História da Poesia Visual Brasileira

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histรณria da poesia visual brasileira

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no acervo do Arquivo Paulo Bruscky

de 30 de maio a 8 de setembro de 2019

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linguagem e subversão

A linguagem que utilizamos para a comunicação, seja ela a falada, a escrita ou a imagética, define um certo mundo social e, portanto, está investida de grande poder. Esta autoridade não emana somente das categorias existentes para classificar objetos, pessoas ou definir papéis sociais. O discurso é o meio utilizado por grupos hegemônicos para interagir com a opinião pública e, ao mesmo tempo, tentar administrá-la nos mais diversos campos e momentos históricos. É o que leva o pensador francês Roland Barthes a afirmar que só trapaceando a língua é que podemos conhecê-la fora do poder. No universo da escrita, onde o que pode ser formulado está, em alguma medida, condicionado a um sistema que atravessa lugares, falas e significados, cabem formas de resistência. A poesia visual, por exemplo, desafia alguns desses confinamentos. As obras aqui reunidas permitem caminhar por um panorama de experimentos que, habitando o interior da linguagem e do Brasil sob a ditadura militar, assumem características de contrapoder. Nesse modelo de produção cultural, ganha destaque a tentativa de responder, simultaneamente, ao cenário político e à renovação de um campo artístico. Se a linguagem constitui e organiza as sociedades, questioná-la é interrogar o próprio contexto social. Por esse movimento, a poesia de vanguarda se lança, de forma visual, num esforço de expandir as maneiras de se comunicar, abrindo fissuras à sua volta que mostram realidades escondidas, coibidas ou inventadas. É nessa subversão que repousa sua força estética. Rememorar iniciativas poéticas experimentais e suas ressonâncias nos campos literário, da performance e da arte contemporânea pode contribuir para entendimentos renovados acerca das potências da arte. Para o Sesc, trata-se de uma oportunidade de, junto ao público, aproveitar o encontro entre produção poética e vivência política para reimaginar o mundo a partir da linguagem. Sesc São Paulo

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Adolfo Montejo Navas f Affonso Ávila f Alex Hamburguer f Alexandre Da Costa f Almandrade f Aloísio Magalhães f Álvaro de Sá f Anchieta Fernandes f Anselmo Santos f Antônio Girão Barroso f Aquiles Branco f Ariel Tacla f Armando Freitas Filho f Arnaldo Antunes f Arnaldo Tobias f Ascenso Ferreira f Augusto de Campos f Avelino de Araújo f Benedito Monteiro f Bosco Lopes f Caetano Veloso f Carlos Ávila f Carlos Rodrigues Brandão f Carlos Valero f Cassiano Ricardo f Celina A. Neves f César Pereira f Chacal f Chico Dantas f Clarival do Prado Valladares f Cláudio Goulart f Constança Lucas f Dailor Varela f Décio Pignatari f Delmo Montenegro f Edgard Braga f Eduardo Kac f Erthos Albino de Souza f Falves Silva f Fernando Guimarães f Ferreira Gullar f Flavio Pons f Flora Holderbaum f Franco Terranova f Frei João do Rosário f Gabriel Borba f Gastão de Holanda f Giorgio Moscati f Glauco Mattoso f Gregório de Matos f Guilherme Mansur f Haroldo de Campos f Hayle Gadelha f Henry Corrêa de Araújo f Hugo Mund Júnior f Hugo Pontes f Humberto f Ivan Maurício f J. Cândido f J. Medeiros f João Carlos Sampaio f Joaquim Branco f Joaquim Cardozo f Jobson Figueirêdo f Jomard Muniz de Britto f Jorge De Lima f Jorge Fernandes f José Alcides Pinto f José Cláudio f José Lino Grunewald f José Paulo Paes f José Rufino f Júlio Mendonça f Kátia Mesel f Leila Miccolis f Lenora de Barros f León Ferrari f Lívio Tragtenberg f Luís f Luís A. de Figueiredo f Luis Aranha f Luís R. de Oliveira f Luiz Rabelo f Luiz Sacilotto f Lula Côrtes f Lula Wanderley f Manuel Bandeira f Márcio Almeida (MG) f Márcio Sampaio f Marconi Notaro f Marcus Vinicius de Andrade f Mário Chamie f Maurizio Prati f Maynand Sobral f Moacy Cirne f Neide Sá f Neoclair J. Coelho f Oswald de Andrade f Overdose Literária - Viagens Sonoras S.A. f Öyvind Fahlström f P. J. Ribeiro f Paulo Bruscky f Paulo Miranda f Pedro Henrique Saraiva Leão f Pedro Lyra f Pedro Osmar f Pedro Xisto f Philadelpho Menezes f Raíza Bruscky f Raquel Stolf f Ricardo Aleixo f Roberto Magalhães f Roberto T. Ghiotto f Ronaldo Azeredo f Ronaldo Periassu f Ronaldo Werneck f Samaral f Sebastião Nunes f Silva Freire f Sílvio Roberto de Oliveira f Silvio Spada f Silvio Zamboni f Sonia Fontanezi f Stela f Tadeu Jungle f Tchelo D’Barros f Torquato Neto f Unhandeijara Lisboa f Vânia Lucila Valério f Vera Salamanca f Vicente do Rego Monteiro f W. A. Coutinho f Waldemar Cordeiro f Walter Carvalho f Walter Franco f Walter Silveira f Willy Corrêa de Oliveira f Willys de Castro f Wlademir Dias-Pino f Xico Chaves f Yone Giacometti Fonseca f Ypiranga Filho f Yuri Bruscky f Zezo

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Paulo Bruscky Linha do tempo da Poesia Visual Brasileira, 2016

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trans/versos históricos da poesia visual brasileira Paulo Bruscky e Yuri Bruscky (curadores)

Esta exposição representa a culminância de um percurso criativo/investigativo amparado nas poéticas experimentais emergentes no cenário artístico e literário brasileiro, cujos trabalhos têm como norte o cruzamento entre linguagens e suportes tecnológicos os mais diversos, e cuja verve criativa subverte sentidos/morfologias hegemônicos, de maneira a desarticular os modos naturalizados de criação e fruição poética. A abordagem proposta vai de encontro às reduções simplistas que tipificam e qualificam as poéticas contemporâneas a partir de um referencial de hierarquização entre a produção tida como popular (depositório de passado ou tradições museificadas) e aquela que (pretensamente) representa um hermetismo incapaz de dialogar com o campo cultural contemporâneo em si. Com esta pesquisa, pretende-se questionar a forma como determinadas vertentes e autores são “discursivamente apadrinhados” por construções significantes hegemônicas, que falam “de” e “em nome de” tais grupos, conformando um quadro de silenciamento e restrição das potências comunicativas desse “outro” tutelado, suprimindo o rastro da sua trajetória e embotando o agenciamento de sujeitos em disputa pela capacidade de se expressar e construir significados à sua experiência — mas também ao mundo da vida socialmente compartilhado. Deste modo, corroboramos com um aporte historiográfico da poesia visual/experimental brasileira, que suscite questões sobre a sua constituição e o 6

seu caráter estruturado e estruturante num âmbito mais amplo das práticas literárias e culturais. A práxis adotada no processo curatorial desta mostra não se restringe ao desvelamento (pretensamente) totalizante dos fenômenos culturais, de modo a conhecê-los e catalogá-los em nichos estanques; enceta também um tangenciamento reflexivo de tais processos, colocando em perspectiva as particularidades da sua constituição, tendo como pano de fundo o cenário cultural/literário e político brasileiro. O itinerário do qual resultou a exposição História da Poesia Visual Brasileira foi construído levando-se em conta um plano de ação que abarcasse a articulação de eixos históricos/conceituais, que dessem conta de situar histórica e esteticamente as verves criativas desses poetas e artistas, tendo como ponto de partida um conjunto de precursores, iniciado com o poema pré-concreto de Gregório de Matos (Salvador/BA, 23 de dezembro de 1636 – Recife/PE, 26 de novembro de 1696); as composições acrósticas de Frei João do Rosário (Recife/PE, 1726 – Recife/ PE, 1761), datadas de 1753; continuando com a obra de Sounsândrade (Guimarães/MA, 9 de julho de 1833 São Luís/MA, 20 de abril de 1902). No início do século XX, registramos os caligramas do poeta piauiense Da Costa e Silva, nos seus livros Sangue (Recife, 1908) e Zodíaco (Rio de Janeiro, 1916), e o poema carimbo Miramar, de Oswald de Andrade. No seu Livro de Poemas, de 1927, o natalense Jorge Fernandes publica “Rede”, em que a palavra suspensa aparece em forma de rede. O poeta pernambucano Vicente do Rêgo Monteiro lança, em 1941, o seu livro Poemas de Bolso, onde consta o “Poema 100%

Nacional”, provavelmente o primeiro poema tipo/ gráfico brasileiro, e, em 1952, lançou o livro “Concrétion”, antecipando-se ao Concretismo. Monteiro, que foi o primeiro tradutor de Mallarmé no Brasil, publicou no Jornal “Fronteiras” (editado por ele), ano VII nº 4 e 5 – abril/maio de 1938, e na sua Revista Renovação (Recife, 1941), as primeiras colagens, denominadas por ele de “Poesias-Foto-Plásticas”, do alagoano Jorge de Lima. De 1952 a 1968, ele também publica e veicula, pioneiramente, uma série de “Poemas Postais”, com trabalhos seus e de outros poetas brasileiros e estrangeiros com os quais mantinha contato naquele período. Destacamos também as investigações poéticas realizadas por Hermes Fontes, Carlos Drummond de Andrade (com seu poema Isso É Aquilo), Benedito Monteiro, João Cabral de Melo Neto e Ascenso Ferreira, entre outros. Em 1960, Joaquim Cardozo (PE) publica poemas visuais no seu livro Signo Estrelado e, logo depois, surgem os poemas colagens/espaciais de César Leal. Figura singular do experimentalismo gráfico/literário brasileiro, Wlademir Dias-Pino criou, em 1948, junto a outros poetas de Cuiabá, o movimento do Intensivismo (signatário da transgressão à linearidade da codificação alfabética e da superposição de rotas e sentidos para a fruição poética). No mesmo ano, publica o poema-gráfico O Dia da Cidade (1948), em que as estruturas dispostas em um quadro diagramático mantêm uma relação de duplicidade umas com as outras, na medida em que, embora necessárias ao conjunto, nenhuma delas implica na vinculação inequívoca das demais estruturas, uma vez que cada uma dessas “frações de sentidos” tem traços e modos específicos de objetivação. Nas décadas subsequentes, Dias-Pino pautou sua obra pela radicalidade dos seus experimentos gráficos/conceituais — desde a elaboração/realização do livro-poema A Ave (1948-1956), ao projeto de Solida (1956-1962) e à elaboração da Enciclopédia Visual Brasileira, iniciada nos anos 70. As vertentes literárias experimentais brasileiras, emergentes, de forma mais articulada e coletiva, desde meados dos anos 50, caracterizaram-se pela radicalidade com que encamparam um processo de ressignificação e ruptura com os elementos formais e procedimentais tradicionalmente vinculados à criação poética e ao circuito literário de então. O intenso diálogo e o entrecruzamento com outras linguagens artísticas resultaram em trabalhos híbridos. São exemplos, neste sentido, a interseção

com as tendências construtivas das artes plásticas, o recurso à tridimensionalidade e à disposição espacial dos poemas-objetos, o uso criativo de elementos tipográficos que marcou o surgimento da Poesia Concreta, publicizada oficialmente em 1956, durante a Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Participaram da mostra os poetas Wlademir Dias-Pino, Ronaldo Azeredo, Ferreira Gullar, Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos — os três últimos, fundadores do grupo Noigandres, surgido em 1952, e bastante atuante tanto na esfera poética quanto na crítica literária. É pertinente destacar o lançamento, em 1953, do pioneiro "Manifesto para a poesia concreta", escrito em 1953, por Öyvind Fahlström, e publicado na revista Odyssée 2-3. 1954. Salientamos, ainda, a participação de poetas nordestinos desde o início do movimento, como é o caso de Clarival do Prado Valladares (BA), Pedro Xisto (PE) e Edgard Braga (AL); além do Grupo Concretista do Ceará, com a participação de José Alcides Pinto, Antonio Girão Barroso e Pedro Henrique Saraiva Leão que, em 1957 e 1959, realizaram duas exposições de Poesia Concreta em Fortaleza. No final da década de 50, o poeta pernambucano Manuel Bandeira não só apoiou o movimento concretista, como realizou poemas concretos. Surgida em 1961, a Poesia Práxis, criada em São Paulo por Mário Chamie, e à qual se vincularam Cassiano Ricardo, Yone Giannetti Fonseca, Armando Freitas Filho, Carlos Rodrigues Brandão e outros, pôs em perspectiva a composição de estruturas verbais relacionadas à fruição poética. A criação literária era percebida pelos adeptos do movimento a partir do seu aspecto relacional/comunicativo e à demarcação da experiência poética, enquanto fenômeno historicamente situado. A experimentação formal desenvolvida por tais poetas era concebida como uma possibilidade de alargar, a um só tempo, as potências expressivas da poesia e o estoque de conhecimentos a partir dos quais os sujeitos se relacionam com os objetos da cultura, ressaltando um dialogismo construtivo na fruição poética e a sua vinculação às práticas sociais. O movimento do Poema/Processo, ativo entre 1967 e 1972, surgido simultaneamente no Rio de Janeiro e em Natal, articulado por Wlademir Dias-Pino, Moacy Cirne, Álvaro de Sá, Neide Sá, Anchieta Fernandes, Falves Silva, Nei Leandro de Castro e outros, também 7


reverberou em Pernambuco, com os inovadores trabalhos em carimbo de José Claudio; o pioneiro pôster/poema de Paulo Bruscky e Arnaldo Tobias, conforme notícia publicada no Diário de Pernambuco nos dias 13 e 22/11/1969; e os espaços de veiculação e difusão criados no início da década de 1970 por Alberto Cunha Melo, no Suplemento Cultural do Jornal do Commercio; Ivan Maurício, na coluna Nova/Mente, do Diário da Noite; Paulo Bruscky, no Jornal da Cidade; e Jobson Figueiredo, no Diário de Pernambuco. Em 1970, dois lançamentos marcaram o início da década: o Poema/Pão, com dois metros, de autoria de Ivan Maurício, que foi devorado no Recife, no dia do seu lançamento; e os Poemas Postais do poeta cearense Pedro Lyra. O questionamento da concepção linear do processo comunicativo enfatizado pelos poetas ligados ao movimento salienta o caráter dinâmico da fruição poética, arregimentada pela articulação dialética das instâncias de produção, circulação, distribuição/ consumo e re/criação artística — como na prática amplamente difundida da realização de versões a partir de poemas-matrizes, isto é, poemas expandidos do seu contexto original e reapresentados/cocriados através da intervenção de terceiros. A ênfase no caráter aberto do poema semiótico, sua articulação estrutural e a participação ativa do leitor, através da abertura às possibilidades de reconfiguração da forma-matriz, são traços fundamentais do Poema/ Processo. A visualidade, a espacialidade e a multissensorialidade do poema não são apenas elementos expressivos subordinados a uma base semântica verbal — o que lhes daria status de componente constituído por uma exterioridade demarcadora da sua cisão do “fazer-em-si” da poesia. Ao contrário, ela é o elemento constituinte, que manifesta o caráter processual da experiência poética, mediada por uma compreensão ampla do seu instrumentário formal e suas dinâmicas estruturantes. É interessante perceber as estratégias de ação introduzidas por esses circuitos de experimentação literária, levando em conta as relações estabelecidas entre os seus partícipes e as estruturas e instituições que constituem o campo da cultura. A quebra de uma base convencional de criação pode acarretar uma série de percalços. Embora não de todo impeditivas, estas adversidades impõem obstáculos à produção e circulação das suas obras. Daí a importância da articulação de redes de intercâmbio e a opção por meios de publicação de baixo custo. 8

Desde as suas origens, em meados dos anos 60, a produção ligada à Poesia Marginal tem circulado através de publicações independentes e intervenções públicas, a exemplo dos poemas de Xico Chaves, Samaral, Chacal, Torquato Neto, Glauco Mattoso, Marconi Notaro, Eduardo Kac (com o coletivo Gang e o Movimento de Arte Pornô) e de editoras independentes, como as Edições Pirata, de Pernambuco (ligada ao grupo independente do Recife e encabeçada por Jaci Bezerra), etc. Sem a necessidade de um grande estofo comercial para possibilitar a articulação de um canal de troca de publicações, no circuito da poesia marginal tanto os editores quanto os leitores dos diversos panfletos, fanzines e demais impressos prescindem das contingências da produção literária comercialmente planejada. Entre os anos 70 e 90, parte considerável da produção experimental brasileira circulou através da rede internacional de Arte Correio, tanto em exposições (como a 1ª Exposição Internacional de Arte Correio, organizada por Paulo Bruscky e Ypiranga Filho no Recife, em 1975), como em envelopes, postais, selos de artista, publicações, etc. No Brasil, a rede de arte correio contou com a substancial participação de artistas nordestinos, a exemplo de Avelino de Araújo (RN), Almandrade (BA), Pedro Osmar (PB), Maynand Sobral (CE), J. Medeiros (RN), Bené Fonteles (CE) e outros que trabalham com poemas visuais/ experimentais/multimeios, como o pernambucano Jomard Muniz de Britto. No que diz respeito à criação poética em suportes tecnológicos, é interessante observar o quão ligados estão estes novos modos de criação poética e as transformações técnicas operadas nos meios de produção, registro, circulação e processamento de fluxos de comunicação na modernidade. A expansão das redes telemáticas teve um papel extremamente relevante neste sentido, ao intensificar a fluidez e a constância do intercâmbio de ideias, opiniões e informações. Assim é o caso da Poesia Computacional, com o pioneirismo de Waldemar Cordeiro, Sílvio Roberto de Oliveira e Sílvio Zamboni, e os Holopoemas de Eduardo Kac. Os trabalhos Poesia Sonora exploram a ambiguidade da linguagem oral, o potencial estético/comunicativo de expressões fonéticas, as relações entre signos, códigos linguísticos e expressões vocais, assim como as particularidades da voz a partir do seu registro fonográfico. A pesquisa em torno das relações entre

práticas enunciativas, representações gráficas e usos criativos da linguagem é evidente nas partituras de verbalização elaboradas de Willys de Castro na ocasião do primeiro recital de poesia concreta do País, em 1957, no Teatro Brasileiro de Comédia (São Paulo/SP), do qual participaram Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Ronaldo Azeredo, Ferreira Gullar, José Lino Grünewald e Reynaldo Jardim. Duas grandes mostras de poesia sonora e áudio/ rádio arte aconteceram no Recife, em 1978 e 1979, com as edições do International Ra(u)dio Art Show, realizadas durante o I e II Festival de Inverno da Universidade Católica de Pernambuco, que contaram com a participação de cerca de 50 artistas, como Jomard Muniz de Britto, Luiz Guardia Neto, J. Medeiros, Roberto Sandoval e Paulo Bruscky, co-organizador do evento. Também no final dos anos 1970 foram lançadas duas importantes revistas-coletâneas em fita cassete: Balalaica (1979) e Artery IV (1980), editadas em São Paulo/SP pelo Studio OM & Nomuque Edições, com colaborações de Carlos Valero. Omar Khouri, Augusto de Campos, Caetano Veloso, Walter Franco, Willy Corrêa de Oliveira e outros; os Sonemas de Alex Hamburguer e as investigações sonoras/ multimídia de Philadelpho Menezes, Ricardo Aleixo, Raquel Stolf, Yuri Bruscky, Flora Holderbaum, etc. A poesia visual/experimental, surgida no Brasil desde a década de 40 através de Vicente do Rego Monteiro, destacou-se por meio da obra de autores como Hugo Mund Jr., Arnaldo Tobias, Hayle Gadelha, Lenora de Barros, Delmo Montenegro, Raíza Bruscky, Celina Neves, Tchello D’Barros, Aquiles Guimarães, Adolfo Montejo Navas, Ricardo Aleixo, Erthos Albino de Souza, W. A. Coutinho, Vera Salamanca, J. Medeiros, Unhandeijara Lisboa, Constança Lucas e Almandrade e muitos outros, assim como pela articulação de grupos como o Totem, formado em 1961 na cidade de Cataguases/MG, a partir do encontro dos poetas Joaquim Branco, Ronaldo Werneck, P. J. Ribeiro, Carlos Sérgio Bittencourt, Aquiles Branco e Plínio Guilherme Filho, cujas atividades estenderam-se ao longo dos anos 1970, com a publicação do suplemento homônimo e adesão de poetas como Márcia Carrano; o Grupo VIX, surgido em 1963, em Minas Gerais, e composto pelos poetas Waldemar de Oliveira, Márcio Vicente Silveira Santos, Hugo Pontes e Márcio Almeida — os dois último integraram também o grupo Frente, do qual participaram Maria Célia Rocha Nicácio,

Heloísa Muniz Benedetti, Maria José Chagas e Judas Tadeu dos Mártires, entre outros. O material decorrente do trabalho investigativo desta mostra não tem caráter totalizante — isto é, não esgota a miríade de inflexões possíveis não abarcadas pelo delineamento proposto. A problemática em torno das demarcações historiográficas da poesia experimental brasileira não pode ser encerrada em termos causais unidirecionais, ou de silenciamentos oportunos que atendem, antes, à necessidade de hipertrofiar a relevância de determinadas vertentes, em detrimento de outras. Reitera-se, de tal maneira, a necessidade de escrutinar as contingências que dão lastro à reflexividade e à problematização de certa grandiosidade inelutável com que os setores hegemônicos no campo literário chancelam a narrativa histórico-institucional dos seus pares. Se a criação poética é atravessada por outros campos de mediação complexos, é necessária uma abordagem que se debruce sobre os usos e práticas significativas encampadas pelos sujeitos a partir do consumo de bens simbólicos. A abordagem contextualizada dos processos de produção, mediação e apropriação das formas simbólicas põe em primeiro plano a inserção destas em contextos sociais específicos, que as balizam e são por elas modificados. Materializados socialmente, estes referenciais são percebidos e re/apropriados, por indivíduos em circunstâncias diferenciadas, valendo-se de recursos particulares para depreender o sentido imbuído em uma dada expressão. Nesta irrevogabilidade contextual movimentam-se sujeitos providos de referenciais simbólicos e colocações sociais diversificadas, que os proveem com níveis distintos de empoderamento, a partir do qual mediam suas relações com o seu entorno e se afirmam diante dele. É na História — e a partir dela — que nos movemos. Dedicamos esta exposição a Vicente do Rego Monteiro e a Wlademir Dias-Pino, reinventores da PaLarva e duas figuras centrais do experimentalismo brasileiro.

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ARQUIVO PAULO BRUSCKY

PATROCÍNIO

REALIZAÇÃO

arquivo paulo bruscky: 50 anos de pesquisa e resistência

utopias da linguagem (anotações práticas) Adolfo Montejo Navas (curador)

APOIO

Paulo Bruscky e Yuri Bruscky (curadores)

"Eu nem sequer sou poeta: vejo.” Alberto Caeiro

Todos os materiais que integram a exposição História da Poesia Visual Brasileira provêm do acervo do Arquivo Paulo Bruscky, coleção pertencente ao artista multimídia pernambucano Paulo Bruscky. Referência internacional para pesquisadores em arte contemporânea, o arquivo é o maior acervo de arte e multimeios da América Latina, e um dos maiores do mundo. Constituído ao longo de cinco décadas de pesquisa, contém aproximadamente 70 mil itens, entre trabalhos, publicações, documentos, correspondências, de aproximadamente 1.000 artistas de 52 países, abrangendo as mais importantes vanguardas do século XX, como futurismo, dadaísmo, pop art, grupos Cobra, Gutai e Fluxus (Cage, Friedman, Maciunas, Paik, Ono, Beuys, etc.), arte conceitual, vídeo arte, arte correio, áudio arte, poesia experimental, e artistas como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Flávio de Carvalho. O Arquivo integrou a 26ª Bienal de São Paulo, tendo sido remontado integralmente no pavilhão expositivo, objeto de artigos nas publicações estadunidenses Leonardo e Art journal. O Bruscky Arquivo cedeu, por empréstimo, materiais para instituições como o Itaú Cultural, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP, Casa França-Brasil, Instituto Tomie Ohtake e Bienal do Mercosul. Em 2019, Paulo Bruscky apresentou o Bruscky Arquivo no FM Centro por l'Arte Contemporanea (Milão, Itália), com o seminário "O Arquivo como Obra de Arte - Arte Correio e Artistas Italianos", a convite da instituição.

“A língua é um olho.” Wallace Stevens I. Outra sinalítica História da Poesia Visual Brasileira é uma mostra que reluta a considerar a lírica dos signos expandida, como algo já contado ou, pior, categorizado. Trata-se de uma exposição-mapa de caráter inclusivo e abrangente, de uma produção tão significativa no Brasil. Longe, portanto, de uma coleção histórica que se comporta conforme um modelo interpretativo ou imperativo de narração, de relato que poderia não abrigar, além das superfícies explicitadas como mainstreams obrigatórios, algumas outras zonas espectrais menos dilatadas, obras-sombras, e nós à espera de outro desfeito mais heterogêneo, ou seja, na possibilidade de poder almejar outro corpus desta lírica intersemiótica e imagética, no fundo, avessa a ficar como canônica. Consequentemente, não são importantes aqui só os

Cartaz de Raíza Bruscky para a 1ª edição da exposição História da Poesia Visual Brasileira - org.: Paulo Bruscky, Yuri Bruscky e Raíza Bruscky; curadoria: Paulo Bruscky e Yuri Bruscky - Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, Recife, 2016

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1. Diga-se de passagem, como a natureza da mostra ilustra o lado bifronte que a poética brusckyana mantém em tensão, mas sem contra-indicações, o olhar para o presente e para as novas experiências rupturistas de linguagem e o olhar para a memória que a cultura do arquivo promove.

Duas instâncias que talvez funcionem não só como contrapeso como forma de viver o contemporâneo com a consciência de suas sombras, do passado, como aponta Giorgio Agamben (O que é ser contemporâneo, Chapecó, Santa Catarina, 2009).

parâmetros coletivos do acervo brusckyano — com suas inevitáveis escolhas e transversais orientações temporais1 — como se fosse o único que conta neste repertório eclético e heterodoxo, com suas dedicações generosas a movimentos e obras, tantas vezes desatendidos de um maior reconhecimento e leitura crítica quando se fazem balanços históricos desta disciplina imagética, verdadeiro limiar entre o texto e a visualidade. Longe, assim, de uma leitura unidirecional, de um repasso temporal arquetípico, pacificado, o que importa nesta História da poesia visual brasileira — intitulada à consciência de forma ambiciosa pela sua novidade de abrangente registro — o que se desenha, portanto, é uma renovada atenção a um maior número de poéticas, signos, gestos, às polaridades e desvios de uma história, que promete assim alguns deslocamentos na hierarquia cultural estabelecida. De alguma maneira, esta história sui generis mexe no repertório desta produção entre-linguagens e se abre para outras conexões ou relações. Abre-se a mais pontos cardeais (a mais setas). Pois a História sempre pode recomeçar outra vez, talvez porque ela nunca nasce uma única vez e pode “recomeçar uma vez após outra” (segundo o espírito de Aby Warburg, que Georges Didi-Huberman defende: “Arriscamos isto: o discurso histórico não 'nasce nunca. Sempre recomeça”). Nestas circunstâncias, fica evidente que a convencional dissimetria entre algumas poéticas e reconhecimentos fica implodida, sempre a favor de outra constelação crítica que equilibra aportações, contextos e História. Os momentos e situações desta história pediam um roteiro com novas estações líricas. Neste sentido, são reveladores dois aspectos simbólicos: em primeiro lugar, que os dois artistas e poetas homenageados sejam quase outsiders — ainda que de culto — da cultura brasileira, concretamente, das artes visuais: o primeiro, por ordem de aparição biográfica, Vicente do Rego Monteiro, pintor e mul11


tiartista, além de poeta, que, devido ao seu itinerário Recife-Paris — como aconteceu com Cícero Dias — não teve que pagar o pedágio cultural que as metrópoles carioca e paulistana poderiam impor, ainda mais numa época menos desterritorializada que a nossa. O segundo homenageado, Wlademir Dias-Pino, em plena atividade até seu falecimento no ano passado com 91 anos — depois de décadas à margem e agora em certo processo de sacramentalização 2—, justifica o valor crítico e contextualizador da mostra, sobretudo quando se acompanham ambas homenagens no mesmo espaço das aventuras concretistas, sempre tão emblemáticas (aqui ampliando-se o reconhecimento, desde os imprescindíveis promotores Noigandres, até poetas mais laterais como Pedro Xisto ou Edgard Braga, por exemplo, de quem há uma rara e valiosa representação bibliográfica). Uma outra consideração emblemática é o segmento que poderia chamar-se fundacional ou de levantamento histórico, e que permite abrir ainda mais as coordenadas genealógicas daquela escrita que testa seus limites, com a inclusão de exemplos-sementes de Gregório de Matos, Frei João do Rosário e Sousândrade, com obras pioneiras na visualidade entre os séculos XVII a XIX. Como também corrobora a presença de Oswald de Andrade, Joaquim Cardozo ou Jorge de Lima, aportando uma melhor compreensão deste corpus meio século depois tão desenvolvido. Já o amplo espaço dedicado ao poema processo³ — a razão poética da vanguarda mais rupturista e impura do Brasil na época — ocupando espaço significativo, produz uma nova configuração histórica do leitmotiv da mostra, um páthos diferente. E sua presença é novidade (se excetua-se a seleção incluída na recente mostra de Wlademir Dias-Pino, como um aparte de ordem coletivo⁴), por ter afinação com a produção do Nordeste, tão significativa neste movimento. Fabes Silva, J. Medeiros, José Claudio, Almandrade... o mesmo Paulo Bruscky, entre tantos outros, são alguns dos nomes destacados com produção à vista. E é importante enfatizar aqui, de novo, como este movimento abre as portas ao campo para uma pesquisa visual-sígnica sem precedentes no Brasil, à medida em que nas suas experiências entram signos e imagens de todo tipo, produz-se uma arte combinatória de aspectos narrativos de comic, onomatopeias, sinalizações diversas, carimbos, códigos, ícones, fotografia, gráfica, tipografia, Xerox, caligrafia, quase um pandemonium sígnico, que se afinava com o melhor da poesia experimental internacional da época, cul12

tivada por criadores de todos os tipos de linguagem. Fica cada vez mais evidente que a própria liberdade e dispersão linguística e geográfica do movimento icônico-verbal talvez tenha se superposto à sua riqueza de caminhos explorados. Como exposição de poesia ampliada, que aponta para além do bidimensional, dos registros costumeiros do poético, contemplam-se diversas práticas de linguagem além de suas ordens normativas, ou seja, atendem-se às indagações exploratórias da materialidade textual-visual-sonora que, renovam a identidade da escritura e da leitura ao mesmo tempo (criação e recepção). Operações oblíquas que estranham e desviam o consenso garantido do mundo, de suas semânticas pacificadas. Imagens-dissenso, portanto. Deslimites linguísticos que tratam dos ruídos, do entre, da fresta, das fraturas entre linguagem e realidade. E nesta mobilidade crítica tantas vezes metalinguística, a poesia chamada de experimental “faz pulsar a pergunta em torno das possíveis ordens de sentido (e, por tabela, em torno à invenção de mundos), suscetíveis de imaginar-se ou ativar-se quando desembaralham as ordens normalizadas da linguagem”.6 Seja através de algumas vertentes do objeto, se inscrevem exemplos em algumas vitrines, obras que subvertem a página, a planaridade, como os livros-objeto ou de artista, ou seja, através de exemplos tridimensionais em paredes (objetos tecnológicos, luminosos ou simples espelhos) ou dentro de um móvel com numerosas configurações objetuais, um micromundo de propostas em pequena escala que anunciam outra vertente importante desta lírica aberta ao poético, que também sabe reduzir a escala maximalista ou ordenada das coisas, que expande o poético para a pergunta-invenção da poiesis, superando o âmbito da poesia como regulação versicular. Assim acontece a sua vez no outro horizonte representado pelos singulares experimentos de poesia sonora — outra frente de experimentação em que poetas, músicos e artistas convergem — ou os filmes ou vídeo-poemas, de imagens em processo de animação e movimento, sempre apontando para a matriz da poiesis como fonte geradora de linguagem, de cosmovisão de mundo. Em todos os casos, senhas e poéticas de contraescritura.

história; mas também reconhece-se como relevante a antecipação da audição, do som, previamente ao sentido da visão. De fato, nesta arqueologia dos sentidos do Homo sapiens, que tanto explicita a biografia do cérebro e o desenvolvimento das suas conexões neurais, toda a história da poesia visual-experimental também tem se atrelado às experiências sonoras, correspondendo a um pre-estágio e pós-estágio de linguagem ao mesmo tempo. Daí a significativa presença de mais de uma vintena de experiências aqui antologadas, que vinculam o som e o ruído à palavra, à partitura da música, ou a oralidade e o pensamento sonoro como universos mais coincidentes que opositores. Retomando, assim, não só o caráter abrangente que tem toda fundação de linguagem quanto a sua sinergia e Ars Combinatoria. A eliminação da dissociação dos sentidos e dos registros, tão promovida sempre pela poesia visual por extenso, pela instauração de sua praxe e recepção novas, recebe na via da poesia sonora outra camada ou vertente, um código tridimensional a sumar-se ao utilizado pelas imagens (bidimensional) ou a escrita (unidimensional). Não em vão, o cruzamento da poesia fonética, sonora, com a poesia visual, performá-

2. Além da mostra retrospectiva no MAR, do Rio de Janeiro, O Poema-infinito (2016), foi convidado para a seguinte Bienal de São Paulo (2017), depois de mais de 30 anos de sua primeira participação. 3. Só também recentemente explicitou-se a possibilidade de visionar esta produção, e nunca com nome próprio, pois se inscreve como um segmento dentro da atual mostra de Wlademir Dias-Pino no MAR, anteriormente citada, e, anteriormente, uma seleção se contemplou na mostra Rio experimental (El poema y la acción), na Fundação Botín, Santander (2012) de cuja realização também participei.

II. A escrita da imagem e vice-versa

4. Coleção Neide de Sá, Rio de Janeiro.

Se há um ponto de partida atávico e imemorial, ele é a divisão da imagem e a escrita, como dois registros essencialmente diferentes que têm sua própria

5. Algumas aproximações cardinais a W. Dias-Pino, palestra, MAR (Museu de Arte do

Rio) / Escola do Olhar, Rio de Janeiro, 21 de maio de 2016. 6. Folder Poéticas oblicuas, Modos de contraescritura y torsiones fonéticas em al poesía experimental (1956-2016), Fundación OSDE, Buenos Aires, 2016. 7. Rodrigo Duarte, “Imagem e escrita no confronto entre ideologia e emancipação”, em Varia aesthetica, Relicário, Belo Horizonte, 2014, p.61 8. Vilém Flusser (Medienkultur), citado por Rodrigo Duarte, op. cit., p.61 9. E resulta inevitável não associar a história do surgimento das escritas no Oriente Médio, caso da Mesopotámia ou Egipto, à condição de locais bélicos que a História contemporânea concede a estas culturas milenares.

tica, ou a tida como intermídia, indica os caminhos próximos de vídeo, computação e tecnologia de nossos dias. Universo do qual também há, nesta história, uma mostra representativa de video-poemas cujas interfaces criam outra forma de poiesis, como poesia em movimento. Segundo o pensamento de Vilém Flusser — analisado conforme Rodrigo Duarte —, “o primeiro [o código utilizado pelas imagens] é o mais antigo e se carateriza pelas informações estarem nele dispostas sobre uma superfície, enquanto no código unidimensional a disposição das informações, assim como sua decodificação, se dá linearmente e a partir de uma direção determinada”7. É importante observar como a poesia visual encontra-se numa deriva desta polaridade anunciada, na medida em que— apesar do uso da palavra, caso do ênfase metamôrfico dos poetas concretos —, reelabora outra relação destes dois “códigos fundantes” culturais (segundo a terminologia de V. Flusser); o que se reconhece como escrita é a imagem textual, a imagem — que a maioria das vezes não tem começo nem fim — cujo paradigma estratégico é fugir do curso linear. Esta falta de direção obrigatória, de narrativa, evidencia sobretudo a possibilidade de outra leitura mais aberta, em que o espaço se manifesta por cima da temporalidade, pois as cenas e situações apresentadas vivem outro sentimento do tempo: “Para as pessoas que são programadas através de imagens, o tempo flui no mundo como os olhos passeiam nas imagens: ele diacroniza, ele ordena as coisas ao modo de situações”8, e o próprio teórico tchecoslovaco, não duvida em associar à concepção circular do tempo que as sociedades primitivas tinham, o senso de magia em suas relações com a Natureza e entre si. Resulta interessante, pois, que o curso da poesia visual, desde seu começo nas primeiras vanguardas do século XX, tenha retornado a uma escrita da imagem, ou seja, tenha desenhado o retorno da escrita para as imagens, onde os elementos, signos, apontam mais para uma constelação de sentido que para uma direção unívoca. Regresso ainda mais significativo, sabendo que a escrita primeira, que provém do universo das imagens, revela-se pictográfica (no Oriente Médio e no terceiro milênio a.C.), com hieróglifos, alfabetos, códigos9. Assim como resulta operativo colocar-se no contexto em que vivemos, desde o último terço do século XX até hoje, já numa época de uma 13


visualidade geral, social, que coloca em atualidade certo litígio ao redor da fé ou potência das imagens, leia-se também o concurso enfrentado entre a idolatria e a iconoclastia. Esta contraposição entre a adoração ou o culto pelas imagens — iconofilia — e a sua desmitificação ou destruição agora supera as estações históricas de outrora, vividas em vários momentos como turning points da cultura: à diatribe de Platão sobre o poder maligno das imagens também se soma a Bíblia (o episódio de Moisés com as Tábuas da Lei). A ilusão e mentira das imagens-ídolos, como mimese deficitária de uma verdade, sempre foi insuficiente para quem teve a realidade como domínio e território da racionalidade. Não se trata só do grau de mentira ou inexatitude, quanto também do feitiço, do problema de assistir à outra “nomeação”, cuja mediação era possível pela consciência mágico-imagética. É sobre esta aposta da linguagem imagética, e em consequência disto, que se posicionaram as diversas religiões (fosse com limitações ou proibições taxativas, fosse o catolicismo, o protestantismo, o Islã ou a cultura judaica, por exemplo). O lugar sagrado ou profano que ocupará a escrita, as palavras ou as imagens, será um divisor de águas nas civilizações. Evidência de nossa complexa época é que agora estamos em outro estágio da visualidade, no qual a idolatria e a iconoclastia, paradoxalmente, se confundem. De fato, por diferentes caminhos asseveram-se pronunciamentos desta irônica situação. O ponto neurálgico em nossa cultura estriba no grau de adoração de imagens falsas (eidola) ou mortas que se exige compartilhar ou consumir, nesse consumo de “imagens preferentemente como falsos artifícios técnicos para poder ignorar tanto melhor sua pobreza semântica”, como aponta Hans Belting. Segundo o historiador alemão, “a idolatria que suscitam é sua mais segura proteção contra o perigo de que olhemos através delas”.10 Este através ou entre (a fissura entre a linguagem e a realidade) faz parte da poesia visual mais instigante, mais viva, esteja no espaço bidimensional de uma página, um objeto tridimensional ou de outra natureza. Ainda mais quando a distância do real e sua crescente ficcionalidade ou a pobreza semântica dos signos instrumentalizados augura que “a idolatria se transforma, neste sentido, numa iconoclastia com o signo modificado”. Iconoclastia ilustrada, diz Belting, “já que sabemos que as imagens estão vazias, desfrutamos da ficção com que brilham”.11 14

Por outra parte, a consideração de Mário Perniola, de vivermos ao mesmo tempo idolatria e iconoclastia, descansa no fato de que “a hiper-realidade é uma imagem demasiado alucinada para ser de fato real, e a hipervisão é uma realidade visual demasiado cotidiana para ser de fato profética. Hiper-realidade e hipervisão assemelham-se, porque têm a pretensão de ser algo mais do que imagens, de representar uma substância presente ou futura, um original”.12 No ponto górdio da visualidade contemporânea, derivado desta observação aludida, a poesia visual — a arte — se coloca em outra consciência de linguagem, de uso dos signos e das imagens que não é iludido ou ingênuo, por saber reconhecer sua própria condição de simulacro, de verdadeira ficção linguística (e não imagens em estreita relação de contiguidade com os objetos do mundo). Entretanto, a situação em que a poesia visual ampliada coloca-se é bifronte. Já que ela está inscrita na visualidade reinante da época, como peça ou fruto imagético e, ao mesmo tempo, precisa ser contra-estética — como ainda parte da arte pretende: é uma iconoclastia poética numa época de idolatria visual. À época da sublevação dos signos e semânticas — das vanguardas as quais se associou comumente a poesia visual de forma conceitual — segue agora outro tempo mais funcional, que favorece uma maior apreensão de códigos e registros, mas talvez não outra compreensão das coisas (leia-se no sentido de estabelecer um imaginário livre em troca de um subserviente, disciplinado, político). Tendo, então, a alteridade como referente prioritário, não é tão fácil discernir linguagens e contextos, meios e mediatizações. O processo de visualidade imparável — geral, particular, universal — re-situa o lugar das imagens como preferencial, como a matéria-prima da época. Daí que o sentido antropológico da imagem venha ganhando interesse em nosso tempo, até superando as coordenadas da arte (estaríamos falando de uma ampliação e predomínio da cultura visual que incorpora numerosos campos imagéticos, até chegar também aos meros limites da aparência como valor, do que não é nem imagem com perspectiva simbólica e, sim, de mero consumo ou entretenimento). Além disso, outro fator a considerar, sem dúvida, é a própria contextualização da poesia visual hoje em dia, já que há duas circunstâncias que afetam a seu espaço de outrora. Talvez porque faça parte de uma

conquista estética realizada, como tantas aventuras rupturistas na arte que vingaram a sua integração. Por um lado, existe o desenvolvimento do design e da visualidade aplicada em publicidade e propaganda, a imagem dos meios de comunicação, num crescendo exponencial, em que muitos gestos de criação visual (gráficos, visuais, em movimento) atrelam seu sentido a alguma ordem rentável ou instrumental (ativando o lucro da imagem). (Há uma vitrine especifica neste panorama expositivo que apresenta este vai-vem de influências, de territórios). Por outro, as artes plásticas vêm se manifestando cada vez mais neste campo da poesia-poiesis, da textualidade visual, da escrita como incorporação e imagem, também como uma apropriação de território. O espaço da poesia visual, do livro de artista ou livro-objeto, do poema-objeto, do poema como objeto plausível de qualquer suporte, desse inquieto trabalhar com signos escritos, textualidades, vem se incrementando desde o movimento conceitual — sempre um paralelismo epocal à arte conceitual e do processo com as aventuras da poesia visual e experimental —, de tal forma que agora muitas obras de artistas estão inseridas nessa indefinição linguística de gênero, que permite oferecer poesia visual fora do conhecido âmbito como só dela. Estaríamos falando, não só da procura de situações de poesia nos trabalhos de arte, quanto da incorporação da obra como escrita, obras-escritura. (lembre-se aqui, oportunamente, da consideração de T. W. Adorno de que “as obras de arte são linguagem só enquanto escrita”13). A ampliação desta vertente nas artes plásticas supera a anterior confluência de poetas e artistas; o texto, a palavra como imagem e matéria em numerosas hibridações faz parte de nossa época, também como eco das aportações da poesia visual e experimental14.

10. Hans Belting, “La idolatria hoy”, em Iconoclastia, la ambivalencia da mirada, (Carlos A. Otero, ed.), La oficina de arte y ediciones, Madri, 2012, p. 91. 11. “La idolatria hoy”, op. cit., p. 92. 12. Mário Perniola, Pensando o ritual: sexualidade, morte, mundo, Studio Nobel, São Paulo, 2000, p. 133.

O dilema de ser um tipo de escrita imagética ou outro, sempre está no mantenimento de sua ambiguidade, numa quota insubornável de enigma ou, então, de representar uma mercadoria cultural que esteja a bem com os poderes semânticos constituídos, o status quo da visualidade. A conversão das imagens em mercadorias arrasta-se de meados do século XX até seu ápice atual. E faz parte de uma situação comprometida o fato de que, “a ideologia contemporânea encontra-se exatamente numa espécie de encruzilhada entre a imagem e a escrita, na qual aquela usurpa a mensagem específica do texto, chegando mesmo a substituí-lo”, como aponta R. Duarte15. Esta captura da imagética sobre a textualidade, precisamente, tem uma vertente excepcional na poesia visual, na medida em que se reconhece, abertamente, que não se pratica um domínio (ou absorção da escrita pelas imagens), senão que se estabelece uma dialética de afinidades nas cesuras das linguagens (de tal forma que não há aquelas correspondências da mera ilustração e pre-texto entre os signos escritos e os visuais, tão pródigos nos meios de massa e comunicação). Sinônimo de obra aberta e não imperativa, e longe da condição de ser mero comentário ou subproduto visual, a escrita imagética responde a uma necessidade de liberação ontológica através de composições estéticas insubmissas que estão longe de predizer ou anunciar de antemão seu destino de sentido.

13. T.W. Adorno,Teoria estética, Ed. 7O, Lisboa, 1970. 14. A lista é infinita. Alguns nomes dessa fronteira: Waltercio Caldas, Alexandre Dacosta, Jochen Gerz, Rogelio López Blanco, Jaume Plensa, Marcel Broodthaers, Barbara Kruger, Jenny Holzer, por exemplo. 15. Rodrigo Duarte, op.cit. p.67.

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precursores

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1.

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2.

3.

7. 6.

1. Aloisio Magalhães Aventura da Linha, 1957

5. Jorge de Lima Poesias Foto-plásticas, 1941

2. Frei João do Rosário Composições Acrósticas, 1753

6. Joaquim Cardoso Poesias Completas, 1979

3. Gregório de Matos Poemas pré-concretos

7. Oswald de Andrade Miramar, 1924

4. Manuel Bandeira Os Sapos, 1922

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vicente do rego monteiro

“O absurdo é o senso comum dos artistas, dos poetas e dos loucos e a ‘verdade’ é o senso comum dos sectários.” Vicente do Rego Monteiro

Este texto não é para o genial artista plástico Vicente do Rego Monteiro (1899–1970), que também foi cenógrafo, fabricante de aguardente, corredor de automóveis, fotógrafo, dançarino, professor e cineasta. É, sim, ao brilhante tipógrafo/poeta/tradutor que foi tão desconhecido e injustiçado pelo público brasileiro, apesar de consagrado na França, onde obteve prêmios, o Mandat dês Poètes (1955) e o Prix Apollinaire (1960), além de ser incluído no Livre d’Or da poesia francesa — editado por Pierre Seghers, o mais importante editor da poesia da França — em 1969 e citado por Bachelard em La Poètique de L’Espace. Foi o primeiro tradutor de Mallarmé no Brasil, publicando um número especial da sua revista Renovação, em 1952, dedicado ao poeta francês. Autor de dezenove obras literárias, Vicente praticou inúmeras atividades. Em 1938, dirigiu a Imprensa Oficial do Estado de Pernambuco, onde fez primorosas edições. Ainda na década de 40, publicou seus poemas visuais. Em 1941, edita seu livro Poemas de Bolso, onde consta o Poema 100% Nacional, o primeiro poema tipográfico editado no Brasil. Em 1952, lançou o seu livro de poemas Concrétion, antecipando-se ao movimento da poesia concreta; e de 1956 a 1968 editou e circulou os poemas postais, com poesias suas e de outros poetas, em ações pioneiras de arte correio. De 1966 a 1968, exerceu o cargo de professor contratado do Instituto Central de Arte da Universidade de Brasília, assumindo também a direção da Gráfica Piloto. No ano de 1968, retornou ao Recife para exercer o cargo de professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco. Em 2017, na ocasião da adição de algumas de minhas obras à coleção do MNAM-CCI/Centre Georges Pompidou, um diálogo entre o meu trabalho e o de Vicente foi apresentado em uma das salas do caminho histórico do museu, integrando o percurso L'oeil Écoute, com curadoria de Catherine David. Foram expostos cerca de 20 itens de Vicente pertencentes ao Arquivo Paulo Bruscky, como publicações, poesia sonora, álbuns, efemérides e objetos,

Vicente do Rego Monteiro Poema 100% Nacional, 1941. Considerado por Paulo Bruscky como o primeiro poema tipográfico impresso no Brasil. Integra o livro “Poemas de Bolso” - Editora Renovação, Recife, 1941

Paulo Bruscky

Poema postal, 1955

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Álbum Lisboa, 1961

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wlademir dias-pino

Vicente do Rego Monteiro Concrétion, 2ª edição - Bruscky Edições, Recife, 1996 Cartomancie, 1999 — edição comemorativa do centenário de Vicente do Rego Monteiro

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Sobre o próprio Wlademir Dias-Pino, além de sua participação indicadora nas vitrines do poema-processo (com destaque para o livro-poema de colagens da época, Brasil meia meia (1967)), incluem-se também cartazes de sua primeira participação na Bienal de São Paulo ou de seu trabalho de design, os 6 volumes publicados nos anos 90 da infinita Enciclopédia Visual; o antecessor dela, o chamado livro dos Logotipos (1974) ou o livro de artista, Numéricos (1964/1975) (assim como há uma janela de texto complementar a estas linhas). Destaque também para a dinâmica expansiva de O dia da

cidade (1948), um fluxo textual-visual que supera o âmbito das páginas isoladas, convertendo-se num espaço construído por extenso, arquitetonicamente — melhor, topologicamente — de tal forma que os versos e os cursores geométricos se continuam uns aos outros; são, em suma, ambos, conexões pelas que passa a energia lírica elétrica de forma gráfica e, ao mesmo tempo, versicular (ainda, as duas coisas em associação e convergência: versos-linhas que se permutam por linhas-versos). Adolfo Montejo Navas

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Wlademir Dias-Pino Os Corcundas, 1939 Vírgula, 1972 Impresso da Simões Editores e Livraria Ltda., 1968 Cartazes XIV Bienal de São Paulo, 1977

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Wlademir Dias-Pino e Álvaro de Sá Solida, versão de 1968 Wlademir Dias-Pino Solida, 1962

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Wlademir Dias-Pino O Dia da Cidade, 1948

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poema/processo

As experiências que o poema-processo potenciou com seu sistema de produção aberta, levou a página a outra dimensão — perto do tridimensional — assim como à certa diluição da autoria no magma da linguagem. Assim como a independência e ecleticismo de seus colaboradores no Rio de Janeiro e no Nordeste (com Natal como polo importante), sobretudo, mas também Minas Gerais, abrigou um inventário quase infinito de propostas intersemióticas, em que a heterodoxia visual, imagético-verbal, resultava inabarcável, híbrida em todos os sentidos. Carimbos, imagens de toda procedência, incorporação fotográfica, de desenhos, linguagem da mídia, do comic (poemics), tipografias, iconografias de todo tipo... falava mais de uma caixa de pandora imagética de grafias que de um movimento regulado por características estritas. Em suma, um raio de ação artístico, que ainda surpreende pela liberdade visual-experimental. A alta dose de visualidade atingida, autônoma tantas vezes dos termos verbais, sempre permitiu considerar o movimento entre a poesia (visual) e as artes plásticas, como uma vertente semiótica plástica. E que o movimento do poema-processo faça em 2017, cinquenta anos de sua irrupção, e até agora não tenha recebido uma exposição monográfica e independente no Brasil à altura de seu valor histórico, justifica que ganhe uma das vitrines expositivas e converta-se numa parte paradigmática desta história da poesia visual brasileira. Adolfo Montejo Navas

Wlademir Dias-Pino Monotipias, década de 1970 Paulo Bruscky, Wlademir Dias-Pino e Adolfo Montejo Navas. Rio de Janeiro, 2018

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Joaquim Branco Arte/Verso/Poder, 1979

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Recorte do Jornal de Letras, Rio de Janeiro, 1969 Recorte da Tribuna Literária, Pirapora - MG, 1971 Exposição Poema/Processo no Cecosne, Recife, 1967

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ao lado Exposição Nacional de Poema/Processo, 1968 acima Ponto 1, 1967 Ponto 2, 1968

Dailor Varela Babel, 1974 Marcus Vinicius de Andrade Idolatrina, 1968 Bosco Lopes Projeto/Zero, 1973

Processo 1, 1969

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josé cláudio situações carimbáticas de josé cláudio no poema/ processo

O genial e múltiplo artista José Cláudio é um elo importante no início do Movimento do Poema/Processo, e manteve ainda uma destacada participação no exterior, tomando parte em exposições e publicações na Argentina, Uruguai, México e Estados Unidos, entre outros. Seu pioneirismo é importantíssimo não só no Poema/Processo, como na Poesia Visual e na Arte do Carimbo (Rubber Stamp Art). Em 1979, como Coordenador de Artes Plásticas do II Festival de Inverno da Universidade Católica de Pernambuco, convidei o holandês Aart Van Barneveld, que realizou uma palestra e trouxe para o Festival uma importante exposição internacional de trabalhos com carimbos. À época, ele mantinha a Stempelplaats, primeira galeria e editora da Europa especializada em trabalhos de arte com carimbos. Ao ver os trabalhos e livros de artista de José Cláudio, pertencentes ao meu Arquivo, ficou impressionado com o pioneirismo e proficuidade da sua produção. Paulo Bruscky

Paulo Bruscky Poema/Processo, 1969

Moacy Cirne Poema para picotar, 1973

Álvaro de Sá Alfabismo, 1967

Poema/Processo, 1970, coleção Centre Pompidou

Unhandeijara Lisboa Sexo, 1972

Arnaldo Tobias Poema/Processo, déc. 60

Poema/Processo Liquidificação, 1971, coleção Centre Pompidou

José Alcides Pinto Planêtas Visuais, 1957

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José Cláudio Livro de carimbos nº 3, 1968

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falves silva o poeta e as signific/ações

Importante poeta de Natal/RN, Falves Silva tem uma profícua e instigante atuação nas vanguardas anti/literárias do Brasil e do exterior: do Poema/ Processo (1967) à Poesia Visual, via Arte Correio. Toda a sua produção é uma obraberta: desenhos, colagens, histórias em quadrinhos, cinema, publi/ cidade, tipo/grafia, xero/grafia e etecetera poesia. Falves coloca tudo em um liquidificador, na rotação máxima, e sorve os sentidos poemáticos de uma eterna arte em trânsito. Paulo Bruscky

Falves Silva Elementos da Semiótica, 1982 Intersignos, 1984 Carimbo, 1982 Projeto 6: Poema/Processo, 1975

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neide sá o percurso criativo e participativo

Uma das criadoras do Poema/Processo, em 1967, Neide Sá tem uma participação também significativa no Movimento da Arte Correio e da Poesia Visual, com uma produção importante e diversificada em materiais e suportes: filme super-8, livro de artista, objetos e situAções. Seus trabalhos e textos teóricos foram publicados em diversos livros e revistas especializadas do Brasil e do exterior Paulo Bruscky

Neide Sá ao lado Livro Poema, década de 1970 acima Livro Poema, 1978

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poesia concreta

Neide Sá Problemática das Direções de Leitura, 1968 Momento, 1967 Livro Poema, década de 1970

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Augusto de Campos e Júlio Plaza Caixa Preta, 1975

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Omar Khouri (org.) Álbum coletivo Poesia Planetária A Revolução Concreta, 1986. Participantes: Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Ronaldo Azeredo, José Lino Grünewald, Pedro Xisto e Edgard Braga Décio Pignatari Cr$isto é a solução, 1984 Antônio Girão Barroso Poema Boca, s/d, final déc. 1950 Augusto de Campos Anticéu, 1984

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pedro xisto e edgard braga

Outra relevância é o espaço outorgado para Pedro Xisto e Edgard Braga, os quais, participando da proposta concretista com frequentes colaborações na revista Invenção, por exemplo, mostram uma autonomia de poética digna de menção no contexto da época. Seja com as caligrafias (livro Tatuagens, 1976), geometrizações de palavras ou o trabalho de signos-desenhos-carimbos de Braga, seja com edições eminentemente plásticas (caso de Algo, 1971, edição cuja capa já divide a palavra em algo mais com a metade de sua visualidade) ou o acasalamento da brevidade oriental e a metamorfose concretista de Xisto, sua indagação visual das vogais ou o uso de um magma escritural galático, de enxame verbal. Antonio Girão Barroso Modernismo & Concretismo no Ceará, 1978 Pedro Henrique Saraiva Leão e Geraldo Jesuíno da Costa Fora do Com/um, 1996

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Hayle Gadelha Onomatopoemas, 1978

Haroldo de Campos Auto do Possesso, 1950

Augusto de Campos O Rei Menos o Reino, 1951

Augusto de Campos e Julio Plaza Poemobiles, 1968

Décio Pignatari O Carrossel, 1950

Décio Pignatari Exercício Findo, 1968

Adolfo Montejo Navas

Pedro Xisto haikais & concretos, 1960

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Pedro Xisto Partículas, 1984 Poesia em situação, 1960

Edgard Braga Algo, 1971

ieaou, 1966

Tatuagens, 1976

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poesia-práxis

poesia visual | panorama

Paulo Bruscky e Unhandeijara Lisboa Poesia Viva, 1977

Happening/performance idealizado e realizado pela equipe Paulo Bruscky e Unhandeijara Lisboa no Recife, em 1977, no Dia Nacional da Poesia (14 de março). As pessoas foram transformadas em letras e o chão em páginas. Também foi realizado na 7ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, 2009; Parque Lage - Rio de Janeiro (em homenagem a Wlademir Dias-Pino, com adição das letras WDP), 2010-11; Mostra PaLarva - Poesia VIsual e Sonora de Paulo Bruscky, Caixa Cultural Recife, 2016, Collezione Peggy Guggenheim e Piazza San Marco, Veneza, 2017; Mostra PaLarva - Poesia VIsual e Sonora de Paulo Bruscky, Caixa Cultural Brasília, 2018.

Yone Giacometti Fonseca A Fala e a Forma, 1963 Mário Chamie Lavra Lavra, 1962 Armando Freitas Filho Dual, 1966

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Ricardo Aleixo Modelos Vivos, 2010 Raíza Bruscky Sem título, 2005 Delmo Montenegro Sem título, 1994 León Ferrari Sem título, 1983

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Hugo Pontes Dois + dois, s/d

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arte correio

Vera Salamanca Saco Cheiro de Arte, 1979 Constança Lucas Embalagem Posta, s/d Luís Envelope, 1978

Flavio Pons e Cláudio Goulart Postal, década de 1980

Pedro Lyra Poema-Postal, s/d

J. Medeiros Envelope, déc. de 1970

Samaral Revisto, década de 1970

Pedro Osmar Por uma Vanguarda Popular, 1979

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publicações

Ivan Maurício (org.) Metamorfome, publicação coletiva, 1969

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Unhandeijara Lisboa (org.) Karimbada nº 1, publicação coletiva, 1978

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poemas-objetos

Lenora de Barros, Pedro Tavares de Lima e Régis Bonvicino (org.) Poesia em G, 1975 Hugo Mund Júnior Palavra e Cor , 1988

Roberto C. Magalhães QUEBRAPOEMA, 1984

Gastão de Holanda Inelutável modalidade do visível, 1969

Adolfo Montejo Navas Sem Título, 2016

Kátia Mesel e Lula Côrtes Rarucorp, 1971 Unhandeijara Lisboa (org.) Pixota, publicação coletiva, 1975

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Celina A. Neves Errata, 2016 (foto: Vicente de Mello)

Lenora de Barros Sem título, 2003

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poesia marginal e grafite

ALM Andrade Sem Título, 1979 Yuri Bruscky Estranhas Ocupações nº 2 , 2018

Glauco Mattoso Jornal Dobrabil, 1980

Chacal Quamperios, 1977

Ronaldo Periassu Meteoros Sonoros da Indústria Têxtil, 1969-1973

Cristina Fonseca A Poesia do Acaso (na transversal da cidade), 1985

página seguinte: páginas do livro "A Poesia do Acaso", de Cristina Fonseca

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poesia e tecnologia, poesia sonora e videopoema

Waldemar Cordeiro ArteĂ´nica, 1993 Erthos Albino de Souza Livre/servil, 1976 Paulo Bruscky Fax Poema, 1993

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Eduardo Kac Interface, 1990; Videophone Picture, 1994; Erratum I, 1993-4 Waldemar Cordeiro e Giorgio Moscati Derivadas de uma imagem, 1969

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SESC - SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor do Departamento Regional Danilo Santos de Miranda Superintendentes Técnico-social Joel Naimayer Padula Comunicação Social Ivan Paulo Giannini Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento Sérgio José Battistelli Gerentes Artes Visuais e Tecnologia Juliana Braga de Mattos Estudos e Desenvolvimento Marta Colabone Artes Gráficas Hélcio Magalhães Sesc Bom Retiro Monica Machado

idealização

realização

Catálogo impresso em papel alta alvura 240 g/m2 para a capa e papel alta alvura 150 g/m2 para o miolo em maio de 2019 na Gráfica Piffer Print, São Paulo, Brasil. Todas as famílias tipográficas usadas neste catálogo foram desenvolvidas por tipógrafos brasileiros: MARGEM de Fabio Haag Capitolina de Marconi Lima e Christopher Hammerschmidt (Typefolio) The Dada aF: dingbats de Gabriel Figueiredo

Exposição História da Poesia Visual Brasileira Curadoria Paulo Bruscky, Yuri Bruscky e Adolfo Montejo Navas Organização Paulo Bruscky, Yuri Bruscky e Raíza Bruscky Equipe Sesc Ana Luísa Sirota, Daniela Garcia, Geraldo Ramos, Giuliano Almeida Ziviani, Ilona Hertel, Ivoneide Oliveira, Jairo da Silva, José Lucas Gonçalves, Karina Musumeci, Larissa Meneses, Leonardo Borges, Lizandra Magalhães, Mariana Thalacker, Michael Anielewicz, Nilva Luz, Odair Freire dos Santos, Tina Cassie Produção Executiva e Operacional Oiya Projetos Culturais e Frida Projetos Culturais Produção de Acervo Yuri Bruscky, Raíza Bruscky e Tainã Ramos Leal Projeto Expográfico Anna Helena Villela colaboração: Luiza Nadalutti Design Gráfico e Sinalização Raíza Bruscky Projeto Luminotécnico Charly Ho Coordenação de Montagem Sorokê Edicão do Catálogo Raíza Bruscky e Yuri Bruscky Textos Paulo Bruscky, Yuri Bruscky e Adolfo Montejo Navas Revisão de Texto Marcos Mauro Rodrigues Digitalização e Tratamento de Imagens Raíza Bruscky e Yuri Bruscky Fotografia das obras (material gráfico) Yuri Bruscky Impressão e Instalação (lambe lambes) Marte Color Ação Educativa Talita Paes Educadores Bruna Lopes Diniz, Dante Chiarini Volpato, Fernanda Moreira Braga, Gabriella Pereira Braga Agradecimentos Galeria Nara Roesler, Mateus Barreto, Socorro Bruscky, Helder Lopes

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