Revista ARC DESIGN Edição 75

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design | arquitetura | inovação | comportamento

| Nº 75 |2011 | R$ 19,70 |

KAJ FRANK mestre do vidro CASA BRASIL

DÁ ESPAÇO AO FUTURO

Arquitetura Brasil: OS NOVOS MEGAPROJETOS

A nova Firma Casa: galeria design

ITÁLIA SUSTENTÁVEL FRED GELLI:

Divulgação

diário de bordo Sacarrolhas Papai Noel. Design Alessandro Mendini para a Alessi, Itália.



ArcDesigN

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primeira loja/galeria de São Paulo, a nova Firma Casa, está retratada em toda sua modernidade. O retrato completo da CASA BRASIL 2011 é também um dos temas que oferecemos nesta edição. Você quer saber quais os designers que já se destacam no mercado brasileiro? Quais as empresas que produzem mobiliário contemporâneo e seus lançamentos? Os destaques premiados do Salão Design? Como foi o Seminário Internacional “Linguagens Contemporâneas” e o que é a Material ConneXion? Basta seguir as páginas desta edição e se admirar com a qualidade do que já temos no Brasil. Uma edição quase inteiramente dedicada ao design de produtos, incluindo a enorme diversidade do artesanato brasileiro. E nesta resenha de produtos incluímos a premiação do XXII Compasso d’Oro, seleção realizada pela Associazione per il Disegno Industriale (ADI), que aponta a inovação e os caminhos do design. Viver com Design, de todas as formas imagináveis, é uma nova proposta que traz à tona os diversos significados que esta palavrinha pode conter. Hoje temos Renata Mellão e as escolhas de seu “entorno design”. Design e tecnologia. Vejam os fantásticos equipamentos da Escola Senac para o ensino e a geração de produtos. Também os museus e a revitalização das cidades ganham prioridade no Brasil. Arquitetura realmente contemporânea, arquitetos brasileiros e internacionais, destacando Paulo Mendes da Rocha com a Metro Associados, Jaime Lerner, Diller & Sconfideo, Calatrava... Serão quatro novos museus, o novo terminal de Guarulhos e o Porto do Cais em Porto Alegre. Em linguagem de crônica, Fred Gelli relata sua viagem ao Japão e deixa entrever as mudanças radicais que se anunciam com o design mimético. Atualizem-se sem demora! O Brasil entrou no ritmo. Maria Helena Estrada Editora

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Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1.487, Jardim Paulistano www.firmacasa.com.br


Maíra Acayaba

DESIGN • ARTE • DESIGN/ARTE • É A NOVA FIRMACASA


ÍNDice

nov | dez | 2011 | Nº 75

18. Seis Mil Mudas de Sansevieria Trifasciata

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Waldick Jatobá A nova loja Firma Casa ganha uma impactante fachada exterior, com a concepção paisagística de Fernando e Humberto Campana, criada a partir de 6 mil mudas da popular “Espada de São Jorge”. No interior, as já conhecidas marcas internacionais e uma galeria de design/arte dividem espaço no projeto arquitetônico desenvolvido pelo estúdio SuperLimão

23. Design: Presente e Futuro

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Maria Helena Estrada e Camila Marques Nesta seção especial dedicada à Feira Casa Brasil 2011, em Bento Gonçalves, ARC DESIGN traz os principais lançamentos das indústrias, dos designers e das lojas. Um dos objetivos – concretizado pelos organizadores – foi reunir grandes profissionais do setor e uma diversidade de produtos originais, fabricados com inovação tecnológica

36. Oportunidade para Todos

Maria Helena Estrada A exposição dos produtos finalistas do Salão Design – realizada durante a CASA BRASIL, em Bento Gonçalves – mostrou, no geral, a qualidade das novas criações, lançadas por profissionais e estudantes de toda a América Latina, e um interessante grau de inovação apontado pelo mercado brasileiro. Confira alguns selecionados – também por nossa equipe – na matéria sobre a 15ª edição do concurso anual promovido pelo Sindmóveis

40. Belos e Benditos

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Espaços de Renata Mellão Para Renata Mellão, criadora do museu A Casa, a expressão “Viver com Design” tem um significado mais amplo e complexo, está ligado a uma relação íntima, poética e emocional. Ela não esconde o apreço pelo que é simples, desde que seja subjetivamente especial

50. Design Italiano para a Sustentabilidade Nádia Fischer Cerca de 40 peças, entre objetos e materiais produzidos na Itália, foram exibidas no Museu da eira, nos meses de outubro e novembro, com o propósito de mostrar que é possível integrar responsabilidade ambiental com inovação e design

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Um Compasso de Ouro Camila Marques Conhecido como o mais antigo e prestigiado concurso de design da Europa, o prêmio Compasso d’Oro combina a produção industrial com a singularidade de uma ideia criativa e a elevada qualidade de produção. A seleção reflete a pesquisa complexa e o processo de desenvolvimento de um produto de design Centenário de Kaj Franck Maria Helena Estrada O Design Museum, em Helsinque, Finlândia, traz a mostra “Formas Universais”, uma homenagem ao centenário do mestre na arte do vidro Kaj Frank. A exposição exibe vasos e pratos produzidos em vidro, policarbonato e porcelana nas décadas de 1940 e 1950, mas que permanecem tão atuais que até hoje se repetem, afinal, “se é perfeito, para que mudar?”

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Nada Mais Entre Quatro Paredes Camila Marques O mais recente trabalho do Estúdio Guto Requena em parceria com IO Design, o Ambiente Interativo D3 contou com a colaboração de profissionais de diversas áreas para promover a interação por meio do espaço físico e também do universo digital. Altamente tecnológico, o projeto tem sistema de captação e reprodução de movimentos, reprogramável e conectado à internet

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Projeções para um País do Futuro Nádia Fischer O Brasil se prepara para receber grandes obras até 2016, não só relacionadas aos megaeventos esportivos, como também de infraestrutura, transporte e cultura Para Falar de Berlim Nádia Fischer A história da cidade alemã, contada pelo olhar de um fotógrafo paulistano. Depois de três meses em Berlim, Tuca Vieira revelou, por meio das lentes de sua câmera, a trajetória pelas ruas de uma antiga capital europeia. Cenas da arquitetura e de diferentes espaços urbanos deram origem à exposição “Berlinscapes”

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86. Ásia: Diário de Bordo

Fred Gelli Com sua já conhecida sensibilidade apurada, Fred Gelli nos convida a acompanhá-lo em um tour pela Ásia. Por meio de uma perspectiva detalhada, o designer relata as experiências, percepções e constatações mais importantes – dentro do universo do design – obtidas na visita à Taiwan, Tóquio e Kyoto

08. News

44. Lojas-conceito

62. Eventos

66. Escolas

92. Biblioteca 7


news

Viagem pelas galáxias Conciliando design, arte e tecnologia LED de alta potência, o lustre Galax, criação da designer Vera Riemer, é projetado segundo os princípios de eficiência energética e sustentabilidade. Seu design é inspirado no movimento estelar das galáxias e os LEDs são revestidos com uma pequena capa de cristal. Esta combinação entre os dois materiais gera um contraste entre sombra e luz, proporcionando um efeito agradável ao ambiente. A luminária Galax é produzida em acrílico e policarbonato com base em alumínio. Para mais informações, entre em contato com a designer pelo e-mail nomad2design@gmail.com

Cases de sucesso A agência gaúcha de design e branding Bendito Design desenvolveu novos projetos de identidade visual para a grife masculina Hemb e a Olympikus, como as sinalizações e a ambientação nas lojas das duas marcas. Mas o mais interessante ficou por conta de alguns materiais de apoio, como as sacolas de compras da grife gaúcha, com desenhos de traços minimalistas, e o display eletromagnético para tênis Olympikus – inspirado no logotipo da marca –, que faz o objeto flutuar. Este último aumentou as vendas de pares do modelo Magnific e ganhou diversos prêmios de design. Mais trabalhos da Bendito no site www.benditodesign.com.br 8


Conto de fadas O lustre Niagara Chandelier, da marca espanhola Lladró faz referência aos contos de fadas. A peça é ornamentada com 300 fadas produzidas em porcelana, que “cintilam” luz no ambiente. A Niagara Chandelier tem 50 kg. O lustre está à venda na Began Antiguidades. www.began.com.br

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news Artigos produzidos por artesãos da Amazônia interessam a empresários espanhóis que viajam até Manaus para adquiri-los e revendê-los em 80 países. Assim se desenvolve o projeto Artesanato Sustentável do Amazonas, que expôs na Feira Internacional de Artesanato (FIA), realizada em Lisboa em julho deste ano, o artesanato com a identidade cultural brasileira. Madeiras, sementes e fibras vegetais são as matérias-primas, que agregam valor aos produtos confeccionados e servem de base à profissionalização de sete comunidades amazonenses. Os grupos de artesãos participam de oficinas e cursos de aprimoramento; do planejamento estratégico de comunicação do projeto; e da etapa de comercialização dos produtos, que inclui os eventos do setor. O Artesanato Sustentável no Amazonas é uma iniciativa do Governo do Estado, em parceria com o Ministério do Turismo/AMAZONASTUR.

Fotos Fábio Scrugli

Bonito por natureza

Para saber mais, acesse www.visitamazonas.am.gov.br

Democracia do design A nova coleção da Coza se apresenta ainda mais diversificada. Seu novo portfólio traz uma série de cores, formas e estilos, que vai do objeto mais sofisticado ao mais descontraído. Exemplo dessa democracia é o Organizador Multi, boa opção para otimizar espaços na pia da cozinha: a peça possui capacidade de armazenar esponja, detergente e pano de limpeza. Outra novidade da Coza é a belíssima (e gigante) jarra com capacidade para 3 litros que também pode ser usada como champanheira. www.coza.com.br

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news

interiores

Ao pé do ouvido

Por uma boa causa Bordando Design é um projeto beneficente em prol da ACTC - Casa do Coração (Associação de Assistência à Criança e ao Adolescente Cardíacos e aos Transplantados do Coração). Pensando na extensão de uma atividade já existente na ACTC, que tem o objetivo de desenvolver habilidades artesanais das mães acompanhantes, Baba Vacaro e Cláudia Moreira Sales convidaram 15 designers brasileiros para criarem um produto inédito ou adaptado para a inserção do bordado. O resultado foi uma produção com objetos originais e exclusivos, apresentados e leiloados em outubro na Galeria Vermelho, em São Paulo. A renda obtida será totalmente revertida em benefício da associação. Para conhecer melhor o projeto, acesse www.actc.org.br/leilao2011.php 12

Chega ao Brasil o Clari Plus, um microaparelho auditivo com design moderno e discreto. O aparelho fica praticamente invisível atrás da orelha e é indicado para homens e mulheres. Além disso, pode ser customizado com cores que combinem com o tom de pele ou com o cabelo do usuário. Outro diferencial é que enquanto os aparelhos convencionais trabalham cada ouvido individualmente, o Clari Plus possui a capacidade de trabalhar simultaneamente nos dois ouvidos, promovendo sons de forma natural e balanceada. O usuário pode, ainda, adquirir o recurso ConnectLine, que possibilita a conexão, sem fio, do aparelho com televisores, computadores, telefones fixos, celulares e rádios. O produto está à venda na Telex Soluções Auditivas. www.telex.com.br



news Bolhas - por Rodrigo Almeida e Guto Requena

Marcos Cimardi

Um projeto intuitivo e não linear, sem cálculos ou desenhos preestabelecidos, guiado apenas por fantasias, pensamentos e – por que não – pela lembrança do prazer infantil de estourar as bolinhas transparentes com as mãos. Assim foi concebida a Bubble Chair, uma parceria entre Rodrigo Almeida e Guto Requena, que tem como ponto de partida a experimentação com o plástico bolha. O resultado do trabalho é um objeto resistente e volumoso, uma espécie de escultura design – “(...) e estas bolhas certamente parecem querer flutuar...”.

Quatro anos depois... “Nas cerâmicas de Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca percebemos o gesto certeiro, o controle da mão, a segurança da forma, dificilmente encontradas por aqueles que se iniciam no ofício.” É assim que a jornalista Ethel Leon começa uma matéria sobre o trabalho do casal de ceramistas, publicada em 2007 na ARC DESIGN. Quatro anos depois, o trabalho de Gilberto e Elizabete, que já era sólido na época, se fortaleceu ainda mais e esteve presente este ano na Galeria Marianne Heller, em uma exposição realizada na cidade de Heidelberg, Alemanha. No Brasil, as peças podem ser encontradas na Interni, www.interni.com.br

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news Arquitetura Conversável por Marcelo Ferraz O arquiteto Marcelo Carvalho Ferraz, sócio da Brasil Arquitetura, lançou em outubro o livro “Arquitetura Conversável”, que reúne uma compilação de artigos e entrevistas que foram publicados nos últimos dez anos em diversos meios de comunicação. O enfoque principal da obra está no impacto que a arquitetura exerce sobre pessoas e comunidades. “Uma arquitetura conversável é tudo o que almejamos para nossas cidades. Hoje, é fácil constatar que o fantástico prazer de viver em cidades se choca – salvo algumas boas exceções – com um abominável desconforto urbano. E nós humanos, gregários que somos, insistimos na crença de que a vida em convívio ainda é a melhor vida.” Um livro direcionado aos profissionais que acreditam em projetos e novas soluções para a construção de cidades mais gentis. A obra é uma publicação da Azougue Editorial. www.azougue.com.br

A natureza agradece Buscando alternativas inovadoras para contribuir com o desenvolvimento de um planeta sustentável, a loja virtual Coisas Geniais traz para o Brasil os produtos da linha EcoFriendly. Destaque para o relógio de mesa digital movido a água, que descarta o uso de pilhas e baterias, consideradas um problema ambiental. Outro produto interessante é o temporizador de banho, uma ampulheta que pode ser grudada, por meio de uma ventosa, na parede ou no box do banheiro – o acessório começa a contar a cada cinco minutos, monitorando o tempo de uso do chuveiro, um recurso que ajuda a criar uma cultura familiar de economia de água. Ambos estão à venda no site www.coisasgeniais.com.br

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galeria/design

Seis mil mudas de Sausevieria trifasciata! Detalhe da fachada da nova FirmaCasa, criada utilizando seis mil mudas de espadas de S達o Jorge dispostas em vasos de metal, numa concep巽達o inusitada dos irm達os Fernando e Humberto Campana

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fotos Maíra Acayaba

O nome científico e a quantidade por si só já causam grande impacto; ao traduzir para o nome popular, descobrimos que são as famosas espadas de São Jorge, planta muito conhecida nos quintais brasileiros e que, de acordo com a cultura popular, traz boa sorte e proteção! Esta foi a planta eleita pela dupla de designers Fernando e Humberto Campana para cobrir toda a fachada exterior da nova FirmaCasa.

Acima, espaço da galeria de design/arte, com a primeira exposição, “Entre Arte e Design”, apresentando trabalhos de designers brasileiros e internacionais. Em destaque, cadeiras, vasos, biombo da coleção Antibodies e mesa da coleção Municipal (ao centro), design Campana; mesa Beba com Moderação, do arquiteto Aurélio Flores (foto frontal) Abaixo, outro ângulo da loja, com o Sofá Cactus, design Maurizio Galante e Tal Lancman para Baleri (à direita da foto), poltrona Alice, design Jacopo Foggini para Edra (à esquerda) e sofá Parco, design Emaf Progetti para Zanotta (ao fundo)

Waldick Jatobá

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fotos Maíra Acayaba

inusitada e impactante concepção do paisagismo criado pelos irmãos Campana cria um volume vivo e instigante para o projeto de arquitetura do novo espaço, que foi especialmente desenvolvido pelos jovens arquitetos que formam o coletivo SuperLimão. São mais de 500 m² de área divididos entre uma galeria de design/arte e um showroom de marcas internacionais, como Edra, Zanotta, Cerruti Baleri, Corsi e Bernardaud, entre outros. A galeria de design/arte, a primeira deste tipo em São Paulo e no Brasil, segue a tendência mundial deste segmento, que é a de mostrar móveis e objetos de design high-end elaborados a partir de um conceito de arte, em perfeita sintonia entre a forma e função. São assinadas, produzidas em quantidades limitadas ou exclusivamente peças únicas. Com o status de obra de arte, as peças vêm acompanhadas de certificado de autenticidade e formam itens de coleção. A primeira mostra da galeria, “Entre Arte e Design” é uma exposição coletiva apresentando trabalhos dos designers Irmãos Campana, Jacqueline Terpins, Aurelio Flores, Maurizio Galante e os estúdios Nada se Leva e SuperLimão. A ideia é ter a cada 40 dias uma nova exposição, mostrando móveis e objetos de designers nacionais e internacionais, criando, assim, um novo e dinâmico endereço na cidade, onde o design/arte terá um espaço para mostrar vanguarda e ineditismo.

Na página ao lado, acima, flagrante do showroom, destacando a mesa Blanco, design Jacopo Zibardi, e as Poltronas Calla, de Noé Duchaufour Lawrance (em primeiro plano); a poltrona Ardea, design Carlo Molino, e o pufe Tatino, design Maurizio Galante e Tal Lancman (à esquerda); e a cadeira Kaya, design Jean Pierre Tortil (à direita). Embaixo, no mesmo ambiente, mais peças famosas de design assinado, como a cadeira Vermelha, dos irmãos Campana para Edra, e a mesa Reale, criada por Carlo Molino para a Zanotta À direita, detalhe da exposição “Entre Arte e Design”, na galeria design/arte, mostra a poltrona Banquete Golfinhos, produzido em couro, design Fernando e Humberto Campana 21



feiras

DESIGN: PRESENTE E FUTURO Mais do que uma simples feira. A CASA BRASIL nos coloca no momento atual do melhor design brasileiro – e aponta para o futuro. Em um espaço de 1.500 m², foram realizadas seis mostras focadas no design. E todas ótimas

No rodapé da página, bancos customizados por visitantes da CASA BRASIL 2011 no criativo espaço de descanso criado em meio às mostras no Pavilhão F

Maria Helena Estrada

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tecnologia, diversificação de materiais e rigor construtivo. Falamos dos estandes e dos produtos expostos, como os da Schuster, Cinex, Allê Design, Prima Design, Faro Design, da gaúcha Ilse Lang, Marton, com a nova empresa M2, ou a M ao Quadrado (o designer e seu irmão empresário) e da italiana Magis; entre os designers, a bela poltrona Exo da Fetiche Design para a Schuster; o ótimo projeto e superior acabamento da Cinex, que lança o vidro curvado; a excelência da Allê Design com suas inovações

tecnológicas e os produtos de Baba Vacaro e Marton; a sempre inovadora Eulália Anselmo em parceria com a Prima Design. Além da feira, os eventos “fora Salão” também se multiplicaram nas lojas e fábricas. Dentre todos, destacamos a aproximação do design de produto com a moda, e a colaboração entre Reinaldo Lourenço e a Dell’Anno. E para completar o quadro do que foi a CASA BRASIL 2011, que já está sendo apelidada de “Milãozinha”, solicitem ao Sindmóveis a 4ª edição da revista CASA BRASIL.

Lucas Moura

experiência de focar a vertente cultural apenas – mas com força total – no design deu um resultado ainda melhor do que o esperado. De expositores a visitantes, todos ficaram surpresos e felizes com esta explosão do talento brasileiro. No que diz respeito aos estandes, a feira, em seu conjunto, também causou agradável surpresa pelo cuidado e acerto dos projetos e pela elevada qualidade dos produtos expostos. ARC DESIGN sinaliza algumas empresas e designers que se destacaram na inovação,

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feiras

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UM REFLEXO DE BONS TRABALHOS A edição 2011 se superou na qualidade dos serviços oferecidos e no rigor da seleção de expositores. Utilizando novos conceitos, empresas e profissionais não pouparam materiais – muitos recicláveis – para criar seus espaços na feira e exibir novas coleções Camila Marques 24

Ricardo Jaeger

CASA BRASIL


Ricardo Jaeger

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ois fatores que se destacaram na terceira edição da CASA BRASIL: a qualidade dos projetos de estandes e alguns lançamentos de marcas novas e já consagradas. Por todos os lados, era possível observar espaços produzidos com materiais nobres e desenhos criativos, servindo de área expositiva para novas tipologias e referências na produção de mobiliário contemporâneo. Parte deste resultado deve-se à qualidade do trabalho das empresas, dos designers expositores e daqueles convidados para a criação dos ambientes de cada marca, a maioria da região Sul do Brasil. São exemplos a Prima Design, a Cinex e a Faro Design, que apresentaram estandes igualmente relacionados ao conceito de sua produção. Também destacaram-se, por suas novas coleções, a Móveis Schuster, a Allê Design, o estúdio de Domingos Tótora e a marca M ao Quadrado, lançada pelo designer José Marton na CASA BRASIL. Uma amostra da participação internacional na feira foi a empresa italiana Magis, que em seu estande multicolorido apresentou criações assinadas por designers consagrados, como a cadeira Raviolo, design Ron Arad. A seguir, a nossa seleção dos principais lançamentos da Casa Brasil 2011. Na página anterior, fachada do estande da empresa Duo Casa. No alto desta página, à direita, o Banco Vereda, em papelão reciclado, lançado por Domingos Tótora na mostra “Estúdios em Desfile”; acima, à esquerda, detalhe do estande da Prima Design, com imagem do sofá Vimeiro, design Eulália Anselmo, e a poltrona Balacobaco, em tecido ReUso, 100% reutilizado, da Oferenda Objetos; à esquerda, cadeira de balanço infantil Bê-a-bá, com braços em EVA da linha Anelídeos, design Eulália Anselmo. Abaixo, sofá elaborado pelas arquitetas Tina e Lui para ambientar o Pavilhão F, com estrutura de flocos de espuma resultantes da indústria de colchões

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Ricardo Jaeger

Evandro Soares

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No alto da página, o estande da Cinex, produzido a partir de retalhos e sobras de madeira. Acima, o Sofá Deck, design Bernardo Figueiredo para Schuster; à direita, a cadeira Sexta, design Bernardo Senna, e a fachada do estande da empresa, produzida com uma “cortina” de quadradinhos de papelão unidos por fio de nylon, design Rejane Carvalho

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Ricardo Jaeger

Ricardo Jaeger

Abaixo, detalhe do estande da Allê Design, com as luminárias Disco, produzidas com discos de metacrilato em cores diferentes, design Viable London, e as luminárias assinadas pelo estúdio italiano Adriano Design – em destaque – em novas cores de tons pastéis; à direita, flagrante do estande da M ao Quadrado, nova marca da Marton + Marton, destacando a luminária Desdobramentos, em MDF revestido com laminado PET ecológico

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feiras

Espaço de Realidades e Inspirações Seguindo o propósito da CASA BRASIL – mostrar a importância e o valor do design perante industriais, lojistas e público, o espaço reservado às mostras culturais na feira deste ano impactou nos visitantes

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oram muitos os destaques das diversas exposições que ocuparam o Pavilhão F do Parque de Eventos de Bento Gonçalves. E também do “Seminário Linguagens Contemporâneas“, que contou com a participação de grandes ícones do design internacional e brasileiro. Aliando tecnologia e sustentabilidade nos materiais apresentados, a Material ConneXion abriu seu acervo aos visitantes da feira, com 160 amostras de materiais arquivados em sua materioteca. Em outro espaço, 17 dos principais estúdios de design do país mostraram 28

a essência da produção brasileira na exposição “Estúdios em Desfile”. Um misto de influências e inspirações baseadas na cultura local e também na possível relação com o mercado internacional. Os designers expositores também tiveram a oportunidade de provar o “valor” de seus produtos e fazer negócios com os empresários e industriais presentes. Os participantes do projeto Design Concreto se reuniram para um painel de discussão sobre o “casamento” entre o design e a cadeia produtiva, mediado pela curadora da CASA BRASIL, Maria Helena Estrada. Além

Estúdio Majola

Sidney Bloch

Camila Marques


Lucas Moura

Evandro Soares

Na página anterior, ao centro, Balancinhos Bicho, em madeira pintada, da Consumann Design, e abaixo, à esquerda, mesinhas laterais Satélite, em metal laqueado e com tampo de espelho, design Carlos Alcantarino, ambos exibidos na mostra “Estúdios em Desfile.” Nesta página, acima, detalhe da exposição “Desenho de Fibra”, sobre a carreira do tecelão Renato Imbroisi, e, à direita, Organizador Casa Mole, em nylon Oxford de diversas cores, design André Poppovic e Absolutamente Nécessaire, apresentado pelo estúdio OZ Design


Lucas Moura

feiras

Fotos Evandro Soares

Acima, estande da Punch, nova marca do estúdio de Zanini de Zanine, que lançou móveis desenvolvidos em polietileno reciclado, e, abaixo, da esquerda para a direita, flagrante dos quatro conferencistas do Seminário Internacional Linguagens Contemporâneas: Riccardo Blumer, Renato Imbroisi, Konstantin Grcic e Fred Gelli

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Lucas Moura Lucas Moura Flávia Pagotti Silva

do bate-papo, os produtos resultantes da união entre os cinco designers/estúdios e as cinco empresas puderam ser conferidos em mostra homônima no Pavilhão F. “Desenho de Fibra”, livro com os trabalhos de Renato Imbroisi, e texto de Maria Emília Kubrusly, reuniu mais de 20 anos de atividade do designer junto às comunidades de artesãs brasileiras. Uma exposição de suas tecelagens ocupava a área central do Pavilhão F. O tradicional concurso do Sindmóveis, Salão Design, revelou uma evolução nas categorias “Indústria” e “Profissional”. Outra boa novidade: os vencedores e classificados no concurso poderão usar o Selo Oficial Salão Design, que atesta a adequação a quesitos como conceito, função, inovação formal e tecnológica, qualidade de produção, segurança e sustentabilidade. As perspectivas atuais e futuras do design foram tema do Seminário Linguagens Contemporâneas, que teve como palestrantes Konstantin Grcic, com sua profissão de fé no desenho industrial; Riccardo Blumer, que levou o público a refletir sobre as relações entre design, corpo humano e natureza; o carioca Fred Gelli, já conhecido por suas ideias inovadoras em relação à biomimética; Renato Imbroisi, que levou, no final de sua apresentação, cinco artesãs de diferentes estados brasileiros que, por sugestão da plateia, desfilaram mostrando peças das diversas coleções. Criados para decorar Bento Gonçalves no período da CASA BRASIL, os bancos customizados do projeto Banco de Ideias se espalharam por diversos espaços públicos da cidade. O Pavilhão F, palco de todas essas atrações, teve elementos arquiteturais projetados por Jum Nakao e a cenografia do espaço realizada pelas arquitetas Tina & Lui. De acordo com Jum Nakao, sua “arquitetura” partiu do conceito oriental do “Mottainai”, que tem como lema o 3R+R, ou seja, Redução, Reutilização e Reciclagem + Respeito.

Acima, de cima para baixo: mesa lateral “Cidades Imaginárias”, com tampo de vidro em formato de caixa, composto por placas-mãe de computador no interior, lançamento do designer Luiz Pedrazzi; detalhe do painel da Material ConneXion na exposição com 160 amostras de materiais arquivados; e, à esquerda, Banquinho Catavento, com estrutura formada por quatro partes distintas entrelaçadas entre si, design Flávia Pagotti, na mostra Estúdios em Desfile

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jovens designers

DESIGN CONCRETO A exposição de produtos criados para o projeto Design Concreto na CASA BRASIL 2011 apresentou cinco parcerias promissoras para o desenho industrial. Todas revelaram a adequação dos designers às necessidades do processo fabril, que, por sua vez, deu espaço às inovações formais. Designer e indústria, uma experiência, ou um “casamento”, que deu certo Camila Marques

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Ricardo Jaeger

foi ótimo”, afirma Ricardo Saad, um dos diretores da Saint James. Um dos resultados do projeto, que merece destaque, é o trabalho realizado pela dupla Fetiche Design + Schuster, com a cadeira e a poltrona EXO, já incorporadas à coleção da empresa. Seguindo o conceito do estúdio paranaense de buscar referências além do formal e do funcional nas criações, a peça tem como inspiração o exoesqueleto dos artrópodes, ou seja, a cutícula protetora que cobre o corpo da maioria dos insetos. Pode parecer estranho, mas o resultado é fascinante. O assento e o encosto são formados por uma peça única em formato de concha, obtido a partir de triângulos planificados, unidos por uma fina camada de couro. Esta estrutura se encaixa ao longo pés torneados por meio de conexões em madeira maciça. “A Schuster teve um respeito enorme pelo nosso desenho, pela nossa proposta, e o desenvolvimento do projeto fluiu muito bem, afirma Carolina Armelinie”, sócia À esquerda, nas duas páginas, o espaço destinado à exposição do projeto Design Concreto, com os produtos obtidos da parceria designers+indústrias, acompanhados de seus memoriais de execução. Abaixo, série da banqueta Tarjada, fruto da união entre Luiz Pedrazzi e a empresa Allê Design

Luiz PedrazzI

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runno Jahara foi proposto pela curadoria da CASA BRASIL à Saint James. E a afinidade foi imediata. Nos produtos, nota-se o equilíbrio entre material, desenho e técnicas artesanais. “Senti que existe uma manualidade muito presente nos objetos da Saint. James. Os protótipos passam por diversas etapas e cada parte é fundamental para o resultado final”, afirma o designer, criador da coleção de mesas The X Tables. A Saint James confere à prata um design “limpo” e moderno, em coleções de objetos e utilitários assinados por profissionais renomados, como Ary Lyra, Cláudia Moreira Salles, e Baba Vacaro – diretora de criação da marca. A edição limitada The X Tables é a primeira na área de mobiliário, um verdadeiro desafio. “Foi um trabalho diferente da nossa linha de produção. Sabemos qual a importância do designer para a indústria: precisávamos de alguém que concretizasse o que pretendíamos viabilizar, e o Bruno

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interiores jovens designers

Acima, à esquerda, coleção The X Tables, criação de Brunno Jahara para a Saint James, produzida em metal espelhado, unindo técnicas artesanais e industriais; e, à direita, cadeira TK, produzida em metal revestido com chapas de madeira, design Haz Design para Prima Design

e codiretora de criação, ao lado de Paulo Biachi. Flávia Pagotti Silva é a designer dos cinco sentidos. Por meio de peças com acessórios móveis acoplados, objetos mulltifuncionais e séries produzidas a partir de um mesmo molde, ela interage com o usuário, dando-lhe oportunidade de movimentar, e também de transformar o produto. Para a Móveis Casa de Pedra, criou a poltrona Achego, estofada e com uma capa acolchoada que mais parece uma larguíssima blusa – com capuz e “mangas” – que envolvem o móvel e o usuário. “A capa é um acessório que permite a customização do produto”, explica a designer. Há 33 anos no mercado, produzindo estofados sob o conceito do conforto e da sofisticação, a Móveis Casa de Pedra recebeu bem a proposta e pretende dar continuidade à 34

parceria com Flávia Pagotti. “Flávia sempre esteve atenta às possibilidades da empresa, garantindo que obtivéssemos uma viabilidade industrial, além de propor um conceito lúdico e em sintonia com a Casa de Pedra, e isso é fundamental para uma parceria”, declaram Verônica e Afonso Favaro Provensi, gerentes de marketing da empresa. A Haz Design criou para a Prima Design uma variante, ou nova regra, quem sabe, aos produtos de vanguarda produzidos pela empresa. A cadeira TK, criada pelos jovens designers é formalmente simples, adequada a diversas situações, seguindo o conceito expresso por muitos designers famosos, ou seja, criar o protótipo básico de uma cadeira: quatro pernas e separação entre assento e encosto. Seu processo produtivo emprega a mesma tecnologia moderna, para revestir, com

chapas de madeira, a alma metálica de sua estrutura. A união de interesses e de ideias com a Prima Design possibilitou uma experiência diversa para a dupla formada por Saulo Szabó e Fernando Oliveira, que nunca havia desenvolvido um trabalho para a indústria. E a fabricante gaúcha, que trabalha com peças assinadas por profissionais desde 2004, reconhece a importância do projeto de autor. “Os designers são fundamentais para agregar valor e personalidade ao produto”, afirma Cátia Scarton, diretora comercial. Conhecido por suas criações lúdicas produzidas a partir de materiais inusitados, o designer paulista Luiz Pedrazzi busca dar forma diferenciada e trazer novos conceitos a objetos comuns, que passariam despercebidos não fosse sua inesgotável fonte de criatividade. “Consiste


especialmente trabalhado pela empresa – ele criou detalhes artísticos, utilizou materiais alternativos e fez novos experimentos com cores de acrílico. Segundo Patrícia Bruscato, diretora da empresa, o objetivo é que estas peças sejam comercializadas e entrem efetivamente no mercado. “Os produtos fabricados para o Design Concreto já estão em fase de precificação e estamos direcionando-os para um mercado específico”, afirma.

Paulo

R. Casc once

llos

No alto da página, a poltrona Achego, estofada e revestida com capa que imita blusa, design Flávia Pagotti Silva para a Móveis Casa de Pedra. Abaixo, poltrona Exo, em madeira, com estrutura inspirada no exoesqueleto dos artrópodes, design Fetiche Design para Schuster

em tratar a matéria-prima – não importa qual seja – com a nobreza que ela merece, para que também dê o máximo de si”, explica o designer sobre seu trabalho. Esta busca por excelência somada à busca pela qualidade máxima no acabamento pode ser observada nas três peças criadas por ele para a Allê Design: a banqueta Tarjada, o carrinho Zaha e a luminária Mona. Tomando como base o metacrilato – material

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concurso

OPORTUNIDADE PARA TODOS Objetivos bem-definidos e a proximidade com a indústria tornam o Salão Design, promovido pelo Sindmóveis de Bento Gonçalves, um dos concursos mais almejados do país Maria Helena Estrada

À esquerda, o Banco Aixa, criação do estudante da Universidade ORT Uruguai Timothy Goodman, faz referência aos antigos brinquedos de encaixe, com prático sistema de montagem. 1º lugar na categoria “Móveis Residenciais” do prêmio Estudante

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á vai longe o tempo em que era difícil selecionar bons produtos em competições de design. As apresentações chegavam muitas vezes em um pedaço de papel com um simples rabisco e um memorial descritivo, que falava mais dos sentimentos que inspiraram o designer do que do projeto. Tempos de começo, que felizmente já se foram. Hoje, o concurso para o Salão Design do Sindmóveis (edição simultânea à CASA BRASIL e à Movelsul, em anos alternados) tem o material para a primeira seleção apresentado virtualmente e os protótipos finais e/ou produtos chegam ao júri com acabamento impecável. Assim, este pode realmente julgar os projetos, quase todos em pé de igualdade. Outro dado que deixa felizes os habituais jurados de concursos, que incluem também estudantes, é a melhoria de qualidade que estes têm mostrado. Mérito das escolas e de seu corpo docente, que começam a entender que sem o acompanhamento dos professores ao longo do desenvolvimento de uma ideia esta dificilmente chegará a um bom resultado?


Evandro Soares

Acima, a linha de mesas Clips, design Ilse Lang, e, à esquerda, a luminária de mesa Tweety, de Giorgio Bonaguro, respectivamente, vencedores nas categorias “Móveis Residenciais” e “Iluminação” do prêmio Profissional. Abaixo, o projeto Cozinha Murano, desenvolvido pela equipe do P&D Cinex Lab, ganhador da 1ª colocação na categoria Móveis Residenciais do prêmio Indústria

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concurso À esquerda, o móvel da coleção Muira Design, criação do laboratório de design da Universidade de Brasília (LDD/UnB), vencedor do prêmio Mérito Social e na categoria temática “Design de Superfície”, do prêmio Profissional

Ricardo Jaeger

À direita, a textura Melamina Copa, desenvolvida pela Masisa do Brasil em parceria com a Schattdecor, ganhadora da menção honrosa na categoria temática “Design de Superfície”, do prêmioIndústria, e, abaixo, exposição dos produtos vencedores do Salão Design CASA BRASIL

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Uma constatação: todos os produtos selecionados este ano estavam expostos no mesmo espaço que outros, escolhidos pela curadoria da CASA BRASIL para representarem o design brasileiro. E praticamente não se notava uma diferença de qualidade entre eles. Os produtos vencedores da categoria ”Indústria”, bem como a de “Design de Superfície” eram excepcionais. Muitos estofados apresentavam algum grau de inovação muito bem-vinda. No que se refere às cadeiras, uma se destacou, e já fazia parte da coleção Schuster, exibida em seu estande. Resultado da insistência e da fé em nosso design? Água mole em pedra dura? Não, esta pedra vem se moldando em uma bela linguagem brasileira no design.

No alto da página, móvel da linha Byographos, design equipe Flexiv, Cinex e Studio Lúmen; acima, carteira escolar informatizada Desk One, design Maurício Oppitz, Paulo Joel Telles e Clécio Zeithammer; à esquerda, sofá Cordas, criação Mila Rodrigues. Produtos ganhadores do 1º prêmio, respectivamente, nas categorias “Design de Superfície” e “Móveis Instituicionais e menção honrosa na categoria “Móveis Residenciais” do prêmio Indústria 39


Carla de Carvalho

viver com design

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Interior da suíte no hotel Vila Naiá, que utiliza a madeira na estrutura-base, com cadeiras design Arne Jacobsen de 1952, mesa de Renata Mellão e cortinas da Safira Sedas

Belos e Benditos ESPAÇOS DE RENATA MELLÃO

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Carla de Carvalho

viver com design

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odos nós vivemos entre objetos e dividimos com eles o nosso espaço. Com eles, desenvolvemos relações não apenas de uso, mas também emocionais. Com o tempo, objetos podem tornar-se verdadeiros amigos que nos acompanham. Serão supérfluos? Penso no momento atual, em que temos a responsabilidade de bem-utilizar os recursos do planeta, e é a expressão menos a que mais que me orienta.

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Já não precisamos de muita coisa, só daquilo que é especial. Em minha casa, em São Paulo, alguns objetos são hoje especiais. Uma reedição da poltrona Bowl, de Lina Bo Bardi, banquinhos dos povos nômades do deserto africano, a mesa de marceneiro muito simples – do início da carreira de Carlos Motta –, um piano, uma luminária e um vaso Murano de Tobia Scarpa. São úteis e confortam o espírito. São objetos amigos. São objetos do mais puro design.

Já no Vila Naiá, hotel que construí no sul da Bahia, optei por materiais nobres na construção dos quartos e pelo menor número possível de coisas em seu interior. As paredes, o piso, o teto, tudo é feito de madeira reutilizada, matéria-prima que preenche e conforta. Os quartos contêm apenas cama, armário, espelho, mesa e luminária. Nada mais. Não há “decoração”, de modo que os hóspedes possam descansar o corpo, o olhar e o espírito. Nas áreas sociais,


Carla de Carvalho

utilizamos para piso materiais locais como mármore e pedra, ambos do Espírito Santo, próximo ao hotel. Um espaço inundado de objetos e carregado de informações esvazia a pessoa que ali entra. “Desnudando” este espaço, as pessoas e a natureza tornam-se protagonistas. Desta relação equilibrada entre meio (vegetação nativa), objetos e pessoas, surge a harmonia necessária para o bem-estar que todos nós buscamos. Seria a definição de viver com design?

TUCA REINÉS

À esquerda, conjunto de suítes com interior em peroba do campo e cortinas de linho na decoração; acima, mesa Saarinen e cadeiras Cesca, design Marcel Breuer, ambientam a sala de jantar na casa de Renata Mellão, em São Paulo; abaixo, a reedição da poltrona Bowl, de Lina Bo Bardi, em tecido, é um dos mimos no “cantinho” da artista plástica paulista

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ela ĂŠ carioca

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À esquerda, o projeto arquitetônico de Ivan Rezende para a Novo Ambiente destaca-se pela imponente fachada de vidro com estruturas aparentes. Acima, o showroom da loja é dividido por seções e marcas diversificadas, entre elas Alessi, Magis e Herman Miller. Abaixo, o simpático Pingy, também está à venda na Novo Ambiente, design Eero Aarnio para Magis

Abastecida com as melhores marcas, ela chega no momento em que o comércio de rua volta a ganhar força no Rio de Janeiro – conheça a nova loja-conceito do grupo Novo Ambiente Paloma Moreira Fotos Denilson Machado

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uatro andares com o que há de melhor no design. Quatro andares que abrigam as melhores marcas internacionais, como Alessi, Herman Miller, Magis, MissoniHome, Moooi, Ekornes e Vitra@Home, e nacionais, Zanini de Zanine, Nada Se Leva, estudiobola, Marcelo Rosenbaum, Paulo Foggiato e Sergio Fahrer. A Rua Redentor, em Ipanema, no Rio de Janeiro, ganhou a quarta loja do grupo Novo Ambiente, uma referência já consolidada no design corporativo e residencial. Projetada pelo arquiteto Ivan Rezende, a loja segue a mesma linguagem da Novo Ambiente sediada no Casa Shopping. Uma imponente fachada de vidro, com estruturas aparentes, atiça a curiosidade em relação aos produtos do interior da loja. Tudo intencional. “A loja do shopping tinha uma planta longitudinal, com uma das paredes com menor insolação do que desejávamos. O Ivan, então, criou uma vitrine suspensa que ajustava a iluminação das peças expostas. No novo prédio, a situação era quase

oposta: um terreno vertical, com uma fachada envidraçada bem alta. Assim, um grande muro de concreto abraça as vitrines suspensas, que viraram um grande marco”, explica Bruno Crosman, sócio do grupo Novo Ambiente. Segundo o empresário, a escolha da localização foi motivada pela vontade de resgatar o comércio de rua. “Em um momento em que o comércio de rua volta a ganhar força, o projeto mantém uma distância da fachada em relação à rua, preservando a calçada e as próprias características do bairro.” Fica difícil imaginar que uma loja contemporânea tenha seu projeto interior inspirado em um museu. Não existe nada lá que remeta ao antigo ou ao desuso, mas o altíssimo pé-direito, as escadas, combinadas ao uso de seções e repartições para acomodar cada marca, causam no cliente uma sensação de descoberta, é como fazer um tour por um museu e, no fim do passeio, poder comprar as “raridades” que mais lhe agradam. Além disso, obras de arte de Vik Muniz, Waltercio Caldas e Nelson Leirner compõem o design de interiores do showroom. 45


lojas conceito lojas-conceito

Cada ambiente da loja remete a um novo território de descobertas; um destaque é o espaço colorido dedicado à lúdica coleção Me Too, da italiana Magis

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Acima, a famosa poltrona Proust; criada em 1978, já ganhou diversas versões assinadas pelo próprio autor, Alessandro Mendini, inclusive em bronze e em porcelana pintada. A peça disponível no showroom da Novo Ambiente é produzida em polietileno pela Magis. Ao lado, a cadeira Piña, design Jaime Hayon, também um produto Magis


bbec

Conforto, beleza e design em um só lugar

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Móveis em fibras sintéticas e naturais

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lojas-conceito

DCORE:

OUSADIAS EM BRASÍLIA Promover o design assinado nesta sóbria cidade é a principal missão da dcore. localizada no maior shopping de decoração de Brasília, o Casa Park Camila Marques

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er a primeira loja a ousar em design numa cidade focada nos grandes projetos arquitetônicos fez da dcore, em Brasília, uma influente formadora de novos gostos e opiniões nos consumidores e no mercado em geral. Há quase 2 anos, a loja incorpora peças assinadas e de grandes marcas a um showroom despojado e vanguardista, projetado pelos arquitetos Leo Romano e Marcia Bizzi sob o conceito de um estúdio de design. As paredes e pisos neutros e detalhes de estruturas aparentes colocam os produtos em evidência no ambiente, em uma incoerência proposital. “O móvel deve ser admirado e entendido por suas qualidades próprias, independendo da humanização”, afirma o arquiteto goiano. Da mesma forma, esses elementos são incorporados ao projeto de uma forma que também facilite a sua troca, caso seja necessária alguma mudança ou em caso de novas coleções. “Essa é a proposta: colocar e tirar elementos estruturais sem precisar fazer uma reforma no espaço”, explica Marcia Bizzi. Detalhe do showroom, destacando a estrutura de iluminação na parede e a exposição de cadeiras assinadas por grandes nomes do design internacional. No fundo, da esquerda para a direita, as banquetas Charles Ghost, de Philippe Stark; a cadeira, peça única, garimpada pela proprietária da loja, Priscylla Pontes; a Chair One, de Konstantin Grcic; a cadeira Lago, também de Philippe Stark; e a Miss You, de Marco Piva. Abaixo, à esquerda, a Link Easy Chair, design Tom Dixon


Embora trabalhassem com a mesma visão, ela e Leo Romano tiveram participações independentes e não simultâneas no projeto da loja. O trabalho do design sempre foi a grande paixão de Priscylla Pontes, a proprietária da dcore, que usa seus conhecimentos e sensibilidade para selecionar as peças do showroom. Atualmente, a coleção da empresária abrange marcas como Mooi, Sofa, Magis e Allê Design, além de produtos assinados por Tom Dixon, estudiobola e José Marton, entre outros nomes do design brasileiro e internacional. Ciente da necessidade de atualização, visão das tendências e identificação de bons lançamentos, a dcore acompanha e participa dos principais eventos internacionais e nacionais do setor. “Além da feira de Milão, estamos presentes em várias outras, buscando mais informações e contato direto com os próprios designers”, afirma a proprietária. A loja também participou das duas últimas edições da Casa Cor Brasília, mobiliando ambientes assinados por profissionais e empresas renomadas, como a Domo Arquitetura. Apresentar o novo e promover o design assinado em Brasília têm sido os principais trabalhos da dcore e de Priscylla Pontes. Um trabalho árduo, mas que, segundo a proprietária, se torna gratificante quando transforma a realidade. “Conseguir participar ativamente dessa revolução do design na capital federal, para mim, é uma das maiores recompensas que tenho com a dcore”, garante a empresária.

Acima, poltronas Flower, design Pierre Paulin; abaixo, luminária Heracleum, de Marcel Wanders Abaixo, em primeiro plano, a mesa de centro Tiga, com objetos decorativos do acervo da loja, e as poltronas Arezzo e Capela, esta do designer André Cruz. No fundo do ambiente, quadro decorativo utilizado também para transmitir informações aos clientes; estante Paralucia, design Beto Salvi. À direita, luminária Disco, design Viable London para Allê Design. Na sequência, mais cadeiras famosas: no fundo, da esquerda para a direita, a Lizz, de Piero Lissoni e Carlo Tamborini; o banco Bubu, de Philippe Stark e a Vanity Chair, de Stefano Giovannoni. Em destaque, Poltrona 50 Cents, design Estudio 20.87

Abaixo, poltrona Void, design Ron Arad

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Design Italiano para a Sustentabilidade Exposição no Museu da Casa Brasileira incita à reflexão e mostra que é possível integrar consumo responsável à inovação e ao design Nádia Fischer

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videnciar aspectos ambientais e sociais e estabelecer um verdadeiro diálogo entre produtos e consumidores. Este foi um dos objetivos da mostra “Design Italiano para Sustentabilidade”, realizada em outubro e novembro, no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. A iniciativa surgiu da parceria entre o MCB e o Ministério Italiano do Meio Ambiente, Terra e Mar, com apoio do Fórum das Américas, em continuidade ao livro “Design italiano per la Sostenibilitá”, editado em 2009 pelo governo italiano. Cerca de 40 peças, entre objetos e materiais produzidos na Itália, foram exibidas com o propósito de mostrar que é possível integrar responsabilidade ambiental com inovação e design. A ideia é defendida há 17 anos pelo ecodesigner Marco Capellini, consultor do Ministério das Cidades Produtivas e do Observatório

Na página anterior, estante Spanky, produzida com papelão reciclado (70%), papel e papelão virgens (28%) e filme virgem à prova d’água (2%), design Marco Capellini. Acima, cafeteira Moka Crystal, desenvolvida pela Bialetti Industrie, composta por 50% de alumínio reciclado e 40% de vidro reciclado; abaixo, Ecopoltrona Stracci, com estrutura de papel (100%), PET e tecidos de reuso

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design internacional Nacional de Resíduo na Itália e um dos curadores da exposição realizada no Brasil, ao lado da consultora de sustentabilidade Adriana Fortunato. Segundo Capellini, a pretensão não foi ressaltar o produto em si, mas os materiais e também o contexto nos quais se inserem. O propósito da mostra é estimular uma reflexão em relação aos problemas ambientais intrínsecos à produção de objetos de consumo. “Queremos orientar o consumidor e a indústria sobre a importância de fazer escolhas baseadas na preservação do equilíbrio ambiental e no uso responsável dos recursos naturais”, diz.

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Durante a exposição, todas as peças receberam legendas detalhadas, como o nome do autor e características dos materiais, além de informações sobre reciclagem, a porcentagem de redução de emissões de CO2, a economia energética, a redução na utilização de recursos naturais, entre outros. Capellini comenta que os dados foram registrados após análise das etapas produtivas e reutilização dos produtos, visto que o termo sustentabilidade – embora sendo muitas vezes tratado de maneira superficial e até simplista – é bastante complexo e fundamental para a nossa sobrevivência. Na página anterior, luminária Primopiano, em alumínio (80%) reciclado, que economiza 1.500 kw/h e 635 kg de CO2 na produção, comparada a uma luminária convencional de mesma potência. Criação Piano Design. Acima, vasos Vipot Decor, desenvolvidos pela Total Packaging com cascas de arroz (85%) e recheios vegetais (15%) biodegradáveis

À direita, bolsa em poliéster de reuso, produzida com cintos de segurança automotivos descartados, design Paolo Ferrari 53


design internacional

UM COMPASSO DE OURO Ter seu produto inserido no catálogo do prêmio Compasso d’Oro, promovido pela Associação Italiana de Design Industrial (ADI), é como passar para a história do design italiano. É essa oportunidade que têm os profissionais selecionados nesse concurso trienal, o mais antigo e mais influente e, podemos dizer também, o mais exigente dos prêmios de design Camila Marques

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omo participante do júri na 22ª edição do concurso Compasso d’Oro, o designer e empresário Guto Indio da Costa afirma que a restrição – nas exigências e na periodicidade – nos confronta com uma seleção diferente, baseada em critérios rigorosos. Conduzida incialmente por críticos italianos e depois pelo Observatório Permanente de Design da ADI, uma comissão mista formada por profissionais e especialistas de vários países, a seleção para o prêmio prioriza, além de questões de usabilidade, estética, forma e tipologia do produto, aspectos como o seu impacto ambiental, o uso apropriado de suas especificidades (principalmente 54

as tecnológicas) e as potencialidades comunicativas e icônicas que possui. Com estes critérios, o grupo de produtos inscritos já se torna bastante seleto. Pode ser esse rigor um dos fatores capazes de garantir a conhecida excelência dos premiados. Esta qualidade é também confirmada na relação de designers e empresas finalistas do concurso. Nomes como Ross Lovegrove, Marco Piva, Patricia Urquiola, Konstantin Grcic e Alberto Meda estão entre os profissionais; Luceplan, Alessi, Maseratti, Fiat, Flos e Plank integram o grupo de empresas. Outro aspecto importante na avaliação do Compasso d’Oro é seu período de duração: depois de três anos, ou mesmo de um ano de

Acima, de cima para baixo, a nova versão do carro clásico italiano Fiat 500, design Fiat Group Automobiles; a mesa Nuur, design Simon Pengelly, de estrutura leve e marcada por detalhes; e abaixo, a panela para macarrão, design Patrick Jouin, cujas peças são totalmente integradas. Todos premiados em categorias específicas


Federico Ambrosi Claudio Vitale

Acima e à direita, respectivamente, a premiada cadeira Steelwood, em diferentes materiais, design irmãos Bouroullec, e Teak Table, de estrutura dobrável e indicada também para uso externo, design Alberto Meda

No alto da página e acima, respectivamente, os ganhadores do prêmio Compasso d’Oro “Carreira”: Cii Boeri, Ingo Maurer e Enzo Mari, recebendo o troféu das mãos de Luisa Bocchietto, presidente nacional do ADI 55


design internacional

Concurso Compasso d’Oro 2011 Relação de premiados

deliberações, não há produto ruim que resista! Não à toa, os ganhadores do primeiro prêmio do concurso tornam-se imediatamente exemplos do bom design italiano, e o produto, um patrimônio histórico nacional. Ao longo dos 57 anos de existência do concurso, realizado trienalmente pela ADI, são raras as participações de profissionais e empresas brasileiras, salvo pequenas incursões. Para concorrer, é necessário que o designer seja italiano ou, no caso de um profissional de outro país, que a peça seja produzida na Itália. Seu regulamento e execução podem ser vistos – como assinalou Guto Indio da Costa em seu artigo na edição 74 de ARC DESIGN – como exemplo de qualidade Compasso d’Oro.

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Acima, luminária de mesa Elica, design Brian Sironi, premiada pela estrutura harmônica e riqueza nos detalhes técnicos. Utiliza lâmpadas de LED

Abaixo, a cadeira Myto – também premiada – , em plástico flexível e em diversas cores, revela o resultado do uso inteligente do material, design Konstantin Grcic

Luminária Elica: design Brian Sironi, para Martinelli Luce Cadeira Frida: design Odoardo Fioravanti, para Pedrali Luminária Hope: design Francisco Gomez Paz e Paolo Rizzatto, para Luceplan Bacia decorativa Lab 03: design Ludovica e Roberto Palomba, para KOS Cadeira Myto: design Konstantin Grcic, para Plank Mesa Nuur: design Simon Pengelly, para Arper Panela Pasta Pot: design Patrick Jouin, para Alain Ducasse/Alessi Prateleira Smith: design Jonathan Olivares, para Danese Cadeira Steelwood: design Ronan e Erwan Bouroullec, para Magis Mesa Teak: design Alberto Mesa, para Alias Utensílios de mesa Tonale: design David Chipperfield, para Alessi Sofás e poltronas Yale: design Jean-Marie Massaud, para MDF Itália Fiat 500: criação e produção Fiat Group Automobiles Pesquisa de Mapas DRM: projeto do departamento INDACO, da Politécnica de Milão, para a rede Sistema Design Itália (SDI), a Conferência de Design da Faculdade Deans (CPD) e o Comitê de Coordenação do Doutorado em Design (CDD) Campanha Multiverso Icograda DW: criação Zup Associati, para Associação Italiana de Design de Comunicação Visual (AIAP) e Conselho Internacional de Associações de Design Gráfico (ICOGRADA) Campanha Festival de Teatro de Napoli: criação Leonardo Sonnoli e Paolo Tassinari Mostra Rossa, Imagem e Comunicação do Trabalho 1848-2006: criação N! 03, Stefano Vella e Louis Martin (curadores) para a Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário (CGIL) Sunset Casa Móvel: projeto do grupo Hangar, para Movit Campanha Domo – XIX Bienal de Artesanato de Sardenha: criação Italo Antico, Alessandro Artizzu, Lee Babel, Berselli Cassina Associati, Andrea Bruno, Vittorio Bruno, Maria Calderara, Annalisa Cocco, Antonello Cuccu, Adriana Delogu, Lia Di Gregório, Angelo Figus, Giuseppe Flore, Antonio Fogarizzu, Valentina Follo, Giulio Iacchetti, Nilla Idili, James Irvine, Setsu e Shinobu Ito, Ugo La Pietra, Marta Laudani e Marco Romanelli, Paolo Marras, Tomoko Mizu, Roberta Morittu, Palomba Serafini Associati, Eugenia Pinna, Gianfranco Pintus, Pierluigiu Piu, Florence Quellien, Salvatorie e Marie, Alessio Tasca, Paolo Ulian e Nanda Vigo, para Ilisso



design internacional

CENTENÁRIO

DE KAJ FRANCK

Uma grande exposição comemora em Helsinque, Finlândia, o centenário de Kaj Franck, com a mostra “Formas Universais”, sediada no Design Museum. Mas você poderia jurar que os produtos foram criados hoje Maria Helena Estrada

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Na página anterior, o prato da série Ring traz uma profusão de anéis formados pelo vidro multicolorido. Acima, na fotografia, Kaj Franck observa uma de suas criações, e, abaixo, a série de taças introduz as cores até hoje clássicas na vidraçaria finlandesa

fotos Design Museum da Finlândia

isitamos uma das mais belas mostras dos últimos tempos, a que comemora o centenário de Kaj Franck, um mestre na arte do vidro e, embora não tenha sido esta sua prioridade, na estética. Nascido em 1911, é incrível sua atualidade, expressa por volta dos anos 1940-1950, em relação às questões do design, discutidas, hoje, como a fronteira entre o desenho industrial e o que se convencionou chamar de design arte, ou design de peça única. “Quanto maior a série dos objetos a serem produzidos, maior a responsabilidade em relação ao número de pessoas que os utilizarão” ... “um objeto único merece seu reconhecimento como arte, tanto quanto uma pintura ou uma escultura. Tem um valor intrínseco e não está limitado por valores práticos.” Mas a obra de Kaj Franck foi, sobretudo, destinada à produção industrial, a maioria produzida pela finlandesa Arabia, e depois pela Ittala, empresa que até hoje oferece os melhores produtos em vidro e tem em sua coleção designers como Harri Koskinen e Ikka Supanen. Mas ao visitar a mostra nos lembramos também de Tapio Wirkkala e Timo Sarpaneva, seus sucessores.

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design internacional

Rauno Träskelin

Franck foi também professor e um teórico, ainda antes da II Guerra Mundial, tendo se dedicado a atividades em todos os domínios da arte e trabalhado com os mais diversos materiais e técnicas artesanais. Após a guerra, com a retomada das atividades industriais, ele se dedica aos vidros, torna-se diretor artístico da Arabia, e é então que surgem suas mais belas obras. Sempre interessado nos propósitos e significados do design, mostra ao longo de sua carreira o quanto era versátil, sempre com a mente aberta, própria de um humanista.

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Visitando a Finlândia pela segunda vez, foi possível observar no design, seja de produtos ou de moda, uma grande contaminação do design japonês, pelo minimalismo das formas, pela atenção à utilidade e à função de cada peça. Kaj Franck, assim como muitos de seus colegas, também visitou o Japão, e esta influência oriental é nítida em sua obra. E, embora seu objetivo principal não estivesse centrado nos aspectos formais do objeto, a beleza, a poesia e a emoção que deles emana é incomparável.

Abaixo, nas duas páginas, flagrante da riquíssima exposição Kaj Franck – “Formas Universais”, no Design Museum de Helsinque; na página seguinte, à direita de cima para baixo, a inovação no trabalho em vidro iniciada com os vasos criados pelo designer finlandês na metade do século XX, bem como em utensílios de cozinha em policarbonato e em porcelana, com formas que até hoje se repetem. É como eles mesmos afirmam, “se é perfeito, para que mudar?”


Bienal Brasileira de Design

fotos Design Museum da Finlândia

Visitamos a Finlândia com o objetivo de fixar o programa da participação do país na 4ª Bienal Brasileira de Design. A Finlândia, assim como a Itália, são os países convidados pelo Brasil. Fizeram parte da comitiva o reitor da Universidade de Minas Gerais, o designer Dijon de Moraes, a diretora do Centro Minas Design, Enil Brescia, e sua assistente, Nadia Pontelo. A mostra comemorativa de Kaj Franck começará agora a excursionar pela Europa. Esperemos que o calendário permita a inclusão do Brasil nesse roteiro, durante a próxima Bienal.

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Eventos

O DESIGN MOBILIZA

Flagrante da exposição “Melamina: Processo Criativo”, realizada pela Masisa, destacando móveis exclusivos, produzidos com painéis MDF da série Brasília 62

Carlos Tietjen

“Acredito que o maior legado que a semana D nos deixou foi a abertura de canais de comunicação, o estabelecimento de novas relações entre instituições que, juntas, conseguiram desenvolver um evento importante em um período de tempo muito curto”, declara Tulio Filho, presidente da Prodesign>PR


A CIDADE:

SEMANA D EM CURITIBA

da capital federal, e o Copa 2014, premiado no Salão Design CASA BRASIL 2011, um dos lançamentos da empresa em texturas interativas. Designers, engenheiros, empresários e representantes de indústrias estiveram presentes na oficina “InoValor – Desenvolvimento de Soluções Inovadoras”, realizada no laboratório do Cietep. A palestra foi ministrada por consultores do Centro Internacional de Inovação (C2i), que falaram sobre o trabalho do sistema FIEP e Senai junto às empresas. Além da aula teórica, os participantes puderam conhecer, na mostra “Produtos Senai+Design”, realizada na sala de exposições da instituição, alguns produtos desenvolvidos em parceria com empresas de Curitiba, Arapongas, Londrina e Maringá. As atrações, sempre ligadas às áreas específicas do design, contaram com o apoio de 18 empresas parceiras, que se uniram para organizá-las e sediá-las. O designer especializado em sustentabilidade Christian

Acima, a cadeira criada pelo estudante Márcio F. Ramos, da UFMG, selecionada no Concurso Design Estudantes Masisa 2010; abaixo, detalhe da mostra Senai+Design, com a cadeira produzida em chapas de compensado, design Felipe Degasperi e Marcelo Gonçalves Azevedo, e o painel “D”, símbolo do espaço, utilizado pelos visitantes como “livro” de registros

Equipe SENAI+Design PR

E

ncabeçada pelo Centro de Design Paraná e pela Prodesign>PR, a iniciativa de promover uma semana exclusiva do segmento em Curitiba começou tímida, tendo somente uma exposição e uma palestra previstas. Mas com a união de instituições e profissionais de diversas áreas, o evento superou as expectativas dos participantes. Mais de 2.000 pessoas, entre realizadores e público, prestigiaram mais de 15 atrações, realizadas em diversos locais da capital paranaense. A importância da inovação e do design para os empreendimentos foi o assunto do seminário “Design to Business”, que trouxe o case do guarda-chuva para tempestades Senz, criado pelos holandeses da empresa homônima e que se tornou mundialmente conhecida. O cofundador e diretor de marketing, Philip Hess, contou como ele e os sócios tiveram a ideia de desenvolver um produto totalmente inovador e ainda produzi-lo na China. Em função do grande público esperado, a palestra aconteceu em dois horários e em lugares diferentes: na Universidade Positivo e na Sala de Convenções da FIEP. No mesmo prédio da Universidade Positivo, algumas peças de mobiliário e itens produzidos com painéis MDF e MDP, da Masisa, mostraram até onde chegou a tecnologia industrial brasileira. A mostra “Melamina: Processo Criativo” exibiu laminados com texturas diferenciadas, tridimensionais e também grafismos, contextualizados em móveis, tecidos, tramas e superfícies diversas. Destaque para os móveis do Concurso Design Masisa 2010, o painel Brasília, criado para comemorar os 50 anos

Carlos Tietjen

Camila Marques

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Clix Foto

interiores Eventos

Carlos Tietjen

Acima, a plateia lotada se concentra no case da holandesa Senz Umbrella, apresentado por um de seus coproprietários, Philip Hess, no Seminário “Design to Business”, e, abaixo, detalhe da mostra organizada pela Masisa traz os padrões de grafismo das superfícies de MDF e MDP contextualizados em tecidos e tramas

Ullmann realizou um workshop sobre o assunto no Centro Universitário de Curitiba. Outros eventos que trataram do tema: os debates “Inovação e Sustentabilidade”, realizado na Universidade Federal do Paraná (UFPR), e “Papo D”, organizado pela Prodesign>PR na Livraria Fnac, de Curitiba. O terceiro setor mobilizou o público em três eventos distintos: a “2ª Expo Prodesign>PR”, que apresentou trabalhos desenvolvidos junto a entidades da região; a palestra “Estratégias de Design e Comunicação para o 3º Setor”, realizada pela UFPR; a “Oficina Desenvolvimento de Design”, voltada a jovens do ensino médio interessados em conhecer as rotinas da profissão. Valorizando as artes visuais e outras disciplinas do curso de bacharelado em design, a UFPR também promoveu uma oficina de ilustração com profissionais e expôs os trabalhos de seu laboratório na exposição “Ilustração e Design”. A ABD (Associação Brasileira de Designers de Interiores) do Paraná exibiu alguns trabalhos de seus associados na livraria Fnac do Parkshopping Barigui. E foi a Prodesign>PR, depois de promover diversos encontros, que encerrou o evento com um almoço oferecido aos designers participantes, no típico estilo brasileiro, regado a feijoada e caipirinha. A Semana D de Curitiba, cuja


Clix Foto

Acima, o guarda-chuva para tempestade Senz e Philip Hess, um de seus idealizadores, entusiasmaram o auditório na palestra realizada na Universidade Positivo Carlos Tietjen

segunda edição já está prevista para outubro de 2012, tem tudo para ser um evento com assinatura emblemática, como as outras Semanas de Design que acontecem pelo mundo. Segundo a coordenadora de projetos do Centro de Design Paraná, Ana Brum, este potencial está no fato das empresas apoiadoras do segmento se unirem para realizá-la. “Estamos certos, pessoal e institucionalmente, que ao somar esforços e atuar de forma colaborativa, os resultados são sempre potencializados”, afirma.

No alto da página, à direita, mesinhas com tampos hexagonais exibem os padrões Trama, Linho e Chek de MDF da Masisa; abaixo, o móvel modulado produzido a partir de painel “clear” de eucalipto, design Felipe Degasperi, exposto na mostra “Senai+Design”

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escolas

Celeiro de novos aprendizados 66


Ao lado, instalação “Ecobags” criada pelos irmãos Campana em parceria com alunos do Bacharelado em Design e em Arquitetura e Urbanismo. Abaixo, vista externa do prédio Acadêmico 2, com estrutura de 22,5 mil m² distribuídos em 95 novos espaços, entre salas de aula e laboratórios

O Centro Universitário Santo Amaro pode ser considerado a “incubadora’ do Senac São Paulo. Todos os equipamentos e tecnologias utilizadas nos laboratórios das unidades são testados, inicialmente, neste Campus, localizado na zona sul da cidade. Com a inauguração do novo prédio acadêmico, trazendo 95 novos espaços, o complexo segue o conceito de promover a multidisciplinaridade e oferecer vivência prática aos alunos com foco no compromisso socioambiental Camila Marques Fotos Marcelo Pereira

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escolas

À esquerda, TV com tela de alta definição e sensores LED, que reconhecem o toque com a mínima aproximação, um dos equipamentos do laboratório de Artes Visuais e Audiovisual; à direita, no alto, a máquina que realiza processos de prototipagem a vácuo por meio do encapsulamento da matéria; e, acima, a lousa digital que vem acompanhada de um dispositivo capaz de transformar qualquer superfície em ambiente eletrônico

O

projeto do Prédio Acadêmico 2 é um investimento motivado pela necessidade de expansão dos laboratórios, aliada à intenção original de seguir um modelo de gestão ambiental em todas as dependências do Campus. O novo edifício tem 22,5 mil m2 de área construída e está localizado dentro do complexo total, de 93,4 mil, inaugurado em março de 2004, próximo à Avenida das Nações Unidas, no bairro conhecido como Jurubatuba. O laboratório de design industrial e arquitetura é um dos destaques do empreendimento. Com três salas destinadas à criação e fabricação de protótipos e à produção de matérias-primas recicláveis, está equipado com diversos tipos de máquinas e ferramentais – dos convencionais aos mais modernos – utilizados por 68

alunos e professores no desenvolvimento de projetos. São exemplos a CNC, a prensa de vácuo e a moderna máquina de prototipagem rápida, que esculpe imagens em 3D – criadas por meio de software de computador – a partir da catalisação de um pó (plástico não reciclável) sobreposto em camadas seccionais e solidificado, que reproduz o volume do objeto criado. Depois do laboratório de design e arquitetura, seguem-se os laboratórios de estética, nutrição e artes/ comunicação visual e audiovisual, este último equipado com inovações tecnológicas exclusivas, ainda não comercializadas no Brasil. Mesas multitouch, TVs e teclados LED, óculos e monitores 3D, lousas eletrônicas conectáveis a tablets e computadores. Os alunos e professores podem utilizar todos estes equipamentos para incrementar e tornar as aulas

mais dinâmicas. Ainda em agosto, foi acrescentado ao espaço um projetor holográfico 3D, que gera imagens totalmente fiéis – em forma e volume – ao objeto visualizado. Os laboratórios ficam no piso térreo do Acadêmico 2, e, acima deles, as salas de aula, cujo acesso é obtido por meio de rampas internas e três plataformas elevatórias. Ao longo dos corredores, são relizadas diversas exibições com exposição de trabalhos de alunos e professores, como a mostra “Ecobags: Moda e Meio Ambiente”, inspirada em projeto homônimo desenvolvido pela jornalista Lilian Pacce, realizada recentemente pelos alunos do Campus sob orientação dos irmãos Campana. A arquitetura do prédio apresenta estratégias de ecoeficiência, tais como a utilização de luz natural na maioria dos ambientes, de


gás natural para o abastecimento elétrico, sistema de tratamento de esgoto e reutilização de recursos em diversos processos. Segundo o reitor do Centro Universitário Santo Amaro, Sidney Zaganin Latorre, a gestão ambiental sempre foi um dos principais focos da instituição, desde sua inauguração e, por isso, também foi aplicada às novas instalações. “Este conceito foi novamente aplicado no Prédio Acadêmico 2 para reforçar nosso compromisso socioambiental”, afirma.

Acima, flagrante do laboratório de design industrial e, à esquerda, o protótipo da cadeira/ carrinho, criação dos alunos para a utilização no local

O Senac Santo Amaro recebe os interessados em conhecer seus laboratórios e sua estrutura ecoeficiente. Para agendar uma visita guiada, escreva para sga.campussantoamaro@sp.senac.br. 69


inovação Nesta foto, detalhe do banheiro da nova sede da produtora digital D3, em São Paulo, o mais novo trabalho do Estúdio Guto Requena. Na outra página, os funcionários da empresa têm seus movimentos captados por sensores e interpretados através de padrões luminosos exibidos nas paredes, e também podem acompanhar esse monitoramento pela internet

Nada mais entre

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nais, com base em uma pesquisa do Idealizado por equipe multidisciplinar de profissio rativos da Universidade de São Paulo), NOMADS.usp (Núcleo de Estudos de Habitares Inte Design torna um ambiente o seu próprio o novo projeto do Estúdio Guto Requena com a IO os, o escritório – uma sala comercial de termômetro. Por meio de sensores e painéis luminos tudo o que acontece em seu interior. 55 m² – reproduz na parede e no site da empresa para ARC DES IGN A seguir, confira os detalhes em matéria exclusiva

quatro paredes C

omo você se sentiria se uma luz acendesse na parede do escritório em que trabalha ao você se levantar da cadeira e, automaticamente, outras pessoas soubessem disso pela internet? Esta é uma das novidades introduzidas no novo projeto de espaço comercial desenvolvido pelo Estúdio de Guto Requena e pela empresa IO Design. Como foi conseguido este efeito? Ele é o resultado da pesquisa de mestrado do arquiteto Requena e da parceria criativa com Gabriela Carneiro. Assim se materializou esta nova experiência, a de um local que alia tecnologia à arquitetura. Ambiente Interativo D3, a nova sede da produtora digital em São Paulo, adiciona novos canais de comunicação ao cotidiano.

fotos fran parente

Camila Marques

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interiores inovação

Acima, o teto de estrutura transparente deixa ver os sensores responsáveis pela captura de movimentos e pelo acionamento dos painéis luminosos. Os móveis trazem variações de azuis, verdes e roxos, escolhidas para compor a identidade visual cromática do espaço

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Criado a partir de um “brainstorming” com profissionais de diversas áreas e da pesquisa intitulada “Habitares Híbridos”, realizada por Requena para o NOMADS.usp, o espaço tem sistema interativo de monitoramento de ações e conexão direta com a internet. No teto, sensores ultrassônicos de distância captam os movimentos das pessoas e acionam painéis compostos por triângulos luminosos, instalados nas paredes, que transmitem as informações por meio de padrões diferenciados. Segundo o arquiteto e autor do projeto, alguns movimentos habituais, como abrir e fechar as portas, já foram pré-programados com

alguns padrões específicos, contudo não há outras repetições e o sistema é reprogramável. “Não queríamos que tivesse um princípio de ação e reação. Então, não será acionado o mesmo padrão todas as vezes que alguém levantar e bater palmas, por exemplo. O canal é aberto e o cliente deve ter intimidade com a programação”, afirma. Esta aproximação é garantida pela combinação arquitetura + tecnologia. O sistema que liga os sensores aos painéis de luz também é conectado à internet, que hospeda uma biblioteca virtual de comandos. Este aplicativo dá acesso aos valores dos sensores


e aos controles dos triângulos luminosos, expandindo a possibilidade de apropriação do espaço pelos clientes da D3. Estes podem utilizar as ferramentas interativas para obter os resultados desejados – inclusive em outros websites, não somente na página da empresa. Outros elementos do projeto também valorizam o conceito do “hibridismo” dos espaços, mesclando inovações estruturais à manutenção de algumas características originais do imóvel. O contrapiso recebeu camadas de verniz – para destacar as imperfeições – e o forro de gesso foi substituído por sistemas elétrico, hidráulico e de ar-condicionado. A estrutura-base, parcialmente coberta pela marcenaria, com três tipos diferentes de madeira, também cria diferentes efeitos visuais dentro da narrativa proposta. Os móveis “híbridos”, com rodízios acoplados, permitem mover as estações de trabalho, a fim de reconfigurar o ambiente de acordo com a necessidade dos usuários. Primeiro investimento do Estúdio Guto Requena em espaços interativos, que já era uma especialidade da IO Design, o Ambiente D3 será o espelho para novas parcerias e projetos futuros. Localizado na Avenida Paulista, ao lado do MASP, o escritório reflete a preocupação da arquitetura e do design em explorar as possibilidades oferecidas pela tecnologia digital para criar novas camadas de interação e narrativa. “O objetivo é fazer o cliente olhar para o espaço de uma maneira mais poética”, declara Requena. O conceito é antigo, mas o exemplo muito prático e atual: se antes o hibridismo era intrínseco aos móveis e objetos do ambiente, agora ele abrange o seu universo.

fotos fran parente

À direita, Guto Requena e Gabriela Carneiro, idealizadores do projeto Ambiente Interativo D3

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arquitetura

Projeções para um país do futuro O Brasil se prepara para receber grandes obras até 2016, não só relacionadas aos megaeventos esportivos, como também de infraestrutura, transporte e cultura Nádia Fischer

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D

esde que o Brasil anunciou que iria sediar os maiores eventos esportivos, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, os olhos do mundo começaram a se voltar para o país. De lá para cá, várias cidades brasileiras têm recebido investimentos, não só para a realização de obras relacionadas à competição em si – a exemplo dos estádios e centros de treinamento esportivos – mas de infraestrutura, indispensáveis para a recepção de visitantes mundiais. É preciso colocar tudo em ordem e rapidamente, para fazer bonito perante a comunidade internacional. Assim como fazemos quando recebemos uma visita em casa. Por isso, a preocupação do poder público vai além de meios de transporte eficientes e estádios bem-estruturados, contempla ainda uma paisagem urbana agradável, cidades atrativas e com bons equipamentos de cultura e lazer, além de poucos resquícios de conflitos e degradação. Há projetos em todo o país. Sem discutir a adequação da realização dos jogos no Brasil – os custos, as prioridades e os processos de seleção dessas obras - , é inegável que, se no decorrer desses três anos, todos forem concretizados, várias metrópoles serão beneficiadas. Mas por que não pensar em algo muito maior? Quem sabe, essas obras marquem o início de um novo ciclo, com propostas para transformar nossas cidades em espaços mais humanos, belos e sustentáveis? Espaços para uma sociedade mais justa, com mais acesso à cultura e aos benefícios do crescimento econômico que o país está conquistando. Já os profissionais da arquitetura e do design terão a oportunidade e a responsabilidade de encarar esse desafio e, cada vez mais, mostrar a qualidade de suas criações. Nesta edição, selecionamos alguns dos projetos em andamento.

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arquitetura

Novo Terminal do Aeroporto de Guarulhos

Este é um dos projetos apresentados à Infraero. De autoria do arquiteto Mário Biseli, do escritório Biselli e Katchborian Arquitetos Associados, foi planejado com o objetivo de aumentar a capacidade de passageiros em pelo menos 10 milhões de pessoas até a Copa, o restante ficará para depois do evento.

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Com configuração em finger, o Terminal de PassageirosTPS 3 é dividido em embarque e desembarque, além dos níveis intermediários e um subsolo de serviços. Acima do pavimento de embarque fica o mezanino, composto pelas salas VIP e administrativa. Segundo a proposta, o projeto do TPS 3 deve considerar também,

em escala mais ampla, a conexão de todo o complexo aeroportuário com o trecho norte do rodoanel. Ali, será construído um sistema de pistas que ampliará, de maneira significativa, as possibilidades de acesso rodoviário de toda a macrorregião. Acima, área geral do aeroporto, que tem a forma de um avião. Abaixo, vista do meio fio


Museu do Amanhã

Uma aventura rumo ao desconhecido. Esta é a proposta do Museu do Amanhã, planejado pelo premiado arquiteto espanhol Santiago Calatrava. A obra do edifício, com 12,5 mil m², faz parte do plano de revitalização da região portuária do Rio de Janeiro e será executada a partir dos preceitos de sustentabilidade. O Museu do Amanhã será um ambiente de experiências, com um percurso de passeio que vai permitir ao visitante fazer escolhas pessoais, vislumbrar possibilidades de futuro, perceber como será sua vida e a do planeta nos próximos 50 anos. Uma grande área verde contemplará seu entorno, com paisagismo projetado por Santiago Calatrava e desenvolvido pelo escritório carioca Burle Marx e Cia. Com cerca de 30 mil m², o espaço ainda terá área de lazer, ciclovia e um espelho d’água, que envolverá todo o prédio do museu. A proposta é uma iniciativa do Projeto Porto Maravilha, da Prefeitura do Rio de Janeiro, com realização

da Fundação Roberto Marinho em parceria com o Governo do Estado e com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), além de receber apoio da Rede Globo e da Secretaria Especial de Portos. Orçada em R$ 130 milhões, a obra, que foi iniciada em 1º de dezembro de 2010, deverá ser entregue até 2012.

O prédio, com 12,5 mil m², terá na parte superior estrutura em aço que se movimentará como asas contínuas. Acima, um espelho d’água ao redor da edificação usará água do mar filtrada. Um dos objetivos é mostrar aos visitantes o funcionamento de um sistema de filtragem

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arquitetura

Museu de Arte do Rio

Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro por meio da arte. Esta é uma das propostas do Museu de Arte do Rio (MAR), uma das âncoras culturais do plano de revitalização da região portuária da cidade. O projeto é de autoria da dupla de arquitetos cariocas Paulo Jacobsen e Thiago Bernardes. Segundo os arquitetos, a intenção foi integrar o Palacete Dom João VI, construído em 1916 e tombado há cerca de 10 anos pelo Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural (CMPC), ao prédio vizinho, de estilo modernista da década de 1940. No Palacete, que ocupa uma área de 5 mil m², serão distribuídas as salas para exposições temporárias e de longa duração. Já o edifício anexo, onde funcionará a Escola do Olhar, haverá um auditório para 100 pessoas, biblioteca/midiateca, salas de aula, um café e um mirante (na cobertura), além de áreas administrativas. No andar térreo será instalado o café/ loja, bem como áreas de apoio, serviço e técnicas do museu. O projeto, que tem realização da Fundação Roberto Marinho e apoio do Governo do Estado, está previsto para ser inaugurado em 2012.

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Cais das Artes

O projeto integra o Palacete Dom João VI ao prédio modernista. A praça suspensa na cobertura reunirá todos os acessos, bar e área para eventos culturais e atividades de lazer

Concebido pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha em parceria com o escritório paulistano Metro, o Cais das Artes, em Vitória, ES, marca o início de um novo tempo na cultura do Estado. Com cerca de 30 mil m2, o complexo, próximo ao Porto de Vitória, divide-se em dois edifícios e abriga teatro, museu, biblioteca, auditório e café. Durante a concepção, uma das preocupações foi a valorização do entorno, conseguida por meio da configuração do projeto, que indicou a suspensão das edificações do solo. A paisagem histórica também recebeu destaque ao ganhar nova perspectiva no percurso de visitação do museu, cuja circulação vertical se faz por meio de rampas, de onde os visitantes conseguirão observar a cidade. No Cais das Artes, o bloco do museu tem área expositiva de 3 mil m2, e o do teatro, capacidade para 1,3 mil pessoas. Ambas construções receberam estrutura mista de concreto e aço. A obra deverá ser concluída no segundo semestre de 2012.


O Cais das Artes é composto pelo museu, com 3 mil m2, e pelo teatro, que comporta 1,3 mil pessoas. Acima, destaque para um dos ambientes, que se comunica com a praça graças aos caixilhos inclinados

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arquitetura Museu da Imagem e do Som

Desenvolvido pelos arquitetos Elizabeth Diller e Ricardo Scofidio, titulares do estúdio Diller Scofidio e Renfro, de Nova York, e executado pelo escritório Indio da Costa Arquitetura, Urbanismo, Design e Transporte, o Museu da Imagem e do Som tem linguagem inspirada no cenário da Praia de Copacabana e seu distinto calçadão desenhado por Roberto Burle Marx, que captura o principal elemento da praia – um espaço público em movimento – a pé, de bicicleta ou de carro. De acordo com os arquitetos, o projeto foi pensado como uma extensão da avenida, verticalmente prolongada para o interior do museu. Esta “Avenida Vertical” sugere uma inclusão conceitual: espaços internos se cruzam e criam braços para galerias, programas educacionais e áreas públicas de lazer e diversão. A sequência de circulação vertical conecta a calçada aos programas de lazer do museu. Do lobby para o café do terraço; para o cinema e para a boate subterrânea; para o restaurante; para o cinema ao ar livre e para o bar na cobertura. Sua vista panorâmica, superexposta aos turistas nos hotéis e restaurantes da Praia de Copacabana, é, ao mesmo tempo, um paradoxo. Por meio de estratégias de enquadramento, a superfície do museu apresentará esta imagem ao visitante que passar pela sequência de galerias.

Com 6 mil m², o novo MIS contará com espaços para cafés, áreas de exposições, restaurante panorâmico no 3º pavimento, piano bar e um cinema ao ar livre, no terraço 80


Junto ao Gasômetro, será construído novo shopping center que também servirá de acesso ao cais. Abaixo, área das Docas composta por três torres que devem abrigar hotel e escritórios. Na sequência, o projeto contempla ainda um terminal hidroviário, na ponta das Docas

Porto Cais do Mauá

O projeto de revitalização do Porto Cais do Mauá, no centro de Porto Alegre, RS, busca inspiração no movimento modernista brasileiro da década de 1920 para tomar forma. De acordo, com o escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados, responsável pelo desenvolvimento urbanístico, orçado em R$ 400 milhões, a concepção é do estúdio espanhol b720 Fermín Vázquez Arquitetos. Um dos principais objetivos do processo de restauração é valorizar o centro da capital, a fim de atrair a população para aquela região e evitar a necessidade de deslocamento por meio de veículos. Assim como já aconteceu em grandes metrópoles do mundo, a medida para se evitar o caos urbano é investir em transporte público. A iniciativa de revitalização do Cais do Mauá representa, para Porto Alegre, a oportunidade de transformar essa área, hoje subutilizada, em um marco urbano capaz de projetar a imagem da capital gaúcha nos cenários nacional e internacional. 81


fotografia

Para falar de Berlim 82


Memorial do Holocausto (oficialmente memorial aos judeus assassinados na Europa), projetado por Peter Eisenman. Ao lado, o memorial do Muro de Berlim na Bernauer Strasse, símbolo da divisão alemã. Por trás desta parede estilizada, ainda é possível encontar os restos da construção anterior

Nas imagens, os contrastes da cidade europeia contados sob a óptica do fotógrafo paulistano Tuca Vieira Nádia Fischer

O

encanto do fotógrafo paulistano Tuca Vieira por Berlim começou há muito tempo, ainda nos livros de história. Quem conhece a capital alemã sabe que, num rápido passeio, é possível fazer uma leitura bastante completa do que foi o século XX para o país. E foi justamente esta experiência que ele quis transformar em fotografia. “Sempre tive o desejo de mostrar não só a cidade, mas sua atmosfera, e por que não traduzi-lo em imagens?”, diz. Como sempre quis mostrar para as pessoas sua interpretação da noite berlinense, Vieira teve a ideia de criar a “Berlinscapes”, exposição que começou na Gallery, em Nova York, e terminou em agosto 83


fotografia À direita, base da torre de televisão em Alexanderplatz. O ponto em que a foto foi tirada não tem visão acessível da rua. Abaixo, antigo edifício do Ministério da Aviação em Wilhelmstrasse, um dos mais importantes edifícios nazistas ainda existente em Berlim. Atualmente é usado pelo Ministério das Finanças alemão

na Fauna Galeria, em São Paulo. A mostra reuniu 14 fotografias feitas por Tuca Vieira em Berlim, onde viveu três meses, em 2009. Além da predileção pela cidade alemã, o fotógrafo, que por anos se dedicou ao fotojornalismo, conta que começou a fotografar espaços urbanos e toda a arquitetura que o cerca quando sentiu a necessidade de se especializar em um assunto específico. “’Berlinscapes’ é um exemplo, pois o conceito foi além do documental”, conta Vieira, que através das lentes explora, ao máximo, a capacidade de se contar uma história. E Berlim é assim. Em sua opinião, a capital consegue contar sua trajetória por meio da arquitetura e lugares. “Para mim, existe uma relação física entre a história da cidade e a arquitetura”, afirma. Ao todo, foram escolhidos 60 locais por onde o fotógrafo percorreu, na maioria das vezes de bicicleta, à noite, período em que conseguiu capturar a “alma” silenciosa da cidade. Apesar da coletânea variada de fotos, somente 35 foram editadas e, destas, 14 escolhidas pela curadora Ilana Bessler. Segundo o fotógrafo, boa parte, num futuro próximo, será colocada em um livro. Em Nova York foram exibidas 12 e, em São Paulo, acrescentadas duas inéditas. Outra curiosidade é que em todas elas não há presença de pessoas que, na verdade, aparecem por meio de impressões deixadas nas construções monumentais por elas realizadas. 84


Marcas comunistas

Na verdade, o interesse de Tuca Vieira por Berlim surgiu em 1991, quando viajou pela primeira vez para a Europa. Na ocasião, ficou muito impressionado com as marcas deixadas pelo regime comunista, que antes da queda do muro dividiu por anos a Alemanha. Por isso, sua estadia na cidade foi com o propósito de capturar um grande número de imagens. Ele conta que antes da viagem realizou um extenso trabalho de pesquisa, que o ajudou na criação de um roteiro seguido à risca. Ao resumir sua percepção em relação a Berlim, o fotógrafo, que ficou a maior parte do tempo hospedado em Prenzlauer Berg, diz que não esperava um lugar tão tranquilo.

Parque às margens do Rio Spree, arquitetos Weber & Sauer

Um pouco mais sobre Tuca Vieira

Formado em letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (1998), com habilitação em alemão, Tuca Vieira é fotógrafo profissional desde 1991. Trabalhou no Museu da Imagem e do Som, no Sesc-SP e na agência N-Imagens. Fez parte da equipe de fotografia do jornal “Folha de S. Paulo” de 2002 a 2009. Atualmente, é fotógrafo independente e desenvolve projetos envolvendo cidade, paisagem urbana, arquitetura e urbanismo. Em 2010, o paulistano conquistou o Prêmio Porto Seguro, na categoria “São Paulo”. Suas obras estão em acervos de grandes museus, como MASP, Itaú Cultural e Kiyosato Museum of Photographic Arts (Japão), entre outros. Realizou exposições individuais em São Paulo, Brasília e N.York, além de ter participado de coletivas em Veneza, Londres, Madri, Berlim, Munique e Buenos Aires.

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crônica

ÁSIA:

DIÁRIO DE BORDO Pedimos ao Fred que começasse a registrar, durante os voos entre uma cidade e outra, suas primeiras impressões, ou as mais marcantes, ou aquelas emocionantes – ou seja, um diário que falasse sobre design, sobre costumes e paisagens. Sobre a antiga e a nova Ásia Fred Gelli

Chegamos a Taipei e já no aeroporto sentimos o quanto o evento — 1ª Conferência IDA, Industrial Design Asia — era organizado. Meninas sorridentes e um cartaz com meu nome me esperavam. Outro conferencista, vindo da Bélgica, havia chegado comigo, no mesmo voo. Saímos conversando e com vontade de continuar o papo até o hotel, porém a superprodução do evento havia reservado uma BMW série 7 com motorista engravatado para cada um de nós, indo para o mesmo lugar, na mesma hora! Aquilo já não me pareceu um bom começo quanto aos aspectos sustentáveis do evento, mas fazer o quê? Aproveitar a rara mordomia que nós, pobres designers, temos neste mundo corporativo! Colocaram-nos em um hotel luxuoso, bem em frente ao Taipei 101, um dos maiores prédios do mundo, com seus 526 m de altura! A visão da janela do meu quarto daquele mastodonte pós-moderno (parece um monte de caixinhas de comida chinesa, empilhadas) mostra a força da grana e o mau gosto de alguns arquitetos! 86

A conferência foi aberta em grande estilo, com direito à presença do vice-presidente de Taiwan, do prefeito de Taipei e muitas outras autoridades, incluindo os presidentes da Icograda, ICSID e IFI. Tudo em um teatro ocupado por 3 mil pessoas de mais de 50 países. O tema do evento, “Design at the Edges”, me pareceu muito adequado ao momento atual, às oportunidades que se abrem para o design, e também superafinado com minhas apostas para o futuro da nossa profissão, uma vez que trazia para a mesa a dimensão da multidisciplinaridade do design.

Os keynotes speakers eram de áreas diferentes: “Economic Development”, por Mr Esko Aho; “The Internet”, com Mr Barry Lan; “Biotechnology”, abordada por Ms Vandana Shiva; “Internacional Migration”, com Mr Bob Elton. Em cada uma das cinco grandes palestras da parte da manhã, três palestrantes eram convidados para debater o tema apresentado. Fui convidado para participar do tema “Urbanismo”. Confesso que em um primeiro momento não entendi a razão, mas depois achei que fez sentido.

acervo pessoal

Taiwan

Acima, Fred Gelli com Min Wang, diretor da principal escola de design da China e responsável pela direção de design dos Jogos de Pequim 2008


Fotos acervo pessoal

Acima, flagrante do debate após a palestra de Fred Gelli no Design Salon

Abaixo, etapas da embalagem de um docinho de feijão. Baixo impacto ambiental e alto impacto sensorial

Peter Bishop, arquiteto inglês responsável pelo projeto de revisão urbana de Londres para os Jogos Olímpicos de 2012 foi o key speaker. Ele mostrou a importância da flexibilidade e da imprevisibilidade no crescimento das cidades e de como é fundamental garantir espaço para as transformações orgânicas que as cidades demandam. Eu tentei

contribuir trazendo uma perspectiva biomimética para a discussão. Falei

que, no fundo, as cidades são ecossistemas e, como tais, a base do sucesso das mesmas depende de relações onde todos ganham, como acontece nos bancos de corais ou nas florestas tropicais.

Acho que funcionou e, como sempre, a abordagem de buscar inspiração na natureza para os nossos grandes desafios criativos deixa as pessoas com a sensação de estarem vendo algo de vanguarda, mas ao mesmo tempo de uma total obviedade, pois, de alguma

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interiores crônica

acervo pessoal

um leito em um hospital construído por ele sai por U$ 35.000,00 nos EUA, esse custo salta para U$ 3.000.000,00. Cem vezes mais! Marco lidera um projeto em uma agência financiada por fundos governamentais e privados, que busca um modelo de cidade sustentável. Ele trabalha na transformação de um quarteirão em Helsinque com todas as providências necessárias para viabilizar uma cidade sustentável. Energia, transporte, lixo, compartilhamento de espaços estão no centro do trabalho, que começa a ser prototipado no início do ano que vem. Apresentei o case do “Desenvolvimento da Marca Olímpica”, ainda no tema Urbanismo. Nas perguntas e considerações, vimos que o que sobressai é o fato das pessoas enxergarem na marca nossa energia, nossa diversidade e nossa disposição para realmente transformar a cidade! Reforcei que minha presença em um painel sobre Urbanismo tinha a ver com o fato que, para darmos conta do enorme desafio criativo que temos pela frente, deveremos somar esforços e conhecimento. E nós,

Acima, prédio high tech em Tóquio com inspiração nas técnicas ancestrais de uso do bambu

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forma, é um conhecimento que todos nós temos. É intuitiva. À tarde, participei do Design Saloon, onde cada um dos três palestrantes da manhã apresentavam seus trabalhos em 25 minutos, deixando os 20 minutos finais para um debate com o público. Dois eram Michael Murphy e Marco Steinberg, arquitetos, respectivamente, dos EUA e Finlândia. Michael tem um trabalho muito especial, desenha e constrói hospitais e escolas na África. Prédios de baixo custo, que utiliza materiais e tecnologias alternativas, assim como mão de obra local. O resultado é brilhante e efetivo. Enquanto o custo de

designers, teremos um papel decisivo nesse processo, pois sabemos intuitivamente como colar saberes, atrair e juntar pessoas de diferentes áreas.

No evento, encontramos pessoas muito especiais, como Min Wang, diretor da principal Escola de Design da China e responsável por toda a direção de design dos Jogos de Pequim, em 2008. Com-

binamos manter contato, e ele me convidou para ir a Pequim conhecer os bastidores do processo criativo que lidera. Bruno Porto, designer que me recebeu de forma incrível em Xangai, apresentou um painel sobre o ding bats no Brasil. Depois, emendou uns free days no Japão e me apresentou alguns dos representantes da Icograda, com quem teve contato em outros eventos mundo afora. Dan Formosa, fundador da Smart Design, e Hartmurt Hessilinger, da Frog, foram outras cabeças com as


avaliação do evento foi muito positiva, especialmente pela proposta de trazer para a mesa discussões que ampliaram radicalmente as dimensões usuais nos eventos de design.

Uma keynote, como Ms. Vandana Shiva, falando de Biotecnologia, ou ainda Mr. Esk Aho, ex-primeiro ministro da Finlândia, falando de Economia, me parece abrir espaço para um universo de novas oportunidades muito inspiradoras para utilizarmos toda a nossa capacidade criativa e de articulação.

Tóquio

E a viagem continua! O primeiro contato com a cidade foi um pouco estranho quando soube que no hotel não havia wi-fi disponível, nem na recepção... hem? Sem internet em uma das cidades mais high tech do mundo? Como assim? Pois é, nem nas Starbucks em Tóquio o wi-fi é free! Acabei tendo de filar uma conexão em uma Apple Store! Os contrastes entre o high tech e o low tech estavam só começando em nosso curto, porém inspirador, mergulho no mundo japonês! Os táxis são todos da marca Toyota com cara de Corcel II, encostos de cabeça rendados e as combinações de cores na lataria das mais inusitadas – verde-água com faixa quadriculada azul e cinza, mostarda com faixa laranja! Todos com cara de match box, impecavelmente limpos e sem um arranhão. A foto de um deles acabou no meu descanso de tela do celular! Povo cordial, aparentemente um pouco ingênuo e muito formal: pedimos informações na rua para as pessoas que não falavam quase nada de inglês, mas que, ainda assim, se esforçavam ao máximo para nos ajudar, usando seus GPS nos iPhones, ou ainda nos pegando pelo braço e nos deixando na porta dos lugares.

A experiência de compra variava das “performances” da 25 de Março, com meninas de voz esganiçada, “supostamente” anunciando as ofertas das lojas de eletrodomésticos; em Shinjuku, até as lojas mais sofisticadas de Guinza, com os projetos arquitetônicos mais incríveis, como a clássica loja da Prada (presente em dez entre dez livros de Retail Experience) e que de perto é ainda mais surpreendente; ou ainda a loja da nova marca do Issey Miyake, com uma linha de roupas planificadas, absolutamente geniais, com inspiração biomimética (sequência de Fibonacci) chamada 1, 2, 3, 5.

Nas ruas, você não encontra lixeiras facilmente, isto porque administrar o lixo deve ser uma tarefa individual, o que aumenta a consciência da população e reduz os custos para o Estado. Tivemos a sorte de estarmos em Tóquio no fim de semana do Halloween, e assistirmos a um verdadeiro carnaval de rua em Shibuya, com milhares de pessoas fantasiadas de tudo o que se possa imaginar. De Smurfs, super-heróis, às indefectíveis fantasias de personagens dos mangás, verdadeira mania nacional! As filas das Familys Marktes, rede de lojas espalhadas por toda a Ásia, eram verdadeiras experiências surreais, com pessoas de todo o mundo festejando de uma maneira leve e muito, muito divertida!

se aproxima de uma visão do paraíso (feito pelo homem) na Terra! Os espaços, o uso dos materiais, a escala humana com pé-direito baixo e os tatames no chão, sem móveis, a harmonia nos ornamentos, a maneira como os prédios interagem com a natureza e com os jardins integrados no ambiente, o bambu por toda a parte, usado com poesia, a madeira, a palha, a água sempre presente... Isto tudo somado à experiência de andar nas ruelas em volta dos templos com suas lojinhas de iguarias de todos os tipos, de sushis, biscoitinhos e bolinhos de feijão, passando por leques produzidos do mesmo jeito há centenas de anos, tudo embalado de forma precisa, mínima e, simplesmente, linda. Nesta hora, vivendo esta experiência em um dia lindo de céu azul e temperatura perfeita, eu viajei no tempo... No tempo em que com 18 anos, no primeiro ano da faculdade, tive contato com um livro de embalagens tradicionais japonesas. Ver a maneira como os materiais naturais, folhas, palha, madeira e o próprio bambu eram combinados com maestria para embalar alimentos, bebidas e outros produtos típicos do Japão Abaixo, minimalismo e elegância das formas e simplicidade das estruturas nas embalagens japonesas. Fonte de inspiração original da Tátil há 25 anos acervo pessoal

quais tivemos a oportunidade de tomar a boa cerveja Asahai em alguns dos eventos oficiais (uns melhores do que os outros!) e que ocuparam nossas três noites em Taipei. De um modo geral, minha

Kyoto, momento emoção

Bom, na sequência, uma viagem no tempo, na história do Japão e na minha história. A antiga capital do Império (até 1869), que eu chamava de Paraty japonesa, é simplesmente incrível! Passamos apenas um dia e uma noite por lá, mas foi suficiente para provocar em mim uma sequência de sensações difíceis de explicar! Kyoto tem alguns dos templos e palácios mais importantes do Japão, com sua arquitetura clássica e seus jardins cuidados à perfeição. O conjunto, para mim, é o que mais 89


acervo pessoal

crônica

Detalhe de banca de comida em Kioto: a poesia da experiência de compra

despertaram em mim um interesse pelas soluções que respeitam os “desejos dos materiais”. As soluções mínimas, sem cola, só com dobraduras, deixando os materiais expressivos se manifestarem.

Do equilíbrio dos caracteres aplicados em preto e vermelho sobre papéis artesanais às grandes áreas limpas das superfícies, às sobreposições de letras e carimbos com brasões, tudo combinado com amarrações minimalistas, com diagonais e nós com pontas soltas. Foi desta estética harmoniosa, provocante e mínima que surgiu a Tátil! Eu

parecia uma criança, sem parar de fotografar, me deliciava com toda 90

aquela infindável inspiração tão profundamente entranhada em mim! O Bruno achou que eu estava passando mal, pois de fato eu fiquei emocionado com o contato direto com o que, de alguma forma, deu origem a todo o meu caminho profissional. Os primeiros produtos da Tátil, embalagens, pastas, objetos para mesa, todos feitos com materiais reciclados, amarrados e não colados, com desenhos mínimos, que buscavam as formas que os materiais queriam ter, foram fruto direto dessa estética e “filosofia” que eu estava, pela primeira vez, tendo um contato tão direto e intenso! A sensação era e é meio desconcertante, pois de fato havia visto apenas um livro, algumas imagens, não um mergulho profundo na época, mas o suficiente para despertar em mim uma conexão com essa forma de ver e fazer design que acabaram me trazendo até aqui. E, hoje, mais de 23 anos depois, me sinto tão emocionado e impactado por essa beleza, por essa harmonia e equilíbrio, como quando era apenas um garoto interessado na maneira como a natureza embalava as coisas. Acho que, no fundo, os japoneses sempre foram mestres em biomimética. Sempre souberam ler a natureza e suas soluções de uma maneira única. O jeito como embrulham um doce em uma folha de bananeira é quase como o jeito com que a própria natureza protege uma semente. No fundo, acho

que acabei esbarrando com essas duas fontes de inspiração ao mesmo tempo. E, hoje, a sensação que tenho é a de uma intimidade com todo esse universo estético desproporcional ao meu real contato e conhecimento nesse tempo todo. Quase como se eu já tivesse vivido lá. No meio daqueles bambuzais. Tive vontade enorme de ficar, de fazer um estágio, sei lá... de conviver com aqueles mestres e sua maneira de ver o mundo. Em uma lojinha de produtos de bambu, com uma foto do senhor Lin, um dos que melhor trabalham o material por ali, tive

vontade de levar tudo comigo. Dos pequenos animais feitos com graça até os pincéis feitos com bambu especialmente para pintar “folhas de bambu”, material reverenciado pelo povo japonês pela flexibilidade e resistência. Saindo de lá, entramos em um pequeno restaurante que, do lado de fora, tinha um pequeno lago na porta, com água cristalina e carpas vermelhas nadando. A senhora nos serviu um chá, seguido de uma sopa de missô com legumes e noodles, tudo mínimo e lindo, simples e profundo, como tudo que mora na cultura japonesa. O mais desconcertante era ver toda essa estética aplicada em milhares de produtos produzidos em grande escala. Em todas as estações de trem, milhares de refeições são embaladas em folhas, caixas de papel, embrulhos mínimos e elegantes. Nas prateleiras das lojas de conveniência, são milhares de embalagens de biscoitos, xampus etc., que representam esse design único feito por lá. Ao mesmo tempo, nos mesmos lugares, existem as revistas com fotos de adolescentes seminuas, capas com alta densidade de caracteres com cor de chiclete. Nas ruas, vemos o excesso de luminosos, a overdose de propaganda por todos os lados. Difícil entender como eles convivem com estes dois lados de uma mesma moeda. Como um lugar onde o jardim zen foi inventado, com sua atmosfera paradisíaca, também pode ser o berço do Patchinco, mania nacional espalhada pelas esquinas de Tóquio? Jogos do tipo fliperama,

com milhares de bolinhas metálicas que ficam circulando dentro de máquinas coloridas “piscantes”, produzindo um barulho insuportável. Isso tudo em um ambiente onde é permitido fumar! Dá pra imaginar? Para mim, é a visão do inferno! Difícil entender... Acho que terão de haver mais algumas idas à “Terra do Sol Nascente” para conseguir alcançar a complexidade desse povo tão sutil e profundo, que, em minha opinião, sabe, como ninguém, combinar corpo e alma em tudo o que faz.



biblioteca

DESENHO DE FIBRA Paloma Moreira

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éculo XVIII. Revolução Industrial. Uma época marcada também pelo início da luta daqueles que tinham as mãos como principal ferramenta de trabalho. Uma luta que não era só deles, mas também de movimentos liderados por intelectuais e artistas que se opunham à produção massificada, que preferiam qualidade à quantidade. É como se inicia o livro de Renato Imbroisi, “Desenho de Fibra”, escrito em parceria com a jornalista Maria Emilia Kubrusly. É praticamente impossível falar em design têxtil sem mencionar Imbroisi, que começou a trabalhar com tecelagem manual no final dos anos 1970. Autodidata, desenvolveu um método próprio de trabalho introduzindo no artesanato as premissas do design. “Desenho de Fibra” apresenta a trajetória de Imbroisi, que há mais de 20 anos desenvolve trabalhos de artesanato e tecelagem. São 140 projetos vivenciados com artesãos em 23 estados brasileiros, passando

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também pelo Japão, Itália, Moçambique e São Tomé e Príncipe, os dois últimos na África. “Percorri o Jalapão inteiro, fui a outros municípios em que não havia trabalhado para dar aulas – Mumbuca, Mateiros, São Félix e Prata – para umas 120 pessoas. Reencontrei conhecidos, pessoas que já tinham sido meus alunos. Meninas que eu conheci criança, há 9 anos, agora são artesãs. Uma delas me contou que, naquela época, ela ia escondida ter aulas comigo, pois havia sido alertada para fugir dos ‘homens brancos que vêm de fora’, que poderiam raptá-la e levá-la embora. Ela disse que sentia medo, mas enfrentava porque queria muito aprender.” Essas são as palavras de Imbroisi, em um trecho do livro, que descreve uma de suas experiências com artesãos do Jalapão, região do Estado de Tocantins, conhecida pela produção com capim dourado. São dezenas de histórias e experiências vividas durante suas estadias nessas regiões. Relatos que, acompanhados de belíssimas fotos, expressam a essência de seu trabalho.


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fotos Bob Toledo


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como encontrar ABD Paraná (41) 3324-0280, Curitiba (PR) www.abd.org.br ACTC (11) 3088-2286 / 3085-0624 / 3898-1406, São Paulo (SP) www.actc.org.br ADI Itália www.adi-design.org Alcantarino Estúdio de Design (21) 2227-1028, Rio de Janeiro (RJ) www.alcantarino.com Alessi www.alessi.com

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Conferência IDA – Industrial Design Asia www.2011idacongress.com

Estudio Guto Requena (11) 2528-1700, São Paulo (SP) www.gutorequena.com.br

Consuman Design (11) 7892-9722, São Paulo (SP) www.cosumann.com.br

Faro Design (51) 3333-1715, Porto Alegre (RS) www.farodesign.com.br

Bernardes & Jacobsen (11) 3082 6834, São Paulo (SP) www.bjaweb.com.br Biselli e Katchborian Arquitetos Associados (11) 3845-5145, São Paulo (SP) www.bkweb.com.br

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CASA BRASIL www.casabrasil.com.br Centro de Design Paraná (41) 3018-7332, Curitiba www.centrodedesign.org.br

Alias www.aliasdesign.it Arper www.arper.com Artesanato Sustentável do Amazonas (61) 8151-8133, Brasília (DF) www.visitamazonas.am.gov.br

Cequipel – “Carteira Desk One, pg 39” (11) 5575-8293, São Paulo (SP) www.cequipel.com.br/estrutura

Estúdio Campana (11) 3825-3408, São Paulo (SP) www.campanas.com.br

Coza (54) 2101-5600, Caxias do Sul (RS) www.coza.com.br

Fermín Vázquez www.b720.com Fetiche Design (41) 3024-5518, Curitiba (PR) www.fetichedesign.com.br

Diller Scofidio e Renfro www.dsrny.com Duo Casa (41) 3014-9393, Curitiba (PR) www.duocasa.net Editora SENAC (11) 2187-4450, São Paulo (SP) www.editorasenacsp.com.br

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Diretora editora Maria Helena Estrada

Designers Edilson Kato Luciane Stocco Luiz Marques

Redatoras Camila Marques Nádia Fischer Revisora Deborah Peleias Estagiária Paloma Moreira Projeto gráfico Fogo Design 96

Participaram desta edição Fred Gelli, Renata Mellão e Waldick Jatobá Comercial e Marketing Cristiano Barata Circulação e assinaturas Rita Cuzzuol

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Instituto e www.institutoe.org.br Interni (11) 3081-1664, São Paulo (SP) www.interni.com.br

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últiMA pÁgina Painel de Fernando e Humberto Campana criado para a mostra itinerante “Anticorpos”, organizada pelo Vitra Design Museum Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo, SP

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Material: magueiras plásticas de PVC de diversas cores

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