Vivência Punk N° 8

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Em um passado nem um pouco distante era comum escutarmos a massa bovina (comumente conhecida por sociedade brasileira) bradando nas ruas ou virtualmente o bordão “o gigante acordou!” É claro que uma galera sagaz já sabia que esse falatório seria por um tempo muito reduzido e foi o que aconteceu. O tal gigante nunca acordou, continua deitado eternamente em berço esplêndido, num sono profundo, quase um coma. E ao perceber a verdade, essa parcela bovina voltou a assumir o papel que lhe compete na engrenagem social. Desprovida de senso crítico e incapaz de fazer uma autocrítica, optou pela preguiça intelectual e passou a culpar xs outrxs por erros que (também) são seus, tentando se isentar de qualquer responsabilidade pelo fracasso da republiqueta enquanto nação. A classe política e seus pares que permanecem tranquilamente no alto da pirâmide social, percebendo que a bundamolice voltava a ser a postura vigente da sociedade, passaram a ser preocupar apenas com seus interesses: maneiras de se perpetuarem no poder e em como continuar saqueando o país enquanto fica a se digladiar. E como a bizarrice impera por aqui, a sociedade serviçal e a elite política e econômica conseguem ter algo em comum e que os une a ponto de caminharem de mãos dadas: o ódio a quem insiste em lutar por um país mais justo e igualitário. Para quem não desistiu de lutar, independente da causa, sobram críticas pesadas, leis e muita repressão. A loucura é tanta que justifica um pai matar o filho a tiros, como aconteceu em Goiás ou como aconteceu em São Paulo, onde uma mãe matou o filho a facadas e depois ateou fogo ao seu corpo apenas pelo fato do jovem ser homossexual (ambos os casos ocorridos em 2016) e ainda ver uma parcela significativa de pessoas celebrando o pai e mãe como herói e heroína na luta contra “xs comunistas”. Reflexo de um país muito doente, onde qualquer absurdo é possível e aceitável. Enquanto isso, a democratura cleptomaníaca que ainda insistem em chamar de Bra$il continua a rumando em direção a um estado cada vez mais autoritário, com essa ditadura civil nojenta tendo sonhos eróticos frequentes com a ditatura militar, o barraco segue rolando morro abaixo numa sucessão de escândalos de corrupção, golpes, supressão de direitos, descoberta de conchavos e violência estatal como forma de intimidação a quem ousar questionar de maneira contundente os desmandos promovidos pela corja política e seus cupinchas. Muita gente há de concordar que em qualquer outro país minimamente sério e que estivesse passando por tantas tragédias políticas, sociais, ambientais, culturais e econômicas promovidas pela classe política como acontece aqui, o povo já teria se rebelado e alguns políticos já teriam, pelo menos, levado alguns pontos na cara para ficarem parecidos com o Frankenstein. Mas aqui é diferente. As ruas estão vazias porque a nação bovina só consegue se mexer quando tem alguém a conduzindo, o que não acontece nesse momento, já que a corja da direita não quer derrubar o presidente golpista com medo de fortalecer a esquerda e uma possível volta do sindicalista babão ou de qualquer outrx trambolho e a esquerda prefere deixar o presidente golpista sangrar até morrer, para só depois aparecer como sendo a única saída possível da crise e apresentando qualquer nome seboso como salvação. Soma-se isso a apatia (que se fosse um produto comercializado seria sucesso absoluto, o mais vendido no comércio, talvez sendo necess ária a importação) que alimenta x brasileirx de bem e o resultado é esse que vemos: zero cobrança, zero ameaça ao poder. Sem contar que o brasileirx não cobra porque se elx estivesse no lugar faria a mesma coisa. Na real, o jeitinho brasileirx, essa parada escrota que parece estar impregnada em nosso DNA, também ajuda na perpetuação das mazelas. E assim a tragédia segue seu curso normal e de maneira tranquila. Essa situação de fácil manipulação da população, fazendo com que a mesma tenha como características marcantes a vassalagem e a docilidade, sendo incapaz de se indignar além de umas poucas palavras durante uma conversa com alguém próximo ou de postagens em redes sociais, não é algo que começou dias atrás. É um projeto político para o país, muito bem preparado e colocado em prática com esmero. Esse é o único projeto pensado para o país que realmente deu certo... para quem está no e com o poder. O que vemos hoje é a repetição de uma história que começou no Bra$il colônia e vem até a atualidade. Mudam os nomes, xs personagens, os locais e a época, mas permanecem as práticas. E depois de cinco séculos, esse projeto para o país atingiu um nível de perfeição jamais visto. Alguma mudança para melhor à vista? Temos dúvidas. Alguma possibilidade de insurgência por parte da população (incluindo a parcela abestada que adora batucar em panelas) e que também vem sendo sacrificada graças à incompetência da classe política? Temos dúvidas. Dias piores? Muito provavelmente. O Bra$il vem dando errado há tempos, está dando errado e, pelo jeito, vai continuar errante por muito tempo.

Agradecimentos: Tamires “Encosto”, Carlos (Split Veins), Nader (Dischavizer), Romulo Carlos (Arrepio Produções), Marcelo Rodrigues & Escöria, Ricardo (Estado Alterado), Leandro (Unleashead Noise Records), Guerra Urbana, Maria (Chile), Kledson, William & Resistência Punk Norte Paranaense, as pessoas responsáveis pelas imagens que usamos e não creditamos por não saber o nome e a todo mundo que curtiu o zine, gastou alguns minutos lendo e que se deu ao trabalho de compartilhá-lo na rede. Valeu mesmo!

Esse zine é dedicado ao Zé Luiz, Kid Vinil e Grant Hart. Estejam em paz.

“Não se tem uma revolução quando se ama o inimigo; não se tem uma revolução quando se está implorando ao sistema de exploração para que ele te integre. Revoluções derrubam sistemas. Revoluções destroem sistemas.” Malcolm X vivenciapunk@gmail.com

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Trilha sonora desse número: Doom, Cwill, Wolfbrigade, Tragedy, Conflict, Dead Kennedys, Execradores, Chaos BCN, Bosta Rala, Sin Dios, Cólera, The Restarts, Angry Mob, Deadlock, Phobia (EUA),Rot, Agathocles, Massgrav, The Exploited, Asile, Warchild, Dead Tribe, Helvetin Viemärit, Skarhead, Autarch, Disease, Frenzy, Heavy Nukes, Dispose, Raw Noise, Extreme Noise Terror, Diskonto, Totälickers, Ä pärät, Subviventes, Kob 2, Ultimo Gobierno, Lixomania, Inocentes (antigo), The Clash, Final Slum War e Dischaka.


DIAS O COTIDIANO NA METRÓPOLE É EMBRUTECEDOR E NOS TORNA CADA VEZ MAIS INSENSÍVEIS, CONSEGUINDO ENXERGAR APENAS O “EU”, INVISIBILIZANDO A TUDO E A TODXS. ESSA A VIDA QUE DESEJAMOS? Por Karl Straight Todos os dias têm um potencial para serem fantásticos. Você já parou para pensar nas oportunidades que surgem todas as manhãs ? Um novo dia pode ser transformado em um tempo de reflexão ou então em um momento para curtir a vida. Mas e aqu eles dias em que você acorda atrasado, a chuva não para, transporte parado por causa do trânsito complicado, contas para pagar, desempenho ruim nas aulas, no trabalho as coisa não vão bem, a família em crise, reclamações de tudo e todos? Mas se você parar para pensar, esses momentos difíceis tem também o potencial de serem dias especiais. É encarar, superar as dificuldades, acreditar nisso. Cada dia nos revela surpresas que não imaginamos.

GUERRA INÚTIL 2017 E AINDA VEMOS GUERRAS INÚTEIS. OSER HUMANO TÊM UMA DIFICULDADE EM APRENDER COM O PASSADO OU SERIA DA NATUREZA HUMANA GUERREAR? Por Karl Straight Nenhum aviso, nenhuma sirene, nenhum grito de bomba. Apenas “buuumm”, você acorda e dá conta que está mesmo em uma guerra. E as horas viram dias, os dias viram meses e os meses viram anos. O amanhã não existe mais para você. Nesta guerra inútil você deve estar preparado para sobreviver. Porque não? Não é isso que fazemos? A culpa aperta de um lado, o medo arrasta do outro, o remorso pelo passado, ansiedade pelo futuro. Não estamos dando uma chance para nossas vidas. A luz do sol entre as frestas se comprimindo em buracos, ratos se escondem apressadamente. Pessoas cuspindo sangue, se arrastando nos escombros. Guerra inútil , o amanhã não existe mais para você. Um soldado com a compaixão de uma viúva negra e nada de canções de esperança, nada mais além de acordes dissonantes da morte. Sangue, dor, morte, é possível ver, ouvir e sentir. Decisões de líderes políticos, uma cidade é atacada. No conflito, a ansiedade é a resposta natural nesse caso. Nuvens negras no céu ora avermelhado pelo fogo, ora cinza pela fumaça, a destruição está a caminho. Você está sozinho nessa guerra inútil e o amanhã não existe mais para você.

NOSSAS ESPERANÇAS AS NOSSAS ESPERANÇAS SERVEM AINDA PARA DESPERTAR-NOS. SERÁ? Por Karl Straight As nossas esperanças servem ainda para despertar-nos, abrir os olhos sonolentos e enxergar ao nosso redor. Como isso tudo pode ter acontecido? O mal está dançando ao nosso lado, assim como as sombras caíram sobre nosso mundo, a escuridão sobre nós. Ouvem-se sussurros da morte e a inocência acabou. Você e eu vivemos em um mundo turbulento. Quem poderia ver algo bom? Em momentos dif íceis o bem pode resultar do mal? Essas perguntas afligem seu coração. Os meus sentimentos são os mesmos que os seus? Seus caminhos são os meus caminhos? Essas perguntas não são novas para você. A pergunta não é simplesmente quem é contra você? As doenças, a corrupção, a miséria, a inflação, o desemprego, o estresse. Conflitos globais e o medo que aprisiona a todos. O que controla vocês não me controla. Erga os olhos, veja e observe, sinta o ambiente, nossos ideais nos dão confiança enquanto enfrentamos o futuro incerto. Esta é a questão? Esta é a preocupação? Oh, você não diz , você pode nem saber, mas eu posso vê-lo em seu rosto e ouvir suas palavras. Desanimado para lutar?


O ANARQUISMO NÃO É UM ESTILO DE VIDA “... QUE O ANARQUISMO NÃO SEJA MAIS UM ESTILO DE VIDA (COMO TANTOS OUTROS EXISTENTES) A SER UTILIZADO AO SE ENCONTRAR COM XS VELHXS AMIGXS DO ATIVISMO DE TEMPOS ANTERIORES, MAS QUE CONTINUE SENDO O CONSTRANGIMENTO, A INTOLERÂNCIA, A DESILUSÃO E A DESTRUIÇÃO DE TODAS AS PRÁTICAS E VALORES MORAIS CONSTRUÍDOS AO LONGO DE TODA A NOSSA EXISTÊNCIA E QUE NOS FAZEM NASCER PRESXS MESMO SEM GRADES E CORRENTES.” Por Mao (publicado originalmente no Cordel Libertário em setembro/2016) Nesse texto irei no sentido contrário do autor Murray Bookchin quando escreveu o livro “Anarquismo Social ou Anarquismo de Es tilo de Vida: um abismo intransponível”, que ao se referir aos vícios do anarquismo contemporâneo deixa de criticar as diferentes vertentes do anarquismo, colocando como se o maior vilão fossem xs chamadxs anarquistas individualistas, influenciadxs por Max Stirner, Hakin Bey, Mic hel Focault, enfim, aqueles que todxs xs estruturalistas gostam de chamar de pós- modernos. Não tenho a intenção de atacar exclusivamente qualquer vertente do anarquismo, pois as críticas que serão feitas nesse texto nem aquelx que lhe escreve está isentx de recebê-las, mas ao invés de culpabilizar indivíduxs, coletivos, vertentes, quero confrontar com as práticas que nem mesmo xs teóricxs clássicos do anarquismo escapam. Quando me refiro ao Anarquismo estou me referindo a luta contra todas as formas de opressão que impedem a emancipação plena dx ser humanx e de todos os animais. Nesse sentido o anarquismo não existe de forma isolada, ele está ligado completamente a ação. Sendo assim como poderíamos considerar alguém anarquista? O debate que quero fazer é que não existe um Ser Anarquis ta, mas um Estar Anarquista, pois só podemos nos considerar anarquistas enquanto estamos no enfrentamento direto a todas as opressões que nos aprisionam, ou seja, não é um título que ganhamos e que podemos levá-lo tranquilamente para o resto da vida sem que necessitamos fazer qualquer esforço, e nem mesmo uma proteção que impede uma autocrítica. E ao contrário do que pensava Bookchin o problema do anarquismo contemporâneo e mesmo clássico, não está no fato dxs anarquistas assumirem diversas frentes de luta, tanto da micro como da macro política, o problema é que ainda vemos uma grande resistênci a ou mesmo tabu de enfrentarmos diversas opressões que nos acompanham ao longo de séculos, mas que para muitxs é um campo minado, pois esse debate nos coloca muitas vezes do lado daquelxs que oprimem e não do lado confortável de quem julga a opressão alheia. Diferenciar a luta anarquista da influência do socialismo autoritário (ou estruturalista) também é um dos desafios que se coloca quando o assunto é o combate a todas as opressões, pois tendemos a escolher um “inimigo nº 1” para enfrentar e assim todas as nossas estratégias caminharão nesse sentido, dando prioridade para algumas opressões e deixando em segundo plano outras, que além de criar confusão, perdendo muitas vezes o nosso horizonte político, o que acontece é que no final chegamos sempre na mesma conclusão, a opressão não trabalhada sempre retorna, e quando retorna o resultado é a destruição ou transformação, sendo a destruição sem a transformação o mais provável de acontecer, causando o distanciamento dxs indivíduxs envolvidxs. Semelhante ao que sempre houve com xs marxistas a séculos, no Brasil está crescendo uma nova categoria de anarquistas, xs anarquistas de fim de semana, ou de academia, e isso acontece também devido ao fim de espaços/okupas anarquistas, que sempre serviram de laborat órios de descontruções, que por conta de diversos conflitos, sendo alguns já relatados acima, perdemos não somente espaços fixos, mas estamos perdendo cada vez mais a responsabilidade do encontro, momento que pode ser extremamente importante para nos distanciarmos da nossa zona de conforto, e voltarmos a ser perigosxs. Finalizo/inicio dizendo que esse texto poderia também se chamar “Manifesto para que a Ação tenha mais força que os discursos”, pois além de outras coisas a crítica que faço aqui é para que o anarquismo não seja mais um estilo de vida (como tantos outros existentes) a ser utilizado ao se encontrar com xs velhxs amigxs do ativismo de tempos anteriores, mas que continue sendo o constrangimento, a intolerância, a desilusão e a destruição de todas as práticas e valores morais construídos ao longo de toda a nossa existência e que nos fazem nascer presxs mesmo sem grades e correntes. O Anarquismo só estará vivo enquanto houver Ações Anarquistas!!!

40 ANOS DE PUNK NO BRA$IL: MUITA COMEMORAÇÃO E POUCA REFLEXÃO AO INVÉS DE TAMBÉM APROVEITARMOS AS COMEMORAÇÕES DE 40 ANOS DO PUNK NO BRA$IL PARA UMA REFLEXÃO SOBRE AS CONQUISTAS, AS PERDAS E O QUE FAZER PARA MELHORAR NOSSO PRESENTE E GARANTIR O FUTURO, A DATA FOI SENDO PAULATINAMENTE ESVAZIADA DE SENTIDO CONTRACULTURAL E POLÍTICO, TORNANDO-SE APENAS UMA COMEMORAÇÃO CLICHÊ Por Treva Quem, em 77, poderia imaginar que 40 anos após seu surgimento nada tímido e consequente explosão, atraindo uma juventude com pouquíssimas expectativas em relação ao futuro e vivendo sob o regime militar, o Punk ainda estaria presente nessa terra torta, quase sempre de maneira independente, criando, produzindo, compartilhando, errando, acertando, ensinando e aprendendo. Nos últimos 40 anos o Pun k tem cuspido na cara da sociedade hipócrita, pisado em seus valores, cantando e escrevendo sobre as mazelas sociais, colocando o d edo na ferida e quando possível, apontando (audaciosamente ou bisonhamente) soluções, revolucionando a cultura. Desde seu surgimento em plena ditadura militar, tem seguido seu caminho de maneira autônoma na maior parte do tempo, sobrevivendo a inúmeras tentativas de domesticação e


comercialização, alertando sobre o quão podre é o sistema e que uma mudança radical se faz urgente, estando presente nas diversas manifestações políticas populares nessas últimas décadas e em muitos casos, na linha de frente, sem rabo preso e isso não é p ouca coisa quando lembramos que reprimir ou cooptar movimentos sociais e grupos culturais é prática comum por aqui. Houve, há e ainda haverá muitos problemas, mas nada que nos impeça de seguir caminhando de maneira independente e coesa, se assim desejarmos. Gostem ou não, reconheçam ou não, a influência do Punk é algo absurdo, já que diversos aspectos da vi da tiveram alguma influência do mesmo. Cinema, música, moda, política cotidiana, pouca coisa escapou da influência iconoclasta do Punk. E se hoje ele não parece tão ameaçador aos olhos de pessoas desavisadas, não é porque tenha virado moda ou abandonado o radicalismo, mas porque algumas das mudanças des ejadas finalmente chegaram e determinadas posturas ou questionamentos não são mais necessários. E como é mutante em vários sentidos, se adapta às novas realidades, aos novos inimigos e cria novas formas de contra-atacar. Mas a ideia desse texto não é contar a história do Punk no país (seria muita pretensão), tampouco enaltecer sua turbulenta ex istência. Para isso, existem diversos fanzines, blogs, sites, revistas e toda a tralha midiática, corporativa ou não, que tenta pegar carona na data. E aqui abro um parêntesis: nesse momento de “comemoração” todo mundo acha bacana o Punk, reconhecem sua importância e ficam numa pagação de pau sem fim. Mas ser punk, enfrentar os perrengues diários, as tretas com a escória skinhead, a repressão policial que ainda existe, os olhares inquisidores, viver o Punk e as dificuldades inerentes a essa realidade no âmbito familiar e/ou no meio social, isso ninguém quer. Inclusive tem muita banda bostenga dando uma de galinha morta e se dando bem com esse falatório sobre o Punk, aproveitando que o mesmo tem essa postura inclusiva (e nem sempre inteligente) e conseguindo divulgação e a chance de apresentar-se em eventos punks enquanto muita banda da cena continua apenas nos ensaios. Mas retomando o raciocínio do início do parágrafo, esse texto tenta questionar o vazio que se tornou ess a comemoração, que foi reduzida a eventos musicais. Nada de reflexão, nada de buscar soluções para os problemas enfrentados, nada de questionamentos acerca de onde o Punk se insere no atual contexto sociopolítico do país. Nada além de eventos com bandas, como qualquer outra baladinha da vida. Até no Rock in Rio teve mais política do que em boa parte dos eventos punks que estão acontecendo desde janeiro. Claro, muitos eventos fodas foram organizados e acredito que isso possa ser considerado como algo político ao analisar todo o contexto que envolve o Punk, produções independentes e mesmo a atual situação política da republiqueta. Mas o oba-oba e a falta de uma maior politização em boa parte dos eventos me faz acreditar que só faltou algumas bandas e pessoas aparecerem no faustão. Parece pairar no ar a sensação de que muita gente que se diz envolvida no Punk teme uma radicalização na postura e o consequente fim de seus privilégios, sejam eles quais forem, por isso repetem o modus operandi estatal ao lidar com a data: oferecem pão e circo. Ou talvez estejamos tão entorpecidxs pel a apatia quanto à sociedade em geral e acabamos por agir de maneira semelhante, talvez igual, a quem sempre criticamos. Toda essa comemoração vazia faz parecer que o Punk é uma maravilha, a cena perfeita, e sabemos que isso não condiz com a realidade. Existem muitos motivos para comemorar e poderíamos fazer isso com muito barulho e pogo, mas não focando apenas nisso, unindo som e confraternização a pautas que interessam e estão relacionadas à nossa vivência, buscando novos caminhos, fortalecendo laços de camaradagem, procurando formas para viver o Punk de maneira intensa e radical. É necessária uma reestruturação para termos gás para seguir em frente e incomodando por mais 40 anos. Depois de tanto tempo, não é possível olhar para o Punk e acreditar que vivê-lo da mesma maneira que em 77,82, 90 ou 03 é normal, e é justamente isso que está acontecendo. Uma névoa de nostalgia impede que enxerguemos novas possibilidad es, impede uma reestruturação e, porque não, uma reciclagem. O mundo mudou, problemas desaparecer am, outros surgiram e é importante que estejamos atentxs a essas mudanças para não perdermos o bonde da História. O Punk sempre foi crítico em relação aos diversos problemas que permeiam a sociedade e o mundo. Esse senso crítico também é i mportante e necessário quando olhamos para dentro do movimento. Não podemos ser hipócritas e fazer de conta que tudo está bem, com medo de encarar os erros que persistem, criticá-los e buscar soluções para os mesmos. Há anos estamos fazendo vista grossa para diversos problemas que no início eram pequenos e no decorrer do tempo tornaram-se grandes, a ponto de atrapalhar e muito nossa vivência. Hoje, 2017, não é possível aceitar qualquer tipo de atitude preconceituosa no rolê, ver pessoas passando pano para pilantras e defendendo isso como algo normal, achar que bandas são intocáveis e que não podem ser criticadas ou mesmo espirradas do rolê, ver como normal a diarreia intelectual prom ovida por muita gente das antigas e aceitar quase que bovinamente as carteiradas que distribuem com frequência quando recebem críticas, sermos vistxs apenas como possíveis fornecedores de moedas por quem se acha mais espertx e agiliza algum evento, continuar alimentando nossos egos e acreditando que somos senhorxs da verdade e que isso nos dá salvo-conduto para achincalhar outras pessoas, inclusive as do próprio rolê (principalmente com punks novxs ou quando são consideradxs descartáveis, mas nunca com alguém daquela banda tida como foda. Sim, rola uma hie rarquia no rolê) entre tantas outras situações ruins que vemos com frequência e que não deveriam estar presente entre nós. O Punk nos fornece maneiras para tentarmos sermos um pouco menos idiotas do que a imensa maioria das pessoas, mas isso não quer dizer absolutamente nada se não soubermos usar o conhecimento a que temos acesso. Um pouco de humildade faria bem para a nossa saúde enquanto pessoas e para o Punk como um todo. Nos últimos anos, com uma maior acessibilidade tecnológica, passamos boa parte do tempo conhecendo pessoas de outras quebradas, cuidando da vida alheia, alimentando intrigas, criando inimizades. O que era para somar, unir e fortalecer, se tornou pivô de tretas. É muita inocência achar que o fato de alguém ter acesso a grande rede através de celular vai fazer com que a mesma leia livros e procure conhecimento, ou só porque possui um visual feito por ela própria já saiba sobre tudo e seja uma cientista social amadora. Ainda estamos aprendendo a lidar com a web e já deveríamos ter a compreensão que conta em rede social, frases de ef eito e foto usando visual não faz de ninguém punk. Para isso, é necessário viver o Punk no mundo real. Outro ponto importante, a educação oferecida no país é péssima e isso com certeza vai ter reflexo nas pessoas que se envolvem com o Punk. Chegamos ao Punk cheixs de vícios sociais que nos são ensinados como verdades em casa e na escola e desconstruir/destruir certas posturas leva tempo e apoio. A imensa maioria de nós chegou ao Punk sem nenhum conhecimento e para mudar isso foi necessário tempo, muitas conversas, convivência, colar nos rolês, leitura de zines e livros que nos apresentavam uma série de novas possibilidades para a vida. Um aprendizado lento, muitas vezes trôpego, mas teoricamente eficaz. E sim, se ramelássemos na ideia era bicuda certa! Mas até chegar nisso tinha um tempo, bem diferente do que acontece hoje, quando alguém em rede social faz alguma colocação sem noção e já é execrada virtualmente por quem se acha donx da verdade absoluta. Trocar ideia e tentar mostrar outro ponto de vista, pra quê? Melhor se autoestimar em cima do “baixo conhecimento político ou sonoro” da outra pessoa. Na boa, rebeldia sem formação política é algo perigoso, que pode vir a servir a qualquer lado, por isso acredito ser tão importante conversas e a troca de informações. Óbvio, existem pessoas que merecem e devem ser execradas sem dó nem piedade, mas cada caso é um caso e uma pequena dose de bom senso ajuda. É importante que informação e conhecimento voltem a circular no mundo real e no virtual, porque nem todo mundo sabe onde buscar ou têm acesso fácil a essas informações. O Punk pode atuar como provedor de conhecimento e ser o início de uma mudança significativa e profunda em cada pessoa.


O Punk pode e deve ser agente influenciador e transformador como tem sido nesses 40 anos. Dois exemplos práticos: o primeiro é a popularização da tática black bloc. Por mais que experts no assunto tenham suas explicações, quem está no rolê sabe que desde o final da década de 90 e início de 00 já havia punks e anarquistas tendo contato com publicações sobre ação direta radical e as colocando em prática. Demorou, mas a partir das Jornadas de Junho de 2013 a tática se popularizou e fez da vida de governantes e, principalmente, de seus serviç ais fardados, um inferno. O segundo exemplo é a grande quantidade de pessoas que após alguns anos de envolvimento com o rolê, seguiram com suas vidas, tornaram-se cientistas sociais, advogadxs, assistentes sociais e afins, e hoje conseguem viver fora da massacrante e tradicional vida laboral e/ou estão envolvidxs com as diversas movimentações sociais existentes e lutam por justiça e igualdade (ainda que muitxs digam que o Punk não influenciou nessas escolhas, sabemos que essa afirmação é balela. Afinal de contas, o que o Punk prega nunca é ensinado em casa ou na fábrica de vassalagem conhecida por escola), levando o aprendizado e o colocando em prática em suas vidas fora do rolê. Isso mostra o quanto ainda é relevante o Punk enquanto movimento de caráter contracultural, unindo música e política. Mas antes de pretensa mente questionarmos a sociedade, é importante questionarmos a nós mesmxs; antes de apontarmos o dedo para quem quer que seja, devemos olhar ao nosso redor e ver se nossa prática cotidiana e discurso caminham lado a lado. E, principalmente, antes de exigir mudanças rad icais na estrutura social, é nosso dever mudar radicalmente o que está errado em nossa cena, ser a mudança que também esperamos nxs outrxs, dentro e fora do Punk. Nessas quatro décadas de existência, muito foi criado, produzido, compartilhado e ensinado. Infelizmente, muita coisa ruim ta mbém aconteceu. Muitxs dxs nossxs sucumbiram às drogas, outrxs foram sequestradxs pelo estado, a violência entre nós continua a ser um fantasma a nos assombrar, a inexistência de espaços punks seguros para todxs, onde seja possível exercer nossa criatividade e tentar colocar em prática algumas das ideias que temos, a dificuldade em agilizar turnês para bandas locais e de fora, o sonho de um grande festival, a necessidade de fazer com que as pessoas entendam que é necessário que algum dinheiro circule para cobrir custos, continuamos sem apoio jurídico para aquelxs que ousam enfrentar o estado ou grupos intolerantes de maneira mais contundente e por aí vai. Tenho dúvidas se o Punk que vivemos hoje é realmente o que gostaríamos, e para mudar é necessário envolvimento de todxs, manter os egos controlados, fazer por nós mesmxs. É importante conhecer x outrx, interagir, apoiar-nos mutuamente. Somos poucxs e se não conseguimos manter uma interação minimamente saudável, pautada naquilo que afirmamos crer e praticar, significa que falhamos e vivemos uma grande mentira. Aí queridxs, não vai adiantar música barulhenta, letras revolucionárias, visual e teoria política na ponta da língua, porque seremos apenas mais uma das exóticas tribos urbanas que existem nas cidades. Apenas rockeirxs com algum radicalismo estético e nada mais. Um movimento realmente estruturado trará benefícios à todxs xs envolvidxs, diferente do que acontece atualmente, onde apenas algumas pessoas são “beneficiadas”. E quando digo estruturado, não estou me referindo apenas a locais para gigs ou equipamentos decentes. Estrutura é algo que vai além, envolve muita coisa, entre elas colocar em prática toda a criatividade existente, uma melhor divulgação/distribuição de nossa produção contracultural, fomentar ideias, buscar a resolução dos vários problemas que persistem ao longo dos anos, ocupações, apoio a punks que estiverem em situação de vulnerabilidade, apoio jurídico (algo essencial e que não temos de maneira eficaz), tentar minimizar as diversas formas de violência praticada pelo estado terrorista, compartilhar conhecimento e informação, criação de espaços seguros e por aí vai. E nunca deixar de olhar para quem está ao lado e que não faz parte do Punk. Solidariedade entre nós é essencial, assim como também é essencial com quem não faz parte do Punk. E não, isso não é salvar o mundo, até porque não é nossa obrigação salvar o mundo, já que nem as nossas vidas conseguimos salvar em muitos casos. É apenas colocar em prática o que foi aprendido, o que tanto falamos. Devemos pensar e fazer pelo Punk, mas jamais deixando de olhar para o que está acontecendo ao nosso redor, jamais deixando de ser solidárixs a quem também sofre com o terrorismo estatal. A republiqueta vive momentos turbulentos. Aquilo que um dia chamamos de democracia (frágil desde seu nascimento) já não mais existe e vivemos em um estado de exceção camuflado entre algumas liberdades que nos são jogadas como migalhas. É nesse ambiente hostil de desigualdade social persistente, ascensão da direita, repressão, fundamentalismo religioso, supressão de direitos civis e trabalhistas, que punks vivem e resistem. Essa é a realidade que enfrentamos diariamente e cabe a nós buscarmos maneiras eficientes para mudá-la ou ao menos torná-la menos desgastante. Por um Movimento Punk verdadeiramente politizado, coerente, unido, independente, com apoio mútuo e onde possamos cuidar e fazer por nós mesmxs, livre de vícios sociais, sem pilantras/parasitas e realmente combativo. É isso que desejamos, é por isso existimos, resistimos e lutamos.

MEMÓRIA ROLESÍSTICA: NAPALM DEATH EM SUA PRIMEIRA PASSAGEM PELO PAÍS, PUNKS E HEADBANGERS COMPAREÇAM EM PESO PARA PRESTIGIAR A BANDA, FAZENDO COM QUE ESSAS APRESENTAÇÕES ENTRASSEM PARA A HISTÓRIA DO UNDERGROUND SUL-AMERICANO, SENDO LEMBRADAS ATÉ HOJE. E APESAR DA INTRANSIGÊNCIA DE ALGUMAS PESSOAS, O GRINDCORE FAZ PARTE DO PUNK SIM! Por Treva Mesmo nunca tendo sido adepto da chapação, a idade cobra seu preço quando o assunto é memória. E o pior, parece cobrar esse preço apagando aquelas lembranças de rolês que foram bacanas, prazerosos, e não daqueles que foram meia boca ou em companhia de pessoas escrotas. Triste. De qualquer forma, se algo não estiver correto nesse texto, favor ignorar. Buscando no fundo da caquética memória, dessa vez os causos são sobre a apresentação do Napalm Death em 12 de maio de 1990. Daqui já estou ouvindo a chiadeira dx punks puritanxs que só ouvem Pistols, Adicts, Ramones e Clash, dizendo que “nada a ver colocar uma banda de metal num zine punk”. Só para esclarecer, Napalm Death começou no Punk e depois é que seu som foi metalizando, como aconteceu com uma série de bandas punks na década de 80. E antes de ser considerada uma banda de metal, ajudaram a criar o grindcore. Se isso a inda não basta, as letras são altamente politizadas e frequentemente dividem o rolê com bandas punks. Agora serve? Se hoje em dia a confusão acontece graças ao excesso de informações que provocam um curto circuito na cabeça de muita gente, no início dos anos 90 era justamente a ainda persistente falta de informações que gerava os atritos. Toda a informação musical/comportamental era adquirida


através de fanzines (nem todos confiáveis), com alguns programas de rádio e por conversas. E não podemos esquecer o sempre pr esente atraso na chegada dessas informações para a maioria de nós. Na época já existiam algumas rádios rockeiras espalhadas pelo país que faziam muito sucesso. Era comum que essas rádios tives sem em suas grades diversos programas musicalmente mais específicos e dentre os programas de uma determinada rádio, um chamava a atenção por apresentar as novidades do Punk, um pouco de psychobilly e thrash metal. O nome do programa era “Independência ou Morte” e rolou nas duas rádios rockeiras da Grande SP em épocas diferentes. Esse programa foi apresentado por um tempo pela dupla Hard e Core (se não estou viajando, era o Redson do Cólera e o Tatola do Não Religião, sendo que depois passou a ser apresentado apenas pelo Tatola). O programa já rolava há alguns anos e ia ao ar na terça ou quarta-feira, das 22h00min às 23h00min ou das 23h00min às 24h00min (não lembro), horário desgraçado para qualquer pessoa que tivesse que acordar cedo no dia seguinte, mas o desejo de informação falava mais alto. C omo disse anteriormente, tocava tudo que pudesse ser considerado Punk e um pouco de psychobilly, metal e coisas que ninguém sabia do que se tratava. E foi justamente nesse programa, anos antes das apresentações da banda, que vim a conhecer a Napalm Death. E na boa, não entendi nada. A primeira impressão foi de uma maçaroca barulhenta, com vocais grunhidos e músicas irritantemente curtas. Posso dizer que quase achei uma tremenda bosta. Na época também existiam programas voltados apenas para o metal, mas não me lembro deles tocando a banda. Pois é, e num belo dia anunciam a vinda da banda e a comoção é geral nas cenas punk e banger. Em maio de 1990, a banda desembarca na republiqueta para três apresentações em São Paulo, na conhecida casa Dama Xoc. A capacidade da casa era de aproximadamente 2000 pessoas e foram três apresentações, por aí se tem uma ideia da força que o underground tinha na época, com a presença de pessoas de diversas cidades, estados e até de países vizinhos. Mesmo com menos informações e público, e um país com problemas econômicos persistentes, o envolvimento que as pessoas tinham com suas cenas era real, sendo capaz de encher a casa nas apresentações, algo impensável nos dias atuai s. As três apresentações foram em uma quinta, sexta e sábado. No sábado o som foi quase uma matinê, começando no final da tarde, em decorrência da banda ter que embarcar na mesma noite. Sepultura foi a banda convidada para dividir o palco nas três datas, mas se a memória não está a me trair, na quinta e na sexta também teve a participação do Korzus e do Ratos de Porão. Antes do som de sábado, rolou uma sessão de autógrafos com Napalm Death e Sepultura em uma loja de discos/estúdio/bar/ porão que existia n o bairro de Vila Buarque (região central), a Dynamo Brazilie. Uns brasileiros e um holandês espertalhão montaram esse espaço com autorização e em parceira com a mundialmente conhecida casa holandesa (que fica em Eindhoven), numa tentativa de fortalecer a cena metal br asileira. A Dynamo agilizou vários rolês com bandas gringas, gravou algumas nacionais e em pouco tempo, foi para o vinagre graças às brigas entre as partes envolvidas. Voltando a sessão de autógrafos, como o espaço era voltado para o metal, apenas headbangers colaram. E qual não foi a surpresa ao ver os gringos chegando, todos com longas cabeleiras, camisetas de bandas de metal, tênis cano alto, visú banger padrão. Euzinho, na minha imensa ignorância, estava esperando uns punks de visualera estourada, pique as fotos que víamos de punks europeus, m as os caras eram bangers. A cara de espanto da maioria e os cochichos provaram que eu não era o único bocó no lugar. Diferente de hoje que é só digitar o nome de qualquer banda que aparece dezenas de fotos, naquela época revistas e zines vinham com poucas fotos (por questão de e conomia) e muitas vezes a única chance de saber como eram xs integrantes de alguma banda ou procurar alguma informação visual era revirando as prateleiras de discos nas lojas. Terminada a sessão, algumas pessoas ficam pelo Centro e eu sigo para meu cafofo a fim de des cansar um pouco e, principalmente, guardar minhas tralhas autografadas, porque na época não tinha esse papo de ‘kill your idols’. Horas depois, já estou em frente ao local do som. Como ainda era cedo, mesmo sendo sábado tinha um pouco de trânsito e as pes soas de dentro dos ônibus e carros olhavam com aquele semblante embasbacado as cerca de 2000 pessoas divididas entre bangers e punks, todxs devidamente identificadxs pelos seus visuais. Nessa época ainda rolava tretas entre os dois grupos, mas nesse dia tudo transcorreu tranqu ilamente, facilitando a vida de todo mundo. Lembro-me de prestar muita atenção nos patches usados pelos punks, tentando memorizar os nomes de bandas para uma futura procura nas lojas de discos da vida. Mas a ideia não deu muito certo e só consegui memorizar o nome de duas bandas que estavam no jaco de um punk que se encontrava na minha frente na fila. As bandas, Ripcord e Sore Throat, que na real, demorou bastante tempo até eu conhecer. Lembrem-se, nessa época não tinha internet, era tudo mais treta. Na fila ou fora dela, muita gente já comentava o fato dos integrantes da banda gringa serem cabeludos e não moicanos. Pode parecer sem noção essa preocupação, mas na época fazia todo o sentido. Punks e bangers, ao receberem a notícia, faziam a mesma cara de besta, p ara na sequência um esboçar um sorrisinho cínico de vencedor e o outro um semblante levemente decepcionado. Coisas dos anos 90. Fila grande e o medo de que algo desse muito errado pelo fato de haver muita gente e de dois grupos que costumavam rivalizar nas ruas, fez com que a revista para entrar fosse mais rigorosa do que o habitual, quase me fazendo perder o início da barulheira. E como dito anteriormente, os gringos embarcariam na mesma noite, e além do som começar mais cedo, seriam eles que iniciariam o baile. Quando Napalm Death apareceu no palco, um banger já devidamente alcoolizado que estava ao meu lado lançou o seguinte comentário: “ué, us cara num são punk?” Nem deu tempo de receber alguma explicação porque o massacre havia começado. A bizarrice era ver parte da galera dividida entre agitar ou conferir o visual dos integrantes da banda, numa busca inocente e/ou besta de ter a certeza que a banda representava a sua cena. A banda estava na turnê de divulgação do álbum ‘Harmony Corruption’, um disco praticamente de death metal e ainda tinha a melhor formação da carreira. Mesmo assim existia a possibilidade da apresentação dar errado, já que muita gente não conhecia o trampo da banda, público rival amontoado no mesmo lugar e dividir o rolê com o Sepultura, que na época começava sua trilha de devastação internacional e aqui eram tidos como heróis. Mas os gringos tiraram de letra as adversidades e detonaram uma apresentação monstruosa. Nessa época, o mosh pit basicamente era headbanging, slam dancing, crownd surfing e stagediving, sem essas dancinhas coreografadas que surgiram nos últimos tempos, mas era o suficiente para transformar qualquer casa noturna em um caos. Como na casa não havia grade mantendo o pessoal afastado do palco, o bicho pegava grandão por lá. Os vídeos gringos que assistíamos durante os sábados nas lojas de discos do centro da cidade, que mostravam a galera agitando insanamente e que eram o nosso desejo de vida, no Dama Xoc se tornava uma realidade. O palco era espaçoso, sendo um convite para a galera subir e ficar zanzando de um lado para o outro antes de mergulhar, e em alguns momentos eram tantas pessoas no palco, que na hora de mergulhar faltava gente para segurar. Felizmente, do chão ninguém passa. Uma cena curiosa: um banger curitibano que algum tem po depois vim a conhecer, agitava como se o mundo fosse acabar, sendo um dos mais ativos stagedivers nesse rolê, Mas logo após cada mergulh o, o rapaz pegava no bolso uma bombinha usada por pessoas com problemas respiratórios e “bum!”, dava uma baforada na tal bombinha em busca de ar.


Imagina fazer isso por quase uma hora? Pior, imagina perder a bombinha no meio de um show caótico? Mesmo nos sons mais metalizados ou com passagens mais lentas (?), a resposta do pessoal era energética, mas nada se compara quando tocaram sons do “Scum” e “From Enslavement To Obliteration”. Aí a coisa virava uma selvageria. Agitei tanto que o resultado foi uma série de hematomas feios no corpo, como se tivesse sido agredido. O atropelo promovido pelo Napalm Death foi impressionante. Era algo que musicalmente e liricamente não entendíamos muito bem, uma novidade brutal que mexeu com a cabeça de muita gente nos meses posteriores. Depois dessas apresentações, boa parte da cena metal pas sou a encarar o grindcore como uma subdivisão do heavy metal, rolando uma apropriação do estilo, algo que também aconteceu na gringa, mas t alvez com menor intensidade. Isso fez com que bangers acreditassem que muitas bandas grindpunks eram cópias baratas d as bandas de grind oriundas da cena metal e que deveriam ser boicotadas por estarem tentando roubar o estilo. Você que está lendo isso deve estar pensando “ caramba, que pessoal mais babaca”. Pô, dá um desconto! Éramos jovens com muito tempo ocioso e isso nos permitia viajar em um mundo de idiotices, mas que naquele momento faziam todo o sentido. Mas voltando a apresentação, a porradaria durou quase 1h00min, tempo mais que suficien te para deixar a todxs atordoadxs. Ao acender a luz do local, vi vários tênis perdidos (imagina conseguir perder um pisante cano alto), pessoas com camisetas rasgadas e outras com marcas feias pelo corpo que ganharam agitando, mas ninguém parecia se incomodar. Enquanto tinha gente procurando o tênis perdido ou tentando minimizar o estrago na camiseta, a maioria se entregou ao descanso ou foi em direção ao bar em busca de hidratação, porque o barulho ainda não tinha terminado. Na sequência tinha Sepultura, que também f ez uma apresentação matadora. Nessa época, os ainda moleques estavam iniciando a carreira internacional e divulgavam o disco ‘Beneath the Remains’. Rolava uma identificação absurda entre o público banger e a banda, talvez pelo fato da juventude dos caras da banda e do públ ico, somada a potência sonora e algo parecido com orgulho brazuca. O fato é que faltou pouco para a banda jantar os gringos. Interessante é que mesmo sendo musicalmente diferente do que punks curtiam, acredito que a maioria permaneceu no local prestigiando o Sepultura, inclusive vi vários na roda agitando. Até porque nessa época a banda tinha uma postura maloqueira, usavam camisetas de bandas punks, o Max sempre defendia a galera que gostava de agitar e nenhum estrelismo por parte dos integrantes. E no horário que estávamos acostumados a chegar aos picos para ver alguma banda, dessa vez já estávamos nos retirando. Napalm Death já devia estar no avião e a molecada juntava os grupos para seguirem rumo as suas quebradas, sempre com a preocupação de rolar a lgum confronto com a carecada lixo escondida nas sombras da região central ou em alguma estação de trem e metrô. Hoje, 27 anos após essa apresentação, entendo que foi algo marcante para headbangers e punks, um divisor de águas. O país já tinha produzido muita porradaria, tanto no metal quanto no Punk, mas o Napalm Death tinha algo diferente. Talvez o fato de conseguir agradar naquele momento ambos os grupos, a mistura certeira do que havia de mais brutal no metal, punk e com letras politizadas. Na real, nada muito diferente do que bandas daqui já vinham fazendo, mas como o complexo de vira latas sempre fala mais alto, os méritos ficaram com os ingleses. A banda voltou a tocar no país diversas vezes, sendo que em algumas estive presente e pude conferir que a brutalidade continu ava a mesma, apesar dos anos que se passaram.

BULIMIA NO FIM DOS ANOS 90 A INTERNET AINDA NÃO ERA TÃO POPULAR E MUITO DA INFORMAÇÃO POLÍTICA VINHA ATRAVÉS DAS LETRAS DE BANDAS. E FOI NESSA ÉPOCA QUE UMA LEVA DE BANDAS FEMININAS, FEMINISTAS OU MISTAS SURGIU, DANDO VOZ ÀS MULHERES E COMBATENDO O MACHISMO, CANTANDO SOBRE SUAS EXPERIÊNCIAS E VIVÊNCIAS. Por Hannah &Treva Para quem não sabe, bulimia é (muito resumidamente) um transtorno alimentar caracterizado por períodos de compulsão alimentar seguidos por comportamentos não saudáveis para perda de peso rápido, provocado por diversos fatores psicológicos e estando associado na maioria dos casos às mulheres, mas também ocorre com homens.É uma doença que pode facilmente levar à morte, mas que acaba sendo negligenciada por falta de informação ao acharem, entre outras coisas, “que é apenas frescura. E esse transtorno alimentar é o nome de uma importante banda punk. Quando se pensa em bandas punks formadas apenas por mulher es, uma das mais emblemáticas é a brasiliense Bulimia. Formada em meados de 1998, surgiu como resultado de encontros espontâneos entre pessoas que se reuniam para conversar e escutar música. Nesses encontros surgiu uma banda embrionária que tinha na formação Bianca (g uitarra) e Ieri (vocal), Silvia (baixo) e um rapaz na bateria, mas que teve pouco tempo de duração. Algum tempo depois, Bianca conhece a baterista Berila (oriunda da cena metal) e as garotas retomam o projeto inicial que era uma banda apenas com mulheres. Essa formação d urou até a primeira apresentação, com Naiana substituindo Silvia no baixo. Ainda em 1998, com a formação estabilizada, após uns poucos ensaios decidem gravar algumas músicas de maneira caseira. Poster iormente a gravação virou fitas que foram distribuídas para amigxs, tendo um retorno satisfatório. Algum tempo depois, com mais ensaios e entrosamento, entram em estúdio para gravar a primeira demo tape com as mesmas músicas da gravação caseira. Mesmo com o resultado não tendo sido plenamente satisfatório, a demo ajudou a banda se tornar mais conhecida, resultando em um convite para participar da coletânea “Punk Rock Não é Só Pro Seu Namorado Vol. 1”, lançada pelo selo Clorine Records nesse mesmo ano. Como é possível deduzir pelo nome da coletânea, o trampo em cassete reunia diversas bandas femininas e/ou feministas que estavam em atividade na época, entre elas Kólica, TPM, Dominatri x e outras, algumas sonoramente bem distantes do Punk, mas participantes da cena rito grrrl que se formava. À Bulimia, coube abrir a coletânea com a música que dava nome ao trampo e que veio a se tornar seu som mais conhecido. A importância dessa música extrapola a cena riot grrrl ou a vivência de mulheres punks, vindo a se tornar um dos sons mais representativos do Punk produzido na republiqueta nesses seus 40 anos de vida. Apesar da boa repercussão de sua participação na coletânea e da demo tape, internamente a banda não estava bem e a relação entre as integrantes já dava sinais de desgaste. Mesmo assim, entram em estúdio para gravar o primeiro CD que leva o nome de “Se Julgar Incapaz Foi o


Pior Erro que Cometeu”, lançado pelo selo Prótons, que tinha a Bianca envolvida. Esse trampo foi complicado para fazer e terminar, com diversos problemas técnicos e pessoais. Em recente entrevista, Ieri comentou sobre os problemas técnicos que atrapalharam a gravação, sobre o distanciamento que rolava entre as integrantes, afirmando que a banda praticamente não existia quando o CD foi para a fábrica e até mesmo as diferenças ideológicas existentes entre elas desde o começo da banda e que no decorrer dos anos, somaram para o seu término. Tantos problemas fez com que o lançamento atrasasse um ano, saindo apenas em 2001. No mesmo ano a banda participa com dois sons na c oletânea francesa “Up the Grrrl”, um panorama do que era a cena riot grrrl no Bra$il. Nesse ínterim, um fato trágico sela em definitivo o destino da banda. Berila (então com 26 anos) e seu namorado Fábio, morrem afogados na Chapada dos Veadeiros. Não havia mais motivos para continuar com a banda, que encerra as atividades prematuramente. Alguns di as após o acidente, o CD finalmente está pronto. Segundo Ieri, mesmo com o distanciamento entre as garotas, a ideia era realizar algumas apresentaç ões para divulgar o CD e depois encerrar as atividades. Mas quis o destino que isso não fosse possível. Com o término da banda, as integrantes remanescentes seguem caminhos diversos, com Ieri permanecendo envolvida com o Punk, sendo vocalista da banda Las Otras. Dezesseis anos após o lançamento, “Se Julgar Incapaz Foi o Pior Erro que Cometeu” continua atual musicalmente e, principalm ente, liricamente. Numa época em que a direita histriônica brasileira sai da cova e afirma (entre tantas outras besteiras) que o feminismo visa dividir e criar ódio entre homens e mulheres, e no punk uma nova geração de mulheres se levanta para questionar situações e privilégios ainda (infelizmente) existentes no rolê, esse CD continua sendo um sopro de rebeldia e consciência.

SPLIT VEINS EM QUALQUER LUGAR DO MUNDO A RENOVAÇÃO É NECESSÁRIA, PORQUE VIVER APENAS DE PASSADO É SENTENCIAR O PUNK À MORTE. E DA TERRA QUE CUSPIU O PUNK PARA O MUNDO E QUE TANTO FEZ PARA TENTAR DOMESTICÁ-LO, VEM UM DOS MUITOS SOPROS DE RENOVAÇÃO, A SPLIT VEINS Por Treva VP – Antes de qualquer coisa, gostaríamos de agradecer pela atenção em responder essas perguntas. Começando com o b ásico, quando surgiu a banda, formação e influências? Carlos - Surgiu há uns três anos atrás. No comeco tínhamos outro baterista, Aaron, agora temos Jamie. Carlos -guitarra e vox, Gianluca – baixo, Jamie-bateria. Influências são bandas velhas do Japão e Suécia basicamente, mas muita coisa velha europeia e brasileira tambem faz parte do nosso som. VP – Quais os lançamentos da Split Veins até o momento? Carlos - Uma demo em cassete e um LP até agora. VP – Na demo de 2014 as letras são em inglês, enquanto no compacto de 2015 apenas uma é em inglês e o restante em português. A ideia é manter os dois idiomas? E sobre o que tratam as letras? Carlos - Sim, gosto de escrever em inglês e português. As letras são pensamentos relativos à existência, coisa pessoal, um pouco de negatividade e descrença na humanidade eu diria. VP – Talvez muita gente não saiba, mas você (Carlos) é brasileiro. Quais lembranças você possui da cena brasileira e em quais band as tocou? Carlos - Eu toquei no Difekto, Lixo Urbano, Anti Mísseis, C.O.T (Confusion of Tongues), etc... tenho boas e más lembranças, como tudo mais. Muitos amigos, inimigos, viagens, doideiras, etc... VP – Para quem está no Brasil, a ideia de cena no velho continente é que tudo funciona perfeitamente bem, com gigs sempre cheias, grande produção de materiais, espaços legais com estrutura bacana e por aí vai. Essa imagem procede? Carlos - Não. Às vezes as coisas são bem feitas, outras não, mas acredito que comparado com a estrutura em alguns lugares do Brasil, seja considerado superior. Tudo depende. Aqui há mais facilidade pra conseguir as coisas em todos os aspectos eu diria. VP – Especificamente na Inglaterra, quais seriam os pontos positivos e negativos da cena? Carlos - Há muitas bandas boas, alguns bons espaços, mas também muita separação, várias cenas fazendo suas próprias coisas independent es das outras, que pode ser visto com boa coisa ou não... o fato mais negativo seria o custo de tudo, aqui compar ado com o resto da Europa. VP – Diferente do Brasil, que é um país com dimensão continental e sistema de transporte precário, na Europa os países são pequeno s e com um sistema de transporte infinitamente melhor, facilitando a locomoção para ir se apresentarem em outras localidades. Já tiveram a oportunidade de se apresentarem em outros países? Carlos - Tocamos em Barcelona recentemente. Também Texas e México ano passado. Às vezes se pode voar para a Europa por pouco dinheiro. Isso eh vantajoso.


VP – Com quais bandas já dividiram o rolê? Já tocamos com muitas bandas boas, mas tocar com Death Side ano passado foi especial. VP – O Punk continua a produzir muita coisa boa em todo o mundo. Aqui no Brasil não é diferente, mas parece rolar uma dificuldade das pessoas em se libertarem de bandas e situações que em nada somam ao Punk, optando por viver em um estado de nostalgia que par ece não ter fim, dificultando uma renovação. Qual seria a melhor maneira de lidar com essa situação? Eu não suporto nostalgia. Adoro falar de coisas que aconteceram, de bandas velhas, mas pra mim o que interessa eh o hoje, o a gora...o que passou passou...soh olho pra frente...usar o passado pra criar coisas hoje eh interessante, eh o que fazemos, mas tenho muito mais interesse no que ainda vai acontecer do que o que já aconteceu. VP – Em tempos de crise, a extrema-direita sai dos bueiros fétidos que normalmente habitam e tentam ganhar espaço através da política e/ou da violência. Eventualmente nos deparamos com notícias sobre marchas desse pessoal em Londres ou em alguma outra cidade inglesa, reunindo um punhado de boneheads e hooligans bêbados que, aparentemente, passam quase despercebidos, com baixa capacidade de organização e persuasão (não que isso os torne menos nocivos). No Brasil existe uma guerra declarada entre fascistas e antifascistas, onde polícia, poder judiciário e mídia são condescendentes com fascistas e criminalizam antifascistas, fazendo com que o combate seja travado apenas nas ruas e gerando muita violência. Na Inglaterra a situação é semelhante ou existe espaço para que essa luta seja travada também por meios legais, utilizando de alguma maneira o aparato estatal para combater a escória into lerante? Aqui a extrema direita existe e tem aparecido mais à tona com toda a propaganda anti-imigração que vem acontecendo, brexit, etc... mas geralmente existe certa parcimonia da direita em declarar suas visões com medo de represália. Londres eh menos r acista que o resto da Inglaterra por ser muito mais cosmopolita por essência. VP – Quais os planos futuros da banda? Alguma possibilidade de se apresentarem no Brasil? Vamos gravar alguns sons para um EP em breve. Ir para o Brasil seria bom, mas difícil e caro... quem sabe um dia. VP – Caso alguém daqui tenha interesse em adquirir material da banda, como faz? Podem escrever para Gianluca no email wolp74@hotmail.com VP – O espaço é de vocês. E muito obrigado pelo papo. Obrigado a você pelo espaço. https://split-veins.bandcamp.com/

ESCÖRIA VINDA DO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL, ESCÖRIA É OUTRA BANDA QUE LEMBRA-NOS QUE O PUNK ESTÁ ESPALHADO E PRODUZINDO EM TODAS AS QUEBRADAS, NÃO FICANDO RESTRITO APENAS A ALGUNS CENTROS TIDOS COMO MAIS TRADICIONAIS COMO ALGUMAS PESSOAS INSISTEM EM ACREDITAR VP – Para começar, quando surgiu a banda, influências e formação? A Escöria surgiu em 96, na cidade de Rio Grande, no RS. A formação naturalmente mudou bastante com o passar do tempo... Hoje contamos com Martins na bateria/voz, Marcelo guitarra/voz, Leandro guitarra, Salvador baixo/voz. Nossa influência de maneira geral são os ruídos do mundo, crust, punk, metal, hardcore, noize, powerviolence, death metal, thrash e por ai vai. Na banda, cada um traz sua influ ência e nos ensaios ficamos conversando e tocando. Misturando ideias e sons! VP – Quais os materiais lançados até o momento? Segue abaixo uns materiais que fomos lançando sempre de forma DIY: (1997) Escöria – Demo K7 Okupar (2003) Escöria - Caminhando pra Ruína (2008) VA - Zona de Guerra Vol.II (2010) Escöria - Princípio do Caos (2010) VA - Tributo ao Discharge (2013) Escoria - Vivendo no Escuro


(2013) VA - Chaos Day (2015) Escöria - Desgraça Coletiva (2016) Split - Escöria + Kombativos Subversivos (2017) Split Vinil 7’ Crisis - Escöria + Acrataka VP – A banda começou numa época pré-internet, onde ainda havia o desejo do material físico. Hoje, com as facilidades tecnológicas e a popularização do compartilhamento de arquivos, muita gente deixou de procurar pelo material físico, focando apenas no virtual e gratuito. Como a banda lida com isso? Achamos que a internet deve ser usada e abusada. É um meio barato de trocar ideias, materiais e de diminuir a distância entre as pessoas. Claro que como tudo também tem o lado ruim que a nosso ver é a imensidão de futilidade e banalização de questões como a violência e o sexo. O melhor é tirar bom proveito das coisas boas que essa tecnologia proporciona e ao mesmo tempo filtrar notícias e posts de atitudes ignorantes e reacionárias. Em relação ao material físico, acreditamos que o pessoal que gosta segue comprando, trocando e apoiando as bandas independentes. A internet facilita muito a divulgação das bandas em termos de mundo. O que na década de 90 era impossível e inimaginável se materializa hoje por via internet, que é pessoas de diferentes partes do mundo, de mesma afinidade política, sonora ou cultural, terem fácil acesso a bandas c omo a Escöria e outras muitas que se posicionam fora da grande mídia. Além disso, há o compartilhamento gratuito para aqueles que c urtem os sons e não tem grana. VP – Mesmo com o problema das grandes distâncias entre as cidades, o que sempre dificulta a organização de turnês, o Rio Grande do Sul tem sido palco de diversos eventos punks com bandas locais, de outros estados e de outros países, até com certa frequência. Como está a movimentação Punk na região? A situação de giras está feia em toda América latina. Acho que nem é tanto o problema das distâncias, mas sim de presença de público e grana. A galera não tá mais colando nas gigs como se via antes. Em nossa cidade chegamos a fazer eventos (organizados coletivamente) com 300 pessoas de público, o que pra uma cidade pequena é muito. Hoje se tivermos 80 a 90 pessoas é uma grande coisa. E notamos isso por onde tocamos... sempre público escasso. Aqui na cidade nós produzimos o Era MetalPunx Gig. Seguimos na nossa 8ª Ed. Além disso, nos eventos tentamos, sempre que é possível, prestigiar gigs de outras regiões, organizando excursões, materiais pra divulgação e troca etc. Sabemos de todas dificuldades que é organizar um evento que trate os artistas com o respeito que merecem. Por isso que, mesmo quando não tocamos, quando dá apoiamos outros eventos. O pessoal de fé segue acreditando e produzindo bastante gigs aqui na região. Citamos galera de Rio grande, Pelotas, São Lourenço, Camaquã, Gravataí, Canoas, Caxias do Sul, São Leopoldo, Santa Maria e mais outras cidades que o pessoal se puxa pra não deixa a batata cair. VP – Recomendam alguma banda ou publicação local para punks de outras localidades conhecerem? Claro que sim, temos muitas bandas de afinidades que gostamos de colar... temos a Artigo 157, Carnage of Deformed, Aborto Podre, Postmortem, Streetcats, Shee Hoos GO, Necromatório, Chute no Rim, Vetitum, Tronco, Përgamo, Kombativos Subversivos, Warcrust, Devastadoras, Para-Raio entre outras muitas bandas novas que surgem por aqui. VP – Em contrapartida, me aparece que as bandas da região têm alguma dificuldade para conseguir agilizar gigs no sudeste. Se realmente acontece isso, seria motivado por falta de vontade das pessoas daqui em dividir os custos do rolê ou desinteresse com o que está sendo produzido em outras quebradas? Bom, falando em nome da Escöria, podemos dizer que não é falta de oportunidades e convites, é mais um lance ser tud o bem pensado e encaixado mesmo. Para nós acaba que todos temos trabalhos paralelos e às vezes fica difícil fazer um giro maior para cima, nos exige tempo. Mas este ano vamos se puxar para conhecer xs amigxs de afinidade de outras regiões. Achamos muito legal conhecer gente nova e que nos mostra formas diferentes de viver e pensar. Nossa cabeça sempre volta cheia de ideias novas vendo pessoas de afinidade. Dá um gás para seguir em frente, acreditando! Sentimos, como diz a letra do Agrotóxico: “Você Não Está Sozinho”. VP – A banda já se apresentou em outros estados? E como foi o rolê pelo Uruguai, Argentina e Chile? Recém voltamos da nossa gira na Sul America. Para nós foi uma experiência única de vivência. Vivenciar as ‘n’ formas dos punx e anarquistas se manifestarem é uma coisa louca. E sempre há respeito, isso nos chama a atenção. Em nenhuma gig vimos situações de intolerância entre punx, anarcos ou metal, bem diferente do que acontece no Brasil, aqui ainda há muita mulecagem e disputa de ego. Temos muito a evoluir e pensar pra frente. Nessa experiência pela América Latina, percebemos que apesar das diferenças regionais e tudo, há um respeito com a id entidade cultural do outro. O que nos faz acreditar que não estamos sozinhos e tampouco ficando loucos! Este ano prometemos sair vamos ver se chegamos em outros pikos do país!

dessa

terra

de

pampa

aki

hahaha

VP – Do início da banda até os dias atuais, são mais de 20 anos na batalha. Na opinião de vocês, o que mudou no Punk nesse período, no âmbito local, nacional e internacional? Bom, no âmbito local, o punk aqui era mais violento e “híbrido”, no sentido de que na década de 90 haviam punks e góticos e s katistas que colavam junto. Também artesãos, bem de rua mesmo. Todos freqüentavam o Bar do Meio ou o Floresta. Na realidade todo mundo andava junto, Rio Grande era uma cidade menor ainda na época. Os punx andavam de skate, os skatistas às vezes ouviam som punk, o punk curtia som gótico


etc. Depois do contato dos punx daqui com outros da capital (POA) é que tudo foi mudando e foi indo cada um prum rumo diferente. Acho que o mesmo se deu em outras regiões, o punk começou mais ganguista mais violento em diferentes regiões em termos de mundo mesmo. D epois foi se politizando e tendo maior afinidade com o pensamento anarquista. Com a forma de viver libertária. É uma evolução da cultura, não ficamos estagnados na sonoridade crua e nos apontamentos clichês contra o estado. O punk deu início a mídia independente através da c riação dos fanzines. Hoje temos os CMIs, os Webzines, jornalistas independentes. O punk já não é por ele mesmo, mas ele convive com outras identidades, um exemplo é haver “afropunks” no Japão. Com a internet, o advento de novas informações, o fácil acesso que temos a pessoas e lugares diferenciados do mundo, a mentalidade do punk, sua cultura também muda, não fica estagnada. VP – Após as Jornadas de Junho de 2013, a corja política, utilizando-se de seu braço armado e amplamente apoiada pela mídia suja, optou pela violenta repressão e pela sistemática violação de direitos ao lidar com as demandas da população, sobretudo àquelas mais marginalizadas. Como está à movimentação social por aí, principalmente após o agravamento da crise no estado? Como em 2013 ainda não vivenciamos. Ainda assim, A luta contra o estado aqui em RS esta forte. Partindo de diferentes lados, como os estudantes, professores, metalúrgicos, artistas, comerciantes. Nossa região vive um momento muito mais instável por conta dos mais de 15 mil trabalhadores metalúrgicos que foram demitidos do porto, houveram várias manifestaç ões, de barricadas fecharem as estradas e tudo, mas nenhuma em que o povo estivesse em massa apoiando. No geral, a violência e injustiças contra o povo que presenciamos a partir de 2013 não vem de agora, é ingênuo pensar assim, apenas deram um jeito de tornar legal esse tipo de boçalidade, primeiro porque estava tudo sendo filmado, depois porque já não se tratava só da favela, t odo o povo foi pra rua, inclusive a classe média. O estado sempre foi violento, opressivo e assassino. E aqui como no resto do mund o, cada vez mais ele vai se abster de suas responsabilidades sociais simplesmente porque ele está a serviço do grande capital. Então não há uma crise no sentido como eles, direitaços/reacioários querem que entendemos, o que está em crise a muito tempo é o sistema capitalista global. Estamos em alta velocidade em direção do abismo. Isso não é pra alarmar, é alarmante. Não é pra chocar, é chocante. Essa deve ser tomada como uma luta m undial dos povos. E ela não é somente na rua ela é cotidiana. Atingir ao grande capital é atingi-lo no bolso. É o boicote, é a horta, é o compartilhamento, é uma marca de carro ou de roupa deixar de significar algo grandioso, é nos tornarmos iconoclastas dessas avalanches de fetiches de consumo que nos fazem engolir. É o retorno das bikes, o retorno do produto artesanal, o retorno das famílias para um meio mais rural e tranqüilo. Precisamos pensar em termos de mundo. O que acontece em cada região é só um reflexo de um sistema e uma economia global. VP – Muito obrigado pelo papo. O espaço é de vocês. Nós que agradecemos este espaço para poder falar um pouco. De espaços e projetos como o ‘Vivência Punk’ que precisamos! Segue firme nas tuas produções e sempre que precisar de um pulmão estamos aqui! Um forte abraço para todxs que seguem na caminhada e que dentro de suas possibilidade e estão sempre causando fissuras nessa engrenagem de merda! Deixamos um poema da Escöria para passar adiante! “Corra pelo mundo nunca vai se libertar Não é fronteiras que te cercam que te fazem recuar São as grades e muralhas, são câmeras a te espreitar Aí por dentro a ignorância estreito espaço a limitar Te fizeram sem passado, suor sangue, explorado Ambicionando vencer na vida como alguém iluminado Te fizeram impotente, dócil, manso e conformado Cidadão não se da conta porque luta e é fracassado Liberdade ou paz, qual sua escolha? Seus sonhos são adiados, sua voz sempre calada Por interesses privados tem uma vida condicionada Seu destino é traçado pelo status, pelo estado. Se é matéria programada pra viver amordaçado Seu medo é constante de ser amado e abandonado A escuridão se forma e toma seu espaço frio e gelado No cárcere da existência caminhas de olhos vendados Vivenciando temor e morte, caos quieto e controlado.” Liberdade ou paz, qual sua escolha?

https://www.youtube.com/channel/UCv9ppigMSvpc9h_loY4aITg https://soundcloud.com/esc-ria-pun https://pt-br.facebook.com/Escoriapunx/

GUERRA URBANA A VENEZA BRASILEIRA NÃO VIVE APENAS DE BELEZAS NATURAIS, ARQUITETURA COLONIAL, CULTURA POPULAR E FESTAS. A VENEZA BRASILEIRA TAMBÉM FEDE E ESSA FEDENTINA É CANTADA POR DIVERSAS BANDAS PUNKS. O LADO ESCURO DA CIDADE, VIOLENTO, ONDE A AUSÊNCIA DE QUALIDADE DE VIDA É PRESENÇA CONSTANTE, AQUELA CIDADE QUE PERMANECE LONGE DOS OLHOS DE TURISTAS, MAS É A REALIDADE DE UMA PARCELA SIGNIFICATIVA DA POPULAÇÃO LOCAL Por Treva VP – Começando com a pergunta clichê, conte-nos um pouco da história da banda. Allan – A banda iniciou suas atividades em maio de 2007. Tínhamos outras bandas anteriormente, eu e Nelson tocávamos juntos na Morgue , uma banda de metal punk. A banda acabou e decidimos tocar juntos, eu tinha umas letras em mãos e num evento num bairro do subúrbio chamado


Cavaleiro, eu reencontrei uma amiga chamada Dayane e a convidei para o projeto. Eu coloquei o nome na banda porque as letras que eu estava escrevendo retratavam a violência do subúrbio de diversas formas e Guerra Urbana é um alerta para o caos que é sobreviver no meio desse caos social urbano aqui no bairro do Ibura. Depois chamamos Duxo para o baixo e André, Dayane não passa nem um ano na banda e Fern anda assume os vocais e assim segue com vários guitarristas passando pela banda até ficar só Duxo, onde gravamos nosso primeiro disco com ele registrando guitarra e baixo. A partir daí várias coisas aconteceram: viagens, tours, participações em coletâneas... até que em 2014, André sai da banda e eu fico na bateria e vocal e nesse mesmo ano Matheus assume a guitarra. Em 2015 Duxo deixa a banda e a formação fica a seguinte até o momento: Fernando (baixo e vocal), Matheus (guitarra e vocal) e eu, Allan (bateria e vocal). VP – De quinteto passaram para trio. Uma formação mais enxuta facilita na hora de compor ou de agilizar alguns corres para a banda? Allan – Sim, com toda certeza acreditamos que estamos em nosso melhor momento em toda nossa história. Antes tínhamos uma dificuldade tremenda para conciliar o horário de todos, hoje está bem mais fácil e tocar e cantar dá mais envolvimento com o que estamos criando, realmente tá muito foda! Tá massa! VP – A capa do CD ‘Pela Causa Consumista’ ficou muito boa. Quem foi a pessoa responsável pela arte? Allan – Quem fez a arte foi nosso amigo Kin Noise, ele manja muito. Ele c aptou bem o que a gente queria retratar na capa. Ficamos muito felizes com o trabalho dele. VP – Qual a temática abordada nas letras? Allan - São diversos temas que abordamos no nosso primeiro CD, o ‘Extermínio, Ganância e Poder’. Podemos dizer que a temát ica era um tanto pessimista em relação à vida, humanidade... depois gravamos sons para algumas coletâneas onde retratamos a realidade que vivemos que vai do grande número de homicídios a deslizamentos de encostas de morros a banalidade das mortes aqui na q uebrada... cultura PUNK. O ‘Pela Causa Consumista’ não foge disso, mas conseguimos abordar essas mazelas de forma mais detalhada, tipo os sentimentos humanos que le vam as pessoas serem falsas ou se iludirem com sua condição social, denunciamos que tudo iss o são estratégias dos capitalistas para nos manterem aprisionados no jogo social. Nossa temática no geral é anticapitalismo e pró-emancipação e de alerta contra as armadilhas desse sistema econômico que nos faz seus escravos. VP – Coletâneas sempre foram eficazes para se conhecer várias bandas em uma única oportunidade e o formato rendeu ao mundo coletâneas inspiradoras, que revelaram bandas que continuam na atividade depois de décadas. Com o tempo e as facilidades tecnológicas, o formato foi um pouco deixado de lado, mas a Guerra Urbana tem participado com frequência de coletâneas. Podemos dizer que o formato ainda é um meio eficaz para uma banda divulgar seu trampo e para punks conhecerem diversas bandas? Allan – As coletâneas são um grande exercício de apoio mútuo porque todos, de certa forma, se empenham para divulgar a coletânea, divulgando seu som e, consequentemente, o som das demais bandas será propagado, além da interação entre os diversos cenários punx que entram em contato com a possibilidade dessas compilações. Acho válido, conseguimos muitos contatos e amizades com muita gente devido às diversas compilações que saímos e isso é o que mais importa. VP – A banda já teve alguns materiais lançados em outros países. Para vocês, qual a importância desses lançamentos na gringa? Allan - É interessante e muito motivador saber que tem pessoas não só do país que curte seu som e que se identifica com sua proposta, são punks como a gente que valorizam a cena como um todo independente de fronteiras. VP – Por morarmos em um país com dimensão continental e de terceiro mundo, pensar em turnê é sempre complicado por vários motivos. Como andam as apresentações? Allan – O Brasil têm suas complexidades, mas já tocamos em vários estados, estamos atualmente planejando nov as viagens e em breve divulgaremos para onde vamos. No momento estamos com uma rotina legal de eventos por aqui. VP – Para quem vive em outras quebradas, ao tomar contato com o que está sendo produzido no Punk em Recife, tem-se a impressão que ocorre uma movimentação boa cidade. É isso mesmo? E quais são as maiores dificuldades enfrentadas por punks na cidade e na região? Allan – Aqui é realmente movimentado, mas a cena gira nas mãos sempre das mesmas pessoas. Acho que as dificuldades dos grandes centros temos aqui. Muitas vezes falta suporte por parte do público para a cena local e as bandas se seguram como podem e se esforçam para manterem as coisas acontecendo. O PUNK aqui é escasso, mas quem é envolvido faz por onde para as que as coisas continuem acon tecendo. A dificuldade é essa, apoio quase não existe, é nós por nós. FAÇA VOCÊ MESMO SEMPRE! VP - Não é de hoje que o nordeste do país produz bandas, zines e eventos punks. Mesmo assim, parece haver um pouco de desinteresse por parte de uma parcela da galera dos centros urbanos mais tradicionais em conhecer e manter contato com o que está sendo produzido nessa região. Na opinião de vocês isso pode ser bairrismo, acomodação por terem tudo mais facilmente ou é simples desinteresse graças a tanta informação disponível na atualidade? Allan – Cara, eu nem sei dizer o que realmente a galera pensa daqui, mas já disseram que somos uma banda que não parece ser daqui kkk k. Acredito que essa ideia seja pelo fato do nordeste ser só sinônimo de forró. Enfim, a cena daqui é realmente escassa em relação à cultura PUNK mesmo. Existem muitas bandas que só faz música, mas não tá nem aí para a cultura, só tocam seu som nos shows e mais nada, vivem suas vidas “normais”. Ser PUNK aqui é difícil, começa pelo fator clima, calor do caraio, usar visual tem que gostar realmente kkkk. Enfim, pode ser comodismo, falta de interesse, sei lá mano, pode ser um regionalismo velado do qual as pessoas não se dão conta. VP – Fernanda está na banda desde o surgimento e com certeza viu muita coisa acontecer no que diz respeito à participação das


mulheres no Punk e no underground em geral. Nos últimos tempos várias bandas formadas apenas por mulheres ou com a participação de mulheres surgiram em diferentes estilos. O que falta, além de apoio, para que mais mulheres tenham interesse em montar uma banda? Fernanda – Faltam mais meninas realmente, mudou bastante é verdade... aqui em Recife as minas punx sempre foram minoria mesmo. Ultimamente surgiu um grupo chamado Mulheres no Punk/HC que não é não é um grupo exclusivo de garotas punx e sim de várias mulheres envolvidas com o underground. Os espaços estão sendo conquistados aos poucos. VP – O feminismo voltou a ser muito presente no Punk com diversas bandas surgindo, eventos focados no assunto, zines entre outras atividades. Aparentemente, todo mundo apoia e concorda, mas na prática tem muito cara ramelando nas atitudes. Mesmo com toda a informação disponível e com as cobranças, por que tem sido tão difícil descontruir o machismo (entre outras atitudes estúpidas e preconceituosas) no Punk? O que todxs nós podemos fazer para tentar mudar a situação? Fernanda – O PUNK têm propostas de libertação, isso é fato, mas ainda sobrevive num sistema que nos empurra preconceitos a todo momento. Desconstruir o machismo e não reproduzi-lo é uma luta diária. Nós PUNX somos jovens suburbanos que em sua maioria não tem acesso ao conhecimento intelectual e muitas vezes não entendem conceitos e fica complicada a desconstrução dessas pessoas. Só a vivênci a mesmo e a busca individual de cada indivíduo é capaz de ter essa força de mudança. O PUNK já foi mais na tora e sem noção... a desconstrução é algo que leva tempo e estamos fadados a ver valores burgueses sendo reproduzidos pelos PUNX pelo fato da desinformação, comodismo e inexperiência. Mudar isso é intensificar gigs temáticas que visam informar os ouvintes e não só diverti-los, promover debates informativos, intensificar o que já existe em andamento. VP – O espaço é de vocês. E muito obrigado pelo papo. Agradecemos o suporte do zine para nós dando espaço para expormos nossas ideias e divulgando nossa proposta PUNK como banda. Quem quiser entrar em contato conosco pelas redes sociais, no facebook na página da Guerra Urbana ou em nossos perfis pessoais e pelo e-mail guerraurbana@hotmail.com Entrem em contato para adquirir materiais através de compras ou trocas e para nos conhecerem melhor, estamos abertos ao diálogo sempre e é isso aí. Vida longa aos zines!!!! Viva PUNK! https://pt-br.facebook.com/guerraurbana07/

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RESENHAS Por Treva Dischavizer – Extinção Formado em 2016, esse duo conta com Nader (guitarra e vocal) e Igor (bateria), ambos da banda Sistema Sangria. Isso indica qu e nesse trampo não falta experiência. Gravada em julho do ano passado no estúdio Favela e produzida por João Kombi (Test) e Nader, esse primeiro registro da banda conta com cinco sons influenciados pelo crust e com letras em português. A temática passa pelo sócio-político, mas sem ficar naquele academicismo que muitas vezes é mais irritante do que esclarecedor, preferindo o papo reto e sem frescura. Não sei se por opção ou necessidade, mas toda a produção de Extinção é bem simples e achei isso bacana. Lembra as produções do final dos anos 90 e início dos 2000, com capinhas fotocopiadas em preto e branco, letras mais simples e som brutal. E com relação ao som, alguém pode dizer que lembra a outra banda dos caras. Pudera, Dischavizer é metade do Sistema Sangria, tocam na banda há anos, fica fácil rolar algumas similaridades. Mas o Dischavizer parece-me ser mais crú no som e nas letras, talvez até pelo fato de ser um duo. Apesar de nova, a banda está se apresentando com certa frequência pelos buracos de SP e já foi mostrar seu som em outras quebradas. E ao vivo o lance é monstro! Fora isso, o duo já está preparando o novo lançamento, um split 7’ com a banda Kunta Kinte. Em tempos de bandas das antigas virando cover de si mesma e com integrantes compartilhando lixo em rede social, o surgimento de novas bandas é um sopro de esperança para o Punk. dischavizer@outlook.com

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Estado Alterado – 1995 E o hardcore maloqueiro continua vivão! Aqui não tem beicinho, pose, ostentação, estrelismo ou ganguismo leite com pêra. Aqui é hardcore crítico, feito por quem vive o que está a retratar. Formada em meados de 1995 na zona norte de São Paulo, a banda conta com Ricardo (vocal), Juliano (bateria), Edson (guitarra) e Felipe (baixo),


e desde seu surgimento vem correndo por fora nisso que chamam de cena hardcore/punk, tocando em todos os lugares possíveis e dividindo o rolê com bandas de estilos diversos, interagindo com outras pessoas e fugindo do gueto-cena. Fora esse CD, a banda possui outro CD autointitulado e lançado em 2012, uma demo de 1998 e participação na coletânea ‘SP Punk Vol. III’ de 1997 e ‘Vamos nos Unir P ara o Sistema Destruir’ de 1995. Se CD anterior a banda mandou bem ao optar pela simplicidade sonora e críticas certeiras nas letras, nesse novo EP intitulado ‘1995’, continuaram acertando a mão, mas dessa vez usando muito bem o peso do metal e um pouco de groove, lembrando em alguns momentos o NYHC. Gravado em 2015, esse CD conta com apenas três sons muito bem produzidos e com letras bacanas (também estamos aqui para pensar), com uma produção caprichada tanto na parte sonora quanto gráfica. Sabemos o quanto o momento é desfavorável para lançamentos físicos e mesmo assim tem muita banda investindo tempo e grana para lançar materiais com qualidade. Os três sons são fodas, mas eu deixo como destaque ‘Cu de Tocha’, que possui uma letra que é um sopapo na cara de muita gente besta desse rolê. Desse trampo saiu o clipe para a música ‘Resistir’, produzido de maneira independente, com cenas gravadas no Cicas e que ficou muito bom. O punk/hc não se resume apenas àquelas bandas manjadas de sempre onde ética, postura e coerência são apenas palavras bonitinhas para serem usadas em letras. Estado Alterado e mais uma porrada de bandas estão aqui para nos lembrar que ainda tem muita gente in teressada na ideia, independência e liberdade de criar e produzir contracultura. Sorte nossa! https://estadoalteradohc.bandcamp.com/ https://www.facebook.com/estadoalteradohardcore/ estadoalteradohc@hotmail.com https://www.youtube.com/channel/UC-yhAvWEGRNa5acVa2NMMhA

ZINES, INFORMATIVOS & FOLHETOS Por Treva Reboco Caído: Reflexões e Reflexões Apesar do mesmo nome e do mesmo autor, esse Reboco Caído não é o conhecido zine, mas um livro de poesias lançado pela Coisa E dições (lá de Porto Alegre/RS) em meados de 2014 e posteriormente relançado em 2016. Ainda que tenha uma simplicidade visual, os cuidados dispensados são os mesmos que se tem com um livro “normal’ editado pelas editoras da vida. Nas 58 páginas, Fabio da Silva Barbosa escreve sobre diversos temas, indo do social ao pessoal, sempre de maneira leve e bem humorada. https://www.facebook.com/CoisaEdicoes/

coisaedicoes@gmail.com

https://www.youtube.com/channel/UCio1tzUTkDRrfBVF4Q-4Tdw http://rebococaidozine.blogspot.com.br/

https://www.facebook.com/RebocoCaido/

Punx Not Doom – 16 A: La Tragica Noche que Enluto al Punk “Sobre a tragédia ocorrida em Santiago, gostaríamos de esclarecer que, na nossa visão, o ocorrido foi um acidente sim, porém ocasionado pela irresponsabilidade e egoísmo de pessoas que se organizaram previamente com o intuito de invadir o show sem pagar, que não se importaram com a integridade e a vida dos seus semelhantes e acham que tudo na vida lhes deve ser dado grátis. Não entendem que os custos de uma tour assim são altos e que toda uma cadeia de pessoas gastou seu suor e tempo para fazer o evento acontecer em seu país. São eles os verdadeiros responsáveis dessa tragédia.” As palavras acima fazem parte de um comunicado oficial feito por quem organizou o rolê da banda Doom na América do Sul. Entre outras frases mais ou menos simpáticas, demonstrando mais ou menos sensibilidade frente ao ocorrido, fica claro é o modo como pessoas com postura empresarial e que estão ligadas ao Punk se relacionam com outrxs punks e qual a nossa real importância dentro de um contexto de gig: somos moedas e nada mais que isso. Mesmo tendo o entendimento que poderia ser com qualquer umx de nós, no Bra$il muito pouco foi comentado ou debatido sobre o acontecido, com o pessoal mais preocupado com a idolatria à banda, aceitando sem nenhum questionamento as pa lavras da organização e demonstrando desinteresse em buscar informações. Talvez o excesso de brodagem e dependência seja um empecilho p ara o senso crítico. E pensar que essas pessoas são as mesmas que criticam a população por não buscar informações em veículos alternativos além da mídia corporativa e por acreditar em tudo que a mesma divulga. Vai entender! Entonces, Punx Not Doom é um zine pesado, triste, mas esclarecedor, uma real demonstração de amor cuja intenção é denunciar os fatos sob a visão de quem vive o Punk e também uma justa homenagem aos jovens Gaston, Ignacio, Daniel, Robert e Fabian, que perderam suas vidas. Nas 48 páginas constam depoimentos de familiares dos cinco jovens e de punks que estavam na gig da banda Doom, presentes no momento da tragédia e não necessariamente participando da avalanche, e diversas informações sobre tudo que envolveu a noite de 16 de abr il de 2015. É uma forma de não deixar cair no esquecimento essa data tão triste e uma resposta à mídia suja chilena e a passividade de muitxs p unks que abraçaram o discurso oficial (nesse caso, da organização) e criminalizaram seus iguais, mostrando o quão b urro o Punk também pode ser (lá e cá, diga-se de passagem).


O zine saiu em versão impressa e PDF para facilitar a vida de quem reside em outras localidades e está em espanhol, mas com um pouquinho de boa vontade é fácil para qualquer pessoa entender. E como ainda tem muita gente correria no Punk daqui, o compa Kledson agilizou uma tradução e também disponibilizou em PDF. Na boa, essa leitura é essencial para punks e serve para levantar alguns questionamentos sobre nossas atitudes (ou falta delas). Seguem os links dos zines, http://www.mediafire.com/file/s10uahcg0mnm6t5/punxnotdoomlisto.pdf (em espanhol) e http://www.mediafire.com/file/q6uufq1yf3oj4i1/Punx+Not+Doom+portugu%C3%AAs.pdf (em português). Nos zines constam endereços de contato, caso alguém queira trocar uma ideia, colaborar ou dar um apoio. Nenhuma banda é tão importante para que percamos nossas vidas. Ninguém é tão importante que não possa ser criticadx e cobradx.

Sodanuhka N°3 Apesar dos pesares, muita gente ainda insiste nos materiais físicos, sejam eles zines, CDs, vinis ou K7. E o Sodanuhka joga nos dois times, no físico e virtual. E na boa, nada como folhear um zine. Esse número saiu no segundo semestre de 2016 e têm entrevistas com Discarga Violenta, Active Minds e Bad Jesus Experience, além de texto sobre violência sexual e resenhas de livro e filmes que fogem do comercial. O único ponto negativo (e obviamente de fácil com preensão) é a pouca quantidade de páginas. E uma coisa boa: para quem está com a vista capenga, o zine vem com letras grandes e isso é vida! Já saiu o número 4, mas esse eu ainda não li. Para quem ficou interessado, segue abaixo endereço de contato e link com o zine. http://pt.calameo.com/read/00326680182e29fafa053?bkcode=00326680182e29fafa053 dferr29@yahoo.com.br

Berro Clandestino N° 2 Se existe algo de bom no underground (independente do estilo) e que faz valer a pena ficar enfurnado nisso é a possibilidade de conhecer pessoas, trocar conhecimentos e, de quebra, ser apresentado a trampos que são feitos em diferentes quebradas. E foi num momen to de vadiagem virtual em rede social que vi um perfil que chamou a atenção...bora adicionar e trocar uma ideia. O perfil é da banda Rusga! e o responsável por ele atende pelo nome de Jhad, que além de ser guitarrista desse monstrão grind (também toca na Scumclä), cuida da Pikillerec, um selo muito foda e que faz um trampo cabuloso, mesmo estando no interior do Mato Grosso (que isso sirva de incentivo para as pessoas que gastam boa parte de seu tempo apenas reclamando, mesmo estando nos grandes centros). Pois é, além das bandas e do selo, o cara agiliza esse zine show de bola. Essa edição é de março/2016 e conta com uma troca de ideias com as bandas Death From Above, Jäpürä Noise Project, Death Slam e Gorempire, além de poesias, resenhas de CDs e zines, algumas notí cias sobre o underground e biografias das bandas Berro, Birth e Desakato à Autoridade. E além de tudo isso, o zine conta com uma parte visual trabalhada, misturando a estética punk e metal. Se você curte umas paradas mais tortas e obscuras, clica no link https://www.4shared.com/office/i8lkmTggei/Berro_Clandestino_Zine__Edio_.html, imprime o trampo e seja feliz com a leitura.

GIGS Por Treva e por Resistência Punk Norte Paranaense* Intervenção Punk nas Ruas #2: Mais Raiva do que Medo, M.M.P.M.², Weirduo, Rebeldia Incontida, Ódio Brutal – 29/01/2017 – Santo André/SP Meu 2017 comemorativo aos 40 anos do Punk nesse país começou atrasado, já no fim do mês. Apesar dos problemas que persis tem, o ano começou com vários eventos, prometendo ser agitado. Se toda essa comemoração terá algum propósito real e resultando em algo proveitoso ou servirá apenas como pano de fundo para pessoas se autoestimarem e bostejarem sua pretensa importância no rolê, só com o decorrer dos meses para vermos. Mas como nem só de situações negativas vive o Punk na Grande SP, rolou na região do ABC mais uma edição desse evento que é sh ow de bola. Novamente embaixo de um viaduto e sem pedir autorização, ocupando o espaço público como deve ser. Em tempos de estado policialesco onde o mesmo usa e abusa do medo como instrumento de dominação, inoculando-o de maneira rápida e eficaz na população para mantê-la afastada das ruas e assim exercer um maior controle sobre as pessoas, eventos desse tipo tornam-se atos políticos, quase uma guerrilha urbana. O rolê foi sem tretas, sem choradeira, pessoal interagindo, sorrindo, vários dogs no pogo querendo brincar, nenhuma viatura policial passand o para encher o saco, nem a chuva apareceu. E ainda tinha bandas legais que nem sempre são convidadas para os rolês estrelados. O evento começou com algumas bandas novas, nos dando a chance de conhecer outros sons e fugir da mesmice que vem se tornando regra. A primeira banda a se apresentar foi a Mais Raiva do que Medo, mandando um punk/hc que lembra as bandas brazucas dos anos 80, alternando sons rápidos e outros mais na manha. Na sequência teve M.M.P.M.² (Milhões de Mortos por Metro Quadrado), que vai numa linha m ais hardcore bagaceira, pique Finlândia.


Depois de algumas tentativas frustradas, finalmente tive a oportunidade de ver a dupla Weirduo. Baixo/vocal e bateria, sem gu itarra, mas com muita energia. O set foi sem enrolação, com algumas ideias trocadas entre os sons e no final rolaram vários covers. Rebeldia Incontida foi a próxima, banda que coloca em prática o faça você mesmo e por isso tem conseguido agilizar vários sons e participado de outros tantos, longe de panelas ou de puxa-sacos. Apresentando-se em casa e rodeada por amigxs, foi jogo ganho. E encerrando à tarde/noite barulhenta, Ódio Brutal, outra banda da região, que depois de um tempo sumida, volta a colar na cena, sempre detonando aquele hardcore casca-grossa que tanto gostamos. Outro evento muito bem organizado, funcionando legal, com todo mundo se divertindo, gratuito e na rua. Que esse e outros even tos semelhantes multipliquem-se e ganhem mais força, tornando-se constantes no Punk. Central Underground – Gig 40 Anos de Punk: Tujërpiss, Fear of the Future, Negative Side, Kob 82 – 11/02/2017 – Centro Cultural Zapata – São Paulo/SP Dois rolês seguidos onde é possível voltar para casa com o sorriso de orelha a orelha e com aquela baita satisfação em ser e fazer parte do Punk tem sido raro, mas não impossível. Essa gig contou com quatro bandas bacanas, sendo elas Tujërpiss, Fear of the Future, Negative Side e Kob 82. Bandas de estilos diferentes, mas todos punks, funcionando como antídoto para a formação de panelas pautadas em variações sonoras do Punk. Talvez isso tenha ajudado a convencer a galera a colar em número além do esperado, lembrando que tinha outros rolês pela cidade e outro no mesmo Zapata, logo após esse. Com um pequeno atraso, Tujërpiss começou a noite barulhenta. A banda esteve afastada por mais de uma década e retornaram no fim do ano passado. E a pergunta que fica é como uma banda foda pode ficar tanto tempo parada? Crust brutal com dois vocais, do jeito qu e gostamos, com velocidade e peso. O péssimo hábito de permanecer do lado de fora conversando se fez presente, mas com o passar dos minutos e com a intensidade do barulho, muita gente entrou para prestigiar a banda. Arrumação no palco, pouco embaço, é a vez do Fear of the Future, que continua divulgando seu primeiro disco e tem tido a oportunidade de se apresentar com frequência. Dias antes do som, o baixista Felipe foi assaltado e teve o contrabaixo levado e em meio a tanta n otícia ruim que brota no punk paulistano, a solidariedade falou mais alto, com muita gente querendo ajudar o cara. Inclusive parte da renda do som foi revertida para ele. Nesse momento, parece que o pessoal entendeu que prestigiar um evento é também assistir as bandas e a maioria entrou par a conferir o barulho. Outra pequena pausa para arrumar o equipamento e é a vez do Negative Side. Oriundos da cidade de Mogi Mirim, estão sempre movimentando o rolê por lá. A banda manda um d-beat violento, com letras em inglês e ao vivo a impressão era que todo o equipamento iria explodir. E por falar em equipamento, o mesmo funcionou muito bem toda durante a gig, o que ajuda em muito as bandas. E encerrando o rolê, Kob 82. Os moleques estavam lançando o vinil ‘Propaganda Pelo Ato’, lançado por um selo gringo, e é clar o que isso merece uma apresentação foda. E assim foi. É muito bacana ver que a banda superou alguns problemas e está colhendo os frutos de sua correria. Durante a apresentação era fácil ver os sorrisos da molecada, com muita água e breja voando para todo lado e finalmente, um p ouco de pogo. O rolê foi muito bacana, com as bandas destruindo no palco, equipamento ajudando, banquinhas com materiais, punks que apareceram em bom número interagindo, sem clima estranho ou patifaria, como deveria ser sempre. É o tipo de evento que desejamos ver se tornar comum na cidade. E que venham outros rolês. Mulheres Livres: Imagens Insurgentes – 30/03/2016 – Passagem Literária da Consolação –São Paulo/SP Como já foi feito e explicado no zine anterior, continuamos tendo a intenção de divulgar eventos não musicais de caráter político e libertário em decorrência da polarização política no país. Em um período ainda que não totalmente sombrio, mas preocupante, onde o retroces so se faz presente e ameaça a frágil democracia, faz-se necessário deixar claro qual a postura do Punk nesse embate, a fim de evitar possível aproximação/apropriação e contaminação ideológica do rolê. Na esquina da Avenida Paulista com a Rua da Consolação, existe uma passagem subterrânea que por vezes mantém-se fechada, mas para a felicidade geral, nos últimos anos tem estado aberta e servindo como espaço cultural. No lugar, alguns grafites (o prefeito doria ainda não descobriu o lugar), muitos lambe-lambes e adesivos, um sebo de livros e até com alguma frequência, atividades culturais como exposições e shows, sempre de graça. Sendo um lugar com intenso tráfego de pedestres, com muitxs adeptxs da bateção de panela circulando n o local, a exposição “Mulheres Livres: Imagens Insurgentes” da fotógrafa Elaine Campos poderia servir como antídoto ao vír us reacionário que contamina as pessoas. Se não serviu como antídoto, pelo menos esteve visível e fora do gueto ideológico onde normalmente vive, permitindo que outras pessoas pudessem ter contato com a luta feminista. E você aí do outro lado está pensando “quem é essa fotógrafa?” Bom, além de fotógrafa, ela é militante feminista, ajuda na organização do “Festival do Filme Anarquista e Punk de SP”, é vocal da banda Rastilho e também já fez parte do Abuso Sonoro. Suficiente para você? Essa exposição já esteve em cartaz em 2015 em outro local e voltou a ser exibida nesse ano, entre os dias 8 e 31 de março. Além das imagens captadas pela lente de Elaine, também tinha a instalação “Manifesto Poético Feminista” feita pelo CIM (Centro Informação Mulh er). Bom, pelo nome da exposição já é possível ter uma ideia do que se trata. A instalação do CIM reunia diversas imagens de mulheres em lut a, aqui e na gringa, com legendas explicativas. Uma parte que chamou a atenção por ser pesada foram as fotos de rostos de mulheres assassinadas, com uma breve explicação sobre o caso. Na maioria dos deles, as mulheres (e até adolescentes) foram assassinadas por ex-companheiros, como forma de vingança pelas mesmas não desejarem mais a relação ou por ciúmes. Crimes cometidos com requi ntes de crueldade, com violência sexual, na intenção de barbarizar. Isso era uma pequena amostra do que acontece cotidianamente e que, na maioria das vezes, p assa despercebido pela população, muitas vezes normatizado pela mídia e poder público. Já a parte da Elaine tinha fotos de diversas manifestações políticas e/ou culturais que ocorreram na cidade, sempre protagonizadas por mulheres. Nessas imagens ficava evidente o desejo e a busca por serem as protagonistas de suas lutas e críticas severas a todo tipo de preconceito.


Em tempos que homens (e até mulheres) destilam veneno na internet contra o feminismo e feministas, tentando de todas as manei ras destruírem uma luta que reivindica respeito e igualdade, essa exposição torna-se mais importante. Pode até ser pequena, mas torna-se grande quando somada a tantas outras movimentações feitas por mulheres que lutam contra as diversas formas de preconceito. Deus Abençoe as Corporações: Ihmisen Helvetti, Dischavizer, Skarnio, Helvetin Viemärit – 16/04/2017 – Brotherhood Bar Tattoo – Osasco/SP Domingo de páscoa, as pessoas de bem em suas casas tendo overdose de ovos de chocolate ou brisando no doido que foi pai, filh o, espírito (tudo ao mesmo tempo) e que tinha o hábito de transformar água em birita, além de morrer e ressuscitar. Mas como não sou uma pessoa de bem, melhor colar no rolê. Uma última olhada na explicação de como chegar ao local, hora de seguir. Claro, entre olhar a explicação e colocar isso em pr ática tem uma baita diferença na minha vida. Pão duro que sou, achei mais interessante o trajeto que eu criei e economizava duas conduções. Só não estava previsto ter que atravessar um viaduto sinistro pacas sobre o rio Tietê. O caminho para pedestres ficava embaixo da pista para veículos, longe dos olhos de qualquer pessoa, com uma grade baixinha que dificilmente impediria alguém com umas pingas na ideia de cair no rio podre. Na ida estava tudo tranquilo, tinha movimento de pedestres, dia claro, mas eu já estava pensando na volta. Enfim... Depois de uma caminhada básica, chego ao local. Tendo como responsáveis alguns garotos da banda 1984, Brotherhood é um estúdio de tatuagem e bar, que também faz às vezes de espaço para pequenas apresentações. Lugar legal, fácil de chegar, evento gratuito, preços no bar condizentes com nossa realidade, som estava ok, pena que não colou muita gente. A primeira banda a se apresentar foi Ihmisen Heivetti, banda nova no rolê e que pelo nome, fica fácil imaginar quais as influ ências. O trio que não conta com baixo, tocou uns sons não tão rápidos, mas muito barulhentos. Na sequência outra banda novata, o duo Dischavizer, detonando um crust monstrão, extremamente pesado. Pausa para arrumar o equipamento, é a vez do Skarnio. A banda agora é um trio, com o Mauro assumindo os vocais, mas nem por isso perdendo a fúria. Pensar que muito antes dessa brisa metalpunk a republiqueta já tinha bandas brutais e que iriam futuramente influenc iar o estilo mundo afora. E para alegria ser completa, tocaram som novo que vai estar no próximo lançamento que deve sair em breve. E encerrando o rolê, Helvetin Viemärit com sua imensa capacidade de fazer barulho. Som no talo, rápido, vocais gritados e tudo em finlandês, pra gente ente nder mais facilmente. Das bandas mais novas que estão no rolê, Helvetin é uma das mais fodas, pelo menos para quem curte sons mais barulhentos. E assim foi o rolê de páscoa, gratuito, com bandas fodas (numa ótima mistura de gerações), boas conversas e num lugar legal. Depois da barulheira, hora de me preocupar com o retorno pela passagem sinistra, porque pão duro as fuck existence. Penny Rimbaud – 20/04/2017 – Sesc Consolação – São Paulo/SP Anos atrás uma conhecida banda estava em turnê pelo Bra$il e arrumaram uma data para um bate papo com os integrantes, para rolar aquela troca de experiências básica. Mas em cima da hora, o organizador, esperto que é, decidiu cobrar algumas moedas de quem estava interessado em participar, resultando em um retumbante fracasso e com o mesmo dando chilique em rede social, culpando xs outrxs e não a s ua ganância pelo fiasco do evento. Alguns anos se passaram até que pudéssemos ter novamente a oportunidade de participar desse tipo de evento, que tanto faz falta na atualidade. O Punk na Grande SP é focado apenas em bandas, independente da qualidade das mesmas e dos eventos. Para muita gente, se não tem banda e cachaça não é evento Punk e não merece ser apoiado, deixando claro o quanto essa galera é vazia e desprovida de vivência real daquilo que dizem fazer parte. Também foi triste observar a chacota pesada feita em cima de Penny Rimbaud e em que colou nos eventos por muita gente que se leva a sério no rolê só porque tem banda, visú bacaninha ou organiza gig para as bandas tocarem para ninguém. Gostar ou não da música criada por ele e pela banda Crass é uma discussão irrelevante, mas tentar ignorar ou reduzir sua importância nisso que chamamos de Punk, com o faça você mesmo, a política, a independência, é no mínimo estúpido. Até discurso anti-hippie usaram na tentativa de desqualificar a parada (só para lembrar, estamos em 2017). Que vergonha! Bom mesmo é colar em evento que gera moedas apenas para casa noturna ou produtora, ficar de papo furado com quem não presta, trocar fralda de gente mimizenta ou tretar com outrxs punks para defender rolê de terceir os que nada soma ao nosso. Quem sabe se o Punk brazuca tivesse sido mais influenciado por Crass e menos por Sex Pistols a situação não fosse diferente, com vários festivais, uma maior produção contracultural e mais participação. Em uma pequena turnê organizada pela No Gods No Masters e Imprensa Marginal, Penny Rimbaud estava no país divulgando o livro “Eles nos Devem uma Vida – Crass: Escritos, Diálogos e Gritos”. E evento no Sesc é a antítese do “quanto pior melhor” que muita gente propaga como se fosse uma verdade no e para o Punk. Em uma sala com uma pequena arquibancada com cadeiras para cerca de 50 pessoas que rapidamente lotou (foi liberada a entrada de mais pessoas, que se acomodaram no chão), iluminação, telão com projeção, microfone, sem atr aso, tudo do jeito que também merecemos. O papo rolou por duas horas, que poderiam facilmente ser cinco. Logo de cara o senhor esguio e com cabelos longos e brancos deixou de lado o microfone, dizendo desejar conversar e que o apetrecho dava um ar de importância para quem o tinha e m mãos, o que era desnecessário naquele ambiente e com aquelas pessoas (isso ficou por minha conta). Em boa parte do tempo com os olhos fec hados, falou sobre vários assuntos, entre eles Crass, Dial House, convívio com as pessoas, meditação, Punk, política, sobre como se manter independente e, principalmente, amor ao próximo. Para um inglês em um país estranho, ele foi bem-humorado em vários momentos. Uma das coisas boas que esse bate papo deixou é a certeza de que envelhecer não significa jogar no lixo os ideais. Esse senhor de 74 anos continua conspirando, produzindo e semeando a rebelião, algo bem diferente do que temos visto por aqui com algumas pessoas “d as antigas” mais interessadas em moedas, falando muita merda e recorrendo com frequência às carteiradas quando questionadas. Punk é algo bem maior do que bandas tocando em picos podres e com equipamentos ruins, e esse bate papo nos fez lembrar isso. Punk é uma contracultura e não apenas um estilo musical, e mesmo com todas as facilidades tecnológicas à disposição, roda de conversas, bate papos ou palestras são formas eficazes de semear ideias, promover interação e de manter os sacos de lixo distantes.


Death Grunt, Älä Kumarra, Estado Alterado e Processo di Ódio – 30/04/2017 – Monkey’s Bar – São Paulo/SP Com a cidade ainda curtindo a ressaca da greve geral, o domingão teria, além da greve como assunto, muito barulho com bandas de diferentes estilos e na faixa. Com um pouco de atraso, a primeira banda a se apresentar foi Death Grunt. Banda nova, vinda do interior de SP (Itapira, se não estou enganado), mandou muito bem, tocando um hardcore metalizado, por vezes muito próximo do crossover. Infelizmente ainda não tinha muita gente e quem estava no local preferiu ficar do lado de fora conversando. Sem enrolação e com mais pessoas no local, a próxima banda foi Älä Kumarra, que comemorava seu primeiro ano de existência, sendo outra agradável e barulhenta surpresa. Bebendo na fonte finlandesa do barulho, o trio de tona aquele hardcore tosco que tanto fez/faz a cabeça de muita gente. E na boa, uma banda cujo o vocalista diz que a mesma existe para falar mal da polícia e políticos só pode ser bacana. Se existe algo de bom que o underground (independente do estilo) proporciona é a camaradagem. Em alguns casos essa camaradage m dura anos/décadas, em outros ela é rápida e tem vez que ela nem chega a existir, mas na maioria das vezes temos a chance de aprender e ensinar e isso têm um baita valor. E foi motivado por essa camaradagem que colei nesse som, já que seria a chance de ver pela primeira vez o Estado Alterado, banda do camarada de milianos Ricardo. Enquanto a banda detonava seu hardcore que alterna partes rápidas e outras mais lentas com alguma influência do NYHC, letras realistas e nada de postura macho core ou de crew matadora, não foi difícil voltar no tempo e relembrar os diversos rolês, o mosh pit caótico e algumas confusões em estivemos presentes juntamente com outras figuras, algumas ainda circulando pelo underground. Tocaram sons próprios e um cover do Madball, e só para constar, o batera tem a mão muito pesada. Encerrando o evento teve Processo di Ódio, mas essa eu nem vi porque a carcaça já demonstrava sinais de cansaço e achei melhor seguir rumo ao cafofo. Outro domingo bacana, som gratuito, boas conversas, oportunidade de conhecer novas bandas e fugir da mesmice que tentam fazer ser a regra no Punk paulistano. Todo Poder ao Povo! Emory Douglas e os Panteras Negras – 06/05/2017 – Sesc Pinheiros – São Paulo/SP Em uma época onde a diarreia intolerante que vaza pela fossa bucal de parcela elitista e acéfala da população se faz mais pre sente a cada dia, e no Punk muita gente que diz fazer parte do rolê não consegue usar minimamente aquilo que é conhecido por cérebro e tem o apoi o velado de uma galera de bandas/produtorxs e velhacxs mocorongxs interessadxs em manter uma parte do Punk num limbo intelectual onde não existam cobranças, essa exposição foi um sopro de vida, atitude e radicalismo, tríade um pouco esquecida por nós na atualidade. E na boa, fora do Punk também tem política radical que pode nos ensinar algo ao invés de ficarmos apenas no oba-oba do som pelo som ou achando que uma rápida olhada na sua rede social favorita é o suficiente para adquirir base política de qualquer bosta. Emory Douglas foi um artista que ocupou o cargo de diretor artístico, designer e ilustrador do jornal The Black Panther e também Ministro da Cultura do Partido dos Panteras Negras. Foi o responsável pela parte estética, criando imagens que se tornaram mundialmente c onhecidas e que ainda hoje são reproduzidas nos quatro cantos do mundo. A exposição teve curadoria de um coletivo colombiano chamado La Silueta e ficou em cartaz por quase três meses (entre março e junho), mostrando uma parte significativa da produção de Emory e dos Panteras Negras, com diversos jornais, cartões de felicitação com mensagens políticas, muitas fotografias, áudio, vídeo e até documentos investigativos do governo estadunidense sobre o Partido. Obviamente o mat erial está em inglês, mas a organização lembrou que o Bra$il é um país com a maioria da população “monoglota” e colocou a tradução das principais partes do material exposto e os áudios tinham legendas. A exposição tinha muito material (tudo original), principalmente gráfico, que era de encher os olhos. Muitos desenhos, fotogr afias, música (sim, o Partido tinha um grupo musical chamado The Lumpen) e alguns vídeos que mostravam a confrontação física, política, ideológica e cultural promovida pelos Panteras Negras em um período conturbado da história dos Estados Unidos. Inclusive essa postura mais combativ a e radical é uma característica do movimento negro estadunidense que vem desde a época da escravidão e segue até os dias atuais com o Black Lives Matter. A exposição estava bem diversificada e quem tivesse disposição para ler e ver tudo minuciosamente teria que ficar por lá um par de horas, mas valeria a pena. Ao lembrarmo-nos da atual situação sócio-política do Bra$il, país em que o racismo ainda persiste e está escancarado para quem quiser ver ou sentir (o mito da democracia racial já morreu) e segue o extermínio da população negra e jovem nas periferias, essa exposição passa a ter um significado mais combativo e inspirador. Ótima exposição para quem tinha zero ou pouco conhecimento sobre o Partido dos Panteras Negras mudar essa situação. E para qu em já manjava do assunto, foi a chance de adquirir mais algumas informações. Katástrofe Social, Tempos de Morte, Fear of the Future, Armagedom – 13/05/2017 – Lau Estúdio – Osasco/SP Sabadão com outro rolê zica fora da zona de conforto. Mas antes de seguir para Osasco, tinha a Marcha Antifascist a. Em tempos conturbados como esse que vivemos, aonde o discurso reacionário ganha força em uma parcela da população e o populis mo de direita vai ganhando cada vez mais espaço entre a corja política que tem a pretensão de se manter no jogo político, a idei a de uma marcha antifascista é de extrema importância, ser um contraponto a toda essa imundície que está por aí. A concentração estava marcada para ter início ao meio dia. Já informações sobre horário que começaria a caminhada, nada. Então fui cuidar da minha vida e só colei no fim da tarde, indo direto ao Memorial da Resistência de São Paulo, onde seria encerrada a marcha. Chegando lá, ainda não tinha ninguém e decidi caminhar pelo Centro para tentar encontrar a marcha. Depois de dois quarteirões e aproximadamente cinco minutos, escutei alguns estouros que logo imaginei serem bombas. Mais barulho de bombas, cada vez mais perto e logo foi possível ver as primeiras


pessoas correndo. Muita gente bravamente tentou chegar ao ponto final da marcha, mas aparentemente sem sucesso. Novamente, o que se v iu nas ruas da região central foi o habitual modus operandi da ss paulista: uma “brincadeira” de gato e rato nas ruas, bombas de gás sendo atiradas para todos os lados sem se importarem com as pessoas que circulavam na região (era sábado e as ruas estavam movimentadas), revistas generalizadas e constrangedoras, agressões e aquele insaciável desejo de ser o supremo verme. Acredito que o confronto seria inevitável pelo próprio teor político da marcha, mas conversando com pessoas que estavam nela desde o iní cio ficou claro que a atitude de meia dúzia de emocionadxs acelerou o processo ao quebrarem vidros de agências bancárias. Danific ar símbolos do capitalismo é bacana, danificar viaturas policiais é mais bacana ainda e se danificar policiais... putz, é medalha de ouro. M as nem sempre isso é possível ou necessário. Não adianta usar a tática black bloc de maneira estúpida, o quebrar só pelo prazer de quebrar e depois sumir no meio da marcha ou nas sombras das ruas. Até porque, na boa, se o desejo é quebrar não é necessário estar em uma manifestação, podemos fazer isso sozinhos, na calada da noite. Xs emociaondxs que pouco leem/sabem/entendem, mas que nutrem uma imensa arrogância, devem lembrar que não são a marcha e que suas escolhas influenciam no que vai acontecer a outras pessoas. Sem contar que houve diversas denúnci as referentes à presença de quem não presta, mostrando que o negócio estava estranho desde o começo. Antifascismo, antifa e black bloc são palavras atualmente fetichizadas e desprovidas de sentindo político real para uma parcela de pessoas que dizem ter identificação com elas, o que resulta em barbeiragens quando o papo é militância. No mais, pacifismo é meu ovinho, mas quebradeira para ganhar curtidas em rede social também não vira. Bom, depois da minha dose de gás lacrimogêneo, segui para o som. Pico show de bola como há muito tempo não colava, equipament o foda, bar, mesa de sinuca, sofá, cadeiras e mesas, banquinhas com materiais, bandas fodas e a galera comparecendo e enchendo o lugar. Muitas vezes reclamamos da falta de espaços na cidade de São Paulo e esquecemos que o mundo não gira em torno da cidade e que em outras localidades podem estar acontecendo movimentações que nem percebemos e acabamos perdendo. Com um pouco de atraso, Katástrofe Social começou a noite barulhenta. A banda continua divulgando o primeiro trampo individual, o ‘ Ecce Homo...’ e com um equipamento foda e som no talo, detonou seu hardcore punk, fazendo a galera bailar. A próxima foi a Tempos de Morte, mudando completamente o clima musical. Post-punk não é a minha praia, por isso foi me acomodei no sofá. Pelo que vi através da janela, a galera curtiu a apresentação da banda. Uma rápida parada e é a vez do Fear of the Future. Apesar de não ter tanto tempo de estrada, graças à correria dos rapazes a banda tem se apresentado com frequência e isso faz com que seja conhecida por todo mundo e aí é jogo ganho t oda vez. Punk sem firula, sem ser panfletário, feito para pogar como se não houvesse amanhã. O cansaço começou a falar mais alto, aquela costura do tênis pegando no dedinho e a preocupação com o horário fez com que eu saísse fora sem ver o Armagedom. Mesmo com o transporte público funcionando até 1h00min da manhã, preferi não arriscar e deixei para outra oportunidade. Só me restou ver um vídeo gravado no local e ficar no recalque. Rolê muito bom, lugar legal, com bandas e pessoas nota 10. É o Punk vivo. Virada Cultural-Palco Test – 20/05/2017 – São Paulo/SP Antes de tudo, gostaria de deixar claro que o prefeito da cidade de São Paulo, joão doriana, é uma bosta e o secretário munic ipal de cultura, andré estrume, é uma merda. Fato. Qualquer pessoa que tenha colado ou acompanhado pela imprensa a Virada desse ano viu que foi um fracasso retumbante. Até censura rolou, com um documento do ministério público do estado (também conhecido por bolsão de reaças) enviado aos artistas, avisando que s eria de bom tom evitar discursos políticos durante as apresentações. È muita falta do que fazer, né promotora? Apesar dos esforços de artistas e produtorxs, não houve o que fizesse o evento funcionar. Com algumas exceções, acredito que para a maioria dxs artistas e público, ter feito outra coisa no fim de semana teria sido mais interessante. Os motivos de tal fracasso são vários e nem vou perder tempo colocando aqui, mas foi interessante saber que o plim-plim insistiu em mostrar a Virada como um sucesso. Tudo isso é vontade de colocar o prefeito almofadinha em Brasília? Outro ponto cabuloso nessa Virada foi que no domingo de manhã, enquanto diversas atrações se apresentavam na região central, a jagunçada do estado e da prefeitura fez uma operação na Cracolândia, nos moldes das anteriores, com muita truculência, bombas, armas de grosso calibre sendo apontadas para xs dependentes químicos, com a mídia corporativa promovendo uma espetacularização da violência estatal e da tragédia humana e com direito a matéria fecal líquida escorrendo pelos beiços do prefeito e do governador. Bom, mas vamos ao que interessa. Na semana que Bra$il perdeu Kid Vinil, um dos maiores incentivadores e divulgadores da boa m úsica, uma certa dose de melancolia esteve presente no evento e nas conversas. Com nova mudança de endereço, o Palco Test foi parar em uma rua emblemática para o rock, onde resiste uma das lojas de discos mais antigas e importantes da cidade, a Woodstock, cujo selo ch egou a lançar algumas bandas punks na década de 80 pra 90. Além da música, dessa vez também teve exibição de documentários (Palco Test, Embaraço, Pedal Tortura entre outros), performances (U-rso e Meus Ovos ao Patriarcado), oficinas (yoga, silk screen, roller derby e mais algumas) e aquela conhecida escalação de bandas que fazem rock torto e feio dividido em três “palcos”. Tinha Rot, Cemitério, Lobotomia, Pacto Social, Industrial Holocaust, Bandanos, Chemical Disaster, Shit Heroes, Vazio, Krostah, Paranoia Oeste, Rastros de Ódio, Óbitto, Test e mais uma porrada de bandas. A quantidade de bandas e a variedade de estilos refletiram na galera que compareceu, com muitos punks, headbangers e gente doida em geral. Apesar da quantidade de bandas, como sou um saco de vacilo só vi duas. Mas já valeu a pena. A primeira foi Artigo DZ9, do interior de SP. A banda já tem uns bons anos na estrada e mandou um hardcore sem frescura, com letras legais, mostrando que apesar de todos os problemas enfrentados pelo underground, muita coisa bacana continua sendo produzida em diferentes localidades. E como estava cedo e a sobriedade ainda fazia-se presente na maioria das pessoas, a galera agitou legal durante a apresentação da molecada. Um rápido intervalo e é a vez do Ulster. Caraca, que atropelo! Depois de muito tempo parada, a banda voltou no fim do an o passado e acho que essa foi apenas a terceira apresentação. Ulster sempre foi foda e continua sendo. É uma das paradas mais impressionantes que o Punk já


produziu quando analisamos juntamente músicas, letras, visual e contexto político na época de seu surgimento. Na boa, não era para qualquer pessoa. Se a memória não está a me trair, a última vez que vi a banda foi em 2001 no festival ‘A um Passo do fim do Mundo’. Depois de tantos anos e sendo uma das bandas que mais curto, a expectativa era grande. Imaginem uma rua em leve declive, com uma banca de jornal ao lado... desastre certo. Mas nada disso impediu o pogo selvagem como já fazia algum tempo que não via. Punks e bangers cantando juntos todos os sons, quase caindo em cima da banda, gente sendo erguida, mulheres e homens na roda agitando. O único senão ficou por conta da presença de um par de rockistas idiotas que acreditam que agitar com a asa aberta tentando acertar o rosto de alguém faça parte do pogo. Evento gratuito é certeza da presença dessa galera (também conhecida por rockeirxs de praça), mas nada que uma cobrada ou um tabefe no pé do ouvido não resolva. Infelizmente o set foi curto, mas o suficiente para deixar alguns hematomas no corpo e a certeza que a banda continua “ignorante”. Depois disso, foi caminhar um pouco em companhia da dona Encosto, observando a virada fracassada e relembrando os bons tempos de muvuca no Centro, até percebermos que era melhor voltar para casa porque aquilo não ia dar em nada. E um recadinho amoroso pras cu e pros cu que acreditam ser a vanguarda de qualquer bosta com merda e fazem cara feia e beicinho quando me veem: chorem mais, porque o choro é livre e é a única coisa que vocês realmente sabem fazer. Quem gosta de panela é feijoada. Califórnia Brasileira – O Hardcore Punk em Santos 1991-1999 – 27/05/2017 - Matilha Cultural – São Paulo/SP Sábado preguiçoso, sem ânimo para ficar na rua, bora colar em um rolezinho diferente e sem gasto. Seria a primeira exibição d esse doc em Sampa e o lugar escolhido foi a Matilha Cultural, um centro cultural independente bacanérr imo, com forte viés político, muito ligado a questões sócio/politicas e ambientais. E como a sala de exibição não é gigante, foi fácil para encher. Quem já estava envolvido com o rock (independente de estilo) nos anos 90, com certeza leu em algum lugar que a cidade de Santos era a Califórnia brasileira. Praia, esportes radicais, padrão de vida legal, proximidade com a capital e uma porrada de bandas que iam do metal ao hardcore, fez com que o rock mais torto fosse a trilha sonora da cidade. Mas reduzir toda a movimentação a uma definição simplista é burrice, e a ideia desse documentário é justamente mostrar como começou, o que ajudou a fomentar e porque terminou essa movimentação que s uperava a de muitos centros urbanos bem maiores que a Baixada Santista (que compreende nove cidades, incluindo Santos). Retratar uma década em duas horas não é tarefa fácil, mas o documentário cumpre sua função, sendo didático, mostrando o iníci o, o auge e o fim dessa agitação, com várias entrevistas, fotos, trechos de apresentações, dando uma geral em tudo que foi criado, passando por boa parte das bandas, lojas, zines e agitadorxs culturais que estiveram presentes na agitação que rolou na época. Para quem já conhecia a p arada ou viveu àqueles dias, foi o momento de relembrar e para quem não conhecia, foi a oportunidade de conhecer e ver como tudo era bem mais difícil. Felizmente, vem se tornando mais comum a produção de documentários que resgatam o underground brasileiro, para que no futuro as gerações vindouras possam conhecer, entender e aprender com o que já foi feito. Afinal de contas, é também parte importante da História da música no país. E a música não massificada agradece. SP Pelas Diretas Já – 04/06/2017 – Largo da Batata – São Paulo/SP Depois de alguns dias frios e cinzentos, o fim de semana chegou e com ele veio um domingo ensolarado, temperatura agradável e com rolê massa em Pirituba. Mas também tinha esse evento político, ideologicamente à esquerda, teoricamente apartidário e como estamos viven do um momento estranho, achei por bem colar, mesmo tendo absoluta certeza que seria uma experiência horrível. E foi. Já na página do ato ficava claro que o interesse das pessoas era pelos shows dxs artistas do rock, mpb e rap, com muito trabalho por parte dxs envolvidxs na organização para deixar claro que não seria um festival de música e sim um evento político com a participação de artistas. Mas parece não ter adiantado. Cheguei na reta final e parecia não ter tanta gente como poderia. Falaram em 100 mil, mas no “olhômetro” ind icava bem menos. O largo parecia uma Woodstock hipster, com muitas bikes, galera sentada tomando uma breja e fumando unzinho, muita gente fashionista e modern a, presença de alguns coletivos nojentos (que tem por hábito entregar anarquistas à jagunçada em manifestações), pessoas carregando bandeiras de partidecos de ex-querda ou de sindicatos pelegos. Ainda vi artistas da telinha e algumas pessoas da política circulando no local e sendo paparicadas pela militância. Tudo muito estranho para o meu gosto. A última atração foi o Mano Brown. Hmmmm, sei lá, na manjo de rap, mas foi assustador ver aquela multidão de jovens (ou nem tão jo vens) com bochecha rosada, roupa estilosa e cara de bem nascidx, bem criadx e muito bem alimentadx, cantando empolgadíssimxs rimas que relatam a vida na periferia e todas as mazelas que lá existem. Tá, eu sei que é melhor isso do que estarem colando com pilantras ou assistindo palestra com o bostanaro, mas que é estranho isso é. Porque esse amor que rola com a periferia e com a negritude, na minha humilde opinião, é hipócrita. Ninguém quer ser pretx (só quando interessa, tipo na hora de usar a lei de cotas para ensino superior ou concurso público) e sentir na pele e na carne o racismo, ninguém quer morar na quebrada e passar duas horas no transporte público lotado para chegar ao centro da cidade, ninguém quer levar enquadro, ninguém quer nada de ruim. Na real, boa parte dessa galerinha jamais colocou ou irá colocar seus pés na periferia ou mesmo em alguma comunidade em bairro mais central, talvez sequer tenham amizade com alguém que por lá resida. Só querem as coisas boas que a periferia cria, como se isso fosse o suficiente para que pudessem estar livres de preconceitos e ajudando na construção de um a sociedade mais justa e igualitária. Rola um fetiche com as quebradas, uma tentativa que vem de décadas em romantizar a pobreza, como se falta de saneamento básico, violência policial, subemprego, crime, a falta de perspectiva entre outras coisas, fosse algo bacana e que merecesse glamourização. Entonces, o Mano cantou algumas músicas dos Racionais MC e em um determinado momento, começou a falar, falar, falar, falar, f alar, falar, falar e falar. Sério, fiquei de cara com o tanto que ele falou. Mas o pior é que o cara falou nada com nada. Sou um ignorante, mas na boa, pareceu que


o cara não tinha habilidade com as palavras ou não tinha entendimento sobre o assunto do qual tentava mandar uma ideia. A par ada foi tão feia que até um cafunézinho na polícia ele fez. Que vergonha. Toda forma de luta é válida, mas não acredito que essa manifestação ou outras que venham a ser realizadas no mesmo molde faça com que a corja de Brasília sinta-se acuada e com medo das ruas. Bom, eu não teria e olha que sou bunda mole. Também é difícil acreditar que um movimento que reúne boa parte da ex-querda partidária e eleitoreira, a mesma que em um passado recente apoiou a repressão brutal a manifestantes, que tinha o imenso desejo de aprovar uma lei antiterrorismo, que criava factoides sobre adeptxs da ação direta radical, que se fez de songa monga frente a não demarcação das terras indígenas e quilombolas, que assistiu pelo celular as violentas remoções de comunidades para a realização de megaeventos, que nunca se manifestou de maneira contundente frente ao extermínio de jovens nas periferias, ao encarceramento em massa, pelo direito ao aborto, às questões LGBTTQ, que ignorou a questão ambiental, entre tantas outras pautas de extrema importância, como em um passe de mágica volte a ter credibilidade e relevância na luta contra essa tal escória golpista, que nada mais é do que o outro lado da mesma moeda. A briga é tão particular que a única pauta existente é derrubar o michel temer. Fica a sensação qu e esse papo de eleições diretas é apenas uma tática usada pela ex-querda para voltar ao poder com o quatro dedos ou alguma outra pessoa. Sério, porque vender a ideia que apenas a democracia representativa resulta em mudanças é a cara desta ex-querda sem caráter e isso, por si só, diz muito sobre essa movimentação e suas reais intenções. Parece que vida política será resumida a roubalheira e sucessivos golpes, ora promovidos pela direita, ora promovidos pela esquerda. Para quem deseja apenas trocar seis por meia dúzia, tirando o michelzinho e colocando qualquer saco de estrume no lugar, essas manifestações podem ter alguma representatividade. Já para quem deseja uma mudança radical no panorama político, acredito que não vale a pena perder tempo com isso, ainda sob risco de ser entregue a polícia ou levar uns petelecos caso teime em se fazer ouvir. Afinal de contas, o que não faltam são exemplos de como é democrática a ex-querda brasileira. E se ainda existe algo parecido com uma esquerda radical e revolucionária no país, é bom ela começar a se movimentar antes de ser novamente atropelada pelos acontecimentos, já que a ex-querda pelega corre para tentar assumir o protagonismo nessa nova onda de manifestações e tenta reescrever a história. No mais, ter ido nessa porcaria só valeu pelas boas companhias e pela conversa após oba-oba... ooops, digo, manifestação. In-Edit Brasil 2017: Two Sevens Clash (Dread Meets Punk Rockers) – 17/06/2017 – Cinemateca Brasileira – São Paulo/SP Para quem é de outras quebradas e não faz ideia do que seja o In-Edit, é um festival de filmes e documentários musicais, independentes de estilo, com produções feitas aqui e na gringa. O festival surgiu em Barcelona em 2003 e no Bra$il acontece desde 2009, com exibições rolando em diversos espaços e na maioria deles, de graça. Além dos filmes, sempre tem algo a mais acontecendo, como uma feira com gravadoras e distros ou debates com diretorxs de filmes. No fim, para quem gosta de música o rolê é sempre nota 10. Nesse ano, aproveitando a tal comemoração de 40 anos do Punk no país, a seleção de filmes privilegiou o aniversariante e colocou na programação nada mais nada menos do que 11 filmes. Só para encher linguiça na resenha, olha a listinha: Botinada! A Origem do Punk no Brasil, Garotos do Subúrbio, Hated: GG Allin & The Murder Junkies, João Brandão Adere ao Punk, Punk Attitude, Rough Cut and Ready Dubbed, Rude Boy, The Decline of Western Civilization, The Filth and the Fury, Two Sevens Clash (Dread Meets Punk Rockers) e Zivan Makes a Punk Festival. Ufa! Tudo bem, eu sei que alguém pode dizer que alguns desses filmes são batidos, que estão disponíveis no Youtóba ou que são ruins. Mesm o assim não deixa de ser interessante que quase metade dos filmes exibidos nessa edição do festival tenha ligação com o Punk. Devido a uma confusão no horário de exibição (no site da Cinemateca constava um e no do festival outro horário), quase perdi a ses são. Ao chegar, a galera já estava entrando e isso significava que os ingressos já tinham esgotado. Mesmo assim, arrisquei ir até o balcão com a minha cara de coitado na esperança de alguma coisa e chego no momento que a funcionária diz a um casal que os ingressos estavam esg otados e que não seria permitida a entrada de pessoas para sentarem no chão ou ficarem em pé. Nisso, numa baita ironia do destino, aparece um isquinrrédi devolvendo um ingresso. Euzinho, com o sorriso de orelha a orelha, vejo a funcionária oferecer o ingresso para o casal, aguar do a rápida confabulação dos pombinhos, que decidem não entrar. A funcionária me entrega o ingresso, agradeço o casal e a funcionária e sigo rumo à fila. O filme em questão mostra como rolou a aproximação entre punks e jamaicanxs, entre o punk rock e o reggae na Londres dos anos 70 que vivia o início da explosão Punk. Segundo o próprio Don Letts, as imagens estavam perdidas e quando foram achadas, foi natural fazer um filme. E essa era apenas a terceira exibição da parada. Em 50 minutos, o filme narra essa aproximação, desmistifica algumas histórias, fala de música, mostra cenas do carnaval d e Notting Hill, de apresentações do The Clash, Sex Piistols, The Slits entre outras bandas, cenas gravadas no The Roxy e na casa do diretor, Joh nny Rotten na Jamaica e mais uma porrada de coisas, tudo com imagens de 40 anos atrás. Depois da exibição, por c erca de uma hora, rolou um bate papo interessante e bem-humorado com o Don Letts, tendo Gastão Moreira (diretor do Botinada!) como intermediador. O tiozão é elétrico e bem humorado, passou a maior parte do tempo caminhando de um lado para outro enquanto contava histórias e respondia as perguntas. E como a Cinemateca é foderosa, quem quisesse podia pegar um aparelhinho para escutar a tradução simultânea da conversa ou exercitar a aptidão nata para o bilinguismo torto. E ainda tinha mais. Depois da conversa, o gringo atacou de DJ na área externa da Cinemateca, num espaço muito bacana. O baile começou tímido, mas no decorrer dos minutos o pessoal deixou a vergonha de lado e começou a sacolejar as carcaças, atraindo a atenção das pessoas que estavam lá por outros motivos, rolando uma interação básica e gostosa de ver. Como não curto reggae, vi uns 15 minutos do baile e decidi seguir para a minha casa, onde o novo play do Wolfbrigade me aguardava cheio de amor. Rolê bacana, com direito a um lindo usando uma peita divina do Discharge na cor violeta (meu recalque disparou feito inflação venezuelana), gratuito, com informação musical, em local super agradável e perto de casa. É tudo de bom.


21ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo – 18/06/2017 – São Paulo/SP Os dias que antecedem a Parada são alguns dos mais legais do ano, quando a cidade cinza, violenta e preconceituosa se torna um pouco mais colorida, humana, livre e tolerante. Além da Parada, dezenas de eventos acontecem como palestras, jogos, festas, fazendo com que uma intensa e imensa movimentação ocorra na cidade. Com o lema ‘Independente de nossas crenças, nenhuma religião é lei. Todas e todos por um Estado Laico’, a edição 2017 teve algumas mudanças agradáveis. Sumiram os trios elétricos de partidos políticos oportunistas ou de sindicatos pelegos, teve mais diversidade e mais política, tanto na Parada quanto na Feira Cultural LGBT que aconteceu uns dias antes. Acredito que isso seja reflexo da participação de Heitor Werneck (se não estou enganado, já esteve envolvido com o Punk algum tempo atrás), um multi artista, estilista e mais uma porrada de outras atividades, tudo feito com um viés político. Além da música para quase todos os gostos (axé, funk, techno, sertanejo), teve várias performances durante o trajeto, circo, acrobacias, fetiches e sei lá mais o que. Na boa, estava tudo maravilindo! Durante todo o trajeto foi possível ver cartazes ou ouvir coros com recados para o golpista temer, prefeito doria e para a corja política em geral. Isso é interessante, já que muita gente critica o evento dizendo que o mesmo é despolitizado, que é só uma festa ou uma desculpa para pegação, sem conseguir entender que festa (ainda mais na rua e num país preconceituoso) também pode ser algo político, assim como a pegação. Cada pessoa ou grupo luta com as armas que possui, com aquelas que têm mais habilidade e cabe a quem é de fora e diz apoiar, fazer um esforço mínimo para entender. Pelo que vi, do início na Avenida Paulista até o término na Praça Roosevelt, a multidão seguiu de boa, sem episódios de violência (tirando um ou outro bate boca que logo cessava), dançando, bebendo, sorrindo, tirando fotos e se pegando, sempre sob o olhar cheio de ódio da polícia paulista e da guarda civil metropolitana. A mesma polícia e guarda civil que teoricamente estão presentes no evento para proteger as pessoas, passam boa parte do tempo rindo e ridicularizando o pessoal, respondendo perguntas com extrema má vontade e filmando todo mundo. Sim, agora tem mais essa em SP, verme filma tudo e todos para arquivar em um banco de dados secretos com o nome de Olhos de Águia. Após o término da caminhada, veio a surpresa desagradável. A Praça da República, importante local de socialização, flerte, pegação e onde Edson Neris foi assassinado por skinheads no início de 2000 apenas por estar caminhando de mãos dadas com seu companheiro, estava cercada por tapumes. Hã? Isso mesmo, totalmente cercada por tapumes. Um local público, que até o dia anterior era acessível para toda a população, passa a ter seu uso proibido. Pois é, provavelmente a prefeitura, reaça até umas horas, decidiu cercar a praça para evitar que as pessoas ficassem por lá após o término da Parada e, claro, a fim de evitar que a pegação fosse visível aos olhos de qualquer pessoa. O recado da prefeitura foi claro: gostamos do pink money, vocês podem deixar sua grana na cidade, mas não queremos ver sua bichice. Felizmente, em tempos de polarização política e luta por direitos, quem fica parado é poste e a galera não p ensou duas vezes em forçar a entrada. Timidamente a praça foi sendo ocupada pelas pessoas e voltando a ter vida. E depois de uma caminhada na região em busca de algo para comer e beber, eu e dona Encosto adentramos a praça, sentamos no coreto (normalmente usado como teto por pessoas em situação de rua e que foram expulsos de lá para que a praça fosse fechada) e nos pusemos a observar toda a movimentação e divagar sobre a vida e a liberdade. E enquanto observava a movimentação, não pude deixar de lembrar as pessoas LGBTTQ que tive o prazer de conhecer e que me mostraram alguns caminhos para que eu pudesse tentar ser alguém um pouquinho menos pior. Elas não sabem, mas foram importantes na minha vida e eu só tenho a agradecer e torcer para que estejam bem. Na boa, para quem estava torcendo por um fiasco na Parada, que as pessoas ficassem temerosas em participar visto a polarização política e discursos intolerantes sendo defecados em todo lugar, perderam! A Parada foi foda! Teve festa, sorrisos espontâneos, pegação, azaração, política (chupa galera critiquenta), breja com preço legal e tempo bom. E que venha a 22ª Parada do Orgulho Gay! In-Edit Brasil 2017: Restos de Nada – 22/06/2017 – Centro Cultural São Paulo – São Paulo/SP Punks, que noite! Dentro da programação do festival de filmes musicais, rolou essa única apresentação da primeira banda punk a surgir nessa terra maldita, Restos de Nada, e com metade de sua formação original. Prestem atenção, pelo que foi divulgado, isso não foi a volta da banda, mas sim uma apresentação única para comemorar os 40 anos do Punk por aqui. Ou seja, quem viu, viu. Esse papo de aniversário do Punk pra lá e pra cá é algo que no decorrer dos meses foi me dando uma tremenda preguiça. Um mome nto que também poderia ser usado para reflexão e busca por novos caminhos, tem parte de seu sentido esvaziado, com muita gente esperta tentando tirar algum proveito do acontecimento. Enfim, os problemas de sempre que cabe a nós buscar formas de resolver. Mas dessa vez vou enfiar a viola no saco e concordar que a comemoração foi em grande estilo. Chegando ao CCSP, na bilheteria já tinha um cartaz avisando que os ingressos (que eram gratuitos) estavam esgotados. Muita ge nte de cara feia no local, algumas reclamações e de repente, voltam a distribuir mais uma carga de ingressos para felicidade geral, que após uns poucos minutos de espera, tem a entrada liberada. E aí vem a surpresa desagradável, o local era um teatro com cadeiras, ideal para um cara como o João Gilberto cantar sobre barquinhos e o azul do mar, mas estranho para punks. Tímida e educadamente o local foi sendo ocupado, mas quando o horário se aproximou do início do barulho, foi literalmente tomado de assalto. E na boa, estava bonito. Punks de diversas idades (algumas crianças com mamis e papis), vários coletivos e gangues representadas no local, todo mundo interagindo, tirando fotos, sorrindo, uma tremenda confraternização para pouco mais de 300 felizardxs. Tá, tinha um ou outro zoado das ideias, mas esses não contam. Com uns poucos minutos de atraso, as luz são apagadas e aparecem no palco Luiz, Nonô, Clemente e Ariel, para delírio da punkaiada. E assim que o primeiro acorde ecoa no teatro, a galera fica em pé, o pessoal que estava na parte mais alta do teatro desce em direção ao palco como se fosse um estouro de boiada e a atmosfera de teatro comportado leva uma cusparada, com o caos tomando conta do lugar.


Entre o palco e a primeira fileira de cadeiras, o espaço devia ser de cerca de um metro e mesmo assim o pogo rolou. Galera in vadiu o palco, stagedivers aterrizavam nas cadeiras, pessoal pogando no palco, pegando o microfone para cantar as músicas enquanto a banda detonava, tudo isso lembrava aqueles vídeos lindos dos anos 80 com bandas punks tocando no Olympic Auditorium de Los Angeles. De lambuja, ai nda tocaram uns sons dos Inocentes para encerrar a baderna. Por cerca de uma hora foi assim, o Punk sendo Punk, perigoso, ameaçador, descontr olado, irônico e insurgente. Douglas e Charles, a outra metade da formação original e que não mais estão entre nós, estariam feliz es por ter o trampo reconhecido. Apesar de todo mundo saber que seria apenas essa apresentação, fica fácil nutrir alguma esperança de retorno definitivo ou de pelo menos mais algumas apresentações, mas parece difícil. Luiz tem sua vida, Nonô toca em outra banda e Clemente... bom, o cara pensa que é rockstar e isso ficou evidente em vários momentos, onde deixou transparecer o seu incômodo com a baderna e com a proximidade das pessoas, pedindo em várias oportunidades para que as pessoas se afastassem um pouco, mas sem sucesso. Ali, quem vive intensamente o Punk é mesmo o Ariel. Mas isso de modo algum tira a importância da apresentação e de como seria bacana se rolasse mais algumas. Nenhuma dessas linhas porcamente pensadas e digitadas vai ser capaz de transmitir o que rolou nessa noite. Talvez algum vídeo, mas mesmo assim não seria possível passar o clima, a energia, a euforia e a excitação que tomou conta do teatro que leva o nome de Jard el Filho, para quem estivesse vendo o vídeo. Essa noite fica na memória de quem participou da festa e a certeza de que daqui a 40anos, quando estiverem falando dos 80 anos do Punk no Bra$il, esse rolê será lembrado. E para nós que vivemos o Punk na Grande SP, fica uma pontinha de esperança de que o exemplo dado por todxs de respeito, educação e interação entre punks visto nessa noite memorável, seja também colocado em prática nas ruas, no dia a dia, quando nos encontr amos nas quebradas sujas e escuras da cidade cinza. Décadas atrás, garotas e garotos batalharam pelas mesmas coisas que hoje voltamos a correr atrás, conseguindo reverter (mesmo que não totalmente) uma situação de deterioração do rolê, dando fôlego para mais alguns anos de l uta. Será que só a atual geração não é capaz de mudar o que está ruim? Manger Cadavre?, Desalmado, Surra – 02/07/2017 – Avenida Paulista – São Paulo/SP Em comemoração ao centenário da Revolução Russa, as bandas Desalmado e Surra se uniram em um rolê monstro chamado Reação & Resistência Tour, com14 datas em SP cobrindo litoral, Grande SP e interior. De quebra, ainda nos lembrou de que não é necessário ficar chorando por apoio ou esmolando para tocar em lugar safado e que o faça você mesmx continua sendo a solução. Em Sampa, o lugar escolhido para o rolê foi a Avenida Paulista. Para quem não sabe, a avenida que representa a São Paulo que deu certo com seus prédios modernos, shoppings, sede de bancos e empresas, onde a grana corre solta nas mãos daquela pequena parcela que vi ve na parte de cima da pirâmide social, aos domingos é fechada para o trânsito, virando uma rua de lazer. E diversos artistas aproveitam o grande movimento para mostrarem seus trabalhos, da música à arte circense. Mesmo com esse uso bacana que acontece aos domingos, a avenida não perde a pose e isso é visível no semblante entojado de muita gente que frequenta o local. Mas nem só de glamour vive a avenida, ela também possui problemas que xs frequentadrxs fazem questão de ignorar. E para lembrar as mazelas que assolam a cidade e a tão amada Avenida Paulista, uma galera em bom número formada por punks, rockeirxs doidxs e muitos headbangers, colaram para prestigiar esse evento, apesar do frio desgraçado e da garoa que teimava em cair, numa tentativa de sabotar o rolê. Numa época em que o poder público municipal e estadual, em conluio com a mídia corporativa, tenta fazer a população acreditar que um estado policialesco é a solução e que as ruas não são bons lugares para estar e frequentar, qualquer evento realizado na rua passa a ter um sentido político, de confrontação. E essa confrontação aumenta exponencialmente quando envolve bandas oriundas da cena hardcore punk tocando na avenida do coração da paulistanada. Sim, o evento tinha risco de dar merda, mas não seria a primeira vez e nem a última. Então, o melhor era apertar a tecla do foda-se e fazer a parada acontecer. Marcado para começar as 13h00min, rolou um pequeno atraso por causa da garoa. Isso foi bom, porque permitiu que mais gente ch egasse a tempo (incluindo eu) para ver todas as bandas. Sem a garoa, foi ligar os equipamentos e Manger Cadavre? começou o massacre. Banda do interior de SP, assim como outras que estão fora da fronteira Grande SP, tem poucas oportunidades de se apresentar na cidade, mas ironicamente nesse mês de julho a banda teria duas datas na cidade. Coisas do destino. Mas então, a garotada detonou um crust pesadão que era a cara do domingo cinza e ainda causava espanto nxs frequentadxs habituais da avenida. Uma elegante senhora acompanhada do fi lho parou por alguns minutos a minha frente, observando a movimentação e num determinado momento virou e comentou “como é que essa moça faz essa voz?” Sorri, ela e o filho retribuíram o sorriso e seguiram pela avenida. Mesmo com o frio e o local não muito apropriado, a brutalidade do som fez com que a molecada, feliz da vida, abrisse uma roda e começasse o slam dancing e circle pit. Estava atrás da banda e não ouvia tudo tão bem, mas com todas as bandas rolou uma ideia entre as músicas e isso é legal, já que sempre tem gente nova chegando nos rolês e fi ca sabendo qual é a ideia e que não tem espaço (ou não deveria ter) para qualquer tipo de patifaria. Quer ter ideia torta, vai ter longe e escutando band a de pilantra que é cara. Sem embaço, começa a apresentação do Desalmado. Nunca tinha visto a banda, mas também foi foda. Grind/cr ust com alguma influência de metal e sem massagem. Como continuava atrás das bandas, tive a oportunidade de ver o batera Ricardo massacrar os tambores e pratos. São nesses momentos que entendo ter sido melhor desistir da ideia de ter banda e, pior, sem bat erista. Só ia passar vergonha com minha mão de alface. E para encerrar à tarde barulhenta, outra banda que eu nunca tinha visto, Surra, direto da Baixada Santista. Mantendo viva a tradição de bandas bacanas vindas da região, a Surra tem conseguido se apresentar com frequência e não só em SP, tendo excursionado na gringa e sempre fazendo os corres de maneira independente, sem rabo preso. O resultado disso não poderia ser diferente, com a molecada cantan do junto boa parte das músicas e agitando muito. Tinha até um doido correndo no circle pit com um cone de sinalização de trânsito na cabeça. Na boa, cada banda trampa do jeito que mais lhe agrada ou convém, mas ficar esperando o convite de produtoras para tocar em outras quebradas não vira. O Punk sempre prezou por independência, pelo faça você mesmx e isso tem sido deixado um pouco (ou muito, sei lá) de lado para ficar na choradeira virtual, reclamando sobre falta de apoio. Todo mundo tem problemas, mas bora juntar três ou quatro bandas parceiras, divide o aluguel do busão e do espaço onde vai rolar a gig e mete a cara. Não adianta esperar que aquelxs três punks de uma localidade m ais distante


gastem R$ 5.000,00 para agilizar um rolê, porque isso vai ser difícil. Essa turnê das bandas Surra e Desalmado prova que todo mundo pode fazer a coisa acontecer, basta um pouco de conhecimento em matemática, alguns contatos e vontade. No mais, esse rolê de domingo foi nota 10, com bandas bacanas, em um local de fácil acesso e mostrando que independente da fa lácia vinda da mídia e classe política, a rua é nossa, é da população, e não do poder público ou da iniciativa privada. Vocês não decidem aonde vamos ou como podemos usar as ruas. Nós decidimos isso e foda-se o tucanistão! Test Big Band – 11/07/2017 – Centro Cultural São Paulo – São Paulo/SP Meus amores e minhas amoras, que bagulho foda! Depois de ver o lançamento do split das bandas Test e D.E.R. em 2014 (se não estou enganado), com aquele lance cabuloso das duas bandas estarem tocando ao mesmo tempo, no mesmo palco, com apenas uma cortina as separando e dividindo o mesmo batera, achei que levaria uns bons anos para ver algo diferentão novamente feito por qualquer banda. Mas eu estava errado e em pouco tempo fui novamente nocauteado e pela mesma banda que não cansa de arriscar e inovar, mas sempre mantendo a brutalidade. E de novo o local escolhido foi o Centro Cultural, rolê que fazia parte do evento Centro do Rock, evento que rolaria por todo o mês de julho com diversas apresentações, exibições de filmes e debates. E a sala escolhida também não poderia ser outra, a Adoniran Barbosa, sambista que cantou a cidade de São Paulo. Mas os tempos são outros e quem canta a cidade, seus amores, suas desilusões é outra galera que curte outro tipo de (anti) música. A sala Adoniran Barbosa é emblemática para a cena rockeira paulistana e o local não poderia ser melhor para esse rolê, mesmo tendo cadeiras e não sendo propício para agitar. E quem se lembrou de agitar em meio ao caos sonoro que vinha do palco? Imagi ne 14 pessoas de diferentes bandas com os mais variados estilos de música torta e feia, com guitarras, baixo, baterias, equipamentos eletrônicos, percussão, sax e até um piano. Sim, toda essa gente com essa variedade de instrumentos para tocar grind/death. Na boa, é tudo muito louco e só vendo para entender. E toda essa doidera também se refletiu no público, com uma galera heterogênea que abrangia punks, headbangers, rockeirxs doidxs, fãs de rock torto, pessoas que frequentam o centro cultural e aproveitaram a gratuidade para tomar um banho de cultura barulh enta, gente da música independente e alternativa (seja lá o que isso significa hoje em dia), hipsters e por aí vai. O local onde foi o som parece um cubo, com o palco bem no meio e umas fileiras de cadeiras nas laterais da parte de baixo, e em cima uma pequena arquibancada que circunda todo o ambiente. O bom é que de qualquer lugar é possível ter uma ótima visão do que acontece, sem contar que o equipamento também era foda, deixando o som do jeito que todo mundo gosta. E como lá não é o rolê podre que estamos acostumados, a distribuição dos ingressos foi bem rápida e a apresentação começou no horário. Só para constar, mesmo sendo uma terça-feira, muita gente apareceu para prestigiar esse evento, enchendo o local. Tem gente que gasta tempo e energia reclamando da falta de público em eventos, mas esse aqui é mais uma prova de que a galera quer colar nos eventos, só não quer colar em eventos furrecas, com equipo ruim, banheiro interditado, horas de atraso e com as mesmas bandas de sempre. Em uma hora de apresentação a big band alternou grind/death com momentos viajandões, declamação de poesias violentas, muito noise e sei lá mais o que. Sério, era muita informação barulhenta. Mesmo para quem não curte esse tipo de música, a parada é algo que impres siona. E impressionada estava a galera que nem piscava, com o olhar fixo no palco para não perder nenhum detalhe. E assim como começou, terminou. Sem conversas, sem firulas e com o pessoal ostentando um semblante embasbacado. Devido à grande quantidade de pessoas envolvidas e por todas terem outras bandas, pela logística da parada deve ser difícil agilizar um rolê da Test Big Band. Isso quer dizer que quem esteve nessa apresentação é privilegiadx, teve a oportunidade de ver algo que talvez não aconteça com frequência. E se rolar novamente, faça um favor a si próprix, não perca! Satanlivre, Velhos Bohemios, O Grande Ogro, Punkía, Discrepante – 15/07/2017 – Ocuparque – São Paulo/SP Enquanto muita gente continua chorando e velando alguns espaços que anunciaram recentemente o encerramento das atividades nos próximos meses, o rolê segue produzindo, adaptando novos lugares, firmando parcerias e assim a vida segue. Espaços pretensamente punks , geridos por pessoas espertas e que sabem como ninguém ludibriar e viver do punk não são necessários. Pra escutar esse 17 1 bacana já temos a classe política. E felizmente muitas bandas já perceberam isso e estão buscando alternativas e redescobrindo as ruas, agilizando gigs em praças, embaixo de viadutos ou em ocupações, saindo um pouco dos espaços oficiais e que sempre estão preocupados com moedas. No mais, som nas ruas ou em ocupações passou a ser um ato político em tempos sombrios. A Ocuparque é uma ocupação ao lado do Parque Central do Itaim Paulista. O terreno da ocupa também está para ser incorporado a o parque. Quando cheguei o parque já estava fechado, mas o Fernando (Discrepante) contou um pouco da história do lugar, que ali já foi uma chác ara e as construções existentes no parque e no terreno ao lado são do século 19, que o imóvel localizado dentro do parque foi resta urado e hoje é a sede administrativa. Já os imóveis do terreno a ser incorporado encontram-se bem deteriorados, mas nada que um banho de loja não resolva. A flora do parque é remanescente da mata atlântica (bioma extremamente comprometido no país, o que torna a preservação da área mais importante) e nela habitam diversas espécies. Fora isso, o local serve como área de lazer e prática de diversas atividades, incluindo uma pista de bmx para quem curte pedalar com emoção. O evento contou com a participação de bandas da região, lembrando-nos que a preocupação com a própria quebrada também deve estar nas pautas reivindicatórias das movimentações sociais que acontecem pelo país. O espaço onde rolou o som é bem legal, tinha comes e bebes e para espantar o frio, uma baita fogueira no lado de fora. Depois de um atraso chato, Satanlivre começou o barulho. Nunca tinha visto os rapazes, mas que bagulho foda! Crust violento com alguns toques de grind, letras políticas e muita ideia entre os sons. Pena que a banda é mais uma daquelas que corre por fora e isso significa que é bem mais difícil ter a chance de vê-los ao vivo. Sem muito embaço veio os Velhos Bohemios. Eu, no eterno erro que é o “achismo”, fiquei imaginando que a banda fosse composta por alguns caras mais velhos, fazendo punk rock alegrinho e bem humorado. Quebrei a cara! O quarteto manda muito bem num punk rock/hardcore polido, talvez até um pouco melódico, mas sempre com muita energia e acelerado. Na sequência teve O Grande Ogro, a única a destoar so noramente. O som é estranho, todo viajandão, cheio de climas, lembrando um pouco Fugazi e como se isso fosse pouco, é instrumental. Mesmo sendo musicalmente diferente das outras bandas e do meu gosto pessoal, a apresentação dos caras foi muito bacana.


Punkía foi a próxima, outra banda que nunca tinha visto. O trio toca um punk rock/hc bem melódico, com algumas partes aceleradas e um tanto genérico. Iniciaram a apresentação com um cover do Cólera em homenagem ao Redson, que nesse dia estaria completando 55 anos. Depois emendaram uma sequência de sons próprios. Eu estava por lá, encostado na parede e observando a apresentação, enquanto pensava nos eternos porquês da vida e no horário, quando começa uma querela quebrando a calmaria do rolê e sendo de extrema utilidade para a banda, que aproveita a confusão para dar aquela esticada maneira no seu set. Depois de uns gritos, empurrões e sopapos, a calma voltou ao recinto. E lá pelas 22h00minhs, com a certeza que não iria rolar a banda Discrepante devido ao horário avançado e pela querela, decido seguir meu caminho, já que moro bem distante de onde foi o som. Muitas vezes reclamamos do rolê, mas ele está aí, acontecendo em diversas quebradas, com muita gente colocando a mão na massa e fugindo daquele lance de panela que muito atrasa o lado do Punk na Grande SP. Cabe a nós, punks, deixarmos a vida virtual um pouco de lado e vivermos o Punk na vida real. Dias de Caos: Ihmisen Helvetti, Herdeiros do Ódio – 12/08/2017 – Good Vibrations – São Paulo/SP Se existe algo bom nessa vida é rolê perto de casa. Melhor ainda se for muito perto, que foi o caso deste. Sem necessidade de gastar dinheiro com condução (antes que alguém aí diga “passa por baixo Treva”, se faço isso é necessário chamar o resgate porque a coluna não aguenta) ou gastar a sola do pisante em caminhadas sem fim. Good Vibratons é novo na área, um simpático restaurante vegano que está abrindo suas portas para diversos eventos culturais, incluindo apresentações com bandas. Esse foi apenas o segundo rolê do tipo por lá (só para constar, no primeiro teve Zinabre e Ballet Clandestino) e mesmo com o espaço não sendo grande, o rolê com bandas funciona muito bem no local. Apesar de o restaurante estar localizado em uma avenida com grande movimento de veículos e, por isso mesmo, com muito barulho, existem residências no entorno. E para evitar problemas as portas do pico são fechadas enquanto rolam as apresentações, assim o incomodo do barulho é reduzido e todo mundo fica feliz. E assim que as portas são fechadas, os primeiros acordes do Ihmisen Helvetti dão início ao baile. A banda é nova, um trio sem baixo, com letras em finlandês e com cantigas muito barulhentas. O legal é que mesmo tendo como inspiração o barulho finlandês, o som da molecada não dispara em velocidade, sendo até bem lento, mais focado no noise. Bacana também é ver pessoas bem jovens mandando ver em bandas, o que nos deixa com esperança de uma renovação. Uma pausa para o descanso, na sequência tem Herdeiros do Ódio. A banda esteve um pouco sumida, mas parece estar voltando às atividades brutais. Com mais de uma década de existência, já merecia ter tido a chance de registrar seu trampo em vinil ou CD. Hardcore punk rápidão, gritado, barulhento e sem massagem. Mesmo com algumas mudanças na formação, a pegada da banda continua foda. E para deixar tudo mais bacana, tinha filmagem para posterior clipe feito pelo Gabriel Sossai. E lá pelas 21h00min o som já estava sendo encerrado, mas o rolê continuava com uma bela discotecagem a cargo de Leandro (Unleashed Noise Records) e Mari, sendo a trilha sonora de boas conversas. Evento show de bola, amistoso, conversas agradáveis, presença de adolescentes e crianças que ajudaram a criar/manter o rolê com um clima mais leve. E que venham outros assim. Invasão de Guanxumão 4: Obitto, Ulster, Rot – 19/08/2017 – Lanchonete Gogó da Ema – São Paulo/SP Sabadão horroroso com frio e chuva, ótimo para ficar em casa comendo porcariada, lendo, escutando uns barulhos ou vadiando no mundo virtual. E justamente nesse dia preguiçoso, tinha rolê foderoso na zona norte paulistana. O evento organizado pelo Núcleo Porta Preta estava programado para começar às 15h00min e além das bandas, tinha exposição com trampos de Vinicius Vak, Cícero Costa e Umberto, tattoo day com Candylust Thamu e banquinha com materiais. Pois é, mas como a água não parava de cair e eu não tenho guarda-chuva, fui enrolando a saída na esperança de uma melhora nas condições climáticas e cheguei ao pico depois das 18h00min. O tempo instável e diversos outros rolês que aconteciam na Grande SP deram uma reduzida na quantidade de pessoas presentes, mas nada que comprometesse a parada como um todo. Assim que entrei, vi o pessoal do Obitto já arrumando suas coisas e logo começou o barulho. Grindcore com alguma influência de death metal, com muita velocidade e peso. Mesmo com toda a violência sonora, a galera limitou-se a observar e aplaudir entre os sons, uma constante nas outras bandas também (talvez fosse o frio que fez o pessoal ficar quieto). Gostar ou não do estilo vai de cada pessoa, mas essa terra torta continua a produzir verdadeiras máquinas de moer notas musicais e isso ninguém pode negar. Sem muita enrolação entre as bandas, na sequência teve Ulster. Outra apresentação foda, energética como o punk deve ser. Parece que esse retorno tem sido legal para a banda e para quem a curte. Fica a torcida para que o retorno seja duradouro e que lancem material novo em breve. E encerrando a noite barulhenta, Rot. Recentemente a banda mudou drasticamente sua formação e pessoas experientes nos paranauês barulhentos assumiram as vagas, fazendo com que o som continuasse brutal. Essa foi a primeira vez que vi a banda nessa nova fase e ainda que seja estranho não ver o antigo vocalista Marcelo, os novos Felipe e Henrick mandam muito bem, acompanhados por Alex no baixo, Emiliano na bateria e o veterano Mendigo na guitarra, mostrando que o Rot ainda é um dos expoentes máximos do grind. E antes das 22h00min o barulho estava terminando e era hora vazar. Rolê bacana, preço camarada, bandas fodas e pessoas legais. Nem a chuva e o frio foram capazes de estragar o rolê. Estamos nas Ruas VI: M.M.P.M², Ódio Brutal, Rebeldia Incontida, Weirduo, Discrepante, Malespero – 09/09/2017 – Santo André/SP Desde que punks e um equipamento conhecido como gerador foram apresentados, muita coisa começou a mudar (e para melhor!) no rolê. A dependência quase que total dos espaços ditos alternativos reduziu e o Punk esboça um retorno às ruas, seu lugar de origem. E cá estou na região central de Santo André para mais um evento embaixo do amado viaduto, sempre naquele esquema lindo de gratuidade, boas conversas


bandas que nem sempre são convidadas a participar de eventos e sem arrasto. E dessa vez a parada tinha a participação de banda de ou tra quebrada, mais precisamente de Divinópolis/MG, com a Malespero. Quando cheguei a M.M.P.M² já estava tocando. A garotada que é da região nem estava escalada para participar da gig, mas como estavam por lá, todo mundo é conhecido... melhor para o rolê. A banda é nova e mandam um hardcore bagaceira com dois vocais (feminino e masculino) que sempre fica muito bacana. Na sequência teve Ódio Brutal, também na linha do hardcore bagaceira. Depois de um tempo sumida, mudanças na formação, parece que agora a parada firmou e a banda tem se apresentado com mais frequência. Continuando o anoitecer barulhento, foi a vez da Rebeldia Incontida, punk/hc lindeza e com letras bacanas. A banda tem circulado com certa frequência pelos buracos suburbanos e isso nos mostra que é possível organizar eventos e/ou participar sem a necessidade de f icar adulando as pessoas. Sem embaço, a próxima é o Weirduo. Baixo/vocal e bateria, sem guitarra e com muito barulho. O baixista tira uns sons muito fodas, me fazendo lembrar em alguns momentos do Nulla Osta. Seguindo no esquema das bandas que correm por fora, a próxima foi a Discrepante e dessa vez não teve querel a para atrapalhar. Com uns bons anos de estrada, o trio familiar (se você não sabe, os caras são irmãos) detonou seu crust sem firula. Essa é uma banda que m erecia um maior reconhecimento na cena, mas enquanto muita gente continuar presa ao passado e apoiando banda cover de si mesma, vai continuar tudo como está e diversas bandas com muito para compartilhar continuarão sendo para poucxs. Quando saí de casa estava um baita calor, mas conforme as horas foram passando a temperatura foi caindo e como eu a dona Encosto estávamos trajando roupas de verão, ficou foda aguentar o vento frio que insistia em soprar, o que nos fez decidir sair fora sem ver a Malespero. Pode me chamar de frouxo, nem esquento! No dia seguinte a banda iria se apresentar na zona leste de S ampa e tinha certeza que não iria passar frio. Vale lembrar que no mesmo dia tinha outros eventos pela Grande SP, o que sempre acaba sendo um pouco chato, já que espalha o pessoal pelos rolês e o resultado é aquele que conhecemos. Mesmo assim, uma galera esperta apareceu nesse som no ABC, e a despeito de certa melancolia em algumas conversas devido ao falecimento do Pétrick (das bandas Reação Adversa e Esgoto) dias antes, o evento mostrou que é possível o Punk seguir firme e independente, contando com bandas bacanas e um pessoal firmeza. Days of Hate, Total Silence, Atos de Vingança, G.L.O.C.K, Malespero – 10/09/2017 – CIAM – São Paulo/SP O som estava marcado para começar às 14h00min e como acreditei no costumeiro atraso, demorei pacas a sair de casa e o res ultada foi perder as bandas Days of Hate e Total Silence. Dessa vez quebrei a cara... só lamentos. Na real, por muito pouco eu não perdi o Atos de Vingança também. Quando cheguei ao local, o Atos já estava se apresentando e foi a primeira vez que os vi com a nova formação. Infelizmente só presenciei a reta final, mas pelo pouco que pude ver ficou claro que a parada continua foda e que a banda está vivona e bruta. Mudando o clima (anti)musical, vem a G.L.O.C.K (Geração Libertária o Caos no Kaos), fazendo um som mais na linha punk/hc estadunidense anos 80. Nunca tinha visto a banda e foi uma agradável surpresa, mandando um som que em minha opinião tem como influências o que de melhor foi feito na trumplândia na década de 80, e ainda contando com um vocal figuraça. O evento foi encerrado pela banda Malespero. Na noite anterior fiquei sem ver a apresentação graças à queda na temperatura, m as hoje o papo seria outro. E na boa, que banda foda! Galera gente fina, trocando ideia com todo mundo e esbanjando simpatia enquanto detonava no palco um crust rápido e pesado. Os rapazes trouxeram muito material e quem tinha algumas moedas sobrando teve a chance de fazer a fest a. Justamente por ser um fim de semana com diversos eventos na Grande SP, não tinha a quantidade de pessoas que as bandas mereciam. Mesmo assim o evento foi bacana e quem colou ficou satisfeitx. E como o rolê começou cedo, lá pelas 21h00min já estava terminando e era hora de seguir para casa. E para encerrar com chave de ouro, quando chego em casa descubro que na mesma zona leste que rolou a gig, subiram o gás de um careca do subúrbio. Um escroto a menos rastejando nas ruas da cidade cinza. Não é apenas para punks que o mês de setembro é zicado. E com essa notícia maravilhosa, dou como encerrado meu fim de semana. Punk Rock Animal - 16/09/2017 – Espaço G1 – Arapongas/PR* Evento realizado em Arapongas reuniu bandas da região norte paranaense (Guerrilha 13, Polêmik, CMD, Histeria 77 e Síndrome do Sistema) com o intuito de fortalecer a cena punk e arrecadar ração para a ONG Opaa de Arapongas, que cuida de cães abandonados na cidade. O Punk Rock Animal foi realizado no dia 16/09/2017, por muitos que participaram do evento foi considerado um dia histórico para o punk na região. As bandas presentes agitaram muito em suas apresentações: Síndrome do Sistema (Londrina) deu início às apresentações com seu punk rock autoral pesado e sujo, agradando muitos punks e fazendo as primeiras rodas de pogo surgirem na noite. Em seguida entrou para tocar a banda CMD (Londrina), que recentemente voltou às atividades. Eles possuem ótimos músicos e ótimos sons autorais e a banda não deixou a desejar, teve uma excelente apresentação e mostrou todo o poder da banda. A terceira banda foi Histeria 77 (Apucarana), eles mandaram sons autorais e covers de diversas bandas de punk 77. Foi uma ótima apresentação, cheia de energia e nostalgia. A quarta banda foi a Polêmik (Londrina), a banda por onde passa destrói tudo com seu som autoral e é pogo do início ao fim, não dá pra ficar parado ouvindo essa banda. A última banda punk a fechar o evento foi a Guerrilha 13, que agora conta com Jhefferson detonando na guitarra. Eles mostraram que o punk araponguense está muito bem representado, boa parte das pessoas que estavam pro lado de fora entraram para o galpão para ver a banda tocar assim que o vocalista anunciou “nós somos a Guerrilha 13” e mais uma vez foi agi tação e pogo


do início ao fim. E por falar em fim, eles encerraram mandando um tributo ao Cólera fazendo um cover da música “Medo”, todos cantaram e pogaram juntos, passaram uma ótima energia punk para o público, foi arrepiante a saideira da banda. Este grande evento agora está pra história e também marcado na mente de diversos punks que estiveram no local, unidos contra qualquer tipo de fascismo, preconceito e opressão. Parabéns pela iniciativa dos organizadores e pelas bandas que estiveram presentes neste evento. Que venham mais outras edições do Punk Rock Animal. Êra Punk!! (A) (///) Rock in Álamos – 16/09/2017 – Rancho Texas – São Paulo/SP Faz um bom tempo que não rolava um evento com dez bandas escaladas para tocar na mesma data. Isso é reflexo da fartura no rolê: “farta” espaços, “farta” apoio dxs punks, “farta” interação entre as bandas, “farta” uma porrada de coisas que nem são impossíveis de agilizar, mas... Esse festival organizado pelo pessoal da Kaos Punk rolou em três dias, contando com bandas de diversos estilos e diferentes q uebradas, com predominância de bandas punks. E justamente na segunda noite de festival é que a maioria delas apresentou-se. E o ingresso para participar do rolê era 1 kg de alimento não perecível. O local do fest, como é possível imaginar pelo nome, tem uma pegada country. Espaço grande, arejado, com um pequeno lago, est acionamento amplo (onde algumas pessoas acamparam). Pode parecer um lugar um pouco estranho para um evento rock, mas é o espaço é bem legal. Como têm sido comum, vários eventos bacanas aconteciam na mesma data e o resultado é aquele com o qual já estamos nos acostumando, com o pessoal dividindo-se entre os rolês e nenhum conseguindo encher. Soma-se a isso o fato do local do fest ser um pouco distante e com uma geração de punks bunda moles que colam apenas em eventos próximos de seus cafofos ou com estação de metrô ao lado do som, serve com justificativa para o lugar não estar estrumbado. Mas é aquilo, quantidade não significa qualidade e quem colou curtiu. Embacei pacas pra sair de casa e acabei chegando quase meia noite e fiquei sem ver as bandas Paranoycos, M.M.P.M², Filhos da Desordem e Repressão Social. Na real, a única que tenho certeza que se apresentou foi a Paranoycos. Graças a um ato falho, ao chegar esqueci -me de perguntar quem já tinha feito um barulho. Integrantes de algumas dessas bandas estavam por lá, outrxs não... enfim, vacilo me u. Cheguei quando o Weirduo já fazia os ajustes para iniciar seu barulho. Levando a sério a ideia do faça você mesmx, o duo tem organizado vári os eventos pelas praças da Grande SP, dando espaço para bandas que correm por fora e chance de quem não tem grana colar em event os, conhecer outras bandas, pessoas e fazer parte disso que acreditamos ser algo coletivo. Ainda que o pessoal não estive agitando, o duo fez outra apresentação foda, recheada de ideias entre os sons. Rebeldia Incontida veio na sequência e com ela também veio o pogo. A banda manda muito bem com seu punk/hc alternando sons mais rápidos com outros mais lentos e sem deixar a melodia de lado. Pausa para uma troca de ideia, conhecer o espaço e quem está no palco é a Vozes do Abismo. Crustcore metalizado com vocal na pegada black metal, sendo uma das representantes da nova geração de bandas que resistem na cidade maravilhosa. Foda ver o baixista tocando sem palheta, no melhor estilo Steve Harris (do Iron Maiden, pra quem não sabe). Mantendo o clima de praia com patc h e rebite, teve Mundo no Kaos, que foi foda! E ainda tocaram ‘Punk da Favela’, som da clássica Guerrilha Urbana... chorei de emoção! Altas horas da madruga, reta final do rolê, galera começando a demonstrar sinais de cansaço e o Ódio Brutal inicia sua apr esentação. Para as bandas, foda de festival é ser uma das primeiras, quando ainda não tem ninguém, ou das últimas, quando o pessoal já pediu arr ego. Mesmo com esse pormenor, os rapazes tocaram com garra. A próxima foi a novata Disgosto, um tanto prejudicad a pelo horário e cansaço do pessoal, o que também rolou com o Poder Paralelo, que participou na base do improviso e deu fim ao evento. Parabéns ao pessoal que organizou a parada, as bandas e a quem colou. Viver o Punk de maneira independente e sem rabicó preso não tem sido fácil e eventos como esse lembra-nos que isso é possível e o quanto é importante o faça você mesmx.

POESIAS Por Hannah e Juänito* Renovação Presxs ao passado

Nem para o Punk

Vivendo apenas de lembranças Ignorando o presente

Respeito o passado

Esquecendo o futuro que está por vir

Aprendo com ele Mas vivo o presente

Não desejo isso para mim

E penso no futuro


1917* 100 anos de direitos

Que move o anarquismo

Conquistados daquele jeito

Ação direta em ascenção

Morte. Protesto e cortejo Trabalhista na essência

Por mais direito

Anarcossindicalismo na persistência

Por mais dignidade

Operários na resistência

Sem peleguismo e vaidade Quantxs trabalhadorxs

1917 foi o marco da greve geral Estilo século XVII da Internacional

Em 100 anos

A Plebe, A Lanterna e O Libertário noticiou

1917 auxiliou

O grande ato que o Brasil abalou

Seguimos em frente A nossa luta mal começou

Viva nossa luta!

Hoje perdemos

Viva nossa classe!

E o futuro chegou

A cada pobre que morre

Avante classe!

Um revoltado nasce

Que tudo criou e transformou!!!

Enquanto houver exploração Desperta o sentimento ALIENAÇÃO* Dormindo está

O que seu bolso não pode pagar (status)

Quem demora a questionar Que do pão não sabe o preço que tá

Alienai-vos Uns aos outros

Iludido se encontra

Quando fazemos guerra entre nós

Que só pensa na compra E do peso do ganho da grana não dá conta

Pão e circo não pega só o povão Pega intelectual, ativista, estudante e o punkão

A propaganda está

Todos alvos da chamada

Te empurrando pra gastar

Alienação

VIVÊNCIA PUNK* A todo dia me deparo

Onde esconderam a luta que continua?

Como o rolê ficou mais caro

Cadê os zines que tanto amam?

Subiu a exigência

Enterraram a poesia?

De conhecimento e experiência

Essa é a vivência

Perguntas de como tá a sua frequência

Sem rótulos, cobranças e anti existência

Na city, na gig, no ato, na rua

Viver é cada um

E o Punk resistência



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