Jornal da ABI 379

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O artista brasileiro que conquistou Nova York FRANCISCO UCHA

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Gutemberg Monteiro Farias Lemos é um baixinho modesto que, aos 16 anos de idade, saiu de Carangola, Minas Gerais, para tentar a sorte no Rio, trazendo na bagagem o dom para o desenho que o transformou em um gigante das histórias em quadrinhos. Quando jovem, queria mesmo era ser jogador de futebol. Quem o viu jogar diz que, apesar do pequeno porte – ele tem menos de um metro e meio –, jogava bem e poderia ter sido um craque com a bola nos pés. Porém, a dificuldade para conquistar uma vaga no time juvenil do Flamengo, devido à sua estatura, mudou a sua trajetória. O futebol, então, passou a ser apenas um hobby na vida de Gutemberg – ou Mr. Goott, como era chamado carinhosamente nos Estados Unidos –, que diz se sentir realizado com a escolha que fez pela carreira de desenhista. E graças ao talento para o uso do lápis e do pincel ele, literalmente, trocou os pés pelas mãos e transformou-se em um ícone da arte brasileira, com prestígio internacional. Em 4 de dezembro deste ano Gutemberg completará 96 anos de idade. Com mais de 60 anos de atividade – começou como ilustrador na década de 1940 –, o artista conquistou o reconhecimento devido ao estilo peculiar que criou para desenhar personagens famosos das histórias em quadrinhos, como Tom e Jerry. O fato de ter se tornado um artista famoso não tirou Gutemberg do conforto da sua simplicidade. Avesso à badalação, depois que retornou dos Estados Unidos – onde morou durante 40 anos, trabalhando para publicações, agências de publicidade e estúdios como os da Hanna-Barbera e Harvey – vive quietinho com a família em uma casa num subúrbio do Rio. Apesar da mineirice, se o assunto é desenho e futebol Gutemberg se sente à vontade e não dispensa “um dedo de prosa”. E foi assim, num clima de bom humor que ele se encontrou em 6 de junho com parentes, amigos, cartunistas e jornalistas na sede da ABI, no Centro do Rio,

tas Benício, Nilton Ramalho, José Menezes e Walmir Amaral, o evento contou com a participação do Presidente da ABI, Maurício Azêdo, do ex-Ministro e ex-Senador Bernardo Cabral, sócio da Casa e membro do seu Conselho Deliberativo, e dos Conselheiros Cecília Costa Junqueira, Alcyr Cavalcanti, Fichel Davit Chargel e sua esposa, Beatriz Santa Cruz Lima Chargel, também jornalista e sócia da ABI, e Sérgio Caldieri. O associado Francisco Ucha, idealizador da homenagem, disse que a motivação para essa iniciativa foi o fato de Gutemberg ser a inspiração de toda uma geração de desenhistas no Brasil. Goott, disse, é uma espécie de “pai dos desenhistas de quadrinhos brasileiros de sua geração”, desde o tempo em que iniciou sua carreira no Suplemento Juvenil, de Adolfo Aizen. “Foram quase 20 anos trabalhando e formando desenhistas e um dos primeiros a fazer parte da equipe de O Globo Juvenil. Ele é a base dessa turma toda. E por isso temos que prestar essa homenagem a ele, em vida, e aos seus contemporâneos, como Benício, Nilton Ramalho, Walmir Amaral e outros integrantes dessa turma”, disse Ucha, que é um dos editores do Jornal da ABI e foi o curador da exposição. “Gutemberg abriu o caminho para muitos dos desenhistas da sua época e também para os que vieram depois dele”, observa Ucha, destacando que o mais interessante é que ele, com quase 50 anos, decidiu se mudar para os Estados Unidos, sem conhecer uma palavra em inglês, para trabalhar nos maiores estúdios norteamericanos. Fez desde então obras memoráveis por cerca de 40 anos. “Isso não é para qualquer um. É uma história de vida fantástica”, salientou Ucha. Um artista realizado

Contemporâneos da época de Rio Gráfica, Benicio, Walmir Amaral, José Medeiros e Nilton Ramalho vieram prestigiar Gutemberg, que ganhou um desenho de Chico Ertyuipo, artista de Petrópolis.

onde falou sobre a sua trajetória. O encontro foi uma homenagem adornada por uma exposição de alguns dos seus mais importantes trabalhos, seguida de um bate-papo informal com os convidados

no Auditório Oscar Guanabarino, localizado no 9º andar do Edifício Herbert Moses, sede da ABI. Além da presença de antigos companheiros de Gutemberg, como os desenhis-

Há muito tempo os desenhos de Gutemberg não eram exibidos, publicamente, em uma mostra no Brasil. Na ABI, a última vez que o artista expôs seus trabalhos foi em 2001, a convite do então Diretor de Assistência Social, Domingos Meirelles. Em 2007, o artista foi agraciado com uma mostra especial pelo Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, que reuniu ilustrações, além de caricaturas, pinturas em óleo e desenhos dos heróis dos quadrinhos. Recentemente, no final de março, alguns trabalhos seus foram expostos na mostra coletiva Quadrinhos’51, que homenageou desenhistas de quadrinhos de sua geração. Depois que se consagrou como um dos

JORNAL DA ABI 379 • JUNHO DE 2012

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