Cícero Dias: biografia e obras do modernista provocativo e contundente
Cícero Dias foi um dos principais pintores da arte moderna brasileira. Transitando entre o figurativismo e a abstração geométrica, as aquarelas do artista também apresentavam fortes toques surrealistas, o que mostra como ele foi plural e como seu trabalho foi original e autoral.
Com mais de 80 anos de carreira, Cícero Dias valorizou os elementos nacionais como poucos, mas também incorporou às suas obras uma linguagem universal que encantou o mundo.
Porém, se você pensa que o pintor Cícero Dias foi óbvio e linear, muito se engana! Isso porque sua primeira exposição individual não aconteceu em um museu, mas sim em um hospício.
Ficou curioso em conhecer a biografia desse ícone modernista e conferir as características das obras de Cícero Dias, não é mesmo? Pois, descubra tudo isso lendo este post!
Biografia de Cícero dias: da infância humilde no Nordeste à Paris
Nascido em 1907, em Escada, zona da mata pernambucana, Cícero Dias é o sétimo de onze filhos. De origem humilde, ele desperta para a arte logo na infância, mostrando interesse pelo desenho.
Esse despertar e a busca por melhores oportunidades para expressar sua arte fazem com que ele, em 1920, com apenas 13 anos, parta para o Rio de Janeiro. Na cidade maravilhosa, se matricula nos cursos de arquitetura e pintura da Escola Nacional de Belas Artes, mas não os concluiu.
Isso acontece porque o pernambucano deseja explorar ao máximo a arte, dar um novo sentido e significado a ela. Na busca por romper com o formalismo da época e de expor seu trabalho, ele realiza a sua primeira mostra.
A primeira mostra e o ataque com navalha
Como nenhum lugar aceita abrigar suas peças por se tratar de um artista desconhecido, ele procura outra alternativa e assim a sua carreira inicia de forma provocativa, uma vez que o único lugar que encontra para exibir suas pinturas é um hospício, em 1928.
Nessa mostra, suas telas são compostas pelo inconsciente, os delírios, os pesadelos e os sonhos e trazem à tona uma abordagem surrealista. Sua proposta não é bem compreendida por todos, visto que além da exposição não fazer sucesso, ela causa furor em um homem, que tenta destruir suas pinturas com uma navalha.
Nesse mesmo ano, ele participa, junto a Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral do Movimento Antropofágico e, assim, junto a eles, dá início à arte moderna brasileira.
A obra prima escandalosa e a perseguição política
Apesar do susto e do insucesso da primeira mostra, Cícero Dias em nada se abala e segue seu trabalho e carreira. Assim, em 1931, no Salão Revolucionário da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro expõe sua tela “Eu vi o mundo…ele começava no Recife”, que é considerada sua obra prima.
Por meio de um painel de cerca de 15 metros, que retrata mulheres nuas, o artista chama atenção e escandaliza a sociedade da época que, tradicional ao extremo, critica e censura o trabalho do pernambucano, obrigando-o a cortar algumas cenas.
No ano seguinte ele se muda para Recife e lá investe em sua carreira como professor, lecionando desenho.
Poucos anos depois, em 1937, por ser simpatizante do Partido Comunista, é perseguido pelo regime ditatorial do Estado Novo e se torna conhecido como o “artista que pinta Lênin”.
A mudança para Paris e o reconhecimento
Por seu ateliê ser invadido frequentemente por tropas policiais e devido às ameaças constantes, Cícero Dias resolve se mudar para França, mais precisamente para Paris.
Na década de 1940 começa a trabalhar com abstração geométrica, sendo um dos pioneiros a explorar essa estética.
Porém, não deixa de lado a figuração. Em Paris, conhece e se torna amigo do mestre cubista Pablo Picasso. Assim, se torna a peça chave para trazer para o Brasil, em 1953, uma das principais obras de todos os tempos: a Guernica.
Na Europa, em cidades como Londres e Lisboa, é convidado a participar de diversas exposições e se torna conhecido e reconhecido como um artista inovador, cuja criatividade se revela como uma palavra de ordem.
Na década de 1960, volta a explorar os elementos figurativos em suas telas. Seu trabalho vai além da pintura, uma vez que o pernambucano também se dedica à criação de ilustrações e litogravuras.
As litogravuras, assim como suas aquarelas e murais, ao longo da vida, apresentam como temática principal as cenas brasileiras, principalmente as do Nordeste, o que mostra que mesmo em outro continente, o pernambucano jamais nega ou se esquece de suas raízes.
A morte de Cícero Dias ocorre em 2003, após o artista completar 95 anos.
Principais de obras de Cícero Dias
Entre as características das obras de Cícero Dias, podemos citar as influências das estéticas figurativas, surrealistas e abstratas, assim como a presença de uma linguagem mais desconexa e a constância das temáticas do Nordeste e de corpos femininos.
Confira suas principais obras:
Eu vi o mundo…e ele começava no Recife
Crédito: Diário de Pernambuco
Moças com Pombos
Crédito: Google Arts and Culture
Sem Título
Crédito: Enciclopédia Itaú Cultural
Serenata
Crédito: Laart. Foto de Joca Meirelles
Surrealista II
Crédito: Laart. Foto de Joca Meirelles
As obras de Cícero Dias podem ser encontradas em retrospectivas de museus brasileiros e internacionais, assim como em galerias especializadas como a Laart.
A Laart é uma galeria de arte virtual que trabalha com obras em gravuras. Todas elas são assinadas, de tiragem limitada e são entregues em casa com certificado de autenticidade.
Ter uma gravura de Cícero Dias mostra que você valoriza o trabalho de artistas nacionais e também dá bom gosto ao seu ambiente.
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