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    Saiba como foi a primeira apresentação de circo no Brasil

    DE SÃO PAULO

    04/09/2013 07h48

    Palhaços, malabaristas, mágicos, homens que engolem fogo: todos reunidos em um picadeiro.

    No Brasil, era comum que os circos fossem formados pelos ciganos vindos da Europa. Eles eram especialistas em domar ursos e em exibições com cavalos.

    A primeira apresentação de circo em terras brasileiras aconteceu há mais de 500 anos. Quer saber como foi?

    Leia matéria na íntegra publicada na "Folhinha" em 1964.

    *

    Como nasceu o circo em nossa terra?

    - Hoje tem marmelada?
    - Tem sim senhor...
    - E o palhaço o que é?
    - É ladrão de mulher!
    Assim se dizia antigamente. E até modinha de carnaval houve que se afirmava isso. Mais recentemente, outra modinha andou na boca dos foliões, garantindo que "alegria do palhaço é ver o circo pegar fogo".

    O circo é um mundo maravilhoso, inspirando não só a criação de modinhas, como de filmes, livros, historias em quadrinhos e uma infinidade de coisas. Muita gente, quando pequena, já pensou em ser artista de circo, sem pensar naturalmente, na dificuldade da profissão. O que no espetáculo circense, sob a luz dos refletores e os acordes da bandinha, parece ser feito naturalmente, sem grande esforço, exigiu, na realidade, muita preparação, às vezes, mesmo, toda uma vida dedicada ao circo.

    Não é "sopa" ser artista de circo...
    Ao se falar em circos, convêm lembrar que, em 26 de abril de 1500 (domingo da Pascoela), dias após Pedro Alvares Cabral ter aportado em terra desconhecida, que chamou primeiramente de Santa Cruz, houve o "primeiro espetáculo circense". Isto, se assim pode ser denominado o ato assistido por marinheiros portugueses e por índios, com um "artista" se exibindo ao som da gaita, em picadeiro improvisado em uma praia.

    16.fev.1964/Folhapress
    Ilustração - como nasceu o circo em nossa terra
    Ilustração de Nelson Coletti publicada na Folha em fevereiro de 1964

    Esse "artista" era Diogo Dias e foi muito aplaudido à moda moda indígena, devida às suas piruetas, cambalhotas, saltos mortais e "bananeiras" que plantava, isto é, por andar com as mãos no chão e as pernas para o ar.

    Pelo menos é que o se conclui pela carta que Pero Vaz de Caminha escreveu a El-Rei D. Manuel (considerada como "a primeira página da história da pátria") e da qual destaco o seguinte trecho: "E alem do rio andavam muitos deles (índios) dançando e folgando, uns diante dos outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então para a outra banda do rio, Diogo Dias, que fora almoxarife de Sacavem, o qual é homem gracioso e de prazer. E levou consigo um gaiteiro nosso com a sua gaita. E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos. E eles folgavam e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem, fez-lhes ali muitas voltas ligeiras, andando (de mãos) no chão e (dando) salto real, de que eles se espantavam e iam e folgavam muito."

    Nos dias seguintes, Diogo Dias voltou a se meter no meio dos índios "por ser homem alegre com que eles "folgavam", sendo que o espetáculo do dia 29 foi assistido por perto de 300 índios, que, muito embora não pagando ingresso, presentearam o "artista" com arcos e barretes e penas de aves, uns verdes outros amarelos.

    Devido às suas palhaçadas e cambalhotas, Diogo Dias era sempre escolhido para captar a simpatia dos nossos indígenas. É provável que vários tenham descolado o pescoço ao tentar imitá-lo, mas... sobre isso a carta nada diz. A versão da carta em linguagem atual com anotações é de Carolina Michaelis Vasconcelos, in "Historia da Colonização Portuguesa do Brasil", II, pág. 98.

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