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J. Carlos - Originais
J. Carlos - Originais

J. Carlos - Originais

Artista: J. Carlos
Organizadores: Cássio Loredano, Julia Kovensky, Paulo Roberto Pires
Projeto gráfico/Design: Celso Longo, Daniel Trench
Textos: Cássio Loredano, Julia Kovensky, Paulo Roberto Pires, Julieta Sobral, Rafael Cardoso, Jovita Santos de Mendonça

J. Carlos - Originais flagra o gênio único do artista carioca em momentos privilegiados, nos quais o desenho já saiu da prancheta, mas ainda não ganhou, com a impressão, sua forma final. Expô-los e publicá-los aqui com eventuais imperfeições, traços sobrepostos, notas e marcas evidentes da mão de seu criador têm menos a ver com um improvável culto ao objeto único, em tudo estranho às artes gráficas, do que com a possibilidade de revelar parte de seu processo de criação. Este só se pode reconstituir hoje graças ao incansável esforço de seu terceiro filho, Eduardo Augusto de Brito e Cunha, responsável pela reunião, ao longo de décadas, dos originais que formam o acervo desde 2015 sob a guarda do departamento de Iconografia do Instituto Moreira Salles.

Entre 1902, quando viu seu nome impresso pela primeira vez, e 1950, ano em que morreu, José Carlos de Brito e Cunha (1884-1950) publicou mais de 50 mil desenhos. Foram caricaturas, charges, cartuns, ilustrações, letras – capitulares, títulos, cabeçalhos –, vinhetas, adornos, peças de publicidade, enfim, tudo o que é possível fazer a lápis, caneta e pincel para ser impresso. Com meia dúzia de exceções inexpressivas, tudo o que desenhou em 48 anos de trabalho foi para ser publicado em revistas, jornais e livros.

No começo do século XX, tudo tinha que ser desenhado. A imprensa e a publicidade foram tendo necessidade cada vez mais vital da imagem como parceira da palavra em completo pé de igualdade.

As oficinas gráficas deram nos anos 1920 um salto enorme nos recursos, tornando-se capazes de imprimir peças de uma qualidade que até hoje impressiona. Mas a fotografia ainda engatinhava, era processo laborioso, moroso e muito caro – e sua reprodução impressa era, na grande maioria das publicações, bastante grosseira e exclusivamente em preto e branco. Resultado: as revistas e jornais tinham que recorrer ao caricaturista para a crônica e o comentário visual da atualidade; e a publicidade, ao ilustrador, para dar ao público a imagem, se necessário colorida, dos produtos e serviços que anunciava.

No percurso que se segue aqui, partimos de esboços para o confronto de desenhos acabados com suas versões nas páginas de revistas como Careta e Para Todos… Nos departamentos de arte das publicações por que passou, J. Carlos era o que se chama de “pau pra toda obra”: fez milhares de vinhetas e as maravilhosas aberturas de textos em que as capitulares ou os próprios títulos, também feitos à mão, estão metidos na ilustração. Seu evidente lema é “se pode ser bonito, por que não o ser?” – num verdadeiro sacerdócio de amoroso apreço pelo olhar do público.

Ao artista gráfico completo, sucede-se o cronista onívoro e inimitável. Sua carreira cobre toda a primeira metade do século XX. Ele é o autor prolífico do minucioso registro da reurbanização e do saneamento do Rio de Janeiro, cidade, aliás, de que quase não se ausentou e onde confeccionou sua obra de cabo a rabo. Ilustrou o alargamento de ruas e a abertura de largas avenidas, o desmonte do morro do Castelo, a eletrificação da iluminação e dos transportes.

Documentou ainda o advento do automóvel, do asfalto e da pressa, do avião, do elevador e da verticalização da cidade, do fogão a gás, do rádio,  do cinema e da televisão; e a passagem de quase 50 carnavais. Também fez a cobertura política da República Velha e de seu fim – e das tragédias de duas guerras mundiais, do entreguerras e do início da Guerra Fria. Em suma, de tudo o que houve naquelas cinco décadas trepidantes e vertiginosas, entre o grande otimismo do início do século e a consternação sombria do final do período, sem jamais deixar de dedicar parte de sua produção ao público infantil, em ilustrações e quadrinhos que até hoje surpreendem pelas soluções narrativas pouco convencionais.

J. Carlos é dos primeiríssimos representantes do modernismo no Brasil, com a leitura – direta ou indireta – que fez do art nouveau e do art déco a partir da década de 1910. Isso está evidente nos desenhos que fez de arranha-céus, em seus interiores, móveis, luminárias, estamparia, nas roupas e nos corpos de suas melindrosas e afrodites. Base sobre a qual rapidamente desenvolveu um estilo completamente seu, inconfundível e inimitável.

Páginas: 208
Formato: 30 x 23,4 cm
ISBN: 9788583460541
Idioma: Português

R$139,90

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Cássio Loredano

Organização,Texto

Cássio Loredano nasceu no Rio de Janeiro em 1948. Em mais de 40 anos de carreira como caricaturista, foi colaborador dos principais veículos brasileiros e de jornais como El País, Libération e Frankfurter Allgemeine. Dedicou livros a Antonio Nássara, Andrés Guevara, Omar Figueroa e Luis Trimano, numa pesquisa da memória da caricatura no Brasil que resultou ainda em seis volumes reunindo parte do minucioso mapeamento que vem realizando na obra de J. Carlos. É consultor da área de iconografia do Instituto Moreira Salles.