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ANO LIII

| N º 606 | AGOSTO 2012 | A V /E LUL 5772

Judeus na construção da Pauliceia


HEBRAICA

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palavra do presidente

Linha direta com o associado Uma das razões mais gratificantes do exercício de um cargo voluntário em uma entidade como a Hebraica é, em um dia qualquer das férias de julho, constatar como as crianças, principalmente aquelas matriculadas nas colônias de férias, aproveitam tudo o que o clube lhes oferece. E, podem todos ter certeza, não é pouca coisa. Na verdade, é tanta, e é tal o interesse dos pais na participação dos filhos que, a cada ano, nos vemos obrigados a aumentar o número de participantes, o que significa contratar mais monitores e imaginar novos programas e entretenimentos inovadores para a criançada. Felizmente, a experiência acumulada em anos e anos de Hebraikeinu, Escola de Esportes, Maternal, e tantas outras, garantem o êxito da empreitada. Isso, para nós, significa ter um olho no futuro com os pés no presente. Tudo o que temos feito no nosso clube tem uma base sólida e para tanto vamos aos poucos, mas de forma decidida, contando com o apoio e o interesse dos associados. Tenho notado isso pessoalmente nos encontros regulares com os frequentadores da Hebraica, em cafés-da-manhã que realizamos em uma sala de reuniões da presidência. É uma reunião democrática durante a qual os participantes reclamam, elogiam, e apontam sugestões, mas também revelam a sua preocupação e a vontade de participar e, de certa forma, influir, nas decisões do colegiado da diretoria da Hebraica. Já realizamos alguns desses cafés-da-manhã com a presença de cerca de quinze pessoas em cada um deles e, em todos, falei com grande entusiasmo a respeito da Escola Alef, o antigo Bialik, que vai funcionar no térreo do Ginásio Poliesportivo, aquele edifício à direita da entrada da rua Angelina Maffei Vita. É um projeto audacioso, ambicioso, e grandioso que enche de orgulho a nossa comunidade e que será, sem dúvida, um marco na história do clube, da escola e da comunidade de São Paulo. Cuidar das nossas crianças e adolescentes é garantir o nosso futuro, e o futuro da nossa comunidade. Shalom

Abramo Douek

TUDO O QUE

TEMOS FEITO NO NOSSO CLUBE TEM UMA BASE SÓLIDA E PARA TANTO VAMOS AOS POUCOS, MAS DE FORMA DECIDIDA, CONTANDO COM O APOIO E O INTERESSE DOS ASSOCIADOS. TENHO NOTADO ISSO PESSOALMENTE NOS ENCONTROS REGULARES COM OS FREQUENTADORES DA HEBRAICA, EM CAFÉS-DA-MANHÃ


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sumário

HEBRAICA

HEBRAICA

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Carta da Redação

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Destaques do Guia A programação de agosto e setembro

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Alef Grande expectativa para o começo do ano escolar

16

Colônias Atividades e brincadeiras aquecem férias de inverno

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cultural + social

20

Festival de Cinema Acompanhe as principais atrações da 16ª. edição

22

Klezmer A cidade se prepara para o Festival da Música Judaica

20

16

23

Meio-Dia Paulo Vanzolini esteve na Hebraica para show dominical

24

Grandes Festas Já começaram os preparativos para receber o Ano Novo

26

Biblioteca Clube da Leitura escolheu romance de Milton Hatoum

28

Passeio Masp Dezessete associados foram ver a obra de Modigliani

30

Corais Hebraica sediou encontro de cariocas e paulistanos

32

Coluna um / comunidade Os eventos mais significativos na cidade

40

Fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade

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juventude

46

Dança folclórica Shows anunciam proximidade do Festival Carmel

48

Fotos e fatos As cenas mais marcantes do mês

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esportes

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54

Ligados nos esportes Um fim de semana para divulgar várias modalidades

56

Olimpíada das Escolas de Esportes Evento alcança a marca histórica de trinta edições

58

Polo Garotos surpreendem os cariocas do Flamengo

59

Macabi Brasil Depois do Mundialito, a meta é a Macabíada Mundial

60

Curtas O desempenho dos nossos atletas em competições externas

65

magazine

66

Capa / História O papel dos judeus na reurbanização de São Paulo

72

Imigrantes O caso dos imigrantes africanos em Israel

JOGADORES DO SUB-11 E SUB-13, DURANTE CONFRATERNIZAÇÃO NO MACABI TREMEMBÉ

78

Eurocopa 2012 Atleta negro homenageia a sua família judia (adotiva)

80

Defesa A história do QG israelense no coração de Tel Aviv

86

Educação Israelense lança versão on line da Ivy League

88

Viena Ascensão e queda de um dos maiores centros de vida judaica

94

Antropologia O curioso poder de comunicação dos gestos

99

10 notícias Alguns dos temas mais quentes da sociedade israelense

100

Memória A operação para salvar do Holocausto 476 judeus turcos

104

A palavra Esclarecemos todas as dúvidas sobre a origem de L’Chaim

106

Costumes e tradições E o conceito de tikun olam? Sabe como aplicá-lo?

108

114

Com a língua e com os dentes Nosso colunista visitou um dos restaurantes espanhóis mais tradicionais da cidade

116

Ensaio Novo livro discute confronto entre tradição e modernidade

119

diretoria

120

Leituras Os melhores lançamentos editoriais do mês

Agenda da Presidência Os eventos mais marcantes na presidência

110

121

Música Onze cd’s para aquecer as noites de inverno

112

Cinema Conheça as histórias da Hester Street, de Nova York

Lista da diretoria Mantenha-se atualizado sobre os integrantes do Executivo

138

Conselho O papel da mídias digitais nos dias de hoje


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HEBRAICA

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carta da redação

Os judeus que ajudaram a construir São Paulo Provavelmente muita gente desconhece que os bairros de Perdizes, Pompeia, Higienópolis e parte dos Jardins foram abertos, loteados e urbanizados por empreendedores judeus que chegaram ao Brasil em uma pequena mas atuante onda de imigrantes da Alsácia, na Alemanha, fronteira com a França, uma região que passava de mão em mão ao sabor dos acordos políticos e da força das armas. Eram os Burchard (que deu as ruas Germaine Burchard e Martinho Burchard) e Nothmann, por exemplo. Mas houve também o dr. Zuquim, famoso médico, e nome de rua em Santana. Na segunda leva de imigrantes vieram engenheiros e arquitetos como Lucjan Korngold aos quais aqueles empreendedores e descendentes encomendavam os projetos. Este é o tema da capa desta edição e o texto, claro, de alguém do ramo, no caso a engenheira e pesquisadora Anat Falbel. Nesta edição, notícias a respeito do já consagrado Festival de Cinema Judaico que se inicia quando a revista estiver chegando aos associados e mais informações acerca da Escola Alef que foi aberta oficialmente neste primeiro de agosto, dia em que os alunos e os pais conheceram as novas instalações da escola no térreo do Poliesportivo. E, no “Magazine”, os textos do nosso correspondente em Israel Ariel Finguerman, um deles a respeito dos africanos que chegam a Israel, via Egito, fugindo aos conflitos no Sudão e na Eritreia. Já são cerca de sessenta mil e a presença deles é o novo tema de debate e controvérsia política e ideológica daquele país construído por refugiados judeus de todas as partes do mundo. E mais: uma reportagem a respeito da Viena judaica da segunda metade do século 19 até ao entre-guerras e um instigante texto que trata da linguagem gestual. Boa leitura – Bernardo Lerer – Diretor de Redação

ANO LIII | Nº 606 | AGOSTO 2012 | AV / ELUL 5772

DIRETOR-FUNDADOR SAUL SHNAIDER (Z’l) PUBLISHER FLAVIO MENDES BITELMAN DIRETOR DE REDAÇÃO BERNARDO LERER EDITOR-ASSISTENTE JULIO NOBRE

SECRETÁRIA DE REDAÇÃO MAGALI BOGUCHWAL REPORTAGEM TANIA PLAPLER TARANDACH TRADUÇÃO ELLEN CORDEIRO DE REZENDE FOTOGRAFIA BENJAMIN STEINER (EDITOR) FLÁVIO M. SANTOS

DIREÇÃO DE ARTE JOSÉ VALTER LOPES EDITORAÇÃO HÉLEN MESSIAS LOPES

ALEX SANDRO M. LOPES

ILUSTRAÇÃO CAPA MARCELO CIPIS EDITORA DUVALE RUA JERICÓ, 255, 9º - CONJ. 95

E-MAIL DUVALE@TERRA.COM.BR CEP: 05435-040

- SÃO PAULO - SP

DIRETOR PAULO SOARES DO VALLE ADMINISTRAÇÃO CARMELA SORRENTINO ARTE PUBLICITÁRIA RODRIGO SOARES DO VALLE

DEPTO. COMERCIAL SÔNIA LÉA SHNAIDER PRODUÇÃO PREVAL PRODUÇÕES IMPRESSÃO E ACABAMENTO IBEP GRÁFICA

AV. ALEXANDRE MACKENZIE, 619

ERRATA: PÁGINA

JAGUARÉ – SP

POR UM ERRO TÉCNICO, A REPORTAGEM COM O TÍTULO “HEBIKE AQUI E NA TRILHA”, NA EDIÇÃO DE JULHO, À

PUBLICIDADE TEL./FAX: 3814.4629

58, FOI EDITADA SEM NEXO ENTRE TEXTO E FOTOS. O HEBIKE, DA HEBRAICA, ORGANIZOU JUNTO COM A CIP

UM PASSEIO NOTURNO COMEMORATIVO DE

E-MAIL

SHAVUOT E DO QUAL PARTICIPARAM MAIS DE SETENTA CICLISTAS. ALIÁS, ESSE

DEPARTAMENTO TEM REALIZADO BEM-SUCEDIDAS EXCURSÕES DE BICICLETA COMO AQUELA DE

HOLAMBRA A SERRA NE-

GRA COM MAIS DE CEM PARTICIPANTES.

3815.9159 DUVALE@TERRA.COM.BR

JORNALISTA RESPONSÁVEL BERNARDO LERER MTB 7700 OS CONCEITOS EMITIDOS NOS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE

INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS SEUS AUTORES, NÃO RE-

PRESENTADO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DE DIRETORIA DA HEBRAICA OU DE SEUS ASSOCIADOS.

calendário judaico :: festas AGOSTO 2012 Av / Elul 5772 dom seg ter qua qui sex sáb 5 12 19 26

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A HEBRAICA É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DA ASSOCIAÇÃO

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dom seg ter qua qui sex sáb 2 9 16 23 30

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véspera de Rosh Hashaná | 1o dia Rosh Hashaná | 2o dia Rosh Hashaná| Iom Kipur - Yizkor | véspera de Sucot

Fale com a Hebraica PARA COMENTÁRIOS, SUGESTÕES, CRÍTICAS DA REVISTA LIGUE: 3818-8855 CANALABERTO@HEBRAICA.ORG.BR

“A HEBRAICA” DE 1.000, PABX: 3818.8800

BRASILEIRA

SETEMBRO 2012 Elul 5772 / Tishrei 5773

EX-PRESIDENTES

SÃO PAULO RUA HUNGRIA,

LEON FEFFER (Z’l)

- 1953 - 1959 | ISAAC FIS- 1960 - 1963 | MAURÍCIO GRINBERG (Z’l) - 1964 - 1967 | JACOB KAUFFMAN (Z’l) - 1968 - 1969 | NAUM ROTEN-

CHER (Z’l)

BERG - 1970 - 1972 | 1976 - 1978 | BEIREL ZUKERMAN - 1973 -

1975 | HENRIQUE BOBROW - 1979 - 1981 | MARCOS ARBAITMAN - 1982 - 1984 | 1988 - 1990 | 1994 - 1996 | IRION JAKOBOWICZ (Z’l) - 1985 - 1987 | JACK LEON TERPINS - 1991 - 1993 | SAMSÃO WOILER - 1997 - 1999 | HÉLIO BOBROW - 2000 2002 | ARTHUR ROTENBERG - 2003 - 2005 | 2009 - 2011 | PETER T. G. WEISS - 2006 - 2008 | PRESIDENTE ABRAMO DOUEK

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3814.4629 / 3815.9159 DUVALE@TERRA.COM.BR


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por Raquel Machado

destaques do guia VAI COMEÇAR MAIS UM FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO, LEVANDO O MELHOR DA CULTURA ISRAELENSE ÀS TELONAS

DE TODA A CIDADE. ALÉM DISSO, O MÊS NA HEBRAICA AINDA TERÁ A VOLTA

DA SÉRIE IN CONCERT, COM SHOW DE JAIR RODRIGUÊS, A 31A EDIÇÃO DAS OLIMPÍADAS DA ESCOLA DE

ESPORTES E MUITO MAIS. CONFIRA A

PROGRAMAÇÃO COMPLETA.

cultura + social 6/8 Abertura do 16o Festival de Cinema Judaico, inserido no calendário cultural de São Paulo, o festival reunirá mais de 40 filmes de países como Israel, EUA, Canadá, Alemanha, França, República Tcheca, Croácia, Polônia, Ucrânia, Argentina e Brasil Confira a programação www.fcjsp.com.br 6 a 12 de agosto

25/08 Clube da leitura , participe de uma deliciosa experiência com pessoas que gostam de literatura e curtem trocar ideias e impressões sobre o que estão lendo. Vagas limitadas 16h, Auditório

juventude

Horários do ônibus

9/09 Estreia do Teatro Infantil “Chalabulá”, uma fábula diferente. 16h, Teatro Anne Frank

• Terça a sexta-feira

esportes 25 e 26/08 31a Olimpíada da Escola de Esportes, o tradicional evento esportivo dedicado aos atletas mirins chega em mais uma edição, atraindo as atenções de toda a comunidade.

concessões Casual Mil, durante todo o mês de agosto, o restaurante irá oferecer um cardápio temático às sextas-feiras. terça a sexta, 12h às 15h; sábado e domingo, 12h às 16h

Saídas Hebraica 11h15 , 14h15, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30 Saída Avenida Angélica 9h, 12h, 15h, 17h30 e 17h45

• Sábados, domingos e feriados Saídas Hebraica –10h30, 11h30, 14h30, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30 Saídas Avenida Angélica 9h, 11h, 12h, 15h , 16h15, 17h30 e 17h45

• Linha Bom Retiro/Hebraica Saída Bom Retiro – 9h, 10h Saída Hebraica – 13h45, 18h30



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escola alef | por Bernardo Lerer ABRAMO DOUEK E ALEXANDRE OSTROWIECKI (NANI) ESTÃO CONVENCIDOS DE QUE A INSTALAÇÃO DA ESCOLA TRARÁ BENEFÍCIOS PARA OS ASSOCIADOS

Mais crianças no clube

AO TEREM NOÇÃO DO USO COMPARTILHADO DOS ESPAÇOS, ISSO TAMBÉM VAI EDUCAR AS CRIANÇAS PARA A PRÁTICA DA CIDADANIA, O RESPEITO AO PRÓXIMO E A SOLIDARIEDADE. É VERDADE QUE HAVERÁ UM PERÍODO DE ACOMODAÇÃO, DURANTE O QUAL OS ASSOCIADOS DEVERÃO SE ACOSTUMAR COM AQUELAS CRIANÇAS UNIFORMIZADAS

Q

uando esta edição da revista Hebraica estiver sendo distribuída para os associados, começa a funcionar a Escola Alef no que antes eram as quadras inferiores do Poliesportivo, aquele grande caixão de concreto, à direita de quem entra pela rua Angelina Maffei Vita, inaugurado há exatos trinta anos, junto com o estacionamento. Em meados do mês passado, funcionários da secretaria da Educação do Estado vistoriaram a escola e só não a aprovaram com louvor porque não podem adjetivar seus pareceres. Dia primeiro de agosto, uma quartafeira, a escola será aberta à visitação dos pais que a percorrerão em companhia dos alunos e professores. Dias 2 e 3 serão dedicados à adaptação dos alunos às novas dependências, e no dia 3, uma sexta-feira, serão afixadas mezuzot nos umbrais direitos de todas as portas por sete rabinos dos ritos existentes em São Paulo. Dia 6, segunda-feira, acabam as comemorações e começa “uma nova era – e da maior importância – para a história da comunidade judaica de São Paulo. Essa escola é fundamental para o futuro da Hebraica e para o futuro da comunidade. Devo confessar que somente me candidatei à presidência do clube para poder tocar esse projeto do qual sinto profundo orgulho”, segundo o presidente da He-

braica Abramo Douek. Foi numa manhã gelada de julho, pouco antes de colocar o capacete de segurança para uma nova vistoria nas obras da escola, construída em menos de seis meses ao custo de R$ 10 milhões pagos com o dinheiro da venda do imóvel da rua Simão Álvares, onde funcionava o antigo Bialik. Uma semana antes, foram entregues mesas, cadeiras, carteiras, lousas equipadas com alto-falantes acoplados a projetores, equipamento para os anfiteatros e material de acabamento. E caminhões de mudança trouxeram a biblioteca do Bialik, os delicados frascos dos laboratórios de química e biologia, microscópios e material para as aulas de física. Enquanto os funcionários da escola colocavam os livros no que vai ser a biblioteca e aqueles frascos em prateleiras de aço, a mão-de-obra especializada em acabamento fazia arremates na pintura, testava ar-condicionado e iluminação e verificava a passagem de corrente elétrica nas dezenas de tomadas espalhadas pelas salas de aula, uma para cada carteira, uma para cada laptop. O presidente do Alef, Alexandre Ostrowiecki, o Nani, um ex-aluno do Bialik, que normalmente se veste esportivamente, nesse dia estava de terno e gravata, bem composto para encontrar uma pessoa interessada em fazer uma doação para a escola. Bom redator,

Nani está entregue à tarefa de escrever uma breve história do Bialik e um longo relato de como virou Alef – acrônimo de Antonieta e Leon Feffer –, a primeira letra do alfabeto hebraico, e a associação com a Hebraica, onde vai funcionar. “Só existe judeu e judaísmo quando existe educação judaica e atualmente constatamos que pelo menos 70% das crianças não estudam em escolas judaicas, e uma das razões é que os pais dizem não haver boas escolas na comunidade. A Alef, na Hebraica, revela nosso desejo de inverter essa relação de modo a que a médio e longo prazo, proporcionalmente 70% das crianças estudem aqui. E essa escola pode ser um fator decisivo para impedir que, com o tempo, venham a existir somente aqueles judeus de sobrenome

e que pouco ou nada conhecem de onde vieram, para onde vão e as tradições que devem seguir”, diz Ostrowiecki. Tanto quanto isso, o objetivo da escola é ser de alto padrão e, para tanto, três de seus diretores estagiaram na Finlândia, considerado o país onde existe o melhor sistema de ensino do mundo. Os laboratórios serão individualizados por disciplinas, haverá anfiteatros para química, física, biologia e matemática ao custo de cerca de R$ 250 mil cada. E, além da central, pequenas bibliotecas nos amplos corredores de modo a que o conhecimento não fique confinado ao espaço da biblioteca e, ao mesmo tempo, criar a consciência de que o acesso à informação seja uma espécie de responsabilidade coletiva.

Período de acomodação Escola em clube pode ser novidade no Brasil, mas em vários países da América Latina escolas judaicas funcionam nos clubes da comunidade, como na Venezuela, por exemplo, e os resultados são muito bons, porque, tal como deverá ocorrer na Hebraica, durante o período de aula, das sete da manhã a uma da tarde, as crianças usam determinados espaços: recreio no parquinho da entrada da rua Angelina Maffei Vita, almoço no restaurante kasher para as que ficarem além do período e atividades esportivas desde que não conflitem com a utilização do clube pelos associados. Como nos outros países, “as duas instituições farão uso intensivo e alternado, isto é, não ao mesmo tempo, das depen-

dências do clube de modo a que ele estará sempre em atividade”, explicam Douek e Ostrowiecki, ressaltando que os “espaços estão claros e definidos conciliando os interesses de todos. Haverá bedéis e seguranças que orientarão os alunos instruindo-os no sentido de saber os seus limites e o uso correto das dependências da escola e do clube. Ao terem noção do uso compartilhado dos espaços isso também vai educar as crianças para a prática da cidadania, o respeito ao próximo e a solidariedade. É verdade que haverá um período de acomodação, uma espécie de freio de arrumação, durante o qual os associados deverão se acostumar com aquelas crianças uniformizadas. E, aliás, os uniformes são muito bonitos”, elogiam os presidentes das duas instituições.



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colônia de férias

A CONTADORA DE HISTÓRIAS FEZ SUCESSO ENTRE OS PARTICIPANTES DO

PROGRAMA DE FÉRIAS DA ESCOLA MATERNAL

NA ATIVIDADE DE CULINÁRIA, AS CRIANÇAS DO ATELIÊ MOLDARAM A MASSA E SABOREARAM OS BISCOITOS SAÍDOS DO FORNO

Enquanto papai e mamãe não vêm AS COLÔNIAS DE FÉRIAS DA ESCOLA DE ESPORTES, MATERNAL, ATELIÊ E ESPAÇO GOURMET ESTIMULARAM OS CINCO SENTIDOS COM MUITA CRIATIVIDADE E REUNIRAM CERCA DE 350 CRIANÇAS

A

Escola de Esportes superou o próprio recorde em número de participantes nas colônias de férias de inverno: 250 crianças e 25 monitores e coordenadores durante duas semanas de intensa atividade. Quando não estavam envolvidos em algum caça-tesouro pelo clube, as crianças se entretinham no ateliê de arte ou no After School, porque a Escola de Esportes firmou parcerias com os dois departamentos da vice-presidência de Juventude. As horas passadas numa pista de boliche e a excursão ao Sítio do Pica-Pau Amarelo, em Mairiporã, ganharam nota dez. Já as crianças inscritas no programa de férias da Escola Maternal brincaram de plantar mudinhas, fizeram gincanas pelo clube e descobriram o seu potencial lúdico nas salas de aula que frequentam

diariamente durante o ano letivo. A equipe do Ateliê Hebraica acolheu dezoito crianças cuja média de idade era pouco mais alta do que nas colônias anteriores. “A maioria das crianças têm entre 2 e 3 anos e todas conseguem participar de atividades como montar cavalos-de-pau, ( brinquedo feito de cabo de vassoura), mexer com massa de biscoito, passear pelo clube, desenhar ou pintar. Na hora do almoço e as mães vêm buscá-los não querem voltar para casa”, relatou Betty Lindenbojm, coordenadora do Ateliê Hebraica. Na primeira semana, a equipe cuidou das oficinas para as crianças da Escola de Esportes e, na segunda, promoveu uma minicolônia para aquelas entre os 3 e 7 anos. “A primeira oficina foi dedicada aos símbolos judaicos. Os 25 pequenos artistas fizeram

uma mezuzá em mosaico e depois uma hamsa estilizada. Ainda deu tempo para as meninas tecerem pulseiras em macramê”, descreveu a coordenadora. No mesmo período das oficinas do Ateliê, o Espaço Gourmet organizou aulas de gastronomia infantil dirigidas pela chef Ana Recchia durante as quais as crianças se divertiram montando sanduíches, enfeitando biscoitos e outras delícias depois consumidas na aula. A infraestrutura da Hebraica foi bem aproveitada também no quesito alimentação. Os pequenos participantes do programa de férias saboreavam o cardápio preparado pelo Tomate Doce no térreo da Praça Carmel, enquanto a Escola de Esportes fazia as refeições no restaurante kasher. As colônias do Ateliê não incluíam alimentação. (M. B.)

Arte na praça A barraca erguida no centro da Praça Jerusalém atraiu a atenção dos associados. Nela estava exposta a produção semestral dos alunos do Ateliê, composta de móveis e enfeites criados com material reaproveitado. A cadeira de garrafas pet foi testada por visitantes de todos os tamanhos, sem nenhum problema. Embalagens de ovos montadas e coladas umas sobre as outras transformaram-se em mesa. Segundo Betty Lindenbojm, “um dos objetivos da mostra semestral é divulgar o Ateliê e mostrar que não há idade ou limite para a atividade artística, especialmente quando aplicada a objetos de uso do dia-a-dia”. Na abertura da exposição, a empresa de pincéis Condor forneceu o material para uma oficina na qual

crianças e adultos pintaram em tecido com a ajuda de duas monitoras da empresa. Terminada a exposição, o Ateliê reuti-

lizou a barraca, desta vez instalando-a junto ao Fit Center como posto avançado para as atividades dos pequenos, durante a colônia de férias.

SOB A TENDA ERGUIDA NA PRAÇA JERUSALÉM, TRABALHOS ORIGINAIS FEITOS COM SUCATAS


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cultural + social > festival de cinema judaico

Programação 2012 FCJSP

CRIANÇAS PRODÍGIO SERÁ DESTAQUE NO 16O FESTIVAL

Hebraica - Teatro Arthur Rubinstein

DE CINEMA JUDAICO

3ª f - 7/8

4ª f - 8/8

5ª f - 9/8

6ª f – 10/8

sáb - 11/8

Meu Primeiro Casamento

David

O Tempo Perdido

Kadish para um Amigo

O Rochedo e a Estrela

Crianças Prodígio

Filme vencedor

Aviv

Lídice

14h 16h30

Sessões gratuitas por toda a cidade A

Juliet in Yiddish, Estados Unidos, 2010) garante risos e a leveza da categoria, além de agradar aos idichistas de plantão. Os convidados deste ano serão os cineastas israelenses Barak e Tomer Heyman, com a exibição de dez dos seus filmes, cinco dos quais inéditos em São Paulo. Eles representam a produtora Heymann Brothers Films que há mais de dez anos lança e divulga documentários autorais com orientação social e política acerca da cultura judaica, e premiados em festivais internacionais como os de Berlim e Los Angeles. As apresentações de I Shoot My Love (Israel e Alemanha, 2010) previstas para as 21 horas no Museu da Imagem e do Som e no Centro de Cultura Judaica, às 17h30, terão a presença de Tomer, que debaterá com o público, sobre este documentário ganhador de prêmios no Festival de Cinema de Astra 2011 e Festival de Cinema de Zinegoak 2011. A Rainha Sem Coroa (The Queen Has no Crown, Israel e EUA, 2011), vencedor de dois prêmios de melhor filme de direitos humanos no Fest USA 2012 e na Austrália será exibido na Hebraica seguido de debate com os irmãos israelenses. Quando o Festival terminar, eles terão ainda um compromisso no Cinesesc, dia 14, às 20h30, para uma ses-

O Gato do Rabino

Lea e Darija

Mahler no Divã

Hebraica - Teatro Anne Frank 3ª f - 7/8

4ª f - 8/8

5ª f - 9/8

6ª f – 10/8

sáb - 11/8

dom – 12/8

Ciúmes dos Pássaros

A Vida Através das Fotos

Fievel (com música ao vivo)

Sobre Futebol e Barreiras

Jews in Toons

Stan Lee: Mutantes, Montros e Quadrinhos

O Samaritano Solitário

Comic Book Confidential

526

Jardins Lawnswood

Joann Sfar: Desenhos da Memória

Como Restabelecer o Império da Vodka

O Apartamento

A Arte de Spielgelman

14h

16h

DE 7 A 12 DESTE MÊS, APROVEITE O 16º FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO COM PRODUÇÕES RECENTES DA TEMÁTICA. NESTA EDIÇÃO, UM MÓDULO ESPECIAL SOBRE JUDEUS E HQ animação franco-austríaca dirigida por Joan Sfar e Antoine Delevaux O Gato do Rabino foi escolhida para abrir o 16º Festival de Cinema Judaico (FCJ). As críticas e controvérsias em torno da obra, vencedora do Prêmio César 2012 (o Oscar da filmografia francesa), na categoria “melhor filme de animação”, já provocaram uma corrida pelos ingressos da primeira e única sessão agendada para o dia 7, no Teatro Arthur Rubinstein. A obra marca o retorno alegre e em cores ao desenho 2D feito à mão e narra a história de um rabino, nos anos 1920, quando o seu gato começa a falar. A grade do 16º Festival de Cinema Judaico oferece muitas oportunidades para apreciar obras de ficção, documentários e curtas nas sessões dos teatros Arthur Rubinstein, Anne Frank, Eva Herz, Cinesesc, Cinemark, Centro da Cultura Judaica e Museu da Imagem e do Som. Entre os de ficção, são onze filmes que variam dos dramas relacionados ao Holocausto à leveza da comédia romântica, como, por exemplo, o premiado Crianças Prodígio (Wunderkinder, Alemanha, 2011), ganhador de cinco prêmios ou David (Estados Unidos, 2012), exibido nos Festivais de Cinema do Reino Unido, Atlanta e Roma, entre outros. A comédia Romeu e Julieta em Ídiche (Romeo and

Bonecas de Papel O Fim de Eichmann

18h30 20h30

dom – 12/8 Romeu e Julieta em Iídiche

12h

Catarina, a Grande Will Eisner: Retrato Entre Nós de um Artista Um Dia Maravilhoso Seqüencial

18h

O Juiz

20h

são especial de Bonecas de Papel (Paper Dolls, Israel, 2006). Trata-se de um documentário a respeito de travestis filipinos, rejeitados pelos familiares, que vivem ilegalmente em Israel. A lista de documentários reunidos pelo 16º FCJ tem Jardins de Lawnswood (Lawnswood Gardens, Polônia, 2011), no qual o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, autor de livros como Modernidade e Holocausto e Globalização e as Consequências Humanas, fala das suas ideias a respeito da sociedade de consumo, amor e ética, e de momentos importantes de sua vida. Desde Tel Aviv (From Tel Aviv, França, 2009), ganhador do prêmio de melhor filme antropológico do Festival de Popoli 2009, enfoca questões como hábitos, cultura e política de Tel Aviv a partir do ponto de vista de uma jovem cineasta francesa. O brasileiro Sobre Futebol e Barreiras (Brasil, Israel e Palestina, 2011) lança um novo olhar no conflito Israel-Palestina tendo como pano de fundo a Copa do Mundo de 2010. Para fãs de HQ Na mostra especial dedicada aos quadrinhos, cartoons e judaísmo a curadora Daniela Wasserstein montou um panorama abrangente da participação de

desenhistas, diretores e roteiristas judeus na indústria do cinema de animação. Stan Lee é lembrado nos filmes Mutantes de Stan Lee e Quadrinhos (Stan Lee’s Mutants, Monsters & Marvels, Estados Unidos, 2009) e Comic Book Confidential (Canadá e Estados Unidos, 1988) enquanto Art Spiegelman, consagrado pela história em quadrinhos Maus, que narra a vida dos seus pais e como eles sobreviveram ao Holocausto, é retratado em A Arte de Spielgelman (Art Spiegelman, Traits de Mémoire, França e Estados Unidos, 2009). Um dos diretores de O Gato do Rabino teve sua obra destacada no documentário Joannn Sfar: Desenhos de Memória (Joann Sfar: Draws from a Memory). Séries consagradas no Brasil, como as animações Uma Família da Pesada e Os Simpsons, que apresentam personagens e situações relacionados à comunidade judaica, ganharam espaço e sessões exclusivas na grade do Festival. No domingo, dia 12, no Teatro Anne Frank, às 14 horas, o público infantil poderá rever Fievel, Um Conto Americano, do diretor Don Bluth, com música ao vivo. Os ingressos estão à venda naCentral de Atendimento (3818-8800). E a programação pode ser conferida no site www.fcjsp.com.br. (M. B.)

Desde Tel Aviv

CineSesc

14h30 16h30

3ª f - 7/8

4ª f - 8/8

5ª f - 9/8

6ª f – 10/8

Romeu e Julieta em Iídiche

David

Lídice

Jardins Lawnswood

O Juiz

Lea e Darija

O Fim de Eichmann

Como Restabelecer o Império da Vodka

Kadish para um Amigo

Desde Tel Aviv

Sobre Futebol e Barreiras

sáb - 11/8

A Vida Através das Fotos

dom – 12/8

3ª f - 7/8

4ª f - 8/8

5ª f - 9/8

sáb - 11/8

dom – 12/8

MIS 6ª f – 10/8

15h

17h O Samaritano Solitário

19h

O Fim da História

21h

Tipo Me Dá Medo

I Shot My Love

A Rainha sem Coroa

Will Eisner: Retrato de um Artista Seqüencial

526

A Arte de Spiegelman

Alfonso Dançante

Joann Sfar: Desenhos da Memória

Minha Vila Minha Vila Ponte sobre o Wadi Ponte sobre o Wadi

Teatro Eva Herz 3ª f - 7/8 13h

4ª f - 8/8

5ª f - 9/8

6ª f – 10/8

A Arte de Spielgelman

Catarina, a Grande Entre nós Um Dia Maravilhoso

Comic Book Confidential

sáb - 11/8

dom – 12/8

CINEMARK 3ª f - 7/8

4ª f - 8/8

14h 21h

5ª f - 9/8

6ª f – 10/8

sáb - 11/8

dom – 12/8

O Tempo Perdido

Crianças Prodígio

O Rochedo e a Estrela

Mahler no Divã

O Tempo Perdido

Crianças Prodígio

O Rochedo e a Estrela

Mahler no Divã

CCJ 3ª f - 7/8

4ª f - 8/8

5ª f - 9/8

6ª f - 10/8

A Vida Através das Fotos

Sobre Futebol e Barreiras

O Samaritano Solitário

Alfonso Dançante

Como Restabelecer o Império da Vodka

I Shot My Love

Os Fantasmas do Terceiro Reich

O Apartamento

Minha Vila Ponte Sobre Wadi

O Fim da História

Os Fantasmas do Terceiro Reich

15h 17h30

20h30

sáb - 11/8

dom – 12/8


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HEBRAICA

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cultural + social > hebraica meio-dia

cultural + social > klezmer parceria com a Hebraica. Completam a direção Bruno Szlak, na administração, e Edgar Borger, na produção.

FRANK LONDON SE EMPOLGOU COM A RECEPTIVIDADE DO PÚBLICO NO METRÔ DA SÉ NO 2º. KLEZTIVAL

O Festival de Música Judaica da cidade DE 12 A 21 DE OUTUBRO, DURANTE SETE DIAS, SÃO PAULO SERÁ INVADIDA PELA MÚSICA JUDAICA POIS OS SONS DO SHTETL EUROPEU E DO SHUK ÁRABE ESTARÃO EM DIFERENTES PONTOS DA CIDADE E, OUTRA VEZ, NO METRÔ SÉ

E

m sua terceira edição, o que era um Kleztival ganha o status de Festival da Música Judaica. A repercussão dos encontros em 2010 e 2011 mostrou que há ainda muito a ser conhecido e divulgado da música ashkenazi e sefaradi para os brasileiros. Em 2012, a programação incluirá um mishmash de influências dos sons ocidentais e orientais, com a presença de músicos nacionais e internacionais. Estão confirmadas as presenças do trompetista Frank London (que retorna ao Brasil), do alaudista e violinista israelense Yair Dalal e do percussionista também israelense Erez Mounk. O duo

de pianista e clarinetista Polina e Merlin Shepherd, de tanto sucesso em 2011, volta com o seu repertório ídiche/klezmer tradicional e contemporâneo. Dois norte-americanos, o cantor, compositor, pianista e acordeonista Michael Alpert, criador da banda Brave Old World, e o jovem cantor e multi-instrumentista Daniel Kahn, radicado em Berlim, guardam surpresas para o público. Mais uma vez, a direção musical será de Frank London, do grupo The Klezmatics, dos Estados Unidos, e Nicole Borger será a diretora executiva. A realização é do Instituto da Música Judaica-Brasil em

Kamp Kleztival Como em muitas cidades norte-americanas, o encontro musical deste ano preparou um Kamp Kleztival. Serão três dias, de 11 (à noite) a 14 de outubro, no Centro de Convenções Santa Mônica, na Cantareira, a apenas trinta minutos do centro, com programação voltada para todos os gostos e níveis de conhecimentos musicais. Assim, quem canta estará ao lado de quem toca, quem quer apenas ouvir ao lado de quem quer conhecer mais e melhor a música judaica, numa troca de informações e muita sintonia. Haverá workshops de instrumentos e de técnica vocal, oficina de nigunim (“canções”), chugim (“grupos”) de danças, jam session, palestras e programação acadêmica para leigos e profissionais de todas as idades integrada com os mesmos músicos estrangeiros que virão para o Festival da Música Judaica. Aos interessados, apenas uma exigência: que apreciem a música judaica. As inscrições, em número limitado, incluem pensão completa e toda a programação cultural, a preços atraentes por serem subsidiados. Quem não quiser dormir no local pode participar somente da programação diária. Informações na Central de Atendimento da Hebraica, fones 3818-8888, 3818-8889 e 3818-8891, com Patrícia; no Departamento Social e Cultural da Hebraica, fones 3818-8812 com Tea ou 3818-8810 com Lucilla. Consulte o site www.imjbrasil.com.br/kamp. (T.P.T.)

Programa 12/10, 21h – Centro de Convenções Santa Mônica, na Cantareira 13/10, 21h – Teatro Guarany, em Santos 14 e 21/10, 12h – Teatro Arthur Rubinstein, Hebraica Meio-Dia 15, 16, 17 e 18/10, 18h – Estação Sé do Metrô 17/10, 21h – Teatro do Club Athletico Paulistano 18/10, 20h – Museu da Casa Brasileira 20/10, 11h – Teatro do Clube Paineiras do Morumby

20/10, 16h – Fundação Ema Klabin 21/10, 21h – Teatro Arthur Rubinstein (encerramento) Até o fechamento desta edição, estavam sendo agendados workshops e apresentações no Sesc Pompeia, Faculdade Cantareira, Unesp, Emesp, Centro da Cultura Judaica e Fábrica de Cultura da Secretaria de Estado da Cultura.

PAULO VANZOLINI VOLTOU À HEBRAICA COM SEU CLÁSSICO REPERTÓRIO

A arte e a graça de Vanzolini A MESA DE BOTEQUIM E DUAS CADEIRAS NO PALCO DO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN FORMARAM O CENÁRIO PARA RECEBER O AUTOR DO CLÁSSICO RONDA E UM DOS MAIORES ZOÓLOGOS BRASILEIROS

N

os seus 88 anos bem vividos, Paulo Vanzolini contou “causos”, como dizia seu grande amigo Adoniran Barbosa. As músicas interpretadas pela mulher, Ana Bernardo, eram motivo para lembrar momentos da boemia em companhia dos famosos da sua época. “Não sou capaz de tocar nem tamborim”, confessou Vanzolini à plateia atenta. A frase tem um significado na vida do compositor porque o êxito das suas composições correu paralelamente ao sucesso na vida profissional.

Vanzolini formou-se na Faculdade de Medicina da USP, passou dois anos e meio na Universidade Harvard, nos Estados Unidos e voltou com o título de doutor em zoologia. Tem livros traduzidos em vários idiomas e o reconhecimento da comunidade científica mundial, incluída a carreira no Museu de Zoologia. Mas, no palco, estava o compositor e esse lado falava e cantava. “A música sempre foi um hobby e não compus para gravar”, disse ele entre goles de cerveja. A frase “não acho

essa canção grande coisa, é piegas” chocou, pois se referia exatamente a Ronda, de 1951, e que o público fez coro com Ana Bernardo. “Todas as minhas músicas foram feitas de cabeça; aí eu passava para um violonista”, contou. Felizmente, vários intérpretes gravaram as composições de Vanzolini, como Chorava no Meio da Rua, Boca da Noite, Longe de Casa Eu Choro, Praça Clóvis, Volta por Cima. Essas canções eram do Hebraica Meio-Dia, que teve o acompanhamento de Jayme Marques à flauta e bandolim e Adriano Busko na bateria e percussão, com a produção de Ítalo Perón. Uma manhã antológica. (T. P. T.)


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cultural + social > grandes festas

SERVIÇO RELIGIOSO NO SALÃO MARC CHAGALL TERÁ LAY OUT RENOVADO

Tradição que se renova A

Central de Atendimento já tem pedidos de reservas de lugares para os três serviços religiosos na Hebraica: Salão Marc Chagall, Teatro Arthur Rubinstein e Sinagoga. Para o vice-presidente administrativo Mendel Szlejf, a época também é propícia para acionar o esquema que possibilitará que milhares de judeus façam as suas preces em Rosh Hashaná e Iom Kipur nas sinagogas montadas nos três locais. Uma das iniciativas dele foi entrar em contato com o arquiteto Felippe Crescenti e encomendar estudos para renovar a decoração do Salão Marc Chagall e do Teatro Arthur Rubinstein. “As peças que compõem a ambientação estão desgastadas pelo tempo e pelas sucessivas montagens e desmontagens nos últimos anos e vamos verificar a possibilidade de renovar o cenário até setembro. Talvez não haja tempo para realizar os projetos das duas sinagogas este ano e a nova decoração”, ponderou o vice-presidente. O envolvimento de Szlejf com a organização dos serviços religiosos de Rosh Hashaná e Iom Kipur na Hebraica é antigo, pois nos últimos dez anos ele coordenou e acompanhou o serviço religioso no Salão Marc Chagall – onde canta o

A PROXIMIDADE DO NOVO ANO JUDAICO DE 5773 MOBILIZA

ASSOCIADOS E OS DEPARTAMENTOS DO CLUBE PARA PREPARAR OS SERVIÇOS RELIGIOSOS DAS GRANDES FESTAS chazan Gerson Herszkowicz, também diretor de Cultura Judaica “Em 2013, completo quarenta anos como chazan na Hebraica. O fato de ser minha estreia como diretor aumenta a responsabilidade dessa tarefa.” Gerson encara com naturalidade a preferência dos frequentadores das três sinagogas pelo chazan que os acompanha todos os anos. “Para

eles, o fato de passarem mais um Rosh Hashaná juntos é muito significativo. Acho que é isso que querem transmitir quando, ao final do serviço de Iom Kipur, muitos me dizem ‘no próximo ano, novamente juntos’.” Já está garantida a vinda do chazan Dudu Fisher para dirigir o serviço no Teatro Arthur Rubinstein. Na Sinagoga vai cantar o chazan David Kullock. (M. B.)

Grandes Festas 5773 16/9 – domingo 18h – Véspera de Rosh Hashaná Celebração das Grandes Festas (acendimento das velas às 17h40 ) 17/9 – Segunda-feira 9h – Primeiro dia de Rosh Hashaná 17h – Tashlich (na Fonte, junto ao Salão Marc Chagall) 18h – Minchá e arvit (Sinagoga) 18/9 – Terça-feira 9h – Segundo dia de Rosh Hashaná

25/9 – Terça - feira 18h – Kol Nidrei – Véspera de Iom Kipur (acendimento das velas e início do jejum às 17h43) 26/9 – Quarta-feira 9h –Iom Kipur – Shacharit 11h – Yizcor Iom Kipur 17h – Neilá Iom Kipur 18h42 – Shofar e Kidush Iom Kipur (Término do jejum 18h37) Atividades especiais para as crianças durante o horário das principais rezas


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cultural + social > biblioteca

Ler é compartilhar DIA 25, A BIBLIOTECA E O SINDI-CLUBE DE SÃO PAULO LANÇAM O CLUBE DA LEITURA, PROJETO PARA ESTIMULAR O DEBATE DE OBRAS. O PRIMEIRO LIVRO SERÁ DOIS IRMÃOS, DE MILTON HATOUM

quiser aderir ao CluQ uem be de Leitura, a mais recen-

ROMANCE BRASILEIRO SERÁ DEBATIDO NA ESTREIA DO CLUBE DE LEITURA

te iniciativa da Biblioteca, tem até o dia 25 para ler Dois Irmãos, de Milton Hatoum. A primeira reunião do Clube de Leitura será às 16 horas no Auditório da Sede Social Para aderir ao Clube, basta se inscrever gratuitamente ligando para a Biblioteca ou por e-mail para biblioteca@hebraica.org.br. O romance descreve as relações dos gêmeos Yaqub e Omar com o restante da família, incluindo a doméstica Domingas e o filho que moram mesma casa, em Manaus. Traduzido para nove idiomas, o enredo mantém o leitor atento até o último parágrafo. A Biblioteca tem dois exemplares para empréstimo. A Hebraica é o segundo clube a participar de mais esta etapa do movimento em defesa da leitura, iniciado pelo sindicato patronal dos clubes, o Sindi-Clube de São Paulo, em parceria com a Academia Paulista de Letras. O concurso literário promovido por ambos já está em sua segunda edição anual. A ADC Mercedes Benz, primeira agremiação a organizar um Clube da Leitura em São Paulo, obteve boa resposta entre os funcionários da empresa. (M. B.)


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cultural + social > passeio

PARTE DO GRUPO SE REUNIU NA FRENTE DO MASP, ANTES DE PARTIR PARA O ALMOÇO NO CLUBE

Modigliani antes do almoço UNIR ARTE E GASTRONOMIA MERECEU ELOGIOS DOS ASSOCIADOS, QUE JÁ AGUARDAM O PRÓXIMO ENCONTRO

A

pós visitar as exposições de Lasar Segall no Centro da Cultura Judaica e da “Let’s Rock”, na Oca, Ibirapuera, o endereço cultural mudou para o Masp. Dezessete sócios do clube foram conhecer mais sobre a vida e obra do pintor e escultor judeu italiano Amedeo Clemente Modigliani, que nasceu em julho de 1884, em Livorno, e morreu em Paris, em janeiro de 1920. Enquanto percorria a mostra, o grupo acompanhou a trajetória artística de Modigliani que foi estimulada pela mãe rica e culta que o levava aos museus, mas depois passaram dificuldades com a falên-

cia do pai. Amedeo teve febre tifoide e tuberculose que o fragilizaram pelo resto da vida. Ele se instalou definitivamente em Paris, em 1906. De todas as mulheres retratadas com rostos e pescoços alongados, a pintora francesa Jeanne Hébuterne foi o seu grande amor. Quando a visita terminou cada um dos dezessete associados se considerava familiarizado com a obra do artista italiano e comentava aspectos da exposição até mesmo na segunda etapa do programa, no Espaço Gourmet, onde a chef Ana Recchia dava os últimos acertos no tempero. (T. P. T.)


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cultural + social > corais

VOZES DE CARIOCAS E PAULISTAS ENCONTRAM-SE NO PALCO DO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN

Cariocas visitaram a Hebraica D

urante anos, sempre que se encontravam, os dois maestros se perguntavam: afinal, quando vamos juntar os nossos corais em um espetáculo? Pois o dia chegou, e Abrahão Rumchinsky, do Rio de Janeiro, foi recebido por Leon Halegua, de São Paulo. O Coral Israelita Brasileiro existe há dezoito anos, primeiro ligado ao Instituto Brasileiro de Cultura e Educação, e desde 1990 é independente e se mantém com a ajuda de alguns coralistas, um concerto anual e contribuições esporádicas. Ensaia duas vezes por semana, apresenta-se em eventos da comunidade carioca e em locais como a Academia Brasileira de Letras e Igreja da Candelária. Já foi à Argentina, duas vezes a Israel e recebeu a Medalha Pedro Ernesto, da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, mas sempre com repertório judaico. “Somos felizes cantando e que-

O CORAL ISRAELITA BRASILEIRO DO RIO DE JANEIRO E O DA HEBRAICA DERAM UM SHOW DE REPERTÓRIO NO ESPETÁCULO BE’IACHAD (“JUNTOS”), NO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN remos que o público também fique feliz nos ouvindo. Queremos trazer algo mais”, revela o maestro Rumchinsky. Eram mais de setenta pessoas, entre acompanhantes, maestro, preparador vocal e os 52 cantores. Deles, o mais novo tem 29 anos e a mais idosa está perto dos 90; oito não são judeus, e um deles estuda hebraico para entender melhor o que canta. Há quinze anos Vera Lúcia foi convidada por um amigo para frequentar o coral, “perto de casa”, e ela continua firme. “Eles se cotizaram para que eu pudesse vir. A Hebraica é uma maravilha.” Quando o maestro uruguaio Leon Halegua chegou ao Brasil foi trabalhar no Coral Israelita. Hoje, rege o Coral He-

braica criado em 1994, por iniciativa de Gaby Milevsky. O grupo de cantores entre 25 e 55 anos ensaia semanalmente no clube um repertório de música litúrgica e erudita, popular brasileira e folclórica israelense. Já cantaram Porgy and Bess, Noviça Rebelde, o oratório Elias de Mendelsohn e a Nona Sinfonia de Beethoven com orquestra sinfônica. Já se apresentaram no Chile, Uruguai, Argentina e em Israel, no Festival Internacional Zimriá de Jerusalém. O encontro dos corais no Teatro Arthur Rubinstein resumiu essa trajetória comum. O espetáculo foi encerrado com os dois corais cantando Adio Querida, música tradicional ladina. (T. P. T.)


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coluna comunidade

Campanha da Beit Yaacov

A Campanha de Tzedaká, instituída há quatro anos pela Escola Beit Yaacov, arrecadou mais de cem caixas de brinquedos, roupas, utensílios domésticos e artigos de cama, mesa e banho para a creche da Unibes em ação educativa que envolveu diretores, professores, pais e alunos, dos quais cerca de cinquenta destes brincaram com as crianças na instituição e, depois, entregaram as doações.

HEBRAICA

COLUNA 1 Inspirado no clima da sustentabilidade, o joalheiro Antônio Bernardo criou duas joias comemorativas da Rio+20: o anel Earth e o pingente Atmos.

DIVERSIDADE NO MUNDO E, TAMBÉM, NO PALCO DA HEBRAICA

Encontro Artístico na 18ª. edição

O

evento anual dos membros da Terceira Idade da comunidade encenou “Diversidade Judaica pelo Mundo”. A realização da Hebraica teve o apoio da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) e a participação da Unibes, Congregação Monte Sinai, Icib, CIP, Residencial Israelita Albert Einstein, Sinagoga Beit Menachem e com a presença de mais de 120 idosos, alguns acima dos 80 anos. Anita Nisenbaum, diretora do Feliz Idade da

Hebraica, Nelson Glezer, vice-presidente de Patrimônio e representando a Presidência, e Lúcia Gelman, em nome do Atid, da Fisesp, saudaram os artistas e o público. Ellen Boussidan e Paulina Spiewak, coordenadoras da Feliz Idade, escolheram o tema e redigiram o texto, muito elogiado. O evento reuniu as famílias em torno dos artistas da maturidade, e a plateia, formada principalmente por netos e bisnetos, aplaudiu os avós e bisavós no palco.

Israel na Rio+20 (I) Durante a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), a Agência de Cooperação Internacional do Ministério das Relações Exteriores de Israel (Mashav), assinou um acordo com as Ilhas Salomão. O ministro de Proteção Ambiental de Israel Gilad Erdan agradeceu ao “governo brasileiro por sediar uma das maiores e mais importantes conferências na história da ONU”. Ele disse que “as inovações tecnológicas fizeram de Israel um dos líderes mundiais na superação dos desafios da escassez de recursos. A Conferência não é o fim de um processo. Nosso trabalho começou agora... Não herdamos a terra dos nossos ancestrais, nós a pegamos emprestada dos nossos filhos. Eles contam conosco”.

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por Tania Plapler Tarandach | imprensa@taran.com.br

MIGUEL KRIGSNER HOMENAGEADO NA SINAGOGA DO MORUMBI

“Noite de inspiração e lembrança”

A

noite dedicada ao rebe de Lubavitch Menachem M. Schneerson na Sinagoga do Morumbi organizada pelo rabino Dovid Goldberg teve jantar festivo, após a preleção do rabino David Weitman, com a presença do presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário Miguel Krigsner, o convidado especial. Ralph Levy Garboua recebeu o Prêmio Bondade 2012 (Chesed Award).

Ricardo Herz mostrou a sua habilidade com o violino no Teatro Sesc Pompeia. O show teve a participação especial de Benjamin Taubkin, Danilo Moraes e João Taubkin, mais o violão de Michi Ruzitschka e a bateria de Pedro Ito no acompanhamento. Credenciada junto à ONU, a presidente da Wizo Brasil Helena Kelner representou a Wizo Mundial na Rio+20, durante o Fórum de Mulheres Líderes tendo como tema “O Futuro que as Mulheres Querem”. Expandir e diversificar os investimentos no setor hoteleiro nacional é a proposta do presidente do Grupo Serson, Júlio Serson, Por isso, foi criada a Administradora e Operadora Vila Rica, dirigida por Roberto Rotter, para operar as unidades próprias e hotéis multimarcas.

Reconhecimento a 24 anos de dedicação

∂ Seguindo o novo conceito de gamification (jogos para treinamento), André Zatz e Sérgio Halaban especializaram a sua SB Jogos em criações corporativas de treinamento. Em Nova York, Adina Worcman esteve no lançamento do catálogo da Literarte, associação de artistas plásticos/ escritores nacionais e estrangeiros, no Jacob Javits Convention Center. As obras de Adina estão no catálogo e no livro Elas Pintam! Elas Pensam, que terá lançamento nacional na Bienal do Livro, no Ibirapuera. O designer de joias pernambucano Andree Guittcis inserese na joalheria virtual. Ilustrada com dez criações suas premiadas, usando gemas brasileiras e dominicanas: pérola, âmbar, turmalina, sodalita, azavache e larimar.

O espaço da loja do Pão de Açúcar do Shopping Iguatemi lotou. Era Istvan Wessel autografando três livros: Churrasco – Dando Nome aos Bois, Home Burger – Feito em Casa é mais Gostoso e Pratos Frios para Dias Quentes. Novas histórias, dicas e receitas em inglês e português, com ilustrações de Leo Martins, Jotah e Paulo Caruso.

∂ O presidente da Avianca Brasil José Efromovich anunciou a incorporação, ainda este ano, de oito jatos Airbus à frota e o crescimento da malha aérea., com novos destinos e a parceria Avianca/ Hertz, comemorando os cinco anos do Programa de Relacionamento Amigo da empresa de aviação.

Especialistas do Brasil, Argentina e México participaram do 1º. Simpósio Vascular Update. Realização do Centro de Estudos e Pesquisas do Hospital Santa Catarina e Hélio Plapler apresentou o tema “Compreendendo a Física da Termoablação”.

Cerca de 160 pessoas foram à Aldeia da Esperança homenagear Anna Schvartzman que durante 24 anos presidiu o Centro Israelita de Apoio Multidisciplinar (Ciam), onde convivem pessoas com limitação de autonomia pessoal e social. Anna inaugurou uma praça com o seu nome e recebeu os elogios dos presidentes do Executivo Abrahão Kerzner e do Conselho, Fernando Lottenberg. Os residentes da Aldeia cuidaram do cerimonial, que teve a participação do cantor Bruno Zular. ∂

∂ No MuBe, a artista ítalo-brasileira Débora Hirsch expôs suas obras sob o título “Limite”. O filme homônimo, de 1931, de Mário Peixoto, não lançado comercialmente e considerado marco na história do cinema brasileiro, foi a base para o trabalho da artista. Na Vila dos Ipês, Chani e rabino Yossi Alpern, Bassie e rabino Levi Yitzchok Raskin tiveram a alegria de acompanhar o casamento dos filhos Chaya e Mendel com a presença dos avós, de rabinos vindos dos EUA e de Israel e os muitos e muitos amigos.

KERZNER E ANNA NA PRAÇA INAUGURADA

Blay inicia terceiro mandato Jayme Blay foi eleito pela terceira vez para presidir a Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria (Cambici). Cláudio Sonder, Mariano de Beer, Mário Adler, Mário Fleck são os vicepresidentes; Israel Grytz, o secretário; Abram Berland e Léo Rosenbaum, tesoureiros. Aleksander Mizne, Alon Lederman, David Diesendruck, Ivan Luvisotto, Luís Campos Salles, Nelson Millner, Paulo Roberto Feldmann e Roberto Davidowicz completam a diretoria executiva. A nova diretora executiva da Cambici é Adriana Finzi, formada em economia pela Faap, com especialização na Harvard Extension School, em Cambridge, Massachussets, e MBA em Finanças pelo Ibmec/SP.


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cultural + social > comunidade+coluna 1 Encontro com o ministro Cardozo O ministro da Justiça José Eduardo Martins Cardozo e a deputada Manuela D’Ávila (PC do B/RS) participaram de encontro com a diretoria da Conib, lideranças comunitárias e advogados para um diálogo a respeito de segurança pública e racismo na internet. “O encontro se realiza no marco de reuniões com personalidades do nosso país, pois a democracia brasileira se fortalece quando a sociedade civil intensifica o diálogo com seus governantes”, avaliou o presidente da Conib Cláudio Lottenberg.

Lafer é professor emérito O Conselho Universitário da USP concedeu o título de professor emérito ao ex-ministro das Relações Exteriores e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Celso Lafer, atual presidente da Fapesp e docente da Faculdade de Direito da USP. Este é o 15º. título concedido em toda a história da universidade. O último foi em 2002 ao professor da Faculdade de Saúde Pública Ruy Laurenti. Em 2011, Lafer ganhou a Medalha Armando de Salles Oliveira, o governador de São Paulo que criou a USP, em 1934.

COLUNA 1

∂ O Pequeno Livro é o título da obra de Marcelo Cipis, lançamento da Editora Peirópolis. Em formato de bolso o autor e ilustrador faz uma releitura de personagens clássicos, dando-lhes uma realidade que passa a ser um mundo novo para o leitor. Caco Ciocler, Di Moretti e Geórgia Costa Araújo integraram o júri do 7º. Cine MuBe Vitrine Independente, que revela e premia novos talentos do cinema nacional.

Jacob Klintowitz em dose dupla: curador da exposição de fotos do poeta Floriano Martins, em cartaz no espaço Cultural Citi e autor do livro Cláudio Tozzi – Estruturas do Real, lançado no foyer do Museu da Imagem e do Som. “Pressupostos do Estudo Acadêmico da Bíblia Hebraica” foi o título da tese de livre-docência defendida por Suzana Chwartz no Centro de Estudos Judaicos da USP. Com Moacir Amâncio, Nachman Falbel, Pedro Paulo de Abreu Gunari, Renan Springer de Freitas e Luiz Felipe Pondé na banca examinadora.

O jornalista Marcos Guterman voltou das férias como um dos editorialistas da equipe de O Estado de S. Paulo. Até então, era o responsável pela primeira página do Estadão.

treze artistas de diferentes países que farão parte da Residência Artística Faap, mantida pela Fundação Armando Álvares Penteado no Edifício Lutetia, no centro da cidade.

Kristhel Byanco e Patrícia Gotthilf reuniram os amantes de joias de arte na Casa Cor 2012 SP, mostrando sua criatividade.

Com toda pompa, Helena e Mauro Zukerman, Sara e Zeev Horovitz abençoaram a união de Renata e Ron. Animação total dos convidados no salão do Hotel Unique.

A israelense Nurit Sharett propõe a realização de um videodocumentário mostrando o judaísmo em São Paulo e as novas vertentes religiosas que começam a nascer no Brasil. Ela está entre os

“O Imaginário da Criança dentro do Adulto.” Mônica Guttman conduziu a vivência unindo arteterapia e criação literária no espaço Palas Athena.

Templo Beth-El em novo endereço

A

pós ceder o espaço ocupado por mais de oitenta anos na rua Martinho Prado para ser a sede do futuro Museu Judaico de São Paulo, os serviços de Kabalat Shabat da Congregação Beth-El se realizam, provisoriamente, à rua Caçapava, 105, 4º. andar, a partir de 19h15. A liderança religiosa do Beth-El é do rabino Iehuda Gitelman, que atuou dezoito anos na Congregação Centro Israelita Porto-alegrense. A nova diretoria é formada por Daniel Feffer, presidente; Marlene Mangabeira, diretora de Culto e Festas; Fábio Milnitzky, diretor de Relações Institucionais e Comunicação. Além das rezas de Shabat, com o chazan Márcio Besen e a cantora Fortuna, o Beth-El vai realizar cursos de introdução ao pensamento judaico, bar e bat-mitzvá, e encontros com jovens casais com o rabino. Em setembro,

MILNITZKY, FEFFER E MANGABEIRA NA SINAGOGA EM OBRAS

a Sinagoga voltará ao seu novo local renovado e definitivo, num espaço para duzentas pessoas, com projeto do arquiteto Felipe Crescenti.

ESTHER SCHATTAN E MÁRCIA FEITOSA

No showroom do D&D, Esther Schattan reuniu arquitetos e decoradores da região do ABC Paulista para almoço seguido de visita guiada à Hyundai Mostra Black.

Mirian Goldenberg e Adão Iturrusgarai participaram de debate na Folha. Eles escreveram Tudo o que Você Não Queria Saber sobre Sexo, lançamento da Editora Record.

A formatura de Marina Ring e Aron Freller na Comunicação Social da Escola Superior de Propaganda-(Espm) foi comemorada em grande estilo.

Fernanda Wainer “importou” os deliciosos bolos e doces da LeckerHaus diretamente do sul para a casa aberta na rua Melo Alves.

O lançamento da Revista No. 67 da Biblioteca Mario de Andrade homenageou Boris Schnaiderman, depois foi projetado o filme O que Traduz Boris?, com direção de Daniel e Jorge Grinspum. Tomates Verdes Fritos na tela e no prato. Primeiro o filme e, depois, uma sessão gastronômica com Breno Lerner, provando os quitutes judaicos do sul dos Estados Unidos no final do século 19. Casa cheia no Centro da Cultura Judaica.

Israel Zekcer foi homenageado com o titulo de cidadão andreense pela Câmara Municipal de Santo André. Michel Melamed é o autor do texto e figurou no elenco de Adeus a Carne ou Go to Brazil encenado no Sesc Santana. Sites de compras coletivas em alta: o ClickOn, de Guilherme Ribenboim, é o terceiro maior do segmento; no Peixe Urbano, pioneiro no Brasil, Eduardo Grinberg é o gestor da área de publicidade.

JOVENS APTAS A ENFRENTAR O MERCADO EM VÁRIAS ÁREAS

Formatura na Unibes

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m parceria com o Instituto George Mark Klabin, a Unibes formou sua 33ª. turma de profissionais nas áreas de hotelaria, gastronomia, eletricidade de residências, montagem e manutenção de computadores, web design, atendimento em restaurante/garçom, atendimento em cinema e telemarketing. Os cursos duram em média seiscentas horas, e para as 320 pessoas, entre 16 e 29 anos, que as cumpriram ficou mais fá-

cil conseguir emprego. Accor, Tozzini Freire Advogados e Demarest & Almeida Advogados, que apóiam a iniciativa, contratam parte desses profissionais. A Unibes está aberta a outras empresas, certa de conseguir o mesmo sucesso dessa turma da qual 65% dos formandos estavam empregados nos meses seguintes. Informações pelo fone 32270598, no Departamento de Capacitação Profissional.

Brasileira premiada em Israel

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brasileira Lilian Cohen, 47 anos, três filhos, um neto, há nove anos em Israel, foi condecorada “Funcionária Padrão do Setor Industrial em 2011” pelo jornal Yedioth Acharonot. Ela foi indicada ao prêmio pela empresa Teva, a maior indústria farmacêutica do mundo, onde começou como chefe da equipe de laboratório e atualmente está no Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento. Lilian é filha de Frida e Samuel Ejchel, e tem duas irmãs, Beatriz e Flávia, que também é pesquisadora e vive nos Estados Unidos. Lilian formou-se em química na USP, fez mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Religiosa, sentia-se deslocada na escola pública onde lecionava e todos comentavam o fato de usar cha-

MEMBROS DA KNESSET HOMENAGEIAM A “FUNCIONÁRIA PADRÃO”

péu. Para ela, ser brasileira ajudou muito no êxito pessoal e profissional porque “o brasileiro veste a camisa, dedica-se à empresa e isso faz a diferença”. Lilian recebeu o prêmio das mãos do presidente da Knesset (Parlamento) Reuven Rivlin.


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cultural + social > comunidade Guia para conhecer a Cracóvia

Reunião de líderes árabes e judeus

Monika Hanusiak morou no Brasil, fala português fluente e, atualmente, é guia em Cracóvia. Ela conhece a história dos judeus do local e imediações, incluindo o complexo de Auschwitz/Birkenau, o antigo gueto judeu e cada canto do bairro Kazimierz. Além de bons restaurantes. Para contatos: monkinha@looz.com.pl ou pelos telefones 00.48.601818610 (celular) e 00.48.12.42117510.

ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota reuniu cerca de cinquenta líderes das comunidades árabe e judaica no seminário “Lado a Lado – a Construção da Paz no Oriente Médio: um Papel para as Diásporas em Brasília”. Patriota disse que a convivência harmoniosa fora da zona do conflito pode lançar luz na construção da paz no Oriente Médio. O vice-presidente da Conib Henry Chmelnitsky ∂

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Mostra judaica em Barueri

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segunda Mostra da Cultura Judaica pela Paz da Prefeitura de Barueri e realização do Centro Cultural e Social Bnei Chalutzim de Alphaville e região, recebeu autoridades e representantes de diferentes credos, entre eles o prefeito Rubens Furlan, o secretário de Cultura Getúlio Fogaça de Azevedo, o cônsul geral de Israel Ilan Sztulman, o assessor da Cnbb padre José Bizon, o xeque Bustam Al Bustani e o pastor Marinho, que foram recebidos pelo rabino Alexandre Leone e pelo presidente da entidade Luís Angel Eretzky. Foi plantada uma oliveira e depois houve Kabalat Shabat com vários chazanim. Sábado à noite, depois da havdalá, apresentaram-se os grupos de dança Carmel e Hakotzrim da Hebrai-

propôs grupos de trabalho de jovens e o intercâmbio com israelenses e palestinos. “Estamos convencidos que, a partir da América Latina, onde historicamente judeus e árabes convivem juntos, podemos oferecer nossa ajuda para chegar ao caminho da paz e do respeito e que isso seja duradouro”, afirmou o presidente do Congresso Judaico Latino-Americano (CJL) Jack Terpins, ao término do encontro.

Einstein inaugura unidade de ensino

Lançamento de livro Ariel Finguerman é acadêmico e jornalista, formado em filosofia na USP, com doutorado em estudos do judaísmo na USP e na Universidade de Tel Aviv e pós-doutorado em teologia do Holocausto na Universidade Hebraica de Jerusalém. Com essa bagagem, ele produziu mais um livro, desta vez com o título A Teologia do Holocausto, cujo lançamento será dia 10 de setembro na Livraria da Vila do Shopping Pátio Higienópolis, a partir das 18h30. Às 19 horas, Finguerman faz uma pausa e participa de um bate-papo com o instigante tema “O Holocausto foi um castigo divino contra algum pecado do povo judeu?”, aberto aos interessados.

ca, corais, o Grupo Klezmorim de Curitiba e Nicole Borger com a Banda Patavina Jazz Club. Além de uma mostra de gastronomia e artesanato judaicos preparada por Na’amat Pioneiras.

“A Verdadeira Rede Social” é o tema do II Concurso de Redação promovido pela Fundação Arymax. Do concurso participam escolas judaicas do Rio de Janeiro e de São Paulo para conscientizar os jovens da importância da solidariedade e do engajamento social para uma sociedade mais justa e desenvolvida. Da primeira oficina participaram 51 professores de quatro escolas cariocas e seis de São Paulo: Gani/Lubavitch/ Yeshivá, Colégio Beit Yaacov, Colégio Bialik, Colégio I.L. Peretz, Colégio Iavne Beith Chinuch e Renascença. O material para os alunos está no blog oficial (concursoderedacaoalef.blogspot.com. br) com conteúdo também para os professores, e no site www.arymax.org.br.

Buenos Aires recebe lideranças do Wupj A PAZ NO ORIENTE MÉDIO EM SEMINÁRIO

“Carmen” em Massada

o sheliach e a equipe Do FunDo comunitário

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ópera Carmen, de Bizet, assistida por mais de 7500 pessoas, encerrou o 3º. Festival de Ópera de Israel no Mar Morto, naquela que é considerada a maior produção já realizada em Israel. O maestro israelense Daniel Oren dirigiu solistas, coros, atores, bailarinos, artistas e até animais. Mais de quatrocentos integrantes ocuparam o palco de 4.000 m2, projetado para o cenário de Massada, no deserto. Mais de cinquenta mil espectadores, entre israelenses e turistas, estiveram durante todo o Festival.

Despedida de um sheliach

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aniel Shiran atuou durante seis anos no Fundo Comunitário, teve muitos êxitos, e por isso, foi homenageado com um almoço no Espaço Adolpho Bloch. Durante o qual, emocionado, Shiran nomeou colaboradores e enalteceu o trabalho da equipe. Como Shiran deixará saudades, todos o cumprimentaram com a expressão lehitraot (até logo).

Cambici recebe Luís Stuhlberger

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s lugares para o encontro com o principal gestor de investimentos do País, Luís Stuhlberger, no Restaurante Parigi se esgotaram rapidamente. Chief investment officer e responsável pela Divisão de Asset Management do Credit Suisse Hedging-Griffo, Stuhlberger tratou “Da Grande Moderação à Grande Divergência”, isto é, como vê o modelo de desenvolvimento do Brasil com dicas de como cuidar de investimentos e ativos, e como agir frente aos riscos e à situação política e econômica.

Criação da Rede Anne Frank Brasil Foto Eliana Assumpção

O Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa inaugurou mais uma unidade voltada ao ensino, na Avenida Paulista 37, com quatorze cursos de pósgraduação para enfermeiros, médicos e demais profissionais da saúde. O site http://www.einstein.br/ensino/ pos-graduacao-e-mba/Paginas/cursos-de-pos-graduacao.aspx traz todos os cursos disponíveis e as inscrições para o processo seletivo estão abertas até 28 de agosto.

Dirigentes comunitários em Barueri

Fundação Arymax reúne escolas

BLAY E STUHLBERGER

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m parceria com a Fisesp e a ONG Anne Frank House de Amsterdã (Holanda), a Conib reúne as escolas públicas brasileiras que têm o nome Anne Frank numa rede, para disseminar os seus valores de cultura de paz, combatendo o antissemitismo e o racismo junto à nova geração de alunos. Em julho, diretores das escolas em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Palmas foram a Amsterdã conhecer os projetos da Anne Frank House e os recursos pedagógi-

cos na defesa do respeito à diversidade. Acompanhou-os o subsecretário de Educação de São Paulo Rubens Antônio Mandetta e a sobrevivente da Shoá Nanette Konig, que foi amiga da jovem morta no campo de concentração. Agora serão promovidas atividades nas escolas para educar as crianças na diversidade e nos valores democráticos. Colaboram com a iniciativa o Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (Ahjb) de São Paulo e as federações israelitas de cada estado.

Será em Buenos Aires, de 8 a 12 de agosto, a 4ª. Conferência das Comunidades Judaicas na América Latina e a participação de lideranças da World Union for Progressive Judaism (Wupj) debatendo o tema “Novos Caminhos do Judaísmo na América Latina” . Os organizadores acreditam na consolidação do judaísmo liberal como uma opção na sociedade contemporânea. A preservação dos valores judaicos, a educação dos jovens e a inclusão das pequenas comunidades na vida religiosa judaica constam da agenda.

Itzhak Shamir (z’l) Um dos grandes lutadores pela criação do Estado de Israel e sétimo primeiroministro, Itzhak Shamir, nascido em Ruzhany (atual Bielorússia) em 1935, morreu em Israel, em junho passado. Ele integrou o Irgun Tzvai Leumi, do Grupo Stern, atuou no Mossad e foi membro do Likud. Negociou o reatamento das relações diplomáticas com a União Soviética em 1988 e em, maio de 1991, Shamir fez uma última aparição internacional na Conferência de Madri, na qual se iniciaram as negociações de paz no Oriente Médio.


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cultural + social > comunidade Birman: pioneiro na engenharia estrutural

Interessados em ciências lotam Plenária

A edição de junho de 2012 da revista do Instituto de Engenharia homenageou o engenheiro João Birman (1900-1981) e a grande contribuição que deu à engenharia paulistana. Os projetos estruturais que levam a sua assinatura são ponto de referência para arquitetos e empreendedores e o nome dele está ligado a obras como a Biblioteca Municipal, os portais monumentais do Túnel 9 de Julho, os edifícios dos Diários Associados, os cinemas Marrocos e Art Palácio, o jornal O Estado de S. Paulo e Hotel Jaraguá, a sede da CIP, a sede nacional da Seicho No Ie, no Jabaquara. Foi o projetista estrutural das construtoras Waldomiro Zarzur, Paulo Taufik Camasmie e Rizkallah e o principal colaborador do escritório Jacques Pilon & Francisco Matarazzo Neto. Além de viadutos e obras do antigo Centro de São Paulo.

Associação de Amigos do Instituto Weizmann do Brasil e a Hebraica promoveram um encontro com o presidente do Instituto Weizmann de Ciências de Israel Daniel Zajfman. O interesse em ouvir o físico premiado levou jovens e adultos à Sala da Plenária para a palestra “A Nova Era do Mundo Científico e suas Implicações para o Destino da Humanidade – a Visão do Instituto Weizmann”. “É preciso atrair cientistas jovens e notáveis e, em seguida, deixá-los seguir a sua curiosidade. Não lhes dizemos o que pesquisar, mas garantimos condições e recursos para aplicar o potencial como cientistas de primeira linha”, explicou Zajfman, que tem mais de cem trabalhos publicados em veículos científicos. O inglês falado de simples permitiu ao público acompanhar a explanação e fazer perguntas. O presidente da Associação de Ami-

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ZAJFMAN ATRAIU NUMEROSO PÚBLICO

gos Mário Fleck destacou que o campus de Rehovot recebe mais de 2.500 cientistas, técnicos de laboratórios e estudantes que procuram o Weizmann.

Tzedaká ao alcance de todos Muitas vezes as pessoas querem doar para um projeto menor e ficam inibidas por não saber se esta pequena contribuição será bem recebida. Foi com esse objetivo e dois princípios que surgiu o site tzedaka.com.br: o judaico, da justiça social, e o de crownfunding (contribuições em massa). Na prática, uma instituição com iniciativa séria, Cnpj, apresenta seu projeto com tempo determinado para arrecadação que é colocado no site; as pessoas interessadas conhecem o projeto e doam a partir de R$10,00. Alcançada a soma necessária no prazo estipulado, a instituição receberá o valor arrecadado; e, se não atingir, as doações serão devolvidas aos doadores. Transparência é total.

Alguns projetos até superaram as metas: a Associação Prato Cheio conseguiu 23,22% a mais da verba para duas semanas de atendimento da instituição; o Instituto da Criança pretende construir uma quadra de esportes para os atendidos pelo Abrigo Reviver e, faltando dez dias para o término da campanha, arrecadara 108% da meta. Outros projetos no site aguardam doações. Por trás desse trabalho está a GiveOn/ Tzedaka.com.br, uma plataforma para arrecadação coletiva de doações financeiras de pessoas físicas destinadas a organizações do Terceiro Setor. Uma equipe faz a ponte entre quem quer doar e

quem precisa receber, que estimula a cultura da doação e dá visibilidade às organizações idôneas, motivando o trabalho voluntário, e comprometida com o acompanhamento dos projetos selecionados. Não há taxa, nem comissão. Quem doa recebe o Reconhecimento, palavra que pode ser traduzida de várias formas, seja por um cartão ou um objeto. “Um pequeno gesto, uma grande mudança” é a chamada para o projeto que tem à frente os voluntários Noemy Lobel e Ariel Tomapolski. Além do site, o e-mail contato@tzedaka.com.br está à disposição para tirar as dúvidas.


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1. e 2. Na Aldeia da Esperança: Gabriel Harari, Anna e Salomão Schvartzman; a homenageada, Shirley Bidlovsky, Isabel Lafer e Leivi Abuleac; 3. Obras de Paulo Mandarino na Galeria de Arte; 4, 7 e 8. Na Noite de Inspiração: Ricky Sperber, rabino Avraham Steinmatz, Juliana e Stephen Tanembaum, Elad Argaman; o homenageado Ralph Garboua e família; Branca e Deborah Vaidergorn e Tânia Hollander; 5. Irmãos Aizenstein e o carinho da delegada Margarete Barreto; 6. Fernando Blay e Mário Adler em palestra da Cambici; 9. Na Plenária, Mario Fleck

1. Alê Edelstein: a Libertadores comemorada no Kotel; 2. Marcos Zeitoune deu nota dez às cervejas na Spicy; 3. Todos querem a paz; 4. Evento Cambici: Adriana Finzi, Nicolas Lodola e Alexsander Mizne; 5. Rosemary aplaudiu Thiago Abravanel; 6. Deborah e Michelle Ejzenbaum, mãe e filha; 7. Fernando Lottenberg e ministro da Justiça José Eduardo Cardozo ouvem Cláudio Lottenberg; 8. O Convite de Casamento no palco do Teatro Arthur Rubinstein; 9. No comando do 8º. Distrito Naval, Lúcia Akerman recebeu a medalha Amigo da Marinha; 10.. Anita Schuartz e Célia Kochen Parnes receberam Boris Ber na Unibes

e Daniel Zajfman

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1. Ovadia Saadia e Clemente Napolitano no Le Poème; 2. Ministro

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da Proteção Ambiental de Israel, Gilad Erdan, na Rio+20; 3. Jaime Wainchelboim, Marcelo Knopfelmacher, rabino Goldberg, Miguel Krigsner, rabino David Weitman e Walter Feldman na sinagoga do Morumbi; 4 e 8. Em noite do IN Formando: Patrícia Tawil, Charles Tawil, Edgar de Picciotto e Sasson Saad; Gladys Singal, Rafael Nasser e Miriam Doris Lilienfeld; 5. No Theatro Municipal, Lígia e Waldemar Kogos na noite beneficente; 6. Em família, Patrícia Gotthilf; 7 e 9. Gaby Milevsky, Rafael Nasser, cônsul Ilan Sztulman, Daniel Shiran, embaixador Rafael Eldad e Elie Douer; Chella Safra e Paola de Picciotto com o sheliach que se despedia

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juventude > dança folclórica

A atividade sem fim dos grupos de dança O SHOW CHALOMOT (“SONHOS”) REUNIU 220 DANÇARINOS NO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN. O PRÓXIMO ESPETÁCULO ESTÁ PREVISTO PARA O DIA 19 DE AGOSTO EM HOMENAGEM AO 30º ANIVERSÁRIO DO GRUPO HAKOTZRIM

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ritmo frenético de trabalho no Centro de Danças dificulta o acompanhamento dos grupos Parparim, Kalanit, Shalom, Hakotzrim, Carmel e Ofakim, sempre envolvidos com algum evento ou na montagem de uma nova coreografia. Em abril, os integrantes do Kalanit, Shalom e Hakotzrim passaram um final de semana fora de São Paulo.

Em Iom Haatzmaut, os grupos folclóricos foram incluídos entre as atrações artísticas do Iom Israel, evento que reuniu seis mil pessoas na Hebraica para celebrar a Independência de Israel. Segundo a coordenadora do Centro de Danças Nathalia Benadiba, esses foram dois dentre os muitos exemplos do envolvimento dos dançarinos com o clu-

AS COREOGRAFIAS EXPRESSARAM OS SONHOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS DOS DANÇARINOS

be e a comunidade judaica. “Em maio, as crianças do Parparim pernoitaram durante um final de semana na Hebraica e encerraram o encontro partilhando um café-da-manhã com as mães”, lembra Nathalia. “O Ofakim, por sua vez, tem uma interessante atividade social porque muitas dançarinas são mães ou avós de jovens de outros grupos e recentemente lançaram um livro de receitas de Pessach”, acrescentou Nathalia, que acumula a função de coreógrafa do grupo Carmel. Recentemente, os dançarinos participaram de um workshop com a coreógrafa americana Erika Goldman, coordenadora de vários camps, eventos muito populares entre as comunidades judaicas americanas que se interessam pela divulgação de novas coreografias. Quando os sócios receberem esta edi-

ção da revista, os dançarinos do Shalom e do Hakotzrim estarão em Porto Alegre, convidados do Festival Choref de dança folclórica. É quando o show Lichiot Tamid (“Viver, Sempre”) em homenagem aos trinta anos do grupo, estará no estágio final de preparação. A única apresentação será dia 19 de agosto, às 19 horas, no Teatro Arthur Rubinstein. Os ingressos já estão à venda na Central de Atendimento. “Trata-se de uma remontagem do repertório antigo, com trabalhos assinados por coreógrafos que já trabalharam com o grupo. São danças que trazem fortes lembranças de momentos marcantes na história do grupo. Atualmente, as coreógrafas do Hakotzrim são Daniela Mederdrut e Paloma Gedankien”, informa Nathalia. O próximo item na agenda está mar-

cado para 14 de outubro, dia em que os dançarinos do Carmel apresentarão o espetáculo Simchá, com participação especial do grupo Shalom. “O objetivo é arrecadar verba para uma viagem aos Estados Unidos, prevista para janeiro de 2013. O Carmel foi convidado a se apresentar em alguns parques da Disney e depois participa de intercâmbio com grupos folclóricos americanos. Nosso parceiro neste projeto é o coreógrafo Roger Weiger, que trabalha com grupos de Miami e outras comunidades nos Estados Unidos”, destaca Nathalia. O compromisso seguinte será, é claro, o Festival Carmel, este ano dias 7, 8 e 9 de dezembro. “O tema da 32ª edição será ‘Heróis’ e já recebemos mensagens de grupos do exterior interessados em vir a São Paulo para o festival”, lembra a coordenadora. (M. B.)

Sonhos educativos Chalomot, espetáculo apresentado no final de junho, foi a despedida dos dançarinos da rotina de ensaios dos grupos no primeiro semestre. O texto de Erez Milgrom “costurou” as ideias propostas por oito coreógrafos que, antes de assumir a função, foram dançarinos nos grupos folclóricos do clube. Antigas coreografias traduziam anseios pessoais, comunitários e universais facilmente partilhados pela plateia. O show incluiu, também, danças criadas por jovens coreógrafos hoje na direção de grupos como o Parparim e Kalanit e Shalom. “Enquanto aperfeiçoam passos e movimentos, crianças e jovens se desenvolvem como seres humanos. É esse crescimento que as famílias aplaudem quando assistem”, explica a assistente de coordenação Gabriela Chalem. Quase no final do show, as crianças dos Parparim (7 a 10 anos) desfilaram pelos corredores do teatro e estimularam o público a partilhar uma corda como um símbolo de respeito à manutenção das florestas para as gerações futuras. Além de revisitar danças de repertório, os grupos apresentaram números novos, como resultado do trabalho e das pesquisas de uma nova safra de coreógrafos atualmente responsáveis pelos grupos Parparim, Kalanit e Shalom. Para quem nunca assistiu a um show de dança folclórica, Chalomot foi uma amostra do vigor e da diversidade cultural do povo judeu. Já para o público que prestigia o trabalho do Centro de Danças é como ver um balé famoso e se deixar cativar pela interpretação que os bailarinos e coreógrafos dão à obra original.


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1. Monitores organizam a saída dos 136 participantes do acampamento de inverno; 2. Orientados pelos monitores do Bourbon, até os mais medrosos tentaram escalar a parede do hotel; 3. Jovens Sem Fronteiras e Interarte (grupo formado por alunos do Rio Branco) organizaram uma festa junina na Casa da Juventude; 4. Na colônia de férias da Escola Maternal os temas, personagens e brincadeiras mudavam diariamente; 5 e 6. No final de semana no Bourbon Atibaia, do Adventure, e na colônia de férias da Escola Maternal, o Shabat mereceu comemoração especial



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parceiros hebraica > mais novidades com nossos parceiros

Acompanhe as últimas notícias da comunidade com os nossos parceiros

www.glorinhacohen.com.br

Siga o site da Glorinha É jornalista profissional e por mais de 25 anos trabalhou na imprensa judaica assinando páginas sociais para a Revista da Hebraica e para os jornais Resenha e Semana Judaica, tendo sido editora do Suplemento Social Espe-

cial da Tribuna Judaica, que circulou até agosto de 2003. Atualmente assina uma página na revista Shalom e coordena seu site pessoal, que tras dicas e notícias sobre a comunidade.

APRESENTADO POR MARKUS ELMAN Confira a programação: www.lehaim.etc.br

A COMUNIDADE EM SP O programa LeHaim é um registro dos eventos sociais e comemorativos da movimentada comunidade judaica de São Paulo. Com uma linguagem moderna, ganhou outras características, divul-

O programa oferece um show de variedades com musicais, reportagens, entrevistas, documentários e comentários em vídeo conferência diretamente de Israel, relacionados com a comunidade judaica e com o povo judeu.

gando os atos e eventos de caráter social e benemérito promovidos pelas entidades que reúnem os membros da sociedade judaica e criando projetos para resgatar a memória da comunidade.

Mosaico na TV conta com uma audiência de aproximadamente 250.000 telespectadores sendo que cerca de 2/3 dessa audiência não pertencem à comunidade judaica.

www.shalombrasil.com.br

O programa tem como proposta cultivar e divulgar as tradições judaicas, não só para os judeus , mas também para o telespectador em geral, que tem interesse em conhecer outras culturas.

Revista Shalom

Shalom Brasil é produzido pela Tama Vídeo , uma produtora e prestadora de serviços de São Paulo, tendo como diretor, o jornalista Marcel Hollender, que atua no mercado há mais de vinte anos.

www.revistashalom.com.br

A Revista da Comunidade Em janeiro de 1998 nascia a Revista Shalom, com o objetivo de valorizar o judaísmo através dos judeus e das instituições judaicas, tendo o Estado de Israel como seu centro.

Nas nossas páginas você encontra notícias, atualidades, e muito mais. Não fique sem a sua! Para assinar ligue (11) 3259-6211 revistashalom@terra.com.br

es por tes


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esportes > ligados no esporte

Pais e filhos em ação NA VÉSPERA DA VIRADA ESPORTIVA DE SÃO PAULO, O DEPARTAMENTO GERAL DE ESPORTES PROMOVEU O III LIGADOS NO ESPORTE COM O OBJETIVO DE PROMOVER AS ATIVIDADES OFERECIDAS AO LONGO DO ANO

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o último sábado de junho, a cidade foi tomada pelos preparativos para a Virada Esportiva, evento que ofereceu atividades ininterruptas em diferentes locais do início da noite até a tarde do dia seguinte, domingo. Também na Hebraica, o sábado foi dedicado ao lazer com o III Ligados no Esporte, iniciativa do Departamento Geral de Esportes. Associados de todas as idades – mesmo os não muito adeptos do exercício físico – abraçaram as propostas do Departamento Geral de Esportes. Professores, monitores e técnicos mostraram aos participantes os atrativos das muitas modalidades praticadas no clube. A ginástica artística, por exemplo, instalou trampolins e camas elásticas em frente à Praça Carmel e, lá, crianças e alguns adultos ensaiaram os primeiros saltos. A poucos passos dali, o coordenador do xadrez, Davy D’Israel aceitava desafios dos mais diferentes adversários

diante do tabuleiro. No Ginásio dos Macabeus, as partidas de futsal juntaram pais e filhos, enquanto uma animada torcida apoiava o time dos mais novos. Na quadra externa, dois times de adultos se enfrentaram no futebol society e depois se transformaram em plateia durante a partida disputada pelos filhos. As partidas de vôlei atraíram o público feminino na quadra do Poliesportivo, enquanto pela primeira vez o tênis de mesa foi incluído entre as modalidades do Ligados no Esporte. Ainda na área de raquetes, também o tênis movimentou as quadras naquele sábado. Os adeptos da natação experimentaram a sensação de fazer um gol dentro d´agua e tentavam alguns passes no polo aquático. No meio do dia, os participantes de todas as modalidades se reuniram na quadra do Centro Cívico e participaram de um sorteio de brindes como sacolas e materiais esportivos e até uma bicicleta. (M. B.)

Participação externa A realização da Copa São Paulo de Ginástica Artística coincidiu com o III Ligados no Esporte e este foi o único momento do dia que teve equipes de outros clubes, escolas e municípios da região metropolitana. No Centro de Ginástica, a arquibancada recebeu pais e familiares atentos às apresentações dos atletas a partir de 7 anos. A competição e a participação no Ligados no Esporte exigiram um esforço extra da equipe de técnicos e professores da modalidade. “Por sorte, a ginástica artística promove torneios separados para o trampolim e os outros aparelhos. Aqui temos a cama elástica e no Centro de Ginástica os atletas usam as barras, o solo, as argolas, barras sem alça e traves”, explicou a diretora da modalidade, Helena Zukerman, que ficou ao lado da cama elástica, na Praça Carmel.

O JUDÔ E TÊNIS DE MESA ATRAÍRAM MUITOS SÓCIOS, QUE SE REUNIRAM AOS PRATICANTES DE OUTRAS MODALIDADES NO

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esportes > escola de esportes EM TRINTA ANOS, OS PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS QUE MOTIVARAM A OLIMPÍADA SE MANTÊM, ASSIM COMO O ENTUSIASMO DOS PEQUENOS PARTICIPANTES

Esta olimpíada é uma história de sucesso DIAS 25 E 26 DE AGOSTO, A HEBRAICA PROMOVERÁ A XXX OLIMPÍADA DAS ESCOLAS DE ESPORTES NUM FORMATO MUITO SEMELHANTE AO EVENTO QUE LHE DEU ORIGEM, A OLIMPÍADA INTER-ESCOLAS DE ESPORTES, REALIZADA EM NOVEMBRO DE 1982

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ssim que retornam das férias de julho, os alunos da Escola de Esportes são convocados para a Olimpíada das Escolas de Esportes. Para muitos deles, desfilar na abertura solene, ouvir o juramento do atleta ou competir em nome do clube será uma novidade. Nos anos seguintes, seu papel na Olimpíada crescerá em importância e então chegará o momento de se afastar da escola e decidir qual relação terão com o esporte. Talvez poucos sócios se recordem que antes de promover uma olimpíada para alunos de escolas de esportes, o Departamento Esportivo convidava grupos de jovens para uma olimpíada interna.

Como o interesse pelo evento era pequeno, o formato foi alterado e em novembro daquele ano, o Centro Cívico recebeu a I Olimpíada Inter-Escolas, já com elementos inspirados na Olimpíada mundial. Segundo uma reportagem da revista Hebraica na edição de janeiro de 1983, o evento reuniu na cerimônia de abertura 3.500 adultos nas arquibancadas e 1.200 desportistas de 6 a 10 anos representantes da Escola de Esportes da Hebraica, do Paineiras do Morumby, Esporte Clube Pinheiros, do Banespa e da Escola Dinâmica. Naquele sábado, foi acesa a pira olím-

pica e a banda do Colégio Bilac tocou o Hino Nacional e o hino da mais recente Macabíada Mundial. A proposta era estimular a prática dos esportes durante um final de semana em competições de basquete, ginástica olímpica, natação e futebol de salão, todas arbitradas por estudantes de educação física. O projeto pedagógico iniciado pela Escola de Esportes logo foi copiado em outras escolas e clubes, e a Olimpíada promovida pela Hebraica permaneceu um modelo para os outros eventos do gênero. Com o passar dos anos, foi adotado o nome Olimpíada das Escolas de Esportes e foram incorporados elementos para aproximar cada vez mais o torneio de uma olimpíada real. Hoje, o regulamento é analisado previamente em um congresso técnico, que reúne coordenadores de cerca de quarenta escolas convidadas. Modalidades como nado sincronizado, vôlei, futebol de salão requerem sofisticadas tabelas, independentemente do fato de a Olimpíada ter se voltado mais para a integração do que a competição.

Atualmente, todos os participantes recebem medalhas e a equipe de professores organiza uma atividade lúdica para dar aos alunos abaixo dos 7 anos a sensação de também participarem da Olimpíada. Em trinta anos, várias gerações de atletas passaram pela Olimpíada das Escolas de Esportes e muitos pais, ao aplaudir os filhos durante a cerimônia de abertura, lembram da época quando eles acompanhavam o acendimento da tocha olímpica. Dia 25, mais uma vez, professores, alunos, pais e diretores da Hebraica participarão de uma cerimônia de abertura da Olimpíada da Escola de Esportes e mais de 1.200 atletas-mirins serão tratados como futuros campões. “Passados todos esses anos acredito que a realização da Olimpíada se justifica pelo seu aspecto pedagógico e também porque, se entre as 1.200 crianças envolvidas em cada edição, uma parte adotar o esporte em seu dia-a-dia, nosso papel como educadores já estará cumprido”, afirma o diretor da Escola de Esportes Victor Lindenbojm. (M. B.)

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esportes > polo aquático

Vice-campeões no Rio de Janeiro

A EQUIPE JUVENIL CONQUISTOU O VICE-CAMPEONATO DA TAÇA BRASIL DE POLO AQUÁTICO REALIZADA NO CLUBE DE REGATAS FLAMENGO DA QUAL PARTICIPARAM TIMES PAULISTAS E CARIOCAS

TIME DE POLO DA HEBRAICA SURPREENDEU OS ATLETAS DO FLAMENGO

Equipe desfalcada No início de julho, o desafio a equipe de águas abertas foi participar da 6ª etapa do Circuito de Travessias Aquáticas, na praia do Indaiá, em Bertioga. A equipe da Hebraica inscreveu menos atletas, e, por isso, ficou em terceiro lugar no ranking geral num total de quarenta entidades. “A diferença para a pontuação obtida pela equipe Unisantana, agora em primeiro lugar foi de dezoito pontos, apenas”, disse o nadador Enrique Berenstein. Além do dia ensolarado, perfeito para uma travessia, depois de nadar a equipe repôs as energias em um excelente restaurante especializado em culinária japonesa. Na prova de três mil metros, Alexandre Tudesco e Débora Kabani ficaram em primeiro lugar, Dov Volovich em segundo, Rodrigo Feller em terceiro em suas respectivas categorias. Vera D. Kahn ficou em terceiro lugar na prova dos mil metros.

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esportes > macabi brasil

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lguns jogadores do time juvenil de polo aquático da Hebraica pediram dispensa das aulas na última semana de junho para disputar, no Rio de Janeiro, a Taça Brasil, importante evento do calendário da modalidade. Outros, já em férias, atenderam com satisfação a convocação do técnico Léo Vergara. Os paulistas na competição eram Paineiras do Morumby, Esporte Clube Pinheiros, Clube Jundiaiense e Sesi. “Nossa campanha foi a melhor de todos os paulistas”, comparou o técnico. Os garotos do juvenil da Hebraica chegaram à semifinal e enfrentaram o Flamengo, duplamente motivados: chegar à final e “dar o troco” da derrota por 10 x 7 em 2011, no mesmo torneio, mas na piscina da Hebraica. Desta vez venceram o por 8 x 7. No domingo, enfrentaram o Fluminense na final e já venciam quando os cariocas reagiram e ganharam por 6 x 5. Os atletas do juvenil ficaram com a prata e o Fluminense e o Flamengo levaram o ouro e o bronze, respectivamente. Inconformado por não trazer o título de campeão para São Paulo, Léo destaca o apoio das famílias e amigos. “Na semifinal e final, a torcida de pais, irmãos e amigos que acompanharam os atletas ao Rio dominou a arquibancada. O barulho que os visitantes fizeram ajudou o time a chegar bem perto de uma vitória”, avaliou. O blog Paredão Tricolor (paredaotricolor.blogspot.com.br), do Fluminense, descreveu a partida final e detalhou como os jogadores da Hebraica mantiveram a vantagem e chegaram a um o placar de 4 x 0 destacando a atuação de Alex Korn, goleiro menos vazado da competição. Na volta a São Paulo, os atletas do polo descansaram alguns dias e depois foram chamados a hospedar os uruguaios de Biguá. “São os mesmos garotos contra os quais jogamos há algumas semanas. Agora é nossa vez de recebê-los”, determinou o técnico. “Esse é apenas um dos compromissos para o segundo semestre. Ainda temos muito trabalho até o final do ano”, prometeu Léo. (M. B.)

GARRA E DIVERSÃO NAS PARTIDAS CONTRA O CENTRO DE TREINAMENTO MACABI

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ia 7 de agosto, haverá uma reunião com os pais dos jogadores que participaram do 5º Encontro Internacional de Futebol Infantil – Mundialito 2012, em Buenos Aires, para conhecer o novo projeto do Macabi Brasil de integrar os filhos à delegação brasileira que disputará a Macabíada Mundial em julho de 2013. E mais: durante a viagem, os craques do sub-13 celebrarão o bar-mitzvá. O êxito da excursão dos 82 garotos à Argentina inspirou o projeto, que ganhou força por meio dos contatos entre as famílias na página do Facebook durante o Mundialito. Recentemente, o Macabi Brasil, o Departamento Geral de Esportes da Hebraica e o Departamento de Futebol do Ceib Macabi, parceiros na organização da viagem à Argentina, reuniram as famílias dos craques do sub-11 e do sub-13 na sede do Tremembé para uma confraternização cujo objetivo foi aprofundar os laços de amizade que uniram adultos e crianças durante a viagem. Os garotos foram de ônibus até o Tremembé, com os mesmos uniformes do Mundialito e assim que chegaram foram para o campo jo-

Craques fazem planos para 2013 A PARTICIPAÇÃO DOS JOGADORES PAULISTAS DE FUTEBOL SUB-13 E SUB-11 NO MUNDIALITO DE FUTEBOL, EM ABRIL, EM BUENOS AIRES, JÁ RENDEU CONFRATERNIZAÇÃO NO CEIB MACABI E UM PROJETO PARA A 19ª MACABÍADA MUNDIAL gar futebol, o ponto principal da festa. As duas equipes do sub-11 jogaram contra um time de São Caetano do Sul e outro formado por atletas mantidos pelo Centro de Formação Macabi/ São Carlos. Os dois grupos originais se mesclaram e enfrentaram uma equipe do Corinthians. Os garotos do sub-13 também enfrentaram atletas do Centro de Formação Macabi/ São Carlos e do Corinthians. Em seguida, foi servido o almoço e à tarde as famílias assistiram a vídeos do Movimento Macabeu e do Mundialito. Ronald Nossig, pai de um dos jogadores, postou um depoimento entusiasmado na página do Facebook: “Foi tudo muito bom. O sub-13 venceu o Corin-

thians por 3 x 1 e o Macabi/ São Carlos por 2 x 0. Cumprimento a organização, todos os atletas, pais, irmãos e avós, que chegamos cedo ao Macabi e permanecemos até o final do dia”. De acordo com as declarações publicadas na rede social, as famílias estão ansiosas para conhecer detalhes do barmitzvá em Israel. Os garotos também estão interessados em acompanhar a delegação brasileira à Macabíada Mundial em Israel, mas enquanto os pais planejam a viagem, eles se divertem nos treinos diários de futsal e society realizados nas quadras da Hebraica e esperam pelos próximos treinos de futebol de campo no Tremembé. (M. B.)


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esportes > curtas 1.

Trampolim em Volta Redonda Sete ginastas disputaram, em Volta Redonda (RJ), o Campeonato Brasileiro por Idade de Ginástica de Trampolim. Na categoria juvenil subiram ao pódio Tatiana T. Ciocler (uma medalha de bronze), Diego Birenbaum (uma de ouro e duas de prata), João Serra (uma de prata), Rodrigo Menasce (duas de prata), Jorge Kremer (uma de ouro, duas de prata e uma de bronze). Ana Clara Dicezare e Gustavo Menasce (categoria adulto) ficaram entre os doze melhores.

Handebol em Umuarama

A equipe juvenil de handebol disputou o Campeonato Brasileiro em Umuarama (PR) e terminou em oitavo lugar, depois de jogar contra a equipe CocaCola/Unipar/Cianorte, do Paraná. Duas atletas da Hebraica se destacaram na artilharia: Juliana da Silva e Bruna Rodrigues. Outras equipes de São Paulo figuraram entre os finalistas do torneio: Metodista/São Bernardo, Cepe/ Santos e Pinheiros.

2.

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A EQUIPE DE TRAMPOLIM OBTEVE BONS RESULTADOS EM NOS TORNEIOS DE VOLTA REDONDA E INDAIATUBA

Encontro de basquete A comissão técnica da Hebraica participou de mais um módulo da Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol, realizado em junho em São Sebastião do Paraíso (MG) para técnicos nível 3 (equipes adultas). Entre os convidados internacionais estavam Sérgio Hernandes, técnico da seleção argentina até 2012 e

o espanhol Aito Garcia, ambos medalhistas na Olimpíada de Pequim. No intervalo das palestras, os alunos acompanharam as partidas da Copa América sub18, também realizada na cidade e assistiram à seleção brasileira conquistar o vice-campeonato que garantiu vaga para o Mundial sub-19. (M. B.)

4.

5.

Trampolim em Indaiatuba A equipe de trampolim da Hebraica conquistou ótimos resultados no Campeonato Paulista, realizado em Indaiatuba, dias antes do brasileiro. Dos 76 atletas de São Paulo, Jundiaí, Indaiatuba e Campinas os ginastas da Hebraica foram finalistas nas provas de minitrampolim, duplo minitrampolim e trampolim. Ana Clara Dicezare conquistou duas medalhas de ouro e uma de prata. Rodrigo Menasce obteve uma de prata, Jorge Kremer três de ouro e Gustavo Menasce uma de prata. Na soma dos resultados, a Hebraica conquistou o terceiro lugar por equipe nos três aparelhos.

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esportes > fotos e fatos

1. As oficinas de artes durante a colônia de férias da Escola de Esportes ficaram a cargo do Ateliê Hebraica; 2. As lutadoras fizeram sucesso no Torneio Internacional de Kung Fu realizado no Centro Cívico; 3. e 6. O italiano Federico Mistrangelo e o búlgaro Marko Petkovic deram palestras aos jogadores de polo dentro do Projeto Mestres do Polo Aquático; 4. Boa atuação dos ginastas em Volta Redonda; 5. Torneio Acesc de Xadrez

TÉCNICOS DE BASQUETE ASSISTIRAM ÀS FINAIS DA COPA AMÉRICA DE BASQUETE, EM MINAS GERAIS

teve grande adesão do público infantil

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espaço saúde

Cuide da saúde dos joelhos!

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ma das articulações mais importantes do corpo humano desempenhando papel fundamental no que diz respeito ao movimento – andar, correr, subir, descer, pular, agachar e carregar o peso do corpo, o joelho merece atenção redobrada e cuidados especiais. Ao longo dos anos esta articulação, em razão do esforço, sofre com o desgaste natural do avanço da idade e por isso, a necessidade de cuidados não se resume apenas aos atletas, como muitos podem pensar. A atenção é para todos e as consequências de uma vida onde a pessoa não toma os cuidados devidos podem ser graves e com sequelas irreversíveis. É possível imaginar-se, depois de anos em atividade e exercendo as funções normais do joelho e, aos poucos, perdê-las? Para as pessoas produtivas (homens e mulheres) que trabalham e não costumam ter os cuidados necessários com os joelhos, é preciso estar atento. A incidência de artrose primária aparece a partir dos 50 anos de idade e esta ligada ao desgaste da cartilagem por esforço repetitivo, lesão ou fratura. A dor (leve, moderada ou grave), inchaço e movimentos limitados são sintomas da doença.

Evitar este processo tem como principal ponto de partida a busca por um profissional especializado imediatamente. O médico vai solicitar exames e realizará avaliações no paciente e na sequência, com os resultados, indicar e iniciar o tratamento para o caso dentro do diagnóstico da doença. A visita ao médico e o tratamento não podem ser interrompidos! Quem também esta na população de “risco” são ex-atletas, que na verdade, fazem parte de uma camada mais suscetível a qualquer tipo de lesão nos joelhos – no caso atual, estamos falando da artrose em ex-atletas do basquete, futebol e esqui, por exemplo, em razão do constante impacto ao longo de treinos e disputas. Vale lembrar que o fato da pessoa “usar” os joelhos não vai necessariamente acarretar em doenças no futuro. A falta de cuidados e o abusar sem orientação tanto para atletas como para as pessoas no dia-a-dia é que acarretam este quadro. Nenhuma atividade é proibida ou não deve ser executada, mas sim, sempre que uma dor ou inchaço aparecer e causar incômodo, não hesite em procurar um médico e passar por um atendimento detalhado desta situação.

DR. DAN OIZEROVICI, ORTOPEDISTA DO HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN

ma ga zine


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capa | história | por Anat Falbel *

Os imigrantes Nothmann e Burchard na urbanização de São Paulo ALGUNS DOS BAIRROS ONDE HOJE VIVE BOA PARTE DA COMUNIDADE JUDAICA DE SÃO PAULO FORAM LOTEADOS POR IMIGRANTES JUDEUS ALSACIANOS QUE SE FIXARAM NA CIDADE NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO 19

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GERMAINE BURCHARD E O PRÍNCIPE SANGUSZKO EM UMA FOTO NAS IMEDIAÇÕES DO VALE DO ANHANGABAÚ POIS SE VÊ, AO FUNDO, O EDIFÍCIO MARTINELLI

onda imigratória judaica conhecida como “imigração alsaciana” chegou ao Brasil no rastro das revoluções de caráter liberal democrático e nacionalista que varreram a Europa Central e Oriental em 1848 – a Primavera dos Povos – e a Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871, que resultou na anexação da Alsácia-Lorena pela Alemanha. Ela foi formada por imigrantes de origem urbana e cosmopolita que se instalaram nos principais centros urbanos do sudeste do país destacando-se não somente pela criação de empresas de importação de máquinas e bens de consumo, como no comércio, com destaque para os ramos de bijuteria, ourivesaria e tecidos, e nas atividades urbanizadoras. As imagens do antigo centro de São Paulo registradas pelo fotógrafo Guilherme Gaensly, no final do século 19, documentam a presença dos negócios dirigidos pelos alsacianos: A M.V. Frères e C., cujo sócio, Maurice Levy, também tinha participação na Ferraz, Ribeiro & C, que comercializava fazendas e armarinhos à rua Boa Vista, 42; a francesa Lambert & Levy, estabelecida a partir de 1884 como M. C. Lambert, com filiais no Rio e em São Paulo; as importadoras de bijuterias E. Daniel Frères, com representação no Rio e em São Paulo. Na rua Quinze de Novembro, 46, Lucien Levy e C. Maurice Grumbach eram os proprietários da A La Pendule Suisse; na mesma rua, no número 24, trabalhava o joalheiro Jacques Netter, enquanto à rua do Rosário, 2-A, localizava-se a joalheria e relojoaria de Frederico Glan; e à rua da Caixa D’Água, 1-D, a casa de penhores Emile Worms e C.. Na rua São Bento funcionava a sapataria da viúva Leon Hertz, e à rua da Liberdade a sapataria de Nathan e Levy. No ramo dos tecidos, a firma Cohen & Dreyfus, importadora de fazendas, com matriz em Paris à rua Condorcet, estabeleceu-se

primeiro à rua João Alfredo, 7, e mais tarde à rua Florêncio de Abreu. Também V. Levy & C. comercializavam tecidos e modas, assim como a Bloch Irmãos & C., Au Bon Diable, na rua Direita, 47 e 49, que vendia ternos sob medida, gravatas, guarda-chuvas e bengalas. Na rua São Bento, 26, a Cahen & Loureiro, conhecida como Ao Boticão Universal, vendia artigos dentários, óticos e instrumentos musicais. Porém, a loja mais antiga do ramo de instrumentos musicais, fundada em 1860, pertencia ao músico Henry-Louis Levy e situava-se à rua Quinze de Novembro, 33. No ramo de produtos químicos e farmacêuticos, ainda havia a Baruel & C. na rua Direita, 1, que importava diretamente da França, Alemanha, Inglaterra, Portugal, Itália e Estados Unidos. Esses judeus alsacianos frequentavam os círculos dos franceses que viviam na cidade, participando das mesmas associações culturais e compartilhando outros vínculos comerciais. A essa comunidade se juntaram judeus de outras origens que se estabeleceram no país como representantes das casas exportadoras inglesas e alemãs. Além da experiência empresarial, o cosmopolitismo dessa leva imigratória incidiu no panorama cultural do sudeste do Brasil pela presen-

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capa | história EDIFICIO PALACIO DO COMÉRCIO, ARQUITETO LUCJAN KORNGOLD, SÃO PAULO, 1955 EMPREENDEDOR HENRYK ZYLBERMAN

>> ça de artistas e professores de artes plásticas e música, como o maestro Louis Moreau Gottschalk, o músico Alexandre Levy, filho do já citado Henry-Louis Levy, e a pintora Berthe Abraham Worms e seu filho, Gaston, nascido no Brasil. Alsacianos criam bairros Alguns dos primeiros industriais paulistas surgiram entre os imigrantes que se dedicaram à importação no último quartel do século 19. Capitalizados com o comércio ou a indústria, esses imigrantes – assim como os fazendeiros, banqueiros, políticos ou industriais brasileiros – passaram a aplicar os excedentes do seu lucro nas atividades imobiliárias garantidas pelo crescimento econômico e demográfico da cidade frente à instabilidade política e econômica da produção agrária nos anos que antecederam a abolição da escravatura e a proclamação da República. Os judeus alsacianos participaram desse processo atuando de forma efetiva na urbanização da cidade de São Paulo, em atividades manufatureiras e em iniciativas de urbanização que incluíam desde a abertura de loteamentos, a construção e venda de imóveis, a implantação de infraestrutura de serviços urbanos tanto de transporte coletivo como de iluminação pública, o fornecimento de luz elétrica, saneamento, além da construção de pontes e o ajardinamento de parques. Merecem destaque as atuações de Martin Meir Burchard, ou Martinho Burchard (1855-1903), e o seu irmão Hermann Burchard, assim como os empresários Victor Nothmann (1841-1905) e o seu irmão Max Nothmann, amigos e sócios de Burchard na maior parte dos empreendimentos, e o judeu de origem francesa Manfredo Meyer (1841-?). Entre 1890 e 1911, os Nothmann e Manfre-

do Meyer tinham participação societária em 22 das 56 sociedades anônimas que se dedicavam à urbanização na cidade de São Paulo, revelando uma consciência empresarial bem estruturada que orientava a escolha das suas atuações e os alvos dos seus investimentos. O envolvimento dos judeus nesse tipo de empreendimentos remonta à Europa da segunda metade do século 19, onde com exceção da Inglaterra, uma bem estruturada rede de estradas de ferro deve-se em grande parte à iniciativa de banqueiros judeus. As redes ferroviárias da França, Bélgica, Áustria, Itália e Espanha foram financiadas por empreendedores como a família Rothschild e os irmãos Pereire, enquanto banqueiros e empresários judeus alemães tiveram papel de destaque na construção de redes no império prussiano e na Romênia. Na Rússia, a maior parte da estrutura ferroviária foi construída entre 1850 e 1870 por empreiteiros judeus como Samuel Poliakov. O barão Hirsch, responsável pelos projetos de colonização judaica no Brasil e Argentina, foi o principal construtor de estradas de ferro nos Bálcãs e Império Otomano. A atividade urbanizadora dos imigrantes alsacianos como Victor Nothmann, em São Paulo, começou na década de 1870, quando este último, associado a Frederico, isto é, Johan Friederich Glette, comprou glebas a oeste do centro da cidade e começou a lotear o que viria a ser o bairro dos Campos Elíseos. Em 1890, associado aos irmãos Burchard, Noth-

ACIMA, EDIFÍCIO THOMAS EDISON, ARQUITETO LUCJAN KORNGOLD, SÃO PAULO, 1945, EMPREENDEDORES

SZYMON RASKIN E ROMAN LANDAU; ACIMA, À DIREITA,

mann loteou o Boulevard Burchard, futuro bairro de Higienópolis. Os sócios ainda possuíam grandes glebas em áreas entre a estrada da Água Branca e o Tanque do Pacaembu; em torno da atual avenida Paulista onde posteriormente seriam abertas as alamedas Itu, Franca e Lorena, e as ruas José Maria Lisboa, Batatais, Guarará e Caconde; e na Mooca e na Várzea do Salles, entre a estação Barra Funda da Estrada de Ferro Santos Jundiaí e a Cia Antártica. Por sua vez, o empresário Manfredo Meyer foi acionista de diversas sociedades anônimas urbanizadoras e proprietário de terras no Bom Retiro, onde fez arruamentos e possuía uma das maiores olarias da cidade. Martinho Burchard casou-se com a judia Olga Helena Luiza Burchard (nascida Magnus) na sinagoga de Paris, em 1895. Ela morreria em 1896, ao dar à luz a filha Germaine Lucie Burchard. Em 1903 morreu Martinho, o viúvo, em um sanatório na Suíça. A filha Germaine foi criada e educada na França e seu imenso patrimônio imobiliário administrado por tutores no Brasil. Uma vez por ano, ela costumava vir ao Brasil, onde frequentava as tradicionais famílias paulistas, mantendo os laços criados pelo pai. Por ser judia, teve de deixar a França sob o regime de Vichy, em 1940, e no navio conheceu o futuro marido, o príncipe polonês Roman Wladislaw Stanislaw Sanguszko, também refugiado do nazismo.

CENTRO COMERCIAL DO BOM RETIRO, ARQUITETO LUCJAN KORNGOLD, SÃO PAULO, 1956, EMPREENDEDOR

FILIP CITRON; AO LADO, RUA 15 DE NOVEMBRO

Germaine e os poloneses O casamento de Germaine Lucie Burchard com o príncipe Sanguszko, em 1945, será o ponto de encontro de duas levas imigratórias de impacto sobre a paisagem urbana da cidade de São Paulo: a imigração alsaciana e uma nova leva de imigrantes judeus de origem polonesa, empresários e profissionais liberais – particularmente engenheiros e arquitetos – refugiados do nazismo. Neste processo, o príncipe Sanguszko, diretor administrativo e responsável pela imensa herança imobiliária deixada por Martinho Burchard terá um papel fundamental. >>

O barão Hirsch, responsável pelos projetos de colonização judaica no Brasil e Argentina, foi o principal construtor de estradas de ferro nos Bálcãs e Império Otomano


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capa | história

Assim como os alsacianos que os antecederam, o distinto grupo de refugiados poloneses com origem em uma elite judaica aculturada e polonizada, possuía uma experiência empresarial na indústria têxtil, no campo da importação e exportação, no ramo bancário e no comércio em geral. Essas diferentes competências facilitaram a sua inserção no processo de modernização da indústria brasileira entre as décadas de 1940 e 1950. Ao mesmo tempo, a linguagem moderna fazia parte do universo cultural desses empreendedores que, vivendo em cidades como Varsóvia ou Lodz, tinham acesso às principais capitais europeias. E, se na Europa Central e Oriental do entre-guerras, as elites judaicas acompanharam o movimento moderno nas artes e na arquitetura, no Brasil as suas inúmeras iniciativas foram decisivas para o desenvolvimento de uma cultura moderna. Como reflexo do capital gerado pela indústria, a partir de 1945 o crescimento da produção imobiliária de São Paulo teve a participação do empresariado de origem imigrante que encontrou no mercado imobiliário como diversificar seus empreendimentos. Atuando ao mesmo tempo como investidor e incorporador, esse empresariado foi responsável pela verticalização da área central da cidade e por sua expansão em direção aos núcleos suburbanos, onde também foram implantadas as unidades industriais. Antes mesmo da metade da década de 1940, junto com o arquiteto polonês Lucjan Korngold, nascido e formado em Varsóvia, este grupo de empresários poloneses havia realizado projetos pioneiros nas áreas centrais da cidade, alguns deles associados a empreendedores nacionais, como foi o caso do edifício Banco Continental (1944), no Via-

MARTINHO BURCHARD

LUCJAN KORNGOLD (1896-1963)

duto Bela Vista, com 24 pavimentos, ou o edifício Thomas Edison (1944) ao lado da Biblioteca Municipal, com 26 pavimentos, este último um empreendimento dos investidores Szymon Raskin e Roman Landau, ou então o Palácio do Comércio (1957), o primeiro edifício de muitos andares no país com estrutura metálica fornecida pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Em 1942, o príncipe Sanguszko já conduzia os negócios imobiliários da herdeira de Martinho Burchard, ao lado de arquitetos e engenheiros judeus de origem polonesa, em especial a construtora Luz-Ar de Alfred Duntuch e Stefan Landsberger que em 1970 contabilizava mais de duzentas obras pela cidade. Sanguszko ainda desenvolveu empreendimentos conjuntos com o grupo Companhia de Importações, Industrial e Construtora (Ciic) do Rio de Janeiro, fundado pelo empresário Henryk Alfred Spitzman Jordan, seu amigo pessoal, e responsável por inúmeros empreendimentos construtivos no Rio de

O VIADUTO DO CHÁ FOI ERGUIDO PARA LIGAR O CENTRO ANTIGO AO NOVO CENTRO QUE SE

caráter inovador destacava-se no uso do vocabulário moderno nas inovações tecnológicas da estrutura de concreto de 33 andares e 112 metros de altura, uma escala sem precedentes na América Latina, e impossível de ser alcançada na Europa do imediato pós-guerra. Simbolicamente, o edifício CBI-Esplanada, que hoje abriga o Instituto Fernando Henrique Cardoso, está localizado defronte ao Viaduto do Chá, outro projeto emblemático, construído originalmente em 1892 por dois imigrantes – o alsaciano Victor Nothmann e o francês Jules Martin – com o objetivo de ligar o centro antigo ao centro novo da cidade. Cada qual em seu tempo, os dois projetos representaram a postura ousada e modernizadora dos imigrantes no corpo da cidade. O olhar estrangeiro não apenas identificou o provincianismo da capital do Estado, conforme o antropólogo Claude Lévi-Strauss, mas dialogou com o nacional atuando efetivamente na construção da modernidade paulista. Engenheira e doutora em história da arquitetura e do urbanismo pela Universidade de São Paulo. Professora da Universidade Estadual de Campinas, em 2011 foi curadora da exposição “Exilio e Modernidade: o Espaço e o Estrangeiro em São Paulo”

Acervo Marcos Chusyd

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Janeiro, projetados por destacados arquitetos modernos como os irmãos Marcelo, Milton e Maurício Roberto, Oscar Niemeyer, Jacques Pilon e Henrique Mindlin A existência de um mercado de trabalho no interior das construtoras e escritórios de arquitetura fundados e dirigidos por imigrantes, como a Luz-Ar, foi fundamental para acolher o grande contingente de profissionais imigrantes refugiados no Brasil, muitos deles altamente qualificados, mas impedidos de trabalhar legalmente pela legislação trabalhista da ditadura Vargas. Após confrontarem as angústias e incertezas da política imigratória antissemita do Estado Novo, os profissionais imigrantes ainda enfrentaram as restrições impostas pelos sindicatos de classe, que impediam a atuação dos profissionais estrangeiros no país, obrigando-os a encarar longos processos para regularizar a situação, e à contratação de profissionais nacionais como responsáveis legais, como ocorreu com a própria Luz-Ar cujo sócio, o arquiteto formado em Cracóvia, Alfred Josef Duntuch, só foi reconhecido como responsável técnico pela empresa em 1949, assim como o próprio arquiteto Lucjan Korngold que mesmo atuando no Brasil desde 1940, em projetos de destaque tanto em São Paulo, como no Rio de Janeiro, somente a partir de 1953 pôde finalmente assinar um projeto de sua autoria. Uma das intervenções mais significativas do grupo polonês na cidade, também pelo fato de aproximar as duas já mencionadas levas imigratórias, foi o edifício CBI-Esplanada (1946), projeto do arquiteto Korngold, que ao aportar no Brasil já trazia em sua bagagem uma vivência e experiência profissional reconhecida em seu país de origem. O CBI foi uma associação entre imigrantes e nacionais a partir da sociedade CBI, liderada pelo empresário polonês Henryk Spitzman Jordan, o grupo Germaine Burchard, e outros empresários nacionais, entre eles os irmãos Octávio e Eduardo Guinle, os irmãos Bandeira de Mello e os irmãos Nelson e Wilson Mendes Caldeira. Seu

MODERNIZAVA

CARTÕES POSTAIS E CARTA

DA CASA LEVY, QUE VENDIA INSTRUMENTOS MUSICAIS. O COMPOSITOR BRASILEIRO ALEXANDRE LEVY ERA MEMBRO DA FAMÍLIA

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magazine > imigrantes | por Ariel Finguerman, na Praça Levinsky, Tel Aviv em massa, a tensão com a população israelense cresce cada vez mais. A situação explodiu em violência quando três desses imigrantes da Eritreia se envolveram em um crime de assalto e estupro no sul de Tel Aviv. Ocorreu na véspera de Iom Haatzmaut, uma das datas mais festivas do país, mas só foi divulgado semanas depois. Um casal de adolescentes israelenses, que vivia no norte de cidade, comemorou o feriado em uma discoteca local de onde saíram às quatro horas da madrugada e procuraram um lugar ermo para namorar. Lá foram encurralados por três africanos, dois de 18 anos e um de 14. O jovem foi espancado e teve o celular roubado e uma corrente arrancada do pescoço. Um dos delinquentes estuprou a garota enquanto os outros dois obrigavam o namorado a assistir à cena. Em seguida, a menina foi violentada por outro, e depois fugiram. Em maio a polícia os identificou e prendeu.

OS IMIGRANTES AFRICANOS SÃO OS SEM-TETO DE ISRAEL QUE FIZERAM DA PRAÇA LEVINSKY O SEU LAR

O drama de Israel com os refugiados africanos NOSSO CORRESPONDENTE CONVERSOU COM IMIGRANTES AFRICANOS ILEGAIS, QUE JÁ CORRESPONDEM A 10% DA POPULAÇÃO DE TEL AVIV. OS ERITREUS SÃO MAIORIA, SEGUIDOS PELOS SUDANESES

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srael enfrenta estes dias uma grande onda de imigração de africanos, que deixam seus países miseráveis e entram pela fronteira com o Sinai, cada vez menos vigiada pelos egípcios. Em Tel Aviv, local preferido para se instalar, à procura de empregos inexistentes, eles já são um de cada dez habitantes da população metropolitana, e mais de sessenta mil em todo o país. Desde o começo do ano, quando começaram a se infi ltrar

Represálias O fato desencadeou uma onda de violência contra os imigrantes africanos, principalmente em Tel Aviv: atiraram três coquetéis molotov em apartamentos e um jardim-de-infância que abrigam migrantes. A polícia deteve uma quadrilha de dez menores de idade israelenses armados de correntes de ferro e pedras para emboscar africanos, espancá-los e roubar-lhe as bicicletas. Uma passeata originalmente pacífica organizada para pressionar o governo a expulsar os africanos logo descambou para a violência e uma turba descontrolada passou a agredir suspeitos de serem imigrantes ilegais, mas acabou atacando até judeus israelenses negros. Um site na internet foi criado apenas para identificar firmas que os empregam e expô-las ao boicote da população. A maior parte dos protestos está localizada no bairro Hatikva, também no sul de Tel Aviv, que sempre foi habitado por judeus pobres. Para acalmar os ânimos, a polícia israelense informou que o índice de criminalidade entre os africanos é muito baixo: nos últimos dois anos, apenas 2% deles se envolveram em crimes, considerando que para uma pessoa desempregada o furto é sempre uma grande tentação. De todo modo, a possibilidade de

Os africanos ilegais em Israel Há sessenta mil africanos ilegais no país, dos quais cinquenta mil só em Tel Aviv, onde já são 10% da população da cidade Continuam entrando dois mil migrantes africanos por mês em Israel A maior parte dos africanos vem da Eritreia (34 mil), do Sudão (dezesseis mil) e do Sudão do Sul (dois mil)

os ilegais serem absorvidos pela sociedade israelense é muito pequena. Até hoje, somente 650 deles foram reconhecidos como refugiados, porque conseguiram provar que são perseguidos em seus países por motivos políticos ou raciais. Esses “sortudos” ganharam direitos sociais completos e carteira de identidade. Sudão e Sudão No entanto, o simples migrante ilegal não tem direito de trabalhar nem de assistência social. Só podem matricular os filhos nas escolas israelenses, porque educação é um direito universal. Na prática, o governo permite que trabalhem para sobreviver, e dezenas deles estão empregados em hotéis de Eilat, na construção civil e em restaurantes de Tel Aviv. Nessa questão Israel está em situação complicada, pois é signatário de um acordo internacional patrocinado pela ONU sobre refugiados. A maior parte dos africanos ilegais é da Eritreia, e as Nações Unidas decretaram que qualquer fugitivo daquele país não pode ser deportado de volta. Isto porque eles vivem sob uma ditadura cruel na qual um terço das crianças sofre de desnutrição. A ONU também impede que Israel deporte sudaneses, o segundo maior grupo de ilegais no país, sob o argumento de que o Sudão é governado por uma teocracia islâmica, inimiga de Israel, e quem for deportado do Estado judeu pode ser condenado à morte ao desembarcar naquele país africano. Ironicamente, no entanto, a ONU permite que Israel deporte apenas imigrantes do sul do Sudão, rico em petróleo, que um plebiscito separou do Sudão original e se tornou um país amigo. Em junho Israel começou a deportar algumas centenas de ilegais africanos. A polícia ofereceu mil euros a quem se apresentasse voluntariamente. O governo também decidiu construir um abrigo-prisão no Negev para doze mil imigrantes, que deve começar a operar em novembro. Enquanto isto, dois mil deles entram a cada mês pela fronteira com o Egito. >>

A maior parte dos africanos ilegais é da Eritreia, e as Nações Unidas decretaram que qualquer fugitivo daquele país não pode ser deportado de volta


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magazine > imigrantes | por Eeta Prince-Gibson

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Uma crise humanitária ao sul de Tel Aviv SÓ AS POLÍTICAS SOCIAIS RELACIONADAS À COMPAIXÃO DO BEM-ESTAR SOCIAL, À DECÊNCIA, À INTERDEPENDÊNCIA E A UMA CRENÇA NO VALOR DO INDIVÍDUO E DA COMUNIDADE PODEM AJUDAR A NOS TORNARMOS UMA SOCIEDADE MAIS SOLIDÁRIA

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o semestre passado, manifestantes se revoltaram contra as dezenas de milhares de trabalhadores migrantes africanos que pedem asilo e vivem no sul de Tel Aviv: atacaram transeuntes, quebraram carros e depredaram lojas. Duas semanas depois, o governo deflagrou um programa para deportar refugiados do Sudão do Sul. No comando da expulsão, o ministro do Interior, Eli Yishai, foi muito citado nos meios de comunciação internos e externos por afirmar que Israel “pertence ao homem branco” e prometeu que, em breve, expulsaria a todos os africanos de modo a garantir “o caráter judaico do Estado judeu”. E logo, com tediosa previsibilidade, em resposta à retórica da intolerância os especialistas liberais entoaram o refrão de que nós, o povo que viveu o Holocausto, deveríamos nos comportar de modo mais ético e moral, deveríamos nos lembrar do significado de ser um refugiado e saber para onde o racismo leva. A internet está repleta de referências aos pogroms, à Kristallnacht e às leis raciais de Nuremberg. Mas tais referências ao Holocausto – feitas principalmente pela classe média que se descreve como liberal e que nunca conheceu um trabalhador migrante – revelam ao mesmo tempo nossa vaidade e nosso ódio por nós mesmos. Essas referências paralisam o debate, impossibilitando aos liberais israelenses resolver os problemas por meios políticos normais. É como se o sofrimento passado do povo judeu colocasse um fardo moral especial sobre os nossos ombros coletivos e individuais e a vitimização elevasse um povo a um nível especial de humanidade. Ou seja, se nós, todo o povo judeu, não conseguimos ser melhores que os outros, então, de alguma forma, somos piores. Por esse raciocínio absurdo, as comparações superficiais e arrogantes que fazemos com o mal maior – mencionado pelo pioneiro da internet Mike Godwin como Reductio ad Hitlerum – nos afasta de imperativos realistas aos quais podemos nos agarrar ou tornar nossos políticos responsáveis.

Mas existem imperativos realistas, e o primeiro-ministro Biniamin Netaniahu e os membros de sua coalizão os conhecem muito bem. Eles devem saber, por exemplo, que os povos traumatizados raramente sublimam sua vitimização, transformando-a em responsabilidade coletiva, e que só as políticas sociais relacionadas à compaixão do bem-estar social, à decência, à interdependência e a uma crença no valor do indivíduo e da comunidade podem ajudar a nos tornarmos uma sociedade mais solidária. No entanto, Netaniahu e o governho de coalizaão que lidera jogaram com as emoções mais vis da sociedade, criaram uma situação ruim e a tornaram pior. A estimativa é de cerca de sessenta mil refugiados, contando os que pedem asilo e migrantes da África, vivendo hoje em Israel, segundo organizações de ajuda humanitária. Oitenta e cinco por cento deles são da Eritreia e do Sudão. Em respeito à Convenção das Nações Unidas de 1951 sobre os Refugiados – de que Israel foi o principal redator – os eritreus não podem ser legalmente deportados. E como Israel não tem relações com o Sudão, é tecnicamente impossível deportar os sudaneses. Portanto, essas pessoas viverão aqui por um longo tempo. O problema não é exclusivo de Israel. Lidar com a imigração ilegal e dar sustento a quem pede asilo e a refugiados é um desafio em quase todo o mundo. Mas o governo de Israel não preparou nenhum plano de imigração para os milhares de africanos que chegam pela fronteira com o Egito e, aos magotes, instalam-se no sul de Tel Aviv. Alguns são, de fato, refugiados, outros procuram uma situação econômica melhor, e todos dependem unicamente da boa vontade de organizações voluntárias israelenses. Problema sobre problema O sul da metrópole reluzente que é Tel Aviv de há muito é a região atrasada abandonada por incontáveis administrações municipais, pelo governo de um modo geral e pela esquerda. A população, constituída principalmente por mizrachim, isto é, judeus de

O MINISTRO DO INTERIOR ELI YISHAI TENTA EXPLICAR A POLÍTICA DE ISRAEL EM RELAÇÃO AOS AFRICANOS

origem oriental, e bem abaixo da classe média, tinha confiança em que as manifestações sociais de há um ano talvez melhorassem a situação. Mas, naquela ocasião, a prefeitura usou a força para desmantelar os acampamentos de protesto e o governo não avançou nas promessas para tornar a vida mais fácil. Apesar disso, os moradores se valeram de uma espécie de patriotismo em relação ao espaço que ocupam e reforçaram o conceito de uma comunidade persistente. Mas agora até mesmo isso estão perdendo. A prefeitura informa que os imigrantes africanos representam hoje cerca de 25% dos habitantes dos bairros ao sul de Tel Aviv, de alta densidade populacional e incidência criminal. Sem-teto e sem meios de apoio ou organização comunitária, os migrantes, a maioria homens entre 20 e 40, anos, vagueiam pelas ruas e dormem em parques públicos imundos. No início, a veterana comunidade mizrahi tentou integrar os africanos, mas o afluxo cada vez maior de pessoas tornou isso cada vez mais difícil. Um bom planejamento social talvez tivesse evitado a explosão. Miri Regev, deputado do partido Likud, chamou os africanos de “um câncer” em discurso na Knesset. Outro membro do Likud, Danny Danon, disse que os imigrantes tinham criado “um Estado inimigo tendo Tel Aviv como capital”. O silêncio de Netaniahu é quebrado por comentários a respeito de um vago “comportamento inaceitável”, seja lá o que isso quer dizer. O fato de o ministro do Interior Yishai se referir a Israel como um “país branco” é particularmente perturbador – e irônico, pois seu partido, o Shas, foi fundado em resposta à discriminação contra os mizrahim “negros”. Ele também exclui os etíopes que, afinal, não são brancos?

Mas nada disso significa que, com essa retórica exacerbada, os israelenses sejam singularmente racistas ou estejam traindo a sua história. Nem os políticos israelenses inventaram a política de dividir para conquistar e governar, e nem os mizrahim do sul de Tel Aviv formam o primeiro grupo minoritário a oprimir a também única minoria abaixo dele na escala social. O problema do imigrante africano pode ser resolvido com humanitarismo. Até agora, Israel vem se recusando a criar um sistema de revisão individual de pedidos de refugiados de acordo com o que determina as Nações Unidas. Por esse sistema os imigrantes ilegais seriam devolvidos aos países de origem e os refugiados autorizados a ficar e receber autorização de trabalho. No entanto, também devemos reconhecer que, se não enfrentarmos a desigualdade social e criarmos políticas sociais equitativas e humanas, não poderemos resolver o problema dos migrantes e nem cuidaremos, aqui e agora, daqueles que já estão em Israel. * Eetta Prince-Gibson é jornalista, mora em Jerusalém e é o ex-editorachefe do Jerusalem Report >>

Sem-teto e sem meios de apoio ou organização comunitária, os migrantes, a maioria homens entre 20 e 40, anos, vagueiam pelas ruas e dormem em parques públicos imundos


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magazine > imigrantes | por Jonathan Neumann

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Israel na África e o papel do Sudão do Sul O SUDÃO DO SUL FAZ PARTE DA “ESTRATÉGIA DE PERIFERIA” DE ISRAEL, QUE VAI DA EUROPA, ATRAVESSA A ÁFRICA E A ÁSIA, ATÉ A ÍNDIA. MAS É PRECISO SUPERAR DESAFIOS COMO OS ALTOS ÍNDICES DE ANALFABETISMO,

CORRUPÇÃO ENDÊMICA E CONFLITOS TRIBAIS DO MAIS JOVEM PAÍS AFRICANO

H

á pouco mais de um ano, em 9 de julho, após décadas de guerra com os governantes hegemônicos de Cartum, o Sudão do Sul declarou independência. No dia seguinte Israel reconheceu oficialmente o novo Estado. De lá para cá, muitas expectativas otimistas em relação ao Oriente Médio e ao Norte da África foram frustradas, mas, no caso do Sudão do Sul, o otimismo de Israel se justifica pelas relações bilaterais, a migração e a geopolítica. É velho o interesse de Israel na África e o próprio Theodor Herzl pensava em ajudar os africanos em sua “redenção” depois que se cumprisse a sua visão de uma terra para os judeus. Ministra das Relações Exteriores nos anos 1950 e 1960, Golda Meir defendeu o papel do Estado judeu no desenvolvimento dos estados recém-descolonizados do continente: “Como eles, nos livramos do domínio estrangeiro; como eles, tivemos de aprender sozinhos como recuperar a terra, como aumentar o rendimento das nossas lavouras, como irrigar, como criar aves, como viver junto, e como nos defender”. Israel deu ajuda militar à África e treinou Mobutu Sese Seko, o general que se tornou presidente do Congo. Se por crenças judaicas, por princípios socialistas ou por ambições geopolíticas, o fato é que Israel não conseguiu desses estados a garantia da contrapartida de apoio diplomático em organismos internacionais, e isso mesmo quando lhes dava ajuda incondicional. Em parte persuadidos pelos árabes de que Israel é um estado colonizador ou simplesmente pressionados pela Liga Árabe, os africanos romperam com o Estado judeu após a Guerra do Iom Kipur, em 1973. Mas quando o processo de paz no Oriente Médio começou a tomar forma, na década de 1980, e depois do colapso da União Soviética, os laços de Israel com os estados africanos se fortaleceram novamente. No entanto, a criação do Sudão do Sul é muito interessante para Israel que tem um histórico de apoio à secessão do sul do Sudão e nos anos 1960. Foi Israel, por exemplo, quem deu

mais ajuda moral, diplomática e militar aos rebeldes. Não surpreende, portanto, que Juba, a nova capital do Sudão do Sul, tenha comemorado a independência com bandeiras de Israel por toda parte. Aliás, um dos bairros de Juba chamase Jerusalém e perto do aeroporto existe um Shalom Hotel. Também não é nenhuma surpresa que Israel tenha sido um dos primeiros destinos do itinerário internacional do presidente sudanês do sul, Salva Kiir Mayardit, ou sua intenção instalar a embaixada do Sudão do Sul em Jerusalém. Em dezembro passado ele disse que “Israel sempre apoiou o povo sul-sudanês. Sem você (Israel), não teríamos surgido. Você lutou ao nosso lado para permitir o estabelecimento do Sudão do Sul”. É bem provável que o papel de Israel na memória do Sudão do Sul também tenha servido para atrair os muitos imigrantes que fizeram a perigosa viagem através do Egito, ao longo dos últimos anos, quando a guerra civil no Sudão chegou ao seu ponto mais feroz. Agora, acredita-se que milhares de sudaneses do Sul estejam vivendo em Israel, enquanto a maior parte do resto dos estimados sessenta mil imigrantes africanos de Israel são sudaneses (do Norte) e da Eritreia. Aliás, este poderia ser um modelo de como o processo de asilo deveria funcionar: migrantes fogem de um país devastado pela guerra, a guerra acaba, os migrantes retornam e, no caso, o governo sul-sudanês tem colaborado com Israel no esforço de trazer os imigrantes para casa. Geopolítica em ação Acredita-se que o retorno dos imigrantes solidifique ainda mais uma relação que pode vir a ser altamente benéfica para Israel e que pode dar ao Sudão do Sul o mesmo apoio econômico que sempre procurou proporcionar aos Estados africanos, com a diferença de que o Sudão do Sul esteja mais disposto a retribuir, e tem como. O país possui grandes reservas de petróleo e de outros recursos naturais, e, sua posição geográfica ao longo do Nilo pode ser

útil no embate contra o Egito e o Sudão. É considerando esses pontos que o Sudão do Sul se encaixa à perfeição no conceito de “estratégia de periferia” de Israel, segundo a qual o Estado judeu pretende cultivar amizades com países fronteiriços ao mundo árabe hostil. Não se trata de uma ideia original do primeiro-ministro Biniamin Netaniahu, pois seu velho antecessor David Ben-Gurion também a perseguiu durante seu governo. Para Ben-Gurion, o interesse de Israel na África não era “uma questão de filantropia. Nós não temos menos necessidade da amizade das novas nações do que elas têm da nossa ajuda”. Ben-Gurion teve êxito em uma aliança trilateral com o Irã, Turquia e Etiópia, com os curdos e outras minorias regionais. O imperador da Etópia Hailé Selassié, conhecido como Leão de Judá, era amigo de Israel e passou parte do seu período de exílio em Jerusalém. Logo depois de esta aliança ter sido firmada, Israel ajudou-o a evitar um golpe de Estado. No governo Netaniahu a “estratégia de periferia” é mais complexa porque ao incorporar mais países também agrega mais preocupações comuns a eles. Além do Sudão do Sul e seus recursos naturais e importância estratégica, outro parceiro em potencial é Chipre. Netaniahu é o primeiro líder israelense a visitar a ilha, e o fez no início do ano levando uma proposta de permitir o estacionamento dos seus aviões lá. Entre outras coisas, o que une os dois países, além da preocupação mútua com a recente beligerância da Turquia, é a possibildiade de cooperação na exploração das reservas de gás natural recentemente descobertas em alto mar. Essas duas preocupações também motivam o interesse de Israel na Grécia. A Grécia tem ligações estreitas com Chipre e interesse natural pelas reservas de energia, e firmou um acordo de defesa com Israel, e operações militares conjuntas. O ano passado interceptou a Flotilha da Liberdade II que tentava repetir o comboio marítimo de 2010, que buscou romper o bloqueio naval israelense da Faixa de Gaza. Interesses energéticos e preocupação com a Turquia tam-

bém aproximaram Israel dos estados balcânicos da Bulgária, Romênia e Sérvia; e a recente visita do presidente russo Vladimir Putin a Israel deve ser vista, em parte, pelo mesmo enfoque. Relatório recente sugere que Israel teria olhado para o Azerbaijão como meio de atacar o Irã. Embora seja um disparate, revela a abrangência geográfica e política do bemsucedido empenho da “estratégia de periferia” de Israel, que vai da Europa, atravessa a África e a Ásia, até a Índia. Isto não quer dizer, todavia, que o Sudão do Sul esteja numa posição de força. Falta moradia, há escassez de alimentos e as doenças se alastram. A violência interna e o conflito externo continuam; as taxas de mortalidade e de analfabetismo estão entre as maiores do mundo; a corrupção é endêmica, e são frequentes os abusos de direitos humanos. Em resumo, o país de um ano de idade caminha célere para se tornar um estado falido. No entanto, a independência é doce, e, em Israel, o presidente Kiir disse: “Estou muito emocionado de chegar a Israel e caminhar sobre o solo da Terra Prometida. Como uma nação que nasceu do pó, em que poucos lutaram por muitos, vocês criaram um país florescente, que oferece um futuro e prosperidade econômica aos seus filhos. Eu vim para conhecer o seu sucesso”. Para atender à sua própria causa e a de Israel, só nos resta esperar que o Sudão do Sul aprenda os segredos deste sucesso.

A RIQUEZA

DO

SUDÃO DO SUL EM PETRÓLEO PESOU NO INTERESSE DE

ISRAEL POR SUA INDEPENDÊNCIA


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magazine > eurocopa 2012 | por Ariel Finguerman

Balotelli

dedica gols à sua mãe judia O ATACANTE NEGRO DA SELEÇÃO ITALIANA, CHAMADO DE SUPER MARIO APÓS DESCLASSIFICAR A ALEMANHA E DESAFIAR O RACISMO EUROPEU NA EURO 2012, É FILHO DE MÃE JUDIA E TEM PARENTES EM ISRAEL

A

imagem saiu em praticamente todos os jornais e revistas e nos sites: o atacante negro Mario Balotelli, após marcar um golaço pela seleção italiana que desclassificou a favorita Alemanha do torneio Euro 2012, parou em campo, tirou a camisa e retesou os músculos. Foi sua resposta aos torcedores racistas, italianos inclusive, que o insultam e a outros jogadores negros na Europa. Apelidado de Super Mario após marcar os dois gols da partida que terminou em 2 x 1 contra os alemães, virou sensação já no dia seguinte, e principalmente em Israel, porque os meios de comunicação do país informaram a respeito da relação dele com os judeus. Balotelli, filho de pais africanos, foi adotado por uma judia, Silvia, a quem ele foi abraçar na beirada do campo. “No final da partida fui em direção à minha mãe. Aquele foi o momento mais bonito da partida, algo que lembrarei até o fim da minha vida. Ela já é uma pessoa de alguma idade e veio da Itália até Varsóvia especialmente para assistir ao jogo. Dediquei aqueles gols a ela”, afirmou o jogador de 21 anos, cujo passe é avaliado hoje em 35 milhões de euros. Antes do início da Eurocopa 2012, na Polônia e Ucrânia, a seleção italiana visitou o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau e as atenções estavam voltadas em direção a Balotelli, alvo preferencial dos insultos dos torcedores racistas por ser negro e adotado por uma mulher judia. Balotelli foi um dos mais interessados na visita, tirou muitas fotos e conversou com os guias. A um líder da comunidade judaica italiana que os acompanhava, o jogador disse que “minha mãe adotiva é judia e todos meus parentes são judeus”. No dia seguinte, o título dos cadernos esportivos italianos era invariavelmente “A mãe judia da estrela da seleção”.

A ligação de Balotelli com os judeus vai muito além disso pois muitos dos seus parentes pelo lado da mãe adotiva vivem em Israel e a irmã, Cristina, estudou em Israel há dois anos, no Centro Interdisciplinar (IDC), faculdade privada em Hertzlia, participando de um curso de políticas contra o terrorismo. “Ela me falou muito a respeito de Israel e das meninas bonitas da minha idade que usam uniforme militar e carregam fuzis M-16. Gostaria de conhecêlas”, disse o artilheiro, com raro bom humor. Isto porque Balotelli é conhecido justamente pelo mau humor, um jogador que se irrita facilmente durante as partidas e arruma confusão. Os torcedores das equipes rivais se aproveitam disso para provocá-lo ainda mais, agredindo-o com palavras e atitudes racistas. Por isso foi expulso de uma partida do campeonato italiano após esbofetear um jogador que o ofendera. Mesmo durante a Euro 2012, as agressões continuaram. Torcedores da seleção da Ucrânia jogaram bananas no campo, perto do jogador. Após a vitória da seleção italiana contra a Inglaterra, um jornal esportivo italiano publicou uma caricatura na qual Balotelli aparece como King Kong na torre do Big Ben de Londres. Longe de Gana Balotelli nasceu na Itália, filho de pais ganenses. A mãe adotiva judia, Silvia, e Franco, o marido católico, moravam

numa pequena cidade perto de Milão. Ela era enfermeira e ativa participante de projetos comunitários. “Um dia me ligaram dizendo que havia um menino de 2 anos, de pele escura, chamado Mario, que nascera com complicações de saúde e os pais o abandonaram. Perguntaram se queria adotá-lo e eu aceitei”, conta Silvia. O jogador nunca perdoou os pais biológicos que o abandonaram por razões de saúde e não por falta de dinheiro. Depois dele nasceram mais dois filhos com quem Balotelli tem algum contato. Mas o atleta sempre deixou claro que os verdadeiros pais são Silvia e Franco, que assistiram à final da Euro 2012, quando o time italiano jogou mal contra a Espanha e perdeu de 4 a 0. A lembrança da mãe Silvia é de uma criança muito ativa e cheia de vida, e como logo percebeu o talento do menino para o esporte aos 5 anos de idade matriculou-o numa equipe de futebol fraldinha. Antes de completar 16 anos, já havia sido contratado pela Internazionale de Milão. Mas ela quase interrompeu o contrato com a Inter por que “para mim era mais importante que terminasse os estudos. Queria que ele tivesse uma profissão quando terminasse o interesse pelo futebol”. A mãe propôs e o clube aceitou que o jovem atleta treinaria somente no período da tarde, após o horário escolar. Boa parte da família Balotelli está envolvida na carreira do jogador. Os dois irmãos mais velhos são os empresários, a irmã Cristina é a relações-públicas e, claro, a mãe acompanha de perto os passos para que o êxito profissional não comprometa o comportamento dentro e fora do campo. Apesar de adotado por uma família italiana, o esportista teve de esperar completar 18 anos de idade para receber a cidadania e ser convocado para a seleção nacional. Antes disso, os cartolas do futebol de Gana tentaram convencê-lo a competir pela equipe nacional dos pais biológicos, mas ele recusou. “Meu único país é a Itália e vestirei somente o uniforme dela”, disse.

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magazine > defesa | por Nir Mann EDIFÍCIOS LOCALIZADOS NUM RAIO DE MENOS DE MIL METROS DA KIRIÁ SIGNIFICAM TRAGÉDIA ANUNCIADA

Em Tel Aviv, um alvo militar no meio da população civil O IRÃ DIVULGOU FOTOS DE NOVOS MÍSSEIS DE LONGO ALCANCE E INFORMAÇÕES SOBRE A CAPACIDADE DE ALCANÇAR TEL AVIV. E É LÁ, E NUMA ÁREA CIVIL E DENSAMENTE OCUPADA, QUE ESTÁ LOCALIZADO O QUARTELGENERAL DO EXÉRCITO DE DEFESA DE ISRAEL, CONHECIDO COMO KIRIÁ. ELE VAI CONTINUAR LÁ?

“P

ela sua própria natureza, o ministério da Defesa é um objetivo militar e, em principio, é permitido atacá-lo o que significa ataques à distância, com aviões ou mísseis. Isso também vale – e ainda mais – para o conjunto de edifícios do quartel-general, onde se reúne o Alto Comando Militar. Isso preocupa em razão da possível fantástica destruição de objetivos civis, no caso de um ataque naquela área densamente povoada”, diz o professor Yoram Dinstein, autoridade mundial em lei internacional e ex-presidente da Universidade de Tel Aviv. Para ele, “de acordo com o artigo 58 (b), de 1977, que complementa a Convenção de Genebra, de 1949, os lados do confl ito deverão ‘evitar a construção de objetivos militares dentro ou próximos de áreas densamente povoadas’. Esse artigo está de acordo com o direito consuetudinário internacional habitual a que a comunidade internacional se vincula, e o Estado de Israel também”. Segundo Dinstein, a regra que permite o ataque a objetivos militares está sujeita ao princípio da proporcionalidade. Ou seja, não se pode atacar um objetivo militar se os danos colaterais a civis, ou a objetivos civis, forem considerados antecipadamente excessivos em relação à possível vantagem militar. No entanto, a provável vantagem militar de um ataque bem-sucedido contra as instalações do ministério da Defesa e do quartel-general das Forças Armadas é tão grande que os danos colaterais antecipados a civis ou a objetivos civis, mesmo que em larga escala, não serão considerados uma violação do princípio da proporcionalidade. Daí a lógica interna do artigo 58 (b). Como isso se aplica à Kiriá – o ministério e o quartel-general – no centro de Tel Aviv? Dinstein diz que a localização histórica do ministério da Defesa e da Kiriá no centro de Tel Aviv

é “lamentável, mas é difícil mudar os fatos. Construir mais edifícios e instalações é acrescentar mais crime à pena, porque coloca em risco tudo nas imediações o que inclui predominantemente objetivos civis. Essas novas construções – e as futuras – deveriam ser longe da área urbana, na periferia de Tel Aviv, em obediência ao citado artigo 58 (b). É lamentável a falta de debate público a respeito”. Ao lembrar dos ataques de Saddam Hussein a Tel Aviv com mísseis Scud em 1990 e a possível violação do direito internacional, Dinstein diz que foi “ilegal, porque embora os mísseis visassem a Kiriá, não obedeceram ao desvio padrão de até três quilômetros e, por isso, não preencheu o requisito básico de distinguir entre alvos militares e civis, pois nenhum Scud acertou a Kiriá, mas muitos caíram distantes dela. Nenhuma arma é 100% precisa e sempre há problemas técnicos e erros humanos. O risco para os imóveis junto à Kiriá e aos civis que neles vivem é muito alto e como o Estado de Israel não transferiu a nova Kiriá para fora da cidade, a responsabilidade final é dele”. Convenção de Genebra Os prefeitos de Tel Aviv nunca se preocuparam com a localização da Kiriá do ponto de vista da legislação internacional e consideravam mais importante cobrar impostos municipais, remover lixo da base e multar por estacionamento proibido, do que os danos colaterais em

potencial pelos quais serão considerados responsáveis, se um míssil ou bombardeios infringirem os Protocolos Adicionais da Convenção de Genebra. Após a Guerra da Independência, havia quatorze grandes acampamentos do exército em Tel Aviv e instalações de segurança em áreas residenciais e de empresas. Casas abandonadas por árabes, em Yafo, e a infraestrutura portuária foram transformadas no quartel-general do Shin Beth, no alto comando da força aérea (a base Ariel na rua Yehuda Hayamit) e outros. A base da unidade de transportes Ben-Ami se estendia pelo enorme quarteirão limitado pelas ruas Arlozorov, Weizman, Jabotinsky e Derech Namir. O estádio militar era onde hoje funciona a Estação Ferroviária Central Savidor, a base de logística nos limites do bairro Nevê Tzedek, e havia mais bases na área da Feira de Tel Aviv, onde, em 1932, foi realizada a Feira do Oriente em Tel Aviv, nas imediações do porto de >>

Objetivos próximos a Kiriá Num raio de seiscentos metros: torres e shopping center Azrieli, Museu de Tel Aviv, Biblioteca Municipal, Centro de Artes Performáticas, Tribunal de Justiça de Tel Aviv, Arquivos e Registro de Propriedades, Estação Central Ferroviária Savidor Num raio de novecentos metros: Teatro Habima, Auditório Mann, Museu Helena Rubinstein Num raio de 1.200 metros: Migdalei (torres) Tel Aviv, Sderot Rostchild Num raio de 1.500 metros: Kikar Dizengoff, Prefeitura de Tel Aviv Num raio de 1.800 metros: Estádio de Basquete Yad Eliahu, Bolsa de Diamantes, Estação Ferroviária Arlosorov Num raio de 2.100 metros: Kol Bo Shalom (a primeira torre de Tel Aviv), edifício antigo da Ópera


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magazine > defesa desmantelamento das bases no perímetro urbano de Tel Aviv argumentando, por exemplo, a necessidade de expandir áreas residenciais para atender os imigrantes. Desde 1974, os prefeitos discutiam a remoção porque o quartel-general era um alvo inimigo, mas nunca houve um pedido formal. Shlomo Lahat (1974-1993), um ex-general, apegou-se ao espírito de corpo, e nem depois da Guerra do Golfo levantou a questão para “não parecer que Tel Aviv estivesse assustada. Não era nem um problema jurídico, mas moral e prático”. Roni Milo (1993-1998) solicitou a remoção do aeroporto de Sdé Dov, mas o ministério da Defesa e o quartel-general, nem pensar. Milo e as forças armadas discutiram apenas impostos municipais. Em 2006, o atual prefeito Ron Huldai (eleito em 1998, e depois reeleito), disse que não havia razão prática para um complexo militar em Tel Aviv-Yafo, que poderia atrair ataques à cidade. E ao mesmo tempo considerava inviável o investimento para construir uma nova base. Nunca se tratou disso nos primeiros oito anos do mandato de Huldai, para quem era um assunto nacional e não municipal, além do que a localização do ministério da Defesa e suas atividades são um fato consumado. Seis anos depois, apesar das constantes ameaças de mísseis do Irã, Síria e do Hizbolá, no Líbano, nada mudou em Tel Aviv, cuja prefeitura não debate a questão da Kiriá.

>> Tel Aviv onde hoje existem lojas, restaurantes e bares, e também na antiga aldeia Sheikh Munis, atual sede da Universidade de Tel Aviv, em Ramat Aviv, na área do aeroporto Sdé Dov, e outras localidades. Os principais embates entre a prefeitura de Tel Aviv e o governo foram em torno da base Yoná (hoje Parque da Independência) e a base Kiriat Meir (onde hoje funcionam o Museu de Arte de Tel Aviv e o Centro de Artes Performáticas e o Teatro Cameri, a Ópera e a Biblioteca Municipal Beit Ariela), que interferiam nos planos de desenvolvimento da cidade. Os vereadores admitiram a construção de uma pequena base do Corpo de Sinaleiros, agora fato consumado e parte da Kiriá. O prefeito Israel Rokach (1886-1959) foi fundamental na transferência do quartel-general das Forças Armadas para o centro da cidade. Ele queria construir uma área verde no local da base Yoná, próximo à praia. Durante quatro anos o prefeito Rokach apelou e de nada adiantou. Uma crise política em dezembro 1952 bagunçou a correlação de forças no parlamento e o prefeito aproveitou-se disso para condicionar o apoio à coalizão governamental à concessão de áreas militares para o projeto do Parque da Independência como, aliás, prometera o primeiro-ministro David Ben-Gurion. Funcionou: Rokach virou ministro do Interior e as unidades e bases militares localizadas na região chamada Gush Dan – Tel Aviv, Bat Yam, Hulon, Petach Tikva, Ramat Gan, Givataim, Bnei Brak, Lud e Ramla – foram para a Kiriá.

ÁREA DE SARONA EM FOTO DO FINAL DO INÍCIO DO SÉCULO 20, ADQUIRIDA AOS

TEMPLÁRIOS ALEMÃES

A sessão de instalação do novo governo teve discurso do primeiro-ministro a respeito de política externa, defesa e economia. Depois o tema foi um só: o quartel-general das Forças Armadas na Kiriá. Consistia em evacuar três edifícios históricos dos Templários Alemães, grupo messiânico que se fixara na região no século 19 até serem deportados na Segunda Guerra, abandonando propriedades na área que hoje é a Kiriá, e que pertencia à prefeitura. “Estou feliz”, disse Ben-Gurion agradecendo a compreensão do “ex-prefeito de Tel Aviv sentado entre nós e que ajudará a evacuar os edifícios. E se isso acontecer, a prefeitura receberá a Base Yoná”. No entanto, demorou dez anos até a municipalidade assumir a base, e ainda teve de pagar a construção da sede dos corpos blindados, em Yad Eliahu, sul de Tel Aviv. Nunca se mencionava a Kiriá nas negociações entre prefeitura e o gabinete embora o município sempre pedisse o

Passado quadriculado Mais do que qualquer outra região em Tel Aviv, a da Kiriá foi várias vezes alterada do ponto de vista de zoneamento e ocupação populacional. Em 1871, os templários alemães adquiriram ao Patriarcado grego de Yafo uma área de 125 acres, numa zona de solo calcário a oeste do rio Ayalon, onde construíram o assentamento agrícola de Sarona. Os nazistas tomaram o poder na Alemanha e muitos templários se juntaram ao exército alemão na África, confiantes em que o grupo de um eventual Gauleiter (chefe do partido) governaria a Palestina após a sua conquista. Alguns templários serviram na Gestapo como “especialistas em judeus”, entre eles o membro da família Aberle e comandante do campo de concentração Mühldorf, na Alemanha, que interrogou o paraquedista Enzo Sereni e o enviou a Dachau para ser executado. No verão de 1941, quando o general Rommel chegou ao Egito, os britânicos deportaram a maioria dos templários na Palestina para a Austrália e fizeram de Sarona base militar. Durante o período da rebelião armada do yishuv (a comunidade judaica na Palestina antes do estado) contra as autoridades do Mandato, as forças em Sarona eram as responsáveis pela ordem em Tel Aviv. Em 16 de dezembro 1947, duas semanas após a ONU decidir a partilha da Palestina o exercito britânico deixou aquela região de Gush Dan, e, no mesmo dia, a Haganá (antecessora do Exercito de Defesa de Israel) – hasteou a bandeira de Israel em Sarona, que passou a se chamar Yehoshua, em homenagem a Yehoshua Globerman, combatente da Haganá. As brigadas Givati e Kiriáti, força aérea, unidades blindadas, corpo médico, quartel-general da policia e outras lá ficaram cin-

ISRAEL ROKACH FOI PREFEITO DE TEL AVIV DE 1936 A 1953 E NEGOCIOU COM DAVID BEN-GURION

co meses. Como o plano da partilha determinava que Jerusalém seria uma zona internacional, em 2 de fevereiro de 1948 o Comitê de Emergência, que precedeu o Conselho Nacional e o Governo Provisório, transformou Sarona em sede temporária do futuro governo israelense. A base foi preparada para essas novas atribuições. Cada um de acordo com suas necessidades, a municipalidade e a Haganá queriam esses edifícios. Na Guerra da Independência cerca de vinte mil judeus fugiram de bairros ao sul de Tel Aviv, e se refugiaram na cidade. As centenas de órfãos e crianças do projeto da Aliat Hanoar (imigração de jovens) eram o maior problema, e para abrigá-las a municipalidade recebeu oito edifícios onde hoje funcionam clinicas médicas públicas, no lado oposto às Torres Azrieli. Os britânicos ainda controlavam grandes áreas do país, mas a Haganá precisava de uma >>

“O risco para os imóveis junto à Kiriá e aos civis que neles vivem é muito alto e como o Estado de Israel não transferiu a nova Kiriá para fora da cidade, a responsabilidade final é dele” (Yoram Dinstein)


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magazine > defesa >> base para formar o novo exército. A pressão só diminuiu quando as tropas foram deslocadas em direção ao sul, Jerusalém e Yafo. Com o fim do Mandato Britânico, Sarona foi finalmente adquirida ao escritório que administrava as propriedades abandonadas pelos templários alemães durante a Segunda Guerra. A partir daí começou uma longa, amarga e disputada batalha na arena internacional no âmbito do Acordo de Reparações com a Alemanha e que envolveram até templários da Austrália, sempre em torno de áreas na Kiriá. A opinião da minoria Após a independência de Israel todo o patrimônio que levava o nome Sarona, ou, depois, Sharona, virou salas e corredores do poder do novo governo do país, cujo gabinete deu ao local o nome de HaKiriá e onde passaram a funcionar todos os ministérios, menos um: o da Defesa, que tinha muitas de suas unidades disfarçadas em edifícios da Federação Geral dos Trabalhadores (Histadrut) em Tel Aviv. Por falta de espaço na Kiriá, esse arranjo forçado foi aceito sem oposição. As raízes da Haganá estão plantadas na Histadrut desde 1920. Seu quartel-general era no edifício do comitê executivo da Histadrut, na rua Allenby, e o Estado-Maior numa espécie de hospedaria dos Trabalhadores, na esquina das ruas Frishman e Dov Hoz, ao lado da prefeitura de Tel Aviv. Postos de comando funcionavam também na redação do jornal Davar, no Banco Hapoalim, no escritório da gigante da alimentação Tnuva, na companhia de construção Solel Boné, na associação esportiva Hapoel, na União dos Trabalhadores Agrícolas e outras. Alguns, em edifícios municipais. A partida dos britânicos tirou os líderes da Haganá da clandestinidade. O Alto Comando ocupou a “Casa Vermelha” na rua Hayarkon, sede da secretaria da Juventude Trabalhadora (Hanoar Haoved). O Ministério da Defesa ocupou o desapropriado edifício da Kupat Cholim (caixa de saúde) na rua Ester Hamalká. Além do Ministério da Defesa, gabinetes de alguns membros do governo provisório ficaram em locais adaptados. O do ministro da agricultura continuou na sede do seu partido Mapam e o do ministro do trabalho nos escritórios do Al Hamishmar (jornal do Mapam). O ministro da Justiça, um advogado, fez do seu escritório gabinete ministerial e o ministro da Polícia, um juiz, sua sala no tribunal. O primeiro presidente do país Chaim Weizmann estava no exterior no verão de 1948 e, em setembro, quando chegou a Israel independente era um sem-gabinete, mas lhe arranjaram um escritório nos limites da Kiriá, enfiado entre galpões e oficinas de manutenção. Simultaneamente, começou o longo processo que transferiu as unidades do Ministério da Defesa para a Kiriá. Em 9 de dezembro de 1949, dois anos depois da partilha, a ONU aprovou a internacionalização de Jerusalém. Como no dia seguinte Ben-Gurion declarou que “Jerusalém é parte integrante do Estado de Israel e sua capital eterna”, ele mesmo supervisionou a transferência dos escritórios do gover-

no para Jerusalém, por meio de uma frota de caminhões. Na Kiriá permaneceram o ministério da Defesa, porque o acordo de armistício com a Jordânia proibia pessoal militar em Jerusalém; o ministério das Relações Exteriores e o gabinete presidencial temerosos de que embaixadores estrangeiros se negassem a apresentar as credenciais na capital, a que oficialmente não reconheciam. Muitos funcionários públicos se recusaram a mudar para Jerusalém, como, aliás, no Brasil, quando Brasília foi criada. Em maio de 1948, o Estado-Maior mudou-se de Ramat Gan. Após a Guerra da Independência os generais avaliavam onde localizar o comando supremo – o “Buraco” como é conhecido, (HaBor, em hebraico) – em caso de emergência, e base em tempos normais. Uma ideia foi transformar em tempos de guerra o citado Buraco em centro de controle estratégico. Local específico para o Estado-Maior era secundário. Mais importante era meios e modos de como gerenciar a relação do Estado-Maior com o Ministério da Defesa. Reuniões intermináveis e muitas comissões sugeriram toda sorte de locais para o “Buraco” e o Estado-Maior. Em dezembro de 1952 o governo decidiu transferir o Estado-Maior para a Kiriá mas o diretor-geral do Ministério das Finanças Pinhas Sapir discordou porque “a sede de Tzahal no centro da cidade é perigosa e pode causar danos”. Mesmo isolado, insistiu: “Quero que este protesto conste da ata como uma opinião minoritária”. Seu único recurso era apelar para a história. O “Buraco” ficou na Base Dani, em Ramla, de onde se controlaram as operações da Guerra do Sinai de 1956. Em fevereiro de 1955 o Comando Geral foi transferido para a Kiriá, onde ainda está. * Nir Man é autor de um livro sobre a história da Kiriá, A Kiriá em Tel Aviv: 1948-1955 (em hebraico), publicado pela Editora Carmel e o Centro Galili para Estudos de Defesa Tradução: Yossi Turel

Além do Ministério da Defesa, gabinetes de alguns membros do governo provisório ficaram em locais adaptados


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magazine > educação | por Ariel Finguerman

Como estudar na Ivy League, sem sair de casa O ISRAELENSE AMERICANO BEN NELSON QUER REVOLUCIONAR O ENSINO MUNDIAL LANÇANDO A PRIMEIRA UNIVERSIDADE ON LINE DE ELITE – E PELA METADE DO PREÇO. A AULA INAUGURAL DA MINERVA UNIVERSITY SERÁ EM 2014

U

m brasileiro que pretender estudar nas melhores universidades dos EUA, a chamada Ivy League que inclui Harvard, Yale ou Princeton, precisa enfrentar uma longa corrida de obstáculos. Desde ser aceito pela rigorosa comissão de admissão até planejar uma mudança de vida num novo país, além do alto custo das mensalidades. Agora isto poderá mudar, graças ao projeto de um israelense americano que está agitando o mundo acadêmico mundial. Ben Nelson, 36 anos, nasceu em Haifa, vive na Califórnia e está concluindo a preparação do currículo da primeira universidade on line de elite do mundo, chamada a Minerva University que vai oferecer aulas com alguns dos melhores professores dos EUA, em salas de aula virtuais de modo a que o estudante não precisará sair da sua cidade. Para quem pensa que é mais uma das milhares de ideias de como ganhar dinheiro pela internet, Nelson espantou os críticos ao conseguir um investimento de 25 milhões de dólares para o projeto do fundo de investimentos Benchmark, especializado em negócios no Vale do Silício e que financiou sites como ebay e Twitter. O investimento da Benchmark na Minerva University é o maior da sua história numa start-up iniciante. “Os estudantes da Minerva serão os melhores do mundo”, disse Nelson em entrevista recente, num misto de chutzpá israelense e ousadia norte-americana. Nelson foi levado aos EUA pelos pais, quando tinha 10 anos. A família voltou para Israel, o pai é professor de biologia molecular na Universidade de Tel Aviv, mas o filho decidiu permanecer na Califórnia. Nelson tinha 23 anos quando ganhou um emprego na em-

presa de tecnologia Snapfish, que desenvolve sistemas de armazenamento de fotos na internet, e da qual se tornou diretor. Dez anos depois, a gigante HP comprou a empresa por trezentos milhões de dólares, e fez do jovem sabra um milionário da noite para o dia. Apesar da aposentadoria garantida, Nelson continuou a procurar projetos para a Internet até perceber que poderia ganhar dinheiro com as poucas vagas disponíveis na chamada Ivy League. É que se antes a procura por estas universidades era grande, nos últimos anos aumentou ainda mais porque os pais endinheirados do Brasil, China e Índia, por exemplo, querem que os filhos estudem nessas universidades que continuam arrogantes como sempre admitindo apenas seis de cada cem candidatos a uma vaga. Para Nelson, esta atitude é como se a Apple fabricasse apenas dois milhões de iphones e sugerisse aos consumidores procurar a concorrente Samsung. “Compreendi que é possível ganhar dinheiro com a falta de vagas nas melhores universidades. E a razão por eu ter fundado a Minerva é dar mais velocidade à vida

SONHO DE TODO ESTUDANTE, AGORA A UNIVERSIDADE STANFORD ESTÁ MAIS ACESSÍVEL POR MEIO DO ENSINO À DISTÂNCIA

dos estudantes mais inteligentes, talentosos e dedicados de todo o mundo”, diz. Ele calcula que os norte-americanos desta universidade virtual serão apenas 10% do total de inscritos. Os restantes 90% serão de várias partes do mundo e imagina que seu público-alvo de alunos em potencial esteja entre duzentos mil e quatrocentos mil jovens. Mensalidade pela metade A aula inaugural da Minerva University está programada para o segundo semestre de 2014. As classes virtuais terão 25 alunos e os melhores professores das melhores escolas dos EUA. A qualquer momento um estudante pode interromper a aula, da mesma forma que em uma sala de aula normal, possibilitando a participação de todos nas discussões. No programa também haverá aulas em salas tradicionais, mas em estilo diferente. A partir do segundo ano, os alunos se reunirão a cada semestre numa cidade diferente do mundo, para “abrir a cabeça” dos jovens. Já estão acertadas as cidades de São Paulo, Mumbai, Xangai, Nova York, Paris e Moscou. Para competir com as universidades de elite dos EUA, Nelson anunciou que a mensalidade na Minerva será a metade da cobrada pela Ivy League, ou seja, cerca de vinte mil dólares por ano. As grandes universidades receberam o anúncio da nova concorrente on line com espanto, mas os reitores tradicionais não têm por que se preocupar. A velha sala de aula O jornal da Stanford University, uma das melhores universida-

des dos EUA, na Califórnia, entrevistou o também israelense Yoav Shoham, formado no Technion, atualmente professor de ciências da computação em Stanford. Shoham dá aulas on line de teoria dos jogos para cerca de sessenta mil pessoas ao redor do mundo. Para Shoham a educação pela internet está aí para ficar e terá um grande impacto em futuro muito próximo. As grandes universidades terão de se adaptar à novidade e lançar também produtos educacionais na rede mundial. Mas daí a decretar o fim da boa e velha sala de aula, falta muito. “Nada substitui a interação pessoal entre o professor e o aluno”, compara. Criar novos produtos da noite para o dia que atraia milhões dólares é a típica meta da geração de empresários high tech e as empresas start-ups, tanto nos EUA quanto em Israel. Mas será que isto vale também para a educação? Shoham neste ponto é conservador e explica que as boas universidades investiram tempo e esforço para conseguir a fama. “Construir uma instituição de excelência leva décadas, se não séculos”, alega.

Para competir com as universidades de elite dos EUA, Nelson anunciou que a mensalidade na Minerva será a metade da cobrada pela Ivy League, ou seja, cerca de vinte mil dólares por ano


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magazine > viena | por Bernardo Lerer *

Acabou-se o que era doce para a elite judaica... OS JUDEUS DE VIENA AVANÇARAM PARA ALÉM DE COMPREENDER O MUNDO: ENTENDERAM E ACEITARAM MARX E O MUDARAM, TAMBÉM. DA PSICANÁLISE DE FREUD À FILOSOFIA DE WITTGENSTEIN, DA MÚSICA DE MAHLER AO SIONISMO DE HERZL, ESSA COMUNIDADE DEU UMA CONTRIBUIÇÃO ÚNICA À MODERNIDADE

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o entanto, nosso fascínio por um punhado de celebridades pode nos cegar dependendo da base sobre a qual a sua primazia intelectual e artística repousa. Apesar de muitos exemplos da genialidade judaica terem origens humildes, o meio em que essas personagens viviam e no qual puderam florescer foi o da burguesia comercial e profi ssional de Viena. E os pais deles pertenciam à primeira geração de judeus que colheu os frutos da emancipação e da industrialização. Até o século 19, Viena era o único lugar na Áustria onde os judeus estavam autorizados a se estabelecer de acordo com o édito “Toleranz” do imperador José II. Era uma comunidade judaica pequena. Mas, depois das revoluções de 1848, um fluxo constante de famílias judias com aspirações mais cosmopolitas começou a chegar a Viena, Budapeste e Praga vindo das áreas rurais do interior da Boêmia, da Galícia, Bucovina; outros tinham origem em Brünn (Brno) ou Nikolsburg (Mikulov) na Morávia do Sul, ou no oeste da Hungria. Quando a emancipação foi concedida, em 1867, sob a nova Constituição que se seguiu à derrota da Áustria pela Prússia, essa corrente transformou-se em uma inundação. Imigrantes judeus que chegavam a Viena se agrupavam e se encontravam principalmente em Leopoldstadt, a área do gueto judeu original, que ficava perto da estação ferroviária do norte, Nordbahnhof, onde desembarcavam – algo mais ou menos parecido com o Bom Retiro em relação à Estação da Luz. Era uma região de cortiços onde viviam doze pessoas no mesmo quarto. Aqueles que obtinham êxito nos negócios costumavam se mudar para o elegante centro de Viena, cercado pela pomposa Ringstrasse, uma fantástica avenida construída sobre as antigas muralhas da cidade, na década de 1880. Os palácios dos judeus mais ricos ficavam nesta avenida: o dos Ephrussis (que se tornou familiar graças ao livro A Lebre com Olhos de

Âmbar, de Edmund Waal), dos Epsteins, dos Gomperz, dos Schey von Koromlas, dos Todescos, dos Wiener von Weltens e dos Pollack-Parnaus. Todos possuíam palácios que ostentavam seus nomes, mas muitos moravam nos andares superiores, um sinal de riqueza. O Palais Leitenberger é agora o Hotel Radisson Blu. Os outros ricos foram viver em apartamentos novos construidos na Zinshäuser, área urbanizada no chamado IX Distrito ou na rede de ruas atrás da nova Câmara Municipal. Na virada do século, muitos se mudaram para os subúrbios bem cuidados e arborizados de Döbling e Hietzing, próximos do palácio real de verão de Schön-Brunn. O famoso banqueiro Josef Kranz foi um daqueles que teve um palácio inteiro somente para si. O primeiro Palais Kranz, onde agora é a Delegação Comercial Russa, ficava na Argentinierstrasse perto do Palácio Belvedere, era muito pequeno para as ambições de Kranz que encomendou ao arquiteto da moda Friedrich Ohmann um novo, em frente ao palácio de verão dos príncipes de Liechtenstein no IX Distrito. Ohmann é o autor do projeto do monumento à imperatriz Sissy, no Volksgarten. Como nenhum luxo bastasse, dois dos principais designers da época, Oscar Strand e Richard Teschner, decoraram o palácio, do qual fazia parte uma fonte renascentista italiana no jardim. Em 1890 havia 118 mil judeus em Viena, a maioria deles constituída de Ostjuden, expulsos da Galícia pelos horrores dos pogroms ocorridos na década anterior. A imprensa popular vienense os

acusava e àqueles judeus das pequenas aldeias da Hungria, Morávia e Boêmia de envolvimento com assassinatos rituais, redes de prostituição, venda de roupas usadas que carregavam em cestos nas costas. Um ano antes de o século virar, a população pulou para 145 mil judeus, e em 1910 somente Varsóvia e Budapeste tinham mais judeus, e todas perdiam para Nova York. Muitos da segunda geração de imigrantes haviam feito progressos notáveis e conquistas invejáveis e, segundo alguns historiadores, toda a vida pública estava nas mãos dos judeus: bancos, imprensa, teatro, literatura, organizações sociais, médicos, professores, advogados, operários, jornalistas, poetas, e outros. Setenta e um por cento dos financistas eram judeus, 65% dos advogados, 59% dos médicos e metade dos jornalistas. O escritor Wickham Steed não estava preocupado com antissemitismo ao escrever que o principal jornal da cidade Die Neue Freie Presse era de propriedade de judeus e editado e escrito por judeus. Na geração seguinte, Viena testemunhou o surgimento de uma classe inteiramente nova: das Jüdische Grossbürgertum, a alta burguesia judaica. Ao contrário da classe superior não ju-

daica de aristocratas, funcionários e militares, esta nova classe devia a sua riqueza ao comércio e à indústria, em vez da terra. Essa classe gozava dos privilégios legais de Grossbürger (“alto burguês”, ou “patrício”), pois não tinha nada da mentalidade de casta hereditária da velha elite, e as ambições acadêmicas e culturais para si e para os filhos eram muito mais elevadas. Aliás, esta é a razão porque o judeu vienense Karl Popper mais tarde intitulou o seu livro mais famoso de Sociedade Aberta e seus Inimigos, sendo que os judeus de Viena eram a sociedade aberta. Feitas as contas, Viena tinha de agradecer aos judeus pelo livre comércio, pela imprensa livre e pelo livre pensamento. O prêmio Nobel de Economia de 1974 Friedrich von Hayek conta que antes do >>

IMAGINEM QUE ESTE EDIFÍCIO, O PALÁCIO

EPHRUSSI,

FOI A

RESIDÊNCIA DE UMA SÓ FAMÍLIA, E HOJE É UM HOTEL


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magazine > viena

>> Anschluss (“Anexação”), em 1938, a sociedade vienense era constituída de três círculos sobrepostos: um judeu, um católico e um misto, ao qual o seu primo Ludwig Wittgenstein e a maioria dos outros intelectuais pertenciam. Aquele mundo funcionava independente do credo religioso de cada um: a maioria dos amigos íntimos do ateu Sigmund Freud era formada por judeus, enquanto Martin Buber, que passara a infância aos pés do avô, famoso erudito ortodoxo, gravitava nos círculos liberais judaico-cristãos e se casou com uma não judia. Na geração mais jovem, pós-1900, que imitava o cosmopolitismo que distinguiu a alta burguesia judaica dos oficiais católicos filisteus e cavalheiros que ainda dominavam a corte e o país, era muitas vezes difícil diferenciar judeus de não judeus. Exemplo típico foi o poeta e dramaturgo Hugo von Hofmannsthal (1874-1929): só um dos avós era judeu, ele e a mulher judia foram batizados. Era judeu ou não? Hofmannstahl provavelmente não se considerava judeu, mas para os antissemitas era, sem dúvida. Em 1900 havia cerca de 150 mil judeus em Viena, isto é, menos de 10% da população da capital, e a proporção em relação ao total dos habitantes permaneceu pequena mesmo quando o número foi inchado com chegada de refugiados do leste no início dos anos 1920, pouco depois do final da Primeira Guerra. Mas banqueiros, advogados, jornalistas e outras profissões meritocráticas eram esmagadoramente de judeus, e os filhos e as filhas de algumas centenas de self-made men, que constituíam a elite judaica de Viena, foram patronos de escritores, pensadores e artistas que emprestam brilho para esse capítulo da história. Com o colapso da monarquia dos Habsburgos, em 1918, os inimigos da sociedade aberta de Viena tornaram-se mais po-

A GRANDE SINAGOGA DE VIENA, UMA DAS 22 DA CIDADE. OS MAIS RICOS DAVAM DINHEIRO MAS NÃO AS FREQUENTAVAM;

KARL KRAUS FUNDOU A REVISTA SATÍRICA

A TOCHA SILENCIADA PELOS ANTISSEMITAS;

ILUSTRAÇÃO DA RINGSTRASSE NO COMEÇO DO SÉCULO 20

derosos e sentiram que a sua hora havia chegado. Quando Hitler anexou a Áustria, coincidentemente a Grossbürgertum judaica já estava em declínio, a ponto de, em alguns meses, nada ter sobrado da riqueza e do prestígio construídos durante várias gerações. As casas elegantes, cheias de livros de escritores que os descreveram e de retratos de artistas que os retrataram, foram saqueadas. A ascensão e a queda duraram menos de um século. Se os nazistas quase os erradicaram a Áustria do pós-guerra preferiu esquecê-los. Arqueologia documental Agora, porém, um jovem austríaco, que vasculhou centenas de arquivos públicos e privados, jornais velhos, cemitérios e outros repositórios da arqueologia urbana, compilou um registro genealógico-biográfico monumental deste mundo perdido. O primeiro volume de Wer War Einmal: Das Jüdische Grossbürgertum Wiens 1800-1938 (“Quem era Quem: A Alta Burguesia Judaica da Viena de 1800-1938”), de Georg Gaugusch, foi publicado pela editora Amalthea Verlag. O primeiro volume vai das letras “A” a “K”, tem 1.700 páginas, custa mais de US$ 100, e o índice contém cerca de 35 mil

nomes (disponíveis em www.jewishfamilies.at) o que dá uma ideia da obra de Gaugusch, cujo segundo volume será lançado em 2013. A obra é patrocinada por fundações norte-americanas e austríacas, incluindo a cidade de Viena e sua agora minúscula comunidade judaica. É um feito ainda mais notável porque o autor Gaugusch não é um acadêmico, mas proprietário da venerável alfaiataria Wilhelm Jungmann & Neffe (Sobrinho), que remonta à Viena dos Habsburgos. Em 1942-3, a condessa Vera Teleki vendeu a loja para o bisavô de Gaugusch. Em 1990, uma senhora visitou a antiga alfaiataria, situada ao lado do Hotel Sacher, o equivalente vienense às melhores alfaiatarias de Londres, Nova York e Paris. Ela contou a Georg, então estudante, histórias a respeito do que havia acontecido com os muitos clientes judeus. Ele anotou tudo, desprezou as anedotas que a mulher intercalava entre as histórias e pediu-lhe fatos, somente fatos. Para melhor se informar, promovia reuniões na Adler, a Sociedade Genealógica de Viena, e enquanto trabalhava na história da empresa, Georg descobriu estranhas lacunas nos registros desses clientes judeus e começou a investigar. Nos quinze anos seguintes, Gaugusch coletou material volumoso sobre as principais famílias judias de Viena. Uma delas, por exemplo, foi a família Korngold, cujo patriarca foi o comerciante Simon Korngold de Brünn (agora Brno, na República Tcheca). O filho Julius tornou-se o principal crítico de música de Viena antes de imigrar para a América. Dos quatro filhos de Julius, um morreu em Viena, dois foram assassinados em Auschwitz e outro, Erich Wolfgang Korngold, tornou-se importante compositor da sua época, embora até recentemente a produção musical para filmes de Hollywood tenha ofuscado as obras que produziu anteriormente, em Viena.

A família Kraus seguiu uma trajetória similar. Jacob Kraus fez fortuna na Boêmia, mudou-se para Viena em 1877, dominou o mercado de pigmento azul-ultramarino na Áustria-Hungria, o comércio com Oriente e fez outra fortuna com sacolas de papel e embalagens mais elaboradas de que os vienenses gostavam muito. Jacob e a mulher Ernestine Kantor, tiveram dez filhos. Duas filhas e dois filhos, os maridos e três netos morreram em campos de concentração nazistas; outros imigraram para a Grã-Bretanha e América. Um dos filhos foi Karl Kraus (18741936). Em 1899, ele renunciou ao judaísmo e fundou a revista Die Fackel (“A Tocha”), que editou até a morte. Nos seus últimos 25 anos, Kraus escreveu a revista inteira – aforismos, poemas e, acima de tudo, polêmicas, fazendo dele o maior crítico da cultura, da imprensa e da política da Alemanha e da Áustria. Grandes plateias assistam às suas leituras públicas e os seus pronunciamentos literários ou políticos eram ansiosamente aguardados. Kraus raramente decepcionava e somente o triunfo de Hitler o deixou sem fala. Ao morrer de insuficiência cardíaca, em 1936, foi poupado de assistir à absorção da Áustria pelo Terceiro Reich. O professor e diretor do Centro de Estrudos Germânicos da Universidade de Sussex Edward Timms escreveu uma biografia de Karl Kraus com o sugestivo título de Satirismo Apocalíptico: Cultura e Catástrofe na Viena dos Habsburgos, mas Gaugusch fornece uma nova perspectiva a respeito deste gênio rebelde. Herdeiro de um industrial judeu em uma monarquia cristã e vivendo em uma cidade cujo prefeito Karl Lueger foi um dos pioneiros do antissemitismo político, Kraus zombava impiedosamente tanto da monarquia como da república que a substituiu. “As ruas de Viena são pavimentadas com cultura”, escreveu ele, “as ruas de outras cidades com asfalto”; mesmo assim, os epigramas de Kraus (traduzidos por Harry Zohn na antologia Half-Truths and One-and-a-Half Truths (“Meias-Verdades e uma Verdade-e-Meia”) revelam a sua frustração: “Ponho a minha caneta no cadáver >>

Antes do Anschluss (“Anexação”), em 1938, a sociedade vienense era constituída de três círculos sobrepostos: um judeu, um católico e um misto, ao qual o seu primo Ludwig Wittgenstein e a maioria dos outros intelectuais pertenciam


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magazine > viena avô do poeta Hugo von Hofmannsthal (Hugo Laurenz August Hoffman von Hofmannsthal, cujo exemplo levanta as questões da conversão e do casamento misto. O poeta era geneticamente apenas um quarto judeu, e isso indica que não havia dúvidas em casar se isso significasse a possibilidade de “avançar” ou mesmo ignorar alguns irritantes numerus clausus (número limitado), que os impediam de crescer profissionalmente.

>> austríaco porque persisto em acreditar que há vida nele”. O que havia de “vida” em Viena era principalmente a cultura de uma classe judaica comercial recém-chegada, mas a única parte da cultura a que Kraus admirava sem reservas era a língua alemã. Ele adorava satirizar os erros linguísticos de judeus vienenses – a maioria dos quais tinha, como a sua própria família, abandonado o ídiche apenas há uma geração. Na verdade, ele culpava o declínio da literatura alemã ao seu maior expoente judeu, Heinrich Heine, com quem tinha muito em comum, projetando em seu grande predecessor todo o ressentimento da própria formação: “Heinrich Heine soltou tanto o espartilho da língua alemã que hoje qualquer vendedorzinho pode acariciar-lhe os seios”. Mas a aversão de Kraus aos judeus de Viena foi ultrapassada, por pouco, pelo desprezo aos cristãos: tendo renunciado ao judaísmo e abraçado a aristocracia cristã (depois do batismo, manteve um longo caso com a baronesa Sidonie Nadherny von Borutin), Kraus também abandonou a igreja após a Primeira Guerra. Ao nos permitir ver figuras complexas, como Kraus no contexto da burguesia judaica de Viena, o não judeu Gaugusch, nascido em 1974, presta um serviço valioso. Águia de duas cabeças A obra de Gaugusch revela a grande mobilidade social no império austro-húngaro na segunda metade do século 19, e quem não conseguia subir nas profissões que as minas, usinas e fábricas do Império dos Habsburgos oferecia, ser nomeado fornecedor da corte e a consequente outorga de uma efígie da águia imperial de duas cabeças também era parte do processo de ascensão social. O filme O Imperador e a Padeira (1955), estrelado por Romy Schneider, conta como uma padaria é elevada à condição de fornecedora imperial de kipferl (espécie de croissant)

VISTA ATUAL DA RINGSTRASSE CONSTRUÍDA SOBRE A ANTIGA MURALHA DE

VIENA. NADA MUDOU DESDE O INÍCIO DO SÉCULO PASSADO

mas sua personagem, claro, não era judia. Esta águia ainda pode ser vista em alguns telhados de Mariahilferstrasse, por exemplo. Naquele mundo interesses comerciais em comum constituem o nó que amarra os casamentos e isso explica o fato de os judeus se casarem no interior dos respectivos clãs. Judeus húngaros se casavam com outras pessoas das suas cidades de origem, e assim também os morávios e boêmios e isso reafirmava a existência dessas comunidades fechadas e autossustentadas. E a razão é simples: os judeus vinham de todo o império e eles tendiam a fazer negócios com as pessoas em quem confiavam há muito tempo: um judeu de Banat sabia pouco a respeito dos judeus da Bucovina, e muito menos daqueles de Praga ou Pilsen. Os milionários perseguiam todas as pompas do sistema: camarotes na ópera e no Burgtheater e, principalmente, títulos de nobreza. Os Ephrussis se tornaram “von” Ephrussi, assim como os Rothschilds, os Arnsteins (os mais velhos “barões” judeus e patronos de Mozart), os Auspitzes, os Blochs, os Bondys, os Eislers, os Fröhlichs, os Freunds, os Frydmanns, os Grabs, os Hechts, os Herzls, os Inwalds e os Hofmanns, só para citar alguns. O comerciante Isak Löw Hofmann tornou-se Hofmann von Hofmannsthal, o

Conversos e exitosos Um exemplo de conversão foi o de Rudolf Sieghart, que aparece no livro de Gaugusch porque casou-se com uma filha do professor Carl Grünhut, membro da Câmara Alta da Áustria. Sieghart foi uma das figuras mais controvertidas da Áustria antes da guerra, considerado o responsável pela quebra do banco Bodencreditanstalt em 1929 a que se seguiu a ruína de milhares de investidores de classe média. Nascido Rudolf Singer, em Troppau, na Silésia austríaca, Sieghart era filho de um rabino e mudou de nome ao se converter ao cristianismo com 28 anos, em 1895: afinal, Sieghart não parecia ser um nome judeu. Indicativo da sua ambição foi ter escolhido como padrinho o futuro primeiro-ministro conde Karl von Stürgkh, assassinado por Friedrich Adler em outubro de 1916. Era muito mais fácil conseguir título de nobreza em Viena do que em Berlim, assim como havia menos restrições para galgar postos no exército austríaco que no prussiano. Alguns oficiais judeus do Exército também receberam títulos, como o general Erich von Sommer, saudado por valentões nazistas ao aparecer de uniforme completo após o Anchluss, em 1938. No romance do escritor judeu Joseph Roth, A Marcha de Radetzky, de 1932, um não judeu de origem humilde chamado Joseph Trotta salva a vida do jovem imperador Franz Joseph na Batalha de Solferino e logo recebe o título de nobreza. Roth pode ter se baseado na história real do tenente judeu Wolf Bardach – a quem foi concedido o título de “von Chlumberg” em 1890 por um ato de grande bravura na Batalha de Königgrätz, em 1866. Outro modelo possível para a obra foi Heinrich Ulrich von Trenkheim, investido do título nobiliárquico em Custozza, no mesmo ano. Ainda assim, Bardach levou 35 anos para ser promovido de soldado raso a capitão de primeira classe, mas isso era normal no exército imperial. A maioria dos judeus que recebeu títulos de nobreza era constituída de industriais, como Goldreich, o fabricante de destilados, o empresário do setor de vidro Inwałd, o barão do carvão Gutmann, o refinador de açúcar Bloch von Brodnegg, o barão das ferrovias von Feldau Fröhlich, o enlatador Eisler von Terramare, o fundidor Bondy e o cervejeiro Kuffner; comerciantes como Gomperz, Liebens, Doctors e Adlers; advogados como Boschans ou Bachrach; e os banqueiros Auspitz, Frank e Biedermann. Um Kubinzky, descendente de uma dinastia de magnatas do algodão com origem em Praga, aspirava a ser marquês von Hohenkubin. Claro que a Áustria não era apenas a terra de leite e mel para

eles, pois tinha um tipo próprio de antissemitismo tão ou mais virulento que o de outras regiões ao longo do rio Inn, afluente do Danúbio de 517 quilômetros, que atravessa a Suíça, Áustria e parte da Alemanha. Se nem o imperador nem o império eram antijudaicos, muitos dos súditos eram exatamente o oposto. Afinal, foi nas ruas de Viena que Adolf Hitler fez a sua aprendizagem em antissemitismo a partir das ideias de provocadores de judeus como Georg von Schonerer. Em março de 1938, os nazistas austríacos fizeram da chegada de Hitler um pretexto para bater em seus concidadãos judeus com enorme entusiasmo. Diz-se que muitos judeus ricos escaparam de Viena e não estava entre os 65 mil ou mais cidadãos que pereceram no Holocausto, a maioria dos quais proveniente das comunidades mais pobres de Ostjuden do II Distrito. É notável, no entanto, que muitos membros da elite listados no Wer einmal War foram “deportados” para Theresienstadt, Auschwitz ou outros campos ou guetos, muitos bastante idosos ou cansados demais para fugir. Também é chocante o número de mortes por suicídio registradas em 1938, como uma espécie de testamento do desespero. Em sua grande sequência poética A German Requiem (“Um Réquiem Alemão”), James Fenton fala da “desenvoltura da lembrança”: “Não são as suas memórias que lhe assombram. Não é o que você escreveu. É o que você esqueceu, o que você deve esquecer”. Mesmo assim, há um tempo para se lembrar – e este tempo é agora. Esta obra simboliza um reconhecimento dos austríacos do dano que causaram, não somente aos seus concidadãos judeus, mas a eles mesmos quando acolheram Hitler em 1938. Portanto, esta genealogia dos judeus de Viena é também o seu memorial. *A partir de textos de Daniel Johnson e de Giles Macdonogh, respectivamente editor e redator do Standpoint

O que havia de “vida” em Viena era principalmente a cultura de uma classe judaica comercial recémchegada, mas a única parte da cultura a que Kraus admirava sem reservas era a língua alemã


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magazine > antropologia | por Arika Okrent *

ESTA, COMO OUTRAS

FOTOS FEITAS POR EADWEARD MUYBRIDGE, NO FINAL DO SÉCULO 19, AJUDARAM A ENTENDER A LINGUAGEM DOS GESTOS

A linguagem dos gestos O PESQUISADOR DAVID EFRON ANALISOU AS CONVERSAS DE 1.250 JUDEUS LITUANOS E POLONESES E DE 1.100 ITALIANOS DE NÁPOLES E SICÍLIA COLETADAS EM NOVA YORK E NO SEU ENTORNO

D

ois judeus e um inglês cruzam o oceano em um navio. Os judeus não sabem nadar e começam a discutir a respeito do que fazer se o navio afundar. Discutem e gesticulam com tal vigor que o inglês se afasta para não ser atingido pelos movimentos. De repente, o barco começa a afundar e os passageiros saltam ao mar. Menos os judeus que de tão envolvidos na discussão

não percebem o que acontece. O inglês nada até uma praia e, surpresa, lá estão os dois judeus que lhe acenam, felizes. O inglês pergunta como chegaram até lá. E um deles responde: “Não temos a menor ideia. Só continuamos a falar dentro d’água”. Uma versão dessa piada consta de uma dissertação de 1941 acerca do “comportamento gestual dos judeus do Leste Europeu e dos italianos do sul na cidade de Nova York, vivendo em condições ambientais similares e também diferentes”. O autor é David Efron, criado em um lar judeu ortodoxo na Argentina e que, nos anos 1930, foi a Nova York fazer pós-graduação. Quando falava espanhol Efron fazia gestos com “o calor e a fluidez de muitos bons argentinos”, mas ao falar ídiche os gestos eram

mais “tensos, aos arrancos e contidos”. Às vezes Efron combinava os dois estilos, por exemplo, ao “discutir uma questão judaica em espanhol, e vice-versa”. Depois de alguns anos nos Estados Unidos, notou que os seus gestos se tornaram “em geral, menos expansivos, mesmo quando fala o espanhol”, e a identidade gestual se complicou ainda mais pelos “movimentos simbólicos italianos” que absorveu dos ítalo-argentinos e reforçados em viagem à Itália. Não importa a língua, estava disposto “a bater na mesa para reforçar uma opinião”. Efron foi um dos últimos alunos do famoso antropólogo Franz Boas, cada vez mais convencido de que a cultura e o ambiente, e não a etnia, pesavam na forma como grupos de pessoas se comportavam. Efron, por sua vez, desafiava as explicações impressionistas do gesto e que os teóricos raciais da década de 1930 tratavam como ciência. Para alguns, os judeus que se misturaram a outros grupos já haviam perdido outros traços físicos judeus, mas ainda podiam ser identificados pelos gestos. Outros teóricos classificavam os gestos por etnia: os nórdicos, contidos; os do Medi-

terrâneo, brincalhões; os da região alemã da Westfália lembravam os gestos de uma galinha em fuga e a referência aos italianos eram o sangue quente, os ossos leves e o pouco controle sobre os impulsos. Efron analisou as conversas de 1.250 judeus lituanos e poloneses e de 1.100 italianos de Nápoles e Sicília coletados em Nova York e imediações. Em cada grupo, cerca de metade era de imigrantes recentes e a outra de já “assimilados”, observados em parques, mercados, clubes, escolas, universidades, hotéis e no hipódromo. Foram cinco mil pés de filme e o desenho de dois mil esboços de gestos espontâneos. Os resultados da pesquisa retratam um estereótipo detalhado e específico. Segundo Efron, os judeus usavam um número limitado de movimentos, principalmente a partir do cotovelo, mais angulares, cortantes, intrincados e verticais que os dos italianos, que se valiam de gestos mais amplos, mais suaves, de curvas laterais e articulados a partir do ombro. Os judeus tendiam a usar uma mão, os italianos usavam as duas. Os italianos tocavam o próprio corpo, os judeus tocavam o corpo dos interlocutores. Efron viu um homem agarrar e gesticular com o braço do interlocutor, que se aborreceu, segurou o pulso do primeiro homem e começou a repreendê-lo com a própria mão. Os judeus também faziam mais gestos com objetos como lápis ou até um bolinho de carne na ponta do garfo. Os italianos faziam menos movimentos dos dedos e do pulso, mais movimentos repetitivos e um vocabulário de gestos simbólicos com um padrão de significados. Por exemplo: “Sei mais do que você pensa”, “vou fechar a boca” e “vou arrancar os seus olhos”– entendido sem necessidade de palavras. O estudo pretendia descobrir se à medida que os judeus e os italianos se assimilavam ao ambiente da cidade passavam a gesticular de modo parecido. Efron avaliou estudantes de uma escola em Little Italy nos significados dos gestos simbólicos utilizados pelos italianos não assi>>

Os gestos podem ter vida surpreendentemente longa, e aqueles herdados dos gregos e dos romanos são atualmente muito mais facilmente identificáveis do que as palavras que nos legaram


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magazine > antropologia >> milados, e a conclusão foi óbvia: à medida que os judeus e italianos se tornavam americanos, assim também seus gestos. Desde o século 1 O método e o estudo de Efron se tornaram importantes. Ele desenvolveu um modo de dividir os gestos em unidades que podiam ser contadas de uma forma tal que explicava as diferenças entre elas. Assim como havia “emblemas” que poderiam ser entendidos sem fala, também existiam gestos que não tinham significado independente do discurso: há os gestos “fisiográficos” e “cinetográficos” que seguem os objetos ou ações em discussão, os “ideográficos”, que traçam os caminhos metafóricos dos pensamentos do orador, e os “batutas”, que regem o ritmo do discurso. Os gestos dos sujeitos observados por Efron diferem pelo modo como se moviam, quantas mãos usavam, se elas se tocavam – e não pareciam iguais: os italianos usavam emblemas, os judeus, não; às vezes, os italianos usavam movimentos fisiográficos descrevendo tamanho e forma das coisas sobre as quais falavam, e os judeus usavam gestos ideográficos, descrevendo as características do próprio discurso. Quando um judeu apontava um polegar em direção ao chão e o levantava rapidamente, destacava o cerne do discurso escavando-o física e metaforicamente para ser analisado. Um ziguezague com o dedo delineava os dois lados de um argumento, ligando um ponto ao seguinte. Depois desse estudo a respeito dos gestos dos imigrantes de Nova York, Efron deixou a universidade e virou advogado na Organização Internacional do Trabalho (OIT). No entanto, a tese dele se tornou base para os estudos “do gesto”, nova área de atuação de psicólogos, antropólogos e linguistas que observam o que as pessoas fazem com as mãos enquanto falam. Efron lançou as bases de um método mais sistemático do estudo dos gestos e introduziu a ideia de que o gesto não era companheiro da fala, mas produto dela. Em sua Institutia Oratoria, o professor de retórica do século 1 Quintiliano diz que por todas as coisas que as mãos podem fazer elas são “quase iguais em expressão aos poderes da própria linguagem”: “Com as nossas mãos pedimos, prometemos, chamamos pessoas e as mandamos embora; ameaçamos, suplicamos, mostramos desgosto ou medo; com as nossas mãos representamos alegria, tristeza, dúvida, reconhecimento, penitência, e indicamos medida, quantidade, número e tempo. Nossas mãos não têm o poder de incitar, restringir, suplicar, testemunhar aprovação, admiração e vergonha? Ao apontar lugares e pessoas, elas não cumprem o papel de advérbios e pronomes? Assim que, em meio à grande diversidade de línguas que permeiam todas as nações e povos, a linguagem das mãos parece ser uma língua comum a todos os homens.” Como muitos depois dele, Quintiliano considerava o gesto uma espécie de língua natural universal, um idioma que precisava ser cultivado e praticado. Como o gesto representava pen-

direita” significa raiva, pois Sêneca assim fez para descrever um homem irritado. A maioria desses guias desaconselhava o mimetismo simples ou a representação apenas do conteúdo do discurso. Para Quintiliano, os gestos de um orador “devem se relacionar mais com o sentido do que com as palavras”. O objetivo do gesto era ampliar as informações, não repeti-las. Parecem fazer mesmo os não treinados em oratória. Usamos gestos para mostrar como os eventos narrados aconteceram, e para apontar aspectos particulares ou pessoas de que falamos. Os gestos dos italianos, que Efron estudou, acrescentavam informações a respeito das qualidades físicas das coisas sobre as quais falavam, e das atitudes em relação a elas. Os gestos dos judeus que Efron analisou ilustravam as conexões entre ideias e sua importância relativa. O gesto pode comunicar significados ausentes no discurso.

FRANZ BOAS, NASCIDO EM UMA FAMÍLIA JUDIA, É CONSIDERADO O PAI DA MODERNA ANTROPOLOGIA

samentos, ou, como dizia Cícero, “os movimentos da alma”, os oradores tinham de aprender a organizá-los para expôr os pensamentos da melhor forma possível. Quintiliano estabeleceu o que fazer, ou não. Por exemplo, quando “o dedo médio se levanta na direção do polegar, com os outros três dedos abertos”, é um gesto apropriado para um começo de discurso, desde que “moderadamente exercido e com um movimento suave da mão em qualquer direção”. Durante séculos debateu-se a respeito do gesto se adequado ou eficaz. Havia guias de orientação para oradores, pregadores e atores, e livros de regras de comportamento de normas para o gesto. No século 18 surgiram até dicionários do gesto. A Arte dos Sinais, de Giovanni Bonifacio (1616), lista centenas de gestos e seus significados em passagens dos clássicos. Por exemplo, “golpear de repente a mão esquerda com a

Cegos e ao telefone Não é correto afirmar que fazemos gestos para nos comunicar. Quase tudo pode comunicar – as roupas que vestimos, as flores que enviamos, a maneira como dobramos o lenço. Os gestos também servem à comunicação, mas estão muito mais intimamente ligados ao ato de falar, e isto não significa que seja uma língua em si, e, sim, complemento, parceiro e subproduto. Pesquisas pós-Efron descobriram que toda cultura contém gestos durante a fala. Os italianos e os judeus o fazem de forma mais intensa, e, numa certa medida, até os ingleses. Embora os aspectos de como os fazemos sejam aprendidos ou condicionados culturalmente, e apesar de alguns dos nossos gestos serem intencionalmente criados com o que se tem em mente para a comunicação, a imitação não explica por que também os cegos de nascença gesticulam, principalmente quando conversam com outros cegos. Além disso, a intenção de se comunicar também não explica porque se gesticula ao telefone. O gesto é simplesmente uma parte do uso da linguagem. Quando formamos nossos pensamentos em palavras, algumas escorrem pelas nossas mãos. A sensação de que o gesto é uma linguagem própria é ainda maior nos casos em que parece substituir a fala. No século 19, os visitantes voltavam da Itália com notícias de uma “linguagem gestual” exótica, falada sem nenhuma palavra. No século 18, após a descoberta dos sítios arqueológicos de Herculano e Pompeia, Nápoles tornou-se parada obrigatória para turistas e desde então os relatos de viagem contavam histórias de conversas inteiras em silêncio realizadas somente com as mãos de varanda para varanda das casas, tendo como temas fofocas, traições e casos amorosos, nesta ordem. E nenhuma palavra era ouvida. Nessa linha conta-se que durante meses um jovem admirador cortejou uma moça, sem que o pai dela descobrisse, por meio de gestos e olhares trocados da rua para a varanda. Quando finalmente chega ao local do encontro para fugir com ela, ouve na escuridão uma voz de taquara rachada per-

guntar: “Você está aí?” Embora nunca a tivesse ouvido, percebeu que era a voz da moça e fugiu. Em benefício dos estrangeiros “que nasceram em regiões distantes e que, por conta do temperamento frio e lento, são bastante ineptos para gesticular”, em 1832 o arqueólogo do Museu Real Bourbon em Nápoles, Andrea de Jorio produziu um dos poucos trabalhos anteriores ao de Efron olhando para os gestos como eles eram usados, e não como eles deveriam ser usados. Jorio catalogou centenas de movimentos usados nas ruas de Nápoles em um índice alfabético dos significados dos gestos para tudo, desde abbondanza (“abundância”) a uomo panciuto (“homem barrigudo”). Ele descreve a aparência dos gestos – pontas dos dedos indicador e polegar unidas de frente, um para o outro, e, em seguida, separadas pelo indicador da outra mão significa “não sou mais seu amigo” – e exemplifica contextos em que os gestos são usados, e as variações do ponto de vista de significado. É dele a história de um certo conde, que ao notar que um desconhecido havia se juntado à conversa constrangendo a todos, perguntou aos amigos, por meio de um gesto: “Quem é?”. Um deles respondeu colocando a parte externa do polegar no ouvido, com a palma virada para baixo: “é um asno”. Outro amigo fez o mesmo gesto, com ambas as mãos nos ouvidos: “o sujeito é mais do que burro”. Um terceiro colocou as pontas dos polegares estendidos sobre as têmporas com os outros dedos bem abertos e balançando: portanto, “é um tolo e, de fato, estúpido”. Apesar dos estereótipos, os italianos nunca tiveram o monopólio do gesto desacompanhado de palavras. Qualquer um pode transmitir mensagens sem dizer uma palavra: “vem cá”, “ele é louco”, “olhe para ela” “sim”, “não”, “ não sei”, “paz”, “é segredo”, “estou pensando”, “espere um pouco”, “pare logo ali”, “algo cheira mal”, “não quero saber”, “vá se ferrar”, “verifique, por favor”. Todos usam esses gestos e, de alguma forma, pertencem à linguagem “comum a todos >>

Com os gestos, os jogadores trocam segredos em campo, corretores da bolsa fazem negócios na confusão barulhenta do pregão, os mergulhadores se comunicam através da barreira da água e os motoristas exprimem a sua frustração para os outros


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magazine > antropologia >> os homens” de que Quintiliano falava. Mas, claro, não são comuns a todos os países e regiões, e um bom guia de viagens mostra isso. O americano não deve fazer o sinal de “ok” no Brasil, onde ele significa “vá se...”. Na Bulgária, um aceno de cabeça significa “não” e sacudir a cabeça, é “sim”. Levantar os polegares no Irã quer dizer “vá se...”. Muitos gestos usados no lugar do discurso são pouco transparentes e, da mesma forma que as palavras, suas formas arbitrárias precisam ser traduzidas. Palavras para surdos É neste uso silencioso dos gestos em que se tornam palavras – citáveis, convencionalmente definidos, intencionalmente produzidos e com o objetivo da comunicação – que realmente começam a parecer uma linguagem. Mas, bem analisados, esses gestos se distinguem das palavras. Os gestos podem ter vida surpreendentemente longa, e aqueles herdados dos gregos e dos romanos são atualmente muito mais facilmente identificáveis do que as palavras que nos legaram. O digitus impudicus com que os romanos se insultavam é o mesmo dedo usado atualmente para este fim, apesar de a expressão “digitus impudicus” necessite de algum conhecimento para ser decifrada. E a exibição do “dedo em riste”, não. Além disso, esses gestos citáveis – emblemas, como Efron os chamava – funcionam de modo bem diferente das palavras. Eles quase nunca desempenham o papel de substantivos ou verbos. No entanto, há gestos que funcionam como adjetivos – o dedo que gira na têmpora para “louco”, o beijo na ponta dos dedos para “delicioso” –, não agem para descrever e, sim, como comentários carregados de atitude. Emblemas não funcionam como palavras, mas como atos completos de discurso. Eles não dizem, eles fazem. Eles pedem (“venha aqui!”), repreendem (“shhh!”), insultam (“vá se...”) e elogiam (“delicioso!”). Só no caso das línguas completas de sinais, aquela dos surdos, é que os gestos assumem todas as propriedades das palavras porque possuem substantivos, verbos e regras a respeito de como se encaixam nas frases. Signos podem dizer: “O alecrim realmente dá sabor neste assado”, e “delicioso!” Os sinais, como as palavras, são compostos de um estoque finito de unidades definidas com limites discretos. Na linguagem americana dos sinais, a posição do polegar em um punho – perto dos dedos, na frente dos dedos, ou no interior dos dedos – pode fazer a diferença entre um significado, outro e até um absurdo, de modo que, no discurso, até alternâncias minúsculas na vibração e no fluxo de ar influem. Os gestos são conjuntos e as suas partes internas tomadas isoladamente não são importantes. Quando bato a mão com o punho para dizer que vou lhe agredir, pouco importa o que o meu polegar está fazendo. Quanto maior o peso dos gestos de comunicação, mais parecidos se tornam com a linguagem. Mas se temos uma linguagem completa para nos comunicar, então por que gesticulamos? É

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por Ariel Finguerman | ariel_finguerman@yahoo.com

evidente que o gesto é útil nos casos em que não se pode ou não se quer falar. Com os gestos, os jogadores trocam segredos em campo, corretores da bolsa fazem negócios na confusão barulhenta do pregão, os mergulhadores se comunicam através da barreira da água e os motoristas exprimem a sua frustração para os outros mesmo que haja uma janela entre eles. Estes casos especiais não representam a maior parte dos gestos que fazemos quando podemos falar ou estamos falando. Mas o ato de usar a linguagem é efêmero e as palavras desaparecem logo que são faladas. É claro que a invenção da escrita preservou as palavras do passado e a permanência sólida e linear da linguagem escrita encoraja a ilusão de que a linguagem é apenas objeto e recipiente para o pensamento. A linguagem é também comportamento e laboratório para a criação do pensamento e da negociação. E os gestos são pensamentos, ideias e atos de fala tangíveis no ar e que podem, até mesmo – e por um momento – sobreviver a quem fala. Presos no corredor da morte foram executados com os dedos médios estendidos em um último gesto de desafio. O psicólogo David McNeill passou a vida acadêmica estudando o gesto e o primeiro contato com ele foi assistir dois colegas conversando: “Pareciam escultores trabalhando com materiais diferentes. Um sempre batia e empurrava alguma coisa pesada em forma de bloco. Imaginei que trabalhasse barro ou mármore. O outro desenhava e tecia coisas muito delicadas, como uma teia de aranha”. Pesquisas recentes revelam que colocar os pensamentos em nossas mãos podem contribuir para aprender e a nos lembrar melhor, nos ajudar a falar com mais fluência e a encontrar as palavras certas. A fala molda os pensamentos para a linguagem, e os gestos, no espaço à nossa frente. Cada homem pode ser um tipo diferente de escultor que se vale de variado tipo de material. Mas os atos de modelar, tecer e esculpir nos fazem bem. * Arika Okrent é linguista, autora de The Land of Invented Languages

10 notícias de Israel

Os gestos são pensamentos, ideias e atos de fala tangíveis no ar e que podem, até mesmo – e por um momento – sobreviver a quem fala. Presos no corredor da morte foram executados com os dedos médios estendidos em um último gesto de desafio

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Tô ligado A linha férrea de Israel fechou um contrato com a Motorola para instalar internet sem fio em todas as estações do país. Desde o mês passado, lap tops e iphones já podem ser conectados do interior dos vagões, nas plataformas e cafés da área. O custo do projeto é de seis milhões de dólares.

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Saúde, obrigado Do mais recente relatório sobre saúde da Oecd, a organização que reúne os 34 países mais desenvolvidos do mundo: o israelense bebe pouco álcool, apenas 2,4 litros por ano, e somente os turcos tomam menos. No entanto, quando se trata de cigarros, Israel é o campeão, acendendo 18,3 por dia.

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Santa ironia

Dobradinha familiar

Tudo limpo

O túmulo de Maimônides, em Tibérias, vai ser reformado ao custo de dez milhões de dólares. Entre as novidades, redoma de vidro cobrindo todo o mausoléu, chama eterna tridimensional e faixa de laser que poderá ser vista a quilômetros. Isto tudo apesar de o sábio medieval ter sido um feroz crítico da veneração a túmulos de rabinos.

4 De olho A empresa israelense Synel, especializada em máquinas de ponto, vai equipar o Museu Louvre de Paris com um sistema que controlará, em tempo real, o movimento de seus setecentos funcionários para evitar furtos e monitorar o acesso de pessoas não autorizadas a locais restritos. O Louvre tem cerca de 35 mil peças de valor incalculável e recebe oito milhões de visitantes por ano.

Em novembro Amos Oz lançará um novo livro, desta vez escrito em parceria com a filha, a historiadora Fania Oz-Salzberger. A obra, em inglês, terá o título Jews and Words (Judeus e Palavras) e fará parte de uma coleção de dez volumes a respeito de cultura judaica publicada pela Yale University Press.

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Brincadeira mortal Acabou mal uma competição entre jovens do colegial num internato de Jerusalém. O menor identificado apenas como D., de 17 anos, tomou uma garrafa inteira de uísque, de um só gole. Poucos minutos depois o garoto perdeu a consciência, entrou em estado vegetativo e morreu duas semanas depois.

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Beleza pura A Associação Internacional de Aeromoças, a maior organização desses profissionais no mundo, elegeu a equipe da El Al entre as mais bonitas. A comissão destacou “o sorriso e a elegância” dos jovens da linha aérea israelense. Em seguida, foram escolhidas as comissárias de bordo da Aerolineas Argentinas e da Shangai Airlines.

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Academia mística A faculdade de Sfat, na Galileia, e capital mundial da Cabalá, foi autorizada a criar um inédito curso de mística e espiritualidade, com direito a diploma profissional. No currículo, técnicas cabalísticas, espiritualismo feminino e mitologia indiana.

O governo autorizou tratamento dentário gratuito para todas as crianças israelenses até os 12 anos. Cerca de 267 mil serão beneficiadas pelo programa, que inclui radiografia e limpeza. Se precisar de intervenção mais séria, como tratamento de raiz, os pais pagarão o equivalente a ... dez reais!

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No ano passado, Israel importou cerca de 4,5 milhões de celulares, incluindo smartphones. E calcula-se que entraram ilegalmente outras dezenas de milhares. Uma equipe policial especializada em interceptar este tipo de contrabando capturou, em junho, em pleno aeroporto, trezentos aparelhos que estavam acomodados em um... shtreimel hassídico, aquele chapéu todo de pele.


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magazine > memória | por Benny Ziffer

Uma história que o Holocausto não conta

AO ESCREVER O MUNDO DE HANNAH, ARIANE BOIS CONTOU A HISTÓRIA DA SUA FAMÍLIA TURCA

UM NOVO LIVRO REVELA A OPERAÇÃO DA TURQUIA PARA SALVAR 476 JUDEUS DA FRANÇA DURANTE O HOLOCAUSTO. DEPOIS DA GUERRA MUITOS DOS RESGATADOS REJEITARAM SEUS SALVADORES E O EPISÓDIO SE PERDEU NA HISTÓRIA

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nquanto esperava pela escritora francesa Ariane Bois no saguão de um hotel, em Hertzlia, notei a excitação provocada por judeus norte-africanos que haviam chegado ao hotel para o casamento dos fi lhos e celebrar o último de sete dias de banquetes, anunciado com uma placa banhada a ouro na entrada do hotel. Diante do quadro constatei que Israel, em um período relativamente curto de tempo, transformou-se de um deserto árido que atraiu os pioneiros do sionismo no período antes do advento do Estado para cumprir a visão de seu idealismo, em uma espécie de gigantesco estúdio cinematográfico e seu belo cenário natural para realizar estas e outras loucas fantasias religiosas de judeus de várias partes do mundo. Como acontece em muitos casos de famílias judias, o acaso e a coincidência poderiam transformar minha reunião com a escritora no reencontro de algum elo perdido da história das respectivas famílias. É que Ariane, como eu, nasceu de um casal judeu da Turquia, meio sefaradi e meia ashkenazi, e que o início do fim do Império Otomano empurrou a procura de abrigo na Europa. Minha família escolheu Viena, Berlim e Paris; a família dela optou apenas por Paris, e passou a viver em um dos bairros mais pobres da cidade, no 11ème e 18 ème arrondissements. De meados de 1920 até a Segunda Guerra Mundial, esses bairros foram em grande parte habitados por pessoas que falavam ladino. O Holocausto apagaria do mapa esses bairros habitados principalmente por judeus. No entanto, o governo turco foi inflexível na decisão de proteger os 476 judeus originalmente seus cidadãos, que deixaram o país e uma pequena fração das dezenas de milhares de judeus que viram na França um refúgio seguro. Se a França abandonou esses indivíduos ao seu próprio destino, a Turquia exigiu que aquelas 476 pessoas fossem colocadas sob sua proteção nacional, concedendo-lhes imunidade contra os decretos nazistas. Desta forma os judeus portadores de passaporte turco válido foram autorizados pelas autoridades francesas a retornar a Istambul de trem, e em vagões que ostentavam os símbolos do Crescente turco e a Estrela de David. Era uma viagem perigosa: cruzava quase toda a Europa em direção ao sudeste e chegar ao destino com êxito dependia de a Turquia manter a posição de que todos os seus cidadãos, independentemente de origem ou credo religioso, eram iguais e mereciam sua proteção. Os avós e a mãe de Ariane – à época com 10 anos – estavam entre os passageiros desses trens de resgate, um episódio dentre aqueles muitos desconhecidos na história do Holocausto. E uma das razões para esta deliberada omissão historiográfica é que, durante muitos anos, os judeus sefara-

ditas não eram considerados vítimas do Holocausto. Enredo de romance Hoje, setenta anos depois desse evento pouco conhecido, Bois escreveu um romance e o transformou em um monumento àquele episódio. Le Monde d’Hannah (O Mundo de Hannah), recentemente lançado pela editora Robert Laffont, é fruto de cuidadosa pesquisa de muitos anos em arquivos e entrevistas com passageiros desses trens para Istambul. Este material serviu de enredo para o seu romance que retrata o espírito da época. Quando a guerra terminou, a família de Bois retornou a Paris. A minha, imigrou para a Palestina onde os caminhos delas se separaram: minha mãe, que sempre sonhara ser jornalista, escolheu uma profissão que seria mais útil na nova terra e tornou-se médica de família. Na França, a mãe de Bois, ela, sim, foi jornalista investigativa da revista L’Express e viajou em muitas missões perigosas pelo Extremo Oriente. Enquanto realizei o sonho da minha mãe e tornei-me repórter do Haaretz, Bois seguiu os passos da mãe, e pertence aos quadros de repórteres do grupo Marie Claire. A mãe a levava para a redação do L’Express onde o diretor de redação Raymond Aron tinha o mau hábito de beliscar-lhe a bochecha. Bois também se recorda da figura majestosa da editora Françoise Giroud, quando atravessava o corredor. Eram todos judeus que haviam retornado à França e mais uma vez confiavam no país após a guerra. Recentemente a Turquia reviveu a história dos trens de resgate, certamente como parte da tentativa de ser admitida à União Européia apesar da crise do euro. Dois produtos desses esforços são o documentário O Passaporte Turco, exibido no último Festival de Cannes, e uma novela de autoria da escritora turca Ayse Kulin. É comum imaginar que a ficção histórica de Kulin O Último Trem para Istambul tenha exagerado nas dimensões da operação. A história narra as ações de >>

Era uma viagem perigosa: cruzava quase toda a Europa em direção ao sudeste e chegar ao destino com êxito dependia de a Turquia manter a posição de que todos os seus cidadãos, independentemente de origem ou credo religioso, eram iguais e mereciam sua proteção


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magazine > memória

um corajoso diplomata turco, que segundo a lenda local, teria sido a versão turca de Raoul Wallenberg, o diplomata sueco que resgatou dezenas de milhares de judeus húngaros dos campos de morte durante o Holocausto. Esta lenda, no entanto, é encarada por muitos com um considerável grau de dúvida, a ponto de, até hoje, o Yad Vashem, de Jerusalém se recusar a reconhecer no diplomata turco um dos “Justos entre os Homens” que salvaram judeus durante o Holocausto. A história de Bois é muito mais modesta nas suas representações heroicas e, portanto, muito mais persuasiva. “Férias” em Istambul? Os testemunhos dos judeus que viajaram nos trens de resgate a Istambul e que voltaram para a França depois da guerra são muito menos dramáticos do que na novela de Kulin. Segundo o livro, muitos passageiros desses trens não tinham noção da gravidade da situação e consideravam o repatriamento para a Turquia algo absolutamente natural. Ela conta como muitas judias, passageiras de um dos trens de resgate, aproveitaram a parada em Viena em razão de uma avaria, para abandonar os vagões e passear pelos jardins próximos da estação. Mesmo as crianças consideravam todo o percurso uma aventura emocionante. Somente quando retornaram a Paris, no pós-guerra, esses

A TURCA AYSE KULIN ESCREVEU A FICÇÃO HISTÓRICA O

ÚLTIMO

TREM PARA ISTAMBUL, RICO EM DETALHES DA OPERAÇÃO

afortunados judeus tomaram conhecimento das dimensões do Holocausto de cujas garras haviam sido resgatados. As casas estavam ocupadas por cidadãos franceses que ficaram perplexos com a volta e eclodiram vários episódios de violência entre os judeus e os novos ocupantes, que reclamavam o direito de viver nas casas dos judeus ausentes durante a guerra. Alguns até ouviram a seguinte cínica declaração de vizinhos franceses: “Enquanto você gozava férias em Istambul, estávamos sofrendo por aqui”. Por várias razões O Mundo de Hannah narra um episódio até agora contado de forma incorreta ou distorcida. Se esta é a história de judeus aos quais foi dado um novo sopro de vida no Holocausto graças ao governo turco, também é um episódio de lealdade e traição. Os judeus turcos resgatados nunca consideraram uma obrigação básica agradecer à Turquia pelo resgate e quando a guerra terminou, abandonaram o país que os salvou e voltaram para a França. Nenhum deles admitiu: “Estamos vivos graças à Turquia”. E ironicamente a França, país que os traiu, e com cinismo satânico os entregou aos assassinos nazistas, foi o lugar que desejavam e onde esperavam retomar a vida e se reintegrar à sociedade. De todo modo, Bois é um exemplo notável de uma judia de origem turca integrada na sociedade francesa. Apesar disso, as angústias e ansiedades judaicas transmitidas pela família estão evidentes no seu comportamento cotidiano: todos os dias, ao sair de casa, verifica se porta todos os documentos de identificação, temerosa de ser detida e enviada para um campo de extermínio. Além disso, ao entrar no elevador o coração acelera porque ela se lembra da história que a mãe contava a respeito de um vizinho paraplégico que a policia atirou no poço do elevador com sua cadeira de rodas no cerco dos nazistas aos judeus. O livro de Bois é uma tentativa de curar essas feridas da memória. Tradução Yossi Turel


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magazine > a palavra | por Philologos

Saúde! À Vida! L’Chaim! PARECE IMPOSSÍVEL ESCAPAR A L’CHAIM. AFINAL E PELO MENOS É UMA PALAVRA FELIZ. APRESENTAMOS A ORIGEM MAIS PLAUSÍVEL DO HÁBITO DE ABENÇOAR O VINHO ANTES DE BEBÊ-LO

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odos sabem que a palavra l’chaim é um brinde judaico derivado do kidush, a bênção antes de beber vinho às vésperas do Shabat e feriados. Descartei várias explicações oferecidas pelos leitores a respeito dos motivos da resposta que os judeus nos tempos antigos e medievais dariam à bênção do recitador: “[Que este vinho seja] pela vida”, entre eles, o temor de que o vinho poderia ter sido envenenado e o costume de dar aos prisioneiros condenados vinho para beber antes da execução. Isso endossava a teoria, proposta primeiramente pelo rabino do século 14 David Ben-Yosef Abudarham, segundo a qual a expressão original não era o hebraico l’ayim, “Pela vida”, mas do aramaico l’ayei, “Tudo bem”, corrompida para l’ayim quando o aramaico deixou de ser falado pelos judeus. L’ayei teria sido dito em resposta à pergunta feita pelo celebrante do kidush savrei maranan v’rabotai, “O que dizer a vocês, meus mestres?”, ao pedir permissão para começar.

Os últimos comentários a respeito de l’chaim são de estudiosos como David Wexler, Zishe Waxman, Gilad Gevaryahu, Michael Halberstam e o rabino Josh Yuter. Wexler concorda com Abudarham, o rabino do século 14. E, por razões ligeiramente diferentes, também Waxman. Gevaryahu não concorda e prefere o significado original de “Pela vida” a “Tudo bem”, e sugere, com base em uma passagem do Talmud de Jerusalém, que o perigo a ser evitado era o do vinho misturado com água impura ou poluída. (O vinho antigo era muito forte e, geralmente, acrescido de água antes de beber.) Halberstam e o rabino Yuter preferem a etimologia de “Pela vida” também, mas revertem a hipótese de vinho envenenado/prisioneiro executado e oferecem um argumento aparentemente irrefutável para isso – uma passagem explícita a partir da compilação rabínica de exegeses bíblicas conhecida como Midrash Tanhuma. Aqui está a passagem, encontrada no comentário sobre a leitura da Pekudei Torá no livro do Êxodo (as frases entre parênteses foram acrescentadas por mim, exceto as que estão em itálico, uma variante encontrada em alguns textos do Tanhuma): “[Depois das testemunhas em um julgamento que terminou com a condenação por um crime capital ter sido questionadas] O Sinédrio e o povo irá escoltá-las até a praça da cidade, e o homem condenado a ser apedrejado... Será levado para lá também, e dois ou três dos principais membros [do Sinédrio] perguntarão às testemunhas, Savrei maranan, ‘O que dizer a vocês, nossos mestres?’ E se [eles desejam que o condenado] viva, dizem eles, l’ayim, ‘À vida’, e se [eles desejarem-lhe] a morte, l’mitá, ‘À morte’. E ao homem a ser apedrejado é trazido vinho bom, forte, e lhe é dado a beber, para que não sofra... Da mesma forma, quando um líder de oração recita o kidush com o copo na mão [e teme que tenha sido colocado veneno no seu copo], ele diz savrei maranan, e os presentes dizem l’ayim, isto é, que copo seja para a vida.”

Isto resolve o assunto, não? Não é bem assim... Há muitas compilações rabínicas dos midrashim, dos quais se Tanhuma é uma das mais conhecidas também é uma das mais complexas em termos de origem. Embora o primeiro texto impresso da mesma date de 1522, há manuscritos anteriores, fragmentados, variam de um para outro e têm nomes diferentes. Embora o consenso entre os estudiosos seja que uma boa dose do Tanhuma se apoia em fontes mais antigas, numerosos ataques feitos nele aos caraítas, uma seita judaica bíblica literalista que se originou nos anos 800, bem como a qualidade do seu hebraico medieval, estabelece quase certamente que foi escrito depois do século 9. O Sinédrio, a quem a lei rabínica delega exclusivamente o poder de proferir a pena de morte, deixou de existir com a destruição do Segundo Templo, no primeiro século da Era Comum (E.C.). Além disso, mesmo quando o Sinédrio existia, sentenças de morte eram extremamente raras. Nem no período compreendido entre a destruição do Templo e a redação do Tanhuma – oitocentos anos depois, pelo menos – há qualquer texto judaico conhecido que mencione a prática de se perguntar às testemunhas em um julgamento se deve ser cumprida ou comutada a pena de morte

de um homem condenado anestesiado pelo vinho. Quais as chances de a memória de tal prática rara ter sido preservada oralmente de geração em geração durante oito séculos ou mais, até finalmente surgir na forma escrita no Tanhuma? Não é muito grande, na minha opinião. Para mim, portanto, a passagem do Tanhuma, longe de nos fornecer uma verdadeira explicação do costume de se dizer l’ayim durante o kidush, foi pescar no escuro com um palpite. Isso vale também para a versão de “e teme que o veneno foi colocado no seu copo”, que parece ter sido inserida por um editor que não dá mais crédito à explicação do condenado do que eu e lançava outra, diferente. Prefiro a explicação de Abudarham de l’ayei. É simples, plausível e elegante. O Tanhuma nos pede para acreditar mais do que nos é razoável acreditar.

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magazine > costumes e tradiçoes | por Joel Faintuch

Como salvar o globo, à moda judaica O OBJETIVO DE QUASE TODAS AS RELIGIÕES E DOUTRINAS É RESGATAR A ALMA HUMANA, E PROPORCIONAR À COMUNIDADE E AO PLANETA O MELHOR DOS MUNDOS, DESTE E DO VINDOURO. QUAL É O NOSSO POSICIONAMENTO?

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ntes de mais nada, cabe assinalar que o judaísmo não coopta nem coage ninguém aos seus princípios. Não tem a vocação para o proselitismo, e em nenhum capítulo da Torá ou da coleção de tratados englobando a Mishná e a Gemará (o Talmud), trata de emissários destinados a fazer proselitismo junto a este ou aquele povo. Isto não significa, no entanto, que a religião de Israel seja hermética, exclusivista, elitista. Alguns antissemitas se apegam a esta acusação, fundamentados na citação da Torá recitada nas orações principais e também na bênção (kidush) dos dias festivos, “Atá bechartanu mikol Haamim” (“O Eterno nos escolheu dentre os povos, somos o povo escolhido”). Os judeus sempre foram abertos à conversão, desde que espontânea e não induzida, e conduzida por rabino no prazo certo e após preparativos legítimos. Há dois mil anos a Gemará já enfatizava a obrigatoriedade de se tratar com plena dignidade o converso, sem preconceito ou discriminação, evidenciando que eles não eram raros. Em Vilna, na Lituânia, e também na Polônia e na Rússia, numerosas publicações entre os séculos 18 e 20 comemoravam a história do Convertido Justo (Ger Tzedek). É uma história com muitas versões que até hoje deflagra conflitos e mesmo discussões a respeito da sua veracidade. A maioria admite que efetivamente ocorreu, e se tratava de um cidadão de origem não judaica que, pelas suas qualidades morais e integridade religiosa, foi agraciado pela congregação ao nível de santidade. O personagem em questão teria sido o conde Potocki, pertencente a conhecida família de magnatas poloneses, e cujo mentor fora o próprio Gaon de Vilna (gênio de Vilna, 17201797), respeitadíssimo escritor sacro e um dos rabinos mais venerados de todos os tempos.

Segundo a tradição, Potocki, cujo nome hebraico tornou-se Abraham ben Abraham, teria sido executado em Vilna por ordem da igreja no segundo dia da festa de Shavuot (Pentecostes) de 1749. Os historiadores que não invalidam a história, no entanto buscam minimizá-la, com base em um texto publicado na época no London Magazine. De acordo com esta fonte independente, o converso seria Raphael Sentimany, croata que não pertencia à aristocracia ou à nobreza, e cujo destino final também teria sido o suplício a mando da Igreja. Coincidentemente, a data é o segundo dia de Shavuot, mas de 1753, e a razão do castigo a mesma: a total e irreversível devoção ao judaísmo. Convém lembrar que em meados do século 18 as visitações do Santo Ofício (Tribunal da Santa Inquisição) estavam em pleno vigor em diversos países católicos, inclusive no Brasil, e infrações da doutrina cristã eram severamente punidas. Polônia, Lituânia e regiões da Ucrânia eram muito católicas, e assim permaneceram mesmo depois do advento do comunismo. A hierarquia eclesiástica tradicional defendia o seu credo fortemente, o que explica o apoio de algumas dessas autoridades aos cruéis pogroms (“chacinas”) deflagrados de tempos em tempos contra a comunidade israelita. Em diferentes tratados, a Gemará menciona a importância do cumprimento do preceito de Tikun Olam, que não deve ser confundido com o grupo religioso (Binian Olam – Construção do Mundo). Tikun Olam pode ser traduzido como “regulamentar, ordenar ou consertar o mundo”, mas do ponto de vista talmúdico significa promover a paz e a harmonia entre as pessoas. Sempre que uma questão ou divergência familiar, social ou mesmo trabalhista, entre patrões e empregados, pudesse criar mal-estar, conflito ou sofrimento do indivíduo ou da comunidade, os sábios aconselhavam transigir e fazer concessões. O que era extensivo a todos: judeus, não judeus e convertidos. A justificativa: mipnei tikun olam, isto é, para que houvesse tranquilidade e boa convivência no mundo.

O KEREN KAIEMET LEISRAEL TALVEZ TENHA SIDO PIONEIRO EM ECOLOGIA

Como se vê, na tradição israelita sobram regras, posturas e mandamentos filosóficos e religiosos, o que certamente é oportuno para a grave falência moral e ética que atinge a humanidade. No entanto, qual a receita para os dramas físicos e ambientais? Todos sabem que estamos assolados por fenômenos como efeito estufa, elevação dos níveis dos oceanos, poluição do solo, da água e do ar, esgotamento da terra agriculturável e das reservas minerais, superpopulação, má distribuição das riquezas, doenças persistentes e epidemias, ao lado de inúmeras outras desgraças. Calma lá. A Torá nada antecipa a respeito de geração de eletricidade a partir de novas fontes re-

nováveis como solar, eólica, ou o fluxo das marés. Ela é omissa a respeito de sementes geneticamente modificadas, os controvertidos alimentos transgênicos que aumentariam a produtividade da agricultura com menos agrotóxicos, acerca de reciclagem do lixo ou automóveis ecologicamente corretos. Apesar disso, todavia, nossos antepassados já defendiam a conservação e o gerenciamento racional do ambiente. A Torá é contrária à derrubada desnecessária de árvores ou ao dano a fontes de sustento (Sefer Devarim/ Deuteronômio). Este princípio é ampliado e realçado na Gemará na diretriz geral “Bal Tash’ chit”: Não destruir. Isto se aplica a propriedades, bens ou valores. No Shabat era naturalmente proibido rasgar tecidos, quebrar objetos, queimar combustíveis (exceto aqueles acesos previamente para durar todo o dia de descanso), ou matar animais, para não profanar a santidade da data (Gemará Tratado Shabat). Esta prática foi estendida a outros contextos (Tratado Kidushin), no sentido de que desperdícios e abusos ambientais não eram aceitos. Na Gemará, Tratado Bava Kama, consta que rav Chisda, um dos sábios da Babilônia, usava as próprias vestes ao atravessar um campo de plantas espinhosas ou urtigas. Embora a sua condição social permitisse a aquisição de roupas novas caso elas se estragassem nas caminhadas preferia se expor a alguns arranhões mas não estimular o desperdício. O Rambam (Maimônides, 1135- 1204), no tratado Hilchot Melachim (“Leis Reais”), capítulo sexto, defendia a mesma atitude: “Todo aquele que inutiliza objeto útil, rasga peças do vestuário, demole construções aproveitáveis, ou mesmo desperdiça alimentos infringe o mandamento do Bal Tash’ chit”. Desde a sua criação, há mais de um século, o Keren Kaiemet LeIsrael pratica uma política conservacionista e ecológica em todo o território israelense, numa época em que tais expressões e preocupações nem sequer existiam. Conta-se a história de um mestre-escola de alfabetização judaica (melamed) que estava ensinando crianças pequenas a decifrar as intrincadas letras e palavras do hebraico, quando um conhecido o chamou para ajudar a salvar uma vaca atolada no brejo. – Não estou preocupado com a vaca, disse o professor. Procure outra pessoa. Estou cumprindo a elevada missão talmúdica da educação dos jovens (chinuch). Desculpe-me, mas nada vai me desviar desta deste mandamento (mitzvá). – Mestre, é a sua vaca que caiu no lamaçal. – Minha vaca? Então vou voando, pois não se pode transgredir a lei do “Bal Tash’ chit”.

Nossos antepassados já defendiam a conservação e o gerenciamento racional do ambiente. A Torá é contrária à derrubada desnecessária de árvores ou ao dano a fontes de sustento


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por Bernardo Lerer

A Alemanha Nazista e os Judeus – Os Anos da Perseguição 1933-1939

Anatomia de um Julgamento

Saul Friedländer | Editora Perspectiva | 451 pp. | R$ 80,00

Tudo indicava que a médica Mazoltuv Borukhova, bonita, estranha, enigmática e judia ortodoxa, teria mandado matar o marido a quem responsabilizava pela guarda da filha no processo de separação do casal que vivia em Queens, Nova York. Todos acreditavam nisso – jornalistas, promotoria, a família da vítima e a opinião pública – menos a jornalista Janet Malcolm, para quem as certezas das provas legais e as decisões judiciais dão lugar a uma ambiguidade fundamental e perturbadora.

O autor, nascido em Praga, refugiou-se em um internato católico, converteu-se, quase foi ordenado padre e quando os nazistas se renderam retornou à identidade judaica, imigrou para a Palestina a bordo do Altalena, lutou as guerras, estudou em Paris, depois nos Estados Unidos, onde é professor e ganhou muitos prêmios. Friedländer sobreviveu a tudo isso para escrever, entre outras obras, este monumento que trata do processo de desjudaização da Alemanha. Este é o primeiro dos quatro volumes desta obra prima.

Alemanha, 1938

Janet Malcolm | Companhia das Letras | 200 pp. | R$ 39,50

A Rive Gauche Herbert R. Lottman Editora José Olympio | 532 pp. | R$ 59,00

Quando Hemingway escreveu que Paris era uma festa, ele se referia à Rive Gauche, pequena área entre o Sena e Montparnasse que entre os anos 1930-1940 foi considerada, com algum exagero, a capital intelectual, ao mesmo tempo em que os nazistas devastavam Viena e Berlim. O autor recupera a intensidade desse ambiente e recria momentos no café Deux Magots, ponto de encontro de intelectuais em Saint-Germain-desPrés onde pontificavam os surrealistas e para o qual acorriam jornalistas, políticos, artistas, etc.

Eduardo Infante | Prata Editora | 192 pp. | R$ 42,00

Os Anos Sombrios – Paris na Década de 1930

O livro é o que diz o subtítulo “Um Militar Brasileiro e sua Família na Alemanha Nazista” e conta a história do então major do exército brasileiro Gélio de Araújo Lima, que encerrou a carreira como marechal, designado por cinco anos para a embaixada do Brasil, em Berlim, um ano antes a eclosão da guerra. Mas ele morou em Essen, no norte do país, onde nas indústrias Krupp acompanhou a produção e testes de armamento pesado adquirido pelo Brasil à Alemanha, aquele ano. Vale a pena.

William Wiser | José Olympio Editora | 346 pp. | R$ 55,00

Lembrando Anne Frank

Putin – A Face Oculta do Novo Czar

Alison Leslie Gold, Miep Gies | Best-Seller | 272 pp. | R$ 34,90

Masha Gessen | Editora Nova Fronteira | 292 pp. | R$ 49,90

Gies contou a Alison como era a vida na Amsterdã ocupada pelos nazistas e os esforços que, junto com outros vinte mil holandeses, fazia para manter os soldados, a Gestapo e a SS afastados da amiga Anne Frank, e de quem recebeu o que em todo mundo se chamava O Diário de Anne Frank, mas que o nome original é Het Achterhuis (O Anexo), isto é, o sótão onde viveu meses até ser descoberta. Foi Miep quem entregou o diário ao pai de Anne. O The New York Book Review considera este livro “um testemunho impecável”.

Escrito como se fosse uma grande reportagem que, acredito, de fato seja, conta como este obscuro ex-agente da extinta KGB virou presidente do maior país do mundo e, segundo a autora, “num curto espaço de tempo destruiu anos de progresso transformando a Rússia novamente em uma ameaça para o seu povo e para o mundo”. Ela diz que Putin foi preparado por uma oligarquia empenhada em moldar o sucessor de Boris Yeltsin de acordo com os seus próprios anseios.

O Teatro da Espontaneidade

Dignidade

J. L. Moreno | Editora Agora | 192 pp. | R$ 49,40

Diversos autores | LeYa Editora | 258 pp. | R$ 31,90

O fundador do psicodrama e o pioneiro da psicoterapia de grupo foi Jacob Levy Moreno, que nasceu na Romênia em 1989 e morreu em Nova York, em 1974. Em 1895 foi com a família para Viena, onde depois graduou-se em matemática, medicina e filosofia. O livro conta as experiências dele nos teatros de bairro de Nova York, onde colocou em prática o que pensava a respeito de psicodrama e psicoterapia de grupo e que influenciaram decisivamente as experiências do Living Theatre, do Teatro Aberto e, no Brasil, do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal.

Nove autores, entre eles Mario Vargas Llosa, acompanharam o trabalho da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 1999 formada por quase trinta mil médicos espalhados por cerca de setenta países. Eles relatam os estupros no Congo, a epidemia de Doença de Chagas na Bolívia, as vítimas de tuberculose e HIV na África do Sul, o combate à leishmaniose visceral em Bangladesh e os imigrantes ilegais mantidos presos na Grécia.

Uma Voz sem Palavras

Mata – O Major Curió e as Guerrilhas do Araguaia

Peter Levine | Summus Editorial | 328 pp. | R$ 81,90

Leonêncio Nossa | Companhia das Letras | 443 pp. | R$ 45,00

O autor é neurocientista pioneiro no estudo do trauma e criador da experiência somática, método inovador e contemporâneo no tratamento do trauma e seus efeitos, que não considera doença nem distúrbio mas uma espécie de ferimento causado por medo e perda. Para ele, essas feridas podem ser curadas pela capacidade de o corpo regular as emoções valendo-se das observações em animais que explicam a natureza e a transformação do trauma no corpo, cérebro e psique.

O jornalista autor deste livro passou anos pesquisando até poder reconstruir o episódio da guerrilha do Araguaia a partir as memórias do lendário major Curió a cujos arquivos pessoais Nossa teve acesso e revela pela primeira vez detalhes das torturas e assassinatos que mataram dezenas de pessoas na década de 1970 entre guerrilheiros e simpatizantes locais deles. É para ser lido como reflexão política, a biografia de uma figura controvertida, reportagem e até pesquisa antropológica.

O livro trata de Paris e seus famosos exilados à beira da Segunda Guerra, época que começou extravagante como um famoso baile de máscaras e terminou com o evento sinistro da queda de Paris e a ocupação nazista em 1940. Pelas páginas do livro, desfilam Henry Miller, Helena Rubinstein, Anaïs Nin, Coco Chanel, Salvador Dalí, Gertrude Stein, Sylvia Beach, Pablo Picasso, Janet Flanner e o jazz que orquestrava as noites da cidade.


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por Bernardo Lerer

Swing Tanzen – Unerwünschte Musik Membran Music | R$ 67,90

La Clemenza di Tito / La Finta Giardiniera

Essa palavra quase impronunciável para nós, significa música “proibida” ou “indesejável”, Isto é, as músicas banidas pelo regime nazista assim que tomou o poder em 1933, mas que os seus intérpretes sofriam ameaças desde antes pelas milícias das SA que também as consideravam profanas. São quase todas elas gravações originais de tangos, jazz e canções muitas das quais ridicularizam o momento político vivido pela Alemanha. Aos saudosistas é agradável ouvir o famoso violinista Georges Boulanger executando Eu Amo Todas as Mulheres...

Brilliant Classics | R$ 124,90

A ópera La Clemenza di Tito, em dois atos, foi a penúltima obra escrita por Mozart (número 621) e encenada em Praga, em julho de 1791, cinco meses antes da morte do compositor, e encomendada para a cerimônia de coroação do rei Leopoldo II da Boêmia. É considerada uma ópera séria e sua ária mais fantástica é Parto Ma Tu Ben Mio. La Finta Giardiniera foi escrita quando Mozart tinha 18 anos e a partitura completa foi encontrada em 1970.

Roots: My Life, My Song Jessye Norman | Sony | R$ 84,90

A soprano dramática Jessye é considerada uma das maiores intérpretes de Wagner e que iniciou a carreira cantando na igreja batista da sua cidade, na Geórgia. Neste cd, ela canta o que gosta e não aquelas músicas que os contratos a obrigam a interpretar. Como bem diz, trata-se de composições de “meu universo pessoal e nos possibilita – a mim e aos músicos – expandir a nossa própria linguagem”.

Michael Rabin

Bassoon Concertos

Emi Classics | R$ 314,00

Antonio Rosetti | CPO | R$ 34,90

O título deste álbum 1936-1972 revela que Rabin viveu apenas 35 anos e foi um dos grandes virtuoses do século passado, aluno, entre outros, de Jascha Heifetz. Filho de judeus originários da Romênia e de pais músicos, Michael começou a estudar violino aos 7 anos e já aos 13 se apresentava no Carnegie Hall mostrando habilidade e talento com as mais difíceis obras de Paganini, Pablo de Sarasate, Saint-Saëns, Wieniawski e Bach.

O que valoriza ainda mais as obras escritas para instrumentos como clarineta, trompa e fagote é o fato de eles, no século 18, ainda serem muito rudimentares e exigirem dos seus intérpretes verdadeiros malabarismos de execução. Ainda assim, no entanto, os compositores continuaram escrevendo para esses instrumentos, como Mozart, e Rosetti que, digamos, especializou-se no fagote, e de que são mostra os quatro concertos deste cd.

Jazz at the Philharmonic

Ziggy Marley and the Melody Makers

Norman Granz | Membran Music | R$ 67,90

USA Records | R$ 16,90

Norman Granz (1918-2001) nascido em Los Angeles, filho de judeus da Moldávia, foi um dos mais importantes empresários de jazz, descobridor de talentos e criador de verdadeiros concertos a que deu o nome genérico de “Jazz at the Philharmonic”. Esses quatro cd’s e dezenas de faixas reúnem artistas Oscar Peterson, Lester Young, Buddy de Franco, e outros.

Os membros deste conjunto são quatro dos dez filhos de Bob e Rita Marley e começaram a atuar ainda quando crianças, na esteira do sucesso dos pais. Este cd Conscious Party é o mais conhecido dos Melody Makers. Mas tão importante quanto isso é a ação filantrópica como o Little Kids Rock que dá aulas de música e instrumentos a crianças de escolas públicas nos Estados Unidos e ajuda as crianças da Jamaica e a Etiópia.

Benny Goodman Quintet & Orchestra

Cien Años

Essential Jazz Classics | R$ 49,90

Compay Segundo | Atlantic | R$ 19,90

Felizmente os produtores norte-americanos desses antigos lp’s tiveram a boa lembrança de remasterizá-los para cd’s e agora é mais fácil conhecer a fantástica produção desses monstros da música, como o venerando Benny Goodman, “o mais negro dos jazzistas brancos norte-americanos” e que neste álbum tem a companhia do maestro e compositor André Previn e o pianista e compositor Russ Freeman. Vale a pena.

Este cd comemora e homenageia os cem anos de um dos maiores músicos da Américas: Francisco Repilado Muñoz, que nasceu em 1907, na praia de Siboney, na província de Oriente, em Cuba, e morreu em 2003. Esse cd foi gravado em Madri em novembro de 1995 e acabou se transformando em um monumento à música de Cuba por reunir o que de melhor os músicos da ilha produziram. Foi gravado e regravado dezenas de vezes.

The Rough Guide to Gypsy Swing

O Quintal do Pagodinho

Rough Guides | R$ 34,90

Zeca Pagodinho | Universal Music | R$ 24,90

O que se ouve neste cd é o manouche, fusão do virtuosismo da música cigana com o jazz, que revela uma nítida influência do guitarrista belga Django Reinhardt (1910-1953) que fundou uma banda com o violinista Stephanie Grapelli. Nos anos 1930 este novo swing teve um grande impacto na música francesa e que, de certo modo, permanece até os dias de hoje graças à tradição criada por Django.

Zeca Pagodinho é um grande músico e um fantástico intérprete da música popular brasileira e que não se deixa encantar por nenhum outro gênero que não seja aquele samba cantado e tocado nos bares, botequins, fundos de quintal e lajes dos bairros das grandes cidades do país, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo. Zeca virou uma unanimidade e além das músicas que compõe lhe oferecem composições.

“Os cd’s acima estão à venda na Livraria Cultura ou pela internet www.livrariacultura.com.br. Pesquisem as promoções. Sempre as há e valem a pena”


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magazine > cinema | por Henrique Veltman

Hester Street,

o Bom Retiro de Nova York É MELHOR INTEGRAR-SE A UMA COMUNIDADE TRADICIONAL OU AS

PESSOAS SERIAM MAIS FELIZES E MAIS AUTÊNTICAS DEIXANDO AS VELHAS FORMAS PARA TRÁS E SE TORNANDO INDIVÍDUOS DE UM NOVO TIPO, MODERNO, AMERICANO?

A

ndei lendo nos jornais de Nova York a respeito da Hester Street Fair, classificado como “uma instituição de Manhattan que atrai hordas de elegantes à espreita de toda sorte de coisas que nunca encontrariam nos estoques da Barneys”. Alguma coisa acontece lá no Lower East Side, e isso me lembra de Hester Street, um ótimo filme de 1975, com roteiro e direção de Joan Micklin Silver e protagonizado por Steven Keats, Kane Carol, Kavanaugh Dorrie, Howard Mel e outros. Já lembraram? No filme, o Lower East Side de Manhattan é uma das áreas mais movimentadas e animadas de Nova York e ponto de che-

A FEIRA DA PRAÇA DA REPÚBLICA PODERIA SE INSPIRAR NESTA DE HESTER STREET PARA EXIBIR COISAS BONITAS

gada de inúmeros imigrantes judeus na América. Qualquer semelhança com o nosso Bom Retiro não é mera coincidência. O ano é 1896. O filme é em preto e branco e a ausência de cor dá qualidade documental à história. Os créditos de abertura mostram cenas na Academia de Danças Peltner, onde os imigrantes vão se conhecer e aprender o básico da dança de salão. Parece que havia salões desse tipo nos arredores do Bom Retiro, o Clube Ginástico, por exemplo. Jake (Steven Keats), o protagonista da história, tem os olhos em Mamie Fein (Dorrie Kavanaugh), e ela, claro, também está muito interessada nos avanços de Jake. Quando, finalmente, um grupo dos bailarinos se reúne em torno de uma mesa para conversar, alguém pede a Mamie que preste mais atenção a um dos senhores idosos que demonstraram interesse nela. “Este senhor está bem de vida, tem até uma lojinha de tecidos.” Mamie reage, “Estamos no shtetl? Será que estamos na Rússia? Estamos na Polônia?” Jake apóia a jovem dizendo que “na América você vai se casar por amor!” Eis aí, rapidamente, o tema principal do filme que é a diferença da vida no shtetl, no Velho Mundo, e na América, o Novo Mundo. O que constitui o centro filosófico de Hester Street? É melhor integrar-se a uma comunidade tradicional, com suas maneiras e valores, ou as pessoas seriam mais felizes e mais autênticas deixando as velhas formas para trás e se tornando indivíduos de um novo tipo, moderno, americano? Assimilação, talvez.

Jake e Mamie rapidamente logo se apresentam como arautos da nova geração, usam as roupas da moda, arranham inglês em vez de ídiche e sempre que possível e deliberadamente se comportam como ianques. “Na América você pode se casar por amor” significa que mesmo uma mulher pode se dar ao luxo de seguir os próprios sentimentos, e na América pode ser o seu verdadeiro eu. O filme segue mostrando como era a vida dos imigrantes judeus no bairro e na cidade. Jake, por exemplo, Yankel no começo do filme, na manhã seguinte está no local de trabalho. Como muitos outros judeus, opera uma máquina industrial de costura, e é um trabalhador dedicado. Bernstein (Mel Howard), um dos colegas de trabalho, é muito mais lento e menos bemsucedido economicamente. O dono da oficina não perdoa: “Bernstein, o que você fazia no shtetl? Um yeshivá bucher? (O que fazia na cidadezinha onde nasceu? Estudava em um seminário rabínico?)”. Bernstein confirma timidamente. Ele foi – e ainda é – um aplicado estudante do Talmud, e seu trabalho na loja é o ganha-pão de uma vida modesta. Arrogante, o patrão diz que fora vendedor ambulante na aldeia natal na Lituânia, mas agora emprega patrícios na sua oficina. Ele é o chefe e o yeshivá bucher um pobre coitado preso à máquina de costura. O dono da oficina não respeita como, no Velho Mundo, se respeitava os judeus que estudavam os livros religiosos. O palavreado dele é vulgar, tem uma personalidade sádica mas está correto ao dizer que na América existem muitas oportunidades à disposição dos espertos e diligentes. A cena sugere que intelectuais e estudiosos como Bernstein podem não se dar bem nesse cenário. Nessa linha, fico imaginando que situações idênticas foram vividas, durante muitas décadas, nos quase guetos judaicos do Brasil. Mas, claro, tudo mudou nos últimos decênios. E os yeshivá buchers de hoje conduzem sinagogas e serviços religiosos muito prósperos, ao menos aqui em São Paulo. Uma carta De volta ao filme, Jake recebe uma carta da Rússia mas é analfabeto e alguém tem de ler a mensagem. O pai morreu e isso significa que a mulher e o filho pequeno, que tinham ficado na Europa, virão para a América. Mas a vida de Jake, para todos os efeitos um homem solteiro que manteve a condição de casado em segredo, vai mudar significativamente. Terá de alugar um apartamento, comprar móveis para a família, mas como não tem condições para tudo isso, toma emprestado 25 dólares de Mamie dando a impressão de que prepara o apartamento para ela, e de que, em breve, estarão noivos. Jake também convence Bernstein a morar com ele para ajudar no aluguel. Finalmente, chega o dia em que Jake vai a Ellis Island receber a mulher Gitel e o filho Yossele. Gitel está ansiosa para reencontrar o marido, mas ele já sente falta da vida de solteiro. E ao ver Gitel de vestidinho típico e peruca de judia hassídica e lenço amarrado na cabeça, fica muito decepcionado. O mau humor de Jake não melhora nem quando vai para o novo lar.

Logo as diferenças entre os velhos costumes e a american way of life viram barreiras intransponíveis entre eles. Gitel, por exemplo, está consternada porque ele raspou a barba e mudou o nome Yankel para Jake. E passa a chamar o filho de Joey em vez de Yossele. Cena antológica é aquela em que Jake leva o novo Joey para passear pelo bairro, e Gitel fica em casa. Tudo o que ela pode fazer é colocar secretamente um pouco de sal no bolso da jaqueta do menino “para afastar o mau-olhado”. Bom, não vou contar todo o enredo do filme. Uma boa parte dos leitores deste “Magazine” talvez tenha assistido ao filme nos cinemas paulistanos. Mas quem não viu, ou tem apenas vaga lembrança, fica a sugestão de procurar Hester Street nas locadoras. Mas não resisto a contar o final da história em que Jake e Mamie, já modernos, depois de muito vaivém, se reencontram e partem para realizar o sonho americano. Enquanto Gitel e Bernstein, o casal tradicionalista, poderá preservar o máximo do seu patrimônio cultural e religioso da forma como quiserem. Há, no entanto, uma ironia na maneira como as coisas se transformaram para todos. A americanização dos imigrantes vai além de Jake e Mamie, e de Gitel e Bernstein. A aparente resistência de Gitel à cultura onde vive, e já se sentindo “em casa”, é particularmente marcante. Os olhares que ocasionalmente dirige a Bernstein são honestos. E como cada vez mais domina o novo idioma, é ela quem agora insiste em chamar o filho de Joey, e não mais Yossele. Ela adota vestidos modernos e cabelos da moda. Porém, o mais importante, Gitel está a caminho de se tornar uma mulher de negócios independente e autoconfiante. No Velho Mundo, as mulheres quase sempre carregavam os negócios nas costas, liberando os maridos para estudar a Torá. Integração? Assimilação? Em dúvida, na próxima viagem a Nova York, uma (re)visita ao Lower East Side é uma ótima pedida. Quem sabe o leitor vai encontrar Gitel na feira da moda da Hester Street?

Há, no entanto, uma ironia na maneira como as coisas se transformaram para todos. A americanização dos imigrantes vai além de Jake e Mamie, e de Gitel e Bernstein


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magazine > com a língua e com os dentes | por Breno Raigorodsky

A CRIATIVIDADE NA COZINHA PODE PRODUZIR PAELLAS COMO ESTA, DA FOTO, DE FRANGO E COELHO

Os espanhóis são mestres na carne e no pescado FUI AO DON CURRO, UM DOS RESTAURANTES ESPANHÓIS MAIS TRADICIONAIS DE SÃO PAULO, PENSANDO EM TORQUEMADA, NA JUDERÍA DE CÓRDOBA, EM CAMARÕES, LAGOSTAS E CARNE SUÍNA

E

spanhóis e alemães fazem parte dos pesadelos de muitos judeus. Os primeiros como responsáveis diretos pela expulsão dos sefaraditas da Europa, desde o fi m do século 15 e que tantos traumas criou. Os outros... Bem, os outros, não preciso lembrar, mas não posso esquecer. Diga-se, aliás, povos não são blocos monolíticos que pensam de um modo único, por mais que –

em determinados momentos da história – isso pareça acontecer, particularmente quando políticos e religiosos se unem em movimentos discriminatórios, como se fossem uma torcida intolerante que julgam etnias, estabelecem comportamentos, expulsam populações, geralmente as minorias, geralmente gente com comportamento que causa alguma estranheza, como no caso dos judeus que – oh, crime! – lavavam as mãos antes de comer e liam, sempre estavam lendo, e à luz de velas. A comida diferenciada dos judeus, com suas rígidas regras alimentares, criava suspeitas de não cristianismo por todo lugar. Foi seguramente o que aconteceu no estranho e distante mundo cristão ibé-

rico que, ao expulsar os mouros depois de sete séculos de convivência, consagrou categoricamente a religião politicamente dominante, com todas as características ações discriminatórias – desprezo, achaques, ataques morais, seguidos de agressão física, espoliação patrimonial e deportação. O porco, animal de consumo euroasiático desde o século 4 antes da Era Comum, presente na alimentação chinesa e gaulesa desde então, vira símbolo de comida aprovada pelos cristãos. Pura discriminação, porque o pobre povo ibérico comia favas, pão e papas vegetais. Carne de qualquer origem, mesmo de aves, era raro no prato diário, tanto para os cristãos quanto para os judeus, naquele mundo de pouca fartura. Na ânsia por atos e costumes discriminatórios, parece que os espanhóis se esmeraram em lambuzar com frutos proibidos para os judeus todo o receituário gastronômico ibérico. Onde está o equivalente da farinheira e da alheira portuguesas e outros pratos medievais de influência judaica na cozinha espanhola? E, ironia, a Espanha atualmente é o principal expoente gastronômico do milênio, superou a França como Meca dos chefs do mundo inteiro, com seus preparos nas pontas basca e catalã, com seus Adriás, Berasateguis e Santamarias, líderes dos movimentos de vanguarda. Em São Paulo, os espanhóis tradicionais são símbolos da tradição na carne e no pescado, com seus maiores representantes Los Molinos, o extinto La Parra, e, principalmente os dois monstros sagrados Rubaiyat e Don Curro. Mas não apenas estes – o Eñe, o Bazero Amatxu e agora o Clos de Tapas e o carioca Venga, todos excelentes novidadeiros. E nem somente eles. Os espanhóis começam a produzir filhotes importantes, como o recéminaugurado Mya, mistura aprovada entre as escolas espanhola e nipônica, porque o chef e sócio Flávio Myamura é formado na modernidade espanhola do Eñe, mas trouxe de casa toda a gastronomia tradicional praticada pelos japoneses em São Paulo. Chamei para uma conversa o simpático e culto senhor José Maria Rios Escalona, 62 anos, filho mais velho do falecido Don Curro Domingues e Dona Carmen, responsáveis por este restaurante que abriu as portas em 1958 e de lá pra cá, nunca mais fechou.

ENTREVISTA Hebraica – Qual é a influência judaica na culinária espanhola? Escalona – Não sei dizer, mas sei que nas décadas de 1960 e 1970, além dos espanhóis, tínhamos as famílias de judeus como principais e regulares clientes. Clientes que se tornaram grandes amigos do meu pai... Mas tudo que é árabe na culinária pode ser igualmente judeu, pois os ingredientes como açafrão, arroz, azeite de oliva e tantos outros produtos que se mesclaram em nossa cultura, vieram do Mediterrâneo e do Oriente, ou pelas mãos mouras ou do comerciantes, em boa parte judeus. O que se come em seu restaurante? Escalona – Os pratos mais pedidos e famosos são a paella Don Curro, os pescados a La Plancha e outros pratos com o formato de uma paella, com pescados e arroz. E para aqueles que comem apenas comida kasher? Escalona – Servimos peixes na grelha, e estes são alguns dentre os melhores pratos que servimos. Peixes maravilhosos como o robalo al cantábrico ou na salsa verde; o abadejo grelhado com alho e óleo, totalmente em condições por serem de escama e não levarem nada de moluscos ou crustáceos, e preparados com o melhor azeite. Além dos peixes maravilhosos, o que mais? Escalona – Servimos muitas outras coisas além do peixe, como a paella da Dona Carmem, minha mãe, um prato de arroz com açafrão, tomate e cebola, abobrinha e outros tantos legumes, que pode ser preparado com frango e filé mignon e que fica uma delícia deste jeito. Tem também o nosso gazpacho, uma sopa fria à base de tomates e pimentões, impossível não gostar! Endereços Don Curro – Rua Alves Guimarães, 230, Pinheiros, fone 3062-4712 Clos de Tapas – Rua Domingos Fernandes, 548, Vila Nova Conceição, fone 3045-2154 Don Mariano – Rua João Cachoeira, 178, Itaim Bibi, fone 3079-5964 Eñe – Rua Dr. Mário Ferraz, 213, Jd. Europa, fone 3816-4333 Los Molinos – Rua Vasconcelos Drummond, 526, Ipiranga, fone 2215-8211 Porto Rubaiyat – Rua Amauri, 225, Itaim Bibi, fone 3077-1111 Mya – Rua Fradique Coutinho, 47, Pinheiros, fone 2359-8760 Brazero Amatxu – Rua José Maria Lisboa, 1065, Jardim Paulista, fone 3582-5918 Venga – Rua Delfina, 196, Vila Madalena, fone 3097-9252 Torero Valese – Avenida Horácio Lafer, 640, Itaim Bibi, fone 3168-7917


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magazine > ensaio | por Luís S. Krausz *

Entre a tradição e a modernidade PASSAGENS: LITERATURA JUDAICO-ALEMÃ ENTRE GUETO E METRÓPOLE DISCUTE A LITERATURA JUDAICA DOS SÉCULOS 19 E 20 QUE TEM COMO TEMA CENTRAL OS CONFRONTOS ENTRE AS CRENÇAS DO HOMEM DO SHTETL E AS REALIDADES DO MUNDO MODERNO

A

partir de meados do século 19, as ideias de emancipação judaica passaram a penetrar na Europa do Leste, então sob domínio prussiano e austro-húngaro, e a promover, junto com as transformações que se processavam na economia e na política, somadas ao gradual desmantelamento das sociedades judaicas tradicionais, cristalizadas ao longo dos séculos nos guetos e aldeias. Começava a se desintegrar um mundo fechado em si mesmo, que vivia em torno da crença religiosa, e sobretudo da esperança pela redenção messiânica, que haveria de recolher todos os judeus dos seus lugares de exílio e reconduzi-los à Terra Prometida. Os egressos deste mundo fechado em si mesmo saíram em busca de um lugar ao sol, numa modernidade cada vez mais laica – e mais voltada para os parâmetros das sociedades burguesas, estruturadas em torno de valores como a ciência, a vida econômica e a política. O horizonte do shtetl e dos guetos (como se chamavam os enclaves judaicos nas cidades alemãs, séculos antes de ter sido denominada e usada pelos nazistas) era limitado, de um lado, pelo passado bíblico e, de outro, pela esperança na redenção. E a vida, em seu âmbito, era vista principalmente como prelúdio para a eternidade. Já os parâmetros das sociedades laicas que passaram a se estabelecer na Europa eram diametralmente opostos: sob a ótica da ciência a existência humana passou a ser vista como algo que se esgota em si mesmo, e a exaltação dos poderes adquiridos por meio de um domínio crescente da técnica, do crescente acúmulo de capitais e do desenvolvimento da indústria levou o homem a se ver como a medida de todas as coisas. O encantamento com a modernidade e com as conquistas da ciência e da razão desenhou a face do século 19 europeu. Ao mesmo tempo, a nostalgia do mundo que se perdeu com o início da era do progresso tornou-se tema central nas artes – especialmente entre os seguidores das diversas vertentes do romantismo. No âmbito especificamente judaico, essas duas tendências conflitantes, isto é, de um lado o fascínio com os novos tempos, e, de outro, a nostalgia pelo mundo perdido do shtetl e dos guetos, foram as responsáveis pela vasta discussão intelectual e filosófica que se travaria a partir do momento em que, já no fim do século 18, França e Áustria concederam direitos de cidadania aos judeus, abrindo-lhes as portas para a integração nas sociedades modernas.

Se os judeus tornaram-se legalmente membros das nações em que viviam, qual seria, agora, o sentido da crença numa nação judaica vivendo no exílio, à espera da Redenção? E se os judeus não mais se viam como membros da nação judaica, e, sim, da francesa, austríaca ou alemã, qual seria o lugar de todas as crenças religiosas, fundamentadas na noção de Am Israel, (povo de Israel) como um corpo nacional e religioso único e indivisível? A integridade do homem do shtetl, aquele visto pelos outros e que via a si próprio simplesmente como um judeu, passaria a conviver com visões alternativas a respeito do judaísmo, e em particular com uma restrição desta identidade ao âmbito puramente religioso, o que tornaria possível, por exemplo, o “alemão de fé mosaica”, ou o “francês israelita”. Em contrapartida, setores judaicos tradicionalistas se recusavam a aceitar tais identidades duplas e consideravam a emancipação e a inclusão dos judeus no corpo das nações europeias como algo perigoso e mesmo herético. É em torno deste debate que também surgiu uma extraordinária criatividade literária judaica que, nos séculos 19 e 20, trataria sob uma grande variedade de pontos de vista, as questões que resultam das incompatibilidades entre as crenças judaicas de origem bíblica e medieval e as realidades da emancipação e da modernidade europeia. Esta vasta e riquíssima literatura, da qual fazem parte autores como Heinrich Heine, Arthur Schnitzler, Elias Canetti e Alfred Döblin – e outros menos conhecidos, como Aron David Bernstein, Meyer Aron Goldschmidt e Georg Hermann– é o ponto de partida para o livro Passagens: Literatura JudaicoAlemã entre Gueto e Metrópole, de minha autoria, que acaba de ser publicado pela Edusp e será lançado durante mesa-redonda no Instituto Goethe de São Paulo, dia 21 de agosto, às 19h30, com a participação dos professores Márcio SeligmannSilva (IEL/Unicamp) e Jorge de Almeida (Fflch/USP). O livro discute as diferentes representações literárias de emancipados e tradicionalistas, entre autores de uma ou de outra filiação, e ressalta não só os muitos pontos de vista acerca do confronto entre judaísmo e modernidade, mas também as diferentes respostas e opiniões em torno de um embate que, em nosso tempo, continua intensamente vivo. E que chega aos nossos dias ainda sem respostas definitivas. * Luís S. Krausz é professor de literatura judaica e hebraica da USP e autor de Desterro: Memórias em Ruinas (Tordesilhas, 2011) e Rituais Crepusculares: Joseph Roth e a Nostalgia Austro-Judaica (Edusp, 2008). É mestre em letras pelas Universidades de Pennsylvania e Zurique e doutor em literatura judaica pela USP


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Galeria ampliada

Contra o preconceito

O retrato de Samsão Woiler na galeria de fotografias de ex-presidentes foi inaugurado na sala do Conselho Deliberativo durante a segunda reunião plenária da Diretoria. Woiler agradeceu confessando a satisfação em ter servido ao clube como presidente da Diretoria e anos depois, do Conselho Deliberativo. “Fico feliz em ter colaborado e ver que alguns dos procedimentos implantados durante meu mandato ainda são úteis à política organizacional do clube”, declarou.

A Fisesp e a Hebraica realizaram um almoço de homenagem a Margarete Barreto, da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). Durante os oito anos em que esteve à frente deste órgão público voltado ao combate aos crimes de racismo, homofobia, lesbofobia e preconceito, a delegada Margarete estreitou os laços com dirigentes da comunidade judaica, sempre a postos quando atos de antissemitismo e racismo perturbavam a ordem pública.

Haddad na reunião da Acesc O presidente Abramo Douek foi o anfi trião do almoço de confraternização da Associação dos Clubes Esportivos e Socioculturais (Acesc) presidida por Wilson Luiz Xavier Fischer. Antes, os membros da Acesc receberam o ex-ministro da Educação Fernando Haddad na Sala da Plenária, candidato do PT à prefeitura de São Paulo. Foi uma oportunidade para levar a Haddad os problemas dos clubes em diferentes áreas. Haddad respondeu às questões. O almoço foi no Espaço Adolpho Bloch.

∂ Antes de concluir o primeiro semestre como presidente da Hebraica, Abramo Douek reuniu os ex-presidentes Marcos Arbaitman, Arthur Rotenberg, Beirel Zukerman, Samsão Woiler, Peter Weiss, Hélio Bobrow, Naum Rotenberg e Jack Terpins em um almoço na Sala do Conselho. Instituído em 1990, o almoço dos ex-presidentes é realizado periodicamente para manter abertos os canais de comunicação e a troca de experiências e apoio entre os ex-dirigentes do clube. (T.P.T. e M.B.)

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Encontro Matutino Abramo Douek se reuniu com doze associados, na Sala do Conselho, para um segundo Café-da-Manhã com o Presidente. Do grupo faziam parte jovens pais, pessoas da terceira idade, usuários do parque aquático, aqueles que moram próximo do clube, que reivindicaram a melhoria do tratamento acústico do Salão Nobre Marc Chagal para diminuir o ruído externo das festas e eventos no local; redução na taxa cobrada aos usuários do carteado; melhor manutenção das instalações em torno das piscinas e maior agilidade na comunicação de problemas ou alterações nos departamentos. Assessorado pelo diretor superintendente Gaby Milevsky, Abramo Douek agradeceu as sugestões e prometeu que todas seriam analisadas e, na medida do possível, atendidas.

Almoço da cúpula

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diretoria ∂

diretoria > agenda da presidência

ABRAMO DOUEK, A HOMENAGEADA, O CÔNSUL ILAN SZTULMAN E O VICE-PRESIDENTE DA FISESP BRUNO LASKOWSKY

Diretoria executiva – Gestão 2012-2014 PRESIDENTE

ABRAMO DOUEK

VOLEIBOL

SILVIO LEVI

DIRETOR SUPERINTENDENTE

GABY MILEVSKY

HANDEBOL ADJUNTOS

ASSESSOR FINANCEIRO ASSISTENTE FINANCEIRO ASSESSOR Ͳ OUVIDORIA ASSESSOR Ͳ ESCOLA ASSESSORA Ͳ FEMININO ASSESSOR Ͳ REVISTA ASSESSOR Ͳ REDES SOCIAIS E COMUNICAÇÃO DIGITAL ASSESSOR Ͳ SEGURANÇA ASSESSOR Ͳ ASSUNTOS ACESC ASSESSOR Ͳ ASSUNTOS RELIGIOSOS DIRETOR DE CAPTAÇÃO DIRETOR DE MARKETING CERIMONIAL E RELAÇÕES PÚBLICAS RELAÇÕES PÚBLICAS

MAURO ZAITZ MOISES SCHNAIDER JULIO K. MANDEL BRUNO LICHT HELENA ZUKERMAN FLÁVIO BITELMAN JOSÉ LUIZ GOLDFARB CLAUDIO FRISHER (SHACHOR) MOYSES GROSS RABINO SAMI PINTO JOSEPH RAYMOND DIWAN CLAUDIO GEKKER EUGENIA ZARENCZANSKI (GUITA) DEBORAH MENIUK LUCIA F. AKERMAN MIRA HARARI PAULETE K. WYDATOR SERGIO ROSENBERG

JOSÉ EDUARDO GOBBI NICOLAS TOPOROVSKY DRYZUN DANIEL NEWMAN JULIANA GOMES SOMEKH

PARQUE AQUÁTICO POLO AQUÁTICO NATAÇÃO ÁGUAS ABERTAS

MARCELO ISAAC GHETTA FABIO KEBOUDI BETY CUBRIC LINDENBOJM ENRIQUE MAURICIO BERENSTEIN RUBENS KRAUSZ

TRIATHLON CORRIDA CICLISMO

JULLIAN TOLEDO SALGUEIRO ALAIN CLEMENT LESSER LEVY BENO MAURO SHETHMAN

VICEͲPRESIDENTE ADMINISTRATIVO

MENDEL L. SZLEJF

COMPRAS RECURSOS HUMANOS CONCESSÕES TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO SAUNA DEPARTAMENTO MÉDICO CULTURAͲJUDAICA

HENRI ZYLBERSTAJN CARLOS EDUARDO ALTONA LIONEL SLOSBERGAS SERGIO LOZINSKY HUGO CUPERSCHMIDT RICARDO GOLDSTEIN GERSON HERSZKOWICZ

VICEͲPRESIDENTE DE ESPORTES

AVI GELBERG

GERAL DE ESPORTES

JOSÉ RICARDO M. GIANCONI

ASSESSORES

CHARLES VASSERMANN DAVID PROCACCIA MARCELO SANOVICZ YVES MIFANO

GESTÃO ESPORTIVA ESCOLA DE ESPORTES MARKETING/ESPORTIVO

ROBERTO SOMEKH VICTOR LINDENBOJM MARCELO DOUEK HERMAN FABIAN MOSCOVICI RAFAEL BLUVOL

MARKETING/INFORMÁTICA ESPORTIVO

AMIT EISLER

RELAÇÃO ESPORTIVAS COM ESCOLAS

ABRAMINO SCHINAZI

GERAL DE TÊNIS SOCIAL TÊNIS TÊNIS ADJUNTO

ARIEL LEONARDO SADKA ROSALYN MOSCOVICI BRUNO KORKES

GINÁSTICA ARTÍSTICA

HELENA ZUKERMAN

RAQUETES (SQUASH/RAQUETEBOL) BADMINTON

JEFFREY A.VINEYARD SHIRLY GABAY

TIRO AO ALVO

FERNANDO FAINZILBER

GAMÃO

VITOR LEVY CASIUCH

SINUCA

ISAAC KOHAN FABIO KARAVER

XADREZ

HENRIQUE ERIC SALAMA

VICEͲPRESIDENTE DE PATRIMÔNIO E OBRAS

NELSON GLEZER

MANUTENÇÃO MANUTENÇÃO E OBRAS PAISAGISMO E PATRIMÔNIO PROJETOS

ABRAHAM GOLDBERG GILBERTO LERNER MAIER GILBERT RENATA LIKIER S. LOBEL

VICEͲPRESIDENTE SOCIAL/CULTURAL

ALAN CIMERMAN

SOCIAL FELIZ IDADE RECREATIVO

SONIA MITELMAN ROCHWERGER ANITA G. NISENBAUM ELIANE SIMHON (Lily)

CULTURAL GALERIA DE ARTES SHOWMEIO DIA

SAMUEL SEIBEL MEIRI LEVIN AVA NICOLE D. BORGER EDGAR DAVID BORGER

VICEͲPRESIDENTE DE JUVENTUDE

MOISES SINGAL GORDON

ESCOLAS

SARITA KREIMER GRAZIELA ZLOTNIK CHEHAIBAR ILANA W. GILBERT

SECRETÁRIO GERAL

ABRAHAM AVI MEIZLER

SECRETÁRIO DIRETORES SECRETÁRIOS

JAIRO HABER ANITA RAPOPORT GEORGES GANCZ

TÊNIS DE MESA

GERSON CANER

FITͲCENTER

MANOEL K.PSANQUEVICH MARCELO KLEPACZ

CENTRO DE PREPARAÇÃO FISICA

ANDRÉ GREGÓRIO ZUKERMAN

JURÍDICO

ANDRÉ MUSZKAT

JUDÔ JIU JITSU

ARTHUR ZEGER FÁBIO FAERMAN

SINDICÂNCIA E DISCIPLINA

ALEXANDRE FUCS BENNY SPIEWAK CARLOS SHEHTMAN LIGIA SHEHTMAN TOBIAS ERLICH

FUTEBOL (CAMPO/SALÃO/SOCIETY)

CARLO A. STIFELMAN FABIO STEINECKE

GERAL DE BASQUETE BASQUETE OPEN

AVNER I. MAZUZ DAVID FELDON WALTER ANTONIO N. DE SOUZA

BASQUETE CATEGORIA DE BASE BASQUETE CATEGORIA MASTER ATÉ 60 ANOS BASQUETE HHH MASTER

MARCELO SCHAPOCHNIK GABRIEL ASSLAN KALILI LUIZ ROSENBLUM

TESOUREIRO GERAL

LUIZ DAVID GABOR

TESOUREIRO DIRETORES

ALBERTO SAPOCZNIK SABETAI DEMAJOROVIC YIGAL COTTER


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vitrine > informe publicitário CLÍNICA DRA. DENISE COIMBRA

Endometriose tem tratamento Cólicas frequentes, dores durante a relação sexual, sangramentos intestinais e urinários podem ser sintomas de endometriose, doença caracterizada pela presença de endométrio fora do útero. Ele é uma camada que reveste internamente a cavidade uterina, renovada mensalmente. Essa

camada volta pelas trompas, alcança a cavidade pélvica, abdominal, ovários, tubas e outros órgãos, como intestino e a bexiga, causando dores e infertilidade. A endometriose pode ser tratada com implantes de progesterona ou gestrinona. F.3284-6552 | Site www.dradenisecoimbra.com.br

FLÁVIO QUINALHA CIRURGIA PLÁSTICA

Novidade em prótese mamária Vários são os tipos e formas de prótese de mama. O principal é o de gel coesivo de silicone, nas formas redondas ou ovais. A grande novidade é a prótese ajustável. Ela tem uma câmara interna, na qual pode ser inserido soro fisiológico e seu tamanho aumentar em

até 30% durante a cirurgia, ou após, de acordo com o desejo da paciente. Flávio Quinalha Cirurgia Plástica Av. Brig. Luis Antônio, 4201 Fone 2604-4844 Site www.flavioquinalha.com.br

RESTAURANTE RUFINO’S

Uma verdadeira grife em pescados O Restaurante Rufino’s nasceu no Guarujá, nos anos 1970, tendo como fundador o sr. Rufino, nascido na Espanha em uma cidade tradicional de marinheiros e pescadores. Foi então que ele teve a ideia de fazer um restaurante, com especialidades em pescados e fru-

tos do mar, que tivesse um mostruário com peixes inteiros, crustáceos e moluscos, todos in natura, com toda sua originalidade. Rua Dr. Mário Ferraz, 377, Itaim | Fone 3074-8800 Shopping Morumbi Av. Roque Petroni Jr., 1089 | Fone 5182-8599

LES MACARONS

Opção sofisticada para as Grandes Festas A Les Macarons uniu a tradição da culinária francesa com o sofisticado paladar brasileiro. Esse delicado doce francês veio da Itália, mas ganhou destaque na França e é a perfeita combinação de uma massa crocante por fora com um recheio macio e cremoso por dentro.

Sem adição de fermento, o macaron é uma sofisticada opção para presentear nas Grandes Festas. Les Macarons | Fone 6339-3589 Site www.lesmacarons.com.br E-mail contato@lesmacarons.com.br

A CASA DO CHEESECAKE

Sabor e textura inconfundíveis Um cheesecake preparado no estilo original americano é uma torta para aficcionados. Quem gosta, ama. E quem ama é fiel ao seu sabor, textura e densidade inconfundíveis. A Casa do Cheesecake assume um compromisso sério e de alto risco: produzir o original americano

em sua plenitude. O cheesecake lover conhece o seu produto e vai saber julgar e determinar se é ou não um produto à altura do seu status. Casa do Cheesecake Av. Brigadeiro Faria Lima, 1795, sobreloja 62 Shopping Vitrine Iguatemi | Fone 4062-0223


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| AGO | 2012

| AGO | 2012

indicador profissional

indicador profissional ACUPUNTURA A LASER

ADVOCACIA

ADVOCACIA

ALERGOLOGIA

ANGIOLOGIA

ANGIOLOGIA

CIRURGIA GERAL

CIRURGIA PLÁSTICA

CLÍNICA MÉDICA/ENDOCRINOLOGIA

CIRURGIA GERAL

ENDOSCOPIA DIGESTIVA

DERMATOLOGIA

ASSISTÊNCIA DOMICILIAR

CLÍNICA HIPERBÁRICA

ENDOCRINOLOGIA

FISIOTERAPIA


126 HEBRAICA

127

| AGO | 2012

HEBRAICA

indicador profissional FISIOTERAPIA

GERIATRIA

| AGO | 2011

indicador profissional GERIATRIA

GINECOLOGIA

GINECOLOGIA/ DERMATOLOGIA

MANIPULAÇÃO

GINECOLOGIA/ OBSTETRÍCIA

PARA ANUNCIAR NA R EVISTA H EBRAICA LIGUE:

3815-9159 3814-4629


128 HEBRAICA

129

| AGO | 2012

HEBRAICA

indicador profissional ODONTOLOGIA

ODONTOLOGIA

ODONTOLOGIA

MEDICINA DA COLUNA

MOHEL

/ CIRCUNCISÃO

NEUROCIRURGIA E COLUNA VERTEBRAL

NEUROPEDAGOGIA/REABILITAÇÃO

OBSTETRÍCIA/GINECOLOGIA

ODONTOLOGIA

NEUROLOGIA

| AGO | 2011

indicador profissional

OFTALMOLOGIA


130 HEBRAICA

| AGO | 2012

HEBRAICA

indicador profissional OFTALMOLOGIA

131

| AGO | 2011

indicador profissional OTORRINOLARINGOLOGIA

PSICOLOGIA

PEDIATRIA

PSICOPEDAGOGA

PSICOTERAPIA

PSIQUIATRIA

PSICOTERAPIA

ORTOPEDIA

PILATES/ YOGA

PSICOLOGIA

QUIROPRAXIA

PSIQUIATRIA


132 HEBRAICA

| AGO | 2012

HEBRAICA

indicador profissional TRAUMATOLOGIA ESPORTIVA

ULTRASSOM

compras e serviços

133 | AGO | 2012

compras e serviços UROLOGIA


134 HEBRAICA

| AGO | 2012

compras e servi莽os

135

HEBRAICA

| AGO | 2012

roteiro gastron么mico


136 HEBRAICA

| AGO | 2012

roteiro gastron么mico

137

HEBRAICA

| AGO | 2012

roteiro gastron么mico


138 HEBRAICA

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conselho deliberativo

Participação dinâmica Na segunda reunião do Conselho Deliberativo, a Mesa Diretora convidou o diretor de Mídias Digitais, José Luiz Goldfarb para falar sobre as novas tecnologias implantadas por seu departamento, que ampliaram muito o envolvimento do sócio com o dia-a-dia e a programação do clube. Vimos que o estabelecimento de um contato diário com os sócios através dos recursos da internet permite que estes interajam e participem dos acontecimentos, mesmo à distância. O alto índice de respostas a essa nova estratégia, destinada a preservar e reforçar a ligação do sócio com o clube, nos leva a pensar no quanto os procedimentos relativos ao Conselho Deliberativo ganhariam com a adaptação dos estatutos e do regimento interno aos recursos modernos. Há vários anos, fomos os pioneiros na implantação das eleições eletrônicas para a renovação do Conselho Deliberativo. A troca da cédula em papel pela urna eletrônica foi um salto tecnológico positivo e serviu para que um número maior de eleitores se dispusesse a escolher os seus representantes, movendo o mouse diante do monitor. É hora de avançar mais, oferecendo ao sócio a possibilidade de participar digitalmente das próximas eleições para o Conselho Deliberativo A cédula eleitoral seria preenchida, mediante senha, através da página do clube e todos os eleitores seriam informados do resultado da apuração através de mensagens em seus correios eletrônicos ou celulares. Também podemos realizar algumas reuniões, ou parte delas, utilizando programas digitais, que eliminariam as dificuldades com o trânsito, que justificam faltas até dos conselheiros mais assíduos. Talvez seja este o momento do Conselho se debruçar sobre essas questões, para atrair como candidatos nas próximas eleições os milhares de sócios titulares, todos jovens profissionais com agendas lotadas que desejam ter uma participação mais ativa e não se dispõem a assistir reuniões presenciais. Esta seria uma contribuição importante que o Conselho Deliberativo faria para atingir a sua renovação através do aumento da participação das novas gerações.

Reuniões Ordinárias do Conselho em 2012 13 de agosto 12 de novembro 10 de dezembro

Mesa do Conselho Peter Weiss Presidente Horácio Lewinski Vice-presidente Cláudio Sternfeld Vice-presidente Luiz Flávio Lobel Secretário Fernando Rosenthal Segundo secretário Sílvia Hidal Assessora da Presidência Célia Burd Assessora da Presidência Ari Friedenbach Assessor da Presidência



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