Solomonos magazine N°4 portugues

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04 Magazine


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Erwin Gómez Viñales Margarita Cid Lizondo PamelaRiveros, Josefa Villaseca Felipe Haurelhuk Erwin Gómez Viñales Nicolás Bustamante Laia Machado Prin María Ignacia Pavez Travisany Luis Carlos Herrera Manuel Ortiz Ossandón Portada

Editor geral Produtora Executiva Jornalista Jornalista Artigo convidado Designer chefe Designer Produção Internacional Revisão Tradução Português Entrevista em vídeo a Vivienne Barry “Valparaizoo” de Claudio Díaz

Enero 2015, Santiago de Chile canal@solomonos.cl



THE GIFT/08

Este curta-metragem chileno deu a volta ao mundo. Uma história de amor diferente das mais clássicas e que tem uma marca especial. Conversamos com os criadores desta obra, que nos contaram sobre um imprevisto que se transformou em animação.

COMPETITION CHM 2015/22

O próximo Festival Internacional de Animação CHILEMONOS será realizado entre 5 e 10 de maio. Nesta nota, destacamos a competição, convidados e novidades que o próximo encontro terá.

PUNK ROBOT/30

Entramos no estúdio da Punkrobot para conhecer sua forma de trabalhar e saber sobre os processos que realizam para conseguir essa peças animadas em 3D, comparáveis com os produtos das grandes produtoras. Esta equipe conseguiu exportar seus produtos para o Brasil, alcançando grande sucesso.

ALEJANDRO ROJAS/46

Este artista conseguiu reincorporar os filmes de animação no Chile, depois de seis décadas em que nada deste tipo foi produzido no país. Antes disso, ele foi aluno de um dos míticos animadores chilenos: Enrique “Puma” Bustamante.



CLARITA OU VILLADULCE/64

A estréia destas duas séries começou uma nova era da animação no Chile, já que, pela primeira vez, nasceu uma forma de produção capaz de estabelecer um sistema de trabalho. Depois de saber qual delas foi a primeira no país, conheceremos alguns casos que enriquecem esta história.

JOSSIE MALIS/76

Entrevistamos um especialista em teatro de sombras chinês. Jossie Malis esteve no Festival Chilemonos 2014 e foi o responsável por fazer o totem do evento. Por esse motivo, perguntamos sobre suas realizações e como nasceu essa interessante técnica, que lhe permitiu ser multipremiado no mundo.

ANIMAÇÃO NO BRASIL/90

O Brasil tem muitos anos de animação. Os criadores do documentário “Luz, Anima, Ação” nos contaram sobre os grandes feitos que descobriram após a pesquisa que realizaram para sua peça audiovisual. Entrevistaram grandes animadores como Carlos Saldanha, Otto Guerra e Maurício de Sousa.

RAPHAEL LACOSTE/104

Pesquisando sobre o interessante mundo dos videogames, descobrimos este renomado artista. Lacoste começou sua carreia no teatro e depois ingressou na técnica do 3D. Hoje é diretor de arte da saga Assasin’s Creed e Solomonos Magazine conseguiu entrevistá-lo.



THE GIFT Uma história de amor diferente

De um webcomic para uma peça audiovisual. Um relato de desencontros que já atravessou fronteiras, cativando o público especializado com sua técnica e simplicidade.

Link para entrevista em vídeo do Julio Pot

Por Pamela Riveros Ríos



No ano de 2008, o diretor e sócio fundador do Miniestudio, Julio Pot, olhava o site “9gag.com”, quando algo chamou sua atenção: uns desenhos com traços muito simples que contavam as idas e vindas de um relacionamento. Era o webcomic “True Love”. “Chamou minha atenção porque era uma historia que falava sobre amor, mas não mostrava um coração. Era algo romântico, sem ser romântico”, afirma Pot. E, justamente, o elemento central tenta se afastar dos padrões do romantismo, substituindo o coração por uma esfera azul-claro que sai do peito de cada um dos personagens. “Todos se perguntam o que é, e eu respondo que não sei, De fato, o autor nunca me disse o que era essa bolinha. E eu penso que essa é a graça, porque não importa. Pode ser amor, respeito, o que você interpretar”, comenta o diretor de Miniestudios. Mas não só isso captou a atenção do artista, o formato também, semelhante a um storyboard, que já deixava pronto parte do processo de animação para uma peça audiovisual. Nesse momento nasceu o interesse de Pot em encontrar o autor. “Procurei até que, em um lugar, encontrei a peça completa com a assinatura no final, que dizia ‘Felipe Gómez’. Tentei encontrar seu email, e, sinceramente, não lembro como cheguei até ele”, comenta. O criador era brasileiro e Julio Pot conversou com ele para ver a possibilidade de transformar seu trabalho em um curta-metragem, tendo uma resposta positiva por parte de Gómez. Dessa forma começou a adaptação da história em quadrinhos. Imediatamente, Pot começou a desenhar o projeto e conversou com sua sócia Cecilia Baerswyl, para que



começasse a tomar forma, sob o selo do Miniestudio. Desenvolvendo a história “The Gift” passou por uma série de mudanças desde a sua origem como “True Love”. “O webcomic é bem mais simples que o curta-metragem sobre o relacionamento. Mas a ideia inicial é essa. Quem nunca passou por isso?”, afirma a produtora do curta-metragem, Cecilia Baeriswyl. Segundo seus criadores, um dos aspectos que foi aprofundado faz referência ao desgaste do namoro. A produtora responsável do projeto, Miniestudio, procurou elementos que pudessem justificar porque a mulher abandona o protagonista. “Tinha escutado coisas de amigos, e somei com coisas que já tinham acontecido comigo. Por exemplo, quando você começa um relacionamento sério, você muda de roupa. Já não pode usar essas camisas gráficas com caras de personagens. Não queríamos que ‘The Gift’ fosse algo sexista, que a mulher é má e o homem é bom, ou vice-versa”, esclarece Julio Pot. Sobre esse mesmo ponto, Pot afirma que, no desenrolar da história, conseguiu fazer com que o protagonista tivesse parte da culpa pelo fracasso do namoro, essa foi a graça do desenvolvimento da história. “Ela foi embora, não porque era má, mas porque não aguentava que ele fosse assim. Mas o outro jogo é que ele continua sendo o personagem principal e, por esse motivo, continuamos vendo ele no curta, mas o que ele fez foi realmente muito ruim.” Para retratar de uma forma mais potente e visual o desgaste do relacionamento, Miniestudio usou vários elementos que serviam para apoiar a narrativa de “The Gift”, e eles foram: a cor, os personagens desenhados como rascunhos, e a música.

Cena de “The Gift“ (2013) Financiamento e desafios Quando decidiram realizar o curta-metragem, Pot e Baeriswyl inscreveram a animação no Ideame (/idea. me), uma plataforma brasileira que financia projetos por crowdfunding. “Para a inscrição, pegamos o webcomic, cortamos em pedacinhos e fizemos o animatic bem simples e, quando a gente acabou percebemos que era muito curtinho, que era de um minuto, e aí começamos a desenhar imitando o traço”, explica Julio. Era dezembro de 2011, e acharam interessante receber este tipo de proposta no Ideame, já que não tinham nada relacionado com animação antes. Diante disso, deram 40 dias de prazo para conseguir o dinheiro. “Pedimos

para as pessoas aqui no Chile, para amigos. Felipe também estava com seus amigos próximos arrecadando o dinheiroele mora em São Paulo- e chegamos nos US$1.500”, relembra Pot. Pouco tempo depois, o curta-metragem já tinha evoluído: tinham melhorado os elementos técnicos e a história era mais extensa, o que significava que o projeto tinha ficado mais caro e que, portanto, o primeiro montante que eles tinham arrecadado só serviu para financiar o livro da arte. Por causa disso, se increveram para arrecadar verbas públicas do Conselho Nacional da Cultura e das Artes no Chile, pelo Fundo Audiovisual. E, finalmente, em 2012, conseguiram. No entanto, esse não foi o único desafio que a equipe de




Miniestudio teve que superar. “A produção foi pensada para quatro meses, mas se estendeu por sete. Então, o material começou a amadurecer também, montamos umas cinco vezes. Julio falava ‘não está muito fluído, quero mais intercalado’, então foi um trabalho mais longo do que pensávamos”, comenta Cecilia Baeriswyl. Segundo seus criadores, uma das principais causas disso se deve a que o curta-metragem está animado a 24 frames por segundo e não a 12 como é feito sempre. “Isso foi um luxo. Eu pensei que a arte era tão simples que não ia brilhar em preto e branco. Não percebemos o quão detalhista é a animação, intercalar esses planos foi um suplício. O assistente de animação quase morreu. Ele me disse que em um mês podia fazê-lo, mas foi em dois quase sem dormir”. Tudo se estenderia quando não ficaram conformes com a “The Gift“ (2013) música com a que tinham postulado ao fundo público: não representava de boa forma a história do curta-metragem. A criação de “The Gift” terminou em dezembro do ano de A protagonista, quanto mais brava, mais detalhes tem no com um olhar simples, não é fácil perceber, mas é possível 2012, terminando sua pós-produção de som em fevereiro desenho, e a isso somamos que, quanto mais complexo era senti-lo, de acordo com seus criadores. Quando o curta o relacionamento, mais cores tinha”, afirma Pot. começa, os personagens estão enevoados, não vemos do ano de 2013. seus pés, e, a medida que o relato vai avançando, eles são Foi por esse motivo que decidiram começar o curta vistos de corpo inteiro. Depois, umas sombras cinzentas A técnica com os personagens se desenhando. Além disso, foram se somam aos personagens e vão ficando mais escuras. O criador do webcomic “True Love” mal tinha desenhado acrescentando outros elementos, como as sombras e as Quando a história está muito complexa, é possível ver muitos riscos no fundo do quadro. as pessoas que apareciam nele, o que serviu para conduzir expressões faciais. o design dos personagens. De alguma forma, queriam que A cor “Era isso que a gente queria, que cada plano fosse um a arte de “The Gift” fosse compacta e simples. pouquinho mais complexo. São 20 planos, já não se No entanto, perceberam que a animação não poderia “Tem grande importância artística, porque você vai percebe quando tudo ficou complexo. Quando ela solta a se sustentar dessa forma até o final, já que faltavam vendo que surge mais cor enquanto a briga aumenta a mão dele tudo volta a ser preto e branco”, conta Julio Pot. atrativos visuais que fariam manter a atenção do intensidade.” Uma das primeiras cores que é possível ver em “The Gift” é espectador. “E aí começamos a planejar como poderíamos apresentá-lo, e percebemos que tinha que ser pela técnica. Esse elemento se apresenta de uma forma muito sutil, e, o azul-claro, que seria representativo do curta-metragem.


O principal motivo é que se torna pouco atraente observar os personagens desenhados em preto e branco. A música Para Pot, a música era tão importante quanto quaisquer dos outros elementos do curta e não podia ser aleatória. No começo, ‘The Gift’ contava com a interpretação ao piano do próprio Pot, que tinha gravado os acordes, primeiro com a mão direita e, depois, com a esquerda. Ele sabe de música e conhece o instrumento. Ficou três meses trancado em casa, tentando conseguir. À essa altura, Cecilia já o tinha convencido que deviam procurar músicos. Foi aí que Felipe Inostroza, no violoncello, e Víctor Muñoz, no violino, entraram para a equipe. Também tiveram ajuda do irmão de Julio, Marcelo Pot, para experimentar o som no violão. Outra pessoa importante foi Iván Quiroz, responsável pela sonoplastia. “ Ficou ótima e detalhada. Porque, como o curta está em preto e branco, quase não Estréia e sucesso de The Gift em festivais. tem cenário, e o que preenche esse espaço é o som”, esclarece o diretor. Em maio de 2013, o curta-metragem “The Gift” estreou na segunda edição do Festival de Animação Chilemonos. Foi a Um final de semana, todos eles foram convidados para primeira vez que Cecilia e Julio viram a reação do público. conhecer “The Gift e começar a trabalhar no curta- “Sinceramente, nos impressionou, percebemos que o curta metragem. “Começamos a gravar por partes, e foi realmente funcionava. Aí pensamos que ele podia dar emocionante quando o violinista começou a escutar a certo”, relembra Julio. mão direita e foi gravando por cima. Ele, humildemente, perguntava se podia adicionar coisas”, conta Julio Pot. “Foi estranho. Eles riam onde tinham que rir! E conhecemos Quanto a isso, Víctor Muñoz conseguiu improvisar melodias também os concorrentes, que eram todos chilenos, e para esta obra. “No momento em que o relacionamento recebemos críticas muito boas”, comenta Cecilia. do casal fica mais complexo, perguntei para ele se era possível representar os movimentos dele, e como o faria “The Gift” partiu nessa data para outros festivais ao redor no violino. Essa foi a parte mais interessante da música”, do mundo. Apresentou-se em vários países da Europa, completa. Ásia e América. Mas, uma das exibições que nunca vão

esquecer, foi a de Sound of Silente Film Festival (Chicago), em abril de 2014. “É incrível, porque escolhem peças que funcionem em silêncio, e convidam um compositor para que toque ao vivo a música, como ele acha que seria. Quando soubemos, ficamos muito felizes”, lembra-se Julio. “Os prêmios que eu mais gosto são do Young About Festival Internazionale Giovani e Cinema, da Itália. Porque convidam um monte de crianças e elas escolhem o curta que gostaram, e nós ganhamos dois prêmios”, relembra este diretor, receberam dois prêmios nas categorias: “Adult Jury Prize” e o “Kid’s Jury Prize” Winner. No entanto, o que causou maior impacto nos criadores de “The Gift” foram as reações do público que se identificou com o curta. “Kastrol -animador e colaborador de


Fragmentos do webcomic “True Love“


“The Gift” está disponível no Youtube.


Miniestudio- contou que levou seus pais para assisti-lo e disse que sua mãe começou a chorar. E já recebemos mensagens pelo YouTube de uma pessoa que participou no Sound of Silent Film Festival, que foi com sua ex-namorada e que os dois se emocionaram. Eles explicaram que, graças ao curta, resolveram a briga e os problemas que tinham, e estão muito agradecidos. Ele disse que era exatamente o que tinha vivenciado em seu relacionamento, e gostou porque era contado com humor, o que o deixou mais leve”, comenta Julio. Até o começo de 2015, “The Gift” se apresentou em 85 festivais no mundo inteiro, ganhando 10 prêmios e 4 menções na Europa, América Latina e no Chile. SM


ANIMA MUNDI 2014 BRASIL JULIO - AGOSTO RÍO DE JANEIRO/SAO PAULO http://www.animamundi.com.br/ EXPOTOONS 2014 ARGENTINA SEPTIEMBRE BUENOS AIRES http://www.expotoons.com/ CUTOUT FEST 2014 MÉXICO NOVIEMBRE QUERÉTARO http://www.cutoutfest.com/ AXIS 2015 MÉXICO ABRIL MONTERREY http://axisfest.mx/ ANIMA 2015 ARGENTINA OCTUBRE CÓRDOBA http://www.animafestival.com.ar/



COMPETIÇÃO CHM 2015 Quarto festival internacional de animação CHILEMONOS

De 5 a 10 de maio, será realizada a quarta edição do principal evento de animação do Chile. A seguir, convidamos você a conhecer as novidades que está nova edição terá.

Link para Sneak Peek do CHILEMONOS 2015

Por Josefa Villaseca


“A single Life”, indicado ao Oscar 2015


Depois de cinco anos, o Festival Internacional de Animação CHILEMONOS se estabeleceu como um dos principais eventos de animação no Cone Sul. Com a participação dos profissionais mais renomados, séries, curtas-metragens e filmes de animação, CHILEMONOS, promete, mais uma vez, ter impacto e colocar o Chile em um lugar privilegiado na indústria. Competição 2015 No último 5 de janeiro encerrou a convocatória para a quarta edição do Festival CHILEMONOS. Nos quase três meses de duração do processo, os resultados atingidos superaram as expectativas: foram recebidos mais de 1.200 trabalhos, de países dos cinco continentes. A nivel internacional, destaca a presença de uma grande quantidade de curtas-metragens dos Estados Unidos, Reino Unido e Singapura. Além do grande número de incsritos, a altíssima qualidade dos trabalhos é reflexo do positivo grande qualidade, que faz pensar sobre a animação como estado atual da animação no mundo. arte”, comentou Erwin Gómez, diretor do encontro. Destaques desta edição “Coragem, o cão covarde”, conhecido personagem do Como nos anos anteriores, o Festival CHILEMONOS exibirá Cartoon Network dos anos 2000, estará presente nesta amostras de curtas-metragens de sua seleção oficial, edição concorrendo com “The Fog of Courage”, curtagerando mais de oito horas de programação. metragem em 3D, de seu diretor John R. Dilworth. Este ano participarão trabalhos premiados e reconhecidos no mundo. Na Competição Internacional estará “The World of Tomorrow”, do renomado diretor Don Hertzfeld. Esta curta ganhou, em janeiro, o Grande Prêmio do Júri do Festival Sundance.

Novas categorias

Durante o evento, vão estrear duas novas categorias, que são resultado da alta demanda e do aumento de produção em ambas as áreas: Competição Íberoamericana de LongasMetragens de Animação e Competição Latinoamericana de “Temos, na competição, dois curtas indicados ao Oscar, ‘A Web Séries. Single Life’, que é uma ideia muito simples como conceito, com um resultado que é espectacular, e a ganhadora do Nos últimos tempos, tem acontecido um explosivo BAFT 2015, ‘The Bigger Picture’, um curta pictórico de florescimento do conteúdo audiovisual para a web. Este

fenómeno não é indiferente para o mundo da animação, o que gerou o desenvolvimento de novas plataformas e públicos que também terão seu espaço neste encontro. Por meio desta nova categoria, trabalhos da Argentina, Brasil, Chile, Colombia e Equador foram convocados. Dentro dos concorrentes nacionais, desataca Marmota Studio, produtora de séries que acumula aproximadamente 40.000 inscritos no seu canal do YouTube. Ao mesmo tempo, o Festival CHILEMONOS terá uma seleção de filmes iberoamericanos em concorrência com estreias internacionais. Um deles é “O Menino e o Mundo”, do diretor brasileiro Alê Abreu, ganhador do Prêmio para o Melhor Longa-Metragem no importante Festival de Annecy 2014. “POSESO”, do diretor español SAM, também terá a sua


Filme Espanhol “Pos eso”



Curta-metragem “Courage the Cowardly Dog” em 3D


O filme do Melies Escola “Les Liens de sang�


estreia em território chileno, no festival CHILEMONOS. Este filme em stop motion mostra divertidas e obscuras histórias para um público mais velho. “Para nós, como festival, é como ir amadurecendo. Há uns anos era impensável que existisse uma competição iberoamericana de filmes. Agora, a quantidade e a qualidade que chega é surpreendente”, apontou Gómez. Consolidação no cenário Latinoamericano Nesta convocatória também foi registrado um aumento na qualidade e quantidade de trabalhos de escola nacional. Em relação a isso, Erwin Gómez destacou a grande evolução que tem visto: “Do primeiro festival a este, vemos como se profissionalizou de maneira surpreendente, tecnicamente, tudo em HD, com bom som, definição perfeita. Desta forma, o Festival Internacional de Animação CHILEMONOS, continua se consolidando como uma referência latinoamericana da industrial a nivel profissional e de escola, para continuar colaborando com o fomento para a animação da região. SM

“Este ano a Competição Internacional de CurtasMetragens de Escola Internacional é impressionante, quando você vê os resultados, não tem nada para invejar da competição profissional. Um dos meus curtas favoritos este ano é de escola: ‘Les liens de sang’ da Escola Gergos Melies”, comenta Erwin Gómez, diretor artístico do Festival CHILEMONOS.


PUNKROBOT

O estúdio que se destaca por seus impressionantes produtos pré-escolares em 3D Realizou duas séries e um curta-metragem que deu a volta ao mundo. Este estúdio de animação tem perseverado na programação infantil, apresentando um conteúdo visual no mesmo nível das grandes indústrias. Um selo estético que é potencializado por sua paixão pelo 3D, que lhes deu a oportunidade de se internacionalizar.

Por Pamela Riveros Ríos


Trabajando en Luis� 2009



Enquanto Gabriel Osorio realizava seus estudos de Arte na Universidade Católica do Chile, em Santiago, Patricio Escala terminava seu curso de Comunicação Audiovisual no Duoc UC, em Concepción (sul do Chile), para fazer efeitos visuais. Nenhum deles suspeitou que logo iam começar um grande projeto juntos: a produtora Punkrobot. Apesar da distância geográfica, estes artistas se encontraram quando Gabriel começou um relacionamento com Antonia Herrera, que tinha estudado Arte da Universidade Católica do Chile. Nesse momento, o casal já tinha feito um projeto em comum: o curta-metragem “Residuo” (2007), que levou pela primeira vez a marca da Punkrobot, já que as exigências do festival, ao qual concorreram, pedia que os trabalhos deviam estar identificados com uma produtora. Nessa época, Antonia morava com sua prima, María Soto-Aguilar, que era a namorada de Patricio. É por isso, que na hora do jantar, os quatro artistas se encontravam e conversavam sobre seus projetos futuros. Foi em uma dessas ocasiões que apareceu “Residuo”. “Não tive a chance de trabalhar em animação, nem de ver um produto que eu gostasse, até que vi a Gabriel e Antônia com o curta-metragem”, conta Escala. Aí nasceu a ideia de continuar produzindo e estabelecer definitivamente o estúdio Punkrobot. Flipos e a primeira experiência como equipe Desde então, estes quatro artistas trocaram os pratos de comida por computadores, e as conversas triviais por brainstorming de projetos. É dentro desse ambiente que nasceu “Flipos”, uma série de animação, na qual quatro amigos percorrem todo o universo, procurando planetas


para explorar. A ideia foi apresentada como teaser ao Conselho Nacional de Televisão do Chile para conseguir um incentivo, que finalmente ganharam no ano de 2008.

Gabriel Osorio: “Quando os canais de televisão internacionais estão comprando seus produtos, eles são muito conscientes do que estão fazendo. Então, é interessante, porque isso te ajuda a identificar o que fazer no próximo projeto da produtora; você sabe o que te vão perguntar. Por exemplo, eles podem dizer que os conteúdos de pré-escolar já não são de 7 minutos, mas de 5 minutos, então, o próximo projeto já não é de 26x7, mas 26x5, ou você tenta fazer um 52x5, que é um padrão aceito internacionalmente”.

Assim, em 2009, começou o desafio de produzir a série. Foi um ano intenso, onde o importante para eles foi criar uma obra de qualidade. “No Chile, não tinha visto animação que realmente me agradasse. Então, essa foi minha motivação, ‘alguém tem que fazê-lo’. Nossa inspiração foram videogames ou séries que nós gostávamos, como ‘Pocoyo’. Naquela época os computadores eram diferentes, tinham outra capacidade, então, renderizar em HD, em 3D era mais difícil. Eu me atreveria a dizer que foi a primeira série em HD. Não era um problema técnico menor”, relembra Gabriel Osorio. Ainda que uma das principais metas era apostar no visual e na estética, também existia interesse pelo conteúdo, trabalhando com os chamados “contrários” para ensinar as crianças alguns conceitos. “Para nós, também era muito importante desenvolver uma série pré-escolar, porque essa plataforma, como ferramenta cultural e educativa, não estava satisfazendo uma necessidade para crianças de até 6 anos”, adiciona Patricio. Por meio desta primeira série, o estúdio Punkrobot começou



Sequência criada para o longa-metragem “Promedio Rojo 2: mis peores amigos”.


a dividir os papéis de cada um dos sócios fundadores, de uma forma natural. Enquanto Antonia se desenvolveu como diretora de animação, Gabriel era diretor, Patricio, produtor, e María, diretora de arte. Mas os papéis de cada um não estavam estabelecidos de forma fixa e definitiva, já que, às vezes, trocam os papéis que desempenham ou apoiavam o trabalho do outro. Durante o ano de 2010, “Flipos” foi exibida na programação do Canal 13, aos domingos às oito horas da manhã. Segundo seus criadores, um dos privilégios que tiveram, foi a série ser exibida ao lado da bem-sucedida “Pocoyo”, não tendo grandes diferenças de audiência entre uma e outra. Soma-se a isso, outra aposta interessante da série, uma parceria que fizeram com a VTR, empresa chilena de telecomunicações. “Flipos” esteve disponível em Video on Demand (VoD) para ser baixada gratuitamente. O resultado foram 500 mil downloads, em média, durante um ano. “Foi um conteúdo que nós negociamos para que fosse gratuito, porque nosso interesse era que as pessoas tivessem acesso para assisti-lo. Com certeza não foi só a primeira série infantil, mas também a primeira em HD”, conta Patrício Escala. Com este produto, a equipe de Punkrobot conseguiu desenvolver uma série que tem mantido uma boa estética e visual. “O 3D não envelhece muito bem, especialmente se não está bem realizado. Sinto que, com ‘Flipos’, olho os desenhos e a divulgação e tenho a impressão de que não é uma série velha, que já tem seis anos. As primeiras renderizações são de 2008”, conclui Gabriel.

Patricio Escala: “Antes os mercados eram só de cinema. Então, entendendo a televisão como um bem cultural, espaços de feira de animação foram criados. Na Kidscreen foi a oportunidade que tivemos para apresentar ‘Flipos’, e vendemos a série para a TV Escola e, dois anos depois, apresentamos Muelines e conseguimos vendê-la para O Globo.


“As aventuras de Muelin e Perlita”, a forma divertida de mostrar nossos dentes para as crianças Enquanto desenvolviam “Flipos”, outra ideia surgiu. “Um dia estava lendo o jornal e tinha uma odontopediatra, da Universidade do Chile, dizendo que as crianças entre 2 e 4 anos tinham uma alta porcentagem de cáries”, relembra Patricio. Outra coisa do artigo que chamou a atenção do artista foi que os pais desconheciam certas verdades sobre escovar os dentes, já que, mesmo quando eles caem e crescem outros, as infecções se mantêm. Diante disso, a equipe decidiu fazer um projeto para ensinar às crianças os bons hábitos da higiene bucal, e transmiti-lo em mini pílulas, dentro de outros programas. “‘Flipos’ foi, para nós, um esforço muito grande, porque, em cada capitulo, visitavam um novo planeta. Então, Antonia tinha que desenhar o concept para cada um deles. Concordamos que, o próximo projeto, tinha que ser muito mais delimitado, em um mundo só, onde os personagens interagissem”, comenta Patricio Escala. Dessa forma começou a se desenvolver “As aventuras de Muelin e Perlita”, série infantil na qual Muelin explora o mundo junto com seus amigos, enquanto aprendem a importância de levar uma vida saudável. Em pouco tempo, o projeto tinha avançado e crescido, e já não eram só os treze cenários que tinham planejado no início, e sim vinte, e não seriam treze personagens, seriam 32. “As aventuras de Muelín y Perlita” sempre foi pensada com 26 capítulos, de sete minutos cada um, para tentar exportá-la.


Patricio Escala: “E percebemos que nossos produtos eram interessantes e bem recebidos em outros países, e estavam pagando a gente por eles. Então, temos que pensar o que tem que se trabalhar para financiar e o que se quer mostrar lá fora. E, além disso, encontrar um bom espaço na televisão aberta internacional, para estar na tela e atingir as crianças”.

Equipe de trabalho da Punkrobot.


A animação tem sido transmitida pelo canal chileno UCV Televisión. E, até a data, tanto esta série quanto “Flipos” estão disponíveis na Netflix América Latina, transformando-se nas primeiras séries infantis chilenas a chegar até essa plataforma, segundo a produtora. A internacionalização A primeira vez que a equipe da Punkrobot viajou ao estrangeiro, foi para participar da feira Mipcom 2010, espaço onde circulam diferentes produtos para a televisão e entretenimento. O evento acontece uma vez ao ano, na cidade francesa de Cannes. Junto com outras produtoras chilenas de animação, exploraram o que estava acontecendo no mundo. “Essa experiência nos ajudou a desenvolver e perceber que existem mercados internacionais para oferecer nossas criações”, conta Patricio. Nesse momento, a equipe percebeu que “Flipos” era um bom produto para ser vendido em outros países, mas que tinha que ter, pelo menos, 26 capítulos para ser exibido em um canal.

a gerar projetos que têm os padrões internacionais desde o início, para que possam ser vendidos a canais de outros países. Uma das exigências destes mercados, para que o comprador esteja interessado em adquiri-los, é que os produtos devem ter 26 capítulos expostos, e, idealmente, ter planejado outros 26 como segunda temporada. Isto “Foi um trabalho para ver como funcionavam os mercados, tem levado vários estúdios chilenos a planejar de outra ir e nos posicionar, e começar a mostrar o que estávamos forma seus futuros trabalhos. fazendo. No geral, o que tem acontecido é que, como o Mipcom é em outubro, e o Kidscreen é em fevereiro; A experiência em curta-metragem e o sucesso em festivais. nós apresentamos o projeto no primeiro, e já no segundo fechamos a venda. Tem uma continuidade anual, a Enquanto Punkrobot estava trabalhando na realização venda”, explica Escala. Foi desta forma que, tanto “Flipos” de “Muelin e Perlita”, surgiu a ideia de fazer um curtaquanto “Muelin e Perlita” foram comprados pelos canais metragem, que por muito tempo rondava a cabeça de Gabriel, sobre os relatos que seu avô lhe contava sobre brasileiros TV Escola e Gloob, respectivamente. o exílio. Nasceu, assim, “Historia de un Oso” (História de Graças a estas experiências, a equipe de Punkrobot aprendeu um Urso).

Cena da série “As aventuras de Muelin e Perlita” Querendo se afastar da imagem comum da ditadura chilena, os responsáveis pela Punkrobot pensaram em fazer uma história mais universal, na qual os personagens seriam ursos. Este animal, segundo comenta o diretor, representava de melhor forma o seu antepassado, já que lembrava sua estrutura corpulenta. Para a realização desta animação, ganharam financiamento do Conselho Nacional da Cultura e das Artes. É justamente nesta época, que Punkrobot tem um grande contingente de animadores, chegando a ser o momento em que mais pessoas trabalharam na produtora. Apesar disso, o processo durou mais do que o esperado, porque estavam entre entre a produção de arte de uma série e outros trabalhos que chagavam ao estúdio. “Poderíamos ter tomado a decisão de tê-lo feito mais rápido, mais isso, de alguma forma, teria prejudicado a qualidade. Nesse


isso permite gerar contatos para desenvolver projetos no futuro, ou seja, há distribuidores que perguntam qual será o próximo projeto de Gabriel”, afirma Patricio Escala. Fase de desenvolvimento de projetos Um dos objetivos da Punkrobot é que a série “Flipos” chegue a ter treze capítulos a mais, para que entre nos padrões internacionais de venda. “Continua sendo um projeto necessário para que esteja na televisão. E é isso que nós pensamos que é relevante, não só fazer outro projeto pré-escolar, mas cumprir com uma necessidade que não está completa”, comenta Patricio.

sentido, eu não quis ceder aos prazos. Prefiro atrasar, mas que o curta fique como tem que ficar”, explica Osorio. Apesar de que existiam trabalhos urgentes a fazer, Gabriel e Antonia deram um jeito de avançar no curta-metragem, além de que, como aconteceu em processos anteriores, todos contribuíram para que fosse terminado. “Estava lendo o roteiro original recentemente e percebi que era outra coisa, super diferente, e cresceu muito. Nesse sentido, o trabalho em equipe é fundamental para a animação”, diz o realizador. Além do tempo que levou para fazer este curtametragem, “Historia de un Oso”, houve outras dificuldades para terminá-lo. Uma delas foi desenhar o personagem, já que não encontravam a forma para que ele parecesse mais amigável, e não tão feroz como esse

Dessa forma, o estúdio está vendo a possibilidade de realizar um filme de “Muelín y Perlita”, que encaixe Série de animação “Flipos” com a primeira temporada da serie. “Como conseguimos animal habitualmente é. que fosse vendida no Brasil, pensamos que daqui, até sair da programação, temos que conseguir estrear o Depois de quatro anos, Punkrobot terminou o curta- longa-metragem, para que existam pessoas assistindo na metragem, e sua estreia foi durante o Festival Internacional televisão e que possam assisti-la no cinema também. Mas de Animación Chilemonos 2014, concurso que lhe concedeu é um projeto em desenvolvimento”, esclarece. o prêmio de Melhor Curta-Metragem Nacional. A equipe também quer continuar explorando os curtasSua consagração começaria a surgir, foi exibido no Festival metragens, que tanto sucesso tem trazido. “Estamos super de Annecy 2014, e nomeado como Melhor Direção de Arte e contentes com o resultado de ‘Historia de un Oso’. Então, Melhor Curta-Metragem Infantil no Anima Mundi do Brasil. tenho muita vontade de fazer um novo, e que seja uma Mas esses não seriam os únicos prêmios que ganhariam. contribuição, que tenha uma mensagem e um conteúdo”, Pouco tempo depois, “Historia de un Oso” ganhou o afirma Gabriel. SM Grand Prize, no Kuandu International Animation Festival, de Taiwan; o prêmio do público, em Klik! Amsterdam Animation Festival; Melhor Curta de Animação, em Mecal Chile; e Melhor curta-metragem 2014, nos prêmio Sienna. “Tem participado de competições bem importantes, e


2007 Fomento de Produção do Chile) para o desenvolvimento da Criam o curta-metragem “Residuo”, que teria o primeiro série “Muelin e Perlita”. logotipo da produtora Punkrobot. Ganham o Fundo Audiovisual do Conselho Nacional 2008 de Cultura de das Artes (CNCA) para realizar o curtaApresentam o projeto da série “Flipos” ao Conselho metragem “Historia de un Oso”. Nacional de Televisão do Chile (CNTV). Ganham um incentivo do CNTV para “Muelin e Perlita”. 2009 Começa a realização da série “Flipos”. Início da internacionalização da Punkrobot: viagens a festivais. Surge a ideia da série “Muelin e Perlita”, baseada no artigo sobre odontopediatria da Universidade do Chile. 2012 “Flipos” é vendida para a TV Escola, no Brasil 2010 Estréia da série “Flipos”, no Canal 13. Estréia da série “Flipos” na TV Escola, no Brasil.

Finaliza a realização da série “Muelin e Perlita” 2014 Gloob (Globosat) compra a série “Muelin e Perlita”. Estreia de “Muelín y Perlita” no Brasil, no canal Gloob. Estreia do curta-metragem “Historia de un Oso”, no Festival Internacional de Animación Chilemonos, Chile. “Historia de un Oso” ganha o prêmio de Melhor CurtaMetragem de Animação no Festival Chilemonos. Este curta-metragem é exibido no Festival Internacional de Animación Annecy, França.

“Historia de un Oso” ganha dois prêmios no Festival Anima “Flipos” começa a se exibir por Video on Demand (VoD), 2013 Mundi, Brasil, como Melhor Direção de Arte e Melhor da VTR. Em dezembro, termina-se o curta-metragem “Historia de Curta-Metragem Infantil. un Oso” Punkrobot ganha um incentivo de CORFO (Corporação de



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ALEJANDRO ROJAS

A perseverança fez o animador Num momento em que o Chile não tinha muitas possibilidades de fazer animação, Alejandro Rojas estava exatamente onde devia estar: ao lado do renomado artista Enrique “Puma” Bustamante. Foi sua máxima escola de desenhos animados, que permitiria cumprir o sonho de retomar os filmes animados naquele país.

Link para entrevista em vídeo do Alejandro Rojas

Por Pamela Riveros Ríos




Desde sua infância, Alejandro Rojas sentiu admiração pelo trabalho de Michelangelo e sabia que sua vocação caminhava junto das artes e do desenho. Naquela época, ele projetava durante horas as produções de Walt Disney em sua parede, para ir analisando frame to frame cada uma das peças. Os anos se passaram e, uma vez terminados seus estudos de Arte na Pontifícia Universidade Católica do Chile, Rojas sabia que queria ser animador. Eram tempos nos quais as escolas tinham matérias especializadas na área, mas não existiam cursos onde fossem oferecidas como parte do currículo. “Senti uma vontade imensa de canalizar todo o conhecimento. Então, fui procurar produtoras de filmes no Chile, e não encontrei. Não sabia onde procurar”, relembra o artista, que tinha realizado monitorias na universidade, para depois fundar uma matéria de desenho em sua escola. É por causa disso que ele entrou no mundo da publicidade, mas sua paixão pelo desenho continuava intacta. E, dessa forma, constantemente perguntava por alguma referência na animação, de quem pudesse se aproximar para continuar aprendendo. Com o passar o tempo ele conseguiu um nome: Enrique “Puma” Bustamante. O mentor “Quando cheguei, era uma situação muito complicada, porque ele tinha uma produtora no Chile, que fazia publicidade, e, nesse momento, estava meio falida”, relembra Alejandro Rojas sobre o estúdio Grafilms, que esteve formado por o “Puma” e Álvaro Arce, que se dedicava à realização de publicidade e de séries de animação.

Cena do filme “Ogú y Mampato en Rapa Nui” (2002)

Naquela época, Enrique Bustamante era reconhecido por ser o criador de “El Angelito” (O Anjinho), do Canal 13,


o mítico desenho animado que dava as boas-vindas e despedia tanto das crianças, quanto das transmissões da rede de televisão. Nesse momento, era um dos poucos que realizava animação, e Rojas esteve nas últimas semanas desta histórica produtora. “Justo nesse momento ele estava fazendo o último episódio da série de ‘Condorito’. E pediu para que eu o ajudasse. Cortamos os papéis, ele fazia uns ciclos de caminhada e eu tinha que ir colando atrás, ele falava ‘pisa este pé naquele outro, e, então, monta’, e o desenho passava caminhando e atravessava quadros”, comenta o artista sobre seu primeiro trabalho com o “Puma”. Essa foi uma semana em que Rojas trabalhou duro e se fechou em seus trabalhos com o mentor. Depois desse período intenso, no qual sentia que finalmente estava fazendo animação, na segunda-feira seguinte, já não tinha nada para fazer. “Enrique não tinha trabalho, porque esse foi um final de projeto. Era a crise de 1982, no Chile, e ele me disse que não tinha nada para me dar. Então, eu respondi que ele não precisava se preocupar, que algo ia chegar de qualquer forma”, lembra o artista. Durante um ano, ele apareceu todos os dias da semana, enquanto fazia tentativas para criar um novo projeto. Mas nada deu certo. Ao terminar a época da crise, a empresa de pequeno porte de “El Puma” começou a atrair clientes para publicidade. “Tinha um grande talento para desenhar cartoons e animá-los, algumas coisas ele tentava racionalizar para me ensinar, mas era difícil para ele”, comenta. Como descreve seu próprio pupilo, era esforçado e carinhoso, mas com uma grande dose de obsessão. Todas as manhãs, ele chegava muito cedo no trabalho, e voltava para sua casa à uma hora da madrugada. “Experimentávamos, e, às vezes, eu estava cansadíssimo,

Secuencia clásica de tevito “Chinchiner


ro”


Produtora Cineanimadores


mas continuávamos”, afirma Rojas. Eram tempos em que tinha imprimir celuloide, quadro a quadro, para gerar movimento, usar neon para que a cor não estourasse e os efeitos especiais eram trabalhados artesanalmente. “Aprendi o essencial do que era um desenho animado, os ciclos, a lógica do negativo impresso e não impresso, ou quando você ia ao laboratório e esperava o resultado e aparecia algo que você não acreditava, mas nem sempre era dessa forma. Então, era uma coisa de muita intuição e que Enrique lidava muito bem”, lembra o animador. O tempo passava e Alejandro Rojas queria fazer um filme de animação. Sentimentos que não pareciam se replicar em “El Puma”, amante do desenho, e que recebia constantemente trabalho em seu escritório. “Então, eu tive que falar para ele que ia embora, porque eu queria longas-metragens. Ele meu desejou boa sorte e aí fundei Cineanimadores”, comenta Rojas sobre este acontecimento que ocorreu no ano 1989. Nesse período, já tinha sob o braço um projeto de filme sobre as aventuras de um menino chileno chamado “Papelucho”. Cineanimadores e seu primeiro filme de animação Um dos principais obstáculos para que Alejandro Rojas cumprisse seu desejo de realizar um filme de animação, foi o fato de não ter exemplos anteriores de como fazê-lo. O longa-metragem mais próximo era do ano 1942, ano que em foi estreado “15 Mil Dibujos” (15 Mil Desenhos), primeiro filme de animação chileno. Mas essa não seria nem a primeira nem a última dificuldade pela qual ele passaria. Junto com seus sócios Enrique Vial e Ricardo Larraín, tinham a missão de fazer um filme. Mas,


antes de tudo, precisavam formar animadores, já que no Chile não existiam. É dessa forma que, entre 1990 a 1998, passaram cerca de 200 aprendizes em seu ateliê. Foi por esse motivo que, mesmo já tendo falado com o ilustrador Themo Lobos para levar sua história em quadrinhos “Mampato” ao cinema, o projeto teve que esperar 10 anos; porque, além disso, a produtora devia gerar financiamento para se sustentar ao longo do tempo. Isso os obrigou a realizar trabalhos para os Estados Unidos e para a Europa. “Conseguimos séries desses países, para trabalhar com eles estando no Chile, e aí entramos no método norteamericano, que impera no mundo inteiro. Está tão bem planejado, o processo, que você pode mandar fazer partes da produção em diferentes partes do mundo”, conta Rojas sobre os primeiros animadores chilenos, que se formaram com aquela mentalidade de indústria. Toda essa experiência serviu para começar a montar o filme “Mampato”, um pequeno menino que tem a habilidade de viajar pelo tempo e espaço. Segundo Rojas, Themo foi aberto com a equipe, e deu uma série de conselhos para desenvolver o longa-metragem. Como, por exemplo, que os animais não falavam com os seres humanos e Marama, a companheira de aventuras de Mampato, devia ter cinco anos. “Eu queria criar alguma coisa com Mampato, um romance. Alguma coisa! Que ela tivesse 10 anos. Mas Themo foi categórico ao falar que isso ‘de jeito nenhum’”, afirma o artista. O processo para terminar “Ogú y Mampato en Rapa Nui” (Ogú e Mampato na Ilha de Páscoa) não foi simples, já que tiveram muitos problemas econômicos. “Desativei o medo e comecei a tomar decisões. Cada coisa significava recursos. Aconteceram milhares de coisas, até as Torres


Filme “Selkirk, el verdadero Robinson Crusoe� (2012)


Gêmeas”, relembra o animador, afirmando que este fato significou que os bancos deixassem de conceder créditos naquela época. Enquanto o projeto ia avançando, a equipe do filme continuou somando várias dificuldades. “Dimensionar os 80 minutos foi o que mais me frustrou. São 80 minutos de uma história e, como isso não tinha sido feito antes, para mim foi todo um desafio, foi toda uma intuição. E, além disso, a gente não podia errar na sequência, não existia margem de erro”, lembra Rojas. Outro dos problemas tinha a ver com como estava formado o grupo que realizava os fundos, já que não existia quantidade suficiente de pessoas para criar um selo determinado. “Você muda de um plano para outro e há um estilo diferente de fundo”, comenta o animador. Com muitos problemas para chegar até a data de estreia, Rojas e sua equipe conseguiram alcançar a meta: o filme foi estreado na Ilha de Páscoa. “Estava nervoso demais. 13 deu a conhecer sua vontade de investir em um projeto Eu olhava para as pessoas, parecia que eles gostavam, de longa-metragem, encomendado a Rojas e a Juan Diego embora havia momentos nos quais eu não via nada”, Garretón. comenta. Para “Papelucho y el Marciano” (2007), Cineanimadores “A estreia do longa-metragem foi um sucesso absoluto e tinha que ter a aprovação do canal patrocinador, junto com chegou a imprensa nacional para reportar o acontecimento. a aprovação da família de Marcela Paz. “Foi diferente, a Nessa época, no ano de 2002, “Ogú e Mampato en Rapa direção. A capacidade de poder coordenar de acordo com Nui”, conseguiu levar perto de 345 mil pessoas para as o meu juízo, todas as opiniões: dos filhos da escritora até salas de cinema e ganhou o Prêmio das Artes Nacionais, o canal. Todos queriam algo diferente, imaginavam coisas diferentes”, lembra Rojas. Altazor, 2003. Papelucho y el marciano Pouco tempo depois, a ideia que estava rondando na mente de Alejandro Rojas, desde 1988, poderia se transformar em realidade: fazer o filme do mítico personagem de Marcela Paz: Papelucho. Tudo se ativaria quando o Canal

No entanto, por outro lado, os personagens foram desenhados em 2D. Esta combinação de ambas as técnicas criou algo completamente novo no Chile, nunca visto antes. Stop-motion e Selkirk

Explorando o panorama internacional, Alejandro Rojas descobriu a coprodução. Assim nasceu a possibilidade de participar no filme “Selkirk, el verdadero Robinson Crusoe” (2012), junto com as produtoras do Uruguai e da Argentina. “Cada país conseguiu um terço do financiamento. O que tínhamos que fazer era a composição digital, os fundos Na produção participaram mais de 150 pessoas, entre as digitais, e toda a integração da pós-produção do filme”, quais tinham ilustradores, coloristas e animadores, que conta Rojas. realizaram mais de 100 mil ilustrações. Além disso, Rojas conseguiu experimentar no formato 3D, e tudo isso foi O desafio de Rojas foram os cenários. Desta vez, deveriam feito com o dinheiro que Papelucho arrecadou, superando, realizar mais dos que criaram em sua produção anterior, e assim, os momentos complicados de sua antiga produção. eles tinham que ser mais reais, para, dessa forma, estar em



sintonia com os personagens feitos em massa de modelar pela produtora uruguaia, La Suma. Por sua parte, na Argentina, foi montado o storyboard, vozes e composição de som sob responsabilidade da Maíz Producciones. “Aprendi que argentinos, uruguaios e chilenos somos muito diferentes para tomar decisões. Eu era da escola de ‘Papelucho’ e aqui também tive que aprender bastante: a negociar, a entender o olhar do outro, o que eu quis com uma cena”, confessa Rojas. O diretor desta produção foi Walter Tournier, renomado artista que tem trabalhado com Tim Burton em longasmetragens como “O Estranho mundo de Jack”, “A NoivaCadáver” e “Vincent”. “Foi muito interessante, ele é uma grande pessoa. Eu me dava muito bem com ele. Tem muito talento, muito conhecimento e me surpreende, até hoje, a qualidade, o resultado, com os poucos recursos que ele tem. Acho que a animação ficou maravilhosa, e como foi sendo resolvida foi um grande aprendizado”, comenta Rojas. Os filmes do futuro Uma das áreas onde ele gostaria de seguir trabalhando é o 3D. Por isso, um dos projetos consiste em usar esta técnica para fazer seu próprio filme. “Quero desenhar um novo projeto, ligado ao mercado familiar e internacional, fazer filmes para esses espaços”, afirma o animador. “Como fazer com que seja um investimento importante, para poder distribuí-lo no mundo inteiro? Então, todos esses detalhes te afetam nas temáticas que você quer tratar, a forma de produzir e a qualidade dos profissionais. Deve ser uma ideia de roteiro que incorpore todos esses aspectos”, conclui Alejandro Rojas. SM



1984 2002 Alejandro Rojas começa a trabalhar com animação com Cineanimadores estréia o primeiro filme de animação: Enrique “Puma” Bustamante. “Ogú y Mampato en Rapa Nui”. 1984 – 1988 2007 Trabalha com “Puma” Bustamante em produções como A produtora estreia seu segundo filme: “Papelucho y el “Condorito” e “El Angelito”,do Canal 13, e em publicidade. Marciano”. 1988 Cria a produtora Cineanimadores.

2012 Estreia de “Selkirk, el verdadero Robinson Crusoe”, com direção de Walter Tournier, e em coprodução com La Suma 1989 (Uruguai), Maíz Producciones (Argentina) e, no Chile, com Realiza o storyboard do projeto “Papelucho” e “Mampato”. Cineanimadores. 1989 – 1998 Realiza oficinas de desenhos animados em Cineanimadores, para expecialização de jovens animadores. Realiza vários spots de publicidade e séries para a TV eupopéia e norteamericana. 1993 Realiza dois curtas animados para a campanha da UNICEF, a favor dos direitos das crianças.





CLARITA OU VILLADULCE A primeira série de animação chilena

Apesar de que já tinham sido realizadas outras animações no Chile, certamente “Villa Dulce” e “Clarita” desenharam o caminho para as autênticas séries de televisão desse país. No entanto, quando tentamos esclarecer qual destes dois produtos foi o primeiro, a história nos mostra um making off cheio de acontecimentos, e que nos levará à resposta.

Por Pamela Riveros Ríos



Ambos “VillaDulce” como “Clarita” invadiu uma estrada nunca viajou no Chile: o mundo da série animada. Assim, as aventuras de um grupo de amigos que vivem na Villa Dulce e histórias sete colegas foram configurados como o ponto de partida para este tipo de produções.


O ano de 2004 foi um grande período para a televisão chilena. Durante esse ano estrearam as primeiras séries de animação chilenas, como “Villa Dulce” e “Clarita”, marcando um acontecimento importante dentro da linha de tempo. Isto se deu porque ambas abriram as portas na TV aberta e criaram uma forma de produção no Chile nunca antes vista. Porém, alguns anos antes, alguns fatos prepararam o caminho. No ano de 1991, Vivienne Barry estreou “Tata Colores” (Vovô Cores), série em stop-motion de dois minutos, transmitida pela televisão aberta, na qual seus protagonistas se despediam das crianças para que fossem para a cama. Um acontecimento importante para os adultos de hoje. A isso se soma outro sucesso dos anos 80, quando “Condorito” se deslocou da história em quadrinhos para a telinha, com capítulos de curta duração. Em março do ano de 2003, foi a estreia de “31 Minutos”, série infantil realizada com fantoches, e que abriu uma grande porta para outras produções infantis. Desde então, os canais de televisão viram, na criação nacional, a possibilidade de mostrar elementos culturais próprios do país. É por isso que o próximo passo foram as séries de animação, nascendo, assim, “Clarita” e “Villa Dulce”. No entanto, qual destas duas produções foi a primeira a ser realizada no Chile? Ano 2002 Depois de entregar seu trabalho de conclusão de curso em Design, na Pontifícia Universidade Católica do Chile, Bernardita Ojeda tinha a ideia de fazer uma série de animação. Sem entender muito como as coisas



aconteceram, teve o apoio de Televisión Nacional de Chile (TVN) para inscrever seu projeto junto a um financiamento do Conselho Nacional de Televisão do Chile (CNTV). Em 2002,o canal já estava trabalhando na primeira série infantil, feita com recursos chilenos próprios, chamada “31 Minutos”, por isso a vontade de ter outros produtos para o mesmo público estava em alta. Foi nesse ano que “Clarita”, de Bernardita Ojeda, ganhou o financiamento ao que tinha se inscrito. “O CNTV, nessa época, tinha uns recursos pequeninos, tinha pouco financiamento, então um produto como este era super interessante”, comenta sua criadora. Assim, começou a ser produzida a primeira série de animação chilena propriamente dita. “Na verdade, começamos sem pré-produção, e esse foi o maior erro. Chegamos todos, um dia, ao escritório e foi como ‘e agora, o que a gente faz?’, todos começamos desenhando um personagem”, relembra Ojeda. Enquanto “Clarita” começou a ser produzida, em outubro desse ano, para a TVN, Francisco Bobadilla e Beatriz Buttazzoni se inscreveram no Fundo Nacional de Desenvolvimento Cultural e das Artes (FONDART), para financiar outdoors com desenhos. “Era contar coisas terríveis que aconteciam naquela época, como matanças e coisas desse tipo, mas pela visão do desenho animado. Não tivemos muito sucesso porque não sabíamos como preencher os formulários, e a ideia ficou”, conta Bobadilla. Ano 2003 Buttazzoni viajou para Miami, Estados Unidos, onde conheceu profissionais que trabalhavam na Nickelodeon.


“Ele estava pirando com os desenhos animados e tudo, e quando ele voltou eu disse pra ele que era melhor a gente fazer uma série. Eu tinha pedido demissão da agência de publicidade e estava em um período completamente à toa”, comenta Bobadilla. Foi assim que Blanco Producciones começou a desenhar os primeiros rascunhos de “Villa Dulce”. Primeiro começamos desenhando os amigos, todos os personagens da série realmente existem. Acho que algumas pessoas poderiam se ofender se souberem disso. Mas era nosso grupo de amigos mais próximos”, esclarece Francisco. Com o portfólio em mãos, ambos criadores realizaram várias reuniões com executivos dos canais de televisão, até que chegaram a Vasco Moulian, do Canal 13. “Suas características como produtor serviram muito para este projeto. Porque, não sei se ele acreditou em nós, mas quis colocar um chamado primeiro, quer dizer, fazer a primeira série de desenhos animados chilenos. Foi a condição. Quando ganhamos o financiamento que o canal concedia, tínhamos que sair antes de ‘Clarita’”, explica Francisco Bobadilla. Bernardita Ojeda e sua equipe já tinham começado a produção de “Clarita”, que apresentou vários problemas durante a sua realização. Era evidente que não existia estrutura de produção, e não tinham um exemplo a seguir para solucionar os problemas de custos. “Eu acho que a gente também não dimensionava muito bem, o que ia significar. Na TVN não podiam entender como demorávamos tanto. Nessa época estava ‘Rojo’ (programa de talentos transmitido no horário da tarde) porque colocavam uma câmera e faziam um programa de duas horas ao vivo, e nós fazíamos, por dia, 10 ou 20


segundos”, comenta Ojeda. Eram jornadas pesadas, trabalhando até uma da madrugada, durante um ano inteiro. No início, levavam dois meses para fazer um capítulo de “Clarita”, e, depois, começaram a ser mais eficientes no processo, conseguindo terminar um episódio em duas semanas. Todo esse contexto fez com que a equipe desta série não percebesse que a concorrência queria aparecer. “Naquela época, o Canal 13 tinha uma visão mais comercial comparada com a TVN. Então, eles não nos pressionaram com esse assunto. São coisas de visão dos canais”, reflete Bernardita. “Clarita”, com o dinheiro do CNTV, estava atrasada em sua produção e começou a ter problemas de financiamento. “Eu sentia puro terror. Eu pensava que ia ser presa! Era medo. Nós, agora, quando nos inscrevemos no CNTV, mandamos treze capítulos de treze minutos, e, quando mandamos ‘Clarita’, eram 22 capítulos de 26 minutos. Era o dobro! Era uma loucura em quantidade de tempo, em recursos, não tínhamos ideia a quem perguntar, e, bom, dessa forma aprendemos um montão de coisas”, lembra Ojeda. Enquanto isso, do outro lado da calçada, Francisco Bobadilla preparava dezesseis capítulos de doze minutos cada um. “Mas nós não tínhamos tanta pressão, porque, com nossa ingenuidade, pensávamos que iríamos ao ar muito antes, que a gente ia fazê-lo muito mais rápido. Não sabíamos o que estávamos fazendo”, garante Bobadilla. Ano 2004 Em março do ano de 2004 foi a estreia do primeiro capítulo de “Villa Dulce”, que foi pensada como uma série Link para entrevista em vídeo do Bernardita Ojeda


infantil para crianças de oito até onze anos, com um pouco de humor negro. O Canal 13 não duvidou em colocar seu novo produto em programas de alta audiência, como as jogos de tênis, nos quais participava o tenista chileno Marcelo “Chino” Ríos. “Influenciou muito no sucesso e nos bons picos de audiência, então, entrávamos com 25 pontos, quando passava uma final em Roma que se suspendeu durante um tempo e estivemos ao meio dessa interrupção”, lembra Francisco. Paralelamente, Bernardita Ojeda continuou com a produção e começou a assistir alguns capítulos da concorrência. “Nós não percebemos, estávamos alheios. Depois, assistíamos o capítulo e criticávamos, porque eram propostas muito diferentes. Eles tinham um estilo de animação super expressivo, contra nós, que tínhamos uns roteiros densos. Mas estávamos muito preocupados nesse momento”, comenta Ojeda. “Villa Dulce” foi estreada e “Clarita” não sabia como continuar sendo financiada. Já no segundo semestre desse ano, a série de Ojeda foi estreada finalmente. “O canal nos colocou nas costas, porque podiam ter tirado a gente do ar, mas nos apoiaram até o final, batalharam até o final. Nós trabalhávamos lá dentro, eles nos deram um espaço”, relembra Bernardita. “Eu assistia ‘Clarita’ e tinha coisas que eu gostava mais do que em ‘Villa Dulce’, e tinha coisas nossas que eu gostava mais que as deles”, comenta Francisco Bobadilla. O resultado de “Clarita” não foi tão bom quanto esperavam. Em um horário difícil, como é às oito horas da manhã, não teve tanta audiência quanto “Villa Dulce”. Apesar disso tudo, a TVN transmitiu a série com seus 22 capítulos. “Para Link para entrevista em vídeo do Francisco Bobadilla


nós foi uma experiência super difícil, porque passamos um ano e meio trabalhando até a uma e meia da madrugada. E com zero pontos de audiência. Ou seja, ninguém estava nos aplaudindo, Foi muito difícil. Mas vi os capítulos com o passar do tempo e acho que são bons, tive que ter vários anos de distância para perceber isso”, reflete Bernardita Ojeda. Aprendizados após a experiência “Villa Dulce”, por outro lado, pôde continuar com uma segunda temporada de dez capítulos a mais, e com um filme estreado em todo o país, que teve boa audiência, segundo seus criadores. “Eram propostas muito diferentes. No Chile, tendemos a comparar, e aconteceu um pouco disso com a gente. A crítica foi muito dura, porque me convidavam a programas do mesmo canal e me falavam ‘tudo bom, mas não se parece com South Park’. Nós respondíamos que não queríamos nos parecer”, diz Bobadilla. Embora ambas as produções tenham tido resultados diferentes, as conclusões são as mesmas: estas experiências serviram para abrir um caminho para a animação no Chile. “É incalculável o aprendizado, e como tem sido um capital para todas as séries que vieram depois. É impressionante”, menciona Bernardita. SM



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JOSSIE MALIS

O criador de Bendito Machine Desde criança, este artista sente curiosidade pelo mundo e construiu uma forte crítica com o passar dos anos. Sua paixão pela ilustração, o gosto pelas culturas pré-hispânicas e pelo comportamento humano se reuniram em um bem-sucedido e interessante trabalho de animação, que hoje atravessa fronteiras.

Link para entrevista em vídeo do Jossie Malis

Por Pamela Riveros Ríos



Jossie Malis (37) é um cosmopolita. Morou cerca de 10 anos no Peru, e depois mudou-se para o Chile, para continuar com seus estudos. Em ambos os lugares, este artista se encantava com o desenho e, à medida que foi crescendo, descobriu que também era apaixonado por contar histórias e pela ilustração. Queria mostrar o que pensava do mundo e a crítica que ia se formando com força em sua cabeça. Ele estudou Publicidade em uma universidade chilena, pensando que poderia juntar todas as suas paixões. No entanto, percebeu que o caminho que queria não era esse, e que precisava desenvolver sua faceta artística, para que, dessa forma, tivesse as ferramentas para criar histórias. Nesta procura, já em Nova York (1998), realizou um curso de apreciação cinematográfica, e, em 2003, fez um mestrado em stop-motion, em Barcelona (Espanha). Dessa forma, finalmente, chegou até a animação. Agora, este artista mora em Palma de Mallorca (Espanha), onde fundou, há dez anos, seu estúdio independente, Zumbakamera. Lugar que viu nascer “Bendito Machine”, sua primeira série de animação sobre o comportamento humano e sua relação com o uso das máquinas. Graças a este trabalho, Malis foi convidado ao Festival Internacional de Animación Chilemonos 2014, espaço no qual também realizou o totem e o spot do concurso. Foi nesses trabalhos que Jossie Malis mostrou sua paixão pela ilustração, contar histórias e realizar as críticas sociais que tem acumulado ao longo dos anos. Nesta descoberta, o criador encontrou na técnica do teatro de sombras chinês uma forma de potencializar o desenvolvimento de seus curtas-metragens, gerando uma bela peça de animação, com silhuetas e fortes cores no fundo. Até hoje, este trabalho é multipremiado e já acumulou mais de 50 reconhecimentos internacionais, em festivais e concursos.



Jossie, conte-nos sobre seus trabalhos relacionados com a animação. De que tratam e em que você se baseou para realizá-los? Em geral, me interessa a animação tanto quanto a ficção, porque são as ferramentas que tenho para contar histórias. A animação sempre me pareceu atrativa. Eu me considero animador, mas, antes, me considero realizador, e depende das histórias que quero contar para ver de qual método me aproximo. E, finalmente, passa por isso, pela inquietude que tenho de contar histórias, antes de resolver como vou contá-las. Coincidentemente, a maioria das histórias que tenho tentado contar, por uma questão de formato e de controle, tem sido de animação. Porém, eu gosto da ideia de também fazer coisas híbridas, de ficção integrando animação. Penso que é muito atrativo. Na verdade, é isso o que me inspirou quando era criança para assistir filmes. Acho muito mais atrativa a mistura dessas duas dimensões, quase de poder levá-la para o plano da ficção científica. Não necessariamente como um ‘Roger Rabbit’, talvez um pouco mais elaborado, onde a animação tenha um protagonismo de uma forma mais contundente na narrativa de uma história.

Em que consiste o conceito por trás de Bendito Machine e história muito potente em pouco tempo. esta mistura entre máquinas e pessoas? Todo coincide em um momento, e as peças se juntam, e Tudo surge quando começo a trabalhar com as silhuetas. começo a desenvolver tudo isto.

Descubro o trabalho de Michel Ocelot, de Lotte Reiniger, que são dois grandes animadores, que tem trabalhado com silhuetas durante muito tempo. Eu venho um pouco atrás, com todo o respeito do mundo, tentando criar meu próprio Atualmente as histórias que desenvolvo são de ‘Bendito formato, minha própria versão de história, contar o que Machine’, que tem essa característica. Eu queria me interessa. desenvolver uma série de caráter muito primitivo e muito E tem uma carga política, talvez, mais irônica, pelas fácil de entender. temáticas que me parecem interessantes, o que me E me interessa o primitivo da série, porque, de alguma inquieta, que tem a ver com as condutas humanas, como forma, as pessoas reagem de uma forma um pouco nos desenvolvemos como espécie, como nos tratamos entre hipnótica. Você vê uma parede pintada em uma caverna nós, como resolvemos os conflitos ou como os destruímos em Altamira e percebe que os primeiros desenhos são para evitar resolvê-los, e todas essas coisas me inquietam coisas muito básicas. Eu gosto dessa força que tem a desde muito criança. De alguma forma, essa acumulação de querer contar estas histórias converge nesta narrativa, animação em silhueta, como a estátua de sombras. que busca este formato muito primitivo, para contar uma

O recurso do teatro de sombras chinês, como te serve para desenvolver sua história? O teatro de sombras chinês tem mais de cinco mil anos de existência, e isso também me atrai muito porque, antigamente, era usado para contar fábulas, histórias selvagens que provocavam medo nas pessoas nessa época, pelo conceito da silhueta. De alguma forma, a gente tem que tentar pegar este conceito e levar para o mundo digital, porque Michelle Ocelote ou Lotte Reiniger fazem e realizam com animação de recortes, com papel ou mais técnicas. Eu tento fazêlo mais simples para as tecnologias de hoje, me adaptar ao que tenho e manter esse respeito pela animação de recortes, mas com um design mais rico em detalhes,


usavam a série para montar debates dentro de uma aula, com crianças de onze a doze anos, para falar sobre temas que envolvem resolução de conflitos, para que, a partir daí, se desenvolvam histórias paralelas sobre como resolver os conflitos apresentados na série. E fiquei surpreso, porque você nunca está a par do alcance que tem quando você libera seu material na internet. E, na televisão, isso ficou fechado a um nicho muito específico, em canais ou em programação muito específica, de conteúdo de animação para adultos. Mas, como não é uma série para televisão, sua influência é muito reduzida. Está, principalmente, em festivais e na internet. E, claro, a internet está aberta para todo o mundo. Quem assiste, assiste, e sei disso por pais que têm filhos, de amigos que têm filhos, que as crianças se divertem com a série, apesar de não estar direcionada a eles. que me permite mais flexibilidade para contar histórias mais complexas, ou para desenvolver personagens com uma mecânica mais elaborada, que é o que me interessa em particular disso tudo, o uso de máquinas, do tema religioso, de elaboração da dependência tecnológica que o ser humano tem com as máquinas.

têm suficientes séries, conteúdos, saturação por todos lados. E, no fundo, é um modelo de negócio que consiste em desenvolver coisas que estão indo muito bem, há séries para crianças que eu gosto muito. Mas me parece mais interessante chegar aos adultos, que têm uma capacidade de refletir de igual para igual, mais séria ou mais madura, talvez, e que permite um debate mais amplo, dependendo A gente meio que não questiona absolutamente nada, das temáticas que você aborda. porque sabemos que tudo funciona automaticamente, mas o dia que alguma coisa der errado, vai tudo por água No entanto, curiosamente, as crianças gostam muito de abaixo. E, de alguma forma, me chama a atenção, isso. ‘Bendito Machine’. Evidentemente, nem todos os pais têm a disposição assistir com seus filhos, porque lhes pode Em geral, a animação é mais associada com as crianças. parecer muito escura, ou, geralmente as crianças não Que efeito teria o recurso da animação sobre adultos? entendem a mensagem passada na série, mas se divertem É divertido, porque, apesar de eu ter sido uma criança que com os personagens, com as situações que são muito se alimentou de muita animação, nunca me senti atraído comuns na animação. São desenhos animados, afinal de por desenvolver animação para crianças. Me interessa contas.

Sempre se pensou que fosse pela internet? Sim. Quando comecei a série, há dez anos atrás, não existiam redes sociais. YouTube, acho que nem existia ainda. Se você desenvolvia uma peça, subia direto no site particular de um festival ou de um concurso, onde se projetava um vídeo, e as pessoas participavam porque alguém falava que era assim, ou te mandavam o link por email. E, tudo isso, nos permitiu começar no mundo online, quando o tema audiovisual ainda estava usando fraldas na rede. E, a partir daí, eu tinha certeza de que essa era a plataforma natural para a série. E, à medida que foi evoluindo a tecnologia e a plataforma, o projeto foi crescendo junto. Agora a série, sem internet, não se pensa.

Você sempre pensou que este trabalho fosse mais universal mais o público adulto como receptor destes conteúdos, E é interessante, tem uma escola na Noruega que entrou e que pudesse chegar a diferentes línguas? Isto è, que porque eu acho que as crianças já têm muita informação, em contato conosco para nos agradecer, porque eles fosse fácil chegar a qualquer tipo de público, sem importar


“Bendito Machine” Storyboard


o idioma. No início eu pensei se estes personagens iam falar entre eles ou não. Acho que cheguei rápido à conclusão de que tinha que ser primitivo e básico, como a origem dos cinemas, algo muito simples. E acredito que aí, em parte, mora o sucesso também. A série tem tido muito sucesso internacionalmente, em muitos festivais no mundo inteiro, porque, justamente, pode ser exibida para qualquer pessoa, qualquer língua que fale vai entender o que está acontecendo.

E isso também permitiu a viralização. Como foi a recepção recebeu 27 prêmios internacionais, e isso deu o pontapé para financiar os próximos trabalhos e poder dar forma dos primeiros capítulos de Bendito Machine? ao projeto. Foi muito forte, e, para mim, foi uma grande surpresa, porque nunca mantenho muitas expectativas do que E aí vieram os seguintes capítulos, que não tiveram tanta pode acontecer. Eu fiz isso, especificamente, para um difusão como o primeiro. Obviamente, a surpresa está no concurso que tinha muitas condições: um curta-metragem início, e, no quarto capítulo, há um update no estilo e em em animação flash, de tais características, e preparei o técnicas de animação, que é bastante evidente ao longo da conteúdo do curta nessa formato. E aproveitei para dizer série. É a versão 2.0 de Bendito. que isso era uma desculpa para me pressionar e dizer ‘ok, Você tem uma produtora independente, porque você vou fazer este curta, vou mandar e vou tentar’. mantém esta aposta? Soubemos que há pouco tempo você Foi um grande sucesso. Ganhou o concurso e, a partir daí, explorou uma plataforma de crowdfunding.


Me dei bem. Você pode ser independente, pode chamar de guerrilheiro, de mil formas. Eu acho que a ideia central de um projeto sempre nasce de uma pessoa. Daí a como você o desenvolve depende dos recursos que você tem, e a facilidade para fechar vínculos com outras empresas, organismos e ajudas de diferentes lugares. No meu caso, não sou uma pessoa ambiciosa. Sempre gosto de controlar as coisas mais artesanalmente, mais doméstico, a minha escala, trabalhar sozinho. Acho que isso me levou a esse formato de trabalho que temos agora, mas, ao mesmo tempo, tem me permitido viver disso, porque temos clientes no mundo inteiro, desenvolvemos projetos a pequena escala, coisas não muito grandes. Dependendo da escala de cada projeto, a gente se amplia ou reduz, somos muito flexíveis. Vamos procurando os recursos dependendo do que precisamos. Nunca fui muito fã do termo industrial, quando se fala de levar o projeto a grande escala, empresarial, de bilheterias. Para mim, o conteúdo vem muito antes, concentrar-me no que quero contar e, agora, além de tudo, temos a possibilidade de fazer algo, subi-lo na internet, que se viralize e que chegue às pessoas, que é realmente a única coisa que me interessa. Que se ganha menos, que se ganha mais… claro. Mas também não quero muita coisa. Gosto da vida simples, minha mulher também, e estamos muito felizes com o que fazemos. Temos tido muitas possibilidades para fazer crescer o empreendimento. Ainda temos, e também não as descartamos, mas vamos muito passo a passo, sem pressa. E essa foi a decisão do crowdfunding? Exato. Em parte, o crowdfunding surge por causa do controle que oferece às pessoas, e quem nos segue,


sabe o que há por trás, sabe quem somos. E agrega um valor, isso, que as pessoas possam participar e se envolver diretamente na produção de alguma coisa, abriu muitas portas. Independente de que não tenha sido uma super campanha, foi o suficientemente grande para nós continuarmos com este projeto. O assunto é seguir com um projeto adiante e, acima de tudo, que as pessoas o valorizem e o reconheçam, esse é o maior ganho. Como é o sistema de trabalho para seus projetos? Como começam e finalizam? Em relação a ‘Bendito Machine’, em particular, é muito subjetivo, porque também não tenho uma fórmula definida. Como não estamos trabalhando numa linha de produção muito rápida, cada projeto tem sua própria natureza, seu próprio espírito, e modela também cada momento, de acordo com a pressão que tenhamos para outros trabalhos, o tempo que podemos dedicar a ele. E quais os projetos que estão relacionados com a animação? Há um projeto de curta-metragem, também de animação, que não tem nada a ver com ‘Bendito Machine’. É um curta-metragem mais direcionado para a ficção científica, do espaço mais astronômico, com a posição do ser humano na terra. Há projetos de ficção também, projetos de videogames. Há muitos caminhos abertos e muitas possibilidades que devem começar a se concretizar este ano. SM






ANIMAÇÃO NO BRASIL Talento e superação em quase 100 anos de história

Os últimos anos foram extremamente frutíferos para a animação brasileira, que agora desfruta de um reconhecimento artístico e comercial, em uma escala sem precedentes. Séries de televisão como “Peixenauta” e “Meu Amigãozão” estão sendo exibidas em dezenas de países nos cinco continentes, graças a um modelo de negócio que as coproduções internacionais tem mantido até agora.

Por Felipe Haurelhuk



Os dois últimos vencedores do prêmio máximo no Festival de Annecy são brasileiros: “Uma História de Amor e Fúria” (2012), de Luiz Bolognesi, e a mais recente “O Menino e o Mundo” (2014), de Alê Abreu. Estes fatos são extraordinários, mas são produto de uma longa e tortuosa trajetória com respeito a esta atividade no país, que, em 2017, completará um século de existência. Existem registros que confirmam a existência de pequenas tirinhas no jornal brasileiro em 1907, mas, só 10 anos depois, o primeiro filme de animação foi estreado nas salas de exibição. “O Kaiser”, que foi estreado em janeiro de 1917, no cinema Pathé da Cinelândia carioca, marcou o ponto de início da animação brasileira. Seu autor foi o ilustrador e cartunista Álvaro Marins, popularmente conhecido como “Seth”, que trabalhou para jornais tais como “A Noite” e “Seleta”. Ele tinha apenas 26 anos quando terminou este filme. No filme, o líder alemão Guilherme II, senta-se em frente a um globo terrestre e coloca seu Stahlhem (capacete de aço alemão) sobre ele, fazendo uma clara alusão a seu controle sobre o mundo, em uma época de sérios conflitos bélicos na Europa. O mundo, no enquanto, cresce e envolve os próprios militares. O curta-metragem, que é em preto e branco, e com um traço que se aproxima muito do trabalho de Seth como designer, foi perdido por uma falta de preocupação com sua preservação, e hoje não existe cópia desta obra. O único registro conhecido é uma imagem de referência ao filme, que foi publicada pelos jornais da época e recuperada tempos depois. Ao longo da década entre 1920 e 1939, outras obras tiveram o mesmo final, pela falta de cuidado com a memória audiovisual, um tema historicamente muito crítico no Brasil. Entre esses trabalhos se encontravam dezenas de filmes publicitários, além de obras autorais como “As

“O Kaiser”, de Álvaro Marins (1917) Aventuras de Billie e Bolle” (1918), do paulista Eugênio Fonseca Filho e “Macaco Feio, Macaco Bonito” (19291933), de Luíz Seel, que faz referência a personagens famosos desse decênio de animação, como o Gato Félix, o rato Mickey e o marinheiro Popeye. Por sorte, este último

foi totalmente recuperado pela Cinemateca Brasileira e hoje se encontra em ótimas condições de preservação. No final da década de 30, outro cartunista famoso da época, Luis Sá, decide criar uma série de desenhos


Carlos Saldanha, diretor de “A Era do Gelo” e “Rio” Estudios BlueSky


Mauricio de Sousa, diretor de “As Aventuras Da Turma da Mônica” (1983)


“Virgulino”, de Luiz Sá (1930) Desiludido, Sá vendeu seu longa-metragem a uma loja de projetores, cujo dono era descuidado com suas aquisições. A obra riscada do artista permaneceu perdida durante décadas, até ser redescoberta por um dos clientes da loja, o animador José Parrot. Em avançado estado de deterioração, a película de 16mm foi recuperada recentemente, durante A avaliação do Departamento de Imprensa e Propaganda, a realização do documentário “Luz, Anima, Ação” (2013). que comandava o governo daquela época, do então Presidente Getulio Vargas, foi de que o filme não tinha as As dificuldades de Anélio Latina Filho não foram menores qualidades suficientes para ser exibida para a Disney e seu para a realização de “Sinfonia Amazônica” (1953), o primeiro longa-metragem brasileiro de animação. trabalho acabo sendo riscado da lista. Absolutamente sozinho, o artista escreveu o roteiro e animados com o personagem Virgulino, de sua própria autoria. Depois de realizar todo o trabalho completamente sozinho, procurou o governo brasileiro com o desejo de mostrar sua animação a Walt Disney, que estava de visita ao Brasil.


“Macaco Feio, Macaco Bonito”, de Luiz Seel (1929)

animou mais de meio milhão de ilustrações, na parte posterior de uma residência no bairro carioca da Tijuca. Foram seis anos de trabalho sem interrupções, com um roteiro que resgatava as lendas da floresta amazônica por meio do índio Curumim. O trabalho que significou realizar esse filme complicou seu estado de saúde que, devido à falta de apoio para continuar o projeto, finalmente, abandonou a atividade. Foi apenas a publicidade, produzida quase exclusivamente em São Paulo, que fez da animação uma atividade rentável, durante mais de meio século, no Brasil. A chegada da televisão, no início da década de 1950, aumentou a aparição dos anúncios de produtos e serviços,

que, inicialmente, tinham como maior referência na produção destas peças, o estúdio de Guy Lebrum, francês de nascimento, que foi o diretor responsável pelos personagens e jingles memoráveis dos primeiros anos da TV. Na década seguinte, o país estaria encantado, mais uma vez, com a publicidade de Lynxflim, um verdadeiro estúdio de animação fundado pelo paulista Ruy Perotti, e que ajudou a criar uma nova geração de artistas. Nomes como Daniel Messias, Walbercy Ribas e Luiz Briquet, hoje consagrados, são fruto da geração pós-Lynxfilmm, que acabaria movimentando a animação publicitária brasileira a fins da década de 90.


Alê Abreu, diretor de “O Menino o e mundo”, ganhador de Annecy (2014)


Continuavam os problemas nos cinemas. Foram necessários quase vinte anos para que um longa-metragem fosse novamente estreado nas salas brasileiras, que, por essa época, já tinham imagens a cores. “Piconzé” (1971) foi escrito, dirigido e finalizado pelo japonês radicado no Brasil, Ypê Nakashima, com um ritmo de trabalho que também se estendeu por uns cinco anos. Na Bahia, Chico Liberato, também trabalhou de forma artesanal para estrear “Boi Aruá” (1983), um filme com uma forte influência mas músicas que vinham no interior do norte do Brasil. Foi o achado técnico e artístico dos curtas-metragens que trouxe, ao país, os primeiros e mais importantes prêmios internacionais. Os pioneiros vieram do cinema experimental de Robert Miller, que teve como fonte de inspiração, para seus filmes abstratos, a obra de Norman McLaren. Entre as técnicas de animação usadas por Miller estava a tinta aplicada diretamente sobre a película, que significou um prêmio no Festival de Cannes de 1958, com sua obra “Sound Abstrac”. Quase três décadas depois, foi a vez de Marcos Magalhães, que recebeu um prêmio do júri, no mesmo festival, pelo seu curta-metragem “Meow” (1981). Este artista foi, inclusive, um dos principais representantes de uma nova geração de animadores brasileiros, surgidos do acordo entre o governo brasileiro e o National Film Board do Canadá, que oferecia cursos e intercâmbios entre profissionais de ambos os países. Finalmente, o longa-metragem teve um de seus melhores momentos, no final da década de 1980, depois de quase 70 anos, quando, pela primeira vez, Maurício de Sousa montou um verdadeiro estúdio de produção. Com o sucesso que fazia a história em quadrinhos, “As Aventuras Da Turma da Mônica” (1983) se tornou um êxito comercial

Filme “Boi Aruá”, de Chico Liberato (1983)

sem precedentes, levando milhões de espectadores às quase zero, o longa-metragem “Rock & Hudson” (1992). filas dos cinemas, ao longo do país inteiro, estimulando o Com uma temática forte e controvertida, o filme acabou empresário a investir nesta área. ganhando fãs no mundo inteiro e alavanca a carreira do cineasta. As dificuldades continuariam até 1994, ano de O início da década de 1990, no entanto, marcaria uma criação de Anima Mundi. O festival, que hoje é um dos ruptura abrupta em toda essa atividade. Depois de passar mais importantes do gênero no mundo, atraiu um público por uma situação econômica muito difícil, o governo do fiel e apaixonado e, mais importante ainda, fomentou a então presidente Fernando Collor, cortou todo e qualquer produção de trabalhos artísticos e autorais no país inteiro, tipo de apoio do governo ao cinema, paralisando a um processo que vem se intensificando continuamente. produção nacional. Nesse momento, Otto Guerra surge como um símbolo de resistência e perseverança ao Nesta última década, foram dados outros passos lançar, justamente em um ano no qual a produção foi importantes. A evolução da tecnologia reduziu os custos


Otto Guerra, diretor de “Rock & Hudson” (1992) e “Até que a Sbórnia nos separe” (2013)


Eduardo Calvet, diretor do documentário “Luz, Anima, Ação” (2013)


“Piconzé” (1971)

e facilitou a entrada de novos profissionais ao mercado, assim como novas escolas e cursos foram abertos em quatro lugares do país. Vários profissionais de sucesso internacional, como Carlos Saldanha, também atrairiam a curiosidade dos mais novos.

Felipe Haurelhuk

Nascido em Curitiba, Felipe Haurelhuk é formado em cinema pela UFF - Universidade Federal Fluminense, uma das pioneiras em oferecer este curso no país. Começou sua carreira na TV Globo, onde foi responsável pela formulação A economia brasileira alcança um nível de amadurecimento e construção de mais de 6 mil peças promocionais da importante e os incentivos públicos para a produção de programação, incluindo especiais e lançamentos. conteúdo aumentam significativamente. O resultado é uma produção a um nível sem precedentes na história Depois, trabalhou no mercado audiovisual independente, brasileira, que revela talentos e verdadeiras jóias artísticas, diversificando sua experiência em vários cargos, em roteiro como os dois últimos premiados na Annecy. Vida longa à e direção. Vendeu muitos roteiros a empresas audiovisuais e dirigiu alguns curtas-metragens, especializando-se, animação brasileira! SM finalmente, em produção. Em 2011, foi o responsável

por “O Abajour”, primeiro longa-metragem brasileiro filmado com câmeras HDSLR. No ano seguinte, começou a se dedicar ao documentário “Luz, Anima, Ação”, que foi estreado durante o Festival de Animação Anima Mundi 2013, e já passou por mais de 30 festivais, em três continentes, incluída a seleção oficial para o mais recente Festival Internacional de Animação de Annecy.




RAPHAEL LACOSTE Criando nas maiores franquias de videogames Assasin’s Creed e Prince of Persia são alguns dos títulos nos quais este artista expôs sua mente criativa. Ele começou no teatro, e, depois de uma extensa trajetória, se afastou do videogame para explorar o mundo do cinema.

Por Pamela Riveros



Path to Gothic Choir Desenhar, criar mundos e revelar sua mente criativa por meio de um lápis sempre foi o sonho de Raphael Lacoste. Ainda na escola, ele pedira recomendações sobre onde devia estudar Arte, e assim nasceu a ideia de ir para o Centre National de la Bande Dessinée et de l’Image (CNBDI), localizado em Paris.

animação francesa: René Laloux, diretor de filmes como “Les Dents du Singe” (1960). Este renomado artista foi seu guia na montagem do primeiro curta-metragem de Lacoste, chamado “Nîumb” (2000), isso abriu as portas para que ele conseguisse seu primeiro trabalho na área da animação, e o filme foi exibido nos festivais Siggaph, Imagina e Anima Mundi, nesse mesmo ano, Apesar disso, o artista parisiense realizou seus primeiros demonstrando sua marca gráfica e as sensações que seu trabalhos profissionais em um teatro. Eram os anos 90 e trabalho pode provocar por detrás de um conceito de arte ele se dedicava a fotografar, desenhar cenários e compor potente e detalhado. par a companhia Les Pygmalions. Seria o ano de 2002 que Raphael Lacoste receberia uma Mas, rapidamente, da fotografia e do movimento humano das mais importantes ofertas de sua carreira: ser parte mudou-se para a animação e para o 3D. Finalmente, no da equipe de Ubisoft em Montreal (Canadá) e trabalhar CNBDI se encontrou com uma das maiores referências da como Diretor de Arte em “Prince of Persia: The Sands


North Kingdom Assassin’s Creed


Migration

South Kingdom Assassin’s Creed



of Time”. Tempo depois, estaria envolvido em “Prince of Persia: The Two Thrones”, que o fez ser premiado com um VES em 2006, na categoria “Outstanding Pre-Rendered Visuals in a Video Game” pela cena “Duas Coroas”. Depois de ser Diretor de Arte na primeira parte de “Assassin’s Creed” (2007), Lacoste decidiu se afastar por um tempo da indústria do videogame, diante da possibilidade de se aproximar do cinema. É nesse momento que ele se desenvolve como Matte Painter y Concept Artist em filmes como “O Exterminador do Futuro” e “Viagem ao Centro da Terra”. Também realizou trabalhos para EA Entertainment Industry, em Montreal. No entanto, seu distanciamento do mundo dos videogames chegaria ao fim quando, em 2010, assumiu como Diretor de Arte de “Assasin’s Creed Revelations”, voltando a trabalhar junto a Ubisoft. Neste desafio, Lacoste continuou desenvolvendo vários talentos que já tinha demonstrado em sua carreira profissional, como as Oddyssey”, e, muito antes dele, “Another World”. Desde sensações, composições de um quadro e ambientes que que tenho filhos, tenho muito menos tempo para jogar, podem provocar sua mente e habilidade com o lápis. então, costumo assisti-los quando eles jogam, e estou informado graças a eles. Tal portfólio não foi indiferente para Solomonos Maganize, por isso, ele foi entrevistado, em exclusivade, Para realizar o conceito de arte em seus trabalhos, como para dar suas impressões e reflexões após seus intensos você se inspira? E qual o processo que você segue para anos na indústria da animação e, especificamente, do chegar a um conceito final? videogame. Geralmente, começa com uma vontade de desenhar, Raphael, houve alguma produção de videogames que representar um momento, contar uma história. Depois te motivou a entrar neste mundo? Você gostava de começo a olhar referências que possam me inspirar, como videogames quando era criança? as fotos de minhas viagens. Faço desenho simplesmente, Jogava um pouco, mas nunca de forma excessiva. no papel, e depois monto no Photoshop, adicionando Digamos que gostava de alguns games com uma imersão diferentes camadas em níveis de cinzas, para criar a interessante. Me lembro particularmente de “Abe’s profundidade atmosférica da composição. É aí que coloco

Masyaf Assassin’s Creed iluminação e paleta de cores, até chegar finalmente aos detalhes. Costumo fazer os elementos arquitetônicos em 3D. Seu começo de carreira está vinculado com o teatro. O que você acha sobre a evolução da presença do vídeo e da animação dentro do teatro atual? Você mantém seu gosto e contato pelo teatro? Acho interessantes os trabalhos feitos em cena, a capacidade de estender um quadro, de forma dinâmica e com iluminação. É como una janela que se abre ao imaginário, atrás de uma decoração física. Gostei muito da experiência no teatro. É uma pena eu não ter conseguido ganhar a vida nesse campo, pois é apaixonante e muito enriquecedor.


Concept “Mr. Nobody”

“Smoking on the Rooftop”


Você tem contato com esta companhia?

ele durante meu ano de formação.

Continuo em contato com a companhia francesa com a É claro que isso se nota no meu curta-metragem: que trabalhava nos anos noventa, são amigos meus, que um pouco no design gráfico, mas principalmente na vejo raramente, desde que moro no Canadá. história. René me ajudou também a fazer a montagem de “Nîumb”. Lamento que já não esteja entre nós. Seus O que representou realizar o curta-metragem “Nîumb” filmes eram poéticos e muito belos, enriquecedores e para sua carreira? com mensagens fortes. É o primeiro trabalho do qual estou orgulhoso. Permitiu que eu conseguisse meu primeiro emprego, e tivesse a oportunidade de participar de festivais como Siggraph e Imagina, nos quais meu curta-metragem foi difundido. Foi exibido também na televisão francesa durante alguns anos. Posso dizer que foi uma grande porta para meu primeiro emprego relacionado com a indústria multimédia. Meu primeiro trabalho foi como Level Artist na companhia Kalisto, uma empresa francesa de videogames que, infelizmente, fechou suas portas em 2002. Mas foi a oportunidade de atravessar o Atlântico para meu segundo emprego, como Diretor Artístico, na Ubisoft Montreal, com “Prince of Persia: The Sands of Time”.

O que representou, em sua carreira, ganhar o VES Award por “Prince of Persia”? Um dos momentos mais importantes da minha vida foi ter um reconhecimento da alta sociedade dos efeitos visuais, é uma verdadeira honra. Um VES não é pouca coisa! Foi uma linda entrega de prêmios, tinha uma concorrência muito forte. Este prêmio me dá um certo reconhecimento e credibilidade como Diretor Artístico. Estou muito agradecido ao júri do VES.

Assassin’s Creed é uma das franquias mais fortes da indústria do videogame no mundo, poderia nos contar sobre sua participação neste projeto? Como é trabalhar em um projeto sabendo que ele é esperado por milhões Como foi ter como professor René Laloux? Como de fãs e que estão ansiosos por cada detalhe? influenciou em teu trabalho? Tem muito tempo que eu trabalho para eles, e também Meu professor de Arte na escola tinha me recomendado o fiz trabalho part time para os criadores em 2007. CNBI de Angouleme, mas nessa época não sabia que um Posteriormente, fiz uma pausa de três anos para dos diretores era René Laloux. Eu era um grande fã de trabalhar na indústria cinematográfica, mas voltei à seus filmes. “Les Maitres du Temps” ainda é, para mim, franquia em 2009, enriquecendo minhas experiências uma obra de animação, e tenho muito carinho por esse em filmes. Com certeza a expectativa é grande, e tanto o tipo de filme. Soube com grande surpresa e empolgação público quanto a crítica são difíceis, porque agora somos que René era professor de lá, e, então, preparei meu fundamentais. portfólio para a prova de seleção. Tentei aprender com


Derinkuyu Assassin’s Creed Revelations


Tentamos sempre criar o melhor game possível e nossas equipes têm muita experiência, permitindo um processo de criação eficaz, em tempos razoáveis. Somos totalmente capazes de nos adaptar e renovar, a prova disso é o sucesso da crítica de “Assassin’s Creed IV: Black Flag”. O que você pensa sobre a evolução nas sequências cinematográficas nos jogos? É difícil imaginar, na atualidade, fazer sequências cinematográficas pré-prontas quando o nível gráfico é tão impressionante. Não é tão fácil pedir para uma equipe de games fazer um trabalho de montagem tão eficaz. Por isso é um grande desafio chegar a um realização interessante, sem quebrar a imersão no jogo, em tempo real. “GTA” e “Last of Us” são ótimos exemplos de realização para mim, baseados em uma experiência interativa. Em que projeto você está trabalhando hoje? Em que você gostaria de trabalhar no futuro? Infelizmente não posso revelar em que trabalho neste momento, mas vocês vão saber mais cedo ou mais tarde. Estou muito contente com o meu trabalho e não prevejo mudar por enquanto. Também estou trabalhando part time no NAD Centre, ensinando Environment Design, que é o que me permite atualizar sempre meus conhecimentos, ensinando aos meus alunos. SM


Mangrove Benchmark Illustration Assassin’s Creed IV


Este projeto foi financiado pelo Fundo de Fomento Audiovisual.

CHILEMONOS

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