafia de então:

Q

Mission Militaire Brésiliénnt! d' Acquisition de Matériel de Cuerre en France - 63 bis, Rue de la Victoire. Téléphone: Cut. 592


70-42. N.o 227. Objecto: Remessa de documentos referentes à Emaillite. Paris) le 21 de dezembro de 1920. Ao Snr. Dr. PANDIA CALÓGERAS) Ministro de Estado da Guerra) o Coronel Leite de Castro) chefe da Missão Militar Brasileira em França. Senhor Ministro: Remeto-vos inclusos os documentos relativos ao verniz Emaillite, usado pela Aviação Militar do Brasil. T aes documentos referem-se á technica de obtenção d'aquelle producto e comprehendem também todas formulas usadas pela firma Paul Mathon & c. 0 • Fica) assim) cumprida) por esta Chefia a determinação que fizestes como uma das clausulas impl'escindiveis do contrato de compra da installação de fabrico d' aquella usina. Saude e Fraternidade. (Assignado) L. de Castro) Coronel. E a seguir, conforme diz o documento, o então Coronel Leite de Castro remeteu ao Ministro Calógeras uma série de anotações, manuscritas, de como se deveria proceder para a obtenção dos diferentes tipos de verniz. São diversos documentos, dos quais um deles reproduzido aqui em fac-simile.

Fig. 172 -

Fórmula do verniz "Emaillite".

Não foi referido pelo chefe da Missão Militar Brasileira como obteve tais documentos, mas depreende-se da leitura do ofício que os acompanhou que se tratava de uma possível compra, por parte do Governo brasileiro, dos direitos de fabricação do verniz, e que o Ministro 593


da Guerra queria ter certeza do que estaria comprando. Daí a eXigência de possuir as fórmulas, antes de efetuar o negócio. 2 - .- Armamento

o outro ponto interessante dizia respeito ao armamento a ser usado nos aviões de guerra. o. Comandante Pereira das Neves inventara um novo tipo de bomba e foi solicitado ao Primeiro-Tenente Piloto-Aviador Ivan Carpenter Ferreira que desse sua opinião. Eis a transcrição do documento: Escola de Aviação Militar Ao Sr. Fiscal. Informação. De acordo com a ordem verbal do sr. Comandante, informo-vos que, segundo o que pede a Diretoria Nacional de Patentes e Invenções, compete-me apenas dizer: 1.° _. - se não existe invento nacional semelhante; 2.° - se há inconveniente. para a Defesa Nacional em ser ao peticionário concedida a patente que pede. Em resposta declaro: quanto ao primeiro, não existe inv?nto nacional semelhante. O Exército nada possui relativamente a este assunto. A Marinha tem adotado, até a presente data, a bomba americana Clark, cuja complexidade do aparelho de deflagração é considerável em comparação com a do Comandante Pereira das Neves. Em experiências que realizêi na Diretoria de Armamento, veri-" fiquei que, além do reduzidíssimo númeró de peças de que" se compõe o aparelho de deflagração de sua bomba, são todas elas suficientemente resistentes e de uma fácil fabricação, quer nos estabelecimentos militares, quer em qualquer oficina particular que disponha de um torno mecânico. O funcionamento do aparelho é perfeito, e o número de seguranças (3) prevê todas as hipóteses que se possam considerar.

Neste ponto o Tenente Ivan Carpenter Ferreira, após fazer uma série de comentários sobre os aspectos técnicos da bomba, retorna ao assunto relativo ao item segundo do que lhe houvera .sido solicitado pelo Comandante, ou seja, a Defesa Nacional: Quanto ao segundo, há toda a vantagem em extsttr um invento nacional destinado aos fins' do presente, pois que sendo atualmente a aviação uma arma cujo poder ofensivo cresce a cada dia, e constituindo o bombardeio um de seus principais meios de ação, a regulamentação não de uma mas de uma série de bombas, destinadas pelo seu carregamento e peso quer aos ataques contra tropas, quer contra obras de fortificação, se impõe. Campo dos Afonsos, 11 de julho de 1925. Ivan Carpenter Ferreira - Primeiro-Tenente Piloto-Aviador. 594


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

-

Livros, folhetos e periódicos 1 -

ABOVE and beyond; the encyclopedia of aviation and space sciences. Chicago, New Horizons Publishers, 1968. 3 v.

2

AERONAUTICA; revistadedicada·à. technica, prática, progressos e interesses da navegação aérea civil e militar. Rio de J aneiro, Aero-Club Brasileiro, 1927.

3

ALMANAQUE DO MINISTÉRIO DA GUERRA. Rio de Janeiro, 1929.

4

ALMEIDA, José Américo de. O espantalho. In: .O ano do nêgo; memórias. Rio de Janeiro, Record, 1968. p. 137-8.

5 -

. Um vôo malogrado. In:

. Rio de

Janeiro, Record, 1968. p. 101-2. 6 -

ANDRADE, Roberto Pereira de & PIOCHI, Antonio E. História da construção aeronáutica no Brasil. São Paulo, Aquarius, 1982. 327 p., il.

7 -

ASAS; órgão oficioso da aviação de terra e mar. Rio de Janeiro, s.n., 1932-1939.

8

ASAS sobre a história: Alemanha/Brasil; primeira linha transoceânica do mundo. IRio de Janeiro I, Departamento de Relações Públicas da Lufthansa, 119841. n.p., il. 595


9

AUDIXIFORD. Serviço de aviação da Brigada Militar. s.l., Brigada Militar. Diretoria de Ensino, 1988 . 25 p., il.

10

A AVIAÇÃO policial militar. Espaço Aéreo; informação aeronáutica, Porto Alegre, 8(4):2, 1987.

11

BARBOSA, Wilson. Aeroporto Santos Dumont, um grande portal do Rir). Rio de Janeiro, ARSA/Revista Aeronáutica, 1985. 151 p., il.

12 -

BENTO, Cláudio Moreira. Escolas de formação de Oficiais das Forças Armadas do Brasil (1792-1987). IRio de Janeirol, Fundação Habitacional do Exército, Poupex, 1987. 14 pranchas, il.

13 -

BIEDMA RECALDE, Antonio Maria. Crónica histórica de la aeronáutica argentina. Republica Argentina, Indústrias Gráficas Aeronáuticas, 1969. 2 v., il. (Colección Aeroespacial Argentina, 1).

14 -

BOLETIM DO DEPARTAMENTO DE AERONÁUTICA CIVIL. Rio de Janeiro, Departamento de Aeronáutica Civil, 1938.

15 -

BOLETIM DO INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÚGICAS DE SÃO PAULO. Instituto de Pesquisas Tecnológicas; histórico de sua evolução (1899-1939). São Paulo, n. 20, jan. 1939.

16' - . BOLETIM INFORMATIVO iDOI MUSEU VARIG. Porto Alegre, VARIG, 1981. 17 -

BORGES, Ivo. A revolúção de 1935; depoimento gravado pertencente ao Arquivo do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.

18 -

BRAGA, Newton. Azas ao vento; a epopéia do "Jahú". São Paulo, s. ed., 1951. 155 p., il.

19 -

BRASIL. Escola Preparatória de Cadetes do Ar. Apostilas.

20

. Ministério da Aeronáutica. Departamento de Aeronáutica Civil. A aeronáutica civil no Brasil.

21

. Ministério da Aeronáutica. Diretoria de Aerofláutica Civil. Coletânea de legislação aeronáutica; leis, decretos, portarias, resoluções e despachos de interesse geral, concernentes à -aeronáutica civil. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1955. 928 p.

22 -

.' Ministério da Guerra. Departamento do Pessoal da Guerra. Almanaque do Ministério da Guerra. Rio de Janeiro, Imprensa Militar/Estado-Maior do Exército, 1929. p. 399-406.

596


23 -

BRITO, Mario da Silva. História do modernismo brasileiro; antecedentes da Semana de Arte Moderna. 5. ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978.

24 -

CANAVO FILHO, José & MELO, Edilberto de Oliveira. Asas e glórias de São Paulo. 2. ed. rev. e aum. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado, 1978. 361 p., il.

25 -

CÂNDIDO, Antônio & CASTELLO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira. 2. ed. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1966.

26

COLEÇÃO DAS LEIS DO BRASIL. Rio de Janeiro, v. 2, 1919.

27

- - - - o Rio de Janeiro, v. 3, 1919.

28

- - - - o Rio de Janeiro, v. 1, 1920.

29

----o

30

- - - - o Rio de Janeiro, v. 1, 1921.

31

- - - - o Rio de Janeiro, v. 1, 1925.

32

- - - - o Rio de Janeiro, v. 2, 1925.

33 -

COMTE. In: OS PENSADORES. São Paulo, Abril Cultural, 1973. capo 47, p. 646-58.

34 -

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO. A aviação comercial brasileira. Rio de Janeiro, Ed. Jornalística Denúncia, 1963.40 p.

35 -

CONSTANT NETO, Benjamin. Benjamin Constant. Rio de Janeiro, Biblioteca Militar, 1940.

36

CORREIO DO POVO. Porto Alegre, 29 jan. 1927.

37

COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro, São José, 1966.

38

DAVIES, R. E. G. Airlines of Latin America since 1919. Washington, D. C. Smithsonian Institution Press, 1984. 6~8 p. il.

39 -

DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. Rio de Janeiro, 1928.

40

Rio de Janeiro, v.2, 1920.

. Rio de Janeiro, 04 jan. 1929.

41 -

FERRAZ, Arrisson de Souza. Fragmentos da história da tropa de Piratininga. São Paulo, Gráfica Cruzeiro do Sul, 1942.

42 -

FLEURY, Jean-Gérard. A linha; de Mermoz, Guillaumet, SaintExupéry e dos seus companheiros de epopéia. Trad. Edgard de Brito Chaves Júnior. Belo Horizonte, Itatiaia; Rio de Janeiro, 597


Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, 1988. 312 p. (Coleção Aeronáutica. Série Cultura Geral e Temas de Interesse da Aeronáutica, 1). 43· FLORES ALVAREZ, Enrique. Historia de la aviacion en Chile. Santiago, Imprenta Rapid, 1934. t. 2, il. 44 -

A FOLHA de acanto. Revista de Intendência da Aeronáutica, Rio de Janeiro, (112):1, jan. 1961.

45 -

A FORÇA policial de São Paulo e a aviação brasileira. Velocidade' São Paulo, 8(3):45-9, mar. 1946 .

46 -

FORJAZ, Maria Cecília Spina. Tenentismo e política. 2. ed. Rio de Janeiro, Paz (Terra, 1987. 117 p., il.

47 -

FREIRE, Josué Justiniano. A odysséa do 12 .0 Regimento. Cópia xerográfica incompleta.

48 -

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS . Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Dicionário histórico-biográfico brasileiro. Rio de Janeiro, Forense Universitária, FGV /CPDOC, 1984. 4 v., il.

49 -

. A revolução de 1930 e seus antecedentes; coletânea de fotografias. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980. 213 p., il.

50 -

GAYMONTELLA, Rafael. Principios de derecho aeronautico. 1950.

51 -

GRILLO, Ce3ar Silveira. Um pouco de história do DAC. Boletim do DAC, Rio de Janeiro, 1:1,1938.

52 -

HART, Basil Henry Liddell. As grandes guerras da história. Trad. Aydano Arruda. 3. ed. São Paulo, IBRASA, 1982.

53 -

HILTON, Stanley E. A guerra civil brasileira; história da revolução constitucionalista de 1932. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982. 384 p.

54 -

HISTORIA do Exército brasileiro; perfil militar de um povo. Brasília, Estado-Maior do Exército; Rio de Janeiro, Fundação IBGE, 1972.3 v., il. (Biblioteca do Sesquicentenário, 7).

55 -

HISTORIA & ENERGIA. A Light e a revolução de 24. São Paulo, n. 4, set. 1987. Editor: Departamento de Patrimônio Histórico; Eletropaulo.

56 -

HISTORIA naval brasileira. Rio de Janeiro, Serviço de Do· cumentação Geral da Marinha, 1975. 5 V., iI. ·

598


57 -

HISTÓRICO analítico do Centro Técnico de Aeronáutica. São José dos Campos, CTA/Coordenadoria de Assuntos Especiais, s.d. v. 3, il.

58

INíCIO da aviação comercial no Brasil; documentário. s.O.t. n.p., il.

59

INTER FATOS. 60 anos Idal travessia do Atlântico Sul; tudo sobre o vôo do "Jahú'J. Jaú, a. 1, n. 4, abro 1987. Edição histótica.

60 -

LAVENERE-WANDERLEY, Nelson Freire. Efemérides aeronáuticas brasileiras. Rio de Janeiro, Ed. Gráfica Brasileira; Ministério da Aeronáutica, s.d. 124 p., il.

61 -

. História da Força Aérea Brasileira. Brasília, Ministério da Aeronáutica/Departamento de Imprensa Nacional, 1967. 450p.,il.

62

. 2. ed. Rio de Janeiro, Ed. Gráfica Brasileira, 1975. 400 p., il.

63

LINHARES, Antônio Pereira. A aviação naval brasileira de 1916-1940. Rio de Janeiro, Imprensa Naval, 197L 122p.,il.

64 -

LOPES, Mário Canongia & COSTA, José Manuel Rodrigues. Os aviões da Cruz de Cristo; 75 anos da aviação militar em Portugal. Lisboa, Dinalivrb, 1989. 180 p., il.

65 -

LUZ, Milton Fortuna. Os símbolos nacionais. Brasília, Presidência da República, Gráfica Brasiliana, 1986. 96 p., il. Edição comemorativa do 165.0 ano da Independência e 98.0 da República.

66

MALVÁS 10 , Luiz. A história da Força Pública. São Paulo, ed., 1967.

S.

67 -

MARIA ZULOAGA, Angel. La victoria de las alas; historia de la aviacion argentina y su base filosofica . Buenos Aires, Industrias Gráficas Aeronáuticas, 1959. 469 p., il.

68

MARIANTE, Helio Moro. Crônica da Brigada Militar gaúcha. s.n.t. p. 149-51.

69

MARINHO, Francisco Sergio. Correio Aéreo Naval. Ombro a Ombro, Rio de Janeiro, 1(6), novo 1988.

70 -, MEREGALLI, Jaime & L. BERNASCONI, Carlos. Aportes para la historia de la Fuerza Aerea Uruguaya . Montevideo, Imprenta Nacional, 1974. 727 p., il. 599


71 -

1927-1937" 10 annos Idal Condor na América do Sul. s.1., Syndicato Condor, s. d. 56 p., il. Cópia xerográfica.

72 -

MIRANDA, G. r. MacDowell dos Passos. O santuário nacional de Nossa Senhora do Loreto. Rio de Janeiro, Âmbito Cultural Edições, 1979. 240 p., il.

73 -

MONTEIRO, Raul Leme. 25 anos a serviço da aviação. São Paulo, Escolade Aeronáutica de São Paulo, 1959. 73 p., il.

74 _.

MONTELEONI, Pedro . & FONSECA, Antonio Carlos. Elementos para a história da navegação aérea; a aviação em São Paulo. Anuário aeronáutico, p. 10-26, 1954.

75 -

ML>SCA, Gaetano & Bouthoul, Gaston. História das doutrinas políticas. Trad. Marco Aurélio de Moura Matos. Rio de Janeiro, Zahar, 1958.

76 -

MÜLLER, Oswald H. Primórdios da aviação comercial no . Brasil. s.n.t. 29 p., il. Cópia xerográfica.

77 -

MUNIZ JR., J. Episódios e narrativas da aviação na Baixada Santista. Santos, A Tribuna de Santos Jornal e Ed., 1982. 89 p., il. (Série Cultural, 2). Edição comemorativa da Semana da Asa.

78 -

NEVES, Bernardo de Souza, org. História da Polícia Militar do Distrito Federal desde a época da sua fundação; período 1920 a 1930. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1953. v. 3, il.

79 -

NORONHA, Abilio de. Narrando a verdade. São Paulo, s. ed., 1924.

80 -

NOSSO século; anos de crise e criação (1910/1930). São Paulo; Abril Cultural, 1981. v. 2, il.

81 -

O'NEIL, Paul et alii. Barnstormers & speed kings. Alexandria, Time-Life Books, 1981. 176 p., il. (The Epic of Flight).

82 -

PACI,NI, Dante. Existencialismo, positivismo e materialismo. Ribeirão Preto, Tipografia d'O Cravinhos Ed., 1958.

83 -

PAIM, Antônio. O apostolado positivista e a República. Brasília, Universidade de Brasília, 1967 . .\~

.

84 -

PEREIRA, Aldo. Breve história da aviação comercial brasileira. Rio de Janeiro, Europa Empresa Gráfica e Ed., 1987. 472 p., il.

85 -

PEREIRA, Miguel José. Capítulo 15. I n : . Esboço histórico da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul

600


de jan. 1890 a jul. 1918. 2. ed. Porto Alegre, Oficinas Grá-

ficas da Brigada Militar, 1950. v. 1, p. 483-9. 86 -

PEREIRA NETTO, Francisco C. Aviação militar brasileira de 1916-1984. Rio de Janeiro, Revista Aeronáutica El., 1984. 294 p., i1.

87 -

POLíCIA Militar do Estado de Minas Gerais; 150 anos. !,p.trod. do Cel PM Jair Cançado Coutinho, Comandante Geral da Polícia Militar de Minas Gerais. s.1., Museu Histório da Polícia Militar, 1981. 130 p., i1.

88 -

RESUMO histórico da aviação comercial brasileira segundo um livro de José Garcia de Souza. In: INíCIO da aviação comercial no Brasil; documentário. s.n.t. n.p., il.

89 -

REVISTA DA ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DA AERONÁUTICA. Rio de Janeiro, ECEMAR, 3(8), dez. 1977.

90 -

REYS, Luiz Leal Netto dos. Aerogramas. Rio de Janeiro, Papelaria Muniz, s.d.

91

. Método de instrução de vôo: a Escola de Gosport. Asas, Rio de Janeiro, 1(8):4, 16 abro 1932; 1(9):8, 01 maio

1932. 92 -

RODRIGUES, Inês Caminha Lopes. A revolta de Princesa. São Paulo, Brasiliense, 1981.

93 -

ROSA FILHO, João Alves da. Centenário do nascimento do Capitão PM João Busse, ás da aviação paranae.nse; biografia . . Curitiba, s. ed., 1985. 124 p., il. Cópia xerográfica.

94 -

SANTOS, Teobaldo Miranda. Manual de filosofia. 15. ed. São Paulo, Ed. Nacional, 1967.

95 -

SAVOIA Marchetti S-64. Correio Filatélico, Rio de Janeiro, 2(17):8-13, ju1. 1978.

96 -

SEGATO, José Antonio. Os jovens militares e a velha República. In: HISTÓRIA & ENERGIA. A Light e a revolução de 24. São Paulo, n. 4, set. 1987. Editor: Departamento de Patrimônio Histórico; Eletropaulo. p. 4-17.

97 -

SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA AERONÁUTICA BRASILEIRA, 1, Rio de Janeiro, 1987. Informe final. . _ . Rio de Janeiro, Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica; 1987, p. 1, 5, 15 e 18. 601


98

~

SILVA, Hélio. 1932 - A guerra paulista. 2. ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1976.410 p., il. (Coleção Documentos da História Contemporânea, 11 D. O Ciclo de Vargas, 5).

99

. 1935 - A revolta vermelha. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1969. 476 p. ,il. (Coleção Documentos da História Contemporânea, 11 G. O Ciclo de Vargas, 8).

100 -

SILVA, Orlando Marques da & CALAINHO, Luiz. História cronológica da PANAIR do Brasil S.A. s.1., s. ed., 1988. 201 p., il.

101

SOBRAL, Lourival P. O serviço de aviação na Brigada Militar. () Jornal, Porto Alegre, p. 5, set. 1971.

102

SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira. 4. ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1964.

103

SOUZA, Affonso Henriques Rodrigues et alii. Presença da Força Aérea na Baixada Santista. Santos, Prefeitura Municipal de Santos/Prodesan Gráfica, 1978. 144 p., il.

104 -

SOUZA, José Garcia de. Histórico do Aeroclube do Brasil.

105

. A verdade sobre a história da aeronáutica. Rio de Janeiro, Leuzinger, 1944. 630 p.

106 -

SOVERAL, Arnaldo Batista Marques do. Enciclopédia universal. São Paulo, Pedagógica Brasileira, 1969. 10 v., il.

107 -

STEVENS, Albert W. Exploring the valley of the Amazon in a hydroplane. The National Geographic Magazine, Washington D.C., 49(4):353-420, Apr. 1926.

108 -

TAVARES, Walter Feliú. Aero Clube do Brasil; um pouco de sua história. 1982.

109 -

TAYLOR, John & MUNSON, Kenneth. History of aviation. New York, Crown Publishers, 1972. 511 p., il.

11 O -

TINOCO, Godofredo N. Tempobom. .. Cópia xerográfica . incompleta.

111 -

TOSCANO, José Raphael. João Ribeiro de Barros; resumo biográfico e notas sobre o reide aéreo "Genova-Santo Amaro" realizado em 1927. Jaú, Cartonagem Janense Ed., 1988. 39 p., il.

112

VALLADARES, Clorindo. Da resistência do 12. R.I./Da revolução em Minas. Cópia xerográfica incompleta.

113

VASCONCELLOS, Manuel Augusto Pereira de. Instrução de vôo. Revista Naval, Rio de Janeiro, (4):22-6, abro 1937.

602

0


114 -

-

VIVEIROS, Paulo Pinheiro de. História da aviação no Rio Grande do Norte. Natal, Ed. Universitária, 1974. v. 1, il.

Arquivos e Bibliotecas

115 -

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Rio de Janeiro.

116 -

ALMEIDA, Audixiford de, Major da Brigada Militar. Rio Grande do Sul.

117 -

ARQUIVO DO EXÉRCITO. Rio de Janeiro.

118 -

BECK, Marcos Paulo, Tenente-Coronel da Brigada Militar. Rio Grande do Sul.

119 -

BIBLIOTECA NACIONAL. Rio de Janeiro.

120 -

BREVES, Everaldo, Brigadeiro do Ar R/R. Rio de Janeiro.

121 -

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E HISTORICO DA AERONAUTICA. Rio de Janeiro.

122 -

COIMBRA, Nairo Lopes, Coronel da Brigada Militar. Rio Grande do Sul.

123 -

COMISSÃO DE ESTUDOS RELATIVOS À NAVEGAÇÃO AÉREA INTERNACIONAL. Rio de Janeiro.

124 -

COSTA, Jaime Leal da, Almirante R/R. Rio de Janeiro.

125 -

DIRETORIA DE PESSOAL DA AERONAUTICA. Rio de Janeiro.

126 -

DUFRICHE, Carlos Eugênio, Comandante. Rio de Janeiro.

127- EMBRAFILME. Rio de Janeiro.

128 -

FARIA, Ivan Rodrigues de; Professor. Rio de Janeiro.

129 -

HOMRICH, Carlos, Comandante. Rio de Janeiro.

130 - . JAKUBOVICZ, Isaac, Doutor. Rio de Janeiro. 13i -

O JORNAL. Rio de Janeiro.

132 -

KASSEB, Paulo. São Paulo.

133 -

MONTEIRO, Antônio Rezende de Castro, Coronel Médico da Aeronáutica R/R. Rio de Janeíro.

134 -

MUSEU AEROESPACIAL. Rio de Janeiro.

135 -

MUSEU DE ARTE MODERNA. Rio de Janeiro.

136 -

MUSEU HISTORICO DA POLfCIA MILITAR. Belo Horizonte. 603


137 -

NUNCIATURA APOSTOLICA. Brasília.

138 -

PALÁCIO SÃO JOAQUIM. Rio de Janeiro.

139 -

QUADROS, Aloísio, Jornalista. Rio de Janeiro.

140 -

REIS, Araguaryno Cabrero dos, Brigadeiro Intendente R/R. Rio de Janeiro.

141 -

REZENDE, Paulo, 1.° Tenente QAv R/R. Rio de Janeiro.

142 -

SERVIÇO GERAL DE DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA. Rio de Janeiro.

143 -

SERVIÇO GERAL DE CORRESPONDÊNCIA E ARQUIVO DA AERONÁUTICA. Rio de Janeiro.

144 -

VIANA, Ivan Martins, Jornalista. Belo Horizonte.

145 -

VIANNA, Cláudio Werneck ,de Carvalho, Doutor. Rio de Janeiro.

604


ÍNDICE REMISSIVO

A Aboim, Raymundo Vasconcellos de , 61 , 313, 315 , 542 , 543 , 544, 545 , 558 , 559 , 564 Abolição 35 Abolicionismo 30, 33 Abreu, Florêncio de 171 . Abreu, Levi Castro de , ver Levi Castro de Abreu Academia Real Militar 34 Acampamento de Vôo a Vela 500 "Aceguá", avião 384 "Acta Apostolica Sedis" 176 AC:hemar de Barros 576 Adherbal, Ten . 371 Aero Club Brasileiro 59, 68, 122, 133, 138, 157, 161, 187, 242 , 249, 250, 251 , 252, 253, 254, 269, 376 , 452, 468, 469 Aero Club de Bagé 502 Ae ro Club de Goiás 497 Aero Club ue Livramento 502 Ae ro Club de Santa Cruz do Sul 484, 485 , 502 Aero Club de São Paulo 106, 25 I, 291 , 454, 473, 476, 477, 484 Aero Club Grêmio Politécnico 481 , 503 , 506 Aerobrasil 427 , 428 Aero-Civis 59, 68 Aeroclube da Fran<;a 25 I , 254 Aeroclubc de Camaquã 572 Aeroclube de Ituiutaba 572 Aeroclube de Marília 573 Aeroclube de Nova 19ua<;u 527 Aeroclube de Pernambuco 576 Aeroclube do Brasil 454, 455. 482. 485, 493, 494 . 514 . 524. 569 . 576 Aerolube do Paraguai 576 Aerolube do Rio Grande uo Norte 254 Aerolube das décadas de 30 e 40 455 Aeródromo Antiamaril 445 Aeródromos na Região Sul 458 .. Aerófilo". perióuiw 254

"Aerogramas", livro 67 Aerololyd 19uassu S.A. 424 , 425 , 426 , 438, 439 Aeronáutica Militar 542 Aeronca, avião 473, 492 Aeroporto Augusto Severo 46 I, 462 Aeroporto Bartholomeu de Gusmão 385 , 461 Aeroporto de Congonhas 458, 536 Aeroporto de La Paz 324 Aeroporto de Recife 462 · Aeroporto de Santa Cruz 46 I Aeroporto de Santo Angelo 436 Aeroporto de Virac.opos 536 Aeroporto do Rio de Janeiro 458 Aeroporto para Dirigíveis 459 Aeroporto Santos-Dumont 406, 415, 416, 417, 418, 448, 461, 567 Aeroposta Argentina 2 I 9, 396 Aeropostal 376, 396, 400 , 401, 402, 403 , 404, 428 Aérosposta\e 156, 157, 162, 217, 219, 220 , 22 I, 222, 223, 224, 225. 226, 328, 344, 376, 384 , '85, 392 , 393, 394 , 395, 396, 397, 398, 400, 403, 405 , 478 "Acrotorpcdo" , avião 269 Afonso Pena 259 Afrânio de Mello Frano 449, 450 , 543 Agamcnon 172 Aguila. Diogo Araccna, cap o avo 132 Ahrons , Rodolpho 203 , 204 Air Francc 328. 398, 399. 400. 401. 402, 403 . 404. 428, 429, 489 Air Orient .398 "Airco". avião 136 Aircraft Operalions Co. Ltu . 429 Aires. Adroaldo Junqucira 553 Aires. Alvaro Tourinho Junqucira 338 Ajalmar Vieira MlIsclln;nhlls. Brig . 326, 346 Ala Littoria S.A. 429 . 430 "Alagoas". lIvião 44. 544 Alberto . João 301 , 340, 341 Albrcchl Jr. Carlos 204

605


Albuquerque, Alexandre 532 Albuquerque, Aroldo A. A. 338 Albuquerque, Júlio Prestes de, ver Júlio Prestes "Alcatraz", planador 496, 497, 504 "Alcyone", avião 139, 140, 141 Alda, Julio Ruiz de 135, 140, 146 Alencar, Alexandrino Faria de, Alm., ver Alm. Alexandrino Alencastre, Álvaro Octávio de 117 Alfredo Santiago & Cia. Ltda. 556 Aliança Liberal 300, 301, 302 "Aliança Liberal", avião 517, 518 Aliança Nacional Libertadora 364, 365, 366 Aliberti, Aldo 268, 269 Aliberti, Guido 268, 269 "Aligerus Morphnus", planador 270, 271 Allen, Ezra 277, 278 Allen, James 277, 278 Almeida, Gastão ' de 511 Almeida, João 320, 342 Almeida, loaquim Pinto P. de 492 Almeida, José Amério de, ver José Américo Almeida, Rufino de 576 Almirante Alexandrino 58, 60, 67, 557 Alm. Protógenes Guimarães 63, 64, 72, 125 Alvarenga, Adelermo 338 Alvarenga, Eduardo de Melo 482, 504, 536, 568 Alvear, Presidente 218 Alves, Adroaldo Junqueira 589 Alves, Notival Anastácio 484 Alves Secco 117 Alvim, Geraldo Cezário 338 Alvim, José Ubirajara Cezário 338 Alzir, Capo 76, 77, 138 "Amapá", navio 125 Amaral, Clay Presgrave do, ver Clay do Amaral Amaral, Luiz Fernando do 536 Amaral, Sgt. 369 Amarante, Capo 371 Amarante, René 546 American International Airways 233 Americano, Alberto 475, 481, 482, 491, 493 Americano, Jayme, 268, 269, 475, 481, 482, 488, 492, 493 Amiot, avião 84, 88, 91, 323, 324, 344, 348 "Andorinha", planador 478 Andrada, Antonio Carlos Ribeiro de, ver Antonio Carlos Andrada, José Joaquim de 369, 371 Andrade, Joffiton Ramos 489 Andrade, Ligia Dolores de 490 Andrade, Oswald de 178 Andrade, Roberto Pereira de 288 Anésia Pinheiro Machado 118, 181, 469, 470, 471, 472, 514 "Angelo Toso", navio 146 "Anhangá", avião 80 "Anhangüera", avião 103, 105, 106, 127 "Ansaldo", avião 61, 62, 130 Anteprojeto de Regulamento para os Serviços Aeronáuticos Civis 405 Anteprojeto do Código Aéreo Brasileiro 449 Anteprojeto do Código do Ar 450

606

Antonio Carlos 300, 301 Antunes, Ozório de Oliveira 110, 111, 112 "Anuário Aeronáutico", periódico 268, 269 "Apiaí", avião 568 Appel Netto, Antonio 68, 137, 382 Aquino, Geraldo Guia de 326, 342, 371, 522 Aranha, Heráclito da Graça, Capo de-Mar~ Guerra .66, 67 Aranha, José Mariano Camargo 425 Aranha, Oswaldo, ver Oswalldo Aranha Aranha da Silva, Gen. 363 Ararigboia, Armando 548 Araripe Macedo, Joe1mir Campos de 321, 331, 546, 583 . "Aratinga', planador 505 Araújo, Álvaro de 314, 316 Araújo, Cauby de 381,449 Araújo, Manoel Cosme de 371 "Arc-en-Ciel", avião 385, 396, 397, 398, 399, 552 'Argos", avião 153, 154, 155, 156 "Aribu", avião 44, 271, 281, 544 Arma de Aviação 91 Armando Menezes, Ten. 371 Armistício 213 Arruda Filho, José Cecílio de 546 Arsenal Bouget 553 Arthur Bernardes 60, 104, 113, 114, 116, 126, 189, 299, 404 Arzeno, Diego 136 "Asas", periódico 476, 477, 489, 490, 502, 516, 589 Aspirante Flávio 477 Assis Brasil 110, 125 Assis Chateaubriand 491 Associação Comercial do Paraná 97 Associação Petropolitana de Planadores Aéreos 483, 502 Assumpção, Antonio Carlos de 488 Astor, Charles, 168, 169 Ataturk, Kemal 38 Ataulfo de Paiva 32 "Atibaia", avião 106 "Atlântico", avião 150, 151, 198, 199, 200, 201, 202, 205, 206, 207, 210, 559 Augusto Severo 248, 263 "Aurora Fluminense", periódico 31 "Áustria", planador 486 "Avaré", avião 106 "Avia", planador 476, 579 Aviação Civil 189, 240, 242, 244, 248, 250, 253, 373, 375 , 378, 379, 441, 446, 447, 449, . 451, 452, 456, 463, 467, 469, 472, 541 Aviação Comercial 200, 201 Aviação Constitucionalista 344, 346, 352, 362 Aviação do Exército 75, 77, 82, 93, 307, 308, 320, 588 Aviação Legalista 347 Aviação Militar 41, 82, 83, 88, 92, 119, 146, 305, 307, 310, 311, 313, 320, 321, 323, 324, 325, 326, 328,329, 332, 337, 344. 346, 347, 360, 361, 362, 363, 367,


369, 492, 493, 526, 541, 545, 587, 588, 592 Aviação Militar Chilena 56 Aviação Naval 44, 45, 46, 57, 58, 59, 61, 64, 67, 68, 69, 71, 72, 73, 114, 117, 125, 126, 132, 166, 254, 287, 542, 544, 559, 562, 563, 564 "Avialage", avião 476 "Avião", periódico 511 Aviatic, avião ' 100 "Avignon", avião 512 Avignon, Pedro 511, 512 Ávila, Maj. 371 Avionete, avião 550 Avro, avião 44, 50, 52, 54, 55, 61, 66, 68, 69, 70, 72, 106, 173, 327, 344, 361 Azambuja, Dario 543 Azambuia Dario Cavalcanti de 314 Azamor: iosé Backer de 542 Azevedo, Agliberto Vieira de 310, 368, 372 Azevedo, Jorge Marques de 428, 429, 553, 561, 562 Azevedo, Naul de 586 Azevedo, Philadelpho de 449 B

Bacon 30 Baena de Miranda, Nelson 565 Balbo, halo 312, 313 Baloussier, Oswaldo 545 Baltsell, John Thomas 133 Bandeira, Raul, Capo Ten. 62, 282 "Bandeirante Borba Gato", avião 105 "Bandeirante Paes Leme", avião 105, 106 "Bandeirante Manoel Preto", avião 105, 106 Baptista, Ten. 371 Barata, Agildo 366 Barbosa, Agenor 178 Barbosa, Rui ver Rui Barbosa Barbosa, Silvio 110 Barcellos, Victor da Gama 326, 333 Barcelos, Antonio Alberto 320 "Barnstorming" 168, 169, 177 Barreto Filho, Francisco do Rego Barros 195 Barros, Adhemar de ver Adhemar de Barros Barros, Antonio Carlos Couto de 425 Barros, Argemiro Couto de 532 Barros, João de 253 Barros, João Ribeiro de 40, 137, 138, 139, 140, 141, 143, 145, 146, 148, 156, 250 Barros, Luís de 180 Barros, Valêncio de 546 Barros de Vasconcelos 337 "Barroso", navio 125, 147, 152 Barrow, lohn 110 Barry, Smith, Cel. 51 Bartholomeu de Gusmão 67, 263 "Bartholomeu de Gusmão", avião 207, 425 Base Aérea de Santa Cruz 385 Base Aérea de Santos 59 Base de Aviação Naval 60 Base de Aviação Naval do Galeão 558 BasgaI. Waldemar 337 Bastos, Benjamim Ferreira, 318 Bastos, Jerônimo 557, 571. 588

"B.E. ", aVia0 54 "Becfigne", navio 219 Beechcraft, avião 317 Beires, José Manoel Sarmento de 153, 154, 155, 156 "Belfort, Le", navio 219 BeBa, Oswaldo ViDa 362 Bellanca, avião 161, 326, 327, 335, 440 BeIlo, Ary Presser 335 BeIlo, Ruy Presser 325, 335 "Bem-te-vi", navio 219, 222 Benedito de Carvalho 368, 372 Benevides, Salvador Corrêa de Sá ver Sá e Benevides, Salvador Corrêa de Benjamin Constant 32, 33, 34, 35, 40 Bento XV 176 Benzanzoni, Ernesto 527, 583, 584 Benzanzoni, Gabriella ver GabrieIla Benzanzoni Lage Berger, Harry 366 Bergman 96 Berilo Neves 445 Berlinck, Horácio 481 Bernard, Jean 489 Bemardes, Arthur da Silva ver Arthur Bernardes Bernini, Idílico 586, 587 Berta, Ruben Martin ver Ruben Berta Bertaso, José 203, 204 Bertoni, Domingos 98 Bevier, Richard 233 Bevilaqua, Clovis ver Clovis Bevilaqua Bevilaqua, Gen. 33, 34 Bezerra, Péricles Leal 372 Bião, Cerqueira 319 "Bichinho", avião ver "Bichinho de Rio Claro", avião . "Bichinho de Rio Claro", aVia0 567, 5g8 Bier, Erwin 496, 497, 498 . "Biguá", planador 496, 497, 499 Bilac, Olavo ver Olavo Bilac Bima, Mario 517, 518 Bina Machado, João 349, 351 Bins, Alberto 202, 203, 204, 383 Bins, Carlos Maria 203 Bittencourt, Mario Machado 362 "Blackburn", avião 287, 289, 523 Blackburn Aireraft Ltd. 282, 283, 287 Blauth, Evaldo Pedro 110 "Blériot", avião 55, 167, 281, 399 Blotner, Felix 439 Blumenau, Hermann 267 Blumer, Ursula 500 "BM-I", avião 110, 111 "BM-2", avião 110, 111, 112 Boeing, avião 314, 326, 413, 562 Boeing Airplane Co. 231, 236 Bohn, Joaquim 532 Bompet, Antonio de Pádua 489 Bonfim, Antonio Maciel 366 Borba, José Greff 532 Borba, Ten. 127 Bordini, NeIly 497 Borelli, Alfredo 356 Borges, Doorgal ver Doorgal Borges

607


Borges, Ivo 342, 346, 362, 363, 367 , 371, 491, 492, 522, 571 Borges, Maj. 371 Borges, Tydeo Larre 162 Borges de Medeiros 109, 110, 202 Bormann, José Bernardino 253 Borroni , Orestes Dionísio 112 Botelho, Alberto 199 Botelho Film 64 Bouilloux-Lafont, André 395 Bouilloux-Lafont, Marcel 385, 393, 394, 395, 399 Bouilloux-Lafont, Maurice 395 Braconnot, Eng." 287, 476, 581 Braga, Alexandre José 227 , 228 Braga, Benjamin 227, 228 Braga, Newton ver Newton Braga Bragança, Benedito Lopes 367, 368, 372 Brando, Pedro 287, 583, 584 Brasil, Assis ver Assis Brasil Brasil, Carlos Pfaltzgraff 313 , 346 Brasil, frico de Assis 497 Brasil, Ismar Pfaltzgraff ver Ismar Pfaltzgraff Brasil Brasil Aérea 428 "Brasileirinho", avião 473 Braz, Wenceslau ver Wenceslau Braz "Bra'zil", balão 191 "Brazil n." 1", planador 484 Bréguet, avião 61, 76, 78, 79, 80, 86, 88, 90.110,112,117,134,135,155,156,161, 162, 214, 215, 220, 281, 392, 399 "Bremen", navio 385 Bresciani, L. 569 Bretas, Araude da Silva 337 Brigada Militar do Rio Grande do Sul 109, 111,112,210 "Brigadeiro" ver Eduardo Gomes "Bristol", avião 55 Brito , Hortencio P. de, ver Hortencio P. de Brito . Brito, Octácio Nascimento 449 Bromberg, Arthur 203 , 204 Bromberg, Waldemar 203 Bromberg c Cia. 203 Brotero, Cecília Abranches 534 Brotero, Frederico Abranches 48.1 , 482, 504, 506, 529, 530, 531, 532. 533, 534, 535, 536, 537, 538, 540, 583 Brotero, João de Barros 534 Brown 136 Brown, Walter F. 234 Brunkeim, Hans · Gustavo 482 Büeker, avião 473, 496, 497, 550 "Buenos Aires", avião .136,155 Bureau Veritas 463, 464 Burlet, Raymundo 226 "Bussard", planador 497 Busse, João 95, 96, 97, 98, qt). 469 Bustamante, Athur 542 Byl. Georges Thomas 133 Byler, Howard Thompson 427

c Cabeçuda 43 "Cabeçudo", avião

608

43

Cabral, Anto,nio Alves 541, 542 Cabral, Joléo da Veiga ver Joléo da Veiga Cabral Cabral, Sacadura ver Sacadura Cabral "Cachimbinho", avião 416 "Café", avião 566, 569 Caggiano , João Carlos 337 Caiacanga-Mirim 60 Caiado de Castro 82 Caire, Lintz 338 Calógeras , João Pandiá 39, 77 , 280, 593 CAM ver Correio Aéreo Militar Câmara , Adauto da 254 Câmara, D . Jayme de Barros 177 Câmara, Gil von Schoster 448 Câmara, Manoel Souto de Pontes 553 Camarinha, Henrique Mourão 338 Camargo, Laudo de 340 "Camel", avião 54 Campanelli, Ernesto 136, 155 " Campinas", avião 106 Campo de Cumbica 482, 493 Campo de Manguinhos 229 Campo de Marte 95,99, 100, 101, 106, 118 , 119,229,268,291,330, 344,345,346, 347 , 348, 352, 361, 425, 476, 481, 488, 491, 493 , 513, 514, 571, 572, 586 Campo de Santana 35 Campos dos Afonsos 44, 57, 61, 66, 72, 75, 76,77 , 79,80, 81,86,92,94 , 115, 123,125, 134, ISS, 161, 162,165, 166,221,223 , 224 , 253, 288, 292, 293, 295, 320 , 328, 329, 332 , 336, 337, 344, 346, 347, 366, 368, 483, 484, 487, 516, 527, 544 , 583, 594 Campos, Alfredo Carlos Müller de, Mal. 253 Campos, Carlos de 99 Campos, Francisco Machado 481 Campos, Maj. 309 Campos , Pedro Dias de 99, 101 , 102, 104, 127, 146 Campos, Siqueira ver Siqueira Campos Campos Elíseos 340 Campos Jr., Fernando Dias ver Dias Campos Ir. , Fernando Campos Sales . 35 CAMS, avião 392, 399 CAN ver Correio Aéreo Nacional Cangardel 395 Cantídeo Bentes Guimarães 335 Canudos 36, 119 . CAP ver Companhia Aeronáutica Paulista CAP, avião 473 "Cap Arcona" , navio 384 "Cap Polonio", navio 384 Cappa Brava 196 Cardoso, Álvaro de Azambuja, Ten. Av. PM 95 Cardoso, Augusto Inácio Espírito Santo ver Espírito ·Santo Cardoso, Augusto Inácio Cardoso, losino 136, 155 Carli, MareeI deI 516 Carlos Pfaltzgraff Brasil ver Brasil , Carlos Pf altzgraff Carneiro, Arthur 175 Carneiro, Edgard Ribas 449 Carneiro, Levi ver Levi Carneiro


Carneiro, Pereira, Conde 209 Carpente, Eduino Tamarindo 337 Carpenter, Mário 75, 77, 114, 115 Carpenter Ferreira, Ivan 325, 588, 594 Carrero, Porto ver Porto Carrero Cartas Falsas 114 Carvalho, Alvaro Nunes de, Contra Alm. 68 Carvalho, Amaral 146 Carvalho, Benedito de ver Benedito de Carvalho Carvalho. Fernando Setembrino de, Gen. ver Setembrino, Gen. Carvalho, José Carlos de, Alm. 253 Carvalho, José Moutinho de 318 Carvalho Filho, Reynaldo Joaquim Ribeiro de 318 Carvalho, Vitor de 547 Carvalho Jr., José Machado 338 Casa da Moeda. 259, 260 "Casa do Trem" 34 Casagrande, Conde 139 Casas Pernambucanas 202 Casimiro Montenegro Filho ver Montenegro Filho, Casemiro Castilhos, Jorge de 153, 154 Castro, Agnaldo Caiado de ver Caiado de Castro Castro, José Fernandes Leite de ver Leite de Castro, José Fernandes Castro, Plácido de 40 Castro, Synval de 117 Castro Lima, Antonio de 318 Castro Neves, Ten. 371, 571 Caudron, avião 51, 97, 98, 121, 288, 344, 469 Cavalcante, José Mário 372 Cavaléanti, Bráulio 544 Cavalcanti. Cândido M. Holanda ver Holanda Cavalcanti, Cândido M. Cavalcanti, Carlos 82 Cavalcanti, Carlos Augusto 253 Cavalcanti, Gonçalo de Paiva 325, 334 Caxias, Marquês de 277, 278 CEIFA ver Comissão de Estudos para Instalação de uma Fábrica de Aviões Celestino, José da Silva 337 Centenário da Independência 130, 133, 168, 243, 470 Centenário da Revolução Farroupilha 567 Central Leão Utinga 477 Centro de Aviação Naval 58, 64, 136, 158, 557 Centro Técnico de Aeronáutica 540, 580 Cerqueira, Antonio A. 337 Cerqueira , Arnaldo 171 Cerqueira, João Dourado 318 Cerro Corá 29 Certificado de Navegabilidade 576 Cessna, avião 473 Chagas, Ten . 309 Challes, Léon 162 Chamorro, Manoel 483 Chance Vought 558 Chantre, Ten. 103, 104, 106, 108, 127, 129 Chaves, Anísio 270, 271 Chaves, Edu ver Edu Chaves

"Cherneicus", planador 486 Chevalier, Ten . 86, 134, 156 "Chico", avião 496, 497, 550 ClANA ver Convenção Ibero-Americana de Navegação Aérea "Cicogne", navio 219 "A Cidade", periódico 270, 271 ClNA ver Comissão Internacional de Navegação Aérea Cinquini, Vasco 40, 106, 121, 139, 141, 145, 146, 147, 148, 155, 172 C . I . T . E . J . A . ver Comité Internacional Téchnique d'Experts Juridiques Aériens Clarck, Praf. 476 Clay do Amaral 482, 504, 505, 536 , 572 Clovis Bevilaqua 442, 449 Club Carioca de Planadores 493, 503 Club de Planadores de Bauru 483 Club de Planadores de Rio Grande 503 Club dos Alcatrazes 493, 502, 503 Club Mackenzie de Planadores 514 Club Mineiro de Planadores 582 Club Paulista de Planadores 269, 475, 481, 482, 488, 489, 490, 491, 492, 493, 504, 506, 507, 534, 551, 567 Club Politécnico de Planadores 481, 503, 504, 506 Club Universitário de Planadores 489 Clube Bandeirantes 478 Clube de Planadores "Ursinus" 483 Clube do Vôo a Vela 580 Clube dos Bandeirantes do Brasil 246 Clube Militar 33, 34, 114, 541 CNNA ver Companhia Nacional de Navegação Aérea CNNC ver Companhia Nacional de Navegação Costeira Código Brasileiro do Ar 189, 380, 381, 441, 449, 450, 466 Código Comercial 464 Código de Contabilidade da União 437 Colégio Batista 490 Colégio Santo Inácio 489 Colí, François 155 College pf Science and . Technology of London 61 Collenot 163, 221 Colonial Air Transport 237 Coluna Prestes 126, 127 Comandos Aéreos 346 Comelli, Alberto 118 Comissão de Defesa da Produção do Açúcar 303 Comissão de Estudos para Instalação de uma Fábrica de Aviões 547, 548 Comissão de Planadores da F AI 487 Comissão de Turismo Aéreo 445 Comissão Fiscal de Obras de Aeroportos 456 Comissão Internacional de Estudos para o . Vôo a Vela ver ISTUS Comissão Internacional de Navegação Aérea 241 Comissão Legislativa 380 Comissão Nacional de Navegação Aérea 190, 247, 273

.609


Comission I nternationale d'Études du Vol à Voile 487 Comité Internacional Téchnique d'Experts Juridiques Aériens 381. 449 Comité Jur~dique International de I'Aviation 450 Commodore. avião 232, 233. 234 Compagnie de Transportes Aériennes du VaI de ('Amazonas 193 Compagnie Générale Aéropostale ver Aéropostale Compagnie Générale d'Entreprises Aéronautiques ver Latécoere Companhia Aeronáutica Brasileira 223. 224 . 225. 226 Companhia Aeronáutica Paulista 513. 556. 569, 572 Companhia Aeropostal Brasileira 223 Companhia Aeropostal Brasileira ver também Aeropostal Companhia Auxiliar Rádio Emissora do Brasil 224 Companhia Brasileira de Aviação 430, 431 Companhia Brasileira de Empreendimentos Aeronáuticos 214, 215, 216, 217, 218 Companhia Brasileira de Navegação Rio Amazonas 582 Companhia de Aviação da Arma de Engenharia 544 Companhia Docas de Santos 491 Companhia Nacional de Navegação Aérea 286,455,516, 523, 527, 538, 574, 575, 576, 578, 582, 583 Companhia Nacional de Navegação , Costeirà 283, 285, 287, 289, 516, 578, 579, 581 Companhias Aéreas 376 Comte. Augusto 30, 31, 34 "Comte de Lavaux", avião 384 Conceição, José Abr~u 338 Concurso Fluminense de Modelos e Desenhos de Planadores e Av'ióes 502 Concurso Internacional de Vôo a Vela do Rhon 486 Condor FW 200, avião 559, 565 Condor Syndikat 150, 151, 197, 198, 199 , 200, 20 I, 202, 203, 204, 205, 206, 207, 208 , 209, 260, 272, 376, 391, 559 Conferência de Paris. 240 Conferência Internacional de Direito Privado Aéreo 381 Conferência Pan-Americana 527 Congresso de Aviação (I) 548 Congresso de Medicna Esportiva e de A viação 337 Congresso de Verona 140 Congresso Nacional de Aeronáutica 534, 537 " A Conquista dos Ares" 265 Conselho da Produção Nacional do Café 303 Conselho Estadual de Aeronáutica Civil 536 Conselho Nacional de Aeronáutica 380 Conselho Superior de Transporte Aéreo (França) 381 Consolidated, avião 70, 71. 82, 166, 327 , 406 , 418 Consolidated Aircraft 232, 345

610

Constant, Benjamin ver Benjamin Constapt "Conte Rosso" , navio 158 Contestado 96, 109, 113 Convenção de Haia 241 Convenção de Paris 240,241,245,447,463, 464 Convenção de Roma 443 Convenção de Varsóvia 241, 442, 443, 463 Convenção Ibero-Americana de Navegação Aérea 247 Convenção Internacional de Versalhes 245 Convenção Pan-Americana de Aviação Comercial 241 Convenção Sanitária Internacional para a Navegação Aérea 444 Convention Portant Réglementation de la Navegation Aérienne 240 Coolidge, Calvin 232 Corbisier, George 514 Cordeiro, Arquimedes 323, 324, 546 Cordeiro de Farias 301 Corioiano, Orsini de Araújo 342, 363 "Coronel Madalena", avião 543 Corpo de Aviação 313, 314 Corrêa, Inocêncio ' Serzedelo ver Serzedelo Corrêa Corrêa, Irahi 513 Correa, Sampaio 224 Correia, José Matoso Sampaio 138 Correia, Mario 173 Correia, Otácio 111, 115 Correio Aéreo 259 Correio Aéreo Militar 107, 328, 329, 330, 331, 332 , 333, 334, 335, 336, 388, 407, 440, 587 Correio Aéreo Nacional 64 Correio Aéreo Naval 316, 317, 562, 564 Correio da Esquadra 315 "Correio da Manhã", periódico 72, 114, 554, 581 "Correio do Povo", periódico 201, 267 "Correio Paulistano", periódico 101 Corsini, Romeu 482, 504, 505, 506 , '536, 572 Cortés, Arnulpho - 162 Costa, Adroaldo Mesquita da 203 , 204, 383 Costa, Carlos da Silva .449 Costa, Cipriano Amoroso 553 COsta, Dias 166 Costa, Eduardo Ribeiro 532 Costa, Hélio ver Hélio Costa Costa , João Corrêa Dias ver Dias Costa, João Corrêa Costa, Miguel ver Miguel Costa Costes, Dieudonné 155, 156 Cot , Pierre 398 Coutinho, Gago ver Gago Coutinho Coutinho, Lourival 302 Couto, Miguel ver Miguel Couto Couzinet , René 385, 396, 398, 399, 546, ,552, 553. 554, 555 Cristiano , Ismael Guilherme Torres, Cap_ MP (São Paulo) 268 "Croix du Sud", avião 399 Cruz, Bento Oswaldo 553 Cruz Azul 101 Cruzador "Rio Grande do Sul" 362


"Cruzeiro do. Sul", balão 191 CT A ver Centro Técnico de Aeronáuti<.:a " Cuera", avião 497 Cummings, Jorge 489 Cunha, Antonio Lemos ver Lemos Cunha, Antonio Cunha , Arthur Fernandes da 141. 145, 146 Cunha, Euclides ver Euclides da Cunha Cunha, Flores da ver Flores da Cunha Cunha, Iran da 126 Cunha, José de Lemos . ver Lemos Cunha' Cunha, José Gay de 372 Cunha, Sylvio Cavalcanti da 338 Cunha Matos, Ce!. 30 Curso de Aviadores Navais ver Turma de Aviadores Navais Curso de Medicina de Aviação Naval 318, 336, 337 Curso Técnico de Construção Aeronáutica 582 Curtiss, avião 44, 54, 61, 62, 63, 105 , 106, 107, 122 , 125, '133,290,315 , 326, 327 , 329 , 330, 331, 332, 344,345 , 473, 491 Curtiss Wright ElIport Corporation 345, 557 " Curvas Características do Planador Anhembi", livro 492 Cyro, Ten. 106, 108 "Cziti", planador 486

D Dabry , Jean 162 , 163 D'Alvear, J. 281 Daritas, Lourival de Souza 489 Dantas, João 301 Darioli , Ernesto 96 Daudt, Alfredo Corrêa 383 Dautry 395 Dargue , Hubert A. 151 Daurat, Didier 213 Davidson, Pullen & Cia . 195 D'A vila, Alvaro Assumpção 93 , 320, 342 "D H - 6", avião 54 " De Haviland", avião 55, 132 , 344, 426 De Pinedo 140, 147, 152, 153, 156, 585 Décima Oitava Divisão de Obse rvação 344 Dédalo 264 Del Prete , Carlo 140, 147 , 152, 156, 157, 158, 159 Della Chiesa, Giacomo 176 Defesa Aérea do Litoral 59, 61. 65 , 313 " A Defesa Nacional", periódico 36, 39 , 81 De Lamare, Comte. 43, 59 De Lamare, Virginius Brito, Alm. 382 Del Carli , M. 579 Deley 163 "Demoiselle", avião 167 Dmitrov 364 Denain, Gen. 553 "Denver", navio 133 Deoc1écio Lima de Siqueira , Ten . Brig-do-ar 23 Deodoro da Fonseca, Mal. 544 "Detroit Gúll", Planador 269 Departamento Médico da Aviação Militar 338 Departamento Médico de Aviação 336

Departamento de Aeronáutica Civil. D. A. C 190, 231. 245, 246, 247, 376, 377, 378. 379. 380 , 381,388 , 400,401. 402 , 414 , 415,428 , 429 , 430, 432,438,440, 441. 442, 443, 446, 447, 448, 449, 450, 452, 453, 454, 456 , 458, 459,460,461 , 462,466,496.497,515,524, 553 , 571 , 572, 576, 581 Departamento de Aviação Militar 337 Departamento de Correios e Telégrafos. DCT 258. 259. 260, 262 , 263, 384 Depecker , André 156 Depósito Central de Aviação 325. 545 "Deperdussin" , avião 55 Descartes 30 Destacamento de Aviação de Belo Hori zonte 325 Destacamento de Aviação de Campo Grande 325, 332 Destacamento de Aviação de Fortaleza 325 Destacamento de Aviação de São Paulo 320 Destacamento de Exército do Leste 346 , 354, 355, 358 Destacamento de Exército do Sul 346 Destacamento de Rezende 358 Destacamento Nery da Fonseca 361 Deu tsche Aero L10yd A . G . 197 Deutsche Luft Hansa A. G. ver Lufthansa Deutsche Lufthansa Aktegesellschaft 388, 390 Deutsche Zeppelin Reederei 388 Dewoitine 399 Dezoito do Forte 114, 115 Di Robillant, Edmundo 321 , 322, .323 Dia da Indústria Aeronál'tica Brasileira 519, 544 Dia da Aviação ver Dia do Aviador Dia do Aviador 445, 501 Dias, Arthur Borges 337, 448 Dias, Pedro, Ce!. 129 Dias, Tíndaro Pereira 310 Dias Campos Júnior, Fernando 338 Dias Costa, João Corrêa 313 Dicionário Enciclopédico U. T. E . H. A . 471, 472 Dillemburg, Sérgio 267 Diretori a de Aeronáutica 65 , 66, 67 , 68, 71, 558 Diretoria de Aeronáutica Nav al .318 Diretoria de Aeronáutica Civil 429 Diretoria de Aviação Militar 82, 318, 337 Diretoria Geral dos Correios 414 Dittmar, Heini 481, 486 , 487 , 488, 490 Divisão de Aeroportos 456, 457 D'Oliveira, Edmond 449, 553 D . João VI 34 Domingo~, João 371 Doorgal Borges 325 " Dorand-Renault" , avi ão 132 Doria, Antonio Moutinho 322, 323 , 382. 449 Dorniell Wal, avião 135, 140, 150, 153 , 198, 200,201,202,207 , 210 , 211. 384 , 385 , 386, 391, 559 " Dorniell Merkur", avião 208 Douglas, avião 413 , 421 " Douglas Hornet" , avião 162

611


Doutrina Aérea Brasileira 84, 85 Doyen 278 Du Barrai. Jean Dominique Eugêne 428 Duggan.Bernardo ' 136, 155 Duncan. Gervásio 548 Duran. Manuel, Ten, 135 "Duque de Caxias". avião 323 Dutra . Coriolano Ribeiro 371 Dutra, Eurico Gaspar, Gen , 484. 491, 545. 555 E

"EA Y-201" . avtao 571. 572. 573 "EAY-T-101", planador 513. 514 Ebner. Carlos 205 Échenique. Maria 201 École lndustrielle Supérieure 579 École Nationale Supérieure d'Aéronautique, ver Escola Superior de Areonáutica de Paris fcole Supérieure de Navegation Aérienne 579 Edgar Corrêa de Mello 337 Edu Chaves 43, 72. 97. 118. 130. 136. 249. 253 "Edu Chaves" , avião 425 Eduardo Gomes 76.107,114,115,116.118, 121. 122, 123, 139. 176, 277, 308. 321, 329. 335, 346. 367 , 369. 408, 409. 410. 411. 412. 440. 444. 587 , 588 "Eleanor", avião 173 Ele'jaide, Arminio Leal 337 "Emaillive" 592, 593 "Emprego das Madeiras Nacionais em Aviação". estudo 534 Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos 423 Empresa de Aviação Aérea Rio-Grandense. ver VARIG Empresa de Transportes Aéreos. ET A 106, 227. 229. 230, 231. 232, 260 , 273 , 422.426 Empresas Aéreas nos anos 30 383 Empreza Aeronáutica Ypiranga, EA Y , 424. 478. 479. 481, 512. 513, 514, 539. 571 Encontro no INCAER ver INCAER "Engenheiros de São Paulo em 1932" 362 Epaminondas Gomes dos Santos 313 . 543 Epitácio Pessoa 39, 58. 77. 113. 114. 188. 279, 280 , 283 "A Epocha", periódico 252 Erler 229 "Ernestina". navio 125 Esbaille, Waldemar 483 Escola Brasileira de Aviação 253 Escola Brasileira de Engenharia Aeronáutica 542 Escola Civil de Engenharia Aeronáutica 542 Escola de Aeronáutica 79 Escola de Aeronáutica de São Paulo 481. 492, 493, 504 Escola de Aprendizes de Marinheiros 58 Escola de Aviação 59. 62, 64, 68. 72. 84. 87. 92. 125 Escola de Aviação Curtiss 514

612

Escola de Aviação da Força Pública de São Paulo 95, 96, 97 , 99, 118, 290. 291 Escola de Aviação de Campinas 514 Escola de Aviação Militar 61, 72, 76, 77, 19. 80, 82. 106, 115, 125, 141 , 156, 157, 162, 292, 293, 326, 329, 344, 346, 366, 367, 368.369. 370, 371. 372, 446, 491. 492, 516, 522 . 526, 545, 548 Escola de Aviacão Naval 43, 44, 45, 57, 59 . 65.66. 106, 153,315,318,446,558,562 Escola de Aviação sem motor 485 Escola de Aviação Valentine 571 Escola de Aviação Ypiranga 514 Escola de Comércio Alvares enteado 481 Escola de Engenharia Militar 540. 541 Escola de Guerra 36 Escola de Pensacola 46 Escola Elementar de Aeronáutica Militar 53 Escola Militar 30, 32, 33, 34, 35, 36, 544 Escola Militar do Largo Real da Sé Nova 32 Escola Militar do Realengo 114 Escola ' Municipal de Aviação 567 , Escola Naval 72, 175 Escola Paranaense de Aviação 96 Escola Politécnica de São Paulo 481, 504, 529, 530, 531, 532 , 535, 536, 540 Escola Politécnica do Rio de Janeiro 544 Escola uperior de Aeronáutica de Paris 520, 527 , 545, 546 Escola Técnica do Exército 541, 546. 555 Escola Técnica Nacional 582 Escola VARIG de Aeronáutica - EVAER 550 "Espernay L' ", navio 219 Espinheira, José Vaz 489 Espírito Santo Cardoso . Augusto Inácio. Gen, 341 Esquadrilha Anhangá 79 Esquadrilha das Cegonhas 44 Esquadrilha de Adestramento 329 Esquadrilha de Aviação 325. 585 Esquadrilha de Treinamento 370 Esquadrilha dos Ibis 63 Esquadrilha Pan-Americana 151. 152 "O Estado de São Paulo" 340 Estado Novo 286 Estatuto da Aviação Mili tar 84 Estivlll 134 Esion. Nedo 504, 536 'Euclides da Cunha 34 Europa 385 Exército do Potomac 277

F "F 5 L", aVIa0 63, 64, 117 Fábrica Brasileira ' de- Aviõe~ 286, 523, 537, 53'8 , 574, 578 Fábrica Caudron 293 Fábrica Curtiss 557 Fábrica de Aviões de Lagoa Santa 554, 555 , 556 Fábrica de Motores 589 Fábrica de Pára-quedas Switlick 549


Fábrica do Galeão 282, 539, 558 , 559, 563. 564, 565 Fábri'c a do Mate Leão 425 Fábrica Junkers 383 Fábrica Nacional de Hélices Cruzeiro 586. 587 Fábrica Nacional de Motores, FNM 527 . 528 Fábrica Wright 588 Fadigas, Oswaldo 482, 504, 536 "Fafnir I", planador 265 "Fafnir 11", planador 265, 266 Fairchild , avião 416, 473 Fairchild Co . 230 "Fairey Gordon", avião 131 , 314 , 562 "Fanfulla", periódico 511, 512 Faria, Juvenal Lamartine de 254 Faria Gois Sobrinho, José de 318 , 337 Faria Lima, José Vicente de 326 , 352 , 545 . 546, 588 Farias, Cordeiro de, ver Cordeiro de Farias Farias, Medardo 135 Farman 398 "Farman", avião 51, 54, 55 , lOS , 106, 158. 167, 281, 399 Fay, Pierre 520 Féderation Aéronautique Internationale, FAI ·110, 157, 163, 187 , 253, 468, 469, 470. 503 Felici , Fenile 489 Fels, Pablo Teodoro 132 Fernandes, Ismar 338 Fernandes Pinto, ver Pinto Fernandes Ferrarin , Arturo 156, 157, 158, 159 Ferraz, Noêmio 110, 111,112 Ferraz, Odon Carlos Figueiredo 493 Ferreira, Adelino 98 Ferreira, Ivan Carpenter 521. 545. 553 "Ferroviário", avião 132 Figueiredo, Deodoro .Neiva de 542 Figueiredo. Euclides 341, 342 Figueiredo, Joaquim Lopes de 476. 514 Figueiredo, Neiva de, Cap o 117 Fiume 176 Flandin, Pierre 253 "Fleet" ,avião 345 Fleet, Ruben 232 Fleury, Antonio Castro 3311 Fleury, Benedito Péricles 338 Fleury, Jean-Gérard 225, 553 F1ight Surgeon 171 Florence, Machado 199 Flores da Cunha 299. 341. 383 . 5')0 Floriano Peixoto, Mal. 544 Flotilha de Aviação 62 Flotilha de Submarinos 125 Flotilha do Amazonas 125 Flotilha Mista Independentt: út: Aviõt:s út: Patrulha 344 Flotilha Naval 346 Flotilha Naval do Mato Grosso 361 "Focke Wulf". avião 315. 5'54 . 562 . 563 . 565 Focke Wulf rIugzeughau A . G. 558 . í,)4 . 560. 504 Fokker. avião 344 Fonck. René 168

Fontan. Ten. 131 Fonseca. Decio 254 Fonsec a. Deodoro da. M al. vcr Mal. Dcodoro Fonseca . Euclides Hermes da 114 Fonsec a. Hermes da. Mal. ve r Mal. Hermes Fonseca. J uv entino Fernandes da 36 Fonseca . Rosa da 544 Fonseca Filho. Joaquim da Costa 567 Fontenelle. Henrique Raymundo Dyotl 20 I , 246. 321. 322. 323. 355 . 371. 477. 483 . 491. 492 , 493. 571 . 579 Fontoura. João Neves da 339 Forca Públic a de São Paulo 95. 100. 106. 107 . 108. 116. 127 . 146. 329. 340 . 446 . 515 . 585. 587 fo rca Pública do Paraná 95 . 469 For~e Aé rienne Belge 580 Ford Company 232 Ford. avião 232. 233 Forjás. Fábio 482 Forjaz. Djalma S04, 536 Fortaleza de Santa Cruz 126 Forte de Copacabana 114, 116, 126 Forte de O bidos 125 Fraeb . Charles 203 Fragoso. Rocha 546 Fragoso. Tasso, Gen . 33 França. Carlos Brunswick 310.348. 370 . 372 Franca Walter 372 Fran~is'co Solano Lopes. ver Solano Lopes Franco. Afrânio de Mello. ver Afrânio de Mello Franco Franco . Manoel Lacerda. Dep. 106 Franco. Ramón 135, 140, 146. 156. Ig8 Franco . Virgilio de Mdo 215 Fra ntz, Francisco José 484 Frantz. Max 383 Freire , Hilário 146 Freitas. Godofredo da Cos,ta 3311 Fronval, Alfredo 168 fundação Santos:Dumont 150

Gabinete úe Resistência e Ensaios 530 Gabriclla Benzanzoni Lage 287. 5n. 5113 Gaelzar. Cap o 43 "Gafanhoto". planador 447 Gago Coutinho 61. 131. \37.140 . 156. 215, 24g. 253, 288. 586 Gainzó 162 "Gaivota". planador 4':17. 4':18. 50 I "Gaivota Solitiiria" 474 Galeão 126 Galileu 30 Galviio. fnnando Guedes 42í Galviiv. Rufino Enéias Gustavo. Tt:n. Gen .. ver Visconde de Maracaju Gama. Iknedito Archanjo da Costit ii7 Ganns. Cliiudio 381 . 428. 444. 55, "Garça". plalHldor 4g7 Garcia . Joaquim Martin s 3')7 Garcia de Souza. José 215. 230. 578. 58i Garrido. José. Maj. 100. 10í . 107 . 58') GastaI. Guilherme 20 I

613


"Gaúcho", aVia0 208, 210, 384 Gauthier 134 "A Gazeta" , periódico 220, 474, 493 , 585 "A Gazeta do Sul", periódico 267, 484 Geima, ver Grupo Executivo da Indústria do Material Aeronáutico Georges Guimarães 338 Georgii , Marie-Anne de 579 Georgii, Walter, Prof. 485,486,487,488,489 Gertrum. Emílio 203 Getúlio Vargas 107, 287, 289, 293, 294 , 295, 300 , 301. 302 , 313, 326 , 339, 340, 341, 398, 412 , 419, 443 , 445,450.473 , 515,516,552, 553. 555, 576 Giannetti e Cia. Ltda_ 556 Gimié, Léopold 162, 163 Ginásio Anglo-Brasileiro 490 Gino Bucelli e Cia. 253 Girdwood, Thomas ver Thomas Girdwood Glenn Martin 558 Glider 479 Godinho, Mário da Cunha 131, 313. 315 Goering, Hermann 265 Goes. Augusto de Araújo 195 Goes Monteiro, Pedro Aurélio de 82, 301, 302 344. 346, 355, 362, 523 Góis Sobrinho, José de Faria ver Faria Góis Sobrinho, José de "Goliath". avião 158, 159, 160 Gomes. Antonio Joaquim da Silva, ver Silva Gomes. Antonio Joaquim da Gomes. Eduardo, ver Eduardo Gomes Gomes , João 372 Gomes. Orlando Bacelar 489 Gonçalves. Antonio' Reynaldo, Ten. Av. PM 95 , 97, 98, 100. 107, 118, 173, 514 Gonçalves, José ' 337 Gonçalves, Luiz Felipe Marques 516, 574, 575, 577, 578, 582 Gordines, Lúcio 118 Gosport 44, 45, 46, 50, 51, 52, 53, 54, 57, 66 "Gotha", avião 281 Goulart, João de Oliveira 20 I, 205 Gouveia, Bráulio 126, 313 Gouveia, Manoel Antonio 153, 154, 155 Governo Provisório 107, 291, 293 Gracc Shipping Une 238 , 413 "Graf Zeppelin", dirgível 164, 166, 263, 313, 384, 391, 503, Grand, Humberto 338 Gravér, João Carlos 515 Greiss, Xavier 210 Grelle, Francisco C. 338 Grillo, Cesar da Silveira 246,379,415 , 442. 543, 547, 553 Grispun, José Zippin, ver Zíppifl Grispun, José . Grochnoff 487 "Gruman Baby", planador 266, 477. 482, 487 . .488.489.490,492,495.497. 501.504. 55Q "Grumclc". avião 569, 570 Grupo de Aviação 355, 361 Grupo de Aviação Constitucionalislc: 346. 348. 350, 352

614

Grupo de Aviação no Sul 78 Grupo de Aviões Correio da Linha Sul 317 Grupo Executivo da Indústria do Material Aeronáutico 580 Grupo Independente de Aviões do Correio Aéreo 317 Grupo Mackenzie de Planadores 475, 476, 514 Grupo Misto de Aiação 320, 329, 344, 346, .. 587 Grupo Pignatari 566 . Grupo Pignatari ver também Pignatari Guedes, Alberto Samedo 572 Guedes Muniz, Al1tonio 79, 286, 292, 293, 294,295,296,325,327,484,514, 516,517, 520, 521, 522, 523, 524, 525, 527, 528, 535, 537,541,543,544, 545,547,548,579,588, 589, 590, 591 Guerra da Tríplice Aliança 277 Guerra de Secessão 28, 29 Guerra do Chaco 314, 350 Guerra do Contestado, ver Contestado Guerra do Paraguai 30, 33, 39, 109 Guilhem, Henrique Aristides, Alm. 558 Guilherme, Ismael 268, 269, 287, 475, 481, 488, 493 , Guilherme, Valdo Torres 475, 481, 488, 493 Guillaumet 221 . Guillobel, Nelson 193, 194, 255 Guimarães, Adyr, Ten. 80 Guimarães, Cantídio Bentes ver Cantídio Bentes Guimarães Guimarães, Carlos Pereira 315 Guimarães, Dirceu de Paiva 546 Guimarães, Georges, ver Georges Guimarães Guimarães, Protógenes ver Protógenes Guimarães, Alm. Guimarães, Renato Moutinho 536 Guinle, Arnaldo 491 Guinle, Guilherme 490 Guinle, Octavio 490 Gusmão, Bartolomeu de, ver Bartholomeu de Gusmão Gutschow, L. A_ 203 Guynemer, George 44 Guzy, Haris 173, 229 "Gypsi Major", avião 521, 525

H H B, aVia0 473 H B I, avião 567, 568 H L, avião 473, 523 H L I, avião 575, 576 H L I B, avião 576, 577 H L 3, avião 581 H L 6~ avião 576 H S, avião 117, 543 H_ Lange & Cia_ 558 "Hai", avião 198, 199 Hamm, Victor 134, 135, 163 H~~~~~

1~1~ , ~ , ~,~

Hampshire 44 Handley Page, Ltd. 195 Hansen, Carlos 478 "Harriot", avião 344 I


Harth, Eng.o 486 Hartier, Carlos, 123 Hasset , Patrick tIO, 111, 136 Harvard University 338 Hearne, E. M. 130, 131 "Hei de Vencer", filme 180, 181 Heinkel, avião 386 Helbronner 396 Helio Costa 314 Hendrich, Kurt 483 Henrique Lage 281, 283, 285, 286,287,28-8, 289,327,476, 514,516,520,523,527,537, 538, 557, 575, 576, 577, 578, 580, 581, 582 , 584, 587 Henrique, Orlando 372 Hen(zen 265 Herdler, Carlos 118, 121. 122 Herm. Stolz & Companhia 199, 209 Herzfeldt, Goetz G. 498, 499 Hihm 486 "Hindenburg", dirigível 391, 503 Hinton, Walter, Mj. 133, 134, 173, 250 Hipódromo Brasileiro 487 Hipódromo de Campinas 484 Hirscheberg 266 Hirth, Wolf 266, 486, 487 História da Construção Aeronáutica no Brasil 288 História da Força Aé.rea Brasileira 277, História Geral da Aeronáutica Brasileira 22, 278, 542 Hoeltk, Klalls R. 498 Hoelzel, Carlos 484, 485 Hoepken, Frederico 210, 211 Holanda Cavalcanti, Cândido M. 337 "Hol's der Teufel", planador 262 , 477, 490, 492, 496, 497, 501, 550 Holst, Lauro João 484 Homero 172 Hoover, Orton, ver Orton Hoover Hoover, Presidente 234 Horta, Hyldo Sá Miranda 337 Hortêncio P. de Brito 325 , 332 , 334. 335 Hospital Central da Marinha 70 Hotinger, Roberto 482 Huff-Daland, avião 103. 105 Humaitá 278

IAA ver Instituto do Açúcar e do Álcool IBC ver Instituto Brasileiro do Café "Ibis", planador 269, 270 fcaro 264, 267 Iglesias, Francisco 161 Igreja de Nossa Senhora de Loreto 445 Ilha das Cobras 559 Ilha das Enxadas 43, 63, 65, 135, 199, 207 Ilha de Marajó 136 Ilha de São Sebastião 43 Ilha do Engenho 524 Ilha do Governador 61 , 65 Ilha do Rêgo 89 Ilha do Viana 285, ,286, 287, 289, 476. 477. 520, 523, 524, 525, 576, 579, 581 Ilíada 172

Iluminismo 32 " O Imparcial", periódico 286 Imperial College of Scicncc and Tcchnology 543 Impérios Centrais .51 INCAER ver Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica "Independência". avião 131. 287. ltN. 574. 577 Indústria Aeronáutica 275, 540 Indústria Aeronáutica Brasileira 482. 50g. 547 Influência Alemã 197 I nfluência Francesa 213 Influência Norte-Americana 227 Infra-Estrutura Aeroportuária 255 Inspetoria de Navegação Marítima e Fluvial 188, 242, 249, 283 Inspetoria Federal 447 I nspetoria Federal de Navegação 188. 189. 242, 247, 249, 256, 258, 273, 283. 375, 378. 379 , 464 Inspetoria Federal de Navegação Marítima e Fluvial 464 Instituto Brasileiro do Café 303 Instituto de Meteorologia 380 Instituto de Pesquisas Tecnológicas 481. 482, 504 , 505, 506, 507, 529, 531, 532, 534 , 535, 536, 538, 539, 540, 564, 565, 568 , 571. 576, 587 Instituto do Açúcar e do Álcool 303 Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutcia 21,22,23,252,349,351 , 415,417,418.419 Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro 31 Instituto Juruena 490 Instituto Tecnológico de Aeron áutica 540. 580 I nstruções para a Matrícula Profissional do Pessoal da Aeronáutica Civil 447 I nternational Founders 233 "Instrodução ao Aprendizado do Vôo sem Motor", livro 492 I . P . T. ver Instituto de Pesquisas Tecnológicas IPT - O, avião 567 IPT - O - A, avião 568 IPT - O - B, avião 568 IPT - O - C, avião 568 I PT - 1. planador 505 IPT - 2, planador 505 I PT - 3. planador 505 IPT - 4. planador 505 IPT - 5. planador 50S, 506 I PT - 6. planador 506 I rigoyen , Hipolito, Presidente 232 Irmãos Robba 586 Irving, pára-quedas 69. 549 Irving Air Chute Co. 548 Irving Trust 233 Isauro Reguera 588 Ismar Pfaltzgraff Brasil 46 . 313 . 314. 316 ISTUS 488, 490, 494, 495 lT A ver Instituto Tecnológico de Aeronâutica

615


"Itararé", aVia0 106 "Itapetininga", avião 106

J Jabour, Salomão 576 "Jahu", avião 40, 140, 141, 142, 143, 144, 145, 146, 147, 148, 149, 150, 155, 156, 250, 263 "Janela Aberta", livro 471 Jacques, Armando Barbosa 338 "Jaraguá", planador 491 "Jari", navio 125 Jatahy, Roberto Carlos de Assis 335 "Já Volto" 141 Jeanneaud, Henri 84, 93 Jesus, Alfredo de 370 "Jesus deI Gran Poder", avião 161, 162 Jimenez, Ignacio 161 JM, avião 95, 105, 1O(j, 127, 129 J. N. 113, avião 486 João Alberto 515 João Pessoa 300, 301, 302 Job, João Luiz 490 Jockey Club Brasileiro 215 Jockey Club da Mooca 330 Joléo da Veiga Cabral 335 Jonas, Capo 371 'O Jornal Científico Econômico e Literário", periódico 31 "Jornal do Commercio", periódico 449 450 "Jornal de Petrópolis", periódico 502 José Améríco 487 José Américo de Almeida 405 José Maria, Monge 96 Jost, Oscar Rafael 485 "Jovem Alemanha" 37 "Jovem Brasil" 38 "Jovem França" 37 "Jovem Itália" 37 "Jovem Portugal" 37 "Jovem Turquia" 37, 38 "Jovens Turcos" 37, 38, 81 Juarez Távora 301, 310 "Juca", avião 497 Juliano Moreira 32 Júlio Prestes 300, 301 Junkers, avião 63, 134, 202, 205, 207, 210, 211, 295, 383, 38~ 386, 387, 388, 426 Junqueira, Breno 504, 536 Junta Médica de Aviação Militar 336 "Juruna", navio 136, 155 Justo, Presidente da Argentina 411 K Kafka, Franz 517 Kahl Filho, José 313, 317, 543 Kaitz, José 337 Karl Schweyer A. G. 496 Karlson, Paul 265, 266 Kleinat, Guido 503 Kessler 499 Kessler, Victor Alberto 204 Kfuri, Jorge 57, 61, 64, 68, 565 Kirk, Ricardo 96, 113

616

Klemm, aVia0 173, 229, 230, 295, 495. 496 . 497, 503 , 550 Klemm, Erich 208 Klinger, Bertoldo, Gen. 341 , 342, 362 Koeler, Luciano Lobato 382 Kolberg, João Carlos 484 Konder, Victor 151, 190, 199,202 . 204.209 . 217, 223, 227, 23~ 261, 263 "Kondor", planador 486, 487 "Kranich", planador 496, 497 Krapf, Ricardo 494 Kronfeld 486 Kuehne. Herbert 477 L

Labastille, OUo Ernst Meyer ver Otto Meyer La Cidna 398 La Ligne 213 Laboratório Eiffel 520 Laboratório de Ensaio de Materiais, LEM 530, 531, 534 Lacerda, Maurício de 138, 253 Lafay, Etienne 131, 134, 135, 163 , 281,287, 289 Lafer, Horácio 532 Lefevre, Paulo Gonçalves 476, 482 Lafont, MareeI Bouilloux 218, 219, 226 Lage, André Raul 578 Lage, Antonio Augusto 578 Lage, Gabriela Benzanzoni, ver Gabriela Benzanzoni Lage Lage, George Ivan 578 Lage, Henrique ver Henrique Lag~ Lage, Henrique Victor 578, 582 Lage, Renaud 578 Lage, William 578 Lage Filho, Antonio Martins 285, 578 Lagoa dos Patos 201 Lagoa Santa 552 Laminacão Nacional de Metais 504 Lampiã~ 126 Lange, Heinrich 559 Largo de São Francisco 32 Laté, avião 157, 163, 164, 220, 221, 222, 344, 392, 399 Latécoere 134, 162, 163, 213, 214, 215, 216, 217,218,219,221,272,328,392,393,394, 397 , 401, 403, 552 Latécoere, hidroavião 399 Latécoere, Pierre 213 , 217, 218, 219 Lauro Müller 33 Lauro Sodré 33 Lavaud, Dimitri Sensaud de 511, 512 Lavenere-Wanderley, Nelson Freire 321, 329, 331, 332, 571 Le Bourget 160 Le Brix, Joseph Marie 155, 156 "Le Figaro", periódico 177 Le Goff, Marcel 404 Leal, Newton Estillac 116 Leão & Irmãos 477 Lee, Fernando Edward 475, 488, 493 Lei de Empréstimo e Arrendamento 528 Lei do Serviço Militar 448


Leitão, Aroldo Borges, Ten. 72, 80, 85, "86, 313 Leite, Abel Pereira 489 Leite de Castro, José Fernandes 329, 523, 593 Leme, Luiz Betin Paes 193 Lemos, Miguel, ver Miguel Lemos Lemos, Roberto Julião de Cavalcante 370 Lemos Cunha, Antonio 61, 93, 125, 308, 309, 329, 332, 333, 348, 351, 359, 360 Lepper, João 506 Levasseur, avião 155 Levi, Ten. 571 Levi Carneiro 442 Levi Castro de Abreu 333 Libânio, Joaquim Tavares 320, 371, 521 "Liberty", fábrica de motores 133 Liceu de Artes e Ofício (São Paulo) 586, 587 Liga de Defesa Nacional 44 Lilienthal, OUo 264, 265, 266, 486, 502 Lima, Alzir Mendes Rodrigues, Cap.-Av. ver Alzir, Capo Lima, Antonio de Castro ver Castro Lima, Antonio de Lima, Antonio Pereira, Ten. 101, 102, 127, 129 Lima, Arthur da Motta 344, 363 Lima, Arthur do Vale 318 Lima, Ary de Albuquerque 313, 361 Lima, Augusto Sabóia 449 Lima, Carlos Augusto de Freitas 490 Lima, João de Mendonça, ver Mendonça Lima, João de Lima, José Vicente de Faria, ver Faria Lima, José Vicente de Lima, Oriovaldo Benitez de Carvalho, ver Oriovaldo Benitez de Carvalho Lima Lima, Waldomiro, Gen. 348 Lima, Winkelmann Barros Barbosa 448 Limites Franceses 94 Lindbergh, Charles 237, 521 Linee Aeree Transcontinentali ltaliane, LATI 430 A Linha 219 "A Linha", livro 225 Linha Alemanha-América do Sul 390 Linha Amazônica 458 Linha Dakar-Natal-Buenos Aires 394 Linha de Curitiba 333 Linha do São Francisco 333 Linha do Tocantins 335 Linha Fortaleza·Teresina 334 Linha Miami-Assunção 497 Linha Rio-Goiás 331 Linha São Paulo-Cuiabá-São Paulo 386 Linha da Lagoa 201, 202, 203, 205, 206, 208, 210, 384 Linhas Aéreas Latécoere ver Latécoere Lins, Alm. 319 Lins Filho, Waldemar 338, 449 "Lioré et Olivier", avião 88, 91, 395, 399 Lippisch 256, 486 Lisboa, Celenciano S. 338 Lisboa, Maurício 157 "Livramento", avião 384

L10yd Brasileiro 133 Lobato, A.F. 562 Lobato, Cel. 522 Lobato, Lucival Lage 338 Lobato Monteiro ver Monteiro Lobato Locatelli, Antonio 130 Lockheed,avião 327, 419, 421 Loening, avião 151 Lohre, Rodolfo 268, 484 Lojas Paulistas 202 Lopes, Isidoro Dias 116, 123, 126, 341 Lopes, Luiz Palmeiro 337, 448 Lorennz, Arnold 439 Loreto, Nossa Senhora de ver Nossa Senhora de Loreto Lovatzki, Paul 383 Lowe, T. S., Prof. 277 Lozano, Adolpho 483 Lucena, Henriqueta Barbosa de 279 Luft Hansa, ver Lufthansa Lufthansa 198, 199, 207, 384, 385, 386, 388, 391, 392, 399, 429 Lufthansa Zeppelin, ver Lufthansa Luftschiffbau Zeppelin 166, 388, 389, 390, 391, 392, 459 Luftwaffe 264 "Luftwelt", periódico 487 Luiz, Washington ver Washington Luiz Luiz Carlos Prestes 301, 365, 366 Luiz Tenan, Coriolano 415, 419 Lundgren, Irmãos 202 "Luneville", navio 219 "Lusitânia", avião 131, 156 "Lutécia", navio 61 Luther, Hans 150, 198, 199 Luz, Arnaldo Siqueira Pinto da, C. Alm. 70,

171 Luzzi Jr., José Afonso 482 Lysias Augusto Rodrigues 76, 87, 137, 138, 139, 334, 335, 342, 346, 348, 350, 363, 511 M "M-l", "M-3", "M-5", 517,

avião 545 avião 545 aVia0 292, 293, 294, 295, 296, 516, 545 "M,G", avião 516, 517 ·'M·7", avião 473, 517, 519, 520, 521, 522, 523, 524, 525, 539 "M-8", avião 517, 525 "M-9", avião 131, 473, 525, 526, 527, 539 "M-11", avião 527, 528 MF, avião 117, 125 Mac Craken, William P. 233, 234 Macchi, avião 351 Macedo, Joelmir Campos de Araripe ver Araripe Macedo, Joelmir Campos de Macedo, José S. de 325, 333 Macedo, Tancredo Alvares de Azevedo 266, 267 Macedo Soares, José Carlos de 450, 492 MacFarland, Rossi 338 Machado, Anésia Pinheiro ver Anésia Pinheiro Machado Machado, João Bina ver Bina Machado, João

617


Machado. José de Oliveira 440 Machado. Lineo de Paula 215 Maciel. Olegário 517 Madelug 265 Magalhães. Armando da Silva 158 Magalhães. Benjamin Constant Botelho ' de ver Benjamin Constant Maia, Deodato 341, 449 Maia, Prestes ver Prestes Maia Maia, Telêmaco Gonçalves ver Telêmaco Gonçalves Maia Maitino, Adonis 482, 572 Malas Postais 423 Maldonado, João Luiz Vieira . 546 Mallet , Mal. ver Marechal Mallct Malta. Euclides Vieira 544 Manifesto Futurista 177 Maranhão, Walfrido 122 Marchesini, Amilcar 253 Marchini, Adriano 531 Márcio de Souza e Mello 347 Marechal Deodoro 30, 33, 34, 35, 279, 280 Marechal Deodoro ver também Deodoro da Fonseca, Mal. Marechal Hermes 36, 38, 39, 114 Marechal Mallet 36 Marechal Rondon 40, 125 Mariante, Álvaro Guilherme, Gen. Brig. 82, 83 Marinetti. Filippo Tommazo 177 Marques dos Reis 405. 407, 408, 412 Marques Filho 68 Martens 265 "Martin", avião 73, 74. 314. 344, 360, 361 Mar!ÍJnho, Capo 371 Martil1'S'. Alfredo 578 Martins, Carlos 578 Martins, Euclides Pinto 133, 134, 136 Martins, Eligênio 578 Martins, Hélío Labourdet 572 Martin, Pinto 250 Martins, Thales 171 Marzo, Tereza de 118. 121, 122, 269, 467, 469, 472, 514 Marcarenhas, Ajalmar Vieira 79, 81, 520 Mascarenhas, Ajalmar Vieira ver também Ajalmar Vieira Mascarenhas Massot, Affonso Emilio . 109, 110, 112 "Mato Grosso", avião 173 "Mato Grosso", navio 125 Matos, João Ribeiro de 514 Mattos, Dante de, Cm!. 72, 73, 313 Mattos, Délio Jardim de 520 Mattos, João de Oliveira 493 Mattos, Nilo 318 "Mauá", avião 384 Mayer 486 Mayo, William B. 232 McLean, Douglas 532 Medalha Santos-Dumont 517 Medei.·os, Antonio Augusto Borges de ver Borges de Medeiros Medeiros, José Saboya Viriato de 553 Medeiros, Raul Inácio de 158 Medeiros. Saboya de 226

618

Medicina de A viação 171, 318. 336, 337, 338, 448, 449 Médicos de Aviação 171 Medidas Legisladoras 441 Meira, José Augusto de Paiva 542 Melibeu da Silva, Antonio 338 Mello. Armando de Souza e 368, 372 Mello, Capo 571 Mello, Edgard Corrêa de ver Edgard Corrêa de Mellol Mello, Francisco de Assis Corrêa de 321, 322, 323, 324 Mello, José de 107, 515 Mello, Luiz de Anhaia 531 Mello, Márcio de Souza e ver Márcio d~ Souza e Mello Mello, Pessoa de 171 Mello e Souza 75, 79 Mendel, Mariano de Oliveira 482 Mendes, Bernardo Espinola 100 Mendes, Capo 371 Mendes, Fernando Martim 337 Mendes, Manoel Ferreira 313 Mendes, Oswaldo Ribeiro 367, 368 Mendes, Raimundo Teixeira 32 Mendes, Teixeira 35 Mendes de Moraes, Angelo 91, 548 Mendonça, Antonio Machado de 147, 148, 155 Mendonça Lima, João de 153, 408, 589 Menescal, Lauro Oriano 313, 543 Menezes, Gilberto C. 565 Menezes, Rosemiro Leal ver Rosemiro Leàl Menezes Menezes Filho, José 372 Mermoz, Jean 162, 163, 164, 214, 220, 221, 222, 384, 396, 39~ 398, 399, 552 Merrimac, navio 277 Mertens, Guilherme 156 Mesquita, Abelardo S. de 325 Me~quita Filho, Júlio de 340 Messerschmitt, avião 384 Messias, Capo 106, 107 Mestardeiro, Hemetério 202, 204 Meyer, Oito Ernst 201, 494, 495, 497 Micheloti, Francisco 475, 488 Miguel Costa 104, 107, 116, 126, 301 Miguel Couto 171 Miguel Lemos 32 "Minas Gerais", navio 119 Mindelo, Frederico 367 "Minerva Brasiliense", periódico 31 Ministério da Aeronáutica 215, 382, 421, 429,431,447,451,462,527,536, 544, 546, 556, 565, 571, 575,576, 589 Ministério da Indústria, Viação e Obras PÚblicas ver Ministério da Viacão e Obras Públicas Ministério da Viação e Obras Públicas 187, 188,245,246,247,255,256,272,334,381, 390,391,398,405,407,414,430,433,434, 442, 446, 448, 454, 455, 456, 515, 557 Ministério do Ar (França) 394 Miranda, João Pedro da Veiga 58, 60 Miranda, Mário Pontes de ver Pontes de Mi· randa, Mário >


Miranda, Nelson Baena de ver Baena de Miranda, Nelson Missão Alemã de Vôo sem Motor 481, 485, 487, 488, 494, 506, 562 Missão Americana 72 Missão Francesa 80, 81 , 120, 329 Missão Francesa de Aviação 520, 545 Missão Militar Brasileira 293, 593 Missão Militar Francesa de Aviação 81 , 84, 87, 93 Missão Scott 56 Mitchel, Pedro 338 "Mitre", avião 132 Moazagotl 266 Moffet, Alm. 232 Mohyneck, Gustavo 268 Monclaro, Thomaz Menna Barreto 156 Montealverne, Belgrano R. 338 Monteiro, Nuno 482 Monteiro, Pedro Aurélio de Góes ver Góes Monteiro Monteiro, Raul Leme 268, 269 Monteiro Lobato 67 Montenegro Filho, Casimiro 308, 309, 325 , 329, 331, 342, 476, 546, 571 Montezuma, Ten. 355, 358 Montezuma, Waldemiro Advíncula 546 Montgomery, J. K. 233 Monumento Rodoviário 576 Moraes, Angelo Mendes de ver Mendes de Moraes Moraes, ClóvIs Cardoso de 318 Moraes, Henrique Ferreira de 553 Moraes, José Ermírio de 532 Moraes Jr., Dácio 488 Morais, Jacques L. de 482 Morais, Octavio Guedes de 482 Morais, Sami Rodrigues de 572 Morais, Saul de 572 "Morane", avião ver "Morane Saulnier", avião "Morane Saulnier;', avião 55 , 88, 89, 96, 310, 344 Morato, Francisco 340 Moreira, Alvaro 490 Moreira, Euclides de Souza 338 Moreira, Juliano ver Juliano Moreira Moreira Lima, Octávio Julio, Ten. Brig. do Ar 22 Morgan, Arthur, pseudo 362 Moses, Herbert 215 "Mosquito", avião 156 Moss, Gabriel Grün 314 Moth, avião 358, 473, 492, 513 Mouney'res, Mareei Hervé 158, 159 Moutinho dos Reis, José 369, - 370 Movimento Comunista de 1935 364 Movimento Constitucionalista ver Revolução de 1932 Moyhneck, Gustavo 484 Müller, Lauro Severiano ver Lauro Müller Müller, Walter 338 Munhos, Mario Pereira 491 Muniz, Antonio Guedes ver Guedes Muniz , Antonio "Muniz", avião 327

Muniz, Ten. Ce!. 371 Munson, Frank C. 232 Murat, Charles, Príncipé 214, 215, 218 Murici Filho , José Cândido de 352 MUSAL ver Museu Aeroespacial Museu Aeroespacial 469, 527 , 583 Museu de Aeronáutica ISO , 583 Museu de Aeronáutica (Fundação SantosDumont) 524, 572 Museu do Ar 160 Museu Histórico-Nacional 34 Museu VARIG 501 "Mutuca", avião 569, 570 Muza , Aristides Gonçalves, Ten. Av. PM 95 M . V . O . P . ver Ministério da Viação e Obras Públicas N

Nabuco, Joaquim 32 "La Nación" , periódico 132 National Air and Space Museum 471 Naul, Ten., observador 127 Navarro, Elias 576, 578, 584 Navegação Aérea Brasileira , NAB 553 Neder, José Elias 338 Negrão, João 40, 103, 127 , 146, 148 Negrin 163 Nelson , desenhista 579 Netto dos Reys, Luiz Leal 67 , 68, 69, 246, 313 Neves, Berilo, ver Berilo Neves Neves, Henrique de Castro 540 Neves, Pereira das, ver Pereira das Neves Neves, Teócrito de C. Almeida 338 "New York World",periódico 133 New York, Rio and Buenos Aires Line, Inc., N.Y . R .B. A . 228, 229, 230 ; 231 , 232 , 233, 234, 235, 236, 238, 272, 376, 412, 413 Newton Braga 40, 136, 137, 138, 140, 14L 142, 144, 145, 146, 148, ·325 Nilo Peçanha 113, 114, 116 Ninho das Aguias 94 Nicoll, Ricardo 334 Nieuport, avião 88, 90, 107, 117, 121 , 344, 347, 352, 362 Nisbeth, Cmte . 146 Nogueira, Mílton 482 "A Noite':' periódico 57, 269, 270, 548 Normas sobre Aeroportos 459 Noronha Abilio de, Gen 119 North American, NA , avião 315, 327 Nossa Senhora de Loreto 176, 177, 445 "Notas sobre Vôo Térmico e Vôo Rebocado por Aviões", livro · 492 Nova Jovem Alemanha 37 Núcleo do Segundo Regimento de Aviação 325 Núcleo do Serviço Técnico de Aviação 325, 516, 545 Núcleo do Sétimo Regimento dI"! Aviação 325, 328 Núcleo do Sexto Regimento de Aviação 325 Nudelman , ~uboficial paraguaio 79 Nuelle. Franz 198. 201, 205, 206

619


Nunes, Jayme Medeiros 107, 515 Nungesser, Charles 155 "Nungesser-Coli", avião 155, 156 Nyrba do Brasil 230, 235, 236, 273, 376, 413

o "0 Beija-Flor", periódico 31 Octavio Filho, Rodrigo 381. 449, 516 Odilon, Ten. 127 "O Estado de São Paulo", periódico 122, 512 . Oficinas Gerais de Aviação Naval 557, 558. 559, 561, 563, 564 "L'Oiseau Blanc", avião 155 Oitavo B. C. 349 Olavo Bilac 32 "Olimpia Meise", planador 506 Olimpíadas de 1936 502, 560 Olimpíadas de 1940 502. 503 "Olinda", avião 211 Oliveira, Adherbal da Costa 293. 294, 344. 363 Oliveira, Alípio Leme de 481 Oliveira, Amaro Polycarpo de 93 Oliveira, Armando Salles de 426, 532 Oliveira, Edmundo 224 Oliveira, Eugenio 122 Oliveira, Odilon Aquino 101 Oliveira, Plinio Raulino de 92 Oliveira, Roberto Menezes de 318 Oliveira, Silvio de 482, 504, 536 Oliveira, Silvio Raulino de 547 Oliveira, Soriano Bastos de ver Soriano Bastos de Oliveira Oliveira Neto, Luiz Camilo de 553 Oliveira, Eduardo A. 136, 155 O 'Neill. Ralph 227,229,230, 231. 232 . 233. 234, 236, 238, 412, 413 Organização Aérea para a Defesa do Litoral Brasileiro 58 Organização Lage 287 , 288. 477, 516. 523. 524. 526, 527. 537. 574. 575. 577. 578, 582. . 583, 584 Oriolle, avião 95, 121. 122 Oriovaldo Benitez de Carvalho Lima 337 Orlando Henrique ver Henrique, Orlando Ortiz, Sebastião Nivaldo de Alvarenga 371 Orton Hoover 95, 100, 101. 103, 107, 127, 193, 290, 361, 424, 479, 481, 512 , 513, 514, 515 Osorio, Pedro 204 Oswaldo Aranha 408, 409, 412, 515 Otávio Guinle 445 0110 Meyer 202, 203, 204, 205, 208, 209 Ouro Preto, Visconde de ver Visconde de Ouro Preto

P Pacelli 123 Pacheco, Rondon 517 "'Pacífico", avião 198 Pádua, Djalma Campos de 483 Pai da Aviação 130, 470, 471, 512

620

Pai da Aviação Naval 67 Pai do Freijó504 Paiva Ataulfo. ver Ataulfo de Paiva Paixão, Juvenal 361 "Pajaro Blanco", avião 162 Palácio do Catete 121. 122 Paladini, Danilo 372 "Pampeiro", planador 501, 502 Pan American Airways Inc . 231. 233, 234, 236. 237, 238, 272, 338. 376, 399, 404, 405, 406, 407. 408, 409, 410, 411. 412, 413, 414, 415, 417, 418 Panair do Brasil 236. 238, 376, 388, 405, 406. 412. 413 , 414. 417. 419. 421, 433, 434, 436, 438. 439. 448 Panagra 238. 413 Paolini. Luiz 269 "Pará". navio .133 Parisiense 180 Parque Central de Aviação 325, 484. 516. 520. 521, 522, 523, 545 Parque de Aeronáutica (de São Paulo) 587 Parque dos Afonsos 520 Parque Farroupilha 496 Partido Autonomista 286 Passo. Trajano Medeiros do 381, 449. 450 Passos, Nestor Sezefredo dos, Gen . 82, 87. 88, 293 Pathé News 133 "A Pátria", periódico 215 Pátria Filme 180 Patrocínio. José do 32 '·Paulistinha". avião 572. 573 Paulo VI 176 "Pax", aeróstato 249 Paxá, Enver 38 Pecanha. Nilo, ver Nilo Peçanha Pederneiras, Mj . 87 Pederneiras. Sergio Veloso 382 . 522 Pedrosa. José Oswaldo Machado 493 Pedroso, Renato 107, 515 Pedroza. Fernando Gomes 254 Peixoto, Floriano . Mal.. ver Floriano Peixoto, Mal. Peixoto, João 328 Pellegati 511 "Pelotas", avião 566. 567 Penteado. Caio de Barros 489 "Pequena Ilustração", periódico 502 Perdigão, Armando 320, 371 Pereira, Alvaro de Souza 371 Pereira, André de Faria 449 Pereira, Armando de Arruda. ver Morgan , Arthur, pseud o Pereira, José 490 Pereira, Lourenço Carlos de Abreu 171 Pereira, Olintho 496 Pereira, Oscar Máximo 548 Pereira, Paulo Dias 489 Pereira, Samuel R. G. 325 Pereira das Neves 594 "O Perfil da Mulher Brasileira", livro 471 Perli, Dario, Sgt. 93 "Péronne", navio 219 Perret. A. 224 "Peru". avião 161


Pessoa, Aristarco 310 Pessoa, Epitácio, ver Epitácio Pessoa Pessoa , João, ver João Pessoa Pessoa , José da Silva, cel. 279, 344 Pessoa, Pantaleão 355 Petit, Djalma Fontes Cordovil 57, 158, 254, 3\3, 360 , 442 , 542, 543 "Petróleo", avião 566, 569 Pfeiffer, Jorge M . 203 "Phocée" , navio 2\9, 222 Piacentini, Jorge M. \32 Pierson , Lewis 233 Pignatari (ver também Grupo Pignatari) 504, 556, 569 Piloto Automático 172 Pimentel, Jeanette Caillet \01 Pinillos, Carlos Martinez 16\ "Pintassilgo", avião 565 Pinto, Jooã Enemésio 588 Pinto, Jorge Ferreira 338 Pinto, Oscar de Souza 514 Pinto, Rafael de Souza 333 Pinto, Roquete, ver Roquete Pinto Pinto Fernandes 337 . Piper, avião 473 Piragibe, Vicente 252 "Pirajá", avião 210, 211 , 212 Pires do Rio 188, 283 Piza, Affonso P. de Toledo 482 Planador Clube do Brasil 482, 489, 490, 503 Planador Clube Santos-Dumont 503 Planadores 264 Planadores no Brasil 266 Planadores no Rio Grande do Sul 267 "Pllanalto", planador 505 Plano Geral de A viação Aérea 245 "Plus Ultra", avião 135, 156 Polícia Militar do Distrito Federal 77, 78 Política do Café com Leite (ver também Café com Leite 113, 300 Política das Salvações 38 "Pompersland", planador 486 Ponta do Boi, farol 43 Ponta do Calabouço 148 Ponta do Galeão 253 Ponti 486 Pontes de Miranda 171, 318 , 336, 337, 448 Pook Jr. , Gustavo 204 Poppenhauser 486 Porto Carrero 337 Porto Joaquim Távora 123 Portsmouth 44 Portugal, Durval 153 Portugal, Raul 199 Positivismo 30, 31, 32, 33 , 39 Potez, avião 84, 88, 89, 90, 221. 308, 320, 321 , 344, 347 , 348, 350, 351,352, 360 , 399 Potez, Henri 579 Potter, Henry 578 "Pou de Cie\", avião 569 Prado, Antonio Orlando de Almeida 482 Prado, NathanaeI. Capo 101, 105 Prado, Newton 114. 115 Pranville 221 . Prata, José de Souza 367 "Precursores Brasileiros", livro .471

"La Prensa", periódiCo 136 Presser, Guilherme Fischer 314 Prestes, Luiz Carlos (ver também Luiz Carlos Prestes) 125, 126 Prestes, Júlio, ver Júlio Prestes Prestes Maia 536 Primeira Esquadrilha de Adestramento Militar 315 Primeira Guerra Mundial 37, 38, 44, 57, 66, 81, 111, 171, 194, 202 , 213, 231 , 239, 240,242, 264, 280, 281 , 293, 307 , 538, 542 Primeiro Congresso Nacional de Aviação 246, 253 Primeiro Correio da Esquadra 543 Primeiro Grupo de Esclarecimento e Bombardeio 562 Primeiro Grupo de Vôo a Vela de Porto Alegre 496 Primeiro R. I. 354 , Primeiro Regimento de Aviação, 1.0 R. Av. 325, 367 , 368, 369, 370, 371 , 483 , 588 Primeiro Seminário de História da Aeronáutica Brasileira 252 Primeiro Vôo Noturno Rio-Buenos Aires 220 Primeiro Vôo sobre a Amazônia 173 Primeiros Selos Aéreos 258 "Problemas de Administração da Construção Aeronáutica no Brasil", livro 574 Proença, Jorge Araújo 546 Protógenes Guimarães 308 Pujol Jr., Hippolyto 532 Pupo , Silvio de Alencar 482

Q Quadrado, Evaldo Batista 572 Quaranta 321, 323 Quarto Regimento de Aviação 554 14-Bis, avião 167, 263 , 471 Queda da Bastilha 341 Questões Militares 30, 113, 114 Quinta Arma 82, 84 Quintelha, Capo 93 Quinto Regimento de Aviação 325 R RAB, ver Registro Aeronáutico Brasileiro Rabello, Fernando Pessoa 546 Rabello, Manuel de 340 Rada, Pablo 135 Radio Club do Senegal 159 Ragni, Giovani 98 Rainha Elisabeth da Bélgica 280 Ramos, Adalberto de Andrade 366 Ramos, Augusto 224,. 226 Ramos, João Severino 318 Rand, James 232 "Raposo", avião 103, 105 Ratos Verdes 327 Raulino, Plínio 294 Reação Republicana 113 Real Aero Club d'ltalia 157 Real, Antonio Ferreira 427

621


Rearwin, avião 473 Rebelo Júnior, Guilherme 318 Reed, William S. 588 Regimento Andrade Neves 371 Registro Aeronáutico Brasileiro 466, 513, 571, 576 Registro de Matrícula de Aeronaves 464 Rego, Gustavo A. Silva 338 Regua , Oscar 477 Reguera , Isauro, ver Isauro Reguera Regulamento de 1925 442, 456 Regulamento do Serviço Médico Naval 318 . Regulamento Médico da Aeronáutica Militar 171 Regulamento Médico do Pessoal da Aeronáutica 171 Regulamento para Execução dos Serviços Aeronáuticos Civis 442 Regulamento para os Aeroportos em Tráfego 460 Regulamento para os Exercícios e Combates da A viação 85 Regulamento para os Serviços Aeronáuticos Civis 407, 457 Regulamento para os Serviços Civis de Navegação Aérea 199, 404, 464, 466 Rei Alberto da Bélgica 280 , 543 Reichert, Alberto 485 Reichert, Hugo 484 Reichert, Ottmar 484, 485 Reid Control 105, 170 Reid G. 1'<.. 170 "Le .Reims", navio 219 ·· Reis , Dinarco 310, 368, 370 Reis, Eduardo Moutinho dos 338 Reis, Jair Américo dos 565 Reis, José Moutinho dos, ver Moutinho dos Reis, José Reis, Josino 366 Reis, Júlio Américo dos 520 , 545 , 588 Reis, Marques dos, ver Marques dos Reis Reis, Trajano Furtado 382 Reitsch, Hanna 486, 487 , 505 Rem-igton Rand Corporation 232 Reserva Naval Aérea 68 Ressacada 60 "Le Révigny", navio 219 "Revista Aeronáutica", periódico 225, 271. 527 "Revista da Aviação Naval", periódico 318 "Revista da Sociedade Filomárica", periódico 31 "Revista Marítima Brasileira" , periódico 64 " Revista Naval", periódico 562 Revolução Comunista de 1935 372 Revolução Constitucionalista, ver Revolução de 1932 Revolução de 1924 115, 125 Revolução de 1930 21, 210, 254, 291, 299, 302, 307, 309, 310, 339, 379, 449, 512, 514, 517, 541 , 547 Revolução de 1932 324, 332, 339, 342, 343, 348, 512, 515 , 517, 531, 532 , 534 , 571. 587 Revolução Farroupilha 550 Revolução Francesa 32

622

Revolu ção Industrial 28 Reynolds, J. E. 233 Reys , Netto dos , ver Netto dos Reys Rezende, Afro Marcondes de 585 Rhon, Rossiten 487 Rhonadler, planador 486 Von Ribeck, J. 548 Ribeiro, Bento , Ten. 79, 157 Ribeiro, Guilherme Aloysio Teles 545 , 546 , 588 Ribeiro, Ivan Ramos 370, 372 Ribeiro , João Gomes, Gen. 491, 522 Ribeiro , José Ãngelo Gomes 342, 350 , 362 Ribeiro, Mário de Azevedo 215 Ribeiro , Noé 49.3 Ribeiro, Samuel 488, 490, 492, 493 Ribeiro Jr., Sabino Lopes 318 Ricardo Jr., Gaspar 481. 489, 492, 504, 530 Rice, Alexander Hamilton 173, 174 Von Richtaffen 265 Riedel, Peter 486, 487 Riesengebinge 266 Rigoli , José 135 Rijeka 176 Rio , Pires do , ver Pires do Rio "Rio Branco", navio 362 "Rio Branco", navio, ver também " Ruth" . navio " Rio Branco", navio hidrográfico 565 Rio Branco, Visconde 32 "Rio de Janeiro", avião 281, 287, 288 , 574, 577 "Rio Grande do Norte", navio 125 Robba, Irmãos 118, 468, 514 Robba , Irmãos , ver também Irmãos ; Robba Rocha, Arthur, Capo de Corveta 59 Rocha , Carlos Santos 338 Rocha, Franklin Antonio 314 Rocha, Herculano 97 Rocha, Pedro Martins da 75 Rodrigues, Adelpha C. S. 476 Rodrigues, Leôncio Martins 365 Rodrigues ; Lysias , ver Lysias Rodrigues Rodrigues, Lysias A. , ver Lysias Rod rigues Rodrigues, Lysias Augusto, ver Lysias Augusto Rodrigues Rodrigues , Renato Augusto 546 Roesler, Fritz 107, 118, 424, 468, 479, 481 , 491, 512, 513, 514, 515, 571 Rohe - Rossiten - Geselschaft , RRG 265 Roig, Joseph 134, 163 Rogato , Ada 472 , 473, 474, 492 Roldão, Ten . 106, 108 Rondon , Cândido Mariano, Mal. , ver Marechal Rondon Ronza, Farnz 268, 269 , 475, 488 , 514 Roquete Pinto 32 " Rose Paraket", avião 569 Rosemiro Leal Menezes 333 Rossi , Antonio 194 Rossiten, 265 Roswag, Maj . 120 Rosychi , Paul 553 , 555 Rota do Oiapoque 335 "Roteiro do Tocantis' , livro 335 Rotermund , Bety 499


Rotermund . Ernesto 203 Royal Air Force 50, 170 Rozsanyi , Capo 93 RRG . ver Rohe - Rossiten - Geselschaft Ruben Berta 208, 209 "Rudimentos da Aeronáutica", livro 492 Ruhl, Carlos Henrique 495 , 497, 498, 499 "Ruth", navio 362 "Ruth", navio , ver também "Rio Branco", navio Ruy Barbosa 32, 279 S Sá. losé Harmito de 371 Sá, Manuel Joaquim Pereira de 32 Sá, Saddock de, ver Saddock de Sá Sá e Benevides, Salvador Corrêa de 72, 314, 318 Sacadura Cabral 61, 131, 137,249,253,288, . 586 Saddock de Sá 543 Saint-Exupéry, Antoine de 214 Saint Roman, Jacques Pierre de Serre de 158, 159, 160, 161 Salem. Waldemir 318, 319 Sales, Campos ver Campos Sales Salgado, José Antonio 481, 482, 493 Salgado Filho, Joaquim Pedro 398, 408 Salmon, avião 399 Salustiano, Ten. 75 Salvador, Uchoa Cavalcanti ver Uchoa Cavalcánti, Salvador Samotrácia 178 Sampaio, Carlos 226 Sampaio, Carlos Alberto Huet de Oliveira 361 Sampaio, Paulo 427, 576 . Sampaio, Ranulpho de Almeiaa 319 Sampaio, Ten. 565 "Sampaio Correia", avião 133, 136 " Sampaio Correia 11", avião 133 , 136 Sampaio Correia, José Matoso 133, 226, 253 "Sancnez Bessa", avião 55 Sanctos, Agemar da Rocha 546 "Sandows" 483 "Santa Cruz", aeróstato 249 "Santa Cruz", avião 61, 131, 132, 384 "Santa Maria", avião 147, 152, 156 Santa Rita Jr., Angelo 489 Santiago, Coriolano Ferreira 370, 371 Santo, Nicola 269 Santos, Angelo Godinho dos 336, 337 "Santos" . avião 106 Santos . Epaminondas Gomes dos ver Epaminondas Gomes dos Santos Santos . João Baptista dos 195 Santos . Martinho Cândido dos 325 Santos, Octávio 93 Santos . Octávio Francisco dos 3\0 Santos-Dumont. Alberto 61 , 67 , 72 , 130, 132, 167, 176, 191, 193, 194, 248, 251, 254 , 259, 263 , 280, 445, 470, 471 , 512, 571 "Santos-Dumont", avião 207, 208, 2\0

Santos-Dumont, Henrique Uchôa 424, 479, 512 , 514, 571 "São Manoel", avião 106 "São Paulo", avião \OI, 290, 291, 469, 511 "São Paulo", navio 125, 126 "Saracura", planador 505 Sardoni, Genaro 97 "Sargento", avião 96 Sauer, Max 150, 201, 204, 205, 206, 209 Schorcht, Capo Ten. 62 Savaget, Fernando Victor do Amaral 119, . 314 Savoia Marchetti, avião 136, 139, 140, 141, 152, 156, 157, 158, 312, 313, 314, 327, 344, 360, 361, 543 "SC-1 " , planador 484. 485 "SC-2", planador 485 S. C . A. D . T . A. ver Sociedad Colombo-Alemana de Transportes Aereos Scheider, Cônsul 323 Schleicher 486 Schlubach, Theimer 197 Scholkopf, Otto 205 Schorcht, Antonio Augusto, Contra-Alm. 313, 543, 558, 559 Schorcht, Ca. Ten. 62 Schreck, avião 84, 88, 89, 93 Schuetz, Harry 498 Schuring, Alfredo 488, 489, 490 Schuster, Günther 208 "Schwabenland", navio 387 Scott, F. P. 51, 55 Seabra, Antonio Lartigan 553 Seabra, Greogório Garcia 253 Seabrook, Arturo Ricardo 132 Secão Mackenzie de Planadores 476 Se~co, Vasco Alves 346 Secco, Vasco Alves ver também Alves Secco Seguin, Te\. Ce\. 81 Segunda Esquadrilha . de Adestramento Militar 315, 563 Segunda Guerra Mundial 364, 388, 400, 430, 471, 496, 503, 504, 526, 553, 555, 563, 564, 580 Segundo R. I. 366 ' Ségundo Regimento de Aviação 571 Seize, Wandick 337 Selos Particulares 261, 262, 422 Semana da Asa 445, 496 . Semana da Aviação 476 Semana de Arte Moderna 40, 178, 299 Sena Madureira, Antonio 30 "Sergipe", navio 125 Serviço de Aviação da Brigada Militar do Rio Grande do Sul 110, 111, 112 Serviço de Defesa das Costas e Fronteiras do Brasil por meio de Engenhos Aéreos 58 Serviço de Engenharia da Força Pública de São Paulo 531 Serviço de Inspeção Aeronáutica 449 Serviço de Intendência 172 Serviço de Saúde da Aviação Militar 337 Serviço de Saúde do Exército 337 Serviço de Saúde Naval 337 Serviço Geográfico do Exército 327

623


Serviço Geográfico Militar 79, 80 Serviço Médico da Aeronáutica Civil 448 Serviço Médico da Aviação Militar 336, 337 Serviço Médico de Aviação e Aviação Sanitária 337 Serviço Médico Naval 318 Serviço Meteorológico da Aviação Militar 545 Serviço Postal Aéreo 72 Servico Postal Aéreo Militar 330 Serviço Técnico de Aeronáutica 540, 546, 572 Serviço Técnico de Aviação 521, 546, 589 Serviços Civis de Navegação Aérea 244, 255 Sérvulo, Sargento 335 Serzedelo Corrêa 33 Setembrino, Gen_ 81,82,96, 109, 113, 117, 119, 123, 175 Sétimo Congresso da Terceira Internacional de Moscou 364 Severino, Capo 371 Severo, Augusto ver Augusto Severo S. I . A. ver Serviço de Inspeção Aeronáutica SI AI ver Socitá Idrovolante Alta ltalia Siciliano, Heribaldo 425 Si dar. Pablo L. 162 Sidou, Rafael Galene 338 Sikorsky, avião 103, 105, 232, 233, 236 , 413 , 414, 415, 416, . 417, 418 Silva, Antonio Melibeu da ver Melibeu da Silva, Antonio Silva, Aranha da, Gen. 548 Silva, Aranha da, Gen. ver também Aranha da Silva, Gen. Silva, Armando Carlos da 318 "Silva", avião 571 Silva, Fernando Mendes da 448 Silva, Hélio 366, 367 Silva, João Caetano da 338 Silva, Lauro Nina Sodré e ver Lauro Sodré Silva, Leopoldo Corrêa da 191, 192, 193 Silva, Lima e 175 Silva, Lucia da Rocha e 545 Silva, Luís Alves Lima e ver Caxias, Marquês de Silva, Luiz Be.ck da 485 Silva, Lysandro Pereira da 536 Silva, Octavio Joaquim Tosta da 319 Silva, Salustiano Franklin da 156 Silva, Sócrates Gonçalves da ver Sócrates Gonçalves da Silva Silva, Victor Carvalho da 281 Silva, Victor de Carvalho e 132, 156, 282, 553 Silva, Walter de Souza e 372 Silva, Walter José Benjamim da ver Walter José Benjamim da Silva Silva Filho, João Pires da 171 Silva Gomes, Antonio Joaquim da 314 Silva Jr. 43 Silveira. Átila 156 Sindicato Condor 107, 206, 208, 209, 2\0, 211, 231, 247, 259, 260, 261, 263, 272, 376, 384, 385, 386, 387, 388, 391. 392, 405 , 410, 422, 432, 434, 435 , 436, 438, 439, 482 , 559 Sindicato Condor-Luft Hansa 384

624

Siqueira, Deoclécio Lima de, Ten-Brg. do Ar ver Deoclécio Lima de Siqueira, Ten-Brg. do Ar . Siqueira Campos 114, 126, 301 Sircoufe 193 Sistema de Material de Aviação 88 Sistema de Registro Aeronáutico 463 Sistema Lippisch 513 S . M . A . C . ver Serviço Médico da Aeronáutica Civil Smith, Odalto de Barros 337 Soares, João Teixeira 194 Soares, José Carlos de Macedo ver Macedo Soares, José Carlos de Soares, Paulino de Azevedo 547 Soares, Vital 300 Soaring Society of America 478 Sociedad Colombo-Alemana de Transportes Aereos 197, 198, 201, 237 Sociedade Anônima Empresa de Viação Aérea Rio-G randense ver VARIG Sociedade das Nações 241, 280 Sociedade Particular de Navegação Aérea 191 , 192 Sociedade Positivista do Rio de Janeiro 32 Sociedade Rhon-Rossiten 486 Societá Idrovolante Alta Italia 139, 140, 145 Société Brésilienne de Transports et Comucations 193 Société Générale d'Aviation 394 Société Nationale d'Etudes et Construction de Moteurs d'Avions 579 Sócrates Gonçalves da Silva 368, 370, 372 Solano Lopes 29 "Soldado-Bacharel" 36 "Soldado-Cidadão" 35, 36, 38, 39, 114, 116 "Sopwith", avião 51, 54, 61, 63 So'riano Bastos de Oliveira 334 Soutelo, Manoel A. G. de 476 South African Airways 384 Souto, Carlos Alberto de Filgueiras 314 Souza, Altamiro O'Reilly 320 Souza, Antonio Francisco de Paula 530 Souza, Edgard de 532 Souza, Ismael de 449 Souza, João Barros de 338 Souza, José Garcia de ver Garcia de Souza, José Souza, Jussaro Fausto de 545 Souza, Rubens de Mello e ver Mello e Souza "Spad", avião 75 , 78, 85, 86, 117, 121, 281 " Spirit of Saint Louis", avião 237, 521 S. T. Aer. ver Serviço Técnico de Aeronáutica Stahl, Rudolf 484 Stahl, WiIly 484 Standard Oil Co. 230 Stearman, avião 327 Stevens , Albert W. 173 "Stieglitz FN-44", avião 559, 560, 561, 562, 563 "Stieglitz 44 J", avião 565 Stinson, avião 431, 473 "Stockles", granada 119 "Storch", planador 486


"Straus", planador 506 "SVA-IO", avião 6.1 "Switlik", pára-quedas 549

T Taça Brigadeiro Trompowski 473 Tardes. Aeronáuticas 473 Tavares, José Vieira 572 Távora, Joaquim 116 Távora, Juarez (ver também Juarez T,h 126 Taylor Club , avião 491, 573 Taylorcraft, avião 473 Teatro Politeama 511 Teegen 208 Teixeira, Anor 246 Teixeira, João Pires 338 Teixeira, Luthero de Carvalho 337 Telêmaco Gonçalves Maia 338 Telles, F. A. da Fonseca 532 Tempelhoff 486 Tenan, Coriolano Luiz, er Luiz Tenan . Coriolano Tenentismo 21 , 27 , 39 , 40 , 113, 299 , 300 , 301, 303. 310 , 340, 341 Terceiro R. I. 366, 369, 372 Terceiro Regi mento de Aviação 325, 32S Terrasson , Marc Benoit, Mj . 84 , 87, 93 Tersato 176 Theóphilo, Capo 371 Thomas Girdwood 33S Thyss, George 226 Tibiriçá, Antonio 180 Tiger Moth , avião . 562 " Tira-Teimas", embarcação 1'55 Toledo, Pedro de 340, 531 Tolomei , Natalino .33S Toomey , H . T . 415 Toques de Corneta para Aviação 106 "Torres 4", avião 569 "Torres 5" , avião 569 "Torres 6", avião 570 Torres, Ary F. 482, 530 Torres, Mario 569, 570 Tostes, E. Barroso 448 Touring Club do Brasil 445 Tourinho, Alvaro 337 Transporte Aéreo 432 Transporte Aéreo Brasileiro 42S, 429 Transporte Aéreo Comercial 191 -Traité de Droit Aérien", livro 404 Tratado de Havana 345 Tartado de Versalhes 19S, 265 Travassos, Clovis 309, 3.10, 325 "A Tribuna" , periódico 286 Trimotor Safety Airways 232 Trindade . Oswaldo 137 Tríplice Aliança 29 Tripp, luan 237 , 238, 412 . 413 Trompowsky . Armando 543, 558 Tuiu-Cuê 278 Turma de Aviadore~ Navais de 1927 70 Turma de Observador Aéreo de 1921 ( 1: ) 75

Aéreo de 1921 (2:) T T

T T T

T T

T

ri

de 192 1 43. 77. 110 i adores (3:) 77 de ri ~:\via res (1 922 ) 79 Pi os-A ,jadores (\ 923) 81 Pi I~ A vi adores (1 928) 86 , 87 PiIoIOS-Á viadores ( 1928-Praças) Pilot~ A

P ilOl~ A yiadores

( 1929) 88 Pilolos-Aviadores ( 1929-Cabos)

Turma de Pi lOlos-Aviadores (\930) 92 , 93 Turma de PilolOs-Aviadores da F. P. de São Paulo 100 Turma de PilOlOs-Aviadores da F. P. de São Paulo ( 1925) 103 U choa Cava lcanti Salv ador 337 Udet 265 Unidad es Aéreas 329, 346 Urrutigaray, Lucilo V. 338 Ursinus. F. 483 "Urubu" . planador 489 , 497 , 499 " Uruha". planador 486 V

Vacani, Rui 227, 228 . Vachet. Paul 134, 135, 163 , 214, 215, 221 V AE 485, 494, 495 , 496, 497, 498, 499 , 500, 501, 502, 503, 506, 526, 550 Valadão, Haroldo 449 Valadares, Benedito 517, 518 Valentine , Rodolpho 571 Valle, Arthur Villa r do 337 Valle, Ma noel Pinto da Silva 334 Vallo , Eduardo, Mj. 79 "Vampiro", planador 265 , 266, 270 Van Mine 365 Vand ac le . Arthur 579 Vandae le, loan florence 5S0 Vandaele. René Marie 516 , 575. 578, 579, 580, 58 I , 582 Varady, Heitor, Cap.-Te n. 45. 62. 68 Vargas, Darcy 293, 294 Vargas, G etúlio. ver Getúlio Vargas VARIG 110,201,202,203,204,205,206, 207 , 208 , 209, 210, 230, 231. 247. 259, 260, 266, 273, 376, 383, 384. 384, 405, 422 , 426. 432 , 458, 484 , 485. 490. 494, 495 , 496, 498, 501. 550, 559 Varig Aero Esporte, ver VAE Varzea do Gravataí 110, I I I Varzea do Piqucri 1 I I Varzea, João 195 Vasconcelos. Barros de . ver Barros de Vasconcelos Vasconcelos, Manoel Augusto Pereira de 2S2. 287 VASP 410, 425 . 426, 427. 436. 437. 438 . 439, 459 Vaux , Conde de La 163 "Vaux. Com te de I.a". avião 16>. 164. 222

625


Verba do Feijão 44 "A Verdade sobre a História da Aeronáutica" , livro 215, 230 Verdurand, Abel 396, 553, 555 Vergueiro, Cesar Lacerda de 23 Viação Aérea Rio Grandense, ver VARIG Viação Aérea São Paulo, ver V ASP Viana , Clovis Bu\cão 338, 449 Viana, Paulo da Rocha 553 Vicaux 514 Vickers , avião 281, 350 Vidal, Godofredo 323, 324 , 445 Vieira, Alfredo Issler 171 Vila Militar 78, 114 Vilares, Décio 35 Villalonga, Luiz 337 "Ville de Dakar", avião 399 ViI\ela Jr" Marcos Evangelista da Costa 44, 117, 271. 281, 544 Vinhaes, Capo 527 "21 de Abril", balão 191 , 192 Virmon , Nicanor Porto 342 Visconde de Maracaju 35 Visconde de Ouro Preto 35 Vitta, Miguel 489 Viveiros , Luciano Benjamin 337, 448 Voisin, avião 167, 281 Volovelismo 476 Von Bauer, Peter Paul 197 Von Buddenbrock, Freiher 198, 204 Von Clausbruch , Rudolf Crammer 199,201, 204, 205, 206, 211, 386 Von Studntz, Jobst 386 " Vou Ali" 141 Vought Corsair, avião 73, 74, 314, 326, 328, 344, 347, 350, 360, 361, 367, 368, 562 Vultee, avião 327

Wanderley, Nelson Freire Lavénere, ver também Lavénere-Wanderley, Nelson Freire . "Washington", avião 233, 236 VVashington Luiz 59, 60, 70, 72, 73, 82, 107, 116, 126, 146, 153, 154, 171, 204, 209; 223, 227, 236, 299, 302, 339, 340 VVasserKuppe 265 Weeden, E. H. 476 "Weihe", planador 496, 497 Weinbaun, Otto 537, 538, 583 Weisbauer, Rudi 495 Wenceslau Braz 39 Wendorf, Erwin 262, 266, 267, 499, 500, 501 "Westfalen", navio 385, 386, 387 "Who's Who in Latin American", livro 472 Wibault, avião 350, 399 Wieemann 502 Wilkens, Hans 209 Wilshusen, John Edward 133, 173 Wingen, José 499 VVinter, Guilherme E. 482, 493 Wirz 199 "Wolf", planador 495,497, 501 Wziedmann, Martin 482

X Ximenes, piloto

570

y Ying, Hérbert Carneiro 338 "Ypiranga", avião 205, 207, 571, 572 "Ypiranga EAY-201", avião 513

W

z

VVaco, avião 314, 316, 317, 327, 332, 333, 334, 335, 336, 344, 345, 347, 348, 350, 352, 361 , 362, 367, 370 , 473, 491, 562, 588 VValter José Benjamim da Silva 368, 370, 372 VVanderley , Cap o 371 VVanderley , Nelson Freire Lavénêre 277

Zachetti, Vitale 152 "Zeca", avião 496, 497 Zegarra, Carlos 161 Zell , Carlos 494 Zippin Grispun, José 369, 370 "Zoegling", planador 482, 489, 49Q, 49t, 501, 504 Zogling268

626


Este livro HISTÓRIA GERAL DA AERONÁUTICA BRASILEIRA volume número 1 da Série Hist6ria Geral da Aeronáutica Brasileira da Coleção Aeronáutica. Redigido por técnicos do INCAER - Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica. Foi composto com tipos da Família Times Roman corpo 12112 e notas em corpo 8/8 da mesma família. A mancha tipográfica é de 24 x 40 cíceros, em máquina Linotipo. O papel, é de fabricação nacional no formato 76 x 112 - 90 gtm 2 fornecido por Companhia Industrial de Papel Pirahy, à Rua São Salvador, 49 - CEP 22.231 - Rio de Janeiro. Capa de Cláudio Martins. Os fotolitos da capa foram executados por Multicor, à Rua Carijós, 840 - Belo Horizonte. Composição e fotolitos do texto feitos por Linolivro S/C Composições Gráficas Ltda., à Rua Dr. Odilon Benévolo, 189 - Benfica - Rio de Janeiro. Planejamento gráfico e diagramação de Alceu Letal. Impressa na Gráfica Bisordi Ltda., à Rua Santa Clara, 54 - Brás - São Paulo, para a Editora Itatiaia Limitada, à Rua São Geraldo, 67 - Belo Horizonte, em regime de co-edição com o INCAER - Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica. No Catálogo Geral leva o número 1052,.** *********** ********************


EDITORA ITATIAIA LIMITADA INSTITUTO HISTORICO-CULTURAL DA AERONÁUTICA


Articles inside

3 - Aeroc1ubes Criados na Década

1min
page 455

10 - O Código Brasileiro do Ar

4min
pages 449-451

2 - Aeroclubes, Escolas Civis e Clubes de Planadores

2min
page 454

7 - Lei n<? 218/36

1min
page 445

4 - A Convenção de Roma, em 1933

2min
page 443

5 - O Avanço da Infra-estrutura para o Norte

3min
pages 439-440

4 - Outras Linhas Aéreas de Penetração Subvencionadas

1min
page 438

3 - Uma Lei Inusitada

1min
page 437

2 - A Política de Subvenções

7min
pages 433-436

3 - A Viação Aérea São Paulo (V ASP

3min
pages 425-426

7 - A Ala Littoria

2min
page 429

Capítulo 10 - A INFRA-ESTRUTURA AEROPORTUÁRIA '

5min
pages 255-258

3 - O Aero Club do Rio Grande do Norte'

1min
page 254

1 - O Aero Club de São ' Paulo

5min
pages 251-253

2 - O Serviço de Aviação Desenvolve-se

2min
page 110

7 - O Fim da Esquadrilha

2min
pages 107-108

6 - A Esquadrilha Busca o Domínio Aéreo Paulista

3min
pages 105-106

5 - A Esquadrilha Desenvolve-se

3min
pages 102-104

4 - Um Memorável Salto de Pára-quedas

1min
page 101

15 - A Turma de 1930

1min
pages 93-94

14 - A Volta dos Reides Militares

1min
page 92

2 - A Esquadrilha

1min
page 99

3 - A 1 Turma da Esquadrilha

2min
page 100

13 - Novas Inclusões de Pessoal na Arma de Aviação

1min
page 91

15 - A Escola de Aviação Naval no Galeão - Outras Dificuldades

1min
page 66

11 - As Primeiras Turmas da Arma de Aviação

1min
pages 86-87

7 - A Criação da Quinta. Arma

2min
pages 82-83

19 - Situação no Final da Década

3min
pages 71-74

16 - Mais um Reide

1min
page 67

10 - 1927: Ano de Novidades

1min
page 85

3 - A Expansão da A viação do Exército

2min
pages 77-78

6 - A Turma de 1923

1min
page 81
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.