Revista Literária EdN - 2021/2022 - Semana de Arte Moderna

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A N O S D A S E M A N A D E A R T E M O D E R N A

CONCEITO MODERNA

Produção dos estudantes da turma A

Revisitações históricas, análises críticas, releituras e produções dos estudantes do grade 9 em homenagem aos 100 anos da Semana de Arte Moderna

LA BELLART

Produção dos estudantes da turma B

100
N º 1 G R A D E 9 2 0 2 1 / 2 0 2 2

O PROJETO

Em 1922, São Paulo foi o palco brasileiro de uma grande transformação cultural. Naquele ano, a Semana de Arte Moderna, que aconteceu de 11 a 18 de fevereiro, no Teatro Municipal, marcava a renovação do contexto artístico cultural urbano e buscava renovar a arte brasileira nos campos da literatura, das artes plásticas, da música e da arquitetura.

Durante aquela semana, a nova linguagem marcou a construção de uma liberdade criadora, mas o cenário não era propício à transformação. Em meio à República Velha, o conservadorismo estava habituado aos modelos estéticos europeus mais arcaicos, e o movimento era marcado por ideias inovadoras, que aboliam a perfeição estética apreciada no século XIX.

Alvo de muitas críticas, a Semana de Arte Moderna só ganhou sua importância com o passar dos anos, e o seu principal legado foi desprender a arte brasileira da reprodução de padrões europeus, dando início à construção de uma cultura essencialmente nacional.

Pensando na importância que a Semana de Arte Moderna de 1922 teve ao longo da história cultural brasileira, os estudantes do 9º ano da Escola das Nações produziram uma revista literária sobre o centenário deste evento, a qual inclui textos que propõem revisitação histórica ao período, análise crítica do evento e de obras a ele relacionadas, produção e releitura de obras. O projeto foi desenvolvido ao longo do 3º trimestre e envolveu as disciplinas de artes (prof. Maíra Figueiredo), história do Brasil (prof. Rafael Leporace) e língua portuguesa (prof. Stella Avelino).

O objetivo foi fazer com que os estudantes, de forma autônoma, pesquisassem e produzissem textos com viés crítico e informativo sobre a Semana de Arte Moderna, evento significativo para produção artística e cultural brasileira. Para além disso, a revista é um meio de divulgação que propicia certa liberdade na criação de suas páginas, fato que possibilitou aos discentes a prática de gêneros textuais diversos e habilidades de edição e diagramação.

O resultado desse projeto é a revista que você tem agora em mãos. Os estudantes do 9º ano A e B assumiram o protagonismo e elaboraram todas as próximas páginas, desde a produção de conteúdos dentro da temática delimitada até a revisão dos textos e diagramação e edição para a entrega final.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Semana de Arte Moderna marcou a transformação do contexto artístico e cultural brasileiro. Disponível em: https://www.educacao.sp.gov.br/semana-de-arte-moderna-marcou-atransformacao-do-contexto-artistico-e-cultural-brasileiro
E D I Ç Ã O S E M A N A D E A R T E M O D E R N A M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 2 2 | E D I Ç Ã O N º 1 | S C H O O L O F N A T I O N S
9º A
CONCEITO MODERNA
SUMÁRIO
CAPA E DIAGRAMAÇÃO Beatriz cueva Isabella arduini Valentina michels
Izabela SICILIANO Rafaela PROENÇA
Arthur Covre Pedro Madruga REVISITAÇÃO HISTÓRICA ANA MARTINS VICTORIA DJEDJEIAN REVISITAÇÃO CRÍTICA ROBERTO FILHO
CRÍTICAS Ananda ENGELHARDT Daniela MARTINEZ Eduardo MESSIAS Davi MUTZIG Gabriel COUTINHO Henrique VIEIRA LuiZ CESAR Marcella CARRARA COMPOSIÇÕES ARTÍSTICAS MARCELLA CARRARA IZABELA SICILIANO semana de arte moderna izabela siciliano e rafaela proença 7 era uma vez roberto filho 8 resenha crítica: esverdeada daniela fernandez 10 resenha crítica: esverdeada eduardo messias 11 resenha crítica: ingenuidade marcella carrara 12 resenha crítica: lição de casa henrique barradas 13 resenha crítica: luz no fim da nuvem luiz cesar 14 resenha crítica: vanguard davi mutzig 17 resenha crítica: gandaia gabriel coutinho 18 resenha crítica: proletariado ananda engelhardt 19 releitura: composição (figura só) marcella carrara 20 releitura: composição (figura só) Izabela siciliano 21 nostálgica ana martins e victoria djedjeian 22
CORPO EDITORIAL
EDITORIAL
REVISÃO TEXTUAL
RESENHAS

semanadeartemoderna

A SEMANA DA ARTE MODERNA FOI CRIADA PARA QUE OS ARTISTAS PUDESSEM EXPOR SEUS TALENTOS E QUESTIONAR A ARTE QUE, ATÉ ENTÃO, ERA FEITA NO BRASIL. ESSE EVENTO ACONTECEU ENTRE OS DIAS 13 E 17 DE FEVEREIRO E FOI MAJORITARIAMENTE FINANCIADO PELA OLIGARQUIA PAULISTA. O OBJETIVO DESTE EVENTO IDEALIZADO POR UM GRUPO DE JOVENS ERA RENOVAR O AMBIENTE ARTÍSTICO, E MOSTRAR E FALAR SOBRE O QUE HAVIA DE MAIS MODERNO EM ESCULTURA, ARQUITETURA, MÚSICA E LITERATURA BRASILEIRA. ANITA MALFATTI, DI CAVALCANTI, VICTOR BRECHERET, HILDEGARDO VELLOSO, RENATO DE ALMEIDA, MÁRIO DE ANDRADE, GUIOMAR NOVAES E ERNANI BRAGA FORAM ALGUNS DOS ARTISTAS QUE PARTICIPARAM DA SEMANA QUE TEVE LUGAR NO TEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. ALGUNS DESSES ARTISTAS ERAM PINTORES, OUTROS ESCULTORES, MÚSICOS E POETAS. DITO ISSO, ESTA REVISTA TEM COMO FINALIDADE MOSTRAR COMO OS ESTUDANTES DA ESCOLA DAS NAÇÕES DE BRASÍLIA VEEM ESSE EVENTO QUE FOI O PRINCÍPIO DO MODERNISMO BRASILEIRO. CONTUDO, ESSA É UMA VISÃO CRÍTICA, POIS A SEMANA DA ARTE MODERNA, DEPOIS DE 100 ANOS, NÃO É MAIS TUDO AQUILO QUE TODOS ACHAVAM EM 1922 SENDO ASSIM, NAS PRÓXIMAS PÁGINAS

SERÃO ENCONTRADOS TEXTOS QUE EXPLICAM UM POUCO SOBRE A

SEMANA DA ARTE MODERNA QUE OCORREU NO ANO DE 1922; SEU CONTEXTO DE REALIZAÇÃO E UMA REVISITAÇÃO CRÍTICA, QUE

BUSCA ENXERGAR ESSE EVENTO MODERNISTA A PARTIR DE NOVAS

PERSPECTIVAS. ALÉM DISSO, HÁ TAMBÉM RESENHAS DE OBRAS

MODERNISTAS E ALGUNS TRABALHOS ARTÍSTICOS QUE FAZEM

REFERÊNCIA AO MODERNISMO BRASILEIRO INICIAL E QUE FORAM

PRODUZIDOS PELOS PRÓPRIOS ESTUDANTES.

P O R : I Z A B E L A S I C I L I A N O E R A F A E L A P R O E N Ç A
7

eraumavez:

TEXTO DE APRESENTAÇÃO

N H A S G E R A I S , O

P R I N C I P A L O B J E T I V O D E S S A

S E M A N A E R A A P R E S E N T A R

O U T R O S T I P O S D E A R T E

A L É M D A C L Á S S I C A E

A D I C I O N A R U M T O Q U E M A I S

" B R A S I L E I R O " P A R A A A R T E

P R O D U Z I D A N O P A Í S .

É UM FATO QUE A SEMANA FOI UM

EVENTO QUE IMPACTOU BASTANTE

A ARTE NO BRASIL, POIS FOI O

PONTAPÉ INICIAL PARA UMA

REVOLUÇÃO ARTÍSTICA QUE

ACONTECERA AO LONGO DE TODO

O SÉCULO XX. A SEMANA DE ARTE

MODERNA FOI RESPONSÁVEL POR

PROMOVER A VISÃO DE QUE ARTE

NÃO É APENAS CLÁSSICA, COM

FOCO NO REALISMO E NA

IMITAÇÃO DA REALIDADE ASSIM, O

MOVIMENTO AJUDOU A TRAZER

PARA A PRODUÇÃO ARTÍSTICA

NACIONAL UMA IDENTIDADE

CULTURAL MAIS A CARA DO BRASIL

E MENOS INFLUENCIADA PELA

EUROPA. É EVIDENTE QUE AINDA

EXISTIA MUITA INFLUÊNCIA, ATÉ

PORQUE NÃO FOI NO BRASIL QUE

SURGIU O MOVIMENTO

MODERNISTA, ELE ESTAVA EM

VOGA EM TODA A EUROPA JÁ NO

INÍCIO DO SÉCULO XX DEVIDO AO

SURGIMENTO DAS VANGUARDAS –

FAUVISMO, CUBISMO, EXPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO ETC. ENTRETANTO,

APESAR DE TODA A INFLUÊNCIA, O

MODERNISMO BRASILEIRO BUSCOU

MOLDAR UMA NOVA IDENTIDADE

CULTURAL AO ADICIONAR

ELEMENTOS BRASILEIROS AOS

IDEAIS MODERNOS DE TRANSFORMAÇÃO.

É IMPORTANTE, AINDA, SABER QUE, EMBORA TENHA EXISTIDO UM IDEAL CULTURAL QUE TENTAVA RECONHECER O BRASIL POR

COMPLETO, A SEMANA DE ARTE MODERNA FOI UM EVENTO BASTANTE ELITISTA, PRINCIPALMENTE PORQUE ERA BANCADO PELA

ARISTOCRACIA PAULISTA DO CAFÉ E, POR ISSO, DIRECIONADO PARA PESSOAS MAIS RICAS. ESSE FATO, POR MAIS INCÔMODO QUE SEJA, NÃO NEUTRALIZA A

DIFUNDIR
ARTE MODERNA
TERRITÓRIO
PREPARAR A POPULAÇÃO ATÉ ENTÃO BASTANTE CONSERVADORA NO VIÉS ARTÍSTICO PARA OUTROS TIPOS DE ARTE A S E M A N A D E A R T E M O D E R N A A C O N T E C E U E M 1 9 2 2 E N T R E O S D I A S 1 3 E 1 7 D E F E V E R E I R O E M L I
IMPORTÂNCIA QUE O EVENTO TEVE EM COMEÇAR A
A
EM
NACIONAL E, ENFIM,
P A I S A G E M D A E S P A N H A ( 1 9 2 0 ) J O H N G R A Z P O R : R O B E R T O F I L H O 8

NÃO SOU ALEGRE NEM SOU TRISTE: SOU POETA.

IRMÃO DAS COISAS FUGIDIAS, NÃO SINTO GOZO NEM TORMENTO.

ATRAVESSO NOITES E DIAS NO VENTO.

SE DESMORONO OU SE EDIFICO, SE PERMANEÇO OU ME DESFAÇO, — NÃO SEI, NÃO SEI. NÃO SEI SE FICO OU PASSO.

SEI QUE CANTO. E A CANÇÃO É TUDO.

TEM SANGUE ETERNO A ASA RITMADA.

E UM DIA SEI QUE ESTAREI MUDO: MAIS NADA.

E U C A NTO PORQUE
X
S T E
O INSTANTE E
I
P I E R R E T E ( 1 9 2 2 ) D I C A V A L C A N T I M O T I V O ( 1 9 6 3 ) - C E C Í L I A M E I R E L E S E A MINHA VIDA E STÁ COMPLETA. 9

ANITA MALFATTI FOI UMA ARTISTA BRASILEIRA

DO SÉCULO 19 E 20. ELA FOI A PRIMEIRA

ARTISTA A INTRODUZIR A ARTE MODERNA NO BRASIL, FATO QUE LHE GEROU MUITAS CRÍTICAS. CHAMA ATENÇÃO, EM ESPECIAL, A CRÍTICA FEITA POR MONTEIRO LOBATO, A QUAL

FOI UM DOS MOTIVOS PARA IDEALIZAÇÃO DO EVENTO QUE SE TORNARIA A SEMANA DE ARTE MODERNA

A MULHER DE CABELOS VERDES É UMA OBRA CRIADA EM 1916 E FOI APRESENTADA NA SEMANA DE ARTE MODERNA EM 1922. ELA

REPRESENTA UMA MULHER DE IDADE

AVANÇADA COM O CABELO PINTADO DE VERDE, ALGO MUITO INOVADOR PARA AQUELA ÉPOCA

AINDA CONSERVADORA NO QUESITO

ARTÍSTICO. ISSO TORNA O QUADRO BASTANTE REVOLUCIONÁRIO.

HOJE, É POSSÍVEL PERCEBER A GRANDEZA

DESSE LEVANTE ARTÍSTICO. CONTUDO, DO PONTO DE VISTA DAS PESSOAS DO BRASIL DA ÉPOCA, A PINTURA É TÃO TRANSGRESSORA QUE CHEGA A SE TORNAR INCOMPREENSÍVEL

ACOSTUMADO AO TRADICIONAL, AOS RETRATOS REALISTAS DE PESSOAS IMPORTANTES, DE BELAS PAISAGENS ETC., O PÚBLICO BRASILEIRO DO PERÍODO NÃO VIA SENTIDO EM UM RETRATO DISFORME E COM CORES EXCÊNTRICAS.

A IDEIA DE MOSTRAR OUTRA MANEIRA DE VER O MUNDO ATRAVÉS DA ARTE É ENGENHOSA, MAS TAMBÉM PODE SER PERIGOSA DEVIDO AO PÚBLICO TRADICIONALISTA. PORTANTO, É CERTO AFIRMAR QUE MALFATTI SOUBE CORRER RISCOS COM O PROPÓSITO DE EXPRESSAR-SE

ARTISTICAMENTE

RESENHA A M U L H E R D E C A B E L O S V E R D E P O R : D A N I E L A F E R N A N D E Z 10
esverde

eada:

CRÍTICA

A MULHER DOS CABELOS VERDES É UMA OBRA PINTADA POR ANITA MALFATTI ENTRE OS ANOS DE 1915 E 1916. ELA FOI EXPOSTA NA SEMANA DA ARTE MODERNA E RETRATA UMA MULHER IDOSA COM CABELOS VERDES.

ESSA OBRA FOI MUITO IMPORTANTE PARA O MOVIMENTO MODERNISTA NO BRASIL, PORQUE FUGIA DOS PADRÕES DA ÉPOCA. ELA CAUSOU UM GRANDE ALVOROÇO NESSE MOVIMENTO ARTÍSTICO, POR SER UMA OBRA QUE UTILIZA CERTA DEFORMAÇÃO, DIVERGINDO DOS MODELOS CLÁSSICOS.

A PINTURA PASSA UMA MENSAGEM DE QUE AS MULHERES NÃO TÊM DE TER MEDO DE ENVELHECER.

MALFATTI FEZ USO DA TÉCNICA ÓLEO SOBRE TELA EM UM QUADRO 51,00 CM X 61,00 CM.

HOJE, A TELA ENCONTRA-SE EM UMA COLEÇÃO PARTICULAR

P O R : E D U A R D O M E S S I A S ( 1 9 1 3 - 1 9 1 6 ) A N I T A M A L F A T T I 11

ingenuidade:

RESENHA CRÍTICA P O

A BOBA (1915-1916), POR ANITA MALFATTI, É UMA OBRA QUE EXPRESSA INGENUIDADE ATRAVÉS DO ESTILO CUBISTA E FUTURISTA. CONSIDERADA UMA DAS OBRAS MAIS IMPORTANTES DA PINTORA, NO MOMENTO

LOCALIZADA NO MAC USP, MALFATTI CONSEGUIU REPRESENTAR O PROTAGONISMO DE UMA MULHER JOVEM E EXPRESSIVA. A OBRA CONSEGUE CHAMAR MUITA ATENÇÃO POR CONTA DE SUAS PINCELADAS ÚNICAS E CORES VIBRANTES. ESTEVE NA SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922, POR QUEBRAR AS BARREIRAS E EXPECTATIVAS CRIADAS PELA SOCIEDADE E OS PADRÕES DA ÉPOCA.

MOÇA LINDA BEM TRATADA, TRÊS SÉCULOS DE FAMÍLIA, BURRA COMO UMA PORTA: UM AMOR.

GRÃ-FINO DO DESPUDOR, ESPORTE, IGNORÂNCIA E SEXO, BURRO COMO UMA PORTA: UM COIÓ.

MULHER GORDAÇA, FILÓ, DE OURO POR TODOS OS POROS BURRA COMO UMA PORTA: PACIÊNCIA...

PLUTOCRATA SEM CONSCIÊNCIA, NADA PORTA, TERREMOTO QUE A PORTA DE POBRE ARROMBA: UMA BOMBA.

M A R C E L L A C A R R A R A
R :
A B O B A ( 1 9 1 3 - 1 9 1 6 ) A N I T A M A L F A T T I
M O Ç A L I N D A B E M T R A T A D A M Á R I O A N D R A D E 12

liçãodecasa:

RESENHA CRÍTICA

A ESTUDANTE, OBRA DE ANITA MALFATTI, PINTADA EM 1916, FOI EXPOSTA NA SEMANA DA ARTE MODERNA DE 1922.

O QUADRO RETRATA UMA

JOVEM MULHER COM O QUE PARECE SER UM UNIFORME

ESCOLAR, SENTADA EM UMA

CADEIRA E PROVAVELMENTE

ESTUDANDO

ESSA OBRA IMPACTOU O

MOVIMENTO MODERNISTA, PORQUE ELA NÃO SEGUIA O PADRÃO DO ROSTO HUMANO

PERFEITO, QUE ERA APRECIADO NA ÉPOCA.

ELA UTILIZA CORES FORTES E QUENTES, O QUE É UMA CARACTERÍSTICA MUITO

PRESENTE NAS PINTURAS DA ARTISTA.

A PINTURA UTILIZA A TÉCNICA

ÓLEO SOBRE TELA, EM UM

QUADRO 61,00 CM X 76,00 CM.

HOJE, A PINTURA ESTÁ

LOCALIZADA NO MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO.

P O R : H E N R I Q U E B A R R A D A S
A E S T U D A N T E ( 1 9 1 6 ) A N I T A M A L F A T T I 13

O FAROL DE MONHEGAN É UMA OBRA FEITA POR

ANITA MALFATTI, ENTRE OS ANOS DE 1915 E 1917. O

QUADRO FOI PINTADO NA

ILHA DE MONHEGAN, NA

COSTA LESTE DOS ESTADOS UNIDOS, QUANDO ANITA ERA ALUNA DO PROFESSOR HOMER BOSS. ESTE, DIFERENTE DE OUTROS

PINTORES, PERMITIA QUE SEUS ALUNOS SE EXPRESSASSEM COM LIBERDADE.

O RESULTADO DISSO É UMA TELA COM INFLUÊNCIAS

EXPRESSIONISTAS APRENDIDAS DURANTE O TEMPO EM QUE

MALFATTI PASSOU ESTUDANDO NA ALEMANHA. NO QUADRO, ANITA REPRESENTA UM FAROL E AS CASAS PERTO DELE. O USO DE VÁRIAS CORES FORTES E VIBRANTES EXPRESSA UM GRANDE

DINAMISMO, SEGUINDO O ESTILO MODERNISTA. ESSE É UM

QUADRO QUE UTILIZA CORES QUENTES E QUE, NA ÉPOCA, QUEBROU MUITOS PADRÕES, POR ISSO FOI EXIBIDO NA SEMANA DE ARTE MODERNA.

luznofimdanuvem

RESENHA CRÍTICA P O R : L U I Z C E S A R
O F A R O L D E M O N H E G A N ( 1 9 1 5 - 1 9 1 7 ) A N I T A M A L F A T T I 14
N Ú C U B I S T A ( 1 9 1 6 ) , A N I T A M A L F A T T I .

ossapos

POEMA DE MANUEL BANDEIRA, LIDO NA SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922 POR

RONALD DE CARVALHO

ENFUNANDO OS PAPOS, SAEM DA PENUMBRA, AOS PULOS, OS SAPOS. A LUZ OS DESLUMBRA.

EM RONCO QUE ATERRA, BERRA O SAPO-BOI:

- "MEU PAI FOI À GUERRA!"

- "NÃO FOI!" - "FOI!" - "NÃO FOI!".

O SAPO-TANOEIRO, PARNASIANO AGUADO, DIZ: - "MEU CANCIONEIRO É BEM MARTELADO.

VEDE COMO PRIMO

EM COMER OS HIATOS!

QUE ARTE! E NUNCA RIMO

OS TERMOS COGNATOS.

O MEU VERSO É BOM

FRUMENTO SEM JOIO.

FAÇO RIMAS COM CONSOANTES DE APOIO

VAI POR CINQUENTA ANOS

QUE LHES DEI A NORMA:

REDUZI SEM DANOS A FÔRMAS A FORMA.

CLAME A SAPARIA

EM CRÍTICAS CÉTICAS:

NÃO HÁ MAIS POESIA, MAS HÁ ARTES POÉTICAS..."

URRA O SAPO-BOI:

- "MEU PAI FOI REI!"- "FOI!"

- "NÃO FOI!" - "FOI!" - "NÃO FOI!".

BRADA EM UM ASSOMO O SAPO-TANOEIRO:

- A GRANDE ARTE É COMO

LAVOR DE JOALHEIRO.

OU BEM DE ESTATUÁRIO.

TUDO QUANTO É BELO, TUDO QUANTO É VÁRIO, CANTA NO MARTELO".

OUTROS, SAPOS-PIPAS (UM MAL EM SI CABE), FALAM PELAS TRIPAS,

- "SEI!" - "NÃO SABE!" - "SABE!".

LONGE DESSA GRITA, LÁ ONDE MAIS DENSA

A NOITE INFINITA

VESTE A SOMBRA IMENSA;

LÁ, FUGIDO AO MUNDO, SEM GLÓRIA, SEM FÉ, NO PERAU PROFUNDO

E SOLITÁRIO, É

QUE SOLUÇAS TU, TRANSIDO DE FRIO, SAPO-CURURU

DA BEIRA DO RIO...

16

vanguard:

RESENHA CRÍTICA

O HOMEM AMARELO É UMA DAS PRINCIPAIS PINTURAS DA CARREIRA DE ANITA MALFATTI.

EXPOSTA TANTO NA EXPOSIÇÃO DE PINTURA MODERNA, EM 1917, QUANTO NA SEMANA DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO, EM 1922, O HOMEM AMARELO CONFIGURA-SE COMO UMA DAS OBRAS PIONEIRAS DO MODERNISMO BRASILEIRO. FATO ESSE QUE LHE RENDEU MUITAS CRÍTICAS NA ÉPOCA DE SUA PRIMEIRA EXIBIÇÃO, UMA VEZ QUE REPRESENTAVA A REALIDADE DE UMA FORMA SURREAL, QUEBRANDO PADRÕES DA ARTE CLÁSSICA CULTUADA ATÉ ENTÃO. NA TELA, MALFATTI BUSCOU UTILIZAR UMA TÉCNICA DE PINTURA COM INFLUÊNCIA EXPRESSIONISTA, A QUAL TRAZIA TRAÇOS EXAGERADOS E COLORAÇÃO MAIS QUENTE, A FIM DE CAUSAR EMOÇÃO AO PÚBLICO.

O H O M E M A M A R E L O ( 1 9 1 7 ) A N I T A M A L F A T T I P O R : D A V I M U T Z I G 17

gandaia:

RESENHA CRÍTICA

O QUADRO AMIGOS (BOÊMIOS) DO PINTOR DI CAVALCANTI FOI UM DOS DIVERSOS QUADROS EXPOSTOS NA SEMANA DA ARTE MODERNA EM SÃO PAULO, NO ANO DE 1922

O QUADRO TEM UMA FORMATAÇÃO BEM DIFERENTE DO COMUM E DO ESPERADO PELOS CIDADÃOS DA ELITE PAULISTA, PRESENTES NO EVENTO, OS QUAIS FICARAM DECEPCIONADOS COM AS OBRAS EXPOSTAS.

A OBRA É FEITA À BASE DE PASTEL – UMA MISTURA BASEADA EM CARBONATO DE CÁLCIO QUE ORIGINA BASTÕES CILÍNDRICOS OU LÁPIS

PARA A PIGMENTAÇÃO – E TEM UM TAMANHO DE 23,00 CM X 34,00 CM.

O QUADRO FOI UMA NOVIDADE PARA TODOS, POIS LEVA EM

CONTA UMA COLORAÇÃO MAIS DENSA E ESCURA, PASSANDO UMA SENSAÇÃO OBSCURA.

PRODUZIDA DURANTE OS ANOS DE 1920 - 1921, A TELA DE DI CAVALCANTI PODE SER

INTERPRETADA COMO A

REPRESENTAÇÃO DE DUAS VERSÕES DA MESMA PESSOA: SEU INTERIOR E SEU EXTERIOR.

A M I G O S ( B O Ê M I O S ) ( 1 9 2 0 - 1 9 2 1 ) D I C A V A L C A N T I P O R : G A B R I E L C O U T I N H O 18

proletariado:

RESENHA CRÍTICA

A SEMANA DE ARTE MODERNA BUSCOU QUEBRAR ANTIGOS

PADRÕES EUROPEUS NA ARTE, FAZER ALGO NOVO. TARSILA

DO AMARAL FOI UMA DAS EXPOENTES DESSE MOVIMENTO

NA OBRA OS OPERÁRIOS, HÁ UMA REPRESENTAÇÃO DO PROCESSO DA INDUSTRIALIZAÇÃO DO PAÍS, PRINCIPALMENTE

DO ESTADO DE SÃO PAULO. ESSE MOMENTO FOI MARCADO

POR UMA INTENSA IMIGRAÇÃO DENTRO NO BRASIL.

A TELA RETRATA, PORTANTO, A DIVERSIDADE DO POVO

BRASILEIRO, VINDO DE TODOS OS CANTOS PARA O TRABALHO INDUSTRIAL EM SÃO PAULO.

PODEMOS PERCEBER QUE A EXPRESSÃO DOS OPERÁRIOS

NESSA OBRA TRANSMITE SUAS TRISTEZAS E FALTA DE ESPERANÇA EM UM FUTURO MELHOR E MAIS JUSTO. ESSES

SENTIMENTOS SÃO REPRESENTATIVOS DAS MÁS CONDIÇÕES

DE TRABALHO QUE OS MIGRANTES ENFRENTAM, BEM COMO

A FALTA DE UMA MELHOR PERSPECTIVA DE VIDA.

O S O P E R Á R I O S ( 1 9 3 3 ) T A R S I L A D O A M A R A L P O R : A N A N D A E N G E L H A R D T 19

releiturase novascriações

M A R C E L L A

C A R R A R A

THE PAINTING COMPOSIÇÃO (FIGURA SÓ) FROM TARSILA DO AMARAL REPRESENTS A MINIMALIST LANDSCAPE WITH A LONG-HAIRED WOMAN IN THE FOREGROUND. BECAUSE HER HAIR IS SO LONG, IT SHOWS THE SENSE OF INFINITY, AS IF IT NEVER ENDS MY PAINTING IS A RECREATION OF IT I DID A LAVENDER FIELD AS A COMPLEMENTATION OF THE WORK, ADDING MORE COLOR AND TEXTURE. TARSILA'S WORKS, BECAUSE OF THE COLOR AND SHAPES, ARE ALREADY A REPRESENTATION OF MODERNISM. THE LAVENDER FIELD ADDED MORE COLOR AND THE TECHNIQUE USED FOR THE COLORING, OIL PASTELS, ALSO CONTRIBUTED A LOT WITH THE MODERN ART STYLE.

R E L E I T U R A ( 2 0 2 2 ) D A C O M P O S I Ç Ã O ( F I G U R A S Ó ) , 1 9 3 0 , T A R S I L A D O A M A R A L 20

MY ARTWORK IS FROM A PICTURE THAT I TOOK FROM ARTHUR WHILE WE WERE AT OUTBACK ON 17 OF SEPTEMBER OF 2021.

THIS ART WAS INSPIRED BY THE ARTWORK O HOMEM AMARELO BY ANITA MALFATTI. HER ART LOOKS A LITTLE BIT LIKE THIS ONE, FOR EXAMPLE, THE POSITION THAT HE IS SEATED, AND THE WAY SHE USED THE COLORS MADE ME THINK TO USE MORE BRIGHT COLORS AS WELL.

E L
I C I L I
N O
I Z A B
A S
A
R E T R A T O D E A R T H U R ( 2 0 2 2 ) I N S P I R A D O E M O H O M E M A M A R E L O , 1 9 1 7 , D E A N I T A M A L F A T T I . 21

O ANO DE 1922 FOI CERTAMENTE UM ANO

TUMULTUADO NA HISTÓRIA BRASILEIRA, GUARDANDO VÁRIOS MOMENTOS

MARCANTES CULTURAIS E POLÍTICOS, COMO A SEMANA DE ARTE MODERNA, A CRIAÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PCB) E AS MUITAS REVOLTAS QUE MARCARAM O PAÍS APÓS EPISÓDIOS DE INSTABILIDADE ECONÔMICA. A SEMANA DE ARTE MODERNA ACONTECEU EM UMA

ERA DE INVENÇÕES, DESCOBERTAS E DESENVOLVIMENTO E, PARA O MUNDO DA ARTE BRASILEIRA, SERVIU COMO A FORÇA QUE EMPURROU ESCRITORES E ARTISTAS A QUESTIONAREM OS PADRÕES

ACADÊMICOS E CONVENCIONAIS.

A ECONOMIA BRASILEIRA ERA BASEADA, DESDE A ÉPOCA DO IMPÉRIO, NA

EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS, COMO ALGODÃO, CACAU, BORRACHA E ESPECIALMENTE CAFÉ. SÃO PAULO TINHA UM DOMÍNIO OLIGÁRQUICO POR SER O MAIOR PRODUTOR DE CAFÉ DO BRASIL, ISSO DEU A ELE GRANDE INFLUÊNCIA NA

POLÍTICA BRASILEIRA MINAS GERAIS

TAMBÉM CARREGAVA INFLUÊNCIA POR SER O ESTADO MAIS POPULOSO DO BRASIL E CRIAVA UMA ALIANÇA COM SÃO PAULO.

ELES REVEZAVAM O PODER

GOVERNAMENTAL ATRAVÉS DO ACORDO

MAIS CONHECIDO COMO A “POLÍTICA DO CAFÉ COM LEITE”, NA QUAL OS PARTIDOS

MINEIROS E PAULISTAS REPUBLICANOS

DOMINAVAM O GOVERNO DO PAÍS. ESSA

ORGANIZAÇÃO, QUE ALTERNAVA O CARGO DE PRESIDENTE ENTRE PAULISTAS E MINEIROS, COMEÇOU A SER QUESTIONADA

NOS ANOS DE 1920 DURANTE ESSA

ÉPOCA, HOUVE MUITAS CONTESTAÇÕES

POLÍTICAS E QUESTIONAMENTOS DE IDEOLOGIAS DA REPÚBLICA VELHA.

ASPECTOS POLÍTICOS COMO O VOTO

ABERTO E A POLÍTICA DO CAFÉ COM LEITE

COMEÇARAM A SER REBATIDAS POR

DIVERSOS SETORES DA SOCIEDADE

NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS, COMO O MOVIMENTO SUFRAGISTA, QUE EXIGIU O DIREITO DE VOTO PARA AS MULHERES –CONQUISTADO APENAS EM 1932 –,

TROUXERAM COM ELES NOVAS IDEIAS DE COMO A SOCIEDADE BRASILEIRA DEVIA SER

nostálgia:

REVISITAÇÃO HISTÓRICO-CRÍTICA

EM 1920, O RIO DE JANEIRO ERA A CAPITAL POLÍTICA DO PAÍS, PORÉM SUA CULTURA E IDEOLOGIAS REPRESENTAVAM CONCEITOS TRADICIONALISTAS E CONVENÇÕES ACADÊMICAS POR OUTRO LADO, SÃO PAULO ERA A CAPITAL ECONÔMICA, RECEBENDO A MAIOR RENDA PER CAPITA POR SUA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO DAS INDÚSTRIAS A ELITE PAULISTA QUERIA QUE SÃO PAULO SE TORNASSE UMA REFERÊNCIA MODERNA E UMA CIDADE COSMOPOLITA, OU SEJA, UM POLO URBANO NO QUAL A CULTURA DE DIVERSOS PAÍSES FOSSE VISIVELMENTE PRESENTE, COM INFLUÊNCIA MAIOR DE IMIGRANTES E INVESTIMENTO NAS ARTES. TENDO ESSA VISÃO EM MENTE, A ALTA SOCIEDADE BANCOU OS ESTUDOS DE DIVERSOS ARTISTAS BRASILEIROS PARA QUE ELES TROUXESSEM SEUS CONHECIMENTOS EUROCÊNTRICOS E AS NOVAS TENDÊNCIAS ARTÍSTICAS PARA A CULTURA BRASILEIRA DESSA FORMA, OS ARTISTAS TROUXERAM CONHECIMENTOS E OS IMPLEMENTARAM NA SEMANA DE ARTE MODERNA, CRIANDO PEÇAS DE ARTE E LITERATURA DESTINADAS A COMBATER PADRÕES DE ARTE ACADÊMICA, OS QUAIS ESTAVAM PRESENTES E ERAM IMPOSTOS NA CENA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO. ARTISTAS COMO ANITA MALFATTI E DI CAVALCANTI PARTICIPARAM E CHOCARAM O PÚBLICO COM PINTURAS DE PESSOAS COMUNS, NÃO PARTE DA ELITE EXCLUSIVA, E COM O USO DE CORES NÃO CONVENCIONAIS OU ‘NORMAIS’ UM EXEMPLO CLARO DISSO É A OBRA A MULHER DE CABELOS VERDES (1916), DE ANITA MALFATTI A AMALGAMAÇÃO DE PADRÕES ARTÍSTICOS EUROPEUS E TRADICIONAIS BRASILEIROS TAMBÉM APRESENTA UMA BUSCA PARA UMA IDENTIDADE NACIONAL BRASILEIRA, SENDO QUE A MAIORIA DA CULTURA BRASILEIRA - TANTO NO PERÍODO COLONIAL, IMPERIAL E ATÉ MESMO ATUAL - SEMPRE FOI BASEADA NA EUROPA, COM TRAÇOS FORTES DE PORTUGAL A PERGUNTA, ‘O QUE É O BRASIL?’, SURGIA MUITO EM DISCUSSÕES CULTURAIS

IDENTIDADE NACIONAL É O TERMO USADO PARA DEFINIR O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO E IDENTIFICAÇÃO COM OUTROS CIDADÃOS DE UMA MESMA NAÇÃO. NESSE SENTIDO, OS MOVIMENTOS DE 1920 FORAM DE EXTREMA IMPORTÂNCIA PARA A IDENTIDADE, NÃO SÓ DE SÃO PAULO, MAS DO PAÍS INTEIRO. OS MODERNISTAS DA ÉPOCA ESTAVAM EM BUSCA DE REPRESENTAR O BRASIL ATRAVÉS DA ARTE, ASSIM DESENVOLVENDO OBRAS QUE DENUNCIAVAM A REALIDADE DA NAÇÃO BRASILEIRA MESMO COM A REAÇÃO NEGATIVA DA SOCIEDADE DA ÉPOCA EM RELAÇÃO A ESSE NOVO ESTILO “ESCANDALOSO” DE SE EXPRESSAR, ESSE MOVIMENTO UNIU INTELECTUAIS E ARTISTAS, PERMITINDO QUE CADA UM DELES APRESENTASSEM SUAS HABILIDADES PARA CONSTRUIR A IDENTIDADE NACIONAL

N E G R A ( 1 9 2 3 ) T A R S I L A D O A M A R A L
A
P O R : A N A M A R T I N S E V I C T O R I A D J E D J E I A N 22
F O T O T I R A D A E M 1 9 2 2 , N O T E A T R O M U N I C I P A L D E S Ã O P A U L O –I M A G E M : B I B L I O T E C A M Á R I O D E A N D R A D E / P R E F E I T U R A D E S P 23
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L A B E L L A R T

SEMANA DE ARTE MODERNA

M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 2 2 | E D I Ç Ã O N º 1 | S C H O O L O F N A T I O N S
9º B

Capa e diagramação:

Editorial:

Revistação textual:

Revistação histórica:

Revistação crítica:

Valentina Costa, Clarisse Patury e Pedro Carvalho

Resenhas críticas e comentários de obras:

Releituras e produções artísticas:

Alex Barbosa, Caio Leal, Heitor

Leal, Ian Pimenta e Jana Queiroz

Clarisse Patury, Helena Losekann, Laura Machado e Luka Braga

Releitura: abaporu Helena Losekann 27 editorial Bettina Lettieri e Laura machado 28 releitura: composição (figura só) Laura Machado 29 revisitação histórica enzo weyne e luka braga 30 composição com inspiração modernista clarisse patury 32 resenha crítica: a mulher de cabelos verdes Heitor estrela leal 33 resenha crítica: a estudante alex barbosa frança 34 resenha crítica: a estudante ian victor silva pimenta 35 poster sobre tarsila do amaral luka braga 36 resenha crítica: abaporu caio estrela leal 37 releitura: antropofagia clarisse patury 38 resenha crítica: o homem amarelo joana rocha de queiroz 39 revisitação crítica Clarisse PATURY, Valentina COSTA e Pedro CARVALHO 40
SUMÁRIO CORPO EDITORIAL
Petra Cruz Bettina Lettieri
e Laura Machado David Lemos, Rodrigo Mello e Beatriz Almeida Enzo Weyne e Luka Braga

HELENA LOSEKANN

Releitura da obra Abaporu, de Tarsila do Amaral

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A Semana da Arte Moderna foi um grande evento cultural e artístico, considerado o maior evento da cultura brasileira, com o intuito de reunir vários artistas e formas de cultura, renovando o conceito de arte no país. Exposições de pinturas, palestras, concertos e leituras de poesias foram realizadas no Teatro Municipal de São Paulo, de 13 a 18 de fevereiro de 1922. Os artistas queriam chocar o público, mudando o ponto de vista do que é arte e torná-la mais brasileira, afastando-a das replicações europeias e abrir um caminho para o desenvolvimento de uma cultura distintamente nacional.

É fato, porém, que vários artistas brasileiros já estavam produzindo obras modernistas antes da Semana. O evento, contudo, foi o responsável por consolidar e definir o movimento modernista, além de apresentá-lo para a população brasileira alheia aos eventos europeus. Os artistas mais importantes foram Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Ismael Nery, Milton Dacosta, Di Cavalcanti e Lasar Segal. Dessa forma, é importante notar que o dinheiro que financiou a ida dessas pessoas para Europa veio da indústria do café, que era a fonte de renda mais valiosa do Brasil na época.

O texto de revisitação crítica mostra que após amplas críticas públicas a esse movimento, um grupo de artistas se uniu com o objetivo de promover o novo modelo de arte nacional. Uma revolução estética inseriu-se na cultura do país, simbolizando o desejo de experimentação e de ruptura com o passado, comemorando assim o início do modernismo e estabelecendo uma referência cultural para o século XX.

Ademais, o texto de revisão histórica apresenta como, na época da Semana de Arte Moderna, a economia brasileira dependia fortemente da exportação do café. Por São Paulo ter muitos emigrantes na época, exatamente por causa da riqueza que foi trazida por conta do café, o evento aconteceu lá. É importante lembrar que nessa época houve também o começo do movimento de igualdade de direitos entre homens e mulheres, fato que, junto à Semana de Arte Moderna, evidencia o questionamento da população do início do século XX sobre o que era normatizado como padrão a ser seguido. Decorreram-se, então, várias manifestações políticas em diversos âmbitos da sociedade.

Assim, com revisões históricas, críticas e homenagens a 100 anos dessa Semana, nesta revista iremos aprender mais sobre esse grande evento.

Esses questionamentos foram um grande passo para a mudança social e o início do modernismo brasileiro protagonizado pela Semana de Arte Moderna. É importante, portanto, homenagear esse evento sem, porém, deixar de observar e questionar os fatos que a envolvem.

EDITORIAL 28
Bettina Lettieri e Laura machado
C o m p o s i ç ã o ( F i g u r a s ó ) , 1 9 3 0 , T a r s i l a d o A m a r a l . R e l e i t u r a d e C o m p o s i ç ã o ( F i g u r a s ó ) , 2 0 2 2 , L a u r a M a c h a d o . 29

REVISITAÇÃO HISTÓRICA

A Semana de Arte Moderna aconteceu no começo do século XX, mais precisamente, entre os dias 13 e 17 de fevereiro do ano de 1922. Esse evento, produzido por vários pioneiros da arte moderna no Brasil, é uma prova dos inquéritos realizados pelo povo brasileiro na época. Portanto, esta revisitação histórica tem o propósito de contextualizar os leitores sobre os eventos que levaram à criação da Semana de Arte Moderna.

No começo do século XX, o Brasil estava em um processo de recuperação econômica no qual adotou o sistema econômico agrário. A economia dependia fortemente da exportação de café. Isso significa que a Semana de Arte Moderna aconteceu em São Paulo porque a cidade estava ebulindo muito intensamente devido aos investimentos da grande riqueza trazida pelo café. Esse dinheiro era utilizado para criar indústrias, que consequentemente atraíam imigrantes de diferentes regiões do mundo. Esses imigrantes eram usados como mão de obra barata e também foram um dos fatores que levaram ao crescimento intenso de São Paulo. Além disso, era comum que filhos dos ricos fossem estudar na Europa e, assim, traziam conhecimentos artísticos de volta para São Paulo.Isso contribuiu com a modernização da arte brasileira. Dessa forma, é importante notar que o dinheiro que financiou a ida dessas pessoas para Europa veio da indústria do café, que era a fonte de renda mais valiosa do Brasil na época.

Além do mais, o café também financiou a Semana de Arte Moderna de uma forma mais direta, já que muitos artistas desse evento receberam dinheiro dos barões do café para que ele pudesse ocorrer.

A política no começo do século XX também influenciou na criação da Semana de Arte Moderna. Por exemplo, o presidente do Brasil em 1922 durante a época da Semana de Arte Moderna era Epitácio Pessoa, porém a situação política do país estava começando a ficar crítica pelo fato de 1922 ser um ano de eleições e o centenário da Independência. Acontece que neste período a população já tinha conhecimento sobre a “panelinha” do “café com leite” formada pelos estados de São Paulo e Minas Gerais para eleger presidentes. Isso significava que, já que São Paulo e Minas Gerais eram os dois estados com maior influência na política, eles conseguiam garantir que um presidente paulista ou mineiro fosse eleito. Contudo, as pessoas começaram a questionar se essa "panelinha" deveria existir ou não e, por isso, o ano de 1922 foi um ano tenso, a presidência já não era completamente garantida pelos grupos dominantes.

Outro evento importante durante o começo do século XX foi o início das revoltas de mulheres por direitos iguais, mais especificamente, o direito de votar.

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Assim, o movimento sufragista coincidiu com o período em que uma parte da população buscava criar uma arte própria, com fortes características brasileiras. Isso porque, ainda na década de 1920, o Brasil criava uma arte fortemente influenciada pela Europa em termos estéticos e temáticos, ou seja, não existia o conceito de uma arte abordando propriamente temas brasileiros. Entretanto, é importante ressaltar que a ideia principal da Semana de Arte Moderna não era romper completamente com a Europa, mas utilizar as técnicas e estilos Europeus enquanto abordava temas, eventos e o cotidiano do Brasil.

Em conclusão, considerando esses acontecimentos, é importante notar que o começo do século XX é um período da história brasileira que a população começou a fazer questionamentos sobre vários temas, como a política, os direitos de grupos específicos e, no caso da Semana de Arte Moderna, as regras

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Enzo Weyne e Luka Braga

CLARISSE PATURY

Composição com inspiração modernista, 2022.

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A MULHER DE CABELOS VERDES

ANITA MALFATTI (1916)

Além dessa tela, Anita também pintou outras obras importantes para o movimento modernista, como O Homem Amarelo.

A pintura é composta por uma mulher idosa, dentro de uma sala de paredes pretas e uma cadeira vermelha, onde a senhora está sentada.

Entretanto, o que mais se destaca nessa obra são os seus gloriosos e “modernos” cabelos verdes. A pintura recebeu essa característica para chocar a sociedade.

Depois de exposta, houve uma onda de críticas negativas à obra de Malfatti, o que a fez se destacar das outras obras da exposição.

O artista e escritor Monteiro Lobato foi um dos que mais duramente critiou o trabalho da artista. Em um artigo intitulado como “Paranóia ou Mistificação?”, ainda antes da Semana de Arte Moderna de 1922, em ocasião da Exposição de Pintura Moderna ocorria em 1917, o autor de Sítio do Pica Pau Amarelo afirmou que Anita possuía talento, mas se deixou levar pelas “extravagâncias de Picasso e companhia” e que por isso colocou todo seu talento a serviço de uma nova caricatura. Ele afirma que as pinturas de Anita não eram bonitas e que aqueles que tivessem elogiado a obra dela, estariam tão errados quanto a artista.

Apesar disso, Anita Catarina Malfatti foi uma pintora brasileira muito famosa e conhecida por suas artes. Em 1902, com a morte do pai de Anita, sua mãe, Betty, começa a trabalhar como professora de línguas e pintura. Anita, então, começou a pintar por influência de sua mãe, que a ensinou os básicos da pintura. Seu gosto pela arte também foi influenciado por seu tio e padrinho, Jorge Krug. Diante de todos os desafios, Anita, que também sofria com uma deficiência motora, é hoje considerada pioneira da Arte Moderna no Brasil.

Heitor Estrela Leal
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Anita Catarina Malfatti nasceu em São Paulo no dia 2 de dezembro de 1889 e faleceu dia 6 de novembro de 1964. Foi uma pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora ítalobrasileira, ela é considerada uma das maiores precursoras da Arte Moderna no Brasil. Anita era portadora de uma deficiência congênita em seu braço esquerdo, porém isso não afetou o seu talento com as artes.

A arte moderna brasileira começou a se popularizar com a Semana de Arte Moderna de 1922, o seu objetivo foi repensar de forma crítica o tradicionalismo cultural – geralmente associado aos artistas e escritores europeus – o parnasianismo e também o academicismo formal. Anita participou da semana e expôs um total de 22 obras.

A obra A Estudante, pintada em 1915, retrata uma mulher sentada, com o rosto com leves deformações, em uma cadeira voltada para o observador, com corpo levemente inclinado para frente.

Ela veste uma camisa colorida, que deixa a tela mais harmoniosa. A saia roxa xadrez usada é mostrada até os joelhos, porque só foi pintada do meio das coxas para cima.

Além disso, foram usadas tintas diluídas e todas essas novas formas de pintura causaram um grande choque à elite paulistana, até mesmo a o escritor Monteiro Lobato.

O quadro foi pintado no período em que a artista conheceu Mário de Andrade, que a disse para "pintar com a alma".

Na obra é possível observar que a mulher tem uma feição triste, como se estivesse desapontada com algo, e além de estar com a mão direita escondida, acredita-se que o motivo da ocultação da mão seja uma referência à atrofia congênita que a artista Anita Malfatti tinha na mesma mão, porém não se tem certeza.

A ESTUD

Alex Barbosa França
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DANTE ANITA

MALFATTI (1915)

Anita Malfatti, uma pioneira da arte moderna no Brasil, era pintora, ilustradora, gravadora, desenhista e professora Ítalo-brasileira. Anita nasceu na cidade de São Paulo, em 2 de dezembro de 1889 com uma deficiência motora que a fez perder alguns movimentos do braço direito. Aos 3 anos, Anita foi à Itália com objetivo de fazer uma cirurgia para corrigir sua deficiência, mas não ocorreu a recuperação total dos movimentos. Ainda assim, Malfatti teve um grande sucesso com suas pinturas.

Essa grande mulher pintou diversos quadros durante sua carreira como pintora e teve um papel importante na introdução da estética modernista no país, por isso hoje em dia esses quadros são extremamente valorizados. Ela morreu aos 74 anos, no dia 6 de novembro de 1964, na cidade de São Paulo, no mesmo lugar onde nasceu.

Anita Malfatti introduziu um total de 20 obras na semana da arte moderna em 1922, entre elas, 12 pinturas a óleo e 8 peças entre desenhos e gravuras. Uma de suas principais obras exibidas nesta semana foi A Estudante, pintada em 1915 a óleo. Hoje em dia essa grande obra está localizada no MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand).

É importante, ainda, saber que A estudante foi pintado após Anita ter conhecido Mário de Andrade, um dos grandes idealizadores da Semana de Arte Moderna. Conta-se que Mário incentivou Anita a “pintar com a alma”, o que gerou na tela, que representa o perfil de uma jovem mulher, uma “deformação mais terna”.

Apesar de pintada em 1915, a tela A Estudante foi de grande importância para a Semana da Arte Moderna e para a carreira da Anita Malfatti, uma vez que faz parte das composições da autora que a lançaram para o modernismo. Assim, como ela desejava fugir de modelos clássicos de arte, deixou sua marca registrada. Marca essa que, até nos dias de hoje, é reconhecida e serve de inspiração para muitos.

“A Estudante” é uma obra de interessante estudo e análise não só para pintores, mas também para interesses acadêmicos, pois a história por trás da obra e da vida da autora são extraordinárias. Além disso, é indiscutível que o papel da artista na Semana da Arte Moderna foi de grande importância.

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Ian Victor Silva Pimenta
LUKA BRAGA Poster sobre Tarsila do Amaral, 2022. 36

ABAPORU

ABAPORU ABAPORU ABAPORU

Abaporu é uma pintura a óleo da artista brasileira Tarsila do Amaral. É uma das principais obras (e a mais valorizada no mercado brasileiro) do período antropofágico do movimento modernista no Brasil. Com 85 cm x 72 cm, foi criada em 1928.

A obra é cheia de elementos típicos do Brasil: a vegetação, o nome, etc. Dito isso, o modernismo evidenciou como é importante conhecer e registrar a cultura de seu país, fato que tornou a Semana de Arte Moderna um evento importantíssimo na história do Brasil.

Apesar de achar essa pintura uma obra muito bizarra, entendo por que é a mais valiosa no mercado brasileiro, afinal foi ela que iniciou o movimento antropofágico no Brasil, uma das vertentes modernistas surgidas depois da Semana de Arte Moderna.

É fácil perceber na pintura as proporções distorcidas, as sombras sem direção e o segundo plano com falta de detalhes. Sem nuvens e com cores vibrantes, digamos que essa obra – com traços surrealistas – seja bem diferente das outras pinturas da época. Dito isso, é certo que a tela cabe perfeitamente entre as produções que começaram a se tornar conhecidas com a Semana de Arte Moderna, uma vez que o Modernismo tinha o objetivo de ser diferente e criar algo fora da realidade, que chamasse a atenção. Perspectivas que a obra de Tarsila realmente alcança.

Foi pintada como presente de aniversário ao escritor Oswald de Andrade, seu marido na época. O nome da obra foi dado por ele e pelo poeta Raul Bopp, que disse a Oswald ao ver o quadro, "Vamos fazer um movimento em torno desse quadro?" O nome veio a ser Abaporu, que vem dos termos em tupi aba (que é homem), pora (gente) e ú (comer), significando "homem que come gente".

Caio Estrela leal
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A n t r o p o f a g i a , 1 9 2 9 , T a r s i l a d o A m a r a l . R e l e i t u r a d e A n t r o p o f a g i a , 2 0 2 2 , C l a r i s s e P a t u r y . 38

A primeira exposição em que Anita Malfatti pôde ser artista principal ocorreu em São Paulo, em 1914. No entanto, recebeu duras críticas, em especial de Monteiro Lobato, que publicou um artigo ácido atacando os novos ideais artísticos defendidos por Malfati. Mesmo frente a duras críticas, a artista expôs na Semana de Arte Moderna, em 1922, telas expressionistas. É válido lembrar, portanto, que o Expressionismo foi um dos movimentos de vanguarda da virada de século que realizou uma quebra com a arte tradicional.

Um dos quadros mais famosos de Malfatti, O Homem Amarelo, retrata um rapaz pobre e imigrante italiano com uma expressão desesperada que posou para ela.

Na tela ela cria um retrato inanimado e realça, através da deformação, as feições do seu protagonista. Ela não utiliza, assim como em muitos de seus trabalhos, simetria ou enquadramento.

Por fim, é importante lembrar que a artista adorava utilizar cores vivas e pinceladas ousadas.

joana rocha de queiroz

O HOMEM AMARELO ANITA MALFATTI (1917) 39

REVISITAÇÃO CRÍTICA

A Semana de Arte Moderna aconteceu no começo do século XX, mais precisamente, entre os dias 13 e 17 de fevereiro do ano de 1922. Esse evento, produzido por vários pioneiros da arte moderna no Brasil, é uma prova dos inquéritos realizados pelo povo brasileiro na época. Portanto, esta revisitação histórica tem o propósito de contextualizar os leitores sobre os eventos que levaram à criação da Semana de Arte Moderna.

O evento que instaurou o modernismo brasileiro começou quatro anos depois da Primeira Guerra Mundial. Esse evento foi uma manifestação artístico-cultural que contou com apresentações de palestras, músicas, recitais, exposições e dança. O evento tinha como objetivo a renovação do ambiente artístico-cultural brasileiro e a desconstrução do conservadorismo da época. Assim, os artistas que participaram – dentre eles: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Graça Aranha, Victor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti, Guiomar Novaes e Zina Aita – tinham como objetivo revolucionar a arte brasileira, entretanto, não possuíam um conceito nem um programa estético que os unisse. Dessa forma, os participantes da Semana da Arte Moderna trouxeram um estilo inspirado nas vanguardas europeias e tinham o intuito de mostrar uma visão de arte que renovasse a perspectiva social e artística presente no Brasil daquela época.

Mesmo tendo chocado grande parte da população brasileira, o movimento trouxe um representação artística com uma identidade genuinamente nacional.

Após diversas críticas da população em geral em relação a esse movimento artístico, grupos de artistas se reuniram com a intenção de disseminar o novo modelo de arte nacional. Foi incorporado à cultura do país uma revolução artística que representava a busca de experimentação e a ruptura com o passado, assim datando o início do modernismo e tornando-se uma referência cultural do século XX.

Apesar do desígnio revolucionário da Semana da Arte Moderna, o movimento progressista foi direcionado, de certa forma, apenas para a parcela elitista da população. Tal semana, responsável por um marco modernista no século XX, que evidentemente impressionou os mais renomados críticos, artistas, intelectuais e escritores, contou com a participação reduzida da burguesia paulistana brasileira, em suma, devido à inacessibilidade da arte dentre a população de classes inferiores. O evento, por exemplo, foi integrado, em sua maioria, por artistas estrangeiros prestigiados provenientes da Europa. A noção acerca de arte e literatura para a população vasta do Brasil era consideravelmente escassa.

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O povo brasileiro havia finalmente cultivado sua respectiva cultura literária e artística, mas não seria ela a cultura dos privilegiados? Independentemente dos revolucionários textos e telas elaborados pelos mais famigerados artistas da época, o humilde e o diligente; não seria tal uma assimilação romântica do camarote do rico paulista?

Em suma, o movimento vanguardista nomeado de Semana de Arte Moderna é célebre por sua quebra de parâmetros e conservadorismo, não apenas na arte, mas na cultura brasileira. O evento foi responsável pela primeira revolução artística e primeiro manifesto da livre expressão através da perspectiva do povo brasileiro, independente de sua participação majoritariamente elitista. Com o tempo, a arte iniciada pelos modernistas deixou de ser intangível, irrealizável procura pela perfeição, e se tornou o que hoje conhecemos como a genuína expressão da imitação da natureza dos sonhos da realidade do

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Clarisse PATURY, Valentina COSTA e Pedro CARVALHO

PARA SABER MAIS...

22 por 22 - A Semana de Arte Moderna Vista Pelos Seus Contemporâneos

Vários autores. Maria Eugenia Boaventura (Org. e Ed.)Editora EDUSP

Coletânea de textos publicados originalmente em jornais de São Paulo e Rio de Janeiro ao longo de 1922 que recupera o calor da polêmica que envolveu escritores, artistas, críticos e jornalistas num verdadeiro tiroteio verbal entre “passadistas” e “futuristas”.

Modernismos 1922-2022

Vários autores. Gênese Andrade (Org. e Ed.) - Companhia das

Letras

Textos reunidos com o objetivo trazer para o debate as manifestações e as obras artísticas modernistas, reconhecendo suas virtudes e controvérsias, as relações com seu contexto político, social e cultural de produção e recepção, com o mesmo vigor que moveu seus protagonistas.

Semana de 22: Antes do começo, depois do fim

José de Nicola e Lucas de Nicola - Editora Estação Brasil

Duramente atacada pela crítica conservadora, a Semana subverteu os padrões artísticos e literários da época e virou um marco importante de nossa história, tornando-se matéria de reflexão sobre a cultura brasileira.

A proposta deste livro é aprofundar essa discussão e levá-la ao grande público. Os autores percorrem de maneira ampla os acontecimentos e bastidores da Semana de 22 e propõem análises inéditas sob vários aspectos.

Tarsilinha

Direção de Célia Catunda e Kiko Mistrorigo - 2022

Tarsilinha, uma garota de 8 anos, embarca em uma jornada fantástica para recuperar a memória de sua mãe Para conseguir isso, ela precisa encontrar objetos muito importantes e especiais: as lembranças que foram roubadas. Durante essa caminhada, Tarsilinha verá diversas coisas incríveis e construirá amizades, mas também terá que encarar seus medos, superando obstáculos e voltar para casa em segurança com todas as lembranças recuperadas.

O cenário do filme é inspirado nas obras de Tarsila do Amaral. O filme foi idealizado por cerca de 12 anos por Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da célebre pintora Tarsila.

Pauliceia desvairava

Direção: Gisele Kato - 2022

O documentário, original do #Arte1, aborda os acontecimentos da Semana de Arte Moderna, realizada no Theatro Municipal de São Paulo nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. Além de apresentar dados históricos, a produção traz discussões sobre as polêmicas da Semana de Arte Moderna de 1922 e as contradições dos autores modernistas.

O poeta do castelo

Direção: Joaquim Pedro Andrade - 1959

O diretor filma o padrinho e amigo Manuel Bandeira em seu cotidiano. Lidos pelo poeta, seus versos acompanham e ressignificam os gestos banais de sua rotina no pequeno apartamento em que vivia no centro do Rio.

"O Poeta do Castelo" é um curta-metragem originalmente montado junto com “O Mestre de Apipucos”, o qual aborda o cotidiano de Gilberto Freyre. Repleto de belas imagens e boa literatura, o filme surpreende por sua singeleza, formal e narrativa.

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